continuam - Academia de Letras de Biguaçu

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continuam - Academia de Letras de Biguaçu
1
TRAJETÓRIA
Edição da Academia de Letras
Biguaçu – SC
2008
2
Copyright © 2008, by Academia de Letras de Biguaçu
Editoração Eletrônica: Marcelo Pescador dos Santos
Organização e Coordenação Editorial: Toni Jochem
(48) 3242-0826 – (48) 3344-2777 – E-mail: [email protected]
Website: www.tonijochem.com.br
FICHA CATALOGRÁFICA
Bibliotecária responsável: Cleuza Regina Costa Martins – CRB 14/500
Reservados ao autor todos os direitos de reprodução, total ou parcial.
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
Endereço Postal:
Academia de Letras de Biguaçu
E-mail: [email protected]
Website: www.academiadeletrasdebiguacu.com.br
Rua Hermógenes Prazeres, 59
Centro – CEP 88.160-000 – Biguaçu – Santa Catarina – Brasil
Telefone: 0 XX (48) 3279 -8044
3
DIRETORIA DA ACADEMIA DE LETRAS DE BIGUAÇU
Eleição e Posse: 29 de junho de 2007
Período do mandato: 30 de junho de 2007 a 30 de junho de 2010
Presidente: Joaquim Gonçalves dos Santos
Vice-Presidente: Zenilda Nunes Lins
Secretária: Vera Regina Silva Barcellos
Tesoureiro: José Braz da Silveira
Assessor Jurídico : Valdir Mendes
Assessor Cultural: Neusita Luz Azevedo Churkin
Bibliotecária: Janice Marés Volpato
Conselho Fiscal:
– Dalvina de Jesus Siqueira
– Homero Costa Araújo
– Miguel João Simão
– Stela Máris Piazza Souza
– Zelka de Castro Sepetiba
Presidente de Honra: Dalvina de Jesus Siqueira
Patrono da Academia de Letras: São João Evangelista
ABREVIAÇÕES
ABEPL = Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias.
ACIBIG = Associação Comercial e Industrial de Biguaçu.
ACPCC = Associação dos Cronistas, P oetas e Contistas Catarinenses.
ACRIMESC = Associação dos Advogados Criminais do Estado de Santa
Catarina.
AFAJO = Associação da Família J ochem no Brasil
AHESC = Arquivo Histórico -Eclesiástico de Santa Catarina.
APA = Área de Proteção Ambiental.
APAE = Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais.
APB = Acervo da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld, Alemanha.
APESC = Arquivo Público do Estado de Santa Catarina.
4
APREMAG = Associação de Preservação do Meio Ambiente de
Governador Celso Ramos.
ARENA = Aliança Renovadora Nacional.
BAC = Biguaçu Atlético Clube.
BADESC = Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A.
CASAN = Companhia Catarinense de Águas e Saneamento.
CBHRT = Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Tijucas.
CFO = Curso de Formação de Oficiais.
CIASC = Centro de Informática e Automação de Santa Catarina.
CM-ALESC = Centro da Memória da Assembléia Legislativa do Estado de
Santa Catarina.
CODESC = Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa
Catarina.
CPF = Cadastro de Pessoas Físi cas.
DVD = Disco Versátil Digital.
E.E.B. = Escola de Educação Básica.
ECA = Estatuto da Criança e do Adolescente.
ESAG = Escola Superior de Administração e Gerência.
ETFSC = Professor da Escola Técnica Federal de Santa Catarina.
Farmácia com Registro n o CRF/SC
FEB = Força Expedicionária Brasileira.
FECH = Fundamentos de Expressão Humana e Comunicação.
FEDAVI = Fundação Educacional do Alto Vale do Itajaí.
FUCAPRO = Fundação Casa do Professor de Santa Catarina.
FUMBA = Fundação Municipal de Bagé -RS
IEE = Instituto Estadual de Educação.
IHGSC = Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina
IPESC = Instituto de |previdência do Estado de Santa Catarina .
LIC = Lagoa Iate Clube.
MDB = Movimento Democrático Brasileiro.
NETI = Núcleo de Estudos da Terce ira Idade.
OFM = Ordem dos Frades Menores.
ONG’s = Organizações Não Governamentais.
PMDB = Partido do Movimento Democrático Brasileiro.
PPB = Partido Progressista Brasileiro.
PPR = Partido Progressista Reformador.
REPAM = Recanto Pré -Adolescente Municipal.
SENAC = Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial.
TJSC = Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
UDESC = Universidade do Estado de Santa Catarina.
UFSC = Universidade Federal de Santa Catarina.
UNISUL = Universidade do Sul do Estado de Santa Catar ina.
USA = United States of America.
5
NOSSOS COLABORADORES
Agradecemos às pessoas aqui mencionadas pela
colaboração no processo de elaboração desse livro.
Consignamos nosso especial agradecimento a:
Adauto Beckhäuser;
Evandro Thiesen;
Joaquim Gonçalves dos Santos;
Marcelo Pescador dos Santos ; e
Toni Jochem.
"Somos o que repetidamente fazemos. A excelência,
portanto, não é um efeito, mas um hábito".
Aristóteles.
6
Dedicamos este livro à
memória
de
todos
os
membros já falecidos da
Academia de Letras de
Biguaçu.
7
SUMÁRIO
PREFÁCIO......................................................................................
APRESENTAÇÃO..........................................................................
HISTÓRICO DA ACADEMIA DE LETRAS DE BIGUAÇU ............
ADAUTO BECKHÄUSER
SAGA DO IMIGRANTE JOHANN KARL BECKHÄUSER ..............
ALFREDO DA SILVA
OS DOIS MUNDOS DE MARIA -NAIR.............................................
ALZIRA MARIA SILVA DOS SANTOS
BIGUAÇU..........................................................................................
CESAR LUIZ PASOLD
CONTANDO COM UM CONTO ........................................................
DULCINÉIA FRANCISCA BECKHÄUSER
MULHER, SEXO FRÁGIL? ..............................................................
ERNESTINA FAIZER KURTH
MEUS, QUASE, HAICAIS ...............................................................
ESPERIDIÃO AMIN HELOU FILHO
A RAIZ EM BIGUAÇU ....................................................... ...............
HOMERO DA COSTA ARAÚJO
BOI DE BOTAS FUTEBOL CLUBE ................................................
JANICE MARÉS VOLPATO
LAPIDAR A ESSÊNCIA HUMANA ................................................
8
JOAQUIM GONÇALVES DOS SANTOS
HOMENAGEM AOS ACADÊMICOS ..............................................
JOSÉ RICARDO PETRY
MENSAGEM: POR CÔN. RODOLFO PEREIRA MACHADO ........
LEATRICE MOELLMANN PAGANI
ESPELHO........................................................... .............................
MARIA DO CARMO ANTUNES
DESEJO...........................................................................................
MIGUEL JOÃO SIMÃO
A ROSA QUE EU PERDI ................................................................
NORBERTO NAZARENO
ÁGUA DOCE..................................................................................
OSMARINA MARIA DE SOUZA
VOCÊ SABIA?... NA HISTÓRIA DE BIGUAÇU .............................
ROGÉRIO KREMER
AS ESCOLAS PAROQUIAIS DO ALTO BIGUAÇU – 1880/1937
STELA MÁRIS PIAZZA SOUZA
BILLY, O PERALTA........................................................................
TONI JOCHEM
NOS PERCALÇOS DA HISTÓRIA:
DO ALTO BIGUAÇU A ANTONIO CARLOS ...................................
VALDIRA MENDES
PRESENTO TRÊS MOTIVAÇÕES: A NATUREZA, SER
HUMANO E SER ANIMAL ..............................................................
VANDA LÚCIA SENS SCHÄFFER
ALGUÉM A PROCURA DE FELICIDADE ......................................
9
VERA REGINA DA SILVA DE BARCELLOS
VIDA DE POETA.............................................................................
VILCA MARLENE MERÍZIO
EU TAMBÉM ESCREVI CARTAS DE AMOR............... .................
ZELKA DE CASTRO SEPETIBA
CLARA E O CIRCO..............................................................................
ZENILDA NUNES LINS
JANELA PARA O SOL ...........................................................................
WILLIAM WOLLINGER BRENUVIDA
LUZ LEMBRADA II...........................................................................
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PREFÁCIO
Era uma vez, sim era uma vez... três mulheres,
ávidas de conhecimentos, querendo mudar a cultura de uma
cidade simples, pequena, porém com algumas pessoas que
queriam mudar o curso da história. Salvo melhor juízo,
imaginaram fundar uma Academia de Letras, e porque não?
Conversaram, almoçaram e daquela conversa surgiu a
"ACADEMIA DE LETRAS SÃO JOÃO EVANGELISTA DA
BARRA DE BIGUAÇU".
Que felicidade, quanta esperança, quanta coragem.
Daquele dia em diante, passamos a nos dedicar somente à
Academia de Letras. Isto era o dia 28 de setembro do ano
de 1996. Dia este, que passou para a história de Biguaçu.
Foi um marco na nossa histó ria. Criamos uma
Bandeira, com o símbolo de Biguaçu, (dois biguás), e com a
frase de minha autoria "O Sublime é ser". Por vários anos
elaboramos Antologias que mostram como é importante a
dedicação e o objetivo de se fazer algo.
E o tempo foi passando, e morreu a Vilma, uma das
fundadoras, morreram outros que marcaram época. Não
tínhamos um lugar ao sol, um lugar decente para que esta
Entidade funcionasse como deveria. Passamos por várias
salas atopetadas de entulho no Prédio "David Crispim Corre
a", onde muitas vezes choramos juntas a nossa desdita, o
desconforto e a desvalorização. Tudo bem...
Todo ano mudavam a nossa Academia de Letras,
mudavam de sala de depósito, entretanto, graças ao Mário
César, (Arquivo Público) , obtivemos um pedacinho de sala
onde passamos a funcionar, portanto, este moço, foi
escolhido como Sócio Emérito, passando a fazer parte da
Academia de Letras, assim como também a Secretária de
Educação Sra. Zulmara Gesser e o DD. Prefeito Vilmar
11
Astrogildo Tuta de Souza. Por fim conseguimos uma
salinha, pequena, porém acolhedora, onde tratamos logo de
colocar cortinas, armários, mesa e cadeiras (móveis
usados), porém dignos de uma Academia de Letras.
Era tudo o que podíamos fazer, não possuíamos
dinheiro, poucos foram, ou melhor, eram aquele s que
contribuíam para a Academia de Letras. Foi uma luta
constante, um trabalho árduo e difícil. Hoje, porém, estamos
a comemorar os 12 anos desta menina moça que é a nossa
Academia de Letras, e se Deus nos ajudar, ela há de
comemorar os cem (100), anos c om muitas festas e com
muitas honrarias.
Então de lá onde estivermos, haveremos de dizer em
tom musical. "Muito obrigada meu Deus". Muito obrigada,
por ainda existirem pessoas que sabem amar e salvar a
poesia. E neste momento sublime, em que estamos
passando para a posteridade, a nossa poesia, o nosso
amor, a nossa gratidão, eu passo a cantar baixinho:
"Naquele bairro afastado, onde criança vivias,
a remoer melodias, numa ternura sem par,
passava todas as tardes, um realejo
tristonho, passava como num so nho, um
realejo a tocar.
Depois tu partiste, ficou triste a rua deserta,
na tarde fria e calma ouço ainda o realejo a
tocar, ficou a saudade, comigo a morar, tu
cantas alegre e o realejo, parece que chora
com pena de mim..."
Foi assim a nossa História. Então, agora, passados
12 anos, reerguida, surgindo das cinzas feito Phoenix, o
nosso objetivo, é cada vez mais. Fazer da Academia de
Letras, uma casa de Cultura máxima, onde a qualidade
12
esteja sempre presente.
Dalvina de Jesus Siqueira (Estrela)
Presidente de Honra da Academia de Letras de Biguaçu.
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APRESENTAÇÃO
Uma antologia como esta, rica em belos
trabalhos engrandece a sociedade e me faz recordar a
observação do profeta Daniel : “Os que educarem a
muitos para a justiça, bri lharão para sempre como
estrelas” (Dn 12,3).
Ao assumir a responsabilidade de ajudar na
publicação da VII Antologia da Academia de Letras de
Biguaçu, a pedido do Presidente Joaquim Gonçalves
dos Santos, logo passei a receber todos os textos dos
acadêmicos e suas respectivas biografias.
O próximo passo seria encorajar o nobre
historiador Toni Jochem, também, acadêmico a
organizar o material recebido. De forma muito simpática
foi à aceitação do historiador e Acadêmico Toni
Jochem.
Nem todos os acadêmicos se d isponibilizaram
em elaborar um texto para a Antologia ; mas, os que se
lançaram no desafio de elucidar um tema entregaram
prontamente na data aprazada.
Coube ainda, ao Presidente da Academia Sr.
Joaquim Gonçalves dos Santos, solicitar alguns dados
faltantes aos acadêmicos.
Esta publicação além de contos, histórias,
poesias, prosas, temos um históri co da Academia de
1996 a 2008, com a relação dos acadêmicos e fotos
desde a fundação até a presente data. São fotos que
falam por si, relembrando o passado e o pr esente.
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Tenho a certeza que todo este trabalho da VII
Antologia, através de contos, crônicas, saga, histórias,
amor, registros, poesias vem demonstrar a beleza
destes textos e a potencialidade de nossa academia de
letras; além de mostrar o que a academia p roduz
apresenta também a sua história de 12 anos de
existência.
Todos que tiverem a oportunidade de ler a VII
Antologia, sentirão a beleza e o encanto dos textos.
Tenho a certeza que novos trabalhos virão e
engrandecerão a nossa Academia de Letras. Tudo i sto
servirá de estimulo para novas produções. É no que
acredito.
Boa Leitura,
Acadêmico Adauto Beckhäuser
HISTÓRICO DA ACADEMIA DE LETRAS DE
BIGUAÇU
"A Academia de Letras é a guarda de
nossa Língua e, portanto, ca ber-lhe-á
defendê-la do que é legítimo – do que
não vem do povo e os escritores –,
não confundindo moda, que mata,
com o moderno, que vivifica" .
Machado de Assis
15
O município de Biguaçu 1 começou a surgir
quando em 1748 imigrantes portugueses vindos do
Arquipélago dos Açores e da Ilha da Madeira, foram
assentados no lugarejo denominado de São Miguel da
Terra Firme. Mas seu crescimento foi lento ao longo
dos tempos. Distante 28 quilômetros de Florianópolis ,
Biguaçu 2 limita ao Norte: com os municípios de
1
SOBRE BIGUAÇU: Em 23 de janeiro de 1751, foi inaugurada a igreja de
São Miguel Arcanjo. A provisão que nomeia o primeiro vigário, Padre
Domingos Pereira Machado, para a freguesia de São Miguel é de 8 de
fevereiro de 1752. Embora de caráter temporário, a freguesia de São
Miguel foi a capital da capitania de Santa Catarina no período de 10 de
outubro de 1777 a 2 de agosto de 1778 quando os espanhóis a inda
ocupavam a ilha de Santa Catarina. Por ato do conselho Administrativo da
Província em primeiro de março de 1833, a freguesia de São Miguel foi
elevada a vila, e criado o município de Desterro (atual Florianópolis). A
instalação do município de São Mig uel ocorreu em 17 de maio de 1833.
Face à decadência econômica, aos freqüentes surtos de malária, ao
desmembramento de novas freguesias, São Miguel vai aos poucos
perdendo seu prestígio. No início da segunda metade do Século XIX,
surgia na margem direita d o rio Biguaçu, um povoado (atual cidade de
Biguaçu) que aos poucos crescia face as terras férteis, ao trabalho dos
colonos, da construção de uma igreja e de um cemitério em 1874, onde
resultou na criação de uma freguesia em 19 de dezembro de 1882, sob a
invocação de São João Evangelista. Lideranças políticas de Biguaçu
conseguem em 1886 transferir a sede do município para Biguaçu que fica
elevada à categoria de Vila. Em 1888, por decisão do governo da
Província, sede municipal volta para São Miguel, vindo a acontecer quase
no final de 1889 devido a relutância dos vereadores. Já no período
republicano, João Nicolau Born, consegue junto ao Governador do
Estado, a mudança definitiva da sede municipal de São Miguel para
Biguaçu
em
22
de
abril
de
1894.
Fonte:
http://www.bigua.sc.gov.br/index.php?item=historico – Consulta realizada
em 24 de julho de 2008. – Consulta realizada em 24 de julho de 2008.
2
ORIGEM DO NOME: Há algumas controvérsias quant o à origem do
nome da cidade. Uma versão afirma que é de origem indígena, que
significa “Biguá Grande”. Biguá é um pássaro aquático ainda hoje
16
Canelinhas e Tijucas; ao Sul: com o município de São
José; a Leste: com o município de Governador Celso
Ramos e o Oceano Atlântico; a Oeste: com os
municípios de Antônio Carlos e São João Batista.
A cidade de Biguaçu passou a crescer com a
instalação da Universidade do Vale de Itajaí – Univali3,
encontrado no rio Biguaçu. Já o Pe. Raulino Reitz (in memoriam) em seu
livro “Alto Biguaçu” (1988), apresenta a v ersão de que o nome deve -se a
uma árvore semelhante ao jambolão e chamada popularmente de
“baguaçu”. Atualmente, o jornalista da cidade Ozias Alves Júnior (JB
Foco), através de uma pesquisa que contou com a ajuda do Professor
Aryon D. Rodrigues, um dos mai ores especialistas em Tupi -Guarani do
Brasil, afirma que a origem do nome Biguaçu vem da Palavra
“Guambygoasu” que significa “Grande Cerca de Paus” ou “Cerca Grande”
(palavra de língua usada pelos antigos índios Carijós). Fonte:
http://www.bigua.sc.gov.br/index.php?item=historico – Consulta realizada
em 24 de julho de 2008.
