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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – 2013/2014
RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA
THUANY ALINE SANTOS
INICIAÇÃO CIENTÍFICA – BOLSA UFPR/TN/ EDITAL IC 2013/2014
PLANO DE TRABALHO:
Bases históricas e tradição cultural na arquitetura latino-americana
Relatório final apresentado à Coordenadoria de
Iniciação Científica e Integração Acadêmica da
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR por
ocasião do desenvolvimento das atividades de
Iniciação Científica – Edital 2013-2014.
NOME DO ORIENTADOR:
Prof. Dr. Antonio Manoel Nunes Castelnou, neto
Departamento de Arquitetura e Urbanismo
TÍTULO DO PROJETO:
Arquitetura e Contexto: A cor como Elemento de Identidade Cultural LatinoAmericana
BANPESQ/THALES: 2012025990
CURITIBA PR
2014
1
1
TÍTULO
Bases históricas e tradição cultural na arquitetura latino-americana.
2
RESUMO
A arquitetura contemporânea da América Latina apresenta uma forte relação com suas
bases históricas, as quais antecedem a chegada dos europeus. Desde as culturas précolombianas, houve uma forte relação entre espaço geográfico, crenças religiosas, valores
culturais e expressões arquitetônicas, o que pode ser comprovado por vários estudos de
exemplares ainda existentes. Os maias, os astecas e os incas – considerados as principais
civilizações que habitaram o território que hoje se compreende como latino-americano – deixaram
um legado arquitetônico riquíssimo. O uso de materiais naturais e técnicas construtivas
semiartesanais, mas que produziram excepcional requinte e empenho tecnológico, isto somado ao
nível de planejamento e correlação cultural, são apenas uma pequena amostra da grande
contribuição desses povos para a sociedade atual e, principalmente, para a arquitetura
contemporânea no continente.
Nestes termos, esta pesquisa de iniciação científica, de cunho teórico-conceitual e caráter
exploratório, utiliza o estudo de casos para enfocar o trabalho de profissionais que valorizam,
através de seus projetos e edificações, traços, materiais e técnicas da arquitetura pré-colombiana
em seus respectivos países. A primeira parte da investigação consiste na conceituação,
contextualização histórica e resgate da origem do homem na América Pré-Colombiana,
procurando descrever os principais povos, sua cultura e, em especial, a arquitetura por eles
produzida. Pretende assim delimitar o objeto da pesquisa e caracterizar o que se entende por
arquitetura pré-colombiana. A segunda parte compõe-se de 03 (três) estudos de caso de
arquitetura contemporânea que apresentam referências contextualistas à tradição pré-colombiana.
3
INTRODUÇÃO
A atual América Latina possui uma rica cultura que antecede em muito a chegada dos
primeiros europeus. De acordo com o trabalho de antropólogos e arqueólogos, os mais antigos
registros do homem na América datam de 50.000 a 40.000 anos a.C. Conforme Casellas et
Simmonds (2001), em livre tradução1, durante a última glaciação, denominada por Wisconsin na
América, o nível da água dos oceanos baixou em cerca de 100 m em todo o mundo, permitindo
que há aproximadamente 40.000 anos, diferentes grupos de animais e dos primeiros seres
humanos pudessem chegar ao sul do continente.
Esses habitantes pioneiros, vindos do norte da América, foram caçadores e coletores de
vegetais. Com o fim da glaciação, a mudança na paisagem exigiu uma adaptação dos primeiros
1
CASELLAS, E.; SIMMONDS, C. Arte precolombino: introduccción a las culturas y manifestaciones artísticas americanas anteriores
al encuentro. Barcelona: Parramón, 2001.
2
grupos humanos que, paralelamente à diminuição da caça, tiveram que aumentar suas atividades
de coleta. A partir do momento em que se estabeleceram populações sedentárias e agrícolas no
Vale do México, a concepção de mundo também se modificou. O controle de movimentos dos
astros a partir de pontos fixos e sua relação com o ciclo agrícola conferiram a esses primeiros
povos crenças e práticas cerimoniais ligadas à ordem regeneradora do ciclo natural (CASELLAS
et SIMMONDS, 2001).
De acordo com Gracia [s.d.], as culturas pré-colombianas mais evoluídas e com criações
artísticas mais complexas desenvolveram-se na América Central – um extenso território integrado
ao atual México, a atual América Central e boa parte da América do Sul (Fig. 01).
Especialistas em temas pré-colombianos – na sua maioria antropólogos e
arqueólogos – dividiram a América Central em três grandes áreas geográficoculturais: a área da Meso-América, que vai desde as mesetas do norte do México
até ao ocidente de Honduras e de El Salvador; a área Intermediária, que inclui o
resto da América Central e os territórios da Colômbia, Equador e região ocidental
da Venezuela; [e] a área Andina, constituída pelo atual Peru, o antiplano da Bolívia
e as terras do noroeste do Chile e do Noroeste da Argentina [GRACIA, s.d., p.4].
O autor também acrescenta que, por conta do desenvolvimento cultural que os povos da
América Central alcançaram ao longo dos tempos, foram estabelecidos os seguintes períodos
históricos, a critério de sistematização para o estudo científico: Período Lítico (40.000 a 2500 a.
C.), Período Formativo ou Pré-Clássico (2500 a.C. a 100 d.C.), Período Clássico (100 d.C a
900/1000 d.C) e Período Pós-Clássico (900/1000 d.C a 1500 d. C.).
As diferenças de latitude, clima e topografia presentes em todo o continente americano
refletiram na diversidade regional de ecossistemas e
habitats; nos tipos de cultivo e épocas de colheitas,
assim como nos produtos disponíveis para consumo e
intercambio com povos vizinhos. Esse ambiente
resultou em povos pré-colombianos que viveram uma
enorme simbiose econômica entre suas regiões e na
formação de mercados e redes comerciais desde
períodos muito antigos, anteriores ao conhecimento
da cerâmica. Tal inter-relação permanente entre o
entorno natural e o homem, segundo Casellas et
Simmonds
(2001),
pensamentos,
produziu
crenças
e
um
sistema
rituais
de
bastante
característico. E, como apresentado na sequência,
influenciou fortemente a arquitetura construída.
FIGURA 01
A pluralidade de formas, cores e desenhos das manifestações artísticas que nasceram na
América Central testemunham a complexidade das sociedades pré-colombianas: a combinação
entre o universo místico e a realidade é percebida na temática de sua cultura material, tanto em
3
textos como na escultura e arquitetura, que relatam a passagem de uma vivencia histórica rica em
suas matizes e criações. Em paralelo, os fatores religiosos muitas vezes determinaram o aspecto
dos assentamentos urbanos, transformando-os em cidades de importância político-religiosa,
repletas de monumentos que ocupam posições centrais e preponderantes no espaço urbano. Os
assentamentos e, mais tarde, as cidades organizavam-se em áreas diferenciadas: administrativas,
cerimoniais, de moradia, de funerais e de cultivo; sendo que o grau de estratificação existente nas
sociedades refletiu-se nas cidades, como ocorreu em Chanchán (Peru), onde zonas delimitadas
por altos muros eram ocupadas somente pela elite (CASELLAS et SIMMONDS, 2001).
Entretanto, a organização das cidades pré-hispânicas, bem como a estrutura social, o
conjunto de crenças e os tipos de manifestações culturais e artísticas – incluindo as arquitetônicas
– variavam de acordo com o povo e região. As maiores culturas pré-colombianas surgiram na
região da Meso-América e nos Andes, devendo ser citados: os olmecas, os maias, os astecas e
os incas, somados aos não tão conhecidos Muíscas, Cañaris, Moche, Nazca e Tiahuanaco2, como
os grandes povos da América pré-colombiana.
Todas essas civilizações ameríndias descobriram e inventaram elementos bastante
avançados, tais como calendários, escrituras, sistemas para plantio e irrigação e também de
gestão ambiental para amplas zonas geográficas, assim como desenvolveram complexos
sistemas políticos e sociais; e, principalmente, sistemas construtivos e arquitetônicos de grande
porte. O legado arquitetônico deixado por essas culturas e como ele se relaciona com a
arquitetura contemporânea – seja pela expressão dos materiais, presença cultural ou técnicas
milenares que se perpetuam – consiste no foco desse trabalho.
