museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes

Transcrição

museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
antevisão vi
promotores
câmara municipal
de abrantes
Presidente
Maria do Céu Albuquerque
fundação estrada
Presidente
João Lourenço Sigalho Estrada
museologia e arqueologia
Davide Delfino
Gustavo Portocarrero
textos
colaboração
Centro de Pré-história / IPT
Laboratório Hércules / Universidade de Évora
CIAAR
catálogo
Paulo Passos
Gabinete de Comunicação / CMA
fotografia
Fernando Sá Baio
Gabinete de Comunicação / CMA
produção de lettering
Gabinete de Comunicação / CMA
Davide Delfino
impressão
Gustavo Portocarrero
XXXXXXXXX
Ana Cruz
Ana Graça
isbn
Isabel dos Santos
978-972-9133-41-1
Filipe Pereira
Massimo Beltrame
depósito legal
Matteo Cantisani
311943/10
8000 anos
a transformar
o barro.
Cerâmicas
do miaa
antevisão vi
2500 anos
de armas e conflitos
Na História da Humanidade
o conflito tem sido permanente.
Por motivos religiosos, étnicos,
ideológicos, económicos, territoriais…
Defender e atacar faz parte
da natureza humana.
Ontem como hoje, vencedores
e vencidos medem-se, em grande parte,
pela qualidade das armas que usam
e, por isso, a evolução do armamento
ofensivo e defensivo tem sido um dos
motores da inovação tecnológica.
Muitas e variadas armas fazem parte
do acervo do MIAA.
Esta V Antevisão tem como tema
o armamento e a guerra em várias
regiões do mundo ao longo
dos últimos 2500 anos.
Esta exposição faz todo
o sentido em Abrantes.
Abrantes que teve, pela sua localização
estratégica, uma relevância militar
de primeira grandeza. O nosso castelo
é disso testemunha. Ele é hoje uma
fortaleza, exemplo da evolução da
estratégia militar ao longo dos tempos.
Algumas das peças expostas foram
encontradas no próprio castelo.
E porque valorizamos o passado estamos
a iniciar escavações arqueológicas
intramuralhas, convictos que esses
trabalhos permitirão um melhor
conhecimento do passado.
E, no futuro, outros objetos surgirão
e outros estudos e outras exposições
permitirão reconstituir melhor
o puzzle da nossa História.
Por isso, esta exposição não se fecha
sobre si própria. Pelo contrário ela é parte
de uma estratégia e de um projeto mais
vasto que temos em execução, de que
o MIAA é o núcleo central.
M aria d o C éu A lbu qu erqu e
P resi den t e da C â m a r a Mu n i ci pa l
de A b r a n t es
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A cerâmica:
acompanhando
a civilização há mais
de 10.000 anos
A cerâmica é o primeiro produto
obtido pelo Homem resultante
de uma completa transformação química
de uma matéria-prima. Como, quando,
onde e porquê se iniciou a produzir
cerâmica são perguntas complexas mas
necessárias, para as quais só parcialmente
os arqueólogos e os antropólogos
podem dar algumas respostas.
Sendo um ser vivo com uma
extraordinária capacidade de observação,
o Homem presumivelmente reparou já
no Paleolítico que debaixo das fogueiras,
depois de usadas, a terra exposta ao calor
apresentava-se mais dura e, talvez, mais
avermelhada. Provavelmente, reparou
também que se a terra era muito argilosa,
ficava ainda mais compacta e uniforme.
Prova desta capacidade de observação
são algumas peças de arte paleolíticas
realizadas em terracota, como a Vénus de
Dolni Vestonice (Rép. Checa), datada de
há 29.000-25.000 anos.
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Tradicionalmente, faz-se coincidir
o surgimento das sociedades agrícolas
e sedentárias com o início da cozedura
de argila para a obtenção de contentores,
embora a cerâmica mais antiga conhecida
seja a produzida pela cultura Jomon, no
Japão, com cerca de 12.000 anos, a qual
era ainda uma sociedade de caçadoresrecolectores, embora já sedentária.
No Próximo Oriente, onde apareceram
vestígios de agricultura a partir
de 8.500 a.C., os primeiros achados
de cerâmica ocorrem nas culturas de
Umm Dabaghiya (norte do Iraque)
e Çatal Hüyük (centro-sul da Turquia)
entre 6300 e 5500 a.C., claramente
relacionadas com sociedades de
agricultores-pastores sedentários.
Um problema de difícil solução diz
respeito à finalidade dos primeiros
recipientes cerâmicos: serviam para cozer
alimentos, para guardar comida ou para
outros usos? Uma hipótese plausível
para a sua origem, está relacionada
com a cozedura de alimentos. Com
contentores capazes de reter água, era
possível comer algumas ervas e legumes
que se queimavam ou secavam se assadas
no fogo; os moluscos abriam-se mais
facilmente se cozidos em vez de assados;
alguns frutos como as bolotas, nutrientes
mas ricos em toxinas, se colocados em
maceração podiam ser aproveitados.
Além disso, também se podiam preparar
papas para os bebés, algo que favorecia
uma mais rápido desmame, reduzindo
assim o intervalo entre as gravidezes e
permitindo um aumento demográfico.
Por último, note-se que a maioria das
formas dos primeiros contentores, quer
as de Jomon, quer as do Próximo Oriente,
até às do Neolítico Antigo da Península
Ibérica, sugerem que foram idealizadas
para a cozedura de alimentos.
BIBLIO G R A FIA CAUWE, N.; DOLUKHANOV, P.;
KOZLOWSKY, J.; VAN BERG., P.L. (2007)
Le Neolithique en Europe, Paris :
Armand Colin
CUOMO DI CAPRIO, N. (2007)
As formas cerâmicas, para
praticamente toda a Pré-História
Recente (vi-ii milénio a.C.) e boa parte
da Proto-História (i milénio a.C.), eram
cozidas em estruturas simples, que não
atingiram mais de 800°-900° C; somente
a partir do período grego clássico e
romano se desenvolveram fornos que
atingiram 1200° C. Como resultado dessas
diferenças de temperatura, as formas pré
e proto-históricas têm uma textura mais
porosa e são mais fracas e, tecnicamente,
são mais terracota do que cerâmica.
Ao longo de milhares de anos,
enquanto a cerâmica acompanhava o
dia-a-dia da nossa civilização, elementos
inicialmente acessórios ou técnicoutilitários, como a decoração e o engobe,
passaram gradualmente a ter um papel
proeminente nas formas cerâmicas.
Já nas primeiras formas de vasos
neolíticas aparecem algumas decorações,
como por exemplo a cerâmica “cardial”
do Neolítico Antigo (vi milénio a.C.)
caracterizada por padrões impressos
na argila ainda fresca com a concha do
cardium, um molusco, e ao longo da
história a relação entre forma cerâmica e
a sua decoração tornou-se cada vez mais
próxima: se nos primeiros contentores
para cozer e armazenar alimentos e
líquidos a forma era o elemento principal
e a decoração o acessório, com o passar do
tempo as formas passaram também a ser
um suporte para a decoração. Exemplos
desta mudança, desde um contentor
estritamente funcional até um meio
de divulgação da sua decoração, são as
cerâmicas gregas clássicas
(sécs. vi-iv a.C.), por meio das quais os
valores da cultura grega eram difundidos
ao longo do Mediterrâneo (e não só)
através de cenas emblemáticas dos mitos
pintadas nos vasos, usados pelas elites
fora da Grécia. Em algumas ocasiões,
o casamento entre forma e decoração
num vaso cerâmico resultou ainda mais
evidente, sendo a decoração feita para
ressaltar a forma, como aconteceu por
vezes na cerâmica gnathia da época
helenística (sécs. iv-iii a.C.).
Ceramica in Archeologia 2, Roma:
L’Herma di Bretschneider
DIAMOND, J. (2005)
Guns, Germs and Steel. The Fates
of the Human Societies, New York:
Norton,
W. W. & Company, Inc
KRALIK, M.; NOVOTNY, V.;
OLIVA, M. (2002)
Fingerprint on the Venus of
Dolní Věstonice I, Anthropologie
Outro elemento funcional que passou a
ser elemento estético e/ou suporte de
comunicação visual, foi o engobe. Sendo
uma solução líquida de argila muito
diluída, o engobe foi inicialmente aplicado
como meio de obter superfícies mais
regulares, bem como para permitir, uma
vez o vaso seco, uma superfície mais dura
e resistente através da brunidura (como
sucede com formas da Idade do Bronze
Final português - sécs. xiii-vii a.C.).
Tal permitia melhorar também a higiene
da cerâmica de mesa, dado que não
permitia a mistura entre comida e
pedaços de cerâmica. A cerâmica
campaniense (sécs. iii-i a.C.) e a sigillata
romana (sécs. i a.C.-vi d.C.) são exemplos
de uma excelência no desenvolvimento
técnico do engobe, chegando ambas a
obter um reflexo metálico que lhes
permitia imitar os vasos de metal.
Na época moderna, primeiro com
a faiança e depois com a porcelana,
não só se passou a ter cerâmica de mesa
com uma superfície completamente dura
e “higiénica”, como também se pôde
desenvolver todas as potencialidades
das decorações.
Assim, com o extraordinário acervo
de arqueologia da Câmara Municipal de
Abrantes e da Colecção Estrada, é possível
nesta vi Antevisão do miaa contar a
história do dia-a-dia da nossa civilização,
desde o Neolítico Antigo até à Idade
Moderna sem hiato algum, através de um
material onde se cruzam tecnologia e arte,
utilitarismo e simbolismo, transmissão
de conhecimentos entre gerações de
ceramistas e transmissão de ideologias
entre culturas.
(Moravské zemské muzeum, Brno,
Czech Republic) 40/2: 107–113
PRICE, D. T. (2000)
Europe’s First Farmers, Cambridge:
Cambridge University Press
Por último, é também possível com
esta Antevisão vi, perceber toda a
potencialidade do miaa nos seguintes
âmbitos. No âmbito da sinergia da
concepção museológica, da investigação
arqueológica, do restauro e conservação
das peças e da microscopia da cerâmica,
dado envolver, além da equipa
do miaa e dos Serviços de Arqueologia
e de Restauro e Conservação da Câmara
de Abrantes, estruturas académicas quer
do Médio Tejo (como o Centro de PréHistória do Instituto Politécnico de Tomar,
o ciaar de Vila Nova da Barquinha e o
Instituto Terra e Memória de Mação),
quer de outras partes do pais (como o
Laboratório Hercules da Universidade de
Évora e a Universidade de Trás-os-Montes
e Alto Douro). No âmbito da polivalência
do seu acervo e na complementaridade
entre a Colecção Arqueológica da Câmara
de Abrantes e a Colecção Estrada, o que
permite ao miaa apresentar ao público
uma enorme variedade de temáticas.
No âmbito da atractividade nacional e
internacional do seu acervo e das suas
temáticas, que faz do miaa um futuro
recurso cultural estruturante para o
turismo e para a investigação científica no
Médio Tejo.
DAVIDE DELFINO
GUSTAVO PORTOCARRERO
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NEER, N. T. (2002)
Style and Politics in Athenian VasePainting. The Craft of Democracy,
Cambridge: Cambridge University
Press
Decoração e conotação
de um recipiente cerâmico:
utilização doméstica,
funerária e simbólica.
As mais antigas cerâmicas
do Concelho de Abrantes
Neolítico
O Concelho de Abrantes tem o privilégio
de possuir uma grande variedade de sítios
arqueológicos cuja cronologia se
estabelece na Pré-História Recente.
Este é um período particular, pois
é uma fase em se implementa a agricultura
e a pastorícia, implicando uma nova forma
de vida por oposição ao nomadismo da
Pré-História Antiga.
No momento em que as comunidades
agro-pastoris se estabelecem no território,
hoje concelho de Abrantes, desenvolvem
também novas tecnologias, entre elas,
está o polimento da pedra, resultando
nos machados polidos, a tecnologia de
produção de recipientes cerâmicos e, um
pouco mais tarde, a produção de objectos
em cobre e em bronze através do domínio
da tecnologia metalúrgica.
As comunidades do Neolítico,
Calcolítico e Idade do Bronze possuíam
diferentes padrões de povoamento
e de enterramento, contudo tinham, entre
outros, um elo em comum:
é o elo que se destaca através da produção
cerâmica. Esta possuiu ao longo de cinco
mil anos uma grande variedade de formas
e de decorações, cujos exemplos estão
patentes nesta exposição.
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Em Portugal, discute-se ainda,
no plano teórico, a chegada do objecto
cerâmico. Hoje temos datações absolutas
que apontam para a chegada da cerâmica
à ponta mais ocidental da Europa
por volta de finais do vi milénio a.C..
O Neolítico é uma etapa da História da
Humanidade que representa uma viragem
nos comportamentos humanos, pois ela
implica a criação de várias tecnologias
que são genericamente chamadas de
“pacote neolítico”. Uma das novidades
é a produção de recipientes cerâmicos.
O trabalho desenvolvido pela
Arqueologia Experimental permitiu
definir cadeias operatórias na execução
de um recipiente que se estabelecem:
1. obtenção da matéria-prima (jazida);
2. preparação da pasta argilosa;
3. modelação da argila;
4. secagem pós-modelação;
5. técnicas de acabamento;
6. decoração;
7. cozedura;
8. arrefecimento pós-cozedura;
9. produto final.
É ainda importante salientar
que os aspectos relacionados com a
decoração nas paredes dos recipientes
enquadram-se no tratamento de
superfícies e que as técnicas decorativas
possuem um sistema de classificação
de acordo com forma, utilização prática,
instrumento utilizado na decoração e
cronologia: incisão, incisão pós-cozedura,
impressão, puncionamento, penteada,
roleta ou estampagem por roleta, plástica
ou modelada, aplicada, repuxada, excisão
e brunido.
No Concelho de Abrantes vamos
encontrar produção cerâmica que data
de tempos remotos do “Neolítico Antigo
Evolucionado”.
Este período é também conhecido
por “Neolítico Antigo com cerâmicas
impressas não-cardiais” ou “Epicardial”
e possui uma datação relativa em função
dos artefactos, que compreende os finais
do vi e 1ª metade do v milénio a.C.
Regra geral o fabrico dos recipientes
é manual e os tratamentos das superfícies
dos recipientes são alisadas e decoradas.
Do ponto de vista da morfologia
vamos encontrar variados tipos de
formas: taça em calote, taça esferoidal,
taça ovóide, pote globular, cujas bases são
esféricas e onde por vezes apresentam
um estreitamento em direcção ao bordo,
possuindo colo.
A decoração das superfícies é realizada
fundamentalmente através de três
técnicas: impressão, puncionamento e
incisão.
Os sítios arqueológicos mais
importantes deste período são o Povoado
de Fontes e o Povoado de SalvadorCoalhos, cujos fragmentos cerâmicos
se apresentam na exposição.
Os motivos são variados, tão diversos
que terão dependido do estilo e do
talento do artesão, assim, observamos
motivos impressos lineares na horizontal
e na oblíqua – impressão não-cardial,
decoração no bojo; motivos impressos
lineares na horizontal – impressão
não-cardial, decoração no bojo
[92.slv.014.3]; motivos incisos lineares
penteados na horizontal – incisão leve,
decoração no bojo [92.slv.014.2]; motivos
incisos lineares na horizontal e na oblíqua
– incisão leve, decoração no bojo
[92.slv.014.4]; motivos puncionados
na horizontal, puncionamento profundo,
curto e arrastado, decoração no bojo
[92.slv.014.8]; motivos incisos lineares
na horizontal e na vertical – decoração
denteada no lábio, impressão não-cardial,
decoração no bojo [07.fnt.012.8.341.1];
motivos incisos lineares na horizontal
– puncionamento profundo e alguma
distância entre as linhas, decoração no
bojo [07.fnt.012.8.341.2]; motivos incisos
levemente curvilíneos na horizontal
e oblíquos interrompidos pelo arranque
de aplicação plástica da asa, que parte do
início do bojo, decoração no bojo superior
Vários são os sítios arqueológicos deste
período em Portugal que são compatíveis
relativamente aos materiais cerâmicos:
Comporta (Pontal, Grândola), Lapa do
Fumo (Sesimbra), Algarão da Goldra
(Faro), Moita do Ourives (Benavente), Foz
do Enxoé (Santa Maria, Serpa).
