Capitulo Segundo – A Deusa das Passagens

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Capitulo Segundo – A Deusa das Passagens
Capitulo Segundo – A Deusa das Passagens
2A 1. Terça a noite eu :nha que dormir cedo por que :nha ensaio de manhã. Naquela época eu considerava minha banda uma empresa com monopólio sobre um produto em destaque no mercado. Mas estávamos aprendendo a ser empresários ainda. Tínhamos regras rígidas de horários e funcionamento geral. Por exemplo, se esquecesse uma parte do figurino, um membro da banda pagaria 10% de seu cachê do dia. Isso até que funcionava bem. Quase nunca esquecíamos nada. Meu ideal era criar uma é:ca funcional. Eu era meio nazista com a banda, eu admito. Mas como John Lennon certa vez disse “Os Beatles :nham que ser babacas para chegar onde chegaram”, eu tava querendo ser babaca. 2A 2. É tudo sobre aonde você quer chegar. Existem preços óbvios para algumas passagens. De um lado ou de outro você vai ser cobrado. É que nem quando passei num pedágio quando morava em Curi:ba e viajei pra Londrina pra cur:r uma festa. Não carregava dinheiro em espécie e parei num pedágio. Não :nha rua pra voltar, e não deixavam eu passar sem pagar. Eu :ve que mendigar dos carros que passavam rapidinho os quatro reais e pouco que custava pra passar. Tem horas que é pagar ou lutar, e a batalha é um preço por si só. A gente não tem escolha a não ser pagar por nossos caminhos.
2A 3. Eu tomei um dramin para dormir melhor e caí que nem uma pedra à meia-­‐noite. Foi aí que começou. Deitado no meu novo apartamento onde as coisas estavam todas ainda desorganizadas eu abraçava minha maldição. Pelos próximos 5 meses eu não consegui dormir direito. Um demônio entrou no meu corpo. Parece que vendi meu sono para o Deus do vento e em troca ele ia me dar minha independência. Em troca ele ia me fazer criar tudo que eu sempre sonhei. Em troca, me daria novos sonhos, sonhos bem mais altos e claros e frios, como uma montanha acima da névoa. Acordei às três da manhã com minha primeira insônia desses tempos. Parece que :nha que ficar acordado para relatar com fidelidade absoluta os acontecimentos desses dois meses.
2A 4. Acordei pensando em fadas de bosques irlandeses. Veja aí no Freud se ele diz algo sobre isso e me fala. A vida as vezes é Freud e é Freud dormir nesses tempos de insônia. O estado de insonia é uma dimensão paralela entre a consciencia das preocupações diárias e a completa inconsciencia do sono. Estava lá eu nesse meio termo, nesse purgatório sem perdão e as fadas puxavam o meu pelo e minhas pálpebras. Levantei da cama vagarosamente sem entender direito que força estava me empurrando pra fora de um dos meus lugares favoritos nessa terra, a cama.
2A 5. O sonambulismo me levou até o distante reino da internet. Chegando lá, desci do meu cavalo, e comecei a pesquisar quase que inconscientemente sobre fadas e magia negra na wikipedia. Eu passei muito tempo da minha vida buscando uma solução para a guerra entre os Espíritos, a guerra entre judeus e muçulmanos, a guerra entre taoistas e budistas. Eu passo muito tempo buscando Elohim, e entendendo o que o diferencia de Jeová. Entre eles, qual que é Zeus? E Zeus é mortal também? Quem não é se ele é? Talvez aquilo que Krishna mostrou pra Arjuna é mais poderoso até que Zeus. Muita gente acha que entendeu sobre isso, cada um tem seu discurso e seu nome pra xingar os Espíritos, Deuses e Demônios. Mas o nobre leão sentado na colina sobre a savana sabe muito bem do que ele esta falando. A gente fala muito bem do que a gente não sabe. E eu queria saber só o que mais eu conseguia fazer. Supostamente Jesus andou na água, diz ele “seja assim como seu pai que esta no céu,” ou seja, seja sinistro. Será que eu posso andar na água também, ou era só um símbolo aquilo? Eu não duvido nada.
2A 6. Entre sereias e anjos eu me deparei com Alesteir Crowley. Já :nha ouvido falar dele pois já par:cipei de várias “escolas de iniciação” dessas esoteróides. Todos zombavam de Crowley, e por isso eu me interessei. Eu me iden:fiquei. Muitos riem de mim ou riem de si quando pensam em mim. Tenho orgulho de ser uma piada para muitos, se eu não fosse acharia que estava fazendo algo de errado, pelo jeito que as coisas são. Procurei poemas ou algo curto dele, pra ver se ficava com gos:nho de quero mais. Não queria comprar um livro pra guardar na prateleira do um dia eu leio antes de ter uma prévia da capacidade dele. 2A 7. Encontrei uma espécie de ensaio dele, com umas regras de uma espécie de culto chamado Thelema. O nome do ensaio era “Duty” (dever, literalmente). Eu pensei, “dever,” dever é uma palavra forte demais, ú:l começo, pois começou ambicioso. Assim se for uma merda vou saber logo de cara. Eu tava numa fase de que ninguém :nha dever de nada, então se Crowley começasse com essas babaquices de que o certo é assim e o errado é daquele jeito, eu ia ficar puto e jogar no lixo. Ele começou dizendo “Seu dever para com você mesmo... (eu to traduzindo literalmente, hein) Seu dever para com você mesmo é (aí ele numera): 1. Se encontrar como centro de seu próprio universo, ‘eu sou a chama que queima no coração de todos os homens e todas as estrelas’. (delírio, to con:go até agora). 2. Explorar a natureza e os poderes de seu próprio ser (pirei total!) ‘Isto inclui tudo que é, ou pode ser para você: e você deve aceitar tudo exatamente assim como é, como um dos fatores que se junta para formar seu Verdadeiro Ser. Este Verdadeiro Ser inclui todas as coisas do universo: suas descobertas é a Iniciação (a viagem interna) e como sua natureza é o eterno movimento, deve ser entendido não como está:co, mas como dinâmico, não como Nome mas como Verbo.’” 2A 8. Não sei se você saca de esoterismo, mas Crowley bate umas teclas bem mais contemporâneas do que o resto da galera. Uma das máximas dele e do Thelema é “’Faça o que quiser’ será a lei completa”. Isso era exatamente a fase que eu estava passando, pois fazer o que quiser é bem mais complexo que fazer o que acha que quer, mas não devia haver impedimento algum mesmo que você se engane! Foi a primeira vez que ví Crowley e pirei na idéia da atualização da linguagem divina, de ser mais direto e obje:vo assim como os nossos tempos. Esse texto con:nua, eu recomendo. Crowley me convencera de que eu era o Universo, eu era Deus, Elohim ou Zeus e tudo que eu fizesse ia ser só mais uma etapa da minha já presente perfeição.