4
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O primeiro aspecto que deve ser observado e salientado das civilizações pré-colombianas
diz respeito à sua riqueza cultural, expressa tanto através de suas manifestações artísticas como
por meio de sua sociedade, suas crenças e, principalmente, sistemas de organização social. De
acordo com Machado (1994), a abundância, que a terra e o mar ofereciam, esta aliada à
habilidade dos indivíduos em relação à agricultura e à pesca, permitiu, além do rápido crescimento
dessas comunidades, a disponibilidade de pessoas para se dedicarem exclusivamente a estudos,
o que produziu grandes feitos nas artes, nos exércitos, nas cidades, na arquitetura e na religião.
Isto refletia uma elaborada hierarquia dentro de cada sociedade que, mesmo assim, mantinha
inter-relacionamentos tanto políticos como socioeconômicos.
No México e na América Central os povos não estavam tão isolados como nos
Andes. As várias comunidades tinham até muita coisa em comum, tal como
2
Os Muíscas ou Chibchas foram um povo civilizado, encontrado no século XVI pelos espanhóis no território da Nova Granada, situado
no planalto central da atual Colômbia. Já os Cañaris eram os antigos moradores das províncias de Azuay e de Cañar, entre outras,
localizadas no território atual do Equador. Por sua vez, a civilização muchica ou Moche floresceu entre 100 a.C. e 800 d.C. no norte do
Peru, enquanto o povo Nazca situou-se mais ao centro-sul do território peruano, à margem direita do rio aja, afluente do Rio Grande.
Finalmente, Tiahuanaco – também grafado como Tiahuanacu ou Tiwanaku – corresponde a um sítio arqueológico situado na Bolívia,
em uma região povoada desde 1.500 a.C. (N. Autora).
4
grandes cidades, pirâmides, muitos deuses, sacrifícios humanos, um calendário de
365 dias e hieróglifos (símbolos usados num tipo de escrita). Os povos do México
e da América Central cultivavam o mesmo tipo de produtos, tal como milho,
feijões, chili e pimentas (MACHADO, 1994, p.13).
Todas as manifestações artísticas eram reflexos da vida cotidiana ou respostas às
necessidades dos habitantes daquele período. Na opinião de Casellas et Simmonds (2001), a
linguagem arquitetônica expressava a importância do mundo espiritual na America précolombiana. Os espaços religiosos, onde, segundo as crenças, viviam seres sobrenaturais,
prolongavam-se e manifestavam-se na arquitetura. Os muros, rampas, escadas, nichos e
aberturas de portas e janelas: tudo conduzia ao mistério do ritual. Através do emprego abundante
de escadas, pode-se perceber uma alusão ao mundo superior ou inferior. Os complexos
cerimoniais andinos, estruturados em U ao redor de um pátio, assim como as galerias
subterrâneas, as pirâmides e os hipogeus: tudo estava estreitamente relacionado com os motivos
simbólicos que os decoravam. As esculturas, gravações e pinturas integravam-se com o conjunto
arquitetônico para expressar conceitos e mitos. Ademais, os fatores religiosos propiciavam, em
muitos casos, o próprio aspecto das cidades, que adquiriam importância político-religiosa; e seus
monumentos ocupavam posições centrais e preponderantes no espaço urbano.
Ainda de acordo com Casellas et Simmonds (2001), a pouca acessibilidade dos marcos
geográficos da região da atual América Latina e suas paisagens andinas recortadas e bastante
acidentadas foram aproveitadas pelos povos pré-colombianos em algumas obras arquitetônicas,
uma vez que tiravam bastante partido do relevo, explorando altiplanos e elevações topográficas.
Esta diferença de altura entre planos tem forte conotação simbólica, pois se referia a uma
sociedade de diferentes castas e niveis sociais. O espaço transformado, elaborado ou criado
pelos construtores da América pré-hispânica, era assim o reflexo da estrutura social, econômica e
religiosa de seus criadores. Em um constante diálogo com a natureza, ligados a uma linguagem
arquitetônica que se encaixava em distintas soluções urbanísticas, deram como resultado diversas
expressões nas quais a arte, a técnica e a função cultural estavam todas entrelaçadas.
Os maias – povo cuja civilização ficou conhecida por muitos historiadores como a dos
“gregos da América” – ganharam notoriedade por causa de sua organização em cidades
independentes, da mesma forma que na antiga Grécia. Embora jamais tenham constituído um
império, criaram mesmo assim a mais antiga civilização pré-colombiana. Sem ferramentas de
metal, animais de carga ou a roda, construíram grandes cidades em uma parede de selva e
montanhas com uma assombrosa perfeição de variedades. Foi notável também sua arquitetura
altamente decorada tanto em templos piramidais como em palácios, além de observatórios e
grandes praças cerimoniais [PEREIRA, s.d.].
A zona conhecida como “Mundo Maia” corresponde hoje a cinco Estados mexicanos,
assim como a quatro países da América Central: Belize, El Salvador, Guatemala e Honduras,
sendo importante reforçar, ainda segundo Pereira [s.d.], que o conhecimento da cultura maia é
5
atualmente comprometido devido à complexidade em decifrar a escrita desenvolvida por esse
povo, uma vez que muitos símbolos de seus hieróglifos – esculpidos em degraus, frisos, colunas,
estelas e altares – talvez nunca sejam decifrados por definitivo. Contudo, conforme Gracia [s.d.],
muito do conhecimento que se tem sobre esta civilização provém igualmente, além dos inúmeros
restos arqueológicos, arquitetônicos e pictóricos, das descrições dos antigos cronistas espanhóis.
A civilização maia organizou-se basicamente como uma federação de cidades-estado e
atingiu seu apogeu no século IV, sendo considerado seu período de ouro ou “clássico” deste ao
século X. Entre os séculos X e XII, destacou-se a Liga de Mayapán, formada pela aliança entre as
cidades de Chichén-Itzá, Uxmal e Mayapán; todas caracterizadas pelo conjunto de edifícios
construídos com grandes blocos de pedra adornados com esculturas e altos-relevos.
Cada cidade-estado maia era governada por um chefe [...] A classe mais baixa era a dos
escravos que formavam a mão de obra para a construção de suas colossais pirâmides
escalonadas, em cujo topo ficavam os templos consagrados à adoração de vários
deuses. A elite era constituída por nobres e sacerdotes que viviam na cidade,
considerada centro religioso. Nas cercanias viviam os camponeses e artesãos. A mulher,
nesse contexto, ocupava posição importante na vida social. Suas cidades desfrutavam
de sistema hidráulico e de esgoto [PEREIRA, s.d., p.26].
A expansão geográfica dessa civilização não
pode ser definida com exatidão, mas pode-se dizer que
os maias ocuparam uma superfície de cerca de
325.000 quilômetros quadrados3. As construções mais
importantes das cidades dispunham-se em torno ao
eixo de grandes calçadas ou ao redor de espaços a
céu aberto, sendo esta regra, que foi acatada na maior
parte das ocasiões, alterada somente nas regiões onde
as peculiaridades orográficas ditavam a distribuição e a
orientação das obras arquitetônicas [GRACIA, s.d.].
Toda a arquitetura maia era algo estreitamente
ligada ao culto religioso e determinada por cálculos
matemáticos. Apresentava, ainda segundo Gracia
[s.d.], elementos formais que a tornariam inconfundível,
a saber: os arcos e abóbadas por aproximação de
fileiras, o que exigia que os muros fossem muito
FIGURA 02
3
grossos e que as distâncias sobre as quais se erguiam
Apesar da maioria das edificações nesta região pertencer à civilização maia, as construções dos olmecas e dos toltecas – ou cidades
específicas, como Teotihuacán – indicam que outros grupos também fizeram muitas inovações arquitetônicas. Também devem ser
citadas as construções encontradas na região zapoteca de Monte Albán, no vale de Oaxaca, no México, que foi habitada em quatro
fases diferentes entre os séculos V a.C. e VIII d.C. (COLE, 2011).
6
estas coberturas não fossem muito grandes; a crista ou canoa, que se eleva em altura sobre as
abóbadas de templos e palácios; as portas de entrada, que por vezes apresentam belos relevos
na parte superior; e, enfim, os vãos de iluminação, geralmente de formato pequeno e quadrado.
