revistafloscarmeli - frades carmelitas

Transcrição

revistafloscarmeli - frades carmelitas
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Editorial: Contando e Escrevendo nossa História
D
esde cedo, no Carmelo,
aprendemos a fazer a memória de nossa história. Como
encanta a um jovem vocacionado escutar as histórias de
nossas origens e de nossos santos. Causa-lhe um envolvimento tal que ele próprio sente-se
parte das narrativas que lhe são
desfiadas ante os olhos, por irmãos que, no hoje do Carmelo
receberam a missão de transmitir a nossa identidade.
Todavia não podemos esquecer disto: se belo é narrar
o nosso passado e deixar-se
encantar por ele, desafiador
é encarnar nosso carisma no
presente, de modo que sejamos, ao mesmo tempo, herdeiros e continuadores de
uma história que prossegue.
Olhar para o passado recente e escrevê-lo com um
olhar de continuidade histórica é dar-se conta que
somos responsáveis pelo presente que está sendo escrito,
reconhecendo que o Senhor
da história nos dá infinitas
possiblidades de cooperarmos com o seu plano de amor
no qual, de um modo singular, a
Ordem dos Carmelitas recebeu
a missão de ser uma “fraternidade orante no meio do povo”.
Cada carmelita e cada comunidade contribuem para escrever as páginas atuais do Carmelo. Sem dúvida, as festividades
em honra a Nossa Senhora do
Carmo são ocasião para nos encontrar como irmãos e irmãs,
convocados pela Mãe do Carmelo, ao redor da fonte, que é
Jesus, fazendo a ponte entre o
passado e o presente, esforçando-nos por manter vivas nossas tradições, e deixando-nos
ser interpelados por aquela
que sempre caminha conosco,
ordenando que façamos tudo o
que Jesus nos disser, isto é, que
“vivamos no Seu obséquio”.
Além da figura mariana,
Santa Teresa de Jesus, no seu V
expressa a vitalidade do Espírito que nos impele a darmos de
nós mesmos para que nosso carisma seja fecundo e continue a
gerar outros tantos consagrados.
Contudo, recordemos que nossas fraternidades carmelitanas
escrevem sua história não sem
altos e baixos, não sem luzes e
trevas, não sem dores e alegrias
– constatação que nos pede o
cultivo constante de um olhar
contemplativo, próprio da tradição do Carmelo, para que
saibamos dar as respostas aos
desafios encontrados, sem cair
num pessimismo, e esforçando-nos por cumprir os votos que
fizemos para com o Senhor.
Nesta edição, compartilhamos com nossos leitores um
pouco do que vivenciamos enquanto Província, nestes últimos meses. Leiamos estas páginas com uma atitude de ação de
graças a Deus por sermos Carmelitas e nos empenharmos a
dar o melhor de nós, escrevendo com a vida a nossa história.
Frei José Cláudio, O.Carm.
Santa Teresa Escritora
Centenário de nascimento, nos
tem acompanhado nesse processo de fazer memória. A experiência vivida por tantos que se
debruçam sobre sua espiritualidade tem possibilitado uma releitura do carisma carmelita que
ilumina a própria vida, motivando-os à vivência do mesmo.
O Carmelo de ontem e de
hoje, conta suas vivências com
uma forte marca missionária. A
Província, aberta à missão em
Moçambique e na Amazônia,
Expediente
Flos Carmeli é uma Revista da Província Carmelitana Pernambucana que visa ser um veículo
de formação e informação sobre temas carmelitanos e a caminhada do Carmelo, de um modo
especial da Família Carmelitana no Nordeste. - Diretor: Frei Altamiro Tenório da Paz, O.Carm.
Editor: Frei José Cláudio de A. Batista, O.Carm. - Design Gráfico: Marco Aurélio (MACAÉ)
Endereço: Convento do Carmo, Pátio do Carmo, s/n, CEP: 50010-180 - Recife - PE
Telefone: 55 (81) 3224 3341 - Website: www.fradescarmelitas.org.br
Nesta Edição
Editorial: Contando
02
Flor do Carmelo, nossa 03
As Noites Escuras de
Santa Teresa (I e II) 04/07
Ao Ouvir Tua Voz
08
Carmelo Missão na
09
Notícias do Carmelo
10
Iconografia Teresiana
11
Missão: Uma Experiência 12
Nova Fraternidade do
Escapulário
13
Outras Notícias
14
3
F lor do Carmelo, nossa alegria! Salve, Maria!
O
ano do Senhor
de 2015 é marcado pelos 500 anos do nascimento de Santa Teresa
de Jesus, uma grande e
querida filha de Nossa
Senhora do Carmo. As
Festas de Nossa Senhora do Carmo desse ano,
em vários lugares, foram
marcadas pela memória
da vida de Santa Teresa,
que teve uma existência Charola com imagem de N.Sra. do Carmo
toda mergulhada no Mistério de Na Festa do Carmo do ReciDeus, sob o olhar bondoso de fe, os cânticos, as flores, as velas, o glorioso Coral do Carmo
Maria Santíssima, nossa Mãe.
Foi muito bom contemplar, e a piedade do povo são, todos
nos inúmeros devotos e devotas os anos, reflexo do imenso amor
da Virgem do Carmo, a atenção que as pessoas demonstram à
dada a tantas e belas reflexões que Virgem Mãe. Da presença inos pregadores faziam. Os ouvintes tercessora da Mãe na vida dos
puderam vivenciar a experiência filhos, faz gosto ouvir os inúde Santa Teresa no seguimento de meros testemunhos que o povo
Cristo, acompanhada sob a pre- santo dá de graças alcançadas,
sença materna de Nossa Senhora. como: a recuperação da saúde,
É sabido, pois, que quando uma nova moradia, a conversão
Santa Teresa perdeu a sua mãe, de um parente, a alegria de ter,
ainda criança, acorreu a uma com o apoio da Virgem Santa,
imagem da Virgem Santíssima superado um vício ou pecado...
e, diante dela, se entregou à A Festa de Nossa Senhora do
Nossa Senhora, pedindo-lhe Carmo, com certeza, é um temque fosse doravante sua boa po de muita graça na vida do
mãe, já que sua mãezinha da povo cristão católico, um kairós,
terra tinha feito sua Páscoa. um tempo Santo. Muitas pessoAo escutar as pregações que os as fazem seu encontro com Jesus
impulsionavam a seguir Jesus Cristo através do Sacramento da
Cristo, sob os cuidados de Ma- Reconciliação e da Eucaristia,
ria, a exemplo de Santa Teresa, outros se regozijam de receber
o Escapulário da Virgem Santa
os olhos dos fiéis brilhavam.
