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4. Formas de violência e criminalidade
Diagnóstico e ações
Escrito por Fernando Bossi em 8 de Outubro de 2014.
Dizemos que há uma extrema-direita fascista,
assassina, terrorista, etc. Mas nos assombramos
quando eles matam nossos companheiros.
A política é a luta pelo poder. Na sociedade de classes
esse poder se disputa entre diferentes blocos de
classes.
Cansamos de mostrar como o imperialismo atropela e
mata povos inteiros. Mas nos assombramos quando
financiam mercenários, terroristas e criminosos para
atentar contra nossos compatriotas.
Na Venezuela a confrontação principal se dá entre um
bloco popular e um bloco oligárquico. Um bloco
popular patriótico, democrático, latino-americanista,
antiimperialista,
incipientemente
socialista,
progressista em geral, pacifista e tolerante. O outro
bloco, o oligárquico, por lógica, apresenta todos os
elementos antagônicos aos enunciados para o bloco
popular: pró-ianque, cipaio, colonizado, neoliberal,
antidemocrático, intolerante e fascista.
Se o bloco oligárquico ou ao menos um setor do bloco
oligárquico é fascista, teríamos que saber que esse
setor atuará como fascista E o que é atuar como
fascista? É fazer a saudação como fazia Hitler ou
Mussolini? NÃO! Atuar como fascistas é realizar atos
terroristas, assassinar militantes de esquerda, gerar
medo e atentar contra a paz.
Esta é uma descrição das características gerais de
cada um dos blocos em luta.
É possível conviver com elementos fascistas, com
terroristas?
A história demonstra que isso é impossível.
Agora, quando caracterizamos o bloco oligárquico da
maneira que caracterizamos, não é para ter
simplesmente um diagnóstico, mas é para lembrar de
que deve ter consequências.
Ou são eles ou é o povo, mas ambos não podem
conviver em um mesmo espaço. Há que reprimir os
fascistas com toda a força da lei, mas
implacavelmente, sem vacilação.
Se dizemos que não devemos nos aproximar de um
certo animal porque morde, é para que tomemos as
precauções caso tenhamos que passar perto dele.
Os fascistas são bichos violentos, mas também
covardes. A impunidade é o que os faz engrandecer,
mas se são castigados exemplarmente retrocedem,
porque carecem de valores essenciais.
Mas parece que todavia temos um tipo de dissociação
entre o discurso e a prática.
Fonte: Correo del Orinoco
SOCIOLOGIA - 3º ANO - Apostila nº 4 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 1
A ascensão do capitalismo do desastre
não viável". Por vezes, explicou, "reconstruir significa
dilacerar o velho".
por Naomi Klein [*]
No verão passado, na modorra do mês de Agosto, a
doutrina bushiana da guerra preventiva deu um grande
salto para a frente. No dia 5 de Agosto de 2004, a Casa
Branca criou o Gabinete do Coordenador para a
Reconstrução e Estabilização (Office of the Coordinator
for Reconstruction and Stabilization), encabeçado pelo
antigo embaixador dos EUA na Ucrânia, Carlos Pascual. O
seu mandato é rascunhar elaborados planos "pósconflito" para mais de 25 países que não estão, ainda,
em conflito. Segundo Pascual, o gabinete será capaz de
coordenar até três operações de reconstrução em plena
escala em diferentes continentes e "em simultâneo",
cada uma delas perdurando "cinco a sete anos".
Assim, de modo adequado, um governo dedicado à
perpétua desconstrução preventiva tem agora um
gabinete dedicado à perpétua reconstrução preventiva.
Já estão longe os dias em que se aguardava as guerras
acontecerem para então elaborar planos a fim de
consertar os estragos. Em estreita cooperação com o
National Intelligence Council, o gabinete de Pascual
mantém os países "de alto risco" numa "lista de
observação" e reúne equipes de resposta rápida prontas
para se empenharem no planejamento pré-guerra e para
se "mobilizarem e instalarem rapidamente" depois de o
conflito ter acabado. As equipes são constituídas por
companhias privadas, organizações não governamentais
e membros de think tanks. Algumas delas, disse Pascual
numa audiência do Center for Strategic and International
Studies (CSIS) em Outubro último, terão contratos "précompletados" para reconstruir países que ainda não
estão fraturados. Fazer este trabalho administrativo
previamente poderia "cortar de três a seis meses no
tempo de resposta".
Os planos que as equipes de Pascual estão a elaborar no
seu pouco conhecido gabinete no Departamento de
Estado referem-se à mudança "do próprio tecido social
de uma nação", afirmou ele à CSIS. O mandato do
gabinete não é reconstruir qualquer dos antigos Estados,
reparem, mas criar outros "democráticos e voltados ao
mercado". Assim, por exemplo (e ele estava apenas a
extrair esse exemplo de sua cartola, não há dúvida), os
seus reconstrutores de atuação rápida podem ajudar a
vender "empresas estatais que criaram uma economia
Poucos ideólogos podem resistir à atração de um quadro
em branco – que foi a promessa sedutora do
colonialismo: "descobrir" novas e vastas terras onde a
utopia parecia possível. Mas o colonialismo está morto,
ou assim nos dizem: não há lugares novos a serem
descobertos, nenhuma terra vaga (e, de fato, nunca
houve), nenhuma página em branco sobre as quais,
como outrora Mao disse, "as mais novas e mais belas
palavras possam ser escritas". Há, entretanto, destruição
de sobra — países esmagados até às ruínas, seja pelos
chamados "Atos de Deus" ou pelos Atos do Bush (sob as
ordens de Deus). E onde há destruição há reconstrução,
uma oportunidade de agarrar a "terrível aridez", como
um funcionário das Nações Unidas recentemente
descreveu a devastação em Aceh, e preenchê-la com os
planos mais belos e perfeitos.
