revistafloscarmeli - frades carmelitas
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2 Editorial: Contando e Escrevendo nossa História D esde cedo, no Carmelo, aprendemos a fazer a memória de nossa história. Como encanta a um jovem vocacionado escutar as histórias de nossas origens e de nossos santos. Causa-lhe um envolvimento tal que ele próprio sente-se parte das narrativas que lhe são desfiadas ante os olhos, por irmãos que, no hoje do Carmelo receberam a missão de transmitir a nossa identidade. Todavia não podemos esquecer disto: se belo é narrar o nosso passado e deixar-se encantar por ele, desafiador é encarnar nosso carisma no presente, de modo que sejamos, ao mesmo tempo, herdeiros e continuadores de uma história que prossegue. Olhar para o passado recente e escrevê-lo com um olhar de continuidade histórica é dar-se conta que somos responsáveis pelo presente que está sendo escrito, reconhecendo que o Senhor da história nos dá infinitas possiblidades de cooperarmos com o seu plano de amor no qual, de um modo singular, a Ordem dos Carmelitas recebeu a missão de ser uma “fraternidade orante no meio do povo”. Cada carmelita e cada comunidade contribuem para escrever as páginas atuais do Carmelo. Sem dúvida, as festividades em honra a Nossa Senhora do Carmo são ocasião para nos encontrar como irmãos e irmãs, convocados pela Mãe do Carmelo, ao redor da fonte, que é Jesus, fazendo a ponte entre o passado e o presente, esforçando-nos por manter vivas nossas tradições, e deixando-nos ser interpelados por aquela que sempre caminha conosco, ordenando que façamos tudo o que Jesus nos disser, isto é, que “vivamos no Seu obséquio”. Além da figura mariana, Santa Teresa de Jesus, no seu V expressa a vitalidade do Espírito que nos impele a darmos de nós mesmos para que nosso carisma seja fecundo e continue a gerar outros tantos consagrados. Contudo, recordemos que nossas fraternidades carmelitanas escrevem sua história não sem altos e baixos, não sem luzes e trevas, não sem dores e alegrias – constatação que nos pede o cultivo constante de um olhar contemplativo, próprio da tradição do Carmelo, para que saibamos dar as respostas aos desafios encontrados, sem cair num pessimismo, e esforçando-nos por cumprir os votos que fizemos para com o Senhor. Nesta edição, compartilhamos com nossos leitores um pouco do que vivenciamos enquanto Província, nestes últimos meses. Leiamos estas páginas com uma atitude de ação de graças a Deus por sermos Carmelitas e nos empenharmos a dar o melhor de nós, escrevendo com a vida a nossa história. Frei José Cláudio, O.Carm. Santa Teresa Escritora Centenário de nascimento, nos tem acompanhado nesse processo de fazer memória. A experiência vivida por tantos que se debruçam sobre sua espiritualidade tem possibilitado uma releitura do carisma carmelita que ilumina a própria vida, motivando-os à vivência do mesmo. O Carmelo de ontem e de hoje, conta suas vivências com uma forte marca missionária. A Província, aberta à missão em Moçambique e na Amazônia, Expediente Flos Carmeli é uma Revista da Província Carmelitana Pernambucana que visa ser um veículo de formação e informação sobre temas carmelitanos e a caminhada do Carmelo, de um modo especial da Família Carmelitana no Nordeste. - Diretor: Frei Altamiro Tenório da Paz, O.Carm. Editor: Frei José Cláudio de A. Batista, O.Carm. - Design Gráfico: Marco Aurélio (MACAÉ) Endereço: Convento do Carmo, Pátio do Carmo, s/n, CEP: 50010-180 - Recife - PE Telefone: 55 (81) 3224 3341 - Website: www.fradescarmelitas.org.br Nesta Edição Editorial: Contando 02 Flor do Carmelo, nossa 03 As Noites Escuras de Santa Teresa (I e II) 04/07 Ao Ouvir Tua Voz 08 Carmelo Missão na 09 Notícias do Carmelo 10 Iconografia Teresiana 11 Missão: Uma Experiência 12 Nova Fraternidade do Escapulário 13 Outras Notícias 14 3 F lor do Carmelo, nossa alegria! Salve, Maria! O ano do Senhor de 2015 é marcado pelos 500 anos do nascimento de Santa Teresa de Jesus, uma grande e querida filha de Nossa Senhora do Carmo. As Festas de Nossa Senhora do Carmo desse ano, em vários lugares, foram marcadas pela memória da vida de Santa Teresa, que teve uma existência Charola com imagem de N.Sra. do Carmo toda mergulhada no Mistério de Na Festa do Carmo do ReciDeus, sob o olhar bondoso de fe, os cânticos, as flores, as velas, o glorioso Coral do Carmo Maria Santíssima, nossa Mãe. Foi muito bom contemplar, e a piedade do povo são, todos nos inúmeros devotos e devotas os anos, reflexo do imenso amor da Virgem do Carmo, a atenção que as pessoas demonstram à dada a tantas e belas reflexões que Virgem Mãe. Da presença inos pregadores faziam. Os ouvintes tercessora da Mãe na vida dos puderam vivenciar a experiência filhos, faz gosto ouvir os inúde Santa Teresa no seguimento de meros testemunhos que o povo Cristo, acompanhada sob a pre- santo dá de graças alcançadas, sença materna de Nossa Senhora. como: a recuperação da saúde, É sabido, pois, que quando uma nova moradia, a conversão Santa Teresa perdeu a sua mãe, de um parente, a alegria de ter, ainda criança, acorreu a uma com o apoio da Virgem Santa, imagem da Virgem Santíssima superado um vício ou pecado... e, diante dela, se entregou à A Festa de Nossa Senhora do Nossa Senhora, pedindo-lhe Carmo, com certeza, é um temque fosse doravante sua boa po de muita graça na vida do mãe, já que sua mãezinha da povo cristão católico, um kairós, terra tinha feito sua Páscoa. um tempo Santo. Muitas pessoAo escutar as pregações que os as fazem seu encontro com Jesus impulsionavam a seguir Jesus Cristo através do Sacramento da Cristo, sob os cuidados de Ma- Reconciliação e da Eucaristia, ria, a exemplo de Santa Teresa, outros se regozijam de receber o Escapulário da Virgem Santa os olhos dos fiéis brilhavam. Procissão com a imagem de N.Sra. do Carmo e saírem da Basílica do Carmo do Recife com o propósito de, a exemplo de Santa Teresa, viver totalmente para Deus, revestidos das Virtudes de Maria; uns