O Neolítico Final-Calcolítico situase cronologicamente nos finais do IV
milénio/ inícios do III milénio a.C. São
também deste período alguns fragmentos
cerâmicos decorados do Povoado de
Salvador-Coalhos.
O fabrico dos recipientes é manual e os
tratamentos das superfícies dos recipientes
são alisadas e decoradas.
Algumas formas cerâmicas
apresentam-se sem decoração, com a
superfície bem alisada e, em bastantes
casos, polida: exemplificativos são as peças
provenientes do monumento funerário
atípico de Colos (Freguesia de São
facundo) [13.col.012.1.17, 13.col.012.1.18,
13.col. 012.1.19 e 013.col.012.2.24].
As formas dividem-se em esféricos,
potes e formas globulares.
Vários são os sítios arqueológicos deste
período em Portugal que são compatíveis
relativamente aos materiais cerâmicos:
Carnaxide, Lapa do Fumo, Lapa do
Bugio, Gruta A e B do Forte do Cavalo
(Sesimbra), Algar do Barrão (Monsanto,
Alcanena), Comporta ii e Comporta iii,
Galapos, Ribeira de Cheleiros (Mafra,
Lisboa).
[07.fnt.012.8.341.3]; motivos penteados na
vertical e na horizontal – puncionamento
leve, curto e arrastado, feito com a ponta
do pente, decoração no bojo; aplicação
plástica – asa circular arrancando
directamente a partir do bordo, decoração
no bordo [07.fnt.012.8.341.4].
Todavia, devemos salientar que a
técnica de puncionamento se estende
desde o Neolítico Antigo até ao Calcolítico
Final e que a técnica de incisão se estende
desde o Neolítico Antigo (embora com
pouca incidência) até à Idade do Bronze
Final.
Vários são os sítios arqueológicos deste
período em Portugal que são compatíveis
relativamente aos materiais cerâmicos:
Fonte de Sesimbra (Santana, Sesimbra),
Vale Pincel I (Sines), Prazo (Freixo de
Numão), Salema (Sines), Vale Vistoso
(Porto Covo, Sines), Laranjal do Cabeço
das Pias (Vale da Serra Torres Novas),
Quinta da Torrinha (Freixo-de-Numão,
Vila Nova de Foz Côa), Barranco das
Quebradas (Vila do Bispo, Sagres), Buraco
da Moura de São Romão (Seia, Viseu),
Cortiçóis (Benfica do Ribatejo, Almeirim),
Gruta dos Carrascos ou das Samorras
(Torres Novas, Santarém); Marco
Branco (Santiago do Cacém), Azinhal 3
(Coruche), Anta 6 do Couto da Espanhola
(Idanha-a-Nova), Sepultura 2 do Cabeço
do Torrão (Elvas), Sepulturas n 9, 10, 13
e 14 da necrópole da Palmeira (Caldas
de Monchique), Necrópole de Buço
Preto (Monchique), Pipas (Reguengos de
Monsaraz).
Calcolítico
O Calcolítico Inicial e Médio
estabelece-se no iii milénio a.C. e
diferenciam-se entre si através de uma
cada vez maior variedade de formas
e complexidade de decorações. São
também deste período alguns fragmentos
cerâmicos decorados do Povoado
de Salvador-Coalhos. Na Bacia do
Médio Tejo parece não existir o Vaso
Campaniforme (contudo, é de assinalar o
Povoado da Fonte Quente, no concelho de
Tomar, que se situa a escassos quilómetros
do concelho de Abrantes), que marcaria
em geral o Calcolítico Final, fazendo
apontar para o território abrantino uma
continuidade das formas e decorações do
Calcolítico Médio até o início da Idade do
Bronze.
No Neolítico Médio, período que se situa
cronologicamente na segunda metade do
v milénio, transição para o iv milénio a.C.
(datações absolutas por c 14 e a.m.s.).
O único sítio intervencionado no
concelho de Abrantes que corresponde
a este período é o Povoado da Amoreira.
O fabrico dos recipientes é manual e,
as suas superfícies são alisadas. As formas
alteram-se um pouco relativamente
ao período imediatamente anterior, são
taças em calote e vasos de colo. Surgem
as primeiras formas carenadas.
A decoração é muito rara e
predominam os recipientes lisos.
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O fabrico continua a ser manual
e o tratamento das superfícies alisado
e decorado.
Já quanto à forma vamos encontrar
uma grande diversidade de recipientes:
vasos hemisféricos, taças, copos, grandes
esféricos, vasos com colo.
A decoração desenvolve-se em suaves
caneluras horizontais, espinhados,
reticulados, ziguezagues ou semicírculos.
Os motivos que se apresentam na
exposição são motivos espinhados
– incisões profundas “penteadas” na
oblíqua, formando um padrão decorativo
triangular, decoração no bojo [92.
slv.014.1]; motivos espinhados – incisões
duplas leves penteadas com orientação
oblíqua, formando um padrão decorativo
triangular em forma de espinha, em
bandas horizontais, decoração no bojo
[07.fnt.012.8.341.4; 07.fnt.012.8.341.5];
motivos espinhados – incisões leves
“penteadas” na oblíqua, formando um
padrão decorativo triangular em forma de
espinha, decoração no bojo [92.slv.014.5];
motivos espinhados – incisões profundas
“penteadas” na oblíqua, formando um
padrão decorativo triangular na chamada
falsa “folha de acácia”, decoração no bojo
[92.slv.014.7]; motivos pontilhados –
–impressão por puncionamento profundo
e alargado, isolado, formando um padrão
de pontos uniforme, decoração no bojo
[92.slv.014.6]; motivos incisos, penteados
lineares na horizontal, com espaçamento
entre as incisões, executada com
pouca pressão, decoração no bojo
[07.fnt.012.8.341.7]; recipiente
hemisférico, com bordo redondo-recto,
incisão linear profunda junto ao bordo,
na horizontal, incisões curtas, na oblíqua,
no bojo superior [07.fnt.012.8.341.8].
Devemos, contudo, assinalar que os
motivos decorativos penteados também
existem no Neolítico Médio, Neolítico
Final, Calcolítico Inicial, Calcolítico
Médio, Calcolítico Final e na Idade
do Bronze Inicial.
Vários são os sítios arqueológicos deste
período em Portugal que são compatíveis
relativamente aos materiais cerâmicos:
Rotura, Chibanes, Anta Grande do Olival
da Pega, Leceia (Oeiras) (Cardoso),
Zambujal (Torres Vedras), Vila Nova de
S. Pedro, Outeiro Redondo (Sesimbra),
Castanheiro do Vento (Horta do Douro,
Vila Nova de Foz Côa).
Idade do Bronze
O arco cronológico que compreende
o ii milénio a.C. e os primeiros séculos
do i milénio a.C., é caracterizado por uma
gradual complexificação das sociedades
humanas, com o surgimento cada vez
mais de elites ligadas a práticas guerreiras,
ao controlo de trocas de longo alcance, à
gestão de recursos estratégicos, cada vez
mais complexa. O nome Idade do Bronze
vem da utilização difusa da liga metálica
de cobre e estanho, que permite obter um
metal artificial mais resistente do que o
cobre. Para Portugal, ao sul do Tejo, as
diferentes etapas cronológicas e culturais
são marcadas na cerâmica por formas,
com o nascimento e o desenvolvimento
da carena e, na sua parte final, pelo
aparecimento de uma decoração
geométrica obtida por brunimento.
Não tendo, no Médio Tejo, possibilidade
de fazer distinção entre as etapas iniciais
e média da Idade do Bronze, opta-se por
definir um Bronze Pleno, um Bronze Final
I e um Bronze Final II, de acordo com as
cronologias proposta por J.L. Cardoso
e por A. Monge Soares.
Idade do Bronze Pleno
Entre os séculos xix e xiii a.C., embora
ainda a metalurgia do bronze não apareça
no Centro de Portugal, é possível perceber
algumas mudanças no que respeita ao
Calcolítico: na tipologia dos artefactos
metálicos e nas formas da cerâmica.
É possível definir os materiais
cerâmicos deste primeiro período da
Idade do Bronze, graças ao aparecimento
de formas com carena: o material
encontrado no monumento funerário
de Colos (freg. de São Facundo),
mostra muito claramente a passagem
das formas do Neo-Calcolítico para as
formas carenadas do Bronze. Desde as
peças arq9col183 e arq9col20, que
apresentam uma primeira abordagem
de carena semelhante às das Idade do
Bronze (tipo 1), até à peça arq9col21,
que apresenta uma carena quase a
desaparecer no fundo (tipo 2), com
superfícies polidas mas de um fabrico
manual grosseiro, até às peças arq8col22
e arq2col193; estas últimas são duas
variantes da taça de carena baixa tipo
Atalaia (tipo 3), característica do Bronze
Pleno de Sul do Portugal: na primeira a
carena é pontiaguda, não proeminente
e sem decoração, na segunda, a carena
é pontiaguda e proeminente, tendo dois
mamilos plásticos no ombro. Ambas
apresentam superfícies polidas muito bem
tratadas. Nota-se aqui a total ausência
de decorações, exceptuando algumas
raras aplicações plásticas nas carenas
tipo 1. O facto de estas formas estarem
presentes em sepulturas já utilizadas
no Neocalcolítico, é indicador de uma
reutilização de monumentos funerários
mais antigos durante a Idade do Bronze
Pleno, como se pode ver nos sítios do
Alto Alentejo (Anta do Considreiro, Anta
da Vidigueira, Anta 1 dos Cebolinhos,
Anta 2 do Poço da Gateira, Anta da Bola
da Cera, Anta das Castelhanas e Anta
da Cabeçuda); qual poderá ter sido o
significado destas formas, claramente
feitas para uso de mesa, em sepulturas?
É ainda difícil dizer, entre a hipótese de
um uso para rituais de enterramento
(incluindo eventualmente refeições) ou
para acompanhar o defunto no além.
O tratamento brunido das superfícies,
alem de ter provavelmente a pretensão de
imitar o brilho do metal (como acontece
provavelmente nas taças tipo Santa Vitória
no Bronze do Sudoeste), pode ter também
uma finalidade pouco estética e mais
prática: dar impermeabilidade às formas
cerâmicas, para conter melhor os líquidos
e, no caso das formas usadas nas refeições
(taças, malgas, tijelas) para permitir uma
maior higiene do conteúdo, dando
à superfície um aspecto duro e compacto.
A decoração geométrica obtida por
brunimento da superfície das formas
antes da cozedura, são peculiares da
cerâmica fina, de origem do Bronze do
Sudoeste, com datações mais antigas no
Sul Andaluz, no Guadiana e na Beira
Alta (séculos xiii-xii a.C.), enquanto nos
grupos tradicionais da Península
de Setúbal (Lapa do Fumo) e do vale
do Tejo (Alpiarça) a cronologia absoluta
remonta aos séculos x-viii a.C..
A opção decorativa, marcadamente visível
nos ornados brunidos, acrescenta aos
materiais uma dimensão estética, um lado
humano, típico de cada cultura: por isso
o facto de aparecerem ornados brunidos
e haver uma manifestação com bastantes
variantes regionais ajuda-nos a melhor
compreender a diferença cultural entre
as comunidades humanas da última parte
do Bronze Final.
Para o Concelho de Abrantes estão
expostos acervos cerâmicos característicos
quer de povoados, quer de sepulturas,
relativos a estes dois momentos do
Bronze Final: o modelo de povoamento
neste território é visível com povoados
amuralhados em morros, como o Castelo
de Abrantes, e “casais agrícolas” abertos
de planície, como a Quinta da Pedreira.
O modelo de monumentos funerários
é também perceptível com grupos de
mamoas instaladas em caminhos de
cume, como na necrópole de Souto.
As cerâmicas destes sítios fornecem a
ideia das formas e das decorações do
Bronze Final, quer de contextos de vida
quotidiana (povoados) quer de contextos
mais ligados à morte e ao culto (mamoas).
Idade do Bronze Final
Entre os séculos xiii e viii a.C. o Centro
de Portugal assiste a uma complexificação
cada vez maior, com o surgimento de
elites guerreiras ligadas, por um lado,
à exploração de minerais metálicos
e, por outro lado, à troca de objectos
metálicos, manifestando símbolos de
poder como povoados amuralhados de
altura e estelas funerárias. São os tipos
de objectos metálicos que permitem
caracterizar o Bronze Final em 2 fases
(1250-1100 a.C./1100-750 a.C.) adaptando a
cronologia tripartida da M. Galvez Priego,
feita para a Andaluzia e Algarve, a uma
cronologia bipartida que melhor se adapta
ao Médio Tejo. Na cerâmica, o início do
Bronze Final no Médio Tejo é marcado
geralmente com superfícies brunidas e
carenas mais arredondadas, e o fim do
Bronze Final, com o aparecimento das
decorações brunidas.
14
15
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Relativamente aos povoados, a peça
92.slv.014.8.9, encontrada no povoado
aberto de Salvador-Coalhos (Pego), é
um fragmento de uma provável malga
carenada com típica pega de lingueta
furada verticalmente. Quer a peça arq60
proveniente do Castelo de Abrantes e
uma peça da Quinta da Pedreira, são
taças com carena média e base côncava
apresentando um ônfalo no centro,
estando a superfície de acabamento
brunido provavelmente por cima de
um engobe; o fundo da taça do Castelo
de Abrantes apresenta uma provável
decoração brunida, formando um padrão
de cruz com o centro no ônfalo. Com
proveniência da Quinta da Pedreira há
mais três peças. A primeira, uma malga
com carena média e provável tratamento
brunido.. A segunda, uma base
completa de uma forma troncocónica
de dimensões médio-grandes e cheia de
furos: seria provavelmente utilizada ou
para fabricar queijos, ou com braseira
para aquecer as cabanas. Finalmente,
um fragmento de fundo com decoração
brunida composta por uma linha de
traços retilíneos cruzados. São todas
formas que remetem para um uso de
mesa, talvez sendo impermeabilizadas
com o engobe e o tratamento brunido,
para melhor conter líquidos. O facto de
a cerâmica com tratamento brunido e
com decoração brunida está presente,
quer em povoados amuralhados de altura
(Castelo de Abrantes), quer em “casais
agrícolas” (Quinta da Pedreira), mostra
como este bem de luxo circulava em
todos os povoados, apesar da importância
política, embora a quantidade nos “casais
agrícolas” seja notavelmente inferior
relativamente aos povoados de altura
amuralhados.