3
A carência de ensino superior na região da Grande Florianópolis motivou
o inicio do processo de expansão da UNIVALI para a região Sul do Estado
no início da década de noventa. Naquele período, dezenas de ônibus se
deslocavam, da Grande Florianópolis, até a cidade de Itajaí com alunos
que buscavam acesso ao ensino superior, enfrentando as terríveis
condições da rodovia BR 101, e somando despesas. Nesse contexto foi
criado em 1991 o Campus de Biguaçu, com objetivo de atender a
demanda da região, além de produzir e viabilizar conhecimento, por meio
da pesquisa e extensão. Na época, ainda sem espaço físico, foram
ofertados os cursos de Ciências Contábeis e Direito. As aulas eram
ministradas no Grupo Escolar Alexandre Godinho, sendo depois
transferidas para o Colégio EDUCAR. A construção do Campus A, em
Biguaçu, aconteceu em 1993, quando então foi implantado, também, o
curso de Administração. Com estrutura física própria, a UNIVALI passou a
oferecer na Grande Florianópolis cursos nas áreas de Ciências Humanas,
Sociais Aplicadas e Jurídicas, além do curso de Segurança Pública, único
no Estado. A inauguração do Campus B acontece u alguns anos depois,
em 2000, abrigando os cursos de Pedagogia, Administração e Ciências
Contábeis. No ano de 2002, a UNIVALI instalou em Biguaçu a Clínica
Integrada de Atenção Básica à Saúde (Ciabs), que presta serviços à
comunidade e promove a formação do profissional em diversas áreas da
saúde, o que fortaleceu a vocação do Centro na área da Saúde. Nessa
área, são ofertados os cursos de Enfermagem, Fisioterapia, Psicologia e
17
no início da década de 1990. Este fato fez aumentar o
número de universitários que precisavam um lugar para
morar, levando a construção de vários prédios
residenciais para abrigar a demanda então surgida.
Além dos prédios residenciais, várias indústrias se
instalaram no Município, aumentando o n úmero de
emprego ofertado à população local. Antes desse fato ,
não raro os biguaçuenses recorriam a São José e
Florianópolis para trabalhar; ao assim agir , a cidade de
Biguaçu tornou-se mero dormitório.
Com o aumento no crescimento econômico e
social, a cidade passou a ter uma nova feição. Feição
esta que levou Dalvina de Jesus Siqueira a pensar
grande. Ela cogitou a possibilidade de criar na referida
cidade uma Academia de Letras. Para tanto, se lançou
em montar o estatuto provisório e a reunir poetas,
escritores, historiadores e outros intelectuais da
respectiva cidade e das imediações. Assim agindo, no
dia 26 de julho de 1996 , convidou a Sra. Vilma
Bayestorff e Osmarina Maria de Souza para um lanche
em sua residência e no dia 8 de agosto do mesmo ano
as recebeu para um almoço para dar estrutura e melhor
fundamentar o referido projeto de fundação da uma
Academia de Letras. Na ocasião ficou decidido que a
anfitriã, Senhora Dalvin a de Jesus Siqueira, seria a
Fonoaudiologia. Além desses, o campus mantém os cursos de
Administração, Ciênc ias Contábeis, Direito, Pedagogia, Segurança
Pública, Letras, Pedagogia – Educação Infantil e Séries Iniciais, e
Pedagogia
–
T&T,
divididos
em
dois
campi.
Fonte:
http://64.233.169.104/search?q=cache:4E_2fqlLcncJ:siaiweb22.univali.br/
asp/system/empty.asp%3FP%3D1764%26VID%3Ddefault%26SID%3DV8
%26C%3DV8+hist%C3%B3rico+univali+Bigua%C3%A7u&hl=pt BR&ct=clnk&cd=3&gl=br – Consulta realizada em 20 de agosto de 2008.
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primeira presidente 4. E deram o nome de Academia de
Letras de São João Evangelista 5 da Barra de Biguaçu.
4
Nominata da primeira Diretoria da Academia - Presidente: Dalvina de
Jesus Siqueira; Vice-Presidente: Zenilda Nunes Lins; Secretária:
Osmarina Maria de Souza; Tesoureiro: Zelka de Castro Sepetiba;
Conselheiro fiscal: Rogério Kremer; e Bibliotecário: Otávio Rosa.
5
São João Evangelista, o apóstolo "bem -amado". Um dos 12
apóstolos de Cristo e nascido em Batsaida, na Galiléia, autor do quart o
evangelho e conhecido como o discípulo que Jesus amava foi o único
apóstolo que acompanhou Cristo até a morte na cruz, ao lado de Nossa
Senhora, ocasião em que lhe foi confiada a tarefa de cuidar de Maria, a
mãe de Jesus. Pescador e filho do também pesca dor Zebedeu e de
Salomé, uma das mulheres que auxiliavam os discípulos de Jesus,
juntamente com o irmão mais velho, Tiago o Maior, foi convidado a seguir
Jesus, logo depois de Pedro e André. Um dos mais jovens apóstolos de
Cristo, ele e seu irmão, juntamen te com Pedro e André, foram os
discípulos privilegiados e participaram do círculo mais íntimo junto a
Jesus. Presenciaram a ressurreição da filha de Jairo, a transfiguração de
Jesus na montanha e sua angústia no Getsêmani. Os dois foram os
únicos apóstolos que ousaram pedir a Cristo que lhes fosse dado sentar
um à direita, outro à esquerda. Da resposta de Jesus "do cálice que eu
beber, vós bebereis" deriva a suposição de que os dois se distinguiriam
dos demais pelo martírio. Esteve em Jerusalém (37) e depoi s por ocasião
do Concílio dos Apóstolos, que se realizou em Antióquia. Após as
perseguições sofridas em Jerusalém, transferiu -se com Pedro para a
Samaria, onde desenvolveu uma intensa evangelização (8,14 -15). Mudouse para Éfeso (67), onde viveu o resto de sua vida, morreu e foi sepultado.
A partir dessa cidade, dirigiu muitas Igrejas da província da Ásia e
também ali escreveu (80 -100) o Quarto Evangelho, o último dos
Evangelhos canônicos, e as Epístolas, três cartas aos cristãos em geral.
De acordo com os Atos dos Apóstolos, quando acompanhou Pedro na
catequese dos Samaritanos, com ele foi convencido por Paulo a desistir
da imposição de práticas judaicas aos neófitos cristãos. Durante o
governo de Domiciano (81 -96), foi exilado (93 -97) na ilha de Patmos, no
mar Egeu, onde escreveu o Livro do Apocalipse ou Revelação, que é o
derradeiro livro da Bíblia, onde narrou as suas visões e descreveu
mistérios, predizendo as tribulações da Igreja e o seu triunfo final. O seu
evangelho difere dos outros três que são cha mados sinóticos ou
semelhantes, pois a sua narrativa enfoca mais o aspecto espiritual de
Jesus, ou seja, a vida e a obra do Mestre com base no mistério da
encarnação: o verbo feito carne e veio dar a vida aos homens. É o homem
19
A grandeza de pensamento e de ação de Dalvina
se projetou com grande entusias mo, de modo que
nenhum dos convidados para ocupar uma das cadeiras
declinou do convite. O grande impasse inicial foi
estabelecer um lugar como sede para a Academia,
lugar este que abrigaria os documentos e em cujas
dependências se efetuassem as reuniões acadêmicas.
Tudo isto foi resolvido aos poucos.
Montada toda a estrutura da academia passou em
efetuar em 1999 a organização e o lançamento da
primeira Antologia. Foi um sucesso. Outras mais 6
foram lançadas posteriormente com os seguintes
títulos: Primeira Antologia – 1999 – Um Passeio pela
Grande Florianópolis – Homenagem aos 500 anos do
Brasil; Segunda Antologia – 2000 – Sonhos de Outono;
Terceira Antologia – 2001 – Renascer da Primavera ;
Quarta Antologia – 2002 – Devaneios de Verão ; Quinta
Antologia – 2003 – Aconchego; Sexta Antologia – 2004
– Veredas Literárias. E agora, em 2008, está sendo
lançada a Sétima Antologia que tem como título:
Trajetória.
Na presidência da Academia, por 11 anos, esteve
Dalvina Siqueira de Jesus . Depois dessa data foi eleita
Presidente de Honra.
da elevação espiritual, mais inclinado à contemplação que à ação. De
acordo com Clemente de Alexandria, ordenou bispos em Éfesos e outras
províncias da Ásia Menor. Ireneus afirmou que os Bispos Polycarpo e
Papias foram seus discípulos. Os primeiros fragmentos dos escritos
Joanitas foram encontrados em papiros no Egito datando de princípios do
segundo século, e muitas escolas acreditam que ele tenha visitado estas
áreas. Aparece representado por Michelângelo na cúpula da Basílica São
Pedro,
em
Roma,
pela
imagem
da
águia.
Fonte:
http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_3422.html
–
Consulta realizada em 01 de agosto de 2008.
20
Osmarina Maria de Souza descreve com maestria
os fatos que levaram a fundação da Academia de
Letras:
Em uma manhã de 26 de julho de 1996, Vilma
Bayestorff e Osmarina Maria de Souza foram
convidadas pela amiga Dalvina de Jesus Siqueira
para um almoço em sua residên cia. O dia estava
lindo e o almoço muito mais saboroso que se pode
imaginar – um peixe ensopado, com feijão e
saladas, mas o pirão, meus amigos, feito pela
colega Dalvina que muito feliz agradecia a visita,
ao contrário virou farofa. Almoçando e com bom
papo tivemos a idéia de fundar uma Academia de
Letras em Biguaçu.
Já havíamos fundado a Associação dos Poetas,
Cronistas e Contistas Catarinenses, a Academia
de Letras de São José, por que não também
fundarmos uma em Biguaçu?
Da idéia, após o almoço partimos para sua
concretização. Primeiro vamos dar um nome a
esta casa e Dalvina nos disse: eu já tenho este
nome, porque acho que vamos homenagear a
cidade; deve se chamar ACADEMIA DE LETRAS
SÃO JOÃO EVANGELISTA DA BARRA DO RIO
BIGUAÇU.
O nome foi aceito e fomos então achar os
patronos para estas 40 cadeiras.
Algumas
horas depois já tínhamos esta relação pronta bem
como um rascunho do estatuto . Constituímos a
Primeira Diretoria; Presidente Dalvina de Jesus
Siqueira, Vice Vilma Bayestorff, Primeira
Secretária Osmarina de Souza, Segunda
secretária Dorinda Rabello Waltrick, Primeira
6
Tesoureira (Não me lembro) .
6
Texto inédito escrito por Osmarina Maria de Souza.
21
E nesta reunião passou -se a escolher as cores da
academia: cinza, azul e amarela. O respectivo símbolo
aprovado foi o do pássaro biguá, a bandeira azul com o
pássaro cinza e as letras amarelas. O lema escolhido:
“O sublime é ser”. Nesta mesma reunião ficou
estabelecido um total de 40 cadeiras, os seus
respectivos patronos, o valor a ser cobrado para as
despesas iniciais: beca, medalhas, diplomas. Com
relação aos patronos foram eleitos:
Cadeira 1 – Abelardo Sousa.
Cadeira 2 – Aderbal Ramos da Silva.
Cadeira 3 – Adolfo Konder.
Cadeira 4 – Altino Flores.
Cadeira 5 – Aníbal Nunes Pires.
Cadeira 6 – Antonieta de Barros.
Cadeira 7 – Luiz Delfino dos Santos.
Cadeira 8 – João da Cruz e Souza.
Cadeira 9 – Elpídio Barbosa.
Cadeira 10 – Alaíde Sarda de Amorim.
Cadeira 11 – Juvêncio Araújo Figueredo.
Cadeira 12 – Francisco Galloti.
Cadeira 13 – Fritz Müller.
Cadeira 14 – Geraldino Atto de Azevedo.
Cadeira 15 – Henrique Fontes.
Cadeira 16 – Holdemar de Menezes.
Cadeira 17 – Cônego Rodolfo Pereira Machado.
Cadeira 18 – Arnaldo de S. Thiago.
Cadeira 19 – João Crisóstomo Pacheco.
Cadeira 20 – João Nicolau Born.
Cadeira 21 – Jorge Lacerda.
Cadeira 22 – Vidal Mendes.
Cadeira 23 – Lausimar Laus.
Cadeira 24 – Paschoal Apóstolo Pitsica.
22
Cadeira 25
Cadeira 26
Cadeira 27
Cadeira 28
Cadeira 29
Cadeira 30
Cadeira 31
Cadeira 32
Cadeira 33
Cadeira 34
Cadeira 35
Cadeira 36
Cadeira 37
Cadeira 38
Cadeira 39
Cadeira 40
– Luiza dos Reis Prazeres.
– Maria da Glória Viríssimo de Faria.
– Mário Quintana.
– Manoel de Menezes.
– Maura da Senna Pereira.
– Nereu Corrêa de Souza.
– Nereu de Oliveira Ramos.
– Nila Sarda.
– Oswaldo Rodrigues Cabral.
– Othon da Gama Lobo D’eça.
– Padre Raulino Reitz.
– Dom Jaime de Barros Câmara.
– Thomé da Rocha Linhares.
– Lauro Locks.
– Virgílio Várzea.
– Visconde de Taunay.
Dessa forma, no dia 20 de setembro de 1996, às
20h30min, no Auditório do Centro Cultural David
Correa, em Biguaçu, foi realizada a Assembléia de
Fundação da Academia de Letras de São João
Evangelista da Barra de Biguaçu. Presentes a esta
assembléia estavam o Sr. Rogério Kremer, João Paulo
Rodrigues, Lauro Locks, Dalvina de Jesus Siqueira,
Vilma Bayestorff, Alaíde Sarda Amorim, Ana Maria Leal
Mendes e Osmarina Maria de Souza.
Posteriormente foi marcada nova reunião para
acertos finais, como a estruturação e aprovação dos
Estatutos da nova entidade.
Após onze anos a frente desta academia sucedeu
a Senhora Dalvina de Jesus Siqueira, no dia 29 de
junho de 2007, o Sr. Joaquim Gonçalves dos Santos,
23
como presidente para o p eríodo de 30 de junho de
2007 a 30 de junho de 2010 7.
Com o mandato de três anos, tem como meta
modernizar e criar um website para a Academia para
melhor comunicação entre os acadêmico s, elaborar o
novo Estatuto que ficou a cargo do Acadêmico Valdir
Mendes, já aprovado. O website ficou a cargo do
acadêmico Adauto Beckhäuser e está disponível para
consulta na rede mundial de computadores desde 16
de maio de 2008, no seguinte endereço ele trônico:
www.academiadeletrasbigucu.com.br . Foi também
elaborado um novo modelo de Diploma, bem como um
novo Brasão de Armas. Há um trabalho que deve ser
destacado: projeto Açores em Portugal. Nesse projeto
algumas acadêmicas se destacaram junto aos órgãos
Públicos. Foi um grande sucesso.
O trabalho desenvolvido pelo atual presidente é
digno de elogio como foi também o da ex -presidente,
Senhora Dalvina de Jesus Siqueira. A edição da VIII
Antologia, em comemoração aos 12 anos de existência
da Academia, revela a beleza nos textos e mostra a
grande atuação dos Acadêmicos na sociedade. Um dos
pontos altos desta administração foi a informatização
da Academia. Trabalho este de grande importância na
atualidade. A partir do website houve uma maior
7
Nominata com todos os membros da diretoria. Presidente: Joaquim
Gonçalves dos Santos; Vice-Presidente: Zenilda Nunes Lins; Secretária:
Vera Regina Silva Barcellos; Tesoureiro: José Braz da Silveira;
Assessor Jurídico: Valdir Mendes; Assessor Cultural: Neusita Luz
Azevedo Churkin; Bibliotecária: Janice Marés Volpato; Conselho Fiscal:
Dalvina de Jesus Siqueira; Homero Costa Araújo; Miguel João Simão;
Stela Máris Piazza Souza; Zelka de Castro Sepetiba. Presidente de
Honra: Dalvina de Jesus Siqueira.
24
comunicação entre os acadêmicos que viram seus
trabalhos serem mais amplamente divulgados.
Enumeramos, a seguir, as realizações e projetos
para 2008 da nova Diretoria da Academia de Letras de
Biguaçu:
1 – Aquisição de um computador, cedido pela
Prefeitura Municipal de Biguaçu.
2 – Instalação de internet, cedida também
pela referida prefeitura.
3 – Aquisição de uma impressora, esta, feita
pela própria Academia.
4 – Aquisição de um telefone, instalado pela
Prefeitura de Biguaçu, número: (48) 3279 8044.
5 – Aprovação de um novo estatuto. Já
distribuído após o Registro.
6 – Realização de Projeto Missão Açores II.
Já realizado. Com prestação de contas
pendente junto ao Governo Estadual.
7 – Elaboração da Antologia 2008, apenas
aguardando o lançamento.
8 – Expediente da Academia no período
vespertino de segunda -feira a sexta-feira. No
momento, cumprido quando possível.
9 – Está sendo feito o chamamento de
acadêmicos afastados.
10 – Posse de novos acadêmicos.
6 empossados.
11 – Festividades de 12 anos de criação a
Academia. Está sendo providenciada,
conforme planos.
25
12 – Elaboração do website, já disponível no
seguinte
endereço
eletrônico:
www.academiadeletrasdebigu acu.com.br
HOMENAGEM PÓSTUMA
“A morte não é nada. Eu só passei para o
outro lado do caminho. Eu sou eu, vocês são
vocês. O que eu era para vocês, eu continuo
sendo. Me dêem o nome que vocês sempre me
deram, falem comigo como vocês sempre fizeram.
Vocês continuam vivendo no mundo das
criaturas, eu estou vivendo no mundo do Criador.
Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a
rir daquilo que nos fazia rir juntos. Rezem, sorriam,
pensem em mim. Que meu nome seja
pronunciado como sempre foi, sem ênfa se de
nenhum tipo, sem nenhum traço de sombra ou
tristeza.
A vida significa tudo o que ela sempre
significou, e o fio não foi cortado. Porque eu
estaria fora de seus pensamentos, agora que eu
estou apenas fora de suas vistas? Eu não estou
longe, apenas estou do outro lado do caminho” .
Santo Agostinho
26
A diretoria da Academia de Letras gostaria de
fazer homenagem póstuma a:
* Dorinda Rabelo Meiss Waltrich – Falecida no dia
12 de junho de 2008;
* Hermelinda Izabel Merizi – Falecida no dia 12 de
fevereiro de 2008; e a
* Solange Rech – Falecido no dia 29 de janeiro de
2008, bem como a todos os demais acadêmicos
falecidos anteriormente:
* Vilma Bayestorff – Falecida em 14/01/2000;
* Durval Borba Neto – Falecido no dia 06/07/2001;
* Lauro Locks – Falecido no dia 24/02/2004;
* Otacílio Schüller Sobrinho – Falecido no ano de 2006; e
* Otávio Rosa – Falecido em 10/09/2007.
