Paulo Jannuzzi jun 2012
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Paulo Jannuzzi jun 2012
“A utilização de indicadores sociais na avaliação de iniciativas não governamentais" Junho 2012 Parte 1 – Paulo Jannuzzi Paulo Jannuzzi - Boa tarde a todos e todas, agradeço o convite do CENPEC, Instituto Fonte e Fundação Itaú social para estar fazendo essa apresentação aqui para vocês. Interessa muito ao Ministério do Desenvolvimento Social temáticas como esta e que organizações sociais estejam cada vez mais interessadas e preocupadas em desenvolver atividades de monitoramento e avaliação, na medida em que esses são instrumentos, recursos básicos para o aprimoramento da gestão de programas e projetos sociais, sejam eles realizados com recursos das próprias instituições privadas, sejam eles realizados com recursos públicos, como é o caso de muitas ONG que, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social, prestam serviços de diferentes naturezas na área sócio-assistencial pelo Brasil todo, nos 5.560 municípios brasileiros. A partir das conversas que eu tive com a Martina, eu resolvi tratar um pouco de questões que ajudam a responder àquelas quatro grandes perguntas com as quais ela está tentando dirigir o debate. Então, acho que o produto final vai nos ajudar... O produto da minha apresentação, mais a apresentação da Maria Alice e do Eduardo, também vão nos ajudar a fazer essa síntese que a gente precisa e naturalmente vai estimulá-los a continuar investigando porque são questões que, para ser respondidas, cada um tem que fazer um grande esforço na sua organização. Antes de fazer a minha apresentação vou tomar 4 minutos de vocês, absolutamente cravados. Eu quero até ver exatamente se vai ser isso. Eu não posso deixar de falar para vocês sobre um episódio recente muito desagradável para todos nós, técnicos da SAGI, e vários outros técnicos de governo. Saiu uma matéria no “O Globo” do último domingo, página 3, falando sobre avaliações secretas de políticas “A utilização de indicadores sociais na avaliação de iniciativas não governamentais" Junho 2012 públicas. Infelizmente, isso foi mais uma reportagem, que dá uma boa manchete, mas ela é absolutamente inverídica, injusta, inconsciente. Inoportuna, inclusive, porque a gente tem que dar um salto de qualidade no Brasil no sentido de tratar as instituições públicas com a respeitabilidade que elas de fato merecem quando fazem esforços sistemáticos para fazer com que as boas práticas sejam disseminadas. Essa reportagem é inverídica porque nós... A reportagem fala sobre avaliação secreta citando um caso específico de uma avaliação de impacto do Bolsa Família realizado em 2009, que até hoje não teria resultados. Na verdade, teve os primeiros resultados em 2010 e deste então estamos exigindo, até fevereiro, da empresa contratada, uma multinacional do campo da consultoria e pesquisas, que nos entregasse uma base de dados absolutamente consistente, como a gente faz em qualquer tipo de contrato nosso. Então, o jornalista deveria ter o respeito de dizer que os resultados não saíram porque de fato a gente zela pelo bem público e quer dados consistentes. Não importa quem faça a pesquisa, não é porque a instituição tem um renome que necessariamente o produto é efetivamente de boa qualidade. Eu acho que vocês que encomendam pesquisas sabem muito bem o que eu estou falando, seja pessoa física, seja pessoa jurídica. Se a gente não tiver competência nas nossas instituições para avaliar o produto que nos é entregue, muitas vezes, a gente compra gato por lebre. Vocês sabem exatamente o que eu estou falando. Então, efetivamente a pesquisa atrasou por conta disso, pelo nosso rigor técnico na avaliação. E existe uma outra inverdade, que é o fato de que nós absolutamente não escondemos os resultados de pesquisas. Muito pelo contrário, não existe universidade ou grupo de pesquisa que tenha a transparência que a secretaria de avaliação e gestão da informação tem nesses 8, 9 anos de vida, porque todos os nossos dados de pesquisas de campo, as pesquisas quantitativas, são “A utilização de indicadores sociais na avaliação de iniciativas não governamentais" Junho 2012 disponibilizados naquele ícone “pesquisas de avaliação”. Até destacamos, ele estava junto com outro ícone. Nesse ícone “pesquisa de avaliação”, entrando lá vocês vão ver que existe o sumário executivo da pesquisa e, nos casos que compete, a base de dados ou o dicionário de dados que o pesquisador pode baixar e fazer qualquer estudo a respeito daquela temática que nós investigamos. Nós temos plena certeza de que essas pesquisas têm muito mais a oferecer do que efetivamente a gente consegue explorar, certo? E de fato nós fizemos uma nota no jornal, que é absolutamente desproporcional, porque fomos para a página de leitores, no último dia 31. Portanto, peço desculpas, Martina, de estar usando o espaço da minha palestra, mas nós precisamos, inclusive meus diretores estão orientados a fazer isso durante os próximos três meses para minimizar o impacto negativo e reconhecido como negativo por vários de nossos parceiros que tem enviado mensagens de solidariedade e reconhecimento ao trabalho que a gente faz. Além disso, talvez muitos de vocês saibam, nós já disponibilizamos as nossas pesquisas do consórcio de informações sociais da ANPOCS, há quase 5 anos, portanto, o MDS tem uma prática de disponibilização das suas avaliações para muito além do que normalmente se faz. A gente acredita que em primeiro lugar não existe uma, duas, três pesquisas absolutamente seminais, que consigam responder a todas as nossas demandas e nem que necessariamente produzam conhecimento, a revelação, a verdade absoluta. A gente que trabalha nesse campo sabe que a gente