Um conjunto de formas provenientes
do tumulus 1 do Souto, mostra claramente
as formas cerâmicas que compunham
um adereço funerário: uma urna de
corpo bicónico com carena arredondada
e ombro rectificado, tendo a superfície
sido tratada com um brunimento obtido
provavelmente esfregando-se o engobe
já seco e cujo interior, curiosamente,
só foi alisado; um púcaro de corpo
bicónico com carena arredondada e
ombro rectificado, tendo uma asa de fita
com nervuras e a superfície brunida com
marcas de um suporte que envolvia a peça
na parte inferior, mas que já desapareceu;
uma malga de corpo hemisférico com
paredes alisadas. As três peças foram
achadas no centro do tumulus e os ossos
queimados que estavam no interior da
taça foram datados por a.m.s. de 1.120-910
a.C. (beta 280041 - 2840±40 bp, 1120-910
cal. bc – Homo - urna) coincidindo com
o Bronze Final I. A taça encontrada no
interior da urna continha cinzas e ossos
humanos queimados, bem como fios
residuais de cobre ou bronze que são
provavelmente parte do suporte da taça
que arderam com o defunto na pira
funerária, derretendo. Podemos, então,
pensar que a urna, mais do que um
contentor das cinzas do falecido, fosse
talvez, feita semelhante ao metal com
o brunimento, o invólucro material,
do mundo imaterial para onde, falecendo
e sendo cremado, foi o defunto,
acompanhado por um dos seus objectos
preferidos: a taça com provável suporte
de cobre ou bronze.
Onde o olho não chega para ver:
microscopia da cerâmica
pré-histórica
O conjunto de formas e decorações
cerâmicas destes sítios, os mais
significativos do Bronze Final no
Concelho de Abrantes, permitem encaixar
as comunidades locais como estando
integradas nos Grupos Culturais da
passagem entre o ii e o i milénio a.C. do
Centro de Portugal: as formas cerâmicas
dos lugares de sepultamento do Bronze
Final I, em particular as urnas, ligam este
território do Médio Tejo até à Península
de Setúbal, a oeste (entre os paralelos
morfológicos, a urna da Rocha do Casal
de Meio) e até à Beira Baixa, a leste (entre
os paralelos morfológicos, a urna do
enterramento de Monte São Martinho);
a qualidade da cerâmica fina, sobretudo
a com ornados brunidos do Bronze Final
ii, remonta quer à cerâmica da Lapa do
Fumo (Península de Setúbal), quer à de
Alpiarça (Lezíria), quer à da Beira Baixa,
estando os padrões decorativos mais
perto dos paralelos desta última região.
A cerâmica em exposição fala-nos,
portanto, de comunidades humanas
que viviam entre o rio Tejo (Quinta da
Pedreira e Castelo de Abrantes) e o rio
Zêzere (Souto) com fortes ligações aos
grupos humanos quer a oeste quer a leste,
com provável papel fundamental do rio
Tejo como via aquática que era explorada
para trocar produtos, matérias-primas
e ideias.
Vários são os sítios arqueológicos deste
período em Portugal que são compatíveis
relativamente aos materiais cerâmicos.
Entre os principais: Serradinha (Santiago
do Cacém), Pontes de Marchil (Faro),
Ladroeira Grande (Moncarapacho,
Olhão), Gruta de Ibn Amar (Lagoa),
Pontes de Marchil (Faro), Grutas do Poço
Velho (Cascais), Castelo de Alcácer do
Sal nível (C11), Povoado Fortificado da
Coroa do Frade (Évora), Roça do Casal do
Meio-Ervidel II, Gruta da Ponte da Laje
(Oeiras), Poço Velho (Cascais), Paranho
(Molelos, Tondela, Viseu), Alpiarça
(Santarém), Monte São Domingos
(Castelo Branco), Castelo Velho do
Caratão (Mação), Penedo de Lexim
(Mafra), Tapada da Ajuda (Lisboa).
A arqueometria é um lugar
de encontro privilegiado entre
disciplinas humanísticas, naturalísticas
e químico-físicas. A aplicação sobre
artefactos cerâmicos é um campo de
aplicação vantajoso e frequente: as
colecções de cerâmicas antigas favorecem
hoje novas possibilidades de estudo graça
a aplicação sinergéticas das ciências físicas,
químicas, geológicas e naturais.
As principais questões levantadas
pela arqueologia à arqueometria são:
- Onde foi produzido o artefacto;
- Quais os critérios de escolha
e trabalho da matéria-prima
até à modelação do artefacto
e o seu cozimento;
- O que levou o ceramista a escolher
um tipo de matéria-prima em lugar
de outra.
De facto, uma cerâmica antiga
leva consigo uma história que é a
soma de muitas acções, de uma cadeia
operatória/ciclo de produção: a busca/
escolha da matéria-prima, a preparação
da pasta, o lugar de produção, o tipo e
as condições de cozimento, o uso e a
deposição do artefacto. Esta distinção
esquemática é, de facto, rígida: é preciso
ter em conta que, na prática, quer
arqueologica quer arqueométrica, os
problemas são abordados de acordo com
uma perspectiva de maior articulação e,
possivelmente, em sequência diacrónica.
Nesta contribuição serão explicados
os métodos da análise macroscópica
efetuados em algumas peças da exposição,
sendo este um estudo preliminar
macroscópico, prevendo-se no futuro um
aprofundamento arqueométrico.
ana cruz
davide delfino
ana graça
16
17
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Análise macroscópica
e amostragem
O estudo macroscópico da cerâmica
tem como objectivo determinar as
características do artefacto, visíveis
a olho nu ou com o auxílio de uma
lupa binocular de baixa ampliação: assim
identificam-se as principais características
do fragmento através da recolha
de fotografias, dos dados do contexto
arqueológico, as características
do artefacto, da matriz argilosa
e do desengordurante utilizado na pasta.
A subdivisão do material basada nestas
características, permite obter uma
primeira visão das pastas cerâmicas
utilizadas pelo oleiro: a descrição do
desengordurante permite uma
discriminação dos seus componentes
(a sua forma e medidas médias, a sua
concentração e a relação quantitativa
entre desengordurante e matriz argilosa).
Isso permite criar tipos de pastas, que
serão sucessivamente estudados mais
aprofundadamente com técnicas analíticas
de pormenor. A análise macroscópica
também permite compreender melhor as
escolhas feitas pelo oleiro em função do
uso a que se destina a peça cerâmica:
tal é possível pela matéria-prima utilizada,
técnicas de manufactura e de tratamento
das superfícies e a temperatura de
cozimento; tal estudo permite perceber
melhor o nível tecnológico de uma
sociedade. Finalmente, as informações
que se podem obter com um estudo
macroscópico são: dados arqueológicos,
características da pasta cerâmica,
individualização das técnicas de produção
e de tratamento das superfícies, marcas
de uso e alteração pós-deposicional.
Neolítico Antigo
[fim do vi- Inicio
do v milénio a.C.]
Calcolítico Médio
[iii milénio a.C.]
Povoado de Salvador
inv. 92.slv.014.1:
Povoado de Fontes
inv. 07.fnt.012.8.341.1:
Concluída esta primeira fase de análise,
passa-se para a amostragem dos artefactos
e ao seu estudo através de técnicas
analíticas de pormenor como o estudo
petrográfico, mineralógico, químico e
microestructural. As amostras escolhidas
para esta fase, têm de representar todos
os contextos estratigráficos reconhecidos
na escavação e a maioria das formas
existentes no repertório cerâmico.
Fragmento de parede de cor castanha
com espessura de 0,8 mm; foi cozido
em ambiente misto redutor/oxidante;
a decoração incisa foi efectuada
com uma ferramenta da cabeça circular;
a superfície não apresenta tratamentos
particulares; o desengordurante
é semi-depurado sendo em média inferior
a 1 mm; a pasta tem acerca de 5-20%
de desengordurante e 80-95 % de argila;
a porosidade da peça é médio-baixa;
os elementos do desengordurante
são semi-angulosos de cor branca
ou negra opaca.
Fragmento de parede com espessura
de 1,2 cm. A decoração parece ter sida
executada antes do cozimento, com
uma ferramenta de cabeça circular;
a superfície interior é muito rugosa,
enquanto a exterior é bastante alisada;
o desengordurante é em média
de 2-3 mm; a pasta tem acerca de 40%
de desengordurante e 60% de argila;
os elementos do desengordurante são
semi- angulosos, de cor branca opaca,
semi-trasparentes ou de cor negra opaca.
Povoado de Salvador
inv. 92.slv.014.2:
Idade do Bronze Final
Povoado de Salvador
inv. 92.slv.014.9:
Povoado de Fontes
inv. 07.fnt.012.8.341.8:
Aplicação aos materiais
do Neolítico, do Calcolítico
e da Idade do Bronze
Apresentam-se os resultados do estudo
macroscópico dos materiais cerâmicos
dos sítios de Fontes, Salvador e Souto,
por meio de uma lupa binocular de
baixa ampliação. As observações são
preliminares, tendo sido efactuadas
sobre um número restrito de peças
e o objetivo deste texto é o de fornecer
uma proposta de estudo para as cerâmicas
pré-históricas. As observações seguiram
critérios específicos, o fim de registrar
as características dos fragmentos mais
representativos pela tipologia e pelas
decorações.
Fragmento de parede de cor
castanho-escuro com espessura
de 0,65 mm. Foi cozido em ambiente
redutor (com mais óxido de carbono
e pouco oxigénio), sendo a superfície
alisada e ligeiramente corroída; a
decoração é muito leve;
o desengordurante é semi- depurado
sendo em média inferior a 1 mm; a pasta
tem cerca de 5% de desengordurante
e 95% de argila; a porosidade da peça
é médio-baixa; os elementos
do desengordurante são semi-angulosos
de cor branca ou preto opaco.
Fragmento de parede de cor castanha
com espessura de 0,65 mm; foi cozido
em ambiente redutor; a decoração incisa
foi efectuada com uma ferramenta da
cabeça pontiaguda; as superfícies são
alisadas; o desengordurante é depurado
sendo em média inferior a 1 mm;
a pasta tem cerca de menos de 5%
de desengordurante e mais de 95%
de argila; a porosidade da pasta é baixa;
os elementos do desengordurante
são semi-angulosos de cor branca
semitransparente ou lamelares brilhantes.
18
19
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Fragmento de parede com pega
de cor vermelha e espessura de 10 mm;
foi cozido em ambiente oxidante;
a superfície foi alisada; o desengordurante
é semi-depurado sendo em média
de 2 mm; a pasta tem cerca de 5- 20%
de desengordurante e 80-95 % de argila;
a porosidade da peça é médio-baixa;
os elementos do desengordurante
são semi-angulosos de cor branca
semitransparente ou lamelares brilhantes.
BIBL IO G R A F IA
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Mamoas do Souto
Os fragmentos em questão não pertencem
às três formas em exposição, sendo difícil
fazer microscopia sobre peças grandes,
já restauradas: o trabalho incide sobre
fragmentos provenientes da mesma
mamoa das peças em exposição
[mamoa 1]
Fragmento de cerâmica associada
aos níveis de deposição dos seixos
da mamoa 1 com espessura de 5-8 mm;
o desengordurante é depurado sendo
em média inferior a 1 mm; a pasta tem
cerca de 5-20% de desengordurante
e 80-95 % de argila; os elementos do
desengordurante são semi-angulosos
sendo constituídos por minerais quer
opacos quer brilhantes.
Fragmento de cerâmica associada
aos níveis de deposição dos seixos
da mamoa 1 com espessura de 5 mm;
o desengordurante é depurado sendo
em média inferior a 1 mm; a pasta tem
cerca de 5- 20% de desengordurante
e 80-95 % de argila; a porosidade da pasta
é baixa; os elementos do desengordurante
são semi-angulosos.
massimo beltrame
matteo cantisani
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
inv. 07.fnt.012.8.341.1
Fragmento de parede
com decoração não
cardial no lábio e no bojo
povoado de fontes (abrantes)
finais do vi e 1ª metade
do v milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
comprimento: 3, 2 cm
largura: 3, 7 cm
inv. 92.slv.014.3
Fragmento com motivos
impressos lineares
povoado de salvador
(coalhos- abrantes)
finais do vi e 1ª metade
do v milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
comprimento: 3,1 cm
largura: 3,7 cm
Fragment with
non-cardial decoration
on the lip and bulge
settlement of fontes
(abrantes)
late vi- first half
of v millennium bc
pottery
dimensions:
length: 3,2 cm
width: 3,7 cm
Fragment with linear
impressed motifs
settlement of salvador
(coalhos- abrantes)
late vi- first half
of v millennium bc
pottery
dimensions:
length: 3,1 cm
width: 3,7 cm
inv. 07.fnt.012.8.341.2
Fragmento com motivos
não cardiais incisos
lineares na horizontal
povoado de fontes (abrantes)
finais do vi e 1ª metade do v
milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
comprimento: 3,9 cm.
largura: 4,1 cm.
Fragment with linear
incised non-cardinal
patterns
inv. 92.slv.014.4
settlement of fontes
(abrantes)
late vi- first half of v
millennium bc
pottery
dimensions:
length: 3,9 cm
width: 4,1 cm
Fragmento de parede
com incisão leve
povoado de salvador
(coalhos- abrantes)
finais do vi e 1ª metade
do v milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
comprimento: 6,2 cm
largura: 5,9 cm
Fragment with
a light incision
settlement of salvador
(coalhos- abrantes)
late vi- first half
of v millennium bc
pottery
dimensions:
length: 6,2 cm
width: 5,9 cm
inv. 92.slv.014.2
Fragmento com motivos
incisos lineares penteados
na vertical
povoado de salvador
(coalhos- abrantes)
finais do vi e 1ª metade
do v milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
comprimento: 4, 2cm
largura: 4,2 cm
Fragment with incised
linear motifs
settlement of salvador
(coalhos- abrantes)
late vi- first half
of v millennium bc
pottery
dimensions:
length: 4, 2 cm
width: 5 cm
inv. 92.slv.014.8
inv. 07.fnt.012.8.341.3
Fragmento de parede
com motivos puncionados
na horizontal
Fragmento de parede
com motivos incisos
curvilíneos na horizontal
povoado de salvador
(coalhos- abrantes)
finais do vi e 1ª metade
do v milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
comprimento: 4, 5cm
largura: 4,3 cm
povoado de fontes (abrantes)
finais do vi e 1ª metade
do v milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
comprimento: 4,4 cm.
largura: 7,1 cm
Fragment with incised
curvilinear motifs
Fragment with
punctured patterns
settlement of fontes
(abrantes)
late vi- first half
of v millennium bc
pottery
dimensions:
length: 4,4 cm
width: 7,1 cm
settlement of salvador
(coalhos- abrantes)
late vi- first half
of v millennium bc
pottery
dimensions:
length: 4,5 cm
width: 4,3 cm
inv. 07.fnt.012.8.341.4
Fragmento de asa circular
povoado de fontes (abrantes)
finais do vi e 1ª metade
do v milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
comprimento: 4,3 cm.
largura: 5,5 cm
Fragment
of circular handle
settlement of fontes (abrantes)
late vi- first half
of v millennium bc
pottery
dimensions:
length: 4,3 cm
width: 5,5 cm
22
23
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Inv. 13.COL.012.1.17
inv. 13.col. 012.1.19
monumento funerário
de colos
iv milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 7,3 cm
diâmetro: 6,5 cm
monumento funerário de colos
iv milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 8,2 cm
diâmetro: 5,8 cm
Vaso ovóide
Taça hemisférica
Hemisferical cup
Ovoid vase
funerary monument of colos
pottery
dimensions:
height: 8,2cm
diameter: 5,8 cm
funerary monument
of colos
pottery
dimensions:
height: 5,8cm
diameter: 8,5 cm
Pequena tacinha
hemisférica
inv. 013.col.012.2.24
Taça hemisférica
monumento funerário de colos
iv milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 12,2 cm
diâmetro: 6,4 cm
monumento funerário
de colos
iv milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 4,5 cm
diâmetro: 3,4 cm
Hemisferical cup
Small hemisferical cup
funerary monument of colos
pottery
dimensions:
height: 12,2cm.