27
ADAUTO BECKHÄUSER
Data Nascimento: 29 de julho de 1944. Filiação: Gabriel Carlos
Beckhäuser e Maria Vieira Beckhäuser . Naturalidade: Tubarão -SC.
Nacionalidade: Brasileiro . Profissão: Advogado militante desde 1995.
Funções exercidas: – Professor Adjunto IV aposentado pela
Universidade Federal de Santa Catarina. – Professor Universitário do
Curso de Pedagogia de Joinville, na Associação Catarinense de Ensino. –
Professor Universitário da Unisul. – Diretor de Escola Secundária da Rede
Estadual. – Professor da rede estadual e particular de Ensino Médio. –
Atualmente presta Assessoria Jurídica para grandes Empresas da Capital
e de todo o Estado de Santa Catarina. Atuante como advogado no
escritório, sito à Rua Tenente Silveira, n. 200, sala 405, Centro,
Florianópolis-SC, desde o ano de 1975 até a presente da ta. Atuante nos
Tribunais de 1º e 2º graus, nas esferas Federal e Estadual.
Formação – Graduação Superior: – Filosofia pela UFSC,
Florianópolis-SC. – Pedagogia pela Fumbá, Bagé -RS. – Direito pela
UFSC, Florianópolis -SC.
Pós-Graduação – Especialização: – Mestre em Direito pela
Universidade Federal de Santa Catarina. – Mestrado em Direito Tributário
pela Universidade Federal de Santa Catarina. – Tecnologia Educacional
pela Universidade Federal de Santa Catarina. – Cours de Langue
Française Heures – Universite Catholique de Belgique – Institut des
Langue Vivante – Belgique (Bélgica).
Curso CAPES: – Português, registro de professor de 1º e 2º
graus. – Desenho, registro de professor de 1º e 2º grau s.
Doutorado: – Doutorando “Doctorat spécial em Droit, Faculté de
Droit – Université Catholique de Louvain -la-Neuve – Belgique”. –
Doutorando em Direito pela Universidade do Museu de Buenos Aires –
Argentina, em convênio com a UNISUL.
Trabalhos realizados: – Dissertação de Mestrado: Sistema
Jurídico Estatutário X Consoli dação das Leis do Trabalho. – Tese: Le
Regime Juridique de Funcionaire Publique Bresilien e Belgique (Etude
Comparative du Statut Juridique du Fonctionnaire Public Dans le Droit
Bresilien et Dans le Droit Belge. – Tese: A Prova no Direito Civil Brasileiro.
28
– Publicação Livro: História da Família Beckhäuser no Brasil ; lançado em
26/11/2006, sendo impresso na Nova Letra, Gráfica e Editora, em
Blumenau-SC. – Livro "A Trajetória de 1862 à 2008 : A fuga da fome e da
miséria salva a família Beckhäuser nas duas grandes guerras", no prelo.
– Músico. – Presidente da Associação da Família Beckhäuser , de 2004 à
2010.
Acadêmico: Adauto Beckhäuser
Nascimento: 29-07-1944
Cadeira nº: 02
Posse: 14-05-2008
Título: Escritor / Advogado
Endereço: Rua Tenente Silveira, 200, Ed. Atlas, Sala 405, Centro,
Florianópolis-SC
CEP: 88010-300
Fone: (48) 3222-7781
E-mail/Site: [email protected] /
www.advbeckhause r.com.br
Patrono: Aderbal Ramos da Silva
Título: Político / Orador
SAGA DO IMIGRANTE
JOHANN KARL BECKHÄUSER
Em 1862, Johann Karl Beckhäuser, com 36 anos de
idade nascido em 09 de setembro de 1826, juntamente com
sua esposa Maria Elisabeth Kropp nascida em 20 de
setembro de 1834, com 28 anos de idade e grávida de oito
meses, emigraram para o Brasil, na esperança de dias
melhores para sua família, que já era composta por duas
filhas: Philippine, com quatro anos de idade, e Elizabeth,
com nove meses. No entanto, já haviam perdido o primeiro
filho de nome Johann Karl, ainda, na Alemanha, em 16 de
29
abril 1856, mesmo dia de seu nascimento.
O casal Johann Karl Beckhäuser e Maria Elisabeth
Kropp saiu de Bierkenfed na Alemanha e seguiu para a
Antuérpia na Bélgica. Lá, no dia 20 de junho de 1862, a
bordo do Navio César, de bandeira belga, os dois iniciaram
a viagem rumo ao Brasil, onde desembarcaram no porto do
Rio de Janeiro, em 08 de julho de 1862 8. Posteriormente, em
19 de julho de 1862 9, a bordo de uma em barcação de nome
desconhecido, seguiram viagem rumo ao Sul do país, com
destino a Desterro (hoje Florianópolis), no Estado de Santa
Catarina, junto a mais 128 colonos.
Ao chegar em Desterro, o casal foi destinado à
Colônia Santa Isabel, onde, assim que che gou, Johann Karl
Beckhäuser comprou terras ao lado das de Miguel Kropp.
Miguel Kropp era irmão de Maria Elisabeth Kropp. Mas, por
que os dois irmãos compraram terras contíguas? Há
algumas hipóteses: Uma delas aponta para a possibilidade
de Miguel Kropp ter vindo anteriormente para o Brasil e
escrito para sua irmã, Maria Elisabeth Kropp, falando das
vantagens da emigração. Outra hipótese é a de que vieram
juntos para o Brasil devido à propaganda feita pelo governo
brasileiro, de que aqui encontrariam terras férteis. A primeira
hipótese é a mais plausível porque na lista dos imigrantes 10,
em que consta Johann Karl Beckhäuser, não está inserido o
nome de Miguel Kropp, dos Schuchs. Mas é preciso
empreender novas pesquisas.
Sobre a família Kropp, sabe -se que o pai de Maria
Elisabeth, João Karl Kropp, casado com Anna Katharina
8
Segundo Certidão de Nascim ento de Karl Eduard. Certificado por Cópia
Conforme do registro nas Atas do Estado -Civil n. 10. Rio de Janeiro, 11 de
julho de 1862 do Cônsul Geral da Bélgica, Edouard Pecher.
9
Transcrição Peleográfica das Correspondências do Ministério da
Agricultura para Presidente da província, do ano de 1861/1862, n. 50.
APESC.
10
Idem.
30
Schwickert, em 05 de fevereiro de 1829 11, teve cinco filhos:
1 – Anna Maria Dorothea Kropp – nascida a 15 de
novembro de 1829, faleceu em 10 de janeiro de 1846 12;
2 – Maria Elisabeth Kropp – nascida a 20 de
setembro de 1834, casou -se em 31 de maio de 1855 com
Johann Karl Beckhäuser – nascido a 09 de setembro de
182613;
3 – Johann Michael Kropp – nascido a 24 de
fevereiro de 1838 e migrou para o Brasil 14;
4 – Maria Philippina Kropp – nascida a 15 de
agosto de 1841 15;
5 – Katharina Kropp – nascida a 05 de maio de
1846, casada com Joseph Franz, nascido em 05 de maio de
184616.
Tudo indica que as vantagens alegadas para emigrar
foram de tamanha força que superaram as vantagens de
permanecer em solo alemã o.
O casal de imigrantes Johann Karl e Maria Elisabeth
teve um filho durante a viagem para o Brasil, a bordo do
navio Cesar. Trata-se de Karl Eduard Caesar Beckhäuser,
nascido no dia 08 de julho de 1862; seu nascimento foi
registrado no Consulado Belga, Ri o de Janeiro, no dia 11 de
julho de 1862 17. Tudo indica que ele foi ali registrado, por ter
nascido a bordo de um navio de bandeira daquele país.
11
Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld,
Alemanha. Registro n. 940, p. 194. APB.
12
Idem.
13
Idem.
14
Idem.
15
Idem.
16
Idem.
17
Conforme consta na respectiva Cert idão de Nascimento. Certificado por
Cópia Conforme do registro nas Atas do Estado -Civil n. 10. Rio de
Janeiro, 11 de julho de 1862, do Cônsul Geral da Bélgica, Edouard
Pecher.
31
Chegados ao Rio de Janeiro, foram encaminhados
pela Diretoria das Terras Públicas e Colonização, do
Ministério das Navegações, da Agricultura, Comércio e
Obras públicas para cidade de Desterro 18.
Quando do envio dos imigrantes, foi encaminhado
um comunicado ao Presidente da Província de Santa
Catarina; no qual se fez constar:
“Nesta data seguem para essa Província
cento e vinte e oito colonos, constantes da
relação inclusa, os quais Vossa
Excelência fará estabelecer nas Colônias
do Governo, a que derem preferência, e
concedendo-lhes os mesmos favores a
que outros se têm feito em casos
semelhantes. Deus Guarde a Voss a
Excelência, João Luiz Vieira, 19 de julho
de 1862” 19.
A Colônia Santa Isabel foi fundada em 1847 por
imigrantes oriundos, em sua maioria, da região do Hunsrück
e estava localizada a aproximadamente 50 quilômetros de
Desterro, às margens do Caminho das Tr opas, que ligava o
Litoral ao Planalto Serrano catarinense. Na época, a
produção agrícola da colônia era bastante diversificada:
mandioca, milho, feijão, batata, algodão, café e cana.
Após 1850, com a Lei das Terras, não mais eram
concedidos gratuitamente os lotes de terras aos imigrantes.
Eles tinham que adquiri -los por compra, com seus próprios
recursos. Johann Karl Beckhäuser adquiriu suas terras na
região de Taquaras, uma das linhas da Colônia Santa
Isabel. Ali, teve que abrir clareira na mata virgem pa ra
18
Correspondências do Ministério da Agricultura para Presidência da
Província, do ano de 1861/1862. APESC.
19
Idem.
32
construir sua casa, onde passou a abrigar a sua esposa,
suas duas filhas e o filho nascido a bordo do navio. Por
sorte, as terras da colônia não apresentavam baixa
fertilidade. Todavia, nem por isso as coisas foram fáceis
para a família Beckhäuser. Tudo dependia do trabalho, da fé
e da esperança de Johan e Maria Elisabeth, qualidades que
não os deixavam esmorecer diante das dificuldades.
Não se sabe a razão, mas provavelmente no final da
década de 1860, Johann Karl migrou de Taquaras para o
Vale do Capivari, exatamente, para o Rio Sete.
Aos poucos, a família foi crescendo. Em 08 de julho
de 1865, nasce Anna Maria e, em 1867, Guilhermina 20. Ao
todo, agora eram cinco os filhos da família Beckhäuser, que,
a considerar o natimorto, compôs -se da seguinte maneir a:
1 – Karl Beckhäuser (este já havia falecido);
2 – Philippine Beckhäuser;
3 – Elizabeth Beckhäuser;
4 – Eduard Caesar Beckhäuser;
5 – Anna Maria Beckhäuser;
6 – Guilhermina Beckhäuser.
Após o nascimento de Guilhermina, morre a mãe
Maria Elisabeth, aos 34 anos de vida, vítima de
complicações no parto. Ela faleceu em data ignorada e o
mesmo se verifica com relação ao cemitério onde foi
sepultada.
Tudo indica que Maria Elisabeth era uma mulher de
muita coragem, espírito de luta e abnegação. Somente seis
anos foram suficientes para comunicar o seu projeto de vida
nova aos seus diletos filhos, o qual foi legado posteriormente
aos netos, bisnetos, trinetos e tataranetos.
20
Guilhermina posteriormente teve o filho chamado Guilherme, nascido
em 13 de dezembro de 1893. Livro de Registro de Batismo da Paróquia
de Teresópolis, n. 4, folha 64, Livro de 1888 a 1895. AHESC.
33
Viúvo, novamente a fé de Johann Karl levou -o a não
esmorecer com a perda da mão amiga de s ua esposa Maria
Elisabeth, sua grande incentivadora e companheira. Ele
agora se via sozinho nos cuidados com sua família. Nem
com os filhos poderia dividir essa responsabilidade, visto
que a filha mais velha tinha apenas 11 anos de idade 21.
Johann Karl morava a doze lotes das terras da
família Schug, cujo patriarca era Peter Schug. Este também
havia emigrado da Alemanha, juntamente com sua filha
Margareth Schug e mais outros familiares. Com a morte de
Maria Elisabeth, Johann Karl veio a se casar com Margaret h
Schug, com quem teve outros cinco filhos:
1 – Bernard Peter Beckhäuser;
2 – Johann Peter Beckhäuser;
3 – Peter Beckhäuser;
4 – Johann Beckhäuser;
5 – Heirinch Beckhäuser.
O casamento foi oficiado em local ignorado, assim
como a data de sua realização.
Nada fácil para a jovem Margareth Schug, na época
com 20 anos de idade; ela, de imediato passou a cuidar das
cinco crianças deixadas por Maria Elisabeth. Esse número
aumentava ao longo dos anos, à medida que nasciam os
seus filhos com Johann Karl Beckhäuse r. O primeiro filho
desse novo casamento, Bernard Peter, nasceu em 08 de
abril de 1870, o que reforça a suspeita de o casamento de
Johann Karl e Margareth ter acontecido entre 1868 e 1869.
21
Esta situação veio a se repetir com Gabriel Carlos Beckhäuser, filho de
Karl Eduard Caeser, neto de Johann Karl. Com o falecimento de Corina
Mendonça, Gabriel se viu diante de seis filhos menores, sendo que a mais
velha possuía 13 anos de idade. E com a coragem e a fibra Bec khäuser,
enfrentou a morte de sua amada Corina. E logo veio a se casar com Maria
Vieira Beckhäuser, que com muito amor e carinho passou a cuidar dos
filhos do primeiro casamento e a criar seus oito filhos.
34
Uma década e meia depois, em 1885, falece o
imigrante Johann Karl, aos 59 anos de idade 22, deixando
todas as tarefas para Margareth. Desconhece -se o local de
seu sepultamento, mas, provavelmente, tenha sido em Rio
Sete, em São Bonifácio -SC, onde residiam. Com muita fé e
amor a sua família, Margareth teve força para enfrent ar as
duras penas da época e a tarefa de dar seguimento ao
caminho traçado por Johann Karl para seus filhos.
Pouco tempo depois do falecimento de Johann Karl,
Margareth veio a se casar com João Heikes, casamento que
gerou a filha de nome Antônia Heikes, na scida no ano de
188623, que, por sua vez, casou -se com Pedro Scheidt.
Margareth, a segunda esposa de Johann, nasceu na
Alemanha em 1848 e veio a falecer no dia 02 de julho de
1913, aos 65 anos de idade 24. Está sepultada no cemitério
luterano da comunidade do Alto Rio Sete, Município de São
Bonifácio-SC.
Os filhos da primeira esposa de Johann, agora
também sem o pai, contavam apenas com a dedicação de
Margareth, a madrasta, que procurava suprir a ausência de
Maria Elizabeth. Verifica -se, no entanto, que houve um
grande afastamento dos filhos da primeira esposa dos da
segunda, bem como o afastamento de todos os filhos do
primeiro e do segundo casamento de Johann Karl, por
discordarem do casamento de Margareth com João Heikes.
Em conseqüência do afastamento físic o, passaram não mais
a manter contatos e a família literalmente se dispersou.
Em certa ocasião, numa festa em São Martinho, Karl
Eduard Caesar Beckhäuser, um dos filhos do imigrante
22
Certidão de óbito de Margareth Schug: n. 46, f. 18, Livro n. 02-C, do
Cartório de Registro Civil de Águas Mornas -SC.
23
Idem.
24
Após busca no cartório de Águas Mornas, descobrimos que Margareth
Schug faleceu no dia 02 de julho de 1913, foi enterrada no Cemitério
Protestante em Auto Rio Sete, Município d e São Bonifácio-SC.
35
Johann Karl, encontra uma pessoa de idade respeitável que
teria vindo de Urubici, na serra catarinense. Após
conversarem, indagou aquele senhor: “sabes que tu és meu
irmão?” Fato este relatado por muitos da família.
Com o passar do tempo, os filhos de Johann
constituíram suas próprias famílias :
Filhos da primeira esposa:
1 – Philippine Beckhäuser – nascida a 09 de maio
de 1957, em Hambach, casada com João Batista May;
2 – Elizabeth Beckhäuser – nascida a 27 de
setembro de 1859, casada com Christoph Schmoeller, seu
segundo casamento foi com Bernard Schmoeller, o terceiro,
em 25 de fevereiro de 1908, com Pedro Meurer na Igreja
Matriz de São Ludgero -SC;
3 – Karl Eduard Caesar Beckhäuser – nascido a 08
de julho de 1862, em navio de bandeira Belga, casado com
Anna Aurora Arns;
4 – Anna Maria – nascida em 08 de julho de 1865,
casada com Bernardo Kühlkamp, foi para a região de São
Martinho, Armazém e São Ludgero 25;
5 – Guilhermina Beckhäuser 26;
Filhos da segunda esposa:
1 – Bernard Peter Beckhäuser; (nascido em 08 de
abril de 1870) casado com Bernardina Eyng permaneceu em
São Martinho 27;
25
Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis encontrei no livro
1862-1876, fls. 29 n. 298. AHESC.
26
Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livro 1888 -1895, fls.
64, n. 4. AHESC. Guilherme nasceu dia 13 de dezembro 1893; P ai: João
Baptista May e mãe Guilhermina Beckhäuser; avós maternos Carlos
Beckhäuser e Maria Elisabeth Kropp.
27
Registro de Batismo d a paróquia de Teresópolis, livro 1888 -1898, fls.
114, n. 118. AHESC.
36
2 – Johann Peter Beckhäuser; (nasceu em 16 de
agosto de 1871) residiu em Águas Mormas e dele não
temos mais informações 28.
3 – Peter Beckhäuser; (nascido em 16 de agosto de
1871) casado com Joanna Schmoeller subiu a serra e foi
residir em Urubici-SC29;
4 – Johann Beckhäuser; (nascido em 18 de março
de1873) casado com Auguste Grunfeld seguiram o Rio
Hipólito-Orleans e depois para Forquilhinha-SC30;
5 – Heinrich Beckhäusen – (nascido 09 de abril de
1875) seguiu para Porto Alegre, passando a se assinar
Beckhausen31.