Procissão com a imagem de N.Sra. do Carmo
e saírem da Basílica do
Carmo do Recife com o
propósito de, a exemplo
de Santa Teresa, viver
totalmente para Deus,
revestidos das Virtudes de Maria; uns suplicam a Misericórdia
de Deus pela intercessão de Nossa Senhora, diante de inúmeras
dificuldades da vida,
outros fazem questão
de fazer uma oferta em ação de
graças. Momento inesquecível é
o da procissão de encerramento da Festa. Como aconteceu
em 2012, quando os Carmelitas
tiveram o privilégio de receber
de volta a Igreja do Carmo de
Olinda, que é o berço da Ordem
do Carmo nas Américas, tudo
culminou com uma belíssima
procissão saindo do Carmo do
Recife em direção à dita Igreja,
fazendo acontecer a comunhão
das duas cidades irmãs, Recife e
Olinda. Tudo em um clima de fé,
alegria, união, entusiasmo e paz.
Com o povo Santo de Deus,
nós, Carmelitas, queremos repetir sem cessar:
Flor do Carmelo, nossa
Alegria, Salve, Salve Maria!
Salve, Salve Maria!
Momento celebrativo na Basílica do Carmo
Frei Luiz Nunes, O.Carm.
4
As Noites Escuras de Santa Teresa (I e II)
I - Primeira Parte
S
ão João da Cruz estuda
a fundo as quatro noites escuras que a alma tem que
atravessar, na sua caminhada
para a união mística com Deus.
Tais noites são divididas em
duas duplas: a) noite ativa e
noite passiva; b) noite dos sentidos e noite do espírito.
No seu livro “Subida do
Monte Carmelo”, ele aborda a
noite ativa dos sentidos e a noite ativa do espírito. Já no livro
“Noite Escura” o enfoque recai
todo na análise da noite passiva
dos sentidos e da noite passiva
do espírito. Em resumo, descre- Entrada de Teresa no Carmelo
vem-se os efeitos das purificações carmelitana. Entregou-se às
que se realizam tanto na parte observâncias do Carmelo com a
sensitiva como na parte espiritual veemência que lhe era peculiar.
do homem. A noite é ativa quan- Estava disposta a tudo para atindo a pessoa mesma se impõe mor- gir a perfeição no amor. Ela prótificações, sacrifícios, renúncias, pria relata em sua autobiografia:
provações e correções. A noite é
passiva quando tais coisas são im“Uma religiosa sofria
postas por Deus, à nossa revelia.
então,
prostrada por grande
No caso específico de Santa Tee dolorosa enfermidade;
resa de Jesus, a dolorosa noite escudevido a uma obstrução,
ra que ela atravessou durante três
fizeram-lhe abertura
anos, logo após a sua profissão relino ventre, por onde
giosa, foi uma autêntica noite escuregurgitava tudo o que
ra passiva dos sentidos; e é dela que
comia. Em pouco tempo
trataremos neste artigo. No artigo
faleceu. Eu via todas
subsequente, veremos a noite escutemerem aquele mal, mas
ra passiva do espírito, em que ela se
tinha grande inveja de sua
debateu ao longo de vinte anos.
paciência; e pedi a Deus
Teresa entrou no mosteiro carque, dando-me semelhante
melita da Encarnação no dia dois
paciência, também me
de novembro de 1535, aos vinte
desse
as enfermidades que
anos. Após um ano exato de posdesejasse. Parece-me que eu
tulantado, entrou no noviciado,
não temia nenhuma, pois
vestindo o hábito carmelitano
estava tão determinada a
e assumindo a nova vida de
obter
bens eternos que me
monja. O ano do noviciado foi,
dispunha a ganhá-los por
para ela, um período de cálida
qualquer meio”.
devoção e profundo mergulho
na espiritualidade da Ordem
E ela conclui candidamente:
“Sua Majestade me ouviu tanto que, em menos de dois anos,
a minha condição era tal que,
embora diferente daquela, a
minha enfermidade não foi menos dolorosa nem deu menos
trabalhos, e durou três anos”.
Terminando seu ano de noviciado, Teresa fez sua profissão
religiosa no dia 3 de novembro de 1537, exatamente um
ano e um dia depois do seu
ingresso no noviciado. Logo
começaram a surgir os sintomas da misteriosa doença:
frequentes desmaios, dor intensíssima no coração com
horríveis convulsões, e outros
males. E a doença se agravava
dia a dia. O pobre D. Alonso,
seu pai, vendo que os médicos
de Ávila nada podiam fazer, resolveu tirar sua filha predileta
do convento e levá-la a uma localidade, no interior de Ávila, onde
morava uma famosa curandeira
que, talvez, pudesse curá-la.
O tratamento foi mais longo
do que o previsto e também mais
duro, quase brutal. O diagnóstico foi completamente equivocado. Teresa sofreu tantos horrores
nas mãos da curandeira que o
pai decidiu levá-la de volta para
casa. A situação dela era uma
lástima: os ataques do coração
eram tão terríveis que muitos
pensavam que ela estivesse com
a doença da raiva. Por outro
lado, os nervos se encolhiam,
acarretando dores intoleráveis
da cabeça aos pés: “Aquele tormento me fez ficar encolhida,
como se fosse um novelo, incapaz de mover os braços, os pés,
as mãos e a cabeça... Era difícil
me tocarem, pois eu sentia tantas
dores que não podia suportá-lo”.
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Alguns dias depois, Teresa sofreu
um forte paroxismo e ficou como
morta. Todos, inclusive os médicos, atestavam que ela estava
realmente morta. Todos, menos
o pai, que permanecia de joelhos
diante do suposto cadáver da filha e repetia chorando: “Esta filha não é para ser enterrada!” Os
familiares se revezavam durante as noites no velório da irmã.
Numa delas, coube ao seu irmão
Lourenço, de vinte anos, fazer a
sentinela. Rendido pelo cansaço
e pelo sono, ele adormeceu, derrubando sobre a cama um castiçal com a vela acesa. Em pouco
tempo, o fogo começou a queimar as almofadas e os lençóis; e
teria queimado também a irmã,
se o rapaz não tivesse despertado
e alarmado a casa inteira.
O coma demorou quatro dias.
O túmulo estava aberto, no mosteiro da Encarnação. Em algumas igrejas foram celebradas as
exéquias. Chegaram até a colocar cera nos olhos da suposta
defunta, conforme os costumes
locais, e a vesti-la com uma mortalha. No quinto dia, Teresa começou a dar sinais de vida: com
alguma dificuldade, por conta
da fina camada de cera, voltou a
abrir os olhos, para a alegria de
todos. Tão logo retornou à consciência, pediu para se confessar
e receber a comunhão, no meio
de abundantes lágrimas. Todavia, a cura não foi imediata e
definitiva; foi antes um retorno
lento à normalidade. Ela continuava totalmente imóvel e as
dores não cessavam. Mesmo
assim, pediu para retornar ao
mosteiro. Somente oito meses
depois é que começou a mover-se, a engatinhar como criança.
