EMBARAZO, COMPORTAMIENTO SEXUAL Y SATISFACCIÓN

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EMBARAZO, COMPORTAMIENTO SEXUAL Y SATISFACCIÓN
EMBARAZO, COMPORTAMIENTO SEXUAL Y SATISFACCIÓN
CONYUGAL.
Joao Taborda.
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Lisboa. Portugal
E-mail: [email protected]
PALABRAS CLAVE: Embarazo, Comportamiento sexual, Ajustamiento sexual, Sexualidad.
RESUMEN:
Este estudio tiene como objetivo estudiar el comportamiento sexual y la satisfacción conyugal
durante el embarazo, a través de la Sexual History Form- SHF ( Nowinski &Lo Picollo, 1979;
Schover Jensen, 1988 ) y de la Relationship Assessment Scale -RAS ( Hendrick,1988).
Se incluyeron en este estudio 136 sujetos pertenecientes a cuatro grupos.Tres grupos de
embarazadas, en el primer, segundo y tercer trimestre de embarazo, respectivamente, sin ninguna
patología asociada al proceso de embarazo, y un grupo de control de mujeres no embarazadas con
una media de edad de 28.4,28.3,29 y 31.8 años respectivamente.
Las embarazadas demostraron mejores niveles de satisfacción conyugal, no encontrando, sin
embargo, diferencias en el comportamiento sexual de embarazadas y no embarazadas.
Analizando la evolución de los aspectos conyugales y sexuales durante las etapas de embarazo,
no se encontraron diferencias para la satisfacción sexual a lo largo del mismo; aunque el deseo y la
frecuencia sexuales disminuyeron en el primer y segundo trimestre. En el tercer trimestre todos los
parámetros de la respuesta sexual se disminuyeron, Así se elaboró un modelo para explicar la
satisfacción sexual de las embarazadas, a partir de un análisis de regresión multivariada.
Los factores identificativos fueron la satisfacción conyugal antes del embarazo, el comportamiento
sexual durante el mismo y el numero de hijos.
Este modelo indicó que la satisfacción conyugal durante el embarazo depende principalmente de la
satisfacción conyugal antes del embarazo, y en menor medida de un buen entendimiento sexual
durante el embarazo y de un menor número de hijos.
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O comportamento sexual durante a gravidez e a satisfação conjugal têm sido alvo de várias
investigações na última década. Nestes sentido, algumas delas não evidenciam diferenças
significativas entre os vários trimestres de gravidez (Sueiro;Gayoso; Perdiz & Doval, 1998; Adinma,
1995; Lukesh, 1976), no que diz respeito ao desejo, actividade sexual (sem penetração),
frequência da actividade sexual (com penetração) e satisfação sexual.
Por outro lado, outras referem um decréscimo progressivo a nível do desejo sexual e da frequência
das relações sexuais desde o primeiro ao último dos trimestres de gravidez (Alder, 1989; White &
Reamy, 1982).
Masters & Johnson (1966), por um lado, concluiram haver um incremento ao nível do erotismo
sexual durante o segundo trimestre de gravidez, apesar de não existir qualquer replicação desta
investigação, tendo, no entanto, verificado um declínio substancial na frequência sexual do
segundo para o terceiro trimestres. De algum modo consistente com estes resultados, os estudos
de Call, Sprecher & Schwartz (1995), Schebat (1976) in Trindade (1984) evidenciaram um
significativo e progressivo declínio do desejo e frequência sexuais ao longo de toda a gravidez.
Nesta perspectiva, os temores face à gravidez e o desconforto físico poderão estar na base de tais
aspectos, não esquecendo, porém, a percepção que a mulher tem do seu corpo e a hipotética
rejeição conjugal devido ao facto de se tornar menos atraente à medida que a gestação se
aproxima do seu termo (Cunningham et al, 1993 cit por Hyde et al, 1996). Hyde et al (op. cit)
concluiram que a incidência das relações sexuais, fellatio e cunnilingus é similar no quinto mês de
gravidez, quarto mês pós-parto e um ano pós-parto. A grande diferença (decréscimo) regista-se no
primeiro mês pós-parto, havendo uma reposição da frequência anterior (período pré-gravidez) até
um ano após o nascimento.
