Joao Marcio Palheta, Glaucia Rodrigues Medeiros
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Joao Marcio Palheta, Glaucia Rodrigues Medeiros
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 ORDENAMENTO TERRITORIAL E MINERAÇÃO NAS CIDADES DA AMAZÔNIA PARAENSE Joao Marcio Palheta da Silva Professor Associado II/Universidade Federal do Pará/Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Pará/Líder do Grupo Acadêmico Produção do Território e Meio ambiente na Amazônia (GAPTA/CNPQ) [email protected] Gláucia Rodrigues Nascimento Medeiros Graduada em Pedagogia/Universidade Estácio de Sá/Pós Graduação MBA em Gestão de Pessoas - Universidade Estácio de Sá/Pesquisadora do GAPTA/CNPq [email protected] INTRODUÇÃO A produção e o uso do território nas áreas que concentram projetos mineradores criaram novas territorialidades implicando em práticas sociais que diferenciam territórios e se diferenciam em terras paraenses. Pergunta-se: as relações socioeconômicas no Sudeste do Pará, nas cidades que abrigam grandes projetos de mineração, teriam mais condições de promover o bem estar da sociedade, sem prejuízos, nem deixar a perder de vista o desenvolvimento local, a partir da economia mineral? E, como articular a gestão do território, considerando as diferentes dinâmicas econômicas produtoras de novas territorialidades, na promoção do desenvolvimento socioeconômico paraense em áreas de mineração? Os recursos existentes nessas áreas, que são elementos de intencionalidade através das práticas sócio-político-econômicas, materializam, segundo Santos e Silveira (2001), as configurações territoriais. Assim, tanto os recursos naturais existentes como os recursos político-econômicos são alvos de questionamentos sociais que pleiteiam a sua socialização para uso geral da sociedade, diante das dinâmicas econômicas atreladas à geografia da mineração, como é o caso paraense. 4725 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 A territorialidade torna-se, assim, uma condição para se construir a resistência nos lugares e a organização em setores da sociedade civil para elaborarem suas metas, a fim de atingir suas ações e seus anseios em relação ao desenvolvimento sócio-econômico-político. O significado do território, então, está diretamente relacionado com as diferentes territorialidades que os atores sociais materializam por força de suas relações de poder e também pelas intencionalidades dos grupos internacionais, que conectam a economia local à internacional, pressionando cada vez mais os territórios, sob a égide do mercado, e alterando o espaço geográfico. Buscar desenvolver estratégias de desenvolvimento sócio-econômico-político, então, passa a ser objetivo dos atores, que precisam garantir suas territorialidades em Carajás. Como entender diferentes relações sociais sobrepostas de formas contraditórias; ora fazendo seus pares no território, ora desenvolvendo ações e definindo práticas de seus interesses? Ficamos observando e estudando essa região, da qual nos tornamos admirador. Tivemos interesse em entender e compartilhar, de forma direta ou indireta, o conhecimento com aqueles que nos ensinaram tudo que pensamos saber sobre a região e, como também, admirá-los por permanecerem nessa área, desenvolvendo suas práticas para melhorar as condições sociais dos municípios aos quais pertencem. Foi dessa forma que nos propusemos a tentar entender essa região, dentro de uma área limitada para nosso estudo, mas com complexidade variada e peculiar. Procuramos analisar e contextualizar a antiga área do município de Marabá e os processos sócio-político-econômico que dinamizaram o período posterior e transformaram os municípios de Parauapebas e Canaã dos Carajás em palcos dos projetos da antiga Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) – hoje denominada apenas como Vale –, bem como a dinâmica interna de cada município em relação a sua viabilidade econômico-financeira e as formas de poder expressas através de produção sócio-político-econômica do território no período de 2004 a 2014. Analisamos os municípios e seus recursos socioterritoriais, com base nas materialidades das relações de poder, tentando mostrar que o território é um espaço sócio-político-econômico e que os exercícios de poder são relações que fazem desses dois municípios um território de complexidades variadas no tempo e no espaço, pelos diferentes atores sociais, nos municípios que sediam os principais projetos da Vale no Sudeste do Pará. Com base em entrevistas como o poder público local e documentações que foram coletadas, in loco, junto a atores locais envolvidos nas formas de produção do espaço 4726 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 geográfico Carajás, procuramos analisar os processos que fizeram os locais onde estão os projetos da Vale, no Pará, continuarem a ser uma área onde ainda há ações que podem levar a novas emancipações territoriais; bem como analisar a mudança das ações do grupo Vale nos municípios que sediam seus projetos e estão sob sua área de influência após sua privatização; e avaliar, também, as implicações para a gestão de cada um dos municípios estudados, advindas da privatização da empresa de mineração Vale. ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E MINERAÇÃO NO ESTADO DO PARÁ As relações de bases material e financeira do poder econômico – dos grupos que controlam a mineração em escala internacional (Mapa 01) junto àquelas relacionadas ao poder social, investido nas elites locais e nos movimentos sociais diversos – definem práticas e gestão territoriais de uma maneira peculiar, o que por sua vez expressa que, em determinados momentos, essas relações definem a configuração territorial que corresponde aos interesses relacionados tanto às empresas e ao Estado quanto às elites e aos movimentos sociais, na busca por seus interesses no Pará (PALHETA DA SILVA, 2013). 4727 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Mapa 01: Destino da exportação de minérios no estado do Pará - bauxita, alumínio, ferro e cobre (2011 e 2012) Fonte: SIMINERAL, Adaptado pelo GAPTA (2013). As relações exógenas permanecem reordenando as relações político-econômicas do território das empresas de mineração, modificando a função dos lugares (municípios), e sobrepondo poderes e interesses entre o público e o privado. Podemos ver a força da globalização econômica modificando as relações territoriais e a pressão dos grandes grupos econômicos modificando a economia local, conectando o território às diferentes escalas, em conflito com diferentes interesses e com as formas de gestão territorial. Parauapebas e Canaã dos Carajás: Cidades mineradoras na Amazônia paraense A criação da cidade de Parauapebas se deu em razão dos grandes projetos minerais, como o Projeto Ferro Carajás (PFC), e pelos processos produzidos por este grande projeto. Parauapebas (desmembrado de Marabá) surge, em 1988, como o município de maior importância na mineração, por possuir em seu território os principais projetos da maior companhia mineradora em atuação no estado, o grupo Vale, que tem sob seu domínio a maior mina em teor de ferro do planeta (a mina de ferro, a ferrovia Carajás e o porto no vizinho estado do Maranhão) e um extenso território de recursos minerais sob sua 4728 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 ação direta e indireta, além da Floresta Nacional de Carajás, um dos seus marketings ambientais. Segundo dados do DNPM (2011) e do SIMINERAL (2013), 35 municípios paraenses (destaque para Parauapebas com ferro e Canaã com Cobre, desmembrada de Parauapebas, em 1993) possuem em seus territórios atividades de mineração ligadas à indústria de transformação, à pesquisa mineral e à indústria extrativa mineral, localizadas espacialmente em diferentes regiões do estado, com diferentes grupos econômicos explorando-as. E a tendência do mercado mundial da economia do ferro, por exemplo, tem como resultado o aumento da exploração desse recurso na Amazônia, tendo no estado do Pará sua maior expressão. A China, quando passou a ser a maior compradora de minério de ferro do mundo (IBRAM, 2011), consequentemente aumentou sua participação no mercado brasileiro de exportação1, o que por sua vez tem como objetivo, segundo o IBRAM (2011), “criar fontes seguras do produto e reduzir o poder das grandes mineradoras na definição do preço internacional da commodity” (IBRAM, 2011). Ainda segundo o IBRAM (idem), o crescimento do setor mineral no Brasil de 2011 a 2015, será da ordem de US$ 64,8 bilhões. O minério de ferro, por exemplo, receberá recursos da ordem de US$ 40 bilhões, será o principal minério na pauta de exportação do país, e o Pará se tornará o principal estado a receber esses investimentos, passando a liderar o ranking brasileiro (Gráfico 01). 1 Os principais países de destino das exportações da IEM (Comércio Exterior da Indústria Extrativa Mineral) continuam a ser a China e o Japão, respondendo juntos por aproximadamente metade das exportações nacionais (DNPM/Informe Mineral, jul./dez. 2012, p.04). 4729 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Gráfico 01: Exportação de Minério de Ferro estado do Pará 2 Fonte: SIMINERAL, 2013. Adaptado pelo autor. O Pará, mesmo se tornando um estado cada vez mais minerador (Mapa 02), verticaliza sua produção modestamente e, consequentemente a sociedade, que para essas áreas se desloca em busca de melhores condições de vida e trabalho, não vem agregando valor ao trabalho e ao produto mineral com a mesma velocidade dos problemas que surgem em razão, principalmente, da migração que não vem acompanhada por políticas públicas para essas localidades. Geralmente nas periferias das cidades mineradoras, bolsões de pobreza sujeitos a todo tipo de conflito social se formam como única alternativa da população, que não consegue se inserir no processo do mundo do trabalho na mineração. Das 35 cidades que sediam atividades de mineração, no que diz respeito à CFEM, são destaque as cidades de Parauapebas, Canaã dos Carajás, Oriximiná e Juruti. No Brasil, Minas Gerais e Pará são os dois principais estados arrecadadores da CFEM, segundo o DNPM. O estado do Pará é o segundo maior arrecadador de CFEM, tanto que no ano de 2 Aplicação: é utilizado para a produção de aço, liga metálica para a produção de ferramentas, máquinas, veículos de transporte (carros, navios, etc), como elemento estrutural de pontes, edifícios, e uma infinidade de outras aplicações. Reservas: As reservas medidas e indicadas de Minério de Ferro no Brasil alcançam 29 bilhões de ton., situando o País em 4º lugar em relação às reservas mundiais, de 160 bilhões de toneladas. Considerando-se as reservas em termos de Ferro contido no minério, o Brasil assume lugar de destaque no cenário internacional. Esse fato ocorre devido ao alto teor encontrado nos minérios Hematita (60% de Ferro), predominante no Pará, e Itabirito (50% de Ferro), predominante em Minas Gerais. 