Tradutores e intérpretes - Universidade Federal de Uberlândia

Transcrição

Tradutores e intérpretes - Universidade Federal de Uberlândia
EXPEDIENTE
ISSN 2317-7683
Em tempo de Copa:
reivindicações e
realizações
O Brasil, de fato, é um país de contrastes. De um lado, o país da Copa, verde e amarelo, da Shakira se exibindo em um clipe com todos os “heróis do gramado”, das propagandas vendendo de TVs a
tênis. De outro, o país dos movimentos sociais nas ruas, das greves dos motoristas parando as grandes metrópoles, da crítica à falta de uma política nacional consistente no que diz respeito a saúde,
educação, moradia e segurança.
Sabemos que a contenção de verbas no ano de 2014 para as universidades federais é um fato consumado. A UFU tem experimentado na pele, cotidianamente, essa restrição de recursos e, de forma
crítica, a Pró-reitoria de Planejamento e Administração (Proplad) fez, a partir da matriz orçamentária, uma proposta democrática, aprovada pelo Conselho Diretor (Condir), em 14 de março de 2014.
A partir dela, cada unidade orçamentária e administrativa será responsável pelos seus gastos, de maneira transparente e lúcida, como explica o professor José Francisco Ribeiro no seu artigo.
Todavia, há que se enunciarem as realizações acadêmicas e administrativas da UFU, que não nos
deixam esmorecer e apontam para caminhos e trilhas que tornam possível concretizar sonhos passados e ações culturais que colocam esta universidade no cenário nacional. É o caso, por exemplo,
da efetivação de nove tradutores e intérpretes de Língua Brasileira de Sinais (Libras), vinculados ao
Centro de Ensino, Pesquisa, Extensão e Atendimento em Educação Especial (Cepae) da Faculdade
de Educação (Faced), cuja prioridade é atender aos surdos matriculados nos cursos de graduação da
UFU. Vale lembrar que, em sintonia com essa ação do Cepae, está em vigência, desde 2014, o curso
de Língua Brasileira de Sinais do Instituto de Letras (Ileel).
Num outro viés, a mostra Rumos Dança - UFU, numa parceria entre Pró-reitoria de Extensão,
Cultura e Assuntos Estudantis (Proex), Secretaria Municipal de Cultura e Banco Itaú, trouxe para
Uberlândia um grande evento, entre os dias 5 e 8 de junho, aberto para artistas de todo o território
nacional. Espetáculos de envergadura, palestras e oficinas compuseram uma programação inédita na
cidade. Estiveram aqui, entre outros nomes de referência na área, Wagner Schwartz, Wagner Ribot,
Pina Miranda, Cláudia Müller, Clarissa Sacchelli, Fernanda Belivaqua e Alexandre Molina.
Para finalizar, devemos ressaltar a inauguração do Laboratório de Aeronáutica do curso de Engenharia Mecânica, um empreendimento da UFU que vem para consolidar a excelência desta universidade. No que diz respeito aos campi avançados, a gestão atual, por meio da Prefeitura Universitária,
reuniu-se com seus professores, alunos e técnicos administrativos, ouvindo suas demandas e anunciando os futuros empreendimentos. Entre eles, podemos enumerar, de forma resumida, a licitação de novos blocos para abrigar cursos já aprovados, a elaboração de plano diretor para os campi,
a instalação de novos pontos de rede de telefonia, a entrega de veículos, novos laboratórios, sala de
professores, espaço para diretório acadêmico, aumento do efetivo de técnicos administrativos, inauguração de restaurante e cantinas. Vale lembrar ainda a concessão da Rádiocomunitária FM em Monte Carmelo (91 MHz) e Ituiutaba (105,9 MHz) e a repetidora TV Universitária para Patos de Minas.
É o bastante? Nem de longe contempla as nossas aspirações. Entretanto, sempre é bom lembrar
que, reivindicando e caminhando, se chega lá.
Maria Clara Tomaz Machado
Diretora de Comunicação Social
O Jornal da UFU é uma publicação mensal da
Diretoria de Comunicação Social (Dirco) da
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EDUCA
Jornal da UFU 3
EDITORIAL
2 Jornal da UFU
Faculdade de Educação Física é
referência no esporte paralímpico
Diretora de Comunicação
Maria Clara Tomaz Machado
Coordenador de Jornalismo
Fabiano Goulart
Coordenador de Conteúdo
Cairo Mohamad Ibrahim Katrib
Equipe de Jornalismo
Diélen Borges, Eliane Moreira, Frinéia
Chaves, José Amaral Neto, Jussara
Coelho, Marco Cavalcanti e Renata Neiva
Estagiários em Jornalismo
Aline Pires e Júnior Barbosa
Amanda Sousa
conquista sua
décima medalha na
modalidade
Editora
Eliane Moreira (RP525/RN)
Projeto gráfico e diagramação
Elisa Chueiri
Revisão
Diélen Borges e
Maria Clara Tomaz Machado
Fotografia
Milton Santos
Impressão
Imprensa Universitária - Gráfica UFU
Tiragem
3000 exemplares
Docente colaborador
Eduardo Macedo
Reitor: Elmiro Santos Resende | Vice-reitor:
Eduardo Nunes Guimarães | Chefe de gabinete: José Antônio Gallo | Pró-reitora de
Graduação: Marisa Lomônaco de Paula
Naves | Pró-reitora de Extensão, Cultura e
Assuntos Estudantis: Dalva Maria de Oliveira Silva | Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação: Marcelo Emílio Beletti | Pró-reitor
de Planejamento e Administração: José
Francisco Ribeiro | Pró-reitora de Recursos
Humanos: Marlene Marins de Camargos
Borges | Prefeito Universitário: Reges
Eduardo Franco Teodoro
Estudante de
Fisioterapia é ouro
no halterofilismo
texto e foto Aline Pires
“Eu estava muito segura com o
trabalho que foi feito no treinamento.
É claro que teve frio na barriga, mas
todo mundo estava confiante”, relembra Amanda Sousa, aluna de Fisioterapia da UFU e atleta paraolímpica,
que ganhou sua décima medalha no
dia 26 de março. A conquista foi o
ouro no halterofilismo do Campeonato Para-Sulamericano, disputa
que aconteceu em Santiago no Chile, com a participação de competidores da Argentina, Chile, Colômbia,
Equador, Peru, Suriname, Uruguai e
Venezuela. A atleta de 22 anos venceu a competição, contra outras quatro adversárias, erguendo 74 Kg.
Voltando um pouco no tempo, em outubro 2010, foi criado, no
Campus Educação Física da UFU,
o primeiro Centro de Treinamento de Halterofilismo Paraolímpico
do país, resultado de uma parceria
entre a UFU e o Comitê Paralímpico Brasileiro. A criação do Centro
de Treinamento só foi possível com
a fundação, no mesmo ano, da primeira Academia Paralímpica Brasileira e isso permitiu que, além de
professores e profissionais capacitados que já existiam na cidade, a
universidade também tivesse um
espaço com equipamentos adequados para o treinamento da modalidade. O intuito era não só oferecer
a estrutura física para o treinamento
dos atletas, mas também possibilitar
a formação e treinamento de técnicos capacitados.
Desde então, atletas de todo Brasil têm vindo a Uberlândia, a fim de
aperfeiçoar a prática esportiva. Atu-
almente, a Seleção Brasileira de Halterofilismo Paraolímpico tem um
calendário anual de treinamento
agendado na Academia Paralímpica,
na qual fazem um trabalho de aperfeiçoamento das técnicas de levantamento de peso e preparação para
competições, juntamente com os técnicos. No restante do tempo, a academia atende atletas de Uberlândia.
O treinador da equipe uberlandense da modalidade, Weverton
Santos, participou do processo de
fundação do Centro de Treinamento
e afirma que os investimentos feitos
para oferecer equipamentos adequados, juntamente com o trabalho técnico de alto desempenho que tem
sido realizado com os atletas, têm
dado resultados surpreendentes nos
campeonatos, como é o exemplo da
Amanda.
Sobre as expectativas antes da
competição, ela conta que “era uma
seleção de atletas jovens, com me-
nos de 25 anos. O objetivo era ganhar experiência, não era medalha”.
Amanda não tem dúvidas de qual foi
o seu diferencial na disputa em que
superou as expectativas: “foi uma
competição em que, na verdade, não
ganhou o mais forte, ganhou o mais
técnico.” De acordo com a paraleta, o
trabalho técnico que vem sendo desenvolvido é o grande diferencial da
escola nacional: “a técnica brasileira
tem surpreendido muita gente lá fora”.
