Comunicação e Escrita Criativa

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Comunicação e Escrita Criativa
COMUNICAÇÃO E ESCRITA CRIATIVA
Coordenação: Prof. Dr. Carlos Gerbase
([email protected] )
Da fogueira ao digital: a destruição e o futuro do livro, o
caso de Jorge Amado
Paula Sperb*
Por ordem do Estado Novo, em 19 de novembro de 1937 foram queimados 1.694
livros de Jorge Amado em Salvador, capital da Bahia. Ao fogo, foram atirados 808
exemplares de Capitães da Areia, 267 de Jubiabá, 223 de Mar Morto, 214 de País do
Carnaval, 93 de Suor, e 89 de Cacau.
Podemos nos aproximar de uma possível resposta para a escolha dos livros de
Jorge Amado para a fogueira. Certamente, o escritor não foi alvo apenas por estar
vinculado ao comunismo – ele foi eleito Deputado Federal pelo PCB e participou da
Constituinte de 1946 –, mas também pela sua alta circulação, como demonstram os
números de exemplares nas livrarias, e pela recepção entre a massa de leitores. Todavia, a
popularidade não daria conta sozinha de justificar a escolha ou teríamos diversos outros
livros de autores distintos queimados. Entra em jogo, provavelmente, a questão da
temática das obras: os livros queimados tratam da camada explorada da sociedade. A
temática subversiva dobra as justificativas para a destruição das obras. Vejamos:
Capitães de Areia fala sobre menores abandonados, infratores e moradores de rua em
Salvador; Jubiabá narra a história de um herói negro e capoeirista que se transforma em
*
Doutoranda em Letras (UCS/Uniritter), mestre em Letras, Cultura e Regionalidade (UCS), e
jornalista (PUCRS). E-mail: [email protected].
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líder sindical; Mar Morto conta o amor de Guma e Lívia, mostrando a realidade dos
trabalhadores do mar; País do Carnaval tem como personagem principal um desiludido
filho de fazendeiro; Suor revela a miséria da população urbana de Salvador e utopia de
um líder sindical; e Cacau mostra a perversidade do sistema de exploração dos
trabalhadores.
Todos os livros queimados de Jorge Amado, alguns mais e outros menos, têm a
marca da denúncia social e o objetivo utópico de igualdade entre os homens. Seria, então,
a mensagem do livro que ameaçava as forças do Estado Novo? Por esse entendimento,
somado-se a significativa circulação dos escritos, as mensagens idealistas colocariam em
risco a ditadura de Getúlio Vargas. Este é um ponto crucial para compreendermos a
queima de livros. Talvez mais do que a própria camada de leitores, quem mais delegava
poder subversivo às obras era o próprio regime repressor. Provavelmente o leitor que
entrasse em uma das três livrarias atacadas pelo aparelho ditatorial não escolhesse um
livro de Jorge Amado porque ele era comunista. Aliás, provavelmente se afastasse da
obra, dados o perigo eminente causado pelos “vermelhos” e o – persistente – preconceito
contra a literatura engajada. Arriscamos a dizer que o que levava os leitores às obras de
Jorge Amado eram tanto a sua profunda ligação com o povo e a identificação com a
sociedade tal qual ela é, quanto o prazer de ler uma história bem contada. Portanto, quem
mais enxergava perigo nos livros era o Estado.
A fogueira constitui uma forma violenta e simbólica de destruir um livro,
porém a censura tomava diversas formas institucionalmente aceitas. Nesse mesmo
período, os livros de Jorge Amado foram proibidos em Bibliotecas e Escolas, sem contar
a censura prévia exigida e sempre negada pelo autor, apoiado na causa pelo amigo Erico
Veríssimo, também opositor da leitura prévia dos órgãos oficiais com fins de censura.
Desde o surgimento do livro – em suas diferentes formas –, temos conhecimento
da paralela destruição sofrida pelos registros escritos. Livros são destruídos de maneiras
díspares e por razões variáveis. Podem ser danificados intencionalmente ou por acaso.
