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Ano 3 | Edição 8 | Junho de 2008 | Versão STANDARD
Jornal do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA | www.metodistadosul.edu.br/universoipa
Asaph Borba
 inclusão na prática
Biblioteca central do IPA
completa segundo ano
Feu Antunes
Jornalismo resistente
Asaph Borba
Página 10
Material nem
tão desprezível
Hoje em dia, o lixo deixou de ser
um material desprezível e, aos po
cos, vem se transformando em um
produto rentável. As novas tecnologias permitem que ele se transforme em compostos orgânicos ou
seja reciclado.
geral
Página 4
Idéias que
voam longe
Nestes últimos 13 anos, a capital dos gaúchos conviveu com cerca de
70 jornais de bairro, mas também viu desaparecer 54 periódicos. Hoje
Porto Alegre apresenta apenas 13 jornais neste segmento. Jornalistas
analisam as dificuldades e explicam como alguns jornais conseguem driblar os problemas e sobreviver.
geral
Página 3
O pecado
mora ao lado
 mundo: jordânia
Um potencial
turístico a
ser explorado
Página 16
Inspirado num grito de revolta
punk nos anos 70, o “faça você
mesmo” cresce como forma de expressão e fuga da mesmice do mercado cultural. São jovens que buscam o novo sem esperar que isto
‘caia do céu’.
Página 6
economia
30 anos de Stock Car
Rodrigo Domingos
O centro de Porto Alegre é um
local de múltiplos ambientes e
muitos contrastes. Uma prova disto está na avenida Júlio de Castilhos, onde um cinema pornô está localizado ao lado de uma igreja evangélica.
Página 13
comportamento
A rota dos shows
internacionais
A oferta de shows internacionais
no Rio Grande do Sul tem crescido
significativamente nos últimos anos.
Isso é atribuído a vários fatores, dentre eles o surgimento de novos espaços, além da maior concorrência
entre as produtoras gaúchas.
variedades
Página 15
A Stock Car, principal categoria automobilística do Brasil, completa 30
anos de história e está mais forte do que nunca. Com duas modalidades de
acesso, a Stock Car Light e a Stock Car Júnior, conta com a presença de
pilotos de peso. Entre eles está o maior campeão, o experiente Ingo Hofmann, com 37 anos dedicados ao automobilismo.
esportes
Contra-capa
Opinião
junho de 2008 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA
editorial
Assim como todas as profissões, o jornalismo tem uma missão e,
portanto, deveres a cumprir. A primeira obrigação do jornalista é com
a verdade; a primeira lealdade é com os cidadãos e a sua essência é a
disciplina da verificação. A partir dessas considerações do jornalista da
Folha de São Paulo, Fernando Rodriguez, os 40 alunos da disciplina de
Projeto Experimental I, do primeiro semestre do curso de Jornalismo, foram desafiados a buscar novidades e, através de suas fontes, a imprimir
nestas páginas do Universo IPA, informações estruturadas sob a forma de
reportagem, incluindo, também, ensaios sobre o gênero opinativo.
Aqui está o produto final de um trabalho em equipe. Um processo exaustivo que ocorreu sem a perda do bom humor característico do
grupo, e sem ouvirmos um único aluno recusar-se a batalhar por fontes
importantes para a sua produção. Também não percebemos ninguém
sem a prontidão necessária para certificar dados, revisar declarações
ou reescrever parágrafos.
Como professores, sabemos que é difícil encontrar turmas com as
mesmas características e, por isso, esta ficará marcada, desde o primeiro
dia de aula, pelo entusiasmo, além da persistência e disposição para enfrentar desafios. E os resultados estão aí. A maioria mostrou, não apenas
a nós professores e ao grupo, mas a si próprios, que tem condições de
superar dificuldades e batalhar pela qualificação do seu trabalho.
Esperamos que cada um dos alunos, ao vivenciar a produção do Universo IPA, tenha percebido a responsabilidade de ser o porta-voz da sociedade, bem como a importância de conquistar os leitores sendo ético; fiel
às fontes e imparcial. É nossa expectativa, também, que esta experiência
tenha possibilitado a percepção de que o jornal é um produto de uma sala
de redação com sensibilidade jornalística e muita responsabilidade.
Então, depois de folhar estas páginas, que não deixam de compor um
“caixa de surpresas”, esperamos que todas as matérias possam trazer
novidades e despertar uma reflexão, mas, acima de tudo, a compreensão
de que se trata do primeiro jornal impresso de um grupo, vitorioso ao
inserir 100% das matérias propostas.
Boa leitura!
E que venha o próximo semestre!
Lisete Ghiggi e José Valentim Peixe
Circuito cultural
Manoel Canepa
O mês de julho dá início a
um período de grandes manifestações culturais na capital
gaúcha e começa contemplando aqueles que não conseguem viajar nas férias de
inverno. A programação intensa conta com eventos consagrados e consolida outros nacionais e internacionais.
A começar pelo Festival
de Inverno que, em 2008, chega na sua 3ª edição reunindo
programações de shows, cursos e cinema. Ainda nesta estação, ocorre um dos maiores
festivais de cinema do país, o
Festival de Gramado.
Para quem não consegue
dar uma fugida até a serra, opções de festivais de cinema não
faltam na capital. O Cine Esquema Novo, o Festival do Livre
Olhar (FLO) e o Festival Internacional de Cinema Fantástico
de Porto Alegre (Fantaspoa)
são apenas alguns exemplos.
Consolidando a programação da segunda metade do
ano está o Porto Alegre Em
Cena, festival de teatro que em
2008 completa 15 anos, com
a participação de atores e dramaturgos de diversas regiões
e nações. Outro evento é a
Bienal de Arte Contemporânea do Mercosul, importante
mostra de arte da América latina que ocorre em Porto Alegre a cada dois anos.
No final de outubro, em
plena primavera, teremos a
Feira do Livro, um dos mais
consagrados eventos culturais
da cidade. Além de ser a maior
feira do livro a céu aberto da
América Latina, acaba por
exercer o papel de aglutinador
cultural da cidade ao gerar diversos eventos relacionados.
Entre outras tantas programações que surgem constantemente, de julho ao final do ano,
Porto Alegre mostra que alguma coisa acontece entre São
Paulo e Buenos Aires.
O patrão voltou!
André Koehne/Wikimedia
Edimar Blazina
Sim. Ele voltou. Na verdade
ele nunca saiu. Silvio Santos
reestreou seu programa, que,
a­liás­­, leva seu nome, neste domingo. A fórmula é a mesma,
as brincadeiras e atrações são
muito parecidas com as de alguns anos, mas mesmo assim,
o “patrão” ainda fascina. Que
encanto tem esse homem que
não passa de um empresário
bem sucedido, vendedor de
carnês para um “Baú da Felicidade?”.
Lembro, quando tinha uns
sete ou oito anos, de ver minha
tia trocar o carnê, quitado, no
final do ano por mercadorias e
produtos na loja do Baú. “É
bom porque a gente não perde
dinheiro, se tu não fores sorteada, troca tudo por uma batedeira”, dizia ela. E, assim como
ela, milhares de pessoas, no
Brasil todo, confiavam e continuam confiando, nas presta-
ções de Silvio Santos, e ele vendendo cada vez mais. Sem falar na Tele Sena, um título de
capitalização que tem os números sorteados e divulgados
pelo SBT.
Que apelo é esse? De onde vem o sucesso de um excamelô que resolveu arriscar
ser apresentador de televisão? Talvez esse seja seu
grande diferencial. Silvio se
iguala ao seu público quando
assume sua origem, da mes-
O lixo que sustenta a cidade
Rafaela Haygertt
O lixo sempre foi considerado um problema grave. Talvez
porque a sociedade nunca tenha sabido realmente lidar com
os seus restos. Numa cidade
com as proporções de Porto
Alegre, reutilizar bem o lixo produzido pela população é algo
fundamental.
A coleta de óleo de fritura é
um exemplo de iniciativa que pode servir para que a população
tome consciência e ajude a proteger o meio ambiente. Infelizmente, a reciclagem do óleo de
cozinha ainda não foi abraçada
pela população que, muitas vezes, nem sabe da existência de
programas desse tipo.
Outro ponto positivo para a
capital é a criação da décima
quinta unidade de triagem. A
nova unidade de triagem foi
inaugurada no dia 30 de junho
e fica na rua Ramiro Barcelos.
Segundo informações do
DMLU, a unidade de triagem
beneficiará os antigos moradores da Vila dos Papeleiros, que
hoje estão no loteamento Santa Teresinha.
Embora se tenha muito para comemorar, também há muito que ser feito. O comércio ilegal do lixo na região metropolitana é apenas um exemplo dos
problemas que estão relacionados com a indústria do lixo.
Jogo político
Além do comércio ilegal de
lixo, um outro problema, bem
mais grave, é a condição de
trabalho dos recicladores. Esses profissionais muitas vezes
trabalham sem a proteção necessária e estão sujeitos a inúmeros riscos ao lidar com esse
material, que vai desde um corte simples até alguma contaminação.
No entanto, o mais grave,
em relação ao lixo, é a falta de
educação das pessoas. É comum se ver latinhas, papéis e
outros materiais jogados na rua,
mesmo que exista uma lata de
lixo bem pertinho da criatura.
A maioria dos moradores da
cidade não sabe ao certo o ho-
Reprodução/Correio do Povo
IPA - Instituto Porto Alegre da Igreja Metodista
conselho diretor: Presidente, Edson Santa Rita Rubim; Vice-Presidente,
Ricardo Hidetoshi Watanabe • secretária: Márcia Flori Maciel de Oliveira
Canan • conselheiros: Vilmar Pontes da Fonseca, Maria Flávia Kovalski e
Marcelo Montanha Haygertt.
reitora:
Adriana Menelli de Oliveira
Jornal elaborado por estudantes do
1º semestre do curso de Jornalismo IPA
coordenação do curso de jornalismo
Mariceia Benetti
professores(as)
Glória Cunha, José Antônio Meira da Rocha, José Valentin Peixe,
Lisete Ghiggi, Maria Cristina Vinas e Rogério Soares.
projeto experimental i e produção e planejamento editorial e gráfico i
editores-chefes: L
isete Ghiggi, José Valentin Peixe
e José Antônio Meira da Rocha
ajor - agência experimental de jornalismo
arte-final: Carlos Tiburski • distribuição: Manoel Canepa
revisão: Lisete Ghiggi e Glória Cunha • endereço ajor: Rua Joaquim Pedro
Salgado, 80, Rio Branco - Porto Alegre/RS - CEP: 90420-060
contato: 51 3316.1269 e [email protected]
impressão: Zero Hora (1.000 exemplares)
ma forma, quando tráz a esses
o sonho de ganhar, apenas
rodando um pião, uma casa
própria. Ou quem sabe, um
baú de felicidades, tenha o
que tiver dentro.
Silvio ganha vendendo sonhos, não engana, é um processo muito claro: compre o
carnê do baú, venha para a
televisão e ganhe prêmios. Se
você não for sorteado, troque
por produtos a seu gosto. Se
mesmo assim você não ganhar
nada, ainda pode ter a chance
de concorrer a uma casa, apenas pagando as prestações do
carnê. Ou seja, qual pessoa
cansada de ser enganada nesse país, não compraria um sonho desses?
Por motivos como esses,
além de muitos outros, que eu
admiro o Silvio e o considero
o rei da televisão. Contrariando todas as expectativas, um
sujeito muito sem graça, com
frases repetidas há pelo menos 40 anos da mesma maneira não cansa. Diferentemente de seu amigo e colega
de domingo, que há pouco
comemorou mil programas.
Este sim já cansou, desde que
c o m e m o ro u o c e n t é s i m o
show.
Alexandra Giacomuzzi
Maquiavel, filósofo, escritor
e hábil político em sua obra mais
significativa intitulada O Príncipe
diz que deseja ir à “verdade efetiva das coisas”, ao invés de se
perder “na imaginação delas”.
O Rio Grande do Sul passa por
uma turbulência ética sem precedentes na gestão política do
Estado. Os cidadãos gaúchos
já não estão assustados, mas
indignados com a inacreditável
sucessão de escândalos e denúncias a que assistem nos últimos meses.
Em novembro de 2007, a
Polícia Federal desmontou um
esquema que desviou R$ 44
milhões do Detran gaúcho. No
início de junho, o vice-governa-
dor divulgou uma gravação em
que um auxiliar de Yeda, o exchefe da Casa Civil Cézar Busatto (PPS), admitia o uso de
estatais para financiar campanhas eleitorais.
O exercício do “bom governo” não é tarefa fácil e exige
aquisição de qualidades políticas. O governante não detém
o poder absoluto, pois gerencia
rário de coleta, nem se preocupa em separar o lixo orgânico
do reciclável. Mas isso não é
totalmente culpa dos moradores, já que a prefeitura, muitas
vezes, não investe em campanhas de conscientização, e
muito menos em projetos educativos que tenham em vista a
educação ambiental.
É importante que as pessoas
se conscientizem de que o lixo
pode ser sim, muito lucrativo e
principalmente gerador de empregos. Mas para que isso aconteça é preciso fazer tudo certinho. E é só com educação ambiental e uma prefeitura disposta a servir o povo que a nossa
realidade poderá melhorar.
conflitos de interesses opostos.
A palavra corrupção que deriva
do latim corruptus, numa primeira acepção, significa quebrado em pedaços, e numa
segunda, apodrecido. Sabe-se
que há corrupção presente em
todas as sociedades, porém o
consentimento dá continuidade
ao ciclo de desigualdade e assim, fortalece a dúvida.
Portanto, torna-se indispensável a apuração de toda e qualquer suspeita de corrupção,
pois a transparência da verdade
deve estar condicionada a uma
postura baseada em princípios
éticos. O Estado do Rio Grande
do Sul, diante de graves denúncias de corrupção, não aceitará um governo indiferente aos
fatos, pois o povo gaúcho exige
muito mais do que a verdade,
exige mudanças. E já se percebe isto ao se escutar o clamor
da população. Sinal de que algo está mudando e ainda deve
mudar muito mais.
Muitos acham que o governo chegou ao fim, eu não.
Acredito na força política da
“Mulher”, a primeira de muitas
outras que virão para fazer a
diferença, a fim de que novas
regras e valores se imponham
e vingue, então, um novo Estado.
Geral
Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA junho de 2008
 Cidades
Jornais de bairro: jornalismo resistente
http://biadornelles.blogspot.com
A história, contada pela
pesquisadora e jornalista
Beatriz Dornelles, revela
que, de 1995 até hoje,
Porto Alegre já conheceu
cerca de 70 jornais de
bairro, sendo que
atualmente circulam apenas
13 com periodicidade fixa.
Jornalistas gaúchos
analisam as dificuldades
enfrentadas neste
segmento e explicam
como alguns jornais
tradicionais conseguem
se manter no mercado.
D
Ana Paula Maciel, Bruna
Garbin e Helena Flores
De acordo com o jornalista
e pesquisador Gustavo Cruz, a
história dos jornais de bairro, em
Porto Alegre, começa em 1954,
com o lançamento do SABIdo,
jornal de bairro da zona sul de
Porto Alegre, pertencente à Sociedade Amigos dos Balneários
de Ipanema (SABI), fundada em
9 de fevereiro de 1953.
Para a pesquisadora Beatriz
Dornelles, “o jornalismo de bairro
precisa defender todos os interesses que têm o consenso da
comunidade local, mesmo tendo
posição divergente. E a comunidade espera que o jornalista, a
qualquer momento, prestigie os
que vivem no anonimato”. E complementa: “Essa é a essência da
existência do jornal de bairro”.
Jornais de bairro abrem e fecham com grande freqüência.
Mas,“todos fecham por questões econômicas”. Esta é a conclusão da jornalista que há 13
Beatriz Dornelles, jornalista e pesquisadora
anos pesquisa sobre este segmento da imprensa. De acordo
com os seus estudos, o período
de maior destaque foi de 1995
a 2000, quando circularam paralelamente cerca de 45 jornais,
abrangendo mais de 50 bairros.
Um contraste com os números
atuais que apontam apenas 13
jornais de bairro na capital, com
periodicidade fixa.
Nos últimos 13 anos desapareceram na capital 54 jornais
de bairro, e as causas, segundo
Dornelles, são diversas, porém,
a principal é a questão financeira. “Esses jornais não sobrevivem com os pequenos anunciantes, pois são flutuantes e,
além disso, não contam com
nenhum tipo de ajuda financeira
para circularem”. Também aponta a falta de pessoas gabaritadas
no mercado para a venda de
anúncios neste tipo de periódico, bem como o desinteresse
de órgãos públicos e agências
de publicidade de Porto Alegre
que “não investem e nem valorizam estes espaços”. Outro
problema dos jornais de bairro
é que a maioria, por falta de conhecimento, não é registrada no
Cartório de Registros Especiais
como determina a lei.
Com referência aos cadernos de bairro editados pelo jornal Zero Hora, do grupo RBS,
a pesquisadora destaca que
“não são jornais de bairro”, pois
não atendem às características
que definem o jornalismo de
bairro que é comunitário. Também ressalta que “representam
os mesmos interesses da grande imprensa, que é dar lucro”.
“Já”, o primeiro jornal
de bairro, em circulação
há mais de 20 anos
O “Já“ Bom Fim/Moinhos é
o mais antigo jornal de bairro,
registrado, de Porto Alegre.
Pertence a “Já” Editores e nasceu há 20 anos, no período de
abertura democrática, pós-golpe militar. Para a jornalista que
integra a equipe de redatores,
Naira Hofmeister, “o jornalismo
de bairro está em expansão, e
a prova disso é que nos últimos
anos temos enfrentado uma
grande concorrência com novos periódicos de bairro”. Para
ela é saudável que existam novos jornais, pois assim, o segmento se fortalece.
“Hoje seguimos atuando em
um nicho ainda pouco explorado pela mídia tradicional, que
é a cidade do ponto de vista do
cidadão, o oposto do que geralmente retratam os jornais diários, que é a informação generalista”, explica Hofmeister.
Em março deste ano o jornal
passou a ter edições quinzenais
e se mantém basicamente de
anúncios do varejo. A distribuição dos jornais se dá gratuitamente em dez bairros: Bom
Fim, Moinhos de Vento, Floresta, Independência farroupilha,
Rio Branco, Santana, Santa Cecília, Cidade Baixa e Centro.
Todos os pontos comerciais recebem exemplares.
Com o tempo, as grandes
empresas começaram a perceber a importância do Jornal e
Ana Paula Maciel
Pontos de distribuição encontrados em shoppings e na rua
passaram a anunciar em suas
páginas. Para Naira, o jornal de
bairro exige uma habilidade especial no tratamento com os
anunciantes, pois eles são também os leitores das notícias e,
muitas vezes as fontes das matérias. “É um desafio diário, e a
venda dos anúncios é feita de
porta em porta. O anunciante só
compra um espaço porque acredita naquele veículo”, explica.
Para a jornalista do “Já”, a
maior dificuldade dos jornais de
bairro está na falta de recursos
financeiros para montar uma
equipe que possa melhorar o
jornal em sua forma de apresentação e conteúdo. De um
modo geral, os leitores não co-
bram isso dos jornalistas, pois
se acostumaram a ter como referencial os jornais Zero Hora e
Correio do Povo e nenhum deles concede espaço à editoria
de Bairro ou Cidade.
A equipe do jornal “Já” é dirigida pelos jornalistas, kenny
Braga, com atuação também
em rádio, e Elmar Bones, que
já passou por veículos como a
Folha da Manhã, Gazeta Mercantil e Veja. Na equipe de redatores, constituída por sete
jornalistas, além de uma publicitária, está o repórter Guilherme Kolling, vencedor de vários
prêmios de jornalismo, da Associação Riograndense de Imprensa (ARI).
Cadernos da Zero Hora
Em retomada ao projeto de
jornais de bairro, a Zero Hora
decidiu abrir os cadernos que
cobrem um bairro chave e o seu
entorno, após uma tentativa
frustrada no final dos anos 80,
quando os jornais de bairro foram fechados por não dar lucro
para empresa.
Dentro dessa nova concepção, entraram muitas novidades que, aos poucos,
estão sendo adotadas. E hoje, segundo a editora dos cadernos de bairro da Zero Ho-
Asaph Borba
ra, Clarissa Ciarelli, ocorre
uma ativa participação e valorização do leitor. Os cadernos tornam-se praticamente
um guia para as pessoas
dentro do seu bairro. “Trabalhamos com uma equipe muito enxuta, composta por uma
editora, uma diagramadora e
um repórter; ele mesmo fotografa e finaliza a página”,
afirma ela.
Para Ciarelli, “os cadernos
funcionam como um laboratório de tendências do jornalismo
que se observa em pesquisas
do mundo todo”. É importante
ressaltar a questão do localismo, por isso a nova opção para retomada do projeto foi um
outro formato que hoje é uma
tendência mundial.
A distribuição dos cadernos é feita de forma estratégica. Quem assina ou compra a Zero Hora recebe o caderno incluído, de acordo
com o bairro em que mora
ou local em que adquire o impresso.
Jornalismo produzido
a partir da visão dos
moradores de rua
O jornal Boca de Rua já tem
quase oito anos e conta, até
hoje, com a presença de uma
das fundadoras, a jornalista
Rosina Duarte. Juntamente
com Natália Alles e Nanda Isele Gallas, também profissionais
na área de impressos, oferecem apoio técnico a um grupo,
constituído de 30 integrantes.
Trata-se de um projeto da
ONG, Agência para Livre Informação, Cidadania e Educação (ALICE), cujo objetivo é
produzir um jornal que trate da
realidade dos moradores de
rua de Porto Alegre, visto pela ótica dos próprios sujeitos
desta situação. Então, os integrantes do jornal são os próprios moradores de rua.
É um jornal trimestral. E toda vez que uma nova edição
começa a ser preparada, o
processo de produção se repete: discussão de pauta, divisão em grupos, organização
do texto, saídas para entrevistas, fotos e escrita final.
De acordo com Nanda Isele Gallas, a idéia é justamente
questionar os limites formais
entre comunidade e produtores de informação. Quanto às
pautas, Gallas ressalta: “A recorrência das denúncias como pautas no jornal pode ser
“Só se deve comprar
o jornal de quem
está com o crachá
do Boca de Rua”.
considerada, uma conseqüência da falta de espaço nos
veículos tradicionais. A urgência de gritar ao mundo o que
se passa com os moradores
de rua, em Porto Alegre, é tamanha, e tão acumulada, que
a maior parte das pautas do
jornal circunda a realidade dos
integrantes do jornal”.
