Armadilha da NTN-B

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Armadilha da NTN-B
Jornal Valor --- Página 1 da edição "03/12/2014 1a CAD D" ---- Impressa por GAvenia às 02/12/2014@17:10:20
Jornal Valor Econômico - CAD D - EU - 3/12/2014 (17:10) - Página 1- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW
Enxerto
Quarta-feira, 3 de dezembro de 2014
EU&
INCLUI
LEGISLAÇÃO
& TRIBUTOS
Evento em São Paulo
discute o papel da
cultura na
transformação das
cidades brasileiras D4
Sangria
Comportamento dos fundos renda fixa índices
Captação líquida mensal (R$ milhões)
Armadilha
da NTN-B
Jan/13
-1.907,47
-3.575,16
-4.987,92
-1.095,80
-6.145,07
-2.541,46
-1.552,91
-1.960,96
-1.170,38
-2.329,88
-2.195,16
Quem compra título indexado ao IPCA
precisa saber que preço ao longo do tempo
varia não só conforme a inflação, mas com o
juro. Por Alessandra Bellotto, de São Paulo
Em tempos de alta de preços,
buscar proteção para o patrimônio em títulos de inflação como
as Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-Bs), por mais lógico
que pareça, pode se mostrar uma
estratégia traiçoeira, principalmente para quem tem um horizonte de curto prazo. Isso porque sobre esses papéis não incide apenas a correção monetária.
Quem compra renda fixa atrelada à inflação não compra IPCA,
alerta George Wachsmann, sócio da gestora de patrimônio
GPS, do grupo Julius Baer.
“Comprar um título de inflação para se proteger da alta de
preços no curto prazo não é uma
boa estratégia”, reforça Claudio
Mifano, sócio responsável pela
área de gestão de patrimônio da
Claritas Investimentos. Quando a
inflação está muito pressionada,
a chance de o juro subir é alta, argumenta — como de fato ocorreu. Ele explica que nem sempre
o aumento da inflação compensa
a perda decorrente de um aumento da taxa paga pelos títulos
no mercado. Para o investidor
leigo, que espera um repique de
inflação no curto prazo, na visão
de Mifano, a melhor defesa são
os títulos pós-fixados, que
acompanham a trajetória dos
juros básicos da economia.
Neste ano até outubro (último
dado mensal disponível), por
exemplo, enquanto o IPCA variou
5,05%, o IMA-B, que replica o desempenho médio de todas as
NTN-Bs no mercado, subiu
14,32%. Isso porque o retorno
desses papéis é dado por dois
componentes: um pós-fixado,
que é a variação futura do IPCA, e
um prefixado, que é o juro acordado no momento do investimento a ser pago anualmente até
o vencimento. Se no mercado secundário essa taxa diminuir ao
longo do tempo, o preço do papel
sobe para se ajustar — foi o que
aconteceu neste ano com as
NTN-Bs e explica a alta do IMA-B.
Essa lógica, contudo, muitas
vezes passa despercebida pelo
investidor. Com o retorno médio
de 21,69% em 2012, os fundos
renda fixa índices, que investem
basicamente em NTN-Bs, atraíram cerca de R$ 24 bilhões em
aplicações somente no primeiro
mês de 2013. Mas, com a piora
do desempenho da modalidade
ao longo do ano passado — no
ano fechado, essas carteiras registraram perda média de 3,42%
—, só saiu dinheiro desde então
(são R$ 35 bilhões de resgates líquidos entre fevereiro do ano
passado até outubro deste ano).
Mais uma vez, esse investidor
que sacou em meio às perdas
perdeu a recuperação das carteiras. Neste ano, os fundos renda
fixa índices lideram os ganhos
da indústria, ao registrar retornos de 11,36% até outubro.
Mifano alerta que, mais do que
em qualquer outra alternativa de
investimento, na renda fixa atrelada à inflação olhar o passado para
decidir pela aplicação é a pior atitude que o investidor poderia tomar. “Essa estratégia não tem valor
nenhum com títulos de inflação”,
destaca, referindo-se ao peso de fatores econômicos para o sucesso.
Wachsmann, da GPS, diz que,
ao comprar uma NTN-B, o inves-
tidor precisa observar duas variáveis, a inflação implícita nos títulos do mercado, ou seja, quanto
os investidores esperam de inflação ao ano até o vencimento do
papel, e a taxa de juro prefixada,
também conhecida como juro
real. Um jeito simples de saber
qual a inflação implícita — que,
diga-se de passagem, pode se
descolar bastante da expectativa apontada no Relatório Focus
do Banco Central — é comparar
uma NTN-B com um título que
paga apenas uma taxa pré que,
de certa forma, embute uma expectativa de inflação, como a
NTN-F, de prazo semelhante.
Na segunda-feira, dia 1 o , por
exemplo, enquanto a NTN-B
2024 pagava IPCA mais 5,70% ao
ano, a NTN-F 2025 (prazo que
mais se aproxima) tinha taxa
prefixada de 12,04%. Ao dividir a
taxa da NTN-F pela taxa da
NTN-B, o resultado indicava
uma inflação implícita de 5,77%
ao ano até o vencimento. E é a
expectativa futura de inflação
que vai ditar, entre outros fatores, a segunda variável, o juro
real. Se a inflação futura acabar
ficando abaixo da estimada no
momento da compra do título,
é bem provável que o juro pago
por esses papéis no mercado
também diminua, o que nesse
caso geraria um ganho de capital para o investidor — vale relembrar que quando a taxa cai,
o preço do título sobe, valorizando a aplicação.