diameter: 6,4 cm
funerary monument of colos
pottery
dimensions:
height: 4,5cm
diameter: 3,4 cm
24
25
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
inv. 92.slv.014.7
inv. 92.slv.014.1
Fragmento de parede
com motivos espinhados
em “falsa folha de acácia”
Fragmento de parede
com decoração espinhada
povoado de salvador
(coalhos- abrantes)
iii milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
comprimento: 7,9 cm
largura: 8,5 cm
povoado de salvador
(coalhos- abrantes)
iii milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
comprimento: 3,8 cm
largura: 3,5 cm
Fragment with
herringbone decoration
Fragment with
herringbone motifs
in “false acacia leaf ”
settlement of salvador
(coalhos- abrantes)
iii millennium bc
pottery
dimensions:
length: 7,9 cm
width: 8,5 cm
settlement of salvador
(coalhos- abrantes)
iii millennium bc
pottery
dimensions:
length: 3,8 cm
width: 3,5 cm
inv. 07.fnt.012.8.341.5
inv. 92.slv.014.6
Fragmento com padrão
decorativo triangular
Fragmento de parede
com motivos
pontilhados
povoado de fontes
(abrantes)
iii milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
comprimento: 7,2 cm
largura: 6,5 cm
povoado de salvador
(coalhos- abrantes)
iii milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
comprimento: 5,8 cm
largura: 4,8 cm
Fragment with decorative
triangular-shaped pattern
Fragment with
dotted motifs
settlement offontes
(abrantes)
iii millennium bc
pottery
dimensions:
length: 7,2 cm
width: 6,5 cm
settlement of salvador
(coalhos- abrantes)
iii millennium bc
pottery
dimensions:
length: 5,8 cm
width: 4,8 cm
inv. 07.fnt.012.8.341.6
inv. 07.fnt.012.8.341.7
Fragmento de parede
com padrão decorativo
Fragmento de parede com
motivos incisos lineares
povoado de fontes (abrantes)
iii milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
comprimento: 4,1 cm
largura: 4 cm
povoado de fontes (abrantes)
iii milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
comprimento: 4,3 cm
largura: 3,1 cm
Fragment with decorative
triangular-shaped pattern
Fragment with incised
linear motifs
settlement of fontes
(abrantes)
iii millennium bc
pottery
dimensions:
length: 4, 1 cm
width: 4 cm
settlement of fontes
(abrantes)
iii millennium bc
pottery
dimensions:
length: 4, 3 cm
width: 3,1 cm
inv. 07.fnt.012.8.341.8
inv. 92.slv.014.5
Fragmento de recipiente
hemisférico, incisão linear
profunda
Fragmento de parede
com padrão decorativo
espinhado
povoado de fontes (abrantes)
iii milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
comprimento: 12,4 cm
largura: 10,3 cm
povoado de salvador
(coalhos- abrantes)
iii milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
comprimento: 8,1 cm
largura: 8,4 cm
Fragment with
hemispherical shape
and deep linear incision
Fragment with decorative
herringbone pattern
settlement of fontes
(abrantes)
iii millennium bc
pottery
dimensions:
length: 12,4 cm
width: 10, 3 cm
settlement of salvador
(coalhos- abrantes)
iii millennium bc
pottery
dimensions:
length: 8,1 cm
width: 8,4 cm
26
27
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
inv. arq9col183
Taça carenada de parede
alta com dois mamilos
monumento funerário de colos
primeira metade
do ii milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 7,1 cm
diâmetro: 12,1 cm
inv. arq9col21
Taça carenada
com parede alta
Carenated cup with two
cupmarks
monumento funerário de
colos
primeira metade
do ii milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 7 cm
diâmetro: 6,1 cm
Carenated cup
funerary monument of colos
first half of ii millennium bc
pottery
dimensions:
height: 7 cm
diameter: 6,1 cm
funerary monument of colos
first half of ii millennium bc
pottery
dimensions:
height: 7,1 cm
diameter: 12,1 cm
inv. arq9col20
Pequena taça carenada
de parede alta com dois
mamilos
inv. arq9col22
Taça carenada
monumento funerário de colos
primeira metade do ii milénio
a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 7,4 cm
diâmetro: 5,1 cm
monumento funerário de colos
primeira metade do ii milénio
a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 6,3 cm
diâmetro: 4,1 cm
Carenated cup
Small carenated cup
with cupmarks
funerary monument of colos
first half of ii millennium bc
pottery
dimensions:
height: 7,4 cm
diameter: 5,1 cm
funerary monument of colos
first half of ii millennium bc
pottery
dimensions:
height: 6,3 cm
diameter: 4,1 cm
28
29
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Fragmento
de malga carenada
inv. arq60
Taça carenada com asa
povoado
de salvador-coalhos (pego)
segunda metade
do ii milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 5,6 cm
diâmetro: 12,3 cm
castelo de abrantes
segunda metade
do ii milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 6,5 cm
diâmetro: 11 cm
Carenated cup with
handle
Fragment of carenated
bowl
castle of abrantes
second half
of ii millennium bc
pottery
dimensions:
height: 6,5 cm
diameter: 11 cm
settlement of
salvador-coalhos (pego)
second half
of ii millennium bc
pottery
dimensions:
height: 5,6 cm
diameter: 12,3 cm
inv. arq9col193
Taça carenada
monumento funerário de colos
primeira metade
do ii milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 8,7 cm
diâmetro: 7,4 cm
Carenated cup
funerary monument of colos
first half of ii millennium bc
pottery
dimensions:
height: 8,7 cm
diameter: 7,4 cm
30
31
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Malga carenada
quinta da pedreira (rio de
moinhos)
segunda metade
do ii milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 8,5 cm
diâmetro: 18,5 cm
Carenated bowl
quinta da pedreira
(rio de moinhos)
second half
of ii millennium bc
pottery
dimensions:
height: 8,5 cm
diameter: 18,5 cm
Vaso ovóide com base
e paredes furadas
quinta da pedreira
(rio de moinhos)
segunda metade
do ii milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 24 cm
diâmetro: 19 cm
Fragmento de fundo com
decoração brunida
quinta da pedreira
(rio de moinhos)
final do ii/ primeiro
quartel do i milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 4,3 cm
diâmetro: 6 cm
Ovoid vase
quinta da pedreira
(rio de moinhos)
second half
of ii millennium bc
pottery
dimensions:
height: 24 cm
diameter: 19 cm
Fragment with burnished
decoration
quinta da pedreira
(rio de moinhos)
second half
of ii millennium bc
pottery
dimensions:
height: 4,3 cm
diameter: 6 cm
32
33
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Urna cineraria
mamoa 1 do souto
1120-910 a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 33 cm
diâmetro: 31 cm
Cinerary urn
tumuli 1 of souto
1120-910 bc
pottery
dimensions:
height: 33 cm
diameter: 31 cm
Púcaro
mamoa 1 do souto
1120-910 a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 8 cm
diâmetro: 12 cm
Cup
tumuli 1 of souto
1120-910 bc
pottery
dimensions:
height: 8 cm.
diameter: 12 cm
Taça carenada com asa
quinta da pedreira (rio de
moinhos)
segunda metade
do ii milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 7 cm
diâmetro: 10,2 cm
Malga carenada
mamoa 1 do souto
final do ii/ início
do primeiro milénio a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 7,7 cm
diâmetro: 23,4 cm
Carenated cup with
handle
Bowl
tumuli 1 of souto
end of ii/ early i millennium
bc
pottery
dimensions:
height: 7,7 cm
diameter: 23,4 cm
quinta da pedreira
(rio de moinhos)
second half
of ii millennium bc
pottery
dimensions:
height: 7 cm
diameter: 10,2 cm
34
35
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
O Geometrismo
da Idade do Ferro
no Mediterrâneo
Centro-Ocidental
Normalmente, a palavra “Geométrico”
é sinónimo de um estilo cerâmico da
Grécia Pré-Clássica (ix-vii a.C.), mas
as decorações compostas por padrões
geométricos nascem também noutros
lugares do Mediterrâneo em continuidade
com tradições locais: enquanto o
geometrismo na Grécia se instaura sobre
uma consolidada tradição figurativa,
herdada da Idade do Bronze com a arte
Minóica e Micénica, em regiões como
a Península Itálica e a Península Ibérica
sucede a tradições geométricas que
têm raízes na Idade do Bronze.
O Geometrismo pintado
na Península Ibérica:
os Iberos
Os primeiros escritores gregos
(entre os maiores, Hecateu de Mileto
e Heródoto) chamaram “Iberos” aos
povos instalados no levante espanhol e
no sul da Península Ibérica, incluindo
o Algarve e Baixo Alentejo, para os
distinguir de outros povos que moravam
mais no interior com diferentes línguas
e costumes, como por exemplo os
Celtiberos. Os Iberos evoluíram desde
a Idade do Bronze até à Idade do Ferro
para sociedade proto-estatais, através
da influência dos fenícios na Primeira
Idade do Ferro (viii-vi a.C.) e dos
Gregos e Púnicos na Segunda Idade do
Ferro (v-ii a.C.). Pode-se falar de povos
Iberos já desde o século vi a.C., sendo
que nesta altura as sociedades do levante
e sul da Península Ibérica já se tinham
transformado nas sociedades protoestatais conhecidas pelos historiadores
gregos, sendo divididos em dois grandes
grupos: Iberos (levante espanhol) e
Turdetanos (Andaluzia, Algarve e Baixo
Alentejo). Não sendo uma unidade
cultural completamente uniforme,
existindo por exemplo duas línguas
diferentes – o Ibérico falado pelos Iberos
e o Tartéssico falado pelos Turdetanos
–, desenvolveram-se alguns elementos
comuns como armamento, sociedade
estatal e alguns estilos cerâmicos.
36
37
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Com respeito a este último elemento,
a produção cerâmica, são características
do período Ibero formas de cerâmica
fina, trabalhada ao torno (introduzido
pelos fenícios no séc. viii a.C.), com
superfícies muito bem alisadas, talvez
pela aplicação de barbotina, o que
possibilitava que fossem pintadas. Na
maior parte, trata-se de formas cozidas
em ambiente oxidante, com decorações
geométricas monocromas pintadas;
existem também cerâmicas minoritárias,
como a cinzenta de cozimento redutor, a
de engobe vermelho e a com decoração
impressa. Se no século vi a.C. ainda
temos uma produção indígena de carácter
doméstico que recorre quer à técnica
do torno quer à mão e com decorações
pintadas elementares formadas por
bandas horizontais, no século v a.C. a
produção deixa de ser doméstica sendo
feita somente ao torno e decorada com
motivos pintados geométricos mais
elaborados com o aparecimento de
círculos, segmentos de círculos e linhas
onduladas tornando-se cada vez mais
complexa, culminando no aparecimento
de rombos e motivos arboriformes. Uma
forma mais comum deste período é a
urna de perfil ovóide.
As peças ce00850 e ce00945 são dois
exemplos deste período de transição
entre a produção doméstica com poucas
cerâmicas ao torno e produção de ateliê
onde predomina o torno: trata-se de
pequenas urnas funerárias, de perfil
ovóide, realizadas com pasta depurada
bege trabalhada ao torno. A decoração
pintada a castanho/vermelho em bandas
horizontais muito espessas, alternadas
com linhas horizontais finas, caracteriza
a primeiro período da cerâmica pintada
ibera. Quanto à área de proveniência
destas peças, há paralelos na necrópole de
Tutugi (Granada) e do Cigarralejo (Toya).
O geometrismo nas decorações das
cerâmicas do sul da Península Ibérica
parece ser um elemento autóctone, com
origem na cerâmica de ornados brunidos
da Idade do Bronze Final, embora neste
caso se trate de padrões completamente
diferentes, a preferência pelo geometrismo
frente ao naturalismo continua a
manifestar-se ao longo da proto-história
peninsular; até perdura durante os séculos
vi-iv a.C., quando a influência grega é
muito forte e leva à introdução de formas
gregas na cerâmica ibera. Só se adoptam
padrões mais naturalísticos em meados
do século iii a.C., quando a classe
dirigente que governa as cidades
helenizadas, adopta um gosto mais
aristocrata também nas decorações
da cerâmica. Estes dados levam a uma
consideração que nos deixa com três
perguntas ainda por responder: os
padrões geométricos pintados, como
nas peças em exposição, escondem um
significado simbólico ligado a aspectos
étnicos, a aspectos sociais ou puramente
de tradição estética ibérica?
O Geometrismo pintado
dos povos itálicos: os Dáunios
O desenho geométrico e o estilo
figurativo básico são características
originais e fundamentais da arte itálica,
visíveis desde a Cultura Apenínica da
Idade do Bronze e também a partir do
século ix a.C. de modo perfeitamente
autónomo, bem antes do regresso às
ligações com a Grécia no século viii a.C..
Uma importante produção, autónoma
e original, no âmbito dos Povos Itálicos,
é a cerâmica geométrica Dáunia.
O nome Dáunia (região) e Dáunios
(povo) derivam do mitológico Dauno,
rei da Arcádia (Grécia), que atravessando
o Mar Adriático desembarcou na região
itálica da Apúlia, expulsando o povo
autóctone dos Ausones. Deixando a
mitologia e olhando para a arqueologia
e a história, os Dáunios, sedeados na parte
norte-ocidental da região da Apúlia,
no sul de Itália, mantiveram a cultura
material, tradições próprias e um
florescente comércio com os etruscos
da Campânia e com os ilírios da costa
da Dalmácia (do outro lado do Mar
Adriático) até cerca de 400 a.C., quando
por acção da colónia grega de Taranto
chegaram influências da Grécia e de
outras colónias gregas do sul da Itália
(a Magna Grécia).
A cerâmica geométrica dáunia
encontra as suas raízes por um lado
no estilo Proto-Geométrico Iapígio
(fim do xi-meados do ix séculos a.C.),
próprio da Apúlia e manifestando
somente padrões rectilíneos, e por outro
lado no Geométrico Proto-Dáunio
(meados do ix-viii séculos a.C.),
que desenvolve formas próprias
e padrões curvilíneos e zoomorfos.
O período mais fascinante, pela
complexidade e policromia de padrões
decorativos, é o Sub-geométrico Dáunio
(vii-iii séculos a.C.), típico só da parte
norte-ocidental da Apúlia, em particular
o Sub-geométrico Dáunio ii (meados
do vi-iv séculos a.C.), o qual corresponde
ao pleno florescimento da Cultura Dáunia
e a uma produção rica e variada, quer
nas formas, com a introdução do torno
no final do V séc., quer nas decorações:
bicromia e aplicações plásticas, sobretudo
zoomorfas, que enriquecem as formas
cerâmicas. As peças da Col. Estrada
em exposição relativas a este período
constituem todas bons exemplares das
formas que nasceram no Sub-geométrico
Dáunio ii e de provável produção
canosina (da vila de Canosa), sendo
presente na bicromia o vermelho, típico
das oficinas da Dáunia meridional.
A primeira peça, ce00873, é um
vaso com filtro e revela a vivacidade da
produção Dáunia com a invenção de
novas formas: formas complexas embora
ainda feitas à mão sem torno, inteiramente
cobertas de bandas e padrões decorativos,
produzidas com argila depurada de cor
bege, com engobe creme e decoradas
com largas bandas alternada a outras
padronizadas com motivos finos.