Permaneceu paralítica por cerca
de três anos. Ela atribui sua cura
definitiva à proteção de São José,
de quem era muito devota.
Dois fatos marcaram profundamente a alma de Teresa,
trazendo um raio da luz divina
para clarear as trevas daquela noite tão escura. O primeiro foi a conversão do pároco
da vila de Becedas, aonde fora
se tratar. Antes de começar o
dito tratamento, ela procurou o
sacerdote para fazer uma confissão. Seu hábito de monja,
sua candura de consciência e
seu entusiasmo pelas coisas de
Deus, mexeram com a consciência do confessor, que havia
tempo estava vivendo uma vida
escandalosa com uma mulher.
Para assombro da jovem freira,
o confessor terminou se confessando com ela, pedindo-lhe
ajuda para sair daquele embaraço. Graças às orações e ao
testemunho de vida da carmelita, ele conseguiu realmente sair
daquela situação incômoda. Tal
experiência jamais se apagaria
da mente de Teresa que, anos
depois, ao fundar o Carmelo
descalço, colocaria, como um
dos objetivos da reforma teresiana, orar pelos sacerdotes.
O segundo fato refere-se à
leitura de dois livros naqueles
momentos cruciais: o Terceiro
Abecedário, do franciscano Frei
Francisco de Osuna, versando
sobre a oração de recolhimento; e a história de Jó, comentada por São Gregório Magno:
“Muito me serviu ter lido a história de Jó, nas Moralia de São
Gregório”. Durante toda aquela
noite escura dos sentidos, Teresa pôde constatar a veracidade
destas palavras de Jesus: “O espírito está pronto, mas a carne é
fraca” (Mc 14,38). A noite, no
entanto, será bem mais escura
quando acontecer o oposto: a
carne está forte, mas o espírito
não está pronto. Aí sim, será a
noite escura passiva do espírito!
II - Segunda Parte
a parte anterior, comentei
a “noite escura passiva dos
sentidos”, em que Santa Teresa se debateu ao longo de três
anos, logo após a sua profissão
religiosa. Nesta parte, abordarei
a “noite escura passiva do espírito”, que vai purificá-la por cerca
de vinte anos. Teresa enfrentou
com galhardia a noite escura dos
sentidos porque, mesmo a carne
estando fraca, o espírito estava
pronto (cf. Mc 14,38). Agora, no
entanto, o quadro se reverteu: a
carne estava reabilitada, mas o
espírito não estava pronto.
Durante os três anos de sua
convalescência, mesmo imóvel
na cama, Teresa começou a dar
mostras de santidade no pequeno
mundo da enfermaria do mosteiro da Encarnação. Do seu leito
de dor, ela esparramava raios
benéficos sobre as irmãs que a
rodeavam. A cura, depois de três
anos de paralisia, foi ruidosa,
comovendo boa parte da população de Ávila. Todos queriam
ouvir da sua boca a narração da
sua cura, que ela própria considerava um milagre de São José.
As visitas cresciam a cada
dia; e tanto as monjas como os
próprios confessores convenciam Teresa a não rejeitá-las.
É que, com elas, chegavam
muitas esmolas para o mosteiro, que era pobre. Para Teresa, ao invés, elas causavam um
transtorno, que a inquietava
bastante: cada dia menos recolhimento e mais dispersão. E isso
lhe soava como uma falta grave.
Ao sair da enfermaria, Teresa havia superado a enfermidade física, a paralisia do corpo; porém, começava a ficar
doente da alma. Deixou-se envolver por uma ambígua familiaridade com parentes e amigos.
N
6
Continuação da página 5.
Voltaram à tona e prevaleceram as antigas amizades, que ela
havia penosamente abandonado. A falta de recolhimento gerou a desmotivação, levando-a
a abandonar a oração: “foi a
maior tentação que tive”.
Em resumo, Teresa passou
por uma longa e dura tentação
de mediocridade. E a luta para
não sucumbir foi permeada de
intermitências e novas crises.
Ele mesma descreve sua situação
ambígua: “E assim comecei, de
passatempo em passatempo, de
vaidade em vaidade, de ocasião
em ocasião, a envolver-me
tanto em tão grandes ocasiões
e a estragar a alma em grandes
vaidades que tinha vergonha
de me aproximar de Deus.
Contribuiu para isso o fato de
que, como os pecados aumentaram, o gosto e a alegria da
prática da virtude começaram
a escassear. Eu via muito claramente, Senhor meu, que isso
me faltava por eu faltar a vós”.
Essa espécie de ambiguidade entre ser e não ser foi o
húmus onde germinou a crise
de Teresa. Todavia, o pior era
que ela se sentia só nessa batalha. Nem o mosteiro nem os
confessores contribuíram para
que ela cortasse o mal pela raiz.
Ela experimentava o que é a
solidão no meio da multidão.
Dentre as visitas e amizades,
Teresa alude a uma determinada pessoa, com quem criou certa
dependência afetiva, porém sem
jamais insinuar se fosse homem
ou mulher. Isso abriu campo
para futuras indagações. Inúteis, todas elas. Encobriu a
pessoa, não o fato: “Estando eu
com uma pessoa que há pouco
conhecera, percebi que o Senhor queria dar-me a entender
que aquelas amizades não eram
convenientes, alertando-me e esclarecendo sobre a minha grande
cegueira. De fato, eis que vi Cristo representado diante de mim,
com muito rigor, mostrando-me
o quanto aquilo me pesava. Vio, com os olhos da alma, com
mais clareza do que o poderia
ter visto com os olhos do corpo. A sua imagem tornou-se tão
indelével que até hoje, mais de
vinte e seis anos depois, ainda
tenho a sensação de vê-lo. Tomada de um profundo temor e
de grande perturbação, não quis
mais receber a pessoa com a
qual me encontrava então”.
Conversão de Teresa
Todavia, com o passar do tempo, e com as justificativas que sua
consciência fragilizada lhe apresentava (“Foi uma ilusão! Não
há nada demais nisso!”), nossa
Santa voltou atrás, confessando
que “permaneceu vários anos
nesse divertimento pestilento”.
Deus enviou-lhe outro sinal, bem diferente do primeiro: “Certa vez, entretida na
companhia da mesma pessoa,
vimos - e outras pessoas, que
estavam ali, também o viram
- uma espécie de sapo grande
dirigir-se para nós, caminhan-
do com uma rapidez que não é
própria dessas criaturas. Não
tenho como explicar o aparecimento, em pleno dia, de semelhante criatura naquele lugar...
E o que isso me causou por certo
envolvia mistério, jamais tendo
saído da minha lembrança”.
Mesmo sem sair da lembrança,
o impacto da visão do sapo durou pouco. As coisas retomaram
seus lugares, continuando a subjugar o espírito de Teresa, que
afirma sem rodeios: “nenhuma
outra pessoa me trouxe tanta
dissipação quanto essa, dada a
afeição que eu nutria por ela”.