Vários autores (Elliott & Watson, 1985; Ryding, 1984; Perkins, 1982; Lumley, 1978; Morris, 1975;
Holtzman, 1976; Solberg, Butler & Wagner, 1973; Masters & Johnson, 1966; Landis; Poffenberger
& Poffenberger, 1950) referiram um declínio ao nível do interesse, actividade e satisfação sexuais
durante os três trimestres de gestação, sendo, no entanto, a diminuição da actividade sexual, mais
sensível em primíparas que em multíparas (Masters & Johnson, 1966), por oposição a outros que
contrapõem estes resultados (Holtzman, 1976; Solberg, Butler & Wagner, 1973).
Por seu turno, Robson et al (1983), aludiram a um decréscimo progressivo, ao longo dos três
trimestres da gravidez, relativamente ao desejo, orgasmo e frequência sexual.
Branco (1983) in Trindade (1984) referiu também um decréscimo, mas só a partir do 2º trimestre de
gravidez, ao nível do desejo e orgasmo, embora Bogren (1991) apenas tivesse observado esse
declínio, relativamente ao desejo, após o início do 3º trimestre. Incongruente com estes resultados
são os relativos ao estudo de Falicov (1973) que traduzem um decréscimo no 1º trimestre, um
acréscimo no segundo e um novo declínio no terceiro, tendo, porém, a este propósito, Trindade
(1984) referido que a disparidade dos resultados encontrados se fica a dever ao uso de diferentes
metodologias, diversas caracterizações e inúmeras dimensões amostrais.
No que se refere à idade de início da actividade sexual das mulheres portuguesas, o estudo
efectuado por Lucas (1993), revelou-nos que estas, a iniciam por volta dos 18 anos, enquanto que
os homens o faziam cerca de dois anos mais tarde.
A revisão da literatura parece, assim, mostrar alguma consistência no que diz respeito aos
seguintes aspectos: diminuição do desejo e frequência sexuais, durante a gravidez, com
investigações a apontarem algumas excepções no segundo trimestre (Falicov, 1973). Contudo,
pareceu-nos importante estudar em que medida estes aspectos se relacionam com a satisfação
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conjugal e como esta e o comportamento sexual se modificam na gravidez, dada a escassez de
dados empíricos sobre estes aspectos.
Deste modo, esta investigação teve como objectivo estudar as relações entre a satisfação sexual e
o comportamento sexual, avaliados actual e retrospectivamente, em quatro grupos: um grupo de
mulheres não grávidas e três grupos de grávidas pertencentes ao primeiro, segundo e terceiro
trimestres de gravidez.
Método
Amostra
Participaram, neste estudo, 136 sujeitos do sexo feminino pertencendo a quatro grupos distintos:
três grupos de mulheres grávidas, um do 1º trimestre, n=30; um do 2º trimestre, n=32; um do 3º
trimestre, n=44, e um quarto grupo, grupo de controlo, n= 30. A média de idades encontradas foi de
28.4 anos (4.8 anos) para o grupo de mulheres no 1º trimestre de gravidez, 28.3 anos (4.8 anos)
para o grupo de mulheres no 2º, 29 anos (5.6 anos) para o 3º trimestre e 31.8 anos (7.8 anos) para
o grupo de controlo, de mulheres não grávidas e que não estavam a fazer qualquer tentativa nesse
sentido, G4.
A quase totalidade dos sujeitos do G1 eram casadas (N=25), restando 5 solteiras. No G2, 30 eram
casadas e 1 solteira, no G3, 37 casadas, 4 solteiras e 2 divorciadas e por último no grupo de
controlo, existiam 22 casadas, 2 solteiras, três divorciadas e 2 viviam em união de facto.
Relativamente à escolaridade, a mínima obrigatória mostrou-se mais representativa no G3 (50%).
Os sujeitos com habilitações entre o 9º e 12º anos, são em maior número, também, no G3 (33.3%).
Por seu turno, as participantes com frequência universitária são mais numerosas no G2 (36.8%),
estando, as licenciadas, distribuidas de forma bastante equilibrada, com especial realce para o G1
(27.9%). Por último, apenas existe um sujeito com pós-graduação, fazendo parte do G3.
Em termos de profissão, as domésticas estão repartidas pelos grupos 3 (66.7%) e 1 (33.3%), as
técnicas não especializadas no G4 (40%), as técnicas especializadas no G3 (32%) e os quadros
superiores também neste grupo (50%).
As participantes do G4 relataram estar casadas há mais tempo, 7.3 anos (7.5 anos), têm mais
filhos, 1 (0.9), e maior número de casamentos/uniões, 1.3 (0.6). No que diz respeito à idade de
início da actividade sexual, o G4 é mais precoce, 18.4 anos (2.7 anos), por oposição ao G1, 19.5
anos (3.3 anos).
