Práticas e Reflexões com Educadores Pequenas

Transcrição

Práticas e Reflexões com Educadores Pequenas
Ministério da Cultura e Banco do Brasil apresentam e patrocinam
PEQUENAS MÃOS
CCBB EDUCATIVO 2011
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ESCOLA É O MUNDO
BRINCADEIRA OU COISA SÉRIA
:: COMPONDO AÇÕES PARA CRIANÇAS DE 3 A 6 ANOS
:: DIVERSIDADE CULTURAL
:: ARTE E OLHAR CONTEMPORÂNEOS
:: PATRIMÔNIO MATERIAL E IMATERIAL - CONTANDO HISTÓRIAS
:: ARTE MODERNA – FIGURAÇÃO E ABSTRAÇÃO
::
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Como podemos realizar um trabalho educativo quando se trata de uma
exposição de arte com crianças pequenas? De que forma conversar sobre os
conceitos presentes nas exposições de maneira que elas compreendam?
Como criar momentos que proporcionem o contato com a obra, o olhar atento
e a experimentação de forma significativa?
Estas são algumas questões em pauta nas discussões do Grupo de Pesquisa
Pequenas Mãos, do Programa Educativo do Centro Cultural Banco do Brasil –
RJ, que desenvolve atividades para crianças de 3 a 6 anos relacionadas à
programação em cartaz. Será este trabalho brincadeira ou coisa séria?
Ambientes como o centro cultural são também ambientes de lazer; por isso, o
divertimento torna-se fundamental. O problema está quando isso traz consigo
uma confusão ou inversão de objetivos relacionados às propostas educativas.
É necessário entender que esse divertimento não é apenas entretenimento:
está carregado de sentido.
O ensino da arte acontece em diversos espaços, e muito nos interessa a
maneira como ele tem se desenvolvido, em especial com crianças pequenas,
tanto dentro da escola como fora dela. Queremos compartilhar possibilidades,
acreditando que outras experiências chegarão até nós. Esperamos que esta
revista contribua para uma reflexão tão concreta quanto poética sobre a
relação entre arte e práticas educativas.
Centro Cultural Banco do Brasil
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Assim, refletindo sobre o processo de formação do indivíduo, faz sentido
pensar a educação como algo não exclusivo do ambiente escolar. Estar no
mundo é estar em processo potencialmente educativo.
R
FL
Hélio Oiticica, artista brasileiro da década de 1960, muito interessado em
quebrar muros não só de concreto mas também de ideias, escreveu: "O
museu é o mundo". O que o inspirava era a favela, o movimento, a rua, os
materiais simples que se encontram em lugares cotidianos. Seu trabalho
é fundamentado nestas coisas e não é preciso entrar num museu para
vivenciá-las. Ele as levava para lá por ser onde as pessoas davam mais
atenção a elas. Dessa forma, encarava a arte como privilégio do mundo e
não do museu.
JO
RE
Há tempos a "educação para além dos muros escolares" tem sido pensada
e estudada. Não se pode desconsiderar as diversas influências que afetam
e constituem o processo de aprendizagem da criança. Elas vêm de todos
os lados, entram por portas, janelas, buracos de fechadura, televisão,
internet, propagandas, burburinhos. Sobre isso tudo fica a dúvida: Quem
educa? A escola? A rua? A igreja? O shopping? O computador? O
hospital? O parque ambiental? O museu? O centro cultural?
S
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EN
TA
Sabemos que, por motivos diversos, não são todas as pessoas que
aprendem dentro da escola. Um deles é pela simples impossibilidade de
estar lá. Muita gente não frequenta escola nem nunca frequentou. Um
relatório divulgado pela Unicef em 2009 divulgou o número de 680 mil
crianças brasileiras fora da escola. Então, se não é na escola, onde será
que elas aprendem? E mesmo as que estão matriculadas nas aulas
regulares da escola também convivem em diferentes espaços sociais,
interagindo e experimentando o mundo.
A
TÓREFLEXÃO
S
HIB
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S
Qual é o lugar da educação? Podemos falar de espaços formais, não
formais, mas instantaneamente a resposta mais comum para esta
pergunta é: a escola. Quais são então as memórias que temos da escola?
O que dela marcou a nossa vida? Certamente quem teve a oportunidade
de cursar algumas séries do ensino formal escolar pode lembrar-se de
algumas coisas com mais ou menos facilidade. Colegas de turma,
professores, disciplinas, salas de aula, carteiras, provas, merenda... E
sobre as coisas que se aprenderam na escola, de quais se lembra?