Os exemplares são vendidos pelos integrantes do jornal
“Boca de Rua”, conforme uma
regra definida pelo próprio grupo: só quem faz o jornal, vende o jornal. Assim, no final de
cada reunião semanal, em que
todos participam da produção
do conteúdo, cada um dos integrantes recebe o seu lote.
Os exemplares são vendidos
ao valor unitário de R$ 1,00 e
revertem em renda para os integrantes.
Ao contrário de muitos jornais de bairro, o “Boca de Rua”,
não tem interesse empresarial.
“O crescimento é pensado em
outros termos que não o aumento do lucro ou da marca
ou da empresa”, destaca
Gallas. Pensar em crescimento significa pensar coletivamente. E o importante, frisa a
jornalista, “Só se deve comprar
o jornal de quem está com o
crachá do Boca de Rua”.
Geral
junho de 2008 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA
 economia informal
Lixo, um material nem tão desprezível
Divulgação
Hoje em dia, o lixo deixou
de ser um material
desprezível e, aos poucos,
vem se transformando
em um produto rentável.
As novas tecnologias
permitem que ele se
transforme em compostos
orgânicos ou, então, seja
reciclado. Mas a cobiça
pelo lixo tem sido alvo
de muitos atravessadores
que minam os lucros
dos catadores de lixo
da capital e até desviam
parte dele para outros
municípios.
Guilherme Neves, Michael
Borges e Rafaela Haygertt
O
O lixo tem recebido uma
atenção especial dos últimos
prefeitos de Porto Alegre, mas
há um problema que parece
não ter uma solução a curto
prazo definitiva. Trata-se da falta de educação ambiental dos
moradores e de quem circula
nas ruas de Porto Alegre. Apesar de não ser um problema
exclusivo da nossa capital, o
assessor técnico do Departamento Municipal de Limpeza
Urbana (DMLU), Carlos Vicente
Gonçalves, concorda que o lixo
depositado fora dos locais e
dos horários de coleta é um
Menino seleciona lixo em galpão de triagem
empecilho para manter a cidade limpa. O material fica à espera do recolhimento e torna-se
um foco de reprodução de microorganismos causadores de
doenças, além de exalar um
mau odor.
De acordo com o assessor
técnico do DMLU, Porto Alegre
produz cerca de 950 toneladas
de lixo doméstico ao dia.Também informa que há três tipos
de lixo: o produzido nas residências e que não pode ser reciclado; o público, que surge através
da limpeza urbana; e o seletivo,
como é chamado o lixo que pode ser reaproveitado”.
O LIXO NÃO FICA AQUI
O lixo que sai das nossas
casas vai para uma área chamada Estação de Transbordo,
situada no bairro Partenon, e
dali segue para Minas do Leão,
uma antiga reserva de carvão
que fica a 130 km da cidade.
Segundo Gonçalves, “não existem lixões em Porto Alegre, porque essa é uma prática muito
nociva ao meio ambiente”. E
Educação é possível
A realidade das
associações da reciclagem
na região metropolitana
pode ser complicada,
mas há muita gente de
boa vontade querendo
mudá-la. Exemplo disto
é Joaquim Reis, 34 anos,
viamonense, presidente
da Associação de
Recicladores de
Viamão (ARV).
Caroline Garcia
NÃO HÁ COMO
SOBREVIVER
Fritando o
desperdício
O recolhimento do óleo de
fritura, uma das mais importantes iniciativas da prefeitura,
completou um ano no último
mês de junho.
Mariza Reis, engenheira química do DMLU, explica que
óleo de fritura quando descartado inadequadamente pode
Mercado Negro
A Prefeitura Municipal
de Viamão foi ouvida
pelo Universo IPA sobre
o lixo orgânico que
chega ao município
vindo da capital.
Caroline Garcia
Sala de estar e flôr de pet, criatividade pura
por estar desempregado”, define o presidente da ARV. Um
catador bem assessorado ganha de R$ 15 a R$ 25 por dia
de trabalho, ainda assim, ressalta Reis, os comerciantes fazem questão de não colocar o
lixo na frente de seus estabelecimentos na hora em que ele
passa. Já houve casos em que
foram acusados de roubo em
algumas ruas. Por isso, o catador faz questão de ser conhecido, mas não adianta muito, afirma Joaquim, que defende a profissionalização do catador, que aliás, já foi aceita
federalmente. “É extremamente necessário trabalhar sua auto-estima”.
INCLUSÃO
De acordo com Reis, as
pessoas ainda têm dificuldade
de diferenciar um catador de
um papeleiro.
“Um papeleiro é aquele que
recolhe e carrega papéis e, geralmente, é morador de rua.
Catador é aquela pessoa que
muitas vezes tem uma profissão, mas não tem alternativa
uma unidade de triagem encarregada de fazer a compostagem do lixo orgânico”.
Caroline Garcia
Caroline Garcia
Entre os principais projetos
da entidade está uma análise
do gerenciamento de resíduos
sólidos no município: os números revelam a realidade dos catadores e recicladores. Metade
da entidade é de catadores e
a outra potencializa a inclusão
produtiva, aproximando o catador do gerenciador.
Através da ARV, foi criada a
Cooperativa de Catadores de
Viamão que inclui famílias inteiras no programa de geração de
renda, a partir de uma iniciativa
muito simples: organizam-se
como artesãos e, enquanto o
pai vai para a rua catar o lixo,
a mãe e os filhos aprendem a
fazer trabalhos manuais com o
que é trazido ao galpão.
explica que “já foram substituídos por aterros sanitários, onde algumas empresas ficam
encarregadas da impermeabilização do solo”.
Porto Alegre produz cerca
de 250 toneladas de lixo seletivo por dia, o qual é recolhido
pelo DMLU, mas, em breve,
conta o assessor, será terceirizada e passará a ser recolhido
mais vezes por semana. Segundo ele, “o material é dividido em 13 unidades de triagem
existentes na capital, e Porto
Alegre ainda conta com mais
obstruir canalizações de esgoto e provocar inundações, além
de poluir os mananciais, sobrecarregando o tratamento de
água e de consumo.
A Engenheira relata que empresas como Celgon, Ecológica,
Faros e Oleoplan já faziam este
tipo de trabalho junto aos produtores desse material, tais como bares, restaurantes, hotéis,
e em outros locais onde há cozinhas industriais. O DMLU apenas realizou um convênio com
essas empresas. Mas, como “o
alto custo da coleta impede que
ela ocorra porta a porta, os pontos destinados a população,
considerados pequenos geradores, estão concentrados em
postos de entrega, permitindo
otimização no roteiro da empresa e diminuindo seus custos”,
comentou Mariza.
Dentre os inúmeros produtos que podem ser produzidos
a partir desse material, estão o
biocombustível, ração, sabão
e detergente, além de combustível para caldeira.
“Atualmente temos 63 postos de coleta de óleo espalhados pela cidade”, conta a engenheira. E, de acordo com o site
do DMLU, foram arrecadados
e encaminhados para industrias
de reciclagem, até hoje, 16 mil
litros de óleo de cozinha.
Na construção de páginas
na internet, o presidente da
ARV buscou improvisar uma lan
house dentro do barracão, onde trocava lixo selecionado por
uma hora na rede. Não deu certo, os custos eram mais altos
do que se podia pagar. Hoje,
se organizam em um terreno
alugado onde pretendem fazer
uma feira em parceria com a
CEASA. Para cada quilo de material reciclável trazido, a família
poderá ganhar um vale, no valor correspondente e trocar por
hortifrutigranjeiros.
Outra associação também
está começando um trabalho
voltado à educação ambiental.
É a Associação de Educação
Ambiental Nossa Senhora de
Aparecida, localizada no bairro Jardim Estalagem, também
em Viamão, onde logo será
inaugurado um espaço para
receber alunos de escolas, interessados no assunto. “Somos doze triadores de lixo da
Associação que recolhem em
torno de 3 toneladas por dia”,
diz Talles dos Santos, 18 anos.
“Não trabalhamos com catadores, apenas recolhemos o
material com um caminhão
disponibilizado pela Prefeitura”. O grupo de triadores distribue folders, participam ativamente de campanhas de
conscientização ambiental e
estão abertos à parcerias com
recicladores.
Um cidadão viamonenese que solicitou o anonimato, afirmou que “uma grande
quantidade de dejetos orgânicos com lixo reciclável é
transportada de Porto Alegre para Viamão. O lixo é
proveniente do Aeroporto
Salgado Filho, da Pontifícia
Universidade Católica (PUCRS) e do Shopping Iguatemi, e é transportado por
uma empresa terceirizada,
até o galpão de triagem da
Vila Augusta Meneguinni,
em Viamão”.
De acordo com a legislação n.11.187/98, é proibido retirar lixo de uma cidade
e transportá-lo para outra.
O mesmo cidadão também
questiona os gastos dos triadores: “Por que um triador
da Vila Augusta ganha em
torno de R$ 250 e outro da
localidade de Estalagem ganha cerca de R$ 500? Segundo o diretor operacional
do Departamento de Limpeza Urbana (DLU) de Viamão,
Enio Borba, que assumiu o
cargo há pouco tempo, o lixo estava sendo gerenciado
pelos galpões de triagem. E
ao iniciar as suas atividades,
tratou de proibir a compra
do lixo da capital que vinha
sendo feita pelo galpão da
Prefeitura de Viamão recolhe lixo
Vila Augusta.
“Além de não ter vantagem é ilegal. Por isso acabamos com este comércio. O
lixo que vinha de Porto Alegre
estava sendo comprado ilegalmente pelo próprio barracão que alegava não produzir em Viamão o suficiente
para a sua sobrevivência”.
Sobre as justificativas da
administração do galpão,
Borba explica que “os problemas da Vila Augusta são
popularmente conhecidos.
E para que não ficassem
desfalcados, foi colocado
mais um caminhão à disposição deles. O problema
veio à tona, ou seja, ao meu
conhecimento há mais ou
menos um mês. Mas ainda
aguardamos resultados”.
Segundo Patrícia Nascimento, do Departamento de
Cidadania e Assistência Social, “a Associação dos Triadores da Vila Augusta Meneguinni, encontra-se com
a documentação irregular,
não tendo renovado o seu
atestado de funcionamento
desde 2004. Também não
apresentou nenhum projeto
ambiental, como é esperado de uma associação deste tipo”.
A diretora geral da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Viamão,
Vanessa Rocha, declarou
que os galpões de triagem
têm um contrato com a prefeitura e que cada um deles
recebe uma ajuda financeira de mesmo valor. Porém,
ao não considerar o número de triadores, a divisão se
torna desigual, pois na Vila
Augusta existe quase o dobro de triadores em relação
à Estalagem. Ela lembra
também que o único galpão
que funciona no município
com autorização da Fundação Estadual de Proteção
Ambiental (FEPAM), é o do
Passo Dorneles.
Com relação à prefeitura
de Porto Alegre, que tem
parte do lixo desviado para
o município de Viamão, declara o assessor técnico do
DMLU, Carlos Vicente Bernardoni Gonçalves, que o
transporte do lixo é ilegal e
que a responsabilidade é da
prefeitura de Viamão.
Saúde
Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA junho de 2008
 Dia Nacional sem Tabaco
Droga lícita que causa dependência
Fotos: André Freitas
O tabaco é considerado
pela Organização Mundial
de Saúde (OMS) um fator
de risco para seis das oito
principais causas de morte
no mundo e mata uma
pessoa a cada seis
segundos. A OMS estima
que hoje o consumo do
tabaco cause mais de
cinco milhões de óbitos ao
ano. A previsão para 2030
indica que teremos oito
milhões de mortes.
No século XXI, o tabaco
poderá matar um
bilhão de pessoas.
Alexandra Giacomuzzi
e André Freitas
U
Um cigarro possui cerca de
cinco mil substâncias tóxicas,
mas a principal é a nicotina
que, além de causar a dependência, está diretamente relacionada à doença cardiovascular. O cigarro também possui
43 substâncias cancerígenas.
A fumaça do tabaco, durante a tragada, é inalada pelos
pulmões distribuindo-se para
circulação sistêmica e chegando rapidamente ao cérebro,
entre 07 e 09 segundos (em
geral, 09 segundos). As concentrações de nicotina no sangue arterial aumentam rapidamente após uma tragada. Têm
uma meia-vida de 30 a 120 minutos. Os níveis diminuem à
medida que a nicotina é redistribuída para outros tecidos do
O projeto disponibilizou gratuitamente à população o teste do expirômetro
corpo. É por isso que os fumantes geralmente sentem necessidade de fumar um cigarro a cada meia hora, de acordo
com a médica Anna Elizabeth
de Miranda, doutora em pediatria e Coordenadora do Programa Saber Saúde (Programa
Nacional de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco de Câncer nas Escolas).
O tabagismo passivo é um
dos grandes vilões e atinge
aproximadamente 80% da população que está exposta aos
riscos de elevar a probabilidade de câncer de pulmão e de
infarto em adultos e de asma,
pneumonias e otites em crianças. A fumaça resultante dos
derivados do tabaco em ambientes fechados, denominada
de poluição tabagística ambiental, é a maior responsável
pela poluição ambientes. Hoje
se estima que seja o tabagismo
passivo a 3ª maior causa de
morte evitável no mundo, subseqüente ao tabagismo ativo
e ao consumo excessivo de
álcool, conforme a médica Anna Elizabeth Miranda.
As estatísticas mostram números assustadores. A prevalência de tabagismo no Brasil
aparece fortemente em adul-
Conscientizar é o caminho
De acordo com o
psiquiatra Carlos Salgado,
o cigarro é uma droga
lícita para maiores de 18
anos e pode levar
à dependência porque
a nicotina existente
no tabaco é capaz de
produzir modificações no
sistema nervoso central.
O resultado é o
desenvolvimento da
síndrome de privação e
repetição compulsiva do
uso. Segundo estudos da
OMS a nicotina atua no
sistema nervoso central
como a cocaína, com
uma diferença: chega
ao cérebro de 2 a 4
segundos mais rápido.
O psiquiatra explica que a
nicotina é absorvida através
dos vasos sangüíneos, a partir do pulmão ou trato digestivo. Ela circula até o cérebro,
onde libera várias substâncias
(neurotransmissores) que são
responsáveis por estimular a
sensação de prazer.
Salgado destaca que um
ambiente saturado de fumaça
também garante que todos
fumem, mesmo que passivamente. De acordo com a OMS,
os dois componentes principais da poluição tabagística
ambiental são a fumaça exalada pelo fumante e a fumaça
que sai da ponta do cigarro.
O ar poluído contém, em média, três vezes mais nicotina,
três vezes mais monóxido de
carbono, e até cinqüenta ve-
Avaliação do grau de
dependência à nicotina
No dia do evento ocorrem a entrega de panfleto com informações sobre os malefícios do tabagismo
zes mais substâncias cancerígenas do que a fumaça que
entra pela boca do fumante
depois de passar pelo filtro do
cigarro.
Segundo o psiquiatra, a
embalagem do cigarro contém
20 unidades. Considerando
que o fumante dorme
8 horas e fica desperto
por 16 horas, o tempo
de ação da nicotina será em torno de 45mim.
Salgado alerta que diferentemente o alcatrão, uma
gordura liberada pelo cigarro,
fica impregnada no tecido pulmonar e pode levar muitos
anos para ser destruída pelo
organismo.
O grau de dependência da
nicotina, informa Salgado, pode ser medido através de es-
calas, como a de Fagerstron,
um questionário muito simples. E, provavelmente a pergunta mais importante desse
instrumento, ressalta o psiquiatra, seja a referente ao
tempo até o primeiro cigarro.
De acordo com a OMS,
res resultados informa Salgado, se dão com assistência
médica adequada. Hoje já
existem medicações que auxiliam no processo de abstinência. Um exemplo é o Ziban
(bupropiona), que atua corrigindo a falta de dopamina resultante da interrupção
de nicotina do indivíduo dependente. Mas,
o psiquiatra enfatiza
que existe controvérsia
quanto ao uso de medicações.
O Complexo Hospitalar
Santa Casa de Porto Alegre
oferece um programa integrado para o tratamento do tabagismo pelo SUS (Sistema Único de Saúde). O programa desenvolve-se aproximadamente em um ano.
"A nicotina é capaz de
desenvolver síndrome de privação
e repetição compulsiva do uso".
apenas 5% das pessoas conseguem parar de fumar sem o
auxílio de terceiros. Quem pretende abandonar o cigarro sozinho vai se defrontar com o
embate entre o desejo de parar e a necessidade, tanto psicológica quanto fisiológica,
criada pelo tabaco. Os melho-
tos, sendo 18%, maior entre
os homens. Em Porto Alegre,
o percentual é de 25% entre
adultos. Entre escolares de 13
a 15 anos o índice é de 37%
para o sexo masculino e de
34% para o feminino.
De acordo com a Pesquisa
de Prevalência do Tabagismo
em Escolares de 13 a 15 anos
de Porto Alegre – Vigescola,
realizada em 2002 com a Con-
prev/INCA e OPAS, a idade
média de início do tabagismo
é de 13 anos, e 90% dos fumantes começam a fumar antes dos 19 anos. A prevalência
de tabagismo entre as mulheres vem aumentando, especialmente entre adolescentes,
o que se reflete na maior mortalidade por doenças cardiovascular e cancerígena.
Segundo a médica Anna
Elizabeth de Miranda, “A mortalidade por doenças relacionadas ao tabagismo aumentará muito, especialmente nos
países em desenvolvimento,
como já vem aumentando o
índice de câncer de pulmão
entre as mulheres”.
Os especialistas relatam
que os fumantes devem procurar se engajar em atividades
nos seus locais de estudo ou
trabalho, e buscar apoio nos
Programas de Controle do Tabagismo, nos municípios ou na
Secretaria Estadual da Saúde.
Cabe à comunidade aproveitar
as datas comemorativas, como o Dia Mundial sem Tabaco,
31 de maio, para desenvolver
atividades educativas e de divulgação em Escolas, Universidades, Unidades de Saúde
e Ambientes de Trabalho.
Desta forma, aumentar as
ações já existentes para o controle do tabagismo “é um grande avanço em busca da diminuição desses alarmantes dados”, ressalta Anna Elizabeth
Miranda.
Teste de Fagerström
1. Quanto tempo após acordar
você fuma o seu primeiro cigarro?
Dentro de 5 minutos = 3
Entre 6 a 30 minutos = 2
Entre 31 a 60 minutos = 1
Após 60 minutos = 0
2. Você acha difícil não fumar
em lugares proibidos, como igrejas,
bibliotecas, cinemas, ônibus, etc?
Sim = 1
Não = 2
3. Qual cigarro do dia traz
mais satisfação?
O primeiro da manhã = 1
Outros = 0
4. Quantos cigarros você fuma
por dia?
Menos de 10 = 0
De 11 a 20 = 1
De 21 a 30 = 2
Mais de 31 = 3
5. Você fuma mais freqüentemente pela manhã?
Sim = 1
Não = 0
6. Você fuma, mesmo doente,
quando precisa ficar de cama a
maior parte do tempo?
Sim = 1
Não = 0
Conclusão sobre o grau de dependência:
0 a 2 pontos = muito baixo
3 a 4 pontos = baixo
5 pontos = médio
6 a 7 pontos = elevado
8 a 10 pontos = muito elevado
Uma soma acima de 6 pontos indica que, provavelmente, o paciente sentirá desconforto (síndrome de
abstinência) ao deixar de fumar.
Graus de nicotino/dependência
e sua percentagem de frequência:
0 a 1 (cerca de 20%) - fraca
nicotino-dependência e leves sintomas da Síndrome de Abstinência
(SA). Esses fumantes raramente
precisam de ajuda para abandonar
o tabaco.
2 a 3 (cerca de 30%) - certo
grau de nicotino-dependência. Podem ocorrer sintomas mais acentuados da SA. Com alguma freqüência
há abandono espontâneo do tabaco.
O tratamento é de ajuda.
4 a 5 (cerca de 30%) - a nicotino-dependência é acima da média.
Fracos sintomas de SA. Com freqüência, o tratamento obtém resultados positivos.
6 a 7 (cerca de 15%) - a nicotino-dependência é intensa, assim
como também a SA. Os danos à saúde são elevados. O tratamento deve
ser mais enérgico e mais prolongado que o geralmente recomendado.
É indicado suporte psicológico, particularmente quando há estresse e
alto consumo de álcool.
8 a 10 (cerca de 5%) - a nicotino-dependência é incoersível e é
grave o quadro da SA. É essencial
a ajuda psicológica e o tratamento
farmacológico com vários medicamentos associados. Os resultados
são negativos na maioria desses fumantes. É comum a associação de
morbidade, ansiedade, depressão e
alto consumo de álcool.
Nos fumantes com pontuação
até três, os quais somam cerca de
metade dos tabagistas, o aconselhamento mínimo é geralmente suficiente para abandonar o tabaco.
Economia
junho de 2008 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA
 idéias que voam longe
Do it yourself ou faça você mesmo!
www.almagorda.com.br
Um grito de revolta
punk dos anos 70,
o “faça você mesmo”,
cresceu como forma de
expressão e de fuga da
mesmice do mercado
cultural e, hoje,
conquista espaços
no mercado. São jovens
que buscam o novo, o
diferente, sem esperar
que isso ‘caia do céu’.
Eles vão atrás e fazem
acontecer ao criar novas
maneiras de expor idéias
e opiniões, além de contar
com a tecnologia a seu
favor. E a internet, por
ser um meio de maior
alcance e de baixo custo
é a forma preferida de
divulgar o que fazem.
Alice Corá, Gisele
Mendonça e Thiago Oliveira
d
De acordo com o historiador Eleilson Leite, há três décadas o movimento de contracultura punk revolucionou o
comportamento de muitos jovens da época. Tudo começou
com a cena musical dos anos
70, quando jovens músicos
amadores aprendiam alguns
acordes e se juntavam para fazer um som que agradasse e,
ao mesmo tempo, contestasse
os padrões sociais convencionados.