precisa se valer de um conjunto amplo de pesquisas, de técnicas, de agentes entrevistados, ou seja, temos que nos valer de triangulação de estudos, triangulação de agentes, triangulação de abordagens mais quadradinhas, mais redondinhas, mais exploratórias e “A utilização de indicadores sociais na avaliação de iniciativas não governamentais" Junho 2012 qualitativas porque o nosso objeto, a realidade social na educação, na pobreza, na violência, em todas as temáticas é tão complexo ou muito mais complexo do que os objetos de pesquisa acadêmica que são recortados de tal forma a garantir muito mais a consistência do método do que a substância dos resultados que efetivamente ele aborda. É por isso que a gente de fato disponibiliza os dados e fazemos o convite para que vocês entrem na nossa página. Procurem explorar dados que a gente já tem e vejam se de alguma forma já não respondem a algumas das inquietações que vocês têm. Nós já temos um conjunto de mais de 130 pesquisas. Na verdade, dessas mais de 130 pesquisas, uma quantidade muito grande são estudos qualitativos ou de revisão bibliográfica, mas nós temos um conjunto de pelo menos 30 pesquisas de campo. Algumas delas ainda não estão disponíveis, as mais antigas, por conta do esforço que temos que fazer nesse sentido. A avaliação de impacto do Bolsa Família número 2 estará disponível muito provavelmente no mês de junho por conta do esforço que estamos fazendo na equipe de conseguir colocar essa base de dados para que outros pesquisadores façam estudos sobre esse programa importante. É um programa que se estruturou em tempo bastante exíguo, se a gente pensar em outras experiências de implementação de políticas públicas, mas que, obviamente, precisa de aprimoramento. É por isso que a gente continua fazendo pesquisa. Dito isso, vamos passar para o próximo. Eu queria começar com uma pergunta que acho que é motivadora, Martina, embora a temática fosse mais específica, achei que devia tratar dessa temática ainda que eu pudesse estar replicando alguma outra discussão que vocês já fizeram. É importante que a gente reconheça que em alguns meios públicos, e talvez no meio privado, existe um certo desencanto com a avaliação. Existe um texto da Teresa Cota, uma gestora lá “A utilização de indicadores sociais na avaliação de iniciativas não governamentais" Junho 2012 em Brasília, um texto de 20 anos atrás, que em alguma medida tem a sua aplicação em alguns contextos. Eu trouxe exatamente por causa disso. Ela diz que as metodologias de avaliação tem sido objeto de severas críticas, basicamente afirma-se que na prática das avaliações não subsidiam o processo decisório porque seus resultados são inconclusivos, inoportunos e irrelevantes. Inconclusivos em função das limitações desse tipo de estudo, talvez as pessoas tenham expectativa demais do que uma pesquisa pode aportar. Inoportunos porque boa parte dos estudos acaba atrasando muito mais do que a gente poderia. As pesquisas às vezes são definidas de tal forma, para investigar questões tão complexas, que não respondem a demandas de informações mais específicas. Irrelevantes porque a bem da verdade muitas das pesquisas que se produzem, conduzidas, muitas vezes, por avaliadores externos sem muita interação com o demandante da pesquisa, seja ele público ou uma ONG, invariavelmente produz resultados irrelevantes. Aí eu posso dizer para vocês com muita tranquilidade, porque sou professor universitário e sei que boa parte da nossa comunidade desconhece efetivamente a realidade dos programas e projetos sociais, com a sua complexidade, que operam na ponta, produzindo trabalhos que podem até ter circulação no meio acadêmico, mas repetem de alguma forma muito do que os gestores na ponta efetivamente têm. A constatação 2 desse desencanto é que, de vez em quando, uma avaliação mal concebida ou mal executada produz informações que no melhor dos casos seriam enganosas e no pior absolutamente falsas. Como geralmente essas avaliações têm respeitabilidade, elas não costumam ser questionadas e o pior é que o resultado e decisões importantes sobre programas e serviços baseiam-se em informações falaciosas. Esse é o grande problema, gente. A gente quando encomenda a pesquisa, a gente tem que ter “A utilização de indicadores sociais na avaliação de iniciativas não governamentais" Junho 2012 uma equipe técnica muito competente para fazer a avaliação dos resultados dessa pesquisa, não é porque foi feito pela instituição A, B ou C, que necessariamente – e com todo respeito eu digo a essas instituições e aos professores, aos coordenadores que a fazem - os resultados tenham que ser absorvidos na sua plenitude. Tem que ser discutido. Por isso que as pesquisas de avaliação que efetivamente produzem resultados relevantes têm que ser muito dialogadas em todo processo. A secretaria de avaliação quando encomenda uma pesquisa, ela passa quase 3 ou 4 meses discutindo o termo de referência junto com a secretaria do Bolsa Família, secretaria de assistência social, secretaria de segurança alimentar ou secretaria extraordinária para a superação da extrema pobreza, para definir muito bem o objeto. Se a gente não define o objeto muito específico, de novo a gente tem um resultado muito geral que não se aplica às nossas necessidades. Nós fazemos o questionário, nós desenhamos a amostra. O que a gente contrata efetivamente na pesquisa de campo é coleta de dados. Em alguns casos até análise, ainda que estejamos chegando à conclusão de que pela modalidade com que temos que contratar (pregões), os pregões acabam fazendo com que a gente consiga instituições boas de campo, mas ruins de análise. Então, isso é mais uma das questões que estão no campo e poderíamos discutir o mercado de