l`o sse rvator e romano - Paróquia Nossa Senhora da Conceição
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y(7HB5G3*QLTKKS( +]!"![!#!&! Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00 L’OSSERVATORE ROMANO EDIÇÃO SEMANAL Unicuique suum EM PORTUGUÊS Non praevalebunt Cidade do Vaticano Ano XLVII, número 14 (2.408) quinta-feira 7 de abril de 2016 Na festa da divina misericórdia o Pontífice propôs que em cada diocese se realize uma obra caritativa em recordação do jubileu Reconciliação e paz E convidou a realizar uma coleta a favor da população da Ucrânia No «dia que é o coração do Ano santo da Misericórdia» o pensamento do Papa dirigiu-se «a todas as populações que têm mais sede de reconciliação e de paz», em particular da Ucrânia. Confidenciou ele mesmo ao meio-dia de domingo, 3 de abril, no adro da basílica vaticana antes do Regina caeli com o qual concluiu a missa celebrada na festa da Divina misericórdia. Quase como a concluir idealmente os dois dias — iniciados com a vigília na noite anterior — inteiramente dedicados à espiritualidade que está no fundamento do jubileu extraordinário, o Pontífice quis transmitir uma mensagem concreta, propondo um gesto de caridade a favor da Ucrânia. E através do Pontifício conselho Cor unum organizou para o domingo 24 de abril uma coleta especial em todas as igrejas católicas da Europa, cujo valor será destinado «ao drama de quem sofre as consequências da violência» no país: «de quantos permanecem nas terras assoladas pelas hostilidades que já causaram vários milhares de mortos», explicou, e de quantos — mais de um milhão de pessoas — «foram impelidos a deixá-las devido à grave situação que perdura». Recordando que «estão envolvidos sobretudo idosos e crianças», o Papa garantiu a sua oração constante e revelou a própria intenção de «promover um apoio humanitário a seu favor». Eis o convite aos fiéis europeus a uni- rem-se à iniciativa «com um contributo generoso», porque — disse — este «gesto de caridade, além de aliviar os sofrimentos materiais, quer exprimir a minha proximidade pessoal e a solidariedade da Igreja intei- ra» à Ucrânia, com os votos de que «possa ajudar a promover sem ulteriores impedimentos a paz e o respeito pelo direito naquela terra tão provada». E não só. Com efeito, Francisco quis unir a este projeto de paz a recordação do dia mundial contra as minas antipessoal, exortando a renovar «o compromisso por um mundo sem minas». Porque, observou, «demasiadas pessoas continuam a ser assassinadas ou mutiladas por estas armas terríveis, e homens e mulheres corajosos arriscam a vida para bonificar os terrenos minados». Precedentemente, durante a vigília de oração de sábado 2, que coincidia com o décimo primeiro aniversário da morte de João Paulo II, o Papa Francisco fez outra proposta concreta aos muitos fiéis que vivem a espiritualidade da divina misericórdia: realizar em cada diocese uma obra estrutural, uma espécie de «monumento» do Ano santo. E sugeriu como a iniciativa poderia ganhar forma: «um hospital, uma casa para idosos, para crianças abandonadas, uma escola, uma casa para toxicodependentes». PÁGINAS 8 E 9 Na audiência geral o Papa recordou que Jesus é misericórdia Solidariedade e compaixão «Jesus pôs-se em fila com os pecadores. Não teve vergonha», mas «desde o início do seu ministério manifestou-se como Messias que assume sobre si a condição humana, movido pela solidariedade e compaixão», recordou o Papa iniciando na audiência geral de quarta-feira 6 de abril uma série de reflexões sobre o tema do jubileu lido à luz do Evangelho. Nos lugares de perseguição As partículas escondidas num frasco de remédios GIULIO ALBANESE NA PÁGINA 4 Conferência do Unhcr em Genebra Pessoas no centro CHARLES DE PECHPEYROU NA PÁGINA 5 Depois de ter falado nas semanas precedentes aos fiéis presentes na praça de São Pedro acerca dos fundamentos bíblicos da misericórdia, a partir desta semana o Pontífice explica «como o próprio Jesus a levou ao seu pleno cumprimento», frisando também que «Jesus nos trouxe o amor! Um amor grande, um coração aberto a todos! Um amor que salva». Por conseguinte, é necessário evitar a tentação de julgar os outros. «Quantas vezes — explicou — nós dizemos: “Mas, este é um pecador, fez isso ou aquilo...”, e julgamos». Ao passo que «cada um de nós deveria questionar-se: “Sim, aquele é um pecador. E eu?”». Com efeito, «todos somos pecadores, mas todos somos perdoados: todos temos a possibilidade de receber este perdão que é a misericórdia de Deus». Portanto, acrescentou, «não devemos ter medo de nos reconhecermos pecadores, de nos confessarmos pecadores». Também porque, concluiu, «o poder do amor do Crucificado não conhece obstáculos e nunca se esgota. E esta misericórdia cancela Durante a audiência Francisco abraçou e tocou os olhos de Elizabeth Myers, a criança americana de seis anos que sofre da síndrome de Usher, uma doença genética degenerativa rara ainda hoje incurável, que lhe está a fazer perder progressiva mas inexoravelmente a vista e a audição. O seu maior desejo era ver o Papa, as estrelas e a aurora na praia antes que se apague a luz as nossas misérias». No final da audiência o Papa recordou também o terceiro dia mundial do desporto, proclamado pelas Nações Unidas, encorajando «a viver a dimensão desportiva como escola de virtude». PÁGINA 16 Sobre a «Misericordiae vultus» Bem-vindo a casa PÁGINA 7 L’OSSERVATORE ROMANO página 2 quinta-feira 7 de abril de 2016, número 14 Mensagem do Pontifício conselho para a pastoral no campo da saúde Aliança para as pessoas autistas Uma nova aliança entre os setores da saúde, social e educativo para a inserção das pessoas autistas em atividades laborais, a fim de aumentar a sua autonomia. Disse o arcebispo Zygmunt Zimowski, presidente do Pontifício conselho para a pastoral no campo da saúde, por ocasião do dia mundial sobre o autismo que se celebrou a 2 de abril. Tendo chegado à nona edição, a iniciativa tem por finalidade aumentar a conscientização e a sensilibilização acerca de uma problemática de grande atualidade, que envolve também pesquisadores, educadores, técnicos da reabilitação psiquiátrica, agentes pastorais e sociais, professores. Numa mensagem com o título «artífices e testemunhas de esperança» o prelado disse estar ciente de que «muitas vezes a fadiga diária, a desilusão, a desorientação, a solidão, a ansiedade pelo futuro podem predominar sobre a esperança, que deveria animar sempre as famílias, os agentes da saúde e as associações científicas e de pesquisa, as instituições escolares, os voluntários e quantos, por diversos motivos e de maneira sinérgica, estão ao lado das pessoas com distúrbios do espetro de autismo». Eis o motivo do convite a «estimular o compromisso neste setor, para o melhoramento dos serviços e a promoção da pesquisa», assim como a «estar ao lado das pessoas autistas e dos seus familiares». Para fazer isto, explicou o presidente do dicastério vaticano, «estamos chamados a voltar a pôr a nossa confiança em Deus», sobretudo no nosso «tempo no qual se tem dificuldade de encontrar razões para esperar, e sobretudo face ao problema relativo aos distúrbios do espetro de autismo, que muitas vezes são difíceis de diagnosticar, mas — sobretudo nas famílias — de aceitar sem vergonha ou fechamentos na solidão». De facto, observou D. Zimowski, «mesmo se por definição a esperança olha para o futuro, ela radica-se no hoje de Deus, o qual não pode deixar de amar e nos procura incansavelmente. Deus é bondade e benevolência sem limites, cuida dos seus filhos e nunca abandona aqueles que chamou a entrar na sua comunhão, sejam quais forem as dificuldades». De resto, continuou a mensagem, isto é confirmado também pelo facto de que «a sensibilização em relação a um distúrbio neurológico e comportamental, até há pouco tempo considerado um estigma social», hoje «está a adquirir cada vez mais consideração no campo da pesquisa, assim como da assistência, da inserção escolar e laboral, e no acompanhamento do crescimento espiritual». Também documentou isto a Conferência internacional promovida há dois anos pela Santa Sé sobre o tema A pessoa com distúrbios de espetro do autismo: animar a esperança. Eis por que, exortou o arcebispo, «não pode faltar o compromisso de todos para favorecer o acolhimento, o encontro, a solidariedade, numa obra concreta de apoio e de renova- L’OSSERVATORE ROMANO EDIÇÃO SEMANAL Unicuique suum EM PORTUGUÊS Non praevalebunt Intervenção da Santa Sé Paz segundo as mulheres «As mulheres são elementos-chave do desenvolvimento humano em muitos âmbitos: na família e nas comunidades de fé, nas iniciativas socioculturais e nos esforços humanitários, na educação e na saúde, na mediação e na diplomacia preventiva, no peacekeeping e no peacebuilding», e portanto «a agenda de 2030 para o desenvolvimento sustentável não pode ser completada sem a contribuição das mulheres». Foi este o ponto fulcral da intervenção do arcebispo Bernardito Auza, núncio apostólico, observador permanente da Santa Sé na Organização das Nações Unidas, por ocasião do debate aberto no Conselho de seguran- GIOVANNI MARIA VIAN diretor Giuseppe Fiorentino vice-diretor Cidade do Vaticano [email protected] www.osservatoreromano.va da promoção da esperança, tendo em conta sobretudo o facto de que o autismo se prolonga por toda a vida». E deveria ser garantida, durante toda a existência, «a continuidade do compromisso a favor destes nossos irmãos e irmãs». Em particular, «permitindo uma integração funcional entre os serviços específicos da idade evolutiva e da idade adulta, permite-se que a pessoa com autismo conserve as capacidades adquiridas com intervenções de habilitação em idade juvenil, evitando a sua regressão e a ineficácia dos recursos empregados». Por fim, a mensagem reafirmou que «neste compromisso oneroso, mas não impossível, o efeito das intervenções educativas, de saúde e sociais em apoio às pessoas com distúrbios do espetro de autismo e das suas famílias pode constituir um válido incentivo para encontrar e promover políticas eficazes, criando assim no território e também nos países com baixo rendimento — como afirmou o Papa Francisco no encontro com as crianças e pessoas autistas e seus familiares a 22 de novembro de 2014 — “uma rede de apoio e de serviços, completa e acessível”, que possa “ajudar as famílias a superar a sensação, que por vezes surge, de inaptidão, ineficácia e frustração”». Também porque, disse o prelado, o Pontífice «neste Ano santo da misericórdia, estimula crentes e não-crentes a redescobrir atitudes de acolhimento e de solidariedade fraterna». Redação via del Pellegrino, 00120 Cidade do Vaticano telefone +390669899420 fax +390669883675 TIPO GRAFIA VATICANA EDITRICE L’OSSERVATORE ROMANO don Sergio Pellini S.D.B. diretor-geral ça, que teve lugar no dia 28 do passado mês de Março. A contribuição feminina para a manutenção e a construção da paz é de particular importância nas regiões mais flageladas pela guerra e pela miséria, principalmente na África. «A Santa Sé — explicou Auza — exprime o seu apreço pelas iniciativas promovidas pelo Conselho de segurança e pelos governos, em vista de aumentar a consciência e chegar ao pleno reconhecimento do papel vital das mulheres na diplomacia preventiva, na mediação, nas missões de pacificação e nos processos de promoção da paz», de maneira especial na região dos Grandes Lagos. No entanto, tal reconhecimento «deve ser plenamente traduzido em acção, com a finalidade de promover a habilidade e a capacidade que as mulheres têm de fazer emergir do caos a ordem, da divisão a comunhão e do conflito a paz». A este propósito — acrescentou o arcebispo — devem ser recordadas as mulheres que pagaram com o sofrimento ou com o sangue a violência do terrorismo, as quais devem poder encontrar «segurança e compreensão» nas instituições internacionais e nas organizações localmente presentes. «O espírito de sacrifício para o bem do próximo leva algumas mulheres inclusive à própria morte». Por este motivo, o núncio apostólico evocou «com gratidão e amargura» as quatro religiosas missionárias massacradas por um grupo de fundamentalistas em território iemenita, no início do passado mês de Março. «Elas consagraram a sua vida às mulheres pobres e idosas, uma dúzia das quais foram assassinadas juntamente com elas». Assinaturas: Itália - Vaticano: € 58.00; Europa: € 100.00 - U.S. $ 148.00; América Latina, África, Ásia: € 110.00 - U.S. $ 160.00; América do Norte, Oceânia: 162.00 - U.S. $ 240.00. Administração: telefone +390669899480; fax +390669885164; e-mail: [email protected] Serviço fotográfico Para o Brasil: Impressão, Distribuição e Administração: Editora santuário, televendas: 0800160004, fax: 00551231042036, e-mail: [email protected] telefone +390669884797 fax +390669884998 [email protected] Publicidade Il Sole 24 Ore S.p.A, System Comunicazione Pubblicitaria, Via Monte Rosa, 91, 20149 Milano, [email protected] L’OSSERVATORE ROMANO número 14, quinta-feira 7 de abril de 2016 página 3 Funeral do cardeal Cottier Um teólogo que via com os olhos da fé Na manhã do dia 2 de abril no altar da Cátedra da basílica vaticana, o Papa Francisco presidiu ao rito da última «commendatio» e da «Valedictio» no final das exéquias do cardeal dominicano suíço Georges Marie Martin Cottier, teólogo emérito da Casa pontifícia, falecido a 31 de março. A missa fúnebre foi celebrada pelo cardeal decano Angelo Sodano, que pronunciou a homilia cujo texto publicamos a seguir. ANGELO SODANO A primeira leitura desta Santa Missa falou-nos de uma bem-aventurança particular: a bem-aventurança de quem morre no Senhor. No sermão da montanha Jesus anunciou aos seus discípulos várias bem-aventuranças: dos pobres, dos aflitos, dos mansos, dos puros de coração, dos pacíficos e dos perseguidos pela justiça (cf. Mt 5, 1-11). No Apocalipse o apóstolo João recordou-nos outra bem-aventurança, revelada pelo Espírito: «Eu, João, ouvi uma voz do céu, que dizia: “Escreve: Felizes os mortos que doravante morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, descansarão dos seus trabalhos, pois as suas obras os seguirão”» (14, 13). Telegrama de pesar do Santo Padre O cardeal dominicano suíço Georges Marie Martin Cottier, teólogo emérito da Casa pontifícia, faleceu a 31 de março na policlínica Agostino Gemelli em Roma. Teria completado 94 anos no dia 25 de abril. Ao receber a notícia o Papa Francisco recolheu-se em oração e em seguida enviou à irmã do purpurado, Marie Emmanuelle Pastore Cottier, o telegrama cujo conteúdo publicamos em seguida. Ao receber com comoção a triste notícia do falecimento do seu irmão, cardeal Georges Marie Martin Cottier, O.P., desejo exprimirlhe a minha sentida participação no luto que vivem todas as pessoas que conheceram e estimaram este zeloso servo do Evangelho. Com profunda gratidão, recordo a sua fé inabalável, a sua amabilidade paterna e a sua intensa atividade cultural e eclesial, em particular ao serviço dos Papas são João Paulo II e Bento XVI, como teólogo da Casa pontifícia. Dirijo uma fervorosa oração ao Senhor a fim de que, com a intercessão da Virgem Maria e de são Domingos, conceda ao saudoso cardeal a recompensa prometida aos seus discípulos fiéis e, em