A função dos vasos-filtro ainda não
é clara, mas a frequente associação destes
artefactos com contextos de santuários,
parece ligá-los a actividades rituais. A peça
ce01540 é um askos, termo grego antigo
que significa tubo, com decoração pintada
bicroma sobre pasta depurada bege, com
padrões envolvendo toda a superfície da
forma, alternando bandas cheias e
espessas, com bandas preenchidas com
padrões triangulares mais finos; a minúcia
usada no preenchimento da superfície do
askos, bem como do vaso-filtro, não deixa
qualquer dúvida sobre a não primitividade
do geometrismo dáunio. A peça ce00878
é uma taça com duas asas e uma
decoração pintada a castanho e vermelho,
mostrando no interior uma imagem
de roda raiada (talvez uma representação
do disco solar); a peça respeita plenamente
os cânones do Sub-geométrico Dáunio ii,
tendo uma distribuição dos padrões
decorativos bastante planificada,
entre exterior e interior. Finalmente,
o vaso-filtro ce00862, embora dentro
do Sub-geométrico Dáunio ii, parece
indicar uma certa decadência nos padrões
decorativos pintados, que anuncia no final
de séc. V uma crise interna causada por
um lado pela presença grega no Mar
Adriático e por outro lado pela expansão
dos samnitas, sem esquecer um terceiro
factor relacionado com o desaparecimento
dos etruscos do sul da Itália (Campânia);
estes factores incidiram sobre o comércio
dáunio e sobre a produção cerâmica,
anunciando nas decorações o mais sóbrio
Sub-geométrico Dáunio iii.
38
39
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
A peça ce00877, uma jarrinha com
decoração em bandas lineares vermelhas,
pertence ao Sub-geométrico Dáunio iii
e exemplifica bem a austeridade das
decorações pintadas em comparação com
o Sub-geométrico Dáunio ii, bem como
a modelação ao torno das formas, fruto
de uma maior penetração de influxos
gregos da área de Taranto nos ambientes
indígenas dáunios. Ainda mais
minimalista e dentro dos cânones
do Sub-Geométrico Dauno iii é a peça
ce00869: ambas faziam provavelmente
parte de adereços funerários como
miniaturas. A peça ce00370 é uma forma
típica da área de Canosa, nascida no
Sub-geométrico Dáunio ii e que
permanece, como exemplifica esta peça,
no Sub-geométrico Dáunio iii; pode
ver-se a influência da cerâmica “Ápula
sobrepintada” de figuras vermelhas
e da cerâmica Gnathia (tipos produzidos
em colónias gregas como Taranto)
na decoração vegetal que vai integrar
o sóbrio geometrismo indígena deste
período, denotando na cerâmica reflexos
económicos e políticos: a queda
do comércio dáunio, que tem reflexo
no empobrecimento da qualidade
das decorações, e a influência politica
e artística grega, visível nos motivos
vegetais, que quebram o rígido
geometrismo da tradição itálica.
Decorações na cerâmica:
reflexos de variados
processos
Mais uma vez as decorações
das formas cerâmicas não só transmitem
um sentido da estética dos povos antigos,
mas também, com as suas mudanças/
permanências e enriquecimento/
empobrecimento reflectem, também
os processos históricos, políticos e
económicos que afectaram os nossos
antepassados. Em sociedades complexas,
proto-estatais, as formas e as decorações
da cerâmica não só são conexas ao uso
e ao gosto do ceramista, mas sobretudo
com os dos principais encomendadores
– as elites dominantes –, em particular se
se destinavam a ser adereços funerários,
simbolizando a pertença étnica, bem
como o poder económico ou social
de uma família ou de um indivíduo.
Quando as condições políticas e
económicas mudam, muda também a
procura de um certo simbolismo ligado
às pinturas cerâmicas. Na Península
Ibérica como na Península Itálica.
davide delfino
inv ce00862
Vaso-filtro
apúlia, sudeste de itália
meados vi-iv a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 12,1 cm
comprimento: 13,1 cm
Filter pot
puglia, southeast italy
mid vi-iv bc
pottery
dimensions:
height: 12,1 cm
length: 13,1 cm
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40
41
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
inv. ce00850
inv. ce00945
Urna
Urna
Urn
Urn
sul da península ibérica
vi-v a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 17,2 cm
comprimento: 15,2 cm.
sul da península ibérica
vi-v a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 15,5 cm
comprimento: 17 cm
southern iberian peninsula
vi-v bc
pottery
dimensions:
height: 17,2 cm
length: 15,2 cm
southern iberian peninsula
vi-v bc
pottery
dimensions:
height: 15,5 cm
length: 17 cm
42
43
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
inv ce01540
inv. ce00873
apúlia, sudeste de itália
meados vi-iv a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 10,9 cm
comprimento: 17 cm
apúlia, sudeste de itália
meados vi-iv a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 13,5 cm
comprimento: 16 cm
Askos
Vaso-filtro
Askos
Filter pot
puglia, southeast italy
mid vi-iv bc
pottery
dimensions:
height: 10,9 cm
length: 17 cm
puglia, southeast italy
mid vi-iv bc
pottery
dimensions:
height: 13,5 cm
length: 16 cm
44
45
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
inv ce00878
inv ce00370
Taça
Pote
Cup
Pot
apúlia, sudeste de itália
meados vi-iv a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 8,7 cm
comprimento: 19 cm
puglia, southeast italy
mid vi-iv bc
pottery
dimensions:
height: 8,7 cm
length: 19 cm
apúlia, sudeste de itália
iv- iii a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 24 cm
comprimento: 25,5 cm
puglia, southeast italy
iv- iii bc
pottery
dimensions:
height: 24 cm
length: 25 cm
46
47
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
inv ce00877
inv ce00869
apúlia, sudeste de itália
iv- iii a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 10,5 cm
comprimento: 9,7 cm
apúlia, sudeste de itália
iv- iii a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 9,6 cm
comprimento: 8,6 cm
Jarrinha
Púcaro
Little jar
Pot
puglia, southeast italy
iv- iii bc
pottery
dimensions:
height: 10,5 cm
length: 9,7 cm
puglia, southeast italy
iv- iii bc
pottery
dimensions:
height: 9,6 cm
length: 8,6 cm
48
49
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Cerâmicas em terras
de contacto na Magna Grécia:
desde o geometrismo
de tradição indígena
até ao naturalismo helénico
A Apúlia é uma região do sul de Itália
que foi alvo de colonização grega a partir
do séc. viii a.C. e fez parte da Magna
Grécia (parte do sul de Itália colonizadas
pelos gregos) entre os sécs. vi e ii a.C.,
sendo de destacar a cidade de Taranto,
colónia jónia, fundada, de acordo com a
tradição, no ano 706 a.C., por espartanos,
e que foi a cidade grega mais rica e
próspera da região. Já então território
de comunidades itálicas, isto é, indígenas
que tiveram contactos com o mundo
grego pré-clássico no final da Idade do
Bronze, a Apúlia foi ao longo da Idade
do Ferro até à romanização (séc. iii a.C.)
terreno de contacto entre italiotas
(colonos gregos da Magna Grécia)
e itálicos (indígenas). A produção
cerâmica que ali se desenvolveu constitui
um excelente indicador material desse
contacto cultural, sendo que a Col.
Estrada permite-nos conhecer alguns
desses materiais e, através deles, as
dinâmicas que ocorreram nos contactos
entre itálicos e italiotas ao longo
de 300 anos.
As cerâmicas de verniz negro
No séc. iv a.C., um tipo de cerâmica
fina, muito depurada e pintada com
engobe negro, designada de cerâmica ática
de verniz negro, conheceu uma grande
produção em dois centros: Atenas
e Taranto. A segunda destas cidades,
situada no sul da Apúlia, era uma das
maiores da Magna Grécia e produzia
cerâmica de verniz negra exportada
para todo o Mediterrâneo Central.
Existem principalmente dois tipos
de cerâmica de verniz negro: sobrepintada
ou estampilhada. Nesta exposição são
apresentados exemplares da Col. Estrada
que permitem ter uma visão de duas
variantes da cerâmica sobrepintada.
50
51
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Cerâmica de verniz negro
sobrepintada vermelha
Este tipo de cerâmica foi produzida
durante um arco cronológico desde
meados do séc. v até ao final
do séc. iv a.C. na parte centro-norte
da região da Apúlia correspondendo
com os antigos territórios da Dáunia
e da Peucécia. Dois grandes grupos foram
individualizados por Beazley, coincidindo
com dois centros de produção: o Grupo
do Pintor de Xenon e o Grupo do
Pintor do Cisne Vermelho. As peças em
exposição ce00929, uma kylyx com a
função de conter o vinho a ser bebido
em simpósios, e ce00931, uma oinochoe
com a função de deitar o vinho ou a água,
podem ser atribuídas ao primeiro grupo,
dado não terem um cisne ou outro animal
pintado. No grupo do Pintor de Xenon, as
primeiras produções apresentam pinturas
de engobe vermelho junto a engobe
branco, enquanto nas fases finais aparece
o amarelo: como tal a peça ce00931
pode ser datada das primeiras fases
(450-375 a.C.) e a peça ce00929
das intermédias (400- 350 a.C.).
As sobrepintadas do Grupo do Pintor
de Xenon, parecem ter o seu centro
de produção mais antigo na cidade
de Metaponto, no Golfo de Taranto
(Mar Jónio), e que era o filtro entre a costa
marítima helenizada e o interior indígena.
Contudo, ainda não é claro se se trata de
uma produção de ceramistas gregos para
ser exportada para o interior indígena,
ou se os indígenas já conseguiam produzir
cerâmica sobrepintada, embora de
qualidade inferior. O certo é que esta
cerâmica situa-se numa produção
de fronteira entre o mundo helénico
e o mundo indígena.
Estas cerâmicas destinavam-se quer
para oferendas em enterramentos,
quer para uso ritual, de acordo com
os seus contextos de achamento em
túmulos e áreas cultuais das acrópoles.
Mais problemático é especificar o seu uso
no âmbito dos rituais, embora seja clara
a sua utilização em simpósio e banquetes
fúnebres, tendo em conta as formas
das peças. A possibilidade de que se
destinavam mais a rituais de enterramento
do que à vida quotidiana é reforçada por
um factor técnico: o verniz vermelho
ou vermelho e branco da sobrepintura
não ficavam bem fixados ao verniz preto.
Tal sugere estarmos perante uma
produção de cerâmica cujas decorações
não eram destinadas a ser duráveis mas
talvez a serem usadas somente uma vez.
Também a iconografia leva a pensar
num uso para rituais funerários: o louro,
cujos ramos são pintados em ambas
as peças em exposição, faz parte das
plantas ligadas à esfera do divino.
Em particular, na peça ce00931 as linhas
horizontais brancas revelam uma herança
do geometrismo itálico, bem como a
decoração vegetal estilizada no pescoço
revela já alguma influência do estilo
gnathia: é, por isso, uma peça significativa
do fenómeno do contacto entre itálicos
e italiotas.
Cerâmica de verniz negro
sobrepintada tipo “Gnathia”
O nome deste tipo de cerâmica
pintada, tem a origem no primeiro sítio
arqueológico onde foi encontrada em
grandes quantidades, a cidade de Egnathia
no território dos Peucécios, na Apúlia;
o seu nome peucécio era Gnathia
e depois da conquista romana passou
a designar-se Egnathia. Trate-se de uma
cerâmica de verniz negro, com cenas
figurativas e decorativas pintadas em
policromia: estas são compostas por
elementos vegetais ou ornamentais
como grinaldas, por vezes misturados
com cabeças de mulheres, máscaras
de teatro, aves ou lebres. Geralmente,
as formas da gnathia são as mesmas
da cerâmica grega clássica (ática em
particular), revelando algumas vezes uma
tendência para uma maior elegância.
Entre as peças do tipo gnathia em
exposição, destaque-se uma epichysis
(ce00752) datável do último quartel do
séc. iii a.C., com decoração pintada a
branco, vermelho e amarelo, dividida em
bandas horizontais com variados motivos
geométricos, representando um motivo
central de ramo de louro. É evidente a
riqueza dos padrões decorativos, não só
pelas suas variedades, mas também pelas
suas disposições no espaço do corpo
cerâmico, preenchendo-o totalmente e
não deixando vazios, mas, ao mesmo
tempo, de modo muito elegante.
A epichysis era uma forma de pequenas
dimensões feita para deitar líquidos,
provavelmente preciosos, de acordo
com a pequena dimensão da forma.
Esta forma, especificadamente italiota,
era produzida em oficinas da vila de
Canosa, em substituição da oinochoe,
forma tradicional grega. Já a peça
ce01547 é uma caneca com decoração
pintada branca, vermelha e amarela,
representando grupos triangulares de
pontos brancos no corpo principal da
forma (talvez abstrações de cachos de uva)
e tendo no pescoço, onde se concentram
as decorações, bandas horizontais de
folhas de videira incluídas em bandas
puramente geométricas. É inegável
o papel desta forma ligado ao uso do
vinho nos simpósios. O corpo principal
da forma apresenta as características
nervuras verticais que aparecem nas
formas de fabrico mais fino, a imitar os
concorrentes metálicos. Tanto a caneca,
como o uso das nervuras são típicas
de uma produção tardia, dos finais
do iii séc. a.C., quer de Taranto,
quer da Dáunia.
Pensa-se que o lugar de origem deste
tipo cerâmico seja a colónia grega de
Taranto (antiga Taras), no Mar Jónio, ao
redor de meados do séc. iv a.C.; a partir
deste primeiro centro produtor, a gnathia
foi produzida e exportada para mais
cidades gregas ou helenizadas da Magna
Grécia, atingindo uma área de difusão que
envolvia a Apúlia, a Campânia e a Sicília,
estabelecendo-se também nestas regiõe
alguns centros produtores. A produção foi
muito rica não só em termos de qualidade
da cerâmica e das pinturas, mas também
em termos de quantidade, como atesta
a quantidade presente nos museus e
colecções do mundo inteiro.
A gnathia era principalmente usada
nos adereços funerários, não excluindo
eventualmente o seu uso em banquetes
rituais, substituindo-se graduadamente
na Apúlia a cerâmica a verniz negro
sobrepintada. Enquanto que esta última
destinava-se para uso interno das
comunidades produtoras, a gnathia era
evidentemente uma cerâmica de luxo
feita para ser exportada. Sendo assim, no
âmbito da helenização e da emergência
de cada vez mais indivíduos com alto
poder de adquisição, também em áreas
não gregas, este produto de luxo substituiu
rapidamente a sobrepintada, mais
“híbrida” entre o helenismo
e o indigenismo.
A produção e circulação parecem
ter sobrevivido à primeira conquista
de Taranto por parte de exército Romano
em 272 a.C., no final das Guerras Pírricas,
quando os vencedores saquearam a cidade
grega. De facto, é atestada a produção de
cerâmica gnathia em todo o séc. iii a.C.,
tendo a produção somente terminado
com a segunda conquista de Taranto
pelos Romanos, em 209 a.C., na Segunda
Guerra Púnica. Na sequência disto,
Taranto, não só deixou de ter um papel
político-económico, mas também
o mesmo sucedeu aos seus clientes itálicos
da Campânia, da Apúlia e da Sicília que
eram grandes importadores de cerâmica
gnathia.
Sobrepintada ápula e Gnathia:
duas variedades de cerâmica
de verniz negro que se cruzam
Quer na cerâmica sobrepintada ápula,
quer na gnathia, podem salientar-se
alguns traços que ligam estas duas
produções de cerâmica de verniz negro
sobrepintadas a uma tradição italiota
(indígena), mais evidente na sobrepintada
ápula: uma certa independência nas
formas das peças em relação aos
protótipos gregos (visível nas peças
ce00931 e ce01547); uma certa
52
53
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
permanência da abordagem geométrica
na disposição dos elementos vegetais
pintados, representados em bandas
horizontais, bem como na mistura
de elementos geométricos e vegetais
(visível sobretudo na peça ce00752,
para a gnathia, e na peça ce00931, para
a sobrepintada ápula). Entre os dois tipos
de cerâmica, parece existir alguma
inter-relação, quando nos centros
produtores de cerâmica sobrepintada
ápula parece ocorrer no séc. iv a.C. uma
mudança em favor da gnathia, que talvez
estivesse a obter mais mercado, a qual, se
bem que diferente nas formas e nos
padrões decorativos, não o era na técnica
de decoração; tal provavelmente favoreceu
a rápida adopção da gnathia.