Deus mandou-lhe um terceiro recado, diferente dos anteriores: “Uma monja, minha
parenta, antiga e grande serva
de Deus, me alertou algumas
vezes; eu, porém, não acreditava nela e ainda ficava desgostosa, pensando que ela se
escandalizava sem motivo”.
Surgiu então um quarto sinal,
ainda mais eloquente: a morte
do seu pai, D. Alonso. “Enfrentei grandes trabalhos durante a
sua doença. Creio tê-lo recompensado pelo que ele passara
com as minhas”. A morte santa do velho comoveu-a profundamente. Teresa aproveitou a
oportunidade para fazer uma
boa confissão com o Padre Vicente Barrón, que era justamente o confessor de D. Alonso.
Tal confissão foi um verdadeiro
oásis no meio do deserto em
que Teresa vivia. Todavia, o oásis não é o termo da caminhada; é apenas um ponto de parada; a caravana deve prosseguir.
E Teresa anota que prosseguiu
na caminhada, “caindo e levantando, levantando-me mal,
pois voltava a cair”. E assim por
mais dez anos de mediocridade.
Fazia-se necessário um quinto
sinal para sacudir Teresa daquele
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torpor. “A minha alma já estava
cansada e, embora quisesse, seus
maus costumes não a deixavam
descansar”. E o sinal aconteceu:
um belo dia, Teresa entrou num
determinado oratório e se deparou com uma imagem de Jesus na
flagelação, todo coberto de chagas. O choque foi tremendo. Com
o coração partido, ela lançou-se
aos pés de Cristo, derramando
muitas lágrimas. “Creio que lhe
disse que não me levantaria dali
enquanto a minha súplica não
fosse atendida”. A partir de então, tudo começou a mudar.
Sim, tudo começou... Mas,
das outras vezes, tudo também
começara, e nada terminava! Teresa já não acreditava mais em si.
Era preciso um xeque-mate, para
concluir aquela lenga-lenga de
quase duas décadas. E foi o que
aconteceu pouco depois, com a
leitura do livro “As Confissões”,
de Santo Agostinho: “Quando
cheguei à sua conversão e li que
ele ouvira uma voz no jardim, senti ser o Senhor quem me falava,
tamanha foi a dor do meu coração.
Passei muito tempo chorando,
com grande aflição e sofrimento...
Glória a Deus que me deu vida
para eu sair de uma morte tão mortal!” Tanto o episódio da imagem
de Cristo chagado como a leitura
de Santo Agostinho aconteceram na quaresma do ano 1554,
que Santa Teresa assinalou como
o ano da sua conversão. Realmente, esse ano foi um marco na
caminhada espiritual da grande
Doutora da Igreja: encerrou o
período ascético da sua vida e
iniciou o período místico. Porém,
isto será o assunto do meu próximo artigo. Se Deus quiser!
Frei Geraldo de Araújo Lima, O.Carm.
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A
Ao Ouvir Tua Voz
prendi muitas lições de vida
ao longo da caminhada
vocacional. O bom Deus me
foi formando da maneira como
costuma trabalhar os corações
endurecidos, e caminhei a passos pequeninos pela via da espiritualidade. Jesus me sustentou
em todos os momentos.
Mesmo sendo o mais indigno
dos servos do Senhor, nasci em
um lar católico. Fui batizado com
cinco meses de idade, aos 25 de
dezembro de 1990, em data mais
nobre do que mereço, e com nove
anos recebi pela primeira vez o ósculo da imortalidade, a primeira
comunhão. Por sua ação poderosa fui impelido a me envolver em
grupos de pastoral como a Legião
de Maria e a Renovação Carismática, nos quais vi nascer em mim o
desejo de ser sacerdote. Com
13 ou 14 anos ainda cheguei
a participar de encontros vocacionais no seminário da
Graça, em Olinda, junto com
outros dois vocacionados de
nossa paróquia de Nossa Senhora da Escada, passando
das brincadeiras de missa,
quando criança, para uma
possibilidade real que começava a nascer em minha vida.
Mas, os caminhos do Senhor
não são os nossos. E talvez por
imaturidade ou por falta de um
acompanhamento, fui esfriando
em meu coração a ideia de ser
padre. Talvez devido à separação
dos meus pais, que naquela época
teve um peso muito grande para
nossa família. Um episódio hoje
superado, contudo muito doloroso para todos nós à época.
Começava ali um novo período em minha vida, pois a necessidade de estudar e trabalhar
para melhorar de vida me impulsionou a lutar por novos objetivos. Acabei deixando os grupos
de pastoral aos poucos, e focan-
do em atividades voltadas para
universidades e concursos públicos. Era Deus agindo em meu
ser, modelando-me por meio das
muitas experiências que vivi.
Foi assim que, com apenas 17
anos de idade, fui aprovado em
um concurso público federal e
também no vestibular da UFPE –
Universidade Federal de Pernambuco – para o curso de Licenciatura em Matemática. Ainda cheguei
a estudar até o quarto período naquela saudosa academia, mais ou
menos quando fui convocado para
assumir a vaga do concurso, aos 19
anos. Devido ao deslocamento necessário para o trabalho e também
ao ritmo pesado da rotina, acabei
trancando Matemática e migrando para o curso de Administração
de Empresas, que viria a concluir
O chamado dos discípulos
no primeiro semestre de 2014.
Trabalhei no referido órgão público por mais de cinco anos. Minha vida ia bem, mas faltava algo.
Eu não me sentia plenamente feliz.
Que bom que o Senhor nunca desistiu da minha conversão. Ele preparava a ocasião de nosso reencontro, dessa vez para mergulhar em
águas mais profundas, para eu não
mais ser capaz de viver longe d’Ele.
E a experiência definitiva para
que eu ouvisse a voz do Amado
aconteceu numa tarde de adoração, no VIII EJC de Escada, em
minha cidade natal no estado de
Pernambuco. Fechando os olhos,
eu senti a plenitude de estar tão
perto de Deus.
Me vi diante
da Hóstia consagrada como
o filho pródigo
diante do pai,
rejubilante de
alegria. Entendi que tudo Luís Otávio, Postulante
o que eu precisava para ser feliz era
aquilo, a presença de Jesus. O resto era apenas acréscimo.