"Costumávamos ter colonialismo vulgar", afirma
Shalmali Guttal, investigador em Bangalore do Focus on
the Global South. "Agora, temos um colonialismo
refinado, e eles chamam a isto 'reconstrução' ".
Parece que porções cada vez maiores do globo estão sob
reconstrução ativa: a serem reconstruídas por um
governo paralelo constituído por uma casta familiar de
firmas de consultoria com fins lucrativos, companhias de
engenharia, mega-ONGs, agências governamentais e de
ajuda da ONU e instituições financeiras internacionais. E,
das pessoas a viverem nesses sítios de reconstrução (a
população pobre) — do Iraque ao Aceh, do Afeganistão
ao Haiti — levanta-se um coro similar de queixas. O
trabalho é demasiado lento, se é que está a haver algum
trabalho. Consultores estrangeiros desfrutam uma boa
vida, graças a contratos fixos com o pagamento das
despesas extras, ao passo que os habitantes locais são
excluídos dos tão necessários empregos, treinamentos e
tomadas de decisão. Peritos "construtores da
democracia" ensinam os governos sobre a importância
da transparência e da "boa governação"; mas a maior
parte dos empreiteiros contratados e das ONGs recusase a abrir a sua contabilidade àqueles mesmos governos,
e muito menos a dar-lhes o controle sobre como é gasto
o dinheiro da sua ajuda.
Três meses depois de o tsunami ter assolado o Aceh, o
New York Times publicou um texto aflitivo a relatar que
SOCIOLOGIA - 3º ANO - Apostila nº 4 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 2
"quase nada parece ter sido feito para começar os
reparos e a reconstrução". O mesmo relato poderia
igualmente ter vindo do Iraque, onde, segundo relato
recente do Los Angeles Times, todas as instalações de
água reconstruídas pela Bechtel já começaram a
decompor-se, mais uma coisa na infinita litania de
estragos nas reconstruções. Mas poderia ter procedido
igualmente do Afeganistão, onde o presidente Hamid
Karzai
recentemente
denunciou
empreiteiros
estrangeiros como "corruptos, esbanjadores e
irresponsáveis", por "dissiparem os preciosos recursos
que o Afeganistão recebeu como ajuda". Ou do Sri
Lanka, onde 600 mil pessoas que perderam os seus lares
com o tsunami ainda estão a vegetar em acampamentos
temporários. Cem dias depois do ataque das ondas
gigantes, Herman Kumara, dirigente do movimento
National Fisheries Solidarity Movement, de Negombo, Sri
Lanka, enviou um e-mail desesperado a colegas em todo
o mundo: "Os fundos recebidos para benefício das
vítimas são dirigidos a uns poucos privilegiados, não para
as vítimas reais", escreveu ele. "Nossas vozes não são
ouvidas e não permitem que elas sejam divulgadas."
Mas se a indústria da reconstrução é impressionantemente inepta na reconstrução isso pode ser devido
ao fato de que a reconstrução não é o seu propósito
primário. Segundo Guttal, "não se trata de reconstrução
alguma e sim de remodelar tudo". As histórias de
corrupção e incompetência servem para mascarar esse
escândalo mais profundo: a ascensão de uma forma
predatória de capitalismo do desastre que utiliza o
desespero e o medo criados pela catástrofe para lançar
uma engenharia social e econômica radical. E, nesta
frente, a indústria da reconstrução trabalha tão rápida e
eficientemente que as privatizações e a captura de
terras habitualmente já estão consumadas antes de a
população local saber do golpe que a atingiu. Kumara,
em outro e-mail, adverte que agora o Sri Lanka está a
enfrentar "um segundo tsunami, o da globalização
corporativa e da militarização", potencialmente ainda
mais devastador do que o primeiro. "Vemos isso como
um plano de ação em meio à crise do tsunami para
entregar o mar e a costa a corporações estrangeiras e ao
turismo, com a assistência militar dos Marines dos EUA."
O vice-secretário da Defesa, Paul Wolfowitz, concebeu e
supervisionou um projeto de espantosa semelhança no
Iraque: Os incêndios ainda devastavam Bagdá quando
responsáveis americanos pela ocupação reescreviam as
leis de investimentos e anunciavam que as companhias
estatais do país seriam privatizadas. Alguns destacaram
este cadastro para argumentar que Wolfowitz seria
inadequado para conduzir o Banco Mundial. Na verdade,
nada poderia tê-lo preparado melhor para o novo
emprego. No Iraque, Wolfowitz estava simplesmente a
executar aquilo que o Banco Mundial já fazia em
praticamente todos os países do mundo devastados por
guerras ou por desastres – embora com menos
delicadezas burocráticas e mais bravatas ideológicas.
