Literatura - NEEJA Caxias do Sul

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Literatura - NEEJA Caxias do Sul
NEEJA
NÚCLEO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CAXIAS DO SUL – 4ª CRE
Rua Garibaldi, 660 – Centro
CEP – 95080-190
Fone Fax 3221-1383
Email – [email protected]
ENSINO MÉDIO
COMPONENTE CURRICULAR
LITERATURA
MÓDULO ÚNICO
JANEIRO 2016
1
Literatura
Conteúdos:
Definição: o que é Literatura? Conotação;
Denotação;
Figuras de linguagem
Gêneros Literários;
Literatura informativa;
Barroco no Brasil: Poesia Gregório de Matos Guerra e Prosa Padre Antônio Vieira
Arcadismo no Brasil:
 Claudio Manuel da Costa
 Tomás Antônio Gonzaga;
 Basílio da Gama;
 Frei Santa Rita Durão
Romantismo: Poesia Romântica
 1ª geração : Gonçalves Dias;
 2ª geração: Álvares de Azevedo; Casimiro de Abreu; Fagundes Varela
 3ª geração: Castro Alves.
Prosa Romântica:
 Joaquim Manuel de Macedo;
 José de Alencar.
Prosa Sertanista Romântica:
 Bernardo Guimarães;
 Visconde de Taunay.
Romance de Costumes:
 Manuel Antonio de Almeida.
Teatro Romântico:
 Martins Pena
Realismo:
 Machado de Assis;
Naturalismo:
 Aluísio de Azevedo;
 Raul Pompéia.
Parnasianismo:
 Olavo Bilac;
 Alberto de Oliveira;
 Raimundo Corrêa.
Simbolismo:
 Cruz de Souza;
 Alphonsus de Guimaraens.
Pré-Modernismo:
 Euclides da Cunha;
 Lima Barreto;
 Simões Lopes Neto;
 Monteiro Lobato;
 Augusto dos Anjos;
 Graça Aranha.
Modernismo (1922 – 1930):
 Oswald de Andrade;
 Manuel Bandeira;
 Graciliano Ramos;
 Jorge Amado;
 José Lins do Rego;
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3
 Érico Veríssimo;
 Cyro Martins;
 Carlos Drummond de Andrade;
 Mário de Andrade;
 Cecília Meireles;
 Vinícius de Moraes.
Modernismo ( 1945 – Fase da Renovação )

Guimarães Rosa;

Clarice Lispector;

João Cabral de M. Neto;

Teatro: Nelson Rodrigues;

Conto: Dalton Trevisan; José Rubens Fonseca;

Crônica: Rubens Braga; Luís Fernando Veríssimo;

Poesia: Lya Luft; Moacyr Scliar; Luiz Antônio de Assis Brasil; Inácio de Loyola Brandão;
Fernando Bonassi;

Poesia: Adélia prado; Affonso Romano de Sant’Ana; Torquato Neto;

Temáticas do Romance Contemporâneo.
OBJETIVOS

Conceituar literatura, percebendo a importância deste estudo para a compreensão da
trajetória humana;

Organizar cronologicamente em períodos, observando a manifestação de características
estilísticas específicas;
4

Familiarizar-se com autores, suas características e obras.

Identificar, no Arcadismo, a influência do indianismo no desenvolvimento do Brasil;

Compreender a importância do Romantismo como movimento estético;

Verificar a força dramática vivida pelo negro em “O Navio Negreiro” de Castro Alves.

Analisar aspectos estruturais da prosa machadiana;

Levar o aluno ao reconhecimento de características da estética naturalista, para a
validação perspectivas preconceituosas.

Identificar no Parnasianismo as duas posturas antagônicas: a oposição entre maestria
formal e expressão sincera de sentimentos;

Ler poemas de autores significativos da escola simbolista;

Reconhecer a recriação da linguagem literária e a universalização do tratamento dado
aos conflitos humanos.

