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Todos os Direitos Reservados Sumário Pré-analítico Anatomia Patológica Biologia Molecular Bioquímica Citogenética Endocrinologia Fluidos Biológicos Hematologia Imunologia Microbiologia Parasitologia Química e Toxicologia Valores de Referência BIOINFORME FASE PRÉ-ANALÍTICA fissionais envolvidos tanto no desempenho da análise quanto na interpretação de um laudo. Observações: SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA – Os fatores de influência, dietas especiais, bem como as in Preparo do paciente e coleta de amostras Nas últimas décadas,a medicina laboratorial vem am pliando largamente sua atuação. Novas tecnologias foram implantadas, como anticorpos monoclonais, terferências específicas para cada exame, serão discutidos detalhadamente durante a abordagem do teste no capítulo pertinente. – O preparo e as orientações ao paciente, inerentes aos testes gráficos e por imagem, estão descritos detalhadamente no capítulo específico. genética molecular, citometria de fluxo, contribuindo como parte do processo de decisão diagnóstica na confirmação, tratamento, monitoramento e preven ção das doenças. Com todos estes avanços, o grande desafio é tornar clara a influência de diversos fato res e a possibilidade de interferências e de eventuais limitações nas diversas etapas que compreendem o processo das análises para o apoio diagnóstico. A combinação de variações fisiológicas, de influências e interferências traz dificuldades até mesmo à inter pretação de determinações simples. A qualidade de um laudo está diretamente relacionada a três fases distintas do processo de análise: a fase pré-analítica, a fase analítica e a fase pós-analítica. A etapa pré-analítica inicia-se com o pedido médico, incluindo, quando necessário, as informações adequadas quanto à indicação e à suspeita diag nóstica, passa pelo preparo do paciente e envolve todo o pro cedimento de coleta, manuseio, conservação e transporte da amostra (quando pertinente). Portanto é de grande importância difundir o conhecimento do impacto das novas e velhas variáveis pré-analíticas para os pro Fatores de Influência e Interferência JEJUM E DIETA Uma dúvida freqüente por ocasião da realização de exames é quanto à obrigatoriedade ou não de jejum e à duração do mesmo. Para testes sangüíneos como os de glicose, testes de tolerância (glicose, d-xilose, lactose etc.), perfil lipídico, ferro e capacidade de fixação do ferro, vitamina B12, folato, caroteno, insulina, peptídeo C e gastrina, o jejum é recomendado para uma análise adequada. No caso da dosagem de triglicerídeos não se deve ingerir alimentos por um período mínimo de 12 horas para evitar falsos valores alterados. Vários testes hor monais, imunológicos e até mesmo bioquímicos, como o de colesterol, podem ser realizados sem jejum (desde que não venham acompanhados da dosagem de outros lipídios ou gli cose). Apesar de não haver obrigatoriedade de jejum para estas análises, desaconselham-se excessos alimentares. O indicado, quando possível, é esperar o intervalo de algumas horas após a refeição (mínimo de quatro) para evitar possíveis interfe rências. Aumentos nos triglicerídeos normalmente produzem 16 01 Pré-analítico BOOK 16.indd 16 26.10.06 18:00:58 de várias dosagens. Jejuns prolongados, superiores a 14 horas, são também desaconselháveis porque influenciam as dosa gens séricas, como no caso (novamente) dos triglicerídeos, que podem apresentar resultados falsamente baixos. Nos dias que antecedem os exames, deve-se manter a alimentação habitual, exceto para os testes em que se preconize dieta especial (vide relação adiante). Bruscas mudanças alimentares podem acar retar alterações na concentração de alguns constituintes plas máticos. Evitar, portanto, dietas rígidas. Um regime rico em proteínas pode levar ao aumento de uréia, amônia, ácido úrico e uratos, especialmente quando há ingesta em grandes quantidades na noite que antecede o exame. Isso pode influenciar o resultado, já que as alterações permanecem aparentes mesmo 12 horas mais tarde. Refeições gordurosas podem causar, em alguns indivíduos, ligeiro aumento na ati vidade da fosfatase alcalina, de duas a quatro horas após a ingesta, e também são desaconselháveis para os testes de coa gulação, dentre outros. Alimentação rica em abacaxi, abacate e tomate podem elevar o ácido 5-hidroxi-indol-acético. A cafeína interfere no metabolismo dos lipídios, elevando os áci dos graxos livres,e seu consumo habitual pode levar a alterações nas concentrações séricas de colesterol e triglicerídeos. Pelo es tímulo da medula adrenal, ela também aumenta a liberação de catecolaminas e pode alterar discretamente os níveis de glicose basais e os testes de tolerância. A cafeína pode taquicardizar o paciente e deve, portanto, ser evitada no dia do exame. Com referência a testes gráficos e por imagem: – Ergométrico, holter, mapa, ECG, ECG-AR: recomenda-se duas horas de jejum. – Ressonância magnética: não exige jejum, exceto para a Co langio RM (12h). – Tomografia computadorizada: recomenda-se quatro horas de jejum. – Teste ergométrico (prova do esforço): o paciente não deve estar em jejum. Recomenda-se uma refeição leve, evitando se, no entanto, a cafeína (café, chá, chocolate etc.) e bebidas alcoólicas. Também não se deve fumar nas três horas que an tecedem o teste. Observações: – O jejum preconizado poderá ser reduzido, ou até mesmo revisto, no caso de recém-nascidos e crianças, para situações de urgência e diante de solicitações médicas específicas. – Para alguns testes, o jejum pode não ter sido preconizado, mas deve-se verificar a necessidade, ou não, de uma dieta es pecial nos dias que os antecedem. Relação dos exames que exigem dieta especial: – Ácido oxálico em urina de 24 horas. – Ácido 5-hidroxi-indol-acético em urina de 24 horas. – Catecolaminas fracionadas em urina de 24 horas/plasma. – Ácido vanilmandélico em urina de 24 horas. – Hidroxiprolina em urina de 24 horas. – Serotonina em urina de 24 horas/plasma. – Metanefrinas em urina de 24 horas. – Sangue oculto nas fezes. – Coprologia funcional, digestibilidade e resíduos alimentares. – Teste de PAK. – Dosagem de gordura fecal. – Dosagens de renina e aldosterona – avaliar o teor de sódio da dieta. PRÉ-ANALÍTICO cos) que potencialmente causam interferência no resultado FASE PRÉ-ANALÍTICA mudanças no aspecto do soro (soros opalescentes ou lipêmi ÁLCOOL E TABACO Não se tem relato de que o uso casual do álcool tenha algum efeito significativo nos testes laboratoriais. Porém, ele pode afetar vários componentes e provocar modificações no meta bolismo, dependendo da amplitute, quantidade e freqüência do consumo. O uso de bebida alcoólica entre duas e quatro ho ras antes do exame diminui a glicose sérica e aumenta o lac tato plasmático. Como conseqüência imediata da ingesta de álcool, observamos também o aumento da concentração séri ca do ácido úrico e dos triglicerídeos – que nestes últimos pode ser substancial, de até 40% em períodos de uso mais freqüen te. Como o álcool é uma substância irritante para a mucosa gástrica, podendo causar sangramento em pacientes sensíveis, seu consumo é igualmente desaconselhável durante a pesqui sa de sangue oculto nas fezes. O tabaco é composto por uma ampla variedade de substân cias, como a nicotina, piridina, cianureto, tiocianureto etc., e o mecanismo de seus efeitos ainda não foi plenamente elucida do. Deve-se ainda levar em conta a exposição contínua ao mo nóxido de carbono, considerando se a técnica usada para fu mar envolve inalação ou não, qual a espécie (cigarros, charutos, cachimbo) e em que quantidade se fuma. As várias alterações associadas ao tabaco, agudas ou crônicas, acontecem direta ou indiretamente e são também influenciadas pelo sexo e idade do paciente. Podem apresentar aumentos: as catecolaminas, a glicose, o cortisol, a aldosterona e os ácidos graxos livres. Eleva ções da carboxiemoglobina, com desvio à esquerda da curva de dissociação do oxigênio, levam a uma subseqüente compensa ção com aumento de hematócritos. As alterações causadas pelo tabagismo crônico incluem a ele vação da atividade de várias enzimas, glóbulos brancos, vita minas, marcadores tumorais (antígeno carcinoembrionário 17 01 Pré-analítico BOOK 16.indd 17 26.10.06 18:00:58 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA – CEA), metais pesados e lipoproteínas. O fumo interfere no das enzimas: lactato desidrogenase, leucina aminopeptidase e, teste ergométrico, devendo ser evitado por ocasião de sua no caso da fosfatase alcalina, especialmente pela presença da realização. isoenzima placentária. DROGAS (MEDICAMENTOS, VITAMINAS ETC.) Diversas drogas podem interferir, in vivo ou in vitro, nos resulta dos de análises laboratoriais. É importante que o clínico esteja atento ao que o paciente está tomando, incluindo medicações sem receita, ferro, minerais, vitaminas etc. Altas concentrações de vitamina C, por exemplo, podem elevar os resultados das frutosaminas e do ácido úrico, produzir falso-negativos para sangue oculto nas fezes e provocar possíveis alterações na crea tinina sérica. O uso de contraceptivos orais eleva os níveis séricos da glo bulina ligadora da tiroxina e, em conseqüência, os hormônios tireoidianos T3 total e T4 total. Elevam-se também os níveis séricos do ferro, triglicerídeos, transaminase pirúvica, gamaglutamil-transpeptidase, enquanto diminuem os níveis de al bumina. Vários outros testes laboratoriais são afetados. As drogas diuréticas freqüentemente diminuem a concentra ção de potássio e elevam o sódio, o cálcio e a glicose. A nicotina e o álcool serão abordados separadamente. A dosagem de creatinina pode sofrer interferência de vários me dicamentos, como, por exemplo, a dipirona. E dependendo da metodologia empregada, esta influência será maior ou menor. No monitoramento de drogas terapêuticas, é importante ob servar o horário da coleta em relação à ultima dose. Para mui tos medicamentos, o monitoramento é feito no intervalo entre as doses, utilizando-se, em alguns casos, a coleta durante o pico de concentração da droga. GRAVIDEZ A gravidez provoca mudanças metabólicas profundas e diversos exames têm seus valores modificados dependendo do período de gestação. Mas nem sempre o laboratório é informado sobre a gravidez da paciente ou sua fase gestacional. Concentrações de estrogênios e progesterona resultam em aumentos na secreção de prolactina, da globulina ligadora da tiroxina e o conseqüente aumento do T3 e T4 totais. Porém, o oposto pode ocorrer com o hormônio luteinizante e o hormônio fólico estimulante. Há mudanças na função renal, com especial elevação dos ní veis de filtração glomerular que levam a uma maior excreção da glicose, uréia, creatinina e proteína. Observam-se, portanto, diminuições no nível sérico destas substâncias. Há no soro ele vações de lipídios, colesterol e triglicerídeos, inclusive alfafeto proteína, alfa-1-antitripsina, além de um aumento da atividade Com freqüência, ocorrem mudanças nos parâmetros hemato lógicos: hematócrito e hemoglobina diminuem. As plaquetas podem gradualmente ter seus níveis reduzidos. Observam-se ainda efeitos nos fatores de coagulação, como o IX, que pode elevar-se ligeiramente, além dos fatores VII e X, que comumen te sobem. A partir do final do primeiro trimestre, as elevações do fibrinogênio contribuem para o aumento da velocidade de hemossedimentação, que permanece alterada por um curto período, mesmo após o parto. EXERCÍCIO FÍSICO A atividade física influencia e interfere consideravelmente no metabolismo e deve-se avaliar com cuidado os resultados ob tidos de amostras coletadas após exercícios. Dependendo da duração e da intensidade, várias são as substâncias afetadas nas concentrações urinárias e sangüíneas. Na fase inicial dos exercícios, há um aumento de glicose e de insulina que pode levar à hipoglicemia com a intensificação da atividade física. A desidrogenase láctica, a creatinofosfoquinase e a aldolase são enzimas extremamente sensíveis, que se elevam com exercí cios de pouca duração e intensidade, e sua maior atividade é freqüente em atletas. As glicoproteínas, transferrina, transa minases, uréia, creatinina, ácido úrico, contagem de leucóci tos e haptoglobina podem elevar-se. A renina e a aldosterona plasmáticas também respondem com grandes aumentos após exercícios físicos de baixa intensidade, como a deambulação. A prática de exercícios estimula a secreção do cortisol, podendo desaparecer o ritmo circadiano.Também observam-se aumentos na excreção de cortisol livre urinário e nas concentrações plas máticas de aldosterona, hormônio de crescimento, prolactina e catecolaminas (tanto plasmática quanto urinária). Com exercí cio físico moderado, o colesterol e os triglicerídeos diminuem, podendo permanacer assim por vários dias. Os ácidos graxos aumentam de forma importante após exercícios extenuantes. E, diretamente proporcional à duração e à intensidade dessa ati vidade física, podem surgir a hematúria e a proteinúria. O aprimoramento do condicionamento físico modifica as con centrações lipídicas, diminuindo o colesterol sérico, a fração LDL-colesterol e os triglicerídeos. Mas, em contrapartida, os valores de HDL-colesterol tendem a crescer. Na dosagem do PSA, é importante avaliar se o paciente fez exer cícios em aparelhos que exerçam pressão na região prostática (por exemplo, o selim da bicicleta). Essa pressão funciona como uma massagem prostática, aumentando os níveis de PSA. 18 01 Pré-analítico BOOK 16.indd 18 26.10.06 18:00:58 centração das substâncias no sangue periférico. É, portanto, importante conhecer a circunstância física do paciente por ocasião da coleta da amostra: enquanto pacientes hospitaliza dos estão freqüentemente deitados ou reclinados antes da co leta da amostra, os ambulatoriais estão sentados ou de pé. Ao mudar da horizontal para uma postura ereta, há, em razão da pressão hidrostática, uma perda de água e de moléculas filtrá veis, de pequeno peso molecular, do compartimento intravas cular para o espaço intersticial. A redução do volume plasmá tico (em torno de 12%) irá aumentar a concentração de molé culas de alto peso molecular, como as proteínas e substâncias a elas ligadas (cálcio, lipídios, bilirrubinas, drogas terapêuticas etc.). Porém, para outros analitos de baixo peso molecular, facilmente difusíveis no sangue, a postura não faz diferença (uréia, por exemplo). Ao se interpretar tais resultados, é importante observar que a secreção de renina e aldosterona sofre gran de variação com a mudança de postura, devendo-se levar em conta a posição do paciente no momento da coleta. Verifica-se ainda uma elevação precoce da secreção das catecolaminas, por causa da variação da posição recostada para a ereta. Outro exemplo importante trata da excreção urinária do cálcio, que excreção máxima à tarde. É também quando os triglicerídeos estão mais altos, bem como o fosfato, a uréia e o hematócrito. Outro importante fator de influência é a sazonalidade. Como exemplo, a vitamina D que sofre interferência da exposição à luz solar, com redução dos seus níveis no inverno, principal mente em países onde as estações são bem definidas. O opos to se aplica ao T3 total que, por sua ação calorigênica, apresen ta níveis mais elevados no inverno. Os valores para as provas funcionais foram padronizados pela manhã, portanto elas devem ser realizadas, preferencialmente, neste período. Algumas outras interferências estão descritas nos diversos capítulos do Bioinforme . HEMÓLISE A ruptura da hemácia, ou hemólise, pode ocorrer por um pro cesso mecânico ou metabólico, seja em um processo natural de renovação da célula vermelha ou como conseqüência de doen ça. A hemólise por anemia hemolítica ou por punção venosa causa elevação de LDH, bilirrubinas, transaminases, potássio, magnésio e fosfatase ácida. Hemólises causadas por trauma tismo durante a punção, o que se observa mais freqüentemen aumenta em pacientes acamados por longos períodos. te em recém-nascidos, podem invalidar os resultados de testes RITMO CIRCADIANO tem efeitos menos marcantes em proteínas totais, fosfatase Os valores de alguns constituintes líquidos orgânicos variam ciclicamente ao longo do dia. A magnitude do efeito do ritmo circadiano pode ser maior do que geralmente se leva em conta na interpretação dos exames. Vários fatores podem estar en volvidos nestas variações, como a postura, a atividade física, a alimentação, o estresse, a luz do dia e o sono. Além da influên cia de fatores individuais, muitos hormônios mostram varia ções diurnas e biológicas aleatórias ao longo de 24 horas. O cortisol e o ACTH apresentam valores mais elevados pela ma nhã do que à tarde e à noite e são muito influenciados pelo es tresse. Em grau menor, o TSH também apresenta uma variação circadiana, com níveis mais elevados após a meia-noite e mais baixos em torno do meio-dia. Portanto, podem-se observar va lores ligeiramente alterados desse hormônio, principalmente se a coleta for realizada no período noturno. A fosfatase ácida, o potássio, a transferrina e o ferro sérico mostram-se também mais elevados pela manhã, alterações que, neste último, podem atingir de 30% a 50%, além de sua variação intra-individual no dia-a-dia. Também os eosinófilos variam com a hora do dia, apresentando-se mais baixos à tarde; linfócitos e leucócitos têm seus valo PRÉ-ANALÍTICO Mudanças de postura podem alterar profundamente a con res máximos pela manhã, e o urobilinogênio urinário atinge sua FASE PRÉ-ANALÍTICA POSTURA de coagulação, pela liberação de tromboplastinas. A hemólise alcalina, ferro e fósforo, podendo mascarar reações com anti corpos hemolisantes. TRANSPORTE E PREPARO DA AMOSTRA Com o desenvolvimento de novos conhecimentos e recursos, e com um preparo adequado, pode-se transportar o material a ser analisado para diversos pontos, garantindo, com seguran ça, a estabilidade dos constituintes. Hoje, o envio e recebimen to de espécimes biológicos entre diferentes pontos do país e até mesmo entre países podem ser feitos rotineiramente, des de que se observem os procedimentos necessários (recipientes especiais, o uso de gelo seco para congelamento da alíquota, caixas específicas isolantes ou refrigeradas etc.) para garantir a preservação dos analitos a serem pesquisados. As conse qüências de um preparo e transporte inadequados variam desde a perda da amostra por vazamento até alterações na concentração dos seus diferentes constituintes. VALORES DE REFERÊNCIA Quando se fala em valores de referência é necessário cuidado e atenção, pois não são somente metodologias e equipamen tos que os influenciam. Deve-se levar em conta que variações 19 01 Pré-analítico BOOK 16.indd 19 26.10.06 18:00:59 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA fisiológicas, alimentares, climáticas, genéticas, sexo, idade e de ritmo circadiano, bem como interferências diversas, podem influenciar no resultado de um exame. Estas situações nem sempre são contempladas na população estudada, quando se estabelecem valores referenciais. Estes são determinados pelo estudo de um certo grupo de indivíduos presumivelmente sa dio e expressam o que foi verificado em 95% da população em questão e não na sua totalidade. O que é realidade para uma população pode não ser para outra. Portanto, deve-se ter em mente que os valores de referência servem como um guia ge nérico e não devem ser usados como um denominador do que é normal ou anormal. Idade: Pode determinar mudanças drásticas na concentração dos constituintes de fluidos corpóreos. Ao analisar um laudo, devemos considerar a idade do paciente, pois mudanças me tabólicas ocorrem desde o nascimento e continuam até a ve lhice, representando, em alguns casos, grande influência nos valores de referência. Um bom exemplo são as alterações do primeiro mês de vida, no que diz respeito, especialmente, aos valores referenciais do hematócrito e da bilirrubina. Para estes testes, os limites devem ser considerados de acordo com a fai xa etária em dias. A atividade da fosfatase alcalina também sofre grandes variações com a idade, atingindo o pico na fase de crescimento como reflexo da atividade osteoblástica. Assim, por ocasião da análise do resultado de um teste, deve-se obser var a existência, ou não, de diferentes faixas de referência de acordo com a idade do paciente. TUBOS ADEQUADOS PARA COLETA DE SANGUE Muitas são as alterações que podem ser encontradas nas amostras biológicas em decorrência da escolha inadequada do tubo de coleta. O contato extenso das células sangüíneas com o soro pode modificar a concentração de numerosos analitos. A barreira criada entre estes componentes pelo uso do gel se parador, porém, permite uma maior eficiência no processo de pré-análise. Alguns analitos sofrem interferência do tipo de material em pregado na fabricação do tubo (plástico ou vidro). No caso da serotonina, ACTH e fatores da coagulação, as amostras devem ser mantidas em recipientes de plástico. Usados durante a coleta para prevenir a coagulação, preservar componentes e inibir o metabolismo e/ou catabolismo do san gue, a escolha de anticoagulantes e a quantidade empregada em relação ao volume do sangue colhido são importantes para a qualidade do resultado: se a substância for inadequada, pode interferir na reação; se estiver em pouca quantidade, permite a coagulação; e, em excesso, pode diluir a amostra, interferindo no resultado. EDTA (Ácido etilenodiaminotetracético): É o anticoagulante re comendado internacionalmente para análises hematológicas que envolvem a contagem e a observação da morfologia das células. O EDTA age como um quelador de íons e sua atuação se deve à ligação com o cálcio, interferindo na cascata da coa gulação sangüínea. Conserva a morfologia das hemácias e leu Sexo: Grande parte das diferenças observadas nos valores de cócitos, e impede a aglutinação e a agregação das plaquetas, nios, causa de mudanças metabólicas importantes, como na aglutinação progressiva das plaquetas. O fenômeno, denomi referência estão ligadas à influência bioquímica dos hormô puberdade e na menopausa. A massa muscular, geralmente mais pronunciada no sexo masculino, leva a valores mais ele vados de creatinina, ácido úrico e uréia, bem como à atividade de enzimas ligadas ao metabolismo muscular, como a CK e a aldolase. Deve-se levar em conta que a prática de exercícios fí sicos e o uso de substâncias para o aumento dessa massa tam bém podem influenciar consideravelmente os resultados. embora, em alguns pacientes, possa observar-se, in vitro, uma nado pseudotrombocitopenia, pode elevar a contagem dos glóbulos brancos e falsear resultados de plaquetas. Atualmen te, o uso de tecnologia avançada permite detectar este efeito através de alarmes especiais dos instrumentos. Heparina: Atua no processo de coagulação, inibindo a forma ção de trombina, impedindo, com isso, a conversão do fibri nogênio em fibrina. Não altera a morfologia nem o tamanho Raça: O efeito da influência racial deve ser somado a fatores am celular, porém os conserva por pouco tempo, o que não o torna as alterações diretas do fator racial estão uma maior ou menor Também confere coloração azulada ao esfregaço. Usado em bientais e socioeconômicos (dieta, exercícios, hábitat etc.). Entre incidência de doenças geneticamente determinadas em certos grupos étnicos, como a talassemia e a anemia falciforme. Diferenças entre laboratórios: Em decorrência da padroniza ção, metodologia e equipamento utilizados, os valores de re ferência podem mudar de um laboratório para outro. Isto se aplica especialmente aos ensaios imunológicos, pelo uso de anticorpos com diferentes origens e características. o anticoagulante indicado para avaliar plaquetas e leucócitos. curvas de hemólise por não alterar osmoticamente as hemá cias, está disponível comercialmente em sais de lítio, sódio e amônia, embora seja mais utilizado em forma de lítio. Citrato de sódio: Como o EDTA, o citrato se liga ao cálcio, impe dindo a coagulação. É o anticoagulante de escolha para os es tudos de coagulação, o que parece estar associado a seu efeito em preservar pró-coagulantes lábeis. Preconiza-se ser sempre 20 01 Pré-analítico BOOK 16.indd 20 26.10.06 18:00:59 o segundo tubo colhido para evitar que os fatores tissulares da coagulação, liberados pelos tecidos danificados durante a Fluoreto de Sódio: Inibe a enzima enolase na via glicolítica, daí sua ação antiglicolítica. Indicado para coleta de glicose e de FASE coleta, alterem o resultado. testes de tolerância a açúcares. INFORMAÇÕES ADICIONAIS – Em virtude do grande número de variáveis, às vezes pode ser necessária a coleta de uma nova amostra, para melhor ava liação de um resultado. – Alguns exames microbiológicos necessitam da especificação do tipo de cultura solicitado: aeróbios, anaeróbios, fungos ou micobactérias. A indicação clara do sítio de coleta do mate rial, bem como o dado clínico, também são de fundamental importância. Com base nestas informações, será selecionado o meio de cultura adequado ao crescimento do provável mi croorganismo patogênico. – Para algumas dosagens hormonais, bem como para os tes tes de depuração (clearance), informações como peso, altura, medicamentos e data da última menstruação são de fun damental importância para a liberação do resultado. Estes dados permitem avaliações adequadas do ciclo hormonal, correções da superfície corporal do paciente em relação à superfície-padrão etc. – Apesar de toda a evolução na área laboratorial, não existe uma técnica que seja, ao mesmo tempo, 100% sensível e 100% específica. Portanto, podem ocorrer tanto resultados falso-positivos quanto falso-negativos, o que torna o diálogo entre o médico assistente e os profissionais do laboratório de fundamental importância para uma melhor interpretação dos resultados. 21 01 Pré-analítico BOOK 16.indd 21 26.10.06 18:00:59 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA A N A T O M I A P A T O L Ó G I C A Patologia é o estudo (logo) da doença (pathos), por meio das alterações estruturais e funcionais das células, tecidos e órgãos, envolvendo tanto a ciência básica quanto a prática clínica. Segundo afirmava Rudolf Virchow, considerado o pai da patologia moderna no século XIX, virtual mente todas as formas de lesão orgânica têm sua origem em alterações moleculares ou estruturais nas células. Totalmente integrado às técnicas moleculares, microbiológicas, imunológicas e de diagnóstico por imagem, através da troca direta de informações entre os mais diferentes setores técnicos, e de um moderno sistema informatizado de dados e laudos incorporados, o patologista pauta o diagnóstico sempre na correlação clínico-patológica conforme a tradição iniciada por Morgagni no século XVIII. 24 02 AnatomiaPat BOOK 16.indd 24 26.10.06 17:50:44 exame histopatológico, padronizado pelo laboratório, ou ane xar, em separado, os seguintes dados: – Nome completo e idade do paciente; – Dados clínicos e epidemiológicos; O setor de Anatomia Patológica recebe um grande espectro de amostras: peças cirúrgicas, materiais pro venientes de biópsias, raspados e curetagens, peças anatômicas, fetos ou natimortos, além de sedimen tos de líquidos orgânicos e secreções naturais para realização de blocos celulares (cell blocks). A adequação da amostra, extremamente crítica, se inicia no momento do procedimento cirúrgico. Isto é, nos cuidados com – Hipóteses diagnósticas; – Procedimento realizado; – Tipo de material colhido/retirado. Dados sobre o médico assistente, como nome e telefone para contato, são essenciais para se estabelecer uma correlação clínico-patológica ideal. Em caso de revisão de lâmina, se possí vel, acrescentar uma cópia do laudo histopatológico realizado previamente. o uso de agentes químicos e/ou físicos que possam danificar os tecidos que serão enviados à análise histopatológica, com prometendo o resultado. AMOSTRAS O fixador rotineiramente empregado é o formaldeído (formol), em geral comercializado na proporção de 37% a 40%, e que deve ser preparado e utilizado a 10% (uma parte de formol para nove partes de água), num volume que corresponda a cerca de 10 vezes o volume da amostra. O recipiente para transporte deve ser grande o suficiente para acondicionar o volume neces sário de fixador e amostra, recobrindo todos os lados da peça, de modo a evitar que ela fique deformada após a fixação; deve ter tampa e abertura larga o bastante para que a amostra seja retirada facilmente depois de fixada, pois o tecido perde sua elasticidade pela ação do fixador. Recipientes de lata devem ser evitados, pois a ferrugem altera a coloração dos tecidos. Espé cimes grandes que flutuem (por exemplo, pulmão) devem ser cobertos com gaze ou compressa. Vale lembrar que alguns estudos especiais requerem outros tipos de fixadores como, por exemplo, a análise para avaliação de infertilidade, em que se usa o de Bouin. A correta identificação do material através de etiquetas ou esparadrapos no próprio recipiente é outro item de extrema importância. Deve-se colocar o nome completo do paciente e caracterizar a amostra com os seguintes dados: o tipo de pro cedimento (biópsia, raspado, curetagem ou exérese do órgão ou de parte dele) e o órgão biopsiado ou excisado tão logo pos sível. Recomenda-se o uso de lápis, pois a tinta da caneta pode se desfazer quando molhada. No ato de admissão em nosso la boratório, os recipientes entregues passam a ser identificados por etiquetas com código de barras, o que garante que podem ser rastreados durante todo o processamento técnico e libera ção do resultado. ANATOMIA PATOLÓGICA O médico deve preencher adequadamente a requisição para TÉCNICAS DE COLORAÇÃO AMOSTRAS Tanto as técnicas de rotina quanto as especiais se ba seiam em padrões considerados de excelência para a prática da Patologia. A mais usada rotineiramente é o método de hematoxilina-eosina. Com relação às especiais, dispomos dos seguintes métodos: Para o tecido conjuntivo: 1. Tricrômico de Gomori para fibras musculares e colágeno. 2. Método de Verhoeff para fibras elásticas. 3. Método de Van Gieson para fibras colágenas. 4. Método de Gomori para fibras reticulares. Para hidratos de carbono: 1. Ácido periódico de Schiff (PAS) para mucina, glicogênio, membranas basais e fungos. 2. Método de PAS com digestão pela diástase para eliminar a coloração atribuída ao glicogênio. 3. Método de mucicarmin de Mayer para mucina e, especifica mente, a cápsula dos criptococos. 4. Método de Vermelho do Congo de Bennhold para substân cia amilóide. 5. Método de Alcian Blue pH 2,5 para mucinas sulfatadas áci das débeis, ácido hialurônico e mucina salivar. 6. Método de digestão com hialuronidase para eliminar a colo ração atribuída ao ácido hialurônico, condroitina-4 sulfato e condroitina-6 sulfato. 25 02 AnatomiaPat BOOK 16.indd 25 26.10.06 17:50:44 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Para pigmentos e minerais: 1. Método de Fontana-Masson para grânulos argentafins e VANTAGENS: método menos invasivo e de menor custo que a histopatologia. pigmentos. 2. Método de Churukian-Schenk para grânulos argirófilos. 3. Método de Hall para bilirrubina. 4. Método de Perls para hemossiderina e alguns óxidos e sais de ferro. Para detecção de bactérias, fungos e outros microrganismos: 1. Método de Warthin-Starry (pH 4,0) modificado para espiro quetas e outros microrganismos. 2. Método da prata-metenamina de Grocott para fungos. 3. Método de Brown-Hopps (Gram) para bactérias gram-positivas e gram-negativas. 4. Método de Ziehl-Neelsen para bacilos álcool-ácido resistentes. 5. Método de Fite-Faraco para bacilos álcool-ácido resistentes e outros microrganismos, como o Rodococcus equi. 6. Método de Giemsa, procedimento de uma hora de Gaffney, para algumas bactérias como o Helicobacter pylori, alguns parasitos como a Giardia lamblia e para identificar melhor as células de linhagem hematopoiética. 7. Ácido periódico de Schiff (PAS) para fungos. 8. Método de mucicarmin de Mayer para identificar a cápsula dos criptococos. Pesquisa de células com inclusão viral (herpesvirus) e acantolíticas (teste de Tzanck) Utilizado na pesquisa da etiologia das lesões bolhosas. As cé lulas com características de infecção por herpesvirus indicam a natureza viral, mas não definem qual o tipo (I, II ou herpes zoster) já que citopatologicamente a alteração é inespecífica. A presença de células acantolíticas indica pênfigo. MÉTODO: Coloração por Papanicolaou em esfregaço úmido. AMOSTRA: Bolhas em pele, mucosas, glande, inclusive esôfago ou outra víscera oca. Identificar duas ou mais lâminas foscas com as iniciais do paciente, tomando o cuidado de tocá-las apenas nas bordas. Deixar próximo e aberto o frasco com ra nhuras (frascolpo), já contendo álcool comum (a 95º). Locali zar uma bolha íntegra na pele ou mucosa. Fazer assepsia local com álcool a 70%. Abrir a bolha com bisturi, procurando colher o líquido, passando-o na lâmina, que é imediatamente mergu lhada no álcool. Raspar com suavidade o fundo e a face inter na da cúpula da bolha. Estender o material em outra lâmina e mergulhá-la em seguida no álcool. VANTAGENS E DESVANTAGENS: Método não invasivo, que pode de finir o diagnóstico e orientar o tratamento. Um mínimo de des secamento do esfregaço no ato do preparo das lâminas pode ser o bastante para prejudicar a interpretação microscópica. Cell block Esta técnica é usada na pesquisa de células neoplásicas, na Tem por objetivo estudar líquidos e secreções com a finalidade de auxiliar o raciocínio diagnóstico. É im portante ressaltar que o diagnóstico citopatológico geralmente é presuntivo, exigindo, com freqüência, uma complementação através de biópsia. A seguir, relacionamos os principais exames: Citopatologia geral Utilizada no diagnóstico de lesões pré-neoplásicas, neoplási cas, de alterações específicas de cada órgão ou de efeito viral. MÉTODO: Microscopia óptica do esfregaço úmido corado pelo método de Papanicolaou e esfregaço seco corado pelo método de Giemsa. AMOSTRA: Qualquer secreção orgânica ou raspado de qualquer superfície do corpo. classificação de neoplasias ou em pesquisa de microrganis mos. Pode seguir-se ao preparo dos esfregaços para a citopato logia, aproveitando-se da sobra do material (sedimento). MÉTODO: Inclusão em parafina do sedimento (hematoxilina eosina, PAS, Prata etc.). AMOSTRA: Líquidos e secreções orgânicas (exemplo: líquido pleural, ascítico ou pericárdico, escarro, lavados de lesão ou de agulha etc.). VANTAGENS E DESVANTAGENS: – Aumenta o potencial diagnóstico da citopatologia; – Permite pesquisa por diversas colorações especiais; – Aumenta o custo do exame. Colpocitologia oncótica Empregada no rastreamento de lesões pré-neoplásicas ou neoplásicas do colo uterino, vagina e, em menor escala, do 26 02 AnatomiaPat BOOK 16.indd 26 26.10.06 17:50:45 Papanicolaou. e/ou metaplásicas indica que a JEC (junção escamo-colunar) não está representada nos esfregaços analisados, comprome tendo a finalidade do exame. MÉTODO: Microscopia dos esfregaços corados pela coloração de AMOSTRA: Secreção da parede lateral da vagina, no terço médio. No mínimo três dias antes do exame ginecológico: – Evitar relações sexuais; – Evitar ducha higiênica ou uso de desinfetantes locais; Papanicolaou. – Evitar uso de tampão vaginal. AMOSTRA: Esfregaço da mucosa vaginal, raspado do ectocérvice VANTAGENS E DESVANTAGENS: e escovado endocervical. Para a coleta cérvico-vaginal tríplice, a amostra deve ser colhi do fundo do saco posterior, para que contenha também ma Para a coleta ectocervical, usar a espátula de Ayre, com a extre mais saliente no interior do orifício externo, e raspar em 360º a superfície ectocervical. Para a coleta endocervical, devem ser usadas escovinhas es para introdução no canal cervical e rotação em 360º. Evitar o uso de cotonetes ou swabs. Estender cada esfregaço, mergulhando-o imediatamente no recipiente adequado com álcool para evitar dessecamento. No mínimo três dias antes do exame ginecológico: – Evitar relações sexuais; – Evitar ducha higiênica ou uso de desinfetantes locais; – Método simples e de baixo custo; – Infecção vaginal, citólise ou dessecamento inviabilizam o exame. Curva hormonal (colpocitograma) Usada na avaliação do status hormonal feminino: Curva bifásica = ciclo ovulatório. Curva monofásica = ciclo anovulatório. Curvas multifásicas ou atípicas = disfunções hormonais com variações ao longo do ciclo. A curva monofásica pode ser do tipo hiperestrogênica, trófica, hipoestrogênica ou ainda atrófica, conforme o nível de estímu lo hormonal. – Evitar uso de tampão vaginal. MÉTODO: Microscopia dos esfregaços corados pelo método de VANTAGENS E DESVANTAGENS: Papanicolaou. – Método simples, não invasivo, de baixo custo; AMOSTRA: Secreção da parede lateral da vagina. Estender o es- – Coleta inadequada pode promover resultados falso-negativos no rastreamento do câncer; – Alterações degenerativas podem levar a um diagnóstico falso-positivo ou impossibilitar a avaliação oncológica. ANATOMIA PATOLÓGICA MÉTODO: Microscopia dos esfregaços corados pela coloração de viroses genitais. A ausência de células cilíndricas endocervicais CITOPATOLOGIA endométrio, na avaliação da microflora vaginal e detecção de fregaço, mergulhando-o imediatamente no recipiente adequa do com álcool para evitar dessecamento. Deve ser realizado um mínimo de três coletas, a intervalos regulares, dentro de um mesmo ciclo menstrual. O ideal são qua tro coletas (uma por semana). Avaliação hormonal isolada (com índice de Frost) Utilizado na avaliação superficial do trofismo vaginal. No mínimo três dias antes do exame ginecológico: – Evitar relações sexuais; – Evitar ducha higiênica ou uso de desinfetantes locais; No pico estrogênico predominam as células superficiais, pla – Evitar uso de tampão vaginal. nas e dispersas. O efeito progesterônico, se houve adequado VANTAGENS E DESVANTAGENS: preparo estrogênico prévio, se traduzirá por predomínio de células intermediárias, com citoplasma dobrado ou plicado, e com descamação em grupamentos. O padrão gravídico é pro gesterônico exuberante, com células naviculares. Já os esfrega ços atróficos (sem estímulo suficiente de hormônios sexuais) mostrarão predomínio de células profundas. O índice de Frost indica, respectivamente da esquerda para a direita, o percentual de células profundas, intermediárias e su perficiais, porém é facilmente alterado em infecções vaginais e/ou citólise. – Método simples, não invasivo, de baixo custo; – Infecção vaginal, citólise ou dessecamento inviabilizam o exame; – As múltiplas coletas tornam o exame desconfortável para a paciente. Punção biópsia aspirativa ou PAAF (punção aspirativa por agulha fina) Diagnóstico etiológico das lesões nodulares ou císticas em órgãos palpáveis ou acessíveis por palpação, radiologia e/ou ultra-sonografia. 27 02 AnatomiaPat BOOK 16.indd 27 26.10.06 17:50:45 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA MÉTODO: Citocentrifugação e técnica de preparo do cell block. AMOSTRA: Qualquer nódulo visceral ou subcutâneo acessível por punção externa. ORIENTAÇÕES DE COLETA: Identificar as lâminas com nome e/ou iniciais do paciente. Fa Conceituação zer assepsia do local a ser puncionado com álcool iodado ou similar. Palpar a lesão a ser puncionada e calcular sua distância Imuno-histoquímica (IHQ) é a identificação de epíto da pele. Fixar o nódulo com a mão esquerda (se destro), entre pes no tecido através da reação antígeno-anticorpo os dedos indicador e polegar, e, escolhendo a trajetória mais (Ag-Ac), revelada por um marcador visual e examina curta, introduzir a agulha (seringa com êmbolo todo baixo) de da à microscopia óptica e/ou eletrônica. modo suave, porém firme, através da pele, até sentir que o pe netrou (mudança na consistência da área puncionada). Com a agulha ainda no interior do nódulo, promover o vácuo na se ringa, puxando o êmbolo, e, com movimentos de vaivém, intro duzir a agulha em diferentes direções, formando um “leque”, sempre mantendo o vácuo da seringa. Sem retirar a agulha, deixar descer o êmbolo, eliminando o vácuo da seringa. Cessar a punção, removendo o conjunto seringa/agulha. Tirar a agu lha da seringa, puxando o êmbolo para deixar entrar ar e, em seguida, recolocar a agulha na seringa. Colocar uma gotícula de álcool no centro da lâmina. Ejetar o material puncionado sobre a gotícula de álcool (em quanti dade que não se espalhe até as bordas da lâmina, porque isto promoveria perda da amostra). Estender o material com outra lâmina, em cruz (isto é, uma posição de ângulo reto entre as duas lâminas opostas), sem espalhar demais, e imergi-las ime diatamente no álcool. Ejetar outra gota do material numa lâ mina seca e estendê-la como na operação anterior. Esta lâmina não será colocada no álcool, e sim num pote vazio. Aspirar e ejetar várias vezes, com a mesma agulha e seringa, pequena quantidade de solução de soro fisiológico e álcool, para lavar a agulha. Este líquido deverá ser recolhido e enviado Indicações da IHQ Suas principais indicações são: – Determinação de histogênese de tumores anaplásicos; – Caracterização de carcinomas de origem incerta; – Identificação de produtos celulares; – Subtipagem de linfomas; – Prognóstico de neoplasias; – Identificação de agentes infecciosos. No caso de neoplasias a seleção de painéis de anticorpos (Acs) pode ser dirigida a conjuntos de diagnósticos diferenciais ba seados na morfologia, seguindo-se uma reação complementar com seleção de Acs individualizados. Outra possibilidade é o uso de um painel de Acs, avaliando-se caso a caso. Em ambas as situações é importante a correlação com o contexto clínico morfológico. Na determinação da histogênese, o caminho inicial consiste em estabelecer o tipo de linhagem celular: epitelial (carcinomas), mesenquimal (sarcomas), hematológico (linfomas) ou outro. ao laboratório juntamente com as demais lâminas já prepara Determinada a histogênese, o raciocínio seguinte é: das. Será identificado como “lavado da agulha”. Epitelial: escamoso ou glandular; Lâminas prontas – Microscopia do material corado pelo Papa nicolaou e Giemsa. Líquidos – Concentração do sedimento por centrifugação e/ou citocentrifugação, microscopia do sedimento resultante cora do pelo Papanicolaou e Giemsa e, nos casos possíveis, micros copia do sedimento incluído em parafina (cell block). VANTAGENS E DESVANTAGENS: – Procedimento ambulatorial, de menor custo e menos invasi vo que a abordagem cirúrgica; – Limitações diagnósticas em relação ao exame histopatológico; – A punção com material pouco abundante e/ou com artefato pode inviabilizar o diagnóstico. Mesenquimal: muscular, fibroso, esquelético, adiposo ou neural; Hematológico: célula T, B, null cell, histiocítico ou outro tipo celular. Em alguns casos, a IHQ contribui para a identificação de tu mores benignos e/ou malignos, como, por exemplo, quando se detecta gonadotrofina coriônica ectópica, cadeias leves para estabelecer monoclonalidade etc. Embora a maioria dos casos seja resolvida na rotina histológica, o estudo imuno-histoquímico tem papel importante nos casos de difícil diagnóstico, na determinação de sítio primário e também como parâmetro prognóstico no estudo das neoplasias. 28 02 AnatomiaPat BOOK 16.indd 28 26.10.06 17:50:46 acoplados ou não à fluoresceína, seguindo-se a utilização de Acs não fluoresceinados. Nenhum procedimento teve papel tão importante no campo do diagnóstico patológico nos últi mos 50 anos como a IHQ, um método sensível e específico, que permite a correlação com os parâmetros morfológicos e pode ser empregado na rotina diagnóstica de material histológico e citológico. Alguns avanços foram responsáveis pelo aumento do interesse por marcadores imunológicos, como a clonagem de DNA nos estudos de biologia celular, que possibilitou o conhecimento da distribuição de proteínas nos diferentes tipos de célula (fi lamentos intermediários). Outro fator foi a tecnologia dos mo noclonais, que permitiu identificar não só antígenos celulares, mas também os diversos estágios da diferenciação celular. A tecnologia dos hibridomas revolucionou o processo de pro dução de Acs monoclonais, permitindo alta especificidade e qualidade, necessária para garantir a reprodutibilidade dos testes. São produzidos pela fusão entre células esplênicas, ob tidas de animal imunizado, e células de mieloma, produtoras de Ac. As células esplênicas transferem a especificidade anti gênica para as células do mieloma, que passam a produzir Acs dirigidos ao antígeno imunizante. Cada célula do hidridoma tem sua própria especificidade antigênica, reconhece apenas um epítope presente na mistura imunizante, e toda sua pro gênie produz Acs idênticos. Os Acs policlonais têm origem em inoculações de imunógeno não purificado no animal, estimu lando a diferenciação de diversos clones de linfócitos B produ tores de AC; cada um destes clones é dirigido para um único epítope da mistura imunizante. de superfície, sem necessidade de extração ou prévio fraciona mento. Permite a utilização em material fixado em formol e in cluído em parafina. Estes fatores impulsionaram o aperfeiçoa mento diagnóstico, possibilitando a correlação com os critérios histológicos e o estudo retrospectivo. Na reação antígeno-anticorpo (Ag-Ac), a ligação é mais rápida que a dissociação. Por isso, durante as etapas, o excedente de anti-soro é retirado em lavagens, estabelecendo o equilíbrio entre os imunorreagentes e o complexo formado. As técnicas permitem o uso do Ac primário (Ac específico) dire tamente acoplado a enzimas, que, ao interagir com um excesso de substrato, resulta em um produto colorido. Empregam-se ainda outras técnicas, como a indireta em duas etapas e as que estabelecem a ampliação da reação, usando-se algumas enzi mas como reagentes de detecção. As mais comuns são a fosfa ANATOMIA PATOLÓGICA A IHQ iniciou seu desenvolvimento a partir da produção de Acs, tecidos, quer sejam de localização nuclear, citoplasmática ou IMUNO-HISTOQUÍMICA Histórico tase alcalina (APAAP) e a peroxidase (PAP), que usam o complexo Ag-Ac antienzima como sistema de ampliação da reação. A peroxidase ligada à avidina (ABC) pode também ser empre gada em sistemas com anticorpo secundário biotinilado. Estas reações requerem um substrato (peróxido de hidrogênio) e um terceiro componente para desencadear a reação. Os mais co muns são os complexos amino (3-3’ diaminobenzidina – DAB) que funcionam como doador de elétrons. Duas condições são importantes para uma boa reação: que o produto não se dis perse do sítio de ligação e que seja detectável por microscopia óptica ou por citometria de imagem. O máximo de sensibilidade ocorre com sistemas de detecção em múltiplas etapas, porque ampliam o sinal ao intensificar a marcação do Ac primário. A sensibilidade da reação é estabele cida pela quantidade mínima de antígeno que pode ser detec tada, efetuando-se o ajuste da técnica por comparação com os Técnica O método imuno-histoquímico se baseia no uso de Acs mono e/ou policlonais para detectar determinantes antigênicos nos controles, usados para garantir a reprodutibilidade do método, e pela diluição dos Acs primários. A comparação de controles obtidos do próprio material (tecido não corado) é feita para determinar a intensidade e a especificidade da coloração, en- 29 02 AnatomiaPat BOOK 16.indd 29 26.10.06 17:50:47 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA quanto os controles positivos confirmam a boa funcionalidade e podem ser proteínas estruturais, produtos de secreção, antí dos reagentes. genos de superfície etc. A localização de uma substância em determinada célula usual mente indica o sítio de síntese; o mesmo ocorre com relação à histogênese dos tecidos que necessariamente não têm que expressar determinado antígeno. A sensibilidade da reação é estabelecida pela quantidade mínima de antígeno que pode ser detectada; o ajuste da técnica é feito por comparação com os controles e pela diluição dos Acs, de forma a se estabelecer o equilíbrio entre a quantidade de epítopes e a de Acs no meio. Como a antigenicidade depende da natureza físico-química do antígeno em sua estrutura tridimensional, as forças físicas e químicas (pH, temperatura ambiente, molaridade) do meio de fixação do tecido têm influência na preservação ótima destes antígenos. A possibilidade de alterar esta antigenicidade tam bém pode ser influenciada por outros fatores, como a autólise, a má impregnação em parafina etc. Marcadores tumor-associados Alguns tumores podem expressar antígenos que não se expri mem em células normais e são chamados tumor-associados. Os Acs contra estes antígenos não identificam se a célula é ma ligna ou benigna, mas a sua presença permite diferenciar uma neoplasia de outra, como no estudo de metástases (exemplo: antígeno próstata-específico). Outra situação é a de heteroge neidade das células tumorais, com porções da população ex pressando diferentes antígenos, talvez por representar a pre sença de diferentes clones. Marcadores de proliferação celular A proliferação celular é tradicionalmente determinada pelas figuras de mitose à microscopia óptica, análise de fase S por Marcadores de diferenciação Os indicadores que permitem a identificação da histogênese são chamados marcadores de diferenciação celular. Isso porque os diferentes tipos celulares expressam antígenos distintos, citometria de fluxo ou por detecção de antígenos associados à proliferação através de Acs monoclonais. Os antígenos estuda dos com maior freqüência são PCNA e Ki-67, que se expressam exclusivamente em núcleos em proliferação, permitindo deter minação da fração de crescimento dos tumores. dependendo de sua maturação (moléculas de diferenciação) e de seu estado funcional. Assim, tumores bem diferenciados ex pressam fenótipos mais similares aos das células normais da mesma histogênese. Células de tumores pouco diferenciados, ao contrário, não mantêm esta fidelidade. Os marcadores de diferenciação são muito usados na avaliação das neoplasias hematológicas, com reconhecimento dos diversos estágios do desenvolvimento celular. Os antígenos presentes nas células tumorais refletem os que se encontram presentes nas cé lulas normais.Com o surgimento do fenótipo neoplásico,elas pas sam a ganhar, perder ou sofrer modificação de seus antígenos. As alterações na expressão de antígenos em células tumorais são tanto mais significativas quanto menor for a diferenciação do tumor. Também podem surgir alterações em células jovens que nunca adquiriram antígenos de diferenciação e passam a produzir substâncias estranhas à sua histogênese, como os Marcadores mais freqüentemente utilizados no diagnóstico das neoplasias e de algumas doenças infecciosas ACTINA DE MÚSCULO LISO Reage com miofilamentos citoplasmáticos com expressão em músculo liso, células mioepiteliais e neoplasias correspondentes. ACTINA SARCOMÉRICA, POLICLONAL Marcador de células musculares estriadas. ALFAFETOPROTEÍNA Antígeno oncofetal com expressão em tumores de células germinativas e diferenciação para saco vitelínico; presente em fígado fetal, se expressa em tumores de células germinativas, hormônios ectópicos. hepatoblastoma e, às vezes, hepatocarcinoma. O surgimento de um determinado antígeno usualmente au ANTÍGENO BRST-2 (GCDFP-15) sente no tecido normal pode não ser conclusivo para a defi nição de um tipo de neoplasia, porque a expressão também pode ocorrer em tecido regenerativo. A maioria dos marcado res tumorais pertence ao grupo de antígenos de diferenciação Marcador de carcinoma de mama. ANTÍGENO BER-EP4 Marcador de células de origem epitelial. 30 02 AnatomiaPat BOOK 16.indd 30 26.10.06 17:50:47 Marcador de carcinoma mamário. Sua expressão pode ser observada nos carcinomas ovarianos ANTÍGENO CA 19-9 Marcador de carcinoma de pâncreas e trato gastrointestinal. ANTÍGENO CA 125 Marcador de carcinoma de ovário, vesícula seminal, colo uteri no, endométrio, trato gastrointestinal, tireóide e mama. ANTÍGENO CARCINOEMBRIONÁRIO (CEA OU CD66E) Expressão na diferenciação epitelial do tubo digestivo, mama, com mutação no exon 11. CALDESMON – CLONE H-CD Útil na determinação de tumor muscular liso uterino/sarcoma do estroma endometrial. CALPONINA Marcador de células mioepiteliais. CALRETININA ovário, pulmão etc. e respectivos tumores. Marcador de mesotelioma. ANTÍGENO DE MEMBRANA EPITELIAL (EMA) CALCITONINA Expressão em células epiteliais, plasmócitos, algumas células Reage com polipeptídeo presente em células parafoliculares linfóides malignas, meningiomas, membrana celular de meso teliomas e neoplasias linfóides, como o linfoma anaplásico de da tireóide (células C) e carcinoma medular da tireóide. grandes células. CÉLULA MESOTELIAL – HBME-1 ANTÍGENO HEPATOCITÁRIO ESPECÍFICO (HSA) na no mesotelioma e de citoplasma no adenocarcinoma. Marcador de hepatócitos. ANTÍGENO MELAN A Marcador de melanócitos normais e neoplásicos. ANTÍGENO MYO-D1 Marcador de rabdomiossarcoma. ANTÍGENO PROSTÁTICO ESPECÍFICO (PSA) Expressão em células secretórias e ductais de próstata, tanto normais quanto neoplásicas, e utilizado na identificação de metástases. ANTÍGENO RCC (RENAL CELL CARCINOMA MARKER GP200) Marcador de células tubulares renais normais e neoplásicas. ANTÍGENO RELACIONADO AO FATOR DE VON WILLEBRAND (FATOR VIII) Marcador de células endoteliais e megacariócitos. ANTÍGENO TTF1 Marcador de carcinomas de pulmão e tireóide, e neoplasias neuroendócrinas. BCL-2 Proteína de membrana mitocondrial, codificada pelo gene en volvido na translocação t(14;18), reagindo com linfócitos T, zona do manto. Não reage com células de centro de folículo. ANATOMIA PATOLÓGICA BRCA1 – CLONE GLK-2 IMUNO-HISTOQUÍMICA ANTÍGENO CA 15.3 Expressão em células mesoteliais, com marcação de membra CÉLULA MIELÓIDE – CD-34 Expressão em precursor mielóide e leucemias M2 e M3. CICLINA D1 (RABBIT MONOCLONAL ANTIBODY) – CLONE SP4 Marcador de linfoma de células do manto. CDX2 – CLONE CDX2-88 Útil na determinação de sítio primário/identificação do adeno carcinoma de origem intestinal. CD1A É uma glicoproteína de superfície relacionada ao MHC classe I. Marcador da histiocitose de células de Langerhans, cuja positi vidade é exigida para um diagnóstico definitivo. CD4 Expressão em subpopulação linfocitária T auxiliar, timócitos, linfomas T, como micose fungóide, leucemia T do adulto asso ciada ao HTLV. CD5 Marcador de linfócitos T, linfoma linfocítico/leucemia linfóide crônica e linfoma da zona do manto. CD7 Marcador de linfócitos T. 31 02 AnatomiaPat BOOK 16.indd 31 26.10.06 17:50:47 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA CD8 da pleura, hemangiopericitoma, tumor estromal gastrointesti Marcador de linfócitos T. nal e dermatofibroma protuberans. CD10 (CALLA) CD43 Marcador de células foliculares e linfoblastos, normais e neo plásicas, além de tumor do estroma endometrial e carcinoma Expressão em linfócitos T e linhagem mielóide normal e neo plásica, com co-expressão com marcadores B de linfomas de de células claras. baixo grau e linfomas de células do manto. CD14 CD45 (ANTÍGENO LEUCOCITÁRIO COMUM) Expressão em células de linhagem mielomonocítica, monóci Glicoproteína transmembrânica com expressão na maioria tos, macrófagos e células de Langerhans. dos leucócitos, utilizada para diferenciar neoplasias linfóides CD15 de alto grau. Expressão em granulócitos, células dendríticas, células ReedSternberg da doença de Hodgkin e linfomas T. CD20 Marcador pan-B com expressão de diferenciação e ativação de linfócitos normais e neoplásicos nos linfomas e leucemias agudas e crônicas. É negativo em linfócitos B com diferencia ção plasmocitóide. CD21 Marcador de células dendríticas foliculares. CD23 Marcador de linfoma linfocítico e folicular, e células dendríticas foliculares. CD3 Complexo associado à superfície dos linfócitos T medulares e corticais do timo, sangue periférico e medula óssea; é um antí geno precocemente detectado. CD30 Expressão em células mono e multinucleares da doença de Hodgkin, linfomas de grandes células, alguns linfomas T pleo mórficos, células B e T ativadas e neoplasias não linfóides, como carcinoma embrionário. CD31 (CÉLULA ENDOTELIAL) Glicoproteína com expressão em células endoteliais normais e neoplásicas, megacariócitos e plaquetas, subpopulações de células T e B. CD34 Marcador de células hematopoiéticas primitivas e células en doteliais; pode ser positivo em casos de tumor fibroso solitário das de outra linhagem; apresenta sensibilidade em linfomas CD45RO Variante de CD45, apresenta baixo peso molecular, com ex pressão em linfócitos T, percentual significativo de CD4+, ti mócitos e maioria das neoplasias T, monócitos, granulócitos e macrófagos. CD56 (N-CAM) Marcador de neoplasias neuroendócrinas e alguns linfomas T, além de células NK. CD57 Expressão em subpopulação mononuclear com atividade na tural killer, células de Schwann, células neuroectodérmicas. Linfócitos T citotóxicos co-expressam CD8 e CD57. CD61 Marcador de megacariócitos e plaquetas. CD68 Marcador pan-histiocítico com expressão em precursores mielóides, granulócitos, monócitos e macrófagos, incluindo células de Kupffer e células de polpa vermelha esplênica. CD79A Polipeptídeo com expressão em células pré-B, persistindo em plasmócitos quando CD20 já está negativo, e observado na maioria dos linfomas B e mielomas. CD8 Positivo em subpopulação linfocitária T citotóxica, células na tural killer e timócitos. CD99 (SARCOMA DE EWING) Reconhece a glicoproteína produto de genes MIC2, localizada no braço curto de X e Y. Com expressão em linfócitos, timócitos 32 02 AnatomiaPat BOOK 16.indd 32 26.10.06 17:50:48 CD117 (C-KIT PROTO-ONCOGENE) Marcador de tumores estromais gastrointestinais, alguns car cinomas e leucemias. CD138 Marcador de células do mieloma, viáveis. CICLINA D1 Marcador nuclear utilizado na confirmação do linfoma de cé lulas do manto. CITOCERATINA 20 Marcador de células de epitélio gastrointestinal, células de Merkel e urotélio. CITOMEGALOVÍRUS (CMV) Marcador de presença do citomegalovírus. COLÁGENO TIPO IV Principal componente da membrana basal, delineia células neurais, musculares lisas e células adiposas, no angiossarcoma e hemangiopericitoma. Pode ser usado para distinguir adeno se esclerosante de carcinoma tubular de mama, e auxilia na definição de pequenos focos de invasão de carcinomas. CITOCERATINA (ALTO PESO MOLECULAR) CROMOGRANINA A Expressão em epitélio escamoso, ductal (células ductais de Proteína componente dos grânulos secretórios de células endó mama, pâncreas, ductos biliares etc.), outros epitélios simples e neoplasias correspondentes. Utilizado na detecção de células basais da próstata para diagnóstico diferencial entre carcino ma e hiperplasia (citoceratina 5, 6 e 10). crinas e neuronais com expressão na diferenciação neuroen dócrina, presente em tumores de ilhota pancreática, adenoma pituitário, carcinoma medular de tireóide, tumor de Merkel, pa raganglioma, tumor de pequenas células do pulmão e PNET. CITOCERATINA (BAIXO PESO MOLECULAR) DBA44 Expressão em células epiteliais não escamosas, como adeno Marcador das células da tricoleucemia, embora outros linfo carcinoma de ovário, trato gastrointestinal, e nas neoplasias correspondentes, é utilizada em combinação com as citocera tinas de alto peso molecular (citoceratinas 8 e 20). CITOCERATINA 5-6 Marcador de epitélio escamoso normal e neoplásico. mas possam apresentar positividade. DESMINA Filamento intermediário com expressão nas células muscula res lisas e esqueléticas, nas neoplasias correspondentes e em alguns casos de PNET. CITOCERATINA 7 E-CADERINA Marcador de epitélios glandulares e transicionais. Glicoproteína transmembranosa, com papel regulador crítico CITOCERATINA 8-18 Marcador de epitélio glandular simples, epitélio colunar pseu- das junções epiteliais, mais utilizada para diferenciar carcino ma lobular de carcinoma ductal da mama. do-estratificado. Presentes na tireóide, mama, trato gastroin EGFR testinal e trato respiratório. Receptor de fator de crescimento epidérmico. Superexpressão CITOCERATINA 10 Marcador de epitélio escamoso normal e neoplásico. CITOCERATINA 18 Marcador de células de diversos epitélios normais e neoplásicos. CITOCERATINA 19 Marcador de células de diversos epitélios normais e neoplásicos. ANATOMIA PATOLÓGICA sarcomas de Ewing e PNET. IMUNO-HISTOQUÍMICA corticais, células da granulosa, ilhotas pancreáticas etc., e nos em tumor de mama, cérebro, bexiga, pulmão, estômago, cabe ça e pescoço, esôfago, vulva, colo uterino, ovário e endométrio. ENOLASE NEURONAL ESPECÍFICA Expressão em neurônios, células neuroendócrinas etc., é utiliza da no diagnóstico dos melanomas, gangliomas, gliomas, feocromocitoma, e como diferencial entre sarcoma de Ewing e PNET. EPSTEIN-BARR VÍRUS (EBV) Marcador viral Epstein-Barr, mononucleose infecciosa, linfoma/doença de Hodgkin, linfomas não Hodgkin. 33 02 AnatomiaPat BOOK 16.indd 33 26.10.06 17:50:48 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA F XIIIA, POLICLONAL HCV Marcador de dendrócito dérmico, hemangioma capilar. Marcador do agente do vírus da hepatite C. FASCINA HMB45 Marcador de doença de Hodgkin, células dendríticas e endo Oligossacarídeo presente em pré-melanossomas com expres télio. são de proliferação melanocítica, marcador para melanoma, FOSFATASE ALCALINA PLACENTÁRIA (PLAP) Marcador de tumores de células germinativas. GALECTINA 3 AB-1 Marcador de carcinoma da tireóide, endométrio, cabeça e pes coço, rim e bexiga. GALECTINA 3 AB1 – CLONE 9C4 Útil na diferenciação adenoma folicular X carcinoma folicular. GASTRINA, POLICLONAL Reage com formas sulfatadas e não sulfatadas de gastrinas 17 e 34. GFAP Filamento intermediário característico dos astrócitos. Astróci tumores neuroectodérmicos melanóticos da infância, tumor de células claras de pulmão etc. HERPES Vírus simples tipo 1, policlonal. HERPES Vírus simples tipo 2, policlonal. HORMÔNIO ADRENOCORTICOTRÓFICO (ACTH) Positividade em células corticotróficas da adenohipófise, utili zado no diagnóstico de tumores hipofisários. HORMÔNIO DO CRESCIMENTO (GH) Positividade em células somatotróficas da hipófise, utilizado no diagnóstico dos tumores hipofisários. tos normais, reativos e neoplásicos usualmente reagem a esse HORMÔNIO FOLÍCULO ESTIMULANTE (FSH) marcador. Positividade em células gonadotróficas da hipófise, utilizado GLICOFORINA A no diagnóstico dos tumores hipofisários. Marcador de células de origem eritróide em todos os estágios HORMÔNIO LUTEINIZANTE (LH) de maturação e neoplásicas. Composto de subunidade a e b. Positividade em células gona GLUCAGON, POLICLONAL Marcador de hiperplasia de ilhota pancreática. dotróficas da hipófise, utilizado no diagnóstico dos tumores hipofisários. HORMÔNIO TIREOESTIMULANTE (TSH) GONADOTROFINA CORIÔNICA (BETA-HCG) Positividade em células tireotróficas da hipófise, utilizado no Células do sinciciotrofoblasto do coriocarcinoma e células si diagnóstico dos tumores hipofisários. milares em outras neoplasias. IgA HBcAg, POLICLONAL Expressão em células plasmáticas e precursores de linfócitos B, Antígeno nuclear e ocasionalmente citoplasma da hepatite B. reativas e neoplásicas. HBME-1 IgG Marcador de células mesoteliais reacionais e neoplásicas. Pode Expressão em células plasmáticas e precursores de linfócitos B, ter imunomarcação em alguns adenocarcinomas, particular mente os de ovário e tireóide. com positividade em linfomas B e mielomas secretores. IgM HBsAg Expressão em células centrofoliculares de folículos primários, Antígeno de superfície da hepatite B. células do manto de folículos secundários. 34 02 AnatomiaPat BOOK 16.indd 34 26.10.06 17:50:49 Marcador de tumor de células granulosas e de células do me Marcador de células mioepiteliais. tabolismo de hormônios sexuais. INSULINA Marcador de células beta da ilhota pancreática. KAPPA Utilizada para demonstração de restrição de cadeias leves com expressão em plasmócitos normais, neoplasias de células plas máticas e linfomas foliculares e de clonalidade de imunoblastos. LAMBDA POLIPEPTÍDEO PANCREÁTICO (PP), POLICLONAL Marcador de carcinoma de pâncreas e vias biliares. PROLACTINA (PR) Positividade em células da hipófise, utilizado no diagnóstico dos tumores hipofisários. S100 Expressão em células da crista neural, de Schwann, de Lan gerhans, melanócitos e tumores mesenquimais e melanocí Utilizada para demonstração de restrição de cadeias leves ticos, schwanoma maligno, tumor de células granulares não com expressão em plasmócitos normais, neoplasias de células miogênicas etc., podendo apresentar positividade nuclear plasmáticas, linfomas foliculares e de clonalidade de infiltrado e/ou citoplasmática. linfóide. LISOZINA, POLICLONAL SINAPTOFISINA Proteína ligadora do cálcio, presente em vesículas pré-sinápti- Marcador de células de origem mielóide/granulocítica e his cas, com expressão em neurônios e grânulos neurossecretórios tiócitos. de neoplasias neuroendócrinas de medular adrenal, hipófise, MAC387 tireóide, pâncreas etc., e tumores correspondentes, como neu roblastoma, feocromocitoma, carcinoma medular de tireóide, Marcador de macrófagos, monócitos e granulócitos. carcinóides etc. MIELOPEROXIDASE, POLICLONAL SOMATOSTATINA, POLICLONAL Marcador de células de origem mielóide/granulocítica. Marcador de hormônio polipeptídeo pancreático, células de tu MIOGENINA carcinoma medular da tireóide. Marcador de rabdomioblastos. NEUROBLASTOMA Marcador de neuroblastoma. mor pancreático, hiperplasia de células da ilhota pancreática, TDT Marcador de linfoblastos. TIMIDILATO SINTASE MONOCLONAL ANTIBODY – CLONE TS 106 NEUROFILAMENTO A expressão da timidilato sintase está associada à resposta ao Marcador de origem neuronal. antineoplásico 5-fluoracil em carcinomas colorretal, de mama ONCOPROTEÍNA ALK-1 Marcador de linfoma de grandes células anaplásicas. ONCOPROTEÍNA BCI-6 Expressa células B do centro germinativo e linfomas relaciona dos. Linfoma B difuso de grandes células. P16 Inibidora de cdk4/cdk6 e supressor de tumor envolvido na pa togênese de várias neoplasias. ANATOMIA PATOLÓGICA P63 IMUNO-HISTOQUÍMICA INIBINA e gástrico. TIREOGLOBULINA Expressão em células epiteliais de tireóide. TIROSINASE Marcador de melanócitos normais e neoplásicos. Marcador de melanoma. TOXOPLASMOSE, POLICLONAL Reage com epitopo T. gondii. 35 02 AnatomiaPat BOOK 16.indd 35 26.10.06 17:50:49 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA TTF1 Receptores de Estrogênio (ER) e Progesterona (PR) Marcador de carcinomas de pulmão e tireóide, além de neopla Os receptores de estrogênio e progesterona têm localização sias neuroendócrinas. VILINA – CLONE CWWB1 Útil na determinação de sítio primário / carcinomas colorretais e tumores tipo intestinal de outros sítios. VIMENTINA Filamento intermediário com expressão em células mesenqui mais, hematolinfóides, renais, endometriais, glândula salivar, carcinoma de tireóide, melanoma, mesotelioma maligno, car cinoma epidermóide e ocasionalmente carcinoma de mama e tumores de ilhotas. WT1 intracelular, são transportados para o núcleo ligando-se à seqüência específica do DNA, possibilitando a indução do gene que os codifica. O estrogênio é a proteína reguladora do gene que codifica a subunidade de ER e a progesterona codifica a subunidade PR. O conceito de que a excessiva estimulação hormonal sobre o órgão-alvo induz a formação de neoplasias também considera que o crescimento e a função dos tecidos normais estão sob controle de um ou mais hormônios esteróides. Evidências acumulam-se de que o desenvolvimento de câncer é um processo que não apenas envolve desregulação de fatores de prolifera ção e ativação de oncogens, mas também de fatores inibidores e de perda de função de genes supressores. Marcador de tumor de Wilm’s, tumor de ovário e mesotelioma. O estrogênio regula o crescimento de tumores de mama atra WT-1- CLONE 6F-H2 tecido mamário leva à remissão da neoplasia e ao controle de Útil no diagnóstico do mesotelioma, carcinoma seroso ovaria no e tumor desmoplásico de pequenas células redondas, além do tumor de Wilms. Painel imuno-histoquímico para neoplasia Utilizado para definir quadro neoplásico e linhagem celular, em complementação ao laudo anatomopatológico. MÉTODO: Imunofenotipagem por imuno-histoquímica. AMOSTRA: Tecido humano processado para histologia, embloca do em parafina. Encaminhar cópia do laudo histopatológico e lâmina de HE com o bloco de parafina (temperatura ambiente). O painel a ser utilizado pode ser composto a partir do diagnósti co histopatológico prévio, de informações clínicas etc. Marcadores prognósticos mais freqüentemente utilizados O bom indicador prognóstico deve permitir uma medida fácil, reprodutível e sensível, com valor preditivo, expressando um fenômeno biológico relacionado ao crescimento, invasão e vés da sinalização destes receptores específicos. A ablação do metástases viscerais e esqueléticas. A expressão dos recepto res correlaciona-se bem com o baixo grau histológico do tumor e a resposta à manipulação hormonal, especialmente em pa cientes pós-menopausa. Não se conhece se ER regula PR em células normais ou se tem co-expressão na mesma subpopu lação de células ductais e lobulares. A identificação dos receptores hormonais por imuno-histoquímica, principalmente no tecido mamário, permite predizer a resposta à hormonioterapia, identificando pacientes que possam se beneficiar de terapia adjuvante tanto nos estágios iniciais quanto nos avançados da doença; isso evita as compli cações decorrentes do tratamento desnecessário. O antagonis ta hormonal tamoxifen bloqueia a estimulação do estrógeno sobre as células neoplásicas da mama, inibindo a ligação nu clear do receptor de estrogênio e assim induzindo alterações nos eventos relacionados à transcrição mediada pelo receptor. Outros efeitos do tamoxifen incluem a conversão do sulfato de estrona em estradiol, a inibição da proteína quinase C e a reversão da multirresistência a drogas. A resistência a drogas ocorre como resultado da recorrência ou progressão de metástases, e, em alguns casos, após perda de metástase tumoral, com valor independente do de outros indi células ER positivas. cadores clínico-patológicos e, se possível, fornecer meios para A inibição do crescimento celular pelo antiestrógeno tamoxifen seleção da terapia. Os marcadores prognósticos mais freqüen temente utilizados para tumores de mama e outras neoplasias malignas estão descritos a seguir: leva à diminuição da regulação destes fatores, com bloqueio da atividade do receptor quinase. Esse efeito do antiestrógeno em neoplasias de mama positivas para o receptor é mediado pela resposta a um fator de crescimento alterado, e causa inibição da angiogênese. 36 02 AnatomiaPat BOOK 16.indd 36 26.10.06 17:50:49 incluem mutações, translocações, amplificações e deleções. ploidia, prognosticando menor tempo livre de doença e de sobrevida total. Se positivo para ER e PR o prognóstico é me lhor, independentemente do status dos linfonodos, número de linfonodos envolvidos e tamanho do tumor. Os carcinomas papilar e lobular têm alto percentual de receptores enquanto o medular e o comedocarcinoma têm baixo percentual. Exis te uma maior concentração de receptores em neoplasias bem diferenciadas. A ligação do estradiol ao ER leva à expressão do PR, mais diretamente ligado às etapas de regulação de cresci mento do tumor. ER e PR tornaram-se parte da rotina diagnós tica de neoplasias de mama e têm valor preditivo; podem ser medidos em tumores primários e metastáticos, identificando pacientes que possam se beneficiar de terapia adjuvante. Receptor para estrogênio Permite determinar pacientes com neoplasias hormônio-dependentes. MÉTODO: Imunofenotipagem por imuno-histoquímica. AMOSTRA: Tecido humano (principalmente mama) processado para histologia, emblocado em parafina (temperatura ambien O produto do oncogen C-erB-B2 (Her-2 / neu) é um receptor de membrana tirosina quinase, com função de fator de crescimen to, cuja ativação induz duplicação e amplificação da seqüência de seu DNA, levando à produção de várias dezenas de cópias da seqüência de nucleotídeos. A proteína codificada pelo oncogen age na iniciação e progressão neoplásica, na resistência celular a agentes quimioterápicos, na ação de células natural killer e na ação do quimioterápico tamoxifen. A C-erB-B2 é mais comum em carcinomas que surgem antes da menopausa e sua presença indica tendência à recidiva, mesmo em pacientes com fatores prognósticos favoráveis, como baixo grau e presença de receptores para estrogênio e progesterona. A amplificação do oncogen é freqüente nos tumores de mama e fortemente associada a prognóstico pobre, principalmente ANATOMIA PATOLÓGICA lando seu crescimento e diferenciação. Estas anormalidades tamanho tumoral, status axilar, atividade proliferativa e aneu IMUNO-HISTOQUÍMICA Há estreita ligação entre receptores hormonais negativos e nos casos axila-positivos. A C-erB-B2 é rara em certos tipos de carcinoma invasor (carci noma lobular, tubular, mucinoso e cribiforme). Das pacientes com amplificação do gene C-erB-B2, virtualmente 100% apre sentam positividade à pesquisa IHQ realizada em material congelado. Entretanto, é relatada alguma perda dessa reativi te). Encaminhar cópia do laudo histopatológico e da lâmina de dade em material fixado. HE com o bloco de parafina. A p53 é uma fosfoproteína nuclear que regula a replicação do DNA, a proliferação e a morte celular, desempenhando im Receptor para progesterona Permite determinar pacientes com neoplasias hormôniode pendentes. MÉTODO: Imunofenotipagem por imuno-histoquímica. AMOSTRA: Tecido humano (principalmente mama) processado para histologia, emblocado em parafina (temperatura ambien te). Encaminhar cópia do laudo histopatológico e da lâmina de HE com o bloco de parafina. C-erB-B2 oncoproteína e Gene Supressor p53 Os oncogens foram inicialmente identificados em seqüências de RNA de retrovírus que induziam tumores em animais. Observou-se então que seqüências genômicas bem conservadas es tão presentes em células animais normais, identificadas como proto-oncogens. Os proto-oncogens têm um papel regulador fundamental na proliferação e diferenciação celular. Dado que o câncer é previamente um tecido normal, que desenvolve um processo de crescimento descontrolado, não é surpreendente encontrar a expressão anormal de um proto-oncogen contro portante papel na atividade mitótica e na oncogênese. Até recentemente considerava-se que as mutações que geravam tumores eram as que induziam ativação de oncogens. Com a descoberta de antioncogens ou genes supressores, surgiram novos conceitos, revelando que a mutação do p53 induzia tu morigênese por não exercer sua função. Seu mecanismo de ação não está precisamente estabelecido, mas acumulam-se evidências de que sua forma normal (sel vagem) está presente em baixo nível na célula e atua como um “policial molecular”, prevenindo a propagação genética do dano celular. O termo comumente usado de antioncogen ou gene supressor é impróprio, porque sua função é regular o crescimento celular, induzir a síntese e reparo do DNA, progra mar a morte celular e não prevenir o crescimento tumoral. A ação da forma selvagem da p53 é de regulador negativo do crescimento celular, sua vida média é curta (lábil) e não se acumula na célula. A outra forma (mutante) é homozigótica, estável e resultante de uma point mutation em células somá ticas e/ou alterações hereditárias, resultando em acumulação nuclear e divisão celular descontrolada. Uma única mutação é suficiente para transformar a célula, e a perda da via normal de 37 02 AnatomiaPat BOOK 16.indd 37 26.10.06 17:50:50 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA síntese da p53 predispõe para mutações adicionais. As formas é uma proteína nuclear não-histona ligada à replicação de mutantes da p53 não apenas perdem suas funções normais DNA, também conhecida como ciclina, com peso molecular de mas também ganham a habilidade de se ligar à forma inativa 36kDa, e papel na iniciação da proliferação celular por aumen da proteína normal. Deste modo, a célula passa a se comportar to da enzima DNA polimerase. A proteína, de dois tipos, regula como se não existisse p53 funcionante e assim o alelo mutante o ciclo celular: uma presente no nucleoplasma e em baixo nível torna-se dominante sobre o alelo normal. nas células quiescentes e outra associada aos sítios de replica A p53 também participa na apoptose, embora recentemente tenha-se descrito a existência de genes que previnem ou indu ção do DNA. Aumenta de duas a três vezes entre as fases G1 e S (síntese), atinge platô na fase G2 e cai em G2/M (mitose). zem a morte celular programada, sendo bcl-2 o protótipo dessa É utilizada para estudo do potencial proliferativo. Células posi categoria. Por possibilitar a extensão da sobrevivência celular, tivas para PCNA ocorrem em 50% ou mais de neoplasias (car sua expressão permite outras mutações que afetam oncogens cinomas e linfomas) e indicam prognóstico adverso. Pode tam e genes supressores como a p53, mas com mecanismo de ação bém apresentar-se em células normais nas áreas de grande não completamente esclarecido. Talvez regulem a via antioxi proliferação, como o centro de folículos linfóides. Presente em dativa e resultante da inibição da apoptose. todos os tumores, com percentuais de 10% nos bem diferen A p53 está presente em vários tumores, como no cólon, bexi ga, pulmões, mama, leucemias etc. Um grande número de Acs reage tanto com a forma mutante quanto com a selvagem, o que não causa dificuldades na interpretação de resultados imuno-histoquímicos porque a forma selvagem é lábil. Uma forte expressão tem sido consistentemente associada com ER e progesterona negativos, alto índice proliferativo e tumores com alto grau histológico. ciados e até 100% nos tumores anaplásicos, como os semino mas, a PCNA é análoga ao Ki-67, com distribuição semelhante e grau de expressão diferente. Ambos aparecem em tumores aneuplóides, com grande correlação quanto ao grau, aspecto morfológico e índice mitótico. São inversamente relacionados à expressão de receptores de estrogênio e de progesterona, com maior índice na pré-menopausa e diretamente proporcio nal quando há comprometimento de linfonodos. A contagem de figuras mitóticas é tradicionalmente o método C-erB-B2 MÉTODO: Imunofenotipagem por imuno-histoquímica. AMOSTRA: Tecido humano processado para histologia, emblo cado em parafina. Encaminhar cópia do laudo histopatoló gico e lâmina de HE com o bloco de parafina (temperatura ambiente). Proteína p53 MÉTODO: Imunofenotipagem por imuno-histoquímica. AMOSTRA: Tecido humano processado para histologia, emblo cado em parafina. Encaminhar cópia do laudo histopatoló gico e lâmina de HE com o bloco de parafina (temperatura ambiente). Antígeno Nuclear da Proliferação Celular (PCNA) e Ki67 A fração da fase de síntese das células tumorais (fase S) correlaciona-se com o prognóstico dos tumores e pode ser medida de avaliação morfológica da proliferação celular, embora esta fase corresponda a um período curto do ciclo. Além disso, a qualidade dessa avaliação depende de fatores diversos, como espessura do corte, qualidade da fixação, heterogeneidade da amostra, experiência do observador etc. Já a IHQ é influenciada pela preservação do tecido, mascaramento de epítopes, tempo do ciclo celular, vida média do antígeno (20 horas), com a van tagem de preservar a morfologia do tecido e permitir a análise de várias fases do ciclo celular. O Ki67 é uma proteína nuclear, que consiste em dois compo nentes: 345kDa e 395kDa. Não se expressa em Go e tem um aumento linear no ciclo celular, atingindo o máximo em G2M. Estabelece a fração de crescimento em grande número de neo plasias e o alto ou baixo índice de células que lhe sejam positivas, em todas as fases do ciclo celular, tem forte correlação com o alto ou baixo grau histológico da neoplasia, respectivamente. Altas taxas de proliferação celular são associadas a um menor tempo de sobrevida livre de doença. PCNA pela determinação de antígenos nucleares associados à proli MÉTODO: Imunofenotipagem por imuno-histoquímica. feração celular. A taxa rápida de proliferação celular tem corre AMOSTRA: Tecido humano processado para histologia, emblo lação com o aumento da agressividade dos tumores. A PCNA cado em parafina. Encaminhar cópia do laudo histopatoló 38 02 AnatomiaPat BOOK 16.indd 38 26.10.06 17:50:50 Ki67 AMOSTRA: Tecido humano processado para histologia, emblo cado em parafina. Encaminhar cópia do laudo histopatoló gico e lâmina de HE com o bloco de parafina (temperatura ambiente). Catepsina D É uma protease lisossomal de 52kDa com atividade mitogênica e proteolítica, com expressão regulada pelo estrogênio; induz degradação de laminina da membrana basal com aumento da permeabilidade das barreiras epitelial e endotelial, podendo facilitar a disseminação metastática das células tumorais. A ANATOMIA PATOLÓGICA ambiente). IMUNO-HISTOQUÍMICA gico e lâmina de HE com o bloco de parafina (temperatura expressão do marcador pode ser um indicador precoce de re corrência no câncer de mama. A sensibilidade e especificidade de um marcador prognóstico deve ser relevante para a decisão terapêutica. A catepsina D tem valor preditivo para doença me tastática, especialmente em pacientes com linfonodos negati vos. Já a sobrevivência das pacientes depende da situação de disseminação no momento do diagnóstico. MÉTODO: Imunofenotipagem por imuno-histoquímica. AMOSTRA: Tecido humano processado para histologia, emblo cado em parafina. Encaminhar cópia do laudo histopatoló gico e lâmina de HE com o bloco de parafina (temperatura ambiente). 39 02 AnatomiaPat BOOK 16.indd 39 26.10.06 17:50:50 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA B I O L O G I A M O L E C U L A R Em meados do século XIX, quando o monge austríaco Gregor Mendel descobriu os princípios da hereditariedade, a genética relacionava-se apenas à herança de características superficiais e raras, sem o conhecimento absoluto do papel fundamental dos genes nos processos básicos da vida. No século seguinte, entretanto, importantes descobertas contribuíram para o desenvolvimento do que é, atualmente, considerado o mais avançado ramo da ciência médica, voltado à medicina molecular e suas especialidades, epidemiologia molecular, terapia gênica e diagnóstico molecular. Estes estudos iniciaram-se em 1902, com os relatos do primeiro exemplo de herança mendeliana no homem, feitos por Garrod e Galton, fundadores da genética médica. Em 1941, Beadle e Tatum divulgaram o conceito da relação da codificação gênica originando proteínas específicas, considerada a base da genética molecular. Em 1953, James Watson e Francis Crick elucidaram a conformação em dupla hélice da estrutura tridimensional do ácido desoxirribonucleico – DNA e, posteriormente, Linus Pauling divulgou seus estudos sobre a estrutura helicoidal de proteínas. Sucederam-se, a partir daí, inúmeras pesquisas e descobertas essenciais ao rápido desenvolvimento da ciência básica. A utilização das primeiras técnicas laboratoriais moleculares auxiliou no desenvolvimento de especialidades da medicina diagnóstica, conhecida como biologia molecular, avançando no campo das pesquisas e investigações científicas aplicadas de forma multidisciplinar para identificação de estruturas genômicas específicas, desenvolvimento de estudos de recombinações gênicas e técnicas de clonagem. Com a aplicação de técnicas sensíveis e específicas, iniciou-se o aprimoramento das investigações médicas para a determinação da etiologia de diferentes patologias infecciosas e genéticas, com grande impacto na medicina preventiva e terapêutica. Foram padronizadas técnicas laboratoriais com princípios e fundamentos da biologia molecular, tais como a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), Reação em Cadeia da Polimerase com transcrição reversa (rt-PCR), Captura Híbrida (HC), branched DNA (bDNA), Hibridização in situ com Fluorescência (FISH), Reação em Cadeia da Ligase (LCR), Amplificação Me diada pela Transcrição (TMA) e o seqüenciamento de DNA, entre outras, com aplicação direta em diversas pesquisas clínicas de investigação para a medicina diagnóstica e forense. 42 03 Biologia Molecular BOOK 16.indd 42 26.10.06 17:48:16 BIOLOGIA MOLECULAR Hoje compreendemos a existência além da célula, do cromossomo, do DNA, do RNA e chegamos ao conhecimento progressivo da seqüência de combinações de nucleotídeos. No início do século XX, 35 anos após sua descoberta, entendemos as leis da hereditariedade. Com o desenvolvimento do projeto da Xylella fastidiosa, os estudos no Brasil, “O Brasil codificando os genes”, iniciados em 1997, apresentaram rápida evolução: em 1998, pesquisas de genes em câncer humano; em 2000, o “projeto genoma vírus” e o programa do genoma humano; em 2001, a codificação dos genomas de Shistosoma mansoni, Paracoccidioides brasiliensis, Leptospira interrogans, Leishmania, Trypanosoma cruzi e, em 2002, Mycoplasma. Os conhecimentos que agora utilizamos foram adquiridos para a identificação de patologias e patógenos, observação de resistências e respostas a diversas drogas, estudos sobre prevenção, diagnóstico, tratamento e acompanhamento. Torna-se rotina na prática clínica o uso, cada vez mais freqüente, de métodos diagnósticos e intervenções terapêuticas que possibilitam a manipulação dos genes de microrganismos, plantas, animais e seres humanos. Devemos lembrar que, para a detecção de patologias únicas e diversificadas, o uso da biologia molecular possibilita a substituição de métodos menos sensíveis e específicos por técnicas de alta sensibilidade e especificidade, permitindo maior sucesso nos tratamentos em virtude de uma capacidade de maior elucidação no diagnóstico e características de detecção precoce. 43 03 Biologia Molecular BOOK 16.indd 43 26.10.06 17:48:16 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA METODOLOGIAS MOLECULARES PARA INVESTIGAÇÃO, PESQUISA E DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Metodologia Alguns cromossomos humanos apresentam regiões em que uma pequena seqüência de DNA é repetida várias vezes. Essas regiões constituem-se em diferentes marcadores genéticos e possuem segregação mendeliana, e foram, inicialmente, ca Teste de paternidade Uma revolução tecnológica e científica vem aconte cendo em nosso século, e nunca tantas descobertas relacionadas com a genética estiveram disponíveis para a sociedade; no entanto, muitos questionamen tos surgiram com elas no que se refere aos aspectos positivos e aos riscos inerentes às suas aplicações. Mas quando se trata da investigação do vínculo ge nético ou Teste de DNA, também conhecido como Teste de Paternidade, não restam dúvidas quanto à sua contribuição sob o ponto de vista psicológico e social. Quando há o envolvimento de crianças em questões polêmicas de paternidade, a própria classe jurídica não hesita em utilizá-lo, e o teste é conside rado, atualmente, ferramenta fundamental no es clarecimento de diferentes questões forenses, como disputas legais para fins de herança e pensão ali mentícia, suposta troca de crianças, casos criminais e várias outras situações. Fica, portanto, evidente a importância da confidencialidade e confiabilidade do Teste de DNA quando se conhece o seu papel decisivo em questões éticas e jurídicas. A investigação, através do Teste de DNA, do vínculo genético de filiação pro porciona uma resposta definitiva e, quando afirmati va, o grau de certeza é superior a 99,99%. Informações técnicas sobre o teste Cada pessoa possui um único conjunto de informações gené ticas e o ácido desoxirribonucleico (DNA) é a molécula respon sável por armazenar, codificar e transmitir todas as caracte rísticas hereditárias de pais para filhos. A porção do DNA que codifica estas características chama-se gene. Cada indivíduo herda duas cópias de cada gene, uma proveniente do pai e a outra da mãe. Sendo assim, cada pai e cada mãe transmitem 50% de sua informação genética a seus filhos. O Teste de Pa ternidade compara as características genéticas observadas no DNA do filho ou da filha com aquelas encontradas no DNA do suposto pai. Todos os indivíduos, com exceção de gêmeos idên ticos, possuem uma única informação genética, que pode ser visualizada através de técnicas de DNA recombinante. Embora os seres humanos apresentem a maioria de sua informação genética idêntica, alguns genes são extremamente variáveis, o que pode diferenciar um indivíduo de outro, com precisão. racterizadas na década de 1980, por Alec Jeffreys. Esses mar cadores possuem determinadas seqüências que se repetem (tandem repeats) até centenas de vezes e são denominados Variable Number of Tandem Repeats ou VNTR. Essas regiões es tão localizadas, geralmente, entre sítios onde atuam enzimas endonucleases, possibilitando a cisão dessa seqüência para análise. A técnica utilizada é a da reação em cadeia da polime rase (PCR), que amplifica regiões polimórficas de DNA, as Short Tandem Repeats (STR), locus polimórficos de DNA que contêm seqüências nucleotídicas em repetição e que variam de dois a sete nucleotídeos. Uma vez que há diferença no número de uni dades de repetição em um locus de STR, são possíveis alelos de diferentes tamanhos. Os produtos de PCR são analisados por eletroforese para separar os alelos de acordo com seu peso mo lecular. São utilizados 15 loci, descritos a seguir: D3S1358, vWA, FGA, D8S1179, D21S11, D18S51, D5S818, D13S317, D7S820, D16S539, THO1, TPOX, CSF1PO, D2S1338, D19S433 e o locus da amelogeni na, que determina o sexo dos indivíduos em análise. Premissas para a análise dos resultados – Cinqüenta por cento da informação genética contida nos cromossomos de todo ser humano é proveniente da mãe, transmitida através do óvulo, e os outros 50% são provenien tes do pai, através do espermatozóide. – O DNA pode ser detectado em qualquer célula do organismo e não se altera ao longo da vida. – Presume-se que apenas um indivíduo pode ser o pai bioló gico de uma criança e que a mulher examinada seja a mãe biológica. – Os filhos não podem herdar um marcador genético que este ja ausente em ambos os genomas dos pais. – Para que os filhos sejam homozigotos para uma característi ca, o marcador tem que estar presente tanto no genoma da mãe quanto no genoma do pai. – Presume-se que as mutações são raras. – A tecnologia molecular permite estabelecer a paternidade biológica com probabilidade maior ou igual a 99,99% quan do os loci são compartilhados entre o filho ou filha e o supos to pai. Por outro lado, quando os alelos não são compartilha dos, exclui-se a possibilidade de que o suposto pai seja o pai biológico. A indicação para a realização do teste aplica-se à investigação de filiação, para determinação do pai biológico, e no reconhe 44 03 Biologia Molecular BOOK 16.indd 44 26.10.06 17:48:16 DNA de células tumorais (cell-free) no plasma de pacientes; MÉTODO: PCR de STRs e Eletroforese em seqüenciador automático. AMOSTRA: Sangue total em EDTA. Determinação pré-natal do sexo fetal O desenvolvimento e aprimoramento de técnicas não invasivas de diagnóstico são metas determinadas para a medicina diag nóstica. As metodologias de diagnóstico por imagem têm uma representatividade significativa neste processo, seguidas pelos métodos em amostras biológicas tais como sangue e derivados. O diagnóstico pré-natal de uma série de intercorrências requer o uso de procedimentos invasivos, tais como a realização de biópsia de vilosidade coriônica ou a obtenção de líquido am niótico, com risco significativo para o feto. Neste contexto, téc nicas não invasivas, para o estudo de células fetais, têm sido intensamente pesquisadas conforme referências de trabalhos descritos desde 1969. O isolamento de células fetais é, tecnicamente, bastante com plexo, e é pouco utilizado nos tempos atuais. Com isto, o inte resse em testes que não dependam deste procedimento tem aumentado a cada dia. Alguns métodos laboratoriais para a determinação genotípica do sexo referem-se à detecção do cromossomo Y. A análise ci togenética é um método convencional utilizado não somente para a identificação do sexo, mas também para a detecção de anormalidades cromossômicas. O método tem sido reconhe cido há muitos anos na área de análises da cromatina sexual (corpúsculo de Barr) e, embora seja uma metodologia não in vasiva e de baixo custo, apresenta falhas no desenvolvimento e na habilidade em detectar mosaicismo ou outras anormali dades cromossômicas. Muitos métodos rápidos e viáveis são utilizados para a deter minação do sexo, tais como hibridização in situ, hibridização in situ fluorescente – FISH – e utilização de sondas moleculares marcadas. Essas técnicas detectam a presença do cromosso mo Y na interfase ou metáfase nuclear. Outras metodologias para a determinação do sexo, tais como hibridização em dot blot e reação em cadeia da polimerase, são descritas também para a detecção do DNA. Y.M. Lo demonstrou em seu trabalho “Determinação pré-natal do sexo pela amplificação de DNA a partir do sangue periférico materno” (Lancet, 1989) ser factível a análise de células fetais presentes na circulação materna pela utilização da metodolo gia molecular Reação em Cadeia da Polimerase – PCR. este estudo causou grande impacto, estimulando o desenvol vimento de inúmeras pesquisas que comprovaram a presença do DNA tumoral em diferentes tipos de neoplasias. As meto dologias laboratoriais para a sua detecção são empregadas, atualmente, para o diagnóstico precoce de recidivas e para a avaliação de prognóstico e evolução terapêutica. No ano de 1997, pesquisadores publicaram estudos sobre a pre sença de DNA fetal em soro e plasma materno, reproduzidos por diversos grupos, que demonstraram a superioridade prática na detecção do DNA fetal plasmático em comparação às me todologias que avaliam células fetais isoladas do sangue ma terno. O isolamento do ácido desoxirribonucleico fetal a partir do plasma materno apresenta algumas facilidades, permitindo o processamento simultâneo de muitas amostras. A análise quantitativa do DNA fetal presente no plasma demonstra que o percentual detectado equivale a 3% a 4% do total, enquan to que as células fetais no sangue materno podem ocorrer em uma proporção de 1:1.000.000 de células maternas. Os trabalhos utilizam, como marcadores de DNA fetal, regiões do cromossomo Y tais como DYS14 e SRY para definir fetos mas culinos. Uma vez comprovada a reprodutibilidade e sensibilida de do método, outros segmentos genômicos são investigados, destacando-se a determinação do genótipo Rh(D), a Beta talas semia, a acondroplasia e a síndrome de Down. Trabalhos recentes já utilizam metodologias moleculares ain da mais avançadas, tais como PCR em Tempo Real e seqüencia mento genômico, atingindo elevados níveis de sensibilidade e menor risco de resultados inespecíficos. Os índices de acerto do teste de determinação do sexo fetal fo ram definidos em estudos publicados por Levi e colaboradores, pela análise molecular do plasma materno, comparativamente ao gênero apontado e a idade gestacional, podendo ser obser vados e distribuídos conforme segue: – Na fase de gravidez inferior a oito semanas, os percentuais de acerto do teste são de 75% para o sexo feminino e 99% BIOLOGIA MOLECULAR Pesquisadores oncologistas demonstraram a existência de seqüestro. METODOLOGIAS MOLECULARES PARA A INVESTIGAÇÃO, PESQUISA E DIAGNÓSTICO LABORATORIAL cimento de crianças envolvidas em casos de troca, perda ou para o sexo masculino. – Na fase de gravidez superior a oito semanas, o acerto passa a ser de 99% para ambos os sexos. Por este motivo, recomenda-se a avaliação neste período, evitando-se novas coletas de sangue para confirmação. Os estudos demonstram que a metodologia de PCR como téc nica laboratorial para determinação do sexo é simples e rápida. O processo pode ser complementado em algumas horas após a obtenção e purificação do DNA, tempo bastante vantajoso 45 03 Biologia Molecular BOOK 16.indd 45 26.10.06 17:48:17 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA quando comparado com uma a duas semanas para a análise aumenta para 34,7 vezes. Nos homens aparentemente sadios, do cromossomo. A concordância de até 100% foi observada com mais de 60 anos, a presença da mutação confere um risco entre ambas as metodologias. A PCR-SRY utilizando controle sete vezes maior de desenvolvimento de quadros de trombose interno ATL 1 é uma alternativa como método rápido para a venosa ou embolia pulmonar. determinação do sexo. MÉTODOS: PCR e seqüenciamento nucleotídico; PCR e RFLP. MÉTODOS: PCR; seqüenciamento nucleotídico; PCR em Tempo Real. AMOSTRA: Sangue Total em EDTA (tubo primário estéril conten AMOSTRA: Plasma. Sangue total em tubo EDTA-gel. do EDTA). Mutação do fator V Leiden O fator V ou pró-acelerina, um dos fatores envolvidos no pro cesso de coagulação sanguínea, é uma glicoproteína com peso molecular de 300.000 Dalton, sintetizada no fígado e conver tida, no plasma, a uma formação de cadeia dupla, através da ativação da trombina. O fator V, na forma ativada, faz parte do complexo de conversão do fator II (protrombina) em trombina. A proteína C, ativada pela trombina ligada ao receptor trombo modulina, destrói os fatores V e VIII ativados, inibindo o meca Perfil de trombofilia pela avaliação molecular Componentes genéticos estão associados a diversos fatores, característicos para diferentes indivíduos que apresentem predisposição à trombose venosa. As determinações genéticas apresentam alto grau de participação no comprometimen to desta patologia. Mutações gênicas podem ser detectadas, aumentando o percentual de indicação de evolução para a trombofilia. Estas mutações, em número de três, devem ser avaliadas em conjunto ou separadamente, para que o diag nismo de coagulação e atuando como anticoagulante natural. nóstico, prognóstico ou investigação complementar sejam Uma mutação pontual no gene que codifica para o fator V (co mais abrangentes. nhecida como fator V Leiden), com substituição de arginina 1. Fator V de Leiden. Mutação no gene (G1691A) por glutamina na posição 506, resulta em resistência à ação proteolítica da proteína C ativada e induz, nos pacientes que apresentam a mutação, um estado de hipercoagulabilidade. A presença do fator V resistente à ação proteolítica da proteína C ativada é a causa mais comum para a trombose venosa he reditária, observada em 40% a 60% dos pacientes. Em pessoas heterozigotas para esta mutação o risco de desenvolvimento de trombose venosa aumenta em cinco a dez vezes e, nas homozigotas, em 50 a 100 vezes. Esta mutação é observada, tam bém, em cerca de 30% a 60% dos pacientes com trombofilia hereditária e em 3% a 7% de indivíduos sadios, em populações caucasianas. Embora os indivíduos portadores da mutação fator V Leiden apresentem risco aumentado para o desenvolvimento de trombose venosa profunda, a média de idade para a ocorrência do primeiro episódio situa-se em torno dos 44 anos, acima da quela observada em indivíduos que apresentam outras causas de trombofilia, como as deficiências de proteína C, proteína S ou antitrombina III, com idades, em geral, abaixo de 40 anos. Indivíduos portadores da mutação que não apresentam sinais de trombose podem vir a desenvolvê-la se estiverem expostos a outros fatores genéticos, como deficiência de proteína C ou S, ou fatores ambientais como anticoncepcionais orais, gravidez ou cirurgia. O risco de desenvolvimento de eventos tromboem bólicos é 3,8 vezes maior em mulheres que utilizam contracep tivos orais mas, em associação à mutação fator V Leiden, o risco Resistência à clivagem pela proteína C ativada. Quando a mu tação em questão apresenta-se em homozigose, o risco de trombose venosa pode aumentar em 10 vezes quando compa rados aos indivíduos heterozigotos. Outros fatores como an ticoncepcionais e estados gestacionais aumentam esse risco consideravelmente. 2. Protrombina. Mutação no gene G20210A. Indivíduos com a mutação presente apresentam maior risco de evolução para a trombose venosa. Esta mutação demonstra que há uma associação com altas concentrações de protrom bina no plasma. Outros fatores como anticoncepcionais e esta dos gestacionais aumentam esse risco consideravelmente. 3. Metilenotetra-hidrofolato redutase (MTHFR). Mutação no gene C677T. Alterações nos níveis de homocisteína no sangue de indiví duos com aumento de incidência de trombose venosa têm sido associadas à mutação do gene que codifica para a enzima MTHFR. Em forma homozigótica, esta mutação está associa da a um risco seis vezes maior desta patologia, embora alguns estudos tenham demonstrado risco aumentado também para tromboses arteriais. Indivíduos heterozigotos não apresentam a mesma elevação no risco de trombose. A indicação para triagem molecular de trombofilia na clínica de obstetrícia e ginecologia pode ser avaliada de acordo com as condições gestacionais como: trombose venosa, restrição 46 03 Biologia Molecular BOOK 16.indd 46 26.10.06 17:48:18 geralmente na vida adulta, foram descritos casos em crianças. trombose pós-parto e perdas fetais repetidas. Considera-se extremamente importante a correlação com da dos da população local para a real validade do teste. MÉTODO: PCR. MATERIAL: Sangue total em EDTA (tubo primário estéril conten TA). A prevalência da hemocromatose hereditária é de 1/200 em indivíduos caucasianos e a freqüência de portadores para a mutação C282Y é de 1/10. Os heterozigotos para esta mutação apresentam risco relativo para desenvolvimento de sobrecarga de ferro. Dentre os indivíduos sintomáticos deverão ser inves tigados aqueles que apresentam manifestações inexplicáveis de doença hepática ou com alteração dos exames indiretos de ferro; indivíduos com quadros clínicos de diabetes mellitus tipo Hemocromatose. Mutação gênica A doença hemocromatose é uma condição patológica decor rente do aumento inadequado na absorção intestinal de ferro, resultando na sua deposição, em quantidades excessivas, nas células parenquimatosas, com danos teciduais e prejuízo fun cional dos órgãos envolvidos, especialmente fígado, pâncreas, coração e hipófise. As principais manifestações incluem cirro se, diabetes mellitus, alterações na pigmentação da pele, artri te, cardiomiopatia e hipogonadismo hipogonadotrófico. A hemocromatose pode ser classificada em genética ou here ditária, decorrente da presença de um gene mutante ligado ao locus HLA, ou adquirida, por sobrecarga de ferro e lesão tissular secundárias a outras doenças, geralmente anemias como a ta lassemia ou anemia sideroblástica. O gene implicado no desenvolvimento da doença hereditária, denominado HFE, localiza-se no cromossomo 6, região 6p21.3. Composto por sete exons, que ocupam 12kb, este gene codifi ca para uma proteína que desempenha papel fundamental no metabolismo do ferro. Estudos da literatura indicam que a mutação C282Y, locali zada no exon 4 do gene HFE, é a mais freqüente, com taxas de 85% em cromossomos portadores de alguma mutação. A substituição H63D, localizada no exon 2, representa 39% dos cromossomos que não apresentam as mutações C282Y e S65C e ocorre em cerca de 8% de cromossomos que não apresentam nenhuma das mutações associadas. A detecção de mutações tem como principal objetivo auxiliar no reconhecimento da doença genética durante seus estágios iniciais, quando a sobrecarga ainda é baixa e os danos aos ór gãos são mínimos. A principal mutação da hemocromatose, C282Y, no gene HLAH, está presente em estado homozigótico em 80% a 85% dos indivíduos caucasianos com diagnóstico clínico de hemocro matose. Todos os homozigotos para esta mutação apresentam elevado risco para o desenvolvimento de sobrecarga de ferro e danos subseqüentes ao fígado e outros órgãos, quando não 2 com hepatomegalia, alteração de enzimas hepáticas, doen ça cardíaca ou disfunção sexual precoce; indivíduos com do ença articular atípica precoce, cardiopatia e disfunção sexual masculina. Dentre os assintomáticos a pesquisa da mutação é indicada nas seguintes condições: parentes em primeiro grau de indivíduos com hemocromatose; indivíduos com alteração dos exames indiretos de ferro em exames de rotina; indivíduos com elevação do nível de enzimas hepáticas e hepatomegalia. Duas mutações são mais descritas: o gene HFE (mudança G-A no braço curto do cromossomo 6) e H63D. Estudos mais recen tes demonstraram que 90% dos pacientes apresentaram ho mozigose, ou seja, um par de genes HFE. Outros 3% a 5% têm um HFE e outro H63D. Naqueles com homozigose HFE, todos têm aumento de ferro no organismo, sendo que 58% desen volvem a doença. Devemos avaliar três mutações diferentes para o diagnóstico da hemocromatose: as mutações C282Y e H63D no gene HFE, que são as mais comuns, e também a mu tação Y250X no gene TFR2, que é mais rara. A disponibilidade de avaliações complementares deve ser observada sempre que houver necessidade da utilização destas metodologias. Indiví duos com hemocromatose sem as mutações mais incidentes mostram que outros genes devem estar envolvidos. A investigação deve ser feita através do perfil simples, com três mutações, ou do perfil ampliado, com 18 mutações. MÉTODO: PCR alelo-específico. AMOSTRA: Sangue total em EDTA (tubo primário estéril conten TA). BIOLOGIA MOLECULAR submetidos a tratamento. Embora os sintomas se manifestem tória familiar ou pessoal de tromboembolismo; pré-eclâmpsia; METODOLOGIAS MOLECULARES PARA A INVESTIGAÇÃO, PESQUISA E DIAGNÓSTICO LABORATORIAL de crescimento intra-uterino; deslocamento da placenta; his X frágil – detecção molecular A síndrome do X frágil, doença relacionada à anormalidade citogenética do cromossomo X, constitui-se em uma das for mas de retardo mental hereditário, e é considerada, depois da síndrome de Down, a causa genética mais comum de retardo mental na infância, acometendo, em média, um recém-nascido em cada 2.000. Entre crianças do sexo masculino, os valores de incidência indicam um a cada 1.500 meninos e, dentre as do sexo feminino, os índices são de uma a cada 2.500 meninas. 47 03 Biologia Molecular BOOK 16.indd 47 26.10.06 17:48:19 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA A doença é, aparentemente, resultado da deficiência da pro mossomo 7. A mutação mais comum é a deleção de três pares teína codificada pelo gene FMR-1 (retardo mental ligado ao X de base, que resulta na perda da fenilalanina na posição 508 frágil), localizado no braço longo do cromossomo X. Em uma (DF508) da proteína reguladora transmembrana. pequena proporção de pacientes com a síndrome do X frágil, a inativação desta proteína ou a diminuição de sua atividade é decorrente de mutações pontuais ou deleções no gene codi ficante; contudo, na maioria dos casos, a doença ocorre devido à expansão polimórfica e geralmente instável de um micros satélite, caracterizado por repetições CGG, localizado na região 5’ não traduzida do gene FMR-1. Em indivíduos normais, esta região apresenta entre 5 e 45 repetições, mas nos pacientes com a síndrome do X frágil, ela pode apresentar acima de 200 repetições. Estas consideráveis expansões causam metilação da região promotora, induzindo à repressão do gene e à con seqüente inibição da expressão da proteína FMR-1. Além do padrão normal de alelos X frágil, que apresenta entre 5 a 45 repetições CGG, outras três classes são descritas: zona cinza, As mutações no gene CFTR causam distúrbio do funcionamen to dos canais de cloro, nas membranas apicais das células epi teliais das glândulas e ductos, levando à formação de secreções anormalmente viscosas. A fibrose cística é caracterizada por uma variedade de graus de doença obstrutiva pulmonar crôni ca, inicialmente broncopneumonias de repetição, insuficiência pancreática exócrina, má absorção no trato gastrointestinal, com conseqüente desnutrição e aumento de eletrólitos no suor. A média de sobrevida dos acometidos está entre 20 e 30 anos. Os testes laboratoriais são indicados como confirmação do diagnóstico, para indivíduos com história familiar de fibrose cística, e no diagnóstico pré-natal, em gravidez de risco. São investigadas 32 possíveis mutações, incluindo as 24 mutações com 46 a 60 repetições; pré-mutação, com 61 a 199 repetições; mais comuns para fibrose cística. e mutação total, que apresenta acima de 200 repetições. MÉTODO: PCR multiplex. A pré-mutação é um estágio intermediário entre o número AMOSTRA: Sangue total em EDTA (tubo primário estéril conten normal de repetições e mutação total e, geralmente, causa mí TA). nimas anormalidades fenotípicas. No entanto, a pré-mutação é instável e pode adquirir expansões adicionais, sendo possível uma total expressão fenotípica em gerações subseqüentes. O estágio de zona cinza é caracterizado por uma estabilidade que difere entre famílias e, assim, a estabilidade desta região, em cada família, deve ser determinada até que outras gerações sejam avaliadas. Pesquisas recentes desenvolvidas por Pena e colaboradores permitiram o desenvolvimento de novos testes moleculares através da utilização da amplificação gênica, apresentando sensibilidade e especificidade elevadas em indivíduos do sexo masculino. MÉTODO: Hot Start PCR e análise em software Genescan. Este teste detecta, com acurácia e simultaneamente, tanto alelos normais como alelos carreadores e mutações totais. AMOSTRA: Sangue total em EDTA (tubo primário estéril conten do EDTA). Fibrose cística – estudo genético A fibrose cística é a doença autossômica recessiva mais comum na população ocidental, com incidências bastante variáveis en tre as diferentes populações: na de origem européia é bastante comum, e afeta um em cada 2.500 recém-nascidos, enquanto nas populações oriental e negra africana é bastante rara. Mais de 600 mutações foram identificadas no gene da fibrose císti ca, o CFTR – regulador de condutância transmembrana, no cro Cromossomo Y – estudo genético das microdeleções Microdeleções do braço longo do cromossomo Y humano são a principal causa da infertilidade masculina, e estão associadas com azoospermia e oligozoospermia severa. Geralmente, cer ca de 7% dos homens inférteis apresentam microdeleções no cromossomo Y. Estas microdeleções são utilizadas para definir quatro regiões do Yq, AZFa, AZFb, AZFd e AZFc, que estão fre qüentemente ausentes em homens inférteis. O estudo das mi crodeleções apresenta-se bastante útil no esclarecimento de casos de infertilidade, aos quais a varicocele e a criptorquidia podem estar associadas e, especialmente, em casos pós-tratamento sem restauração da fertilidade. O sistema de detecção de deleções analisa 18 regiões não po limórficas do braço q do cromossomo Y. Os produtos amplifi cados em quatro reações multiplex de PCR (distribuídas entre AZFa, AZFb, AZFd e AZFc) são analisados em gel de agarose. As falhas na amplificação de regiões específicas do cromossomo Y indicam a presença de deleções na amostra analisada. O sis tema de detecção de deleções no cromossomo Y apresenta-se como valiosa ferramenta de investigação, uma vez que as re giões amplificadas estão intimamente relacionadas à inferti lidade masculina. MÉTODO: PCR. AMOSTRA: Sangue total em EDTA (tubo primário estéril conten TA). 48 03 Biologia Molecular BOOK 16.indd 48 26.10.06 17:48:20 metabolismo de lipídios, mediando a interação das lipoproteí nas com seus receptores. A proteína existe em três isoformas principais (E2, E3, E4) devido a dois sítios polimórficos (C x T nos códons 112 e 158) dentro do gene Apo-E, localizado no cromos somo 19q13.2. Existe uma forte evidência de que as diferentes variações da Apo-E representam a causa principal tanto para as doenças cardiovasculares (CVD) quanto para a Doença de Alzheimer (AD). Comparada com a mais freqüente variante, Apo-E-3 (77%), a isoforma Apo-E-2 (8%) está, usualmente, associada com a di minuição e a isoforma Apo-E-4 (15%) com o aumento da forma LDL de colesterol no soro total. A isoforma Apo-E-4 tem sido descrita como um fator de risco para arteriosclerose e doen ça vascular periférica e coronariana prematura. Por outro lado, homozigose para variações de Apo-E parece ser predisposição individual para hiperlipoproteinemia tipo III. A isoforma Apo-E-4 é, também, um fator de risco bem estabe lecido para formas esporádicas de doença de Alzheimer (DA). A isoforma E2, ao contrário, além de não estar associada a pa cientes com DA parece conferir proteção contra a doença. A identificação das isoformas da apolipoproteína E (E2, E3 e E4) na reação em cadeia da polimerase e hibridização reversa é uma ferramenta útil para auxiliar a investigação etiológica. A doença de Alzheimer é caracterizada, nos estudos de ima gem neurológica, pela progressiva e lenta demência do idoso, associada à atrofia cerebral. É a forma mais comum de demên cia, e menos de 5% das famílias com DA apresentam a forma precoce, que consiste no aparecimento dos sintomas antes dos 65 anos. Em pessoas acima de 80 anos, sua prevalência é estimada em índices de 1:10. A partir de 1993, muitos estudos confirmam a associação entre doença de Alzheimer e apolipo proteína E 4. A apolipoproteína E (apoE) é produzida no fígado e circula no sangue como uma proteína de cadeia única, de 299 aminoácidos. A análise genotípica, pelo seqüenciamento dire to do cDNA, mostrou que o gene APOE humano está situado no cromossomo 19 e existe em três principais formas alélicas: 2, 3 e 4. Estes alelos codificam isoformas diferentes de apoli poproteína E, resultando em seis distintos fenótipos: 2/2, 3/3 e 4/4 (homozigotos) e 2/3, 2/4 e 3/4 (heterozigotos). O poli morfismo da APOE tem como base a variação dos aminoácidos 112 e 158. A apolipoproteína E realiza uma variedade de funções no metabolismo lipídico, com significado especial em doenças degenerativas dos sistemas vascular e nervoso central. O genó O alelo 4 (genótipos 2/4, 3/4, 4/4) possui uma freqüência três a quatro vezes maior em pacientes com DA tardia e em casos de DA esporádica, quando comparada à população total; a fre qüência do alelo 2 está diminuída nestes pacientes. Estudos adicionais têm demonstrado que a APOE4 pode ser um forte preditor de progressão da doença. Portadores homozigóticos (APOE- 4/4) têm um risco aumentado, de cinco a dez vezes, de adquirir a doença, e a média de idade para o início dos sinto mas está reduzida de 84 para 68 anos. A presença do alelo 4, em um indivíduo com demência, aumenta a probabilidade de ser a doença de Alzheimer a causa da demência, e a associação de APOE- 4 e DA é maior quando o paciente tem história fami liar de demência. A ausência de APOE- 4 não impede o desen volvimento da doença. O teste de genotipagem da apolipoproteína E auxilia no diag nóstico e não deve ser usado como preditor em pessoas assin tomáticas. Embora uma pessoa jovem, assintomática, com o genótipo APOE- 4/4, tenha aproximadamente 30% de risco de desenvolver DA durante a vida, esta estimativa não é conside rada clinicamente útil. MÉTODO: PCR e RFLP. AMOSTRA: Sangue total em EDTA (tubo primário estéril conten TA). Cromossomo Philadelphia ou translocação BCR-ABL Casos de Leucemia Mielóide Crônica (LMC) apresentam células leucêmicas com cromossomos anormais. Esta anormalidade não é observada em leucócitos normais, não leucêmicos, ou em qualquer outro tipo celular de tecidos e órgãos. Caracteriza-se por uma translocação recíproca entre os cromossomos 9 e 22, designada como t(9;22), que resulta em um cromossomo 9 maior do que o normal e um cromossomo 22 menor do que o normal, designando-se como cromossomo Philadelphia. O DNA removido do cromossomo 9 contém muitos dos proto oncogenes denominados c-ABL. A quebra no cromossomo 22 BIOLOGIA MOLECULAR A apolipoproteína E (Apo-E) representa o papel principal no tipo APOE- 3/3 é o mais comum e 3 é o alelo mais freqüente. METODOLOGIAS MOLECULARES PARA A INVESTIGAÇÃO, PESQUISA E DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Apolipoproteína E – genotipagem; propensão à doença de Alzheimer ocorre no meio do gene denominado BCR. O cromossomo Phi ladelphia resultante apresenta uma região 5’ do BCR fundida com grande parte do c-ABL, originando o chamado cromosso mo com fusão BCR-ABL ou cromossomo Philadelphia. Metodologias moleculares são utilizadas como auxiliar no diagnóstico de 5% de rearranjo BCR-ABL não identificados pela cariotipagem. Estas metodologias são a Reação em Cadeia da Polimerase por transcrição reversa (rt-PCR), rt-PCR em Tempo Real e Hibridização in situ Fluorescente (FISH). 49 03 Biologia Molecular BOOK 16.indd 49 26.10.06 17:48:21 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA A metodologia de rt-PCR apresenta amplificações de diferen O diagnóstico tardio é freqüente porque os sintomas são tes fragmentos dos genes BCR e ABL, localizados em regiões atribuídos, quase sempre, às doenças comuns da coluna, tais cromossômicas específicas e identificadas por metodologias como dores posturais, traumáticas ou psicossomáticas. Embo de revelação em gel de agarose e hibridização de sondas mo ra a maioria dos sintomas comece na coluna lombar, devido leculares por dot blot, permitindo a constatação da fusão BCR- ao constante acometimento das articulações sacroilíacas, esta ABL. A metodologia de FISH utiliza sondas moleculares com doença também pode envolver a região cervical e/ou torácica. marcadores fluorescentes para a revelação de genes ABL e BCR, em moléculas de DNA, que se apresentam em diferentes colo rações através da observação por microscopia de fluorescência, permitindo a detecção da fusão BCR-ABL no cromossomo Phi ladelphia. O método de rt-PCR permite, em Tempo Real, o acompanha mento de pacientes com LMC por períodos de tempo em que possa ocorrer remissão duradoura da doença. MÉTODOS: rt-PCR, rt-PCR em Tempo Real e FISH. MATERIAIS: – Para rt-PCR e rt-PCR em Tempo Real: Sangue total ou aspirado de medula óssea em EDTA (tubo primário estéril contendo EDTA). – Para FISH: Sangue total ou aspirado de medula óssea em he parina (tubo primário estéril contendo heparina). Gene HLA-B27 A Espondilite Anquilosante (EA) é uma doença reumática que causa inflamação na coluna vertebral e nas articulações sacroi líacas, que pode acometer também globos oculares e válvulas cardíacas. Os sintomas variam de lombalgias a patologias mais severas da coluna vertebral, articulações e outros locais do cor po, resultando em grande incapacidade por comprometimen to das vértebras, dificultando a mobilidade do indivíduo. A EA faz parte de um grupo de doenças conhecidas como es pondiloartropatias, no qual estão incluídas a Síndrome de Rei ter, alguns casos de Artrite Psoriásica e a Doença Inflamatória Intestinal (Chron, Retocolite Ulcerativa). A causa de EA não é conhecida, mas há indícios de que as es pondiloartropatias estão relacionadas a um padrão genético, em razão da existência de um marcador comum (HLA-B27), presente na maioria dos indivíduos afetados, tornando-os pre dispostos à doença. Em alguns casos, a EA ocorre após o aco metimento de uma infecção intestinal ou urinária. A doença afeta, principalmente, o adolescente e/ou adultos jovens, em especial os do sexo masculino, com uma incidên cia três vezes maior que nas mulheres. Afeta menos negros africanos, japoneses, e é mais comum em alguns índios norte americanos. Além das articulações sacroilíacas pode haver também acome timento das grandes articulações periféricas e inflamação nas pequenas juntas, como as dos pés e das mãos. Sintomas gerais como febre, fadiga, mal-estar geral, perda de peso e anemia são comuns. A avaliação laboratorial pode reve lar inflamação e anemia. Um resultado positivo do HLA-B27 ajuda a firmar o diagnóstico. Radiografias e outros exames de imagem podem demonstrar alterações características e confirmar a doença. O teste para a tipagem molecular do HLA-B27 é realizado pela aplicação da reação em cadeia da polimerase (PCR) e hibridiza ção reversa, e não traduz o diagnóstico definitivo de inclusão ou exclusão da patologia. A metodologia deve ser utilizada como análise complementar ou fornecendo evidências adi cionais, com o resultado associado a sinais, sintomas, outras avaliações laboratoriais e a exclusão de doenças auto-imunes. A pesquisa do HLA-B27 deve ser solicitada como parte de um grupo de exames para diagnóstico e avaliação das condições que sejam a causa de artrites e inflamações. Este grupo com preende o teste de fator reumatóide, relação de sedimentação de eritrócitos e a proteína C reativa. MÉTODO: PCR. MATERIAL: Sangue total em EDTA (tubo primário estéril conten TA). Talassemia beta, detecção genômica As talassemias resultam de mutações que reduzem ou impe dem a síntese de globina Alfa ou Beta. A ocorrência de crossing over desigual, quando os genes adjacentes são bastante relacio nados nos agrupamentos de genes de globina humana,é revela da pela natureza de certas talassemias. Muitas das talassemias mais graves resultam de deleções de parte de um agrupamento. Pelo menos em alguns casos, as extremidades da deleção estão em regiões homólogas, exatamente o que seria esperado se elas tivessem sido geradas por crossing over desigual. Dependendo da combinação diplóide dos cromossomos talassêmicos, um indivíduo afetado pode ter um número de cadeias Alfa que varia de zero a três. Existem poucas diferenças em re lação ao tipo selvagem (com quatro genes Alfa) em indivíduos 50 03 Biologia Molecular BOOK 16.indd 50 26.10.06 17:48:22 o mais importante e apropriado para identificar os fatores pri a doença da HbH. A ausência completa de genes Alfa resulta mários da hipertensão arterial. A intensa investigação fisiológi em hidrópsia fetal. ca realizada nos últimos anos permite constatar que, por seus MÉTODO: PCR. MATERIAL: Sangue total em EDTA (tubo primário estéril conten TA). Gene da doença de Gaucher, mutação do gene A doença de Gaucher é a mais prevalente desordem glicoli pídica conhecida. A doença é decorrente de uma herança au tossomal recessiva e é caracterizada por uma deficiência de glicocerebrosidase aliada a uma mutação do gene GBA no cro mossomo 1q. Desde que a seqüência GBA foi primeiramente publicada em 1985, mais de 120 alelos produtores de doenças têm sido descritos. Estes incluem mutações pontuais como um complexo de alelos resultantes de rearranjos genéticos entre o gene funcional e o pseudogene próximo. A deficiência enzimática, que caracteriza a doença, resulta no acúmulo de glicocerebrosídeo no sistema reticuloendo telial, principalmente para uma enorme variedade de mani festações clínicas, dentre hepatoesplenomegalias, anemia, trombocitopenia, supressão da medula óssea, lesões ósseas e hiperpigmentação. A doença tem sido dividida em três fenó tipos clínicos (tipos I a III), sendo mais comum dentre elas a efeitos na homeostase do volume extracelular e do sódio, o sis tema renina-angiotensina-aldosterona tem papel fundamental no controle da PA, assim como em sua capacidade de regular o tônus vasomotor. A angiotensina II, apesar de ser um vaso constritor potente, atua como moduladora, direta ou indireta mente, do crescimento da fibra muscular lisa e contribui nas complicações vasculares da hipertensão arterial. Os diferentes componentes deste sistema angiotensinogênio – a renina, a enzima conversora da angiotensina (ECA) e os receptores AT1 de angiotensina II – constituem genes candidatos essenciais da hipertensão arterial. O avanço da biologia molecular tem permitido clonar e se qüenciar os genes deste sistema, assim como conhecer sua estrutura e, com isto, detectar os polimorfismos. GENE DA ECA COMO CANDIDATO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL Polimorfismo I/D do gene da ECA – presença ou ausência de um fragmento de 287 pares de bases no intron 16 do gene ECA, com a particularidade de que a presença deste polimorfismo explica 47% da variabilidade fenotípica de ECA plasmática. O método da PCR permite a detecção deste polimorfismo I/D associando-se a uma variante funcional (ECA S/s) cuja identida não-neuropatia crônica tipo I. de molecular não é conhecida. Na população judaica Ashkenazi, a freqüência da doença tipo MÉTODO: PCR. I é estimada em 1 em 500, com uma taxa de portadores de MATERIAL: Sangue total em EDTA. aproximadamente 1 em 10. A terapia de reposição enzimática, disponível para o tipo I, resulta em uma melhoria clínica e au mento da qualidade de vida. O ensaio para a identificação de mutações no gene glicocere brosidase (GBA) é baseado na reação em cadeia da polimerase (PCR) e hibridização reversa. MÉTODO: PCR. MATERIAL: Sangue total em EDTA (tubo primário estéril conten TA). Gene da enzima conversora da angiotensina – ECA Estudos epidemiológicos demonstram que em torno de 30% da variação interindividual da pressão arterial (PA), na popula ção, são determinados geneticamente. Fatores intrafamiliares e entre gêmeos monozigotos reforçam as causas genéticas, desde que outros elementos externos não estejam envolvidos. Citomegalovírus – determinação qualitativa e quantitativa A infecção por Citomegalovírus (CMV) é comum e, normal mente, assintomática. Entretanto, a incidência e o espectro da doença em recém-nascidos e hospedeiros imunocomprometi dos conferem a este vírus importante destaque como patógeno humano. A infecção por CMV pode ser classificada em adquiri BIOLOGIA MOLECULAR As contribuições herdadas reforçam o enfoque genético como METODOLOGIAS MOLECULARES PARA A INVESTIGAÇÃO, PESQUISA E DIAGNÓSTICO LABORATORIAL com três ou dois genes. Com apenas um gene Alfa, o excesso de cadeias Beta forma o tetrâmero anormal Beta 4, que causa da ou congênita, perinatal ou pós-natal; é a causa mais comum identificada dentre as infecções congênitas, e acomete 0,5% a 2,5% dos recém-nascidos. Após o nascimento, a doença é adqui rida, na maioria das vezes, por contato íntimo com indivíduos que apresentam replicação viral ativa, e o prolongado período de transmissão contribui para sua fácil disseminação. Uma vez que o vírus pode ser detectado em todos os fluidos e secreções corpóreas, a transmissão pode ocorrer de diferentes formas, além da transfusão de sangue e transplante de órgãos. 