suplicam a Misericórdia de Deus pela intercessão de Nossa Senhora, diante de inúmeras dificuldades da vida, outros fazem questão de fazer uma oferta em ação de graças. Momento inesquecível é o da procissão de encerramento da Festa. Como aconteceu em 2012, quando os Carmelitas tiveram o privilégio de receber de volta a Igreja do Carmo de Olinda, que é o berço da Ordem do Carmo nas Américas, tudo culminou com uma belíssima procissão saindo do Carmo do Recife em direção à dita Igreja, fazendo acontecer a comunhão das duas cidades irmãs, Recife e Olinda. Tudo em um clima de fé, alegria, união, entusiasmo e paz. Com o povo Santo de Deus, nós, Carmelitas, queremos repetir sem cessar: Flor do Carmelo, nossa Alegria, Salve, Salve Maria! Salve, Salve Maria! Momento celebrativo na Basílica do Carmo Frei Luiz Nunes, O.Carm. 4 As Noites Escuras de Santa Teresa (I e II) I - Primeira Parte S ão João da Cruz estuda a fundo as quatro noites escuras que a alma tem que atravessar, na sua caminhada para a união mística com Deus. Tais noites são divididas em duas duplas: a) noite ativa e noite passiva; b) noite dos sentidos e noite do espírito. No seu livro “Subida do Monte Carmelo”, ele aborda a noite ativa dos sentidos e a noite ativa do espírito. Já no livro “Noite Escura” o enfoque recai todo na análise da noite passiva dos sentidos e da noite passiva do espírito. Em resumo, descre- Entrada de Teresa no Carmelo vem-se os efeitos das purificações carmelitana. Entregou-se às que se realizam tanto na parte observâncias do Carmelo com a sensitiva como na parte espiritual veemência que lhe era peculiar. do homem. A noite é ativa quan- Estava disposta a tudo para atindo a pessoa mesma se impõe mor- gir a perfeição no amor. Ela prótificações, sacrifícios, renúncias, pria relata em sua autobiografia: provações e correções. A noite é passiva quando tais coisas são im“Uma religiosa sofria postas por Deus, à nossa revelia. então, prostrada por grande No caso específico de Santa Tee dolorosa enfermidade; resa de Jesus, a dolorosa noite escudevido a uma obstrução, ra que ela atravessou durante três fizeram-lhe abertura anos, logo após a sua profissão relino ventre, por onde giosa, foi uma autêntica noite escuregurgitava tudo o que ra passiva dos sentidos; e é dela que comia. Em pouco tempo trataremos neste artigo. No artigo faleceu. Eu via todas subsequente, veremos a noite escutemerem aquele mal, mas ra passiva do espírito, em que ela se tinha grande inveja de sua debateu ao longo de vinte anos. paciência; e pedi a Deus Teresa entrou no mosteiro carque, dando-me semelhante melita da Encarnação no dia dois paciência, também me de novembro de 1535, aos vinte desse as enfermidades que anos. Após um ano exato de posdesejasse. Parece-me que eu tulantado, entrou no noviciado, não temia nenhuma, pois vestindo o hábito carmelitano estava tão determinada a e assumindo a nova vida de obter bens eternos que me monja. O ano do noviciado foi, dispunha a ganhá-los por para ela, um período de cálida qualquer meio”. devoção e profundo mergulho na espiritualidade da Ordem E ela conclui candidamente: “Sua Majestade me ouviu tanto que, em menos de dois anos, a minha condição era tal que, embora diferente daquela, a minha enfermidade não foi menos dolorosa nem deu menos trabalhos, e durou três anos”. Terminando seu ano de noviciado, Teresa fez sua profissão religiosa no dia 3 de novembro de 1537, exatamente um ano e um dia depois do seu ingresso no noviciado. Logo começaram a surgir os sintomas da misteriosa doença: frequentes desmaios, dor intensíssima no coração com horríveis convulsões, e outros males. E a doença se agravava dia a dia. O pobre D. Alonso, seu pai, vendo que os médicos de Ávila nada podiam fazer, resolveu tirar sua filha predileta do convento e levá-la a uma localidade, no interior de Ávila, onde morava uma famosa curandeira que, talvez, pudesse curá-la. O tratamento foi mais longo do que o previsto e também mais duro, quase brutal. O diagnóstico foi completamente equivocado. Teresa sofreu tantos horrores nas mãos da curandeira que o pai decidiu levá-la de volta para casa. A situação dela era uma lástima: os ataques do coração eram tão terríveis que muitos pensavam que ela estivesse com a doença da raiva. Por outro lado, os nervos se encolhiam, acarretando dores intoleráveis da cabeça aos pés: “Aquele tormento me fez ficar encolhida, como se fosse um novelo, incapaz de mover os braços, os pés, as mãos e a cabeça... Era difícil me tocarem, pois eu sentia tantas dores que não podia suportá-lo”. 5 Alguns dias depois, Teresa sofreu um forte paroxismo e ficou como morta. Todos, inclusive os médicos, atestavam que ela estava realmente morta. Todos, menos o pai, que permanecia de joelhos diante do suposto cadáver da filha e repetia chorando: “Esta filha não é para ser enterrada!” Os familiares se revezavam durante as noites no velório da irmã. Numa delas, coube ao seu irmão Lourenço, de vinte anos, fazer a sentinela. Rendido pelo cansaço e pelo sono, ele adormeceu, derrubando sobre a cama um castiçal com a vela acesa. Em pouco tempo, o fogo começou a queimar as almofadas e os lençóis; e teria queimado também a irmã, se o rapaz não tivesse despertado e alarmado a casa inteira. O coma demorou quatro dias. O túmulo estava aberto, no mosteiro da Encarnação. Em algumas igrejas foram celebradas as exéquias. Chegaram até a colocar cera nos olhos da suposta defunta, conforme os costumes locais, e a vesti-la com uma mortalha. No quinto dia, Teresa começou a dar sinais de vida: com alguma dificuldade, por conta da fina camada de cera, voltou a abrir os olhos, para a alegria de todos. Tão logo retornou à consciência, pediu para se confessar e receber a comunhão, no meio de abundantes lágrimas. Todavia, a cura não foi imediata e definitiva; foi antes um retorno lento à normalidade. Ela continuava totalmente imóvel e as dores não cessavam. Mesmo assim, pediu para retornar ao mosteiro. Somente oito meses