Recuperar movimentos iniciados na década de 1950, e comentar características gerais
da obra de autores que ainda estão escrevendo.
5
1. CONCEITO DE LITERATURA
Literatura é a arte da palavra. É a técnica de usar as palavras com criatividade e
originalidade para expressar idéias e emoções.
2. DENOTAÇÃO/CONOTAÇÃO
Quando usamos as palavras construindo um novo sentido, dizemos que a linguagem é
figurada.
Para analisá-la é necessário observar o contexto em que estão inseridas.
Observe os quadrinhos acima e veja que foi usada a linguagem figurada em: "Querida, você
é uma uva", "Você é um abacaxi" e "A nossa vida será um mel".
Denotação:
É o emprego das palavras no seu sentido próprio, real.
Ex: O abacaxi está doce.
Conotação:
É o emprego das palavras no sentido figurado.
Ex: Meu ex-namorado está com outra, por isso estou com dor-de-cotovelo.
3. FIGURAS DE LINGUAGEM
Leia o poema a seguir:
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OS ARROIOS
Os arroios são rios guris...
Vão pulando e cantando dentre as pedras.
Fazem borbulhas d'água no caminho: bonito!
Dão vau aos burricos,
Às belas morenas,
curiosos das pernas das belas morenas.
E às vezes vão tão devagar
que conhecem o cheiro e a cor das flores
que se debruçam sobre eles nos matos que atravessam
E onde parecem querer sestear.
Às vezes uma asa branca roça-os, súbita emoção
Como a nossa se recebêssemos o miraculoso encontrão
de um Anjo...
mas nem nós nem os rios sabemos nada disso.
Os rios tresandam óleo e alcatrão
e refletem, em vez de estrelas.
os letreiros das firmas que transportam utilidades.
Que pena me dão os arroios,
os inocentes arroios...
(Mário Quintana. Baú de espantos. Porto Alegre: Globo- p. 25.)
alcatrão: mistura líquida, negra e viscosa resultante da destilação (de várias
substâncias orgânicas, como. por exemplo, petróleo, madeira ou carvão.
arroio: pequeno curso de água, permanente ou não.
borbulha: bolha.
guri: criança, menino.
sestear: fazer a sesta, dormir depois do almoço.
tresandar: exalar (mau cheiro), cheirar mal.
vau: trecho raso do rio ou do mar, onde se poda transitar a pé ou a cavalo.
Figuras de linguagem
É a forma de expressão que consiste no emprego de palavras em sentido figurado, isto é,
em um sentido diferente daquele em que convencionalmente são empregadas.
Veja algumas figuras:
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Anáfora: repetição de uma ou mais palavras no início de cada verso.
Exemplo: A vida é calma
A vida é luz,
A vida é ternura
Para quem tem Jesus
Antítese: emprego de palavras com sentidos opostos.
Exemplo: Trocando a luz pelas trevas, você verá um novo amanhecer
Catacrese: emprega um termo figurado por falta de um específico.
Exemplo: Quebrou o braço da cadeira.
lave os pés da mesa.
Eufemismo: é a substituição de palavras ou expressões por termos mais agradáveis.
Exemplo: João partiu desta para melhor.
Hipérbole: emprega idéias com exagero.
Exemplo: Já falei mil vezes que você não irá ao cinema.
Hipérbato: inversão violenta dos termos da frase.
Exemplo: "A quem tirar não pode o mundo nada."
Metáfora: emprego um termo com sentido novo, resultante de uma relação de semelhança com o
termo substituído. Perceba que na metáfora não se usa elementos comparativos.
Exemplo: Os olhos dela são estrelas na minha vida.
Pleonasmo: repetição de uma palavra ou idéia com intenção de ratificá-la.
Exemplo: A mim, ninguém me engana.
O pleonasmo pode aparecer como um vício de linguagem, quando seu uso não tiver o
objetivo de ressaltar, for apenas uma repetição desnecessária. Nesse caso ele é classificado
como pleonasmo vicioso.
Exemplo: Subir para cima, descer para baixo.
Prosopopéia ou personificação: emprega sensações ou atos de seres humanos para seres
inanimados.
Exemplo: O vento sussurra uma melodia de amor.
Sinestesia: emprega diferentes órgãos de sentido misturando as sensações sentidas por eles.
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Exemplo: Suas mãos doces acariciaram (mão - tato / doce- paladar).
Zeugma: supressão de um termo já mencionado anteriormente.
Exemplo: Todos querem sorvete; ele, torta
4. GÊNEROS LITERÁRIOS
Gênero: é a maneira pela qual os conteúdos literários são organizados e apresentam
características estruturais.
a) Gênero lírico (poesia)
Seu nome vem de Lira, instrumento musical que acompanhava os cantos gregos. As
poesias eram cantadas.
O Gênero lírico e ressalta o chamado mundo interior. O poeta apresenta emoções,
sentimentos, estados de espírito.
Vejamos alguns exemplos:
- Elegia: enfoca a morte de um evento querido ou acontecimentos tristes.
- Écogla: relata a vida bucólica dos pastores.
- Ode: poema que mostra a exaltação de valores nobres, com tom de louvação.
- Soneto: é uma composição poética de quatorze versos (dois quartetos dos e dois
tercetos). É um poema cultivado até hoje.
Apesar de ser uma forma poética clássica o soneto encontra adeptos do modernismo como
bem mostra Vinicius de Morais:
SONETO DE FIDELIDADE
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
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Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
(MORAES, Vinícius de. In: Antologia poética.Rio de Janeiro: J. Olympio, 1977. p. 77.
b) Gênero épico: (poesia narrativa)
Nos poemas épicos são tematizados os feitos grandiosos relacionados a personagens
heróicas. E estes feitos funcionam como o símbolo do valor e das virtudes do povo que
representam.
Exemplo: Leia o trecho abaixo, extraído do canto V de ‘Os lusíadas’
Porém já cinco Sóis eram passados
Que dali nos partíramos, cortando
Os mares nunca dantes navegados,
Prosperamente os ventos assoprando,
Quando uma noite, estando descuidados
Na cortadora proa vigiando,
Uma nuvem que os ares escurece
Sobre nossas cabeças aparece.
Tão temerosa vinha e carregada,
Que pôs nos corações um grande medo;
Bramindo, o negro mar, de longe brada
Como se desse em vão nalgum rochedo.
— Ó Potestade (disse) sublimada!
Que ameaço divino, ou que segredo
Este clima e este mar nos apresenta,
Que mor cousa parece que tormenta?
c) Gênero dramático: (teatro)
Esses poemas eram feitos para serem representados em público, com atores, cenários.
Compreendem as modalidades:
- Tragédia: a representação de um fato trágico com o conflito de paixões, vícios humanos,
honra e poder.
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- Comédia: critica os costumes sociais por meio do riso.
- Auto: peça curta, de tema religioso ou profano com conteúdo moralizante.
Exemplo:
Sala ricamente adornada: mesa, consolos, mangas de vidro, jarras com flores, cortinas
etc.etc. No fundo, porta de saída, uma janela etc. etc.
Cena 1
Ambrósio (só, de calça preta e chambre):
"No mundo a fortuna é para quem sabe adquiri-la. Pintam-na cega... Que
simplicidade! Cego é aquele que não tem inteligência para vê-la e a alcançar.
Todo homem pode ser rico, se atinar com o verdadeiro caminho da fortuna.
Vontade forte, perseverança e pertinácia são poderosos auxiliares. Qual o
homem que, resolvido a empregar todos os meios, não consegue enriquecerse? Em mim se vê o exemplo. Há oito anos, era eu pobre e miserável, e hoje
sou rico, e mais ainda serei. O como não importa; no bom resultado está o
mérito... Mas um dia tudo pode mudar. Oh, que temo eu? Se em algum
tempo tiver de responder pelos meus atos, o ouro justificar-me-á e serei limpo
de culpa. As leis criminais fizeram-se para os pobres..."
(PENA, Martins. O noviço. São Paulo: Ateliê Editorial, 1996.)
Consolo: tipo de mesa.
Manga de vidro: redoma (objeto oco para cobrir algo da poeira).
d) Gênero narrativo: (narração em prosa)
A característica desse gênero é ser apresentada com um narrador que conta uma história
com personagens que se envolvem em ações que transcorrem em um espaço, durante um
tempo determinado.
Manifesta-se nas seguintes modalidades:
- Romance: apresenta um acontecimento ficcional que envolve vários personagens e
trata de diferentes temas (conflitos pessoais, aspectos da vida familiar ou social).
- Novela: menos complexa que o romance. O aspecto mais valorizado é o da ação.
Apresenta vários conflitos desenvolvidos.
- Conto: narrativa curta e simples. Apresenta poucos personagens e um conflito.
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- Fábula: narrativa de caráter pedagógico,simples e de curta duração. A história transmite
princípios morais e éticos. As personagens são animais.
- Crônica: apresenta os fatos do cotidiano ou veiculados em jornais ou revistas: políticos,
sociais, artísticos, literários, pessoais, humorísticos.
Texto curto, poucos personagens, tempo e espaço são limitados. O narrador pode ser
observador ou personagem.
Exemplo de uma fábula:
O sapo e o boi
Há muito, muito tempo, existiu um boi imponente. Um dia o boi estava
dando seu passeio da tarde quando um pobre sapo todo mal vestido olhou para
ele e ficou maravilhado. Cheio de inveja daquele boi que parecia o dono do
mundo, o sapo chamou os amigos.
- Olhem só o tamanho do sujeito! Até que ele é elegante, mas grande coisa:
se eu quisesse eu também era.
Dizendo isso o sapo começou a estufar a barriga e em pouco tempo já
estava com o dobro de seu tamanho normal.
- Já estou grande que nem ele? — perguntou aos outros sapos.
- Não, ainda está longe!—responderam os amigos.
O sapo se estufou um pouco e repetiu a pergunta.
- Não - disseram de novo os outros sapos - e é melhor você parar com
isso porque senão vai acabar se machucando.
Mas era tanta a vontade do sapo de imitar o boi que ele continuou se
estufando, estufando, estufando - até estourar.
Moral: Seja sempre você mesmo.
(Fábulas de Esopo,cít.,p. 14.)
5. QUINHENTISMO BRASILEIRO
O Quinhentismos brasileiro é o conjunto de manifestações dos anos de 1500, século XVI,
retratando a condição do “descobrimento" do Brasil com sua terra e população.
O primeiro documento oficial, datado de 01/05/1500, foi a carta de Pero Vaz de Caminha,
destinada ao rei D. Manoel.
A literatura manifesta duas preocupações:
Conquista material (ouro, prata, ferro, madeira, etc.)
Conquista espiritual (ampliar a fé cristã).
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a) Literatura informativa: empenha-se em fazer um levantamento da terra nova: sua
flora, sua fauna, sua agente. Caráter descritivo e histórico.
b) Literatura jesuítica: voltada para a catequese porque refletia o momento religioso
europeu da Contra-Reforma trazido pela Companhia de Jesus para converter os índios. Caráter
pedagógico e doutrinário.
Dentre os jesuítas, o maior destaque cabe ao padre José de Anchieta que escreveu autos,
teatros, cartas e poesias religiosas.
6. BARROCO
O movimento barroco tem por fundamentação a tentativa de conciliar forças opostas, o
teocentrismo e o antropocentrismo, num mesmo plano artístico. Fruto da Contra-Reforma,
momento histórico ao qual é associado, o Barroco tenta retomar o ideal teocêntrico, em voga
durante a Idade Média, tentando fazê-lo conviver com as forças antropocêntricas valorizadas pelo
homem renascentista. O resultado disto é um movimento tenso entre estas duas principais forças.
CARACTERÍSTICAS
- Conflito entre corpo e alma marcado pelo sentimento de pecado e busca pelo perdão.
- Carpe Diem: aproveite o dia porque passa rápido.
- Efemeridade: fugacidade do tempo: desenvolvendo uma preocupação com o
aproveitamento da vida.
- Forma conturbada: desequilíbrio, visão pessimista e desencantada com vida.
- Figuras de linguagem: antíteses, metáforas, hipérbatos.
- Conceptismo: jogo de idéias, organização da frase com uma lógica que visa
convencer e ensinar. Supervalorização do raciocínio agudo.
- Cultismo: forma verbal, usando figuras de linguagem e construção de imagens envolver
de estímulos sensoriais. (cores e sons)
BARROCO NO BRASIL
No Brasil, o Barroco iniciou com a publicação de Prosopopéia, de Bento Teixeira em 1601,
poema épico com inspiração em Os Lusíadas em que o autor exalta a figura de Jorge de
Albuquerque Coelho donatário da capitania de Pernambuco.
O movimento se concentrou nas regiões da Bahia e Pernambuco e vale ainda lembrar que
o Barroco nas Artes Plásticas também se deu no século XVIII, tendo o principal representante
Aleijadinho, já em Minas Gerais.
- POESIA - GREGÓRIO DE MATOS GUERRA (1636-1696)
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A obra poética do baiano Gregório de Matos Guerra forma um grande painel dos dilemas
vivido pelo homem do século XVII, abordando desde temas sacros e profanos a temas de caráter
filosófico existencial. A crítica também esteve presente em seus versos; tanto, que o autor recebeu
a alcunha de Boca do Inferno devido a sua língua afiada em relação à sociedade e às autoridades
baianas de seu tempo. Sua obra é comumente dividida em três grandes grupos temáticos.
- LÍRICA RELIGIOSA
A NOSSO SENHOR JESUS CRISTO COM ATOS DE ARREPENDIDO E SUSPIROS DE
AMOR
Ofendi-vos, meu Deus, bem é verdade,
É verdade, meu Deus, que hei delinqüido,
Delinqüido vos tenho, e ofendido.
Ofendido vos tem minha maldade.
Maldade, que encaminha à vaidade
Vaidade, que todo me há vencido;
Vencido quero ver-me, e arrependido,
Arrependido a tanta enormidade
Arrependido estou de coração
De coração vos busco, dai-me os braços,
Abraços, que me rendem vossa luz
Luz, que claro me mostra a salvação,
A salvação pretendo em tais abraços,
Misericórdia, Amor, Jesus, Jesus.
- LÍRICA AMOROSA
À SUA MULHER ANTES DE CASAR
Discreta, e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia:
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Enquanto com gentil descortesia
O ar, que fresco Adônis te namora.
Te espalha a rica trança voadora,
Quanto vem passear-te pela fria:
Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trota toda a ligeireza,
E imprime em toda a flor sua pisada.
Oh não aguardes, que madura idade
Te converta em flor, essa beleza
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.
- POESIAS SATÍRICAS
DESCREVE O QUE ERA REALMENTE NAQUELE TEMPO A CIDADE DA BAHIA
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar a cabana, e vinha,
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um frequentado olheiro,,
Que a vida do vizinho, e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,
Para levar à praça, e a terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos pelos pés os homens nobres,
Postas nas palmas toda a picardia.
Estupendas usuras nos mercados",
Todos, os que não furtam, muito pobres,
E eis aqui a cidade da Bahia.
TORNA A DEFINIR O POETA OS MAUS MODOS DE OBRA NA GOVERNANÇA DA
BAHIA, PRINCIPALMENTE NAQUELA UNIVERSAL FOME, QUE PADECIA A CIDADE.
Que falta nesta cidade? ... Verdade
Que mais por sua desonra? ... Honra
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Falta mais que se lhe ponha? ...Vergonha .
O Demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade, onde falta
Verdade, Honra, Vergonha. (...)
Quais são seus doces objetos?... Pretos
Tem outros bens maciços? ... Mestiços
Quais destes lhes são mais gratos? ... Mulatos.
Dou ao demo os insensatos,
Dou ao demo a gente asnal,
Que estima por cabedal
Pretos, Mestiços, Mulatos. (...)
E nos frades há manqueiras? ... Freiras
Em que se ocupam os serões? ... Sermões
Não se ocupam em disputas? ... Putas.
Com palavras dissolutas
Me concluís na verdade,
Que as lidas todas de um Frade
São Freiras, Sermões, e Putas.
GREGÓRIO DE MATOS GUERRA
Lírico-amoroso
Amor espiritual - metáfora recorrente: mulher-anjo
Amor Carnal – metáfora recorrente: mulher-flor.
Argumentativo (tenta convencer Deus de que merece
o perdão).
Lírico religioso
Súplice (assume a postura humilde e pede, até em
desespero, pelo perdão divino).
Política (ex: corrupção)
Econômica (ex: colonialismo)
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Satírico
Social (ex: fofocas)
Fescenina (obscena, pornográfica)
Nota: repare como a obra de Gregório de Matos Guerra representa a oscilação barroca. Ela
vai de uma poesia pornográfica até uma de pedido de perdão a Deus pelos pecados. Mais ainda,
até mesmo no interior de um mesmo gênero ele oscila: a sua poesia lírico-amorosa transita de
uma visão mais carnal do amor para uma mais espiritual, ou seja, a mulher amada ora é vista com
uma espécie de anjo de pureza e singeleza, ora é vista como uma mulher fisicamente muito
atraente.
- PROSA
PE. ANTÔNIO VIEIRA (1608-1697) – ORADOR SACRO
O português Antônio Vieira se notabilizou com a produção de sermões, sendo reconhecido
como um dos principais nomes do conceptismo brasileiro. Cidadão polêmico em seu tempo, o
crítico Alfredo Bosi ressalta que o autor por ser "advogado dos cristãos-novos (judeus conversos
por medo às perseguições), suscita o ódio da Inquisição que o manterá a ferros por dois anos e
lhe cassará o uso da palavra em todo Portugal. Enfim, batido na Europa, conhece no Maranhão as
iras dos colonos que não lhe perdoam a inoportuna defesa do nativo."
Jesuíta famoso pelas suas pregações, que demonstravam uma habilidade extrema com a
linguagem. Pregou não só na metrópole (Portugal) como também na Colônia (por duas vezes
esteve no Brasil, fixando-se no Nordeste). Como poeta que ele também foi, revelou, sobretudo, a
sua crença sebastianista e verdadeiros delírios com a idéia de Portugal recuperar o seu grande
Império perdido, e, mais ainda, de formar o maior império da história da civilização. Suas obras
mais importantes são os Sermões (ele escreveu ao todo mais de duzentos), dentre os quais
destacam-se:
*Sermão da Sexagésima: em que ele se posiciona contra os pregadores que apenas
exercitavam seu estilo cultista, sem se aprofundarem no plano das idéias, sem o exemplo prático
de vida.
*Sermão de Santo Antônio aos Peixes: contra a ganância, a ambição e a prática
predatória no colonialismo.
*Sermão para o Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda: escrito no
Brasil, pede para o povo nordestino rezar para o exército português sair vitorioso na batalha contra
os holandeses que haviam invadido o Brasil.
SERMÃO PELO BOM SUCESSO DAS ARMAS DE PORTUGAL CONTRA AS DE HOLANDA
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"Não hei de pregar hoje ao povo, não hei de falar com homens; mais alto hão de cair
minhas palavras ou as minhas vozes: a vosso peito divino se há de dirigir todo o sermão
(...). Já dizem os hereges insolentes com os sucessos prósperos, que vós lhes dais ou
permitis; já dizem que porque a sua, que eles chamam de religião, é a verdadeira, por isso
Deus os ajuda e vencem; e porque a nossa é errada e falsa, por isso nos desfavorece e
somos vencidos. Assim o dizem, assim o pregam, e ainda mal, porque não faltará quem
os creia. (...) Enfim, Senhor, despojados assim os templos e derrubados os altares,
acabar-se-á o no Brasil a cristandade católica; acabar-se-á o culto divino; nascerá erva
nas igrejas, como nos campos; não haverá quem entre nelas. (...) Não haverá missas, nem
altares, nem sacerdotes que as digam; morrerão os católicos sem confissão nem
sacramentos; pregar-se-ão heresias nestes mesmos púlpitos, e em lugar de São Jerônimo
e Santo Agostinho, ouvir-se-ão e alegar-se-ão neles os infames nomes de Calvino e
Lutero."
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EXERCÍCIOS
1 Comente o seguinte texto:
“A literatura
é uma forma de arte, assim como a música, a pintura e a dança”
...................................................................................................................................
2) A linguagem utilizada em um texto está organizada em torno do eixo denotativo ou
conotativo. Com base nos textos 1 e 2, transcritos a seguir, faça o que se pede.
a) Identifique se o uso da linguagem, em cada um deles, foi conotativo ou denotativo.
..................................................................................................................................
b) Explique a razão de sua "classificação".
.................................................................................................................................
TEXTO 1
Uma escrita secreta só para mulheres:
"Durante séculos proibidas de ler e escrever, as mulheres da província chinesa de
Jiangyong acabaram por desenvolver seu próprio sistema secreto de escrita.
Vivendo sob o controle dos homens – em casamentos arranjados e violentos —, elas
criaram o Nu Shu, que significa 'escrita feminina', para poder se comunicar e se ajudar por meio
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de poemas, narrativas e canções, às vezes bordados em panos. Baseados no chinês
tradicional, os caracteres foram mudados de modo a ter novos significados e eram traçados de
maneira delicada. O vocabulário foi extraído de um dialeto local. Hoje, poucas mulheres são
capazes de ler e escrever Nu Shu, mas o governo já se comprometeu a destinar recursos para
um museu e a feitura de um dicionário como forma de preservar a escrita." (National Geographic
Brasil, n. 37. Ano 4. Maio, 2003).
TEXTO
"O vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia
parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador Ela plantara as sementes
que tinha mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. Crescia sua própria conversa
com o cobrador de luz, crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa
com comidas, o, marido chegando com os jornais e sorrindo de fome, o canto importuno das
empregadas do edifício.” (LISPECTOR, Clarice. Amor. In: Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998).
3) Qual é o nome da figura de linguagem que se verifica nas repetições de palavras do trecho.
..........................................................................................................................................................
E se somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que é a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
( MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida Severina. Rio de Janeiro: Aguilar, 1999).
4) Leia o poema para responder a questão abaixo:
Improviso
[...]
Cecília, és tão forte e tão frágil.
Como a onda ao termo da luta.
19
Mas a onda é água que afoga:
Tu, não, és enxuta.
Cecília, és, como o ar,
Diáfana, diáfana.
Mas o ar tem limites:
Tu, quem pode limitar?
[...]
(BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira).
O eu lírico, no poema transcrito, faz uso de uma figura de linguagem para dirigir-se a uma pessoa
específica. Que figura é essa?
...................................................................................................................................................
5) Identifique a figura de linguagem na seguinte frase:
"O pé dessa mesa não argumenta tanto peso".
..............................................................................................................................
6 ) Assinale a figura de linguagem que aparece na seguinte frase:
"Ele entregou a alma a Deus".
(em lugar de "Ele morreu")
( ) Antítese
( ) Hipérbato
( ) Eufemismo
( ) Elipse
( ) Ironia
Identifique as figuras de linguagem dos textos abaixo:
7 ) “Como uma vela fúnebre de cera,
chorei bilhões de vezes com a canseira".
.........................................................................................................................
8) "Meu coração é um porta-aviões
perdido no mar,
esperando alguém pousar.
Meu coração é um porto
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sem endereço certo.
É um o deserto em pleno mar".
..........................................................................................................................
9 ) "Entre já para dentro, menino!"
......................................................................................................................
10 ) "Comia o sabor vermelho da fruta".
......................................................................................................................
11 ) " Nossos bosques tem mais vida
Nossa a vida mais amores" (Gonçalves Dias)
...............................................................................................................................................
12 ) "A lua,
tal qual a dona de um bordel,
pedia a cada estrela fria
um brilho de aluguel".
.....................................................................................................................
21
A)
Leia os textos o seguir e diga a que gênero pertencem:
"Nas horas mortas da noite
Como é doce meditar
Quando as estrelas cintilam
Nas ondas quietas do mar;
Quando a Lua majestosa
Surtindo linda e formosa,
Como donzela vaidosa
Nas águas se vai mirar!”
(Casimiro de Abreu)
......................................................................................................................................
B) Cena II
Entra Lino.
LINO (entrando) — Bom dia, amigo Marcos.
MARCOS — Oh, a propósito vens. (Lino cumprimenta a Rosinha e a Miguel)
LiNO — Como se acha? Melhor? Vejo-o mais forte...
MARCOS — Aparências, amigo... Isto caminha mal. Rosinha, Miguel, deixem-me com o meu
amigo Lino.
MIGUEL (à porte) para MARCOS — Meu pai, pense bem no que vai fazer.
MARCOS — Tenho resolvido."
(Martins Pena)
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C) Firmo, o vaqueiro
"Sentados na soleira da palhoça, em face do verde campo, à hora vesperal em que os
rebanhos recolhem, o velho Firmo e eu fumávamos, relembrando passagens alegres da vida de
outrora.
Firmo era o meu companheiro quando eu ia passar as férias na roça. O que ele sabia de
histórias! E como as contava fazendo a voz enternecida e meiga para imitar as princesas que
imploravam ou arremetendo com um vozeirão terrível para que eu tivesse a impressão exala do
horrível bradar dos gigantes antropófagos. E não só histórias dos livros, outras sabia que jamais
em letras vira: a que descrevia a iara branca seduzindo o remador do Itapicuru e o conto do
curupira, com que no bom tempo faziam cessar a minha impertinência. Algumas eram inventadas
por ele, diziam; outras o velho Firmo, vaqueano e andejo, aprendera por esses sertões de Deus
por onde caminhara."
(Coelho Neto)
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D) "Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor e estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários."
(Carlos Drumont de Andrade)
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E) "Barbosa tinha hábitos horríveis. Amiúde cuspia no chão é raramente tomava banho, não
obstante a extrema vaidade que o impelia a ficar horas e horas diante do espelho.
Utilizava-se do meu aparelho de barbear, da minha escova de dentes e pouco serviu
comprar-lhe esses objetos, pois continuou a usar os meus e os dele. Se me queixava do
abuso, desculpava-se, alegando distração.
Também a sua figura tosca me repugnava. A pele era gordurosa, os membros curtos, a
alma dissimulada. Não media esforços para me agradar, contando-me anedotas sem graça,
exagerando nos elogios à minha pessoa.
Por outro lado, custava tolerar suas mentiras e, às refeições, a sua maneira ruidosa de
comer, enchendo a boca de comida com auxílio das mãos."
(Murilo Rubião)
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F) ODORICO — Como vai o meu caro confrade?
ODORICO ESTENDE A MÃO À GOUVEIA.
GOUVEIA — Confiado?
ODORICO — Não somos ambos imortais, membros da Academia Sucupirana de
Letras?
GOUVEIA – Ah! Sim... tinha-me esquecido...
CREMILDA - Por favor, sente-se. Coronel.
ODORICO – Agradeço,. mas vim apenasmente me solidarizar com o ilustre
candidato oposicionista. Estou aqui, acreditem, com a alma lavada e enxaguada da
indignação por esse covarde atentado.
GOUVEIA - A sua solidariedade me comove.
ODORICO - Parece que a violência política chegou a Sucupira
GOUVEIA - Lamentavelmente.
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ODORICO - Todos sabem de meu profissionamento pacatista. Não obstantemente,
esses belcholistas estão merecendo uma lição.
GOUVEIA - O Prefeito está insinuando que nós devemos responder na mesma
moeda?
ODORICO - Não, longe de mim tal sugestão. Como disse Rui Barbosa, violência gera
violência...
GOUVEIA - Posso garantir ao Prefeito que Rui Barbosa nunca disse isso.
ODORICO - Mas deve ter pensado muitas vezes. Porque era um pacatista, como eu.
Enfim, estamos pagando o preço de uma eleição livre.
ODORICO ESTENDE A MÃO A GOUVEIA.
ODORICO - E posso garantir que não há violência que me afaste do caminho do
aberturismo democrático!" (Dias Gomes)
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G) Canto V - Continuando o relato, Vasco da Gama fala da viagem ao Canal de Moçambique, no
oceano Índico. Descreve os vários obstáculos naturais enfrentados, como a tromba marítima e o
escorbuto (doença provocada pela falta de vitamina C); o ritmo narrativo e a precisão descritiva
são de rara beleza; ele conta também a passagem do Cabo das Tormentas (Cabo da Boa
Esperança), personificado pelo Gigante Adamastor, que conta sua própria história: fora
transformado em rochedo pelo marido de sua amada Tétis, como castigo por beijá-la.
Não acabava, quando uma figura
Se nos mostra no ar, robusta e valida,
De disforme e grandíssima estatura;
O rosto carregado, a barba esquálida,
Os olhos encovados, e a postura
Medonha e má e a cor terrena e pálida;
Cheios de terra e crespos os cabelos,
A boca negra, os dentes amarelos. (V. 39)
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Leia o texto a seguir para responder as questões 1 – 2 – 3 e 4
Ao sairmos do batel, disse o Capitão que seria bom irmos em direitura à cruz que estava
encostada a uma árvore, junto ao rio, a fim de ser colocada amanhã, sexta-feira, e que nos
puséssemos todos de joelhos e a beijássemos para eles verem o acatamento que lhe tínhamos. E
assim fizemos. E a esses dez ou doze que lá estavam, acenaram-lhes que fizessem o mesmo; e
logo foram todos beijá-la.
Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa,
seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências. E
24
portanto se os degredados que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua fala e os entenderem,
não duvido que eles, segundo a santa benção de Vossa Alteza, se farão cristãos e hão de crer na
nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque certamente esta gente é boa e
de bela simplicidade. E imprimir-se-á facilmente neles qualquer cunho que lhe quiserem dar, uma
vez que Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a homens bons. E Ele que nos
para aqui trouxe creio que não foi sem causa. E, portanto, Vossa Alteza, pois tanto deseja
acrescentar a santa fé católica, deve cuidar da salvação deles. E prazerá a Deus que com pouco
trabalho seja assim l
Eles não lavram nem criam. Nem há aqui boi ou vaca, cabra, ovelha ou galinha, ou
qualquer outro animal que esteja acostumado ao viver do homem. E não comem senão deste
inhame, de que aqui há muito, e dessas sementes e frutos que a terra e as árvores de si deitam.
E com isto andam tais e tão rijos e tão nédios que o não somos nós tanto, com quanto trigo e
legumes comemos."
(CAMINHA, Pêro Vaz de. Carta. A biblioteca virtual do estudante brasileiro, http://www.bibvirt.futuro.usp.br)
1) Qual é o significado da carta de Pêro Vaz de Caminha para a Literatura Brasileira?
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2) Qual é o principal aspecto da colonização brasileira presente nas palavras de Pêro Vaz, no
trecho transcrito.
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3) Qual é a imagem do indígena brasileiro apresentada pelo texto?
.............................................................................................................................................
4) Que elementos da cultura indígena são identificados por Pêro Vaz de Caminha?
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Leia o poema a seguir para responder às questões de 1 a 4
Buscando a Cristo
A vós correndo vou, braços sagrados
Nessa cruz sacrossanta descobertos,
Que, para receber-me estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados,
A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas cobertos.
Pois para perdoar-me estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.
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A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me.
A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me
Para ficar unido, atado e firme.
MATOS, Gregório de. In: SPINA, Segismundo. A poesia de
Gregório de Matos. São Paulo: Edusp, 1995.
1) A quem o poeta se dirige nesse poema?
....................................................................................................................
2) Com que intenção o eu lírico se dirige a esse interlocutor?
...................................................................................................................
3) Qual é a contradição presente na primeira estrofe? Explique-a.
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4) Na segunda estrofe também há uma contradição. Qual é ela?
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Leia o trecho a seguir para responder às questões de 1 a 4
Sermão do Bom Ladrão
"Não são só ladrões, diz o Santo, os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão
banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título
são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos, ou o governo das províncias, ou a
administração das cidades, os quais, já com mancha, já com força roubam e despojam os povos.
Os outros ladrões roubam
um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo de seu risco, estes sem
temor nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados; estes furtam e enforcam.”
VIEIRA, Antônio. Sermão do bom ladrão In: PÉCORA, Alcir (Org.). Sermões.