A FAMÍLIA BECKHÄUSER ainda hoje está muito
dispersa. Com a fé e a esperança de Johann Karl, levar -se-á
a bom termo a união de todos.
Johann Karl não teria suportado a perda de sua
amada Maria Elisabeth, se não tivesse o apoio de seu
cunhado Miguel Kropp e da família Schug, que, num gesto
de amor e carinho, abençoou o casamento de Margareth.
Quando Margareth faleceu, em 05 de junho de
191332, já casada com João Heikes, deixou uma filha, de
nome Antônia Heikes, nascida no ano de 1886, com 27 anos
de idade.
Há, no entanto, um fato a questionar: teria mesmo
alguém testemunhado a morte de Johann Karl Beckhäuser?
28
Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livr o 1876 fls. 81, n.
60, n. 4. AHESC.
29
Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livro 1888 -1898, fls.
117, n. 151. AHESC.
30
Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livro 1862 -1876, fls.
99, n. 69. AHESC.
31
Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livro 1862 -1876, fls.
116, n. 17. AHESC.
32
Registro de Óbito n. 46, f. 18, do livro n. 02 -C, do Cartório de Registro
Civil de Águas Mornas -SC.
37
Há informações de que o mesmo havia desaparecido por
muitos anos juntamente com uns escravos. Ele carregaria
consigo muitas moedas de ouro. A pós muito tempo do seu
desaparecimento, foi considerado morto e Margareth Schug
resolveu se casar novamente em 1885.
São questões nunca antes cogitadas. Será que
Johann Karl Beckhäuser separou -se de Margareth Schug ou
ele veio a falecer antes do segundo ca samento de
Margareth Schug? A busca de informações continua.
Embora, Mas acreditamos que os dados da certidão de óbito
de Margareth sejam verdadeiros.
Por ironia do destino, com a morte de Margareth
Schug, o ponto de apoio da família Beckhäuser passou a se r
João Heikes, o segundo esposo de Margareth, motivando a
dispersão dos filhos Beckhäuser. Foi ele mesmo quem
efetuou o registro de óbito, em cujo documento fez constar
que a residência do casal era em Rio Sete, em São
Bonifácio, alegando também que Margar eth deixou bens a
partilhar.
Em Taquaras, na Colônia Santa Isabel
Não é fácil explicar por que algumas pessoas
abandonaram o seu lar, a sua pátria, para emigrar. Uma
razão comum e, talvez até simples demais, é a busca por
uma vida melhor. Já no Brasil, cada imigrante de posse de
sua terra, tratava de fazê -la produzir para não ter que sofrer
mais tarde com as privações deste novo mundo. E o árduo
início na mata virgem pode ser descrito assim:
“Enquanto as mulheres e as crianças
ficavam no acampamento, o s homens
com os filhos e as filhas mais crescidos
38
iam para as suas propriedades a fim de
torná-las
habitáveis.
Providos
de
machado, foice e facão, cada qual com
sua carga de mantimentos às costas,
marchavam mato adentro até os seus
terrenos. Lá, construíam , primeiramente,
um pequeno rancho para o qual o mato
fornecia tudo. Depois, ocupavam -se de
preparar um pequeno pedaço de terra
para a plantação.
Enquanto os filhos menores derrubavam
os arbustos e pequenas árvores, os pais
punham abaixo, a machadadas, os
gigantes da floresta e as filhas cuidavam
da cozinha.
Nesse trabalho, gastavam semanas até
que um bom pedaço de mato estivesse
derrubado. A espingarda nunca ficava
longe da mão.
Tão logo o mato derrubado estivesse seco
e o tempo fosse favorável, queimava -se a
roça. Era uma beleza ver como o fogo
levantava labaredas até a copa das mais
altas árvores que haviam ficado de pé.
Depois, escolhia-se um lugar próximo a
uma fonte d’água, o qual era limpo e
preparado para se construir ali uma
casinha, para toda a fam ília.
Buscavam-se
moirões
que
eram
enterrados e, depois, folhas apropriadas
de uma espécie de palmeira, para
cobertura. Logo após, faziam-se paredes
com ripas amarradas com cipó, as quais
eram, então, cobertas com barro
amassado. Em pouco tempo, a casinha
39
estava pronta.
O transporte, depois, dos móveis para a
Colônia não era tarefa fácil. Como o
caminho do acampamento para a Colônia
ainda não havia sido construído, não
passando de uma picada muito primitiva,
não se podia pensar em transportar os
nossos trastes em carroças ou em lombo
de burro. Tudo tinha que ser conduzido
nas costas por várias horas.
Enquanto a mãe levava os filhinhos no
colo, ou uma cesta com roupa de uso, as
filhas carregavam as roupas maiores ou
alguns baldes e panelas enfiados no
braço, o pai e o filho mais velho seguiam
atrás carregando um pesado caixão
amarrado a um pau que levavam nos
ombros. Como tudo tinha que ser
transportado dessa maneira para a
Colônia (lote), passava -se muito tempo
até que o último objeto estivesse em casa.
E a família começava, então, a semear e
a plantar verduras, cereais, preparando -se
para enfrentar o futuro.
Nos primeiros anos, certamente, as coisas
não iam às mil maravilhas; passava -se
muita necessidade, mas depois de
algumas colheitas, tudo melhorava. Dia
após dia a clareira na mata virgem ia se
alargando e tomando forma; cada vez se
plantava mais e a fartura ia se acentuando
entre os moradores” 33.
33
SCHAUFFLER H. (Org.). “Da vida de um alemão no Brasil. Crônica de
Mathias Schmitz”. In: Blumenau em Cadernos. Blumenau, Tomo VII. N.
12, pp. 248-249.
40
Em nova terra – Rio Sete
Na Colônia Santa Isabel, nas imediações da
localidade de Taquaras, instalados em terras em que os
acidentes geográficos abundavam e a fertilidade do solo era
aquém do esperado, alguns colonos ficaram completamente
desencorajados, fator que os levou a migrar para outras
terras dentro do Estado de Santa Catarina.
Johann Karl não pensou d uas vezes e saiu em busca
de novas terras, porém, de melhor qualidade, onde pudesse
assentar definitivamente a sua família. Em comum acordo
com sua esposa, passou a planejar a migração da Colônia
Santa Isabel, para Vale do Capivari, exatamente no Alto -Rio
Sete, hoje município de São Bonifácio -SC. Lá, o casal
encontrou terras consideradas mais férteis e de melhores
condições em relação às da região de Taquaras.
Mas, o destino lhe pregou mais uma peça: a perda
de sua amada Maria Elisabeth. Isso dificultou a m igração da
Região de Taquaras para o Vale do Capivari. Se era algo
difícil de se realizar com a ajuda de sua amada, agora, sem
ela um turbilhão de problemas se projetava diante da família
Beckhäuser, quase sem solução.
Contudo, a garra do alemão Johann Kar l e a ajuda da
família de Miguel Kropp, seu vizinho de lote na colônia, lhe
deram o apoio necessário para que um novo rumo fosse
dado em sua vida.
Muitos eram os questionamentos que o afligiam: “o
que fazer com cinco crianças menores, uma recém -nascida,
sem sua amada que o alentava nos momentos mais
difíceis?” Johann Karl Beckhäuser, sentindo a solidão e a
responsabilidade de criar estes cinco filhos menores em
41
terras brasileiras, resolveu se casar novamente.
A solução estava a 12 lotes de distância; lá, mo rava
a Família de Peter Schug, com uma numerosa prole. Sua
preferida, sua eleita foi outra imigrante alemã, Margareth
Schug, com 20 anos de idade. Embora considerada nova
ainda para receber tamanha responsabilidade de cuidar dos
cinco filhos do viúvo Johan n Karl.
Após o casamento, ele iniciou outra migração, agora
para o Vale do Capivari. Com todas as dificuldades o novo
casal começou tudo de novo. Em 1868, munido de
espingarda, munição, facão e da determinação que herdara
de seus ascendentes alemães, meteu -se mata-virgem a
dentro, abriu picada, atravessou o morro e, depois de alguns
dias, encontrou entre as nascentes do Rio Cubatão e do rio
Capivari um lugar que lhe lembrava Birkenfeld.
Lá, construiu uma pequena cabana coberta de palha.
Era o Capivari do Meio, à margem direita. No entanto, não
se estabeleceu por ali imediatamente, teve que voltar para
buscar algumas ferramentas, como foice e machado, para
derrubar um pedaço daquela mata. Com sua coragem e fé
em Deus, mais uma vez, enfrentou sozinho aquela ma ta.
Depois de queimar a roça, iniciou sua viagem de volta para
a nova casa, a pé, pela segunda vez. Num cargueiro de
burro, trouxe sementes de milho, batata inglesa, feijão,
mudas de aipim, sementes de laranja, de bergamota, de
pêssego e mudas de grama par a a pastagem dos animais.
Depois de tudo plantado, construiu uma cabana
maior, fabricou uma mesa, bancos e camas de madeira
bruta e os cobriu com palmito rachado. Tudo estava pronto
para a recepção da família.
Duas cestas de taquara, jacás, eram suficiente s para
transportar os pertences da família de Johann Karl: por
baixo, a louça e panelas; por cima, os cobertores,
travesseiros e lençóis; e finalmente, por cima de tudo isso,
Karl Eduard Caesar, Ana Maria e Guilhermina, todos
42
pequenos. E seguiam, a pé com a nova mãe Margareth, e
as duas outras filhas, Philippine e Elisabeth. Colocados os
jacás no lombo de um burro, lá se foram o pai, Johann Karl e
a mãe Margareth com os filhos, a pé, mata adentro, pela
picada aberta pelo facão do pioneiro de garra.
Sem medo dos bugres e animais selvagens,
dormiram duas noites em plena mata virgem, a céu aberto.
Na época, a mata-virgem era rica em caça: pacas,
tatus, veados, jacupembas, jacus, macucos; em pesca e,
também, frutos do mato: o coração do palmito substituía as
verduras. A carne fresca excedente era transformada em
carne seca, o charque selvagem. Tudo isso era saboreado
com o feijão, a batatinha e o aipim plantados pelo precavido
pai Johann Karl.
Não estava ainda completa a mudança. Desta vez,
carregou o burro com dois porquinhos, galinhas, mudas de
café e de uvas e conduziu uma vaquinha.
Nada mais faltava agora à família unida no Vale do
Capivari, rodeada de bugres, animais selvagens, mas de
outro lado, da bela natureza. Tudo isso debaixo do céu azul,
à noite, iluminado pelas estrelas cintilantes do Cruzeiro do
Sul.
Como vimos, no Vale do Capivari, o novo casal
Johann Karl e Margareth teve cinco filhos, a saber: 1 –
Bernard Peter; 2 – Johann Peter; 3 Peter; 4 – Johann; e 5 –
Henry.
Esta foi a saga de Johann Karl Beck häuser.
43
ALFREDO DA SILVA
Natural de Rio da Prata, Anitápolis -SC, com 1º e 2º graus a partir
da terra natal, passando por Criciúma, Tubarão e Lages, onde concluiu na
Escola Técnica de Comércio de Lages o curso de Técnico em
Contabilidade iniciad o na Escola Sena Pereira, Estreito, Florianópolis,
quando servia o Exército Brasileiro, no 14º BC, o 63º BI. 3º grau, Bacharel
e Licenciado em História . Posteriormente, Bacharel em Direito e PÓS GRADUAÇÃO, com Mestrado, pela Universidade Federal de Santa
Catarina. Exerceu também as profissões de comerciário, radialista como
locutor e rádio ator (Rádio Tuba , de Tubarão, Rádio Diário da Manhã de
Lages e de Florianópolis, Rádio Guarujá de Florianópolis, além da
colaboração na antiga Rádio Anita Garibaldi e Rád io Jornal a Verdade
também de Florianópolis).
Professor da Escola Técnica Sena Pereira, Instituto Estadual de
Educação, Escola Técnica Federal de Santa Catarina, Fundação
Educacional do sul do Estado, originária da UNISUL e da Universidade
Federal de Santa Catarina, nas cadeiras de História e de Sociologia. Foi
também assessor do Conselho Estadual de Educação no governo do
ilustre e conceituado político, Antônio Carlos Konder Reis.
Atualmente membro da Associação de Imprensa de Santa
Catarina, Academia de Letras de Biguaçu, Cadeira Dom Jaime de Barros
Câmara, Presidente do Clube dos 100, Coqueiros, Florianópolis -SC e
advogado militante na grande Florianópolis, com escritório em Biguaçu SC.
Acadêmico: Alfredo da Silva
Cadeira nº: 36
Posse: 14-05-1998
Título: Escritor / Advogado
Currículo: Sim
Endereço: Praça Nereu Ramos, n....., Centro, Bi guaçu-SC
CEP: 88160-000
Fone: Não informado
E-mail/Site: www.advocaciaassociada.com.br/alfredo
Patrono: Dom Jaime de Barros Câmara
Título: Orador
44
OS DOIS MUNDOS DE MARIA -NAIR
“Gostaria de ressaltar que não existe
apenas uma vida interior, mas várias, à
medida que retornamos no tempo (...).
Para Nietzsche, o conceito de
renascimento é um ponto de mu tação
na história da humanidade. (...) .
Recordações de vidas anteriores e
reencarnação, ainda não são encaradas
com naturalidade para nossa concepção
do mundo. A partir de suas experiências
de regressão com pacientes voluntários,
(...) busca-se comprovação experimental
da doutrina da reencarnação (...)
responde as exigências de fundamento
34
e de comprovação científica” .
________________
PLURARIDADE DAS EXISTÊNCIAS.
I REENCARNAÇÃO (...)
34
A Regressão a Vidas Passadas Como Método de Cura – A
Comprovação Experimental da Teoria da Reencarnação . THORWALD
DETHLEFSEN, Psicólogo diplomado pela Universidade de Munique .
Editora Pensamento, São Paulo, 1976.
45
“Em cada nova existência o espírito dá
UM PASSO NO
C AMINHO DO
PROGRESSO: Quando se tenha
despojado – de todas as imperfeições
não mais necessitará de novas as
provas
na
vida
corporal
(...)
35
reencarnação” .
Os Dois Mundos de Maria -Nair, tem a finalidade
de revelar parte de suas relações vividas durante a su a
estada aqui na terra, no período de 1913 a 2007, que
intitulamos como o PRIMEIRO MUNDO e informações
extraídas através dela, nas sessões realizadas com
amigos e momentos outros em que como médium
revelava acontecimentos de suas VIDAS PASSADAS e
de juntamente com outras pessoas com as quais teve
relacionamentos que intitulamos O SEGUNDO
MUNDO.
Entretanto, ressalta -se que quaisquer nomes,
personalidades ou locais aqui mencionados, se
coincidirem com os realmente existentes ou tenham
existido, são mera coin cidência.
Vale lembrar aqui, o grande literato HUMBERTO
DE CAMPOS, que após a sua partida para o “outro
mundo”, como espírito, passou a aproveitar a
mediunidade de FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER,
escrevendo crônicas e assuntos importantes que
despertou a curios idade pública e também certo
desconforto e ambição por parte de seus familiares,
35
Cap. IV do Livro dos Espíritos de Allan Kardec, pseudônimo de Denizar
Hipplyte Leon Rivail, página 83, obra, “Allan Kardec – O Caminho da
Verdade”. Opus Editora Ltda. S ão Paulo.
46
ainda vivos, que moveram uma ação em juízo para
apurar os fatos, tendo como réus, A Federação Espírita
Brasileira que publicava e o Chico Xavier que era o
intermediário. “Produções do médio (...), referentes ao
espírito de Humberto de Campos, foram publicadas em
‘Reformador’, órgão da federação e a parti r de 1937,
reunidas em volumes” 36.
Voltemos aos Dois Mundos de Maria -Nair.
Portanto, em aproximadamente mil novecentos e
treze, um casal do Império Germânico, resolve deixar a
Alemanha onde residia, e vir para o Brasil tendo -se
fixado provisoriamente em Campo Alegre, Santa
Catarina, cuja paisagem fertilizada e pela natureza,
com suas cascatas e pinheirais até hoje são o encanto
de seus habitantes e visitantes, juntamente com seus
filhos, um menino de quatro anos e uma menina de um
ano, que chamaremos de Valquíria, comparando -a com
as “Valquírias” deusas germânicas que protegiam os
rios e as florestas, por ter também seus lindos ol hos
azuis e cabelos loiros, sedosos como os cabelos de
milho-verde, menina esta que é a PERSONAGEM
deste conto. O pai biológico, engenheiro da Estrada de
Ferro São Paulo-Rio Grande, que aqui permaneceu
pouco tempo, pois foi vitimado por uma das araucárias
que derrubava para abrir a estrada, falecendo
imediatamente. A mãe também teve vida curta,
deprimida com a morte do marido não suportou os
encargos que exigia a nova terra em que estava
vivendo, desprovida de um apoio e assistência social,
36
A Psicografia Ante os Tribunais , de MIGUEL TIMPONI, Federação
Espírita Brasileira, 4ª. Ed., Rio de Janeiro, pág. 33.
47
também faleceu e pela sombra dos pinheiros do alto da
serra Dona Francisca, seguiu o mesmo destino de seu
amado. Coube ao Juiz de Direito da Comarca,
pertencente a notável família do Rio de Janeiro,
magistrado em São Bento do Sul, dar destino aos dois
menores. Homem porta dor de muita bondade resolveu
ficar com o menino levando -o como filho no seu retorno
para Guanabara, menino esse que se tornou médico e
como alemão legítimo, por incrível que pareça, tornou se expedicionário brasileiro, servindo no corpo médico
da Força Expedicionária Brasileira (FEB), na luta contra
os alemães na Segunda Guerra Mundial. A menina,
Maria-Nair, também foi criada como filha legítima por
um casal de Florianópolis, que em São Bento do Sul,
estava como visitante de parentes que eram amigos do
magistrado. Deram-lhe todo o carinho, assistência,
educação em instituição de grande conceito na Capital
Catarinense, formando -se normalista e chegou a atuar
como professora e depois foi funcionária pública federal
até a aposentadoria. Faleceu em dois mil e s ete com
noventa e quatro anos de idade, como brasileira
legítima, filha de descendentes de açorianos, tendo
como pai, alto funcionário público federal e homem
muito conceituado, que tinha como recreação a
pescaria, liderava e ajudava muitos pescadores do
litoral, embora fosse amigo do Capitão dos Postos. A
mãe, embora do lar, tinha além do pai uma parentela
militar com elevados postos e trabalhos de grande
reconhecimento na História do Brasil. Dentre eles o
General Liberato Bittencourt.