Amanda pratica halterofilismo
desde 2009 e compete desde 2010.
Mesmo com esses anos de experiência, a emoção de uma competição
internacional é única e, em suas palavras, “uma sensação indescritível”.
A atleta, que ficou sem dormir na
noite anterior à competição, diz não
ter disfarçado a emoção: “chorei horrores na entrega da premiação e durante o hino nacional. Só quem vive
essa honra sabe o orgulho que a gente
sente”.
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
Homofobia, violência
e morte: até quando?
texto Miguel Rodrigues de Sousa Neto
Doutor em História Social pela UFU e professor da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul, campus de Aquidauana
No dia 17 de maio celebra-se a
luta contra a homofobia. A data foi
escolhida por ter sido neste dia, em
1990, que a Organização Mundial de
Saúde retirou de seu Código Internacional de Doenças a homossexualidade: de 1977 até então, o desejo
de uma pessoa por outra do mesmo
sexo foi considerado uma doença
mental. Vários países retiraram, antes
ou depois, a homossexualidade dessa
condição; no Brasil, isso ocorreu em
1985 – o que não quer dizer, entretanto, que nossa sociedade inteira parou de pensar assim.
Cada indivíduo tem seus desejos
e eles são múltiplos. Nós somos seres histórica e socialmente constituídos; não estamos fadados aos nossos
aspectos biológicos apenas. Somos
inseridos em sociedade, sofremos
demandas e respondemos a elas das
mais variadas maneiras. Assim, ser
homem ou ser mulher são apenas
algumas das opções que temos. Ser
homem e desejar mulheres ou ser
mulher e desejar homens são possibilidades, não uma sentença.
O que ocorre, no entanto, é que
nossa sociedade – assim como tantas
outras – elegeu a heterossexualidade
como modelo e dois tipos ideais foram elaborados para corroborá-lo: o
homem forte e viril e a mulher frágil
e submissa. Temos sido compulsoriamente adequados a esse modelo desde que nascemos: menino ou menina
que devem se tornar, mais tarde, homem e mulher – e devem se desejar.
Não é tão simples. Homens e
mulheres têm orientado seu desejo erótico-afetivo para homens,
para mulheres ou para ambos. Independentemente disso, têm também
construído identidades de gênero
próprias: homens que se travestem,
mulheres que se tornam masculinas,
homens que passam por cirurgias
para tornarem seus corpos femininos, mulheres que realizam procedimentos médicos para tornarem seus
corpos masculinos – e essas são apenas algumas opções.
A sociedade, normativa, nem
sempre recebe bem tais indivíduos.
Na passagem do século XIX para o
século XX, homossexuais ou travestis
eram estudados pela medicina legal.
A homossexualidade era retratada como uma característica doentia,
geralmente ligada a ambientes insalubres (pobres) e à degenerescência
da raça branca (a mestiçagem), e, no
caso masculino, à desonra de se tornar parecido com a mulher (frágil).
E o que fazer com tais sujeitos? Levá-los para manicômios e lá deixá-los,
como exemplificam o Colônia, famoso hospício da cidade de Barbacena, ou
o Febrônio Índio do Brasil, internado
por quase 60 anos no Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro. Deixá–los
nas margens, nas periferias das cidades, como as rodovias e ruas ermas
destinadas à sua prostituição – à qual
muitos anônimos recorrem. Xingá-los:
viado, sapatão, baitola, mulher-macho,
maricas. Espancá-los, para que voltem
a seguir a norma imposta ou, pelo menos, para que aprendam que seu lugar
é inferior. Matá-los. Como se tem feito
a cada 28 horas no Brasil, segundo relatório divulgado em 12 de abril pelo
Grupo Gay da Bahia.
É preciso lutar contra a homofobia, esse ódio contra a população de
lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros que leva a tanta violência. Também é preciso atentar para o fato de
que cada parcela dessa sigla (LGBT)
sofre violências específicas, como a
lesbofobia (ódio às lésbicas) e a transfobia (aversão aos transgêneros). É
preciso lutar, de maneira mais ampla,
construindo políticas públicas, uma
nova educação e legislação específica,
contra todas as máscaras ideológicas
que têm tornado, nesse país, a diferença de identidade de gênero e erótico-afetiva um fator de desigualdade,
exclusão, violência e morte.
CEPAE
Jornal da UFU 5
OPINIÃO
4 Jornal da UFU
Tradutores e intérpretes
de Libras chegam à UFU
Servidores
atuarão na inclusão
dos surdos na
universidade
texto e fotos Diélen Borges
O primeiro semestre de 2014 trouxe aulas muito diferentes para alguns
alunos da UFU: os seis estudantes de
graduação e os três de pós-graduação
que são surdos. Eles, agora, são acompanhados por nove tradutores e intérpretes de Língua Brasileira de Sinais
(Libras), que tomaram posse na universidade no dia 12 de março. Os servidores estão vinculados ao Centro de
Ensino, Pesquisa, Extensão e Atendimento em Educação Especial (Cepae)
da Faculdade de Educação (Faced).
As tradutoras e
intérpretes Letícia
Leite, Marina
Ferreira Lopes,
Kátia Souza e Helika
Ete da Silva Ribeiro
A prioridade de atuação desses
profissionais, segundo a coordenadora do Cepae, professora Eliamar
Godoi, é no atendimento aos surdos
matriculados nos cursos de graduação. O tradutor e intérprete acompanha o estudante durante as aulas,
facilitando a comunicação com o
professor. A intérprete Helika Ete da
Silva Ribeiro explica que também há
sempre um profissional de plantão na
sala de recursos do Cepae.
Além disso, os profissionais atuam no atendimento a alunos da pós–
graduação – fazendo a tradução em
defesas de teses e dissertações em
que um surdo estiver apresentando–, em eventos com surdos inscritos e em reuniões internas da
universidade das quais participem
servidores surdos.
Na UFU há seis alunos surdos em
cursos de graduação (Química, Matemática, Estatística, Letras, Teatro
e Ciências Biológicas) e três na pós-graduação. Sarah Julianna Takada
Ferreira é surda e cursa o segundo período de Matemática. Antes da chegada dos intérpretes, as aulas eram mais
difíceis para ela: “eu sofria demais
porque eu não tinha acompanhamento nas minhas aulas e não conseguia me comunicar com o professor”.
A estudante pretende ser professora
bilíngue e acompanhou o processo
de chegada dos novos servidores: “o
Cepae solicitava intérprete e, às vezes,
conseguia, mas ele logo saía, porque
era prestador de serviços. Aí falaram
que ia ter concurso para intérprete e
eu fiquei muito feliz”.
A intérprete Letícia Leite ressalta a
importância de haver uma adaptação
no currículo para que, de fato, o aluno surdo seja incluído na educação
superior: “os intérpretes e os alunos
estão reaprendendo e trazendo esse
discurso do diferente para sala de
aula, não apenas no respeitar, mas no
reconhecer as diferenças, que parte
desse princípio de adaptar, de trazer
mais recursos visuais”. Letícia elogia
o envolvimento dos professores que
têm o cuidado de disponibilizar o
conteúdo das aulas para o intérprete,
com antecedência, para que ele possa
se preparar para o acompanhamento
em sala de aula.
As unidades acadêmicas e administrativas e demais setores da UFU
que necessitarem de serviços de tradutores e intérpretes de
Libras devem encaminhar suas solicitações ao Cepae com, no
mínimo, dois dias úteis de antecedência.
SOLICITAÇÕES
Sarah Julianna
(centro) cursa
Matemática e é
atendida em plantão
no Cepae
As solicitações devem ser feitas por meio de formulário disponível na página da Faced (www.faced.ufu.br) e do Cepae
(www.cepae.faced.ufu.br). As dúvidas e sugestões podem ser
encaminhadas ao e-mail [email protected].
Jornal da UFU 7
PESQUISA
6 Jornal da UFU
(Re)internação
de doentes mentais
Até onde é necessária?
texto Eliane Moreira
foto Milton Santos
Pesquisa foi
tema da tese
de doutorado
do professor
Peterson Gandolfi
Se a saúde pública no Brasil está
doente, a saúde mental está na UTI.
A afirmação é do professor Peterson
Gandolfi da Faculdade de Gestão
em Negócios (Fagen) da UFU, campus Patos de Minas que, de 2010 a
2013, em sua pesquisa de doutorado, analisou os fatores associados
às internações e reinternações de
pacientes com transtornos mentais
severos. Entre os itens pesquisados
foram avaliados atendimento, uso
dos medicamentos, atenção psicossocial, apoio da família, papel do
cuidador e, por fim, o uso de álcool
e drogas.