sinal de conforto, concedo de todo o coração a bênção apostólica à senhora e a todas as pessoas que apreciaram o seu zelo sacerdotal e a sua dedicação à Igreja e ao Sumo Pontífice. FRANCISCUS PP. Análogo telegrama foi enviado pelo cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado. Com esta fé na palavra de Deus reunimo-nos hoje em oração ao redor do altar do Senhor. O nosso querido irmão cardeal Georges Marie Cottier deixou-nos depois de uma longa vida inteiramente consagrada à difusão do Reino de Deus no mundo atual. Certamente, ele mereceu a bem-aventurança de quem morre no Senhor! No telegrama enviado à irmã do nosso querido Irmão, o Papa Francisco recordou-o como «zeloso servo do Evangelho... com fé inabalável e amabilidade paterna». Assim hoje recordam-no também muitos de nós que tivemos a ventura de lhe estar próximos nestes anos e de gozar da sua amizade. Nesta Santa Missa queremos dar graças ao Senhor por no-lo ter oferecido, confiando-o depois nas mãos misericordiosas do Pai que está nos céus, cientes como somos das fragilidades de cada homem, que precisa sempre da misericórdia de Deus. A segunda leitura da Missa convidou-nos a refletir sobre a carta de são Paulo aos Romanos: «Nenhum de nós vive para si, e ninguém morre para si. Se vivemos, vivemos para o Senhor; se morremos, morremos para o Senhor» (14, 7-9). Por fim, o Evangelho desta Santa Missa recordou-nos as palavras que Jesus dirigiu a Marta e Maria que choravam pela morte do irmão Lázaro: «Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá» (Jo 11, 17). Será publicada a 8 de abril Calendário das celebrações presididas pelo Papa «Amoris laetitia» IV DE D OMINGO PÁSCOA Basílica Vaticana, 9h15, Ordenações presbiterais, Santa Missa 24 Ele foi um cantor da fé do cristão, que tudo examina «com os olhos da fé», «avec les yeux de la foi», como gostava de repetir. Certamente, como grande teólogo tomista, reconhecia também o valor da razão humana e aliás frequentemente citava a comparação usada pelo Papa João Paulo II na Encíclica Fides et ratio, que dizia: «Fé e razão são como as duas asas com as quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade». Apraz-me recordar estas palavras precisamente hoje, 2 de abril, décimo primeiro aniversário da santa morte do Papa João Paulo II. Neste sentido, o nosso amado cardeal Cottier ensinou a Teologia em várias cátedras universitárias e durante quinze anos foi teólogo da Casa pontifícia. O serviço que prestou à Igreja foi deveras grande. Que ele ensine também a nós a sermos no mundo atual testemunhas de que Cristo é sempre «o Caminho, a Verdade e a Vida» (Jo 14, 6). Nestes dois meses Abril 17 Toda a existência do nosso querido cardeal Cottier recorda-nos este profundo espírito de fé. Ele foi um teólogo que agia «como se visse o invisível», como a carta aos Hebreus fala de Moisés na sua peregrinação no deserto (cf. 11, 27). V DE D OMINGO PÁSCOA Praça de São Pedro, 10h30, Santa Missa, Jubileu dos Jovens 15 D OMINGO DE PENTECOSTES Basílica Vaticana, 10h00, Capela Papal, Santa Missa 26 QUINTA-FEIRA SOLENIDADE D O SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO Praça de São João em Latrão, 19h00, Capela Papal, Santa Missa, Procissão até Santa Maria Maior e Bênção Eucarística 29 IX D OMINGO TEMPO COMUM Praça de São Pedro, 10h30, Santa Missa, Jubileu dos Diáconos DO Maio 5 QUINTA-FEIRA SOLENIDADE DA ASCENSÃO D O SENHOR Basílica Vaticana, 18h00, Vigília de oração para «Enxugar as lágrimas» Vaticano, 2 de abril de 2016. Mons. GUID O MARINI Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias Intitula-se Amoris laetitia a exortação apostólica pós-sinodal do Papa Francisco sobre o amor na família, que será apresentada na manhã de 8 de abril na sala de imprensa da Santa Sé. O documento reúne os frutos do caminho sinodal sobre a família, realizado em duas etapas durante o pontificado, com a assembleia extraordinária de outubro de 2014 e a ordinária, que teve lugar no ano seguinte. No encontro intervirão os senhores cardeais Lorenzo Baldisseri, secretário-geral do Sínodo dos bispos, e Christoph Schönborn, arcebispo de Viena. Ao seu lado, estarão presentes os cônjuges Francesco Miano e Giuseppina De Simone, respetivamente docente de filosofia moral na universidade dos estudos de Roma «Tor Vergata» e professora de filosofia na faculdade teológica da Itália meridional de Nápoles. página 4 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 7 de abril de 2016, número 14 GIULIO ALBANESE Uma coisa é falar das perseguições, outra é fazer experiência do encontro com quantos vivem permanentemente nesta condição. É preciso ver, ouvir, sentir de perto para compreender do que estamos a falar. Durante os anos Noventa, graças à ajuda de um organismo humanitário, consegui entrar num país em guerra, onde a sharia, a lei islâmica, predominava. Para garantir a incolumidade da pequena comunidade cristã ali residente, é preciso esclarecer que sou obrigado ainda hoje a omitir os nomes das localidades geográficas e das pessoas. A cidade na qual estava era a capital e a insegurança reinava soberana. Em toda a parte havia homens armados que manifestavam ódio e rancor pelo Ocidente. Sabia que arriscava a vida, mas não podia voltar atrás. Sentia que estava em jogo a minha dignidade de cronista comprometido a dar voz aos sem voz. Obviamente, em situações semelhantes a prudência é obrigatória. Obtive o visto de entrada como jornalista porque se tivesse declarado que era um religioso católico provavelmente agora não estaria aqui a narrar esta história. Um colega espanhol disse-me que, não obstante a presença dos milicianos jihadistas, havia na cidade uma pequena comunidade de religiosas, pertencentes a uma congregação missionária. Para chegar ao seu convento era necessário superar a pé uma barreira entre as duas fações armadas opostas que disputavam o controle do território. Tratava-se de uma faixa de cerca de um quilómetro, atravessada por estradas em más condições, cheias de barrancos. Os edifícios circundantes estavam desertos e a atmosfera era surreal. O sol ardia e caminhando o suor escorria abundante. Ao chegar à outra margem, imediatamente fui inspecionado por dois milicianos que, por sorte, tinham sido avisados da minha chegada. As religiosas viviam numa pequena casa pré-fabricada, coberta pela sombra de algumas palmeiras. No início, aquelas mulheres, três italianas, pensaram que fosse um cronista em busca de scoop e portanto mostraram-se muito desconfiadas. Aliás, quando telefonei para avisar sobre a minha visita, por prudência, não revelei a minha verdadeira identidade. Mas quando consegui explicar quem eu era, comoveram-se muito a ponto que, com lágrimas nos olhos, me pediram para celebrar a santa missa. Havia meses que não podiam participar numa missa e muito tempo tinha passado da última eucaristia. Pedi que me acompanhassem à capela. «A nossa é a menor catedral que o senhor já visitou», disse a superiora, que tinha cerca de cinquenta anos. Com um sinal fugaz convidou-me a segui-la, acompanhando-me até ao seu quarto, um cubículo, iluminado por uma janelinha aberta no teto. Dentro do armário, escondido no meio das roupas, havia um pequeno tabernáculo. Pegou a mesinha de cabeceira, que teria sido o altar, e colocou-a ao lado da cama. Disse-me para sentar enquanto preparava o Histórias de fé cristã nos lugares de perseguição As partículas escondidas num frasco de remédios necessário para a celebração. Em seguida, as duas religiosas sentaram-se na cama juntamente com ela, com grande devoção, pedindo-me para iniciar a liturgia. Estava emocionado, tendo deveras a percepção de me encontrar na periferia da história, onde há tanta humanidade sofredora, esquecida por todos. Dos paramentos só usei a estola pois a humidade era de 99 por cento e a temperatura no limite da suportação. Não escondo a minha dificuldade em partir o pão da Palavra de Deus com aquelas mulheres tão corajosas. Aliás, depois de pouco tempo uma vés dos catequistas de quatro pequenas comunidades. Precisamente o que restava, em termos numéricos, de uma Igreja, pequeno rebanho. Estou aqui a testemunhar não só a sua grande fé, mas a atitude misericordiosa diante dos seus perseguidores. «Porque — disse-me a superiora — ser cristão significa nunca se pôr contra alguém». Só então compreendi quanto é verdadeiro o ensinamento de Jesus: «Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós» (Mt 5, 1112). No mesmo dia em que me encontrei com aquelas mulheres valorosas visitei os vestígios Terrorismo, guerras, ditaduras, da catedral católica praperseguições, migrações: a religião, ticamente arrasada em deturpada e instrumentalizada para sinal de desprezo não finalidades ideológicas, quando não só pela religião católica financeiras, é cada vez mais usada mas também e sobretucomo instrumento de ódio e divisão do pelo ex-poder colonas numerosas periferias do planeta, nial, que a cultura exdenunciou o sacerdote comboniano, tremista islâmica associa diretor da revista «Popoli e Missione» ao pior demónio deste no livro Vittime e carnefici. mundo, o Shaytān. SeNel nome di «dio» (Turim, Einaudi, 2016, gundo a religião islâmi178 páginas). Publicamos em seguida ca ele tenta de todas as uma sinopse do capítulo intitulado «Lo maneiras, só para criar scontro delle civiltà». desanimar as pessoas, fazê-las cair na tristeza, tendo jurado vingança até ao fim dos tempos. delas teria sido assassinada. Li nos Pois bem, Shaytān seríamos nós que livros de teologia o que quer dizer com o nosso modus vivendi, as nossas martyria, mas aquele dia deveras dei- convicções, o poder e a afeição ao me conta do significado desta pala- deus dinheiro, teríamos desafiado a vra. Consagrei dois quilos e meio de única verdadeira civilização, a umma, hóstias, mantidas num recipiente de comunidade de quantos seguem os lata. Sucessivamente, explicaram-me preceitos corânicos. Obviamente, que as partículas teriam sido coloca- ninguém pretende ignorar os erros das em pedaços dentro de pequenos cometidos pelo mundo ocidental, frascos de remédios, cobertas com com todas as suas incongruências, algodão e distribuídas aos fiéis atra- mas esquecer o bem praticado pelas Vítimas e carnífices religiosas mencionadas com grande abnegação, afirmando que elas são filhas das trevas, é verdadeiramente pouco generoso. Além disso, estes cruéis intérpretes da violência esquecem que o cristianismo nasceu no Médio Oriente há dois mil anos. Contudo, a recordação que conservo no coração daquelas religiosas, autênticas sentinelas da manhã, é deveras a lembrança de um dia inesquecível. Uma fé, a delas, certamente não identitária mas inclusiva, orientada ao serviço dos pobres nas periferias da história. Quem reconhece isso naquele país cujo nome ainda hoje não me é lícito pronunciar, é a sociedade civil islâmica que sempre contrastou o pensamento débil jihadista. O que vem a confirmar que, enfrentando o tema das perseguições, é injusto generalizar. Durante a estadia naquele país de maioria islâmica, consegui visitar lugares onde antes havia algumas igrejas. Primeiramente, visitei os vestígios da catedral local. Depois encontrei-me clandestinamente com um idoso sacristão de uma paróquia, a cerca de setenta quilómetros da capital. O edifício tinha sido derrubado e o campanário destruído. Fiquei muito chocado ao constatar o modo horrível como reduziram o altar-mor. A mesa tinha sido partida em dois troncos. O idoso explicou-me que conseguiu salvar as certidões de batismo e que os conservava com zelo na sua casa. Perguntei-lhe se mantinha contato com as religiosas que viviam na capital. Respondeu que pelo menos uma vez por mês recebia os frascos dos remédios que continham as partículas. Antes de partir, ofereci-lhe um tercinho. Pôs-se a chorar como uma criança e pediume que o benzesse. Depois, escondeu-o num alforge no qual estava escrito Allāh Akbar, explicando, em voz baixa que para ele aquela escrita referia-se ao Deus dos cristãos, mas ninguém sabia. número 14, quinta-feira 7 de abril de 2016 L’OSSERVATORE ROMANO página 5 Conferência do Unhcr em Genebra de Genebra CHARLES DE PECHPEYROU Depois de mais de cinco anos de guerra na Síria, a crise migratória provocada pelo conflito tornou-se «a crise mais relevante da nossa época»: foi com esta constatação dramática que o secretário-geral da Onu Ban Ki-moon inaugurou a 30 de março a importante conferência convocada pelo alto comissariado das Nações Unidas para os refugiados (Unhcr). Os números falam claramente: até hoje cerca de 4,8 milhões de pessoas foram obrigadas a fugir da Síria. São os países da região que recebem a maioria dos refugiados sírios, mas muitos continuam a sua viagem, sobretudo rumo à Europa. Não obstante todos os perigos, a travessia do Mediterrâneo não desanima quantos, na sua pátria e nas regiões limítrofes, já não têm esperança alguma. Segundo um recente estudo realizado pela Onu e pelo Banco mundial, 90 por cento dos refugiados sírios no Líbano e na Jordânia vivem abaixo da linha de pobreza. «Hoje estamos aqui reunidos para lançar um apelo a favor da criação de novas e mais diversificadas soluções legais de admissão dos refugiados sírios em vários países nos próximos três anos», declarou no início do dia o alto comissário das Nações Unidas para os refugiados Filippo Grandi, diante dos representantes de uma centena de países e organizações intergovernamentais. Até agora os diversos Estados prometeram 178.000 lugares. Portanto, são indispensáveis novos programas plurianuais que permitam a reinserção e outras formas de admissão dos refugiados a nível humanitário. Trata-se de um apelo lençado em primeiro lugar aos países que ainda se mostram relutantes a comprometerse neste tipo de iniciativas, com a finalidade de compartilhar o mais equitativamente possível as responsabilidades em relação aos refugiados. Em conformidade com o Unhcr, daqui a três anos deve ser reinserido pelo menos 10 por cento dos 4,8 milhões de refugiados sírios, número contudo considerado insuficiente por alguns participantes na conferência de Genebra. Será ouvido o solene apelo a um «aumento exponencial da solidariedade mundial», lançado por Ban Ki-moon durante a conferência das Nações Unidas? Até agora o balanço é deveras modesto. A atitude da Europa, principalmente ao longo destes últimos meses, suscitou várias críticas. O alto comissário deplorou a indiferença existente em relação às «firmes decisões» tomadas há um ano pela União europeia, para gerir os fluxos de refugiados e de migrantes com método e princípios», e o comportamento atual dos Estados que «não deram demonstração da- Pessoas no centro quela solidariedade que exige a partilha da responsabilidade e a distribuição equitativa dos refugiados e dos requerentes de asilo». Perante a crescente preocupação da opinião pública, «às vezes habilmente manipulada por líderes políticos irresponsáveis», frisou Filippo Grandi, a prioridade para os Estados trabalho, em estreita colaboração com a Comissão europeia e com os Estados membros da Ue, de modo particular com a Grécia, para gerir a crise migratória. Como prova desta boa vontade comum, durante a citada conferência a União europeia comprometeu-se a assegurar a reinserção de mais Fila de