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Caderno de Cultura
e Política
Diretório Acadêmico Barros Terra
Recepção de Calouros – 2014.1
Março de 2014
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ÍNDICE
PREFÁCIO .................................................................................................................................... 5
DABT ........................................................................................................................................... 7
DENEM ....................................................................................................................................... 9
O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE .................................................................................................... 13
EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO MÉDICA ............................................................................................ 17
O HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANTÔNIO PEDRO E SUA EMERGÊNCIA .......................................... 21
EBSERH E HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS ...................................................................................... 23
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA – O MUNDO LÁ FORA ...................................................................... 25
INICIAÇÃO CIENTÍFICA E A PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA.................................................. 29
ESTÁGIOS INTERNACIONAIS – A CLEV E OUTRAS FORMAS DE MOBILIDADE INTERNACIONAL .... 31
ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL ......................................................................................................... 35
LIGAS ACADÊMICAS................................................................................................................... 39
PROGRAMA DE MONITORIA ...................................................................................................... 47
O ESTUDANTE DE MEDICINA E A PRÁTICA ESPORTIVA ............................................................... 48
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PREFÁCIO
Amigo estudante,
Preparamos esse caderno de textos especialmente para você, que está entrando nesta
Universidade agora, e está entrando em contato com um mundo completamente novo. Na
Universidade você será confrontado com situações e desafios que farão sua mente pensar mais
alto e seu coração bater mais forte. Tanta novidade pode deixar o estudante aflito,
desorientado, instigado, motivado, amedrontado. Emoções naturais, frente ao caminhão de
experiências novas que se descarrega sobre um primeiranista como você.
A ideia deste caderno é justamente ajudá-lo a organizar seu pensamento; ajudar você a
refletir sobre essas novas palavras, siglas, nomes, que vão começar a pipocar ao longo das
próximas semanas, e que vão deixar muitos de vocês curiosos, porém desorientados. Não pense
que esta cartilha que está em suas mãos se propõe a lhe impor uma linha ideológica. Pense você
como queira. Leia criticamente. Rabisque. Anote. Pesquise. Este caderno é seu, para seu uso e
desfrute. Saboreie cada palavra, reflita e tire suas próprias conclusões. Queremos apenas ajudálo a dar os primeiros passos, e mostrar algumas formas de se pensar dentro dessa Universidade.
Todos os textos nesse caderno foram produzidos por estudantes, assim como vocês. A
partir de suas próprias experiências, frente ao desafio de produzir esse material informativo,
eles pesquisaram, correram atrás de respostas, e no fim vão gerar novas perguntas. E assim, eles
esperam contribuir humildemente para sua formação.
A seleção de tópicos que fizemos visa cobrir os assuntos mais recorrentes no início de
sua vida acadêmica. Não pense que esse caderno esgota as possibilidades de discussão de
assuntos: a ciência humana pode ser infinitamente explorada. Este é o bê-á-bá, o feijão com
arroz que todo estudante deveria saber sobre sua universidade, para começar a explorá-la.
A sua entrada na UFF tem o potencial de transformar a sua vida. Transformar o jeito que
você pensa. Mudar a forma de ver o mundo. Agarre essa oportunidade com todas as forças.
Aproveite para saber mais, ler mais artigos, participar mais das discussões, e quem sabe um dia,
ser protagonista nesses tão diversos cenários de produção da nossa sociedade e do nosso modo
de viver. É do nosso entendimento da realidade que produzimos nossos pensamentos e ações.
Entenda, desentenda; pense, repense; aja, reaja; evolua, revolucione!
Gabriel Ott, coordenador de Cultura e Formação Científica do DABT, gestão 2014
9º período do curso de Medicina da Universidade Federal Fluminense
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DABT
Autora: Mayara Secco Torres da Silva, coordenadora de Administração e Finanças do DABT, gestão
2014 – “Enquanto houver razões”
Quem constrói algo sozinho? Há muitos anos, as pessoas se unem em grupos em prol de
interesses convergentes e precisam de alguém que se disponha a representá-los. Com os
estudantes de medicina da UFF não seria diferente. Em 1929, foi fundado o Diretório Acadêmico
de Medicina da Faculdade Fluminense de Medicina e, em 1945, este que tinha a função de
representar todos os estudantes de medicina da então Faculdade Fluminense de Medicina passa
a ter seu nome homenageando um importante professor, Antônio de Barros Terra. A história do
Diretório Acadêmico Barros Terra (DABT) precede, portanto, a história da própria UFF, cuja
antecessora, a UFERJ, foi criada apenas em 1961.
O DABT foi um dos primeiros Diretórios Acadêmicos de Medicina no Brasil,
desempenhando papel fundamental na construção do Movimento Estudantil de Medicina
(MEM), na fundação e construção da Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina
(DENEM) – que representa os estudantes de Medicina a nível nacional –, do processo de
Redemocratização do Brasil e da Reforma Curricular do Curso de Medicina da UFF, em 1992.
Inclusive, as discussões curriculares travadas aqui em Niterói inspiraram as novas Diretrizes
Curriculares Nacionais para o curso de Medicina, lançadas em 2001. Até hoje, o DABT participa
ativamente dessas pautas: nas Manifestações de Junho de 2013 os estudantes de Medicina da
UFF foram às ruas do Rio de Janeiro e de Niterói, com gritos uníssonos por saúde e educação;
sediou o XXVI Congresso Brasileiro dos Estudantes de Medicina (COBREM), quando foi eleita a
atual gestão da DENEM e foi elaborado o planejamento da Executiva para 2014; organiza
anualmente uma Conferência Curricular, além de participar transversalmente na discussão de
Educação Médica dentro e fora da Universidade; e, acima de tudo, luta pelos interesses dos seus
estudantes.
Todos os alunos de Medicina da UFF são parte do DABT, e convidados a construir
ativamente o Diretório. Na UFF, entendemos que um DA deve ser construído de baixo para
cima: ou seja, as ações da Diretoria devem ser pensadas e realizadas a partir do desejo, das
demandas e das inquietações estudantis. A estruturação do DABT ratifica esse modo de pensar,
quase que institucionalizado ao longo dos anos: dentro das Reuniões Ordinárias de Diretoria,
qualquer estudante tem direito a voz e voto, sendo um dos únicos DA’s do Brasil inteiro a agir
dessa forma. Além disso, apesar de termos a figura do Coordenador Geral, a gestão é horizontal:
todos os coordenadores votam da mesma forma, não existindo qualquer tipo de hierarquização
de funções.
Ainda há muitos desafios pela frente. Nosso currículo, outrora tão aplaudido, mostra
inúmeras dificuldades em ser aplicado: a integração ainda é um sonho, professores
descompromissados com o ensino, dificuldade de inserção dos estudantes na rede de saúde.
Nosso Hospital Universitário, reaberto em um cenário quase que heroico após o incêndio do
Gran Circo Norte Americano, maior tragédia coletiva pela qual o Brasil passou, encontra-se em
processo de sucateamento, assim como os outros Hospitais Federais. As políticas do governo
federal para a área da Saúde têm se intensificado: com o Programa Mais Médicos, lançado em
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2013, houve mudanças no que concerne o trabalho médico, a formação e a Residência. Dentro
do DABT, todas essas questões são discutidas, desde problemas mais internos quanto políticas
externas.
Nesse cenário, quais são os interesses do estudante da área de Saúde? Qual é o papel do
Movimento Estudantil? Em que níveis, dentro e fora da Universidade, podemos atuar para que
tenhamos uma boa formação? Qual a nossa responsabilidade na luta por um Sistema de Saúde
gratuito, universal e de qualidade? Como lidar, futuramente, quando soubermos o que fazer
com um paciente e isso simplesmente não adiantar? E quando pudermos receitar medicamentos
para a dor nas costas de um paciente, porém sabermos que isso não será o suficiente, pois a
pessoa que está na sua frente trabalha como motorista de ônibus, acumulando também a
função de trocador, e passa horas em posição de desconforto, não tendo condições de se
alimentar adequadamente ou de exercitar-se? Conhecer a técnica correta, saber profundamente
Semiologia, Clínica e Farmacologia, é essencial e te permite salvar a vida do paciente que está na
sua frente; envolver-se com o ser humano que pode precisar de seu atendimento, entendendo
que ele só terá Saúde, de fato, quando tiver acesso não só à assistência médica, como à
educação, saneamento básico, cultura, alimentação, permite que sua atuação seja no sentido de
transformar muito mais vidas.
Hoje, o convite que o DABT faz a você, que está ingressando na Faculdade de Medicina
da Universidade Federal Fluminense, é a reflexão sobre o seu papel a partir de agora.
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A partir de qual conceito de saúde você quer direcionar sua formação?
Como ter uma atuação realmente transformadora?
Como modificar o lugar em que estou?
Qual é o papel do médico na sociedade?
Pense um pouco em cada pergunta dessas ao longo do tempo que estiver conosco, durante
a Semana de Recepção. Use-as para direcionar cada atividade que levarmos vocês. Deixe que
elas lhe incomodem. Converse conosco e com seus colegas. Instigue-se. E não tenha a pretensão
de responder a essas questões em uma semana, a ideia é que essas respostas sejam refletidas,
rediscutidas, reformuladas: nada é estático, e nem você deve ser. Fica aqui, então, o convite,
para que você compareça toda segunda-feira, às 18 horas, na sala do DABT, momento em que
nos reunimos, nos movimentamos, nos repensamos, nos reconstruímos. E tentamos extrapolar
isso para o lugar onde estamos também. Vocês, calouros, já são parte do DABT, e mais do que
isso, é para vocês que o DABT existe.
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DENEM
Autora: Mayara Secco Torres da Silva, coordenadora de Administração e Finanças do DABT, gestão
2014 – “Enquanto houver razões”
O Movimento Estudantil no curso de Medicina
A Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina, DENEM, foi fundada em 1986,
durante o Encontro Científico dos Estudantes de Medicina (ECEM). Até hoje, esse evento
configura-se como maior instância deliberativa dentro da Executiva. Antes da fundação da
DENEM, porém, estudantes de Medicina já se organizavam há muito tempo,
independentemente da Secretaria de Biomédicas da União Nacional dos Estudantes, UNE. O
Movimento Estudantil da Medicina desempenhou papel essencial, por exemplo, no Movimento
da Reforma Sanitária. Os ECEMs, inclusive, foram uma estratégia utilizada para que se
conseguisse realizar debates políticos durante os anos de Ditadura Militar.
A DENEM se propõe a ser uma entidade representativa dentro do Movimento Estudantil
de Medicina, de modo que assume também um papel de movimento social. Todavia, suas
frentes de luta e seus interesses defendidos devem representar de fato os estudantes de
Medicina. Daí a importância de que as pessoas que ocupam a DENEM tenham essa clareza, a fim
de construir a Executiva a partir da base dos estudantes, e não por ideias de determinados
grupos que estejam no “poder”. Para tanto, é primordial uma maior aproximação e interesse
dos alunos em relação aos assuntos da Executiva. É essencial a importância de um debate, e esse
sim irá direcionar uma construção coletiva.
Há muito, os pontos principais discutidos pela DENEM são baseados em três eixos: 1)
Reformulação do Ensino Médico; 2) Saúde Pública; 3) Mercado de Trabalho. Existem
documentos que comprovam que esses pontos foram discutidos no ECEM de 1985, porém
continuam muito atuais dentro da Executiva. Além disso, alguns outros debates foram sendo
incorporados: opressão e questão LGBT, produção cultural, meio-ambiente, entre outros. Isso
tudo tem proporcionado aos estudantes uma visão mais ampliada quanto à Saúde.
A estrutura da DENEM
Atualmente, a DENEM é composta pela Coordenação Nacional (CN) e pelo Centro de
Estudos e Pesquisas em Educação e Saúde (CENEPES). Além disso, existem algumas Assessoriais,
tais como: Assessoria de Planejamento, Assessoria de Mídias e Assessoria de Resgate Histórico.
A CN é formada pela Sede (Coordenação Geral, Coordenação de Finanças e Coordenação
de Comunicação), Coordenação de Relações Exteriores (CREx) e Coordenações Regionais (CRs).
Existem oito CRs, que agrupam estados, de acordo com a região e também com o número de
escolas médicas. As CRs são formadas por suas Coordenações Locais, que são os Centros e
Diretórios Acadêmicos de cada Universidade que as compõe. O Rio de Janeiro, junto ao Espírito
Santo, faz parte da Coordenação Regional Sudeste 1. Então, o DABT é uma Coordenação Local da
CR – Sudeste 1.
O CENEPES é formado por Coordenações de Área. São elas: Coordenação de Educação
em Saúde, Coordenação de Políticas de Saúde, Coordenação de Políticas Educacionais,
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Coordenação de Extensão Universitária, Coordenação de Cultura, Coordenação de MeioAmbiente, e Coordenação Científica.