Atualmente os países "pós-conflito" recebem 20 a 25 por
cento do total de empréstimos do Banco Mundial, um
nível 16% superior ao de 1998, o qual já era 800%
superior ao de 1980, segundo estudo do Serviço de
Investigação do Congresso. A resposta rápida às guerras
e aos desastres naturais tradicionalmente tem sido da
competência das agências da ONU, as quais trabalhavam
com as ONGs para proporcionar ajuda de emergência,
construir habitações temporárias e tudo o mais. Mas
agora os trabalhos de reconstrução revelaram-se uma
indústria
tremendamente
lucrativa,
demasiado
importante para ser deixada aos milagreiros da ONU.
Desse modo, hoje é ao Banco Mundial, já dedicado ao
princípio de aliviar a pobreza através da criação do lucro,
que cabe a liderança do processo.
E não há dúvida de que há lucros a serem feitos nos
negócios de reconstrução. Há enormes contratos de
engenharia e abastecimento (10 bilhões de dólares para
a Halliburton, só no Iraque e no Afeganistão); a
"construção da democracia" explodiu numa indústria de
2 bilhões de dólares e nunca houve um tempo melhor
para os consultores do setor público — as empresas
privadas que assessoram os governos a venderem os
seus ativos, empresas essas que muitas vezes
administram as próprias agências governamentais como
subcontratadas (a Bearing Point, a mais favorecida
dessas empresas nos EUA, relatou que as receitas da sua
divisão de "serviços públicos quadruplicou em apenas
cinco anos", e os lucros são enormes: US$342 milhões,
em 2002 – uma margem de lucro de 35%).
Mas, países estilhaçados são atraentes para o Banco
Mundial também por outra razão: eles acatam as ordens
docilmente. Após um evento cataclísmico, os governos
habitualmente fazem seja o que for para obter ajuda em
dólares — mesmo se isso significa assumir dívidas
enormes e concordar com políticas de reformas
arrasadoras. E com a população local a lutar para obter
abrigo e comida, a organização política contra a
privatização pode parecer um luxo inimaginável.
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Melhor ainda na perspectiva do Banco: muitos países
arrasados pela guerra estão em estado de "soberania
limitada". Eles são considerados demasiado instáveis e
não qualificados para administrar o dinheiro da ajuda
nele despejado. Assim, muitas vezes esses fundos são
colocados num fundo fiduciário (trust fund)
administrado pelo Banco Mundial. Foi o caso em Timor
Leste, onde o Banco dá esmolas ao governo na medida
em que ele mostrar que gasta com responsabilidade.
Aparentemente, isso significa cortar empregos do setor
público (o governo de Timor tem agora a metade da
dimensão que tinha sob a ocupação indonésia), mas
quantias abundantes da ajuda monetária são
despendidas com consultores estrangeiros, os quais o
Banco insiste em contratar (o investigador Ben Moxham
escreve: "Num departamento governamental, um único
consultor internacional ganha em um mês o mesmo que
ganham juntos vinte dos seus colegas timorenses
durante um ano inteiro").
No Afeganistão, onde o Banco Mundial também
administra a ajuda ao país através de um fundo
fiduciário, a instituição já conseguiu privatizar os
cuidados de saúde, recusando-se a conceder fundos ao
Ministério da Saúde para a construção de hospitais. Ao
invés disso, este encaminha o dinheiro diretamente para
as ONGs que administram as suas próprias clínicas
privadas, com contratos de três anos. O Banco Mundial
também impôs "um papel acrescido para o setor
privado" nos sistemas de águas, telecomunicações,
petróleo, gás e mineração, e ordenou ao governo que
"se retirasse" do setor da eletricidade e que o deixasse
para "investidores privados estrangeiros". Essas
profundas transformações na sociedade afegã nunca
foram debatidas ou relatadas, até porque poucas
pessoas de fora do Banco souberam o que estava a
acontecer: As mudanças foram enterradas bem fundo,
num "anexo técnico" do contrato de uma doação de
fundos para ajuda "de emergência" às infraestruturas
destruídas do Afeganistão – dois anos antes de o país ter
um governo eleito.
O mesmo se passou no Haiti, após a derrubada do
presidente Jean-Bertrand Aristide. Em troca de um
empréstimo de US$ 61 milhões, o banco está a exigir
"parceria público-privada e gestão nos setores da
educação e da saúde", segundo os documentos do
Banco — ou seja, que as companhias privadas
administrem as escolas e os hospitais. Roger Noriega, ao
secretário de Estado Assistente dos EUA para os
Negócios do Hemisfério Ocidental, deixou claro que o
governo Bush compartilha esses objetivos: "Também
encorajaremos que o governo do Haiti avance, no
momento apropriado, com a reestruturação e a
privatização de algumas empresas públicas", disse ele ao
American Enterprise Institute em 14 de Abril de 2004.
Trata-se de planos extremamente controversos num país
com uma base estatal e o Banco admite que é
precisamente por essa razão que está a pressioná-lo
agora, com o Haiti sob um regime quase militar. "O
Governo de Transição proporciona uma janela de
oportunidade para a implementação de reformas de
governação econômica… que dificilmente poderão ser
desfeitas por um próximo governo", observa o banco no
seu acordo do Economic Governance Reform Operation.