avaliação, mas a gente deixa para tratar disso depois. A terceira constatação sobre o desencanto com as pesquisas de avaliação tem a ver com esse autoengano de que nós vamos ter a informação completa, vamos conseguir, através da pesquisa, responder a todas as nossas inquietudes, às nossas perguntas e dar conta do recado com uma pesquisa só. Realmente a gente tem que fazer da pesquisa uma prática sistemática ao plano de monitoramento de avaliação, mais ou menos contido, sobretudo num sistema de “A utilização de indicadores sociais na avaliação de iniciativas não governamentais" Junho 2012 monitoramento que nos alimente sobre quais são as avaliações que temos que fazer em determinados momentos de um determinado projeto. Não pode ser um espasmo avaliativo “– Vou fazer avaliação disso porque o meu patrocinador exige esse tipo de recurso” e tal. Ela tem que ser de fato alguma coisa que seja encarada como uma prática mesmo do processo de gestão, não alguma coisa separada. Avaliação é alguma coisa que incomoda, incomoda a jornalistas, tanto que alguns jornais não tem ombudsman, a quem a gente poderia recorrer numa situação como esta. As universidades, os professores, também se sentem incomodados. Qualquer trabalhador se sente incomodado. O gerente de programa também se sente incomodado com a avaliação. Então, se a avaliação passar a ser incorporada respeitosamente, que uma avaliação que seja feita de forma respeitosa, considerando que o usuário dessa informação, sobretudo em projetos e programas sociais, é o próprio gestor do programa e ele participa do processo, a gente vai ganhar um defensor do processo e alguém que efetivamente vai levar em conta os resultados da pesquisa e aqueles resultados que são factíveis de implicarem em mudanças, vão ser de fato implementados. Existe uma certa mistificação de que tudo que a gente consegue identificar como um problema nos programas e projetos podem ser equacionados como num estralar de dedos. A gente sabe que no caso brasileiro em que nós temos um conjunto bastante grande de programas sociais, nós ampliamos desde a constituição de 88 para cá o nosso portfólio de programas sociais, a escala dos nossos programas sociais, consolidando direitos sociais da nossa constituição. Hoje estamos batendo quase 25% do pib, do produto interno bruto em políticas sociais das mais variadas, habitação, Bolsa Família, educação, saúde, aposentadoria, etc. Estamos saindo de um padrão de 18%, que é o padrão “A utilização de indicadores sociais na avaliação de iniciativas não governamentais" Junho 2012 de países de renda média, rumo aos 33% ou mais que é o padrão de países mais desenvolvidos como Europa. A sociedade brasileira certamente está exigindo muito mais qualidade do gasto, muito mais eficiência do gasto para de alguma forma abrir mão do seu salário e aportar mais recursos de imposto, porque não há mágica nesse processo de alocação de recursos em rubricas sociais se a arrecadação não aumentar. Mas para que esse processo possa acontecer a gente tem que investir muito na avaliação e não pensar que uma avaliação feita por uma instituição, por mais reputada que ela seja, vai dar conta de todas nossas demandas de informação. Existe uma série de fatores que contribuem para esse desencanto, vou passar muito rapidamente por alguns deles, mas acho que isso é importante. Quando a gente vai tratar de indicadores – e eu ainda vou tratar de indicadores aqui, não respondendo todas as perguntas, porque cada uma delas seria uma palestra diferente - a gente tem que reconhecer que produzir indicadores para muitos dos problemas sociais, para muitas das intervenções sociais que são desenhadas, é uma coisa bastante complexa. A complexidade do objeto com que lidamos na área social requer complexidade na forma de avaliá-la. Não existe um método padrão ouro que possa responder. Daí a questão toda da triangulação. Determinados problemas, determinadas questões, são bastante específicas e comportam um método muito estruturado: um levantamento, uma pesquisa amostral, até mesmo um desenho quase experimental, como é o caso da avaliação do Bolsa Família – porque ele é um programa social padronizado de Norte a Sul do Brasil, tem uma variávelresposta, que são os impactos que se espera do programa em termos de educação e saúde - então, nesse caso, existe até uma facilidade de compreensão do que se espera do “A utilização de indicadores sociais na avaliação de iniciativas não governamentais" Junho 2012 programa. Outros programas têm impactos muito mais difíceis de serem quantificados ou mesmo especificados. E naturalmente é um programa que não é um serviço. Essa é uma outra complexidade: quanto mais intangível é a nossa entrega, o serviço, mais complexa é a variável, sobretudo através de indicadores quantitativos. Essa é uma outra questão que a gente tem que ajudar a desmistificar. A gente fica em busca dos indicadores quando, muitas vezes, talvez eles não existam. Talvez a gente esteja insistindo em uma coisa que não é a melhor abordagem para realmente dar conta da complexidade do nosso objeto ou da nossa intervenção. Uma outra questão que torna um pouco difícil a computação de indicadores é que atuamos sobre públicos alvos bastante distintos. A menos que nossos projetos sejam também bastante específicos, talvez consigamos ter alguns indicadores que de fato sejam específicos e sensíveis para a nossa realidade de intervenção. Outra coisa importante do ponto de vista dos programas que a gente precisa reconhecer é que eles são muito recentes, os nossos programas. Boa parte desse volume - nós chegamos a 25% do PIB em gasto social hoje, mas partindo de uma base, há 30 anos atrás, de 13%. Portanto, nós temos programas que tem um tempo de maturação