Podem ser abandonados ou perdidos. E podem simplesmente ser deteriorados pelo tempo
de modo irrecuperável. Até hoje, o homem não desenvolveu um livro à prova de
destruição. Mesmo trancado em um cofre com nenhum acesso humano, o livro como o
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conhecemos, se autodestruiria com a passagem dos séculos e em contato com o oxigênio
e micro-organismos. Cremos que o problema da deterioração natural de um livro sequer
seja o que nos preocupa. Isso porque, mesmo que a desintegração de um livro seja
prejudicial ao patrimônio humano, ela não é intencional. O que nos instiga a fazer a
reflexão sobre o assunto é a destruição de um livro com intenção daquele que o faz, o
biblioclasta.
São 55 séculos de destruição de livros. “Há centenas de narrações históricas sobre
a origem do livro e das bibliotecas, mas não existe uma única história sobre sua
destruição. Não é uma ausência suspeita”? (BÁEZ, 2006:21). Responderíamos ao
pesquisador venezuelano que sim, é uma ausência suspeita. Mas, na maioria das vezes, o
silêncio é um discurso mais significativo do que o enunciado, já que, segundo a sabedoria
popular, “quem cala consente”. Conforme Báez (2006), aproximadamente 60% dos casos
de destruições de livros são causados pelo homem. As demais situações seriam por
catástrofes naturais, desaparecimento, deterioração.
Báez (2006:24) defende a posição de que o livro não é destruído como objeto
físico, mas como “vínculo de memória”. Para o autor, o vínculo estreito entre livro e
memória faz com que os livros tenham papel essencial na construção do patrimônio
cultural de uma sociedade. Como apagar a memória de um povo, então? Aliás, por que
apagar a memória de um povo? Esses questionamentos nos levam a pensar sobre o uso e
o senso utilitarista de quem ordena a destruição de bibliotecas. Concordamos com Báez a
respeito da destruição do livro pelo que ele representa, não pelo que é. Um livro é
queimado não por ser um objeto retangular, um conjunto de páginas de papel presas em
uma lombada, adornado por uma capa de identificação. Um livro é queimado pela
mensagem que carrega e pelo potencial que a mensagem desencadeia quando chega até
seu receptor, o leitor. Não é à toa que governos, de diferentes partidos e em diferentes
esferas (municipal, estadual e federal), têm uma verdadeira obsessão pelo controle da
imprensa, dos livros de não ficção – ou os de ficção com denúncia social, das biografias e
– agora com muito mais dificuldade – da opinião individual escrita em perfis na internet.
A ideia central de que o livro em papel constitui apenas um suporte é essencial
para a reflexão que estamos propondo. Desde que os livros eram placas de barro com
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escrita cuneiforme, eles já eram destruídos. Mas não eram incendiados, é claro. As
tabletas eram quebradas, impossibilitando a leitura; e até molhadas, “apagando” o
conteúdo escrito. As demais formas conhecidas, já com papel ou material semelhante,
desenvolveram-se assim como as fogueiras que as destruíam. Não nos parece uma
coincidência que o local do surgimento do livro, a Suméria, tenha sido o palco para a
maior destruição recente de obras raras e patrimônio histórico tombado: a região do atual
Iraque. Em 2003, os bombardeios americanos e os saques de milícias locais levaram à
ruína o acervo das bibliotecas de Bagdá. Não foi o ódio aos papiros históricos que
desembocou na sua destruição, mas a intenção de “aniquilamento de memória” de que
nos fala Báez (2006).
Os 1.694 livros de Jorge Amado1 não foram queimados porque eram feios, velhos,
mofados, com traças ou porque perderam sua utilidade. Os livros de Jorge Amado não
foram destruídos enquanto objeto, mas porque transmitiam uma mensagem oposta ao do
regime getulista. Como diz Báez (2006), destrói-se o que se considera uma ameaça a algo
que não deve ser atingido. Por essa lógica, fazem sentido também a tortura e mortes
causadas pela ditadura no Brasil. Não só a mensagem era destruída, mas igualmente os
seus mensageiros.