migrantes na fronteira entre a Grécia e a ex-República jugoslava da Macedónia (Afp) membros não parece ser tanto o acolhimento dos refugiados quanto o fechamento das fronteiras. O resultado é que cerca de 50.000 refugiados e migrantes hoje estão bloqueados na Grécia, em condições terríveis. Por conseguinte, o Unhcr comprometeu-se a dar continuidade ao seu 54.000 refugiados sírios provenientes da Turquia. Contudo , no final do dia Filippo Grandi quis elogiar alguns compromissos assumidos durante os trabalhos: contribuições para a reunião familiar, novos programas de concessão de vistos para a América Latina, supressão das bar- reiras administrativas à admissão dos refugiados e assistência financeira ao Unhcr. No entanto, o que é mais importante, estas promessas constituem apenas o primeiro passo na retomada das ajudas aos refugiados sírios. Com efeito, esta conferência inserese no ciclo de encontros internacionais sobre os migrantes, realizados ao longo de vários meses. Ciclo encetado com a conferência de Londres sobre a Síria, que teve lugar no passado mês de fevereiro — onde foram examinadas as dimensões financeiras da crise humanitária dentro e fora das fronteiras sírias, e as necessidades das comunidades nos países de acolhimento — e que se concluirá em 19 de setembro, com a reunião plenária de alto nível da assembleia geral das Nações Unidas em Nova York, dedicada aos movimentos de refugiados e migrantes em larga escala. Entrementes, nos dias 23-24 de maio em Istambul, na presença de representantes governamentais, de organizações humanitárias mas também de responsáveis religiosos, terá lugar o primeiro encontro humanitário mundial, convocado para definir uma nova organização mundial neste campo. Trata-se da assembleia à qual o Papa Francisco se referiu na sua mensagem urbi et orbi para a Páscoa. Com efeito, o Pontífice formulou votos a fim de que tal encontro «não deixe de pôr no centro a pessoa humana com a sua dignidade e de elaborar políticas capazes de assistir e tutelar as vítimas de conflitos e de outras emergências». Organizações humanitárias voltaram a criticar o acordo Ue-Turquia Que direitos para os migrantes «Este é o primeiro dia de tempos muito duros para os direitos dos refugiados». Foi o primeiro comentário da organização internacional Amnesty International sobre a entrada em vigor do plano Eu-Turquia para a gestão da emergência imigração. Palavras claras, que ressaltam o nó crucial à volta do qual se continua a debater nestas horas: a salvaguarda dos direitos dos migrantes e o respeito pelas normas internacionais sobre o direito de asilo. Precisamente estes aspetos não seriam protegidos de modo adequado pelo acordo. E à Amnesty International uniu-se também Save the Children, que denunciou «a falta de tutelas para os migrantes rejeitados» e pediu aos líderes europeus «que suspendam o plano e o reconsiderem urgentemente». Sob acusação também as condições de acolhimento no centro de detenção de Moria em Lesbos, onde se encontram mais de mil menores. Ali «famílias e crianças dormem ao ar livre» denuncia a organização. Um apelo semelhante foi lançado também pela Cáritas e pela Comece (Comissão das conferências episcopais da Comunidade europeia). «Está a verificar-se na prática o que não queríamos» declarou Oliviero Forti, responsável da área imigração da Cáritas italiana. «Criticámos o acordo e agora vemos os primeiros efeitos de uma Europa que só quer afastar os refugiados dos seus confins» acrescentou. «O facto que os repatriamentos não dizem respeito aos sírios não diminui a gravidade de fazer regressar os migrantes a um país que não oferece algum tipo de garantia para o respeito dos direitos humanos». A Cáritas «terá a possibilidade direta de verificar as condições nas quais estas pessoas serão acolhidas». No jornal mensal da Comece, «Europeinfos», frisouse a inadequação do acordo, pondo em relevo sobretudo o «abismo» das dez mil crianças migrantes desacompanhadas que desapareceram literalmente no vazio. «Para os menores — lê-se — dever-se-ia seguir os parâmetros internacionais da proteção das crianças». No entanto, depois de dar início ao plano com o reenvio de 202 migrantes para a Turquia, a seguir não houve regresso algum. Confirmam-no as autoridades gregas, explicando que a maior parte dos prófugos atualmente retidos nas ilhas apresentaram pedido de asilo que deverão ser avaliados individualmente antes de eventuais regressos. Segundo Atenas, entre os migrantes rejeitados não havia requerentes de asilo. Houve desordens no campo de Idomeni, na fronteira entre a Grécia e a ex-República jugoslava da Macedónia. Desde há dias o campo foi bloqueado devido ao fechamento das fronteiras. L’OSSERVATORE ROMANO página 6 quinta-feira 7 de abril de 2016, número 14 Água, alterações climáticas e «Laudato si’» O motor da mudança ANDREA AGAPITO LUD OVICI As mudanças climáticas representam o desafio mais imediato para a humanidade, como foi universalmente reconhecido na Conferência de Paris (Cop 21), realizada de 30 de novembro a 12 de dezembro passados. Também o Papa Francisco, na encíclica Laudato si’, frisou as pesadas consequências das mudanças climáticas que, provavelmente, incidem sobre os países em vias de desenvolvimento; é neles, com efeito, que «muitos pobres vivem em lugares particularmente atingidos por fenómenos relacionados com o aquecimento, e os seus meios de sustento dependem em grande medida das reservas naturais e dos chamados serviços do ecossistema». Assim também na Itália, ao longo do século XXI, no cenário mais pessimista, está previsto um aumento de temperatura de até 8 graus, especialmente no verão e no outono e depois calcula-se, em escala nacional, uma forte diminuição das precipitações devida a verões mais áridos. Está previsto um aumento das chuvas em particular na zona alpina, enquanto que no sul se manifestaria a maior diminuição de chuvas. Devido a tudo isto é necessário favorecer políticas de adaptação, como evidenciou o Acordo de Paris (Art. 7); com efeito, trata-se de promover todas as ações para incrementar a capacidade de adaptação, fortalecer a resiliência e limitar a vulnerabilidade à mudança climática na perspetiva de contribuir para o desenvolvimento sustentável e garantir uma resposta adequada aos objetivos de limitação do aumento das temperaturas. Nesta perspetiva a gestão da água pode ser o veículo principal para afirmar novos modelos de gestão sustentável, adequados às diferentes realidades do nosso planeta. É o que, por exemplo, foi realizado no vale do rio Sourou no Burquina Faso. Naquele território que, já há alguns anos, foi feita uma experiência significativa de contrat de rivière, como instrumento para gerir de modo participativo os recursos hídricos numa região caracterizada pela escassez dos mesmos. As comunidades locais responderam bem à campanha inicial de sensibilização e participação e foi possível um intercâmbio de informações entre os vários «saberes locais» e os dados científicos. O resultado foi encorajador: as 103 ações indicadas conjuntamente no «contrato fluvial» foram realizadas em tempos breves. Deste modo, favoreceu-se e valorizou-se a agricultura local, propondo um uso sustentável do solo; foi envolvida a população na tutela do meio ambiente, hídrico em particu- lar, e dos recursos. Houve um progresso geral na gestão hídrica na zona, determinando também um melhoramento da qualidade do rio. O contrat de rivière demonstrou-se um ótimo instrumento, dinâmico, flexível, adaptável que, prevendo a participação voluntária, favoreceu o envolvimento ativo, sem imposições, das comunidades locais e o confronto e a promoção de boas práticas. Uma boa experiência de participação, integração, interdisciplinaridade que permitiu enfrentar de maneira solidária e sustentável o uso da água e a gestão dos recursos naturais daquele território. Em geral, infelizmente não se age sempre de maneira virtuosa, aliás a «regra» caracterizase por grandes obras que, com frequência, devastam o ambiente e as comunidades locais e que, com frequência, se revelam contraproducentes. Eis por que é bom questionar-se se a produção de energia hidroelétrica, portanto em teoria limpa e renovável, e a contribuição para a «defesa» das inundações que se pretende obter com a construção da gigantesca barragem das Três Gargantas na China no rio Amarelo compensam a submersão de mais de 1300 sítios arqueológicos, 13 cidades, 140 vilas e 1352 aldeias, com a transferência de cerca de um milhão e meio de habitantes (mas está prevista a transferência de outros quatro milhões de pessoas da zona até 2023), o desaparecimento definitivo de numerosíssimas espécies animais e vegetais e a destruição de inteiros habitats naturais. No Brasil, a Associação Survival international denunciou o programa nacional de «crescimento acelerado», que promove o desenvolvimen- to económico do país através da construção de grandes infraestruturas, como uma série de grandes barragens na Amazônia. É o caso de dois grandes diques, Jirau e Santo Antônio, em construção no rio Madeira, que ameaçam diretamente quatro povos indígenas que vivem na parte alta da bacia: os Karitianas, Karipunas, Uru-Eu-WauWau, e Katawixis, danificando também outras tribos (Parintintin, Tenharim, Pirahã, Jiahui, Tora, Apurinã, Mura, Oro Ari, Oro Bom, Cassupá e Salamãi). Neste caso, face a um investimento de cerca de quinze biliões de dólares, no qual participam também companhias europeias, como a francesa Gdf Suez, e bancos como o espanhol Santander, é legítimo questionar-se quanto valem os direitos dos nativos e as consequências da destruição de um habitat único. Um pouco em toda a parte no mundo, como na Índia ao longo do Gange e do Narmada, há conflitos devidos à construção de grandes barragens, que viram as comunidades locais rebelar-se a escolhas governamentais que não prevêem o seu envolvimento. Estas obras gigantescas arrasam rios e bacias inteiras, in- cidindo grandemente sobre o ciclo hidrológico de regiões inteiras; assim o território torna-se frágil e cada vez mais vulnerável às mudanças climáticas: deveríamos perguntar-nos seriamente se isto significa «adaptar-se» ou não e talvez favorecer os efeitos do climate change e lançar as bases para futuras catástrofes. Perguntas que podem encontrar resposta na busca de uma abordagem nova ao governo do território e à gestão das águas através da participação e responsabilização das populações. Infelizmente na Itália continua a prevalecer uma lógica ligada à emergência, à construção de obras — canalização dos rios, barragens, envasaduras artificiais, caixas de expansão — sem prevenção, planificação e participação, nem uma visão ampla da bacia hidrográfica, como ao contrário é exigido pelas diretrizes Águas e Inundações (2000/60/CE) (2007/60/CE) da União Europeia. Neste momento em que se procura a mudança talvez devêssemos prestar uma atenção particular às cidades, nas quais está concentrada grande parte da população mundial, muitas vezes com incríveis densidades por quilómetro quadrado e com enormes consumos de água e de energia, mas onde há uma grandíssima potencialidade de informação, sensibilização e participação. Muitas cidades europeias já promoveram e realizaram sistemas urbanos de drenagem sustentável (Suds), como Berlim ou Hanover, aproveitando do melhor modo possível os espaços marginais, os estacionamentos ou os jardins; estes sistemas contribuem para a redução do risco de alagamentos, a diminuição da poluição e o melhoramento e incremento das áreas verdes urbanas e da qualidade da vida. Poupar onde se gasta mais pode reduzir a dependência de outras áreas periféricas, fazendo diminuir a exigência de grandes obras e favorecendo processos virtuosos de participação territorial. É necessário um compromisso de ampla abordagem para «se adaptar», para fazer face à complexidade que temos diante de nós e enfrentar do melhor modo possível as mudanças climáticas. A água pode ser o motor desta necessária mudança de rota. número 14, quinta-feira 7 de abril de 2016 L’OSSERVATORE ROMANO página 7 Bernardette Lopez «Vai, reconcilia-te com teu irmão» (2009) No sacerdote confessor o penitente deveria encontrar um grande e silencioso abraço paterno que diz: «Bemvindo a casa!». Foi com esta imagem que monsenhor Krzysztof Nykiel, regente da Penitenciaria apostólica, concluiu o congresso promovido pelo mesmo dicastério sobre a bula jubilar Misericordiae vultus, realizado de 31 de Março a 1 de Abril. Talvez também graças à redescoberta desta imagem do confessor — frisou o regente — «um dos principais frutos deste ano da misericórdia» foi precisamente «o retorno ao confessionário por parte de numerosas pessoas que já há muitos anos não se aproximavam do sacramento da reconciliação». Do mesmo modo, observa-se também a redescoberta das obras de misericórdia corporal e espiritual, sobre as quais o Papa Francisco insistiu, convidando sobretudo os fiéis «a praticá-las com generosidade». Em seguida, monsenhor Nykiel recomendou que cada confessor «receba os fiéis como o pai da parábola do filho pródigo, manifestando-lhes a ternura do Pai sempre pronto a conceder-nos o seu perdão». Com efeito — explicou o prelado — ele «só acolhe o que Deus já fez nascer no coração do homem: a nova vida de filho, que somente Deus suscita e que ele simplesmente constata e recebe». Por este motivo o Pontífice, na bula de proclamação do Ano Santo, pede constantemente que os «confessores sejam um verdadeiro sinal da misericórdia do Pai», chamados a «ser sempre, em toda a parte e em cada situação, e apesar de tudo, o sinal do primado da misericórdia». A variedade dos conteúdos e das perspectivas salientados nas três sessões de trabalho confirmam que a misericórdia é verdadeiramente o âmago do Evangelho. Com efeito — explicou o regente — o congresso foi uma «grande celebração» da misericórdia de Deus, «um hino de louvor à misericórdia divina, segundo as palavras sugestivas do salmo 117: “Louvai ao Senhor, porque Ele é bom, porque eterna é a sua misericórdia”». A misericórdia — acrescentou o prelado — é o Deus Pai, que não quer a morte do pecador, mas deseja que ele se converta e viva. A misericórdia é Jesus Cristo que, «na cruz, revelou todo o poder da misericórdia de Deus». A misericórdia é o Espírito Santo, «amor compassivo do Pai e do Filho que — como recorda o autor do livro da Sabedoria — “através dos tempos, entrando nas almas santas, forma amigos de Deus e profetas”». Enfim, a misericórdia é a Igreja, «Mãe compassiva, dispensadora de graças, “serva do ministério da misericórdia que se alegra todas as vezes que pode conceder este dom divino”». A este propósito, o regente recordou que já no início do congresso o cardeal penitenciáriomor Mauro Piacenza realçou: «É na misericórdia divina do Coração divino-humano de Cristo que se edifica a Igreja, sacramento universal de salvação e ministra da misericórdia enquanto continuação, no espaço e no tempo, da presença viva e da obra salvífica de Cristo». Assim, a Igreja Concluído o congresso sobre a «Misericordiae vultus» Bem-vindo a casa inteira está como que «impregnada» desta misericórdia, e é nela que se «desenvolvem toda a sua vida e missão, que consistem em anunciar o amor misericordioso do