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É O MUNDO
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ESCOLA
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BRINCADEIRA
OU COISA SÉRIA?
“Os verdadeiros espaços do brincar são constituídos a partir da
percepção de que devemos reconhecer a criança como sujeito e
deixá-la se expressar livremente. Para recuperá-los, deveremos
estimular uma nova transformação, principalmente daqueles
espaços e instituições que buscam a homogeneização em nome da
educação, e que a estabelecem por meio de regras, interdições e
hierarquizações.”
Américo Córdula – Secretário da SID/MinC
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A concepção de brincadeira geralmente está relacionada a uma atividade pouco
ou nada séria. Nossos dicionários definem a brincadeira como divertimento,
passatempo, algo fácil ou, ainda, coisa de pouca importância. Em contraponto,
acreditamos na brincadeira como uma atividade com conteúdos simbólicos que
a criança usa para reconstruir e compreender a sociedade segundo uma lógica
própria. Sendo assim, a brincadeira é coisa séria!
É importante ressaltar que brincadeiras e jogos não se traduzem como fuga do
imaginário e nem se configuram como ação efetiva que visa transformar o
mundo. Mas por fazerem parte das atividades humanas, se constituem em um
espaço específico situado entre a esfera do sonho e do mundo exterior e, assim,
estabelece ações que acabam tecendo vínculos entre a subjetividade e a
objetividade.
A descoberta
Surpresa, descoberta, segredo.
Como essas palavras brincam entre si?
A surpresa é a descoberta do segredo?
O segredo é a surpresa da descoberta?
A descoberta revela o segredo da surpresa?
Quem é o marido da surpresa? É o segredo!
(Pergunta e resposta formulada por João Pedro, de 4 anos)
“Tudo no mundo está dando
respostas, o que demora é
o tempo das perguntas.”
Saramago
“Por que o fogo queima?
Por que a lua é branca?
Por que a terra roda?
Por que deitar agora?
Por que as cobras matam?
Por que o vidro embaça?
Por que você se pinta?
Por que o tempo passa?
Por que que a gente espirra?
Por que as unhas crescem?
Por que o sangue corre?
Por que que a gente morre?
Do que é feita a nuvem?
Do que é feita a neve?
Como é que se escreve
Réveillon?”
Oito anos (trecho) - composição de Paula Toller
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COMPONDO
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AÇÕES PARA CRIANÇAS DE
3
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6
ANOS
Da mesma maneira que um professor deve preparar e planejar suas aulas dentro
de uma estrutura de educação formal, os educadores também desenvolvem
suas ações dentro de uma estrutura de educação não formal. A matéria-prima,
neste caso, é dada pela diversidade de linguagens artísticas apresentadas nas
exposições em cartaz no CCBB. Cada conjunto de obras e de artistas acaba
levantando questões interessantes e pertinentes ao universo das crianças de 3 a
6 anos. Neste diálogo entre a exposição e os profissionais que integram o grupo
de pesquisa Pequenas Mãos, é que os conceitos e a forma das ações ganham
estrutura, promovendo brincadeiras e descobertas em direção à construção do
conhecimento. Fundamentos teóricos adequados estão presentes na pesquisa,
e a premissa da arte como experiência significativa é a base do trabalho
realizado por este grupo.
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M. C. Escher
Metamorfose II, 1939/40
Xilogravura, 19,2 x 389,5 cm
Atividade - O sonho do quadrado
Depois de observar a imagem dessa gravura pensando em sons
para cada nova forma em transformação, cada criança escolhia
três fragmentos presentes na obra para criar uma nova
composição de metamorfose. Em seguida todos os resultados eram
unidos em sequência e novamente observados e sonorizados.