Em 1937, os livros de Jorge Amado eram de papel e foram queimados. Algumas
décadas depois, em 1997, os livros poderiam ser em formato de CD, e ser quebrados ou
riscados. Mais recentemente, os livros poderiam ser digitais, os e-books, acessados por
computador, notebook, smartphones e tablets. Nessa situação hipotética, como a
Comissão de Busca e Apreensão de Livros de Getúlio Vargas faria para destruir os livros
de Jorge Amado, lembrando que o alvo era o conteúdo e o alcance? Báez (2006) acredita
que, mesmo no formato digital, livros podem ser destruídos por hackers. Mas o
pesquisador ignora, nessa situação, algumas peculiaridades técnicas que impediriam o
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Báez (2006) enumera diversos escritores que foram perseguidos ao longo da história como James
Hanley, Mario Vargas Llosa, Taslima Nasrim e cita, entre eles, Jorge Amado. O pesquisador arredonda o
número de livros queimados e comete um equívoco ao afirmar que todos exemplares queimados foram de
uma obra apenas. A lista com os livros queimados consta no início deste trabalho. “O terceiro autor é o
marxista Jorge Amado, autor de Dona Flor e seus dois maridos. Mil e setecentos exemplares de um
romance seu foram queimados por ordem direta do ditador Getúlio Vargas” (BÁEZ, 2006: 264).
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sumiço dos livros no meio digital. Mesmo um ataque hacker, se o alvo fosse uma
biblioteca digital ou uma livraria virtual, não poderia eliminar todos os “exemplares”.
Isso porque milhares de usuários espalhados teriam o arquivo em seus dispositivos,
tornando impossível a tarefa de eliminação completa.
Esse raciocínio nos faz chegar a um ponto crucial deste trabalho. Os livros
sofreram 55 séculos de destruição, boa parte causada intencionalmente para aniquilar o
conteúdo que carregavam. Estaríamos agora, com os livros digitais, perto do fim da
ditadura dos biblioclastas? Diferentemente do Estado Novo, que tinha o poder para
invadir livrarias, roubar e queimar os livros antes que chegassem às mãos dos leitores, os
poderes institucionalizados não têm hoje condições de mapear todos os arquivos
considerados indesejáveis e apagá-los. Um arquivo, depois de compartilhado, pode ser
copiado e repassado milhares de vezes, impossibilitando a “caça às bruxas”.
Com as tecnologias digitais, a história da destruição dos livros poderia chegar aos
seus últimos capítulos. Entretanto, alguns diagnósticos são mais pessimistas em relação
ao futuro do livro. Não porque os livros digitais não têm cheiro de papel, páginas com
anotações e marcações pessoais, rubrica do proprietário na folha de rosto, etc., mas
porque as tecnologias – que não são neutras como afirmava Heidegger (apud SILVA,
2012) – conduziriam ao fim da escrita. Ora, sem escrita não há leitura; sem ambas não há
livro, independentemente do suporte.
A decadência da sociedade letrada ou, melhor dizendo, o declínio da importância
do livro passa a ser tratado como um sintoma das relações de consumo de cultura em
1967, através dos postulados do filósofo francês Guy Debord (1998). Marxista, Debord
enxergava a cultura como mais uma mercadoria, uma forma de dominação nas relações
econômicas que regiam o consumo. Debord é o autor da máxima “o que aparece é bom, o
que é bom aparece”2. Na sua teoria, que antecipou uma série de fenômenos modernos das
décadas seguintes, o espetáculo é entendido como as relações pessoais e institucionais
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O espetáculo se apresenta como uma enorme positividade, indiscutível e inacessível. Não diz nada
além de “o que aparece é bom, o que é bom aparece”. A atitude que por princípio ele exige é a da aceitação
passiva que, de fato, ela já obteve por seu modo de aparecer sem réplica, por seu monopólio da aparência
(DEBORD, 1998:16,17).
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dadas através da mediação. Na balança, pesa muito mais a mediação do que as relações
propriamente ditas. O que importa e tem relevância é o que aparece, o que é mediado. O
espetáculo ocorre quando a imagem prevalece sobre conteúdo, valores, história. Trata-se
da embalagem, não do que está dentro dela.