De movimento que buscava
a fuga das chamadas culturas
de massa e da imposição do
mercado capitalista o “do it yourself” ou “faça você mesmo”, como é conhecido no Brasil, perdeu parte desta essência anarquista original, já que muitos que
adotam esta forma de satisfação
pessoal, ao contrário daquele
tempo, passaram a visar ao lucro, através da divulgação de
suas idéias. É o que relata o empreendedor e acadêmico de
História, Lucas Silveira.
A anarquia que a repressão
e a revolta traziam naquela
época se traduz de outra maneira hoje em dia. A internet,
com a quantidade de informações e a agilidade na divulgação, assumiu um certo caráter
anárquico, pois é um ambiente de livre acesso e de uso da
palavra. Qualquer um com
uma idéia na cabeça consegue
colocá-la em prática na web,
seja para divulgar pensamentos, criticar manifestações ou
promover novas maneiras de
agir e produzir.
A internet veio para facilitar e dar o empurrãozinho
que estava faltando nas mentes inquietas dos jovens criativos de hoje. Esta nova tendência já possui adeptos dos
mais variados segmentos,
como da moda e da comunicação.
Alessandra Lago e suas criações
AlmaGorda aposta na toy art
A moça que sempre gostou
de atividades manuais e de tudo que era diferente criou a “AlmaGorda”, uma marca de produtos divertidos e diversificados
que não se encontrava em qualquer lugar. Alessandra Lago, 32
anos, formada em Publicidade
e Propaganda pela Pontifícia
Universidade do Rio Grande do
Sul (PUCRS), passou 12 anos
de sua vida criando para uma
agência de publicidade. Foi em
seu último trabalho pela agência, uma campanha voltada para o público infantil, que Alessandra resolveu seguir com um
projeto próprio.
Divulgação: Lucas Silveira
Lucas Silveira e Eduardo Nunes vestem as camisetas da Selva!
Selva! usa referências do dia-a-dia
Na busca por algo com
que se identificassem, Eduardo Nunes, 20 anos, e Lucas
Silveira, 23 anos, acadêmicos
de Publicidade e Propaganda
e História, do Centro Universitário Metodista do IPA, criaram “Selva!”, uma marca de
camisetas com estampas que
expressam as referências do
seu cotidiano, como grafite,
stencil, stickers e tudo o que
faz parte da diversificada street art. Isto mesclado com seu
interesse por design e moda.
Quanto ao motivo da criação da marca, Lucas explicou:
“queria encontrar alguma coisa com a qual me identificasse e não encontrava”.
A falta de produtos que expressam a sua individualidade
foi um dos fatores determinantes para a concretização do
projeto. O outro, foi o baixo
custo da confecção do material que, por enquanto, se restringe a camisetas, mas que
num futuro próximo deverá incluir jaquetas e calças.
Ao expandir os seus produtos espera ter uma fonte
substancial de renda, pois “no
momento em que você tira dinheiro do próprio bolso, deixa
de ser um passatempo e passa a ser um negócio”, salientou Lucas.
Os dois universitários não
estão preocupados em alcançar um público específico. Só
compra quem se identifica
com os produtos, sem restrição quanto a alguma tribo urbana ou modismo.
A marca já é reconhecida,
mas ainda não foi possível obter lucros com a confecção,
apenas o retorno do investimento e de sua manutenção.
A internet tornou-se o meio
ideal de divulgação, por não
necessitar de vínculos burocráticos e ter grande acessibilidade, com o mínimo de custo.
Apesar de possuir apenas
dois sócios, “Selva!” recebe a
colaboração de amigos na
criação e divulgação de idéias,
além de admiradores que,
através da internet, tomam conhecimento da marca e efetuam as compras.
Nos produtos estão os bichinhos de pelúcia, geralmente
com aspectos de monstros e
carinhas divertidas, chamados
toy art uma releitura de brinquedos, com referências de design,
moda e arte urbana.
De acordo com Alessandra,
há um cuidado especial na escolha dos materiais, principalmente os tecidos, para que
possam transmitir a maciez e
o toque necessários.
“AlmaGorda” ainda conta
com uma linha de acessórios
pessoais, incluindo bolsas,
chaveiros, mantas, luvas e até
almofadas, tudo com uma ca-
ra moderna e inovadora. “Eu
sempre quis ter uma manta
com bolso, e nunca encontrei”,
revela Alessandra.
Todos os produtos da marca têm um toque exclusivo. Os
toys, por exemplo, são feitos à
mão e “nada nunca é igual!”,
uma característica que a proprietária quer manter por muito
tempo.
“Não pretendo produzir em
uma escala industrial. Poderia
criar e mandar os bonecos para
alguém finalizar, mas perderia todo a graça e proximidade que
tenho com cada um”, explicou.
Alessandra tem tanto cari-
nho por seus produtos que,
mesmo trabalhando com mais
quatro costureiras, seleciona as
peças que vai mandar para cada uma delas, e isto só é possível porque conhece suas habilidades e o jeito de cada uma
trabalhar.
Quanto ao público, “os toys
atraem mais as crianças, o que
eu não imaginava quando comecei a criar”, conta Alessandra que ainda está começando
a distinguir o seu público. “Não
tenho tempo para fazer muitas
pesquisas, mas me baseio no
que cada loja vende mais, assim distribuo as mercadorias e
tenho uma noção do que está
vendendo e para quem”, explicou. “Estou super feliz com a
AlmaGorda. Às vezes, saem fotos em revistas e jornais, as
pessoas vêm me contar e eu
nem sabia”, relatou rindo.
O lucro que a marca vem
obtendo é, em grande parte,
reinvestido na confecção de novos produtos. Alessandra cria
cada peça com seus gosto
pessoal, faz do jeito que gosta.
Por isso, revela que “ é um negócio arriscado, pois é preciso
investir, mas nunca se sabe o
que vai ter maior aceitação”.
“AlmaGorda” é vendida em
lojas como Vulgo, Refugio Urbano e no Shopping Moinhos,
“e tem sido super bem aceita”,
comentou Alessandra Lago.
Mundo nerd no Zona Fantasma
O lugar para onde eram
mandados os maiores criminosos de Kripton nos gibis do Superman, hoje, intitula uma web
rádio de entretenimento que
trata de cinema, quadrinhos e
tudo mais que faça parte do
dito “mundo Nerd”. Trata-se do
“Zona Fantasma”, um programa que começou em 2006,
com os estudantes de Publicidade e Propaganda, do Centro
Universitário Metodista do IPA,
Diego Andreola, 23 anos, e Nilton Rodrigues, 27, nos estúdios
da Rádio IPA.
Apesar de horários apertados de trabalho que, na maioria das vezes, bancam os equipamentos a equipe consegue
tempo e se organiza para fazer
acontecer.
A idéia surgiu quando Nilton
e Diego, no intervalo das aulas,
trocavam informações. Juntando a vontade de fazer rádio do
Diego e o conhecimento do Nilton, foi um pulo para que o programa tomasse forma.
Hoje, eles seguem com as
próprias pernas em um estúdio
improvisado, na casa do Diego,
com capital levantado por eles
mesmos.
No ano de 2007, Emílio juntou-se à dupla e o programa passou a ter pautas mais elaboradas
e funções específicas para cada
um dos colaboradores.
“Estava muito bagunçado.
Nós trabalhamos 8 horas por
dia, não temos tempo para fazer tudo, acabávamos passando semanas sem atualizar
o blog. Gravávamos o programa numa sexta e não sabíamos se na outra conseguiríamos estar presentes de novo”,
explicou Nilton. Mesmo havendo uma divisão de tarefas,
nada impede que um entre no
espaço do outro, “só dividimos assim para que a coisa
andasse”.
“Zona Fantasma” é dividido
em três partes: o blog, que contém críticas, resenhas e toplists;
a web rádio, que vai ao ar apresentando músicas, trilhas sonoras e bate-papos entre os
apresentadores e o “ZonaTV”,
que traz as matérias de vídeo
e coberturas de eventos que
os estudantes participam.
Os três estudantes já são conhecidos pelo mundo e têm ouvintes até na Nova Zelândia.
Os últimos prêmios conquistados foram o “Expocom
Sul 2007” e o “Expocom Nacional 2007”, concedido pela
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom).
Em entrevista, Nilton Rodrigues, um amante de cinema e
aficionado por quadrinhos, falou o quanto é importante fazer
o que se gosta.
Diego ressalta que o trio ainda não sabe se o futuro é seguir
com a web rádio ou migrar para a ‘rádio de freqüência’. “Na
web temos um alcance muito
maior, esse é o bom da internet.
Talvez, se estivéssemos em
uma rádio de freqüência, não
alcançaríamos tantas pessoas
como alcançamos e, com certeza, não teríamos a liberdade
que temos para fazer o programa exatamente à nossa maneira”, explica Diego.
Arquivo/Zona Fantasma
SAIBA MAIS
AlmaGorda
www.almagorda.com.br
Zona Fantasma
www.zfantasma.
blogspot.com
Selva!
www.flickr.com/
photos/projectselva
Diego Andreola, Emilio Nobre S. Neto e Nilton Rodrigues em mais uma cobertura do Zona Fantasma
Social
Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA junho de 2008
Rafael Rocha
 distúrbios do sono
Trabalhos noturnos
Dicas de saúde
para notívagos
É possível minimizar os prejuízos à saúde causados pela
vida noturna, seguindo os conselhos dos especialistas:
Renato Quintana
Caroline Lajuny
Já reparou que enquanto
você dorme à noite, uma
parcela da população está
em plena atividade?
Caroline Lajuny e
Renato Quintana
A
A comodidade de ter serviços e produções funcionando
24 horas por dia pode implicar
em problemas de saúde em
quem trabalha no período da
noite.
Isso porque dormir durante
o dia não é a mesma coisa que
á noite, principalmente entre as
mulheres.
Estudo realizado pelo Instituto do Câncer Epidemiológico,
da Dinamarca, com sete mil voluntárias, de 30 a 54 anos, sugere que as mulheres que trabalham no período noturno têm
50% mais riscos de desenvolver o câncer de mama.
Outra pesquisa realizada
pela Universidade da Carolina
do Norte, nos Estados Unidos,
mostra que o trabalho noturno
durante os três primeiros meses
de gravidez aumenta 50% o risco de parto prematuro.
Os pesquisadores acreditam que isso possivelmente se
deve à interrupção da atividade normal do útero durante á
noite.
Segundo informações da
Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), as
doenças mais freqüentes em
quem trabalha à noite são as
de origem gastrintestinal (como
azia, má digestão, úlceras gástricas, irritações do cólon e dificuldades em manter a regularidade intestinal).
Essa mudança no padrão
do sono dos trabalhadores noturnos gera problemas à saúde
e dificulta os relacionamentos.
Jussara Chagas, 53 anos
É o caso de Helena, 45 anos,
que trabalha no período da noite. Ela conta que se sente sempre cansada, se alimenta errado, em função dos horários diferentes do restante da família,
e que seu humor está sempre
alterado.
Sono X
Relacionamentos
As necessidades de repor
as horas perdidas de sono interferem também no lazer, nos
relacionamentos amorosos e
no sexo, é o que revela a ANAMAT, uma vez que trabalhadores noturnos se divorciam
mais do que aqueles que têm
jornada diurna. E a dificuldade
de conciliar seus horários com
os da família, tendo que dormir
de dia, assim como a maior
irritabilidade provocada pelo
sono são alguns dos motivos.
Esses profissionais têm problemas para desfrutar do lazer
com a família, principalmente
os casados e com filhos, já
que os horários nunca são os
mesmos, diz Fernanda Soares, 35 anos, que trabalha no
período da noite, como enfermeira de um hospital e foi casada há 5 anos. Ela conta que
se separou, não por falta de
César Augusto, 33 anos
amor, mas por falta de tempo
para aproveitar com o seu marido, e isso acabou desgastando a relação.
Salários
César Augusto, 33 anos,
taxista no horário da noite, relata que trabalhar durante esse período traz algumas vantagens, como por exemplo, o
salário que é bem maior do
que de uma pessoa que trabalha durante o dia.
“É compensador o
horário da
noite pelo dinheiro, pois
tenho que sustentar minha família, mas por outro lado é triste, porque no horário que tenho
para dormir, meus filhos querem brincar, e me deixa muito
chateado ter que manda-los
brincar em outro lugar, porque
sei que sentem saudade de
mim, então dói meu coração”,
conta o taxista.
Jussara Chagas, 53 anos,
enfermeira de um hospital, que
é solteira e não tem preocupação com a família, adora
trabalhar neste turno, pois é
mais tranqüilo e o salário é
bem compensador. “Faço
plantão uma noite sim e outra
não, então tenho tempo para
fazer outras atividades até
mesmo outro emprego no período do dia”, revela a enfermeira.
De acordo com as pesquisas da Universidade da Carolina do Norte, a sonolência
contribui significativamente para os erros e aumenta o risco
de acidentes nos locais de trabalho, e isto pode afetar as
operações
industriais,
plataformas
petroquímicas e sistemas de
transportes.
Vários trabalhos estão sujeitos
a um maior numero de acidentes durante a noite, em relação
ao dia, e isso pode ser em função do trabalhador noturno
desempenhar outras atividades durante o dia, com isto não
ter o tempo de sono necessário, ou até mesmo por si só já
ser um período de risco elevado para acidentes.
"Uma a cada quatro das
pessoas que trabalham
à noite desenvolvem
distúrbios do sono".
adaptação
Segundo a psicóloga Vera
Lúcia, 37 anos, os profissio-
nais que trabalham à noite,
costumam levar algum tempo
para a adaptação física e emocional. “Ocorre uma fadiga, um
desgaste físico e mental, uma
vez que nosso relógio biológico naturalmente está programado para descansar à noite”,
ressalta a psicóloga. Vera Lúcia também diz que o fato de
trabalhar à noite, acaba intervindo negativamente no convívio familiar e social, pois
ocorre um desencontro: enquanto o restante da família
está em atividade durante o
dia, o trabalhador noturno está dormindo, e quando a família está em casa descansando,
o trabalhador noturno está em
atividade.
Mas a psicóloga revela também que existem muitas pessoas que conseguem se adaptarem e planejar sua vida pessoal, familiar e social, mesmo
trabalhando no período da noite. Como é o caso da enfermeira Lídia Bastos, 47 anos,
que trabalha à noite e consegue ainda dormir um pouco,
cuidar da casa durante o horário que seus filhos estão na
escola e, no final da tarde, os
busca e mata um pouco da
saudade até a hora de ir trabalhar novamente.
1. Durma sempre nos mesmos
horários, mesmo nos dias de
folga, para não afetar ainda
mais o relógio biológico.
2. Mesmo durante o dia, durma
sem interrupções uma quantidade de horas mínima para
o seu bem-estar: de seis a oito
horas.
3. Deixar o quarto escuro ajuda a
dormir melhor. Feche janelas e
cortinas, mas mantenha o ambiente arejado, porque o calor
também atrapalha o sono.
4. Use protetores de ouvidos, por
conta do barulho feito durante
o dia.
5. Para que os trabalhadores
noturnos não sintam sono
à noite, é só tirar um cochilo algumas horas antes de ir
trabalhar.
6. Se puder, cochile no meio da
madrugada, mesmo que por
poucos minutos.
7. Avise sua família que ela precisa colaborar para a manutenção de um ambiente tranqüilo para você dormir bem
durante o dia.
8. Apesar de ser difícil, quem fica acordado à noite não deve
se descuidar da alimentação,
para não atrapalhar ainda
mais o sono durante o dia. É
importante consumir vegetais ricos em fibras, muitas
frutas e pouca gordura. Também é preciso fazer as três
principais refeições (café da
manhã, almoço e jantar) em
horários adaptados. Antes de
dormir, deve-se ingerir uma
refeição leve.
9. Evite tomar refrigerantes com
cafeína, café, chá preto ou
mate, tanto durante o trabalho noturno quanto antes de
dormir.
10. Praticar exercícios físicos regulares, evitar o fumo e o álcool e manter o peso também
são medidas importantes.
Cultura
junho de 2008 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA
Fotos: Gabriela Azevedo
 Diversas formas de moda
Xeque-mate
da moda
Sabe aquele chapéu
xadrez que seus avós
usavam antigamente? Pois
é, aquele que você disse
que nunca usaria e que por
muitos anos ficou de lado.
Parece que veio pra ficar.
Neste inverno uma das
tendências em roupas,
calçados ou acessórios é
tirar do roupeiro, sacudir
o pó e usar. Quem diria?
Gabriela Azevedo
e Uriel Gonçalves
A
A moda masculina não tem
o mesmo ritmo da feminina e
isso não é novidade, mas nesse outono/inverno os estilistas
capricharam no visual e mostraram que os homens também
tem direito de renovar o armário as vezes. Muitas formas de
se vestir estão retornando, mas
o que realmente deve dominar
o estilo masculino nesse ano é
o xadrez, que acompanha todos os maiores estilistas em
unanimidade, incluindo o grande e venerado Alexander Herchcovitch, que também apelou
para os costumes estilo toalha
de mesa. A moda masculina
demora muito para mudar, mas
o brasileiro está acostumado
com o xadrez e vai ser uma tendência que será adotada rapidamente.
“Antes existia aquela série
de normas de que a moda masculina era monótona, monocromática, sempre a mesma coisa”, disse o editor de moda Lu-
la Rodrigues. “E estou achando
super legal que as coleções
aqui estão mostrando que não
é nada disso”, completou. Além
do xadrez, o homem terá a
chance de tirar aquele chapéu
do armário, que dará um charme a mais, um certo ar de moleque e ainda deixa um tanto
sexy. A moda abre mão do Hippismo e do Grunge e dá lugar
ao mafioso. Rodrigues também
destacou os tecidos coloridos
para uma moda mais jovem e
para o guarda-roupa do homem mais formal ele acredita
no terno de dois botões. “O terno de três botões dominou a
cena por uma década e nada
acontece abruptamente com o
homem. Mas estamos num período importante de transição”,
acredita Rodrigues, especialista em moda masculina.
Enfim, o inverno desse ano
será cheio de um mix de tendências e ousadias com algumas pitadas e reverência do
charme dos anos 80.
MODA FEMININA
Na moda feminina a história continua a ser inspiração,
temos nesse ano temas que
vão da era Medieval até anos
mais recentes como 1920,
1930 e 1940.
Muitas idéias futuristas ficaram pra trás dando lugar ao
resgate histórico. Esta volta ao
passado ajuda a saber quem
somos e, também, o que queremos. O que realmente vai
dominar nesse outono/inverno
são os estilos clássicos e o seu
glamour, tornando as roupas
ecologicamente corretas ao
preservar seus recursos naturais, a maioria dos vestidos são
confeccionados em tecidos
naturais. Os tecidos sintéticos
não perderam espaço, mas
vale lembrar que o poliéster é
reciclável.
Os grandes diferenciais
deste inverno são a modelagem
e o acabamento das peças, o
mix de materiais continua impecável e promete ser um ponto forte nesta estação, está sendo muito explorada pelas grifes
internacionais.
Além da volta no tempo, outro ponto que está sendo muito atiçado pelos estilistas e a
moda feminina se baseando no
universo masculino, assim o
que vemos são cortes perfeitos
e peças com estruturas novas
e inusitadas. O xadrez também
entra no universo feminino, as
cores sujas como preto, roxo,
cinza, bege e verde estão em
alta, peças exageradamente
coloridas fora.
Na maquiagem as cores fortes chegam com tudo. O laranja, dourado, violeta e vermelho
vêm com força total; os tons de
preto e violeta vão estar super
em alta nas noitadas, enquanto os tons pastéis, marrom e
bege são ideais para o dia. Delineadores em cores diferentes
e blush combinando com o seu
tom de pele são indispensáveis
nesse outono/inverno 2008.
A moda nas vitrines, outono/inverno 2008
PARA CADA ESTILO
Para as eternas elegantes
- Vestidos tomara-que-caia
com detalhes repuxados
e aplicações de dobras.
- Pantalonas de alfaiataria.
- Longos de saia rodada.
com decotes nas costas,
referência dos anos 50.
- Casacos de malha.
tricô com amarrações.
Para as gatas baladeiras
- Minivestidos em cores
engraçadas como
o magenta e o amarelo.
- Casacos acolchoados.
- Camisetas e suéteres
com aplicações de
pedras metalizadas.
- Jaquetas em
couro envelhecido.
Bate-papo com Emília Marques
Emília Marques Premaur
é um misto de modista,
costureira e estilista.
Atua na área da moda
costurando e dando cara
nova a peças que, por
algum motivo, são levadas
ao seu atelier. O dom foi
herdado da mãe, da avó
e da tia que sempre se
voltaram para essa área.
Formou-se em moda pelo
Senac, em 2001, e adquiriu
experiência na modelagem
ao aprimorar o design de
moda e costura.
patos em tons degradê e muitas pulseiras grossas..
Para as nostálgicas
dos anos 70 e neo-hippies
- Saias longas em patchworks
de estampas e texturas.
- Vestidos longos
com parkas curtas.
- Cardigãs de malha listradinha.
- Calças boca-de-sino com
ou sem bordados em prata.
Para temperamentos
esportivos e urbanos
- Jaquetas pretas com
adereços em prata.
- Camisas em xadrez escocês
sobre shorts de alfaiataria.
- Vestidos de malha listrada.
- Agasalhos com padrão
de losangos ou listras.
Para os homens
- Estilo motoqueiro,
em couro ou jeans preto.
- Calças com reforços, macacões
e blusões acolchoados.
- Terno estreito de paletó curto restrito aos jovens e magros.
- Jeans de cós baixo
e gancho longo.
- Casacos e coletes
acolchoados com capuz.
- Parkas estilo militar.
- Cores: preto e cinza.
Beleza nunca
é demais?
Uriel Gonçalves
Universo IPA - Quais serão as cores e tons deste inverno?
Emília - Berinjela, tons dourado, bronze, acobreado. Cores mais sujas estarão chamando mais atenção.
Universo IPA - De onde
surgem as inspirações para
fazer as roupas?
Emília - Me baseio, principalmente, na moda street wear
(moda jovem de rua) , usando a
tendência de cores da estação.
Gabriela Azevedo
e César Manoel
Universo IPA - Quando surgiu o interesse pela moda?
Emília Marques Premaur Desde pequena eu me interessei por isso. Adorava fazer desenhos de roupas e manequins.
Quando cresci, decidi que era
isso que eu queria.
Para as meninas românticas
- Vestidos com laços e estampas
de flores quase abstratas.
- Casacos de lã em preto
ou azul-marinho.