2A 9. Fiquei sem dormir mesmo e fui pro ensaio de manhã empolgadaço. Essas leituras espirituais que me informavam algo novo sobre o meu dever me empolgava, mesmo sendo completamente cé:co com a pseudo-­‐espiritualidade. No ensaio eu recomendei pro resto dos rapazes alguns livros novos que comecei a ler e esse novo texto do Aleister Crowley. Eles pararam e me olharam com uma cara nojenta de desinteresse. Eu sen: uma vibe estranha. Normalmente a gente conversava sobre alguma recomendação por horas pra ver se valia a pena. Dessa vez Cate:nho fez questão de mudar de assunto. Ele queria tratar de negócios. Os negócios do ensaio. Eu :nha que mostrar disciplina e aceitar isso, afinal foi eu que inventei de ser disciplinado. Mas algo havia mudado na disposição dos rapazes e foi aí que eu percebi pela primeira vez.
2A 10. Depois do ensaio eu dormi de tarde para não perder a noite. Acordei filosofando sozinho sobre a razão que bebemos. Pensei que a maioria dos homens bebem e mudam o caráter. A maioria dos homens bebem e se soltam de uma maneira monstruosa, Jekyl e Hide, mudando seus obje:vos primordiais até. Esses homens normalmente param de beber, do :po que pode até virar pastor evangélico, por que temem se soltar. Esses homens quando sóbrios estão se esforçando pra ser alguma coisa, pra sustentar uma imagem comunitária, uma aceitação da pressão social. Eles não querem que ninguém saiba o ‘monstro’ que eles são, mas vivem dessa:sfeitos com o anjo que inventaram. Eu não queria ser assim. Eu me ques:onava por que gostava de beber o tempo todo, mas nunca me achei um monstro. Mas ao mesmo tempo a questão mais per:nente era por que não beber. As monstruosidades que come:a enquanto bebado era uma opinião alheia que eu não dividia. Tem o lance da saúde, que pra mim é a melhor razão, ou pelo menos a mais convincente. Mas acho que temos que ter vontade de não beber e não só cair numa armadilha é:ca. Conheço muita gente que ia ser muito mais feliz se bebesse mais, se visse do que era capaz depois de uns whiskys. Não me amarro no vicio, de jeito nenhum. Mas não beber pode ser um vicio também. Assim como não escolher também é uma escolha. Então a gente usa o alcool como uma ferramenta, assim como o súco de maracujá, a maconha, o extasy e a ayhoaska. Ferramentas para ajudar A chegar a B.
2A 11. Essa noite eu iria sair pra beber então. Eu não ia sair com nenhum amigo. Eu não queria conversar. Eu queria sentar, beber e meditar a noite barulhenta. Queria flertar com novas damas da noite que não iam ter escolha a não ser me dar atenção, por que eu tava me sen:ndo sinistro. Liguei para algumas pessoas pra ver o que :nha de bom pra fazer. Peguei meu carro e fui pro Gates Pub. Um velho amigo ia tocar lá. Quarta noite era noite gay. Eu queria a presença de mulheres, mas hoje pra mim a musica era mais importante do que as mulheres, o barulho seria minha sinfonia. 2A 12. Quando você se sente sinistro, quase tudo é mais importante que as mulheres. As mulheres são um grande refúgio para homens fracos. Até porque foi assim que o Arquiteto fez, se tu não ta procurando, elas te procuram, se tu ta, elas te evitam, é uma lombra estranhaça, mas que já me acostumei e aprendi a amar. Hoje eu tava de boa. Ia ficar bêbado, instrospec:vo e bailante se desse. Quando você se sente sinistro o suficiente você é sua própria mulher, pelo menos no sen:do bíblico.
2A 13. Chegando lá o Gates ainda tava vazio, comprimentei a rapeize da porta, os caras que trabalham lá. Eu venho no Gates desde os meus 16 anos. Conheço todo mundo de lá, os porteiros me chamam de o filho de Maomé. Maomé é o dono do Gates, me amarro nele. Ele sempre foi generoso comigo, mesmo quando eu era jovem demais pra entrar lá. Sabe quando todo mundo :ra onda com sua cara pela sua ingênua cara de bebe? Maomé conversava sempre comigo de igual pra igual. 2A 14. Mas o Gates não era mais o que era em 2001, então não entrava mais quase nunca. Em 2001 o Gates era o que todos nós znhamos em comum, era o Landscape da época. A quarta não era Gay, mas era babilônica. Era a formosa Quarta Vinil, sediada muitas vezes pelos DJs Sono & Total, na época que Samuel e Tony eram amigos, na época que, na verdade, todos eram amigos, até por que éramos tão poucos e não podiamos nos dar ao luxo de se dividir. É, o Gates era sinistro das an:gas e hoje era como um fossil que con:nuamos a estudar para entender o passado melhor.