Os locais onde se localizam as construções maias mais importantes são: Tikal, situada em
Petén, Guatemala; e Copan, localizada no extremo oeste de Honduras; além das cidades
mexicanas de Piedras Negras, no Estado de Coahuila; e Chichén-Itzá, Uxmal e Mayapán, todas
pertencentes ao Estado de Yucatán. Também é importante o sítio arqueológico de Palenque,
situado próximo do rio Usumacinta, no Estado mexicano de Chiapas, a 130 km a sul de Ciudad
del Carmen4. Dos sítios recuperados em El Salvador, segundo Pereira [s.d.], os mais importantes
são os de Tazumal, San Andrés e Joya de Cerén, sendo este último o único decretado Patrimônio
da Humanidade pela Unesco, o que ocorreu em 1993.
El Salvador esconde no seu subsolo uma área de 20,7 mil quilômetros quadrados
com riquezas de pelo menos 300 sítios arqueológicos com vestígios de povos
maias e descendentes. Grande parte do legado dos maias foi coberto pelas lavas
dos vários vulcões arraigados na região. A falta de dinheiro para escavações
assim como os terremotos que assolaram o país têm dificultado ainda mais os
trabalhos de recuperação da civilização maia [PEREIRA, s.d., p.39].
As cidades maias geralmente estavam divididas em quatro partes, cruzadas por duas
avenidas no sentido Norte-Sul e Leste-Oeste. Já sua tipologia arquitetônica era bastante ampla,
tendo sido descoberta em seus jazidos uma grande variedade de modelos construtivos, incluindo
conjuntos palacianos, estruturas piramidais, campos de jogos de bola e áreas de banhos de
vapor, além de depósitos de água, diversas fortificações e uma série construções de menor índole
[GRACIA, s.d.].
O site Mayas Autenticos (2014) destaca que estruturas gigantescas feitas em pedra
calcária cobertas de estuque5 foram a marca dos arquitetos maias. Seus edifícios eram adornados
com máscaras e cristas talhadas em pedra e estuque, sendo geralmente pintados de vermelho.
Para fazer as paredes, usava-se blocos em duas fileiras, em seguida cobertos por pedras
pequenas e outros materiais. Predominava a decoração em baixo-relevo, cujos temas eram
históricos e cosmológicos. Devido à grande quantidade de calcário disponível em suas terras, a
mistura com cal era facilmente produzida e permitiu a construção de impressionantes pirâmides e
palácios. Geralmente, as pirâmides maias do período pré-clássico eram coroadas por três templos
construídos em madeira e teto de palha, conhecidos como complexos triádicos. Durante o período
clássico, passaram a ter o uso como quartos cobertos por características abóbodas. Essas
pirâmides não eram construídas com grandes blocos, mas sim por pequenos blocos retilíneos.
Eram feitas sobre um centro preenchido, em torno dos quais outros eram sucessivamente
4
As ruínas do Templo do grande Jaguar em Tikal, ao norte da Guatemala, ainda hoje, exprimem a glória dos antigos soberanos da
cidade, de acordo com Gugliotta (2007). Pereira (s.d) cita que “A pirâmide I ou Templo do Jaguar é considerada a maior das seis
pirâmides de Tikal. Possui aproximadamente 70 metros de altura e era templo e túmulo de governantes”.
5
O estuque maia era feito com pedra calcária cozida e misturada com uma cola orgânica extraída de uma árvore endêmica em Petén
chamada localmente Holol, misturada com cal e Sascab; um mineral natural parecido com calcário e que não necessita cozimento
(MAYAS AUTENTICOS, 2014).
7
erguidos, ou seja, eram construídos templos novos sobre outros mais antigos, conferindo
autoridade ancestral (MAYAS AUTENTICOS, 2014).
A elevação era fundamental na arquitetura religiosa e se manifestava nas
escadarias vertiginosas feitas para alcançar os deuses. Outras características
essenciais eram o uso inovador de mísulas em arcos e os esquemas esculturais
elaborados (COLE, 2011, p.78).
Casellas et Simmonds (2001) reafirmam que não há dúvidas que o complexo mais
importante para os maias era o templo, este constituído por uma alta base piramidal. As pirâmides
apresentavam-se escalonadas e com um templo no cume, com espaços estreitos e muito mal
iluminados. Diz-se, de acordo com Gracia [s.d.], que estas seriam a representação arquitetônica
da mentalidade religiosa dos maias, ao simbolizar os três céus e os nove infernos ou mundos
subterrâneos. Sobre a parte superior da abóbada, poderia existir um complemento, meramente
ornamental, denominado crista, que em alguns monumentos chega a medir o dobro do templo.
Podia haver também nessa paisagem arquitetônica “um conjunto monumental monolítico,
composto de um altar com estela ornada por uma decoração esculpida” [PEREIRA, s.d., p.17].
FIGURA 03
8
Próximo ao fim da era clássica maia, nos séculos VIII e IX, de acordo com Cole (2011), as
cidades deixaram de ser dominadas por imponentes construções religiosas; e a arquitetura voltouse para os palácios de governantes. Localizados em plataformas altas, eram complexos cada vez
maiores, com muitos ambientes e vastos pátios.
Vários estilos regionais se desenvolveram em função de particularidades
geográficas, conquistas e alianças entre reinos autônomos. Na Península de
Yucatán, um grupo de cidades compartilhava o estilo arquitetônico Puuc,
caracterizado por decorações esculturais com formas mais geométricas, pela
repetição (quase obsessiva) dos mesmos motivos sobre grandes superfícies e
pelos enfeites baseados na cosmologia maia (COLE, 2011, p.80).
Os palácios maias eram compostos por numerosas salas, geralmente escuras, estreitas e
mal ventiladas. Segundo Gracia [s.d.], acredita-se que era nelas que se controlavam os tributos da
produção agrícola. Os tetos eram planos, sustentados com vigas de Cedro ou Chicozapote e
cobertos com estuque. As paredes eram pintadas com motivos geralmente mitológicos. Os
palácios funcionavam essencialmente como residência principesca ou lugar de reunião. “Eram
dotados de numerosas galerias, cuja disposição aparecia em grupos distintos ligados por calçadas
elevadas – construídas em torno de amplas praças, o que atesta certo senso de urbanismo”
[PEREIRA, s.d., p.17].
Os maias utilizavam várias cores e as cenas criadas por eles tinham sempre motivos
religiosos ou históricos, destacando-se os afrescos reminiscentes do sítio arqueológico de
Bonampak6, situado no Estado de Chiapas, no México, além de Chichén-Itza. Também
sobreviveram os coloridos murais maias existentes em San Bartolo e La Sufricaya; pequenos
sítios situados no departamento de Petén, no norte da Guatemala. Diante da importância que
representam as pinturas murais para o conhecimento da cultura maia, Gracia [s.d.] salienta a
escassez dessas amostras devido à inadequada política de conservação. Entretanto, felizmente
nem todas as pinturas murais foram perdidas.
Para sua execução, os pintores maias valiam-se primeiro de um esboço, que
quase sempre era feito a vermelho, e depois aplicavam as cores sobre uma
camada de cal fresca, até que, por último, delimitavam os motivos com linhas de
contorno pretas. Contudo, segundo George Kubler, não se pode precisar com
exatidão se o processo descrito consistia realmente em pintar a fresco sobre
gesso úmido ou se, pelo contrário, isto era feito quando já estava seco [GRACIA,
s.d., p. 29].
Por outro lado, segundo Pereira [s.d.], havia um forte contraste entre o porte e luxo das
construções religiosas e dos palácios nobres em relação às construções dos camponeses, que
viviam em choças de palha. As pessoas comuns das cidades maias moravam em casas de
6
Os afrescos da Estructura Uno da cidade de Bonampak, segundo Gracia [s.d.], foram considerados a “Capela Sistina” da arte maia.
Construída em 790 d.C. a pedido do rei Chaan Muan, que queria comemorar as vitórias de sua campanha militar, o interior da estrutura
consta de três câmaras nas quais se exibe “uma decoração pictórica que se dispõe em faixas horizontais e que inunda os seus
paramentos e abóbadas” (p.28). O resultado artístico dessas três câmaras, de acordo com o autor, é realmente impressionante: um
estilo realista, com domínio magistral do desenho e da composição; e uma policromia viva e contrastada, ajustando-se sempre a um
forte simbolismo e um efeito de conjunto repleto de vida e movimento.