Este O PRIMEIRO MUND O DE MARIA-NAIR,
que ainda faremos referências no prosseguimento.
48
Agora com a permissão dos senhores leitores,
este conto prossegue, destacando várias passagens
marcantes do SEGUNDO MUNDO DE MARIA -NAIR.
Para não contrariar ninguém, procuremos
primeiramente a salvação no ECUMENISMO do Papa
João XXIII, com todo o respeito à infinidade de
religiões.
É onde encontramos agasalho para justificar OS
DOIS MUNDOS DE MARIA -NAIR, consolidado na
filosofia e na metodologia científica do Espiritismo,
codificado por Allan Kardec no séc. XIX e também
numa das áreas teóricas e práticas da Psicologia que
envolve o princípio da reencarnação. Foi por intermédio
de nossa personagem, que era MÉDIUM de alto grau
de sensitividade e de pessoas de seu relacionamento,
que temos informações de seu segundo mundo. É
como se estivesse predestinado, um casal, sem filhos,
vivendo na ilha de Santa Catarina, naquela data,
resolvesse passar alguns dias, com familiares que
moravam em São Bento do Sul, para encontrar a filha
que já lhes havia per tencido em vidas passadas,
noutras partes do mundo. Na Arábia, por exemplo, o
pai, cheique do deserto, com grande poder de
liderança. A que passou a ser sua mãe também fora
num grupo de ciganos, na Espanha ela, desde menina
foi à atração do grupo, como bai larina e deleitava o
povo pelos lugares e países por onde passava o “grupo
gitano”. Na Espanha, um de seus elementos vendeu
um anel de jade para Don Pablito, senhor feudal, com
grande propriedade que cultivava azeitonas e nossa
personagem, a menina bailari na tentou recuperar a jóia
que era de sua mãe, foi perseguida por bravos
49
cachorros da fazenda que lhe danificaram uma das
pernas, não mais podendo dançar.
Esse que na época era o Grande Senhor Feudal
Espanhol e exportador de olivas que produzia para o
continente europeu, aqui, no primeiro mundo, também
veio encontrá-la e por ela e sua mãe agasalhado em
seu próprio lar onde juntos viveram por muitos anos.
Essa mesma pessoa, num grupo cigano em vida
passada, havia sido neto da velha cigana chamada
Giovana, que quando neste primeiro mundo de Maria Nair, imediatamente convidou -o para morar com elas,
mãe e filha, deixando -lhe a disposição em quarto de
hóspedes e doravante tratando -o como se ainda lhe
fosse o “neto do passado”.
E nesse lar, através da mediunidade de MariaNair, é que foi despertado para a Fé em Nossa
Senhora de Guadalupe, pelo guia dela, Francisco de
Assis, espírito de um frade franciscano, que foi
missionário no México e nos Estados Unidos da
América do Norte e toma conhecimento da existência
de uma gruta em homenagem a Nossa Senhora de
Guadalupe, doada pela família Reitz, à Paróquia de
Biguaçu inaugurada em 1995 e até hoje visitada pelos
fiéis.
A mesma pessoa, que por muitos anos também
divulgou a Fé a “VIGENCITA DE GUADALUPE”, como
dizia o Frei Franciscano, já mencionado, através da
antiga Rádio Diário da Manhã, – na hora do ângelus –
às 18 horas de cada dia que provavelmente, alguns dos
leitores ainda tenham recordações. Por sua casa
também passou conhecido de vida passada na Rússia
onde ela (nossa personagem), era a Princesa Olga, um
50
cidadão que também pertencia aos meios de
comunicação, mais que lá, por ela havia se
apaixonado, como oficial integrante das forças do Tzar,
mas foi banido pelo comandante geral “Korsako”, que
dela também gostava.
E o antigo Senhor Feudal, já mencionado,
naquela época, na Rússia e junto dela, também estava
naquela encarnação, mas como um humilde “mojique”,
serviçal plantador de trigo sofrendo as conseqüências
de um “terceiro mundo”, como até hoje acontece. A
estória de Maria-Nair também revela que uma de suas
vidas passadas ela chegou a ser heroína da História
Universal como Izabel de Castela que por união política
casou com Fernando de Aragão. Foi rainha da
Espanha e destacou -se na luta pela expulsão dos
mouros, união do território espanhol e influente na
descoberta e colonização do Novo Mundo.
E quem ela veio encontrar também neste seu
primeiro mundo, aqui, Ilha de Santa Catarina, o próprio
Fernando, que segundo informações, por ela se
apaixonou, pedindo -a até em casamento, o que por ela
sempre foi negado, pois revelava que sua missão era
dar assistência a seus pais.
A sua estória do SEGUNDO MUNDO ainda é
muito longa. Como também, natural da China chegou a
ser mulher de um embaixador francês, voltou para a
espiritualidade ainda muito jovem. Dessa passagem
não temos informações mais detalhadas. Tem outro
acontecimento muito importante de outra vida que ela
teve nos Estados Unidos da América do Norte, época
da colonização e desbravamento do oeste, como filha
de um Pastor Evangélico, que com sua família resolveu
51
dar assistência aos colonizadores. Em viagem para o
oeste foi trucidada por um grupo hostil de índios pele vermelha, sendo a única que se salvou, escondida
debaixo do carroção. Por ali passando um grupo de
guerreiros de outra tribo levou -a e a criou até a
adolescência. Mais tarde a entregaram para outro
pastor que a levou para o México confiando -a a uma
família mexicana, para lhe dar continuidade na vida
civilizada. Entretanto, no norte, deixou uma
comunidade indígena que a amava e que já lhe havia
transmitido grande parte de sua cultura, saindo de lá
como pele-vermelha loura para o mundo dos astecas.
Já no México, ela retornou em outra vida, como
filha de um casamento misto. Mãe asteca e pai pele vermelha, que possuíam uma fazenda na Serra Madre
chamava-se Manolita. Mas sofria muito, quando descia
ao povoado, e certa vez que chegou até a ser
apredejada, perseguida pelo fato de ser mestiça.
Juntamente com a família foi chacinada por um grupo
de bandoleiros que at acou a fazenda. Sua mãe só teve
tempo de enrolar seu irmãozinho menor em um
cobertor, descer até a divisa da fazenda e escondê -lo
debaixo de um cacto gigante, retornando para lutar e
morrer com os demais familiares e peões.
Os bandoleiros procuraram o tes ouro da Serra
Madre, segundo deduções até hoje ainda não
encontrado.
O Frei Francisco, já mencionado, que por ali
passava retornando de uma missão, encontrou o
menino e o levou para um convento onde foi criado por
uma freira a Madre de Las Dolores, batiz ado com o
nome de Miguelito, que aos cinco anos de idade era o
52
encanto de todos, com seus cabelos negros e cor dos
olhos coberto por um sombreiro aparecendo somente à
costeleta e as franjas. Era o maior tocador dos sinos da
capela. Determinado dia, quando o frei voltava das
missões, encontrou o menino já moribundo que deu
sua despedida, com apenas dez anos de idade
perdendo o frei, temporariamente, o filho que achou e
criou, pois também morreu, depois de catequizar várias
tribos de índios pele -vermelha, e vários índios e peões
originários dos astecas, dando assistência religiosa em
grande parte do território mexicano, que envolvia
também grande parte dos Estados Unidos. Magro,
cansado, hábito marrom surrado, pisando sobre
espinhos, partiu apenas com trinta e oito anos de idade,
com expressão radiante longo e negro bigode e olhares
penetrantes e na espiritualidade Miguelito já estava lhe
esperando.
Neste segundo mundo de Maria -Nair, este, como
espírito, foi o frei da Ordem dos Frades Menores
(OFM), natural do México, mais que aqui no primeiro
mundo de Maria-Nair chegou e permaneceu como seu
guia e protetor até o seu desencarne em meados de
dois mil e sete e através de sua mediunidade, durante
mais de meio século, muita caridade praticou, de ordem
moral e espiritual, sempre no anonimato, sendo esta a
primeira vez que se toma a liberdade de revelar que
nessa missão arrebanhou e trouxe consigo enorme
falange de outros frades desencarnados, irmãos da
Ordem Terceira, índios pele -vermelha, astecas, incas,
guaranis
e
tupinambás,
espanhóis,
ciganos,
portugueses, brasileiros de todos os níveis nas escalas
sociais quando viventes na terra. Ainda crianças, ex -
53
escravos africanos, hindus, árabes, que poderíamos
até revelar seus nomes e não e não o fazemos por uma
questão de ética.
A Maria-Nair tinha sempre ao seu lado o menino
da Serra Madre, com seus cabelos negros e seu
sombreiro colorido, acompanhado do Frei Francisco,
que nas doutrinas que proferia e em todas as vezes
que reunia suas falanges espirituais, e através de
Maria-Nair evocava Jesus, Nossa Senhora de
Guadalupe, (Vigencita de Guadalupe) como dizia no
seu suave e cantante espanhol mexicano. Sem
esquecer também de São Francisco de Assis.
O encanto de Maria -Nair, em vida, neste seu
PRIMEIRO MUNDO era visitar a grut a de Nossa
Senhora de Guadalupe, na estrada Biguaçu - Antônio
Carlos já mencionada, nesta paróquia de São João
Evangelista, que na literatura espírita encarnou no
século XIII na Família Bernardone , na Itália, e pelo seu
trabalho cristão tão reconhecido tor nou-se São
Francisco de Assis pela Igreja Católica Apostólica
Romana.
Neste seu PRIMEIRO MUNDO – em dois
séculos, XX e XXI – Maria-Nair não constituiu família e
se dedicou à caridade.
Voltando para o Segundo Mundo e reencontrou
a sua família espiritual.
TODOS NÓS TEMOS DOIS MUNDOS COMO
OS DE MARIA-NAIR. UM QUE VOLTA A SE ABRIR
QUANDO CHEGAMOS... OUTRO QUE VOLTAMOS A
REVER NA HORA DE PARTIR.
54
VINDO DA ALEMANHA AINDA MENINA . ELA
AQUI CHEGOU COM A BELEZA LOIRA DAS
“VALQUÍRIAS”. E O NINHO QUE ENCONTROU N A
ILHA DO DESTERRO . FOI UM BERÇO PORTUGUÊS
DE “ALÉM-MAR”.
A GERMANIA DESAPARECEU...
FAMÍLIA É A QUE CRIA
EM REGRESSÃO ESPIRITUAL
TEVE MUITO A NAVEGAR.
PALMILHOU CONTINENTES JÁ VIVIDOS
MUITOS JARDINS... COM MUITA FLOR
Foi cigana, índia, princesa, r ainha,
chinesinha, esposa de embaixador
Distribuiu muito amor.
E aqui e agora com mais de noventa
Acabou sozinha.
Para o seu outro mundo
não partiu... quis voltar
Deixou muita gente chorando
a professora que tanto ensinou a amar
tanto no mundo de lá
quanto no mundo de cá
BRILHA COMO ESTRELA DO MAR!
ALZIRA MARIA SILVA DOS SANTOS
Alzira Maria da Silva dos Santos nasceu aos 05 de julho de 1950.
Filha de Oscar Silva e Nair Bunn Silva é natural do Município de
55
Biguaçu/SC, onde cresceu, estudou e viveu a maior parte da sua vida.
Formou-se normalista em 1970 no Colégio Normal Professora Maria da
Glória Veríssimo de Faria. Gosta de crianças, de flores, do mar e de
escrever poesias.
Alzira descobriu a afinidade pelas letras quando, em Joinvile,
onde atuou três anos como professora, fez duas paródias das músicas
“Lencinho” e “Jardineira” para apresentação das crianças, em
comemoração ao aniversário daquela cidade. Em 1999, em Biguaçu,
olhava a neblina, ou serração que vem do rio -mar conforme dizem,
através da janela da cozinha de sua casa, inspirou -se, pegou um
guardanapo e uma caneta e escreveu um dos seus primeiros poemas,
intitulado “Nebliguá”. Nunca mais parou de escrever. Quando a inspiração
abre as portas, saem de seu coração lindos poemas, em su a grande
maioria, enfatizando a terra natal, seus lugares, sua natureza. Alzira tem,
em muitas de suas poesias, o desafio de chamar a atenção para a defesa
do meio ambiente, e também o valor cultural da cidade que nasceu.
Também chama atenção para o cuidad o com as nossas crianças, o
folclore, entre outros temas. E assim, de verso em verso, Alzira vai
descrevendo seus costumes, seu povo, sua preocupação com o mundo.
Acadêmica: Alzira Maria Silva dos Santos
Nascimento: Não informado
Cadeira nº: 29
Posse: 14-05-2008
Título: Poetisa
Endereço: Rua Justino Adalberto Leal, 57, Biguaçu -SC
CEP: 88160-000
Fone: (48) 3243-4170
E-mail/Site: Não informado
Patrono/Patronesse: Maura da Senna Pereira
Título: Poetisa
Nebliguá
56
Oh! Neblina gelada
É fácil te encarar
Porque só descortinas
Aqui no nosso lugar.
Começas no Morro da Bina
E no Centro resolves pairar
Pois ao chegar na Praia de Baixo
O sol já começa a brilhar.
O povo já te conhece
Cerração que vem do rio -mar
Sabemos no dia seguinte
Que o sol é de rachar.
Vens chegando de madrugada
Quando o povo já foi se acomodar
E ao sairmos cedinho
Tu vens livre e baixinha
Querendo nos congelar.
Neblina de nosso inverno
Garoa ou cerração
Faz parte da natureza
És própria dessa estação.
Gostamos como tu és
Causando-nos muita atração
Porque os nativos daqui
Te admiram com emoção.
57
Biguaçu
Quando falo de Biguaçu
Algo forte bate em meu peito
Defendo tudo que tens de bom
Pois para mim não tens defeito.
Tens um clima especial
Propício para hortaliças
As frutas são saborosas
E as flores são belíssimas.
Em Biguaçu a natureza se esbalda
Com rios, cachoeiras e o mar
Ainda tem floresta nativa
E montanhas verdejantes sem par.
O povo de Biguaçu é hospitaleiro
É solidário na alegria e na dor
Ampara pessoas cada uma do seu jeito
Desde o humilde até o doutor.
Biguaçu parece pequeno
Aí que estamos enganados
É grande por natureza
E de gente boa está habitado.
Grandes enchentes alagavam a cidade
Para sair de casa só de bateira
Certa vez uma embarcação lotada
Quase morreu uma família int eira.
58
Tinha uma ponte toda de ferro
Cartão postal do nosso lugar
Embaixo dela as tocas de peixes
Que os homens pescavam prá se sustentar.
Que saudades das tropas de bois
Das carroças e das ciganadas
As crianças corriam atrás deles
E dos cavaleiros levava m relhadas.
O grupo escolar José Brasilício
Este era igual nosso lar
Estudávamos com entusiasmos
Lá aprendemos ler, escrever e amar.
Na praça havia grandiosas festas
Com touradas, parques e barraquinhas
Os alto-falantes mandavam mensagens
Para namoradas, amigas e vizinhas.
Ah! O cinema foi demolido
A Alameda deu lugar ao progresso
O clube 17 de maio pede socorro
Mas para o BAC ainda temos ingresso.
Biguaçu tem muita história
E também bastante cultura
Parabéns aos que aqui trabalharam
Com sabedoria e mu ita bravura.
Duas características fortes tu tens
59
Os Biguás e a gelada cerração
Como os dois são obras de Deus
Agradecemos em oração.
Biguaçu tem uma Bandeira
Com orgulho te hasteamos
Para defender este chão querido
Do município que tanto amamos.
O padroeiro de Biguaçu
É São João Evangelista
Interceda por todos nós
No progresso e nas conquistas.
CESAR LUIZ PASOLD
Advogado, Professor e Escritor. Membro das: Academia
de Letras de Biguaçu; Academia de Letras de Palhoça; e,
Academia Desterrense de Letra s.
Acadêmico: César Luiz Pasold
Cadeira nº: 24
Posse: 25-06-2004
Título: Escritor / Advogado
Endereço: Caixa Postal 223, Imbituba -SC
CEP: 88780-000
Fone: Não informado
E-mail/Site: [email protected] / www.advocaciapasold.com.br
Patrono: Paschoal Apóstolo Pitsica
Título: Escritor
60
CONTANDO COM UM CONTO
Ajeitado, preguiçosamente, na cadeira de
balanço cujo respaldar era um trançado branco e no
assento havia uma almofada puída, Maurício olhou a
ponta do cigarro apagado, respirou bem fundo e, em
seguida, começou a falar manso.
...
Era dia três.
De dezembro.
De um mil e novecentos e trinta e dois, eu acho.
Marisa azucrinava o marido, reclamando da sua
inércia, comodismo, preguiça e falta de ambição.
As duas figuras eram, fisicamente, muito
diferentes.
Ela, 25 anos, corpo farto, rosto redondo e lindo
como de uma boneca gorda de porcelana, cabelos
castanhos escuros contribuin do para ressaltar os olhos
azuis claros, e sempre vestida com roupas que exibiam
pelo menos três cores fortes diversas. Do lar, as suas
prendas principais eram coser e cozinhar.
Da primeira, o destaque era a habilidade em
recuperar roupas rasgadas de uma forma praticamente
perfeita, tanto que somente um olhar muito concentrado
e previamente informado se tornava capaz de
identificar o local do dano antes existente no tecido.
61
Na cozinha os seus pratos famosos entre os
parentes, vizinhos e amigos eram a galin ha ao molho
pardo, o bife à milanesa (feito com alcatra por ela
escolhida pessoalmente no açougue do Ari) e o
macarrão ao sugo, cuja massa compunha com especial
maestria, e cujo molho era de tomate ao natural, bem
picado e bem cozido.
Ele, o marido, tinha corpo franzino, mas
surpreendentemente dotado de força e vigor, cotovelos
exageradamente ossudos, rosto pálido e muito vincado
para um homem de 30 anos, cujo cabelo preto
correspondia rigorosamente à cor de seus olhos.
A sua atividade profissional era a d e mascate,
vendendo sal e farinha de mandioca para as biroscas
de toda a região, na qual era conhecido como Jonas
Magro.
Pois, a bronca de Marisa naquela noite era
cantilena repetida: afinal faltavam só treze contos para
o total necessário à compra do t erreno na esquina da
rua Colombo com a Praça Independência, bem no
centro da vila.