- Saias repolhudas
em tule ou seda.
- Pelerines curtas.
Emília Marques Premaur, design de moda
Universo IPA - Alguém te
incentivou a seguir essa carreira?
Emília - De certa forma,
sim, minha tia e minha avó eram
modistas e costureiras.
Emília - O xadrez está de
volta e parece que voltou para
ficar. O cós da calça jeans estará mais alto e as calças mais
amplas. Mas ainda não se desfaçam das calças skinni, elas
ainda estão em alta.
Universo IPA - O que vai
ser a febre neste inverno?
Universo IPA - O que não
podemos deixar de usar
neste inverno?
Emília - A forte tendência é
o colete, a moda de alfaiataria,
golas anos 60 e mangas ¾.
Universo IPA - Até agora,
quais os acessórios mais requisitados?
Emília - Cintos largos na
altura da cintura, bolsas e sa-
Universo IPA - O que é
observado para lançar um
estilo novo?
Emília - A mídia influi muito
nessa questão, mas nada é muito novo, pois esses estilos vêm
apenas com uma rotulagem nova, mais moderna, adaptada
aos padrões de hoje.
Universo IPA - O que vai
fazer a cabeça das pessoas
na moda primavera/verão?
Emília - É uma pergunta complexa, pois o que é o máximo para um pode ser um horror para o
outro. O que deve fazer a cabeça
é o próprio estilo e cada um deve
respeitar seu tipo físico.
Benhê, tô bonita? Se você já
ouviu, ou mesmo disse isso, sabe que, apesar de ser bastante
agradável à visão, a beleza pode
fazer muito mal aos ouvidos. E
ao cérebro. Não que todo bonito
seja estúpido ou todo inteligente
seja feio. Não é essa a questão. A
questão é que a máxima de que
“beleza nunca é demais” tornouse indiscutível. E, bem, talvez seja
a hora de colocar um ponto de interrogação na frente dela.
Antes de começar a criticar o
estereotipo dos bonitos-acerebrados, pare para pensar: ser bonito
não é nada fácil. Nascer bonito sim,
é fácil. Mas há muito tempo aquela
beleza natural que não precisa de
retoques, deixou de ser suficiente.
Os padrões de beleza estão cada
vez mais altos e os olhos, mais exigentes. E agradar os olhos alheios
é algo que exige muito tempo, paciência, dinheiro e dedicação. Ser
o mais bonito então, nem se fala.
Ou melhor, fala-se. Fala-se tanto
que até Darwin, há mais de um
século, falava a respeito.
O homem é um animal (pode parecer uma afirmação óbvia,
mas ainda faz doer os ouvidos
de muita gente). E como animais
dentro de um processo de sele-
ção natural, fazemos de tudo para ser os melhores. Seja o melhor
atleta, o mais agradável, o mais
inteligente, o mais engraçado ou
mesmo, o mais estúpido, todos
querem ser o “mais”. Por isso é
natural alguns quererem ser os
mais bonitos. Alguns, mas não todos. Quando a prioridade de uma
sociedade inteira passa a ser uma
só, devemos admitir, há algo errado com a nossa espécie.
Não se pode ser o mais bonito
e o mais inteligente. Não se trata
de preconceito, trata-se de uma
afirmação prática. Para ser o mais
bonito você precisa dedicar muito
do seu tempo a isso e para ser inteligente também. Posso não ser
o melhor em exatas, mas sei que
muito com muito sempre dá demais. E talvez, pelo menos no Brasil, esteja começando a faltar pessoas suficientemente “qualquer
coisa que não seja bonita”. Por isso, faça um favor à nossa espécie:
de vez em quando, volte àqueles
primórdios da nossa sociedade,
em que a “beleza”, e não a “beleza extraordinária”, bastava. Desse
modo, você até poderá ser sincero
ao responder àquela perguntinha lá
em cima do modo mais agradável
– Claro que sim, meu bem.
Cultura
Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA junho de 2008
Fotos: Filipe Borges
 DJ’s
Os donos da festa
No início da profissão,
apenas preenchiam
os intervalos entre
apresentações de bandas,
para que a música não
parasse de tocar nos
shows. Ficavam atrás
de uma montanha de
aparelhos e ninguém
tomava conhecimento
de quem embalava o
ambiente. A partir dos
anos 70, surgiu o nome
de disc-jóquei ou DJ para
os “tocadores de som”,
e a presença deles foi se
tornando indispensável
nas festas.
Filipe Marques Borges e
Morgana Vingert Settin
h
Hoje, quase 40 anos depois,
os DJ´s passaram de coadjuvantes a responsáveis pela descontração e muita dança aos
amantes da música. O impacto e a explosão do som eletrônico, nos anos 90, deram maior
destaque ao sujeito responsável por girar sons nas mesas
especiais (pickups) e equipamentos cada vez mais sofisticados. O Dj passou, então a
ser o protagonista da festa.
Público e Estilos
A relação que o DJ cria com
a música e o público permite
que se aproxime dos participantes das festas. E hoje, estes
profissionais cativam fãs no
mundo inteiro.
Com o surgimento de novos
estilos musicais, a profissão se
tornou cada vez mais específica. O DJ muita vezes é conhe-
cido por sua tendência musical.
Então, quando você vê o nome
do profissional na festa, já sabe
o som que vai tocar na noite.
Ele também é considerado um
músico, afinal o profissional
compõe muitos ritmos e sons.
Alguns exemplos de ritmos são
o trance, house, tecno, electro,
progressive, mínima e dance.
Não adianta apenas dominar as técnicas para inserir o
som os ambientes, “é preciso
ter feeling (sensibilidade) e muita visão de pista, além de buscar informações do que está
tocando no mundo todo, saber
as novidades, as tendências, e
o que as rádios tocam”, explica
o DJ Tiago Pintaúde, ao fazer
referências às características
de um DJ. E quando o tema é
o início da profissão, Pintaúde
revela que “o começo não é fácil, tem que se ter força de vontade e disponibilidade, até porque, depois que o profissional
entra no circuito, necessita se
acostumar a trocar o dia pela
noite e esquecer de passar o
Natal, Ano Novo e Carnaval
com familiares e amigos. A dedicação tem que ser 100%”.
Mercado
O mercado está em alta e
para dar conta das demandas
surgiram as agências que agregam profissionais. Em Porto Alegre, uma delas é a Moving DJ’s,
dirigida pelo DJ Lê Araújo.
Mas ainda falta organização
à classe, pois não há um sindicato que agregue os profissionais. No Rio de Janeiro existe
um projeto para enquadrar os
DJ’s ao Sindicato dos Músicos
Equipamentos ajudam a produzir som de qualidade
Profissionais (Sindmusi). A entidade está propondo uma alteração na lei de 1960, que reconhece formalmente a classe
para que os DJ´s possam se
filiar a ela.
De acordo com a presidente do Sindimusi, Deborah Cheyne, essa discussão já existe no
sindicato há, pelo menos, 6
anos. “Acredito piamente que
o DJ possa integrar nossa categoria profissional, até porque
temos que nos atualizar em relação à produção atual, que
vem se ligando cada vez mais
às novas tecnologias”. Também
ressalta que o interesse se dá
porque o sindicato teria mais
trabalhadores sindicalizados,
aumentando a receita e disponibilizando mais recursos para
os músicos. Afinal, acrescenta
Cheyne, “o DJ dispõe de um
poder aquisitivo compatível
com os músicos atuais”.
Antigos sucessos
As músicas que fizeram sucesso e voltam com um novo
ritmo estão em alta. Os novos
remixes e batidas transformam
a música como se estivesse
saindo agora.
Quanto à sensação que a
profissão confere ao embalar
uma festa e ter o controle do
som nas mãos, “é de grande
prazer e não há dinheiro no
mundo que compense”, revela
Pintaúde.
Os Dj’s ganharam recentemente mais um espaço profissional. São as festas rave, um
estilo que ganha preferência
dos jovens. Os organizadores
chegam a reunir cerca de 25
Eduardo Irigaray no embalo da noite
mil pessoas em uma única noite e o evento pode durar até o
outro dia de tarde. Não há bandas que tocam ao vivo e, então,
quem comanda a festa são os
DJ’s.
A seguir entrevista com
Eduardo Irigaray e Tiago Pintaúde, dois profissionais experientes na área.
grátis e cartões.
Universo IPA - Qual é o
tipo de música mais solicitada nas festas em geral?
Irigaray - As que tocam nas
rádios FMs.
Pintaúde - Não pode faltar
Ivete Sangalo. Em relação aos
anos 80, a banda Depeche Mode é uma boa pedida.
Universo IPA - De que forma você se mantém atualizado e seleciona as músicas
que fazem parte do repertório?
Eduardo Irigaray - Escuto.
Eu busco em sites como o Beatport e Traxsource. Na verdade não busco informações, eu
escuto e se for de meu gosto
entra no playlist.
Tiago Pintaúde - Ouço todo o tipo de som. Em rádio percorro todo o dial.
Universo IPA - Como é
trocar o dia pela noite?
Irigaray - Acostuma, o velejador brasileiro Almir Klink tem
um belo estudo sobre isso em
suas travessias oceânicas. Só
não é possível ter outra profissão com relógio e cartão ponto.
Pintaúde - Não é complicado. O difícil é recolher o equipamento, na hora que termina
a festa.
Universo IPA - Como saber que música tocar?
Irigaray - Da mesma forma
que ao entrar em uma lancheria você sabe qual salgado vai
comprar, o DJ tem feeling e uma
linha musical. Ele segue seus
instintos e mistura com as consagradas.
Pintaúde - Presto muita
atenção no pessoal que está
na pista. Eles são os termômetros da festa. Se pararem de
dançar procuro mudar o som,
o ritmo, para que eles voltem
para agitar.
Universo IPA - O início da
carreira é bem complicado.
Como divulgar o trabalho de
quem está começando?
Irigaray - Inserindo sets (listas de músicas) em sites e tocando onde der para tocar,
além de usar o orkut como ferramenta.
Pintaúde - Através de sites
Universo IPA - As novas
tecnologias estão se desenvolvendo a passos largos.
Alguns DJ´s colocam som
com CDJ, outros já utilizam
o notebook, e tem até DJ
dançando e fazendo performance no palco. Como será
o trabalho do DJ no futuro?
Irigaray - Será com mesas
midi ligadas ao notebook, e cada um terá seu estilo, como agora, cada um terá seu público.
Pintaúde - Vai ser um barato, o DJ será considerado o
show man, o artista da festa.
Universo IPA - É necessário ter toda a “parafernália” de som (amplificador,
mesa de som, CDJ´s, caixas
de som) ou posso simplesmente ter um notebook com
uns 40 GB de música e oferecer serviço de som?
Irigaray - Existe espaço para todos. O que importa é você
fazer melhor do que aqueles
que estão aí na ativa; os ruins
somem, os bons ficam, os ótimos ganham seu lugar, como
em qualquer mercado. Quem
dormir ou mesmo tirar uma soneca pode perder seu trabalho
rapidinho.
Pintaúde - Acho necessário
ter a aparelhagem e acredito
que sem ela se perca um pouco do brilho, embora muito já
se use o notebook, que tem simulador de CDJ, luz e efeitos.
Universo IPA – As muitas
músicas dos anos 70 e 80
têm voltado em alto estilo
nas danceterias, aniversários, casamentos e outros
gêneros, porém com batidas
e ritmos diferentes. Como
tem sido a adesão a esta nova característica?
Irigaray - Acho importante
e uso freqüentemente novos
remixes no meu trabalho.
Pintaúde - Dá certo, eu gosto bastante e o pessoal também
gosta, estão com uma roupagem nova, isto é, muito bom.
Universo IPA - A profissão é regulamentada? Existe um sindicato?
Irigaray - Não existe sindicato, mas é regulamentada pela Delegacia Regional do Trabalho.
Pintaúde - Desconheço um
sindicato dos DJ´s.
Universo IPA- Quanto ganha um DJ?
Irigaray - Um iniciante ganha ao torno de R$ 800 ao mês;
um DJ top pode receber até
um milhão de dólares ao mês.
Pintaúde - Depende dos
locais onde atua. Em eventos
pequenos, em média de R$ 800
a R$ 1.000. Em eventos maiores o valor também será maior,
pois pode envolver até mais
profissionais e auxiliares.
10
Educação
junho de 2008 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA
 inclusão na prática
Biblioteca Central Guilherme Mylius
Inaugurada em 26
de agosto de 2006,
a Biblioteca Central
Guilherme Mylius está
instalada no Centro
Universitário Metodista,
do IPA, em Porto Alegre
e funciona em regime
de 24 horas, inclusive
aos sábados, domingos
e feriados, atendendo
alunos, professores e a
comunidade em geral.
Jaqueline Cavalini
e Jarbas Brito
D
De acordo com a coordenadora geral das bibliotecas da Rede Metodista de Educação, Gardênia de Castro, a Biblioteca
Central funciona 24 horas, em
um prédio cuja construção data
de 1923 e que antes serviu de
internato para os alunos do antigo Instituto Porto Alegre. A
construção foi totalmente res­
taurada, tendo sido mantidas as
características originais, tais como a fachada, composta de blocos de pedras e as duas sacadas sustentadas por imponentes
colunas e que realçam o visual
arquitetônico da construção.
Em seus três pavimentos,
numa área de 1.622,90 metros
quadrados, encontra-se o acervo de livros e periódicos, bem
como os espaços destinados
ao acesso a catálogos on-line
e internet, balcão para atendimento geral e guarda-volumes.
Há também de salas de leitura
e estudos, com um mobiliário
moderno, compondo ambientes acolhedores.
Quanto ao acervo, informa
a coordenadora, a Biblioteca
conta com 55 mil volumes e
inclui livros, periódicos e materiais especiais. Também relata que “para institucionalizar
o acesso às suas dependências e o uso do material pela
comunidade, foi editado o regulamento das bibliotecas, fixando em um instrumento legal
as regras objetivas para os
usuários”.
Para o atendimento durante as madrugadas, explica Gardênia de Castro, o IPA mantém
o portão principal permanentemente aberto, com controle de
acesso aos interessados, mediante identificação.
Cultura de
novos hábitos
O funcionamento em tempo
integral da Biblioteca Central contribui para a implantação de novos hábitos entre os
estudantes. Alunos que trabalham durante o dia, contam
Jarbas Brito
Os alunos da PUCRS, Cléber (E) e Guilherme
Jarbas Brito
Arquitetura preservada
com o horário de atendimento,
após as 23h para realizar tarefas escolares.
Na busca de leitura e preparação para as provas finais,
a estudante de Fisioterapia da
Unidade Central, Brasília, 42
anos, e que também é mãe de
uma aluna do Centro Universitário, diz que até pouco tempo desconhecia a possibilidade de acessar a biblioteca a
qualquer hora do dia e da noite, e inclusive nos finais de semana e feriados. Para ela, a
iniciativa é louvável porque facilita a vida acadêmica daqueles que dispõem de curto espaço de tempo para ler e pesquisar as matérias.
É essa também a impressão dos estudantes Cléber
Germain e Guilherme Fachi,
alunos do curso de engenharia elétrica da Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul. “Se eu estivesse em casa, não teria disposição de abrir os livros e cadernos para estudar, como estou
fazendo aqui, neste lugar apro-
priado que é a biblioteca”, destacou Cléber, em depoimento
dado à reportagem no domingo, dia 22 de junho, às 10h da
manhã, sob uma temperatura
de 10 graus, enquanto se preparava, na sala de leitura da
Biblioteca Central, para os
seus exames de final de semestre.
Baixos índices
de leitura
Dados obtidos por pesquisas recentes apontam que a
maioria dos brasileiros que alcança os bancos das universidades, costuma ler menos
de dois livros durante a sua
vida escolar. São pessoas que
chegaram à idade adulta sem
conhecer as obras clássicas
da literatura brasileira e muito
menos os textos básicos e
necessários para a aprovação
nas provas para ingresso em
um curso superior. Assim, tam­
bém, os estudos revelam o
despreparo dessa população
que não tem o hábito da lei-
tura para o ingresso no mercado de trabalho, cada vez
mais disputado.
Índice de
criminalidade
Na opinião de autoridades
públicas da área de segurança,
e de estudos realizados no âmbito do direito penal, a existência e a disponibilidade de acesso da comunidade em geral, e
não só a acadêmica, a locais
como a Biblioteca do IPA, podem influenciar e contribuir para a redução dos índices de
criminalidade no Brasil. “Se aos
jovens for oferecida a opção de
locais dessa natureza, nos
quais disponham de espaço
para ler, pesquisar e estudar,
certamente ficarão menos tempo na rua, menos expostos a
todo tipo de más influências
que via de regra os levam a delinqüir” – destaca o jovem advogado Gabriel Hernandez, 23
anos, morador da Capital e freqüentar assíduo da biblioteca
do IPA.
Um invejável espaço acadêmico
Maurício Costa é um
diplomata com atuação
no Ministério das Relações
Exteriores. Sua preparação
à carreira diplomática
aconteceu, em grande
parte, na Biblioteca Central
Guilherme Mylius, onde,
além do espaço físico,
fez uso do acervo
bibliográfico necessário.
Estudante de escolas públicas e egresso da UFRGS, onde
cursou Letras, afirma ter crescido na classe D e superado
muitas dificuldades materiais e
pessoais para se tornar um diplomata. Para ele, “a Biblioteca
do IPA é um diferencial da comunidade acadêmica de Porto
Alegre que precisa ser mantido,
estimulado e copiado por todas
as instituições sérias”.
Universo IPA - Sabemos
que você enquanto se preparava para o concurso do
Instituto Rio Branco, utilizou
o atendimento 24h da Biblioteca Central do IPA? Como
foi essa experiência?
Mauricio Costa - Foi fundamental para a minha prepa-
ração. Não havia em Porto Alegre lugares adequados e disponíveis para estudo aos finais de
semana. Quando soube que
havia uma biblioteca com serviços 24h no IPA, não acreditei.
Depois pensei que fosse somente para os alunos de suas
faculdades. Para minha grande
surpresa e satisfação, naquela
época, fui recebido no IPA de
forma mais cordial e prestativa
do que em muitas universidades
públicas. Poder estudar aos sábados, domingos e feriados,
sem hora para começar e terminar, é tudo o que precisa um
candidato ao concurso de admissão à carreira de diplomata,
um dos mais difíceis, senão o
mais difícil do país. Tenho muito a agradecer ao IPA. Embora
eu não tenha estudado nem me
formado em uma das suas faculdades. Sem o IPA não teria
chegado aonde cheguei.
Universo IPA - Qual o período que você utilizou a Biblioteca Central?
Mauricio - Utilizei a Biblioteca especialmente nos verões
de 2006 e 2007, durante a fase
intensiva de preparação às vés-
Arquivo Pessoal
“Sem o IPA não teria chegado aonde cheguei”, diplomata Maurício Costa
peras do concurso, aos sábados, domingos, feriados e dias
de semana. Muitas vezes permanecia estudando até o início
da madrugada.
Universo IPA - O que você achou do atendimento?
Mauricio - O atendimento
sempre foi muito bom. Só tenho
elogios para a biblioteca.
Universo IPA - Você entende que essa experiência
deva ser incentivada e que
outras instituições também
ofereçam esse tipo de serviço tanto a comunidade
acadêmica quanto a comunidade em geral?
Mauricio - Sem dúvidas.
Um serviço como vem sendo
prestado não pode ser medido
em retorno financeiro ou custos.
O incentivo ao conhecimento e
ao estudo não tem preço. A Biblioteca do IPA é um diferencial
da comunidade acadêmica em
Porto Alegre, que precisa ser
mantido, estimulado e copiado
por todas as instituições sérias.
Enquanto eu estudava presenciei mais de uma vez, em domingos, os pais passeando
com os filhos para mostrar a
biblioteca. Onde mais isso poderia acontecer? Acho que a
Biblioteca do IPA é motivo de
orgulho para Porto Alegre.
Universo IPA- Essa prática de bibliotecas 24h pode
ou deve ser adotada pelo poder público aos cidadãos?
Mauricio - Não tenho a menor dúvida de que essa iniciativa
deve ser adotada pelo poder público. No Brasil, educação é essencialmente oferecida pelo Estado, especialmente em nível
fundamental e médio. São nesses níveis que o esse serviço deveria ser provido para incentivar
as novas gerações a superar as
Maior divulgação
Alguns depoimentos colhidos ao longo da preparação
desta reportagem apontam
para a necessidade de maior
divulgação dos atendimento
24 horas oferecido pela Biblioteca Central Guilherme Mylius,
É o caso, por exemplo, da servidora pública, formada em
Letras pela PUC, tradutora e
intérprete dos idiomas francês
e alemão, Sônia Butteli Coimbra, 49 anos, moradora da Capital. Ela demonstrou surpresa
ao saber da existência de uma
biblioteca 24h em Porto Alegre. “Confesso que a iniciativa
é muito importante para a nossa cidade e para todos que
vivem aqui. Na minha opinião,
entretanto, esse fato precisa
ser mais divulgado pelo IPA.
Assim, vai permitir maior utilização e despertar na comunidade o hábito saudável da leitura, a qualquer hora do dia e
da noite”. E complementou:
“vou divulgar para todos os
meus amigos”.
dificuldades e a compreender a
importância de educação e cultura para o seu futuro.
Universo IPA - Qual a men­
sagem você deixa aos nossos leitores?
Mauricio - Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao
IPA por ter oportunizado o uso
de suas instalações e de seu
acervo. Numa cidade como
Porto Alegre, onde a dificuldade
de preparação era grande devido à falta de bons cursos preparatórios à carreira diplomática, o serviço prestado pelo IPA
fez toda a diferença. Essas dificuldades me estimularam a
aceitar o convite para auxiliar na
preparação do Curso Atlas, de
Porto Alegre, voltado à formação de candidatos ao concurso
do Instituto Rio Branco.
Aos alunos do IPA, esclareço e estimulo a prestarem o
concurso, pois a carreira diplomática não é inalcançável e nem
mesmo é somente para “eleitos”. Estudei minha vida inteira
em escolas públicas no subúrbio, cresci na classe D, superei
muitas dificuldades materiais e
pessoais e, mesmo assim, me
tornei diplomata. Estimulo a todos, que se interessam ou sonham com essa carreira, que
se dediquem à preparação.