DIVERSIDADE
CULTURAL
A exposição Islã: arte e civilização – que aconteceu de outubro a dezembro de 2010 –
possibilitou aos espectadores conhecer, através de uma grande variedade de peças, a cultura
islâmica. Tradições, costumes, objetos cotidianos e religiosos, caligrafia, elementos de
decoração e indumentária formavam o conjunto da mostra. Conhecer uma cultura diferente é
entrar em contato com outras visões de mundo, que, embora pareçam distantes, também
revelam semelhanças. Isto porque em essência as culturas têm em comum o elemento
simbólico. A arte islâmica é repleta de referências da natureza e do uso de padrões geométricos,
como se observa nos azulejos, mosaicos e tapetes. E a presença da escrita, que é sagrada, se
encontra em diversos objetos do dia a dia, como pratos, jarros e ânforas, com mensagens de
bênção e devoção. Instrumentos importantes da ciência e do conhecimento, os astrolábios, por
exemplo, foram aperfeiçoados por árabes. Esta ampla gama de itens, fragmentos e vestígios de
memória fazem parte da história de uma cultura que compõe o nosso mundo.
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Com o objetivo de aproximar o diferente do
semelhante foi criada a atividade “Dominó
do Gênio”, onde o conceito principal
trabalhado foi a diversidade cultural. Um
jogo de dominó (de 36 peças) foi
desenvolvido com imagens de objetos
presentes na cultura islâmica e na ocidental
que têm a mesma função, embora as formas
sejam diferentes. A dinâmica do jogo
consistia em encontrar as imagens
correspondentes, por exemplo, a lâmpada
com a lamparina, o pão francês com o pão
árabe e a caneta esferográfica com o
cálamo. Da mesma forma, no espaço
expositivo foi estimulado, através de
conversas, que as crianças observassem as
peças e os símbolos e estabelecessem
associações e identificações
Cotidiano e cultura no processo de formação da criança
A criança é um sujeito que observa e percebe o seu meio ambiente, assimilando constantemente os
conceitos sociais e culturais que são dados à vivência do seu cotidiano. A tarefa do educador é
mediar e auxiliar no desenvolvimento das observações e percepções, propiciando aos pequenos
adquirir novos repertórios e fazer relações com suas próprias experiências. A fruição e a relação com
obras de arte e peças históricas são importantes neste processo de significação e de descobertas
que geram o conhecimento.
ARTE
E OLHAR CONTEMPORÂNEOS
A produção artística a partir da década de 1960 é denominada Arte Contemporânea. A
multiplicidade de conceitos e procedimentos adotados pelos artistas se desdobra em incontáveis
possibilidades de leitura. Diferente das obras realizadas através de linguagens mais tradicionais
como a pintura e a escultura, que solicitam um olhar mais contemplativo, as contemporâneas
provocam este olhar do espectador, sugerindo novas associações ao pensamento. Por meio de
aproximação e apropriação de outros universos que fazem parte da vida das pessoas, das coisas
e assuntos do cotidiano, os trabalhos artísticos atuam de maneira relacional.
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Este aspecto, desenvolvido e discutido vastamente desde a década de 1990 na arte, é um dos
dados presentes no instante da fruição estética em exposições de artistas contemporâneos. Isto
porque os conteúdos, discursos, suportes e materiais estabelecem espaços de interação – onde
muitas vezes a ação do observador é parte constituinte da obra.
Na exposição ONENESS de Mariko Mori – de maio a julho de 2011 – podemos vivenciar obras que
transitam entre a escultura e a interação. A nave Wave Ufo é simultaneamente um objeto
artístico escultórico, tridimiensional de enorme dimensão e relacional; ela interfere nos espaços
onde é exposta, criando diálogos entre tempos e espaços distantes. Ao mesmo tempo o
espectador pode entrar e ter uma experiência de introspecção através de conexões entre as
ondas cerebrais e computadores. São várias camadas de leitura e fruição em uma só obra de
arte. A artista lançou mão do uso de tecnologias atuais para dar forma ao seu interesse em
propiciar uma experiência singular para o espectador.
Wave UFO, 1999-2002
Interface Brainwave, cúpula de visão, projetor,
sistema de computador, fibra de vidro, Technogel,
acrílico, fibra de carbono, alumínio, magnésio
1134 x 528 x 493 cm
Vista da instalação, Centro Cultural Banco do
Brasil,RJ, Brasil
Cortesia de PinchukArtCentre, Kyiv, Ucrânia
Foto A.C. Junior
Atividade - Corpo no espaço
As crianças – que têm o olhar que associa, se apropria e ressignifica tudo a todo momento –,
diante desta obra, estendem ainda mais as interpretações. O que é esta coisa enorme no meio
do saguão do CCBB? A forma que ela tem lembra algo? Será que isto passou por outros lugares
antes de chegar aqui? Perguntas como essas, a partir de Wave Ufo, são o começo desta
atividade que priorizou a percepção das obras a partir de suas formas e do próprio corpo.