Pai». Depois, monsenhor Nykiel voltou a percorrer o conteúdo evidenciado pelas várias intervenções, salientando em primeiro lugar que a credibilidade da Igreja «se fundamenta no anúncio da misericórdia de Deus verdadeira e perfeita revelação da misericórdia de Deus, o único autêntico inocente e Salvador decisivo que, em obediência ao Pai e perdoando os culpados, morre dando a própria vida por todos, inclusive por quantos quiseram provocar a sua morte». É assim que o mal e a morte são derrotados de forma definitiva, e que o homem é finalmente libertado do seu poder. Um testemunho concreto desta vitória, comentou monsenhor NyA credibilidade da Igreja kiel, «podemos admirá-lo na Imaculada Conceição fundamenta-se no anúncio da Bem-Aventurada Virda misericórdia de Deus gem Maria». Com efeito, nela tudo «foi plasmado que em Jesus se tornou palpável pela presença da miserie experimentável córdia feita carne» e, como observou o padre Francesco De Feo, Maria que, em Jesus, se tornou palpável e é a «Mãe da misericórdia porque é a experimentável». Frisou-o no seu re- Mãe daquele que é a misericórdia, e latório o sacerdote Laurent Touze, porque Deus lhe confiou de maneira recordando que da misericórdia do peculiar esta função no plano da Pai o cristão não recebe unicamente economia salvífica». De objecto e o perdão dos pecados mas também, ícone da misericórdia divina, Maria em Jesus Cristo e no Espírito Santo, «torna-se um caminho privilegiado uma nova existência: «Uma vida de para a sua realização. É a Mãe Imadocilidade, conversão, perdão, justi- culada, «cheia de graça e de miseriça e misericórdia, oferecida ao próxi- córdia, que nos exorta a não ter memo porque recebida de Deus». do de nos abandonarmos ao amor Por sua vez, Bruna Costacurta ob- compassivo do seu Filho, que derroservou que suspenso no madeiro da tou o mal pela raiz, libertando-nos cruz não está apenas «um homem do seu domínio». condenado à morte pela maldade Toda a obra de Jesus — acrescendos homens, mas o Filho de Deus, tou ainda o regente — é precisamen- te uma obra de misericórdia e de perdão, como explicou o sacerdote padre Serge Thomas Bonino. No seu livro autobiográfico Memória e identidade, João Paulo II já tinha afirmado que existe um limite divino imposto ao mal, e que ele consiste na misericórdia. Quando entra em contato com o pecado — ressaltou em seguida monsenhor Nykiel — «o amor de Deus não se apaga mas, ao contrário, inflama-se ainda mais transformando-se em misericórdia». No entanto, segundo a admoestação do padre José Granados, a misericórdia «não se limita a tolerar o mal que nós causamos. Isto seria demasiado pouco!». Pelo contrário, a misericórdia recorda-nos «a nossa bondade originária e, deste modo, realiza em nós uma verdadeira regeneração: permite-nos nascer de novo e volta a inserir-nos na vida segundo a aliança com Deus». Além disso, a misericórdia «ajuda o filho a reconhecer a sua dignidade filial indelével». Com efeito, como testemunharam Ernesto Olivero e Salvatore Martínez, a experiência da misericórdia floresce em nós como obra de misericórdia. «É neste amor — recordou — que nasce e se desenvolve a vida cristã. O cristão que realmente experimentou o amor misericordioso de Deus não pode deixar de ser, por sua vez, testemunha e portador da misericórdia divina: “bem-aventurados os misericordiosos, porque encontrarão misericórdia”». Com efeito — frisou depois o prelado — quem experimenta o amor de Deus «é impelido a ter compaixão pelos pobres, pelos últimos e por todos aqueles que ainda não acolheram o amor de Deus na própria vida». A misericórdia de Deus torna-nos «cada vez mais misericordiosos e ajuda-nos a percorrer mais rapidamente o caminho da santidade, em conformidade com o exemplo dos numerosos santos e beatos que fizeram da misericórdia a missão da sua vida». Na Igreja — como explicou o padre Antonio Sicari, apresentando seis gigantes de santidade e de misericórdia: Teresa do Menino Jesus, Faustina Kowalska, Vicente de Paulo, Damião de Veuster, Madre Teresa de Calcutá e Leopoldo Mandić — «nunca faltou o anúncio da misericórdia e incontáveis santos sempre a testemunharam e viveram». No entanto é significativo que, precisamente entre os finais do século XIX e os inícios do século XX, Deus «tenha decidido transmitir à humanidade um novo apelo, urgente, abrangente, solene e reiterado, à sua misericórdia»: uma evocação «que representa um elemento característico também das outras grandes religiões, de maneira especial no judaísmo e no islão». Por fim , o regente concluiu recordando que no seu relatório Massimo Introvigne salientou o modo como as grandes religiões, «apesar das suas sensibilidades e pontos de vista», exprimem «saudade da misericórdia, como premissa para um diálogo difícil mas indispensável, num mundo que tem necessidade dela». L’OSSERVATORE ROMANO número 14, quinta-feira 7 de abril de 2016 página 8/9 Na vigília de oração o Papa propôs que se recorde o jubileu com obras em cada diocese Monumentos à misericórdia «Um hospital, uma casa para idosos, para crianças abandonadas, uma escola onde não houver, uma casa para recuperar os toxicodependentes», numa palavra, um «monumento» deste Ano da Misericórdia que deve ser realizado em cada diocese. Desejou o Papa Francisco no final da vigília presidida na praça de São Pedro no final da tarde de sábado, 2 de abril, vigília da festa da divina misericórdia. Caravaggio, «As sete obras de misericórdia» (1606-1607, igreja «Pio Monte della misericordia», Nápoles) Com alegria e gratidão, partilhamos estes momentos de oração que nos introduzem no Domingo da Misericórdia, tão desejado por São João Paulo II — partiu há onze anos, em 2005, num sábado da Divina Misericórdia como hoje — e queria este Domingo para satisfazer um pedido de Santa Faustina. Os testemunhos que nos foram oferecidos — e que agradecemos — e as leituras que ouvimos abrem clareiras de luz e de esperança para entrar no grande oceano da misericórdia de Deus. Quantas são as faces da misericórdia com que Ele vem ao nosso encontro? São verdadeiramente muitas; é impossível descrevê-las todas, porque a misericórdia de Deus cresce sem cessar. Deus nunca Se cansa de a exprimir, e nós não deveríamos jamais recebê-la, procurá-la, desejá-la por hábito. É sempre al- go de novo que gera surpresa e maravilha à vista da imaginação criadora de Deus, quando vem ao nosso encontro com o seu amor. Deus revelou-Se, manifestando várias vezes o seu nome; este nome é «misericordioso» (cf. Êx 34, 6). Tal como é grande e infinita a natureza de Deus, assim é grande e infinita a sua misericórdia, de tal modo que se revela uma árdua tarefa conseguir descrevê-la em todos os seus aspetos. Repassando as páginas da Sagrada Escritura, vemos que a misericórdia é, antes de mais nada, a proximidade de Deus ao seu povo. Uma proximidade que se exprime e manifesta principalmente como ajuda e proteção. É a proximidade dum pai e duma mãe que se espelha numa bela imagem do profeta Oseias. Diz assim: «Segurava-os com laços humanos, com laços de amor, fui para ele como os que levantam uma criancinha contra o seu rosto; inclinei-me para ele, para lhe dar de comer» (11, 4). O abraço dum pai e duma mãe ao seu filho. É muito expressiva esta imagem: Deus pega em cada um de nós e levanta-nos até ao seu rosto. Quanta ternura contém e quanto amor manifesta! Ternura: palavra quase esquecida e de que o mundo atual, todos nós temos necessidade. Pensei nesta palavra do profeta quando vi o logótipo do Jubileu. Jesus não só leva aos seus ombros a humanidade, mas tem o seu rosto tão chegado ao de Adão, que os dois rostos parecem fundir-se num só. Nós não temos um Deus que não saiba compreender e compadecer-Se das nossas fraquezas (cf. Hb 4, 15). Pelo contrário! Foi precisamente em virtude da sua misericórdia que Deus Se fez um de nós: «Pela sua encarnação, Ele, o Filho de Deus, uniu-Se de certo modo a cada homem. Trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornouSe verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, exceto no pecado» (Gaudium et spes, 22). Por conseguinte, em Jesus, podemos não só pal- Queridos irmãos e irmãs, a misericórdia não pode jamais deixar-nos tranquilos. É o amor de Cristo que nos «inquieta» enquanto não tivermos alcançado o objetivo; que nos impele a abraçar e estreitar a nós, a envolver quantos necessitam de misericórdia, para permitir que todos sejam reconciliados com o Pai (cf. 2 Cor 5, 14-20). Não devemos ter medo; é um amor que nos alcança e envolve de tal maneira que se antecipa a nós mesmos, permitindo-nos reconhecer a sua face na dos irmãos. Deixemo-nos conduzir docilmente por este amor, e tornar-nos-emos misericordiosos como o Pai. Como ouvimos no Evangelho, Tomé era um teimoso. Não acreditara e encontrou a fé, precisamente quando tocou as chagas do Senhor. Uma fé que não é capaz de se imergir nas chagas do Senhor, não é fé. Uma fé que não é Escritores vivos do Evangelho «Muitos outros sinais miraculosos realizou ainda Jesus, na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro» (Jo 20, 30). O Evangelho é o livro da misericórdia de Deus, que havemos de ler e reler, porque tudo o que Jesus disse e fez é expressão da misericórdia do Pai. Nem tudo, porém, foi escrito; o Evangelho da misericórdia permanece um livro aberto, onde se há de continuar a escrever os sinais dos discípulos de Cristo, gestos concretos de amor, que são o melhor testemunho da misericórdia. Todos somos chamados a tornar-nos escritores viventes do Evangelho, portadores da Boa Nova a cada homem e mulher de hoje. Podemos fazê-lo praticando as obras corporais e espirituais de misericórdia, que são o estilo de vida do cristão. Através destes gestos simples e vigorosos, mesmo se por vezes invisíveis, podemos visitar aqueles que passam necessidade, levando a ternura e a consolação de Deus. Deste modo damos continuidade ao que fez Jesus no dia de Páscoa, quando derramou, nos corações assustados dos discípulos, a misericórdia do Pai, efundindo sobre eles o Espírito Santo que perdoa os pecados e dá a alegria. Mas, na narração que ouvimos, aparece um contraste evidente: por um lado, temos o medo dos discípulos, que fecham as portas da casa; por outro, temos a missão, por parte de Jesus, que os envia ao mundo para levarem o anúncio do perdão. O mesmo contraste pode verificar-se também em nós: uma luta interior entre o fechamento do coração e a chamada do amor para abrir as portas fechadas e sair de nós mesmos. Cristo, que por amor entrou nas portas fechadas do pecado, da morte e da mansão dos mortos, deseja entrar também em cada um para abrir de par em par as portas fechadas do coração. Ele que venceu, com a ressurreição, o medo e o temor que nos algemam, quer escancarar as nossas portas fechadas e enviar-nos. A estrada que o Mestre res- suscitado nos aponta é estrada de sentido único, segue-se apenas numa direção: sair de nós mesmos, sair para testemunhar a força sanadora do amor que nos conquistou. Muitas vezes vemos, diante de nós, uma humanidade ferida e assustada, que tem as cicatrizes do sofrimento e da incerteza. Hoje, face ao seu doloroso clamor de misericórdia e paz, ouçamos como que dirigido a cada um de nós o convite feito confiadamente por Jesus: «Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós (Jo 20, 21). Cada doença pode encontrar na misericórdia de Deus um auxílio eficaz. Com efeito, a sua misericórdia não se detém à distância: quer vir ao encontro de todas as pobrezas e libertar de tantas formas de escravidão que afligem o nosso mundo. Quer alcançar as feridas de cada um, para medicá-las. Ser apóstolos de misericórdia significa tocar e acariciar as suas chagas, presentes hoje também no corpo e na alma de muitos dos seus irmãos e irmãs. Ao cuidar destas chagas, professamos Jesus, tornamoLo presente e vivo; permitimos a outros que palpem a sua misericórdia, e O reconheçam «Senhor e Deus» (cf. Jo 20, 28), como fez o apóstolo Tomé. Eis a missão que nos é confiada. Inúmeras pessoas pedem para ser escutadas e compreendidas. O Evangelho da misericórdia, que se deve anunciar e escrever na vida, procura pessoas com o coração paciente e aberto, «bons samaritanos» que conhecem a compaixão e o silêncio perante o mistério do irmão e da irmã; pede servos generosos e alegres, que amam gratuitamente sem nada pretender em troca. «A paz esteja convosco!» (Jo 20, 21): é a saudação que Cristo leva aos seus discípulos; é a mesma paz que esperam os homens do nosso tempo. Não é uma paz negociada, nem a suspensão de algo errado: é a sua paz, a paz que brota do coração do Ressuscitado, a paz que venceu o pecado, a morte e o medo. É a paz que não divide, mas une; é a paz que não deixa sozinhos, mas faz-nos sentir acolhidos e amados; é a paz que sobrevive no sofrimento e faz florescer a esperança. Esta paz, como no dia de Páscoa, nasce e renasce sempre do perdão de Deus, que tira a ansiedade do coração. Ser portadora da sua paz: esta é a missão confiada à Igreja no dia de Páscoa. Nascemos em Cristo como instrumentos de reconciliação, para levar a todos o perdão do Pai, para revelar o seu rosto de amor nos sinais da misericórdia. No Salmo Responsorial, foi proclamado: «O seu amor é para sempre» (118/117, 2). É verdade, a misericórdia de Deus é eterna; não acaba, não se esgota, não se dá por vencida diante das portas fechadas e nunca se cansa. Neste «para sempre», encontramos apoio nos momentos de provação e fraqueza, porque temos a certeza de que Deus não nos abandona: permanece connosco para sempre. Demos-Lhe graças por este amor tão grande que nos é impossível compreender. É tão grande! Peçamos a graça de nunca nos cansarmos de tomar a misericórdia de Deus e levá-la pelo mundo: peçamos para ser misericordiosos, a fim de irradiar por todo o lado a força do Evangelho, para escrever aquelas páginas do Evangelho que o apóstolo João não escreveu. Coleta para a Ucrânia Uma «coleta especial» a favor da Ucrânia será recolhida «em todas as igrejas católicas da Europa no domingo, 24 de abril»: anunciou o Papa Francisco na praça de São Pedro no final da missa celebrada na manhã de 3 de abril, na festa da Divina misericórdia. Antes da recitação do Regina caeli o Pontífice recordou também o Dia mundial contra as minas antipessoal. Neste dia, que é como que o coração do Ano Santo da Misericórdia, o meu pensamento dirige-se a todas as populações que mais têm sede de reconciliação e de paz. Penso, em particular, aqui na Europa, no drama de quem sofre as consequências da violência na Ucrânia: de quantos permanecem em terras assoladas pelas hostilidades que já causaram vários milhares de mortos, e de quantos — mais de um milhão — foram obrigados a deixá-las devido à grave situação que perdura. Ficam envolvidos sobretudo idosos e crianças. Além de os acompanhar com o meu pensamento constante e com a minha oração, quis decidir promover um apoio humanitário a seu favor. Para esta finalidade, terá lugar Na homilia da missa dominical o Pontífice convidou a testemunhar o amor de Cristo «O Evangelho da misericórdia permanece um livro aberto, no qual continuar a escrever» porque «todos somos chamados a tornar-nos escritores viventes do Evangelho da Boa Nova a cada homem e mulher de