Ao longo do ano, são realizados diversos eventos deliberativos da DENEM. O
interessante é que esses eventos, além de cumprirem sua função deliberativa, são espaços de
muito crescimento político, profissional e pessoal. São discutidos diversos temas, muito
relevantes para a Educação e a Saúde, além da oportunidade de conhecer estudantes de
Medicina das mais diversas faculdades do nosso país.
São eles:
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Encontro Científico dos Estudantes de Medicina (ECEM), é o fórum máximo de deliberação
da Executiva, todos os estudantes inscritos têm direito a voz e voto;
Congresso Brasileiro dos Estudantes de Medicina (COBREM): segundo maior fórum de
deliberação, é onde ocorre o planejamento da DENEM para o ano corrente e, atualmente, é
quando se elege toda a gestão da DENEM;
Reunião dos Órgãos Executivos (ROEx): terceiro maior fórum de deliberação, nesse espaço
todo CA e DA tem direito a um voto;
Reunião de Coordenação Nacional da DENEM;
Encontro Regional dos Estudantes de Medicina (EREM): nesse espaço, organizado pelas
respectivas CRs, são debatidos diversos temas e é um ótimo espaço para conhecermos
melhor as pessoas que estudam perto de nós e compartilham da nossa realidade;
Reunião de Coordenação Regional: geralmente, acontecem todo mês, e deliberam sobre os
assuntos da CR e sobre posicionamentos próprios a serem levados a nível nacional. Nesse
espaço, também são pautadas quaisquer questões dos interesses dos estudantes, por
exemplo, na CR Sudeste-1, a questão do descredenciamento da Universidade Gama Filho
vem sendo acompanhada de perto!
Além disso, a CR Sudeste-1 realiza alguns outros eventos: as Olimpíadas Regionais dos
Estudantes de Medicina (OREM), onde mais de 5000 estudantes ficam juntos por alguns dias de
muito esporte e muita diversão e também o Seminário de Gestão, onde integrantes de diversos
CAs e DAs podem discutir sobre aspectos internos de suas realidades.
A DENEM hoje
Em janeiro de 2014, a UFF sediou o XXVI COBREM. Com o tema “Da copa eu abro mão:
sou estudante, quero saúde e educação”, um dos assuntos extremamente pautados durante o
evento foi a representatividade da DENEM. Será que as questões da Executiva estão sendo de
fato construídas a partir da base de estudantes? Ou estaríamos caminhando pela “pirâmide
invertida”, isto é, a gestão deliberava algo e apenas repassava isso para os estudantes? Por que
os eventos da DENEM têm sido relativamente esvaziados? Antigamente, iam 2000 alunos em um
COBREM ou ECEM. Hoje, vão, em média, 500.
Não é por menos que uma das frentes definidas como prioritárias ao longo do
planejamento desse COBREM foi de nome “Mobilizações e Organizações Estudantis”, cujo cerne
foi justamente a questão da representatividade. Foram enumeradas diversas ações a serem
seguidas pela Executiva ao longo do ano, no sentido de trazer mais estudantes para participar da
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Executiva. É importantíssimo que os rumos da DENEM sejam definidos pela maior quantidade
possível de estudantes de Medicina do Brasil!
No Ministério da Saúde, atualmente, há uma grande quantidade de ex-membros da
DENEM. Para muitos, a Executiva é considerada uma “escola de formação”. Apesar de esse não
ser o objetivo da entidade, de fato durante a vivência nos espaços promovidos, aprende-se
muito sobre vários aspectos da vida, abarcando inúmeras questões políticas e culturais.
Participar da DENEM é um grande aprendizado, em várias formas!
Hoje, alguns integrantes da UFF participam da Coordenação Regional Sudeste 1, da
Coordenação Científica e da Coordenação de Relações Exteriores. Para conhecer melhor a
DENEM, não é preciso ser membro do DABT, basta ter vontade! E o convite já está feito para
você, que entrou agora na faculdade e é muito bem-vindo em qualquer espaço promovido pela
Executiva! Aliás, a Executiva agora também é você!
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O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
Autora: Mayara Secco Torres da Silva, coordenadora de Administração e Finanças do DABT, gestão
2014 – “Enquanto houver razões”
Um resgate histórico
Durante os dois últimos séculos, o conceito de saúde foi alvo de muitas discussões. O
que antes significava tão somente a “ausência de doenças” passou a ser definido pela
Organização Mundial de Saúde, em 1946, como um “estado de completo bem-estar físico,
mental e social”. Essa mudança foi fruto de uma compreensão diferenciada do processo saúdedoença, resultando ainda na reforma de modelos de saúde por todo o mundo.
Na Inglaterra, em 1948, foi criado o National Health Service (NHS), sistema de saúde tido
como pioneiro, pelo foco na Atenção Primária à Saúde e por seu caráter universal e 100%
público. Mais tarde, alguns modelos de saúde se assemelharam ao NHS: em Quebec, no Canadá,
e no Brasil.
A história das Políticas de Saúde no Brasil assume um caráter polêmico desde a época de
Oswaldo Cruz, quando esse coordenou as campanhas de erradicação de doenças infecciosas. A
população considerou a abordagem truculenta, e a insatisfação gerada culminou na Revolta da
Vacina, em 1904. No decorrer do século XX, as ações em saúde transitaram de um modelo
campanhista para um modelo mais assistencial. É importante a noção dos seguros, quando
trabalhadores juntavam dinheiro nas Caixas de Aposentadorias e Pensões, que deram origem
aos Institutos de Aposentadorias e Pensões, e futuramente foram unificados em INSS e INAMPS.
Com isso, as categorias trabalhistas asseguravam sua assistência; os trabalhadores informais e
desempregados, porém, ficavam dependentes de hospitais filantrópicos, como as Santas Casas.
Além disso, a construção de muitos hospitais privados foi financiada pelo governo. Assim, o
modelo de atenção à saúde no Brasil reforçava as tendências hegemônicas, caracterizadas por
um caráter meramente curativo, com o uso de muitas tecnologias pesadas e tendo o hospital
como o foco da assistência.
É no contexto pós-ditadura, durante os anos de redemocratização, que o SUS é criado.
Fruto de muita luta de décadas anteriores, o Movimento da Reforma Sanitária conseguiu seu
espaço na Constituição Cidadã. A saúde passa a ser incluída entre os deveres do Estado, e como
um direito de todos, relembrando o princípio da universalidade do NHS. Seu projeto, porém, não
exclui a saúde privada: na lei, é prevista a existência da Saúde Suplementar como uma
modalidade complementar ao SUS.
A criação do SUS traz consigo alguns outros princípios e características: atenção integral
com enfoque em atividades preventivas, regionalização, hierarquização, controle social,
financiamento totalmente público. Dentro desse sistema, a Atenção Primária à Saúde começa a
ganhar o seu espaço, principalmente após a criação da Estratégia de Saúde da Família, em 1994.
Baseando-se em algumas experiências nacionais (Niterói, Londrina) e internacionais (Inglaterra,
Cuba, Quebec), o modelo de Saúde da Família vem consolidando a Atenção Primária como uma
grande necessidade dentro da assistência à saúde.
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Mas, afinal, o que é a Atenção Primária?
O modelo da Atenção Primária à Saúde (APS) é uma estratégia de organização do
sistema de Saúde, cujas origens remontam ao Relatório Dawson, produzido na Inglaterra, em
1920. Trata-se de uma ruptura com o modelo hegemônico relatado no Relatório Flexner,
produzido nos Estados Unidos em 1910, e já caracterizado nesse texto.
A base da APS é a implantação maior de Unidades Básicas, que seriam responsáveis por
um determinado território e dariam conta de 80% da demanda daquela região. Nesse espaço,
seriam realizados atendimentos de menor densidade tecnológica, atividades de prevenção,
acompanhamento médico. A intenção é que a equipe responsável pela unidade conheça bem as
peculiaridades daquele território e consiga se relacionar com o usuário a ponto de conhecer
suas nuances familiares, seu bem-estar social, sua saúde psicológica. Nesse sentido, destacam-se
as figuras dos Agentes Comunitários de Saúde, que são moradores da região, é importantíssima,
por conhecerem bem a comunidade, e dos Médicos de Família, que são médicos generalistas
aptos a atuar no dia-a-dia da Atenção Primária.
Os outros 20% da demanda seriam absorvidos por Policlínicas de Especialidades e
Hospitais, a partir de um sistema de referência e contra-referência. Temos, então, a organização
do Sistema de Saúde em níveis, hierarquizados não por complexidade, já que são exigidos
modos de lidar diferentes, mas por densidade das tecnologias utilizadas. Enquanto na APS
utilizam-se ferramentas mais básicas, sendo o principal trunfo a relação médico-paciente, no
nível terciário (hospitais altamente tecnológicos), por exemplo, temos a capacidade de realizar
exames mais pesados, como uma Tomografia Computadorizada.
A realidade do SUS
O SUS é um sistema politicamente jovem. Comparado ao NHS, por exemplo, é quase
recém-nascido. Existem, portanto, muitos entraves a serem superados. A luta que marcou a
trajetória da Reforma Sanitária e culminou na criação do Sistema não pode ter sua chama
apagada.
Primeiro, a concepção da APS contrapõe o desejo imediatista das pessoas. Quando
sofremos, queremos logo um remédio que cure nossa dor. É preciso entender que nem sempre
a medicalização de uma situação é a melhor solução; que um remédio é incapaz de resolver o
universo psicossocial que nos é inerente. Conseguir essa compreensão de toda a população é
um desafio.
Além disso, políticas neoliberais tentam, em todo o mundo, desmontar sistemas
públicos de saúde, em prol de interesses privados. O Banco Mundial produz cartilhas que
determinam a responsabilidade mínima do Estado com a saúde. Como consequência, vemos a
precarização e o sucateamento de serviços públicos. O SUS é subfinanciado. O país investe
apenas 6% do seu orçamento em saúde. Vemos a gestão pública entregue às Organizações
Sociais de Saúde e à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. É preciso força. E muita luta.
Apesar de tantas notícias sobre o péssimo estado dos hospitais públicos e muita crítica
ao atendimento prestado, precisamos também observar alguns aspectos positivos que o SUS
tem desempenhado. Atualmente, o sistema público cobre a vacinação de grande parte da
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população. São disponibilizadas vacinas, como BCG (tuberculose), MMR (sarampo), febre
amarela, gripe, entre outras. Somos inclusive autossuficientes na produção de muitas dessas. O
SUS oferece ainda outros serviços, como transplante de órgãos, diálise, Farmácia Popular,
ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Temos locais de referência internacional,
como o INCA – Instituto Nacional do Câncer e o INC – Instituto Nacional de Cardiologia. Mesmo
subfinanciado, o SUS consegue produzir muito. E tudo para o povo, por quem sua existência é
pautada. É para o povo que o SUS existe. Não para interesses de pequenos grupos.
Há muito que se avançar ainda. Ampliar e consolidar a rede de Atenção Primária.
Melhorar a infraestrutura dos níveis secundário e terciário. Diminuir as filas de espera.
Aumentar o financiamento do SUS. Formar mais profissionais. O caminho a ser percorrido é
árduo e longo, não podemos nos enganar. Porém, é necessário ter a consciência de que o nosso
Sistema não é feito apenas de escândalos e notícias ruins. Também fazemos muitas coisas boas.
Também temos muito para ensinar.
E é nesse entremeio que se formam os futuros profissionais de saúde. É nessa
contradição entre a consolidação de um sistema universal e o seu desmonte que o usuário tem
acesso à saúde. Nessa necessidade de considerar os aspectos positivos e tentar solucionar os
negativos. O SUS nunca foi nos entregue de mãos beijadas; o direito à saúde é fruto de muito
esforço e muita reivindicação. A sua consolidação exige o mesmo espírito de luta do Movimento
da Reforma Sanitária. Ou melhor, exige mais. Exige de todos nós, que, direta ou indiretamente
usufruímos desse sistema. Exige de todos nós, que entendemos a saúde como um direito, e não
como uma mercadoria.
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EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO MÉDICA
Autora: Carine Marie Vasconcellos Sales, estudante de Medicina da UFF, turma 111
A formação médica é um assunto que sempre esteve em constante debate no meio
acadêmico, sendo o Movimento Estudantil agente fundamental para mudanças nas bases
curriculares dos cursos de Medicina. Mas por quê? Porque a partir da análise do currículo das
faculdades de Medicina podemos ver que tipo de profissionais estão sendo formados e a que
interesses esse tipo de formação atende.