2A 15. Mas agora, em pé ali na frente da porta vazia do Gates, tava tudo triste. Era 2008, o final de 2008, ano sem copa, ano que :ve que inventar. Em 2008 o rock estava dividido, cansado. A nova geração criou novos par:dos, intrigas, novelinhas. Gente frustrada porque assiste televisão mas nunca viveu um highscool. Aquele tempo em 2001 era perfeito em contraste. Não sei se era por que eu era tão jovem, mas me arrepia só de lembrar o tanto de noite boa que passei, tanto de mulher mais velha que peguei. Talvez foi aí que a noite entrou no meu inconsciente pra sempre. Minha paixão pela noite ainda renderia muita glória, mesmo o Gates estando vazio. Mesmo todo mundo dizendo que queria estar em São Paulo.
2A 16. Passando do Gates fui ali no Piauí, um boteco ao lado, ver o que tava rolando. O Piauí virou clássico por causa do Gates, não sei se os jovens sabem disso. Tem um corredor para acessar as mesas lá, é uma espécie de passarela. Hoje eu tava poeta, poeta humilde. O conceito de sair poeta é clássico. Cada um deve ter sua noção especifica, mas pra mim sair poeta ficou muito claro desde a primeira vez que eu ouvi Tony dizendo. Uma vez me pediu uma carona pra algum lugar e eu falei que ia voltar cedo, que não ia poder contar comigo na volta. Ele olhou pra mim com confiança e disse “não importa, hoje eu to poeta”. Eu entendi de cara. Imaginei um bohemio do século XVIII subindo na parte de trás de uma carruagem imperial com um bloquinho de notas não se importando pra onde ia a carruagem. Ele não queria saber pois o céu assim como a lama inspira quando o poeta esta encarnado. Essa noite eu tava poeta e não ia desfilar na passarela do Piauí. Não estava procurando nada em especifico. Nenhuma mesa da aceitação social iria me atrair. Peguei uma cerveja viajando e perambulei.
2A 17. Chegando na parte das mesas no fundo do Piauí estava ali sentada Carolina Coralina sem o namorado. Ela olhou pra mim reconhecendo as flores que recebera com os olhos. Carolina não sabe flertar muito bem, o desejo dela as vezes transparece demais. Mas ela tava bêbada já e tava indo muito bem. Dava pra ver que era questão de tempo até a gente voltar a se ‘comunicar’. Essas ex-­‐namoradas precisam aprender a não manter contato comigo. Fui falar com ela, sabia que :nha pouco tempo antes do namorado dela voltar pois a cadeira ao lado dela estava vazia. Infelizmente algumas pessoas ainda estão vivendo no século 20, com essa história de possessividade pessoal, e ele não ia gostar da minha presença. Não me lembro bem o que falei, mas foi curto e rápido. Não pode dar mole demais se não ela cria maus costumes. Me despedi e fui pro Água Doce, outro boteco ao lado, não tava afim de ser Lancelot dessa vez. 2A 18. Cheguei no Água Doce e tava o pessoal de uma banda amiga numa mesa. Conversei um tempo com eles, mas já estavam de saída. Agora já tava quase bêbado, então era hora de entrar no Gates. Hoje em dia a cerveja aumentou muito de preço no Gates. É bom beber lá fora e ficar no ponto antes de entrar. Foi mal, Maomé, mas é a realidade do Brasileiro. Agora o Gates tava cheiaço. Cheio de viado, mas cheio. Não vi quase nenhuma mulher, mas foda-­‐se, eu tava poeta né? 2A 30. Ficamos juntos até as oito da manhã, depois Aninha teve que sair pra trabalhar. Eu por sorte não :nha ensaio então pude dormir o dia inteiro. Acordei com o barulho da construção depois do almoço e o espírito poeta ainda não :nha vazado de minha mente. Acho que ainda não :nha tomado uma injeção de realidade como nos outros dias, almoçando com minha mãe na casa dela. Minha mãe era certamente meu fio terra. Ela nunca deixava eu encarnar algum demônio completamente, pelo menos não por muito tempo, seja ele benigno ou maligno. Acordei querendo beber e ter mais histórias para contar, eram quase duas horas, resolvi passear pelo eixão para acalmar a cabeça de ontem a noite e planejar a próxima aventura.
2A 31. Chegando por volta da oito sul no eixão, eu parei no acostamento. Saí do carro e sorri para uma puta do eixão. Elas ficam lá na hora do almoço esperando famintos execu:vos que carregam em suas pastas 15 reais e uma desculpa de uma reunião de almoço demorada. Puta do eixão é uma nobre profissão. Assim como qualquer um que se aproveita dos que se aproveitam. Eu parei meu carro lá e elas começaram a se aproximar. Meu sorriso indicou que não as procurava, mas que as respeitava. Esperei uns cinco minutos para ter uma oportunidade pra atravessar a pé, o eixão é como aquelas alto estradas de filmes americanos, quatro pistas, alta-­‐
velocidade, ou pelo menos alta pros nossos estandardes brasileiros. 2A 32. Cheguei no centro entre as duas mãos, naquele meio onde só passa pedestre e presidente e ajoelhei. Me sen: como um muçulmano na hora da reza, e era esse o intuito. O Eixão é o eixo de Brasília, é a espinha vertebral da Deusa que domina a cidade. Não sei porque escolhi a 8 sul. Talvez ela que me escolheu. Eu ajoelhei e pedi à Deusa que me enviasse a alma de Brasília. Falei que em troca mostraria Brasília ao mundo. Expressei minha gra:dão por tudo que já :nha recebido, mas disse que dessa vez ela teria que botar todas as suas especiarias espirituais numa cesta e me entregá-­‐la durante esses dois meses. Pedi que as noites de Outubro e Novembro fossem banhadas por sua purpurina celeste. Eu não queria saber o que ia acontecer, não queria divinação, mas queria que acontecesse o que fosse acontecer com grande esplendor. Eu pedi uma grande revolução com os olhos fechados. Arranhei o asfalto com minhas unhas de violeiro e sen: o calor do Eixão na ponta dos dedos. Isso era a aprovação que eu precisava. Tudo que já é sempre será. Eu ouvi em algum lugar que a Deusa estava rindo de minha ambição. Mas o que eu vi foi que ela estava dormindo mas abriu seus olhos generosamente e me deu sua mão gelada. Eu beijei a mão dela e levantei. Atravessei a rua sem nem olhar pro lado, pois eu já estava garan:do. Agora sim, iria extrapolar.