hoje». Afirmou o Papa Francisco na homilia da missa celebrada no adro da basílica de São Pedro na manhã de domingo 3 de abril, festa da divina misericórdia. Domingo 24 de abril em todas as igrejas católicas da Europa par a misericórdia do Pai, mas somos impelidos a tornar-nos nós mesmos instrumentos da misericórdia. Falar de misericórdia pode ser fácil; mais difícil é tornar-se suas testemunhas na vida concreta. Trata-se dum percurso que dura toda a vida e não deveria registar interrupções. Jesus disse-nos que devemos ser «misericordiosos como o Pai» (cf. Lc 6, 36). E isto requer a vida inteira! Muitas são, portanto, as faces com que se apresenta a misericórdia de Deus! É-nos dada a conhecer como proximidade e ternura, mas, em virtude disto, também como compaixão e partilha, como consolação e perdão. Quem dela mais recebe, mais é chamado a oferecer, a partilhar; não pode ser mantida oculta nem retida só para nós mesmos. É algo que faz arder o coração e o desafia a amar, reconhecendo a face de Jesus Cristo, sobretudo em quem está mais longe, fraco, abandonado, confuso e marginalizado. A misericórdia não fica parada: vai à procura da ovelha perdida e, quando a encontra, irradia uma alegria contagiosa. A misericórdia sabe olhar cada pessoa nos olhos; cada uma delas é preciosa para ela, porque cada uma é única. Quanta amargura sentimos no coração, quando ouvimos dizer: «Esta gente... esta gente, estes miseráveis, expulsemo-los, deixemo-los dormir na estrada». Será isto de Jesus? capaz de ser misericordiosa, à semelhança das chagas do Senhor que são sinal de misericórdia, não é fé: é mera ideia, é ideologia. A nossa fé está encarnada num Deus que Se fez carne, que Se fez pecado, que Se cobriu de chagas por nós. Por isso, se quisermos acreditar a sério e possuir a fé, devemos aproximar-nos e tocar aquela chaga, afagar aquela chaga e também inclinar a cabeça e deixar que os outros afaguem as nossas chagas. Para isso é bom que seja o Espírito Santo a guiar os nossos passos: Ele é o Amor, Ele é a misericórdia que é comunicada aos nossos corações. Não ponhamos obstáculos à sua ação vivificante, mas sigamo-Lo docilmente pelas sendas que nos aponta. Permaneçamos de coração aberto, para que o Espírito possa transformá-lo; e assim, perdoados, reconciliados, imersos nas chagas do Senhor, nos tornemos testemunhas da alegria que brota do encontro com o Senhor Ressuscitado, vivo no meio de nós. [Bênção] Há poucos dias, em conversa com os dirigentes duma associação de assistência, de caridade, surgiu esta ideia e pensei comigo: «Vou dizê-la, sábado, na Praça de São Pedro». Como seria CONTINUA NA PÁGINA 10 uma coleta especial em todas as igrejas católicas da Europa no domingo 24 de abril. Convido os fiéis a unir-se a esta iniciativa com uma generosa contribuição. Este gesto de caridade, além dos sofrimentos materiais, quer expressar a proximidade e a solidariedade minha pessoal e de toda a Igreja. Faço votos sinceros de que ele possa ajudar a promover sem ulteriores demoras a paz e o respeito do direito naquela terra tão provada. E ao rezarmos pela paz, recordamos que amanhã se celebra o Dia Mundial contra as minas antipessoal. Demasiadas pessoas continuam a morrer ou ficam mutiladas por estas armas terríveis, e homens e mulheres corajosos arriscam a vida para bonificar os terrenos minados. Renovemos, por favor, o compromisso por um mundo sem minas! Por fim, dirijo a minha saudação a todos vós que participastes nesta celebração, em particular aos grupos que cultivam a espiritualidade da Divina Misericórdia. Dirijamo-nos todos juntos em oração à nossa Mãe. Dia mundial contra as minas antipessoal Herança de morte A 4 de abril celebrou-se no mundo inteiro o dia internacional para a sensibilização e a assistência na ação contra as minas antipessoal, dispositivos letais que continuam a matar durante décadas, inclusive após os períodos de beligerância. E quando não matam, tornam as suas vítimas inválidas para sempre, com despesas enormes também para a coletividade. As principais vítimas destes terríveis instrumentos de morte são — segundo os dados da Organização das Nações Unidas — os civis e em especial as crianças. No entanto, não existem estatísticas oficiais exatas acerca do número das pessoas que perderam a vida ou ficaram mutiladas por este tipo de dispositivos letais. Cada ano são produzidas cerca de dez milhões de minas antipessoal — nesta tipologia podem ser incluídas também as cluster bombs (as tremendas bombas de fragmentação), os Ieds («improvised explosive devices») e as bombas valmara. Quando são disseminadas no terreno ou lançadas dos aviões, podem matar ou ferir por um tempo indefini- do. E ao longo dos anos torna-se cada vez mais difícil localizá-las. Com efeito, como indica a organização humanitária Land of Mine, enquanto as primeiras minas antipessoal eram feitas de metal, e portanto podiam ser facilmente localizadas, as minas de última geração «evoluíram», pois são construídas com uma resina sintética não corruptível pelos componentes químicos do terreno e passam despercebidas aos olhos eletrónicos dos sapadores. Desde 1945 — indicam os especialistas neste setor — foram inventadas seiscentos tipos de minas terrestres. Sem dúvida, as bombas de fragmentação são as mais perigosas, devastadoras e ameaçadoras. Muitas vezes são coloridas e brilhantes, e acabam por atrair o olhar das crianças, que podem ser vistas como brinquedos perdidos por alguém. Uma sua simples manipulação ativa o gatilho, e a explosão pode ser imediata ou atrasada. A particularidade destas minas é que, explodindo, dispersam submuniCONTINUA NA PÁGINA 10 L’OSSERVATORE ROMANO página 10 quinta-feira 7 de abril de 2016, número 14 Jen Norton, «As obras de misericórdia» (2016) O cardeal Amato falou da misericórdia na vida dos santos Como limão e mirto NICOLA GORI Na vigília da festa da divina misericórdia, instituída por João Paulo II no ano 2000 e celebrada no segundo domingo de Páscoa, é atual como nunca a recordação dos santos que a interpretaram na sua vivência diária. Começando pela irmã Faustina Kowalska, que recebeu de Cristo os segredos da devoção à misericórdia divina, até madre Teresa de Calcutá, que a tornou tangível com os seus gestos de caridade. Sobre isto falou o cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, nesta entrevista ao nosso jornal. A misericórdia é apenas uma atitude filantrópica ou uma dimensão constitutiva da santidade? Na cultura cristã a palavra misericórdia tem muitos significados e pode indicar caridade, bondade, perdão. Ela inclui também uma multiplicidade de gestos, que a tradição concretizou em quatorze comportamentos práticos, as chamadas obras de misericórdia corporal e espiritual. Trata-se de manifestações que desde o início caraterizaram os discípulos de Jesus, com frequência em contraste com uma certa cultura da época, que considerava a compaixão, a piedade, como uma debilidade humana. Os estoicos, por exemplo, consideravam-na uma doença da alma, que perturbaria a paz do sábio. Contudo, é preciso acrescentar que isto não impedia que Cícero julgasse a misericórdia um sinal de sabedoria «próprio do homem bom» e condenasse como absurdo o conceito estoico. Contudo, a misericórdia cristã não é só expressão filantrópica, mas tem profundas raízes teológicas. Misericordioso é a qualificação do próprio nome de Deus, como foi revelado a Moisés: «O Senhor, Deus misericordioso e piedoso, lento para a ira e rico de graça e fidelidade». Este precioso vestígio da bondade divina Monumentos à misericórdia CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 8 bom se em cada diocese, como recordação, digamos, como «monumento» deste Ano da Misericórdia, se erguesse uma estrutura de misericórdia: um hospital, uma casa para idosos, para crianças abandonadas, uma escola onde não houver, uma casa para recuperação dos toxicodependentes... Tantas coisas que se podem fazer! Seria bom que cada diocese pensasse nisto: que posso deixar como recordação viva, como obra de misericórdia viva, como chaga de Jesus vivo neste Ano da Misericórdia? Pensemos e falemos com os bispos. Obrigado! afirma-se plenamente na revelação neotestamentária de Deus como amor. O Magnificat de Maria é o cântico da misericórdia divina, que de geração em geração se dilata sobre quantos o temem. Como interpretaram os santos a misericórdia divina? Se a misericórdia é o amor apaixonado de Deus pelas suas criaturas, ela expressa também a caridade intensa do santo em relação ao próximo. Para Tomás de Aquino a virtude da misericórdia está em harmonia com a justiça, a qual sem misericórdia seria crueldade. De acordo com o dado bíblico, o Aquinate afirma que é próprio de Deus ter misericórdia. Portanto, ser misericordioso significa mostrar-se autêntico filho de Deus: «Sede misericordiosos como é misericordioso o vosso Pai celeste». Os santos perfumaram a história com o bálsamo da misericórdia. Na festa judaica de Sucot — ou festa dos tabernáculos — há o seguinte rito. Ligam-se quatro plantas: limão, mirto, salgueiro e palmeira. Todas unidas, a fragrância do limão e do mirto transmite-se também às outras duas plantas não perfumadas. E assim o perfume quadruplica-se. A misericórdia, como perfume de caridade, é efusiva e superabundante. Desta forma a fragrância das boas obras dos santos contagia beneficamente a debilidade e a fragilidade humana. Há santos que se distinguem de modo particular pela misericórdia? Ela toca transversalmente todos os santos e qualifica do melhor modo o seu heroísmo virtuoso. Se quiséssemos mencionar algum nome, citaria por exemplo madre Teresa de Calcutá, que será canonizada a 4 de setembro, universalmente conhecida como a mulher da imensa compaixão para com os pobres, os marginalizados, os doentes, ou seja, para com quantos são chamados os descartes da humanidade. Por isso fundou a congregação das missionárias da caridade, para testemunhar concretamente com as obras a presença da misericórdia divina nas chamadas periferias do mundo. Madre Teresa revelou o segredo do seu coração misericordioso no diálogo com um jovem sacerdote, Angelo Comastri, hoje cardeal. Num encontro fortuito, a irmã perguntou-lhe quase de surpresa: «Quantas horas rezas todos os dias?». O sacerdote, surpreendido, esperava uma chamada à caridade e um convite a amar mais os pobres. Ao contrário, a madre perguntava-lhe quantas horas rezava. Depois, pegando nas suas mãos disse: «Meu filho, sem Deus somos demasiado pobres para poder ajudar os pobres! Recorda-te: eu sou apenas uma pobre mulher que reza. Rezando, Deus põe o seu amor no meu coração e assim posso amar os pobres. Rezando!». Para ela a misericórdia caía como chuva do céu da união com Deus na oração. Depois de ter retirado o prémio Nobel em 1979, na sua viagem de regresso de Oslo, madre Teresa passou por Roma. Os jornalistas precipitaram-se para a entrevistar e ela recebeu-os pacientemente pondo na mão de cada um uma pequena medalha da Imaculada. A um jornalista que lhe manifestou a convicção de que depois da sua morte o mundo teria sido igual a antes, cheio de maldade, ela respondeu com simplicidade: «Veja, eu nunca pensei que podia mudar o mundo! Procurei apenas ser uma gota de água limpa, na qual pudesse brilhar o amor de Deus. Acha que é pouco?». Depois, no silêncio comovido dos jornalistas prosseguiu: «Procure ser também o senhor uma gota limpa e assim seremos duas gotas. É casado?». «Sim, madre». «Diga isto também à sua esposa, assim seremos três. Tem filhos?». «Três filhos, madre». Diga-o também aos seus filhos, e seremos seis...». Em síntese, convidava ao contágio benéfico da misericórdia. Outros exemplos? Poderiam ser citados os santos hospitaleiros, como João de Deus, Camilo de Lellis, que fizeram da misericórdia o programa do seu apostolado a favor dos doentes; os santos da caridade, como Vicente de Paulo, Maximiliano Kolbe, Faustina Kowalska; os santos educadores da juventude, como João Bosco. Aqui gostaria de recordar João Paulo II, o Papa que, a partir de 2000, dedicou o 2º domingo de Páscoa à Divina Misericórdia. É o Pontífice que, com a encíclica Dives in misericordia de 30 de novembro de 1980, escancarou a janela para o paraíso, revelando-nos o rosto do Pai, rico em misericórdia para com todos. Mas a galeria dos santos mestres da misericórdia divina não se limita aos poucos que quisermos citar. Todos os santos são tocados pela misericórdia divina, tornando-se seus ministros. Todos são filhos da Mãe da misericórdia, obraprima da misericórdia divina. Ao proclamar o ano jubilar da misericórdia o Papa Francisco afirmou de Maria: «Conservou no seu coração a divina misericórdia em perfeita sintonia com o seu Filho Jesus». É ela que, com sentido materno, forma os fiéis para o exercício da misericórdia, educando-os a vivê-la mediante as obras de misericórdia corporal e espiritual. Por fim, são muitas as congregações religiosas masculinas e femininas marcadas pelo carisma da misericórdia. Neste ano jubilar elas difundem o seu perfume no mundo inteiro, sobretudo no coração dos pequeninos e dos muitos necessitados do mundo. CONTINUA NA PÁGINA 12 Herança de morte CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 8 ções ao seu redor, ampliando incrivelmente o seu efeito destruidor. Em geral todos os anos, por causa das cerca de 100 milhões de minas antipessoal disseminadas pelo mundo afora, continuam a morrer milhares de indivíduos. E o dado mais aterrador é que a partir de 2014 o número de vítimas voltou a aumentar em relação aos anos precedentes. O triste recorde de vítimas pertence ao Afeganistão, seguido pela Colômbia, Angola, Myanmar, Paquistão, Síria, Camboja e Mali. Na Europa a Bósnia e Herzegovina é o país mais infestado pelas minas antipessoal, lançadas durante a guerra de 1992-1995, ainda hoje disseminadas em mais de dois por cento do território nacional, e cujo trabalho de eliminação não acabará antes de 2025. Um drama humanitário que persiste longe das guerras, a décadas de distância, que atrasa — quando não impede — o regresso à normalidade, proíbe o cultivo do terreno, obstaculiza a volta dos deslocados e destrói as atividades ligadas à economia. A Onu procurou pôr remédio a este flagelo, primeiro mediante uma resolução em 1993, e depois através do tratado internacional de 1997, assinado em Ottawa por 120 países, mas não pelos Eua, Rússia, Índia, China, Paquistão, Japão e Iraque. A Itália, em especial, que era uma das principais produtoras e exportadoras de minas (os analistas falam de um milhão de peças construídas cada ano, até 1993), em 1994 aprovou a moratória contra as minas antipessoal, comprometendo-se a bloquear a sua produção por parte de empresas nacionais, e em seguida assinou também o tratado de Ottawa. número 14, quinta-feira 7 de abril de 2016 L’OSSERVATORE ROMANO página 11 Missas matutinas em Santa Marta Segunda-feira 4 de abril O dia do sim «Sim»: para o cristão não há outra resposta à chamada de Deus. E sobretudo nunca deve existir a atitude de quem finge que não entende, voltando-se para o outro lado. Foi precisamente na solenidade da Anunciação do Senhor que o Papa convidou a viver uma verdadeira «festa do sim», celebrando a missa na capela da Casa de Santa Marta. E um «sim» convicto