1) Quais são os dois tipos de ladrão que o Padre Antônio Vieira identifica no trecho? Identifique as
diferenças entre eles.
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2) As colocações feitas por Vieira permanecem válidas até hoje. Se esse sermão fosse feito nos
dias atuais, quem seriam os ladrões a que o pregador se refere?
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3) Aponte duas características típicas dos sermões do Padre Vieira que podem ser observada no
texto.
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4) O texto de Vieira é cultista ou conceptualista? Por quê?
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1. ARCADISMO
O Arcadismo, ou Neoclassicismo, é um movimento influenciado pela ascensão do
Iluminismo na Europa. Visto que o movimento Idolatrava a Razão e a Natureza, a literatura acaba
se aproximando destas tendências. O termo arcadísmo tem origem na lendária região da Arcádia,
na Grécia antiga, que seria habitada pelo Deus Pan por pastores e suas musas - daí a imitação
dos clássicos greco-romanos pastoris, como Horácio e Virgílio. O movimento se configura como
uma negação do Barroco, de estilo exagerado e de forma conturbada.
Características
- Bucolismo: homem interligado à natureza.
- Imitação dos clássicos: Poetas da antiguidade.
- Simplicidade: em busca de uma vida simples, pastoril.
- Ausência de subjetividade
- Referência a mitologia pagã: com a presença de Zéfiro, Apolo, Minerva e, Cupido.
- Discurso na ordem direta: linguagem simples,objetiva e clara.
- Utilização de pseudônimos de pastores e musas:
Tomás - Dirceu
Maria Dorotéia - Marília
Cláudio Manoel - Glaucete
Pastore - Nise
- Carpe Diem: gozar o momento presente, sem culpa de pecado.
- Desenvolvimento de temas clássicos com expressões latinas:
fugere urbem: fugir da cidade
aurea mediocritas: viver sem exageros
locus amoenus: lugar tranquilo, agradável
Inutilia truncat: cortar o excesso, o inutil.
27
O ARCADISMO NO BRASIL
O Arcadismo inicia no Brasil no ano de 1768, com a publicação de Obras Poéticas, de
Cláudio Manuel da Costa. Alguns pontos devem ser salientados com o surgimento do movimento
no Brasil, como o fato de o movimento centrar-se na região de Minas Gerais durante a
Inconfidência Mineira (causada pelo ciclo econômico da exploração do ouro), o fato de o índio
tornar-se motivo estético pela primeira vez e o de surgir um sistema literário (a relação autorobra -público). Teremos manifestações de poesia lírica e épica no Arcadismo brasileiro.
POESIA LÍRICA
CLÁUDIO MANUEL DA COSTA (1729-1789)
Cláudio Manuel da Costa é considerado o poeta de transição entre o Barroco e o
Arcadismo: do primeiro, o poeta ainda utiliza a forma conturbada e alguns temas; do segundo,
elementos ligados à natureza. Inaugurador do Arcadismo brasileiro, o poeta assumiu o
pseudônimo de Glauceste Satúrnio e como musa mais frequente em seus versos Nise, relação,
esta, marcada pela distância da mulher amada. Figura muito presente também em sua obra é a
imagem da pedra, que serve de contraponto à candura do poeta. Suas obras são Obras Poéticas
(sonetos, publicados em 1768) e o poema épico Vila Rica.
LXXII
Já rompe, Nise, a matutina aurora
O negro manto, com que a noite escura,
Sufocando do Sol a face pura.
Tinha escondido a chama brilhadora
Que alegre, que suave, que sonora.
Aquela fontezinha aqui murmura!
E nestes campos cheios de verdura
Que avultado o prazer tanto melhora!
Só minha alma em fatal melancolia
Por te não poder ver, Nise adorada,
Não sabe inda, que coisa é alegria;
E a suavidade do prazer trocada
Tanto mais aborrece a luz do dia,
Quanto a sombra da noite lhe agrada.
28
TOMÁS ANTÓNIO GONZAGA (1744-1810)
O português Tomás António Gonzaga (veio ainda jovem para o Brasil) é autor de uma das
principais obras de nossa literatura árcade: Marília de Dirceu. Fundamentado a partir de uma
experiência pessoal (uma relação - interrompida pela prisão e posterior degredo - entre o poeta e
a jovem Maria Dorotéia), Marília de Dirceu apresenta 95 poemas (entre liras, sonetos, canções)
que são divididos em três partes: o envolvimento; a separação e consequente sofrimento de
Dirceu; e na terceira a relação Dirceu x Marília deixa de ser o foco único. Vale lembrar que alguns
críticos consideram Marília de Dirceu como uma obra pré-romântica.
PARTE l
Lira I
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro.
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d' expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite.
E mais às finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Mas tendo tantos dotes da ventura,
Só apreço lhes dou, gentil Pastora
Depois que teu afeto me segura,
Que queres do que tenho ser senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
De um rebanho, que cubra monte, e prado;
Porém, gentil Pastora, o teu agrado
Vale mais q'um rebanho, e mais q'um trono.
LIRA II
Pintam , Marília, os Poetas
A um menino vendado.
Com uma aljava de setas,
Arco empunhado na mão;
Ligeiras asas nos ombros,
O tenro corpo despido.
E de amor ou de Cupido
São os nomes, que lhe dão.
29
Porém eu, Marília, nego.
Que assim seja Amor, pois ele
Não é moço, nem é cego,
Nem setas, nem asas têm.
Ora, pois, eu vou formar-lhe
Um retrato mais perfeito,
Que, ele já feriu meu peito;
Por isso o conheço bem. (...)
Tem redonda, e lisa testa
Arqueadas sobrancelhas;
A voz meiga, a vista honesta,
E seus olhos são uns sóis.
Aqui vence Amor ao Céu,
Que no dia luminoso
O Céu tem um Sol formoso,
E o travesso Amor tem dois. (...)
Tu, Marília, agora vendo
De Amor o lindo retrato,
Contigo estarás dizendo
Que é este o retrato teu.
Sim, Marília, a cópia é tua,
Que Cupido é Deus suposto:
Se há Cupido, é só teu rosto
Que ele foi quem me venceu.
PARTE 2
Lira I
Já não cinjo de louro a minha testa;
Nem sonoras canções o Deus me inspira:
Ah! que nem me resta
Uma já quebrada.
Mal sonora Lira! (...)
Nesta cruel masmorra tenebrosa
Ainda vendo estou teus olhos belos,
A testa formosa,
Os dentes nevados,
Os negros cabelos.
Vejo, Marília, sim, e vejo ainda
30
A chusma dos Cupidos, que pendentes
Dessa boca linda,
Nos ares espalham
Suspiros ardentes.
Se alguém me perguntar onde eu te vejo,
Responderei: No peito, que uns Amores
De casto desejo
Aqui te pintaram,
E são bons Pintores.
Mal meus olhos te riam, ah! nessa hora
Teu retrato fizeram, e tão forte,
Que entendo, que agora
Só pode apagá-lo
O pulso da Morte.
Lira III
Sucede, Marília bela
À medonha noite o dia;
A estação chuvosa e fria
À quente seca estação
Muda-se a sorte dos tempos;
Só a minha sorte não?
Os troncos nas Primaveras
Brotam em flores viçosos,
Nos invernos escabrosos
Largam as folhas no chão
Muda-se a sorte dos troncos;
Só a minha sorte não?
PARTE 3
Lira III
Tu não verás Marília, cem cativos
Tirarem o cascalho, e a. rica, terra,
Ou dos cercos dos rios caudalosos,
Ou da minada serra.
Não verás separar ao hábil negro
31
Do pesado esmeril a grossa areia,
E já brilharem os granetes de ouro
No fundo da bateia.
Não verás derrubar os virgens matos;
Queimar as capoeiras ainda novas;
Servir de adubo à terra a fértil cinza;
Lançar os grãos nas covas.
Não verás enrolar negros pacotes,
Das secas folhas do cheiroso fumo;
Nem espremer entre as dentadas rodas
Da doce cana o sumo.
Verás em cima da espaçosa mesa
Altos volumes de enredados feitos;
Ver-me-ás folhear os grande livros,
E decidir os pleitos.
Enquanto revolver os meus consultos.
Tu me farás gostosa companhia,
Lendo os fatos da sábia mestra história,
E os cantos da poesia.
Lerás em alta voz a imagem bela,
Eu vendo que lhe dás o justo apreço,
Gostoso tornarei a ler de novo
O cansado processo.
Se encontrares louvada uma beleza,
Marília, não lhe invejes a ventura,
Que tens quem leve à mais remota idade
A tua formosura.
É ainda tida como de autoria de Tomás António Gonzaga a obra Cartas Chilenas, tendo
como subtítulo em que o poeta Crítilo conta a Doroteu os fatos de Fanfarrão Minésio, Governador
do Chile - trata-se de versos compostos em forma de carta por Critilo a seu amigo Doroteu, em
que o primeiro critica os atos do governador do "Chile", Fanfarrão Minésio
governador de Minas Gerais, Luís da Cunha Menezes.
na verdade o
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POESIA ÉPICA
BASILIO DA GAMA (1741-1795)
O poeta mineiro tornou-se célebre por escrever o poema épico O Uraguai (1769), a pedido
do Marquês do Pombal, que o livraria da acusação de ligação com os jesuítas. Escrito em versos
decassílabos brancos, o poema apresenta o conflito ocorrido nas Missões Jesuíticas entre índios
e jesuítas contra portugueses e espanhóis após o Tratado de Madri (1750).
Embora o Marquês do Pombal tivesse solicitado um texto em que a única figura gloriosa
fosse a do português, Basílio da Gama também acabou apresentando o índio como uma vítima
dos jesuítas. O ideal heróico português é representado pelo personagem Gomes Freire de
Andrade, líder das tropas luso-espanholas e, no texto, tido como um homem justo e político. Três
personagens indígenas sobressaem-se aos demais: o líder Sepé Tiaraju, o seu companheiro
Cacambo e Lindóia, mulher deste. O mal é personificado em Pe. Balda, padre jesuíta que só se
preocupa com seu protegido Baldeta. O momento mais famoso do poema é o suicídio de Lindóia,
ato desesperado da amante que havia perdido Cacambo. O Texto finaliza com a destruição das
Missões e a fuga dos jesuítas, abandonando os índios.
FREI DE SANTA RITA DURÃO 1722-1784)
Poeta inspirado em Camões, utilizou-se do indianismo realista.
Obra: Caramuru
Enredo: narra o naufrágio de Diogo Álvares Correia
Episódio mais célebre: Morte de Moema
Nota:
a) Assunto: Tendo Diogo Álvares Correia, o Caramuru, como personagem central, a obra
desenvolve a história do Brasil dos primeiros séculos. Apresenta descrições do solo, da flora e da
fauna brasileira, bem como usos e costumes dos índios.
b) Personagens: Caramuru, Paraguaçu (com quem o herói se casa, na França), Moema
(rival de Paraguaçu, morreu afogada quando perseguia a nau que levava Caramuru e Paraguaçu
à Europa), Jararaca, Sergipe e Gupeva.
c) Forma: segue o modelo camoniano: partes tradicionais, oitava-rima.
Nesses trechos de Caramuru percebemos a morte de Moema.
Copiosa multidão da nau francesa
Corre a ver o espetáculo, assombrada;
E ignorando a ocasião da estranha empresa,
Pasma da turba feminil que nada.
Uma que às mais precede em gentileza,
Não vinha menos bela do que irada
Era Moema, que de inveja geme,
E já vizinha à nau se apega ao leme.
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Perde o lume dos olhos, pasma e treme,
Pálida a cor, o aspecto moribundo;
Com a mão sem vigor, soltando o leme,
Entre as salsas escumas desce ao fundo.
Mas na onda do mar, que irado, freme,
Tornando a aparecer desde o profundo,
- Ah! Diogo cruel! - disse com mágoa,
E sem mais vista ser, sorveu-se n'água."
ROMANTISMO
Na Europa, um dos reflexos da consolidação do Iluminismo a Revolução Francesa. Com a
liberdade atingida pelo fim do Absolutismo, marca o espírito da rebeldia e o anseio de liberdade. A
revolução industrial, também, torna-se responsável pelo surgimento de um público consumidor,
que busca uma arte acessível, menos requintada. Assim, no instinto de atender essa camada
popular (a burguesia) é que surgem os folhetins. Arte torna-se mercadoria.
Característica:
- Liberdade artística: não segue modelos, nem regras rígidas, versos livres (sem
métrica), versos brancos (sem rimas).
Subjetividade: cria mundos imaginários.
Fuga da realidade (evasão, escapismo): pensamentos voltados para a infância, textos
ambientado na Idade Média, a morte, o suicídio como solução para tristeza, a insatisfação.
Mistério: atração por lugares noturnos e misteriosos, cemitérios, ruas desertas.
Exaltação da natureza: a natureza como refúgio para suas dores.
Idealização da mulher: a mulher oscila entre pureza e ingenuidade, anjo e prostituta.
Reformismo: insatisfeito dedica-se à causas sociais (abolição da escravatura, a república).
O ROMANTISMO NO BRASIL
A vinda da família real portuguesa para o Brasil, em 1808, fez com que o Brasil
desenvolvesse uma vida cultural com teatros, jornais, bailes. Criou cursos superiores e até
escolas públicas. Com a independência, em 1822, a literatura procurou exaltar o novo país que se
formava. O romantismo no Brasil Iniciou-se, em 1836, com a publicação do livro de poesias de
Gonçalves de Magalhães "Suspiros Poéticos e 'Saudades".
POESIA ROMÂNTICA
A poesia romântica é dividida em três gerações, que apresentam grupos de escritores que
seguiram influências e abordagens diversas em seus trabalhos.
34
Primeira Geração - Indianista/Nacionalista
A primeira geração da poesia romântica apresenta autores que se preocuparam em
caracterizar de forma ufanista a pátria recém - independente. Sendo assim, os autores
procuraram valorizar os elementos ligados à nossa realidade em seus textos.
GONÇALVES DIAS (1823-1864)
Gonçalves Dias é considerado o principal nome desta primeira geração da poesia
romântica por ter desenvolvido, entre outros fatores, uma poesia em que a natureza e o índio
ganham papel de destaque. Em seus poemas de temática indianista - por exemplo, I-Juca Pirama
e O canto do Piaga - a figura do índio, assim como a pátria, em seus poemas de temática
nacionalista - o mais famoso é Canção do Exílio -, é idealizada. Nos poemas de temática amorosa
do autor, a imagem do sofrimento e da paixão que não se realiza é explorada.
Além da poesia, o autor também desenvolveu o gênero dramático, sendo Leonor de
Mendonça (1846) a sua mais famosa peça. Suas principais obras poéticas são: Primeiros cantos
(1847), Segundos cantos (1848), Sextilhas de Frei Antão (1848) e Últimos cantos (1851).
CANÇÃO DO EXÍLIO
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas.
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite.
Mais prazer encontro eu lá:
Minha terra tem palmeiras.
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá
Em cismar - sozinho à noite
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá
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Não permita Deus que eu morra,
Sem que volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá. (Gonçalves Dias -Coimbra - 1843.)
I- JUCA-PIRAMA
No meio das tabas de amenos verdores,
Cercadas de troncos — cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d'altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra, que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão (...)
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi. (...)
Meu pai a meu lado
Já cego e quebrado,
De penas ralado,
Firmava-se em mi: (...)
Ao velho coitado
De penas ralado,
Já cego e quebrado,
Que resta? — Morrer.
Enquanto descreve
O giro tão breve
Da vida que teve,
Deixai-me viver! (...)
Aqui venho, e o filho trago.
Vós o dizeis prisioneiro,
Seja assim como dizeis;
Mandai vir a lenha, o fogo,
A maça do sacrifício
E a muçurana ligeira:
Em tudo o rito se cumpra! (...)
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— Nada farei do que dizes:
É teu filho imbele e fraco!
Aviltaria o triunfo
Da mais guerreira das tribos
Derramar seu ignóbil sangue:
Ele chorou de cobarde;
Nós outros, fortes Timbiras,
Só de heróis fazemos pasto.
Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis Aimorés.
(...) — Alarma! alarma! — O velho pára!
O grito que escutou é voz do filho,
Voz de guerra que ouviu já tantas vezes
Noutra quadra melhor. - Alarma! alarma! (...)
O guerreiro parou, caiu nos braços
Do velho pai, que o cinge contra o peito,
Com lágrimas de júbilo bradando:
"Este, sim, que é meu filho muito amado!
AINDA UMA VEZ - ADEUS!
Enfim te vejo! - enfim posso,
,
Curvado a teus pés, dizer-te ,
Que não cessei de querer-te.
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado,
A não lembrar-me de ti! ( ...)
Nenhuma voz me diriges!...
Julgas-te acaso ofendida?
Deste amor, e a vida
Que ma darias - bem sei;
37
Mas lembrem-te aqueles feros
Corações, que se meteram,
Entre nós; e se venceram,
Mal sabes quanto lutei!
Oh! Se lutei... mas devera
Expor - te em pública praça,
Como um alvo à populaça
Um alvo aos ditérios seus! (...)
Devera, sim; mas pensava,
Que de mim t’esquecerias.
Que, sem mim, alegres dias
Tesperavam; e em favor
De minhas preces, contava
Que o bom Deus me aceitaria
O meu quinhão de alegria
Pelo teu quinhão de dor!
Que me enganei ora vejo:
Nadam-te os olhos em pranto,
Arfa-te o peito, e no entanto
Nem me podes encarar;
Erro foi, mas não foi crime,
Não te esqueci, eu to juro:
Sacrifiquei meu futuro,
Vida e glória por te amar! (...)
Pensar em que o teu destino
Ligado ao meu, outro fora.
Pensar que te vejo agora,
Por culpa minha, infeliz;
Pensar que a tua ventura
Deus ab eterno a fizera,
No meu caminho a pusera...
E eu! Eu fui que não a quis! (...)
Adeus qu'eu parto, senhora;
Negou-me o fado inimigo
Passar a vida contigo,
Ter sepultura entre os meus;
Negou-me nesta hora extrema,
Por extrema despedida,
38
Ouvir-te a voz comovida
Soluçar um breve Adeus!
SEGUNDA GERAÇÃO – INTIMISTA / SUBJETIVISTA / MAL DO SÉCULO
A segunda geração da poesia romântica é composta por jovens poetas que sofreram
influências da produção maldita européia, tendo maior destaque os poetas Lord Byron e Musset.
Diferentemente da geração anterior, em que a tônica recaía em valorizar a pátria e seus
elementos, os poetas da segunda geração voltaram-se para uma abordagem trágica da vida,
valorizando a morte, o tédio e o amor platônico.
ÁLVARES DE AZEVEDO (1831-1852)
Apesar de ter morrido antes de completar 21 anos, Álvares de Azevedo transitou pelos três
gêneros literários, escrevendo poemas, um livro de contos e uma peça de teatro.
Influenciado pelas tendências de então, Álvares de Azevedo criou uma poesia baseada
em três pontos básicos: Tédio, Morte e Amor - sendo que seus poemas de amor apresentam
uma abordagem ora orgíaca, ora angelical, sendo a mulher um ser idealizado e distante.
Álvares de Azevedo também é autor da peça Macário (1855), que apresenta um diálogo
entre o personagem Macário e Satã sobre os dilemas existenciais do homem; e também do livro
de contos Noite na Taverna (1855), que apresenta personagens reunidos numa taverna para
contar experiências pessoais envolvendo amor e morte.
SONETO
Pálida, à luz da lâmpada sombria
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar! Na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d'alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era mais bela! O seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!
39
SE EU MORRESSE AMANHÃ
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Quantas glória pressinto em meu futuro;
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!
Que sol! Que céu azul! Que doce n'alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!
Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã! HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
IDEIAS ÍNTIMAS
Oh! Ter vinte anos sem gozar de leve
A ventura de uma alma de donzela!
E sem na vida Ter sentido nunca
Na suave atração de um róseo corpo
Meus olhos turvos se fechar de gozo!
Oh! Nos meus sonhos, pelas noites minhas
Passam tantas visões sobre meu peito (...)
Meu pobre Leito! Eu amo-te contudo!
Aqui levei sonhando noites belas;
As longas horas olvidei libando
Ardentes gotas de licor doirado
Esqueci-as no fuma, na leitura
Das páginas lascivas do romance... (...)
Oh! Quantas vezes
Do levante no sol entre odaliscas
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Momentos não passei que valem vidas!
Quanta música ouvi que me encantava!
Quantas virgens amei! (...)
O meus sonhos de amor e mocidade,
Por que ser tão formosos, se devíeis
Me abandonar a beijar meu travesseiro?
CASIMIRO DE ABREU (1839-1860)
A poesia do carioca Casimiro de Abreu apresenta-se sob uma perspectiva melancólica da
existência. O poeta viveu três anos em Portugal, o que justifica a sua saudade da pátria, os
poemas em que o autor relembra a sua terra natal. Cabe ainda salientar a saudade da infância
(um bem perdido) e o lirismo amoroso que consegue ser ora ingênuo e ora sensual em sua
construção. Sua principal obra é Primaveras (1859).
AMOR E MEDO (fragmentos)
Quando eu te vejo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, ó bela.
Contigo dizes, suspirando amores:
- "Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!”.
Como te enganas! meu amor, é chama
Que se alimenta no voraz segredo,
E se te fujo é que te adoro louco...
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo...
Tenho medo de mim, de ti, de tudo,
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes
Das folhas secas, do chorar das fontes,
Das horas longas a correr velozes.
MEUS OITO ANOS
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida.
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras.
Debaixo dos laranjais!
41
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado.
A vida—um hino d'amor! (...)
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã! (...)
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
....................................
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!
MEU LAR
Se eu tenho de morrer na flor dos anos
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!
42
Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro
Respirando este ar;
Faz que eu viva. Senhor! dá-me de novo
Os gozos do meu lar! (...)
O país estrangeiro mais belezas
Do que a pátria não tem;
E este mundo não vale um só dos beijos
Tão doces duma mãe! (...)
Quero ver esse céu da minha terra
Tão lindo e tão azul!
E a nuvem cor-de-rosa que passava
Correndo lá do sul!
Quero dormir à sombra dos coqueiros,
As folhas por dossel;
- E ver se apanho a borboleta branca,
Que voa no vergel!
Quero sentar-me à beira do riacho
Das tardes ao cair,
Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
E sozinho cismando no crepúsculo
Os sonhos do porvir!
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
A voz do sabiá!
FAGUNDES VARELA (1841-1875)
Varela é um autor que, embora seja associado à segunda geração, explorou temas
também da 1a (natureza) e 3ª (questão do escravo) gerações. De origem interiorana, um ponto
explorado também por sua poesia é exatamente o contraste entre o interior (puro, ingênuo)
urbano (vícios). Poema clássico de sua obra é a elegia dedicada ao seu filho, falecido aos três
meses de idade. Cântico do Calvário. Importante salientar que o autor também abordou os
clássicos temas da segunda geração Amor e Morte.
43
CÂNTICO DO CALVÁRIO (fragmentos)
À memória do meu filho
morto a 11 de dezembro de 1863.
Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústia conduzia
O ramo da esperança. — Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, — a inspiração, — a pátria,
O porvir de teu pai! — Ah! no entanto,
Pomba, — varou-te a flecha do destino!
Astro, — engoliu-te o temporal do norte!
Teto, caíste! — Crença, já não vives! (...)
Como eras lindo! Nas rosadas faces
Tinha ainda o tépido vestígio
Dos beijos divinais, — nos olhos langues
Brilhava o brando raio que acendera
A bênção do Senhor quando o deixaste!
Sobre o teu corpo a chusma dos anjinhos,
Filhos do éter e da luz, voavam,
Riam-se alegres, das caçoilas níveas
Celeste aroma te vertendo ao corpo!
CANÇÃO LÓGICA
Eu amo, tu amas, ele ama ...
Teus olhos são duas sílabas
Que me custam soletrar,
Teus lábios são dois vocábulos
Que não posso,
Que não posso interpretar.
Teus seios são alvos símbolos
Que vejo sem traduzir;
São os teus braços capítulos
Que podem,
Que podem me confundir.
Teus cabelos são gramáticas
Das línguas todas de amor,
Teu coração — tabernáculo
Muito próprio,
Próprio de ilustre cantor.
44
TERCEIRA GERAÇÃO - CONDOREIRA/SOCIAL
A terceira geração da poesia romântica é marcada pela discussão acerca da escravidão no
Brasil, discussão, esta que acabou fazendo com que leis surgissem para melhorara situação do
escravo no Brasil. A influência literária estrangeira tem como principal nome o poeta francês Vítor
Hugo.
Os poetas desta geração são conhecidos como condoreiros, e sobre este termo o crítico
Massaud Moisés faz a seguinte denominação: "Denominação dada, na poesia brasileira, à
tendência dominante na fase que medeia de 1850 a 1870, mais ou menos, e que se distingue
pelo excesso das antíteses, pelos tropos hiperbólicos e por uma retórica altaneira, a serviço de
temas sociais e políticos. (...) Entre os seus símbolos preferidos está o condor dos Andes, o que
sugeriu a Capistrano de Abreu o epíteto de condoreira dado a tal poesia, que antes se dizia épica.
Os condoreiros foram influenciados diretamente por Lammenais, Lamartine e Hugo (o
condoreirismo é o hugoanismo brasileiro)."
CASTRO ALVES (1847-1871)
O poeta baiano Castro Alves inovou a poesia brasileira ao explorar em sua obra uma
poesia social, questionando os problemas de sua geração, sendo a situação do negro/escravo a
mais discutida. Ainda nesta vertente social, é relevante lembrar da celebração do saber, da
instrução. A lírica amorosa do poeta também apresentou inovações em sua construção, como a
abordagem sensual, erótica de seus poemas, sendo a mulher um ente presente, real, diferente
das abordagens dadas anteriormente.
Um procedimento estilístico bastante presente em sua poesia é o uso da hipérbole imagens que sugerem cenas grandiosas, exageradas.
O autor também explorou o gênero dramático, escrevendo uma peça para sua amante
portuguesa, a atriz Eugenia Câmara, Gonzaga, ou a Revolução de Minas.
Suas obras são: Espumas flutuantes (1870), Gonzaga (peça - 1875), A cachoeira de
Paulo Afonso (1876), Os escravos (1883)
BOA-NOITE
Boa-noite, Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa-noite, Maria! É tarde... é tarde...
Não me apertes assim contra teu seio.
Boa-noite!... E tu dizes - Boa-noite,
Mas não digas assim por entre beijos...
Mas não mo digas descobrindo o peito,
Mar de amor onde vagam meus desejos.
Julieta do céu! Ouve... a calhandra
Já rumoreja o canto da matina.
45
Tu dizes que eu menti? ... pois foi mentira...
...Quem cantou foi teu hálito, divina!
Se a estrela-d'alva os derradeiros raios
Derrama nos Jardins do Capuleto,
Eu direi, me esquecendo d'alvorada:
"É noite ainda em teu cabelo preto..."
É noite ainda! Brilha na cambraia
- desmanchado o roupão, a espádua nua O globo de teu peito entre os arminhos
Como entre as névoas se balouça a lua...
E noite, pois! Durmamos, Julieta!
Recende a alcova ao trescalar das flores,
Fechemos sobre nós estas cortinas...
- São as asas do arcanjo dos amores.
A frouxa luz da alabastrina lâmpada
.Lambe voluptuosa os teus contornos...
Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos
Ao doudo afago de meus lábios mornos.
Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos
Treme tua alma, como a lira ao vento,
Das teclas de teu seio que harmonias,
Que escalas de suspiros, bebo atento!
Ai! Canta a cavatina do delírio,
Ri, suspira, soluça, anseia e chora...
Marion! Marion!... é noite ainda.
Que importa os raios de uma nova aurora?!..
Como um negro e sombrio firmamento,
Sobre mim desenrola teu cabelo...
E deixa-me dormir balbuciando:
Boa-noite! - formosa Consuelo!..
O NAVIO NEGREIRO - Castro Alves - (Tragédia no mar)
(...) 'Stamos em pleno mar... Abrindo
as velas
Ao quente arfar das virações
marinhas,
46
Veleiro brigue corre à flor dos
mares,
Como roçam na vaga as
andorinhas...
Donde vem? onde vai? Das naus
errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o
espaço?
Neste Saara os corcéis o pó
levantam,
Galopam, voam, mas não deixam
traço. (...)
Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a
esteira
Que semelha no mar.— doudo
cometa!
Albatroz! Albatroz! águia do
oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as,
gazas,
Sacode as penas, Leviathan do
espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas
asas. (...)
III
Desce do espaço imenso, ó águia do
oceano!
Desce mais ... inda mais... não pode
olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue
voador!
Mas que vejo eu aí... Que quadro
d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas
figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que
horror!
47
IV
Era um sonho dantesco... o
tombadilho
Que das luzernas avermelha o
brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a
noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às
tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças... moças nuas e
espantadas,
No cordilhão de espectros
Arrastadas.
V
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei – me vós Senhor Deus!
Se é loucura ... Se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
48
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...
São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, semar, sem razão... (...)
Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
...Adeus, ó choça do monte,
...Adeus, palmeiras da fonte!...
...Adeus, amores... adeus!... (...)
Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar
Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
49
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer..
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!... (...)
VI
Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto!...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ...-Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
50
PROSA ROMÂNTICA
O romance romântico teve incrível força frente à sociedade, gerando no público leitor o
gosto pela leitura e, consequentemente, a disseminação da literatura na sociedade. Na Europa,
predominava o romance de folhetim, romance de intriga banal que girava em torno dê namoros
e/ou casamentos, publicados em capítulos através em jornais. No Brasil, com o advento da
imprensa surgida com a vinda da família real, era comum a importação de romances europeus,
até termos o nosso primeiro romance romântico, A Moreninha (1844), de Joaquim Manuel de
Macedo.
Com o passar dos anos, o romance romântico brasileiro acabou diversificando suas
tendências, saindo da ambiente urbano e apresentando o interior do Brasil de maneira idealizada,
ou mesmo tentando definir a construção étnica do povo brasileiro.
JOAQUIM MANUEL DE MACEDO (1820-1882)
O carioca Joaquim Manuel de Macedo tem a importância histórica na Literatura Brasileira
por ser o autor daquele que é tido como o primeiro romance romântico brasileiro, A Moreninha
(1844). Tendo escrito dezenas de livros, o autor centrou sua obra em tomo de questões banais,
como o impedimento para a concretização de um namoro e/ou casamento. Importante salientar
que o autor não teve a intenção de questionar os valores sociais de seu tempo, preferindo a
idealização do caráter e do sentimentalismo em suas obras, adaptando a estrutura do folhetim
europeu à nossa sociedade.
Sua obra mais importante, obviamente, é A Moreninha, obra que gira em torno do amor
entre os personagens Augusto e Carolina. Augusto, tido como um inconstante no amor, aposta
com seu colega Felipe que iria a uma festa na casa da avó do segundo e não se apaixonaria.
Porém, chegando lá. Augusto conhece Carolina, menina que, à primeira vista, pareceu-lhe pueril,
mas que acabou conquistando-o durante o decorrer do final de semana.
Entretanto, Augusto não poderia levar adiante a paixão, pois ele, ainda criança, havia
prometido amor a uma menina cujo nome ele não sabia. Ao revelar o motivo de seu impedimento,
Augusto tem a maravilhosa surpresa: a menina para quem prometera amor eterno era a própria
Carolina.
JOSÉ DE ALENCAR (1829-1877)
José de Alencar iniciou nas letras através do jornalismo, colaborando em diversos jornais
do Rio de Janeiro antes de iniciar sua extensa obra, iniciada com a publicação dos romances
Cinco Minutos em 1856. Diferentemente de Macedo, José de Alencar diversificou a ambientação
de suas obras, abrangendo o homem brasileiro do campo e das cidades para formar um
panorama social brasileiro em que nada fica de fora. Vale lembrar que o autor também não se
prendeu ao seu presente, abrangendo também o passado e consequente formação de povo
brasileiro. A questão linguística é igualmente um fator relevante de sua obra pois ele é
considerado o autor que estabeleceu a língua de nossa pátria. Esta busca de construção de um
panorama brasileiro se deu pela ânsia de apresentar um ideal de identidade brasileira, identidade
de um povo recém-independente.
Sua obra é dividida em grupos temáticos:
- Romances Urbanos - Viuvinha (1856), Lucíola (1862), Senhora {1875).
51
-
Romances Históricos - As Minas de Prata do Prata (1862); A Guerra dos Mascates.
Romances Regionalistas - O Gaúcho (1870), O Sertanejo (1875), O Tronco do Ipê
(1871).
PRINCIPAIS OBRAS
LUCÍOLA
A obra explora a paixão proibida entre a prostituta Lúcia e Paulo, jovem recém chegado de
Olinda ao Rio de Janeiro. A relação é recriminada pelo olhar da sociedade, que não aceita a união
entre dois grupos sociais tão distintos. Apesar do preconceito, Paulo acaba por assumir o
romance com a bela prostituta.
Com o passar dos tempos, Lúcia torna-se arredia em relação ao sexo, negando-se a
manter relações com Paulo. Um dia, questionada por Paulo, narra sua trajetória, o que faz com
que Paulo entenda a sua escolha: ela começara a se prostituir no intuito de ajudar a família, que
padecia devido à febre amarela.
Mais tarde, entendemos o porquê de Lúcia passar a evitar Paulo: ela estava grávida e,
tentando se purificar de seu passado, não se deixava dominar por seu amor. E é esta mesma
gravidez que faz com que a personagem, após o feto morrer e ela negar-se a tomar o
medicamento para expeli-lo.
SENHORA
Nesta obra temos o casamento por interesse, representado, aqui, através do envolvimento
entre os personagens Fernando Seixas e Aurélia Camargo.
Fernando Seixas, jovem que sempre fora preocupado com a ascensão social, abandona