2B 1. Era Quinta-­‐feira a noite. Tinha sido convidado pruma festa de aniversário de filhos de diplomata, no Lago Norte. Lá eu já sabia exatamente quem iria. De novo a generosa comunidade diplomá:ca me ofereceu um “traga quem você quiser” e de novo eu faria exatamente isso. Assim os outros não poderiam dizer o mesmo sobre saber quem iria, pois eu ia os surpreender. No começo cheguei na festa só com Joãozinho, dizendo “Paatz, pior que eu esqueci de passar pra comprar bebida, é que só ia dar uma passadinha rápida pra te dar parabéns.” Eu abracei a dona da casa com um sorriso educado e comecei a beber a bebida dos outros. Depois meu telefone não parou de tocar, primeiro Tony que era prevenido e saía cedo. Depois vários outros querendo saber qualeraboa (eu tava em fase de ser referência). Eu falei pra todos chegarem mais e trazerem bebida que tava massa. E tava mesmo. Tinham altas gatas que sabiam falar inglês! 2B 2. Os rapazes foram chegando em comboios. Daqui a pouco metade da festa :nha sido diretamente ou indiretamente convidado por mim. Digo indiretamente com certeza porque vi até o namorado de Carolina Coralina na festa e não fui eu que convidei, eu juro! Até rolou um episódio com ele onde perguntei dela e ele mandou eu me fuder. Quanta hos:lidade! Não é problema meu se ele se sen:a ameaçado pelo nosso passado, e as vezes presente... Mas eu :nha que entender, era o comum, eu não queria criar problemas pra ela -­‐ ela odeia par:cipar de novelas. Esse cara era passageiro em sua vida, eu pretendia ficar.
2B 3. A bebida tava fácil e o ambiente tava agradável. Nos diver:mos pacas, tava aquele clima de de graça, aquele clima que pode até pedir uma ida à esplanada dos ministérios de madrugada. É clássico em Brasília ir para a esplanada de madrugada e levar bebidas. Lá é bonito, afastado e poderoso. Con:nuamos bebendo e fazendo brincadeiras de marmanjo. Uma hora algum dos veteranos derramou bebida no pobre Joãozinho. Joãozinho agiu errado, reclamou, devia ter jogado bebida de volta ou sentado a cotovelada no criminoso. Então foram e fizeram de novo, isso deixou Joãozinho putaço e todos muito sa:sfeitos. Todo mundo riu menos ele, ele caiu nessa armadilha territorial. Ele ainda ia ter que aprender a se safar dessas, coitado! Eu ria por outra razão. Eu ria por que sabia que um dia Joãozinho estaria acima disso e estaria jogando bebida em algum novato. Eu ria da biologia da coisa.
2B 4. Depois chegaram algumas de nossas mulheres pra mostrar pros diplomatas o contraste de qualidade. Dentre elas estava Silvanete Silvanini, um anjo no escuro. Eu :ve muita sorte ao encontrar Silvanete. O namorado dela da época em que a conheci devia ter trancado ela num baú e a deixado longe do resto do mundo por que eu sinto que Silvanete foi muito claramente desenhada para mim e desde que a ví pela primeira vez já avancei. Aí, claro, o namoro deles acabou. Eu a acharia com o faro se os Espíritos não :vessem a colocado no meu caminho. Tudo que amava sobre as mulheres ela :nha de uma maneira ou de outra.
2B 5. Silvanete estava sem Cate:nho. Isso significava alguma coisa. Ou eles brigaram ou ela estava seguindo sua intuição independente. Cate:nho virou namorado de Silvanete dois segundos depois que eu e ela acabamos, lá na época da Cova dos Cínicos. Mas eu ainda não :nha terminado com ela. Essa noite, como sempre que ela chegava sem Cate:nho, ela seria minha. Mesmo sem beijar ou até abraçar por muito tempo, eu sen:ria o calor da presença dela ao meu redor pelo resto da noite. Eu realmente ainda não :nha terminado com ela. Isso sempre fica claro quando ela aparece, quando ela me olha pela primeira vez na noite. Ela me a:nge sinistro! Eu me sinto como um vampiro imortal que sabe reconhecer uma vampira só pelo cheiro. Os olhos dela penetravam direto a minha alma com familiaridade e sedução. 2B 6. Saímos de lá rumo à esplanada. Entrei no meu carro e o carro não pegou. Eu estava muito bêbado já, mais bêbado do que havia ficado em muito tempo. Achei que o carro não pegara por causa de um farol que deixei aceso ou algo do :po. Não pensei muito sobre isso por que qualquer problema sério estragaria minha noite. Fui de carona com Tony pra Esplanada. Deixei o carro lá pra pegar no dia seguinte, afinal aquela hora serviço de bateria nenhum iria até o Lago Norte.