Educação
Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA junho de 2008
11
Arquivo ABL
 regime integral
Scliar, um ilustre usuário
O escritor Moacyr Scliar,
nascido em Porto Alegre
em 1937, morador do
bairro Rio Branco
na Capital, é um
dos entusiastas
freqüentadores
da Biblioteca com
atendimento 24
horas do IPA.
E
Em sua biografia, se destaca também como médico,
especialista em Saúde Pública
e doutor em Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública. Mas Scliar se sobressai
entre os gaúchos por ser o
ocupante da cadeira de número 31 da Academia Brasileira de Letras, o que muito
orgulha seus conterrâneos.
Sua obra literária inclui 74 livros em vários gêneros e suas
obras foram publicadas em
mais de 20 países com grande repercussão crítica.
Scliar coleciona prêmios, e
dentre eles: Prêmio Jabuti
(1988, 1993 e 2000), Prêmio
Açorianos (Prefeitura de Porto
Alegre, 1997 e 2002), Prêmio
José Lins do Rego (Academia
Brasileira de Letras, 1998) e o
Prêmio Mario Quintana (1999).
O escritor foi professor visitante na Brown University
(Department
of Portuguese and Brazilian Studies), e na
Universidade do Texas
(Austin), nos
Estados Unidos, e freqüentemente é convidado para conferências e
encontros de literatura no país e no exterior.
Na entrevista que concedeu para o Universo IPA, o escritor falou sobre sua experiência como usuário da Biblioteca 24h. “A idéia de biblioteca 24 horas é excelente.
Quando fui professor visitante
nos Estados Unidos sempre
freqüentava as bibliotecas à
noite e de madrugada. E o IPA
trouxe a idéia para o Brasil!
Maravilha!”, afirmou.
Segundo Scliar, sua iniciativa de procurar os serviços
da biblioteca 24h foi, também,
no sentido de prestigiar esse
tipo de opção oferecida à comunidade, a
exemplo do
que existe
em outras
partes do
mundo.
Scliar se declara “um fã”
de tudo o
que o IPA faz, especialmente
da iniciativa da biblioteca em
regime integral.
“Tudo o que coloca
o livro mais perto
do leitor, tudo o que
neutraliza droga e
violência, deve ser
prestigiado”.
Iniciativa
multiplicada
Como homem de letras, que
já viajou e conhece vários lugares do mundo, Scliar entende
que a biblioteca em tempo integral deveria se estender a todo o país, inclusive com o auxilio e o estímulo do poder puFeu Antunes
Reitora do Centro Universitário Metodista do IPA, Profa. Adriana Rivoire Menelli
Biblioteca garante
acesso aos bens culturais
A Biblioteca Central
Guilherme Mylius, com
atendimento 24 horas,
é um serviço especial
destinado para toda a
comunidade e possibilita
o usuário freqüentá-la
no horário que mais
lhe convém, inclusive
após o término do
período noturno.
Este diferencial, em relação
às demais bibliotecas, de
acordo com a reitora Adriana
Rivoire Menelli de Oliveira,
“Identifica o caráter cultural da
Rede Metodista do Sul e está
fundamentado no princípio
que garante o acesso amplo
aos bens culturais”.
Várias bibliotecas na Europa abrem 24 horas, mas
com auto-atendimento, onde
o usuário se identifica através
de cartão magnético e faz o
auto-empréstimo. Não há a­­
tendimento humano. E ressalta: “Somos uma Instituição pioneira no Rio Grande
do Sul, mas já existiram outras com funcionamento 24
horas por curtos períodos”.
Seguindo o exemplo do IPA,
outras instituições Metodistas estão garantindo acesso
amplo aos bens culturais, como é o caso da biblioteca
Zula Terry, do Instituto Metodista Izabela Hendrix, em Minas Gerais, também com
atendimento 24 horas.
Na sua visão como reitora,
a biblioteca com serviços 24h
está de acordo com a missão
da universidade, promotora de
educação e explica: “Consolidamos o conhecimento da
comunidade acadêmica e geral, contribuímos para a melhoria do ensino, pesquisa e
extensão, ao oferecer serviços
e atendimento de qualidade
através deste espaço aberto
em tempo integral”.
Quanto à divulgação da
Biblioteca Central e dos serviços disponíveis 24 horas, a
reitora explica que há visitas
orientadas, as quais ocorrem
a cada início de semestre,
com alunos e professores.
Também destaca que a mídia
está sempre presente com
matérias e reportagens sobre
a biblioteca.
blico. Também sugere a implantação de redes espalhadas pelas
cidades, o que poderia contribuir
também para diminuir a violência
nos grandes centros urbanos.
“Sem dúvida. Tudo o que coloca
o livro mais perto do leitor, tudo
que neutraliza droga e violência,
deve ser prestigiado”.
Ao analisar a importância da
Biblioteca Central e dos serviços 24hs mantidos pelo Centro
Universitário Metodista, Moacyr
Scliar, revela: “minha admiração
pelo IPA cresce a cada dia. Parabéns!”
Moacyr Scliar em foto oficial da Academia Brasileira de Letras
Iniciativa inspiradora
Em agosto de 2005, o
prefeito de Porto Alegre,
José Fogaça, ex-aluno
e professor do IPA,
inaugurou a Biblioteca
Central Guilherme Myllius
e os serviços 24 horas.
Decorridos três anos,
fala com entusiasmo,
e até de forma poética,
sobre a importância
deste acervo cultural
na construção do
bem comum na nossa
sociedade. E lembra
que além de prefeito
é o “guardião da
chave da Biblioteca”.
Universo IPA - Na sua visão, qual a importância da
Biblioteca para Porto Alegre, considerando que é a
única do Brasil em funcionamento nesse regime de
24h, e uma das únicas do
mundo?
José Fogaça - O IPA oferece à sua comunidade acadêmica e à cidade algo realmente
inédito e inovador: uma biblioteca 24 horas. É de fato extraordinário e fantástico para o
ambiente cultural e intelectual
da cidade. Não sei, se outra cidade brasileira, mesmo falando
das grandes capitais, oferece
um serviço cultural desse tipo.
Tenho feito referência a esse fato em palestras que dou
em outras cidades do Brasil e
do mundo. Por outro lado, somos a cidade da Feira do Livro
mais tradicional do país. Juntando uma coisa com a outra,
percebe-se que a Biblioteca do
IPA vem corroborar uma índole
da nossa cidade, esse amor
inusitado pela leitura e pelo livro.
Como Prefeito, e como guardião da chave da Biblioteca 24
h do IPA, me sinto muito orgulhoso de tudo isso.
Universo IPA - A iniciativa
do IPA de manter um serviço
dessa natureza não deveria
ser copiada por outras instituições de ensino tanto privadas quanto públicas e, até
mesmo estimular que o poder público crie uma rede de
bibliotecas 24h espalhadas
por Porto Alegre?
Fogaça - É, sem dúvida,
uma iniciativa inspiradora. O
exemplo está aí. É um hábito
saudável usar as horas fugidias
da madrugada para ler, quando
não se pode dormir. Talvez a
cidade não comporte uma rede, mas a simples existência
de uma biblioteca, aberta 24
horas já é um fator de diferenciação. Precisamos incentivar
e estimular a que as pessoas
em seus horários disponíveis,
em horas ou desoras, usem o
seu tempo para o hábito da leitura. A biblioteca também é um
lugar de encontrar amigos, de
ver pessoas e estabelecer bons
e civilizados hábitos sociais de
convivência.
Universo IPA - O estímulo ao hábito da leitura, do
estudo, colocando serviço
permanente para a população, poderia evitar a escalada da criminalidade, proporcionando às pessoas,
especialmente aos jovens,
uma opção em suas vidas?
Fogaça - Concordo plenamente. Acho que isso fica claro na minha resposta à pergunta anterior.
Serviços sem
fins lucrativos
O IPA mantém o serviço de
acesso à biblioteca 24h de forma gratuita, tanto para a comunidade acadêmica quanto
para a comunidade em geral.
As bibliotecas sempre estiveram presentes nas escolas e
universidades e se constituem
num “complemento do ensino
e aprendizagem”, sendo para
muitos, o “coração da universidade”. Adriana também enfatiza que “a instituição não
busca fins lucrativos, porém,
estabelece em regulamentos
o que deve ser observado e
cumprido pelos usuários, acadêmicos ou não, para que a
prestação de serviços aconteça de forma organizada”.
Universo IPA - Como exaluno e professor do IPA,
poderia deixar uma mensagem final para os nossos
leitores?
Fogaça - Se eu ainda fosse professor do IPA, como fui
aos vinte e poucos anos de
idade, talvez convidasse meus
alunos, suas namoradas, minha mulher, e mais alguns
bons e queridos amigos para
um encontro na biblioteca, talvez num sábado ou sexta à
noite, para – quem sabe – todos procurarmos alguma coisa de Fernando Pessoa. Após
isso, provavelmente, poderíamos concluir a noite em torno
de uma mesa, confraternizando e cada um comentando o
que viu, leu e o que o fez surpreender-se, nos textos sempre surpreendentes de Fernando Pessoa. Se não Fernando Pessoa, quem sabe alguma
coisa do Nejar, ou do Carpinejar? Nos livros está o refúgio
para a nossa angústia, o consolo para a nossa perplexidade, nesses tempos difíceis e
incompreensíveis que vivemos. Quem sabe se ler e conversar sobre o que lemos não
seja uma forma de nos tornarmos mais humanos e mais próximos uns dos outros?
A denominação atribuída à Biblioteca Central Guilherme Mylius é uma homenagem ao primeiro reitor brasileiro do
Colégio União, de Uruguaiana, hoje Instituto União de Uruguaiana da Igreja Metodista. Guilherme Mylius exerceu suas
funções de 1937 a 1940. Até então a reitoria era ocupada por norte-americanos.
O Colégio União é a mais antiga instituição de ensino metodista do Brasil.
Ivo Gonçalves/PMPA
Fogaça na inauguração da Biblioteca Central Guilherme Mylius
12
junho de 2008 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA
Comportamento
 caras e bocas
A galera que faz as tribos urbanas
http://modaonline.blogs.sapo.pt/21673.html
As tribos urbanas invadem
as cidades grandes e
pequenas e estabelecem
redes de amizades a partir
de interesses e afinidades.
Agregam jovens de acordo
com as idéias,
pensamentos, hábitos
e modo de vestir. São
ramificações que abrem
um leque de opções e
são responsáveis por
movimentos culturais que
fizeram e fazem a história.
Afinal eles só querem
ser ouvidos!
Clarissa Madalozzo
Simões Pires
P
Pertencer a uma tribo, explica o psiquiatra José Outeiral,
autor do livro “Adolescer”, em
entrevista ao Universo IPA, “é
tanto um modismo como algo
sociocultural. E seria essa a forma de uma fuga individual pa- Banda Tokio Hotel: a nova tribo vinda da Ásia, estilo Kei, “as sombras que amam demais”
ra o coletivo; a busca de uma
identidade grupal que acaba pica de uma cultura noturna. que invadiu as ruas e ficou co- samba raiz são pouco conheabrindo mão, por vezes, da Os jovens desse estilo gostam nhecido como skate.
cidos pelo público jovem de
identidade pessoal”. Outeiral de usar roupas extravagantes
Bruno, que é assíduo fre- hoje. Com o surgimento do “paqüentador do Parque Marinha gode”, que significa “reunião de
explica que a família passa a e acessórios coloridos.
exercer uma influência menor
Ana revela que sempre gos- do Brasil, e muito já usou as pessoas com uma boa musido que o grupo ou tribo, uma tou de pessoas diferentes e mu- pistas de skate, acredita que ca”, afirma a adepta do “samba
vez que alguns jovens, por se sicas fora das paradas de su- não se escolhe a tribo que se raiz”, o samba ficou descaracsentirem perdidos ou carentes cesso, “o que é um tanto ridí- vai integrar, “simplesmente faço terizado e confundiu-se com
dentro de casa, acabam bus- culo porque na época em que parte de uma tribo por afinidade outros estilos musicas.
Carolina comenta que existe
cando fora do
eu fui clubber, gos- e semelhanças: gosto em cocontexto familiar
tar de música ele- mum”. Para o skatista, integrar uma exigência em relação ao inuma influencia do
trônica, que não uma tribo resulta da influência gresso de pessoas na tribo, e
fosse dance da Jo- de amigos e do bom relaciona- explica que é necessário “conhegrupo.
Para alguns jovem Pan, ter pier- mento, também, com outras cer o samba”. Ela também fala
vens com boa situcing no nariz e chu- tribos.
do preconceiPara a
ação financeira, repar pirulito na noite
to das classes
lata o psiquiatra, a
era coisa de gente a d e p t a d o
mais altas,
tendência será falouca e excluída, e “samba raiz”,
mas afirma
Carolina Mazer parte de um
isso já em 1998”.
que a ideologrupo com essa
Ana acredita que dalozzo S. Pigia da tribo é
mesma caracterísa roupa é uma ca- res, 22, a sua
manter uma
tica. Mas cada tribo
racterística de iden- tribo se cons“boa música”.
corresponde, de
tidade dos grupos e titui num moE compleuma maneira geral,
também afirmou vimento que
mentou “o
Tribo
hippie
às condições ecoque existem algu- carrega toda
samba carrenômicas e cultumas rivalidades en- a história do Brasil. Para ela ga de certa forma, uma mensarais, existindo, tamtre as tribos, mas “todo o samba tem uma men- gem popular, seja de história,
bém, algumas mais
que sempre aceitou sagem subliminar, e não é à sentimento ou religião (terreiviolentas como os
bem novas pesso- toa que carrega o nome de ro)”.
Tribo punk
“skinhead”, (os caas, e justificou: “até grandes ícones da música e
Angiane Bastilho Vargas,
beças peladas), que surgiram na porque patricinhas e maurici- da cultura brasileira”.
20, não se intitula junk, grunge,
década de 60, no Reino Unido. nhos não se interessavam pela
O ‘samba’ significa umbigo metaleira, gótica, new metal ou
O objetivo dos jovens que minha tribo, justamente por ser- em quimbundo, língua de An- emo. Ela é uma fiel adepta ao
fazem parte de uma tribo, na vi- mos excluídos. Ela também gola, e sua origem é afro-baia- rock punk não pela forma de
são analítica de Outeiral, visa compara os jovens de hoje com no, com tempero carioca. Nas- vestir, mas pelas letras das mubuscar identificações e ter o sen- os de sua é época, “a maioria ceu na influência de ritmos afri- sicas e o estilo próprio, sem
timento de pertencer a um gru- da gurizada hoje em dia é por canos que foram adaptados convenções nas palavras.
O movimento punk ocorreu
po. Eles não fazem isso pelos influência. É só passar na hora para a realidade dos escravos
do intervalo do Colégio Rosário brasileiros e, ao longo do tem- no fim da década de 70 e a
outros, mas para si próprios.
que se vê os gurizinhos de 12 po, sofreu inúmeras transfor- primeira manifestação do estianos com piercing no lábio, ves- mações de caráter social, eco- lo punk rock, ocorreu nos EUA,
O que eles pensam?
tidos como o 50 Cent (banda de nômico e musical, até chegar em 1974, num show do The
Ramone e, em menos de um
“Nem sempre tenho o meu hip-hop americana). Na minha às características de hoje.
Carolina revela que entrou ano, ganhou ramificações na
estilo definido, mas mantenho época, legal era ser igual ao Kelly
o desejo de ser diferente”, re- Slater”.
nessa tribo através de amigos Inglaterra.
vela Ana Laura Eltz da Silva, 22
Apesar de não ser mais uma e que nela persiste pela qualiAngiane defende a liberdaanos, que se define como “al- fiel adepta ao estilo clubber, Ana dade do samba. Ela afirma que de de expressão e confessa
ternativa” e mantém o antigo ainda mantém vinculo com a an- existem limitações para receber que já sofreu influências de amiestilo clubber que nos anos 90 tiga tribo e acredita que sua ide- novos integrantes, uma vez que gos, como na época em que
esteve no auge, embalado com ologia sempre foi ser feliz, não tanto o samba canção (um ou- escutava a banda de rap os Raa música do gênero techno, tí- importando a cor do cabelo, rou- tro estilo do samba), quanto o cionais e samba. Hoje, ela sepas, piercing ou tatuagens.
gue a ideologia da tribo que é
Já o skatista Bruno R. Reanti-capitalista, anti-modismo
e sem regras. Mas não é qualppold, 27, disse fazer o estilo
mais esportista e urbano, mas
quer um que entra nessa tribo.
sempre mantendo as tendênÉ preciso que se faça um recocias da moda. A tribo do skate
nhecimento para ver se a pesé uma ramificação do surf e sursoa conhece o rock ou se não
giu nos anos 60, na Califórnia
é “vítima da modinha imposta
(EUA), quando o surf reinava.
pela mídia”.
Porém, durante as marés baiAngiane não se sente desxas, os surfistas eram impossilocada da sociedade, mas
bilitados de exercer o esporte
acredita que ela é capaz de
e surgiu, então, a idéia de fazer
deslocar qualquer um, de qualTribo do samba
das pranchas, um divertimento Tribo clubber
quer estilo, dependendo do lo-
Filmes
Clubber - A Festa Rave (2000).
Hippie - Woodstock (1970).
Punk - Punk: Attitude (2005).
Samba - Paulinho da Viola - Meu
Tempo É Hoje (2003).
Skinhead - A Força Branca (1992).
Skatistas - Vida Sobre Rodas
previsto para 2008/2009).
qüilidade é fundamental no espaço conquistado, explica Jauri. Para ele, esse espaço é um
legado, “uma herança que recebemos e que passaremos
para as futuras gerações. Não
há uma hierarquia, e sim respeito entre os integrantes da
tribo”.
Para Jauri, fazer parte de
uma tribo é ter voz ativa, “a gente se sente mais forte”. Também
revela que não há rivalidades
entre outras tribos. O único problema para eles é a fiscalização
em determinados lugares, que
os proíbem de expor os seus
trabalhos.
O estudante César Alberto
Manoel, 28, faz parte do estilo
Cosplay, que é uma abreviação
de “costume player” (fantasia
cal que se está e complemen- em inglês). Os integrantes desta: “Eu não obrigo ninguém a sa tribo, conhecida como
ouvir o que eu gosto de curtir, Otakus, se caracterizam e ine nem por isso quero que fa- terpretam seus personagens
çam o mesmo comigo. Se me prediletos do desenho japonês:
convidarem pra ir numa festa mangá e animê. Usam desse
é outra coisa, eu vou decidir se estilo como hobby qual César
vou ou não”.
afirma não abrir mão.
O casal de hippies, Mabel
Desde 2002, o estudante
Campos, 24, e
freqüenta os evenJauri Antônio Lutos cosplay, que
aconteciam raracas, 36, defenmente, mas hoje
dem a coletividade. A forma de
com a “capitalização” desse estilo,
tratamento entre
têm maior divulgaos integrantes do
grupo, revela Jaução.
Os quadrinhos
ri, é como de uma
japoneses como:
grande família,
Samurai X e Draapesar de muitas
vezes a família
gonball, ainda chamam a atenção de
biológica não
jovens para essa
aceitar por completo esse estilo
nova tribo, e foi através deles que César
de vida. “Assumicomeçou a aderir a
mos uma postura
e decidimos ser o
esse hobby.
que queríamos”.
Apesar de usaO modo de sobrerem as vestimentas
Tribo skatista
extravagantes, mas
vivência da tribo
privilegia a arte e mantém a es- confeccionadas com muitos
sência do estilo aventureiro “hi- detalhes e “amor”, tudo para
representar os seus ídolos da
ppie de ser”.
O movimento hippie surgiu melhor forma possível, César
nos anos 60, caracterizado por afirma: “temos um lugar onde
protestos e, em especial, con- nos encontramos para convertra a guerra do Vietnã. A forma sar, mas usamos roupas norde sobrevivência comunitária mais. Só vestimos as fantasias
privilegiava a produção de bi- durante os eventos”.
juterias e artigos artesanais. Para o casal que valoriza acima
O Visual Kei
de tudo a arte, a família, o respeito e a coletividade, todos são
O estilo Kei, vindo da Ásia,
bem vindos na tribo, mas é pre- aos poucos está conquistando
ciso respeitar a “família”, como o ocidente e transformando a
eles assim se definem. Por vi- moda. O visual Kei é um moviverem da comercialização de mento musical que surgiu no
trabalhos produzidos de forma japão em 1980. Os jovens descoletiva, deve haver um bom sa tribo priorizam um estilo de
relacionamento entre os inte- roupas peculiar, usam roupas de
grantes da tribo hippie e a tran- couro, estilo cabedal, de napa
e blasers estilo rococó, além de
cintos de liga e corpetes. E não
abrem mão da maquiagem, tanto os homens quanto as mulheres. Curtem desde rock até música clássica. E dentre as bandas adeptas a esse estilo estão
os XJapan e Tokio Hotel.
Todos se definem como
sombras e se dão o direito de
amar a quem quiser. Lembram
um pouco os emos (abreviação
do inglês emotional). Será essa
Otakus: inspirados por desenhos
japoneses como os Narutos
a renovação ou a evolução?
Comportamento
Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA junho de 2008
13
 céu e inferno
O pecado mora ao lado, bem ao lado
Fotos Germano Beskow e Edimar Blazina
Entre o céu e o inferno: a fachada dos prédios mostra o contraste no centro de Porto Alegre
Diego Barbosa
O centro de Porto Alegre
é um local de múltiplos
ambientes e muitos
contrastes, uma prova
disto está na avenida
Júlio de Castilhos onde
um cinema pornô está
localizado ao lado de uma
igreja evangélica. Dois
ambientes completamente
opostos que convivem
pacificamente quase
porta a porta.
SESSÃO DE CINEMA
Diego Ramos, Edimar
Blazina e Germano Beskow
ção para o show de sexo explí-
S
Se você procura um encontro com Deus pelas ruas da capital, tenha cuidado, pois com
alguns passos a mais você poderá entrar em um dos cinemas
eróticos de Porto Alegre. O Cine Atlas, vizinho da Igreja Internacional da Graça de Deus, que
está há cinco anos na região
central da cidade. A discordância de pensamentos é grande,
a distância física pouca, contudo, os freqüentadores de ambos vivem alheios a diferença.
A IGREJA
A Igreja da Graça surgiu na
cidade de São Paulo em 1980.