Para os haitianos isto é uma ironia particularmente
amarga: Muitos culpam as instituições multilaterais,
incluindo o Banco Mundial, pelo aprofundamento da
crise política que levou à deposição de Aristide, pela
retenção de centenas de milhões dos empréstimos
prometidos. Na época, o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), sob a pressão do Departamento
de Estado, afirmou que o Haiti era insuficientemente
democrático para receber o dinheiro, apontando
pequenas irregularidades verificadas numa eleição
legislativa. Mas agora que Aristide está deposto, o Banco
Mundial está a celebrar abertamente os bônus de operar
numa zona livre de democracia.
O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional
têm estado a impor terapias de choque a países sob
vários estados de choque ao longo de pelo menos três
décadas, sobretudo após golpes militares na América
Latina e o colapso da União Soviética. Ainda que muitos
observadores digam que os desastres do capitalismo de
hoje realmente ultrapassem os do Furacão Mitch. Em
Outubro de 1998, durante uma semana, o furacão
estacionou na América Central, engolindo aldeias
inteiras e matando mais de 9.000 pessoas. Países já
empobrecidos estavam desesperados por ajuda para a
reconstrução — e ela veio, mas com cadeias impostas.
Nos dois meses após o golpe do Mitch, com o país ainda
de joelhos em meio a ruínas, cadáveres e lama, o
congresso de Honduras iniciou o que o Financial Times
chamou de "liquidação veloz depois da tempestade",
aprovando leis que permitiam a privatização dos
aeroportos, portos e rodovias, além de planos urgentes
para privatizar a companhia telefônica estatal, a
companhia elétrica nacional e partes do setor das águas.
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Anulou leis de reforma agrária e facilitou a compra e
venda de propriedades para os estrangeiros. O mesmo
aconteceu nos países vizinhos: Durante estes mesmos
dois meses, a Guatemala anunciou planos para liquidar
com o seu sistema telefônico, e a Nicarágua fez outro
tanto, juntamente com a sua companhia de eletricidade
e o seu setor de petróleo.
Todos os planos de privatização foram pressionados
agressivamente pelos suspeitos habituais. Segundo o
Wall Street Journal, "o Banco Mundial e o Fundo
Monetário Internacional lançaram todo o seu peso para
a venda da Telecom, fazendo disto uma condição para
libertar cerca de US$ 47 milhões de ajuda anual, por um
período de três anos, e ligando-a a cerca de US$ 4,4 mil
milhões de alívio para a dívida externa da Nicarágua".
Agora, o Banco está a usar o tsunami de 26 de dezembro
para pressionar pelas suas políticas predadoras. Os
países mais devastados quase não viram alívio para a
dívida, e a maior parte da ajuda de emergência do Banco
Mundial veio sob a forma de empréstimos, não de
doações. Ao invés de enfatizar a necessidade de ajudar
as pequenas comunidades de pescadores – mais de 80
por cento das vítimas da onda – o banco está
pressionando pela expansão do setor turístico e pela
pesca industrial. Quanto às infraestruturas públicas
danificadas, como estradas ou escolas, os documentos
do Banco reconhecem que reconstruí-los poderá "exigir
forçar as finanças públicas", e sugere que os governos
considerem a privatização (sim, eles só têm uma ideia).
"Para certos investimentos", observa o plano de
resposta do Banco ao tsunami, "poderá ser apropriado
utilizar financiamentos privados".
praias com campos de jogos para turistas, oceanos como
minas aquáticas para frotas pesqueiras das corporações
indústria corporativa da pesca, tudo servido por
aeroportos privatizados e rodovias construídas com o
dinheiro emprestado.
Em Janeiro último, Condoleezza Rice desencadeou uma
pequena controvérsia ao descrever o tsunami como
"uma oportunidade maravilhosa" que "nos pagou altos
dividendos ". Muitos ficaram horrorizados com a ideia de
tratar uma tragédia humana maciça como uma
oportunidade para extrair lucros. Mas, de qualquer
forma, Rice mostrou estar subestimando o caso. Um
grupo autodenominado Sobreviventes e Apoiantes do
Tsunami da Tailândia afirma que: "para homens de
negócios e políticos, o tsunami foi a resposta às suas
orações, uma vez que literalmente varreu as áreas
costeiras deixando-as limpas de comunidades que
anteriormente impediam a realização de seus planos
para a construção de balneários, hotéis, cassinos e
instalações para a criação de camarões. Para eles, todas
essas áreas costeiras são hoje terra aberta!"
O desastre, parece, é a nova terra nullius.
_________________________
[*] Autora de No Logo: Taking Aim at the Brand Bullies,
traduzido em 25 línguas, e de Fences and Windows: Dispatches
from the Front Lines of the Globalization Debate (2002).
O original encontra-se em:
http://www.thenation.com/doc.mhtml?i=20050502&s=klein
.
Tradução de JF para http://resistir.info/. Adaptada ao português
do Brasil por RFJ.
Tal como em outros sítios de reconstrução, desde o Haiti
até o Iraque, a ajuda ao tsunami pouco tem a ver com a
recuperação do que foi perdido. Embora os hotéis e a
indústria na costa tenham já começado a reconstrução,
no Sri Lanka, na Tailândia, na Indonésia e na Índia, os
governos aprovaram leis impedindo as famílias de
reconstruírem suas casas frente ao oceano. Em Aceh,
centenas de milhares de pessoas estão a ser transferidas
à força para o interior, e instaladas em quartéis de estilo
militar, e no caso da Tailândia em caixas pré-fabricadas.