4730 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 2010, sua receita total foi de mais de trezentos milhões de reais (R$ 314.845.129,95), um acréscimo de 29,80% em relação ao ano de 2009, ainda segundo o DNPM (2011). Mapa 02: Distribuição Espacial dos municípios com Atividade mineral no Pará Segundo o Anuário Mineral Brasileiro (2010), o minério de ferro, respondeu por 58%, o cobre 6% e o alumínio 4% como as principais substâncias na arrecadação da CFEM no Brasil. Segundo o MME (2010), a economia mineral com A excessiva concentração do minério de ferro na pauta de exportações de bens 4731 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 minerais, com o agravante de a maior parte das vendas se direcionar a um único mercado, a China, desperta preocupações, pois qualquer mudança econômica ou política que ocorra nesse país terá reflexos imediatos nas contas externas nacionais. Em 1990, por exemplo, a China importava 2% do minério de ferro brasileiro e esta substância representava 5% nas exportações totais brasileiras. Duas décadas depois, em 2009, esses percentuais passaram para 59% e 9%, respectivamente (p. 26). A economia mineral teve no ferro a sua maior expressão em exportação, o que por sua vez porporcionou um aumento significativo na arrecadação de Minas Gerais e Pará, os maiores exportadores de minério de ferro. Isso favoreceu na linha do tempo um aumento na primeira metade do século XXI provocado pela aceleração da exploração dos recursos minerais nesses dois estados. Gráfico 02: Evolução histórica da arrecadação da CFEM no Brasil 2003 a 2010 (R$ milhões) Fonte: DIPAR/DNPM (2011) Esse cenário mineral brasileiro, em que Minas Gerais e Pará são destaques, demonstra que, com exceção de 2009, ocorreu um crescimento na arrecadação da CFEM e atingiu seu ápice na primeira década do século XXI, configurando a mineração com uma das matrizes da balança comercial brasileira mais importante, como podemos verificar no gráfico de 2003 a 2010 da CFEM (Gráficos 01 e 02). 4732 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Gráfico 03: Arrecadação CFEM no estado do Pará Fonte: SIMINERAL/DNPM/CFEM (2012) O Pará tem no ferro de Carajás, no município de Parauapebas, sua maior expressão em arrecadação. Ainda segundo o DNPM (2011), o minério de ferro foi o primeiro colocado em arrecadação no ano de 2010, seguido do cobre e do alumínio, três substâncias minerais que o estado do Pará possui e que o coloca como o segundo estado que mais arrecada com a CFEM. Em 2012, segundo o DNPM, no ranking dos dez municípios que mais geraram receitas de CFEM no Brasil, nove municípios são podutores de minério de ferro, e Parauapebas (24%) continuou a ser a maior receita de CFEM, Canaã dos Carajás (1,8%) passou a ser o décimo de toda a arrecadação nacional, eles juntos respondem por 73% da CFEM referente ao segundo semestre de 2012 (DNPM/Informe Mineral, jul./dez. 2012). Não se pode deixar de notar que no estado do Pará dois municípios novos, como Parauapebas (ferro) e Canaã dos Carajás 3 (cobre), lideram a arrecadação e dois outros municípios no baixo Amazonas, Oriximiná e Juruti, mais antigos que os primeiros, lideram com a exploração da bauxita, minérios responsáveis pela balança comercial do estado, que conectam a economia paraense ao mundo (Tabela 01). 3 Canaã dos Carajás é um município de segunda geração desmembrado de Parauapebas no começo dos anos de 1990, e a partir de 2004 passou a sediar a exploração do cobre na mina do Sossego, pelo grupo Vale. 4733 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Tabela 01: Principais Municípios Arrecadadores da CFEM no Estado do Pará Município 2010 Município 2011 Parauapebas 229.896.598,41 Parauapebas 371.088.416,69 Canaã dos Carajás 26.389.306,77 Canaã dos Carajás 31.953.067,54 Oriximiná 18.598.141,94 Oriximiná 21.220.281,78 Paragominas 10.916.670,65 Paragominas 12.336.831,69 Juruti 12.297.592,13 Juruti 10.717.061,23 Ipixuna do Pará 8.140.172,26 Ipixuna do Pará 7.114.356,53 Marabá 6.083.211,67 São Félix do Xingu 2.709.765,44 Floresta do Araguaia 1.081.809,74 Floresta do Araguaia 1.970.968,68 318.755,37 Marabá 1.874.832,81 32.293.979,65 Itaituba 306.528,09 Itaituba Jacareacanga Total dos Dez Municípios Total do Estado 314.845.129,95 Total dos Dez Municípios 461.292.110,48 346.016.238,59 462.408.808,04 Total do Estado Fonte: http://migre.me/afOZp. (adaptado pelo autor). No que tange às dez cidades que mais arrecadam CFEM em todo o Brasil, essas mesmas cidades paraenses também se destacam na arrecadação do FPM (Tabela 02). No caso de Parauapebas, mais de 280 milhões de reais, quando somados os dois tributos juntos (Tabelas 3 e 4). Em seguida vem Canaã dos Carajás – município emancipado em razão da mineração – Oriximiná, Paragominas e Juruti, municípios mais antigos e que não surgiram em função da atividade