Comprada a terra, o pai de Marisa, comerciante
próspero, com promessa já feita e expressa mais de
uma vez, daria o dinheiro para a construção da casa
própria.
O marido respondeu, berrando como sempre
quando nervoso, que não queria esmola do sogro.
A conversa morreu ali.
Deitaram-se amuados, em posições ressentidas,
um em cada canto da cama de casal.
62
Na madrugada, Marisa acordou, confirmou o
sono profundo do marido pelo ress onar contínuo e
rítmico e levantou-se, mesmo assim, cautelosa.
Puxou, vagarosa e o mais silenciosamente
possível, o bauzinho que estava debaixo da cama e,
perto da janela, sob a luz da lua cheia contou o
dinheiro.
Não acreditou!
Eram já cento e vinte e nove contos de ré is!
Faltava apenas um conto!
Recontou e confirmou: o marido não lhe havia
dito – porque ela não lhe dera chance - que ganhara
mais dinheiro e o que faltava, agora, era muito pouco:
apenas um conto... repetiu mentalmente.
Voltou à cama, aco rdou suavemente o marido e
fez, com ele, um ato de amor ardente e completo, como
nunca dantes nos oito anos de casados, haviam
consumado.
Readormeceram nus, de mãos entrecruzadas,
corpos suados e unidos, no centro da cama de casal.
De manhã, Violeta acord ou sentindo a sensação
estranha de algo muito frio e rígido colado a seu corpo:
o marido estava morto... o coração dele havia parado
subitamente!
Já no enterro, o pai de Marisa, informado da falta
de apenas um conto, prometeu o valor e reafirmou a
construção da casa.
Terreno comprado. Casa construída. Marisa,
viúva e grávida.
O menino nasceu, cresceu, tornou -se adulto.
Marisa faleceu, sempre viúva, com 60 anos.
63
O terreno foi negociado pelo solteirão, único filho
e herdeiro de Marisa, em troca de apartamentos na
futura construção.
...
Amassando enfim, no cinzeiro, com a mão
esquerda, aquele cigarro apagado, enquanto que com
mão direita raspava uma pequena lágrima, Maurício
concluiu:
– É por isso, Mimi, que tenho estes três
apartamentos neste majestoso edifício, e
graças ao aluguel que recebo em dois
deles eu me mantenho em velhice serena,
ainda que simples. É por isso, também,
que este edifício se chama Condomínio
Um Conto de Réis.
...
Mimi, a gata, tendo cessado o ronronar
habitualmente incompre ensível de seu dono, levantou se lânguida e calmamente foi perseguir a barata que
estava procurando esconder -se sob o armário da sala
de estar.
DULCINÉIA FRANCISCA BECKHÄUSER
Data Nascimento: 11 de agosto de 1947 . Filiação: Manoel
Inocêncio Martins e Albertina Francisca Martins . Estado Civil: Casada .
Naturalidade: Florianópolis -SC. Nacionalidade: Brasileira . Profissão:
Professora.
Funções Exercidas : – Gerente de Tecnologias Educacionais no
período de 1995 a 1988. – Diretora de Tecnologia Educacional . – Gerente
de Pesquisa e Inovação da Diretoria do Ensino Superior. Gerente do
64
Ensino Superior. – Secretária da Associação da Praia Brava (período
2000 a 2002). – Secretária do PMDB / mulher Florianópolis . – Presidente
do PMDB / mulher Florianópolis (durant e 3 mandatos). – Secretária do
PMDB / mulher – Estadual (durante 2 mandatos) . – Delegada do mesmo
partido PMDB (durante 6 mandatos) . – Presidente do Conselho de
Segurança nas seguintes localidades: Jardim Santa Mônica – Parque São
Jorge – Córrego Grande – Jardim Anchieta – Pantanal – Trindade. –
Diretora do Colégio Estadual Lauro M üller (cargo eletivo) em 1985. –
Reeleita Diretora do Colégio acima citado em 1990 com 99% da votação.
– Atualmente desenvolve Trabalho Voluntário na Comunidade – Instituto
Lagoa Social – Idosos. Jardim Santa Mônica – Diretora Social e
Comunitária do Conselho de Segurança. – Atualmente exerce a função de
Secretária do Jardim Santa Mônica e membro do Conselho Diretor do
mesmo.
Formação - Magistério: – Licenciada em Letras: Português ,
Literatura Portuguesa e Brasileira, Francês, Literatura Francesa.
Curso de Especialização: – Comunicação e Expressão
Português Francês – UFSC. – Mestrado em Metodologia do Ensino na
Bélgica – 1983 a 1985. – Cours de Langue Française Heures – Universite
Catholique de Belgique – Institut des Langue Vivante – Belgique (Bélgica).
– Lecionou 18 anos Francês – Português, 1º e 2º Grau. – Literatura
Francesa e Portuguesa. – Cursou Escola de Governo e Cidadania durante
um ano – Total de horas aulas e trabalhos com defesa, 148hs, 2003.
Cursos de formação continuado: – Seminário Estadual sobre
Segurança Pública – julho 2003. – Proposta Curricular do Estado de
Santa Catarina. – Tecnologias Educacionais. – Curso de Gestão
Educacional e Gerencial. – Curso Qualidade Tota l na Educação. – Artista
Plástica.
Acadêmica: Dulcinéia Francisca Beckhäuser
Nascimento: 11/08/1947
Cadeira nº: 33
Posse: 14-05-2008
Título: Escritora / Artista Plástica / Professora
Endereço: Rua Tenente Silveira, 200, Ed. Atlas, Sala 405, Centro,
Florianópolis-SC
CEP: 88010-300
Fone: (48) 3222-7781
E-mail/Site: [email protected]
Patrono: Oswaldo Rodrigues Cabral
Título: Historiador
65
Mulher, sexo frágil?
Sabemos que dia 08 de março foi escolhid o para
ser o Dia Internacional da Mulher porque nessa data
em 1857, quando as mulheres já trabalhavam nas
fábricas de tecido houve em uma fábrica de Nova York
uma greve de mulheres.
A primeira greve de mulheres do mundo
reivindicava as condições de trabalh o e salários, se
recusavam a trabalhar, ficando dentro da fábrica.
Os patrões vendo que não era possível expuls álas não tiveram dúvidas, mandaram incendiar o prédio
queimando-as vivas.
Depois de sofrerem durante séculos a condições
de escravas dos homens. As mulheres do século XX
passaram a conquistar o seu espaço na sociedade,
equiparando-se ao homem. É evidente que sempre
ouve famílias onde há muitos homens que tratam sua
mulher como companheira, com amor, consideração e
respeito, pois toda regra sempre há exceções. Mas
grande parte a situação da mulher era submissão ao
homem. Após a Segunda Grande Guerra, a mulher
conseguiu sua emancipação e hoje as mulheres
ocupam os mais importantes cargos na indústria,
comércio, empresa, na administração pública. Até nas
forças armadas a mulher está ocupando seu espaço.
Já na política em pleno século XXI a mulher deveria ter
seu espaço com maior conotação. Sim porque somos a
maioria e ainda temos apenas cotas para as mulheres
poderem ser candidatas, mulheres no mundo i nteiro
66
entusiasmaram, aplaudiram e no fundo, ficaram um
tanto orgulhosas com a posse recente da chilena
Michelle Bachelet e a da alemã Ângela Merkel no posto
máximo do poder político em seus países. No Brasil o
número de representantes na política é muito pouco.
Haja vista o número de representantes no país, estados
e municípios. Porém do ponto de vista dos eleitores a
situação é diferente. Estudos realizados em vários
países mostram que o eleitorado acredita que políticos
são mais éticos do que políticas. Mas isso em tese.
Porque na teoria a situação é outra. Nós mulheres
ainda votamos em políticos. Sejamos corajosos vamos
eleger mulher para poder termos nosso lugar na política
brasileira, (poder nas mãos femininas) no campo
cultural a situação é animadora, pois um número
bastante expressivo de mulheres ingressa em cursos
superiores no Brasil.
Após décadas de preparação silenciosa,
experiências e frustrações para com o trabalho
masculino, as mulheres estão a beira de uma mudança
revolucionária. Vivemos num t empo de esperanças, de
vontades novas. Convivemos numa situação paradoxal,
pos de um lado, a sociedade lhes pede que sejam
iguais aos homens, acenando com oportunidades de
estudos e trabalho, e, por outro lado, as mantém
desiguais já que são consideradas a s responsáveis
exclusivas da vida privada. Como ser ao mesmo tempo
igual e desigual? É preciso repensar em todos os seus
aspectos esta proposta social contraditória.
Necessitamos encontrar caminhos para adequar
nossa sociedade a sua nova realidade nova rea lidade,
dando as mulheres e aos homens as condições para
67
redefinir seus papéis e desenvolver cada um suas
potencialidades. Em nenhum lugar esta discussão será
tão importante e fecunda quanto nas famílias e nas
escolas. É certo que o feminismo trouxe mudanç as
irreversíveis para o mercado de trabalho, o
comportamento sexual e, obviamente, as relações
pessoais. Não se tem notícia de uma revolução de
costumes tão poderosa e efetiva na história ocidental.
Pelo menos nos países desenvolvidos as conquistas
femininas foram reconhecidas. Não podemos e não
devemos usar o poder da sexualidade e da sedução
como meio de conseguir dinheiro e poder.
A questão que se coloca é se as mulheres, a
maioria delas, querem m esmo essa mudança e
dispõem-se a pagar o preço de abandona r a postura de
desprotegidas, coitadinhas, sexo frágil e, de fato, partir
para a luta.
Mais atarefada do que nunca, as mulheres
buscam estratégias para ganhar tempo e qualidade de
vida. A boa notícia é que é possível resolver o
problema. A grande massa fem inina parece estar mais
interessada em lutar contra a balança e as rugas do
que contra desigualdades ainda presentes e
alardeadas desde a época das feministas históricas. No
centro da questão que afligem o movimento pós feminista do século XXI, nada surge tão forte quanto o
velho tema do casamento. Ele ainda é ao que tudo
indica, o grande nó da questão. “As mulheres devem
reconhecer que a família é hoje o que o ambiente de
trabalho era em 1964 e o voto em 1926”.
De todos os erros cometidos pelo feminismo o
mais grave foi a incapacidade de mudar a instituição
68
que estaria no centro de toda a tragédia feminina. O
casamento para muitas mulheres é um empecilho para
que elas atinjam a igualdade total de salários, as
mesmas oportunidades de ascensão profissional e a
divisão com os homens da carga de trabalho e das
responsabilidades na administração da casa e na
educação dos filhos. Desta forma muitas mulheres são
infelizes por ter de cuidar da casa e dos filhos e dividir a
vida familiar com o trabalho. A saída seria resolver o
problema entre as quatro paredes do lar. O diálogo é
sempre a melhor forma para solucionar conflitos.
“Juntos eles devem estruturar sua vida familiar com
igualdade de direitos e deveres também nos afazeres
domésticos”.
Seja qual for a razão pes soal pela qual as
mulheres costumam se desdobrar em casa, o que os
analistas do assunto afirmam é que é preciso romper
socialmente essa dependência. Sem mexer no papel
tradicional que a mulher exerce no casamento, pregam
esses estudiosos, elas tendem a con tinuar em
desvantagem eterna em relação aos homens,
sobretudo no campo profissional. É verdade que nos
últimos anos a diferença salarial diminuiu, assim como
se abriram muitos cargos de chefia para mulheres.
Porém a distância ainda é bem sólida. Infelizmen te as
discussões sobre educação dos filhos, chateação da
sogra, itinerário no trânsito ou horário de cada um são
fichinhas perto do tema dinheiro. Os homens podem
não admitir que motivo tão mesquinho cause tanta
encrenca todo conflito em casa começa pelo d inheiro. A
falta dele e as despesas excessivas do companheiro
são as duas principais razões apontadas. Mentir sobre
69
dinheiro também é recorrente nos relacionamentos. Os
homens na grande maioria não admitem que as
mulheres ganhem mais do que eles. O dinheir o muitas
vezes é motivo de tensão no casamento. Homens e
mulheres podem não vir de planetas diferentes, mas
quando o assunto são finanças, operam em órbitas
distintas. A maioria dos casais ainda adota uma divisão
tradicional de tarefas. As mulheres em gera l, tomam os
homens, cuidam dos investimentos e das decisões de
longo prazo. Ainda encontramos resquícios da
sociedade antiga em que o homem era o provedor.
Embora seja clara a emergência de um tipo de
casal mais igualitário, em que ambos contribuem –
mesmo de forma desigual – para o sustento da família.
Homens e mulheres não concordam nem sobre dados
objetivos que poderiam ser confirmados. Por exemplo,
sobre quanto receber e quanto gastam. Esse
descompasso pode se tornar um grande problema no
controle das finanças. É preciso saber quanto entra e
quanto sai, como uma empresa, senão é fácil perder a
direção. Quando os cálculos ficam , mas suposições é
normal que se credite o rombo financeiro ou a falta de
recursos ou a má administração do outro. O certo é o
casal discutir sempre as questões que envolvem
despesas e investimentos. Tanto um como o outro
precisam estar a par de tudo que envolve o dinheiro do
casal. Só assim as surpresas desagradáveis são
evitadas. Não se acomode pensando que seu marido é
mais esperto em relação às finanças. Não use suas
falta de confiança como desculpa pra abdicar de suas
responsabilidades.
70
Participe e se informe. Saiba quanto vocês
investem e onde seu dinheiro está alocado, comece
com calma. Se seu marido cuida das finanças sozinho
há anos, participe e mostre interesse pelo assunto
devagar – sejam objetivos, críticas não levam a lugar
nenhum. Dinheiro envolvem questões emocionais, não
gastem energias tentando convencer o outro. Criem um
plano de ação que funcione pra os dois. Aprenda m a
gerenciar seu dinheiro.
A esperança que alimento é a de que quando
um número grande de mulheres assumir as alavancas
de comando do planeta, e o fizerem calcadas em
valores femininos, crie -se a massa crítica suficiente
capaz de mudar o comportamento dos próprios homens
e, por essa via mudar o mundo. Não se deve pensar
que sonho com um mundo no qual homens e mulheres
serão iguais. Não o serão, visto que diferentes, mas
diferentes não quer dizer necessariamente superior ou
inferior. Ou seja, homens e mulhe res serão homens e
mulheres, mulheres , porém enriquecidos com
características de um e de outro gênero para termos
seres humanos melhores. Também não alimento
ilusões de que um processo de mudança da magnitude
e da profundidade possa se completar em curto prazo.
Em que pesem as evidências de que o processo já se
iniciou, muito ainda há de ser feito e complet á-lo não
será tarefa para apenas uma ou duas gerações. Por
fim, uma indagação de Freud: Afinal , o que uma mulher
quer?
71
ERNESTINA FAIZER KURTH
Nasceu em Agenlina-SC a 07 de março de 1929 e formou -se no
Curso Normal no Colégio Maria Auxiliadora, de Rio do Sul -SC, em 1952.
Lecionou desde os 15 anos de idade, tendo se aposentada em 1982 como
Diretora de Escola Básica. É Bachare l em Administração de Empres as
(1973) e Licenciada em Letras (1975) pela FEDAVI.
Diplomada “Master Cake Decoration” pela Wilton School Of
Decoration (USA), onde estudou em 1993 e 1995. É co -autora do livro
“Um Passeio pela Gra nde Florianópolis” e participou , com contos e
poesias, nos livros “Histórias de Professor”, “Contos do Professor” e
“Poemas de Professor”, da Coleção FUCAPRO.
Participou da organização do Varal Literário do Grupo Almas em
Serenata, de São José -SC. Pertence à Academia de Letras de Biguaçu,
ocupando a Cadeira 39, cujo patrono é o poeta Vergílio Várzea.
Acadêmica: Ernestina Faizer Kurth
Cadeira nº: 39
Posse: 18-12-1996
Título: Poetisa
Endereço: Rua Getúlio Vargas, 3 .008, São José-SC
CEP: 88103-400
Fone: (48) 3247-0280
E-mail/Site: Não informado
Patrono: Virgílio Várzea
Título: Poeta
MEUS, QUASE, HAI CAIS
Amigo rabdomante,
pela rabdomancia,
advinha a água nossa de cada dia.
72
Santo Bento, Santo Bento
Vem cobrir
Quem dorme ao relento ,
Com teu manto santo .
Por onde passares,
Passa de modo,
Que possas sempre ali voltar.
O pinheiro magnífico candelabro,
De verdes arandelas ,
As pinhas são as velas.
Nuvens correm fugid ias,
Escondendo-se atrás do mosteiro,
CÉU DE BRIGADEIRO .
Chega-nos uma boa lembrança,
Emoldurada pela saudade.
Obrigado Senhor
Pelo dom das curas,
Que crias em tuas criaturas.
Se és amigo de Deus e
precisas de alguém ou de alguma coisa ,
Olha em volta. Ele já ali as colocou.
As folhas caem
A árvore fica.
O Outono explica.
73
Neblina
como lá,
Assim, cá.
A poesia está no ar,
Pede as rimas ao luar.
Nuvens grávidas
no céu,
Chuvas ao léu.
Na roupa do céu
Nossa Senhora passou anil .
Deus gostou
e guardou para Abril.
Se o amanhã tivesse janela ,
e eu soubesse dela,
Debruçar-me-ia já, nela.
Obrigado Senhor
por esta cama tão boa
E que nela, nada me doa.
Na chuva:
– Mãe água
Leva de mim
Toda dor e toda mágoa.
Vento qual pente,
penteando palmeiras:
Cabelos verdes.
74
Envelheci um ano em uma noite.
Adormeci com 17
e acordei com 18.
Lágrimas ardentes
chora já sem fé.
Velha garrafa de café.
Parece desatino
mas cada panela
com seu destino.
Minha geladeira
por que chora em líquido ,
Se pode as lágrimas solidificar?
Regai, consolai
as plantas presas em vasos ,
e as pessoas em seus casos.
Estejamos sempre em alerta :
tentando acertar o quê errado,
e consertar o quê quebrado.
O sol debruando a ouro
a nuvem vestal,
Que quer se vestir
Após o temporal.
Limpa pára-brisas
trabalha com mágua,
75
Lavando água.
O guarapuvu
alcançou a floração dos ipês ,
a diferença são os pés.