2B 7. Passamos no supermercado para comprar bebida pra levar para a esplanada. Daí em diante já não lembro muito bem o que aconteceu direito. Tudo tava muito confuso e em preto e branco. Me contaram depois que :nha um grupo daqueles playboys bombados de regata na fila do caixa. Me contaram que sem nenhuma provocação e fui desafiá-­‐los: “wow, que musculosos vocês são!”. Eu não lembro disso de jeito nenhum, mas diz que eles me olharam com cara de mal sem acreditar no que estava acontecendo, algum louco desafiando cinco grandalhões. E eu os alertei “Meus irmãos, se liguem que eu bato em todos vocês de uma vez!” Aí os orgulhosos musculosos não fizeram nada, ficaram olhando um pro outro com cara de bunda. Deviam ter achado que eu era alguma espécie de ninja por estar desafiando-­‐os do nada -­‐ ou isso ou os músculos são só pra amostra hoje em dia. Não sei por que eu os desafiei do nada, mas quando eu to sinistro eu me sinto invencível e as vezes esbanjo isso a toa. Tenho que concertar esse defeito. Se :vesse hesitado teria apanhado e feio. As vezes me surpreendo com o tanto que não hesito quando to sinistro.
2B 8. Na esplanada não lembro de nada mesmo. Só tem umas imagens piscando na minha memória do que depois descreveram pra mim. Lembro de um bando de amigos, carros estacionados e muita risada. Joãozinho disse que eu fiquei chamando uns policiais pra me prenderem dando o dedo do meio pra eles. Eu devia estar impossivel! Eu imaginei uns amigos meus das an:gas que se chamavam de punques fazendo esse :po de coisa e me envergonhei. Mas eu duvido que foi tão simples, acho que Joãozinho tava me sacaneando! Sei lá! Foi a noite em que desafiei o poder do estabelecimento, primeiro diplomatas, depois musculosos, depois a policia de Brasilia que tem medo de bodinho. Só sei que acordei na minha cama, mas na casa de minha mãe, com sangue pingando do meu queixo numa camiseta encharcada de sangue e morrendo de dor de cabeça de uma ressaca braba. Tentei lembrar como aconteceu a chacina, mas só lembrei da minha mãe entrando no quarto de manhã e inves:gando: “Leo... que cheiro é esse? Isso é cachaça? Ta saindo dos seus poros! por que você ta dormindo aqui? Cansou da sua casinha já?” aí ela pausou “... isso é sangue na sua camisa?”. Depois lembro só dela batendo a porta com raiva. Esse foi o preço a pagar pelo meu aplauso de mim mesmo, nada mal!
2B 9. No dia seguinte acordei limpando o sangue do meu queixo. Minha mãe :nha viajado pra São Paulo enquanto eu dormia. Ela sempre ia pra lá a trabalho. Eu me perguntei como diabos fui parar na casa de minha mãe ontem a noite. Entrei no msn para interrogar os cúmplices. Um amigo falou que me deixou lá por que era mais perto da casa dele e eu tava mal demais pra dirigir de qualquer jeito. Joãozinho me disse que foi Silvanete quem me fez sangrar. Outros me contaram outras histórias da lendária noite esquecida em amnésia alcoolica. Eu fiquei mais curioso sobre o sangue. Até então achava que era como Alexandre o Grade, que entrava na batalha, matava neguinho, desafiava o estabelecimento mas jamais sangrava. Joãozinho disse que ela lançou uma garrafa de água de cinco litros na minha cara depois que eu falei algumas verdades pra ela. Que irônico que depois de tantas ameaças de machos pela noite o primeiro a me fazer sangrar foi uma fêmea. Acho que isso desencadeou um nemesis feminino, mas mais pra frente digo o por que. A idéia de sangrar por algo que falei e não fiz fez meu sangue melhorar de gosto. Adoro me mar:rizar pela verdade. 2B 10. Eu entrei no MSN e disse a Silvanete que ela :nha obrigação de me dar uma carona pra casa, já que :nha me feito sangrar injustamente. Depois de muita retórica consegui convencê-­‐la. Ela falou pra eu descer em cinco. Passou cinco e eu fui descendo, chamei o elevador ansioso pra voltar pra casa. Quando abri a porta pra entrar no elevador bateu aquela vontade louca de agromitar. Não ia dar pra segurar! Entrei de volta na casa de minha mãe e saí correndo pro banheiro de hospedes, que era o mais perto. Gorfei tudo que :nha comido no dia anterior. Foi feio. Eu tava na pior sinistro! Eu sou um fracote para ressacas. Elas me pegam brabo. Eu me sinto um refém. Na época não sabia as técnicas egípcias de cura de ressaca que hoje sei. Mas eu conto sobre elas em outro livro.
2B 11. Quando desci Silvanete já :nha ido embora. Liguei pra ela voltar pra me buscar, mas ela não voltou. Eu fiquei mais na pior ainda. Ela foi rude. Nessa época sempre que falava com ela ela era defensiva, a ponto até de me fazer sangrar e achar que foi merecido como se eu es:vesse ameaçando algum castelo de areia que ela construira com sua imaginação e quisesse vingança. Como que eu sou sempre a vi:ma da men:ra dos outros? Os amantes moram em castelos de areia infan:s que ainda não foram pisados pelo passante. Quando aquele velho grisalho for fazer seu cooper na mesma praia, ele correrá por cima das torres e muros que você construiu sem nem perceber. E se construir seus castelos em uma praia deserta, longe dos outros, a água que serve de cimento para seus frágeis edificios um dia evaporará e a areia cairá sobre o resto da praia como chuva no oceano. A areia volta pra areia e o mar volta pro mar. Enquanto isso, é diver:daço ficar construindo e desmontando castelos na areia, né não? Especialmente aqueles cheios de detalhes feitos com carinho e apreciação pelos castelos reais.