depois é que começou a mover-se, a engatinhar como criança. Permaneceu paralítica por cerca de três anos. Ela atribui sua cura definitiva à proteção de São José, de quem era muito devota. Dois fatos marcaram profundamente a alma de Teresa, trazendo um raio da luz divina para clarear as trevas daquela noite tão escura. O primeiro foi a conversão do pároco da vila de Becedas, aonde fora se tratar. Antes de começar o dito tratamento, ela procurou o sacerdote para fazer uma confissão. Seu hábito de monja, sua candura de consciência e seu entusiasmo pelas coisas de Deus, mexeram com a consciência do confessor, que havia tempo estava vivendo uma vida escandalosa com uma mulher. Para assombro da jovem freira, o confessor terminou se confessando com ela, pedindo-lhe ajuda para sair daquele embaraço. Graças às orações e ao testemunho de vida da carmelita, ele conseguiu realmente sair daquela situação incômoda. Tal experiência jamais se apagaria da mente de Teresa que, anos depois, ao fundar o Carmelo descalço, colocaria, como um dos objetivos da reforma teresiana, orar pelos sacerdotes. O segundo fato refere-se à leitura de dois livros naqueles momentos cruciais: o Terceiro Abecedário, do franciscano Frei Francisco de Osuna, versando sobre a oração de recolhimento; e a história de Jó, comentada por São Gregório Magno: “Muito me serviu ter lido a história de Jó, nas Moralia de São Gregório”. Durante toda aquela noite escura dos sentidos, Teresa pôde constatar a veracidade destas palavras de Jesus: “O espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mc 14,38). A noite, no entanto, será bem mais escura quando acontecer o oposto: a carne está forte, mas o espírito não está pronto. Aí sim, será a noite escura passiva do espírito! II - Segunda Parte a parte anterior, comentei a “noite escura passiva dos sentidos”, em que Santa Teresa se debateu ao longo de três anos, logo após a sua profissão religiosa. Nesta parte, abordarei a “noite escura passiva do espírito”, que vai purificá-la por cerca de vinte anos. Teresa enfrentou com galhardia a noite escura dos sentidos porque, mesmo a carne estando fraca, o espírito estava pronto (cf. Mc 14,38). Agora, no entanto, o quadro se reverteu: a carne estava reabilitada, mas o espírito não estava pronto. Durante os três anos de sua convalescência, mesmo imóvel na cama, Teresa começou a dar mostras de santidade no pequeno mundo da enfermaria do mosteiro da Encarnação. Do seu leito de dor, ela esparramava raios benéficos sobre as irmãs que a rodeavam. A cura, depois de três anos de paralisia, foi ruidosa, comovendo boa parte da população de Ávila. Todos queriam ouvir da sua boca a narração da sua cura, que ela própria considerava um milagre de São José. As visitas cresciam a cada dia; e tanto as monjas como os próprios confessores convenciam Teresa a não rejeitá-las. É que, com elas, chegavam muitas esmolas para o mosteiro, que era pobre. Para Teresa, ao invés, elas causavam um transtorno, que a inquietava bastante: cada dia menos recolhimento e mais dispersão. E isso lhe soava como uma falta grave. Ao sair da enfermaria, Teresa havia superado a enfermidade física, a paralisia do corpo; porém, começava a ficar doente da alma. Deixou-se envolver por uma ambígua familiaridade com parentes e amigos. N 6 Continuação da página 5. Voltaram à tona e prevaleceram as antigas amizades, que ela havia penosamente abandonado. A falta de recolhimento gerou a desmotivação, levando-a a abandonar a oração: “foi a maior tentação que tive”. Em resumo, Teresa passou por uma longa e dura tentação de mediocridade. E a luta para não sucumbir foi permeada de intermitências e novas crises. Ele mesma descreve sua situação ambígua: “E assim comecei, de passatempo em passatempo, de vaidade em vaidade, de ocasião em ocasião, a envolver-me tanto em tão grandes ocasiões e a estragar a alma em grandes vaidades que tinha vergonha de me aproximar de Deus. Contribuiu para isso o fato de que, como os pecados aumentaram, o gosto e a alegria da prática da virtude começaram a escassear. Eu via muito claramente, Senhor meu, que isso me faltava por eu faltar a vós”. Essa espécie de ambiguidade entre ser e não ser foi o húmus onde germinou a crise de Teresa. Todavia, o pior era que ela se sentia só nessa batalha. Nem o mosteiro nem os confessores contribuíram para que ela cortasse o mal pela raiz. Ela experimentava o que é a solidão no meio da multidão. Dentre as visitas e amizades, Teresa alude a uma determinada pessoa, com quem criou certa dependência afetiva, porém sem jamais insinuar se fosse homem ou mulher. Isso abriu campo para futuras indagações. Inúteis, todas elas. Encobriu a pessoa, não o fato: “Estando eu com uma pessoa que há pouco conhecera, percebi que o Senhor queria dar-me a entender que aquelas amizades não eram convenientes, alertando-me e esclarecendo sobre a minha grande cegueira. De fato, eis que vi Cristo representado diante de mim, com muito rigor, mostrando-me o quanto aquilo me pesava. Vio, com os olhos da alma, com mais clareza do que o poderia ter visto com os olhos do corpo. A sua imagem tornou-se tão indelével que até hoje, mais de vinte e seis anos depois, ainda tenho a sensação de vê-lo. Tomada de um profundo temor e de grande perturbação, não quis mais receber a pessoa com a qual me encontrava então”. Conversão de Teresa Todavia, com o passar do tempo, e com as justificativas que sua consciência fragilizada lhe apresentava (“Foi uma ilusão! Não há nada demais nisso!”), nossa Santa voltou atrás, confessando que “permaneceu vários anos nesse divertimento pestilento”. Deus enviou-lhe outro sinal, bem diferente do primeiro: “Certa vez, entretida na companhia da mesma pessoa, vimos - e outras pessoas, que estavam ali, também o viram - uma espécie de sapo grande dirigir-se para nós, caminhan- do com uma rapidez que não é própria dessas criaturas. Não tenho como explicar o aparecimento, em pleno dia, de semelhante criatura naquele lugar... E