noiva, Aurélia Camargo, para se casar com Adelaide Amaral, moça de quem receberia o dote de
30 contos de réis no casamento.
Entretanto, Aurélia recebe a herança de seu avô paterno, até então desconhecido e acaba
mudando os planos de Fernando: ela oferece, através de seu tio Lemos, 50 contos de réis ao pai
de Adelaide, para que esta se casasse com o homem que realmente amava, terminando o
noivado com Fernando; e, também através do tio Lemos, propõe casamento a Fernando, que
receberia um dote de 100 contos de réis. Fernando, obviamente, aceita, recebendo 20 contos de
réis antecipadamente e se comprometendo, mediante recibo, a se casar com a noiva misteriosa.
O casamento acontece, mas a relação dos dois é apenas uma fachada frente ao negócio
que ambos haviam feito: os dois dormem em quartos separados e quase não se falam. Também
conforme o combinado, Aurélia entrega um cheque com o restante do dote prometido.
Amargurado com a situação, Fernando muda gradativamente de comportamento. Um dia,
ele reencontra um antigo amigo com quem havia feito investimentos ainda antes de se casar e
descobre que havia ganho 15 contos de réis. Fernando junta, então, o montante às suas
economias e devolve o que havia recebido com juros e o cheque com os 80 contos de réis.
52
Assim, Fernando exige sua liberdade. Aurélia, então, percebe o quão diferente está seu marido,
não aceitando a separação, mas aceitando-o agora realmente como marido.
IRACEMA
Temos neste romance, caracterizado por Alencar como a lenda do Ceará, a união das
raças indígena e portuguesa, representadas pelos personagens Martim Soares e Iracema, através
de uma linguagem lírica, poética.
Martim, português que morava com os índios Potiguaras no litoral, um dia se perde na
floresta enquanto caçava. Ele é encontrado por Iracema, que o leva para sua tribo, a dos índios
Tabajaras, inimigos dos Tabajaras. O português, então, é convidado a permanecer com a tribo. A
convivência acaba por criar laços sentimentais: Martim se apaixona por Iracema.
A relação entre os dois desperta a ira de Irapuã, índio apaixonado por Iracema, apesar de
repelido, que quer matar Martim. Apesar de ser uma relação proibida, os dois se apaixonam.
Iracema era a detentora do segredo da jurema, mas, apesar disto, ela acaba se entregando para
Martim. O casal, então, parte para o litoral, para junto dos Potiguaras, onde morarão com o índio
Poti.
Iracema, para alegria de Martim, engravida, mas a felicidade não se perpetua: Martim
começa a se mostrar mais quieto e retraído, visto sentir saudades de sua pátria. A índia,
percebendo a situação, sofre com o filho ainda por nascer.
Um dia, Martim parte para um combate com Poti, deixando a sozinha esposa, que dá à luz
um menino, Moacir (filho do sofrimento em Tupi). Ao retornar, Martim encontra Iracema prestes a
morrer. Quatro anos mais tarde, Martim retorna à região e inicia a fundação de uma aldeia, que se
tornará o Ceará.
O GUARANI
O romance ‘O Guarani’ apresenta a união entre a família portuguesa Mariz, cujo patriarca é
D. Antônio, e o índio Peri no início do século XVII. A família, tendo recebido uma sesmaria às
margens do Rio Paquequer, no interior do Rio de Janeiro, para lá se muda e acaba entrando em
contato com o índio. Peri, com o passar do tempo se torna uma espécie de protetor da família
pelo fato de ele ser devoto de Cecília, visto associá-la a uma imagem santa vista numa aldeia
após um incêndio. Os perigos que ameaçam a integridade da família basicamente são dois: os
índios Aimorés e o italiano Loredano.
Os índios Aimorés representavam perigo pelo fato de eles buscarem vingar a morte de
uma índia (atingida acidentalmente por Diogo, filho de D. Antônio) matando Ceci. Já Loredano
personifica o vilão europeu: ele abandonara a vida religiosa para buscar minas de prata. O
personagem sentia atração carnal por Ceci, fato que o tornou inimigo de Peri.
No final da história, após D. Antônio explodir sua casa para impedir o ataque dos Aimorés,
Peri e Ceci acabam na mata, simbolizando a união das raças europeias e indígenas.
53
PROSA SERTANISTA ROMÂNTICA
Foi com os autores românticos que o interior do Brasil passou a ser palco da ficção
brasileira. O regionalismo de José de Alencar serviu como desbravador do interior do Brasil, fato
que ganhou continuidade com outros escritores deste tempo. Apesar desta ambientação, a
reconstrução linguística não foi um ponto explorado por tais autores. Os mais representativos são
Bernardo Guimarães e Visconde de Taunay.
BERNARDO GUIMARÃES (1825-1884)
Bernardo Guimarães tem como principais obras os romances O Seminarista (1872) e A
Escrava Isaura (1875). Em A Escrava Isaura temos Isaura, escrava clara, que é perseguida por
seu senhor Leôncio, o que faz com que ela fuja para o Nordeste com seu pai. Lá, ela conhece
Álvaro, homem por quem se apaixona. Entretanto, apesar de estar longe da fazenda de Leôncio,
ela é encontrada e levada de volta para o seu senhor. Quem a salva das garras de seu
perseguidor é Álvaro. Ele paga os credores se Leôncio, assumindo, assim as posses de Leôncio,
entre eles, Isaura. No final, além da união entre Álvaro e Isaura, temos a liberdade dada aos
escravos da fazenda.
Já em O Seminarista o autor apresenta o envolvimento entre Eugênio e Margarida,
relação que quase será interrompida pelo pai de Eugênio, que o obriga a ir para um seminário.
Apesar da proibição imposta pelo pai e pela Igreja, Eugênia e Margarida dão continuidade à sua
relação. Entretanto, a moça morre, e Eugênio; ao saber da notícia pouco antes de rezar a sua
primeira missa, enlouquece.
VISCONDE DE TAUNAY, (1843-1899)
Visconde de Taunay participou da Guerra do Paraguai, experiência que lhe valeu a obra
‘Retirada de Laguna’. Mas sua obra mais representativa é ‘Inocência’ (1872). O "médico" Cirino
chega ao interior e acaba indo atender a melancólica Inocência, a pedido de seu pai, Pereira. A
atração foi mútua e instantânea se fortalecendo com a permanência de Cirino na propriedade,
para que pudesse atender à população da região. A relação não foi revelada ao pai de Inocência,
pois Pereira havia prometido a mão de sua filha a um morador da região, Manecão Doca,
indiferente à opinião da menina. Entretanto, Pereira acaba descobrindo a relação e conta ao noivo
oficial da filha o envolvimento. Manecão, então, vai ao encontro de Cirino e o mata com dois tiros.
ROMANCE DE COSTUMES MANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA (1831-61)
Manuel Antônio de Almeida é autor de apenas uma única obra, ‘Memórias de um sargento
de milícias’ (1853), uma caracterização cômica do início do século XIX, quando "Era no tempo do
Rei." Um fato importante sobre a criação dos personagens é o fato de eles representarem tipos
sociais, que inclusive não tem nome, como por exemplo o Padre, Cigana, Comadre, Compadre.
Estes personagens, somados aos outros protagonistas, apresentam uma caracterização que foge
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ao padrão romântico, pois eles apresentam vícios morais - tal caracterização faz com que a obra
seja considerada como um romance precursor do Realismo no Brasil. Neste romance temos
também a criação do primeiro anti-herói da Literatura Brasileira, do anti-herói: Leonardo "Constitui-se um completo vadio, vadio-mestre, vadio-tipo." - símbolo do malandro.
A obra, narrada em terceira pessoa. ‘Memórias de um Sargento de Milícias’ apresenta a
trajetória de Leonardo, filho de "um beliscão e de uma pisadela": seu pai, Leonardo-Pataca, se
envolvera com Maria das Hortaliças em um navio que os trazia de Portugal para o Brasil, surgindo
deste envolvimento o pequeno Leonardo. O pequeno acaba sendo criado pelo Compadre, que
sonhava em propiciar ao afilhado um futuro brilhante. Leonardo, porém, escolhe a pior das
possibilidades que tinha em seu caminho, ser simplesmente vadio/malandro.
Na adolescência, Leonardo nutriu o amor por Luisinha, sobrinha de D. Maria, mas acabou
esquecendo-a ao conhecer Vidinha, menina que provinha de uma família adepta de patuscadas,
porém alvo da perseguição do Major Vidigal; que, um dia, consegue prender Leonardo, mas este
consegue escapar enquanto era levado para a cadeia. Em outra oportunidade Vidigal alcança seu
objetivo, mas ao invés de manter Leonardo na prisão, ele o solta com o cargo de granadeiro.
Entretanto, a nova função não mudou o comportamento de Leonardo, que, um dia, ajuda
um homem a fugir de Vidigal. O (anti) – herói é preso novamente. E solto novamente, desta vez
com o cargo de sargento. Os motivos mais uma vez eram simples: Vidigal atendia a um pedido de
sua amante, Maria Regalada, amiga de D. Maria (que: era amiga da comadre). Maria Regalada
moraria com Vidigal caso tivesse seu pedido atendido. Com o novo cargo, Leonardo já tem
condições de se casar com Luisinha, que ficara viúva pouco tempo antes.
TEATRO ROMÂNTICO (1815 – 1848)
Muitos dos autores românticos exploraram o gênero dramático, como Gonçalves Dias,
José de Alencar e Castro Alves. Entretanto, nenhum deles se notabilizou como Martins Pena no
cenário do teatro brasileiro do século XIX.
MARTINS PENA
Considerado o criador do teatro nacional, apesar de ter vivido pouco, o autor escreveu
dezenas de peças, retratando, através do cômico, os costumes sociais da sociedade brasileira.
Suas principais peças são ‘O juiz de paz na roça’ (1842), ‘O noviço’ (1853) e ‘Os dous’ ou ‘O
inglês maquinista’ (1871).
A peça ‘O juiz de paz na roça’ apresenta a paixão entre Aninha e José, que se casam em
segredo, após José desertar do quartel; já em ‘O noviço’ temos o personagem Carlos, que é
enviado contra sua vontade para o seminário, conseguindo se livrar da obrigação no final; e,
finalmente. ‘Os dous’ ou ‘O inglês maquinista’ explora a paixão com final feliz entre Fétido e sua
prima Mariquinha, que era assediada por outros dois homens, um traficante de escravos e um
inglês inventor.
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EXERCÍCIOS
1 - Leia agora uma das mais significativas liras de Gonzaga, que versa sobre um tema do qual já
falamos muitas vezes:
Parte I: Lira XIV
Minha bela Marília, tudo passa;
A sorte deste mundo é mal segura;
Se vem depois dos males a ventura,
Vem depois dos prazeres a desgraça.
Estão os mesmos deuses
Sujeitos ao poder do ímpio Fado:
Apolo já fugiu do Céu brilhante,
Já foi pastor de gado.
(...)
Ah! enquanto os Destinos impiedosos
Não voltam contra nós a face irada,
Façamos, Sim façamos, doce amada,
Os nossos breves dias mais ditosos.
Um coração, que frouxo
A grata posse de seu bem difere,
A si, Marília, a si próprio rouba
E a si próprio fere.
Ornemos nossas testas com flores;
E façamos de feno um brando leito,
Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
Gozemos do prazer de sãos Amores.
Sobre as nossas cabeças,
Sem que o possam deter, o tempo corre;
E para nós o tempo, que se passa,
Também, Marília, morre.
Como os anos, Marília, o gosto falta,
E se entorpece o corpo já cansado;
Triste o velho cordeiro está deitado,
E o leve filho sempre alegre salta.
A mesma formosura
É dote, que só goza a mocidade:
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Rugam-se as faces, o cabelo alveja,
Mal chega a longa e idade.
Que havemos de esperar, Marília bela?
Que vão passando os florescentes dias?
As glórias, que vêm já tarde, já vêm frias;
E pode enfim mudar-se a nossa estrela.
Ah! não, minha Marília,
Aproveite-se o tempo, antes que faça
O estrago de roubar ao corpo as forças
E ao semblante a graça.
( In Campedelli, op. cit., p. 16-7)
COM RELAÇÃO AO TEXTO
A - Um dos elementos mais marcante dessa lira é o tom didático, e isto é, o poeta está
explicando e ensinando a Marília os fatos da vida. Quais são as estrofes em que esse de
didatismo prevalece?
..........................................................................................................................................
..........................................................................................................................................
B - Quais são os fatos da vida sobre os quais o poeta discorre? Justifique.
..........................................................................................................................................
..........................................................................................................................................
C - Observe que os versos na primeira pessoa do plural configuram um convite que o poeta
faz a Marília. Que convite é este? Explique.
..........................................................................................................................................
..........................................................................................................................................
D - Dissemos acima que o tema desta lira é bastante conhecido. Você pode identificá-lo?
Justifique, retirando do texto os versos mais representativos.
...........................................................................................................................................
...........................................................................................................................................
E - Considerando que o Arcadismo prega a uma volta à vida natural, qual é a concepção de
amor que aparece na terceira estrofe? Você acha que ele está de acordo com a pretendida
naturalidade da vida? Justifique.
..................................................................................................................................................
57
2 - Texto para as questões de 1a 5
Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
que o espírito enlaça à dor vivente,
não derramem por mim nenhuma lágrima
Em pálpebra demente.
E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto o poento caminheiro ...
Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro...
Como o desterro de minh'alma errante,
Onde fogo insensato a consumia,
Só levo uma saudade - é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.
(...)
Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei! ... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!
Ó tu, que a mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores...
Se vivi.. foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.
Beijarei a verdade santa e a nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu! eu vou amar contigo!
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz! e escrevam nela:
- Foi poeta, sonhou e amou na vida. Sombras do vale, noites da montanha,
Que minh'alma cantou e amava tanto,
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Protegei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe um canto!
Mas quando preludia ave d'aurora
E quando à meia-noite, o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abrir as ramas...
Deixai a lua pratear-me a lousa!
(AZEVEDO, Álvares de. Obras completas)
Embelecer: tornar belo, enfeitar
Lousa: pedra tumular, lápide
1) Qual é a expressão que o eu lírico utiliza na primeira estrofe para referir-se ao corpo ?
.............................................................................................................................................
.............................................................................................................................................
2) A relação do eu lírico com a morte é característica da segunda geração romântica .
a) Que relação é essa? .............................................................................................................
b) Por quais imagens essa relação é exposta ? ......................................................................
3) O sentimento amoroso idealizado é outra das características românticas presentes nesses
poema. Transcreva as passagens em que fica claro que o amor que o eu lírico sente é idealizado
4) O epitáfio que o eu lírico pede para que coloquem em seu túmulo pode ser considerado uma
espécie de "lema" da segunda geração romântica.
a) Qual é o epitáfio a que nos referimos? ...................................................................................
b) Explique sua relação com a segunda geração romântica. .....................................................
................................................................................................................................................
5) Nas duas últimas estrofes, o eu lírico revela sua relação com a natureza.
a) Como é essa relação? .............................................................................................................
b) Pelo uso de que recurso linguístico essa relação se estabelece? .........................................
.................................................................................................................................................
6) O texto a seguir é o início do romance 'O guarani' e apresenta a descrição do cenário em
que se desenrola o enredo mais célebre do Romantismo brasileiro. Considerando essa
informação, ao leia atentamente o trecho e responda às questões 1 e 2
"De um dos cabeças da Serra dos Órgãos desliza um fio d'água que se dirige para o norte
e, engrossado com os mananciais que recebe no seu curso de dez léguas, torna-se rio caudal.
É o Paquequer: saltando de cascata em cascata, enroscando-se como uma serpente, vai
depois se espreguiçar na várzea e embeber no Paraíba, que rola majestosamente em seu vasto
leito.
Dir-se-ia que vassalo e tributário desse rei das águas, o pequeno rio, altivo e sobranceiro
contra os rochedos, curva-se humildemente aos pés do suserano. Perde então a beleza
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selvática: suas ondas são calmas e serenas como as de um lago, e não se revoltam contra os
barcos e as canoas que resvalam sobre elas: escravo submisso, sobre o látego do senhor".
(ALENCAR, José de. O Guarani)
1) No Arcadismo, a natureza era o pano de fundo para agradáveis relações amorosas. No
Romantismo, ela assumiu um papel bastante diferente.
Nesse trecho, que recurso é utilizado na descrição do cenário ? .....................................
................................................................................................................................................
2) O que essa escolha pode significar quanto ao novo papel assumido pela natureza no
Romantismo? ..................................................................................................................................
O Romantismo foi um movimentos heterogêneo, ou seja, manifestou-se de diferença
formas. Tradicionalmente, identificamos com maior destaque três dessa formas: o apego à
história (ou o nacionalismo), o exagero dos sentimentos e o engajamento em causas sociais. Que
tendência romântica fica evidente no fragmento de 'O Guarani' ? Por quê? ..................................
REALISMO
A Europa vive a segunda fase da Revolução Industrial e, juntamente com a burguesia,
conhece o desenvolvimento do pensamento científico e das doutrinas filosóficas e sociais.
As teorias como o Evolucionismo, doutrina da seleção natural em que sobrevive o mais
apto, e o determinismo, que atribuía ao meio ambiente e ao fator hereditário uma dimensão para
explicar o caráter e o desvio do comportamento humano.
Parte da segunda metade do século XIX foi marcado pela presença do Realismo e
Naturalismo na prosa e no Parnasianismo na poesia.
Características:
Objetividade:-básico do realismo.
Racionalismo: a razão observa, analisa e interpreta a realidade.
Verossimilhança: fidelidade ao real com visão crítica dos fatos.
Organicidade: a natureza e o homem são inter-relacionados em sujeitos aos mesmos
princípios, leis e finalidades.
Contemporaneidade: o que interessa é o momento presente.
Análise psicológica nos personagens: revelando-lhes o universo interior e contrastando-o
com o exterior.
Visão pessimista do mundo.
O REALISMO NO BRASIL
O Realismo no Brasil teve um representante de peso, Machado de Assis, que é o autor da
obra considerada o marco inicial do movimento no Brasil, Memórias Póstumas de Brás Cubas, de
1881.
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MACHADO DE ASSIS
O carioca Machado de Assis iniciou sua obra com a publicação de ‘Crisálidas ‘(1864), em
pleno Romantismo. Sendo assim, o autor tem sua obra dividida em duas fases: a primeira, dita
romântica; a segunda, dita realista. Importante salientar que estas fases não se prendem
rigidamente nos modelos estabelecidos ria Europa.
MACHADO DE
ASSIS
POESIA
CONTO
ROMANCE
PRIMEIRA FASE:
ROMÂNTICA
- Crisálidas
- Falenas
- Americanas
- Contos Fluminenses
- Histórias da meia Noite
- Ressurreição
- A Mão e a Luva
- Helena
- Iaiá Garcia
CARACTERISTICAS:  Esquematismo
psicológico
 Existência
do
amoroso
 Conformismo
SEGUNDA FASE:
REALISTA
Ocidentais (obra parnasiana)
- Papéis Avulsos
- Histórias sem Data
- Relíquias de Casa Velha
A destacar:
- A cartomante,
- O Alienista
- Missa do galo
- O Espelho
- Um homem célebre
- Memórias Póstumas de Brás
Cubas
- Quincas Borba
- Dom Casmurro
- Esaú e Jacó
- Memorial de Aires
 Crítica à burguesia
 Pessimismo (humor amargo)
par  Análise
psicológica
em
profundidade
 Adultério, loucura, cinismo e
corrupção
PRINCIPAIS OBRAS
MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS (1881)
A obra Memórias Póstumas de Brás Cubas apresenta o "defunto autor" Brás Cubas que,
após morrer, decide retomar as memórias de sua vida, de forma irônica e sem seguir uma rígida
linearidade dos fatos. Partindo do momento de seu sepultamento, o personagem-narrador retoma
as principais etapas de sua vida misturando-as com digressões e análises sobre o
comportamento social do ser humano.
Brás Cubas acaba detendo-se com mais precisão em seus amores, sendo três os mais
significativos: Marcela, Eugenia é a sua amante durante; anos, Virgília. Com a última, o
personagem-narrador viveu um intenso romance adúltero: ela era casada com o seu amigo Lobo
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Neves. O romance dos dois só começa a perder força após um aborto de Virgília de um filho que
Brás Cubas e a própria mulher imaginavam ser dele. Em seguida, Virgília tem que acompanhar o
marido para o interior e a relação entre os dois finaliza.
Um ponto de destaque é a visão cética acerca do homem apresentada por Brás Cubas,
que culmina com o final do romance:
"Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do
emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é
que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o
suor de meu rosto. (...) Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa
imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite
com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar este outro lado do mistério, acheime com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulos de
negativas: - Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa
miséria."
Cabe ainda salientar que é neste romance que surge a figura do filósofo Quincas Borba, o
mentor do Humanitismo.
QUINCAS BORBA (1892)
Neste romance, narrado em terceira pessoa, temos a trajetória de Rubião, professor
primário de Barbacena, Minas Gerais, que herda a fortuna do filósofo Quincas Borba. A amizade
dos dois nasceu a partir da paixão que Quincas Borba nutriu pela irmã de Rubião, Piedade, que
acaba morrendo. Sozinho e doente, Quincas Borba só tem o apoio de Rubião neste momento.
Daí a herança ser destinada a Rubião. Entretanto, havia uma condição: cuidar do cão Quincas
Borba, do filósofo, também chamado Quincas Borba. Rubião aceita-a e parte para o Rio de
Janeiro, acompanhado do cão.
O lema de Rubião, " Ao vencedor, as batatas!", parece aplicar-se à situação de Rubião,
herdeiro da fortuna. Tal lema tem origem no Humanistísmo, filosofia de Quincas Borba que
exemplifica o egoísmo humano com a parábola sobre as batatas: se duas tribos brigassem entre
si pela posse de batatas, a morte de uma tribo era condição de vida da outra. Ou seja, ao
vencedor, as batatas!
No caminho para o Rio de Janeiro, Rubião conhece o casal Cristiano Palha e Sofia. Os
dois se oferecem para apresentar o Rio de Janeiro a Rubião, que aceita no mesmo instante. E, já
na capital, Rubião começa a ser explorado pelo casal de forma Intensa: Cristiano oferece
sociedade a Rubião, se apropriando à sua parte e à do amigo; após explorá-lo, ele desmancha a
sociedade. Rubião não percebia a exploração por estar fascinado por Sofia, mulher que se
insinuava para o ex-professor mineiro.
Rubião começa a enlouquecer: encomenda bustos de Napoleão I e III, identificando-se
com o último. Pouco tempo depois, Rubião é internado em uma casa de saúde, de onde parte
para voltar para Barbacena com o cão Quincas Borba. Rubião repete de forma contínua: "Ao
vencedor, as batatas!"
No final do romance, Rubião morre; o cão, três dias depois.
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DOM CASMURRO (1904)
Narrado em primeira pessoa. Dom Casmurro apresenta a trajetória de Bento Santiago,
homem atormentado pela dúvida em relação a um possível adultério de sua esposa que ata as
pontas da vida: retoma sua vida e relação com sua amada Capitu.
Alternando fatos passados com reflexões presentes. Bentinho revela ao leitor que morava
em Matacavalos com sua mãe, D. Glória, José Dias, o agregado que adorava os superlativos; Tio
Cosme, advogado e viúvo; e prima Justina, viúva. Apesar de ter sido prometido para a Igreja,
Bentinho pressente que seu destino não poderia ser a vida religiosa quando percebe que a sua
relação com a vizinha Capitu não se detinha apenas em amizade: ele descobre amá-la. Capitu
desde o início da obra é descrita por Bento como uma mulher que consegue dissimular
naturalmente, agindo com desenvoltura em situações constrangedoras.
Indiferente à objeção de Bento Santiago, D. Glória cumpre sua promessa, enviando-o para
o seminário. Lá, Bento conhecerá Escobar, aquele que será o seu melhor amigo.
Já fora do seminário e formado em Direito, Bentinho se casa com Capitu. Escobar se casa
com a melhor amiga de Capitu, Sancha. A relação entre os dois casais começa a se deteriorar
com as suspeitas de Bento em relação a um suposto caso entre Capitu e Escobar. E com a morte
do último, durante o seu enterro, as suspeitas ganham ares de certeza na mente de Bento.
Bento e Capitu acabam se separando após uma séria discussão entre eles sobre a
possibilidade de ela tê-lo traído. O casal viaja para a Europa, mas Bento retorna sozinho,
deixando lá Capitu e Ezequiel. Capitu morre na Europa; Ezequiel no Oriente Médio durante uma
expedição arqueológica. O romance termina com Bento ainda lembrando com carinho daquela
que havia conquistado seu coração e que ninguém havia substituído.
ESAÚ E JACÓ (1904)
A história, de acordo com uma nota inicial, teria sido extraída de um capítulo das anotações
do sineiro Aires, que apresenta a história dos gêmeos Pedro e Paulo, irmãos completamente
opostos, que haviam iniciado a brigar ainda no útero materno (ab ovo), brigas que se estendem
por toda a vida.
Na política, os dois encontram campo fértil para dar vazão às suas animosidades: Paulo é
republicano e Pedro monarquista. O primeiro vai cursar Direito em São Paulo, o segundo
Medicina no Rio de Janeiro.
,
Os únicos pontos que unem as opiniões dos gêmeos são: o amor pela mãe, Natividade, e
amor por Flora. Esta personagem não consegue decidir entre os irmãos, chegando a sonhar a
fusão entre os dois para que pudesse saciar seus desejos amorosos.
Entretanto, a menina morre, sem escolher nem um, nem outro. Com a morte de Flora, os
dois irmãos pareciam rumar para a reconciliação, logo frustrada. Nem mesmo o último pedido da
mãe, que no leito de morte pede-lhes que sejam amigos, consegue uni-los por muito tempo.
Ao final do romance, Aires constata que sempre foram inimigos e que, ao que tudo indica,
sempre o serão.
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MEMORIAL DE AIRES (1908)
Neste romance não há um enredo definido, a obra segue as.anotações do diário escrito
pelo Conselheiro Aires (o mesmo de Esaú e Jacó), suas memórias de diplomata aposentado no
Rio de Janeiro nos anos (1888 e 1889).
O diário se inicia no dia 9 de janeiro de 1888, quando completava-se um ano que o
conselheiro sexagenário voltara para o Rio de Janeiro, depois de passar boa parte de sua vida em
serviços diplomáticos pelo mundo.
Entre tantas reflexões, há a história de Tristão e Fidélia - Fidélia, viúva moça e bonita, é
grande amiga do casal Aguiar, uma espécie de filha adotiva de D. Carmo. Tristão, afilhado do
mesmo casal, viajara para a Europa, em menino, com os pais. Visitando, agora, o Rio de Janeiro,
dá muita alegria aos velhos padrinhos. Tristão e Fidélia acabam por apaixonar-se e, depois de
casados, seguem para a Europa, deixando a Saudade e a solidão como companheiras dos
velhos Aguiar e D. Carmo.
O ALIENISTA (1882)
O conto (também tido como novela por alguns críticos) ‘O Alienista’ apresenta a trajetória
de Simão Bacamarte, médico de formação europeia que retorna ao Brasil para colocar em prática
as mais recentes pesquisas sobre a alma humana.
O médico é o mentor da construção da Casa Verde, o local onde os loucos de Itaguaí
seriam abrigados. Inicialmente, o médico prende os cidadãos considerados loucos na cidade.
Entretanto, com o passar dos tempos, qualquer desvio de um comportamento normal era motivo
para que a pessoa fosse internada como louca. Com este tipo de critério, Simão Bacamarte acaba
prendendo 4/5 da população. Como a maioria da população se encontrava presa, o alienista
acabou mudando seus critérios: ele solta os até então loucos e prende os até então normais. E
para tornar os novos loucos como os outros, Simão atacava as principais qualidades destes,
incutindo neles vícios morais.
Utilizando este tratamento, Simão acabou recuperando todos os loucos. Entretanto, como
ele era um homem sem nenhum tipo de vício, logo diferente do restante da população, Simão
acabou por internar a si próprio na Casa Verde, onde faleceu 17 meses depois.
O NATURALISMO NO BRASIL
O Naturalismo no Brasil iniciou no mesmo ano em que o Realismo iniciou, 1881, com a
publicação de ‘O Mulato’, de Aluísio Azevedo. Alguns autores ganharam destaque nesta escola,
como Manuel de Oliveira Paiva ‘Dona Guidínha do poço’ (1897), Domingos Olímpio ‘LuziaHomem’ 1903) e Adolfo Caminha ‘O bom crioulo’ (1895), mas nenhum deles teve a importância
de Aluísio Azevedo.
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Características
- Determinismo: as atitudes do homem eram sempre determinadas pelo instinto (raças, e
hereditariedade), pelo meio (condições geográficas, sociais) e o momento (circunstâncias
históricas).
- Temas ligados à patologia: as doenças do indivíduo e da sociedade (desequilíbrios
psíquicos, distúrbios relacionados ao sexo, taras, criminalidade, adultério, miséria, corrupção,
traição, etc.
- Instinto animal ou zoomorfizaçã, o transformando o homem em bicho atribuindo-lhe
caracterização animalesca, mostrando-o a agir de acordo com os instintos.
- Linguagem grotesca: ressalta a animalização característica do período.
- Camadas sociais inferiores: gentalha miserável e suja em ambientes infectos.
- Lado negativo e todas as coisas: causando asco, náusea, má impressão ao leitor.
- Romance de tese (idéia pré-restabelecida) e experimental (o autor por meio de
experimentações desenvolvidas comprova sua tese inicial).
ALUÍSIO AZEVEDO (1857- 1913 )
O maranhense Aluísio Azevedo iniciou sua obra literária com folhetins românticos
para se sustentar no Rio de Janeiro. A sua fase mais importante, entretanto, iniciou a partir de
1881, com uma publicação de ‘O Mulato’, considerado o primeiro romance naturalista brasileiro.
Leitão de Zola, sua produção, a partir de 1881, volta-se para a denúncia da realidade social
carioca no final do século XIX. Suas obras naturalistas envolvem temas polêmicos (racismo,
homossexualidade, hipocrisia, interesse) e apresentam personagens populares, de classes
baixas, vivendo em ambiente degradados.
PRINCIPAIS OBRAS
O MULATO (1881)
Temos, neste romance, a história do jovem Raimundo, mulato de olhos azuis, que, após
estudar Direito em Portugal com o apoio do tio Manuel Pescada, retorna a São Luís para
descobrir a sua verdadeira origem. Ao chegar à capital do Maranhão, Raimundo descobre que era
um filho bastardo, de uma relação de seu pai, José da Silva, com a escrava alforriada Domingas.
Raimundo conclui que esta deveria ser a razão para que seu tio tivesse negado o pedido de
casamento feito por Raimundo a jovem Ana Rosa.
Apesar da proibição imposta pelo pai, Ana Rosa se entrega a Raimundo. Os dois pensam
em fugir juntos, mas o plano é interrompido após o cônego Diogo descobrir as intenções do casal.
Diogo, ao lado do caixeiro Dias, o preferido pelo pai de Ana para desposar a filha, aparecem no
momento da fuga acompanhados de um juiz. Ana diz estar grávida, mas isto não altera a
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situação. Raimundo vai para sua casa, mas no caminho, ele é atingido por um tiro disparado por
Dias, que fora convencido pelo cônego Diogo a assassiná-lo. Ana, sabendo do fato, aborta.
CASA DE PENSÃO (1884)
Este romance apresenta a trajetória de Amâncio de Vasconcelos, jovem maranhense que
vai para o Rio de Janeiro no intuito de estudar Medicina. Ao chegar à capital, Amâncio encontra
um rapaz maranhense, Paiva Rocha, e passa a viver uma vida boêmia no Rio de Janeiro,
frequentando noitadas e bebedeiras.
Amâncio acaba apresentado por Paiva Rocha a João Coqueiro, dono de uma pensão, para