Fundada pelo Missionário Romildo Ribeiro Soares, o RR Soares, após uma dissidência
com seu cunhado, o bispo Edir
Macedo, da Igreja Universal do
Reino de Deus. Com um total
de 16 templos espalhados por
Porto Alegre, o centro foi selecionado para ser a sede da instituição no estado.“Escolhemos
o centro pela fácil localização”,
diz o pastor auxiliar Ismael Bomerish, 31 anos.
Sábado, centro de Porto Alegre, 15h. Pessoas passam pela
rua correndo e atrasadas como
é comum a esta região. Dentro
de uma sala de cinema, na avenida Júlio de Castilhos, aproximadamente 15 pessoas estão
reunidas assistindo ao final do
filme “Sexo Grupal na 69” . O
ambiente é apenas iluminado
pela luz vinda da tela. Ao final
da sessão, há uma movimentacito, com um casal contratado.
O público aumenta com a chegada de mais dois homens. A
Pastora incentiva os fiéis durante o culto com palavras de ordem: “Você vai arrebentar meu irmão”
templo. Questionada se no momento da escolha do local a ser
estabelecida a igreja, foi considerada a presença destes estabelecimentos ao redor, a pastora responde: “Não, mas acabou sendo até estratégico, pois,
como disse, a missão é mostrar
o caminho a essas pessoas e
convencê-las de que estão erradas”, informa Neloci. O auxiliar
Israel mostra o mesmo ponto
de vista: “Nós oramos para que
todas as pessoas que freqüentam esses locais possam se
converter também” conclui.
é pra me divertir”, diz José (nome fictício), ao sair de uma sessão no cine Atlas. Diferente dos
dois mil freqüentadores diários
da Igreja da Graça, o cinema
tem pouco movimento. “Vejo
pouca gente entrar ali por dia”
revela U.S., 49, que trabalha
próximo ao local. Ainda segundo ele, o público está acima dos
40 anos “Entra muito velho, às
vezes uma gurizada, mulher é
muito raro” relata.
MUITOS HOMENS,
POUCAS MULHERES
A PRESENÇA
HOMOSSEXUAL
O CINEMA PORNÔ
Um fato curioso sobre o
Atlas é a grande presença de
homens sendo que mulheres,
quase não freqüentam o local.
Segundo a psicóloga Ana Léa
Mendes, 42, esse é um comportamento característico da
Outra peculiaridade do cinema é a presença de homossexuais em um ambiente teoricamente heterossexual. Sites
como o da ONG Nuances e o
“Guia Gay Brasil”, indicam o
Atlas como local de encontro
Se a função da igreja, segundo sua liderança, é a salvação das almas, o mesmo não
se pode dizer de seu vizinho: o
cinema pornô. “Eu venho aqui
mulher, “A atração feminina não
é visual, dificilmente a mulher
vai em busca de sexo por sexo,
não faz parte da cultura feminina”. Já a presença de homens
mais velhos é explicada como
uma busca de uma realização,
“Nas gerações mais antigas,
poucos têm coragem de realizar suas fantasias com a esposa, por exemplo, por isso buscam alternativas como esses
cinemas”, conclui.
apresentação se inicia e, após
para gays. A explicação para o
fato vem de um usuário da comunidade “Cine Atlas, Áurea e
Apolo GLS” na página de relacionamentos Orkut. Indagado
sobre a presença de homossexuais em um lugar voltado para
o público heterossexual, POA,
como se auto denomina o rapaz, responde: “O lugar é hetero para atrair homens, se vai
homem, tem gay” explica ele.
algum tempo, enquanto a dupla
atua no palco, os espectadores,
animados, se encorajam ficando mais desinibidos. Com o final
da apresentação o público se
dispersa deixando a sala vazia,
enquanto novos freqüentadores
chegam a espera de mais uma
sessão.
UM CULTO
O culto da Igreja da Graça
teve início às 14 horas. Antes
ISSO, SIM, INCOMODA
do começo, músicas evangélicas foram tocadas para pre-
Apesar da aparente conformidade com o cinema, uma fiel
da Igreja da Graça revelou o
que a incomodaria: “ Pior que
os filmes pornôs, seriam os feiticeiros aqui em volta”, diz Franciele Nunes, 25. Esse é o Brasil, um sincretismo superficial,
contudo, pacífico.
Edimar Blazina
parar o espírito dos fiéis, que
não lotavam o local, mas ocupavam boa parte das cadeiras.
O público freqüentador do local
é bem variado, desde crianças
até idosos vão à igreja, alguns
trazem fotos de familiares para
que estes possam receber uma
benção, além de darem depoimentos fervorosos que exaltam
Jesus e Deus; toda vez que uma
graça é alcançada, aplausos
ecoam por toda a parte. Com
frases que motivavam os fiéis
OS VIZINHOS
O que causa estranheza, a
primeira vista, não é o local em
si, mas sim os arredores do prédio. Além do cinema pornô existem outras duas boates de shows eróticos a uma quadra do
templo. “Isso não nos incomoda, a nossa missão é buscar a
salvação destas pessoas, quanto mais freqüentadores destes
lugares entrarem aqui, mais
pessoas serão salvas”, explica
a Pastora Neloci Bayer, 48, esposa do pastor presidente do
como “o capeta já era”, a pastora que ministrou o culto utilizava gestos semelhantes aos
feitos pelo fundador da igreja,
RR Soares, na televisão, falava calmamente e de um modo
descontraído. Após meia hora
de pregação da palavra de Deus
e emocionada participação dos
presentes, a reunião se encerra,
contudo, ainda permanece uma
fila de pessoas para um aconselhamento com a ministra, ou um
de seus auxiliares.
Ao lado do templo o cinema vende seus filmes e shows eróticos sem inibição e preconceito
14
Geral
junho de 2008 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA
 Saúde
A difícil missão do agente de saúde
O trabalho dos agentes
de saúde existe no Brasil
há 15 anos. Só em Porto
Alegre são mais de 380
espalhados por diversos
postos de saúde. Eles
representam um elo entre
a comunidade e os postos,
e são vinculados às
prefeituras.
N
Simone G. Machado
No perfil do profissional da
saúde está a facilidade de se
identificar com a comunidade,
o gosto pela atividade e as habilidades de aprender e repassar as informações necessárias
à população, é o que revela a
agente do Posto Nossa Senhora Aparecida (NSA). Também é
preciso ter coragem para enfrentar e lutar contra todos os
tipos de problemas da comunidade, como por exemplo,
saúde, saneamento básico, salário justo, entre outros.
A psicóloga e coordenadora
Vera Lúcia Ludwig, 37 anos, do
posto NSA, diz que o local é uma
das 12 unidades pertencentes
ao Hospital Nossa Senhora da
Conceição, vinculado ao Governo Federal, com uma estrutura
física restrita, sem o tamanho
apropriado para o número de
pessoas que moram na comunidade, uma vez que diariamente passam por lá, 80 pessoas e
mensalmente 1.600.
Segundo a psicóloga, o trabalho dos agentes é fundamental para ajudar a resolver problemas muito difíceis, como por
exemplo, a redução da mortalidade infantil e manter a qualidade de vida no Brasil, pois a função desses profissionais é ensinar como ter uma vida saudável,
identificar situações de risco individual e coletivo, além de
acompanhar e encaminhar os
doentes ao posto, notificar ao
serviço de saúde as doenças
que necessitam de vigilantes e
acompanhar todas as gestantes,
entre muitas outras atividades.
De acordo com a Secretaria
da Saúde, para se tornar um
agente de saúde é preciso ter
18 anos, o 1° Grau completo,
prestar concurso e morar na área
onde exercerá essa profissão.
Qualidade de vida
O trabalho dos agentes melhorou a qualidade de vida dos
gaúchos, pois houve a redução
Maria I. B. Souza, com sua neta Luize em momento de lazer
Fotos: Simone G. Machado
Equipe do Posto Nossa Senhora Aparecida
da mortalidade infantil na região,
como foi o caso de Camaquã,
onde o índice de 25 óbitos por
mil nascidos, caiu para cinco.
Sem falar que o Estado está livre
de males como a doença de
Chagas e a hanseníase devido
ao trabalho feito por sete mil
agentes espalhados pelo RS.
Essas informações estão no site www.saudefamilia.org. Ele revela também que a melhoria da
qualidade dos programas oferecidos à população se deve ao
relevante papel dos agentes.
Graças a eles e aos outros profissionais da saúde, o RS possui
os melhores indicadores de
saúde do Brasil. Exemplo disso
é a redução do índice de crianças com baixo – peso que caiu
de 12,06% para 06,86%, na faixa etária de 0 a 60 meses.
A coordenadora do posto
conta que desde o início das
atividades destes profissionais,
os moradores demonstraram
satisfação, como foi o caso de
Fabiana S. Gonçalves, 24
anos. Para ela o trabalho dos
agentes é de grande ajuda,
porque eles passam informações importantes. “No inicio
não dei importância a eles, mas
com o passar do tempo vi que
os agentes são fundamentais
em nossas vidas”.
O mesmo aconteceu com
a aposentada Maria Ivone de
Souza, 59 anos. Ela ressalta
que ainda existem problemas
a serem resolvidos, mas que
não são de responsabilidade
dos agentes, pois “deles a população não tem do que se
queixar”. A aposentada confessou que no início achava
que os agentes mais atrapalhavam do que ajudavam. Mas,
depois que a agente de saúde,
Greice Santana começou a
orientar como agir com sua filha especial percebeu a importância dessa profissão. Sua a
filha Graziela,15 anos, sofria de
depressão e era sempre muito
agressiva. “Depois que a agente de saúde começou a fazer
as visitas domiciliares, e explicou como eu deveria agir, conseguiu que eu falasse com um
médico. Também encaminhou
minha filha para a psicóloga,
onde ela segue o tratamento.
Hoje minha filha já está bem
melhor”.
Reconhecimento
da comunidade
Ao relatar como iniciou a
sua profissão, Greice Santana
conta que não sabia o que era
um agente de saúde, mas a
partir do momento em que percebeu que tinha o perfil adequado, começou a se preparar
para enfrentar o concurso que
habilita a trabalhar em postos
de saúde. Ela revela que sempre quis trabalhar com pessoas e ter uma atividade social
com a comunidade. “As pessoas da Vila Nossa Senhora
Aparecida tiveram alguma resistência em relação ao nosso
trabalho, mas, mesmo assim,
sempre nos trataram com muito respeito. Ao longo do tempo
o povo foi percebendo o quanto somos importantes e o
quanto poderíamos ajudar a
resolver seus problemas, então, essa resistência foi acabando e foi se criando um vinculo de confiança, respeito,
carinho e de amizade entre
nós”, afirma a agente.
Um fato marcante de sua
carreira, conta Greice, foi a
confiança que uma moradora
da vila depositou em seu trabalho. Ela parou a agente na
rua para contar que poderia
estar grávida, e que não gostaria de ter essa criança. Após
a confirmação, voltou a procurar ajuda, pois desejava fazer
um aborto e não sabia como.
A orientação dada foi de não
abortar e, mesmo assim, ela
resolveu tomar um abortivo. Ao
ingerir o produto, começou a
passar mal tendo que ser encaminhada ao posto.
Ao chegar, a paciente foi levada ao banheiro onde acabou
abortando. Depois disso a moradora foi transferida ao hospital para fazer a curetagem.
Após a alta hospitalar, Greice,
foi visitar a paciente e percebeu
que ela estava arrependida do
ato que havia cometido. “A base para que o nosso trabalho
seja realizado com sucesso deve-se à confiança que os moradores depositam em nós”,
complementa.
O trabalho que é desenvolvido nos postos ajuda a melhorar a qualidade de vida dos
moradores. Assim, ao receber
informações em relação à saúde, a população cria um vínculo maior com o posto e há maior
preocupação com o bem estar
das famílias, um dos principais
objetivos dos agentes de saúde, conclui a agente do Posto
Nossa Senhora Aparecida, Maria Margarete Jaskulski.
Reprodução
 meio ambiente
Arquitetura sustentável
para um mundo melhor
A bioarquitetura ou
arquitetura sustentável
é uma forma de planejar
construções que utilizam
maneiras de prevenir os
impactos ambientais que
podem ser gerados em
uma construção. Um grupo
de arquitetos gaúchos
usou os seus princípios
básicos para reformar o
prédio da nova sede do
Núcleo Amigos da Terra
(NAT) e tem importantes
considerações a fazer
sobre o tema.
Gloria Maria Alves de Oliveira
e Fernanda Escouto Almeida
A arquitetura sustentável é
uma nova tendência adotada
por arquitetos preocupados
com a preservação dos recursos
naturais. Ela surgiu na década
de 70 e defende maneiras de se
construir sem alterar o equilíbrio
do meio ambiente, aproveitando
a energia solar e eólica.
Ainda em evolução, a bioarquitetura vem ocupado espaços de debate onde seus
adeptos divulgam seus princípios voltados para a melhoria
de qualidade de vida das pessoas e principalmente do meio
ambiente.
Para a arquiteta e urbanista,
Carolina Herrmann Coelho de
Souza, uma das profissionais
que participou do projeto da
casa NAT, a bioarquitetura baseia-se na correta aplicação de
elementos arquitetônicos e tecnologias construtivas, diminuindo, assim, os impactos destruid o re s n o m e i o a m b i e n t e
e,também, a sua carga térmica
ao poupar energia convencional. Esta forma de arquitetura
sempre existiu, ressalta a arquiteta, mas, principalmente, após
a revolução industrial, o homem
passou a ter acesso a novos
materiais, antes não produzidos, ou importados, incorporando tecnologias que, por um
lado trouxeram um grande
avanço em todas as áreas do
conhecimento, bem como muitos benefícios, mas por outro,
impactaram o meio ambiente
de forma imprevista.
O objetivo da arquitetura
sustentável, afirma Carolina
Herrmann, é apenas resgatar a
preocupação das pessoas em
preservar o meio ambiente, pois
é ele quem fornece todos os
recursos para vivermos e adequarmos nossas tecnologias
Em um projeto sustentável,
Sistema bioclimático do projeto desenvolvido para a nova sede da Casa Nat
pondera a arquiteta, leva-se
em consideração os condicionantes locais de clima, relevo,
entorno e, também, dos materiais locais. E, para tanto,
são considerados o ciclo de
vida dos materiais, bem como
as técnicas que utilizam as formas mais eficientes de uso da
água e energia. Por isso, qualquer país pode realizar uma
construção ecologicamente
correta, inclusive o Brasil,
aproveitando as suas riquezas
naturais e também a sua mãode-obra. “Qualquer país tem
condições de avaliar a sua realidade e buscar soluções
mais sustentáveis, principalmente, se buscar a experiência das gerações passadas,
afirma a arquiteta Leticia Teixeira Rodrigues, adepta à bioarquitetura.
O que pensa a maioria é
que a construção sustentável
é um projeto caro, mas isso é
um equívoco, ressalta Rodrigues. Na execução de um projeto de obra utilizando a bioarquitetura há tecnologias, como
por exemplo o uso de energia
solar térmica, além do aproveitamento da água da chuva,
cujos equipamentos não estão
previstos numa obra convencional, o que implica num maior
custo inicial, mas cujos gastos
retornam em poucos anos, revertendo em economia de
água e energia, complementa
a arquiteta. A ajuda vem sim-
plesmente da consciência de
cada um”, conclui.
projetos
da Casa NAT
Ao relatar os projetos nessa
área, a arquiteta Carolina conta
que já participou do processo
de estruturação coletivo da nova sede da ONG - Núcleo Amigos da Terra/Brasil (NAT), a CASA NAT.
Letícia atuou em projetos
para cooperativas habitacionais. E para aqueles que querem saber mais sobre o assunto é só acessar os sites: www.3c.
arq.br e www.natbrasil.org.br e
ficar por dentro dessa forma nova de construir sem destruir.
Variedades
Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA junho de 2008
15
 Shows
Porto Alegre na rota dos internacionais
A oferta de shows
internacionais no Rio
Grande do Sul tem
crescido significativamente
nos últimos anos. Isso é
atribuído a vários fatores,
dentre eles o surgimento
de novos espaços, a queda
do dólar, além da maior
concorrência entre as
produtoras gaúchas.
POA X SP
O
Vanessa Gonçalves
O público gaúcho muitas
vezes reclama dos preços elevados. Atualmente, o valor
máximo já pago no Estado,
para shows internacionais é
de R$ 500, para assistir a
apresentação do ícone da
músi­ca francesa, Charles Aznavour. Para os portoalegrenses este valor é considerado
alto, mas é necessário lembrar
que muitos custos envolvem
a vinda de grandes artistas.
Em entrevista à imprensa,
o diretor do Grupo Opinião,
Cláudio Favero, afirma que “o
valor do ingresso praticado
aqui é infinitamente menor do
que em outras praças, o que
faz com que a nossa rentabilidade seja menor, e o risco,
maior. Talvez por isso não venham tantos shows internacionais para Porto Alegre
quanto gostaríamos”. Em São
Paulo os preços são mais elevados como o show do Bob
Dylan, R$ 900 e Enio Morricone, R$ 1.500. Valores impraticáveis em Porto Alegre,
considerando o poder aquisitivo dos gaúchos.
Arte sobre fotos extraídas dos sites da produtoras gaúchas
OS CUSTOS
Além do cachê do artista,
existem diversos outros custos
que envolvem a vinda de uma
atração ao Estado. Fazem parte das despesas: a pré-produção (mídia em jornais, panfletos,
outdoor, televisão etc), além da
hospedagem, transporte, alimentação (para abastecer o camarim do artista e as pessoas
que irão trabalhar). Soma-se a
estas despesas, toda a infraestrutura do espetáculo que inclui iluminação, áudio, carregadores, sonorização, locação de
espaço, além do pós produção
que envolve desmontagem, limpeza e relatórios para patrocinadores, entre outros. “Os valores que se movimentam são
altos, mas os custos minguam
o lucro”, afirma Edgar Ruther,
coordenador comercial e financeiro da Opus Promoções.
ESPAÇOS GAÚCHOS
Os espaços gaúchos também são restritos. No ano passado a Opus, em parceria com
a Companhia Zaffari, inaugurou
o Teatro do Bourbon Country que
já foi palco de muitas atrações e
que provavelmente não viriam ao
Estado por falta de local. O Teatro comporta 1100 pessoas. “As
alternativas que a cidade oferecia
sempre tinha dificuldade de data,
já deixamos de trazer vários espetáculos em função da falta de
local apropriado, até que o Teatro
do Bourbon Country surgiu para
preencher esta lacuna” afirma o
diretor da Opus Promoções, Carlos Konrath. A única alternativa
nessa média de público era o Teatro do Sesi, com lotação de
1.700 pessoas. Mesmo assim,
ainda faltam espaços para as su-
Eles vêm, vieram e ainda virão aí
Fabrício Barreto
O ano de 2008 começou
agitado em matéria de
shows internacionais.
Com o dólar abaixo
dos R$ 2, o ano de
ótimas investidas
gringas pode ser esse.
Uriel Gonçalves
As festas começaram cedo.
Já em janeiro tivemos nossa primeira visita, Eagle-Eye Cherry,
dono do hit Save Tonight, que
se apresentou no Rio, em São
Paulo e, também, em Salvador.
Outra, que veio pra cá, logo cedo, foi a atriz de TV e, também,
cantora Hillary Duf,f para duas
apresentações, uma no Rio de
Janeiro e outra também em São
Paulo. Logo após o carnaval
quem resolveu fazer uma parada aqui no país foi o fenômeno
emo My Chemical Romance,
trazendo a turnê do disco The
Black Parade para Curitiba e
novamente Rio e São Paulo.
Chegando um pouco mais
para o sul, mostramos que os
gaúchos também não ficam
atrás em matéria de shows internacionais com a vinda do Iron
Maiden, comandado pela voz
de Bruce Dickinson, em março,
Show do Whitesnake no Teatro do Bourbon Country
e teve seus ingressos esgotados nas capitais de São Paulo,
Paraná e Rio Grande do Sul.
Outros que aproveitaram o embalo e deram uma passada aqui
em março, foram artistas como
Bob Dylan e Julio Iglesia. Já,
Sean Kingston, foi exclusivo para o eixo Rio-São Paulo. Tivemos algumas presenças pouco
prestigiadas também como Interpol e Helloween, tudo isso
apenas em março.
Chegando ao mês de abril,
novamente os gaúchos entram
na rota dos shows importados
com duas bandas de punk rock,
Funeral for a Friend e Rufio, e o
cantor Seal. Enquanto mais pa-
LEI ROUANET
Um fator que facilita a vinda de shows ao Estado é a Lei Rouanet. A
partir dela é possível que pessoas físicas ou jurídicas financiem projetos
culturais . Até 60% do valor que é investido pode ser abatido no imposto de
renda. De acordo com o diretor da Opus, Carlos Konrath, “com a Lei Rouanet todos saem ganhando, já que ela é positiva tanto para o idealizador do
projeto quanto às empresas e ,principalmente, a sociedade”. E um exemplo
ra o lado sudeste do país, quem
se apresentou foi Ozzy Osbourne, Korn e Rod Stewartficando
para Brasília o fenômeno televisivo RBD. Em maio temos uma
parada de um mês nos shows
aqui no sul para juntar dinheiro
e enfrentar a maratona internacional que viria logo a seguir,
mas o resto do país não parou,
com presenças de Whitesnake,
Village People, Nazareth e RBD.
E para fechar o semestre desse
ano, tivemos alguns dos shows
mais esperados do ano como
Joss Stone, que também passou pela capital gaúcha, e Maná, outros cantores que resolveram visitar o Brasil em junho,
foram Bobby McFerrin, da música Don’t Worry, Megadeth e
também Alex Band, antigo vocalista da banda The Calling. E
assim fechamos o semestre do
ano, com mais de 20 shows internacionais.
No segundo semestre, sem
muitos shows confirmados,
quem abre a maratona é o Joe
Satriani, sem presença confirmada para o sul, ele se apresenta no fim de julho em Curitiba, mas dentre as figuras mais
esperadas na segunda etapa
do ano estão: Avril Lavigne,
Scorpions, Justin Timberlake,
Linkin Park, Nightwish e Madonna. Ainda temos alguns
shows que não estão confirmados e, também, estão sem datas, como Red Hot Chilli Peppers, Simple Plan, Amy Winehouse, Alicia Keys, Guns N’
Roses, Radiohead, Backstreet
Boys, Frank Sinatra Jr. KT
Kunstal, Disney on Ice. e Rage
Against The Machine. Como dá
para notar, 2008 é um ano muito bem cotado para os shows
internacionais e mostra, definitivamente, como o Brasil, e
também o Rio Grande do Sul,
entrou na rota destas apresentações históricas.