As cerâmicas da Magna
Grécia de figuras vermelhas
As cerâmicas de figuras vermelhas,
nascidas na região da Ática, na Grécia,
a partir de 530 a.C., são a mais famosa
manifestação da cerâmica pintada
do período grego clássico. Com a
intensificação da colonização grega no
sul da Itália e o surgimento político e
económico das cidades da Magna Grécia,
instalaram-se a partir da segunda metade
do séc. v a.C. (com a fundação da cidade
de Thurii, na Calábria em 443 a.C.) ateliês
de cerâmica a figuras vermelhas, geridos
por pintores formados na Grécia. Assim
nasceu uma produção italiota de figuras
vermelhas, dividida em várias “escolas”
regionais: Ápula, Lucana, Campana,
Pestana (da cidade de Paestum) e Siciliota.
Esta produção, fora da “mãe pátria”
grega, foi a partir do séc. iv a.C. a mais
activa no mundo grego, na sequência
da interrupção da produção em Atenas,
depois da sua derrota e queda políticoeconómica na Guerra do Peloponeso
(431-404 a.C.). Não obstante uma forte
componente grega, algumas escolas da
Magna Grécia ainda mantiveram uma
tradição itálica, como a Lucana
e a Ápula: a Col. Estrada permite apreciar
estas particularidades em algumas peças
exibidas.
A peça ce00178, um krater ápulo
do tipo “em forma de sino” (a campana),
datável entre a segunda metade
do v e o início do iv séc. a.C., é uma
forma destinada a misturar vinho
com água, mel e especiarias durante
o simpósio
“ Bebemos!
Porque esperar as lucernas?
Curto o tempo
Oh amado rapaz, toma as
grandes copas coloridas
Porque o filho do Zeus e da
Sémele
Deu aos homens o vinho
Para esquecer as dores.
Deita duas partes de água e uma
de vinho
E enches as copas até o orlo
E uma logo a seguir a outra”
[Alceou, συμποσιακὰ μέλη,
sécs. VII-VI a.C.]
Em cada lado, há uma cena: no lado A,
uma cena relacionada com o casamento,
com a noiva no lado esquerdo oferecendo
um bolo de casamento ao noivo, sentado
com forma de Eros. No lado B, dois jovens
com manta, um dos quais com um bastão,
numa cena provavelmente ligada ao tema
da paideia, ou seja, da edução dos jovens:
o facto de um dos jovens ter um bastão,
de tipo grosseiro e mais característico
dos idosos, pode significar que ele tem
mais experiência de vida que o jovem
representado à esquerda e, portanto,
ser o seu mentor.
O louro pintado debaixo do bordo,
tem o significado de metamorfose e
iluminação; como tal, está ligado à
sabedoria divina, sendo atributo do
deus Apolo. A sua presencia num vaso,
provavelmente parte de um adereço
funerário, pode simbolizar a ocorrência
de uma metamorfose do defunto, da
dimensão terrena para a espiritual.
A peça ce00184, uma nestoris
de escola lucana datável da segunda
metade do séc. iv a.C., destinava-se a
conter vinho: a sua forma particular,
com rodas nas asas, deriva de uma forma
cerâmica da Idade do Ferro messápica, no
centro-sul da Apúlia, dita trozzella (nome
italianizado do dialecto salentino tròzula,
por sua vez derivado do latim trochlea,
que significa roda ou polia).
Vasos policromos
para os defuntos:
a cerâmica canosina
BIBL IO G R A F IA
Uma produção muito particular
da Apúlia entre finais do séc. iv a.C.
e meados do ii séc. a.C., é uma cerâmica
com decorações plásticas muito
articuladas e pintadas com têmpera após
o cozimento. Com achados limitados à
região da Apúlia, com algumas excepções
na Campânia (em Cuma), esta produção
toma o nome de “canosina”, do lugar dos
primeiros achados em hipogeus perto da
antiga Canusium (hoje a vila de Canosa).
Pintada com um fundo branco e muitas
vezes decoradas com cor rosada, amarela,
turquesa e vermelha, esta produção
é caracterizada por grandes formas
com decoração plástica antropomorfa,
de evidente importação do mundo
helenístico do Mediterrâneo Oriental,
muito rica e elaborada; as formas das
aplicações plásticas abrangem de tal forma
o vaso, que frequentemente quase alteram
a sua forma original.
O conjunto de ricas aplicações plásticas
e vistosos cores nas pinturas, criam um
efeito estético faustoso que se diferencia
da concepção estílica helenística, traindo
um gosto italiota e, em particular, ápulo.
Outra tradição ápula é a aplicação das
cores pintadas depois da cozedura, como
acontecia com as cerâmicas de verniz
negro sobrepintadas. Os vasos canosinos
eram usados em contextos funerários, não
só como contentores de cinzas ou ossos,
mas também como objectos de prestígio
através da sua exibição. Parece, também,
com base em recentes estudos sobre os
pigmentos, que os vasos eram pintados no
momento do enterro, de acordo com as
exigências dos oferentes.
A peça em exposição, ce00679, é uma
tampa de um vaso de grandes dimensões,
provavelmente uma ânfora, onde na
base da asa é representada uma figura
feminina com manto que, de acordo
com a iconografia dos vasos canosinos,
representa uma carpideira (mulheres
pagas para acompanhar o funeral
chorando), enquanto o corpo principal da
tampa representa provavelmente a cara da
mulher enterrada.
A trozzella era uma forma que apareceu
no séc. vi a.C. e era uma transposição
para a cerâmica de ânforas em metal,
fornecida de um sistema de cordas e
rodas para ser baixada nos poços ou nos
tanques, para recolha de água. Por isso,
tendo em conta a aridez quer da Apúlia,
quer da Lucânia, estas formas tiveram
uma forte carga simbólica. A peça em
questão tem duas representações, uma
de cada lado. No lado A, uma cena de
provável casamento, com a noiva do
lado esquerdo oferecendo ao noivo
duas prendas: o bolo de casamento
e uma lança, podendo ver-se nesta o
símbolo do deus Marte, mutação itálica
(anterior à romana) do deus grego Ares,
que era, além da guerra, também deus
da fertilidade e da protecção; do lado
direito, o noivo sentado, com vestes de
soldado, o escudo hoplítico (o oplón) na
mão direita e a lança (a dorys) na mão
esquerda; o capacete e o calçado são
típicos de soldados representados noutros
contentores (kantharoi) produzidos na
Magna Grécia. No Lado B, uma cena de
caça, conduzida por dois homens, e cuja
seminudez numa luta contra uma fera
salvagem como o javali, símbolo da força
bruta, reflecte quer o mito, e os valores
que lhe estão subjacentes, de Hércules,
muito radicado nas comunidades itálicas,
quer a temática da virtude masculina.
Esta peça, portanto, carregada de muitos
valores simbólicos, era provavelmente
uma prenda de casamento.
davide delfino
54
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
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inv. ce00929
Kylix
apúlia, sudeste de itália
400-350 a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 7,1 cm
diâmetro: 22,2 cm
Kylix
puglia, southeast italy
400-350 bc
pottery
dimensions:
height: 7,1 cm
diameter: 22,2 cm
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
inv. ce00931
inv. ce00752
Oinochoe
Epichisis
Oinochoe
Epichisis
apúlia, sudeste de itália
450-375 a.c
cerâmica
dimensões:
altura: 24 cm
diâmetro: 12,2 cm
apúlia, sudeste de itália
225-200 a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 17,3 cm
diâmetro: 6,4 cm
puglia, southeast italy
450-375 bc
pottery
dimensions:
height: 24 cm
diameter: 12,2 cm
puglia, southeast italy
225-200 bc
pottery
dimensions:
height: 17,3 cm
diameter: 6,4 cm
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
inv. ce01547
inv. ce00178
apúlia, sudeste de itália
finais do séc. iii a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 13 cm
diâmetro: 11,1 cm
apúlia, sudeste de itália
segunda metade do séc. v/ início do séc. iv a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 26,3 cm
diâmetro: 26,6 cm
Krater
Caneca
Mug
Krater
puglia, southeast italy
late iii bc
pottery
dimensions:
height: 13 cm
diameter: 11,1 cm
puglia, southeast italy
second half of v/ early iv bc
pottery
dimensions:
height: 26,3 cm
diameter: 26,6 cm
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Nestoris
sudeste de itália
segunda metade do séc. iv a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 33,7 cm
diâmetro: 20,6 cm
Nestoris
southeast italy
second half iv bc
pottery
dimensions:
height: 33,7 cm
diameter: 20,6 cm
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
inv. ce00679
Tampa “canosina”
apúlia, sudeste de itália
finais do séc. iv a.c.
a meados do ii séc. a.c.
cerâmica
dimensões:
altura: 37 cm
diâmetro: 7 cm
Canosia top
puglia, southeast italy
late iv- mid ii bc
pottery
dimensions:
height: 37 cm
diameter: 7 cm
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Cerâmica Romana
[iii a.C – vi d.C.]
Os romanos foram grandes produtores
de cerâmica, a qual permeou numerosos
aspectos da sua vida. Nesta exposição
apresentam-se três dos tipos mais
representativos de cerâmica romana:
a cerâmica de mesa de prestígio,
a cerâmica de iluminação e a cerâmica
de armazenamento.
Começando pelas cerâmicas de mesa
de prestígio, as mais importantes foram:
a cerâmica dita “Campaniense” entre os
séculos iii-i a.C. e a cerâmica dita “Terra
Sigillata” entre os séculos i a.C. e vi d.C.
A cerâmica Campaniense era
geralmente desprovida de decoração,
impermeável e era pintada com um
verniz negro de reflexos metálicos; as
suas formas baseavam-se na das peças de
metal, sobretudo de prata. Assim, como se
pode ver, estas cerâmicas constituíam uma
alternativa mais barata, mas prestigiosa,
da baixela de prata. A sua área de
produção e consumo coincide com a
expansão romana no Mediterrâneo
Central e Ocidental entre os séculos
iii-i a.C., tendo o registo arqueológico
indicado que estas cerâmicas encontramse quer em sítios romanos quer em
sítios de povos indígenas conquistados.
Como tal, esta cerâmica também
servia uma outra função, de carácter
identitário: fazia parte integrante do
processo de romanização – ou seja, de
assimilação da cultura romana – das
populações indígenas. Nesta exposição,
como exemplo deste tipo de cerâmica,
encontram-se duas peças da Col.
Estrada: um púcaro (ce01553) e um kylix
(ce01552), isto é, um copo para beber
vinho.
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
A partir de finais do século i a.C.
e coincidindo com a expansão do Império
Romano para o Mediterrâneo Oriental,
assiste-se à substituição da cerâmica
Campaniense por uma outra: a Terra
Sigillata. Trata-se de uma cerâmica
com os mesmos valores e objectivos
da Campaniense, mas com uma cor
diferente: um engobe alaranjado.
O seu nome provém do latim sigille, ou
seja, um selo com a marca de fabricante
que era comum encontrar no fundo da
peça. Tal como a Campaniense, servia
não só como alternativa à baixela de prata,
mas constituía também um elemento de
romanização, encontrando-se em diversas
estações arqueológicas por todo o Império
Romano. A sua produção conheceu uma
longa duração prolongando-se até ao
século vi d.C. Nesta exposição são visíveis
dois pratos da Col. Estrada, datáveis de
cerca do século iv d.C., do tipo Sigillata
Africana (ce00819 e ce00820).
inv. ce01552
Kylix Campaniense
romano
iii-i a.c.
cerâmica
dimensões:
altura (4,2 cm)
comprimento (16,5 cm)
largura (11 cm)
Kylix
roman
iii-i b.c.
pottery
dimensions:
height (4,2 cm)
length (16,5 cm)
width (11 cm)
inv. ce01553
Púcaro Campaniense
romano
iii-i a.c.
cerâmica
dimensões:
altura (11,5 cm)
comprimento (10,9 cm)
largura (8,2 cm)
Jug
roman
iii-i b.c.
pottery
dimensions:
height (11,5 cm)
length (10,9 cm)
width (8,2 cm)
BIBL IO G R A FIA
ALARCÃO, J.; ETIENNE, R. (1974-76)
Fouilles de Conimbriga, 7 vols.,
Paris: B occard.
BUSSIÈRE, J. (2000)
Lampes antiques d’Algérie,
Monographies Instrumentum, 16,
Montagnac: Éditions Monique
Mergoil.
BUSSIÈRE, J. (2007)
Lampes antiques d’Algérie II. L ampes
tardives et lampes chrétiennes,
Monographies Instrumentum, 35,
Montagnac: Éditions Monique
Mergoil.
LUÍS, L. (2003)
As cerâmicas campanienses
de Mértola, Trabalhos de
Arqueologia, 27, Lisboa: IGESPAR.
PIMENTA, J. (2005)
As ânforas romanas do Castelo de
São Jorge (Lisboa), Trabalhos de
Arqueologia, 41, Lisboa: IGESPAR.
VIEGAS, C. (2003)
A terra sigillata da Alcáçoca de
Santarém. Cerâmica, economia
e comércio, Trabalhos de
Arqueologia, 26, Lisboa: IGESPAR.
Passemos agora à cerâmica
de iluminação, sendo aqui de destacar
as lucernas, as quais eram utilizadas
em diversos momentos da vida laica
e religiosa. Consistiam num engenhoso e
prático dispositivo de iluminação
composto por 3 partes. Um depósito
central em forma circular, com um
orifício por onde se deitava azeite ou outro
óleo vegetal para servir de combustível;
um bico, onde se colocava um pavio a
arder, alimentado pelo combustível do
depósito (embora alguns modelos
pudessem ter vários bicos para
proporcionar maior luminosidade);
também era vulgar, mas nem sempre,
haver uma asa para deslocar a lucerna
mais facilmente. As lucernas eram
fabricadas em moldes, o que permitia que
elas fossem produzidas em grandes
quantidades e a baixos custos. Um desses
moldes, feito em pedra, encontra-se aqui
exposto (ce02775), datável de cerca
do século v d.C., tendo em conta a forma
da lucerna que nele se encontra. Se bem
que várias lucernas não tivessem qualquer
tipo de decoração (ce00510), era vulgar
encontrar no disco por cima do depósito
uma enorme variedade de temas
iconográficos como cenas mitológicas,
cenas de teatro, militares, corridas,
combates de gladiadores, eróticas,
vegetais, animais, os quais podiam ser
usados conforme o ambiente em que era
necessário luz.
A iconografia das lucernas também
podia ser usada como veículo de
transmissão de valores ou mudanças
culturais, como a romanização ou a
adopção do cristianismo. Vejamos alguns
exemplos proporcionados por algumas
lucernas da Col. Estrada. Numa lucerna
do século ii d.C., quando o império era
ainda dominado por valores pagãos,
pode ver-se no disco um javali (ce02771);
o javali, na mundividência pagã,
simbolizava coragem e força. Com a
conversão do Império Romano ao
cristianismo no século iv d.C., as
temáticas pagãs são postas de parte nas
lucernas e são adoptados símbolos, cenas
e personagens bíblicas, como se pode ver
nas lucernas ce02707, ce02770, ce02772
e ce02773.
Por último, passemos à cerâmica de
armazenamento romana, indo aqui todo
o destaque para a ubíqua ânfora.