Através de pranchas com imagens de lugares variados, como o deserto e o fundo do mar, as
crianças experimentam novas ocupações da nave, feita com uma peça imantada. Os pequenos
são instigados a construir uma pequena história para cada novo lugar, pensando na relação com
cada espaço.
Outras obras que fazem parte do roteiro são o vídeo Miko No Inori e a fotografia Empty Dream,
em que a artista realiza ações com roupas e adereços diferentes, como se fosse uma
personagem, interferindo no espaço com sua presença enigmática. A partir disto propõe-se aos
pequenos que pintem seus rostos e se transformem em personagens para interagir com
projeções e sons de ambientes como o parque e o campo. Assim, o diálogo e experimentação
com a exposição se tornam carregados de sentido.
A professora Ana Angélica Albano Moreira diz: “A inteireza, a certeza, a densidade do momento
de criação estão presentes no adulto que cria e na criança que brinca. É visível a concentração, o
corpo inteiro presente no ato de brincar de uma criança. É a sensação de estar inteiro no que
está realizando o que une o artista à criança.” A fruição estética, as obras de arte e o olhar
contemporâneos dialogam direta e profundamente com esta afirmação e com outra de Paulo
Freire: “[...] que uma das bonitezas de nossa maneira de estar no mundo e com o mundo, como
seres históricos, é a capacidade de, intervindo no mundo, conhecer o mundo.”
Atividade - Corpo no espaço
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PATRIMÔNIO
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MATERIAL E IMATERIAL
- CONTANDO
HISTÓRIAS
A Galeria de Valores, exposição permanente do CCBB, contempla o acervo numismático do
Banco do Brasil, e a proposta museográfica une informaçães e ludicidade. É fundamental levar
em consideração os aspectos matemático e patrimonial em um acervo de moedas. Cada peça
carrega em si um valor quantitativo e qualitativo de representatividade de um período. Da
mesma maneira é importante entendermos que cada lugar no mundo tem características
únicas, são territórios, povos e hábitos estabelecidos de forma singular. Tudo isto culmina em
meios de trocas e valoração de elementos geradores dos conceitos de identidade e
pertencimento.
As cédulas e moedas trazem, além dos dados
monetários, informações históricas e
geográficas. Isto porque pertencem a épocas e
lugares específicos. Os símbolos escolhidos
para representar a identidade nacional são
diversos; imperadores, reis e presidentes são
figuras que aparecem muito, assim como
artistas, escritores e cientistas. Riquezas da
fauna e da flora também são utilizados; nas
moedas e cédulas do Brasil podemos
acompanhar a história e reconhecer todos os
elementos importantes que marcam
iconograficamente nossa identidade nacional.
Desde objetos comuns como espelhos, frutos
como o cacau, figuras importantes que
perpassam por Pedro Álvares Cabral, D. João VI,
D. Pedro I e II estão entre as unidades de valor
como referência simbólica e imbuídos de
representatividade.
É interessante observar que algumas coisas inusitadas
compõem a coleção exposta: barras de chocolate,
conchas e moedas em forma de chave e barco,
comprovando que o conceito de valor, antes de ser
quantitativo, estava associado a valores naturais e
factuais.
Assim, cada componente nesta coleção é valiosa de
maneira material e imaterial. São elementos que
carregam memória, registros, fragmentos de algo muito
maior. É possível puxar o fio de uma grande história a
partir de qualquer uma delas.
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Moedas D. Pedro II (1831 - 1889)
Cédula
Brasil Cecília Meireles, 100 CRUZADOS
NOVOS, Banco do Brasil - Estampa A,
1989, papel-moeda
Vitrine Escambo
Reúne materiais curiosos que já foram,
ou continuam sendo usados como
dinheiro.
MOITARÁ
Há muitos e muitos anos não existiam supermercados, farmácias, padarias e nem loja de
brinquedos. As pessoas plantavam e criavam animais para comer, faziam seus próprios remédios
com plantas da natureza e também os seus próprios brinquedos.