é o Cirque de Soleil, trazido ao país pela T4F (Time for Fun), que captou R$
9,4 milhões do incentivo fiscal do MinC. Mas, nem todos concordam com
a lei. É o caso de Tania Farias, integrante Tribo de Atuadores, Ói Nóiz Aqui
Traveiz, contrária a lei. No livro de Romulo Avelar – O Avesso da Cena, ela
afirma que “não existem políticas realmente públicas para a cultura. Com
o surgimento do incentivo fiscal, o Governo abriu mão de sua responsabilidade de fomentar o desenvolvimento da cultura. É muito cômodo”.
per produções com uma média
de 10 mil pessoas. Aqui em Porto Alegre, só há o Gigantinho como alternativa. Também temos
o Pepsi on Stage que comporta
6 mil pessoas um resultado da
parceria entre a Pepsi e a Opinião
Produtora. Já o Auditório Araújo
Vianna comporta 3000 pessoas
e deve retornar as suas atividades em 2010. O espaço estava
parado desde 2005 e, após vencer uma licitação pública, a Opus,
pretende reformá-lo e poderá utilizar 75% das datas anuais do
auditório por um período de dez
anos.
Mesmo com tanto crescimento no setor, Porto Alegre
ainda não pode ser comparada
com a cidade de São Paulo.
Isso porque a possibilidade de
viabilizar shows no Estado envolve custos muito elevados.
Para se trazer um espetáculo
internacional ao país é necessário que se tenha inicialmente
uma produtora nacional para
coordenar as locais. Dentre essas produtoras, as maiores do
país são as paulistas. Muitas
vezes, alguns patrocínios são
fechados apenas com a produtora nacional e chega às locais sem nenhuma verba. De
acordo com a coordenadora de
programação e comunicação
da Opus Promoções, Noemia
Matsumoto, “existem vários caminhos para a entrada de um
show internacional. Normalmente é necessário que uma
produtora compre um número
viável de shows para trazer ao
Brasil ou América do Sul. Esta
será a produtora nacional que
fará a ponte entre as produtoras
locais que trabalham em cada
praça”.
Além disso, São Paulo tem
uma média de 15 milhões de
habitantes, enquanto Porto Alegre tem 3 milhões. Já que Porto Alegre tem um número de
habitantes 5 vezes menor do
que a capital paulista, não suportaria uma atividade cultural
tão intensa quanto a de São
Paulo, onde ocorrem produções de grande porte quase
todos os dias.
QUANTO VALE UM SHOW INTERNACIONAL?
2008
Seal - R$ 250
Júlio Iglesias - R$ 360
Charles Aznavour - R$ 500
Cirque Du Soleil - R$ 400
2007
Lauryn Hill - R$ 300
Bryan Adams - R$ 300
2006
Santana - R$ 150
2005
Diana Kral - R$ 300
2004
Norah Jones - R$ 350
Valores máximos de ingressos de shows realizados em POA nos últimos anos.
As produtoras gaúchas
Vanessa Gonçalves
Opus promoções
A Opus atua no Estado
desde 1976. É a produtora
que mais trouxe espetáculos
internacionais ao Rio Grande
do Sul. Dentre as atrações se
destacam: The Cure, RBD,
Zucchero, Jethro Tull, B.B.
King, Village People, Kaiser
Music com Deep Purple, Sepultura e Hellacopters, Dolores O’riordan, Maná entre
muitos outros.
Anos 90
Uma nova geração de
produtoras inicia as suas atividades na década de 90. Em
92, surge a Opinião, e dois
anos depois, a Branco, res-
ponsável por produções internacionais como: Buddy
Guy, America, Betty Carter,
John Pizzarelli. Já a Opinião
produtora trouxe, dentre outros, os shows Akon, Rebeldes, Iron Maiden, Lenny Kravitz, Matisyahu, Seal, Ben
Harper e Joss Stone.
Anos 2000
A Hit’s promoções iniciou
seus trabalhos em 2006, com
a parceria entre Lucas Giacomolli e os irmãos Matheus e
Diego Possebon. Mas ganhou fôlego extra quando
Cássio Lopes, com sua farta
experiên­cia em shows se juntou ao grupo, em 2007, possibilitando atrações internacionais, como Lauryn Hill e
The Doors.
16
Turismo
junho de 2008 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA
 mundo: jordânia
Um potencial turístico a ser explorado
Fotos: Asaph Borba
Quando alguém chega
na Jordânia sente logo a
diferença. Apesar de, ao
longo da história, ter sido
um lugar de passagem
e conflitos, o país é
tranqüilo, moderno e
acolhedor. Por ser um
ponto estratégico, a nação
situada ao leste de Israel,
a oeste do Iraque, ao sul
da Síria e ao norte
de Egito e Arábia
Saudita foi o palco
de acontecimentos
importantes narrados em
textos da história antiga,
inclusive na Bíblia.
p
Asaph Borba e Bruna Garbin
Pela Jordânia passou o povo
de Israel rumo à terra prometida.
Em Mádaba, ainda se pode visitar o local onde Moisés avistou
a Terra Santa de Canaã, pois dali se ve o Mar Morto e o vale do
Rio Jordão, este, até hoje, a
maior fonte de água da região.
Esta nação árabe também
era rota obrigatória das caravanas que realizavam o comércio entre o Oriente e Ocidente.
Dentre as belezas históricas da
Jordânia, duas se destacam:
Petra e Gerash, por sua singularidade, riqueza arqueológica
e beleza arquitetônica, estas
são as duas cidades que apresentam melhor conservação da
história antiga.
Petra, cidade dos lendários
Nabateus, povo que deu origem aos arábios, foi um pólo
comercial importante nos últimos séculos que antecederam
a era Cristã, quando, então, foi
conquistada pelos romanos,
Petra, porém, não perdeu o seu
“glamour”, mesmo sendo um
dos pólos mais distantes do império. A sua beleza foi protegida e, até mesmo, ampliada com
novos prédios e construções.
Ismail, um beduíno que vende chá na parte alta da cidade,
resumiu em poucas palavras a
magia do local: “Passei minha
vida inteira aqui, e o tempo nunca passa”.
A cidade é única, totalmente esculpida nas montanhas de
Mesquita de Aman
Restaurante ao ar livre na cidade de Petra
Entrada de Petra
pedra avermelhada, tanto os
prédios principais, quanto as
milhares de casas, onde as famílias moravam.
Por sua interação com as
montanhas é que a cidade passou a chamar-se Petra. As descobertas arqueológicas na região foram de grande importância para o conhecimento da
vida social e política da região.
A conservação do local até ho-
je impressiona os visitantes.
Gerash, era a principal cidade das Decápolis, o conjunto
das dez cidades mais importantes dos Romanos no Oriente, e
mesmo depois da queda de Roma, a cidade continua sendo um
polo comercial e político da região. A sua conservação cativa,
pois ali se pode ver os detalhes
da arquitetura Greco-Romana
e como foi construída.
Tendo em vista a sua importância estratégica, Gerash
manteve sua posição de metrópole e, ainda hoje, é uma das
maiores cidades da região.
Tal como Petra, as escavações no local são de relevante
importância para a arqueologia
moderna. A Jordânia, além dos
locais já mencionados, apresenta na sua capital Amman,
uma união ímpar com o antigo
e o moderno. O deserto de Waddy Rhan é um espetáculo a
parte, no qual é possível visitar
amigáveis colônias de beduínos, os quais são hospitaleiros
com os turistas.
A cultura do país é de influência árabe, mas com um toque palestino, pois a interação
histórica entre a Jordânia e a
Palestina é grande. A música,
com os rítmos árabes típicos
em toda a região, é melódica
e fala sobre o amor e os romances encantados das Arábias. O artesanato explora os
pontos arqueológicos e os
afrescos de ladrilhos, únicos na
Jordânia. A comida tem influência libanesa e síria, porém,
por ser quase toda produzida
no vale fértil do Jordão, é de
inigualável sabor. Tudo isto, e
muito mais, faz da Jordânia um
dos lugares dos mais paradisíacos da mãe Terra.
Colunas romanas em Gerash
Portal de Gerash
Turismo
Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA junho de 2008
 mundo: syria
Uma história milenar
pouco conhecida no Brasil
Situada no centro do
Oriente Médio, a República
Árabe da Síria tem uma
riqueza histórica e cultural
de mais de 4000 anos que
vai além de suas
polêmicas políticas.
Fotos: Asaph Borba
Castelo dos Cruzados, nas proximidades de Homs
Asaph Borba e Bruna Garbin
O
O país foi palco de importantes acontecimentos da antiguidade. Por ali passaram os
Persas (1100 AC); Alexandre,
o Grande (350 AC) e as mais
diversas legiões romanas (100
AC). Já na era Cristã, estiveram
também presentes os árabes
(660), os Cruzados (1100), psTurcos Otomanos (1500) e, recentemente, Ingleses e Franceses (1918). Todos deixaram
suas marcas que fazem da Síria um lugar com riquezas a serem exploradas.
A capital Damasco é tida
como uma das cidades mais
antigas da história, deixando
para trás Roma e a mística Jerusalém. O mercado central,
situado na cidade velha, é um
dos pontos comerciais em funcionamento ininterrupto e mais
antigo na história, onde se acha
de tudo, desde artesanato até
jóias em ouro. Ali pode ser encontrada, além da culinária local, a tradicional comida árabe.
O país, além de seus monumentos, reserva para os visitantes uma experiência cultural
inigualável. Sua comida é rica
em sabores orientais, com os
temperos típicos como hortelã,
coentro, alho e zátar. Acompanham os pratos típicos o azeite de oliva, feito da maneira
mais pura possível. A carne favorita da região é a de ovelha,
mais rica, seca e saborosa do
que a consumida no Brasil. O
frango e a pomba também são
apreciados.
A música é alegre, tocada
com alaúdes e tablas, com muito ritmo e melodias orientais.
Casa de sucos em Damasco
“Os sírios sempre foram um povo amistoso, que gostam de tratar bem seus visitantes.
E mesmo com tantas guerras na sua história, a Síria tem vocação para a paz”.
Comidas tipicas da região
Pode ser ouvida em restaurantes, hotéis e praças das principais cidades.
O artesanato, feito em couro, madeira e metal, com detalhes e cores, guarda os traços
milenares de um povo que, ape­
sar da influência das muitas cul-
turas, soube guardar sua originalidade.
O relevo na Síria é diversificado. De um lado o deserto,
que é um espetáculo a parte;
de outro, montanhas verdes e
vales com plantações de trigo,
hortaliças e frutas. Hoje, a Síria
é um país de maioria islâmica
e, por isso, as mesquitas dominam a paisagem. Bem cedo,
antes do sol nascer, é possível
ouvir o chamado para a oração
muçulmana. é quando o movimento nas casas e ruas começa aparecer e só termina com
o pôr-do-sol. Não é difícil encontrar nas estradas beduínos
conduzindo seus rebanhos de
ovelhas, o que gera um contraste entre os carros modernos
e os costumes pastoris milenares. A Síria, hoje, é o pais que
mais abriga refugiados iraquianos (mais de 1 milhão), os quais
encontram abrigo na atual crise
política.
Alaúde
Pastor de ovelhas perto de Alepo
17
18
História
junho de 2008 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA
 “vocês não estão entendendo nada”
1968, um ano de grandes mudanças
www.abril.com.br/fotos/maio-1968
Um ano atípico na história
mundial, com reflexos
marcantes no Brasil
e em Porto Alegre.
Nathalia kurtz e
Tiago Schirmer Pintaúde
O
O ano de 1968 foi palco de
inúmeras passeatas e conflitos
envolvendo estudantes contra
a ditadura imposta pelos militares. Entre os focos de manifestações estudantis estão o Colégio Estadual Júlio de Castilhos,
“Julinho” e o Restaurante Universitário da UFRGS, na Avenida João Pessoa. Os reflexos
foram além das manifestações
estudantis e chegaram à música e ao teatro com a irreverente
“Tropicália”.
Conforme consta no Livro “A
Guerrilha Brancaleone”, de Claudio Antonio Weyne Gutiérrez, no
dia 21 de abril, feriado de Tiradentes, estudantes gaúchos atiraram pedras e coquetéis molotov nos jipes da Brigada Militar,
que era chamada de “Exército
Brancaleone”, denominação extraída do filme de Mario Monicelli
e marcada por atitudes de radicais e desastradas.
www.historianet.com.br
Édson Luiz, morto pela ditadura
Em 6 de maio, ocorre o confronto entre 13 mil jovens e a polícia nas ruas de París. Bombas de gás eram lançadas contra os estudantes
Os estudantes enfrentaram
as tropas de choque e a cavalaria com barras de ferro, bolinhas de gude e estilingues.
Porto Alegre não foi o berço
da revolta estudantil de 1968.
As as manifestações iniciaram
no Rio de Janeiro e ganharam
força em 28 de março de 1968,
data em que, no centro do Rio
de Janeiro,o jovem estudante
Édson Luiz foi morto com um
tiro pela polícia. Como muitos
outros, costumava almoçar em
um restaurante barato, ponto
de encontro dos estudantes,
o Calabouço, considerado pelos militares centro de subversão. O choque entre policiais
e alunos era freqüente naquela região. A morte de Édson,
para muitos brasileiros, marca
a espiral de violência e rebeldia
que fez de 68 um ano de muitas lembranças.
O ano de 1968 foi diferente
dos demais da década, relata
Emílio Chagas, editor do Jornal
do Mercado, em especial em
Porto Alegre, uma cidade que
já tinha tradição de luta política,
como os episódios da Legalidade, em 1961, e a resistência
ao golpe de 64, bem próximo
de 1968.
MOVIMENTO
ESTUDANTIL
O movimento no Rio Grande do Sul tinha a União Nacional dos Estudantes (UNE) como
entidade máxima da organização de resistência. Conforme
relata Chagas, o movimento era
muito forte, principalmente
com a atuação da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES). Passeatas, greves, manifestações, ocupações, congressos, pichações
e panfletagem eram os principais meios de protesto e resistência política estudantil. Com
a ascensão do movimento, a
ditadura fechou os grêmios estudantis e muitos estudantes
militantes caíram à margem da
lei, dirigindo-se para organizações clandestinas, a maioria
armada. Com isso muitos foram mortos e desapareceram
após as prisões e torturas. “Devo ressaltar que o Colégio Estadual Júlio de Castilhos, o Julinho, onde eu estudava, era o
centro do movimento”, disse
Chagas. Mas o restaurante da
UFRGS também foi palco de
várias manifestações, como registra o escritor Gutiérrez. E
hoje, ironicamente, o local é
ocupado por um Departamento da Polícia Civil.
TEATRO E MÚSICA
Chagas relata que a peça
de teatro “Roda Viva”, escrita
por Chico Buarque de Holanda, que veio se apresentar em
Porto Alegre, após ter sido vítima de violência no Teatro Galpão, em São Paulo, os agentes
da repressão invadiram o hotel
onde estava hospedado o grupo de atores e onde acontecia
a montagem da peça. Seqües-
Movimento sacudiu a
música e cultura brasileira
No dia 3 de setembro, um
discurso no Congresso
Nacional tornou-se um
motivo a mais para
combater a ditadura.
Segundo o jornalista, Zuenir
Ventura, autor do livro “ 1968 - O
Ano que Não Terminou”, não
existiam grandes projetos em
debate na Câmara dos Deputados. Era hora do “Pinga Fogo”.
Foi quando os parlamentares
ocuparam a tribuna para dar discursos sem grande importância.
Mas a fala de um jovem deputado, naquele dia, teve conseqüências graves. Marcio Moreira Alves atacou duramente os
militares chamando-os de “torturadores” e recomendou às moças que boicotassem os namorados que usassem fardas. Aquilo que poderia ter passado como
uma simples provocação, na verdade, desencadeou uma crise
que culminou com o fechamento do Congresso. Os militares
queriam a cabeça e o mandato
de Moreira Alves. Numa sessão
histórica, em 12 de dezembro
de 1968, é negado o pedido de
licença para processar o deputado. Foi o golpe dentro do golpe, de acordo com o documentário da TV Cultura, “O AI 5, o
dia que não existiu”. Na sextafeira, 13 de dezembro, foi decre-
tado o Ato Institucional Número
5 (AI5). Os militares já comandavam o Brasil desde 64. O decreto permitia que o presidente suspendesse o direito de votar e ser
votado, além de lhe conferir amplos poderes para proibir manifestações políticas, fechar o congresso e acabar com o habeas
corpus. Ditadura ampla, geral e
irrestrita. E a decisão veio de uma
reunião às pressas com o general - presidente Costa e Silva. Era
a censura de volta ao País. O
jornal do Brasil de 13 de dezembro trazia nas entrelinhas “Tempo negro”. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O
País está sendo varrido por fortes ventos...”.
O ano de 68 ficou conhecido
como aquele que não terminou,
em função das marcas que ficaram no comportamento, na música, na política e na moda. No
centro disso tudo, estavam os
estudantes que transitavam entre
as salas de aula e as ruas. Eram
jovens que desafiavam o poder
e faziam uma das maiores ondas
de protestos que o país já viu.
TROPICÁLIA
O Tropicalismo foi um movimento de ruptura que sacudiu
o ambiente da música e da cultura brasileira, entre 1967 e
1968. É o que revelam as obras
que analisam a música e as artes neste período. Dentre os
destaques, estão os cantorescompositores Caetano Veloso
e Gilberto Gil, além das participações da cantora Gal Costa, do cantor-compositor Tom
Zé, da banda Os Mutantes e
do maestro Rogério Duprat. A
cantora Nara Leão, os letristas
José Carlos Capinan e Torquato Neto, completaram o grupo
que teve também o artista gráfico, compositor e poeta, Rogério Duarte, como um de seus
principais mentores intelectuais. Os tropicalistas deram uma
histórica mudança no meio musical brasileiro. “A Tropicália foi
o avesso da Bossa Nova”. Assim Caetano Veloso define o
movimento que, ao longo de
1968, revolucionou o status da
música popular brasileira. O
grupo baiano procurou universalizar a linguagem da MPB
usando elementos da cultura
jovem mundial, como o rock,
a psicodelia e a guitarra elétrica. “A guitarra, se tornou o símbolo do diabo em pessoa, a
própria figura do cão, e aquilo
que comprovaria que nós éramos alienados e estávamos
entregando a música brasileira
a influências estrangeiras”,
lembra Tom Zé.
traram dois atores que foram
abandonados no mato, na periferia de Porto Alegre. O teatro
amanheceu todo pichado. No
intervalo da apresentação da
peça, os agressores distribuiam panfletos nos quais se
lia: “Hoje, poupamos a integridade física dos atores e espectadores, amanhã,não!”. A temporada da peça acabou ali e
todos voltaram para São Paulo, onde o grupo inicial de atores já havia sido espancado em
cena. Os músicos do sul faziam
sua oposição a exemplo de
São Paulo.
A posição dos artistas era
de denúncia e apoio à luta política, principalmente no teatro,
onde o foco de resistência era
maior e havia um alto nível de
conscientização. especialmente no Teatro de Arena, que completou recentemente 40 anos.
Vigiado, censurado e até ameaçado de invasão, o teatro de
era palco das principais peças
políticas, principalmente as de
Plínio Marcos e de Bertolt Brecht. Na música, porém, não havia nada significativo, muito menos um movimento onde se
ensaiasse uma frente de resistência contra a ditadura. Segundo Emílio Chagas, “não tivemos
um movimento como a Tropicália, com objetivos políticos,
sociais e, principalmente, comportamentais, no qual figuram
Caetano Veloso, Gilberto Gil e
Tom Zé, e que encontraram eco
em boa parte do regime militar.
No cenário gaúcho, um músico
importante desse período, ressalta o editor, foi Raul Ellwanger,
um dos exilados.
www.abril.com.br/fotos/maio-1968
“Passeata dos Cem Mil” manifestação da União Nacional dos Estudantes (UNE) contra o governo militar,
no Rio de Janeiro. No detalhe acima, o movimento Tropicália, que durou pouco mais de um ano e acabou
reprimido pelo governo militar. Seu fim começou com a prisão de Gil e Caetano, em dezembro de 1968
Romantismo
e contestação
De acordo com o jornal “O
Rebate”, algumas obras literárias
como as de Oswald de Andrade
elevaram algumas composições
tropicalistas ao status de poesia.
Na impossibilidade de falar abertamente contra a ditadura em
suas canções, as principais características dos integrantes do
tropicalismo passaram a ser o
deboche e a ironia. Não faziam
suas críticas de oposição ao regime militar abertamente. Irreverente, a Tropicália transformou
não só a música e a política, mas
também a moral e o comportamento, o sexo e a moda. O movimento, libertário por excelência,
durou pouco mais de um ano e
acabou reprimido pelo governo
militar. Seu fim começou com a
prisão de Gil e Caetano, em dezembro de 1968. A cultura do
País, porém, já estava marcada
para sempre pela descoberta da
modernidade e dos trópicos. ”A
Tropicália teve um papel fundamental ao alertar o Brasil sobre
que estava acontecendo naquela época”, disse Gilberto Gil. Caetano Veloso e Gilberto Gil voltaram a surpreender o público no
Festival Internacional da Canção
(FIC), promovido pela Rede Globo. A apresentação de Caetano
em “É proibido proibir” ficou marcada como uma das apresentações mais polêmicas da época.
Naquela noite de domingo, 15
de setembro de 1968, a música
foi recebida com muitas vaias no
Teatro da Universidade Católica
de São Paulo. O público que lotava o auditório queria ouvir músicas sobre política e, como a
maioria das pessoas da época,
não compreendia novidades. O
provocativo Caetano agrediu violentamente o público e chamou
o júri de incompetente para julgar
sua música. Apareceu vestido
com roupas de plástico brilhante
e entrou em cena rebolando, fazendo uma dança totalmente
erótica. Escandalizada, a platéia
deu as costas para o palco. A
resposta dos Mutantes, que se
apresentou a seguir, foi imediata:
sem parar de tocar, viraram as
costas para o público também. É
o que consta no livro Iniciação à
Música Popular Brasileira, de
Waldenyr Caldas.