9
bajareque7 e palha, chamadas Naj. Eram redondas, no período pré-clássico; e retangulares, no
período clássico, sendo geralmente agrupadas em quatro, com uma pequena praça no centro. As
casas possuíam dois quartos, sendo o da frente um local para socializar e o outro para dormir.
Muitas possuíam piso em estuque de terra e, debaixo delas, era comum encontrar as tumbas de
seus ancestrais, e na parte posterior, um aterro (MAYAS AUTENTICOS, 2014).
Por volta do século X, a maioria das cidades maias estava em declínio e, de acordo com
Cole (2011), o centro da atividade arquitetônica voltou-se para o México central, onde as
influências maias infiltraram-se na civilização tolteca e levaram à criação de duas cidades
importantes: Chichén-Itzá e Tula, estando esta última localizada no Estado de Hidalgo. As
populações pós-clássicas foram cada vez mais absorvidas pelas atividades de guerra, o que
resultou em estruturas austeras, como os templos de guerreiros existentes nessas duas cidades.
Outro exemplo deste período refere-se ao sítio zapoteca de Mitla, situado no vale de Oaxaca.
Finalmente derrotados pelos toltecas, cujo poderio durou aproximadamente de 900 a 1100,
os maias tiveram sua arquitetura, arte e religião absorvidas pelos mesmos e, conforme Machado
(1994), mais tarde, deram origem ao patrimônio cultural dos astecas. Não originários do México,
os astecas migraram para lá, provavelmente procedentes do norte, durante os séculos XII e XIII,
quando outras tribos e povos deixaram seus locais de origem à procura de comida e,
principalmente, água devido a um grande período de seca. Foi assim que criaram uma ilha no
meio do lago de Texcoco, em 1345, fundando, a partir da construção de casas e templos, sua
capital, Tenochtitlán, que significa “terra da fruta do cacto” (MACDONALD, 1996).
Em seu apogeu, o Império Asteca – termo bastante impreciso e inexato que, de acordo
com Gracia [s.d.], designa todo o conjunto de povos que alcançaram a hegemonia da zona central
do México no século XV da nossa era – foi a última civilização a se desenvolver antes da chegada
dos europeus e chegou a compreender mais de dez milhões de pessoas, as quais davam ao
comércio um papel importante no dia-a-dia da sua capital. Os mercados eram muito bem
organizados, tanto que surpreenderam os soldados espanhóis que chegaram ao México no início
do século XVI, alegando nunca terem visto algo comparável àquilo na Europa.
A capital dos astecas [Tenochtitlán], que pôde albergar uma povoação entre
150.000 e 300.000 habitantes, era atravessada por numerosos canais e
comunicava-se com terra firme através de uma rede de calçadas que conduziam
às principais cidades do lago de Texcoco. No centro desta metrópole [...]
encontravam-se os edifícios religiosos e educacionais mais importantes, embora
todos eles permanecessem isolados do resto da urbe através do coatepantli
(muralha de serpentes), uma ideia que os astecas copiaram da cidade tolteca de
Tula [GRACIA,s.d., p.37].
A arquitetura asteca era similar a de outras culturas mesoamericanas, possuindo um nato
sentido de ordem e simetria; e sendo fortemente influenciada pelos toltecas de Colhuacan, os
7
Trata-se de um sistema de construção de casas a partir de varas ou canas entrelaçadas e barro, também conhecido em alguns
países da América do Sul por bareque; técnica que tem sido utilizada desde épocas remotas para a execução de moradias por povos
indígenas de toda a América (CASTILLO et ENRIQUE,1993).
10
tepanecas de Atzacapotzalco e os acolhuas de Tetzcoco. A colocação de paredes sobre apenas
uma plataforma piramidal fez com que sua estrutura fosse alargada e que se tornasse presente
uma dupla escadaria de acesso. Também eram utilizados baixos-relevos, murais, praças e
plataformas como meios para representar seus deuses e ideais (ARKIPLUS, 2014).
Os astecas acreditavam que sua capital havia sido construída em local sagrado, o qual era
o ponto central do universo. Embora quase todos seus templos tenham sido destruídos – uma vez
que foi aí que os espanhóis estabeleceram o centro de seu poder e fundaram a Cidade do México
–, pinturas mostradas em seus códices (escritos por escribas astecas), descrições de
testemunhas e ruínas de templos em terras vizinhas permitem saber como eram: geralmente
altos, na forma de pirâmides, com uma “casa” quadrada coroada pela estátua do deus venerado e
uma pedra para sacrifícios do lado de fora. Portanto, praticamente todos os templos astecas,
conforme o site Arquitetando (2014), eram piramidais, com a base quase quadrangular que, por
superposição, davam forma a pirâmides escalonadas, coroadas por uma plataforma de sacrifícios.
As paredes dos templos eram ricamente decoradas e entalhadas, sendo os desenhos
geométricos e as linhas amplas representações do dogma religioso e do poder do Estado. A base
da pirâmide era guardada por outras estátuas – de homens, monstros e deuses –; e, algumas
vezes, “uma pilha de crânios se formava nas proximidades, cheia de cabeças decepadas”
(MACDONALD, 1996, p.44).
Tenochtitlán, ainda segundo Macdonald (1996), era dividida em quatro distritos: a Praça
Florida, o Brejo dos Mosquitos, a Casa de Heron e, ao centro, a Praça dos Deuses; uma vasta
área, circundada por uma muralha, destinada aos templos. Os vários bairros da cidade eram
ligados entre si e à terra firme por caminhos construídos bem acima da superfície do lago,
havendo muitas estradas e calçadas, embora fosse comum o transporte por barcos através dos
brejos ou pelos canais de irrigação. Havia ainda palácios para o prefeito (tlatoani) e as famílias
nobres (pipiltin), salões de baile, escolas, edifícios administrativos e habitações comuns.
De acordo com Gracia [s.d.], o recinto sagrado sobressaía pela sua importância, embora
os seus vestígios materiais sejam escassos. Apesar disso, pôde-se calcular que o referido local
tinha planta quadrada e comprimento de cerca de 500 m de lado, sendo seu interior ocupado por
aproximadamente 78 edifícios de usos diversos, tais como: templos, oratórios, altares de caveiras,
residências sacerdotais, um campo de bola, um centro educacional e uma série de construções de
pequenas dimensões. Em tamanho, destacava-se o volume majestoso do Templo Mayor – que
tinha 90 m de altura; possuía dois templos superiores gêmeos dedicados aos deuses Tlaloc e
Huitzilopochtli; e ocupava uma área equivalente a 250 km2 –, cujos antecedentes tipológicos
encontravam-se na “Grande Pirâmide” do jazigo chichimeca de Tenayuca, que se situava a cerca
11
de 10 km a noroeste da capital8. “Muitas crianças foram oferecidas a Tlaloc e enterradas nas
fundações do templo, junto com cerâmicas e estátuas” (MACDONALD, 1996, p.45).
Outro modelo arquitetônico relativamente frequente entre os astecas foi a pirâmide de
planta circular que tradicionalmente era atribuída aos santuários do deus Ehécatl; a divindade do
vento. As mais conhecidas são a de Calixtlahuaca; um sítio arqueológico localizado em Toluca, no
México; e aquela encontrada por ocasião da escavação para a estação de metrô de Pino Suárez,
na Cidade do México. Outra construção muito característica foi um tipo de plataforma decorada
com caveiras, a qual recebia o nome de Tzompantli – proveniente da junção dos termos tzontli
(crânio; cabeça) e pantli (linha; fileira) –, tratando-se de um pequeno altar com estrutura onde se
acumulavam os crânios dos sacrificados.
A adaptabilidade e o engenho arquitetônico dos astecas também podem ser observados
em duas das mais extraordinárias de suas criações, estas situadas em Tepoztlán, no Estado de
Morelos; e em Malinalco, no Estado do México; ambas escavadas na rocha e terminadas com
construções de alvenaria. O Templo de Tepoztlán tem planta retangular e duas salas, sendo que a
primeira é acessada através de uma porta dividida por duas pilastras, enquanto que a do fundo
possui um banco decorado com relevos que poderiam muito bem ser inscrições funerárias. O
templo descansa sobre uma plataforma piramidal com escadarias limitadas por balaustradas. Já
Malinalco, por sua vez, consiste em um conjunto irregular de construções templárias escavadas
na rocha-mãe, composto por seis unidades, nas quais pelo menos quatro possuem uma forma
circular, como o Templo de Cuauhtinchan. Em ambos os casos, encontra-se um tipo de
construção religiosa que tem a função de expressar tanto o poder militar como religioso dos
astecas9 (ARKIPLUS, 2014).
