UMA ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA TURBULÊNCIA E
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UMA ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA TURBULÊNCIA E
UMA ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA TURBULÊNCIA E DA TEMPERATURA SOBRE TERRENO COMPLEXO Dionnathan W. B. de Oliveira(1), Luiz E. Medeiros(2) (1) (2) Estudante bolsista do IC PBIP; Universidade Federal do Pampa; [email protected] Professor-Orientador; Universidade Federal do Pampa. RESUMO: O trabalho apresenta um estudo sobre a distribuição espacial de turbulência e do fenômeno de intermitência da turbulência. O método consiste em uma análise temporal da variação da temperatura e do vento próximo à superfície, coletados em seis pontos diferentes em uma área de bioma tipo pampa com terreno complexo. Os resultados mostram que mesmo em uma região relativamente pequena (800m x 800m) é possível observar variações de temperatura de ate 5 graus Celsius. Observou-se também que a turbulência pode ocorrer de forma localizada tanto no espaço, ocupando apenas algumas partes da região de estudo, quanto no tempo durante a ocorrência de episódios intermitentes de turbulência. As diferenças espaciais de temperatura tendem a diminuir durante a ocorrência de eventos intermitentes de turbulência. A turbulência causa mistura, o que acarreta transferências de calor sensível entre as massas de ar reduzindo assim, a heterogeneidade espacial de temperatura. Nesse contexto, os resultados apresentados aqui, mostram que melhorias nas parametrizações dos fluxos turbulentos de superfícies empregadas nos modelos numéricos de previsão do tempo, só acontecerão após um claro entendimento do fenômeno de intermitência da turbulência e da influência da superfície na distribuição espacial de turbulência. Palavras-Chave: turbulência, temperatura, heterogeneidade espacial, INTRODUÇÃO A camada limite atmosférica é tradicionalmente dividida em camada convectiva e camada estável. A convectiva geralmente ocorre durante o dia e apresenta turbulência intensa devido ao processo de convecção. A convecção está associada ao fato de que o ar próximo à superfície apresenta empuxo positivo, pois nessas condições, a superfície da terra está mais quente do que o ar. Durante essas condições, qualquer contraste espacial de temperatura e de concentração de escalares (H2O, CO2, O3) próximos à superfície são rapidamente eliminados devido a mistura intensa causada pela turbulência de grande escala. A camada estável ocorre durante a noite e apresenta turbulência menos intensa e de menor escala. Isso se deve ao fato de que sob condições estáveis o ar próximo à superfície apresenta empuxo negativo, ou seja, qualquer movimento vertical tende a ser eliminado. Com isso, o forçante térmico que era uma fonte geradora de turbulência, passa a ser um sumidouro de turbulência durante a noite, restando assim apenas o cisalhamento do vento como fonte geradora de turbulência. O fato de que a turbulência é pouco intensa e de escala reduzida dificulta o entendimento das trocas (na forma de fluxos turbulentos) de calor e escalares entre a superfície e atmosfera. (MEDEIROS, FITZJARRLD, 2015) sugerem que os processos de mistura turbulenta sob condições estáveis encontram-se defasados em relação aos que acontecem sob condições instáveis ou equivalentemente, condições convectivas. Sob condições muito estáveis, que acontecem durante noites de céu claro e vento fraco, a turbulência pode acontecer de forma localizada e intermitente, ou seja, não é horizontalmente uniforme e não acontece de forma regular no tempo. (ACEVEDO, FITZJARRALD, 2002) mostram que a turbulência intermitente pode afetar bruscamente a temperatura e a concentração de escalares próximo à superfície da terra. A maior parte das trocas de calor e escalares entre a superfície e a atmosfera acontece durante a ocorrência de eventos intermitentes. O entendimento de tais eventos consiste em uma etapa fundamental na melhoria das parametrizações dos fluxos turbulentos em modelos numéricos de previsão do tempo. O objetivo principal do trabalho é entender a distribuição espacial de turbulência e o fenômeno de