Há muitos e muitos anos não existia também o dinheiro. Não existia lugar para comprar. Então
para que existir o dinheiro? Mas como será que as pessoas faziam? Não dava tempo para plantar
todas as coisas (batata, cenoura, tomate, alface, abóbora, banana, laranja) e criar tantos
animais (galinhas, porcos, bois, carneiros) e ainda fazer remédios, ferramentas e brinquedos. O
que fazer então, se você só tinha batatas e precisava de leite? Ou se você só tinha brinquedo e
precisava de remédio? Ah, as pessoas trocavam as coisas entre elas. Batata por leite, remédio
por brinquedo, ovos por laranja e assim por diante; assim todos tinham o que precisavam. Os
índios também faziam assim; aliás, eles fazem até hoje numa festa conhecida como Moitará.
Vocês querem conhecer o Moitará?
Moitará
Ritual de trocas que acontece no
Alto Xingu, entre famílias da
mesma tribo ou entre tribos de
aldeias diferentes.
Os elementos utilizados para
contar a história foram feitos
especialmente. É um tapete
onde há a ambientação das
aldeias, o rio e as árvores.
Bonecos dos curumins e alguns
objetos manufaturados também
foram elaborados para
enriquecer visualmente o conto.
É noite escura na aldeia. Todos os índios dormem. Lá longe a coruja pia, a água do riacho corre
não muito distante, as folhas das árvores balançam com o vento.
É noite escura na aldeia. Todos dormem. Menos Irerê, um menino, ou melhor, um curumim. Irerê
está com os olhos abertos. Não consegue dormir pensando no Moitará, a grande festa de troca
que vai acontecer no dia seguinte. Irerê levanta da sua rede e caminha para fora de sua maloca –
a casa de seus avós, de seus pais, de seus irmãos. Caminha sem fazer barulho para não acordar
ninguém. O ar frio toca seu corpo e o faz estremecer. Irerê olha para o céu azul escuro, olha para
a lua branca e pensa no Moitará, em todas as coisas que ele vai trocar no dia seguinte.
Em outra aldeia, não muito longe dali, todos os índios também dormem. A coruja pia bem perto,
a água do riacho corre não muito longe, as folhas das árvores balançam com o vento.
É noite escura na aldeia. Todos dormem. Menos Iara, um menina, ou melhor, uma curumim. Iara
também está com os olhos abertos e, assim como Irerê, também não consegue dormir. E por
quê? Porque Iara também pensa no Moitará. Mal pode esperar a hora de ir para a grande festa de
troca que vai acontecer no dia seguinte. Então Iara levanta da sua rede e caminha para fora de
sua maloca – a casa de seus avós, de seus pais, de seus irmãos. Caminha sem fazer barulho para
não acordar ninguém. O ar frio que tocou Irerê também toca o corpo de Iara e a faz estremecer.
Iara olha para o mesmo céu azul escuro, para a mesma lua branca e pensa no Moitará, em todas
as coisas que ela vai trocar no dia seguinte.
Mas, pobres curumins, perderam a hora. Acordam apressados, lavam o rosto a água do riacho,
pegam suas coisas e correm para a festa. O dia que chega é um presente e uma festa da vida. O
calor do amigo Sol esquenta o corpo e o coração. No meio da festa, no meio de tanta gente, Irerê
encontra Iara, Iara encontra Irerê. Irerê troca mandioca pelo guaraná. Iara troca a peteca pelo
arco e flecha. Irerê troca sua canoa pela bela pena de Iara. E Iara troca seu maracujá pelo peixe
bom. Os dois ficam muito felizes com suas trocas e voltam para as suas aldeias com as suas
novas coisas. Mas Irerê e Iara trocaram algo mais naquele dia. Algo que eles ainda não sabem o
que é ao certo. Só após muitas luas e sóis os dois saberão quando trocarem os seus corações.
Na atividade elaborada após esta contação de história, que traz aspectos da identidade brasileira
através dos elementos e povos, os grupos criam um percurso para o dinheiro utilizando
pequenos brinquedos de formas variadas, diferentes simbologias, os quais vão trocando e
demarcando com uma linha o caminho traçado. A atenção e o afeto estabelecidos durante o
conto são essenciais. Na exposição as crianças são levadas às vitrines para conhecer as moedas
e são estimuladas a observar e perceber as diferentes configurações, símbolos, tamanhos etc.,
relembrando as trocas que aconteceram na história Moitará.
Atividade - O passeio das formas geométricas
Placa imantada com peças avulsas para composição
da imagem.