Um versículo me veio à mente:
“A quem muito foi dado muito será
cobrado” (Lc. 12, 48). Era a voz do
Senhor que, alegre pelo meu retorno e saudoso da minha adoração,
renovava em meu coração o chamado para a missão de servi-Lo na
sua Igreja. Ele me fazia lembrar de
tantos dons que recebera e da tarefa de utilizá-los em benefício do
reino de Deus. E, tomado pelas lágrimas, tive a coragem, a
loucura, de dizer a palavra que
mudaria para sempre a minha
vida: “Sim”. Olhando para
minha vida, fiz a mesma pergunta que Nossa Senhora, há
dois mil e alguns anos antes:
“Como acontecerão tais coisas?” (Lc. 1, 34). Começava
então minha nova caminhada
vocacional. Mais maduro e
com toda uma vida construída, fui
convidado, assim como os apóstolos, a “largar meu barco na praia e,
deixando tudo, seguir Jesus”.
Meus passos nesta maravilhosa
caminhada acabaram me levando a “bater às portas” da basílica
de Nossa Senhora do Carmo, no
Recife, onde o frei Francisco, meu
conterrâneo carmelita, e o Frei
Adriano Saboia, O. Carm., me
ajudaram a aprofundar este chamado com a promoção vocacional.
Assim trilhei os passos e fui aceito
para o primeiro ano de Postulantado de nossa província. Tenho
vivido esta nova e transformadora experiência, com a renova-
9
da esperança de que, apesar de
meus inúmeros defeitos, o Senhor
possa tornar-me um Carmelita.
Ao ouvir a voz de Jesus, iniciei
um novo caminho. Desejo ser a argila modelada aos poucos, deixar
de seguir os meus próprios caminhos e ir pela trilha que Ele aponta.
Tomando a cruz, quero dar
meus passos pelas tantas Galileias, neste mundo de homens
que ainda pescam em mares
sem vida, águas incapazes de
dar-lhes a verdadeira e completa paz. Leve-me, Jesus, aos corações que ainda não o amam.
Abra-lhes as portas e deixe entrar
sua palavra. E, se quiser, que use
estas minhas humílimas mãos, assim como as mãos de meus irmãos
carmelitas, para executar esta
tarefa de “ir pelo mundo anunciando o evangelho” (Mc 16, 15).
Luiz O. Silva, Postulante Carmelita
Carmelo Missão na Amazônia
A
Família Carmelitana
do Brasil promoveu, durante a segunda quinzena do mês de
julho/2015, o Carmelo
Missão, que reuniu na
Cidade de Itaituba (sede
da Prelazia que recebe o
mesmo nome) um grupo
de 40 carmelitas (padres, Grupo de Missionarios
frades, irmãs e leigos carmelitas). e outras comunidades contíguas.
A experiência missionária foi No período de preparação tipreparada por alguns dias de for- vemos a oportunidade de vivenmação em que foram sublinhados: ciar momentos de espiritualidade
a história dos carmelitas na região carmelitana e aprofundar o perfil
norte do Brasil; o projeto da CNBB missionário no contexto das visipara a Igreja da Amazônia; a me- tas e demais celebrações. A mismória dos encontros anteriores do são foi concluída com a participaCarmelo Missão; a realidade pas- ção no encerramento da Festa da
toral da Prelazia de Itaituba e uma Padroeira, Senhora Santana. O
breve descrição das comunidades período de presença nas comuniurbanas e rurais visitadas nesta dades foi de apenas seis dias (de
presença missionária carmelitana 27/07 a 01/08). Domingo, 02/08,
(Conjunto Virlande, São Bene- todo o grupo voltou a se reunir no
dito, Barreiras, Santa Terezinha, Centro de Treinamento e Pastoral
Vila Itaituba, Vila Madalena, San- para avaliar a experiência e defita Clara, São Tome e São Lázaro, nir novos rumos desta atividade
N. Sra. da Conceição, N. Sra. de da Família Carmelitana no Brasil.
Frei Rogério, O.Carm.
Nazaré e Campo Verde (KM 30)
Formação com Frei Rogério
Visita de Dom Cláudio
cardeal Dom Cláu dio Hummes, de São
Paulo, chegou a Itaituba
na noite da quarta-feira (28/07) e permaneceu
na cidade até o sábado
(01/08). O cardeal foi recepcionado por D. Wilmar
e alguns jovens membros do Grupo Irmãos na Fé. Na quarta-feira
pela manhã, presidiu a frequentada missa da Catedral de Santana,
às 7h. No mesmo dia, aconteceu,
às 10h, uma entrevista coletiva
com a imprensa local, na residência episcopal. À noite, às 19h30,
presidiu uma missa na Igreja Matriz do Bom Remédio, na cidade
alta. Em sua agenda, visitou também algumas comunidades e bairros da cidade, inclusive áreas onde
se encontravam os missionários
carmelitas. É bom recordar que
Dom Cláudio tem fortes ligações
com a Igreja da região norte do
Brasil, desde o período em que
era bispo da Diocese de Santo
André (anos 80). Atualmente D.
Cláudio Hummes é Cardeal emérito da Igreja de São Paulo e preside na CNBB a Comissão para a
Amazônia, que foi um dos temas da
preparação abordado em nossa formação assessorada pela Irmã Irene,
membro da referida comissão.
o
Visita de Dom Cláudio Hummes (Cardeal Humes) ao Município de Itaituba,
durante a semana do Carmelo Missão
(por Andreia Siqueira/Jornal Tapajós).
10
Notícias do Carmelo Jovem Moçambicano
D
procurar melhorar e
tomar algumas decisões e saídas para as
dificuldades”, dizia o
Pe. Provincial. Exortou-nos para estarmos
atentos à vida fraterna na comunidade,
à missão que temos
e, por fim, aos nossos
votos que assumimos
Visita Fraterna do Pe. Provinna vida consagrada,
cial, Frei Altamiro, O.Carm
sem deixar de lado a Profissão do Frei Célio
formação. Também insistiu na lano”; “não é por acaso que o nos pós a sua chegada no dia necessidade de aprendermos so carisma diz que devemos ‘viver
10/06/2015, o Frei Altamiro, outras línguas e nos especiali- em obséquio de Jesus Cristo com
descansou da viagem, e em se- zarmos nas áreas de interesse da um coração puro e reta consciênguida observou o andamento da Ordem e da Igreja, para o bem da cia’ ”. Ainda nos animou a persecomunidade conventual. No dia Delegação, da Província e da Or- verar diante das saídas de alguns
12/06/2015, iniciou as conversas dem. Ademais, falou-nos da ne- irmãos. No dia 22/06/2015, fomos
com cada confrade, começando cessidade de nos formarmos para a comemorar o aniversário de Frei
pelos capitulares e por últiGenildo, O.Carm. Tammo, os estudantes. No dia,
bém, neste período de visita
17/06/2015 tivemos a Mido Pe. Provincial, tivemos
niassembleia da Delegação:
umas confraternizações. O
após a oração inicial de inpadre provincial visitou alvocação ao Espirito Santo,
gumas famílias e as irmãs
iniciou a sua fala lendo o
carmelitas com as quais tracapítulo 2 da nossa regra,
balhamos e partilhamos da
depois, dentre vários temas
pastoral carmelitana, aqui,
e assuntos, destacou: “Ser
na Arquidiocese de MapuCarmelita hoje, é uma alegria
to. A visita do Padre Proque se renova e se comunica”.