onde Amâncio se muda em seguida. Lá, ele conhece Amélia, irmã de João Coqueiro, com quem
inicia um romance. João Coqueiro finge tudo ignorar, pois acreditava na união dos dois e,
consequentemente, no dinheiro que sua irmã teria direito tendo como marido o jovem Amâncio.
Sentindo-se oprimido pelo ambiente da pensão, Amâncio prepara uma viagem para o
Maranhão para rever a mãe. Com medo de perder o cunhado, João Coqueiro consegue impedir a
viagem, acusando Amâncio de ter deflorado a irmã. Entretanto, Amâncio é absolvido da acusação
num tumultuado julgamento.
Visto que perderia sua fortuna, João Coqueiro mata Amâncio com um tiro.
O CORTIÇO (1890)
Principal romance de Aluísio Azevedo, ‘O Cortiço’ apresenta uma série de personagens de
classes baixas que vivem histórias paralelas, se cruzando no cortiço de João Romão. O próprio
cortiço é considerado o "principal personagem" da história, visto que ele atua ao moldar o
comportamento de seus habitantes, que se comportam de acordo com o meio degradado em que
vivem.
Dentre os personagens, alguns acabam alcançando uma maior expressão dentro da obra,
que são: João Romão, Bertoleza, Miranda, Estela, Pombinha, Leónie, Jerônimo, Rita Baiana,
Firmo.
João Romão é o dono do cortiço e da pedreira que havia no fundo do pátio. Português,
recebera o comércio de seu ex-patrão, que voltara para Portugal. Bertoleza, uma escrava que
trabalhava fora, servia, vendia comida a João Romão, e este a convida para que ela morasse com
ele. Para se livrar do pagamento do salário ao senhor da escrava, João Romão escreve uma carta
de alforria falsa, deixando assim de pagar o dinheiro ao senhor de Bertoleza, que acredita viver
em liberdade. Entretanto, possuindo dinheiro, mas não reconhecimento social, João Romão
decide trocar de mulher, pois ao lado de Bertoleza, nunca ganharia tal reconhecimento. E, para se
livrar de Bertoleza, João Romão a delata aos herdeiros do senhor de Bertoleza, que, vendo
chegar a comitiva e sabendo que seria presa, comete suicídio.
Miranda e Estela viviam um casamento de fachada, pois o marido sabia do adultério
praticado por sua esposa com Henrique, um estudante que vivia na casa com a família.
Entretanto, apesar das brigas que os separavam, eles viviam uma vida sexual intensa,
animalesca, em que os instintos não podiam ser refreados.
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Pombinha representava a pureza no cortiço: era uma jovem de 17 anos, virgem, respeitada
por todos. E sua iniciação sexual se dá com a prostituta Leónie. Elas transam após um jantar na
casa de Leónie, que a agarra, apesar dos apelos contrários da jovem. Pombinha se casa em
seguida com seu namorado, mas a vida de mulher casada não mais a seduz, tampouco a relação
amorosa com um homem: ela se separa e, para poder explorar o sexo oposto, torna-se uma
prostituta.
Jerônimo era português, homem sério, trabalhador, casado e dedicado à família. Ele se
muda com a família para o cortiço para trabalhar na pedreira de João Romão, recebendo por isto
alto salário. Entretanto, Jerônimo conhece Rita Baiana no cortiço, apaixonando-se pela mulata.
Após esta mudança e relacionamento, ele muda drasticamente, tornando-se um vagabundo,
bêbado, largando a família e o emprego.
IMPRESSIONISMO
RAUL POMPÉIA (1863 – 1895)
É autor de um romance bastante discutido no final do século XIX, 'O Ateneu (1888).
Várias já foram as tentativas de se classificar esta obra (realista, naturalista), mas a definição de
romance impressionista tem bastante adeptos.
Na obra, Sérgio, já adulto relembra os momentos passados no Ateneu, colégio
interno em que passara alguns anos de sua infância. O mundo do colégio reproduzia o mundo
exterior, visto que imperava no colégio a hipocrisia, o interesse.
Alguns personagens se sobressaem no romance. Além do próprio Sérgio, temos
Aristarco, o pedagogo e diretor do colégio, símbolo da repressão e hipocrisia que, apesar do
cargo e do reconhecimento público, tratava com o desprezo os alunos; Ema, esposa de Aristarco,
que suscitou em Sérgio o amor maternal e sexual; Rebelo, aluno modelo; Franco, a imagem da
insegurança e do fracasso; Sanches, seu protetor e iniciador na sexualidade. Assim, aos poucos,
Sérgio vai conhecendo as "regras" daquele mundo.
O final da obra é bastante abrupto: um dia, de volta ao colégio de onde havia fugido,
um aluno, Américo provoca um incêndio no Ateneu, reduzindo-o a uma labareda faminta que
traga toda a escola diante de Aristarco que, impassível, assiste à destruição da sua vida inteira.
Neste mesmo dia, o déspota ainda é abandonado por sua esposa Ema. Este incêndio marcaria o
fim daquele modelo de sociedade representado em menor escala como próprio colégio.
EXERCICIOS
1. Texto para as questões 1 a 4
"Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, terá certa contração cadavérica; vício grave
e, aliás, ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de
envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direta e nutrida, o estilo regular e
fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda,
andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem..."
(Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. In. Obra completa) .
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1) Como é a relação do narrador com o leitor, de acordo com o texto?
...........................................................................................................................................
..........................................................................................................................................
2) Observe a afirmação que o narrador, Brás Cubas, faz sobre o próprio livro:"... cheira a
sepulcro, traz certa contração cadavérica...". Essa afirmação pode ser compreendida sob
um ponto de vista tanto literal quanto figurado.
a) Por que o narrador faz essa afirmação, do ponto de vista literal?
.........................................................................................................................................
..........................................................................................................................................
b) Qual é o sentido figurado dessa afirmação?
.........................................................................................................................................
.........................................................................................................................................
3 - O foco principal de Memórias póstumas de Brás Cubas não são os fatos narrados,
encadeados em uma sequência lógica e linear, mas as reflexões feitas no decorrer da
narrativa. De que forma o trecho comprova essa característica?
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
4) A ironia machadiana, tão celebrada, expressa-se também nesse trecho, através de uma
certa visão do leitor e de seu gosto literário.
a) Segundo o narrador, que preferências do leitor o impediriam de gostar do livro?
.........................................................................................................................................
.........................................................................................................................................
b) Essas preferências de estilo foram atendidas por que movimento literário ironizado
pelo narrador?
.........................................................................................................................................
..........................................................................................................................................
2.
Texto para as questões 1 e 2
"O chorado arrastava-os a todos, despoticamente, desesperando aos que não sabiam
dançar. Mas, ninguém corno a Rita; só ela, só aquele demônio, tinha o mágico segredo
daqueles movimentos de cobra amaldiçoada; aqueles requebros que não podiam ser sem
o cheiro que a mulata soltava de si e sem aquela voz doce, quebrada, harmoniosa,
arrogante, meiga e suplicante." (AZEVEDO, Aluísio. O cortiço.)
1) Uma das características do Naturalismo consiste na animalização ou
zoomorfização. Transcreva a passagem em que esse procedimento ocorre e explique-o.
.............................................................................................................................................
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2) No trecho transcrito aparece uma outra característica do movimento naturalista:
a valorização do sexo. De que forma essa característica se manifesta?
............................................................................................................................................
............................................................................................................................................
PARNASIANISMO
O Parnasianismo é um movimento ligado à burguesia européia do final do século XIX, que
muda o foco da poesia, deixando de lado as questões cruciais de seu tempo. O movimento
configura-se como uma reação à proposta romântica de poesia, valorizando uma perspectiva
objetiva e descritiva de poesia. A fixação pela forma fez com que muitas vezes o poema se
tornasse vazio.
Características
- Retorno à tradição clássica: com rimas perfeitas e o uso da metrificação (gostavam de
versos decassílabos e alexandrinos) e tinham atração pelo soneto; a poesia como um trabalho de
ourives.
- Poemas descritivos: com contenção emocional e impassibilidade (indiferente à dor
subjetiva do romântico).
- Preferência por temas universais.
- Temas objetivos: descrevendo o exterior, para ir nele girando a técnica e a objetividade.
- Alcançar a perfeição formal: numa linguagem vernacular, erudita e rica. A poesia feita
com trabalho e rigor técnico e não de inspiração.
- Arte pela arte: a poesia deve interessar pela sua beleza própria e não por mensagem
ideológica.
O PARNASIANISMO NO BRASIL
O movimento parnasiano teve importância ímpar no Brasil, imperando sua estética entre os
anos de 1882 - quando Teófilo Dias publica Fanfarras - até 1922, com a Semana de Arte
Moderna. Inclusive, a Semana de Arte Moderna, dentre outros fatores, buscava acabar com o
predomínio parnasiano na poesia brasileira. Seus principais representantes são aqueles que
formam a chamada Tríade parnasiana-. Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira.
69
OLAVO BILAC (1865-1918)
Olavo Bilac tem uma poesia bastante peculiar: apesar de ser considerado o principal poeta
parnasiano brasileiro, é possível ainda encontrarmos traços românticos em sua poesia. Sua obra
apresenta temas característicos do universo parnasiano, como a metapoesia, temas ligados ao
mundo clássico e a busca da perfeição formal. O poeta deve trabalhar a poesia pacientemente –
como um ourives trabalha uma joia. Além disto, a temática amorosa e nacionalista também
tiveram vez na obra do poeta carioca.
VIA LÁCTEA
Soneto XIII
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi,
no entanto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Que, para ouvi-las, muita vez
Tem o que dizem, quando estão
desperto
E abro as janelas, pálido de
espanto...
contigo?"
E conversamos toda a noite,
enquanto
A via - láctea, como um pálio
aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e
Pois só quem ama pode ter
ouvido
Capaz de ouvir e de entender
estrelas."
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que
sentido
E eu vos direi: "Amai para
entendê-las!
em pranto,
SATÂNIA
Sobe... cinge-lhe a perna longamente;
Sobe...- e que volta sensual descreve
“Nua, de pé, solto o cabelo às costas,
Sorri. Na alcova perfumada e quente,
Pela janela, como um rio enorme
De áureas ondas tranquilas e impalpáveis,
Profusamente a luz do meio-dia
Para abranger todo o quadril! - prossegue,
Entra e se espalha palpitante e viva.(...)
Da axila, acende-lhe o coral da boca,(...)
Como uma vaga preciosa e tenta,
Vem lhe beijar a pequenina ponta
E aos mornos beijos, às carícias ternas,
Da luz, cerrando levemente os cílios,
Do pequenino pé macio e branco.
Satânia ....abre um curto sorriso de volúpia”.
Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura,
Morde-lhe os bicos túmidos dos seios,
Corre-lhe a espádua, espia-lhe o recôncavo
70
PROFISSÃO DE FÉ (fragmentos)
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto-relevo
Faz de uma flor.
Imito-o. E, pois, nem de carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro
Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.
Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito. (...)
Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
E horas sem conto passo, mudo,
O olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo
A pena, como em prata firme
O pensamento.
Corre o cinzel.
Corre; desenha, enfeita a imagem,
A ideia veste:
Cinge-lhe o corpo a ampla roupagem
Azul-celeste.
Porque o escrever - tanta perícia,
Tanta requer,
Que o ofício tal... nem há notícia
De outro qualquer.(....)
ALBERTO DE OLIVEIRA (1859-1936)
O poeta Alberto de Oliveira é considerado o mais rígido e técnico em relação à estética
parnasiana, criando uma poesia em que a descrição é ponto frequente. Sobre os temas
abordados, a natureza e objetos da cultura clássica ganham destaque. Em 1924 sob o impacto
da semana de Arte Moderna, é eleito O Príncipe dos Poetas, e, além disso, é sócio fundador
da Academia Brasileira de Letras.
O MURO
Sempre em seu posto, firme e alevantado.
É um velho paredão, todo gretado,
Roto e negro, a que o tempo uma oferenda
Horas mortas, a lua o véu desata,
E em cheio brilha; a solidão se estrela
Deixou num cacto em flor ensanguentado
E um pouco de musgo em cada fenda.
Toda de um vago cintilar de prata;
Serve há muito de encerro a uma vivenda;
E o velho muro, alta a parede nua,
Olha em redor, espreita a sombra, e vela,
Protegê-la e guardá-la é seu cuidado;
Talvez consigo esta missão compreenda,
Entre os beijos e lágrimas da lua.
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Vaso Grego
Esta de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada
Depois.....Mas o lavor da taça admira,
Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às
bordas
Vinda do Olímpo, a um novo deus servia.
Finas hás – de – lhe ouvir, canora e doce,
Era o poeta de Teos que a suspendia
Então, e, ora repleta ora esvasada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa voz de Anacreonte fosse.
Toda de roxas pétalas colmada.
RAIMUNDO CORREIA (1859-1911)
O maranhense Raimundo Correia é um poeta que acabou sendo acusado de plagiar
poesias estrangeiras dizendo suas, mas este fato não o diminui a sua importância na nossa
tradição literária. O poeta desenvolveu uma obra em que a melancolia, a visão cética ( duvida
de tudo) de mundo impera. Cabe ainda salientar a plasticidade das descrições da natureza
feitas pelo poeta.
AS POMBAS
VAI-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra...enfim
dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
Raia, sanguínea e fresca a madrugada...
E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas
voltam,
E eles aos corações não voltam mais...
MAL SECRETO
Se a cólera que espuma, a dor que mora
Quanta gente que ri, talvez, consigo
N 'alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração no rosto se estampasse;
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez existe,
Se se pudesse o espírito que chora
Cuja ventura única consiste
Ver através da máscara da face,
Em parecer aos outros venturosa!
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
72
SIMBOLISMO
O movimento simbolista tem origem na França e se configura como uma negação da
estética racionalista/objetiva identificada nos movimentos naturalista, realista e parnasiano.
Principais representantes do simbolismo francês são Charles Baudelaire, Stephanes Mallarmé,
Paul Verlaine e Arthur Rimbaud.
Características
- Busca na poesia uma forma de evocação (chamar) dos sentimentos e das emoções.
- A poesia é comparada com a música: explora o aspecto sonoro da palavra, através
de figuras de linguagem: aliteração, assonância, sinestesia, metáfora.
- Os temas são subjetivos: tratando da morte, de Deus, do destino, do misticismo, da
religião. O eu é mais profundo, inconsciente.
- A mulher é envolvida num clima de sonho, predominado o vago, o imprecisa, o
etéreo (puro), dando um enfoque espiritualista. Culto da brancura e da transparência.
O SIMBOLISMO NO BRASIL
O movimento simbolista no Brasil é tido como um movimento marginal, pois as
manifestações deteram-se nas regiões periféricas de nosso país. Assim como os parnasianos,
os simbolistas brasileiros transplantaram uma cultura que tinha pouco em comum com a nossa
situação, realizando uma poesia distante da nossa realidade social, visto os temas abordados.
O marco inicial do movimento no Brasil é o ano de 1893, com a publicação de Missal e
Broquéis, ambos de Cruz e Sousa.
CRUZ E SOUSA (1861-1897)
O poeta Cruz e Sousa é considerado a maior voz do simbolismo brasileiro. Negro, o
poeta sofreu a perseguição racial em seu tempo, mas, mesmo assim, conseguiu criar uma obra
consistente: Broquéis (1893), Missal (1893), Faróis (1900) e Últimos sonetos (1905).
Sua poesia explora alguns pontos recorrentes, como a exploração do branco, a busca
pela transcendência, o uso de um vocabulário apurado, a angústia sexual sublimada e a morte,
num tom melancólico, sofrido.
73
Antífona
Ó Formas alvas, brancas, Formas
claras de luares, de neves, de
neblinas! ...
e ardente...
Que brilhe a correção dos alabastros
sonoramente, luminosamente.
Ó Formas vagas, fluídas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras...
Forças originais, essência, graça
de carnes de mulher, delicadezas...
Todo esse eflúvio que por ondas
passa do Éter nas róseas e áureas
correntezas...(...)
Formas do Amor, constelarmente
puras, de Virgens e de Santas
vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
e dolências de lírios e de rosas...
Que o pólen de ouro dos mais finos
Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,
nos turbilhões quiméricos do Sonho,
passe, cantando, ante o perfil
medonho e o tropel cabalístico da
astros fecunde e inflame a rima clara
Morte...
VIDA OBSCURA
Ninguém sentiu o teu espasmo
tornando-te mais simples e mais puro.
obscuro, ó ser humilde entre o humildes
seres.
Embriagado, tonto dos prazeres, o mundo
para ti foi negro e duro
magoado, oculto e aterrador, secreto,
que o coração te apunhalou no mundo.
Atravessaste no silêncio escuro
Ninguém te viu o sentimento inquieto,
Mas eu que sempre te segui os passos
sei que cruz Infernal prendeu-te os braços,
e o teu suspiro como foi profundo!
a vida presa a trágicos deveres e chegaste
ao saber de altos saberes
VIOLÕES QUE CHORAM... (fragmentos)
E vão dilacerando e deliciando,
Ah! plangentes violões dormente, momos
Soluços ao luar, choros ao vento...
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
Bocas murmurejantes de lamento.
Rasgando as almas que nas sombras
tremem,
Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Noites de além, remotas, que eu recordo,
Noites de solidão, noites remotas
Que nos azuis da Fantasia bordo,
Vou constelando de visões ignotas. (...)
Quando os sons dos violões vão soluçando,
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
Tudo nas cordas dos violões ecoa
E vibra e se contorce no ar, convulso...
Tudo na noite, tudo clama e voa
Quando os sons dos violões nas cordas
gemem,
Sob a febril agitação de um pulso.(....)
74
ALPHONSUS DE GUIMARAENS (1870 - 1921)
O mineiro Alphonsus de Guimaraens (Afonso Henriques Guimarães) tem sua poesia
marcada por um acontecimento de sua vida amorosa: a morte de sua noiva, Constança,
falecida aos 16 anos de idade. Sendo assim, sua obra gravita em torno dos temas amor, morte
e religiosidade, explorados num tom altamente melancólico.
Suas principais obras são: Dona Mística (1899), Kiriale (1902) e Pastoral aos Crentes do
Amor e da Morte (1923).
HÃO DE CHORAR POR ELA OS
CINAMOMOS...
Hão de chorar por ela os cinamomos,
Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Hão de chorar a irmã que lhes sorria.
A lua que lhe foi mãe carinhosa
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.
Lembrando-se daquela que os colhia.
As estrelas dirão — "Ai! nada somos,
Pois ela morreu silente e fria..."
E pondo os olhos nela como pomos,
A CATEDRAL
Os meus sonhos de amor serão defuntos
E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,
Pensando em mim: — "Por que não vieram
juntos?"
Entre brumas ao longe surge a aurora.
Põe-se a luz a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu tristonho'
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu risonho
Toda branca de sol.
Toda branca de luar.
E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
O céu é todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
E o sino canta em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma áurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
Vem acoitar o rosto meu.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.
E o sino geme em lúgubres responsos:'
A catedral ebúrnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tão cansados ponho,
Recebe a benção de Jesus.
E o sino clama em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”
"Pobre Alphonsus Pobre Alphonsus!'"
Por entre lírios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece,
75
Ismália
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par ...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar.
PRÉ-MODERNISMO
No Brasil, o pré-modernismo não constitui uma escola literária, mas um período de
transição. A bordaremos o período que se inicia em 1902, com a publicação de "Os sertões, de
Euclides da Cunha, juntamente com o lançamento de Canaã de Graça Aranha e se estende
até 1922, ano em que se realiza a Semana de Arte Moderna.
No final do século XIX e início do século XX, o Brasil passa por transformações que vão
indicando a modernização social, política, econômica e cultural.
Os escravos recém libertados estão marginalizando-se, os imigrantes entrando no país e
assumindo o trabalho assalariado, o surgimento do proletariado (nova camada social) .
Muitas revoltas ocorreram por todo o país: a Revolta da Armada, Revolta de Canudos,
Revolta da Chibata, Revolta contra a Vacina Obrigatória.
Ocorreram, também, greves operárias, crises políticas e formação de sindicatos porque
os imigrantes trouxeram ideias anarquistas e socialistas.
Características:
- Ruptura com o passado: mudar a linguagem da poesia parnasiana ainda em vigor.
- Denúncia da realidade brasileira: mostrar um Brasil não oficial como: o sertão
nordestino, os caboclos interioranos, dos subúrbios.
- Regionalismo: mostra um Brasil da época. Norte e o Nordeste com Euclides da
Cunha; Vale do Paraíba e o interior paulista com Monteiro Lobato; no Espírito Santo com Graça
Aranha; no subúrbio carioca com Lima Barreto e no Sul de Simões Lopes neto.
-Tipos humanos marginalizados: o sertanejo nordestino, o caipira, os funcionários
públicos, os mulatos e os caboclos.
Ligação com fatos políticos,
entre a realidade e a ficção fica menor.
econômicos, sociais contemporâneos: a distância
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EUCLIDES DA CUNHA (1866-1909)
Euclides da Cunha trabalhou como engenheiro, professor e jornalista. E é como jornalista
que ele é destinado pelo jornal O Estado de São Paulo para fazer a cobertura da Guerra de
Canudos, no sertão baiano. Esta experiência jornalística vivida in loco forma a base de sua
obra-prima Os Sertões (1902).
OS SERTÕES
Os Sertões segue as tendências deterministas pregadas por Hypolite Taine, que
afirmava que o homem sofre a influência social, do meio em que vive, e biológica, associada à
sua própria raça.'
Outro ponto marcante da obra é a questão gênero, pois a obra mistura Literatura,
Jornalismo, Sociologia e História, ao apresentar as diferenças entre o interior subdesenvolvido e
o litoral desenvolvido.
A obra, seguindo, então, o ideal naturalista, é dividida em três partes: A Terra, O Homem
e A Luta.
1ª parte - A Terra: nesta primeira parte, o autor faz uma minuciosa descrição do
ambiente em que ocorrerá o conflito, marcado, sobretudo, pela imagem da seca. Interessante
salientar que o autor, embora trate de fatos trágicos, explora a plasticidade e o lirismo para
descrever a tragédia pessoal e social do conflito.
Fragmentos
“O planalto central do Brasil desce, nos litorais do Sul, em escarpas inteiriças, altas e
abruptas. Assoberba os mares; e desata-se em chapadões nivelados pelos visos das
cordilheiras marítimas, distendidas do Rio Grande a Minas. Mas ao derivar para as terras
setentrionais diminuiu gradualmente de altitude, ao mesmo tempo que descamba para a costa
oriental em andares, ou repetido socalcos, que o despem da primitiva grandeza afastando-o
consideravelmente para o interior."
2ª Parte - O Homem: nesta segunda parte, Euclides da Cunha define o homem daquele
ambiente, o sertanejo. Fruto de uma união de raças, o sertanejo é caracterizado inicialmente
como um homem inferior. Entretanto, o autor acaba revelando posteriormente que o homem
daquele meio se notabilizava pela força, apesar da aparência física. É também neste momento
da obra que o autor faz uma apresentação de Antônio Vicente Mendes Maciel, o Conselheiro, o
líder messiânico de Canudos.
Fragmentos
"A mistura de raças mui diversas é, na maioria dos casos, prejudicial, ante as conclusões
do evolucionismo, ainda quando reaja sobre o produto o influxo de uma raça superior,
despontam vivíssimos estigmas da inferior. A mestiçagem extremada é um retrocesso."
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"O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços
neurastênicos do litoral. A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o
contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das
organizações atléticas. É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no
aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gigante e
sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados. (...) Entretanto, toda esta aparência
de cansaço ilude. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das
energias adormidas. O homem transfigura-se. (..) E da figura vulgar do tabaréu canhestro,
reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num
desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias."
3ª Parte – A Luta: somente aqui que o autor menciona os fatos sucedidos em Canudos.
O autor revela o horror, o massacre ocorrido com a chegada da quarta expedição enviada para
controlar o conflito. Pontos marcantes são os que descrevem as mortes dos rebeldes. Nesta
terceira parte, a simpatia do autor para com o sertanejo e a ênfase em caracterizar a empresa
como um crime da nação ganham espaço.
Fragmentos
"Uma megera assustadora, bruxa rebarbativa e magra - a velha mais hedionda talvez
destes sertões – a única que alevantava a cabeça espalhando sobre os espectadores, como
faúlhas, olhares ameaçadores. (...). Tinha nos braços finos uma menina, neta, bisneta,
tataraneta talvez. E essa criança horrorizava. A sua face esquerda fora arrancada, havia
tempos por um estilhaço de granada; de sorte que os ossos dos maxilares se destacavam
alvíssimos, entre os bordos vermelhos da ferida já cicatrizada... A face direita sorria. E era
apavorante aquele riso Incompleto e doloríssimo aformoseando uma face e extinguindo-se
repentinamente na outra, no vácuo de um gilvaz. Aquela velha carregava a criação mais
monstruosa da campanha."
"Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a História resistiu até o esgotamento
completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao
entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro
apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente
cinco mil soldados."
LIMA BARRETO (1881-1922)
O carioca Lima Barreto foi muito criticado em seu tempo pelo fato de utilizar em sua obra
uma linguagem prosaica, coloquial, ao desmascarar os costumes sociais do subúrbio carioca de
então. Ganha espaço em sua produção a crítica aos poderosos, acadêmicos, burocratas, com a
criação de personagens caricaturizados, abordados de forma irônica. Sua obra é composta por
contos, crônicas, romances, crítica literária e ensaios.
78
ROMANCES
TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA
O romance Triste Fim de Policarpo Quaresma apresenta a trajetória de Policarpo
Quaresma, funcionário público nacionalista e apaixonado por cultura brasileira. Fruto desta
paixão, o autor acaba sendo preso, tido como louco. Após sair da prisão, Policarpo se entrega à
agricultura, mas isto torna-se mais uma decepção em sua vida - ele só alcança uma produção
ínfima e lucros minguados. Após o malogro das plantações, Policarpo Quaresma se engaja no
exército, devido ao inicio da Revolta da Armada, como Major. Entretanto, após o término da
Revolta da Armada, o personagem é designado como carcereiro dos revoltosos na Ilha das
Enxadas e lá presencia um oficial recolhendo alguns presos para serem executados.
Quaresma, então, se revolta com aquela cena e escreve uma carta-protesto, "com veemência,
com paixão, indignado ao presidente".
Na manhã seguinte. Quaresma é preso e condenado a morte sem maiores explicações.
Ele julga ser preso devido à carta que escrevera ao presidente, mas isto não fica claro. Após
sua prisão, sua utópica pátria desmorona, e o narrador faz uma análise da situação do
protagonista, um dos principais momentos do romance: "Iria morrer, quem sabe naquela noite
mesmo? E que tinha ele feito de sua vida? Nada. Levara ela atrás da miragem de estudar a
Pátria, por amá-la e querê-la muito, no intuito de contribuir para a sua felicidade e prosperidade.
Gastara a sua mocidade nisso, a sua virilidade também; e, agora que estava na velhice, como
ela o recompensava como ela o premiava como ela o condecorava? Matando-o. Policarpo
Quaresma será morto (cena não descrita na obra), condenado pela pátria que tanto tinha lhe
dado orgulho e que agora lhe dava a morte.
CONTOS
O HOMEM QUE SABIA JAVANÊS
Neste célebre conto, temos a trajetória de Castelo, um homem de origem humilde que
ascende socialmente após se auto-intitular professor de javanês. Sendo tão destacado
profissional das letras, Castelo ganha prestígio social e intelectual, tornando-se cônsul de
Havana por ser o professor de javanês. A ironia fica evidente a partir do fato de o autor criticar
os pseudo-intelectuais de seu tempo.
SIMÕES LOPES NETO (1865-1916)
O pelotense Simões Lopes Neto recria o mundo gaúcho em sua obra, reproduzindo os
valores deste povo e a fala do gaúcho do interior. Este tipo de linguagem faz com que o texto,
às vezes, tome-se de difícil compreensão, pois Simões utiliza termos e expressões
completamente distantes de nosso cotidiano urbano. Entretanto, apesar de se deter
79
exclusivamente no Rio Grande do Sul, o autor consegue explorar temas universais em seus
textos.
Sua primeira obra é Cancioneiro Guasca (1910), primeira tentativa de reunir as
manifestações poéticas orais do povo gaúcho, pois o autor coleta da memória coletiva do povo
a sua produção anônima. Casos do Romualdo (1952 - edição póstuma) apresenta um narrador
mentiroso/imaginativo que conta causos, exagerando sua narrativa. Inclusive, 'no prefácio da
obra, o autor que recebe os originais de Romualdo, adverte para que o próprio leitor, quando a
conversa amodorrar, tome-se um Romualdo e acrescente um ponto a cada conto.
Suas principais obras são Contos Gauchescos (1912) e Lendas do Sul (1913).
CONTOS GAUCHESCOS
Todos os contos de Contos Gauchescos são narrados por Blau Nunes, embora ele não
seja protagonista de todas as histórias. Visto sua idade, 88 anos, ele é um homem experiente,
tanto em relação ao Rio Grande do Sul quanto em relação à vida. Cabe salientar ainda que
este personagem nos é apresentado por um narrador anônimo, que o introduz ao leitor.
TREZENTAS ONÇAS
Cansado de longa cavalgada, Blau Nunes, que na época era tropeiro, para às margens
de um riacho para uma sesta, seguida de um mergulho para refrescar-se. Retomando o
caminho em direção à estância, acompanhado de um cão, o vaqueano estranha a maneira
irrequieta do animalzinho que parece tentar alertá-lo de algo.
Na chegada, ao cumprimentar o dono da estância, dá por falta da guaiaca que trazia
consigo, na qual trezentas onças de ouro do patrão estavam guardadas. Graças à inquietação
do animal, Blau Nunes lembra do lugar onde possivelmente esquecera a guaiaca. Ele, então,
decide retornar ao riacho no qual se banhara. Na saída, Blau cruza com tropeiros que chegam à
estância onde ele se achava. No primeiro instante; o personagem pensa em perguntar a eles se
não acharam as onças que perdera, mas acaba desistindo. De volta ao riacho, para sua
surpresa e desespero, Blau Nunes não encontra a guaiaca
Angustiado com a perspectiva de ver-se acusado de roubo pelo patrão, o tropeiro
encosta a pistola no ouvido para matar-se, mas ao reparar as estrelas refletidas na água do
riacho, lembra-se da família, da natureza e de Deus e decide voltar à estância. No caminho,
Blaun Nunes vê que não seria honrado para um homem cometer suicídio. Ao chegar de volta à
estância, ele é recebido pelos outros tropeiros e vê sua guaiaca ao lado da chaleira; "entonces,
que tal lê foi de susto?...." Rindo da situação, Blau Nunes olha o cão que, fiel, mantém-se
"arrolhadito" a seus pés.
JOGO DO OSSO
A vendola do Arranhão era ponto de encontro dos vaqueanos de toda a região. Como
ficasse afastada da vila, o proprietário promovia carreiras, dançarolas e sempre sobrava tempo
