Tradutores e intérpretes - Universidade Federal de Uberlândia
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Tradutores e intérpretes - Universidade Federal de Uberlândia
EXPEDIENTE ISSN 2317-7683 Em tempo de Copa: reivindicações e realizações O Brasil, de fato, é um país de contrastes. De um lado, o país da Copa, verde e amarelo, da Shakira se exibindo em um clipe com todos os “heróis do gramado”, das propagandas vendendo de TVs a tênis. De outro, o país dos movimentos sociais nas ruas, das greves dos motoristas parando as grandes metrópoles, da crítica à falta de uma política nacional consistente no que diz respeito a saúde, educação, moradia e segurança. Sabemos que a contenção de verbas no ano de 2014 para as universidades federais é um fato consumado. A UFU tem experimentado na pele, cotidianamente, essa restrição de recursos e, de forma crítica, a Pró-reitoria de Planejamento e Administração (Proplad) fez, a partir da matriz orçamentária, uma proposta democrática, aprovada pelo Conselho Diretor (Condir), em 14 de março de 2014. A partir dela, cada unidade orçamentária e administrativa será responsável pelos seus gastos, de maneira transparente e lúcida, como explica o professor José Francisco Ribeiro no seu artigo. Todavia, há que se enunciarem as realizações acadêmicas e administrativas da UFU, que não nos deixam esmorecer e apontam para caminhos e trilhas que tornam possível concretizar sonhos passados e ações culturais que colocam esta universidade no cenário nacional. É o caso, por exemplo, da efetivação de nove tradutores e intérpretes de Língua Brasileira de Sinais (Libras), vinculados ao Centro de Ensino, Pesquisa, Extensão e Atendimento em Educação Especial (Cepae) da Faculdade de Educação (Faced), cuja prioridade é atender aos surdos matriculados nos cursos de graduação da UFU. Vale lembrar que, em sintonia com essa ação do Cepae, está em vigência, desde 2014, o curso de Língua Brasileira de Sinais do Instituto de Letras (Ileel). Num outro viés, a mostra Rumos Dança - UFU, numa parceria entre Pró-reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis (Proex), Secretaria Municipal de Cultura e Banco Itaú, trouxe para Uberlândia um grande evento, entre os dias 5 e 8 de junho, aberto para artistas de todo o território nacional. Espetáculos de envergadura, palestras e oficinas compuseram uma programação inédita na cidade. Estiveram aqui, entre outros nomes de referência na área, Wagner Schwartz, Wagner Ribot, Pina Miranda, Cláudia Müller, Clarissa Sacchelli, Fernanda Belivaqua e Alexandre Molina. Para finalizar, devemos ressaltar a inauguração do Laboratório de Aeronáutica do curso de Engenharia Mecânica, um empreendimento da UFU que vem para consolidar a excelência desta universidade. No que diz respeito aos campi avançados, a gestão atual, por meio da Prefeitura Universitária, reuniu-se com seus professores, alunos e técnicos administrativos, ouvindo suas demandas e anunciando os futuros empreendimentos. Entre eles, podemos enumerar, de forma resumida, a licitação de novos blocos para abrigar cursos já aprovados, a elaboração de plano diretor para os campi, a instalação de novos pontos de rede de telefonia, a entrega de veículos, novos laboratórios, sala de professores, espaço para diretório acadêmico, aumento do efetivo de técnicos administrativos, inauguração de restaurante e cantinas. Vale lembrar ainda a concessão da Rádiocomunitária FM em Monte Carmelo (91 MHz) e Ituiutaba (105,9 MHz) e a repetidora TV Universitária para Patos de Minas. É o bastante? Nem de longe contempla as nossas aspirações. Entretanto, sempre é bom lembrar que, reivindicando e caminhando, se chega lá. Maria Clara Tomaz Machado Diretora de Comunicação Social O Jornal da UFU é uma publicação mensal da Diretoria de Comunicação Social (Dirco) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Av. João Aves de Ávila, 2121, Bloco 1S, Santa Mônica, 38.400-902, Uberlândia-MG. Telefone: 55 (34) 3239-4350. www.dirco.ufu.br | [email protected]. EDUCA Jornal da UFU 3 EDITORIAL 2 Jornal da UFU Faculdade de Educação Física é referência no esporte paralímpico Diretora de Comunicação Maria Clara Tomaz Machado Coordenador de Jornalismo Fabiano Goulart Coordenador de Conteúdo Cairo Mohamad Ibrahim Katrib Equipe de Jornalismo Diélen Borges, Eliane Moreira, Frinéia Chaves, José Amaral Neto, Jussara Coelho, Marco Cavalcanti e Renata Neiva Estagiários em Jornalismo Aline Pires e Júnior Barbosa Amanda Sousa conquista sua décima medalha na modalidade Editora Eliane Moreira (RP525/RN) Projeto gráfico e diagramação Elisa Chueiri Revisão Diélen Borges e Maria Clara Tomaz Machado Fotografia Milton Santos Impressão Imprensa Universitária - Gráfica UFU Tiragem 3000 exemplares Docente colaborador Eduardo Macedo Reitor: Elmiro Santos Resende | Vice-reitor: Eduardo Nunes Guimarães | Chefe de gabinete: José Antônio Gallo | Pró-reitora de Graduação: Marisa Lomônaco de Paula Naves | Pró-reitora de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis: Dalva Maria de Oliveira Silva | Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação: Marcelo Emílio Beletti | Pró-reitor de Planejamento e Administração: José Francisco Ribeiro | Pró-reitora de Recursos Humanos: Marlene Marins de Camargos Borges | Prefeito Universitário: Reges Eduardo Franco Teodoro Estudante de Fisioterapia é ouro no halterofilismo texto e foto Aline Pires “Eu estava muito segura com o trabalho que foi feito no treinamento. É claro que teve frio na barriga, mas todo mundo estava confiante”, relembra Amanda Sousa, aluna de Fisioterapia da UFU e atleta paraolímpica, que ganhou sua décima medalha no dia 26 de março. A conquista foi o ouro no halterofilismo do Campeonato Para-Sulamericano, disputa que aconteceu em Santiago no Chile, com a participação de competidores da Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela. A atleta de 22 anos venceu a competição, contra outras quatro adversárias, erguendo 74 Kg. Voltando um pouco no tempo, em outubro 2010, foi criado, no Campus Educação Física da UFU, o primeiro Centro de Treinamento de Halterofilismo Paraolímpico do país, resultado de uma parceria entre a UFU e o Comitê Paralímpico Brasileiro. A criação do Centro de Treinamento só foi possível com a fundação, no mesmo ano, da primeira Academia Paralímpica Brasileira e isso permitiu que, além de professores e profissionais capacitados que já existiam na cidade, a universidade também tivesse um espaço com equipamentos adequados para o treinamento da modalidade. O intuito era não só oferecer a estrutura física para o treinamento dos atletas, mas também possibilitar a formação e treinamento de técnicos capacitados. Desde então, atletas de todo Brasil têm vindo a Uberlândia, a fim de aperfeiçoar a prática esportiva. Atu- almente, a Seleção Brasileira de Halterofilismo Paraolímpico tem um calendário anual de treinamento agendado na Academia Paralímpica, na qual fazem um trabalho de aperfeiçoamento das técnicas de levantamento de peso e preparação para competições, juntamente com os técnicos. No restante do tempo, a academia atende atletas de Uberlândia. O treinador da equipe uberlandense da modalidade, Weverton Santos, participou do processo de fundação do Centro de Treinamento e afirma que os investimentos feitos para oferecer equipamentos adequados, juntamente com o trabalho técnico de alto desempenho que tem sido realizado com os atletas, têm dado resultados surpreendentes nos campeonatos, como é o exemplo da Amanda. Sobre as expectativas antes da competição, ela conta que “era uma seleção de atletas jovens, com me- nos de 25 anos. O objetivo era ganhar experiência, não era medalha”. Amanda não tem dúvidas de qual foi o seu diferencial na disputa em que superou as expectativas: “foi uma competição em que, na verdade, não ganhou o mais forte, ganhou o mais técnico.” De acordo com a paraleta, o trabalho técnico que vem sendo desenvolvido é o grande diferencial da escola nacional: “a técnica brasileira tem surpreendido muita gente lá fora”. Amanda pratica halterofilismo desde 2009 e compete desde 2010. Mesmo com esses anos de experiência, a emoção de uma competição internacional é única e, em suas palavras, “uma