médio de 15 anos. Programas complexos nesse Brasil de Norte a Sul, realidades completamente distintas, sendo operadas por estruturas colaborativas e federativas e entregando na grande maioria das situações serviços de saúde, educação, desenvolvimento social, de assistência social, onde a padronização é muito mais difícil. Não é uma pílula que você distribui para todo mundo, não é uma transferência monetária que você transfere para todo mundo. Ainda que para fazer com que a transferência orçamentária chegue nas pessoas que de fato precisam, é toda uma operação complexa. “A utilização de indicadores sociais na avaliação de iniciativas não governamentais" Junho 2012 Um outro aspecto importante é o tecnotratismo ingênuo. A gente superestima a nossa capacidade de planejamento. Existe um pouco uma receita dos manuais de avaliação de programas, muito propalada, sobretudo as das agências multilaterais, de que todo programa quando é lançado já tem que ter especificado seu sistema de monitoramento e avaliação. No mundo acadêmico talvez. No mundo real não é assim que se opera, por duas razoes: todo esforço que a gente tem no início, de vivenciar muito concretamente esse ano de Plano Brasil sem Miséria, todo nosso esforço é no sentido de diagnóstico e avaliação de experiências anteriores. Esse é o esforço: desenhar, fazer o diagnóstico, fazer o desenho do problema, quais são as melhores estratégias para combater tal e tal problema. O combate à fome a gente vai fazer através de melhorar a merenda escolar, vamos transferir recursos via Bolsa Família, vamos ampliar o número de creches com alimentação, enfim, existem N alternativas que precisam ser pensadas. Então, é muito difícil que no início você consiga pensar inclusive no seu sistema de monitoramento e avaliação. Se o diagnóstico for muito bem feito você já tem alinhavado uma série de dimensões bastante importantes de monitoramento e avaliação. Então, isso é um aspecto importante. A gente tem que reconhecer que tão logo o programa entre em operação, a gente precisa de fato começar a estruturar os nossos sistemas, reconhecendo também que muitas das adaptações vão se dando ao longo do processo. Naturalmente que um bom projeto tem que ter aquelas atividades críticas muito bem definidas, mas tem ajustes que são feitos que, às vezes, provocam até redesenho dos programas. Então, esse é um outro aspecto importante. Um grande problema é que a gente acredita na elevada “programabilidade” de programas sociais. Vou citar um caso “A utilização de indicadores sociais na avaliação de iniciativas não governamentais" Junho 2012 concreto, o Bolsa Família, ele é muito programável. Então, ele teve o sucesso que teve também porque as rotinas, as operações eram bastante programáveis para fazer com que o dinheiro chegasse lá na ponta. Para fazer uma outra comparação dentro do MDS: os serviços sócio-assistencias, o serviço de Proteção Integral à Família - PAIF, os serviços de acolhimento de população de rua, os serviços de combate à exploração sexual de adolescentes, são programas que têm protocolos, mas não tem atividades tão padronizadas quanto outras atividades, outros programas. Outra coisa importante que revela esse nosso tecnotratismo ingênuo não só em Brasília, em outros contextos também, é o planejamento top/down, de não incorporar quem está lá na ponta. Esse é um outro dado que a gente tem se preocupado muito, além de gestores e técnicos mais como expectadores do que como protagonistas, essa crença desmesurada de que a avaliação externa é tecnicamente e legitimamente melhor do que a avaliação interna. A minha avaliação tem que ter uma interação entre os dois, tem espaços específicos para um e para o outro, mas boa parte é avaliação mista com gente externa, especialista externo, apoio externo, mas com gente interna que vai realmente produzir resultados mais efetivos. E mais do que isso, é garantir a aplicação dos resultados. Não adianta você fazer um estudo maravilhoso lá fora se quem está lá dentro não participa do processo. A chance de incorporação e de sugestões cai rapidamente. Limitações dos desenhos das pesquisas de avaliação: esse é um outro aspecto. A gente tem que discutir muito, é muito importante ter livros como esse que vocês lançaram - vou querer depois um, se eu puder. A gente precisa mesmo disseminar as boas práticas, as diferentes metodologias de pesquisa de avaliação, discutir muito as questões das amostras, as vantagens de grandes e pequenas amostras, de “A utilização de indicadores sociais na avaliação de iniciativas não governamentais" Junho 2012 estudo de casos, de estudos qualitativos, de estudos quantitativos. Eu acho que a gente tem que desmistificar essa questão da necessidade de ter estudos que contemplem todo nosso público alvo, todos os contextos. Você leu meu currículo lá e você disse que eu sou matemático - e sou mesmo. Comecei em economia e acabei na matemática, tanto que gostei de matemática, de cálculo integral e diferencial. Naquela época eu imaginava que se o cálculo integral diferencial era tão fantástico que conseguia responder perguntas tipo “qual deveria ser a superfície de uma latinha de azeitona para gastar menos material, menos metal para ficar mais barato”, se o cálculo integral respondia questões tão básicas como essa, eu achei que respondia a questões mais relevantes [risos]. Depois, ao final do curso, eu quase que saio do curso, mas insisti e depois voltei para a minha vocação original. Isso só para chamar a atenção de vocês que existe muita discussão metodológica que não está registrada nos manuais, porque os manuais são escritos por gente muito boa, mas a gente tem que dar prescrições muito gerais, por isso é importante que vocês escrevam as experiências. A