O estudo das características demográficas da amostra, através do t student para as variáveis
contínuas e do qui quadrado para as descontínuas, não evidenciou diferenças estatisticamente
significativas em nenhuma das variáveis descritas anteriormente.
Instrumentos
Foi administrado a todos os sujeitos, que participaram nesta investigação, um questionário de
auto-avaliação que incluía uma primeira parte destinada à recolha de dados demográficos, sendo,
as secções seguintes, destinadas a avaliar o comportamento sexual dos participantes e o seu
ajustamento conjugal (actual e rectrospectivo).
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Questionário de Caracterização Demográfica
No questionário de caracterização demográfica são solicitadas informações como idade, estado
civil, anos de casamento/união, número de filhos, número de casamentos/união, escolaridade,
profissão, idade de início da actividade sexual e semana de gravidez em que se encontra. Neste
último caso exceptua-se, obviamente, o grupo de controlo.
Medidas de Informação Relativamente ao Comportamento Sexual
Para avaliar o comportamento sexual, utilizou-se a tradução portuguesa da Sexual History Form
(SHF; Nowinski & Lo Picollo, 1979; Schover & Jensen, 1988). O objectivo deste questionário de
auto-resposta, que contém 28 items, um item de resposta exclusivamente para sujeitos do sexo
masculino, é avaliar o comportamento sexual, através de quatro dimensões: desejo, activação,
orgasmo e dôr, às quais correspondem os seguintes items:
Existem 5 itens cuja resposta varia entre 1 (Mais de...) e 9 (Nunca), 1 item cuja resposta varia entre
1 (Menos de um minuto) e 7 (Mais de trinta minutos); 15 itens cuja resposta varia entre 1
(Nunca/Extremamente satisfatórias/Menos de.../Quase sempre) e 6 (Quase sempre/Extremamente
insatisfatórias/Mais de.../Nunca); 4 itens cuja resposta varia entre 1 (Sempre eu/Quase sempre) e 5
(Sempre o meu companheiro/Nunca) e 2 itens cuja resposta varia entre 1 (Habitualmente aceito
com prazer/Muita excitação) e 4 (Recuso quase sempre/Reacção negativa - nojo, repulsa), o que
perfaz um total de 27 itens destinados a serem respondidos pelos sujeitos do sexo feminino. No
entanto, destes 27 itens, 5 deles ,itens 9, 10, 20, 21, e 22, dizem respeito à avaliação que a
parceira faz do desempenho do seu par, daí que, para calcular a nota global, não foram
considerados.
Devido ao formato da Escala, foram invertidos todos os itens à excepção do 8, 9, 11 e 12, de modo
a que as notas baixas indiquem um comportamento sexual menos satisfatório e as notas altas
indiquem um comportamento sexual mais satisfatório.
A SHF avalia, simultaneamente, quatro dimensões do comportamento sexual global:
Orgasmo (itens 8, 16, 17, 18, 25, 26)
Dôr (itens 1, 23, 24)
Frequência Sexual (itens 1, 2)
Desejo (itens 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 11, 12, 13, 15, 19)
Activação (itens 8, 14, 27)
Após a recodificação dos itens, a pontuação de cada um foi somada de modo a ser obtido um
resultado global para a Sexual History Form, contemplando 12 itens: 1, 2, 5, 6, 14, 16, 17, 18, 23,
25, 26, e 27 (Creti et al, 1998).
As características psicométricas da SHF foram, apenas, estudadas numa amostra de homens, para
a versão utilizada (12 itens), tendo sido obtidos valores a de Cronbach de .92 (Creti et al, 1998;
Libman et al, 1989 in Creti et al, 1998).
Medidas de Informação Relativa à Satisfação Conjugal
Para avaliar a Satisfação Conjugal, utilizámos a tradução portuguesa da Relationship Assessment
Scale (Hendrick, 1988). Esta escala, de cinco pontos, é composta por sete items de escolha
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múltipla.
As respostas a este questionário foram dadas em escalas de tipo Likert com um formato de cinco
pontos. Os itens 4 e 7 foram recodificados por forma a que as notas mais altas indiquem uma
melhor satisfação conjugal. Após a recodificação, a pontuação em cada um dos itens foi somada
de modo a ser obtido um resultado global para a Relationship Assessment Scale. Não foram
encontradas na literatura quaisquer referências às qualidades psicométricas da RAS.