51 03 Biologia Molecular BOOK 16.indd 51 26.10.06 17:48:22 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA A disseminação do CMV no sangue ocorre durante a infecção à cultura de células, considerada gold standard no diagnóstico ativa e a viremia tem sido reconhecida como o principal fator da infecção por CMV, o ensaio apresenta índices de 95% de sen de risco da progressão para a doença clínica. A maioria das sibilidade e 87% de especificidade. crianças que adquire a infecção após o nascimento permanece assintomática. Similar a outros herpesvirus, a infecção primá ria por CMV resulta no desenvolvimento da forma latente ou persistente da doença, com reativações virais periódicas, que podem ocorrer em resposta a diferentes estímulos. A infecção viral decorrente de transfusões de sangue, em neo natos prematuros de alto risco, resulta em quadros de mor bidade e mortalidade significativos, apresentando sintomas e sinais clínicos de hepatoesplenomegalia, trombocitopenia, linfocitose atípica e anemia hemolítica. Em indivíduos adultos, as taxas de prevalência são elevadas, situando-se, geralmente, acima de 80%. A infecção por CMV é freqüente e ocasionalmente severa em adultos e crianças com deficiência imune-celular congênita ou adquirida, como pacientes com Aids, cânceres (leucemias e linfomas) e transplantados, nos quais a infecção pode ser cau sada pela reativação do vírus latente ou por outros vírus exó genos. Os sintomas tendem a ser mais severos que na infecção primária, e sua reativação em pacientes imunocomprometidos pode causar doenças graves. Em indivíduos infectados por HIV, a infecção por CMV é causa importante de febre, retinite, en cefalite e infecções gastrointestinais que incluem esofagite, gastrite e colite ulcerativa. A freqüência e a severidade da infecção por CMV em pacientes transplantados são variáveis e dependem do tipo de transplan te, da origem do órgão doado, do estado imune do receptor e MÉTODOS: PCR e PCR em Tempo Real. AMOSTRA: Sangue total (dois tubos com EDTA). Papilomavírus humano (HPV), método qualitativo e genotipagem O Papilomavírus Humano (HPV) é um importante agente pa togênico para o homem, sendo caracterizados, até o momento, mais de 73 genótipos diferentes. A principal via de transmissão é a sexual, e o vírus apresenta tropismo celular específico para as células escamosas epiteliais, estando associado a lesões prolife rativas do epitélio escamoso, que podem ser cutâneas ou envol ver a mucosa do epitélio na orofaringe, esôfago e trato genital. O HPV foi identificado como agente causador de diferentes lesões proliferativas epiteliais, tais como verrugas plantares e palmares, condiloma acuminata, papiloma laríngeo, epidermodisplasia verruciforme e câncer genital, merecedor de maior atenção por seus aspectos preveníveis, através de exames simples de detec ção das lesões precursoras. Existem mais de vinte tipos de HPV que têm demonstrado predisposição para infecções genitais. Os tipos 16 e 18 são considerados de alto risco para o desenvolvi mento de câncer de colo uterino; os tipos 31, 33 e 35 de médio risco e os tipos 6 e 11 de baixo risco. A prevalência das infecções por HPV é dependente do fator idade, e 46% das mulheres in fectadas são jovens abaixo de 20 anos de idade. Por causa da associação deste vírus com as alterações neoplásicas, o rápido diagnóstico e a identificação do genótipo viral contribuem para da duração da terapia imunossupressora. Os sintomas nestes maior eficácia na estratégia e tratamento da doença. pacientes incluem febre, leucopenia, trombocitopenia, pneu A confirmação do diagnóstico da infecção por HPV no trato ge monia, hepatite, retinite e encefalite. A morte pode ocorrer como resultado de várias complicações, incluindo superinfec ção por fungos e bactérias. Embora a profilaxia antiviral em pacientes imunocomprome tidos tenha levado à redução da morbidade e mortalidade da doença nos últimos anos, a toxicidade associada aos agentes antivirais atualmente disponíveis permanece um problema re levante. Neste sentido, esforços têm sido concentrados no de senvolvimento de métodos de detecção quantitativa de maior sensibilidade, para identificar pacientes em risco de evolução da doença. A detecção do DNA viral, por captura híbrida, permite a obten ção de resultados objetivos, com alta sensibilidade, apresen tando limite inferior de detecção equivalente a 600 cópias do genoma viral por mililitro de sangue total. Quando comparado nital é obtida apenas por meio da hibridização molecular. Mé todos consagrados como a colposcopia, citopatologia cervical e histopatologia diagnosticam as lesões precursoras do câncer cervical, denominadas lesões intra-epiteliais de baixo ou alto grau, ou NIC, sugerindo a presença da infecção por HPV. O mé todo de Captura Híbrida, que requer coleta simples e apresenta rápida execução e custo-benefício extremamente elevado, foi a técnica escolhida pelo National Cancer Institute e pelo Na tional Institute of Health dos Estados Unidos para o estudo prospectivo em 10.000 mulheres que apresentavam células escamosas com atipias de significado indeterminado (ASCUS), levando à aprovação do método, pelo FDA, para sua utilização no diagnóstico das lesões induzidas por HPV. Entre as técnicas de hibridização molecular, a Captura Híbrida permite classificar os tipos de HPV em grupos de risco para o desenvolvimento de câncer cervical, além de informar a quan 52 03 Biologia Molecular BOOK 16.indd 52 26.10.06 17:48:23 (se houver necessidade de coleta para a citologia, esta deve ser qualitativa e quantitativamente, os tipos virais mais comuns realizada em primeiro lugar). Remover, com algodão ou gaze, o que infectam o trato anogenital. O grupo A possui sondas para excesso de muco ao redor do orifício externo e do ectocérvice; os tipos de HPV de baixo risco 6, 11, 42, 43 e 44 e o grupo B introduzir cerca de 1cm a 1,5cm da escova no canal cervical e possui sondas para os de alto risco 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, girá-la três vezes em sentido horário; escovar, em seguida, o ec 52, 56, 58, 59 e 68. A associação dos tipos 16, 18, 31, 33 e 35 tem tocérvice e, se necessário, as paredes da vagina. Inserir imedia sido detectada em aproximadamente 70% dos casos de câncer tamente a escova no tubo, mergulhando-a na solução tampão, do colo e, em 5% dos casos, nenhuma seqüência genômica de quebrar a haste da escova e fechar o tubo. Agitá-lo por 30 se HPV é identificada. gundos, mantendo-o à temperatura entre 2ºC a 8ºC e enviá-lo A sensibilidade do método em detectar lesões escamosas intra-epiteliais de alto risco é de 74%, quando utilizada isolada mente, e de 90% quando associada à citologia, apresentando estreita correlação com a técnica de reação em cadeia da po limerase – PCR. O limite mínimo de detecção do método é de 1pg/mL de DNA-HPV, equivalente a 0,1 cópia viral. ao laboratório em 24 horas. Preencher, corretamente, a ficha de solicitação. MÉTODOS: Captura Híbrida e PCR com seqüenciamento para genotipagem e tipagem. AMOSTRA: Swab uretral ou endocervical (escova para coleta e tubo próprios para transporte, fornecidos pelo laboratório). INSTRUÇÕES DE COLETA: – Colo uterino: A paciente não deve estar menstruada e são ne cessários três dias de abstinência sexual. Não efetuar exame digital (toque), colposcopia e assepsia prévia (se houver neces sidade de coleta para a citologia, esta deve ser realizada em primeiro lugar). Remover, com algodão ou gaze, o excesso de muco ao redor do orifício externo e do ectocérvice; introduzir cerca de 1cm a 1,5cm da escova no canal cervical e girá-la três O rastreamento primário de infecções por HPV, feito pela cito logia associada à colposcopia, reduziu dramaticamente a mor bidade e mortalidade do câncer de colo; entretanto, a coloração de Papanicolaou apresenta sensibilidade de 50% a 60% para as neoplasias cervicais e especificidade próxima a 90%. Com o ob jetivo de aumentar a sensibilidade da citologia, pacientes com diagnóstico de ASCUS são encaminhadas à colposcopia e, mui tas vezes, atipias celulares mínimas são classificadas como ne gativas por esta metodologia. Embora a utilização da técnica de Captura Híbrida no rastreamento primário da infecção por HPV permaneça controversa, dados da literatura indicam que o método apresenta boa sensibilidade para qualquer tipo de neoplasia intra-epitelial cervical (NIC), sendo mais significativa para os graus 2 e 3. Sua realização em todos os casos de lesões com atipia em células escamosas de significado indetermina do (ASCUS) reduziu a realização da colposcopia. MÉTODO: Captura Híbrida. AMOSTRAS: Escovados cervical, vaginal, vulvar, peniano, uretral; raspados da pele da vulva ou do pênis (escova para coleta e tubo próprios para transporte, fornecidos pelo laboratório). INSTRUÇÕES DE COLETA: Colo uterino e/ou vagina: A paciente não deve estar mens truada e são necessários três dias de abstinência sexual. Não vezes. Inserir imediatamente a escova no tubo, mergulhando-a na solução tampão, quebrar a haste da escova e fechar o tubo. Agitá-lo por 30 segundos, mantendo-o à temperatura entre 2ºC a 8ºC e enviá-lo ao laboratório em 24 horas. – Uretra: Coletar o material diretamente com a escova e proce der como descrito acima. – Vulva (região semimucosa), pênis (glande, sulco bálano-prepucial e uretra): Coletar o material diretamente com a escova e proceder como descrito acima. – Biópsias: Não devem exceder a 5mm de diâmetro. Caso o material não seja entregue ao laboratório até 24 horas após a coleta, deverá ser congelado a -20ºC e encaminhado para análise devidamente embalado e identificado. – Vulva ou pênis (pele): Umedecer a área com soro fisiológico e BIOLOGIA MOLECULAR efetuar exame digital (toque), colposcopia e assepsia prévia METODOLOGIAS MOLECULARES PARA A INVESTIGAÇÃO, PESQUISA E DIAGNÓSTICO LABORATORIAL tidade de cópias do genoma viral por célula, orientando os mé dicos em decisões terapêuticas. O método é capaz de detectar, raspá-la com o auxílio de uma lâmina de bisturi; a seguir, com a escova, recolher o material e inseri-lo no tubo para transporte. Herpesvirus simples I e II A principal manifestação do herpes simples, uma infecção causada por vírus dos tipos 1 e 2, é a presença de pequenas vesículas agrupadas que podem aparecer em qualquer parte do corpo, mas que em geral surgem nos lábios e regiões geni tais. Nos lábios, elas se localizam preferencialmente na área de 53 03 Biologia Molecular BOOK 16.indd 53 26.10.06 17:48:24 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA transição entre a mucosa e a pele e de apenas um lado da boca. gênicos virais, que compreendem seis produtos de antígenos Na primeira infecção podem ocorrer quadros mais extensos. nucleares (EBNA1-6) e duas proteínas de membrana do esta As lesões cutâneas são precedidas por alguns sintomas locais. do latente (LAMP1 e LAMP2). Patologias como Mononucleose Entretanto, a primeira infecção pelo herpesvirus costuma ser infecciosa, linfoma de Burkitt, carcinoma nasofaríngeo e doen mais grave e o restabelecimento completo, mais demorado. ças linfoproliferativas podem se desenvolver em indivíduos in Mais de 20.000 novos casos são observados por ano no Reino fectados pelo EBV. Unido, 500.000 nos EUA e com aumento da disseminação da O diagnóstico etiológico laboratorial resumia-se ao isolamento infecção, juntamente com a Aids na África, Ásia, América La viral e identificação do EBV a partir de isolados de saliva, san tina, sendo a sua maioria de casos de herpes genital – HSV-2. gue periférico ou tecido linfóide. A presença do vírus é obser Na Europa e EUA é mais prevalente o HSV-1 – mais de 50% de vada na saliva de indivíduos imunossuprimidos e em até 20% novos casos de herpes genital em mulheres. A importância do dos adultos sadios pesquisados. Os métodos sorológicos para diagnóstico clínico-laboratorial no controle destas ocorrências a pesquisa de anticorpos específicos podem apresentar resul epidemiológicas refere-se às formas clínicas do herpes genital tados úteis na complementação do diagnóstico. como sugestiva ou duvidosa, sugestiva ou definitivamente su gestiva. Dentre os pacientes soropositivos, 37% são para o tipo 2, embora se estime que 50% dos pacientes com alta probabi lidade de HSV-2 sejam soronegativos, demonstrando o baixo valor preditivo. A determinação etiológica depende da atuação do laboratório. O HSV-1 apresenta-se com menor freqüência do que a infecção por HSV-2. Atualmente a hibridização do ácido nucléico e a amplificação gênica por metodologias moleculares constituem-se nos méto dos mais sensíveis e específicos para a detecção do EBV. Perío dos variáveis de tempo podem ser definidos para a detecção do genoma viral principalmente em doenças pós-transplantes, como é o caso da doença linfoproliferativa com desenvolvi mento de tumores. Pacientes soropositivos para HIV que apre Dez por cento das pessoas infectadas pelo HSV podem desen sentam linfoadenopatias também são indicados para uma volver meningite. investigação molecular do genoma viral em materiais biológi Materiais biológicos tais como secreções, líquido de vesículas e raspados de lesões podem ser utilizados para a investigação laboratorial e auxílio ao diagnóstico. Os testes moleculares podem colaborar no monitoramento do tratamento com Acyclovir, Fanciclovir e Valaciclovir, que reduzem em 94% a eliminação dos herpesvirus em casos subclínicos com redução de 80% da detecção do DNA viral durante o tratamento. MÉTODO: PCR. MATERIAIS: Secreções, líquido de vesículas, raspados de lesões e liquor. Epstein-Barr vírus, detecção qualitativa O Epstein-Barr (EBV) apresenta-se distinto dos outros vírus da família Herpesviridae humanos. Apresenta o genoma DNA con tendo 172Kpb composto de 59% de bases G+C. O linfócito B constitui a célula alvo do EBV, podendo-se estabe lecer linhagens contínuas como sinalização da imortalização celular, fornecendo condições para a replicação viral. Os estu dos laboratoriais ficam limitados pelo fato de não existir um sistema de cultura celular, tradicional em virologia, totalmente permissivo e capaz de propagar o EBV. Os linfócitos B imortalizados passam a expressar funções di ferenciadas permitindo inclusive a expressão de dez produtos cos, como soro, plasma ou no sangue total coletados em EDTA. A detecção no liquor, associada a informações clínicas relevan tes, mostra-se como um resultado complementar significati vo para a presença de linfomas. A pesquisa do DNA viral em diferentes tecidos, associados ou não a tumores malignos, está indicada nos processos de linfomas e carcinomas gástricos e nasofaríngeos. MÉTODO: PCR. MATERIAIS: Sangue total em EDTA ou plasma em tubos em EDTA-gel. Vírus da hepatite B – DNA viral; determinação qualitativa e quantitativa (carga viral) A infecção pelo vírus da hepatite B (HBV) permanece como im portante problema de saúde em todo o mundo, a despeito da vacinação eficaz contribuir, sensivelmente, para a diminuição do aparecimento de novas cepas. Diferentes graus de doenças hepáticas podem resultar da in fecção: doença aguda autolimitada, hepatite fulminante, he patite crônica com progressão para cirrose, além do estado de portador crônico assintomático. Duas semanas após a infecção pelo HBV, um excesso de proteínas virais pode ser detectado no soro (antígeno de superfície do HBV, denominado HBsAg), seguido da produção de anticorpos específicos contra estas 54 03 Biologia Molecular BOOK 16.indd 54 26.10.06 17:48:25 aqueles que não apresentam boa resposta aos antivirais su divíduos desenvolvem o estado de portador crônico, marcado gerimos a avaliação de possíveis resistências como auxílio nas pela ausência de soroconversão. O diagnóstico destes casos condutas terapêuticas. As mutações que se originam nos ge deve ser suplementado pela detecção do DNA viral no soro ou nes da DNA polimerase do HBV podem ser identificadas como: tecido hepático. Estudos que envolveram indivíduos sintomá 1) L528M que se caracteriza pela substituição do aminoácido ticos, com doença hepática crônica de etiologia desconhecida, Leucina (L) pela Metionina (M) na posição 528 na proteína mostraram que acima de 90% de indivíduos apresentavam com atividade enzimática. Estudos científicos demonstram a resultados indicando a presença de DNA do HBV. Mutantes possibilidade de maior redução da sensibilidade à Lamivudina HBV podem apresentar modificações estruturais importantes e menor para o Fanciclovir; 2) YMDD da DNA polimerase na em HBsAg e HBeAg, não sendo detectados por métodos imu posição 552 – M552V, onde se observa a substituição da Metio nológicos. Nestes casos, a detecção do DNA pode identificar a nina (M) pela Valina (V) na posição 552, acarretando redução presença da partícula viral. acentuada da sensibilidade à Lamivudina; 3) M552I caracteri A determinação do número de cópias de DNA do HBV é uma ferramenta importante, juntamente com o estudo dos mar cadores sorológicos, para o acompanhamento da infecção. A eficácia da terapia antiviral com interferon pode ser monito rada pelo acompanhamento da função hepática, avaliação da presença de marcadores sorológicos e quantificação da carga viral no soro ou plasma. A determinação quantitativa do DNA viral reflete exatamente o nível de replicação do vírus e detec ta, com maior precocidade que os marcadores sorológicos, a queda da carga viral. A determinação desta carga viral, previa mente ao tratamento, também pode ser útil como prognóstico da resposta à terapia. Utilidades da Biologia Molecular no estudo da Hepatite por Vírus B: – Descoberta de variantes do HBV; – Padrões sorológicos atípicos no diagnóstico de infecção por HBV; – DNA-HBV: marcador de infecção viral precoce; – Variantes com mutações na região pré-core, impedindo a produção de HBeAg; – DNA-HBV: melhor indicador de infecção desta variante; – DNA-HBV: marcador de replicação viral efetiva. MÉTODOS: – PCR e PCR em Tempo Real para avaliação qualitativa; – BDNA, PCR e PCR em Tempo Real para avaliações quantitati vas – carga viral. AMOSTRA: Sangue (tubo primário estéril) para análise de plasma ou soro. Recomendado: plasma em tubo EDTA-gel ou soro em tubo soro-gel. Vírus da hepatite B, teste de resistência aos antivirais O tratamento antiviral para indivíduos portadores do HBV pode ser realizado pela administração de Lamivudina, Fanci zada pela substituição da Metionina (M) pela Isoleucina (I) na posição 552, à qual se relaciona com a resistência à Lamivu dina, reduzindo-se em milhares de vezes a sensibilidade para este antiviral. MÉTODOS: PCR e RFLP; PCR e seqüenciamento. MATERIAL: Coleta de sangue em tubo primário, estéril e com EDTA – sendo recomendado tubos EDTA-gel ou alternativa mente soro, com a coleta em tubo soro-gel. Vírus da hepatite C – RNA viral; determinação qualitativa A infecção pelo vírus da hepatite C (HCV), primariamente des crita como forma de transmissão parenteral da hepatite não-A e não-B, representa 80% a 90% dos casos de hepatite pós-transfusional. A infecção é prevalente em indivíduos transplantados, transfundidos, usuários de drogas intravenosas e pacientes em hemodiálise. A infecção apresenta período médio de incubação de seis a oito semanas, sendo que 70% a 80% dos casos evo luem de forma assintomática e anictérica. Distintamente da hepatite B, a cronicidade é a regra: 70% a 90% dos pacientes infectados desenvolvem hepatite crônica; 20% a 30% destes casos resultam em cirrose hepática em prazos de 15 a 20 anos e, ocasionalmente, progridem para o carcinoma hepatocelular. O HCV apresenta vários subtipos, o que dificulta o desenvolvi BIOLOGIA MOLECULAR clovir ou outros inibidores da replicação mais recentes. Para METODOLOGIAS MOLECULARES PARA A INVESTIGAÇÃO, PESQUISA E DIAGNÓSTICO LABORATORIAL proteínas (anti-HBs). A resposta anti-HBs persiste, na maioria dos pacientes, por toda a vida. Contudo, cerca de 10% de in mento de vacinas. Existem testes imunológicos para a detecção direta do antígeno HCV. Os anticorpos contra o HCV (anti-HCV) não são neutralizantes e não conferem imunidade; portanto, não indicam, necessariamente, recuperação do processo infec cioso viral. Utilizados como teste de triagem para a detecção da infecção pregressa ou atual, não são capazes de diferenciar entre as formas aguda e crônica da doença, assim como não es tão indicados na identificação precoce da hepatite C. Cerca de 10% dos pacientes infectados não desenvolvem resposta com produção de anti-HCV detectável. Resultados negativos devem 55 03 Biologia Molecular BOOK 16.indd 55 26.10.06 17:48:26 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA sempre ser avaliados com cautela e correlacionados à história As técnicas de rt-PCR (Reação em Cadeia da Polimerase com clínica, uma vez que alguns estudos relatam o desaparecimen transcrição reversa) para a detecção e quantificação do RNA- to de anticorpos vários anos após a resolução da infecção. HCV podem ser aplicadas a amostras de soro ou plasma, O vírus da hepatite C (HCV) classifica-se no gênero Hepacivi rus entre os representantes da família Flaviviridae. Apresenta RNA de cadeia simples, polaridade positiva, com cerca de 9.400 nucleotídeos. Até sua identificação e caracterização em 1989, por Choo e colaboradores, os casos clínicos não diagnosticados sorologicamente para os vírus das hepatites A e B ou outros vírus hepatotrópicos conhecidos (Epstein-Barr, febre amarela, citomegalovírus, vírus da hepatite D) eram rotulados de hepa amostras de biópsias hepáticas e células do sangue periférico. A metodologia utilizada permite que ambas as cadeias, positi va e negativa, do genoma viral sejam detectadas e, além disto, diferentes técnicas têm sido desenvolvidas para avaliar a hete rogeneidade genética do HCV. Estudos demonstram que rea ções contendo dez ou mais cópias de RNA-HCV são positivas e equivalem a 2.000 cópias de RNA-HCV por mililitro de soro ou plasma. tite por vírus não-A e não-B. Estudos do seqüenciamento do O vírus da hepatite C apresenta um grupo de isolados ou linha genoma viral demonstraram a existência de diferenças signi gens com alto grau de variabilidade genômica. Esta heteroge ficativas entre os HCVs detectados em diversos pacientes em neidade também pode ser observada no próprio hospedeiro, vários locais do mundo. Esta heterogeneidade permitiu a clas em que um simples isolado pode abrigar quasispecies de múl sificação desse vírus em pelo menos nove genótipos principais tiplas seqüências, as quais mostram índices de homologias va e 23 subtipos. riando de 55% a 92% nas regiões que codificam proteínas do O RNA viral é um marcador direto da infecção ativa por HCV. A sua detecção pode ser feita poucos dias após a exposição ao vírus, por meio das técnicas de reação em cadeia da polimerase e transcrição reversa (rt-PCR). O uso desta técnica possibilita a detecção do genoma viral antes da soroconversão imunológica envoltório. Isolados de determinados subtipos exibem similari dades nucleotídicas em torno de 80% para o genoma comple to ou regiões não estruturais, enquanto um ou mais subtipos podem ser classificados em alguns tipos principais com simi laridades em torno de 68%. e permite o diagnóstico diferencial entre a hepatite auto-imu- Métodos em biologia molecular e de seqüenciamento genô ne severa e a hepatite C. mico são úteis em definir os genótipos e subtipos para estudos Sabe-se que o HCV tem sido o principal agente etiológico da hepatite pós-transfusional não-A e não-B dos últimos dez anos, de epidemiologia molecular, estudos clínicos e monitoramen to da hepatite C. responsável por 90% a 95% dos casos. Sua transmissão ocorre Terapias combinadas, com diferentes apresentações de Inter por via parenteral, através do sangue e derivados, utilização de feron e Ribavirina, têm aumentado a ocorrência de pacientes agulhas e seringas contaminadas e transplantes de órgãos e que apresentam a suposta cura virológica. Esta constatação tecidos. A transmissão sexual tem sido relatada, embora seja baseia-se na obtenção de resultados de análises da carga viral pouco freqüente, e casos esporádicos, sem história prévia de durante e após o período de tratamento. transfusão ou outra causa aparente, representam cerca de 40% dos casos de hepatite C. Os resultados obtidos e a grande prevalência de pessoas infec tadas pelo HCV apontam para a necessidade, cada vez maior, A capacidade em detectar e quantificar a carga viral é alta da utilização de testes laboratoriais mais sensíveis e específicos, mente desejável e será, especificamente, requerida para as aplicados à detecção de marcadores de replicação ativa do HCV. seguintes condições: estabelecer o agente etiológico em ca sos de infecção aguda, quando ensaios imunodiagnósticos são não-reativos; identificação de indivíduos assintomáticos; monitoramento da viremia em casos crônicos, com propósitos prognósticos ou quando o imunodiagnóstico resulta em dados inconsistentes; identificação de pacientes crônicos com eleva da carga viral que possuem, portanto, alto risco de desenvol vimento do carcinoma hepatocelular; monitoração da terapia antiviral; detecção do HCV em indivíduos anti-HCV reativo e que tenham desenvolvido auto-anticorpos; detecção do HCV em doadores e receptores de transplantes hepáticos e avalia ção da transmissão vertical do HCV. As metodologias moleculares estão sendo desenvolvidas com o objetivo de detectarem pequenas quantidades de RNA-HCV como indicador efetivo da diminuição e bloqueio da infecção ativa. Recentes desenvolvimentos e ofertas de reagentes padrões da Organização Mundial de Saúde permitem comparações entre métodos moleculares laboratoriais para a avaliação do desem penho dos testes utilizados no acompanhamento e auxílio ao diagnóstico e tratamento da hepatite C. Estas avaliações permitem a determinação de métodos mais sensíveis, como a Amplificação Mediada pela Transcrição – TMA – indicando a presença de RNA-HCV em concentrações 56 03 Biologia Molecular BOOK 16.indd 56 26.10.06 17:48:26 Na fase crônica da doença, as concentrações do RNA são mais Trabalhos científicos demonstraram sensibilidade de 50UI/mL em 100% das amostras analisadas pela metodologia de rt-PCR, com redução do percentual para 91 com sensibilidade de 25UI/mL. Resultados obtidos por Krajden et al demonstram que o limite de detecção de RNA-HCV foi de 6UI/mL para a metodologia de Amplificação Mediada por Transcrição (TMA). O TMA HCV é um teste qualitativo e, como tal, relata resultados como amostras reativas (RNA-HCV Detectado) ou não reativas (RNA-HCV Não detectado). A avaliação pré-clínica do teste qualitativo foi desenvolvida para a detecção do RNA-HCV através do uso do TMA, conforme proto colo do Comitê Nacional para Padronização Clínica Laboratorial do FDA dos EUA, e os resultados foram publicados, demonstran do capacidade de detecção de 95% de amostras com 5,3UI/mL de RNA HCV equivalentes a 29cópias/mL. Experimentos com amostras clínicas demonstraram que a metodologia de trans crição detectou todos os genótipos com a mesma eficiência. Estudos clínicos detectaram RNA-HCV residual por rt-PCR e TMA em pacientes apresentando recaídas virológicas, após o término da terapia antiviral com Interferon Peguilado (Pegasys ou Roferon), em 7% e 33% dos pacientes respectivamente, con firmando a maior sensibilidade para o método TMA. A alta sensibilidade, especificidade, reprodutibilidade e reativi dade para os diferentes genótipos e subtipos virais confirmam a utilização do teste de TMA, para a rotina qualitativa, em la boratórios de medicina diagnóstica. A detecção de baixas ta xas de concentrações de RNA-HCV por TMA colabora, de forma bastante significativa, no acompanhamento e na diminuição dos custos no tratamento de pessoas portadoras HCV. MÉTODOS: TMA e rt-PCR. AMOSTRA: Sangue em tubo primário estéril. Recomendado: plasma em tubo EDTA-gel ou soro em tubo soro-gel. Vírus da hepatite C – RNA viral; determinação quantitativa (carga viral) A determinação da carga viral é imprescindível como avalia ção complementar para a clínica e no acompanhamento de pacientes infectados por HCV. Os níveis de RNA do HCV, em soro ou plasma, podem refletir o grau de comprometimento histológico da infecção e da resposta do paciente à terapia. O RNA do HCV é detectado na fase inicial da infecção em concen trações mais elevadas, precedendo ou coincidindo com a pri meira elevação significativa da alanina aminotransferase (ALT) baixas do que na fase aguda ou estágio pré-agudo. A deter minação da carga viral permite acompanhar o curso evolutivo da doença, monitorar a resposta de indivíduos infectados à terapia com interferon e colaborar para o estabelecimento do critério de cura. A indicação para o tratamento inclui a presen ça de sintomas da doença, a elevação persistente das transa minases e a carga viral. O limite inferior de quantificação, em níveis plasmáticos, é de 600UI/mL de RNA do HCV e o superior equivale a 850.000UI/mL. Cargas virais menores que o limite inferior e maiores que o superior podem ser deteminadas considerando-se alternativas metodológicas. MÉTODOS: rt-PCR quantitativa, PCR em Tempo Real e bDNA. AMOSTRA: Sangue em tubo primário estéril. Recomendado: plasma em tubo EDTA-gel ou soro em tubo soro-gel. Vírus da hepatite C – genotipagem A diversidade genômica do vírus da hepatite C tem sido reve lada com a identificação de diferentes e novos tipos isolados. No Brasil, os tipos mais prevalentes são 1a (42%), 1b (34%) e 3a (19%); os tipos 2a e 2b ocorrem, respectivamente, em índi ces de 2% e 1%. Além de valiosa informação epidemiológica, a genotipagem tem inquestionável valor para o tratamento médico, pois os diferentes genótipos identificados contêm pro priedades antigênicas específicas, que influenciam a pesquisa de anticorpos. Além disso, o subtipo e o genótipo viral estão associados à gravidade da doença e à resposta ao tratamento com Interferon e antivirais. Existem, atualmente, nove seqüên cias genômicas principais descritas, e cada grupo é dividido em diferentes subgrupos. A importância clínica do genótipo viral é sugerida em estudos retrospectivos, indicando que a cirrose hepática, caracterizada como o estágio avançado da doença, é encontrada, com maior freqüência, em pacientes infecta dos com o genótipo 1b quando comparados a pacientes com os genótipos 1a, 2a e 2b. O genótipo do HCV e a concentração viral pré-tratamento também são importantes em predizer BIOLOGIA MOLECULAR e, geralmente, diminuindo logo após o pico de elevação da ALT. ou plasma analisado (UI/mL). METODOLOGIAS MOLECULARES PARA A INVESTIGAÇÃO, PESQUISA E DIAGNÓSTICO LABORATORIAL variando de 5 a 6 Unidades Internacionais por mililitro de soro os resultados da terapia, sendo que 20% a 70% dos pacientes respondem com normalização dos níveis de aspartato amino transferase (ALT). Pacientes infectados com os genótipos 2a, 2b e 3a apresentam melhor resposta ao tratamento do que aque les com genótipo 1b. Estudos recentes revelaram que o genó tipo e a carga viral são fatores independentes na previsão da resposta à terapia. Os resultados do teste de genotipagem são interpretados em função das variações encontradas nas regiões 5’ não traduzi das dos diferentes genótipos do HCV, amplificadas por técni- 57 03 Biologia Molecular BOOK 16.indd 57 26.10.06 17:48:27 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA cas de biologia molecular e submetidas ao seqüenciamento Blot indeterminados requerem avaliações clínicas e acompa automático. nhamento laboratorial, com novas coletas avaliadas pela rea MÉTODOS: rt-PCR, seqüenciamento nucleotídico, Line probe as say (Lipa) e restriction fragment length polymorphism (RFLP) AMOSTRA: Sangue em tubo primário estéril. Recomendado: plasma em tubo EDTA-gel ou soro em tubo soro-gel. Vírus da imunodeficiência humana tipo 1 (HIV-1) – cDNA viral ou DNA proviral; determinação qualitativa A determinação qualitativa do cDNA viral é recomendada, prin cipalmente, para o diagnóstico da infecção por HIV em crian ças nascidas de mães soropositivas e em casos de indivíduos que apresentam testes sorológicos com resultados duvidosos ou indeterminados. Atualmente, a relação heterossexual constitui-se em uma das formas mais importantes da transmissão HIV/Aids. Dados epidemiológicos, divulgados pelo Ministério da Saúde no Brasil, em estudos desenvolvidos no período entre 1980 a 2002, indicaram que o número de mulheres em idade fértil, infectadas pelo HIV, era equivalente a 85,5% dos casos de Aids na população feminina. Este alto índice resulta em sig nificativo aumento da incidência da infecção em gestantes e, conseqüentemente, na transmissão materno-infantil. Em vis ta disso, é de extrema importância que seja feito o diagnósti co precoce da infecção por HIV nestas mulheres, para que se possa dar início ao tratamento anti-retroviral de alta eficácia (Highly Active Antiretroviral Therapy – HAART). Anteriormente ao advento da terapia, a transmissão perinatal era responsável por cerca de 80% dos casos de Aids em crianças com menos de 1 ano de idade. Atualmente, o uso de AZT e outros anti-retrovirais no início da gravidez pode reduzir, de forma significativa, os valores da carga viral em gestantes soropositivas, diminuin do a taxa de transmissão do HIV a índices de 3%. O diagnóstico laboratorial da infecção por HIV-1 pode ser feito pela pesquisa de anticorpos por técnicas imunoenzimáticas, Western Blot e quimioluminescência. Estas técnicas são, en tretanto, de valor limitado em determinadas populações tais como crianças em idade até 15 meses, nas quais a permanência de anticorpos maternos pode determinar resultados falso-positivos; casos de infecção recente, em períodos inferiores a dois ou três meses, nos quais não houve ainda a soroconversão; ca sos que apresentem resultados indeterminados ou duvidosos e reatividades falso-positivas observadas em pacientes com hepatite alcoólica, anormalidades imunológicas ou neoplas mas, mulheres multíparas e indivíduos politransfundidos, que desenvolvem anticorpos contra antígenos HLA classe II, pre sentes em linhagens de células em que há a replicação do HIV. Resultados de testes imunoenzimáticos reativos e Western ção em cadeia da polimerase (PCR) qualitativa, que permite a amplificação exponencial de seqüências do ácido nucleico do HIV-1, DNA proviral ou cDNA. Esta amplificação é particu larmente importante considerando-se que, na maioria dos pacientes, apenas um pequeno percentual de células suscetí veis é infectado. Além disto, o método independe da resposta imune do hospedeiro, indicando a presença do vírus antes do período de soroconversão. Análises com painéis-controle, utilizando-se reagentes padrões, demonstraram que a PCR apre senta 100% de especificidade, com sensibilidade da ordem de dez cópias de cDNA. MÉTODOS: PCR e PCR em Tempo Real. AMOSTRA: Sangue total em tubo primário estéril contendo EDTA. Vírus da imunodeficiência humana tipo 1 (HIV-1) – RNA viral; determinação quantitativa (carga viral) Os dois tipos distintos de vírus da imunodeficiência humana, HIV-1 e HIV-2, são agentes etiológicos da Aids. O HIV-1 é preva lente nas Américas, Europa Ocidental e África. A classificação das variantes do HIV-1 em subtipos filogenéticos é baseada na análise das seqüências dos genes env (que codifica para a sín tese das glicoproteínas do envoltório) e gag (que codifica para as proteínas estruturais). Estes subtipos são nomeados de A a J e constituem o chamado grupo M (Major). O grupo O (Outlier) e o grupo N (New) apresentam linhagens altamente divergen tes do grupo M, que foram encontradas na África Central. No Brasil, além do subtipo B, que é o mais expressivo, correspon dendo a 89% dos isolados virais, já foram identificados os sub tipos C, F e D, além das formas recombinantes. A transmissão do HIV pode ocorrer por contato sexual, exposição ao sangue contaminado e derivados e da mãe infectada ao feto. Na infec ção inicial observa-se um aumento importante da viremia, que é, posteriormente, inibida pela ativação da resposta imune. As subseqüentes concentrações no plasma refletem o equilíbrio alcançado entre vírus e hospedeiro, que pode durar por alguns anos. Este nível de interação varia de pessoa a pessoa e pode ser preditivo de um curso clínico de longa duração. Nesta fase clinicamente estável, indivíduos infectados geralmente apre sentam baixos e persistentes níveis de viremia e uma deple ção gradual de linfócitos T CD4(+) que pode levar a uma severa imunodeficiência, aparecimento de múltiplas infecções opor tunistas, neoplasias e óbito. A quantificação de partículas virais no sangue periférico, que define a carga viral, pode ser estimada pela quantificação direta do RNA viral no plasma, através de tecnologias de amplificação 58 03 Biologia Molecular BOOK 16.indd 58 26.10.06 17:48:28 EDTA-gel Esta avaliação não é recomendada como confirmatória de tria gem sorológica. A carga viral está correlacionada ao estágio da infecção, risco de evolução à Aids e, quando associada a dados clínicos e outros parâmetros laboratoriais, permite ao clínico estabelecer condutas adequadas no acompanhamento do tra tamento anti-retroviral. As metodologias de biologia molecular podem apresentar di ferentes graus de sensibilidade. A rt-PCR para RNA-HIV é um teste utilizado na quantificação do RNA do HIV-1 no plasma, que possibilita a quantificação de subtipos B e não-B do gru po M. Essas quantificações em níveis plasmáticos apresentam sensibilidades que podem variar desde 50 cópias de RNA viral por mililitro de plasma, para testes ultra-sensíveis, até o limite superior estimado em 750.000 cópias. Outros métodos quantificam os níveis de RNA no plasma: Quantiplex branched DNA (bDNA), Nucleic Acid Sequence Base ad Amplification-Tempo Real e a versão rt-PCR em Tempo Real. Os métodos apresentam faixa do limite de detecção variando de 40 a 10.000.000 de cópias de RNA por mililitro de plasma, considerando características próprias para cada metodologia, as quais devem ser analisadas como critério de escolha para as avaliações laboratoriais. A técnica de bDNA amplifica o sinal do RNA viral alvo, que é capturado por hibridização com oligonu cleotídeos. A rt-PCR e NASBA utilizam princípios enzimáticos para a amplificação de fragmentos do genoma viral. Os três métodos já foram cientificamente comparados e demonstra ram ser amplamente confiáveis; contudo, devido a diferenças Vírus da imunodeficiência humana tipo 1 (HIV-1) – RNA viral; determinação quantitativa ultra-sensível Vários estudos têm demonstrado que a concentração viral é um fator crítico na durabilidade e manutenção da resposta de indivíduos infectados por HIV ao tratamento com anti-retrovirais. Linhagens virais mutantes, que são mais eficazmente selecionadas sob condições de pressão seletiva, exercida pelo sistema imunológico ou pela intervenção farmacológica pro longada, apresentam alterações em seqüências específicas do genoma viral e constituem-se na principal causa do fracasso terapêutico. No entanto, a probabilidade do desenvolvimento de resistência viral, associada a mutações, mostra-se muito baixa quando a taxa de replicação viral é fortemente suprimi da pela terapia tríplice. Dados da literatura indicam que, dos indivíduos tratados com terapia tríplice, que atingem níveis não detectados de RNA/HIV pelo método ultra-sensível, somente 7% retornam a níveis virais acima de 1.000cópias/mL. Por outro lado, 34% dos indivíduos submetidos ao mesmo esquema terapêutico, que apresentam valores de carga viral entre 20 e 200 cópias/mL,retornam a níveis virais superiores a 1.000 cópias/mL. O regime preferencial para a terapia tríplice inclui dois inibidores de RT análogos de nucleo sídeo associados a um inibidor de protease ou dois inibidores de RT análogos de nucleosídeo associados a um inibidor de RT não análogo de nucleosídeo. Estas condutas são modificadas de acordo com os resultados observados na prática clínica e são de nas metodologias aplicadas, seus resultados não devem ser finidas em reuniões científicas determinadas por consenso. associados ou mesmo comparados sem que haja a conversão Testes ultra-sensíveis apresentam faixa linear de detecção en para valores logarítmicos. Os níveis de carga viral apresentam-se mais elevados na fase aguda e no estágio tardio da doença, com valores intermediá tre 50 e 75.000cópias/mL para rt-PCR, 50 a 500.000cópias/mL para bDNA e 40 a 1.000.000 cópias/mL para NASBA e são utilizados, principalmente, para monitorar o tratamento de pacien rios em estágios clínicos iniciais. Isto se deve à dinâmica da tes com baixa carga viral. replicação viral associada à patogênese viral em que devemos MÉTODOS: rt-PCR ultra-sensível, bDNA, NASBA e rt-PCR em Tem avaliar todas as situações e fatores significativos relativos ao vírus e ao hospedeiro. Os fatores relacionados ao aumento da carga viral podem ser a doença progressiva, falha na terapêutica anti-retroviral, in fecções ativas e imunizações. Em casos de falha do tratamento ou retorno da carga viral aos valores iniciais, recomenda-se a avaliação da presença de mutações de resistência aos anti-retrovirais, em segmentos específicos do genoma do HIV-1 para melhor adequação do esquema terapêutico. MÉTODOS: rt-PCR, NASBA, bDNA e PCR em Tempo Real. po Real. BIOLOGIA MOLECULAR AMOSTRA: Sangue em tubo primário estéril, contendo EDTA: PCR em Tempo Real, b-DNA, Nuclisens-NASBA em Tempo Real). METODOLOGIAS MOLECULARES PARA A INVESTIGAÇÃO, PESQUISA E DIAGNÓSTICO LABORATORIAL do ácido nucleico ou amplificação de sondas marcadas (rt-PCR, AMOSTRA: Sangue (tubo primário estéril, contendo EDTA). Reco mendado: plasma em tubo EDTA-gel. Genotipagem do HIV-1 – Resistência a inibidores de protease e inibidores de transcriptase reversa O sucesso de terapias agressivas combinadas tem sido extre mamente encorajador. Entretanto, a resistência do HIV-1 às drogas anti-retrovirais atualmente utilizadas é encontrada em um número significativo de pacientes e parece ocorrer, com maior freqüência, em pacientes com doença avançada. A falha 59 03 Biologia Molecular BOOK 16.indd 59 26.10.06 17:48:29 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA terapêutica, observada com o retorno da carga viral aos níveis Os inibidores de protease (PIs) atuam no centro ativo enzimático pré-tratamento após uma resposta inicial positiva, pode ser e interagem com vários aminoácidos desta região de ligação, de- explicada por diferentes fatores: não-aderência do paciente, pendendo do tamanho de sua molécula. A forte ligação destes terapia subotimizada, biodisponibilidade diminuída da droga e compostos ao substrato enzimático inibe a atividade da protea- predominância da população de vírus mutantes. O início da in se, impedindo a maturação de partículas virais infecciosas. Estas fecção está associado a uma população homogênea de HIV que drogas são relacionadas de acordo com a seguinte nomencla é, usualmente, sensível aos anti-retrovirais; porém, a elevada tura: saquinavir (Invirase), ritonavir (Norvir), indinavir (Crixivan), taxa de replicação viral durante o curso da infecção e a ausên amprenavir (Agenerase), nelfinavir (Viracept), lopinavir/ritonavir cia de mecanismos de reparação da enzima polimerase geram (Kaletra) e atazanavir (Reyataz). Mutações relacionadas à resis uma produção diária de 1010 partículas virais, com taxa de mu tência aos PIs têm sido relatadas para todos os compostos usa tação equivalente a 3x10-5 nucleotídeos por ciclo de replicação. dos no tratamento de pacientes soropositivos. A distinção entre Além disto, formas resistentes podem estar presentes nesta po mutações primárias e secundárias é mantida para os PIs, uma pulação, em baixos níveis, antes do início da terapia. A terapia vez que as mutações consideradas primárias apresentam maior anti-retroviral suprime os vírus selvagens mas, ao mesmo tem- efeito sobre a suscetibilidade às drogas quando comparadas às po, seleciona os mutantes que podem constituir, gradualmente, secundárias. As mutações secundárias ou acessórias não confe- a cepa dominante. O desenvolvimento de resistência do HIV-1 rem, por si só, resistência aos PIs, mas contribuem para o grau de às drogas anti-retrovirais decorre de mutações no genoma viral, resistência quando associadas a outras mutações. em regiões que codificam para as enzimas transcriptase rever sa e protease; a função enzimática não é afetada por inibidores e a replicação viral se processa normalmente. Estudos sobre a resistência fenotípica às drogas e a detecção de mutações específicas no genoma do HIV podem ser úteis no planejamento da terapia combinada. A genotipagem (seqüen Os inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosí- ciamento de DNA) é o método de escolha para a identificação deo/nucleotídeo (NRTIs) zidovudina (Retrovir), didanosina (Vi de mutações nos genes da protease e da transcriptase reversa dex), zalcitabina (Hivid), lamivudina (Epivir), estavudina (Zerit), do HIV-1, podendo predizer um possível fracasso terapêutico e zidovudina/lamivudina (Combivir), abacavir (Ziagen), tenofovir relacionando quais drogas não devem ser utilizadas na tera (Viread) são os compostos aprovados pelo FDA para o trata pia anti-retroviral. Os resultados devem ser interpretados em mento da Aids. Eles atuam de forma semelhante, inibindo a associação a dados referentes a tratamentos prévios e outras enzima transcriptase reversa por competição pelo substrato informações clínicas e laboratoriais relevantes. ou podem atuar como cadeias finais da reação de transcrição reversa, inibindo a síntese do cDNA viral. O teste de genotipagem deve ser indicado a pacientes infec tados por HIV-1 que exibem fracasso à terapia anti-retroviral e Mutações de resistência têm sido relatadas para todos os com apresentam níveis de RNA viral superiores a 2.000 cópias por postos usados no tratamento de pacientes infectados, e o ní mililitro de sangue. Amostras com valores inferiores podem vel de resistência é proporcional ao número de mutações que apresentar quantidades insuficientes de cDNA para as reações ocorrem na região, codificando para a transcriptase reversa do de amplificação e seqüenciamento nucleotídico. Heterogenei HIV-1. Múltiplas mutações podem ser necessárias para conferir dade genética viral e inibidores endógenos também podem resistência a uma determinada droga ou a uma combinação impedir a obtenção de resultados favoráveis. de drogas; de modo inverso, a ausência de mutações não impli ca, necessariamente, suscetibilidade ao anti-retroviral. A maioria dos métodos laboratoriais para a detecção de muta ções associadas à resistência aos anti-retrovirais utiliza méto Os inibidores de RT não análogos de nucleosídeo (NNRTIs) dos fundamentados na reação em cadeia da polimerase (PCR), não competem com o substrato natural para a ligação à RT na qual o segmento do genoma do HIV-1, codificando para do HIV-1, mas são capazes de inativar diretamente a enzima e transcriptase reversa e protease, é amplificado e utilizado em podem atuar logo no início da replicação viral, inativando a RT uma segunda reação, empregando-se pares de primers espe dentro do próprio virion. Os NNRTIs aprovados para uso clínico cificamente definidos para a amplificação de seqüências de são nevirapina (Viramune), delavirdina (Rescriptor) e efavirenz mutantes ou selvagens, em códons de interesse. Os segmentos (Sustiva). As mutações que conferem resistência a estas drogas amplificados por PCR podem, alternativamente, ser analisados são encontradas próximas ao sítio de ligação alostérico da RT por técnicas de seqüenciamento dos produtos obtidos ou após do HIV-1, induzindo à alteração conformacional da enzima que clonagem em vetores plasmídeos, utilizando-se seqüenciado inibe a polimerização. res fluorescentes automatizados. 60 03 Biologia Molecular BOOK 16.indd 60 26.10.06 17:48:29 classes de drogas disponíveis (NRTIs, NNRTIs e PIs), prolonga a vida, decresce a taxa de mortalidade e previne as infecções oportunistas. Como principal conseqüência da eficácia da terapia antiviral, há uma considerável reconstituição imune. Além destas, que atuam no processo de replicação viral, têm sido descritas drogas que previnem a penetração do vírus na célula, como o Enfuvirtide (Fuzeon, T-20), peptídeo que corres ponde aos aminoácidos 638 a 673 da gp41 do HIV-1, aprovado pelo FDA como o primeiro inibidor de fusão vírus-célula para uso na terapia anti-retroviral combinada, no tratamento de adultos e crianças a partir dos seis anos de idade, em estágio avançado da doença. – DLV – Delavirdina (Rescriptor®) INIBIDORES DE PROTEASE (PIS): Os PIs, mais potentes que os inibidores de RT, são análogos sinté ticos, assemelhando-se aos aminoácidos que são reconhecidos e especificamente clivados pela enzima. A forte ligação destes compostos ao substrato enzimático inibe a atividade da protea se, impedindo a maturação de partículas virais infecciosas. Inibidores de Protease – APV – Amprenavir (Agenerase®) – IDV – Indinavir (Crixivan®) – LPV/r – Lopinavir/Ritonavir (Lopinavir/r, Kaletra®) – NFV – Nelfinavir (Viracept®) – RTV – Ritonavir (Norvir®) INIBIDORES DE TRANSCRIPTASE REVERSA ANÁLOGOS DE – SQV – Saquinavir (Invirase® e Fortovase®) As primeiras drogas de uso clínico, desenvolvidas para o tra Testes de Resistência Viral NUCLEOSÍDEO/NUCLEOTÍDEO (NRTIS) tamento da doença associada ao HIV-1, foram os NRTIs, que requerem fosforilação à forma trifosfato para inibir a enzima viral. Seu mecanismo de ação consiste na atuação da forma trifosfato como inibidor ativo da RT HIV-1, formando cadeias finais da reação de transcrição reversa e inibindo a síntese do cDNA viral. Análogos de Nucleosídeo – AZT – Zidovudina (Retrovir®) – ddC – Zalcitabina (Hivid®) – ddI – Didanosina (Videx®) – d4T – Estavudina (Zerit®) – 3TC – Lamivudina (Epivir®) – ABC – Abacavir (Ziagen®) Análogo de Nucleotídeo – TDF – Tenofovir (Viread®) INIBIDORES DE TRANSCRIPTASE REVERSA NÃO ANÁLOGOS DE NUCLEOSÍDEO (NNRTIS) Os NNRTIs são capazes de inativar diretamente a enzima, ligando-se ao sítio hidrofóbico na subunidade p66 de RT, próximo ao sítio enzimático catalítico. Estas drogas não apresentam os riscos de efeitos colaterais tóxicos, decorrentes da interferên cia com o metabolismo dos nucleotídeos e com a biossíntese Existem dois testes instituídos para avaliar a sensibilidade ou resistência do HIV aos anti-retrovirais – testes de resistência genotípicos e fenotípicos. Ambos estão disponíveis comer cialmente, sendo que dentre os genotípicos incluem-se: HIV-1 TrueGene™, Visible Genetics; ViroSeq™; Applied Biosystems; ViroGene™ LabCorp/Virco; GenoSure™, LabCorp; GENChec™, Virco; GeneSeq™, Virologic; InnoLipa®, Bayer. Os de resistência fenotípica são: Antivirogram®, Virco; PhenoSense™, ViroLogic; Phenoscript™, VIRalliance. A restrição a ambos os métodos é, obrigatoriamente, considerar necessária uma quantidade mí nima de vírus no plasma para a execução dos testes. Uma car ga viral abaixo de 1.000cópias/mL não permite, muitas vezes, a detecção da resistência viral. FENOTIPAGEM Os testes de resistência fenotípica envolvem, diretamente, a quantificação da sensibilidade aos anti-retrovirais. A replica ção viral é medida em cultura celular sob a pressão seletiva de concentrações crescentes dos anti-retrovirais, comparando com o vírus selvagem. As concentrações dos anti-retrovirais são expressas em IC50, observando-se o mínimo requerido por um fármaco para inibir 50% da replicação do HIV. A sensibilidade do vírus é expressa em IC50, comparada ao valor do cut-off. Deve-se de ácidos nucléicos, associados aos NRTIs, e podem atuar logo considerar que esta razão está relacionada ao vírus selvagem. no início da replicação viral, inativando a RT dentro do próprio A determinação do cut-off é decisiva na interpretação dos re virion. Não Análogos – NVP – Nevirapina (Viramune®) BIOLOGIA MOLECULAR O tratamento da infecção por HIV-1 em humanos, com as – EFV – Efavirenz (Sustiva®) METODOLOGIAS MOLECULARES PARA A INVESTIGAÇÃO, PESQUISA E DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Considerações complementares sultados. Podem ser utilizados três tipos de cut-off. O técnico/ mecânico é o valor expresso para a variabilidade metodológica do teste, e é aproximadamente 2,5 a 4 vezes mais que o IC50 do 61 03 Biologia Molecular BOOK 16.indd 61 26.10.06 17:48:30 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA vírus selvagem. O cut-off biológico inclui a variabilidade inte cionado ao HTLV-I, é o HTLV-II, isolado de indivíduos com pato rindividual do vírus isolado em doentes soropositivos para HIV logias ainda a serem esclarecidas em definitivo. sem qualquer terapêutica e é ligeiramente superior ao cut-off técnico/mecânico. O cut-off biológico não permite, entretanto, a previsão da resposta à terapêutica. O terceiro tipo, cut-off clínico, indica até que níveis de sucesso virológico podem ser esperados para um determinado valor do IC50. As desvantagens dos testes fenotípicos incluem o procedimen to moroso, o elevado custo e o fato de não se conhecerem índi ces de cut-off clínicos para vários fármacos. GENOTIPAGEM Os testes genotípicos baseiam-se na análise e interpretação de várias mutações associadas à resistência, determinadas pelo seqüenciamento direto de genes específicos do genoma do HIV-1 amplificado ou por técnicas de hibridização específica com o vírus selvagem. Os testes genotípicos só detectam mu tantes compreendidos entre 20% e 30% do total da população viral, promovendo uma avaliação indireta da resistência aos anti-retrovirais. Mutações associadas à reduzida sensibilidade têm sido descritas com sucesso para a maior parte dos fár macos existentes, mas o elevado número de vírus resistentes, incluindo mutações compensatórias, faz com que haja signi ficativa dificuldade na interpretação do grau de resistência a determinados anti-retrovirais. Algumas das bases de dados mais importantes para o perfil de resistência e sistemas interpretativos estão disponíveis gratui tamente nas seguintes páginas da internet: – Stanford-Database: http://hivdb.stanford.edu – LosAlamos-Database: http://www.hiv.lanl.gov – Geno2pheno(Arevir): http://www.geno2pheno.org Os fornecedores comerciais de testes de resistência também disponibilizam guidelines para a sua interpretação (por exem plo: VirtualPhenotype™, Virco; TruGene™, Visible Genetics; Re trogram™, Virology Networks, ViroSeq ABI). MÉTODOS: rt-PCR e seqüenciamento nucleotídico. AMOSTRA: Sangue (tubo primário estéril, contendo EDTA): EDTA-gel. Vírus linfotrópico de células T humanas – HTLV-I e HTLV-II, detecção qualitativa O HTLV-I foi estabelecido como agente etiológico de certos lin fomas cutâneos de células T de adultos e de distúrbios degene rativos do sistema nervoso central, uma patologia denominada de Paraparesia Espástica Tropical. Outro tipo de Retrovírus, rela- A patogênese de ambos,HTLV-I e HTLV-II,demonstra alta afinida de pelos linfócitos T maduros. O genoma viral integra-se ao ge noma da célula hospedeira e a presença de seqüências gênicas virais permite a sua detecção por metodologias moleculares. Através do uso de interleucinas estimulantes do crescimento celular T, foi possível a identificação, em cultura, da expressão viral do tipo I, que se revelou bastante baixa em células. Gene ticamente, a presença de um gene tax, cujo produto altera a expressão gênica de outros vírus, traduz o que se denomina transregulação. Estes genes são necessários à replicação e con tribuem para a oncogênese ao modular produtos gênicos que apresentam atividade no crescimento celular. A transmissão do HTLV-I depende da integração do vírus à célula, e pode haver transmissão da mãe portadora para seu filho, principalmente através do aleitamento materno, com efi ciência estimada em até 25%. A transfusão de sangue constitui uma outra forma bastante eficaz de contaminação, recomendando-se atenção para indivíduos que possam ser portadores assintomáticos. As avaliações moleculares colaboram em muito para o diag nóstico etiológico de infecções por HTLV-I e HTLV-II. Métodos de PCR e rT-PCR são disponibilizados para a investigação de RNA viral ou cDNA em análises realizadas a partir de sangue total e plasma coletados em EDTA. As seqüências gênicas que podem ser investigadas são abrangentes, e as descrevemos como as regiões dos genes pol, gag, tat e ltr. Para investigações de pesquisas, há a possibilidade de avalia ção do colostro e leite materno quando houver indicações clí nicas e epidemiológicas. MÉTODOS: rT-PCR e PCR. MATERIAIS: Sangue total em EDTA (tubo primário e estéril). Mycobacterium tuberculosis, método qualitativo O gênero Mycobacterium abrange várias espécies patogêni cas para o homem, e a tuberculosis é a de maior importância, uma vez que acomete cerca de um terço da população mun dial, com estimativas de oito milhões de novos casos e três mi lhões de óbitos ao ano. Transmitidos por aerossóis, os bacilos da tuberculose são inalados, atingem os pulmões e penetram, rapidamente, em macrófagos alveolares. A infecção pode apre sentar evolução primária, reativação, ou ser do tipo congênito, com cursos clínicos pulmonares e extrapulmonares. A infecção primária é controlada pela resposta imune em 90% a 95% da 62 03 Biologia Molecular BOOK 16.indd 62 26.10.06 17:48:31 (essencialmente entre as mulheres) e formas de transmissão dos de suas vidas. não-venéreas que acometem principalmente crianças. A presença de Mycobacterium tuberculosis é observada, com A maioria das infecções gonocócicas acomete o trato genital maior freqüência, em pacientes portadores do vírus da sín drome da imunodeficiência adquirida (Aids), com desordens malignas, imunossuprimidos e usuários de drogas. O aumento da incidência da tuberculose associada à Aids e do número de cepas resistentes a uma ou mais drogas tuberculostáticas evi dencia a necessidade da utilização de métodos cada vez mais rápidos, sensíveis e específicos para a detecção e diagnóstico la boratorial de infecções e doenças causadas por Mycobacterium tuberculosis. O diagnóstico feito por métodos mais tradicionais inclui as condutas clínicas, epidemiológicas e laboratoriais em conjunto com a baciloscopia, método rápido e de baixo custo, porém pouco sensível e específico, e a cultura que, embora seja considerada método de referência, requer prazos que se esten dem de duas a oito semanas para o isolamento do bacilo. Metodologias moleculares tornaram-se promissoras para o diagnóstico rápido, sensível e específico da tuberculose, atra vés da amplificação e detecção do DNA bacteriano, permitin do não só o esclarecimento diagnóstico como a adequação terapêutica. Dados da literatura indicam que, dentre as amos tras de secreções respiratórias com baciloscopia positiva, a sensibilidade da técnica de PCR foi superior a 90% e aproxi madamente 50% das amostras com cultura positiva, porém não detectadas pela baciloscopia, apresentaram resultado po sitivo por PCR. Em outros estudos, a especificidade observada foi de 100%, o valor preditivo positivo alcançou valores entre 90% e 100% e o valor preditivo negativo foi superior a 95%. inferior, mas dentre as complicações podem ocorrer endocar dite, meningite, artrite e pielonefrite. Em homens, a doença se apresenta, usualmente, sob a forma de uretrite aguda, com sintomas precoces de sensação de desconforto e dor, em pra zos de até sete dias após o contágio. Os casos assintomáticos são estimados em 1% a 5% dos infectados. Na ausência de tratamento, a infecção pode evoluir da uretra anterior para a posterior, com quadros de aumento de disúria, poliúria, febre, dor de cabeça, acometimento de glândulas, dutos e vesículas do trato geniturinário, infecção crônica da próstata, vesícula seminal e epidídimo e estreitamento uretral. As infecções assintomáticas são mais comuns nas mulheres do que nos homens; e, desta forma, as portadoras assintomá ticas representam o principal obstáculo no controle da doença. Nas mulheres, o sítio primário da infecção é, geralmente, o en docérvice, e as infecções podem ser sintomáticas e não-complicadas ou assintomáticas, com pouco ou nenhum grau de inflamação do endocérvice ou vulvovaginites. A partir destes sítios, a infecção pode disseminar-se para o endométrio, trom pas ovarianas, ovários e peritônio, causando a doença inflama tória pélvica (DIP). Além das infecções do trato genital, também podem ocorrer infecções gonocócicas anorretais, oculares, em orofaringe, e a forma disseminada, observada em 1% a 3% das pessoas infectadas e geralmente associada à infecção assin tomática de casos não tratados. A infecção gonocócica ocular é mais freqüentemente relatada em recém-nascidos de mães MÉTODO: PCR. portadoras, que se contaminaram no canal do parto. AMOSTRA: Sangue total (tubo primário estéril, contendo EDTA); O isolamento da bactéria em cultura é considerado o teste escarro; lavado brônquico ou lavado alveolar; líquido pleural; liquor ou urina (a primeira urina da manhã por três dias conse os, em frascos estéreis). padrão-ouro no diagnóstico da gonorréia e tem importância em relação à informação sobre a resistência bacteriana. Mas a sensibilidade do método apresenta índices de 80% a 95%, atribuindo-se os resultados falso-negativos às dificuldades de Neisseria gonorrhoeae, método qualitativo Dentre as doenças sexualmente transmissíveis, as de maior freqüência são as infecções que apresentam como agentes etiológicos Chlamydia trachomatis, Papilomavírus Humano e Neisseria gonorrhoeae. A gonorréia é uma doença antiga, que atinge proporções epidêmicas,sendo o homem o único hospedeiro natural,e a via sexual a forma mais comum de transmissão. Diversos fatores contri buem para o aumento da incidência da infecção tais como: re sistência bacteriana aos antibióticos, variação antigênica, alto grau de transmissibilidade do patógeno, curto período de incu transporte e conservação. As amostras clínicas submetidas à BIOLOGIA MOLECULAR bação da infecção, elevada taxa de portadores assintomáticos primariamente apresentam infecção latente por longos perío METODOLOGIAS MOLECULARES PARA A INVESTIGAÇÃO, PESQUISA E DIAGNÓSTICO LABORATORIAL população considerada sadia, e os indivíduos que se infectam cultura devem ser semeadas imediatamente, uma vez que a bactéria é altamente sensível a variações de temperatura e so fre um processo de rápida autólise. A reação em cadeia da polimerase (PCR) é um método de alta especificidade e sensibilidade, que utiliza a amplificação do ácido nucleico bacteriano (DNA-alvo), permitindo sua detec ção mesmo em pequenas concentrações. Além disto, o método se aplica à investigação simultânea dos agentes bacterianos Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis, na mesma amostra ou de forma isolada. 63 03 Biologia Molecular BOOK 16.indd 63 26.10.06 17:48:31 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA A pesquisa de DNA por Captura Híbrida também apresenta A C. trachomatis pode permanecer durante vários anos no tra excelente acurácia diagnóstica, além de oferecer múltiplas to urogenital de indivíduos infectados, não tratados com tera opções de espécimes para a realização do rastreamento de pa pia antimicrobiana. cientes de risco e permitir a coleta única para o diagnóstico de infecções por Chlamydia trachomatis, Neisseria gonorrhoeae e Papilomavírus Humano. A transmissão, em recém-nascidos, ocorre com mais freqüên cia por exposição à bactéria no canal do parto, e estima-se em 60% o índice de crianças contaminadas, nascidas de mães in MÉTODO: PCR. fectadas. A infecção pode permanecer assintomática, mesmo AMOSTRA: Primeira urina da manhã ou ao menos duas horas durante anos após o nascimento, ou se manifestar com qua após a última micção (frasco plástico, estéril); swab uretral ou endocervical. MÉTODO: Captura Híbrida. dros de conjuntivite e, posteriormente, pneumonia; 20% a 30% dos casos de recém-nascidos de mães infectadas apresentam conjuntivite purulenta autolimitada, entre cinco a 12 dias após o nascimento, e síndrome pneumônica, entre três a dez sema AMOSTRA: Swab uretral ou endocervical. nas. Cerca de 30% das pneumopatias em recém-nascidos são INSTRUÇÕES DE COLETA: causadas por esta bactéria. – Colo uterino: A paciente não deve estar menstruada e são necessários três dias de abstinência sexual. Não efetuar exa me digital (toque), colposcopia e assepsia prévia (se houver necessidade de coleta para a citologia, esta deve ser realiza da em primeiro lugar). Remover, com algodão ou gaze, o ex cesso de muco ao redor do orifício externo e do ectocérvice; introduzir cerca de 1cm a 1,5cm da escova no canal cervical e girá-la três vezes. Inserir imediatamente a escova no tubo, mergulhando-a na solução tampão, quebrar a haste da esco va e fechar o tubo. Agitá-lo por 30 segundos, mantendo-o à temperatura entre 2ºC e 8ºC e enviá-lo ao laboratório em 24 horas. – Uretra: Coletar o material diretamente com a escova e proce der como descrito acima. Chlamydia trachomatis – método qualitativo A bactéria gram-negativa Chlamydia trachomatis é um pató geno primariamente humano e, obrigatoriamente, intracelular. A espécie é composta por 20 sorotipos: os identificados como sorotipos A, B, Ba e C estão associados a episódios de tracoma, e os sorotipos D a K às doenças sexualmente transmissíveis, sendo D, E e F os mais freqüentes. Os sorotipos L 1, L 2 e L 3 são responsáveis pela síndrome do linfogranuloma venéreo e in fecções genitais por múltiplos sorotipos já foram descritas. As infecções por C. trachomatis, agente etiológico mais comum das doenças sexualmente transmissíveis nos países desenvol vidos, são responsáveis por cerca de 50% dos casos de uretrite não-gonocócica (UNG) em homens adultos e, em mulheres, 30% dos casos se manifestam sob a forma de cervicite. Estudos de prevalência de anticorpos para C. trachomatis mostram que a exposição a este agente é, ao menos, três vezes mais comum entre mulheres com infertilidade por problemas tubários e gravidez ectópica, quando comparadas à população-controle. Em adultos, a infecção por C. trachomatis pode resultar em uma variedade de síndromes distintas, que vão desde as infec ções urogenitais assintomáticas até a apresentação classica mente descrita – o linfogranuloma venéreo. A razão de sua alta incidência é atribuída ao fato de que 25% dos homens e 75% das mulheres são assintomáticos, o que dificulta e retarda o diagnóstico do processo infeccioso. A infecção por C. trachomatis apresenta período de incubação de dez a 14 dias e persiste por semanas, e em 30% dos casos evolui para a cura espontânea em duas a três semanas. Nas mulheres, além de cervicite, uretrite, endometrite e inflama ção pélvica, a infecção bacteriana causa salpingites aguda e crônica, e a infertilidade, a gravidez ectópica e a peri-hepatite (Síndrome de Fitz-Hugh-Curtis) são as complicações mais im portantes. Em indivíduos do sexo masculino causa uretrites (30% a 50% dos casos) e epididimites, e em homens sexual mente ativos, acima dos 35 anos de idade, a infecção por C. trachomatis é a causa mais comum de epididimite. Na forma sintomática, as uretrites se caracterizam por disúria, corrimen to e prurido uretral inespecíficos. A participação da bactéria em processos de prostatite crônica e infertilidade masculina não está, ainda, bem definida. Contudo, a incidência de anti corpos contra Clamídia nestes pacientes é muito maior do que na população em geral. A mucosa retal pode, com menos fre qüência, ser acometida em ambos os sexos, com quadros de proctocolite que variam de assintomáticos a extremamente graves. Os acometimentos ocular (tracoma endêmico ou auto inoculação genito-ocular) e articular (Síndrome de Reiter) tam bém são descritos. Por sua apresentação oligossintomática ou assintomática e ausência de critérios específicos para o diagnóstico clínico, a infecção por C. trachomatis torna obrigatório o diagnóstico la boratorial em quase todos os casos. Por sua alta especificidade, 64 03 Biologia Molecular BOOK 16.indd 64 26.10.06 17:48:32 o teste-padrão ouro na detecção de C. trachomatis e pode ser AMOSTRA: Swab uretral ou endocervical. substituída por metodologias moleculares; entretanto, por ser esta bactéria um organismo de vida obrigatoriamente intrace lular, as condições impróprias de armazenamento e transporte das amostras clínicas podem tornar a sensibilidade do método relativamente baixa (70% a 80%), uma vez que ele possibili ta apenas a detecção de organismos viáveis. Além disso, é um método laborioso, que exige longo tempo para a obtenção dos resultados. A técnica de imunofluorescência direta (ID), que utiliza anticorpos monoclonais fluorescentes específicos, apre senta maior sensibilidade que a cultura de células, mas tem a desvantagem de apresentar reações cruzadas com outros microrganismos presentes nas amostras clínicas, diminuindo a sua especificidade. Os ensaios imunoenzimáticos (EIA) para a detecção de anticorpos IgG, embora menos sensíveis que a cultura de células e menos específicos que a ID, são aceitos como teste de rastreamento em populações de alto risco; to davia, necessitam de testes confirmatórios em outros grupos. Chlamydia pneumoniae – método qualitativo A infecção por C. pneumoniae caracteriza-se dentre as pneu monias atípicas. Há o comprometimento das vias aéreas, com insuficiência respiratória aguda ou fulminante e evolução, em percentuais variados, para um infiltrado intersticial localizado ou difuso. As formas mais tradicionais de métodos laboratoriais para o diagnóstico etiológico podem auxiliar na definição de infecções passadas, no caso da sorologia, ou com baixa sensibilidade em infecções recentes, como é o caso da cultura. As metodologias moleculares auxiliam de forma mais rápida, sensível e específi ca para o diagnóstico desta infecção, a partir da análise de ma teriais biológicos de secreção, aspirados, swabs de orofaringe, lavado broncoalveolar, líquido pleural e biópsia de pulmão. Amostras obtidas em um estágio muito precoce da infecção MÉTODO: PCR. podem conter anticorpos em níveis não detectáveis, e uma se MATERIAL: Secreção, aspirados, swabs de orofaringe, lavado gunda amostra deve ser analisada, paralelamente, após dez a 21 dias. Os EIA possuem valor preditivo baixo, devido à persis tência de anticorpos após a resolução da infecção e sua utili zação em amostras de urina não é aconselhável, dificultando o rastreamento de pacientes assintomáticos. Vários trabalhos demonstram que a amplificação do DNA bacteriano por rea ção em cadeia da polimerase (PCR) é um procedimento labora torial que apresenta maior sensibilidade, especificidade e valor preditivo que os métodos anteriormente descritos, sendo que a sensibilidade analítica da amplificação do DNA é comparada com a sensibilidade da hibridização específica do rRNA clamí dico ou com o método de Captura Híbrida. Os testes molecula res oferecem as vantagens da presença de controles internos, que tornam os resultados altamente confiáveis e podem ser utilizados tanto para amostras de urina como swabs de ho mens e mulheres, permitindo o rastreamento em pacientes assintomáticos de alto risco, por método não invasivo e de bai xo custo. A utilização de swabs cervicais permanece necessária em pacientes grávidas, para assegurar a detecção de infecções cervicais ou vaginais na ocasião do parto. A pesquisa do DNA bacteriano por Captura Híbrida também apresenta excelente sensibilidade e especificidade, além de permitir a coleta úni ca para o diagnóstico de infecções por Chlamidia trachomatis, Neisseria gonorrhoea e Papilomavírus Humano. MÉTODOS: Reação em Cadeia da Polimerase e Captura Híbrida. AMOSTRA: Urina, secreção ou escovados uretrais ou endocervicais. broncoalveolar, líquido pleural e biópsia de pulmão. Toxoplasma gondii O T. gondii é um protozoário coccídio de distribuição mundial, implicado como agente etiológico em quadros de toxoplasmo se congênita ou pós-natal. Em pacientes com Aids ou imuno comprometidos podem ocorrer infecções fulminantes e fatais, presumivelmente devido à transformação de infecção crônica em aguda. Podem ocorrer graus variáveis da doença, resultando em retini te ou coriorretinite, encefalite, pneumonite e outras condições. Os métodos imunológicos podem apresentar necessidades de confirmação para aqueles indivíduos com reatividades inde terminadas em sorologia. As metodologias moleculares auxiliam em condições em que BIOLOGIA MOLECULAR MÉTODO: Captura Híbrida. METODOLOGIAS MOLECULARES PARA A INVESTIGAÇÃO, PESQUISA E DIAGNÓSTICO LABORATORIAL próxima a 100%, a técnica de cultura de células é considerada há necessidade de confirmação ou definição do diagnóstico em imunossuprimidos, em casos de acometimento ocular ou do sistema nervoso central e também para estabelecer um diag nóstico diferencial da infecção congênita no pré e pós-natal. O DNA do T. gondii deverá ser extraído e purificado de amos tras biológicas tais como: liquor, material de biópsia, líquido amniótico e sangue total em EDTA. Através da utilização de ini ciadores oligonucleotídicos específicos para o gene do T.gondii é possível, com alto grau de sensibilidade, a amplificação e de tecção destes fragmentos genômicos. 65 03 Biologia Molecular BOOK 16.indd 65 26.10.06 17:48:32 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA MÉTODO: PCR. MATERIAIS: liquor, material de biópsia, líquido amniótico e san total em EDTA. Mycoplasma pneumoniae Mycoplasma pneumoniae é responsável por 10% a 20% dos ca sos de pneumonias adquiridas em comunidades e é associado à exacerbação da asma aguda, a infecções respiratórias leves da garganta, faringites, rinites e traqueobronquites. O correto diagnóstico de infecção por M. pneumoniae é impor tante para permitir o uso adequado do antibiótico, uma vez que é impossível a identificação do agente etiológico apenas pelos sinais e sintomas clínicos. Os métodos convencionais para esta análise mostram-se bastante limitados e exige técnicas mais acuradas. A cultura é demorada e limitada, a sorologia nem sempre apresenta sensibilidade adequada e a resposta pela IgM nem sempre é específica. São recomendados os métodos moleculares que apresentam capacidade de detecção mais precoce, sensível e específica. A hibridização com sondas de DNA tem sido proposta como específica e rápida apesar de apresentar baixa sensibilidade. Técnicas de amplificação de ácidos nucleicos apresentam um potencial de resultados rápidos, sensíveis e específicos, permi tindo a intervenção imediata da terapia com antibióticos. Os métodos moleculares devem ser recomendados para a investigação de indivíduos na fase de portadores da infecção produtiva ou em latência. Amostras clínicas podem ser selecionadas entre materiais, como escarro e lavado broncoalveolar, swabs de nasofaringe e garganta, aspirado de nasofaringe e traqueal e fluido pleural. Menos usual são materiais de biópsias pulmonares e urina MÉTODO: PCR. MATERIAL: Escarro e lavado broncoalveolar, swabs de nasofaringe e garganta, aspirado de nasofaringe e traqueal, fluido pleural. 66 03 Biologia Molecular BOOK 16.indd 66 26.10.06 17:48:33 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA B I O Q U Í M I C A O que é vida? Esta é uma pergunta que persegue, de alguma forma, a existência da humanidade. Especula se que o universo teria se originado a partir de uma grande explosão, há mais de 15 bilhões de anos. Esta explosão inicial teria sido seguida por diversas outras que, progressivamente, foram formando as galáxias e, conseqüentemente, o planeta Terra com todos os seus componentes. Hoje, discutimos a realidade da descoberta do código genético humano. Mas o que são esses genes, essa composição que há tanto tempo perseguimos, senão moléculas químicas? Ou seriam concentrações de energia viva? Na realidade, o mundo evoluiu e, depois de tanto se fragmentar, chegamos cada vez mais próximos da peque na parte. E quanto mais próximos estamos, mais elas se parecem e mais as ciências se imbricam e se confun dem. Onde começa a física, onde termina a química, onde se situa a genética? Quando começamos a achar que iniciamos o desvendar do mundo, descobrimos que este é apenas mais um passo em nosso caminhar. O que teriam sentido os alquimistas com todas as suas experiências? Qual a sensação de entendimento da natureza? Quantas maravilhas vieram deste despertar? A medicina romana nos tempos antigos teve em Asclepíades o primeiro médico grego a ter sucesso em Roma, uma pessoa à frente de seu tempo. E, excetuando-se por seu antecessor, Hipócrates, foi o mais importante daquela era. Polêmico em seus questionamentos quanto à teoria das alterações dos humores como causa das doenças, baseava-se no conceito feito de átomos, corpúsculos elementares imperceptíveis. A saúde ou a doen ça eram dependentes do livre circular destes corpúsculos, não impedindo a circulação dos líquidos corpóreos. Anos mais tarde, veio a contribuição árabe ao universo da química. Atribui-se a Jabir ibn Hayan os fundamen tos da química, tendo sido o primeiro a utilizar os procedimentos de filtração e destilação. Na busca da pedra filosofal, os alquimistas desenvolveram conhecimentos que possibilitaram técnicas de estudos das diferen tes substâncias que compõem a natureza. Paracelsus (1403-1541) utilizou seus conhecimentos químicos para adicionar à análise da urina um novo conceito, migrando da observação para a análise de sua composição. O crescimento da bioquímica tem sido explosivo, nos permitindo cada vez mais deslindar o mundo das moléculas, desde questões tradicionais até as bases da composição do genoma humano. Equipamentos robotizados já são uma realidade na rotina laboratorial, assim como recursos de point of care possibilitam análises e acompanhamento do paciente à beira do leito com avaliações just in time. A evolução continua... Quando moléculas isoladas se encontram e interagem, algo de novo acontece e isso traz, no conjunto, algo que vai muito além dos constituintes individuais, algo que mantém e perpetua a vida. Esta ciência fala, trata e se preocupa com a vida. Se a nossa origem provém de uma massa única que se fragmentou há mais de 15 bilhões de anos, o conhecimento da composição destas partes nos levará à unidade e à saúde plena. 70 04 Bioquímica BOOK 16.indd 70 26.10.06 17:44:34 zada, principalmente, na membrana citoplasmática das célu las. Sua atividade sérica será aumentada de duas a seis vezes em doenças que levam à colestase hepática (cálculo, cirrose tectados na meningite tuberculosa, acidentes vasculares cere brais, hemorragia intracraniana, epilepsia, outras doenças do sistema nervoso central e nas primeiras duas semanas de vida de recém-nascidos. biliar). Níveis normais são encontrados em todas as formas MÉTODO: Cinético UV. de doenças pancreáticas (quando não há comprometimento AMOSTRA: Liquor (tubo sem conservante). hepático) e, diferentemente da fosfatase alcalina, não está ele vada durante a adolescência. Em doenças ósseas, aumentos na concentração de 5’nucleotidase são mínimos e raramente observados. Níveis normais a moderadamente elevados são vistos em doenças hepatocelulares. MÉTODO: Enzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Ácido láctico Intermediário no metabolismo dos carboidratos, o ácido láctico BIOQUÍMICA É uma fosfatase amplamente distribuída nos tecidos e locali meningites não-bacterianas. Níveis elevados também são de A 5’ Nucleotidase Ácido úrico sérico É o produto final do catabolismo das purinas. Seus níveis séri cos estão diretamente relacionados com a velocidade de sua formação e inversamente com a velocidade e a capacidade de excreção. Outros fatores, como predisposição genética, raça, sexo, idade, peso corporal, ingestão de álcool, diabetes, disli pidemia, dieta e uso de medicamentos também influenciam seus níveis séricos. Apenas uma minoria de pacientes com áci do úrico elevado desenvolve gota. deriva predominantemente do músculo esquelético, cérebro e hemácias. É considerado um marcador precoce para o meta bolismo anaeróbico celular. Alterações ainda que pequenas na taxa de oxigenação celular elevam os níveis séricos de lactato, o que nem sempre é percebido clinicamente ou por análises gasométricas, devido a mecanismos-tampão utilizados pelo orga nismo. Sua detecção permite ao médico intervir precocemente. Elevação dos níveis de ácido láctico pode ocorrer por: Síndromes mieloproliferativas, leucemias, linfomas, anemias hemolíticas, policitemia, anemia perniciosa, quimioterapia, mieloma múltiplo, neoplasias, psoríase, mononucleose infecciosa, infarto extenso do miocárdio, insuficiência cardíaca congestiva e radioterapia. – Dificuldades na coleta com garroteamento prolongado; – Diminuição da oxigenação tecidual (hipoxia), como no cho que hipovolêmico; – Acidose metabólica (cetoacidose diabética, neoplasias e doen ça hepática terminal) ou drogas (etanol, metanol, salicilatos etc.); – Após atividade física e hiperventilação. * Dependendo da dose, algumas drogas apresentam uma reação bifásica: efeitos hiperuricosúricos ou hiperuricêmicos. INTERFERÊNCIAS: Infusões intravenosas, que modificam o equi líbrio ácido-básico, podem causar alterações nos níveis de lac tato. A coleta em tubo com fluoreto é essencial, caso o exame não seja processado de imediato, pois a ocorrência de glicólise fornece um resultado falsamente elevado. A coleta deve ser realizada sem uso de garrote, com o paciente permanecendo com o braço estendido e sem movimentar a mão. MÉTODO: Cinético UV. AMOSTRA: Sangue (tubo com fluoreto). Ácido láctico no liquor * Dependendo da dose, algumas drogas apresentam uma reação bifásica: efeitos hiperuricosúricos ou hiperuricêmicos. Eleva-se nas meningites bacterianas e por isso pode ser usa do como exame complementar no diagnóstico diferencial de 71 04 Bioquímica BOOK 16.indd 71 26.10.06 17:44:35 SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA BIOINFORME doenças hepáticas, colagenoses, neoplasias, anemia hemo lítica, talassemia e em indivíduos HIV positivos, em que seus índices parecem relacionados à progressão clínica da doença. Sua dosagem é um importante dado no diagnóstico etiológico MÉTODO: Enzimático colorimétrico. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ORIENTAÇÕES DE COLETA: Suspender a ingestão do excesso de purinas (por exemplo, carne, extratos de carne e sementes) nas dos derrames pleurais, ascíticos e pericárdicos, em que valores aumentados são indicativos de etiologia tubercolosa. Na me ningite, sua determinação faz parte do diagnóstico diferencial entre as formas asséptica e tuberculosa da doença. 72 horas que antecedem a coleta. Dado o grande número de MÉTODO: Colorimétrico. drogas que podem interferir na dosagem do ácido úrico sérico, AMOSTRA: Sangue e líquidos orgânicos (tubo sem anticoagu a suspensão de medicamentos fica a critério médico. Ácido úrico urinário Por ser o produto final do metabolismo dos compostos puríni cos derivados de nucleoproteínas exógenas e endógenas, sua eliminação está relacionada com a ingesta e o catabolismo das nucleoproteínas. te). Albumina sérica Sua dosagem serve para avaliação do status nutricional, sínte se hepática e perda renal do paciente. Índices abaixo de 1,5 g/dL são considerados alarmantes. E manifestações de edema apa recem com níveis séricos entre 2g/dL e 2,5g/dL. Os valores de crescem gradativamente com a idade. MÉTODO: Enzimático colorimétrico. AMOSTRA: Urina de 24 horas (frasco sem conservante). ORIENTAÇÕES DE COLETA: Várias drogas afetam a excreção de ácido úrico, incluindo aspirina, antiinflamatórios, contrastes radiográficos, vitamina C, warfarin e diuréticos. Adenosina desaminase (ADA) É uma enzima amplamente distribuída nos tecidos. Sua fun ção biológica está relacionada à proliferação e diferenciação linfocitária, principalmente dos linfócitos T. O interesse por essa enzima surgiu ao observar-se que casos de imunodefi ciência severa (SCID), combinados com alterações na diferen MÉTODO: Colorimétrico. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Aldolase É uma enzima essencialmente citoplasmática, encontrada em todos os tecidos em que há glicólise ou glicogenólise. Existem três tipos de aldolase: ciação dos linfócitos T e a maturação dos mastócitos, cursavam com deficiência de ADA. Estudos subseqüentes demonstraram sua elevação em patologias que envolvem estimulação, proli feração e ativação linfocitária. Por ser produzida por linfócitos e macrófagos durante uma resposta imunocelular, seus níveis séricos se elevam em doen ças como tuberculose, febre tifóide, mononucleose infecciosa, MUSCULAR – predomina no coração e músculos. HEPÁTICA – predomina no fígado, rim e intestino delgado. CEREBRAL – predomina no cérebro, hemácias, leucócitos e tecidos fetais. 72 04 Bioquímica BOOK 16.indd 72 26.10.06 17:44:35 BIOQUÍMICA A maior parte da aldolase sérica é do tipo A. Observa-se au mento da atividade enzimática principalmente nas desordens musculares, o que permite a identificação precoce antes do aparecimento de um quadro clínico exuberante. Nas miosites, dermatomiosites e distrofia muscular progressiva, a atividade A sérica mantém-se elevada durante todo o curso da doença. Em patologias musculares de origem neurogênica, como miaste nia, poliomielite e esclerose múltipla, os valores mostram-se normais. No infarto agudo do miocárdio, a hiperaldolasemia atinge seu pico entre 24 e 48 horas após o infarto. Nas hepato patias, como cirrose e carcinoma hepático, a elevação é menor do que nas patologias musculares. Nas leucemias agudas, ane mias, carcinoma de próstata e nas terapias com fenotiazida, podemos observar um aumento moderado. A aldolase diminui à medida que a massa muscular também di minui. Atualmente, a pesquisa de creatinoquinase, por ser mais específica, é mais utilizada para avaliação de doença muscular. MÉTODO: Enzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ORIENTAÇÕES DE COLETA: Para prevenir a interferência da ati muscular, recomenda-se pelo menos 30 minutos de repouso antes da coleta da amostra. A hemólise da amostra inviabiliza a dosagem (os eritrócitos são ricos em aldolase, com valores 100 vezes maior do que no soro). Deve-se evitar o uso de corticóides nos dias que antecedem a coleta, pois eles ele vam os níveis séricos. Alfa-1-antitripsina É uma glicoproteína sintetizada no fígado, cuja principal fun ção é neutralizar enzimas proteolíticas, como a tripsina, plas mina e elastase. A deficiência de alfa-1-antitripsina é doença geneticamente determinada, com níveis de gravidade, que ocorre quando a liberação de elastase não é inibida, resultando em destruição celular. Suspeita-se de deficiência de alfa-1-antitripsina ao detectar-se dosagem sérica baixa. O diagnóstico é confirmado por fenotipagem e biópsia hepática. A alfa-1-antitripsina é uma proteína de fase aguda que se eleva em inúmeras neoplasias, doenças inflamatórias e hepáticas. Em infecções e processos inflamatórios seus valores podem alcançar MÉTODO: Nefelometria. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Alfa-1-glicoproteína ácida É o principal componente da mucoproteína de Winzler. Apesar de pertencer à zona alfa-1-globulina da corrida eletroforética de proteínas, devido à fraca fixação pelo corante, seu aumento não contribui para elevá-la. Por ser uma proteína de fase aguda, clinicamente tem valor no diagnóstico e no acompanhamen to de processos inflamatórios e tumorais. É útil no diagnóstico diferencial entre transudato e exsudatos, em amostras de lí quido ascítico, derrame pleural ou pericárdico. Eleva-se na ar trite reumatóide, no lúpus eritematoso sistêmico, nas doenças intestinais inflamatórias e em outros processos inflamatórios. Seus níveis também sobem em processos de grande prolifera ção celular, como o que ocorre nas neoplasias. A alfa-1-glicoproteína ácida se mostra ainda bastante elevada em derrames de causa neoplásica. Vide também mucoproteínas. MÉTODO: Nefelometria. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Líquidos cavitários (tubo sem anticoagulante). três vezes o valor de normalidade. Suas manifestações clínicas são hepatopatia na infância (hepatite neonatal com progressão para cirrose) e doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema juvenil e enfisema pulmonar no adulto). Entretanto, em caso de doença pulmonar, raramente ocorre cirrose. A doença hepática pode progredir de um estado micronodular para macronodular, mas dificilmente se observa carcinoma hepatocelular. Alfa-2-macroglobulina Está relacionada ao transporte hormonal e à inibição de enzi mas proteolíticas. Crianças saudáveis podem apresentar níveis mais altos que os adultos. Homens entre 30 e 50 anos podem ter índices diminuídos, talvez como reflexo de estresse e influências hormonais. 73 04 Bioquímica BOOK 16.indd 73 26.10.06 17:44:36 SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA BIOINFORME uma dosagem urinária normal ou baixa. Deve se suspeitar de macroamilasemia quando a relação entre o clearance de amilase e o clearance de creatinina se encontra <1% (relação normal entre 1% e 4%). Este achado, no entanto, pode ser ob servado também em pacientes com hiperamilasemia devido à grande predominância de isoformas salivares, principalmente dos tipos 2 e 3. MÉTODO: Nefelometria. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Amilase sérica São hidrolases de origem predominantemente pancreática e da glândula salivar, que degradam complexos de carboidratos. São conhecidas duas isoenzimas: a pancreática e a salivar, na proporção de 30:70 em soro de indivíduos sadios. As dosa gens de amilase sérica e urinária são amplamente utilizadas no diagnóstico de doenças do pâncreas e na investigação da função pancreática. Na maioria dos pacientes com pancreatite aguda, seus níveis séricos elevam-se entre duas e 12 horas após o início do episódio, atingindo pico em 24 horas e retornando ao normal entre 48 e 72 horas. A magnitude da elevação séri ca não está diretamente relacionada à gravidade do envolvi mento pancreático, mas indica, com grande probabilidade, um diagnóstico de pancreatite aguda. Aumentos da amilase sérica, no entanto, não se devem ne cessariamente à pancreatite. Tumores de pulmão e de ovário podem produzir hiperamilasemia em torno de 50 vezes o in tervalo de referência. Aproximadamente 25% da amilase sérica costuma ser eliminada pela urina. Na insuficiência renal mantém-se elevada proporcionalmente à extensão do comprome timento do órgão. Cerca de 20% de pacientes com pancreatite aguda apresentam índices normais de amilase sérica. Em epi sódios agudos de pancreatite crônica, esses níveis podem estar ligeiramente aumentados, porém, com freqüência, permane cem normais. A amilase pode ligar-se a proteínas, como as imunoglobulinas, formando complexos de alto peso molecular denominados macroamilases. Isso se caracteriza por amilase sérica persis tentemente elevada sem causa aparente, acompanhada de MÉTODO: Enzimático colorimétrico. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Amilase urinária Uma quantidade significativa de amilase sérica é excretada pela urina, que também refletirá elevações séricas. Na pan eatite, a amilase urinária, quando comparada com a sérica, parece atingir valores elevados por períodos mais longos. Em pacientes que se submeteram a transplante de pâncreas, em que se realiza uma derivação para as vias urinárias, espera-se níveis bem elevados de amilase urinária: quanto mais altos, melhor o prognóstico. MÉTODO: Enzimático colorimétrico. AMOSTRA: Urina de amostra única, de 8, 12, ou 24 horas (frasco sem conservante). Amônia É gerada após a ação de enzimas bacterianas no substrato pro téico presente na luz intestinal. Ela é absorvida e transformada em uréia pelo fígado. Condições que aumentem sua produção 74 04 Bioquímica BOOK 16.indd 74 26.10.06 17:44:36 (ciclo da uréia), sangramento intestinal, infecções bacte urease positiva e nutrição parenteral total, promoverão uma elevação dos seus níveis. A dosagem da amônia deve obedecer a rigorosos critérios de coleta e de conservação da amostra. O uso prolongado do gar ote, a não centrifugação imediata do plasma ou o não conge to da amostra após a coleta elevam seus níveis. MÉTODO: Enzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo com heparina). A amostra deve ser centrifugada e o plasma separado imedia te, não ultrapassando 15 minutos após a coleta. Depois da separação, o plasma poderá ser refrigerado (geladeira) por até três horas ou congelado (freezer) por até 24 horas. A amos a deverá ser transportada refrigerada (banho de gelo) e en egue ao setor responsável com urgência. ORIENTAÇÕES DE COLETA: Deve ser evitado o tabagismo nas ho as que antecedem a coleta. Angiotensina convertase É uma enzima pulmonar importante na conversão da angio I em angiotensina II, que, uma vez formada, agirá sobre as células da camada glomerulosa da supra-renal e, com ou os fatores reguladores, atuará na produção de aldosterona. A angiotensina convertase eleva-se na sarcoidose pulmonar, mais freqüentemente na fase ativa da doença. Importante na monitoração da remissão espontânea ou da resposta à terapia com corticosteróides, a queda em seus níveis é um prognóstico favorável, enquanto a elevação pode refletir atividade não con olada pelo tratamento. Não é um marcador específico para sarcoidose e raramente mostra-se elevada em outras doenças pulmonares, como a tu erculose, coccidioidomicose, câncer de pulmão e outras doen as granulomatosas. Outras patologias,como o hipertireoidismo não tratado, fibrose pulmonar, lepra, artrite reumatóide, histo- plasmose, silicose, asbestose, alveolite alérgica, diabetes mellitus Bilirrubinas séricas A bilirrubina é o produto da quebra da hemoglobina. Depois de formada pelo sistema reticuloendotelial, ela circula no sangue sob a forma não-conjugada ligada à albumina. Esta fração da bi lirrubina chega aos sinusóides hepáticos, nos quais, após conju gação com ácido glicurônico, se transforma em bilirrubina con jugada. A fração conjugada é hidrossolúvel, com afinidade por BIOQUÍMICA doença hepática crônica (cirrose, síndrome de Reye), erros ina A B intestinal ou que bloqueiem seu metabolismo hepático, como tecidos elásticos, e desta forma pode ser eliminada pelo rim. A bilirrubina conjugada é também excretada pelos canalícu los hepáticos no intestino delgado. Parte dela é desconjugada no intestino e transformada em estercobilinogênio pela flora bacteriana, com eliminação pelas fezes. Entretanto, o esterco bilinogênio pode também participar do ciclo entero-hepático, ou ainda escapar da captação hepática e ser excretado pelo rim como urobilinogênio. Níveis elevados de bilirrubina sérica total, geralmente acima de 2,5mg/dL, causam icterícia clínica, caracterizada pela cor amarelada da pele e mucosas. O método mais amplamente difundido para dosagem de bilir rubina total utiliza um reagente “diazo”, que produz uma rea ção colorida, que pode ser medida espectrofotometricamente. A bilirrubina conjugada reage diretamente com o “diazo”, sen do por isso denominada bilirrubina “direta”. Por necessitar de um catalisador para auxiliar na reação, a bilirrubina não-conjugada é chamada “indireta”. Nos quadros de hiperbilirrubinemia, a investigação diagnósti ca deve considerar se predomina a fração conjugada ou a não conjugada. A bilirrubina total pode estar elevada em várias patologias, sendo as mais comuns as hepatopatopatias e as hemoglobinopatias. Os valores de bilirrubina total em recém nascidos variam com o tempo e com o estado de maturidade. Mesmo em recém-natos a termo há uma elevação fisiológica nas primeiras 48 horas de vida, seguida por uma queda desses níveis entre o 3° e 5° dias. Recém-nascidos podem ter hiperbi lirrubinemia devido à icterícia fisiológica, deficiência de G6PD, reabsorção de hematomas, infecções congênitas (toxoplasmo se, sífilis, citomegalovírus, rubéola), anemias hemolíticas e por patologias menos freqüentes, como galactosemia e hipotireoi dismo congênito. e doença de Gaucher, também podem elevar seus valores. INTERFERÊNCIAS: Alguns medicamentos podem interferir em sua dosagem, como o propranolol, que faz diminuir seus níveis séricos, e a triiodotironina, que os eleva. MÉTODO: Cinética enzimática. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). 75 04 Bioquímica BOOK 16.indd 75 26.10.06 17:44:37 SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA BIOINFORME A mobilização de cálcio e fósforo do osso sofre ainda influên cia de outros hormônios além do PTH, calcitonina e vitamina D. Assim como os glicocorticóides, os hormônios tireoidianos reabsorvem cálcio e fósforo do osso, enquanto o hormônio de crescimento aumenta a massa óssea, com a manutenção de cálcio e fósforo na matriz óssea. A hipercalcemia causa lesões no rim e litíase renal, distúrbios neurológicos e neuromusculares. A hipocalcemia provoca hi perexcitabilidade neuromuscular, com espasmos e tetania. A dosagem da elevação do nível de cálcio sérico é considerada o teste bioquímico de triagem mais comum e confiável para o diagnóstico de hiperparatireoidismo primário ou secundário. MÉTODO: Colorimétrico AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Cálcio sérico O cálcio é o quinto componente mineral mais abundante no organismo, encontrado nas cartilagens, dentes e, principal mente, nos ossos (98%). Exerce papel importante na contra ção e relaxamento do miocárdio, na coagulação sangüínea, na condução neuromuscular, na ossificação, na manutenção da integridade da membrana celular, no mecanismo de ação de alguns hormônios e na ativação de algumas enzimas. É absorvido no duodeno e no íleo após a ação do suco gástrico, e pode estar reduzido por diversos fatores, como a formação de complexos com sulfatos e oxalatos, pH alcalino e teor de gor dura do bolo alimentar. A absorção é um processo basicamente ativo que envolve uma proteína intestinal específica, que au menta pela ação da vitamina D3, paratormônio e esteróides MÉTODO: Colorimétrico. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). sexuais, e diminui pela ação de corticóides e algumas drogas anticonvulsivantes. Cálcio urinário O cálcio existe no sangue sob duas formas: Reflete a absorção intestinal, a reabsorção óssea e a perda renal Difusível: Composta por cálcio ionizado – forma ativa (50%) – e de cálcio. A dosagem de seus níveis serve como acompanha por complexos formados com citrato, fosfato e bicarbonato (5%). mento das terapias de reposição, na avaliação do metabolis Não-difusível: Associado à albumina e globulina (45%). idiopáticas, doenças da paratireóide e tumor com metástases O paratormônio (PTH) aumenta a reabsorção tubular de cálcio e a eliminação do fosfato pela urina, atuando também na mo bilização de cálcio e fósforo do osso. A calcitonina tem o efeito inverso: inibe a reabsorção óssea e tubular de cálcio. Já a vita mina D estimula a absorção de cálcio pelo intestino e aumenta a mineralização do tecido ósseo. mo do cálcio, nas doenças ósseas, nefrolitíases, hipercalciúrias ósseas. Para determinar estes valores, deve-se considerar a in gesta de cálcio nos dias que antecedem a coleta de urina. Para avaliação do cálcio urinário após dieta hipocálcica, o paciente deve permanecer com uma ingesta pobre, evitando leite e de rivados, nos quatro a sete dias que antecedem a coleta, ou de acordo com a solicitação médica. 76 04 Bioquímica BOOK 16.indd 76 26.10.06 17:44:38 BIOQUÍMICA C MÉTODO: Colorimétrico. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Capacidade total de combinação do ferro – TIBC MÉTODO: Colorimétrico. Representa a porção total de ferro ligado à transferrina (ver AMOSTRA: Urina de 24 horas (frasco sem conservante). também ferro sérico e transferrina). A capacidade total de Cálcio difusível O cálcio ionizável ou difusível tem, sobre o cálcio total, a vanta gem de não sofrer influência das proteínas plasmáticas e ser, na realidade, sua fração ativa. Entretanto, nos distúrbios do equilíbrio ácido-base, ele se apresenta reduzido na alcalose e aumentado na acidose. Eleva-se no hiperparatireoidismo, nas neoplasias com metástases ósseas e na hipervitaminose D. Ao combinação do ferro aumenta em patologias que reduzem as reservas de ferro (deficiência do metal ou perda sangüínea), ou elevam a produção hepática de transferrina (gestação e uso de anticoncepcional oral). A capacidade total diminui nas patolo gias em que o ferro sobe, como na hemocromatose. A redução da produção hepática de transferrina (na cirrose hepática) e as perdas protéicas (na síndrome nefrótica) também diminuem a capacidade total de combinação do ferro. contrário, está baixo no hipoparatireoidismo e no pseudo-hipoparatireoidismo. MÉTODO: Cálculo ou eletrodo seletivo. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Cálculo, Análise de O laudo é descritivo, composto por exames macroscópico (ta MÉTODO: Colorimétrico. manho, forma, cor, superfície e consistência) e bioquímicos. Os AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). tipos de cálculo urinário mais comumente encontrados são os de oxalato de cálcio, fosfato tricálcico, fosfato amoníaco-magnesiano e ácido úrico; o de cistina raramente é encontrado. Em geral, os componentes bioquímicos mais comumente encon trados nos cálculos biliares são colesterol, bilirrubina, biliver dina e cálcio. MÉTODOS: Coloração/precipitação. AMOSTRA: Cálculo urinário ou biliar. Capacidade livre de combinação do ferro É a medida da capacidade de reserva da transferrina em se li gar ao ferro. Caroteno Usado no rastreamento da má absorção de gorduras e no diag o de hipercarotenemia. Altos níveis séricos podem ser detectados pela ingestão de grandes quantidades de vegetais e/ou complexos vitamínicos. Podem ocorrer baixos níveis em casos de esteatorréia. MÉTODO: Colorimétrico. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Ceruloplasmina É uma alfa-2-globulina sintetizada no fígado e essencial para o transporte de cobre no organismo. Sua deficiência ocorre por 77 04 Bioquímica BOOK 16.indd 77 26.10.06 17:44:38 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA perda protéica ou por uma desordem genética autossômica Em pacientes diabéticos, a microalbuminúria é o primeiro sinal recessiva presente no cromossomo 13, em que a transcrição de comprometimento renal e aparece antes que a VFG seja re genética da ceruloplasmina se encontra reduzida. Já foram duzida. A cistatina C apresenta sensibilidade e especificidade descritas mais de 200 diferentes mutações. A designação clí de 90% em relação à microalbuminúria, podendo ser usada nica desta desordem genética é doença de Wilson. Nela, a ce como marcador precoce na disfunção renal inicial em diabé ruloplasmina se encontra em níveis baixos, embora apresente ticos. Altas doses de glicocorticóide podem induzir a uma ele índices normais em 28% dos portadores da patologia. A perda vação da cistatina C, independentemente da taxa de filtração do transporte de cobre pela ceruloplasmina leva a acúmulos do glomerular. Logo, deve-se proceder a uma avaliação criteriosa metal em locais como cérebro, fígado, córnea e rim. da dosagem de cistatina C nos pacientes em uso de glicocor ticóides, já que não existe na literatura um valor de referência para esse grupo. MÉTODO: Nefelometria. MATERIAL: Sangue (tubo sem anticoagulante). Clearance As provas de depuração avaliam a velocidade de filtração glo MÉTODO: Nefelometria. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Cistatina C É uma proteína não-glicosilada, de baixo peso molecular (13,36 Kda), produzida pela maioria das células nucleadas e presen te em todos os líquidos biológicos. A cistatina C é inibidora da proteinase da cistina, função importante para o estudo da doença de Kawasaki e do aneurisma de aorta, patologias em que se apresenta deficiente. Hoje, sua maior importância clínica, no entanto, é a avaliação do índice de filtração glomerular; sua alta sensibilidade em determiná-lo, por meio da concentração sérica ou plasmáti ca, decorre do fato de ser produzida de forma constante, sem influência de processos inflamatórios, dieta, massa muscular ou sexo do paciente. Embora também avalie a velocidade de filtração glomerular (VFG), a creatinina sérica, empregada no clearance de creatinina, ao contrário, sofre interferências de masssa muscular, dieta e sexo. Estudos mostram que os níveis séricos de cistatina C começam aumentar quando a VFG está em torno de 88mL/min, enquanto a creatinina só sobe quando a VFG está abaixo de 75mL/min. Devido a seu baixo peso molecular e à carga positiva, a cista tina C é livremente filtrada pelo glomérulo renal, reabsorvida e metabolizada no túbulo renal proximal, não ocorrendo se creção renal ou extra-renal. Desta forma, ela reflete exclusiva mente a filtração glomerular, e seu aumento no soro significa uma redução dessa taxa de filtração. merular e são essenciais no acompanhamento dos transtor nos da função renal. Clearance de amilase / clearance de creatinina A elevação da amilase no sangue não é específica das pancrea tites agudas. O clearance de amilase/clearance de creatinina auxilia no diagnóstico diferencial das hiperamilasemias, em especial no diagnóstico da macroamilasemia. A relação encontra-se aumentada (>4%) na pancreatite aguda, nas queimadu ras severas e no mieloma múltiplo, e diminuída na macroami lasemia (<1%). MÉTODOS: Enzimático colorimétrico (amilase) e colorimétrico (creatinina). AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante) e urina (frasco sem conservante). Clearance de creatinina É o índice de depuração renal de creatinina e avalia o nível de filtração glomerular. Quando comparado à avaliação dos níveis séricos de uréia e creatinina isolados, permite um diagnóstico mais precoce de alteração da função renal. As provas de depuração são tecnicamente rigorosas, exigindo controle rígido dos tempos e da coleta de urina, sem perda do volume urinário. Exigem dosagens simultâneas da creatinina no soro e na urina, e a correção da superfície corporal do pa ciente pela superfície corporal padrão. A velocidade de filtração glomerular aumenta na gravidez, do mesmo modo que exercícios físicos também podem elevar o 78 04 Bioquímica BOOK 16.indd 78 26.10.06 17:44:39 MÉTODO: Colorimétrico. Cloro sérico É o principal ânion extracelular. Juntamente com o sódio, re presenta a maioria dos constituintes osmoticamente ativos AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante) e urina (frasco sem conservante). do plasma. Desta forma, está envolvido na manutenção da pressão osmótica e no balanço hidroeletrolítico. A maior parte do cloro ingerido é absorvida e o excesso excretado na urina. Clearance de uréia (standard) A depuração de uréia avalia a função renal total, ou seja, fun BIOQUÍMICA eção, incluindo trimetoprim, cimetidina e probenecide. C clearance de creatinina. Várias drogas interferem com a sua ex O cloro sérico, portanto, sofre alterações nos distúrbios hidroe letrolícos e ácido-básicos. glomerular mais função tubular. Como a molécula da uréia é muito pequena, é filtrada livremente pelos glomérulos e reabsorvida de maneira variável pelos túbulos. Quanto maior a velocidade do fluxo de urina através dos rins, menor a quanti de uréia absorvida e vice-versa. Para interpretar os valores da depuração da uréia deve-se determinar o débito do fluxo urinário (volume/minuto). A depuração é máxima quando o débito for maior que 2mL/min e considerada standard quando for menor ou igual a 2mL/min. MÉTODO: Colorimétrico. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante) e urina (frasco sem conservante). MÉTODO: Potenciométrico. Clearance osmolar / clearance de água livre A habilidade dos rins em manter a tonicidade e o balanço hí o exige que os túbulos sejam funcionais e responsivos à va essina (hormônio antidiurético). Estas funções específicas podem ser avaliadas por medidas de concentrações de solutos da urina (isto é, teste de concentração e diluição). O clearance osmolar expressa a quantidade de água com carga variável de soluto, depurado do plasma por unidade de tempo. A diferença entre o volume total de urina e o clearance osmolar é chamada clearance de água livre. Baseado na parte da função tubular que envolve reabsorção de fluidos e eletrólitos com a formação de água livre, esta atividade é uma das últimas fun ões renais a ser perdida. Quando a reabsorção de água não AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Cloro urinário Em geral, a excreção urinária de cloro se aproxima da ingesta. Observam-se níveis fisiologicamente aumentados na diurese pós-menstrual e diminuídos na retenção hídrica pré-menstrual. O cloro urinário é baixo (<10mEq/dia) nas alcaloses metabóli cas responsivas à administração de cloro, como as patologias por perda no tubo gastrointestinal (vômitos e diarréia); e ele vado (>10mEq/dia) nas alcaloses metabólicas não responsivas à reposição de cloro. Esta última condição é encontrada na sín drome de Bartter, no hiperaldosteronismo primário e no uso de mineralocorticóide exógeno. mais acontece normalmente, a excreção de água livre aumenta. MÉTODO: Crioscopia. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante) e urina (frasco sem conservante). ••• Cloro, liquor Acompanha as alterações (diminuição ou elevação) dos níveis séricos. Diminuído nas meningites tuberculosas e bacterianas. MÉTODO: Colorimétrico. MÉTODO: Potenciométrico. AMOSTRA: Liquor (tubo sem conservante). AMOSTRA: Urina de 24 horas (frasco sem conservante). 79 04 Bioquímica BOOK 16.indd 79 26.10.06 17:44:39 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Colinesterase Existem dois tipos de colinesterase: a verdadeira (acetilcolines terase ou colinesterase eritrocitária), encontrada nas hemácias e nas sinapses do sistema nervoso central; e a pseudocolines terase (benzoilcolinesterase ou colinesterase plasmática), en contrada no soro e no fígado. Os dois tipos são importantes na intoxicação por organofosforados, casos em que se apresen tam reduzidas. Na suspeita de intoxicação crônica, indica-se a determinação da colinesterase eritrocitária; na exposição agu da, no entanto, recomenda-se a dosagem da pseudocolineste rase. No acompanhamento da terapia pós-intoxicação, indica se a determinação da colinesterase eritrocitária, uma vez que a sua redução leva ao coma e a convulsões. MÉTODO: Colorimétrico. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Creatinina urinária A creatinina é livremente filtrada pelos glomérulos e excretada de forma constante. A determinação da creatinina urinária em mg/kg em 24 horas é um parâmetro indicativo do volume cor reto da urina colhida no período de 24 horas. A secreção tubu lar da creatinina pode ser inibida por drogas, como cimetidina, trimetoprim e probenecide. Sua avaliação laboratorial, junta mente com a determinação da creatinina sérica, é importante nos casos de insuficência renal aguda ou crônica. Exercícios severos e ingestão de altas quantidades de carne po dem causar aumentos significativos na excreção de creatinina, enquanto a diminuição da massa muscular nos idosos provoca diminuição. MÉTODO: Colorimétrico. AMOSTRA: Urina de 24 horas (frasco sem conservante). MÉTODO: Colorimétrico. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Creatinina sérica Trata-se de um produto metabólico formado pela descarboxi lação da creatina-fosfato no músculo, e, portanto, com relação direta com a massa muscular. Homens e atletas produzem maiores quantidades de creatinina do que crianças, idosos e mulheres. O decréscimo da massa muscular no idoso deve ser considerado na interpretação dos resultados. Normalmente, a creatinina não é afetada pela dieta; porém, se houver consumo de quantidades excessivas de carnes, os níveis séricos poderão sofrer aumento por um período de 48 horas. Com a redução do fluxo sangüíneo renal, a creatinina se eleva, porém de forma mais lenta do que a uréia. A concentra ção de creatinina só começa a se elevar quando a velocidade de filtração glomerular é menor que 75mL/min. Creatinoquinase (CK) Também denominada ATP-creatina-N-fosfotransferase, é uma importante enzima reguladora da produção e da utilização de fosfatos de alta energia nos tecidos contráteis. A CK total é encontrada em concentrações bastante altas na musculatura esquelética e cardíaca; quantidades apreciáveis também são encontradas no cérebro, e está presente ainda no intestino e nos pulmões. Como se trata de um dímero, compõe-se de duas cadeias diferentes, chamadas M (muscle) e B (brain), que po dem se combinar de três formas, criando as chamadas isoenzi mas da CK: CK-MM, CK-MB e CK-BB. A CK-MM é encontrada em grande quantidade principalmente na musculatura estriada. A CK-BB é a isoenzima presente no cérebro, cólon, íleo, estômago e bexiga. A CK-MB está no mio cárdio, no qual representa cerca de 20% da CK contra 80% de CK-MM. A CK-MB também está presente no músculo estriado esquelético, embora em pequena proporção (entre 1% e 4%, sendo o restante CK-MM). 80 04 Bioquímica BOOK 16.indd 80 26.10.06 17:44:40 ma de 5% têm sido associados com provável origem cardíaca te, hipotireoidismo e em miopatias induzidas por drogas, como para a CK-MB, indicando lesão do miocárdio. Níveis acima de as estatinas (hipolipemiantes) e isotretinoína (antiacnéico). 25%, por outro lado, indicam uma possível interferência na do Sua importância no infarto agudo do miocárdio (IAM) atual sagem causada pela presença da CK-BB ou macro-CK (tipos 1 e mente é limitada. Isso acontece por sua elevação ocorrer mais 2), já que os pacientes com IAM raramente têm uma concen tardiamente após o início da dor precordial (4 a 6 horas), não ser tração percentual de CK-MB que exceda este limite. específica para a musculatura cardíaca e apresentar uma faixa de referência bastante ampla. Desta forma, pode apresentar-se normal em indivíduos de baixa estatura e/ou sedentários com um IAM. Marcadores cardíacos mais específicos, que se elevem mais precocemente como CK-MB massa e as troponinas (I e T) atualmente substituem a CK total nos quadros de IAM. BIOQUÍMICA ra haja alguma variação entre diferentes autores, valores aci que envolvem os músculos esqueléticos, como dermatomiosi C A CK é útil no diagnóstico e acompanhamento de patologias A elevação e a queda características da CK-MB em uma dosa gem seriada são quase patognomônicas para o diagnóstico de infarto do miocárdio. O aumento inicial dos níveis de CK-MB ocorre entre quatro e seis horas após o início dos sintomas, atingindo seu pico depois de 24 horas e retornando ao normal entre 48 e 72 horas. Para um diagnóstico com alta sensibilidade e especificidade, recomenda-se a dosagem seriada ao longo de um período de oito a 12 horas. A CK-MB também é um compo nente importante da avaliação do reinfarto ou da extensão da área de infarto. Apesar de sua excelente performance, existem algumas limitações no uso da CK-MB como o marcador ideal no IAM, pois, em alguns casos, sua elevação ocorre apenas depois de oito a 12 horas do início dos sintomas. Some-se a isso o fato de a CK-MB não ser totalmente específica para o miocárdio. A dosagem de CK-MB pode sofrer interferência de formas atí picas ou variantes das isoenzimas da CK. Estas formas não têm origem tissular definida. Duas delas, anômalas, de alto peso molecular, são conhecidas e foram denominadas de macroCK tipo 1 e tipo 2. A do tipo 1 consiste na CK-BB (ou, mais rara mente, CK-MB) ligada à porção Fab da imunoglobulina G (ou, mais raramente, IgA). Com relação à macro-CK tipo 2, acredita- MÉTODO: Cinético UV. se que seja um complexo oligomérico da CK. Estas variantes AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). isoenzimáticas não são rotineiramente dosadas, uma vez que Creatinoquinase, fração MB A isoenzima CK-MB tem sido considerada o marcador bioquí mico de referência para o diagnóstico de lesão miocárdica, e, por isso, tem sido a base para comparação com outros marca dores. Apesar de ser, em termos de diagnóstico, específica para lesão do miocárdio, o músculo esquelético tem maior ativida de de CK total por grama de tecido, e pode ter até 4% de CK-MB. Isso pode diminuir sua especificidade, especialmente em pa cientes com lesões concomitantes na musculatura esquelética e cardíaca. Para aumentar sua especificidade cardíaca, no caso da dosagem de CK-MB, pode ser calculado um índice relativo, de acordo com a equação a seguir: Índice de CK-MB = 100 (CK-MB/CK total) Essa equação nos permite verificar, em termos percentuais, se aparentemente não têm utilidade clínica. Contudo, sua pre sença interfere em alguns métodos comumente utilizados na análise da CK-MB, como a imunoinibição e a eletroforese. Foram desenvolvidos vários tipos de imunoensaios para CKMB de alto potencial. Eles dosam a massa de CK-MB em ng/mL, através de tecnologia de imunoensaio do tipo “sanduíche”, um anticorpo específico antiM, um antiB, ou um antiMB. Au tomatizados e altamente sensíveis (1ng/mL), esses ensaios es pecíficos para CK-MB não sofrem, por exemplo, interferência da macro-CK, e são de rápida realização. A dosagem da massa de CK-MB (CK-MB massa) por meio de imunoensaios oferece especificidade e sensibilidade analítica que superam qualquer outra tecnologia para esse tipo de teste. MÉTODO: Cinético UV. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). a isoenzima MB está aumentada em relação à CK total. Embo 81 04 Bioquímica BOOK 16.indd 81 26.10.06 17:44:40 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Desidrogenase láctica Eletroforese de proteínas séricas A desidrogenase láctica (LDH) pertence a uma classe de enzi As principais frações protéicas, de acordo com sua eletroposi mas que catalisam reações de oxirredução e são amplamen tividade, são albumina, alfa-1-globulina, alfa-2-globulina, beta te distribuídas em todos os tecidos humanos. A LDH é uma globulina e gamaglobulina. De acordo com o nível de resolução enzima tetramérica, com pequenas diferenças dependendo do método eletroforético, poderemos ter muitas outras frações de sua origem. Os mamíferos possuem basicamente duas ca intermediárias. deias protéicas que compõem a LDH: o tipo M (ou A) e o tipo H (ou B), que formam cinco isoenzimas, dependendo da com binação entre elas: H4, MH3, M2H, M3H e M4. De acordo com sua mobilidade eletroforética (do ânodo para o cátodo), essas isoenzimas são denominadas LDH1, LDH2, LDH3, LDH4 e LDH5, respectivamente. A LDH tem localização citoplasmática e seu aumento sérico ocorre após lise celular. As isoenzimas da LDH existem em dife rentes proporções nos diferentes tecidos. No músculo cardíaco, rim e eritrócitos, predominam a LDH1 e a LDH2, enquanto as isoenzimas LDH4 e a LDH5 são as formas dominantes no fíga do e no músculo esquelético. Já que as concentrações da LDH dentro das células são cerca de 500 vezes maiores do que no soro, qualquer aumento na atividade da LDH no sangue sugere lesão tissular, e a fração isoenzimática predominante identifi ca o órgão de origem. Após lesão aguda do miocárdio, as atividades séricas da CK e da CK-MB elevam-se antes do aumento da LDH. Presente no miocárdio, a LDH1 freqüentemente acompanha a atividade da LDH total, elevando-se entre oito e 12 horas após o início da dor precordial e atingindo seu pico entre 24 a 72 horas. Como a LDH e suas isoenzimas estão presentes em todos os tecidos, na suspeita de IAM torna-se necessário o diagnósti co diferencial com outras patologias ocasionadas por injúria tecidual, como infarto renal agudo, infarto mesentérico, neo plasias, hemólise aguda, hipotireoidismo, pancreatite e pneu monia, entre outras. Os principais componentes destas frações são: Fração albumina: É constituída de uma proteína, a albumina, a mais abundante do plasma e que responde por cerca de 80% de sua pressão oncótica. Está envolvida no transporte de inú meras substâncias (bilirrubina, cálcio, hormônios, fármacos etc.) e pode se apresentar bipartida (bialbuminemia) por uma variação genética ou por sobrecarga na ligação a determina das substâncias, que alteram sua carga elétrica. Apresenta-se diminuída por falha em sua síntese no fígado, por perda renal, intestinal ou cutânea, por condições que aumentam a permea bilidade capilar, como os processos inflamatórios, e em estados de má absorção e subnutrição. Níveis elevados ocorrem na de sidratação ou por estase venosa excessiva (por exemplo, por garroteamento prolongado). Fração alfa-1-globulina: Tem na alfa-1-antitripsina seu princi pal componente. Esta glicoproteína atua na inibição de enzi mas proteolíticas, podendo estar aumentada em processos inflamatórios agudos, em neoplasias e doenças hepáticas. Sua diminuição pode ser relacionada a defeito genético grave e à doença pulmonar ou hepática na infância. Pode estar aumen tada também nos hepatocarcinomas, em que há grandes con centrações de alfafetoproteína. Fração alfa-2-globulina: É constituída por duas proteínas prin cipais: alfa-2-macroglobulina e a haptoglobina. Quando a fra ção alfa-2 está muito elevada, pode-se suspeitar de um proces so inflamatório agudo (pelo aumento da haptoglobina) ou de síndrome nefrótica (pelo aumento da alfa-2-macroglobulina, MÉTODO: Cinético UV. acompanhada de diminuição da albumina). Quando reduzida, AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). pode-se pensar numa síndrome hemolítica, pela diminuição Eletroforese É um teste de triagem para se detectar as alterações e anor malidades das proteínas, principalmente do soro. O conheci mento da distribuição das diferentes frações, separadas de acordo com suas cargas elétricas em meio líquido, permite definir uma série de padrões úteis no diagnóstico de impor tantes patologias. da haptoglobina. Fração betaglobulina: É constituída pela transferrina e pelo componente C3 do sistema de complemento. A primeira, sinte tizada no fígado, responde pelo transporte de ferro plasmático. Mostra-se bastante aumentada nos casos de carência de ferro. O C3 pode subir em processos inflamatórios e baixar em doen ças auto-imunes ou por deposição de imunocomplexos. Fração gamaglobulina: É constituída predominantemente pe las imunoglobulinas G, A e M, sendo a fração eletroforética de maior interesse clínico. A diminuição (hipogamaglobulinemia) 82 04 Bioquímica BOOK 16.indd 82 26.10.06 17:44:41 BIOQUÍMICA ocorre em imunodeficiências congênitas ou adquiridas, geral mente relacionadas com terapias imunossupressoras. Sempre devem ser associadas a dosagens nefelométricas das imuno globulinas. O aumento da fração gama denomina-se hiperga maglobulinemia, que pode ser monoclonal, na forma de um D E pico agudo, refletindo a elevação de uma única imunoglobu lina, produzida por um clone específico de plasmócitos. As ga mopatias monoclonais detectadas pela eletroforese devem ser estudadas por imunoeletroforese ou por imunofixação, para caracterizar a imunoglobulina e/ou cadeia leve envolvida. A hipergamaglobulinemia pode ser policlonal, em função do aumento de várias imunoglobulinas. Está relacionada a doen ças auto-imunes, a processos inflamatórios crônicos e a lesões hepáticas severas. Em casos de cirrose hepática, há uma união entre as frações beta e gama, relacionada à elevação acentua da de IgA. MÉTODO: Eletroforese por capilaridade. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Eletroforese de proteínas no liquor A eletroforese do liquor costuma ser solicitada para a detecção de bandas oligoclonais, auxiliando no diagnóstico de doenças inflamatórias e desmielinizantes do sistema nervoso central (SNC). Observam-se alterações na maioria das meningoen cefalites bacterianas e virais, e nas encefalites agudas. Este exame deve ser realizado em conjunto com a eletroforese de proteínas séricas para avaliar se a alteração é sistêmica ou lo calizada. Após a primeira semana, traumas cerebrais graves apresentam aumentos de três a quatro vezes na fração alfa2-globulina. Diferente da eletroforese sérica, na eletroforese do liquor é possível constatar claramente a presença da fração pré-albumina. CONTINUA 83 04 Bioquímica BOOK 16.indd 83 26.10.06 17:44:42 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA MÉTODO: Eletroforese em gel de agarose. AMOSTRA: Liquor (frasco sem anticoagulante). VOLUME NECESSÁRIO: 1mL. Eletroforese de proteínas urinárias A eletroforese de proteínas da urina é um método simples e efetivo para diferenciar os diversos tipos de proteinúrias. Pelo aspecto que o traçado eletroforético apresenta, é possível rela- cioná-las com as diversas patologias renais. É empregada prin te na detecção e avaliação de portadores de gamopa monoclonais (mieloma, macroglobulinemia de Waldens öm, amiloidose), em que se visualizam picos monoclonais no traçado eletroforético. No caso de gamopatias de cadeia leve, muitas vezes os picos monoclonais só são detectados na urina (proteinúria de Bence Jones). Para um diagnóstico conclusivo, devem ser acompanhadas por um estudo imunoeletroforético de cadeias kappa e lambda. MÉTODO: Colorimétrico. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Fosfatase ácida total Está presente em tecidos como osso, próstata, baço e nas célu sangüíneas (hemácias, plaquetas e leucócitos), entre outros. Sua elevação ocorre em processos de destruição plaquetária, MÉTODO: Eletroforese em gel de agarose. MATERIAL: Urina sem conservante (amostra única, 12 horas ou 24 horas). doenças hemolíticas, doença de Paget, metástase óssea, mie múltiplo e no câncer de próstata. Em indivíduos do sexo masculino, a fração prostática representa aproximadamente 50% da fosfatase ácida total, sendo o restante proveniente do Eletroforese de lipoproteínas fígado e da desintegração das plaquetas e eritrócitos. Vide Perfil Lipídico MÉTODO: Enzimático colorimétrico. ••• AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Ferro A avaliação do ferro sérico é essencial nas anemias ferropri vas (hipocrômicas e microcíticas), assim como nos estados de excesso de ferro, como na hemocromatose e hemossiderose. Sua determinação pode ser feita isoladamente ou em conjun to com a ferritina e hemossiderina, que avaliam as reservas de ferro no organismo. Nas anemias hemolíticas, o ferro séri co pode variar desde normal até aumentado, dependendo do tempo em que o processo hemolítico foi iniciado. Na anemia megaloblástica por carência de B12, pode ocorrer uma carên cia de ferro depois da reposição da vitamina, devido ao grande consumo pelas hemácias. Fosfatase ácida prostática Auxilia, mas não substitui o antígeno prostático (PSA), no diag o e no monitoramento da terapia do carcinoma prostá o, uma vez que seus níveis podem se manter normais nos quadros iniciais da doença. Além do adenocarcinoma de prós ta, pode estar elevada na leucemia mielocítica, na doença de Gaucher, na prostatite e na retenção urinária. Da mesma for que o PSA, seus resultados sofrem interferência pela mani ostática, como no toque de próstata e USG. MÉTODO: Enzimático colorimétrico. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Vide capítulo de Imunologia - Marcadores Tumorais Fosfatase alcalina É uma enzima com ótima atividade in vitro, em pH próximo de 10, presente em muitos tecidos, particularmente no epitélio in testinal, túbulo renal, osteoblastos, fígado e placenta. A forma CONTINUA presente no soro de adultos normais origina-se principalmen 84 04 Bioquímica BOOK 16.indd 84 26.10.06 17:44:43 de todo compreendida; parece estar associada ao transporte lipídico no intestino e a processos de calcificação óssea. Sua dosagem é de interesse na investigação de doenças he Fosfatase alcalina termoestável As frações da fosfatase alcalina apresentam diferentes susceti tivação pelo calor: Placentária 90% termoestável; Regan 90% termoestável; tica. Observam-se níveis elevados de fosfatase alcalina na Hepática 50% termoestável; doença de Paget; e mulheres no terceiro trimestre de gravidez Intestinal 50% termoestável; Óssea 10% termoestável. patobiliares e ósseas, associadas à hiperatividade osteoblás podem apresentar aumentos em torno de duas a três vezes do intervalo normal, devido à adicional fração placentária. Na osteomalacia, pode-se encontrar aumentos moderados, que diminuem lentamente em resposta à terapia por vitamina D. Visto elevar-se em metástases ósseas e do fígado, esta enzima pode funcionar como marcador tumoral. Quando expostas a altas temperaturas, a resposta de suas frações pode ser mais um auxílio na identificação de suas isoenzimas (vide fosfatase alcalina fracionada). BIOQUÍMICA da idade. Sua função precisa no metabolismo ainda não está E F te no fígado e no esqueleto e é acentuadamente dependente Atividades residuais de fosfatase alcalina termoestável de até 20% sugerem predominância da isoenzima óssea; valores entre 25% a 55% estão predominantemente associados às de origem hepática e/ou intestinal. Esta determinação só tem validade quando a fosfatase alcalina total estiver elevada. A determi da fração termoestável e termolábil é importante nas metástases hepáticas e ósseas, nas suspeitas de comprometi to do parênquima hepático e nas doenças intestinais. MÉTODO: Enzimático colorimétrico. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Fósforo sérico O fósforo é um importante elemento, amplamente distribuído pelo organismo na forma de fosfato orgânico ou inorgânico. Nos adultos, cerca de 85% (medido como fósforo inorgânico) estão presentes no esqueleto. O restante é principalmente Isoenzimas da fosfatase alcalina: São isoformas com conside rável heterogeneidade inter e intratecidual, mas raramente encontram-se mais do que duas ou três formas no soro sangüí neo. Provenientes de diversos tecidos, apresentam característi cas de acordo com a forma específica presente no fígado, nos ossos, no intestino e na placenta. Assim, pelo estudo pode-se conhecer a origem da elevação. Também podem ser encontra das outras isoenzimas patológicas, como Regan e Nagao, que aparecem em processos neoplásicos. Pacientes dos grupos sangüíneo O ou B, secretores Lewis positivo, podem apresentar elevação da fração intestinal. As formas predominantes normalmente encontradas no soro são isoformas hepática e óssea. A fosfatase alcalina total e ós sea acompanham a velocidade de crescimento da estatura da criança e dos adolescentes. Tem pico máximo entre os seis me ses e um ano, e posteriormente na adolescência. MÉTODO: Enzimático colorimétrico e eletroforese (para as iso fosfatase alcalina). AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). combinado com lipídios, proteínas e carboidratos, e incorpora do a outras substâncias orgânicas, como fosfolipídios, ácidos nucléicos, fosfoproteínas e compostos de alta energia envolvi dos na integridade celular (estocagem e troca de energia). Três órgãos são majoritariamente comprometidos com a ho meostasia do fósforo: intestino delgado (absorção), rins (fil tração e reabsorção) e esqueleto (estocagem). Cerca de 2/3 do fosfato ingerido é absorvido (absorção ativa) principalmente pelo jejuno e o restante é excretado pelas fezes. A absorção aumenta no decréscimo da ingesta de cálcio, na acidez do con teúdo intestinal, pela ação da vitamina D e do hormônio de crescimento (GH). A ação do hormônio da paratireóide (PTH) também influi nessa absorção, como um provável efeito indi reto do metabolismo da vitamina D. Cerca de 90% do fósforo plasmático é filtrado pelos gloméru los e quase totalmente reabsorvido pelos túbulos. Os níveis sé ricos de fósforo são inversamente proporcionais aos do cálcio sérico. O aumento do fósforo sérico ocorre por diminuição da filtração glomerular, aumento da reabsorção tubular renal e aporte exógeno ou endógeno. A diminuição ocorre por desor- 85 04 Bioquímica BOOK 16.indd 85 26.10.06 17:44:43 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA dens tubulares e aumento das perdas. O PTH inibe sua reab MÉTODO: Colorimétrico. sorção tubular renal; logo, no hiperparatireoidismo primário AMOSTRA: Urina de 24 horas (frasco sem conservante). encontramos elevação do fósforo urinário. Os níveis séricos dependem da alimentação. Enquanto a in gesta de alimentos enlatados, ricos em fosfato, aumentam seus níveis, o consumo excessivo de carboidratos pode causar significativo decréscimo. Na prática, como é um elemento pre sente em quase todos os alimentos, dificilmente se encontra deficiência dietética de fosfato. Recomenda-se a coleta pela manhã devido a relatos de variações diurnas. Frutosamina É o produto da ligação da glicose com os aminoácidos presen tes nas proteínas plasmáticas, principalmente a albumina.Tem importância no acompanhamento de pacientes diabéticos, avaliando seu controle metabólico nas últimas duas a três se manas que antecedem ao exame. Mas tal como a hemoglobina glicosilada, a frutosamina não pode ser utilizada para o diag nóstico de diabetes. Em diabéticos portadores de hemoglobi nopatias, nos quais a hemoglobina glicosilada pode produzir resultados falsos-positivos ou falsos-negativos, a frutosamina é hoje um recurso para acompanhamento a longo prazo. Por refletir o metabolismo glicêmico em um período mais cur to do que a hemoglobina glicosilada, de duas a três semanas, é importante no acompanhamento de gestantes diabéticas. Nas hepatopatias crônicas (cirrose) e nas perdas protéicas (ne frose), a frutosamina pode apresentar um valor falso-negativo. Uma interferência falso-positiva, pelo contrário, é encontrada na ingestão de ácido ascórbico, que aumenta a ligação da gli cose com a albumina. MÉTODO: Colorimétrico. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Gama-glutamil-transpeptidase – GT MÉTODO: Colorimétrico AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). É uma enzima originada principalmente do sistema hepatobi liar, com a função de transferir o ácido glutâmico através das membranas celulares. Eleva-se em especial nas colestases in tra ou extra-hepáticas. Nas neoplasias hepáticas primárias ou Fósforo urinário Varia com idade, massa muscular, função renal, com a hora do nas alterações do parênquima hepático por metástases, a GT encontra-se freqüentemente alta. dia, com a dieta e com o paratormônio (PTH). É importante no diagnóstico das doenças ósseas, como a que ocorre no hiper paratireoidismo primário, pseudo-hipoparatireoidismo, osteo malacia, Paget e síndrome de Fanconi. 86 04 Bioquímica BOOK 16.indd 86 26.10.06 17:44:44 pelo menos duas vezes o seu valor de referência após a ingesta. A liberação da GT no soro reflete o efeito tóxico do álcool e de outras drogas na estrutura microssomal nas células hepáticas. Anticonvulsivantes, como fenitoína, fenobarbital e ácido val próico, induzem seu aumento sérico. OBSERVAÇÃO: A pressão parcial de um gás em um líquido represen ta a pressão parcial do gás com o qual o líquido está em equilíbrio. Bicarbonato (HCO3-) – é a principal base do organismo. Junto às demais bases do organismo, atua em conjunto com ácidos de mesma natureza química, formando pares de substâncias MÉTODO: Enzimático colorimétrico. BIOQUÍMICA bono (pCO2). Valores acima de 45mmHg ou abaixo de 35mmHg indicam acidose ou alcalose respiratórias, respectivamente. F G O uso agudo ou crônico de álcool também pode ser diagnos ticado pela dosagem desta enzima hepática, que se eleva em chamadas sistema tampão (formado principalmente por bi AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). carbonato e ácido carbônico) que, em associação com o me canismo respiratório de eliminação de CO2 e eliminação de O2, regula o equilíbrio entre os ácidos e as bases. Gasometria arterial ALCALOSE METABÓLICA Esta análise é usada para fornecer valores de parâmetros que permitam o acompanhamento de gases no sangue, assim como as condições do equilíbrio ácido-básico no organismo. Em visão simplista, em um processo fisiológico normal, a respi 25mM/L ração consiste na troca de oxigênio e dióxido de carbono entre o meio ambiente e as células. O perfeito equilíbrio desse siste ma depende do adequado funcionamento da ventilação, troca gasosa (no processo de difusão alveolar) entre os pulmões e o sangue, ligação do oxigênio à hemoglobina e um débito cardía co adequado, permitindo uma boa perfusão tissular. Vejamos algumas referências desse processo fisiológico: pH – o termo significa potência de hidrogênio e quantifica a concentração de íons H livres nos líquidos do organismo, indi cando seu estado ácido-base. O metabolismo celular produz ácidos que devem ser neutralizados, a fim de manter um pH ótimo. Se for constatada acidose ou alcalose, deve-se investi gar se a origem é respiratória ou metabólica. 