80
para um "tiro de taba" (expressão que designa o tradicional jogo do osso), que é caracterizado
no início do conto.
É neste ambiente que Osoro e Chico Ruivo jogam, tendo muito mais sorte o primeiro.
Após perder tudo o que tinha, Chico Ruivo acaba apostando sua companheira, Lalica, contra o
cavalo de Osoro. Perdida a parada, Chico Ruivo entrega a companheira que põe-se a dançar
com Osoro, provocando o antigo homem ao dar um beijo em seu novo companheiro.
Enciumado, Chico Ruivo "teve um estremeção e deu um urro entupido, arrancou do facão e
atirou o raço pra diante, numa cegueira de raiva, que só enxerga bem o que quer matar... (...)
Do mesmo talho, varou os dois corações, espetou-os no mesmo ferro, matou-os da mesma
morte."
O NEGRO BONIFÁCIO
Aqui, o narrador conta a história de Negro Bonifácio, "perdidaço pela cachaça e pelo
truco e pela taba", que um dia resolve ir na carreira que haveria entre os cavalos do major
Terêncio e do Nadico. Este último era um dos apaixonados pela "chinoca mais candongueira
que havia por aqueles pagos", Tudinha.
As apostas começaram, e Negro Bonifádo apostou uma libra de doces no cavalo do
major com Tudinha, que apostou na vitória do cavalo de Nadico.
Nadico ganha a corrida, e quando Bonifácio foi pagar a dívida a Tudinha, ela o destrata.
Bonifácio insiste, e Nadico se antecipa e atira-lhe o embrulho na cara. Ofendido, Negro
Bonifácio desceu do cavalo já puxando o facão. Apesar da suposta desvantagem, encarou a
briga de igual para igual: matou Nadico e "em quatro paletadas, desmunhecando uns, cortando
outros, esgravatando outros" se livrava de seus oponentes.
Entretanto, quando o negro se preparava para se defender com o facão de uma
boleadeira que estava prestes a ser arremessada, a mãe da Tudinha jogou em seu rosto uma
"chocolateira de água fervente que trazia na mão, do chimarrão que estava chupando... O negro
urrou como um touro na capa..." Mas o pior ainda estava por vir, pois o homem atirou a
boleadeira, acertando-lhe a cabeça e derrubando-o.
Narra, então, Blau Nunes: "Vi então o que é uma mulher rabiosa... (...)Tudinha saltou em
cima do Negro Bonifácio, tirou-lha da mão sem força o facão e vazou os olhos do negro,
retalhou-lhe a cara, de ponta e de corte... e por fim (...) ajoelhou-se ao lado corpo e pegando o
facão com quem finca uma estaca, tateou no negro sobre a bexiga, pra baixo um pouco - vancê
compreende?... - e uma, duas, dez, vinte, cinquenta vezes cravou o ferro afiado (...) como quem
quer reduzir a minagos uma prenda que foi querida e que na hora é odiada!... Mais tarde é que
vim a saber que o negro Bonifácio fora o primeiro a... a amanonsiar a Tudinha."
LENDAS DO SUL
O NEGRINHO DO PASTOREIO
A BOITATA
A SALAMANCA DO JARAU
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MONTEIRO LOBATO (1882-1948)
Monteiro Lobato sempre foi um homem polêmico e de vanguarda, mas, mesmo assim,
não conseguiu aceitar as inovações surgidas com os autores modernos de seu tempo, prova
disso é o artigo em que critica a exposição de Anita Malfatti (um dos antecedentes do
Modernismo), Paranóia ou Mistificação.
Paulista, Monteiro Lobato centrou-se na recriação do mundo e do homem do interior
paulista, sendo Jeca Tatu o seu mais célebre personagem. Autêntico representante deste
mundo, Jeca Tatu será protagonista dois contos de Urupês (1918), primeira obra da literatura
adulta publicada. São ainda obras da sua literatura adulta Cidades mortas (1919) e Negrinha
(1920), ambos de contos. Cabe ainda salientar a sua produção infantil, com as célebres
histórias do Sítio do Pica Pau Amarelo.
URUPÊS
Já em Urupês, Monteiro Lobato constrói a figura do caboclo, personificada na imagem
de Jeca Tatu, símbolo do brasileiro interiorano.
E neste artigo, Monteiro Lobato descreve os hábitos e características deste
representante, começando por sua passividade: "nada o esperta. Nenhuma ferrotoada o põe de
pé. Social como individualmente a sua atitude é essa. Para todos os atos da sua vida, Jeca,
antes de agir, acocora-se."
Sobre os hábitos deste caboclo, a maior característica deste é a preguiça: "seu grande
cuidado é espremer as consequências do menor esforço, e nisto vai longe. Começa a aplicação
da lei na moradia. Sua casa de sapé lama faz rir aos bichos que moram em toca e gargalhar ao
João de Barro. (...) Mobília nenhuma. (...) Nenhum talher. Não é a munheca um talher completo,
colher, garfo e faca a um tempo? (...). Nada paga a pena. Nem culturas, nem comodidades. De
todo o jeito se vive."
A inocência também é uma constante nele, pois "vota. Não sabe em quem, mas vota."
Sua cultura, inclusive, apresenta a precariedade de sua existência, visto que "na arte?
Nada."; e na medicina, "doenças haja que remédios não faltam. Para bronquite, é um porrete
cuspir o doente na boca de um peixe vivo e soltá-lo: o mal se vai com ele água abaixo. (...) Num
parto difícil nada tão eficaz como engolir três caroços de feijão mouro, de passo que a
parturiente veste pelo avesso a camisa do marido e põe na cabeça o seu chapéu também pelo
avesso.
Entretanto, após caracterizar o personagem típico do interior paulista como um urupê,
Monteiro Lobato ressalta o contraste entre ele e o ambiente cheio de vida que o cerca: "Só ele
não fala, não canta, não ri, não ama. Só ele, no meio de tanta vida, não vive."
82
AUGUSTO DOS ANJOS (1884-1914)
O poeta Augusto dos Anjos se notabiliza pela junção de diferentes elementos e/ou
características em seus poemas: parnasiano, simbolista, pré-moderno e modernista.
O crítico Alfredo Bosi assim comenta sobre a poesia do autor: "Augusto dos Anjos canta
a miséria da carne em putrefação. Para o poeta do Eu, as forças da matéria, que pulsam em
todos os seres e em particular no homem, conduzem ao Mal e ao Nada, através de uma
destruição implacável; ele é o espectador em agonia desse processo degenerescente cujo
símbolo é o verme."
A marca do pessimismo e o uso de termos científicos também é um ponto saliente na
obra de Augusto dos Anjos.
VERSOS ÍNTIMOS
Necessidade de também ser fera.
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
Enterro da tua última quimera.
Semente a Ingratidão - essa pantera Foi tua companheira inseparável!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena tua chaga,
Acostuma-te à lama que te espera!
O homem que, nesta terra miserável.
Mora entre feras, sente inevitável
PSICOLOGIA DE UM VENCIDO
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro desde a epigênese da infância
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme - este operário das ruínas Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra
A influência má dos signos do zodíaco
Profundissimamente hipocondríaco
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me a boa uma ânsia análoga à ânsia
Anda a espreitar os meus olhos para roelos,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
GRAÇA ARANHA (1868-1931)
Nascido em São Luís, no Maranhão, Graça Aranha estudou direito em Recife, foi juiz
no Espírito Santo e, mais tarde, ingressou na vida diplomática.
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No período que viveu no Espírito Santo, observando os contrastes culturais entre os
imigrantes alemães e a população local, colheu material para escrever sobra mais conhecida,
Canaã (terra prometida)
Canaã
Tem como palco p Porto do Cachoeiro, no Espírito Santo, onde o autor fora juiz. Os
imigrantes alemães, Milkau é Lentz, que muito se estimam, defendem teses opostas: o primeiro
prega a paz, a igualdade e a harmonia entre os homens e o segundo defende a superioridade
da raça ariana. O romance continua com a prisão de Maria, acusada de infanticídio. Maria tinha
sido expulsa de casa por ser mãe solteira e dera à luz em tal abandono, que os porcos lhe
devoraram a criança. Milkau salva-a e buscam ambos Canaã, onde não haveria maldade, mas
só amor.
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EXERCÍCIOS
Leia o poema a seguir para responder às questões de l a 5.
Inania verba
Que, perfume e clarão, refulgia e voava.
Ah! quem há de exprimir, alma impotente e
escrava,
O que a boca não diz, o que a mão não
escreve?
Quem o molde achará para a expressão de
tudo?
Ai! quem há de dizer as ânsias infinitas
Do sonho? e o céu que foge à mão que se
- Ardes, sangras, pregada à tua cruz, e, em
breve,
Olhas, desfeito em lodo, o que te
deslumbrava...
levanta?
O Pensamento ferve, e é um turbilhão de
lava:
A Forma, fria e espessa, é um sepulcro de
neve...
E a Palavra pesada abafa a ideia leve,
E as confissões de amor que morrem na
garganta?
E a ira muda? e o asco mudo? e o
desespero mudo?
E as palavras de fé que nunca foram ditas?
(BILAC, Olavo. Poesia)
1) Qual é o tema do poema transcrito?
...............................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
2) São utilizadas, no poema, algumas metáforas.
a) Quais são as metáforas utilizadas para caracterizar o Pensamento e a Forma?
...............................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
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b) Qual é o sentido dessas metáforas?
...............................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
3) Esse poema pertence ao Parnasianismo. Que elementos presentes permitem essa
classificação?
...............................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
4) Se podemos classificar o texto como parnasiano, também encontramos traços que o
distanciam desse movimento. Que traços são esses?
...............................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
5) Os elementos enumerados na questão anterior aproximam o poema de que movimento
literário?
...............................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
2 - Texto para as questões de 1 a 4
Dilacerações
(CRUZ E SOUSA. Obra completa de Cruz e Sousa.)
Ó carnes que eu amei sangrentamente,
Ó volúpias letais e dolorosas,
Essências de heliotropos e de rosas
De essência morna, tropical, dolente...
Carnes virgens e tépidas do Oriente
Do Sonho e das Estrelas fabulosas,
Carnes acerbas e maravilhosas,
Tentadoras do sol intensamente...
Passai, dilaceradas pelos zelos,
Através dos profundos pesadelos
Que me apunhalam de mortais horrores...
Passai, passai, desfeitas em tormentos,
Em lágrimas, em prantos, em lamentos
Em ais, em luto, em convulsões, em dores...
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1) O poema transcrito apresenta uma associação bastante comum na poesia simbolista:
amor sensual e morte. Cite algumas palavras ou expressões que estariam associadas ao
amor, e algumas ligadas à morte.
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.........................................................................................................................................
2) O gosto pelo exotismo também marca a poesia simbolista. Em que passagem do texto
essa afirmação se comprova?
....................................................................................................................................................
.........................................................................................................................................
3) Além dos traços já apontados anteriormente, que outras características simbolistas podem
ser identificadas no poema?
....................................................................................................................................................
.........................................................................................................................................
4) Em termos estruturais, o poema pode ser dividido em duas partes. Quais são elas e em
que consistem?
....................................................................................................................................................
.........................................................................................................................................
3 - Texto para as questões 1 a 3
Todas as crenças ingênuas, do fetichismo bárbaro às .aberrações católicas, todas as
tendências impulsivas das raças inferiores, livremente exercitadas na indisciplina da vida sertaneja
se condensaram no seu misticismo feroz e extravagante. Ele foi, simultaneamente, o elemento
ativo e passivo da agitação que surgiu."
(CUNHA, Euclides da. Os sertões.)
1) Os sertões, de Euclides da Cunha, é uma obra pré- modernista. Apesar de apresentar inovações
que antecipam o Modernismo, de alguma forma ainda se vincula às tendências do século XIX.
a) Como se divide a obra da qual foi extraído esse trecho?
....................................................................................................................................................
.........................................................................................................................................
b) Que visão de mundo, característica do século XIX, Euclides da Cunha utiliza para
desenvolver a análise que faz da Guerra dos Canudos? Que expressão presente no texto poderia
comprovar sua resposta?
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c) Qual é a relação entre a divisão do livro e a tendência respondida em b?
....................................................................................................................................................
.........................................................................................................................................
2) Ainda sobre o fragmento de Os sertões, responda:
a) A que personagem central do conflito o trecho se refere?
....................................................................................................................................................
.........................................................................................................................................
b) Por que se afirma que essa personagem foi o "elemento ativo e passivo" do conflito?
....................................................................................................................................................
.........................................................................................................................................
3) Os sertões apresentou grande inovação na forma de abordar o tema regionalista. Como e em
que movimento literário esse tema foi abordado antes? Qual é a inovação de Euclides da Cunha?
....................................................................................................................................................
.........................................................................................................................................
MODERNISMO
Antecedentes:
Importantes acontecimentos no âmbito mundial influenciaram uma mudança na Arte. As
inovações tecnológicas (automóvel, avião, telefone) imprimiram um ritmo mais intenso na
sociedade; os conflitos (a Revolução Russa, a Primeira Guerra Mundial) fizeram com que o
homem se questionasse sobre o papel da Arte e o seu próprio papel naquele tempo. É nesse
contexto que surgirão os principais movimentos de vanguarda na Europa: Futurismo, Dadaísmo,
Expressionismo, Surrealismo e Cubismo.
Esta nova visão sobre a Arte influenciou alguns acontecimentos que precedem o início do
Modernismo brasileiro e refletem as influência das vanguardas e dos acontecimentos políticosociais internos: o Tenentismo, a Coluna Prestes, a desvalorização do café, a Revolução de 30, o
Estado Novo.
Semana da Arte Moderna:
A Semana de Arte Moderna marcou o início do Modernismo no Brasil. Ocorrida em 13,15, 17
de fevereiro de 1922, os artistas participantes procuravam incorporar à nossa realidade as
tendências e conquista obtidas pelos artistas na Europa. Durante os três dias ocorreram palestras,
concertos e declamações de poesia, dança e música.
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Os principais representantes foram:
- Literatura: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Graça Aranha, Manuel Bandeira,
Ronald de Carvalho, Menotti del Picchia;
- Música: Villa-Lobos, Ernani Braga;
- Artes plásticas: Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral.
Nesta época foram fundadas revistas e manifestos no intuito de propagar e consolidar a Arte
Moderna:
Revistas: Klaxon (SP 1922), Estética (1924), Terra Roxa e Outras Terras (1926), Verde
(1927). A Revista (MG), Festa (RJ)
Manifestos: Pau Brasil (1924), Verde Amarelismo e Escola da Anta (1926- 1930)
Antropofagia (1928 ). Verde-Amarelo (1924).
MODERNISMO de 1922 - 1930 - Fase de destruição e experimentação.
Características:
- Linguagem fragmentada, cinematográfica: procura captar diferentes planos da realidade,
como se houvesse "colagem" de vários recortes dela. Uso da linguagem coloquial.
- Rompimento com a gramática tradicional: desprezando o rigor das regras gramaticais,
busca frases curtas, suprimindo termos desnecessários como adjetivação abundante.
- Busca da expressão nacional: nacionalismo crítico, valorização da cultura popular e das
lendas nacionais. Usando a língua falada pelo povo brasileiro.
- Valorização do verso livre e branco: sem rima e sem métrica.
- Temas extraídos do cotidiano: os modernistas acreditam que a arte pode ser das coisas
simples da vida.
- Ironia, humor, piada, paródia: os modernistas procuram ser críticos e bem-humorados.
Zombam da arte tradicional.
- Urbanismo: apreciam os temas relacionados à cidade e suas modernidades.
OSWALD DE ANDRADE (1890-1954)
Nascido em São Paulo, de origem abastada, Oswald de Andrade pôde viajar diversas vezes
à Europa, fazendo com que ele entrasse em contato com as vanguardas europeias. O autor criou
uma poesia em que a linguagem falada, fragmentada e cotidiana ganha espaço, rompendo com a
gramática tradicional, e também explorando a paródia em poemas curtos. Já em sua prosa, a fusão
88
entre a Prosa e a Poesia, os capítulos brevíssimos e a colagem de fragmentos desconexos, são
pontos presentes.
- POESIA
ERRO DE PORTUGUÊS
Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.
CANTO DE REGRESSO À PÁTRIA
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo.
PRONOMINAIS
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
89
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
- PROSA
ROMANCE:
MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE JOÃO MIRAMAR
A história, narrada de forma fragmentada, apresenta a trajetória de um pequeno burguês, o
próprio João Miramar, no início do século XX. João Miramar relembra suas aventuras amorosas,
as viagens a Europa, o namoro com a prima Célia.
A vida de casado, inicialmente, foi satisfatória para Miramar: a boa convivência com a família
de Célia, as idas aos cabarés, o nascimento de Céliazinha. Entretanto, uma antiga amante viaja
para o Brasil, e eles reiniciam o caso, que consome o patrimônio de Miramar, que se tornara
descuidado com a família. O personagem enfrenta a falência, o divórcio solicitado pela esposa.
João Miramar se recusa a continuar a história, e a obra acaba.
MÁRIO DE ANDRADE (1893-1945)
Paulista, Mário de Andrade foi, além de escritor, também professor de Piano, de História e
Filosofia da Arte. É dele a primeira obra moderna, Paulicéia Desvairada, de 1922, além de outras
importantes obras (contos, romances, poesia, crítica literária/artes plásticas. Sua poesia explora a
multifacetada São Paulo (imagem do arlequim), o cotidiano, o Tietê, o Largo do Arouche, através
de poemas escritos com versos livres e brancos, com uma linguagem fragmentada. A obra mais
importante de sua prosa é o clássico Macunaíma, o herói sem nenhum caráter.
- POESIA ODE AO BURGUÊS
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
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O homem que sendo francês, brasileiro, italiano
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco! (...)
Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiburi!
Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!
"— Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
- Um colar... - Conto e quinhentos !!!
Más nós morremos de fome!"
Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! Oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares! (...)
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fu! Fora o bom burguês!...
- ROMANCE MACUNAÍMA - O HERÓI SEM NENHUM CARÁTER
Temos nesta obra as aventuras do índio tapanhuma Macunaíma que tenta reaver o amuleto
que recebera de Ci, sua esposa, mãe do mato, rainha das Icamiabas, que era uma tribo de
amazonas. O índio perdeu o amuleto, indo este parar nas mãos do gigante Venceslau Pietro PieTra
- quem revelou o paradeiro do amuleto foi um uirapuru mandado pelo Negrinho do Pastoreio. O
gigante morava em São Paulo, e para lá foram Macunaíma e seus irmãos, Maanape e Jiguê.
No caminho, os irmãos encontram uma poça de água formada pelo pé de São Tomé.
Macunaíma se banha e se torna louro de olho azul; Jiguê se banha e fica avermelhado; Maanape
consegue só molhar a sola do pé e a palma da mão, que ficam brancas.
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No primeiro encontro, Macunaíma é morto pelo gigante e transformado em torresmo para ser
comido, mas os irmãos, com a ajuda de uma formiga e de um carrapato, conseguem fazer
Macunaíma reviver.
Venceslau, que na verdade era Piaimã, o comedor de gente, parte para a Europa, e,
enquanto isso, Macunaíma percorre o Brasil. Com a volta do gigante, Macunaíma vai até sua casa
e o atira dentro de um caldeirão de água fervente, matando-o. De posse da Muiraquitã, Macunaíma
retorna para a sua tribo.
Entretanto, um dia, enquanto nadava, Macunaíma é atacado por piranhas que comem seus
lábios, fazendo com o amuleto, que Macunaíma guardava na boca, fosse perdido. Cansado de
viver, Macunaíma se transforma na constelação Ursa Maior.
A sátira ao vocabulário apurado é explícita no capítulo "Carta pras Icamiabas", em que ele
escreve para sua tribo para que lhe mandassem mais dinheiro (bagos de cacau) pois ele gastara
todo o que trouxera com as donas de São Paulo.
POESIA MODERNA
MANUEL BANDEIRA (1886-1968)
Nascido em Recife, Manuel Bandeira sofreu durante longo período de sua vida devido à
tuberculose, fato que pode ter influenciado a sua poesia altamente melancólica, em que a felicidade
é encontrada em mundos maravilhosos. Uma marca reconhecida de sua poesia é a exploração de
temas cotidianos através de uma linguagem prosaica, em que o verso livre e branco ganha
destaque. Apesar de suas obras iniciais terem traços simbolistas, ele é autor de diversos clássicos
da poesia moderna, como Libertinagem (1930) e Estrela da manhã (1936), dentre outros.
PNEUMOTÓRAX
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse,tosse,tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três . .. trinta e três . .. trinta e três ...
— Respire.
..........................................................................................................
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
92
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada (...)
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
'
93
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
POÉTICA
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto
expediente protocolo e manifestações de apreço
ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no
dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas (...)
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
Modernismo de 1930 - 1945 fase da construção
A ficção brasileira, a partir da década de 30, volta-se para questões sociais (seca) devido a
diversos acontecimentos que mudaram o mundo: a queda da bolsa de Nova York, a falência dos
meio rural (café), a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, o Partido Comunista no Brasil.
Características:
- Verossimilhança: que pode ser verdadeiro.
- Linguagem coloquial: o uso da linguagem oral, pelos brasileirismos e pela renovação
sintática.
- Linearidade cronológica: com início, meio e fim.
- Análise psicológica: sondagem do inconsciente.
- Predominância do mundo agrário: relativa ao campo, à agricultura.
- Questões sociais: seca do Nordeste, urbanização do Sul.
A poesia apresenta uma variação de temas: temática religiosa cristã, a denúncia social, o
lirismo amoroso, a indagação existencial e metafísica (da verdade, do conhecimento), o amor
herdado da primeira fase, assim como imagens inconscientes de inspiração surrealista.
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A primeira obra deste novo ciclo da literatura é o romance A Bagaceira, de José Américo
de Almeida, publicado em 1928. Diversos autores seguirão este modelo de literatura, podendo ser
destacados, dentre outros, Jorge Amado, José Lins do Rego, Eriço Veríssimo, Graciliano Ramos e
Rachel de Queiroz.
- PROSA GRACILIANO RAMOS (1892-1953)
O alagoense Graciliano Ramos iniciou sua trajetória literária aos quarenta anos de idade,
com a publicação de Caetés, em 1933. Político e escritor, o autor foi acusado de subversivo e
preso durante o Estado Novo. Graciliano Ramos, então, permaneceu 11 meses preso sem direito a
defesa. A partir desta experiência, o autor escreveu a obra Memórias do Cárcere, em que ele
revela os horrores vividos na prisão.
Traços marcantes em sua obra é a linguagem despojada, precisa; a sintonia entre o meio e
os personagens e a universalidade dos temas tratados em seus textos.
SÃO BERNARDO
O romance São Bernardo apresenta a trajetória de Paulo Honório, marcada pela busca da
ascensão material. Sem instrução formal, mas com um tato especial para os negócios, Paulo
Honório acabou tomando a fazenda São Bernardo, após diversos empréstimos ao seu dono, Luís
Padilha.
Paulo Honório tinha um comportamento tipicamente capitalista, sempre procurando obter
lucro sobre os negócios e as pessoas. E é pensando nas suas propriedades que o personagem
decide casar, pois, assim, ele teria um herdeiro. O personagem-narrador se casa com a professora
Madalena, mulher de tendências socialistas. Visto serem de mundos tão distintos, Paulo Honório é
acometido por um ciúme doentio pela esposa, apesar de ter tido um filho com ela. A pressão é tão
intensa que a mulher acaba cometendo suicídio, o que causa saudades e um imenso vazio no
personagem.
No final do romance, devido à Revolução de 30, os vizinhos contestam as invasões das
terras, os seus empregados o abandonam, e Paulo Honório acaba desistindo do trabalho.
VIDAS SECAS
Este romance apresenta a trajetória do retirante Fabiano e de sua família, Sinha Vitória, os
dois meninos (o mais velho e o mais novo) e a cachorra Baleia. A família chega a uma fazenda
abandonada e lá se estabelece.
95
Fabiano é símbolo de passividade, além de não entender a lógica do mundo que o cercava,
não conseguindo compreender os juros cobrados pelo patrão, tampouco a linguagem utilizada por
Seu Tomás da Bolandeira.
Sinha Vitória sonhava com a possibilidade de ter uma cama com lastro de couro, o que para
ela significaria a felicidade. Esta perspectiva reduzida de mundo é a mesma que marcará a vida
dos dois meninos, em que a companhia da cachorra Baleia parecia amenizar a desgraça de suas
vidas. Interessante lembrar que a cachorra Balela acaba sendo morta por Fabiano por este
suspeitar que a cachorra estivesse com raiva.
A história finaliza com a chegada de uma nova seca e a partida da família em nova retirada,
cumprindo a sua sina, assim como o sertão continuaria a sua. “E o sertão continuaria a mandar
gente para lá. “O sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos, como Fabiano, sinha Vitória
e os dois meninos.”
JORGE AMADO (1912-2001)
Nascido na Bahia (que também será palco de sua obra), Jorge Amado apresenta uma obra
dividida em duas fases:
> Primeira Fase:
- Ênfase em personagens marginais.
- Romance proletário
- Questões político-sociais
- Zona cacaueira e urbana da Bahia
> Segunda Fase:
- Ironia
- Folclore e cultura afro-brasileiro
- Sensualidade
TERRAS DO SEM FIM
O romance Terras do Sem Fim apresenta a disputa pelas matas do Sequeiro Grande por
dois grupos, a família Badaró e o grupo representado pelo cel. Horácio da Silveira. As matas não
possuíam dono, e aquele que as possuísse acabaria se tornando o homem mais poderoso da
região; e para tanto, os inimigos não mediam esforços.
A família Badaró era representada principalmente pelos irmãos Juca e Sinhô. Badaró. Juca
acaba sendo assassinado a mando de Horácio da Silveira, e, embora fosse esta a expectativa
criada, a reação do Sinhô Badaró não foi violenta: ele resolve processar judicialmente Horácio
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como mandante do crime. Entretanto, Horácio acaba sendo inocentado da morte e acaba tomando
a posse das férteis terras.
DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS
Nesta obra temos a história de Flor, mulher atraente que acabou se casando com o bom
vivant Vadinho, após ele conquistar a menina e sua mãe, D. Rozilda, dizendo que era um homem
de respeito e posses. Após o casamento, já era tarde para a situação ser alterada, apesar da
desilusão de sua sogra. E este casamento não se mostrava como uma verdadeira maravilha, pois
Vadinho não conseguia se afastar de sua boemia. Mas mesmo assim, o amor de Flor pelo marido
permanece o mesmo. Porém, num domingo de carnaval, Vadinho morre, após ter bebido durante
dias seguidos.
Visto ser uma bela mulher, Flor passa a ser assediada por diversos homens. Dentre eles, um
acaba conquistando o seu coração, Teodoro. Ele era um farmacêutico responsável, metódico, fiel e
dedicado à esposa - exatamente o contrário de Vadinho.
É neste momento que o espírito de Vadinho acaba retornando para saciar as carências de
Flor, complementando aquilo que Teodoro não poderia lhe dar. De certa forma, os dois homens na
vida de Flor acabavam se complementando e completando-a.
JOSÉ LINS DO REGO (1901-1957)
O autor José Lins do Rego apresenta sua obra dividida em 3 grupos temáticos:
 Ciclo da Cana-de-açúcar
 Cangaço e misticismo
 Temas diversos
Dentre estes 3 grupos, o mais importante é o ciclo da cana-de-açúcar, que apresenta o
mundo do engenho em plena decadência, dando espaço para a usina. Ainda sobre este ciclo, é
importante lembrar que o memorialismo e a decadência psíquica são resultantes da decadência
material da região.
O personagem Carlos de Melo é o protagonista dos três primeiros romances do autor,
apresentando o mundo do engenho Santa Rosa. Em Menino de Engenho (1932), temos a infância
de Carlos de Melo no engenho do avô, José Paulino. O menino vive a proteção, mas já entra em
contato com as diferenças sociais, ao presenciar o tratamento dado ao escravo, por exemplo. O
romance acaba com a ida do menino para o colégio interno. Esta experiência é colocada em
Doidinho (1933), nome devido ao apelido de Carlos no colégio. A última parte da trilogia, Bangüê
(1934) apresenta o personagem já formado e de volta ao engenho na tentativa de reerguê-lo.
Entretanto, isto já era impossível, e o engenho acaba sendo comprado pela usina São Félix.
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FOGO MORTO
Considerada a principal obra deste ciclo. Fogo Morto é dividido em três partes, cada qual
dando ênfase a um habitante do mundo do engenho Santa Fé.
A primeira parte, O mestre José Amaro, enfatiza a trajetória de José Amaro, seleiro que fora
expulso do engenho Santa Fé e que vivia uma vida amargurada, devido ao casamento frustrado e à
filha com problemas mentais. Após ser preso por simpatizar com a luta do cangaceiro Antônio
Silvino, mestre Amaro comete suicídio.
A segunda parte, O engenho do seu Lula, apresenta a história da construção do engenho
Santa Fé. Erguido por Seu Tomás de Melo, o engenho passou a ser administrado por seu genro,
Lula de Holanda Chacon. E é sob a sua administração que o engenho vai à falência. Mas apesar
de estar falido, Lula ainda nutre símbolos do status, da posição social, que perdera, andando em
seu cabriolet estropiado, mantendo o piano na casa-grande e tratando as pessoas humildes com
desprezo.
Finalmente, na terceira parte, O capitão Vitorino, temos a trajetória do capitão Vitorino,
homem que sonhava com a mudança dos tempos injustos, com a chegada de um mundo ideal,
numa espécie de recriação do idealista personagem Dom Quixote.
RACHEL DE QUEIROZ (1910-2003)
Nasceu em Fortaleza, formando-se no Curso Normal. Publicou O Quinze em 1930. Filiada
ao partido comunista, foi presa pelo Estado Novo, em 1937. Mais tarde abandonou as idéias de
esquerda. Suas mudanças ideológicas estão expressas nas suas obras. Em O quinze e João
Miguel (1932), a preocupação social é marcante, atingindo a máxima consciência política em
Caminho de Pedras (1937). A partir daí a autora prefere a análise psicológica, muito clara em As
três Marias (1939). Publicou também Dora, Doralina (1975) e Memorial de Maria Moura ( 1992 ).
'O QUINZE'
Drama da grande seca de 1915 (CE). Chico Bento e sua família enfrentam os horrores
da seca ao se retirarem do sertão, sofrendo um processo de degradação em busca de uma vida
melhor.
ÉRICO VERÍSSIMO (1905-1975)
Érico Veríssimo trabalhou como bancário, dono de farmácia, jornalista, tradutor e revisor,
antes de iniciar sua extensa carreira literária. Sua obra é dividida em duas fases, em que diferentes
aspectos acabam ganhando destaque.
 Primeira Fase:
- Predomínio do espaço urbano - Porto Alegre
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- Crítica aos valores burgueses/sociais
- Questionamentos humanos/existenciais