No início do século XX, foi publicado o "Relatório Flexner", por Abraham Flexner, a partir
de uma pesquisa realizada sobre o ensino da Medicina nos EUA. Em tal documento, o autor
defendia que o ensino deveria ser feito tendo como base o pensamento limitado que acredita
que o corpo humano é uma máquina, como tal é constituído por peças e que a doença é uma
falta de funcionamento adequado dessas peças, sendo o papel do médico resumido a consertar
os defeitos de funcionamento dessa máquina. Podemos ver que uma forte característica desse
modelo é o estímulo à especialização, visto que cada especialidade médica estaria relacionada
ao conserto de um determinado grupo de peças dessa máquina, isto é, o estudo de
determinados órgãos e sistemas do indivíduo.
Nesse Relatório, o autor divide a formação médica em ciclos básico, no qual seriam
utilizados laboratórios, e clínico, no qual seriam utilizados hospitais, e em internato hospitalar.
Cada um destes ciclos teria a duração de 2 anos. No ciclo básico, seriam abordadas as
características morfofisiológicas do indivíduo, com disciplinas como anatomia, fisiologia,
histologia, bacteriologia. No ciclo clínico, seriam abordadas grandes áreas como clínica médica,
pediatria e cirurgia. Por fim, o internato hospitalar seria o período de prática do curso.
A ênfase à formação hospitalocêntrica gerou como demanda a construção de uma
unidade que viabilizasse sua implementação. A essa unidade foi dado o nome de Hospital
Universitário. Desta forma, podemos ver que o curso médico possuía como fortes características
a fragmentação excessiva, sendo dado grande foco às especialidades, excesso de aulas teóricas,
em detrimento da prática, e ênfase em pacientes mais graves, que necessitavam de
acompanhamento hospitalar.
O enfoque biologicista no processo saúde-doença defendido por esse relatório é
chamado de Modelo Biomédico, o qual dissocia completamente a Educação Médica das
preocupações com as mazelas sociais. Essa nova ideia de Educação Médica foi fundamental para
atender o interesse do complexo médico-industrial, uma vez que fomenta a criação da "indústria
da doença", que dá ênfase à utilização de exames complementares e da medicalização. Por
conta de sua ampla aceitação entre as escolas médicas nos EUA, e, em poucas décadas, em boa
parte do mundo, esse Modelo Biomédico ficou conhecido também como Modelo Hegemônico.
No entanto, embora resolutivo para o reestabelecimento da saúde em alguns, uma boa
parcela da população não era assistida por esse Modelo. Como diminuir a incidência de
hipertensão arterial sistêmica e diabetes sem mudanças no estilo de vida? Como explicar a
menor incidência de doenças infecto-parasitárias com medidas sanitárias do que com o
surgimento e utilização de antibióticos? Como tratar as doenças psicossomáticas?
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Tentando responder essas perguntas, ressurgiu o debate sobre a determinação social no
processo saúde-doença, liderado, no Brasil, pelo Movimento pela Reforma Sanitária. Originado a
partir da luta contra a Ditadura Militar, tal movimento tinha como bandeira principal a
democratização da saúde em seu conceito mais amplo. Sobre o debate, a reflexão trazida era de
que é impossível e leviano desassociar a determinação social do processo saúde-doença, visto
que o papel que o indivíduo ou grupo social desempenha na sociedade influencia diretamente as
formas de viver, adoecer e morrer. A luta do Movimento pela Reforma Sanitária culminou na
criação do SUS, no ano de 1988.
Ao ressurgir e ganhar força, essa nova proposta do entendimento do processo saúdedoença reacendeu o debate nas escolas médicas: o currículo tradicional estaria formando
profissionais com esse perfil, a fim de atender ao interesse de assistência a saúde num conceito
mais amplo?
A partir deste questionamento, foi criada a Comissão Interinstitucional de Avaliação do
Ensino Médico (CINAEM), no início da década de 1990. A Comissão era composta por onze
entidades, tais como a Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina (DENEM) e
Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM). Ao final de um processo de elaboração e
análise de propostas, que durou 10 anos, foram homologadas, em 2001, as Diretrizes
Curriculares Nacionais (DCN), que são, em linhas gerais, um conjunto de orientações para a
graduação em Medicina no Brasil, definindo os princípios, fundamentos, condições e
procedimentos para formação de médicos, e levando em consideração que estes serviriam de
recursos humanos para o SUS.
A nossa faculdade de Medicina da UFF foi pioneira, em âmbito nacional, na ampliação do
debate acerca do currículo das escolas médicas e na maior integração entre faculdade de
Medicina e sociedade, antes mesmo da CINAEM. Em consequência disso, em 1994, foi realizada
a Reforma Curricular no nosso curso, que contou com participação ativa do Movimento
Estudantil. Tal currículo implementado serviu inclusive de modelo para a construção das DCNs.
O currículo novo - que já tem quase 20 anos de implementação - tem como objetivo
principal a revalorização da interação entre o ser humano, a sociedade a qual pertence, o meio
ambiente onde habita e a formação do médico. O que se espera é que o egresso tenha
capacidade de atender às necessidades básicas de saúde da população, desempenhando tarefas
de promoção, prevenção, cura e reabilitação.
Claramente contra-hegemônico, o currículo da nossa Faculdade foi pensado em dois
eixos - horizontal e vertical. O primeiro representa o crescente nível de complexidade das
disciplinas, enquanto o segundo representa a integração entre o conhecimento adquirido e a
aquisição e treinamento de habilidades práticas, desde o primeiro período letivo de faculdade,
indo de encontro ao Modelo Flexneriano, que concentrada a prática nos dois últimos anos.
O Curso de Medicina da UFF, pelo novo currículo, está compreendido em 6 fases, cada
uma correspondendo a dois períodos letivos, sendo as quatro primeiras divididas em dois
programas: o teórico-demonstrativo, que diminui em carga horária ao longo do tempo, e o
prático-conceitual, que aumenta em carga horária ao longo do tempo. As duas últimas fases são
dedicadas ao internato, sendo a quinta fase destinada ao internato obrigatório e a sexta fase
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dedicada ao internato eletivo. Observando a figura 1, podemos compreender melhor como o
nosso currículo funciona.
Eixos Integradores - Figura 1
Como todo processo contra-hegemônico enfrenta barreiras para obter sucesso, com a
implementação e operacionalização do nosso currículo não seria diferente. Mesmo depois de 20
anos, a proposta curricular não foi plenamente desenvolvida. Os motivos são os mais variados,
sendo falta de identificação ideológica do corpo docente com o currículo, falta de vínculo da
Faculdade de Medicina com a rede de saúde de Niterói e falta de infraestrutura das Unidades de
Saúde para receber os alunos alguns deles.
Há 5 anos, o Diretório Acadêmico Barros Terra (DABT) organiza anualmente a
Conferência Curricular do Curso de Medicina da UFF. O evento a cada ano tem conseguido
agregar mais docentes e discentes a fim de discutir os pontos falhos da implementação do
currículo. Além disso, o DABT também possui representatividade em todas as instâncias
deliberativas da Faculdade de Medicina, tais como Colegiado de Curso e Colegiado de Unidade,
ratificando o papel fundamental que o Movimento Estudantil tem no aperfeiçoamento da
Educação Médica.
Assim, podemos ver que a Educação Médica no Brasil hoje em dia, pelo menos das
DCNs, tem uma ligação muito forte com os Movimentos Sociais. No entanto, é necessário que
cada um se identifique como sujeito nessa luta seja incessante, para que tal ligação extrapole a
idealização e se torne realidade.
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O HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANTÔNIO PEDRO E SUA
EMERGÊNCIA
Autor: Gabriel Maia Scharnhorst Ott, coordenador de Cultura e Formação Científica do DABT, gestão
2014 – “Enquanto houver razões”
Dentro do curso de medicina, uma das etapas mais esperadas pelos alunos é a entrada
no Hospital Universitário (HU). Alguns criam tal expectativa baseados na vontade de realizar
procedimentos complexos; outros, na possibilidade de entrar em contato com pacientes; há
também aqueles que desejam experimentar a sensação de investigar patologias misteriosas. O
fato é que, ainda hoje, mesmo com a elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais para os
Cursos de Medicina, e a reorientação da formação médica para um modelo pautado na Atenção
Primária em Saúde, até hoje o HU ocupa um papel central no ensino do profissional de saúde.
Na UFF, o nosso HU chama-se Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP).
O HUAP teve sua construção iniciada ainda na década de 1940. O projeto original já
vislumbrava um hospital de grande porte, que atendesse às necessidades da cidade de Niterói
(que então havia perdido um de seus hospitais mais importantes), São Gonçalo, Maricá, Itaboraí
e as cidades mais ao interior. Esse hospital contava com setor de emergência, ambulatórios,
enfermarias e maternidade, todos no prédio principal de oito andares. Ao longo das décadas, o
hospital foi sendo expandido, contando hoje com vários blocos interligados por passagens em
vários andares.
Em 1951, então, foi inaugurado o Hospital Municipal Antônio Pedro. Naquela época, o
HMAP sobrevivia financiado pelo governo municipal, mas progressivamente teve como principal
mantenedora a Polícia Militar, até que, em dezembro de 1960, o Hospital estava prestes a ter
suas portas fechadas, por falta de recursos. Os jornais da época questionavam: “a equipe que
permanece de serviço pouca coisa poderia fazer caso fosse chamada a atuar numa emergência
de maiores proporções” (O Fluminense, 01/12/1960). Esse mês seria marcante para o Hospital:
no dia 3 de dezembro de 1960, 150 estudantes da Faculdade Fluminense de Medicina (FFM),
representados pelo DABT, decidiram tomar as rédeas do processo e ocuparam o HMAP,
formando acampamento e reabrindo o setor de urgência e a maternidade. Eles exigiam a
federalização do Hospital e sua transformação em hospital-escola da FFM. Durante assembléia
no próprio Hospital, os estudantes rebatizaram-no de Hospital Universitário Antônio Pedro.
A situação de ocupação estudantil do HUAP perdurou até o dia 17 de dezembro,
quando, em circunstâncias trágicas, o Hospital teria suas portas reabertas à força por
trabalhadores: o Gran Circo Norte Americano, com lotação de mais de 3100 pessoas, havia
incendiado. Foram contados mais de 500 mortos, e um número muito maior de vítimas,
queimados que foram levados ao Hospital. De maneira abnegada, heroica e sofrida, clínicos,
cirurgiões, enfermeiras e voluntários trabalharam incessantemente no HUAP para cuidar
daqueles atingidos pela tragédia circense com maior número de vítimas da história.
É nesse contexto que ressurge a Emergência do Antônio Pedro. Um setor do hospital que
já nascera grande, e que nos próximos anos, ficaria maior ainda. Na década de 70, o setor de
emergência chegou a atender mais de 1.000 pacientes em um só dia (sim, mas de mil!). Atendia
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a todos os tipos de agravos, desde unhas encravadas e sinusites, até atropelamentos e paradas
cardíacas. Em meio a todo esse movimento, os estudantes de medicina aprendiam a atender
urgências e emergências. A Emergência do HUAP era um polo de atendimento para toda a
região da Grande Niterói e Região dos Lagos, e o hospital todo funcionava em grande parte para
fornecer retaguarda aos pacientes que obtinham acesso através desse setor.
A partir do começo da década de 1990, a situação começou a mudar, com a
redemocratização. A implantação de políticas neoliberais de redução do Estado implantadas
pelos governos Collor, Itamar e FHC iniciaram um processo de sucateamento dos Hospitais
Universitários, com redução da abertura de concursos para profissionais da saúde, e também do
aporte de verbas destinado a essas unidades de saúde. Por outro lado, a implantação do
Programa Médico de Família em Niterói começou a absorver grande parte da demanda de
urgências na cidade, deixando apenas os casos mais graves para resolução pelo HUAP. Com isso,
começou uma redução progressiva do número de pacientes, e do Hospital como um todo.
A ascenção de um sindicalista à presidência da República não alterou esse quadro. Muito
pelo contrário. O governo Lula aprofundou o processo de privatização e sucateamento da saúde
no Brasil, culminando na criação da lei da EBSERH. Esse processo se refletiu na redução da
capacidade do HUAP para meros 200 leitos. Em maio de 2009, sob o pretexto do surgimento de
uma bactéria multirresistente a antibióticos, a emergência foi fechada. A existência da tal
bactéria nunca foi comprovada, e a emergência permaneceu fechada, agora com a justificativa
de estar em obras para readequação do espaço físico. Em 2011, as obras foram concluídas, e a
emergência foi reaberta, funcionando com acesso referenciado. Uma emergência referenciada é
aquela que não recebe pacientes por livre acesso, apenas por meio de encaminhamento de
outro serviço de saúde (PMF, Policlínica, Hospital Municipal ou SAMU). No entanto, o volume de
atendimento a pacientes na Emergência reduziu-se drasticamente, assim como o perfil de
pacientes atendidos.