o que isso me causou por certo envolvia mistério, jamais tendo saído da minha lembrança”. Mesmo sem sair da lembrança, o impacto da visão do sapo durou pouco. As coisas retomaram seus lugares, continuando a subjugar o espírito de Teresa, que afirma sem rodeios: “nenhuma outra pessoa me trouxe tanta dissipação quanto essa, dada a afeição que eu nutria por ela”. Deus mandou-lhe um terceiro recado, diferente dos anteriores: “Uma monja, minha parenta, antiga e grande serva de Deus, me alertou algumas vezes; eu, porém, não acreditava nela e ainda ficava desgostosa, pensando que ela se escandalizava sem motivo”. Surgiu então um quarto sinal, ainda mais eloquente: a morte do seu pai, D. Alonso. “Enfrentei grandes trabalhos durante a sua doença. Creio tê-lo recompensado pelo que ele passara com as minhas”. A morte santa do velho comoveu-a profundamente. Teresa aproveitou a oportunidade para fazer uma boa confissão com o Padre Vicente Barrón, que era justamente o confessor de D. Alonso. Tal confissão foi um verdadeiro oásis no meio do deserto em que Teresa vivia. Todavia, o oásis não é o termo da caminhada; é apenas um ponto de parada; a caravana deve prosseguir. E Teresa anota que prosseguiu na caminhada, “caindo e levantando, levantando-me mal, pois voltava a cair”. E assim por mais dez anos de mediocridade. Fazia-se necessário um quinto sinal para sacudir Teresa daquele 7 torpor. “A minha alma já estava cansada e, embora quisesse, seus maus costumes não a deixavam descansar”. E o sinal aconteceu: um belo dia, Teresa entrou num determinado oratório e se deparou com uma imagem de Jesus na flagelação, todo coberto de chagas. O choque foi tremendo. Com o coração partido, ela lançou-se aos pés de Cristo, derramando muitas lágrimas. “Creio que lhe disse que não me levantaria dali enquanto a minha súplica não fosse atendida”. A partir de então, tudo começou a mudar. Sim, tudo começou... Mas, das outras vezes, tudo também começara, e nada terminava! Teresa já não acreditava mais em si. Era preciso um xeque-mate, para concluir aquela lenga-lenga de quase duas décadas. E foi o que aconteceu pouco depois, com a leitura do livro “As Confissões”, de Santo Agostinho: “Quando cheguei à sua conversão e li que ele ouvira uma voz no jardim, senti ser o Senhor quem me falava, tamanha foi a dor do meu coração. Passei muito tempo chorando, com grande aflição e sofrimento... Glória a Deus que me deu vida para eu sair de uma morte tão mortal!” Tanto o episódio da imagem de Cristo chagado como a leitura de Santo Agostinho aconteceram na quaresma do ano 1554, que Santa Teresa assinalou como o ano da sua conversão. Realmente, esse ano foi um marco na caminhada espiritual da grande Doutora da Igreja: encerrou o período ascético da sua vida e iniciou o período místico. Porém, isto será o assunto do meu próximo artigo. Se Deus quiser! Frei Geraldo de Araújo Lima, O.Carm. 8 A Ao Ouvir Tua Voz prendi muitas lições de vida ao longo da caminhada vocacional. O bom Deus me foi formando da maneira como costuma trabalhar os corações endurecidos, e caminhei a passos pequeninos pela via da espiritualidade. Jesus me sustentou em todos os momentos. Mesmo sendo o mais indigno dos servos do Senhor, nasci em um lar católico. Fui batizado com cinco meses de idade, aos 25 de dezembro de 1990, em data mais nobre do que mereço, e com nove anos recebi pela primeira vez o ósculo da imortalidade, a primeira comunhão. Por sua ação poderosa fui impelido a me envolver em grupos de pastoral como a Legião de Maria e a Renovação Carismática, nos quais vi nascer em mim o desejo de ser sacerdote. Com 13 ou 14 anos ainda cheguei a participar de encontros vocacionais no seminário da Graça, em Olinda, junto com outros dois vocacionados de nossa paróquia de Nossa Senhora da Escada, passando das brincadeiras de missa, quando criança, para uma possibilidade real que começava a nascer em minha vida. Mas, os caminhos do Senhor não são os nossos. E talvez por imaturidade ou por falta de um acompanhamento, fui esfriando em meu coração a ideia de ser padre. Talvez devido à separação dos meus pais, que naquela época teve um peso muito grande para nossa família. Um episódio hoje superado, contudo muito doloroso para todos nós à época. Começava ali um novo período em minha vida, pois a necessidade de estudar e trabalhar para melhorar de vida me impulsionou a lutar por novos objetivos. Acabei deixando os grupos de pastoral aos poucos, e focan- do em atividades voltadas para universidades e concursos públicos. Era Deus agindo em meu ser, modelando-me por meio das muitas experiências que vivi. Foi assim que, com apenas 17 anos de idade, fui aprovado em um concurso público federal e também no vestibular da UFPE – Universidade Federal de Pernambuco – para o curso de Licenciatura em Matemática. Ainda cheguei a estudar até o quarto período naquela saudosa academia, mais ou menos quando fui convocado para assumir a vaga do concurso, aos 19 anos. Devido ao deslocamento necessário para o trabalho e também ao ritmo pesado da rotina, acabei trancando Matemática e migrando para o curso de Administração de Empresas, que viria a concluir O chamado dos discípulos no primeiro semestre de 2014. Trabalhei no referido órgão público por mais de cinco anos. Minha vida ia bem, mas faltava algo. Eu não me sentia plenamente feliz. Que bom que o Senhor nunca desistiu da minha conversão. Ele preparava a ocasião de nosso reencontro, dessa vez para mergulhar em águas mais profundas, para eu não mais ser capaz de viver longe d’Ele. E a experiência definitiva para que eu ouvisse a voz do Amado aconteceu numa tarde de adoração, no VIII EJC de Escada, em minha cidade natal no estado de Pernambuco. Fechando os olhos, eu senti a plenitude de estar tão perto de Deus. Me vi diante da Hóstia consagrada como o filho pródigo diante do pai, rejubilante de alegria. Entendi que tudo Luís Otávio, Postulante o que eu precisava para ser feliz era aquilo, a presença de Jesus. O