Procedimento
Foram solicitadas autorizações a vários obstetras e ginecologistas de hospitais e clínicas privadas
da região de Lisboa e Coimbra, visando o preenchimento dos protocolos no seio destas
instituições. Os técnicos de saúde referidos, após esclarecimentos prestados pelo autor,
encarregaram-se de proceder ao encaminhamento dos mesmos para junto dos respectivos
utentes, esclarecendo, sempre que solicitados, as dúvidas das participantes. Os técnicos
efectuaram, antes da passagem dos protocolos, um rastreio, visando controlar a ausência de
patologias do foro obstétrico e/ou ginecológico.
Após a descrição geral do objectivo do estudo, foi pedido aos participantes para lerem a folha
explicativa do protocolo de investigação. Nesta, era pedido o seu consentimento informado para a
realização do estudo, tendo, também, sido garantida a confidencialidade dos dados, o seu
anonimato e a sua liberdade de participação. Caso os participantes concordassem com o que lhes
estava a ser exposto, era-lhes solicitado que preenchessem o protocolo. Todas as dúvidas relativas
às diferentes instruções do questionário foram esclarecidas individualmente, garantindo, assim, os
aspectos relacionados com a confidencialidade.
O protocolo de investigação demorou aproximadamente 20 minutos para ser completado, tendo
sido, para as mesmas variáveis, efectuada uma avaliação do comportamento actual e uma
avaliação retrospectiva do mesmo, reportando-se, cada uma delas, ao período de gravidez actual
-trimestre de gravidez-, e ao período em que o casal não estivesse a fazer qualquer tentativa no
sentido de a mulher engravidar, respectivamente. Os dados para esta investigação foram
recolhidos entre Outubro de 1999 e Agosto de 2000.
Resultados
Os dados foram introduzidos numa base de dados, tendo os procedimentos estatísticos sido
efectuados através do SPSS (Statistical Package for Social Sciences) versão 10.0 para o Windows.
Estudo da fidelidade das medidas de satisfação conjugal e comportamento sexual Face à
inexistência de estudos que tivessem avaliado as qualidades psicométricas da SHF e da RAS,
procedeu-se ao estudo das mesmas. Dado que as dimensões do comportamento sexual relativas à
activação sexual e à dôr apresentavam valores de consistência interna relativamente frágeis
(activação sexual e dor, actuais, .44 e .30, respectivamente e activação sexual e dor
rectrospectivas, .30 e .48, respectivamente), retirou-se um item a cada uma destas dimensões
(activação sexual, item 8; dor, item 1), tendo a análise da fidelidade, e todos os procedimentos
estatísticos posteriores, sido efectuados com base nesta alteração.
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No que se refere à RAS, obteve-se um valor a de Cronbach de .91 para a avaliação actual e de .98
para a retrospectiva. No que diz respeito à SHF, foram obtidos valores a de Cronbach que variam
entre .65: orgasmo e .84: frequência sexual, relativamente à avaliação actual, tendo-se alcançado
um valor de consistência interna para o resultado total da escala (12 itens) de .79. Na avaliação
retrospectiva, os valores variaram entre .58 (dôr) e .79 (activação), tendo-se obtido um valor de .81
para o comportamento sexual global (total da escala). O estudo das correlações médias inter-itens
evidenciou valores que oscilavam entre .18 (desejo) e .73 (frequência sexual) no que se refere à
avaliação actual, e entre .16 (desejo) e .36 (frequência sexual) no que respeita à avaliação
retrospectiva.
Satisfação conjugal e comportamento sexual actuais
As diferenças entre os grupos para a satisfação sexual e comportamento sexual foram analisadas
através de uma análise multivariada da variância.
A tabela 2 mostra os valores médios e de desvio padrão da satisfação conjugal e do
comportamento sexual, avaliados actualmente, em função dos grupos estudados. Apenas se
verificou uma diferença estatisticamente significativa entre os grupos, na satisfação conjugal actual
(F(3)=8.082; p=.000). A comparação entre os grupos, através do método de Tuckey, p<0.05,
evidenciou que o grupo de controlo relatou níveis mais baixos de satisfação conjugal
comparativamente aos restantes grupos.