Atualmente, a Emergência permanece referenciada. Ela recebe principalmente pacientes
portadores de câncer com complicações decorrentes da doença ou de seu tratamento, doenças
crônicas agudizadas (cirrose, insuficiência cardíaca, insuficiência renal crônica), acidentes com
animais peçonhentos e pacientes dos próprios ambulatórios do HUAP. Os alunos do oitavo
período devem dar um plantão de 12h por semana, como cumprimento da carga horária do TCS
IV. Muitos questionam o atual papel da Emergência na formação dos estudantes de Medicina,
uma vez que casos menos complexos, mas mais comuns, como infarto agudo do miocárdio e
acidentes, raramente são atendidos lá.
O Diretório Acadêmico Barros Terra, baseando-se nas discussões e opiniões dos
estudantes, hoje tem o seguinte posicionamento sobre a Emergência do HUAP e sua forma de
funcionamento: defendemos a reabertura da Emergência à livre demanda, com serviço de
acolhimento e classificação de risco (“triagem” dos pacientes, com atendimento humanizado e
encaminhamento do paciente à unidade capaz de resolver seu problema), expansão do serviço,
e contratação de profissionais para o setor de Emergência e os outros setores do HUAP, sem
intermédio da EBSERH, Organizações Sociais, Fundação ou qualquer outra forma de privatização
e precarização do trabalho. Esta é a nossa luta!
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EBSERH E HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS
Autora: Marcele Sappi de Almeida, coordenadora de Divulgação e Imprensa do DABT, gestão 2014 –
“Enquanto houver razões”
A EBSERH, Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, foi criada pela Medida Provisória
520, pelo então presidente Lula, em 31/12/2010, e efetivamente instaurada, pela aprovação da
Lei nº 12.550 de 15/12/2012. Foi criada com o pretexto de integrar um conjunto de ações
empreendidas pelo Governo Federal no sentido de recuperar os hospitais vinculados às
universidades federais, pelo Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários
Federais (REHUF).
As maiores críticas à EBSERH estão relacionadas à perda da autonomia das
Universidades no gerenciamento de seus HUs, já que a empresa se vincula diretamente ao
Ministério da Educação e não às universidades, dificultando, desta forma, a construção coletiva
não só dos serviços de saúde prestados à população, como também o processo ensinoaprendizagem ali desenvolvido entre docentes e discentes.
O corte de verbas destinadas aos HUs, pelo governo federal, tem sido cada vez maior,
fazendo com que diversos hospitais não encontrem outra saída além da adesão, por força de
coação. No entanto, as verbas que sustentam a EBSERH e os hospitais sobre sua
responsabilidade provêm da mesma fonte, o tesouro nacional. Mostra-se clara aí a intenção de
precarizar o vínculo do trabalhador com o Hospital Universitário e abrir brechas na
regulamentação dessas unidades de saúde que permite a relação promíscua entre público e
privado. Onde está então a autonomia? Será que existe outra saída?
A lei que regulamenta a EBSEH aponta ainda outras formas de financiamento como a
provinda de planos privados de assistência à saúde, o que pode permitir a influência do mercado
na prestação de serviços de saúde e romper com o princípio do SUS da Universalidade, segundo
o qual todos deverão ter as mesmas condições de acesso ao Sistema de Saúde.
A instauração do SUS, há quase vinte anos, não foi fácil. Fruto de muita luta, o
movimento da reforma sanitária alcança seu espaço na Carta Magna de 88. Mas essa luta não
terminou ali, é travada até hoje em busca de um sistema de saúde cada vez mais aprimorado e
eficaz.
Atualmente, das 32 universidades federais brasileiras que têm Hospitais Universitários
(HU), 21 fizeram adesão à EBSERH: 14 com aprovação de seus respectivos Conselhos
Universitários: UFPI, UnB, UFMT, UFAM, UFPEL, UFRN, UFSM, UFBA, UFJF, UFMS, UFPB, UFMG,
UFCE, UFC; e 7 sem aprovação do respectivo conselho: UFMA,UFAL,UFTM, UFES, UFS, UFPE,
FURG e UFGD.
No estado do Rio de Janeiro, nenhum dos três Hospitais Universitários Federais, Hospital
Universitário Antônio Pedro – UFF, Hospital Universitário Clementino Fraga Filho – UFRJ e
Hospital Universitário Gaffrée e Guinle – UNIRIO, assinaram o contrato de adesão à EBSERH.
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Na UFF, em maio de 2013, os alunos do curso de graduação de Medicina, após
assembleia geral, se colocaram contra a adesão à EBSERH. Além disso, o SINTUFF que representa
os funcionários técnico-adminstrativos desta universidade e a ADUFF, que representa os
docentes, também já declararam-se contrários.
Alunos, docentes e funcionários da UNIRIO e UFRJ também já se posicionaram contra a
assinatura do contrato de adesão à esta empresa.
É nesse contexto que a luta em defesa dos Hospitais Universitários, deve ser travada. Em
busca de uma saúde e educação de qualidade, sem interferências externas, tanto ideológicas,
quanto de mercado, salientando que a entrada da EBSERH nestes estabelecimentos pode, não
só afetar a prestação de serviços de saúde daquele hospital, como também a qualidade da
formação do profissional provindo dele.
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EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA – O MUNDO LÁ FORA
Texto original: Coordenação de Extensão Universitária da DENEM, gestão 2007 - “O papel social da
universidade” e “A extensão na formação médica”
Edição: Gabriel Maia Scharnhorst Ott, coordenador de Cultura e Formação Científica do DABT, gestão
2014
O papel social da universidade
A busca pelo conhecimento traz para a humanidade mais uma maneira de obter
destaque dentro de uma sociedade. O reconhecimento de um cientista pela população vem por
conta deste estar dentro de uma instituição a que poucos têm acesso. Esta acessibilidade, em
parte, dá-se pela pequena quantidade de jovens no país que consegue terminar o segundo grau,
visto a necessidade imediata de conseguir emprego, outrora também pelo número de vagas que
as universidades públicas disponibilizam. Assim, o poder científico, na maioria das vezes, é
acumulado nas classes sociais mais ricas, dando continuidade ao processo de surgimento das
universidades burguesas, que obedecem às premências de seu tempo sócio-histórico,
adequando e conformando suas práticas às intencionalidades das classes dominantes.
As universidades surgiram no período feudal, com o objetivo de atender a uma pequena
parcela da população e às demandas do mercado de trabalho, estabelecendo relações sociais
apenas com a Igreja, os reis, a aristocracia e a burguesia. Nesse tempo, o teocentrismo era a
concepção colocada pela Igreja. Assim, os professores julgavam ter uma capacidade quase
divina, pois possuíam o conhecimento concebido por Deus. A produção acadêmica servia apenas
para ser utilizada nas classes sociais mais favorecidas financeiramente e o poder científico fez
crescer tais classes, tornando-as mais poderosas.
Hoje, as universidades passam por processos de democratização do ensino, ainda
atrofiados diante das enormes demandas sociais e da exclusão econômica e política das
comunidades mais excluídas. O ensino dentro destas instituições, em sua maioria, não transforma o estudante em um profissional voltado para a realidade brasileira. A preocupação pela
formação surge, na maior parte das vezes, quando se discutem questões relacionadas ao
mercado de trabalho, favorecendo um ensino mercantilista e tecnicista. As pesquisas realizadas
dentro das universidades tendem a ser voltadas às publicações em revistas científicas, ao
preenchimento de currículos e a formar seres especializados em saber cada vez mais de cada vez
menos.
Do outro lado da rua, no entanto, existe um conhecimento natural, intrínseco às comunidades, com um potencial cultural deveras rico. A comunidade busca priorizar, dentro dos seus
saberes, a qualidade ao invés da quantidade, a utilidade no lugar da superfluidade, a integração
ao invés da segmentação, trazendo como peças fundamentais à atividade econômica o meio
ambiente, sua integração num contexto maior da vida e o bem-estar dos moradores. Os
movimentos sociais/populares que se encontram dentro das comunidades têm papel fundamental dentro das reivindicações feitas pelo seu povo, problematizando a saúde, a cultura, a
educação, a segurança e o (des)envolvimento sustentável.
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Através da Extensão Universitária, os muros da universidade se quebram, o contato
Comunidade–Universidade é estabelecido, a troca de saberes é realizada, enfim, dá-se a interação entre o científico e o popular Ela pode tornar fácil a percepção de como as periferias, os
subúrbios, as zonas marginais e pequenas, a população excluída têm diariamente construído seu
saber. A Extensão tem como fundamento mostrar a responsabilidade da Universidade por uma
sociedade formada por todas as classes sociais, atuando na transformação dos indivíduos e
certificando o verdadeiro sentido de seu nome: UniverSociedade.
A extensão na formação médica
Na área da saúde, a formação a partir da troca de saberes existentes nos projetos
extensionistas assume particular importância uma vez que se integra à rede assistencial e pode
servir como um espaço novo, voltado à humanização e à qualificação da atenção à saúde.
A reformulação das diretrizes curriculares dos cursos de medicina pelos Ministérios da
Saúde e Educação, como resultado de um processo intenso de discussões sobre a formação
médica conhecido como CINAEM (Comissão Interinstitucional Nacional de Avaliação do Ensino
Médico), relembrou a importância da formação voltada às reais necessidades de saúde do país.
A proposta passou a formar médicos criticamente conscientes, capazes de refletir sobre a
situação sócioeconômica-cultural de seus pacientes e planejar junto a eles formas de assegurar
prevenção de doenças e promoção de saúde de maneira efetiva, alterando assim, a visão de
saúde como meramente biologicista e curativa, mas, sobretudo, proporcionar um entendimento
integral de cada um e de cada uma. O paciente deixa de ser apenas um órgão patológico e
transforma-se em ser humano, com história, cultura, responsabilidades, sentimentos, desejos,
sonhos e angústias. Não basta tratar a dor, é necessário tratar o indivíduo em todas as suas
facetas.
Dentro desta perspectiva, o contato com a comunidade permite que o estudante
aprenda a trabalhar com a diversidade cultural e social existente em cada realidade, em cada
canto do país. Principalmente dentro das escolas médicas, torna-se importante o incentivo à
participação e à elaboração de projetos de extensão que cumpram o papel de sensibilização de
estudantes e de professores para as reais necessidades sociais, além do desenvolvimento de
competências importantes como o trabalho em equipes multiprofissionais e o diálogo com a
comunidade.
Algumas experiências positivas são observadas pelo país, como é o caso do externato
rural (onde internos desenvolvem suas práticas de ensino em cidades pequenas no interior do
estado); ou a inserção desde cedo nas comunidades, tanto através do contato com a rede
pública de saúde, como pela possibilidade de diálogo desde os períodos iniciais do curso com as
diferentes dinâmicas sociais e com as diversas maneiras de enxergar e entender saúde. Ambas
as experiências são ainda tímidas frente à necessidade de transformação da formação médica
proposta pelas diretrizes curriculares, todavia conduzem, dentro de suas peculiaridades e
limitações, a uma vereda promitente, que se avizinha ao processo buscado de modificação da
realidade médico-acadêmica brasileira.
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Uma grande aliada na construção e no aperfeiçoamento dessas experiências, a prática
de extensão universitária no campo da educação popular em saúde, ao invés de servir
meramente para atenuar e acobertar desigualdades sociais e assegurar a estabilidade do
sistema econômico-político vigente, apresenta potencialidades de mudanças significativas na
formação dos profissionais da saúde.
Dessa maneira, é importante que as escolas médicas se comprometam, não somente
com a promoção da extensão, mas com a estruturação da mesma, de forma que seja possível
para estudantes de medicina trabalhar com esta pauta durante e após a graduação. Garantir o
espaço na grade curricular para o desenvolvimento de projetos, encarar a interação comunitária
como nova ambiência para aprofundar a relação universidade-sociedade, bem como fomentar
as discussões acerca do papel social do médico em ambiente letivo e travar relacionamentos
favoráveis à prática extensionista com discentes, docentes e coordenadores de outros cursos
são formas de assegurar uma estrutura mínima para o crescimento da extensão dentro do
ensino médico.
Toda escola comprometida com a formação humana crítica deve relembrar o basilar
papel social da universidade e sua importância no desenvolvimento de médicos conscientes,
éticos e humanamente competentes para trabalhar com as diferenças sociais e culturais, vendo
na extensão um caminho possível para a transformação. Dentro destas perspectivas, o
estudante tem um papel fundamental, enquanto protagonista de sua formação e das mudanças
que deseja para o seu curso.