sensação indescritível”. A atleta, que ficou sem dormir na noite anterior à competição, diz não ter disfarçado a emoção: “chorei horrores na entrega da premiação e durante o hino nacional. Só quem vive essa honra sabe o orgulho que a gente sente”. FOTO: ARQUIVO PESSOAL Homofobia, violência e morte: até quando? texto Miguel Rodrigues de Sousa Neto Doutor em História Social pela UFU e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, campus de Aquidauana No dia 17 de maio celebra-se a luta contra a homofobia. A data foi escolhida por ter sido neste dia, em 1990, que a Organização Mundial de Saúde retirou de seu Código Internacional de Doenças a homossexualidade: de 1977 até então, o desejo de uma pessoa por outra do mesmo sexo foi considerado uma doença mental. Vários países retiraram, antes ou depois, a homossexualidade dessa condição; no Brasil, isso ocorreu em 1985 – o que não quer dizer, entretanto, que nossa sociedade inteira parou de pensar assim. Cada indivíduo tem seus desejos e eles são múltiplos. Nós somos seres histórica e socialmente constituídos; não estamos fadados aos nossos aspectos biológicos apenas. Somos inseridos em sociedade, sofremos demandas e respondemos a elas das mais variadas maneiras. Assim, ser homem ou ser mulher são apenas algumas das opções que temos. Ser homem e desejar mulheres ou ser mulher e desejar homens são possibilidades, não uma sentença. O que ocorre, no entanto, é que nossa sociedade – assim como tantas outras – elegeu a heterossexualidade como modelo e dois tipos ideais foram elaborados para corroborá-lo: o homem forte e viril e a mulher frágil e submissa. Temos sido compulsoriamente adequados a esse modelo desde que nascemos: menino ou menina que devem se tornar, mais tarde, homem e mulher – e devem se desejar. Não é tão simples. Homens e mulheres têm orientado seu desejo erótico-afetivo para homens, para mulheres ou para ambos. Independentemente disso, têm também construído identidades de gênero próprias: homens que se travestem, mulheres que se tornam masculinas, homens que passam por cirurgias para tornarem seus corpos femininos, mulheres que realizam procedimentos médicos para tornarem seus corpos masculinos – e essas são apenas algumas opções. A sociedade, normativa, nem sempre recebe bem tais indivíduos. Na passagem do século XIX para o século XX, homossexuais ou travestis eram estudados pela medicina legal. A homossexualidade era retratada como uma característica doentia, geralmente ligada a ambientes insalubres (pobres) e à degenerescência da raça branca (a mestiçagem), e, no caso masculino, à desonra de se tornar parecido com a mulher (frágil). E o que fazer com tais sujeitos? Levá-los para manicômios e lá deixá-los, como exemplificam o Colônia, famoso hospício da cidade de Barbacena, ou o Febrônio Índio do Brasil, internado por quase 60 anos no Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro. Deixá–los nas margens, nas periferias das cidades, como as rodovias e ruas ermas destinadas à sua prostituição – à qual muitos anônimos recorrem. Xingá-los: viado, sapatão, baitola, mulher-macho, maricas. Espancá-los, para que voltem a seguir a norma imposta ou, pelo menos, para que aprendam que seu lugar é inferior. Matá-los. Como se tem feito a cada 28 horas no Brasil, segundo relatório divulgado em 12 de abril pelo Grupo Gay da Bahia. É preciso lutar contra a homofobia, esse ódio contra a população de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros que leva a tanta violência. Também é preciso atentar para o fato de que cada parcela dessa sigla (LGBT) sofre violências específicas, como a lesbofobia (ódio às lésbicas) e a transfobia (aversão aos transgêneros). É preciso lutar, de maneira mais ampla, construindo políticas públicas, uma nova educação e legislação específica, contra todas as máscaras ideológicas que têm tornado, nesse país, a diferença de identidade de gênero e erótico-afetiva um fator de desigualdade, exclusão, violência e morte. CEPAE Jornal da UFU 5 OPINIÃO 4 Jornal da UFU Tradutores e intérpretes de Libras chegam à UFU Servidores atuarão na inclusão dos surdos na universidade texto e fotos Diélen Borges O primeiro semestre de 2014 trouxe aulas muito diferentes para alguns alunos da UFU: os seis estudantes de graduação e os três de pós-graduação que são surdos. Eles, agora, são acompanhados por nove tradutores e intérpretes de Língua Brasileira de Sinais (Libras), que tomaram posse na universidade no dia 12 de março. Os servidores estão vinculados ao Centro de Ensino, Pesquisa, Extensão e Atendimento em Educação Especial (Cepae) da Faculdade de Educação (Faced). As tradutoras e intérpretes Letícia Leite, Marina Ferreira Lopes, Kátia Souza e Helika Ete da Silva Ribeiro A prioridade de atuação desses profissionais, segundo a coordenadora do Cepae, professora Eliamar Godoi, é no atendimento aos surdos matriculados nos cursos de graduação. O tradutor e intérprete acompanha o estudante durante as aulas, facilitando a comunicação com o professor. A intérprete Helika Ete da Silva Ribeiro explica que também há sempre um profissional de plantão na sala de recursos do Cepae. Além disso, os profissionais atuam no atendimento a alunos da pós– graduação – fazendo a tradução em defesas de teses e dissertações em que um surdo estiver apresentando–, em eventos com surdos inscritos e em reuniões internas da universidade das quais participem servidores surdos. Na UFU há seis alunos surdos em cursos de graduação (Química, Matemática, Estatística, Letras, Teatro e Ciências Biológicas) e três na pós-graduação. Sarah Julianna Takada Ferreira é surda e cursa o segundo período de Matemática. Antes da chegada dos intérpretes, as aulas eram mais difíceis para ela: “eu sofria demais porque eu não tinha acompanhamento nas minhas aulas e não conseguia me comunicar com o professor”. A estudante pretende ser professora bilíngue e acompanhou o processo de chegada dos novos servidores: “o Cepae solicitava intérprete e, às vezes, conseguia, mas ele logo saía, porque era prestador de serviços. Aí falaram que ia ter concurso para intérprete e eu fiquei muito feliz”. A intérprete Letícia Leite ressalta a importância de haver uma adaptação no currículo para que, de fato, o aluno surdo seja incluído na educação superior: “os intérpretes e os alunos estão reaprendendo e trazendo esse discurso do diferente para sala de aula, não apenas no respeitar, mas no reconhecer as diferenças, que parte desse princípio de adaptar, de trazer mais recursos visuais”. Letícia elogia o envolvimento dos professores que têm o cuidado de disponibilizar o conteúdo das aulas para o intérprete, com antecedência, para que ele possa se preparar para o acompanhamento em sala de aula. As unidades acadêmicas e administrativas e demais setores da UFU que necessitarem de serviços de tradutores e intérpretes de Libras devem encaminhar suas solicitações ao Cepae com, no mínimo, dois dias úteis de antecedência. SOLICITAÇÕES Sarah Julianna (centro) cursa Matemática e é atendida em plantão no Cepae As solicitações devem ser feitas por meio de formulário disponível na página da Faced (www.faced.ufu.br) e do Cepae (www.cepae.faced.ufu.br). As dúvidas e sugestões podem ser encaminhadas ao e-mail [email protected]. Jornal da UFU 7 PESQUISA 6 Jornal da UFU (Re)internação de doentes mentais Até onde é necessária? texto Eliane Moreira foto Milton Santos Pesquisa foi tema da tese de doutorado do professor Peterson Gandolfi Se a saúde pública no Brasil está doente, a saúde mental está na UTI. A afirmação é do professor Peterson Gandolfi da Faculdade de Gestão em Negócios (Fagen) da UFU, campus Patos de Minas que, de 2010 a 2013, em sua pesquisa de doutorado, analisou os fatores associados às internações e reinternações de pacientes com transtornos mentais severos. Entre os itens pesquisados foram avaliados atendimento, uso dos medicamentos, atenção psicossocial, apoio da família, papel do cuidador e, por fim, o uso de álcool e drogas. Aprovada no Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos da UFU, a base de dados veio de 295 questionários feitos com familiares de pacientes, atendidos pelo Hospital Psiquiátrico de Ituiutaba