revista que a Martina mostrou é uma iniciativa da rede brasileira e da SAGI, e da SAE, Secretaria de Assuntos Estratégicos, exatamente para isso: para abrir o campo ao técnico, ao profissional que trabalha com isso, ter espaço para disseminação de boas práticas. Muitas vezes, a gente tem muita dificuldade de fazer com que os artigos que a gente produza de pesquisas no nosso campo acabam veiculados numa revista acadêmica ou a gente também não quer porque não é com o meio acadêmico que a gente quer. A gente quer é trocar figurinhas com o nosso próprio público. Por isso a gente realmente precisa investir em livros, publicações e eventos como este para isso. Já estou chegando no ponto específico da minha metade final da apresentação que é exatamente a discussão sobre o baixo “A utilização de indicadores sociais na avaliação de iniciativas não governamentais" Junho 2012 uso das estatísticas oficiais. Em que pese a grande disponibilidade de dados, nós usamos pouco a informação para os nossos sistemas de monitoramento. A gente talvez deposite muita expectativa em cima das pesquisas de avaliação, quando na verdade, do ponto de vista dos programas públicos, a gente tem muita informação disponível para fazer avaliação interessante. No caso de projetos sociais talvez a realidade seja um pouco diferente, embora eu ache que a gente tem que aproveitar melhor os nossos registros de programas, os nossos registros de matrícula, de acompanhamento de alunos, articulá-los numa certa lógica que dispensaria algumas avaliações, ou melhor, ajudaria a especificar melhor alguns tipos de avaliação. Por fim, outro fator desse desencanto é a nossa cultura de monitoramento e avaliação, assim como nosso sistema de proteção social, muito novo: 15 anos, 20 anos. Se a gente comparar o conjunto de programas mais antigos da educação e saúde, com os nossos programas da área de assistência, desenvolvimento social e habitação, a gente tem coisas que são recentes. Então, a cultura mesmo de gestão de programas ainda é muito incipiente no Brasil. Nós estamos talvez 30 anos defasados em relação uma série de outros países, onde a estruturação do seu sistema já é muito antigo. E também acho que em boa parte dos nossos currículos nas nossas universidades a gente aprende a fazer talvez análise de macro políticas, análise de conjuntura. Eu digo isso porque é um pouco a nossa prática na Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, lá no Rio de Janeiro. A gente tem um mestrado em pesquisas sociais e de fato as nossas dissertações dialogam com questões muito mais gerais do que aquelas mais específicas que nós precisaríamos estar investigando para alimentar melhor os gestores. Sobretudo com uma perspectiva maior de interdisciplinaridade. Não existe também nenhuma disciplina “A utilização de indicadores sociais na avaliação de iniciativas não governamentais" Junho 2012 acadêmica que tenha a prerrogativa, que tenha a legitimidade, que tenha a preferência ou a capacidade de entender a complexidade dos nossos problemas. Os nossos problemas são complexos. É como eu dizia, a capacidade de avaliá-los também tem que ser complexa, interdisciplinar, pra dar conta de toda a problemática tratada. Como superar esse desencanto? Acho que a gente tenta sempre superar esse desencanto na medida em que a gente começar a produzir e organizar informações ajustadas às necessidades do programa ou do projeto no estágio que ele se encontra no ciclo de políticas, programas e projetos. Esse ciclo aqui de políticas e projetos é, como todo modelo, uma simplificação da realidade. A realidade de ciclo de vida de gestão programas é muito mais complexa do que está externado aqui, mas ele é um modelo didático interessante que vai fazer a gente refletir sobre que tipo de indicador, que tipo de avaliação eu preciso em função do meu problema, da minha intervenção mais abrangente ou menos abrangente. Vocês sabem que tudo começa, teoricamente, quando determinados problemas e demandas sociais que são sistematicamente apontados ou percebidos pela população entram dentro da agenda. O problema social entra dentro da agenda pública ou de uma ONG, de uma instituição que resolve abordar determinada temática que incomoda, que tem a ver com a sua área de atuação e isso entra dentro da agenda. Tendo entrado dentro da agenda a gente busca recursos para poder viabilizar o desenho de um programa ou de um projeto social para tentar equacionar essa determinada demanda. Então, tem todo um esforço de diagnóstico mais propositivo, mais específico, de pensar as diversas estratégias de equacionamento daquela problemática social, a necessidade de fazer seleções de público, estratégias de programas e, por fim, é preciso “A utilização de indicadores sociais na avaliação de iniciativas não governamentais" Junho 2012 implementar o programa e a implementação de programas, muitas vezes, se dá sem que o diagnóstico e essas coisas tenham sido feitas num ambiente perfeito, porque são oportunidades, percebem? A gente não poderia ficar fazendo um planejamento de uma ação como o Brasil sem miséria durante 1 ano, esperando que o senso demográfico tivesse todas as divulgações para que a gente fizesse um diagnóstico mais exaustivo possível, como se de novo a gente não caísse naquele tecnocratismo que eu criticava anteriormente. Então, o processo mesmo de avaliação, o processo de diagnóstico – que também é uma avaliação, uma avaliação diagnóstica - ele também tem o seu tempo. Enfim, a gente implementa o programa e precisa em algum momento adequado ao período de intervenção, à maturidade do período de intervenção, fazer uma avaliação mais somativa, mais exaustiva, de resultados e impactos. Essa avaliação não pode ser nem muito antes e nem