Já foi verde a sombrear
ramos bem distribuídos,
Agora secos a esqueletar.
O sol por entre nuvens,
Caiu no lago.
Saiu molhado.
Naquele dia que as formigas fizeram greve
A cigarra não cantou ,
As rosas murcharam,
E o olho d’agua chorou.
O sol amarelo
Faz a nuvem mais bela.
Sob a crista
Um bico,
Galo rico.
O vento faz a onda
a onda faz a renda.
Se não puderes levar água para tua roça ,
Inunda a do vizinho , igualmente seca,
que inundada derrama na tua.
76
Na casa do meu avô
diziam roda d’agua,
Descobri que era de madeira.
Dente de leite,
roda d’agua,
quem já viu
dente de alho?
Com a seca dos rios,
vê-se tantos seixos.
É de cair o queixo.
Vi a luz do pirilampo
Mas não ouvi seu canto.
Luz, luz, luzes.
Acesas.
Quem paga
Apaga.
Teria Deus colocado
Açúcar no rio?
É uma corrente de água doce.
Na orelha de pau,
Não achei brincos.
Calendário sem fases da lua...
Como saber em que hora
a Lua Nova vem para a rua.
77
Um grande pé-de-vento
achou um sapato.
Por que não o calçou?
Na boca da noite
nascem estrelas.
No céu da boca,
não nascem dentes.
No chimarrão,
presentes três continentes:
Bomba da Europa,
Erva Mate da América e
Cuia da África caliente.
No escabelo
vão bem os pés.
Na cabeça, cabelos.
No Paço Real
uma brasileira reinou
Dona Maria II,
Rainha de Portugal.
Gris no cume
alvacento no sopé.
Neblina presente.
ESPERIDIÃO AMIN HELOU FILHO
78
Esperidião Amin Helou Filho é filho de Esperidião Amin Helou e
Elza Marini Amin Helou. Nasceu em Florianópolis -SC em 21/12/1947. É
formado em Administração pela ESAG, Bacharel em Direito pela UFSC e
Mestre em Administração também pela UFSC, tendo feito especialização
e extensão nas áreas de Economia e Direito.
Exerceu o magistério na UFSC de 1968 até 1990. Exerceu
diversos cargos públicos, como: Diretor de Administração, chefe de
Gabinete, Secretário de Esta do da Educação e Cultura, Assessor de
organização e Métodos, Diretor Financeiro do BADESC, Prefeito
Municipal de Florianópolis, por duas legislaturas, Presidente da AMGF –
Associação dos Municípios da Grande Florianópolis, Deputado Federal,
Senador da Repú blica, Presidente Nacional do PPR e do PPB, e
Governado do Estado de Santa Catarina.
Atualmente é professor no curso de Administração da UFSC e é
também aluno Doutorando na Engenharia de Gestão do Conhecimento.
Acadêmico: Espiridião Amin Helou Filho
Nascimento: 21/12/1947
Cadeira nº: 28
Posse: Não informado
Título: Político / Orador / Professor
Endereço: Rua Antenor de Moraes, 412, Bom Abrigo, Florianópolis -SC
CEP: 88085-430
Fone: (48) 3244-4389
E-mail/Site: [email protected]
Patrono: Manoel de Menezes
Título: Jornalista
Dedico estas linhas à ex presidente da Academia de
Letras de Biguaçu, nossa amiga
Dalvina de Jesus Siqueira,
dedicada e diligente lutadora em
prol da valorização da Academia
e do patrimônio sócio-cultural de
Biguaçu.
79
A Raiz em Biguaçu
O Engenheiro Celso Ramos Filho ofereceu a
Santa Catarina uma extraordinária contribuição à
História de Santa Catarina com seu livro “COXILHA
RICA – Genealogia da Família Ramos”.
Além de abordar de maneir a abrangente e
profunda as origens de uma família marcante na
história do nosso Estado, o livro homenageia Biguaçu
ao revelar a origem catarinense dos Ramos.
Três questões merecem registro que me permito
aqui fazer, pretendendo, no máximo, alinhar tópicos
para uma discussão futura.
A primeira questão refere-se ao nome. O nome
original da família que migrou dos Açores era Coelho.
Ao que tudo indica, Coelho fora adotado como
expressão de uma conversão mais do que conveniente
para a época. Sim; os recém conve rtidos, os chamados
“cristãos novos” adotavam, como nome de família,
designativos “naturais”, isto é, substantivos que
denominam
árvores,
pássaros,
animais
e
assemelhados. Coelho (Celso Ramos Filho sugere que
seja derivado da Quinta da Coelha) pode ser
sucedâneo de nome de família “sefaradine”, ou seja,
semita – judeu ou árabe – da península ibérica.
Se formos consultar Manoelito de Ornelas, em
seu clássico “Gaúchos e Beduínos”, colheremos
informações adicionais para crer que as feições dos
serranos (e dos Ramos, em particular), guardam
familiaridade com os traços dos Beduínos.
Estes, com seu acendrado amor pelo cavalo,
constituem modelo que o nosso gaúcho assumiu em
80
nossas latitudes. A propósito, lembra Manoelito que “o
gaúcho, como o árabe, tem pelo cavalo um culto
exagerado. O próprio Maomé chamava aos cavalos
filhos do vento. E dizia que Deus, quando criou o
cavalo, proferiu estas palavras: “Quero fazer de ti uma
criatura para a glória dos meus fiéis e terror dos meus
inimigos!”. O cavalo é, para o homem do oriente médio,
o mais nobre dos animais.”.
Daí decorre a “gabança poética” referida por
Domingo Sarmiento:
“Tou velho, tive bom gosto
Morro quando Deus quiser.
Duas penas levo comigo:
Cavalo bom e Mulher” .
Isto quando não coloca o cavalo em plano
superior:
“Mi mujer y mi caballo
Se me fueron para Salta,
Como mi caballo vuelva,
Mi mujer no me hace falta!” .
Sem comentários…
Manoelito de Ornelas demonstra as afinidades
entre gaúchos e beduínos nos hábitos, costumes,
vestimentas, músicas e outros fatores. Maragateria,
bombacha e os principais identificadores da pelagem
dos cavalos são decorrência dessas afinidades. Quem
desejar conferir tais origens, pode consultar o
interessante “Dicionário de Termos Árabes da Língua
Portuguesa”, do Dr. Júlio Doin Vieira.
81
Os Coelho desembarc ados em São Miguel da
Terra Firme, da nossa sempre hospitaleira Biguaçu,
deram ao seu filho Laureano José o nome de Ramos
por ter este nascido no Domingo de Ramos de 1777
(exatamente em 18 de março daquele ano).
Sim, seus pais – Matheus José Coelho e Maria
Antônia de Jesus –, originários de Angra do Heroísmo,
Ilha Terceira (ou de Jesus Cristo), deram -lhe o
sobrenome Ramos e estenderam este sobrenome
ilustre aos outros filhos, nascidos em 1776 (antes, pois)
e 1779, respectivamente, Adolfo José e Ricardo José .
Portanto, este primeiro tópico aborda a origem
brasileira e catarinense da família Ramos, situando -a
em Biguaçu, mais precisamente em São Miguel.
A segunda questão aborda a saga de Laureano
José Ramos. Falar que o marceneiro Laureano saiu de
Biguaçu e foi para São Francisco do Sul; de lá foi para
Antonina (Paraná); de Antonina foi para Lapa (Paraná);
de lá foi para Santo Antônio da Patrulha (Rio Grande do
Sul) e de lá, enfim, veio para Lages, é fácil. Difícil e
desafiador deve ter sido cumprir esse itiner ário entre
1804 e 1812...
Os estudiosos da língua árabe encontrariam na
palavra “MAKTUB!” (estava escrito!) a melhor
explicação para tal “odisséia”.
Todo aquele conteúdo substrato referido por
Manoelito de Ornelas explica essa procura pela
paisagem em que o fundador dos nossos Ramos se
sentiria em casa...
Que ambiente seria mais adequado para os
Ramos? Podemos dizer que Laureano, depois de tanto
viajar, chegou à sua casa!
82
Em sua obra “Taipas – Origem do Homem do
Contestado”, Octacílio Schüller Sobrinho res salta que
“o vaqueiro, o pastor por excelência é o homem da cor
do pinhão, descendente de uma raça habituada à vida
nômade – o árabe”, ou seja, o beduíno.
Tendo,
pois,
vencidas
vicissitudes
tão
marcantes, Laureano José de Ramos fundou em Lages
o mais importante estabelecimento agropecuário,
compreendendo azenha, atafona, tecelagem de lã e de
algodão, carpintaria (afinal, era marceneiro), olaria,
pomar e outros agregados econômicos.
Portanto, o catarinense (nascido em Biguaçu)
Laureano, fundador do tronco Ra mos, foi um grande e
distinguido empreendedor.
Além disso, sua descendência deu a Santa
Catarina, além de Nereu Ramos (Presidente e Vice Presidente da República, Presidente da Câmara e do
Senado, Ministro da Justiça e Governador de SC), um
embaixador (o grande historiador Licurgo Ramos da
Costa), sete senadores, oito deputados federais, seis
governadores do Estado, dez deputados estaduais,
seis desembargadores, nove prefeitos municipais e um
arcebispo, além de inúmeros outros exemplares
servidores da nossa “res publica”.
O contributo originário de Biguaçu é
singularmente expressivo, pois. E não tem paralelo.
Podemos dizer que as bênçãos derramadas naquele
Domingo de Ramos de 1777 foram muito especiais!
Esta avaliação é apropriada, especialmente se
considerarmos que aquele não era um momento
tranqüilo. Menos de 30 dias antes, os espanhóis de
Ceballos tinham tomado a Ilha de Santa Catarina! E o
83
fizeram lançando mão da maior esquadra que até então
chegara a estas plagas. Cento e vinte navios
ancoraram na baía d e Canasvieiras e deles
desembarcaram cerca de dez mil soldados que
puseram em fuga a guarnição do forte de São José da
Ponta Grossa e forçaram a rendição – sem luta – da
tropa e das autoridades portuguesas da Ilha de Santa
Catarina. Não foi, portanto, sob todos os aspectos, um
Domingo de Ramos comum o de 1777!
A terceira questão volta-se para Biguaçu e para
suas raízes açorianas, sediadas em São Miguel da
Terra Firme. Quem já teve o privilégio de visitar os
Açores pode sentir a emoção de conhecer um povo
valente – sem ser acintoso – e que valoriza a família,
instituição essencial para sua organização social.
Dentre as ilhas dos Açores, a do Pico, pela
dureza de sua topografia e pela aspereza de sua
morfologia, é exemplo muito especial.
Areia vulcânica escur a, batida por incansável
vento, só poderia ser habitada por um povo forte!
Comer de seus queijos e beber de seus vinhos e licores
é atestar a vitória da perseverança e da criatividade
sobre as adversidades.
São Miguel, em particular, e todo o território de
Biguaçu ofereceram ao imigrante açoriano um
ambiente muito mais propício e generoso.
Aqui, a “a mão do Criador” plantou terras férteis;
desenhou baías e enseadas caprichosas; dotou
generosamente o território de águas boas; fez do mar
um celeiro abundante de frutos que não precisamos
plantar (mas, seria muito bom deles desfrutar com
moderação). Enfim, de Laureano Ramos aos nossos
84
dias, Biguaçu nos oferece berço e cenário de
oportunidades. O berço – generoso e seguro – continua
à nossa disposição!
As oportunidades são desafios postos diante de
nosso espírito empreendedor. Se este não faltou – em
outras plagas – a Laureano, filho ilustre de Biguaçu,
cabe aos que gostamos de Biguaçu, especialmente
pelo desenvolvimento de nossas competências através
de educação de qualidade, tornar possível a
concretização dos nossos sonhos.
HOMERO DA COSTA ARAÚJO
Nascimento: 06 de maio de 1948; Local de Nascimento: Lages SC; Filiação: Antônio Alencar Araújo Furtado e Helma Helena da Costa
Araújo.
Formação: Curso Primário: Colégio Vidal Ramos Júnior , LagesSC; Curso Secundário: Colégio Diocesano de Lages : Curso Científico;
Academia de Comércio de Lages : Curso Técnico de Contabilidade . Curso
Superior: Administração de Empresas na UFSC ; Direito na UFSC.
Experiência Profission al: Professor da Escola Técnica Federal de
Santa Catarina – ETFSC, na disciplina de Organização e Normas (ano
1972 – 1998). Administrador, na Companhia Catarinense de Águas e
Saneamento – CASAN (1972 – 1979). Administrador, na Companhia de
Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina – CODESC; Advogado
Autônomo, OAB-SC 3144; Diretor da Empresa Vida, Importação Comércio
e Representações Ltda. (1986 – atual).
Autor das seguintes obras: Fogo de Chão, então, então; Caminho
das Tropas; Prosas de Galpão; Por detrás das Taipas; Cama de Pelego;
Confraria da Coxilha . Membro da Academia de Letras de Biguaçu, cujo
patrono é o ilustre lageano Nereu Ramos.
Acadêmico: Homero Costa Araújo
Nascimento: 06-05-1948
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Cadeira nº: 31
Posse: 15-12-2006
Título: Escritor
Endereço: Rua Newton Ramos, 70, Apto. 502, Ed. San Matheu, 5º Andar,
Florianópolis-SC
CEP: 88086-893
Fone: (48) 3223-4664 / 8808-6893
E-mail/Site: [email protected]
Patrono: Nereu de Oliveira Ramos
Título: político / Orador
Boi de Botas Futebol Clube
O
time do Boi de Botas Futebol Clube, da
Coxilha Rica, contava trinta e seis jogos sem vitória.
A diretoria, preocupada com o rebaixamento, se
reuniu e chegou a conclusã o de que deveria contratar.
— Mas nós não temos dinheiro, argumentou o
tesoureiro. Até a venda do centroavante “Lambança”
não se concretizou, o que tiraria o time do buraco...
quinze milhões de euros.
— Não estou falando de contratar jogadores, mas
sim um benzedor, pai-de-santo, ou alguém do gênero
que faça um trabalho para afastar a má fase do time.
É muito mau-olhado; muito olho -grande; muita
mandinga contra nós; coisas desse gênero,
argumentou o presidente.
Doutor Paulinho, médico do clube, facultativo,
como se diz na linguagem do futebol, soube da
86
preocupação do presidente e apresentou -se como
voluntário.
— Já fui macumbeiro quando estudava medicina
em Florianópolis. Era um quebra -galho que me ajudava
a cobrir as despesas da faculdade, não mais do que
isso. Entendo da função, não contratem ninguém. Vou
fazer o “trabalho”, e de graça pra ajudar a salvar o
clube.
O presidente topou a parada.
— De graça, até injeção na língua.
Paulinho começou com sessões aplicadas no
vestuário: reza, chifre raspado de bode preto; incenso;
patuás; velas; charutos e galinha preta; enfim, até
arruda na meia dos jogadores.
Nada disso resolveu.
Doutor Paulinho partiu então para o plano “B”:
Banho de mar grosso, muita água salgada no plantel.
— Esse recurso nunca falha – garanto-lhe
presidente.
Fiz isso no Arranca Toco de Campo Belo do Sul e
ficamos oitenta e dois jogos invictos.
— Mande brasa “Pai Paulinho” , pois domingo que
vem teremos jogo e não poderemos perder. Quem vai
estar presente na transmissão do jogo é a Rádio Clube
de Lages com Camargo Filho e toda sua equipe de
repórteres.
— Deixa comigo, presidente.
O time do Boi de Botas veio para Florianópolis e
Pai Paulinho determinou: dois banhos de mar pela
87
manhã, um à tarde e outro à noite, é o bastante, não
mais do que isso.
Repetiu a operação por três dias seguidos.
Retornaram para a Coxilha Rica e em seguida
concentraram-se para o confronto decisivo com o
Estrela Azul, de Capão Alto.
Presente no evento toda a equipe esportiva da
Rádio Clube de Lages, coisa inédita na Coxilha R ica.
O jogo se realizou no estádio do Rincão do Perigo
e novo revés: Estrela Azul 8x1 Boi de Botas.
O locutor Camargo Filho, ficou rouco de tanto
gritar gol.
O presidente do Boi de Botas, inconformado pelo
resultado questionou Pai Paulinho: “O que houve,
painho?”
— Não houve nada, presidente. Pra mim não
houve nenhuma surpresa. Os pais -de-santo me
avisaram que o resultado do jogo era pra ser 12x0 pro
Estrela Azul, e, eu com o meu “trabalho” diminuí a
goleada, além de termos tido a sorte de sair com 1x0 a
nosso favor, ou seja, marcamos um gol, coisa que o
time não fazia há quatorze rodadas. O senhor está
reclamando de quê? Tenha a santa paciência.
Qualquer pessoa percebe que 8x1 é melhor do que
12x0. Pergunte pro pessoal da Rádio Clube. Quem tá
certo é o locutor Camargo Filho que sempre afirma:
“Quem quebra galho é macaco gordo”. Saravá,
presidente.
— Eu, hem? Arrumo cada um. Saravá, Pai
Paulinho.
88
Lambança
Nos idos do ano de 1960 apareceu em Lages,
vindo de Porto Alegre, uma jovem e grata rev elação do
futebol daquela cidade e, de cara, o locutor esportivo
Camargo Filho, da Rádio Clube, colocou -lhe o apelido
de “Lambança”.
Ingressou nas hostes do Esporte Clube
Internacional onde foi titular absoluto por dois anos
seguidos.
Lambança alternava gr andes e brilhantes partidas
com atuações medíocres e ridículas que comprometiam
a equipe. Tinha momentos de Pelé e outros de
verdadeiro perna-de-pau, ninguém entendia tanta
oscilação.
Após pendurar as chuteiras como atleta foi
convidado pela Diretoria do I nternacional para ser o
treinador da equipe juvenil.
Aceitou o desafio.
Era um excelente motivador, embora fosse um
homem de pouca instrução. Formou uma grande
equipe sendo que alguns atletas chegaram muito
rápido ao time titular que venceu o campeonato
estadual de 1965, lembra -se?
Lambança proporcionava momentos hilariantes
como treinador.
Apresentaram-lhe numa oportunidade, um
pretinho que tinha sido a revelação do campeonato do
Cerro Negro e disseram maravilhas acerca do garoto e
89
pediram para que Lambanç a o testasse na equipe do
Internacional.