Ser extensionista na UFF
E como toda essa discussão sobre Extensão Universitária se aplica dentro de nosso
contexto? Diversos projetos de extensão atuam na UFF, cadastrados na PROEX (Pró-Reitoria de
Extensão) cada qual com um caráter mais ou menos assistencialista, educacional, e poucos
realmente um caráter de interação Universidade-Comunidade. Projetos que se destacam na UFF
incluem a Creche Universitária, a Farmácia Universitária, o Colégio Universitário (COLUNI), a
Assessoria Jurídica e o Pré-vestibular Universitário, este último tendo origem no Curso Anexo,
fundado em 1931 pelo próprio Antônio Pedro Pimentel, que dá nome ao nosso Hospital.
Mais próximos à realidade dos estudantes, aparecem o projeto “Boa noite, bom dia
HUAP” e as Ligas Acadêmicas. Em maior ou menor grau, todos esses projetos citados agem
principalmente como prestadores de serviços e locais de estágio acadêmico. Mas o que faltaria
aos projetos da UFF, em particular da área da Saúde, para que possam caracterizar uma
extensão que dialogue com os saberes da Comunidade, para que juntos eles se tornem
socialmente referenciados e transformadores?
Um ponto que necessita ser esclarecido é a formação do estudante acerca dos conceitos
de Extensão Universitária. Muitos têm registrados projetos de extensão – poucos discutiram de
fato a essência do ato extensionista. Soma-se a isso o fato de muitos estudantes verem na
extensão meramente uma oportunidade de estágio, ou de trabalho voluntário. Será que da
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forma como se dão os projetos de extensão, eles realmente atendem às demandas da
Sociedade, ou apenas reproduzem as demandas da Academia?
Fazer extensão é um desafio que se impõe a qualquer membro da Universidade. É tão
complexo quanto a pesquisa e o aprendizado. Cabe a nós, estudantes, termos o mesmo afinco
que temos de nos informarmos sobre a metodologia da pesquisa, para com as diferentes formas
de interagir com a Comunidade.
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INICIAÇÃO CIENTÍFICA E A PRODUÇÃO CIENTÍFICA
BRASILEIRA
Autor: Rafael Catelli D’Agostino, coordenador de Divulgação e Imprensa do DABT, gestão 2014
A Iniciação Científica é um programa que visa atender alunos dos cursos de graduação,
colocando-os em contato com grupos/linhas de pesquisa. Busca, também, proporcionar ao
aluno, orientado por pesquisador experiente, a aprendizagem de técnicas e métodos científicos,
bem como estimular o desenvolvimento do pensar cientificamente e da criatividade,
decorrentes das condições criadas pelo confronto direto com os problemas de pesquisa; o
estudante pode desenvolver pesquisa no âmbito da Iniciação Científica com bolsa oferecida
pelas agências tradicionais de fomento à pesquisa. No entanto, pode também fazer sua pesquisa
sem que lhe seja atribuída bolsa e/ou auxílio.
A iniciação científica da UFF é uma atividade que faz parte do currículo da faculdade de
Medicina, entrando como matéria optativa, sendo que a IC I vale 3 créditos e as seguintes
apenas 2 créditos. Todos começam na IC I, que pode ser feita a partir do 2o período, em horários
variados que mudam a cada semestre. São cerca de 4 meses de aula, uma vez por semana em
média, muito tranquilo de se fazer. A partir das ICs seguintes, você recebe uma lista com vários
professores e seus respectivos projetos e contatos. Você escolhe a que mais te apetece, faz
contato com o professor e se ele te aceitar, basta apenas levar uma cartinha da coordenação
para ele assinar.
As maravilhas que te aguardam são inimagináveis, você acabou de entrar na caverna de
Aladdin, e até achou seu gênio. Esse gênio também tem três desejos, porém são desejos que
você trabalhe, leia artigos, estude sobre o assunto, monte banco de dados, aprenda estatística.
Sim, ninguém ensinou isso na IC I. Parece penoso mas não é. A minha orientadora me disse uma
frase ótima uma vez, que Ciência para ser boa não precisa ser chata, e ela está coberta de razão.
A minha IC é de longe uma das atividades mais prazerosas da faculdade, onde tenho a
oportunidade de produzir conhecimento, usar a criatividade, resolver problemas e conhecer
outras pessoas e ambientes. Sem contar que desde o terceiro período fui agraciado com uma
singela bolsa de estudos de 400 reais. Porém, vale notar que ganhar uma bolsa do CNPq, através
do PIBIC-UFF, traz mais que apenas aquele dinheirinho pra gastar na sua choppada favorita; o
CNPq adora suas “pratas da casa”, e ele até mima você, te dando a preferência em programas
como Ciência sem Fronteiras, bolsas de mestrado, doutorado, pós-doutorado, financiamento de
projetos futuros etc.
Além da participação de produtos inovadores e de alta tecnologia na matriz de
exportações, outros dados, como a produção científica e o número de mestres, doutores e
instituições de ensino, permitem avaliar a situação de um país em relação ao potencial de
inovação. As publicações científicas e o número de estudantes, mestres e doutores são meios de
avaliar o sistema acadêmico. Em franca evolução, a situação do Brasil nesses quesitos permite
imaginar que existe uma base no país para, caso haja parceria com a indústria, deslanchar um
período de inovação tecnológica.
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O cenário foi encontrado em informações tabuladas pela Folha a partir da base aberta
de dados Scimago (alimentada pela plataforma Scopus, da editora de revistas científicas
Elsevier). Ela traz números da produção científica de 238 países.
De 2001 para 2011, o Brasil subiu de 17º lugar mundial na quantidade de artigos
publicados para 13º --uma conquista que costuma ser comemorada em congressos científicos do
país. Em 2011, os pesquisadores brasileiros publicaram 49.664 artigos. O número é equivalente a
3,5 vezes a produção de 2001 (13.846 trabalhos). O problema é que a qualidade dos trabalhos
científicos, medida, por exemplo, pelo número de vezes que cada trabalho foi citado por outros
cientistas (o chamado "impacto"), despencou. O Brasil passou de 31º lugar mundial para 40º.
China e Rússia, por outro lado, ganharam casas no ranking de qualidade nesse período.
Mas e essa parceria da indústria? Sim, todos esses dias gastos por milhares de equipes
de pesquisadores, estudando e desenvolvendo as melhores tecnologias, que vão desde um
comprimido com uma droga até válvulas artificiais para um coração doente, têm um preço, e
tem um preço muito caro, que muitas vezes custa muito mais do que dinheiro. A indústria
infelizmente tem colocado o dinheiro na frente de qualquer ser humano. São milhares de
escândalos, principalmente por parte da indústriafarmacêutica, que usa diversos artifícios, desde
o representante do laboratório batendo na sua porta, até a medicina baseada em evidências,
para convencer profissionais de saúde a usarem seus produtos. Afinal, um pesquisador e um
valor p<0,05 vale mais do que 1000 propagandas e representantes. Aliás, vale mais que mil
vidas, já que a constante manipulação/omissão de resultados, testes ilegais em seres humanos,
entre outras, acabam por matar ou encurtar a vida de milhares de pessoas que poderiam
receber o tratamento certo mas receberam o mais caro.
No fim das contas, cabe a nós, estudantes, saber que o conflito de interesses existe, e
que para muitas pessoas o dinheiro fala mais alto. Entendemos que a tecnologia vem para
ajudar o próximo, diagnosticar os pacientes complexos, confortar e aliviar aqueles com dor e
medo, e acima de tudo, prevenir que as coisas cheguem a esse ponto de necessidade. Para isso
as tecnologias são importantes. Uma política pública da saúde, bem estudada e fundamentada
pode salvar milhares de vidas, prevenir que as pessoas adoeçam até um estado em que
precisem de um hospital, e produzir desenvolvimento social. É para poupar esse sofrimento (e
indiretamente esse dinheiro) que nós estudamos e pesquisamos com afinco, para sempre fazer
o melhor ao próximo.
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ESTÁGIOS INTERNACIONAIS – A CLEV E OUTRAS FORMAS
DE MOBILIDADE INTERNACIONAL
Autor: Flávio de Oliveira Mendes, coordenador de Cultura e Formação Científica do DABT, gestão 2014
A CLEV (Coordenação Local de Estágio e Vivências) é o núcleo local da CEV (Coordenação
de Estágios e Vivências) da DENEM (Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina). A
DENEM é a entidade que representa os estudantes de Medicina do Brasil, englobando em uma
arena de construção conjunta, disputas de ideias e ações dos diversos movimentos da área, que
potencializa sua intervenção na educação e saúde através de movimento estudantil e da própria
sociedade. Tem como finalidade representar o conjunto dos estudantes de medicina do Brasil
em todos os âmbitos. É organizada como uma rede, usando o termo de pirâmide, a base de tudo
inclusive da existência da entidade é o estudante, representado pelos Diretórios e Centros
Acadêmicos, que constituem suas coordenações e se inserem em uma coordenação regional.
Dentro da estrutura da DENEM, existem também as Coordenações De Área, que
chamamos de CENEPES - Centro de Estudos e Pesquisa em Educação e Saúde. É neste que se
insere a CEV. A CEV é uma Coordenação da DENEM que organiza estágios e processos seletivos
para os intercâmbios. É representada localmente pela CLEV, cuja função é a organização e
suporte às diferentes formas de estágios promovidos pelo movimento estudantil. No nível
internacional, estes são possibilitados pela ligação da DENEM à IFMSA (Federação Internacional
das Associações dos Estudantes de Medicina), que reúne diversos países.
A IFMSA é uma organização fundada em 1951 e foi diretamente influenciada pelo
contexto pós Segunda Guerra, tendo como missão institucional oferecer aos futuros médicos
uma introdução compreensiva aos problemas de saúde mundiais através de seus programas e
oportunidades, desenvolvendo, também, sensibilidade cultural e humanitária.
Hoje, a IFMSA possui mais de 100 países associados e é reconhecida como uma
organização não governamental pela Organização das Nações Unidas e pela Organização
Mundial de Saúde.
Os estágios são organizados por estudantes, de maneira a diminuir os trâmites
burocráticos, portanto, de maneira informal e funcionam com particularidades em cada
universidade. De modo genérico, os estudantes contatam professores que se disponham a
supervisionar alunos estrangeiros e, então, elaboram um plano de estudos a ser cumprido
durante o tempo de permanência. Essa relação, muitas vezes, ignora os trâmites formais.
A principal modalidade de estágios em operação, hoje, é a de prática médica, tendo
duração de 4 semanas. Os estudantes têm de cumprir uma carga horária mínima de 75% do
plano previsto, sem o qual não recebem certificado de conclusão. Os professores também
recebem certificado da IFMSA.
A estadia dos estudantes no Brasil é baseada no sistema de padrinhos e anfitriões, cada
qual com suas obrigações. Para cada aluno que chega são selecionados 1 padrinho e 1 anfitrião
de acordo com lista de disponibilidade. O anfitrião tem a obrigação de fornecer alojamento e
uma refeição por dia. Já o padrinho tem a obrigação de buscar o aluno no aeroporto, ajudá-lo na
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integração, e fazer pelo menos um passeio semanal. As responsabilidades assumidas, nesse
caso, são cobradas pelos alunos da CLEV.
Para os alunos brasileiros que vão viajar a disputa de vagas é feita por acúmulo de
pontos conquistados com atividades acadêmicas (simpósios, congressos, ligas, etc.)e extra
acadêmicas (participação de DA/CA, conhecimento de língua estrangeira, etc.). A seleção é
organizada pela DENEM e cabe à CLEV validar os certificados e orientar o passo a passo da
seleção.
A CLEV funciona ligada ao diretório acadêmico, no caso da UFF, mais especificamente,
ao Diretório Acadêmico Barros Terra (DABT) do curso de graduação em Medicina. Seus membros
são eleitos anualmente de maneira independente.
As modalidades de estágio internacional ligadas à IFMSA em operação hoje, no mundo, são
o SCOPE (Standing Committee on Professional Exchange), SCORE (Standing Committee on
Research Exchange). No entanto, na UFF tem se desenvolvido apenas o SCOPE, que consiste no
estágio de prática médica de 4 semanas mediante supervisão de um professor previamente
contatado pelos coordenadores locais que aceita receber o aluno em suas aulas e lhe prestar
tutoria. Cabe ao professor guiar o aluno e também assinar o “handbook” do intercambista. A
CLEV irá verificar a frequência do estudante através do handbook, para fins de certificação.
Os estágios e vivências têm por objetivo nos dar a oportunidade de uma experiência
diferente do nosso cotidiano. A vivência é a melhor forma de aprendizado, pois nos permite ter
diversas reflexões e atitudes, que talvez não teríamos somente pelo acesso a informação
teórica. Além da experiência e pratica medica possibilita uma imersão cultural, contato com
diferentes idiomas e conhecimento da saúde publica de outros lugares.