que é referência para nove municípios (Ituiutaba, Santa Vitória, Ipiaçu, Gurinhatã, Centralina, Capinópolis, Canápolis, Campina Verde e Cachoeira Dourada), uma população de aproximadamente 200 mil pessoas. “A ideia era explicar porque pessoas com determinado transtorno eram reinternadas e outras não”, diz Gandolfi. Na pesquisa, o professor percebeu que 80% dos pacientes do Hospital Psiquiátrico estão associados às reinternações. Sob o ponto de vista de gestão, a reinternação, segundo Peterson, pode significar a necessidade de um gasto desnecessário e consequência de um conjunto de fatores, dentro da rede de atenção psicossocial que falharam. “É uma crítica teórica ao sistema e, baseado nessa curiosidade, eu e meu orientador resolvemos pesquisar”. O levantamento, que também usou informações de 3.500 internações registradas entre 2003 e 2010, do DATASUS, apontou que a maior parte dos pacientes que foi internada, dentre as diversas categorias de doenças, sofria de esquizofrenia, transtorno relativo ao uso de álcool e outras drogas, depressão maior e transtorno de humor, dentre outras. A população investigada, composta basicamente de usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), era de baixa remuneração e escolaridade e, aproximadamente, 60% eram do sexo feminino. A tese orientada pelo professor Álvaro Escrivão Júnior, do Programa de Pós-graduação da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo - que concentra uma área de estudo no tema: Administração e planejamento em saúde-, teve como proposta, “olhar o sistema de saúde, sob o ponto de vista de gestão”, explica Gandolfi. Resultados Por meio de um modelo matemático, a tese testou hipóteses e propôs mostrar como seria o processo de tomada de decisão, sob o ponto de vista do gestor público de saúde mental. O trabalho mostrou que o número de psiquiatras na microrregião é reduzido para atender a demanda. “Percebemos que o paciente só vai ao psiquiatra no limite e, aqueles atendidos pelo especialista têm dez vezes menos chance de ser internado, do que um que não tem este atendimento”, conta o professor. Com relação ao acesso e uso de medicamentos, a pesquisa apontou que o paciente que utiliza somente o serviço de distribuição pelo sistema público tende a internar mais do que o aquele que também compra medicamentos na rede privada. “Não conseguimos aprofundar nessas causas, mas sabe-se que, na maioria dos casos, os pacientes devem usar vários medicamentos em conjunto para se obter o efeito desejado. Em alguns casos, verificou-se que existe falta de algum desses medicamentos; em outras situações, o paciente não vai até a farmácia da rede porque não consegue chegar lá sozinho ou mesmo porque tem vergonha de ir; e, em outros casos, o paciente não usa porque, simplesmente, acha que não necessita mais, isto é, ‘já me sinto bem e não preciso mais usar’, são falas comuns entre pacientes”, afirma Peterson. No trabalho, foi constatado que pacientes que usam álcool têm 13 vezes mais chance de serem internados do que o que não usam. Outra hipótese analisada foi a do cuidador dos pacientes: aquele paciente que conta com uma pessoa que “realmente” faz o papel de cuidador, feito na maioria das vezes por familiares, tem 13% menos chance de internar-se do que não tem. “O papel do cuidador é fundamental. Notamos que trabalhar um processo de conscientização e formação desta pessoa melhoraria o sistema todo”, ressalta Galdonfi. Extensão À medida que a pesquisa era desenvolvida, foram trabalhados dois projetos de extensão, em parceira com os cursos de Serviço Social e Administração da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal (FACIP/ UFU) e o curso de Psicologia da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG). “Eu acredito fielmente que a universidade tem que promover e contribuir para transformar a sociedade”, diz o professor que vê nos projetos de extensão o principal caminho dentro da universidade para promover uma transformação social. O primeiro projeto, Grupo Interativo de Suporte e Apoio Mútuo aos familiares de portadores de transtornos mentais severos ((GISAM), teve apoio do Núcleo de Apoio Saúde da Família de Ituiutaba (NASF). “Por meio de um estudo qualitativo, descobrimos que a família sofre demais com o paciente e com o processo da desospitalização”, disse o professor. O projeto, que aconteceu de maio a novembro de 2012, acompanhou essas pessoas que, por meio de encontros, externalizavam seus sentimentos e emoções, acompanhados por profissionais de psicologia e serviço social. A avaliação final, segundo Gandolfi, foi que os familiares aprenderam a lidar com a doença e com os pacientes. No período do curso, nenhum dos pacientes foi (re) internado. “Acima de tudo sou um extensionista” Peterson Gandolfi Segundo Elizeth Adad Guimarães, referência técnica em saúde mental da Regional de Saúde de Ituiutaba, a pesquisa de Gandolfi já trouxe alguns avanços e contribuiu para identificar diversos fatores que, se sanados, podem trazer melhorias ao serviço de atendimento desses pacientes, entre eles: IMPRESSÃO DE QUEM ESTÁ DE FORA Algumas internações de casos como Alzheimer e depressão, que poderiam ser tratados em casa, estão no Hospital Psiquiátrico, porque a família não aceita esses pacientes. A pesquisa revelou que, em Ituiutaba, muitos pacientes eram reinternados por falta do CAPS, estrutura que foi criada em dezembro de 2013. O município de Gurinhatã, com base nos resultados da pesquisa, contratou psicólogo e nutricionista, atitude que reduziu as internações. Os gestores, agora, já avaliam a necessidade de criação de um programa para melhorar o atendimento em saúde mental. O estudo apontou que os municípios de Ipiaçu, Centralina e Canápolis não disponibilizavam programas de saúde mental e, depois de relatada a deficiência, esses profissionais foram contratados. O outro projeto foi desenvolvido em Santa Vitória e serviu para dar apoio à implantação e operacionalização do Centro Terapêutico de Santa Vitória, que tem função parecida com um Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS). De acordo com Lúcia Helena Gonçalves Silva, assistente social de Santa Vitória há 26 anos, a estrutura permitiu que a reinternação caísse praticamente a zero e a pesquisa possibilitou que outras cidades conhecessem os serviços oferecidos pelo município. O projeto de extensão ajudou com estrutura, bolsista do projeto, palestras, debates e apoio de material. Gandolfi percebeu que o segredo do êxito da experiência de Santa Vitória foi estudar as orientações do Plano Diretor de Saúde do governo do estado de Minas Gerais e promover atendimento por equipe multidisciplinar. “O Centro faz o acolhimento dos pacientes de forma humanizada, promove consultas periódicas com psiquiatra e participa de ações de lazer e cultura. O grande sucesso também foi atribuído à liderança da coordenadora do centro”, ressalta o professor. Relatos e próximos passos Em abril deste ano, Gandolfi apresentou os resultados da tese e fez um debate sobre como poderiam ser úteis e transformados em ações e políticas públicas. Foi durante o encontro do Conselho de Secretários Municipais de Saúde (Cosems), realizado pela Gerência Regional de Saúde de Ituiutaba. “Os secretários de Saúde da Microrregião se mostraram muito interessados nos resultados. Achei extremamente importante e ético apresentar os resultados que consegui para o grupo que acreditou e apoiou a minha pesquisa. E, como pesquisador formado, aproveitei para indicar novos desafios que gostaria de entender, como, por exemplo, por que se receita, distribui e usa tantos antiansiolíticos e antidepressivos na rede?”, relata o professor. Jornal da UFU 9 ABOLIÇÃO 8 Jornal da UFU O negro após o 13 de maio O afrodescendente na educação, no trabalho e na sociedade FOTO: PIXABAY texto Jussara Coelho Em 13 de maio é comemorado o Dia da Abolição da Escravatura. Há o que celebrar? Quem é o protagonista? Esta data provoca discussões na sociedade, porque parte dos movimentos afro-brasileiros acredita que, nas comemorações e na história contada, não se destaca o protagonismo do negro no processo da abolição. Onde está o negro 126 anos depois? Segundo dados do Censo de 