7,45 ACIDOSE MORTE CELULAR mite o cálculo das bases pelos analisadores de uso corrente. Diferença de bases (excesso ou déficit) – é calculada a partir das medidas de pH, pCO2 e hemoglobina. O resultado expressa o excesso de bases existentes nas alcaloses metabólicas ou o déficit de bases existentes nas acidoses metabólicas, permitin pO2 – a determinação da pressão parcial de oxigênio nos in 7,95 forma a eficiência da oxigenação nos alvéolos pulmonares. Contudo, essa análise não tem implicações nos mecanismos ALCALOSE Venoso controlado pelos pulmões, determina o pH. Essa relação per – 2mEq/L a +2mEq/L. 7,40 7,35 É calculado a partir do pH e do CO2. A relação entre o bicar bonato plasmático, controlado pelos rins, e o ácido carbônico, do avaliar a severidade do distúrbio metabólico. Pode variar de PH DO SANGUE 6,85 ACIDOSE METABÓLICA MORTE CELULAR Arterial do equilíbrio ácido-base. Os gases sangüíneos arteriais constituem os mais valiosos in pCO2 – a quantidade de ácido carbônico (existente sob a forma de CO2 e H2O ) é determinada pela pressão parcial de dióxido de carACIDOSE RESPIRATÓRIA dicadores da troca gasosa pulmonar, pois sua obtenção é sim ples e eles fornecem importantes informações para orientar o tratamento do paciente. O pH define a presença e a magnitude dos distúrbios ácidos-básicos, e a pCO2 auxilia na diferenciação entre as etiologias metabólicas e respiratórias, além de avaliar a adequação da ventilação. Medida enquanto o paciente res pira ar ambiente, a pO2 constitui um índice sensível de doença 40mmHg pulmonar; a pO2 arterial diminui com a idade, o que provavel mente se deve a um aumento gradual do desequilíbrio ventilação-perfusão. Várias relações simples podem auxiliar no uso ALCALOSE RESPIRATÓRIA dos gases sangüíneos arteriais para uma avaliação correta do distúrbio ácido-base. 87 04 Bioquímica BOOK 16.indd 87 26.10.06 17:44:44 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Para a acidose metabólica, a pCO2 esperada = 1,5 (HCO3) + 8 – Nefropatia com perda de potássio; Para a alcalose metabólica, a pCO2 esperada = 0,7 (HCO3) + 20 – Excesso de mineralocorticóides (hiperaldosteronismo primá Se a pCO2 for maior ou menor que a esperada, existe acidose ou – Redução da ingesta de potássio (anorexia nervosa). alcalose respiratória associada. Para as anormalidades respirató rias primárias, a alteração esperada no pH depende de existir ou não compensação renal. Atualmente, os laboratórios dispõem rio, síndrome de Cushing); Nota: BE – é excesso de bases quando o valor for superior a + 2mEq/L. de analisadores de gases sangüíneos que utilizam eletrodos MÉTODO: Eletrodo seletivo especiais para a determinação de pH, pCO2 e pO2. Além desses AMOSTRA: Sangue total (colhido em heparina). parâmetros, equipamentos de última geração fazem ainda análise simultânea das carboxiemoglobinas, metemoglobinas, hemoglobina fetal e cálculo do hematócrito. Também avaliam outros parâmetros, que geralmente acompanham as alterações no equilíbrio ácido-básico e gasométrico, tais como glicose, lac tato, sódio, potássio, cloro, cálcio ionizado e bilirrubina. INTERPRETAÇÃO: Acidose respiratória: PH (ê) PCO2 (è) HCO3 (N) A amostra de sangue deve ser colhida por meio de punção em ar téria periférica, geralmente radial ou femoral. A coleta é realizada com anticoagulante (heparina): Aspirar cerca de 1mL de hepari na sódica (1.000U/L) e movimentar o líquido na seringa, apenas para rinsar as paredes internas; logo após desprezar o conteúdo. As amostras devem ser isentas de ar e a análise deve ser rea lizada imediatamente após a coleta ou, quando isso não for possível, mantê-la refrigerada por no máximo duas horas. Principais causas: devido à hipoventilação – Depressão do centro respiratório (drogas, anestesia); – Obstrução do trato respiratório; – Desordens neuromusculares (miastenia grave, escleroder mia); – Desordens cardiopulmonares (pneumonia, laringoespasmo, pneumotórax, ventilação mecânica). Alcalose respiratória: PH (è) PCO2 (ê) HCO3 (N) Principais causas: devido à hiperventilação: – Febre elevada; – Alteração do SNC (infecção, trauma, acidente vascular cere bral); – Ventilação mecânica excessiva; – Intoxicação por salicilatos; – Bacteremia. Acidose metabólica: PH (ê) PCO2 (N) HCO3 (ê) BE (ê) Principais causas: – Cetoacidose diabética; – Jejum prolongado; – Ingestão de grande quantidade de salicilato; – Insuficência renal (nefrite, nefrose); – Parada cardiorrespiratória; – Diarréia grave. Nota: BE – é déficit de base quando o valor for inferior a – 2 mEq/L. Glicose, curva glicêmica Usada para o diagnóstico de diabetes em pacientes em que a glicemia de jejum não foi esclarecedora (glicemia entre 100 e 125mg/dL), a curva glicêmica vem sendo substituída pelo teste oral de tolerância à glicose, com determinações nos tempos basal e em 120 minutos. Isso se deve aos novos critérios divul gados pela Associação Americana de Diabetes e pela Socieda de Brasileira de Diabetes, que estabelecem como diabetes os casos em que a glicemia, após 120 minutos da ingesta de glico se anidra, esteja igual ou maior que 200mg/dL. Segundo a Associação Americana de Diabetes, os tempos in termediários (30, 60 e 90 minutos) não são mais necessários durante o teste de sobrecarga, podendo-se estabelecer o diag nóstico, de forma prática, apenas com a dosagem basal e após 120 minutos. Glicose, curva glicêmica para gestante A identificação e o posterior tratamento da gestante diabética previnem a ocorrência de problemas obstétricos devido a alte rações no metabolismo glicídico e reduzem o risco de compli cações fetais. Os critérios diagnósticos aceitos para a diabetes gestacional foram descritos originalmente por O’Sullivam, em 1964. Esses critérios foram modificados pela ADA (Associação Alcalose metabólica: PH (è) PCO2 (N) HCO3 (è) BE (è) Americana de Diabetes), que recomenda, para o diagnóstico – Estenose pilórica, vômitos, aspiração gástrica; entre a 24ª e a 28ª semanas de gestação, em toda grávida com Principais causas: – Uso abusivo de diuréticos (hipopotassemia), por exemplo, tiazídicos; dessa forma de diabetes, um teste de sobrecarga de glicose risco de moderado a alto. Gestantes de baixo risco não preci sam submeter-se ao teste. 88 04 Bioquímica BOOK 16.indd 88 26.10.06 17:44:45 ingestão de 50g de glicose anidra, coleta de sangue basal e em 60 minutos após a ingesta. Uma glicemia igual ou acima de 140mg/dL aos 60 minutos indica a necessidade de realização de uma curva glicêmica para gestante (2ª etapa). DIABETES GESTACIONAL Mulheres de baixo risco: - Idade inferior a 25 anos; - Peso normal antes da gestação; - Bom passado obstétrico; - Nenhum parente de primeiro grau diabético. Mulheres de alto risco: - Obesidade acentuada; - Parente de primeiro grau com diabetes; - Glicosúria; - Filho com macrossomia em gestação anterior; - História prévia de diabetes gestacional. O teste oral de tolerância para gestantes é realizado através da coleta de sangue basal e após a ingestão de 100g de glicose anidra. Essas coletas para determinação da glicemia são reali zadas de hora em hora, por três horas. A presença de duas ou mais glicemias acima dos valores apresentados no quadro a seguir são indicativos de diabetes gestacional. Glicose sangüínea Segundo a Associação Americana de Diabetes e a Sociedade Brasileira de Diabetes Melito, não se recomenda o rastrea mento em massa para diabetes. No entanto, a determinação da glicemia de jejum deve ser feita periodicamente, de acordo com a idade do indivíduo e a presença de fatores de risco para BIOQUÍMICA ra (screening) com um teste simplificado para gestantes, com G Esta avaliação poderá ser realizada em duas etapas: a primei diabetes mellitus. Assim, indivíduos acima de 45 anos deverão realizar testes de glicemia em cada três a cinco anos, utilizando a glicose plasmática de jejum. Um rastreamento mais frequën te (menos de três anos) ou mais precoce (antes dos 45 anos) deve ser efetuado nas seguintes situações: – Na presença de dois ou mais componentes da síndrome plu rimetabólica (obesidade, HDL-colesterol baixo, triglicerídeos elevados, hipertensão arterial e doença cardiovascular ate rosclerótica); – Em mulheres com história de diabetes gestacional prévio; – Em indivíduos que estejam com mais de 45 anos e apresen tem dois ou mais dos fatores de risco abaixo: • História familiar de diabetes em parentes de primeiro grau (pais, filhos e irmãos); • Sedentarismo; • Mulheres com história de abortos de repetição, macrosso mia ou mortalidade perinatal; • Uso de medicações hiperglicemiantes (corticosteróides, tia zídicos, betabloqueadores). Tanto o teste de screening com 50g de glicose quanto a cur va de gestante devem ser realizados pela manhã, após jejum noturno de oito a doze horas, precedido de uma dieta sem res trição de carboidratos por pelo menos três dias. Segundo a So ciedade Brasileira de Diabetes, nos casos suspeitos de diabetes gestacional, a curva de gestantes pode ser realizada alternati vamente com 75g de glicose anidra em vez de 100g. Entretanto, não se realiza o ponto de 180 minutos, somente considerando dois ou mais valores positivos nos tempos de jejum, 60 e 120 minutos como diabetes. * Ácido acetilsalicílico, atropina, ácido ascórbico, anticonvulsivantes, diuréticos (tiazida clortalidona, ácido etacrínico, furosemida), adrenalina, corticóide, dopamina, indometacirrifampicina, estrogênios, carbonato de lítio, contraceptivos orais, tiabendazol etc. ** Bloqueadores beta-adrenérgicos, esteróides anabólicos, anti-histamínicos, etanol, inibidor da MAO, acetaminofen, levodopa etc. O rastreamento deve ser feito anualmente ou em períodos mais curtos nos indivíduos com glicemia de jejum inapropria da, tolerância à glicose diminuída ou presença de complicações compatíveis com diabetes. Atualmente, a Associação America na de Diabetes (ADA) passou a definir como limite máximo da 89 04 Bioquímica BOOK 16.indd 89 26.10.06 17:44:45 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA glicose de jejum 99mg/dL. Valores entre 100 e 125mg/dL são considerados como glicemia inapropriada, e dois valores iguais ou acima de 126mg/dL como diabetes mellitus. Glicemia em amostra colhida a qualquer hora do dia, com valor igual ou aci ma de 200mg/dL, acompanhada de sintomas também serve como diagnóstico. MÉTODO: Enzimático colorimétrico. AMOSTRA: Sangue (tubo com fluoreto). Glicose, liquor Níveis Aumentados Hiperglicemia diabética Glicose, teste oral de tolerância O diabetes pode ser antecedido por estágios com glicemia de jejum inapropriada (entre 100 e 125mg/dL) e/ou tolerân cia à glicose diminuída (após 75g de glicose anidra entre 140 e 200mg/dL). O tempo de duração destes estágios é variável, podendo haver reversão do quadro para a normalização do metabolismo glicídico. Em casos de glicemia de jejum inapropriada, deve se efetuar o teste oral de tolerância à glicose (TOTG), que consiste na dosa gem de glicemia basal e após 120 minutos depois da ingesta de 75g de glicose anidra (em crianças a dose é de 1,75g/kg de peso, até no máximo 75g). No TOTG, a ingesta da solução de gli cose deve ser feita em no máximo cinco minutos, com jejum de oito a doze horas antes da coleta basal, e o paciente em dieta sem restrição de carboidratos durante pelo menos os três dias que antecedem ao teste. MÉTODO: Enzimático colorimétrico. AMOSTRA: Liquor (tubo sem conservante). VOLUME NECESSÁRIO: 1mL. Vide capítulo de Fluidos Biológicos Glicose, outros líquidos orgânicos MÉTODO: Enzimático colorimétrico. AMOSTRA: Líquidos orgânicos. Vide capítulo de Fluidos Biológicos Glicemia pós-prandial Atualmente, tanto o controle glicêmico do diabetes tipo 1 quanto o do diabetes tipo 2 não se baseia somente na deter minação da glicemia de jejum. Considera-se um controle ade quado quando se obtém, além de uma glicemia de jejum e proteínas glicosiladas normais, uma glicemia pós-prandial de até 140mg/dL, determinada por meio de uma coleta de sangue duas horas após a ingesta de uma refeição de valor calórico determinado pelo médico assistente. MÉTODO: Enzimático colorimétrico. AMOSTRA: Sangue (tubo com fluoreto). 1. Jejum é definido como não ingestão calórica por pelo menos oito horas. A GJ é o exame de escolha no diagnóstico do DM, embora os outros testes também sejam aceitos como critérios diagnósticos. Na ausência de hiperglicemia inequívoca e descompensação me tabólica, o diagnóstico deve ser confirmado em diferentes dias. 2. O teste oral de tolerância à glicose (TOTG) deve ser realizado utilizando-se uma sobre carga glicídica equivalente a 75g de glicose anidra. Não é recomendado como exame de rotina clínica. As equipes multidisciplinares de saúde devem enfatizar não somente o diagnóstico de diabetes mellitus, mas especialmen te o controle metabólico a longo prazo do grupo de pacientes de risco. Além do acompanhamento clínico especializado, de vem ser priorizados testes como a hemoglobina glicosilada e frutosamina, clearance de creatinina, urinálise acompanhada por proteinúria e/ou microalbuminúria, e o manejo de desor dens no metabolismo lipídico e complicações cardíacas (coles terol total, LDL e HDL-colesterol, triglicerídeos, LP(a), Apo-A-1 e Apo-B, homocisteína). MÉTODO: Enzimático colorimétrico. AMOSTRA: Sangue (tubo com fluoreto). 90 04 Bioquímica BOOK 16.indd 90 26.10.06 17:44:46 A glicosúria geralmente ocorre quando a glicose sangüínea É uma enzima que hidrolisa triglicerídeos a monoglicerídeos e encontra-se em valores em torno de 180mg/dL, embora estes atua retirando a molécula de glicerol e liberando ácidos graxos níveis tenham variação individual. Seu aparecimento sofre in livres. É produzida predominantemente no pâncreas exógeno, fluência não só da glicemia como da taxa de filtração glome sendo um marcador de pancreatite. Na doença pancreática, a rular, da taxa de reabsorção tubular e do fluxo urinário. Outras elevação de seus níveis séricos nem sempre coincide com os da situações patológicas, como queimaduras, infecções, doenças amilase e freqüentemente permanece elevada por um período neurológicas e terapia oral com esteróides podem também mais longo. Enquanto a amilase tende a elevar-se mais pre provocar glicosúria. Quando se analisam amostras isoladas, a ocemente na pancreatite aguda, a lipase sobe nas primeiras glicosúria em pacientes diabéticos não está necessariamente 12 horas após o início do episódio, permanecendo elevada por relacionada com os níveis de glicemia, pois eles refletem mo sete a dez dias. mentos diferentes. Cabe lembrar também a possibilidade de ela ter origem em disfunções tubulares renais ou ocorrer, como na gravidez, por um aumento da taxa de filtração glomerular. Ao contrário da amilase, não existe interferência da lipase nos casos de parotidites agudas, uma vez que ela não está presen nas glândulas parótidas. Na doença renal crônica e aguda, o MÉTODO: Enzimático colorimétrico. aumento de sua atividade é menos freqüente e pronunciado AMOSTRA: Urina de 24 horas ou uma amostra aleatória, confor que o da amilase. o. Haptoglobina É uma globina, sintetizada no fígado, que migra na região alfa2-globulina na eletroforese e que se liga à hemoglobina livre, formando um complexo que é removido pelo sistema reticu loendotelial. Esta ligação é responsável pela diminuição dos níveis de haptoglobina em episódios de hemólise intravascu lar (esferocitose hereditária com hemólise, anemia hemolítica MÉTODO: Enzimático colorimétrico. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Lítio ORIENTAÇÃO DE COLETA: Geralmente, as amostras são colhidas 12 horas após a administração da última ou imediatamente antes da próxima dose. NOMES COMERCIAIS: Carbopar, Carbolitium. auto-imune, deficiência de piruvatoquinase) ou extravascular NÍVEIS TÓXICOS: Acima de 2mEq/L. (hematomas, hemorragia retroperitoneal). Sua dosagem é útil TEMPO DE AÇÃO: O pico máximo de atividade é de uma a três no acompanhamento pós-esplenectomia, realizada como te rapia contra a esferocitose hereditária. A haptoglobina reapa rece em 24 horas após o tratamento e normaliza seus níveis em quatro a seis dias, caso ele seja bem-sucedido. Esta proteína de fase aguda exibe um comportamento duplo durante um processo inflamatório, diminuindo como resulta do da hemólise moderada, mas aumentando pelo estímulo de citocinas. Visto que estes dois processos coexistem freqüente mente, a resposta à inflamação pode ser confirmada e moni torada por outras proteínas de fase aguda (proteína C reativa, BIOQUÍMICA Lipase G H L M Glicose urinária horas. O estado de equilíbrio é atingido em cerca de cinco dias. MEIA-VIDA: Em adultos, cerca de 24 horas. EFEITOS COLATERAIS: Na intoxicação, o paciente demonstra le argia, sonolência, tremores, contração muscular, diarréia e anorexia. INTERFERÊNCIA: Tiazídicos podem elevar significativamente os níveis de lítio. O uso de metildopa retarda a excreção. MÉTODO: Colorimétrico. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). alfa-1-antitripsina). A síntese da haptoglobina está aumentada nos processos infecciosos, inflamatórios, traumas, necrose te cidual, doenças do colágeno, artrite reumatóide, febre reumáti ca, dermatomiosite e outras doenças inflamatórias. MÉTODO: Nefelometria. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Magnésio sérico É o quarto mais abundante cátion no organismo humano. Atua como um co-fator essencial para enzimas ligadas à respiração celular, glicólise e transporte transmembrana de outros cátions (cálcio e sódio). Um adulto que pese cerca de 70kg apresenta aproximadamente 21g a 28g de magnésio, dos quais 60% nos ossos, 20% na musculatura esquelética, 19% em outros tecidos 91 04 Bioquímica BOOK 16.indd 91 26.10.06 17:44:47 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA e 1% no líquido extracelular. Um terço do magnésio sérico está MÉTODO: Colorimétrico. ligado a proteínas, principalmente à albumina; os outros 2/3 AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). restantes existem predominantemente como íons livres e um pequeno percentual como complexo de ânions. O magnésio ingerido é absorvido no intestino delgado e excre tado pela urina. Essa eliminação é controlada pela reabsorção tubular. Dentre as causas mais comuns de diminuição do mag nésio estão o alcoolismo agudo, as perdas gastrointestinais (uso abusivo de laxantes e vômitos) e as perdas renais (diuré ticos, necrose tubular, acidose tubular renal). A hipomagnese mia pode causar hipocalcemia e hipopotassemia, que levam a sintomas neurológicos e eletrocardiográficos, que só ocorrem Magnésio urinário Na presença de hipomagnesemia, sintomas neurológicos e gastrointestinais nem sempre são acompanhados de dosa gens baixas de magnésio sérico. Níveis normais ou apenas marginais podem ser detectados em pacientes sintomáticos. Indica-se, então, a determinação do magnésio urinário, que na ausência de condições que promovam sua excreção e abaixo de 25mg em 24 horas sugere hipomagnesemia. quando a depleção de magnésio chegue a um nível sérico em torno de 1,2mg/dL. Deficiências severas estão ligadas a disfun ções neuromusculares, como tetania, convulsões, fraqueza, irri tabilidade e delírio. Níveis baixos de magnésio, após um infarto do miocárdio, podem indicar um mau prognóstico. A hipermagnesemia tem como causa mais comum a iatroge nia (antiácidos contendo magnésio, enemas com magnésio, intoxicação por lítio, nutrição parenteral) em pacientes com insuficiência renal aguda ou crônica. Efeitos da hipermagnesemia de acordo com seus níveis séricos: MÉTODO: Colorimétrico. AMOSTRA: Urina de 24 horas (frasco sem conservante). Microalbuminúria 12 a 17mg/dL Coma > 10mg/dL Alterações do ECG 30mg/dL Bloqueio cardíaco completo A nefropatia diabética franca é caracterizada pela presença de proteinúria (proteína urinária acima de 500mg em 24 horas) ou macroalbuminúria (albumina urinária acima de 300mg em 24 horas). Este estágio é precedido pela presença de pequenas quantidades de albumina urinária não detectadas pelos méto dos convencionais (microalbuminúria). É a principal causa de doença renal crônica e está relacionada ao aumento da mortalidade por doença cardiovascular. A inci dência de nefropatia nos diabéticos tipo 1 e tipo 2 foi vista em um estudo prospectivo (UKPDS), que demonstrou que houve proteinúria em 15% a 40% dos diabéticos tipo 1, com pico aos 15 a 20 anos após início do doença. No diabetes tipo 2, a prevalên cia foi altamente variável (5% a 20%). A determinação da microalbuminúria é útil no acompanha mento do diabetes mellitus desde o diagnóstico, para evitar ou retardar o estabelecimento de doença renal diabética franca. Existe uma variação diurna significativa na excreção de albu mina: a noturna é menor que a diurna, por não ser influencia da pelo exercício. Pode-se efetuar um screening para nefropatia diabética através de amostra de urina, que pode ser aleatória ou a primeira da manhã. A concentração de albumina é deter 92 04 Bioquímica BOOK 16.indd 92 26.10.06 17:44:47 MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. creatinina (mg/g de creatinina). Um valor acima de 17mg/L de AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). pecificidade de 80% para a presença de microalbuminúria. Para a confirmação de casos positivos de microalbuminúria encontrados em amostra única, deve-se solicitar uma amostra de urina de 12 horas noturna ou de 24 horas. O mais indicado é a determinação em amostra de 12 horas noturna, que não sofre influência de exercício. Para o diagnóstico, recomenda-se que, num período de seis meses, sejam encontrados pelo menos de dois a três resulta dos alterados, para descartar variações técnicas e oscilações da excreção de albumina nos diabéticos. MÉTODO: Nefelometria. AMOSTRA: Amostra única, overnight (12 horas noturna) ou urina de Urina (amostra única). Mucoproteínas totais e fração tirosina É uma glicoproteína típica das secreções mucosas, com conteú do superior a 4% de hexosamina. Denominada inicialmente M N O albumina na urina tem uma sensibilidade de 100% e uma es BIOQUÍMICA minada por nefelometria em mg/L ou pela relação albumina/ como seromucóide, após estudos realizados por Winzler e cola boradores passou a ser também conhecida como mucoproteí na, com base em sua propriedade de permanecer em solução de ácido perclórico 0,6 molar, enquanto outras glicoproteínas precipitam-se. Eleva-se consideravelmente nos processos in flamatórios agudos e é um importante índice da atividade reumática, pois se mantém elevada quando outras provas já se normalizaram. 24 horas, conforme solicitação médica (frasco sem conservante). Mioglobina É uma hemeproteína ligadora de oxigênio, presente no cito plasma das células do músculo esquelético e cardíaco. A lesão celular que ocorre no infarto agudo do miocárdio (IAM) pro voca a liberação de mioglobina para a circulação sangüínea. Nestes pacientes, a mioglobina pode atingir níveis 10 vezes superiores ao limite superior da normalidade: eles passam a se elevar acima dos níveis normais após cerca de duas horas do início dos sintomas; atingem o pico em seis a nove horas; e retornam à normalidade de 24 a 48 horas após o infarto. A elevação precoce dos níveis séricos de mioglobina, em compa ração com a CK-MB, é atribuída ao seu peso molecular reduzi do. Em pacientes com lesão celular miocárdica, a mioglobina intracelular é liberada para o espaço vascular circundante. Seu pequeno peso molecular permite o rápido deslocamento para a circulação sangüínea, sem passar pelos vasos linfáticos. A CK-MB, por outro lado, é transportada para a circulação estrita mente através do sistema linfático. Alguns estudos sugerem que a dosagem de mioglobina pode ser importante, nos setores de emergência, como triagem no diagnóstico precoce do IAM. Contudo, valores elevados devem ser interpretados com cautela, caso o paciente sob avaliação te nha alguma disfunção renal ou lesão da musculatura esquelética, condições que também elevam o nível de mioglobina. Devido a estas limitações, um resultado normal em paciente admitido entre duas e 12 horas após o início da dor peitoral pode ajudar a afastar o diagnóstico de IAM. Porém, um resultado alterado exige confirmação por um marcador cardíaco mais específico. MÉTODO: Winzler. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Nitrogênio uréico Proveniente do catabolismo protéico, a uréia é a principal via de excreção do nitrogênio no homem. É sintetizada no fígado, transferida ao sangue e eliminada pelos rins, compreendendo de 80% a 90% do nitrogênio urinário total excretado. MÉTODO: Cinético UV. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante) ou urina de 24 horas (frasco sem conservante). Osmolalidade sérica A osmolalidade sérica é mantida através da ação do hormônio antidiurético no rim. Sua dosagem serve como avaliação da desidratação, do balanço ácido-básico, da função do hormônio antidiurético, de doença hepática e do coma hiperosmolar. Os molalidade sérica elevada com sódio normal sugere possível hiperglicemia, uremia ou alcoolismo. Normalmente, sua rela ção com o sódio é de 0,43 a 0,50. O decréscimo nessa relação é detectado na uremia e em outros estados associados ao au mento de substâncias osmoticamente ativas. 93 04 Bioquímica BOOK 16.indd 93 26.10.06 17:44:48 SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA BIOINFORME A indicação da eletroforese de lipoproteínas fica restrita à in Hiponatremia vestigação de alguns casos específicos, como abetaliproteine mia, hipobetaliproteinemia hereditária e doença de Tangier. Daí a tendência de um novo perfil de avaliação de lipídios, que, no lugar do tradicional lipidograma (colesterol total, triglicerí deos e eletroforese de lipoproteínas), traz dosagens de coleste rol total, triglicerídeos, HDL e LDL, avaliação do aspecto do soro MÉTODO: Crioscopia. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Osmolalidade urinária Importante na avaliação do equilíbrio hidroeletrolítico. Usada no acompanhamento de doenças renais, síndrome de secreção inapropriada de hormônio antidiurético (SIADH), diabetes in sípido central ou nefrogênico e na avaliação da desidratação. Sua determinação simultânea com a osmolaridade sérica faci lita a interpretação dos resultados. MÉTODO: Crioscopia. AMOSTRA: Urina de 24 horas ou amostra única, conforme solici asco sem conservante). e índices de risco coronariano de Castelli I e II. De acordo com o caso em investigação, pode associar-se ainda a dosagem de Apo-A, Apo-B e Lp (a). É importante frisar que, para uma correta avaliação e acompa nhamento do perfil lipídico, a qualidade da amostra é funda mental. A coleta deve ser realizada depois de 12 a 14 horas de jejum. No dia que antecede a coleta, a alimentação não deve fugir ao habitual e o álcool e exercícios físicos devem ser evi tados. Deve-se evitar também a coleta em pessoas enfermas e nas três semanas posteriores à recuperação. Avaliar sempre o uso concomitante de medicamentos. A dosagem de lipídios é passível de variações tecnicamente aceitáveis. Portanto, para um diagnóstico definitivo, recomenda-se, quando do achado de um valor alterado, a repetição do exame num intervalo de oito a 15 dias. Se o resultado obtido Perfil Lipídico na segunda avaliação exceder os limites de variação aceitáveis Dentre as causas de doença arterial aterosclerótica (DARC) en e até 20% para triglicerídeos), recomenda-se uma terceira ava contramos um perfil lipídico desfavorável. Com isso, o estudo e a dosagem dos lipídios plasmáticos ganharam inestimável interesse clínico. Mas, nos últimos anos, os laboratórios no mundo inteiro vêm diminuindo a freqüência com que realizam a eletroforese de lipoproteínas, e alguns deles já não incluem esta técnica em sua rotina de investigação do perfil lipídico. Isso se deve ao fato de que 80% dos casos podem ser diagnos ticados por uma simples interpretação dos níveis de colesterol total, colesterol HDL e de triglicerídeos, associados à avaliação do aspecto do soro após refrigeração, o que permite evidenciar opalescência ou a presença de quilomícrons. Um colesterol total elevado, juntamente com colesterol HDL baixo, é tido como fator de risco independente para o desen volvimento de DARC. Outros fatores não determinados labora torialmente seriam homens acima de 45 anos e mulheres após menopausa, hipertensão arterial, tabagismo, sedentarismo e obesidade (IMC > 30kg/m2). O diabetes mellitus e/ou resistên cia insulínica também tem valor preditivo positivo para DARC. Atualmente, os níveis de apolipoproteínas A e B e da lipopro teína Lp(a) têm se somado aos fatores preditivos de risco. Po rém, até o momento são tidos como independentes. Ou seja, só contam como valor preditivo para DARC na presença de outros fatores já mencionados. (em torno de 5% para colesterol total, 10% para colesterol HDL liação antes de firmar-se um diagnóstico definitivo. O valor a ser considerado será a média dos índices mais próximos. Aconselha-se ainda realizar as dosagens num mesmo laboratório, para que seja possível a comparação sem a interferência de diferentes técnicas. Apolipoproteína A -1 – Apo- A É o maior componente protéico do colesterol HDL e o agente responsável pela ativação da lecitina-colesterol-aciltransferase, que catalisa a esterificação do colesterol. Essa esterificação no HDL permite uma maior concentração de colesterol no in terior desta lipoproteína e com isso uma maior remoção do co lesterol livre dos tecidos extra-hepáticos para o fígado. Embora ainda incerto, existem evidências de que o sítio de síntese da Apo-A seja o fígado, o intestino ou ambos. Também está defini do que a elevação do colesterol HDL diminui o risco de doença arterial aterosclerótica (DARC). A dosagem de Apo-A tem de monstrado relacionar-se tanto à doença arterial coronariana como à periférica. Níveis diminuídos de Apo-A representam um dos mais fidedignos preditores de DARC. Preconiza-se manter o jejum nas 12 a 14 horas que antecedem a coleta. 94 04 Bioquímica BOOK 16.indd 94 26.10.06 17:44:48 AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). após trauma, infecção bacteriana ou viral; nestes casos, o indi Apolipoproteína B – Apo-B É a apoproteína do colesterol LDL, que compreende aproxima damente 90% de sua massa. A Apo-B tem como função ser um receptor antigênico. Ou seja, ligar-se aos receptores celulares específicos nas células periféricas e promover a retirada do cado é aguardar um período de oito semanas. A gravidez tam bém eleva consistentemente os níveis de colesterol, por isso a dosagem só deve ser realizada três ou quatro meses depois do parto. MÉTODO: Enzimático colorimétrico. BIOQUÍMICA 10% a 15% mais baixos). As dosagens não devem ser efetuadas O P MÉTODO: Nefelometria. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). colesterol LDL da circulação. Seu aumento tem sido associado a fator de risco de doença coronariana e desenvolvimento de aterosclerose. Preconiza-se manter o jejum nas 12 a 14 horas que antecedem a coleta. MÉTODO: Nefelometria. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Colesterol total O colesterol é um componente estrutural importante da mem brana celular, precursor para biossíntese de ácidos biliares e hormônios esteróides. Compreende todo o colesterol encon trado em várias lipoproteínas: cerca de 60% a 70% transporta dos pela LDL-lipoproteína; 20% a 35% pela HDL-lipoproteína; e 5% a 12% pela VLDL-lipoproteína. Um colesterol alto, maior ou igual a 240mg/dL em adultos aci ma de 20 anos, ou maior ou igual a 200mg/dL em crianças e adolescentes (de 2 a 19 anos), eleva o risco para DARC. Recomenda-se uma dieta estável nas três semanas que antecedem a coleta. A postura anterior ao teste também pode ser signifi cativa (após 20 minutos em repouso, os valores podem ficar de Colesterol HDL Tem relação inversa com o risco de aterosclerose: para cada 1mg/dL de HDL reduzido, o risco para DARC se eleva de 2% a 3%. Isso se deve ao fato de a HDL-lipoproteína estar envolvida no chamado transporte reverso do colesterol a ser metabo lizado no fígado, sítio de sua maior excreção. O colesterol HDL pode ser subdividido em duas classes maiores: HDL 2 e HDL 3, que variam em densidade, tamanho e quantidade de colesterol esterificado. O HDL 2 é maior, menos denso e com maior efeito protetor. Já o HDL 3 é menor, mais denso e tem menor efeito protetor para DARC. Valores de C-HDL dependem de sexo e idade, com tendência a decrescer temporariamente após infarto agudo do miocárdio. Em doenças da tireóide, seus valores não devem ser usados como estimativa de risco de aterosclerose, uma vez que o hipo tireoidismo aumenta e o hipertireoidismo diminui seus níveis. A terapia de reposição hormonal em mulheres na menopausa aumenta seus índices, reduzindo o risco de DARC. Preconiza-se uma dieta estável nas três semanas que antecedem a coleta. A variação individual para o HDL é de 3,6% a 12,4%. MÉTODO: Enzimático colorimétrico. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Colesterol LDL A LDL é a maior lipoproteína carreadora de colesterol no plas ma e a molécula lipídica mais aterogênica no sangue. Seus va lores estão diretamente associados ao prognóstico de risco de DARC. Vários estudos têm mostrado maior correlação do LDL com o risco de aterosclerose do que o colesterol total. Sua do sagem tem sido a base para decisões sobre início de terapias e dietas. Pacientes com níveis maiores ou iguais a 160mg/dL são considerados de alto risco para doença coronariana e devem ser submetidos a tratamento para redução de colesterol. Pa cientes borderline (níveis entre 130mg/dL a 159mg/dL) também devem ser tratados se já tiverem dois outros fatores de risco para DARC ou doença aterosclerótica. 95 04 Bioquímica BOOK 16.indd 95 26.10.06 17:44:49 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Até pouco tempo, a maior desvantagem deste procedimento era conseguir isolar e medir o C-LDL. Além de extremamente caro, o método de ultracentrifugação é de difícil implantação. Amplamente difundido, o procedimento padrão da fórmula de Friedewald, além de depender da exatidão de três dosagens diferentes, não pode ser usado quando os níveis de triglicerí deos estiverem acima de 400mg/dL, ou na presença de quilo mícrons. Hoje, no entanto, a dosagem é possível, mesmo com níveis de triglicerídeos acima de 400mg/dL, através de anti soros policlonais em partículas de látex com afinidade para lipoproteínas específicas humanas, removendo assim as HDL e VLDL da amostra. Preconiza-se uma dieta estável por três semanas e jejum nas oito a 12 horas que antecedem a coleta. MÉTODO: Cálculo pela fórmula de Friedewald. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Eletroforese de lipoproteínas As lipoproteínas são partículas de alto peso molecular, respon sáveis pelo transporte de lipídios no plasma. E a eletroforese é um dos métodos convencionais para análise do perfil das lipo proteínas circulantes, técnica que possibilita a separação e a caracterização de quatro classes de lipoproteínas: HDL, VLDL, LDL e quilomícrons. Índice de Castelli I e II Alguns autores usam correlações entre o colesterol sérico total, HDL e LDL como uma maneira de visualizar a influência com binada de importantes fatores de risco de doença coronariana. O índice de Castelli I é a razão entre o colesterol total e o HDL, enquanto o índice de Castelli II é a razão entre o LDL e o HDL. Lipoproteína (a) – Lp(a) A Lp(a) é uma lipoproteína com grande semelhança estrutural com o colesterol LDL (low density lipoprotein). Possui em sua estrutura a apoproteína B100, presente no LDL, e a apoproteína (a). É produzida principalmente no fígado e tem atividades pró trombóticas e pró-aterogênicas. Seus níveis são determinados geneticamente, não sofrem influências ambientais, nem dos índices das demais lipoproteínas. É considerada por muitos au tores como um fator de risco independente para o desenvolvi mento de doença cardiovascular aterosclerótica. Níveis acima de 30mg/dL são considerados de risco para DARC. Não existem dúvidas de que valores de Lp(a) e de LDL altos indi cam efetivamente um fator predisponente para doença cardio vascular aterosclerótica. Alguns autores, no entanto, ainda dis cutem o verdadeiro valor preditivo da elevação isolada de Lp(a) em pacientes normolipêmicos. Na prática, existe a concordân cia de que esse aumento isolado deve ser valorizado, dando-se maior atenção, nestes pacientes, à identificação e ao acompa Lipoproteína de alta densidade (alfa - HDL): A lipoproteína HDL nhamento dos fatores de risco lipídicos e não lipídicos, para mi do e no intestino, constituída de 50% de proteína, 30% de fosfo lar aterosclerótica. é uma pequena partícula de alta densidade, sintetizada no fíga lipídios, 20% de colesterol e apenas traços de triglicerídeos. Lipoproteína de muito baixa densidade (pré-beta ou VLDL): É sintetizada no fígado e contém cerca de 10% de colesterol e numerosas apolipoproteínas funcionalmente importantes. A VLDL transporta triglicerídeos e colesterol sintetizados no fí gado, derivados provavelmente de precursores da dieta, como ácidos graxos livres, glicerol e carboidratos. Llipoproteína de baixa densidade (beta ou LDL): Difere da VLDL por ter menor conteúdo de triglicerídeos e maior de colesterol, que transporta até os receptores celulares periféricos. Quilomícrons (Qm): Sintetizados pelas células epiteliais intes tinais, os quilomícrons são responsáveis pelo transporte de tri glicerídeos derivados principalmente da dieta (exógenos). MÉTODO: Eletroforese em acetato de celulose. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). nimizar o potencial de desenvolvimento de doença cardiovascu MÉTODO: Nefelometria. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Triglicerídeos Os triglicerídeos são ésteres de glicerol. Provenientes da dieta, sofrem digestão no duodeno e no íleo proximal. São hidroli sados a glicerol e ácidos graxos livres pela ação de lipases e ácidos biliares. Após a absorção, eles são novamente sintetiza dos nas células epiteliais intestinais e combinados com coles terol e apolipoproteínas para formar quilomícrons, que, por sua vez, são transportados via ducto torácico para a circulação. O aumento de triglicerídeos no plasma é indicativo de distúr bios metabólicos. Apesar da controvérsia de seu papel na doen ça arteriosclerótica, essa elevação, concomitante com níveis de colesterol elevados, é considerada fator de risco para DARC. Valores altos também são detectados no diabetes mellitus, na síndrome nefrótica, na pancreatite, em doenças coronarianas e na arteriosclerose. Acima de 2.000mg/dL, eleva o risco de pan 96 04 Bioquímica BOOK 16.indd 96 26.10.06 17:44:50 BIOQUÍMICA P N = Normal è = Moderadamente elevado N = Normal è = Moderadamente aumentada èè = Aumentada èè = Elevado èèè = Marcantemente elevado ê = Aumentada êê = Muito aumentada êêê = Normal *Após 16 horas a 4°C ** Necessita ultracentrifugação para diagnóstico *Após 16 horas a 4°C 97 04 Bioquímica BOOK 16.indd 97 26.10.06 17:44:50 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA creatite aguda. Também pode elevar-se em conseqüência do liberação do potássio intraplaquetário, também podem apre uso de certos medicamentos, como a prednisona. sentar hiperpotassemia artificial. A presença de hemólise na Para o exame, é necessário jejum de 12 a 14 horas, dieta estável durante as três semanas que antecedem a coleta e abstenção de álcool por três dias. Sob orientação médica, suspender ainda drogas que possam afetar as concentrações lipídicas do sangue. MÉTODO: Enzimático colorimétrico. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ••• Potássio Presente em grandes concentrações no espaço intracelular, o potássio tem grande importância na manutenção do equilí brio eletrolítico transmembrana celular. As variações em suas concentrações prejudicam a capacidade de contração muscu lar, tanto da musculatura lisa quanto da estriada. Níveis abaixo de 3mEq/L são associados a sintomas neuromusculares. Pa cientes hipertensos e com níveis de potássio abaixo de 3mEq/L sem uso de diuréticos devem ser investigados para hiperaldos teronismo primário, que tem como principal causa o adenoma de supra-renal (síndrome de Conn). Alterações eletrocardiográficas e sintomas neuromusculares também são encontrados na hiperpotassemia (níveis acima de 6mEq/L). Patologias que cursam com hiperplaquetemia, por amostra coletada aumenta sensivelmente o nível de potássio. Inúmeras drogas interferem sobre o potássio, aumentando ou diminuindo os seus níveis. MÉTODO: Potenciométrico. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante) ou urina de 24 horas (frasco sem conservante). Pré-albumina Tem demonstrado ser um marcador efetivo do estado nutri cional em crianças prematuras e em pacientes cirúrgicos ou oncológicos. Sua meia-vida é de dois dias, diferente da albu mina, que corresponde a 20 dias. Devido ao decréscimo de sua síntese no fígado, seus níveis caem nos processos inflamató rios, neoplasias, cirrose hepática e doenças renais ou intesti nais perdedoras de proteínas. Nas crianças, seus níveis corres pondem a 50% dos adultos, com aumento expressivo durante a puberdade. Valores elevados são observados em pacientes em uso de anticoncepcionais orais, corticosteróides, esteróides anabólicos e na doença de Hodgkin. A pré-albumina circula numa relação molar de 1:1 ligada à proteína fixadora de retinol (PFR), que também é utilizada como um indicador do estado nutricional. MÉTODO: Nefelometria. AMOSTRA: Sangue ou liquor (tubo sem anticoagulante). Pró-BNP/BNP Os peptídeos natriuréticos são produzidos de forma diferen ciada pelos tecidos: o do tipo A é liberado pelas células atriais; o tipo C, pelo endotélio vascular. Somente o tipo B(BNP) é pro duzido essencialmente pelos miócitos ventriculares, tornando-se praticamente específico para doenças nos ventrículos. O aumento da tensão na parede ventricular, com estiramento das fibras miocárdicas, é o estímulo para que o miócito clive o pré-pró BNP em pró-BNP. O pró-BNP formado é novamente quebrado em BNP e em porção N-terminal pró-BNP, designado somente de pró-BNP. Tanto o BNP como o pró-BNP têm ação natriurética e vasodilatadora. O efeito do BNP e do peptídeo N-terminal (pró-BNP) consiste em ser antagonista do efeito vasoconstritor do sistema renina-angiotensina-aldosterona. A compensação da insuficiência cardíaca ocorre devido a sua ação vasodilatadora e natriurética, na fase inicial da doença. Os estudos demonstram que tanto o BNP como o pró-BNP são igualmente importantes no diag 98 04 Bioquímica BOOK 16.indd 98 26.10.06 17:44:51 BIOQUÍMICA nóstico e acompanhamento pós-tratamento da insuficiência cardíaca congestiva (ICC). Não há, portanto, diferenças clínicas entre ambos. Entretanto, por ser o pró-BNP uma molécula de maior meia-vida (duas horas), tem, ao contrário do BNP, maior estabilidade para análise, podendo ser avaliado em laborató P rios fora do ambiente hospitalar. Tanto o BNP como o pró-BNP têm valor prognóstico nos qua dros de ICC: quanto mais elevados seus níveis, pior o prog nóstico (pacientes com BNP > 1.000pg/mL têm sobrevida pior que indivíduos com BNP < 1.000pg/mL). Doentes ambulato riais podem ser beneficiados com a dosagem de pró-BNP e ter o tratamento modificado, já que, por ser um índice sensível de descompensação cardíaca, seus níveis se mostram altos ainda que o paciente não apresente sinais de descompensa ção ou pequenas alterações clínicas. Resultados falso-positivos são vistos na insufiência renal crôni ca, no infarto, nos quadros de sepse e COR PULMONALE. Resul tados falso-negativos ocorrem em indivíduos obesos, na insufi ciência mitral aguda, estenose mitral e no mixoma atrial. MÉTODO: Eletroquimioluminescência e imunoensaio fluori étrico. AMOSTRA: Sangue (tubo com anticoagulante heparina). MÉTODO: Colorimétrico. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Proteínas na urina Na urina normal, detecta-se pequena quantidade de proteí nas, de até 150mg/24h. São principalmente proteínas séricas de baixo peso molecular, filtradas de forma seletiva pelos glo mérulos, como a albumina, e as produzidas no trato urogeni tal (glicoproteína de Tamm-Horsfall). Somente as proteínas de baixo peso molecular são pequenas o suficiente para atraves sar a membrana e atingir o filtrado glomerular, sendo grande parte reabsorvida pelos túbulos renais. Por sua predominância sérica, a albumina é a principal fração protéica encontrada na urina normal. Outras proteínas, também de baixo peso mole Proteínas no liquor Aumenta na meningite bacteriana ou tuberculosa, no absces so cerebral, no AVC, em alguns casos de esclerose múltipla, pro cessos degenerativos que causam doença neurológica, certas doenças neoplásicas e alguns casos de mixedema. MÉTODO: Colorimétrico. AMOSTRA: Liquor (frasco sem conservante). Vide capítulo de Fluidos Biológicos. Proteínas totais e frações Compostas por aminoácidos, as proteínas são sintetizadas no fígado e no sistema reticuloendotelial. São essenciais para a manutenção da pressão osmótica e têm diversas funções no organismo, o que inclui ação enzimática, hormonal, auto imune, fatores da coagulação, e de transporte através de suas ligações no sangue com substâncias hormonais ou não hormonais. Sua dosagem fornece um bom parâmetro para a avaliação do estado nutricional e para a presença de doenças sistêmicas severas. cular, são detectadas em menores quantidades, como alfa-1 e alfa-2-globulinas e, mais raramente, beta e gamaglobulinas. As principais causas patológicas de proteinúria são a lesão glomerular, distúrbios da reabsorção tubular e o aumento dos níveis séricos de proteínas de baixo peso molecular. Dependen do da gravidade, uma lesão glomerular pode, ou não, levar à perda de seletividade, permitindo a passagem de proteínas de alto peso molecular. Quando a proteinúria se deve a defeitos de reabsorção tubular, as proteínas presentes na urina são de baixo peso molecular. O principal exemplo de patologia que leva a um aumento dos níveis séricos de proteínas de baixo peso molecular é o mieloma múltiplo com excreção da proteí na de Bence Jones, que é composta por cadeias leves monoclo nais de imunoglobulinas. A velocidade de excreção das proteínas varia durante as 24 ho ras. Por isso, para uma melhor avaliação, o teste deve ser feito em uma amostra de urina colhida em 24 horas. A dosagem é útil no diagnóstico e no controle de diversas patologias em que há perda de proteínas, como síndrome nefrótica, intoxicação por metais, lúpus eritematoso sistêmico, pericardite constriti va e amiloidose. Pacientes com diabetes mellitus correm maior risco de sofrer dano renal. O aumento subclínico da excreção da albumina urinária é tido como preditivo de nefropatia dia 99 04 Bioquímica BOOK 16.indd 99 26.10.06 17:44:52 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA bética. Reações falso-positivas ocorrem ocasionalmente por ção das hiponatremias por perda renal (rins policísticos, acido uso de salicilatos, contrastes radiológicos e doses maciças de se tubular proximal), nas oligúrias pré-renais (sódio urinário penicilinas. < 10mEq/L) ou oligúria renal (sódio urinário > 10mEq/L). MÉTODO: Colorimétrico. AMOSTRA: Urina de 24 horas (frasco sem conservante). Reserva alcalina O dióxido de carbono (CO2) está no organismo nas formas de HCO -, CO = ou H CO . Na prática, entre 80% e 90% estão pre 3 3 2 3 sentes como bicarbonato (HCO3-), principal componente do sistema tampão e essencial no equilíbrio ácido-básico. Resul tados aumentados ocorrem na acidose respiratória, compen sada ou não, e na alcalose metabólica. Valores baixos podem indicar alcalose respiratória, como na hiperventilação, ou aci dose metabólica. A amostra colhida deve ser hermeticamente vedada para evi tar perdas por difusão do CO2. SINONÍMIA: Bicarbonato. MÉTODO: Potenciométrico indireto. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Saturação de transferrina, índice de É usada na distinção das causas comuns de anemias. Relacio na a quantidade de ferro sérico com a quantidade de transfer rina ou capacidade total de fixação do ferro (TIBC) presente. Normalmente, aumentos de TIBC ocorrem em resposta ao de créscimo do ferro sérico (deficiência de ferro), embora costume apresentar-se normal em doenças inflamatórias crônicas. MÉTODO: Cálculo. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Sódio É um cátion presente em grande quantidade no líquido ex tracelular. Suas variações, seja por redução (hiponatremia) ou por aumento (hipernatremia), provocam também alterações na osmolalidade sérica. Seu grande poder osmótico lhe pro porciona capacidade de distribuição da água corporal. Níveis abaixo de 120mEq/L resultam em alterações neurológicas que vão desde fraqueza muscular a alterações de comportamento, distúrbios de equilíbrio e coma. Quase todo o sódio proveniente da dieta é eliminado pelos rins. A dosagem do sódio urinário é importante para a avalia MÉTODO: Potenciométrico. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Urina de 12 ho as, 24 horas ou amostra única. Teste de tolerância à lactose É usado para avaliar insuficiência enzimática (lactase) intesti nal, resultante de dano ou disfunção da mucosa em casos de deficiência idiopática, espru, doença celíaca e gastroenterite. Deve-se considerar a diferença entre a glicemia basal e o maior valor da glicose em qualquer momento da curva. O indivíduo é considerado normal quando essa diferença for maior que 30mg/dL e intolerante quando for menor que 20mg/dL. São colhidas amostras basais aos 15, 30, 60 e 90 minutos após uma sobrecarga de lactose. A dose ingerida por adultos é de 50g; em 100 04 Bioquímica BOOK 16.indd 100 26.10.06 17:44:52 a ALT é mais sensível para detecção de danos do hepatócito do náuseas, vômitos e diarréia. que para a obstrução biliar, considerada um excelente marca MÉTODO: Enzimático colorimétrico. AMOSTRA: Sangue (tubo com fluoreto). Teste de tolerância à maltose É usado para avaliar deficiência enzimática intestinal. O pro cedimento, tempos de coleta e dose ingerida são semelhantes aos do teste de tolerância à lactose. dor hepatocelular. Encontram-se níveis elevados na hepatite infecciosa e tóxica, doença pancreática, mononucleose, cirrose, icterícia obstrutiva e carcinoma metastático. Em pacientes com infarto do mio cárdio, a ALT geralmente está normal ou ligeiramente elevada. Entretanto, insuficiência cardíaca ou choque com necrose he pática concomitante pode fazer subir seus níveis. SINONÍMIA: Alanina aminotransferase (ALT). MÉTODO: Enzimático colorimétrico. MÉTODO: Cinético UV. AMOSTRA: Sangue (tubo com fluoreto). AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Teste de tolerância à sacarose É usado para avaliar deficiência enzimática intestinal. O pro cedimento, tempos de coleta e dose ingerida são semelhantes aos do teste de tolerância à lactose. MÉTODO: Enzimático colorimétrico. AMOSTRA: Sangue (tubo com fluoreto). BIOQUÍMICA tura esquelética e no coração. Como teste de função hepática, até o máximo de 50g. Há relatos de efeitos colaterais, como R S T crianças, a dose é de 50g de lactose/m2 de superfície corporal, Transaminase oxalacética – TGO Enzima encontrada no miocárdio, fígado, musculatura es quelética, rim e cérebro, a dosagem de seus níveis auxilia no diagnóstico de doenças cardíacas, hepáticas e musculares. No infarto do miocárdio, sua atividade eleva-se nas primeiras 12 horas, atingindo um pico em 24 horas e retornando ao normal por volta do quinto dia. Pequenas elevações são observadas durante a gravidez. Aumenta de forma significativa na necro Transaminases ou Aminotransferases se hepática, anemias hemolíticas, pancreatite aguda, cirrose A atividade enzimática tem sido usada como indicadora de tireoidismo, trauma e infarto cerebral, dermatomiosites, quei dano hepatocelular. A aspartato aminotransferase (AST ou TGO) está presente em vários órgãos além do fígado, incluin do coração e músculos, enquanto a alanina aminotransferase (ALT ou TGP) encontra-se basicamente no fígado. Oitenta por cento da AST dos hepatócitos é mitocondrial, enquanto a ALT é citoplasmática. Essa diferença tem auxiliado no diagnóstico e prognóstico de doenças hepáticas. Nos danos hepatocelulares leves, a forma predominante no soro é a citoplasmática; nas hepática, hepatites, icterícia obstrutiva, mononucleose, hipo maduras severas, distrofias musculares, lesões da musculatura esquelética, cateterismo e angioplastia cardíaca. Inúmeras drogas comumente usadas podem elevar os níveis de AST (iso niazida, eritromicina, progesterona, esteróides anabólicos etc.), o que a torna útil na monitoração de terapias com substâncias hepatotóxicas. SINONÍMIA: Aspartato aminotransferase (AST). lesões graves, há liberação de enzima mitocondrial, elevando a MÉTODO: Cinético UV. relação AST/ALT. Essa relação costuma ser menor que 1 em pa AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). cientes com dano hepatocelular agudo. Mas é alta em doença alcoólica hepática, freqüentemente maior do que 1 na cirrose não-alcoólica. A elevação crônica dessas enzimas em pacientes assintomáticos pode ter várias causas, incluindo uso de álcool e medicamentos, hepatite viral crônica ou doença gordurosa não-alcoólica do fígado. Transaminase pirúvica – TGP É uma enzima intracelular, presente em grandes quantidades no fígado e no rim, e em pequenas quantidades na muscula Transferrina É uma glicoproteína sintetizada principalmente no fígado, com meia-vida de cerca de sete dias. É a principal proteína plasmá tica transportadora de ferro; com isso, suas concentrações so frem variações em resposta à deficiência de ferro ou a doenças crônicas, voltando ao normal após o tratamento. Normalmente apenas 1/3 da transferrina plasmática encontra-se sob a forma saturada. Sua concentração se correlaciona à capacidade total de ligação do ferro (TIBC), o que a torna útil nos casos de dosa- 101 04 Bioquímica BOOK 16.indd 101 26.10.06 17:44:53 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA gens pediátricas, uma vez que em comparação com a técnica ção entre azotemia pré e pós-renal. Azotemia é a designação do TIBC, exige pequenas quantidades de amostra. de qualquer aumento significativo na concentração sérica de componentes nitrogenados não-protéicos, principalmente uréia e creatinina, e deve ser classificada em pré-renal, renal e pós-renal. Em comparação com a creatinina, a uréia tem maior variação de acordo com a dieta, eleva-se mais precocemente nos casos de insuficiência renal e não sofre influência da massa muscu lar. Glicocorticóides e hormônio tireoidiano (efeito catabólico protéico) tendem a aumentá-la, enquanto androgênios e hor MÉTODO: Nefelometria. AMOSTRA: Sangue (Tubo sem anticoagulante). Uréia sérica A uréia é o metabólito quantitativamente mais importante do catabolismo das proteínas (principal fonte de excreção do ni trogênio) e da desaminação dos aminoácidos (ciclo da ornitina, que libera NH2-amoníaco). Produzida no fígado, passa para a circulação sangüínea, onde é degradada em níveis intersticiais e eliminada pelo suor, pelo trato gastrointestinal e pelo rim. Li vremente filtrada pelos glomérulos, dependendo do estado de hidratação, entre 40% a 80% de seu volume são reabsorvidos nos túbulos proximais. Sua concentração varia em indivíduos sadios, com influência de diversos fatores, como grau de hidra tação, dieta protéica e função renal. É utilizada na avaliação do estado do funcionamento renal e, em conjunto com a creatini na plasmática, sua dosagem é de grande auxílio na diferencia- mônio de crescimento, por seus efeitos anabólicos, diminuem sua formação. MÉTODO: Cinético UV. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Uréia urinária A uréia é filtrada livremente pelos glomérulos. No rim normal, 40% a 80% de sua concentração são reabsorvidos passivamen te pelo túbulo renal proximal. Esta difusão depende do fluxo urinário: quando ele é menor do que 2mL/min, uma proporção maior é reabsorvida. Conseqüentemente, o clearance de uréia pode subestimar a taxa de filtração glomerular. Além disso, a produção de uréia também depende de inúmeras variáveis não-renais, como dieta e síntese hepática, tornando-a de pouca utilidade como medida da taxa de filtração glomerular. É mais utilizada na avaliação dos compostos urinários nitrogenados não-protéicos e na medida da taxa de produção de uréia. MÉTODO: Cinético UV. AMOSTRA: Urina 24 horas (frasco sem conservante). 102 04 Bioquímica BOOK 16.indd 102 26.10.06 17:44:53 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA C I T O G E N É T I C A Os primórdios da genética clínica datam de 1877, com a descrição dos cromossomos pelo médico bri tânico Alexander Fleming. A introdução da citogenética como um novo campo de estudo se deve ao trabalho de Tjio e Levan, em 1956. Estes pesquisadores descreveram os 46 cromossomos específicos da espécie humana com suas características importantes. Citogenética é o estudo, em microscópio óptico, dos cromossomos e suas variações, tanto de número quanto de estrutura. É atualmente considerada uma pesquisa biológica importante em todas as áreas da genética clínica e molecular. Para este tipo de análise, cromossomos obtidos a partir de células nucleadas com origem em diferen tes tecidos são submetidos a métodos de preparação citológica direta ou a técnicas de cultura em laboratório. A escolha entre os diferentes tecidos, como sangue periférico, sangue fetal, líquido amnió tico, material biológico de aborto, medula óssea e tumores sólidos, vai depender da indicação clínica. A identificação em cromossomos metafásicos e/ou prometafásicos é efetuada por marcação através de técnicas de bandeamento G, Q, R, C, NOR. As três primeiras, G, Q e R, envolvem o tratamento com agentes físicos (calor) ou químicos (enzimas, tampões, corantes), que provocam o aparecimento de regiões claras e escuras para as bandas G e R, e brilhantes e não-brilhantes para as bandas Q, com padrões constantes para cada par de cromossomos homólogos. O bandeamento C resulta na coloração das regiões de heterocromatina constitutiva, localizada nos centrômeros, principalmente dos cromossomos 1, 9 e 16 e na porção distal do braço longo do cro mossomo Y. As bandas NOR são específicas para as regiões organizadoras de nucléolo, observadas nos braços curtos dos cromossomos acrocêntricos. Estas técnicas permitem a identificação precisa de anomalias numéricas e de rearranjos intra e intercromossômicos. Após o pareamento dos cromossomos homólogos, a montagem do cariótipo é feita de acordo com o tamanho e o padrão de bandas, segundo o Sistema Internacional de Nomenclatura para Citogenética Humana. (1995). 106 05 Citogenetica BOOK 16.indd 106 26.10.06 17:42:01 – Retardo mental e/ou malformações congênitas; – Casais com história de aborto de repetição; – Esterilidade, infertilidade ou prole malformada; Estima-se que 60% dos abortos espontâneos no pri meiro trimestre de gestação e 5% dos natimortos apresentem alguma anomalia cromossômica. As anomalias desse tipo também são responsáveis por 60% ou mais das síndromes genéticas identificáveis, como a síndrome de Down, caracterizada pela trisso mia do cromossomo 21. As trissomias dos cromosso mos 16, 21, 18 e 13, a monossomia do X e a triploidia são as anomalias mais comumente associadas aos abortos espontâneos. A freqüência de anormalidades cromossômicas ao nascimento é de aproximadamente 5,6 para 1.000 recém-nascidos. Entre as autossômicas, as principais são as trissomias dos cromosso mos 21 (síndrome de Down), 18 (síndrome de Edwards) e do 13 (síndrome de Patau); entre as relacionadas aos cromossomos sexuais, estão as anomalias 45,X (síndrome de Turner), XXX (tri plo X) e XXY (síndrome de Klinefelter). Algumas anomalias cro mossômicas estruturais também são bem conhecidas, como por exemplo a deleção parcial do braço curto do cromossomo 5 – Genitália ambígua; – Atraso do desenvolvimento sexual; – História familiar de anormalidade cromossômica; – Mulheres com síndrome gênica recessiva ligada ao cromos somo X; – Indivíduos com doenças hematológicas; – Indivíduos com síndrome de instabilidade cromossômica; – Individuos submetidos à exposição de agentes físicos, quími cos ou biológicos. CITOGENÉTICA MOLECULAR A hibridização in situ fluorescente ou FISH é uma técnica na qual um segmento de DNA específico é hibridizado a seqüên cias cromossômicas homólogas em células metafásicas, pro metafásicas ou interfásicas. Os cromossomos são desnatura dos e hibridizados com uma sonda de DNA marcada com bio tina, substância capaz de se ligar à avidina. Com a adição de um anticorpo biotinilado marcado com fluoresceína, o local do cromossomo que contém a seqüência de interesse é identifica (Síndrome de cri-du-Chat). do quando exposto à luz fluorescente. Dentre as numéricas, o tipo mais comum e clinicamente signifi Esta técnica pode ser aplicada, com maior rapidez e precisão, cativo são as aneuploidias:em geral,a trissomia,que consiste na presença de três cromossomos em vez do par normal de homó logos, ou a monossomia, em que há apenas um representante do par. Estas anomalias têm a não-disjunção como mecanismo etiológico principal, ou seja, durante a divisão meiótica ou mi tótica, há uma falha na separação dos cromossomos, o que, na maioria das vezes, está associado à idade materna avançada. Os rearranjos estruturais são decorrentes de quebras e recons tituição anormal dos cromossomos. São definidos como balan ceados quando não há perda ou ganho de material genético ou, caso contrário, são definidos como não balanceados. Nesta categoria incluem-se as deleções e duplicações (que resultam em cariótipos com monossomias e trissomias parciais, respec tivamente), cromossomos em anel, dicêntricos, isocromosso mos, alguns tipos de translocações e cromossomos marcado res. Dentre as aberrações balanceadas destacam-se as inver sões dos tipos pericêntricas e paracêntricas, inserções, translo cações robertsonianas. Embora estas anomalias não estejam necessariamente associadas a fenótipos alterados, indivíduos CITOGENÉTICA – Suspeita de síndrome cromossômica conhecida; ANORMALIDADES CROMOSSÔMICAS E MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS Indicações para o estudo citogenético para a detecção de aneuploidias e mosaicos na determinação da origem de cromossomo marcador e na análise de rearranjos cromossômicos, tanto em células em fase de mitose quanto na interfase, mesmo em casos com baixo índice mitótico. Análise cromossômica para o diagnóstico de malformações congênitas e aconselhamento genético ANÁLISE CROMOSSÔMICA DE CÉLULAS FETAIS PARA O DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL Estudo citogenético em líquido amniótico. INDICAÇÃO: História familiar de anormalidade cromossômica, idade materna avançada (35 anos ou mais), malformação de tectada em exame ultra-sonográfico, exame de rastreamento para anomalias cromossômicas alterado. MÉTODOS: Cultura de células, microscopia, cariotipagem. AMOSTRA: Líquido amniótico coletado em seringa estéril hepa rinizada, mantido a 4ºC. com estes tipos de aberrações apresentam risco mais elevado de uma prole anormal. 107 05 Citogenetica BOOK 16.indd 107 26.10.06 17:42:01 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA CARIÓTIPO COM BANDA EM ALTA RESOLUÇÃO MÉTODOS: Coloração e microscopia. Estudo citogenético em sangue periférico. AMOSTRA: Raspado da mucosa oral (esfregaço em lâmina), INDICAÇÃO: Investigação de síndromes de microdeleções (Sín drome de Angelman, síndrome de Prader Willi etc.). MÉTODOS: Cultura de células, microscopia, cariotipagem. AMOSTRA: Sangue periférico coletado em tubo ou seringa esté ril heparinizada, mantido a 4ºC. mantido em solução álcool-éter a 1:1. PESQUISA DE CROMOSSOMO X-FRÁGIL Estudo citogenético em sangue periférico. INDICAÇÃO: Diagnóstico de síndrome do X-frágil (Síndrome de Martin-Bell). CULTURA DE CÉLULAS DE PELE PARA ANÁLISE MÉTODOS: Cultura de células, microscopia, cariotipagem. Estudo citogenético em fibroblastos de pele. ril heparinizada, mantido a 4ºC. INDICAÇÃO: Pesquisa de mosaicismo cromossômico. PESQUISA DE INSTABILIDADE CROMOSSÔMICA CROMOSSÔMICA E DOSAGEM BIOQUÍMICA MÉTODOS: Cultura de células, microscopia, cariotipagem. AMOSTRA: Fragmentos de pele mantidos à temperatura ambien te, em meio de cultura apropriado, fornecido pelo laboratório. ESTUDO CROMOSSÔMICO EM MATERIAL BIOLÓGICO DE RESTOS OVULARES (MATERIAL BIOLÓGICO DE ABORTO) AMOSTRA: Sangue periférico coletado em tubo ou seringa esté Estudo citogenético em sangue periférico. INDICAÇÃO: Diagnóstico de anemia de Fanconi. MÉTODOS: Cultura de células, microscopia, cariotipagem. AMOSTRA: Sangue periférico coletado em tubo ou seringa esté ril heparinizada, mantido a 4ºC. Estudo citogenético em material biológico de aborto. INDICAÇÃO: Pesquisa de aneuploidias em casos de aborto es pontâneo, sobretudo em casais com abortos recorrentes, his tórico familiar de abortamentos de repetição ou casos de mal formações congênitas/retardo mental na família. MÉTODOS: Cultura de células, microscopia, cariotipagem. AMOSTRA: Material biológico de aborto, mantido em solução fisiológica heparinizada (0,1mL/10mL). HIBRIDIZAÇÃO IN SITU FLUORESCENTE (FISH) Análise cromossômica em sangue periférico, líquido amniótico ou medula óssea. INDICAÇÃO: Detecção de aneuploidias e mosaicos aneuplóides, cromossomo marcador e rearranjos cromossômicos. MÉTODOS: Cultura de células e microscopia de fluorescência. AMOSTRA: Sangue periférico e medula óssea, coletados em tubo ou seringa estéril heparinizada, mantidos a 4ºC. OBSERVAÇÃO: a indicação é específica, uma vez que o FISH será direcionado para a região a ser estudada. INVESTIGAÇÃO DA CROMATINA SEXUAL (CROMOSSOMO X) Estudo da cromatina X em raspado da mucosa oral. INDICAÇÃO: Determinação do sexo, investigação de casos de mulheres com crescimento retardado e/ou amenorréia e de homens com azoospermia. Citogenética de neoplasias hematológicas O estudo citogenético tornou-se um protocolo imprescindível para o acompanhamento de neoplasias hematológicas, uma vez que a identificação de determinadas anomalias influencia definitivamente no diagnóstico, prognóstico e tratamento des tas patologias. É, hoje, considerado um dos exames necessá rios para classificar as hemopatias malignas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Desde o primeiro relato científico de Nowell e Hungerford, em 1960, descrevendo a translocação recíproca entre os cromos somos 9 e 22 [t(9;22)(q34;q11)] em pacientes com leucemia mielóide crônica (cromossomo Philadelphia), vários rearranjos cromossômicos têm sido associados a grupos de neoplasias hematológicas, morfológica e clinicamente distintos: 1) Vários rearranjos cromossômicos são específicos a subtipos morfológicos e ajudam a orientar a ação terapêutica e a prever o prognóstico. 2) Estudos moleculares demonstraram que vários proto-oncogenes parecem mapear os sítios em que há regiões envolvidas em rearranjos cromossômicos presentes em hemopatias ma lignas. No cromossomo Philadelphia, o proto-oncogene abl é deslocado de sua posição em 9q para 22q, alterando o produto de codificação deste gene de forma que ele exiba um aumen to da atividade de tirosina quinase, gerando malignidade nas 108 05 Citogenetica BOOK 16.indd 108 26.10.06 17:42:02 A presença de determinadas anomalias citogenéticas pode in fluenciar na escolha do tratamento. Por exemplo, os pacientes gressão celular para vários tipos de leucemias e linfomas. com leucemia mielóide aguda do tipo M3 que apresentam a A análise citogenética de sangue periférico e medula óssea de translocação t(15;17)(q22;q21) respondem bem à quimioterapia pacientes com síndrome mielodisplásica (SMD) e leucemia mie intensiva. lóide aguda (LMA) pode detectar alterações caracterizadas pela perda ou pela presença de cromossomos ou segmentos cro mossômicos adicionais, além de rearranjos estruturais relevan tes tanto para o diagnóstico quanto para o acompanhamento clínico. Independentemente da classificação morfológica, essas alterações cromossômicas têm um importante valor prognós tico, servindo como marcadores em ambas as patologias. As anormalidades cariotípicas clonais são detectadas em cerca de 60% a 80% dos casos de LMA e em 25% a 50% dos casos de SMD. Estas alterações cromossômicas estão confinadas aos clones malignos, não sendo observadas durante a remissão he matológica, mas novamente constatadas nas recidivas. 3) Leucemia linfoblástica aguda (LLA) Em casos de pacientes portadores deste tipo leucêmico, a aná lise citogenética é de fundamnental importância, uma vez que, atualmente, as anomalias cromossômicas presentes na LLA são consideradas fatores de prognóstico, independente de outros fatores de risco. Cariótipos hiperdiplóides apontam para um bom prognóstico, com taxa de cura em torno de 80%. A t(4;11)(q21;q23), no entanto, é considerada de mau prognós tico, mesmo quando se utiliza tratamento de alto risco. Nos vários protocolos terapêuticos mundiais, os portadores desta anomalia são indicados para transplante de medula óssea, em primeira remissão. Marcador diagnóstico A presença de determinada anomalia cromossômica na amos tra de medula óssea de um paciente pode auxiliar a estabe lecer o diagnóstico. Como exemplos, temos o cromossomo Philadelphia na leucemia mielóide crônica, a deleção do braço longo do cromossomo 5 (5q-) na síndrome mielodisplásica e a translocação entre os cromossomos 8 e 14 [t(8;14)] no linfoma de Burkitt. Marcador prognóstico Algumas anomalias cromossômicas específicas estão associadas a um melhor ou pior prognóstico. Como exemplo, a translocação entre os cromossomos 8 e 21 [t(8;21)] indica um bom prognóstico nos casos de leucemia mielóide aguda, enquanto as anormali dades do cromossomo 5 apontam um pior prognóstico. Cariótipo de medula óssea e pesquisa do cromossomo Philadelphia Para a realização do teste é imprescindível o envio de informa ções referentes ao tipo de patologia hematológica, o tempo de CITOGENÉTICA uma visível etiologia para a transformação maligna e a pro Marcador terapêutico ANORMALIDADES CROMOSSÔMICAS E MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS células hematopoiéticas. Além disso, algumas pesquisas têm identificado outras alterações cromossômicas que constituem evolução da doença e a terapia administrada ao paciente. INDICAÇÃO: Diagnóstico, prognóstico e tratamento de pacien tes com neoplasias hematológicas, além de detecção de doen ça residual mínima para acompanhamento do protocolo de tratamento. MÉTODOS: Cultura de células, microscopia e cariotipagem. AMOSTRAS: Aspirado de medula óssea e alíquotas de sangue periférico com 30% de células blásticas, coletados em tubos ou seringas heparinizados (liquemine 0,1mL/10mL), mantidos à temperatura ambiente. A análise citogenética dos portadores de hemopatias malig nas é uma metodologia que possibilita a descoberta de novos genes para o estudo de terapias moleculares. Recentemente, pacientes portadores de LMC (Ph+) tratados com o medicamento Imatinib (Glivec) têm alcançado a remis são citogenética. Conseqüentemente, o acompanhamento ci togenético deste paciente é importante para se detectar doen ça residual. 109 05 Citogenetica BOOK 16.indd 109 26.10.06 17:42:03 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA E N D O C R I N O L O G I A O mundo é dependente da comunicação, evolui ou involui na relação direta de uma boa ou má comu nicação, de bons ou maus canais, de bons ou maus mensageiros, de bons ou maus receptores. Que visão fantástica temos ao perceber que nosso organismo é um microcosmo, ou seria um macro? Assim como o mundo externo, nosso mundo interno é diretamente dependente deste sistema de comunicação, no qual os hormônios têm o papel de mensageiros. Hoje, a Endocrinologia é vista como o estudo da comunicação célula-célula através de moléculas men sageiras que atravessam o espaço extracelular. Mas nem sempre seu entendimento foi este. As mais precoces alusões ao sistema endócrino vieram de Aristóteles, que, em 400 a.C., descreveu os efeitos da castração no canto dos pássaros. Galen, 400 anos mais tarde, descreveu e nomeou a glându la tireóide. Somente na época do Renascimento, os detalhes anatômicos foram exaltados por artistas, tais como Leonardo da Vinci e Michelangelo; e descrições de órgãos endócrinos foram realizadas. A seguir, os fisiologistas demonstraram o processo de secreção interna, moléculas que tinham a pro priedade de estimular resposta em um órgão distante, via corrente sangüínea. Em 1905, o termo hor mônio, do grego hormaein (excitar ou colocar em movimento) foi referido a estas moléculas. Talvez o conceito excitar não seja a melhor referência aos nossos atuais conhecimentos da função hormonal, já que alguns têm o efeito inibitório. No entanto, o conceito de colocar em movimento seria a melhor tradução do entendimento que hoje temos sobre o papel dos hormônios. No desvendar deste mun do, somaram-se ao conhecimento dos fisiologistas as observações clínicas de grandes médicos como Addison, Graves e von Basedow, Marie, Cushing e outros. Devido às pequenas concentrações circulantes e às estruturas químicas muito semelhantes, os hor mônios foram inicialmente medidos através de ensaios biológicos. Esta avaliação era baseada na res posta de um tecido vivo ou de um animal à ação de um hormônio. Entre os ensaios destaca-se a Rea ção de Galli Mainini, usada para o diagnóstico de gravidez, em que se injetava urina de mulher grávida em sapo bufo, com posterior coleta da amostra de urina do sapo, para avaliar a presença de esperma tozóides. É interessante mencionar que o princípio desta avaliação já era praticado pelos egípcios há muitos anos. Existem relatos de 3000 a.C. indicando que as mulheres egípcias regavam sementes de trigo e outros cereais, diariamente, com suas urinas; se as sementes brotassem, as mulheres eram consideradas grávidas. Além disso, o sexo era previsto de acordo com o tipo de cereal que melhor se desenvolvesse. 112 ENDOCRINOLOGIA Na década de 1950, com os estudos de Yalow e Berson, foram desenvolvidas técnicas de competição isotópica, destacando-se o radioimunoensaio. Com isso, Rosalind Yalow se tornou a segunda mulher a receber o Prêmio Nobel em Medicina, em 1977. Houve um grande avanço nas dosagens hormonais, com grande auxílio no diagnóstico e tratamento das doenças endócrinas. Ao mencioná-la, devemos também lembrar de uma das cientistas mundialmente reconhecidas pelo seu brilhantismo, Marie Curie, que em 1903 foi a primeira mulher a receber o Prêmio Nobel de Física, e em 1911 recebeu o seu segundo Prêmio Nobel, agora em Química, isolando o “Radium”, tornando possível a técnica de radioimunoensaio. Outra grande revolução aconteceu com a descrição da técnica de produção de anticorpos monoclonais, por Köeler e Milstein, em 1975, ampliando o uso dos métodos imunométricos, obtendo-se ensaios mais sensíveis e específicos. Tal fato também estimulou o emprego de marcadores alternativos, não radioativos, como enzimas, compostos fluorescentes e quimioluminescentes. Com o desenvolvimento tecnológico, os diferentes ensaios foram introduzidos em equipamentos automatizados, obtendo-se maior operacionalidade, qualidade e rapidez dos resultados. Mais recentemente, os avanços nas técnicas de genética molecular propiciaram um grande desen volvimento na endocrinologia molecular, o que possibilitou o diagnóstico de mutações associadas à hipo ou hipersecreção hormonal, como também a síndromes de resistência e disfunções, envolvendo fatores de transcrição e mensageiros intracelulares. Estes maravilhosos mensageiros moleculares expandiram o conceito de ação a distância, cruzando os espaços extracelulares e tornando possível a comunicação de célula a célula. Através dos hormônios, as células também se comunicam com elas mesmas e com os vizinhos mais próximos. Tal processo permite a cooperação entre células e a surpreendente diversidade biológica inerente à tendência na tural destas a diferenciarem-se numa função especializada. Quem sabe, se conseguirmos entender todas as questões referentes ao sistema de comunicação destes mensageiros, sua eficiência e sua deficiência, venhamos a entender um pouco mais sobre o macrocosmo? 113 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA HIPÓFISE a isoforma 22kDa ou as isoformas 22 e 20kDa. Estes métodos apresentam maior sensibilidade, detectando valores menores que 0,10ng/mL. INDICAÇÕES: Avaliação da baixa estatura, do gigantismo, da Crescimento Hormônio do crescimento (GH) É um polipeptídeo produzido na hipófise anterior. Na circulação, ele se apresenta sob diferentes iso formas: dímeros, monômeros, formas acidificadas e glicosiladas. As principais isoformas circulantes são as de 22kDa e 20kDa, cerca de 75% e 15%, respectiva mente. O GH circula na forma livre e cerca de 40% ligado a GHBP (GH Binding Protein). É regulado por dois hormônios hipotalâmicos: o GHRH promove sua liberação, enquanto a somatostatina (SS) a sua inibi ção. Sua secreção é pulsátil, com vários picos diários, acromegalia e da deficiência de GH em adultos. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático por quimioluminescência (anticorpos para as frações 20kDa e 22kDa, WHO 98/574). AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Fator de crescimento Insulina-símile – I / somatomedina C (IGF-I) Os fatores de crescimento insulin like (IGF-I e IGF-II) constituem uma família de peptídeos com homologia estrutural à insulina, e potentes ações anabólicas e mitogênicas. O IGF-I é produzido principalmente no fígado por estímulo do hormônio do cres cimento, embora seus níveis sejam também regulados pela insulina, pela idade e pelo estado nutricional. É o mediador da de maior amplitude e freqüência durante o sono, au maioria das ações do GH, por isso as reflete diretamente. mentando durante a puberdade e diminuindo com o Em pacientes com deficiência do hormônio do crescimento (na avançar da idade. Por seus efeitos na liberação tônica e pulsátil do GHRH e da SS, neurotransmissores monoaminérgicos modulam a secre ção de GH; sua via principal é a noradrenérgica. Outros neuro transmissores (serotoninérgicos, dopaminérgicos, gabaérgicos e colinérgicos) também têm ação na liberação e inibição des ses hormônios hipotalâmicos. O GH age de forma direta ou através do IGF-I, que, por sua vez, é produzido em nível hepático por estímulo do próprio GH. Du rante a infância, sua principal ação é a de promover o cresci mento. Na vida adulta, influencia o metabolismo lipídico, ósseo, a manutenção da composição corporal e o bem-estar mental. Como a liberação do GH ocorre de forma pulsátil,níveis baixos ou indetectáveis não são úteis para o diagnóstico da baixa estatura, nismo hipofisário), seus valores encontram-se muito abaixo do normal. No entanto,em casos de baixa estatura podemos encon trar níveis baixos, nem sempre indicativos de hipossomatotrofis mo. O IGF-I é um índice sensível de nutrição de um indivíduo, o que deve ser levado em conta quando se utiliza sua dosagem para o diagnóstico de baixa estatura. Aconselha-se a interpreta ção dos níveis de IGF-I levando-se em consideração a maturação óssea (idade óssea) mais que a idade cronológica da criança. Embora na deficiência de GH em adultos não se mostre um bom marcador, podendo estar dentro da referência normal para idade em 30% a 49% dos casos, o IGF-I tem-se revelado um excelente marcador na acromegalia, tanto no diagnóstico quanto na monitoração terapêutica. INDICAÇÕES: Avaliação de deficiência ou excesso de GH e acom assim como valores moderadamente elevados não confirmam o panhamento na terapia de reposição com GH. diagnóstico de acromegalia ou gigantismo. Deve-se recorrer aos MÉTODO: Imunorradiométrico (IRMA) com extração. testes funcionais para o melhor estudo de sua secreção. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). É liberado em condições fisiológicas — após estresse, exercício físico e sono. Níveis elevados podem ser encontrados nas insu ficiências renal ou hepática, diabetes mellitus descompensado, anorexia nervosa e desnutrição. Anteriormente, sua dosagem era realizada pelo método de radioimunoensaio com anticorpos policlonais, obtendo-se va lores mais elevados. Atualmente, utilizam-se métodos imunométricos, com anticorpos monoclonais, que detectam somente 114 Proteína ligadora dos fatores de crescimento insulin like-3 (IGFBP-3) No plasma, como em outros fluidos biológicos, os fatores de crescimento insulin like (IGF-I e IGF-II) estão ligados a uma fa mília de proteínas ligadoras (IGFBPs). Várias IGFBPs têm sido descritas. A IGFBP-3 constitui a principal IGFBP do plasma no pe ríodo pós-natal, e é considerada a principal transportadora dos da função de transporte, as IGFBPs também aumentam a meia – Diabetes mellitus; vida dos IGFs, modulando suas ações biológicas. – Diabetes insipidus não tratado. A determinação da IGFBP-3 tem valor na avaliação de desor O primeiro passo na avaliação de baixa estatura é a análise dos dens do eixo GH-IGF e, como o IGF-I, é GH dependente. Seus critérios auxológicos. Confirmada a diminuição da velocidade níveis usualmente se elevam na acromegalia e diminuem no de crescimento, pode-se usar os testes do exercício e da libera hipopituitarismo, voltando a aumentar com a reposição de GH. ção do GH pelo sono como triagem; caso o paciente não respon Como o IGF-I, para sua interpretação deve-se considerar mais da, devemos recorrer aos testes de estímulos farmacológicos. a maturação óssea (idade óssea) do que a idade cronológica da criança. INDICAÇÕES: Avaliação de desordens de crescimento. MÉTODO: Imunorradiométrico (IRMA). AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Testes funcionais AVALIAÇÃO DA BAIXA ESTATURA O crescimento é um processo fisiológico complexo, regulado A dosagem basal de GH não é útil para a análise do hipoevolu tismo. Preconiza-se o uso de pelo menos dois testes farmaco lógicos para confirmação da deficiência de GH. Esses testes po dem ser potencializados pelo uso prévio de esteróides sexuais e betabloqueadores. O teste considerado “padrão ouro” é o da hipoglicemia induzida pela insulina. Fatores que influenciam a resposta de GH Aumentam a resposta: Estresse, jejum, desnutrição, anorexia nervosa, insuficiência renal, cirrose hepática, síndrome carci nóide, diabetes mellitus, nanismo de Laron, uso de propranolol, pela interação de vários fatores: genético, nutricional, hormo estrogênios e opiáceos. nal e psicológico. É um índice importante para avaliação do Diminuem a resposta: Idade avançada, obesidade, puberdade bem-estar físico e mental e da qualidade de vida da criança. A baixa estatura pode resultar de doenças endócrinas ou orgâ nicas crônicas. Listamos abaixo as causas mais comuns de baixa estatura: Causas não endócrinas – Baixa estatura constitucional; – Baixa estatura genética; – Retardo do crescimento intra-uterino; – Doenças crônicas; – Doenças imunológicas; – Má nutrição. Causas endócrinas – Deficiência congênita de GH • Defeito de linha média; • Deficiência isolada de GH; • Agenesia hipofisária; – Deficiência adquirida de GH • Tumores da região hipotálamo-hipofisária; • Histiocitose X; • Cirurgia ou radioterapia da região hipotálamo-hipofisária; • Infecções; • Síndrome da sela vazia; – Anormalidade na ação do GH; – Nanismo psicossocial; – Hipotireoidismo; – Pseudo-hipoparatireoidismo; ENDOCRINOLOGIA – Doenças do metabolismo da vitamina D; HIPÓFISE IGFs (aproximadamente 95% dos IGF-I e IGF-II circulantes). Além atrasada, hipotireoidismo, síndrome de Cushing, depressão en dógena, uso de corticóides, clorpromazina, fentolamina e etanol. Testes fisiológicos – Exercício; – Sono. Testes farmacológicos – Hipoglicemia induzida pela insulina; – Clonidina; – Piridostigmina; – Arginina; – GHRH; – L-Dopa; – GHRP-6; – Glucagon. Os testes de estímulo com arginina, GHRH e GHRP-6 têm pou ca solicitação devido à dificuldade de obtenção das drogas. Já o teste com L-Dopa vem sendo pouco realizado em razão de seus efeitos colaterais. O glucagon é um potente liberador do GH e é utilizado em adultos como alternativa ao teste de estímulo com insulina. TESTE DE ESTÍMULO DE GH APÓS EXERCÍCIO TÉCNICA: Exercícios físicos por 20 minutos em esteira ergomé trica, com acompanhamento da freqüência cardíaca, que deve 115 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA atingir ao menos 180bpm para o teste ser considerado de boa EFEITOS COLATERAIS: Raramente observa-se hipoglicemia grave, sensibilidade. Após esse tempo de esforço, o paciente mantém convulsões e coma hipoglicêmico. repouso por 10 minutos e, em seguida, coleta-se uma amostra GH acima de 5ng/mL em qualquer amostra após a administra CONTRA-INDICAÇÕES: Crianças muito pequenas, que tenham ção da insulina. dificuldade em executar e manter o ritmo de exercício neces sário para se obter o estímulo. Doenças sistêmicas nas quais o esforço poderia agravar ou desencadear uma patologia subja TESTE DE ESTÍMULO DE GH COM PIRIDOSTIGMINA TÉCNICA: Administração por via oral de piridostigmina (Mes cente (por exemplo, cardiopatia e crise convulsiva). tinon 2,0mg/kg; ou de 15kg a 25kg, 30mg; e acima de 25kg, EFEITOS COLATERAIS: Aumento da pressão arterial. 60mg) e coleta de sangue (tubo sem anticoagulante) para do INTERPRETAÇÃO: Referimos como resposta positiva GH acima de 5ng/mL após o exercício. sagem de GH em 60, 90 e 120 minutos. CONTRA-INDICAÇÕES: Crianças com peso inferior a 15kg, asma e diarréia. TESTE DE ESTÍMULO DE GH COM CLONIDINA EFEITOS COLATERAIS: Espasmos gástricos com dor e cólicas intes TÉCNICA: Administração por via oral de clonidina (Atensina tinais, com ou sem diarréia. Os sintomas devem ser tratados 4mcg/kg ou 0,15mg/m2 de superfície corporal) e coleta de san com anticolinérgicos (Buscopan – 1gt/kg de peso). gue (tubo sem anticoagulante) para dosagem de GH em 60, 90 e 120 minutos. Aferição da pressão arterial e acompanhamen to médico contínuos. Em caso de hipotensão severa, instituir tratamento com aminas vasopressoras. CONTRA-INDICAÇÕES: Crianças com peso inferior a 15kg, hiper INTERPRETAÇÃO: Referimos como resposta positiva dosagem de GH acima de 5ng/mL em qualquer amostra após a administra ção de piridostigmina. sensibilidade à clonidina e doença do nódulo sinusal. Avaliação da acromegalia ou gigantismo EFEITOS COLATERAIS: Sonolência intensa, hipotensão ortostática, A acromegalia e o gigantismo são síndromes clássicas, causa taquicardia na fase inicial do teste, seguida por bradicardia, que pode se prolongar por horas sem maiores conseqüências, cansaço, obnubilação, vertigens e secura da mucosa nasal. INTERPRETAÇÃO: Referimos como resposta positiva dosagem de GH acima de 5ng/mL em qualquer amostra após a adminis tração da clonidina. Esse teste não apresenta boa resposta no estudo da deficiência de GH em adultos. TESTE DE ESTÍMULO DE GH COM INSULINA TÉCNICA: Administração por via endovenosa de insulina regular (0,05U/kg a 0,1U/kg) com coleta de sangue para dosagem de GH (tubo sem anticoagulante) e glicose (tubo com fluoreto) em 30 e 60 minutos. Acompanhamento por glicemia capilar e médico especialista. CONDIÇÕES DE VALIDADE DO TESTE: – Queda da glicemia abaixo ou igual a 40mg/dL em uma das amostras e, se possível, queda de 50% em relação ao basal; – Sinais clínicos de hipoglicemia. CONTRA-INDICAÇÕES: Gestação, cardiopatia isquêmica e distúr bios de condução, história de convulsões, epilepsia, anteceden tes de acidente vascular cerebral, doenças infecciosas, diarréia, vômitos, insuficiência renal e hepática, uso de drogas hipogli cemiantes. 116 INTERPRETAÇÃO: Referimos como resposta positiva dosagem de de sangue (tubo sem anticoagulante). das por um adenoma hipofisário produtor de GH. A secreção ectópica de GHRH tem sido identificada como outra causa de hipersecreção e acromegalia em alguns portadores de tumo res carcinóide e de células das ilhotas. A acromegalia caracteriza-se pela hipersecreção crônica de GH, que leva a um aumento excessivo de IGF-I. Além do crescimen to exagerado dos ossos, o excesso de GH causa outras altera ções sistêmicas que provocam efeitos deletérios no organismo e uma elevação na taxa de mortalidade nesses pacientes. Para determinar o diagnóstico, podemos recorrer a dosagens basais de GH e de IGF-I. Há necessidade de utilização de testes, e o de supressão do GH pela glicose é o mais específico. O teste com TRH demonstra uma reação paradoxal em casos de acromegalia. Em indivíduos normais não há estímulo do GH pelo TRH. Este teste pode ser útil no acompanhamento da resposta ao tratamento, como um dos critérios de cura da doença. Segundo alguns autores, o teste da bromocriptina é indicativo da possível sensibilidade do tumor ao tratamento com esta droga. Teste de supressão de GH com glicose TÉCNICA: Administração por via oral de glicose (75g, em crianças 1,75g/kg de peso, no máximo de 75g) e coleta de sangue para Níveis elevados desse hormônio (acima de 200ng/mL) são alta com fluoreto) em 30, 60, 90, 120 e 180 minutos. mente sugestivos de adenomas hipofisários produtores de pro INTERPRETAÇÃO: Níveis de GH abaixo de 1,0ng/mL (método lactina (micro e macroprolactinomas). Níveis pouco elevados imunométrico) em algum tempo durante o teste exclui acro megalia ativa. Se não houver queda para níveis abaixo de 1,0ng/mL em pelo menos uma amostra, suspeita-se de hiper podem ser encontrados em microprolactinomas e em outros tumores hipofisários, assim como em doenças hipotalâmicas (tumores, lesões infiltrativas etc.). somatotrofismo (gigantismo ou acromegalia). Em pacientes HIPÓFISE com doença aguda ou crônica, insuficiência renal, hepatopatia ENDOCRINOLOGIA dosagem de GH (tubo sem anticoagulante) e glicose (tubo ou uso de L-Dopa, pode haver elevação paradoxal de GH entre 30 e 120 minutos. Com o aumento da sensibilidade e especi ficidade dos métodos de dosagem, alguns autores já utilizam valores inferiores a 1,0ng/mL (0,3ng/mL) como parâmetro de supressão. Prolactina Prolactina É um hormônio polipeptídico, cuja principal função é estimular a lactação no período pós-parto. Em conjunto com outros hor mônios, promove, durante a gravidez, o desenvolvimento ma mário para produção de leite. É um hormônio heterogêneo e, quanto ao seu tamanho molecular, encontra-se em circulação sob três formas principais: monômero, dímero e formas de alto peso molecular. A forma monomérica tem em torno de 23KDa e é a que normalmente predomina (mais de 90% das formas circulantes) no soro de indivíduos normais e de pacientes com diagnóstico clínico e anatômico de prolactinoma. O dímero tem peso molecular em torno de 45KDa, e também é conhecido como big prolactin; já a forma de alto peso mo lecular, de 150 a 170KDa (big-big prolactin), é chamada macro prolactina. Estas duas últimas encontram-se em circulação em praticamente todos os indivíduos, em geral em concentrações inferiores a 10% da prolactina total circulante. A macroprolacti na tem pouca atividade biológica, justificando casos de hiper prolactinemia oligo ou assintomáticos. A prolactina é secretada episodicamente, com níveis mais ele vados durante o sono. O controle hipofisário se faz por um me canismo de inibição. A substância inibidora não é um peptídeo, mas uma amina neurotransmissora, a dopamina. Drogas que bloqueiam os receptores de dopamina, ou causam depleção da dopamina hipotalâmica, estimulam a liberação de prolactina. Na interpretação de sua dosagem, devemos inicialmente afas tar o uso de drogas e estados patológicos e fisiológicos (gravi dez, amamentação etc.) que possam interferir com a secreção Para uma melhor avaliação, a prolactina poderá ser colhida em pool de duas a três amostras regulares, e também uma hora após a punção venosa com repouso no leito, para afastar o efei to do estresse da punção. INDICAÇÕES: Em mulheres: – Diagnóstico de amenorréia e galactorréia; – Estudo da infertilidade feminina; – Avaliação da função hipotálamo-hipofisária; – Diagnóstico do hipogonadismo. Em homens: – Avaliação da função hipotálamo-hipofisária; – Diagnóstico de impotência; – Estudo da infertilidade masculina; – Diagnóstico do hipogonadismo; – Diagnóstico de ginecomastia. MÉTODO: Eletroquimioluminescência. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). do hormônio. 117 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Macroprolactina A prolactina é um hormônio bastante heterogêneo e, quanto ao peso molecular, existem três formas principais em circula ção: monômero de 23kDa, dímero (big prolactin) de 45kDa e macroprolactina (big big prolactin) de peso molecular acima de 150kDa, com pouca atividade biológica, justificando casos de hiperprolactinemia oligo ou assintomáticos. Em condições normais ou em pacientes com hiperprolactinemia sintomática predomina em circulação a forma monomérica (23kDa). O método mais empregado para a pesquisa da macroprolac tina é o estudo da recuperação após precipitação do soro com polietilenoglicol (PEG), e a confirmação, quando necessária, deve ser feita por cromatografia em coluna de gel filtração. Na literatura, a freqüência do encontro de predomínio de macro prolactina em pacientes com hiperprolactinemia referida varia de acordo com a casuística publicada, em torno de 25%. SUBUNIDADE ALFA DOS HORMÔNIOS HIPOFISÁRIOS GLICOPROTÉICOS A subunidade alfa é comum aos hormônios hipofisários glico protéicos TSH, LH e FSH. Pode ser produzida em maior quan tidade por alguns adenomas hipofisários não funcionantes, servindo como marcador tumoral. Sua dosagem também pode ser útil na diferenciação entre adenomas hipofisários secreto res de TSH e síndromes de resistência aos hormônios tireoidia nos. No primeiro caso, a relação subunidade alfa/TSH é maior do que 1, ao contrário dos casos de resistência, nos quais esta relação é igual ou menor do que 1. Também pode ter a secreção alterada em casos de adenomas produtores de gonadotrofinas, e em alguns tumores não hipofisários, como coriocarcinoma e carcinóides. MÉTODO: Radioimunoensaio (RIE). AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). INDICAÇÕES: Hiperprolactinemia oligo ou assintomática. MÉTODO: Precipitação com PEG (polietilenoglicol)/cromatogra- fia em coluna de gel filtração. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Testes funcionais Foram descritos diversos testes de estímulo ou de supressão da prolactina. Nenhum, porém, é de grande utilidade para o diag nóstico de tumores hipofisários, devido ao elevado número de falso-positivos ou falso-negativos. Os testes descritos são: De estímulo: TRH; Metoclopramida; Sulpiride; Clorpromazina. De supressão: Bromoergocriptina; L-Dopa. TESTE DE ESTÍMULO DE PROLACTINA COM TRH INDICAÇÃO: Avaliação da reserva de prolactina e de hiperpro lactinemias. TÉCNICA: Administração por via endovenosa de TRH (200mcg) e coleta de sangue (tubo sem anticoagulante) para dosar PRL nos tempos: basal, 30, 60 e 90 minutos. CONTRA-INDICAÇÕES: Hipertensão arterial severa e doenças ce ebrovasculares. EFEITOS COLATERAIS: Aumento da pressão arterial. INTERPRETAÇÃO: A resposta varia com o sexo e a idade, havendo geralmente um aumento maior que duas a três vezes do va or basal. Valores esperados nos homens: duas a cinco vezes em relação ao basal; nas mulheres: três a 20 vezes em relação ao basal. No prolactinoma, em geral, não há incremento so re o basal (partindo-se de um basal elevado). 118 Hipófise Posterior O sistema osmorregulador é controlado pelo eixo hipotálamoneuro-hipófise, incluindo os órgãos responsivos à variação da osmolalidade e do volume plasmático e os responsáveis pela síntese, armazenamento e secreção de arginina-vasopressina (AVP ou ADH – hormônio antidiurético). Este sistema também inclui os osmorreceptores, o mecanismo da sede e o rim. Poliúria (segundo uma das definições) pode ser definida como um volume urinário maior do que três litros por dia em adul tos. O diagnóstico diferencial da poliúria distingue as seguin tes causas: – Diabetes insipidus central (deficiência de ADH); – Diabetes insipidus nefrogênico (resistência renal à ação do ADH); – Polidipsia primária (ingesta excessiva de água). Hormônio antidiurético Trata-se de um hormônio polipeptídico de nove aminoácidos, produzido pelo hipotálamo e liberado pela hipófise posterior. Sua liberação é determinada pela osmolalidade plasmática através da estimulação de osmorreceptores e barorreceptores, ou por influência de estímulos secundários, como dor, estresse, hipoglicemia, angiotensina e agonistas colinérgicos. Devido à sua ação no tubo coletor renal, promove a reabsorção de água, concentrando a urina. Na sua ausência (diabetes insi pidus central) ou na deficiência de sua ação (diabetes insipidus nefrogênico) instala-se um quadro de poliúria, em razão do au propriada de ADH, sua dosagem se eleva, constatando-se tam partir da administração do DDAVP). bém hiponatremia e urina inapropriadamente concentrada. INTERPRETAÇÃO: Incremento da osmolalidade urinária a mais de INDICAÇÕES: Diagnóstico de diabetes insipidus central e nefro 700mOsm/kg após DDAVP, com padrão de diabetes insipidus no gênico, síndrome de secreção inapropriada de ADH. MÉTODO: Radioimunoensaio com extração. AMOSTRA: Sangue (tubo com anticoagulante – EDTA); o tubo deve ser previamente refrigerado, e após a coleta o sangue deve ser centrifugado e imediatamente congelado. Testes funcionais TESTE DE RESTRIÇÃO HÍDRICA (OU TESTE DA DESIDRATAÇÃO) Teste mais fisiológico, avalia a função neuro-hipofisária. TÉCNICA: Restrição da ingesta hídrica por oito horas, acompa nhada pela coleta de amostra de urina e soro (acesso venoso de demora heparinizado) em intervalos regulares de 60 minu tos, para determinação da osmolalidade. O teste é paralisado diante de sinais clínicos de desidratação rápida importante e perda de peso maior que 3% (ou 5% segundo outros autores) do peso inicial. INTERPRETAÇÃO: Após oito horas de restrição hídrica, a osmolali dade urinária deve ser maior que 600mOsm/kg e a plasmática deve manter-se abaixo de 300mOsm/kg. A taxa de fluxo uriná rio deve cair abaixo de 0,5mL/min. Nos diabetes insipidus central e nefrogênico, a osmolalidade plasmática torna-se anormalmente elevada (>300mOsm/kg), a urina mantém-se diluída (osmolalidade <270mOsm/kg) e a taxa de fluxo urinário não cai ao esperado. Na polidipsia primá ria, o paciente (em tese) responde como um indivíduo normal (ou próximo a estes valores). PROBLEMAS: A polidipsia primária pode responder como um verdadeiro diabetes insipidus, devido à diluição da medula re nal (por grande ingesta de solução hipotônica durante longo período). TESTE DA DESMOPRESSINA (TESTE DO DDAVP) Útil na avaliação da capacidade de concentração renal máxima e na distinção entre formas de diabetes insipidus (central ou teste de restrição hídrica, faz diagnóstico de diabetes insipidus central. A ausência desse incremento na osmolalidade urinária pós-DDAVP, com padrão de diabetes insipidus no teste de restri ção hídrica, sugere fortemente diabetes insipidus nefrogênico. Pacientes com polidipsia primária, que apresentam um au mento da osmolalidade urinária próximo ao normal no teste ENDOCRINOLOGIA para osmolalidade (hora em hora). Duração de duas horas (a HIPÓFISE mento do clearance de água livre. Na síndrome de secreção ina de restrição hídrica, mostram um incremento médio de 10% (ou menos) pós-DDAVP (em relação à osmolalidade pré-DDAVP), o que pode ser explicado pelo efeito wash-out, em que a medula hipotônica perde a capacidade de concentrar a urina, mesmo diante de doses farmacológicas de DDAVP. Avaliação do Hipopituitarismo Megateste clássico INDICAÇÕES: Investigação de hipopituitarismo. Avaliação de tu mores hipofisários. Avaliação pré e pós-operatória para cirur gia hipofisária. TÉCNICA: Administração por via endovenosa de insulina regular (0,05U/kg a 0,1U/kg), TRH (200µg) e GnRH (100µg) e coleta de sangue (tubos com fluoreto e sem anticoagulante) para dosa gem de glicose, GH, PRL, TSH, FSH, LH e cortisol basal, aos 30 e 60 minutos. CONTRA-INDICAÇÕES: As principais referem-se àquelas obser vadas no teste de estímulo com insulina, ou seja, cardiopatia isquêmica e distúrbios de condução, história de convulsões, epilepsia, antecedentes de acidente vascular cerebral, hiper tensão severa, doenças infecciosas, diarréia, vômitos, insufi ciência renal e hepática, uso de drogas hipoglicemiantes. EFEITOS COLATERAIS: Hipoglicemia severa, convulsões, hiperten são arterial, flush facial, náuseas e vômitos, desconforto toráci co, urgência miccional e hipertensão intracraniana. INTERPRETAÇÃO: A avaliação da resposta a este teste leva em con sideração a interpretação individual dos seguintes exames: Insulina/GH; TRH/PRL; Insulina/cortisol; LHRH/FSH-LH e TRH/TSH. nefrogênica). TÉCNICA: Na maioria das vezes, é feito imediatamente ao final do teste de restrição hídrica. Administração de 0,2mL de DDAVP intranasal após esvaziar a bexiga (ou após a coleta da oitava hora do teste da desidratação) e coleta de amostras urinárias 119 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA TIREÓIDE Tiroxina (T4) É o principal hormônio secretado pela glândula tireóide, em grande parte transformado perifericamente na triiodotironina (T3). Na maior parte, a tiroxina circula ligada a proteínas sé Hormônio estimulante da tireóide (TSH) A secreção de TSH pela hipófise é estimulada por um hormônio hipotalâmico, liberador de tireotrofina (TRH), e inibida pelos hormônios tireoidianos. O TSH estimula a liberação de T4 e T3 pela tireóide; por sua vez, a redução dos níveis de T3 e T4 no plasma esti mula a secreção de TSH. A dosagem do TSH é considerada a primeira opção para o diag nóstico das disfunções tireoidianas. É importante para o diagnós tico precoce de hipotireoidismo primário, e pode estar em va lores acima da faixa normal mesmo na presença de dosagens de T3 e T4 normais. O hipotireoidismo secundário geralmente faz parte de um quadro de hipopituitarismo, em que outros hormônios hipofisários mostram-se alterados. Nesses casos, ricas, e apenas de 0,02% a 0,04% na forma livre. Liga-se prin cipalmente a TBG (thyroid binding globulin), 60% a 75%; TBPA, 15% a 30%; e albumina, 10%. Alterações nessas proteínas vão se refletir na dosagem do T4 total. Níveis elevados de T4 podem ser encontrados em portadores de TBG elevada (uso de estró genos e gravidez), e na hipertiroxinemia familiar, por presença de albumina anômala. Certas situações também causam a elevação do T4, como o bloqueio de sua transformação em T3, causado por drogas ou estados patológicos; e a presença de anticorpos anti-T4. Níveis baixos podem ser encontrados em pacientes com defi ciência genética de TBG ou por outra causa que faça decrescer a TBG. Em ambas as eventualidades, a fração livre do T4 costu ma apresentar-se normal. Valores baixos podem também ser detectados em portadores de doenças sistêmicas graves. os níveis de TSH ficam inapropriadamente baixos, em função das necessidades orgânicas; podem ser encontrados valores baixos, normais e até aumentados. Às vezes, o TSH levemente aumentado leva a suspeitar de secreção de hormônio anômalo, imunologicamente dosável, mas inativo funcionalmente. Com a evolução dos ensaios de TSH, houve uma grande melho ra na sensibilidade dos métodos, tornando possível a detecção de valores inferiores a 0,01 mUI/mL. Isso contribuiu muito para o diagnóstico de hipertireoidismo, em que o TSH encontra-se suprimido. A secreção inapropriada de TSH é rara. Nela, o paciente apre senta níveis elevados de hormônios tireoidianos, sem supres são do TSH, o que pode ser decorrente de tumor hipofisário se cretor desse hormônio ou de resistência aos hormônios tireoi dianos. Para distinguir um caso do outro, utiliza-se a dosagem da subunidade alfa dos hormônios glicoprotéicos e o teste do TRH, entre outros. INDICAÇÕES: Diagnóstico do hipotireoidismo e hipertireoidis mo primários, avaliação da função hipofisária (hipotireoidis mo secundário) e avaliação da secreção inapropriada de TSH (resistência aos hormônios tireoidianos e tumores hipofisários produtores de TSH). É considerado o ensaio de primeira escolha para o diagnóstico de doenças funcionais tireoidianas. MÉTODO: Eletroquimioluminescência. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). INDICAÇÕES: Diagnóstico do hipotireoidismo e do hipertireoi . MÉTODO: Eletroquimioluminescência. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Tiroxina livre (T4L) O efeito metabólico do hormônio tireoidiano é provocado por sua fração livre, principal responsável pelo feedback com o TSH. Indica-se a dosagem do T4 livre no diagnóstico do hipo ou hi pertireoidismo, uma vez que esse hormônio não sofre influên cia significativa dos níveis de TBG circulantes. No caso de uso de medicamentos ou em outras situações que alterem a TBG, teremos diminuição ou elevação do T4 total com T4 livre nor mal. Em casos de resistência aos hormônios tireoidianos, tanto o T4 total quanto o T4 livre estarão elevados diante de um qua dro clínico de hipotireoidismo ou de eutireoidismo. 120 livre, que pode fornecer resultados elevados em casos de de de medicamentos ou em outras situações que alterem a TBG. ficiência severa de TBG ou em anormalidades genéticas nas Nesses casos, é possível encontrar diminuição ou elevação do T3 proteínas de ligação, como a hipertiroxinemia disalbuminê total com T3 livre normal. Na resistência aos hormônios tireoi- mica. Nestes casos, a dosagem por radioimunoensaio pós-diá- dianos, tanto o T3 total quanto o T3 livre estarão elevados diante lise pode ser indicada. A dosagem de T4 livre pode também de um quadro clínico de hipotireoidismo ou de eutireoidismo. ser influenciada por substâncias que competem pela ligação com os hormônios tireoidianos, como a furosemida, aspirina e heparina. INDICAÇÕES: Avaliação da fração metabolicamente ativa dos hormônios tireoidianos. Diagnóstico do hipertireoidismo e do hipotireoidismo. MÉTODO: Eletroquimioluminescência. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Triiodotironina (T3) Aproximadamente 20% do T3 é produzido na tireóide;o restante é proveniente dos tecidos periféricos por desiodação do T4. Na maioria (99,7%), o T3 circula ligado a proteínas séricas, princi palmente a TBG. Mostra-se elevado na maior parte dos casos de hipertireoidismo, o que o torna um teste importante para este diagnóstico. No hipotireoidismo, o T3 demora a cair, e pode estar normal na presença de T4 diminuído e de TSH aumentado. Devido a sua menor afinidade pela TBG, quando dosamos T3, as alterações de ligação descritas para o T4 não se mostram tão evidentes, especialmente as que se referem à TBG. A sín drome do eutireoidiano doente apresenta níveis baixos de T3 com TSH normal ou baixo. O T3 também pode estar reduzido em pessoas muito idosas, no pós-operatório, no jejum prolon gado e em pacientes em uso de corticosteróides, amiodarona ou altas doses de propranolol, devido à conversão diminuída de T4 em T3. INDICAÇÕES: – Investigação de tireotoxicose por T3, doença de Graves, hipertireoidismo iodo induzido, tireoidite; – Detecção da recorrência precoce do hipertireoidismo após interrupção da droga antitireoidiana. MÉTODO: Eletroquimioluminescência. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Triiodotironina livre (T3L) Cerca de 0,3% do T3 circula sob a forma livre, sendo considerada a fração metabolicamente ativa. Como comentou-se anterior mente em relação ao T4 livre, a dosagem de T3 livre também não sofre influência significativa dos níveis de TBG circulantes, Indica-se a dosagem de T3 livre para pacientes com diagnós tico duvidoso de hipertireoidismo, quando se deseja avaliar possíveis alterações de ligação ou resistência periférica aos hormônios tireoidianos. ENDOCRINOLOGIA podendo apresentar-se em níveis normais em pacientes em uso TIREÓIDE Emprega-se comumente o método indireto na dosagem de T4 INDICAÇÃO: Avaliação da fração metabolicamente ativa da triio onina. MÉTODO: Eletroquimioluminescência. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Triiodotironina reversa (T3R) É produzida em pequena quantidade pela glândula tireóide, e em maior quantidade pela metabolização do T4, num processo de inativação. Sua dosagem pode ser útil na avaliação do status metabólico da tireóide em pacientes gravemente enfermos, em que se pode detectar níveis séricos diminuídos de hormônios ti reoidianos, com triiodotironina reversa (T3R) aumentado. Pode ser útil na diferenciação de alterações por droga (amiodarona), em que também se mostra em níveis elevados. MÉTODO: Radioimunoensaio (RIE). AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Anticorpo anti-receptor de TSH (TRAB) Doenças auto-imunes da tireóide (doença de Graves, tireoidite de Hashimoto) podem cursar com a presença de auto-anticorpos contra antígenos citoplasmáticos e de superfície. Os auto anticorpos contra antígenos citoplasmáticos estão associados a dano celular. Os anticorpos anti-receptor de TSH (TRAB) influen ciam na função e no crescimento glandulares, exercendo tam bém um papel importante na patogênese. A natureza destes auto-anticorpos (TRAB) é heterogênea. Além da atividade estimuladora, eles podem agir ainda como anticorpos bloqueadores ou promotores do crescimento, levando ao hipotireoidismo ou a bócios endêmicos e esporádicos, respectivamente. A metodolo gia usualmente empregada não diferencia os anticorpos como estimuladores ou bloqueadores, detectando-se somente valores elevados ou diminuídos de anticorpos contra o receptor de TSH, que serão relacionados às condições clínicas. Na doença de Graves, por exemplo, eles exercem predominan temente atividade estimuladora, apresentando uma sensibili- 121 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA dade de 85% e uma especificidade de 80% para o diagnóstico. Seus níveis diminuem com o uso de drogas antitireoidianas, podendo ser usados para predizer a recidiva da doença. A au de TRAB após tratamento diminui a tendência de recidi a, embora cerca de 25% de pacientes com TRAB negativo após a terapia não entrem em remissão. Estes anticorpos podem estar presentes em alguns casos de tireoidite de Hashimoto, tireoidite subaguda, tireoidite silen e em recém-nascidos de mães portadoras de doença de Graves, devido à transferência feto-placentária. INDICAÇÕES: Diagnóstico etiológico do hipertireoidismo, oftal tia de Graves e hipertireoidismo neonatal. MÉTODO: Radioimunoensaio (RIE). AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante, o sangue deve ser centrifugado e o soro congelado logo após a coleta). Anticorpo antitireoglobulina Vide capítulo de Imunologia. Anticorpo antimicrossomal (Vide ANTICORPO ANTI-TPO) Vide capítulo de Imunologia. Anticorpo antiperoxidase tireoidiana (TPO) Vide capítulo de Imunologia. Tireoglobulina É o principal componente do colóide dos folículos tireoidianos. Sua dosagem tem especial valor na detecção de metástases de câncer tireoidiano (especialmente dos tipos papilífero, folicu lar e misto papilífero-folicular). Após a tireoidectomia total, em pacientes em terapia supressiva, os níveis devem estar meno res que 1ng/mL. Nesta situação, esta dosagem substitui com vantagem prática os métodos isotópicos tradicionalmente uti lizados, pois não há necessidade de suspensão do tratamento hormonal. A tireoglobulina pode estar aumentada sempre que houver es tímulo da tireóide, bem como na presença de processos infla matórios (tireoidites) ou mesmo após a palpação da glândula. O achado de tireoglobulina em valores muito baixos, com clí nica de hipertireoidismo, sugere etiologia factícia. A presença do anticorpo antitireoglobulina interfere no ensaio. Como cer ca de 20% dos pacientes com câncer diferenciado apresentam positividade para esse tipo de anticorpo, sua dosagem sempre deve ser feita para avaliar a possibilidade de acompanhamen to com a tireoglobulina. INDICAÇÕES: Avaliação da presença de metástases em pacien tes tireoidectomizados por carcinoma diferenciado de tireóide. Detecção de tecido tireoidiano em pacientes com hipotireoi dismo congênito por tireóide ectópica. Tireotoxicose factícia. MÉTODO: Quimioluminescência. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Globulina ligadora da tiroxina (TBG) A TBG é a principal proteína sérica que se liga aos hormônios tireoidianos e que teoricamente serve como depósito circu te destas substâncias. Suas alterações se refletem parale te na dosagem dos hormônios tireoidianos. Há quadros genéticos de elevação ou de diminuição da TBG. Sua concen ação também sofre alteração por influência de diversas dro e estados patológicos. Níveis elevados são encontrados em estados de hiperestrogenismo, como gravidez e uso de anti oncepcionais, enquanto níveis diminuídos são detectados na síndrome nefrótica e no uso de medicações como andrógenos e corticóides. Atualmente, a dosagem de TBG tem sido valori ada como complemento às de T4 e de TSH, realizadas para de do hipotireoidismo congênito em casos com T4 baixo, diferenciando-o da deficiência congênita de TBG. INDICAÇÃO: Estudo das alterações de transporte dos hormônios tireoidianos. MÉTODO: Quimioluminescência. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). 122 Calcitonina A calcitonina é um polipeptídeo secretado pelas células para foliculares da tireóide. É controlada pelos níveis séricos de cál cio, elevando-se frente à hipercalcemia. Seu papel fisiológico é muito questionado. É um hormônio a que não correspondem síndromes de hiper ou hipofunção. Assim, nem a tireoidecto mia total (em que a calcitonina está muito baixa) nem o car cinoma medular de tireóide (que eleva bastante seus níveis) apresentam alterações importantes do metabolismo mineral. A principal indicação de sua dosagem é na avaliação do câncer medular de tireóide, que constitui de 5% a 10% dos tumores malignos da glândula, e pode se apresentar de forma isolada, familiar ou associado a síndromes de neoplasia endócrina múl tipla 2A e 2B. Diversas substâncias, como a infusão de cálcio e a pentagastrina, fazem elevar os níveis de calcitonina e podem ser usadas em testes dinâmicos. Estes testes devem ser utiliza dos em familiares de pacientes portadores do carcinoma me dular de tireóide, para detecção precoce desta patologia. Além SUPRA-RENAL Como marcador tumoral, a calcitonina pode ainda estar eleva em carcinomas pulmonares e de mama. Outras patologias podem elevar os seus níveis, como insuficiência renal, anemia perniciosa, cirrose alcoólica e síndrome de Zollinger-Ellison. INDICAÇÕES: Diagnóstico e avaliação terapêutica do carcinoma medular de tireóide. Estudo de familiares. Pesquisa de pacien portadores de síndromes de neoplasia endócrina múltipla (MEN). MÉTODO: Radioimunoensaio (RIE). AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante); o sangue deve ser centrifugado e o soro congelado logo após a coleta. Testes funcionais A produção de hormônios esteróides pelo córtex adrenal é influenciada pelo ACTH, hormônio hipofi sário estimulador da atividade enzimática glandu lar. A aldosterona está mais sujeita a feedback com a calemia, a natremia e os níveis de angiotensina II. A medula supra-renal tem origem na migração das células de Kulshitsky da crista neural e seus principais produtos secretórios são adrenalina e noradrenalina. Hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) Os níveis de ACTH elevam-se pela manhã, caindo progressiva mente até atingir seu nível mais baixo por volta das 23 horas, TESTE DE ESTÍMULO DE TSH COM TRH sendo responsável pelo ritmo circadiano do cortisol. Pode ha INDICAÇÃO: Avaliação do eixo hipotálamo-hipofisário-tireóide. ver picos de secreção episódica, após estresse ou após alimen TÉCNICA: Administração por via endovenosa de TRH (200µg) e coleta de sangue (tubo sem anticoagulante) para dosagem de TSH em 30, 60 e 90 minutos. CONTRA-INDICAÇÕES: Hipertensão arterial severa e doenças ce ebrovasculares. EFEITOS COLATERAIS: Aumento da pressão arterial, náuseas, vô , flush facial e urgência miccional. INTERPRETAÇÃO: Em indivíduos normais, após 20 ou 30 minutos da injeção de TRH, há um pico de secreção de TSH, seguido de queda gradativa. A magnitude deste pico varia com o sexo (é maior em mulheres) e com a idade (decresce em idades avan ). Em relação ao basal, podemos ter aumento de duas a dez vezes dos níveis basais e, em termos absolutos, o incremen do TSH é no mínimo 5µUI/mL. Nos pacientes com hiperti eoidismo, em que o excesso de secreção de T3 e T4 bloqueia a secreção do TSH, a resposta é achatada, sem incremento. Após o tratamento do hipertireoidismo ou descontinuação do uso dos hormônios tireoidianos, também há um período em que a tação. A perda do ritmo circadiano pode ser um sinal precoce da síndrome de Cushing, mesmo quando o ACTH ainda se en contra na faixa de normalidade. A dosagem desse hormônio é útil no diagnóstico diferencial da insuficiência supra-renal, apresentando-se em níveis extremamente elevados nos casos de insuficiência adrenal primária. No diagnóstico diferencial da síndrome de Cushing, o achado de valores muito baixos sugere patologia adrenal primária (adenoma ou carcinoma). Níveis elevados, diante de um qua dro de hipercortisolismo, sugerem a possibilidade de síndrome de Cushing ACTH dependente, seja em conseqüência de tumor hipofisário produtor de ACTH ou sua produção ectópica por tumores (principalmente de pulmão), em que os níveis desse hormônio mostram-se usualmente bastante altos. A dosagem de ACTH também é utilizada no acompanhamento de porta dores de hiperplasia de supra-renal por defeito de síntese. Diversas substâncias são capazes de estimular o ACTH, tais como glucagon, L-Dopa, vasopressina, acetilcolina, TRH, GnRH. resposta ao teste é atenuada. Estados de hipoglicemia provocados pela insulina, o bloqueio No hipotireoidismo primário, o TSH estará normal ou elevado, bém são estimulantes do ACTH. com resposta aumentada e com pico ocorrendo entre 20 e 30 minutos. Nos pacientes com hipotireoidismo secundário, o TSH apresenta níveis baixos ou normais, não responsivos ao TRH. Se a lesão for hipotalâmica, pode haver aumento gradativo, com pico após 30 minutos. A resposta ao TRH pode estar ausente em pacientes em uso de corticosteróides e L-Dopa, e em indiví duos com quadros depressivos ou insuficiência renal crônica. ENDOCRINOLOGIA mutações do proto-oncogene RET. SUPRA-RENAL dos testes de estímulo, pode também ser útil a identificação de da síntese do cortisol causado pela metapirona e o CRH tam O ensaio mais comumente utilizado para a dosagem de ACTH detecta a molécula intacta, de 39 aminoácidos. Mas, em casos de tumor ectópico, podem ser secretados outros precursores e fragmentos de ACTH, não detectados por este ensaio, podendo gerar resultados falsamente diminuídos. INDICAÇÕES: Diagnóstico da insuficiência supra-renal primária, diagnóstico diferencial da síndrome de Cushing, avaliação da 123 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA reserva hipofisária, diagnóstico da síndrome de Nelson e ava te a gravidez e de forma acentuada nos alcoólatras. Grandes liação da hiperplasia congênita de supra-renal. obesos podem apresentar níveis normais de CLU mesmo com MÉTODO: Imunorradiométrico (IRMA). aumento do cortisol plasmático. AMOSTRA: Sangue (tubo plástico com EDTA; o sangue deve ser INDICAÇÃO: Diagnóstico de síndrome de Cushing. colhido em seringa e tubos gelados, e imediatamente centrifu MÉTODO: Ensaio imunoenzimático por quimioluminescência. gado, passando-se o plasma para um tubo de plástico e congelando-o em seguida). Córtex da Supra-renal Cortisol É o principal glicocorticóide produzido pelo córtex adrenal. Apresenta ritmo circadiano com valores mais elevados pela manhã, caindo progressivamente até atingir seus valores mais baixos por volta das 23 horas. A maior parte do cortisol circu lante — mais de 90% — está ligada à globulina ligadora do cortisol (CBG ou transcortina). Valores aumentados desta glo Cortisol salivar O cortisol é o principal glicocorticóide produzido pelo córtex adrenal. Apresenta ritmo circadiano com valores mais elevados pela manhã, que caem progressivamente até atingir valores mais baixos por volta das 23 horas. A maioria dos imunoen saios usados para determinar o cortisol plasmático detecta o cortisol total; a dosagem na urina e na saliva quantifica o cortisol livre. Nesse tipo de amostra, seus níveis aumentam quando as concentrações séricas do cortisol total atingem 25mcg/dL, excedendo a capacidade de ligação da CBG (globu bulina podem elevar os níveis de cortisol, como na gravidez, no lina ligadora de corticóides). uso de estrogênios e de contraceptivos orais. Por outro lado, Na saliva, a dosagem do cortisol independe das flutuações da valores diminuídos de cortisol podem ser detectados em situa ções que diminuam a CBG, como síndrome nefrótica e doença hepática crônica. Sendo assim, níveis isolados de cortisol po dem não ser úteis para o diagnóstico inicial de síndrome de Cushing, pois sua elevação pode corresponder a uma reação de estresse ou a uma variação da globulina ligadora do corti sol (CBG), da mesma forma que valores normais não afastam a possibilidade da doença. Em casos suspeitos, devemos recorrer a testes dinâmicos. Igualmente, no diagnóstico de insuficiência supra-renal, é pos sível encontrar valores basais normais mesmo em pacientes acometidos pela síndrome. O quadro clínico de hipercortisolis mo, com níveis muito baixos de cortisol, é patognomônico de seu uso exógeno. Os glicocorticóides, com exceção da dexame tasona, interferem no ensaio. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático por quimioluminescência. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Cortisol livre urinário (CLU) Reflete a porção do cortisol livre plasmático filtrado pelo rim. Para um resultado mais confiável, deve ser acompanhado pela creatinúria de 24 horas, que avaliará a adequação da coleta. Sua principal indicação é como teste de triagem no hipercor tisolismo, embora sua dosagem também seja empregada no diagnóstico de insuficiência supra-renal. Apresenta níveis bai xos na infância, que vão aumentando durante a puberdade até atingir os valores da idade adulta. Eleva-se ligeiramente duran 124 AMOSTRA: Urina de 24 horas (frasco sem conservante). CBG e do fluxo salivar. Além disso, as amostras são obtidas com técnicas não-invasivas e não estressantes, que podem ser realizadas em ambulatório ou na própria residência do paciente. Essas amostras podem ser coletadas várias vezes ao dia, permitindo a avaliação dinâmica da secreção do cortisol livre, inclusive em crianças, para o diagnóstico da síndrome de Cushing. Devido às vantagens citadas, esse tipo de coleta tem sido muito empregada na avaliação do cortisol às 23 horas, já que também dispensa a internação do paciente. INDICAÇÃO: Diagnóstico de síndrome de Cushing. MÉTODO: Radioimunoensaio (RIE). AMOSTRA: Saliva. 11-Desoxicortisol (composto – S) O cortisol é formado na glândula adrenal pela ação enzimática da 11-beta hidroxilase no 11-desoxicortisol (composto S). Este composto, portanto, é o precursor imediato do cortisol na sín tese adrenal. A deficiência da enzima 11-beta hidroxilase leva a um quadro de hiperplasia adrenal congênita, com virilização, hipertensão e níveis elevados de 11-desoxicortisol. Valores altos também podem ser detectados com o uso da metapirona, por déficit enzimático tumoral, e em alguns casos de deficiência da 21-hidroxilase, devido a valores muito elevados de 21-desoxicortisol. MÉTODO: Radioimunoensaio pós-extração. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). dulas supra-renais. Durante o ciclo menstrual, seus níveis são mais baixos na fase folicular, aumentam na ovulação e na fase lútea. É o principal marcador da deficiência da 21-hidroxilase, causadora da forma mais comum da hiperplasia congênita da supra-renal (HCSR). Em geral, a supra-renal do feto é muito ati va metabolicamente. Por ocasião do nascimento, os valores de 17-OHP estão bastante elevados, normalizando-se rapidamen te na primeira semana de vida. Na HCSR, estes níveis não se normalizam com o passar do tempo. Devido à grande flutuação da 17-OHP, sua dosagem é menos útil no acompanhamento terapêutico e deve por isso ser sem pre avaliada em conjunto com outros esteróides (androstene diona, testosterona).Valores elevados,acima de 1.000ng/dL, são detectados na forma clássica de HCSR; mas para o diagnóstico de formas tardias ou defeitos parciais da 21-hidroxilase, com níveis intermediários de 17-hidroxiprogesterona, é necessário o teste de estímulo com ACTH. MÉTODO: Radioimunoensaio (RIE). AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). É um esteróide, precursor da síntese de testosterona, produzi do em grande parte pelo córtex da supra-renal e também pe las gônadas. Tem atividade androgênica fraca, e é convertido a sulfato de dehidroepiandrosterona (S-DHEA). Seus valores au mentam na puberdade, caindo progressivamente após os 30 anos. Possui baixa afinidade pela SHBG, fato que leva a um alto clearance metabólico quando comparado com seu conjugado sulfatado (S-DHEA) e a uma variação significativa de seus níveis diurnos. Sua meia-vida mais curta faz com que possa ser uti lizado em testes funcionais, como na investigação de defeitos da enzima 3-beta-hidroxi-esteróide dehidrogenase, em que se ENDOCRINOLOGIA Precursor da síntese do cortisol, a 17-OH progesterona é um es teróide produzido pelas gônadas, e principalmente pelas glân Dehidroepiandrosterona (DHEA) SUPRA-RENAL 17-Hidroxiprogesterona (17-OHP) pode detectar valores muito elevados de DHEA após estímulo com ACTH. Sofre grande interferência do estresse. INDICAÇÕES: Avaliação do hirsutismo e acne; da hiperplasia con ênita da supra-renal. Diagnóstico do carcinoma de supra-renal. MÉTODO: Radioimunoensaio (RIE). AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Androstenediona É um precursor-chave da síntese dos androgênios e dos estro gênios, produzido em proporções semelhantes pelas adrenais e pelas gônadas. É estimulado pelo ACTH e suprimido pelos Sulfato de dehidroepiandrosterona (S-DHEA) É o esteróide em maior concentração na circulação. Sintetizado quase que exclusivamente pelas adrenais, é considerado um androgênio fraco. Constitui um pool estável, pouco alterado por estímulos fisiológicos. Apresenta-se em valores elevados no recém-nascido, que caem rapidamente aos níveis adequados à infância. Na puberdade, a elevação progressiva do S-DHEA, paralelamente ao amadurecimento ósseo, torna-o um indica dor precoce do aparecimento da adrenarca. Na menopausa, há uma rápida queda de seus níveis. O S-DHEA é suprimido pela dexametasona e não se altera com o uso de estrogênios, o que demonstra sua origem adrenal. Eleva-se em pacientes com hiperplasia adrenal congênita, doença de Cushing, carcinoma adrenal e tumores virilizantes. INDICAÇÕES: Avaliação do hirsutismo e da acne; da hiperplasia congênita da supra-renal e controle do tratamento. Diagnós tico do carcinoma de supra-renal. MÉTODO: Eletroquimioluminescência. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). corticosteróides. Sua produção excessiva pode levar a quadros de hirsutismo e contribuir para virilização, como na síndrome de ovários policísticos, neoplasias ovarianas e adrenais. O acha do de níveis elevados de androstenediona com testosterona normal sugere a origem adrenal da patologia pesquisada. Sua dosagem tem sido empregada no controle de hiperplasia con gênita de supra-renal por defeito da 21-hidroxilase. INDICAÇÕES: – Avaliação do hirsutismo e da acne; – Avaliação terapêutica da hiperplasia congênita da supra-renal; – Avaliação da hiperfunção da supra-renal; – Tumores virilizantes da supra-renal; – Tumores de ovário ou hiperplasia do estroma ovariano. MÉTODO: Radioimunoensaio (RIE). AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). 17-Cetosteróides (17-CTS) Constituem um grupo de metabólitos urinários de diferentes precursores, que costumam mostrar-se aumentados nas sín dromes hiperandrogênicas. Sua dosagem, no entanto, não ava lia adequadamente a testosterona. Assim, na presença de um quadro clínico de hirsutismo severo, em que os níveis de 17-CTS se encontram normais ou pouco elevados, deve-se suspeitar 125 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA de secreção aumentada de testosterona. Os 17-CTS se elevam INDICAÇÃO: Investigação inicial na suspeita de síndrome de criticamente nos tumores supra-renais e gonadais. Embora os Cushing. níveis de 17-CTS diminuam na insuficiência supra-renal, essa INTERPRETAÇÃO: Indivíduos normais apresentam cortisol abai dosagem não é útil para o diagnóstico. Atualmente, com ou tras dosagens hormonais disponíveis, mais sensíveis e especí ficas, a dosagem de 17-CTS caiu em desuso. INDICAÇÕES: xo de 5µg/dL. Estudos referem que valores abaixo de 1,8µg/dL apresentam baixa probabilidade de síndrome de Cushing, con siderando duvidosos os valores entre 1,8 e 5µg/dL. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). – Tumores supra-renais; – Hiperplasia adrenal; – Tumores ovarianos; – Tumores de células de Leydig; – Avaliação do hirsutismo e acne; – Hipogonadismo masculino. INTERFERÊNCIAS: Elevam: cefalosporina, eritromicina, ácido nalidíxico, grandes doses de penicilina, espironolactona e testolactona. MÉTODO: Callow-Zimmerman modificado. AMOSTRA: Urina de 24 horas (frasco sem conservante). 17-hidroxicorticosteróides Grupo de esteróides secretados pela adrenal, que englobam o cortisol, a cortisona, o 11-desoxicortisol e os tetra-hidroderiva- dos. Podem mostrar-se aumentados na obesidade, no alcoolis , na gravidez, na tireotoxicose e em situações de estresse. Um resultado dentro da faixa de normalidade não exclui o diagnóstico de hipercortisolismo. Assim, a avaliação de uma amostra basal não chega a ser útil para o diagnóstico de sín ome de Cushing, devendo-se recorrer a testes dinâmicos. Atualmente, com outras dosagens hormonais disponíveis, mais TESTE DE SUPRESSÃO COM DEXAMETASONA – 2MG E 8MG (LIDDLE I E II) TÉCNICA 1º dia – Colher urina de 24 horas em frasco fornecido pelo la boratório. 2º dia – Entregar o frasco da urina de 24 horas e colher sangue para dosagem de cortisol. Após a coleta, iniciar, por via oral, 0,5mg de dexametasona 6/6 horas. 3º dia – Colher urina de 24 horas em frasco fornecido pelo labo ratório. Manter a administração por via oral de 2mg de dexametasona por dia (0,5mg de 6/6 horas). 4º dia – Colher sangue para dosar cortisol e entregar o frasco da 2ª urina de 24 horas. Término do teste com 2mg. Iní cio do teste com 8mg. Após a coleta de sangue, iniciar, por via oral, 8mg de dexametasona por dia (2mg de 6/6 horas). 5º dia – Manter a administração por via oral de 8mg de dexa metasona por dia. Colher urina de 24 horas em frasco fornecido pelo laboratório. 6º dia – Colher sangue para dosar cortisol e entregar a 3ª amos tra de urina. sensíveis e específicas, a dosagem de 17-OHS está em desuso. INDICAÇÃO: Diagnóstico de síndrome de Cushing. INTERFERÊNCIAS: Elevam: Acetazolamida, colchicina, digitálicos, eritromicina, es onolactona, fenotiazinas e metadiona. Diminuem: Tiazídicos. MÉTODO: Porter-Silber. AMOSTRA: Urina de 24 horas (frasco sem conservante). Testes funcionais TESTE DE SUPRESSÃO NOTURNA COM DEXAMETASONA TÉCNICA: Administração por via oral de dexametasona às 23 ho ras do dia anterior (adultos: 1mg de dexametasona; crianças: 10µg/kg de peso) e coleta de sangue para dosagem de cortisol na manhã seguinte. 