vincial foi concluída com
Frades:
Lucas,
Mendonça,
Sócio,
Célio,
Lázaro,
Cândido
e
Raimundo
Esta visita fraterna e
uma missa na paróquia, lá
canônica a Moçambique, do Pa- liderança, sabermos avaliar nossa pelas 18h, no dia 08/07/2015, e
dre Provincial, “tem como ob- caminhada e traçarmos linhas con- uma confraternização no convenjetivo ver os confrades, como cretas para a caminhada de nossa to de São José, no clima festivo.
estão caminhando em todas as Delegação, nos anos seguidos ao
Primeiros votos dos nossos
áreas da vida, animá-los, escu- Capítulo Provincial, sempre num
tá-los, e enfim, conjuntamente, clima de transparência, de since- confrades e a entrada ao
noviciado do nosso Irmão
ridade e verdade, para
o bem da Delegação,
da Província e da Or- o dia 02/06/2015, partimos a
dem, tendo sempre caminho do Zimbabwe, país
diante de nós aque- vizinho a Moçambique, onde
le que nos chamou, se encontrava os nossos irmãos
Jesus Cristo, que é o (Fr. Célio e Fr. Cândido); neste
fundamento último percurso passamos pelo Dombe,
da vida consagrada, onde moram nossos amigos da
por quem “estamos Obra de Maria, que com muito
aqui e não por causa carinho e amor nos acolheram.
de frei sicrano ou fu- Passamos a noite e, cedinho,
Fr. Mendonça, Fr. Altamiro, Fr. Jack e Fr. Raimundo
o lado de cá, mais uma vez,
venho partilhar com vocês
três eventos da nossa Delegação, a
saber: a visita canônica do padre
provincial, os primeiros votos dos
nossos confrades (frei Célio e frei
Cândido) e a entrada ao noviciado
do nosso Irmão José Lucas Nhama, por último a nova estrutura do
laicato do Carmelo moçambicano.
A
N
11
demos continuidade à nossa viagem. No dia 04/07/2015, houve
a profissão dos votos simples dos
nossos confrades Frei Célio, O.
Carm., e Frei Cândido, O.Carm.,
da nossa Delegação. É uma alegria para nossa Delegação acolher
mais dois frades, com quem, juntos, vamos florir o Carmelo Jovem
de rosto moçambicano… É uma
alegria que contagia a todos, a
nós, à Província Pernambucana e
à Ordem, pois as alegrias e as esperanças do Carmelo Jovem Moçambicano são as alegrias e esperanças da Província e da Ordem.
trutura, houve a necessidade de
criá-la. Foram nomeados para os
ofícios dos leigos os seguintes:
Responsável das Leigas: Dona
Jaqueline, a Ecônoma das Leigas:
Dona Luísa Viola, a Secretaria
das Leigas: Dona Luísa Manjope;
A Estrutura do laicato do
quanto a animação do Grupo:
Carmelo moçambicano
Dona Angélica, e à Comunica omo, depois de muito tempo, ção do Grupo: o senhor Elias.
caminhávamos sem uma esFrei Lázaro José António O.Carm
C
Iconografia Teresiana
E
m virtude do V
Centenário
do
nascimento de Sta. Teresa de Jesus, Márcio Mota,
artista cearense, conhecido por suas pinturas em
inúmeras igrejas, dentro
e fora do país, pintou 10
telas em homenagem à
santa, que narram passagens de sua vida. Contemplemos suas obras de arte:
Entrada de Teresa no Carmelo
Teresa inicia fundações
Fundação do Carmelo de São José
Teresa dá seu manto a Ana de Jesus
Transverberação do Coração de Teresa
Conversão de Teresa
Teresa e João da Cruz
Teresa e Jesus
Teresa Escritora
Teresa morre em 1582, aos 68 anos
12
Missão: uma Experiência que Transforma
“Sempre tive a convicção
que o Senhor tinha-me
preparado no Carmelo
algo que só ali poderia
encontrar”.
Edith Stein
C
oncluindo o mês de Agos to, que no Brasil é dedicado à reflexão vocacional, gostaria
de partilhar com os irmãos e irmãs, amigos e seguidores da vida
da Província Carmelitana de Pernambuco, minha experiência na
missão. Embora em Moçambique,
este não seja um mês vocacional,
espero poder conduzir a
todos, os de lá (Brasil), e
os de cá (Moçambique), à
uma renovada consciência
vocacional- missionária.
A missão começou comigo e, creio começa com
todos, quando deixamos
cair dentro de nós, dos
nossos corações as barreiras e limites que nos impedem de perceber que o
mundo é muito maior do
que as nossas concepções, conceitos e preconceitos e que o outro é
diferente e não inferior a nós.
Ademais, é necessário coragem,
porque é preciso superar os medos,
renunciar as seguranças, sair das
nossas zonas de conforto e, sobretudo, confiar na palavra de outro
que nos motiva a sair, mas também
na Palavra do totalmente “Outro”,
que diz: “vai, eu te envio”. Esta,
certamente, foi a experiência pela
qual passaram Abraão, nosso pai
na fé (cf Gn 12, 1-3), Moisés (Ex
3,10), o profeta Elias, nosso Pai
(1Rs 17, 2ss), Maria, nossa Mãe
(Lc 1, 26-38) e tantas outras per-
sonagens bíblicas ou da história
da Igreja. Esta foi também a experiência que fui convidado a fazer
em Janeiro de 2014, por ocasião
da celebração do nosso Capítulo
Provincial, quando, terminado um
triênio conturbado na minha vida
religiosa, esperava voltar para a minha Província de origem e minha
terra, para o meu povo e minha
parentela. Contudo, fui convidado
à uma experiência não planejada,
e eu, com o coração despedaçado,
mas confiando na Palavra, parti
para o desconhecido, e no entanto, “o Senhor tinha-me preparado
no Carmelo (moçambicano) algo
que só ali poderia encontrar”.
As Bem-aventuranças (pintura africana)
Chegamos a Maputo, Frei Altamiro e eu, no dia 22 de Março
de 2014, e encontramos no convento São José de Khongolote, sobretudo, uma comunidade, o Carmelo Jovem moçambicano - como
se costuma falar por aqui - que
para além de todos os desafios encontrados, insiste e persiste com a
presença carmelitana na também
jovem pátria de Moçambique.