Esportes
Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA junho de 2008
19
 08h08 de 08/2008
A verdadeira Pequim dos Jogos Olímpicos
Às 08h08 do dia 8 de
agosto, inicia a cerimônia
de abertura dos Jogos
Olímpicos de Verão que
se estendem até o dia 24.
Oficialmente conhecidos
como os Jogos da XXIX
Olimpíada, serão
realizados em Pequim,
na República Popular
da China. O número oito
significa prosperidade
na cultura chinesa.
Julianna Uzejka e
Emmanuel Denaui
F
Fugindo à regra dos demais
jogos muitos dos seus eventos
ocorrerão em instalações construídas em cidades vizinhas e
na cidade litorânea de Qingdao.
Os eventos eqüestres terão sede em Hong Kong e será a segunda vez na história que os
Jogos Olímpicos acontecem
em dois Comitês Olímpicos Nacionais (CON).
Os países favoritos às medalhas são China (por estar em
casa), EUA e Rússia. O Brasil,
apesar de não estar entre os
destaques, conquistou a sua
melhor colocação, 15º lugar, no
quadro geral de medalhas, na
última Olimpíada.
No total, serão 31 modalidades esportivas, das quais
nove foram adicionadas neste
ano, incluindo dois de BMX (nova disciplina do ciclismo), os
3000 metros com obstáculos
feminino, no atletismo olímpico
e, como parte dos eventos da
natação, a maratona aquática
masculina e feminina. Também
ocorrem substituições de regras como a que altera a disputa em duplas por grupos no
tênis de mesa e na esgrima.
As Olímpíadas de Verão to-
Emmanuel Denaui
talizam 302 eventos, dos quais
165 provas masculinas, 127 femininas e 10 mistas.
Na expectativa, encontramos muitos atletas gaúchos
em destaque que competirão
este ano. E dentre eles temos
os judocas Tiago Camilo, May­
ra, a brasileira mais jovem do
quadro de atletas e João Derly, esperança de medalha de
ouro. Marcos Daniel, do tênis,
Fabiano Peçanha, pelos 800m,
Daiane dos Santos, na ginástica e, Fábio Pilar e Samuel Albrecht, velejadores que também integram a lista de destaques gaúchos.
Olimpíadas no Brasil?
Com relaçao à possibilidade
do Brasil sediar os próximos
Jogos Olímpicos, o professor
de Educação Física da Rede
Metodista do Sul do IPA, Ramão Paz, ressalta que isso traria grandes mudanças na melhoria de toda a infra-estrutura
da cidade sede, além de desenvolver os esportes em sua
amplitude e oferecer oportunidades de trabalho. Para o professor, tanto a cidade sede como o país se destacariam como
pólo turístico, proporcionando
uma troca de culturas e de conhecimento. Mas, em contraponto, salienta que “só pessoas de grande poder aquisitivo
poderiam assistir aos jogos”.
O que significa elitizar o público assistente, uma vez que
os ingressos se tornariam inacessíveis à maioria dos brasileiros.
Para Ramão, as Olimpíadas
movimentam nações de todo
mundo, valorizando esperança
e trazendo de volta o orgulho
do pelo seu país.
Fotos: Divulgação
Atletas da Academia White Tiger de Taekwondo, localizada no bairro Cidade Baixa, Porto Alegre
Curiosidades imperdíveis
- Na história das olimpíadas, o
Brasil já conquistou um total
de 76 medalhas, sendo 38 de
bronze, 21 de prata e 17 de ouro.
- Colocação geral do Brasil no
quadro de medalhas dos Jogos
Olímpicos: 39º lugar.
- Para os cubanos, um atleta só se
encontra pronto para competir
em uma Olimpíada após 10
a 12 anos de treinamento e
acompanhamento.
- A imagem da deusa Vitória,
personifica o ato de vencer.
É sempre encontrada em
troféus e medalhas.
- A primeira medalha de ouro do
Brasil foi de Guilherme Paraense, na
prova de tiro nos jogos Olímpicos
de Antuérpia, em 1920, ano de
estréia do Brasil nas Olimpíadas.
- Adhemar Ferreira da Silva é o
único atleta brasileiro com duas
medalhas de ouro nas Olimpíadas.
Participante dos jogos Olímpicos
de Helsinquia, na Finlândia, em
1952 e Melbourne, Australia, em
1956, o atleta são-paulino trouxe
as duas estrelas douradas para a
bandeira do São Paulo.
- Em 1972, as Olimpíadas de
Munique foram paralisadas
pela primeira vez, por uma
ação terrorista promovida por
palestinos. No total, 18 pessoas
foram mortas, incluindo atletas
israelenses, terroristas palestinos
e policiais.
- O professor de Educação Física
da Universidade do Vale do Rio
dos Sinos (UNISINOS), Jorge
Teixeira, participou como atleta
de duas Olimpíadas, uma em
Seul, em 1988, e outra em
Barcelona em 1992. Em ambas
competiu no atletismo.
- A primeira medalha do Brasil
nos esportes coletivos foi em
Barcelona, 1992, medalha de
ouro no vôlei masculino.
- Desde a sua primeira
participação, o Brasil deixou de
enviar atletas apenas aos Jogos
Olímpicos de 1928 devido à crise
financeira da época.
 destaques dos pampas
Tommie Smith (C) e John Carlos (D) no gesto
que marcou o movimento dos “Panteras negras”
Panteras-negras
Baixar a cabeça e, ao invés de cantar o hino do seu
país erguer solenemente os
seus punhos cobertos por luvas negras e mostrar que
eram lutadores do movimento black power (poder negro),
foi o ritual dos panteras negras ao receber a premiação
pelos 200 metros rasos nas
olimpíadas de 1968, na cidade do México.
Os panteras-negras, originários do partido negro revolucionário, constituiam um
movimento marxista que surgiu em 1966, em Oakland, na
Califórnia. O movimento pregava o armamento de todos
os negros que se sentissem
ameaçados pelo poder policial. O partido foi efetivamente desfeito nos anos 80.
Defendiam o livre porte de
armas e buscavam junto à sociedade ampla igualdade como forma de renovar a história sangrenta da escravidão e
do pré-conceito. Seu lema
mais conhecido era: “acreditamos que o povo negro não
estará livre até não sermos
capazes de determinar nosso
próprio destino”.
Judoca gaúcho, atleta da
Sociedade de Ginástica Porto
O goleiro do Sporte Club Internacional, Renan, 23 anos,
João
Derly
Pilar e
Albrecht
Alegre (Sogipa), João Derly, 27
anos, começou sua carreira no
judô aos 6 anos de idade. Favorito do Brasil e no mundo,
Derly se prepara para sua primeira Olimpíada, cujo título é
um de seus mais novos desafios de sua carreia.
brecht também estarão em Pequim. Eles garantiram a vaga
após ficarem em 29º no Mundial
da categoria disputado em Melbourne, na Austrália. A vela é
umas das modalidades que
costuma render medalhas ao
Brasil.
A dupla de velejadores gaúchos Fábio Pilar e Samuel Al-
Renan
Soares
Fabiano
Peçanha
contou ao Universo IPA que foi
convocado para a Seleção Brasileira para as Olimpíadas de
Pequim.
Após superar a Hepatite A,
o jogador está recuperado e
garante que o seu ritmo de jogo continua o mesmo.
anos, é mais um gaúcho confirmado para as Olimpíadas de
Pequim. Atleta dos 800m, Peçanha iniciaou sua carreira no
atletismo em 1992 e, ao vencer
os 1500m, com o tempo de
3m56s72, atingiu marca recorde para os Jogos de Pequim.
Atleta natural de Santa Cruz
do Sul, Fabiano Peçanha, 26
20
Esportes
junho de 2008 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA
Fotos: Rodrigo Domingos
 intrépidos volantes
História da Stock Car
A Stock Car, principal
categoria automobilística
do Brasil, completa 30
anos de história e está
mais forte do que nunca.
Com duas categorias de
acesso, a Stock Car Light
e a Stock Car Júnior,
conta com a presença de
pilotos de peso. E entre
eles está o maior campeão,
o experiente Ingo
Hoffmann, 55 anos
de idade, 37 dos
quais dedicados ao
automobilismo, 30 de
atuação na Stock Car e
uma centena de vitórias.
Diego Oyarzabal, Guilherme
Rosito, Rhavine Dinat Falcão
Lucas Figueiró e
Rodrigo Domingos
E
Em entrevista ao Universo
IPA, Hoffmann relatou os eventos históricos da Stock Car. E
assim, ao pontuar os destaques,
ao longo de três décadas da categoria, é possível perceber que
a história está intimamente ligada à sua trajetória de piloto. Ingo já competiu na Fórmula 1
pela equipe Copersucar-Fittipaldi, e é o maior campeão da história do Campeonato Brasileiro
de Stock Car, com 12 títulos.
Durante os 30 anos deixou de
participar apenas da primeira
corrida, em Tarumã, pois seu
carro não ficou pronto a tempo.
E ressalta: “é muito bom ter vencido por 12 vezes este Campeonato”, um recorde que dificilmente alguém alcançará.
A História
O dia 22 de abril de 1979
entrou para a história do automobilismo brasileiro. Foi nesta
data em que ocorreu a primeira
prova do Campeonato Brasileiro de Stock Car, no autódromo
de Tarumã, na cidade gaúcha
de Viamão. Segundo Hoffmann,
“a Stock Car foi criada pela General Motors-GM, com o intuito
de divulgar o Opala, e ao mesmo tempo rejuvenescer a imagem do carro, através das corridas”. A primeira prova contou
com a presença de 19 Opalas
de seis cilindros e a pole position foi de José Carlos Palhares,
conhecido como “O Capeta”,
com o tempo de 1min23s00,
mas a vitória acabou ficando
com o piloto Affonso Giaffone.
Nessa época, relata Ingo, ausente na prova, retornava ao
automobilismo brasileiro, depois de uma breve passagem
pela Fórmula 1, onde correu pela equipe Copersucar-Fittipaldi.
De 1989 a 1995, o piloto passou a dominar e a conquistar
títulos na categoria.
Em 1982, aconteceram duas corridas no Autódromo de
Estoril, em Portugal, fato que
ficou marcado como a primeira
consagração da categoria.
Com a intenção de manter
um baixo nível de custos, foi criado um regulamento, procurando
equilíbrio entre as equipes, sem
comprometer as performances
dignas das competições internacionais, como a Nascar, a
Stock Car Americana.
No inicio da década de 90,
a GM voltou a investir pesado
na categoria ao organizar e fabricar um protótipo monobloco.
Devido à decadência de público e de espaço para categorias
mais baratas, patrocinadas por
outras montadoras, a categoria
passou por nova transformação
em 1994, quando o Omega é
adotado como veículo.
A partir de 2000, houve mudanças na Fórmula 3. A GM deixou de organizar a competição
e a empresa Vicar, de propriedade do ex-piloto Carlos Col, assumiu a administração do evento. A fim de modernizar a competição e melhorar a segurança
dos pilotos, a Stock Car começou a utilizar um chassi tubular.
O ano de 2005 marcou a
categoria com outro grande
acontecimento. Foi uma prova
realizada fora do Brasil, em
Buenos Aires, valendo pontos
para o campeonato. Nesse
mesmo ano a categoria passou
a ser multimarca e, pela primeira vez, o carro Mitsubishi-Lancer participava da Stock, junto
com o Chevrolet-Astra.
Já em 2006, em Intelagos,
Ingo Hoffmann venceu a última
prova do ano e completou um
número expressivo de 100 vitórias na carreira.
Em 2007, a quarta marca entrou na competição: a empresa
francesa Peugeot, com seu “estiloso” carro, modelo 307 sedan.
Foi também nesse ano que a
Stock Car ganhou um novo nome, “Copa Nextel Stock Car”.
Com o objetivo de dar mais emo-
Ingo Hoffmann, o maior campeão da história do Campeonato Brasileiro de Stock Car
ção às corridas, a patrocinadora
oficial do evento, criou o Prêmio
“Velocidade”, para o piloto mais
veloz, isto é capaz de completar
a volta em menor tempo.
O ano de 2008 ficará marcado pela despedida do piloto
que está há mais tempo na Stock Car. Em sua 30° temporada,
Ingo acredita ter chegado a hora de parar. “Foram muitos os
momentos marcantes e, sem
dúvida, cada campeonato ganho tem sua importância”. Para ele a maior preocupação é
“parar competindo” e isto está
acontecendo, pois anunciou
este ano como o último, na pole-position, prova de abertura
da temporada de 2008’.
Stock Car Light
A Stock Car Light foi criada
no ano de 1993, com o objetivo de facilitar o acesso aos estreantes na Stock Car. As provas ocorriam como preliminares
da Stock Car V8, seguindo o
mesmo calendário. Para Hoffmann, é muito importante que
Entrevista: Thiago Marques
nova geração
O piloto Thiago Marques, 28
anos, tem uma trajetória de sucesso na Stock Card. Apesar de ser de
uma família ligada ao automobilismo há muito tempo, só demonstrou
vontade de ser piloto de corrida em
2001, quando tinha 20 anos.
Após vencer o campeonato de
Stock Car Light no ano de 2001, antes da última prova, despontou como piloto e passou para a categoria
V8 em 2002, como um dos favoritos.
Filho do ex-piloto da Stock Car, Paulo
de Tarso Marques e irmão de outro
grande piloto da Stock Car V8, Tarso
Marques, que já correu na Fórmula
1 pela Minardi, Thiago resolveu seguir os mesmos passos e, hoje corre
na Stock Car V8, pela equipe K-Med
Racing. Além da Stock Car, o piloto
faz história também na categoria de
automobilismo GT3.
“Tudo aconteceu muito rápido
em minha carreira, e acho que, ano
a ano, estamos mais maduros para colher boas vitórias”, diz o piloto.
Thiago falou ao Universo IPA sobre a
sua carreira e, também, apontou os
planos para o futuro.
Universo IPA - Quando você
descobriu sua grande paixão pelo automobilismo? Foi inspirado
em alguém?
Thiago Marques - Sempre gostei de corrida. Minha infância sempre foi ligada a carrinhos de corrida
e não a super heróis. Depois, me
inspirei em meu pai e, em seguida,
em meu irmão. Minha família inteira
sempre foi aficionada pelas pistas.
Universo IPA - Como foi ven-
cer um campeonato da Stock Car
Light em seu primeiro ano no automobilismo?
Thiago - Foi uma surpresa
enorme. Ninguém, muito menos eu
podia acreditar que aquilo estava
acontecendo. Mas enfim, foi um ano
perfeito em minha vida onde tudo
deu certo.
Universo IPA - Durante esses
anos de Stock teve algum acidente ou algum momento em que você pensou em desistir de correr?
Thiago - Nunca pensei em parar de correr por qualquer acidente.
Todos nós pilotos sabemos do risco
que passamos, mas é a nossa profissão, então, é melhor nem pensar
em acidentes.
Universo IPA - A Stock Car
transmite uma imagem de uma
grande família e sua família é ligada ao automobilismo há muito
tempo. Como os pilotos encararam o acidente que tirou a vida
do piloto Rafael Sperafico?
Thiago - Foi triste, principalmente por sermos ligado à família
Sperafico. São coisas da vida, e tivemos que superar aquela dor rapidamente.
Universo IPA - Houve algum
desentendimento entre você e o
piloto Cacá Bueno para que deixassem de ser companheiros de
equipe?
Thiago - Nunca. Já nos enroscamos em algumas corridas, mas
faz parte. O Cacá não continuou na
equipe Petrobrás em 2006, por opção da própria Petrobrás e, talvez,
do Cacá. Ele é um piloto profissional,
assim como eu, e resolveu seguir
seu destino em outra equipe.
Universo IPA - Como é conciliar a Stock Car com outra grande
modalidade como a GT3?
Thiago - É cansativo, mas acho
que é bacana. Gosto do que faço, e
me sinto realizado. Em quase todos
os fins de semana tenho alguma
corrida. Estou feliz assim, e gostaria
de no próximo ano, continuar tendo
a oportunidade de estar nas duas
principais categorias do automobilismo nacional.
Universo IPA – Em uma entrevista no site do ‘you tube’
você revela que não pensa em
correr na Fórmula 1 e que andar em um carro ruim não vale
a pena. Você se refere ao seu irmão, o piloto Tarso Marques? A
Fórmula 1 nunca fez parte dos
seus planos ou hoje você pensa
diferente?
Thiago - Não me referi especificamente ao meu irmão, mas sim à
maioria dos pilotos brasileiros que
não conseguiram se manter lá. Estou bem no Brasil e não pretendo
sair daqui por nada. Já tive convites
de outras categorias internacionais,
mas nunca sequer passou pela minha cabeça sair daqui.
Universo IPA - Já ouvimos fa-
lar sobre o piloto Renato Russo e
da possibilidade de alguns pilotos ingerirem bebidas antes das
provas. Você tem conhecimento
de algum caso e que acha do antidoping?
Thiago - Acho interessante o
antidoping sim, porém não conheço
o Renato Russo e nunca sequer ouvi
falar de pilotos que bebem quando
vão entrar no carro.
Universo IPA – Recebemos
uma informação de que os dois
piores pilotos do ano, no campeonato da Stock Car V8, cairão para
a Light, hoje Vicar, essa informação é verídica?
Thiago - As duas piores equipes
caíram. Isso vem do código desportivo do final do ano passado.
Universo IPA – Quais os momentos marcantes no automobilismo?
Thiago - Foram os dois primeiros anos, em que fui campeão e
quando ganhei o prêmio ‘capacete
de ouro’ como melhor piloto brasileiro em categorias de turismo.
Universo IPA - Quais são os
planos para o futuro?
Thiago - Meus planos são me
manter no Brasil e, se possível, na
Stock e GT3 que são as principais
categorias da atualidade.
os pilotos passem por essa categoria para adquirir experiência, antes de alcançar a categoria principal da Stock.
Alguns pilotos transitaram
pela Stock Light e dentre eles
temos: Giuliano Losacco, Cacá
Bueno, Thiago Marques, Carlos
Col (hoje organizador e promotor do Campeonato Brasileiro
de Stock Car), Mateus Greipel,
Luis Carreira Jr., Diogo Pachenki, Pedro Gomes, Guto
Negrão, Alceu Feldmann, Nonô
Figueiredo, David Muffato e Fábio Carreira entre outros.
Ao contar a história da categoria, Ingo destaca a troca dos
Ômegas pelos mais modernos
Astra, em 2003 aconteceu. E na
temporada de 2004, os Stock
Light ganharam os motores V8
com menor potência do que os
Stock V8. Mas o mais triste, relata o piloto, ocorreu em 09 de
dezembro de 2007, quando a
Stock Car Light, atual Copa Vicar,
viu um acidente fatal que tirou a
vida do piloto Rafael Sperafico,
de 27 anos. Primo de Rodrigo e
Ricardo Sperafico, que atuam na
elite da Stock Car Brasil, Rafael
morreu durante a sexta volta da
etapa de Interlagos, na prova de
encerramento do ano.
Questionado sobre a desistência de algum piloto devido
ao acidente ocorrido, Ingo, que
presenciou a morte de Rafael
Sperafico, afirma: “na realidade
eu nunca vi piloto nenhum desistir devido a um acidente que
tenha resultado em morte.
Acho que cada piloto tem sua
maneira de superar a morte. Eu
sei que isto faz parte e pode
acontecer, mesmo os carros
sendo muito seguros”.
Stock Car Júnior
A Stock Júnior nasceu em
função do sucesso das categorias Stock Car V8 e Stock
Light. Criada em 2006 para receber jovens saídos do kart e
que buscavam iniciar em categorias de turismo, o seu objetivo é “alcançar pilotos experientes que não se profissionalizaram”, afirma Hoffmann.
No ano passado a Stock
Jr. passou por uma significativa
mudança. Hoje os carros não
podem mais ser divididos por
dois ocupantes. “É mais uma
categoria dentro do evento, na
qual os pilotos novos podem
adquirir experiência, com um
custo relativamente baixo”,
complementa Ingo.
Os carros tinham formas qua­
dradas e ganharam o apelido de
“calhambequinho”. A velocidade
média era de 128 Km/h, chegando à 200 Km/h. Em seu primeiro
ano em 2006, foram realizadas
22 provas. E hoje, as corridas são
realizadas nos mesmos dias da
Stock Car V8, totalizando, ao final
do campeonato, 24 corridas.
O primeiro treino da Stock Jr,
foi no dia 5 de abril de 2006, no
Autódromo Internacional José
Carlos Pace (Interlagos), em São
Paulo. Foram quatro sessões,
sendo o piloto Thiago Riberti o
mais rápido nos testes, com um
tempo de 2min00­seg936. Mas,
a primeira pole position foi de
Cássio Homem de Melo, tempo
de 2min00seg554.
Circuito Brasileiro
No dia 21 de junho, a equipe de esportes do Universo IPA,
acompanhou a 4º etapa do Circuito Brasileiro da Stock Car, em
Santa Cruz do Sul. A manhã gelada em Santa Cruz não intimidou
os fanáticos por automobilismo
e fez com que a corrida fosse
quente fora e dentro da pista. A
prova teve alguns acidentes, pois
as curvas do Autódromo exigem
muita atenção. A sujeira deixada
pela chuva que ocorreu no dia anterior, contribuiu para que Safety
Car (carro de segurança) entrasse em ação.
O piloto Cacá Bueno sempre
vai bem quando corre em solo
gaúcho e dessa vez não poderia
ser diferente. No treino de classificação, a poliposition (primeira
posição) foi de Duda Pamplona,
mas na corrida foi ultrapassado,
logo na primeira curva, por Cacá
Bueno, que daí em diante liderou
até a chegada, se consagrando
vencedor e fazendo com que pulasse da quinta colocação para
terceiro no campeonato, com
(53pts), se aproximando dos líderes Marcos Gomes (65pts) e
Ricardo Maurício(74pts).
A corrida Stock Light, só foi decidida nas últimas voltas. O piloto
Paulo Salustiano conquistou a vitória após ultrapassar o piloto Fábio
Carreira. Já na Stock Jr. a alegria
ficou por conta do baiano Patrick
Gonçalves que largou em terceiro e
superou seus adversários nas primeiras voltas. Ao final da competição, o clima de axé de Patrick empolgou os gaúchos que enfrentaram
o frio por amor ao automobilismo.

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