muito depois, tem que ser no tempo certo. A gente tem que perceber exatamente qual é o tempo certo porque não adianta investir recursos aqui se a gente sabe que os problemas são aii. Tem muito problema ainda de implementação, muito problema de municípios, muito problema de instituição que ainda está com deficiência de pessoal, deficiência de recursos, deficiência de treinamento. Use seu dinheiro para fazer avaliação de processo ou faça avaliação de desenho com outras experiências similares, ou volte atrás e invista recursos para diagnosticar melhor, saber quem é o seu público alvo. O MDS tem um bom exemplo disso: população de rua. A população de rua é um problema social em todos os grandes centros urbanos. Aqui mesmo, no Minhocão, em São Paulo, sabe-se como é essa situação ainda. Mas não havia estatísticas que quantificassem, muito menos estudos mais abrangentes que permitissem identificar que essa “A utilização de indicadores sociais na avaliação de iniciativas não governamentais" Junho 2012 população de rua tem só um ponto em comum: é que eles vivem na rua. Mas são públicos muito diferentes. Tem gente aqui que sabe melhor do que eu sobre as diferenças desse público: criança em situação de drogadição, pessoas com algum tipo de deficiência, desempregados, pessoas com problemas de alcoolismo, enfim, são públicos diferentes com problemáticas diferentes e que demandam soluções diferentes. Então, é preciso isso. Às vezes, não adianta continuar investindo em avaliação de desenho e processo, quando a gente precisa conhecer mesmo melhor o nosso público, a nossa demanda. Talvez o processo de reconhecimento da demanda para colocar na nossa agenda pode ter tido algum viés aqui e a gente não percebeu. Mas enfim, existe o processo de avaliação que vai ao final, no caso do setor público é de 4 em 4 anos, é o ciclo de planejamento, a cada 4 anos você tem que especificar os novos programas. Então, precisa ser feita uma avaliação mais exaustiva de 4 em 4 anos sobre se de fato a estratégia de implementação para mitigar esse problema deu resultado, se não deu, o que não deu, o que precisa ser aprimorado, se o programa precisa ser totalmente remodelado, se o programa deve continuar ou não. É importante que se diga o seguinte: muito do redesenho do programa é feito na implementação. Esse gráfico aqui tem um problema porque a implementação é uma caixinha aqui que parece menor, preciso redesenhar esse gráfico porque a implementação é a maior parte do tempo em que o programa se encontra, está sempre em implementação, está sempre em processo de aprimoramento. Então, tem muitas melhorias que já são feitas na implementação e isso é importante se captar na avaliação de alguma forma. No caso de instituições que lidam, por exemplo, com problemáticas no campo educacional, vão sentir muito mais resultados e impactos com muito mais tempo, do que quem atua na área “A utilização de indicadores sociais na avaliação de iniciativas não governamentais" Junho 2012 de saúde. Os problemas nas áreas de saúde, às vezes, tem soluções muito mais rápido do que alguns programas mais complexos na educação ou mesmo na área que o MDS cuida, da pobreza. Em cada uma dessas fases a gente precisa de indicadores, quando estão disponíveis. Então, nessa fase de identificação de problemas e demandas para além do debate político da sociedade, da imprensa, do movimento social, existem indicadores sociais provenientes agora do censo demográfico. Para o censo demográfico 2010, o IBGE está fazendo um trabalho muito interessante de disponibilização desses dados que permite ver o quanto avançamos, o quanto de questões que temos que avançar. O próprio governo reconhecendo que com toda queda da pobreza, temos 16 milhões em extrema pobreza. Precisamos fazer alguma coisa porque o Brasil vai se transformar a quinta economia do mundo ainda com indicadores sociais em alguns aspectos bastante insatisfatórios, em que pese a evolução nesses últimos 15, particularmente nos últimos 9 anos. Precisamos de indicadores de diagnósticos. Um bom diagnóstico vai sempre abordar o público alvo. A gente precisa conhecer melhor o nosso público alvo e, às vezes, os dados do IBGE e outras instituições não são suficientes e aí tem que fazer uma pesquisa, conhecer o nosso público alvo, conhecer as suas características. Quanto mais a gente conhecer esse público alvo, melhor a gente vai conseguir especificar o programa que a gente está imaginando. Naturalmente que é um processo de ida e volta. A gente não levanta tudo. Quando a gente já tem a idéia de qual é um determinado encaminhamento, a gente faz a pesquisa de modo a responder também que tipo de informação a gente precisa para poder desenhar uma determinada estratégia de equacionamento. A gente precisa também no nosso “A utilização de indicadores sociais na avaliação de iniciativas não governamentais" Junho 2012 diagnóstico ter uma idéia de capacidade de gestão, aí estou falando muito do ponto de vista do poder público federal. A gente precisa lá na esplanada ter uma compreensão melhor de quais são as dificuldades, as fragilidades dos municípios e dos estados, que é quem operam as nossas políticas. Porque uma boa ideia vai ter problemas de implementação se o agente lá não tiver recursos humanos suficientes, com competência, com capacidade e inclusive treinamento que deveria ter. Naturalmente, num bom diagnóstico, além do conhecimento do público alvo e da capacidade de gestão, o operador do programa, da política na ponta, também tem que conhecer o contexto em que as pessoas vivem, o contexto social e o contexto econômico, porque um programa social, um projeto social vai funcionar com maior ou menor dificuldade em função das características da região, se é uma região