Com o passar dos dias e dos
meses tive que sofrer outra profunda conversão, pois necessitei
alargar ainda mais a minha concepção missionária e entender
que a missão é muito mais do que
o mero trabalho apostólico até à
exaustão física e espiritual e perceber
que a minha
missão nestas
terras, Frei Genildo
talvez, seria a mesma de Santa Teresinha: “fazer Deus amado como
eu o amo”. Aqui não fazemos muitas coisas, além de estar e ser presença de Deus no meio do povo,
testemunhando com uma vida de
intensa e regular oração, fraternidade e serviço na paróquia Santa Maria, Mãe de Deus de Khongolote, a nós confiada.
Como tarefas específicas,
ajudo na animação da Delegação, um trabalho desafiante, mas ao mesmo
tempo gratificante, uma
vez que conto com a colaboração de uma comunidade comprometida: os
frades junioristas e o Frei
Sérgio, nosso primeiro sacerdote moçambicano. Os
estudantes, não obstante
as atividades acadêmicas que são
intensas e exigentes, assumem
com muita responsabilidade as tarefas comunitárias e levam avante, com o seu dinamismo próprio,
a Delegação. Depositamos neles a
nossa confiança e estamos cheios
de esperança de que corresponderão, dando sempre o melhor de si
mesmos para o Reino de Deus e o
Carmelo. Ademais, acompanho
o postulantado, desde a minha
chegada, e o aspirantado, a partir
do presente ano. Trata-se de um
trabalho com o qual me identifico
e que, portanto, faço com prazer.
Outrossim, encontro facilidade
13
pela abertura e docilidade dos jovens que batem à nossa porta e se
interessam em experimentar nossa
vida. As limitações que encontro
são as minhas, a nível pessoal, e as
dificuldades de diferença cultural
que se tornam desafios no relacionamento e condução do grupo.
Contudo, o que quero destacar da experiência moçambicana
é, sobretudo, o trabalho e a partilha de vida que fazemos com
o povo de Deus na paróquia. O
que se percebe nos rostos, expressões e realidade é a situação
de empobrecimento da maioria,
gerada pela injustiça e pela ação
gananciosa de poucos ricos que
só pensam nos seus interesses pessoais e deixam a grande maioria
privada do necessário para viver
dignamente. Moçambique, como
o Brasil, tem riquezas e possibilidades que se usadas em benefício
do seu próprio povo, amenizaria
tantas situações-limite que existem. No entanto, o que se observa é um jogo de interesse e busca
de proveito pessoal que faz toda
a nação sofrer miseravelmente e
o país ser vendido aos interesses
estrangeiros, exportando toda
sua riqueza e importando miséria,
exploração e sofrimento ao moçambicano. Não obstante esta realidade, o povo é, antes de tudo,
forte. São homens e mulheres que
não se deixam vencer pelo mal,
mas lutam virilmente pela superação e buscam na fé e na alegria
a força necessária para continuar
a difícil arte de viver. Os jovens
são de uma capacidade intelectual extraordinária, faltando-lhes
apenas oportunidades de se projetarem e realizarem o sonho de
uma “vida digna de ser vivida”.
O moçambicano em geral, vive a
sua fé de maneira viva e encarnada, expressando na liturgia,
pela dança, cânticos e alaridos a
esperança de novos Céus e uma
terra nova, onde brote a justiça.
Na celebração da Páscoa do
Senhor, sente-se intensamente a
força libertadora da Ressurreição
e o poder de Deus que faz o justo viver por sua fé. Além disso, é
um povo extremamente acolhedor e imensamente agradecido
pela nossa presença em seu meio,
mesmo com nossas inconstâncias
e frequentes mudanças de pároco.
Enfim, para concluir este testemunho com as palavras daquela com a qual o iniciei, gostaria
de dizer que “há determinados
lugares, ermos ou não, em que
Deus se digna conceder graças à
alma”. Eu tenho certeza de que
um destes lugares é a missão e o
Carmelo de São José em Kongolote/Moçambique. Por isso, seja
Deus para sempre bendito.
Frei Genildo Mário de Queiroz, O. Carm.
Nova Fraternidade do Escapulário
C
om grande festa e ale gria, foi fundada no
dia 15 de julho de 2015, na
Paróquia Nossa Senhora do
Monte Carmelo, Diocese de
Caruaru - PE, a Fraternidade do Escapulário, composta
por 29 membros. A Celebração Eucarística foi presidida
pelo Frei José Roberval Men-
Momento orante com o Frei Yedo
Missa presidida pelo frei Roberval
des Pereira e, além de outros
padres, foi concelebrada pelo
Administrador Paroquial Pe.
Kennedy Amorim. A celebração festiva contou com a
acolhida oficial da Bandeira da Fraternidade, com a
imposição do Escapulário e
consagração dos membros e
a entrega dos diplomas.
Acolhida da Bandeira da Fraternidade
14
Outras Notícias
Assembleia de Páscoa
O adeus ao Frei Batista
Nos passos de Teresa de Jesus
reavivar nossa intimidade com Cristo
otivados por este tema,
nós, os frades carmelitas
da Província Carmelitana Pernambucana, estivemos reunidos,
de 14 a 17 de abril, no Convento
Nossa Senhora Peregrina, Camocim de São Felix - PE, por ocasião
de nossa Formação Permanente
e Assembleia de Páscoa 2015. Frei Francisco Sales, OCD
Nesta atmosfera pascal, e também de celebração dos
500 anos do nascimento de Santa Teresa de Jesus,
aprofundou conosco esse tema o Frei Francisco Sales Amaro Oliveira, OCD, coordenador do Centro de
Espiritualidade Carmelitano, em São Roque - SP.
ia 27 de maio, faleceu, aos 80 anos de vida,
na cidade do Recife, o Frei Batista, cujo nome
de batismo é Cláudio Pordeus Gadelha. Frei Batista
nasceu na cidade de Souza - PB, no dia 20 de março de 1927; fez seus primeiros votos no Carmelo no
dia 09.02.1947, e ordenou-se sacerdote no dia 08 de
dezembro de 1952. Durante sua vida de consagrado a
Deus na Ordem do Carmo, além de cantor e compositor de belas músicas, foi Provincial, Ecônomo Provincial, prior do Carmo do Recife - PE e de Princesa Isabel
- PB, diretor Espiritual da OTC de Recife e João Pessoa - PB. Foi Pároco também
em Princesa Isabel, Camocim
de São Felix - PE, Piedade Jaboatão - PE, Cajueiro Seco Jaboatão - PE e grande pregador
do Evangelho. Faleceu no mês
Mariano e numa quarta-feira,
dia dedicado a Nossa Senhora
do Carmo. Deus o acolha no
Frei Batista
festim da eternidade!