Aprovada no Comitê de Ética
em Pesquisas com Seres Humanos
da UFU, a base de dados veio de 295
questionários feitos com familiares
de pacientes, atendidos pelo Hospital Psiquiátrico de Ituiutaba que
é referência para nove municípios
(Ituiutaba, Santa Vitória, Ipiaçu,
Gurinhatã, Centralina, Capinópolis, Canápolis, Campina Verde e Cachoeira Dourada), uma população
de aproximadamente 200 mil pessoas. “A ideia era explicar porque
pessoas com determinado transtorno eram reinternadas e outras não”,
diz Gandolfi.
Na pesquisa, o professor percebeu
que 80% dos pacientes do Hospital
Psiquiátrico estão associados às reinternações. Sob o ponto de vista de
gestão, a reinternação, segundo Peterson, pode significar a necessidade
de um gasto desnecessário e consequência de um conjunto de fatores,
dentro da rede de atenção psicossocial que falharam. “É uma crítica
teórica ao sistema e, baseado nessa
curiosidade, eu e meu orientador resolvemos pesquisar”. O levantamento, que também usou informações de
3.500 internações registradas entre
2003 e 2010, do DATASUS, apontou
que a maior parte dos pacientes que
foi internada, dentre as diversas categorias de doenças, sofria de esquizofrenia, transtorno relativo ao uso
de álcool e outras drogas, depressão
maior e transtorno de humor, dentre outras. A população investigada,
composta basicamente de usuários
do Sistema Único de Saúde (SUS),
era de baixa remuneração e escolaridade e, aproximadamente, 60% eram
do sexo feminino.
A tese orientada pelo professor
Álvaro Escrivão Júnior, do Programa
de Pós-graduação da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo - que concentra uma área de estudo no tema:
Administração e planejamento em
saúde-, teve como proposta, “olhar o
sistema de saúde, sob o ponto de vista de gestão”, explica Gandolfi.
Resultados
Por meio de um modelo matemático, a tese testou hipóteses e propôs
mostrar como seria o processo de tomada de decisão, sob o ponto de vista do gestor público de saúde mental.
O trabalho mostrou que o número de psiquiatras na microrregião é
reduzido para atender a demanda.
“Percebemos que o paciente só vai ao
psiquiatra no limite e, aqueles atendidos pelo especialista têm dez vezes
menos chance de ser internado, do
que um que não tem este atendimento”, conta o professor.
Com relação ao acesso e uso de
medicamentos, a pesquisa apontou
que o paciente que utiliza somente o
serviço de distribuição pelo sistema
público tende a internar mais do que
o aquele que também compra medicamentos na rede privada. “Não conseguimos aprofundar nessas causas,
mas sabe-se que, na maioria dos casos, os pacientes devem usar vários
medicamentos em conjunto para se
obter o efeito desejado. Em alguns
casos, verificou-se que existe falta
de algum desses medicamentos; em
outras situações, o paciente não vai
até a farmácia da rede porque não
consegue chegar lá sozinho ou mesmo porque tem vergonha de ir; e,
em outros casos, o paciente não usa
porque, simplesmente, acha que não
necessita mais, isto é, ‘já me sinto
bem e não preciso mais usar’, são falas comuns entre pacientes”, afirma
Peterson.
No trabalho, foi constatado que
pacientes que usam álcool têm 13 vezes mais chance de serem internados
do que o que não usam. Outra hipótese analisada foi a do cuidador dos
pacientes: aquele paciente que conta com uma pessoa que “realmente” faz o papel de cuidador, feito na
maioria das vezes por familiares, tem
13% menos chance de internar-se do
que não tem. “O papel do cuidador
é fundamental. Notamos que trabalhar um processo de conscientização
e formação desta pessoa melhoraria
o sistema todo”, ressalta Galdonfi.
Extensão
À medida que a pesquisa era desenvolvida, foram trabalhados dois
projetos de extensão, em parceira
com os cursos de Serviço Social e
Administração da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal (FACIP/
UFU) e o curso de Psicologia da Universidade Estadual de Minas Gerais
(UEMG). “Eu acredito fielmente que
a universidade tem que promover e
contribuir para transformar a sociedade”, diz o professor que vê nos
projetos de extensão o principal caminho dentro da universidade para
promover uma transformação social.
O primeiro projeto, Grupo Interativo de Suporte e Apoio Mútuo aos
familiares de portadores de transtornos mentais severos ((GISAM), teve
apoio do Núcleo de Apoio Saúde da
Família de Ituiutaba (NASF). “Por
meio de um estudo qualitativo, descobrimos que a família sofre demais
com o paciente e com o processo da
desospitalização”, disse o professor. O
projeto, que aconteceu de maio a novembro de 2012, acompanhou essas
pessoas que, por meio de encontros,
externalizavam seus sentimentos e
emoções, acompanhados por profissionais de psicologia e serviço social.
A avaliação final, segundo Gandolfi,
foi que os familiares aprenderam a lidar com a doença e com os pacientes.
No período do curso, nenhum dos
pacientes foi (re) internado.
“Acima de tudo sou
um extensionista”
Peterson Gandolfi
Segundo Elizeth Adad Guimarães, referência técnica
em saúde mental da Regional de Saúde de Ituiutaba, a
pesquisa de Gandolfi já trouxe alguns avanços e contribuiu para identificar diversos fatores que, se sanados, podem trazer melhorias
ao serviço de atendimento desses pacientes, entre
eles:
IMPRESSÃO
DE QUEM
ESTÁ DE FORA
Algumas internações de casos como Alzheimer e depressão, que poderiam ser tratados em casa, estão
no Hospital Psiquiátrico, porque a família não aceita
esses pacientes.
A pesquisa revelou que, em Ituiutaba, muitos pacientes eram reinternados por falta do CAPS, estrutura
que foi criada em dezembro de 2013.
O município de Gurinhatã, com base nos resultados
da pesquisa, contratou psicólogo e nutricionista, atitude que reduziu as internações. Os gestores, agora,
já avaliam a necessidade de criação de um programa
para melhorar o atendimento em saúde mental.
O estudo apontou que os municípios de Ipiaçu, Centralina e Canápolis não disponibilizavam programas
de saúde mental e, depois de relatada a deficiência,
esses profissionais foram contratados.
O outro projeto foi desenvolvido em Santa Vitória e serviu para
dar apoio à implantação e operacionalização do Centro Terapêutico de
Santa Vitória, que tem função parecida com um Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS). De acordo
com Lúcia Helena Gonçalves Silva,
assistente social de Santa Vitória há
26 anos, a estrutura permitiu que a
reinternação caísse praticamente a
zero e a pesquisa possibilitou que outras cidades conhecessem os serviços
oferecidos pelo município. O projeto de extensão ajudou com estrutura,
bolsista do projeto, palestras, debates
e apoio de material. Gandolfi percebeu que o segredo do êxito da experiência de Santa Vitória foi estudar as
orientações do Plano Diretor de Saúde do governo do estado de Minas
Gerais e promover atendimento por
equipe multidisciplinar. “O Centro
faz o acolhimento dos pacientes de
forma humanizada, promove consultas periódicas com psiquiatra e participa de ações de lazer e cultura. O
grande sucesso também foi atribuído
à liderança da coordenadora do centro”, ressalta o professor.
Relatos e próximos passos
Em abril deste ano, Gandolfi
apresentou os resultados da tese e
fez um debate sobre como poderiam
ser úteis e transformados em ações
e políticas públicas. Foi durante o
encontro do Conselho de Secretários Municipais de Saúde (Cosems),
realizado pela Gerência Regional
de Saúde de Ituiutaba. “Os secretários de Saúde da Microrregião
se mostraram muito interessados
nos resultados. Achei extremamente importante e ético apresentar
os resultados que consegui para o
grupo que acreditou e apoiou a minha pesquisa. E, como pesquisador
formado, aproveitei para indicar
novos desafios que gostaria de entender, como, por exemplo, por que
se receita, distribui e usa tantos antiansiolíticos e antidepressivos na
rede?”, relata o professor.
Jornal da UFU 9
ABOLIÇÃO
8 Jornal da UFU
O negro após o
13 de maio
O afrodescendente na educação,
no trabalho e na sociedade
FOTO: PIXABAY
texto Jussara Coelho
Em 13 de maio é comemorado o
Dia da Abolição da Escravatura. Há o
que celebrar? Quem é o protagonista? Esta data provoca discussões na
sociedade, porque parte dos movimentos afro-brasileiros acredita que,
nas comemorações e na história contada, não se destaca o protagonismo
do negro no processo da abolição.