A costa não está a ser reconstruída como era – salpicada
de aldeias de pescadores e praias com redes de pesca
feitas à mão espalhadas entre umas e outras. Ao invés
disso, os governos, as corporações e os doadores
estrangeiros estão a agrupar-se para reconstruir a costa
da forma tal como gostariam que realmente fosse:
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A ONU, a impunidade e a guerra
A Resolução 1929 do Conselho de Segurança das
Nações Unidas, de 9 de junho de 2010, marcou o
destino do imperialismo.
Sei lá quantos terão se apercebido de que, entre
outras coisas absurdas, o secretário-geral dessa
instituição, Ban Ki-moon, cumprindo ordens
superiores, cometeu a gafe de nomear Álvaro
Uribe — quando este estava quase concluindo seu
mandato — vice-presidente da comissão
responsável por investigar o ataque israelense à
pequena frota humanitária, que transportava
alimentos essenciais para a população sitiada na
faixa de Gaza. O ataque ocorreu em águas
internacionais, a uma distância considerável da
costa.
Essa decisão outorgava impunidade a Uribe,
quem é acusado de crimes de guerra, como se um
país cheio de valas comuns com cadáveres de
pessoas assassinadas, algumas contendo até duas
mil vítimas, e sete bases militares ianques, mais o
resto das bases militares colombianas a seu
serviço, não tivesse nada a ver com o terrorismo e
o genocídio.
Por outro lado, em 10 de junho de 2010, o
jornalista cubano Randy Alonso, que dirige o
programa "Mesa Redonda" da televisão nacional,
escreveu no site CubaDebate um artigo intitulado:
"O chamado Governo Mundial se reuniu em
Barcelona", onde sublinha:
"Chegaram até o confortável hotel Dolce em
carros de luxo com vidros escuros ou em
helicópteros."
"Eram os mais de 100 chefões da economia, das
finanças, da política e da mídia da América do
Norte e da Europa, que vieram até este lugar para
a reunião anual do Clube de Bilderberg, uma
espécie de governo mundial à sombra."
Outros
jornalistas
honestos
estavam
acompanhando igual do que ele as notícias que
conseguiram filtrar-se do esquisito encontro.
Alguém muito mais informado do que eles andava
no encalço desses eventos havia muitos anos.
"O exclusivo Clube que se reuniu em Sitges
nasceu em 1954. Surgiu da ideia do conselheiro e
analista
político
Joseph
Retinger.
Seus
impulsionadores iniciais foram o magnata norteamericano David Rockefeller, o príncipe Bernardo
de Holanda e o primeiro-ministro belga, Paul Van
Zeeland. Seus propósitos fundacionais eram
combater o crescente ‘anti-norte-americanismo’
que existia na Europa da época e contestar a
União Soviética e o comunismo que ganhava força
no velho continente."
"Sua primeira reunião foi realizada no Hotel
Bilderberg, em Osterbeck, Holanda, entre 29 e 30
de maio de 1954. Daí saiu o nome do grupo, que
desde então se reúne anualmente, salvo em 1976."
"Há um núcleo de afiliados permanentes que são
os 39 membros do Steering Comittee, o resto são
convidados."
"…a organização exige que ninguém ‘conceda
entrevistas’ nem revele nada do que ‘um
participante individual tenha dito’. É requisito
imprescindível um domínio excelente da língua
inglesa [...] não há tradutores presentes."
"Não se sabe ao certo os alcances reais do grupo.
Os estudiosos do ente dizem que não é por acaso
que se reúnam sempre pouco antes do que o G-8
(G-7 anteriormente) e que procuram uma nova
ordem mundial de governo, exército, economia e
ideologia única."
"David Rockefeller disse em uma reportagem à
revista ‘Newsweek’: ‘Algo deve substituir os
governos e parece-me que o poder privado é a
entidade adequada para o fazer."
"…o banqueiro James P. Warburg afirmou: ‘Quer
gostem quer não, teremos um governo mundial. A
única questão é se será por concessão ou por
imposição."
"‘Eles sabiam dez meses antes a data exata da
invasão ao Iraque; também o que ia acontecer
com a bolha imobiliária. Com informação como
essa se pode fazer muito dinheiro em toda classe
de mercados. E aqui falamos de clubes de poder e
de saber’.
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"Para os estudiosos, um dos temas que mais
preocupa o Clube é a ‘ameaça econômica’ que
significa a China e a sua repercussão nas
sociedades norte-americana e europeias.
"A sua influência na elite é demonstrada segundo
alguns pelo fato de que Margaret Thatcher, Bill
Clinton, Anthony Blair e Barack Obama estiveram
entre os convidados ao Clube antes de serem
eleitos para a mais alta responsabilidade
governamental, na Grã-Bretanha e nos Estados
Unidos. Obama participou da reunião de junho de
2008, na Virgínia, EUA, cinco meses antes de sua
vitória eleitoral e seu triunfo se previa já desde a
reunião de 2007."