mais dinâmica ou uma região mais pobre, assim por diante. Então, o diagnóstico... Isso que eu chamo a atenção também. Quando a gente fala de avaliação ou de indicadores, a gente está falando de indicadores de monitoramento e avaliação, mas não nos esqueçamos de que tudo começa com um bom diagnóstico. Então, a gente precisa de fato nos valer, nos equipar, de bons indicadores, boas pesquisas, que permitam a gente conhecer melhor o nosso público, naturalmente sem correr o risco daquele tecnocratismo ingênuo, de que os dados falam toda a realidade por si, quando a gente sabe que está muito longe disso. Depois tem os indicadores de monitoramento, com toda a questão que já vou estar tratando, e os indicadores de avaliação somativas, onde a gente vai ter que levantar informações de resultados e impactos ou informações qualitativas. Às vezes, determinados programas a gente não “A utilização de indicadores sociais na avaliação de iniciativas não governamentais" Junho 2012 consegue quantificá-los, mas é importante que a gente de alguma forma consiga estruturar a informação qualitativa para mostrar os impactos importantes menos tangíveis de um determinado projeto. Existe toda uma discussão de tipologia de avaliação, não vou entrar aqui, mas de alguma forma eu falei. São vários tipos de avaliação adequados ao estágio em que o programa se encontra, não adianta querer fazer avaliação de resultados se o problema está na implementação, não adianta fazer avaliação de implementação se você suspeita que existe problema de desenho e assim por diante. No fundo o que a gente precisa é ter um enfoque avaliativo, é integrar sistemas avaliadores com pesquisa de avaliação que é exatamente isso, construir sistemas de monitoramento de avaliação no setor público e no setor privado, seja na política, no programa ou no projeto. A gente tem que articular a nossa expertise de métodos e técnicas de recolhimento sistemático de informação para a construção de indicadores de monitoramento e também em alguns momentos fazer efetivamente pesquisas de avaliação. E integrar isso como atividades especificas de gestão. Só para dar um exemplo do que é o monitoramento. Se a gente fosse acompanhar a saúde para a criança, os instrumentos de monitoramento são a observação do comportamento da criança. Se a criança está paradinha parece... A gente está identificando alguma mensagem, pode formar uma segunda decisão de tomar uma temperatura. O termômetro é um outro instrumento de monitoramento, se a temperatura der 37,5 a gente sabe “a criança está com febre, vou administrar um antitérmico”, depois vou seguindo. O termômetro é o meu monitoramento se a febre está cedendo ou não. Se a febre não ceder eu vou ter que me valer de um recurso de avaliação mais específico, vou buscar um especialista que vai se valer de instrumentos “A utilização de indicadores sociais na avaliação de iniciativas não governamentais" Junho 2012 menos invasivos, menos completos como o exame clínico ou uma bateria de exames mais específicos, mais caros, se a problemática persistir, se a gente precisar encontrar um porquê. O monitoramento ajuda a identificar como estamos e a avaliação é efetivamente o porquê. Eu vou pular esse caso aí até porque não vou me arriscar falar de avaliação educacional. O sistema de monitoramento se vale de uma lógica de intervenção, um bom sistema de monitoramento tem que estar muito ancorado na lógica da intervenção, no marco lógico do programa, até para mostrar que tem problemas de desenho. Enquanto que a pesquisa de avaliação pode até questionar o desenho e tem que se valer de coleta de dados secundários ou primários externos a própria existência do programa. A mensagem geral aqui é isso: monitoramento e avaliação são duas atividades que tem que ser entendidas de forma orgânica. Produção de indicadores e, com alguma regularidade, pesquisas específicas têm que estar no seu plano de avaliação ou, melhor chamado, de plano de monitoramento de avaliação de um projeto social. Afinal de contas, o que é um indicador? É para isso que eu vim. Vocês vão entender que já falei demais do que é um indicador, há mais de 10 anos atrás já vinha dando cursos de indicadores, depois resultou no livro e tal. Algumas pessoas que eventualmente já participaram de alguma palestra minha vão dizer “- Puxa, ele vem discutindo há uns anos os mesmos slides”. Eu diria para vocês que eu melhorei um pouco, mas eu não tenho mais criatividade para essa temática [risos]. Mas é isso: o indicador é um recurso metodológico para retratar a realidade. Acho que alguma coisa inovadora vai ter aí porque passei a usar umas metáforas para representar os indicadores. Um indicador é “A utilização de indicadores sociais na avaliação de iniciativas não governamentais" Junho 2012 como se fosse uma fotografia, tão boa e tão ruim quanto uma fotografia. Tão bom porque ele me permite captar aspectos da realidade social. Tão ruim porque ao captar um aspecto, eu estou perdendo o todo. É exatamente isso que a gente precisa no setor público, precisa de instrumentos padronizados. O projeto social também precisa de instrumentos padronizados para de alguma forma comparar realidades. A gente tem realidades distintas de uma favela ou de uma comunidade, por exemplo. [Mostrando fotos] Numa foto mais distante, um indicador mais distante, e numa foto que mostra um aspecto interessante da favela que é a (inaudível) que ela está localizada, a favela mostrando que está numa área de preservação ambiental. Aqui uma foto dentro do interior, para ver a falta de conforto material dessa família e aqui o entorno da casa, condições inadequadas de habitação do entorno em que vivem várias famílias. Cada foto é como se fosse um indicador. Então, tal como a