mineral. A mineração é a principal atividade nos dois primeiros municípios, mas todos estão ligados à economia internacional, pela atuação em seus territórios de grupos mineradores de exploração em alta escala. Tabela 02: Municípios Mineradores/Arrecadação de FPM no Pará Município 2010 2011 2012 Parauapebas 38.549.611,58 46.222.186,36 48.528.336,89 Canaã dos Carajás 7.502.033,00 9.035.598,00 9.205.834,28 Oriximiná 11.788.908,81 15.489.596,24 15.781.429,93 Paragominas 16.075.784,62 19.361.995,25 19.726.787,43 Juruti 8.573.751,99 12.907.996,96 13.151.191,72 Ipixuna do Pará 10.717.189,79 14.198.796,58 14.466.310,90 Marabá 39.621.330,59 47.512.985,93 48.528.336,89 São Félix do Xingu 18.071.195,56 12.860.627,72 19.726.787,43 Floresta do Araguaia 5.358.595,13 7.744.798,31 7.890.715,19 Jacareacanga Total dos Dez Municípios Total do Estado 9.645.470,84 6.453.998,61 9.666.225,43 165.903.871,91 191.788.579,96 206.671.956,09 1.567.396.025,92 1.931.531.190,06 2.013.878.417,78 Fonte: http://migre.me/afP1V. (adaptado pelo autor). 4734 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Ainda no Pará, municípios como Barcarena, Canaã dos Carajás, Ipixuna do Pará, Marabá, Parauapebas e São Félix do Xingu, tiveram um acréscimo populacional considerável e foram destaques nesses dez anos, comparando 2000 a 2010. Reflexo, principalmente, de projetos minerais em seus territórios, o que acelerou o crescimento populacional, gerando conflitos urbanos e rurais de diferentes naturezas, ligados direta e indiretamente à atração de imigrantes pelos empreendimentos minerais. Por esse motivo, os trinta e cinco municípios mineradores paraenses concentram boa parte da população do estado em mais de um milhão de pessoas, o que também é um fator político para eleições municipais que, de certa forma, atrelam o FPM e a CFEM como variáveis fundamentais tanto política quanto econômica em seus territórios. Essas variantes geralmente são usadas pelas elites locais, principalmente em forma de discursos desenvolvimentistas ancorados na economia mineral. É dessa forma que as cidades abrigam projetos de mineração e se preparam para entrar na era da mineração do século XXI, conectando a Amazônia aos mais variados mercados mundiais, principalmente os chineses e canadenses como parceiros de nicho econômico. ORDENAMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL NOS MUNICIPIOS DE PARAUAPEPAS E CANAÃ DOS CARAJÁS Os municípios aqui estudados possuem suas arrecadações diferenciadas e suas dinâmicas econômicas próprias, não podemos deixar de destacar Parauapebas, em cuja região se encontra os principais projetos da Vale. Desde suas emancipações, municípios como Canaã dos Carajás, criado em diferente período, enfrenta problemas comuns e com grau de capacidade de resolução diferenciado de acordo com sua potencialidade político-econômico-social para resolvê-los, sejam eles urbanos e rurais. Sendo assim, vamos analisar os repasses de ICMS, FPM e IPI dos municípios do Sudeste Paraense, com destaque para os selecionados para este estudo. Esses repasses têm sido cada vez mais questionados, por ocasião do investimento em setores que seriam prioritários para o crescimento econômico do município. A maioria dos governos locais, sem capacidade de atrair novos recursos, têm nesses repasses sua única via de investimento na melhoria de vida de suas sociedades e na capacidade de investimento local. Assim, ICMS, FPM, IPI e os próprios royalties da Vale são soluções e esperança de crescimento econômico local. Acreditam os governos municipais que esses recursos são a “tábua de salvação” dos municípios que não conseguem atrair investimentos e veem, nesses 4735 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 repasses, seu grande “filão” para manter o discurso emancipacionista e para continuar a garantir suas relações de poder no território e a manutenção de seus governos. O repasse de ICMS entre os anos de 1997 e 2012 tem na amostragem da Tabela 04, uma definição de quanto cada um dos seis municípios do Sudeste Paraense têm arrecadado nesses últimos anos. Esses repasses têm oscilado ao longo dos anos que analisamos. Nos municípios como Marabá, Parauapebas e Canaã dos Carajás, pode-se fazer uma análise mais detalhada dos anos e verificar a evolução da arrecadação do ICMS, em outros municípios, como Água Azul do Norte, Curionópolis e Eldorado dos Carajás esse crescimento é tímido. Por essa razão, em alguns momentos suas arrecadações crescem quando comparadas com as de municípios mais antigos, como é o caso de Marabá e, com os mais recentes e economicamente dinâmicos com a mineração presentes em seus territórios, como é o caso Parauapebas e Canaã dos Carajás. Embora a arrecadação de alguns municípios tenha aumentado nos últimos anos, caso não ocorra uma reestruturação nas relações de poder no território que faça com que parcelas significativas da sociedade tenham espaço na gestão municipal para resolução dos problemas, formas autoritárias de governos e de exclusão da sociedade civil tenderão a coexistir, sem, no entanto, levar à melhoria da gestão territorial e inviabilizando o desenvolvimento socioeconômico local. Os movimentos sociais organizados fazem pressões de diferentes maneiras para que ocorra ressonância e, consequentemente, a amplitude dos benefícios sociais no que diz respeito ao orçamento municipal, e assim beneficiam a sociedade como um todo. Como podemos notar, no período que vai de 1997 a 2012 com os repasses do ICMS aos municípios do Sudeste Paraense, há indicação também da maneira como a gestão territorial e os discursos político-econômicos têm sido direcionados de acordo com o crescimento econômico local (Tabela 03). Os dados da Tabela 03, nos períodos que vão de 1997 a 2012, expressam nitidamente o grau de dependência econômico-financeira de cada município e as possibilidades de crescimento, bem como as oscilações de cada município em termos de arrecadação. Cada um tem sua peculiaridade, assim como sua capacidade de melhor gerir seus recursos. 