"Entre tanto sigilo, a imprensa foi tirando nomes
daqui e dali. Entre os que chegaram a Sitges
estavam importantes empresários como os
presidentes da Fiat, Coca Cola, France Telecom,
Telefônica da Espanha, Suez, Siemens, Shell,
Novartis e Airbus.
"Também se reuniram gurus das finanças e da
economia como o famoso especulador George
Soros, os assessores econômicos de Obama, Paul
Volcker e Larry Summers; o flamante secretário
do Tesouro Britânico, George Osborne; o expresidente da Goldman Sachs e da British
Petroleum, Peter Shilton [...] o presidente do
Banco Mundial, Robert Zoellic; o diretor-geral do
FMI, Dominique Strauss-Kahn; o diretor da
Organização Mundial do Comércio, Pascal Lamy;
o presidente do Banco Central Europeu, Jean
Claude Trichet; o presidente do Banco Europeu de
Investimentos, Philippe Maystad."
Sabiam disso nossos leitores? Algum órgão
importante da imprensa oral ou escrita disse uma
palavra? É essa a liberdade de imprensa que tanto
apregoam no Ocidente? Algum deles pode negar
que estas reuniões sistemáticas dos mais
poderosos financistas do mundo são realizadas
todos os anos, à exceção do ano mencionado?
"O poder militar enviou alguns dos seus falcões —
continua Randy —: o ex-secretário de Defesa de
Bush, Donald Rumsfeld; seu subalterno, Paul
Wolfowitz; o secretário-geral da OTAN, Anders
Fogh Rasmussen e seu antecessor no cargo, Jaap
de Hoop Scheffer."
"O magnata da era digital Bill Gates, foi o único
assistente que falou alguma coisa à imprensa
antes do encontro. ‘Sou um dos que estará
presente’, disse e anunciou que ‘Sobre a mesa
haverá muitos debates financeiros’."
"Os especuladores da notícia falam de que o poder
na sombra analisou o futuro do euro e as
estratégias para salvá-lo; a situação da economia
europeia e o rumo da crise. Sob a religião do
mercado e o auxílio dos drásticos recortes sociais
se deseja continuar prolongando a vida do doente.
"O coordenador da Esquerda Unida da Espanha,
Cayo Lara, definiu com clareza o mundo que nos
impõem os Bilderberg: ‘Estamos no mundo ao
avesso; as democracias controladas, tuteladas e
pressionadas pelas ditaduras dos poderes
financeiros’."
"O mais perigoso que foi publicado no jornal
espanhol Público é o consenso majoritário dos
membros do Clube a favor de um ataque norteamericano ao Irã [...] Lembre-se que os membros
do Clube sabiam, em 2003, a data exata da
invasão ao Iraque, dez meses antes de que
acontecesse".
É por acaso uma invenção caprichosa a ideia,
quando isto se soma a todas as evidências
expostas nas últimas Reflexões? A guerra contra o
Irã está já decidida nos altos círculos do império,
e apenas um esforço extraordinário da opinião
mundial poderia impedir que estoure num prazo
de tempo muito breve. Quem oculta a verdade?
Quem é que engana? Quem é que mente? Alguma
coisa do que aqui é afirmado pode ser
desmentida?
Fidel Castro Ruz
15 de agosto de 2010
SOCIOLOGIA - 3º ANO - Apostila nº 4 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 7
A máquina do clima?
Deisy Francis Mexidor (Prensa latina)
Parece um argumento de ficção científica, mas é real:
os
Estados
Unidos
desenvolveram
armas
ultramodernas que podem atuar sobre o meio ambiente
e modificar o entorno remoto de regiões inteiras. Os
devastadores terremotos de 7,3 graus na escala
Richter no Haiti, no passado 12 de janeiro, e o ocorrido
no Chile, a 27 de fevereiro, com magnitude de 8,8
graus, reavivou as suspeitas de que estas catástrofes
ocorrem como resultado da intervenção humana. Hoje
se tem certeza de que, em territórios já submetidos a
fortes tensões, existe a possibilidade de provocar
sismos induzidos através de um brusco aumento da
pressão intersticial que se daria pela eliminação, no
subsolo, de matéria em solução ou em suspensão, ou
por extração de hidrocarbonetos.
Enquanto alguns cientistas pensam em como utilizar
esses movimentos telúricos induzidos para evitar
fenômenos de maior magnitude, outros talvez
trabalhem no sentido oposto.
Em várias páginas da Internet há menções de que os
experimentos do denominado Programa de
Investigação de Aurora Ativa de Alta Freqüência
(HAARP, devido a sua sigla em inglês), poderiam estar
por trás dessa "fúria" da terra.
Fred Burks, que serviu de intérprete, entre outros, aos
ex-presidentes William Clinton e George W. Bush,
revelou num artigo que publicou em janeiro no site
digital "Examiner" que "existe um projeto pouco
conhecido ainda", malgrado o fato de que esteja sendo
aperfeiçoado há décadas.
Mas advertiu que é um "importante programa de defesa
militar dos Estados Unidos que tem gerado bastante
controvérsia em certos círculos", através do qual é
possível alterar seletivamente os modelos climáticos.
O HAARP é um apêndice da Iniciativa de Defesa
Estratégica da Casa Branca que pretende alcançar a
militarização do espaço como parte da Guerra das
Estrelas.