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Satisfação conjugal e comportamento sexual avaliados retrospectivamente
A tabela 3 mostra os valores médios e de desvio padrão da satisfação conjugal e comportamento
sexual, avaliados retrospectivamente em função dos grupos estudados. Foram encontradas
diferenças estatisticamente significativas entre os 3 grupos para a satisfação conjugal (F(2)=6.459;
p=.002), comportamento sexual relacionado com o orgasmo (F(2)=3.249; p=.044) e o
comportamento sexual global (F(2)=4.019; p=.021). A comparação dos 3 grupos pelo método de
Tuckey, p<0.05, evidenciou que o G1 relatou menores níveis de satisfação conjugal e um
comportamento sexual menos ajustado comparativamente ao G2 e G3.
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Satisfação conjugal e comportamento sexual, actual e retrospectiva
As diferenças entre as avaliações actual e retrospectiva da satisfação conjugal e do
comportamento sexual foram estudadas na amostra de grávidas em função do trimestre de
gravidez das participantes, através do teste t de student para amostras emparelhadas.
Para as grávidas do G1 (1º trimestre), foram encontradas diferenças estatisticamente significativas
entre a avaliação actual e retrospectiva da frequência sexual (t(27)=-5.187; p=.000), desejo
(t(26)=-3.228; p=.003) e comportamento sexual global (t(23)=-2.897; p=.008), no sentido destas
grávidas evidenciarem um comportamento sexual mais satisfatório quando não estavam grávidas,
ao nível da frequência sexual, do desejo e da nota total.
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Para as grávidas do G2 foram obtidas diferenças estatisticamente significativas no âmbito da
frequência sexual (t(29)=-4.849; p=.000), do desejo (t(28)=-2.766; p=.01) e no comportamento
sexual global (t(27)=-4.072; p=.000), no sentido de um melhor ajustamento antes de engravidar,
nomeadamente no que diz respeito à frequência sexual e ao desejo.
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Finalmente no que se refere ao G3, obtiveram-se diferenças estatisticamente significativas entre a
avaliação actual e a avaliação retrospectiva no que se refere à frequência sexual (t(40)=-7.339;
p=.000), ao desejo (t(41)=-6.492; p=.000), à activação (t(41)=-2.308; p=.026), ao orgasmo
(t(39)=-4.193; p=.000), à dôr (t(39)=-3.457; p=.001) e ao comportamento sexual global
(t(35)=-6.737; p=.000). Na avaliação actual, as grávidas do G3 relataram um comportamento
sexual menos satisfatório ao nível da frequência sexual, desejo, activação, orgasmo, e dôr.
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Preditores da Satisfação Conjugal
Com o objectivo de estudar as variáveis preditoras da satisfação conjugal actual, em função do
grupo de pertença, foram efectuadas análises de regressão múltipla, tendo a variável dependente
sido a satisfação conjugal . No caso do grupo de grávidas foram encontradas 3 variáveis
preditoras, independentes, da satisfação conjugal actual, as quais explicaram 66% da variância. A
primeira variável preditora encontrada foi a satisfação conjugal retrospectiva que explicou, por si
só, aproximadamente 44% da variância. As restantes variáveis preditoras foram o comportamento
sexual global e o número de filhos, as quais explicaram 16 e 6% respectivamente.
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Os resultados obtidos evidenciaram que as grávidas que relataram uma melhor satisfação conjugal
retrospectiva, que tinham um comportamento sexual global mais adequado e menos filhos,
descreveram uma melhor satisfação conjugal actual.
No caso do grupo de controlo, foram apenas obtidas duas variáveis independentes preditoras da
satisfação conjugal actual, as quais explicaram aproximadamente 47% da variância. A primeira
variável preditora encontrada foi o comportamento sexual global que explicou 38% da variância,
sendo o segundo preditor a idade de início da actividade sexual que explicou 9% da variância.
Discussão
O presente estudo, foi elaborado com o objectivo de investigar as repercussões da gravidez no
relacionamento sexual e conjugal do casal.
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O facto de existirem poucas investigações no nosso país que incidam sobre esta temática (Branco,
1985 in Trindade, 1984) e, para além disto, a possibilidade de podermos contribuir para que a
sexualidade no seio da gravidez possa ser encarada de uma forma mais adaptada e satisfatória
pelos membros do casal, constituem um desafio que permitiu encarar com mais entusiasmo as
dificuldades inerentes à escassez de dados empíricos.
No que diz respeito ao comportamento sexual e satisfação conjugal actuais, o grupo de controlo
relata níveis mais baixos de satisfação conjugal, podendo dever-se, este facto, à ausência de
envolvência dos parceiros devido à inexistência de um objectivo adicional, como é a gravidez nos
outros grupos. Para além disto, parece importante referir que este decréscimo na satisfação
conjugal se encontra muito difundido actualmente, verificando-se um notório aumento do número
de divórcios (Ribeiro, Sampaio & Amaral, 1991).