Onde está o negro 126 anos depois? Segundo dados do Censo de
2010, o Brasil tem hoje 16,3 milhões
de miseráveis, com renda inferior a
setenta reais mensais. Destes, cerca
de 70% são negros. Porém, o Censo
salienta ainda que houve ascensão
dos negros para classe média nos últimos oito anos. Atualmente, 53,5%
dos negros estão nas classes A, B e C.
Para Aparecida Calmin, dirigente
do Grupo de Integração da Consciência Negra de Uberlândia (Griconeu), o mês de maio serve para uma
reflexão sobre a posição que o negro
ocupa na sociedade pós-abolição. Segundo a dirigente, foi um processo
que demandou muitos anos e deixou
sequelas violentas na comunidade
negra.
A Pesquisa das Características Étnico-Raciais da População: um Estudo das Categorias de Classificação de
Cor ou Raça (Pecerp) colheu informações em uma amostra com cerca
de 15 mil domicílios dos Estados do
Amazonas, Paraíba, São Paulo, Rio
Grande do Sul, Mato Grosso e Distrito Federal. O estudo constatou que
63,7% dos entrevistados acreditam
que a cor ou raça influencia na vida.
Entre as situações nas quais esses
dois fatores têm maior influência, o
trabalho aparece em primeiro lugar,
seguido pela relação com a polícia e
a justiça, o convívio social e a escola.
A Lei Áurea foi aprovada frente a uma série de questões políticas
em 1888. Cairo Mohamad Ibrahim
Katrib, doutor em História, coordenador de extensão do Núcleo de
Estudos Afro-brasileiros (Neab) da
UFU, afirma que um dia depois da
assinatura da lei não foi feita nenhuma política que remetesse à inserção
do negro na sociedade. O Brasil foi o
último país a abolir a escravidão nas
Américas, o que mais explorou e o
que tem maior população negra fora
do ambiente africano.
O negro e a educação
Uma das lutas enfrentadas pelo
movimento negro no Brasil se refere à Lei de Cotas nas universidades
brasileiras. Desde seu início, segundo
os apoiadores dessa lei, a justificativa é fundamentada na exploração do
negro, na sua inserção em um espaço
social marginalizado e desqualificado profissionalmente para o mercado de trabalho. Assim, a Lei de Cotas
propõe tratar a educação de forma
diferenciada no que diz respeito ao
acesso ���������������������������
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s instituições de ensino superior como uma maneira de colocar
o afrodescendente em condições de
competir em grau de igualdade com
outras etnias.
A Lei n° 12.711 de 29 de agosto
de 2012 regulamentou tal conquista, garantindo: “a reserva de 50% das
matrículas por curso e turno nas 59
universidades federais e 38 institutos
federais de educação, ciência e tecnologia a alunos oriundos integralmente do ensino médio público, em
cursos regulares ou da educação de
jovens e adultos. Os demais 50% das
vagas permanecem para ampla concorrência. Em cada instituição federal de ensino superior, as vagas serão
preenchidas, por curso e turno, por
autodeclarados pretos, pardos e indígenas, em proporção no mínimo
igual à de pretos, pardos e indígenas
na população da unidade da Federa-
ção onde está instalada a instituição,
segundo o último censo do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE)”.
As cotas na UFU são distribuídas
de acordo com essa lei. São destinadas
50% das vagas dos processos seletivos
para cotas. O primeiro quesito é ter
cursado integralmente o ensino médio em escola pública. Dentre os 50%
das cotas, 25% são destinadas para
pretos, pardos e indígenas com renda igual ou menor que 1,5 salário m��
ínimo per capita. Os outros 25% são
destinados a pretos, pardos, indígenas, independente de renda.
Problema resolvido? Katrib concorda com o sistema de cotas, mas
alega que, apenas com esta política, o
afrodescendente não vai ter o mesmo
espaço que o branco que estuda na
escola particular ou pública, pois não
tem as mesmas oportunidades por
mal completarem o ensino médio.
O historiador comenta que o negro
não se enxerga no ambiente escolar
e acadêmico e que o problema começa desde os livros didáticos, com
a representação do negro no açoite, humilhado. O docente esclarece: “no Império, quando Dom Pedro
começou o processo de identidade
nacional, fazendo os primeiros compêndios que deram início aos livros
didáticos no Brasil, excluiu o negro e
o indígena do processo. Naquele momento não havia interesse em o negro ser protagonista”.
O que tem sido feito? Katrib acentua que muitas foram as lutas para
que o negro obtivesse sua vida, desde
a colonização do Brasil, contada. Tais
lutas culminaram em leis que ajudam
a dar visibilidade ao negro, à sua história e aos seus costumes.
Em 10 de março de 2008 criou-se a Lei 11.645, que tornou obrigatório, nos estabelecimentos de ensino
fundamental e médio, públicos e privados, o estudo da história e cultura
afro-brasileira. Para Katrib, essa lei
vem para dar visibilidade ao negro
que foi silenciado durante séculos.
“Vejo que o grande problema enfrentado pelos professores é o preconceito da própria escola, de sua direção,
que não sabe ou não quer abordar a
disciplina. O livro didático da escola,
por exemplo, não chama o negro de
afrodescendente ou de negro, chama
de escravo, mostra o negro no tronco, como uma mera mercadoria. Os
novos livros mostram que não eram
assim”, salienta o historiador.
Outro fator que atrapalha na escolarização do afrodescendente,
segundo o historiador, é o autopreconceito. Ele comenta que o Programa de Educação Tutorial (PET) (Re)
conectando Saberes da UFU, do qual
ele é tutor, vai para as escolas e trabalha com a questão da negritude
com as crianças, faz oficina de trança, aborda a identidade e o pertencimento. “Nessas ocasiões, a criança se
vê negra, chega em casa e fala para os
pais que na escola fez uma atividade
e a professora disse que ela é negra.
A mãe responde que ela não é negra,
que é mulatinha, é marrom bombom,
é moreninha. Esses termos são pejorativos. Acabam criando uma discrepância da imagem. Quando, em um
país, as pessoas se recusam a reconhecer aquilo que elas são é porque a
ferida do racismo é muito profunda.
A negação de si próprio é a expressão
da discriminação”, completa Katrib.
O negro e o trabalho
O fim da escravidão não significou necessariamente a inserção do
negro na sociedade. Segundo Claudelir Corrêa Clemente, professora
de Antropologia na UFU e doutora
em Ciências Sociais, após a escravidão, o afrodescendente passou a
enfrentar um mercado de trabalho
capitalista, que requer novas práticas
profissionais, diferentes da situação
de escravidão. A docente afirma que
a elite branca utilizou esse mote para
desqualificar o negro, alegando que,
por essa população ter passado pelo
processo de escravização, não teria
condições de assumir o mercado de
assalariados, principalmente em indústrias, no trabalho mecanizado e
na agricultura do café.
A antropóloga alega que, junto
a isso, vem o racismo relacionado à
cor da pele, �����������������������
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origem e ������������
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história social que tem suas bases no processo de escravidão. Ela acrescenta que
toda essa marca interfere no enfrentamento no mercado de trabalho que já se dá de forma desigual,
pois o negro era tratado como imbecil e incompetente. “Assim, as
elites investiram em trazer uma
população de migração europeia
branca para trabalhar nas frentes
industriais. O negro teria condições
para o trabalho se houvesse investimento dentro do próprio país de
utilizar a mão de obra dessa população”, orienta Claudelir.
A professora assegura que, com o
fortalecimento dos movimentos sociais afro-brasileiros, começa a haver
alguma mudança na configuração do
mercado de trabalho que, até hoje, é
penoso e desigual para o afrodescendente. As lutas resultaram no ganho
das cotas nas universidades e, atualmente, as cotas em concurso público.
A antropóloga ressalta que as pessoas
negras ainda ganham menos que as
pessoas brancas.
Claudelir finaliza: “a população
negra de inferior não tem nada. Nós
ajudamos a construir o país. Desde
que a gente chegou aqui, nós, a população negra, contribuímos com
nosso trabalho, com nosso gasto de
energia, principalmente na condição de escravo. Todos os equipamentos culturais do período colonial, as
igrejas e a extração de várias riquezas, desde a cana-de-açúcar até a extração mineral e produção do ouro,
foram realizadas pela mão de obra
afrobrasileira. É necessário um retorno disso para a população negra. Foram mais de 300 anos de escravidão a
troco de quê? De todo trabalho que o
negro fez para a construção do país,
o retorno é o racismo!”.
ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL
10 Jornal da UFU
Jornal da UFU 11
Quando
permanecer
na universidade
é o desafio
texto Diélen Borges
Cotas mudam perfil
do aluno e demandam
mais políticas de
permanência
Há um ano, metade dos estudantes que ingressam na UFU cursou
integralmente o ensino médio em escolas públicas. Dentre esses cotistas,
50% são de famílias com renda bruta
mensal igual ou inferior a salário mínimo e meio e 50% têm renda acima
desse valor e, ainda, 60% são pretos,
pardos e indígenas.
Antes da adesão à Lei nº
12.711/2012, a chamada Lei de Cotas, o perfil socioeconômico predominante entre os alunos da UFU era
o da classe B: 52,51% do total, segundo dados da Diretoria de Assuntos
Estudantis (Dires) referentes a 2010.
Se somadas, as classes C, D e E representavam 27,13% dos discentes. Os
outros 20,35% eram da classe A.
Hoje, as cotas garantem a uma
parcela de estudantes de baixa renda
o ingresso ao ensino superior. Mas e
a permanência? O Plano Nacional de
Assistência Estudantil (Pnaes), cria-
foto Jussara Coelho
do pelo governo federal em 2008,
tem como objetivos “democratizar as
condições de permanência dos jovens
na educação superior pública federal,
minimizar os efeitos das desigualdades sociais e regionais na permanência e conclusão da educação superior,
reduzir as taxas de retenção e evasão
e contribuir para a promoção da inclusão social pela educação”.
O Pnaes prevê ações de assistência
estudantil nas seguintes áreas: moradia estudantil, alimentação, transporte, atenção à saúde, inclusão digital,
cultura, esporte, creche, apoio pedagógico e acesso, participação e aprendizagem de estudantes com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades e superdotação.
Segundo a assessoria de comunicação
do Ministério da Educação (MEC),
nos cinco primeiros anos, o Pnaes investiu R$ 1 bilhão em assistência estudantil a alunos das instituições federais
de educação superior (Ifes).
“Nós temos, de dois anos para cá,
um crescimento da popularização da
universidade, que é algo muito positivo, pelo qual nós lutamos muito, só
que traz consigo um agravamento da
demanda pela assistência estudantil
que não se tem conseguido atender”,
afirma o estudante Max Ziller, do
curso de Ciência da Computação da
UFU e coordenador geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE).
“A expansão da universidade, infelizmente, não foi acompanhada pela
expansão proporcional dessa assistência”, diz o representante estudantil.
Assistência na UFU
Três irmãos da família Rocha e
Silva, da zona rural de Indianópolis,
hoje moram em Uberlândia e estudam na UFU: Abadia Adenísia, do
nono período de Educação Física,
Maria José, do sétimo período de
Enfermagem, e Elder Elmídio, do
terceiro período de Estatística. Eles
sempre estudaram em escola pública;
a mãe recebe um salário mínimo de
aposentadoria por invalidez e o pai é
aposentado por idade.
Como os três se mantêm na cidade e na universidade? Maria José
recebe bolsa moradia no valor de R$
300 e paga o aluguel da casa em que
mora com os irmãos. Os três recebem bolsa transporte (50 passes) e
alimentação (Maria José tem o direito de fazer duas refeições diárias
no Restaurante Universitário e os
outros dois podem fazer uma refei-
ção). As irmãs ainda foram aprovadas como bolsistas do Programa
de Educação Tutorial (PET) Conexões de Saberes Educomunicação,
da Faculdade de Educação, que seleciona estudantes não apenas com
base em critérios meritocráticos,
mas considera também o histórico
socioeconômico.
As políticas de assistência estudantil na UFU são de responsabilidade da Diretoria de Assuntos
Estudantis (Dires). As modalidades
atuais são bolsa moradia (R$ 300),
bolsa alimentação (almoço e/ou jantar no Restaurante Universitário nos
campi Santa Mônica e Umuarama
ou auxílio de R$ 180 ou R$ 250 onde
não há RU), bolsa transporte (passes
escolares), bolsa Central de Línguas
(desconto nas mensalidades dos cursos de idiomas), Projeto de Empréstimo do Instrumental Odontológico
(oferece instrumental, em caráter de
empréstimo, aos estudantes do curso de Odontologia), passagens para
estudantes que vão apresentar trabalhos em eventos ou que estejam em
modalidade nacional e internacional (até R$ 5 mil).
Nos Restaurantes Universitários
dos campi Santa Mônica e Umuarama, o número de refeições servidas
anualmente passou de aproximadamente 520 mil no ano de 2011 para
557 mil em 2012 e 849 mil em 2013.
Há ainda outro restaurante em fase
final de construção no campus Pontal e dois em fase de projeto para os
campi de Uberlândia.
O prédio da moradia estudantil,
com 152 vagas, começou a receber
alunos no início do primeiro semestre letivo de 2014. O espaço foi inaugurado no final de 2012, porém, de
acordo com o diretor, não tinha Habite-se (certidão emitida pela Prefeitura
Municipal para atestar que a unidade
construída está em condições de ser
habitada), o padrão de energia elétrica não estava ligado, a largura das
portas dos apartamentos destinados
a pessoas com deficiência era incompatível com a mobilidade de um cadeirante, entre outros problemas que
precisaram ser corrigidos.
Outra política de assistência é a
Bolsa Permanência do governo federal, no valor R$ 400, concedida
a estudantes matriculados em cursos de graduação com carga horária média superior ou igual a cinco
horas diárias. Na UFU, aproximadamente 40 estudantes são beneficiados, pois o MEC avaliou apenas os
cursos de Medicina e Biomedicina
como compatíveis com as regras do
benefício.
Desafios
A estimativa para 2014, de acordo com Leonardo Barbosa e Silva, diretor de Assuntos Estudantis, é que a
UFU gaste R$ 12 milhões em bolsas
e mais R$ 8 a 9 milhões em outras
ações de assistência. O professor
alerta que os recursos repassados
pelo MEC à UFU são inferiores às
necessidades da instituição: “Nós tivemos, de janeiro de 2013 para janeiro de 2014, um aumento de mais
de 40% do número de bolsas. Em
termos de valores, como o valor das
bolsas oscila, isso chegou a quase
70% de aumento, sendo que os recursos de um ano para outro aumentaram cerca de 20%”.
Silva indica dois gargalos na assistência estudantil na UFU. Um deles é a falta de creches para filhos de
estudantes: “esse ano eu creio que a
gente já aprova; nós não vamos ter
recursos, mas pelo menos ela vai estar aprovada”. O outro é a saúde: “não
temos programas integrados de atenção à saúde do estudante. Nós temos
setor de psicologia, de nutrição, de
esporte e lazer, mas os esforços não
são integrados”, completa.
Na tentativa de solucionar o problema, no ano passado, a UFU enviou
um documento ao MEC indicando
um déficit de R$ 3 milhões na verba
destinada à universidade para assistência estudantil. Segundo o diretor
de Assuntos Estudantis, não houve
resposta do ministério. “Nesse ano,
nós redigimos um novo documento,
fomos ao MEC apresentar para o professor Dilvo Ristoff [Diretor de Políticas e Programas de Graduação] e
para a professora Adriana Weska [Diretora de Desenvolvimento da Rede
de Ifes] e resposta deles foi negativa”, conta Silva. A Dires também tem
desenvolvido ações junto ao Fórum
Nacional dos Pró-Reitores de Ações
Estudantis (Fonaprace), Associação
Nacional dos Dirigentes das Ifes (Andifes) e outras entidades, no sentido
de destacar a necessidade de se destinar mais recursos para políticas de
permanência no ensino superior.
Os discentes também estão se
articulando. Entre os dias 9 e 11 de
maio, a União Nacional dos Estudantes (UNE) promoveu, em Ouro
Preto, o III Seminário Nacional de
Assistência Estudantil. O tema foi
“Entrar, Permanecer e Transformar a
Universidade”.
A gente não quer só comida
No PET Conexões Educomunicação, o ganho vai além da bolsa.
“Não é comum, em uma universidade, parar para discutir as dificuldades de minorias. E este programa
faz isso e faz muito bem feito”, relata
Abadia Adenísia. “Eu me sinto parte
desta minoria, pois é raro ver alguém
permanecer em uma graduação com
a base que eu tive, tanto na parte da
educação formal quanto da formação
de valores e opinião”, completa.
Na família Rocha e Silva, como
em outras famílias de classes populares, o incentivo ao trabalho predominava. “A minha primeira formação
foi a desconstrução dessa formação
de ‘trabalhadora’ que a minha família
me proporcionou. Não julgo eles por
isso, pois é o que eles tinham para
passar”, relembra a estudante de Educação Física, citando os debates e as
leituras da vida acadêmica como divisor de águas na sua formação.