2010, o Brasil tem hoje 16,3 milhões de miseráveis, com renda inferior a setenta reais mensais. Destes, cerca de 70% são negros. Porém, o Censo salienta ainda que houve ascensão dos negros para classe média nos últimos oito anos. Atualmente, 53,5% dos negros estão nas classes A, B e C. Para Aparecida Calmin, dirigente do Grupo de Integração da Consciência Negra de Uberlândia (Griconeu), o mês de maio serve para uma reflexão sobre a posição que o negro ocupa na sociedade pós-abolição. Segundo a dirigente, foi um processo que demandou muitos anos e deixou sequelas violentas na comunidade negra. A Pesquisa das Características Étnico-Raciais da População: um Estudo das Categorias de Classificação de Cor ou Raça (Pecerp) colheu informações em uma amostra com cerca de 15 mil domicílios dos Estados do Amazonas, Paraíba, São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Distrito Federal. O estudo constatou que 63,7% dos entrevistados acreditam que a cor ou raça influencia na vida. Entre as situações nas quais esses dois fatores têm maior influência, o trabalho aparece em primeiro lugar, seguido pela relação com a polícia e a justiça, o convívio social e a escola. A Lei Áurea foi aprovada frente a uma série de questões políticas em 1888. Cairo Mohamad Ibrahim Katrib, doutor em História, coordenador de extensão do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab) da UFU, afirma que um dia depois da assinatura da lei não foi feita nenhuma política que remetesse à inserção do negro na sociedade. O Brasil foi o último país a abolir a escravidão nas Américas, o que mais explorou e o que tem maior população negra fora do ambiente africano. O negro e a educação Uma das lutas enfrentadas pelo movimento negro no Brasil se refere à Lei de Cotas nas universidades brasileiras. Desde seu início, segundo os apoiadores dessa lei, a justificativa é fundamentada na exploração do negro, na sua inserção em um espaço social marginalizado e desqualificado profissionalmente para o mercado de trabalho. Assim, a Lei de Cotas propõe tratar a educação de forma diferenciada no que diz respeito ao acesso à���������������������������� ����������������������������� s instituições de ensino superior como uma maneira de colocar o afrodescendente em condições de competir em grau de igualdade com outras etnias. A Lei n° 12.711 de 29 de agosto de 2012 regulamentou tal conquista, garantindo: “a reserva de 50% das matrículas por curso e turno nas 59 universidades federais e 38 institutos federais de educação, ciência e tecnologia a alunos oriundos integralmente do ensino médio público, em cursos regulares ou da educação de jovens e adultos. Os demais 50% das vagas permanecem para ampla concorrência. Em cada instituição federal de ensino superior, as vagas serão preenchidas, por curso e turno, por autodeclarados pretos, pardos e indígenas, em proporção no mínimo igual à de pretos, pardos e indígenas na população da unidade da Federa- ção onde está instalada a instituição, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)”. As cotas na UFU são distribuídas de acordo com essa lei. São destinadas 50% das vagas dos processos seletivos para cotas. O primeiro quesito é ter cursado integralmente o ensino médio em escola pública. Dentre os 50% das cotas, 25% são destinadas para pretos, pardos e indígenas com renda igual ou menor que 1,5 salário m�� ínimo per capita. Os outros 25% são destinados a pretos, pardos, indígenas, independente de renda. Problema resolvido? Katrib concorda com o sistema de cotas, mas alega que, apenas com esta política, o afrodescendente não vai ter o mesmo espaço que o branco que estuda na escola particular ou pública, pois não tem as mesmas oportunidades por mal completarem o ensino médio. O historiador comenta que o negro não se enxerga no ambiente escolar e acadêmico e que o problema começa desde os livros didáticos, com a representação do negro no açoite, humilhado. O docente esclarece: “no Império, quando Dom Pedro começou o processo de identidade nacional, fazendo os primeiros compêndios que deram início aos livros didáticos no Brasil, excluiu o negro e o indígena do processo. Naquele momento não havia interesse em o negro ser protagonista”. O que tem sido feito? Katrib acentua que muitas foram as lutas para que o negro obtivesse sua vida, desde a colonização do Brasil, contada. Tais lutas culminaram em leis que ajudam a dar visibilidade ao negro, à sua história e aos seus costumes. Em 10 de março de 2008 criou-se a Lei 11.645, que tornou obrigatório, nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, públicos e privados, o estudo da história e cultura afro-brasileira. Para Katrib, essa lei vem para dar visibilidade ao negro que foi silenciado durante séculos. “Vejo que o grande problema enfrentado pelos professores é o preconceito da própria escola, de sua direção, que não sabe ou não quer abordar a disciplina. O livro didático da escola, por exemplo, não chama o negro de afrodescendente ou de negro, chama de escravo, mostra o negro no tronco, como uma mera mercadoria. Os novos livros mostram que não eram assim”, salienta o historiador. Outro fator que atrapalha na escolarização do afrodescendente, segundo o historiador, é o autopreconceito. Ele comenta que o Programa de Educação Tutorial (PET) (Re) conectando Saberes da UFU, do qual ele é tutor, vai para as escolas e trabalha com a questão da negritude com as crianças, faz oficina de trança, aborda a identidade e o pertencimento. “Nessas ocasiões, a criança se vê negra, chega em casa e fala para os pais que na escola fez uma atividade e a professora disse que ela é negra. A mãe responde que ela não é negra, que é mulatinha, é marrom bombom, é moreninha. Esses termos são pejorativos. Acabam criando uma discrepância da imagem. Quando, em um país, as pessoas se recusam a reconhecer aquilo que elas são é porque a ferida do racismo é muito profunda. A negação de si próprio é a expressão da discriminação”, completa Katrib. O negro e o trabalho O fim da escravidão não significou necessariamente a inserção do negro na sociedade. Segundo Claudelir Corrêa Clemente, professora de Antropologia na UFU e doutora em Ciências Sociais, após a escravidão, o afrodescendente passou a enfrentar um mercado de trabalho capitalista, que requer novas práticas profissionais, diferentes da situação de escravidão. A docente afirma que a elite branca utilizou esse mote para desqualificar o negro, alegando que, por essa população ter passado pelo processo de escravização, não teria condições de assumir o mercado de assalariados, principalmente em indústrias, no trabalho mecanizado e na agricultura do café. A antropóloga alega que, junto a isso, vem o racismo relacionado à cor da pele, à������������������������ ������������������������� origem e à������������� �������������� história social que tem suas bases no processo de escravidão. Ela acrescenta que toda essa marca interfere no enfrentamento no mercado de trabalho que já se dá de forma desigual, pois o negro era tratado como imbecil e incompetente. “Assim, as elites investiram em trazer uma população de migração europeia branca para trabalhar nas frentes industriais. O negro teria condições para o trabalho se houvesse investimento dentro do próprio país de utilizar a mão de obra dessa população”, orienta Claudelir. A professora assegura que, com o fortalecimento dos movimentos sociais afro-brasileiros, começa a haver alguma mudança na configuração do mercado de trabalho que, até hoje, é penoso e desigual para o afrodescendente. As lutas resultaram no ganho das cotas nas universidades e, atualmente, as cotas em concurso público. A antropóloga ressalta que as pessoas negras ainda ganham menos que as pessoas brancas. Claudelir finaliza: “a população negra de inferior não tem nada. Nós ajudamos a construir o país. Desde que a gente chegou aqui, nós, a população negra, contribuímos com nosso trabalho, com nosso gasto de energia, principalmente na condição de escravo. Todos os equipamentos culturais do período colonial, as igrejas e a extração de várias riquezas, desde a cana-de-açúcar até a extração mineral e produção do ouro, foram realizadas pela mão de obra afrobrasileira. É necessário um retorno disso para a população negra. Foram mais de 300 anos de escravidão a troco de quê? De todo trabalho que o negro fez para a construção do país, o retorno é o racismo!”. ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL 10 Jornal da UFU Jornal da UFU 11 Quando permanecer na universidade é o desafio texto Diélen Borges Cotas mudam perfil do aluno e demandam mais políticas de permanência Há um ano, metade dos estudantes que ingressam na UFU cursou integralmente o ensino médio em escolas públicas. Dentre esses cotistas, 50% são de famílias com renda bruta mensal igual ou inferior a salário mínimo e meio e 50% têm renda acima desse valor e, ainda, 60% são pretos, pardos e indígenas. Antes da adesão à Lei nº 12.711/2012, a chamada Lei de Cotas, o perfil socioeconômico predominante entre os alunos da UFU era o da classe B: 52,51% do total, segundo dados da Diretoria de Assuntos Estudantis (Dires) referentes a 2010. Se somadas, as classes C, D e E representavam 27,13% dos discentes. Os outros 20,35% eram da classe A. Hoje, as cotas garantem a uma parcela de estudantes de baixa renda o ingresso ao ensino superior. Mas e a permanência? O Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes), cria- foto Jussara Coelho do pelo governo federal em 2008, tem como objetivos “democratizar as condições de permanência dos jovens na educação superior pública federal, minimizar os efeitos das desigualdades sociais e regionais na permanência e conclusão da educação superior, reduzir as taxas de retenção e evasão e contribuir para a promoção da inclusão social pela educação”. O Pnaes prevê ações de assistência estudantil nas seguintes áreas: moradia estudantil, alimentação, transporte, atenção à saúde, inclusão digital, cultura, esporte, creche, apoio pedagógico e acesso, participação e aprendizagem de estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades e superdotação. Segundo a assessoria de comunicação do Ministério da Educação (MEC), nos cinco primeiros anos, o Pnaes investiu R$ 1 bilhão em assistência estudantil a alunos das instituições federais de educação superior (Ifes). “Nós temos, de dois anos para cá, um crescimento da popularização da universidade, que é algo muito positivo, pelo qual nós lutamos muito, só que traz consigo um agravamento da demanda pela assistência estudantil que não se tem conseguido atender”, afirma o estudante Max Ziller, do curso de Ciência da Computação da UFU e coordenador geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE). “A expansão da universidade, infelizmente, não foi acompanhada pela expansão proporcional dessa assistência”, diz o representante estudantil. Assistência na UFU Três irmãos da família Rocha e Silva, da zona rural de Indianópolis, hoje moram em Uberlândia e estudam na UFU: Abadia Adenísia, do nono período de Educação Física, Maria José, do sétimo período de Enfermagem, e Elder Elmídio, do terceiro período de Estatística. Eles sempre estudaram em escola pública; a mãe recebe um salário mínimo de aposentadoria por invalidez e o pai é aposentado por idade. Como os três se mantêm na cidade e na universidade? Maria José recebe bolsa moradia no valor de R$ 300 e paga o aluguel da casa em que mora com os irmãos. Os três recebem bolsa transporte (50 passes) e alimentação (Maria José tem o direito de fazer duas refeições diárias no Restaurante Universitário e os outros dois podem fazer uma refei- ção). As irmãs ainda foram aprovadas como bolsistas do Programa de Educação Tutorial (PET) Conexões de Saberes Educomunicação, da Faculdade de Educação, que seleciona estudantes não apenas com base em critérios meritocráticos, mas considera também o histórico socioeconômico. As políticas de assistência estudantil na UFU são de responsabilidade da Diretoria de Assuntos Estudantis (Dires). As modalidades atuais são bolsa moradia (R$ 300), bolsa alimentação (almoço e/ou jantar no Restaurante Universitário nos campi Santa Mônica e Umuarama ou auxílio de R$ 180 ou R$ 250 onde não há RU), bolsa transporte (passes escolares), bolsa Central de Línguas (desconto nas mensalidades dos cursos de idiomas), Projeto de Empréstimo do Instrumental Odontológico (oferece instrumental, em caráter de empréstimo, aos estudantes do curso de Odontologia), passagens para estudantes que vão apresentar trabalhos em eventos ou que estejam em modalidade nacional e internacional (até R$ 5 mil). Nos Restaurantes Universitários dos campi Santa Mônica e Umuarama, o número de refeições servidas anualmente passou de aproximadamente 520 mil no ano de 2011 para 557 mil em 2012 e 849 mil em 2013. Há ainda outro restaurante em fase final de construção no campus Pontal e dois em fase de projeto para os campi de Uberlândia. O prédio da moradia estudantil, com 152 vagas, começou a receber alunos no início do primeiro semestre letivo de 2014. O espaço foi inaugurado no final de 2012, porém, de acordo com o diretor, não tinha Habite-se (certidão emitida pela Prefeitura Municipal para atestar que a unidade construída está em condições de ser habitada), o padrão de energia elétrica não estava ligado, a largura das portas dos apartamentos destinados a pessoas com deficiência era incompatível com a mobilidade de um cadeirante, entre outros problemas que precisaram ser corrigidos. Outra política de assistência é a Bolsa Permanência do governo federal, no valor R$ 400, concedida a estudantes matriculados em cursos de graduação com carga horária média superior ou igual a cinco horas diárias. Na UFU, aproximadamente 40 estudantes são beneficiados, pois o MEC avaliou apenas os cursos de Medicina e Biomedicina como compatíveis com as regras do benefício. Desafios A estimativa para 2014, de acordo com Leonardo Barbosa e Silva, diretor de Assuntos Estudantis, é que a UFU gaste R$ 12 milhões em bolsas e mais R$ 8 a 9 milhões em outras ações de assistência. O professor alerta que os recursos repassados pelo MEC à UFU são inferiores às necessidades da instituição: “Nós tivemos, de janeiro de 2013 para janeiro de 2014, um aumento de mais de 40% do número de bolsas. Em termos de valores, como o valor das bolsas oscila, isso chegou a quase 70% de aumento, sendo que os recursos de um ano para outro aumentaram cerca de 20%”. Silva indica dois gargalos na assistência estudantil na UFU. Um deles é a falta de creches para filhos de estudantes: “esse ano eu creio que a gente já aprova; nós não vamos ter recursos, mas pelo menos ela vai estar aprovada”. O outro é a saúde: “não temos programas integrados de atenção à saúde do estudante. Nós temos setor de psicologia, de nutrição, de esporte e lazer, mas os esforços não são integrados”, completa. Na tentativa de solucionar o problema, no ano passado, a UFU enviou um documento ao MEC indicando um déficit de R$ 3 milhões na verba destinada à universidade para assistência estudantil. Segundo o diretor de Assuntos Estudantis, não houve resposta do ministério. “Nesse ano, nós redigimos um novo documento, fomos ao MEC apresentar para o professor Dilvo Ristoff [Diretor de Políticas e Programas de Graduação] e para a professora Adriana Weska [Diretora de Desenvolvimento da Rede de Ifes] e resposta deles foi negativa”, conta Silva. A Dires também tem desenvolvido ações junto ao Fórum Nacional dos Pró-Reitores de Ações Estudantis (Fonaprace), Associação Nacional dos Dirigentes das Ifes (Andifes) e outras entidades, no sentido de destacar a necessidade de se destinar mais recursos para políticas de permanência no ensino superior. Os discentes também estão se articulando. Entre os dias 9 e 11 de maio, a União Nacional dos Estudantes (UNE) promoveu, em Ouro Preto, o III Seminário Nacional de Assistência Estudantil. O tema foi “Entrar, Permanecer e Transformar a Universidade”. A gente não quer só comida No PET Conexões Educomunicação, o ganho vai além da bolsa. “Não é comum, em uma universidade, parar para discutir as dificuldades de minorias. E este programa faz isso e faz muito bem feito”, relata Abadia Adenísia. “Eu me sinto parte desta minoria, pois é raro ver alguém permanecer em uma graduação com a base que eu tive, tanto na parte da educação formal quanto da formação de valores e