126 INTERPRETAÇÃO: Na primeira fase do teste de supressão (2mg), observa-se, em indivíduos normais, queda dos CLU para níveis abaixo dos valores descritos acima. Esta queda não ocorre tanto em pacientes com tumores adrenais quanto em portadores de pressão em pacientes com tumores adrenais, mas observa-se queda de aproximadamente 50% em relação aos níveis basais em portadores de hiperplasia adrenal secundária a adenoma hipofisário. Em pacientes com hiperplasia adrenal secundária à síndrome de ACTH ectópico, não ocorre supressão, mesmo com 8mg de dexametasona. Outros testes podem ser utilizados na avaliação da síndrome de Cushing: – Teste de Estímulo com CRH: diagnóstico diferencial entre doença e síndrome de Cushing, controle da cura cirúrgica da doença de Cushing. Dosagens de cortisol e ACTH basais, após 30, 45 e 60 minutos da administração de 100mcg de CRH hu mano ou 1mcg/kg de CRH ovino EV. Na doença de Cushing, há um aumento igual ou superior a 20% do valor basal do corti sol e/ou aumento igual ou superior a 50% do valor basal de ACTH. Na cura cirúrgica, não há resposta do cortisol nem do ACTH no pós-operatório. – Teste de Estímulo com CRH após Dexametasona: diagnósti co diferencial entre síndrome de Cushing e pseudo-Cushing. Após a coleta basal de cortisol, iniciar o uso de 0,5mg de de xametasona, de 6/6 horas, a partir das 12 horas do primeiro dia do teste até as 6 horas do terceiro dia, quando será feita a coleta para dosagem de cortisol e de ACTH basais. Admi nistrar 100mcg de CRH humano ou 1mcg/Kg de CRH ovino EV e dosar cortisol e ACTH aos 15, 30, 45 e 60 minutos após a medicação. Na síndrome de Cushing, há um aumento de ambos; no pseudo-Cushing, o cortisol permanece suprimido. – Teste de Estímulo com DDAVP: diagnóstico diferencial da o do normal sugere hipocortisolismo. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Na avaliação da insuficiência supra-renal, também pode ser utilizado o teste de estímulo com 1mcg de ACTH, que pelo fato de usar uma dose mais baixa pode diagnosticar casos de de adrenal leve e moderada, que responderiam ao teste realizado com 250mcg de ACTH. Assim, são colhidas amostras para dosagem de cortisol nos tempos basal, 30 e 60 minutos, considerando-se como resposta valores de cortisol acima de 18mcg/dL aos 30 minutos. ENDOCRINOLOGIA duas entidades podem ser diferenciadas. Ou seja, não há su INTERPRETAÇÃO: Valores de cortisol acima de 18mcg/dL. Respos SUPRA-RENAL hiperplasia adrenal secundária. Na segunda fase (8mg), estas – Teste de estímulo para cortisol após insulina: vide protocolo megateste. Há resposta quando os valores de cortisol estive rem acima de 18mcg/dL. 17-HIDROXIPROGESTERONA – TESTE DE ESTÍMULO COM ACTH TÉCNICA: Administração endovenosa de 250mcg de ACTH, com coleta de sangue (tubo sem anticoagulante) para dosagem de 17-OHP nos tempos basal e aos 60 minutos. Realizar na fase folicular. INDICAÇÃO: Diagnóstico da deficiência da 21-hidroxilase. INTERPRETAÇÃO: Os valores da 17-hidroxiprogesterona após o estímulo são proporcionais aos seus níveis basais. Acima de 1.000ng/dL sugerem hiperplasia adrenal congênita. Entre 500 e 1.000ng/dL são considerados duvidosos, devendo ser relacio à clínica. Os casos homozigotos normalmente já apre tam níveis basais aumentados (maiores que 1.000ng/dL), com grande elevação após o estímulo com ACTH; os heterozi tingem menor amplitude. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). síndrome de Cushing (distinguir doença de Cushing, pseudo-Cushing e síndrome do ACTH ectópico) e controle da cura cirúrgica da doença de Cushing. Colher amostra basal para Mineralocorticóides e Renina dosagem de cortisol e de ACTH, e após 15, 30, 45, 60, 90 e 120 minutos depois da administração de 10mcg de DDAVP por via endovenosa. Na doença de Cushing, há aumento de 20% e 50% do cortisol e do ACTH, respectivamente. No pseudoCushing, a resposta é inferior ou está ausente. Em casos de cura cirúrgica, não existe resposta do cortisol e do ACTH. TESTE DE ESTÍMULO RÁPIDO COM ACTH – CORTISOL TÉCNICA: Administração por via endovenosa de ACTH sintético (250µg), coleta de sangue basal e aos 60 minutos para dosa gem de cortisol. INDICAÇÃO: Diagnóstico de insuficiência supra-renal. Aldosterona sérica e urinária A aldosterona é o principal mineralocorticóide produzido pelo córtex da supra-renal. Sua secreção é regulada pelo sistema renina-angiotensina, que responde a alterações de volume do líquido extracelular. Doenças do coração, fígado e rins (hiper tensão renovascular) costumam aumentar a renina, levando a um quadro de hiperaldosteronismo secundário. A dosagem de aldosterona é especialmente indicada para o diagnóstico de hiperaldosteronismo primário devido a adenoma ou hiperpla sia adrenal em pacientes hipertensos. Nestes casos, os níveis de aldosterona mostram-se aumentados, com níveis baixos de 127 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA renina e baixos ou normais de potássio. Para o rastreamento, é enzima decresce com a idade, apresentando-se relativamente empregada a relação aldosterona (ng/dL) / atividade de renina elevada em recém-nascidos e na infância. Eleva-se ainda de plasmática (ng/ml/h), considerando-se como improváveis va forma significativa na primeira metade da gestação. lores menores que 15; duvidosos, entre 20 e 25; suspeitos, entre 25 e 30; e prováveis, entre 30 e 40. O diagnóstico da doença deverá ser confirmado por testes que se baseiam na supressão da aldosterona. A interpretação da dosagem de renina depende do conheci mento dos fatores prevalentes no momento da coleta. Assim, é fundamental que se conheça a dieta do paciente (normo ou hipersódica), que se saiba se a amostra foi colhida em situação Na doença de Addison, podem ser detectados níveis baixos de deambulação ou em repouso, pois o ortostatismo eleva a de aldosterona, associados a uma elevação de renina. A pro produção da enzima. O paciente não deverá estar em uso de dução deficiente de aldosterona também ocorre em casos de medicamentos, como estrogênios ou pílulas anticoncepcio hipoaldosteronismo isolado, que pode ser hiporreninêmico nais, que alteram a concentração do substrato de renina, ou (diabetes) ou hiperreninêmico (Aids). Em crianças, a produção de diuréticos, que elevam sua concentração. Se não for possível deficiente pode ser decorrente de deficiências enzimáticas da suspender a medicação, deve-se levar em conta essa interfe supra-renal. rência na interpretação do resultado. Em pacientes normotensos, a aldosterona pode estar elevada, Na avaliação da hipertensão arterial, o encontro de níveis bai assim como a renina, como acontece em portadores da síndro xos de renina sugere aumento da secreção de mineralocorti me de Bartter. Níveis altos podem também ser detectados no cóides, embora uma proporção considerável de pacientes com pseudo-hipoaldosteronismo (síndrome de resistência à ação hipertensão essencial também apresentem níveis baixos de de aldosterona), acompanhado de hipercalemia. O conteúdo renina. A elevação de aldosterona é sugestiva de hiperaldos de sal da dieta, postura e uso de drogas, principalmente diuré teronismo primário. Quando a renina está suprimida pelo ex ticos, podem interferir na dosagem. cesso de produção de mineralocorticóides, não há resposta nos INDICAÇÕES: – Avaliação de hipertensão arterial; testes que buscam seu estímulo (teste de deambulação ou de estímulo por furosemida). – Diagnóstico do hiperaldosteronismo primário; A renina também aumenta em pacientes com hipertensão – Diagnóstico do hiperaldosteronismo secundário; renovascular, em tumores de células justaglomerulares, na hi – Diagnóstico da síndrome de Bartter; pertensão maligna e em alguns casos de hipertensão essen – Diagnóstico do hipoaldosteronismo; cial. Certas mulheres em uso de pílula anticoncepcional apre – Diagnóstico do pseudo-hipoaldosteronismo; sentam hipertensão arterial com renina elevada. Em pacientes – Avaliação da deficiência da 17-hidroxilase. normotensos, renina elevada com potássio baixo, sem associa MÉTODO: Radioimunoensaio (RIE). ção à insuficiência renal, é altamente sugestiva de síndrome AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante)/urina de 24 horas. de Bartter. A coleta de sangue por cateterismo das veias renais é útil no Renina É uma enzima produzida pelas células do aparelho justaglo merular, que controla a secreção da aldosterona através da conversão do angiotensinogênio (produzido no fígado) em angiotensina I, que é clivado pela enzima conversora de an giotensina (ECA) em angiotensina II nos pulmões. Este último composto aumenta diretamente a pressão sanguínea através da vasoconstrição e indiretamente por estimular a produção Suspeita-se de hipoaldosteronismo hiporreninêmico em pa cientes com níveis elevados de potássio, acidose metabólica hiperclorêmica, mas sem quadro de insuficiência renal grave. A patologia pode ocorrer numa forma congênita ou associada a doenças, como diabetes mellitus e insuficiência autonômica. Drogas como betabloqueadores ou indometacina, que causam de aldosterona. alterações bioquímicas semelhantes, devem ser afastadas. Um A secreção de renina é regulada por um sensível sistema de apresenta aldosterona baixa e renina elevada (a angiotensina feedback, que responde prontamente às alterações de volemia. Além da volemia, a produção de renina também sofre influên cia do sistema nervoso simpático, da concentração de sódio e de cloreto nos túbulos renais e da própria angiotensina II. A 128 diagnóstico da hipertensão renopriva, seja ela causada por es tenose de artéria renal ou por doença parenquimatosa renal. caso particular é o uso de inibidores da enzima conversora, que II mantém-se baixa). Em pacientes graves, é comum detectar-se renina em níveis elevados com aldosterona baixa; este quadro, no entanto, não da deficiência da 21-hidroxilase. A medida de renina plasmáti – Repouso; – Ausência de estresse; ca pode ser feita indiretamente pela dosagem da angiotensina – Jejum a partir da 0 hora do dia do exame. gerada pela incubação da amostra pesquisada com o subs No dia do exame: trato de renina. Ou seja, pela atividade de renina plasmática, utilizada na relação com a aldosterona. Mais recentemente, a medida direta dessa enzima tornou-se disponível pelo método imunorradiométrico, que apresenta menos complexidade que o da atividade de renina, e não sofre interferências de possíveis variações da concentração de angiotensinogênio. Estudos rea – Comparecer ao laboratório às 7 horas da manhã; – Puncionar a veia, permanecer em repouso por uma hora; – Coletar sangue para dosagem de renina e aldosterona; – Administrar por via endovenosa duas ampolas de furosemida; – Coleta de sangue 120 minutos após a medicação. lizados têm avaliado a correlação entre os métodos. TESTE DE ESTÍMULO APÓS DEAMBULAÇÃO INDICAÇÕES: – Suspender diuréticos, betabloqueadores e hipotensores 21 – Avaliação da hipertensão arterial; – Diagnóstico do hiperaldosteronismo primário; – Diagnóstico do hiperaldosteronismo secundário; – Diagnóstico dos tumores secretantes de renina; – Avaliação de hipotensão ortostática; – Diagnóstico de síndrome de Bartter; – Diagnóstico do hipoaldosteronismo hiporreninêmico. INTERFERÊNCIAS: Elevam: Captopril, enalapril, hidralazina, minoxidil, diuréticos, diazóxido, estrogênios, prostaciclina. Dietas pobres em sódio e posição ortostática. Diminuem: Angiotensina, carbenoxolona, clonidina, indome prasozin, betabloqueadores, alfa metildopa, adminis ação de potássio, dietas ricas em sódio e idade. dias antes, de acordo com orientação do médico assistente. Na véspera: – Repouso; – Ausência de estresse; – Jejum a partir da 0 hora do dia do exame. No dia do exame: – Comparecer ao laboratório às 7 horas da manhã; – Puncionar a veia, permanecer em repouso por uma hora; – Coletar sangue basal para dosagem de renina e aldosterona; – Deambular de forma não exaustiva, mas ininterrupta, por duas a quatro horas (a critério médico); – Após a deambulação, coleta de sangue para dosagem de re nina e aldosterona, com o paciente em pé. MÉTODO: Radioimunoensaio cinético. TESTES DE SUPRESSÃO AMOSTRA: Sangue (tubo com EDTA; deve ser centrifugado e – Sobrecarga de sódio, por infusão endovenosa; congelado imediatamente). Testes funcionais TESTES DE ESTÍMULO – Restrição de sódio; – Teste da furosemida; – Deambulação; – Teste do ACTH; – Teste do ACTH, com dosagem de aldosterona e cortisol, em veia adrenal cateterizada; – Mudança de decúbito. TESTE DE ESTÍMULO POR DEPLEÇÃO DE VOLUME INDUZIDA POR DIURÉTICO (TESTE DA FUROSEMIDA) – Suspender diuréticos, betabloqueadores e hipotensores 21 dias antes, de acordo com orientação do médico assistente. ENDOCRINOLOGIA bém ser útil no acompanhamento terapêutico de portadores Na véspera: SUPRA-RENAL tem repercussão metabólica. A dosagem de renina pode tam – Supressão noturna pela dexametasona; – Teste do captopril. TESTE DE SUPRESSÃO APÓS SOBRECARGA VENOSA DE SÓDIO – Suspender diuréticos, betabloqueadores e hipotensores 21 dias antes, de acordo com orientação do médico assistente. Na véspera: – Repouso; – Ausência de estresse. – Jejum a partir da 0 hora do dia do exame. No dia do exame: – Comparecer ao laboratório às 7 horas da manhã; – Puncionar a veia, permanecer em repouso por uma hora; – Coletar sangue basal para dosagem de renina, aldosterona e potássio; – Iniciar infusão de soro fisiológico 0,9% - 1,5 a 2,5 litros por um período de duas a quatro horas (a critério médico); 129 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA – Ao final da infusão, colher nova amostra para dosagem de renina e aldosterona. Contra-indicações: Hipertensão arterial severa, insuficiência em doenças hipofisárias ou hipotalâmicas. Pode aumentar seus níveis quando há comprometimento da espermatogê nese. Eleva-se mais precocemente que o LH na instalação da cardíaca congestiva e insuficiência renal. menopausa, confirmando seu diagnóstico. Na síndrome dos TESTE DO CAPTOPRIL uma relação LH/FSH acima de 2. – Suspender diuréticos, betabloqueadores e hipotensores 21 INDICAÇÕES: dias antes, de acordo com o médico assistente. ovários policísticos, pode-se encontrar em níveis baixos, com – Diagnóstico do hipogonadismo; Na véspera: – Avaliação da função hipotálamo-hipofisária; – Ausência de estresse; – Diagnóstico da menopausa; – Repouso; – Jejum a partir da 0 hora do dia do exame. – Diagnóstico da síndrome dos ovários policísticos; – Diagnóstico de infertilidade masculina; No dia do exame: – Diagnóstico de tumor produtor de gonadotrofinas. – Comparecer ao laboratório às 7 horas da manhã; MÉTODO: Eletroquimioluminescência. – Puncionar a veia, permanecer em repouso por uma hora; AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). – Coletar sangue basal para dosagem de renina e aldosterona; – Administrar por via oral 25mg de captopril; – Manter o paciente em repouso; Hormônio luteinizante (LH) – Colher nova amostra 60 minutos após a medicação. Hormônio estimulador das células intersticiais nos ovários e Contra-indicações: Insuficiência renal, hipersensibilidade à nos testículos, é secretado de maneira pulsátil, o que parece ser droga, tubulopatias e hipotensão importante. Efeitos colaterais: Hipotensão, cefaléia, sonolência, náuseas e vômitos. fundamental para sua ação. No sexo feminino, sua grande ele vação no meio do ciclo menstrual induz à ovulação. Se for do sado de maneira seriada, pode determinar a data da ovulação. Mostra-se elevado nas patologias primariamente gonadais, Medula adrenal Os exames de catecolaminas plasmáticas e urinárias, ácidovanil-mandélico (VMA), ácido homovanílico (HVA) e metanefri nas estão descritos no capítulo de Química e Toxicologia. apresentando-se inadequadamente baixo no hipogonadismo de origem hipofisária e hipotalâmica. Na síndrome de ovários policísticos, pode ser detectado em valores acima do normal, com uma relação LH/FSH maior que 2. Na menopausa, eleva-se mais tardiamente que o FSH. Sua dosagem é útil no diagnósti co de puberdade precoce. INDICAÇÕES: – Avaliação da função hipofisária; – Diagnóstico da síndrome de ovários policísticos; – Determinação da data da ovulação; – Diagnóstico do hipogonadismo; – Diagnóstico de tumores produtores de gonadotrofinas; – Diagnóstico de puberdade precoce. Hormônio folículo estimulante (FSH) Na mulher, o FSH estimula os folículos ovarianos e, no homem, a espermatogênese. É secretado de manei ra pulsátil (menos evidente que o LH), com variações significativas durante o dia. Em nível relativamente elevado no primeiro ano de vida, o FSH decresce a níveis bastante baixos durante a infância, voltando a elevar-se na puberdade até atingir valores de adulto. Aumenta nas deficiências ovarianas ou testiculares, e apresenta-se em valores inadequadamente baixos 130 MÉTODO: Eletroquimioluminescência. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Testosterona total Circula ligada a proteínas séricas, especialmente à globulina ligadora dos hormônios sexuais (SHBG), com apenas uma pequena fração na forma livre. No homem, a secreção desse hormônio reflete a função testicular. Na mulher, há secreção ovariana, mas grande parte da testosterona provém da conver subseqüentes, especialmente nos meninos. Na puberdade, seus níveis sobem, acompanhando a maturação sexual. Nas mulheres, seus valores também se elevam durante a gestação. No hipogonadismo de origem testicular ou de origem central, seus níveis são baixos. Em casos de hirsutismo, é comum o achado de pelo menos uma discreta elevação dos níveis de tes tosterona. Dosagens muito altas sugerem tumores virilizantes do ovário, sendo raros os casos de tumores de supra-renal pro dutores de testosterona isoladamente. INDICAÇÕES: – Diagnóstico do hipogonadismo masculino; – Avaliação de puberdade precoce; – Diagnóstico de tumores virilizantes; – Avaliação do hirsutismo. MÉTODO: Eletroquimioluminescência. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Testosterona livre A testosterona circula ligada a proteínas, principalmente a SHBG (sex hormone binding globulin), com pequena fração li e. Atribui-se a esta fração a maior parte de sua ação metabó A fração livre da testosterona é de aproximadamente 4% no sexo masculino e 1% no feminino. A SHBG é regulada por Dihidrotestosterona (DHT) A dihidrotestosterona (DHT) provém da transformação perifé rica da testosterona no homem e da androstenediona na mu lher, pela ação da enzima 5-alfa-redutase. Pequenas quantida des são secretadas pelos testículos. É um potente androgênio, importante para o desenvolvimento da genitália masculina externa, crescimento prostático e metabolismo da pele. Nos casos de pseudo-hermafroditismo masculino por deficiência desta enzima, a testosterona mostra-se normal ou elevada, a DHT baixa ou normal e a relação entre testosterona e DHT ENDOCRINOLOGIA testosterona pode encontrar-se mais elevada do que nos anos GÔNADAS são periférica da androstenediona. No primeiro ano de vida, a bem maior que o normal (normal após puberdade: menor que 20; casos de deficiência de 5-alfa-redutase: maior que 35). Em indivíduos pré-puberais, esta relação não é tão confiável devido aos baixos níveis de testosterona e DHT, aconselhando se a realização de um teste de estímulo com hCG, com análise posterior da relação testosterona/DHT. Em alguns casos de hir sutismo, a DHT pode estar elevada, sugerindo maior conversão periférica de testosterona. INDICAÇÕES: Diagnóstico de pseudo-hermafroditismo mascu lino (deficiência da 5-alfa-redutase). Avaliação do hirsutismo. Avaliação da eficácia de medicamentos que inibem a 5-alfaredutase. MÉTODO: Radioimunoensaio (RIE). AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). diversas substâncias, dentre as quais os estrogênios e andro , GH, hormônios tireoidianos e corticóides. Quando os níveis de SHBG se elevam, caem os de testosterona livre; quan am, os de testosterona livre se elevam. Aumentam a SHBG: estrogênios, gravidez, queda de androgê , envelhecimento, hipertireoidismo e cirrose hepática. Diminuem a SHBG: androgênios, obesidade, hipercortisolismo, síndrome nefrótica, acromegalia, hipotireoidismo e causas he editárias. A dosagem da fração livre de testosterona oferece maior sen na avaliação nos casos de hirsutismo em que a tes ona total pode não estar elevada, devido à diminuição dos níveis de SHBG. Devido à grande variabilidade dos métodos de dosagem de testosterona livre, tem-se utilizado a relação testosterona to- tal/SHBG para avaliação, ou a dosagem da testosterona bio el. INDICAÇÕES: Avaliação da fração ativa da testosterona no hipogo adismo masculino, hirsutismo, virilização, acne e amenorréia. MÉTODO: Radioimunoensaio (RIE). AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). 3-Alfa-androstenediol glucoronídeo (3-Alfa-diol) É o principal metabólito periférico da dihidrotestosterona (DHT), produzido nos tecidos responsivos a androgênios, como os folículos pilosos. É um marcador da atividade androgênica e pode ser útil no acompanhamento da terapêutica do hirsutis mo. Pode estar elevado, isoladamente, em casos de hirsutismo que cursam com níveis normais de testosterona e aumento da atividade da 5-alfa-redutase. Sua dosagem pode também ser útil nos estados de resistência androgênica em homens. INDICAÇÕES: Investigação e monitoração do tratamento do hir . Estados de resistência androgênica em homens. MÉTODO: Radioimunoensaio (RIE). AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Estrona (E1) A estrona em circulação provém do ovário e principalmente da conversão periférica da androstenediona. Esta conversão é res ponsável pela maior reserva do estrogênio circulante na pós menopausa, quando os níveis de estrona podem não diminuir 131 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA na mesma proporção que os níveis do estradiol. Pode também haver conversão em larga escala no tecido adiposo, elevando os níveis de estrona em pessoas obesas. Seus valores apresen tam nítido ritmo circadiano, devido à origem adrenal de parte de seus precursores. Aumenta na puberdade, coincidindo com a maior secreção do S-DHEA e refletindo a maturação do cór tex adrenal. Apresenta-se relativamente alta na síndrome de ovários policísticos. Sua dosagem também pode ser útil na avaliação de tumores feminilizantes. INDICAÇÕES: – Avaliação da síndrome de ovários policísticos; – Estudo diagnóstico dos tumores feminilizantes; – Avaliação de secreção hormonal na menopausa. MÉTODO: Radioimunoensaio (RIE). AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Estradiol (E2) É o estrogênio mais ativo e o mais importante na mulher em idade reprodutiva, com valores mais altos no pico ovulatório. Na avaliação de puberdade precoce, o estradiol mostra-se ina dequadamente elevado para a idade cronológica. Seus níveis também sobem bastante na gravidez e diminuem na me nopausa, podendo voltar a se elevar com o uso da reposição estrogênica. Na mulher, encontra-se em níveis baixos no hipo gonadismo primário ou secundário, embora haja muita super posição com os valores normais. No homem, podemos encon trar valores normais ou elevados, dependendo da etiologia do hipogonadismo. O estradiol estará aumentado em síndromes feminilizantes por tumores testiculares ou adrenais produto res de estrogênios, ou por tumores que produzam gonadotrofi nas. Nestes casos, os níveis basais podem não ser diagnósticos, mas sua dosagem deve ser avaliada após estímulo com hCG. A dosagem de estradiol também pode ser empregada na mo nitoração do desenvolvimento folicular durante a indução da ovulação. Seus valores podem mostrar-se reduzidos com o uso de contraceptivos orais, uma vez que os estrogênios utilizados nestes compostos não são mensurados no ensaio de estradiol (17-beta estradiol). O estriol circulante na gravidez provém principalmente da con versão pela placenta e pelo fígado materno do sulfato de dehi droepiandrosterona produzido pela supra-renal do feto. Seus níveis se elevam de modo uniforme até praticamente o termo da gestação. É um índice de função da unidade feto-placentária, especialmente quando se utilizam dosagens seriadas. Nos casos de deficiência de sulfatase placentária, os níveis de estriol podem mostrar-se baixos mesmo na presença de um feto saudável. A dosagem isolada de estriol tem baixo valor preditivo na avaliação de risco fetal, devendo ser associada às medidas de alfafetoproteína e beta-hCG livre. INDICAÇÕES: Avaliação de vitalidade fetal e função placentária. MÉTODO: Radioimunoensaio (RIE). AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Progesterona É produzida pelo corpo lúteo e serve como marcador de sua existência (por conseqüência da ocorrência de ovulação) e de sua funcionalidade. Portanto, quando ocorre a ovulação, os níveis de progesterona se encontram bastante elevados na segunda fase do ciclo, com pico em torno do 21º dia. Para determinar de forma mais precisa a data da ovulação, devem ser colhidas amostras seriadas. Uma fração mínima de proges terona é secretada pelas adrenais, elevando-se na hiperplasia congênita da supra-renal e em alguns carcinomas adrenais e ovarianos. Na gestação, eleva-se rapidamente nas primeiras semanas, refletindo o funcionamento do corpo lúteo e da pla centa. A partir da 12ª semana, seus níveis circulantes depen dem da produção placentária. Níveis diminuídos podem ser encontrados em casos de fase lútea curta ou inadequada, e anormalidades na gravidez. INDICAÇÕES: – Diagnóstico de ovulação; – Avaliação funcional do corpo lúteo; – Avaliação diagnóstica de hiperplasia congênita da supra-renal; – Avaliação de tumores adrenais ou ovarianos. INDICAÇÕES: MÉTODO: Eletroquimioluminescência. – Avaliação do hipogonadismo; AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). – Avaliação de puberdade precoce; – Diagnóstico de tumores feminilizantes; – Avaliação de ginecomastia; – Acompanhamento de reposição hormonal na menopausa. MÉTODO: Eletroquimioluminescência. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). 132 Estriol (E3) Globulina ligadora dos hormônios sexuais (SHBG) Sintetizada no fígado, funciona como uma proteína de trans porte para a maioria dos hormônios esteróides gonadais circu lantes: testosterona, dihidrotestosterona e estradiol. Variações nos níveis de SHBG podem afetar os valores totais circulantes nios, tamoxifen, fenitoína, hormônios tireoidianos, e nos casos administração por via oral de clomifene (3mg/kg/dia) por sete de hipertireoidismo e na cirrose. Diminui com o uso de andro dias. Coleta de sangue no 4º, 7º e 10º dias. gênios, glicocorticóides, hormônio do crescimento, no hipo CONTRA-INDICAÇÕES: Hepatopatia e depressão endógena. tireoidismo, na acromegalia e na obesidade. Na resistência a hormônios tireoidianos, seus níveis mostram-se normais, ape sar da elevação desses hormônios. INDICAÇÃO: Investigação do hiperandrogenismo e hipertireoi ismo. Atenção: o uso do clomifene pode causar hiperestimulação ovariana e gestação múltipla. INTERPRETAÇÃO: LH: Aumento de duas a três vezes do valor basal. FSH: Aumento de 50% do valor basal. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático por quimioluminescência. O clomifene tem ação estrogênica muito fraca, agindo como AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). um antiestrogênio. No hipotálamo, estimula a liberação das ENDOCRINOLOGIA TÉCNICA: Coleta de sangue basal (tubo sem anticoagulante) e GÔNADAS dos hormônios a ela ligados. Eleva-se com o uso de estrogê gonadotrofinas, mostrando-se útil em pacientes que apresen Testes funcionais TESTE DE ESTÍMULO COM GnRH (HORMÔNIO LIBERADOR DAS GONADOTROFINAS) INDICAÇÃO: Avaliação do hipopituitarismo e da ativação do eixo hipotalámo-hipófise-gonadal (no diagnóstico da puberdade precoce). Monitoração da terapia com análogo de GnRH. TÉCNICA: Administração por via endovenosa de GnRH (100µg) e coleta de sangue (tubo sem anticoagulante) aos 30 e 60 minu tos. Colher, preferencialmente, até o 5º dia a partir do início do ciclo menstrual ou conforme solicitação médica. INTERPRETAÇÃO: LH: – Pré-puberal – não se altera; aumento em relação ao basal maior ou igual a 7mUI/mL indica estimulação do eixo. – Feminino a) Fase folicular – aumento de duas a quatro vezes. b) Fase luteínica – aumento de duas a 10 vezes. – Masculino – aumento de duas a 10 vezes. FSH: Aumento de 50% a 200% do valor basal. O GnRH é o estimulante fisiológico do LH e do FSH. O LH res ponde prontamente ao estímulo, com o pico ocorrendo 30 minutos após a administração. O FSH se eleva menos e mais lentamente. Em portadores de deficiência hipofisária, não há resposta ao estímulo. Pacientes com alterações hipotalâmicas am gonadotrofinas em níveis baixos, com quadro sugestivo de hipogonadismo. A resposta normal atesta a integridade do eixo hipotálamo-hipofisário. Uma resposta deficiente, com resposta normal ao teste do GnRH, sugere patologia hipotalâ ica. Existem diversos protocolos para este teste, variando e a dosagem do clomifene (de 50mg a 200mg), o tempo da tomada da droga (de cinco a 21 dias) e os dias de coleta. Isso se deve à variabilidade de resposta à droga e dificulta a inter retação do teste. Nos homens, pode-se dosar testosterona basal e depois do estímulo com clomifene. A resposta média normal é um aumento de duas vezes o valor basal. Em mulhe es que estejam menstruando, deve-se iniciar o teste no 5º dia do ciclo menstrual. TESTE DE ESTÍMULO COM GONADOTROFINA CORIÔNICA INDICAÇÃO: – Diagnóstico de ginecomastia; – Diagnóstico de tumores feminilizantes em homens; – Avaliação do hipogonadismo masculino; – Detecção da presença de tecido testicular funcionante em casos de criptorquidia e diagnóstico de anorquia. TÉCNICA: Coleta de sangue basal (tubo sem anticoagulante) para dosagem de testosterona e/ou estradiol. Administração por via intramuscular de gonadotrofina coriônica (Pregnyl – 5.000 U). Coleta de sangue 72 horas após a administração de apresentam níveis baixos de LH e FSH, que podem se elevar gonadotrofina coriônica. após administração de GnRH. Em indivíduos com suspeita de INTERPRETAÇÃO: A gonadotrofina coriônica é um hormônio com puberdade precoce, a presença de resposta ao GnRH sugere que o eixo hipotálamo-hipófise-gonadal já foi ativado, o que é característico de puberdade instalada. Os níveis de resposta variam muito, de acordo com o sexo, idade, dia do ciclo e da condição hormonal do paciente. TESTE DE ESTÍMULO COM CLOMIFENE INDICAÇÃO: Avaliação do hipogonadismo hipogonadotrófico. ações biológicas semelhantes ao LH. O teste da GC com dosa gem de estradiol e/ou testosterona avalia a função das células de Leydig. Há um aumento de duas vezes o valor basal de tes tosterona em adultos, e superior a 1.500pg/mL em pré-púberes. Se a condição for primariamente testicular, a resposta estará diminuída; nestes casos a dosagem das gonadotrofinas apre senta maior sensibilidade. Se a causa for secundária (hipofisá ria ou hipotalâmica), a resposta pode ser normal, porém, pode 133 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA não haver resposta, a não ser após um estímulo repetido. O No hipoparatireoidismo, detectam-se níveis baixos de cálcio teste descrito é útil no diagnóstico de tumores feminilizantes, com PTH indetectável ou em concentrações muito baixas. Se que se apresentam muitas vezes como ginecomastia. Nestes o PTH estiver aumentado, o diagnóstico provável é de pseudo casos, observa-se uma elevação abrupta do estradiol, que não hipoparatireoidismo, em correlação com quadro clínico suges volta aos valores basais após 72 horas. Se o pico for acima de tivo. No pós-operatório das tireoidectomias, pode ocorrer um seis vezes os valores basais, isso é bastante sugestivo da pre hipoparatireoidismo transitório. sença de tumores de células de Leydig. Para detectar a presença de tecido testicular em meninos, este teste tem sido empregado com um protocolo modificado (1.000U de hCG no 1º, 3º, 8º e 10º dias, com dosagem de tes tosterona no 15º após a administração de hCG). Um aumento de testosterona acima de 2.000pg/mL em relação aos níveis basais é indicativo da presença de testículos. Aumento me nor que 2.000pg/mL e acima de 1.000pg/mL indica reserva de células de Leydig reduzida, e valores de testosterona basal e pós-GC inferiores a 1.000pg/mL indicam anorquia funcional ou anatômica. Na avaliação de litíase renal, a dosagem do PTH pode diagnos ticar um hiperparatireoidismo, o que justifica sua inclusão na rotina desta investigação. INDICAÇÕES: – Diagnóstico diferencial das hipercalcemias; – Diagnóstico do hiperparatireoidismo primário; – Diagnóstico do hiperparatireoidismo secundário; – Diagnóstico do hipoparatireoidismo e do pseudo-hipoparatireoidismo; – Estudo de pacientes com litíase renal; – Estudo de portadores de adenomatose endócrina múltipla. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático por quimioluminescência. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). O sangue deve ser centrifugado e o soro congelado após a coleta. Paratormônio, proteína relacionada (PTH-rP) A hipercalcemia é uma complicação comum a diferentes tipos Paratormônio (Mólecula intacta) O PTH é um hormônio polipeptídico secretado pelas glândulas paratireóides. Encontra-se na circulação sob a forma intacta e em vários fragmentos da molé cula original de 84 aminoácidos. Os ensaios são capa zes de detectar os fragmentos ou a molécula intacta. Atualmente o teste que mede somente a molécula intacta é mais utilizado. A secreção do PTH responde prontamente às variações do cálcio plasmático, que é o seu principal regulador. Sendo assim, sua dosagem deve ser sempre avaliada em conjunto com a de cál cio, pois podemos diagnosticar o hiperparatireoidis mo primário pelo encontro de PTH aumentado com cálcio sérico discretamente elevado ou mesmo nos reabsorção óssea por alguns tumores (carcinoma epidermói de de pulmão, carcinoma de mama, outros tumores epiteliais, carcinoma renal cortical), constituindo o quadro das hiper calcemias humorais malignas (HHM). Nestes casos, o PTH-rP, que compartilha seqüências homólogas às do PTH, foi isola do, explicando assim algumas de suas atividades PTH-like. Os achados bioquímicos nos pacientes com HHM e hiperpara tireoidismo primário são semelhantes, incluindo cálcio sérico elevado, hipofosfatemia e aumento do AMP cíclico urinário. O PTH, porém, encontra-se aumentado no hiperparatireoidis mo primário e diminuído ou indetectável nas HHM, em que o PTH-rP mostra-se alto. INDICAÇÃO: Diagnóstico diferencial das hipercalcemias. limites superiores da normalidade. Outras causas de MÉTODO: Radioimunoensaio (RIE). hipercalcemia, como as associadas à malignidade, AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante e tubo com EDTA). exibem o PTH em níveis baixos. Estados patológicos que tendem à hipocalcemia, ao contrário, apresen tam PTH em concentrações elevadas. Isso ocorre na deficiência da vitamina D (nas formas alimentares ou de resistência à sua ação) e também na insuficiência renal crônica, em que o PTH mostra-se em níveis bem elevados, sendo o seu monitoramento de ajuda na avaliação da terapia. 134 de câncer. Dentre suas causas, há a produção de fatores de O sangue deve ser centrifugado e o soro congelado imediata mente após a coleta. Osteocalcina (BGP) Também conhecida como BGP (bone gla protein), a osteocalci na é um marcador de formação óssea, sintetizada pelos osteo formado por aminoácidos, que incluem três resíduos do ácido doenças metabólicas ósseas. gama-carboxiglutâmico (Gla), responsáveis pelas característi AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). cas de ligação da osteocalcina ao cálcio. Seus níveis circulantes obedecem a um ritmo circadiano, atingindo valores máximos às 4 horas da manhã e mínimos no início da tarde. Índices que variam também com a idade: maiores na infância e na puber dade, com pico durante o estirão puberal; declínio na fase adul ta; e aumento após a menopausa. Sua meia-vida é curta, sendo eliminada por via renal. Pode apresentar níveis elevados em várias condições caracteri zadas por aumento da remodelação óssea, tais como hiperparatireoidismo, hipertireoidismo, doença de Paget e osteoporose pós-menopausa. Valores diminuídos podem ser encontrados em casos de hipoparatireoidismo, hipotireoidismo, osteoporo se senil e uso de glicocorticóides. Como outros marcadores de remodelação óssea, sua principal indicação é a monitoração de tratamento de doenças metabólicas ósseas. INDICAÇÃO: Investigação e monitoração da terapia de doenças metabólicas ósseas. MÉTODO: Eletroquimioluminescência. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). A amostra deve ser centrifugada e o soro congelado imediatamente após a coleta. Fosfatase alcalina ósseo-específica A fosfatase alcalina vinha sendo tradicionalmente emprega da como marcador de formação óssea. Porém, devido à não distinção das principais isoenzimas circulantes, óssea e hepá tica, não apresenta boa especificidade ou sensibilidade. Estas frações diferem na estabilidade ao calor, mobilidade eletro forética, afinidade para lecitina e imunorreatividade. Com o desenvolvimento de anticorpos monoclonais específicos para a fração óssea, houve um grande avanço na dosagem da fosfa tase alcalina óssea, com ensaios mais específicos, que apresen tam baixa reação cruzada com a isoenzima hepática. A fosfatase alcalina óssea é sintetizada pelos osteoblastos, e está envolvida nos processos de formação e mineralização óssea. Portanto, seus níveis se elevam nas desordens em que a atividade celular osteoblástica aumenta, como hipertireoi dismo, osteomalacia, osteoporose, doença de Paget e algumas MÉTODO: Ensaio imunoenzimático por quimioluminescência. AMP-cíclico urinário (AMPc) Como a ação do paratormônio sobre as células tubulares renais leva à liberação de AMP cíclico na urina, sua dosagem urinária reflete a ação do PTH a nível renal. O AMP cíclico urinário cos tuma estar elevado nos casos de hiperparatireoidismo, o que torna sua dosagem útil para avaliar a ação do PTH biologica mente ativo em pacientes suspeitos de hiperparatireoidismo primário. Pode também estar alto em hipercalcemias associa das a neoplasias. INDICAÇÃO: Diagnóstico diferencial de hiperparatireoidismo. MÉTODO: Radioimunoensaio (RIE). AMOSTRA: Urina 24 horas. Hidroxiprolina Vide capítulo de Química e Toxicologia. Piridinolina e deoxipiridinolina Vide capítulo de Química e Toxicologia. N-telopeptídeo de Ligação Cruzada do Colágeno do Tipo I (Ntx) / C-telopeptídeo de Ligação Cruzada do Colágeno do Tipo I (Ctx) Perto de 90% da matriz óssea orgânica é composta por co lágeno do tipo I, proteína helicoidal e de ligação cruzada nos terminais N(amino) e C(carboxi), responsável pela resistência e estrutura do tecido ósseo. Devido à atividade osteoclástica, du rante a fase de reabsorção, no processo de remodelação óssea, o colágeno tipo I é degradado em pequenos fragmentos que circulam na corrente sanguínea e são excretados pelos rins. Entre estes fragmentos estão o NTx e o CTx, considerados mar cadores de reabsorção óssea mais específicos que os usados anteriormente. A principal indicação para a dosagem desses marcadores é a monitoração da terapia anti-reabsortiva, hor neoplasias malignas. Como outros marcadores de remodela monal ou não. ção óssea, a principal indicação de sua dosagem é a monito Embora a avaliação da densidade mineral óssea permaneça ração de terapia em doenças metabólicas ósseas. Mais estável no soro, não exige os mesmos cuidados de conservação que a osteocalcina. ENDOCRINOLOGIA INDICAÇÕES: Investigação e acompanhamento terapêutico das METABOLISMO ÓSSEO blastos. É o maior componente protéico não-colágeno do osso, como método de escolha para determinar a resposta ao trata mento, a importância desses marcadores reside em sua capa cidade de refletir mais precocemente, em poucas semanas, as alterações no processo de remodelação óssea, que levam me- 135 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA ses para ser visualizadas pela densitometria. Apesar do valor limitado no diagnóstico da osteoporose, já que há grande so PÂNCREAS breposição com controles da mesma idade, esses marcadores podem ser empregados também na identificação do estado de alta remodelação óssea e de indivíduos em risco de osteoporo se, na seleção de pacientes para a terapia anti-reabsortiva e na predição do risco de fraturas. Valores elevados podem ser encontrados em portadores de neoplasias com metástases ósseas. Os ensaios realizados no soro, em vez de urina, costumam apresentar melhor reprodu tibilidade, pois evitam a necessidade de correção pela creatini na, fator que aumenta a variabilidade do ensaio. Realizamos a dosagem do NTx na urina e do CTx no plasma. INDICAÇÕES: Investigação das doenças metabólicas ósseas; mo nitoração da resposta à terapêutica anti-reabsortiva óssea. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático – NTx; Eletroquimioluminescência – CTx. AMOSTRA: Urina, 2ª micção da manhã – NTx; Plasma – CTx. Insulina É um peptídeo sintetizado pelas células beta das ilho tas de Langerhans do pâncreas, e sua secreção é con trolada pelos níveis de glicemia, estímulos nervosos e hormonais. O achado de insulinemia inapropria damente elevada (acima de 10mcU/mL) em relação à hipoglicemia (glicemia abaixo de 40mg%) sugere o diagnóstico de insulinoma. Na maior parte das ve zes, é suficiente um jejum de 12 a 16 horas para que a hipoglicemia se instale. Apenas raramente, é pre ciso estender o jejum por até 72 horas. Além de sua indicação no diagnóstico do insulinoma, a dosagem de insulina pode ser empregada para os estudos de outras causas de hipoglicemia. Diversas formas de resistência à insulina, por diferentes meca Teste do tiazídico/teste de PAK TESTE DO TIAZÍDICO Utiliza a propriedade deste diurético em diminuir a excreção de cálcio urinário. Em pacientes com cálcio sérico normal ou pouco elevado, o uso de um tiazídico por sete a 10 dias pode ser acompanhado pela elevação da calcemia, em casos de hiperpa nismos, vêm sendo descritas. A causa mais conhecida é a que acompanha a obesidade, com níveis de insulina elevados e res posta exagerada após a sobrecarga glicídica. Nestes casos, há elevação da insulinemia diante de níveis normais ou altos de glicemia. A dosagem da insulinemia se altera com a presença de anticorpos anti-insulina; nesses casos, a dosagem do peptí deo C pode ser usada para o estudo de secreção da insulina. ratireoidismo primário. INDICAÇÕES: TESTE DE PAK – Diagnóstico diferencial das hipoglicemias; Avalia a excreção de cálcio e a influência do PTH. Sua primei – Diagnóstico do insulinoma; – Diagnóstico dos estados de resistência à insulina. ra etapa analisa se a hipercalciúria é proveniente de absorção MÉTODO: Eletroquimioluminescência. intestinal aumentada ou da ação do PTH em nível ósseo (reab AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). sorção). A segunda parte do teste avalia se a reabsorção óssea aumentada pode ser bloqueada por uma sobrecarga de cálcio. Ou seja, se há hiperparatireoidismo primário ou secundário. Para avaliação da resistência insulínica podem ser utilizados os índices: HOMA: glicose de jejum (mmol/L) x insulina de jejum (µU/mL) / 22,5 QUICKI: 1 / [log (insulina de jejum) + log (glicemia de jejum)] Peptídeo C Após a clivagem da pró-insulina, o peptídeo C é secretado em proporção equimolar, junto com a insulina, embora, ao con trário dela, não sofra extração hepática. Sua dosagem não se altera na presença de anticorpos anti-insulina, refletindo, nes tes casos, melhor que a insulina, a capacidade secretória das células beta. Sua principal utilização é a avaliação da reserva de 136 res baixos indicariam indivíduos insulino-dependentes; porém, preditivo: anticorpo anti-insulina, anticorpo antidescarboxila não se consegue uma identificação completa destes pacientes se do ácido glutâmico (GAD) e anticorpo anti-ilhota pancre pela avaliação dos níveis basais ou estimulados do peptídeo ática. A associação dos três eleva a 95% o risco de desenvolvi C. A hipoglicemia factícia caracteriza-se por níveis elevados de mento da doença em cinco anos. Duas isoformas do anticorpo insulina e níveis indetectáveis do peptídeo C. Na presença de antidescarboxilase do ácido glutâmico (GAD) têm sido identifi hipoglicemia, valores elevados podem ser encontrados em ca cadas: uma com peso molecular de 65 KDa e outra de 67KDa. sos de insulinoma. GAD 65 é a forma predominante em ilhotas humanas e tem INDICAÇÕES: Avaliação da secreção da insulina endógena; diag demonstrado ser a de maior alvo para os anticorpos no diabe o de hipoglicemia factícia. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático por quimioluminescência. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Anticorpo anti-ilhota pancreática 512 (IA-2) O diabetes tipo 1 é considerado uma doença crônica auto-imune. A identificação de auto-anticorpos contra antígenos poten cialmente implicados na patogênese da doença tem sido im portante em seu estudo preditivo. Vários anticorpos são hoje pesquisados, porém três se destacam como de valor preditivo do diabetes tipo 1: anticorpo anti-insulina, anticorpo antides carboxilase do ácido glutâmico (GAD) e anticorpo anti-ilhota pancreática. A associação dos três eleva a 95% o risco de desen volvimento da doença em cinco anos. O desenvolvimento de um ensaio mais específico contra o antígeno 512 da célula da ilhota (IA-2) apresenta positividade de 64% em diabéticos tipo 1 de aparecimento recente. INDICAÇÕES: – Diagnóstico da etiologia auto-imune do diabetes tipo 1; – Hiperglicemia transitória da infância; – Predição do diabetes mellitus tipo 1 em pessoas de alto risco para o desenvolvimento da doença: parentes em primeiro grau, gêmeos monozigóticos discordantes e portadores de outras doenças auto-imunes; – Indicador de futura insulino-dependência em diabetes ges tacional e diabetes tipo 2; – Diagnóstico de recorrência de insulite auto-imune em diabé ticos transplantados pancreáticos e monitoração durante o curso de imunoterapia. MÉTODO: Radioimunoensaio (RIE). AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Anticorpo antidescarboxilase do ácido glutâmico (GAD) O diabetes mellitus tipo 1 é considerado uma doença crônica auto-imune. A identificação de auto-anticorpos contra antíge nos potencialmente implicados em sua patogênese tem sido importante no estudo preditivo da doença. Vários anticorpos tes tipo 1. Comparado a outros anticorpos, a dosagem de antiGAD tem apresentado maior positividade em adultos, poden ENDOCRINOLOGIA são hoje pesquisados, porém três se destacam como de valor PÂNCREAS insulina endógena, auxiliando na orientação terapêutica. Valo do ser indicador de futura insulino-dependência em diabetes gestacional e pacientes com diabetes tipo 2. INDICAÇÕES: – Diagnóstico da etiologia auto-imune do diabetes tipo 1; – Hiperglicemia transitória da infância; – Predição do diabetes mellitus tipo 1 em pessoas de alto risco para o desenvolvimento da doença: parentes em primeiro grau, gêmeos monozigóticos discordantes e portadores de outras doenças auto-imunes; – Indicador de futura insulino-dependência em diabetes ges tacional e diabetes tipo 2; – Diagnóstico de recorrência de insulite auto-imune em diabé ticos transplantados pancreáticos e monitoração durante o curso de imunoterapia. MÉTODO: Radioimunoensaio (RIE). AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Anticorpo anti-insulina O diabetes tipo 1 é considerado uma doença auto-imune crôni ca. A identificação de auto-anticorpos contra antígenos poten cialmente implicados em sua patogênese tem sido importan te no estudo preditivo da doença. Vários anticorpos são hoje pesquisados, porém três se destacam como de valor preditivo: anticorpo anti-insulina, anticorpo antidescarboxilase do ácido glutâmico (GAD) e anticorpo anti-ilhota pancreática. O primei ro apresenta positividade de quase 100% nos diabéticos tipo 1 com menos de cinco anos de idade, passando para 62% nos pacientes entre cinco e 15 anos, e para 15% depois dessa idade. INDICAÇÕES: – Diagnóstico da etiologia auto-imune do diabetes mellitus tipo 1, sem uso prévio de insulina; – Hiperglicemia transitória da infância; – Predição do diabetes mellitus tipo 1 em pessoas de alto risco para o desenvolvimento da doença: parentes em primeiro grau, gêmeos monozigóticos discordantes e portadores de outras doenças auto-imunes. 137 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA MÉTODO: Radioimunoensaio (RIE). TUBO DIGESTIVO AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Testes funcionais nas hipoglicemias – Teste de tolerância à glicose oral prolongado (com dosagem Ácido 5-hidroxi-indol-acético (5HIAA) de glicose e insulina). – Teste do jejum prolongado (com dosagem de glicose e in Vide capítulo de Química e Toxicologia. sulina). TESTE DE TOLERÂNCIA À GLICOSE ORAL INDICAÇÃO: O TTGO prolongado é empregado no diagnósti co diferencial das hipoglicemias. Procura-se reproduzir o que ocorre no período pós-prandial. Como não é muito específico, reserva-se apenas ao estudo de alguns casos particulares de hipoglicemia. Para o diagnóstico de insulinoma, indica-se o teste do jejum prolongado. A glicose deve se manter acima de 40mg/dL em todos os tempos. Não há padrão de resposta de insulina para avaliação deste teste. TÉCNICA: Coleta de sangue basal para dosagem de glicose (tubo com fluoreto) e insulina (tubo sem anticoagulante). Ad ministração por via oral de glicose (75 g; em crianças – 1,75g/kg de peso, máximo de 75g). Coleta de sangue aos 30, 60, 120, 180, 240 e 300 minutos após sobrecarga. CUIDADOS: Hipoglicemia reacional. Leptina Hormônio produzido nos adipócitos, é importante para a re gulação do peso corporal. Atua em receptores específicos no hipotálamo, modulando o apetite e a termogênese. Níveis au mentados diminuem o apetite e aumentam a termogênese. Mutações em seu gene, assim como defeitos em seu receptor, estão associadas à obesidade. Seus níveis podem sofrer a ação de outros hormônios: eleva-se sob a ação da insulina, estradiol e glicocorticóides; e é reduzido pela ação do IGF-I . Gastrina É um hormônio polipeptídico secretado pelas células G da mucosa antral gástrica e pelas células duodenais proximais. Valores elevados são detectados em situações que cursam com hipo ou acloridria, na anemia perniciosa, no carcinoma gástrico, na gastrite atrófica, úlcera gástrica após vagotomia e na insuficiência renal crônica. A ingestão de aminoácidos e drogas, como o carbonato de cálcio, cloreto de cálcio e insu lina, são capazes de elevar os níveis de gastrina, enquanto a atropina diminui. Quando o valor da gastrinemia está acima de 1.000pg/mL em pacientes com hipercloridria, torna-se bas tante provável o diagnóstico da síndrome de Zollinger Elisson. Esta síndrome caracteriza-se por severa ulceração péptica do trato gastrointestinal e pela hipersecreção ácida gástrica, devido à excessiva produção de gastrina por tumores pancreáticos de células não-beta (gastrinomas). Valores abaixo de 1.000pg/mL são encontrados em 50% dos gastrinomas. Nestes casos, é ne cessário recorrer a testes diagnósticos (estímulo com cálcio ou secretina). INDICAÇÃO: Diagnóstico do gastrinoma (síndrome de Zollinger Elisson). MÉTODO: Ensaio imunoenzimático por quimioluminescência. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Testes de estímulo INDICAÇÃO: Estudo da obesidade. Com infusão de cálcio (com dosagem de gastrina e cálcio). MÉTODO: Radioimunoensaio (RIE). Com secretina (com dosagem de gastrina). AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). O teste de infusão de cálcio é realizado pela administração venosa de gluconato de cálcio a 10% (2mg/kg/hora a 4mg/kg/ hora) por três horas. Dosa-se a gastrina basal periodicamente (30 em 30 minutos durante três horas). Como critério diag nóstico, o teste será considerado positivo se ocorrer aumento de 400pg/mL. O teste provocativo com a secretina é realizado pela adminis tração de 1U/kg a 2U/kg em 10mL de soro fisiológico em bolus. Colhe-se sangue basal em 2, 5, 10 e 20 minutos após a infusão. 138 à 12ª semana, quando atingem seu pico. Segue-se um rápido declínio e logo depois o nível se estabiliza. Em geral, no início da gravidez, a cada 36 a 48 horas há uma duplicação do valor anterior. A elevação de hCG é sinal de uma gestação saudável. Devido à grande amplitude de variações, sua dosagem não tem valor na avaliação de tempo gestacional. Nas gestações múltiplas, os níveis encontrados são mais elevados. Dosagens seriadas podem ajudar a esclarecer situações como gestações Eritropoietina É um hormônio glicoprotéico, produzido principal mente pelos rins, cuja função primordial é a prolife ração e a diferenciação das células progenitoras das hemácias na medula óssea. Sua determinação é útil na investigação de anemia, no diagnóstico diferen cial das policitemias, na monitoração dos níveis te rapêuticos de eritropoietina recombinante e como marcador tumoral. Seus níveis séricos podem estar diminuídos na policitemia primária, insuficiência renal e hipertransfusão. Níveis aumentados podem ser encontrados em diferentes tipos de anemias (pós sangramento, ferropriva e anemia aplásica), condições que le vem à hipoxia generalizada (patologias cardiorrespiratórias, al titudes elevadas), estenose da artéria renal, doença cística renal, transplante renal e determinados tumores que podem secretar eritropoietina, como hemangioblastoma cerebelar, feocromoci toma, hepatoma, nefroblastoma e adenocarcinoma renal. MÉTODO: Radioimunoensaio (RIE). AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ectópicas ou abortamento. Na prenhez ectópica, deve-se to mar cuidado na interpretação dos valores de hCG, pois nesses casos a secreção é menor do que na gravidez intra-uterina. Nos casos de abortamento, os níveis caem pela metade a cada 36 a 48 horas. Outros tecidos podem produzir hCG, sendo útil no diagnósti co e acompanhamento de tumores trofoblásticos, e em outras malignidades que podem produzir hCG ectopicamente, como insulinoma, carcinomas de pulmão, pâncreas, estômago, cólon, fígado e mama. No homem, sua dosagem é útil para o diag nóstico e monitoramento terapêutico de malignidades testi culares. Resultados falso-positivos podem ocorrer com o uso de medicamentos baseados em hCG. INDICAÇÕES: – Diagnóstico da gravidez; – Avaliação da gravidez; ENDOCRINOLOGIA Os valores se elevam exponencialmente até por volta da 10ª ou 10 minutos. RASTREAMENTO NEONATAL paciente permaneça em amenorréia. gastrinoma mostram aumento de no mínimo 200pg/mL aos 5 GRAVIDEZ ou nos pacientes com úlcera duodenal comum; pacientes com RENAL dos níveis de hCG, indicando-se a repetição do exame caso a TUBO DIGESTIVO Variações menores do que 30% ocorrem em pessoas normais – Avaliação da gestação múltipla; – Avaliação da prenhez ectópica; – Diagnóstico e acompanhamento da mola hidatiforme e do coriocarcinoma; – Diagnóstico dos tumores de células germinativas no ho mem. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático por quimioluminescência. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Hormônio gonadotrófico coriônico (hCG) É um hormônio glicoprotéico, produzido pelas células do sinciciotrofoblasto da placenta, útil no diagnóstico precoce da gravidez, usualmente após o segundo dia de atraso menstrual ou 16 dias após a concepção. Em alguns casos, pode ocorrer uma detecção mais tardia É composto por um conjunto de exames que auxi liam no diagnóstico precoce de diferentes patologias. Realizado através do “teste do pezinho”, rastreia doen ças metabólicas, genéticas e infecciosas. 139 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Desta maneira, o diagnóstico poderá ser feito em fase pré relacionado à imaturidade. As amostras são colhidas a partir sintomática, possibilitando tratamento adequado, tentando das primeiras 48 horas após o parto, quando seu nível começa modificar a evolução da doença e limitando os possíveis danos a se estabilizar. Quando o resultado for abaixo do valor inferior que ela geraria. É feito pela análise de amostras de sangue co de referência, deve-se dosar na mesma amostra o TSH. Valo letadas do calcanhar do recém-nascido colhidas o mais breve res diminuídos de T4 são também encontrados em casos de possível a partir do 3º dia de vida. Como se trata de um teste prematuridade, baixo peso ao nascer, doença neonatal severa de triagem, em caso de alterações é necessária a coleta de uma e deficiência congênita de TBG, que está presente em 1/7.500 nova amostra para complementação do estudo ou para confir recém-nascidos. Um resultado de T4 baixo com TSH elevado mação do resultado. obriga a confirmação imediata do resultado (com dosagem no PERFIL DE EXAMES: – T4 neonatal; soro) e início da terapia. Pode haver casos de T4 baixo com au mento tardio de TSH. – TSH neonatal; INDICAÇÃO: Diagnóstico precoce do hipotireoidismo congênito. – Fenilalanina (PKU); MÉTODO: Ensaio imunofluorimétrico. – 17-alfa-OH-progesterona neonatal; – Cromatografia de aminoácidos; – Tripsina imunorreativa (IRT); – Galactose e galactose-1-fosfato (Galactosemia); – Hemoglobinopatias; – Glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD); – Atividade da biotinidase; – HIV neonatal; – Toxoplasmose congênita; – Citomegalovirose congênita; – Doença de Chagas congênita; – Rubéola congênita; – Sífilis congênita; – Deficiência de MCAD. Utilizando-se a metodologia de espectrometria de massa em Tandem podem ser detectadas as seguintes doenças: – Aminoacidopatias; – Acidemias orgânicas; – Defeitos na beta-oxidação dos ácidos graxos. AMOSTRA: Sangue total (por punção do calcanhar). TSH Neonatal Aproximadamente um em cada 3.500 recém-nascidos é por tador de hipotireoidismo congênito primário que, se não tra tado a tempo, terá como conseqüência uma deficiência men tal severa. A doença é provocada pela produção deficiente de hormônios da tireóide, e sua causa mais comum, em cerca de 85% dos casos, é a disgenesia tireoidiana (aplasia, hipoplasia, tireóide ectópica). Aproximadamente 5% dos recém-nascidos portadores apresentam sintomas antes do primeiro mês de vida. Há uma prevalência mais elevada em regiões deficientes de iodo. A freqüência do hipotireoidismo central (hipotalâmico ou hipofisário) é de 1/100.000. O TSH apresenta um pico durante as primeiras 24 horas após o parto, e as amostras de sangue devem ser colhidas 48 horas depois do parto. Em geral, são considerados normais valores até 10mUI/mL; no caso de valores entre 10 e 20mUI/mL, deve ser feita uma nova coleta de papel de filtro ou soro; e para T4 Neonatal Aproximadamente um em cada 3.500 recém-nascidos é por tador de hipotireoidismo congênito primário que, se não tra tado a tempo, terá como conseqüência uma deficiência men tal severa. A doença é provocada pela produção deficiente de hormônios da tireóide, e sua causa mais comum, em cerca de 85% dos casos, é a disgenesia tireoidiana (aplasia, hipoplasia, tireóide ectópica). Somente cerca de 5% dos recém-nascidos portadores apresentam sintomas antes do primeiro mês de vida. Há uma prevalência mais elevada em regiões deficientes de iodo. A freqüência do hipotireoidismo central (hipotalâmico ou hipofisário) é de 1/100.000. A tiroxina aumenta nas primeiras 48 horas após o parto, au mento menos pronunciado em prematuros e inversamente 140 valores acima de 20mUI/mL, deve ser feita avaliação clínica e dosagem sérica. Se o T4 estiver normal e o TSH elevado, pode mos ter um caso de hipertireotrofinemia transitória ou ainda de hipotireoidismo “compensado”. Nestes casos, aconselha-se o tratamento do recém-nascido e novo estudo do caso poste riormente. Devido à sua alta especificidade e sensibilidade, a dosagem do TSH é o método de rastreamento de escolha para detecção do hipotireoidismo neonatal, adotado por vários pro gramas em diversos países. Suas limitações são a não-identificação de hipotireoidismo central e os raros falso-negativos de TSH com elevação tardia. INDICAÇÃO: Detecção precoce do hipotireoidismo congênito. MÉTODO: Ensaio imunofluorimétrico. AMOSTRA: Sangue total (por punção do calcanhar). cessivo, causado por uma deficiência da enzima fenilalanina hidroxilase, que leva a uma incapacidade de metabolizar o aminoácido fenilalanina, fazendo com que ele se acumule no sangue. Sua incidência é em torno de 1/15.000 recém-nascidos. Costuma ser assintomática nos primeiros meses de vida, sendo o rastreamento importante para que se possa detectar precocemente a doença e instituir-se de imediato a alteração dietética que irá prevenir a deficiência neuropsicomotora e o déficit mental decorrentes desse distúrbio metabólico. A do sagem de fenilalanina deve ser realizada após as primeiras 48 horas de vida, depois que a criança tenha recebido alimenta ção protéica, para evitar-se os resultados falso-negativos. Va lores acima de 4mg% deverão ser confirmados com dosagem sérica de fenilalanina e tirosina. INDICAÇÃO: Detecção precoce de fenilcetonúria. MÉTODO: Ensaio enzimático quantitativo. AMOSTRA: Sangue total (por punção do calcanhar). 17-Alfa-hidroxiprogesterona neonatal É o metabólito que se acumula preferencialmente no defeito da 21-hidroxilase (enzima da esteroidogênese adrenal), causa mais comum de hiperplasia adrenal congênita. A doença pode se manifestar nas formas clássica ou não-clássica, com ou sem perda de sal. A forma clássica virilizante é acompanhada de masculinização da genitália externa em meninas, enquanto nos meninos pode ser assintomática ao nascimento. Em am bos os sexos, é acompanhada por perda de sal, com desequilí A fibrose cística ou mucoviscidose é uma doença autossômi ca recessiva, que ocorre em indivíduos homozigotos ou duplo heterozigotos para mutações no gene que codifica a proteína responsável pelo transporte na membrana celular, a CFTR. Esta proteína atua como um canal de cloro, regula o transporte de sódio e é importante no balanço de sal e água. Um defeito na CFTR leva à diminuição do transporte de cloro e ao aumento do transporte de sódio, alterando o balanço hídrico. As secreções tornam-se mais espessas, afetando principalmente os pulmões e o pâncreas. Ocorrem infecções pulmonares de repetição, com doença obstrutiva crônica e, devido à deficiência exócrina do pâncreas, a nutrição fica ainda mais prejudicada, com um con seqüente baixo peso. É causa de íleo meconial em recém-nascidos e de infertilidade nos homens afetados pela doença. Na Europa e nos EUA, a fibrose cística ocorre na freqüência de 1/2.000 a 2.500 nascimentos. Mais de 900 mutações são co nhecidas, variando de acordo com a população. Mutações di ferentes provocam quadros clínicos diferentes, embora nem todas levem a doenças clínicas. Mesmo tratando-se de uma doença incurável, o diagnóstico precoce melhora a qualidade de vida e o tempo de sobrevida. A dosagem de tripsina imu norreativa (IRT) tem sido utilizada nesse tipo de triagem. A IRT sobe no sangue devido à obstrução pancreática. Nos casos alterados, o resultado deve ser confirmado por outros testes, como a análise molecular do DNA e a dosagem de eletrólitos no suor. O exame deve ser realizado precocemente, pois os va lores de IRT, mesmo nos pacientes afetados, decrescem a partir do primeiro mês de vida. brio hidroeletrolítico. INDICAÇÃO: Detecção precoce da fibrose cística. As meninas portadoras da forma não-clássica podem apresen MÉTODO: Ensaio imunofluorimétrico. tar hirsutismo, amenorréia e infertilidade. Os níveis elevados de 17-OH progesterona no sangue de recém-nascidos são su gestivos desta patologia. Para complementação diagnóstica, pode se recorrer ao seqüenciamento parcial ou completo do gene da 21-hidroxilase. O diagnóstico precoce é importante para o tratamento adequado da hipotensão neonatal e para evitar a virilização. Os prematuros apresentam níveis mais ele vados de 17-OHP. INDICAÇÃO: Detecção precoce da hiperplasia adrenal congênita. MÉTODO: Ensaio imunofluorimétrico. AMOSTRA: Sangue total (por punção do calcanhar). ENDOCRINOLOGIA A fenilcetonúria é um distúrbio hereditário autossômico re Tripsina imunorreativa (IRT) RASTREAMENTO NEONATAL Fenilalanina (PKU) AMOSTRA: Sangue total (por punção do calcanhar). Galactose e galactose-1-fosfato (Galactosemia) É uma anormalidade metabólica autossômica recessiva, pre sente em um em cada 50 mil recém-nascidos, que cursa com ausência da conversão da galactose em glicose. Na maioria dos casos, a deficiência é da enzima galactose-1-fosfato uridil-transferase, acumulando galactose e galactose-1-fosfato. Como a galactose não é absorvida, acumula-se no sangue e nos tecidos. A galactose e a lactose do leite não são meta bolizadas pela criança, que começa a ter vômitos, parada do crescimento, hepatomegalia, icterícia, proteinúria, aminoacidú- Cromatografia de aminoácidos Vide capítulo de Química e Toxicologia. ria, ascite e edema. Se o diagnóstico não for feito de forma pre coce e o tratamento instituído rapidamente, pode haver retardo mental e catarata. A triagem neonatal é feita pela dosagem de 141 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA galactose e de galactose-1-fostato em papel de filtro. Também A positividade do exame para anticorpos anti-HIV em crianças se pode avaliar a atividade da galactose-1-fosfato uridil-transfe- até 18 meses pode significar apenas infecção materna, devido rase, porém essa dosagem pode não detectar a doença quando à passagem dos anticorpos para o feto. Assim, esses bebês de ela for provocada pela ausência de outras enzimas. INDICAÇÃO: Detecção precoce da galactosemia. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático quantitativo. AMOSTRA: Sangue total (por punção do calcanhar). Hemoglobinopatias Vide capítulo de Hematologia. Glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) em ser submetidos a testes mais específicos para a detecção do vírus. INDICAÇÃO: Diagnóstico precoce da infecção congênita pelo HIV. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue total (por punção do calcanhar). Toxoplasmose congênita A toxoplasmose é uma doença infecciosa sistêmica, causada pelo protozoário Toxoplasma gondii. Usualmente é uma doen benigna em adultos, porém pode atingir o feto quando a Vide capítulo de Hematologia. mulher é infectada durante a gravidez, causando a toxoplas Atividade da biotinidase variar dependendo do período de gravidez em que ocorreu a A biotinidase é uma enzima hidrolítica que libera biotina (vita mina H) dos alimentos e de proteínas orgânicas. Sua ausência leva à deficiência de biotina, um co-fator essencial para a ati vidade de diversas enzimas com função de carboxilase. A de ficiência de biotinidase é uma doença autossômica recessiva, cuja freqüência varia de acordo com o nível de atividade enzi mática: com menos de 10% da atividade normal, a freqüência congênita. As manifestações nos recém-nascidos podem infecção materna, podendo provocar aborto espontâneo, nas to prematuro, calcificações intracranianas, microcefalia, coriorretinite, complicações auditivas e retardo mental. Alguns recém-nascidos infectados não apresentam sintomas, porém podem desenvolver complicações da doença posteriormente. No teste do pezinho é realizada a pesquisa de anticorpo IgM antitoxoplasma, para avaliação da infecção ativa. é de 1/137.000; e com menos de 30% da atividade normal, a INDICAÇÃO: Diagnóstico precoce da toxoplasmose congênita. freqüência é de 1/61.000. Os sintomas variam de acordo com MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. o grau da insuficiência enzimática. Nos casos mais severos, há convulsões, hipotonia, problemas respiratórios e atrofia ótica. A principal complicação da deficiência de biotinidase não tra tada é o retardo mental. O tratamento consiste na suplemen tação oral de biotina. INDICAÇÃO: Diagnóstico precoce da deficiência da biotinidase. MÉTODO: Colorimetria. AMOSTRA: Sangue total (por punção do calcanhar). HIV Neonatal O HIV é o agente etiológico da síndrome da imunodeficiência adquirida (Sida ou Aids). Pode ser transmitido por via sexual, pelo contato com sangue contaminado através de transfusão ou uso de seringas e agulhas contaminadas. A mulher grávida infectada pode transmitir o HIV para o feto através da passa gem pela placenta, durante o parto ou para o recém-nascido na AMOSTRA: Sangue total (por punção do calcanhar). Citomegalovirose congênita A infecção pelo citomegalovírus é considerada a causa mais comum de infecção congênita. A infecção do feto pode ocor er devido à passagem do vírus pela placenta durante a infec o primária da mulher grávida e mais raramente durante a reativação da doença durante a gravidez. Pode também haver infecção do recém-nascido durante o parto ou pelo aleitamen materno. O recém-nascido pode não apresentar sintomas, porém pode desenvolver problemas neurológicos e visuais posteriormente. Os vários sintomas da doença podem incluir encefalite, alterações hematológicas e surdez. INDICAÇÃO: Diagnóstico precoce da citomegalovirose congênita. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue total (por punção do calcanhar). amamentação. Como a incidência da infecção pelo HIV vem aumentando progressivamente entre as mulheres, o número de crianças infectadas por transmissão congênita ou perinatal pode aumentar, caso a grávida infectada não seja tratada. 142 Rubéola congênita A infecção pelo vírus da rubéola durante a gravidez pode levar à infecção do feto causando a rubéola congênita. As formas mãe apresente poucos sintomas. A infecção fetal pode levar a diferentes sintomas, entre eles o aborto, defeitos cardíacos, de ência auditiva, catarata e alterações do sistema nervoso. INDICAÇÃO: Diagnóstico precoce da rubéola congênita. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue total (por punção do calcanhar). Doença de Chagas congênita A doença de Chagas é uma doença parasitária transmitida atra és da picada de um inseto conhecido como barbeiro. A doen a pode ser transmitida também por transfusão de sangue infectado e da mulher grávida para o feto através da placenta. ENDOCRINOLOGIA dá no início da gravidez, no primeiro trimestre, mesmo que a RASTREAMENTO NEONATAL mais graves da doença podem ocorrer quando a infecção se A doença crônica pode se manifestar vários anos após a infec- ção, causando principalmente sintomas cardíacos. A doença de Chagas ocorre principalmente na área rural e tem incidência alta em alguns estados, entre eles, Minas Gerais, Sergipe, Bahia, Goiás e Rio Grande do Sul. INDICAÇÃO: Diagnóstico precoce de doença de Chagas con ênita. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue total (por punção do calcanhar). Sífilis congênita A sífilis é uma doença sexualmente transmitida. Mulheres grávidas com sífilis podem transmitir a infecção para o feto através da placenta ou para o recém-nascido durante o parto. A infecção congênita pode levar ao aborto. O recém-nascido infectado pode nascer sem sintomas, adoecendo após vários anos, ou já nascer com sintomas nos primeiros dias de vida, apresentando, entre outras, alterações na pele, nos ossos e no sistema nervoso. INDICAÇÃO: Diagnóstico precoce da sífilis congênita. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue total (por punção do calcanhar). 143 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA F L U I D O S B I O L Ó G I C O S Ao longo da evolução, os organismos vivos foram desenvolvendo meios especiais de comunicação, que permitiram uma integração contínua entre suas diversas estruturas anatômicas, tecidos e órgãos e também com o meio ambiente. A capacidade de manter o equilíbrio desta comunicação representa uma das grandes conquistas da evolução da espécie humana. O complexo metabolismo do homem exige uma regulação rigorosa do pH, composição iônica e volume líquido; e dentre os vários mecanismos envolvidos, nenhum é tão importante quanto aquele exercido pelos rins. Eles processam a urina e cuidam da resposta a fatores ambientais e metabólicos, modificando composição e volume, de forma a manter a constância dos líquidos orgânicos. A análise da urina como meio de diagnóstico remete-se à antiguidade. Foram encontradas inscrições de aproximadamente 4000 a.C., de povos egípcios e mesopotâmicos, dentre outros, com a interpretação da urina, com base em seus aspectos e características. Por volta de 400 a.C. Hipócrates fez o primeiro relato racional das observações da urina, referentes a situações clínicas do paciente para propósitos diagnósticos. Ainda que, por volta do século XVII, a uroscopia tenha sido usada fraudulentamente por charlatães que prediziam todo o tipo de doença, gravidez e também eventos futuros, o uso cuidadoso dessa análise foi, indiscutivelmente, uma parte importante do diagnóstico, mesmo antes da avaliação química, sendo o líquido corpóreo predominante para avaliar prognósticos. Por mais de 500 anos pinturas renascentistas retrataram médicos inspecionando frascos de urina. Redondos, transparentes e em formato de bexiga, o modelo tradicional destes frascos, denominados “matula”, é creditado a Johanes Actuarius, médico da corte bizantina e também autor de um elaborado tratado em uroscopia, compilado de autores árabes e gregos. A “matula” tornou-se o emblema do profissional médico em seu atendimento domiciliar. Embora não dispusesse de métodos sofisticados, ele obtinha, através da observação da variação de cor, odor, volume, turvação e até mesmo da presença de açúcar na amostra por sua capacidade em atrair formigas, informações valiosas sobre diversas patologias. Crítico contundente do diagnóstico de doenças através da aparência da urina, Paracelsus (1493 -1541) utilizou seus conhecimentos em alquimia para adicionar uma dimensão química à análise. Acreditava se, então, que a anatomia humana se espelhava na observação da seqüência dos vapores e respingos da fervura pela destilação da urina, sendo o sítio da doença possível de ser assim localizado. Ainda nesta época, encontram-se descritos, como auxílio diagnóstico, discos organizados em cores, cujas subdivisões em várias tonalidades levavam a diferentes referências de condições clínicas. 146 07 Fluidosbio BOOK 16.indd 146 26.10.06 17:38:28 FLUIDOS BIOLÓGICOS Usada por médicos sérios, a uroscopia foi, indiscutivelmente, um procedimento lógico, baseado na patologia, na fisiologia humoral e na doutrina do equilíbrio dos quatro humores: sangue, fleuma, bile amarela e bile negra. Com o advento do microscópio, a observação de várias substâncias, fluidos, tecidos e células através de suas lentes tornou possível avaliações mais complexas para o auxílio diagnóstico. Recentemente, várias características físicas ainda são utilizadas como parte da rotina de análise urinária, agora associadas a métodos sofisticados para a avaliação das características bioquímicas, microscópicas e de sedimento urinário. O laboratório, hoje, está apto a oferecer ao médico uma cadeia extraordinária de análises em vários fluidos corpóreos, como liquor, líquido pleural, líquido sinovial, líquido espermático, líquido amniótico, entre outros. No entanto, mesmo considerando os avanços tecnológicos da última época, a urina foi praticamente o líquido biológico mais utilizado na maioria dos propósitos diagnósticos durante o século XX. 147 07 Fluidosbio BOOK 16.indd 147 26.10.06 17:38:29 BIOINFORME URINÁLISE COR A cor amarela normal da urina se deve à presença de um pig mento denominado urocromo, produto do metabolismo en SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA dógeno. Em uma amostra recém-emitida, a intensidade da cor Elementos anormais e sedimento – EAS Historicamente, o EAS é um dos exames mais utili zados para avaliar as principais funções metabólicas do organismo, doenças renais, infecções urinárias, doenças sistêmicas e grau de hidratação, através da urina. Hoje, os métodos automatizados permitem uma avaliação padronizada dos elementos presentes na amostra examinada, por meio de leitores ópticos de tiras reagentes. Outra grande contribuição tecnológica é a análise automatiza da do sedimento urinário por meio da citometria de fluxo asso ciada à impedância, que permite a quantificação, em unidades por microlitro, de leucócitos, hemácias e cilindros patológicos, e um melhor follow up das diversas patologias renais. Estes avanços, hoje, tornam possíveis resultados mais precisos, reprodutíveis e menos subjetivos. A contribuição dos profissio nais fica, deste modo, voltada para os casos em que o conhe cimento e a experiência agregam valor à análise, e o recurso de técnicas complementares que possam concorrer para um melhor diagnóstico. MÉTODO: Elementos anormais: qualitativo por tiras reagentes. Sedimento: quantitativo por citometria de fluxo e análise mi oscópica. AMOSTRA: Primeira urina da manhã ou após quatro horas da última micção (frasco plástico). Exame Físico ASPECTO A urina normal recém-emitida é transparente ou com pouca opacidade devido à precipitação de fosfatos e uratos amorfos, carbonatos, cristais de oxalato de cálcio e de ácido úrico. Tam bém pode haver opacidade normal pela presença de muco ou células epiteliais, principalmente em mulheres. A turvação na urina, em geral, resulta da presença de leucó citos, hemácias, células epiteliais, bactérias e cristais amorfos. E, com menor freqüência, da presença de lipídios, muco, linfa, cristais, leveduras e matéria fecal. pode fornecer uma estimativa aproximada da concentração urinária. As diferenças de tom (pálido ou escuro) são normais devido às variações do estado de hidratação do paciente. As colorações anormais da urina são numerosas. As mais fre qüentes são o vermelho, variando de rosado a negro pela pre sença de sangue, hemoglobina ou mioglobina, e o amarelo-escuro ou âmbar pela presença anormal do pigmento bilirrubina. DENSIDADE O volume e a concentração de solutos excretados na urina são controlados pelo rim, que assim mantém a homeostase dos fluidos e eletrólitos corpóreos. A densidade é definida pela habilidade renal em controlar a concentração e diluição da urina. Esse complexo processo de reabsorção muitas vezes é a primeira manifestação de uma lesão renal. A densidade de uma amostra é definida não só pelo número de partículas pre sentes, mas também por seu tamanho. E os principais respon sáveis por essa densidade são a uréia, os cloretos e os fosfatos. Quando presentes, a glicose e os contrastes radiológicos tam bém elevam de forma importante a densidade urinária. Em amostras normais, colhidas ao acaso, a densidade média varia entre 1.015 a 1.025. Para urinas com densidade de 1.010, usa-se o termo isostenúria; para valores abaixo de 1.010, hipostenúria; e para os valores acima, hiperestenúria. Exame Químico PH URINÁRIO Em geral, o pH da urina varia entre 4,5 e 8. Valores de pH acima de 8 ou abaixo de 4,5 não são fisiologicamente possíveis, não sendo por isso avaliados no exame da urina por fitas reagentes. Um pH 9 está associado à conservação incorreta da amostra. O pH urinário aumenta em dietas ricas em frutas e vegetais, alcalose metabólica sem perda de potássio, vômitos prolonga dos, alcalose respiratória, infecção do trato urinário por micror ganismos que utilizam a uréia (por exemplo: Proteus spp., Pseu domonas spp.), após refeições, acidose tubular renal, síndrome de Fanconi e terapia alcalina. Diminui em dietas ricas em proteínas, acidose metabólica (por exemplo: acidose diabética), alcalose metabólica por perda de potássio, acidose respiratória, infecções do trato urinário por Escherichia coli, dietas hipoclóricas e diarréias severas. 148 07 Fluidosbio BOOK 16.indd 148 26.10.06 17:38:29 ria) é, com freqüência, o primeiro indicador de doença renal. A proteinúria, no entanto, não é uma característica exclusiva de todas as doenças renais; outras condições não renais também podem aumentar essa excreção de proteínas. Classificada em quatro categorias – pré-renal, glomerular, tubular e pós-renal –, a proteinúria tem como principais causas patológicas a lesão da membrana glomerular, reabsorção tubular deficiente, mie loma múltiplo, proteinúria ortostática, pré-eclâmpsia e doen ças renais decorrentes do diabetes mellitus. Freqüentemente, a proteinúria está associada à hemoglobinúria e ao achado de cilindros, hemácias e leucócitos no exame microscópico. Entre fonte energética e as reservas de gordura precisam ser meta bolizadas para gerar energia. A cetose pode ser encontrada em condições associadas à diminuição da ingesta de carboidratos, redução da utilização de carboidratos (diabetes mellitus), dis túrbios digestivos, eclâmpsia, dietas desbalanceadas, vômitos e diarréia. Quando presente, o resultado é expresso em cruzes. BILIRRUBINA Mostra-se elevada nas condições em que a bilirrubina conju gada aumenta no soro. As pesquisas de bilirrubina e de urobili nogênio urinários são úteis no diagnóstico diferencial das icte rícias. A bilirrubinúria está presente nas icterícias obstrutiva e tanto, na presença de um pequeno número de cilindros ou he parenquimatosa, e ausente nas icterícias hemolíticas. mácias, é possível haver resultados negativos para proteinúria. Sensibilidade a partir de 0,5mg/dL. Medicamentos que corem Quando a albumina está presente, o resultado é semiquantita tivo e expresso em cruzes. A análise quantitativa e a interpreta ção de seus valores estão descritas no capítulo de Bioquímica. GLICOSE A quantidade de glicose presente na urina depende de seus níveis no sangue, da taxa de filtração glomerular e do grau de reabsorção tubular. Geralmente, ela aparece na urina quando seus níveis sangüíneos são superiores a 180mg/dL. Seus volu mes no sangue costumam variar ao longo do dia e é normal a glicosúria após uma refeição rica em glicose. Em um adulto em jejum, seu nível na urina varia de 2mg a 20mg de vermelho a urina podem interferir na reação. UROBILINOGÊNIO Normalmente, há uma pequena quantidade (menos de 1mg/ dL) de urobilinogênio na urina. Costuma-se observar a eleva ção desses níveis nas hepatopatias, nos distúrbios hemolíticos e nas porfirinúrias. A ausência de urobilinogênio na urina e nas fezes significa obstrução do ducto biliar, que impede a passa gem normal de bilirrubina para o intestino. A sensibilidade do método é a partir de 0,4mg/dL. Medicamen tos que coram de vermelho a urina podem interferir na reação. por 100mL. É importante lembrar que a primeira urina da ma HEMOGLOBINA nhã nem sempre representa uma amostra de jejum, de modo Hemoglobinúria indica a presença de hemoglobina na urina, o que o paciente deve ser instruído a esvaziar a bexiga e colher a segunda amostra. As causas de glicosúria são diabetes mellitus, doenças que afe tam a reabsorção tubular (como síndrome de Fanconi e doença renal avançada), casos de hiperglicemia não diabética (como as lesões do sistema nervoso central, pancreatite e distúrbios da tireóide) e outras. Quando a glicose está presente na urina, o resultado é expres so em cruzes. A pesquisa por fita reagente tem sensibilidade a partir de 50mg/dL. Mesmo em concentrações elevadas, a influência do ácido ascórbico é consideravelmente eliminada neste método já que, quando a glicose se apresenta a partir de 100mg/dL, não serão prováveis falso-negativos. FLUIDOS BIOLÓGICOS O aumento da quantidade de proteínas na urina (proteinú prometimento na utilização de carboidratos como principal URINÁLISE PROTEÍNAS que pode ocorrer como resultado da lise de hemácias produzi da no trato urinário, ou como resultado de hemólise intravas cular e a conseqüente filtração de hemoglobinas através dos glomérulos. A verdadeira hemoglobinúria, ou seja, hemoglobi na livre passando diretamente o glomérulo para o ultrafiltrado, é pouco comum. A lise de hemácias na urina geralmente apre senta uma mistura de hemoglobinúria e hematúria, mas nos casos de hemólise intravascular não serão encontradas hemá cias. Numerosas doenças renais e do trato urinário podem re sultar em hematúria com hemoglobinúria, como as glomeru lonefrites, pielonefrites, cistites, cálculos e tumores. O mesmo ocorre com algumas doenças extra-renais, como a hipertensão maligna, tumores, episódios agudos de febre, traumas, exercí cios intensos e certas drogas. CETONAS A sensibilidade corresponde a 10 eritrócitos/µL. O ácido ascór As cetonas, que compreendem o ácido acetoacético, a acetona bico não tem influência no resultado do teste. e o ácido beta-hidroxibutírico, são formadas durante o cata bolismo dos ácidos graxos. Normalmente, sua quantidade na urina é indetectável. Pode-se detectá-las quando há um com 149 07 Fluidosbio BOOK 16.indd 149 26.10.06 17:38:29 BIOINFORME Sedimentoscopia período em que permanecem no túbulo, pela presença de íons HEMÁCIAS diâmetro do túbulo no qual foram formados. Cilindros largos, SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA urina de pessoas normais. Todas elas se originam do sistema Em pequenas quantidades, as hemácias são encontradas na vascular, e quando seu número aumenta, significa rompimen to da integridade da barreira vascular, por injúria ou doença, e do pH. O tamanho dos cilindros pode variar em função do por exemplo, indicam a formação em túbulos renais dilatados ou em túbulos coletores. O achado de muitos cilindros cére os indica prognóstico desfavorável. Assim, cada um dos tipos encontrados no sedimento representa diferentes condições na membrana glomerular ou no trato geniturinário. As con clínicas. dições que resultam em hematúria incluem várias doenças Cilindros hialinos renais, como glomerulonefrites, pielonefrites, cistites, cálcu los, tumores e traumas. Qualquer condição que resulte em in flamação ou comprometa a integridade do sistema vascular pode também resultar em hematúria. Em amostras colhidas de mulheres, a possibilidade de contaminação menstrual deve ser considerada. A presença de hemácias e cilindros na urina, que igualmente pode ocorrer após exercícios intensos, tem im São os mais comumente observados na urina, compostos primariamente por uma matriz homogênea de proteína de Tamm-Horsfall. A presença de 0 a 2 por campo de pequeno aumento é considerada normal, assim como quantidades ele vadas em certas situações fisiológicas, como exercício físico intenso, febre, desidratação e estresse emocional. portante valor preditivo positivo no diagnóstico de patologias Cilindros hemáticos renais, quando em quantidade significativa. Estão associados à doença renal intrínseca. Suas hemácias são LEUCÓCITOS Podem entrar na urina através de qualquer ponto ao longo do trato urinário ou através de secreções genitais. A piúria pode re sultar de infecções bacterianas ou de outras doenças renais e do trato urinário. Essas infecções, que compreendem pielonefrite, cistite, prostatite e uretrite, podem ser acompanhadas de bac térias ou não, como no caso da infecção por clamídia. A piúria também está presente em patologias não infecciosas, como a freqüentemente de origem glomerular, como na glomerulone frite, mas podem também resultar de dano tubular, como na nefrite intersticial aguda. A detecção e o monitoramento dos cilindros hemáticos permitem uma medida da avaliação da resposta do paciente ao tratamento. Cilindros leucocitários Indicam infecção ou inflamação renal e exigem investigação clínica.Quando a origem dos leucócitos é glomerular,como na glo glomerulonefrite, o lúpus eritematoso sistêmico e os tumores. merulonefrite, encontra-se no sedimento grande quantidade CRISTAIS tubular, como na pielonefrite, os leucócitos migram para o lú de cilindros leucocitários e de cilindros hemáticos. Quando é São encontrados com freqüência na urina e raramente têm men tubular e são incorporados à matriz do cilindro. qualquer significado clínico. São formados pela precipitação Cilindros de células epiteliais dos sais da urina, submetidos a alterações no pH, na tempera tura e na concentração, o que afeta sua solubilidade. A princi pal razão para a identificação dos cristais urinários é detectar a presença de alguns tipos relativamente anormais que possam representar distúrbios, como doenças do fígado, erros inatos do metabolismo ou lesão renal causada pela cristalização de Têm origem no túbulo renal e resultam da descamação das cé lulas que os revestem. São encontrados após exposição a subs tâncias nefrotóxicas ou podem estar associados a infecções vi rais, como citomegalovírus. São, muitas vezes, observados em conjunto com cilindros de hemácias e leucócitos. metabólitos de drogas nos túbulos. Os cristais anormais mais Cilindros granulosos importantes são cistina, colesterol, leucina, tirosina, sulfona Podem estar presentes no sedimento urinário, principalmente midas, corantes radiográficos e ampicilina. CILINDROS São exclusivamente renais e formam-se em especial no interior da luz do túbulo contornado distal e do ducto coletor. O prin cipal componente dos cilindros é a proteína de Tamm-Horsfall, uma mucoproteína secretada somente pelas células tubulares renais. Seu aparecimento na urina é influenciado pelos mate riais presentes no filtrado no momento de sua formação, pelo após exercício vigoroso. Entretanto, quando aumentados re presentam doença renal glomerular ou tubular. São compostos primariamente de proteína de Tamm-Horsfall. Os grânulos são resultado da desintegração de cilindros celulares ou agrega dos de proteínas plasmáticas, imunocomplexos e globulinas. Cilindros céreos Representam um estágio avançado do cilindro hialino. Ocor rem quando há estase prolongada por obstrução tubular e são 150 07 Fluidosbio BOOK 16.indd 150 26.10.06 17:38:30 renal crônica e também em casos de rejeição de transplantes, mentação. Além destas condições, podem indicar processos que hipertensão maligna e doenças renais agudas (síndrome ne exigem maiores investigações, como o carcinoma renal. frótica, glomerulonefrite aguda). Cilindros graxos Células dos túbulos renais Aparecem em pequena quantidade na urina de indivíduos sau Resultam da desintegração dos cilindros celulares, produzidos dáveis e representam a descamação normal do epitélio velho pela decomposição dos cilindros de células epiteliais, que con dos túbulos renais. Recém-nascidos têm mais destas células têm corpos adiposos ovais. na urina do que crianças mais velhas e adultos. Encontram-se células dos túbulos contornados distal e proxi mal na urina como resultado de isquemia aguda ou doença tubular renal tóxica, como a necrose tubular aguda por metais FLUIDOS BIOLÓGICOS uma descamação normal. O número destas células aumenta após cateterização urinária ou outros procedimentos de instru URINÁLISE freqüentemente chamados cilindros da insuficiência renal. Costumam ser encontrados em pacientes com insuficiência pesados ou drogas. Os sedimentos urinários podem conter um número aumenta do de células dos túbulos coletores em vários tipos de doenças renais, como nefrite, necrose tubular aguda, rejeição a trans plante renal e envenenamento por salicilatos. Quando estas células aparecem como fragmentos intactos do epitélio tubu lar, indicam trauma, choque, sepsis ou necrose isquêmica do epitélio tubular. Quando há passagem de lipídios pela membrana glomerular, como nos casos de nefrose lipídica, as células do túbulo renal os absorvem e são chamadas corpos adiposos ovais. Em geral, são vistas em conjunto com gotículas de gordura que flutuam no sedimento. MUCO O muco é uma proteína fibrilar produzida pelo epitélio tubular renal e pelo epitélio vaginal. Não é considerado clinicamente significativo. O aumento da quantidade de filamentos de muco na urina costuma ser associado à contaminação vaginal. CÉLULAS EPITELIAIS Algumas células epiteliais encontradas no sedimento urinário resultam da descamação normal de células velhas; outras re presentam lesão epitelial por processos inflamatórios ou doen ças renais. Na urina, costumam ser encontrados três tipos: Células escamosas São as mais freqüentes na urina e com menor significado. Pro vêm do revestimento da vagina, da uretra feminina e das por ções inferiores da uretra masculina. Células transicionais ou caudadas O cálice e a pelve renais, ureter e bexiga são revestidos por várias camadas de epitélio transicional. Em indivíduos normais, encontram-se poucas células transicionais na urina, o que representa Hemácias dismórficas, Pesquisa de Permite a diferenciação entre a hematúria de origem glomeru lar e a de origem não glomerular, com uma especificidade de 93% e uma sensibilidade de 99%. A presença de hemácias dis 151 07 Fluidosbio BOOK 16.indd 151 26.10.06 17:38:30 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA mórficas sugere sangramento de origem glomerular. As hemá cias não dismórficas (com morfologia normal) são encontradas em urina de pacientes com patologias extraglomerulares. MÉTODO: Microscopia de contraste de fase. AMOSTRA: Urina recém-emitida. Contagem de Addis Fornece valores precisos dos elementos presentes na urina. Considera-se normal a presença de determinados valores para cada estrutura (quadro de valores de referência). Cifras acima desses valores são observadas em lesões renais, especialmente nas glomerulonefrites, em que é de grande valor prognóstico. Também é importante nas fases iniciais e no acompanhamen to terapêutico das nefropatias, em que a quantidade de ele mentos identificados pela técnica habitual é muito pequena e variável, tornando difícil a caracterização entre índices normais ou alterados. MÉTODO: Contagem em câmara de Neubauer. AMOSTRA: Urina de 12 horas refrigerada (frasco plástico sem conservante). Espermograma Automatizado A análise computadorizada do sêmen permite índices de pre cisão quantitativos e qualitativos não obtidos por nenhuma outra metodologia. Durante todo o procedimento de análi se, as amostras permanecem em câmara com temperatura controlada automaticamente, possibilitando a observação e a mensuração de características dinâmicas dos espermato zóides, inacessíveis pelos métodos convencionais. Neste sis tema, uma câmara digital de alta resolução captura imagens da amostra numa velocidade de 60µ/segundo, garantindo acurácia máxima na análise da motilidade espermática. As sim, os dados da contagem exata das células espermáticas da amostra, a identificação precisa dos espermatozóides móveis e imóveis, a velocidade de um determinado espermatozóide e a média de velocidade do conjunto, o índice de linearidade da migração espermática e a medição do deslocamento late ral da cabeça, quando relacionados ao índice de fertilização do óvulo, agregam valor ao diagnóstico da infertilidade. – Velocidade curvilínea: é a variação no tempo da velocida de do espermatozóide ao longo de sua própria trajetória curvilínea. – Velocidade em linha reta: é a variação da velocidade de um espermatozóide ao longo da linha reta entre a sua primeira posição detectada e a sua última posição. – Freqüência de oscilação: é definida como a freqüência na qual a cabeça do espermatozóide se move para a frente e para trás. – Linearidade: representa a linearidade de uma trajetória curvilínea. A evolução das técnicas de análise de líquido seminal tem contribuído na obtenção de informações diag nósticas mais precisas, seguras e com maior reprodu tibilidade, permitindo a padronização dos resultados e um melhor follow up das patologias relacionadas com a infertilidade. Ao mesmo tempo, em diferentes países do mundo, pesqui sadores e cientistas constatam e investigam as causas da di minuição da qualidade do esperma na população masculina jovem e saudável, procurando detectar fatores causais, como qualidade de vida e poluentes ambientais com atividade hor monal antiandrogênica ou estrogênica. Nesse sentido, implantou-se uma metodologia de alta performance na rotina de apoio diagnóstico, com exames cada vez mais confiáveis e padronizados: o espermograma automatizado. A rapidez da análise também conta a favor da automação sem prejuízo de sua performance. A avaliação de características como concentração, motilidade e velocidade é realizada em poucos segundos. O SÊMEN Constituído, fundamentalmente, por espermatozóides em suspensão no líquido seminal, o sêmen é produzido pelos tes tículos e órgãos reprodutores acessórios. Seu volume pode ser diminuído pelo tabagismo. A função do líquido seminal é for necer meio nutritivo e volume adequado para o transporte dos espermatozóides até o muco endocervical. O espermograma avalia a capacidade de produção testicular de espermatozóides normais. Por sua execução relativamente simples, é o principal exame de triagem na investigação da infertilidade masculina, realizado antes de se iniciarem testes mais dispendiosos e elaborados na mulher. Sabe-se hoje que 152 07 Fluidosbio BOOK 16.indd 152 26.10.06 17:38:31 de uma vasectomia. É um procedimento menos elaborado do O sêmen é ejaculado sob a forma líquida, transformando-se quase que imediatamente em uma substância gelatinosa, al tamente viscosa, opaca, branca ou branco-acinzentada e assim permanece por 20 minutos a 30 minutos, retornando então à forma líquida com pH ligeiramente alcalino. Os responsáveis por essa mudança são produtos prostáticos e das vesículas seminais, como a fosfatase ácida, ácido cítrico, a frutose e as prostaglandinas. Uma viscosidade aumentada ou a liquefação incompleta interferem na motilidade dos espermatozóides. A análise de suas propriedades físico-químicas também forne ce parâmetros para a avaliação das condições de funcionamen to das glândulas acessórias (próstata e vesículas seminais). Al terações no número de espermatozóides não são consideradas tão importantes na análise da infertilidade, visto que, mesmo inferiores a 20 milhões e apontados como francamente alte rados, podem levar à fecundação bem-sucedida. A fertilidade também está relacionada à motilidade, velocidade e morfolo gia. A motilidade é uma das características mais importantes dos espermatozóides, pois, quando imóveis, mesmo em altas concentrações, serão incapazes de alcançar o óvulo. Após lon gos períodos de abstinência, o percentual de espermatozóides imóveis aumenta de forma significativa. Orquites, atrofia tes ticular pós-caxumba, varicocele e hiperpirexia podem estar as que o perfil realizado na pesquisa de infertilidade, em que se avalia apenas a presença ou ausência de espermatozóides no sêmen e sua motilidade. O intervalo recomendado entre a ci rurgia e a primeira avaliação destes pacientes é de dois meses e os controles subseqüentes devem ser mensais até obter-se duas amostras consecutivas com azoospermia. A coleta do sêmen deve ser feita por masturbação, em ambien te laboratorial ou domiciliar, contanto que o tempo até a reali zação da análise não ultrapasse 30 minutos, para que a viabili dade da amostra seja mantida. Nos casos de coleta domiciliar, a avaliação da liquefação primária e secundária não é realizada. O recipiente para acondicionar a amostra deve ser específico e estéril, pois outros materiais podem causar toxicidade aos es permatozóides, com prejuízo da viscosidade e da motilidade. O tempo de abstinência recomendado é de três a cinco dias (pa drão para os valores de referência adotados), podendo, median te solicitação médica, obedecer a um prazo diferente. Existe uma grande variação no número de espermatozóides presentes em cada ejaculação. Por isso, alguns autores preco nizam a coleta de pelo menos duas amostras de sêmen. Atual mente, recomenda-se que um novo material seja colhido, com um intervalo de duas a quatro semanas, quando houver neces sidade de confirmação de parâmetros seminais alterados em sociadas à hipo ou azoospermia e à presença de formas mor uma primeira amostra. fologicamente aberrantes. Alguns autores relatam a ligação do MÉTODO: Análise seminal computadorizada e Piva modificado. consumo exagerado de cafeína com a presença de maior nú mero de formas anormais. Certas drogas estão relacionadas às alterações na contagem de espermatozóides (ciclofosfamida, procarbazina e alguns quimioterápicos). O uso de estrogênios e metiltestosterona pode suprimir a espermatogênese. Aspec tos do movimento e da velocidade do espermatozóide estão estritamente relacionados com a penetração do esperma no muco cervical e, conseqüentemente, com a fertilização. A integridade funcional da membrana do espermatozóide é avaliada por sua capacidade osmorreguladora através do teste hiposmótico ou swelling test. Especificamente, a análise quan titativa das características do movimento do espermatozóide AMOSTRA: Sêmen (frasco fornecido pelo laboratório). Análise bioquímica DOSAGEM DE ÁCIDO CÍTRICO É produzido exclusivamente pela próstata, depende da ativi dade androgênica e está ligado ao processo de coagulação e liquefação do sêmen. MÉTODO: Chambom modificado. AMOSTRA: Sêmen (frasco fornecido pelo laboratório). tem sido considerada preditiva da capacidade funcional e, por DOSAGEM DE FRUTOSE tanto, da fertilidade potencial do homem. É o principal elemento do metabolismo e da motilidade dos es A presença de uma quantidade maior que 1.000 leucócitos/ mm3 do ejaculado é indicativa de um processo inflamatório, mais freqüentemente envolvendo as glândulas acessórias. En tretanto, um valor normal de leucócitos não descarta a possi bilidade de um processo infeccioso. FLUIDOS BIOLÓGICOS A análise do sêmen é usada também como controle da eficácia o que em alguns casos pode ser tratado e revertido. ANÁLISE DO LÍQUIDO SEMINAL 50% das infertilidades são devidas à incapacidade do homem, permatozóides. A frutose é produzida nas vesículas e ampolas seminais, a partir da glicose, através da via fosforilativa. Proces sos inflamatórios ou infecciosos nas vesículas e ampolas semi nais podem determinar uma queda na sua produção. MÉTODO: Selivanoff. AMOSTRA: Sêmen (frasco fornecido pelo laboratório). 153 07 Fluidosbio BOOK 16.indd 153 26.10.06 17:38:31 BIOINFORME LIQUOR COR Normalmente incolor. O liquor xantocrômico indica a presença de bilirrubina ou hemólise. Em recém-nascidos, a xantocromia SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA é um achado normal, conseqüência da imaturidade anatômica O líquido cefalorraquidiano é um fluido límpido e in color, com raros elementos figurados e características bioquímicas e imunológicas próprias. Ele ocupa as cavidades ventriculares do sistema nervoso central, os espaços subaracnóides, espinhal, perivasculares, perineurais e o canal central da medula. Desempe nha diversas funções: protege contra traumatismos e movimentos bruscos, exerce função imunológica e e funcional da barreira hematoencefálica, e proporcional aos níveis de bilirrubina. A cor acastanhada se dá pela presença de metemoglobina e a avermelhada (eritrocrômico) pela presen ça de oxiemoglobina das hemácias recém-lisadas. Bioquímica PROTEÍNAS representa um veículo para excreção e difusão de substâncias. É produzido em sua maior parte pelos plexos coróides, em um volume diário em torno de 450mL, e parte dele é reabsorvida pelo sistema venoso. Normalmente, seu volume total num adulto é em média de 140mL. A quantidade puncionada não deve exceder a 1/7 do total. Ou seja, em torno de 20mL no adul to; 12mL na infância; e 6mL em recém-nascidos. O material deve ser analisado imediatamente após a coleta, sendo impor Utiliza-se a relação entre os valores da albumina no soro e no liquor como um índice de avaliação da permeabilidade da bar reira hematoencefálica. Albumina no liquor em mg/dL tante o cuidado na conservação e no transporte para manter a Albumina sérica em g/dL integridade da amostra. Este índice normalmente encontra-se abaixo de 9. Observam Exame físico ASPECTO O liquor normal tem aspecto límpido, tipo água de rocha, apre- se valores elevados em acidentes de punção, em situações que levem a um aumento da permeabilidade da barreira hema toencefálica, ou em sua imaturidade, como acontece no perí odo neonatal. sentando-se turvo pelo aumento do número de células (leu cócitos e hemácias), pela presença de bactérias, fungos ou de meio de contraste. O aspecto hemorrágico indicará uma he morragia subaracnóidea ou um acidente de punção. O diag nóstico diferencial entre essas duas situações é feito: – Pela presença de coágulo, que indica a ocorrência de acidente durante a punção; – Pelo aspecto do sobrenadante após a centrifugação, que nos acidentes de punção apresenta-se límpido e, nas hemorra gias, eritrocrômico ou xantocrômico; – No momento da coleta, pela prova dos três tubos, quando se avalia a variação do aspecto do primeiro para o terceiro tubo. Se o aspecto clarear, sugere acidente de punção, se não se modificar, sugere hemorragia preexistente. A eletroforese de proteínas é utilizada no diagnóstico de doen ças inflamatórias e desmielinizantes do SNC. Vide capítulo de Bioquímica. IMUNOGLOBULINAS Utiliza-se a relação entre os valores da imunoglobulina G sérica e no liquor para avaliar sua produção intratecal. Esta relação é ex pressa como um índice, que normalmente varia entre três e oito. IgG no liquor em mg/dL IgG sérica em g/dL 154 07 Fluidosbio BOOK 16.indd 154 26.10.06 17:38:32 IgG no liquor em mg/dL / IgG sérica em g/dL Albumina no liquor em mg/dL / Albumina sérica em g/dL A síntese intratecal de IgG pode ser calculada pela fórmula de Tourtellote (1985). 369 – AlbLiquor – AlbSérica x IgGSérica x 0,43 x 5 = mg de IgG/dia 230 AlbSérica Os valores normais para este índice são de até 3mg/dia. Observam-se níveis aumentados na esclerose múltipla e em outras doenças neurológicas inflamatórias, infecções pelo HIV e me ningites por criptococos, entre outras. GLICOSE Corresponde a 60% a 70% da concentração plasmática. Valores diminuídos podem ser encontrados nas meningites agudas e crônicas de diferentes etiologias, hipoglicemia sistêmica, he morragia subaracnóide, sarcoidose e neoplasias que compro metam as meninges. A presença de hipercitose neutrofílica sugere um processo in flamatório agudo. Apesar de presente de forma fugaz nos pro cessos virais e assépticos, o aumento de células, com predomí nio de polimorfonucleares, é mais característico de processos bacterianos agudos. A hipercitose linfocitária sugere um processo crônico. O predo mínio de células mononucleares é observado nas patologias neurológicas crônicas, meningites virais, processos tuberculo sos e luéticos, cisticercose e criptococose. O aumento do núme ro de eosinófilos ocorre nas doenças parasitárias, especialmen te na cisticercose, toxocaríase, triquinose e esquistossomose. Nas primeiras horas após uma hemorragia subaracnóide ocor re uma reação celular com predomínio de neutrófilos, algumas células plasmocitárias e raramente eosinófilos. De 24 a 48 ho ras mais tarde, surgem os macrófagos. FLUIDOS BIOLÓGICOS de IgG. Os valores são considerados normais até 0,77. Citologia Global e Específica LÍQUIDO PLEURAL novo índice, que, quando elevado, reflete o aumento da síntese LIQUOR Dividido pelo índice de albumina, o resultado dá origem a um Durante a análise microscópica, pode observar-se também a presença de células oriundas de tumores primários ou metas táticos do sistema nervoso central. OUTRAS DOSAGENS Desidrogenase láctica (LDH) É considerada elevada quando a relação liquor/soro for > 0,1 (Donald 1986). São causas de elevação: necrose, isquemia, me ningite, leucemia, linfoma e carcinoma metastático. Utilizada também como diagnóstico diferencial entre acidente de punção e hemorragia cerebral, a LDH se eleva proporcional mente ao grau de hemorragia. Creatinofosfoquinase (CK) LÍQUIDO PLEURAL A elevação da fração BB da CK ocorre em hemorragia subarac nóide, trombose cerebral, lesões desmielinizantes, síndrome de Guillain-Barré, tumores primários e metastáticos, meningo encefalite viral, meningite bacteriana, hidrocefalia e trauma tismo craniano. Ácido láctico A determinação do ácido láctico pode ser útil na diferenciação de meningites por bactérias, fungos ou micobactérias das me É continuamente produzido pela pleura parietal por filtração do plasma, através do endotélio vascular em quantidades médias de 1mL a 15mL, e absorvido pela pleura visceral. Localiza-se entre as duas faces da pleura, separando-as. ningites virais. Nas virais, o nível de ácido láctico raramente ex Exame Físico cede de 25mg/dL a 30mg/dL. Em contraste, nas outras formas O líquido pleural normal tem aspecto límpido e cor amarelo de meningite, costuma estar presente em níveis superiores a 35mg/dL. O aumento do lactato está intimamente associado a baixos níveis de glicose (meningite bacteriana). Vide capítulo de Bioquímica. pálido. Apresenta-se hemorrágico nos processos traumáticos e no hemotórax, turvo nos processos inflamatórios e leitoso nos derrames quilosos (obstrução do ducto torácico) ou pseudo quilosos (derrames crônicos). 155 07 Fluidosbio BOOK 16.indd 155 26.10.06 17:38:33 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Bioquímica res. Nas inflamações crônicas, tuberculose, lúpus eritematoso GLICOSE de linfócitos. A eosinofilia ocorre em processos inespecíficos, São normais níveis semelhantes aos plasmáticos. São consi derados valores diminuídos se estiveram abaixo de 60mg/dL ou quando a relação da glicose líquido/soro for inferior a 0,5, como os encontrados em empiemas, neoplasias, tuberculose, sistêmico, linfoma, uremia e artrite reumatóide, há predomínio como pneumotórax, traumas, derrames pós-operatórios, infar to pulmonar e insuficiência cardíaca congestiva. Aparece ainda nas doenças parasitárias, infecções por fungos e síndromes de hipersensibilidade. lúpus, doenças reumáticas e ruptura de esôfago. PROTEÍNA A concentração da proteína sérica é um dos fatores que nor teiam a classificação dos líquidos orgânicos em exsudatos e transudatos. Os transudatos são derrames causados por fatores mecâni cos que influenciam a formação e/ou a reabsorção, como, por A presença de mais de 50mL de líquido ascítico na ca exemplo, a diminuição da pressão oncótica ou o aumento da vidade abdominal já é patológica, podendo resultar de pressão venosa, como na cirrose hepática, síndrome nefrótica doenças que envolvam primariamente ou não o peri e insuficiência cardíaca congestiva. Cursam com níveis de pro tônio. A coleta é feita por punção abdominal no qua teína 50% menores que os plasmáticos. drante inferior esquerdo, onde as alças intestinais têm Os exsudatos são derrames causados por lesão do revesti mais mobilidade, o que diminui os riscos de acidentes. mento mesotelial, com aumento da permeabilidade capilar ou diminuição da reabsorção linfática, como acontece nas neo plasias e doenças do colágeno. Cursam com níveis de proteína 50% maiores que os plasmáticos. É um filtrado do plasma que se forma por um aumento da pressão hidrostática capilar ou pela redução da pressão oncó tica do plasma (transudatos); por aumento da permeabilidade capilar ou diminuição da reabsorção (exsudatos). OUTRAS DOSAGENS Amilase Elevada na pancreatite aguda, pseudocisto de pâncreas, ruptu ra de esôfago e em algumas neoplasias. Desidrogenase Láctica (LDH) É sempre analisada em relação aos níveis séricos. Os exsuda tos têm uma relação líquido pleural/soro maior que 0,6, e os transudatos, menor que 0,6. Mantém-se elevada em algumas neoplasias, na pleurite reumatóide e nos derrames parapneu Exame Físico mônicos complicados com empiema. ASPECTO Adenosina Deaminase Exsudatos: Turvos e purulentos. Encontra-se elevada nos derrames pleurais tuberculosos. Transudatos: Límpidos, serosos, hemorrágicos (processos ma Citologia Global e Específica culose), brilhantes (processos crônicos) e lactescentes (obstru A contagem global de células tem valor limitado no auxílio do ções linfáticas). diagnóstico diferencial dos derrames pleurais. Valores acima de 1.000 células são encontrados nos exsudatos. O predomínio de neutrófilos acontece em 90% dos casos de pneumonia, infarto pulmonar e pancreatite. Apenas 10% dos transudatos apresentam predominância de polimorfonuclea lignos, tuberculose e pancreatite aguda), serofibrinosos (tuber COR O líquido ascítico normal tem cor amarelo-palha. Mostra-se amarelo turvo ou alaranjado quando hemorrágico, amarelo ouro nas icterícias e esverdeado na colecistite e na perfuração intestinal ou da vesícula biliar. 156 07 Fluidosbio BOOK 16.indd 156 26.10.06 17:38:34 FLUIDOS BIOLÓGICOS DENSIDADE Bioquímica PROTEÍNAS LÍQUIDO SINOVIAL A concentração da proteína sérica é um dos fatores que nor teiam a classificação dos líquidos orgânicos em exsudatos e transudatos. Mas como o teor de proteínas é influenciado de forma importante por alterações do líquido extracelular e dos mecanismos de formação e reabsorção, isso prejudica sua utili zação como o único parâmetro para essa classificação. LÍQUIDO ASCÍTICO GLICOSE Em níveis semelhantes aos do plasma, e abaixo de 60mg/dL na tuberculose e na carcinomatose peritonial. No diabetes descompensado, seus níveis se elevam. AMILASE Úlceras pépticas perfuradas, obstrução intestinal, pancrea tites, trombose mesentérica e necrose de alças intestinais fazem elevar seus níveis. A relação da amilase do líquido ascí tico e a amilase no soro maior que dois é característica das le sões pancreáticas, pancreatite, pseudocisto de pâncreas e lesões traumáticas. LÍQUIDO SINOVIAL DESIDROGENASE LÁCTICA (LDH) Seus valores são sempre analisados em relação aos níveis séri cos. Os exsudatos têm uma relação líquido ascítico/soro maior que 0,6, e os transudatos menor que 0,6. Nas neoplasias, observam-se níveis bastante elevados. OUTRAS DOSAGENS Mucoproteína Eleva-se na tuberculose e na carcinomatose peritoneal; dimi nui na cirrose hepática. Triglicerídeos Níveis superiores aos plasmáticos são encontrados nas ascites quilosas. Leucino-Aminopeptidase Muito elevada nas neoplasias. O líquido sinovial é um ultrafiltrado do plasma, acres cido de substâncias sintetizadas pela própria sinóvia. Mantém a integridade, age como lubrificante e nu triente para a cartilagem articular. A artrocentese deve ser realizada com anestesia local, tomando-se a precaução de não injetar o anestésico intra-articular e de realizar uma rigorosa assepsia antes da punção. O material colhido deve ser distribuído em frascos: com heparina para exa me físico, bioquímico e imunológico, e com EDTA para citologia global. As lâminas para citologia específica devem ser prepa radas no momento da coleta e secas à temperatura ambiente; para análise microbiológica, o material deve ser colocado em frasco estéril. O exame deve ser realizado imediatamente após a coleta, para não prejudicar a qualidade da análise, em espe cial da dosagem da glicose. 157 07 Fluidosbio BOOK 16.indd 157 26.10.06 17:38:34 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Exame Físico ASPECTO O aspecto normal é cristalino. A turvação é referida em cruzes (+ a ++++) e acontece na hipercelularidade ou por presença de cristais ou de fibrina. O líquido pode apresentar-se leitoso Pesquisa de Cristais Os cristais de urato de sódio (gota), pirofosfato de cálcio (con drocalcinose), hidroxiapatita (sinovite cristal induzida) e coles terol (artrite reumatóide) podem ser encontrados pela pesqui sa à microscopia de luz polarizada. ou pseudoquiloso na artrite por bacilo de Koch (tuberculose), na artrite reumática crônica ou gotosa aguda, ou ainda mais raramente no lúpus eritematoso sistêmico. Na artrite séptica aguda, o líquido sinovial aparece purulento. COR O normal é incolor ou amarelo pálido. O líquido sinovial esver deado pode estar associado à artrite séptica por Haemophilus influenzae, à artrite reumática crônica e à gota aguda. Mostra-se hemático em fraturas, tumores, traumas externos ou de punção, hemofilia e, mais raramente, nas artrites séptica e reumatóide. VISCOSIDADE É um dos parâmetros mais importantes do exame físico. O lí quido normal possui alta viscosidade, que depende diretamen te da concentração do ácido hialurônico. Menor viscosidade é encontrada nos processos inflamatórios (com alteração pro porcional à intensidade do processo), como as artrites reuma tóide, gotosa e séptica. Bioquímica GLICOSE Níveis semelhantes aos do plasma. Nos processos inflamató rios, a diferença pode chegar a 40mg/dL. Quanto maior a dife rença, maior o processo inflamatório. PROTEÍNAS Níveis inferiores aos do sangue. Encontram-se elevados nas ar tropatias inflamatórias, artrites séptica e reumática. Citologia Global e Específica O líquido sinovial normal é praticamente acelular. Possui cerca de 20% de células polimonucleares e os demais 80% de mono nucleares: monócitos, linfócitos e histiócitos. Valores aumen tados de polimorfonucleares aparecem na gota e nas artrites séptica e reumatóide. Nesta última, pode observar-se o predo mínio de linfócitos. 158 07 Fluidosbio BOOK 16.indd 158 26.10.06 17:38:35 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA H E M A T O L O G I A Apesar de não pensarmos sobre isso diariamente, o conceito da vida é sustentado por um processo contínuo de fluxo chamado corrente sangüínea, no qual circula um líquido que lhe dá o nome: sangue. Este líquido maravilhoso nutre, defende, limpa e nos permite uma troca constante com o meio ambiente, fazendo-nos renascer a cada momento. O conceito desta dependência é de tal importância que ao estudarmos a história da medicina nos deparamos com os estudos de Galeno, que em 130 d.C. descreveu o sistema circulatório. Na descrição, ele considerava o pneuma o princípio fundamental da vida, com três diferentes funções: pneuma psychion (neurológico), pneuma zoticom (espírito vital, centralizado no coração) e pneuma physicon (residente no fígado). Por mais que pareça estranho, vemos algumas similaridades com os conceitos que hoje temos da vida. Afinal, apesar de Galeno ter conjecturado a possibilidade de ser o fígado o centro do sistema circulatório, ele considerava que esse sistema era o espírito vital, e que o coração tinha importante papel no controle do fluxo sangüíneo e na temperatura do corpo. Seu erro foi considerar o fígado, e não o coração, o centro do sistema circulatório. Na realidade, hoje sabemos que, sem dúvida, o fígado é fundamental em todo o processo de filtração deste mesmo sistema circulatório. No entanto, foi Harvey, por volta de 1600 (1500 anos depois de Galeno), que descreveu definitivamente o sistema circulatório, identificando o coração como uma bomba que mantém a circulação do sangue. Mesmo naquela época já se identificava a importância da circulação sangüínea. Afinal, ao estudarmos a embriogênese, visualizamos que é este o primeiro sistema a se formar e que, antes de sua maioridade, já carreia oxigênio, alimentos etc. Mas do que este líquido maravilhoso é composto? Elementos sólidos, como hemácias, leucócitos, plaquetas e produtos minerais e orgânicos dissolvidos no plasma, além de elementos gasosos, como o oxigênio, e os restantes 90% de água. Esta composição carreia as necessidades básicas para a manutenção da vida. Se esses elementos existentes no sangue são fundamentais no processo de carrear oxigênio, defender o organismo de agentes agressores, impedir sangramento profuso e alimentar as células, o conhecimento sobre essa composição real e sua situação são de fundamental importância para a manutenção da saúde e, conseqüentemente, da vida. O estudo da hematologia se confunde com os estágios iniciais do uso de lentes para aproximar objetos e a busca do homem em desvendar mistérios. Para o observador da natureza, com um universo de dimensões incomensuráveis de seres e estruturas invisíveis ainda desconhecidas, o olho humano já não era suficiente. Se desejarmos retroceder aos primórdios, encontraremos em 63 d.C. referências ao uso de um balão de vidro com água, que permitia o aumento das letras para torná-las mais visíveis. 162 08 Hemato BOOK 16.indd 162 26.10.06 17:36:46 HEMATOLOGIA Em 1610, com seu espírito contestador e sua obstinada busca do como, Galileu conseguiu adaptar o telescópio para observar objetos pequenos. Em 1661, Malpighi acrescentou novos e importantes dados à teoria da circulação sangüínea por meio da observação do sangue nos vasos capilares. “Vi o sangue fluir como uma correnteza pelas artérias e poderia ter acreditado que ele escapa para um espaço vazio, sendo novamente apanhado por uma veia aberta... Com a ajuda de um pedaço de vidro, pude ver que não eram pontos isolados, mas se juntavam em forma de anéis. Estes vasos não seguem um caminho reto, mas parecem formar uma rede. Assim, ficou constatado que o sangue flui por vasos sinuosos, cujos caminhos produzem a dispersão, e não desemboca em espaços vazios.” Uma contribuição de inestimável valor à ciência veio através de Van Leenwenhoek, vendedor de tapetes. Com especial habilidade, este autodidata em lentes de pequeno aumento aguçou sua curiosidade pelos detalhes e percebeu a existência dos glóbulos vermelhos do sangue, confirmando a circulação nos vasos capilares, descoberta por Malpighi. Para a evolução das análises microscópicas, foi necessário o uso das colorações introduzidas em 1800 por Erlich. A primeira transfusão ocorreu em 1665, com Lower, que uniu a artéria de um cão à veia de outro por meio de tubos. Em 1667 o mesmo processo foi praticado no homem, usando-se o sangue de um carneiro. Somente depois do século XVIII, após inúmeras tentativas malsucedidas, das quais resultou a proibição da prática de transfusões, o interesse ressurgiu. O desenvolvimento dessa terapêutica se processou efetivamente depois que Landsteiner, em 1900, descobriu as isoaglutininas e estabeleceu as bases para a classificação em três grupos. Muitos foram os conhecimentos que se somaram até os dias atuais e muitos estão por vir. Hoje, já sabemos que este sistema é muito mais complexo. A transfusão já é uma rotina em nossos dias e dispomos de vários testes que afastam a possibilidade de incompatibilidade sangüínea. Novas técnicas foram desenvolvidas: leucemias são diagnosticadas precocemente e sua classificação e identificação permitem terapias mais eficazes. O teste de coagulação deixou de ser um exame pré operatório, integrando ao seu estudo novos conhecimentos de imunologia e genética, entre outros. O fato é que este conhecimento permite cada vez mais a continuidade da correnteza deste fluxo, buscando o equilíbrio e mantendo a comunicação entre as diversas estruturas que compõem o organismo. Alimentando-o em suas necessidades e defendendo-o de seus agressores. Permitindo a manutenção da vida como no seu princípio embrionário. 163 08 Hemato BOOK 16.indd 163 26.10.06 17:36:47 tal), dando origem às talassemias. Dependendo do tipo de ca BIOINFORME ESTUDO DA HEMOGLOBINA deia deficiente, teremos a talassemia SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA ou Principal constituinte das hemácias, a hemoglobina tem como sua maior função o transporte de oxigê nio. Ela é composta por um pigmento, o heme, que tem ferro em seu interior, mantido no estado ferroso, e uma proteína, a globina, formada por dois pares de cadeias polipeptídicas que diferem na seqüência dos aminoácidos. Sob controle genético, essas cadeias — chamadas de (alfa), (beta), (gama), (delta), (épsilon) e (zeta) — são sintetizadas em fases dife rentes do desenvolvimento: embrionária, fetal e após o nascimento. As combinações entre os vários tipos de cadeias resultam em moléculas de hemoglobinas diferentes. Seis meses após o nas cimento, a molécula predominante é composta por dois pares de cadeias (alfa) e (beta), designadas Hb A1 ou Hb A, e re presenta cerca de 97% da hemoglobina total. Outros compo nentes menores são representados pelas Hb A2, formada por pares de cadeias (alfa) e (delta), com uma concentração de 2,5% a 3,5% da Hb total; e a Hb fetal (HbF). Constituída por duas cadeias (alfa), (beta), (delta) (delta-beta). Carboxiemoglobina Setor de Bioquímica Especial. Corpúsculos de Heinz, Pesquisa de São precipitados de hemoglobina desnaturada, medindo de 1µm a 4µm em diâmetro, que podem ser visualizados como corpos aderidos à membrana das hemácias após coloração com corantes supravitais. Podem ocorrer em pacientes trata dos com fenil-hidrazina, cloratos ou drogas capazes de des naturar a hemoglobina por oxidação; pacientes tratados com primaquina, portadores de deficiência da enzima glicose-6fosfato desidrogenase; e pacientes com anemias hemolíticas associadas a hemoglobinas instáveis. INDICAÇÕES: Caracterização de hemoglobinas instáveis e por tadores da deficiência enzimática de glicose-6-fosfato desidro genase (G6PD). MÉTODO: Azul-de-cresil brilhante (coloração supravital). AMOSTRA: Sangue (tubo com EDTA). (alfa) e duas cadeias (gama), a hemoglobina fetal, ou Hb fetal, está presente no nascimento e diminui gradati vamente durante os seis primeiros meses de vida, atingindo o máximo de 2% da hemoglobina total. As alterações das cadeias polipeptídicas podem ser qualita Curva de hemólise Qualquer alteração na forma das hemácias pode mudar sua capacidade de resistir a variações da pressão osmótica no meio tivas ou quantitativas. A mutação qualitativa afeta os genes estruturais e promove a formação de cadeias diferentes, dando origem a hemoglobinas anormais ou variantes. Já foram descritas cerca de 800 variantes estruturais das hemo globinas humanas, mas apenas poucas são associadas a mani festações clínicas e hematológicas. As hemoglobinas anormais são identificadas pela variação da mobilidade eletroforética e designadas por letras. A primeira hemoglobina anormal foi de nominada HbS – sickle (foice, em português), por seu formato. É também a mais conhecida, responsável pela anemia falciforme, em que a anormalidade decorre da substituição do aminoácido ácido glutâmico por valina, na posição 6 da cadeia (beta). As identificadas posteriormente receberam as designações que se guem o alfabeto (C, D, E, G, H). Quando têm estruturas diferen tes, mas a mesma mobilidade eletroforética, são também iden tificadas pela cidade onde foram descobertas (HbCHarlem). A mutação quantitativa determina um distúrbio na produção das cadeias polipeptídicas normais (deficiência parcial ou to 164 08 Hemato BOOK 16.indd 164 26.10.06 17:36:47 (cromatografia líquida de alta resolução) é importante no crescentes de cloreto de sódio. A percentagem de células lisa diagnóstico laboratorial das hemoglobinopatias, permitin das é calculada pela quantidade de hemoglobina liberada no do uma melhor identificação de hemoglobinas variantes e a sobrenadante. O grau de fragilidade osmótica dos eritrócitos quantificação com precisão das hemoglobinas A2 e fetal. reflete sua habilidade de resistir a soluções de hipotonicidade crescente. Hemácias de esferocitose hereditária têm fragilida de osmótica aumentada; hemácias em alvo têm um menor grau de fragilidade osmótica e são capazes de resistir mais do que células normais às variações desse tipo de pressão. INDICAÇÕES: Avaliação de anemias hemolíticas, especialmente esferocitose hereditária.É usada também como teste de triagem para HbS e talassemia, visto que esses defeitos da hemoglobina costumam apresentar um aumento da resistência osmótica MÉTODO: Dacie. AMOSTRA: Sangue (tubo com heparina). Deficiência de G6PD – teste do pezinho A glicose-6-fosfato desidrogenase é uma enzima dos glóbulos vermelhos importante na proteção da hemoglobina contra INDICAÇÕES: Diagnóstico diferencial das hemoglobinopatias (hemoglobinas variantes) e talassemias. MÉTODO: HPLC (cromatografia líquida de alta performance). AMOSTRA: Sangue (tubo com EDTA). Glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) Trata-se de uma enzima ligada ao cromossomo X, que faz parte do metabolismo aeróbico da glicose na hemoglobina. Sua deficiência conduz a um defeito na eliminação dos peró xidos e na desnaturação da hemoglobina, com formação de corpos de Heinz e uma conseqüente anemia hemolítica. A hemólise na deficiência de G6PD é precipitada pelo uso de drogas oxidativas, infecções virais ou bacterianas e distúrbios metabólicos (acidose). agentes oxidantes. DROGAS CAPAZES DE INDUZIR HEMÓLISE EM PACIENTES COM DEFICIÊNCIA DE G6PD Inúmeras mutações genéticas resultam em deficiência da Nitrofurantoína, niridazol, fenazopiridina, azul-de-metileno, acetanilide, sulfametoxazol, furazolidona, primaquina, ácido nalidíxico, doxorrubicina G6PD, o que pode causar anemia hemolítica e icterícia neona tal. A identificação da deficiência permite a orientação mater na em relação aos fatores de risco para evento hemolítico. INDICAÇÃO: Avaliação de deficiência da enzima glicose-6-fosfa- to desidrogenase (G6PD). MÉTODO: Enzimático colorimétrico. MÉTODO: Redução de metemoglobina (presuntivo-qualitativo). AMOSTRA: Papel de Filtro. AMOSTRA: Sangue (tubo com EDTA). Eletroforese de hemoglobinas Esse estudo inclui a realização da eletroforese em tampão de pH alcalino para a identificação de hemoglobinas variantes (as mais encontradas são S, C, D) e das talassemias do tipo beta HEMATOLOGIA Assim, a utilização de outros testes como o método de HPLC ESTUDO DA HEMOGLOBINA onde estão suspensas. Na curva de hemólise, as hemácias são colocadas em uma série de soluções com concentrações de Hemoglobina A2 A Hb A2 é composta por cadeias (alfa) e (delta); a partir dos seis meses de idade está presente no sangue normal em torno de 3% da Hb total. heterozigótico (Hb A2 aumentada) e do tipo alfa (presença da HbH). Quando necessário, pode-se incluir a eletroforese em pH ácido para possibilitar a distinção de outras hemoglobinopa tias, não definidas na pesquisa em tampão de pH alcalino. MÉTODO: Eletroforese em acetato de celulose e gel de ágar citrato. ESTUDO DAS HEMOGLOBINAS POR HPLC O método de HPLC se baseia na separação das frações de he moglobinas por eluição em coluna de troca iônica. Cerca de 800 tipos de hemoglobinas variantes já foram carac INDICAÇÃO: É indicada na investigação de anemias microcíticas hipocrômicas, com reservas de ferro normais, em que o diag o de talassemia se faz necessário. terizadas em todo o mundo. MÉTODO: HPLC (cromatografia líquida de alta performace) e/ou A eletroforese em pH alcalino nem sempre permite a diferen eluição. ciação entre hemoglobinas de mesmo ponto eletroforético. AMOSTRA: Sangue (tubo com EDTA). 