Jornal da UFU 13
PROPLAD
12 Jornal da UFU
ESCLARECIMENTOS SOBRE A NOVA
POLÍTICA DE DISTRIBUIÇÃO DE
RECURSOS INTERNOS NA UFU
texto Prof. José Francisco Ribeiro
Pró-reitor de Planejamento e Administração
Nos últimos anos, as unidades
acadêmicas têm recebido os seus
recursos orçamentários com base
numa Matriz de Distribuição de Recursos, que é regulamentada pela
resolução 03/2003 do Conselho Diretor (CONDIR). Em 2014, aplicaram-se as mesmas regras dos anos
anteriores para a distribuição desses
recursos, de Outros Custeios e Capital (OCC), de diárias e passagens.
Não houve nenhuma inovação metodológica em relação à distribuição
desses recursos, que totalizaram o
montante de R$ 6.516.000,00.
Além destes, usualmente distribuídos, foram descentralizados para
as unidades acadêmicas, unidades
administrativas, Escola Técnica de
Saúde (ESTES) e Escola de Educação
Básica (ESEBA) os recursos a serem
despendidos com (i) transportes (em
veículos da UFU ou terceirizados),
(ii) Gráfica da UFU, (iii) manutenção
e reparo de equipamentos e iv) gases
nobres. Isso não é novidade absoluta,
pois no passado já se distribuíram recursos para a gráfica e a manutenção.
Cabe esclarecer à comunidade quais
são as razões que levaram a administração superior a adotar tais medidas,
como a distribuição foi feita e de que
forma será gerida ao longo do ano.
DAS MOTIVAÇÕES
i) Racionalização no uso dos
recursos públicos
Até o ano passado, não havia limites estabelecidos para serem gastos com a frota. Se houvesse veículo e
motorista disponível, da UFU ou das
empresas terceirizadas, a solicitação
era prontamente atendida. O único
fator inibidor para a solicitação de
veículos na garagem era quando o
deslocamento envolvia o pagamento de diárias de motoristas, pois essas eram bancadas pelas unidades
acadêmicas e administrativas. Havia
situações em que um deslocamento era solicitado e o solicitante não
comparecia, ou seja, a viagem não se
realizava, mas a UFU tinha que arcar,
por força de contrato, com o deslocamento do serviço terceirizado até
o local de embarque do solicitante.
Acontecia também, de forma recorrente, o fato de dois veículos saírem
de Uberlândia para um mesmo destino, com cerca de meia hora de diferença e conduzindo apenas um ou
dois passageiros. Às vezes, os solicitantes apresentavam as suas justificativas para tanto, mas não avaliavam
os custos envolvidos, afinal, quem estava pagando o deslocamento era a
UFU (leia-se administração central).
Situação análoga acontecia com
a utilização da gráfica. Não havia limites para se produzirem banners,
folders, cartazes, etc. Tudo que era
pedido era atendido. Eventualmente, um usuário ou outro manifestava
preocupações com o custo do material produzido. Em algumas ocasiões, o demandante do serviço sequer
comparecia para buscar o material
impresso, quando não se produziam
exemplares além do necessário, afinal, quem estava pagando pela impressão era a UFU.
Quanto aos serviços de manutenção e reparo de equipamentos, a si-
cia e nem sabedoria para definir tais
prioridades. Esse papel cabe à unidade acadêmica ou administrativa
em que as demandas são apresentadas e podem ser mais bem cotejadas
e avaliadas.
À luz disto é que se decidiu pela
descentralização dos recursos orçamentários. Pretende-se, assim, compartilhar ou corresponsabilizar a
administração central e as unidades
acadêmicas e administrativas pela
gestão mais eficiente dos recursos.
Essa descentralização – apenas de
frota, gráfica, manutenção e gases –
envolveu a distribuição adicional de
aproximadamente R$ 5,3 milhões a
mais do que o valor distribuído via
matriz de OCC, diárias e passagens
para as unidades acadêmicas.
tuação não era diferente. Não havia
restrições. Se o concerto de determinado equipamento custava R$900,00
e um equipamento novo, R$ 1.100,00,
mandava-se consertar sem a crítica
devida, afinal, quem estava pagando
a conta era a UFU.
Quanto aos gases, a Pró-Reitoria
de Planejamento e Administração
(PROPLAD) já implementou a sua
distribuição em 2013 para as unidades acadêmicas, que não são muitas,
e, em 2014, ampliou-se a distribuição
para as unidades administrativas.
Assim, o fato de a UFU (administração central) se responsabilizar,
nos últimos anos, pelo pagamento
dos gastos com frota, gráfica, manutenção e gases, sem limites orçamentários estabelecidos, induziu a um
certo relaxamento por parte da comunidade acadêmica e administrativa no uso desses recursos.
Na base desta discussão está uma
premissa fundamental: os recursos orçamentários, lamentavelmente, não são infinitos; são limitados
e é preciso geri-los com o cuidado
devido.
iii) Maior visibilidade dos gastos
orçamentários
Ao descentralizar os recursos,
optou-se por fazê-lo para todos os
centros de custo da UFU. A descentralização alcançou unidades acadêmicas e administrativas sem distinção.
Esse é um fato da maior relevância.
A comunidade saberá quanto está
alocado em cada uma das despesas
em frota, gráfica, manutenção e gases
para todos na UFU, da reitoria à mais
nova unidade acadêmica. Para além
da transparência, essa divulgação
oferece alguns elementos que, ainda
que de forma aproximada, permite
avaliar os custos de certas atividades
que desenvolvemos. Estão na página
da PROPLAD os valores distribuídos
para 2014 e poderemos,
caso autorizados pelo CONDIR,
atualizar e divulgar regularmente os
valores gastos pelas unidades.
ii) Descentralização e
corresponsabilidade na gestão dos
recursos
Uma vez admitido que os recursos não são infinitos, é preciso ter um
mecanismo de gestão que, na impossibilidade orçamentária de atender a
todas as demandas, permita estabelecer prioridades entre elas e arbitrar
entre aquelas que serão atendidas e as
que não serão. Obviamente, a administração central não tem competên-
iv) Maior apropriação e
conhecimento dos custos
Outro efeito importante decorrente da descentralização foi a divulgação efetiva dos custos envolvidos
na execução das nossas atividades.
Até então, as unidades não sabiam o
custo associado a uma viagem, fosse
ela para o Nordeste ou para o interior
de São Paulo, por exemplo. Raras as
exceções em que os usuários se preocupavam com o valor dos serviços.
Imprimiam-se folders e consertavam-se equipamentos, mas ocasionalmente havia a preocupação sobre
os custos envolvidos. Um melhor conhecimento sobre os valores dos serviços ajuda no planejamento mais
eficiente dos recursos.
DA METODOLOGIA DE
DISTRIBUIÇÃO
i) O valor gasto em 2013 corrigido
pelo IPCA
Uma vez definida a descentralização, a PROPLAD desenvolveu uma
série de estudos, tendo em vista uma
distribuição justa dos recursos. Experimentou-se, num dado momento, aplicar a resolução 04/2010, que
regulamenta a distribuição da frota,
mas esta abordagem foi abandonada, dadas as distorções importantes
que a metodologia gerou quando se
compararam os dados históricos. Por
exemplo: uma unidade A que, em
2013, gastou R$ 1.500,00, se aplicadas as regras estabelecidas pela resolução, receberia R$ 14.619,00, um
valor seguramente muito acima das
suas necessidades; por outro lado,
uma unidade B que, em 2013, gastou
R$ 98.000,00 receberia tão somente
R$ 42.822,00.
Diante deste fato, optou-se por
distribuir, em 2014, o valor gasto em
2013 corrigido pelo Índice Nacional
de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA). Assim, no caso da frota, por
exemplo, que dos valores distribuídos é o mais sensível, tomou-se como
referência o que a unidade gastou em
2013, corrigiu-se este número pelo
IPCA e o resultado foi o valor dado à
unidade em 2014. Dessa forma, procurou-se garantir que as unidades
utilizem os veículos em 2014 num
patamar aproximado ao utilizado
em 2013. Esses recursos, no entanto,
não puderam ser, neste momento, integralmente distribuídos. Contudo,
eles também não serão totalmente
consumidos neste momento.
ii) Do contingenciamento que as
IFES estão sujeitas no momento
Neste momento (14/05) o orçamento da UFU, como das demais
Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), está contingenciado.