Para a avaliação retrospectiva, as diferenças entre os 3 grupos incidiram ao nível das dimensões
do comportamento sexual e deste mesmo. Assim, realçou-se a função orgasmo, e o facto de o G1
evidenciar menores níveis de satisfação conjugal e um comportamento sexual menos ajustado que
os outros dois grupos de grávidas, que pode dever-se ao facto de se tratar de uma situação nova
que requer um período de adaptação e onde poderão surgir sintomas como fadiga, náuseas, receio
de perder a criança ou receio de lesar o embrião por intermédio da penetração (Caldiz, 1986;
Read, 1999).
No que respeita às grávidas do G1, as diferenças entre as avaliações actual e retrospectiva
residiram ao nível da frequência sexual, comportamento sexual e desejo, reenviando para um
comportamento sexual menos ajustado na avaliação actual relativamente a estas dimensões. Estas
constatações coincidem com o facto de as mulheres, neste período de gravidez, recorrerem com
frequência a actividades alternativas em virtude da preocupação central residir no facto do
desenvolvimento fetal decorrer dentro da normalidade (Caldiz, 1986).
As grávidas do G2, referiram um comportamento sexual menos ajustado na avaliação actual,
relativamente à frequência sexual e ao desejo, o que não vai no sentido do defendido por Colman
& Colman (1994): redução dos medos, maior lubrificação vaginal e maior irrigação da zona pélvica,
podendo as mulheres continuarem com a mesma intensidade de desejo após a obtenção do
orgasmo.
Relativamente às grávidas do G3, o comportamento menos ajustado verificou-se na avaliação
actual, incidindo na frequência sexual, desejo, orgasmo activação e dôr. Estas constatações vão no
sentido das obtidas por autores como Robson et al (1983), que identificou, no âmbito do seu
estudo, decréscimos idênticos ao nível das dimensões referidas. Colman & Colman (1994) referem,
neste período, a existência de um recrudescimento da ansiedade devido à antecipação do
nascimento.
Para além das diferenças entre grávidas e não grávidas e da evolução dos aspectos conjugais e
sexuais durante a gravidez, conseguimos elaborar um modelo predictor da satisfação conjugal.
Este aspecto é tanto mais importante porque conseguimos explicar aproximadamente 66% deste
fenómeno. Os predictores encontrados foram a satisfação conjugal antes da gravidez, o
ajustamento sexual e o número de filhos. Assim, um bom ajustamento conjugal depende,
principalmente, do ajustamento conjugal prévio, e em menor grau do sexo e do número de filhos.
As variáveis privilegiadas pelo nosso estudo, o comportamento sexual e satisfação conjugal,
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poderão, em função dos resultados obtidos, funcionar como meio de intervenção terapêutica,
visando uma melhor qualidade e satisfação ao nível da vida sexual e conjugal dos indivíduos. O
investimento dos parceiros no processo de gravidez pode contribuir para que a insegurança,
ansiedade e deficits de auto-estima e auto-imagem das suas parceiras possam atenuarse ou,
mesmo, diluirse como consequência de uma nova postura dos elementos do sexo masculino. A
presença do parceiro poderá funcionar como redutor da ansiedade e do impacto negativo de
algumas situações, quanto mais não seja pela novidade que as mesmas acarretam. O
posicionamento do parceiro face ao fenómeno gravidez pode explicar os resultados obtidos,
nomeadamente por influência de factores como, a representação da gravidez, apoio, aceitação das
inúmeras alterações verificadas, nomeadamente no campo sexual, e imagem corporal.
Finalmente, parecenos pertinente efectuar um estudo longitudinal, controlando as variáveis
primiparidade/multiparidade, gravidez desejada/não desejada, programada/não programada,
confrontando, posteriormente, os resultados com os da presente investigação.
Relativamente aos homens, seria importante tentar perceber como estes se posicionam face à
alteração da imagem corporal das suas companheiras, resultante do período de gravidez, e de que
forma esta alteração pode influenciar o desejo, por um lado, e que medos poderão condicionar a
emergência deste, por outro.
Como conclusão, podemos referir que foi ultrapassada mais uma pequena etapa com vista a
percebermos um pouco melhor os factores que influenciam a sexualidade feminina, neste caso,
particularizando para o período de gravidez os resultados obtidos.
Referências
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