4736 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Tabela 03 - ICMS dos Municípios Estudados da Mesorregião Sudeste Paraense 1997 – 2012. Ano Água Azul do Norte Canaã dos Carajás Curionópolis Eldorado dos Carajás Marabá Parauapebas Total Município Total/Estado/ano 1997 234.615,59 167.582,56 837.912,82 167.582,56 3.737.091,19 10.982.866,60 16.127.651,32 254.132.057,19 1998 239.810,79 171.293,42 856.467,10 171.293,42 3.819.843,27 11.134.072,31 16.392.780,31 255.309.381,72 1999 375.332,20 223.919,04 789.041,42 309.223,24 5.346.340,65 17.913.590,23 24.957.446,78 277.229.677,00 2000 629.534,58 553.990,43 3.349.123,97 478.446,28 5.346.340,65 27.649.158,83 38.006.594,74 367.475.825,55 2001 836.079,31 743.181,62 721.215,71 681.249,81 7.772.441,03 34.743.740,37 44.661.828,54 309.659.005,12 2002 1.059.689,60 1.059.689,60 803.902,45 840.443,47 8.842.926,98 35.627.495,08 48.234.147,18 365.410.205,63 2003 1.405.936,93 1.179.172,49 997.761,34 1.088.466,91 13.424.425,25 41.452.448,23 59.548.211,15 453.527.879,92 2004 1.638.593,76 1.331.357,42 1.075.327,15 1.280.1511,37 19.253.476,65 52.998.266,85 89.098.533,20 512.060.549,36 2005 2.182.374,93 1.939.888,83 1.333.673,57 1.818.645,77 23.339.287,48 60.682.147,46 91.296.018,04 606.215.259,31 2006 2.803.283,99 4.765.582,79 1.681.970,40 2.242.627,20 32.518.094,32 66.227.584,35 110.239.143,05 700.820.998,44 2007 3.438.567,74 11.691.129,29 1.910.315,24 2.445.203,15 41.721.284,90 71.216.552,25 132.423.052,63 764.126.097,16 2008 4.167.044,81 15.307.511,55 2.041.001,54 2.806.377,11 49.749.412,54 76.622.599,48 150.693.947,03 850.417.308,34 2009 3.901.484,77 19.325.959,46 1.996.108,19 2.721.966,12 58.340.807,21 87.828.773,53 174.115.099,58 907.322.040,60 2010 3.802.834,80 19.630.849,92 2.055.586,38 2.775.041,61 72.767.757,82 119.224.010,00 220.256.080,53 1.027.793.189,63 2011 3.885.714,13 21.371.427,70 2.285.714,19 2.971.428,45 78.057.139,65 147.771.422,51 256.342.846,63 1.142.857.095,95 3.956.259,07 76.016.692,04 226.919.716,37 341.086.049,39 1.412.949.666,07 2012 4.662.733,90 26.442.158,75 3.108.489,26 Total 35.263.631,83 125.904.694,87 25.843.610,73 38.275.765,54 500.053.361,63 1.088.994.444,45 1.813.479.430,10 10.207.306.236,99 Fonte: http://www.sefa.pa.gov.br/site/pagina/tesouro.repasse Nesse conjunto de repasses de ICMS para os seis municípios da mesorregião Sudeste Paraense, cada um tem sua participação em relação aos repasses realizados nos períodos de 1997 a 2012. De acordo com sua posição em cada período, Parauapebas é o primeiro município em arrecadação de ICMS, seguido de Marabá e Canaã dos Carajás como os maiores arrecadadores; enquanto municípios como Água Azul do Norte, Curionópolis e Eldorado dos Carajás seguem entre aqueles que menos arrecadam. As transferências de receitas são depositadas no FPM, no ICMS e no IPI, basicamente. Dessa forma podemos constatar que o aumento gradativo dessas transferências tem esbarrado na boa ou má administração municipal. Assim, elas beneficiam municípios como Marabá, Parauapebas e Canaã dos Carajás e contribuem com as parcerias e com outros tributos, como os royalties, para aumentar a arrecadação municipal. No caso dos municípios como Eldorado dos Carajás, Curionópolis e Água Azul do Norte essas transferências são essenciais, porque esses municípios dependem diretamente desses recursos para viabilizar a gestão territorial local. Parauapebas, segundo lugar, Marabá, quarta posição e Canaã dos Carajás, oitavo lugar estão entre os maiores PIB dos municípios paraenses. Essa classificação demonstra o peso de Marabá e Parauapebas dentro do Pará e dentro da mesorregião, assim como de Canaã dos Carajás, Barcarena, Tucuruí, Paragominas, municípios que 4737 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 possuem em seus territórios grandes projetos e que são municípios política e economicamente importante no Pará. No ranking nacional dos 100 maiores municípios brasileiros, em relação ao Produto Interno Bruto, em 2010, Belém ocupava a 27 a posição e Parauapebas a 33a, no valor a preços correntes e participações percentuais relativas acumuladas (Contas Nacionais no 39/IBGE, 2010). Tabela 04: Repasse de IPI aos Municípios 1998 - 2012 Municípios 1998 2000 Água azul do Norte 24.676,01 48.188,94 Canaã dos Carajás 17.625,72 42.406,27 2002 2004 2006 2008 2010 2012 55.546,30 29.582,31 91.728,83 174.259,25 147.328,55 178.380,91 55.546,30 24.035,63 117.340,71 640.136,03 760.533,91 1.010.825,15 42.138,58 19.413,39 55.566,04 85.351,47 79.637,06 118.920,61 