Temos liberado apenas 50% do nosso
custeio e 30% dos nossos recursos em
investimento. Isso significa que não
temos autorização da Secretaria do
Tesouro Nacional para empenhar integralmente o nosso orçamento que
consta da Lei Orçamentária Anual
(LOA). O governo está, no momento,
com uma política de liberação gradual do orçamento, em torno de 5% ao
mês. É por isso que a administração
central não
pode liberar integralmente para
as unidades, neste momento, o que
elas terão por direito a receber. Temos a expectativa de que o governo
libere integralmente o nosso orçamento. Mas é preciso precaver e considerar, por exemplo, a hipótese de
essa liberação acontecer bem no final
do exercício, o que dificultaria o desenvolvimento pleno de algumas das
nossas atividades. Esse cenário não é
de todo improvável, à luz do que observamos ao final do ano passado,
quando tivemos alguma retenção orçamentária (emendas parlamentares
não liberadas). De qualquer forma,
a administração central deverá estar
atenta a esta questão e ir liberando os
recursos para as unidades acadêmicas e administrativas na medida em
que o Ministério da Educação (MEC)
for descontingenciando o orçamento
da universidade. Sugerimos às unidades que, se necessário, façam o seu
planejamento em torno do valor integral previsto na matriz distribuída
e que, se possível, distribuam as despesas de maneira uniforme ao longo
do ano.
DOS DESAFIOS A SEREM
ENFRENTADOS
No enfrentamento deste problema – a melhor racionalização na utilização dos recursos distribuídos –,
deparamo-nos com inúmeros desafios. Mas, a cada situação complexa
a ser vencida, convencíamo-nos cada
vez mais da necessidade, urgência e
importância em se encontrar soluções. No que toca à administração
central, tornam-se evidentes alguns
pontos que estão sendo e/ou serão
melhorados a partir desta iniciativa.
Destacamos alguns:
toria de Administração de Materiais
(DIRAM), estão envolvidos neste
processo.
i) A Divisão de Transportes (DITRA) terá que aprimorar os seus
mecanismos de acompanhamento
e controle da frota e os usuários, de
maneira geral, deverão se adequar
às novas regras. Os usuários da frota ficarão mais atentos e cuidadosos
no preenchimento dos seus mapas de
viagens. Não será permitido deixar
mapas de viagem em branco. Todo
quilômetro rodado será debitado dos
recursos do solicitante. Os mapas deverão ser entregues à DITRA dentro
de cinco dias após a viagem, sob pena
de se inviabilizarem quaisquer novos
pedidos de suas unidades acadêmicas ou administrativas;
vi) Precisamos apropriar, de maneira mais precisa, os diferentes custos envolvidos nos serviços. Qual é,
de fato, o custo do quilômetro rodado,
considerando as diversas situações:
com veículo terceirizado, com veículo
da UFU, com motorista, sem motorista, etc.? Quanto custa a impressão de
um folder na nossa gráfica e na empresa terceirizada? Como ficam os
contratos de manutenção preventiva? São inúmeras as questões a serem
vencidas, mas a responsabilidade que
temos como gestores dos recursos públicos nos impõe o imperativo de enfrentar os desafios colocados.
ii) A Diretoria de Compras e Licitações (DIRCL) e a Diretoria de
Logística (DIRLO) deverão buscar
a celebração de contratos cada vez
mais vantajosos e adequados às necessidades da instituição. Já estamos
revendo os contratos da frota.
iii) A Divisão de Gráfica (DIGRA)
e Divisão de Manutenção em Equipamentos (DIMAN) terão clientes
mais exigentes e zelosos para com os
serviços prestados de agora em diante. Os valores cobrados serão sempre
questionados e os usuários deverão
ser mais cuidadosos no dimensionamento dos seus serviços;
iv) O Centro de Tecnologia da
Informação (CTI) tem aprimorado
as suas ferramentas de informática.
Inúmeros módulos do Sistema de
Gestão (SG), a partir da decisão pela
descentralização dos recursos, já foram desenvolvidos e já estão disponibilizados para a comunidade e alguns
aprimoramentos estão em curso. Em
breve, as solicitações de compras serão todas via web, no SG.
v) A PROPLAD deverá aprimorar os seus mecanismos de controle
e de apoio na execução deste projeto.
Todos, do planejamento à contabilidade, passando pela compra e Dire-
Para as unidades acadêmicas e
administrativas, amplia-se a responsabilidade na gestão do seu orçamento. O volume de recursos aumentou
significativamente; em algumas situações, multiplicou por três. Mas esse
aumento não acontece impunemente. As unidades têm, agora, que arbitrar, gerir e definir prioridades sobre
assuntos ou coisas que antes não tinham. Novos conflitos, novos desafios, novos tensionamentos deverão
ser (e já estão sendo!) administrados.
Por outro lado, a administração
central deve estar atenta ao sistema
e, de forma eficiente e, sobretudo,
transparente, fazer as correções devidas. Tem-se que observar com atenção as especificidades da comunidade
sem, contudo, transformar a gestão
de recursos em demandas de balcão.
É preciso rapidamente construir um
melhor modelo de distribuição destes
e de outros recursos orçamentários,
um modelo que não se vincule estritamente dos valores históricos, que
premie e não venha a punir as unidades que forem eficientes e eficazes na
gestão dos recursos. Este talvez seja o
maior dos desafios no momento.
O fato é que saímos todos da nossa zona de conforto. É nossa chance de avançar e não temos dúvida
de que haveremos de dar um passo
adiante e construir, de forma coletiva, o nosso melhor caminho.
Amado: um homem
que faz jus
ao nome
Projeto de popularização da ciência
incentiva à amamentação
texto Frinéia Chaves
foto Milton Santos
texto Júnior Barbosa
Amamentar, quase sempre, é uma
das primeiras coisas que uma mãe faz
após o nascimento de seu filho, e é
justamente sobre esse ato que o Imunocast trata. O projeto é uma série de
programas em áudio (podcasts), que
têm como objetivo promover o aleitamento materno como a principal
forma de alimentação nos primeiros
anos de vida das crianças. A iniciativa, que existe desde 2011, já teve
mais de 80 episódios publicados em
seu blog e iniciou uma série de curtas em vídeo gravados em formato de
animação stop motion.
O Imunocast surgiu a partir do
desejo pessoal da coordenadora do
projeto, a professora Mônica Camargo Sopelete, do Instituto de Ciências
Biomédicas da UFU, de realizar algo
em prol da sociedade, por ter passado por problemas durante a amamentação de sua filha. “Eu tive uma
filha que teve dificuldades e precisava
de amamentação exclusiva. Até dois
anos e dez meses, eu a amamentei,
sem inclusive ela tomar água. Manter a amamentação por tanto tempo
não é fácil. Percebi o quanto as outras
mães tinham dúvidas, medos e dificuldades”, diz.
A produção dos programas consiste na divulgação de pesquisas
acadêmicas que tratam sobre a amamentação, traduzindo os textos científicos para uma linguagem mais
acessível. Os programas também dão
dicas sobre a melhor maneira de se
realizar a amamentação, evitando
problemas para a mãe e para o bebê,
e também falam sobre doenças e
complicações que podem ser prevenidas por meio da amamentação.
A importância social é o destaque quando se trata do Imunocast.
Dar visibilidade para as pesquisas
envolvendo a amamentação, divulgando-as para a sociedade, e utilizar
o projeto como ferramenta de ensino dentro da universidade são as
propostas levantadas pela professora Mônica. “Eu aproveitei estar como
professora e como pesquisadora para
solicitar bolsas e participar de projetos. Tentei utilizar essa minha capacidade de poder gerenciar um projeto
para algo que fosse socialmente importante para mim”, afirma.
Mônica também esclarece qual é
a importância do aleitamento para o
desenvolvimento do bebê e os efeitos que uma boa amamentação ou
a falta dela podem causar no futuro
de cada indivíduo: “em imunologia,
a gente fala do leite materno porque
deveria ser o primeiro alimento que
todos nós deveríamos consumir. Ele
ajuda a modular o sistema imune
para o resto de nossas vidas, inclusive para quando nós formos idosos,
prevenindo contra doenças que podemos vir a ter, como o câncer, doenças cardiorrespiratórias e alergias”,
esclarece.
Profissional do
Direito sabe lidar
com gente e bicho
Para iniciar o projeto, a professora Mônica procurou ajuda no curso
de Comunicação Social: habilitação em Jornalismo da UFU e conseguiu o apoio da professora Mirna
Tonus para realizar a parte técnica
que envolvia a produção dos podcasts. As professoras destacaram a
importância do intercâmbio entre
as diferentes áreas do conhecimento dentro da universidade. “A vida
é multidisciplinar, então, por que
a gente fica compartimentalizando? Cada área tem as suas características, mas essa interação eu acho
que é muito interessante, principalmente para a divulgação da ciência. A universidade produz ciência.