resto era apenas acréscimo. Um versículo me veio à mente: “A quem muito foi dado muito será cobrado” (Lc. 12, 48). Era a voz do Senhor que, alegre pelo meu retorno e saudoso da minha adoração, renovava em meu coração o chamado para a missão de servi-Lo na sua Igreja. Ele me fazia lembrar de tantos dons que recebera e da tarefa de utilizá-los em benefício do reino de Deus. E, tomado pelas lágrimas, tive a coragem, a loucura, de dizer a palavra que mudaria para sempre a minha vida: “Sim”. Olhando para minha vida, fiz a mesma pergunta que Nossa Senhora, há dois mil e alguns anos antes: “Como acontecerão tais coisas?” (Lc. 1, 34). Começava então minha nova caminhada vocacional. Mais maduro e com toda uma vida construída, fui convidado, assim como os apóstolos, a “largar meu barco na praia e, deixando tudo, seguir Jesus”. Meus passos nesta maravilhosa caminhada acabaram me levando a “bater às portas” da basílica de Nossa Senhora do Carmo, no Recife, onde o frei Francisco, meu conterrâneo carmelita, e o Frei Adriano Saboia, O. Carm., me ajudaram a aprofundar este chamado com a promoção vocacional. Assim trilhei os passos e fui aceito para o primeiro ano de Postulantado de nossa província. Tenho vivido esta nova e transformadora experiência, com a renova- 9 da esperança de que, apesar de meus inúmeros defeitos, o Senhor possa tornar-me um Carmelita. Ao ouvir a voz de Jesus, iniciei um novo caminho. Desejo ser a argila modelada aos poucos, deixar de seguir os meus próprios caminhos e ir pela trilha que Ele aponta. Tomando a cruz, quero dar meus passos pelas tantas Galileias, neste mundo de homens que ainda pescam em mares sem vida, águas incapazes de dar-lhes a verdadeira e completa paz. Leve-me, Jesus, aos corações que ainda não o amam. Abra-lhes as portas e deixe entrar sua palavra. E, se quiser, que use estas minhas humílimas mãos, assim como as mãos de meus irmãos carmelitas, para executar esta tarefa de “ir pelo mundo anunciando o evangelho” (Mc 16, 15). Luiz O. Silva, Postulante Carmelita Carmelo Missão na Amazônia A Família Carmelitana do Brasil promoveu, durante a segunda quinzena do mês de julho/2015, o Carmelo Missão, que reuniu na Cidade de Itaituba (sede da Prelazia que recebe o mesmo nome) um grupo de 40 carmelitas (padres, Grupo de Missionarios frades, irmãs e leigos carmelitas). e outras comunidades contíguas. A experiência missionária foi No período de preparação tipreparada por alguns dias de for- vemos a oportunidade de vivenmação em que foram sublinhados: ciar momentos de espiritualidade a história dos carmelitas na região carmelitana e aprofundar o perfil norte do Brasil; o projeto da CNBB missionário no contexto das visipara a Igreja da Amazônia; a me- tas e demais celebrações. A mismória dos encontros anteriores do são foi concluída com a participaCarmelo Missão; a realidade pas- ção no encerramento da Festa da toral da Prelazia de Itaituba e uma Padroeira, Senhora Santana. O breve descrição das comunidades período de presença nas comuniurbanas e rurais visitadas nesta dades foi de apenas seis dias (de presença missionária carmelitana 27/07 a 01/08). Domingo, 02/08, (Conjunto Virlande, São Bene- todo o grupo voltou a se reunir no dito, Barreiras, Santa Terezinha, Centro de Treinamento e Pastoral Vila Itaituba, Vila Madalena, San- para avaliar a experiência e defita Clara, São Tome e São Lázaro, nir novos rumos desta atividade N. Sra. da Conceição, N. Sra. de da Família Carmelitana no Brasil. Frei Rogério, O.Carm. Nazaré e Campo Verde (KM 30) Formação com Frei Rogério Visita de Dom Cláudio cardeal Dom Cláu dio Hummes, de São Paulo, chegou a Itaituba na noite da quarta-feira (28/07) e permaneceu na cidade até o sábado (01/08). O cardeal foi recepcionado por D. Wilmar e alguns jovens membros do Grupo Irmãos na Fé. Na quarta-feira pela manhã, presidiu a frequentada missa da Catedral de Santana, às 7h. No mesmo dia, aconteceu, às 10h, uma entrevista coletiva com a imprensa local, na residência episcopal. À noite, às 19h30, presidiu uma missa na Igreja Matriz do Bom Remédio, na cidade alta. Em sua agenda, visitou também algumas comunidades e bairros da cidade, inclusive áreas onde se encontravam os missionários carmelitas. É bom recordar que Dom Cláudio tem fortes ligações com a Igreja da região norte do Brasil, desde o período em que era bispo da Diocese de Santo André (anos 80). Atualmente D. Cláudio Hummes é Cardeal emérito da Igreja de São Paulo e preside na CNBB a Comissão para a Amazônia, que foi um dos temas da preparação abordado em nossa formação assessorada pela Irmã Irene, membro da referida comissão. o Visita de Dom Cláudio Hummes (Cardeal Humes) ao Município de Itaituba, durante a semana do Carmelo Missão (por Andreia Siqueira/Jornal Tapajós). 10 Notícias do Carmelo Jovem Moçambicano D procurar melhorar e tomar algumas decisões e saídas para as dificuldades”, dizia o Pe. Provincial. Exortou-nos para estarmos atentos à vida fraterna na comunidade, à missão que temos e, por fim, aos nossos votos que assumimos Visita Fraterna do Pe. Provinna vida consagrada, cial, Frei Altamiro, O.Carm sem deixar de lado a Profissão do Frei Célio formação. Também insistiu na lano”; “não é por acaso que o nos pós a sua chegada no dia necessidade de aprendermos so carisma diz que devemos ‘viver 10/06/2015, o Frei Altamiro, outras línguas e nos especiali- em obséquio de Jesus Cristo com descansou da viagem, e em se- zarmos nas áreas de interesse da um coração puro e reta consciênguida observou o andamento da Ordem e da Igreja, para o bem da cia’ ”. Ainda nos animou a persecomunidade conventual. No dia Delegação, da Província e da Or- verar diante das saídas de alguns 12/06/2015, iniciou as conversas dem. Ademais, falou-nos da ne- irmãos. No dia 22/06/2015, fomos com cada confrade, começando cessidade de nos formarmos para a comemorar o aniversário de Frei pelos capitulares e por últiGenildo, O.Carm. Tammo, os estudantes. No dia, bém, neste período de