Como terceira referência à arquitetura pré-colombiana, destaca-se a civilização inca que se
desenvolveu próxima a Cordilheira dos Andes, sobretudo nas regiões do Peru, Bolívia e equador,
produzindo uma arquitetura monumental a partir do século XII até a conquista espanhola, em
1532. De acordo com o site Lins Galvão (2014), suas obras surpreendem até os mais importantes
arquitetos modernos, pela sua grandiosidade e simplicidade na construção com pedras, somadas
à sua inventividade. Por ser uma região afetada pela presença constante de terremotos, os incas
criaram uma técnica de amarração de pedras, para que suas construções tivessem resistência
com o movimento da terra. Isto fez com que os colonizadores se utilizassem dos muros incas
como base de suas próprias construções.
8
Ao lado do Templo Mayor, dispunham-se outras construções imponentes, como: o Templo do Sol; o Templo de Tezcatlipoca, que
constava de uma só escadaria e um único templo na sua cúspide; e o Templo de Quetzalcóatl-Ehécatl, que não apresenta apenas o
interesse religioso, pois, além de ser coroado igualmente por um só templo, era de planta circular com porta em forma de mandíbula de
serpente, assim como apresentar uma cobertura à base de um simples telhado em palha [Gracia, s.d.].
9
Há poucos detalhes sobre os palácios astecas, já que eles foram praticamente destruídos após a chegada dos espanhóis, em 1519;
e, principalmente, depois da tomada definitiva, em 1521, quando os exploradores aliaram-se aos inimigos dos astecas, os tlaxcalas.
Sabe-se, pelas crônicas e pelo estudo de algumas ruínas, que o Palácio de Montezuma (1466-1520), o soberano asteca, tinha
base retangular, com pátios abertos no seu interior e duas construções (ARQUITETANDO, 2014).
12
Os incas eram engenhosos e conseguiram usar as dificuldades do relevo a seu
favor: construíram cidades elevadas em lugares estratégicos a partir do elaborado
sistema de terraços e usavam formações rochosas naturais para cerimônias
religiosas e sacrificiais, como as ushnu, ou mesasantes diplomatas que guerreiros,
desenvolveram uma complexa rede de estradas a partir da capital, Cuzco. A arte
da alvenaria combinada com o uso do ouro alcançou o auge nos templos e
palácios incas do século XV (COLE, 2011, p.84).
Antes do século XII, de acordo com Machado (1994), já existiam dois grandes centros
civilizacionais da região andina: Tiahuanaco, situado na Bolívia; e Nazca, mais ao centro do
Peru10. Por volta de 1100, parte desses povos, os incas de expressão quíchua, deslocaram-se do
sul para os Andes e lá fundaram a cidade de Cuzco. Na sequência, acabaram criando o império
mais organizado da América Latina, composto por grandes cidades que governavam um vasto
território, equivalente hoje ao Peru, Equador, Bolívia Ocidental, Norte do Chile e Noroeste da
Argentina.
Deste modo, o Império Inca estendeu-se por praticamente toda área andina, desde o sul
da Colômbia até à região central do Chile e, conforme Gracia [s.d], sabe-se que os exércitos incas
chegaram a penetrar as florestas amazônicas, desistindo logo em seguida devido à vegetação
frondosa e dureza do clima.
O núcleo urbano do Antigo Cuzco era formado pela praça de Huacapata, que
apresentava uma planta trapezoidal e que contava com uma superfície de 550 por
250 metros. Em redor desta praça que era onde se celebravam as cerimônias de
caráter público, localizavam-se os principais bairros da cidade – entre oito a
catorze – e também os edifícios religiosos e imperiais mais importantes. Algumas
das suas construções são tão famosas como o Coricancha ou templo do Sol, que
no século XVI serviu de base à construção da igreja de São Domingos [GRACIA,
s.d., p.46].
Para Casellas et Simmonds (2001), o sistema arquitetônico inca adaptou-se perfeitamente
à geografia andina, sabendo conjugar a linha severa dos edifícios com a monumentalidade da
pedra e a nobreza do adobe. O plano quadrado, as aberturas trapezoidais de janelas e portas, as
paredes ligeiramente inclinadas para dentro e a montagem perfeita dos blocos de pedra
constituem uma linguagem artística reconhecida em praticamente todo o império. Nos registros
deixados, de acordo com Gracia [s.d.], observa-se principalmente a funcionalidade e o
pragmatismo das construções incas, cujo material utilizado foi sempre a andesite; uma rocha
vulcânica bastante dura e característica da região dos Andes.
Ainda conforme Gracia [s.d.], as plantas eram quase sempre retangulares, com um ou dois
andares, sendo a característica mais peculiar o emprego de vãos com um desenho trapezoidal,
por vezes decorado com relevos de lhamas, pumas ou serpentes. Acrescenta-se ainda que a
maneira de aparelhar os blocos de pedra era variada, estando presentes desde a técnica da
10
As torres funerárias pré-incas (chullpas) encontradas ao redor do lago Titicaca eram construídas para enterrar os mortos com todos
os seus pertences. Os edifícios sem janelas tinham planta circular e diversos quartos para a eterna coabitação da família. A associação
de torres circulares com o sagrado foi bastante explorada pelos incas, como exemplifica o chamado Torreón, em Machu Picchu, que se
constitui de um pequeno santuário no centro dessa importante cidade inca. Envolvido por um muro semicircular da mais fina alvenaria
mortuária, enfeitado com nichos trapezoidais – típicos das edificações sagradas –, protege uma caverna com um ushnu; formação
natural de pedra usada como mesa sacrificial, para receber o pescoço de uma lhama (COLE, 2011, p.84).
13
pirca11 até grandes muros poligonais, todos com muita precisão e perícia. Porém, as paredes dos
edifícios incas mais importantes, segundo Cole (2011), eram construídas com blocos poligonais
de pedra talhada encaixados e firmados entre si, sem argamassa. Essa técnica era usada tanto
em pequenas casas e edificações como em grandes construções, sendo o melhor exemplo o forte
de Sacsayhuamán, situado em Cuzco. De acordo com o site História do Mundo (2014), as obras
de irrigação em direção aos vales desertos; a construção de pontes pênseis, entre grandes
precipícios; e de aterros em pântanos atestam altos níveis de conhecimentos técnicos por parte
dos incas. Para construir estradas em terrenos com grandes declives, eles usavam o desenho em
zigue-zague, o que facilitava a circulação ou, se necessário, escadas. As estradas eram estreitas
já que circulavam nelas apenas homens e lhamas com carregamentos, além de se erguerem
muros de arrimo em lugares mais perigosos para evitar desabamentos.
As estradas desempenhavam uma função mais ligada ao controle do império do que ao
comércio. Ao todo calcula-se que eram mais de 4.000 Km de estradas cortando todo o
império. Em meio às cordilheiras muitas vezes era necessário construir pontes. Elas
eram feitas de cordas e exigiam uma cuidadosa manutenção já que os cabos deviam ser
substituídos todos os anos (HISTORIA DO MUNDO, 2014, p.01).
Ao longo das estradas podiam ser encontradas construções onde pernoitavam viajantes
que faziam parte do exército ou que eram funcionários em serviço oficial. Estas, segundo Cole
(2011), denominavam-se tambos; paragens ou alojamentos para mensageiros que revelam
características da arquitetura inca, como a pequena altura das edificações, a ausência de janelas
e o salão retangular com uma porta trapezoidal elegante como única fonte de luz. Fileiras de
nichos em forma de trapézio eram a decoração mais frequente no interior e exterior das paredes.
Localizada no topo de uma montanha, a 2.430 m de altitude, no vale do rio Urubamba, no
atual Peru, a “cidade perdida dos incas” Machu Picchu – que, em quíchua, significa “velha
montanha” – é o exemplo mais bem acabado da adaptação da arquitetura inca à paisagem
recortada. Terraços férteis projetam-se sobre os precipícios, ao mesmo tempo em que três
templos em alvenaria sofisticada, construídos nas encostas para aproveitar o granito natural como
paredes, forma um complexo cerimonial (COLE, 2011).