Além da CLEV, diversos outros programas têm como objetivo ajudar todos aqueles que
têm grande interesse em sair do país, seja para divertir-se, ou fomentar suas atividades
acadêmicas. Lembrem-se, algumas das maiores e mais conceituadas Universidades do mundo
estão de portas aberta para você.
Abordaremos dois modelos de estágio, a saber: Programa de Mobilidade Internacional
para alunos de graduação da UFF e Ciências sem Fronteiras
Programa de Mobilidade Internacional da UFF
Como filosofia de sua política de formação acadêmica, a UFF não apenas valoriza a inserção
internacional de seus quadros docente e discente, como também trabalha para fortalecer o
Ensino, a Pesquisa e a Extensão no cenário mundial. Por intermédio de sua Diretoria de Relações
Internacionais (DRI), facilita o acesso às oportunidades de intercâmbio para seus alunos, em
Instituições de Ensino e Pesquisa com as quais mantém acordos de cooperação.
O aluno interessado em fazer parte do Programa deverá cumprir com os seguintes requisitos:


Estar regularmente matriculado em curso de graduação da Universidade Federal
Fluminense;
Possuir CR (coeficiente de rendimento) maior ou igual a 6 (seis);
32



Ter integralizado, no momento da inscrição, no mínimo 30% e no máximo 80% da carga
horária total do curso, exceto se for aluno do curso de Medicina;
Se aluno do curso de Medicina, estar , no momento previsto para a mobilidade, entre o 10º
e o 12º período do curso;
Não estar com matrícula trancada ao longo do processo seletivo.
A mobilidade pode ser solicitada por um ou dois semestres. A aprovação da mobilidade por dois
semestres dependerá do número de vagas disponíveis e do volume de solicitações, visando
atender ao maior número de alunos possível. O estudante que estiver no exterior por um
semestre, pode solicitar prorrogação da estada por mais um semestre, sendo a solicitação
analisada pela DRI.
O candidato deverá apresentar certificado de proficiência em língua estrangeira exigido pela
Universidade de destino para a qual foi selecionado, caso não haja exigência de certificado
específico de proficiência em língua estrangeira, o candidato deverá apresentar certificado ou
declaração emitida por instituição de ensino, atestando proficiência na língua estrangeira na
qual são ministradas as aulas na Universidade de destino.
A mobilidade internacional de que trata este edital pode ser realizada com auxílio financeiro,
oferecido pela UFF, pela Fundação Euclides da Cunha (FEC), ou sem auxílio financeiro. Em ambos
os casos, os alunos são responsáveis pelos gastos com viagem, visto, transporte, hospedagem,
alimentação, seguro saúde internacional e demais despesas eventuais.
Para a seleção das vagas, serão analisados o rendimento acadêmico do aluno e sua progressão
curricular, assim como as vagas existentes ou a estimativa de vagas feita pela DRI para cada país
de destino.
Países que atualmente estão disponíveis para estágio internacional: Alemanha, Angola,
Argentina, Áustria, Barbados, Bélgica, Bolívia, Canadá, Chile, China, Colômbia, Coréia do Sul,
Costa Rica, Equador, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Holanda, Itália, Japão, México,
Moçambique, Noruega, Paraguai, Peru, Portugal, Reino Unido, República Dominicana, República
Tcheca, Rússia, São Tomé e Príncipe, Suécia, Turquia, Ucrânia e Uruguai.
Para mais informações acesse: http://www.aai.uff.br/
Ciência sem Fronteiras
Uma ótima opção para aqueles estudantes que desejam estudar no exterior, o Ciência sem
Fronteiras (CsF) busca promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e
tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira por meio do intercâmbio e da
mobilidade internacional. A iniciativa é fruto de esforço conjunto dos Ministérios da Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Ministério da Educação (MEC), por meio de suas respectivas
instituições de fomento – CNPq e Capes –, e Secretarias de Ensino Superior e de Ensino
Tecnológico do MEC.
O programa conta com diversas modalidades de Bolsas no Exterior, sendo as de “graduação” as
que mais nos interessam neste momento de nossas vidas acadêmicas.
Para concorrer a uma destas, o candidato deve cumprir os seguintes requisitos:
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
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
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

Ser brasileiro ou naturalizado;
Estar regularmente matriculado em instituição de ensino superior no Brasil em cursos
relacionados às áreas prioritárias do Ciência sem Fronteiras;
Ter sido classificado com nota do Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM - com no mínimo
600 pontos considerando os testes aplicados a partir de 2009;
Possuir bom desempenho acadêmico;
Possuir proficiência comprovada no idioma do país para o qual esta concorrendo (não
exigido por todos os países);
Ter concluído no mínimo 20% e no máximo 90% do currículo previsto para o curso de
graduação.
É importante lembrar que nem todos os países do programa permitem a prática do internato,
ainda que com proficiência em sua língua. Entre os que aceitam estão França, Alemanha e
Holanda. O governo tem ainda oferecido o TOEFL ITP (avaliação de proficiência em inglês) de
graça, para tentar aumentar a adesão e procura de estudantes pelo programa.
Será dada preferência aos candidatos que:
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Foram agraciados com prêmios em olimpíadas científicas no país ou exterior;
Ter tido ou estar usufruindo de bolsa de iniciação científica ou tecnológica do CNPq
(PIBIC/PIBITI) ou do PIBID da CAPES.
Benefícios
Mensalidade de bolsa, tendo seu valor levando-se em consideração o custo de vida em cada
país;
Auxílio-Instalação;
Auxílio material didático;
Passagens aéreas;
Seguro Saúde.
Duração da bolsa: 12 meses, podendo estender-se até 18 meses quando incluir curso de idioma.
O prazo de curso de idioma é apresentado na Chamada, variando de País e de acordo firmado
com as universidades no exterior. Nem todos os países oferecem esta opção, que consiste em
fornecer um curso intensivo para estudantes que obtiverem nota mínima nas provas de
proficiência, a fim de torna-los aptos a adquirir a nota necessária para iniciarem-se suas
atividades acadêmicas no país para o qual foi selecionado.
Países disponíveis para estágio pelo CsF: Alemanha, Austrália, Austrália, Bélgica, Canadá, China,
Cingapura, Coreia do Sul, Dinamarca, Estados Unidos, Espanha, Finlândia, França, Holanda,
Hungria, Índia, Irlanda, Itália, Japão, Noruega, Nova Zelândia, Portugal, Reino Unido, República
Tcheca, Rússia, Suécia, Ucrânia.
Para mais informações acesse: http://www.cienciasemfronteiras.gov.br/web/csf
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ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL
Autor: Matheus Oliveira Bastos, coordenador de Relações Estudantis do DABT, gestão 2014
"A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho." - Cap. III Art. 205 Constituição Federal, 1988.
A história da Assistência Estudantil no Brasil é mais antiga do que a Constituição de
1988. Apesar disso, os modelos e políticas dessa assistência que conhecemos hoje,
fundamentados pela Carta Magna, despontaram dos movimentos sociais, sobretudo o
movimento estudantil, que lutaram pelo fim da Ditadura Militar e pelas eleições diretas ("Diretas
Já") à época. Com o advento do neoliberalismo no mundo, durante o governo FHC, percebeu-se
um recuo nos ideais de universidade e assistência estudantil defendidos na Constituição. Foi
uma época de sucateamento do ensino público, com defasagem salarial, falta de verbas para
manutenção, para o desenvolvimento de pesquisa, ocorrendo o êxodo dos professores das
universidades públicas para as privadas. Até então, as promessas de democratização da
educação, garantidas constitucionalmente, não haviam sido transformadas em políticas que
visassem à sua efetivação. Esse quadro começou a ser revertido a partir da década de 2000,
principalmente após ser decretado, durante o governo Lula, o Programa Nacional de Assistência
Estudantil - PNAES.
Com a premissa de ampliar as condições de permanência dos jovens na educação
superior pública federal, o programa estabelece objetivos e diretrizes, além de mobilizar verbas
para a garantia da assistência estudantil. O PNAES foi uma conquista dos esforços coletivos de
dirigentes, docentes e discentes e representou a consolidação de uma luta histórica em torno da
garantia da assistência estudantil. Apesar ser uma inovação e ter trazido muitos avanços, alguns
pontos do programa ainda necessitam discussão e sua execução demanda revisão. A
universidade e seus estudantes precisam fazer esse debate para que a implementação dessas
políticas se deem de maneira horizontal e efetiva. Nesse sentido, esse texto busca pontuar as
diversas questões que ainda estão em pauta para que tal debate possa ser propiciado.
Um ponto inicial a ser considerado é o da natureza do programa: é uma política de
governo, e não de Estado. As implicações disso são cruciais, pois, desse modo, o programa está
atrelado à gestão governamental atual, não havendo garantia de continuidade a médio e longo
prazos. Além disso, o PNAES se restringe a legislar sobre as instituições públicas federais de
ensino superior, uma vez que é uma política do governo federal. Sendo assim, intuições de outra
natureza (estadual, municipal, privada, etc.) não estão obrigatoriamente respaldadas e
reguladas por um programa desse gênero, o que pode configurar uma fragilidade para a
permanência estudantil em algumas dessas instituições. Nesse sentido, a expansão cronológica,
com a garantia de uma política de Estado, e a expansão institucional, com o maior acesso a essas
políticas por instituições não federais, precisam ser pautadas no intuito de garantir maior acesso
aos direitos presentes na Constituição. No Decreto, também fica estabelecido que os critérios e
35
metodologia de seleção dos alunos beneficiados ficará a encargo da instituição. O mesmo texto
diz que os alunos beneficiados serão prioritariamente os oriundos da rede pública de educação
básica ou aqueles que possuem renda per capita familiar de até um salário mínimo e
meio.Percebe-se então que a autonomia de avaliação da universidade está submetida a um
critério prioritário, o qual nem sempre atende às especificidades e à realidade de alguma
localidade. Além disso, o PNAES dispõe que sejam criados mecanismos de acompanhamento e
avaliação do programa pelas instituições, estabelecendo, assim, que as próprias instituições se
autoavaliarão, o que pode ser um problema pela possível falta de regulação externa das políticas
internas de assistência. Nesse contexto, uma crítica recorrente das entidades representativas
dos estudantes nas universidades é justamente a aplicação dos recursos provenientes do
programa, a qual muitas vezes caminha à revelia da participação efetiva dos estudantes.
Algumas considerações sobre as áreas e atuação do programa precisam ser feitas.
Segundo o decreto, as ações serão desenvolvidas em moradia estudantil; alimentação;
transporte; atenção à saúde; inclusão digital; cultura; esporte; creche; apoio pedagógico; e
acesso, participação e aprendizagem de estudantes com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades e superdotação. Metas ousadas e importantíssimas, de
fato. No entanto, há de se refletir sobre o real andamento dessas proposições. Muitas
instituições, apesar de estarem recebendo as verbas do PNAES há um tempo considerável, não
possuem moradia estudantil, restaurante universitário e um sistema de transporte universitário
entre os campi ou na cidade. Mais raro ainda são as universidades que possuem creche e
centros de atenção à saúde do estudante e que estão adaptadas a pessoas com deficiência física.
Assistência Estudantil na UFF
Nossa universidade possui diversas modalidades de bolsa de assistência, transporte
intercampi pelo BusUFF, restaurante universitário com refeições por R$0,70 (um dos mais
baratos do Brasil), alguns serviços de atenção à saúde (como na psicologia e na odontologia),
creche universitária, moradia estudantil recém-inaugurada e a construção de novos blocos com
adaptação para pessoas com deficiência física. A grande maioria desses recursos foi conquistada
pelos estudantes por meio de sua pressão, debate e mobilizações, com destaque para grandes
greves estudantis que ocorreram durante os anos 2000. No entanto, muitas de nossas demandas
ainda não foram atendidas e os recursos de assistência que temos disponíveis nem sempre são
suficientes ou funcionam da maneira que precisamos.Primeiramente, os critérios e métodos de
avaliação para a cessão de bolsas de assistência dificultam a aquisição da mesma pelos alunos. A
renda per capita máxima de um salário mínimo e meio muitas vezes impede que pessoas sem
condições de se mudem para Niterói para estudar na UFF. A especulação imobiliária na cidade é
elevadíssima e mesmo com um salário mínimo e meio ou um pouco mais, é difícil se manter.
Talvez esse problema fosse amenizado pelo aumento do número de bolsas, entretanto, o que se
percebe desde a promulgação do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais (REUNI), percebe-se um aumento desenfreado no número de vagas na
universidade sem um aumento proporcional do número de bolsas ou uma melhora equivalente
em infraestrutura.