visita 17/06/2015 tivemos a Mido Pe. Provincial, tivemos niassembleia da Delegação: umas confraternizações. O após a oração inicial de inpadre provincial visitou alvocação ao Espirito Santo, gumas famílias e as irmãs iniciou a sua fala lendo o carmelitas com as quais tracapítulo 2 da nossa regra, balhamos e partilhamos da depois, dentre vários temas pastoral carmelitana, aqui, e assuntos, destacou: “Ser na Arquidiocese de MapuCarmelita hoje, é uma alegria to. A visita do Padre Proque se renova e se comunica”. vincial foi concluída com Frades: Lucas, Mendonça, Sócio, Célio, Lázaro, Cândido e Raimundo Esta visita fraterna e uma missa na paróquia, lá canônica a Moçambique, do Pa- liderança, sabermos avaliar nossa pelas 18h, no dia 08/07/2015, e dre Provincial, “tem como ob- caminhada e traçarmos linhas con- uma confraternização no convenjetivo ver os confrades, como cretas para a caminhada de nossa to de São José, no clima festivo. estão caminhando em todas as Delegação, nos anos seguidos ao Primeiros votos dos nossos áreas da vida, animá-los, escu- Capítulo Provincial, sempre num tá-los, e enfim, conjuntamente, clima de transparência, de since- confrades e a entrada ao noviciado do nosso Irmão ridade e verdade, para o bem da Delegação, da Província e da Or- o dia 02/06/2015, partimos a dem, tendo sempre caminho do Zimbabwe, país diante de nós aque- vizinho a Moçambique, onde le que nos chamou, se encontrava os nossos irmãos Jesus Cristo, que é o (Fr. Célio e Fr. Cândido); neste fundamento último percurso passamos pelo Dombe, da vida consagrada, onde moram nossos amigos da por quem “estamos Obra de Maria, que com muito aqui e não por causa carinho e amor nos acolheram. de frei sicrano ou fu- Passamos a noite e, cedinho, Fr. Mendonça, Fr. Altamiro, Fr. Jack e Fr. Raimundo o lado de cá, mais uma vez, venho partilhar com vocês três eventos da nossa Delegação, a saber: a visita canônica do padre provincial, os primeiros votos dos nossos confrades (frei Célio e frei Cândido) e a entrada ao noviciado do nosso Irmão José Lucas Nhama, por último a nova estrutura do laicato do Carmelo moçambicano. A N 11 demos continuidade à nossa viagem. No dia 04/07/2015, houve a profissão dos votos simples dos nossos confrades Frei Célio, O. Carm., e Frei Cândido, O.Carm., da nossa Delegação. É uma alegria para nossa Delegação acolher mais dois frades, com quem, juntos, vamos florir o Carmelo Jovem de rosto moçambicano… É uma alegria que contagia a todos, a nós, à Província Pernambucana e à Ordem, pois as alegrias e as esperanças do Carmelo Jovem Moçambicano são as alegrias e esperanças da Província e da Ordem. trutura, houve a necessidade de criá-la. Foram nomeados para os ofícios dos leigos os seguintes: Responsável das Leigas: Dona Jaqueline, a Ecônoma das Leigas: Dona Luísa Viola, a Secretaria das Leigas: Dona Luísa Manjope; A Estrutura do laicato do quanto a animação do Grupo: Carmelo moçambicano Dona Angélica, e à Comunica omo, depois de muito tempo, ção do Grupo: o senhor Elias. caminhávamos sem uma esFrei Lázaro José António O.Carm C Iconografia Teresiana E m virtude do V Centenário do nascimento de Sta. Teresa de Jesus, Márcio Mota, artista cearense, conhecido por suas pinturas em inúmeras igrejas, dentro e fora do país, pintou 10 telas em homenagem à santa, que narram passagens de sua vida. Contemplemos suas obras de arte: Entrada de Teresa no Carmelo Teresa inicia fundações Fundação do Carmelo de São José Teresa dá seu manto a Ana de Jesus Transverberação do Coração de Teresa Conversão de Teresa Teresa e João da Cruz Teresa e Jesus Teresa Escritora Teresa morre em 1582, aos 68 anos 12 Missão: uma Experiência que Transforma “Sempre tive a convicção que o Senhor tinha-me preparado no Carmelo algo que só ali poderia encontrar”. Edith Stein C oncluindo o mês de Agos to, que no Brasil é dedicado à reflexão vocacional, gostaria de partilhar com os irmãos e irmãs, amigos e seguidores da vida da Província Carmelitana de Pernambuco, minha experiência na missão. Embora em Moçambique, este não seja um mês vocacional, espero poder conduzir a todos, os de lá (Brasil), e os de cá (Moçambique), à uma renovada consciência vocacional- missionária. A missão começou comigo e, creio começa com todos, quando deixamos cair dentro de nós, dos nossos corações as barreiras e limites que nos impedem de perceber que o mundo é muito maior do que as nossas concepções, conceitos e preconceitos e que o outro é diferente e não inferior a nós. Ademais, é necessário coragem, porque é preciso superar os medos, renunciar as seguranças, sair das nossas zonas de conforto e, sobretudo, confiar na palavra de outro que nos motiva a sair, mas também na Palavra do totalmente “Outro”, que diz: “vai, eu te envio”. Esta, certamente, foi a experiência pela qual passaram Abraão, nosso pai na fé (cf Gn 12, 1-3), Moisés (Ex 3,10), o profeta Elias, nosso Pai (1Rs 17, 2ss), Maria, nossa Mãe (Lc 1, 26-38) e tantas outras per- sonagens bíblicas ou da história da Igreja. Esta foi também a experiência que fui convidado a fazer em Janeiro de 2014, por ocasião da celebração do nosso Capítulo Provincial, quando, terminado um triênio conturbado na minha vida religiosa, esperava voltar para a minha Província de origem e minha terra, para o meu povo e minha parentela. Contudo, fui convidado à uma experiência não planejada, e eu, com o coração despedaçado, mas confiando na Palavra, parti para o desconhecido, e no entanto, “o Senhor tinha-me preparado no Carmelo (moçambicano) algo que só ali poderia encontrar”. As Bem-aventuranças (pintura africana) Chegamos a Maputo, Frei Altamiro e eu, no dia 22 de Março de 2014, e encontramos no convento São José de Khongolote, sobretudo, uma comunidade, o Carmelo Jovem moçambicano - como se costuma falar por aqui - que para além de todos os desafios encontrados, insiste e persiste com a presença carmelitana na também jovem pátria de Moçambique. Com o passar dos dias e dos meses tive que sofrer