Volumosa e resistente, era o frigorífico
da época; onde quer que houvesse
romanidade, havia a fiel ânfora que
transportava a dieta mediterrânica
consigo: o trigo, o vinho e o azeite, para
além de alguns produtos específicos,
como o garum, um molho à base de
vísceras de peixe, muito apreciado pelos
romanos. Foi enorme a variedade de
formas das ânforas e nesta exposição
apresenta-se uma delas, encontrada em
Alter do Chão, mas à guarda da Câmara
de Abrantes (108).
gustavo portocarrero
Agradecimentos: à Dra. Filomena Gaspar
da Câmara Municipal de Abrantes pela sua
colaboração na elaboração deste texto.
68
69
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
inv. ce00819
inv. ce00820
romano
c. iv d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (4,5 cm)
diâmetro (20 cm)
romano
c. iv d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (5 cm)
diâmetro (27,4 cm)
Prato de Terra Sigillata
Prato de Terra Sigillata
Terra Sigillata dish
Terra Sigillata dish
roman
c.iv a.d.
pottery
dimensions:
height (5 cm)
diameter (27,4 cm)
roman
c.iv a.d.
pottery
dimensions:
height (4,5 cm)
diameter (20 cm)
70
71
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
inv. ce02770
Lucerna
romano
c. v d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (4,5 cm)
comprimento (10,6 cm)
largura (6,6 cm)
inv. ce02775
Molde de lucernas
romano
c. v d.c.
calcário
dimensões:
altura (4 cm)
comprimento (20 cm)
largura (14,5 cm)
Lamp
roman
c. v a.d.
pottery
dimensions:
height (4,5 cm)
length (10,6 cm)
width (6,5 cm)
Lamp mould
roman
c. v a.d.
limestone
dimensions:
height (4 cm)
length (20 cm)
width (14,5 cm)
inv. ce02707
Lucerna
romano
c. v d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (3 cm)
comprimento (8,3 cm)
largura (5,3 cm)
Lamp
roman
c. v a.d.
pottery
dimensions:
height (3 cm)
length (8,3 cm)
width (5,3 cm)
inv. ce02771
Lucerna
romano
ii d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (4,5 cm)
comprimento (11,7 cm)
largura (6,7 cm)
inv. ce02772
Lucerna
romano
c. v d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (4,3 cm)
comprimento (9,5 cm)
largura (5,1 cm)
Lamp
roman
ii a.d.
pottery
dimensions:
height (4,5 cm)
length (11,7 cm)
width (6,7 cm)
Lamp
roman
c. v a.d.
pottery
dimensions:
height (4,3 cm)
length (9,5 cm)
width (5,1 cm)
inv. ce02773
Lucerna
romano
c. vi d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (3,3 cm)
comprimento (10,2 cm)
largura (7,5 cm)
inv. ce00510
Lucerna
romano
i-ii d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (2,2 cm)
comprimento (7,4 cm)
largura (5,6 cm)
Lamp
roman
c. vi a.d.
pottery
dimensions:
height (3,3 cm)
length (10,2 cm)
width (7,5 cm)
Lamp
roman
i-ii a.d.
pottery
dimensions:
height (2,2 cm)
length (7,4 cm)
width (5,6 cm)
72
73
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
inv. 108
Ânfora
romano
i d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (101 cm)
diâmetro (34 cm)
Amphora
roman
i a.d.
pottery
dimensions:
height (101 cm)
diameter (34 cm)
74
75
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Cerâmica Medieval
e Moderna Portuguesa
[Séculos xiii–xvii]
Ao contrário do que se passou em
época romana, onde a cerâmica atingiu
um elevado prestígio, no novo reino
de Portugal formado no século xii, a
cerâmica não começou por ter
um estatuto semelhante.
A cerâmica utilizada era comum
e de produção regional, destinando-se
a satisfazer as necessidades de uma
clientela local. A cerâmica era utilizada,
sobretudo, em três tipos de actividades:
contentores de produtos alimentares
e farmacêuticos, preparação desses
produtos e cerâmica de mesa, havendo
ainda a acrescentar alguns usos específicos
como a iluminação. Mas, ao contrário
da época romana, não havia cerâmica de
prestígio quer para exposição, quer para
a mesa; quem tinha dinheiro, preferia, ao
invés, utilizar louça em metal, sobretudo
o ouro e a prata, mas também o cobre, o
bronze e o estanho.
Como exemplos de cerâmicas dessa
época, encontram-se expostos nesta
exposição duas candeias descobertas
no castelo de Abrantes, datáveis dos
séculos xiii/xiv, e que apresentam
uma elaboração bastante simples e sem
iconografia (arq.61 e chabt.013.3.53),
em claro contraste com o maior cuidado
que se vê nas lucernas de época romana.
Também de época medieval são visíveis
três cerâmicas prevenientes da Col.
Estrada: um púcaro (ce00485), datável
dos séculos xiv/xv, e dois pequenos
potes (ce00480 e ce00494), datáveis
respectivamente dos séculos XIII
e xiii/xiv, e cujas caneluras vêm na
continuidade de uma tradição altimedieval com origem no actual sul
de Portugal.
No entanto, por volta do século XV,
o estatuto da cerâmica iria começar
gradualmente a mudar. É nesta altura
que começa a verificar-se a adopção de
cerâmica vidrada e de cerâmica fina não
vidrada, cujo fabrico e uso vai conhecer
uma amplitude nacional, ultrapassando
assim a regionalidade até então vigente.
Começando pela cerâmica vidrada,
destacam-se os vidrados de chumbo,
os vidrados de estanho (ou faianças) e a
porcelana.
76
77
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Os primeiros, com origem já
na Antiguidade, consistiam na utilização
de um óxido de chumbo para vidrar
a cerâmica; o vidrado obtido era claro
e transparente, colorido com óxidos
de metal, sendo as cores mais usadas
o verde, o amarelo e o melado.
A escolha destas cores não era casual,
dado que eram as que se assemelhavam
mais a metais, além de que o brilho e a sua
textura lustrosa do vidrado constituíam
um exotismo; tudo isto sem esquecer
aspectos mais práticos, relacionados com
a impermeabilidade do vidrado. A sua
crescente popularidade levou a que já no
século XVI estas cerâmicas começassem
a ser produzidas em território nacional.
Como exemplo deste tipo de vidrado,
aponte-se um prato em tons de melado
achado no castelo de Abrantes (fag85.13)
e um potezinho verde achado no Centro
Histórico de Abrantes (chabt.013.1.59)
e que tem a particularidade de não ter sido
bem executado o que terá provavelmente
motivado o seu abandono; ambas as peças
são datáveis dos séculos xvi/xvii.
Relativamente aos vidrados de estanho,
mais conhecidos por faianças, trata-se de
uma técnica que consiste na cobertura
de uma cerâmica com um vidrado branco
de estanho, o que permite a formação de
um fundo que pode ser pintado com uma
decoração colorida. Assim, esta louça,
para além das vantagens já mencionadas
para os vidrados de chumbo, também
oferecia inúmeras possibilidades no
campo decorativo, tendo-se tornado
ainda mais popular e cara que o vidrado
de chumbo. A sua origem parece ter
tido lugar no Médio Oriente durante a
Alta Idade Média, tendo os primeiros
exemplares chegado a Portugal por via
da importação da Espanha Mourisca
no final da Idade Média. Alguns exemplos
podem ser vistos nesta exposição por
intermédio de duas tigelas de azul-cobalto
da Col. Estrada datáveis de cerca
do século xv (ce00469 e ce00470).
A cerâmica importada caracterizava-se
pelos tons de azul e amarelo metálicos
e por temáticas que misturavam temas
islâmicos e cristãos. Também começou a
ser produzida no século xvi em território
nacional. Como exemplo, encontra-se em
exibição um fragmento de um prato, que
foi reconstituído, encontrado no Centro
Histórico de Abrantes (chabt.r.nova.77).
Trata-se de uma peça de cor azul
e castanho, com arabescos que se baseiam
numa incompreensão da escrita árabe
imitada de uma peça original
hispano-mourisca.
Entretanto, com o estabelecimento
de um caminho marítimo para o Oriente
em 1498, na sequência da viagem de Vasco
da Gama, os portugueses começaram
a importar uma cerâmica vidrada
até então desconhecida na Europa e
fabricada na China: a porcelana. Ao
contrário das outras cerâmicas vidradas,
esta não era porosa, ou seja, os grãos
do corpo de barro não permaneciam
intactos mas fundiam-se, tornando o
utensílio completamente impermeável e
translúcido. Inventada pelos chineses por
volta do século viii d.C., foi importada
em grandes quantidades pelos
portugueses, em particular a variedade
azul e branca, ultrapassando em prestígio
a restante cerâmica vidrada. Tal como as
outras cerâmicas vidradas, também
a porcelana foi vista como um substituto
dos metais, em particular da prata.
Quando o arcebispo de Braga, Frei
Bartolomeu dos Mártires, apresentou em
meados do século xvi a porcelana ao Papa
em Roma, além de afirmar explicitamente
que ela poderia ser um substituto da
prata, tinha ainda as vantagens de ser mais
graciosa e limpa (por não oxidar) além de
mais exótica e mesmo barata, porque se se
partisse podia-se facilmente substituir por
outra, algo que permitia também libertar
prata para a prática das boas obras.
Note-se também que a China começou
a produzir a partir das últimas décadas
do século xvi um tipo de porcelana
especificamente para ser exportada para a
Europa (geralmente designada por Kraak
Porselein) e que apresenta um conjunto
de características próprias que fazem
lembrar trabalhos em metal como bordos
recortados e compartimentados, ligeiro
repoussé, corpo fino e ressonante, sendo
alguns desses elementos visíveis num
prato de porcelana encontrado no Centro
Histórico de Abrantes (chabt.t.palma.s/
c109). Trata-se de uma peça datável do
chamado período Wanli (1573-1620),
cujo nome resulta do facto de as
porcelanas levarem um selo
com o nome do imperador
que reinava na altura do seu fabrico.
A porcelana conheceu uma enorme
procura em Portugal, tornando-se desde
meados do século xvi a baixela preferida
dos portugueses, tal como indica
o testemunho atrás referido de Frei
Bartolomeu dos Mártires e o volume
de exportações da China para Portugal.
É possível que houvesse outros factores
que expliquem o sucesso da porcelana
para além daqueles atrás mencionados:
assim, sendo provenientes do Extremo
Oriente, lugar onde na geografia sagrada
cristã situava-se o Paraíso Terrestre,
acrescido da sua cor azul e branca (as
cores do Céu e da pureza), num ambiente
de reforma da Igreja Católica (a chamada
Contra-Reforma), o seu uso não deixava
de ser uma forma de reafirmar uma
identidade católica. Além disso, talvez
também tenha ocorrido o contributo de
razões mais materiais: em meados do
século xvi o Estado português começou
a sentir enormes dificuldades financeiras,
devido aos gastos com a manutenção do
Império, pelo que a porcelana acabava
por ser uma opção mais barata que uma
baixela de prata (como Frei Bartolomeu
dos Mártires tinha também mencionado),
permitindo assim reservar a prata para a
circulação monetária, de modo a acudir
a situações mais prementes.
Como a procura da porcelana era
bastante superior à oferta, além de que o
seu preço não era propriamente barato,
assiste-se a partir de finais do século
xvi e até finais do século xvii aquele
que foi o mais bem-sucedido fenómeno
de produção e comercialização de uma
cerâmica de origem portuguesa: a faiança
azul e branca. Esta faiança começou por
ser uma imitação da porcelana chinesa
(cuja técnica de fabrico constituía um
segredo de estado na China, só sendo
descoberta pelos europeus no século
xviii) com imitações e estilizações
de temas chinesas, mas também com
diversas temáticas europeias, como
brasões, cenas de caça, rendas, etc.
Alguns exemplos dessa faiança
provenientes do Centro Histórico de
Abrantes são aqui expostos, tendo sido
todos eles objecto de restauro: um prato e
uma tigela armoriados (chabt.t.palma.s/
c22 e chabt.t.palma.s/c27), além
de um prato, também armoriado, mas
pintado a tons de vinoso o qual começou
a ser usado nas faianças portuguesas a
partir do terceiro quartel do século xvii
(chabt.t.palma.s/c9). Estas faianças
constituem porventura o testemunho
material com origem em Portugal mais
espalhado pelo mundo, encontrando-se
numerosos exemplares não só na Europa,
mas também nos continentes americanos,
africano e asiático.
Em última análise, como se pôde ver,
o aumento do volume e do prestígio
da loiça vidrada em Portugal durante a
Idade Moderna, não assentava tanto na
cerâmica em si, mas sobretudo na sua
capacidade de providenciar uma imitação
mais exótica (e mais barata) dos metais.
78
79
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Passemos agora a uma breve análise do
outro grande grupo cerâmico adoptado
no alvor da Idade Moderna em Portugal:
cerâmica fina não vidrada. Trata-se de
um conjunto variado e ecléctico, que
em comum apresentam o facto de não
serem vidrados e de se notar um maior
cuidado do produtor na sua elaboração
através de aspectos como argilas mais
depuradas, paredes finas, engobes,
decoração (embora nem todos estes
factores estivessem simultaneamente
presentes). A competição das cerâmicas
vidradas, obrigou os produtores a
elaborarem cerâmicas comuns mais finas
para poderem competir e apresentarem
produtos de melhor qualidade a um
público que começava a valorizar mais
a cerâmica, mas também houve outros
factores que influenciaram o consumo
destas cerâmicas (embora variáveis
conforme os casos), como ideológicos ou
alimentares.
Comecemos por uma infusinha com
superfície engobada a vermelho e brunida,
datável do século xvii (ce004008).
Este género de cerâmicas começou
a ser produzido a partir do século xvi
e nota-se uma preocupação em imitar
(embora de uma forma pouco sucedida)
a cerâmica sigillata romana. Está-se,
então, em pleno Renascimento: o grande
movimento pan-europeu pelo qual se
procurou um regresso ao mundo clássico.
Os historiadores chamam a atenção
que na sequência disso ocorreu uma
imitação das artes romanas, sobretudo
nos domínios da arquitectura e escultura.
Mas também houve outras artes, menos
espectaculares, onde se verifica algo
semelhante, mais precisamente na
cerâmica, com a tentativa de imitação da
cerâmica de luxo romana: a terra sigillata.
O seu uso em Portugal assume, assim, um
significado ideológico; note-se ainda que
este tipo de cerâmica tem uma amplitude
menor que a vidrada, sendo usada
sobretudo pelas elites.
inv. ce00485
Púcaro
portugal
xv-xv d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (14,6 cm)
diâmetro (17,2)
Jug
portugal
xiv-xv a.d.
pottery
dimensions:
height (14,6 cm)
diameter (17,2 cm)
inv. ce00480
Pote
portugal
xiii d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (20,5 cm)
diâmetro (22 cm)
Pot
portugal
xiii a.d.
pottery
dimensions:
height (20,5 cm)
diameter (22 cm)
inv. ce00494
Pote
portugal
xiii-xiv d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (15,9 cm)
diâmetro (19,9 cm)
Pot
portugal
xiii-xiv a.d.
pottery
dimensions:
height (15,9 cm)
diameter (19,9 cm)
BIBL IO G R A FIA
AA.VV. (1995)
Actas das 1.ª Jornadas de Cerâmica
Medieval e Pós-Medieval, Tondela.
AA.VV. (1998)
Actas das 2.ª Jornadas de Cerâmica
Medieval e Pós-Medieval, Tondela.
AA.VV. (2012)
Velhos e Novos Mundos. Estudos
de Arqueologia Moderna, 2 vols.,
Lisboa: Centro de História de
Além-Mar.
CALADO, R. (1987)
Faiança Portuguesa, Lisboa:
Secretaria de Estado da Cultura.