Ademais, outras ações do PNAES não são realmente aplicadas na universidade. Na área
de atenção à saúde, contamos com um serviço de odontologia que literalmente leva de meses a
36
anos para que consigamos vagas para atendimento. Em termos de atendimento médico, não
temos um acesso livre para sermos consultados no Hospital Universitário, no qual muitos
estudantes trabalham durante a graduação. Sobre os esportes, há muita dificuldade também,
pois a universidade não possui infraestrutura o suficiente para que os times universitários
treinem, o que faz com que as atléticas e os diretórios/centros acadêmicos tenham que usar
seus recursos para alugar quadras. Nosso restaurante universitário, apesar de muito barato - o
que foi conseguido na última greve estudantil após uma tentativa da universidade de aumentar
o valor para R$2,50 - não funciona nos finais de semana, nem nas férias. Assim, estudantes que,
por falta de dinheiro ou por morarem longe, não voltam para casa aos fins de semana e aqueles
que têm que ficar na cidade por conta de estágios ou iniciação científica acabam perdendo essa
assistência e gastando bastante com comida, que é cara na cidade, principalmente se não temos
tempo de cozinhar em casa e temos que comer em restaurantes. Estudantes com deficiência
estão praticamente impossibilitados de fazer determinados cursos na UFF, uma vez que a
infraestrutura de alguns campi é quase nociva a quem anda em cadeira de rodas, como o
Valonguinho. O BusUFF também possui problemas, uma vez que há poucos automóveis e esses
acabam não respeitando muitas vezes os horários. O ônibus de rota 2, por ter apenas 1 carro na
frota, também dificulta muito os estudantes que estudam em campi mais afastados, como a
Enfermagem, a Medicina e a Veterinária. O itinerário dos ônibus é muitas vezes questionado
pelos estudantes e está em pauta nos debates do DCE com a Reitoria.
A qualidade de universidade mais interiorizada do Brasil que a UFF detém também traz
outras questões em relação à assistência. Na maioria das vezes, os recursos e os debates se
concentram em Niterói, isolando o resto da universidade. Os campi de Rio das Ostras, Macaé,
Volta Redonda, Nova Friburgo, Angra dos Reis, Campos dos Goytacazes e Santo Antonio de
Paduá, todos no interior do estado do Rio de Janeiro, possuem um assistência estudantil
extremamente fragilizada, além de, em muitos casos, infraestrutura precária. Alguns exemplos
são a falta de um restaurante universitário e de moradia estudantil. Algumas unidades carecem
de estrutura física e equipamento, o que tem como consequência a ausência de aparelhos de ar
condicionado em muitas sala – inclusive em Niterói – e, mais especificamente em Rio das Ostras
e Campos dos Goytacazes, alunos têm aulas em contêiners.Os estudantes de Medicina, assim
como os campi do interior, enfrentam problemas específicos em algumas áreas, principalmente
por ter um calendário diferenciado do resto da universidade. Os BusUFF e o restaurante
universitário não costumam funcionar enquanto estamos em aula e os outros estudantes de
férias.
É justamente por tantas questões deficitárias que os avanços não devem ser o suficiente
para cessar nossas articulações para a construção de uma universidade mais democrática. Muito
do que temos hoje foi conquistado por nosso movimento organizado e pressão em espaços
oficiais, como conselhos universitários e colegiados, e extraoficiais, como atos e greves. A
universidade somos nós e temos que construi-la a cada dia.
37
38
LIGAS ACADÊMICAS
Autor: Flávio de Oliveira Mendes, coordenador de Cultura e Formação Científica do DABT, gestão 2014
As ligas acadêmicas são entidades estudantis, sem fins lucrativos, reconhecidas como
projetos de extensão, tendo como finalidade mobilizar estudantes universitários e a sociedade
em geral em prol do desenvolvimento, promoção e difusão dos estudos de determinado
tema. Cada liga possui uma diretoria, formada por um grupo de estudantes que se dedica à
organização das atividades práticas e teóricas, e um ou mais professores, responsáveis por
coordenar e orientar essas atividades. A escolha dos alunos diretores, seus direitos e deveres
encontram-se definidos no estatuto de cada liga.
As atividades das ligas acadêmicas são baseadas no Tripé Universitário:



Ensino: incentivo à busca ativa de conhecimento e ao desenvolvimento educacional de cada
um dos membros.
Pesquisa: organização e promoção de cursos, reuniões científicas, levantamento de dados,
elaboração de trabalhos científicos e intercâmbio com sociedades e serviços correlatos.
Extensão: foco principal das ligas, responsável por proporcionar aos integrantes a
oportunidade de acompanhar e praticar o atendimento médico em algum serviço, promover
ações de educação e prevenção em saúde no meio acadêmico e junto à sociedade,
buscando atender às demandas da comunidade relacionadas ao tema.
As atividades teóricas podem ser aulas, seminários, discussões de textos, apresentações de
casos clínicos, entre outras. Já as atividades práticas consistem basicamente em promover e
conduzir o contato dos alunos com os pacientes.
Atualmente, a UFF possui 15 ligas acadêmicas voltadas aos alunos da Medicina. São elas:
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
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Liga Acadêmica de Anestesiologia e Dor (LiAD)
Liga Acadêmica de Ciências Cardiovasculares (LiCCa)
Liga Acadêmica de Cirurgia (LiAC)
Liga Acadêmica de Clínica Médica (LAC)
Liga Acadêmica de Ginecologia e Obstetrícia (LiAGO)
Liga Acadêmica Multiprofissional de Saúde da Família e Comunidade(LiSF)
Liga Acadêmica Multiprofissional de Saúde Mental e Psiquiatria (LiPsi)
Liga de Endocrinologia (LiEndo)
Liga de Medicina Intensiva (LigaMI)
Liga de Nefrologia (LiNe)
Liga de Neurologia e Neurociências(LiNNeC)
Liga de Oncologia Clínica e Cirúrgica (LiOnCC)
Liga de Pediatria (LiPe)
Liga de Trauma, Reanimação e Emergência (LiTRE)
Núcleo de Anatomia Humana e Comparada
O estatuto das ligas define a metodologia a ser seguida, de que forma acontecerá a
composição do grupo de ligantes, bem como quais alunos poderão candidatar-se, seja por meio
39
de cursos, processos seletivos, entrevistas ou até mesmo determinando um período mínimo,
para
que
as
atividades
sejam
mais
produtivas
a
quem
participe.
Quando for escolher uma liga para participar, é interessante que o aluno conheça e identifiquese com o tema e com os projetos desenvolvidos.
Lembre-se: As ligas acadêmicas não são um grupo de estudos, não servem para suprir
alguma deficiência do currículo, não são um teste vocacional nem devem ser algum tipo de
especialização precoce.
Liga Acadêmica de Anestesiologia e Dor (LiAD)
A LIAD visa o ensino prático e teórico na área de anestesiologia para acadêmicos do 3°
ao 6° ano do curso de medicina. Visa o auxílio aos profissionais da anestesiologia no HUAP e
outras instituições as quais a diretoria da Liga conseguir firmar convênio ao longo de sua
existência. Visa enfatizar mais ainda a qualidade do atendimento aos pacientes que necessitem
de procedimentos nesta área.
A liga proporcionará discussões cientificas a respeito de anestesiologia, possibilitando
aos pacientes um melhor suporte técnico durante os procedimentos, independente de suas
condições crônicas ou agudas. A melhoria da qualidade dos membros participantes da liga
acadêmica se reflete em como os pacientes são atendidos. A liga acadêmica de anestesiologia
pretende ampliar futuramente seu atendimento a comunidade, convertendo os projetos da liga
cada vez mais em benefícios maiores a população.
Contato: [email protected]
A Liga Acadêmica de Clínica Médica (LAC)
A LAC objetiva a discussão de casos clínicos reais com enfoque na busca ativa de
informações pelos ligantes, assim como com a decisão dos mesmos sobre qual a conduta a partir
destas informações. Com isso, busca estimular o estudo e aprendizado em conjunto de temas da
clínica médica, de forma complementar ao curso tradicional. Tal meta é atingida tanto através
da atividade teórica quanto da prática, que fornece ao ligante a possibilidade de acompanhar a
rotina de uma enfermaria e de uma emergência verdadeiras, nas quais pode ver qual o passo a
passo real no acolhimento de um doente. Assim, visa desenvolver no ligante um olhar crítico
sobre tudo, além de um raciocínio afiado, que possa alinhavar todos os fatos. Além disso, a LAC
possui projetos de extensão que consistem na realização de cursos e oficinas abertos para os
estudantes da área de saúde da universidade.
O ingresso à liga é feito pela inscrição e assiduidade no curso inaugural, no fim de cada
ano letivo, para início das atividades no próximo ano. Podem participar da liga alunos da
faculdade de medicina a partir do 5º período. No entanto, são bem-vindos alunos de todos os
períodos, tanto no curso inaugural quanto na discussão de casos clínicos, como ouvintes. A
discussão ocorre sempre às quartas-feiras, às 13h, na sala Aloísio Brasil, no 2º andar do prédio
anexo do HUAP. As atividades práticas são destinadas apenas a ligantes a partir do 8º período.
Contato: [email protected] / Facebook: LAC – UFF
40
Liga Acadêmica de Cirurgia (LiAC)
A LiAC está em seu quarto ano de atividade. O corpo ligante é composto por alunos do
5º ao 12º períodos. As atividades da liga são abertas para todo o corpo discente da Faculdade de
Medicina. Atualmente, as atividades teóricas são divididas em discussões de temas em Cirurgia
Geral/Especialidades Cirúrgicas e exposições de casos clínicos. As atividades práticas envolvem
aulas práticas de procedimentos inerentes à formação cirúrgica e plantões em diversas unidades
de emergências.
O processo seletivo é realizado no primeiro semestre de cada ano baseado no curso
anual organizado pela diretoria da liga.
Contato: [email protected] (Eduardo Botelho Fontes - Presidente)
Liga Acadêmica de Ginecologia e Obstetrícia da UFF (LiAGO)
A LiAGO têm como objetivo agregar acadêmicos de medicina interessados em
aprofundar seus conhecimentos em G.O. Nossas atividades envolvem aulas teóricas, estágios na
área preventiva e intra hospitalar, bem como atividades de pesquisa e extensão. Nossos
principais estágios são no Ambulatório de Mama, Ambulatório de ITU, Ambulatório de Diabetes
Gestacional, Ambulatório de Mola Hidatiforme e no Banco de Leite.
As atividades são abertas para todos os períodos sendo ligantes os acadêmicos a partir
do 5º período.
Contato: [email protected]
Liga de Ciências Cardiovasculares (LiCCa)
A LiCCa existe desde 2008 e atualmente está sob coordenação do professor Evandro
Tinoco. Selecionamos membros através de cursos anuais ao final dos quais é feito uma prova.
Nossos ligantes são divididos em dois grupos determinados por período, Prevenção e Intrahospitalar.
Os encontros acontecem semanalmente e com atividades específicas para o interesse de
cada grupo. Para os membros do Intra-hospitalar oferecemos um estágio na Unidade
Coronariana do Hospital Antonio Pedro.
Contato:www.facebook.com/liccauff
Liga Acadêmica Multiprofissional de Saúde Mental e Psiquiatria
(LiPsi)
A LiPsi tem o objetivo de estimular os estudos em saúde mental e ajudar a ampliar a
visão sobre o tema, inserindo uma perspectiva mais humana e integral. A liga é aberta a todos e
não há processo seletivo para participação de suas atividades.
Contato: [email protected]
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Liga Acadêmica de Endocrinologia (LiEndo)
A LiEndo oferece cursos para ingresso aos ligantes, os quais, após serem selecionados,
participarão de atividades teóricas e práticas da área de endocrinologia, coordenados por
professores da UFF. A LiEndo possui parceria com a SBEM, de forma a participar em eventos
organizados pela mesma.
Contato:[email protected]
Liga de Medicina Intensiva (LigaMI)
Objetivo: Proporcionar capacitação técnica e desenvolvimento de raciocínio clínico.
Complementar a vivência teórico-prática dos alunos da graduação. Organizar e auxiliar
promoções de caráter científico e social que visem o aprimoramento da formação acadêmica.
Criar setores condizentes com seus objetivos e princípios, visando aprimorar o conhecimento
dos alunos de forma abrangente e integrada levando a uma visão holística da prática médica
através de reuniões semanais sobre um tema previamente escolhido, com ênfase em
procedimentos ou caso clínico estudado pelos acadêmicos da LigaMI, intercalando com
apresentação de tema teórico por profissional do CTI, docente da Faculdade de Medicina ou
convidado de outra instituição.
Ingressos a partir do 6º Período através de prova em Início dos Semestres.
Contato: [email protected]
Liga de Nefrologia (LiNe)
A LiNe é composta por membros discentes e docentes interessados em estudos e
atividades de prevenção, focando na área da saúde renal. Os projetos de Extensão a ela
vinculados pretendem atingir a comunidade dentro e fora dos muros do hospital, abrangendo
tanto a população universitária quanto a geral.