foi pronunciado esta manhã pelos sacerdotes que concelebraram com Francisco no dia do quinquagésimo aniversário de ordenação e também pelas religiosas vicentinas que trabalham em Santa Marta, as quais renovaram os votos. «É toda uma história que acaba e recomeça nesta solenidade que hoje celebramos: a história do homem, quando sai do paraíso» quis realçar imediatamente o Papa no início da homilia. Com efeito, depois do pecado, o Senhor ordena ao homem que caminhe e habite toda a terra: «Sê fecundo e vai em frente». Mas «o Senhor estava atento ao que o homem fazia». A tal ponto que «às vezes, quando o homem errou, Ele puniu-o: pensemos em Babel ou no dilúvio». Assim Deus «estava sempre atento ao que o homem fazia: numa determinada altura, este Deus que olhava e custodiava o homem, decidiu criar um povo e chama nosso pai Abraão: “Sai da tua terra, da tua casa”». E Abraão «obedeceu, disse “sim”» ao Senhor «e partiu da sua terra sem saber para onde teria ido». É «o primeiro “sim” do povo de Deus». E precisamente «com Abraão, Deus — que olhava para o seu povo — começou a “caminhar com”». E caminhou «com Abraão: “Caminha na minha presença” disse-lhe». Deus, explicou o Papa, «fez depois o mesmo com Moisés, ao qual com oitenta anos disse: “faz isso”. E Moisés que tinha oitenta anos — era idoso — diz “sim”. E vai libertar o povo». Mas Deus, afirmou ainda o Pontífice, «fez o mesmo com os profetas»: pensemos por exemplo em Isaías que, quando o Senhor lhe diz para ir dizer as coisas ao povo, responde que tem «os lábios impuros». Mas «o Senhor purifica os lábios de Isaías e ele diz “sim!”». E também com Jeremias, recordou o Papa, acontece o mesmo: «Senhor, eu não sei falar, sou um rapazinho!» é a primeira resposta do profeta. Mas Deus ordena-lhe que vá de qualquer maneira e ele responde “sim!». Foram «tantos, tantos» aqueles «que disseram “sim”», é deveras uma «comunidade de homens e mulheres idosos que disseram “sim” à espera do Senhor». E na homilia Francisco quis recordar também Simeão e Ana. «Hoje — explicou — o Evangelho diz-nos o fim desta corrente de “sim” e o início de outro “sim” que começa a crescer: o “sim” de Maria». Precisamente «este “sim” faz com que Deus — afirmou o Pontífice — não só observe como procede o homem, não só caminha com o seu povo, mas que se torne um de nós e assuma a nossa carne». Come efeito, «o “sim” de Maria abre a porta ao “sim” de Jesus: “Eu venho para fazer a tua vontade”». É «este “sim” que acompanha Jesus durante toda a vida, até à cruz: «Pai, afasta de mim este cálice; entretanto, não seja feita a minha vontade, mas o que Tu desejas!”». É «em Jesus Cristo que, como diz Paulo aos coríntios, há o “sim” de Deus: Ele é o “sim”». «É um dia bonito — frisou o Papa — para agradecer ao Senhor por nos ter ensinado esta estrada do “sim”, mas também para pensar na nossa vida». Aliás, «alguns de vós — disse dirigindo-se diretamente aos sacerdotes presentes na missa — celebram o quinquagésimo aniversário de sacerdócio: bonito dia para pensar nos “sim” da vossa vida». Mas «todos nós, cada dia, devemos dizer “sim” ou “não”, e pensar se dizemos sempre “sim” ou se muitas vezes nos escondemos, de cabeça baixa, como Adão e Eva, para não dizer “não” fingindo não compreender aquilo que Deus nos pede». «Hoje é a festa do “sim” repetiu Francisco. Com efeito, «no “sim” de Maria há o “sim” de toda a história da salvação e ali começa o último He Qi, «Anunciação» “sim” do homem e de Deus: ali Deus recria, como no início com um “sim” fez o mundo e o homem, aquela bonita Criação: com este “sim” eu venho para fazer a tua vontade e recria mais maravilhosamente o mundo, recria todos nós». É «o “sim” de Deus que nos santifica, que nos faz avançar em Jesus Cristo». Eis por que hoje é o dia justo «para agradecer ao Senhor e para nos questionarmos: eu sou homem ou mulher do “sim” ou sou homem ou mulher do “não”? Sou homem ou mulher que olho para o outro lado, para não responder?». Portanto, o Papa expressou a esperança de «que o Senhor nos dê a graça de entrar neste caminho de homens e mulheres que souberam dizer “sim”». E depois de ter dedicado um pensamento aos sacerdotes, Francisco concluiu dirigindo-se às religiosas da comunidade de Santa Marta: «Neste momento, em silêncio, as irmãs que estão nesta Casa renovarão os votos: fazem-no todos os anos, porque são Vicente era inteligente e sabia que a missão que lhes confiava era muito difícil, e por isso quis que todos os anos renovassem os votos. Nós em silêncio acompanhamos esta renovação». Terça-feira 5 de abril Como se cria a harmonia Para viver em harmonia e no apoio recíproco a comunidade cristã deve renascer do Espírito Santo. E há dois sinais para compreender que se está na estrada certa: o desapego do dinheiro e a coragem de testemunhar Cristo ressuscitado, afirmou o Papa. Uma indicação acompanhada pela advertência de não confundir a verdadeira harmonia com uma tranquilidade negociada ou hipócrita. «Jesus diz a Nicodemos que se deve renascer, mas renascer do Espírito: é precisamente o Espírito que nos dá uma nova identidade, nos dá a força, uma nova maneira de agir»: eis a chave de leitura proposta à luz do trecho evangélico de João (3, 7-15) pela liturgia do dia. E esta sintonia — observou — vê-se já «na primeira leitura, um dos três ou quatro resumos contidos nos Atos dos apóstolos» (4, 3237): um trecho que narra «como vivia a primeira comunidade, os “renascidos” no Espírito». Francisco observou que eles «viviam em harmonia e só o Espírito Santo pode dar a harmonia». Com efeito «podemos estabelecer acordos, uma determinada paz, mas a harmonia é uma graça interior que só o Espírito Santo pode proporcionar». Portanto, estas primeiras comunidades «viviam em harmonia»: e pode-se compreender isto através de dois sinais que caracterizam a harmonia, explicou o Papa. O primeiro sinal é que «ninguém vive na necessidade, isto é, tudo é comum». O sentido autêntico é explicado pelo próprio trecho dos Atos dos apóstolos: «Tinham um só coração, uma só alma e ninguém considerava sua propriedade o que lhe pertencia, mas entre eles tudo era comum. De facto, entre eles não havia necessitados». De resto, afirmou Francisco, «a verdadeira harmonia do Espírito Santo tem uma relação muito forte com o dinheiro: o dinheiro é inimigo da harmonia, o dinheiro é egoísta». E «por isso o sinal que dá é que todos ofereciam o seu a fim de que não houvesse necessitados». Em particular nos Atos «cita-se o exemplo de José, chamado pelos apóstolos Barnabé, que significa “filho da exortação”, um levita originário de Chipre, proprietário de um campo». Pois bem, José vendeu o seu campo e «entregou o dinheiro depondo-o aos pés dos apóstolos». Numa palavra, esta é a verdadeira «harmonia» que, por conseguinte, «tem uma relação com o espírito de pobreza, que é a primeira bem-aventurança». Ao contrário, muito diferente é «o caso daquele casal, Ananias e Safira: vendem o campo e dão tudo, dizem que se deve dar tudo aos apóstolos, mas subtraem às escondidas uma quantia pondo-a de lado a fim de a conservar para si mesmos». Uma história que é narrada sempre nos Atos dos apóstolos (5, 1-11). Mas — recordou Francisco — «o Senhor pune com a morte estes dois, porque Jesus disse claramente que não se pode servir a Deus e ao dinheiro: são dois senhores cujo serviço é irreconciliável». Contudo, advertiu o Pontífice, «a harmonia, que só o Espírito Santo pode criar, não deve ser confundida com a tranquilidade». A ponto que «uma comunidade pode ser muito tranquila, funcionar bem» mas não estar em harmonia. «Uma vez — confidenciou o Papa — ouvi um bispo dizer algo sábio: “Na diocese tem tranquilidade. Mas se abordes este problema ou aquele, de repente explode a guerra”». Porque esta — observou — é «uma harmonia negociada e não a do Espírito: é uma harmonia, digamos, hipócrita, como a de Ananias e Safira com o que fizeram». Mas «a harmonia do Espírito Santo concede-nos esta generosidade de não possuir nada de próprio, enquanto houver um necessitado». Depois há uma segunda atitude suscitada pela harmonia do Espírito Santo e Francisco apresentou-a repetindo as palavras dos Atos: «Com grande força, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles era grande a graça». Resumindo, o segundo sinal da harmonia verdadeira é «a coragem». Assim «quando há harmonia na Igreja, na comunidade, há coragem: a coragem de dar testemunho do Senhor ressuscitado». Nesta perspectiva o Pontífice sugeriu «ler e reler este trecho dos Atos dos apóstolos: o capítulo 4, do versículo 32 em diante». E logo explica o motivo: «Porque foi o que Jesus pediu ao Pai na última ceia: que fossem “um só”, que houvesse harmonia entre eles». E «quando chega o dom do Pai, que é o Espírito Santo, ele é capaz de estabelecer esta harmonia». Eis porque, concluiu o Papa, «nos fará bem ler este trecho hoje e verificar o que diz e como cada um de nós pode ajudar a sua família, o seu bairro, a sua cidade, os colegas de trabalho, os companheiros de escola, todos os que nos estão próximos, para criar esta harmonia que se faz em nome do Senhor Jesus ressuscitado e é uma graça do Espírito Santo». L’OSSERVATORE ROMANO página 12 quinta-feira 7 de abril de 2016, número 14 A difícil arte de reconhecer o amor no Evangelho de Lucas E se fosse uma pregação? Publicamos o comentário de uma monja de Bose a Lucas 7, 36 — 8, 3, tirado do livro «La follia del Vangelo» (Qiqajon, 2014) que saiu no nosso suplemento mensal «Mulheres Igreja Mundo» de 3 de março. MARIA DELL’ORTO Mais uma vez o Evangelho nos anuncia o que considera mais importante, ou seja, que o início, o fim e a própria substância da fé que quer suscitar nos nossos corações é o amor. Que viver na fé de Jesus significa viver em prol dos outros, conformando-se a ele que veio não para ser servido mas para servir. E que, por conseguinte, a única visibilidade da fé, a única eloquência cristã, é o amor humilde e grande de quem serve o seu próximo. Ora bem, precisamente porque a fé vale o preço elevado do amor gratuito ou, caso contrário, não pode ser considerada fé de modo algum, o Evangelho põe o dedo na ferida, mostrando a tenta- dição à santidade, uma desmentida da sua identidade de profeta. Nem os gestos da mulher nem a atitude de Jesus são para ele oportunidade e provocação para se questionar a si mesmo, mas apenas ocasião para se fortalecer na sua cegueira corrompida. Jesus denunciou muitas vezes o grande mal da cegueira e da hipocrisia que tenta os homens religiosos: considera que a identidade religiosa conta mais do que as ações, mais do que se faz ou não se faz; usar a identidade religiosa de peritos na lei de Deus como evasão da responsabilidade que precisamente aquela mesma Lei confere a cada um para agir com justiça, verdade e amor. Nunca esqueçamos que em Mateus 25 todos os pecados graves criticados são pecados de omissão. Simão, ignorante em amor, não o reconheceu nos gestos gratuitos da mulher. Indo além da evidência e da inteligência destes gestos, que outra inteligência lhe resta? Com efeito, o motivo do seu duvidar de Jesus — ra entre todos, entrevê em Jesus com a intuição do amor um pobre e também um homem de Deus verdadeiro e compassivo, e faz por ele tudo o que está em seu poder, tudo o que a sua grande inteligência amorosa lhe sugere. No Evangelho não se diz de forma alguma que esta mulher procurava perdão e salvação. Não. Isto também é importante. A própria salvação nunca pode ser o objetivo do amor. É apenas, mas sempre, a sua consequência. Pois quem quer salvar a própria vida perde-a, e só quem a perde por amor salva-a. Dela só se fala do seu grande amor, e da sua capacidade de não se deixar inibir pelo olhar do dono de casa, que por experiência sabia prever muito bem. Paolo Veronese, «Jantar na casa de Simão» (1567-1570) ção eterna dos homens religiosos, aquela fé que se quer tornar visível a baixo preço, subtraindo-se à responsabilidade do amor. O episódio evangélico narra o grande amor de uma prostituta por Jesus. Um amor demonstrado não com palavras — com efeito não disse praticamente nada — mas com a eloquência de gestos amorosos, humildes e sábios, como verdadeira perita em amor. Jesus vê os seus gestos de tão amoroso e humilde serviço, totalmente silenciosos, e neles reconhece a sua fé e a sua salvação. E no final dirá: «A tua fé te salvou, vai-te em paz». E em seguida encontramola com Jesus e os outros discípulos e discípulas servindo-os. Mas além do olhar de Jesus, é-nos narrada a reação, perante os mesmos gestos, de um homem religioso, Simão, pertencente ao grupo dos fariseus, que era o dono de casa que convidara Jesus para sentar à sua mesa. O Evangelho é impiedoso ao narrar-nos a visão cega de Simão, a sua perceção distorcida do que acontece sob os seus olhos. Onde há um grande amor, o da mulher, ele vê a impureza e o pecado. Onde há discernimento e acolhimento amoroso e estupefacto de Jesus em relação à uma mulher que ama tanto, ele vê uma carência religiosa, uma contra- «Se este homem fosse profeta, saberia quem é e de que espécie é a mulher que lhe está a tocar» — revela que não conhece nem sequer o ministério que Deus, por amor do seu povo, dá aos seus servos os profetas nas Escrituras sagradas de Israel. O ministério do profeta não é porventura o estar exigente e puro entre a santidade de Deus e a miséria inclusive moral do povo? Admoestando-os para que voltem para Deus deixando de cometer injustiças e começando a amar o próximo? E de facto Jesus, como verdadeiro profeta, vendo no amor da mulher a sua cura e salvação, cuida de Simão, o verdadeiro doente. A cegueira de Simão, homem religioso, é admoestação severa, profética e evangélica, para cada um de nós. O que David nosso pai soube ouvir, e reconhecer, dos lábios do profeta Natã, no Primeiro Testamento: «Tu és este homem» (2 Samuel, 12-17), o Evangelho o diz a cada um de nós. Porque o Evangelho nunca nos confirma nos nossos preconceitos, aliás, ao revelar a sua hipocrisia, admoesta cada um para que desperte e se converta. Assim como a cegueira de Simão é severa admoestação, também o discernimento amoroso da mulher e de Jesus são um magistério fundamental para nós. Aquela mulher, primei- E para nós o olhar de Jesus que se deixa surpreender como se fosse uma revelação, e sabe tirar proveito destes gestos gratuitos e eloquentes de amor, é magistério. Sabe tirar deles não só consolação, mas também edificação e ensinamento para si. Com efeito, antes de ser preso e as- sassinado, a fim de dar um sinal significativo da sua grandeza, humildade e gratuitidade do seu amor pelos discípulos, inclina-se aos seus pés e lava-os. Com esta narração o Evangelho suplica-nos para que tenhamos olhar e discernimento a fim de conhecer o amor onde quer que se manifeste, independentemente da boa ou da má fama das pessoas, e aprender a amar com elas. Falando a Simão, Jesus pronuncia uma dupla sentença: «São-lhe perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas àquele a quem pouco se perdoa, pouco ama», confirmando assim um dúplice vínculo entre perdão e amor. Esta dupla sentença, que não se refere à dificuldade de perdoar, mas àquela de estar consciente da própria necessidade do perdão do outro, é um bom critério de discernimento e de interpretação