44.053,97 23.111,18 74.969,29 117.358,27 107.510,02 151.353,50 Curionópolis 88.128,62 48.188,94 Eldorado dos Carajás 17.625,72 36.623,60 Marabá 393.053,65 551.281,52 463.524,31 347.592,14 1.020.961,76 2.080.442,09 2.819.151,86 2.908.149,36 1.145.672,07 2.116.458,41 1.867.504,99 956.802,82 2.366.033,32 3.204.236,45 4.618.949,38 8.681.204,23 1.686.781,79 2.843.147,68 2.528.314,45 1.400.537,47 3.726.599,95 6.301.783,56 8.533.110,78 13.048.833,76 Parauapebas Total dos Seis Municípios Total do estado do Pará 17.625.724,17 19.275.577,48 19.153.897,25 9.244.471,68 24.254.065,59 35.563.112,66 39.818.529,15 54.048.817,40 Fonte: http://www.sefa.pa.gov.br/site/pagina/tesouro.repasse. No que diz respeito ao IPI e ao PIB (Tabela 04 e 05) dos municípios estudados, destacam-se Parauapebas, Marabá e Canaã dos Carajás, em relação aos demais municípios paraenses. Dentre os 10 maiores PIB do estado do Pará, em 2010, estão a capital Belém em primeiro lugar, seguida de Parauapebas, Ananindeua, Marabá, Barcarena, Santarém, Canaã dos Carajás, Castanhal e Paragominas. 4738 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Tabela 05: Produto Interno Bruto dos dez Principais Arrecadadores do Estado do Pará - PIB 2009 2010 Ranking Município PIB (R$) % Setor Ranking Município Participação predominante PIB (R$) Participação Setor predominante 1 Belém 16.568.144 28,37 Serviços 1 Belém 17.987.323 23,11 Serviços 2 Parauapebas 5.634.291 9,65 Indústria 2 Parauapeba s 15.918.216 20,45 Indústria Serviços 3 Barcarena 3,483.038 5,96 Indústria 3 Ananindeua 3.6669.747 4,71 4 Ananindeua 3.253.847 5,57 Serviços 4 Marabá 3.601.647 4,63 Serviços 5 Marabá 3.081.124 5,28 Indústria 5 Barcarena 3.550.233 4,56 Indústria 6 Tucuruí 1.901.476 3,26 Indústria 6 Tucuruí 2.817.702 3,62 Indústria 7 Santarém 1.769.395 3,03 Serviços 7 Santarém 2.051.529 2,64 Serviços 8 Castanhal 1.221.001 2,09 Serviços 8 Canaã dos Carajás 1.1.559.968 2,00 Indústria 9 Paragominas 881.230 1,51 Indústria 9 Castanhal 1.449.213 1,86 Serviços 10 Oriximiná 852.133 1,46 Indústria 10 Paragomina s 1.235.379 1,59 Indústria Total municípios 38.645.679 66,18 53.840.957 69,15 58.401.830 100 Indústria/ Serviços Total municípios Total Estado do Pará Total Estado do Pará 77.847.597 100 Serviços/ indústria Fonte: Dados básicos: IBGE e IPEA, 2011. Dentro dessa análise, dos municípios que foram desmembrados de Marabá (serviços) apenas Parauapebas e Canaã dos Carajás (indústria) demonstram viabilidade econômico-financeira (Tabela 06), devido à presença da Vale e os projetos a ela associados, como também aos diversos assentamentos rurais existentes em seus territórios, como é o caso dos assentamentos do MST na região. Esses assentamentos, de certa forma contribuem na base produtiva dos municípios e impulsionam, em momentos de crise, o comércio local. Tabela 06: Estrutura Produtiva Municipal por Participação (%) da Área Estudada Municípios Água Azul do Norte Agropecuária Indústria Serviços Predominância 33,0% 30,5% 35,6% Serviços Canaã Carajás do 2,1% 83,7% 14,2% Indústria Curionópolis 33,5% 8,9% 57,8% Serviços Eldorado dos Carajás 19,6% 31,8% 48,7% Serviços Marabá 2,5% 33,0% 64,5% Serviços Parauapebas 0,2% 87,5% 12,2% Indústria Fonte: IDESP/IBGE – Adaptado pelo autor – Produto Interno Bruto Municipal, 2010. Pode-se constatar que ocorre uma imensa diferença entre aqueles municípios novos que foram criados a partir de 1988, do desmembramento do território de Marabá (Tabela 07), e em cujo território há projetos efetivos de mineração da Vale, e aqueles que não possuem projetos. Por exemplo: Parauapebas, que foi emancipado em 1988 junto com 4739 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Curionópolis, possui grau de arrecadação diferenciada de recursos financeiros, enquanto Curionópolis está entregue a sua própria sorte. Tabela 07: Repasse do Fundo de Participação aos seis Municípios do Estado do Pará entre os anos de 1997 e 2012. Ano 1997 Água Azul do Canaã dos Eldorado Curionópolis Norte Carajás dos Carajás 782.974,11 782.974,11 1.565.948,01 Marabá Parauapebas Total/Municíp Total/Estado/ano io/ano 782.974,11 9.999.495,11 1.826.939,31 15.741.304,76 349.511.100,79 1998 1.621.942,93 1.081.295,42 1.621.942,93 1.621.942,93 10.220.167,45 2.162.590,44 18.329.882,10 376.310.942,12 1999 2.188.900,34 1.250.800,45 2.188.900,34 1.740.856,05 9.558.221,08 2.501.600,31 19.429.278,57 414.276.296,19 2000 2.469.733,10 1.411.276,29 1.701.981,02 2.469.733,10 9.697.492,40 2.822.552,13 20.572.768,04 464.358.529,46 2001 2.612.867,21 1.810.835,21 3.456.968,11 2.807.112,54 15.823.109,39 5.213.208,52 31.724.100,98 544.613.700,68 2002 2.944.420,55 1.962.202,13 4.196.121,24 3.920.368,85 19.539.362,74 6.377.155,79 38.939.631,30 673.617.646,55 2003 3.578.739,13 2.045.119,96 4.087.606,38 4.089.276,59 20.180.219,83 6.646.638,39 40.627.600,28 698.101.380,79 2004 3.952.769,86 2.258.725,97 4.209.145,39 4.517.451,23 21.271.835,95 7.340.857,92 43.550.786,32 773.753.233,84 2005 4.883.973,70 2.790.842,32 4.406.489,36 6.273.081,54 26.401.761,59 9.761.633,83 54.517.782,34 970.051.876,14 2006 6.169.324,87 3.085.952,73 4.427.069,12 6.941.194,61 29.382.100,17 10.798.634,68 60.804.276,18 1.070.364.647,35 2007 7.060.661,15 4.412.616,55 4.538.564,93 7.943.243,65 32.756.564,61 13.238.442,14 