Conclui-se que as civilizações pré-colombianas, aqui exemplificadas resumidamente
através do trabalho dos maias, astecas e incas, produziram um patrimônio artístico e arquitetônico
singular e único, cujo resgate faz-se necessário quando se discute atualmente a necessidade de
se buscar bases de identidade cultural na arquitetura contemporânea da América Latina. A partir
desse breve panorama, que não deixa de ser introdutório, devido à sua complexidade que foge da
abrangência possível deste trabalho de iniciação científica, parte-se para a próxima etapa
investigativa, a qual é apresentada na sequência por meio do estudo de casos de projetos
contemporâneos que contextualizam com a história da arquitetura pré-hispânica no continente.
11
Trata-se do aparelhamento de rochas por desbastar que os construtores incas utilizavam sobretudo na construção de muros simples
e também nas paredes de vivendas cotidianas [GRACIA, s.d.].
14
5
MATERIAIS E MÉTODOS
De caráter exploratório, esta pesquisa, baseada em revisão web e bibliográfica com
estudo de casos, realizou-se por meio da investigação, seleção e coleta de fontes impressas, tais
como artigos, periódicos e livros, nacionais e internacionais; ou ainda publicadas on line, que
tratavam direta ou indiretamente sobre o desenvolvimento da arquitetura pré-colombiana. Além de
material para registro computacional, gráfico e fotográfico, utilizou-se as instalações físicas
destinadas ao docente-adjunto, autor do projeto e lotado na subárea de Teoria e História da
Arquitetura e Urbanismo, em Regime de Dedicação Exclusiva, do Departamento de Arquitetura e
Urbanismo, com a participação de 01 (uma) discente do curso de graduação, autora do presente
relatório. Em suma, a metodologia de pesquisa seguiu as seguintes etapas:
a) Revisão Bibliográfica e Coleta de Dados:
Esta etapa baseou-se na pesquisa web e bibliográfica sobre a localização geográfica,
desenvolvimento histórico e caracterização da arquitetura pré-colombiana. Abordou-se os aspectos
mais relevantes da arquitetura maia, asteca e inca, de modo a destacar suas particularidades,
exemplificar as principais obras e se familiarizar com termos e dados referentes à produção préhispânica na América Latina, visando assim fundamentar conceitualmente e dar subsídios às
próximas etapas da pesquisa.
b) Seleção e Mapeamento de Obras:
Esta etapa envolverá a identificação e descrição de 03 (três) exemplares de arquitetura latinoamericana contemporânea, estes divulgados pelos círculos acadêmicos e profissionais, nos quais
se destaque conscientemente a relação com a tradição cultural representada pela arquitetura précolombiana, de modo a exemplificar o contextualismo arquitetônico.
c) Análise e Avaliação dos Casos:
Nesta etapa foram realizados os estudos de caso, que estão apresentados no capítulo sobre
resultados. Procurou-se trabalhar de forma sintética e objetiva, abordando características
funcionais, técnicas e estéticas mais relevantes, ilustrando-se com imagens.
d) Conclusão e Redação Final:
O fechamento desta pesquisa deu-se através da elaboração deste RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA,
além de material expositivo por ocasião do Evento de Iniciação Científica da UFPR – EVINCI,
previsto para outubro de 2014.
6
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com a primeira etapa do trabalho finalizada, esta realizada com base na coleta e seleção
de fontes de informações, assim como a sua organização e desenvolvimento textual, foi possível
perceber a importância da cultura pré-colombiana para a América Latina contemporânea. De
acordo Viñuales (2003), no início dos anos 1920, uma linha ideológica baseada no considerado
“Estilo Nacional” – que deveria ser a fusão entre o indígena e o hispânico – começou a se
consolidar no México e em outros países da América Latina. Dessa época em diante, a presença
de obras arquitetônicas onde se evidencia – intencionalmente ou não – a cultura pré-colombiana
tornaram-se frequentes. Algumas vezes, ainda conforme o mesmo autor, principalmente em
cidades destinadas ao turismo, a arquitetura inspirada nas formas e linguagens pré-hispânicas,
caracterizou-se como kitsch. Entretanto, na segunda metade do século XX, vários arquitetos
mostraram renovadas possibilidades para o desenvolvimento de uma arquitetura de raiz histórica.
15
A partir dessa análise preliminar, 03 (três) obras foram
FIGURA 04
selecionadas para os estudos de caso. A escolha dos projetos
foi feita, primeiramente, a partir da identificação dos povos
maias, astecas e incas como sendo aqueles de maior destaque
na América Pré-Colombiana. Em segundo lugar, para uma
melhor compreensão de como os arquitetos contemporâneos
têm resgatado traços dessa arquitetura, decidiu-se que cada
FIGURA 05
uma das obras analisadas faria referência a um desses
principais povos. Deste modo, o primeiro estudo de caso aqui
apresentado aborda o do Museu Rufino Tamayo (Fig. 04),
situado em Cidade do México (México) e criado pelos
arquitetos Teodoro González de León e Abraham Zabludovsky,
com referências à cultura maia. O segundo estudo corresponde
ao do Teatro Cervantes (Fig. 05), também localizado na
FIGURA 06
Cidade do México, mas projetado pelo Ensamble Studio, sob
inspiração asteca. Por fim, o terceiro e último caso a ser
estudado é a da Casa Subterrânea (Fig. 06) que fica em
Pachacamac, próximo a Lima (Peru), de autoria dos Longhi
Arquitectos, a qual resgata elementos da cultura inca.
ESTUDO DE CASO I
Museu Rufino Tamayo
1972/81 – Cidade do México (México)
Teodoro González de León & Abraham Zabludovsky
Localização:
Endereço:
Área do terreno:
Área da construção:
Data do projeto:
Autoria:
Cidade do México (México)
Paseo de la Reforma, 51, Bosque de Chapultepec
2
2.800 m
2
4.594 m
1972/81 (com ampliação em 2011/12)
Teodoro González de León & Abraham Zabludovsky
12
O museu de arte contemporânea Rufino Tamayo (Figs. 07 e 08) é um claro exemplo da arquitetura
mexicana, pois exalta os valores mais arraigados da cultura daquele país, trazendo uma constante
lembrança dos vestígios dos seus antepassados e, em paralelo, trabalhando a estrutura e a composição
volumétrica de modo a destacar a concepção do edifício como arte tridimensional, a qual complementa a
coleção de obras expostas no próprio museu (ARQRED, 2010). Recebendo o nome de seu fundador, reúne
exposições inovadoras como objetivo principal enriquecer a experiência estética e sentido crítico de seus
visitantes através da pesquisa e da interpretação de toda sua programação (MUSEO TAMAYO, 2014).
12
Rufino Tamayo (1899-1991) foi um pintor e muralista mexicano, de amplo reconhecimento na arte moderna mexicana, por seu
trabalho refletir sua grande força tanto racional e física como emocional e instintiva, inclusive erótica. Expressando seus próprios
conceitos sobre o México, não seguiu a corrente de outros pintores de sua época, como Diego Rivera (1886-1957) e David Alfaro
Siqueiros (1896-1974), mais voltados a postulados políticos, de caráter essencialmente de esquerda. Tamayo foi criticado por suas
posturas pessoais que, mesmo inclinadas ao socialismo, respeitavam as particularidades do indivíduo. Também é considerado um
artista que sempre buscou novas técnicas, inclusive criando uma nova denominada ximografia (impressão sobre papel com
profundidade e textura). Sua obra está espalhada em diversos lugares The Phillips Collection, em Washington DC; e Guggenheim
Museum, em Nova York (EUA), mas o maior acervo concentra-se neste museu implantado no Bosque de Chapultepec, dedicado
exclusivamente à arte contemporânea (N. autora).