DUARTE, E. (2010)
“Uma viagem a Itália no século XVI:
D. Frei Bartolomeu dos Mártires,
a arquitectura, a escultura e as
porcelanas”, in Arte Teoria. Revista
do Mestrado em Teorias da Arte da
FBAUL, 12/13, pp. 221-229.
MATOS, M. (2002)
A Casa das Porcelanas. Cerâmica
Chinesa da Casa-Museu Dr.
Anastácio Gonçalves, Lisboa: IPM.
Outro tipo de cerâmica fina que
aparece no século xvi em Portugal e com
um consumo mais amplo que as imitações
de sigillatas é a chamada cerâmica
modelada, sendo aqui expostos alguns
exemplos, nomeadamente três boiões
(chabt.r.nova.87, ce00484 e ce00490).
A sua característica mais reconhecível é
a decoração com depressões e relevos e
as formas mais vulgarmente utilizadas
eram pequenos contentores. Este tipo
de cerâmica era utilizado sobretudo
como contentor de doçarias, pelo que
tal estava assim condizente com as suas
características delicadas.
Um outro tipo de cerâmica fina
que se popularizou em todo o país no
século xvi foi a cerâmica pedrada, cuja
particularidade consistia na incrustação
de pedrinhas brancas ou quartzo para
formar composições decorativas. A forma
mais utilizada consistia em púcaros de
pequenas dimensões para beber água,
sendo que esta era considerada mais
saborosa nestes recipientes. A parte
superior de um desses púcaros encontrase em exposição (chabt.r.nova.74),
tendo sido descoberta em escavações
arqueológicas no Centro Histórico de
Abrantes. Com origem na zona de Nisa/
Estremoz, foi também fabricada noutros
pontos do país, embora a qualidade não
fosse tão boa como na zona original.
Para terminar este texto, voltemos aonde
começamos: às cerâmicas comuns.
Embora a partir do século xvi , houvesse
um aumento considerável de cerâmicas
vidradas e finas, a verdade é que até
meados do século xviii a cerâmica
comum foi dominante, só sendo então
ultrapassada pela faiança. Sem quaisquer
cuidados especiais decorativos ou
de fabrico, não deixavam, contudo,
de cumprir minimamente as funções
mais básicas, pelo que os portugueses de
todos os estratos sociais podiam sempre
contar com elas. Algumas peças dos
séculos xvi/xvii descobertas no castelo
e no Centro Histórico de Abrantes
são visíveis nesta exposição: um pote
com linhas oblíquas (fag86.6), obtidas
mediante uma técnica de grattage, a
qual não deixava de o valorizar um
pouco mais; uma escudela que foi
reconstituída (chabt.t.palma.s/c115)
um púcaro (fag85.5); uma infusinha
(chabt.r.nova.75) e uma monumental
talha (chabt.r.grande25.1).
gustavo portocarrero
Agradecimentos: à Dra. Filomena Gaspar
da Câmara Municipal de Abrantes pela sua
colaboração na elaboração deste texto.
80
81
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
inv. chabt.013.3.53
inv. arq.61
portugal
xiii-xiv d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (3,5 cm)
comprimento (7,3 cm)
largura (7 cm)
portugal
xiii-xiv d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (4,5 cm)
comprimento (9,5 cm)
largura (9 cm)
Candeia
Candeia
Lamp
Lamp
portugal
xiii-xiv a.d.
pottery
dimensions:
height (3,5 cm)
length (7,3 cm)
width (7 cm)
portugal
xiii-xiv a.d.
pottery
dimensions:
height (4,5 cm)
length (9,5 cm)
width (9 cm)
82
83
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
inv. fag85.13
inv. chabt.013.1.59
Prato
Pote
Dish
Pot
portugal
xvi-xvii d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (6,3 cm)
diâmetro (26,6 cm)
portugal
xvi-xvii d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (15,9 cm)
diâmetro (19,9 cm)
portugal
xvi-xvii a.d.
pottery
dimensions:
height (6,3 cm)
diameter (26,6 cm)
portugal
xvi-xvii a.d.
pottery
dimensions:
height (15,9 cm)
diameter (19,9 cm)
84
85
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
inv. ce00469
inv. ce00470
islâmico
c. xv d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (6,5 cm)
diâmetro (15 cm)
islâmico
c. xv d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (6,5 cm)
diâmetro (15,7 cm)
Tigela
Tigela
Bowl
Bowl
islamic
c. xv a.d.
pottery
dimensions:
height (6,5 cm)
diameter (15 cm)
islamic
c. xv a.d.
pottery
dimensions:
height (6,5 cm)
diameter (15,7 cm)
86
87
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
inv. chabt.r.nova.77
Prato
portugal
xvi d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (3 cm)
diâmetro (19 cm)
Dish
portugal
xvi a.d.
pottery
dimensions:
height (3 cm)
diameter (19 cm)
88
89
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
inv. chabt.t.palma.s/c109
Prato
china
(1573-1620)
cerâmica
dimensões:
altura (2,3 cm)
diâmetro (19,2 cm)
Dish
china
(1573-1620)
pottery
dimensions:
height (2,3 cm)
diameter (19,2 cm)
inv. chabt.t.palma.s/c22
Prato
portugal
xvii d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (2 cm)
diâmetro (21 cm)
Dish
portugal
xvii a.d.
pottery
dimensions:
height (2 cm)
diameter (21 cm)
inv. chabt.t.palma.s/c27
Tigela
portugal
xvii d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (5 cm)
diâmetro (12 cm)
inv. ce04008
inv. chabt.r.nova.87
portugal
xvii d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (9,4 cm)
comprimento (15,4 cm)
largura (12,9 cm)
portugal
xvi-xvii d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (7,5 cm)
diâmetro (11 cm)
Infusinha
Bowl
portugal
xvii a.d.
pottery
dimensions:
height (5 cm)
diameter (12 cm)
Ewer
portugal
xvii a.d.
pottery
dimensions:
height (9,4 cm)
length (15,4 cm)
width (12,9 cm)
inv. chabt.t.palma.s/c9
Prato
portugal
xvii d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (3 cm)
diâmetro (21 cm)
Dish
portugal
xvii a.d.
pottery
dimensions:
height (3 cm)
diameter (21 cm)
90
91
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Boião
Gallipot
portugal
xvi-xvii a.d.
pottery
dimensions:
height (7,5 cm)
diameter (11 cm)
inv. ce00484
inv. ce00490
Boião
Boião
Gallipot
Gallipot
portugal
xvi-xvii d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (7,2 cm)
diâmetro (10,9 cm)
portugal
xvi-xvii d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (11,2 cm)
diâmetro (17,2 cm)
portugal
xvi-xvii a.d.
pottery
dimensions:
height (7,2 cm)
diameter (10,9 cm)
portugal
xvi-xvii a.d.
pottery
dimensions:
height (11,2 cm)
diameter (17,2 cm)
inv. chabt.r.nova.74
Púcaro
portugal
xvi-xvii d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (11,5 cm)
diâmetro (12 cm)
Jug
portugal
xvi-xvii a.d.
pottery
dimensions:
height (11,5 cm)
diameter (12 cm)
92
93
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
inv. chabt.t.palma.s/c115
Escudela
portugal
xvi-xvii d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (4 cm)
diâmetro (26 cm)
Platter
portugal
xvi-xvii a.d.
pottery
dimensions:
height (4 cm)
diameter (26 cm)
inv. fag85.6
Pote
portugal
xvi-xvii d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (19 cm)
diâmetro (15,8 cm)
Pot
portugal
xvi-xvii a.d.
pottery
dimensions:
height (19 cm)
diameter (15,8 cm)
94
95
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
inv. fag85.5
inv. chabt.r.grande25.1
Púcaro
Talha
Jug
Pot
portugal
xvi-xvii d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (12,5 cm)
diâmetro (12 cm)
portugal
xvii d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (85 cm)
diâmetro (82 cm)
portugal
xvi-xvii a.d.
pottery
dimensions:
height (12,5 cm)
diameter (12 cm)
portugal
xvii a.d.
pottery
dimensions:
height (85 cm)
diameter (82 cm)
inv. chabt.r.nova.75
Infusinha
portugal
xvi-xvii d.c.
cerâmica
dimensões:
altura (8,7 cm)
diâmetro (9,5 cm)
Pot
portugal
xvi-xvii a.d.
pottery
dimensions:
height (8,7 cm)
diameter (9,5 cm)
96
97
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Reviver o passado
em Abrantes.
Intervenções do Laboratório
de Conservação e Restauro
de Bens Culturais da Câmara
Municipal de Abrantes
Intervenções de conservação
e restauro em cerâmicas
arqueológicas
Na reserva arqueológica da Câmara
Municipal de Abrantes encontra-se um
vasto depósito de fragmentos cerâmicos
datáveis desde a Pré-História até à
Idade Moderna e oriundos de diversas
escavações arqueológicas realizadas no
concelho nos últimos 40 anos. Alguns
destes fragmentos foram objecto de
uma intervenção de restauro com vista
a reconstituir o aspecto original da peça,
zelando-se assim pelo seu valor histórico,
cultural, estético e económico.
Entregues a profissionais qualificados
em conservação e restauro de materiais
cerâmicos, a intervenção de restauro
passou por três fases. Numa primeira
fase, procedeu-se à triagem dos diversos
fragmentos por pastas e cores [fig. 1],
numa segunda fase foi efectuada a sua
inventariação e numa terceira fase levouse a cabo a análise e o diagnóstico dos
fragmentos para retirar conclusões sobre
o seu estado de conservação e estabelecer
a metodologia de intervenção mais
adequada.
Uma vez definida a proposta de
tratamento, iniciaram-se os tratamentos
conservativos com a limpeza mecânica
dos fragmentos, o que possibilitou a
remoção de toda a matéria não original
incrustada à superfície e que desfigurava a
textura e cor original. Consequentemente
realizou-se a colagem desses fragmentos
por ordem [fig. 2], tendo sido necessário
a limpeza nas zonas de fractura para
garantir uma boa adesão do adesivo,
escolhido conforme as suas propriedades
de resistência, reversibilidade, viscosidade,
compatibilidade, cor e durabilidade.
[fig. 1] selecção
dos fragmentos
98
99
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
[fig. 2] processo
de colagem dos fragmentos
[fig. 3]
enchimento
do molde
bivalve
Devido à instabilidade que algumas
peças apresentavam devido a grandes
zonas de lacuna e que causavam
interferência na sua leitura, recorreu-se
ao processo de reconstituição volumétrica
para reforçar a peça em termos de suporte
e restituir a sua volumetria. Trata-se de
uma técnica de moldagem [fig. 3/4] que
se aplica exclusivamente a objectos de
revolução (o termo utilizado em restauro
para objectos simétricos), e que permite
imitar parte ou partes da peça, através do
preenchimento das zonas de lacuna.
[fig. 4]
preenchimento
da lacuna
com recurso
a molde univalve
[fig. 1]
[fig. 2]
Intervenção de conservação
e restauro em lareira
da Idade do Bronze
descoberta no castelo
de Abrantes
[fig. 5]
nivelamento
do preenchimento
[fig. 7] restauro
de uma pequena taça
da idade do bronze
Aquando da descoberta de uma lareira
datada da Idade do Bronze numa das
sondagens da escavação do Castelo de
Abrantes em 2013 no âmbito do Plano
Nacional de Trabalhos Arqueológicos
castab [fig. 1], os arqueólogos
responsáveis pelo achado consideraram
importante preservá-la e expô-la,
dando assim a possibilidade a todos os
abrantinos e turistas de conhecerem um
bem cultural de origem arqueológica de
elevado valor histórico-cultural.
Por consequência intervieram os
técnicos superiores de Conservação
e Restauro, Isabel dos Santos e Filipe
Pereira, que procederam a um cuidado
e meticuloso diagnóstico da lareira
para averiguar qual o seu estado de
conservação de forma a estabelecerem a
mais correcta metodologia de intervenção
para a sua remoção.
Desde logo foi notória a fragilidade
desta estrutura, pelo que os tratamentos
de conservação começaram pela
consolidação de todo o seu suporte
composto por um substrato de terras
pulverulentas, um processo minucioso
e moroso onde se aplicou por injecção
uma solução de resina acrílica com
um solvente orgânico numa mistura
de baixa concentração. O processo foi
realizado diversas vezes e em diferentes
pontos cumprindo os tempos de espera
e durante vários dias até que o substrato
apresentasse uma aceitável consistência e
rigidez, permitindo assim a estabilidade
de toda superfície bem como alguma
tensão a que fosse submetida, facilitando
assim a sua segura remoção [fig. 2].
Após quatro dias intercalados de
impregnação da solução preparada em
três tipos diferentes de percentagem
(baixa, média, alta) e aplicada num
modo crescente, alcançou-se o ponto de
consolidação desejada. Em seguida, e de
forma mecânica com recurso a escopro e
maceta, “recortou-se” a lareira vertical e
lateralmente.
[fig. 6]
reintegração
cromática
diferenciada
Posteriormente seguiu-se o
nivelamento ou polimento [fig. 5] de
toda a superfície preenchida, tratandose de um processo de acabamento em
que se elimina todas as irregularidades
da superfície preparando-a para a
reintegração cromática [fig. 6]. Este
último processo de retoque superficial
justificou-se pelo facto de as peças terem
como objectivo final a sua exposição
ao público e serem representativas de
uma época, cultura, local e experiência,
permitindo assim ao público interpretar
as mensagens intrínsecas às peças.
O resultado final de todo este processo
é visível nas figuras 7 e 8.
Em suma, todos os processos
conservativos e de restauro inerentes a esta
metodologia de intervenção em materiais
cerâmicos seguiram os princípios de
intervenção mínima, autenticidade
e historicidade dos bens culturais.
A conservação e restauro é uma ciência
empírica e pluridisciplinar dedicada à
preservação, prevenção e tratamento dos
bens do património cultural. Caracterizase pela conjugação de conhecimento
teórico e de competência prática que
inclui a capacidade para julgar de uma
forma sistemática questões éticas e
estéticas. Assim sendo, o que distingue o
conservador-restaurador de um artista é a
realização de forma cognitiva da análise,
diagnóstico e solução dos problemas com
base nas aptidões práticas para conservar
e restaurar.
[fig. 7]
restauro de um prato
de época moderna
– séc. xvii
100
101
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
[fig. 3]
Contudo, quando se levantou a lareira,
esta sofreu duas fracturas, colmatadas de
imediato com um adesivo, preparado com
uma solução de resina acrílica com um
solvente orgânico numa mistura de alta
concentração.
Devolvida a sua densidade e com a
superfície sem danos nem com perda
de material, preparou-se devidamente
a lareira para o seu transporte,
envolvendo-a na totalidade com plástico
bolha (polietileno de baixa densidade) e
fita adesiva para selar as extremidades.
Na chegada ao destino, o local
da reserva arqueológica da Câmara
Municipal de Abrantes, a lareira foi
descarregada e colocada sobre uma nova
base de acrílico onde ficará assente para
exposição e em ambiente controlado,
conforme exige uma adequada
conservação preventiva [fig. 3].
Em suma, todos os tratamentos
conservativos foram desenvolvidos em
equipa, segundo uma metodologia de
intervenção previamente definida. Um
profundo diagnóstico permitiu estabelecer
uma metodologia específica sobre o
bem cultural a intervir, tendo em conta
as suas características, nomeadamente
os materiais de construção e um estudo
prévio do seu contexto histórico-cultural.
Estiveram sempre presentes os conceitos
fundamentais da conservação e restauro,
com fim à salvaguarda da integridade
do valor cultural restabelecendo a sua
unidade potencial, seguindo os princípios
éticos da profissão.
isabel dos santos
filipe pereira
museu ibérico
de arqueologia
e arte de abrantes

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