Segunda Fase:
- Romance de tendências históricas
- Linguagem urbana culta
- Construção de RS
OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO
Olhai os Lírios do Campo é dividido em duas partes. Na primeira, o personagem Eugênio
se dirige ao hospital para visitar sua ex-namorada Olívia. Durante o trajeto, o personagem, através
de flashbacks, vai retomando sua vida: de origem humilde, tinha o desejo de ascender socialmente,
o que acontece com o ingresso na faculdade de Medicina, onde conhece Olívia. Entretanto, o
casamento de Eugênio ocorre com a rica Eunice, mulher que não ama, mas que lhe propiciaria a
sonhada ascensão social. Mais tarde, ele descobre que tivera uma filha com Olívia, Ana Maria.
Na segunda parte, Eugênio chega ao hospital e descobre que Olívia havia morrido. O
personagem passa a reavaliar a sua situação e acaba se separando de sua esposa, indo morar
com a filha e voltando a clinicar para os pobres.
O TEMPO E O VENTO
A obra O tempo e o vento é composta por três partes: O continente, O Retrato e O
Arquipélago, apresentando um retrato fiel do Rio Grande do Sul e do Brasil entre os anos de 1745 e
1945.
A primeira parte, O Continente apresenta a solidificação do Estado do Rio Grande do Sul,
indo de 1745 até 1895, dando destaque às famílias Terra e Cambará. As famílias se unem com o
envolvimento entre Capitão Rodrigo Cambará e Bibiana Terra, e estes terão como inimigos durante
os conflitos de nossa História na cidade de Santa Fé a família Amaral.
O Retrato focaliza o período entre 1909 e 1914, dando ênfase ao personagem Rodrigo Terra
Cambará, médico, filho de Licurgo e bisneto de Capitão Rodrigo, que chega do Rio de Janeiro a
Santa Fé com ideias revolucionárias no campo da política.
O Arquipélago dá continuidade à trajetória do médico Rodrigo, que se encontra prestes a
morrer em 1945. Importante papel terá o seu filho Floriano, escritor que prepara um romance em
que seria narrada a história de sua família. Ou o próprio O Tempo e o Vento.
99
INCIDENTE EM ANTARES
Este romance apresenta o surgimento e consolidação da cidade fictícia de Antares, na
região da fronteira gaúcha, paralelamente aos principais fatos históricos do Rio Grande do Sul e
Brasil. A obra é dividida em duas partes: Antares e O Incidente.
Em Antares, temos a criação da cidade e a luta por duas famílias pelo do poder na cidade;
os Vacariano e os Campolargo. As briqas passam de geração a geração, chegando a um acordo
quando ocorre a candidatura de Getúlio Vargas, que pede apoio às duas famílias.
A segunda parte, O Incidente, se passa já nos anos 60, com a deflagração de uma greve
geral na cidade. Neste exato dia, sete pessoas acabam morrendo: D. Quitéria Campolargo, Cícero
Branco, Barcelona, Pudim de Cachaça, Erotildes, Menandro e João Paz. Devido à greve na cidade,
os mortos não são sepultados e, para surpresa de todos, voltam para a cidade exigindo o
sepultamento. Enquanto a greve não acaba, os mortos revelam os segredos da cidade,
desvendando tudo que até então era proibido de ser comentado.
Com o fim da greve e o sepultamento dos mortos, Antares começa a voltar ao normal, e,
poucos anos depois, ninguém mais lembrava do ocorrido.
CYRO MARTINS (1908-1995)
O escritor gaúcho é reconhecido por apresentar o mundo do gaúcho desvalido, criando a
Trilogia do Gaúcho a Pé, composta pelos romances Sem Rumo (1937), Porteira Fechada (1944) e
Estrada Nova (1954).
DYONÉLIO MACHADO (1895-1985)
O autor gaúcho tem como principal obra o romance Os ratos (1935), que trata da trajetória
de Naziazeno Barbosa, homem que tem que conseguir dinheiro para pagar o leiteiro, que ameaça
cortar o fornecimento.
- POESIA CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (1902-1987)
O mineiro de Itabira, Carlos Drummond de Andrade, viveu os principais acontecimentos de
seu tempo, e isto tem um reflexo direto em sua poesia. O Tempo, sob diferentes formas, é ponto
importante em suas poesias, que versam sobre o seu passado, o papel da poesia (metapoesia), o
homem do seu tempo, o contexto histórico. O gauchismo (da palavra gaúcha gauche - francês:
torto, esquerdo), ou o desajuste entre o homem e o mundo também é uma imagem marcante, além
100
da ironia e do amor. Suas principais obras são: Alguma poesia (1930), Sentimento do mundo
(1940) e A rosa do povo (1945).
QUADRILHA
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernand
que não tinha entrado na história.
ÁPORO
Um inseto cava
Cava sem alarme
Perfurando a terra
Sem achar escape.
Que fazer, exausto,
Em país bloqueado,
Enlace de noite
Raiz e minério?
Eis que o labirinto
(oh razão, mistério)
Presto se desata:
Em verde, sozinha,
Antieuclidiana,
Uma orquídea forma-se.
NO MEIO DO CAMINHO TINHA UMA PEDRA
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei deste acontecimento
101
Na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.
JOSÉ
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
,
que zomba dos outros
Você que faz versos
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
102
MÁRIO QUINTANA (1906-1994)
O poeta Mário Quintana é reconhecido por criar uma poesia melancólica, com imagens
ingênuas, em que a penumbra é constantemente presente, assim m como a morte e a tristeza. O
soneto foi uma forma bastante utilizada pelo poeta, que também abordou em seus poemas Porto
Alegre, a infância, a ironia sobre a vida, tudo através de uma linguagem coloquial. Vale ainda
lembrar dos pequenos poemas em prosa. Suas principais obras são: Rua dos Cataventos (1940),
Sapato Florido (1948), Espelho Mágico (1950) e Caderno H (1973).
O MAPA
Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...
(E nem que fosse o meu corpo!)
Sinto uma dor infinita,
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...
Há tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Há tanta moca bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)
Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso...
103
A RUA DOS CATAVENTOS
Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.
Hoje, dos meus cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.
Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arrancar a luz sagrada!
Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!
CECÍLIA MEIRELES (1901-1964)
A obra da carioca Cecília Meireles se notabiliza pela forte herança simbolista (sugestão e a
musicalidade são pontos presentes) e pelo teor melancólico. A passagem do tempo e conseqüente
fugacidade da vida, associada à ideia de solidão também são elementos marcantes em sua obra.
Sua obra mais conhecida é Romanceiro da Inconfidência, conjunto de 85 romances
(pequeno poema em prosa de origem medieval) em que a autora explora a Inconfidência Mineira e
todos os personagens históricos envolvidos. O tom da obra é de indignação frente às
arbitrariedades da Coroa em relação à colônia, frente à traição de Joaquim Silvério; e de simpatia
para com os inconfidentes, tendo destaque a figura de Tiradentes. Também estão presentes na
obra os poetas árcades Silva Alvarenga, Cláudio Manuel da Costa e Tomás António Gonzaga,
recebendo este último uma abordagem mais detalhada, sendo apresentada a sua relação com
Maria Dorotéia, a sua prisão e o posterior exílio, seguido da união com Juliana de Mascarenhas em
Moçambique e o sofrimento de sua Marília.
104
ACEITAÇÃO
É mais fácil pousar o ouvido nas nuvens
e sentir passar as estrelas
do que prendê-lo à terra e alcançar o rumor dos teus passos.
É mais fácil, também, debruçar os olhos no oceano
e assistir, lá no fundo, ao nascimento mudo das formas,
que desejar que apareças, criando com teu simples gesto
o sinal de uma eterna esperança.
Não me interessam mais nem as estrelas, nem as formas do mar, nem tu
Desenrolei de dentro do tempo a minha canção:
não tenho inveja às cigarras: também vou morrer de cantar.
(In Norma Goldstein & Rita C. Barbosa.- Cecília Meireles Literatura Comentada. São Paulo: Abril, 1982.
Leia, agora, um fragmento do “Romance LXXVII ou Da arrematação dos bens do Alferes”,
que narra o leilão dos bens deixados por Tiradentes
Arrematai o machinho
castanho rosilho! Custa
10 mil réis: o que o algebrista
lhe pôs na avaliação.
Ai! corta rios e espinhos,
e já nada mais o assusta:
Só ele sabe o que leva
na sua imaginação. [...]
Arrematai, juntamente,
esta bolsinha dos ferros:
por menos de três cruzados,
ficareis tendo a ilusão
de, por entre escuma e berro,
arrancar os duros dentes
a qualquer monstro execrando
ou peçonhento dragão!
105
Arrematai, sobretudo,
este pobre canivete.
São 30 réis, 30, apenas...
E com que satisfação
aparareis vossa pena!
Quem sabe em que papéis mudos
ela, a correr, interprete
esta vã conspiração.
E este espelho, surpreendido
por não sentir mais a cara
de entusiasmo, dor e espanto
daquele homem de paixão?
l:
Arrematai-o! Um gemido,
que antes nunca se escutara,
e turvas gotas de pranto
em sua lâmina estão.
Arrematai a fivela
da volta do pescocinho,
que para sempre recorda
definitiva aflição!
Pois estão marcados nela
o sítio certo e o caminho
por onde cutelo e cordas
cumprem sua obrigação.
Arrematai essas horas,
guardadas pelos ponteiros,
arrancadas ao seu dono,
rogando consumação!
Interrogai-as, agora
que os reis tremem nos seus tronos,
e os antigos prisioneiros
de cinza e de glória são.
(Cecília Meireles. Romanceiro ' da Inconfidência. São Paulo: Círculo do Livro, 1975. p. 245.)
106
VINÍCIOS DE MORAES (1913-1980)
A obra de Vinícius de Moraes é dividida em duas fases: a primeira explora questões
transcendentais, místicas; a segunda, iniciada com a publicação de Cinco Elegias (1943), explora
as múltiplas facetas do amor e a poesia de caráter social. Importante lembrar que o poeta, a partir
do final dos anos 50, ingressa no movimento da Bossa Nova.
SONETO DE FIDELIDADE
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
EXERCÍCIOS
I - Leia o texto a seguir, de Oswald de Andrade, e responda às questões.
Relicário
No baile da Corte
Foi o Conde d'Eu quem disse
Pra Dona Benvinda
Que farinha de Suruí
Pinga de Parati
Fumo de Baependi
É comê bebê pita e caí.
107
(ANDRADE, Oswald de. Pau-Brasil. São Paulo: Globo, 1990.)
1 Que elementos da cultura brasileira estão presentes no poema?
.......................................................................................................................................
2 Como se caracteriza a linguagem do texto?
......................................................................................................................................
3 O Conde d'Eu, marido da Princesa Isabel, era europeu. O que pode significar, no poema, a
afirmação que ele faz a Dona Benvinda? ...........................................................................
...............................................................................................................................................
4 O poema provoca um efeito de estranhamento graças a algumas inadequações que
apresenta. Justifique essa afirmação. .................................................................................
...............................................................................................................................................
II - O episódio que você vai ler narra o encontro de Macunaíma com Vei e suas filhas.
Macunaíma pendia tanto de fadiga que pegou no sono (...). Caiu dormindo embaixo
duma palmeirinha guairô muito aromada onde um urubu estava encarapitado.
Ora o pássaro careceu de fazer necessidade, fez e o herói ficou escorrendo sujeira de
urubu. Já era de madrugadinha e o tempo estava inteiramente frio. Macunaíma acordou
tremendo, todo enlambuzado. (...)
Então passou Caiuanogue, a estrela-da-manhã. Macunaíma já meio enjoado de tanto
viver pediu pra ela que o carregasse pro céu. Caiuanogue foi se chegando porém o herói fedia
muito.
— Vá tomar banho! Ela fez. E foi-se embora.
Assim nasceu a expressão "Vá tomar banho!" que os brasileiros empregam se referindo
a certos imigrantes europeus.
[...] Macunaíma tremia que mais tremia e o urubu sempre fazendo necessidade em riba
dele. (...]
Vei vinha chegando vermelha e toda molhada de suor. E Vei era a Sol. [...]
Vei tomou Macunaíma na jangada que tinha uma vela cor-de-ferrugem pintada com
murici e fez as três filhas limparem o herói, catarem os carrapatos e examinarem se as unhas
estavam limpas. E Macunaíma ficou alinhado outra vez. Porém, por causa dela estar vermelha
e tão suando o herói não maliciava que a coroca era mesmo a Sol, a boa da Sol poncho dos
pobres. Por isso pediu pra ela que chamasse Vei com seu calor porque estava lavadinho bem
mas tremendo de tanto frio. Vei era a Sol mesmo e andava matinando fazer Macunaíma genro
dela. Só que ainda não podia aquentar ninguém não, porque era cedo por demais, não tinha
força. Pra distrair a espera assobiou dum jeito e as três filhas dela fizeram muitos cafunés e
cosquinhas no corpo todo do herói.
108
Ele dava risadas chatas, se espremendo de cócegas e gostando muito. Quando elas
paravam pedia mais estorcendo já de antegozo. Vei pôs reparo na sem-vergonhice do herói,
teve raiva. (...]
Principiou um calorão que tomou a jangada, se alastrou nas águas e dourou a face limpa
do ar. Macunaíma deitado na jangada lagarteava numa quebreira azul. E o silêncio alargando
tudo...
- Ai... que preguiça... [...]
Vei queria que Macunaíma ficasse genro dela porque afinal das contas ele era um herói e
tinha dado tanto bolo-de-aipim para ela chupar secando, falou:
- Meu genro: você carece de casar com uma das minhas filhas. O dote que dou pra ti é
Oropa França e Bahia. Mas porém você tem de ser fiel e não andar assim brincando com as
outras cunhãs por aí.
Macunaíma agradeceu c prometeu que sim, jurando pela memória da mãe dele.
(Mário de Andrade. Macunaíma. EA. crítica de Telê Porto Ancona Lopes, p. 65-)
COM RELAÇÃO AO TEXTO
1. Na sua preocupação em definir uma língua brasileira, Mário de Andrade utilizou muitas
palavras e expressões indígenas e de uso coloquial. Transcreva alguns exemplos.
.......................................................................................................................................
........................................................................................................................................
2. Mário de Andrade usa e abusa do humor na composição de Macunaíma. Transcreva uma
passagem exemplificadora desse sentido humorístico. ...................................................
........................................................................................................................................
3. Faça um retrato de Macunaíma, observando suas ações ao longo do texto.
...........................................................................................................................................
..........................................................................................................................................
4. Sabemos que Macunaíma quebra o trato que fez com Vei. E a personagem já foi definida
como um "herói sem nenhum caráter". Com base no retrato que se pode construir dele, a partir do
texto, responda: você acha que ele pode ser tomado como símbolo do caráter nacional? Explique e
justifique. .....................................................................................................
.......................................................................................................................................................
.......................................................................................................................................................
III - Leia o poema a seguir, de Carlos Drummond de Andrade, para responder às questões.
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
109
João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história. (ANDRADE, Carlos Drummond de Poesia e prosa).
1 - Drummond foi um poeta que explorou a estética da repetição. Que elementos do poema
constituem esse traço do estilo do poeta? .......................................................................
...............................................................................................................................................
2 - Explique o título do poema, relacionando-o a seu desenvolvimento. ............................
...............................................................................................................................................
3 - Qual é a visão de amor presente no poema? ................................................................
...............................................................................................................................................
4 - Qual é a relação entre o J. Pinto Fernandes e essa visão de amor?
...............................................................................................................................................
5 - Apesar de ter sido escrito na década de 1930, o poema apresenta traços semelhantes aos
da primeira geração modernista. Que traços são esses? .....................................................
...............................................................................................................................................
6 - O poema de Drummond pode ser encarado como um retrato do amor no mundo
contemporâneo? Por quê? ...........................................................................................................
..............................................................................................................................................
IV - Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham
caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como
haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas
que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos
pelados da caatinga rala.
Arrastaram-se para lá, devagar, sinha Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto
e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa
correia presa ao cinturão, a espingarda pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra
Baleia iam atrás.
Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. [...]
A caatinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram
ossadas. O vôo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos."
(RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 76. Ed Rio de Janeiro: Record, 1986).
Escanchado: com as pernas abertas à maneira de quem monta a cavalo.
Cambaio: trôpego, de pernas tortas.
Aio: blsa feita de fibras de caroá.
110
Releia o primeiro trecho de Vidas Secas, transcrito na página 08 para responder às questões
de 1 a 5
1) O início do romance Vidas secas, de Graciliano Ramos, é um dos mais célebres da
Literatura Brasileira. Percebemos imediatamente a temática da prosa da geração de 30.
Qual é essa temática?
.........................................................................................................................................
..........................................................................................................................................
2) Graciliano Ramos era conhecido por seu estilo “enxuto" e preciso, o que pode ser percebido, por
exemplo, no uso dos adjetivos, Releia o primeiro e o último parágrafos do trecho, e responda:
a) Quais são os adjetivos utilizados? ...........................................................................
.......................................................................................................................................
b) Qual é a função que as cores apresentam no texto? ................................................
........................................................................................................................................
3) Quem são as personagens apresentadas no trecho? Que características podem-se perceber
nelas? ........................................................................................................................
...................................................................................................................................................
4) Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se." Qual é o sentido produzido por essa
enumeração de verbos? Transcreva uma outra passagem em que o mesmo sentido seja produzido.
......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................................
5) Observe no texto que as crianças não têm nome próprio, enquanto a cachorra chama-se
Baleia. Qual é o significado dessa diferença? ..............................................................
.............................................................................................................................................
MODERNISMO - 1945 - "GERAÇÃO DE 45" - FASE DA RENOVAÇÃO
Em 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial, início da Era Atômica, a criação da ONU, a
Declaração dos Direitos Humanos. Logo depois, a Guerra Fria.
No Brasil, fim do governo de Getúlio Vargas e seu suicídio, Juscelino constrói Brasília e
introduz a indústria automobilística e o começo da ditadura.
A obra que iniciou essa geração no Brasil foi a publicação de "O engenheiro" de João
Cabral de Melo Neto.
111
PROSA:
GUIMARÃES ROSA (1908-1967)
O mineiro Guimarães Rosa é visto como um dos maiores escritores de nossa literatura. Uma
das marcas mais importantes de sua obra é a utilização de uma linguagem repleta de neologismo,
arcaísmos, numa recriação do linguajar do sertão mineiro, ambiente de suas obras. As fronteiras
prosa x lírica perdem os limites em seus textos, que não seguem a gramática tradicional de nossa
língua. Entretanto, apesar de focar o sertão mineiro em sua obra, o autor trata de questões
metafísicas, universais.
O autor inicia sua obra em 1946, com a publicação de Sagarana (contos) e segue com
outros livros de contos (em que se destaca Primeiras Estórias) e as novelas que compõem Corpo
de Baile (1956), Manuelzão e Minguilim, No Urubuquaquá, no Pinhém e Noites do sertão.
Guimarães Rosa escreveu apenas um romance, Grande sertão: veredas.
CARACTERÍSTICAS:
Retomada do regionalismo: sem conotação política, mas voltado para uma universalização
daquilo que era regional e particular, adquirido forma com a dramatização dos dramas humanos
(exemplo: psicologia do jagunço)
Elabora uma linguagem denominada de "Experimentalismo" recriando e inventando palavras
Exemplos
Neologismos: Exc/amouzão; gaviãoão; compalavrados; A lua havia, grandada, clara:
regongraça; alemãorana, ...
Arcaísmos: Fremosura no lugar de formosura; esquipou, isto é, foi-se embora às pressas.
Regionalismo: Esbarrou de tocar, isto é, parou de tocar.
Onomatopéia: dladlava, dlandoava (bater do sino), pinh'nhé! (representação do grito do
gavião).
Aliteração: Ou o frade frei Sinfrão; piam pingos; a toada tarda; sussurro sem som.
Prosopopéia: A cantiga adormeceu.
GRANDE SERTÃO: VEREDAS
A obra Grande Sertão: Veredas apresenta a trajetória de Riobaldo, ex-jagunço, que recebe
em sua fazenda a visita de um senhor, para quem narra suas lembranças do tempo de jagunço do
bando de Joca Ramiro e suas angústias existenciais. Importante lembrar que este doutor não tem
suas falas expostas, configurando o romance como um diálogo-monólogo.
Riobaldo se detém com mais ênfase em alguns pontos, como a violência daquele mundo,
em que seu bando buscava vingar a morte de seu chefe, Joca Ramiro, matando o inimigo
Hermógenes. Também lhe afligia a relação de amizade que o personagem-narrador teve com
112
Maria Deodorina, ou Diadorim. Ela era filha de Joca Ramiro e se travestira de homem para poder
se juntar ao bando que era chefiado por seu pai e vingar sua morte, matando Hermógenes. A
verdade sobre a sua identidade só vem à tona com a sua morte, ocorrida num confronto com
Hermógenes, que também morre. Após o ocorrido, Riobaldo larga a jagunçagem, se casa e se
toma fazendeiro, passando a viver num mundo totalmente diferente.
Outro ponto de destaque do personagem é a sua angústia em relação à existência (?) do
Diabo, que fazia parte de suas crenças enquanto Riobaldo era jagunço (chegando a propor um
pacto que ele não sabe se foi consumado). Já quando narra a história a este senhor, Riobaldo nega
a existênda deste. Diz ele no final do romance: "Amável o senhor me ouviu, minha idéia confirmou:
que o Diabo não existe. Pois não? O senhor é um homem soberano, circunspecto. Amigos somos.
Nonada. O diabo não há! É o que eu digo, se for... Existe é homem humano. Travessia. "
CLARICE LISPECTOR (1926-1977)
Nascida na Ucrânia, Clarice Uspector veio ainda criança para o Brasil, onde se estabeleceu
como um dos mais importantes nomes de nossa ficção. A autora é reconhecida por ser a maior
representante da literatura Intimista/introspectíva em nossas letras.
Sua obra inicia com a publicação de Perto do Coração Selvagem (1944), quando a autora
tinha apenas 17 anos. Sua obra explora a epifania, o monólogo interior, o fluxo de consciência, a
linguagem metafórica e a valorização da visão subjetiva do mundo.
CARACTERÍSTICAS:
Investigação profunda do 'eu': introspecção, despreocupação com o enredo, com a trama,
valorizando o espaço interior, as angústias, os anseios existenciais.
A PAIXÃO SEGUNDO GH
GH, artista plástica, enquanto limpa o quarto da ex-empregada, vê uma barata saindo de um
armário. Ela a esmaga e, a partir deste ato, mergulha num intenso "avaliar" de sua condição
humana. Tentando transpor tais angústias, ela come a barata e atinge um novo reconhecimento de
vida.
A HORA DA ESTRELA
Neste romance, narrado por Rodrigo SM, temos a trajetória da nordestina, moradora do Rio
de Janeiro, Macabéa. Ela vivia uma vida totalmente medíocre, sendo uma datilógrafa incompetente,
além de viver em condições precárias num apartamento com 4 Marias. Mesmo assim, Macabéa
tinha um namorado, Olímpico de Jesus, igualmente nordestino, mas com ambições sociais. Visto
sua perspectiva de ascender, ele troca Macabéa por Glória, mulher de melhor condição social,
amiga de Macabéa.
113
Mais tarde, Macabéa vai a uma cartomante, que lhe diz que sua vida era medíocre e que ela
encontraria um louro e rico alemão. Macabéa, que até então não havia percebido a sua condição,
muda sei olhar sobre o mundo. Entretanto, enquanto cruzava uma avenida, ela é atropelada,
morrendo em seguida
POESIA:
A poesia caracteriza-se por uma temática universal, e uma volta ao rigor formal, valorizando
o verso metrificado e o cultivo da norma culta, também o abandono do poema-piada.
JOÃO CABRAL DE MELO NETO (1920-1999)
O pernambucano João Cabral de Melo Neto é o principal poeta da geração de 45, que,
fugindo às conquistas estéticas do Modernismo de 22, voltou-se para a construção formal do
poema. Em suas primeiras obras (Pedra do sono - 1942, O engenheiro - 1945, Psicologia da
composição - 1947), o poeta valorizou a construção da poesia, a busca da palavra exata e objetiva,
a negação do lirismo subjetivo.
Entretanto, a partir de 1950, com a publicação de O cão sem plumas, o poeta volta-se para
os aspectos sociais do Nordeste, do drama do retirante, da seca, do rio Capibaribe, uma imagem
bastante recorrente em sua obra a partir de então.
Sua obra mais famosa é o poema Morte e vida severina - Auto de Natal pernambucano
(1956). Temos nesta obra a trajetória do personagem Severino, símbolo do retirante, que abandona
o agreste fugindo da seca em busca de vida, de água. Entretanto, em seu caminho, o personagem
só encontra a morte, a seca, a desigualdade, a opressão. Ainda assim, o personagem chega a
Recife, onde vê mais miséria neste novo mundo.
Psicologia da Composição
II
Esta folha branca
Me proscreve o sonho,
Me incita ao verso
Nítido e preciso.
Eu me refugio
Nesta praia pura
Onde nada existe
Em que a noite pouse.
Como não há noite
Cessa toda fonte;
Como não há fonte
Cessa toda fuga;
114
Como não há fuga
Nada lembra o fluir
De meu tempo, ao vento
Que nele sopra o vento.
Morte e Vida Severina (fragmentos)
Somos muitos Severinos
Iguais em tudo na vida (...)
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia. (...)
- Desde que estou retirando
só a morte vejo ativa,
só a morte deparei
e às vezes até festiva;
só a morte, tem encontrado
quem pensava encontrar vida,
e o pouco que não foi morte
foi de vida severina
(aquela que é menos vivida que defendida,
e é ainda mais severina para o homem que retira). (...)
Severino retirante
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
115
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina.
POESIA CONCRETA
A poesia concreta surge nos anos 50, tendo os poetas Augusto de Campos, Haroldo de
Campos e Décio Pignatari como os grandes porta-vozes do movimento. O movimento tinha por
objetivo romper com a lírica discursiva e retórica da Geração de 45, resgatando inovações estéticas
conquistadas com o Modernismo de 22. Os concretistas buscavam valorizar o espaço gráfico do
poema, rompendo com a ideia tradicional de poesia. Temos uma valorização da palavra solta, de
recursos gráficos e visuais.
LUXO
LUXO
LUXO
LUXO
LUXO LUXO
LUXO LUXO
LUXO
LUXO
LUXO
LUXO
LUXO
LUXO
LUXO
LUXO
LUXO
LUXO
LUXO
LUXO
LUXO
LUXO
LUXO
LUXO
LUXO
LUXOLUXO
LUXO
LUXO
LUXO
LUXO
LUXOLUXO
LUXO
(Augusto de Campos)
Exemplo típico pode ser encontrado no poema Terra de Décio Pignatari:
ra terra ter
rat erra ter
rate rra ter
rater ra ter
raterr a ter
raterra terr
araterra ter
raraterra t
errara terra
erraraterra
terraraterra
116
Veja-se o despojamento deste poema de Haroldo de Campos:
De sol a sol
soldado
de sal a sal
salgado
de sova a sova
sovado
de suco a suco
sugado
de sono a sono
sonado
sangrado
de sangue a sangue
Além da poesia concreta temos, também, mais quatro tendências:
A - POESIA-PRÁXIS
Em consequência de uma dissidência
do grupo concretista, em fins do ano 50, surge
uma nova tendência de vanguarda: a poesiapráxis, que, no entanto, só em 1961, lançaria
o seu "Manifesto Didático".
O líder do movimento é o poeta Mario
Chamie, autor do livro Lavra-lavra. O
manifesto do grupo afirma: "As palavras não
são corpos inertes, imobilizados a partir de
quem as profere e as usa... As palavras são
corpos vivos. Não vítimas passivas do
contexto".
Enquanto os concretistas levavam em
conta a palavra-coisa, a poesia-práxis
considera a palavra-energia. Por isso, valoriza
a palavra mais no contexto extra-linguístico.
Alguns representantes da poesia-práxis: Yone
G. Fonseca, Antônio C. Cabral, Carlos E.
Brandão, Arnaldo Saraiva.
Agiotagem
um
dois
três
o juro: o prazo
o pôr/ o cento/ o mês/ o ágio
porcentágio
dez
cem
mil
o lucro: o dízimo
o ágio/ a moral/ a monta em péssimo
empréstimo
muito
nada
tudo
a quebra: a sobra
a monta/ o pé/ o cento/ a quota
haja nota
agiota
(Mario Chamie)
Observe um poema que se enquadra
na tendência práxis:
117
B - POEMA/PROCESSO
Radicalizando a proposta dos concretistas, o poema/processo utiliza, sobretudo, signos
visuais. Basicamente, procura explorar as possibilidades poéticas contidas em signos não-verbais.
Portanto, é um tipo de mensagem feito mais para, ser visto do que lido. O manifesto do grupo, de
autoria de Wladimir Dias Pino, foi publicado em 1967.
OBRAS
Solida – Wlademir Dias-Pino
A Ave, Wlademir Dias-Pino
Poemics, Álvaro Dias de Sá
Poemões, Neide Dias de Sá
Exemplo de uma obra de Wlademir Dias-Pino:
a ave
A AVE VOA DEnTRO de sua COR;
polir O VOo Mais que A UM ovo;
que taTEar é SEU ContORno?
SUA agUda cRistA compLeTA a solidão;
assim é que ela é teto DE SEU olfato;
a curva amarGa SEU Voo e fecha Um TempO com Sua fOrma.
esSA QUalQUeR CPiSA finA COmO uMA Ruga ENTrE sEU Corpo e A angústiA.
Matriz lingüística da primeira série do poema-livro
A ave, de Wlademir Dias Pino
C - POESIA SOCIAL
Surge da reação de alguns poetas aos excessos formais da poesia concretista, buscando
maior comunicação com o leitor, a poesia social propõe um retorno ao verso, o emprego de uma
linguagem simples e volta sua temática para os problemas da realidade social da época.
Além de Ferreira Gullar, destacam-se, Afonso Ávila, Thiago de Mello a Affonso Romano de
Sant’Anna.
118
Dois e dois: quatro
Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena.
Como teus olhos são claros
e a tua pele, morena
como é a azul o oceano
e a lagoa, serena
como um tempo de alegria
por trás do terror me acena
e a noite carrega o dia
no seu colo de açucena
sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade, pequena.
(Ferreira Gullar)
O AÇÚCAR
(Ferreira Gullar)
O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manha de Ipanema
não foi reduzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por
milagre.
Vejo-o puro
e afável ao paladar
como beijo de moça, água
na pele, flor
que dissolve na boca. Mas esse açúcar
não foi feito por mim.
Este açúcar veio
Da mercearia da esquina e tampouco o
Fez o Oliveira, dono da mercearia.
Este açúcar veio
De uma usina de açúcar em
Pernambuco
Ou do Estado do Rio
E tampouco o fez o dono da usina.
Este açúcar era cana
e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale.
Em lugares distantes, onde não há
hospital nem escola
homens que não sabem ler e morrem de
fome aos 27 anos
plantaram e colheram a cana
que viraria açúcar.
Em usinas escuras.
homens de vida amarga
e dura,
produziram este açúcar
branco e puro
com que adoço meu café esta manhã
em Ipanema.
119
D - POESIA MARGINAL
Surgida na década de 60, a poesia marginal é assim chamada porque sua produção e
distribuição não são feita por editoras e distribuidoras. Informa-nos um estudioso do assunto: "Os
livros são muitas vezes rodados em mimeógrafos - o que deu margem a que se falasse de uma
'geração do mimeógrafo' - às vezes em offset ou processos semelhantes, as tiragens são
pequenas, os trabalhos têm frequentemente um acabamento material bastante rústico (...). A
venda se dá, geralmente, de mão em mão, sendo realizada muitas vezes pelo próprio autor ou por
amigos deste e percorrendo um circuito mais ou menos fixo de bares e/ou restaurantes, portas de
cinema e teatro, ou mesmo universidades" (Carlos A. Messeder).
Alguns poetas que começaram como "marginais" hoje têm sua obra impressa e distribuída
por grandes editoras. É o caso de Chacal e Cacaso, por exemplo.
A linguagem que aparece nesses poemas é extremamente diversificada: há textos em prosa
ou em verso, com temas relacionados ao cotidiano, num tom predominantemente coloquial; surgem
influências dos concretistas e do
poema/processo; a ironia e o
abaixo a carestia
desprezo ao chamado "bom gosto"
chega de comer
marcam
uma
parte
dessa
angústia e solidão
produção.
Seguem alguns exemplos
(Marcelo Dolabela)
desse tipo de poesia:
quem teve a mão decepada
levante o dedo.
(Nicolas Behr)
PEGA LADRÃO!
AlguémRecuperação
tirou
da adolescência
um pedaço
do meu
é sempre
mais difícil
~
P 0.
ancorar um navio no espaço.
(Kátia Bento)
Reflexo condicionado
pense rápido:
Produto Interno Bruto
ou
brutal produto interno
(Ana Cristina César)
Nuvens brancas
Passam
em brancas nuvens
(Paulo Leminski)
?
TEATRO
(Antônio
Carlos Brito)
Extensão II
Pus a vida
em minhas mãos
e as mãos no fogo...
- A vida ferveu.
(Alcides Bussi)
Revolução.
Antes da revolução eu era professor
Com ela veio a demissão da Universidade.
Passei a comprar posições, de mim e dos
outros
(meus pais eram marxistas)
Melhorei nisso Hoje já não me maltrato
nem a ninguém
(Chico Alvin
120
TEATRO
Nelson Rodrigues, o desbravador
Autor polêmico, Nelson Rodrigues (1912-1980) é considerado por alguns críticos como o
maior dramaturgo brasileiro.
Ao romper com quase todas as tradições cênicas, Nelson Rodrigues renovou a dramaturgia
brasileira: jogou com planos dramáticos, instaurou a simultaneidade de tempo e ação, utilizou
técnicas variadas de corte e ritmo, próprias da linguagem cinematográfica. Sobre seu trabalho, ele
próprio comenta:
[...] enveredei por um caminho que pode me levar a qualquer destino, menos ao êxito. [...]
um teatro que poderia chamar assim - "desagradável". [...] porque são obras pestilentas, fétidas,
capazes, por si só, de produzir o tifo e a malária na platéia. (Apud Sábato Magaldi. Panorama do
teatro brasileiro.
As peças de Nelson Rodrigues retomam incessantemente os mesmos temas: incestos,
suicídios, adultérios, loucura - e constroem um vasto painel da classe média brasileira das décadas
de 1940 e 50.
Ao seu primeiro texto, A mulher sem pecado, seguiu-se Vestido de noiva, cuja encenação,
realizada em 1943 pelo grupo Os Comediantes, marcou o início de uma profunda renovação na
dramaturgia brasileira. Talvez nenhuma peça na história de nosso teatro tenha inspirado tantos
artigos e tantos elogios. Outras peças de sua autoria são Anjo negro, Valsa n° 6, Viúva, porém
honesta, Os sete gatinhos, Bonitinha, mais ordinária, A falecida, Toda nudez será castigada.
Muitas peças de Nelson Rodrigues foram adaptadas para o cinema e a televisão, como, por
exemplo, Os sete gatinhos, A dama do lotação, Toda nudez será castigada, A morte no espelho
(telenovela).
A polêmica continua
Endeusado por alguns, desprezado por outros, Nelson Rodrigues ainda hoje provoca
polêmicas. Veja como o crítico Paulo Moreira Leite se refere à obra desse autor acusado por muitos
de reacionário (Nelson apoiava o regime militar), conservador, superficial e preconceituoso.
Ele se transformou numa mania porque é fácil faturar com suas obras,
descaradamente escandalosas, apelativas, simplistas. Seus personagens não têm nuance,
são caricaturas que cabem na televisão, na interpretação pouco experiente de atores sem
formação e desacostumados a lidar com complexidades. Seus enredos se alimentam da
velha alquimia monetária que junta infelicidade, sexo e violência. [...]
Ele escreveu dezessete peças de teatro e deixou um morticínio como herança. [...] É