dos nossos amores: quer dos que são felizes, quer daqueles miseráveis, ou aos quais tudo falta. Devemos questionar-nos se cada amor que vivemos nos leva a conhecer melhor a nós mesmos como pessoa necessitada de perdão, ou se pelo contrário torna mais pequena, ou até apaga esta consciência. Porque, neste caso, diz o Evangelho, este amor diminui a nossa capacidade de amar. Como limão e mirto CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 10 Para que serve canonizar os santos? Desde os primeiros séculos a Igreja celebrou os mártires e os santos como heróis do Evangelho, que com a sua vida virtuosa e o seu testemunho martirial mostraram a beleza do seguimento de Jesus, o primeiro mártir e o três vezes santo. A este propósito podemos recordar que o número dos mártires dos primeiros três séculos oscila, nos testemunhos dos históricos, entre dez e cem mil, mesmo se não falta quem faz aumentar notavelmente este número. Também não é possível estabelecer exatamente o número dos santos canonizados entre os séculos III e VIII com base na vox populi ou no sensus fidelium e na comum opinio sanctitatis, tendo também em consideração o facto de que, até ao século XIII, estava em vigor a canonização episcopal. Contudo, para obter uma primeira informação sobre o nome dos santos, poder-se-iam citar os que estão na editio typica de 2001 do Martyrologium romanum. Como se vê, canoniza-se um servo de Deus, devido quer à santidade da sua vida virtuosa quer ao testemunho do seu martírio. Ao propôlo à veneração dos fiéis, a Igreja afirma que, enquanto amigo de Deus, o santo torna-se intercessor de graças e favores celestiais para os fiéis ainda peregrinos na terra. Os santos amparam a Igreja na sua luta perene contra o mal e, ao mesmo tempo, oxigenam a sociedade com o ar limpo da sua bondade e da sua caridade misericordiosa. número 14, quinta-feira 7 de abril de 2016 L’OSSERVATORE ROMANO página 13 A partir de 6 de abril a plenária do episcopado Chegou a hora dos leigos no Brasil A reflexão sobre o papel dos cristãos leigos «na Igreja e na sociedade», como «sal da terra e luz do mundo», é o tema central da assembleia plenária da CNBB, que se realiza de 6 a 15 de abril em Aparecida. O anúncio foi dado pelo site do episcopado brasileiro, através do qual o secretário-geral e bispo auxiliar de Brasília, D. Leonardo Steiner, frisou a exigência de relançar a missionariedade da Igreja. «Os nossos leigos, irmãos batizados — explicou o prelado — desempenham um papel muito importante na Igreja com base na vocação que recebem por meio do batismo» e por isso «estão convidados a ser testemunhas de Jesus crucificado e ressuscitado». Uma chave de leitura eclesial que contudo não subestima o compromisso e o testemunho no cenário público. Ainda mais num contexto como o atual, no qual a sociedade brasileira está a enfrentar uma forte crise moral e económica. «Os leigos — continuou o prelado — têm a missão de revigorar as comunidades, segundo as orientações oferecidas pelos sacerdotes». Portanto, sobretudo no ano santo extraordinário da misericórdia, os pastores e os movimentos eclesiais «são chamados a reconsiderar a missão dos leigos na sociedade a fim de que sejam capazes de levar misericórdia, consolação e atenção aos mais pobres e necessitados». À atenção dos prelados brasileiros — com a participação de 320 bispos — é submetida também a elaboração de um novo volume da série «Pensando o Brasil», que apresenta a visão do episcopado sobre a realidade social do país. Em 2014, por ocasião da plenária, foi elaborado o primeiro volume, intitulado «Os desafios diante das eleições de 2014». Em 2015, o segundo volume tratou as desigualdades sociais, e este ano os prelados concentram-se nas próximas eleições municipais. Naturalmente, explicou D. Steiner, os bispos não pretendem dar indicações de voto, mas ajudar os fiéis a compreender a difícil realidade política. «A Igreja deve fazer sempre a opção pela democracia — frisou o prelado — e a CNBB procurou sempre ser fiel inclusive às orientações e indicações do magistério pontifício». Por isso, «a partir do Evangelho, dos documentos da Igreja e do magistério do Papa Francisco — explicou D. Steiner — o livro reflete sobre a situação cultural, política e social do Brasil e procura propor soluções para superar a crise atual». A grande preocupação pela situação do país, de resto, foi expressa há poucos dias pelos prelados, depois das clamorosas evoluções sobre o caso Petrobras, que chegaram a envolver diretamente o ex-presidente Lula. Com efeito, numa nota assinada pelo presidente da CNBB, D. Sérgio da Rocha, arcebispo de Brasília, e aprovada pelo Conselho permanente do episcopado que se reuniu de 8 a 10 de março na capital brasileira, condenou-se com decisão todas as formas de corrupção e exortou-se a superar a crise através da transparência das instituições e do diálogo entre as forças sociais. «Vivemos numa profunda crise política, económica e institucional que tem como pano de fundo a falta de referências éticas e morais, pilares para a vida e a organização de toda a sociedade», foi a advertência dos bispos dos quais chegou também o convite «a fomentar a concórdia e a paz nas próprias atividades e declarações». Nesta perspetiva, cada pessoa é chamada a oferecer a sua contribuição e a «procurar soluções aos problemas que temos diante de nós. Somos chamados a dialogar para construir um país justo e fraterno». Sem esquecer de pôr em primeiro lugar os interesses do povo e, sobretudo, dos mais pobres. Preocupação das comunidades cristãs perante a fase de crise Oração e diálogo social para os brasileiros «As Igrejas rezem pelo país»: o apelo lançado recentemente pelo pastor Olav Fykse Tveit, secretário-geral do World Council of Churches (Wcc) resume de forma eloquente o sentido da forte preocupação que toda a comunidade cristã sente relativamente ao destino do Brasil que está a viver, pelo menos nos últimos anos, uma fase inédita marcada por uma grave crise moral antes ainda que económica. Nas últimas semanas, como se sabe, diante das manifestações públicas devido aos desenvolvimentos estrondosos das investigações sobre o caso Petrobras, que chegaram a envolver diretamente o ex-presidente Lula, os bispos católicos mediante uma nota do presidente da Conferência episcopal, D. Sérgio da Rocha, arcebispo de Brasília, condenaram com firmeza qualquer forma de corrupção, convidando a superar a crise através da transparência das instituições e do diálogo entre as forças sociais. A voz católica, sem dúvida, volta a fazer-se ouvir por ocasião da plenária do episcopado que se realiza em Aparecida de 6 a 15 de abril. Nesta ocasião, como foi anunciado pelo secretário-geral e bispo auxiliar de Brasília, D. Leonardo Steiner, os prelados providenciarão a elaboração de um novo volume da série «Pensando o Brasil», que apresenta a visão do episcopado sobre a realidade social do país. Portanto, à preocupação da comunidade católica une-se também a das outras confissões cristãs. Vozes não propriamente marginais, sobretudo se se considerar que as realidades eclesiais que fazem referência às comunidades nascidas com a reforma protestante representam mais de 20 por cento da população. Nesta perspetiva, recentemente o secretário-geral do Wcc expressou a sua preocupação pelas turbulências sociais e políticas em curso no Brasil, exortando as comunidades cristãs e todos os setores da sociedade a «defender os princípios democráticos, a respeitar os direitos humanos fundamentais e garantir liberdade de expressão e de opinião a todos». Tveit frisou em particular a necessidade de «respeitar a dignidade humana e o estado de direito com a finalidade de evitar incitação à violência através de um discurso de ódio». Acrescentando: «É importante que casos suspeitos de corrupção sejam investigados plenamente, respeitando os direitos constitucionais das pessoas indagadas e que a sociedade brasileira e os atores políticos previnam a incitação à violência e superem a crescente polarização e radicalização no país». O líder da organização ecuménica afirmou também que «a futura estabilidade democrática no Brasil é muito importante para todos os grupos de cidadãos do país, mas também para a América Latina no seu conjunto». Que, este é o apelo, as Igrejas e as comunidades eclesiais no Brasil «rezem pelo país, promovendo o respeito do estado de direito e se façam embaixadoras de re- conciliação em nome do Senhor Jesus Cristo». A preocupação principal é o respeito pela legalidade e pela Constituição. E se já no dia 10 de março o Conselho da Igreja presbiteriana unida do Brasil condenou a espetacularização de algumas ações judiciárias — «criam um misto de cultura pernicioso, permeado de ódio por quem pensa de modo diverso, que pode degenerar» — há poucos dias um movimento que reúne milhares de evangélicos em todo o país, com a participação de mais de 1.500 pastores, divulgou um manifesto pela normalidade democrática. Um texto que — como frisou o jornal online Riforma.it — denuncia a seletividade dos meios de comunicação na transmissão de informação, adverte os próprios fiéis a não entrar no jogo da condenação apressada e pede o respeito pelo voto de 2014. Aliás, uma tomada de posição não distante do que a 20 de março afirmou o bispo católico da diocese de Crateús, D. Ailton Menegussi: «Não aceitamos que partido político algum aproveite desta crise para dar um golpe no país. Não estamos interessados simplesmente em mudar de governo, queremos que o país seja respeitado, que o cidadão brasileiro seja respeitado, é isto que a CNBB deseja. Não apoiamos uma mudança de governo, de pessoas interessadas que só querem instalar-se e são carreiristas», concluiu. L’OSSERVATORE ROMANO página 14 quinta-feira 7 de abril de 2016, número 14 Numa produção de Sky e Ctv Basílicas romanas em 3D ão uma, mas algumas primícias: um verdadeiro tour cinematográfico com pontos de vista inéditos e filmagens antes nunca realizadas. Depois de Musei Vaticani 3D e Firenze e gli Uffizi 3D chega aos cinemas italianos, de 11 a 13 de abril, San Pietro e le Basiliche Papali di Roma 3D, nova produção cinematográfica realizada por Sky 3D e Centro televisivo vaticano (Ctv), distribuída por Nexo Digital, com o objetivo de redescobrir, por ocasião do jubileu da Misericórdia, os grandes tesouros de arte da cidade eterna. O filme — que depois será distribuído em mais de cinquenta países (entre os quais México, Chile, Peru, Colômbia, Canadá, Reino Unido, Irlanda, Espanha, Holanda, Rússia e Hong Kong) — foi reconhecido de interesse cultural pelo ministério italiano dos Bens e das atividades culturais e do turismo, da Direção geral do Cinema. Com efeito, entre as novidades da película, que dura noventa minutos, há imagens exclusivas da Pietà de Michelangelo filmada sem o vidro que a protege, da cúpola de São Pedro vista do alto e a pouca distância, dos célebres grafites no túmulo do apóstolo estudados por Margherita Guarducci, e das outras três basílicas papais filmadas excepcionalmente a portas fechadas. O filme, realizado nos formatos 3D, 4K e HD, é fruto de um projeto de Cosetta Lagani. A direção é de Luca Viotti e os textos de Laura Allievi. O diretor de fotografia é Massimiliano Gatti, e as músicas originais de Matteo Curallo. N São Pedro em versão 3D A conduzir o espectador através do itinerário que pretende conjugar imagens e cultura são Antonio Paolucci, diretor dos Museus do Vaticano (para a basílica de São Pedro); o arquiteto Paolo Portoghesi (para São João de Latrão); o historiador de arte Claudio Strinati (para Santa Maria Maior); e Micol Forti, diretor da Coleção de arte contemporânea dos Museus do Vaticano (para São Paulo fora dos Muros, reconstruída como se sabe no coração do século XIX depois do incêndio desastroso de 1823). Os peritos, cada um segundo o próprio ponto de vista, descrevem as basílicas explicando a sua evolução nos séculos, ilustrando as obras de arte que conservam e traçando as características salientes dos artistas que nelas trabalharam: Giotto, Bramante, Michelangelo, Francesco Borromini, Gian Lorenzo Bernini, Domenico Fontana, Arnolfo di Cambio, Jacopo Torriti. O guia das quatro basílicas é introduzido por alguns excertos de Passeggiate romane de Stendhal lidos por Adriano Giannini: o escritor francês que chegou pela primeira vez à Itália com 17 anos, obviamente visitou, encantando-se, as quatro basílicas romanas, desde sempre metas obrigatórias do tradicional Grand Tour. E observava: «Nada no mundo pode ser comparado com o interior de São Pedro». Stendhal foi tes- temunha também do grave incêndio que em 1823 destruiu quase totalmente a basílica ostiense, que depois, devido aos restauros, se tornou um verdadeiro laboratório artístico. Graças a meios técnicos em uso nas mais avançadas produções cinematográficas foram realizadas imagens inéditas, inclusive com a utilização de helicópteros. E para completar esta singular instalação visual há o poder do 3D, capaz de pôr o espectador no centro da cena e em contato direto com as obras de arte. O filme foi enriquecido por modelações tridimensionais baseadas em projetos originais, em parte conservados na Biblioteca apostólica vaticana, como o desenho do Abbraccio di Piazza San Pietro de Bernini e os projetos com desenhos originais de Borromini das naves de São João de Latrão. E o vasto arsenal tecnológico utilizado permite que decifrar e apreciar também os pormenores mais escondidos dos tesouros de arte visitados, como a assinatura de Michelangelo na Pietà. Inaugurada a exposição fotográfica sobre a Guarda Suíça pontifícia Retrato quotidiano «La vita di una guardia svizzera: uno scorcio privato» [«A vida de um guarda suíço: uma visão particular»], narrada pela exposição fotográfica — com oitenta e seis fotos em branco e preto e em cores de Fabio Mantegna — inaugurada recentemente nos Museus do Vaticano. «Um título — explicou o comandante do corpo Christoph Graf durante a cerimónia de abertura da exposição, que se encerra a 12 de junho — que não deixa entender expectativas extraordinárias», nem suscita «interesse sobre quem sabe quais curiosidades, mas que indica aspectos normais de vida». Com efeito, afirmou, é a vida normal de um guarda que «queremos mostrar ao visitante, precisamente como um guarda vive no seu dia a dia». Habituados à clássica imagem do guarda em uniforme de gala, os fiéis e os peregrinos que chegam ao Vaticano têm «a impressão de que aquela é a normalidade». Mas, advertiu Graf, «não é assim». De facto, também na vida do corpo existem dias «ritmados por ordinárias atividades diárias e por serviços internos; serviços que aliás são sempre um desafio e um compromisso para os guardas que os desempenham». Como por exemplo o comandante citou a experiência do serviço efetuado pelos guardas a partir da meia-noite até às seis da manhã: um serviço que — evidenciou — muitos deles enfrentam organizando um programa de atividades que «consiste no estudo da língua italiana, na leitura de jornais e livros, na preparação de exames e nas orações». Mas qual é o perfil do guarda pontifício? «São jovens suíços — explicou o comandante — com cerca de vinte, vinte e três anos, que depois de um aprendizado ou do ensino secundário e