16
O desenho do Museo Tamayo, como é comumente
conhecido, de acordo com o site Mexartdb (2014), foi de
responsabilidade dos arquitetos Teodoro González de León
(1926-) e Abraham Zabludovsky (1928-), começando em
1972, mas, após várias interrupções durante a elaboração do
projeto – que implicaram também em algumas mudanças na
sua concepção –, a sua construção iniciou-se somente em
1979, sendo concluída três anos depois. Inaugurado em 29
de maio de 1981 – ano em que ganhou o Prêmio Nacional
de Arquitetura –, o museu foi o primeiro resultante da
iniciativa privada naquele país, quando o próprio Rufino
Tamayo conseguiu o apoio da Fundación Cultural Televisa e
do Grupo Alfa. Seus primeiros diretores foram Fernando
Gamboa e Alberto Raurell; e, em 1989, Rufino Tamayo e sua
esposa, Olga Tamayo, criaram uma Fundação com o
propósito de manter o local em pleno funcionamento.
O resultado foi um edifício modular em vários níveis
que se incorporou harmonicamente ao entorno, situando-se
em um terreno de importância histórica, no qual havia um
campo asteca de golfe. O site oficial do museu acrescenta
que a edificação adapta-se ao lugar graças à sua forma
piramidal, o que remete à herança arquitetônica précolombiana – em especial, aos templos maias (Figs. 09 e 10)
–, destacando que o prédio não é um corpo que invade o
bosque, mas sim que se integra ao terreno que o rodeia em
virtude de sua estrutura escalonada, que se concentra sobre
si mesma em volumes cegos de concreto até o centro
(MUSEO TAMAYO, 2014).
FIGURA 07
FIGURA 08
FIGURA 09
FIGURA 10
Os taludes estendem seus braços até o solo e se enraízam ao edifício, permitindo-lhe emergir do
solo como um monumento rígido e forte (Figs. 11 a 13). Do mesmo modo, a comunicação com elementos
naturais, tais como a vegetação e a água, é outro dos pontos importantes para a constituição do espaço
museológico, que procura conviver em silêncio com o bosque que o rodeia. Isto também é uma herança dos
maias (ARQRED, 2010). Deve-se ter especial atenção ao desenho dos espaços interiores que, iluminados
com luz natural, museu; obviamente, a peça mais importante, mais ativa e de maior tamanho. Outra
característica que demonstra o diálogo do Museu com a arquitetura pré-hispânica dos Maias é o modo
como o edifício foi implantado no terreno. Existe constantemente um jogo entre a luz natural e a artificial,
gerando contrastes, os quais entregam uma maior relação entre o usuário e as obras de arte, para se obter
uma melhor e mais rica contemplação estética. A luz natural acessa a cada uma das salas através de um
17
vão superior e outro lateral; estes dispostos de maneira distinta para diferenciar os espaços entre si, os
quais estão sempre vinculados à forma do edifício (DUQUE, 2011).
FIGURA 12
FIGURA 13
Amplos terraços
Vistas privilegiadas
Escalonamento
(Inspiração maia)
FIGURA 11
Com a recente reforma, as características que conferiam ao edifício o caráter de diálogo com o
contexto e com o entorno foram mantidas, principalmente porque o autor do projeto de reforma foi um dos
mesmos autores originais da obra, o arquiteto González de León (Figs. 14 a 16). O novo projeto conserva
essa condição de ser um ramo do edifício original, com o resgate dos espaços abertos que funcionam como
terraços (Figs. 15 e 17) e mudam a escala do visitante ao elevar a perspectiva ao nível das copas das
árvores (ARQUINE, 2012).
FIGURA 14
FIGURA 15
FIGURA 16
FIGURA 17
FIGURA 18
18
ESTUDO DE CASO II
Teatro Cervantes
2012/13, Cidade do México (México)
Ensamble Studio
Localização:
Endereço:
Área do terreno:
Área da construção:
Data do projeto:
Autoria:
Cidade do México (México)
Calle Miguel de Cervantes Saavedra, Barrio de Granada
Não disponível
2
11.500 m
2012/13
Ensamble Studio
De caráter bastante particular, o Teatro Cervantes
(Fig. 19), proposto pelo Ensamble Studio, na Cidade do
México, possui sua referência contextual à arquitetura précolombiana através de metáforas descritas em memorial, as
quais justificam a localização de cada elemento estrutural e
elementos conceituais do projeto. Segundo os próprios
autores do projeto, em depoimento ao site Archdaily (2014), a
cultura contemporânea é expressão constante de
conectividade com os movimentos do tempo, uma vez que as
camadas da história que se sobrepõem e hibridizam a cultura
mexicana são uma grande inspiração para se fazer qualquer
projeto de arquitetura hoje em dia. Foi justamente neste ponto
que se inspira a ideia-base para este teatro em pleno coração da capital mexicana.
FIGURA 19
Como partido, adotou-se uma grande estrutura metálica que se ergue – nas proximidades do
icônico Museo Soumaya (2011), projetado pelo arquiteto Fernando Romero (1971-), a pedido da Fundación
Carlos Slim, no coração de Granada (Cidade do México) – a partir de um amplo terraço escavado no solo, a
qual é denominada Dovela; nome dado à pedra porosa de basalto
FIGURA 20
asteca frequentemente encontrada na Cidade do México e que
representa a “Pedra Sol”. Ela funciona como uma isca ou pedra
suspensa no ar (Figs. 20 e 21), por meio da qual é possível
perceber a passagem do tempo, através da sombra projetada pelas
suas lâminas, que, igualmente, abrigam o público da chuva e do sol
escaldante. Ela é o elemento que conduz o projeto, sendo os
espaços escavados cedidos ao público, abertos ao céu, mas
protegidos pela simbologia dessa estrutura metálica (ARCHDAILY,
2014).
The Dovela tries to collect all the resonances of the world
emerging above it, to give them order. It is a
mathematical object which allows the natural elements
(water, light and air) to affect its last configuration […]
The project confronts the elemental natures with which it
is built: the deep density of the negative space, of vertical
character; and the horizontal tension of the air contained
and supported by the Dovela, last key piece of an
abstract balance that loses its weight to appear aerial,
mutable and light as a cloud that qualifies the space in
the ground by filtering sunlight rays. And the contact
between the sun and the earth could not pick up patterns
13
of the order of any of them (ENSAMBLE, 2013, p.01).
13
FIGURA 21
Em tradução livre: “A Dovela tenta recolher todas as ressonâncias do mundo emergente acima dela para lhes dar ordem. É um
objeto matemático que permite aos elementos naturais (água, luz e ar) afetarem sua última configuração [...] O projeto enfrenta as
naturezas elementares com que é construído: a profunda densidade do espaço negativo, de caráter vertical; e a tensão horizontal do ar
contido e apoiado pela Dovela; última peça-chave de um equilíbrio abstrato que perde o seu peso para aparecer aérea, mutável e leve
como uma nuvem que qualifica o espaço no chão, filtrando os raios de luz solar. E o contato entre o sol e a terra não poderia tomar os
padrões de ordem de qualquer um deles” (N. autora).
19
Assim, no desenho da estrutura que gera a ligação gravitacional entre a Dovela e os terraços
escavados no solo, evoca-se a diversidade e isto, ainda segundo os arquitetos no seu site oficial
(ENSEMBLE, 2014), reflete o mundo do homem que vai habitar o espaço. Aberturas permitem a entrada da
luz solar e ventilação (Figs. 22 a 24) – condizente com a crença asteca do Sol como o espírito universal da
vida –, ao mesmo tempo em que há proteção contra a chuva, já que possui vidro na cobertura. Além disso,
os suportes estão envolvidos no movimento e no tempo, sendo dispostos livremente nos ambientes de
dança, distribuídos assimetricamente dentro da rigidez estrutural da grade interna da Dovela. Uma vez no
interior da terra, o espaço teatral aparece como o fim de uma sequência de saguões escavados (Fig. 25).
Aqui, a síntese do edifício culmina com a função de um tempo parado e recriado; um lugar para contemplar.
FIGURA 22
FIGURA 23
FIGURA 24
FIGURA 25
FIGURA 26
Deste modo, o projeto apresenta alguns contrastes: a
profunda densidade do espaço negativo em relação ao espaço
positivo (cheios e vazios); a tensão do ar contido e suportado pela
Dovela; e o peso e a leveza, pois apesar da materialidade, a
estrutura da peça parece flutuante, mutável e leve, como uma
nuvem que qualifica o espaço no solo e filtra os raios de sol
(ARCHDAILY, 2014). Para o site BlogAEC (2014), o Cervantes
talvez seja um dos maiores exemplos contemporâneos de como a
arquitetura, cultura e história se complementam, no caso
específico da cultura hispano-americana (Figs. 26 e 27).