Na sociedade do espetáculo, como preconizou Debord (1998), parecer é muito
mais importante do que ser. O que está em jogo é a imagem, como as
coisas/pessoas/produtos parecem ser. Sem mediação, há apenas um vazio existencial. Se
(a)parece, existe; se (a)parece, é bom. Uma lógica que só tem sucesso por causa da
passividade, pois, como afirma o filósofo, se algo aparece, já está subentendido que é
bom; e, se é bom, vai aparecer. O raciocínio cíclico só tem sucesso porque é
passivamente aceito. Não se questiona o que está aparecendo – ou sendo mediado –,
porque está pressuposto que já passou pelas instâncias legitimadoras. Se aparece, já tem o
selo de qualidade e a garantia.
Na sociedade do espetáculo, a maior força legitimadora é a imagem (DEBORD,
1998). Por isso, afirmamos que é nesse momento que inicia de modo mais sistemático o
declínio do livro. Afinal, qual é o espaço do conhecimento – apreendido e repassado pela
forma escrita do livro – em uma sociedade que não precisa da educação formal como
legitimação? Não é necessário ler, mas parecer que leu. Em uma sociedade de aparências,
qual espaço tem o livro? Não afirmamos radicalmente que o livro não tem nenhum
espaço na sociedade do espetáculo, mas que ele perde sua influência como legitimador e
até hierarquizador. O livro, que possui sua própria cadeia produtiva, não escapa da
máxima “o que é bom aparece, se aparece é bom”. O livro que simplesmente não
aparecer, será imediatamente compreendido pelo senso comum como um livro ruim.
A internet muda o paradigma e bagunça o funcionamento dos meios tradicionais
de massa (televisão e rádio, que não exigem leitura) tirando a concentração do emissor.
Significa que qualquer um se transforma em emissor. Tudo pode ser dito a qualquer
momento por qualquer um. Elevada a níveis extremos, essas condições farão a migração
da sociedade do espetáculo para a sociedade do hiperespetáculo (SILVA, 2012).
Se na sociedade do espetáculo a força legitimadora provém da imagem, na
sociedade do hiperespetáculo a legitimação surge da superexposição. Se na sociedade do
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espetáculo o importante era a embalagem e não o conteúdo, na sociedade do
hiperespetáculo o que importa é o rótulo. O aforismo de Guy Debord continua vigente,
mas potencializado. Nas relações da sociedade hiperespetacular, o livro perde qualquer
legitimação que lhe restava. A leitura dos clássicos já não se faz necessária em uma
sociedade que se organiza hierarquicamente a partir das aparências. Assim, “a sociedade
medíocre, no seu presente hiperespetacular, liquida os grandes do passado com dois
epitáfios igualmente incontornáveis: chatos ou clássicos” (SILVA, 2012:33).
Nesse contexto, o livro enquanto objeto guardaria em si um vestígio de outra
época, conforme Silva (2012). Mas, para o autor, o livro como suporte de arquivo de
memórias já não é necessário na sociedade do hiperespetáculo. Tampouco a escrita teria
importância perante o monopólio e a preferência pela imagem. Para Silva,
A sociedade moderna consagrou-se com a (im)prensa. Foi, por excelência a
época do livro – inclusive no cristianismo reformado, multiplicando o que era de
uso especializado nas religiões do passado –, a era do texto. A sociedade
espetacular entronizou a imagem. A passagem ao hiperespetacular surge com o
fim da necessidade do livro e do texto como meio de comunicação e dispositivo
de memória. Mesmo se tudo já pode ser dito, transmitido e memorizado em
áudio e imagem, o livro escrito não acabou na época do áudio-livro e das
memórias artificiais. Continua como um vestígio, um rastro investigado por uma
nova disciplina, a rastreabilidade ou 'traçabilidade' literária, sucessora da
genética. Quando a escrita chega ao seu fim como necessidade técnica, o
texto e o livro entram na fase arqueológica, cacos de um passado
revolucionário revoluto. A literatura impressa mergulha na ficção, uma
autoficção científica ao gosto dos espíritos nostálgicos sem futuro (SILVA, 2012:
48,49, grifos nossos).
Qual o espaço do livro em uma sociedade que não precisará ler nem escrever para
se comunicar? Restariam ao livro somente o papel de objeto de pesquisa para uma
minoria acadêmica e a função de hierarquizar a sociedade. Talvez nem esta função
hierarquizante restasse, pois, é possível ser tudo sem saber nada.