Foi o que aconteceu ao longo
do ano com a NTN-B 2024. Em janeiro, esse papel pagava cerca de
6,50%, enquanto a inflação implícita estava na casa de 6,30%.
No fim de outubro, a taxa já tinha
caído para 6% e a inflação implícita, para pouco mais que 5,60%.
O juro real das NTN-Bs também oscila ao sabor do humor do
investidor, local e estrangeiro.
Quanto mais incertezas no ar,
maior tende a ser o prêmio exigido, principalmente para os títulos mais longos e de menor liquidez. Mifano destaca que, enquanto os títulos mais curtos
têm correlação maior com a inflação e a taxa Selic, para os mais
longos pesa mais a estabilidade e
credibilidade institucional.
Hoje, para entrar na NTN-B
2024, por exemplo, o investidor
precisa avaliar se está confortável
com a inflação implícita de 5,77%
e o juro real de 5,70%. Um risco
seria haver um descontrole da inflação ou um “tarifaço”, o que poderia inflar as expectativas futuras, provocando um aumento
das taxas pagas. Wachsmann, da
GPS, argumenta, contudo, que é
importante avaliar a magnitude
de um eventual choque inflacionário, a reação do Banco Central, o prazo do papel e a natureza desta alta de inflação.
No caso de ocorrer um “tarifaço” ano que vem, se o novo governo adotar políticas mais ortodoxas, nas áreas fiscal e monetária, diz o sócio da GPS, o
impacto para os papéis pode
até ser positivo para o investidor, ao acumular ganhos com a
inflação maior sem que os juros
pagos pelos títulos aumente.
Desde que surgiram as especulações sobre o nome de Joaquim Levy para ocupar o Minis-
24.174,05
-1.938,51
Rentabilidade mensal (%)
0,54
Fev
-0,49
Mar
-0,92
Abr
1,25
Mai
-2,50
Jun
-1,78
Jul
1,00
Ago
-1,47
Set
0,82
Out
0,79
Nov
-1,71
Dez
1,10
Jan/14
-1,00
-967,67
Fev
2,81
-1.045,60
Mar
0,81
-295,22
Abr
Mai
-2.387,04
-133,73
-430,24
1,73
17,93
2,52
Jun
756,30
Jul
784,45
0,47
0,77
Ago
2,62
Set
-1,30
Out
1,47
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Fonte: Anbim
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2011
2012
2013
2014*
tério da Fazenda, os prêmios exigidos pelas NTN-Bs caíram significativamente, em mais de meio
ponto percentual para as mais
longas. A reação deve-se à expectativa de mudança para melhor
da política econômica, uma vez
que Levy, que ocupou o cargo de
secretário do Tesouro Nacional
no governo Lula, é visto pelos investidores como adepto de uma
linha mais conservadora.
Apesar da queda, Wachsmann
ainda enxerga oportunidades em
NTN-Bs, mas de prazo intermediário, de 2020 e 2024, de olho
num ajuste fiscal e monetário nos
próximos meses. Também Mifano, da Claritas, acredita que os
vencimentos intermediários embutem potencial de ganho, e menor risco. Se houver uma aceleração da alta da Selic na reunião do
Copom desta semana, os prazos
mais curtos tendem a sofrer. Em
compensação, diz o executivo, isso abriria espaço para quedas
adicionais dos juros nos vencimentos mais longos, mas a volatilidade nesse caso é maior.
Com a economia fraca e considerando também a realidade
global de juros baixos, Wachsmann acredita que pode haver
um interesse maior de investidores estrangeiros em aproveitar o
diferencial de juros no Brasil.
“Achamos que a lua de mel com a
nova equipe ainda pode durar e
as taxas fecharem mais”, diz. Os
juros reais mais longos, na visão
de Wachsmann, podem fechar
mais, para qualquer coisa no intervalo 5% a 5,5%. Ele alerta, contudo, para o risco embutido nos
vencimentos 2030 a 2050, mais
sensíveis a eventual frustração
com a execução do plano.
O título de inflação, pondera
Mifano, funciona principalmente em alocações de médio e longo
prazo, para fazer conta de aposentado. Para o longo prazo, o investidor precisa entender que faz
todo sentido ter exposição ao juro real, conclui o executivo da
Claritas. O sócio da GPS também
defende que a NTN-B não pode
faltar na carteira do investidor
quando se leva em conta um
planejamento financeiro de
longo prazo. “É uma classe de
ativo que o investidor precisa
ter, apesar da dinâmica complexa, mas não dá para acompanhar o resultado mês a mês.”
Ver também página D2
13.869
3
32.791,9
0
,1
8
8
-5.2
2
-5.639,3
21,69
-3,42
11,36
TimeWalker Extreme
Chronograph DLC
and Hugh Jackman
Crafted for New Heights
Este cronógrafo automático é feito
com materiais resistentes como o
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Curitiba: Crystal 41 3322 8716 | Batel 41 3026 3150
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