2B 12. Liguei para um taxi e fui pra casa do Tony vê se curava minha ressaca com mágica. Estavam lá os Asa Nor:nos Velazquinho e Aline Tiradentes. Até hoje não sei por que chamam o Fernando de Velazquinho. Ele é um cara que nem todos nós, preguiçoso e inteligente. Velazquinho é talvez o mais emocional de todos nós, ele se apaixona fácil e desiste fácil. Mas eu adoro quando ele ta sinistro, fica engraçadaço! Tony tava ensinando a Aline os caminhos de Brasília, ela era de fora, do Nordeste. Ia fazer a prova pra conseguir a cidadania Brasiliense e Tony estava dando uma força com as direções certas. Tony é um cara generoso com quem quer aprender. Eu sinto isso. Estavam todos na casa de Tony fazendo o clássico, fumando maconha e assis:ndo documentários.
2B 13. Bolaram um tchoise pra mim pra me ajudar com a ressaca da qual estava reclamando desde que cheguei. Eu fumei um e me deitei na cama de Tony para relaxar. Depois nós ficamos só olhando um pro outro, as vezes falando alguma coisa com duplo sen:do mas sempre tentando sair por cima. Era uma tarde comum na casa de Tony. Parecia que todo mundo só gostava de ficar ao redor de Tony, sem falar nada, sem ser nada, só sen:ndo a radiação que ele emanava. Tony aceitava o universo como ninguém e ser aceito por Tony parecia ser aceito pelo Universo. Eu era muito curioso pra saber o que Tony estava escondendo e por que. Não me parecia nada maléfico. Parecia mais como um pai escondendo a realidade dos filhos, com medo que se machucassem. As vezes Tony me dava umas dicas. As vezes eu achava que nem ele sabia, que era maior do que ele essa missão. Ele ficava lá, mexendo no computador, fumando seu tchoise de cada dia. 2B 14. Aline estava deslumbrada com o que :nha achado em Tony e eu não a culpava. Por se sen:r aceita ela se sen:a forte e poderosa. Pouco sabia ela que Tony era um grande amante das mulheres e talvez não :nha nada a ver com ela. Quando a conheci ela se sen:a segura por que :nha um namorado mas não se comparava à segurança que ela parecia sen:r sem mesmo nem abraçar Tony direito. Aline era inteligente e ingenua, parecia uma Orca fora d’agua. Era como uma dança a relação entre ela e Tony -­‐ algo que você sempre vê desde pequeno e sabe bem os passos -­‐ o garo:nho de boné pegando o autografo de seu jogador de beisebol favorito depois indo pra escola mostrar pros amigos e dizendo que ninguém pode tocar mas pode olhar de longe e babar. Aline se sen:a especial por algo que não era ela que :nha. Eu queria ver Aline amadurecida. Eu gostava dela, mas nessa época ela ainda só olhava de longe.
2B 15. Pedimos um Filé a Parmegiana do Gordeixo’s. Mama Mia, foi um delírio! Eu recomendo, mesmo que tenha demorado pra chegar. Depois tomei um banho quente, Tony me emprestou uma camiseta que :nha um desenho de um Samurai pegando um taxi e uma camisa do Philadelphia Flyers como casaco. Me sen: nos Estados Unidos na época que morava lá. Ta comigo até hoje a roupa que ele me emprestou, me lembra de devolver! Mesmo assim a ressaca perdurava. Era daquelas que sua mão fica desidratada e você só pensa em tomar Gatorade. Você não sabe que Gatorade e Al Green são os dois melhores acompanhamentos de ressaca?
2B 16. Tentamos sair pra beber -­‐ beber mais ia acabar com minha ressaca -­‐ mas não conseguimos. Planejamos mil vezes mil coisas, mas ficamos lá. Eu tava sem energia pra tentar liderar, eu tava na pior e Tony tava em casa, pra ele tanto fazia. Fiquei sentado no sofá de boa, enmaconhado. Umas pessoas foram chegando enquanto eu ficava no estado de semi-­‐sono da maconha. Minha ressaca foi chegando ao fim e eu fui me empolgando, acordando. Agora já estava de noite, Desnê Ré, um dos amigos que chegou depois, me chamou pra sair com ele pra comprar comida e mais bebida. Desnê é um anfitrião nato. Ele ta sempre querendo fazer todo mundo mais feliz e a festa mais pirante, isto é, quando ele ta de boa e quando gosta de você. Se não ele pode ser chato bagarai. Eu queria aprender a ser tão generoso quanto ele, então fui com ele comprar bebida. Isso já tava virando uma festa, não parava de chegar neguinho.
2B 17. Trouxemos comida de montão e muita bebida. Minha ressaca já era neste momento. Comi pacas. Me empaturrei e estava garan:do pro resto da noite. Quando a ressaca acabou completamente ela foi subs:tuída pela lembrança de meu carro que havia deixado na frente da casa da moça que sediou a festa dos diplomata no lendário dia anterior. Mais uma vez já tava tarde demais pra fazer alguma coisa sobre ele. Eu liguei o foda-­‐se de novo e comecei a ficar bêbado... de novo. A vida real ia ter que esperar.