opinião”, completa. Na família Rocha e Silva, como em outras famílias de classes populares, o incentivo ao trabalho predominava. “A minha primeira formação foi a desconstrução dessa formação de ‘trabalhadora’ que a minha família me proporcionou. Não julgo eles por isso, pois é o que eles tinham para passar”, relembra a estudante de Educação Física, citando os debates e as leituras da vida acadêmica como divisor de águas na sua formação. Jornal da UFU 13 PROPLAD 12 Jornal da UFU ESCLARECIMENTOS SOBRE A NOVA POLÍTICA DE DISTRIBUIÇÃO DE RECURSOS INTERNOS NA UFU texto Prof. José Francisco Ribeiro Pró-reitor de Planejamento e Administração Nos últimos anos, as unidades acadêmicas têm recebido os seus recursos orçamentários com base numa Matriz de Distribuição de Recursos, que é regulamentada pela resolução 03/2003 do Conselho Diretor (CONDIR). Em 2014, aplicaram-se as mesmas regras dos anos anteriores para a distribuição desses recursos, de Outros Custeios e Capital (OCC), de diárias e passagens. Não houve nenhuma inovação metodológica em relação à distribuição desses recursos, que totalizaram o montante de R$ 6.516.000,00. Além destes, usualmente distribuídos, foram descentralizados para as unidades acadêmicas, unidades administrativas, Escola Técnica de Saúde (ESTES) e Escola de Educação Básica (ESEBA) os recursos a serem despendidos com (i) transportes (em veículos da UFU ou terceirizados), (ii) Gráfica da UFU, (iii) manutenção e reparo de equipamentos e iv) gases nobres. Isso não é novidade absoluta, pois no passado já se distribuíram recursos para a gráfica e a manutenção. Cabe esclarecer à comunidade quais são as razões que levaram a administração superior a adotar tais medidas, como a distribuição foi feita e de que forma será gerida ao longo do ano. DAS MOTIVAÇÕES i) Racionalização no uso dos recursos públicos Até o ano passado, não havia limites estabelecidos para serem gastos com a frota. Se houvesse veículo e motorista disponível, da UFU ou das empresas terceirizadas, a solicitação era prontamente atendida. O único fator inibidor para a solicitação de veículos na garagem era quando o deslocamento envolvia o pagamento de diárias de motoristas, pois essas eram bancadas pelas unidades acadêmicas e administrativas. Havia situações em que um deslocamento era solicitado e o solicitante não comparecia, ou seja, a viagem não se realizava, mas a UFU tinha que arcar, por força de contrato, com o deslocamento do serviço terceirizado até o local de embarque do solicitante. Acontecia também, de forma recorrente, o fato de dois veículos saírem de Uberlândia para um mesmo destino, com cerca de meia hora de diferença e conduzindo apenas um ou dois passageiros. Às vezes, os solicitantes apresentavam as suas justificativas para tanto, mas não avaliavam os custos envolvidos, afinal, quem estava pagando o deslocamento era a UFU (leia-se administração central). Situação análoga acontecia com a utilização da gráfica. Não havia limites para se produzirem banners, folders, cartazes, etc. Tudo que era pedido era atendido. Eventualmente, um usuário ou outro manifestava preocupações com o custo do material produzido. Em algumas ocasiões, o demandante do serviço sequer comparecia para buscar o material impresso, quando não se produziam exemplares além do necessário, afinal, quem estava pagando pela impressão era a UFU. Quanto aos serviços de manutenção e reparo de equipamentos, a si- cia e nem sabedoria para definir tais prioridades. Esse papel cabe à unidade acadêmica ou administrativa em que as demandas são apresentadas e podem ser mais bem cotejadas e avaliadas. À luz disto é que se decidiu pela descentralização dos recursos orçamentários. Pretende-se, assim, compartilhar ou corresponsabilizar a administração central e as unidades acadêmicas e administrativas pela gestão mais eficiente dos recursos. Essa descentralização – apenas de frota, gráfica, manutenção e gases – envolveu a distribuição adicional de aproximadamente R$ 5,3 milhões a mais do que o valor distribuído via matriz de OCC, diárias e passagens para as unidades acadêmicas. tuação não era diferente. Não havia restrições. Se o concerto de determinado equipamento custava R$900,00 e um equipamento novo, R$ 1.100,00, mandava-se consertar sem a crítica devida, afinal, quem estava pagando a conta era a UFU. Quanto aos gases, a Pró-Reitoria de Planejamento e Administração (PROPLAD) já implementou a sua distribuição em 2013 para as unidades acadêmicas, que não são muitas, e, em 2014, ampliou-se a distribuição para as unidades administrativas. Assim, o fato de a UFU (administração central) se responsabilizar, nos últimos anos, pelo pagamento dos gastos com frota, gráfica, manutenção e gases, sem limites orçamentários estabelecidos, induziu a um certo relaxamento por parte da comunidade acadêmica e administrativa no uso desses recursos. Na base desta discussão está uma premissa fundamental: os recursos orçamentários, lamentavelmente, não são infinitos; são limitados e é preciso geri-los com o cuidado devido. iii) Maior visibilidade dos gastos orçamentários Ao descentralizar os recursos, optou-se por fazê-lo para todos os centros de custo da UFU. A descentralização alcançou unidades acadêmicas e administrativas sem distinção. Esse é um fato da maior relevância. A comunidade saberá quanto está alocado em cada uma das despesas em frota, gráfica, manutenção e gases para todos na UFU, da reitoria à mais nova unidade acadêmica. Para além da transparência, essa divulgação oferece alguns elementos que, ainda que de forma aproximada, permite avaliar os custos de certas atividades que desenvolvemos. Estão na página da PROPLAD os valores distribuídos para 2014 e poderemos, caso autorizados pelo CONDIR, atualizar e divulgar regularmente os valores gastos pelas unidades. ii) Descentralização e corresponsabilidade na gestão dos recursos Uma vez admitido que os recursos não são infinitos, é preciso ter um mecanismo de gestão que, na impossibilidade orçamentária de atender a todas as demandas, permita estabelecer prioridades entre elas e arbitrar entre aquelas que serão atendidas e as que não serão. Obviamente, a administração central não tem competên- iv) Maior apropriação e conhecimento dos custos Outro efeito importante decorrente da descentralização foi a divulgação efetiva dos custos envolvidos na execução das nossas atividades. Até então, as unidades não sabiam o custo associado a uma viagem, fosse ela para o Nordeste ou para o interior de São Paulo, por exemplo. Raras as exceções em que os usuários se preocupavam com o valor dos serviços. Imprimiam-se folders e consertavam-se equipamentos, mas ocasionalmente havia a preocupação sobre os custos envolvidos. Um melhor conhecimento sobre os valores dos serviços ajuda no planejamento mais eficiente dos recursos. DA METODOLOGIA DE DISTRIBUIÇÃO i) O valor gasto em 2013 corrigido pelo IPCA Uma vez definida a descentralização, a PROPLAD desenvolveu uma série de estudos, tendo em vista uma distribuição justa dos recursos. Experimentou-se, num dado momento, aplicar a resolução 04/2010, que regulamenta a distribuição da frota, mas esta abordagem foi abandonada, dadas as distorções importantes que a metodologia gerou quando se compararam os dados históricos. Por exemplo: uma unidade A que, em 2013, gastou R$ 1.500,00, se aplicadas as regras estabelecidas pela resolução, receberia R$ 14.619,00, um valor seguramente muito acima das suas necessidades; por outro lado, uma unidade B que, em 2013, gastou R$ 98.000,00 receberia tão somente R$ 42.822,00. Diante deste fato, optou-se por distribuir, em 2014, o valor gasto em 2013 corrigido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Assim, no caso da frota, por exemplo, que dos valores distribuídos é o mais sensível, tomou-se como referência o que a unidade gastou em 2013, corrigiu-se este número pelo IPCA e o resultado foi o valor dado à unidade em 2014. Dessa forma, procurou-se garantir que as unidades utilizem os veículos em 2014 num patamar aproximado ao utilizado em 2013. Esses recursos, no entanto, não puderam ser, neste momento, integralmente distribuídos. Contudo, eles também não serão totalmente consumidos neste momento. ii) Do