M
Assembleia do Laicato
D
e 17 a 19 de Abril, no Convento N. Sra. Pe regrina, na cidade de Camocim de São Félix
- PE, aconteceu a Assembleia do Laicato da Província Carmelitana Pernambucana, com o seguinte
tema: Nos passos de Santa Teresa de Jesus, reavivar nossa intimidade com Cristo – o mesmo da AsEncontro para Formandos e Formadores
sembleia de Páscoa dos Frades, dias antes. A parte
formativa coube ao Frei Francisco Sales, frade carmelita descalço, que muito bem soube apresentar
o itinerário espiritual de Santa Teresa de Jesus, a
Santa Madre, como é chamada pelos descalços. A
Assembleia contou com a presença de representantes das Ordens Terceiras do Carmo, Fraternidades
do Escapulário e Juventude Carmelitana, embora se
tenha sentido a ausência de alguns. O responsável
pelo Laicato na Província é o Frei Vicente Ferreira,
O.Carm, auxiliado pelo Frei Kaio Verçosa que acom- Encontro Carmelitano
panha as fraternidades do escapulário. Esteve pre- s superiores gerais da Ordem Carmelitana na
sente no encontro o nosso provincial, Frei Altamiro. América Latina promoveram, de 24/07 a
08/09, um encontro para formandos e formadores
Regresso do Frei Sergionei
carmelitas, realizado em Villa Carmelita, Peru. O
encontro contou com a participação de 23 fra epois de um período de
des provenientes do Brasil, Argentina, Venezuela,
exclaustração, exercendo
Peru, El Salvador, Porto Rico, República Dominiseu sacerdócio na Diocese de
cana e México. Da Província Pernambucana parPatos - PB, retorna à Provínticiparam os freis: Júlio César, José Cláudio, Paulo
cia o Frei Sergionei, O.Carm.
Henrique, Aléquison e Flávio.
O mesmo está a residir na co Além da convivência fraterna, oração e parmunidade Beato Tito Brandstilha de experiências, os participantes tiveram a
ma, em Carmópolis - Se, desoportunidade de aprofundar temas ligados à dide o segundo tremeste do ano. Frei Sergionei
Acolhemos o nosso confrade com grande alegria. mensão humana e espiritualidade carmelitana.
D
O
D
15
Frei Sormani
Frei Herryson
epois de dois anos fora
da Província Carmelitana Pernambucana, residindo em Roma, e após o
término do seu curso de
especialização em Vida Religiosa, o Frei Sormani José
retorna à Província. Ele
passa a residir na cidade de
Lucena - PB, assumindo a
Frei Sormani
função de formador do Postulantado I. Acolhemos, com alegria, o Frei Sormani, e pedimos que
Deus o ilumine na nova missão.
Província Carmelitana
Pernambucana
(PCP)
acolheu, em nossa fraternidade carmelitana, o frade juniorista, Frei Djgens Herrysson de
Castro Mendonça, natural de
Fortaleza, até então membro
da Província Santo Elias. Após
um sério discernimento com
Frei Herryson
seu formador, Provincial e Conselho, o Frei Herysson solicitou sua transferência para a PCP. O nosso
Provincial, tendo escutado as instâncias responsáveis pelo seu processo formativo, bem como o próprio confrade, aceitou seu pedido. O mesmo passa a
integrar a comunidade do Convento do Recife, e a
dar continuidade aos seus estudos teológicos.
D
Frei Severino Lima
ambém acolhemos de
volta à Província o Frei
Severino Lima, que esteve por
mais de um ano ajudando o Comissariado Geral de Portugal.
O mesmo passa a integrar a
comunidade carmelita de Icó Ceará. Seja muito Bem-vindo,
Frei Severino Lima.
A
T
Eleição na Ordem Terceira de João Pessoa
D
Frei Severino
Frei Leonardo Botelho
Frei Leonardo esteve,
no período de três meses, realizando uma experiência de intercâmbio com a Província do Puríssimo Coração
de Maria (PCM), nos Estados
Unidos, para aprimorar os conhecimentos na língua inglesa.
O
Frei Leonardo
ia 15 de agosto, a Ordem Terceira Carmelita
de João Pessoa - PB, realizou a eleição para
a escolha da nova mesa diretiva. Além dos membros do sodalício, estiveram presentes o Delegado
Provincial para o Laicato, o Frei Vicente Ferreira,
O.Carm., e o Frei Sormani José, O.Carm., Diretor
Espiritual. O resultado do pleito foi o seguinte: Silvio Romero de Lucena – Prior; Marcos Cavalcanti de
Albuquerque – Vice
Prior; Maria Aparecida Medeiros de
Lucena – Priora e
Ajoceris Marinho da
Silva – Vice Priora.
Conselheiros: FranIgreja do Carmo e OTC - João Pessoa - PB
cisco da Chagas Ferreira e Elielton da Silva Lima. Conselheiras: Aracelis Pereira da Silva e Marlene Pimentel de Brito.
Frei Francisco Rinaldo
u l t i v a n d o p o r l o n g o
tempo o sonho de aprofundar-se nas Sagradas Escrituras, o Frei Francisco Rinaldo deixou a comunidade de
Piedade e passou a integrar
a comunidade internacional
de Santo Alberto, em Roma,
onde preparar-se-á para fazer
a sua especialização em Bíblia.
Ação de Graças
gradecemos a Deus pelo
restabelecimento da saúde do Frei Paulinho, O. Carm.
Ele, após um tempo sofrendo
com alguns problemas de saúde, recupera-se e retoma suas
atividades, passando a compor a
comunidade carmelitana Padre
Cícero, em Icó - CE. Somos gra- Frei Paulinho
tos a todos que o acompanharam e rezaram por ele.
A
C
Frei Francisco
Pastoral Vocacional Carmelita
Jovem, você já pensou em consagrar sua vida a Deus?
Nós Carmelitas, a exemplo de Maria e sob a inspiração dos Profetas Elias e Eliseu,
decidimos viver em obséquio de Jesus Cristo e servi-lo com o coração puro e reta
consciência. Procure um frade mais perto de você:
Frei Rogério, O.Carm
Frei Cícero, O. Carm.
E-mail: [email protected]
Tel.: (81) 99990 0026
RECIFE - PE
E-mail: [email protected]
Tel.: (83) 99612 2390
JOÃO PESSOA - PB
Frei Flávio, O.Carm.
Frei Yedo, O. Carm.
E-mail: [email protected]
Tel.: (83) 99857 9081
JOÃO PESSOA - PB
E-mail: [email protected]
Tel.: (81) 99583 4316
CAMOCIM - PE
Frei Paulo, O. Carm
Frei Cláudio, O. Carm.
E-mail: [email protected]
Tel.: (81) 99862 4411
RECIFE - PE
E-mail: [email protected]
Tel.: (83) 99804 3652
PRINCESA ISABEL - PB
Frei Alequison, O. Carm.
E-mail: [email protected]
Tel.: (79) 99161 5399
SÃO CRISTÓVÃO - SE
Frei Adriano, O. Carm.
E-mail: [email protected]
Tel.: (81) 99699 4255
RECIFE - PE
www.fradescarmelitas.org.br

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