do serviço militar desempenham por um mínimo de dois anos outra atividade». Os motivos que impelem à escolha de servir o corpo podem ser várias: entre eles Graf enumerou «a tradição, o privilégio, servir uma organização militar, estudar a língua ou conhecer a cultura italiana, descobrir o Vaticano e a Igreja católica, servir o Papa». Mas, acrescentou, há motivos de fé. «Muitos guardas — revelou — desejam crescer espiritualmente e até na Guarda temos também algumas vocações. Quase todos os anos temos um guarda que decide entrar no seminário ou numa ordem religiosa». Depois o comandante evidenciou a dimensão «familiar» do corpo da guarda suíça: «uma família — disse — que precisa de cuidado e apoio». E acrescentou que o objetivo principal é «fazer com que estes jovens se sintam bem, em casa». Só deste modo, explicou, «podemos desempenhar a nossa missão. Não queremos ser super-heróis ou ser intitulados os anjos da guarda do Santo Padre». Contudo, deve ser evidenciada a vontade de trabalhar «em silêncio, com dedicação e humildade» e em espírito de serviço. «Estamos intimamente convictos — garantiu, concluindo — de que não existe uma tarefa mais nobre e bonita do que a do guarda suíço». Entre os presentes na inauguração da exposição — idealizada por Romina Cometti e realizada também graças aos Patrons of the Arts in the Vatican Museums — o cardeal Giuseppe Bertello, presidente do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano, o arcebispo Georg Gänswein, prefeito da Casa Pontifícia, o embaixador da Suíça junto da Santa Sé, Pierre-Yves Fux, o capelão do corpo, padre Thomas Widmer, e Antonio Paolucci, diretor dos Museus do Vaticano. L’OSSERVATORE ROMANO número 14, quinta-feira 7 de abril de 2016 página 15 Audiências la, até hoje Núncio Apostólico na Tanzânia. O Papa Francisco recebeu em audiências particulares: Arcebispo de Bar (Montenegro), o Rev.do Pe. Rrok Gjonlleshaj, do clero da Administração Apostólica de Prizren, até agora Pároco da Paróquia de Santo António em Prishtina e ecónomo da Administração Apostólica de Prizren. A 1 de abril O Senhor Cardeal Donald William Wuerl, Arcebispo de Washington (EUA); D. Renzo Fratini, Núncio Apostólico na Espanha e no Principado de Andorra; e o Rev.do Pe. Hans Stapel, Fundador da Fazenda da Esperança (Brasil). O Doutor Libero Milone, RevisorGeral. INFORMAÇÕES Nomeações O Sumo Pontífice nomeou: A 31 de março A 2 de abril Os Senhores Cardeais Marc Ouellet, Prefeito da Congregação para os Bispos; Robert Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos; e João Braz de Aviz, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, com o Secretário do mesmo Dicastério, D. José Rodríguez Carballo; e D. Savio Hon TaiFai, Secretário da Congregação para a Evangelização dos Povos. A 4 de abril Os Senhores Cardeais Leonardo Sandri, Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais; e José Luis Lacunza Maestrojuán, Bispo de David (Panamá), com D. José Domingo Ulloa Mendieta, Arcebispo de Panamá; D. Luis Mariano Montemayor, Núncio Apostólico na República Democrática do Congo; e D. Santo Gangemi, Núncio Apostólico na Guiné e no Mali. Renúncias O Santo Padre aceitou a renúncia: No dia 31 de março De D. Jacobus Kim Ji-Seok, ao governo pastoral da Diocese de Wonju (Coreia), em conformidade com o cânone 401 § 1 do Código de Direito Canónico. De D. Florentino F. Cinense, ao governo pastoral da Diocese de Tarlac (Filipinas), em conformidade com o cânone 401 § 1 do Código de Direito Canónico. No dia 1 de abril De D. Felipe Salazar Villagrana, ao governo pastoral da Diocese de San Juan de los Lagos (México), em conformidade com o cânone 401 § 1 do Código de Direito Canónico. No dia 4 de abril De D. Mile Bogović, ao cargo de Bispo de Gospić-Senj (Croácia), em conformidade com o cânone 401 § 1 do Código de Direito Canónico. No dia 5 de abril D. Zef Gashi, ao governo pastoral da Arquidiocese de Bar (Montenegro), em conformidade com o cânone 401 § 1 do Código de Direito Canónico. Bispo de Wonju (Coreia), D. Basil Cho Kyu-man, até esta data Auxiliar da Arquidiocese de Seul. Bispo de Tarlac (Filipinas), o Rev.do Pe. Enrique V. Macaraeg, do clero da Arquidiocese de Lingayen-Dagupan, até esta data pároco da «Saint Ildefonse Parish» em Malasiqui, Pangasinan. D. Enrique V. Macaraeg nasceu em Manila (Filipinas), no dia 28 de dezembro de 1955. Foi ordenado Sacerdote a 19 de maio de 1979. Presidente do Conselho de Administração do Fundo de Pensões do Vaticano, o Prof. Nino Savelli, Docente na Faculdade de Ciências Bancárias, Financeiras e dos Seguros da Universidade Católica de Milão. A 1 de abril Legado Pontifício às celebrações que terão lugar em Gniezno e em Poznań de 14 a 16 de abril, por ocasião do 1050° aniversário do Batismo da Polónia, o Senhor Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado. Enviado Especial à inauguração do Santuário de Toruń (Polónia), dedicado a Maria Santíssima Estrela da Nova Evangelização e a São João Paulo II, que terá lugar a 18 de maio, o Senhor Cardeal Zenon Grocholewski, Prefeito emérito da Congregação para a Educação Católica. D. Zdenko Križić, O.C.D., nasceu em Johovac, na Bósnia e Herzegovina, a 2 de fevereiro de 1953. Recebeu a Ordenação sacerdotal no dia 26 de junho de 1977. Bispo de Hinche (Haiti), o Rev.do Pe. Désinord Jean, do Clero da diocese de Port-au-Prince, até esta data Diretor da Rádio Télé Soleil. D. Désinord Jean nasceu a 26 de setembro de 1967 em Furcy (Haiti). Foi ordenado Sacerdote no dia 13 de novembro de 1994. Administrador Apostólico sede vacante da Arquidiocese de Messina — Lipari — Santa Lucia del Mela (Itália), D. Luigi Benigno Papa, O.F.M.Cap., Arcebispo Metropolitano Emérito de Taranto. Administrador Apostólico sede vacante et ad nutum Sanctae Sedis da Diocese de Franceville (Gabão), D. Basile Mvé Engone, S.D.B., Arcebispo de Libreville. D. Rrok Gjonlleshaj nasceu no dia 10 de fevereiro de 1961 em Velezh (Montenegro). Recebeu a Ordenação sacerdotal em 1987. Prelados falecidos Adormeceu no Senhor: No dia 24 de março D. Timothée Modibo-Nzockena, Bispo de Franceville (Gabão). O ilustre Prelado nasceu em Mbomo (Gabão), no dia 1º de janeiro de 1950. Recebeu a Ordenação sacerdotal a 22 de junho de 1980. Foi ordenado Bispo em 11 de janeiro de 1997. Início de Missão de Núncios Apostólicos D. Claudio Gugerotti, Arcebispo Titular de Rabellum, na Ucrânia (22 de dezembro de 2015). A 5 de abril D. Vito Rallo, Arcebispo Titular de Alba, no Reino de Marrocos (25 de janeiro) Núncio Apostólico no Kuwait e Delegado Apostólico na Península Arábica, D. Francisco Montecillo Padil- D. Miguel Maury Buendía, Arcebispo Titular de Italica, na República de Moldova (3 de março). O Papa recebeu a Pontifícia comissão bíblica Lei de Deus e liberdade Bispo de San Juan de los Lagos (México), D. Jorge Alberto Cavazos Arizpe, até esta data Auxiliar de Monterrey. Bispo de Isangi (República Democrática do Congo), o Rev.do Pe. Dieudonné Madrapile Tanzi, do clero de Isiro-Niangara, até hoje Professor convidado na Pontifícia Universidade Urbaniana. D. Dieudonné Madrapile Tanzi nasceu no dia 18 de agosto de 1958, em Faradje (República Democrática do Congo). Recebeu a Ordenação sacerdotal a 25 de agosto de 1985. Bispo de Osogbo (Nigéria), o Rev.do Pe. John Akin Oyejola, do clero de Oyo, até hoje Pároco e Diretor do Centro diocesano para a pastoral familiar. D. John Akin Oyejola nasceu em Aawe (Nigéria), a 8 de maio de 1963. Foi ordenado Sacerdote no dia 5 de Outubro de 1991. A 4 de abril Bispo de Gospić-Senj (Croácia), o Rev.do Pe. Zdenko Križić, O.C.D., até à presente data Reitor da Comunidade do Colégio Internacional Teresianum em Roma. As temáticas de antropologia bíblica não dizem respeito apenas «ao crente, mas a cada pessoa. Com efeito, através da Bíblia, Deus indica a base sólida e a orientação certa para o comportamento humano», disse o cardeal presidente Gerhard Ludwig Müller inaugurando em Santa Marta, na segunda-feira 4 de abril, os trabalhos da assembleia plenária anual da Pontifícia comissão bíblica. Os participantes, que se encontraram com o Papa Francisco, estarão reunidos até ao dia 8 para aprofundar temáticas de antropologia bíblica. «Conhecer Deus como Pai de todos, descobrir as tarefas que nos confiou e agir cientes da nossa responsabilidade em relação a Ele — recomendou o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé — é uma das atitudes fundamentais da antropologia e moral bíblica». Todavia, hoje, advertiu o purpurado, «na mentalidade de muitos ganha cada vez mais raiz a convicção de que a realização do homem deve ser atuada de forma autónoma, sem fazer referência a Deus e à sua lei». Mas, realçou, «a lei de Deus não atenua, nem elimina a liberdade do homem», «pelo contrário garante-a». Sobretudo, acrescentou, com a encarnação do filho de Jesus, que é «síntese da liberdade perfeita na obediência total». Aliás, concluiu o cardeal Müller, «a função originária do Decálogo não é abolida pelo encontro com Cristo, mas levada à plenitude». página 16 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 7 de abril de 2016, número 14 «Jesus pôs-se em fila com os pecadores. Não sentiu vergonha. Portanto, desde o início do seu ministério manifestou-se como Messias que assume a condição humana, movido pela solidariedade e pela compaixão». Recordou o Papa Francisco ao iniciar na audiência geral de quarta-feira 6 de abril uma série de reflexões sobre o tema do jubileu interpretado à luz do Evangelho. Queridos irmãos e irmãs, bom dia! Depois de ter refletido sobre a misericórdia de Deus no Antigo Testamento, hoje iniciamos a meditar sobre o modo como o próprio Jesus a levou ao seu pleno cumprimento. Uma misericórdia que Ele expressou, realizou e comunicou sempre, em cada momento da sua vida terrena. Encontrando-se com as multidões, anunciando o Evangelho, curando os doentes, aproximando-se dos últimos, perdoando os pecadores, Jesus torna visível um amor aberto a todos: sem excluir ninguém! Aberto a todos sem confins. Um amor puro, gratuito e absoluto. Um amor que alcança o seu ápice no Sacrifício da cruz. Sim, o Evangelho é deveras o «Evangelho da Misericórdia», porque Jesus é a Misericórdia! Os quatro Evangelhos afirmam que Jesus, antes de empreender o seu ministério, quis receber o batismo de João Batista (cf. Mt 3, 13-17; Mc 1, 9-11; Lc 3, 21-22; Jo 1, 29-34). Este evento imprime uma orientação decisiva a toda a missão de Cristo. Com efeito, Ele não se apresentou ao mundo no esplendor do templo: podia fazê-lo. Não se fez anunciar pelo retumbar de trombas: podia fazê-lo. E nem sequer veio nas vestes de um juiz: podia fazê-lo. Ao contrário, depois de trinta anos de vida escondida em Nazaré, Jesus foi até ao rio Jordão, juntamente com muitas pessoas do seu povo e pôs-se em fila com os pecadores. Não sentiu vergonha: estava ali com todos, com os pecadores, para ser batizado. Portanto, desde o início do seu ministério, Ele manifestou-se como Messias que assume a condição humana, movido pela solidariedade e pela compaixão. Como Ele mesmo afirma na sinagoga de Nazaré, identificando-se com a profecia de Isaías: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor» (Lc 4, 18-19). Tudo o que Jesus realizou depois do batismo foi o cumprimento do programa inicial: anunciar a todos o amor de Deus que salva. Jesus não anunciou o ódio nem a inimizade: anunciou-nos o amor! Um amor grande, um coração aberto a todos, a todos nós! Um amor que salva! Ele fez-se próximo aos últimos, comunicando-lhes a misericórdia de Deus que é perdão, alegria e vida nova. Jesus, o Filho enviado pelo Na audiência geral o Papa falou do Evangelho da misericórdia recordando o exemplo de Jesus Em fila com os pecadores Pai, é realmente o início do tempo da misericórdia para toda a humanidade! Quantos estavam presentes nas margens do Jordão não compreenderam imediatamente a importância do gesto de Jesus. O próprio João Batista admirou-se com a sua decisão (cf. Mt 3, 14). Mas não o Pai celeste! Ele fez ouvir a sua voz do alto: «Tu és o meu Filho muito amado; em ti ponho minha afeição» (Mc 1, 11). De tal modo o Pai confirma o caminho que o Filho empreendeu como Messias, enquanto sobre Ele desce como uma pomba o Espírito Santo. Então o coração de Jesus bate, por assim dizer, em uníssono com o coração do Pai e do Espírito, mostrando a todos os homens que a salvação é fruto da misericórdia de D eus. Podemos contemplar ainda mais claramente o grande mistério deste amor dirigindo o olhar para Jesus crucificado. Enquanto inocente está para morrer por nós, pecadores, suplica ao Pai: «Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 34). É na cruz que Jesus apresenta à misericórdia do Pai o pecado do mundo: o pecado de todos, os meus, os teus, os vossos. É na cruz que Ele os apresenta ao Pai. E com o pecado do mundo todos os nossos pecados são perdoados. Nada e ninguém permanece excluído desta oração sacrifical de Jesus. Isto significa que não devemos temer reconhecer-nos e confessar-nos pecadores. Quantas vezes dizemos: «Mas, ele é um pecador, fez isto e aquilo...», e julgamos os outros. E tu? Cada um de nós deveria perguntar-se: «Sim, ele é um pecador. E eu?». Todos somos pecadores, mas todos fomos perdoados: temos a possibilidade de receber este perdão que é a misericórdia de Deus. Portanto, não devemos temer reconhecer-nos e confessar-nos pecadores, porque todo o pecado foi levado à Cruz pelo Filho. E quando nos confessamos arrependidos confiando-nos a Ele, temos a certeza de que somos perdoados. O sacramento da Reconciliação torna atual para cada um a força do perdão que brota da Cruz e renova na nossa vida a graça da misericórdia que Jesus nos conquistou! Não devemos temer as nossas misérias: cada um tem as próprias. O poder do amor do Crucificado não conhece obstáculos e nunca se esgota. E esta misericórdia cancela as nossas misérias. Caríssimos, neste Ano jubilar peçamos a Deus a graça de fazer a experiência do poder do Evangelho: Evangelho da misericórdia que transforma, que faz entrar no coração de Deus, que nos torna capazes de perdoar e olhar para o mundo com mais bondade. Se acolhermos o Evangelho do Crucificado Ressuscitado, toda a nossa vida será plasmada pela força do seu amor que renova. No final da audiência o Papa saudou, como de costume, os vários grupos linguísticos presentes e recordou o terceiro dia mundial do desporto pela paz e o desenvolvimento, proclamado pelas Nações Unidas. Eis, entre outras, algumas das suas saudações. Queridos peregrinos de língua portuguesa, de coração vos saúdo a todos, nomeadamente ao grupo de São Sebastião do Pontal, desejando-vos neste Ano Jubilar a graça de experimentar a força do Evangelho da misericórdia que transforma, que faz entrar no coração de Deus, que nos torna capazes de perdoar e olhar o mundo com mais bondade. Assim Deus vos abençoe a vós e às vossas famílias. Hoje decorre o Terceiro Dia Mundial do Desporto pela Paz e o Desenvolvimento, promovido pelas Nações Unidas. O desporto é uma linguagem universal, que aproxima os povos e pode contribuir para fazer encontrar as pessoas e superar os conflitos. Por isso encorajo a viver a dimensão desportiva como exercício de virtude no crescimento integral dos indivíduos e das comunidades.