Burks o confirmou em seu escrito: "mui poucas
pessoas estão conscientes das tenebrosas
possibilidades de destruição e morte que se
desenvolveram ao longo destes anos".
Contudo, a página oficial do HAARP na web o define
como "um empenho científico" destinado a estudar as
propriedades e o comportamento da ionosfera para
otimizar as comunicações e os sistemas de vigilância,
"tanto para fins civis como de defesa".
A ionosfera é a camada superior da atmosfera que está
eletricamente carregada, e que se estende dos 85 até
800 quilômetros acima da superfície da Terra.
Conhecida também como termosfera, absorve as
radiações de menor longitude de onda e protege os
seres humanos dos raios solares (ultravioleta, X, gama)
que são nocivos à saúde.
O mesmo site do HAARP reconhece que se levam a
cabo ensaios que utilizam as freqüências de impulsos
eletromagnéticos com a finalidade de "excitar
temporariamente uma área limitada da ionosfera".
Todo "um programa, ao que aparenta, dedicado à
investigação meteorológica, mas muitos consideram
que na realidade tem motivos muito mais sinistros",
expressou Rob Ferrier, na sinopse de um documentário
sobre o tema realizado em 1999, citado no The New
York Times.
Arrebentar a ionosfera
Foi uma idéia original do austríaco-estadunidense
Nicola Tesla, que em princípios do século XX pensou
em interconectar o mundo através da atmosfera,
transformada em um canal de comunicação global.
Logo após sua morte, em 1943, o Governo dos
Estados Unidos confiscou os documentos de seu
gabinete e contudo os mantêm sem se desclassificar,
explica a enciclopédia digital Wikipédia.
No entanto, um de natureza militar que pode ser
utilizado com efeitos devastadores num raio de mais de
320km, é o que se considera a base do mui secreto
projeto HAARP.
De acordo com o Pentágono, trata-se de uma
investigação para aprender como "arrebentar a
ionosfera", faz referência a página digital Rosa
Blindada.
Para o doutor Richard Williams, da Sociedade
Americana de Física, isto é como "um ato irresponsável
de vandalismo global".
Estabelecido em 1992, o HAARP, situado em Gokona,
Alaska, utiliza uma série de antenas de alta potência
que transmitem, através de ondas de rádio,
quantidades massivas de energia contra essa camada
superior da atmosfera.
Sua construção foi financiada pela Força Aérea
estadunidense, a Marinha e a Agência de Projetos de
Investigação Avançada (DARPA, sua sigla em inglês).
SOCIOLOGIA - 3º ANO - Apostila nº 4 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 8
Em fevereiro de 1998, em resposta a um informe da
deputada sueca Maj Britt Theorin, o Parlamento
Europeu manteve audiências públicas em Bruxelas
sobre o programa HAARP.
A moção foi proposta em virtude do profundo impacto
sobre o meio ambiente, como uma "inquietude global" e
solicitava que um organismo
internacional
independente examinasse "suas implicações legais,
ecológicas e éticas"; contudo, Washington se negou a
esse escrutínio.
A Caixa de Pandora
HAARP, com suas centenas de milhões de watts de
potência e suas antenas, é conceituado como um
verdadeiro "aquecedor" da alta atmosfera, capaz de
provocar uma ionização de conseqüências
imprevisíveis.
Graças a seu efeito "espelho" é possível dirigir suas
derivações para qualquer zona do planeta o que o
qualifica como "arma de destruição em massa",
assinala a revista on-line "Examiner", num artigo de 27
de fevereiro de 2010, mesmo dia do terremoto de
grande intensidade que sacudiu o Chile.
Num estudo de simulação de futuros "cenários" de
defesa se estabeleceu que as forças aeroespaciais
norte-americanas estão obrigadas a "controlar o clima"
mediante o aproveitamento das novas tecnologias,
alega o professor canadense Michel Chossudovsky, no
site Global Research.
Além da manipulação meteorológica, o HAARP tem
vários usos conexos, porque os seres humanos
poderiam ter suas ondas cerebrais afetadas e, dessa
forma, se conseguiria alterar seus padrões de conduta,
assinalou.
Em 1977, uma Convenção Internacional ratificada bem
depois, em 1997, pela Assembléia Geral das Nações
Unidas, proibiu "o uso militar, ou qualquer outro uso de
natureza hostil, das técnicas de modificação ambiental
que provoquem efeitos generalizados, duradouros ou
severos". A Convenção Marco das Nações Unidas
sobre a Mudança Climática (UNFCCC), assinada na
Cúpula da Terra, no Rio de Janeiro, em 1992, também
revalidou este acordo de 1977.
Os movimentos telúricos não só do Haiti e do Chile,
mas o de Sichuan, na China, em 2008 e o tsunami na
Indonésia, em 2004, já não poderiam ser experiências
do HAARP ou de algum outro programa secreto? Que
tipo de armas mortíferas avançadas podem estar
disponíveis agora?
"É inegável que o exército tem a capacidade para
causar tsunamis, terremotos e furacões e é hora de
agirmos sem vacilação para difundir os perigos que
envolvem este assunto tão vital", assinalou Fred Burks
em "Examiner".
"É uma experimentação do que poderia ser a arma das
próximas guerras", sacou em conclusão um artigo do
site digital Cambio de Michoacán, datado de 3 de
março.