sabido que esses elementos também estão disponíveis nos clássicos gregos e nas tragédias
de Shakespeare. No Brasil de Nelson Rodrigues, eles servem tão somente de chamariz para
bilheterias. (Veja, 29/05/96)
Em Vestido de noiva, o cenário é dividido em três planos, cada um correspondendo a um
dos espaços nos quais se passa a ação: o plano da realidade, o da alucinação e o da memória.
A peça começa com o acidente de automóvel sofrido por Alaíde. No plano da realidade, ela é
levada ao hospital. Repórteres noticiam o acidente, a operação cirúrgica, a morte e o enterro da
121
personagem. No plano da alucinação, Alaíde procura e encontra Madame Clessi, uma prostituta
que fora assassinada pelo último amante. Alaíde, antes de se casar, morara na casa que
pertencera a Clessi, local do assassinato. Instigada por Madame Clessi, Alaíde vai recordando a
própria vida, até descobrir que há um conflito entre ela, a irmã (a mulher de véu) e Pedro, seu
marido.
(Trevas. Luz no plano da realidade: Lúcia e Pedro. Lúcia chorando. Coroas. Luz também no plano
irreal.)
Alaíde - Quem terá morrido ali, naquela casa?
Clessi - Olha! Uma fortuna em flores!
Alaíde - Enterro de gente rica é assim.
Clessi - O meu também teve muita gente, não teve?
Alaíde - Pelo menos, o jornal disse.
(No plano da realidade)
Pedro (em voz baixa) - Lúcia!
Lúcia (tomando um choque, levantando-se) — Que é? Que horas são?
Pedro - 3 horas
Lúcia - Fique longe de mim! Não se aproxime!
Pedro - Mas que é isso?
Lúcia (...com ódio concentrado) - Nunca mais! Nunca mais quero nada com você! Juro!
Pedro - Você enlouqueceu?
O que é que eu fiz?
Lúcia (obstinada) - Jurei diante do corpo de Alaíde!
Pedro (chocado) - Você fez isso?
Lúcia (com decisão) - Fiz. Fiz, sim. Quer que eu vá na sala e jure outra vez? (Mergulha a
cabeça entre as mãos.) Ontem, antes dela sair para morrer, tivemos uma discussão horrível!
Pedro (baixo) - Ela sabia?
Lúcia (patética) - Sabia. Adivinhou o nosso pensamento. E eu disse.
Pedro - Mas comigo nunca tocou no assunto.
Lúcia - Discutimos quantas vezes! Ameacei-a de escândalo. Mas ontem, foi horrível horrível! Sabe o que ela me disse? "Nem que eu morra deixarei você em paz!"
(Lúcia fala com a cabeça entre as mãos. Alaíde responde através do microfone escondido no
buque. Luz cai em penumbra, durante todo o diálogo evocativo)
Alaíde (com voz lenta e sem brilho.) - Nem que eu morra, deixarei você em paz!
Lúcia (falando surdamente) - Pensa que eu tenho medo de alma do outro mundo?
Alaíde (microfone) - Não brinque, Lúcia! Se eu morrer - não sei se existe vida depois da
morte - mas se existir, você vai ver!
Lúcia (sardônica) - Ver o quê, minha filha?
Alaíde (microfone) - Você não terá um minuto de paz, se casar com Pedro! Eu não deixo
você verá!
Lúcia (irônica) - Está tão certa assim de morrer?
Alaíde (microfone) - Não sei! Você e Pedro são capazes de tudo! Eu posso acordar morta e todo
mundo pensar que foi suicídio!
122
Lúcia - Quem sabe? (noutro tom). Eu mandei você tirar Pedro de mim? (In: Nelson Rodrigues. São Paulo:
Abril Educação, 1981.p.25-7- Literatura Comentada)
CONTO
Dalton Trevisan
O curitibano Dalton Trevisan começou a carreira literária publicando contos em forma de
folhetos, a partir de 1954, à moda da literatura de cordel. Ganhou repercussão nacional em 1959,
com Novelas nada exemplares. Confinado em Curitiba, Dalton se esconde do público e da
notoriedade, mas lega ao Brasil uma obra de refinada análise social.
Conjunto da obra
Dalton registra um cotidiano embrutecido e desvairado, notadamente situado na metrópole
curitibana. No entender de Massaud Moisés, sua obra é uma "espécie de comédia humana, em
tom menor". Ao registrar a "cinzentice do cotidiano, que a retina penetrante do ficcionista recolhe",
traz à tona o acontecimento rumoroso - verídico ou não -, em contos de qualidade superior, em que
os anti-heróis predominam.
Em folhetos: Os domingos ou Ao armazém de Lucas; A morte dum gordo; Minha cidade;
Lamentações de Curitiba; Cemitério de elefantes; A velha querida; O anel mágico;
Ponto de croché.
Em livros: Novelas nada exemplares; A morte na praça; Cemitério de elefantes, O vampiro
de Curitiba; A guerra conjugal; Desastres do amor; O rei da terra; O pássaro de cinco asas; A
faca no coração; Abismo de rosas; A trombeta do anjo vingador; Crimes da paixão; Virgem louca,
loucos beijos.
Leia o texto
Cemitério de elefantes
Há um cemitério de bêbados na minha cidade. Nos fundos do mercado de peixe e à
margem do rio ergue-se o velho ingazeiro - ali os bêbados são felizes. A população considera-os
animais sagrados, provê as suas necessidades de cachaça e peixe com pirão de farinha. No
trivial contentam-se com as sobras do mercado.
Quando ronca a barriga, ao ponto de pertubar-lhes a sesta, saem do abrigo e, arrastando os
pesados pés, atiram-se à luta pela vida. Enterram-se no mangue até os joelhos na caça ao
caranguejo ou, tromba vermelha no ar, espiam a queda dos ingás maduros.
Elefantes mal feridos coçam as perebas, sem nenhuma queixa, escarrapachados sobre as
raízes que servem de cama e cadeira, a beber e beliscar pedacinho de peixe. Cada um tem o seu
lugar, gentilmente avisam:
- Não use, a raiz do Pedro.
- Foi embora, sabia não?
- Aqui há pouco...
- Sentiu que ia se apagar e caiu fora. Eu gritei: Vai na frente, Pedro, deixa a porta aberta.
123
Chega de outras margens um elefante moribundo.
- Amigo, venha com a gente.
Uma raiz no ingazeiro, o rabo de peixe, a caneca de pinga.
No silêncio o bzzz dos pernilongos assinala o posto de cada um, assombrados com o
mistério da noite - o farol piscando no alto do morro.
Distrai-se um deles a enterrar o dedo no tornozelo inchado e, puxando os pés de
paquiderme, afasta-se entre adeuses em voz baixa - ninguém perturbe os dorminhocos. Esses,
quando acordam, não perguntam onde foi o ausente. E, se indagassem, com intenção de levarlhe margaridas do banhado, quem saberia responder? A você o caminho se revela na hora da
morte.
(...) Jamais correu sangue no cemitério - a faquinha na cinta é para descamar peixe. E,
aos brigões, incapazes de se moverem, basta-lhes xingarem-se a distância.
Eles que suportam o delírio, a peste, o fel na língua, o mormaço, as cãibras de sangue,
berram de ódio obtuso contra os pardais, que se aninham entre as folhas e, antes de dormir, lhes
cospem na cabeça - o seu pipiar irrequieto envenena a modorra.
Da margem contemplam os pescadores afundando os remos.
- Um peixinho aí, compadre?
O pescador atira o peixe desprezado no fundo da canoa.
- Por que você bebe, Papa-Isca?
- Maldição de mãe, uai.
- O Chico não quer peixe?
- Tadinho, a barriga d'água.
Com a pressa que permitem os pés tumefatos, aparta-se dos companheiros cochilando à
margem, esquecidos de enfiar a minhoca no anzol.
Cuspindo na água o caroço preto do ingá, os outros não o interrogam: as presas de marfim
que indicam o caminho são garrafas vazias. Chico perde-se no cemitério sagrado, as carcaças de
pés grotescos surgindo ao luar.
(Trevisan, Dalton. In: Bosi, Alfredo. O conto brasileiro contemporânea. São Paulo, Cultrix, 1970.)
José Rubem Fonseca
(Juiz de Fora, 1925)
O mineiro Rubem Fonseca, radicado no Rio de Janeiro desde os sete anos de idade, cursou
Direito e logo após fez mestrado em Administração, nos Estados Unidos. Estreou com o volume de
contos Os prisioneiros, em 1963. Argumentista e roteirista de cinema, a obra, bastante
representativa do momento contemporâneo , compreende: Os prisioneiros; A coleira do cão; Lúcia
McCartney; O homem de fevereiro ou março; O caso Morel; Feliz ano novo; Agosto; O cobrador; A
grande arte; Bufo & Spallanzani; Vastas noções e pensamentos imperfeitos.
124
LEIA O TEXTO
Lúcia McCartney
Extraído do volume Lúcia McCartney, o conto Os músicos atesta um contista adequado ao
modo de prever recente, que se formou nos anos 60, "tempo de massas, de renovadas opressões,
de sociedade consumo, sofisticada e bárbara", como considera Alfredo Bosi.
Os Músicos
Faz calor. Os grandes espelhos da parede vieram da Europa no fundo do porão; cristal puro.
"Tua avó fez risinhos e boquinhas, namorou dentro desse espelho." Respondo: "Minha avó nunca
viu esse espelho, ela veio noutro porão". Nesse instante chegam os músicos, três: piano, violino,
bateria; o mais moço, o pianista, tem quarenta anos, mas é também o mais triste, um rosto de
quem vai perder as últimas esperanças, ainda tem um restinho, mas sabe que vai perdê-las num
dia de calor tocando os Contos dos Bosques de Viena, enquanto lá embaixo as pessoas comem
bebem suam sem ao menos por um instante levantar os olhos para o balcão onde ele trabalha com
os outros dois: Stein, no violino - cinquenta e seis anos, meio século atrás: espancado com uma
vara fina, trancado no banheiro, privado de comida "nem que eu morra você vai ser um grande
concertista" e quando Sara, sua mãe, morreu, ele tocou Strauss no restaurante com o coração
cheio de alegria - Elpídio na bateria, cinquenta anos, mulato, coloca um lenço no pescoço para
proteger o colarinho, o gerente não gosta mas ele não pode mudar de camisa todos os dias, tem
oito filhos, se fosse rico - "fazia filho na mulher dos outros, mas sou pobre e faço na minha mesmo"
- e todos começam, não exatamente ao mesmo tempo, a tocar a valsa da Viúva Alegre. Na mesa
ao lado está o sujeito que é casado com a Miss Brasil. Todas as mesas estão ocupadas. Os
garçons passam apressados carregando pratos e travessas. No ar, um grande burburinho.
(Fonseca, Rubem. In: Bosi, Alfredo. O conto brasileiro contemporâneo. São Paulo. Cultrix, 1970.)
São representantes do gênero, entre outros, Lygia Fagundes Telles, Homero Homem,
Osman Lins, Murilo Rubião, Autran Dourado, Moacyr Scliar, Otto Lara Rezende, Samuel Rawet,
Dalton Trevisan, José J. Veiga, Nélida Pinon, Rubem Fonseca, João Antônio, Domingos Pelegrini
Jr., Ricardo Ramos, Marina Colasanti, Luiz Vilela, Ivan Angelo, Hilda Hilst, Ignácio de Loyola
Brandão, Sérgio Sant'Anna, Milton Hatoum, Modesto Carone, Wander Piroli, Caio Fernando Abreu,
Antônio Carlos Viana.
CRÔNICA
Rubem Braga
Rubem Braga nasceu no dia 12 de Janeiro de 1913, em Cachoeiro de Itapemirim, Espírito
Santo, filho de Francisco de Carvalho Braga e Rachel Cardoso Coelho Braga. As lembranças da
infância em Cachoeiro, cercadas de lirismo, inundam as crônicas do "velho Braga". Em textos como
'Praga de menino", "Lembrança de Zig" ou "O Cajueiro", narrados na primeira pessoa, a infância na
125
cidade natal é recontada de forma explícita e amorosa. Em outros, como "Tuim criado no dedo" e
"Negócio de Menino", sua memória de caçador de passarinhos ecoa nas personagens infantis.
LEITURA
Você vai ler a seguir uma crônica de Rubem Braga, considerado o mestre no gênero. Após a
leitura, responda às questões propostas:
As meninas
Foi há muito tempo, no Mediterrâneo, ou numa praia qualquer perdida na imensidão do
Brasil? Apenas sei que havia sol e alguns banhistas; e apareceram duas meninas de vestidos
compridos - o de uma era verde, o da outra azul. Essas meninas estavam um pouco longe de mim;
vi que a princípio apenas brincavam na espuma; depois, erguendo os vestidos até os joelhos,
avançavam um pouco mais. Com certeza uma onda imprevista as molhou; elas riam muito, e agora
tomavam banho de mar assim vestidas: uma de azul, outra de verde. Uma devia ter 7 anos, a outra
9 ou 10; não sei quem eram; se eram irmãs; de longe eu não as via bem. Eram apenas duas
meninas vestidas de cores marinhas brincando no mar; e isso era alegre e tinha uma beleza
ingênua e imprevista.
Por que ressuscita dentro de mim essa imagem, essa manhã? Foi um momento apenas.
Havia muita luz, e um vento. Eu estava de pé na praia. Podia ser um momento feliz, em si mesmo
talvez fosse; e aquele singelo quadro de beleza me fez bem; mas uma fina, indefinível angústia me
vem misturada com essa lembrança. O vestido verde, o vestido azul, as duas meninas rindo,
saltando com seus vestidos colados ao corpo, brilhando ao sol; o vento...
Eu devia estar triste quando vi as meninas, mas deixei um pouco minha tristeza para mirar
com um sorriso a sua graça e sua felicidade. Senti talvez necessidade de mostrar a alguém: "veja,
aquelas duas meninas..." Mostrar à toa; ou, quem sabe, para repartir aquele instante de beleza
como quem reparte um pão, ou um cacho de uvas em sinal de estima e de simplicidade; em sinal
de comunhão; ou talvez para disfarçar minha silenciosa angústia.
Não era uma angústia dolorosa; era leve, quase suave. Como se eu tivesse de repente o
sentimento vivo de que aquele momento luminoso era precário e fugaz; a grossa tristeza da vida,
com seu gosto de solidão, subiu um instante dentro de mim, para me lembrar que eu devia ser feliz
aquele momento, pois aquele momento ia passar. Foi talvez para fixá-lo, de algum modo, que pedi
ajuda de uma pessoa amiga; ou talvez eu quisesse dizer alguma coisa a essa pessoa e apenas lhe
soubesse dizer : "veja aquelas duas meninas..."
E as meninas riam brincando no mar.
LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO
Luís Fernando Veríssimo é natural de Porto Alegre onde nasceu em 1939. Jornalista e
publicitário. É publicado em vários Jornais e revistas do Brasil graças a um estilo personalíssimo de
escrever, representado por um tipo de crônica em que a situação narrada, pelo inusitado, pela sua
atualidade e pelo seu caráter universalista, permite ao leitor, além da informação sobre os mais
126
diversificados assuntos, tomar contato com um humor absolutamente novo. Além de criar um texto
moderno, Luís Fernando Veríssimo escreve um tipo de crônica que, sem cair em certos modismos,
é acessível a todo tipo de leitor, desde o aficionado pelo futebol até o interessado em saber da
última receita gastronômica do restaurante da moda.
A par do cronista, Luiz Fernando Veríssimo extrapola o mundo verbal, usando o desenho
para expressar, de forma sempre crítica, as várias situações que glosa. Como cartunista, tornou
famosos personagens e fatos como As cobras e A Família Brasil.
Rigorosamente, Luís Fernando Veríssimo não escreveu nenhum livro específico. Segundo
suas próprias palavras, como escritor, ele trabalha com "tesoura e cola", isto é, seus livros
publicados são a união das crônicas esparsas em jornais e revistas de todo o país. Reforçando a
ideia, Luís Fernando Veríssimo se diz apenas jornalista.
Os livros: O popular (1975), A grande mulher nua (1975), Amor brasileiro (1976), O rei do
rock (1978), Sexo na cabeça (1980), O analista de Bagé (1981), Outras do analista de Bagé (1982),
Ed Mort (1982), A velhinha de Taubaté (1983), A mulher do Silva (1984).
O analista de Bagé
Certas cidades não conseguem se livrar da reputação injusta que, por alguma razão,
possuem. Algumas das pessoas mais sensíveis e menos grossas que eu conheço vêm de Bagé,
assim como algumas das menos afetadas são de Pelotas. Essas histórias do o psicanalista de
Bagé são provavelmente apócrifas (como diria o próprio analista de Bagé, história apócrifa é
mentira bem educada), mas, pensando bem, ele não poderia vir de outro lugar.
Pues, diz que de divã do consultório do analista de Bagé é forrado de pelego. Ele recebe os
pacientes de bombacha e de pé-no-chão.
- Buenas. Vá entrando e se abanque, índio velho.
- O senhor quer que eu deite logo no divã?
- Bom, se o amigo quiser dançar a marcha, antes, esteja a gosto. Mas eu prefiro ver o
vivente estendido e charlando que nem china de fronteira, para não perder tempo nem dinheiro.
- Certo, certo. Eu...
- Aceita um mate?
- Um quê? Ah, não . Obrigado.
- Pôs desembucha.
- Antes eu queria saber. O senhor é freudiano?
- Sou e sustento. Mais ortodoxo que reclame de xarope.
- Certo. Bem. Acho que o seu problema é com a minha mãe.
- Outro...
- Outro?
- Complexo de Édipo. Dá mais que pereba em moleque.
- E o senhor acha...
- Eu acho uma poça vergonha.
- Mas...
- Vai te meter na zona e deixa a velha em paz, tchê!
(In: O analista de Bagé, Porto Alegre, L & PM 1981, p. 7/8)
127
CARACTERÍSTICAS
1- Humor
2- Irreverência
3- Ironia
4- Crítca
Entre os cronistas da atualidade destacam-se: Fernando Sabino, Millôr Fernandes, Carlos
Heitor Cony, Fernando Bonassi, Walcyr Carrasco, Mário Prata, Moacyr Sciliar e Affonso Romano
de Sant1Anna.
** - ** -
PROSA
LYA LUFT (1938)
A autora gaúcha segue a tradição da literatura intimista iniciada com Clarice Lispector,
abordando questões existenciais, metafísicas em seus personagens, predominando a mulher. O
seu romance de estréia. As parceiras (1980), e Reunião de Família (1982) são considerados as
obras mais importantes.
Reunião de Família
Criados de forma severa por um pai repressor e violento, Alice, Evelyn e
Renato cresceram marcados pela insegurança, submissão, desconfiança,
desunião e, acima de tudo, pela falta de amor. Quando o filho de Evelyn
morre em um trágico acidente e ela passa a se comportar de forma
estranha, acreditando que o menino ainda está vivo, a família decide se
reunir para ajudar a irmã caçula. Mas nada acontece como esperado: o
fim de semana que deveria servir para unir transforma-se numa catarse
de culpas e segredos, um terrível jogo da verdade no qual os papéis de
vítima e algoz se invertem.
MOACYR SCLIAR (1937)
Característica marcante da obra do escritor é a de abordar os conflitos vividos pela
comunidade judaica no Rio Grande do Sul. O dado fantástico também é bastante presente em
seus textos. O exército de um homem só (1973) e O centauro do Jardim (1980) são os romances
mais consagrados.
128
O centauro do Jardim
Na região de colonização judaica no interior do Rio Grande do Sul, uma mulher dá à luz um
bebê-centauro. Guedali é criado em segredo pela família; mais tarde, foge pelo interior do
estado e encontra uma centaura, por quem se apaixona.
Os dois decidem partir para o Marrocos, onde serão submetidos a uma cirurgia que os
transformará em seres humanos normais. A aparente normalidade, porém, não põe fim às
inquietações do ex-centauro. Guedali resolve voltar à condição anterior e pede ao médico
que reverta a operação. Internado, vive nova paixão, dessa vez por uma esfinge...
A trajetória do centauro pode ser entendida como uma metáfora para a questão da
identidade individual, mas também para uma situação histórica, relacionada com as
preocupações da classe média brasileira durante os anos em que o país, ainda sob regime
militar, interrogava-se sobre seu destino.
LUIZ ANTÔNIO DE ASSIS BRASIL (1945)
O autor explora o romance histórico, dando ênfase à imigração açoriana no Rio Grande do
Sul. Esta abordagem histórica é revista sob uma perspectiva crítica pelo autor. Seus romances
mais famosos são Cães da província (1987) e Videiras de Cristal'(1990).
Videiras de Cristal
Ambientado na colônia germânica de Padre Eterno, aos pés do morro do Ferrabrás e nos
anos de 1872 a 1874, Videiras de Cristal reconstitui um episódio fascinante da história de
nosso país: liderada por uma frágil mulher, Jacobina Maurer, uma legião de colonos
alemães revolta-se contra as instituições da época, enfrentando o próprio exército imperial.
Personagem de lenda e verdade. Jacobina tinha sua imagem confundida com o próprio
Cristo, fazendo previsões do fim do mundo e confortando os deserdados com promessas do
paraíso celeste.
Ignácio de Loyola Brandão e a inovação formal
O paulista Ignácio de Loyola Brandão (1936) tem se destacada como um dos melhores e
mais inovadores romancistas e contistas brasileiros da atualidade. Estreou em 1968 com Bebel que
a cidade comeu, obra que capta a atmosfera de liberalização dos costumes e contestação política
dos anos de 1960. Contudo é zero (1975) o romance que mais surpreendeu o público e a crítica,
em virtude de suas inovações formais, como colagens de textos e imagens (mapas, discursos
oficiais, desenhos, grafites), misturadas à contestação política ao regime militar.
Escreveu ainda Não verás país nenhum (1981), obra de fundo ecológico, e O anônimo
célebre (2002).
129
Não Verás País Nenhum
Não Verás País Nenhum se desenrola em um futuro não determinado, mas cada vez mais
presente na realidade do brasileiro. Uma época terrível, na qual a Amazônia se transformou em um
deserto sem nenhuma árvore; onde "O lixo forma setenta e sete colinas que ondulam, habitadas,
todas. E o sol, violento demais, corrói e apodrece a carne em poucas horas"; onde a carência de
água impõe a reciclagem da urina, bebida pelas pessoas. A administração do país chegou ao caos.
Governantes medíocres, cada vez mais afastados do povo, interessados apenas em vantagens
pessoais, uma polícia corrupta e assustadora. No meio desse mundo sombrio, uma história de
amor, na qual o autor sugere que nem tudo está perdido, pelo menos enquanto o bicho-homem
alimentar esperanças e for capaz de gestos de generosidade.
Francisco Dantas e o resgate regionalista
Fancisco Dantas vem se firmando, na atualidade, como um dos mais importantes
romancistas da tradição regionalista. Explorando temas como o autoritarismo patriarcal dos
coronéis, o cangaço, as relações sóciais de opressão, a violência, Dantas publicou obras de grande
valor literário, como Os desvalidos (1997) e Sob o peso das sombras (2004).
FERNANDO BONASSI
Fernando Bonassi (1962) estreou na literatura em 1991, com Um céu de estrelas. Mas foi
seu segundo livro, Subúrbio (1994), que definiu não apenas seu próprio projeto literário, mas
também um dos rumos tomados pela ficção brasileira dos anos 1990: o realismo brutal das grandes
cidades, a violência e a denúncia das desigualdades sociais.
Sua prosa é inovadora do ponto de vista formal, principalmente quanto ao modo como insere
na narrativa as diferentes vozes que compõem os discursos da periferia da grande cidade.
Além de se dedicar ao romance e à crônica jornalística, o autor tem conquistado sucesso na
dramaturgia. É autor, por exemplo, da peça teatral Apocalipse 1,11 (1992), baseada na chacina dos
presidiários do Carandiru.
O texto que segue compõe-se de fragmentos do conto "15 cenas de descobrimento de
Brasis".
Cena 9
CANÇÃO DO EXÍLIO
Minha terra tem campos de futebol onde cadáveres amanhecem emborcados pra atrapalhar
os jogos. Tem uma pedrinha cor-de-bile que faz "tuim" na cabeça da gente. Tem também muros de
bloco (sem pintura, é claro, que tinta é a maior frescura quando falta mistura), onde pousam cacos
de vidro pra espantar malaco. Minha terra tem HK, AR15, M21, 4S e 38 (na minha terra, 32 é uma
piada). As sirenes que aqui apitam, apitam de repente e sem hora marcada. Elas não são mais as
das fábricas, que fecharam. São mesmo é dos camburões, que vêm fazer aleijados, trazer
tranquilidade e aflição. [...].
130
POESIA
ADÉLIA PRADO
A poeta e prosadora Adélia Prado (1935) nasceu em Divinópolis (MG) e estreou na literatura
em 1975, com o livro de poemas Bagagem. Sobre a escritora comentou Carlos Drummond de
Andrade: "Adélia é lírica, bíblica, existencial [...]. Adélia é fogo, fogo de Deus em Divinópolis",
Seus poemas, contos e romances registram o cotidiano das pequenas cidades interioranas,
com fortes manifestações de religiosidade.
Sua obra pode ser conhecida em Poesia reunida e Prosa reunida
Casamento
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas especam:
somos noivo e noiva.
PRADO, Adélia. Poemas reunidos. São Paulo: Siciliano, 1991.
Orfandade
"Meu Deus,
me dá cinco anos.
Me dá um pé de fedegoso com formiga preta,
me dá um Natal e sua véspera,
o ressonar das pessoas no quartinho.
Me dá a negrinha Fia pra eu brincar,
me dá uma noite pra eu dormir com minha mãe.
(...)
PRADO, Adélia. Poesia reunida. São Paulo: Scipione, 2001
131
Affonso Romano de Sant'Anna
Affonso Romano de Sant'Anna nasceu em 1937, em Belo Horizonte. Jornalista, professor
universitário, ex-diretor da Biblioteca Nacional, é considerado unanimemente um dos mais importantes
poetas brasileiros da atualidade. Publicou dezenas de livros de ensaios, crônicas e poesias, entre os
quais: Poesia sobre poesia (Imago, 1975), Que país é este? (Rocco, l984) Paródia, paráfrase & cia.
(Ática, 1985), O canibalismo amoroso (Rocco, 1990), O lado esquerdo do meu peito (Rocco, 1992), A
grande fala e A catedral de Colônia (Rocco, 1998).
O LEITOR E A POESIA
Poesia
não é o que o autor nomeia,
é o que o leitor incendeia.
Não é o que o autor pavoneia,
é o que o leitor colha à colmeia.
Não é o ouro na veia,
é o que vem na bateia.
Poesia
não é o que o autor dá na ceia,
mas o que o leitor banqueteia.
(Affonso Romano de Sant'Anna. Melhores poemas. 3. ed. Seleçâo de Donaldo Schüler. São Paulo: Global,
1997. p. 150.)
SILENCIO AMOROSO
Deixa que eu te ame em silêncio. Não pergunte, não se explique, deixe
que nossas línguas se toquem, e as bocas e a pele
falem seus líquidos desejos.
Deixa que eu te ame sem palavras
a não ser aquelas que na lembrança ficarão
pulsando para sempre
como se amor e vida
fossem um discurso
de impronunciáveis emoções.
(in Intervalo amoroso e outros poemas escolhidos)
132
Cacaso
Cacaso (Antônio Carlos F. de Brito) nasceu em Uberaba (MG), em 1944. Foi desenhista,
compositor e poeta. Como compositor, foi letrista de parceiros ilustres da MPB, como Edu Lobo,
Tom Jobim, Francis Hime, Sivuca e outros. Como poeta, foi uma das principais vozes da poesia
marginal dos anos 1970-80. O crítico Davi Arrigucci Jr. comenta sobre o poeta:
Eles [os poetas marginais] estavam muito próximos dos primeiros rnodernistas. Havia uma
graça, a novidade do cotidiano brasileiro, porque eram poetas militantes. Mas, nos versos de
Cacaso, há ainda o gosto pela oralidade. E isso aparece nas letras de canções.
(Você pode conhecer o trabalho de Cacaso no livro Lero-lero (7 Letras/Cosac & Naify).
Jogos florais
I
Minha terra tem
palmeiras onde canta o tico-tico.
Enquanto isso o sabiá
vive comendo o meu fubá.
Ficou moderno o Brasil
ficou moderno o milagre:
a água já não vira vinho,
vira direto vinagre.
II
Minha terra tem Palmares
memória cala-te já.
Peço licença poética
Belém capital Pará.
Bem, meus prezados senhores
dado o avançado da/hora
errata e efeitos do vinho
o poeta sai de fíninho.
(será mesmo com dois esses que se escreve paçarinho?)
(In: ítalo Moriconi. Os cem melhores poemas do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 277-8.)
TORQUATO NETO
Torquato Neto (1944-1972) nasceu em Teresina (PI) e estudou em Salvador, onde
conheceu Gilberto Gil, Caetano Veloso e Maria Bethânia. Em 1966, mudou-se para o Rio de
Janeiro, iniciou os estudos de jornalismo e começou a trabalhar como jornalista no jornal Última
133
Hora. Participou do movimento
Suicidou-se com 28 anos.
tropicalista e foi parceiro de Gilberto Gil na canção Ge/e/a geral.
Cogito
eu sou como eu sou presente
eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas de fim
(Idem, p. 269)
Entre os poetas da atualidade destacam-se: Carlito Azevedo, Nelson Ascher, Age de
Carvalho, Arnaldo Antunes, Glauco Mattoso, Fernando Paixão, Frederico Barbosa, Antônio Risério,
Fabrício Carpinejar, Cacaso, Torquato Neto, Waly Salomão, Paulo Leminski, Ana Cristina César,
Charles, Chacal, Alex Polari, Ulisses Tavares, Nicolas Berh, Francisco Alvim, Roberto Piva, Alice
Ruiz, Adétia Prado, Sebastião Uchoa Leite, Affonso Ávila, Hilda Hilst e Affonso Romano de
Santa’Anna.
Temáticas do Romance Contemporâneo
Em linhas gerais, o romance contemporâneo seguiu as direções tradicionais de nossa ficção
— a regionalista e a psicológica —, enriquecendo-a, diversificando-a, inovando-a. Isso pela adoçâo
de novos temas, como a violência urbana; ou por uma abordagem mais realista e crua de temas já
gastos; ou pela introdução de .personagens dos chamados grupos marginalizados; ou pela
134
incorporação do fantástico, do simbólico, .do absurdo;ou pelo uso de técnicas originárias do novo
romance francês e da linguagem cinematográfica e pictórica.
A ficção documentária urbano-social, que retraía problemas da pequena burguesia, do
proletariado e da luta de dasses, se faz presente nas obras de autores como José Conde (Um ramo
para Luisa), Carlos Heitor Cony (O ventre, Informação ao crucificado, O piano e a orquestra,
Matéria de memória), António Olavo Pereira (Marcoré).
A ficção regionalista, que focaliza o homem no ambiente das zonas rurais, com seus
problemas geográficos e sociais, é representada por romancistas como Mário Paimério (Vila dos
Confins, Chapadão do Bugre), José Cândido de Carvalho (O coronel e o lobisomem), Bernardo Élis
(O tronco), Herberto Sales (Além dos Maribus), Márcio de Souza (Galvez, imperador do Acre),
Antônio Callado (Quarup), Geraldo Ferraz (Doramundo), Francisco Dantas (Os desvalidos).
A ficção intimista desenvolve-se no sentido da indagação interior, da introspecção
psicológica, dos problemas da alma, do destino, da consciência, da conduta da personalidade
humana diante de si mesma ou diante dos outros homens. Preocupa-se com problemas
psicológicos, religiosos, morais, metafísicos, mas também com os de convivência. Enfatiza
a vida urbana, aliando-se à introspecção e à análise de costumes. Entre outros, integram essa
linha: Autran Dourado (A barca dos homens, Ópera dos mortos, O risco no bordado), Aníbal
Machado (João Ternura), Lygia Fagundes Telles (Ciranda de pedra, As meninas), Fernando Sabino
(O encontro marcado), Adonias Filho (Memórias de Lázaro, Corpo vivo), Josué Montello (Os
degraus do paraíso, Noite sobre Alcântara), Lya Luft (Reunião de família, As parceiras), Chico
Buarque (Estorvo, Budapeste), Carlos Heitor Cony (O ventre), João Gilberto NoII (Hotel Atlântico),
Caio Fernando Abreu (Morangos mofados), Bernardo Carvalho (Mongólia), Cristóvão Tezza (Uma
noite em Curitiba, Trapo, O filho eterno), Carola Saavedra (Toda terça), Letícia Wierzchowski (A
casa das sete mulheres) e Luís Rufatto (coleção Inferno provisório).
Há ainda a mencionar inúmeros outros autores cujas obras ora se engajam numa das linhas
mencionadas, ora enveredam por outros caminhos, como o do realismo fantástico, o do
surrealismo, o da denúncia, o do novo romance, o da paródia: José Louzeiro (Aracelli, meu amor,
Em carne viva, Lúcio Flávio, passageiro da agonia), Josué Guimarães (A ferro e fogo), José J.
Veiga (A hora dos ruminantes. Sombra de reis barbudos, A casca da serpente), Osman Lins (Novenovena, Avalovara), Ignádo de Loyola Brandão (Zero, Não verás país nenhum), João Ubaldo
Ribeiro (Sargento Getúlio, Viva o povo brasileiro, Diário do farol), Raduan Nassar (Lavoura arcaica.
Um copo de cólera), Antônio Torres (Pelo fundo da agulha).
O romance policial, cujo representante principal no Brasil é Rubem Fonseca - autor de A
grande arte Buffo & Spallanzani, Vastas emoções e pensamentos imperfeitos, Agosto, entre outros
—, ganhou em 1997 mais uma obra do autor: E do meio do mundo prostituto só amores guardei ao
meu charuto. O gênero foi fortalecido ainda pela publicação de Bala na agulha, de Marcelo Rubens
Paiva, e pela grande revelação no gênero, a jovem escritora Patrícia Melo, autora de Acqua
profana, O matador, Inferno e Jonas, o copromanta.
O romance histórico e/ou biográfico - tem se destacado com as publicações de Ana
Miranda: Desmundo, Boca do inferno — que narra as aventuras políticas e amorosas de figuras
que viveram na Bahia no século XVII — e A última quimera — que retrata a vida do poeta Augusto
135
dos Anjos e o contexto cultural do Rio de Janeiro no início do século XX. E ainda com as do
escritor e jornalista José Roberto Torero: O Chalaça, retrato dos bastidores da vida política
brasileira durante o Império, Terra papagalis, que retrata a convivência entre portugueses
navegantes e indígenas no Brasil do Século XVI. Também contribuem para a afirmação do gênero
Rubem Fonseca, com O selvagem da ópera, que narra a trajetória pessoal e artística do compositor
Carlos Gomes, Moacyr Sdiar, com Sonhos tropicais, que resgata o mundo da Medicina no Rio de
Janeiro no início do século XX, Ruy Castro, com Era no tempo do rei, que retrata a chegada da
família real ao Brasil em 1808, Jô Soares, com O Xangô de Baker Street e Assassinatos na
Academia, e ainda Nélida Piñon, com República dos Sonhos, e Deonísio da Silva, com A cidade
dos padres.
A vida política dos comunistas brasileiros perseguidos na década de 1930 pelo governo
Getulista é tema de Olga, de Fernando Morais.
Romances que misturam ficção com memórias, prosa autobiográfica, relatos de viagem
constituem a vasta produção que surgiu na década de 1980 relatando os anos de regime militar, de
censura, de exílio, de tortura e de luta estudantil. Entre os autores que mais se destacam nesse tipo
de abordagem temos Roberto Drummond (Sangue de Coca-cota, Hilda Furacão), Fernando
Gabeira (O que é isso, companheiro?, O crepúsculo do macho), Marcelo Rubens Paiva (Feliz ano
velho), Milton Hatoum (Relato de um certo oriente) e Raduan Nassar (Um copo de cólera).
EXERCÍCIOS
1 Leia o texto a seguir e responda às questões de 1 a 4:
"Eu estou depois das tempestades.
O senhor nonada conhece de mim; sabe o muito ou o pouco? O Urucuia é ázigo... Vida
vencida de um, caminhos todos para trás, é história que instrui vida do senhor, algum? O senhor
enche uma caderneta... O senhor vê aonde é o sertão? Beira dele, meio dele?... Tudo sai é mesmo
de escuros buracos, tirante o que vem do Céu. Eu sei..." ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas.
Ázigo: isolado
1) Quem é o narrador nesse trecho?
2) Como se caracteriza o interlocutor do narrador?
3) Quanto à linguagem, o que é possível perceber nessa passagem?
4) O que diferencia o regionalismo dos romances da década de 1930 daquele desenvolvido
por Guimarães Rosa na terceira geração modernista?
2) Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, traz como subtítulo
Auto de Natal pernambucano. Sabendo-se que a palavra auto "designa toda peça breve, de
tema religioso ou profano, em circulação durante a Idade Média" ( Massaud Moisés. Dicionário
de termos literários),
Responda:
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a) Explique o porquê das adjetivações "de Natal" e "pernambucano", contidas no
subtítulo, considerando o enredo da peça.
b) Qual é o sentido do adjetivo"severina" aplicado a "morte e vida"?
c) Comumente usa-se a expressão "vida e morte" no título da peça de João Cabral,
entretanto, a sequência é "morte e vida". Explique o porquê dessa inversão.
3) “Vestido de Noiva” de Nelson Rodrigues
1 - As relações entre as pessoas são tensas e conflitantes. Estabeleça o tipo de conflito
existente entre as personagens:
a) Alaíde e Lúcia:
b) Alaíde e Pedro :
c) Lúcia e Pedro: d) Alaíde, Lúcia e Pedro:
2 - Identifique no texto situações que correspondam aos planos da realidade, da memória e
da alucinação.
3 - Vestido de noiva traz uma série de inovações formais.
a) Que elementos do texto permitem afirmar que Vestido de noiva não obedece às regras de
unidade de tempo e espaço preconizadas por Aristóteles para toda peça dramática?
b) O tempo passado se apresenta de modo linear? Fundamente sua resposta com
elementos do texto.
c) De que linguagem é própria a técnica do flash- back utilizada por Nelson Rodrigues
para reconstruir o passado de Alaíde?
4) “Cemitério de Elefantes” de Dalton Trevisan
1 - Com base no conto, dê exemplos do ultra-realismo de Dalton Trevisan, Justifique as
escolhas.
2 - O conto guarda um tom mítico. Os bêbados são considerados animais sagrados. O local
onde se encontram é extemporâneo - parece não pertencer a este mundo. Você concorda com
essa interpretação?
3 - Há um respeito enorme do narrador com relação às personagens enfocadas Pode-se
dizer que o narrador as trata com um relativo lirismo. Exemplifique esse aspecto lírico
4 - Há critica social nesse conto? Justifique a sua resposta.
5) “As meninas” de Rubem Braga
1) É próprio da crônica valer-se de situações cotidianas ou de lembranças dessas situações,
guardadas na memória durante longo tempo. No caso da crônica lida, que fato a originou?
2) A cena observada e descrita pelo narrador apresenta uma oposição entre o estado de
espírito do narrador naquele momento e o que a cena, em si, expressava.
a) Como o narrador se sentia naquele momento?
b) Que impressão o narrador teve da cena?
3) O cronista geralmente é aquele que tem a capacidade de ver os fatos da realidade de
forma diferente, mais sensível e/ou crítica. Nas crônicas de Rubem Braga, particularmente, esses
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momentos são tão agudos que se tornam verdadeiros "lampejos de sensibilidade", "iluminações do
espírito", dando um sentido novo à nossa relação com a vida e com o mundo. Esses momentos
epifânicos são, por um lado, reveladores; por outro são transitórios, instantâneos.
a) Destaque um trecho do texto que revele a consciência do narrador sobre a transitoriedade
do tempo e dos instantes de beleza.
b) Na literatura clássica, a consciência da efemeridade do tempo leva ao carpe diem, isto é,
ao desejo de gozar o presente. Na crônica lida, o narrador tem vontade de satisfazer esse desejo
de forma puramente individual? Justifique.
4) Os momentos epifânicos, tanto na vida real quanto na ficção, geralmente resgatam
valores e emoções adormecidos ou abafados pela vida cotidiana.
a) No penúltimo parágrafo se lê: "ou talvez eu quisesse dizer alguma coisa a essa pessoa e
apenas lhe soubesse dizer: "veja aquelas duas meninas...". Levante hipóteses:
o que possivelmente o narrador poderia ter dito, além do que efetivamente disse?
b) O narrador da crônica "As meninas" revela ter tido alterações em seu estado de espírito
depois da cena presenciada?
c) Considerando o papel interativo do texto literário, é possível supor que o leitor se sinta
modificado após ter contato com essa crônica? Por quê?
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BIBLIOGRAFIA.
GONZAGA, Sérgius. Manual de Literatura Brasileira, 10 ed. Mercado Aberto, 1992.
ABAURRE, Maria Luiza. PONTARA, Marcela Nogueira, FADEL, Tatiana. Portuguesa: Língua e Literatura:
volume único, 2 ed. São Paulo . Moderna 2003

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