contingenciamento que as IFES estão sujeitas no momento Neste momento (14/05) o orçamento da UFU, como das demais Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), está contingenciado. Temos liberado apenas 50% do nosso custeio e 30% dos nossos recursos em investimento. Isso significa que não temos autorização da Secretaria do Tesouro Nacional para empenhar integralmente o nosso orçamento que consta da Lei Orçamentária Anual (LOA). O governo está, no momento, com uma política de liberação gradual do orçamento, em torno de 5% ao mês. É por isso que a administração central não pode liberar integralmente para as unidades, neste momento, o que elas terão por direito a receber. Temos a expectativa de que o governo libere integralmente o nosso orçamento. Mas é preciso precaver e considerar, por exemplo, a hipótese de essa liberação acontecer bem no final do exercício, o que dificultaria o desenvolvimento pleno de algumas das nossas atividades. Esse cenário não é de todo improvável, à luz do que observamos ao final do ano passado, quando tivemos alguma retenção orçamentária (emendas parlamentares não liberadas). De qualquer forma, a administração central deverá estar atenta a esta questão e ir liberando os recursos para as unidades acadêmicas e administrativas na medida em que o Ministério da Educação (MEC) for descontingenciando o orçamento da universidade. Sugerimos às unidades que, se necessário, façam o seu planejamento em torno do valor integral previsto na matriz distribuída e que, se possível, distribuam as despesas de maneira uniforme ao longo do ano. DOS DESAFIOS A SEREM ENFRENTADOS No enfrentamento deste problema – a melhor racionalização na utilização dos recursos distribuídos –, deparamo-nos com inúmeros desafios. Mas, a cada situação complexa a ser vencida, convencíamo-nos cada vez mais da necessidade, urgência e importância em se encontrar soluções. No que toca à administração central, tornam-se evidentes alguns pontos que estão sendo e/ou serão melhorados a partir desta iniciativa. Destacamos alguns: toria de Administração de Materiais (DIRAM), estão envolvidos neste processo. i) A Divisão de Transportes (DITRA) terá que aprimorar os seus mecanismos de acompanhamento e controle da frota e os usuários, de maneira geral, deverão se adequar às novas regras. Os usuários da frota ficarão mais atentos e cuidadosos no preenchimento dos seus mapas de viagens. Não será permitido deixar mapas de viagem em branco. Todo quilômetro rodado será debitado dos recursos do solicitante. Os mapas deverão ser entregues à DITRA dentro de cinco dias após a viagem, sob pena de se inviabilizarem quaisquer novos pedidos de suas unidades acadêmicas ou administrativas; vi) Precisamos apropriar, de maneira mais precisa, os diferentes custos envolvidos nos serviços. Qual é, de fato, o custo do quilômetro rodado, considerando as diversas situações: com veículo terceirizado, com veículo da UFU, com motorista, sem motorista, etc.? Quanto custa a impressão de um folder na nossa gráfica e na empresa terceirizada? Como ficam os contratos de manutenção preventiva? São inúmeras as questões a serem vencidas, mas a responsabilidade que temos como gestores dos recursos públicos nos impõe o imperativo de enfrentar os desafios colocados. ii) A Diretoria de Compras e Licitações (DIRCL) e a Diretoria de Logística (DIRLO) deverão buscar a celebração de contratos cada vez mais vantajosos e adequados às necessidades da instituição. Já estamos revendo os contratos da frota. iii) A Divisão de Gráfica (DIGRA) e Divisão de Manutenção em Equipamentos (DIMAN) terão clientes mais exigentes e zelosos para com os serviços prestados de agora em diante. Os valores cobrados serão sempre questionados e os usuários deverão ser mais cuidadosos no dimensionamento dos seus serviços; iv) O Centro de Tecnologia da Informação (CTI) tem aprimorado as suas ferramentas de informática. Inúmeros módulos do Sistema de Gestão (SG), a partir da decisão pela descentralização dos recursos, já foram desenvolvidos e já estão disponibilizados para a comunidade e alguns aprimoramentos estão em curso. Em breve, as solicitações de compras serão todas via web, no SG. v) A PROPLAD deverá aprimorar os seus mecanismos de controle e de apoio na execução deste projeto. Todos, do planejamento à contabilidade, passando pela compra e Dire- Para as unidades acadêmicas e administrativas, amplia-se a responsabilidade na gestão do seu orçamento. O volume de recursos aumentou significativamente; em algumas situações, multiplicou por três. Mas esse aumento não acontece impunemente. As unidades têm, agora, que arbitrar, gerir e definir prioridades sobre assuntos ou coisas que antes não tinham. Novos conflitos, novos desafios, novos tensionamentos deverão ser (e já estão sendo!) administrados. Por outro lado, a administração central deve estar atenta ao sistema e, de forma eficiente e, sobretudo, transparente, fazer as correções devidas. Tem-se que observar com atenção as especificidades da comunidade sem, contudo, transformar a gestão de recursos em demandas de balcão. É preciso rapidamente construir um melhor modelo de distribuição destes e de outros recursos orçamentários, um modelo que não se vincule estritamente dos valores históricos, que premie e não venha a punir as unidades que forem eficientes e eficazes na gestão dos recursos. Este talvez seja o maior dos desafios no momento. O fato é que saímos todos da nossa zona de conforto. É nossa chance de avançar e não temos dúvida de que haveremos de dar um passo adiante e construir, de forma coletiva, o nosso melhor caminho. Amado: um homem que faz jus ao nome Projeto de popularização da ciência incentiva à amamentação texto Frinéia Chaves foto Milton Santos texto Júnior Barbosa Amamentar, quase sempre, é uma das primeiras coisas que uma mãe faz após o nascimento de seu filho, e é justamente sobre esse ato que o Imunocast trata. O projeto é uma série de programas em áudio (podcasts), que têm como objetivo promover o aleitamento materno como a principal forma de alimentação nos primeiros anos de vida das crianças. A iniciativa, que existe desde 2011, já teve mais de 80 episódios publicados em seu blog e iniciou uma série de curtas em vídeo gravados em formato de animação stop motion. O Imunocast surgiu a partir do desejo pessoal da coordenadora do projeto, a professora Mônica Camargo Sopelete, do Instituto de Ciências Biomédicas da UFU, de realizar algo em prol da sociedade, por ter passado por problemas durante a amamentação de sua filha. “Eu tive uma filha que teve dificuldades e precisava de amamentação exclusiva. Até dois anos e dez meses, eu a amamentei, sem inclusive ela tomar água. Manter a amamentação por tanto tempo não é fácil. Percebi o quanto as outras mães tinham dúvidas, medos e dificuldades”, diz. A produção dos programas consiste na divulgação de pesquisas acadêmicas que tratam sobre a amamentação, traduzindo os textos científicos para uma linguagem mais acessível. Os programas também dão dicas sobre a melhor maneira de se realizar a amamentação, evitando problemas para a mãe e para o bebê, e também falam sobre doenças e complicações que podem ser prevenidas por meio da amamentação. A importância social é o destaque quando se trata do Imunocast. Dar visibilidade para as pesquisas envolvendo a amamentação, divulgando-as para a sociedade, e utilizar o projeto como ferramenta de ensino dentro da universidade são as propostas levantadas pela professora Mônica. “Eu aproveitei estar como professora e como pesquisadora para solicitar bolsas e participar de projetos. Tentei utilizar essa minha capacidade de poder gerenciar um projeto para algo que fosse socialmente importante para mim”, afirma. Mônica também esclarece qual é a importância do aleitamento para o desenvolvimento do bebê e os efeitos que uma boa amamentação ou a falta dela podem causar no futuro de cada indivíduo: “em imunologia, a gente fala do leite materno porque deveria ser o primeiro alimento que todos nós deveríamos consumir. Ele ajuda a modular o sistema imune para o resto de nossas vidas, inclusive para quando nós formos idosos, prevenindo contra doenças que podemos vir a ter, como o