FIGURA 27
20
ESTUDO DE CASO III
Casa Subterrânea em Pachacamac
2006/08, Lima (Peru)
Longhi Arquitectos
Localização:
Endereço:
Área do terreno:
Área da construção:
Data do projeto:
Autoria:
Pachacamac, Lima (Peru)
Não disponível
2
5.000 m
2
480 m
2006/08
Longhi Arquitectos
Esta casa subterrânea localizada em um pequeno
monte na região de Pachacamac (Fig. 28), distante em cerca
de 40 km ao sul de Lima, Capital do Peru, foi projetada como
casa-refúgio para um casal de filósofos pelo escritório Longhi
Arquitectos, tendo demorado dois anos para ser concluída. A
intenção básica era de que o edifício traduzisse serenidade e
segurança, além de ser um convite à meditação através do
jogo de luzes e sombras, o qual remeteria à ancestralidade
inca. De acordo com os autores do projeto, nos tempos
remotos, a escolha do terreno para as construções do
Império Inca era a atitude mais importante a ser tomada.
Apenas após encontrar o lugar ideal, era que os incas
começavam a intervenção, a qual deveria ser pequena,
embora fossem grandes as edificações que construíam. Em
nossos dias, raramente as pessoas seguem essa ordem,
pois primeiro vem a necessidade para depois, por último,
buscar o terreno de implantação da obra (ARCHDAILY,
2009).
FIGURA 28
FIGURA 29
No caso dessa residência, os clientes tinham amor
pelo local e o processo de escolha deu-se como nos tempos
antigos. Nas palavras do arquiteto Luis Longhi Traverso, em
entrevista ao programa Forma, color y textura, em livre
tradução: “Para os incas, o mais simples era obter uma
relação com o entorno; você não pode interferir em um
entorno, caso ele não lhe tenha aceitado” (YOUTUBE, 2011).
Em resposta as condições geográficas do local,
linhas simples e contemporâneas, formas geométricas e
materiais rudes fizeram da casa uma autêntica fortaleza de
pedra em equilíbrio perfeito como local austero que a rodeia
(Figs. 29 e 30) e, ao mesmo tempo, relembrando a tradição
pré-hispânica (LONGHI ARCHITECTS, 2014).
FIGURA 30
Como numa casa comum, a iluminação natural é de extrema importância e como tal a parte
coberta é povoada de reentrâncias na colina, múltiplas janelas e pequenas varandas, que
inundam o interior de luz e reflexos montanhosos [...] Já a fachada descoberta,
completamente exposta, faz a ligação entre interior e exterior, culminando num terraço,
miradouro sobre o vale, e também numa caixa de vidro que sobressai do complexo,
metáfora entre construção e Natureza intocada. A partir desta fachada, caminhos
entalhados em pedra envolvem o monte e ligam a casa a uma zona intocada ao longo da
costa do Peru, onde as construções mais próximas são ruínas de um período pré-Inca [...]
Caminhar por esta paisagem, onde o pequeno monte é rodeado por montanhas que se
erguem acima deste, transmite a energia do local e a inspiração para os criadores do
projecto, e para os seus clientes (OBVIUS, 2010, p.01).
Segundo o site DSNG (2011), a intervenção no ambiente intocado na costa do Peru ajudou os
arquitetos a entenderem que a fim de alcançar uma arquitetura de sucesso em áreas naturais, é
21
fundamental ouvir o meio ambiente e estabelecer uma relação com ele. Acrescenta-se ainda que a resposta
dada ao terreno, de enterrar a casa dentro do morro, foi uma tentativa, conforme os autores do projeto, de
criar um diálogo equilibrado entre arquitetura e paisagem, onde o dentro versus fora tornar-se-ia uma
interpretação constante da materialidade com um forte senso de proteção e valorização do escuro e da luz.
Além disso, a caixa de vidro destaca-se da colina, simbolizando a intervenção arquitetônica em uma
paisagem natural de extrema sutileza, como caracterizava as construções incas (Figs. 31 a 36).
FIGURA 31
FIGURA 32
FIGURA 33
FIGURA 36
7
FIGURA 34
FIGURA 37
FIGURA 35
FIGURA 38
CONCLUSÕES
Com base na pesquisa realizada sobre a cultura pré-colombiana e a arquitetura por ela
produzida, aliada aos estudos de casos de arquitetura contemporânea, é possível ressaltar a
importância do contextualismo e do diálogo entre a história e o local onde a obra é inserida; ações
que devem ser compreendidas como reforço de valores quanto à memória e identidade cultural.
22
No primeiro estudo de caso, o do Museu Rufino Tamayo, percebeu-se que a obra realiza
um diálogo direto com a tradição maia, através da forma volumétrica, aspecto austero e solidez
reforçada pelos materiais adotados (concreto armado e mármore branco), além da
monumentalidade, predominância da linha horizontal e exploração de contrastes de luz e sombra.
É possível observar que a forma escalonada do museu, quase piramidal, conversa diretamente
com as pirâmides maias. Já o segundo caso, o do Teatro Cervantes, houve uma inspiração mais
conceitual que matérica, onde se procurou resgatar simbologias da cultura asteca, principalmente
na sua relação com a iluminação solar. O projeto, baseado nas lendas e crenças astecas, remete
a aspectos mais sutis do contexto, o que exemplifica a distinção que existe entre o contextualismo
arquitetônico físico do cultural. De qualquer forma, é possível identificar o caráter maciço e
monumental que os astecas herdaram dos maias.
O terceiro e último caso, que aborda a Casa Subterrânea próxima a Lima (Peru) revela
uma clara contextualização com o entorno natural, visto que a obra insere-se diretamente no
relevo, o que se associa ao costume inca de implantação arquitetônica. Além disso, a
horizontalidade, o escalonamento, a técnica de construção dos muros e aberturas são aspectos
recorrentes da tradição pré-hispânica. Neste e nos demais casos estudados, os materiais
utilizados são predominantemente de produção em larga escala e comuns à construção civil de
seus respectivos países. Percebe-se que houve uma preocupação comum com o conforto
ambiental,
incluindo cuidados com
ventilação e iluminação natural,
assim como de
enquadramento da paisagem e respeito contextual. Conclui-se, portanto, que o diálogo entre as
arquiteturas pré-colombiana e contemporânea é possível e válida, independente do programa
funcional e iniciativa de financiamento, sendo inclusive recomendável quando se busca uma
maneira de reforçar laços culturais, valores culturais e identidade regional, correspondendo a uma
excelente e fundamental ferramenta para a valorização da teoria e história da arquitetura aplicada
ao projeto e construção.
8
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10
FONTES DE ILUSTRAÇÕES
Figura
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02
03
04
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06
07
08
09
10
11
12
13
14 a 18
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ATIVIDADES COMPLEMENTARES E APRECIAÇÃO DO ORIENTADOR
Este trabalho de iniciação científica cumpriu o cronograma inicial, permitindo atingir os objetivos
estabelecidos, não ocorrendo atrasos e imprevistos. Seu desenvolvimento junto ao professor-orientador
permitiu a complementação e publicação de material didático do curso de arquitetura e urbanismo da
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR. A aluna, matriculada regularmente no 3º ano de graduação,
apresentou iniciativa e dedicação na elaboração das tarefas indicadas, cumprindo integralmente o
cronograma e permitindo o desenvolvimento satisfatório da pesquisa. Por se tratar de um trabalho
introdutório sobre o tema, assim como pela vastidão de questões possíveis de serem abordadas em
investigações nesse campo de pesquisa, considera-se que os resultados atingidos foram adequados
aos meios utilizados e aos fins pretendidos.
Esta pesquisa contribuiu ao interesse da acadêmica prosseguir a aplicação futura dos
pressupostos da arquitetura hispano-americana contextualista na(s) área(s) de:
APERFEIÇOAMENTO
MESTRADO
CENTRO DE PESQUISA
MERCADO DE TRABALHO
OUTROS:
___________________________________________________________
___________________________________________________________
12
DATA E ASSINATURAS
Curitiba, maio de 2014.
_________________________________________________
Acadêmica Thuany Aline Santos
_________________________________________________
Prof. Dr. Antonio Manoel Nunes Castelnou, neto

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