outra profunda conversão, pois necessitei alargar ainda mais a minha concepção missionária e entender que a missão é muito mais do que o mero trabalho apostólico até à exaustão física e espiritual e perceber que a minha missão nestas terras, Frei Genildo talvez, seria a mesma de Santa Teresinha: “fazer Deus amado como eu o amo”. Aqui não fazemos muitas coisas, além de estar e ser presença de Deus no meio do povo, testemunhando com uma vida de intensa e regular oração, fraternidade e serviço na paróquia Santa Maria, Mãe de Deus de Khongolote, a nós confiada. Como tarefas específicas, ajudo na animação da Delegação, um trabalho desafiante, mas ao mesmo tempo gratificante, uma vez que conto com a colaboração de uma comunidade comprometida: os frades junioristas e o Frei Sérgio, nosso primeiro sacerdote moçambicano. Os estudantes, não obstante as atividades acadêmicas que são intensas e exigentes, assumem com muita responsabilidade as tarefas comunitárias e levam avante, com o seu dinamismo próprio, a Delegação. Depositamos neles a nossa confiança e estamos cheios de esperança de que corresponderão, dando sempre o melhor de si mesmos para o Reino de Deus e o Carmelo. Ademais, acompanho o postulantado, desde a minha chegada, e o aspirantado, a partir do presente ano. Trata-se de um trabalho com o qual me identifico e que, portanto, faço com prazer. Outrossim, encontro facilidade 13 pela abertura e docilidade dos jovens que batem à nossa porta e se interessam em experimentar nossa vida. As limitações que encontro são as minhas, a nível pessoal, e as dificuldades de diferença cultural que se tornam desafios no relacionamento e condução do grupo. Contudo, o que quero destacar da experiência moçambicana é, sobretudo, o trabalho e a partilha de vida que fazemos com o povo de Deus na paróquia. O que se percebe nos rostos, expressões e realidade é a situação de empobrecimento da maioria, gerada pela injustiça e pela ação gananciosa de poucos ricos que só pensam nos seus interesses pessoais e deixam a grande maioria privada do necessário para viver dignamente. Moçambique, como o Brasil, tem riquezas e possibilidades que se usadas em benefício do seu próprio povo, amenizaria tantas situações-limite que existem. No entanto, o que se observa é um jogo de interesse e busca de proveito pessoal que faz toda a nação sofrer miseravelmente e o país ser vendido aos interesses estrangeiros, exportando toda sua riqueza e importando miséria, exploração e sofrimento ao moçambicano. Não obstante esta realidade, o povo é, antes de tudo, forte. São homens e mulheres que não se deixam vencer pelo mal, mas lutam virilmente pela superação e buscam na fé e na alegria a força necessária para continuar a difícil arte de viver. Os jovens são de uma capacidade intelectual extraordinária, faltando-lhes apenas oportunidades de se projetarem e realizarem o sonho de uma “vida digna de ser vivida”. O moçambicano em geral, vive a sua fé de maneira viva e encarnada, expressando na liturgia, pela dança, cânticos e alaridos a esperança de novos Céus e uma terra nova, onde brote a justiça. Na celebração da Páscoa do Senhor, sente-se intensamente a força libertadora da Ressurreição e o poder de Deus que faz o justo viver por sua fé. Além disso, é um povo extremamente acolhedor e imensamente agradecido pela nossa presença em seu meio, mesmo com nossas inconstâncias e frequentes mudanças de pároco. Enfim, para concluir este testemunho com as palavras daquela com a qual o iniciei, gostaria de dizer que “há determinados lugares, ermos ou não, em que Deus se digna conceder graças à alma”. Eu tenho certeza de que um destes lugares é a missão e o Carmelo de São José em Kongolote/Moçambique. Por isso, seja Deus para sempre bendito. Frei Genildo Mário de Queiroz, O. Carm. Nova Fraternidade do Escapulário C om grande festa e ale gria, foi fundada no dia 15 de julho de 2015, na Paróquia Nossa Senhora do Monte Carmelo, Diocese de Caruaru - PE, a Fraternidade do Escapulário, composta por 29 membros. A Celebração Eucarística foi presidida pelo Frei José Roberval Men- Momento orante com o Frei Yedo Missa presidida pelo frei Roberval des Pereira e, além de outros padres, foi concelebrada pelo Administrador Paroquial Pe. Kennedy Amorim. A celebração festiva contou com a acolhida oficial da Bandeira da Fraternidade, com a imposição do Escapulário e consagração dos membros e a entrega dos diplomas. Acolhida da Bandeira da Fraternidade 14 Outras Notícias Assembleia de Páscoa O adeus ao Frei Batista Nos passos de Teresa de Jesus reavivar nossa intimidade com Cristo otivados por este tema, nós, os frades carmelitas da Província Carmelitana Pernambucana, estivemos reunidos, de 14 a 17 de abril, no Convento Nossa Senhora Peregrina, Camocim de São Felix - PE, por ocasião de nossa Formação Permanente e Assembleia de Páscoa 2015. Frei Francisco Sales, OCD Nesta atmosfera pascal, e também de celebração dos 500 anos do nascimento de Santa Teresa de Jesus, aprofundou conosco esse tema o Frei Francisco Sales Amaro Oliveira, OCD, coordenador do Centro de Espiritualidade Carmelitano, em São Roque - SP. ia 27 de maio, faleceu, aos 80 anos de vida, na cidade do Recife, o Frei Batista, cujo nome de batismo é Cláudio Pordeus Gadelha. Frei Batista nasceu na cidade de Souza - PB, no dia 20 de março de 1927; fez seus primeiros votos no Carmelo no dia 09.02.1947, e ordenou-se sacerdote no dia 08 de dezembro de 1952. Durante sua vida de consagrado a Deus na Ordem do Carmo, além de cantor e compositor de belas músicas, foi Provincial, Ecônomo Provincial, prior do Carmo do Recife - PE e de Princesa Isabel - PB, diretor Espiritual da OTC de Recife e João Pessoa - PB. Foi Pároco também em Princesa Isabel, Camocim de São Felix - PE, Piedade Jaboatão - PE, Cajueiro Seco Jaboatão - PE e grande pregador do Evangelho. Faleceu no mês Mariano e numa quarta-feira, dia dedicado a Nossa Senhora do Carmo. Deus o acolha no Frei Batista festim da eternidade! M