2B 18. Saí de lá as seis da manhã de carona com Nego China. Fomos conversando por todo o caminho. É até di•cil descrever Nego China. Pra começar ele não parece Nego, não entendo bem por que que ele é, mas ele é. Ele usa o mesmo es:lo, bermuda e camiseta, desde que o conheci e provavelmente desde que ele entrou no Sigma, o segundo grau mais clássico de Brasília. Não sei se ele estudou lá mesmo, mas esse es:lo era de lá, hein! Nego já :nha 30 anos nessa época, que constância! Mas também era inteligente pacas e frustrado como o resto da galera. Nós éramos como uma grande família por mérito. Aos poucos fomos conquistando uns aos outros. Desde sempre Nego China me sacaneou, mas em 2008 ele começou a me respeitar. É foda ser o mais novo de todos. Mas é esperançoso. No carro eu e Nego conversamos sobre tudo. Nós entediamos as entre-­‐linhas dos pensamentos um do outro. Nego China queria que eu confiasse mais em mim mesmo, que não sen:sse a obrigação de dizer o óbvio como na época eu sen:a. Cheguei em casa e fiquei escrevendo pra vocês até umas oito da manhã.
2B 19. Acordei tarde pra caralho. O hoje daquele dia era um Sábado e :nha show dos Constan:nos no Fei:ço Mineiro. Eu pensei que podia ser amanhã por que acordei de ressaca de novo. Não queria fazer nada, só ficar de boa assis:ndo o jogo do flamengo e tomando gatorade. Mas dois mineiros vieram me assombrar pois liguei a televisão e ví o Flamengo perdendo pro Atlé:co Mineiro. Não assis: o jogo direito; minha mente tava em outra dimensão. Esperei por algumas horas pra ver se alguem me dava carona até o Duque. Já era tempo de eu o resgatar; :nha deixado ele tempo demais na frente da casa dos diplomatas. Meus amigos demoraram demais pra me acudir, como sempre, e eu acabei indo a pé. Não podia me atrasar pro horário nazista de duas horas antes do show que eu mesmo determinei. Dois dias depois, então, cheguei de volta ao meu carro, a pé. Me sen: Jesus pra caralho andando pelo Lago Norte indo salvar o duque.
2B 20. Chegando lá descobri que não era a bateria do carro que :nha acabado. O carro havia sido arrombado. A mochila de Joãozinho que ele pedira pra eu cuidar pra ele não estava mais lá, nem o som. Os bandidos cortaram o fio da bateria com um alicate para não soar o alarme, por isso não consegui ligar o carro. Do lado do passageiro a porta havia sido arrombada com uma furadeira. Eu não :nha idéia que os marginais do Varjão :nham evoluído tanto. Sortemente ainda estavam lá minha guitarra e um curso de blues que comprei na internet para Capre:nho. As coisas de maior importância eu deixava no porta-­‐malas.
2B 21. Os Espíritos me mandaram um anjo sem camisa com o cabelo encaracolado pela barriga e pelas costas. Ele usou alguma desculpa esfarrapada dizendo que era o vizinho ali da casa na frente de onde o carro estava parado (você não sabe que anjos não podem se revelar?). Ele já sabia que :nha sido roubado (afinal era um anjo) e tava com um equipamento para concertar o estrago. Ele disse que era comum cortarem a bateria, que já havia acontecido umas cinco vezes naquela rua (sei...). Concertou o fio da bateria sem hesitação e sem recompensa. Eu pude sair de lá sem danos maiores apesar da perda de meu som. Como eu sou grato àqueles que não pedem nada! Ele até riu quando disse que só fui buscar meu carro dois dias depois. Nem me julgar ele por imprudência ele fez! Depois que esse moço gen:l me ajudou eu pude ir pro show sem me atrasar.
2B 22. Fui buscar meu figurino da banda que ficava na casa de minha mãe e depois fui pro Fei:ço Mineiro. Estava na pior por estar com ressaca de dois dias atras, por ter acabado de ser roubado, e pior, por falar com minha mãe no telefone e ela mostrar grande decepção por esses eventos (claro, ainda ecoava em sua mente a imagem da minha camisa ensangüentada, cheiro de cachaça no ar e uma dormida inesperada em sua casa). Eu não estava muito bem emocionalmente. Achei que o show seria abalado por isso, mas tasquei duas pilulas de guarana pra dentro e entrei no palco sorrindo já. O guaraná salvou o show.
2B 23. No show avisei pro público que era Flamengista mesmo sendo o Fei:ço Mineiro e sabendo que :nha muito mineiro por lá. Pelo menos chamei o Atlé:co de Atlé:co Maneiro por ter conseguido ganhar do grande Flamengo. O público achou massa. Acho que dá pra ver esse show no youtube se procurar, procura lá, acabou sendo massa por causa do guaraná. Acabei ganhando mojo e ficando de boa. 2B 24. No show Cate:nho mal falou comigo, isso já tava virando normal. Pelo menos todo mundo agia bem normalmente sobre isso. O problema é que eu e Cate:nho já fomos melhores amigos, ou qualquer coisa assim. O fato é que viajávamos por aí, conversávamos sobre tudo e quase sempre que podíamos trabalhávamos juntos. Desde que começou a namorar Silvanete aos poucos Cate:nho parou de me procurar, e depois parou de me responder e depois passou a responder defensivamente. Isso não é normal... castelos de areia.