69.950.093,03 1.227.440.628,58 2008 7.557.784,56 6.478.101,17 6.478.101,17 7.557.784,56 40.674.820,98 19.434.302,72 88.180.895,16 1.525.620.728,63 2009 7.032.924,18 7.032.924,18 6.028.220,72 7.032.924,18 37.250.299,69 36.245.596,41 100.622.889,36 1.453.107.720,43 2010 8.573.751,99 7.502.033,00 6.430.314,00 7.502.033,00 39.621.330,59 38.549.611,58 108.179.074,16 1.567.396.025,92 2011 9.035.598,00 9.035.598,00 7.744.798,31 10.326.397,63 47.512.985,93 46.222.186,36 129.877.564,23 1.931.531.190,06 2012 9.205.834,28 9.205.834,28 7.890.715,19 10.520.953,43 48.528.336,89 48.528.336,89 133.880.010,96 2.013.878.417,78 Total 79.672.199,96 62.147.131,77 70.972.886,22 86.047.328,00 418.418.104,40 257.670.287,42 974.927.937,77 16 anos 16.053.934.065,31 Fonte: Ministério da Fazenda – Secretaria do Tesouro Nacional 2013. http://www3.tesouro.fazenda.gov.br/estados_municipios/transferencias_constitucionais.asp Na questão da mobilidade existe, a respeito do FPM, uma relação direta entre aqueles municípios que não possuem atividades econômicas atrativas para as empresas de mineração como a Vale. Nesse caso, o FPM é uma das principais fontes financeiras para o município. Para outros, que possuem projetos definidos pela Vale, e que recebem os royalties da mineração, o FPM é um elemento a mais na sua arrecadação (Nesse caso os novos municípios Parauapebas e Canaã dos Carajás não dependem diretamente das transferências dos impostos). Assim, o local (município) é a escala que melhor expressa essas trilhas financeiras, que equivalem às relações de poder nas disputas tanto entre os municípios quanto entre os atores político-econômicos locais e extralocais. É nessa perspectiva que se pode entender a integração das atividades mineradoras presentes em municípios como Marabá, Parauapebas e Canaã dos Carajás e a possível virtualidade de outros projetos em Curionópolis e Água Azul do Norte, por exemplo. 4740 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Nessa ótica, não só o Estado, mas também as empresas e os diferentes atores econômicos utilizaram-se dos recursos financeiros, tornando-os elementos através dos quais os discursos do poder local mobilizam a sociedade para tentar garantir seu domínio municipal. CONSIDERAÇÕES FINAIS Todas as questões que envolvem as relações de poder e as formas de desenvolvimento dos municípios estão ainda longe de serem resolvidas, devido aos diferentes interesses dos atores locais. Parauapebas e Canaã dos Carajás são ainda municípios novos, em termos de emancipação política e econômica. Esses municípios apresentam antigos problemas sociais agravados com a introdução da mineração e por planejamentos realizados sem a participação da sociedade civil ou de grupos rivais que disputam o poder local. Em relação à questão econômico-financeira, a maioria dos municípios da mesorregião Sudeste Paraense são pobres, com pequena arrecadação, dependem do repasse do governo federal e têm sua receita atrelada ao FPM. São municípios que têm total dependência financeira, que acabam onerando outros municípios por não possuírem infraestrutura suficiente para atender sua população, que busca serviços melhores em outra localidade próxima, e também acabam migrando para municípios como Parauapebas, Canaã dos Carajás ou para Marabá, os três mais bem estruturados, entre os seis municípios estudados. Estes terminam recebendo problemas que deveriam ser resolvidos nos municípios adjacentes. As prefeituras acabam sendo o principal empregador, e sem perspectivas de atrair indústrias e serviços, esses municípios entregam seu futuro em termos de desenvolvimento econômico às vontades dos projetos que poderiam ser implantados por parte da companhia Vale. Parauapebas e Canaã dos Carajás são municípios que possuem projetos de mineração e acabam se destacando dentro de microrregiões, por possuírem as atividades principais da Vale na região. Enquanto outros, como Curionópolis e Água Azul do Norte, vivem novas expectativas de terem investimentos da Vale em seus territórios, e, como todo investimento em mineração de grande escala, carregará uma migração em direção a esses municípios, em busca de empregos nesses projetos, nem todos irão conseguir, a maioria acabará na periferia das cidades da região. 4741 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 REFERÊNCIAS DEPARTAMENTO Nacional de Produção Mineral. Sumário Mineral/MME. Brasília: DNPM/DIPLAM, 2011. DEPARTAMENTO Nacional de Produção Mineral. Informe Mineral. Brasília: DNPM, 2012. http://migre.me/afOZp. Acessado em 17/03/2013 http://www.ibge.gov.br. Acessado em 22/06/2013 http://www.sefa.pa.gov.br/site/pagina/tesouro.rep asse. Acessado em 22/06/2013 http://www.tesouro.fazenda.gov.br/estados_munici pios/municipios.asp. Acessado em 10/06/2013 http://www3.tesouro.fazenda.gov.br/estados_muni cipios/transferencias_constitucionais.asp. Acessado em 10/02/2013 MINISTÉRIO de Minas e Energia/Departamento Nacional de Produção Mineral. Prestação de Contas Ordinária Anual/Relatório de Gestão do exercício de 2010. Brasília: Março, 2011. PALHETA DA SILVA, J. M. Território e Mineração em Carajás. Belém: GAPTA/UFPA, 2013. SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. São Paulo: Record, 2001. https://sistemas.dnpm.gov.br/arrecadacao/extra/R