165 08 Hemato BOOK 16.indd 165 26.10.06 17:36:49 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Hemoglobina fetal É a hemoglobina predominante durante a vida fetal. Seus ní veis diminuem após o nascimento e em torno do sexto mês de vida representam menos de 2% da hemoglobina total. Pode estar aumentada em anemias aplásticas, perniciosas e estados mieloproliferativos. INDICAÇÕES: Sua estimativa deve ser realizada sempre que estiver aumentada na eletroforese de hemoglobina e como complemento diagnóstico nas talassemias, persistência he reditária da hemoglobina fetal, anemia falciforme e interação talassemia/hemoglobina anormal. MÉTODO: HPLC (cromatografia líquida de alta performance) e/ou Singer. AMOSTRA: Sangue (tubo com EDTA). Hemoglobina glicosilada De modo lento e gradual, é formada em duas etapas pela liga ção da glicose com o N terminal da cadeia beta da hemoglobi na, por meio de uma reação não-enzimática. O primeiro passo cas aumenta. Essas hemoglobinas instáveis representam um grupo de tipo anormal, que produzem anemias hemolíticas agudas ou crônicas. São facilmente detectadas pela floculação que ocorre em sua presença. Além da reduzida estabilidade ao teste de calor e ao isopropanol, produzem corpos de inclusão de Heinz, visualizados principalmente em pacientes esple nectomizados. Quando houver aumento da concentração de hemoglobina fetal ou amostras envelhecidas, podem ocorrer resultados falso-positivos. MÉTODO: Carrell. AMOSTRA: Sangue (tubo com EDTA). Hemoglobina S, percentual de Útil na avaliação da concentração de HbS, principalmente em pa cientes portadores de anemia falciforme nos quais se deseja dimi nuir os níveis dessa hemoglobina sob regime de politransfusão. MÉTODO: HPLC (cromatografia líquida de alta performance) e/ou eluição. AMOSTRA: Sangue (tubo com EDTA). resulta em uma aldimina instável (base de Schiff, lábil ou préA1c). Durante a circulação dos eritrócitos, algumas destas ba ses são convertidas para a forma estável, denominada HbA1c. Esta ligação é contínua e irreversível, refletindo as concentra ções médias da glicose durante os últimos dois a três meses que precedem o exame. A dosagem da HbA1c proporciona um monitoramento a longo prazo da glicose no sangue, visto que suas breves alterações não a influenciam. INDICAÇÃO: Monitoramento, a longo prazo, da glicose em pa tes diabéticos. MÉTODO: HPLC (cromatografia líquida de alta performance). AMOSTRA: Sangue (tubo com EDTA). Hemoglobinopatias – teste do pezinho A identificação precoce das principais hemoglobinopatias, e, em particular, das diversas formas da Doença falciforme, é im portante para a orientação e o manuseio dos pacientes, contri buindo para a diminuição da morbidade do quadro. Além disso, a identificação dos recém-natos portadores indica a realização de levantamento familiar, permitindo a identificação de outros portadores. Ao nascimento a hemoglobina predominante no sangue do recém-nato é a hemoglobina fetal. O percentual da hemo globina A1, hemoglobina A2 e de qualquer hemoglobina anô mala é diminuído, dificultando a detecção e a quantificação Hemoglobina H Resulta da tetramerização da cadeia beta em excesso (b4) na talassemia alfa. Estes tetrâmeros precipitam-se na hemácia sob a forma de corpos de inclusão e podem ser observados ao microscópio após coloração com azul-de-cresil brilhante. MÉTODO: Coloração pelo azul-de-cresil brilhante. AMOSTRA: Sangue (tubo com EDTA). Hemoglobinas instáveis, Pesquisa de dessas hemoglobinas pelas técnicas tradicionais de eletro forese e eluição. A técnica de HPLC, mais sensivel, permite a detecção e a iden tificação das hemoglobinas variantes de maior incidência na população (ex: HbS, HbC, HbD etc.) mesmo nos baixos percen tuais do recém-nato, sendo uma das técnicas recomendadas para a realização da triagem neonatal. MÉTODO: HPLC. AMOSTRA: Papel de Filtro. Quando uma solução de hemoglobina é colocada em tampão de TRIS isopropanol, a instabilidade das cadeias polipeptídi 166 08 Hemato BOOK 16.indd 166 26.10.06 17:36:51 te na hemoglobinopatia S. Quando desoxigenada, a HbS apresenta baixa solubilidade, com precipitação em so- lução-tampão de alta molaridade. É importante lembrar que pode acontecer falcização na presença de outras variantes anormais de hemoglobina, como HbCHarlem, HbCZiguinehor, HbSTravis, HbSPorto Alegre, HbSMemphis, entre outras. Pode haver falso-negativos em amostras com alta concentração de hemoglobina fetal ou em pacientes hipertransfundidos. patologias. No caso de doenças próprias do sangue, as altera ções são mais características e muitas vezes patognomônicas. Cada um dos elementos é avaliado por equipamentos eletrôni cos, que contam, medem e identificam as células, em diferentes métodos combinados,como volume da célula,condutividade por radiofreqüência,dispersão de raios laser,corrente direta e foco hi drodinâmico. Estes equipamentos permitem não só a contagem global, mas a medida precisa do volume das células, a obtenção de índices e de histogramas de distribuição por volume. MÉTODO: Sickle-Id. Desta forma, pode-se, em curto intervalo de tempo, evidenciar AMOSTRA: Sangue (tubo com EDTA). na amostra analisada uma carência nutricional, especialmente Teste de Ham As hemácias de pacientes com hemoglobinúria paroxística no (HPN) são suscetíveis à lise pelo complemento quando colocadas em soro acidificado, o que não acontece com hemá normais sob as mesmas condições. É um teste de pouca sensibilidade, porém de alta especificidade para a HPN. INDICAÇÃO: Diagnóstico da hemoglobinúria paroxística notur PN). MÉTODO: Hemólise ácida. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). HEMATOLOGIA Determinação do fenômeno da falcização, encontrado prin ou como um dado evolutivo no acompanhamento de certas HEMATOLOGIA GERAL Solubilidade a deficiência de ferro, sugerir a presença de síndrome talassê mica ou detectar populações mistas de células. Com a conta gem de plaquetas e seu histograma específico, alerta-se para a formação de grumos ou a presença de anisocitose plaquetá ria. Pela contagem diferencial de leucócitos e sinais de alerta a qualquer anormalidade, facilita-se a realização de um rígi do controle de qualidade. Estes alarmes direcionam a atenção para os pontos a serem revistos. É importante ressaltar os cuidados e as interferências mais co muns que ocorrem nas coletas e análises das amostras. Pela dificuldade em estabelecer valores de referência em função da falta de informações relacionadas à higidez dos pacientes, usam-se os valores obtidos na literatura. Teste da sacarose Hémacias da hemoglobinúria paroxística noturna (HPN) são lisadas quando expostas a soluções de baixo poder iônico. O teste é positivo quando existe hemólise. Exame sensível, po ém não específico, para o diagnóstico da HPN. INDICAÇÃO: Diagnóstico da hemoglobinúria paroxística notur PN). Para se obter um resultado de qualidade é necessário, inicial mente, uma amostra representativa de sangue, colhida dentro das normas técnicas preconizadas e submetida a uma adequa da homogeneização, pois, caso contrário, pode-se chegar a fal sas alterações na contagem de células, com reflexo nos índices hematimétricos e contagem de plaquetas. Deve-se observar também outras interferências, como: MÉTODO: Hemólise pela sacarose. AMOSTRA: Sangue (tubo com citrato de sódio). – Lipemia e hiperbilirrubinemia, que podem elevar falsamente a taxa de hemoglobina; – Concentração inadequada de anticoagulante e hemólise; – Hiperglicemia e hipernatremia, que podem levar a VCM fal samente elevado e a uma CHCM falsamente diminuída; – Presença de fibrina; – Aglutinação de eritrócitos. Série Vermelha Hemograma Avalia quantitativa e qualitativamente os elemen tos do sangue — hemácias, leucócitos e plaquetas — como um meio auxiliar de orientação diagnóstica Na avaliação da série vermelha, observamos: – Alterações quantitativas da contagem dos eritrócitos através da hematimetria; – Concentração da hemoglobina; – Relação entre a massa eritrocitária e o volume total de sangue; 167 08 Hemato BOOK 16.indd 167 26.10.06 17:36:51 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA – Índices hematimétricos: VCM, HCM, CHCM e RDW; – Alterações qualitativas dos eritrócitos quanto ao tamanho, cor e forma. A interpretação em conjunto desses dados permite o diagnós tico das anemias e eritrocitoses, servindo como base para sua classificação morfológica e etiológica. ÍNDICES HEMATIMÉTRICOS Volume Corpuscular Médio (VCM) Índice estável que reflete o volume médio dos eritrócitos, obti do por leitura eletrônica. Extremamente útil na investigação e classificação das anemias. Para adultos, valores abaixo de 80µ3 denominam-se microcitose; acima de 96µ3, macrocitose. Macrocitose: Aumento do tamanho dos eritrócitos. VCM > 96µ3. Associada à reticulocitose, fumantes, deficiência de vita mina B12 e de folatos. Variações da Cor Hipocromia: Redução da cor dos eritrócitos. Reflete a diminui ção da concentração de hemoglobina. Cursa com CHCM e/ou HCM diminuídos. Anisocromia: Presença de células vermelhas com coloração ou grau de hemoglobinização diferentes, variando entre hipocro mia, normocromia e hipercromia. É característica das anemias sideroblásticas, podendo também ser encontrada nas terapias pós-transfusionais e de reposição de ferro. Policromasia ou Policromatofilia: Presença de um número au Hemoglobina Corpuscular Média (HCM) mentado de eritrócitos recém-saídos da medula óssea, que se cada eritrócito. Estará aumentado nas macrocitoses e diminuí fletindo um processo regenerativo da medula (reticulocitose), Índice que reflete a quantidade média de hemoglobina de coram com um matiz azulado em meio à coloração normal, re do nas microcitoses. característico da hemólise e perda aguda de sangue. Concentração da Hemoglobina Corpuscular Média (CHCM) Variações da Forma Índice que reflete a concentração de hemoglobina em um deter minado volume de eritrócitos (hematócrito), demonstrando seu nível de saturação. Quando diminuído, traduz uma insaturação hemoglobínica dos eritrócitos. Quando aumentado, é sugestivo da presença de esferócitos e denomina-se hipercromia. Red Cell Distribution Width (RDW) Poiquilocitose: Presença de eritrócitos de forma anormal. Al guns poiquilócitos caracterizam determinadas anemias. Esferócitos: Eritrócitos de forma esférica. Costumam estar pre sentes na esferocitose hereditária e em algumas anemias he molíticas adquiridas. Dacriócitos: Eritrócitos em lágrima. Ocorrem na mielofibrose primária e secundária à invasão medular, na anemia megalo blástica, talassemia e condições associadas à esplenomegalia. Acantócitos: Eritrócitos de forma espiculada. Associada à abe talipoproteinemia hereditária e doença hepática. Células se melhantes são encontradas em pacientes esplenectomizados. Codócitos: Eritrócitos em alvo. Decorrem de um excesso de Traduzido como amplitude de distribuição dos glóbulos ver melhos, este índice reflete a variação do tamanho dos eritróci tos. Fragmentos celulares de hemácias, plaquetas e leucócitos, quando presentes em grande quantidade, podem também al terar estes valores. É obtido pela análise de dados fornecidos membrana ou perda do conteúdo citoplasmático da célula. Quando a membrana fica muito fina e perde a forma de alvo, os eritrócitos são chamados de leptócitos. Associados à icterí cia obstrutiva, doença hepática severa, deficiência de ferro e hemoglobinopatias. pelos histogramas de volume. Eliptócitos: Eritrócitos de forma elíptica ou oval. Aparecem de ANORMALIDADES QUALITATIVAS DOS ERITRÓCITOS dos nas anemias megaloblásticas, por deficiência de ferro, ta Variações de Tamanho Anisocitose: Presença de grande quantidade de eritrócitos de tamanhos diferentes. Microcitose: Diminuição do tamanho dos eritrócitos. VCM < 80µ3. Pode ocorrer nas anemias ferroprivas, ou relacionadas a doenças crônicas e talassemias. modo generalizado na eliptocitose hereditária e são encontra lassemias, mielofibrose e outras. Drepanócitos: Eritrócitos em forma de foice, que caracterizam a hemoglobinopatia S (doença falciforme). Esquizócitos: Eritrócitos com formas bizarras, observados em muitos casos de anemia, em hemólise própria da hipofosfate mia e hipomagnesinemia, uremia etc. O eritrócito fragmenta 168 08 Hemato BOOK 16.indd 168 26.10.06 17:36:51 das doenças. de coagulação intravascular disseminada, próteses valvulares, queimaduras extensas e microangiopatias. ANORMALIDADES MORFOLÓGICAS DOS LEUCÓCITOS Ceratócitos: É um esquizócito em forma de capacete. Presente Anormalidades Adquiridas na anemia hemolítica por defeito enzimático, traumas e uso prolongado de sulfas. Variações da Estrutura Corpos de Howell-Jolly: São corpúsculos de inclusão, basofíli cos, pequenos e bem definidos, resultantes de cromossomos aberrantes, remanescentes de mitoses anômalas. Comum em esplenectomizados, anemias megaloblásticas e hemolíticas, e hipoesplenismo. Pontilhado basófilo: Presença de grânulos azulados decorren tes da instabilidade e precipitação de RNA na célula jovem. Podem ser encontrados na talassemia minor, intoxicação por chumbo, zinco ou mercúrio, na deficiência hereditária de piridino-5-nucleotidase, na anemia perniciosa e outras formas de anemia severa. Anéis de Cabot: Presença de restos do fuso mitótico remanes centes de mitoses anômalas. Observados em anemias megalo blásticas e outras causas de eritropoiese anormal. Outras Variações Eritroblastos: São eritrócitos nucleados que podem estar pre sentes no sangue periférico no decurso de grandes processos regenerativos eritrocitários ou na infiltração medular. Quando aparecem associados a formas precursoras da série granulocí tica denomimam-se “reação leucoeritroblástica”. Fenômeno de Rouleaux: É o empilhamento de eritrócitos ob servado nas distensões sangüíneas, decorrentes da concen tração elevada de fibrinogênio ou globulinas. A formação de rouleaux é especialmente marcante na paraproteinemia (ga mopatia monoclonal). Série Branca Corpúsculo de Döhle: São inclusões ovais de coloração azul pá lida, remanescentes de ribossomas livres que persistiram após um estágio de desenvolvimento mais precoce, localizando-se na periferia do citoplasma, na maioria das vezes isoladas. Po dem ser encontradas com freqüência em grande variedade de infecções e também em traumas e queimaduras. Granulações grosseiras ou tóxicas: São grânulos azurófilos que se mantêm no citoplasma dos neutrófilos por um estímulo à granulocitopoese durante processos infecciosos persistentes. Vacuolizações citoplasmáticas: Representam a imagem nega tiva das granulações grosseiras, como resultado da depleção dos grânulos azurófilos no processo de fagocitose. Anormalidades Hereditárias Pelger-Hüet: É a mais comum. Caracteriza-se pela falência no desenvolvimento dos clones normais das células da série gra nulocítica. A alteração morfológica encontrada é a hiposseg mentação neutrofílica, sem envolvimento funcional da célula. Os neutrófilos apresentam-se na periferia sob a forma de bas tões ou com discreta segmentação. Sem exteriorização clínica, a importância de seu diagnóstico é evitar a interpretação do aumento da contagem do número de bastões como um desvio à esquerda causado por processos infecciosos agudos. É típica também nos eosinófilos. Esta anomalia pode também ser ad quirida como uma reação idiossincrática a drogas, em alguns pacientes com leucemia, ou como reações mielodisplásicas, denominada pseudo-Pelger-Hüet. Alder-Reilly: Granulações gigantes, azurófilas, encontradas especialmente nos neutrófilos associados a outros defeitos hereditários. Pode se manifestar em granulócitos, monócitos e linfócitos ou atingir somente um tipo de leucócito. Esta ano malia é vista em pacientes com desordens metabólicas, como Nela, avaliam-se as alterações dos leucócitos. No estudo quan as mucopolissacaridoses hereditárias. titativo, inclui-se a contagem global e a diferencial que especi May-Hegglin: Corpúsculo azulado de inclusão citoplasmática, fica, de forma relativa (%) e absoluta (mm3), a presença de cada forma de leucócito. A análise e a classificação são baseadas no volume da célula individual, condutividade, dispersão da luz por raio laser, radiofreqüência e corrente direta, fornecendo informações sobre volume, estrutura celular, características dos constituintes nucleares, granulares e citoplasmáticos, e alertando o citologista para a presença de granulócitos ima turos, desvio à esquerda, presença de linfócitos atípicos e blas tos. A análise das alterações das formas leucocitárias auxilia HEMATOLOGIA no diagnóstico, prognóstico e acompanhamento da evolução sito de fibrina intravascular, comumente observado nos casos HEMATOLOGIA GERAL do é um tipo de esquizócito causado por trauma ou por depó isolado, tipo Döhle, associado a plaquetas gigantes e trombo citopenia. Chediak-Higashi: Distúrbio raro que cursa com albinismo óculo-cutâneo, fotofobia, infecções piogênicas freqüentes e a presença de grandes corpúsculos de inclusão eosinofílicos (li sossomas gigantes) na maioria dos granulócitos, nos quais há comprometimento da função e neutropenia, resultando em sobrevida curta ao paciente. 169 08 Hemato BOOK 16.indd 169 26.10.06 17:36:52 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA AVALIAÇÃO PLAQUETÁRIA É feita de duas formas: quantitativa e qualitativa. Avaliação qualitativa: Permite a observação das alterações morfológicas plaquetárias através do exame da distensão ÍNDICES PLAQUETÁRIOS Alguns desses índices ainda não estão liberados para uso clíni co, por falta de uma melhor associação e compreensão da sua interpretação em relação aos diferentes quadros clínicos. sangüínea. MPV (MEAN PLATELET VOLUME) – Volume plaquetário médio. Anormalidades morfológicas das plaquetas: PDW (PLATELET DISTRIBUTION WIDTH) – Reflete a variação no volu – Plaquetas gigantes ou macroplaquetas: Expressam turnover acelerado e são observadas quando há destruição periférica exagerada, como na púrpura trombocitopênica idiopática, tromboses extensas e na síndrome de Bernard-Soulier. – Micromegacariócitos: São encontrados nas síndromes mielo proliferativas e mielodisplásicas. – Anisocitose plaquetária: É a observação de plaquetas de ta manho variado (normal, micro e macroplaquetas) sem predo me das plaquetas. O MPV tem se mostrado útil na diferenciação de alterações plaquetárias de origem central (medular) ou periférica (vasos). Nas primeiras, aparece diminuído, já que as plaquetas têm um índice de produção diminuído e as que estão em circulação são velhas e de pequeno volume. Nas alterações periféricas, acontece o oposto, já que o turnover elevado faz com que haja mínio de nenhuma das formas, observada em situações em aumento de macroplaquetas circulantes. que existe aceleração do processo de produção, como nas Este índice pode fornecer informações evolutivas dos pacientes síndromes mieloproliferativas, mielodisplásicas e disfunções plaquetárias. – Plaquetas dismórficas: Apresentam morfologia bizarra, co mo na síndrome de Bernard-Soulier e na púrpura trombo citopênica idiopática crônica. Avaliação quantitativa: Feita por meio da contagem eletrôni ca em aparelhos automáticos ou da contagem ao microscópio em câmaras especiais. As alterações quantitativas permitem o diagnóstico de: Hiperplaquetemia: Plaquetas aumentadas em número. Nor malmente observadas em: – Doenças mieloproliferativas (policitemia vera, leucemia mie lóide crônica e trombocitemia essencial); – Após cirurgias, em especial a esplenectomia; – Artrite reumatóide, doenças inflamatórias crônicas e doenças malignas (carcinomas, doença de Hodgkin e outros linfomas); – Freqüentemente observadas em pacientes com anemia por carência de ferro. Plaquetopenia ou trombocitopenia: Plaquetas diminuídas em número. Normalmente observadas em: – Síndromes de Aldrich e de Bernard-Soulier (hereditárias), púrpura trombocitopênica idiopática e secundária a drogas (adquirida); – Algumas infecções virais e bacterianas; – Trombopoiese ineficaz (deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico, hemoglobinúria paroxística noturna); – Desordens imunológicas; – Após regime de hipertransfusão; – Síndromes microangiopáticas; – Após quimioterapia e radioterapia; – Doenças do tecido hematopoiético (leucemias e aplasias). com púrpura trombocitopênica idiopática (PTI). Um aumento de valores indica um número elevado de megacariócitos de re posição plaquetária, refletindo-se também nos níveis do PDW, que sobe devido à anisocitose criada pela presença concomi tante no sangue periférico de diferentes volumes plaquetários. INDICAÇÕES: Avaliação da hemostasia. Monitoramento do tra tamento quimioterápico de leucemias e linfomas, e acompa nhamento de púrpuras. MÉTODO: Contagem automatizada: citoquímica, impedância, de abertura e foco hidrodinâmico. AMOSTRA: Sangue (tubo com EDTA). Mielograma Permite a avaliação qualitativa e quantitativa das células da medula óssea (celularidade/maturação), a identificação das que forem incomuns à sua citologia e de parasitas. INDICAÇÕES: Diagnóstico de doenças hematológicas ou do en volvimento medular por neoplasias não hematológicas ou pa rasitas. MÉTODO: Análise microscópica pós-coloração com May Grunwald Giemsa. AMOSTRA: Aspirado de medula óssea. Pesquisa de células LE O fenômeno LE é um método indireto de investigação de anti corpo antinuclear da classe IgM, IgA ou mais freqüentemente IgG, presente em 60% a 80% dos pacientes com lúpus eritema toso sistêmico (LES) agudo. Um resultado negativo não exclui 170 08 Hemato BOOK 16.indd 170 26.10.06 17:36:52 portadores de outras colagenoses, artrite reumatóide, hepati te crônica ativa e lúpus induzido por drogas. O teste torna-se negativo em cerca de 60% dos pacientes após quatro a seis se manas de tratamento. O teste não é tão sensível quanto o FAN ou a pesquisa de anticorpos anti-DNA para o acompanhamen to terapêutico. Contra-indicado em pacientes heparinizados e com leucopenia ou neutropenia importante. Reticulócitos É um eritrócito ainda imaturo, que possui em seu interior RNA residual na forma de uma fina trama reticular, que se cora por coloração supravital, como o azul-de-cresil brilhante ou novo azul-de-metileno. A avaliação da atividade eritropoiética da medula óssea atualmente é mais precisa devido ao uso de substâncias fluorescentes em equipamentos automatizados que além de analisar um número muito superior de células é capaz de detectar reticulócitos ainda muito imaturos. O eritrócito permanece como reticulócito na circulação duran te um período de 24 a 36 horas. O resultado é expresso em percentual e em número absoluto em relação à população de HEMATOLOGIA testes positivos também podem ser encontrados em pacientes HEMATOLOGIA GERAL totalmente o diagnóstico de LES (95% de sensibilidade), mas eritrócitos. As anemias que cursam com reticulócito normal refletem a inca pacidade da medula em responder ao estímulo por carência de um fator específico para a formação de eritrócitos (ferro, na ane mia ferropriva; e eritropoietina, na insuficiência renal crônica). INDICAÇÃO: Avaliação nas doenças auto-imunes, especialmen- te LES. AMOSTRA: Sangue (tubo com heparina). Pesquisa de Filária INDICAÇÃO: Diagnóstico da filariose (elefantíase). MÉTODO: Microscopia a fresco e/ou após concentração com áci o. AMOSTRA: Sangue (tubo com EDTA) coletado à noite entre as 22h e 4h. Pesquisa de Hematozoários Permite o diagnóstico de parasitismo pelo Plasmodium vivax, falciparum e malariae, Trypanosoma cruzi, Leishmania donova ni, Trichinella spiralis, Borrelia recurrentis, Toxoplasma gondii e Histoplasma capsulatum. Os agentes infecciosos podem se es tabelecer em órgãos hematopoiéticos, como a medula óssea, baço e linfonodos, ou permanecer na circulação de forma tran sitória. Pesquisas negativas devem ser repetidas em dias sub seqüentes para aumentar a probabilidade de identificação. INDICAÇÃO: Diagnóstico de infestação sangüínea por parasitismo. MÉTODO: Microscopia em distensões sangüíneas e em gota espessa. INDICAÇÕES: Utilizado para avaliar de forma efetiva a produção de eritrócitos, efetuar controle terapêutico, no diagnóstico di ferencial e na classificação das anemias. MÉTODO: Semi-automatizado, combina o corante supravital novo azul-de-metileno, que precipita RNA residual, formando complexos basofílicos no interior das células a serem analisa das com grande precisão por citometria em fluxo. AMOSTRA: Sangue (tubo com EDTA). Velocidade de hemossedimentação (VHS) É a medida da velocidade de separação entre as hemácias e o plas ma que, por ser menos denso, favorece a sedimentação dos gló bulos pela ação da gravidade. Inicialmente, há queda individual das hemácias, seguida pelo empilhamento com formação de rou leaux e aumento da velocidade de hemossedimentação. Fatores plasmáticos ou eritrocitários, que afetam direta ou indiretamente o grau de empilhamento dos eritrócitos, alteram essa velocidade. FATORES QUE ALTERAM A VELOCIDADE DE SEDIMENTAÇÃO AMOSTRA: Sangue (tubo com EDTA) colhido preferencialmente Fatores plasmáticos durante o pico febril. Concentração aumentada de fibrinogênio e de globulinas ace leram a VHS por diminuírem o potencial de repulsão entre as hemácias. A VHS varia diretamente com a viscosidade. 171 08 Hemato BOOK 16.indd 171 26.10.06 17:36:53 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Níveis elevados de colesterol aceleram a sedimentação. Concentração de íons de hidrogênio: acidose modifica a carga elétrica das hemácias, retardando a sedimentação, e a alcalose a favorece. Elementos circulantes: como a heparina, lipídios e dextran in ferem na sedimentação. Fatores eritrocitários O número aumentado de hemácias retarda a sedimentação e um número diminuído acelera. Forma da hemácia: Alguns poiquilócitos sedimentam mais len tamente por dificuldade de formação de rouleaux, como os drepanócitos. Tamanho da hemácia: Hemácias microcíticas e hipocrômicas sedimentam mais lentamente. Variações fisiológicas com VHS aumentado – Crianças; – Mulheres após a puberdade; – Período menstrual; – Gravidez, principalmente após o 40º mês; – Climas quentes. Variações patológicas Embora sensível, o VHS é um teste pouco específico. Eleva-se nos processos inflamatórios agudos e crônicos, nas lesões e destruição tecidual, sendo de grande auxílio no controle evolu tivo das doenças reumáticas ou crônicas, como a tuberculose. A hemostasia resulta de uma série de interações complexas pelas quais o sangue é mantido fluido no sistema vascular, em que se previnem processos he morrágicos espontâneos e se contêm sangramentos traumáticos. Depende basicamente da resistência e contratilidade normais dos vasos, da constituição e elasticidade dos tecidos periféricos, da atividade pla quetária normal, de um sistema adequado de coagu lação e da estabilidade do coágulo. Com o processo de coagulação do sangue, é obtido um coágulo sólido de fibrina, através da interação de plaquetas, fatores plas máticos, seus inibidores e ativadores. Quando há lesão de um vaso sangüíneo, o sistema hemostático intervém imediatamen te. De início, a vasoconstrição reflexa reduz o fluxo sangüíneo lo cal. Em seguida, as plaquetas se prendem às fibras de colágeno do tecido conectivo exposto, num processo chamado de adesão, e umas às outras, no processo de agregação, que é amplificado pela liberação de substâncias intraplaquetárias armazenadas em grânulos. Com isso, forma-se um tampão hemostático. Ao mesmo tempo, através das vias extrínseca e intrínseca, fatores plasmáticos ativam a protrombina, transformando-a em trom bina, que passa a atuar sobre o fibrinogênio para formar a rede de fibrina que é estabilizada pela ação do fator XIII. Forma-se, então, um coágulo sólido. Posteriormente, este coágulo é lisa do pelo sistema fibrinolítico, fazendo com que o plasminogênio seja ativado à plasmina e dividindo a fibrina em uma série de produtos de degradação (PDF). Assim, o local lesado é reparado e restabelece-se o fluxo sangüíneo normal. Distúrbios adquiridos ou hereditários destes sistemas fisio lógicos ocasionam doenças hemorrágicas ou trombóticas. Os mecanismos fisiopatológicos que envolvem a trombogênese têm sido amplamente estudados e contam com vários com ponentes que envolvem alterações no fluxo, na composição do sangue e na parede vascular. Muitos apresentam defeito pla quetário e alterações congênitas ou adquiridas das proteínas da coagulação; outros são basicamente atribuídos ao meio, como estilo de vida; ou trata-se de pacientes clinicamente INDICAÇÕES: Avaliação de atividades infecciosas inespecíficas, estados inflamatórios, doenças auto-imunes e reumáticas. MÉTODO: Fotométrico por capilaridade. AMOSTRA: Sangue (tubo com EDTA). suspeitos de apresentarem quadro de hipercoagulabilidade adquirida ou secundária, como anticoagulante lúpico, uso de estrogênio, neoplasias, homocisteinúria, doenças mieloproli ferativas, diabetes mellitus, hiperviscosidade, pós-operatório, trauma, gravidez (em especial no período pós-parto), imobili zação prolongada, dentre outras. 172 08 Hemato BOOK 16.indd 172 26.10.06 17:36:54 ção entre fatores genéticos e adquiridos. Até o início da década de 1990, as causas de sua forma hereditária eram diagnosti cadas em menos de 15% de pacientes com tromboembolismo venoso (TEV) e se resumiam a deficiências de antitrombina III (AT III), proteína C (PTN C) e proteína S (PTN S). Descobertas re proliferativas. É apropriado que se realize a pesquisa baseada na história pes soal, familiar e clínica do paciente. Para orientar a investigação laboratorial, os pacientes com história trombótica podem ser mais bem caracterizados como “fortemente” e “fracamente” centes de duas mutações protrombóticas, prevalentes em in trombofílicos. divíduos caucasianos – o fator V de Leiden e mutação G20210A Nos pacientes incluídos no grupo“fortemente” trombofílicos,bas- no gene da protrombina – reativaram o interesse nessa área. Cresceram as evidências de que a elevação dos níveis plas máticos da homocisteína e do fator VIII aumentam o risco de trombose venosa e arterial, e a introdução dos marcadores da síndrome do anticorpo antifosfolipídio (anticoagulante lúpico e anticardiolipina) contribuiu positivamente para a elucidação da etiopatogenia de um número maior de casos de TEV idiopá tico, isto é, daqueles que não apresentavam um fator de risco desencadeante evidente, tais como cirurgias, imobilização pro longada ou malignidade. ta um fator positivo para indicar uma completa avaliação labo ratorial para trombofilia hereditária. Nos pacientes “fracamente” trombofílicos, as deficiências de AT III, das proteínas C e S, são ex tremamente raras, podendo, portanto, ser omitidas do screening. A investigação laboratorial, de preferência, não deverá ser rea lizada durante períodos nos quais os inibidores da coagulação estariam naturalmente diminuídos, como, por exemplo, gravi dez, episódio de tromboembolismo agudo, uso de anticoagu HEMATOLOGIA Trombofilia é a predisposição à trombose resultante da intera idade avançada, neoplasias, síndromes do anticorpo antifosfo lipídio, lúpus eritematoso sistêmico (LES) e síndromes mielo HEMOSTASIA, COAGULAÇÃO E TROMBOSE O estado de hipercoagulabilidade lantes orais etc. A presença do fator V Leiden é responsável por mais de 90% dos casos de aumento da resistência à proteína C ativada (RPCA), que por sua vez representa o mais comum fator genéti co predisponente para doença tromboembólica. Está associa da às desordens hipertensivas da gravidez (pré-eclâmpsia), aos abortos do primeiro e terceiro trimestre, ao infarto placentá rio, ao descolamento prematuro da placenta e principalmente ao TEV, em que as pacientes homozigotas para a presença do fator V Leiden têm de 50 a 100 vezes maior probabilidade de Níveis de AT III podem mostrar-se diminuídos em associação à terapia com heparina, do mesmo modo como valores de PTN C e PTN S apresentam-se reduzidos com a administração de cumarínico. Portanto, em pacientes com trombose, a investi desenvolver um acidente tromboembólico. gação deve ser realizada de três a seis meses depois da anticoa O que pesquisar: anticoagulante. gulação e pelo menos duas semanas após a interrupção do – Teste funcional para AT III; – Teste funcional para PTN C; – Teste funcional para PTN S e antigênico para PTN S total e livre; – Teste coagulométrico para anticoagulante lúpico (LA) e Elisa para anticorpo antifosfolipídio (APA); – Dosagem da homocisteína plasmática; – Atividade do fator VIII; – Resistência à proteína C ativada (RPCA) por teste coagulomé trico ou genético para fator V Leiden; – Teste genético para mutação da protrombina G20210A. Quando pesquisar: Indivíduos com história pessoal ou familiar de trombose, sub metidos a situações de risco como grandes cirurgias, cirurgias ortopédicas, prostatectomia, imobilização prolongada, uso de contraceptivos orais, terapia de reposição hormonal, gravidez, Adesividade plaquetária A adesividade in vivo pode ser estimada comparando-se a con tagem de plaquetas no sangue anticoagulado com a mesma contagem no sangue obtido por punção digital com pipeta de Sahli. O resultado expressará o percentual de plaquetas aderi das ao vidro. INDICAÇÕES: O teste é útil para avaliar a função plaquetária de adesividade no diagnóstico de doença de Von Willebrand, tromboastenia de Glanzman e síndrome de Bernard-Soulier. MÉTODO: In vivo, baseado no teste de Borchgrevink. AMOSTRA: Punção venosa e digital (tubo com EDTA e pipetas de Sahli). OBSERVAÇÃO: Evitar por 10 dias antes do teste o uso de aspirina, anti-histamínicos, fenotiazida e fenilbutazona. 173 08 Hemato BOOK 16.indd 173 26.10.06 17:36:54 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Agregação plaquetária, Teste de Avaliação pela variação de densidade óptica de um plasma rico em plaquetas sob a ação de agregante (adrenalina, ADP, risto cetina e colágeno) estudando-se as duas fases da agregação plaquetária. INDICAÇÕES: – Auxilia no diagnóstico de trombocitopatias (doença do pool de estoque, doença de Von Willebrand [vide fator de Von Willebrand], síndrome de Bernard-Soulier, doença de Glanz man); – Controle terapêutico de medicamentos antiagregantes; – Doenças hematológicas relacionadas a defeitos plaquetários (trombocitopatias); – Doenças tromboembólicas; – Coronariopatias MÉTODO: Turbidimetria (Born). AMOSTRA: Sangue (tubo com citrato de sódio). Anticoagulante lúpico Observado em diversas condições clínicas que têm em co mum processos tromboembólicos recorrentes, manifestações trombóticas neurológicas, abortos espontâneos sucessivos e trombose venosa e ou arterial. Sua presença é detectada pela interferência nos testes de coagulação, especialmente TTPA (tempo de tromboplastina parcial ativada), visto que são auto anticorpos adquiridos contra complexos fosfolipídio-proteína. O anticoagulante lúpico é um auto-anticorpo da classe IgG ou IgM, presente em enfermidades auto-imunes, como lúpus eritematoso sistêmico e artrite reumatóide, na exposição a determinados fármacos (clorpromazina, procainamida, anti bióticos), neoplasias, transtornos mieloproliferativos, infecções virais e bacterianas, e em situações não associadas a nenhuma patologia de base em que se acredite que possa ser um sinal precoce de patologia auto-imune. Como um antifosfolipídio, o anticoagulante lúpico reage a um ou a vários fosfolipídios, podendo pertencer a subgrupos distintos de anticorpos, o que explica situações em que se encontra positividade de um e negatividade de outro. Apesar das alterações das provas de coagulação, seus portadores não apresentam manifestações hemorrágicas, a não ser quando associado a outra alteração da hemostasia. INDICAÇÃO: Pesquisa de anticoagulante circulante que pode ter indicação em diversas condições clínicas que tenham em co mum processos tromboembólicos recorrentes, manifestações trombóticas neurológicas, abortos espontâneos sucessivos e trombose venosa e ou arterial. MÉTODO: Automatizado: fosfolipídios e veneno de víbora de Russel diluído. AMOSTRA: Sangue (tubo com citrato de sódio). Antitrombina A AT é um inibidor natural da trombina, dos fatores Xa, IXa, XIa, XIIa e da calicreína. É sintetizado no fígado, com meia-vida biológica de aproximadamente dois a três dias. Sua atividade é intensificada pela interação com a heparina e o sulfato de heparan. Pacientes com baixos níveis de AT geralmente exibem algum grau de resistência à anticoagulação pela heparina. É o mais importante inibidor fisiológico das proteases séricas ge radas durante o processo de coagulação, em particular do fator Xa, em que parece exercer efeito crítico. Sua deficiência é importante na freqüência elevada de trans tornos tromboembólicos espontâneos. É responsável por 1,1% dos casos de tromboembolismo venoso (TVE) em pacientes não selecionados e em até 5% dos casos de trombose abaixo de 70 anos de idade. Em famílias sintomáticas, cerca de 50% dos indivíduos heterozigóticos desenvolvem trombose, estimando-se em 2% o risco de trombose arterial. A deficiência de antitrombina apresenta-se mais comumente em tromboses venosas de extremidades baixas, com histórico em muitos ca sos de embolia pulmonar. A deficiência de AT pode ser quantitativa (tipo I), caracterizada pela diminuição nos testes funcionais e antigênicos; ou qualita tiva (tipo II), em que se observam níveis normais de antitrombi na antigênica com níveis funcionais diminuídos. Assim, o teste funcional deve ser utilizado como rastreamento inicial e, se di minuído, a investigação prossegue com a pesquisa antigênica. As deficiências quantitativas são as mais freqüentes e deve riam ser sistematicamente investigadas nos casos pré-operatórios e como prevenção a qualquer tratamento suscetível de diminuir ainda mais os níveis de AT, como, por exemplo, na prescrição de estrogênios. A deficiência de AT também tem sido relacionada a um grande número de TEV durante a gravi dez, segundo estudos recentes. Ao nascimento, os níveis estão diminuídos (39% a 87%), atingindo valores de referência para adultos em seis meses. Níveis de AT podem apresentar-se diminuídos em: – Infarto agudo do miocárdio; – Coagulação intravascular; – Tromboflebites; – Colite; – Síndromes nefróticas; – Uso de anticoncepcionais orais; 174 08 Hemato BOOK 16.indd 174 26.10.06 17:36:55 – Pré-eclâmpsia; – Uso de L-asparaginase, tamoxifen etc. Indicações: INDICAÇÃO: Monitoração das heparinas de baixo peso molecu HBPM). MÉTODO: Cromogênico . AMOSTRA: Sangue (tubo com citrato de sódio), colhido 3 a 4 horas após uso do medicamento ou segundo orientação médica. – Evolução do estado de hipercoagulabilidade; – Circunstâncias fibrinolíticas; – Risco trombótico; – Evolução de função hepática; – Coagulação intravascular disseminada; – História familiar ou individual de transtornos tromboembólicos; – Embolismo pulmonar; – Síndrome nefrótica; – Condição pós-cirúrgica. MÉTODOS: Colorimétrico com substrato cromogênico sintético para antitrombina funcional. AMOSTRA: Sangue (tubo com citrato de sódio). Coagulação, Tempo de Teste de pouca sensibilidade. Está aumentado nas deficiências severas de qualquer um dos fatores da coagulação, nos casos de afibrinogenemia e no uso de heparina em doses importantes. INDICAÇÃO: Avaliação da via intrínseca da coagulação. MÉTODO: Lee-White. AMOSTRA: Sangue colhido em tubo de hemólise (sem anticoa te) e mantido a 37°C. Fator II HEMATOLOGIA – Neoplasias hepáticas; HEMOSTASIA, COAGULAÇÃO E TROMBOSE – Reposição hormonal; Também conhecido como protrombina, é uma glicoproteína Anti-Xa, atividade Exame usado para monitoração das heparinas de baixo peso molecular (HBPM), principalmente em circunstâncias em que a farmacocinética pode ser alterada, como na insuficiência re nal, gravidez etc. vitamina K dependente, precursora da trombina, sintetizada pelo fígado e pelo cérebro. Sua deficiência hereditária é autos recessiva e extremamente rara. A deficiência adquirida pode ocorrer nas hepatopatias, na carência de vitamina K, no uso de anticoagulante oral e na coagulação intravascular dis Sua diminuição causa prolongamento no tempo de As HBPM são obtidas pelo fracionamento ou despolimerização protrombina e no tempo de tromboplastina parcial ativado. da heparina. A mutação G20210A é fator de risco para eventos trombóticos A heparina é um anticoagulante composto por cadeias polis (vide mutação G20210A gen da protrombina) e está associada sacarídeas de diferentes pesos moleculares com grande afini dade pela antitrombina (AT), inibidor fisiológico da coagulação, especialmente trombina (IIa) e fator X ativado (Xa). As cadeias polissacarídeas longas da heparina não fracionada podem ligar-se tanto à AT quanto à IIa. As HBPM, com cadeias menores, mantêm sua atividade anti-Xa, mas têm atividade anti-IIa reduzida. Portanto, para determinar a atividade in vivo das HBPM utilizamos a atividade anti-Xa e não o PTTa. Algumas condições onde se recomenda o monitoramento da atividade anti-Xa: – obesidade mórbida; – insuficiência renal; – gestantes com síndrome antifosfolipídio ou próteses valva res etc. A interpretação dos resultados dependerá de vários fatores, uma vez que diferentes protocolos terapêuticos ou profiláticos são usados com as várias HBPM comercializados, e também clínica do paciente. a níveis plasmáticos elevados de protrombina INDICAÇÃO: Investigação de deficiência de fator da via comum da coagulação. MÉTODO: Coagulométrico automatizado. AMOSTRA: Sangue (tubo com citrato). Fator V É uma glicoproteína de cadeia simples, sintetizada no fígado (fator V plasmático) e nos megacariócitos (fator V plaquetário). É também um componente dos grânulos nos megacariócitos e, conseqüentemente, nas plaquetas. É ativado pela trombina, sendo o fator Va co-fator do fator Xa na ativação da protrombi na em trombina. O fator Va é inativado pela proteína C ativada, reação que requer a proteína S como um co-fator. Sua deficiência hereditária é autossômica recessiva e somente homozigotos apresentam sintomas. Já as deficiências adqui ridas podem ser encontradas na cirrose, hepatite, coagulação intravascular disseminada e fibrinólise. 175 08 Hemato BOOK 16.indd 175 26.10.06 17:36:55 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA A avaliação laboratorial revela os tempos de protrombina, de Willebrand), está associado à doença de Von Willebrand. Gene tromboplastina parcial ativada prolongado e de trombina nor autossômico, o fator Von Willebrand (FvW) é essencial para a O tempo de sangramento poderá estar prolongado nos casos de deficiência severa de fator V plasmático, desde que o fator V plaquetário tenha sido afetado. INDICAÇÃO: Investigação de deficiência de fatores da via co coagulação e avaliação da função hepática. MÉTODO: Coagulométrico automatizado. AMOSTRA: Sangue (tubo com citrato de sódio). Fator V de Leiden Vide capítulos de Genética e Biologia Molecular. adesão de plaquetas ao subendotélio e para induzir agregação com ristocetina. Na hemofilia A, os níveis de atividade coagulante do fator VIII estão diminuídos, enquanto os do fator de Von Willebrand, determinado por provas de função plaquetária, encontram-se normais. Em pacientes com doença de Von Willebrand, a ativi dade do fator VIII:C e do FvW podem apresentar níveis de redu ção semelhantes entre si. A hemofilia A é caracterizada por hemorragias nos tecidos mo les, músculos e articulações. A hemostase normal requer, no mínimo, 25% de atividade de fator VIII. Pacientes sintomáticos geralmente têm essa atividade inferior a 5% e aqueles que a Fator VII É uma glicoproteína vitamina K dependente, formada por ca deia polipeptídica simples e sintetizada no fígado como um precursor inativo, ativado pelo fator X na presença de fator tis sular e cálcio. O complexo fator VII/fator tissular também ativa o fator IX, contribuindo para ativação da via intrínseca. Assim, a deficiência de fator VII está associada a manifestações clínicas significativas. Podem ser adquiridas durante terapia com anti coagulantes orais, deficiência de vitamina K, distúrbios hepáti cos, coagulação intravascular disseminada e fibrinólise. A avaliação laboratorial revela prolongamento no tempo de protrombina e no tempo de tromboplastina parcial ativada normal, que ocasionalmente poderá estar prolongado. Em ge al, o tempo de sangramento é normal. INDICAÇÃO: Como parte da investigação de diátese hemorrági editária, acometendo a via extrínseca da coagulação. MÉTODO: Coagulométrico automatizado. AMOSTRA: Sangue (tubo com citrato de sódio). Fator VIII É uma glicoproteína sintetizada no fígado, baço, rins e linfó citos, que acelera a ativação do fator X através do fator IXa na presença de cálcio e fosfolipídios. No plasma, circula comple xado com o fator Von Willebrand, que estabiliza e regula sua atividade. A ação destas duas proteínas está intimamente in terligada, embora ambas tenham propriedades bioquímicas e imunológicas distintas. Um de seus componentes apresenta atividade coagulante e apresentam abaixo de 1% desenvolveram a forma grave da doença, com sangramentos freqüentes, mesmo na ausência de trauma discernível. O nível de fator VIII pode elevar-se sob certas condições, como o uso de contraceptivos orais, complicações tromboembólicas, diabetes, aterosclerose coronariana e processos reacionais agudos. INDICAÇÃO: Investigação de deficiência de fator da via intrínse coagulação. MÉTODO: Coagulométrico automatizado. AMOSTRA: Sangue (tubo com citrato de sódio). Fator IX É uma glicoproteína sintetizada no fígado. Sua síntese é de pendente de vitamina K, necessária para a fixação do fator IX nas plaquetas ou nos fosfolipídios teciduais, na presença de cálcio iônico. A deficiência desse fator pode ser congênita ou adquirida. A congênita, herdada como caráter recessivo ligado ao cromossoma X, causa hemofilia B, em que os processos he morrágicos nas articulações não constituem um achado tão freqüente quanto na hemofilia A. A adquirida resulta do uso de terapia com anticoagulantes orais, cirrose, hepatite, má ab sorção de vitamina K etc. Na maioria dos casos, a avaliação laboratorial revela tempos de protrombina e de trombina normais e tempo de tromboplasti na parcial ativada prolongado, o que só não ocorrerá se o nível do fator IX estiver maior que 25%. INDICAÇÃO: Investigação de deficiência de fator da via intrínse coagulação. é denominado f VIII:C (fator VIII coagulante) e sua deficiên MÉTODO: Coagulométrico automatizado. cia está associada à hemofilia A. O segundo componente do AMOSTRA: Sangue (tubo com citrato de sódio). complexo, denominado FvW-Ag (antígeno do fator de Von 176 08 Hemato BOOK 16.indd 176 26.10.06 17:36:56 , ativada pelas vias intrínseca e extrínseca da coagulação, e responsável pela conversão da protrombina em trombina. Sua deficiência hereditária é rara, uma herança autossômica parcial ativado normais. MÉTODO: Detecção fotométrica do coágulo. AMOSTRA: Sangue (tubo com citrato). recessiva. Quando adquirida, suas principais causas de carên são as patologias hepáticas, deficiência de vitamina K e o uso de anticoagulantes orais. INDICAÇÃO: Investigação de deficiência de fatores da via co coagulação. MÉTODO: Coagulométrico automatizado. AMOSTRA: Sangue (tubo com citrato). Fator de Von Willebrand É uma glicoproteína multimérica, sintetizada pelos megacarió citos e células endoteliais, que circula na forma de multímeros e apresenta duas importantes funções: – mediação da adesão plaquetária nos locais de lesão vascular, levando à ativação da GPIIb-IIIa e à conseqüente agregação plaquetária. – transporte do fator VIII coagulante. Fator XI Está envolvido na via intrínseca da coagulação. Sua deficiên é caracterizada por síndrome hemorrágica com diferentes graus de severidade. Geralmente ocorre após extração dentá os procedimentos cirúrgicos. INDICAÇÃO: Investigação de deficiência de fator de via intrínse coagulação. MÉTODO: Coagulométrico automatizado. AMOSTRA: Sangue (tubo com citrato). No plasma, o fator Von Willebrand e o fator VIII coagulante cir culam como um complexo constituído em sua grande maioria pelo primeiro e com um pequeno percentual do segundo. As HEMATOLOGIA É uma glicoproteína vitamina K dependente, sintetizada no fí ou adquirida com tempo de protrombina e de tromboplastina HEMOSTASIA, COAGULAÇÃO E TROMBOSE INDICAÇÃO: Investigação de diátese hemorrágica hereditária Fator X atividades funcionais do fator de Von Willebrand são: ligação ao fator VIII coagulante, à glicoproteína Ib das plaquetas, à ma triz subendotelial e ao complexo glicoprotéico IIb/IIIa plaque tário. A complexidade desta grande glicoproteína multimérica é que lhe confere diferentes funções. Na célula endotelial, o fator Von Willebrand sintetizado é se cretado para o plasma ou subendotélio. Nas plaquetas, ele Fator XII está contido nos grânulos, sendo secretado após estimulação Também chamado fator de Hageman, tem importante papel na ativação inicial da via intrínseca da coagulação. Sua defi não está relacionada a manifestações hemorrágicas, mas determina alterações na avaliação laboratorial do tempo de tromboplastina parcial ativado. A deficiência hereditária é rara e as principais condições para a deficiência adquirida são as hepatopatias, síndrome nefrótica e a coagulação intravascular disseminada. INDICAÇÃO: Investigação de prolongamento do tempo de trom cial ativado. MÉTODO: Coagulométrico automatizado. AMOSTRA: Sangue (tubo com citrato). Fator XIII Promove a estabilização do coágulo de fibrina e tem papel na cicatrização de feridas. O tempo de protrombina e o tempo de tromboplastina parcial ativado não se alteram quando esse fator está deficiente. A deficiência hereditária é rara e as prin cipais condições para a deficiência adquirida são as hepatopa tias e a coagulação intravascular disseminada. e ligando-se em seguida ao complexo glicoprotéico IIb/IIIa das plaquetas ativadas. Alterações qualitativas e quantitativas na molécula do fator Von Willebrand resultam na doença de mesmo nome, hemor rágica e hereditária, e atualmente considerada, no gênero, a pa tologia mais comum, afetando 1% da população. A deficiência (qualitativa ou quantitativa) do fator de Von Willebrand deter mina prejuízo da hemostasia primária devido à pouca adesão plaquetária ao subendotélio. Nos casos mais graves, há tam bém comprometimento da hemostasia secundária pela dimi nuição dos níveis séricos do fator VIII. Alterações quantitativas são caracterizadas pela redução pro porcional das atividades antigênicas e funcionais do fator de Von Willebrand. Dependendo da intensidade, estas deficiên cias são classificadas em tipo 1 (parcial), tipo 2 e tipo 3 (grave). As do tipo 2 são caracterizadas por uma redução qualitativa, apresentando diminuição funcional mais acentuada do que a atividade antigênica. Subdividem-se nos tipos 2A, 2B, 2M e 2N. Os tipos 1 e 2 podem não apresentar manifestações hemorrági cas graves. Os sintomas mais comuns são equimoses, epistaxe, 177 08 Hemato BOOK 16.indd 177 26.10.06 17:36:56 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA sangramento gengival, metrorragia, menorragia e após proce – Atividade do co-fator da ristocetina, um antibiótico que pro dimentos odontológicos. A mais comum é a tipo 1, geralmente move a interação entre o fator de Von Willebrand e o comple com padrão de transmissão autossômica dominante. xo glicoprotéico Ib plaquetário. Este teste reflete a atividade Como muitos pacientes nem sempre apresentam baixos níveis do fator Von Willebrand, a história clínica e a hereditariedade devem ser analisados cuidadosamente. A deficiência tipo 1 carateriza-se por sintomas hemorrágicos de intensidade de leve a moderada, tempo de sangramento normal ou prolongado, redução dos níveis plasmáticos da fator VIII coagulante, da ati vidade antigênica do fator Von Willebrand e do co-fator da ris tocetina, e padrão multimérico normal. A agregação plaquetá ria induzida pela ristocetina poderá ser normal ou reduzida. CLASSIFICAÇÃO DA DOENÇA DE VON WILLEBRAND: – Tipo 1: deficiência quantitativa do fator de Von Willebrand. – Tipo 2: deficiência qualitativa do fator de Von Willebrand Subtipo 2A: é a forma mais freqüente da doença tipo 2. Apre senta redução da função de ligação às plaquetas associada à ausência dos multímeros de alto peso molecular. Laborato rialmente, mostra fator VIII coagulante e atividade antigênica do fator de Von Willebrand normais ou com redução variável, diminuição da atividade do co-fator da ristocetina e hipoaglu inação induzida pela ristocetina. Subtipo 2B: apresenta maior afinidade pela glicoproteína Ib. Observa-se discreta plaquetopenia, prolongamento do tem de sangramento, fator VIII coagulante e atividade do fator de Von Willebrand normais ou reduzidos e hiperaglutinação plaquetária induzida pela ristocetina. Subtipo 2BM: redução da função de ligação às plaquetas não associada à ausência dos multímeros de alto peso molecular. Laboratorialmente semelhante ao subtipo 2A, o estudo de seu padrão multimérico demonstra a presença de todos os multímeros. funcional do fator de Von Willebrand, avaliando em várias diluições do plasma do paciente sua capacidade de induzir a aglutinação de plaquetas normais, lavadas e formalizadas, na presença de uma concentração final de ristocetina. Nos tipos 1 e 3, a redução da aglutinação no teste mostra-se pro porcional aos níveis antigênicos do fator de Von Willebrand. No tipo 2B, esta proporcionalidade não ocorre e a atividade funcional é menor do que a presença antigênica do fator de Von Willebrand; – Agregação plaquetária: a maioria dos tipos e subtipos da doença apresenta hipoaglutinação induzida pela ristoceti na. Mas os pacientes com subtipo 2B caracterizam-se por uma resposta aumentada, aglutinando mesmo com con centrações mais baixas da ristocetina. Deve-se considerar que pacientes com doença tipo 1 podem apresentar respos ta normal; – Análise do padrão multimérico do fator de Von Willebrand: exame que apresenta complexidade técnica e poderá ser avaliado por meio de eletroforese em gel. Na doença tipo 1, há uma redução total de todos os multímeros, embora a composição e a intensidade das bandas multiméricas pos sam estar normais. Na doença tipo 3, nota-se ausência de bandas; no tipo 2A, os multímeros de alto e intermediário peso molecular não estão presentes; e, no tipo 2B, não visua lizamos multímeros de alto peso molecular. É preciso cautela ao analisar os resultados dos exames labo ratoriais de um paciente com suspeita clínica da doença, uma vez que uma série de situações podem influenciá-los, como a fase aguda de um processo reacional, estresse, exercícios físi cos, gestação e uso de estrogênios. Subtipo 2N: apresenta redução da afinidade pelo fator VIII MÉTODOS: Fator de Von Willebrand: Imunoturbidimetria. padrão multimérico normais e baixos níveis do fator VIII coa bilizadas. coagulante, atividade antigênica, co-fator da ristocetina e gulante. – Tipo 3: redução intensa do fator de Von Willebrand (1%-5%), da atividade do co-fator da ristocetina e do fator VIII coagu lante. Clinicamente, os pacientes apresentam manifestações clínicas graves. Para confirmação diagnóstica e definição do tipo da doença, Co-fator da ristocetina: Aglutinação frente a plaquetas sensi AMOSTRA: Sangue (tubo com citrato de sódio). Fibrinogênio É uma glicoproteína presente no plasma e sintetizada no fígado, formada por três diferentes pares de cadeias polipeptídicas,ligadas por pontes dissulfeto, que, sob a ação da trombina, formam empregam-se os seguintes exames: fibrinopeptídeos A e B. Tem vida média de três a cinco dias. – Dosagem do fator VIII coagulante; Condições que podem aumentar sua concentração plasmática: – Quantificação do antígeno de Von Willebrand; – Doenças inflamatórias agudas ou crônicas; – Síndrome nefrótica; 178 08 Hemato BOOK 16.indd 178 26.10.06 17:36:57 inibidor da ativação do plasminogênio (PAI). – Coagulação intravascular compensada. Condições que podem diminuir sua concentração plasmática: Sua deficiência pode ser quantitativa (tipo I) ou qualitativa (tipo II). O diagnóstico diferencial é estabelecido através da in – Coagulação intravascular aguda ou descompensada; vestigação laboratorial, com teste funcional (avalia a função da – Doença hepática avançada; proteína) seguido do teste antigênico (determinação quantita – Terapia com L-asparaginase; tiva independentemente da função). – Terapia com agentes fibrinolíticos (estreptoquinase, uroqui nase e ativadores de plasminogênio tissular). Na disfibrinogenemia congênita, os indivíduos afetados po Sua deficiência se torna um fator de risco à trombose, respon sável por 3% dos casos em pacientes não selecionados e até 9% dos pacientes abaixo de 70 anos. Mas antes de realizar um dem ser assintomáticos ou apresentar episódios esporádicos diagnóstico de deficiência de proteína C hereditária, devemos de sangramento. A deficiência adquirida pode ocorrer em as excluir várias condições conhecidas, capazes de ocasionar de sociação com doença hepática ou renal. ficiência adquirida. INDICAÇÃO: Diagnóstico diferencial das coagulopatias adquiri Deficiências adquiridas são encontradas: das. Controle da coagulação intravascular disseminada e fibri – Nas enfermidades hepáticas; nólise primária. – Durante terapia com anticoagulantes orais; MÉTODO: Clauss automatizado. – Na carência de vitamina K; AMOSTRA: Sangue (tubo com citrato de sódio). Mutação G20210A da protrombina Vide capítulos de Genética e Biologia Molecular. HEMATOLOGIA vada também causa aumento na fibrinólise por inativação do – Gravidez ou estrogenoterapia; HEMOSTASIA, COAGULAÇÃO E TROMBOSE – Doenças hepáticas/cirrose; – Na coagulação intravascular disseminada; – Em períodos de crises vaso-oclusivas em crianças com doen ça falciforme. A deficiência de proteína C homozigótica congênita resulta em processos trombóticos severos, evidenciados no período neo natal e semelhantes à púrpura fulminante. A do tipo hetero Plasminogênio A deficiência de plasminogênio é uma causa rara de trombo zigótica predispõe a eventos trombóticos, tromboembolismo venoso primário e tromboses arteriais. se hereditária. A investigação da deficiência de plasminogênio deve ser considerada quando excluímos a resistência à proteína C ativada, as deficiências das proteínas C e S e de antitrombina III. Níveis diminuídos estão presentes na fibrinólise primária e secundária, assim como nas doenças hepáticas e em pacientes em uso de terapia fibrinolítica. O ensaio sofre interferência do uso de inibidores fibrinolíticos. MÉTODO: Cromogênico. AMOSTRA: Sangue (tubo com citrato de sódio). Proteína C Pertence ao grupo das vitaminas K dependentes. Sintetizada no fígado, tem meia-vida de seis a 10 horas. Como outros fa tores de coagulação, encontra-se no plasma sob a forma de proenzima, que para ser ativada necessita de trombina, cálcio e fosfolipídios. Esta ativação trombina-dependente é potencia lizada por um fator endotelial, a trombomodulina. A função da proteína C ativada como anticoagulante se dá por inativação proteolítica das formas ativadas dos fatores V e VIII (fator Va e VIIIa), utilizando a proteína S como co-fator. A proteína C ati INDICAÇÃO: Investigação de pacientes com trombose venosa re corrente e suspeita de anormalidades congênitas da coagulação. MÉTODOS: Colorimétrico com substrato cromogênico sintético para proteína C funcional e imunoensaio para proteína C antigênica. AMOSTRA: Sangue (tubo com citrato de sódio). Proteína S É uma proteína plasmática, vitamina K dependente, sintetiza da no fígado e, em pequena proporção, nas células endoteliais e megacariócitos. Também é encontrada nos grânulos alfa das plaquetas. Tem meia-vida biológica de dois a três dias. Ao nascimento, o nível de proteína S livre é idêntico ao do adul to e a proteína S total é menor. A proteína S livre é mais elevada no sexo masculino e tende a aumentar com a idade. Está presente no plasma (aproximadamente 40%) sob forma livre, ativa, cumprindo função de co-fator da proteína C e ina 179 08 Hemato BOOK 16.indd 179 26.10.06 17:36:57 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA tiva (60% do total), associada à C4b-BP que não tem atividade anticoagulante. Do ponto de vista fisiológico, desempenha um papel essencial mente anticoagulante como co-fator da proteína C ativada, for mando um complexo que em presença de cálcio se fixa às super fícies fosfolipídicas, aumentando o papel anticoagulante da pro teína C. Suas deficiências podem ser quantitativas ou qualitativas. Se forem realizados apenas testes funcionais, não serão detec tadas deficiências do tipo II. Deve-se usar pesquisa funcional como triagem inicial. Se o resultado for diminuído, deve-se reali zar o teste para S livre antigênica. Se a proteína S livre antigênica também estiver reduzida, um ensaio antigênico para proteína S total deve ser efetuado para esclarecer o tipo de deficiência. Várias condições conhecidas causam deficiência adquirida, tais como: – Uso de anticoagulantes orais; – Carência de vitamina K; – Doença hepática (poderá também se apresentar normal); – Trombose ativa; – Procedimentos cirúrgicos; – Coagulação intravascular disseminada; – Tratamento com L-asparaginase; Como havia uma importante variação de resultados nos tem pos de protrombina entre os laboratórios, pelo uso de reagen tes e equipamentos de diversas origens e tecnologias, a Orga nização Mundial de Saúde, o Comitê Internacional de Trombo se e Hemostasia e o Comitê Internacional para Padronização em Hemostasia recomendaram a utilização do ISI (Internatio nal Sensibility Index) e a conversão dos resultados obtidos em INR (International Normalized Ratio). O INR (International Normalized Ratio) corresponde ao valor proporcional entre o TP do paciente e o do padrão em relação ao ISI. O ISI (International Sensibility Index) é o valor fornecido pelo fabricante da tromboplastina, resultante da adaptação de seu material em relação a um padrão internacional e aos dife rentes equipamentos utilizados. O ISI permite, portanto, obter tromboplastinas padronizadas, através da conversão em relação a um único padrão interna cional, independentemente da origem de fornecimento e do equipamento utilizado. O resultado do tempo de protrombina expresso sob a forma do INR (International Normalized Ratio), usa o ISI, fornece uma padronização e possibilita melhor cor relação de resultados entre laboratórios e melhor controle da terapia com anticoagulantes orais. – Processos reacionais agudos; – Gravidez; – Uso de estrogênios e contraceptivos orais. As deficiências hereditárias ocorrem em 0,7% da população geral, e são responsáveis por 2% dos pacientes não seleciona dos com trombose venosa e até 7% dos pacientes de trombose com menos de 70 anos. INDICAÇÃO: Investigação das tromboses congênita ou adquirida. MÉTODOS: Coagulométrico automatizado para proteína S funcio nal e ensaio imunoenzimático para proteína S livre antigênica. AMOSTRA: Sangue (tubo com citrato de sódio). Protrombina, Tempo e Atividade da O tempo está prolongado nas deficiências de fatores VII, V, X, II (protrombina) e I e na presença de alguns tipos de anticoagu lantes circulantes; em pacientes com doença hepática grave, em condições que alterem a absorção, síntese e o metabolismo INDICAÇÕES: Triagem de defeitos da coagulação. Acompanha mento do uso de anticoagulantes orais (dicumarínicos) e de pacientes com hepatite e/ou cirrose. da vitamina K; e em pacientes com hipofibrinogenemia. 180 08 Hemato BOOK 16.indd 180 26.10.06 17:36:58 AMOSTRA: Sangue (tubo com citrato de sódio). Útil na avaliação da capacidade funcional das plaquetas. A re tração é influenciada pela concentração de fibrinogênio e pelo Prova do laço – fragilidade capilar hematócrito, estando diretamente relacionada com a função O teste positivo pode ocorrer em trombocitopenias — em ge al com valores inferiores a 20.000 plaquetas/mm —, reações 3 vasculares tóxicas e anormalidades vasculares hereditárias. O aparecimento de grandes petéquias costuma relacionar-se à trombocitopenia, enquanto um ponteado fino é mais associa ao aumento da permeabilidade vascular. Resultados positi os podem ser encontrados no período imediatamente após a menstruação, pós-menopausa e em crianças. LIMITAÇÕES: Os resultados são de difícil interpretação em pes soas de pele escura, naqueles que antes do exame já apresen am lesões cutâneas do tipo petéquias e/ou hemorragias. O exa e pode ser normal em alguns pacientes trombocitopênicos. INDICAÇÃO: Avaliação da fragilidade capilar, equimoses e san amentos espontâneos. MÉTODO: Rumpell-Leede. Resistência à proteína C ativada É a causa hereditária conhecida que mais comumente predis põe à trombose. A proteína C ativada inibe a coagulação por plaquetária normal. Em pacientes anêmicos, o volume menor do coágulo pode levar a erros de interpretação. As trombo citopenias (abaixo de 50.000/mm3) e as trombastenias são caracterizadas por ausência ou por uma mínima retração do coágulo, em geral friáveis. Deve-se dar especial atenção aos casos suspeitos de trombastenia, uma vez que cursam com a contagem normal de plaquetas. INDICAÇÃO: Avaliação funcional das plaquetas. MÉTODO: Rosenfeld. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Tempo de sangramento HEMATOLOGIA Retração do coágulo, Avaliação da HEMOSTASIA, COAGULAÇÃO E TROMBOSE MÉTODO: Coagulométrico automatizado. O achado de um tempo de sangramento alterado significa difi culdade em formar um tampão hemostático primário. Em pa cientes em que a suspeita de plaquetopenia já foi afastada, resta avaliar a presença de defeitos intrínsecos que levem a uma alteração qualitativa das funções plaquetárias ou de fatores extrínsecos que também possam interferir nessas funções. degradar os fatores V e VIII ativados através da clivagem pro teolítica em resíduos arginina específicos. Os indivíduos com resistência à proteína C ativada apresentam uma mutação no fator V que o torna resistente à degradação por essa proteína. Mais de 95% dos casos se devem à mutação conhecida como fator V Leiden, que envolve a substituição de arginina na posi ção 506 por glutamina. Este é o sítio onde a proteína C ativada cliva o fator Va e esta alteração na seqüência de aminoácidos torna a molécula mutante (fator V Leiden), também chamada FVR506Q ou FV:Q506, bioquimicamente resistente à inativa ção pela proteína C. A forma heterozigótica da mutação está presente em 5% da população caucasiana, e o risco de trombose aumenta na pre sença de um segundo fator de risco, como o uso de contracep tivos orais, gravidez, deficiência de proteína S, hiper-homocisteinemia e idade avançada. INDICAÇÃO: Investigação de trombose. MÉTODO: Detecção do coágulo. AMOSTRA: Sangue (tubo com citrato). INDICAÇÃO: Avalia a hemostasia primária. É um método sen el às alterações vasculares e principalmente às mudanças quantitativas e qualitativas das plaquetas. MÉTODOS: Duke e Ivy. AMOSTRA: Sangue de polpa digital ou de lóbulo de orelha (Duke); incisão na superfície anterior do antebraço (Ivy). Trombina, Tempo de O tempo de trombina é um teste de screening para detectar a presença de fibrinogênio funcional. Pode ser utilizado para estimar a velocidade de formação da fibrina. Tempo de trombina prolongado: – Anormalidade no fibrinogênio que poderá ser qualitativa (disfibrinogenemia) ou quantitativa (hipofibrinogenemia 181 08 Hemato BOOK 16.indd 181 26.10.06 17:36:59 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA severa ou afibrinogenemia congênita, coagulação intravas cular disseminada, fibrinólise, doença hepática); – Uso de medicamentos antitrombinas, como a heparina. INDICAÇÕES: Avaliação da hemostasia. Diagnóstico da coagula ção intravascular disseminada. Controle de terapêutica heparí nica e fibrinolítica. MÉTODO: Coagulométrico automatizado. AMOSTRA: Sangue (tubo com citrato de sódio). güíneo. Existem dois subtipos comuns do antígeno A. Apro ximadamente 20% dos indivíduos do grupo A e do grupo AB pertencem aos grupos A2 e A2B (respectivamente). Indivíduos Tromboplastina parcial ativada, Tempo de Está prolongado nas deficiências de um ou mais fatores (I, II, V, VIII, IX, X, XI, XII) e no uso terapêutico de heparina ou na presen ça de anticoagulantes circulantes. do grupo A podem raramente adquirir um antígeno B como resultado de infecção bacteriana que resulte em liberação de enzimas. Nem sempre encontra-se concordância entre as clas sificações direta e reversa. São os casos que exigem maior cui dado e atenção na investigação. As principais causas de discrepância na classificação A-B-O são: – Ausência ou baixa atividade da aglutinina esperada (pacientes idosos, recém-nascidos e com hipogamaglobulinemia); – Presença de isoanticorpos irregulares (anti-H, anti-A1); – Presença de aglutininas frias inespecíficas; – Antígenos adquiridos ou suprimidos no curso de determinadas INDICAÇÃO: Triagem de defeitos da coagulação. Controle de he ação. MÉTODO: Coagulométrico automatizado. AMOSTRA: Sangue (tubo com citrato de sódio). patologias (carcinomas, leucemias, dentre outras). O SISTEMA RH Determinado pelo aglutinogênio, chamado de fator Rh (D), está presente em 85% da população. Nos outros 15%, encon tramos indivíduos Rh (-). É conveniente considerar o Sistema Rh como um complexo de gens que originará várias combina ções de três antígenos alternativos; C ou c, D ou d e E ou e. A tipagem para Rh tem especial importância na prevenção da doença hemolítica do recém-nascido, em que mães Rh (-), du rante a gestação ou por transfusão sangüínea, sensibilizam-se por exposição a hemácias Rh (+), produzindo em conseqüência Na superfície das hemácias existem antígenos (aglu tinogênios) geneticamente determinados. A combi nação e manifestação desses antígenos representam 15 sistemas de grupos sangüíneos, dos quais os prin cipais são o A-B-O e o Rh. O A-B-O é o mais conhecido e importante sistema de grupos sangüíneos, podendo ser considerado mais um fator tissular devido à presença de seus antígenos específicos na maioria aglutininas anti-Rh. Em gestações posteriores, estas aglutini nas passam através da placenta para o feto. Se ele for Rh (-), terá suas hemácias hemolisadas. De forma simplificada é conveniente classificar os indivíduos Rh positivos e Rh negativos pela presença ou ausência do antígeno RhD, pois é o mais imunogênico depois dos antígenos A e B. Em caucasóides, nos indivíduos Rh negativos, o gene RHD é de letado. Em negros e outras populações, foram descritas muta dos tecidos do organismo. ções pontuais, deleções parciais e recombinações. Usa-se, na classificação, soros padrão para identificar a pre Em indivíduos Rh negativos é necessária a pesquisa da varian sença de antígenos nas hemácias (prova direta), e células com antígenos conhecidos para pesquisa de anticorpos livres no plasma ou soro (prova reversa). A utilização simultânea das duas provas é a técnica ideal para classificação de grupo san- te fraca do antígeno Rh(D), chamada variante DU, através de reação de Coombs para DU. No antígeno D fraco (DU) há uma redução quantitativa do nú mero de sítios antigênicos. Em indivíduos parcialmente D, fal 182 08 Hemato BOOK 16.indd 182 26.10.06 17:36:59 de controle negativo para evitar que amostras que apresentem auto-aglutinação sejam erroneamente identificadas como Rh positivas e quando necessário vários testes deverão ser realiza dos para a conclusão da tipagem Rh. Coombs direto MÉTODO: Hemaglutinação (teste de Coombs). AMOSTRA: Sangue (tubo com EDTA). Fator Rh INDICAÇÃO: Teste de triagem para o sistema Rh. MÉTODO: Aglutinação com o uso da combinação de anticorpos Permite a identificação de anticorpos aderidos à superfície das monoclonais/policlonais. hemácias. Teste útil no diagnóstico das anemias hemolíticas AMOSTRA: Sangue (tubo com EDTA). do recém-nascido (eritroblastose fetal), doenças auto-imunes (incluindo alguns casos de doenças sistêmicas) e induzidas por drogas (alfa metildopa, L-dopa, ácido mefenâmico, penicilina, cefalosporina, quinidina, digitálicos e insulina). MÉTODO: Hemaglutinação. AMOSTRA: Sangue (tubo com EDTA). Grupo sangüíneo INDICAÇÃO: Teste de triagem para o sistema A-B-O. MÉTODO: Aglutinação com anticorpos monoclonais. HEMATOLOGIA Classificações Rh devem sempre ser acompanhadas de teste INDICAÇÃO: Validação e reconhecimento de variantes do siste CITOQUÍMICA duzem anti-D com relativa freqüência. Du, Coombs para IMUNO-HEMATOLOGIA tam um ou mais epítopes do antígeno D. O DVI talvez seja o fenótipo parcial mais importante, porque estes indivíduos pro AMOSTRA: Sangue (tubo com EDTA). Coombs indireto Teste de triagem para anticorpos irregulares, principalmente no acompanhamento das gestantes Rh negativas com prévia sensibilização, testes de compatibilidade pré-transfusionais e determinação de antígenos eritrocitários, não evidenciados por aglutinação direta (por exemplo, variantes fracas de Rh (D), antígenos Duffy, Kell, Kidd etc.). O teste é composto de quatro etapas: Primeira etapa: Detecta anticorpos salinos completos (agluti ninas da classe IgM) reativos à temperatura ambiente. Segunda etapa: Detecta anticorpos salinos (IgM), que têm ação intensificada em meio protéico, e anticorpos incompletos Colorações citoquímicas são utilizadas na investigação de diversas patologias, particularmente as hemato lógicas. Constituem um valioso procedimento para o diagnóstico e classificação de leucemias e linfomas,em especial quando associadas ao estudo imunofenotípi co. A pesquisa pode ser feita em esfregaços de sangue periférico, imprint de medula óssea, linfonodos etc. albumínicos mais potentes (aglutininas da classe IgG). Terceira etapa: Detecta anticorpos incompletos albumínicos reativos a 37°C. Quarta etapa: Detecta anticorpos da classe IgG e anticorpos fixadores de complemento. A presença de aglutinação e/ou hemólise em qualquer dessas etapas indica a presença de anticorpo irregular, cujo tipo pode ser avaliado de acordo com a fase do teste em que se detectou positividade. MÉTODO: Hemaglutinação. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Princípios diagnósticos de citoquímica Detecta a presença de enzimas intracelulares, que catalisam e controlam várias reações, bem como substâncias específicas para um determinado tipo celular. A atividade destas enzimas é demonstrada pela adição de pseudo-substratos, que levam a uma conversão enzimática colorida. As células sangüíneas normais e suas precursoras têm ativi dade e localização enzimática diferentes quando comparadas a seus correspondentes malignos. A citoquímica se baseia na relação da morfologia com a distribuição, intensidade e locali zação da reação na célula. 183 08 Hemato BOOK 16.indd 183 26.10.06 17:37:00 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Ferro medular O ferro é constituinte da hemoglobina e da mioglobina, parti cipando do sistema de transporte de elétrons. O método para sua detecção permite localizar a forma inorgânica (ferro não heme) e hemossiderina. Nas anemias, é um teste importante para a avaliação de suas reservas corporais. Apresenta-se como grânulos livres, em citoplasma de células do sistema reticulo endotelial e em sideroblastos. Na anemia ferropriva, normal mente observa-se a diminuição do ferro medular, e na anemia sideroblástica, o acúmulo de ferro se traduz pela presença de sideroblastos anormais (em anel). Há vários tipos de anemia sideroblástica: o tipo congênito (he reditário), a deficiência de piridoxina (rara), a anemia sidero blástica causada por antagonismo da piridoxina, como drogas usadas no tratamento da tuberculose, e a anemia sideroblásti ca secundária ao alcoolismo e à intoxicação pelo chumbo. MÉTODO: Perls’s (reação de azul-da-Prússia). AMOSTRA: Aspirado de medula óssea. Fosfatase alcalina leucocitária A fosfatase alcalina é evidente no citoplasma dos neutrófilos maduros. A interpretação é feita pelo uso de uma escala de in tensidade de reação de 0 a 4 cruzes, num score de 0 a 400. A normalidade dependerá da padronização técnica de cada labo ratório. Pacientes com leucemia mielóide crônica (LMC) geral mente apresentam score baixo, o que também acontece em ou tras condições, como hemoglobinúria paroxística noturna. Pa tologias como subgrupo de LMC, policitemia vera, mielofibrose com metaplasia mielóide e reação leucemóide são associadas com score normal ou elevado. MÉTODO: Método de Kaplow. AMOSTRA: Sangue periférico. Pas – Ácido periódico de Schiff Detecta o aldeído resultante da oxidação pelo ácido periódico, que em presença do reativo de Schiff (pararosanilina e meta bissulfito de sódio) forma composto intracelular de cor ma genta. Reage com depósitos citoplasmáticos de carboidratos, mucopolissacarídeos e glicoproteínas. Em células hematopoié ticas o glicogênio é a principal fonte de positividade. A maioria das células hematopoiéticas contém material positivo em con centração variável. A linhagem granulocítica tem positividade crescente com a maturação celular. Nos casos de LMA-M6, o PAS tem positividade granular (em bloco) nos precursores eri tróides, e difusa nos estágios mais diferenciados. Na LLA, os lin foblastos freqüentemente demonstram positividade granular ou em bloco. AMOSTRA: Sangue periférico, aspirado de medula óssea. Sudan Black Essa reação detecta lipídios intracelulares, particularmente fosfolipídios de membrana. Cora linhagem granulocítica e monocítica, tornando-se mais intensa em células com maior grau de maturação. Os mieloblastos normais geralmente são negativos. Os linfócitos e as séries megacariocítica e eritróide também são negativos. Há uma relação entre a reatividade do Sudan Black e a peroxidase. É usado para distinguir as leuce mias agudas linfoblásticas das mieloblásticas. AMOSTRA: Sangue periférico, aspirado de medula óssea. Citometria de fluxo O surgimento e a possibilidade do uso dos anticorpos policlo nais e monoclonais na rotina laboratorial permitiram um gran de avanço no diagnóstico das doenças que envolvem o siste ma imune, como neoplasias, síndromes de imunodeficiência e doenças reumáticas, e tornaram-se uma importante ferra menta em diversas áreas da medicina laboratorial. Vários an ticorpos monoclonais surgiram, possibilitando a identificação de diferentes tipos celulares e de seu estágio de maturação, por meio de reações com antígenos citoplasmáticos, nucleares e da membrana. Os anticorpos são selecionados para reconhecer e mostrar reatividade, específica e seletiva, a determinada população ou subpopulação de células, hematopoiéticas ou não, que se de seja estudar: linfócito T, linfócito B, célula mielóide, natural kil ler e antígenos que identificam ativação celular, de valor prog nóstico ou não relacionados a linhagens hematopoiéticas. O antígeno pesquisado pode ser proteína, glicoproteína, enzima, ácidos nucléicos (RNA/DNA) ou um gene (por exemplo, p53, CerB-B2 etc.). Devido ao grande número de anticorpos disponíveis contra an tígenos de superfície leucocitária, foi definida a nomenclatura CD (cluster differentiation) no Primeiro Workshop Internacio nal de Antígenos de Diferenciação de Leucócitos Humanos, em 1982, em Paris, para a padronização técnica entre as diferentes instituições. Desde então, várias atualizações foram feitas par ticularmente para o estudo dos fenótipos nas neoplasias. As metodologias para análise imunofenotípica podem ser sub divididas em duas grandes categorias: a análise por citometria em fluxo com células em suspensão e por imunoistoquimica em corte de tecido. 184 08 Hemato BOOK 16.indd 184 26.10.06 17:37:00 – Mielograma; fluorocromos, para reagir com moléculas que integram a su – Morfologia celular; perfície, o citoplasma ou o núcleo celular, formando complexos – Citoquímica; antígeno-anticorpo. A montagem de um painel tem como ob – Imunofenotipagem para neoplasia hematológica por cito jetivo identificar a linhagem celular, pesquisando seus vários metria em fluxo; fenótipos, e determinar o estágio maturativo de sua população. – Citogenética e genética molecular; A história clínica do paciente é fundamental para orientar a – Biópsia de medula óssea, gânglios linfáticos e outros sítios investigação laboratorial nas neoplasias hematológicas. A proliferação celular é linfóide, mielóide ou não hematopoiética? A população hematopoiética é reacional ou neoplásica? A identificação do tipo celular envolvido na neoplasia é impor tante por fornecer informações que complementam o diag extranodais; – Imuno-histoquímica de medula óssea, gânglios linfáticos e outros sítios extranodais. Imunofenotipagem por citometria em fluxo nóstico clínico e direcionam a conduta terapêutica. O SNC, por PRINCÍPIOS exemplo, mostra-se mais freqüentemente envolvido na leu A citometria em fluxo é um método de mensuração em que as cemia linfoblástica aguda (LLA) do que na leucemia mielóide aguda (LMA); a leucemia promielocítica (LMA-M3) associa-se à coagulação intravascular; a leucemia monocítica aguda (LMAM5) à infiltração cutânea e gengival etc. Determinar o tipo celular também traz informações sobre as taxas de sobrevida e cura entre os pacientes, como na LLA em crianças, em que há protocolos terapêuticos já bem estabelecidos. Essa classifi cação possibilita a comunicação entre os profissionais para a definição dos subtipos de leucemias e linfomas, o que facilita a troca de dados e a ampliação do conhecimento. HEMATOLOGIA – Hemograma; CITOQUÍMICA Na imunofenotipagem por citometria em fluxo, usam-se an ticorpos monoclonais e policlonais (AcMO/PO), associados a células são suspensas em um meio isotônico e injetadas numa câmara de fluxo, passando enfileiradas, uma a uma, por sen sores que analisam suas características físicas e/ou biológicas. A célula é previamente marcada com um anticorpo monoclo nal, ligado a uma substância fluorescente. Quando passa pela câmara de fluxo, a luz gerada pelo laser (light amplification by stimulated emission of radiation) incide sobre ela; os ângulos de dispersão da luz e as cores emitidas pelo fluorocromo são guia dos pelo sistema óptico do citômetro e detectados por senso res. Estes sinais são transformados em números e histogramas, analisados por um software e impressos quando necessário. O que pesquisar O estudo laboratorial das neoplasias hematológicas é feito com dados citomorfológicos, citoquímicos, imunofenotípicos e cromossômicos. A associação destes recursos contribui para um diagnóstico mais acurado, com elevada correlação clínico laboratorial, importantes informações sobre o prognóstico e a conduta terapêutica, além de otimizar o monitoramento das neoplasias hematopoiéticas. Na última década, embora inúmeros recursos biotecnológicos tenham se tornado rotina em laboratórios clínicos, foi a imu nofenotipagem por citometria em fluxo que revolucionou a O material a ser estudado é submetido a uma análise por mi croscopia óptica para avaliação da morfologia e viabilidade celular antes de seu preparo para citometria. No citômetro de fluxo, a população celular é selecionada pelo ângulo de refra ção da luz, fornecendo informações sobre volume, organelas internas (complexidade) e cores emitidas pelos fluorocromos conjugados aos AcMO/PO. A análise é multiparamétrica (dois ou mais AcMO/PO conjuntamente), com utilização de dois ou mais fluorocromos de espectros de excitação diferentes (cores). Com este recurso é possível isolar a população com marcação previamente conhecida (CDs) e identificá-la por métodos de seleção (divisões gráficas) que circunscrevem estas áreas con avaliação celular. Trata-se de método rápido e preciso, que pos forme a necessidade do estudo. sibilita, entre outras aplicações, a classificação de leucemias e A aplicação clínica da citometria visa responder questões espe linfomas. Os métodos tradicionais de avaliação celular, como a citomorfologia e a citoquímica, podem ser usados em conjun to com a citometria em fluxo, aumentando a correlação clínico-laboratorial. Os seguintes exames são de grande auxílio no estudo de leu cemias e linfomas: cíficas, após o screening de investigação diagnóstica. Assim, a escolha dos AcMO/PO utilizados pelo laboratório depende das informações clínicas fornecidas pelo médico e da análise cito lógica. O sucesso do estudo depende, portanto, da correta es colha dos soros imunes usados e da forma como os dados são analisados, observando-se número de células, tipo de padrão citológico, predominância celular e padrão citoquímico. 185 08 Hemato BOOK 16.indd 185 26.10.06 17:37:00 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA A citometria em fluxo serve para a realização da imunofeno tipagem para neoplasia hematológica, na pesquisa e monito ramento de neoplasias hematológicas e no acompanhamento de pacientes com imunodeficiência (painel para pesquisa de imunodeficiência). Os anticorpos mono e policlonais utilizados têm especificidade para diversas populações celulares. Na tabela a seguir estão descritos os principais anticorpos e suas reatividades: Imunofenotipagem para neoplasia hematológica Utilizada para definir quadro neoplásico hematológico, linha em celular, monitoramento pós-quimioterapia e doença resi ual mínima. O resultado inclui descrição técnica do padrão ce ular, valores percentuais de cada CD, análise multiparamétrica para revelar co-expressão e conclusão associada à patologia. MÉTODO: Imunofenotipagem de superfície e intracelular por citometria em fluxo. AMOSTRA: Sangue periférico (tubo com EDTA). VOLUME: 5mL (mínimo -1mL dependente da celularidade). AMOSTRA: Aspirado de medula óssea (tubo com heparina sódica). Seringa com heparina (Liquemine - 0,1/10,0mL MO). VOLUME: 5mL (mínimo -1mL dependente da celularidade). OBSERVAÇÃO: Encaminhar quatro lâminas com distensões não fixadas, confeccionadas no momento da coleta (SP e/ou MO). 186 08 Hemato BOOK 16.indd 186 26.10.06 17:37:02 são celular. SP: – Até 24 horas após a coleta; – Após três horas da coleta, manter sob refrigeração; – Após 24 horas, a amostra será submetida a teste de via bilidade celular para averiguação da qualidade do ma terial. – Condições inaceitáveis: amostra congelada; amostra coagulada; amostra com mais de 36 horas da coleta. Segue-se a descrição dos diversos anticorpos mono e policlo nais utilizados em painel para o diagnóstico das neoplasias hematopoiéticas. CD1A CD4 Identifica uma molécula glicoprotéica de 62kDa, cadeia sim ples na superfície celular. O antiCD4 apresenta reatividade com subpopulação de linfócitos T (helper/inducer) e monócitos/macrófagos. O CD4 tem papel nas interações entre células T-T,T-B ou T-macrófago, via reconhecimento da molécula Major Histocompatibility Complex (MHC) classe II. As células T-helper são essenciais para a indução da diferenciação dos linfócitos B e para o desenvolvimento das células T supressoras na modu lação da resposta imune. A determinação de células T CD4+ é utilizada no diagnóstico e prognóstico de imunodeficiências, como síndrome DiGeorge (aplasia tímica), agamaglobulinemia e síndrome da imunode ficiência adquirida (Aids). Em neoplasias T, é útil para carac terizar leucemia/linfoma de células T do adulto, LLA-T, LLC-T, síndrome de Sézary e micose fungóide. Identifica uma molécula glicoprotéica de membrana com peso CD5 molecular de 49kDa associada com 2-microglobulina. Este an O CD5 reconhece um antígeno glicoprotéico de cadeia sim tígeno é encontrado em timócito cortical comum – estágio II (forte reatividade), células dendríticas, células interdigitantes e de Langerhans. É usado normalmente para definir estágio no timócito, diagnóstico das histiocitoses e na caracterização de leucemias e linfomas. CD2 Este monoclonal reconhece epítopes glicoprotéicos monomé ricos de 50kDa de superfície celular. Apresenta reatividade com linfócitos T, timócitos e células natural killer. O CD2 é conhecido como pan-T e sua utilização ajuda a caracterizar leucemia lin focítica aguda T (LLA-T), leucemia linfocítica crônica T (LLC-T), síndrome de Sézary e no estudo de linfomas e imunodeficiên cias. O CD2 normalmente é expressado na LMA M3. CD3 Identifica um complexo glicoprotéico que compreende quatro estruturas polipeptídicas invariáveis, designadas: g (25-28kDa), d (20kDa), e (20kDa), z (21kDa), que integram a superfície celu lar e o citoplasma (transmembrânica). É não covalente, está as sociado ao polimórfico TCR / e interage com o heterodímero TCR / . O antígeno CD3 determina linhagem específica de linfócitos T e sua expressão no citoplasma (cCD3) caracteriza timócito/célula T imatura e, quando na membrana, o linfócito T maduro. Os anticorpos antiCD3 são úteis para sondar a região constante dos receptores de células T, que se expressam exclusivamente nos linfócitos T imunocompetentes, no monitoramento de imu nodeficiência, doenças auto-imunes e nas leucemias e linfomas. HEMATOLOGIA ascítico neoplásicos e linfonodos após preparação em suspen CITOQUÍMICA ARMAZENAMENTO E TRANSPORTE: SP, MO, LCR, derrame pleural e ples com 67kDa e é considerado pan-T por estar presente nos linfócitos T periféricos e nos timócitos. Também é encontrado em pequena subpopulação de linfócitos B e algumas células B neoplásicas. No estudo de neoplasias hematológicas,pode estar presente em LLA-T, LLC-T, linfoma linfoblástico e síndrome de Sézary. Usado em conjunto com um pan-B (por exemplo, CD19), diferencia as células de neoplasias T das células B CD5+ na LLC-B. Diminuem em desordens do sistema imune, em doenças como esclerose múltipla, lúpus eritematoso sistêmico e eczemas severos. CD7 Detecta uma glicoproteína de 40kDa da superfície de células T maduras e imaturas. O gene que codifica para CD7 divide ho mologia de seqüência com cadeia TCR. Acredita-se ser o pri meiro antígeno associado à linhagem T. É reconhecido antes e durante o desenvolvimento do timo, portanto, presente em estágios de pré-timócito na córtex subcapsular. A ausência de CD7 em crianças com imunodeficiência sugere que tem papel importante nos estágios iniciais do desenvolvimento da célula T. O CD7 funciona como receptor para Fc de IgM, exprime-se na maioria das células periféricas, inclusive CD4, CD8 e natural killer, e está ausente em outras populações. Está fortemente presente na maioria das células precursoras TdT(+) da leuce mia linfoblástica aguda, mas é consistentemente negativa em células B, TdT(+). O CD7 distingue precursores de T e B na LLA e se expressa em pequena proporção de LMA e LMC, especial mente M4 e M5, e na maioria das neoplasias T pós-tímicas. Como outros antígenos pan-T (CD2, CD3, CD5), CD7 também 187 08 Hemato BOOK 16.indd 187 26.10.06 17:37:02 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA pode ser aberrantemente deletado em populações de neopla sias T. Expressa-se de forma pouco expressiva ou não se expres sa na síndrome de Sézary; está ausente em leucemia/linfoma T do adulto. CD8 Identifica uma molécula de membrana com aproximadamen te 32-34kDa. Os linfócitos T CD8+ funcionam na regulação da resposta imune T e B e também na reação de células T citotóxi cas. Esta molécula interage com o TCR como co-receptor para o Major Histocompatibility Complex (MHC), classe I, no reconhe cimento antigênico. A expressão deste fenótipo é encontrada em subpopulação de linfócitos T periféricos (citotóxico/supressor), timócitos e célu las natural killer. No estudo de neoplasias hematológicas, pode contribuir para caracterizar leucemia/linfoma de células T do CD11B Identifica uma glicoproteína com duas subunidades de 95kDa e 165kDa,reconhecida como receptor de complemento C3bi (CR3). É um membro da família das moléculas de adesão, denomina da integrina, e media a interação de monócitos e polimorfonu cleares ao endotélio vascular. Marca granulócitos e monócitos e uma população de natural killer. É utilizado no estudo de célu las neoplásicas em leucemias mielomonocíticas, monocíticas e menos freqüentemente na leucemia mielóide aguda. CD11C Identifica uma glicoproteína com duas subunidades de 95kDa e 150kDa. É um membro da família das moléculas de adesão denominada integrina. Expressa-se em granulócitos, monóci tos e macrófagos, natural killer e em linfócitos T e B ativados. A molécula CD11c também está envolvida na quimiotaxia, fago adulto, LLA-T e LLC-T. É relatado aumento dos níveis de linfóci citose e adesão celular. tos T CD8+ no sangue periférico em infecções pelo vírus Eps- Na leucemia mielóide aguda (LMA), a expressão no grupo FAB tein-Barr. CD10 (CALLA) Identifica uma glicoproteína de 100kDa semelhante a uma en dopeptidase humana, associada à membrana (NEP, metaloen dopeptidase e encefalinase), e é conhecido como antígeno comum da leucemia linfoblástica aguda (CALLA). O antígeno CD10 não é leucemia específico ou está restrito às linhagens T ou B; entretanto, sua utilização em conjunto com outros mar cadores tem possibilitado definir estágio maturativo com valor prognóstico. O CD10 também é encontrado em tecido não-hematopoiético, como epitélio glomerular e tubular proximal, células mioepite liais da mama, fibroblastos, epitélio do intestino delgado fetal, melanoma, retinoblastoma, carcinoma de mama e cólon. Este antígeno é expresso no estágio pré-pré B/pré-B dos linfócitos B, nos precursores T (timócito estágio I), stem cells e neutrófi los. O CD10 é relatado em 75% das células precursoras da LLA-B, indicando relativo bom prognóstico, e mais de 90% dos casos de LMC em crise blástica linfóide, linfoma de Burkitt e linfoma folicular. CD11A A integrina CD11a é uma molécula associada à função leucoci tária de 180kDa, que se liga de forma não covalente à outra in tegrina (CD18). CD11a promove adesão homotípica entre célu las linfóides, adesão heterotípica com células de endotélio vas cular, interfere com outras moléculas de adesão, como CD54 (ICAM-1), CD102 (ICAM-2) e CD50 (ICAM-3). Reage fortemente com 96% das células T e B periféricas, monócitos, granulócitos, timócitos e com leucemias de linhagem linfóide. M4 e M5 é de 50% ou mais. Raramente se apresenta em FAB M1, M2 e M3. Outra importante aplicação deste marcador é na caracterização da tricoleucemia (hairy cells leukemia) e em lin foma monocitóide de célula B. CD13 Identifica uma glicoproteína de 150kDa com expressão intra e extracelular. É encontrada na maioria das células de origem mielóide e normalmente ausente em linfócitos T e B. É impor tante para a diferenciação entre linhagem mielóide e linfóide. Este fenótipo é encontrado em 75% a 95% das leucemias mie lóides agudas (LMA – classificação FAB M1 a M5), e em aproxi madamente 90% das LMC em crise blástica mielóide. CD14 Identifica uma glicoproteína de 55kDa, reconhecida por um grupo heterogêneo de anticorpos AcMO/PO, dos quais os prin cipais são MO2 e MY4, específicos para diferentes epítopes. O gene localizado no cromossomo 5 codifica CD14 e também vá rios fatores de crescimento e receptores de interleucina. Esta região é freqüentemente deletada em leucemias mielóides. O CD14 se expressa em alta densidade em 90% dos monócitos periféricos e em 5% a 10% das células de medula óssea normal. Este antígeno está ausente em unidades formadoras de colô nias de granulócito-macrófago e células T e B. O CD14-MY4 apresenta expressão em 90% das células na LLCB, em 80% dos linfomas não-Hodgkin foliculares e em 40% nos difusos. O CD14 tem importante papel para a caracterização dos subgrupos FAB M4 e M5 por apresentar expressão em 50% a 90% dos casos. CD14 tem baixa expressão em M1 e M2 e está 188 08 Hemato BOOK 16.indd 188 26.10.06 17:37:03 com CD19 para indicação de estágio maturativo. CD15 CD21 Identifica um carboidrato que representa um determinante Identifica um antígeno de membrana de 140kDa, receptor para antigênico, presente em diferentes espécies de moléculas de o vírus Epstein-Barr (EBV) e C3d (principalmente células den uma mesma célula, por modificações específicas de antígenos dríticas centro-foliculares). Encontrado em células B maduras e previamente existentes. Está na maioria das células blásticas ausente em linfócitos T, monócitos e granulócitos, o CD21 se ex da medula óssea e nos granulócitos do sangue periférico. Sua pressa após CD19 e CD20 na ontogenia de células B; portanto, expressão antigênica aumenta com a maturação mielóide, está ausente em células imaturas e também em plasmócitos relacionada à diferenciação granulocítica. Está presente em e células B ativadas. A expressão de CD21 é maior em tecidos linfócitos T, linfócitos B, natural killer e na maioria das células linfóides que no sangue periférico, podendo estar presente na CD4+ e CD8+ ativadas. leucemia linfocítica crônica, leucemia prolinfocítica, linfomas Expressa-se nas leucemias mielóides em 50% a 70% M1, M2 e M3, e 75% a 90% de M4 e M5 (classificação FAB). É potencial mente utilizada para diagnóstico diferencial entre LMA e LLA. CD16 É identificado como receptor Fc da IgG (FcgRIII) com PM de 73kDa. Este antígeno tem expressão em granulócitos, monóci tos, macrofágos e em células natural killer. CD19 Identifica uma glicoproteína de membrana de 90kDa, e é o an tígeno mais precocemente expresso na diferenciação da linha gem B (estágio pré-pré-B), porém ausente em plasmócitos. É o principal pan-B, está presente em todos os linfócitos B periféri cos e em aproximadamente 5% de todas as células da medula óssea. O anticorpo antiCD19 é restrito à linhagem B. É utilizado na avaliação de LMC, em crise blástica linfóide, lin fomas não-Hodgkin, leucemia linfoblástica aguda, leucemia linfocítica crônica, mas ausente em mieloma múltiplo. Nor malmente não se expressa em neoplasias T precursoras ou pós-tímicas e assim sua importância é na diferenciação entre neoplasias B e T. CD20 Identifica uma fosfoproteína de membrana de 35kDa, presente em células B normais do sangue periférico e tecidos linfóides. Ausente em linfócitos T periféricos, monócitos e granulócitos. Na ontogenia das células B, o CD20 se expressa após HLA-DR, TdT, CD19 e CD10, coincidindo com o estágio pré-B na matura ção celular. É marcador para avaliação de malignidade, expressando-se em linfomas não-Hodgkin e leucemias linfoblásticas, secre tores ou não de imunoglobulina de superfície, mas ausente em mieloma múltiplo. Aproximadamente 50% das células B de linfoma/leucemia linfoblástica aguda são CD19 positivo e HEMATOLOGIA CD20 negativo. Este marcador pode ser utilizado em conjunto CITOQUÍMICA ausente em M3 e M6. Assim, este marcador tem grande utili dade na subclassificação das leucemias mielóides agudas. foliculares, linfomas de grandes células e linfoma linfoblástico. Está ausente nos linfomas com diferenciação plasmocitóide, mieloma múltiplo, macroglobulinemia de Waldenström e na maioria dos linfomas/leucemias linfoblásticas B. CD22 Identifica um heterodímero constituído de glicoproteínas de membrana, de peso molecular 130kDa e 140kDa. É um antí geno B restrito e aparece no citoplasma em estágio pré-B e na superfície de células em repouso e maduras. A expressão desaparece quando as células são ativadas. O CD22 segue-se ou acompanha a expressão de IgM de superfície e precede ou acompanha IgD de superfície. Aproximadamente 80% das cé lulas TdT positivas de medula óssea e 95% das células B perifé ricas expressam CD22. O padrão de expressão nas neoplasias de células B é hetero gêneo. A maioria das leucemias linfocíticas agudas, linfomas não-Hodgkin, leucemia tipo hairy cell e leucemia prolinfocítica exprimem CD22 de superfície ou citoplasmático. A leucemia linfocítica crônica, a macroglobulinemia de Waldenström e o linfoma com diferenciação plasmocitóide exprimem percen tual variável de CD22, que, entretanto está ausente no mielo ma múltiplo, constituindo, portanto, um marcador importante para diferenciar células B e T. CD23 Identifica uma proteína de 45kDa, antígeno B específico de ati vação celular e com expressão fraca em células em repouso. Quando as células positivas para IgM e IgD de superfície são ativadas, elas passam a expressar CD23 em 24 horas. O fenóti po não está presente em células que perderam IgD e passaram a expressar IgG ou IgA. O CD23 pode se apresentar sob forma transmembrânica ou solúvel. A solúvel tem atividade autócrina na promoção do crescimento e vida média de uma a duas ho ras na superfície da célula. Células de zona marginal B e centro 189 08 Hemato BOOK 16.indd 189 26.10.06 17:37:03 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA germinativo expressam CD23 em alta densidade e fracamente multipotentes. Expressa-se também em 1% a 2% das células na zona do manto. O CD23 não se expressa em precursores B, normais da medula óssea, em mais de 90% das hematopoié células T em repouso ou ativadas e células mielóides. ticas imaturas e vai se perdendo com a maturação celular. CD24 e mielóides agudas. O antígeno CD24 é uma sialoproteína de membrana com PM Este marcador está presente em 60% das leucemias linfóides 35kDa a 45kDa. Utilizado para caracterizar a diferenciação he CD36 matopoiética, reconhece linfócitos B da fase pré-B até a fase Identifica uma glicoproteína de PM de 90kDa expressa na su madura, a maioria das células de medula óssea que apresen perfície celular. Sua reatividade é direcionada para monócitos e tam grânulos e polimorfonucleares em sangue periférico. Está plaquetas (GPIIIb). É utilizado na caracterização de LMA-M4/M5 ausente em células plasmáticas. Quanto às células neoplási em conjunto com CD13 e CD33 e na LMA-M6 associado à CD71 cas, reconhece as leucemias linfoblásticas agudas não T, não e glicoforina-A. B, algumas leucemias mielóides atípicas, leucemias linfocíticas crônicas B e linhagens celulares transformadas pelo vírus Eps- CD37 tein-Barr. Identifica uma molécula transmembrânica de 40kDa a 52kDa. CD25 (RECEPTOR DE IL-2) A molécula com terminações amina e carboxila de localização intracelular é fortemente glicosilada na alça extracelular e Reage com uma glicoproteína na superfície celular de 55kDa, tem alto conteúdo hidrofóbico. O antígeno está presente em reconhecida como receptora de interleucina-2. O CD25 apre células B periféricas e de centro germinativo e aparece após senta expressão em células T ativadas, células B e monócitos. estágio pré-B, mas está ausente no estágio de plasmócito. Tem Tem importante papel na caracterização de tricoleucemias baixa expressão em células T, granulócitos e monócitos. (hairy-cell leukemia). CD30 CD38 Identifica uma glicoproteína de peso molecular 45kDa e sua Identifica uma glicoproteína de cadeia única de 105kDa (antíge- distribuição nos tecidos parece ser dependente da diferencia no Ki-1), presente em tecidos normais, como as células linfóides ção e ativação celular. O CD38 é um marcador de baixa especi que circundam centros germinativos, áreas interfoliculares de ficidade; entretanto apresenta alta sensibilidade para inúme tecido linfóide (células T e B reativas) e células neoplásicas de ras neoplasias hematológicas. Reed-Sternberg. Tem aplicação no diagnóstico de linfomas de Está presente em células T e B ativadas, monócitos, natural kil grandes células, linfoma de Hodgkin e alguns linfomas T pleo mórficos periféricos, associados ou não à infecção pelo HTLV-1. CD33 Identifica uma glicoproteína transmembrânica de peso mole cular 67kDa. Tem importante homologia com a glicoproteína associada à mielina. O antígeno tem expressão nos monócitos do sangue periférico, porém não nos granulócitos maduros, linfócitos,eritrócitos e plaquetas. Aproximadamente 30% das célu las da medula óssea normal são positivas, incluindo as colônias precursoras de células mielóides (reatividade até mielócito). Aproximadamente 85% dos casos de leucemia mielóide aguda são positivos para CD33. É utilizado para diagnóstico diferen cial entre leucemias mielóides e linfóides. CD34 ler, células plasmáticas e timócitos medulares. Sua expressão pode estar presente como valor prognóstico em leucemia lin focítica crônica e no mieloma múltiplo. CD41 Identifica a cadeia da integrina (IIa/IIIb) que se liga covalen temente à cadeia (CD61), formando um complexo glicopro téico na superfície celular. É denominado panplaquetário com receptor para fibrinogênio, fibronectina, trombospondina etc. Expressa-se em plaquetas, megacariócitos e células endote liais, participando na agregação plaquetária. O CD41 é útil para o diagnóstico de leucemia megacarioblástica (FAB - M7). CD42 A, B, C, D Identifica uma glicoproteína transmembrânica de 170kDa, composta de cadeias a e b. O antígeno é encontrado em pla Identifica uma sialoproteína transmembrânica de cadeia úni quetas, megacariócitos e células endoteliais. É utilizado para ca, peso molecular 100kDa. É o primeiro marcador a se expres caracterização de leucemia megacarioblástica e síndrome de sar em células progenitoras hematopoiéticas humanas, uni e Bernard-Soulier. 190 08 Hemato BOOK 16.indd 190 26.10.06 17:37:04 A família do antígeno leucocitário comum (LCA), composta de Ver CD55 e CD59 (Hemoglobinúria paroxística noturna). seis membros, contém glicoproteínas com peso molecular va riando de 180kDa a 240kDa. A diferença entre os vários mem bros se dá na seqüência de proteínas e conteúdo de carboidra tos. É encontrada em células de origem hematopoiética, exceto eritrócitos e plaquetas. Tem papel em vários processos imuno lógicos como interação célula-célula, diferenciação e ativação de linfócitos T e B, citólise por natural killer e por linfócito T ci totóxico. As células T exprimem os antígenos de mais de um membro com padrão mais complexo e as células B de maior peso molecular. Os anticorpos AcMO/PO podem exprimir epí topes comuns a todos os LCA ou reconhecer epítopes restritos. Os comuns são codificados por ligação de éxons ou por reações químicas específicas, como a glicosilação. Este marcador está associado à ativação e não à função es pecífica da célula. É utilizado no diagnóstico diferencial entre linfocitoses reativas e leucemias/linfomas e entre os tumores hematopoiéticos e os epiteliais/mesenquimais. CD55 CD61 Identifica uma integrina, subunidade , de composição glico protéica, PM 110kDa. Associa-se de forma não covalente à ca deia (CD41) das integrinas, formando complexo. Está envol vida na agregação e adesão plaquetária à matriz extracelular. Sua expressão é relativamente específica para megacariócitos, plaquetas e macrófagos. CD61 é utilizado no diagnóstico da leucemia megacarioblástica (FAB - M7). CD64 Identifica uma glicoproteína monomérica de 75kDa com alta afinidade por IgG. Expressa-se em macrófagos, monócitos e neutrófilos induzidos por interferon , resultando em células que são ativadas no mecanismo oxidativo. CD71 Identifica uma glicoproteína de 94kDa, que pode se apresen tar como dímero de 190kDa unido por ponte dissulfeto. Atua Ver CD55 e CD59 (Hemoglobinúria paroxística noturna). como receptor de transferrina, essencial para o transporte de CD56 em células benignas quanto malignas, mas não é dependente Identifica uma glicoproteína de 200kDa a 220kDa, com função desconhecida. Expressa-se em 10% a 20% dos linfócitos perifé ricos. Mais de 90% das células CD16+ em repouso, com aspecto morfológico de células granulares ou natural killer são posi tivas para CD56 e provavelmente representam uma terceira linhagem de células linfóides. Diferencia-se na medula óssea, de onde sai nos estágios iniciais da maturação. É encontrada no sangue periférico, medula óssea e amígdalas, sendo pratica mente ausente em outros tecidos linfóides. Tem papel na regu lação da hematopoiese, na defesa contra células neoplásicas e infectadas por vírus, não requerendo sensibilização prévia pelo antígeno. É morfológica e funcionalmente homogênea, mas imunofenotipicamente heterogênea, dividindo moléculas ci toplasmáticas e de superfície com linfócitos, monócitos etc. O CD56 é uma molécula de adesão de células neurais (N-CAM) e sua co-expressão com antígenos de histocompatibilidade ainda é controversa. Está presente em células que na maioria das vezes co-expressam CD2, CD5 e CD8. Esta população, quando negativa para CD16, compõe um subgrupo de células T cito tóxicas que têm morfologia de células granulares. O CD56 se expressa em células T, citotóxicas ou não. Quando ci totóxicas, são IL-2 dependente para liberação de linfocinas res ponsáveis pela atividade killer. O CD56 tem sido usado como marcador de prognóstico na LMA-M3. HEMATOLOGIA CD59 CITOQUÍMICA CD45 ferro nas células em proliferação. O antígeno se expressa tanto do ciclo celular. Está presente em todas as células hematopoié ticas em proliferação, algumas não hematopoiéticas, e em al guns tecidos fetais. Não se expressa em células maduras do sangue periférico. Entre os linfomas não-Hodgkin, o CD71 se expressa em linfo blastos malignos precursores de células T, exibindo fenótipo de timócito imaturo. É variavelmente expresso em neoplasias de células T pós-tímicas e linfoma imunoblástico plasmocitóide de células B. CD79A Identifica uma glicoproteína citoplasmática de 47 kDa(mb-1), presente nos linfócitos B. O CD79a está em vários estágios de diferenciação de célula B, provavelmente antes da expressão de cadeia mu, detectado somente no citoplasma. Importante marcação de LLA-B precoce. CD79B Identifica uma glicoproteína heterodimérica de 33kDa a 40kDa, pertencente à superfamília das imunoglobulinas. O antígeno, presente na superfície das células B, se liga covalentemente à cadeia à célula B em estágio pré-B. Expressa-se em células normais e neoplásicas em estágio pré-B e se perde antes do estágio de plasmócito. 191 08 Hemato BOOK 16.indd 191 26.10.06 17:37:04 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA CD103 Este anticorpo monoclonal reage com um epítope localizado em uma cadeia polipeptídica de 150kDa, normalmente pre sente na membrana celular de linfócito T associado à mucosa. Tem expressão em linfoma intestinal de linfócito T associado à Nas fases iniciais, as células T apresentam o HLA-DR, mas rapida mente o perdem quando se tornam circulantes. O antígeno se expressa na maioria das células precursoras de leucemias/linfomas B que são TdT positivos e nas neoplasias B de células ma duras (TdT negativas), secretoras ou não de imunoglobulinas. doença celíaca e em hairy cell leukemia. As células B maduras com diferenciação plasmocitóide (TdT CD117 mas linfoplasmocitóides expressam variavelmente o HLA-DR, Identifica um epítope extracelular de proto-oncogene (C-KIT) pertencente à família dos receptores tirosinoquinase. O antíge no é o receptor para um fator de crescimento e se expressa em poucas células da medula óssea normal. A maioria das células CD117+ co-expressam CD34. É utilizado para identificação de cé lulas hematopoiéticas progenitoras nas leucemias mielóides. CD138 Identifica a molécula syndecan-1 proteoglican de 30,5kDa, com provável função na formação da matriz celular. É utilizado para identificação de células malignas, presente em 70% a 100% das células do mieloma múltiplo e da leucemia linfocítica crônica. Expressa-se em células plasmáticas, pré-B, endoteliais e fibro blastos. Está ausente em células B e T circulantes, monócitos, granulócitos e células de medula óssea normal. Reage com imunoglobulinas citoplasmáticas e de superfície de células plasmáticas reativas, indicando presença em células secreto ras. É utilizado para monitorar mieloma múltiplo e doenças lin foproliferativas B que produzem grande quantidade de imuno globulinas. Pode ser utilizado em combinação com CD38, que negativas), a macroglobulinemia de Waldenström e os linfo o que não acontece no mieloma múltiplo. O antígeno se ex pressa em neoplasias de células T que fazem comprometimen to cutâneo, no linfoma T periférico, no linfoma T do adulto, nas neoplasias mielóides (M1 a M5 exceto M3), nas crises blásticas linfóides de leucemia mielóide crônica e na mielofibrose. TDT A deoxinucleotidil-transferase terminal (TdT) é uma enzima de replicação (DNA polimerase) que se liga a desoxinucleotí deos na terminação 3’ do DNA e atua no rearranjo dos genes que codificam as imunoglobulinas e os receptores de células T. Está presente nos estágios iniciais da diferenciação celular, participando na determinação da diversidade antigênica dos receptores de células precursoras T e B por ocasião da recom binação somática. Está nas células imaturas de neoplasias T, B e na crise blástica linfóide da leucemia mielóide crônica. Nas leucemias mielói des de crianças, a co-expressão de CD2 e TdT, em metade dos casos, está associada à falência na indução da quimioterapia. De forma genérica, todas as células B e T dos linfomas não- marca células plasmáticas não neoplásicas. Hodgkin com morfologia linfoblástica são TdT positivas e usa HLA-DR ção intranuclear, podendo ser identificada por outras técnicas, A habilidade dos organismos multicelulares de distinguir o que é próprio e não próprio tem função na preservação da espécie e é exercida por estruturas de superfície celular, responsáveis por este reconhecimento. O sistema denominado inicialmen te de Major Histocompatibility Complex (MHC) foi identificado em camundongos, com o seu correspondente humano Human Leucocyte Antigen (HLA). Três classes de moléculas de HLA foram identificadas (I, II, III). Os genes da classe II codificam a região HLA-D, que é organizada em três famílias, entre elas o HLA-DR (HLA-DRelated). O HLA-DR está presente em células apresentadoras de antíge no e largamente distribuído entre células hematopoiéticas e al gumas não hematopoiéticas. As células B apresentam HLA-DR, exceto no estágio secretório de plasmócito. É antígeno ligado à diferenciação, presente nos estágios de células indiferenciadas e desaparecendo gradativamente com a maturação celular. das como marcador de diferenciação celular. TdT tem localiza como imunofluorescência e imuno-histoquímica. GLICOFORINA-A A glicoforina-A tem peso molecular de 55kDa e é a mais abun dante dos cinco tipos de sialoglicoproteínas transmembrânicas presentes em eritroblastos e em eritrócitos. As glicoforinas A e B são homólogas e codificadas por dois genes estreitamente re lacionados. A precisa função biológica da glicoforina não é bem compreendida. Sabe-se que o alto conteúdo de ácido siálico da superfície da hemácia lhe dá carga negativa, sugerindo papel im portante na modulação da interação entre hemácias e o endoté lio. Outra participação importante é na diferenciação dos grupos sangüíneos M e N, que residem exatamente na glicoforina A. A síntese da glicoforina A — um antígeno marcador específico de eritrócitos e utilizada no diagnóstico de eritroleucemia (M6) — ocorre nos blastos conjuntamente com o início da síntese de hemoglobina. 192 08 Hemato BOOK 16.indd 192 26.10.06 17:37:05 óssea. A MPO identifica leucemia mielóide através do percen tual de blastos positivos. Casos M1, M2, M3, M4 e alguns casos de M5 (classificação FAB) são MPO positivos. FMC7 O FMC7 é um anticorpo monoclonal que reconhece uma glico oteína com peso molecular de 105kDa na superfície celular. O FMC7 é expresso somente em células B. É um importante mar na identificação das síndromes linfoproliferativas, por apresentar baixa reatividade com a leucemia linfocítica crôni B e com o linfoma linfocítico bem diferenciado. Apresenta reatividade em leucemia pró-linfocítica, hairy cell leukemia e no linfoma linfocítico difuso pouco diferenciado (linfoma de pequenas células clivadas com envolvimento periférico). TCR PAN / Identifica um determinante da cadeia / do complexo de re es das células linfóides T (TCR). Está presente nas células CD3+ periféricas e na maioria das células tímicas maduras. É um heterodímero de 90kDa, ligado por pontes dissulfeto, que Imunofenotipagem para leucemias agudas O painel imunofenotípico para leucemias agudas visa determinar a linhagem das células blásticas: mielóide, linfóide B ou T e NK. Os principais marca dores mielóides são CD13, CD33, CD117 e MPO. O com ponente monocítico (LMA-M4 e M5) é sugerido pelos marcadores CD11C, CD14, CD15 e CD64. A LMA-M3 caracteristicamente tem o marcador HLA-DR negati vo e o CD56 tem sido usado como valor prognóstico. Na LMA-M6, é importante a glicoforina A; já o CD41 e CD61 marcam a LMA-M7. As principais aplicações HEMATOLOGIA Reage com granulócitos e monócitos no sangue e na medula PATOLOGIAS HEMATOPOIÉTICAS MIELOPEROXIDASE são para distinguir minimamente a LMA(MO) da LLA, leucemias bifenotípicas, subclassificar a LLA em pre cursor B, LLA-T, LLA-B e doença residual mínima. PAINEL DE TRIAGEM reconhece antígenos no contexto das moléculas MHC. TCR PAN / Identifica um determinante da cadeia / do complexo de re es das células linfóides T (TCR). É um heterodímero que reconhece até 4% das células CD3 positivas do timo fetal e pós natal, sangue periférico e órgãos linfóides. Em sua ontogenia no timo, ocorre rearranjo dos genes / e é questionável se da Determinada a linhagem, o estudo do estágio maturativo constitui parte deste painel de classificação, levando em con ta que diferentes AcMO/PO reagem diferentemente em cada mesma linhagem resultará / ou se o rearranjo ocorrerá em tipo de patologia. linhagens separadas. A célula neoplásica hematopoiética representa, na maioria dos TCR / é classificado como duplamente negativo (CD4-, CD8-) casos, um precursor da célula normal que se manteve em um embora uma parte possa exprimir nível baixo de CD8. Pratica te todas as células TCR / + exprimem CD2, CD7 e CD5, mas não exibem tropismo óbvio pelo sistema linfóide do mi oambiente epitelial de tubo digestivo ou pele. Seu papel bio o é questionável, havendo evidências de uma função de citotoxicidade não restrita ao MHC, com papel semelhante ao de células natural killer. determinado estágio de maturação, normalmente com fideli dade de linhagem. Estudos comparativos da expressão de antí genos em células normais e leucêmicas indicam que as leuce mias expressam fenótipos que não são observados em células maduras. As células neoplásicas podem expressar marcadores de superfície e citoplasmáticos, tanto na medula óssea quanto no sangue periférico. ZAP-70 Identifica a proteína de 70kDa, membro da família das proteí nas tirosino-quinase, expresso primariamente nas células T e NK. Mais recentemente tem sido utilizado na LLC como critério prognóstico, de sobrevida e de progressão de doença. 193 08 Hemato BOOK 16.indd 193 26.10.06 17:37:05 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Linfoma de LLA-B t LLC-B/PLL-B HCL/B-NHL PRE-B HLA-DR Imunofenotipagem para doenças linfoproliferativas crônicas Ig: Imunoglobulina. ++: Positivo em mais de 75% dos casos. LCP: Leucemia de células plasmáticas. Neg: Negativo ou positivo em menos de 10% dos casos. -/+: Positivo em 10% a 25% dos casos. +: Positivo em 25% a 75% dos casos. LLC: Leucemia linfocítica crônica. LPL: Leucemia pró-linfocítica. HCL: Tricoleucemia. HCLV: Tricoleucemia variante. SLVL: Linfoma esplênico de linfócitos vilosos. LF: Linfoma folicular. LCM: Linfoma de célula do manto. 194 08 Hemato BOOK 16.indd 194 26.10.06 17:37:08 Leucemia de linfócitos grandes e granulares T – CD2, CD3, CD5(-) , CD7(-), CD4(-), CD8(-/+), CD16, CD11B, CD56(-), CD57, CD25(-). Leucemia de linfócitos grandes e granulares NK – CD2, CD3(-), CD16, CD56, CD4(-), CD8(-/+), CD57(-), CD25(-). Micose Fungóide e Síndrome de Sezary – CD2, CD3, CD5, CD7(+/-), CD4, CD8(-), CD25(-). Leucemia de células T do adulto – CD2, CD3, CD5, CD7(-), CD4, CD8(-), HLA-DR, forte CD25. Leucemia linfocítica/pró-linfocítica T crônica – CD2, CD3, CD5, CD7, CD4, CD8(-). sário para seu ciclo biológico, causando destruição desta célula e desequilíbrio no sistema imune, gerando a imunodeficiência. A determinação dos linfócitos T CD4+ permite definir decisões clínicas e terapêuticas em pacientes com Aids, principalmente quando seu resultado é analisado conjuntamente com a deter minação de carga viral para HIV por PCR. O linfócito T CD4+ é um forte indicador prognóstico. Sua taxa declina em aproximadamente 80 células/mm3 por ano, sendo mais acentuada quando associada a infeções oportunísticas. O linfócito T CD8+ também é afetado na infecção pelo HIV e aumenta seu valor absoluto no início da doença, retornando ao normal após alguns meses. Quando a infecção persiste, este número diminui em uma progressão menor que a do linfócito T CD4+. MÉTODO: Imunofenotipagem de superfície por citometria em fluxo. AMOSTRA: Sangue periférico (tubo com EDTA). Volume: 5mL (mí 1mL). HEMATOLOGIA Leucemia pró-linfocítica T – CD2, CD3, CD5, CD7, CD4, CD8(-) Na infecção causada pelo HIV 1 e 2, o vírus encontra no linfócito T CD4+ (entre outras células) o receptor de membrana neces PAINEL FENOTÍPICO PARA IMUNODEFICIÊNCIA MARCADORES IMUNOLÓGICOS PARA CÉLULA T MADURA Nota: Encaminhar 2 (duas) lâminas com distensão não fixada, A imunofenotipagem de populações linfocitárias é de grande utilidade clínica e tem valor no acompanha mento e prognóstico de diferentes patologias, como no estudo e classificação de doenças auto-imunes, imunodeficiências e o monitoramento pós-transplante de precursores hematopoiéticos. Atualmente, a maior aplicação do Painel Fenotípico para Imuno deficiência é o monitoramento celular em pacientes com sorologia positiva para HIV 1 e 2, e na síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids). Seu uso é aconselhado pelo CDC (Centers for Disease Control and Prevention), porque define com mais segurança as popu lações linfocitárias e permite sua quantificação. Este painel é composto por AcMOs conjugados para evitar a ambigüidade fenotípica existente entre algumas populações. Inclui: 1. CD3/CD56 para determinar as células T e natural killer da po pulação de linfócitos; 2. CD3/CD4 para distinguir os linfócitos T-helper dos monóci tos CD4+; 3. CD3/CD8 para distinguir linfócitos T supressor das células natural killer CD8+; 4. CD19 para determinar os linfócitos B. confeccionada no momento da coleta. ARMAZENAMENTO E TRANSPORTE: SP: – Até 24 horas após a coleta; – Condições inaceitáveis: amostra congelada; amostra coagulada; amostra com mais de 36 horas da coleta. CD55 e CD59 (hemoglobinúria paroxística noturna) Conhecida como síndrome de Marchiafava-Micheli, a hemo globinúria paroxística noturna (HPN) é uma doença clonal da célula pluripotencial (stem cell), descrita inicialmente por Ham em 1938, enfatizando seu início desencadeado por uma infecção, acompanhada de paroxismos de hemoglobinúria de predomínio noturno. Na HPN existe uma suscetibilidade não usual das hemácias à ação hemolítica do complemento. O diagnóstico da HPN pode ser feito utilizando-se o teste de HAM, o da sacarose e a citometria em fluxo (CF). Na CF, as célu las sensíveis ao complemento são detectadas com o antiCD55 e antiCD59 em granulócitos de sangue periférico. Os indiví duos normais expressam CD55 e CD59 na maioria de seus gra nulócitos. O CD55 ou Decay Accelarating Factor (DAF) é uma cadeia pro téica simples de glicosil-fosfatidil-inositol (GPI), de peso mole- 195 08 Hemato BOOK 16.indd 195 26.10.06 17:37:08 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA cular de 55kDa a 80kDa, localizada na superfície celular. Tem ampla expressão em células humanas, como os leucócitos, as plaquetas e os eritrócitos, e fraca expressão em células natural killer (NK). O DAF tem importante participação no sistema de regulação da deposição do C3 na superfície das células, através da ativação das vias clássica e alternativa, interferindo com a amplificação da cascata. Na sua ausência, ocorre hemólise in travascular. O CD59 ou Membrane Inhibitor of Reactive Lysis (MIRL) é uma proteína de 18kDa, que também tem função de controle da atividade do complemento. Em condições normais, ele inibe a formação do MAC (Membrane Attack Complex). O CD59 possi bilita formação do complexo C5b-6, que serve de sítio para a incorporação de C7 e C8 no complexo C5b-8. Os poros forma dos pelo MAC na membrana celular permitem a passagem de moléculas solúveis pequenas como íons e água, causando HLA-B27 É reconhecido como uma molécula classe I do MHC, de estru tura protéica polimórfica, peso molecular 44kDa, associada à 2-microglobulina e se expressa como um heterodímero na superfície da maioria das células nucleadas. O HLA-B27 é fun damental na investigação diagnóstica de pacientes com sinto mas reumáticos, principalmente os que apresentam sorologia negativa e/ou estudo radiológico de interpretação difícil. En tre estas artropatias temos a espondilite anquilosante (EA), a síndrome de Reiter (SR) e a uveíte anterior aguda (UAA). A que apresenta melhor correlação clínico/laboratorial com o B27 é a espondilite anquilosante, doença inflamatória mais comum em homens e que afeta predominantemente as articulações da coluna e da pelve. A maioria dos pacientes com a doença em atividade tem a velocidade de hemossedimentação (VHS), a proteína C-reativa (PCR) e o nível de IgA sérica elevados. Em lise osmótica. pacientes com o estágio avançado da EA, pode ocorrer aumen Os estudos citogenéticos na HPN são geralmente normais e, to da fosfatase alcalina. quando são detectadas anormalidades, não há padrão consis tente. Mesmo assim, há freqüente associação com a anemia aplásica, sugerindo que os tipos de alteração das stem cells que podem resultar em aplasia também podem induzir mutações somáticas que levam à HPN. Por extensão do conceito, propõe se que a HPN é um dos vários distúrbios denominados doenças mielodisplásicas que resultam de alterações de stem cells. A citometria em fluxo é eficiente para o acompanhamento evolutivo da doença. Quando o paciente apresenta episódios hemolíticos, com leve anemia, moderada trombocitopenia e positividade leve para sacarose, a elevação da citometria de A investigação do HLA-B27 é importante não só em indivíduos sintomáticos, mas também em assintomáticos, parentes de portadores da doença, que apresentam o fenótipo e demons tram risco de desenvolver a patologia. Estudos epidemiológicos demonstram que 1% a 2% dos adultos positivos para o fenótipo HLA-B27 têm EA. Na família de paciente com EA, 10% a 20% dos parentes de primeiro grau têm risco relativo de desenvolver a doença na fase adulta, numa proporção de 1,5:1. Com relação aos sexos, há prevalência no masculino, na proporção de 5:1. O HLA-B27 tem freqüência de positividade em pacientes com as seguintes doenças: fluxo já demonstra mais de 20% de granulócitos negativos e pode aparecer população de hemácias negativas. Episódios de hemoglobinúria tendem a ser freqüentes quando a população de células da HPN (sem expressão de CD55 e CD59) está acima de 50%; ocasional se entre 31% e 50%; e sem episódio hemolítico se menor que 20%. A proporção de células anormais é maior na medula do que no sangue periférico, sendo mais in tensa em células jovens, especialmente em reticulócitos. AMOSTRA: Sangue periférico (tubo com EDTA). Volume: 5mL (mí MÉTODO: Fenotipagem de superfície celular com anti-HLA-B27/B7 por citometria em fluxo. AMOSTRA: Sangue periférico (tubo com EDTA). Volume: 5mL (mí 1mL). nimo 1mL). ARMAZENAMENTO E TRANSPORTE: ARMAZENAMENTO E TRANSPORTE: SP: – Até 24 horas após a coleta; após três horas da coleta man SP: – Até 24 horas após a coleta. Após 24 horas, a amostra será submetida a teste de viabilidade celular para averiguação da qualidade do material. – Condições inaceitáveis: amostra congelada; amostra coagulada; amostra com mais de 36 horas da coleta. ter sob refrigeração; após 24 horas, a amostra será submetida a teste de viabilidade celular para averiguação da qualidade do material. – Condições inaceitáveis: amostra congelada; amostra coagulada; amostra com mais de 36 horas da coleta. 196 08 Hemato BOOK 16.indd 196 26.10.06 17:37:09 de linfócitos CD3, CD4, CD8, CD19, CD56, CD56+/CD16+. Avaliação quantitativa, qualitativa das células NK. Principais indicações são: perdas gestacionais, falhas no pro to de fertilização in vitro, infertilidade sem causa aparente e história de patologias imunológicas. Utilizado para diagnóstico e acompanhamento em casos de má resposta a ciclos de indução de ovulação. MÉTODO: Citometria de fluxo. AMOSTRA: Sangue periférico (tubo com EDTA). HEMATOLOGIA Imunofenotipagem do sangue periférico definindo população PAINEL FENOTÍPICO PARA IMUNODEFICIÊNCIA Painel Reprodutivo – Células Natural Killer 197 08 Hemato BOOK 16.indd 197 26.10.06 17:37:09 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA I M U N O L O G I A Desde a antiguidade, as doenças e sua prevenção sempre foram uma preocupação para a humani dade. Sociedades primitivas já estavam sujeitas a várias doenças que ainda hoje afligem o homem. Algumas doenças, como a varíola e a febre amarela, foram introduzidas nas sociedades primitivas por civilizações mais avançadas, nas quais encontraram uma população com total ausência de imunidade, ocasionando grandes epidemias com altas taxas de mortalidade. Métodos de prevenção de doenças utilizados por povos primitivos são descritos na literatura. Na an tiguidade, enquanto os antigos chineses utilizavam a inalação do pó das crostas da varíola, em outras partes da Ásia, crostas da varíola diluídas em água eram inoculadas na pele para prevenir a doença. Algumas tribos da África, muito tempo antes do período colonial, utilizavam um tipo de proteção contra a varíola, denominado variolização, que consistia em inserir o fluido das bolhas da varíola sob a pele. Estas técnicas visavam ao desenvolvimento de uma doença branda que protegeria o indivíduo de uma doença mais severa, já que era reconhecido que a varíola só ocorria uma vez, embora houvesse o risco de produzir séria infecção. Em 1530, Girolamo Fracastoro, poeta, físico, geólogo, astrônomo, além de médico, ganhou fama através de seu poema Syphilis sive Morbus Galicus (Sífilis ou a Doença Francesa), no qual não somen te criou o seu nome mais geral, “doença francesa”, como também sugeriu a transmissão venérea da sífilis. Em seu tratado De Contagione (1546), estabeleceu com bastante clareza a teoria moderna da infecção por germes invisíveis, os quais ele chamou seminária, embora não visse estes elementos con tagiosos como organismos vivos. Distinguiu, também, nitidamente, três formas de contágio: direto, indireto e à distância. Em 1798, Edward Jenner foi capaz de proteger uma criança contra a varíola utilizando material de pús tula da varíola das vacas, demonstrando desta forma a possibilidade da manipulação segura da res posta imune para indução de proteção contra infecção através da vacinação. Os anos que se seguiram foram de grandes avanços científicos devido às importantes contribuições de Louis Pasteur e Robert Koch, entre outros renomados cientistas, que deram início à moderna ciência da microbiologia. A imunologia teve sua origem como um ramo da microbiologia destinado ao estudo da resposta do organismo aos agentes infecciosos. Com o passar do tempo e o aumento do conhecimento, a imunolo gia foi se tornando uma ciência básica, com períodos de ênfase na sorologia, imunidade celular e imu nogenética. Com o crescimento do conhecimento científico a imunologia tornou-se uma ciência mais abrangente, apresentando grandes avanços em vários campos, como na alergia, imunopatologia, imuno-hematologia, imunoquímica e imunofarmacologia, ampliando o universo de sua aplicação clínica. 200 09 Imunologia BOOK 16.indd 200 26.10.06 17:34:41 IMUNOLOGIA Nos últimos 20 anos, acompanhando os grandes avanços tecnológicos e em estreita relação com a biologia molecular, o campo da imunologia sofreu alterações radicais. A identificação de diferentes cé lulas e moléculas específicas, componentes essenciais do sistema imune, permitiu um melhor enten dimento dos mecanismos efetores e de controle da resposta imune. Hoje, a imunologia é uma ciência multidisciplinar e possui um importante papel no diagnóstico laboratorial, já que diferentes testes de diversas áreas da medicina utilizam técnicas imunológicas. A introdução de anticorpos monoclonais e o desenvolvimento de metodologias mais sensíveis e específicas, como, por exemplo, os ensaios imunoenzimáticos e a citometria de fluxo, possibilitaram o melhor entendimento da imunopatologia nas áreas de doenças infecciosas e da auto-imunidade. Hoje, entre outros avanços, através da diferenciação de subpopulações celulares, a classificação das leucemias e o melhor acompanhamento de pacientes com quadros de imunodeficiência tornaram-se realidade. A emergência de novas doenças, como a síndrome de imunodeficiência adquirida, e o ressurgimento de antigas doenças, como a malária e a tuberculose, com multirresistência às drogas, trouxeram novos riscos para a população. O aparecimento de novas epidemias e pandemias tem exigido grandes esfor ços das áreas de imunodiagnóstico e imunoprofilaxia. Apesar dos avanços obtidos nos últimos anos, próximo à virada do novo milênio, dois séculos após o trabalho precursor de Jenner no desenvolvimento da imunoprofilaxia, e duas décadas após a erradica ção da varíola através da campanha mundial de vacinação coordenada pela Organização Mundial da Saúde, o desenvolvimento de novas vacinas para a prevenção de doenças potencialmente perigosas para a humanidade continua a ser um dos grandes desafios a serem vencidos pela ciência. 