Atividades de campanha (sendo a mais importante a do Dia Mundial do Rim), de
conscientização sobre a importância de medidas preventivas e oportunidades de estágio prático
são projetos de atividade da LiNe, bem como treinamentos e discussões, sempre contando com
a demanda de interessados e procurando o foco extensivista, porém também buscando a
realização de atividades de Ensino e de Pesquisa.
Contato:[email protected] (Luís Eduardo - Presidente)
A Liga Acadêmica de Neurologia e Neurociências (LiNNeC)
A LiNNEC foi fundada em 10 de agosto de 2004, com a finalidade de mobilizar
estudantes universitários e a sociedade em geral em prol do desenvolvimento, promoção e
difusão dos estudos em Neurologia e Neurociências, contribuindo para formação acadêmica dos
42
alunos desta universidade. É composta principalmente por alunos do 5º ao 12º semestre do
curso.
Para ser admitido na LINNEC o acadêmico interessado deverá preencher a ficha de
inscrição previamente disponibilizada pela liga e estar cursando ou ter cursado o 5º período. A
admissão de novos membros é realizada através de um processo aberto dependendo do número
de vagas disponíveis. Porém, a liga está aberta para todo e qualquer estudante à categoria de
ouvinte.
Contato: [email protected] (Rafael Lemos)
Liga de Oncologia Clínica e Cirúrgica (LiOnCC)
A LiOnCC busca aprofundar os conhecimentos diante de realidade do câncer, sempre
sob a perspectiva do médico que não será oncologista, entendendo que o paciente oncológico
estará no cotidiano de todos nós, futuros médicos.
É voltada para acadêmicos de medicina e enfermagem (a partir do quarto período) e
suas atividades envolvem aulas/debates semanais e estágios em grandes serviços de oncologia
do RJ, como INCA e Oncologia pediátrica (Aquário Carioca- Hospital da lagoa).
Contato:[email protected] (Mauro Menegaz - Presidente)
Liga de Pediatria (LiPe)
A LiPe visa proporcionar enriquecimento da formação acadêmica, difundir a educação
continuada em Pediatria e promover eventos – como aulas, estudos dirigidos, discussões de
casos clínicos, leituras críticas de artigos científicos, palestras, cursos de férias, campanhas de
prevenção na comunidade e em sala de espera, simpósios, treinamentos, seminários e
simulados. Salienta-se o caráter eminentemente educador da liga, artifício para o processo de
ensino-aprendizagem tanto para os discentes e membros, quanto para a comunidade. O
desenvolvimento de trabalhos científicos e pesquisas também constituem objetivos da LiPe.
A liga é dividida em três áreas: Prevenção (para alunos do 1º ao 4º período), PréIntra
(alunos do 5º período) e Intra Hospitalar (alunos do 6º período em diante). A seleção de novos
ligantes é feita por prova cujo conteúdo é baseado nas aulas ministradas no curso da LiPe. A
Prevenção é focada em conhecimentos gerais da saúde na Pediatria, análise biopsicossocial e
atividade de educação em saúde. Com o PréIntra buscamos aplicar os conhecimentos
semiológicos na prática pediátrica e iniciar a construção da relação médico-paciente em nível
ambulatorial. O Intra Hospitalar tem uma ênfase semelhante à anterior, porém com foco em
atividades hospitalares e de emergência.
Contato: [email protected]
Liga de Trauma Reanimação e Emergência (LiTRE)
A LiTRE busca introduzir e capacitar os seus ligantes nas áreas de trauma, emergência e
medicina intensiva. É estruturada em três áreas: pré-hospitalar, emergência, e intra-hospitalar.
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Os ligantes podem ingressar após um curso de seleção anual. As atividades da liga
consistem em aulas teóricas e práticas, discussão de casos clínicos, atividades na comunidade
(cursos, aulas e palestras) além da produção científica de trabalhos para os congressos desta
área.
Contato: [email protected] (Luiz Felipe Magalhães - Presidente)
Liga Multiprofissional de Saúde da Família e Comunidade (LiSF)
Fundada em março de 2013, a LiSF surgiu a partir do desejo de estudantes de Medicina
da UFF de aprofundar as discussões sobre a Saúde da Família e Comunidade dentro da
faculdade, experimentando reunir estudantes não só do curso de Medicina, mas também de
outras áreas da saúde. A diretoria da LiSF entende que a Atenção Primária em Saúde (APS)
compõe a base fundamental do sistema de saúde, e deve servir como eixo orientador para a
formação do médico no Brasil, a exemplo do que ocorre em outros países como Canadá, Cuba e
Inglaterra. Por isso, visa criar discussões sobre temas da APS, como a saúde do trabalhador, a
saúde da mulher, a saúde do adolescente, saúde do idoso, saúde mental e outras.
Atualmente, a Liga funciona por meio de reuniões semanais entre os ligantes para
discussão de casos sobre os temas citados acima, focando na prevenção de doenças e na
promoção da saúde. Também estão sendo programadas ações de extensão na comunidade,
fazendo parceria com unidades de atenção primária de Niterói para que a Liga desempenhe sua
função principal, que é a extensão. O ingresso na LiSF é anual. Em 2013, puderam participar
todos os estudantes da área da saúde desde o primeiro período, que tivessem participado do
seminário introdutório da LiSF. O perfil dos participantes nesse ano foi de alunos do primeiro e
segundo anos da Medicina da UFF e da UNESA, e alunos do terceiro e quarto anos da
Enfermagem da UFF. Para o ano de 2014 as atividades estão sendo programadas.
Contato: [email protected] (Gabriel Ott, Diretoria)
Núcleo de Anatomia Humana e Comparada
O Núcleo de Anatomia Humana e Comparada visa promover encontros entre grupos de
alunos formados pelos diversos cursos das áreas de saúde, com o objetivo de motivá-los a
ultrapassarem seus conhecimentos para fora da Universidade. Através da organização de aulas
teóricas e práticas, ministradas pelos próprios alunos e/ou professores renomados, participação
de atividades de pesquisa e extensão, além de cursos e simpósios, os alunos terão a
oportunidade de trabalhar em conjunto e de maneira integrada com diversos cursos e período.
Com uma supervisão docente efetiva e ativa durante a rotina do núcleo, os estudantes terão a
oportunidade de desenvolver e articular as três principais vertentes do núcleo: ensino, extensão
e pesquisa.
Na área de ensino, serão ministradas aulas teóricas e práticas, formação de grupos de
estudos destinados ao aprendizado da anatomia humana aplicada e promoção de cursos ligados
a área de saúde. Na frente de pesquisa, os alunos poderão produzir trabalhos científicos,
participar e organizar congressos e simpósios, além de publicar em periódicos. Na área de
44
extensão, o núcleo visa envolver a comunidade com os alunos através de visitas guiadas
periódicas dos alunos de escolas públicas ao anatômico, ensinando a importância e o respeito
que devemos ter aos cadáveres.
O processo de entrada dos novos participantes acontecerá anualmente, através de um
curso visando aprofundamento em temas recorrentes da Anatomia Humana, sendo prérequisito para participar do processo seletivo com limitado número de vagas. Todos os
acadêmicos devidamente matriculados, cursando ou que tenham cursado os cursos de
graduação em Medicina, Biomedicina, Enfermagem, Educação Física, Odontologia e Biologia da
Universidade Federal Fluminense poderão se inscrever no curso e participar da seleção.
Contato:[email protected] (Thatiana Correia - Presidente)
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PROGRAMA DE MONITORIA
Autores: Beatriz de Oliveira Haynes Sinclair e Gabriel Ott, coordenadores de Cultura e Formação
Científica do DABT, gestão 2014 – “Enquanto houver razões”
O programa de monitoria da UFF tem como finalidade a iniciação dos alunos de nível
superior à docência.
O processo seletivo de monitorias acontece sempre no início do primeiro semestre letivo
e envolve a realização de uma prova e uma entrevista. As vagas são disponibilizadas através do
sistema eletrônico da UFF, por onde o interessado as consulta e se inscreve. O aluno só pode se
inscrever para a monitoria de disciplinas que já tenha cursado. Todo monitor deve apresentar
um projeto na semana de monitoria, que acontece durante a Agenda Acadêmica da UFF. A
monitoria tem duração de nove meses, durante os quais o aluno recebe uma bolsa de 400,00
reais.
As atividades dos monitores são variadas, pois cada disciplina monta um projeto
diferente, de acordo com a sua metodologia e sua forma de avaliação. Por exemplo, monitores
de Anatomia e Bioquímica auxiliam nas aulas práticas, monitores de Saúde e Sociedade I ajudam
os alunos nas construções de seminários, etc.
Sendo assim, é importante que o aluno escolha o projeto de uma disciplina que ele tem
interesse, visto que as atividades estarão relacionadas ao assunto estudado. A monitoria é uma
valiosa experiência, por estreitar o contato com outros alunos, aprofundar conhecimentos e
estimular o senso de responsabilidade e de cooperação.
Além disso, as atividades da monitoria são uma ótima oportunidade para os estudantes
compreenderem a importância da ética, do empenho nas atividades acadêmicas e da constante
atualização.
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O ESTUDANTE DE MEDICINA E A PRÁTICA ESPORTIVA
Autor: Ighor de Barros Rezende, coordenador Sócio-Esportivo do DABT, gestão 2014 – “Enquanto
houver razões”
Bem-vindo! Estes serão os 6 melhores anos da sua vida e, ao mesmo tempo, os mais
intensos. A faculdade já ocupará uma grande parte do seu tempo, seja com aulas teóricas ou
práticas. Além disso você precisa de tempo pra estudar, pra arrumar a casa, pra lavar a roupa,
pra comer, pra dormir (ou não?), pra visitar a família, pra namorar, pra sair, pra fazer isso, pra
fazer aquilo. Com a rotina cada vez mais acelerada, muitos esquecem de algo essencial: a prática
de esportes.
A prática de esportes é de fundamental importância para a vida do ser humano, está
relacionada com todas as áreas de atuação do homem. Possui a capacidade de melhorar a
condição física e de manter nossa saúde em elevados padrões de qualidade. A vida sedentária
que muitos levam é extremamente maléfica à saúde, deteriora nossa qualidade de vida e reduz
o tempo de vida consideravelmente.
O que não faltam são motivos pra convencer a população da importância do esporte
como algo frequente. Mas e para o estudante de medicina?
Primeiramente, o seu corpo pede o exercício, seja para melhorar sua condição
cardiovascular ou respiratória, para perder o excesso de peso, ou para prevenir ou até tratar
doenças crônicas.Você é aquilo que você come e aquilo que você pratica, por isso uma dieta e
exercício físico são fundamentais.
Mas essa conversa você já está cansado de ver na TV e na internet, certo? Bom, sendo
assim, você já ouviu falar dos índices de depressão e suicídio entre os estudantes de medicina?
Sem querer assustar ninguém, mas são absurdos. Leitura recomendada: Meleiro, A.M.A.S.
Suicídio entre medicos e estudantes de medicina.
Principalmente após terem acabado de passar por um vestibular super competitivo, os
estudantes entram com uma cabeça extremamente fechada, focam somente nos livros e
esquecem que também são pessoas e precisam viver. Praticar um esporte, principalmente os
coletivos, permitirá conhecer novas amizades, relaxar, socializar e interagir.Estudos comprovam
que pessoas que têm uma rede social ativa tem maior índice de sobrevida.
Dê uma passada na praia de Icaraí, em qualquer dia pela noite, e verá como a população
está entrando na onda “fitness”. Sendo assim, o DABT já há alguns anos incentiva cada vez mais
a prática de esporte entre os estudantes e, por isso, disponibiliza treinos de futsal, voleibol,
handebol, basquete, natação e futebol de campo para todos os alunos. As equipes treinam pelo
menos uma vez por semana e é possível participar de mais de uma! Você não precisa saber
jogar, basta ter vontade, dedicação e compromisso. Vista a camisa da MedUFF, agora você é um
leão!
Aproveite esta oportunidade para conhecer alguns veteranos, eles serão seus novos
amigos e futuros colegas de profissão. Se sentir parte de um time é ter sua segunda família, mais
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do que essencial para aqueles que tiveram que deixar seus lares em busca do sonho de se tornar
médicos.
No manual de sobrevivência do calouro você poderá ter mais informações sobre os
esportes oferecidos pelo DABT. Independente disto, não esqueça de cuidar de si mesmo, de que
adianta terminar a faculdade após 6 anos e querer oferecer qualidade de vida para os seus
pacientes sem que você a tenha?
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-- Caderno de Cultura e Política -Diretório Acadêmico Barros Terra
Recepção de Calouros – 2014.1
Março de 2014
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