intermitência. METODOLOGIA Os dados utilizados no estudo são provenientes de um experimento que está sendo realizado em uma área de bioma tipo Pampa pertencente à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O experimento consiste em uma torre com 30m de altura equipada com dois sensores sônicos anemômetros tridimensionais para medidas de turbulência de alta freqüência (10hz) à 3m e 30m de altura. Seis estações meteorológicas convencionais espalhadas próximo à torre (ver Figura 1) também fazendo parte do experimento. Nas estações, alem dos dados de vento, são coletados dados de temperatura, pressão e umidade relativa. A freqüência de amostragem para estas plataformas de coleta de dados é de 0.008 Hz (uma amostra a cada dois minutos). Inicialmente, entre novembro de 2013 e março de 2015, três das seis estações meteorológicas estavam dispostas na forma de um “X” entorno da torre sendo que a distância até a mesma era de 100m. Após março de 2015, uma das três estações (MO500 – Ver Figura 1) que não Anais do VII Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade Federal do Pampa faziam parte do X foi remanejada para a extremidade do “X” que estava faltando. Nesta mesma época foram instalados um sensor sônico anemômetro tridimensional, um sensor de temperatura e um sensor de umidade em cada estação do “X”. Os sensores anemômetros adicionais operaram a 10 Hz, enquanto os de temperatura e umidade a 0.2 Hz. Os dados analisados aqui correspondem ao período entre novembro de 2013 a junho de 2015. Figura 1: Topografia da área de estudo. Os pontos marcados com a palavra “estação” são estações meteorológicas e os com a palavra “sonic” são estações meteorológicas com medidas de alta freqüência de turbulência. A palavra “torre” indica a posição da torre de 30m. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir da Figura 2 e da Figura 3 pode-se inferir que durante o intervalo registrado houve episódios de turbulência intermitente. Nota-se que na estação de cor azul, no ponto de 19h:14min, inicia um desses episódios. Durante a ocorrência do evento a temperatura da estação se eleva entorno de 2,5 graus Celsius se aproximando da temperatura da estação mais quente (preta). Nas estações verde e vermelho isso não é observado. O motivo dessa turbulência intermitente é desconhecido, mas há indícios de correlação entre freqüência de ocorrência de eventos intermitentes e características da topografia local. Observa-se entrono de 22h, que quando a turbulência aumenta simultânea nas estações vermelha, verde e azul a temperatura das mesmas se aproxima da temperatura da estação preta. Tal fato leva a uma diminuição das diferenças espaciais de temperatura. Isso acontece porque a turbulência tende a redistribuir calor sensível, diminuindo a heterogeneidade espacial. Noite 10–11/04/2015 Figura 2: Variação da temperatura de diferentes estações meteorológicas durante um intervalo de tempo. Noite 10–11/04/2015 Figura 3: Medidor de velocidade vertical do vento, cada cor representa uma estação meteorológica. CONCLUSÃO Durante a ocorrência de eventos de turbulência intermitente, as diferenças espaciais de temperatura diminuem. O motivo principal é que a turbulência tende a redistribuir calor sensível eliminando qualquer heterogeneidade espacial. Nesse contexto, a turbulência tem um papel fundamental, pois durante a ocorrência de evento de turbulência intermitente é observado uma redução nas diferenças de temperaturas entre estações. Sendo assim, melhorias nas parametrizações de superfícies nos modelos numéricos de previsão do tempo só serão desenvolvidas após um claro entendimento da influência da superfície na distribuição espacial de turbulência. REFERÊNCIAS ACEVEDO O. C. ; FITZJARRALD D. R. In the core of the night – Effects of Intermittent Mixing on a Horizontally Heterogeneous Surface. Journal of Applied Meteorology and Climatology, 106, 1-33, 2002. MEDEIROS L. E. ; FITZJARRALD D. R. Stable Boundary Layer in Complex Terrain. Part II: Geometrical and Sheltering Effects on Mixing. Journal of Applied Meteorology and Climatology, 54, 170-188, 2015. Anais do VII Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade Federal do Pampa