As contextualizações feitas neste ensaio servem de subsídio para realizar
uma reflexão sobre o futuro do livro e da escrita, é claro, mas mais especificamente sobre
o futuro da obra do escritor Jorge Amado. Alguns questionamentos nos moveram ao
longo do texto: quem lerá sua obra no futuro? Por que seus livros serão lidos? Que
importância o escritor terá para os leitores?
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Como pudemos ver, Jorge Amado é um autor que desde o início de sua carreira foi
perseguido. Inicialmente, pelo caráter de denúncia de suas obras; depois pela sua filiação
ao PCB; e, mais recentemente, pela sua suposta baixa qualidade literária. A questão do
cânone é relevante para refletirmos sobre o futuro da obra de Jorge Amado, pois, como
nos mostra Alves (2001), o autor baiano só não foi excluído do cânone porque aparece
nas histórias da literatura. Mas o modo negativo com que aparece nesses trabalhos pode
excluí-lo futuramente. Isso porque, por exemplo, se um estudante deparar-se com a crítica
de Alfredo Bosi (ALVES, 2001), que afirma que a literatura de Jorge Amado satisfará “ao
leitor glutão”, poderá não querer se enquadrar nesse rótulo, acabando por buscar outras
leituras. Segundo a pesquisadora, “provavelmente, lendo a avaliação do historiador,
nenhum leitor/estudante – que se qualifique como leitor burguês, detentor de um poder
cultural – desejará ser identificado com um grupo com tais ‘desqualificações’'!…”
(ALVES, 2001:203).
A possibilidade de exclusão futura do cânone, portanto, é um risco que a obra
amadiana corre, a não ser que sejam questionados os paradigmas da crítica. Sabe-se que o
comunismo do autor alterou o juízo de muitos estudiosos, que não conseguiram se livrar
de preconceitos políticos (que hoje se mostram ultrapassados) para avaliar a obra do
autor. Entretanto, como essas histórias da literatura foram usadas na formação dos atuais
professores de Letras e ainda são usadas na formação dos atuais alunos e futuros
professores, quem será o leitor de Jorge Amado no futuro próximo? Arriscamos a afirmar
que só lerão Jorge Amado os jovens letrados ou em letramento que contrariarem seus
professores e arriscarem a ler por conta própria a obra de Amado – escapando das
contraindicações –, ou aqueles que ousarem discordar das autoridades legitimadas e
autoras dos julgamentos perpetuados através da fotocópia em polígrafos quase ilegíveis.
Concordamos com Báez (2006) que o livro em papel é apenas um suporte.
Entretanto, na sociedade atual, há um apego maior ao suporte e menor ao conteúdo.
Poderemos nutrir esperanças de inverter as prioridades apegando-nos mais ao conteúdo e
menos ao suporte? Assim, os livros digitais poderiam ocupar o espaço que hoje é
ocupado pelo livro de papel com a vantagem de ainda serem praticamente indestrutíveis?
Hospedados na “nuvem”, como se chama, não há incêndio ou inundação que possa
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destruir um livro, que uma vez disponível pode ser multiplicado – dificultando sua
censura e perseguição.
Acreditamos que o paliativo das novas adaptações televisivas e cinematográficas
poderão resultar na continuidade da recepção da obra de Jorge Amado. Conhecido por ser
o escritor brasileiro mais remediado e outrora o mais lido (posto hoje ocupado por Paulo
Coelho), Jorge Amado poderá ter seus livros conhecidos pelas gerações futuras
justamente através da imagem, pelo valor de legitimação da sociedade do espetáculo,
gerando, assim, mais um paradoxo.
Referências Bibliográficas
ALVES, Ivia. De paradigmas, cânones e avaliações – ou dos valores negativos da
produção de Jorge Amado. Em: Letras de Hoje. Porto Alegre. v.37, nº2, p. 197-207,
junho, 2001.
BÁEZ, Fernando. História universal da destruição dos livros: das tábuas sumérias à
guerra do Iraque. Ediouro: Rio de Janeiro, 2006.
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Contraponto: Rio de Janeiro, 1998.
SILVA, Juremir Machado da. A sociedade midíocre – passagem ao hiperespetacular (o
fim do direito autoral, do livro e da escrita). Sulina: Porto Alegre, 2012.
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