Assembleia do Laicato D e 17 a 19 de Abril, no Convento N. Sra. Pe regrina, na cidade de Camocim de São Félix - PE, aconteceu a Assembleia do Laicato da Província Carmelitana Pernambucana, com o seguinte tema: Nos passos de Santa Teresa de Jesus, reavivar nossa intimidade com Cristo – o mesmo da AsEncontro para Formandos e Formadores sembleia de Páscoa dos Frades, dias antes. A parte formativa coube ao Frei Francisco Sales, frade carmelita descalço, que muito bem soube apresentar o itinerário espiritual de Santa Teresa de Jesus, a Santa Madre, como é chamada pelos descalços. A Assembleia contou com a presença de representantes das Ordens Terceiras do Carmo, Fraternidades do Escapulário e Juventude Carmelitana, embora se tenha sentido a ausência de alguns. O responsável pelo Laicato na Província é o Frei Vicente Ferreira, O.Carm, auxiliado pelo Frei Kaio Verçosa que acom- Encontro Carmelitano panha as fraternidades do escapulário. Esteve pre- s superiores gerais da Ordem Carmelitana na sente no encontro o nosso provincial, Frei Altamiro. América Latina promoveram, de 24/07 a 08/09, um encontro para formandos e formadores Regresso do Frei Sergionei carmelitas, realizado em Villa Carmelita, Peru. O encontro contou com a participação de 23 fra epois de um período de des provenientes do Brasil, Argentina, Venezuela, exclaustração, exercendo Peru, El Salvador, Porto Rico, República Dominiseu sacerdócio na Diocese de cana e México. Da Província Pernambucana parPatos - PB, retorna à Provínticiparam os freis: Júlio César, José Cláudio, Paulo cia o Frei Sergionei, O.Carm. Henrique, Aléquison e Flávio. O mesmo está a residir na co Além da convivência fraterna, oração e parmunidade Beato Tito Brandstilha de experiências, os participantes tiveram a ma, em Carmópolis - Se, desoportunidade de aprofundar temas ligados à dide o segundo tremeste do ano. Frei Sergionei Acolhemos o nosso confrade com grande alegria. mensão humana e espiritualidade carmelitana. D O D 15 Frei Sormani Frei Herryson epois de dois anos fora da Província Carmelitana Pernambucana, residindo em Roma, e após o término do seu curso de especialização em Vida Religiosa, o Frei Sormani José retorna à Província. Ele passa a residir na cidade de Lucena - PB, assumindo a Frei Sormani função de formador do Postulantado I. Acolhemos, com alegria, o Frei Sormani, e pedimos que Deus o ilumine na nova missão. Província Carmelitana Pernambucana (PCP) acolheu, em nossa fraternidade carmelitana, o frade juniorista, Frei Djgens Herrysson de Castro Mendonça, natural de Fortaleza, até então membro da Província Santo Elias. Após um sério discernimento com Frei Herryson seu formador, Provincial e Conselho, o Frei Herysson solicitou sua transferência para a PCP. O nosso Provincial, tendo escutado as instâncias responsáveis pelo seu processo formativo, bem como o próprio confrade, aceitou seu pedido. O mesmo passa a integrar a comunidade do Convento do Recife, e a dar continuidade aos seus estudos teológicos. D Frei Severino Lima ambém acolhemos de volta à Província o Frei Severino Lima, que esteve por mais de um ano ajudando o Comissariado Geral de Portugal. O mesmo passa a integrar a comunidade carmelita de Icó Ceará. Seja muito Bem-vindo, Frei Severino Lima. A T Eleição na Ordem Terceira de João Pessoa D Frei Severino Frei Leonardo Botelho Frei Leonardo esteve, no período de três meses, realizando uma experiência de intercâmbio com a Província do Puríssimo Coração de Maria (PCM), nos Estados Unidos, para aprimorar os conhecimentos na língua inglesa. O Frei Leonardo ia 15 de agosto, a Ordem Terceira Carmelita de João Pessoa - PB, realizou a eleição para a escolha da nova mesa diretiva. Além dos membros do sodalício, estiveram presentes o Delegado Provincial para o Laicato, o Frei Vicente Ferreira, O.Carm., e o Frei Sormani José, O.Carm., Diretor Espiritual. O resultado do pleito foi o seguinte: Silvio Romero de Lucena – Prior; Marcos Cavalcanti de Albuquerque – Vice Prior; Maria Aparecida Medeiros de Lucena – Priora e Ajoceris Marinho da Silva – Vice Priora. Conselheiros: FranIgreja do Carmo e OTC - João Pessoa - PB cisco da Chagas Ferreira e Elielton da Silva Lima. Conselheiras: Aracelis Pereira da Silva e Marlene Pimentel de Brito. Frei Francisco Rinaldo u l t i v a n d o p o r l o n g o tempo o sonho de aprofundar-se nas Sagradas Escrituras, o Frei Francisco Rinaldo deixou a comunidade de Piedade e passou a integrar a comunidade internacional de Santo Alberto, em Roma, onde preparar-se-á para fazer a sua especialização em Bíblia. Ação de Graças gradecemos a Deus pelo restabelecimento da saúde do Frei Paulinho, O. Carm. Ele, após um tempo sofrendo com alguns problemas de saúde, recupera-se e retoma suas atividades, passando a compor a comunidade carmelitana Padre Cícero, em Icó - CE. Somos gra- Frei Paulinho tos a todos que o acompanharam e rezaram por ele. A C Frei Francisco Pastoral Vocacional Carmelita Jovem, você já pensou em consagrar sua vida a Deus? Nós Carmelitas, a exemplo de Maria e sob a inspiração dos Profetas Elias e Eliseu, decidimos viver em obséquio de Jesus Cristo e servi-lo com o coração puro e reta consciência. Procure um frade mais perto de você: Frei Rogério, O.Carm Frei Cícero, O. Carm. E-mail: [email protected] Tel.: (81) 99990 0026 RECIFE - PE E-mail: [email protected] Tel.: (83) 99612 2390 JOÃO PESSOA - PB Frei Flávio, O.Carm. Frei Yedo, O. Carm. E-mail: [email protected] Tel.: (83) 99857 9081 JOÃO PESSOA - PB E-mail: [email protected] Tel.: (81) 99583 4316 CAMOCIM - PE Frei Paulo, O. Carm Frei Cláudio, O. Carm. E-mail: [email protected] Tel.: (81) 99862 4411 RECIFE - PE E-mail: [email protected] Tel.: (83) 99804 3652 PRINCESA ISABEL - PB Frei Alequison, O. Carm. E-mail: [email protected] Tel.: (79) 99161 5399 SÃO CRISTÓVÃO - SE Frei Adriano, O. Carm. E-mail: [email protected] Tel.: (81) 99699 4255 RECIFE - PE www.fradescarmelitas.org.br
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