câncer, doenças cardiorrespiratórias e alergias”, esclarece. Profissional do Direito sabe lidar com gente e bicho Para iniciar o projeto, a professora Mônica procurou ajuda no curso de Comunicação Social: habilitação em Jornalismo da UFU e conseguiu o apoio da professora Mirna Tonus para realizar a parte técnica que envolvia a produção dos podcasts. As professoras destacaram a importância do intercâmbio entre as diferentes áreas do conhecimento dentro da universidade. “A vida é multidisciplinar, então, por que a gente fica compartimentalizando? Cada área tem as suas características, mas essa interação eu acho que é muito interessante, principalmente para a divulgação da ciência. A universidade produz ciência. Se essa interação favorece a popularização e a divulgação cientifica, é válida. Agora, eu acho que acontece pouco. Deu certo nesse caso porque não ficou aquela visão instrumentalista do Jornalismo e da Comunicação, foi uma integração de conhecimentos, uma parceria”, ressalta Mirna. Camila Katayama Passini, aluna do curso de Enfermagem da UFU e bolsista do Imunocast, acredita que essa atividade de extensão complementou os conhecimentos adquiridos em sala de aula. “Eu consegui ter um contato muito maior com o aleitamento materno. Eu tive informações [no projeto] que eu não tive no curso: de pesquisas que eu não tinha conhecimento, da importância do aleitamento, de [tratamento de] doenças em que ele ajuda. Então, foi um complemento total”, diz. Até hoje a iniciativa já teve cerca de 10 bolsistas e obteve financiamentos da Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis (Proex) e da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd). Os podcasts e vídeos produzidos no Imunocast podem ser acessados no blog do projeto: http:// imunocastufu.blogspot.com.br/. Com 28 anos de serviços prestados para a UFU, Amado da Silva Nunes Júnior apresenta, no currículo, uma invejável escalada de cargos e feitos no Hospital Veterinário. Para apresentar tudo isso num espaço tão pequeno, optei por resumir e praticamente abrir mão das aspas. E que o autor da obra me perdoe. Na década de 80, Amado começou a carreira como auxiliar de escritório e foi promovido a secretário. Depois, se tornou gerente administrativo e, agora, pelo segundo mandato consecutivo, é diretor. Na última eleição, em dezembro de 2012, conquistou 99,9% dos votos válidos. E mais: nos 42 hospitais veterinários do país, Amado é o único talento técnico administrativo a ocupar tal posição. Ele assumiu o cargo de direção em meio a dívidas e denúncias pelo não atendimento às exigências da Vigilância Sanitária, uso indevido de animais em pesquisas e distorção nas práticas acadêmicas. Não por acaso, boa parte do avanço do Hospital Veterinário da UFU coincide com sua gestão. O reconhecimento do Ministério da Educação (MEC), a inserção do órgão na matriz orçamentária da União e o Programa de Residência Médica encabeçam a lista. A prestação de serviços saltou de 15 mil, em 2006, para cerca de 60 mil, no ano passado, considerando o trabalho social, feito gratuitamente. Em termos de qualidade, basta dizer que a unidade é o maior e mais completo centro de referência em serviços médicos-veterinários para as regiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Como o mandato só se encerra em 2017, até lá, são muitos desafios: atendimento 24 horas, todos os dias, com plantões nos fins de semana; informatização do sistema e a nova planta do Hospital para o Campus Glória. Um profissional que faz jus ao próprio nome. Na avaliação da equipe com que trabalha, Amado é um líder que pensa coletivamente, agrega e valoriza os recursos humanos. Bacharel em Direito, com especialização em Gestão de Pessoas, este homem destaca no currículo: “casado com Maria Amélia Prado Nunes”. Quero crer, diante do exposto, ser esta, uma mulher de sorte grande. EDUFU GENTE DA GENTE Primeiro alimento FOTO: PIXABAY Jornal da UFU 15 IMUNOLOGIA 14 Jornal da UFU AVALIAÇÃO DAS NEOFORMAÇÕES PSICOLÓGICAS DA IDADE PRÉ-ESCOLAR Luis Quintanar Rojas / Yulia Solovieva (Tradução de Caio Morais e Jamile Chastinet) Tratar as dificuldades de desenvolvimento e aprendizagem na idade escolar de modo pedagógico científico, como propõe este livro, é em si um salto de qualidade significativo em relação às tristes formas de medicalização da infância que vêm, infelizmente, avançando em nossa realidade – envolvendo tanto as crianças que têm problemas de adaptação à escola quanto as que apresentam dificuldades de aprendizagem. De um modo geral, as crianças que se beneficiam da avaliação neuropsicológica são aquelas que apresentam dificuldades em seu desenvolvimento e na aprendizagem escolar. Portanto, este livro interessa a todos os profissionais que atuam com Educação Infantil e é dirigido para fundamentar a educação de qualidade de todas as crianças de 0 a 6 anos. DISCUSSÕES TUSCULANAS Marcos Túlio Cícero (Tradução de Bruno Fregni Basseto) Quarto volume da Coleção de Estudo Acadêmico, em edição bilíngue (Latim/ Português), este livro não se debruça sobre questões metafísicas, mas aborda temas que inquietam qualquer vivente, perplexo ante problemas inevitáveis e sem soluções visíveis: a morte, a dor física, o sofrimento moral, a busca de felicidade. A obra filosófica foi escrita em meados de 45 a.C., sob a forma de diálogos ou debates. Para Cícero, todo o saber sistematizado nas várias áreas só terá sentido se vier apoiado pelo estudo da Filosofia e por sua finalidade, que é a busca da Sabedoria. PUBLICAÇÃO 16 Jornal da UFU Por dentro da Enciclopédia do Rádio Esportivo com a UFU Amanda Pereira, Cíntia Sousa, Suzana Arantes, Patrícia Alves e professora Mirna Tonus escreveram sobre Luiz Tomé, Luiz Lara e Wander Tomaz texto José Amaral Neto fotos Milton Santos Professora Sandra Garcia, do curso de Jornalismo da UFU A voz esportiva do rádio mineiro tem seu registro eterno por meio da iniciativa de se biografar 382 radialistas que fizeram e fazem dessa história. Assim nasceu a Enciclopédia do Rádio Esportivo Mineiro, trabalho que compõe o projeto de pesquisa das jornalistas Nair Prata (Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP) e Maria Cláudia Santos (Rádio Itatiaia), com seus 101 autores participantes, entre professores, pesquisadores, profissionais de mercado e estudantes de graduação e pós-graduação. O chargista Son Salvador é o autor da capa e os prefácios foram escritos pelo presidente da Associação Mineira de Cronistas Esportivos (AMCE), Luiz Carlos Gomes, e pelo vice-presidente da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) e diretor-presidente da Rede Itatiaia de Rádio, Emanuel Carneiro, sob a bandeira da Editora Insular. Em várias entrevistas, a professora Nair Prata tem explicado que foram necessários três anos de pesquisa para fazer deste trabalho uma realidade. Resultou desse esforço um inventário biográfico dos principais profissionais com atuação na editoria de esportes do rádio em Minas Gerais. Ela observa que “o propósito da pesquisa foi contar a história do rádio esportivo mineiro – ou pelo menos parte dela – por meio da trajetória dos profissionais que a construíram”. O curso de Comunicação Social: habilitação em Jornalismo da UFU tem presença importante na Enciclopédia do Rádio Esportivo Mineiro. Com a orientação das professoras Mirna Tonus e Sandra Garcia, os alunos Cíntia Sousa, Lucas Ferreira Martins, Mariana Goulart Hueb, Renato Henriques de Faria, Patricia Alves, Caio Nunes, Suzana Arantes, Amanda Pereira e Paula Arantes trabalharam com a região do Triângulo Mineiro. Os estudantes deram a sua contribuição na concepção das biografias de Antônio Guilherme da Cunha, Jonas Conti, Jorge Eustáquio Sérvulo, José Antônio Luiz Filho, José Gonçalves Moreira (Jotinha), Julio César de Oliveira, Rogério Freitas Muniz, Luiz Antônio Costa e ainda três radialistas de Uberlândia: Luiz Alberto Tomé (Rádio Universitária), Luiz Humberto Lara e Wander Tomaz. Segundo as idealizadoras, trata-se de uma “obra aberta e o livro é, ainda, uma lista incompleta”. Há muita história para ser complementada e outras ainda a serem contadas, mas elas consideram um marco inicial de relevância para a literatura e para a história do rádio.