Se essa interação favorece a popularização e a divulgação cientifica,
é válida. Agora, eu acho que acontece pouco. Deu certo nesse caso
porque não ficou aquela visão instrumentalista do Jornalismo e da
Comunicação, foi uma integração
de conhecimentos, uma parceria”,
ressalta Mirna.
Camila Katayama Passini, aluna
do curso de Enfermagem da UFU e
bolsista do Imunocast, acredita que
essa atividade de extensão complementou os conhecimentos adquiridos em sala de aula. “Eu consegui
ter um contato muito maior com o
aleitamento materno. Eu tive informações [no projeto] que eu não tive
no curso: de pesquisas que eu não
tinha conhecimento, da importância do aleitamento, de [tratamento
de] doenças em que ele ajuda. Então, foi um complemento total”, diz.
Até hoje a iniciativa já teve cerca de
10 bolsistas e obteve financiamentos
da Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis (Proex) e da Pró-Reitoria de Graduação
(Prograd). Os podcasts e vídeos produzidos no Imunocast podem ser
acessados no blog do projeto: http://
imunocastufu.blogspot.com.br/.
Com 28 anos de serviços prestados para a UFU, Amado da Silva
Nunes Júnior apresenta, no currículo, uma invejável escalada de cargos
e feitos no Hospital Veterinário. Para
apresentar tudo isso num espaço tão
pequeno, optei por resumir e praticamente abrir mão das aspas. E que o
autor da obra me perdoe.
Na década de 80, Amado começou a carreira como auxiliar de escritório e foi promovido a secretário.
Depois, se tornou gerente administrativo e, agora, pelo segundo mandato consecutivo, é diretor. Na última
eleição, em dezembro de 2012, conquistou 99,9% dos votos válidos. E
mais: nos 42 hospitais veterinários
do país, Amado é o único talento
técnico administrativo a ocupar tal
posição.
Ele assumiu o cargo de direção
em meio a dívidas e denúncias pelo
não atendimento às exigências da Vigilância Sanitária, uso indevido de
animais em pesquisas e distorção nas
práticas acadêmicas.
Não por acaso, boa parte do avanço do Hospital Veterinário da UFU
coincide com sua gestão. O reconhecimento do Ministério da Educação
(MEC), a inserção do órgão na matriz
orçamentária da União e o Programa
de Residência Médica encabeçam a
lista. A prestação de serviços saltou
de 15 mil, em 2006, para cerca de 60
mil, no ano passado, considerando o
trabalho social, feito gratuitamente.
Em termos de qualidade, basta dizer que a unidade é o maior e mais
completo centro de referência em
serviços médicos-veterinários para
as regiões do Triângulo Mineiro e
Alto Paranaíba.
Como o mandato só se encerra
em 2017, até lá, são muitos desafios:
atendimento 24 horas, todos os dias,
com plantões nos fins de semana;
informatização do sistema e a nova
planta do Hospital para o Campus
Glória.
Um profissional que faz jus ao
próprio nome. Na avaliação da equipe com que trabalha, Amado é um
líder que pensa coletivamente, agrega e valoriza os recursos humanos.
Bacharel em Direito, com especialização em Gestão de Pessoas, este
homem destaca no currículo: “casado com Maria Amélia Prado Nunes”.
Quero crer, diante do exposto, ser
esta, uma mulher de sorte grande.
EDUFU
GENTE DA GENTE
Primeiro
alimento
FOTO: PIXABAY
Jornal da UFU 15
IMUNOLOGIA
14 Jornal da UFU
AVALIAÇÃO DAS NEOFORMAÇÕES PSICOLÓGICAS
DA IDADE PRÉ-ESCOLAR
Luis Quintanar Rojas / Yulia Solovieva
(Tradução de Caio Morais e Jamile Chastinet)
Tratar as dificuldades de desenvolvimento e
aprendizagem na idade escolar de modo pedagógico científico, como propõe este livro,
é em si um salto de qualidade significativo
em relação às tristes formas de medicalização da infância que vêm, infelizmente,
avançando em nossa realidade – envolvendo tanto as crianças que têm problemas de
adaptação à escola quanto as que apresentam dificuldades de aprendizagem. De um
modo geral, as crianças que se beneficiam
da avaliação neuropsicológica são aquelas
que apresentam dificuldades em seu desenvolvimento e na aprendizagem escolar.
Portanto, este livro interessa a todos os profissionais que atuam com Educação Infantil
e é dirigido para fundamentar a educação
de qualidade de todas as crianças de 0 a 6
anos.
DISCUSSÕES TUSCULANAS
Marcos Túlio Cícero (Tradução de Bruno Fregni Basseto)
Quarto volume da Coleção de Estudo
Acadêmico, em edição bilíngue (Latim/
Português), este livro não se debruça sobre
questões metafísicas, mas aborda temas
que inquietam qualquer vivente, perplexo
ante problemas inevitáveis e sem soluções
visíveis: a morte, a dor física, o sofrimento
moral, a busca de felicidade. A obra filosófica foi escrita em meados de 45 a.C., sob a
forma de diálogos ou debates. Para Cícero,
todo o saber sistematizado nas várias áreas
só terá sentido se vier apoiado pelo estudo
da Filosofia e por sua finalidade, que é a
busca da Sabedoria.
PUBLICAÇÃO
16 Jornal da UFU
Por dentro da Enciclopédia do
Rádio Esportivo com a UFU
Amanda Pereira,
Cíntia Sousa, Suzana
Arantes, Patrícia Alves
e professora Mirna
Tonus escreveram sobre
Luiz Tomé, Luiz Lara e
Wander Tomaz
texto José Amaral Neto
fotos Milton Santos
Professora
Sandra
Garcia, do
curso de
Jornalismo
da UFU
A voz esportiva do rádio mineiro
tem seu registro eterno por meio da
iniciativa de se biografar 382 radialistas que fizeram e fazem dessa história. Assim nasceu a Enciclopédia
do Rádio Esportivo Mineiro, trabalho que compõe o projeto de pesquisa das jornalistas Nair Prata
(Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP) e Maria Cláudia Santos
(Rádio Itatiaia), com seus 101 autores participantes, entre professores,
pesquisadores, profissionais de mercado e estudantes de graduação e
pós-graduação.
O chargista Son Salvador é o autor
da capa e os prefácios foram escritos
pelo presidente da Associação Mineira
de Cronistas Esportivos (AMCE), Luiz
Carlos Gomes, e pelo vice-presidente
da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) e
diretor-presidente da Rede Itatiaia de
Rádio, Emanuel Carneiro, sob a bandeira da Editora Insular.
Em várias entrevistas, a professora Nair Prata tem explicado que
foram necessários três anos de pesquisa para fazer deste trabalho uma
realidade. Resultou desse esforço um
inventário biográfico dos principais
profissionais com atuação na editoria
de esportes do rádio em Minas Gerais. Ela observa que “o propósito da
pesquisa foi contar a história do rádio
esportivo mineiro – ou pelo menos
parte dela – por meio da trajetória
dos profissionais que a construíram”.
O curso de Comunicação Social:
habilitação em Jornalismo da UFU
tem presença importante na Enciclopédia do Rádio Esportivo Mineiro. Com a orientação das professoras
Mirna Tonus e Sandra Garcia, os alunos Cíntia Sousa, Lucas Ferreira Martins, Mariana Goulart Hueb, Renato
Henriques de Faria, Patricia Alves,
Caio Nunes, Suzana Arantes, Amanda
Pereira e Paula Arantes trabalharam
com a região do Triângulo Mineiro.
Os estudantes deram a sua contribuição na concepção das biografias
de Antônio Guilherme da Cunha, Jonas Conti, Jorge Eustáquio Sérvulo,
José Antônio Luiz Filho, José Gonçalves Moreira (Jotinha), Julio César de
Oliveira, Rogério Freitas Muniz, Luiz
Antônio Costa e ainda três radialistas de Uberlândia: Luiz Alberto Tomé
(Rádio Universitária), Luiz Humberto
Lara e Wander Tomaz.
Segundo as idealizadoras, trata-se
de uma “obra aberta e o livro é, ainda,
uma lista incompleta”. Há muita história para ser complementada e outras
ainda a serem contadas, mas elas consideram um marco inicial de relevância para a literatura e para a história
do rádio.

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