Enquanto isso, um dos pioneiros nas denúncias sobre
este projeto, Nicholas Begich, cientista de Anchorage,
Alaska, disse que o HAARP é "uma tecnologia
altamente poderosa" de emissão de feixes de ondas
radiais que quando "quicam na terra arrasam com tudo,
vivo ou morto".
A evidência não é concludente, mas sugere que o
HAARP está em funcionamento e, com o que se
conhece até aqui sobre seu potencial destrutivo, as
perguntas seguem no ar.
Mas de uma coisa os especialistas estão certos: é
possível comparar a potência ofensiva deste
aquecedor ionosférico com uma Caixa de Pandora,
que, uma vez aberta, será impossível de ser fechada.
(*) A autora é jornalista da Redação da Prensa Latina
nos Estados Unidos.
SOCIOLOGIA - 3º ANO - Apostila nº 4 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 9
Noam Chomsky e as 10 estratégias de manipulação midiática
1. A estratégia da distração. O elemento primordial do controle
social é a estratégia da distração, que consiste em desviar a
atenção do público dos problemas importantes e das mudanças
decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante o uso da
técnica de dilúvio, ou inundação contínua através de distrações e
informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente
indispensável para impedir que o público se interesse pelos
conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da
psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção
do público distraída, distante dos verdadeiros problemas sociais,
aprisionada por temas sem importância real. Manter o público
ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar;
retornando à granja como fazem com outros animais (citado do
texto 'Armas silenciosas para guerras tranqüilas')”.
maior a intenção de enganar o expectador, mais se tende a adotar
um tom infantilizante. Por quê? “Se alguém se dirige a uma
pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então,
devido à sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade,
a responder ou reagir também desprovida de um sentido crítico
como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver
'Armas silenciosas para guerras tranqüilas')”.
2. Criar problemas e depois oferecer soluções. Este método
também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um
problema, uma “situação” prevista, para causar certa reação no
público, com o objetivo de que este pareça o mandante das
medidas que se deseja fazer aceitar. Por ejemplo: deixar que se
desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar
atentados sangrentos, a fim de que o público solicite leis de
segurança e políticas austeras que acabem acarretando em perda
de liberdade. Ou ainda: criar uma crise econômica para que se
aceite como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e
o desmantelamento dos serviços públicos.
7. Manter o público na ignorância e na mediocridade. Fazer
com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e
os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A
qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser
a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da
ignorância que reina entre as classes inferiores e as classes
sociais superiores seja e permaneça impossíveis de ser alcançada
pelas classes inferiores (ver 'Armas silenciosas para guerras
tranqüilas')”.
3. A estratégia do gradativo. Para fazer com que se aceite uma
medida inaceitável, basta aplicá-la gradualmente, no estilo contagotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições
socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram
impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo,
privatizações, precarização do trabalho, flexibilidade, desemprego
em massa, defasagem salarial, ou seja, uma série de mudanças
que teriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas
de uma só vez.
4. A estratégia de diferir, retardar. Outra maneira de convencer
de uma decisão impopular é apresentá-la como “dolorosa e
necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma
aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro que um
sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é realizado
imediatamente. E isto porque o público, a massa, tem sempre a
tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar
amanhã” e que o sacrifício exigido poderá, quem sabe, ser
evitado. Isto dá mais tempo ao público para se acostumar com a
idéia da mudança e assim aceitá-la com resignação quando
chegar o momento.
5. Dirigir-se ao público como criaturas de pouca idade. A
maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discursos,
argumentos, personagens e entonações parti-cularmente infantis,
muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse
uma criatura de pouca idade ou um deficiente mental. Quanto
6. Utilizar o aspecto emocional muito mais que a reflexão.
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para
causar um curto-circuito na análise racional, e finalmente no
sentido crítico dos indivíduos. Por outro lado, a utilização do
registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente
para implantar ou injetar ideias, desejos, medos e temores,
compulsões, ou induzir comportamentos…
8. Estimular o público a ser complacente com a mediocridade.
Promover no público a crença de que é moda o fato de ser
estúpido, vulgar e inculto…
9. Reforçar a autoculpabilidade. Fazer com que o indivíduo
acredite que é somente ele o culpado por sua própria desgraça,
devida à sua insuficiência de inteligência, de capacidade ou de
esforço. Assim, no lugar de revoltar-se contra o sistema
econômico, o indivíduo se autodesvaloriza e se culpa, o que gera
um estado depressivo, cujo efeito, para citar apenas um, é a
inibição de sua ação. E, sem ação, não há revolução!
10. Conhecer os indivíduos melhor do que eles mesmos se
conhecem. No transcurso dos últimos 50 anos, os avanços
acelerados da ciência gerou um crescente abismo entre os
conhecimentos do público e aqueles possuídos e utilizados pelas
elites dominantes. Graças à biología, à neurobiologia e a
psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um
conhecimento avançado do ser humano, tanto no seu aspecto
físico como em seu aspecto psicológico. O sistema tem
conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele se
conhece a si próprio. Isto significa que, na maioria dos casos, o
sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os
indivíduos, superior ao que os próprios indivíduos tem sobre si
mesmos.
(Publicado por Omar Montilla, no Blog Gramscimania)
15/9/2010
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