ARTE
MODERNA
–
FIGURAÇÃO E ABSTRAÇÃO
A exposição Virada Russa – que aconteceu de junho a agosto de
2009 – trouxe obras de artistas importantes do início do século XX
em um contexto de transformações muito significativas no cenário
artístico e político da Rússia e que influenciou tantos outros artistas
pelo mundo, inclusive no Brasil.
Movimentos de vanguarda surgiram com novos pensamentos sobre
os modos de se fazer arte: o Suprematismo, inaugurado por Kasimir
Maliévitch entre 1913 e 1915, que pensava a pintura simbolizando
uma realidade suprema e materializando os sentimentos do
homem, e o Construtivismo, desenvolvido por Tatlin no mesmo
período, defendendo que os objetos artísticos deveriam ser criados
com a mesma lógica e materiais utilizados na arquitetura e
indústria. Ambos através de suas intensas pesquisas e
inventividades transformaram o campo da arte.
Outro artista igualmente importante para a História da Arte
Moderna é Marc Chagall, considerado um pintor de grande
narratividade, característica presente do povo judaico. Os cantos,
contos e danças sempre estiveram presentes na memória de
Chagall e em suas pinturas. Outras influências absorvidas por ele
são de movimentos como o Cubismo e as formas e volumes
geométricos e o Fauvismo de cores intensas e áreas justapostas.
Tanto o abstracionismo como a figuração estão intensamente
explorados no conjunto desta exposição, e foi a partir deste aspecto
que a atividade se estruturou.
A observação do quadro “Passeio” de Chagall e o diálogo com as
crianças acontecia no sentido de identificar e reconhecer
personagens, elementos e situações e imaginar uma narrativa. O
estímulo à criação por meio de perguntas e da percepção delas fez
surgir interessantes histórias figurativas. Logo em seguida o artista
a ser conhecido era Maliévitch com a Trilogia Suprematista, onde os
pequenos reconheciam as formas geométricas sozinhas e de uma
só cor nos quadros. Em seguida eram levados a ver outros quadros
em que muitas formas geométricas de vários formatos apareciam
juntas e sobrepostas. Um jogo foi construído para mostrar como
uma forma pode nascer de outra – o quadrado virando círculo e
depois cruz. A ação prática realizada entre o grupo consistia em
criar uma composição coletiva com fragmentos das obras,
estabelecendo uma relação com tudo o que foi visto e conversado.
MARC CHAGALL
Passeio, 1917
Óleo sobre tela,
170 x 163,5 cm.
Legado em 1924 ao fundo
do Museu Estatal.
KAZIMIR MALIÉVITCH
Quadrado Negro, c. 1923
Legado em 1936 de
herdeiros do artista,
Leningrado. Passado ao
Ministério da Cultura da
União Soviética em 1977
KAZIMIR MALIÉVITCH
Suprematismo, 1915-1916.
Óleo sobre tela, 80,5 x 81 cm.
Legado em 1929 da Galeria
Estatal de Tretiakov, Moscou.
Bibliografia:
CAUQUELIN, Anne. Arte Contemporânea: uma introdução. São Paulo: Martins, 2005.
DEWEY, John. Arte como Experiência. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
FERRAZ e FUSARI. Metodologia do Ensino de Arte. São Paulo: Ed. Cortez, 1993.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.
São Paulo: Paz e Terra, 1996.
MOREIRA, Ana Angélica Albano. O espaço do desenho: A educação do educador. São
Paulo: Ed. Loyola, 1997.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Ed.
Cortez, 2007.
OITICICA, Hélio. Aspiro ao grande labirinto. Universidade do Texas. Ed. Rocco, 1986.
http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2009/07/Livro-OficinaBrincando-na-Diversidade-Cultura-na-Infancia.pdf acessado em 10/06/2011
REVISTA
Ministério da Cultura
Cristiane Leal dos Santos
Alexandre Diniz
Capa
Atividade - Corpo no espaço
ASSESSORIA EM ARTE EDUCAÇÃO
Janis Clémen
Karine Luiz
Sandra Valverde
Ana Beatriz Dominguez
Ana Luiza Faro
Angélica Liaño
Bianca Assis
Gabriel Sant´Anna
João Henrique Soares
José Carlos Marins
Marcelo Augustinho
Mariana Barros
Polyana Lourenço
Vagner Cerqueira
REDAÇÃO
Ana Beatriz Dominguez
Gisele Calamara
Marcelo Augustinho
Polyana Lourenço
Wallace Berto
Janis Clémen
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