201 09 Imunologia BOOK 16.indd 201 26.10.06 17:34:41 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Antiestreptolisina “O” Auto-anticorpos Os estreptococos beta-hemolítico do grupo A de Lancefield O sistema imunológico protege o organismo contra a maioria são agentes etiológicos diretos de diferentes manifestações dos agentes agressores, através de mecanismos específicos e clínicas supurativas, como faringites, amigdalites, piodermites, inespecíficos. Como o sistema imune tem a propriedade de celulites e endocardites, ou não-supurativas, como a febre reu identificar e não produzir nenhuma reação ao que é próprio mática e a glomerulonefrite aguda. Estas bactérias produzem do organismo, no que chamamos de tolerância imunológica, a diversas toxinas extracelulares que exercem efeitos lesivos so base dessa proteção está no reconhecimento e na eliminação bre as células humanas. Uma delas é a enzima estreptolisina dos elementos estranhos. A quebra deste mecanismo leva o or “O”, que, por ser imunogênica, é capaz de induzir a síntese de ganismo a não mais discriminar o que é próprio do que não é, anticorpos específicos. passando a produzir anticorpos contra suas estruturas. Após uma infecção estreptocócica de orofaringe, cerca de 85% dos pacientes apresentam, em cerca de duas a três semanas, uma elevação de anticorpos antiestreptolisina O (ASO) que em geral atinge seus valores máximos em torno da terceira até a quinta semana, voltando ao normal entre a oitava e décima se mana. Pacientes com estreptococcias de pele, ao contrário, pro duzem pouco ou nenhum anticorpo. Trabalhos demonstram que o colesterol e outros esteróides presentes na pele podem combinar-se à estreptolisina “O”, tornando-a menos imuno gênica. Sua dosagem tem, portanto, pequena utilidade para o diagnóstico das glomerulonefrites pós-estreptocócicas. No caso de febre reumática, apenas 2% a 3% da população têm predisposição para desenvolvê-la, tendência determinada por fatores genéticos, tais como uma maior facilidade de ligação dos estreptococos ao tecido da orofaringe (receptores) e maior permeabilidade dos tecidos-alvo às citotoxinas estreptocóci cas circulantes. Deve-se ter cautela na interpretação dos resultados da dosa gem da ASO. Os níveis destes anticorpos variam com a idade, o número de exposições prévias, a gravidade da doença e a ca pacidade individual de resposta. Recomenda-se a dosagem de duas amostras com intervalo de duas semanas (uma amostra de fase aguda e uma de convalescença). Os valores só serão considerados significativos se houver um aumento de 30% em relação aos iniciais. Níveis de ASO em ascensão indicam infecção recente. Valores estáveis, mesmo quando elevados, apontam exposição estreptocócica prévia. Quando ocorrem complicações de natureza imunológica (febre reumática e glo merulonefrite), a queda a níveis normais pode levar de seis a oito meses. O uso de antibióticos, corticóides e imunossupres sores inibe a produção de ASO. Pode haver resultados falso-positivos em soros com aumento de betalipoproteína, nas doenças hepáticas, e em soros conta minados por Bacillus cereus e Pseudomonas spp. MÉTODO: Nefelometria. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Doenças auto-imunes Resultam do desequilíbrio da homeostase imunológica, com alterações das respostas mediadas por células e por anticor pos. Auto-anticorpos, dirigidos contra os componentes celu lares, especialmente contra seus constituintes nucleares, são comuns nestas patologias, que costumam ser classificadas quanto à localização das agressões como: Órgão-específicas: O envolvimento clínico e imunológico tem lugar em um único órgão: tireoidite de Hashimoto, anemia perniciosa e doença de Graves. Intermediárias: Importante acometimento de um órgão ao lado de manifestações em outros territórios, com diversos an ticorpos envolvidos, como na miastenia gravis, na cirrose biliar primária e na hepatite crônica ativa. Sistêmicas: Múltiplos anticorpos contra múltiplos órgãos, anarquia do sistema imune: lúpus eritematoso sistêmico, der matomiosite, esclerodermia, artrite reumatóide, doença mista do tecido conjuntivo. Fator antinuclear Com a descrição por Hargreaves do primeiro método de identi ficação de um anticorpo antinuclear pelo fenômeno da célula LE, desde 1948 esse tipo de pesquisa tem-se tornado cada vez mais específica. Em 1957, com a utilização das técnicas de imu nofluorescência, houve um grande avanço nessa identificação, com maior sensibilidade e especificidade, permitindo reconhe cer a que componente do núcleo o anticorpo se destina. Ou seja, sua especificidade imunológica, o que deu origem à des coberta de diversos marcadores diferentes. Designados anticorpos antinucleares (AAN), fatores antinuclea res (FAN) ou, em inglês, antinuclear antibody (ANA), a imuno fluorescência indireta usa como substrato, para identificá-los, células de linhagem Hep-2 (originárias de carcinoma humano de laringe). Ela identifica os AAN, fornece os títulos desses an ticorpos e, pelo padrão de fluorescência, sugere os tipos pre 202 09 Imunologia BOOK 16.indd 202 26.10.06 17:34:42 ticas, como a artrite reumatóide; Padrão Nuclear Pontilhado as células Hep-2 como substrato do FAN, apresenta vantagens (anteriormente descrito como salpicado), no LES, síndrome de sobre os cortes de tecidos animais porque permitem a detec Sjögren e doença mista do tecido conjuntivo; Padrão Nucleolar, ção de anticorpos anticentrômero e anti-PCNA, aumentando a na esclerodermia e polimiosite; e o Padrão Centromérico, na sensibilidade e a especificidade do teste. síndrome de Crest. A pesquisa de fator antinuclear é uma técnica de triagem para Vários outros têm sido descritos e relacionados a diferentes pa a presença de doenças auto-imunes, porém é importante cau tologias, como o Padrão Aparelho Mitótico tipo Fuso Mitótico, tela em sua interpretação, pois os AAN aparecem em diversas mais freqüentemente encontrado na síndrome de Sjögren; o patologias do tecido conjuntivo e em torno de 5% da popula Padrão Citoplasmático Pontilhado Fino, no LES; e o Padrão Cito ção normal, percentual que aumenta com a idade, chegando a plasmático Pontilhado Reticulado, na cirrose biliar primária. 20% em pacientes acima dos 60 anos. Também podem estar presentes em patologias não relacionadas ao tecido conjun tivo, como a mononucleose, algumas infecções virais e doen ças inflamatórias crônicas, geralmente em títulos baixos. IMUNOLOGIA sentes. O uso de células em diferentes fases de divisão, como A pesquisa de fator antinuclear deve, portanto, ser utilizada como uma técnica de triagem para a detecção de AAN e, de pendendo do título e padrão de fluorescência associados aos dados clínicos, ser acompanhada do estudo de sua especifici Títulos acima de 1/160 são interpretados como clinicamente dade para proceder-se a diferenciação das doenças reumáticas. significativos e podem ser encontrados em diversas doenças Entre os antígenos nucleares específicos mais importantes en- auto-imunes. A presença de AAN é um dos 11 critérios do Ame contram-se o DNA nativo ou de fita dupla e os antígenos nuclea rican College of Rheumatology para o diagnóstico do lúpus res SM, RNP, SS-A/RO, SS-B/LA, SCL -70 e JO-1. eritematoso sistêmico (LES), que não mais utiliza a pesquisa de células LE como critério diagnóstico da doença, devido a sua baixa sensibilidade e especificidade. É importante ressaltar que a pesquisa de FAN não pode ser considerada como um teste definitivo na pesquisa de LES e de outras doenças reumáticas. Um resultado negativo é um forte indício contra o diagnóstico de LES, mas nem sempre afasta a possibilidade da doença, já que um pequeno percentual de ca sos pode apresentar resultado de FAN negativo quando se uti lizam células Hep-2 como substrato, embora na maioria deles a pesquisa de anticorpos anti-SS-A dê positiva. Além disto, como no LES não existe relação entre os títulos e a atividade de doen ça, não há utilidade do FAN como teste de acompanhamento. Vários medicamentos — entre eles procainamida, hidralazina, isoniazida, clorpromazina, quinidina, carbamazepina, levodo pa, cimetidine e sulfonamidas — podem induzir uma condi ção “lupóide” (lúpus induzido por drogas), com altos títulos de AAN, que desaparecem após a sua suspensão. Os resultados positivos são expressos em títulos acompanhados da descri ção do padrão de fluorescência encontrado, o que pode auxiliar na interpretação do possível anticorpo antinuclear específico envolvido. Diferentes padrões de fluorescência estão relacio nados a vários AAN contra os diferentes antígenos nucleares. Entretanto, eles devem ser interpretados com cautela e servir como orientação para exames mais específicos, pois um mes mo padrão pode aparecer em diferentes doenças auto-imunes, e um mesmo paciente pode apresentar padrões mistos. Os principais padrões de fluorescência são o Padrão Nuclear Homogêneo, que ocorre no LES e em outras doenças reumá MÉTODO: Imunofluorescência indireta utilizando como subs trato células de linhagem Hep-2 (cultura de células de carci noma de laringe). AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTI-DNA O teste é realizado por imunofluorescência, usando-se como substrato a Crithidia luciliae, um protozoário com cinetoplasto rico em DNA de fita dupla. É útil para a confirmação diagnóstica de lúpus eritematoso sistêmico (LES) e a monitoração de seu tratamento. Os anticorpos anti-DNA (fita dupla) estão presen tes em aproximadamente 40% de todos os pacientes com LES e de 80% a 90% dos casos de LES em atividade, principalmente quando há nefrite. Aproximadamente 20% dos pacientes com doença mista do tecido conjuntivo apresentam títulos baixos, e eles raramente aparecem em outras doenças reumáticas. 203 09 Imunologia BOOK 16.indd 203 26.10.06 17:34:42 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Títulos altos de anti-DNA são bastante específicos de LES, rela ele está associado ao anti-SS-A. Mas o anti-SS-A é comumente cionados à atividade da doença e sua presença é indicativa de encontrado na ausência do anti-SS-B. maior risco de comprometimento renal. Seus títulos caem com o uso de corticóides e há melhora clínica do paciente. O antiDNA normalmente é negativo no lúpus eritematoso induzido por drogas. MÉTODO: Imunofluorescência indireta usando Crithidia luciliae como substrato. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTI-SS-A (RO) MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTI-SM Anticorpo direcionado para ribonucleoproteínas de baixo peso molecular (Sm/RNP), é denominado Sm por ter sido inicialmen te detectado em paciente de sobrenome Smith. Na imunofluo rescência indireta apresenta padrão pontilhado. Os anticorpos anti-Sm são altamente específicos para o diagnóstico de LES, Anticorpo direcionado para pelo menos duas proteínas asso embora apresentem baixa sensibilidade e sejam detectados ciadas a um grupo de pequenos RNAs intracelulares, designa em apenas 30% destes pacientes. dos Y1-Y5. Assim como o anti-SS-B, é útil no diagnóstico da sín drome de Sjögren, patologia mais comum em mulheres, cursa com ceratoconjuntivite, xerostomia e, em 50% dos casos, com artrite reumatóide. Pode estar presente também em algumas formas de LES, bem como na síndrome antifosfolipídio. Também pode mostrar títulos elevados na deficiência here ditária de C2 e C4, no lúpus neonatal e no lúpus eritematoso cutâneo subagudo. Apresenta positividade em 60% a 70% dos indivíduos com síndrome de Sjögren, 30% a 40% dos casos de lúpus eritematoso sistêmico, 20% dos pacientes com artrite reumatóide, 15% de outras doenças do colágeno e em 5% dos indivíduos normais. Por serem solúveis nos tampões normal mente empregados na imunofluorescência, podem apresentar-se negativos ou fracamente reativos por esta metodologia. Por isso, utilizam-se os métodos de hemaglutinação indireta ou Elisa para sua detecção. Extremamente útil no diagnóstico dos casos de LES “FAN-negativos”, nos quais costumam estar presentes. Indivíduos com síndrome de Sjögren e com SS-A reativo tendem a desenvolver manifestações extraglandulares, como linfoadenopatia, leuco penia, trombocitopenia, artrite e vasculites, hipergamaglobuli nemia e presença de fator reumatóide. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTI-SS-B (LA) Anticorpo direcionado para fosfoproteína complexada a pe quenos RNAs. Junto com o anti-SS-A, é útil no diagnóstico da síndrome de Sjögren, principalmente quando associada à vas culite e a algumas formas de LES. Encontra-se presente em 50% a 60% dos casos de síndrome de Sjögren, e em 10% a 15% dos casos de LES. É raramente encontrado na população normal. É raro detectar o anti-SS-B isoladamente, uma vez que em geral Alguns autores o relacionam com um menor comprometi mento renal e do sistema nervoso central. Embora seus níveis variem com o tempo de doença, não estão relacionados à sua atividade e seu completo desaparecimento é incomum. Na presença do anti-Sm, costuma-se observar também outros an ticorpos antinucleares, como anti-RNP. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTI-RNP Anticorpo direcionado para ribonucleoproteínas de baixo peso molecular. Aparece em altos títulos em 90% dos pacientes com doença mista do tecido conjuntivo e com pesquisa negativa para outros AAN. Também está presente em diversas outras doenças do colágeno, como LES (30% a 40%), artrite reumatói de (10% a 20%), síndrome de Sjögren (20%), polimiosite (10%) e esclerodermia (20% a 30%). Quando positivo no LES, geralmen te é acompanhado da positividade para anti-Sm e outros AAN. Diferentemente do anti-DNA, em pacientes lúpicos, é indicati vo de uma menor probabilidade de desenvolvimento de lesão renal, apontando, portanto, para um melhor prognóstico. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTI-JO-1 Anticorpo dirigido contra a enzima histidil-t-RNA sintetase, mostra-se presente em 25% dos portadores de miosite (polio miosite e, mais raramente, dermatomiosite), sendo conside rado como altamente específico para essa doença. Apresenta positividade em 60% dos pacientes com miosite associada com comprometimento pulmonar (alveolite ou fibrose inters ticial), embora raramente seja encontrado em pacientes com outras doenças do colágeno. Um resultado de FAN negativo 204 09 Imunologia BOOK 16.indd 204 26.10.06 17:34:43 mente observada em crianças, em especial na população me diterrânea, e associada aos anticorpos antimicrossoma do rim mesmo após a remissão dos sintomas, sem refletir o grau de e do fígado (anti-LKM) na ausência dos AAN e antimúsculo liso. atividade da doença. Representam um grupo bastante heterogêneo de anticorpos, MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTI-SCL-70 Dirigido contra a enzima DNA topoisomerase I, envolvida na transcrição e replicação do DNA, esse anticorpo é um marcador também observados na hepatite C e D crônicas e na hepatite induzida por drogas. MÉTODO: Imunofluorescência indireta. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTIGLIADINA, IgA E IgG altamente específico da esclerodermia (esclerose sistêmica pro- São anticorpos IgA e IgG contra um grupo de proteínas encon gressiva), presente entre 20% a 70% dos casos da doença. Parece tradas no glúten dos grãos de trigo, centeio e outros cereais, estar associado às formas mais graves e a um pior prognóstico, usados no diagnóstico e acompanhamento de enteropatias embora sua ausência não exclua o diagnóstico dessa patologia. sensíveis ao glúten, como a doença celíaca e a dermatite her MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTI-HISTONA Anticorpo dirigido contra a histona, proteína intimamente as sociada ao DNA, é um importante marcador do lúpus induzido por droga. Costuma ser detectado em 95% a 100% dos casos deste tipo de lúpus. Vários medicamentos, entre eles a pro cainamida, hidralazina, isoniazida, clorpromazina, quinidina, carbamazepina, levodopa, cimetidine e sulfonamidas, podem levar ao aparecimento de um quadro de lúpus com a presença de AAN, o que tende a desaparecer após a suspensão dos me dicamentos. Pode estar presente em cerca de 10% dos casos de lúpus idiopático, em geral associado aos anticorpos anti-DNA, anti-SM e anti-RNP e, mais raramente, na artrite reumatóide. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTICORPOS ANTIMICROSSOMA DE RIM E FÍGADO (ANTI-LKM) A hepatite auto-imune é uma desordem crônica caracterizada por inflamação e necrose hepatocelular contínua, usualmente com fibrose, que tende a progredir para cirrose e insuficiência hepática. Supõe-se que sua imunopatogênese seja resultado de um ataque imunológico direto, mediado por células, contra os hepatócitos, envolvendo a presença de auto-anticorpos cir culantes, entre eles o antimicrossoma do rim e do fígado. Baseada na presença de diferentes auto-anticorpos, a hepati te auto-imune pode ser separada em duas categorias: Tipo I – síndrome clássica que ocorre em mulheres jovens, associada à hipergamaglobulinemia, achados lupóides, anticorpos anti nucleares e anticorpos antimúsculo liso – e Tipo II – freqüente IMUNOLOGIA não exclui sua presença. Embora costume ser acompanhado de doença grave, seus níveis podem permanecer inalterados petiforme. A doença celíaca é provocada pela hipersensibilida de ao glúten e se caracteriza por atrofia das vilosidades intesti nais, diarréia crônica e desnutrição em graus variáveis, acome tendo crianças nos primeiros anos de vida ou adultos jovens. A retirada do glúten da dieta é acompanhada pela queda dos títulos de anticorpos antigliadina. Na doença celíaca, os anticorpos IgG são mais sensíveis do que os IgA, mas os anticorpos IgA são mais específicos que os IgG. Assim, em pacientes portadores de deficiência de IgA, com maior risco de desenvolver a doença, a detecção de IgG antigliadina permite o diagnóstico. A combinação da detecção de anticorpos antigliadina, antiendomísio e antitransgluta minase tecidual aumenta a sensibilidade e especificidade do diagnóstico. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTIENDOMÍSIO Endomísio é o estroma do tecido conectivo que recobre as fi bras ou células musculares. Os anticorpos antiendomísio rea gem com os componentes endomísicos das camadas de mus culatura lisa do tecido esofagiano, usado como substrato para imunofluorescência, para o diagnóstico e acompanhamento da doença celíaca e da dermatite herpetiforme. São pesquisa dos anticorpos antiendomísio da classe IgA, mais específicos do que os da classe IgG. Em portadores de deficiência de IgA, a detecção de IgG antiendomísio permite o diagnóstico. Os anticorpos antiendomísio são mais específicos do que os antigliadina, presentes em pelo menos 70% dos pacientes com dermatite herpetiforme e em 90% dos portadores de doença celíaca em uso de glúten. Retirando-se o glúten da alimenta ção, há uma rápida diminuição dos títulos desses anticorpos. 205 09 Imunologia BOOK 16.indd 205 26.10.06 17:34:43 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Com a reintrodução do glúten na dieta, sua elevação, assim espécime analisado (soro, líquido seminal e muco cervical) e como dos títulos de anticorpos antigliadina, pode preceder em do status de fertilidade do indivíduo. Homens vasectomizados vários meses a recidiva clínica. A pesquisa associada de anti têm uma incidência aumentada em até 60% a 80%. O teste de corpos antiendomísio, antigliadina e antitransglutaminase te immunobeads indireto detecta a preseça de anticorpos IgA e cidual permite o diagnóstico mais preciso da doença celíaca. MÉTODO: Imunofluorescência indireta. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTITRANSGLUTAMINASE TECIDUAL Presente em diversos tecidos, a enzima transglutaminase é IgG no soro e, quando positivo, indica causa imunológica como fator de infertilidade. MÉTODO: Immunobeads. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTIMICROSSOMAL o principal alvo antigênico dos anticorpos antiendomísio. Da Com a descoberta de que a enzima peroxidase tireoidiana re mesma forma que os anticorpos antiendomísio IgA, a pesqui presenta o componente antigênico primário da tireóide, sua sa de anticorpos antitransglutaminase da classe IgA ajuda no dosagem foi substituída pela dosagem do anticorpo antipero diagnóstico da doença celíaca e da dermatite herpetiforme, xidase (anti-TPO), que é mais sensível e específica. devido a sua alta sensibilidade e especificidade. Em portadores de deficiência de IgA, a detecção de IgG antitransglutaminase tecidual pode auxiliar no diagnóstico. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTITIREOGLOBULINA Junto com a do anti-TPO, esta dosagem é indicada como com plemento no diagnóstico das tireoidites auto-imunes, princi palmente a de Hashimoto. Cerca de 30% dos portadores desta patologia apresentam positividade para somente um anticor ANTIEPIDERME po, o que torna importante a associação da dosagem dos dois. Dois tipos de anticorpos contra estruturas distintas do epitélio monitoração do câncer diferenciado da tireóide, já que estes — a substância intercelular e a membrana basal — podem ser evidenciados através dos diferentes padrões de fluorescência observados. Sua determinação é de grande importância no diagnóstico das doenças bolhosas da pele, incluindo as dife rentes formas de pênfigo, como o pênfigo foliáceo e o pênfigo vulgar e o penfigóide bolhoso. Anticorpos contra a substância intercelular são encontrados em mais de 90% de todas as formas de casos de pênfigo, em bora raramente apareçam em pacientes queimados ou que apresentam infecção por Tricophyton. O título dos anticorpos contra a substância intercelular pode estar relacionado à ativi dade da doença, observando-se sua queda com a remissão da doença após o tratamento. Anticorpos contra a membrana basal são bastante específicos de penfigóide bolhoso, encontrados em 80% dos casos. MÉTODO: Imunofluorescência indireta. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTICORPO ANTIESPERMATOZÓIDE (TESTE INDIRETO) É apontado como uma das causas de infertilidade. A incidên cia de anticorpos circulantes na população masculina em ge ral gira em torno de 10% a 20%, e em mulheres inférteis, sem doença orgânica, de 10% a 15%. Esta incidência depende do Outra indicação é na avaliação do uso da tireoglobulina na anticorpos interferem na dosagem dessa substância. Depen dendo do ensaio utilizado, podem levar a valores falsamente elevados ou diminuídos. Apresentam prevalência de 10% na população geral e de cerca de 20% nos portadores de carcino ma diferenciado da tireóide. Após a tireoidectomia, seus valo res diminuem progressivamente, com negativação após dois a quatro anos depois da cirurgia. MÉTODO: Eletroquimioluminescência. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTIPEROXIDASE TIREOIDIANA (ANTI-TPO) Historicamente, estes anticorpos eram referidos como antimi crossomais. Porém, diversos estudos identificaram a enzima pe roxidase tireoidiana como o componente antigênico primário dos microssomas. É usado para o diagnóstico de doenças tireoidianas auto-imunes, especialmente a tireoidite de Hashimoto, com po sitividade de 95%, enquanto 85% dos casos de doença de Graves têm níveis detectáveis de anticorpos anti-TPO. Embora seus valo res possam variar durante a terapia, isso não tem importância significativa no critério de acompanhamento. Níveis detectáveis podem ser encontrados em 12% dos indivíduos normais. Esta enzima catalisa a iodinização da tirosina em tireoglo bulina durante a biossíntese de T3 e T4, sendo os anticorpos 206 09 Imunologia BOOK 16.indd 206 26.10.06 17:34:44 biópsia hepática, aumento da atividade da fosfatase alcalina e a presença de AMT. reoidite de Hashimoto apresentam positividade para somente um anticorpo, é importante a associação da dosagem de anti tireoglobulina. Os anticorpos antimitocondriais são dirigidos contra diferen tes componentes da membrana interna das mitocôndrias, podendo ser classificados em diversos tipos. Os AMT do tipo É considerado um fator de risco para tireoidite pós-parto e seus M2 estão fortemente relacionados à cirrose biliar primária, en níveis elevados estão associados a aborto e falha na fertiliza quanto outros tipos (M1, M3, M5, M6) podem ser encontrados ção in vitro. Os imunoensaios utilizados atualmente fornecem em outras patologias. A técnica de imunofluorescência per resultados quantitativos, são mais específicos e sensíveis do mite a demonstração da presença de AMT total. Títulos altos, que o método de aglutinação anteriormente utilizado. iguais ou superiores a 1:160, são bastante sugestivos de cirrose MÉTODO: Eletroquimioluminescência. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTICÉLULA PARIETAL Pode ser usado como diagnóstico diferencial da anemia per niciosa, uma vez que se mostra positivo em aproximadamen te 90% dos casos. Nos casos em que sua presença aparece associada à anemia megaloblástica, cresce a probabilidade diagnóstica. Seus níveis não se relacionam à má absorção de biliar primária, embora não se observe nenhuma correlação entre o título de anticorpos e a severidade e duração da doen ça. Recentemente desenvolvidos, os testes de Elisa com uso de antígenos mitocondriais purificados permitem a detecção dos diferentes tipos de AMT, aprimorando sua especificidade. MÉTODO: Imunofluorescência indireta. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTIMÚSCULO LISO B12, mas observa-se que este tipo de anticorpo está associado Útil no diagnóstico diferencial das doenças hepáticas crônicas. à lise das células parietais. Pode estar presente em diferentes Observa-se que 40% a 70% dos indivíduos com hepatite crôni doenças auto-imunes, tais como cirrose biliar primária, hepa ca ativa possuem anticorpos antimúsculo liso positivo. Títulos tite auto-imune e hepatite crônica, diabetes mellitus, doenças acima de 1/80 são considerados significativos, embora valores de Hashimoto e de Addison, tireotoxicose, artrite reumatóide, inferiores possam ser encontrados em outras patologias. Na síndrome de Sjögren, miastenia gravis e em pacientes assinto interpretação, deve-se associar outros exames, como provas máticos com idade superior a 60 anos (16%). Em alguns por de função hepática, dosagem de IgG e pesquisa de anticorpos tadores de anemia perniciosa, os títulos de anticélula parietal antinucleares (AAN). podem apresentar um declínio, provavelmente relacionado à destruição e perda de células parietais. Na hepatite auto-imune tipo I (clássica), encontram-se no soro tanto anticorpos antimúsculo liso quanto AAN, enquanto na MÉTODO: Imunofluorescência indireta. hepatite auto-imune tipo II, na ausência destes dois anticor AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). pos, detectam-se os anticorpos antimicrossoma de rim e fíga ANTIMITOCÔNDRIA da biópsia hepática como imprescindível ao diagnóstico. Cerca Teste recomendado para o diagnóstico diferencial de doença hepática crônica e na caracterização da cirrose biliar primária, caso em que se mostra presente em 85% a 95% dos pacientes. Também aparece em 25% a 30% dos portadores da hepatite crônica ativa. Os anticorpos antimitocôndria (AMT), no entan to, raramente são observados em pacientes com obstrução bi do (anti-LKM). Recomenda-se internacionalmente a realização de 50% dos pacientes com cirrose biliar primária e, em menor percentual portadores de outras patologias hepáticas, como as cirroses de outras etiologias e as neoplasias hepáticas, apre sentam títulos de anticorpo antimúsculo liso positivo, normal mente inferiores a 1/80. Menos de 2% da população normal pode apresentar positividade em baixos títulos. liar extra-hepática, hepatite induzida por drogas, hepatite viral, MÉTODO: Imunofluorescência indireta. cirrose alcoólica ou câncer hepático. Um por cento das doenças AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). auto-imunes pode apresentar positividade. A cirrose biliar primária é uma colestase intra-hepática crônica, IMUNOLOGIA anti-TPO capazes de inibir a atividade enzimática e induzir al terações citotóxicas. Como cerca de 30% dos pacientes com ti ANTIMÚSCULO ESTRIADO mais comum em mulheres do que em homens e com maior Utilizado principalmente no diagnóstico da miastenia gravis incidência entre os 30 e os 60 anos. Seu diagnóstico está re (MG), doença muscular comumente associada à hiperplasia lacionado com observações clínicas, achados histológicos da tímica e timoma. Os anticorpos antimúsculo estriado estão 207 09 Imunologia BOOK 16.indd 207 26.10.06 17:34:44 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA presentes em torno de 95% dos pacientes com MG associada à MÉTODO: Imunofluorescência indireta. timoma, 30% dos casos de MG sem timoma e 25% dos casos AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). de timoma sem MG. Mostram-se, portanto, presentes em 40% de todos os casos de MG. A ausência deste anticorpo é uma forte evidência contra a concomitância de timoma. Sua presença, es pecialmente junto a anticorpos anti-receptor de acetilcolina, auxilia na confirmação de MG, em particular quando há timoma. Sua avaliação é útil para acompanhar-se a eficácia do tratamen to imunossupressor na MG e na terapia dos casos de timoma. Este tipo de anticorpo pode ser encontrado na febre reumática, no infarto do miocárdio e em estados pós-cardiotomia. MÉTODO: Imunofluorescência indireta. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTICORPO LIGANTE DE RECEPTOR DE ACETILCOLINA É mais um recurso no diagnóstico da miastenia gravis (MG), uma vez que os portadores desta patologia desenvolvem não apenas anticorpos antimúsculo estriado mas também diferen tes anticorpos contra o receptor de acetilcolina, entre eles o anticorpo ligante, o bloqueador e o modulador. Anticorpos ligantes de receptor de acetilcolina estão presentes em 90% dos pacien tes de MG. Embora sua concentração sérica não esteja associa da à gravidade da doença, observa-se uma diminuição de sua concentração após a melhora clínica resultante da terapia. Esta classe de anticorpos é capaz de ativar a cascata do com plemento, provocando dano celular e perda dos receptores. Na ausência de MG, raramente encontram-se resultados falso-positivos na cirrose biliar primária, tireoidite auto-imune e timoma. A ausência de anticorpo ligante de receptor de acetilcolina, no entanto, não exclui o diagnóstico de miastenia gravis, já que em 10% dos casos confirmados da doença não se detecta nenhum dos diferentes tipos deste anticorpo, por qualquer metodologia. MÉTODO: Radioimunoensaio. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTICENTRÔMERO Sua pesquisa é empregada no diagnóstico da síndrome de Crest, variante da esclerodermia (esclerose sistêmica progres siva) que cursa com calcinose, fenômeno de Raynaud, disfun ção esofagiana, esclerodactilia e telangiectasia. Está presente em 70% a 90% dos casos de síndrome de Crest, em 10% a 20% dos casos de esclerodermia e em alguns casos de cirrose biliar primária. Para essa pesquisa usam-se as células da linhagem Hep-2 como substrato da imunofluorescência, o que permite a visualização dos centrômeros dos cromossomas nas células em mitose. ANTICITOPLASMA DE NEUTRÓFILO (ANCA) Útil principalmente no diagnóstico da granulomatose de We gener (GW), tríade que se caracteriza por inflamação granu lomatosa do trato respiratório superior e inferior, vasculite e glomerulonefrite. Empregado também na pesquisa de poliar terite microscópica, síndrome de Churg-Strauss (vasculite) e glomerulonefrite necrotizante idiopática. Detecta-se ANCA ainda na síndrome de lúpus induzido por drogas, LES, síndro me de Felty (esplenomegalia e leucopenia), artrite reumatóide e doenças inflamatórias intestinais. A técnica de imunofluo rescência indireta permite a caracterização de dois padrões de fluorescência: – Padrão citoplasmático (C-ANCA); – Padrão perinuclear (P-ANCA). O padrão C-ANCA é atribuído à reatividade com a proteina se 3 (PR3) dos grânulos dos neutrófilos, enquanto o P-ANCA apresenta diferentes reatividades: à mieloperoxidase (MPO), à catepsina G e à elastase dos neutrófilos. O padrão C-ANCA é tipicamente observado em cerca de 85% dos casos de granu lomatose de Wegener, enquanto o P-ANCA pode ser detectado em 5%. Apenas perto de 40% dos pacientes mantêm a presen ça do ANCA após a remissão do quadro clínico. O padrão P-ANCA é mais encontrado nos quadros de polian geíte microscópica, glomerulonefrite crescente necrotizante, síndrome de Churg-Strauss, colangite esclerosante primária e processos inflamatórios intestinais, como na colite ulcerativa e doença de Crohn. Recomenda-se fazer a pesquisa deste anticorpo pelas técnicas de imunofluorescência e ensaio imunoenzimático específico para a proteinase 3 (PR3) e mieloperoxidase (MPO), que em con junto melhoram a sensibilidade e a especificidade do teste. MÉTODO: Imunofluorescência indireta. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTICORPOS ANTICARDIOLIPINA Dos vários anticorpos antifosfolipídios estudados, os anticor pos para a cardiolipina (ACA) têm recebido maior atenção por serem os mais fáceis de se detectar e sobre os quais se tem hoje mais informações e correlação com a clínica. A cardiolipi na é um difosfatidil-glicerol presente em diversas membranas fosfolipídicas e apresenta reatividade cruzada com o Trepone ma pallidum. 208 09 Imunologia BOOK 16.indd 208 26.10.06 17:34:45 liartrite crônica erosiva. É uma das doenças auto-imunes mais anticorpo antifosfolipídio. Está associado a um grande núme comuns, acometendo em torno de 1% da população mundial. ro de alterações clínicas e laboratoriais, como doença vascular Seu diagnóstico se baseia nos achados clínicos e radiológicos oclusiva arterial e venosa, abortamento de repetição geralmen associados à presença do fator reumatóide (FR). Embora bas te no 2º e 3º trimestres da gestação, trombocitopenia e anemia tante sensível, esse fator não é específico da AR, podendo ser hemolítica. A trombose venosa profunda das extremidades encontrado em outros processos auto-imunes, infecciosos ou inferiores é o local mais comum da manifestação venosa e a neoplásicos e mesmo em indivíduos aparentemente normais, doença vascular cerebral (AVC precedido de ataques isquêmi principalmente idosos. Nos quadros iniciais de AR, com menos cos transitórios) é o evento arterial mais freqüente. de seis meses de evolução, quando os achados clínicos e ra Em mulheres com história de aborto espontâneo e/ou recorren tes, pacientes com episódios de tromboses recorrentes, síndro mes lúpus like, VDRL falso-positivo e casos de doença do tecido diológicos são usualmente pobres para caracterizar a doença, cerca de 30% dos pacientes não apresentam FR, dificultando o diagnóstico precoce. conjuntivo devem ser pesquisados. Resultados positivos po O anticorpo antipeptídeo cíclico citrulinado (anti-CCP) mostra dem ser encontrados no curso de doenças infecciosas agudas, sensibilidade semelhante ao FR, porém alcança uma especifici em várias doenças auto-imunes, Aids, doenças malignas e em dade superior, chegando a 98%, o que o torna útil no diagnós uma pequena percentagem da população sadia que faça uso tico diferencial da artrite reumatóide de outras colagenoses e de certos medicamentos, como a clorpromazina, procainamida, poliartrites não auto-imunes. O anti-CCP ocorre precocemente hidralazina, quinidina, penicilina e vários outros antibióticos. no curso da AR, antes mesmo do aparecimento dos sintomas, Tem uma prevalência de 20% a 50% nos pacientes com LES. Ocorre em 70% dos casos em concomitância com anticorpo anticoagulante lúpico (AAL é um antifosfolipídio). Nos pacien tes lúpicos cerca de 34% cursam com AAL positivo e 44% com ACA positivo. Inicialmente,associava-se o anticorpo IgG anticardiolipina como primariamente relacionado à presença de complicações clínicas, entre elas a trombose venosa (70%) e arterial (30%), tromboci topenia, anemia hemolítica e abortos espontâneos. Atualmen te, está claro que os anticorpos IgA e IgM também estão ligados a essas complicações. Aparentemente, não existe associação entre o tipo de evento trombótico e o tipo ou título de anticor po detectado. Como um pequeno número de pacientes pode apresentar resultado negativo para anticorpos antifosfolipídios, sendo positivo em grande número dos pacientes na fase inicial da doença, quando o FR ainda é negativo ou presente em títu los baixos, auxiliando não só no diagnóstico como na decisão terapêutica. Alguns autores têm encontrado o anti-CCP em 30% a 40% dos pacientes de AR com FR negativo. Como está relaciona do à progressão mais agressiva da AR com erosão articular, sugere-se que este anticorpo pode representar um marcador mais eficaz no prognóstico da evolução da doença do que o FR. A combinação da pesquisa de anticorpos anti-CCP e FR pode aumentar substancialmente a sensibilidade e a especificida de no diagnóstico da AR, mesmo quando apesar de instalada apresenta quadro clínico não característico, ou nos casos de sinovite inicial. indica-se a associação da pesquisa ao anticorpo anticoagulante MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. lúpico, o que aumenta a sensibilidade para o diagnóstico. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTICARDIOLIPINA – IgM MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTICARDIOLIPINA – IgG Brucelose Doença aguda causada por bastonetes gram-negativos do gênero Brucella. Seu reservatório natural são os animais. Ra ramente ocorre a transmissão homem a homem. Três espécies causam a brucelose humana: Brucella melitensis (cabra), Bru MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. cella abortus (gado) e Brucella suis (porco). A infecção é causada AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). pela ingestão de leite ou queijo contaminado, ou pelo contato ANTICORPO ANTIPEPTÍDEO CITRULINADO CÍCLICO (ANTI-CCP) a localizar-se nas células do sistema reticuloendotelial, medula A artrite reumatóide (AR) é uma doença auto-imune sistêmica, de etiologia não definida, que cursa com uma importante po IMUNOLOGIA É útil no diagnóstico da síndrome primária ou secundária do com a pele. Após a invasão do organismo, as Brucellae tendem óssea, gânglios, fígado, baço e rins, e, com menor freqüência, nos ossos, endocárdio e testículos. 209 09 Imunologia BOOK 16.indd 209 26.10.06 17:34:45 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA O diagnóstico pode ser feito com auxílio de testes de identi ou através de métodos sorológicos, capazes de detectar a pre ficação por cultura e detecção de anticorpos por reações de sença de anticorpos IgM e IgG. aglutinação. Os anticorpos aparecem na segunda ou terceira semana de doença. Na fase aguda, títulos maiores ou iguais a 1/80 são considerados suspeitos e acima de 1/320, positivos. Na fase crônica, há o aparecimento de anticorpos incompletos, A detecção apenas de IgG indica que o paciente teve contato com o vírus através de infecção ou vacinação. A detecção de IgM é indicativa de infecção recente. bloqueadores, exigindo a sensibilização com soro de Coombs MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. para a avaliação. Títulos maiores ou iguais a 1/80 são conside AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). rados suspeitos e acima de 1/160, positivos. Os títulos devem ser interpretados com cautela em veterinários e funcionários que manipulam animais com freqüência. MÉTODO: Aglutinação direta. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Cadeias leves Existem dois tipos de cadeias leves de imunoglobulinas: kappa ( ) e lambda ( ). Elas são produzidas e secretadas pelas células plasmáticas, e normalmente são encontradas no soro e, em ní veis indetectáveis, na urina. São sintetizadas em torno de duas vezes mais cadeias kappa do que lambda, o que resulta numa razão sérica normal de 1,4 a 2,7. Qualquer doença que leve a um aumento do catabolismo, como nas tubulares renais, nefrotoxicidade por medicamentos ou lúpus eritematoso sistêmico, produzirá níveis elevados de cadeias leves na urina. Clamídia A Chlamydia trachomatis é uma bactéria obrigatoriamente intracelular e, hoje, considerada como a enfermidade bacte riana com maior incidência de transmissão sexual nos países ocidentais. A razão para isso é que 25% dos homens e 75% das mulheres infectadas não apresentam sintomas, o que dificulta e retarda seu diagnóstico. Assim, por sua manifestação silen ciosa ou indistinguível de síndromes causadas por outros pa tógenos responsáveis por doenças sexualmente transmissíveis (DST), o diagnóstico laboratorial rápido e acurado é de extrema importância para o correto manejo terapêutico e a interrupção da transmissão. Com um período de incubação de 10 a 14 dias, persiste, evo luindo em 30% dos casos para a cura espontânea em duas a três semanas. Levantamentos epidemiológicos demonstram um alto nível de infecção, em especial em mulheres sexual mente ativas, com freqüência assintomáticas ou com quadros Na proliferação que envolve apenas um clone de células e pro severos. Além de cervicites, uretrites, endometrites e inflama duz imunoglobulinas com as mesmas características (mono ções pélvicas, provocam também salpingites aguda e crônica, clonais), há forte evidência de um processo maligno (mieloma ou mesmo complicações importantes, como a infertilidade e a múltiplo, macroglobulinemia de Waldenström, amiloidose gravidez ectópica. etc.), alterando a relação kappa/lambda no sangue. No sexo masculino, causa uretrite (30% a 50% dos casos) e epi MÉTODO: Nefelometria. didimite, complicação comum em homens abaixo dos 30 anos, AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). que pode ocorrer de forma assintomática ou com queixa de Caxumba Infecção causada por um paramixovírus, a caxumba tem como características ser autolimitada e transmitida por via respira tória, com um período de incubação que varia de 16 a 18 dias. Embora 30% a 40% dos casos mantenham-se assintomáticos, entre 60% a 70% dos pacientes apresentam um aumento do loroso das glândulas salivares e em indivíduos pós-puberais há dor testicular (homens) ou pélvica (mulheres). Primariamente atinge crianças entre quatro e 15 anos e é a cau sa mais comum de meningite asséptica na infância. O diag nóstico pode ser feito pelo isolamento e identificação do vírus, secreção purulenta. Sua participação nos casos de prostatite crônica e infertilidade masculina ainda não está bem definida. Entretanto, a incidência de anticorpos contra clamídia nestes pacientes é bem maior do que na população em geral. Mães infectadas representam um risco para os recém-nascidos, contaminados durante a passagem pelo canal de parto. Nesses casos, apresenta-se com manifestação de conjuntivite, entre cinco a 12 dias após o nascimento (50%) e com síndrome pneumônica entre três a 10 semanas. Apesar de sua menor prevalência, 40% dos homens e 30% a 50% das mulheres infectados pela Neisseria gonorrhoeae apre sentam coinfecção pela C. trachomatis. Portanto, os testes la boratoriais destinados à detecção simultânea destes dois pa 210 09 Imunologia BOOK 16.indd 210 26.10.06 17:34:46 deve apresentar um grande número de células para adequar-se na triagem de pacientes, especialmente mulheres assintomá ao exame. A baixa celularidade — menos que 20 células epi ticas. A infecção por clamídia pode ser diagnosticada pela de teliais colunares —, certamente apontará para um diagnóstico monstração de títulos de anticorpos elevados ou pela detecção inconclusivo. Apesar de resultados rápidos, sua interpretação do microrganismo nas secreções corporais infectadas. exige cautela devido à baixa sensibilidade em homens, em es A cultura para clamídia, no passado considerada gold stan pecial em populações com baixa prevalência da doença. dard no diagnóstico por sua especificidade virtual de 100%, MÉTODO: Imunofluorescência direta. apresenta diversas limitações técnicas que impossibilitam a AMOSTRA: Raspado uretral, de endocérvice ou ocular (esfrega acurácia do resultado. Além disso, estudos recentes a indicam como menos sensível do que a detecção por imunofluorescên cia, Elisa ou métodos de ampliação de DNA. Tais observações vêm modificando progressivamente os critérios diagnósticos das infecções por clamídia: (1) cultura positiva ou (2) um exame positivo que não seja cultura, confirmado por outra metodolo gia, em especial os testes moleculares. A Chlamydia pneumoniae é uma causa comum de infecção do trato respiratório, responsável por quadros de faringite, sinu site, bronquite e pneumonia atípica, devendo ser diferenciada da pneumonia por Mycoplasma e Legionella. Estudos soroepi demiológicos recentes têm demonstrado a associação desta bactéria com as doenças da artéria coronariana, embora o pa pel da C. pneumoniae na patogenia desta doença ainda seja desconhecida. Chlamydia trachomatis, SOROLOGIA PARA Nos casos de infecção primária, a soroconversão (produção de anticorpos) requer prazo de duas a três semanas, não per mitindo o ideal diagnóstico precoce. A detecção sorológica também é limitada pela presença de reação cruzada dos anti corpos entre as diferentes espécies de clamídia, estimulação inespecífica de anticorpos a esta bactéria e exposição pregressa a múltiplas espécies do patógeno. Qualquer titulação de IgG presente indica exposição pregressa. Na população adulta, a prevalência dos títulos de anticorpos indicativos de exposição ao microrganismo varia entre 50% e 78%. A presença de IgM é indicativa de infecção recente. Nestes casos, os títulos de IgG também são tipicamente superiores a 1/512. Também são freqüentes as infecções recorrentes e os tí IMUNOLOGIA tógenos, como a captura híbrida, são extremamente efetivos os em lâminas de imunofluorescência fixadas com acetona). Chlamydia trachomatis, MÉTODOS MOLECULARES Vide capítulo de Biologia Molecular. Chlamydia pneumoniae, SOROLOGIA PARA A Chlamydia pneumoniae (isolados TWAR e TWAR-like) é um patógeno de distribuição mundial, transmitido de pessoa a pessoa através das secreções do trato respiratório, responsável por quadros de faringite, sinusite, bronquite e pneumonia. A pneumonia é geralmente branda, porém doenças mais severas são observadas em pessoas de idade e naquelas com doenças crônicas. Na infecção primária, que costuma acometer jovens, os anticorpos IgM aparecem cerca de três semanas após o iní cio da doença e os anticorpos IgG de seis a oito semanas de pois do surgimento dos sintomas. Na reinfecção, freqüente em pessoas mais idosas, os anticor pos IgM em geral não aparecem; porém, se estiverem presen tes, tendem a manter-se em níveis baixos, enquanto os anti corpos IgG podem surgir em títulos elevados em uma a duas semanas. A presença de IgM e IgG é sugestiva de infecção primária, enquanto a detecção de apenas IgG pode represen tar contaminação passada ou reinfecção. A sorologia pareada, demonstrando aumento de pelo menos quatro vezes no título de IgG pode indicar infecção atual. A técnica utiliza antígeno C. pneumoniae (corpos elementares de TWAR), específica para este gênero de clamídia. MÉTODO: Imunofluorescência indireta. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). tulos de anticorpos persistem elevados. MÉTODO: Imunofluorescência indireta. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Chlamydia trachomatis, PESQUISA POR IFD A pesquisa para detecção de clamídia pode fazer uso de raspado endocervical, uretral ou conjuntival. A sensibilidade do método é extremamente dependente da qualidade da amostra, que Citomegalovírus Endêmico em todo o mundo, o citomegalovírus (CMV) pertence à família Herpesviridae. A transmissão pode acontecer por via transplacentária, respiratória, oral, sexual, urinária, pela ama mentação, transfusão sangüínea e por transplante de órgãos. É possível identificá-lo em todos os fluidos biológicos. A maioria das infecções evolui de forma assintomática. Quando sintomá- 211 09 Imunologia BOOK 16.indd 211 26.10.06 17:34:46 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA ticas, as manifestações clínicas são amplas, variando de apre ções. Podem permanecer presentes, em geral em títulos baixos, sentação e gravidade de acordo com a idade e o estado imuno por períodos de até um ano e meio após a infecção primária, o lógico do paciente. As infecções sintomáticas são mais comuns que dificulta a distinção entre infecção primária, reativação e na população de imunodeprimidos, portadores de Aids, porta reinfecção. Em pacientes com suspeita clínica de contamina dores de neoplasias, pacientes pós-transplantes ou no pós-ope- ção por CMV e com a presença concomitante de anticorpos ratório de doentes submetidos a cirurgias cardíacas. IgM e IgG, a determinação da avidez da IgG para o CMV permi A infecção pelo CMV tem quadro semelhante ao da mononu cleose infecciosa, com febre, alterações hepáticas, linfadeno te uma avaliação do tempo de evolução da infecção, auxiliando no diagnóstico da fase aguda. patia, sintomas pulmonares, gastrointestinais ou neurológicos, Na infecção recente, além de anticorpos IgM, pode haver anti leucopenia e/ou trombocitopenia. corpos IgG de baixa avidez, detectáveis por um teste imunoen O período de incubação é de quatro a 12 semanas, quando o antígeno já pode ser detectado. A este período segue-se a fase aguda da doença, em que o vírus é encontrado em secreções corporais, o que pode continuar por toda a vida. Os anticorpos da classe IgM aparecem logo no início desta fase e os da classe IgG, uma semana mais tarde. Após a infecção primária, o vírus persiste no organismo do hos pedeiro de forma latente, em que, embora a níveis reduzidos, a viremia persiste. Como nos demais vírus do grupo herpes, a infecção pode permanecer latente por toda a vida ou ter um ou mais episódios de reativação. A imunidade desenvolvida se mantém por toda a vida, mas a queda das defesas do organis mo por fatores endógenos ou exógenos leva o vírus à replica ção. Em imunodeprimidos, a infecção secundária por vezes se deve à reinfecção por vírus exógenos. Cerca de 1% a 2% das mulheres grávidas desenvolvem infecção primária durante a gestação, casos bem mais danosos ao feto, contaminados em 30% a 50% das vezes, do que uma reativa ção da doença durante este período. A reativação nas mães acontece em 5% a 15% das gestações, ocorrendo transmissão para cerca de 10% dos fetos. No total, a infecção congênita por zimático modificado que avalia a força de ligação do anticorpo IgG com o antígeno, através do tratamento da amostra do soro com uréia. Anticorpos IgG de baixa avidez são encontrados nos quadros com menos de três meses de duração. Já a presença de IgG de alta avidez aparece nas infecções com mais de três meses de evolução. Embora a profilaxia antiviral em pacientes imunocomprome tidos tenha reduzido a morbidade e a mortalidade da doença nos últimos anos, a toxicidade associada à terapia atualmente disponível permanece como um problema importante. Nesse sentido, têm sido concentrados esforços no desenvolvimento de métodos de detecção quantitativa de maior sensibilidade para identificar pacientes em risco de desenvolver o episódio da doença. A disseminação do CMV no sangue ocorre durante a infecção ativa e a viremia tem sido reconhecida como o principal fator de risco para a progressão da doença clínica. A detecção do DNA do citomegalovírus por captura híbrida permite resulta dos objetivos, com alta sensibilidade (95%) e especificidade de 87%, quando comparada à cultura de células, anteriormente considerada gold standard no diagnóstico dessa infecção. citomegalovírus ocorre em 1% dos fetos e, deles, apenas 5% A doença pode evoluir para um quadro grave em pacientes a 10% desenvolvem sintomas clínicos, dentre os quais lesões imunossuprimidos, como transplantados de medula óssea cerebrais, oculares e hepatoesplênicas em diferentes graus de ou órgãos como coração e rins; pacientes em tratamento com gravidade (forma aguda e subaguda). A infecção do neonato corticóides e aidéticos. Nestes casos, o diagnóstico precoce é pode ocorrer durante o parto, por contaminação no trajeto va de grande importância e muitas vezes de difícil realização. A ginal ou pelo leite durante a amamentação. pesquisa de antigenemia demonstra a preseça da proteína Devido à alta incidência de anticorpos IgG na população — en tre 30% a 90% dos indivíduos acima dos 30 anos —, dependen do da área geográfica estudada, um único resultado geralmen te não tem valor clínico. Aconselha-se, portanto, a repetição do exame em sorologia pareada, de duas a três semanas após a primeira coleta, para avaliação evolutiva dos valores de IgG e reavaliação da presença de IgM. Os anticorpos IgM são encontrados em 90% dos pacientes du pp65 do citomegalovírus nas células polimorfonucleares cir culantes do sangue. Esta proteína é um antígeno precoce, que aparece no início da replicação viral e, quando presente nos po limorfonucleares, indica infecção com replicação viral. CITOMEGALOVÍRUS, IgG MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). rante a fase aguda da infecção primária e em 40% das reativa 212 09 Imunologia BOOK 16.indd 212 26.10.06 17:34:47 Complemento total (CH100%) MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. Utilizado tanto na avaliação quanto na monitoração da terapia AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). do lúpus eritematoso sistêmico (LES), na pesquisa da deficiên CITOMEGALOVÍRUS, TESTE DE AVIDEZ DA IgG ção de imunocomplexos nas mais diferentes patologias. cia de componentes do complemento e na pesquisa de forma MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. A dosagem do complemento total por ensaio imunoenzimáti AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). co (CH 100%) permite uma melhor padronização e melhor re CITOMEGALOVÍRUS, ANTIGENEMIA quantitativa (CH 50%) anteriormente utilizado. O ensaio imu MÉTODO: Imunofluorescência direta. AMOSTRA: Sangue (tubo com EDTA). Complemento fração C3/C4 A fração C3 é um dos nove componentes principais do com plemento total, atua na resposta imunológica humoral e é ativada pela via clássica e pela alternativa. Outro componente, a fração C4 participa somente da via clássica de ativação do complemento e atua na resposta imunológica humoral. Sua deficiência tem caráter autossômico recessivo e resulta numa diminuição da resposta a infecções. Níveis elevados aparecem como uma resposta à fase aguda em numerosos estados infla matórios e associados a processos malignos. Níveis reduzidos podem ser vistos nas doenças por imunocomplexos, doença do soro, colagenoses e nas deficiências congênitas. É de gran de utilidade no diagnóstico diferencial das glomerulonefrites pós-estreptocócicas, que cursam com C3 diminuído e C4 em níveis normais. IMUNOLOGIA CITOMEGALOVÍRUS, IgM produtibilidade de resultados do que pelo método de hemólise noenzimático (CH 100%) permite detectar valores diminuídos do complemento total, porém não diferencia níveis normais de aumentados por não ter um limite superior. Mas valores au mentados do complemento total não têm importância clínica, podendo ser encontrados em processos inflamatórios (respos ta de fase aguda). A redução da atividade do complemento associa-se a uma série de patologias e pode ser resultado de um ou mais fatores, como consumo de complemento por formação de complexos imunes antígeno-anticorpo; deficiência de um ou mais componentes do sistema complemento; e deficiência do inibidor de C1 este rase, responsável pelo edema angioneurótico. Como algumas proteínas do sistema complemento — como C3 e C4 — são consideradas de fase aguda, pode haver hipercomplementemia em quadros inflamatórios, como uma resposta a esta fase. Cuidados especiais devem ser rigorosamente observados du rante a coleta, pois interferem criticamente nos resultados. Após a coleta do sangue, deve-se aguardar a coagulação, sepa rar o soro por centrifugação e imediatamente congelá-lo. MÉTODO: Nefelometria. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). 213 09 Imunologia BOOK 16.indd 213 26.10.06 17:34:48 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. mais freqüentes em áreas endêmicas. Um aumento alarmante AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). de sua incidência, assim como a importância de sua morbida Crioaglutininas As auto-aglutininas frias são anticorpos da classe IgM, dirigi dos contra a membrana das hemácias. Ocorrem na população normal, porém nunca em títulos superiores a 1/32. Interferem na tipagem sangüínea, na prova cruzada, em análises hemato lógicas e em reações imunológicas. Seus sintomas clínicos são comuns em adultos, especialmente idosos. Altos títulos surgem em infecções pelo Mycoplasma pneumoniae, influenza, mononucleose infecciosa, doenças do colágeno, linfomas e, ocasionalmente, na cirrose. A prova da crioaglutinina serve como auxílio no diagnóstico das infecções pelo Mycoplasma pneumoniae, sendo positiva em cerca de 2/3 dos pacientes infectados. MÉTODO: Hemaglutinação direta. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Crioglobulinas Grupo de proteínas que têm em comum a propriedade de formar um precipitado em baixa temperatura. O fenômeno é reversível pela elevação da temperatura a 37ºC. Exame útil no diagnóstico da crioglobulinemia. As crioglobulinas estão asso ciadas a uma variada gama de patologias, como mieloma múl tiplo, macroglobulinemia de Waldenström, lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide, síndrome de Sjögren, vasculites, leucemia linfocítica crônica, mononucleose infecciosa e hepa tite C, entre outras. MÉTODO: Precipitação a 4ºC. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). de e mortalidade, são fatores que justificam um maior controle em sua prevenção. A resposta característica dos anticorpos à infecção pelo vírus da dengue permite o diagnóstico sorológico e a diferenciação entre infecção primária e secundária. Tradicionalmente, tem se recorrido à inibição da hemaglutinação com esta finalidade. Porém, a variedade da potência de hemaglutininas feitas em diferentes laboratórios trouxe problemas quanto a sua aplica ção padronizada. O teste imunoenzimático oferece vantagens sobre esse mé todo anterior para o diagnóstico sorológico da doença, já que reduz a variação interlaboratorial e permite distinguir entre infecção primária e secundária através de amostra única sem diluição. Por este método, os anticorpos IgM e IgG são deter minados simultaneamente. Na infecção primária, os títulos de anticorpos IgM podem ser detectados três a cinco dias após o início do quadro febril, geralmente persistindo por 30 a 90 dias, embora ainda possa haver níveis detectáveis até seis meses após a infecção. Os anticorpos IgG são detectados aproxima damente a partir do 14o dia após o início dos sintomas e mantêm-se por toda vida. A infecção secundária é caracterizada por títulos de anticor pos IgG elevados, em geral significativamente maiores do que na infecção primária, e podem estar acompanhados por níveis elevados de anticorpos IgM. A sensibilidade do ensaio pode ser evidenciada pela presença, em pacientes com infecção primá ria, de IgM positivo enquanto IgG ainda não é detectável. Na fase inicial, e em alguns casos de infecção secundária, os níveis de IgM podem ser bastante baixos. Como alguns pacientes podem não produzir níveis detectáveis nos primeiros sete a 10 dias da infecção, recomenda-se uma nova dosagem sete dias Dengue depois da primeira amostra, quando o quadro clínico persistir. Encontrado em áreas tropicais e subtropicais de todo o mundo, MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. o vírus da dengue é um flavivírus com quatro diferentes soroti AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). pos (1, 2, 3 e 4), capazes de produzir imunidade sorotipo especí fica. Transmitido principalmente pelo mosquito Aedes aegypti, com período de incubação que varia de três a 10 dias, a infecção por este vírus causa um variado espectro de manifestações clí nicas, desde a forma inaparente à doença hemorrágica fatal. A forma clássica se caracteriza pelo início súbito de febre, cefaléia intensa, mialgia, artralgia e rash maculopapular. São comuns o curso bifásico do quadro febril, a insônia e a anorexia. A dengue hemorrágica e a síndrome de choque por dengue são complicações severas, em geral associadas à infecção por um segundo sorotipo (infecção secundária), que costumam ser Doença de Chagas (Trypanosoma cruzi) É uma parasitose endêmica, causada por um protozoário flage lado, o Trypanosoma cruzi. A principal fonte de contaminação são vetores hematófagos, embora também possa ser trans mida de forma congênita, transfusional, por transplantes de órgãos e inoculação acidental. Nem todos os indivíduos infec tados apresentam sintomas. Muitos, depois de uma fase agu da, evoluem para um estágio assintomático ou latente (forma indeterminada), que pode durar anos. Outros, porém, desen 214 09 Imunologia BOOK 16.indd 214 26.10.06 17:34:48 assim como os que são precocemente tratados, podem não chagásica ou formas digestivas (megaesôfago e megacólon). apresentar níveis detectáveis de anticorpos. Sendo assim, é re O diagnóstico costuma ser feito por pesquisa do parasita — que além de dispendiosa é demorada —, ou por métodos sorológicos, que permitem um diagnóstico mais rápido, de fá cil execução e grande sensibilidade, sendo utilizados nas fases aguda e crônica da doença. Para a realização dos testes sorológicos, utiliza-se, dependendo da técnica, antígenos originados de diferentes cepas e formas do parasita. Como o Trypanosoma cruzi é um parasita de alta complexidade antigênica, recomenda-se a realização de pelo menos duas reações diferentes para o diagnóstico. A utilização de mais de um método permite também minimizar as possí veis reações cruzadas. Os anticorpos aparecem precocemente na fase aguda da doença (IgM e IgG), perdurando durante toda a fase crônica (IgG). De pendendo da reação, teremos respostas diferentes em relação à comendável que os portadores com história clínica e/ou sinto mas sugestivos da doença, apesar da sorologia negativa, sejam reanalisados em nova amostra após quatro a seis semanas. A sorologia pode apresentar reação cruzada com outras doenças causadas por espiroquetas, como a sífilis, indicando-se a con firmação dos casos positivos pela técnica de immunoblotting. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Fator reumatóide É uma imunoglobulina, geralmente da classe IgM, capaz de rea gir com o fragmento Fc de uma imunoglobulina G humana. É um auto-anticorpo de grande utilidade no diagnóstico da ar trite reumatóide, estando presente em níveis elevados em 50% a 80% dos pacientes alguns meses após o início da doença. sensibilidade e precocidade da detecção desses anticorpos. O fator reumatóide pode estar ausente em aproximadamente DOENÇA DE CHAGAS, HEMAGLUTINAÇÃO PARA Altos títulos de FR apontam a tendência de a doença evoluir MÉTODO: Hemaglutinação indireta. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). DOENÇA DE CHAGAS, IMUNOFLUORESCÊNCIA INDIRETA PARA MÉTODO: Imunofluorescência indireta. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Doença de Lyme Causada pela espiroqueta Borrelia burgdorferi e transmitida pela picada de uma das várias espécies de carrapatos do gêne ro Ixodes, trata-se de uma doença sistêmica. É mais freqüente mente transmitida nos meses de verão e primavera, caracterizando-se por uma fase inicial semelhante à da gripe, acom panhada por lesão cutânea denominada eritema migratório. É facilmente tratada, evoluindo para cronicidade em menos de 10% dos casos, quando surgem manifestações reumatológicas, neurológicas, dermatológicas e lesões cardíacas. A doença de Lyme é diagnosticada através da combinação da história de exposição potencial numa área endêmica, reconhe cimento dos sintomas clínicos e resultado dos testes laborato riais. O diagnóstico definitivo pode ser feito pelo isolamento da B. burgdorferi em cultura ou, mais facilmente, pela demonstra ção da bactéria em biópsia da lesão de pele. Os testes sorológicos para pesquisa de anticorpos anti-B. burg dorferi incluem ensaio imunoenzimático, imunofluorescência indireta (IFI) e immunoblotting. Pacientes nos estágios iniciais, IMUNOLOGIA volvem lesões graves e progressivas, que levam à cardiopatia 30% dos pacientes nos estágios iniciais de artrite reumatóide. para complicações viscerais e um pior prognóstico. Na artrite reumatóide juvenil, o percentual de positividade de FR é mais baixo, de aproximadamente 20%. Os níveis do fator reumatóide usualmente não se alteram com o tratamento, não tendo, portanto, utilidade na avaliação da atividade de doença. Embora bastante sensível, o FR não é es pecífico da AR, podendo ser encontrado em outros processos auto-imunes, como no lúpus eritematoso sistêmico, síndrome de Sjögren, esclerodermia e dermatomiosite; em processos in fecciosos, como malária, mononucleose, endocardite, hepatite; em processos inflamatórios crônicos, como sarcoidose, leish maniose e hanseníase; e processos neoplásicos. Também pode ser encontrado em cerca de 5% dos indivíduos aparentemente normais, em particular nos idosos. Sua especificidade para ar trite reumatóide aumenta quando apresenta-se repetidamen te positivo e em níveis elevados. O fator reumatóide pode ser avaliado por diferentes métodos: nefelometria, prova do látex e reação de Waller-Rose. No teste do látex, usam-se partículas da substância, revestidas por IgG hu mana; na reação de Waller-Rose, eritrócitos de carneiro, revesti dos por imunoglobulina de coelho. Embora mais sensível, a prova do látex é menos específica do que a reação de Waller-Rose. Apesar de duas técnicas clássicas, estas metodologias vêm sendo trocadas com vantagem pela dosagem por nefelome tria, que atualmente tornou-se o método de referência para a pesquisa de fator reumatóide, por fornecer resultado quantita tivo em UI/mL, em vez dos resultados em títulos obtidos pela 215 09 Imunologia BOOK 16.indd 215 26.10.06 17:34:49 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA diluição do soro, fornecidos pelas técnicas do látex e Waller- intestinais. É encontrado nas frutas e vísceras (fígado e rim), e Rose, permitindo uma melhor reprodutibilidade e fornecendo vegetais de folhas verdes, mas é destruído quando submetido resultados mais precisos. a cozimento excessivo. É absorvido de forma ativa no duodeno WALLER-ROSE, REAÇÃO DE MÉTODO: Hemaglutinação indireta. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). FATOR REUMATÓIDE QUANTITATIVO MÉTODO: Nefelometria. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Ferritina É uma glicoproteína de alto peso molecular, que armazena 20% a 25% do ferro do organismo. Sua concentração sérica associa se aos estoques de ferro total do corpo, exceto na vigência de altas doses. Seus valores se alteram antes da redução dos ní e no jejuno proximal, e armazenado principalmente no fígado, como uma reserva suficiente para suprir o organismo por um período em torno de três meses. Sua deficiência associa-se à diminuição de ingestão, ao alcoo lismo (interferência no metabolismo e na absorção), aumen to de demanda (gestação, lactação, período rápido de cresci mento da infância, anemias hemolíticas crônicas, infecções agudas, psoríase, hepatopatias e neoplasias) e à má absorção (ressecção intestinal, doença celíaca ou espru tropical). O uso de medicamentos, como os anticonvulsivantes e os contra ceptivos orais, pode reduzir sua absorção, ou interferir em seu metabolismo, como os antimicrobianos, o methotrexate e os barbitúricos. O uso crônico de antiácidos e antagonistas dos receptores H2 em pacientes em dieta restrita contribui para deficiência de folato. veis séricos do ferro, das mudanças morfológicas das células MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. vermelhas ou dos sinais clínicos de anemia, sendo, portanto, AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). o teste mais sensível para diagnóstico da deficiência desse metal. Sua limitação é que, por ser uma das proteínas de fase aguda, eleva-se em resposta a processos inflamatórios agudos, infecções ou traumas, como na lise celular (hepatite, infarto do miocárdio), processos inflamatórios crônicos (artrite reumatói de) e em processos malignos (leucemia, linfomas, tumores do tubo gastrointestinal). Não deve, portanto, ser usada para ava liação de deficiência de ferro durante esses processos. É de grande auxílio no diagnóstico diferencial das microcitoses relacionadas à talassemia das relacionadas à ferropenia. Níveis baixos costumam indicar anemia por deficiência de ferro. Ní veis altos são encontrados nos estados de sobrecarga de ferro, como na hemocromatose, hemossiderose após transfusão e re posição aguda de ferro, e certas doenças hepáticas. Encontra-se também aumentada em processos neoplásicos como na leuce mia aguda, leucemias linfoblásticas e mieloblásticas, na doen ça de Hodgkin, nos carcinomas de mama, fígado, pulmão, cólon e próstata, podendo ser útil para monitorar o curso da doença. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Folato (ácido fólico) Atua na maturação das hemácias e participa do processo de síntese das purinas e pirimidinas, componentes dos ácidos nucléicos. Fontes alimentares são responsáveis por 20% das reservas e o restante resulta da produção por microrganismos Helicobacter pylori A úlcera péptica é uma das doenças mais comuns, que afeta cerca de 50% da população mundial. O H. pylori, uma bactéria gram-negativa e urease-positiva, é detectada em quase 100% dos adultos portadores de úlcera duodenal e em aproximada mente 80% dos pacientes com úlcera gástrica. Sua correlação com o câncer gástrico ainda não está bem estabelecida. Os métodos diagnósticos invasivos para a detecção do H. pylori incluem a endoscopia acompanhada por biópsia gástrica e a demonstração do microrganismo, histologicamente ou através da atividade da urease. Os achados histológicos apontam para a gastrite ativa ou para a persistência da doença crônica com infiltração da mucosa e da submucosa por polimorfonucleares e linfócitos, sugerindo uma defesa do hospedeiro com resposta local e sistêmica, por anticorpos. Entre os métodos não invasivos, existe uma boa correlação en tre a apresentação clínica clássica de gastrite, a presença de H. pylori no estômago e concentrações séricas elevadas de anti corpos anti-H. pylori. A detecção desses anticorpos por ensaios imunoenzimáticos apresenta sensibilidade e especificidade em torno de 95% e um grande valor preditivo negativo nas infecções recentes, exceto na população idosa, já que a preva lência destes anticorpos aumenta com a idade, podendo ser encontrados em 50% da população aparentemente saudável após os 50 anos. 216 09 Imunologia BOOK 16.indd 216 26.10.06 17:34:49 fecal-oral. O vírus é eliminado nas fezes duas semanas antes do aparecimento dos sintomas. O período de incubação é de a 12 meses após o tratamento, os níveis de IgG caem pela me duas a seis semanas, 28 dias em média, com um período curto tade ou menos dos valores pré-terapia em aproximadamente de viremia, em torno de 10 dias. A transmissão acontece da me 97% dos pacientes que apresentam cultura e biópsia negativas tade do período de incubação até poucos dias após o início da para H. pylori. Sua erradicação está associada à redução drásti sintomatologia. Normalmente o paciente recupera-se em cer ca da recorrência da úlcera duodenal. Pacientes assintomáticos ca de três a quatro semanas. Alguns casos apresentam curso ou não tratados continuam a apresentar testes soropositivos mais prolongado, e 8% dos pacientes podem apresentar sinais para IgG enquanto o H. pylori estiver presente, mesmo após a clínicos e laboratoriais flutuantes por 12 a 15 meses. Cerca de resolução histológica. As concentrações de IgA têm resposta 50% dos casos apresentam-se de forma subclínica (hepatite variável, podendo apenas indicar a atividade da infecção, o que anictérica), o que é mais freqüente em crianças. exige outros métodos para a confirmação diagnóstica. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Hepatites Trata-se de um processo inflamatório do fígado, que se carac teriza por necrose hepatocelular, irregular ou difusa, que afeta todos os ácinos. Suas principais etiologias são as virais, o uso de álcool e de outras drogas. As tradicionalmente denominadas hepatites virais podem ter como agentes etiológicos os vírus tipo A, B, C, D, E. Além dessas, algumas outras patologias virais ou bacterianas podem cursar com hepatite, tais como a mononucleose infecciosa, a citomega lovirose, a febre amarela e a leptospirose. O diagnóstico diferen cial dessas formas de hepatite é hoje indissociável da pesquisa sorológica de seus marcadores. Avaliações cada vez mais sensí veis e específicas, associadas a métodos moleculares, permitem a identificação do vírus envolvido, distinção da fase evolutiva da doença, grau de infectividade e prognóstico evolutivo da doença. IMUNOLOGIA As concentrações de anticorpos IgG diminuem de forma signi ficativa após uma terapia antibacteriana bem-sucedida. De seis ANTICORPO IgM PARA HEPATITE A (Anti-HAV IgM) Anticorpo contra o capsídeo viral, sua presença é indicativa de infecção aguda. Aparece de três a quatro semanas após a ex posição e declina gradualmente até tornar-se indetectável, o que ocorre usualmente após três meses. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTICORPO IgG PARA HEPATITE A (anti-HAV IgG) Aumenta na fase aguda ou no início da convalescença, duas semanas após os anticorpos IgM, permanecendo positivo por muitos anos. Confere imunidade contra hepatite A. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Hepatite B Causada por um hepadnavírus, tem transmissão parenteral, por transfusão de sangue e seus derivados, agulhas contaminadas, pelo sêmen e secreção vaginal através de contato sexual e, me nos freqüentemente, por contato com a saliva. Cerca de 30% dos pacientes não têm fator de risco de contaminação identificado. Afeta de 1% a 7% da população, com grande prevalência em gru pos de usuários de drogas injetáveis, homossexuais, heterosse xuais promíscuos, pacientes em diálise crônica e profissionais da área de saúde. Apresenta um longo período de incubação, de um a seis meses, e viremia prolongada, que perdura por várias semanas ou até poucos meses desde o final do período de incu Hepatite A bação até o aparecimento do anticorpo anti-HBs. É uma doença aguda, de curso clínico benigno, altamente O curso clínico é igualmente prolongado. Cerca de 5% a 15% contagiosa. Nos países do Terceiro Mundo, cerca de 80% da população possuem anticorpos específicos, pois já foram imu nizados naturalmente por infecções assintomáticas ou subclí nicas. Causada por um picornavírus, tem transmissão por via dos casos evoluem para a cronicidade e 1% é fatal. Dos casos crônicos, 2% tornam-se portadores crônicos assintomáticos, 6% em casos de hepatite crônica persistente e 3% em hepati te crônica ativa. Define-se o estado de portador assintomático pela persistência da positividade do HBsAg por mais de seis 217 09 Imunologia BOOK 16.indd 217 26.10.06 17:34:50 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA meses, com provas de função hepática e achados de biópsia MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. hepática normais. Já na hepatite crônica persistente, as pro AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). vas de função hepática estão alteradas embora os achados da biópsia hepática mantenham-se normais ou pouco alterados. Na hepatite crônica ativa, tanto as provas de função hepática quanto os achados da biópsia hepática mostram-se alterados. Os pacientes de evolução crônica têm um aumento conside rável do risco de carcinoma hepático, risco que se torna cin co vezes maior nos que desenvolvem cirrose (15% a 30% dos pacientes crônicos). A severidade da evolução da doença está relacionada ao grau de defesa do hospedeiro e ao grau de viru lência do vírus infectante. O diagnóstico laboratorial dos pacientes que chegam a porta dores crônicos, marcado pela ausência de soroconversão, deve ser suplementado pela detecção do DNA viral no soro ou no tecido hepático. Estudos recentes de indivíduos sintomáticos, com doença hepática crônica de etiologia desconhecida, mos traram que mais de 90% são positivos quando testados para DNA do HBV, indicando que os testes sorológicos atuais não são capazes de detectar a totalidade das infecções pelo HBV. Também observou-se que alguns mutantes de HBV podem apresentar modificações importantes no HBsAg e no HBeAg, que os tornam indetectáveis pelos métodos imunológicos. Nestes casos, a detecção do DNA pode identificar a presença da partícula viral. A determinação do número de cópias de DNA do HBV é uma importante ferramenta, juntamente com o estudo dos marca dores sorológicos, para o acompanhamento da infecção. A efi cácia da terapia antiviral com interferon, por exemplo, pode ser monitorada pelo acompanhamento da função hepática, pelos marcadores sorológicos e pela quantificação da carga viral no soro, que reflete o nível de replicação do vírus e detecta com maior precocidade a queda da carga viral. A determinação des sa carga viral, previamente ao tratamento, também pode ser ANTICORPO IgM CONTRA O ANTÍGENO CENTRAL DA HEPATITE B (anti-HBc IgM) Anticorpo IgM contra o nucleocapsídeo (core) viral. Eleva-se na fase aguda, duas semanas após o aparecimento do HBsAg, declinando gradualmente até tornar-se indetectável, indepen dentemente da evolução da doença. Sua presença, juntamente com o HBsAg, é sinônimo de infecção aguda. Pode ser o único marcador detectável na hepatite fulminante, quando o HBsAg diminui pela necrose hepática severa. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTICORPO TOTAL CONTRA O ANTÍGENO CENTRAL DA HEPATITE B (anti-HBc) Anticorpo anti-HBc total (IgM e IgG) contra o nucleocapsídeo (core) viral é considerado um ótimo marcador epidemiológico, pois no período de janela imunológica, em que o HBsAg desa parece e o anti-HBs ainda não surgiu, ele é o único marcador presente. Não confere imunidade. O anti-HBc IgG aparece em torno de três a quatro semanas após o aparecimento do HB sAg, mantendo-se positivo por toda a vida. Sua presença isola da pode ocorrer na fase de janela imunológica, na infecção crô nica com HBsAg em níveis baixos indetectáveis e na infecção prévia com anti-HBs indetectável. O anti-HBc total é negativo nos pacientes vacinados contra a hepatite B, já que a vacina contém somente o HBsAg. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTÍGENO E DA HEPATITE B (HBeAg) útil como prognóstico da resposta à terapia. É produto da degradação do core que aparece durante a repli ANTÍGENO DE SUPERFÍCIE DA HEPATITE B (HBsAg) de vírus completo no sangue, à replicação viral ativa e a uma O HBsAg é o antígeno protéico de superfície do vírus da hepa tite B, também conhecido como antígeno Austrália. Possui sub grupos antigênicos, dos quais os mais importantes são ADW, AYW, ADR, AYR, de pouco interesse clínico, mas de importância epidemiológica. Sua presença pode ser detectada durante o período de incubação, de duas a seis semanas depois da expo sição. Atinge o pico na fase aguda da doença, em que é grande o grau de infectividade, e declina gradualmente até tornar-se indetectável em cerca de um a três meses. É positivo em perto de 20% a 60% das hepatites crônicas persistentes e de 9% a 60% das hepatites crônicas ativas. cação viral. Sua presença associa-se a uma maior quantidade maior infectividade. Sem o aparecimento do anticorpo antiHBe, sua persistência está associada à evolução para a croni cidade. Aparece logo no início da doença, quase que concomi tante com o HBsAg e, em 70% dos casos, desaparece de três a quatro semanas antes dele. Foram descritos vírus da hepatite B, com mutações na região cromossômica denominada pré-core, que não produzem o HBeAg. Neste caso, a pesquisa HBeAg é negativa mesmo na presença de replicação viral ativa. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). 218 09 Imunologia BOOK 16.indd 218 26.10.06 17:34:51 ANTICORPO CONTRA O ANTÍGENO E DA HEPATITE B (anti-HBe) Aparece em cerca de 90% a 95% dos pacientes com HBeAg posi tivo, uma a duas semanas após sua negativação. Em alguns ca sos, pode coexistir, durante um período curto, com o HBeAg e o anti-HBe. Sua presença relaciona-se a um prognóstico favorável da resolução da infecção e à diminuição da infectividade. Sua ausência implica doença ativa e risco de evolução para a cronici dade. Pacientes anti-HBe positivos, quando portadores crônicos, são menos transmissores e têm melhor evolução da doença. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTICORPO CONTRA O ANTÍGENO DE SUPERFÍCIE DA HEPATITE B (Anti-HBs) Dirigido contra o antígeno protéico de superfície do vírus B (HBsAg), é detectado duas a seis semanas após o desaparecimento do HBsAg e persiste durante anos, podendo cair a níveis inde tectáveis ou persistir por toda a vida. A presença do anti-HBs indica a evolução para a cura ou a vacinação para hepatite B. O não desenvolvimento deste anticorpo induz à cronicidade ou a um estado de portador crônico assintomático. O tempo entre o desaparecimento do HBsAg e o aparecimento do anti-HBs (janela imunológica) é normalmente de duas a oito semanas; Departamento de Virologia Instituto Oswaldo Cruz HEPATITE B AGUDA COM RECUPERAÇÃO - CURSO SOROLÓGICO TÍPICO durante esse período, o único marcador presente é o anti-HBc. A quantificação precisa dos níveis de anticorpos contra o antí geno de superfície do vírus da hepatite B (anti-HBs) é necessária para avaliar-se o grau de proteção conferido pela vacina contra a infecção viral. Entretanto, essas vacinas nem sempre apresen Título tam eficácia plena, tornando fundamental o monitoramento de sua capacidade de induzir a produção adequada de anti-HBs e uma proteção eficaz contra o vírus da hepatite B (HBV). A resposta individual à vacinação é bastante heterogênea. Sa bemos que de 10% a 15% dos vacinados e de 30% a 40% de pes Semanas após exposição Fonte: Centers for Diseases Control CDC soas imunocomprometidas não apresentam resposta imuno logicamente satisfatória. O monitoramento através da quanti ficação sérica do anti-HBs permite determinar a necessidade 52 HEPATITE B PROGRESSÃO PARA CRONICIDADE - CURSO SOROLÓGICO TÍPICO de uma dose de reforço sempre que se observa uma resposta inadequada nas séries iniciais. Além da variação individual, constata-se que a população jovem vacinada responde melhor do que a de faixa etária mais avançada. As concentrações de anticorpos diminuem com o decorrer do tempo e a eficácia da Título proteção depende da concentração que se consegue ao final da vacinação. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Semanas após exposição 52 Fonte: Centers for Diseases Control CDC 219 09 Imunologia BOOK 16.indd 219 26.10.06 17:34:52 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA infecção. Recém-nascidos de mães infectadas podem apresen TESTES IMPORTANTES PARA O DIAGNÓSTICO tar soroconversão tardia, dificultando o imunodiagnóstico. Hoje, estudos moleculares, aliados a ensaios imunoenzimáticos, permitiram um grande avanço no aprimoramento do diag nóstico e monitoramento terapêutico da hepatite C. A detecção qualitativa do RNA viral é o único marcador direto da infecção pelo HCV. Técnicas de reação em cadeia da polimerase e trans crição reversa (RT-PCR) permitem detectar o RNA-HCV poucos 1 2 3 4 5 Meses após exposição 6 7 8 Hepatite C Após o desenvolvimento dos testes sorológicos para identifica ção dos vírus A e B, as hepatites não reativas a eles ou a outras viroses que cursavam com lesões hepáticas eram chamadas de hepatite não-A e não-B (NANB). Mais tarde, caracterizou-se que os casos NANB de evolução curta eram, na verdade, as hoje denominadas hepatite E. As de evolução longa foram identifi cadas como hepatite C. Alguns casos de NANB continuam sem identificação sorológica, atribuídos a viroses inespecíficas, a ví rus ainda não identificados, ou em estudo, como o GB. A contaminação pelo vírus da hepatite C (HCV), um flavivírus primariamente descrito como uma forma de transmissão parenteral da hepatite não-A e não-B, representa 80% a 90% dos casos de hepatite pós-transfusional. É prevalente em in divíduos transplantados, transfundidos, usuários de drogas intravenosas e pacientes dialisados. Com um período de incu bação médio de seis a oito semanas, 70% a 80% dos pacientes evoluem de forma assintomática e anictérica. Mas, diferente da hepatite B, a evolução para cronicidade é alta: entre 70% e 90% dos infectados; destes, de 20% a 30% resultam em cirrose hepática num prazo de 15 a 20 anos, que ocasionalmente pro gride para carcinoma hepatocelular. Diferente da hepatite B, o HCV tem vários subtipos e por isso não é um grande candidato à vacina. Atualmente, não há teste imunológico de rotina para a detecção direta do antígeno HCV. Esses anticorpos (anti-HCV) não são neutralizantes, nem con ferem imunidade e, portanto, não indicam necessariamente uma recuperação da infecção. Usados como teste de triagem para detectar infecção pregressa ou atual, não são capazes de dias após a exposição ao vírus. O método de PCR possibilita a descoberta do vírus HCV antes da soroconversão imunológica e o diagnóstico diferencial entre a hepatite auto-imune severa e a hepatite C. Pacientes com positividade na triagem sorológica pelos ensaios imunoenzimáticos devem ter os resultados con firmados pela técnica de PCR qualitativo para distinguir entre infecção passada e atual. A determinação quantitativa da carga viral é imprescindível tan to nas triagens clínicas quanto no acompanhamento, pois os ní veis de RNA do HCV no soro refletem a gravidade histológica da infecção e sua quantificação pode predizer a resposta do pacien te à terapia (interferon e ribavirina). O RNA do HCV é universal mente detectado na fase inicial da infecção, com suas concentra ções mais elevadas precedendo ou coincidindo com o primeiro aumento significativo da alanina aminotransferase (ALT), e ge ralmente diminuindo logo após o pico de elevação da ALT. Na fase crônica da doença, as concentrações do RNA do HCV são mais baixas do que na fase aguda ou no estágio pré-agudo. A quantificação do vírus acompanha o curso evolutivo da doença, monitora a resposta de indivíduos infectados à terapia com interferon e estabelece o critério de cura. A indicação para tratamento inclui os sintomas da doença, a elevação persisten te das transaminases e a presença do vírus HCV. O estudo genético que permite classificar o HCV em seis dife rentes genótipos, associados a diferentes respostas ao trata mento, é a genotipagem. O HCV do genótipo 1, o mais comum em nosso meio, é também o que apresenta uma pior resposta ao tratamento. Isso faz da genotipagem uma importante fer ramenta de auxílio na escolha do melhor esquema terapêutico no tratamento. Vide capítulo de Biologia Molecular. distinguir a hepatite aguda da crônica, e também não estão in ANTICORPOS PARA HEPATITE C dicados na identificação precoce desse tipo da doença. Cerca de MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. 10% dos infectados jamais se tornam anti-HCV positivos, por tanto, resultados negativos devem sempre ser avaliados com AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). cautela e relacionados à história clínica. O desaparecimento de anticorpos pode ser observado vários anos após a resolução da 220 09 Imunologia BOOK 16.indd 220 26.10.06 17:34:53 Infecção causada pelo vírus D. Classificado como um Deltaví rus, é defectivo ou incompleto, e depende do vírus da hepatite B para infectar o hepatócito e replicar-se. Portanto, a hepatite Delta só existe em concomitância com a hepatite B. Pode ocor rer sob a forma de coinfecção (infecção aguda pelos vírus D e B), que usualmente segue a mesma evolução que a hepatite B isolada, ou como superinfecção (infecção aguda pelo vírus D se superpõe a uma forma crônica da doença pelo vírus B), que costuma progredir para uma hepatite fulminante ou desenvolver-se rapidamente em cirrose. No Brasil, os casos detectados são restritos à população amazônica. ANTICORPOS PARA HEPATITE D MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. rus humanos tipos 6, 7 e 8. A maioria das infecções produzidas pelos vírus deste grupo ocorre no início da vida, é clinicamente assintomática, mas induz à formação de anticorpos. Essa família de vírus tem a característica de, após a infecção primária, manter-se em estado de latência, podendo, poste riormente, haver uma reativação, numa forma recorrente da doença. Isso acontece especialmente em situações de estresse, na vigência de patologias debilitantes e terapias com drogas imunossupressoras. A transmissão se dá de forma direta, pes soa a pessoa. Os estudos sorológicos são úteis para a avaliação da infecção primária, em que se pode detectar anticorpos da classe IgM e, dependendo do tempo de infecção, também os da classe IgG. Para essa caracterização sorológica, muitas vezes é necessário lançar mão da análise por sorologia pareada. Nas pesquisas AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). em soro, no entanto, é difícil caracterizar a recorrência. No diag Hepatite E produção ativa de anticorpos, caracterizando sorologicamente O vírus E é classificado como um calicivírus, com período de taminação passiva por anticorpos maternos. incubação, curso clínico e epidemiológico similares aos da he patite A. De transmissão oral-fecal, tem caráter epidêmico, em especial nos países em desenvolvimento, presumivelmente por ingestão de água contaminada. Caracteriza-se pela ausên cia de cronicidade e elevada mortalidade entre gestantes. Sua prevalência atinge de 25% a 40% da população-alvo (entre 15 a 45 anos) das regiões endêmicas e apenas de 0,5% a 2% em áreas não endêmicas. Os anticorpos IgM são detectados em altos títulos em 80% a 100% dos pacientes na fase aguda da doença e declinam com o tempo, persistindo por três meses em 50% dos pacientes. Logo após ocorre o surgimento de anticorpos IgG que nesta fase encontram-se com títulos em ascensão ou já elevados. Técnicas de detecção do RNA viral por PCR têm sido desenvol vidas em amostras de fezes e de sangue. Ainda pouco descrita em nosso meio, alguns trabalhos demonstram a presença de hepatite E no Brasil. ANTICORPOS PARA HEPATITE E MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). IMUNOLOGIA Hepatite D (Delta) nóstico de neonatos, a presença da classe IgM demonstra uma uma infecção transmitida congenitamente e afastando a con Herpes simples Constitui-se em dois tipos conhecidos: tipo 1 (HSV-1), relaciona do mais comumente com lesões orais-faciais; e o tipo 2 (HSV-2), associado em geral às lesões na região genital. O HSV-1 é mais freqüente nos primeiros anos de vida; por volta dos 15 anos, 60% a 70% da população têm anticorpos circulantes contra o vírus. Por sua relação com a atividade sexual, o HSV-2 tem pre valência mais elevada no adulto sexualmente ativo e em gru pos sexualmente promíscuos. Hoje, comprovou-se que o HSV-1 também pode causar lesões genitais. Após a infecção primária, o vírus migra ao longo dos nervos sensoriais alcançando um gânglio nervoso onde permanece, em estado de latência, por período indeterminado. Até que, por um estímulo, como febre, exposição a raios solares, estresse, período menstrual e situações de imunodepressão, ele volta a migrar para a área previamente envolvida. Essas recidivas ocor rem a despeito da presença dos anticorpos circulantes e geral mente resultam da reativação da mesma cepa viral responsá vel pela infecção primária. As lesões da recidiva normalmente são de menor gravidade que as da infecção primária e tendem a regredir entre cinco e 10 dias. Herpes É um grupo formado pelos membros da família Herpesviridae, da qual fazem parte os vírus herpes simples tipo 1 e tipo 2, varicela-zoster, citomegalovírus e Epstein-Barr, além dos herpesvi Durante os dois primeiros trimestres da gravidez, a infecção está associada à elevada incidência de prematuridade, abortos e malformação fetal. A contaminação perinatal pelo canal de parto é também um problema importante, que afeta de 40% a 60% dos bebês de mães infectadas. 221 09 Imunologia BOOK 16.indd 221 26.10.06 17:34:54 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA HERPES SIMPLES, IgG HERPES-ZOSTER, IgG MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). HERPES SIMPLES, IgM HERPES-ZOSTER, IgM MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Vírus varicela-zoster (VVZ) Outro membro da família dos herpesvirus, o varicela-zoster é responsável por duas síndromes clínicas: a catapora ou varice la, que é a infecção primária, e o herpes-zoster, que ocorre com a reativação do vírus. Como outros herpesvirus, seu genoma consiste de um DNA de fita dupla, e suas células-alvo são as epiteliais da derme e da mucosa. Na forma primária, a cata pora costuma apresentar uma evolução benigna, podendo, en tretanto, evoluir para quadros graves em adultos e indivíduos imunocomprometidos. Na forma reativada, o herpes-zoster acomete os gânglios da raiz dorsal e se caracteriza por erupção e dor nevrálgica nas áreas cutâneas providas de nervos sen sitivos periféricos, que emergem da raiz nervosa acometida. É mais comum acima dos 50 anos, e freqüente em pacientes com imunidade comprometida por neoplasias, uso de drogas imunossupressoras ou crianças expostas ao vírus no período perinatal. Se houver lesão disseminada ou persistência do qua dro por mais de duas semanas, fica caracterizado o distúrbio HTLV I/II Os vírus HTLV-I e HTLV-II fazem parte da família dos retrovírus. O HTLV-I está associado à etiologia de diferentes doenças, como a leucemia de células T do adulto, a paraparesia espática tropi cal e a mielopatia associada ao HTLV-I. O HTLV-II não está, até o momento, relacionado à doença humana. A maioria dos indi víduos com sorologia positiva a estes vírus não apresenta alte rações clínicas, e apenas cerca de 5% dos infectados evoluem para doença, mesmo assim somente após longos períodos, por vezes de mais de 20 anos. Os testes imunoenzimáticos não per mitem a diferenciação entre a infecção pelo HTLV-I ou HTLV-II, quando usados como triagem. No caso de positividade nessa triagem, é preciso confirmar o resultado e proceder à diferen ciação entre HTLV-I e HTLV-II, pelo método de Western Blot. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). imunológico de base. A maioria dos pacientes recupera-se sem WESTERN BLOT PARA HTLV-I/II seqüelas, a não ser por ocasionais marcas cicatriciais na pele. É usado para confirmação em casos de positividade no méto Entretanto, a nevralgia pós-herpética pode persistir por meses, de triagem de ensaio imunoenzimático. Pela demonstração o que é mais freqüente no idoso. dos diferentes anticorpos presentes na amostra, que reagem Durante a gestação da mãe contaminada, embora incomum, há às proteínas virais, pode-se distinguir se a infecção é pelo risco de malformação congênita, sem aumento na incidência HTLV-I ou HTLV-II. de prematuridade ou de morte fetal. Quando presentes, os anti MÉTODO: Western Blot. corpos maternos protegem o feto da infecção. Os ensaios imu noenzimáticos são utilizados para o diagnóstico laboratorial e a determinação do estado imune ao VVZ. A presença de IgM ou de um alto título de IgG poderá relacionar-se à infecção ou exposi AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Imunoeletroforese ção recente; adultos sãos apresentam baixos títulos de IgG. Procedimento técnico sensível, aplicado na detecção de proteí Na varicela, os anticorpos IgM geralmente são detectados no nas específicas monoclonais, para auxiliar no diagnóstico de sexto ou no sétimo dia após o aparecimento do exantema, atingindo o pico em torno de 14 dias. Anticorpos IgG aparecem em torno de nove dias após o exantema, com pico de produção em 60 dias. No herpes-zoster, embora muitos pacientes já te nham anticorpos detectáveis na primeira avaliação, nos casos inicialmente negativos a IgM é detectada de oito a dez dias após o exantema, com pico em torno de 20 dias e a IgG aparece gamopatias, como o mieloma múltiplo, a macroglobulinemia de Waldenström e a amiloidose. Caracteriza-se pela visuali zação de bandas de precipitação (resultado final da imuno precipitação de frações das imunoglobulinas). Aumento ou diminuição denotam variações das imunoglobulinas e suas cadeias, enquanto a banda monoclonal indica a presença de imunoglobulinas monoclonais. 10 dias após o exantema com um pico em torno de 30 dias. 222 09 Imunologia BOOK 16.indd 222 26.10.06 17:34:55 Gamopatias monoclonais: grupo de doenças, clínica e bioqui os pacientes com suspeita de distúrbios monoclonais, pois micamente diversas, caracterizadas pela proliferação despro acreditam ser este um dos caminhos mais seguros para a clas porcional de um clone de células normalmente envolvido na sificação de alterações de imunoglobulinas. síntese de imunoglobulinas, determinando uma subunidade MÉTODO: Imunofixação em gel de agarose. AMOSTRA: Sangue ou urina (tubo sem anticoagulante ou frasco para EAS). imunoglobulínica eletroforeticamente homogênea (monoclo IMUNOLOGIA Vários autores são partidários do uso desta técnica em todos nal) no soro ou na urina. Este componente monoclonal pode ser visto nas discrasias plasmocitárias malignas: Mieloma múltiplo: IgG e IgA (somente cadeias leves), IgD e IgE Imunoglobulinas Designa um grupo de proteínas séricas com atividade de anti corpos, cujo objetivo é defender o organismo contra possíveis agressões. Depois de sensibilizados, os linfócitos B produzem diferentes linhagens celulares de plasmócitos, responsáveis pelas cinco diferentes classes de imunoglobulinas: IgG, IgA, IgM, IgD e IgE, cada uma sintetizada por um determinado clo ne celular. Constituem-se em quatro cadeias — duas idênticas leves e duas idênticas pesadas — polipeptídicas, unidas entre si por pontes dissulfeto. As pesadas (H) têm alto peso molecular e subdividem-se, segundo sua especificidade antigênica, em cin co diferentes classes protéicas: (não secretor). Macroglobulinemia de Waldenström: IgM. Amiloidose sistêmica primária: Geralmente só cadeias leves (Bence Jones), mas ocasionalmente moléculas instáveis de imunoglobulinas (IgG, IgA, IgM, IgD). Doenças de cadeias pesadas: (IgG, IgA, IgM, IgD). O componen te monoclonal pode também ser encontrado em baixo percen tual de indivíduos normais acima dos 70 anos. IMUNOGLOBULINA A A IgA constitui 15% das imunoglobulinas séricas e, na eletrofo rese, migra na região entre beta e gama. Compreende a maior classe de anticorpos em secreções, como saliva, lágrima, co lostro, leite, secreções gastrointestinais e do trato respiratório. Baseado em sua estrutura antigênica e na variação do arranjo de suas pontes dissulfeto entre as cadeias, a IgA pode ser clas sificada em duas subclasses: IgA1 e IgA2. Apesar de ser a IgA2 o menor componente da IgA sérica, esta subclasse é a forma dominante nas secreções, sendo mais resistente às enzimas e protegendo a mucosa de bactérias e vírus. Além disso, a IgA se Em sua composição, apresentam subclasses protéicas, como IgG1, IgG2 etc. As cadeias denominadas leves (L), de baixo peso molecular, subdividem-se em dois tipos: kappa ( ) e lambda ( ). A proporção entre elas é de 2:1 respectivamente, sendo que em uma unidade imunoglobulínica sempre existem duas ca deias ou idênticas, mas nunca simultaneamente. Ambas as cadeias, leves e pesadas, possuem porções fixas e variáveis cretória atinge os níveis do adulto mais cedo que a IgA sérica. Apesar de não atravessar a barreira placentária, a IgA parece contribuir para a imunidade dos recém-nascidos, protegendo os de infecções intestinais, devido à sua alta concentração no colostro. A deficiência isolada de uma ou de ambas as subclas ses de IgA é a forma mais comum de imunodeficiência. Utiliza da na monitoração da terapia no mieloma tipo IgA. de seqüências de aminoácidos. A especificidade antigênica da molécula de dado anticorpo em particular é determinada pela seqüência de aminoácidos da região variável (extremidade N terminal), produzida por uma célula plasmática isolada ou por um clone de células plasmáticas idênticas. Ao final de cada par de cadeias idênticas, leves e pesadas, há sí tios de ligação de antígenos. As imunoglobulinas apresentam mobilidade eletroforética lenta e característica (base larga e pico baixo) na região gama. Isso é de grande importância na diferenciação das gamopatias monoclonais e policlonais. MÉTODO: Nefelometria. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante) ou saliva (frasco plástico). 223 09 Imunologia BOOK 16.indd 223 26.10.06 17:34:55 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA IMUNOGLOBULINA D A IgD ocorre em pequenas quantidades e seu significado fisio lógico permanece ainda obscuro. Sua dosagem é utilizada para exceto IgG2, atravessam a placenta. A forma mais comum de mieloma múltiplo é da classe IgG, sendo que a maioria dos ca sos se deve à subclasse IgG1. o estudo de pacientes com mieloma IgD, um tipo raro da doen ça, que constitui menos de 1% dos casos relatados. MÉTODO: Imunodifusão radial. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante) IMUNOGLOBULINA G Constitui cerca de 70% a 75% do total de imunoglobulinas pro duzidas pelas células plasmáticas. Na eletroforese, migra na fração gama e beta lenta. É usada na avaliação da imunidade humoral e no auxílio ao diagnóstico do mieloma da classe IgG, bem como no monitoramento de sua terapia. O tipo mais comum de mieloma múltiplo pertence à classe IgG, podendo ser identificado eletroforeticamente pela presença de um pico monoclonal. Considera-se critério diagnóstico para esta patologia o achado de 2g/dL de IgG monoclonal. Como é a única imunoglobulina que atravessa a barreira placentária, a IgG é de especial importância na defesa contra infecções em recém-nascidos. MÉTODO: Nefelometria. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). SUBCLASSES DE IMUNOGLOBULINA G A IgG é composta de quatro subclasses distintas — IgG1, IgG2, IgG3, IgG4 —, que refletem a existência de quatro cadeias pe sadas (g1 até g4), similares, porém diferentes antigenicamente, na seqüência de aminoácidos e propriedades gerais. Simples deficiências de subclasses, especialmente de IgG1, podem com prometer a resistência a infecções. Algumas imunodeficiências são de diagnóstico mais difícil, não apresentando diminuição marcante nos níveis séricos de imunoglobulinas. Pacientes com episódios repetidos de infecções do trato respi ratório, apesar de apresentarem níveis normais de IgG, podem ser portadores de uma deficiência seletiva de uma ou mais subclasses. Tem sido demonstrado que todas as subclasses, MÉTODO: Nefelometria. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante) 224 09 Imunologia BOOK 16.indd 224 26.10.06 17:34:56 É a primeira imunoglobulina que aparece em resposta a um estímulo antigênico, e a única sintetizada em neonatos. Cons titui cerca de 5% a 10% das imunoglobulinas totais circulan tes. A IgM não atravessa a barreira placentária, portanto níveis elevados no cordão ou em recém-nascidos durante a primeira semana de vida sugerem infecção pré-natal (rubéola, citome galovírus, toxoplasmose etc.). Costuma ser usada na avaliação da imunidade humoral, diagnóstico e monitoramento da tera pia da macroglobulinemia de Waldenström (aumento mono clonal de classe IgM) ou do mieloma de células plasmáticas. Pequenas bandas monoclonais de IgM podem acompanhar uma variedade de neoplasias, particularmente as do trato gastrointestinal. Valores isolados de IgM podem indicar uma infecção viral (hepatite viral, mononucleose) ou uma resposta primária a doenças bacterianas ou parasitárias. Usualmente fatores reumatóides são anticorpos IgM direcionados contra agregados de IgG. linfóides malignas ou auto-imunes podem consumir ou des truir o inibidor da C1 esterase e desenvolver um quadro com patível com EAH. MÉTODO: Imunoturbidimetria. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante) IMUNOLOGIA IMUNOGLOBULINA M Leishmaniose, Sorologia para Os testes sorológicos para a leishmaniose visceral (calazar) po dem auxiliar no diagnóstico clínico. Nesta forma da doença, os títulos tendem a ser elevados (> 1:160) e a se negativarem após a cura parasitológica. Na leishmaniose cutânea e mucocutâ nea, os títulos são baixos e tendem a se correlacionar com a ex tensão das lesões. Resultados falso-positivos (reação cruzada) ocorrem com doença de Chagas (Trypanosoma cruzi) e doenças causadas por outros tripanosomatídeos. MÉTODO: Imunofluorescência indireta. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Leptospirose A leptospirose é uma zoonose de grande prevalência mundial, causada por vários sorovares de leptospira. Com freqüência, sua transmissão indireta ocorre pelo contato humano com água ou alimentos contaminados pela urina de rato infectado. O período de incubação pode variar de três a 30 dias, sendo geralmente de 10 a 12 dias. Suas manifestações clínicas se ca racterizam por um início abrupto de febre, calafrios, mal-estar, conjuntivite e mialgia. Cerca de 50% dos pacientes sofrem reci MÉTODO: Nefelometria. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Inibidor de C1 esterase Existem vários inibidores do sistema complemento no plasma: o da C1 esterase é um bloqueador da ativação da pró-enzima C1 para sua forma ativa. Sua deficiência resulta numa ativação inadequada de C1, com posterior liberação de um peptídeo de atividade semelhante à cinina, o que aumentará a permea bilidade vascular, causando edema. O inibidor da C1 esterase migra na fração beta na eletroforese de proteínas. Seus níveis diminuem no edema angioneurótico hereditário (EAH) e na doença autossômica dominante, cuja forma mais comum se deve a uma redução absoluta do inibidor da C1 esterase, e ou tra, menos comum, a defeito funcional (neste caso, podem ser encontrados níveis normais ou elevados. A proteína existe, po rém, funcionalmente inativa). Alguns pacientes com doenças diva de febre cerca de uma semana após o fim do primeiro pe ríodo febril, podendo apresentar sinais de hepatite, meningite e/ou glomerulonefrite (doença de Weil). O diagnóstico laboratorial da leptospirose se baseia em méto dos sorológicos. Embora o isolamento do microrganismo em culturas seja de importância epidemiológica, o tempo gasto entre o teste e a identificação do organismo infectante permi te somente um diagnóstico retrospectivo. Durante a primeira semana, as espiroquetas podem ser detectadas no sangue, em cerca de 8% dos casos, através de exame de campo escuro, podendo-se obter uma hemocultura positiva numa percentagem um pouco maior. Os anticorpos começam a aparecer em torno do sétimo dia, atingindo um pico por volta da terceira e quarta semanas, e persistindo por meses ou anos após a cura. A soroaglutinação microscópica é o método mais sensível e específico para o diagnóstico da leptospirose recomendado pela Organização Mundial da Saúde. Embora constitua uma técnica alternativa para o diagnóstico precoce da doença, a 225 09 Imunologia BOOK 16.indd 225 26.10.06 17:34:56 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA pesquisa de IgM por ensaio imunoenzimático não substitui pesquisas têm se direcionado na busca de métodos que permi a soroaglutinação em lâmina, que continua sendo o método tam diagnósticos mais precoces e precisos das neoplasias. sorológico de referência. LEPTOSPIROSE, IgM MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. Nesse esforço, os marcadores tumorais vêm ocupando lugar de destaque. A expressão designa uma ampla categoria de substâncias que podem ser secretadas pelas células malignas, liberadas após sua morte ou localizarem-se em sua superfície. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Podem também ser produzidas pelas células normais em res LEPTOSPIROSE, ANTICORPOS TOTAIS outros líquidos biológicos, permitindo sua identificação e sua MÉTODO: Soroaglutinação microscópica. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Listeriose (sorotipos 1 e 4b) Causada pela Listeria monocytogenes, seu diagnóstico pode ser feito por vários métodos de identificação da bactéria, como cul tura e imunofluorescência, pesquisa sorológica de anticorpos, teste de hipersensibilidade cutânea e exames histopatológicos. Os testes sorológicos são os mais freqüentemente realizados. A avaliação dos níveis de anticorpos é feita por reações de aglu tinação com pesquisa das aglutininas O e H. Títulos de até 1/80 não são considerados significativos, pois podem ser encontra dos na população sadia. Os resultados sorológicos, entretanto, devem ser interpretados com atenção, uma vez que é possível haver um grande número de reações cruzadas, especialmen te relacionadas ao antígeno O. Estas reações ocorrem pela presença de determinados antígenos comuns entre Listeria monocytogenes e outras bactérias gram-positivas, particular mente estafilococos e estreptococos. Para um diagnóstico defi nitivo, recomenda-se o pareamento da amostra com intervalo de três a quatro semanas, quando o achado de títulos em as censão é sugestivo de infecção recente. MÉTODO: Aglutinação direta. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Marcadores tumorais Quando uma neoplasia torna-se evidenciável no exame clí nico, pelos métodos tradicionais de investigação por imagem ou medicina nuclear, as células tumorais já se multiplicaram diversas vezes e provavelmente algumas delas já alcança ram a circulação sangüínea ou linfática. Desta forma, mesmo quando o tumor é detectado e rapidamente extirpado, muitas metástases podem já estar instaladas. Além disso, logo após o diagnóstico, é necessário avaliar a extensão e a progressão da doença, acompanhar a eficácia do tratamento instituído e o possível aparecimento de recidivas. Por isso, cada vez mais as posta à presença de malignidade. Aparecem no sangue ou em utilização para diagnóstico e acompanhamento de portadores de neoplasias. Elas podem ser detectadas por métodos bioquí micos, imunológicos ou de biologia molecular. Um marcador tumoral ideal deveria responder com resultados positivos e com ausência de falso-negativos, ou seja, com 100% de sensibilidade, a todos os casos em que haja massa tumoral, ainda que microscópica. Deveria mostrar-se sempre positivo para um determinado local e tipo morfológico de tumor e com ausência de falso-positivos, ou seja, com 100% de especificida de. É o conjunto de sensibilidade e especificidade que determi na a confiabilidade do marcador. Portanto, o ideal seria um marcador capaz de: – Ter 100% de especificidade na diferenciação entre patologias benignas e malignas; – Identificar todos os portadores de algum tipo de neoplasia; – Localizar o tumor; – Correlacionar integralmente o estagiamento do tumor com os níveis séricos; – Indicar todas as respostas do tumor à terapia; – Ter valores que expressem o prognóstico. Embora até hoje não se tenha conseguido chegar a esses mar cadores ideais, com o advento do uso de anticorpos monoclo nais tem-se conseguido resultados cada vez mais sensíveis e específicos. Poucos marcadores são específicos para um único tumor (tumor-específicos). A maioria é encontrada em diferentes tumo res do mesmo tipo de tecido (associados a tumores) e poucos são específicos para um determinado órgão. Usadas até hoje, as colorações histoquímicas estavam entre os primeiros mar cadores. Elas fornecem informações sobre a origem, tipo celu lar de que é derivado e o grau de diferenciação do tumor. Com o desenvolvimento de colorações imuno-histoquímicas e o uso de anticorpos monoclonais, aumentou-se de forma significati va o número de substâncias detectáveis. O primeiro marcador tumoral descrito foi a proteína de BenceJones, em 1847. Mas entre 1928 e 1963, houve a descoberta de hormônios, enzimas, isoenzimas e proteínas relacionadas ao 226 09 Imunologia BOOK 16.indd 226 26.10.06 17:34:57 res intermediários podem ser detectados em certos tumores para o diagnóstico de tumores individuais, mas a aplicação ge carcinóides ovarianos, no espru celíaco ou no espru tropical, na ral de marcadores tumorais para monitorar pacientes com cân enfermidade de Whipple e no adenoma brônquico carcinóide. cer só ocorreu depois de 1963, com a descoberta da alfafetopro O 5HIAA urinário pode apresentar-se normal em cerca de 25% teína (AFP) e do antígeno carcinoembrionário (CEA), em 1965. dos pacientes com tumor carcinóide, casos que usualmen Em sua maioria, os marcadores não podem ser usados no diag nóstico ou no rastreamento de população de risco. São um recurso para complementar o diagnóstico diferencial, determi nar a conduta terapêutica, monitorar a terapia, a recidiva e o aparecimento de metástases. Antes das cirurgias ou condutas IMUNOLOGIA diagnóstico do câncer. Ocasionalmente, cada um deles foi útil te não apresentam síndrome carcinóide. Níveis baixos foram descritos na doença depressiva, na mastocitose e na fenilceto núria. A dosagem conjunta com a serotonina (5-HT) permite a detecção de cerca de 84% de casos em pacientes com tumores neuroendócrinos. terapêuticas, deve-se determinar os valores de referência para cada paciente. Após os procedimentos, seus níveis devem ser acompanhados por períodos e intervalos que variam com os protocolos para cada tumor, mas que em média variam de dois a cinco anos, com intervalos progressivamente maiores, de dois, três e seis meses. Vide capítulo de Química e Toxicologia. ALDOLASE Diversas classificações de caráter arbitrário são encontradas na literatura. As substâncias hoje usadas como marcadores tumorais na rotina laboratorial incluem enzimas e isoenzimas, hormônios, antígenos oncofetais, proteínas, carboidratos se cretados ou da superfície da célula tumoral, reconhecidos por anticorpos monoclonais, receptores em tecidos e marcadores genéticos (oncogenes e supressores). 5’-NUCLEOTIDASE Esta enzima aumenta sua atividade sérica em patologias extra-hepáticas (cálculos e tumores que ocluem o ducto biliar) ou intra-hepáticas (colestase da infiltração maligna do fígado ou cirrose biliar). Difere, portanto, da fosfatase alcalina não específica, que se eleva tanto na doença hepática quanto na doença óssea e condições não patológicas, como a gestação e o aumento da atividade osteoblástica. Assim, a 5’-nucleotidase é útil no diagnóstico diferencial de patologias que afetam o fígado e o osso. Vide capítulo de Bioquímica. ÁCIDO 5-HIDROXI-INDOL-ACÉTICO (5HIAA) Metabólito da serotonina, o ácido 5-hidroxi-indol-acético (5HIAA) eleva-se em pacientes com tumores carcinóides. Valo Presente em uma variedade de tecidos normais, desempenha um importante papel no metabolismo glicolítico. Embora se mostre elevada em diversas patologias, como no infarto agudo do miocárdio, na hepatite aguda, na anemia megaloblástica e no carcinoma hepático, este aumento é moderado e constan te. Também nas leucemias agudas e no carcinoma de próstata pode-se observar um aumento moderado. Destina-se primaria mente ao acompanhamento de pacientes com desordens músculo-esqueléticas primárias, como a distrofia de Duchenne. Vide capítulo de Bioquímica. ALFAFETOPROTEÍNA (AFP) Trata-se de uma glicoproteína sintetizada pelo fígado (maior sí tio de síntese), saco vitelino e aparelho gastrointestinal do feto humano, e sua dosagem pode ser útil como marcador tumoral e no acompanhamento da gestação. Sua concentração máxima ocorre entre a 12ª e 15ª semanas de gestação, quando começa a declinar até atingir os níveis de um adulto normal, entre o 6º e 12º mês após o nascimento. Durante a gestação, os níveis séricos maternos podem estar elevados, pois a AFP atravessa a barreira feto-placentária. Quando muito aumentada no soro das ges tantes, pode indicar malformações fetais do tubo neural, nefro se congênita, gravidez múltipla, morte fetal, idade gestacional 227 09 Imunologia BOOK 16.indd 227 26.10.06 17:34:57 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA subestimada e outras anormalidades de desenvolvimento. Os resultados obtidos devem ser correlacionados e combinados a outros procedimentos, como ultra-sonografia e amniocentese. Valores baixos aparecem em desordens cromossomiais, como síndrome de Down (trissomia do 21), trissomia do 18, abortos espontâneos e em idades gestacionais superestimadas. Nes tes casos, deve-se associar a dosagem de gonadotrofina coriô nica humana e estriol. A correlação desses resultados com os dados maternos, como idade, peso e idade gestacional, permi tirá a avaliação do grau de risco. Este teste tem valor preditivo baixo, que se eleva quando associado aos outros já citados. A concentração de AFP na gestante aumenta com a evolução da gestação. O tempo ideal para a coleta de soro materno é entre ANTÍGENO ASSOCIADO AO TUMOR DE BEXIGA (BTA) O câncer de bexiga é o quarto tumor mais comum em homens e o nono em mulheres, nos Estados Unidos. A maior incidência é observada entre fumantes e profissionais de indústria quími ca, de tintas, metais e borracha. Entre 75% e 85% desses pacien tes apresentam carcinoma de células transicionais, confinado à mucosa superficial da bexiga. Este tipo de câncer evolui com recorrências em mais de 50% dos pacientes, tornando impres cindível o acompanhamento a longo prazo. Tradicionalmente, este monitoramento vem sendo feito através de citoscopia e/ou citologia urinária. Embora seja considerada como padrão diag nóstico em termos de sensibilidade e especificidade, a citosco pia é um procedimento invasivo, caro, desconfortável e limita o a 16ª e a 18ª semana, podendo ser realizada nos limites entre a diagnóstico apenas aos tumores que possam ser visualizados. 14ª e a 22ª semana. A citologia urinária apresenta sensibilidade mais baixa, prin O aumento da AFP em pacientes não grávidas não é específico cipalmente nos estágios mais precoces da doença. Diferentes de malignidade. Aparece em 15% a 75% das hepatopatias benig nas com atividade regenerativa do hepatócito, como a cirrose, hepatite alcoólica, hepatite crônica ativa e doenças inflamató rias intestinais, como Crohn e colite ulcerativa. É utilizada como marcador tumoral para o carcinoma hepatocelular, em que se apresenta elevada em 70% a 90% dos casos, e em virtualmente 100% de suas metástases; e para o carcinoma de células germi nativas (não seminomas), caso em que se mostra aumentada estudos para detecção de marcadores urinários estão em an damento e já foram identificados dois antígenos associados a tumores de bexiga: NMP22 (proteína da matriz nuclear) e proteína relacionada ao fator de complemento humano H (hCFHrp). Para detecção destes antígenos, foram desenvolvi dos ensaios qualitativos e quantitativos utilizando anticorpos monoclonais. Seus resultados não devem ser interpretados como evidência absoluta para a presença ou ausência de cân em 50% a 70% dos tumores de testículo (não seminomas). cer de bexiga. Qualquer doença que leve a uma liberação do Valores alterados também são observados em cerca de 20% vo, incluindo cálculos renais, nefrite, câncer renal, infecções do dos carcinomas gástricos e pancreáticos e em 5% dos de cólon e de pulmão. Nas patologias benignas, os níveis de AFP espe rados são de até 200ng/mL. Níveis que se mantêm elevados ou aumentos abruptos em pacientes com doença hepática crônica são indicativos de associação com hepatomas. Valores acima de 500ng/mL são altamente sugestivos de patologia maligna e quando superiores a 1.000ng/mL indicam a presen ça de neoplasia. Os níveis encontrados no câncer hepático são bem mais expressivos do que no câncer de testículo. Embora faça parte da rotina de investigação, a principal apli cação desse marcador não é diagnóstica, mas de monitoração da eficácia do tratamento cirúrgico ou quimioterápico e de ras treamento de recidivas neoplásicas. A elevação de seus valores após a remissão indica a recorrência do tumor, embora existam relatos de tumores que, embora originalmente produzissem AFP, não demonstram este perfil evolutivo, mantendo níveis constantemente altos. Nos teratoblastomas embrionários ma lignos de testículo e ovário, os valores de AFP no soro parecem estar diretamente relacionados com o tamanho do tumor. MÉTODO: Eletroquimioluminescência. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). hCFH endógeno na bexiga pode originar um resultado positi trato urinário, cistite e trauma recente na bexiga ou no trato urinário. A presença de resultados falso-negativos pode estar relacionada a não secreção, por determinados tumores, dos an tígenos citados. Alguns estudos têm mostrado que os exames seriados são úteis para antecipar a recorrência e monitorar o sucesso do tratamento. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático qualitativo. AMOSTRA: Urina. ANTÍGENO CARCINOEMBRIONÁRIO (CEA) É uma glicoproteína secretada pelo epitélio do tubo gastroin testinal durante a vida fetal, e detectada em níveis baixos após o nascimento. Apresenta-se aumentada nos tumores colo-retais, de pulmão, mama, pâncreas, fígado, próstata, estômago, ovários e útero, principalmente na presença de metástases. O aumento de sua concentração aparece também associado a diversas condições benignas, como hepatite e cirrose (45%), enfisema pulmonar (30%), doenças benignas de mama (15%), colite ulcerativa (15%) e pólipo retal (5%). Cerca de 20% dos fu mantes têm valores elevados de CEA em até duas vezes o valor máximo da normalidade. Dentre eles, 10% apresentam outras 228 09 Imunologia BOOK 16.indd 228 26.10.06 17:34:58 benignos e colite ulcerativa, entre outras. Trata-se, portanto, de um marcador de baixa especificidade e sensibilidade, que não deve ser usado como teste de triagem ou diagnóstico. Seu maior objetivo é o acompanhamento da resposta ao tratamento cirúrgico ou quimioterápico e no ras treamento de recidivas. Indica-se sua avaliação pré-terapêutica não só para permitir a comparação com os valores pós tratamento, como também para a avaliação prognóstica do desenvolvimento de metástases, já que existem evidências da relação entre níveis prévios muito altos de CEA e uma maior probabilidade de metástases. Após o tratamento cirúrgico, os valores dessa glicoproteína costumam voltar ao normal a partir da sexta semana em mé dia, levando para isso, em alguns casos, de dois a seis meses. Esse retorno a níveis de normalidade é uma grande evidência de que a maior parte do tumor foi removida, mas não é garan tia de que tenha sido totalmente extirpado. Podem também ocorrer elevações transitórias em resposta à quimioterapia ou radioterapia, provavelmente pelo efeito destrutivo sobre o tu mor com liberação de CEA na circulação. Mas se os níveis de CEA, que vinham se mantendo estáveis durante a remissão, começam a se elevar durante o monito ramento, este pode ser o primeiro sinal de recidiva da doença, mais precocemente do que as manifestações clínicas. Esse au mento ou a persistência em níveis elevados, após terapia, su gere recorrência local ou metastática do tumor. O nível de dife renciação do tumor também interfere nos valores encontrados e as lesões anaplásicas cursam com índices mais baixos. Com maior sensibilidade do que a fosfatase alcalina na detec ção de metástases hepáticas do câncer colo-retal, sua principal utilização é no acompanhamento do carcinoma colo-retal (au mento em 70% dos casos), especialmente na detecção da re corrência do carcinoma do cólon. Apresenta também uma boa relação com o estagiamento de Dukes. A dosagem de CEA é útil ainda nos estágios avançados de carcinoma de mama, em que vem sendo substituído por marcadores mais específicos, como CA 15-3, e na monitoração da terapia e na detecção de doença metastática óssea e pulmonar, exceto nos casos de car cinoma de pequenas células. No carcinoma de pâncreas, seu uso é associado ao CA 19-9. Entretanto, cerca de 10% a 20% dos pacientes cursam com estes marcadores normais e um grande percentual de outras condições benignas e malignas estão as sociadas à alteração de ambos os marcadores. MÉTODO: Eletroquimioluminescência. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). ANTÍGENO PROSTÁTICO ESPECÍFICO (PSA) TOTAL E LIVRE RELAÇÃO PSA LIVRE/PSA TOTAL O carcinoma de próstata continua sendo uma das principais causas de mortalidade em homens. O que pode ser atribuído ao fato de que grande parte dos casos só é detectada em uma IMUNOLOGIA condições associadas, como enfisema pulmonar, pólipos retais fase avançada da doença. Um dos problemas para o diagnós tico precoce é a ausência de sintomas específicos nas fases iniciais da invasão tumoral, dificuldade que a identificação do antígeno prostático específico (PSA) veio facilitar. Além da sua aplicação no diagnóstico, é também indicado na monitoração da terapia e detecção de recorrências. O PSA é uma glicoproteína produzida primariamente pelas células epiteliais prostáticas, secretada no plasma seminal, onde permanece em concentrações elevadas, e em menores concentrações no soro de homens normais. Como já foi identi ficado em outros tecidos, como na mama e em suas secreções, estudos clínicos têm sido realizados para avaliar sua aplicação também no diagnóstico e prognóstico desse tipo de câncer. Apresenta-se no soro sob diversas formas: não-ligado ou li vre (PSA Livre), ligado à alfa-1-antiquimiotripsina (PSA-ACT), à alfa-2-macroglobulina (PSA-AMG) e a outras formas menores. Quando ligado à alfa-2-macroglobulina, fica encoberto por esta macromolécula, tornando-se inacessível à dosagem nos imunoensaios normalmente utilizados. A soma das frações livre e ligada à antiquimiotripsina repre senta o PSA total. Para triagem de patologias prostáticas, a Associação Americana de Urologia e a Sociedade Americana de Oncologia recomendam a dosagem de PSA e o toque retal em todos os homens acima de 50 anos e naqueles, acima de 45, que tenham história familiar de câncer de próstata ou as cendência afro-americana. Deve-se levar em conta que o PSA é produzido tanto pelo tecido normal quanto pelo hiperplásico; doenças prostáticas não malignas, especialmente a hiperplasia prostática benigna e a prostatite, também causam elevação do PSA sérico. Pacientes com níveis maiores que 10ng/mL têm um risco elevado de câncer de próstata, tornando-se candidatos à biópsia diagnóstica, enquanto aqueles com níveis menores que 4ng/mL devem ser mantidos em observação. Entretanto, 20% dos pacientes com adenocarcinomas apre sentam valores de PSA abaixo de 4ng/mL. Índices entre 4ng/ mL e 10ng/mL acrescentam pouca informação em termos de valor diagnóstico. Apenas 25% dos homens com níveis de PSA nesta faixa desenvolverão câncer de próstata. Nestes casos é importante fazer a dosagem do PSA livre, pois esta fração encontra-se diminuída em pacientes com câncer de prósta ta quando comparados aos casos de hiperplasia prostática benigna. Portanto, é importante a avaliação da relação PSA 229 09 Imunologia BOOK 16.indd 229 26.10.06 17:34:58 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA livre/PSA total, o que melhora a especificidade do teste e re o toque retal. Outras situações também devem ser evitadas: duz o número de biópsias. ejaculação, equitação, exercício em bicicleta (ergométrica ou Diversos estudos apresentam diferentes valores de cut-off para esta relação, variando entre 0,15 e 0,25 conforme os métodos não), andar de motocicleta nas últimas 48 horas; uso de supo sitório ou sondagem uretral nos últimos três dias. utilizados. Índices abaixo deste cut-off sugerem neoplasias, en- Para que possam ser comparados, ambos os testes, PSA livre e quanto valores acima apontam hiperplasia. A dosagem isolada total, devem ser realizados pelo mesmo método e na mesma de PSA não é um bom preditor para estagiamento de neopla amostra. A sensibilidade do PSA total é de 0,04ng/mL e a do sia. Para esta finalidade, sua dosagem pré-operatória deve ser PSA livre é de 0,05ng/mL. associada ao estagiamento baseado na biópsia e ao Gleason score. Níveis pré-operatórios muito elevados, maiores do que 100ng/mL, são indicativos de doença metastática avançada, enquanto níveis menores do que 10ng/mL raramente estão associados à cintigrafia óssea positiva. Níveis pré-operatórios de PSA parecem ser um fator prognósti co independente antes do início da radioterapia. Baixos níveis predizem ausência de recorrência bioquímica depois da cirur gia ou da radioterapia. Grupos de pacientes com valores de PSA de 0ng/mL a 4ng/mL, 4ng/mL a 10ng/mL, 10ng/mL a 20ng/mL e maiores do que 20ng/mL apresentam diferentes evoluções depois da radioterapia ou da cirurgia. Após prostatectomia total, a dosagem de PSA é essencial para distinguir pacientes com doença residual, recorrência ou crité rios de cura, e deve ser feita entre seis e oito semanas depois da cirurgia. Os pacientes com níveis menores do que 0,1ng/mL são considerados em remissão, enquanto aqueles com valores maiores do que 0,1ng/mL provavelmente apresentam doença residual. Sua dosagem deve ser repetida a intervalos regulares para avaliação a longo prazo da prostatectomia radical. Existem relatos contraditórios quanto à interferência da ma nipulação prostática nos níveis séricos do PSA e dos intervalos adequados entre estes procedimentos e sua dosagem. A inter ferência da manipulação por exames endoscópicos, pela bióp sia de próstata, ultra-sonografia transretal, prostatectomias ra dicais e transurretrais está claramente definida. Como a meia vida do PSA é longa, de 2,2 a 3,2 dias, é importante guardar um intervalo após essa manipulação para realizar uma dosagem criteriosa. A maioria dos autores refere como tempo necessário para a normalização dos valores do PSA, após estes procedi mentos, intervalos que variam de duas a quatro semanas. Também são relatados aumentos como resultado de retenções urinárias agudas e de prostatites. Entretanto, no exame da próstata por toque retal, ainda não está bem definida a neces sidade de um intervalo de tempo entre a realização do proce dimento e a análise do PSA, pois alguns autores referem como sem relevância clínica as possíveis interferências resultantes. Outros autores não recomendam a dosagem até três dias após MÉTODO: Ensaio imunoenzimático por quimioluminescência. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). BETA-2-MICROGLOBULINA Concentrações elevadas no soro na presença de taxas normais de filtração glomerular sugerem aumento da produção ou na liberação de beta-2-microglobulina. Níveis aumentados po dem ser vistos em doenças linfoproliferativas, como mieloma múltiplo, leucemia linfocítica crônica de células B, doença de Hodgkin, linfomas não-Hodgkin, lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide, síndrome de Sjögren e certas infecções vi rais, incluindo citomegalovírus, hepatite não-A e não-B, mono nucleose infecciosa e Aids. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). CA 15-3 Este antígeno é uma glicoproteína semelhante à mucina de alto peso molecular, que tem sido identificada no epitélio ma mário por dois anticorpos monoclonais, ativos contra diferentes determinantes antigênicos. Sua dosagem no soro é importante para acompanhar e avaliar a eficácia do tratamento e o apa recimento de metástases e recidivas do carcinoma de mama. Seus níveis podem elevar-se antes da possibilidade de detecção clínica de recidivas e do aparecimento de metástases. Valores elevados são encontrados em 31% dos carcinomas de mama e estão relacionados ao tamanho do tumor. O CA 15-3 também é importante no diagnóstico de lesões fronteiriças, como displasias mamárias muito proliferativas, em que os valores se encontram em torno de 30U/mL, ou seja, dentro dos níveis apresentados por mulheres ditas normais. Tem maior sensibilidade que o CEA na detecção das metás tases para linfonodos, fígado e ossos. Os dois marcadores de vem ser usados em conjunto para a monitoração do câncer de mama. Não deve ser visto como teste de triagem. Níveis ele vados podem ser encontrados em outras condições malignas, como carcinomas de pâncreas, pulmão, ovários, colo-retal e fígado, embora também se mostrem alterados em patologias 230 09 Imunologia BOOK 16.indd 230 26.10.06 17:34:59 45U/mL. Cerca de 5% das pacientes hígidas podem apresentar discretos aumentos de CA 15-3, mas seus níveis não se alteram em fumantes. MÉTODO: Eletroquimioluminescência. CA 72-4 É um marcador utilizado no acompanhamento de pacientes com tumores gastrointestinais, de ovário e de pulmão. Embora seus valores possam mostrar-se alterados em 3,5% da popu lação normal, seus níveis se elevam nas doenças pulmonares, reumáticas e gastrointestinais benignas, como pancreatites e AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). cirrose hepática. Devido à baixa sensibilidade e especificidade, CA 19-9 de neoplasias, mas como seus valores, em queda após o trata Glicoproteína do tipo mucina, o CA 19-9 tem estrutura siálica derivada do antígeno do grupo sangüíneo Lewis(a). Indivíduos que não apresentam fenótipo Lewis(a), o que equivale a 5% da população, não sintetizam o CA 19-9. Ou seja, 95% da popu lação pode expressar esse marcador. Presente na superfície IMUNOLOGIA benignas de fígado, mamárias, pulmonares e ovarianas. Nes ses casos, seus valores mantêm-se baixos, raramente acima de não é indicado como método de triagem ou de diagnóstico mento, voltam a se elevar nos casos de recidiva, é indicado para este tipo de monitoração. Nos carcinomas do trato digestivo, mantém boa correlação com estágio clínico da doença. Sua associação com a dosagem de CEA melhora o diagnóstico pre coce das recidivas. das células do tubo digestivo (pâncreas, fígado, estômago, vias biliares, intestino delgado e cólon), na saliva, líquidos biológi cos do tubo digestivo, cistos ovarianos e pancreáticos, líquido amniótico e seminal, nos indivíduos normais é encontrado em concentrações variáveis, com valores médios de 7U/mL a 9U/ mL e máximos de 36U/mL, sem diferenças significativas quan to à idade e sexo. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). CA 125 É uma glicoproteína de alto peso molecular, utilizada como marcador tumoral principalmente na monitoração terapêutica e na detecção de recidivas de neoplasias ovarianas não muci Elevações em seus níveis aparecem em patologias benignas, como cirrose hepática, hepatites e pancreatites agudas ou crônicas; doenças inflamatórias intestinais; doenças do trato biliar (em especial com colestase); e auto-imunes, como lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide e esclerodermia. Nestes casos, os valores encontrados são transitórios ou pouco elevados. É um marcador sensível também para carcinomas colo-retais, gástricos e do trato biliar. Sua principal utilidade é a monitoração terapêutica e a de tecção precoce de recidivas de carcinomas gastrointestinais, principalmente os pancreáticos. É capaz de indicar a recorrên cia antes da evidência clínica ou radiológica da recidiva. Deve ser utilizado em conjunto com outros marcadores, em especial com o antígeno carcinoembrionário (CEA). MÉTODO: Eletroquimioluminescência. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). nosas e carcinomas indiferenciados de ovários. Sua pouca es pecificidade não a torna indicada para a triagem e diagnóstico de neoplasias. Nos carcinomas mucinosos, sua sensibilidade é muito baixa, mas mostra-se útil na avaliação dos carcinomas de endométrio. Níveis elevados no soro podem ser encontrados em mulheres no primeiro trimestre de gravidez, e em alguns pacientes com certas condições malignas (carcinoma de pân creas ou de pulmão, entre outros). No carcinoma de ovários, seus níveis elevados têm boa correla ção com a massa tumoral e com os estágios clínicos da doença. Porém, há relatos de níveis normais encontrados em uma gran de gama de tumores, e índices aumentados em diversas condi ções benignas, como hepatites, cirroses, menstruação, gravidez, peritonite, tumores pélvicos benignos, doenças inflamatórias pélvicas, síndrome de hiperestimulação ovariana, abscessos ovarianos, patologias infecciosas de trompas, endometrioses e em teratomas benignos, assim como na menopausa. Os valores costumam voltar ao normal três semanas após ci rurgias e/ou esquemas terapêuticos, e, nestes casos, um au 231 09 Imunologia BOOK 16.indd 231 26.10.06 17:35:00 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA mento dos níveis de CA 125 após a remissão da doença indica a presença de metástases clinicamente indetectáveis ou tumor Ácido periódico de Schiff (PAS) Reação importante na confirmação diagnóstica das eritroleu residual. cemias. Pode ser utilizado na avaliação dos resultados da terapia de Sudan Black endometrioses. É usada para diferenciação das leucemias agudas linfoblásti cas das mieloblásticas. Vide capítulo de Hematologia. DESIDROGENASE LÁCTICA (LDH) Sua elevação em neoplasias é quase inespecífica. Tem sido demonstrada elevada em uma variedade delas: hepáticas, lin foma não-Hodgkin, leucemia aguda, de testículo (não semi noma), seminoma, neuroblastoma, mama, cólon, estômago e pulmão. O nível da LDH no soro tem sido associado à massa de tumores sólidos e fornece um indicador prognóstico da pro gressão da doença. Vide capítulo de Bioquímica. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). CALCITONINA Vide capítulo de Endocrinologia. CATECOLAMINAS E ÁCIDO VANILMANDÉLICO A dosagem de catecolaminas e de VMA é fundamental para o diagnóstico do feocromocitoma. Admite-se que, em mais de 95% dos casos, pelo menos uma dessas duas dosagens estará ENOLASE NEUROESPECÍFICA (NSE) Trata-se de uma enzima glicolítica, cuja forma neuroespecífica é encontrada no tecido nervoso e em células do sistema neu roendócrino. Detectam-se concentrações elevadas no soro em pacientes com carcinoma medular da tireóide, tumor endócri no pancreático, feocromocitoma, neuroblastoma e carcinoma pulmonar de pequenas células. Permite a diferenciação do carcinoma celular de pequenas células das outras formas de câncer pulmonar. alterada, contribuindo para o fechamento do diagnóstico clíni MÉTODO: Radioimunoensaio. co. Devido ao caráter intermitente da secreção de catecolami AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). nas por alguns tumores, aconselha-se que sejam realizadas di versas coletas em tempo curto. Atenção especial deve ser dada à dieta e ao uso de drogas que possam falsear os resultados. Ocasionalmente, as catecolaminas urinárias também podem elevar-se nos neuroblastomas e nos ganglioneuromas. Vide capítulo de Química e Toxicologia. CITOQUÍMICA Colorações citoquímicas são um recurso para a investigação de diversas patologias, particularmente as hematológicas. Consti tuem um valioso procedimento no diagnóstico e classificação de leucemias e linfomas, em especial quando associadas ao estudo imunofenotípico. Vide capítulo de Hematologia. Fosfatase alcalina Diagnóstico de leucemia mielóide crônica (LMC). ERITROPOIETINA Vide capítulo de Endocrinologia. FOSFATASE ÁCIDA TOTAL Encontra-se elevada em processos de excessiva destruição pla quetária, doenças hemolíticas, doença de Paget avançada, me tástase de câncer ósseo e em muitos pacientes com mieloma múltiplo. Em indivíduos do sexo masculino, a fração prostática representa aproximadamente 50% da fosfatase ácida total, sendo o restante proveniente do fígado e da desintegração das plaquetas e eritrócitos. Níveis elevados da fração prostática são encontrados no câncer e na hiperplasia de próstata. Em in divíduos do sexo feminino é presumidamente proveniente do fígado, eritrócitos e plaquetas. Vide capítulo de Bioquímica. 232 09 Imunologia BOOK 16.indd 232 26.10.06 17:35:00 GENE SUPRESSOR P53 É a maior isoenzima da fosfatase ácida secretada no soro pela A p53 está presente em vários tumores, como no cólon, na bexi próstata, embora também seja detectada em outros tecidos. ga, nos pulmões, na mama, nas leucemias, entre outros. Tem sido usada para estadiamento do câncer de próstata. Os pacientes apresentam concentração sérica elevada no estágio A em apenas 0%-11%, no estágio B de 22%-56%, no estágio C de 39%-77% e no estágio D de 58%-80% dos pacientes. Sua utilida de clínica, como teste de triagem do câncer de próstata, é limi tada pela pequena sensibilidade nos estágios iniciais da doen ça. Entretanto, em conjunto com o antígeno prostático especí fico (PSA) torna-se útil para monitorar a recorrência do câncer de próstata em pacientes sob terapia androgênica, já que o PSA pode apresentar-se falsamente baixo nestes casos. Aproxima damente 2% dos indivíduos saudáveis e 10% dos pacientes com hiperplasia prostática benigna têm concentrações elevadas no soro. Auxilia no diagnóstico do carcinoma prostático, monitora a terapia e acompanha a resposta do paciente ao tratamento. Vide capítulo de Bioquímica. FOSFATASE ALCALINA Como aparece em níveis elevados no câncer hepático primário e secundário, pode auxiliar na avaliação de tumor metastático com envolvimento de fígado e ossos. As maiores elevações são vistas em pacientes com lesões osteoblásticas, como no câncer de próstata com metástase para ossos. Os menores aumentos são encontrados em pacientes com lesões osteolíticas, como no câncer de mama com metástase para osso. Nas metásta ses de fígado, a fosfatase alcalina se correlaciona melhor com a extensão do envolvimento desse órgão do que com outros determinantes da função hepática. Em outras doenças malig nas, como leucemia, sarcoma e linfoma complicado com lesão hepática, pode apresentar-se elevada. Vide capítulo de Bioquímica. GAMA-GLUTAMIL-TRANSPEPTIDASE Alguns autores consideram esta enzima útil no diagnóstico de metástases no fígado, embora as drogas para o tratamento de câncer, em geral, sejam hepatotóxicas e costumem elevar mais Vide capítulo de Anatomia Patológica. HORMÔNIO ADRENOCORTICOTRÓFICO (ACTH) Vide capítulo de Endocrinologia. HORMÔNIO GONADOTRÓFICO CORIÔNICO (B-HCG) Vide capítulo de Endocrinologia. PROTEÍNA DE BENCE JONES Trata-se de uma proteína de baixo peso molecular, formada por dímeros de cadeias leves (kappa ou lambda), procedentes de imunoglobulinas. É filtrada pelos glomérulos e rapidamen te retirada do plasma para a urina. Sua incidência tem sido es timada em 70% dos casos de mieloma, em cerca de 30% na macroglobulina de Waldenström e 20% nas gamopatias mo noclonais associadas com malignidade linfoproliferativa. IMUNOFENOTIPAGEM LEUCOCITÁRIA PARA NEOPLASIA HEMATOLÓGICA Utilizado para definir quadro neoplásico hematológico, linha gem celular, monitoração pós-quimioterapia e de doença resi dual. O resultado inclui a descrição técnica do padrão celular, valores percentuais de cada CD, análise multiparamétrica para revelar co-expressão e conclusão associada à patologia. Vide capítulo de Hematologia. ONCOGEN C-ERB-B2 Marcador prognóstico para tumores primitivos de mama. É mais comum em carcinomas que surgem antes da meno pausa e sua presença indica tendência à recidiva, mesmo em pacientes com fatores prognósticos favoráveis, como baixo grau e presença de receptores para estrogênio e progesterona. A amplificação do oncogen é relatada em 30% dos tumores de mama e é fortemente associada a prognóstico pobre, em par os níveis desta enzima do que a própria doença. ticular nos casos axila-positivos. Vide capítulo de Bioquímica. Vide capítulo de Anatomia Patológica. GASTRINA PARATORMÔNIO E PROTEÍNA RELACIONADA Vide capítulo de Endocrinologia. IMUNOLOGIA FOSFATASE ÁCIDA PROSTÁTICA AO PARATORMÔNIO (PTH-RP) Vide capítulo de Endocrinologia. 233 09 Imunologia BOOK 16.indd 233 26.10.06 17:35:01 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA P-GLICOPROTEÍNA O desenvolvimento de resistência às drogas citostáticas per manece como o principal obstáculo ao tratamento do câncer, e a indução da síntese de P-glicoproteína por células neoplásicas tem sido associada a esta resistência, intrínseca ou adquirida. entre o 6º e 10º dia da doença, com pico entre a 2ª e 3ª semana, e persistem positivos por período de oito a 12 semanas. Entretanto, de 10% a 20% dos adultos e um percentual ainda maior de crianças não desenvolvem esses anticorpos, presentes em apenas 10% a 30% de crianças com menos de dois anos e em 75% de dois a quatro anos. Em pacientes de origem japonesa Vide capítulo de Anatomia Patológica. de qualquer idade eles também são raros. PCNA (ANTÍGENO DE PROLIFERAÇÃO DO NÚCLEO CELULAR) Na maioria dos casos, a clínica, os achados hematológicos e os Marcador prognóstico em neoplasias malignas, utilizado para diagnóstico. Porém, diante de uma suspeita de mononucleo estudo do potencial proliferativo. A positividade para PCNA ocorre em 50% ou mais de células neoplásicas (carcinomas e linfomas) e indica prognóstico adverso. Está presente em todos os tumores, com percentuais de 10% nos bem diferenciados, e de até 100% em tumores anaplásicos, como os seminomas. Vide capítulo de Anatomia Patológica. RECEPTORES PARA ESTROGÊNIO E PROGESTERONA São marcadores prognóstico para tumores primitivos de mama. O estrogênio regula o crescimento de tumores de mama atra vés da presença de receptores específicos no tecido mamário e sua ablação leva à remissão da neoplasia e ao controle de metástases viscerais e esqueléticas. A identificação dos recep tores hormonais permite predizer a resposta à hormonotera pia, determinando os pacientes que possam se beneficiar de tratamento adjuvante tanto nos estágios iniciais quanto nos avançados da doença. Isso evita as complicações decorrentes de terapia desnecessária. anticorpos heterófilos positivos são suficientes para firmar o se com pesquisa de anticorpos heterófilos negativa, deve-se realizar teste de anticorpos específicos para EBV, assim como o diagnóstico diferencial com outras patologias que cursam com síndromes mononucleose like, como citomegalovírus, to xoplasmose, hepatites virais agudas, colagenoses e síndrome de soroconversão do HIV-1, entre outras. Os anticorpos heterófilos são da classe IgM, não específicos da mononucleose, e podem surgir em outras patologias. Anticor pos semelhantes também são detectados em indivíduos nor mais (anticorpos de Forssman) e na doença do soro, o que tor na importante distingui-los dos da mononucleose infecciosa. É imperativa a correlação com a clínica, visto que podem ocorrer falso-positivos e negativos. Cerca de 2% de falso-positivos têm sido descritos na doença de Hodgkin, linfomas, leucemia linfo cítica aguda, hepatite infecciosa, carcinoma de pâncreas, cito megalovírus, artrite reumatóide, malária e rubéola. O diagnóstico sorológico da mononucleose infecciosa, portan to, é feito pela avaliação de dois tipos de anticorpos: Vide capítulo de Anatomia Patológica. TIREOGLOBULINA Vide capítulo de Endocrinologia. Mononucleose A mononucleose infecciosa aguda é causada pelo vírus Epstein-Barr, do grupo dos herpesvirus e endêmico em todo o mundo. A contaminação se dá pessoa a pessoa, principalmen te pela saliva. Sua maior incidência é em crianças, adolescentes e adultos jovens. Caracteriza-se por febre, faringite, linfadeno patia, linfocitose, grande percentual de atipias linfocitárias (cé lulas de Downey I, II e III), hepatomegalia (10%) e esplenome MONOTESTE É um teste de hemaglutinação em lâmina, com hemácias de cavalo formalizadas, também chamado de reação de Hoff e Bauer. Extremamente sensível, positiva precocemente na pri meira ou segunda semana da doença, perdura assim por oito a 12 semanas. Logo, é possível encontrar um monoteste positivo, galia (50%). com reação de Paul-Bunnell negativa que só mais tarde irá po- Os portadores dessa doença apresentam anticorpos que rea sensibilidade. Diante de um resultado negativo, deve-se repetir gem com hemácias de carneiro ou de cavalo (anticorpos hete rófilos). A maioria dos casos é diagnosticada pela presença des ses anticorpos heterófilos, que aparecem no soro dos pacientes sitivar-se. O monoteste tem 99% de especificidade e 86% de o teste em um curto período de tempo. Se houver suspeita de mononucleose, os soros com resultados negativos devem ser avaliados para a presença de anticorpos específicos para EBV. 234 09 Imunologia BOOK 16.indd 234 26.10.06 17:35:01 também podem persistir por mais de um ano após a infecção. Portanto, a determinação de anticorpos heterófilos, por si só, pode conduzir a diagnósticos errôneos. É importante, então, MÉTODO: Hemaglutinação direta. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). determinar a presença de anticorpos específicos para antíge nos virais, em especial dos direcionados ao antígeno do capsí deo viral (VCA) e ao antígeno nuclear (EBNA). REAÇÃO DE PAUL-BUNNELL Durante o curso da mononucleose infecciosa, os anticorpos da Este teste pesquisa a presença de anticorpos heterófilos contra classe IgM e IgG para VCA aparecem precocemente, enquanto hemácias de carneiro. Títulos superiores a 1/56 sugerem posi para mononucleose infecciosa; entretanto, o achado pode pertencer a outro grupo de anticorpos heterófilos, como os de Forssman ou da doença do soro. A confirmação da mono eita pela reação de Paul-Bunnell-Davidsohn. MÉTODO: Hemaglutinação direta. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). REAÇÃO DE PAUL-BUNNELL-DAVIDSOHN Visa classificar os anticorpos heterófilos encontrados. São ava liados pela titulação, realizada após a absorção do soro por rim de cobaia e hemácias de boi fervidas, o que permite a exclusão de outros anticorpos heterófilos. Esta classificação torna possí vel a diferenciação dos anticorpos heterófilos contra hemácias de carneiro, encontrados na doença do soro, mononucleose in fecciosa e anticorpos de Forssman (soro normal). Seus títulos são usados para diagnóstico, mas não mostram boa correlação com o curso e o prognóstico de evolução da doença. IMUNOLOGIA tar presentes em pacientes infectados pelo EBV e, além disso, o IgG para EBNA se desenvolve mais tardiamente durante a in fecção. A presença de IgM contra VCA na ausência de IgG con tra EBNA indica que há uma infecção corrente, ao passo que a presença de IgG contra ambos os VCA e EBNA é indicativa de uma infecção anterior. Epstein-Barr vírus, IgG MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Epstein-Barr vírus, IgM MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Mycoplasma pneumoniae Responsável por até 20% das pneumonias adquiridas em comunidades e em maiores proporções nas que acometem crianças em idade escolar e adultos jovens, o Mycoplasma pneumoniae tem um período de incubação de aproximada mente 15 dias. Depois disso, o paciente apresenta um quadro de traqueobronquite, com sintomas inespecíficos de febre, ce faléia, astenia e tosse não produtiva, que podem evoluir para comprometimento pulmonar. MÉTODO: Hemaglutinação direta. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). EPSTEIN-BARR Trata-se de um herpesvirus que causa a mononucleose infec ciosa clássica e, eventualmente, está implicado na patogênese do linfoma de Burkitt, carcinomas de nasofaringe e em desor dens linfoproliferativas em pacientes imunodeprimidos. O ví rus Epstein-Barr (EBV) está difundido pelo mundo e de 80% a 90% da população é soropositiva. O diagnóstico laboratorial da mononucleose infecciosa é tra dicionalmente realizado pela detecção de anticorpos heteró filos, que se desenvolvem no soro durante o curso da infecção e aglutinam eritrócitos de cavalo. Podem, entretanto, não es O M. pneumoniae é sensível à eritromicina e às tetraciclinas, porém mostra-se resistente às drogas rotineiramente utiliza das no tratamento das pneumonias agudas. Assim, nos pa cientes que não apresentarem boa evolução clínica, indica-se, então, iniciar a investigação diagnóstica do M. pneumoniae. Pode surgir uma variedade de complicações, incluindo-se erite ma multiforme, meningoencefalite, anemia, trombocitopenia, leucopenia e miocardite. A infecção por M. pneumoniae pode ser diagnosticada por de tecção do microrganismo em secreções respiratórias por cultu ra, imunofluorescência direta ou técnicas moleculares, como o PCR, ou pela detecção de anticorpos IgM e IgG específicos. Os testes imunoenzimáticos para a detecção destes anticorpos são mais rápidos, sensíveis e específicos do que outros méto dos (fixação de complemento e imunofluorescência indireta). 235 09 Imunologia BOOK 16.indd 235 26.10.06 17:35:02 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Anticorpos IgM específicos para M. pneumoniae aparecem nor A descoberta da imunoglobulina E como um fator importante malmente de sete a 14 dias após a infecção e persistem por seis na alergia atópica e o avanço tecnológico dos testes diagnósti a 12 semanas. Sua presença em uma única amostra de soro é cos para sua dosagem foram de grande utilidade para os clíni indicativa de infecção atual ou recorrente, embora baixos tí cos, pois permitiram distinguir entre infecções, reações inespe tulos possam persistir, ocasionalmente, por mais de um ano. cíficas e alergia atópica. Assim, o diagnóstico diferencial, além de clínico, pode ser rea lizado pela coleta de uma nova amostra para análise pareada, duas a três semanas mais tarde. A ausência de IgM não afasta o diagnóstico, pois pode representar a coleta antes da produ ção de níveis detectáveis do anticorpo. Também pode haver reinfecções sem a produção de anticorpos IgM; isso, porém, in duz a um aumento significativo de IgG. Na ausência de títulos de anticorpos IgM e persistência dos sintomas é recomendado que se teste o anticorpo IgG específico, de forma pareada, en tre as amostras da fase aguda e da convalescência. Anticorpos IgG surgem do 9º ao 14º dia. Sua presença isolada em amostra única não possui valor, podendo representar infecção passada. Mycoplasma pneumoniae, IgG Muitos estudos têm demonstrado o caráter hereditário da doença, mostrando uma maior incidência em pacientes com história familiar. Alguns dados podem indicar uma suscetibili dade genética à sensibilização, como: – Absorção de alérgenos nas mucosas; – Sensibilidade do anticorpo IgE; – Resposta genética imunoespecífica; Outros fatores, como ambiente e alimentação, influenciam a manifestação da doença. Contudo, a bagagem genética per manece, embora possa passar assintomática por duas ou três gerações. Isto pode explicar como pais assintomáticos têm fi lhos com sintomatologia atópica – asma, rinite e dermatites. Nos casos onde existe predisposição genética, estes sintomas MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. se manifestam precocemente e com mais rigidez. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). As manifestações clínicas alteram-se de acordo com a faixa Mycoplasma pneumoniae, IgM etária. Os sintomas normalmente aparecem na infância, quan do certos alimentos como ovo, leite de vaca ou peixe, entre ou MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. tros, são introduzidos na alimentação infantil. Nestes casos, a AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). manifestação mais freqüente é a dermatite atópica. Embora o Pesquisa de alergia Alergia é uma manifestação de hipersensibilidade do tipo I, que se caracteriza por uma reação imunológica como resposta a um contato com o antígeno (alérgeno). O conjunto de sin tomas clínicos comuns às doenças causadas pelo mecanismo de hipersensibilidade do tipo I é chamado atopia. É mediada por um dos mecanismos efetores mais poderosos do sistema imune: a reação produzida por estímulo IgE dependente nos mastócitos e basófilos. Quando o antígeno entra em contato com este complexo, há uma rápida produção e liberação de me diadores vasoativos, que provocam um aumento da permea bilidade vascular, constrição da musculatura lisa e inflamação local. Esta reação é chamada de hipersensibilidade imediata e os indivíduos que apresentam estes sintomas são denomina dos atópicos. Em indivíduos normais, os linfócitos B reagem a um estímulo antigênico com produção de IgM, IgG e traços de IgE. Nos in divíduos atópicos, pode haver uma superprodução da citocina IL-4 a partir dos linfócitos CD4+Th2, sendo esta a responsável pela mudança de isótipo para IgE nas células B, exacerbando o fenômeno alérgico, condição ligada à hereditariedade, à expo sição e à natureza do antígeno. eczema atópico seja característico, o diagnóstico por métodos convencionais pode ser prejudicado. Como crianças pequenas não têm o sistema imune completamente maduro, isso pode resultar em falso-negativos ocasionados por reatividade ines pecífica. A grande variação na sintomatologia alérgica dificul ta, muitas vezes, o prognóstico da doença, especialmente an tes da puberdade. Alguns trabalhos demonstram que altos níveis de IgE em cor dão umbilical e/ou soro de recém-nascidos, relacionados à história familiar, têm valor preditivo no desenvolvimento das manifestações atópicas. A triagem laboratorial e uma cuida dosa anamnese familiar são procedimentos indicados para se identificar crianças com alto risco de manifestar a doença, iniciando-se medidas profiláticas para a melhora ou até a pre venção dos sintomas clínicos. É importante que filhos de pais atópicos submetam-se a medi das preventivas, como, por exemplo, evitar o contato com subs tâncias potencialmente alergênicas: animais domésticos, al gumas plantas, poeira doméstica e, principalmente, alimentos como ovo, leite, peixe e soja. A profilaxia mais importante é o aleitamento materno por seis meses, ou fórmulas hipoalergê nicas (não antes de quatro meses) combinadas com suplemen tos alimentares. Alimentos potencialmente alergênicos devem 236 09 Imunologia BOOK 16.indd 236 26.10.06 17:35:02 de um alérgeno como agente etiológico torna-se mais difícil. A principal célula envolvida na lesão tecidual é o eosinófilo. A manifestação das doenças alérgicas é atribuída à presença O eosinófilo hipodenso é a forma mais ativa, e a liberação de de IgE. Entretanto, a degranulação de mastócitos pode ocorrer mediadores químicos é mediada por IgE, IgG ou complemen ainda por outros mecanismos imunológicos (complemento) to. Destes, destaca-se a proteína catiônica do eosinófilo (ECP) e não-imunológicos (agentes químicos, físicos) e tal liberação como um excelente marcador da ativação eosinofílica, es pode produzir uma manifestação idêntica e indistinguível da pecialmente útil porque reflete não só sua concentração no reação mediada pela IgE. sangue, como também em todo o organismo. Títulos elevados A pesquisa de IgE total sérica em países tropicais como parâ metro laboratorial de atopia parece não ser o melhor índice para pacientes adultos. Nesses países, os títulos deste anticor po são, em geral, mais elevados quando comparados aos dos países temperados. Essa diferença é atribuída a vários fatores, podem indicar a severidade da doença e auxiliar na monitora ção do tratamento com antiinflamatórios esteróides. Assim, a análise laboratorial fornece o diagnóstico diferencial e, quan do possível, revela o agente etiológico causador das manifes tações clínicas. como ambientais, genéticos e presença de parasitas, que nes Para avaliação da atopia, recorremos a testes de contato e a te caso podem potencializar a síntese de IgE contra alérgenos dosagens séricas de IgE total e específica. Nos primeiros, são ambientais. usados extratos de alérgenos, como, por exemplo, fungos, ali Em países como o Brasil, com parasitoses endêmicas, a dosa gem de IgE total tem valor preditivo e profilático em pacientes com menos de três anos de vida, não sendo indicada para diag nóstico de atopia em indivíduos com idade superior a três anos, por fornecer resultados subjetivos e sujeitos a interferências. O primeiro passo na investigação de um paciente com sinto matologia que indica alergia é determinar se é atópica ou não. Para o diagnóstico, é necessário conhecer as substâncias que provocam tais reações. Na sua maioria são proteínas hidrosso lúveis, atóxicas e não irritantes para pacientes não alérgicos. Algumas substâncias diferentes provocam reações no orga nismo com sintomatologia similar, dificultando o diagnóstico etiológico. Medicamentos e alimentos são os exemplos mais comuns. Em sua maioria os pacientes atópicos apresentam: IMUNOLOGIA ser evitados pela mãe, uma vez que pode haver sensibilização através do leite materno. mentos, veneno de insetos, poeira domiciliar etc. Esses extratos são aplicados preferencialmente por escarificação ou punctura cutânea superficial para evitar reações sistêmicas. A reação posi tiva pápulo-eritematosa ocorre entre sete e 20 minutos depois. Quando e como usar os testes in vitro – Paciente com sensibilidade cutânea alterada; – Paciente sob uso ininterrupto de medicamentos; – Como confirmatório para imunoterapia; – Em pacientes com alergia alimentar; – Para o diagnóstico de atopia contra veneno de insetos; – Em pacientes assintomáticos tem importante valor preditivo. A eficiência diagnóstica depende de muitos fatores, principal mente do uso racionalizado dos testes clínicos e laboratoriais. O esquema a seguir mostra simplificadamente como os diag nósticos clínico e laboratorial estão interligados: – Níveis elevados de IgE total sérica; Sintomas clínicos – Níveis de anticorpos IgE alérgeno-específicos. História clínica Reações atópicas (tipo 1, segundo Gell & Coomb) podem ser se guidas por um aumento sérico de histamina ou de ECP (proteí na catiônica eosinofílica), no caso de manifestações crônicas como asma. A resposta do tipo 1 é bifásica – uma fase inicial é freqüentemen te seguida por uma fase tardia. Do ponto de vista histológico, a resposta inicial é caracterizada por degranulação de mastócitos, e a tardia, pela presença de basófilos, neutrófilos e eosinófilos. A segunda fase é muito semelhante à reação observada à exposi DÚVIDA CONCLUSIVO Tratamento imunoterápico IgE específica Triagem IgE total IgE específica Grupos Positivo Negativo ção crônica aos alérgenos respiratórios. Nestes casos, a reação imediata dos mastócitos condiciona à reação tardia e à infla mação crônica. Estabelecido o estado crônico, a determinação Pesquisa do agente etiológico 237 09 Imunologia BOOK 16.indd 237 26.10.06 17:35:03 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Após triagem clínica e/ou laboratorial, e de acordo com os re sultados obtidos, deve-se proceder à pesquisa do agente etio lógico específico, evitando-se, desta forma, respostas insatisfa tórias ao clínico, ao laboratório e também ao paciente. Os tes tes in vitro, apesar de não conclusivos, são complementares ao diagnóstico clínico. Como já foi dito anteriormente, a IgE total tem um valor preditivo para a atopia, enquanto os testes de IgE específica teriam um maior valor diagnóstico por se apresen tarem mais objetivos e específicos, e livres de interferências, como as parasitoses. IMUNOGLOBULINA E A dosagem da IgE total é um importante parâmetro para diag nóstico das doenças alérgicas e avaliação da predisposição à atopia em crianças de baixa idade. É preciso estar atento, no entanto, às limitações desta dosagem. Certas doenças, como Proteína C reativa Sintetizada pelo fígado, com uma meia-vida em torno de cinco a sete horas, induz diversos processos do sistema imune (ati vação de complemento e fagocitose). É uma das proteínas de fase aguda, considerada um marcador sensível na monitoração de doenças inflamatórias, como febre reumática e artrite reu matóide. Inicialmente, apenas testes qualitativos por aglutina ção estavam disponíveis. Hoje, métodos como a nefelometria e quimioluminescência possibilitam resultados quantitativos de grande utilidade para o médico. Sua dosagem não é influencia da por fatores como anemia e alterações dos níveis de proteínas plasmáticas, como ocorre com o VHS. Ela se eleva rapidamente com o início da doença (em torno de seis horas após o início da inflamação ou lesão celular) e decresce tão logo ocorra a reso lução do processo inflamatório ou a instituição da terapêutica. parasitoses intestinais, alguns tipos de neoplasias e a terapia com citostáticos podem cursar com níveis elevados de IgE, que também se mantêm altos na asma atópica, embora freqüen temente se mostrem normais na rinite alérgica. Nas exacer bações da dermatite atópica, os níveis se elevam e diminuem durante as remissões. No entanto, níveis normais não excluem este diagnóstico. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). IgE ESPECÍFICA Até recentemente, o diagnóstico laboratorial dos processos alérgicos contava apenas com a dosagem de IgE total. Hoje, avanços na área da imunologia e da alergia já possibilitam diagnósticos mais precisos da hipersensibilidade do tipo I, através da identificação da presença de IgE específica para os alérgenos mais freqüentes. Utilizado na avaliação de doenças alérgicas, este teste pode ser associado aos exames cutâneos e de provocação, embora seja considerado mais seguro e preciso por não sofrer interferência Por ter seus níveis elevados nas infecções bacterianas, é usada com sucesso na monitoração de infecção no pós-operatório: em casos não complicados, atinge um pico máximo entre 48 e 72 horas, e retorna aos níveis normais por volta do 5º ao 7º dia. Pode auxiliar também no diagnóstico diferencial da doença de Crohn (níveis altos) e retocolite ulcerativa (níveis baixos), ou entre artrite reumatóide (níveis altos) e lúpus não complicado (níveis baixos). O uso de estrogênios, como nos contraceptivos orais, pode elevar seus níveis. de substâncias dos tecidos, de mediadores químicos da infla PROTEÍNA C REATIVA E RISCO CARDIOVASCULAR mação ou de medicamentos. Por ser no soro, pode ser realizado Sabemos atualmente que a doença arterial aterosclerótica não em pacientes com dermografismo, doenças cutâneas genera lizadas ou casos em que a medicação (anti-histamínicos) não possa ser interrompida. A IgE específica pode ser dosada para vários alérgenos agrupa dos sob a forma de painéis, ou para cada um deles isolado. A pesquisa pode ser feita para uma grande variedade de alérge nos, como poeira, ácaros, fungos e leveduras, epitélios animais, plantas e um bom número de alimentos, entre outros. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). é ocasionada apenas por alterações lipêmicas, mas também por processos trombóticos (elevação do fibrinogênio e PAI 1) e inflamatórios (elevação da proteína C reativa). Com a ruptura da placa ateromatosa e a liberação de citocinas pelos monóci tos e macrófagos, como a interleucina 6, há síntese hepática de proteínas de fase aguda. O aumento da proteína C reativa, assim como do amilóide sérico A, é reconhecidamente não es pecífica para doença coronariana. Entretanto valores acima de 0,11mg/dL estão relacionados à elevação do risco de doença arterial coronariana e podem ter um papel determinante na identificação de pacientes com placas coronarianas instáveis. 238 09 Imunologia BOOK 16.indd 238 26.10.06 17:35:04 se, como a mononucleose infecciosa. Nas situações em que há predizer as conseqüências desfavoráveis e a deterioração da presença de IgM em valores próximos ao cut-off, juntamente função ventricular esquerda, resultante de necrose cardíaca com IgG, e em que haja a suspeita de reação inespecífica ou aguda ou IAM prévio. Desta maneira, pacientes com doença ar reinfecção, o teste de avidez da IgG pode auxiliar na diferencia terial coronariana instável sob maior risco têm concentrações ção de infecção atual ou passada, ou IgM falso-positivo. Anti circulantes anormais de proteínas de fase aguda. Um possível corpos IgG de baixa avidez são detectados nos primeiros três componente da associação observada entre estas proteínas e meses de infecção; depois deste período, encontram-se os IgG a elevação do risco é o fato de que elas podem refletir doença de alta avidez. infecciosa nos vasos coronarianos. De qualquer modo, a aspiri na ou outros agentes antiinflamatórios não-esteróides podem reduzir esse risco, presumivelmente pela inibição do processo inflamatório. MÉTODO: Nefelometria (ultra-sensível). AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Rubéola Doença viral benigna, a rubéola é causada por um vírus RNA do gênero rubivírus, com período de incubação de duas a três semanas e caracterizada por febrícula, sintomas respiratórios de vias aéreas superiores, exantema maculopapular típico e linfadenopatia suboccipital. O vírus é encontrado na faringe e o contágio se dá por via respiratória, de uma semana antes até uma semana depois do aparecimento do exantema. A infec ção quase sempre confere imunidade permanente, mas pode IMUNOLOGIA Alguns estudos têm investigado também o uso da PCR para A pesquisa de IgM pode ser ainda de grande utilidade para o diagnóstico diferencial em recém-nascidos, pois a sua presen ça indica infecção congênita, já que esta classe de anticorpos não atravessa a placenta. RUBÉOLA, IgG MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). RUBÉOLA, IgM MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). RUBÉOLA, TESTE DE AVIDEZ DA IgG MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). haver reinfecção, cursando com aumento dos títulos de IgG e mais raramente com o aparecimento de IgM. Dependendo da época da gestação, são diversas as conse qüências da doença em mulheres grávidas. Durante os primei ros quatro meses de gravidez, a infecção pode causar defeitos ao recém-nato, como surdez, problemas cardíacos, catarata ou glaucoma, às vezes, levando ao aborto. Isso torna o diagnósti co de grande importância nas mulheres em idade reprodutiva e nas grávidas. A presença de anticorpos IgG anti-rubéola em mulheres grávidas fornece proteção fetal contra uma possível infecção viral durante a gestação. Deste modo, a pesquisa de anticorpos para rubéola deve fazer parte da investigação pré natal. Os anticorpos IgM e IgG aparecem de 24 a 48 horas após o exantema, atingindo valores máximos em cerca de 21 dias. Os da classe IgM tendem a desaparecer após quatro a cinco se manas, enquanto os da classe IgG persistem em títulos baixos por toda a vida. A presença de anticorpos IgG indica a presença de imunidade que pode ter sido induzida por infecção passada ou vacinação. Anticorpos IgM podem apontar uma infecção aguda e mais ra ramente uma reinfecção. Embora incomum, a presença de IgM, normalmente em valores baixos, próximos do cut-off, pode re presentar uma reação falso-positiva na vigência de outra viro Sarampo Doença aguda altamente contagiosa, caracteriza-se por febre, tosse, coriza, conjuntivite, erupção específica da mucosa bucal (manchas de Koplik) e erupção maculopapular generalizada. É causada por um paramixovírus de fácil disseminação por via oral. O período de transmissão começa durante os pródromos da doença, de dois a quatro dias antes do aparecimento do exantema, e na fase aguda. A fase de incubação dura de sete a 14 dias. Em geral tem evolução benigna, com baixa letalidade, a não ser quando há complicações bacterianas, especialmente as estreptocócicas, às quais esses pacientes são bastante suscep tíveis. As complicações típicas que podem ocorrer são a pneu monia, pneumonia brônquica e otite média. Durante o curso da doença há uma supressão transitória da hipersensibilidade tardia com anergia aos testes cutâneos, reativação de infecção latente e agravamento de tuberculose ativa. A púrpura trom bocitopênica aguda e a encefalite são complicações raras. A vacinação com vírus vivo atenuado tem diminuído a incidên cia da doença. Ela produz infecção leve ou inaparente, não con tagiosa, com resposta imunológica similar à do sarampo natu- 239 09 Imunologia BOOK 16.indd 239 26.10.06 17:35:04 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA ral. A doença confere imunidade duradoura. Um lactente cuja e o vírus da imunodeficiência do símio (SIV) é maior do que mãe tenha tido sarampo recebe imunidade transplacentária, quando se compara HIV-1 e HIV-2 entre si. O HIV possui tropis pelo menos para o primeiro ano de vida. mo por linfócitos T CD4+ (helper ou auxiliares), ligando-se aos O diagnóstico da infecção aguda é feito pela demonstração da presença de anticorpos IgM e IgG. A detecção apenas de IgG indica que o paciente já teve contato com o vírus, seja por in fecção ou por vacinação. SARAMPO, IgM MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). SARAMPO, IgG MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Sida/Aids – síndrome de imunodeficiência adquirida HIV-1 E 2 O vírus da imunodeficiência humana (HIV) é o agente etioló gico da síndrome de imunodeficiência adquirida (Sida/Aids), doença que se caracteriza por uma progressiva e importante deterioração do sistema imune. Associadas a ela, ocorrem in fecções oportunistas (pneumocistose, toxoplasmose, candi díase), neoplasias (sarcoma de Kaposi, linfomas B) e comple xo demencial. O HIV é transmitido por via sexual, através do sangue contaminado e da transmissão perinatal, incluindo o aleitamento materno. O vírus penetra no organismo na forma livre ou através de células infectadas, dando início ao processo patogênico que resultará a longo prazo na destruição do siste receptores CD4 da superfície celular através da glicoproteína do envelope, gp120, levando à progressiva queda no número de linfócitos helper ou auxiliares. Também infecta linfócito B, macrófagos/monócitos, células da glia e células do cólon, que apresentam número variável de receptores CD4. Poucas semanas após a infecção, há uma intensa replicação viral (elevada viremia), que pode ser demonstrada pelo isola mento do HIV em cultura ou pela detecção de antígeno viral ou ácido nucléico viral no sangue. Nesta fase inicial, o pacien te pode permanecer assintomático ou manifestar sintomas de um quadro infeccioso agudo que lembra a mononucleose infecciosa. A soroconversão ocorre normalmente de um a três meses após a infecção inicial, podendo em alguns casos raros ser mais tardia, de até um ano depois. O aparecimento de anticorpos contra o HIV está associado à supressão da viremia. Anticorpos neutralizantes são capazes de bloquear a interação entre a gp120 viral e o receptor CD4. O período de tempo entre a infecção inicial e o aparecimento destes anticorpos é chamado de janela imunológica, em que os testes sorológicos para o HIV podem ser negativos, embora o paciente esteja infectado e possa transmitir o vírus. Os linfó citos T CD4+ têm um papel central na resposta imune, sendo responsáveis pela ativação tanto da resposta humoral quanto da celular, através de um complexo mecanismo que envolve receptores celulares e produção de interleucinas. Linfócitos T CD4+ infectados pelo HIV perdem a habilidade de induzir a secreção de anticorpos por linfócitos B e de media dores como interleucina-2 (IL-2), responsável pela ativação de ma imunológico do paciente. linfócitos T. O mecanismo de lise celular mediado por linfócitos O HIV pertence ao gênero lentivírus, da família Retroviridae, T citotóxicos e células natural killer (NK) contribui para a imuno que possui a enzima transcriptase reversa, capaz de transcre ver o genoma RNA em DNA. Após sua penetração, por fusão com a membrana da célula, o core viral se desintegra e o HIV transcreve seu RNA em DNA através da transcriptase reversa. O DNA viral pode permanecer no citoplasma ou integrar-se ao genoma da célula e, sob a forma integrada de pró-vírus, ficar latente por tempo variável, replicando toda vez que a célula entra em divisão. Durante essa replicação, se dá no citoplasma a união das proteínas virais e do RNA viral para formação de novos virions, liberando-se novas partículas virais por brota mento através da membrana celular. depressão do indivíduo infectado. Na fase assintomática, os ní veis de linfócitos T CD4+ caem gradativamente e a sua diminui ção parece estar relacionada ao aparecimento dos sintomas. A detecção da infecção pelo HIV pode ser feita por vários métodos, e o sistema de triagem mais utilizado é o método de ensaio imunoenzimático (EIA). Os kits atuais para este tipo de pesqui sa são preparados a partir de peptídeos sintéticos que corres pondem a componentes altamente específicos do vírus HIV. Permite resultados bastante precisos por apresentar sensibili dade e especificidade superiores a 99% em populações de alto risco para a infecção pelo HIV. A triagem é sempre realizada por Atualmente, são conhecidos dois subtipos de vírus da imu técnica capaz de detectar os anticorpos contra o HIV-1 e HIV-2. nodeficiência humana: HIV-1 e HIV-2. A homologia genômica Mas apesar da elevada sensibilidade e especificidade, os per entre os dois subtipos é de 40%, e a similaridade entre o HIV-2 centuais de resultados falso-positivos ainda são relevantes, 240 09 Imunologia BOOK 16.indd 240 26.10.06 17:35:05 fecção. Isso, em parte, se deve ao fato de tratar-se de um exa me de triagem e como tal apresentar sensibilidade apurada, buscando evitar a possibilidade de falso-negativos. Há relatos de reações cruzadas com outros retrovírus e com diversas pa tologias, como infecções virais, como a hepatite; doenças para sitárias; doenças neoplásicas e doenças auto-imunes. Durante a gravidez, a taxa de falsa-positividade é maior do que na população em geral, fato que também ocorre em outros tes tes laboratoriais para pesquisa de anticorpos. Por se tratar de um método de triagem, todas as amostras de soro repetidamente reativas na pesquisa de anticorpos anti-HIV por EIA devem ser avaliadas através do método confirmatório de Western Blot. Antes do aparecimento dos anticorpos ou durante a sorocon versão, o método de reação em cadeia da polimerase (PCR) qualitativo, que pesquisa o DNA viral integrado ao genoma humano, permite o diagnóstico preciso da infecção pelo HIV logo após a infecção. O PCR qualitativo é de grande utilidade, especialmente no período neonatal, em que a presença de anticorpos anti-HIV da classe IgG em crianças de até aproxi madamente dois anos, nascidas de mães soropositivas, pode representar apenas a expressão da passagem placentária de anticorpos maternos, tornando difícil o diagnóstico pelos mé todos sorológicos tradicionais. Os estudos moleculares de quantificação (carga viral) têm au mentado em muito nosso conhecimento acerca da história na tural da infecção pelo HIV, assim como da influência dos fato res exógenos sobre sua replicação. Além disso, medidas de RNA do HIV realizadas no início da infecção têm demonstrado valor prognóstico. A carga viral apresenta-se, assim, como um bom marcador para a eficácia do tratamento anti-retroviral, tornan- ANTÍGENO P24 (AG-P24) Como todo retrovírus, o HIV tem um genoma RNA com seqüên cias de genes codificantes para as proteínas internas (gag), enzimas virais (pol) e proteínas do envoltório (env). As proteí nas codificadas pelo gene gag são p55, p24 e p17. O antígeno p24 é uma proteína da partícula viral que circunda e protege o ácido nucléico e as enzimas de replicação do vírus, que ganha importância clínica por seu valor no diagnóstico, antes da so roconversão. Após a exposição inicial ao HIV, há replicação viral e o antígeno p24 pode ser detectado no sangue periférico de poucas semanas a vários meses até que haja a soroconversão. Depois disso, a formação de complexos antígeno p24 com an ticorpo anti-p24 dificulta a detecção dos níveis de antígeno cir culante. A identificação do antígeno p24 é baixa em indivíduos infectados assintomáticos e os resultados positivos exigem confirmação por testes com anticorpos neutralizantes. Com a evolução do quadro clínico, detecta-se novamente o antígeno p24, à medida que evolui a falência imunológica. O antígeno p24 é detectado por testes de ensaio imunoenzi mático (EIA), utilizando anticorpos monoclonais anti-p24, em que a intensidade da reação é proporcional à quantidade de antígeno. A presença de antígeno p24 no soro ou no plasma indica infecção ativa, podendo auxiliar no diagnóstico antes da soroconversão, na avaliação do prognóstico e acompanha mento do tratamento. A grande desvantagem do antígeno p24 é sua baixa sensibilidade e o fato de não ser possível sua de tecção quando há títulos altos de anticorpos contra p24. Atual mente, a detecção de antígeno p24 vem sendo substituída por técnicas de biologia molecular, como o PCR qualitativo e a determinação da carga viral, que apresentam uma sensibi lidade superior. do-se uma valiosa ferramenta na monitoração terapêutica. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. O conhecimento dos padrões de mutação, selecionados por AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). drogas anti-retrovirais através da técnica da genotipagem do HIV, pode facilitar a escolha racional de esquemas terapêuticos adequados, assim como participar da decisão pelo tratamento inicial a ser adotado nos pacientes recém-diagnosticados. Vide capítulo de Biologia Molecular. HIV-1+2 MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). HIV-2 MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). IMUNOLOGIA principalmente em populações com baixa prevalência da in WESTERN BLOT É um método de alta sensibilidade e especificidade, que permi te identificar os anticorpos contra os diferentes constituintes do HIV-1, usado como teste confirmatório no diagnóstico da síndrome de imunodeficiência adquirida (Sida/Aids). No Wes tern Blot, as proteínas do HIV-1 são separadas por eletroforese em um gel de poliacrilamida, de acordo com seu peso molecu lar, e transferidas para uma membrana de nitrocelulose que é cortada em fitas. No teste, coloca-se a amostra de soro sobre a fita de nitrocelulose que contém os antígenos virais separados e aos quais vão se ligar os anticorpos específicos para o HIV-1 presentes no soro do paciente. O sistema é revelado através de um anticorpo antiimunoglobulina G (IgG) humana, conjuga- 241 09 Imunologia BOOK 16.indd 241 26.10.06 17:35:05 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA do a uma enzima que, em contato com o substrato, produzirá O WBlot pode apresentar resultado indeterminado nos pacien bandas coloridas correspondentes às várias proteínas virais. O tes com soroconversão precoce ou infecção avançada pelo HIV método de WBlot detecta a reação antígeno-anticorpo, identi 1, infecção pelo HIV-2 ou reatividade cruzada devido à presen ficando no soro anticorpos contra as diferentes proteínas virais. ça de aloanticorpos, como na gravidez e politransfundidos; ou Controles positivo e negativo são testados simultaneamente auto-anticorpos, como nas doenças auto-imunes e neoplasias. para permitir a detecção das proteínas virais. Pacientes que apresentam resultado de WBlot indeterminado Os anticorpos contra as glicoproteínas do envelope viral gp120 devem ser reavaliados sorologicamente dentro de 30 a 60 dias. e gp41 e sua precursora gp160, codificadas pelo gene env, são MÉTODO: Western Blot. os mais específicos para o HIV-1 e podem ser detectados em AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). amostras de virtualmente todas as pessoas infectadas, inde pendente do estágio clínico. Os anticorpos contra as proteínas do capsídeo viral p24, p17 e sua precursora p55, codificadas pelo gene gag, são grupo-específicos e, portanto, menos específicos para o HIV-1. O anticorpo contra o p24 pode ser o primeiro a ser detectado após a infecção pelo HIV-1 durante a sorocon versão, embora a presença de anticorpos contra as proteínas do capsídeo possa representar reações inespecíficas no WBlot de indivíduos não infectados. Anticorpos contra as proteínas do capsídeo tendem a diminuir ou a ficar indetectáveis com a progressão dos sintomas clínicos, principalmente nos estágios avançados da infecção. Anticorpos contra as enzimas virais codificadas pelo gene pol, como a p66, p51 e p31, também podem ser comumente detec tados em pacientes infectados pelo HIV-1. Conforme recomendação do Centers for Disease Control (CDC) e do Ministério da Saúde, atualmente, o critério diagnóstico para se considerar o teste de Western Blot positivo para HIV-1 requer a presença de, no mínimo, duas das seguintes bandas: gp160/gp120, gp41 ou p24. Os soros reativos para apenas uma delas ou para qualquer outra banda protéica, que não atenda o critério de positividade, são considerados indeterminados. Os soros que não apresentam reatividade para nenhuma banda protéica são considerados negativos. Sífilis Doença infecciosa causada por uma espiroqueta denominada Treponema pallidum e transmitida por contato sexual ou por via materno-fetal. Dependendo do estágio da infecção e da res posta individual, tem uma variedade de apresentações clínicas. Evolui em quatro fases: primária, secundária, latente e terciá ria, sendo infectantes apenas as duas primeiras. A lesão típica da fase primária é o cancro duro, que consiste em uma úlcera mucocutânea indolor, com bordas endurecidas, que aparece entre 10 a 90 dias (21 dias em média) após o contágio. A fase secundária aparece em torno de seis semanas após a lesão pri mária e se caracteriza por adenopatias, lesões cutâneas e pela presença de condilomas planos (altamente infectantes). Após esta fase, há um período que dura em torno de quatro anos, chamado de latente. Cerca de um terço dos pacientes não tra tados ou inadequadamente tratados evolui para a fase terciá ria, que se caracteriza por lesões cutâneas, comprometimento do sistema cardiovascular e do sistema nervoso central. A infecção pelo Treponema pallidum induz à formação de dois tipos de anticorpos: os treponêmicos e os não-treponêmicos. Os primeiros são específicos contra o Treponema pallidum, podem ser detectados a partir da segunda semana de infecção, tendendo a permanecer positivos por vários anos e por vezes por toda a vida. Na fase inicial (duas primeiras semanas), são da classe IgM, e, a partir da 4ª semana, da classe IgG. São detec tados pelos testes de imunofluorescência indireta (FTA-ABS), por hemaglutinação passiva (TPHA) e mais recentemente por ensaios imunoenzimáticos. Os não-treponêmicos detectam a presença de anticorpos ines pecíficos, que reagem com a cardiolipina, componente natural de vários tecidos por provável reação cruzada. Estes anticorpos são detectados pela reação de VDRL (Venereal Disease Research Laboratories) a partir da segunda semana de doença e tendem a negativar em tempo variável, dependendo da fase em que foi instituído o tratamento. 242 09 Imunologia BOOK 16.indd 242 26.10.06 17:35:06 ocorrer após o tratamento, pode ser usada para o acompanha to do paciente como um critério de cura. MÉTODO: Floculação. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). IMUNOLOGIA importante no título ou a negativação do VDRL, que costuma Treponema pallidum, FTA-ABS O FTA-ABS (Fluorescent Treponemal Antibody Absorption) é o teste mais sensível para todos os estágios da sífilis, sendo o método de escolha para confirmação do exame de triagem (VDRL). Podem ser pesquisados os anticorpos IgG e IgM para o Treponema pallidum, o que possibilita o diagnóstico da sífilis congênita (FTA-IgM), a determinação de doença atual ou infec ções pregressas (FTA-IgG). Um teste negativo exclui a possibi lidade de infecção sifilítica com alto grau de certeza. Reações falso-positivas são relatadas em pacientes com doenças as sociadas a aumento de globulinas ou produção de globulinas Os títulos caem rapidamente, em geral negativando em cerca de seis meses a um ano, quando a doença é tratada na fase primária ou secundária. Quando o tratamento é tardio, na fase latente ou terciária, os anticorpos não-treponêmicos podem permanecer reativos, com baixos títulos, indefinidamente. VDRL É uma reação de floculação em lâmina, que utiliza a cardiolipina extraída do coração de boi como antígeno,e é indicado como tes te de triagem e de monitoração do tratamento da sífilis. Como o VDRL é um exame não-treponêmico e detecta anticorpos con tra um constituinte tecidual normal, existe a possibilidade de reação cruzada, sendo que os títulos falso-positivos usualmente não excedem a 1/8. Torna-se positivo de uma a duas semanas após o aparecimento do cancro na sífilis primária (quatro a seis semanas após a infecção), atinge o pico durante o período se cundário e declina lentamente. É positivo em 99% dos casos de sífilis secundária e em 70% de sífilis terciária. Títulos elevados acima de 1/8 são sugestivos, embora não se lem o diagnóstico de sífilis, que deve ser confirmado por técni cas mais específicas, como a imunofluorescência (FTA-ABS) ou hemaglutinação (TPHA). Títulos em elevação em amostras pa readas podem ser diagnósticos. As reações falso-positivas com títulos baixos até 1/8 são encontradas, de forma transitória, nas fases agudas de doenças infecciosas bacterianas, virais e para sitárias, como endocardite infecciosa, mononucleose, hepatite C, malária, e na gravidez. E de forma permanente nas doenças anormais, lúpus eritematoso, lepra, malária, mononucleose, leptospirose, artrite reumatóide, cirrose biliar primária ou gra videz e em 2% da população normal. Pode permanecer positivo por longo período, às vezes até por toda a vida, como uma ci catriz sorológica. Treponema pallidum – FTA-ABS, IgM MÉTODO: Imunofluorescência indireta. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Treponema pallidum – FTA-ABS, IgG MÉTODO: Imunofluorescência indireta. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Treponema pallidum, HEMAGLUTINAÇÃO Reação que utiliza eritrócitos sensibilizados com o Treponema pallidum. Utilizado como teste confirmatório da reação de VDRL, a hemaglutinação tem sensibilidade e especificidade compará eis ao FTA-ABS em casos de infecção mais avançada,embora,em comparação, possa apresentar positividade mais tardiamente na infecção inicial. Resultados falso-positivos podem ser encontra os no lúpus eritematoso sistêmico, mononucleose infecciosa, lepra lepromatosa e outras infecções treponêmicas. Permanece positivo por anos e até mesmo por toda a vida do paciente. MÉTODO: Hemaglutinação indireta. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). auto-imunes, como lúpus eritematoso sistêmico e artrite reu matóide, na hanseníase e em pacientes com linfoma. A queda 243 09 Imunologia BOOK 16.indd 243 26.10.06 17:35:07 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Testes cutâneos Toxoplasmose Os testes cutâneos avaliam a imunidade celular por resultados É uma antropozoonose causada por um parasita da família dos obtidos após a indução de reação de hipersensibilidade do tipo coccídios, o Toxoplasma gondii. Os felinos são os hospedeiros IV, também chamada de reação mediada por células, tardia ou definitivos, embora o toxoplasma possa parasitar qualquer do tipo tuberculínica. É causada por linfócitos T, sensibilizados animal de sangue quente. Possui vida intracelular obrigatória, após contato com o antígeno, e não por anticorpos, o que a faz atingindo principalmente o sistema nervoso central, a muscu diferir das outras reações (tipo I, II, III). latura estriada e as células do sistema reticuloendotelial. Para sua realização são utilizados extratos de antígenos co Os principais mecanismos de transmissão para o homem são muns aos quais a grande maioria da população já esteve ex contato com fezes, urina ou saliva de gatos infectados; inges posta, seja por contato ou por vacinação, como o derivado pro tão de carne crua ou malcozida, contaminada com cistos de téico purificado (PPD), estreptoquinase/estreptodornase, can toxoplasma; via transplacentária (gestante na fase aguda da didina, tricofitina. Todos os adultos e crianças inoculados rea infecção); e, mais raramente, através do contato inter-humano girão a um ou mais destes antígenos, apresentando induração durante a fase aguda (presença de formas infectantes na sali maior ou igual a 5mm após 72h. A positividade de um ou mais va e líquidos orgânicos). desses testes geralmente indica sistema de linfócitos T íntegro. Pode servir também como um método auxiliar no diagnóstico de certas doenças como, por exemplo, leishmaniose (reação de Montenegro) e linfogranuloma venéreo (reação de Frei). A infecção humana por este protozoário apresenta-se sob uma grande variedade de formas e tem manifestações comuns a outras patologias. Na maioria dos casos é assintomática ou subclínica com sinais muito discretos. Os pacientes manifes A técnica utilizada é a injeção intradérmica do antígeno na tos apresentam linfadenopatia e, em casos graves, encefalo face anterior do antebraço, obtendo-se uma pequena pápula mielites, pneumonites, miocardites e nefrites, que costumam com diâmetro entre 5mm a 8mm. No caso do DNCB, a aplica ocorrer em indivíduos imunodeficientes. A grande incidência ção se faz pelo contato de pequenos círculos de papel de filtro de toxoplasmose na população em geral (cerca de 70% a 90% embebidos sobre a pele. É freqüente, logo após a injeção, a for dos adultos podem já ter sido infectados) e a dificuldade de mação de um halo eritematoso. Essa reação é inespecífica, não estabelecer o diagnóstico clínico torna este tipo de sorologia devendo ser valorizada. um dado de grande importância para o diagnóstico. Na gra TUBERCULOPROTEÍNAS PURIFICADAS DE BCG – PURIFIED PROTEIN DERIVATIVE, PPD A pesquisa da hipersensibilidade é um recurso bastante útil no diagnóstico da tuberculose. O teste é considerado positivo quando há formação de uma área endurecida de pelo menos 5mm de diâmetro no local da injeção em 72 horas. Podem apa recer reações fracas em decorrência de reações cruzadas com outras micobactérias ou por pequenos traumas na hora da aplicação. A positividade não indica necessariamente a doença em atividade. É uma reação de hipersensibilidade que pode in dicar uma infeção primária assintomática ou doença passada curada. O resultado negativo tem valor excludente, desde que se afastem motivos para anergia ao teste, pois indica que o pa ciente não deve ter doença em atividade. O PPD de duas unidades é utilizado para avaliar se houve con tato prévio com o Mycobacterium tuberculosis. O de cinco uni dades avalia a imunidade celular. MÉTODO: Intradermorreação. LEITURA: 72 a 96 horas. videz, com a possibilidade de lesão intra-uterina do feto, este diagnóstico assume importância ainda maior. A simples presença de anticorpos não estabelece o diagnóstico, visto que eles estão presentes em cerca de 70% da população em decorrência de infecção anterior inaparente. Indivíduos in fectados não tratados na fase aguda permanecem com cistos teciduais e anticorpos no soro durante toda a vida. Os anticorpos são detectados poucos dias depois do apareci mento dos sinais clínicos (uma a duas semanas) e atingem ní veis máximos em seis a oito semanas. Os primeiros a aparecer, da classe IgM, podem permanecer positivos por até 18 meses, desaparecendo a seguir. Os da classe IgG elevam-se a altos tí tulos, mantendo-se elevados por meses, declinando e perma necendo baixos e flutuantes por toda a vida. A toxoplasmose congênita pode ocorrer na primo-infecção da mãe durante a gravidez, o que torna de importância funda mental sua detecção precoce. Para isso, devem ser realizadas re ações sorológicas pré-nupciais e pré-natais. Resultados positi vos, que indiquem infecções antigas, descartam a possibilidade de reinfecção intra-uterina. Serão consideradas como de risco as mães soronegativas e, portanto, devem ser acompanhadas 244 09 Imunologia BOOK 16.indd 244 26.10.06 17:35:07 em gestantes antes infectadas. A confirmação do diagnóstico de infecção fetal durante a gesta ção pode ser feito por técnicas moleculares, como PCR para de tecção de toxoplasma no líquido amniótico. No recém-nascido, títulos positivos apenas para IgG indicam transferência trans placentária de anticorpos maternos, enquanto os de IgM, que não têm passagem transplacentária, apontam infecção fetal. O comprometimento ocular na toxoplasmose se manifesta por uveítes posteriores e retinocoroidites agudas focais. Esses pacientes apresentam geralmente títulos positivos baixos em que a atividade da lesão ocular não interfere. A reagudização do quadro em imunossuprimidos também cursa sem reper cussões sorológicas importantes. Nestes casos, a sorologia traz TOXOPLASMOSE, IgG MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). TOXOPLASMOSE, TESTE DE AVIDEZ DA IgG MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Vitamina B12 Tem papel importante na hematopoiese, na função neural, no metabolismo do ácido fólico e na síntese adequada de DNA. No homem, provém da dieta à base de carnes, vísceras, ovos, leite e derivados. No estômago, é separada das proteínas com o auxílio do suco gástrico; é absorvida no íleo terminal, sendo pouco auxílio para o diagnóstico clínico. para isso imprescindível a presença do fator intrínseco, que é Por sua maior sensibilidade, os novos métodos sorológicos per secretado pelas células parietais do estômago. É armazenada mitem uma detecção mais precoce de anticorpos, diminuindo a possibilidade de resultados falso-negativos e melhorando principalmente no fígado, onde chega ligada às transcobala midas (raros casos de anemia megaloblástica na infância po o diagnóstico da toxoplasmose. É importante ressaltar, en dem acontecer pela ausência congênita dessas proteínas). tretanto, que devido à sua grande sensibilidade, eles podem A deficiência da vitamina B12 usualmente necessita de vários detectar níveis diminutos de anticorpos IgM, eventualmente presentes por longos períodos após a fase aguda da doença. Portanto, é preciso sempre ter em mente que a presença de anticorpos IgM não significa, forçosamente, infecção ativa. Em níveis baixos, pode representar anticorpos IgM residuais de in fecção passada ou mesmo reação falso-positiva. Na presença isolada de IgM, é necessária a realização de seguimento, com sorologia pareada para verificar o aparecimento de IgG e carac terizar uma soroconversão. Na infecção recente, além dos IgM, podem aparecer anticorpos IgG de baixa avidez, detectáveis por um teste imunoenzimáti co modificado, que avalia a força de ligação do IgG com o an tígeno, através do tratamento da amostra do soro com uréia. Anticorpos IgG de baixa avidez são detectados em quadros de contaminação pelo toxoplasma com menos de quatro meses de duração, enquanto a presença de IgG com alta avidez apa rece em infecções com maior tempo de evolução. A determinação da avidez da IgG para o toxoplasma permite uma avaliação do tempo de evolução da infecção, auxiliando no diagnóstico de casos agudos, principalmente em mulheres grávidas que apresentem simultaneamente IgM e IgG. TOXOPLASMOSE, IgM MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). IMUNOLOGIA a intervalos de três em três meses durante toda a gestação. Raramente ocorre parasitemia, em geral por imunossupressão, anos para se manifestar. Suas baixas concentrações no soro freqüentemente ocorrem na deficiência de folato. A carência dessa vitamina pode ocorrer por vários caminhos: Produção deficiente de fator intrínseco: Essa deficiência é de terminada pela atrofia da mucosa gástrica, manifestando-se geralmente em idades mais avançadas. A gastrectomia total e, muitas vezes, também a parcial, removem a fonte de produção de fator intrínseco, o que resulta em quadro de anemia perni ciosa, que se manifesta com pancitopenia (anemia, leucopenia e plaquetopenia) e hipersegmentação dos neutrófilos (vista também na deficiência de ácido fólico). Má absorção: Por ressecção do intestino delgado, doença ce líaca, doenças inflamatórias de intestino delgado, síndrome de alça cega, em que as bactérias consomem vitamina B12, na infestação por Diphyllobothrium latum (tênia de peixe), comum em países como a Finlândia. As deficiências de ácido fólico se manifestam mais precocemente que as de vitamina B12, provavelmente por esta última possuir um depósito maior, suficiente para suprir a necessidade do organismo por anos. A pancreatite crônica e o hipertireoidismo de longa duração também podem diminuir a absorção. Medicamentos: O uso de medicamentos, como quelantes de cálcio, ácido aminossalicílico, biguanidas, colchicina, etanol, contraceptivos orais, fenitoína e barbitúricos, pode levar à di minuição da absorção. 245 09 Imunologia BOOK 16.indd 245 26.10.06 17:35:08 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Deficiência de ingestão: Geralmente em dietas vegetarianas estritas. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). Widal (H, O, A, B), Reação de Reação de aglutinação que avalia a presença de anticorpos contra o antígeno somático (O) e flagelar (H) da Salmonella typhi e da Salmonella paratyphi (A, B). Na primeira semana, o diagnóstico da doença é feito pela hemocultura; a partir da segunda semana, pela reação de Widal; e na terceira, pela co ocultura. O primeiro antígeno a elevar-se é o O. Aumenta na primeira semana, com pico na sexta semana, e cai ao longo de 12 meses. O antígeno H eleva-se mais lentamente (segunda se e pode manter-se assim por muitos anos. Em pacientes vacinados, o antígeno H encontra-se aumentado. MÉTODO: Aglutinação direta. AMOSTRA: Sangue (tubo sem anticoagulante). 246 09 Imunologia BOOK 16.indd 246 26.10.06 17:35:08 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA M I C R O B I O L O G I A A contínua evolução no conhecimento das doenças e a tentativa do homem em combatê-las nos le vam a reflexões profundas, que começam com fatos pré-históricos, como as evidências de tuberculose em vestígios fósseis, passam pelas placas de argila em que médicos babilônios descrevem os sintomas desta doença e trazem, em 1882, a esperança e a tranqüilidade com a descoberta do seu agente cau sador, a imunização e a cura. Contudo, ainda no século atual, assistimos atônitos ao ressurgimento da mesma doença e sua resistência a antibióticos antes eficazes. Se durante muitos séculos as causas das doenças, principalmente as de origem infecciosa, permane ceram obscuras, no século XIX profundos avanços revolucionários no conhecimento de seus mecanis mos causais modificaram o comportamento médico em relação a elas. Considerado o pai da patologia, Rudolph Virchow afirmava que a causa da doença deveria ser procurada na célula, pois as alterações macro e microscópicas no organismo durante a doença eram reações das células a ela. Este princípio abriu caminho para os estudos microscópicos, descartando para sempre a antiga idéia de que as enfermidades eram causadas por humores invisíveis. Nesta mesma época, Jakob Henle, des cobridor do tubo renal que leva seu nome, afirmava no trabalho On miasms and contagions (Miasmas e contágios): “A substância presente no contágio não é apenas orgânica, mas também viva, com uma relação parasítica com o corpo.” Foi, então, um dos primeiros a afirmar que não havia diferença entre contágio e miasma. Mas foi Louis Pasteur quem definitivamente desmantelou a teoria da geração espontânea, provando que os microrganismos causadores de doenças provinham de outros microrganismos. Com seu tra balho e as pesquisas de Robert Kock, descobridor do Mycobacterium tuberculosis, nascia uma nova ciência: a Microbiologia. Mas estas descobertas não levaram à cura imediata das enfermidades. Sem dúvida, as vacinas fo ram uma grande arma para o tratamento das doenças infecciosas, da mesma forma que os produtos do arsênio, entre outros. Ao descobrir a penicilina, em 1928, Alexander Fleming estabeleceu um dos grandes marcos no desenvolvimento dos medicamentos modernos. Prosseguindo com esses estudos, Howard Florey e Ernst Chain conseguiram isolar a penicilina em 1940, levando a um grande avanço na produção de antimicrobianos. Nos tempos modernos, os equipamentos que permitem o processamento automatizado das amos tras na rotina laboratorial possibilitaram superar as limitações impostas pelas técnicas manuais, com suas características artesanais e o tempo prolongado de determinadas culturas, auxiliando o médico em decisões diagnósticas mais precoces, precisas e com maiores chances de sucesso terapêutico. 250 10 Microbiologia BOOK 16.indd 250 26.10.06 17:29:46 MICROBIOLOGIA Embora o isolamento e a identificação dos patógenos tenham se mantido um procedimento padrão de grande importância, o diagnóstico molecular de diversas patologias infecciosas significou um avan ço ainda maior. Técnicas como a captura híbrida ou a reação em cadeia de polimerase (PCR), que fazem a identificação direta de antígenos e possibilitam a genotipagem em algumas situações, consolidam cada vez mais novas ferramentas de aprimoramento diagnóstico. Hoje, métodos de detecção primária de anticorpos e antígenos, testes de sensibilidade a drogas, ava liações da imunidade humoral e estudos de determinação genética de resistência à infecção podem associar-se às inúmeras possibilidades de identificação e terapia de focos infecciosos por métodos de diagnóstico por imagem. Tudo isso faz do apoio diagnóstico um aliado fundamental para um dos principais fatores prognósticos das doenças infecciosas: o tempo. Mas ainda temos muito o que avançar na compreensão e controle dos diversos mecanismos que in fluem na natureza da doença. Vivemos numa época em que nos surpreendemos com a emergência de novos patógenos, com a multirresistência de microrganismos antes tratados com sucesso pelos antibióticos tradicionais, em conseqüência do uso, muitas vezes indiscriminado, de drogas antimicro bianas. Mas como bem disse Pasteur em seu discurso inaugural da Universidade de Lille: “No campo das observações, os eventos favorecem somente aqueles que estiverem preparados.” 251 10 Microbiologia BOOK 16.indd 251 26.10.06 17:29:47 BIOINFORME de sangue devem ser colhidas, de preferência a intervalos de 15 minutos, no mínimo. Se estas culturas forem negativas em 24 horas de incubação, deve-se colher nova série de três amostras. SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Em pacientes em uso de antibióticos (nas duas últimas sema Bacteriemia significa a presença de bactérias na cor rente sanguínea. É indicativa de falha do sistema imu ne em localizar a infecção no seu foco primário ou em remover,drenar ou esterilizar este foco. A fungemia e a sepse, ou septicemia, estão entre as mais importantes seqüelas de infecções. Síndrome associada à presença de microrganismos e/ou toxinas no sangue, a sepse é diagnosticada pela evidência clínica de infecção e por suas manifestações sistêmicas, como febre, choque e coagulação intravascular disseminada. A bacteriemia não implica necessariamente sepse, que pode ser causada por microrganismos não bacterianos. A bacteriemia transitória pode se seguir à manipulação de tecidos infectados, ou de superfícies mucosas não estéreis, associada a procedimentos odontológicos e urológicos, e en doscopia gastrointestinal. A forma intermitente é mais fre qüentemente associada a abscessos ocultos intra-abdominais, pélvicos, perinefréticos, hepáticos, prostáticos e outros, causas comuns de febre de origem obscura. A bacteriemia contínua é uma característica primária da endo cardite bacteriana aguda e subaguda e de outras infecções in travasculares, como tromboflebites supurativas e aneurismas infectados. Este padrão também ocorre nas primeiras semanas da febre tifóide e da brucelose. Identificar o microrganismo no sangue do portador de bacteriemia, ou septicemia, é uma ne cessidade para diagnóstico, prognóstico e terapêutica. Os mais comumente isolados de sangue são os estafilococos coagulase-negativa, Staphylococcus aureus, Escherichia coli, estreptococos do grupo viridans, Enterococcus spp., outras enterobacté rias, bacilos gram-negativos não fermentadores, Streptococcus pneumoniae, estreptococos beta-hemolíticos, Haemophilus in nas), o intervalo entre a coleta de cada uma das três amostras deve ser, no mínimo, de 15 minutos, repetindo-se uma nova sé rie no dia seguinte. Em portadores de bacteriemia intermitente, a febre e o calafrio ocorrem aproximadamente uma hora depois de os microrganismos serem lançados na corrente sanguínea. Deve-se fazer a coleta, de preferência, antes do pico febril. Para se estabelecer o diagnóstico de bacteriemia, são necessá rias pelo menos duas coletas. Quando os patógenos esperados são bactérias contaminantes comuns, novas amostras devem ser colhidas. Para cultura de aeróbios e anaeróbios, dois frascos devem ser inoculados para cada coleta. Cada conjunto de amostras (fras co para aeróbios e anaeróbios) deve conter de 10mL a 20mL de sangue, para adultos, e de 1mL a 2mL, para crianças. O volume de sangue não deve ser superior a 10% do volume final da mis tura de sangue com meio de cultura (por exemplo, 5mL de san gue para 45mL de meio frasco para adultos, e 1mL de sangue para 9mL de meio frasco pediátrico). Além de se obter resultados mais precoces, a cultura automa tizada permite melhor recuperação dos microrganismos mes mo após a introdução de terapia antimicrobiana, uma vez que a presença de resinas nos frascos neutraliza o efeito de substân cias inibidoras do crescimento microbiano. Por motivos técnicos, é importante especificar no pedido médico esta metodologia. PREPARO DO PACIENTE: Fazer a limpeza prévia do local com ál cool a 70%, para remover substâncias gordurosas da superfície da pele e dos poros. Passar algodão embebido em iodo a 2%, fazendo movimentos circulares de dentro para fora, não retor nando com o algodão usado para o mesmo ponto já fricciona do. Deixar secar. Remover o resíduo do iodo da pele com uma segunda aplicação de álcool a 70%, seguindo a mesma regra fluenzae, Neisseria meningitidis, bactérias anaeróbias e fungos, anterior. Usar luvas esterilizadas para efetuar a punção. principalmente Candida aIbicans. COLETA: Proceder à punção venosa. Depois do procedimento, limpar a tampa de borracha do frasco de meio de cultura com Sangue – Hemocultura A coleta deve ser realizada antes da administração de antimi crobianos. Nas bacteriemias persistentes (endocardites, febre tifóide, brucelose, endarterite), recomenda-se colher três amos tras num período de 24 horas, com intervalo de pelo menos uma hora entre elas. Nas endocardites agudas, as três amos tras devem ser coletadas em sítios diferentes, num período de uma a duas horas. Nas endocardites subagudas, três amostras algodão embebido em álcool a 70%. É recomendável trocar a agulha utilizada na punção por outra estéril, antes da introdu ção no frasco. Injetar, através da borracha, o sangue no meio de cultura no interior do frasco. Evitar a entrada de ar. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: Não refrigerar. O material deverá ser enviado ao laboratório o mais breve possível. Se houver al guma demora, conservar o frasco em temperatura ambiente. Cultura para micobactérias: pelo método automatizado. 252 10 Microbiologia BOOK 16.indd 252 26.10.06 17:29:47 a superfície e o interior de cateteres intravasculares. Nesses casos, recomenda-se a técnica de cultura semiquantitativa de segmentos de cateter. Crescimento superior a 15 unidades formadoras de colônias (UFC) de um único microrganismo é sugestivo de que este é o agente etiológico da bacteriemia ou septicemia. PREPARO DO PACIENTE: Antes da remoção do cateter, a pele deve ser descontaminada. COLETA: Cateteres curtos devem ser removidos e cortados assep A SOLICITAÇÃO MÉDICA DEVE ESPECIFICAR OS EXAMES DESEJADOS: – Microscopia por coloração de Gram; – Hemocultura automatizada para aeróbios; – Hemocultura automatizada para anaeróbios; – Hemocultura para micobactérias; – Hemocultura para fungos; – Cultura automatizada para aeróbios; – Cultura para anaeróbios; – Cultura para micobactérias; – Cultura para fungos; – Antibiograma. icamente no ponto que está dentro da interface da pele. Nos cateteres longos, dois segmentos de aproximadamente 5cm devem ser coletados: um da interface da pele e um da seção que está dentro do vaso sangüíneo. Os segmentos devem ser colo ados assepticamente em recipientes estéreis de boca larga. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material deve ser enviado imedia tamente para o laboratório. MÉTODO: Cultura semiquantitativa por rolamento. As infecções gastrointestinais compreendem uma grande variedade de sintomas e de agentes reco Medula óssea O diagnóstico de algumas doenças, incluindo brucelose, histo plasmose e tuberculose, por vezes pode ser feito pela detecção de microrganismos na medula óssea. O pedido médico tam bém deve especificar o tipo de cultura solicitada: para aeróbios, anaeróbios, fungos ou micobactérias. PREPARO DO PACIENTE: Limpeza prévia do local com álcool a 70%, para remover substâncias gordurosas da superfície da pele e dos poros. Passar algodão embebido em iodo a 2%, em mo vimentos circulares de dentro para fora, não retornando com o algodão usado para o mesmo ponto já friccionado. Deixar secar. Remover o resíduo do iodo da pele com uma segunda aplicação de álcool a 70%, seguindo a mesma regra anterior. Repetir a manobra por duas a três vezes. Usar luvas esteriliza das para efetuar a punção. COLETA: Proceder ao aspirado de medula óssea, colhendo em torno de 1mL. O ideal é colocar o material diretamente sobre o meio de cultura (ou frascos de hemocultura para aeróbios, para fungos e para micobactérias). A amostra pode ser transporta da dentro da seringa ou em tubo estéril contendo heparina (a heparina, usada para impedir a coagulação do material, pode inibir alguns agentes infecciosos). CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material deve ser remetido ao laboratório o mais rápido possível. Se a cultura não puder ser nhecidos, como bactérias, parasitas, fungos e, numa significante proporção, particularmente em crian MICROBIOLOGIA com microrganismos (bactérias e leveduras) que colonizam no máximo 12 horas. INFECÇÕES INTESTINAIS É freqüente ocorrer bacteriemia intermitente, ou septicemia, realizada de imediato, o material poderá ser refrigerado por BACTERIEMIA E SEPTICEMIA Cateter intravascular ças, agentes virais, dos quais um dos mais importan tes é o rotavírus. O termo gastroenterite é aplicado a síndromes de diarréias e vômitos que tendem a envolver infecções não inflamatórias do intestino delgado ou inflamatórias do cólon. Essas diarréias não inflamatórias caracterizam-se por fezes aquosas e mucói des, sem sangue ou células inflamatórias, como as provocadas pela Escherichia coli enterotoxigênica e Vibrio cholerae. As diarréias inflamatórias são causadas por bactérias, como Shigella spp., Salmonella spp., Escherichia coli enteroinvaso ra e enteremorrágica, Campylobacter jejunai e Yersinia ente rocolítica, que invadem a mucosa ou produzem citotoxinas. Caracterizam-se por fezes disentéricas com sangue e numero sas células inflamatórias. Nas intoxicações alimentares, ocor rem após a ingestão de alimento contaminado com toxinas pré-formadas, com sintomas como náuseas, vômitos e dores abdominais. Seus principais agentes são Staphylococcus au reus, Bacillus cereus e Clostridium botulinum. O diagnóstico das infecções intestinais é feito através da copro cultura, e na rotina pesquisam-se os seguintes microrganismos: – Escherichia coli enteropatogênica clássica (em crianças até quatro anos); – Salmonella spp.; 253 10 Microbiologia BOOK 16.indd 253 26.10.06 17:29:48 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA – Shigella spp.; Transferir algumas colheres do material para o frasco forneci – Yersinia enterocolítica; do pelo laboratório, com líquido de conservação (salina gliceri – Aeromonas spp.; nada tamponada ou meio de Cary-Blair). As fezes deverão ficar – Plesiomonas spp. sempre imersas no líquido. Mediante solicitação específica, podem ser pesquisados também: – Escherichia coli enteropatogênica clássica (a partir dos 4 anos de idade); – Escherichia coli enteroinvasora; – Campylobacter jejunai e Campylobacter coli; Para a pesquisa de Vibrio cholerae e Campylobacter spp., passar o swab nas fezes e introduzi-lo até o fundo do tubo com geléia (meio de transporte de Cary-Blair). Para a pesquisa de rotavírus, leucócitos, hemácias e muco, as fezes não devem ser colocadas em qualquer líquido de conservação, mas apenas em frasco – Vibrio cholerae; estéril. – Escherichia coli enteremorrágica. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material sem solução de conser Alguns autores consideram a presença de Pseudomonas ae ruginosa, com crescimento abundante ou quando é o único microrganismo isolado, agente responsável por quadros de infecção intestinal. Outras bactérias habitualmente isoladas na coprocultura carecem de significado diagnóstico, uma vez que não se estabeleceu, até o momento, nenhuma correlação entre sua presença nas fezes e o aparecimento de um quadro infeccioso, sendo, portanto, consideradas como pertencentes à microbiota normal. Como achados mais freqüentes, podemos citar a Escherichia coli e os gêneros Klebsiella, Enterobacter, Citrobacter, Proteus, Morganella, Providencia e Enterococcus. O exame das fezes pela coloração de Gram pode ser útil, ape sar de não ser usado com freqüência atualmente. A presença de grande número de neutrófilos ou de células mononucleares é importante na orientação da detecção de patógenos intesti nais: cocos gram-positivos em cachos, em grande quantidade, sugerem infecção estafilocócica; bacilos gram-negativos curvos e finos podem indicar infecção por Campylobacter spp. ou Vibrio spp.; bacilos gram-positivos grandes e finos, com paredes para lelas, podem sugerir supercrescimento de Closiridium difficile. Fezes – Coprocultura PREPARO DO PACIENTE: O material deve ser coletado, de prefe rência, antes do uso de antimicrobianos orais ou sistêmicos e quatro dias após o uso de contrastes radiológicos. Fezes colhi das nos primeiros dias de doença apresentam mais resultados positivos. A coleta de amostras múltiplas sucessivas aumenta a chance de isolamento do patógeno. Na pesquisa de portadores vação deve ser processado num período não superior a uma hora. Material em solução de conservação, juntamente com o swab no meio de transporte, fica preservado por um período de aproximadamente 12 horas. SWAB RETAL – CULTURA Quando houver dificuldade na coleta de fezes, pode-se recorrer a este método, que, no entanto, apresenta menor sensibilida de. Oferece algum auxílio diagnóstico em infecções intestinais por Shigella spp., que são microrganismos de localização to pográfica baixa no trato intestinal, e também pode ser usado para pesquisa de Vibrio cholerae. Outros agentes, como Salmo nella spp., Escherichia coli enteropatogênica e enteremorrágica, Campylobacter spp. e Yersinia enterocolítica, não são adequa damente isolados por esse método de coleta. COLETA: Introduzir o swab no esfíncter anal com movimento ro tatório. Retirar o swab e colocá-lo em tubo suporte com meio de transporte. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material deve ser colhido em swab com meio de transporte de Cary-Blair e enviado no prazo de 12 horas ao laboratório, mantido à temperatura ambiente. A SOLICITAÇÃO MÉDICA DEVE ESPECIFICAR OS EXAMES DESEJADOS: – Microscopia por coloração de Gram; – Microscopia para fungos; – Coprocultura; – Cultura para Vibrio cholerae; – Cultura para Campylobacter spp.; – Cultura para Yersinia enterocolítica; ou no controle de cura recomenda-se a coleta de três amostras. – Cultura para micobactérias; EVACUAÇÃO ESPONTÂNEA – Pesquisa de E. coli enteropatogênica clássica; COLETA: Evacuar em recipiente bem limpo e seco. É absoluta mente contra-indicada a coleta de material na água do vaso sa nitário, mas admite-se recolher as fezes sobre fralda descartá vel nova. A coleta pode ser feita em qualquer evacuação do dia, – Cultura para fungos; – Pesquisa de E. coli enteremorrágica; – Pesquisa de E. coli invasora; – Pesquisa de rotavírus; – Antibiograma. procurando-se porções que contenham muco, pus ou sangue. 254 10 Microbiologia BOOK 16.indd 254 26.10.06 17:29:49 cardíaco) e o pericárdio (membrana que envolve o coração e os grandes vasos sangüíneos contíguos) contém de 15mL a 20mL Líquido pleural É uma coleção líquida no espaço pleural. Quando contém numerosos neutrófilos polimorfonucleares, em especial os fortemente purulentos, o exsudato pleural é chamado de empiema. Em geral, ocorre após pneumonia, mas outras infecções em órgãos próximos ao pulmão podem enviar microrganismos para o interior da cavidade pleural. As bactérias mais freqüentemente envolvidas nas infecções deste sítio são Streptococcus pneumoniae, Staphylococcus au reus, Haemophilus influenzae, enterobactérias, Pseudomonas aeruginosa e bactérias anaeróbias. Mais agentes infecciosos podem estar envolvidos: outros estreptococos, Mycobacterium tuberculosis e outras micobactérias, Actinomyces spp., Nocardia spp., fungos e raramente micoplasmas e vírus. de líquido claro. Os agentes da pericardite usualmente são vírus, embora bacté rias, parasitas, certos fungos e causas não-infecciosas também estejam associados à doença. Entre os agentes bacterianos e mi cóticos, relacionam-se os Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia, Staphylococcus aureus, Streptococcus pneumoniae, enterobactérias, outros gram-negativos aeróbios, bactérias anaeróbias, Aspergillus spp., Candida spp., Cryptococcus neoformans e Histoplasma capsulatum. Líquido sinovial A artrite infecciosa pode envolver qualquer articulação do organismo e usualmente ocorre após a disseminação hemato MICROBIOLOGIA A área entre o epicárdio (membrana que recobre o músculo INFECÇÕES EM LÍQUIDOS CAVITÁRIOS Líquido pericárdico gênica ou como extensão direta de uma infecção óssea. Pode também acontecer após injeção (principalmente de corticoste róides) ou após inserção de próteses. As bactérias são os agen Líquido peritoneal A cavidade peritoneal delimita vários órgãos: fígado, pâncreas, baço, estômago, trato intestinal, bexiga, trompas de Falópio e ovários. Os agentes infecciosos têm acesso ao peritônio atra vés de perfuração de bexiga, de vísceras abdominais infecta das, por via hematogênica ou por inoculação externa (cirurgia ou trauma). Os mais comuns nas crianças são Streptococcus pneumoniae, Streptococcus pyogenes, enterobactérias, outros bacilos gram-negativos e estafilococos. Nos adultos, os agentes infecciosos mais freqüentes são Escherichia coli, Streptococcus pneumoniae e Streptococcus pyogenes. A peritonite polimicro biana é rara na ausência de ruptura ou perfuração de intestino. Em mulheres sexualmente ativas, a Neisseria gonorrhoeae e a Chlamydia trachomatis são agentes importantes de infecção peritoneal. Mycobacterium tuberculosis e Candida spp. tam bém podem causar peritonite. tes infecciosos mais comuns e os fungos, os menos freqüentes. De todos os agentes infecciosos, o Staphylococcus aureus é o mais importante. Em adultos com menos de 30 anos, no entan to, a Neisseria gonorrhoeae é isolada com mais freqüência. Em crianças com menos de dois anos, o agente mais encontrado é o Haemophilus influenzae, seguido do Staphylococcus aureus. Outros agentes associados à artrite infecciosa são estreptoco cos do grupo A e do grupo B, Streptococcus pneumoniae, Strep tococcus viridans, Bacteroides fragilis e Fusobacterium spp. A artrite é também um sintoma associado a doenças infeccio sas causadas por certos agentes, como a Neisseria meningitidis e Streptococcus pyogenes (febre reumática). As infecções em próteses articulares têm geralmente como agentes etiológicos os microrganismos da microbiota da pele, como Staphylococcus epidermidis, outros estafilococos coagulase-negativa, Coryne bacterium spp. e Propionibacterium spp. O Staphylococcus au reus é também o principal patógeno nessas infecções. Líquido de diálise peritoneal Em pacientes com doença renal grave, mantidos em diálise peritoneal ambulatorial crônica, a incidência de peritonite é maior do que dois episódios ao ano. A maior parte das infec ções se origina na microbiota da pele do próprio paciente. Os agentes etiológicos mais comuns são Staphylococcus epider midis, Staphylococcus aureus, estreptococos, bacilos gram-negativos aeróbios ou facultativos, Candida spp., Corynebacte rium spp. e outros. Líquidos pleural, peritoneal, de diálise peritoneal, pericárdico e sinovial As infecções dos líquidos de cavidades fechadas necessitam de rápido diagnóstico e rápida intervenção terapêutica. Para um diagnóstico preciso é importante evitar a contaminação com microrganismos da pele. Igualmente importante é a coleta da maior quantidade possível de material para exame, já que a 255 10 Microbiologia BOOK 16.indd 255 26.10.06 17:29:50 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA concentração de microrganismos nestas amostras pode ser muito pequena em função do volume excessivo de líquido que pode estar presente nesses sítios. PREPARO DO PACIENTE: Colher antes da administração de antimi crobianos. Fazer a limpeza prévia do local com álcool a 70%, para remover substâncias gordurosas da superfície da pele e dos poros. Passar algodão embebido em iodo a 2%, fazendo mo vimentos circulares de dentro para fora, não retornando com o algodão usado para o mesmo ponto já friccionado. Deixar secar. Remover o resíduo do iodo da pele com uma segunda aplicação de álcool a 70%, seguindo a mesma regra anterior. Repetir a manobra por duas ou três vezes. Usar luvas esteriliza São responsáveis por um grande número de casos de cegueira no Brasil. Podem ser extra-oculares (blefari te, hordéolo, calázio, conjuntivite e ceratite) e intra oculares (uveíte e endoftalmite). A conjuntiva normal pode abrigar alguns microrganismos da pele. Os mais freqüentemente isolados no olho são os estafi lococos e, mais raramente, os estreptococos do grupo viridans, das para efetuar a punção. Streptococcus pyogenes, Corynebacterium spp., Streptococcus COLETA: O material pode ser colocado em frasco estéril ou en pneumoniae e Neisseria spp. viado ao laboratório na própria seringa. Na suspeita de anae róbios, retirar o excesso de ar da seringa e vedar a ponta da agulha com rolha de borracha. Em pacientes com cateter (por exemplo, pleural), desprezar o primeiro efluente, que corresponde ao esvaziamento do instru mento. Colher, então, com auxílio de uma seringa, o segundo efluente; mas nunca por punção do cateter. A melhor hora de coleta é durante a troca e a introdução do novo. Os cateteres que permanecem por alguns dias no organismo do paciente tendem a colonizar-se com a microbiota normal, que pode não estar relacionada com a etiologia infecciosa do processo em questão. A introdução de um novo cateter supera esta dificul dade. O uso de heparina, para evitar a coagulação do material, pode inibir alguns agentes infecciosos. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material deve ser enviado ao laboratório imediatamente, não ultrapassando uma hora. Não refrigerar. Microscopia por coloração de Gram: As lâminas são prepara das no laboratório somente a partir de materiais sem meio de transporte. A SOLICITAÇÃO MÉDICA DEVE ESPECIFICAR OS EXAMES DESEJADOS: – Microscopia por coloração de Gram; – Microscopia para fungos; – Pesquisa de bacilos álcool-ácido resistentes; – Cultura automatizada para aeróbios; – Cultura para anaeróbios; – Antibiograma; – Cultura para micobactérias; – Cultura para fungos. A conjuntivite pode ser causada por uma variedade de bac térias, vírus, fungos e parasitas. A conjuntivite crônica é fre qüentemente associada ao Staphylococus aureus. Em crianças, seus agentes mais comuns nos casos agudos são Haemophilus influenzae, Streptococcus pneumoniae e Staphylococcus au reus. Já a Moraxella lacunata tem sido isolada em adoles centes. Em pacientes adultos, o Streptococcus pneumoniae, o Haemophilus influenzae e a Neisseria gonorrhoeae são as prin cipais causas em hospedeiros hígidos, enquanto Pseudomonas aeruginosa e enterobactérias são mais freqüentes em imu nossuprimidos. Já a Chlamydia trachomatis tem sido isolada em todos os grupos etários. E, embora incomum, a Neisseria meningitidis é importante por sua associação com a menin gite e a bacteriemia. As ceratites bacterianas são mais comumente causadas por Staphylococcus aureus, Staphylococcus spp., coagulase nega tiva, Streptococcus pneumoniae, Streptococcus spp. do grupo viridans, Pseudomonas aeruginosa e Moraxella spp. Menos comumente, podem ser causadas por enterobactérias, Neis seria gonorrhoeae, Haemophilus influenzae, Actinomyces spp., Propionibacterium acnes e Clostiridium perfringens. Mycobac terium fortuitum e Mycobacterium chelonae causam ulcera ção crônica. Na endoftalmite pós-cirúrgica, os isolamentos mais comuns são Staphylococcus aureus, estafilococos coagulase-negativa, Streptococcus pneumoniae, Streptococcus spp., Pseudomonas aeruginosa e Bacillus spp. No caso de endoftalmite após cirur gia de catarata (de aparecimento crônico, ocorrendo meses ou anos após a operação) o agente mais comum é Propionibacte rium acnes. Na endoftalmite pós-trauma, são mais comumen te isolados Bacillus cereus, Bacillus licheniforms, Bacillus subtilis e Clostridium spp. 256 10 Microbiologia BOOK 16.indd 256 26.10.06 17:29:50 cias inibidoras que prejudicam a sobrevivência microbiana. são Staphylococcus aureus, Streptococcus pneumoniae, Hae COLETA: Retirar o excesso de secreção purulenta com gaze esté mophilus influenzae, Neisseria meningitidis, Bacillus spp. e Mycobacterium fortuitum spp. Na celulite preseptal, que normalmente resulta de uma lesão traumática ou por extensão de impetigo ou erisipela, os prin cipais agentes de infecção são Staphylococcus aureus, Strepto coccus pyogenes, Streptococcus spp. e Haemophilus influenzae (principalmente em crianças de seis a 30 meses). Quando a ril. Com uma das mãos, afastar as pálpebras superior e inferior. Com a outra, passar o swab na mucosa conjuntival e no ângulo nasal, friccionando suavemente. O swab deve tocar toda a ex tensão da mucosa. Recolocar o swab dentro do tubo com meio de transporte e introduzi-lo até o fundo na geléia. Se houver indicação, colher um swab para cada olho, assinalando o lado direito e esquerdo. Recolocar o swab dentro do tubo com meio origem da lesão é um ferimento por corpo estranho, o Clostri de transporte e introduzi-lo até o fundo na geléia. dium spp., sozinho ou associado a microrganismos aeróbios, CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material em meio de conserva pode estar envolvido. Na celulite orbital, que costuma resultar de um trauma ci rúrgico ou como conseqüência de uma infecção paranasal, os principais agentes infecciosos são Staphylococcus aureus, Streptococcus pneumoniae, Streptococcus pyogenes, Haemo philus influenzae (especialmente em crianças com menos de cinco anos), Pseudomonas aeruginosa e outros bacilos gram negativos. Secreção lacrimal O material deve ser colhido pelo oftalmologista. Na suspeita de infecção micótica, o ideal é que a amostra seja semeada imediatamente após a coleta. A solicitação médica deve espe cificar o tipo de cultura: para aeróbios ou fungos. PREPARO DO PACIENTE: Retirar qualquer secreção existente com gaze umedecida em soro fisiológico estéril. COLETA: Proceder à técnica específica para obtenção do mate rial, que pode ser enviado ao laboratório dentro da seringa uti lizada para a aspiração, ou ser colocado em tubo estéril. Se for usado o swab, colher o máximo de material possível, recolocar o swab no tubo com meio de transporte, introduzindo-o até o fundo na geléia. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material em meio de conserva ção deve ser remetido ao laboratório o mais rápido possível. Não refrigerar. Microscopia por coloração de Gram: Colocar uma gota do ma terial sobre lâmina de vidro limpa. Fazer um esfregaço com auxílio de um swab estéril; o ideal são dois esfregaços de cada material. Deixar secar. Embrulhar as lâminas em papel ou colocá-las em envelope próprio. ção deve ser remetido ao laboratório o mais rápido possível. Não refrigerar. MICROBIOLOGIA deve ser retirada com gaze estéril devido à presença de substân cientes imunocomprometidos, os agentes mais freqüentes INFECÇÕES OCULARES Na endoftalmite endógena, que normalmente acomete pa Microscopia por coloração de Gram: Colher um swab sem meio de transporte e fazer o esfregaço imediatamente em duas lâ minas de vidro limpas, friccionando o swab duas vezes sobre cada uma delas. Esperar secar. Enviar as lâminas embrulhadas em papel ou colocadas em envelope próprio. Lâminas prepa radas após 15 minutos da coleta podem alterar de forma sig nificativa a qualidade do material (com morte da bactéria e destruição celular) e, conseqüentemente, o resultado. Exame a fresco: Usar um swab sem meio de transporte. Após a coleta, colocá-lo no tubo-suporte e acrescentar cinco gotas de salina estéril. Realizar o exame imediatamente. Raspado de córnea PREPARO DO PACIENTE: O material deve ser colhido pelo oftal mologista. A coleta deve ser realizada preferencialmente antes do uso de qualquer produto tópico. COLETA: Utilizando uma espátula de Kimura estéril, realizar o raspado, de três a cinco vezes, inoculando o material coletado em meios de cultura, fornecidos pelo laboratório de acordo com a suspeita clínica (cultura para aeróbio, anaeróbios, fungos ou micobactérias). Semear desenhando a letra C nos meios sóli dos. Este procedimento deve ser repetido para cada córnea. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material em meio de conserva ção deve ser remetido ao laboratório o mais rápido possível. Não refrigerar. Aspirado do líquido vítreo e de ferida pré-septal PREPARO DO PACIENTE: O material deve ser colhido pelo oftal mologista. A coleta deve ser realizada preferencialmente antes Secreção conjuntival (Ocular) PREPARO DO PACIENTE: A coleta deve ser realizada de preferência antes do uso de qualquer produto tópico. A secreção purulenta do uso de qualquer produto tópico. COLETA: Utilizando uma seringa estéril, realizar o aspirado e co locar em frasco estéril. 257 10 Microbiologia BOOK 16.indd 257 26.10.06 17:29:51 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: As amostras devem ser remetidas aeruginosa, Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae também ao laboratório o mais rápido possível. Não refrigerar. têm sido isoladas de ouvidos de crianças. Lentes de contato e próteses oculares PREPARO DO PACIENTE: O material deve ser colhido pelo oftal mologista. COLETA: A lente ou prótese retirada deve ser colocada imediata mente em caldo de tioglicolato, fornecido pelo laboratório, ou em solução salina estéril. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: As amostras devem ser remetidas ao laboratório o mais rápido possível. Não refrigerar. Os achados bacteriológicos das otites agudas na infância têm sido suficientemente consistentes, tornando desnecessária a realização de timpanocentese como rotina. Assim, a timpano centese fica reservada a pacientes com casos de otite média complicados, como os recorrentes e os crônicos persistentes. Secreção de ouvido externo PREPARO DO PACIENTE: A coleta deve ser realizada antes do uso de qualquer produto tópico. Retirar o excesso de secreção com A SOLICITAÇÃO MÉDICA DEVE ESPECIFICAR OS EXAMES DESEJADOS: auxílio de um estilete com algodão. – Microscopia por coloração de Gram; COLETA: Colher, em seguida, o material com auxílio de um swab – Microscopia para fungos; – Cultura automatizada para aeróbios; – Cultura para anaeróbios; – Cultura para micobactérias; – Cultura para fungos – Antibiograma estéril. Se houver indicação, coletar um swab para cada ouvido (assinalar respectivamente a amostra direita e a esquerda). Re colocar o swab dentro do tubo com meio de transporte, introduzindo-o até o fundo na geléia. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material em meio de conserva ção deve ser remetido ao laboratório o mais rápido possível. Microscopia por coloração de Gram: Colher um swab sem meio de transporte e fazer o esfregaço imediatamente em duas lâ minas de vidro limpas, friccionando o swab duas vezes sobre cada uma delas. Esperar secar. Enviar as lâminas embrulhadas em papel ou em envelope próprio. Lâminas preparadas após 15 minutos da coleta podem alterar de forma significativa a qua lidade do material (com morte da bactéria e destruição celular) Freqüentemente se desenvolvem nos ouvidos exter no e médio. Pacientes de todas as idades são suscep tíveis a otite externa. As otites médias, em geral, são limitadas a pacientes menores de 10 anos. O canal auditivo externo normalmente reflete a microbiota da pele(Corynebacteriumspp.eestafilococos).OStreptococcuspneumoniae e os bacilos gram-negativos, incluindo Pseudomonas ae ruginosa, têm sido isolados com maior freqüência nestes sítios do que em outras áreas da pele. Os ouvidos interno e médio são usualmente estéreis. Os agentes etiológicos das infecções do ouvido externo são quase sempre microrganismos que colonizam o canal auditi vo, como Pseudomonas aeruginosa. O ouvido médio é suscep tível a infecções por microrganismos originados na nasofarin ge e na trompa de Eustáquio. Na infância, a maior parte das otites médias tem como agentes Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e Branhamella (Moraxella) catarrha lis; em menor freqüência, as infecções são provocadas por Staphylococcus aureus e Streptococcus pyogenes. Pseudomonas e, conseqüentemente, o resultado. Exame a fresco: Usar um swab sem meio de transporte. Após a coleta, colocar o swab no tubo-suporte e acrescentar cinco gotas de salina estéril. Realizar o exame imediatamente. Secreção de ouvido médio PREPARO DO PACIENTE: Veja procedimento para secreção de ou vido externo. COLETA: A amostra deve ser obtida por timpanocentese reali zada pelo médico. No caso de pesquisa de anaeróbios, retirar o excesso de ar da seringa e vedar a ponta da agulha com rolha de borracha. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material deve ser entregue ao laboratório em uma hora ou então ser colocado em meio lí quido de transporte fornecido pelo laboratório. Injetar aproxi madamente 2mL da amostra, se possível. A SOLICITAÇÃO MÉDICA DEVE ESPECIFICAR OS EXAMES DESEJADOS: – Microscopia por coloração de Gram; – Microscopia para fungos; 258 10 Microbiologia BOOK 16.indd 258 26.10.06 17:29:52 dos, é provocada pelo Streptococcus pyogenes, isoladamente ou – Antibiograma; associado ao Staphylococcus aureus, ou ainda por um conjunto – Cultura para micobactérias; de bactérias anaeróbias obrigatórias ou facultativas. A piomio – Cultura para fungos. site atinge o músculo esquelético e se deve à disseminação he matogênica e à contaminação por contigüidade, como conse qüência incomum da infecção pelo Staphylococcus aureus. INFECÇÕES DE PELE, BIÓPSIAS, SECREÇÕES CIRÚRGICAS E ABSCESSOS As infecções das lesões por queimaduras estão relacionadas à microbiota da pele e do ambiente. Em geral, adquiridas em hospitais, elas têm como agentes mais freqüentes micror ganismos gram-negativos, como Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus meticilina-resistente (MRSA). As úlceras de decúbito são comuns em pacientes acamados e costumam Infecções de pele A camada cutânea serve como uma barreira quase impenetrável para os microrganismos capazes de causar infecção humana. É habitada por microrga nismos que refletem contatos, hábitos, profissão e o ambiente do indivíduo, entre os quais os mais freqüentemente encontrados são Staphylococcus spp., Corynebacterium spp., Propionibacterium spp., Mycobacterium spp. e várias leveduras. Quando esta proteção é violada, em geral após trauma, é possível ocorrer infecções em tecidos mais profundos. Estas infecções podem ter importância porque eventual mente envolvem estruturas contíguas e atingem a circulação sistêmica. As infecções de pele mais freqüentes são a inflamação bacte riana do folículo piloso (foliculite) e a invasão bacteriana de sí tios provocada por pequenos traumas, que ocasionam pioder mas primários, como impetigo, erisipela e celulite. A foliculite é quase sempre causada pelo Staphylococcus aureus. O impetigo é uma infecção superficial da pele de crianças, provocada prin cipalmente por Streptococcus pyogenes. As culturas destas le sões costumam revelar não só o crescimento do Streptococcus pyogenes mas também de Staphylococcus aureus, como infec ção secundária da lesão. A erisipela é outra infecção superficial, também causada principalmente pelo Streptococcus pyogenes, em que o envolvimento linfático é predominante. A celulite é mais comumente provocada por Staphylococcus aureus, Streptococcus pyogenes e Haemophilus influenzae tipo b (quase exclusivamente em crianças). Descrita como uma infec ção das camadas subcutâneas da pele, tem importância clínica por sua tendência em progredir para uma infecção sistêmica. Lesões infecciosas de tecidos cutâneos mais profundos podem ter sérias conseqüências. A celulite anaeróbia necrosante (gan localizar-se na proximidade do ânus. São, por isso, facilmente infectadas com microbiota intestinal aeróbica e anaeróbica. Nas úlceras do pé diabético, diversos microrganismos podem ser isolados. Os mais freqüentes são estafilococos, bacilos gram-negativos, microrganismos anaeróbios, enterococos e estreptococos. Mas a determinação do significado clínico des tes microrganismos é difícil. Infecções cirúrgicas Podem ocorrer de duas formas. Na primeira delas, as feridas infectadas ocorrem por uma complicação num procedimento cirúrgico limpo e em tecidos usualmente estéreis. Costumam ser causadas por Staphylococcus aureus, Enterococcus spp., ou bacilos gram-negativos; mais raramente, podem ser provoca das por microrganismos como Streptococcus pyogenes, cori nebactérias, pneumococos e Bacillus subtilis. A segunda forma ocorre quando o procedimento cirúrgico é realizado em uma área contaminada, resultando em complicações infecciosas que freqüentemente refletem o estado de saúde do paciente. Entre as bactérias envolvidas nesses casos estão as Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa, Proteus spp., Providencia spp., o grupo Klebsiella-Enterobacter-Serratia, flavobactérias, Acineto MICROBIOLOGIA cutâneos. A fascite necrosante, que atinge planos mais profun – Cultura para anaeróbios; INFECÇÕES DE PELE, BIÓPSIAS, SECREÇÕES CIRÚRGICAS E ABSCESSOS grena gasosa) é causada pelo Clostridium spp. em tecidos sub – Cultura automatizada para aeróbios; INFECÇÕES DO OUVIDO – Pesquisa de bacilos álcool-ácido resistentes; bacter e Bacteroides spp. Infecção óssea – osteomielite A osteomielite se desenvolve a partir da disseminação hema togênica do agente infeccioso, pela invasão do tecido ósseo em um sítio adjacente (em geral, das articulações ou em con seqüência de infecção dentária); pela degeneração do tecido por trauma ou cirurgia; ou falha na circulação, seguida de colo nização de úlcera da pele por microrganismos. Uma vez esta belecida, a infecção óssea tende a progredir até a cronicidade, particularmente se o suprimento sangüíneo for deficiente. 259 10 Microbiologia BOOK 16.indd 259 26.10.06 17:29:52 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Parasitas e vírus raramente são agentes de osteomielite. O mais comum, em todas as faixas etárias, é o Staphylococcus au reus, disseminado durante a bacteriemia. Nos jovens, a osteo mielite está normalmente associada a um único agente. Com freqüência de origem hematogênica, essas infecções também se devem a Salmonella spp., Haemophilus spp., enterobactérias, Pseudomonas spp., Fusobacterium spp. e leveduras. O Mycobacterium tuberculosis é hoje uma causa rara de os teomielite. Os bastonetes gram-negativos são comuns em pacientes hospitalizados e a lesão da pele (por cirurgia ou por via intravenosa) pode preceder o estabelecimento da doença. Lesões por diferentes causas (ferimento por mordida ou trau ma) lideram o aparecimento de infecções ósseas subjacentes. A higiene oral precária é a causa mais comum de osteomie lite do maxilar por Actinomyces spp., Capnocytophaga spp. e outros agentes da microbiota oral, particularmente os anaeró bios. Pacientes diabéticos, que podem ter circulação deficiente, são, às vezes, submetidos a traumas nos pés que podem in fectar e desenvolver úlceras, que evoluem com o envolvimento do osso subjacente. Em geral, são infecções polimicrobianas, por bactérias aeróbias (Staphylococcus aureus e Streptococcus pyogenes) e anaeróbias. Espécimes cirúrgicos – biópsias e secreções SECREÇÕES PREPARO DO PACIENTE: Técnica de coleta asséptica. COLETA: Colher o material por aspiração com seringa. Vedar a ponta da agulha com rolha de borracha, retirando antes o ex de ar (importante na pesquisa de anaeróbios). As amos as também podem ser colocadas em meio de conservação líquido, aproximadamente 2mL do material. Não sendo possí FRAGMENTO ÓSSEO E/OU TECIDO PREPARO DO PACIENTE: Técnica de coleta asséptica. COLETA: Colocar o material em frasco estéril ou contendo sa ina estéril. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material sem meio de conserva deverá ser entregue ao laboratório no prazo máximo de uma hora. Secreção de feridas cirúrgicas PREPARO DO PACIENTE: Fazer a anti-sepsia da pele íntegra ao re dor da lesão com álcool iodado. Retirar o excesso de iodo com álcool a 70%. COLETA: Não deve ser colhido material da superfície da lesão. Na suspeita de anaeróbios, colher amostra em tecido profundo. Retirar a secreção inicial e desprezar. Em seguida, colher a secre ção por aspiração com seringa ou swab estéril. Retirar o excesso de ar de dentro da seringa e vedar a ponta da agulha com uma rolha de borracha para evitar a entrada de ar (importante na pesquisa de anaeróbios). Colocar o swab dentro do tubo com meio de transporte, introduzindo-o até o fundo na geléia. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material em meio de conserva ção deve ser remetido ao laboratório o mais rápido possível. Não refrigerar. Microscopia por coloração de Gram: Colher um swab sem meio de transporte e fazer o esfregaço imediatamente em duas lâ minas de vidro limpas, friccionando o swab duas vezes sobre cada uma delas. Esperar secar. Enviar as lâminas embrulhadas em papel ou colocadas em envelope próprio. Lâminas prepa radas após 15 minutos da coleta podem alterar de forma sig nificativa a qualidade do material (com morte da bactéria e destruição celular) e, conseqüentemente, o resultado. el coletar a amostra por aspiração, colher um swab estéril, co- locando-o com o material dentro do tubo com meio de trans te e introduzindo-o até o fundo na geléia. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material em meio de conserva deve ser remetido ao laboratório o mais rápido possível. Não refrigerar. Microscopia por coloração de Gram: Colher um swab sem meio de transporte e fazer o esfregaço imediatamente em duas lâ de vidro limpas, friccionando o swab duas vezes sobre cada uma delas. Esperar secar. Enviar as lâminas embrulhadas em papel ou colocadas em envelope próprio. Lâminas prepa adas após 15 minutos da coleta podem alterar de forma sig tiva a qualidade do material (com morte da bactéria e destruição celular) e, conseqüentemente, o resultado. Abscessos − lesões fechadas PREPARO DO PACIENTE: Fazer limpeza prévia do local com ál cool a 70%, para remover substâncias gordurosas da superfície da pele e dos poros. Passar algodão embebido em iodo a 2%, fazendo movimentos circulares de dentro para fora, não retor nando com o algodão usado para o mesmo ponto já fricciona do. Deixar secar. Remover o resíduo de iodo da pele com uma segunda aplicação de álcool a 70%, seguindo a mesma regra anterior. Repetir a manobra por duas a três vezes. Usar luvas esterilizadas para efetuar a punção. COLETA: Com uma seringa, aspirar o material; a quantidade ideal é de 3mL a 5mL. Retirar as bolhas de ar do interior da seringa. No caso de cultura para anaeróbios, vedar a ponta da agulha com ro 260 10 Microbiologia BOOK 16.indd 260 26.10.06 17:29:53 estéril ou com salina estéril. O fragmento nos dá maior freqüên cia de isolamento do que o material obtido por aspiração. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: Não refrigerar. O material deve ser entregue ao laboratório em um período não superior a uma hora. Se o prazo para entrega for maior, o transporte deverá ser feito em meio líquido apropriado. Para isto, injetar aproxi madamente 2mL da amostra em meio líquido fornecido pelo Fístula É importante lembrar que alguns autores não aceitam a secre ção da fístula como um método adequado de isolamento do agente etiológico da osteomielite. PREPARO DO PACIENTE: Fazer a anti-sepsia da pele com álcool io dado, removendo o excesso de iodo com álcool a 70%. Se hou ver crostas, removê-las com gaze estéril embebida em salina. Se a superfície da lesão estiver ressecada, umedecer o swab laboratório. previamente em salina estéril. de transporte e fazer o esfregaço imediatamente em duas lâ auxílio de um swab bem fino. Retirar, girando lentamente. Microscopia por coloração de Gram: Colher um swab sem meio minas de vidro limpas, friccionando-o duas vezes sobre cada uma delas. Esperar secar. Enviar as lâminas embrulhadas em papel ou colocadas em envelope próprio. Lâminas preparadas após 15 minutos da coleta podem alterar de forma significati va a qualidade do material (com morte da bactéria e destrui ção celular) e, conseqüentemente, o resultado. Se a amostra for de fragmento do abscesso ou aspirado em seringa, não é necessário preparar a lâmina previamente. Ela será preparada no laboratório, desde que o material seja enviado sem meio de conservação, em salina estéril. COLETA: Fazer o raspado da parte mais profunda da fístula com Colocar o swab dentro do tubo com meio de transporte, introduzindo-o até o fundo na geléia. É recomendável coletar uma amostra da parede da lesão. Colocar o material em frasco esté ril com 2mL de salina. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: A amostra deve ser refrigerada.Todo material que não for semeado imediatamente após a coleta (até 15 minutos) deverá ser conservado em meio de transporte. Microscopia por coloração de Gram: Colher um swab sem meio de transporte e fazer o esfregaço imediatamente em duas lâ minas de vidro limpas, friccionando-o duas vezes sobre cada uma delas. Esperar secar. Enviar as lâminas embrulhadas em Lesões abertas úmidas − úlceras PREPARO DO PACIENTE: A área ao redor da lesão deve ser limpa com gaze embebida em álcool a 70%. Remover crostas e exces so de secreção com salina e gaze estéril. COLETA: Passar o swab na base e nas bordas da lesão, friccionan- do suavemente. No material para fungos, colher de dois a três swabs, procurando obter a maior quantidade de secreção possível. Recolocar o swab no tubo com meio de transporte, introduzindo-o até o fundo na geléia. Em lesões úmidas, erite matosas e dolorosas, quando não for possível fazer o raspado, tentar colher escamas secas, soltas sobre a lesão, com o auxílio de uma pinça estéril. Colocar o material obtido dentro de uma papel ou colocadas em envelope próprio. Lâminas preparadas após 15 minutos da coleta podem alterar de forma significativa a qualidade do material (com morte da bactéria e destruição celular) e conseqüentemente do resultado. Secreção de acne e pústulas PREPARO DO PACIENTE: Escolher uma área em que se encontre uma lesão íntegra, com material purulento. Fazer anti-sepsia com álcool a 70%, friccionando levemente. COLETA: Romper a lesão com auxílio de uma agulha estéril, re colhendo o material do fundo com auxílio de um swab. Reco locar o swab no tubo com meio de transporte, introduzindo-o placa de Petri estéril. até o fundo na geléia. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material em meio de conserva CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: Se o tempo entre a coleta e o proces ção deve ser remetido ao laboratório o mais rápido possível. Não refrigerar. Microscopia por coloração de Gram: Colher um swab sem meio de transporte e fazer o esfregaço imediatamente em duas lâ minas de vidro limpas, friccionando-o duas vezes sobre cada uma delas. Esperar secar. Enviar as lâminas embrulhadas em papel ou colocadas em envelope próprio. Lâminas preparadas após 15 minutos da coleta podem alterar de forma significativa a qualidade do material (com morte da bactéria e destruição celular) e conseqüentemente do resultado. MICROBIOLOGIA rar um fragmento da parede do abscesso, colocando-o em frasco INFECÇÕES DE PELE, BIÓPSIAS, SECREÇÕES CIRÚRGICAS E ABSCESSOS lha de borracha para evitar a entrada de ar. Quando possível, reti- samento do material ultrapassar 30 minutos, o transporte deve rá ser feito em meio próprio (Stuart) fornecido pelo laboratório. Microscopia por coloração de Gram: Colher um swab sem meio de transporte e fazer o esfregaço imediatamente em duas lâ minas de vidro limpas, friccionando-o duas vezes sobre cada uma delas. Esperar secar. Enviar as lâminas embrulhadas em papel ou colocadas em envelope próprio. Lâminas preparadas após 15 minutos da coleta podem alterar de forma significativa a qualidade do material (com morte da bactéria e destruição celular) e conseqüentemente do resultado. 261 10 Microbiologia BOOK 16.indd 261 26.10.06 17:29:54 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Infecção por Mycobacterium leprae – pesquisa de bacilos álcool-ácidos resistentes Os métodos para seleção e realização de esfregaços, bem como os resultados esperados, antes, durante e depois do tratamen to dependem principalmente da forma clínica da hanseníase (tuberculóide, lepromatosa e estágios borderline). Número de bacilos nos esfregaços: Varia consideravelmente com os diferentes tipos e com a evolução da doença, e tem muita influência no tratamento. A quantidade de bacilos é de nominada índice bacteriológico (IB), e varia de 0 a 6. Morfologia do Mycobacterium leprae nos esfregaços: Nos pa cientes bacilíferos ativos sem tratamento, observam-se nume rosos bacilos intensa e uniformemente corados. Estes bacilos são chamados de sólidos e considerados viáveis. A percenta gem destes bacilos é denominada índice morfológico, de mui to valor na avaliação da resposta à terapia. Com tratamento adequado observam-se áreas não coradas em um ou mais pontos dos bacilos, que são, então, denominados fragmen tados e podem, ou não, estar vivos antes da fixação. Com o prosseguimento da medicação, todos os bacilos apresentarão espaços transversais, não corados. Serão chamados granulosos LÓBULOS AURICULARES PREPARO DO PACIENTE: Limpar o local com algodão embebido em éter. COLETA: Com os dedos polegar e indicador, segurar firmemente o lóbulo da orelha, pressionado-o. Fazer movimentos giratórios do polegar contra o indicador, o que auxilia a reduzir o afluxo de sangue na pele a ser incisada. Com o auxílio de um bistu ri, fazer uma incisão de 5mm de comprimento e 2mm a 3mm de profundidade. Com a lâmina em ângulo reto em relação à incisão, escarificar o corte para obter o material. As amostras deverão ser colocadas sobre lâminas de vidro, fazendo-se mo vimentos circulares com a ponta romba do bisturi. Deixar se car. Embrulhar as lâminas em papel ou colocá-las em envelope próprio. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: As lâminas deverão ser remetidas ao laboratório. EXAME: Bacterioscopia pela coloração de Ziehl-Neelsen. Pes uisa de bacilos álcool-ácido resistentes A SOLICITAÇÃO MÉDICA DEVE ESPECIFICAR OS EXAMES DESEJADOS: – Microscopia por coloração de Gram; – Microscopia para fungos; e estarão mortos. – Pesquisa de bacilos álcool-ácido resistentes; LESÕES CUTÂNEAS, JOELHOS E/OU COTOVELOS – Cultura para anaeróbios; PREPARO DO PACIENTE: Selecionar o local e limpar com algodão embebido em éter. Nos pacientes com lesões cutâneas visíveis, os esfregaços deverão ser feitos a partir daquelas em atividade – Cultura automatizada para aeróbios; – Antibiograma; – Cultura para microbactérias; – Cultura para fungos. (elevadas e eritematosas). Quando todas as lesões forem pla nas (manchas), deve-se colher material do centro e dos bordos de uma delas. Quando houver evidência de involução, o mate rial deve ser colhido do bordo interno da lesão. COLETA: Preguear a pele em que o material será colhido entre o polegar e o indicador, fazendo pressão até que o sangue desa pareça. Manter a pressão até o final da coleta. Com o auxílio de um bisturi com lâmina nova, fazer um corte na pele de aproxi madamente 5mm de extensão e 2mm a 3mm de profundida de. Se sair sangue, enxugar com um algodão, mantido na mão esquerda. Com a lâmina em ângulo reto com o corte, raspar uma quantidade adequada e visível de material das bordas e do fundo da incisão. A seguir, desfazer a pressão. Distribuir a amostra colhida sobre uma lâmina de vidro, fazendo movi mentos circulares com a parte romba do bisturi. Os esfregaços não devem conter sangue. Deixar secar. Embrulhar em papel ou colocar em envelope próprio. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: As lâminas deverão ser remetidas ao laboratório. As infecções do sistema nervoso central (SNC) in cluem meningites, abscesso cerebral, epidural, sub dural e encefalite. As bactérias são responsáveis pela maioria dos casos de meningites e abscessos do SNC. Os vírus também podem causar meningites e são responsáveis pela maior parte dos casos de en cefalite. Ocasionalmente, e em especial em pacientes imunodeficientes, as infecções do SNC são de origem fúngica ou parasitária. Nas meningites típicas, os microrganismos primeiro colonizam ou infectam o trato respiratório superior, entram na corrente sanguínea e linfática e chegam ao SNC, onde se multiplicam. 262 10 Microbiologia BOOK 16.indd 262 26.10.06 17:29:54 ou colonizado. colatado), em que se deixará pingar três a cinco gotas sobre a Os microrganismos que mais comumente causam meningite são: – Haemophilus influenzae – em crianças de 2 a 5 anos; – Neisseria meningitidis – em crianças e adultos jovens; – Streptococcus pneumoniae – em todas as faixas etárias; – Streptococcus agalactiae, Escherichia coli – em crianças até 2 meses de idade; – Listeria monocytogenes – em neonatos; – Staphylococcus epidermidis e difteróides – em pacientes com próteses. A meningite também pode ser crônica, provocada por Myco bacterium tuberculosis ou por fungos, como Cryptococcus neo formans. A resposta inflamatória, assim como as alterações bioquímicas, principalmente a dosagem de glicose e de pro teínas dos portadores, pode ser útil no diagnóstico diferencial das meningites. Nos pacientes que manifestam sintomas, mas têm culturas e esfregaços negativos, deve-se considerar as in fecções virais ou por leptospiras, tumores, cistos, sarcoidose e outras causas não-infecciosas. E levar em conta também os casos de tratamento prévio com antibióticos. superfície. Isso garante uma maior chance de isolar o agente etiológico, já que alguns microrganismos, como Haemophilus influenzae e Neisseria meningitidis, podem sofrer lise quando ficam por um período maior do que 15 minutos fora do meio de cultura. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: Os tubos com as amostras, inclu sive aquele com meio de cultura, devem ser imediatamente enviados ao laboratório. Fora do meio de cultura, o liquor deve ser processado o mais rápido possível. Não refrigerar. O liquor pode ser conservado em geladeira para detecção de antígenos por reações imunológicas (aglutinação por látex). A maioria dos agentes de meningoencefalites epidêmicas sofre com a ação do frio. A conservação do material fora do meio de cultura em estufa (35°C) e/ou a temperatura ambiente também invia biliza alguns agentes. Punção ventricular Em pacientes recém-nascidos, principalmente prematuros e de baixo peso, as meningoencefalites podem não ser escla recidas pela punção lombar, levando a culturas lombares ne Liquor Punção lombar Mesmo hemorrágico, o liquor pode ser submetido à microscopia e cultura. Mas é necessário definir com clareza a suspeita clínica, principalmente se for de infecção micótica ou de tuberculose. A coleta deve sempre ser feita com máscara e o material colhi do antes da administração de antimicrobianos. Mesmo drogas ministradas por via oral afetam os exames no liquor, inclusive a contagem diferencial de leucócitos. PREPARO DO PACIENTE: Fazer limpeza prévia do local com ál cool a 70%, para remover substâncias gordurosas da superfí gativas e ventriculares positivas. Isso ocorre, principalmente, em materiais muito purulentos e quando há elevado grau de comprometimento cerebral. Veja orientação anterior quanto ao preparo, coleta, conservação e transporte. A SOLICITAÇÃO MÉDICA DEVE ESPECIFICAR OS EXAMES DESEJADOS: – Microscopia por coloração de Gram; MICROBIOLOGIA é coletar o liquor diretamente sobre o meio (ágar sangue cho INFECÇÕES DO TRATO GENITAL não deve ser para microbiologia. Nos casos de cultura, o ideal minação de microrganismos de um sítio adjacente infectado INFECÇÕES DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL Os abscessos do SNC normalmente são precedidos pela disse – Microscopia para fungos; – Pesquisa de bacilos álcool-ácido resistentes; – Cultura automatizada para aeróbios; – Cultura para anaeróbios; – Antibiograma; – Cultura para micobactérias; – Cultura para fungos. cie da pele e dos poros. Passar algodão embebido em iodo a 2%, fazendo movimentos circulares de dentro para fora, não retornando com o algodão usado ao mesmo ponto já friccio nado. Deixar secar. Remover o resíduo do iodo da pele com uma segunda aplicação de álcool a 70%, seguindo a mesma regra anterior. Repetir a manobra por duas a três vezes. Usar luvas esterilizadas para efetuar a punção. COLETA: Executar a punção liquórica com técnica rigorosamen te asséptica. Colher o liquor em três tubos, para microbiologia (tubo estéril bem vedado), citologia e bioquímica. O primeiro Uma variedade de espécies bacterianas comensais colonizam a superfície do trato genital humano e ajudam a prevenir a aderência de microrganismos 263 10 Microbiologia BOOK 16.indd 263 26.10.06 17:29:55 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA patogênicos, sem causar danos ao hospedeiro, exceto sob cir A doença inflamatória pélvica ocorre pela invasão do endomé cunstâncias anormais. A microbiota uretral normal inclui esta trio e/ou das trompas de Falópio por microrganismos que co filococos coagulase-negativa e corinebactérias, além de vários lonizam ou infectam a vagina ou o cérvice. A cervicite, infecção anaeróbios. A vulva e o pênis podem abrigar Mycobacterium do ecto ou do endocérvice, costuma ser provocada por micror smegmatis e outras bactérias gram-positivas. No trato genital ganismos transmitidos sexualmente. Com freqüência, a endo feminino, a microbiota varia com o pH e a concentração de cervicite é acompanhada por uma descarga cervical mucopu estrogênio da mucosa, que depende da idade do hospedeiro. rulenta, característica de infecção por Chlamydia trachomatis Crianças e mulheres após a menopausa abrigam primaria ou por Neisseria gonorrhoeae. A ectocervicite é característica mente estafilococos e corinebactérias, enquanto as mulhe da infecção por vírus herpes simples ou por Trichomonas vagi res em idade reprodutiva apresentam predominantemente nalis. É importante destacar que a melhor amostra para o iso Lactobacillus spp. e, em menor grau, um grande número de lamento de Neisseria gonorrhoeae é colhida do endocérvice e bactérias facultativas, como enterobactérias, estreptococos e que a coleta vaginal é contra-indicada para o isolamento deste estafilococos, e também anaeróbios. microrganismo. Muitas mulheres são portadoras de Streptococcus beta-hemo- A epididimite e a prostatite são provocadas por microrganis lítico do grupo B, que pode ser transmitido para o neonato no momento do nascimento. Embora transitoriamente se possa encontrar leveduras no trato genital feminino, elas não são parte da microbiota normal. A levedura mais freqüentemente isolada é a Candida albicans, embora outras espécies também mos transmitidos sexualmente ou que causam infecção do trato urinário. Para determinar a origem da prostatite bacteria na, o mais indicado é a cultura de urina segmentada e a coleta do líquido prostático, de acordo com o seguinte procedimento: urina primeiro jato (10mL), jato médio (10mL), secreção prostá tenham sido isoladas, como a Candida glabrata, Candida tropi tica após massagem e jato final da urina (10mL). calis e outras. Os Lactobacillus spp. são os microrganismos que A grande variação da apresentação de úlceras genitais causadas predominam na vagina sadia. As infecções do trato genital inferior normalmente são conse qüência da atividade sexual. As uretrites, em homens e mulhe res, são causadas pela infecção de células epiteliais da uretra e costumam ser acompanhadas por uma descarga de secreção, inflamatória ou não. Seus agentes etiológicos, em ambos os sexos, incluem a Neisseria gonorrhoeae, o Ureaplasma urealyti cum, o Mycoplasma hominis e a Chlamydia trachomatis. No homem, é considerado diagnóstico de gonorréia o achado de diplococos gram-negativos intracelulares na microscopia pela coloração de Gram. Na mulher, ao contrário, este achado não é patognomônico, e necessita de confirmação por cultura. A orientação é para que, na mulher, a coleta seja realizada do cérvice e, se possível, anal, para a obtenção do espécime ade quado. Só se indica coletar material da uretra e das glândulas vaginais se o exame sugerir envolvimento dessas áreas. A causa mais comum de sintomas vaginais em mulheres se xualmente ativas é a vaginose bacteriana. Também chamada de vaginite inespecífica, ela está associada a desconforto e secreção vaginal aquosa, com pH maior que 4,5, odor desa pelo Treponema pallidum, Haemophilus ducreyi e pelo vírus her pes simples pode criar dificuldades para o diagnóstico clínico destas doenças sem confirmação laboratorial. A demonstração do Treponema pallidum na microscopia de campo-escuro pode ser realizada em lesões primárias e secundárias de pacientes com sífilis. A incidência de cancróide tem aumentado nos últi mos anos. A amostra para a pesquisa de Haemophilus ducreyi deve ser coletada da base da úlcera purulenta. Esperma PREPARO DO PACIENTE: Orientar o paciente para urinar antes da higiene. Em seguida, lavar as mãos e a área genital com água e sabão, tendo o cuidado de retirar toda a secreção existente na glande e no prepúcio. Enxugar com toalha limpa ou gaze. Não usar saliva, água ou qualquer outro tipo de lubrificante durante o ato de masturbação. COLETA: A coleta do esperma deverá ser feita em frasco esté ril, que permanecerá semi-aberto, sendo aberto apenas no momento da ejaculação e fechado logo depois. Deve-se ter o cuidado de não tocar a parte interna do frasco e de anotar nele gradável (presença de aminas aromáticas) e presença de clue a hora da coleta. cells (células alvo). Isso ocorre quando há substituição da mi CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: A coleta deve ser realizada, pre crobiota vaginal de Lactobacillus spp. por uma combinação de cocobacilos gram-negativos anaeróbios e Mobiluncus spp. e Gardnerella vaginalis. Esta última tem sido isolada em 50% de mulheres sexualmente ativas assintomáticas. ferencialmente, no laboratório. O material colhido em casa de verá ser entregue no laboratório em até 30 minutos. A amos tra não deve ser refrigerada. A baixa temperatura inviabiliza a sobrevivência de alguns agentes microbianos. 264 10 Microbiologia BOOK 16.indd 264 26.10.06 17:29:56 Exame a fresco: As lâminas serão feitas no laboratório. Pesquisa de Trichomonas vaginalis - Por exame a fresco: Seguir a mesma orientação anterior. Cultura para Mycoplasma-Ureaplasma: Seguir a mesma orien terior. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material sem meio de transpor te deverá ser processado o mais rápido possível. Se a demora for maior que 15 minutos, usar o meio de transporte (Stuart) fornecido pelo laboratório. Não deve ser refrigerado. A tentati va de manutenção de swab seco leva à rápida eliminação de patógenos importantes. Microscopia por coloração de Gram: Colher um swab sem meio de transporte. Fazer o esfregaço imediatamente em duas lâmi Lesão peniana PESQUISA DE Haemophilus ducreyi (BACTERIOSCOPIA): PREPARO DO PACIENTE: Não é necessária a limpeza prévia da lesão. COLETA: Colher o material da base da úlcera ou do gânglio in guinal com auxílio de um swab sem meio de transporte. Fazer o esfregaço imediatamente em duas lâminas de vidro limpas, friccionando o swab duas vezes sobre cada uma delas. Esperar secar. Enviar as lâminas embrulhadas em papel ou colocadas em envelope próprio. Lâminas preparadas após 15 minutos da coleta podem alterar de forma significativa a qualidade do material (com morte da bactéria e destruição celular) e, conse qüentemente, do resultado. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material deve ser enviado logo que possível ao laboratório. PESQUISA DE Treponema pallidum (CAMPO-ESCURO): PREPARO DO PACIENTE: Limpar a superfície da lesão com gaze umedecida em soro fisiológico. COLETA: Flambar a alça de platina. Esperar esfriar. Raspar sua vemente a superfície da lesão até começar a sair líquido (serosidade). Depositar algumas alçadas sobre duas lâminas limpas para microscopia. Cobrir com lamínula. Colocar em câ mara úmida. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material deve ser colhido no labo ratório. Encaminhar para exame imediatamente. Secreção uretral masculina PREPARO DO PACIENTE: Fazer a higiene do pênis com água e sa bão. Secar com gaze ou toalha limpa. COLETA: De preferência pela manhã, antes de urinar. Havendo pouca secreção, massagear a uretra, longitudinalmente, al gumas vezes. Se abundante, desprezar a porção inicial da se creção eliminada. Introduzir o swab pelo meato uretral, girar lentamente, procurando esfregá-lo na uretra. Retirar o swab e colocá-lo no tubo com meio de transporte, introduzindo-o até o fundo na geléia. nas de vidro limpas, friccionando o swab duas vezes sobre cada uma delas. Esperar secar. Enviar as lâminas embrulhadas em papel ou colocadas em envelope próprio. Lâminas preparadas após 15 minutos da coleta podem alterar de forma significativa a qualidade do material (com morte da bactéria e destruição celular) e, conseqüentemente, o resultado. Exame a Fresco: Usar um swab sem meio de transporte. Após a coleta, colocá-lo no tubo-suporte e acrescentar cinco gotas de salina estéril. Realizar o exame imediatamente. MICROBIOLOGIA laboratório. INFECÇÕES DO TRATO GENITAL Microscopia por coloração de Gram: As lâminas serão feitas no Pesquisa de Trichomonas vaginalis – por exame a fresco: Seguir a mesma orientação anterior. Pesquisa de Candida spp. (levedura ou monília): Seguir a mesma orientação anterior para exame a fresco ou bacterioscopia. Raspado uretral PREPARO DO PACIENTE: Fazer a higiene da região peniana com água e sabão. Secar com gaze ou toalha limpa. COLETA: De preferência pela manhã, antes de urinar. É preciso deixar de urinar duas horas antes da coleta. Retirar o excesso de muco e secreção, solicitando ao paciente que comprima o canal longitudinalmente no sentido de expelir o material con tido em seu interior. Introduzir na uretra um swab fino, de has te de metal de 2cm a 4cm, fazendo movimento rotatório por um a dois segundos e assegurando contato com toda a super fície uretral. Retirar o swab e introduzi-lo no tubo com meio de transporte até o fundo da geléia. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material sem meio de transpor te deverá ser processado o mais rápido possível. Se a demora for maior que 15 minutos, usar o meio de transporte (Stuart) fornecido pelo laboratório. Não deve ser refrigerado. A tentati va de manutenção de swab seco leva à rápida eliminação de patógenos importantes. Microscopia por coloração de Gram: Colher um swab sem meio de transporte e fazer o esfregaço imediatamente em duas lâ minas de vidro limpas, friccionando-o duas vezes sobre cada uma delas. Esperar secar. Enviar as lâminas embrulhadas em papel ou colocadas em envelope próprio. Lâminas preparadas após 15 minutos da coleta podem alterar de forma significativa a qualidade do material (com morte da bactéria e destruição celular) e, conseqüentemente, o resultado. 265 10 Microbiologia BOOK 16.indd 265 26.10.06 17:29:56 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Exame a fresco: Usar um swab sem meio de transporte. Após a COLETA: Introduzir o swab no intróito vaginal e girá-lo suave coleta, colocá-lo no tubo-suporte e acrescentar cinco gotas de mente, procurando friccioná-lo nas paredes da vagina por 30 a salina estéril. Realizar o exame imediatamente. 60 segundos. Retirar o swab e introduzi-lo no tubo com meio Cultura para Mycoplasma-Ureaplasma: A coleta do material é de transporte até o fundo da geléia. feita no próprio laboratório. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material colhido sem meio de PREPARO DO PACIENTE: Fazer a higiene da região peniana com transporte deverá ser processado em 30 minutos. Se a demora água e sabão. Secar com gaze ou toalha limpa. for superior a este período, usar o meio de transporte (Stuart) COLETA: De preferência pela manhã, antes de urinar. É preciso fornecido pelo laboratório. deixar de urinar duas horas antes da coleta. Retirar o excesso de muco e secreção, solicitando ao paciente que comprima o canal longitudinalmente no sentido de expelir o material con tido em seu interior. Introduzir na uretra um swab fino, de has te de metal de 2cm a 4cm, fazendo movimento rotatório por um a dois segundos e assegurando contato com toda a super fície uretral. Retirar o swab e introduzi-lo no tubo-suporte sem meio de transporte. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material deve ser encaminhado à seção de microbiologia imediatamente. O ressecamento do swab inviabiliza a amostra por morte da bactéria. Secreção prostática PREPARO DO PACIENTE: Antes da coleta, o paciente deve esvaziar a bexiga. A higiene do pênis deve ser feita com água e sabão, retirando-se toda a secreção existente na região da glande e do prepúcio. Secar com gaze estéril. COLETA: É feita com auxílio de massagem prostática. A secreção obtida deve ser colhida em frasco estéril. Se após a massagem não houver secreção, orientar o paciente para que urine uma pequena quantidade (cerca de 5mL) em um frasco estéril. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: Colher o material no laboratório ou, quando a coleta for feita no consultório, enviar para lá no prazo de 30 minutos. O material não pode ser refrigerado. Microscopia por coloração de Gram: Será realizada no labora Microscopia por coloração de Gram: Colher um swab sem meio de transporte e fazer o esfregaço imediatamente em duas lâ minas de vidro limpas, friccionando-o duas vezes sobre cada uma delas. Esperar secar. Enviar as lâminas embrulhadas em papel ou colocadas em envelope próprio. Lâminas preparadas após 15 minutos da coleta podem alterar de forma significativa a qualidade do material (com morte da bactéria e destruição celular) e, conseqüentemente, o resultado. Exame a fresco: Usar um swab sem meio de transporte. Após a coleta, colocá-lo no tubo-suporte e acrescentar cinco gotas de salina estéril. Realizar o exame imediatamente. Pesquisa de Trichomonas vaginalis – por exame a fresco: Seguir a orientação anterior. Pesquisa de Candida spp. (monília ou levedura): Seguir a mes ma orientação anterior para exame a fresco ou bacterioscopia. Cultura para Mycoplasma-Ureaplasma: O material deve ser co lhido no laboratório. PREPARO DO PACIENTE: Retirar o excesso de secreção existente ao redor do intróito vaginal com auxílio de uma gaze. COLETA: Introduzir o swab no intróito vaginal e girá-lo suave mente, procurando friccioná-lo nas paredes da vagina por 30 a 60 segundos. Retirá-lo e introduzi-lo em tubo-suporte sem meio de transporte. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material deve ser encaminhado à seção de microbiologia imediatamente. O ressecamento do swab inviabiliza a amostra por morte da bactéria. tório quando solicitado. Exame a fresco: Será feito no laboratório quando solicitado. Pesquisa de Trichomonas vaginalis – por exame a fresco: Seguir as orientações anteriores. Secreção ectocervical PREPARO DO PACIENTE: Retirar o excesso de secreção existente ao Pesquisa de Neisseria gonorrhoeae: Seguir a orientação ante redor do intróito vaginal com auxílio de uma gaze. Pesquisa de Candida spp. (monília ou levedura): Seguir a orien afastadas. Após a colocação do espéculo e visualização do colo rior para bacterioscopia. tação anterior para bacterioscopia ou exame a fresco. COLETA: Colocar a paciente em decúbito dorsal com as pernas uterino, passar o swab com firmeza no ectocérvice (fazendo um raspado). Retirar o swab, evitando tocar qualquer área ao Secreção vaginal PREPARO DO PACIENTE: Retirar o excesso de secreção existente ao redor do intróito vaginal com auxílio de uma gaze. redor. Colocá-lo no tubo com meio de transporte e introduzi-lo até o fundo na geléia. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material sem meio de transporte deverá ser processado em 30 minutos. Se a demora for maior, usar um meio de transporte fornecido pelo laboratório. 266 10 Microbiologia BOOK 16.indd 266 26.10.06 17:29:57 minas de vidro limpas, friccionando-o duas vezes sobre cada Cultura para Mycoplasma-Ureaplasma: O material deve ser co uma delas. Esperar secar. Enviar as lâminas embrulhadas em papel ou colocadas em envelope próprio. Lâminas preparadas após 15 minutos da coleta podem alterar de forma significativa a qualidade do material (com morte da bactéria e destruição celular) e, conseqüentemente, o resultado. Exame a fresco: Usar um swab sem meio de transporte. Após a coleta, colocá-lo no tubo-suporte e acrescentar cinco gotas de salina estéril. Realizar o exame imediatamente. Pesquisa de Candida spp. (levedura ou monília): Seguir a mes ma orientação descrita anteriormente para exame a fresco ou bacterioscopia. Pesquisa de Trichomonas vaginalis – por exame a fresco: Seguir a orientação anterior. Secreção endocervical PREPARO DO PACIENTE: Retirar o excesso de secreção existente ao redor do intróito vaginal com auxílio de uma gaze. COLETA: Colocar a paciente em decúbito dorsal com as pernas afastadas. Após a colocação do espéculo e visualização do colo uterino, introduzir o swab no canal cervical e girá-lo lentamen te. Se houver muita secreção, retirar este swab e desprezar. Reintroduzir novo swab e repetir a manobra, girando-o por 30 a 60 segundos, procurando pressioná-lo contra as paredes do canal cervical. Retirá-lo, evitando que toque em qualquer área ao redor. Colocar o swab dentro do tubo com meio de transpor a orientação anterior. lhido no laboratório. PREPARO DO PACIENTE: Retirar o excesso de secreção existente ao redor do intróito vaginal com auxílio de uma gaze. COLETA: Colocar a paciente em decúbito dorsal com as pernas afastadas. Após a colocação do espéculo e a visualização do colo uterino, introduzir o swab no canal cervical e girá-lo len tamente. Se houver muita secreção, retirá-lo e desprezar. In troduzir novo swab e repetir a manobra, girando por 30 a 60 segundos, procurando pressioná-lo contra as paredes do canal cervical. Retirá-lo, evitando que toque em qualquer área ao re dor. Colocar o swab no tubo-suporte sem meio de transporte. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material deve ser encaminhado à seção de microbiologia imediatamente. O ressecamento do swab inviabiliza a amostra por morte da bactéria. Sangue menstrual O material deve ser colhido pelo médico assistente. PREPARO DO PACIENTE: A amostra deve ser coletada nos primei ros dias, em que o fluxo menstrual é mais abundante. COLETA: Colocar a paciente em decúbito dorsal com as pernas afastadas. Introduzir o espéculo e fixar. Visualizar o colo uteri no e a partir dele recolher o material diretamente em frasco estéril, ou aspirar com seringa de tuberculina, retirando, previa mente, a agulha. Recolocar a agulha, vedando-lhe a ponta com te, introduzindo-o até o fundo na geléia. rolha de borracha, e retirar o excesso de ar da seringa. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material colhido sem meio de CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material deve ser processado o transporte deverá ser processado em 30 minutos. Se a demo ra for maior, usar meio de transporte (Stuart) fornecido pelo mais rápido possível. Microscopia por coloração de Gram: Quando for solicitada bac laboratório. terioscopia, a lâmina será feita no laboratório. de transporte e fazer o esfregaço imediatamente em duas lâ coleta e transporte. Microscopia por coloração de Gram: Colher um swab sem meio MICROBIOLOGIA Pesquisa de Trichomonas vaginalis – por exame a fresco: Seguir INFECÇÕES DO TRATO GENITAL Microscopia por coloração de Gram: Colher um swab sem meio de transporte e fazer o esfregaço imediatamente em duas lâ Cultura para micobactérias: Ver orientação anterior quanto à minas de vidro limpas, friccionando-o duas vezes sobre cada uma delas. Esperar secar. Enviar as lâminas embrulhadas em papel ou colocadas em envelope próprio. Lâminas preparadas após 15 minutos da coleta podem alterar de forma significativa a qualidade do material (com morte da bactéria e destruição celular) e, conseqüentemente, o resultado. Exame a fresco: Usar um swab sem meio de transporte. Após a coleta, colocá-lo no tubo-suporte e acrescentar cinco gotas de salina estéril. Realizar o exame imediatamente. Pesquisa de Candida spp. (levedura ou monília): Seguir a mes ma orientação descrita anteriormente para exame a fresco ou bacterioscopia. Swab vaginal e retal – cultura para Streptococcus Beta-hemolítico do Grupo B O material deve ser colhido pelo médico assistente. PREPARO DA PACIENTE: Fazer a higiene íntima da parte externa normalmente, com água e sabão. Não usar cremes e/ou qual quer outra formulação farmacêutica vaginal nos dois dias que antecedem a coleta. A amostra deve ser colhida entre a 35ª e 37ª semana de gestação. COLETA: Com um swab, colher amostra do intróito vaginal (terço inferior e sem espéculo); outro swab, introduzido pelo esfíncter 267 10 Microbiologia BOOK 16.indd 267 26.10.06 17:29:58 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA anal, fará coleta de material do reto. Ambos os swabs serão co locados em tubo-suporte, com meio de transporte. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: Manter e transportar as amostras em temperatura ambiente ou sob refrigeração (entre 2º e 8ºC). Nestas condições o microrganismo permanece viável por até quatro dias. Swab retal PREPARO DO PACIENTE: Colher o material antes do uso de medi cação oral. COLETA: Introduzir o swab através do orifício anal com movimen to rotatório. Retirá-lo e colocá-lo no tubo-suporte com meio de transporte, introduzindo-o na geléia até o fundo do tubo. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material em meio de conserva ção deve ser remetido ao laboratório o mais rápido possível. Não refrigerar. Microscopia por coloração de Gram: Colher um swab sem meio de transporte e fazer o esfregaço imediatamente em duas lâ minas de vidro limpas, friccionando-o duas vezes sobre cada uma delas. Esperar secar. Enviar as lâminas embrulhadas em papel ou colocadas em envelope próprio. Lâminas preparadas após 15 minutos da coleta podem alterar de forma significativa a qualidade do material (com morte da bactéria e destruição celular) e, conseqüentemente, o resultado. A SOLICITAÇÃO MÉDICA DEVE ESPECIFICAR OS EXAMES DESEJADOS: – Microscopia por coloração de Gram; – Microscopia para fungos; – Pesquisa de Trichomonas spp.; – Pesquisa de Treponema spp.; – Pesquisa de Haemophilus spp.; – Pesquisa de bacilos álcool-ácido resistentes; – Cultura automatizada para aeróbios; – Cultura para Neisseria spp.; – Cultura para Mycoplasma-Ureaplasma; – Cultura para micobactérias; – Cultura para fungos; – Antibiograma. Ao contrário das infecções das vias aéreas superiores, as que acometem o trato respiratório inferior ten dem a ser mais graves, principalmente quando cau sadas por microrganismos gram-negativos em doen tes hospitalizados e debilitados. Grande parte dessas infecções é de etiologia bacteriana. A bronquite geralmente é resultado de infecção viral da árvore traqueobrônquica. Bordetella pertussis, Mycoplasma pneumo niae e Chlamydia pneumoniae podem provocar a forma agu da da doença, enquanto as formas crônicas geralmente são encontradas em fumantes ou em associação com poluição. A exacerbação desses processos freqüentemente estão associa das a Haemophilus influenzae e Streptococcus pneumoniae. A pneumonia é causada por uma grande variedade de bacté rias, fungos, vírus e parasitas. As do tipo bacteriano, adquiridas na comunidade, podem ocorrer espontaneamente ou como complicações de infecções virais. Seus agentes mais comuns são Streptococcus pneumoniae, Mycoplasma pneumoniae, Hae mophilus influenzae e Legionella spp. As pneumonias bacteria nas adquiridas em hospitais têm como agentes mais freqüen tes Staphylococcus aureus, Klebsiella pneumoniae, Pseudomo nas aeruginosa e outras enterobactérias. Na pneumonia crôni ca, a causa mais freqüente é o Mycobacterium tuberculosis e, a seguir, outras micobactérias. O empiema pleural em geral é uma complicação da pneumo nia bacteriana, e ocasionalmente pode ser conseqüência de uma infecção extrapulmonar. Outra complicação deste tipo de pneumonia é o abscesso pulmonar. Os patógenos mais en contrados neste processo são anaeróbios da flora oral, como Staphylococcus aureus, Streptococcus pyogenes, estreptococos do grupo viridans e enterobactérias. O tratamento etiológico específico é prejudicado por dificul dades relacionadas ao isolamento de microrganismos de difí cil crescimento e ao reconhecimento do significado clínico dos germes isolados. Para estabelecer o diagnóstico etiológico das infecções res piratórias baixas, o espécime clínico submetido com maior freqüência a estudo é o escarro, que quase inevitavelmente é contaminado pela flora microbiana da orofaringe e pela saliva durante a expectoração. Assim, tanto o valor da cultura quanto o da bacterioscopia têm sido questionados devido ao elevado 268 10 Microbiologia BOOK 16.indd 268 26.10.06 17:29:58 e antes de ele se alimentar. Retirar próteses dentárias. Fazer cidade da cultura de escarro têm sido adotadas, como o uso de higiene oral por bochechos e gargarejos com solução fisioló tampões de algodão na saída das glândulas salivares, precedi gica estéril (cerca de 200mL). Em seguida, colocar tampões de dos da rinsagem da cavidade oral com solução salina estéril; a algodão de uso odontológico entre a bochecha e a gengiva, lavagem do escarro antes do plantio; e a seleção das amostras bem como sob a língua, nos orifícios de saída das glândulas a serem semeadas, de acordo com o número de células epite salivares. A expectoração deve ser obtida após a mobilização liais e de leucócitos presentes. das secreções brônquicas por uma série de tapotagens. Fazer o As secreções respiratórias baixas também podem ser coletadas por fibrobroncoscópio, aspiradas por traqueostomia ou tubo endotraqueal, lavado broncoalveolar, aspirado transtraqueal, punção transtorácica e biópsia. Nos casos de difícil diagnósti co, deve-se preferir um cateter duplo, ocluído distalmente com polietilenoglicol e introduzido através do fibrobroncoscópio até o local da reação inflamatória. Este método de coleta, pou co agressivo, apresenta ótima especificidade por evitar conta minação com as vias respiratórias superiores. Nas culturas quantitativas das secreções respiratórias, tem-se estabelecido o limite de 10 microrganismos por mL como valor crítico para a caracterização da responsabilidade de agentes infecciosos isolados no processo em questão. Na pesquisa de bacilos álcool-ácidos resistentes, esfregaços positivos são quantificados e reportados como: 1+ (menos de 1 bacilo por campo em 100 campos microscópicos observados); 2+ (de 1 a 10 bacilos por campo em 50 campos microscópicos observados); 3+ (mais de 10 bacilos por campo em 20 campos microscópicos observados). A cultura para Mycobacterium spp. é mais sensível do que o exame direto, portanto o esfregaço pode ser negativo e a cultura, positiva. Escarro PREPARO DO PACIENTE: Ao passar pela cavidade oral, o escarro é contaminado pela rica microbiota anaeróbia e aeróbia lo cal. Isso torna o material inadequado para a investigação de infeções anaeróbias pulmonares e apresenta grande número de resultados falso-positivos e falso-negativos quando com parados com os obtidos por aspirado transtraqueal, coleta por broncoscopia ou punção transtorácica. A coleta deve ser feita de preferência pela manhã, hora em que o material costuma ser mais abundante, e antes da ingestão de alimentos sólidos ou líquidos. Deve-se frisar a importância de se colher escarro e não saliva para se obter um resultado útil. Em pacientes com expectoração escassa, recomenda-se o aumento da ingestão líquida no dia anterior ao exame. Nos acamados ou pouco coo perativos, usar a tapotagem da face dorsal do tórax, buscando paciente inspirar profundamente algumas vezes e tossir, pro curando expectorar a quantidade máxima de secreção das vias aéreas baixas. Recolher o escarro diretamente em frasco estéril fornecido pelo laboratório. Tampar o frasco imediatamente. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material deve ser entregue ao laboratório no prazo de duas horas. Não refrigerar. Cultura para micobactérias e fungos: Recomenda-se a coleta pela manhã de três amostras, separadamente, em dias conse cutivos. Seguir a orientação anterior quanto ao preparo, coleta, conservação e transporte. Lavado broncoalveolar A cultura quantitativa do lavado broncoalveolar é importante MICROBIOLOGIA COLETA: Deve ser feita quando o paciente acorda pela manhã INFECÇÕES DO TRATO RESPIRATÓRIO INFERIOR percentual de resultados falso-positivos e falso-negativos. Diversas medidas para aumentar a sensibilidade e a especifi no diagnóstico de pneumonia associada à ventilação assisti da, em que a contagem a partir de 104 colônias por mililitro é indicativa da forma bacteriana da doença. Abaixo desses valo res, sugere contaminação da orofaringe. Este conceito teórico tem sido validado por numerosos estudos clínicos e conse qüentemente é a metodologia de referência nesses casos. PREPARO DO PACIENTE: A coleta deve ser feita pelo médico as sistente. COLETA: Proceder de acordo com a técnica específica para a co leta do material, com rigorosa assepsia. O material obtido deve ser enviado ao laboratório em frasco estéril. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material deve ser entregue ao laboratório no prazo de uma hora. Microscopia por coloração de Gram: A lâmina é preparada no laboratório. A SOLICITAÇÃO MÉDICA DEVE ESPECIFICAR OS EXAMES DESEJADOS: – Microscopia por coloração de Gram; – Microscopia para fungos; – Cultura quantitativa para aeróbios; – Cultura para aeróbios; – Cultura para anaeróbios (BAL); – Cultura para micobactérias; – Cultura para fungos; – Antibiograma. facilitar a eliminação do material. 269 10 Microbiologia BOOK 16.indd 269 26.10.06 17:29:59 SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA BIOINFORME testados para detecção de antígenos e pela cultura, já que a sensibilidade do primeiro exame é inferior ao segundo. Nos casos em que existe suspeita do envolvimento de Neisseria gonorrhoeae e de Corynebacterium diphtheriae, deve haver no pedido solicitação para a cultura destes agentes. Dentre todos os processos infecciosos, os respirató rios são os que com maior freqüência acometem o homem. A maioria das infecções do trato respiratório superior é de origem viral, embora uma fração signi ficante seja causada por bactérias. A microbiota normal do trato respiratório superior inclui Neisseria spp., não patogênicas, estreptococos alfa-hemolíticos e não-hemolíticos, Haemophilus spp., Corynebacterium spp. A invasão de microrganismos no trato respiratório superior pode provocar abscessos peritonsilares e retrofaríngeos, cau sados principalmente por Streptococcus pyogenes e microrga nismos anaeróbios. A epiglotite é doença da infância, quase que exclusivamente causada por Haemophilus influenzae do tipo b. Mas a coleta de espécimes da epiglote inflamada é contra-indicada pelo risco de provocar obstrução reacional à passagem de ar. Pode-se colher hemocultura para identificar (difteróides) e bactérias anaeróbias. Também podem ser isola o agente causal. dos Streptococcus pneumoniae e estafilococos, e um pequeno Não é raro o envolvimento da laringe nos casos de formas dis número de bacilos gram-negativos ou leveduras, que costu mam ser mais comuns em pacientes alcoólatras, diabéticos ou hospitalizados. seminadas de histoplasmose, blastomicose e na tuberculose. Mas para se estabelecer um diagnóstico correto, é necessária a cultura para estes agentes. Infecções nasais são raras. O escleroma, um granuloma destru tivo do nariz, é provocado pela Klebsiella rhinoschleromatis, e a ozena, uma atrofia progressiva da mucosa nasal, pela Klebsiella ozaenae. Embora o nariz seja um sítio comum de colonização do Staphylococcus aureus, uma infecção local não é tão fre qüente quanto as que ocorrem nos sítios vizinhos (seios para nasais e nasofaringe). Já a nasofaringe é freqüentemente colonizada por bactérias de importância epidemiológica. A secreção local é utilizada para o diagnóstico da coqueluche, e a cultura de swabs pode ser feita para detectar portadores de Neisseria meningiti dis, Corynebacterium diphtheriae, Streptococcus pyogenes e Staphylococcus aureus. Os agentes causais mais comuns de sinusites agudas nos adul tos são o Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae; nas crianças, além destes, há também a Branhamella catar rhalis. Nas sinusites crônicas, os agentes predominantes em adultos são os germes anaeróbios e o Staphylococcus aureus; nas crianças, são os mesmos encontrados na forma aguda, so mados ao Staphylococcus aureus e aos estreptococos do grupo viridans. Os pacientes com sinusite crônica ou aguda que não respondem ao tratamento empírico necessitam da identifica ção do agente infeccioso no aspirado sinusal. Grande parte das faringites bacterianas é autolimitada e não deixa seqüelas. Recomenda-se a terapia antimicrobiana quan do as causas são Streptococcus pyogenes (grupo A), Neisseria gonorrhoeae e Corynebacterium diphtheriae. Os swabs de oro faringe para diagnóstico de Streptococcus pyogenes devem ser Secreção sinusal PREPARO DO PACIENTE: A coleta deve ser feita antes do uso de antimicrobianos. COLETA: Puncionar o local com técnica rigorosamente assépti ca. Proceder de acordo com a técnica específica para punção dos seios da face. Aspirar o material com seringa. Retirar as bo lhas de ar do interior da seringa e vedar a ponta da agulha com uma rolha de borracha. Assim, evita-se a entrada de ar, medida importante na pesquisa de anaeróbios. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material deve ser enviado ao la boratório até uma hora após a coleta. Se isto não for possível, o material pode ser colocado em meio líquido para conservação. Neste caso, injetar aproximadamente 2mL da amostra obtida em frasco com meio líquido fornecido pelo laboratório. Microscopia por coloração de Gram: É realizada no laboratório, apenas em material sem meio de conservação. Secreção nasal PREPARO DO PACIENTE: Deve-se evitar a coleta de secreção pu rulenta ou de crostas, já que nelas a probabilidade de isola mento de microrganismos significativos é pequena, devido às más condições de nutrição locais e à presença de substâncias inibidoras. COLETA: Deve ser feita antes da aplicação de qualquer produto tópico e/ou antimicrobianos. Remover secreções purulentas ou crostas com gaze estéril embebida em salina. Introduzir o swab 270 10 Microbiologia BOOK 16.indd 270 26.10.06 17:29:59 introduzindo-o na geléia até o fundo do tubo. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material que não for semeado em 15 minutos deverá ser mantido em meio de transporte ade quado (Stuart), fornecido pelo laboratório. Microscopia por coloração de Gram: Colher um swab sem meio de transporte e fazer o esfregaço imediatamente em duas lâ minas de vidro limpas, friccionando-o duas vezes sobre cada uma delas. Esperar secar. Enviar as lâminas embrulhadas em papel ou colocadas em envelope próprio. Lâminas preparadas após 15 minutos da coleta podem alterar de forma significativa a qualidade do material (com morte da bactéria e destruição celular) e, conseqüentemente, o resultado. Secreção de nasofaringe PREPARO DO PACIENTE: A coleta deve ser feita antes do uso de produtos tópicos. COLETA: Introduzir um swab estéril e flexível pelo meato nasal, paralelo ao palato superior, buscando atingir o orifício poste rior das fossas nasais e tentando evitar tocar a mucosa da na rina. Ao sentir o obstáculo da parede posterior da nasofaringe (neste momento, há lacrimejamento), fazer um discreto mo vimento circular e retirar o swab, recolocando-o no tubo com meio de transporte e introduzindo-o na geléia até o fundo do tubo. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material que não for semeado em 15 minutos deverá ser mantido em meio de transporte ade PREPARO DO PACIENTE: A coleta deverá ser feita de preferência pela manhã, antes da ingestão de alimentos líquidos e/ou sóli dos, antes do uso de qualquer produto tópico e da administra ção de antimicrobianos sistêmicos. COLETA: Orientar a coleta para as áreas hiperemiadas, sem pus ou material necrótico, pois uma amostra destas áreas invia biliza o isolamento de germes patogênicos. Nesses materiais, a presença de substâncias tóxicas inibidoras e a restrição nu tritiva impedem a sobrevivência de microrganismos mais exi gentes. Outro cuidado importante é evitar que o swab toque a língua, pois a saliva é rica em micróbios da microbiota normal, que prejudicam o isolamento dos patogênicos. Com iluminação adequada, abaixar a língua do paciente com uma espátula. Passar o swab nos locais hiperemiados (faringe posterior, pilares direito e esquerdo e amídalas) ou nos pontos onde houve a remoção de placas e/ou membranas. Recolocar o swab no tubo com meio de transporte, introduzindo-o na ge léia até o fundo do tubo. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material que não for semeado em 15 minutos deverá ser mantido em meio de transporte ade quado (Stuart). Microscopia por coloração de Gram: Colher um swab sem meio de transporte e fazer o esfregaço imediatamente em duas lâ minas de vidro limpas, friccionando-o duas vezes sobre cada uma delas. Esperar secar. Enviar as lâminas embrulhadas em papel ou em envelope próprio. Lâminas preparadas após 15 mi nutos da coleta podem alterar de forma significativa a qualida de do material (com morte da bactéria e destruição celular) e, quado (Stuart), fornecido pelo laboratório. conseqüentemente, o resultado. de transporte e fazer o esfregaço imediatamente em duas lâ terial localiza-se junto à membrana formada. Quando esta não Microscopia por coloração de Gram: Colher um swab sem meio minas de vidro limpas, friccionando-o duas vezes sobre cada uma delas. Esperar secar. Enviar as lâminas embrulhadas em papel ou em envelope próprio. Lâminas preparadas após 15 mi Pesquisa de bacilo diftérico: O sítio ideal para a coleta do ma MICROBIOLOGIA cada narina. Recolocar o swab no tubo com meio de transporte, Secreção de orofaringe INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO coanas. Quando não houver lesão aparente, colher um swab de INFECÇÕES DO TRATO RESPIRATÓRIO SUPERIOR na narina com lesão. Friccionar o local da lesão, sem atingir as estiver presente, colher sempre amostra da orofaringe, gargan ta e nasofaringe. Seguir a orientação anterior quanto ao prepa ro, coleta e transporte. nutos da coleta podem alterar de forma significativa a qualida de do material (com morte da bactéria e destruição celular) e, conseqüentemente, o resultado. Pesquisa de bacilo diftérico: Quando o pedido não indicar o sítio para a coleta, colher sempre material da oro e da naso faringe. Seguir a orientação anterior quanto ao preparo, cole ta, conservação e transporte. Solicita-se colher um swab para realizar o exame direto (coloração de Albert Laybourn) e outro para cultura específica. Pesquisa de Streptococcus beta-hemolítico do grupo A (Cultu ra): Quando o pedido não indicar o sítio para a coleta, colher o material da naso e orofaringe. Seguir a orientação anterior quanto ao preparo, coleta, conservação e transporte. A urina é um ultrafiltrado estéril do sangue. Na ausên cia de infecção, ela emerge dos rins e da bexiga, livre de microrganismos. Durante a passagem pela uretra distal, no homem, e pela uretra e tecidos adjacentes, 271 10 Microbiologia BOOK 16.indd 271 26.10.06 17:30:00 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA na mulher, pequeno número de bactérias pode entrar na os microrganismos derivam de tecidos infectados e realmente corrente urinária como contaminantes. Os mais comuns são estão se multiplicando na urina. A infecção do trato urinário Lactobacillus spp., Corynebacterium spp., estreptococos do gru pode, por vezes, limitar-se ao crescimento das bactérias na uri po viridans, estafilococos coagulase-negativa, estreptococos na, sendo silenciosa e assintomática. É a assim chamada “bac não-hemolíticos e anaeróbios. Patógenos em potencial, como teriúria assintomática”. as enterobactérias e ocasionalmente as leveduras, podem também estar presentes como colonizadores transitórios. O método de referência para determinar a presença de “bac teriúria significativa” é a cultura quantitativa da urina. Para Os agentes etiológicos das infecções do trato urinário em ge que os resultados tenham boa correlação com a clínica, é ral são microrganismos de crescimento rápido. Escherichia coli, essencial que se disponha de amostra colhida de forma ade Enterococcus spp., Klebsiella-Enterobacter spp., Proteus spp. e quada: por emissão limpa do jato médio, punção suprapúbica Pseudomonas spp. representam a maioria dos isolamentos, tan- ou cateter. A coleta do jato médio da urina e a higiene cuida to em pacientes hospitalizados quanto em ambulatoriais. Até dosa da região genital são fundamentais para a obtenção do 50% do total de infecções adquiridas em hospitais gerais são espécime apropriado. Além disso, é importante lembrar que a urinárias. A Escherichia coli é o microrganismo mais freqüente urina é um excelente meio de cultura para microrganismos e, nas infecções não-complicadas do trato urinário. Em mulhe portanto, deve ser semeada logo após a coleta ou refrigerada res adultas jovens, o segundo microrganismo mais comum é até ser semeada. o Staphylococcus saprophyticus. Nas infecções complicadas, os mais isolados são as enterobactérias. Tal como o Acinetobacier spp. e a Candida spp., elas também são freqüentemente encon tradas em pacientes submetidos à instrumentação. Entre as bactérias gram-positivas, o Staphylococcus aureus tende a ser mais invasivo e pode ser secundário à bacteriemia, produzindo abscessos renais. O Staphylococcus epidermidis é a causa mais freqüente de infecção associada ao uso de cateter. O Streptococcus beta-hemolítico do grupo B é particularmente importante como causa de infecção no recém-nascido e tam bém pode produzir pielonefrite por bacteriemia em adultos. Os fungos estão relacionados principalmente a pacientes dia béticos, imunodeprimidos e ao uso prolongado de antibióticos e cateter. O Mycobacterium tuberculosis pode infectar os rins e ser isolado na urina. Em geral, as bactérias atingem o trato urinário por via ascen dente ou, mais raramente, por via hematológica. As infecções do trato urinário podem envolver os rins, ureteres, bexiga e uretra, sendo as duas últimas mais comumente afetadas. Clinicamente, os quadros são variados. O mais freqüente é a cistite. Mulheres que apresentam cistite, na ausência de bacte riúria significativa em urina de emissão espontânea, são descri tas como portadoras de síndrome uretral aguda ou síndrome de disúria-piúria. A pielonefrite pode ser assintomátca ou ocul ta, principalmente em pacientes com fatores predisponentes. Assim, mulheres com disúria aguda podem ter cistite aguda, pielonefrite oculta ou síndrome uretral aguda. A disúria tam bém pode ser conseqüência de uretrite causada por Neisseria gonorrhoeae ou Chlamydia trachomatis. É fundamental distinguir “bacteriúria”, que é a presença de bactérias na urina, de “bacteriúria significativa”, que indica que Embora seja o mais traumático, o método mais confiável para a coleta de urina é a punção vesical suprapúbica, que tem sido utilizada como processo de escolha para o esclarecimento de casos duvidosos e na suspeita de infecções por anaeróbios. Piúria concomitante com bacteriúria é também um fator impor tante para estabelecer a presença de infecção do trato urinário por evidência indireta. Sua determinação varia com o fluxo da urina, o estado de hidratação, o uso de drogas e o método de coleta. Pode se observar piúria estéril em casos de tuberculose renal, tumores, corpos estranhos, glomerulonefrites, uretrites agudas, infecções por anaeróbios e cálculos, entre outras con dições. Infecções sintomáticas podem cursar sem piúria, que está ausente em mais da metade dos casos de bacteriúria as sintomática. O método de coloração de Gram da urina não centrifugada pode detectar a presença de bactérias e leucócitos. Nesta téc nica, a presença de um ou mais microrganismos por campo de imersão correlaciona-se com contagens de colônias iguais ou superiores a 100.000 UFC (unidades formadoras de colônias) por mL de urina. A presença de muitas células epiteliais des camativas e diferentes morfotipos microbianos indicam con taminação. O critério de 100.000 UFC por mL ou mais, indicando “bac teriúria significativa”, é útil, mas não absoluto. A presença de 100 UFC/mL de urina é considerada significativa quando o mi crorganismo isolado é um patógeno esperado para vias uriná rias, como enterobactérias ou Staphylococcus saprophyticus, na coleta realizada por micção espontânea ou cateterismo uretral. Sabe-se que cerca de um terço das mulheres com cistite agu da apresentam contagens entre 100 UFC/mL e 10.000 UFC/mL. 272 10 Microbiologia BOOK 16.indd 272 26.10.06 17:30:01 do trato urinário. O isolamento de outras espécies bacteria nas, como Streptococcus, Staphylococcus, lactobacilos, fungos, COLETA: Mulheres – Sentar no vaso sanitário com as pernas afastadas, destampar o frasco estéril. Com uma das mãos afastar os gran lábios e com a outra segurar o frasco já destampado. Colher Gardnerella spp. ou difteróides, no entanto, deve ser analisado o primeiro jato da primeira urina da manhã (aproximadamen com cautela, pois, independentemente do número de UFC, é te 10mL). Tampar o frasco imediatamente após a coleta. grande a possibilidade de contaminação, a menos que existam Homens – Com uma das mãos retrair o prepúcio. Segurar o fras evidências de infecção verdadeira. Estes germes normalmente co com a outra mão e colher o primeiro jato da primeira urina estão presentes no períneo e raramente causam infecção do da manhã em frasco estéril (aproximadamente 10mL). Tampar trato urinário. Nestes casos, recomenda-se repetir a cultura, in- o frasco imediatamente após a coleta. tensificando-se os cuidados da coleta da amostra. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O ideal é a coleta no laboratório. Outro dado importante é a superposição no nível de bacteriú A urina de primeiro jato não pode ser refrigerada e deve ser ria de infectados e não infectados, principalmente nas con enviada ao laboratório no máximo em 30 minutos. A refrigera tagens de colônias entre 10.000 UFC/mL e 100.000 UFC/mL. ção inviabiliza alguns importantes agentes de uretrites como Em mulheres com síndrome disúria-piúria, a urina apresenta a Neisseria gonorrhoeae. contagens de colônias entre 100 UFC/mL e 10.000 UFC/mL. Um Pesquisa de Trichomonas vaginalis – por exame a fresco: Seguir terço destas pacientes evolui para quadros de bacteriúria sig a orientação anterior quanto ao preparo, coleta e conservação. nificativa. Além disso, diversos fatores propiciam culturas de A urina deve ser colhida no laboratório. urina com contagens baixas em pacientes com infecção, como hidratação e diurese, gravidez, obstrução do trato urinário, aci dificação da urina ou tempo de permanência na bexiga e ger MICROBIOLOGIA feminino, desde que haja manifestação clínica de infecção INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO Este critério é considerado importante em pacientes do sexo Cultura para Mycoplasma-Líreaplasma: Seguir a orientação an terior quanto ao preparo, coleta e conservação. A urina deve ser colhida no laboratório. mes de crescimento lento ou exigentes. Na rotina laboratorial, a contagem de bactérias é feita por citometria de fluxo, realizando-se culturas em diluições que permitam detectar a contagem a partir de 100 UFC/mL. No diagnóstico da bacteriúria assintomática são necessárias duas culturas com mais de 100.000 UFC por mL. Assim,na interpretação da urinocultura deve-se considerar o nú mero de amostras, o sexo, a idade (em urinas muito diluídas de crianças, a contagem de microrganismos pode ser mais baixa), o quadro clínico do paciente e o processo de coleta da urina. Jato médio É recomendável amostra da primeira urina da manhã. Havendo suspeita clínica de infecção urinária aguda, o material poderá ser colhido e processado em qualquer horário. Em pacientes assintomáticos, coletar três amostras em dias consecutivos. PREPARO DO PACIENTE: O ideal é colher a urina antes do uso de an timicrobianos. Fazer a higiene da região genital com água e sa bão. Não usar anti-sépticos. Enxugar com toalha limpa ou gaze. COLETA: Mulheres – Sentar no vaso sanitário com as pernas afasta Urina Primeiro jato O melhor espécime representativo da uretra é sua secreção, obtida por drenagem espontânea ou por raspado da mucosa, colhida com swab ou alça. O primeiro jato urinário subme te os microrganismos aos efeitos antimicrobianos da urina. Entretanto, na impossibilidade de coleta de secreção uretral, costuma-se usar o primeiro jato urinário para avaliação de in fecção local. PREPARO DO PACIENTE: Colher a urina antes do uso de antimicro bianos. Fazer a higiene das mãos e da região genital com água e sabão. Não usar anti-séptico. Enxugar com gaze ou toalha limpa. das, destampar o frasco estéril. Com uma das mãos afastar os grandes lábios e com a outra segurar o frasco já destampado. Desprezar o primeiro jato. Colher a porção média no frasco es téril, urinando em jato para que a urina não escorra pela região genital. Tampar o frasco imediatamente. Desprezar o restante da micção. Homens – Destampar o frasco estéril. Retrair o prepúcio com uma das mãos e com a outra segurar o frasco já destampado. Desprezar o primeiro jato de urina, colhendo a porção média no frasco estéril. Tampar o frasco imediatamente. Desprezar o restante da micção. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: A urina deve ser mantida no refrige rador até ser levada ao laboratório. O transporte deverá ser fei to em banho de gelo (envolvendo o frasco com pedras de gelo), se o tempo gasto até o laboratório for maior do que uma hora. 273 10 Microbiologia BOOK 16.indd 273 26.10.06 17:30:02 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Cultura para micobactérias e pesquisa de bacilos álcool-ácido resistentes: A pesquisa de bactérias álcool-ácido resistentes na urina pode dar resultados falso-positivos pela presença de micobactérias saprófitas da uretra e, eventualmente, bactérias álcool-ácido resistentes de outros gêneros. Veja orientação an terior quanto a preparo e coleta. É recomendável a coleta de três a cinco amostras em dias con secutivos. A urina de 24 horas não oferece resultados confiáveis como a série proposta anteriormente, pela diluição excessiva e alta contaminação. As amostras de urina devem ser entregues diariamente ao laboratório após cada coleta. Saco coletor bia, não se admite a coleta por micção espontânea, pela possibi lidade de contaminação com a microbiota anaeróbia uretral. PREPARO DO PACIENTE: O ideal é colher a urina antes do uso de antimicrobianos. Fazer limpeza prévia do local com álcool a 70%, para remover substâncias gordurosas da superfície da pele e dos poros. Passar algodão embebido em iodo a 2%, fa zendo movimentos circulares de dentro para fora, não retor nando com o algodão usado para o mesmo ponto já fricciona do. Deixar secar. Remover os resíduos de iodo da pele com uma segunda aplicação de álcool a 70%, seguindo a mesma regra anterior. Repetir a manobra por duas a três vezes. Usar luvas esterilizadas para efetuar a punção. COLETA: Evitar a entrada de ar na seringa, vedando a agulha PREPARO DO PACIENTE: O ideal é colher a urina antes do uso de com rolha de borracha. antimicrobianos. Fazer a higiene da região genital com água e CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: O material deve ser encaminhado sabão. Não usar anti-sépticos. Nos meninos, retrair o prepúcio e lavar a região cuidadosamente. Nas meninas, limpar sempre de cima para baixo, trocando a compressa sempre que voltar ao lo cal onde iniciou a higiene. Enxugar com toalha limpa ou gaze. COLETA: Retirar o papel que recobre a parte adesiva e fixar o ori fício do saco coletor à região genital em torno da uretra. Aguar dar que a criança urine. Se ela não urinar em um período de 30 minutos, repetir a higiene e trocar o saco coletor. Assim que a criança urinar, retirar o saco coletor e fechá-lo, colando as bor das do orifício. Verificar se está vedado. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE: A urina deve ser mantida no refrige rador até ser levada ao laboratório. O transporte deverá ser fei ao laboratório imediatamente. A SOLICITAÇÃO MÉDICA DEVE ESPECIFICAR OS EXAMES DESEJADOS: – Microscopia por coloração de Gram; – Microscopia para fungos; – Pesquisa de Trichomonas spp.; – Pesquisa de bacilos álcool-ácido resistentes; – Cultura automatizada para aeróbios; – Cultura para anaeróbios – Cultura para Mycoplasma-Ureaplasma; – Cultura para micobactérias; – Cultura para fungos; – Antibiograma. to em banho de gelo (envolver o saco coletor com pedras de gelo) se o tempo até o laboratório for maior do que uma hora. Cateter vesical Urina coletada por cateter vesical de pacientes cateterizados há mais de 24 horas deve ter os resultados da cultura cuida dosamente analisados, já que pode haver colonização por ou tros microrganismos que não o agente da infecção do trato uri nário. Nestes casos, a cultura retratará a microbiota do cateter e não necessariamente a do paciente. Nunca colher urina por punção do cateter. O ideal para uma amostra representativa é a coleta imediatamente após a troca do instrumento. Pelos riscos de infecção ascendente que a manobra acarreta, não se recomenda a realização de cateterismo unicamente para a co leta de urina. Punção suprapúbica É o método de escolha para coleta de urina destinada ao isola mento de bactérias anaeróbias. Na suspeita de infecção anaeró- TESTE DE SENSIBILIDADE A AGENTES ANTIMICROBIANOS – ANTIBIOGRAMA AUTOMATIZADO Sempre que não se conhece a sensibilidade de um microrganismo que contribui para um processo infec cioso, devem ser feitos testes, especialmente quando se trata de espécies capazes de desenvolver resistên cia aos agentes antimicrobianos normalmente usa dos. Alguns microrganismos são reconhecidamente suscetíveis a certos agentes antimicrobianos e o tra tamento empírico é largamente utilizado. A penicilina, por exemplo, é uma droga eficaz para o tratamen to de Streptococcus pyogenes, o que torna desnecessário o tes te de sensibilidade. A exceção é quando o paciente é alérgico a 274 10 Microbiologia BOOK 16.indd 274 26.10.06 17:30:02 que têm aplicabilidade clínica em alguns sítios do organismo, para a Gardnerella vaginalis, pois o tratamento empírico (me onde normalmente se concentram (em geral, quinolonas e tronidazol) já está estabelecido. beta-lactâmicos na urina) ou quando altas doses podem ser O teste de sensibilidade aos antimicrobianos tem importante valor preditivo negativo. Detectar resistência é mais importan utilizadas com fins terapêuticos (em geral, beta-lactâmicos). Resistente: Indica que não há inibição do crescimento bac te do ponto de vista clínico, porque pode se saber assim a pro teriano (in vitro) pelo agente antimicrobiano testado. Neste babilidade de êxito terapêutico. Por outro lado, a sensibilidade caso, o uso destes agentes antimicrobianos se restringe a cer de um microrganismo diante de um agente antimicrobiano tos fluidos corporais, onde se alcançam altas concentrações não é certeza absoluta de sucesso no tratamento, pois as rea das drogas. ções in vivo podem ser diferentes das que ocorrem in vitro. A utilização do teste de sensibilidade por diluições (MIC) re Alguns microrganismos fastidiosos requerem testes de sen quer o conhecimento das concentrações do grupo de drogas sibilidade específicos, como por exemplo Haemophilus spp., que inibem o crescimento de patógenos sob condições cuida Neisseria gonorrhoeae e Streptococcus pneumoniae. Tem-se dosamente definidas pelo laboratório farmacêutico. Para fazer revelado de grande importância a detecção de espécies pro a seleção racional dos antibióticos mais apropriados para o dutoras de beta-lactamase, enzima que inativa a ação de anti paciente, o clínico necessita estar ciente de pelo menos três microbianos que apresentam o anel beta-lactâmico na estru informações: tura química, como as penicilinas e cefalosporinas. O teste é útil para as bactérias Neisseria gonorrhoeae, Haemaphilus spp., Moraxella catarrhalis, Enterococcus spp., Staphylococcus aureus e estafilococos coagulase-negativa. Algumas cepas de Enterococcus spp. têm apresentado alto ní vel de resistência aos aminoglicosídios, indicando que o uso de 1. A farmacocinética do agente antimicrobiano, incluindo o sí tio de infecção, valor do pico sérico e a velocidade com que este nível decai, isto é, a meia-vida; 2. Avaliar o comportamento do microrganismo isolado quando comparado a outros isolamentos da mesma espécie; 3.Correlacionar qualquer informação da resposta terapêutica penicilinas combinado a aminoglicosídios, visando uma ação a um microrganismo específico entre pacientes (especialmen- sinérgica, não terá o efeito desejado. Neste caso, recomenda-se te nos ambientes hospitalares). testar antimicrobianos em alta concentração de gentamicina (120µg) e estreptomicina (300µg) ou através de equipamen to automatizado. Esta pesquisa é indicada em isolamentos do sangue e do liquor. Sem essas informações podem ocorrer interpretações inade quadas. Um antibiótico como a ampicilina, por exemplo, com um MIC de 2mcg/mL para E. coli, pode ser erroneamente consi derado menos efetivo do que um aminoglicosídio como a gen A pesquisa da enzima beta-lactamase de espectro ampliado, tamicina, com MIC de 0,5mcg/mL, caso sejam considerados mais comumente encontrada na E. coli e Klebsiella pneumo apenas os valores absolutos, independentemente do sítio de niae — embora também possa estar presente em outras en infecção. Na verdade, os níveis encontrados no soro são mais terobactérias —, tem demonstrado ser um dado fundamental altos para ampicilina do que para gentamicina, além do risco na liberação dos testes de sensibilidade, já que sua presença de toxicidade ser bem menor na ausência de história de reação indica resistência aos antimicrobianos beta-lactâmicos, não alérgica. A escolha para a terapia seria então a ampicilina e não evidenciada no antibiograma usual. o antibiótico de menor valor de MIC. A automação do antibiograma também permite a avaliação da O laboratório pode auxiliar o médico assistente a escolher concentração inibitória mínima (MIC), traduzida como a me uma terapia racional através de resultados quantitativos (MIC), nor concentração do antimicrobiano capaz de inibir o cresci acompanhados de interpretaçâo. Deve-se discutir a respos mento do microrganismo (in vitro). Sua interpretação se divide ta esperada no soro e nos líquidos corporais ou tecidos onde em sensível, intermediário e resistente. concentrações similares ao soro são encontradas. Devemos Sensível: Indica que houve inibição do crescimento (in vitro) da espécie bacteriana pelo agente antimicrobiano específico. Isso implica que o microrganismo deve responder às doses usuais do agente antimicrobiano em questão administrado pela via apropriada, incluindo a oral. MICROBIOLOGIA Intermediário: Nesta categoria agrupam-se os antimicrobianos TESTE DE SENSIBILIDADE A AGENTES ANTIMICROBIANOS–ANTIBIOGRAMA AUTOMATIZADO este antimicrobiano. Neste caso, deve-se testar a sensibilidade à eritromicina. Da mesma forma, é dispensável efetuar teste sempre lembrar que, por alcançar concentrações elevadas em sítios específicos, como na urina e na bile, um determinado microrganismo, classificado como resistente a um agente antimi crobiano pelo critério do soro (MIC), pode ser erradicado numa infecção de trato urinário baixo. Por exemplo, o isolamento de 275 10 Microbiologia BOOK 16.indd 275 26.10.06 17:30:03 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA E. coli com MIC de 32mcg/mL para ampicilina pode ser conside rado resistente para o soro, onde concentrações relativamente baixas da droga estão presentes. Por outro lado, a concentração de centenas de microgramas por mililitro de ampicilina, observada na urina, poderia indicar seu uso com provável sucesso terapêutico em infecções do trato urinário inferior, apesar da resistência detectada pelo antibio grama. Considerando-se que a ampicilina tem um menor custo e menor toxicidade, cabe ao clínico, conhecendo suas caracte rísticas farmacocinéticas, a decisão do uso de um determinado agente antimicrobiano, apesar da resistência do microrganis mo. Obviamente, a severidade da infecção e o dano potencial ao paciente têm impacto fundamental nessa decisão. EXAME DIRETO: Ao microscópio, visualizam-se: hifas septadas, curtas e espessas e blastoconídios agrupados em cachos. Este achado define o diagnóstico. CULTURA: Não se faz de rotina. Tinha negra Micose provocada pelo fungo denominado Exophiala werneckii. A lesão, na palma da mão ou na planta dos pés, apresenta-se acastanhada, discretamente descamativa e de bordas definidas. MATERIAL: É obtido pela raspagem da lesão, utilizando-se uma cureta dermatológica, e recolhido em placa de Petri, envelope apropriado ou entre duas lâminas limpas. EXAME DIRETO: Positivo: Hifas acastanhadas, septadas e ramificadas. Cultura: Permite a identificação definitiva do fungo. Pedra branca É provocada pelo fungo denominado Trichosporum beigelii. Caracteriza-se por um nódulo claro aderido ao pêlo. Sua locali ação mais freqüente é a região pubiana, mas pode acometer Tem como objetivo o diagnóstico das infecções fúngi cas e de algumas infecções bacterianas afins. Micoses superficiais Consiste no diagnóstico das seguintes micoses: pitiríase versi color, pedra branca, pedra negra e tinha negra. A tricomicose nodular axilar, dermatofitose e eritrasma, provocadas por bac térias, também são diagnosticadas no setor de micologia. Pitiríase versicolor É provocada pelo fungo denominado Malassezia furfur. A lesão pode apresentar-se hipocrômica, hipercrômica ou eri tematosa, com descamação fina. Localiza-se com maior fre qüência no couro cabeludo, na parte superior do tronco, no pescoço e nos braços. MATERIAL: É obtido pela raspagem das lesões com uma cureta dermatológica, e recolhido em placas de Petri, envelopes apro priados ou entre duas lâminas limpas. Pode também ser obti os pêlos axilares, couro cabeludo e barba. Admite-se atualmen que possa causar lesão cutânea, sobretudo na região ingui- no-crural. Apresenta-se discretamente eritematosa, descama a e com pouco ou nenhum prurido. MATERIAL: Colher os pêlos e colocá-los em placas de Petri ou envelopes apropriados. Raspar as lesões cutâneas com o au ílio de uma cureta dermatológica, recolhendo-as em placa de Petri, envelope apropriado ou entre duas lâminas limpas. EXAME DIRETO: Positivo: Nódulos branco-amarelados envolvendo todo o pêlo, artroconídios e blastoconídios. Negativo: Nenhuma estrutura fúngica é observada. Cultura: Identifica o fungo. Pedra negra Micose provocada por um fungo denominado Piedraia hortae. Apresenta-se clinicamente por nódulos negros aderidos aos pê os das regiões axilares, genital, da barba e do couro cabeludo. MATERIAL: Retirar os pêlos parasitados e colocá-los em placa de do pressionando-se uma tira de fita adesiva transparente, de Petri ou envelope apropriado. mais ou menos 4cm, sobre as manchas. Fixar a fita com o lado EXAME DIRETO: adesivo à lâmina de microscópio limpa e seca (método Jarbas Porto), para exame direto. Este tipo de coleta em fita adesiva presta-se apenas para o exame direto. Positivo: Nódulos acastanhados, contendo em seu interior es os arredondados e grandes, ou esporos alongados, situados em espaços mais claros – lojas ascígeras. Cultura: Permite a identificação do fungo. 276 10 Microbiologia BOOK 16.indd 276 26.10.06 17:30:04 ou eritemato-acastanhada, em intertigo. Infecção provocada pela bactéria denominada Corynebacterium minutissimum. MATERIAL: Raspam-se as lesões, recolhendo as escamas em placas de Petri, envelopes apropriados ou entre duas lâminas limpas e secas. EXAME DIRETO: Positivo: Cocos ou cocobacilos gram-positivos com filamentos. Cultura: Como rotina, não é necessário o cultivo desta bactéria. São infecções fúngicas que envolvem a área superficial do cor po, incluindo o cabelo, a pele e as unhas. Seus agentes etiológi cos são os dermatófitos e as leveduras do gênero Candida. Pele Lesões típicas provocadas na pele por dermatófitos, perten centes aos gêneros Epidermophyton spp., Trichophyton spp. e Microsporum spp. Podem ser anulares, eritematosas, desca MICROBIOLOGIA Caracteriza-se por apresentar lesão descamativa, eritematosa Micoses cutâneas MICOLOGIA Eritrasma mativas, de bordos vesiculosos, circinados e de contorno poli cíclico. Nas dobras da pele, são mais freqüentes as lesões eri Tricomicose nodular axilar É uma infecção dos pêlos da axila, que pode também acometer os pêlos pubianos. Apresenta-se sob a forma de pequenos nó ulos, visíveis a olho nu, que envolvem todo o pêlo. Distinguem e três formas, de acordo com a coloração dos nódulos que se dispõem ao redor dos pêlos: amarela, vermelha e preta, dando origem às denominações tricomicose flava, rubra e nigra, res ectivamente. Embora haja certa polêmica quanto à definição do agente etiológico, o mais aceito é o Corynebacterium tenuis. MATERIAL: Recolhem-se pêlos das regiões axilar e pubiana em placa de Petri ou envelope apropriado. EXAME DIRETO: Positivo: Nódulo homogêneo (de cor amarela, vermelha ou ne a), envolvendo todo o pêlo. Cultura: Não é necessário realizar cultura de rotina. Dermatofitose Infecção muito comum no gado bovino, mas que pode aco meter o homem. É provocada por uma bactéria denominada Dermataphilus congolensis e apresenta-se sob a forma de pús tula ou de lesão com crosta. MATERIAL: Obtém-se retirando a crosta com espátula ou cure ta dermatológica. Transferir para uma placa de Petri ou frasco estéril. EXAME DIRETO: São observadas sob a forma de filamentos bac terianos e elementos cocóides, em cachos e em cadeias. Cultura: É realizada em anaerobiose, e, portanto, a indicação clínica para o encaminhamento adequado da cultura é bastan te útil. tematosas provocadas pelo gênero Candida spp. Nos espaços interdigitais, os agentes mais freqüentemente encontrados pertencem aos gêneros Candida spp. e Trichophyton spp. Têm diagnóstico diferencial importante a hanseníase tuberculóide, eczema, psoríase e outras afecções eritematodescamativas. PREPARO DO PACIENTE: É importante que não se use nenhum medicamento ou qualquer tipo de creme nas lesões. A coleta do material poderá ser efetuada após uma semana sem medi camento. Nas lesões dos pés, recomenda-se ao paciente o uso de meias e sapatos antes da coleta. MATERIAL: É obtido raspando-se as bordas das lesões com cure ta dermatológica, visando o recolhimento de material com es truturas fúngicas viáveis. Em caso de lesões múltiplas na pele, é fundamental colher material da primeira que tenha apareci do. Amostras de várias lesões devem ser recolhidas em placas de Petri estéreis, envelopes apropriados ou lâminas de micros cópio, limpas e secas. Na região de intertigo, o material deve ser obtido também por raspagens das lesões. Examinar os pés e colher, com auxílio de uma cureta dermatológica, amostras das lesões plantares e da região interdigital. Recomenda-se enrolar firmemente as lâminas, em papel limpo, sem usar esparadrapo ou fitas adesivas. Cuidado especial deve se dedicar a estas amostras, que por serem muito leves podem se perder. O material deve ser entregue ao laboratório o mais rápido possível, para não haver perda da viabilidade do fungo. EXAME DIRETO: Positivo: Hifas septadas e artroconídios presumem infecções por dermatófitos. Leveduras e pseudo-hifas são indicadores de infecções por Candida spp. Cultura: Identifica os agentes etiológicos. Caso haja alguma incoerência entre os achados do exame di reto e a cultura (por exemplo: exame direto positivo e cultura negativa), recomenda-se a repetição dos testes para aumentar as chances de obter-se fungos viáveis. 277 10 Microbiologia BOOK 16.indd 277 26.10.06 17:30:04 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Unhas As lesões ungueais são variadas: as unhas apresentam-se es pessas, com alteração da cor, estrias longitudinais, ásperas, corroídas, quebradiças, escamosas ou desfolhadas. Nas onico micoses por leveduras, a dobra periungueal se apresenta tensa, dolorosa, tumefata, e elimina, pela pressão, material seropu rulento ou francamente purulento. Os fungos responsáveis mais freqüentemente pelas infecções ungueais pertencem aos gêneros Trichophyton spp. e Candida spp. Outros fungos (oportunistas) também podem provocar infecções nas unhas, mas a patogenicidade só é determinada depois de mais de um isolamento do mesmo agente etiológico. PREPARO DO PACIENTE: A coleta do material deve ser feita antes de iniciar o tratamento. As unhas devem se apresentar limpas e livres de esmaltes. Não usar cremes nas mãos ou nos pés nos dias de coleta de material, pois a presença destas substâncias dificulta o exame. MATERIAL: Com auxílio de um alicate, retirar toda a parte desca mada da unha até atingir a área da junção da parte doente com a parte sadia. Fazer raspado do local com auxílio de uma cureta dermatológica e recolher a amostra em uma placa de Petri estéril. Nas lesões da dobra periungueal, exercer pressão para que haja liberação de material purulento, que será reco lhido com swab e colocado em frasco com meio de transporte, introduzindo-o na geléia até o fundo do tubo. Para evitar sua perda, recomenda-se não usar lâminas para recolher amostras em nenhuma das lesões ungueais. O material coletado no con sultório deve ser enviado ao laboratório o mais breve possível. EXAME DIRETO: Positivo: Hifas septadas, artroconídios, leveduras, pseudo-hifas e hifas não septadas. Cultura: Identifica o agente etiológico. Quando o exame direto é positivo e se após 10 dias de incuba não houver desenvolvimento dos fungos, recomenda-se a repetição da coleta. Couro cabeludo e pêlos No couro cabeludo, as lesões micóticas podem ficar restritas ou atingir o pêlo, tonsurando-o ou provocando danos mais profun dos, acarretando alopecia definitiva. As tinhas tonsurantes po dem ser consideradas em dois grupos: microspórica e tricofítica, conforme sejam provocadas por fungos do gênero Trichophyton spp, e Microsporum spp. A placa de tonsura da tinha microspó rica é quase sempre grande, única e redonda, em que os pêlos implantados apresentam-se envolvidos por bainha esbranqui çada. Em tais casos, o Microsporum canis é o agente etiológico mais freqüentemente isolado em nosso meio. A tinha tonsurante tricofítica determina a formação de pe quenas placas, arredondadas ou irregulares, próximas umas das outras, com formação de crostas e escamas. Os pêlos podem apresentar o fungo por fora (ectotrix) ou por dentro (endotrix). A tinha do tipo favosa é alopeciante, provocada por Trichophyton shoenleii. No início, determina foliculite, mas depois os esporos lesam o folículo, constituindo o godê fávico, em cujo centro fica implantado o pêlo, que se apresenta frágil, de coloração amarelada ou acinzentada e sem brilho. A lesão apresenta um aspecto crostoso característico, redonda e depri mida no centro, sob a forma de favo. PREPARO DO PACIENTE: A coleta do material só poderá ser reali zada antes do uso de qualquer medicamento, tópico ou não. Recomenda-se que não se passe nenhum creme nos cabelos pelo menos um dia antes do exame. MATERIAL: É obtido raspando-se, com auxílio de uma cureta der matológica, as lesões do couro cabeludo e colocando as amos tras em placas de Petri estéreis. Com auxílio de uma pinça, retiram-se os pêlos com aspecto anormal das regiões lesionadas (preferencialmente os pêlos tonsurados), que igualmente são recolhidos a uma placa de Petri estéril. O material, recolhido pelo médico no consultório, deve ser enviado ao laboratório o mais breve possível. EXAME DIRETO: Positivo: Hifas septadas, artroconídios e esporos endotrix (quando estiverem contidos no interior do pêlo) ou esporos ectotrix (quando envolverem o pêlo). Na tinha fávica, o pêlo apresenta-se crivado de pequenas bolhas de ar e filamentos micelianos mais ou menos numerosos. Cultura: Isola e identifica definitivamente o agente etiológico. Micoses subcutâneas São infecções que envolvem a pele e o tecido subcutâneo, onde os fungos são geralmente introduzidos em conseqüência de trauma. Os agentes etiológicos pertencem a vários gêneros e as principais micoses subcutâneas são esporotricose, cromo micose, micetoma, zigomicose subcutânea, rinosporidiose, mi cose de Jorge Lobo e feo-hifomicose. Esporotricose Afeta predominantemente a pele e as mucosas. É de caráter localizado, embora possa haver disseminação cutânea e com prometimento visceral localizado ou generalizado. Espalha se regionalmente por via linfática. Os pontos mais atingidos são os membros superiores e a face, áreas mais expostas a traumatismos. O agente etiológico Sporothrix schenkii vive normalmente no solo e na vegetação. Ao penetrar num feri 278 10 Microbiologia BOOK 16.indd 278 26.10.06 17:30:05 lículos até a parte externa, necrosando até atingir o osso. O forma-se um cordão linfático endurecido, em direção aos lin único micetoma adquirido por via endógena é provocado por fonodos regionais, dando origem a nódulos que posterior Actinomyces israelli, bactéria microaerófila, que habita a cavi mente formam fístulas. dade oral (alvéolos dentários, amígdalas etc.) e provoca lesão DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: Leishmaniose, cromomicose, tuber culose, piodermites etc. PREPARO DO PACIENTE: Ele não deve estar em tratamento anti cérvico-facial. No micetoma actinomicótico, os agentes etioló gicos são bactérias; no micetoma eumicótico ou maduromicó tico, os agentes etiológicos são fungos. o antes da coleta do material. MATERIAL: Com uma seringa e agulha fina, colhe-se o pus dos MICROBIOLOGIA aparece um nódulo que forma pus no interior e produz cana MICOLOGIA mento causado por trauma, provoca sua lesão cutânea mais característica, o chamado cancro esporotricótico. A partir daí, nódulos moles; o transporte se faz na própria seringa, apenas protegendo a agulha. Pode-se também raspar o cancro ulcera , recolhendo o material em placas de Petri estéreis. EXAME DIRETO: Positivo: Dificilmente o exame direto é positivo. Apresenta-se como levedura pequena, com gemulação. Cultura: Identifica o agente etiológico. Cromomicose Micose adquirida após trauma com vegetais contaminados, visto que os agentes etiológicos vivem normalmente no solo e nos vegetais. Caracteriza-se pelo desenvolvimento de uma pápula no local, que lentamente se espalha e forma lesões como tumores livres, que se tornam verrucosos. Localiza-se nos membros inferiores. Dissemina-se pelos vasos linfáti cos, fechando-os e levando ao quadro da elefantíase, por con tinuidade ou por auto-inoculação. Os agentes etiológicos são Fonsecaea pedrosoi, Fonsecaea compacta, Phialophora verruco sa, Cladosporium carrionii e Rhinocladiella aquaspersa. MATERIAL: O ideal é colher o material por biópsia e colocá-lo em frasco estéril com um pouco de salina também estéril. Pode se ainda, com auxílio de uma cureta dermatológica, raspar os pontos negros em cima das lesões e recolher essas amostras em frasco estéril. EXAME DIRETO: Observam-se estruturas arredondadas caracte rísticas, denominadas corpos fumagóides. CULTURA: O desenvolvimento do agente etiológico é lento e ocor re em torno de 20 a 30 dias. A identificação definitiva do fungo isolado por vezes só é realizada em centros especializados. Micetoma Micose crônica, com localização inicial subcutânea, que evolui até atingir o tecido ósseo. Caracteriza-se pelo aparecimento da tríade edema, fístulas e pus, quando são eliminados os grãos. Sua localização é, com maior freqüência, podal. A inoculação dos agentes etiológicos se dá através de trauma. Inicialmente, COLETA: Recolhe-se o pus, por pressão ou por biópsia, em frasco estéril. O material de biópsia deve ser colocado em frasco esté ontendo 3mL de soro fisiológico. EXAME DIRETO: Consiste no exame do grão. Micetoma actinomicótico: o grão apresenta-se com o interior homogêneo e com clavas na parte de fora. Micetoma maduromicótico: são descritas hifas septadas no interior do grão e estruturas arredondadas, como clamidoco Cultura: O desenvolvimento dos agentes etiológicos é lento. Zigomicose subcutânea Manifesta-se por nódulos ou tumorações subcutâneas, sem se aprofundar no tecido, nem atingir os vasos sangüíneos. Não há disseminação. Ocorre em indivíduos normais, prova velmente após trauma de tecido. São descritas duas formas desta micose: a facial atinge principalmente indivíduos de fai xa etária compreendida entre 18 e 35 anos, e é provocada por fungos do gênero Conidiobolus spp. A forma torácica atinge crianças entre 5 e 14 anos e é provocada por fungos do gênero Basidiobolus spp. COLETA DO MATERIAL: É obtido somente cirurgicamente e deve ser colocado em frasco estéril. EXAME DIRETO: Observam-se hifas largas, ramificadas, com sep egulares. CULTURA: O agente etiológico é identificado após crescimento rápido. Rinosporidiose Micose que provoca lesões polipóides;mais freqüentes em cavi dades mucosas, como as do nariz, olho, cavidade oral e, mais 279 10 Microbiologia BOOK 16.indd 279 26.10.06 17:30:06 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA raramente, o reto, a vagina e a uretra. O agente etiológico é o mente. O aspirado da lesão pode ocasionar a formação de uma fungo denominado Rhinosporidium seeberi. fístula crônica. Os principais agentes de feo-hifomicose subcu COLETA: Com o auxílio de uma agulha ou alça de platina, colher tânea são Exophiala jeanselmei e Wangiella dermatitidis. as formações branco-amareladas dos pólipos e colocar em fras MATERIAL: Pode ser obtido por aspirado dos cistos ou cureta co estéril. O ideal é enviar o mais breve possível ao laboratório. gem das placas dos nódulos, recolhidos em frascos estéreis. EXAME DIRETO: Visualiza-se estrutura muito grande, de parede EXAME DIRETO: Observam-se hifas acastanhadas septadas. espessa, cheia de endosporos, com estruturas colabadas e em CULTURA: Os agentes desenvolvem-se após quatro a seis sema evolução. nas de incubação. CULTURA: Este fungo não é cultivado. Micose de Jorge Lobo Também chamada de blastomicose queloidiana, essa micose subcutânea raramente acomete o sistema linfático. Não há comprometimento visceral. A evolução do processo é longa e o indivíduo conserva o estado geral. Em sua maioria, os pa cientes procedem da Bacia Amazônica, a maior parte deles de seringueiros. O agente etiológico é o Loboa loboi, e sua trans missão parece ser por implantação direta do fungo através de traumatismo local. Há reação inflamatória do tipo granuloma tosa, com histiócitos e fibrose. É enorme o número de parasitas na lesão, que é típica, sob a forma de nódulo queloidiforme, e se localiza geralmente nas regiões expostas do corpo e da face, no pavilhão auricular e nos membros, embora possa surgir em qualquer outro local do corpo. A doença pode ser incapacitante, dependendo do tamanho da lesão e do ponto onde se instale. COLETA: O material é obtido através de biópsia. EXAME DIRETO: São observadas formas arredondadas de pare espessas, ligadas entre si por formações tubulares e com disposição catenular. CULTURA: Não é realizada. HISTOPATOLÓGICO: A derme é invadida por um grande número de parasitas com disposição catenular, num processo que en volve intensa reação histiocitária e fibrose tecidual. A epider me sobre o nódulo torna-se bastante adelgaçada. Feo-hifomicose subcutânea Acomete pessoas normais e também costuma ter início após trauma. Os pacientes geralmente apresentam um úni co nódulo, encapsulado e assintomático. Pode estar envolvido em um processo cístico de vários centímetros de diâmetro. Ocasionalmente, o cisto pode ulcerar, pressionado pelo pus, que contém hifas pigmentadas marrons ou acastanhadas. Estas lesões podem ocorrer no pé, nas pernas, mãos, braços ou Micoses sistêmicas e micoses ocasionais ou oportunistas As micoses sistêmicas envolvem órgãos internos do organis mo humano, como pulmões, linfonodos, medula, tecido sub cutâneo e pele. Os pacientes imunocomprometidos, particu larmente os contaminados com HIV e os que recebem longo tratamento com corticosteróides, podem apresentar infecção disseminada. As ocasionais são doenças provocadas por fungos oportunistas, isto é, saprobos que se tornam patogênicos dependendo do estado do hospedeiro. Estas micoses ocorrem em pacientes imunocomprometidos, infectados por HIV, portadores de lin fomas, leucemia e diabetes mellitus. Indivíduos submetidos a tratamento com corticóides, drogas citotóxicas ou agentes imunossupressores são passíveis de adquirir infecções fún gicas oportunistas. Em virtude das semelhanças entre essas duas modalidades de micose, torna-se muitas vezes sutil, prin cipalmente hoje em dia, a distinção entre elas. Paracoccidioidomicose Provoca alterações no pulmão, na pele, nas mucosas e nas glândulas supra-renais. Atinge também outros órgãos e sis temas. Normalmente, tem evolução crônica, sem tendência à cura espontânea, e pode levar à morte. A infecção ocorre por inalação de esporos do ar, disseminando-se por via linfática e hematogênica a partir dos pulmões. Há latência nos gânglios linfáticos que pode prolongar-se até por vários anos. O agente etiológico é o Paracoccidioides brasiliensis. COLETA: Secreção pulmonar, raspado de úlcera oral, punção de gânglio e pus são apropriados para exame e devem ser recolhi dos em frasco estéril. Material de biópsia deve ser recolhido em frasco com salina estéril (3mL). EXAME DIRETO: Observam-se formas arredondadas com parede outras partes do corpo. Às vezes, podem ser vistos fragmentos espessa de duplo contorno e gemulação múltipla. de madeira dentro do nódulo quando examinado histologica CULTURA: O crescimento é lento, de cerca de 20 a 30 dias. 280 10 Microbiologia BOOK 16.indd 280 26.10.06 17:30:06 ção pelo sistema reticuloendotelial (fígado, baço, sistema linfático etc.). Caracteriza-se pelo parasitismo intracelular e seu agen te etiológico é o Histoplasma capsulatum. A transmissão ocorre por via respiratória, pela inalação de esporos do ar em locais con taminados (cavernas, grutas, galinheiros, jardins etc.) de regiões endêmicas. Tem diagnóstico diferencial com leishmaniose. MATERIAL: Sangue, lavado brônquico, biópsia pulmonar, secre ção de lesões ulceradas da pele (retirar crosta) e punção da me dula; devem ser recolhidos em frasco estéril contendo salina. EXAME DIRETO: Ao microscópio, visualizam-se histiócitos com leveduras pequenas, ovais, apresentando um grande vacúolo. É endêmica nos Estados Unidos e no México, com focos en dêmicos também em outros países da América Central, Venezuela, Colômbia, Paraguai e Argentina. É doença própria dos desertos e região semi-árida. No Brasil, há relatos de casos no Nordeste (Piauí). O agente etiológico é chamado Coccidioidis imitis. Adquire-se a doença por inalação dos esporos, que têm alta infecciosidade. MATERIAL: Secreção do pulmão e escarro devem ser recolhidos em frasco estéril. A biópsia da pele deve ser colocada em frasco estéril com soro fisiológico. EXAME DIRETO: Formas arredondadas, de paredes grossas com Às vezes, encontram-se leveduras livres. endosporos. CULTURA: Identifica o agente etiológico. CULTURA: Identifica o agente etiológico. Criptococose Micose oportunista, causada pelo fungo denominado Crypto cocus neoformans. Pode ser uma doença subaguda ou crônica, com várias manifestações. Em pacientes imunocomprome tidos, não é incomum encontrá-la disseminada, com ou sem meningite — que com freqüência ocorre nos indivíduos afeta dos pela forma disseminada da doença. Outras manifestações incluem endocardite, hepatite, infecção renal, efusão pleural e lesões na pele que podem ulcerar. A infecção ocorre pela inalação do agente infeccioso, largamente distribuído na natureza. Após inalação dos esporos, inicia-se a fase pulmonar, que pode ser assintomática. O agente infeccio MICROBIOLOGIA Micose de caráter agudo, inicialmente pulmonar, com predile abscesso. A doença também pode ser crônica, provocando rea ção granulomatosa. MICOLOGIA Histoplasmose Blastomicose Doença crônica, supurativa, cujo foco inicial é o pulmão. Freqüentemente há disseminação para outras partes do corpo, principalmente pele e ossos. A infecção primária do pulmão é inaparente. O período de incubação vai de 21 a 106 dias, numa média de 45 dias. O agente infeccioso é o Blastomyces dermati dis. É doença praticamente limitada aos Estados Unidos. MATERIAL: Em lesões cutâneas, obtém-se material aspirando partículas. A amostra de biópsia de pele para avaliação da cul tura não deve ser colocada em frasco com formol. Usar frasco estéril, com soro fisiológico. EXAME DIRETO: Células esféricas ou ovóides, em brotamento so passa então para a corrente sanguínea atingindo o SNC. simples e com membrana de duplo contorno. MATERIAL: Liquor,sangue e lavado brônquico,recolhidos em fras CULTURA: Permite a identificação do agente etiológico. cos estéreis. EXAME DIRETO: Permite visualizar formas arredondadas, com ou sem brotamento, apresentando cápsula característica. Realiza do pela tinta nanquim, no liquor, este exame é de rotina. PESQUISA DE ANTÍGENO PELO LÁTEX: Teste relativamente rápido e de boa sensibilidade. Pode ser realizado no soro, no liquor e na urina. O resultado é obtido no mesmo dia. CULTURA: O desenvolvimento do agente etiológico ocorre entre dois e cinco dias. Coccidioidomicose Inicialmente pulmonar, é uma micose benigna, embora muitas vezes ocorra disseminação hematogênica, que atinge menin ges, ossos, tecidos cutâneos, subcutâneos etc. Há formação de Hialo-hifomicose Produzida por fungos saprobos, que apresentam hifas septadas hialinas. Seus principais agentes etiológicos pertencem aos gêneros Aspergillus, Fusarium, Penicillium, Pseudoalescheria e Paecilomyces. O agente infeccioso mais freqüente é o Aspergillus spp. e, com isso, muitas vezes a aspergilose é considerada enti dade à parte. Como a contaminação é por via respiratória, os pulmões e as vias respiratórias superiores são os pontos mais atingidos. Provocam doença pulmonar intersticial disseminada brônquica ou atingem cavidades e levam a outras patologias, como tuberculose e abscessos, formando uma massa denomi nada bola fúngica. É este o quadro típico da aspergilose pul monar. De maneira geral, as hialo-hifomicoses podem causar processos inflamatórios os mais diversos, como endocardite, 281 10 Microbiologia BOOK 16.indd 281 26.10.06 17:30:07 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA lesões cutâneas, osteoarticulares, pulmonares e oculares, pro cessos septicêmicos, abscessos cerebrais. ASPECTOS CLÍNICOS PECULIARES À ASPERGILOSE: Aspergilose alérgica: acomete indivíduos alérgicos que, em contato com o fungo, desenvolvem bronquite. Aspergilose crônica: é observada nos seios paranasais. Aspergiloma intracavitário: em portadores de outras pato , como a tuberculose, o fungo coloniza as cavidades. Aspergillus fumigatus é o agente mais comumente responsável por esta colonização. CULTURA: O crescimento é rápido e permite a identificação do fungo. Zigomicose sistêmica São provocadas por fungos saprobos, da ordem Mucorales, e caracterizam-se por apresentar-se com hifas largas e con tínuas. Os agentes etiológicos pertencem a vários gêneros, como Rhizopus, Absidia, Mortierella, Mucor, Cunninghamella e Syncephalastrum. São micoses de caráter agudo e, na maioria das vezes, fatal. Atingem todas as faixas etárias, acometendo inicialmente os pulmões, atingindo os vasos sangüíneos e pro Aspergilose associada à necrose tecidual: caracteriza-se por vocando trombas e infarto na região. Na zigomicose dissemi Surgem tromboses vasculares e formam-se cavidades com gastroentérico. Para contrair a micose é necessário que haja um tipo de broncopneumonia necrosante e hemorrágica. nada, há predileção pelo SCN, região naco-orbitária e o tubo material necrótico liquefeito. Pode acometer poucos lóbulos um fator predisponente, como a baixa de imunidade. pulmonares ou pode haver o envolvimento de extensas áreas MATERIAL: Aspirado da região naso-orbitária e escarro da doença ou mesmo de lóbulos inteiros, em ambos os pulmões. Alguns vasos, situados no meio ou na periferia das lesões, podem apre tar tromboses e, em conseqüência da agressão das hifas ao endotélio, com freqüência ocorrem infartos pulmonares, às ve es extensos e letais. Aspergilose disseminada: nesta eventualidade, o fungo pode ser encontrado em múltiplos órgãos, onde provoca absces Pode ainda haver formação de granulomas de hipersensi bilidade típicos. Pulmões, cérebro, rins, fígado, esôfago, tireóide e pele são os órgãos mais acometidos nessas disseminações. MATERIAL: Pulmonar: Escarro, lavado ou aspirado brônquico. Qualquer um deles deve ser recolhido em frasco estéril. Material proveniente de biópsia: Deve ser colocado em frasco estéril com soro fisiológico (mais ou menos 3mL) pulmonar devem ser colocados em frascos estéreis. O sangue deve ser colhido em frascos de hemocultura, em três amostras. EXAME DIRETO: A demonstração de hifas septadas e largas no exame direto tem mais significado clínico do que a cultura, vis to que estes fungos são contaminantes comuns. CULTURA: Permite a identificação do agente etiológico e tem valor diagnóstico quando há correlação entre os achados do exame direto e da cultura. Feo-hifomicose sistêmica Micose provocada por fungos de hifas escuras. A contamina ção ocorre por via respiratória, mas não há comprometimen to do pulmão. Por via hematogênica, o agente atinge o SNC, provocando três ordens de processo: ação inflamatória agu Sangue: Após coleta com seringa, deve ser colocado em frasco da e necrotizante, obstruções vasculares com enfartes e ação o mais rápido possível ao laboratório. celianos. O quadro mais comum é o de meningoencefalite. O cia e deve ser realizada pelo oftalmologista, com auxílio de um maior significado. O microrganismo envolvido está freqüente para hemocultura. Recomenda-se colher três amostras. Enviar direta, neural e perineural, determinada pelos filamentos mi Lesões oculares: A coleta desse material é de grande importân diabetes não controlado aparece como fator predisponente de biomicroscópio. É necessário remover o excesso da secreção mente associado a outras formas de feo-hifomicose, cromo existente com gaze umedecida em soro fisiológico estéril. A amostra é obtida após anestesia local, fazendo-se um raspado vigoroso da base e das bordas da úlcera, com uma espátula de platina. Colocar o raspado diretamente no meio da cultura for micose, dermatomicose ou outras doenças. Muitos fungos têm sido isolados, às vezes, numa única vez, de cada infecção. O principal agente da forma invasiva cerebral é Xylohyepha bantiana. Raramente o diagnóstico da zigomicose é estabe necido pelo laboratório, fazendo, com auxílio da espátula, vá lecido em vida. rios cortes na superfície do meio, com formato em “c”. Entregar DIAGNÓSTICO MICOLÓGICO: É geralmente estabelecido através do ao laboratório o mais rápido possível. EXAME DIRETO: Observam-se hifas hialinas septadas e eventual mente cabeças conidiais. exame anatomopatológico. As lesões se traduzem por necrose e processo inflamatório agudo. Como os filamentos micelianos se localizam nas paredes dos grandes vasos, provocando trom bose, observam-se freqüentemente zonas de enfarte. 282 10 Microbiologia BOOK 16.indd 282 26.10.06 17:30:08 te, sob o ponto de vista de patogenicidade, é a C. albicans. Ela habita saprofiticamente as mucosas respiratória, digestiva e genital do ser humano. Ainda não se sabe com exatidão como ela passa do estado de saprófita ao de patogênico. O que se conhece — e talvez esta seja a maior importância clínica da candidíase — é que a doença funciona como revelador de problema subjacente. Numerosos são os fatores que influen ciam no aparecimento da candidíase, entre eles o diabetes, as MICROBIOLOGIA Embora existam várias espécies de Candida, a mais importan MICOLOGIA Candidíase sistêmica neoplasias, as doenças de imunodeficiência, a Aids e o uso de medicamentos como antimicrobianos, corticosteroides e imu nossupressores. Embora possa afetar qualquer órgão, os rins e o pulmão são os mais atingidos. A complicação mais usual é a pielonefrite. Muitas vezes, observam-se a endocardite e a obstrução das válvulas, com grande quantidade de pseudo-hifas e blastoco nídios de Candida spp., em pacientes submetidos à cirurgia do coração. Também são freqüentes embolias por elementos fún gicos, miocardite e pericardite; pode ocorrer meningite. As lesões na candidíase sistêmica são geralmente agudas, caracterizando-se por supuração e necrose. A esofagite por Candida spp. pode ser assintomática ou causar ardor na área subesternal, com sofrimento na garganta e durante a deglu tição epigástrica. As lesões mais comumente encontradas, principalmente no terço distal do esôfago, são as placas bran cas. Quando a doença é moderada, a mucosa entre as placas apresenta-se eritematosa e edemaciada. Na forma severa, as ulcerações podem se manifestar-se com aspecto cinza e ás pero ou lodoso e sanguinolento. As complicações da esofagi te por Candida incluem sangramento, perfuração e estenose. Doenças esofágicas concomitantes são comuns, como herpes simples, citomegalovírus e Aids. Além da Candida albicans, outras espécies têm sido responsáveis por tais processos, como a C. glabrata. MATERIAL Sangue: Deve ser colhido em frascos para hemoculturas, observando-se os cuidados de assepsia. Recomenda-se a coleta de três amostras. Cateter: O material deve ser recolhido em frasco estéril. EXAME DIRETO: Observam-se leveduras e pseudo-hifas. CULTURA: O desenvolvimento da Candida spp. ocorre entre um e cinco dias. 283 10 Microbiologia BOOK 16.indd 283 26.10.06 17:30:08 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA P A R A S I T O L O G I A Segundo a tradição chinesa, os homens passaram a existir após o Deus da Criação ter sacudido os piolhos de seu corpo. Ao receber instrução médica dos sacerdotes egípcios, Moisés passou a adotar leis sanitárias para proteger seu povo contra as pragas transmitidas por insetos e contra a carne animal infectada. Hipócrates diagnosticou o cisto hidático, descrevendo uma técnica para extirpá-lo do corpo humano, enquanto Aristóteles escrevia sobre o verme conhecido como Ascaris lumbricoides. O mesmo que o médico persa Avicena (981-1037) descreveria alguns séculos mais tarde, ao enumerar vários outros parasitos, como a Taenia saginata, o Enterobius vermicularis e possivelmente o Ancylostoma duodenalis, falando dos sintomas por eles produzidos e prescrevendo remédios, alguns dos quais são considerados como anti-helmínticos satisfatórios até hoje. Tudo isso mostra que desde a antiguidade, o homem tem conhecimento das formas parasitárias. Mas foi no século XVII que Leewenhoek inventou as lentes de ampliação e observou pela primeira vez trofozoítos da Giardia lamblia (intestinalis) em fezes diarréicas. Com o desenvolvimento, quase simultâneo, das drogas antimicrobianas, pesticidas sintéticos e novos agentes antiparasitários, acreditou-se, durante algum tempo, que as doenças infecciosas poderiam desaparecer dos consultórios. A resistência microbiana, no entanto, apareceu rapidamente, ao mesmo tempo em que surgiram infecções por organismos antes descritos como não patogênicos, causadas principalmente pelas modificações do meio ambiente, como a construção de estradas e o alagamento de grandes áreas para a construção de hidrelétricas. Tudo isso, aliado à facilidade e velocidade dos transportes, veio facilitar a proliferação de parasitas e dificultar sua prevenção. Com o aparecimento da Aids, o desenvolvimento dos transplantes de órgãos e a profilaxia quimioterápica, a Parasitologia passou a ser notícia mais uma vez. Essas situações, em que o organismo sofre imunossupressão, são campo fértil para infecções parasitárias, algumas não descritas antes em humanos, e ao recrudescimento de outras, como as causadas pelo S. stercoralis, G. lamblia (intestinalis), Cryptosporidium spp. e Microsporidium. Hoje, vários genomas de parasitos estão sendo decifrados, tal como as respostas imunológicas dos hospedeiros e, mais recentemente, os proteomas destes organismos. Assim, entendemos que o passado, o presente e o futuro não se dissociam na Parasitologia, pelo contrário, parecem mais unidos se considerarmos que este movimento científico e tecnológico nos impulsiona cada vez mais na busca pelo conhecimento. 286 11 Parasitologia BOOK 16.indd 286 26.10.06 17:28:14 – Método de Lutz ou de Hoffmann, Pons e Janer; – Método de Ritchie; – Método de MIF-C; Cada parasito, ou grupo de parasitos, possui caracte rísticas morfológicas ou biológicas que permitiram o desenvolvimento de técnicas especiais para o seu diagnóstico. Método que é denominado eletivo, isto é, o mais adequado para detectar aquele parasito. Assim, o exame parasitológico de fezes é pouco efi ciente no diagnóstico de enterobíase e de teníase. Enquanto a Taenia spp. elimina proglote nas fezes, o que pode ser evidenciado pela tamização, a fêmea do Enterobius vermicularis migra para a região perianal durante a noite, ali eliminando seus ovos, o que torna mais adequado o método de Graham ou o swab anal com coleta pela manhã. A Giardia lamblia apresenta períodos de negatividade, quando não se encontram seus cistos nas fezes. Já o Schistosoma mansoni só atinge a fase adulta no interior das veias mesenté ricas inferiores, onde realiza a postura dos ovos, que precisam atravessar a parede intestinal para ser eli minados nas fezes. Desta forma, inúmeras causas podem concorrer para a não coincidência dos resultados de exames parasitológicos de fe zes realizados para um mesmo paciente. O consenso geral é de que se o achado de formas parasitárias não sela o diagnós tico de parasitose, o não aparecimento também não significa ausência de parasitismo, sendo recomendável, no mínimo, o exame de três amostras distintas. – Método de Faust e colaboradores; – Método de Kato-Katz; – Método de Willis; – Método de Baermann-Moraes; – Método de Rugai. Os trofozoítos de protozoários presentes nas fezes começam a deteriorar quase imediatamente após sua emissão. Como em geral a amostra não pode ser examinada imediatamente, deve-se fazer a coleta em solução conservadora de SAF. Du rante vários anos, a hematoxilina férrica foi o único método disponível para colorações permanentes de amostras de fezes. Atualmente, existem outros, como a coloração pelo Tricromo de Wheatley, de execução técnica rápida e simples. PARASITOLOGIA – Método direto; O EXAME PARASITOLÓGICO DE FEZES Os métodos mais utilizados na rotina laboratorial são: Após o surgimento da Aids, alguns protozoários intestinais, anteriormente conhecidos como agentes infecciosos de im portância veterinária começaram a ser observados com maior freqüência na rotina parasitológica. É o caso de parasitas opor tunistas, como Isospora belli, Sarcocystis hominis, Sarcocystis suihominis, Cryptosporidium spp. e Cyclospora caetanensis. Para efetuar-se o seu reconhecimento, adaptaram-se métodos de coloração e desenvolveram-se técnicas imunoenzimáticas, com resultados mais específicos e sensibilidade comprovada. Para essas pesquisas, aconselha-se que as amostras sejam coletadas em SAF, fornecido pelo laboratório, para permitir a inativação do vírus eventualmente presente em portadores de HIV e para fixar e conservar os parasitos, já que, na maioria das vezes, essas fezes são líquidas. É preferível o uso do SAF como Rotina parasitológica conservador por suas vantagens comerciais e de manuseio. Não existe um exame capaz de evidenciar todas as formas pa da-se também o envio de amostra fresca, pois esses parasitos rasitárias presentes nas fezes. Alguns métodos detectam um maior número delas, enquanto outros são mais específicos. Amostras frescas são utilizadas na pesquisa de ovos e larvas de helmintos e cistos de protozoários pelos métodos parasito lógicos de rotina. Fezes líquidas (diarréicas) devem ser coleta das em soluções conservadoras para possibilitar a pesquisa de trofozoítos de protozoários intestinais por técnicas especiais, como a coloração pelo tricromo de Wheatley/hematoxilina férrica. Os conservadores mais usados são o formol a 10%, a solução de SAF (ácido acético, acetato de sódio, água destilada Para pesquisa de Isospora belli e Sarcocystis hominis, recomensão sensíveis ao calor utilizado nas colorações de safraninaazul-de-metileno. Alguns métodos rotineiros para a pesquisa destes parasitos são: – Método de Sheather modificado; – Coloração de Ziehl-Neelsen modificada; – Coloração de Kinyoun modificada; – Coloração pela safranina-azul-de-metileno; – Método de Kato-Katz; – Ensaio imunoenzimático em microplaca. e formol) e PVA (álcool polivinílico) 287 11 Parasitologia BOOK 16.indd 287 26.10.06 17:28:14 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA * = Método não eletivo INSTRUÇÕES PARA COLETA A coleta de fezes tem recomendações especiais, segundo as fi nalidades do exame a que se destina. Utilize uma bacia ou co madre, previamente limpa e seca, para coletá-las no momento da evacuação. É de fundamental importância que se evite a contaminação com urina, água ou outro elemento. O transporte deve ser feito em recipiente adequado, fornecido pelo laboratório, seja frasco de vidro ou plástico de boca larga, desde que limpo e seco, e sempre com tampa que vede bem e seja de fácil manuseio. Em caso de fezes líquidas, utilize os recipientes plásticos. O recipiente não deve ser preenchido até a borda, nem contaminado externamente. Para a maioria dos 288 11 Parasitologia BOOK 16.indd 288 26.10.06 17:28:15 de vaca, hipogamaglobulinemia congênita, entre outras. ter a amostra refrigerada. OBSERVAÇÃO: Nos casos de suspeita de infecção intestinal, a amostra deve ser transportada em recipiente selado e enviada imediatamente ao laboratório. Exames oferecidos Ácidos orgânicos, Dosagem de As causas mais freqüentes da elevação de ácidos orgânicos nas fezes são a chamada dispepsia fermentativa de Schmidt, a sín drome fecal e o trânsito acelerado. Há redução principalmente nos casos em que há baixa nos processos de fermentação in testinal e nas fezes diarréicas, com considerável aumento do teor de água. MÉTODO: Goiffon e Nepveux AMOSTRA: Amostra de fezes recentemente colhidas (frasco plástico). VOLUME NECESSÁRIO: 20g (recipiente coletor cheio) para adultos e crianças. ORIENTAÇÕES: Coletar a amostra em recipiente limpo. Transferir algumas colheres para o frasco fornecido pelo laboratório e en- viá-lo o quanto antes para análise. Manter em local fresco ou sob refrigeração, sem congelar. Para esse exame é necessário que o paciente mantenha uma dieta especial por três dias (vide dieta para coprologia funcio e que, no quarto dia, o material seja colhido na primeira evacuação. OBSERVAÇÕES: – Não usar purgativos. Em caso de constipação intestinal, pode ser administrado supositório de glicerina; – Consultar o médico assistente quanto ao uso de outros me dicamentos; – Crianças (até 12 anos), consultar o pediatra quanto à dieta a ser seguida; – Não colher as fezes no período menstrual; – Evitar a contaminação com urina, água ou outros elementos; – Para esse exame, é contra-indicado o uso de óleos minerais e enemas (bário). Alfa-1-antitripsina, Pesquisa de Proteína resistente à degradação pelas enzimas digestivas, a presença de alfa-1-antitripsina nas fezes serve como marcador endógeno de perda protéica pelo tubo digestivo. Níveis eleva dos indicam enteropatias perdedoras de proteínas, como ente MÉTODO: Nefelometria. AMOSTRA: Fezes recentemente colhidas. VOLUME NECESSÁRIO: 5g (1/3 do recipiente coletor) para fezes moldadas ou líquidas. ORIENTAÇÕES: Coletar fezes em recipiente limpo. Transferir al colheres para o frasco fornecido pelo laboratório e en- viá-lo o quanto antes para análise. Manter em local fresco. OBSERVAÇÕES: – Não usar purgativos. Em caso de constipação intestinal, pode ser administrado supositório de glicerina; – Consultar o médico assistente quanto ao uso de outros me dicamentos; – Não colher as fezes no período menstrual; – Evitar a contaminação com urina, água ou outros elementos; – Em caso de crianças pequenas, recolher as fezes da fralda PARASITOLOGIA rite regional, gastroenteropatia alérgica, intolerância ao leite O EXAME PARASITOLÓGICO DE FEZES exames, o volume necessário é de 1/3 da capacidade do reci piente coletor. Se a coleta for efetuada à noite, é preciso man logo após a evacuação; – Para esse exame é contra-indicado o uso de óleos minerais e enemas (bário). Amido extracelular, Dosagem de O aparecimento de grande quantidade de amido não digerido nas fezes tem como causa o trânsito intestinal acelerado, ex cesso de ingestão de feculentos, fermentação intestinal hidro carbonada e, raramente, insuficiência pancreática. MÉTODO: Coloração pelo lugol. AMOSTRA: Amostra de fezes recentemente colhidas (frasco plástico). VOLUME NECESSÁRIO: 5g (1/3 do recipiente coletor) para fezes moldadas ou líquidas. ORIENTAÇÕES: Coletar as fezes em recipiente limpo. Transferir algumas colheres para o frasco fornecido pelo laboratório e enviá-lo o quanto antes para análise. Manter em local fresco ou sob refrigeração, sem congelar. OBSERVAÇÕES: – Não usar purgativos. Em caso de constipação intestinal, pode ser administrado supositório de glicerina; – Consultar o médico assistente quanto ao uso de outros me dicamentos; – Não colher as fezes no período menstrual; – Evitar a contaminação com urina, água ou outros elementos; – Em caso de crianças pequenas, recolher as fezes da fralda logo após a evacuação; – Para esse exame é contra-indicado o uso de óleos minerais e enemas (bário). 289 11 Parasitologia BOOK 16.indd 289 26.10.06 17:28:15 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Amoníaco e ácidos aminados, Dosagem de Mostram-se elevados nos processos de putrefação, podendo falsear o resultado nos casos de estase fecal, pela volatilidade do amoníaco e sua reabsorção aumentada. MÉTODO: Goiffon e Nepveux. AMOSTRA: Amostra de fezes recentemente colhidas (frasco plástico). VOLUME NECESSÁRIO: O mínimo necessário são 20g (recipiente coletor cheio) para adultos e crianças. ORIENTAÇÕES: Coletar as fezes em recipiente limpo. Transferir algumas colheres para o frasco fornecido pelo laboratório e enviá-lo o quanto antes para análise. Manter em local fresco ou sob refrigeração, sem congelar. Para esse exame, é necessário que o paciente mantenha uma dieta especial por três dias (vide dieta para coprologia funcio e que, no quarto dia, o material seja colhido na primeira evacuação. OBSERVAÇÕES: – Não usar purgativos. Em caso de constipação intestinal, pode ser administrado supositório de glicerina; – Consultar o médico assistente quanto ao uso de outros me dicamentos; – Crianças (até 12 anos), consultar o pediatra quanto à dieta a ser seguida; – Não colher as fezes no período menstrual; – Evitar a contaminação com urina, água ou outros elementos; – Para esse exame, é contra-indicado o uso de óleos minerais e enemas (bário). Antígenos fecais Entamoeba histolytica, Pesquisa de A amebíase é uma infecção que acomete aproximadamente ORIENTAÇÕES: Evacuar em recipiente bem limpo e seco. Transferir algumas colheres para o frasco fornecido pelo laboratório e enviá-lo o mais breve possível para análise. Manter em local fresco. OBSERVAÇÕES: – Não usar purgativos. Em caso de constipação intestinal, pode ser administrado supositório de glicerina; – Consultar o médico assistente quanto ao uso de outros me dicamentos; – Não colher as fezes no período menstrual; – Evitar a contaminação com urina, água ou outros elementos; – Em caso de crianças pequenas, recolher as fezes da fralda logo após a evacuação; – Para esse exame, é contra-indicado o uso de óleos minerais e enemas (bário). Cryptosporidium, Pesquisa de A criptosporidiose é hoje uma doença que atinge crianças, indivíduos imunocomprometidos, principalmente os que têm HIV positivo, viajantes e pessoas que lidam com animais. Nos pacientes com deficiência imunológica, ela pode levar à mor te se não for diagnosticada a tempo, devido à grande perda de líquidos e eletrólitos decorrentes das inúmeras evacuações diárias. A pesquisa do protozoário pelas técnicas rotineiras do laboratório de parasitologia pode não ser suficiente para o achado do parasita, tornando necessário o uso de colorações especiais. Atualmente, o diagnóstico costuma ser comple mentado com ensaio imunoenzimático baseado na detecção do antígeno específico desse protozoário em extratos aquo sos de amostras de fezes. É um recurso indicado após o resul tado negativo do exame parasitológico e a persistência dos sintomas clínicos. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático em microplaca. AMOSTRA: Fezes colhidas em líquido conservante de SAF. VOLUME NECESSÁRIO: 5g (1/3 do recipiente coletor) para fezes 40% da população brasileira, embora na maior parte das ve moldadas ou líquidas. zes permaneça assintomática. A dificuldade do achado da E. ORIENTAÇÕES: Coletar as fezes em recipiente limpo. Transferir histolytica pelos métodos parasitológicos de pesquisa se deve à fragilidade das formas trofozoíticas e císticas deste parasi ta. Mas a detecção de seus antígenos específicos, em extratos aquosos de amostras de fezes, tem resultados mais satisfa tórios. O teste é indicado como forma de diagnóstico, na per sistência dos sintomas clínicos após o resultado negativo do exame parasitológico. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático em microplaca. AMOSTRA: Fezes recentemente colhidas (frasco plástico). VOLUME NECESSÁRIO: 5g (1/3 do recipiente coletor) para fezes moldadas ou líquidas. algumas colheres para o frasco fornecido pelo laboratório, com líquido de conservação (SAF). Enviar para análise. OBSERVAÇÕES: – As fezes devem ficar totalmente cobertas pelo líquido con servante; – Evitar a contaminação com urina, água ou outros elementos; – Em caso de crianças pequenas, recolher as fezes da fralda logo após a evacuação; – Para esse exame é contra-indicado o uso de óleos minerais e enemas (bário); – Não é necessário refrigerar; 290 11 Parasitologia BOOK 16.indd 290 26.10.06 17:28:16 Giardia lamblia (intestinalis), Pesquisa de A giardíase é uma importante doença intestinal humana em diversas áreas do mundo, atingindo principalmente crianças e homossexuais masculinos. Como se trata de um protozoário de difícil diagnóstico pela baixa sensibilidade dos métodos de rotina, normalmente é necessária a coleta de várias amostras para o achado no parasitológico de fezes. A pesquisa por teste causam diarréia severa em pacientes com síndrome da imuno deficiência adquirida e imunocomprometidos. MÉTODO: Coloração pela safranina azul-de-metileno e pelo mé todo de Kato-Katz (para Isospora belli e Sarcocystis hominis). AMOSTRA: Fezes colhidas em líquido conservante de SAF. VOLUME NECESSÁRIO: 5g (1/3 do recipiente coletor) para fezes moldadas ou líquidas. ORIENTAÇÕES: Coletar as fezes em recipiente limpo. Transferir algumas colheres para o frasco fornecido pelo laboratório, com imunoenzimático, baseada na detecção do antígeno específico líquido de conservação. Enviar ao laboratório. da Giardia lamblia em extratos aquosos de amostras de fezes, OBSERVAÇÕES: auxilia no diagnóstico mais precoce desta infecção. É indicado quando há persistência dos sintomas clínicos, após o resultado negativo do exame parasitológico. MÉTODO: Ensaio imunoenzimático em microplaca. AMOSTRA: Fezes colhidas em líquido conservante (SAF). VOLUME NECESSÁRIO: 5g (1/3 do recipiente coletor) para fezes moldadas ou líquidas. ORIENTAÇÕES: Coletar as fezes em recipiente limpo. Transferir algumas colheres para o frasco fornecido pelo laboratório, com líquido de conservação. Enviar ao laboratório. OBSERVAÇÕES: – As fezes devem ficar totalmente cobertas pelo líquido con servante; – Evitar a contaminação com urina, água ou outros elementos; – Em caso de crianças pequenas, recolher as fezes da fralda logo após a evacuação; – Para esse exame é contra-indicado o uso de óleos minerais e enemas (bário); – Não é necessário refrigerar. Aspirado duodenal, Exame parasitológico de Nas suspeitas de infecção por larvas de Strongyloides stercora lis, trofozoítos ou cistos de Giardia lamblia e vermes adultos de ancilostomídeos. MÉTODO: Sedimentação por centrifugação e pesquisa direta por microscopia. AMOSTRA: Aspirado duodenal coletado pelo médico. ORIENTAÇÃO: Enviar ao laboratório o mais breve possível em re cipiente estéril. Coccídios, Pesquisa de Estabelece o diagnóstico de Cryptosporidium spp, Isospora belli, – As fezes devem ficar totalmente cobertas pelo líquido con servante; – Evitar a contaminação com urina, água ou outros elementos; – Em caso de crianças pequenas, recolher as fezes da fralda logo após a evacuação; – Não é necessário refrigerar. PARASITOLOGIA ridium, não incluindo os demais coccídios. O EXAME PARASITOLÓGICO DE FEZES – A pesquisa é específica apenas para o antígeno de Cryptospo Coprologia funcional Estudo das funções digestivas. Abrange provas de digestibi lidade macro e microscópica, exame químico e outros, cujos resultados permitem diagnosticar as diferentes síndromes coprológicas: insuficiência gástrica, pancreática e biliar, hiper secreção biliar, desvios da flora bacteriana (fermentação hi drocarbonada e putrefação), síndromes ileal e cecal, colites e outras alterações do trânsito intestinal. MÉTODO: Goiffon e Nepveux/Schmidt e Strasburger. AMOSTRA: Fezes recentemente colhidas (frasco plástico), com o paciente sob dieta orientada pelo laboratório. VOLUME NECESSÁRIO: 20g (recipiente coletor completo). ORIENTAÇÕES: Dieta mantida por três dias. O paciente deve comer todos os alimentos citados, nas quantidades indicadas: De manhã e à noite (cada vez): – 20g de manteiga fresca; – 50g de pão torrado; – 1 xícara de leite, com pingos de café. Almoço: – 70g de carne de vaca malpassada; – 1 ovo quente (3 minutos em água fervente). Mais ou menos à vontade: – Arroz (5 a 7 colheres de sopa); – Batata cozida ou assada (3 a 4, de tamanho médio, previa mente esmagadas com o garfo); – Caldo de feijão. Sarcocystis hominis e Cyclospora caetanensis. Estes coccídios 291 11 Parasitologia BOOK 16.indd 291 26.10.06 17:28:16 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA No jantar: – Repetir a refeição do almoço; – Sopa de macarrão, com 6 a 8 fatias finas de cenoura; – 1 a 2 bananas-maçã cruas, com 1 fatia de queijo fresco, dos tipos minas ou prato. COLETA: No quarto dia, coletar todo o material da primeira eva cuação em vasilha de boca larga, previamente fervida e seca. Mínimo de 20g para adultos e crianças. Enviar ao laboratório. OBSERVAÇÕES: – Não usar purgativos. Em caso de constipação intestinal, pode ser administrado supositório de glicerina; – Consultar o médico assistente quanto ao uso de outros me dicamentos; – Crianças (até 12 anos), consultar o pediatra quanto à dieta a ser seguida; – Não colher as fezes no período menstrual; – Evitar a contaminação com urina, água ou outros elementos; – Para esse exame é contra-indicado o uso de óleos minerais e enemas (bário). pH , Determinação do Tem estreita relação com o tipo de dieta alimentar e conse qüentemente com a quantidade de ácidos graxos não absor vidos, de ácidos de fermentação e de bases. Predominando a fermentação, a reação será ácida; prevalecendo o processo de putrefação, será alcalina. MÉTODO: Fita indicadora de pH. É um teste de triagem para gordura nas fezes, avaliação de má absorção de gordura e deficiência de sacaridases intestinais. AMOSTRA: Fezes recentemente colhidas (frasco plástico). VOLUME NECESSÁRIO: 5g (1/3 do recipiente coletor) para fezes moldadas ou líquidas. ORIENTAÇÕES: Coletar fezes em recipiente limpo. Transferir algumas colheres para frasco fornecido pelo laboratório e enviá-lo o quanto antes para análise. Manter em local fresco. OBSERVAÇÕES: – Não usar purgativos. Em caso de constipação intestinal, pode ser administrado supositório de glicerina; – Consultar o médico assistente quanto ao uso de outros me dicamentos; – Não colher as fezes no período menstrual; – Evitar a contaminação com urina, água ou outros elementos; – Em caso de crianças pequenas, recolher as fezes da fralda logo após a evacuação; – Para esse exame é contra-indicado o uso de óleos minerais e enemas (bário). Digestibilidade (resíduo alimentar) As fezes normais são pastosas, castanhas, com pH entre 6,5 e 7,5, sem resíduos alimentares. Microscopicamente são encontradas apenas raras fibras musculares bem digeridas, uma ou outra célula vegetal, com ou sem amido, e ausência de outros elemen os. Dos produtos de origem intestinal, apenas muco dissolvido (+/++) e a presença de estercobilina são considerados normais. MÉTODO: Schmidt e Strasburger. AMOSTRA: Fezes recentemente colhidas (frasco plástico). VOLUME NECESSÁRIO: 20g (recipiente coletor cheio) para adultos e crianças. ORIENTAÇÕES: Coletar fezes em recipiente limpo. Transferir al colheres para o frasco fornecido pelo laboratório e en- viá-lo o quanto antes para análise. Manter em local fresco ou sob refrigeração, sem congelar. Para esse exame, é necessário que o paciente mantenha uma die a especial por três dias (vide dieta para coprologia funcional) e que, no quarto dia, o material seja colhida na primeira evacuação. OBSERVAÇÕES: – Não usar purgativos. Em caso de constipação intestinal, pode ser administrado supositório de glicerina; – Consultar o médico assistente quanto ao uso de outros me dicamentos; – Crianças (até 12 anos), consultar o pediatra quanto à dieta a ser seguida; – Não colher as fezes no período menstrual; – Evitar a contaminação com urina, água ou outros elementos; – Para esse exame é contra-indicado o uso de óleos minerais e enemas (bário). Enterobius vermicularis, Pesquisa de ovos de O E. vermicularis não faz postura na luz intestinal e sim na re perianal, durante a noite, o que resulta quase sempre em resultados de exames de fezes negativos. É necessário que a coleta para observação desses ovos seja feita em fita adesiva transparente, preferencialmente pela manhã e antes de qual . MÉTODO: Graham. AMOSTRA: Vide instrução de coleta OBSERVAÇÕES: – O exame deve ser feito pela manhã; – Não deve ser usado nenhum medicamento local; – Não pode ser feita higiene ou limpeza local antes da coleta. Material fornecido pelo laboratório: – 2 lâminas; – 1 espátula de madeira tipo abaixador de língua. 292 11 Parasitologia BOOK 16.indd 292 26.10.06 17:28:17 a parte colante livre; – Levar a fita adesiva até a região perianal e fazer pressão em diversos lados; – Colar a fita na lâmina, tendo o cuidado de deixá-la lisa, sem rugas; – Repetir a operação com a segunda lâmina e enviar ao labo ratório. – Não usar purgativos; – Consultar o médico assistente quanto ao uso de medica mentos; – Não colher as fezes no período menstrual; – Evitar a contaminação com urina, água ou outros elementos; – Em caso de crianças pequenas, recolher as fezes da fralda logo após a evacuação; – Para esse exame é contra-indicado o uso de óleos minerais e enemas (bário). Eosinófilos, Pesquisa de Podem ser encontrados em casos de alergia digestiva, helmin tíases intestinais, amebíase e alterações da flora intestinal, de vido à ação de antibióticos de amplo espectro. MÉTODO: Coloração de May-Grunwald-Giemsa e azul-de-metileno. AMOSTRA: Fezes recentemente colhidas (frasco plástico). VOLUME NECESSÁRIO: 5g (1/3 do recipiente coletor) para fezes moldadas ou líquidas. ORIENTAÇÕES: Evacuar em recipiente bem limpo e seco. Transferir algumas colheres para o frasco fornecido pelo laboratório e enviá-lo o mais breve possível para análise. Manter em local fresco. OBSERVAÇÕES: – Não usar purgativos. Em caso de constipação intestinal, pode ser administrado supositório de glicerina; – Consultar o médico assistente quanto ao uso de outros me dicamentos; – Não colher as fezes no período menstrual; – Evitar a contaminação com urina, água ou outros elementos; – Em caso de crianças pequenas, recolher as fezes da fralda logo após a evacuação; – Para esse exame é contra-indicado o uso de óleos minerais e enemas (bário). Gordura fecal, Dosagem de A deficiência de lipases intestinais na doença do pâncreas au ta o teor de gorduras neutras e proteínas não digeridas, pela falta concomitante de proteases pancreáticas. As doenças do fígado e do trato biliar capazes de produzir esteatorréia ge almente são acompanhadas de icterícia e outras alterações bioquímicas do sangue anteriores ao quadro típico. PARASITOLOGIA – Segurar a fita adesiva e colocá-la sobre a espátula, deixando OBSERVAÇÕES: O EXAME PARASITOLÓGICO DE FEZES Instrução de coleta: MÉTODO: Van de Kamer modificado. AMOSTRA: Com o paciente sob dieta adequada, as fezes são re olhidas em 72 horas e mantidas na geladeira com indicação de data e hora de coleta (vasilhame plástico, lata ou vidro de boca larga). VOLUME NECESSÁRIO: Todo o volume de fezes colhidas nas eva ões do quarto, quinto e sexto dias (mantendo-se a dieta). ORIENTAÇÕES: Dieta mantida por seis dias. Acrescentar à alimentação habitual: – 3 colheres de sopa de azeite; – 3 fatias de presunto gordo; – 2 colheres de sopa de creme de leite; – 1 colher de sopa de manteiga (não pode ser margarina); – 1 fatia de queijo. Distribuir durante o dia, a gosto do paciente. Esteatócrito, Dosagem de Uma metodologia alternativa e confiável para avaliação de es teatorréia aliada à praticidade na coleta da amostra. O resulta do é expresso em percentuais. MÉTODO: Micrométodo de Phuapradit. AMOSTRA: Amostra de fezes recentemente colhidas (frasco plástico). VOLUME NECESSÁRIO: 20g (recipiente coletor completo) para fe es moldadas ou líquidas. ORIENTAÇÕES: Evacuar em recipiente bem limpo e seco. Transferir algumas colheres para o frasco fornecido pelo laboratório e en- viá-lo o mais breve possível para análise. Manter em local fresco. COLETA: As evacuações do quarto, quinto e sexto dias (manten- do-se a dieta). Todo o material colhido deve ser mantido na ge ladeira e entregue no laboratório no sétimo dia pela manhã. OBSERVAÇÕES: – Consultar o médico assistente quanto ao uso de outros me dicamentos; – Não usar purgativos. Em caso de constipação intestinal, pode ser administrado supositório de glicerina; – Não colher as fezes no período menstrual; – Evitar a contaminação com urina, água ou outros elementos; – Em caso de crianças pequenas, recolher as fezes da fralda, logo após a evacuação; – Para esse exame, é contra-indicado o uso de óleos minerais e enemas (bário). 293 11 Parasitologia BOOK 16.indd 293 26.10.06 17:28:17 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA Gordura fecal, Pesquisa de As fezes normais contêm pouco ou nenhum glóbulo graxo. Essa descoberta em qualquer preparação é firme evidência de má absorção de gorduras, o que o resultado negativo de um exame não chega a descartar. O diagnóstico definitivo só pode ser feito com a dosagem de gordura fecal. É um teste de tria gem para a presença de gorduras neutras nas fezes. MÉTODO: Sudam III. AMOSTRA: Fezes recentemente colhidas (frasco plástico). VOLUME NECESSÁRIO: 5g (1/3 do recipiente coletor) para fezes moldadas ou líquidas. ORIENTAÇÕES: Coletar fezes em recipiente limpo. Transferir al gumas colheres para o frasco fornecido pelo laboratório e enviá-lo o quanto antes para análise. Manter em local fresco. OBSERVAÇÕES: – Não usar purgativos; – Consultar o médico assistente quanto ao uso de outros me dicamentos; – Não colher as fezes no período menstrual; – Evitar a contaminação com urina, água ou outros elementos; – Em caso de crianças pequenas, recolher as fezes da fralda logo após a evacuação; – Para esse exame é contra-indicado o uso de óleos minerais e – Não colher as fezes no período menstrual; – Evitar a contaminação com urina, água ou outros elementos; – Em caso de crianças pequenas, recolher as fezes da fralda, logo após a evacuação; – Para esse exame é contra-indicado o uso de óleos minerais e enemas (bário). Leucócitos, Pesquisa de Sua presença nas fezes sugere infecção bacteriana (disenteria bacilar) e torna remoto o diagnóstico de amebíase e gastroen terite viral. Outras causas de aparecimento de leucócitos nas fezes são tuberculose, câncer, retossigmoidite gonocócica, re tocolite ulcerativa inespecífica e retocolite da linfoadenopatia venérea. MÉTODO: Pesquisa direta por microscopia e coloração pelo azul- de-metileno. AMOSTRA: Fezes recentemente colhidas (frasco plástico). VOLUME NECESSÁRIO: 5g (1/3 do recipiente coletor) para fezes moldadas ou líquidas. ORIENTAÇÕES: Evacuar em recipiente bem limpo e seco. Transferir algumas colheres para o frasco fornecido pelo laboratório e enviá-lo para análise o mais breve possível. Manter em local fresco. OBSERVAÇÕES: enemas (bário). – Não usar purgativos. Em caso de constipação intestinal, pode Hemácias, Pesquisa de – Consultar o médico assistente quanto ao uso de outros me As hemácias são rapidamente destruídas no conteúdo intesti nal e seu aparecimento sugere aceleração do trânsito a partir da lesão, ou lesão nas últimas partes do cólon. Quando pre sentes em grande quantidade indicam sempre ulceração. A associação entre muco, leucócitos e hemácias é encontrada nas fezes de pacientes com colite ulcerativa, disenteria bacilar, diverticulite ulcerante e tuberculose intestinal. MÉTODO: Microscopia a fresco e coloração pelo azul-de-metileno. AMOSTRA: Fezes recentemente colhidas (frasco plástico). VOLUME NECESSÁRIO: 5g (1/3 do recipiente coletor) para fezes moldadas ou líquidas. ORIENTAÇÕES: Coletar fezes em recipiente limpo. Transferir al gumas colheres para frasco fornecido pelo laboratório e enviá lo o quanto antes para análise. Manter em local fresco. OBSERVAÇÕES: – Não usar purgativos. Em caso de constipação intestinal, pode ser administrado supositório de glicerina; – Consultar o médico assistente quanto ao uso de outros me ser administrado supositório de glicerina; dicamentos; – Não colher as fezes no período menstrual; – Evitar a contaminação com urina, água ou outros elementos; – Em caso de crianças pequenas, recolher as fezes da fralda logo após a evacuação; – Para esse exame é contra-indicado o uso de óleos minerais e enemas (bário). Material eliminado, Identificação Permite a identificação de partes e/ou de vermes adultos de parasitos de interesse humano. MÉTODO: Microscopia e macroscopia. AMOSTRA: Vermes adultos ou partes destes. ORIENTAÇÃO: Após a coleta do material (frasco limpo e seco), en eve possível ao laboratório. OBSERVAÇÕES: – Não imergir a amostra em álcool; – Evitar a contaminação com urina, água ou outro elemento. dicamentos; 294 11 Parasitologia BOOK 16.indd 294 26.10.06 17:28:18 testinal. Na superfície de fezes moldadas, sugere constipação espástica ou colite mucosa. Pacientes com adenoma viloso do cólon podem eliminar grande quantidade de muco. MÉTODO: Macroscopia e/ou microscopia. AMOSTRA: Fezes recentemente colhidas (frasco plástico). VOLUME NECESSÁRIO: 5g (1/3 do recipiente coletor) para fezes moldadas ou líquidas. ORIENTAÇÕES: Coletar fezes em recipiente limpo. Transferir algu mas colheres para o frasco fornecido pelo laboratório e enviá lo o mais breve possível para análise. Manter em local fresco. OBSERVAÇÕES: – Não usar purgativos. Em caso de constipação intestinal, pode ser administrado supositório de glicerina; – Consultar o médico assistente quanto ao uso de outros me dicamentos; – Não colher as fezes no período menstrual; – Evitar a contaminação com urina, água ou outros elementos; – Em caso de crianças pequenas, recolher as fezes da fralda logo após a evacuação; – Para esse exame é contra-indicado o uso de óleos minerais e enemas (bário). Parasitológico A realização de técnicas eletivas permite a identificação de cistos de protozoários, ovos e larvas de helmintos. A intensi dade de formas parasitárias, tanto de protozoários quanto de helmintos, influi no número eliminado. Mas sua ausência em dicamentos; – Evitar colher as fezes no período menstrual; – Evitar a contaminação com urina, água ou outros elementos; – Em caso de crianças pequenas, recolher as fezes da fralda logo após a evacuação; – Para esse exame é contra-indicado o uso de óleos minerais e enemas (bário); – Outro material (por exemplo, um verme ou parte dele) elimi nado pelo paciente não deve ser colocado com as fezes, mas separado em outro recipiente limpo e seco; – A metodologia de Baermann-Moraes somente será realizada se estiver especificada na solicitação médica. Parasitológico com conservador, MIF-C Permite a evidenciação de cistos de protozoários, ovos e larvas de helmintos. MÉTODO: MIF modificado (formol, glicerina e água destilada). AMOSTRA: Fezes recolhidas durante três e o máximo cinco dias, consecutivos ou não, em líquido conservante. VOLUME NECESSÁRIO: Fezes moldadas: uma colher (fornecida com o recipiente pelo laboratório) de cada amostra; fezes líqui das: de 2mL a 3mL de cada amostra. ORIENTAÇÕES: – É fornecido um frasco com líquido conservador; – Colocar pequenas porções de fezes (uma colherinha) durante três dias, consecutivos ou não, tendo o cuidado de misturar bem todas as vezes; – Não encher demais o frasco para que a amostra fique total mente coberta pelo líquido; uma amostra de fezes não elimina a possibilidade de infecção. – Não é necessário colocar na geladeira durante a coleta. É, portanto, recomendável o exame de três amostras colhidas OBSERVAÇÕES: em dias diferentes. Devido à semelhança entre os mecanismos de transmissão de protozoários intestinais, o encontro de co mensais sugere a possibilidade de infecção por patogênicos. MÉTODOS: Lutz-Hoffman e Pons & Janer, Kato-Katz e direto AMOSTRA: Fezes recentemente colhidas (frasco plástico). VOLUME NECESSÁRIO: 5g (1/3 do recipiente coletor) para fezes moldadas ou líquidas. ORIENTAÇÕES: Coletar fezes em recipiente limpo. Transferir al PARASITOLOGIA A presença de muco indica irritação ou inflamação do trato in – Consultar o médico assistente quanto ao uso de outros me O EXAME PARASITOLÓGICO DE FEZES Muco, Pesquisa de – Não colher as fezes no período menstrual; – Evitar a contaminação com urina, água ou outros elementos; – Em caso de crianças pequenas, recolher as fezes da fralda logo após a evacuação; – Para esse exame é contra-indicado o uso de óleos minerais e enemas (bário); – Se outro material (por exemplo, um verme ou parte dele) for eliminado pelo paciente, não deve ser colocado com as fezes, mas separado em outro recipiente limpo e seco. gumas colheres para o frasco fornecido pelo laboratório e enviá-lo o mais breve possível para análise, mantendo-o em local fresco. Na impossibilidade de envio, refrigerar. OBSERVAÇÕES: – Não usar purgativos. Em caso de constipação intestinal, pode ser administrado supositório de glicerina; Parasitológico com conservador de SAF (EPC) Permite a evidenciação de cistos de protozoários, ovos e larvas de helmintos. MÉTODO: Lutz-Hoffman e Pons & Janer e Ritchie. 295 11 Parasitologia BOOK 16.indd 295 26.10.06 17:28:18 BIOINFORME SÉRGIO FRANCO MEDICINA DIAGNÓSTICA AMOSTRA: Fezes recolhidas em líquido conservante (formol, gli cerina e água destilada) ou SAF (acetato de sódio, ácido acético, formol e água destilada). VOLUME NECESSÁRIO: Fezes moldadas: uma colher (fornecida com o recipiente pelo laboratório); fezes líquidas: 2mL a 3mL da amostra. ORIENTAÇÃO: – Colocar uma colherinha de fezes em frasco com líquido conservador; – Não encher demais o frasco para que a amostra fique total mente coberta; – Não é necessário colocar o frasco na geladeira após a coleta. OBSERVAÇÃO: – Em caso de crianças pequenas, recolher as fezes da fralda logo após a evacuação; – Para esse exame é contra-indicado o uso de óleos minerais e enemas (bário); – Não colher as fezes no período menstrual; – Evitar a contaminação com urina, água ou outros elementos; – Em caso de crianças, recolher as fezes da fralda logo após a evacuação; – Se outro material (por exemplo, um verme ou parte dele) for eliminado pelo paciente, não deve ser colocado com as fezes, mas separado em outro recipi