elatorios/arrecadacao_cfem_substancia.aspx. Acessado em 22/04/2013 Relatório INSTITUTO Brasileiro de mineração – IBRAM. Indústria da Mineração. Ano VI - nº 41, fevereiro de 2011. MINISTÉRIO das Minas e Energia (MME). Plano Nacional de Mineração 2030 (PNM – 2030). Brasília: MME, 2010. http://migre.me/afP1V. Acessado em 17/03/2013 INSTITUTO Aço Brasil. sustentabilidade 2012. Censo Demográfico de 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. de INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Sinopse do Censo Demográfico. Rio de Janeiro: IGBE, 2011. INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística. SINDICATO das Indústrias Minerais do Estado do Pará – SIMINERAL. Anuário Mineral do Pará. 1. ed. Belém: Sindicato das Indústrias Minerais do Estado do Pará, 2013. SINDICATO das Indústrias Minerais do Estado do Pará – SIMINERAL. Anuário Mineral do Pará. 1. ed. Belém: Sindicato das Indústrias Minerais do Estado do Pará, 2012. 4742 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 ORDENAMENTO TERRITORIAL E MINERAÇÃO NAS CIDADES DA AMAZÔNIA PARAENSE EIXO 5 – Meio ambiente, recursos e ordenamento territorial RESUMO A mineração tem diversos projetos, que permaneceram dentro do estado do Pará-Brasil, como a exploração da bauxita, do ferro, do cobre e outros possuindo todo um aparato que foi até ao ano de 1997. Montado pelo governo federal na Amazônia para exploração dos recursos minerais que, hoje, está nas mãos da iniciativa privada, em decorrência do processo de privatização das estatais realizado pelo governo federal, a partir de 1991. A maioria dos municípios que estão localizados no corredor das áreas de mineração encontra-se em situação de pobreza sem expectativa de crescimento econômico e não conseguindo resolver seus problemas urbanos e rurais. Essa pesquisa analisa como os projetos de mineração através da atuação das indústrias mínero-metalúrgicas na Amazônia paraense impactam o território e de que forma o Estado do Pará demonstra, entre os outros estados, ser um dos principais fornecedores de minérios para os países desenvolvidos do mundo. Apesar de ser uma atividade que reflita o aumento no PIB brasileiro, que representa o crescimento econômico da região e do Estado do Pará, torna-se necessário analisar e demonstrar as alterações nas finanças públicas municipais de Parauapebas e Canaã dos Carajás no estado do Pará, dois municípios com grandes projetos ligados ao minério de ferro e ao cobre, dois dos três mais importantes minérios consumidos no planeta. A análise recai sobre a dinâmica econômica local e as novas territorialidades produzidas a partir das atividades mínero-metalúrgicas nesses municípios no período de 2004 a 2014. A pesquisa teve como etapa preliminar o levantamento de dados secundários, com o objetivo de coletar dados bibliográficos, documentais e os levantamentos das condições econômico-financeiras dos dois municípios. O trabalho de campo consistiu na realização de visitas técnicas com entrevistas junto aos representantes das empresas mínero-metalúrgicas que atuam nas áreas estudadas, bem como aos representantes dos poderes municipais nessa região. Após a obtenção dos dados de campo e das imagens de sensores, foi realizada a elaboração e sistematização de tabelas, mapas e dados estatísticos, com a utilização dos softwares Word, Excell e Access for Windows, além dos demais softwares de geoprocessamento e sensoriamento remoto (ArcGis9.1 e Erdas 8.4). A indústria da mineração que permanece no Pará, não tem apresentado significativos avanços na criação de pólos de desenvolvimento, nem acarretado benefícios à sociedade local. Pelo contrário, em se tratando das atividades ligadas a mineração, por exemplo, com as guseiras, a floresta da região corre risco de total desaparecimento, pois não ocorre o reflorestamento para se obter o carvão vegetal. O tempo da natureza e do capital são incompatíveis e colocam em risco o desenvolvimento do Estado do Pará se não mudarmos o modelo de exploração dos recursos naturais que atualmente predomina com suas relações de produção na Amazônia e a postura do 4743 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 estado brasileiro diante de recursos naturais estratégicos para o desenvolvimento da região e da nação. A entropia territorial e o caos social serão paisagens marcantes nos municípios que possuem grandes projetos na Amazônia. É necessária a modernização das administrações municipais e um maior compromisso do gestor público com seus municípios. Essa situação do imediatismo local, com a “ilusão do desenvolvimento” trazido pela mineração, da forma como ocorre no Sudeste Paraense, tende a gerar conflitos em considerar que o poder de determinados grupos de mineração suplantou o poder da estrutura administrativa dos municípios. É preciso reinventar e pensar em outra lógica de desenvolvimento no qual os grandes grupos que exploram a mineração no estado do Pará se insiram com suas coligadas e contratadas, de uma forma que o Estado também seja um agente participativo e não apenas um agente legitimador da ação da exploração dos recursos naturais e sem a participação da sociedade civil. Palavras-chave: território; mineração; Pará. 4744
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