fotografia, os indicadores retratam um aspecto da realidade. A imagem captada no indicador é uma redução da realidade, qualquer indicador reduz a realidade, assim como uma foto reduz essa realidade 3d que tem som, que tem cheiro, para uma foto plana que não tem cheiro, que não tem cor, que não tem movimento. Se eu quero medir as condições de vida de uma sociedade, isso se desdobra entre várias fotografias e essas fotografias eu posso usar diferentes filmes que vão produzir imagens com melhor ou menor qualidade. Depende um pouco da câmera, certo. Existem câmeras ou fonte de dados mais fidedignas e existem outras câmeras ou fontes de dados que ainda não alcançaram seu nível de confiabilidade. Só usando aquela câmera, só usando aquele indicador que a gente vai conseguir perceber suas deficiências e conseguir fazer os ajustes necessários para que aquela câmera, aquela fonte de dados, produza informação de melhor qualidade ao longo do tempo. “A utilização de indicadores sociais na avaliação de iniciativas não governamentais" Junho 2012 Estão aí vários exemplos, não vou... Uma das questões que se colocou “quais são os principais indicadores”, eu diria que é muito difícil dizer quais são os principais indicadores porque depende de cada caso. É aquilo que eu falei, o ciclo de políticas e programas vai depender de indicadores específicos em casa fase e naturalmente em cada temática que vocês atuam. Então, na área de segurança alimentar por exemplo, eu poderia usar aquele indicador inicial, taxa de mortalidade infantil, posso usar indicador antropométrico de déficit de altura e peso produzida na pesquisa de orçamentos familiares do IBGE de 5 em 5 anos, ou posso investigar a segurança alimentar através de uma escala objetivada de percepção, a escala brasileira de segurança alimentar, EBIA, ou ainda indicadores antropométricos de adolescentes através da pesquisa nacional de saúde escolar. Então, existe um conjunto muito amplo de pesquisas que nos ajudam a fazer esse tipo de investigação. Existem os indicadores de monitoramento e aí vamos passar muito rapidamente porque já esgotei todo meu tempo. A analogia é com o sismógrafo. Aí é o nosso desafio nas instituições, a gente não pode ficar parado como um retrato. O retrato é importante, mas a gente precisa do filme ou do nosso sismógrafo... Tão melhor a analogia é com sismógrafo do que com filme porque o sismógrafo tem a sensibilidade de perceber os pequenos tremores de terra. Então, se a gente conseguir desenvolver nos nossos programas, nos nossos projetos sociais bons sismógrafos, a gente consegue se antecipar as catástrofes que ocorrem. Às vezes meio inevitáveis, como um terremoto, mas algumas efetivamente são evitáveis. Vocês vão ter os slides dizendo os indicadores de monitoramento. Pode avançar bastante. Existe uma discussão sobre fonte de dados mas esse slide sabia que não “A utilização de indicadores sociais na avaliação de iniciativas não governamentais" Junho 2012 ia explorar mesmo [risos]. Tem nesses slides uma série de sugestões de fontes de dados e acho que pediria para você sair, dar o ESC e ir lá nos últimos slides. No MDS existe o DATA SOCIAL, que é, à semelhança do DATA SUS, um portal de informações na área social. A gente reuniu isso e vocês entrando no nosso site vão conseguir fazer isso. Tinha até uma outra discussão sobre IDH que vou... Martina – Podem perguntar depois. Paulo – Isso. Indicadores, painéis e pesquisas podem ser instrumentos para transformar essa realidade zero, numa realidade tão positiva quanto essa. Esse slide é absolutamente inédito. Esses outros também, minha inovação está aqui. De 10 anos para cá fiz algumas coisas com esses slides [risos]. Mas é basicamente isso, assim como as fotografias, eles [os indicadores] reduzem a realidade, e uma boa fotografia depende da câmera, da posição do fotógrafo, do foco da lente, mas depende da destreza do fotografo, depende da destreza do analista, do pesquisador, do gestor identificar o que é relevante para ser medido. Um programa com muitas atividades a gente tem que ver quais são as atividades chaves que devem ser monitoradas, porque a gente também não quer transformar o nosso projeto num objeto de monitoramento, não quer perder mais tempo preenchendo planilhas do que fazendo as atividades que a gente tem que fazer. Então, o importante é isso, tem saber o que é relevante. O que é mais útil e pertinente para avaliação do bem estar (inaudível) de programas sociais? Um mosaico de fotografias ou uma fotografia composta por técnicas sofisticadas de diagramação? O que a gente efetivamente precisa, será que não precisa de um conjunto mais simples de indicadores, um conjunto básico de oportunidades, de inteligibilidade, de clareza, de significado, ou uma pesquisa de avaliação “A utilização de indicadores sociais na avaliação de iniciativas não governamentais" Junho 2012 contratada por um instituto super renomado, em que o pessoal vai usar um modelo econométrico de enésima geração para produzir o resultado que vai dizer que “o impacto do programa é 10,45”. O chato que a gente precisa reconhecer é que quanto mais casas decimais tem um resultado de um indicador, parece que mais fantástico é o modelo de avaliação, mais fantástico é o indicador. A gente tem que brigar para mostrar que... No estágio em que a gente se encontra no Brasil, digo aí mais nos programas de desenvolvimento social, a gente não precisa de 4, 5 casas decimais para os nossos indicadores. Se a gente conseguir produzir indicadores que não tenham casas decimais, mas efetivamente o que vem antes da vírgula tenha significado para mostrar o tamanho do problema e se esse problema está aumentando ou diminuindo, a gente já tem boas respostas. Obrigado pela atenção.