2B 25. Cate:nho era um cara sereno, na dele. Sempre foi muito constante, nunca foi surpreendente demais. Mas encontrar Ana Impeditus por lá foi. Ela viu o show e adorou, diz ela. Eu havia a convidado naquela quarta no Gates e nem lembrava mais. O guaraná me pediu pra ir pra alguma festa depois do show, tava empolgado. Eu chamei Aninha, pois estavamos nos dando bem. Deixamos meu carro em minha casa, passamos no Pão de Açucar pra comprar bebida e fomos até o Lago Norte pra casa dos Irmãos Niegro, onde tava rolando uma festa. 2B 26. Eram gêmeos, San:ago e Boteco Niegro, mais conhecidos como Tico e Teco. Tico era daquela banda Brasiliense que virou famosa, Açucar alguma coisa. Ouve lá, né ruim não. E Teco já foi de várias bandas e era um grande compositor. De fato era uma família talentosa, inclusive o irmão mais novo, o Maiz. Diziam que chamavam ele de Maiz por que Teco e Tico eram feios, mas ele era Maiz. Já ouvi boas musicas do Maiz, queria até usar uma delas no disco dos Constan:nos. A familia inteira inspirava meu senso de compe:ção, grandes garotos! 2B 27. Depois de comprar bebida no Pão de Açúcar e chegamos na mansão Niegro. A festa foi uma daquelas. Só :nha homem. Aninha era pra:camente a única mulher, com exceção de umas duas ou três impercepzveis donzelas. Todo mundo ficou esperando a festa começar até umas três da manhã. Alguns desis:ram e foram embora e os que ficaram, incluído eu, se conformaram que não haveria festa alguma e começaram a festejar. Bebemos, tocamos violão e gritamos até umas 11 da manhã. Daí chegou Maiz com cara de sono e gen:lmente nos expulsou, dizendo que ia sair pra andar de bicicleta e que os outros Niegros já :nham ido dormir portanto :nhamos que vazar.
2B 28. Os poucos que sobraram saíram de lá numa boa. Eu :nha vindo de carona com Aninha pra poder beber sem medo de blitz. Ela já :nha enchido o saco de me esperar. Ela ia dormir lá em casa, mas não agüentou ficar até tão tarde. Eu já :nha tomado umas seis pílulas de guaraná até então, não podia ir embora tão cedo, era só 11 da manhã. Sobrou só eu e os rapazes que contratamos para serem roadies dos Constan:nos para me dar carona de volta. Eu estava começando a virar amigo de Tonhão na época, o outro, Crespo, eu mal conhecia. Acabou sendo uma manhã psicodélica. Carregávamos conosco duas garrafas, uma de vinho, outra de whisky. Tínhamos sido expulsos da mansão Niegro, mas não estávamos com sono. Decidimos beber na frente da casa mesmo e conversar. 2B 29. Logo não vi muito futuro nesta decisão e o sono começou a bater. Os rapazes que iam me dar carona perceberam que queria ir embora, e por isso decidiram ficar mais tempo. Queriam me ver sofrer! Acho que achavam que eu :nha tudo que queria o tempo todo e queriam :rar um pouco pelo bem da jus:ça. Eu achei interessante o duelo.
2B 30. Eu entrei na onda deles, e comecei as piadas psicodélicas. Eles não :nham visto nada que eu não :nha visto. Isso me parecia uma guerra de classes mas era desleal. Era um duelo amigável, mas algo no ar me disse que estavam me testando o tempo todo. Eu era refém da carona deles por que já tava tarde demais para me preocupar com o horário e não ia pagar um taxi. Então aceitei o teste. Tirei a camisa e a amarrei na cabeça de modo a parecer um terrorista do Hesbollah. Começou a ficar psicodelicamente diver:do. Os fazendeiros orgulhosos estavam me aceitando para trabalhar com eles na colheita ma:nal. Mas eu não ia me desculpar pela minha classe e eles começaram a entender isso, eu era tão clássico quanto o boiadeiro!
2B 31. Até aí era só uma brincadeira. Os vizinhos estavam saindo de casa no Domingo para caminhar ou passear e :nha três terroristas segurando garrafas que podiam virar coquetéis molotovs na rua em frente a suas casas às 11 e pouco da manhã. Estavamos rindo atoa e ficando cada vez mais bebados. O sol causa um efeito peculiar na embriagez. Vai tudo embora e parece que se pode beber pra sempre sem fazer efeito. A situação era psicodélica e clássica, bebendo na frente da mansão Niegro ao meio dia sem eira nem beira, sem querer estar alí nem querer sair. Tonhão e Crespo começaram a ficar empolgados com a idéia desse momento inesperadamente diver:do. Eu ainda queria dormir e não queria mais assustar os pobres vizinhos, daria trabalho daqui a pouco quando começassem a chamar a policia. Não sinto mais que os vizinhos são culpados pelos males do mundo. Um dia eu já sen:. Eles são vi:mas tanto quanto eu ou você. Eu :rei a camiseta do rosto e a ves:, renunciando a brincadeira.
2B 32. Do nada chegou um carro de uma daquelas impercepzveis damas da festa. Ela veio deixar seu amigo em seu carro. Eles :nham saído da festa na mesma hora em que fomos expulsos e foram comer no Subway enquanto ficamos sendo terroristas. Primeiro eu os invejei por terem comido e depois pedi carona para a moça. Ela foi muito gen:l e me deixou em casa. Os Espíritos haviam ironicamente me mandado um anjo fantasiado de alguém que não :nha se quer percebido para me salvar. Isso é para ensinar que qualquer estranho pode ser Zeus, e você deve o tratar bem. Em tudo isso eu sen:a a benção da Deusa do Eixão que havia me garan:do livre e luxuosa passagem.
2B Descobri no dia seguinte que a policia acabou chegando mesmo onde estavam os terroristas Tonhão e Crespo. Eu escapei por pouco. A rebeldia deles foi acalmada pelos :ras. Tonhão me disse que o policial que veio falar com ele tava até com vergonha por eles não estarem fazendo nada demais. Tonhão :nha alguma raiva do mundo que não entendia, queria tomar um tapa na cara pois era isso que esperava, mas aquele :ra foi gen:l com ele. Os espíritos mandam sinais confusos para nos lembrar da humildade. O rebelde e o conformado se confundem e nunca sabem que Deus encontrarão pelo caminho!

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