— Não tem problema, é só me trazer a fera que
eu já digo se presta ou não...
“Flexinha”, assim era o apelido do guri,
apresentou-se numa segunda-feira, à tarde.
Quando Lambança botou os olhos na figura,
sentiu o drama e lascou: “Qual é o seu forte Flexinha:
ataque, meio-campo ou defesa?
— Eu sô ponta dereita professô. Corro quinem um
curisco. Pra mi pará só na porrada ou no tiro. Pego inté
lebre de morro acima.
— Meu filho. Estou precisando é de jogador, não
de maratonista: a São Silvestre é só em dezembro,
sabe?
E tem mais, troque de roupa no vestiário, ligeiro,
que o treino já vai começar.
Flexinha tirou da sacolinha um par de chuteiras
que havia engraxado com sebo de ovelha e trajou -se ali
mesmo, pois queria era participar do treino.
Lambança mandou Flexinha aquecer e pediu para
que ele viesse à beira do gramado receber instruções.
O coração do Flexinha aumentava os batimentos
e quase saltava boca a fora tamanha a expectativa pela
oportunidade:
“Meu Deus, não acredi to que vô ponhá a camisa
do Internacioná, não vejo a hora”..., e continuou
aquecendo.
Lambança ordenou:
— Tá bom meu filho, não esquente demais senão
derrete. Venha cá. Está pronto Flexinha?
90
— Tô professo. Tô.
— Está nervoso ou está calmo?
— Um pôco nervoso, sabe cumo é, sô muito novo
ainda.
— Logo vi que você está nervoso. Olhe para a
sua chuteira, está com os cadarços trocados.
— Cumo? Cardaço trocado? Cumo?
Eu explico
O cadarço do pé direito está no pé esquerdo e o
cadarço do pé esquerdo está no pé direi to. Você
entendeu agora?
— Intendi professô. Acho que foi a pressa, troco
já, agorinha memo.
E Flexinha agachou -se para a operação da troca
do cadarço. Lambança ria a mais não poder. Aplicava
essa pegadinha em todo mundo.
Colocou Flexinha só no segundo tem po de treino.
Viu que Flexinha não tinha nenhum talento e resolveu
explorá-lo um pouco mais.
Findo o treino, chamou -o em separado dos
demais jogadores e colocou -o a bater penalty. Aí é que
a desgraça aumentou.
Das vinte cobranças, Flexinha apenas acertou
uma. Um índice baixíssimo.
— Flexinha venha cá. Vou instruí -lo e ensiná-lo
como bater a “falta capital”.
— Falta capital? O que é isso professô? Nunca
ouvi falá nisso. É argum pecado?
— Eu explico. Falta capital é o penalty. Usava-se
esse termo antigamente, não é do seu tempo Flexinha,
91
sabe? Agora, preste muita atenção nos meus
ensinamentos. Penalty não tem segredo.
Aprendi com o meu amigo e locutor Camargo
Filho da Rádio Clube de Lages. Você pega a redonda e
coloca-a na marca da cal. Na marca da cal, não do cal,
porque cal é uma palavra feminina entendeu?
— Intendi, e aí?
— Aí você se concentra e dá uma cacetada com
bastante efeito, rasteiro, no canto que o goleiro não
está, ouviu? Não tem erro... é só correr pros braços da
galera.
E Flexinha questionou:
— Professô, e cumo que eu vou sabê quar é o
canto que o golêro não tá?
E Lambança gargalhava:
— Aí já é demais. Você quer que eu lhe diga qual
é o canto que o goleiro vai se atirar? Qual é Flexinha?
Pode tomar banho e voltar para o Cerro Negro.
Aqui em Lages não tem lebre pra você correr atrás.
Logo vi, revelação do futebol de Cerro Negro só podia
dar nisso. Só eu pra acreditar numa dessa... Mereço...
92
JANICE MARÉS VOLPATO
Catarinense de Mafra nasceu em 23 de maio de 1953. Filha de
Jayme Marés, falecido, e de Marianna Wisovata Marés. Casada com
Pacelli Volpato, filhos gêmeos: Laércio e Leonardo Marés Volpato.
Graduada em Biblioteconomia pela UDESC – Universidade do
Estado de Santa Catarina. Especialista em Metodologias de Atendimento
da Criança e do Adolescente em Situação de Risco. Parapsicóloga Clínica
do Sistema Grisa. Ocupa a cadeira n. 10 da Academia de Letras de
Biguaçu, e n. 09 de Governador Celso Ramos.
Publicações: 2008 – “Jornal a Cidade – Governador Celso
Ramos”, Coluna: “Pescadores”. 2006 a 2008 – “Jornal Fique Esperto” –
São José. Coluna: “Janice Marés Volpato”. 2007 – Participação na
Antologia de Contos e Poemas “Encontros da Primavera”, Academia de
Letras de Governador Celso Ramos, com a poesia “O Gancheiro e sua
tradição”, 2006 – Monografia de Especialização.
Acadêmica: Janice Marés Volpato
Nascimento: 23-05-1953
Cadeira nº: 10
Posse: 15-12-2006
Título: Parapsicóloga / Escritora
Endereço: Rua Heriberto Hülse, 78, Barreiros, São José -SC
CEP: 88110-010
Fone: (48) 3246-0533 / 8407-3227
E-mail/Site: [email protected]
Patronesse: Alaíde Sarda de Amorim
Título: Educadora / Escritora
LAPIDAR A ESSÊNCIA HUMANA
O Ser Humano caminha, ora em passos largos e
apressados, ora curtos quase parados. E nesse
momento carece pensar: S im, é um ser racional que
pensa a cada passo . Não como deveria ser em sua
93
totalidade, pois muita s vezes age e reage como animal,
via seus instintos.
Existem no seu Subconsciente registros que o
aprisionam e na ausência de uma liberdade interior
trava uma luta entre o bem e o mal conforme sua
percepção.
Da conjunção da qual foi concebido e
programado, e de uma vida sofrida da mãe que o
carregou no ventre, veio ao mundo rejeitado. Quando
sente se ameaçado, dele emerge toda a realidade, pois
as informações recebidas desde a vida intra -uterina
ficaram nele impregnadas, quase que adormecidas.
Sob a égide do Subconsciente, os registros mais
profundos, distorcidos afloram e por segundos falta -lhe
a razão. É a manifestação do sistema emocional
completamente desequilibrado. Nisso ele grita, agride,
se arrepende e chora. É tarde demais! Um crime foi
cometido, agiu por impulso descontrolado.
– Assassino! Gritam as pessoas que assistiram o
trágico acontecido.
E quando toma consciência do fato, e nada mais
pode fazer, pensa em fugir, quer sumir, mas de joelhos
cai ao chão e logo, deitado.
Com as mãos aperta a cabeça, sua fala cansada
parece longínqua.
– Meu Deus! Por que eu fiz isso? Sou um jovem
fracassado.
Perde as forças, se entrega, para não ser
torturado. A polícia l ogo chega e o jovem é levado,
algemado, no camburão, só e desesperado!
94
A vítima inerte, no chão ensangüentado, é
observada com pesar por ser ainda tão jovem, mas,
logo depois da perícia, sai na maca carregada.
As conversas paralelas se misturam na multidão,
que aumenta rapidamente, entre curiosos querendo
detalhes e testemunhas dando opinião.
– Esse mundo está perdido!
– É por causa das drogas! Exclama a mãe
desesperada, que ao saber do ocorrido chega um pouco
atrasada ao cenário.
– Eu dizia pra ele, tu vai morre, vão acabá com
tua vida! Ai meu Deus! E agora? Proclama ela ao vento.
As vizinhas a consolam e juntas saem em
procissão. Claudenira, a mãe sofrida, ainda reforça com
ênfase as palavras que seguem automatizadas:
– Eu sabia que isso ia acontecer! – Eu sabia...
Até chegar à sua casa ela continua a falar, o
nervosismo toma conta e ela chega a desmaiar.
Enquanto isso na delegacia, Robert o está
desolado, lembra que algumas vezes sentia ódio,
vontade mesmo de matar. Mas não era isso que queria.
Estava realmente arrependido. Agora sabia que as
conseqüências seriam as piores. Pensava na Mãe, nas
palavras que ela dizia:
– Meu filho não se envolva com drogas, um dia
vai acontecer alguma coisa ruim. Mas, aqueles
conselhos da mãe sempre foram ignorados, pois ele
queria dinheiro fácil. De relance percebe sua triste
condição e sente muita amargura na rigidez da prisão.
Algumas semanas após o acontecido, na cadeia
recebeu a sentença, em papel sujo e amassado. No
95
bilhete estava escrito a jura de vingança mortal, e nesse
momento percebeu que seu destino foi traçado.
Essa é uma situação em que muitos daqueles
que se encontram presos vivenciam. Conforme o
envolvimento criminal, sofrem ameaças e se sujeitam as
muitas humilhações, a raiva e o medo podem a todos
contaminar.
O carcereiro por sua vez acostumado, com tantos
e tantos casos, esclarece a situação:
– Alguns casos são resolvidos aqui mesmo na
prisão, outros quando saem encontram a morte no outro
lado do portão. Sem oportunidade s dificilmente
conseguem mudar. E da vida, algo melhor, só resta -lhes
esperar...
A Mãe sofrida, agora se esforça para falar com as
vizinhas, e sua respiração difícil e muito fraca evidencia
a dor e o pesar.
– Ele sempre foi assim, brig ão desde pequeno,
não adiantava surrar, ele não melhorava, depois deixei
por conta e deu no que deu.
Roberto demonstrava ter o sistema emocional
indomável. Seria por conseqüência de problemas
gerados desde o período da vida intra -uterina, na hora
do nascimento, ou algum trauma? Provavelmente, ainda
mais quando reforçado no convívio d o dia-a-dia, onde
os riscos à integridade físi ca e mental são mais
eminentes.
As situações vivenciadas por Roberto ou outras
pessoas
que também manifestam descontrole
emocional e isso as incomodam, desde a concepção,
durante a infância ou adolescência ou fase adulta,
podem ficar aliviadas, pois existem possibilidades para
96
melhorar ou eliminar definitivamente as causas
prejudiciais.
Roberto não obteve uma orientação adequada,
para controlar o sistema emocional, quando ainda era
criança. E quando adulto ele também não procurou
ajuda. Muito pelo contrário sempre rejeitou. Queria
mostrar o poder por meio de agressividade. Fato que
reforçava cada vez mais, até sem motivo aparente.
Pedro Grisa, autor de vários livros, depoi s de
muitos estudos e pesquisas minuciosas, comprova:
– “A mente humana merece ser lapidada”.
E numa outra expressão conclui sua grande
descoberta.
– “Só se expressa no exterior o que já é no
interior”.
Em forma de brincadeiras, crianças e jovens
batem nos irmãos, nos amigos, desrespeitam pais e
professores. Atitudes que possibilitam a programação
de um futuro avassalador . Porém, se desde a mais tenra
idade a criança for orientada a manter o controle
emocional, vai crescer com segurança, estudar e
respeitar, vai poder ser feliz, viver em equilíbrio e
harmonia.
Assim como em vários lugares, Biguaçu também
apresenta situações complexas . Cresce a violência, a
criminalidade e a agressividade de forma desenfreada.
Dalvina de Jesus Siqueira reside no município
desde seu nascimento, em 1929. Por tanta vivência, tem
um elevado conhecimento sob re sua comunidade. É um
grande exemplo de vida, uma verdadeira guerreira do
bem. Disciplinadora nata, possuidora de muita
97
sabedoria, tem uma imensidão de histórias para contar.
Diz ela:
– “Biguaçu era um lugar calmo,
muito bom para morar, não havia agressividade e
criminalidade como hoje. Durante muitos anos as
pessoas podiam andar tranquilamente pelas ruas, até
com a bolsa aberta . Não se via criança brincando ou
perambulando nas ruas, elas trabalhavam em casa e
ajudavam os pais, não eram escravas, eram ocupadas,
estudavam.”
Dalvina ainda afirma:
– “A situação que vivenciamos hoje, iniciou após
a legalização do Estatuto da C riança e do Adolescente –
ECA, pois nele existem artigos que os superprotegem e
deixam pais, professores e a sociedade sem ação ”.
Garantidos nessa proteção, muitos adultos
aproveitadores se utilizam da inocência das crianças
para atingirem seus objetivos.
– “A razão de tudo é a distorção na educação,
existe uma inversão de valores, transtornaram a forma
de relacionamento, crianças e jovens não respeitam,
impõem regras, geram medo, insegurança e impotência
nos adultos”. Afirma Dalvina, e ainda comenta:
– “Biguaçu tem locais específicos para o
atendimento de crianças e jovens envolvidos em
situações de risco: O Recanto Pré -Adolescente
Municipal – REPAM, A Casa Lar e a Inst ituição Vovó
Sebastiana. Elas oferecem atividades que incentivam e
orientam crianças e adolescentes no melhor caminho a
seguir. Mas, está difícil resolver como deveria.”
A situação de vulnerabilidade é existente na
maior parte dos bairros de toda a Grande Florianópolis e
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se estendem à outros, q uando o assunto é violência,
criminalidade, prostituição e livre acesso às drogas,
independente da idade, e algumas vezes vítima e
vitimizador ficam sem solução. Fatos que têm gerado
maiores probabilidades de risco às mesmas, aos
familiares e a sociedade como um todo.
As conselheiras do Conselho Tut elar do
município de Biguaçu, em depoimento oral, relatam:
– ‘’Dentre os casos mais graves registrados no
Conselho Tutelar também está a violência sexual, pois
ocorre toda semana e o agressor normalmente é da
própria família, padrasto, pai ou av ô, que abusam sem
piedade dos pequenos indefesos.
– Para atendimento nos Bairros: Saveiro, Bom
Viver, Janaina, Morro da Boa vista, locais de maior
probabilidade de riscos, recebemos ajuda da polícia,
mas não se pode generalizar, pois dependendo dos
meses, pode ser nos Bairros: Jardim Anápolis e Jardim
Carolina”.
Considerando a escola, como local ideal, por
abranger uma grande quantidade de crianças e jovens
reunidos, é o momento propício para os responsáveis
pela educação desenvolverem um bom trabalho visando
melhorar a qualidade de vida, por meio de orientação e
prevenção aos riscos que todos estão expostos.
É possível ainda que ocorra uma grande
mudança na cultura da agressividade. Para tanto, é
necessário conscientização e interesse das autoridades
municipais, estaduais e federais. Porém, continuamos
em nosso pequeno trabalho social, sabendo que pelo
menos algumas crianças obtêm conhecimentos que lhes
proporcionam melhores possibilidades perante a vida.
99
Esperamos que em breve surja um governante
que tenha capacidade de ver e de agir, que enfrente
desafios, seja dinâmico, tenha humanidade e faça algo
de muito significativo pelas crianças e adolescentes,
para que elas consigam evoluir com sabedoria,
obtenham
autocontrole,
consigam
manter
a
concentração nos es tudos e leituras, para que se
tornem adultos dignos, seguros, de respeito bem
sucedidos e felizes.
O relato também é para nós refletirmos sobre as
situações que estamos vivenciando e juntos buscarmos
soluções.
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JOAQUIM GONÇALVES DOS SANTOS
Historiador, mestre em História, brasileiro, casado, nasceu a 27
de março de 1936, em Florianópolis -SC. Fez os estudos do primário,
secundário e o superior na cidade de Florianópolis.
Com a idade de 17 anos ingressou na Marinha de Guerra do
Brasil, tendo lá permanecido no período de junho de 1953 até agosto de
1960, onde realizou os cursos de: Direção de Tiro, Combate a Incêndio,
Operador de Cinema, Técnico em Eletricidade (eletricista naval) e
Escrituras Sagradas.
Após ter dado baixa do serviço militar, foi nomeado por concurso
para o cargo de Escrivão de Exatoria Estadual, e depois para Exator
Estadual (atual Auditor Fiscal). Está aposentado deste último cargo desde
1984.
Ingressou no Magi stério Público Estadual através de concurso.
Professor no período de 1968 até 2002, tendo também exercido os cargos
de Diretor de Colégio e Supervisor Estadual de Educação.
Primeiro diretor da Casa dos Açores – Museu Etnográfico, em
São Miguel, Biguaçu -SC, nos anos de 1979 -80.
100
Professor de Educação Moral e Cívica, de Organização Social e
Política do Brasil, de Geografia e História. Está aposentado no cargo de
professor de História desde 2002.
Na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC fez os
cursos de: Antropologia Social, Etnologia Brasileira, Origens do Homem e
Origens do Homem Americano, Licenciatura Plena em História e o
Mestrado em História do Brasil.
Vereador em Biguaçu por duas legislaturas: de 1973 a 1977 e
reeleito até 1981, tendo sido Presidente da Câmara Municipal por dois
períodos, na administração do Prefeito Dr. Lauro Locks, e depois com o
Prefeito Senhor João Brasil de Azevedo.
Escreveu e publicou as seguintes obras: A Freguesia de São
Miguel da Terra Firme – aspectos históricos e demográficos – 1750-1894;
Cônego Rodolfo Machado – 60 anos de sacerdócio; Martinho e Alzira –
suas histórias; A Guarda Nacional em São Miguel; Cônego Rodolfo
Machado – Cidadão de Biguaçu.
Atualmente ocupa a Cadeira nº. 03 da Academia de Letras de
Biguaçu, cujo Patrono é o Dr. Adolfo Konder. Eleito Presidente da mesma
Academia para o período de 30 de junho de 2007 a 30 de junho de 2010.
Está sempre à disposição dos interessados para proferir
palestras em educandários, associações, clubes, entidades civis ou
religiosas..., nas seguintes áreas: História do Brasil, de Santa Catarina e
Biguaçu.
Acadêmico: Joaquim Gonçalves dos Santos
Nascimento: 27-03-1936
Cadeira nº: 03
Posse: 25-06-2004
Título: Historiador / Escritor
Endereço: Rua São José, 100, Apto . 404, Residencial Cône go Rodolfo,
Centro, Biguaçu-SC
CEP: 88160-000
Fone: (48) 3285-8968 / 9914-9880
E-mail/Site: [email protected]
Patrono: Adolfo Konder
Título: Político / Orador
Homenagem aos Acadêmicos
101
Joaquim Gonçalves dos Santos
A Academia de Letras de Biguaçu
É formada por acadêmicos idôneos,
Que ocupam quarenta cadeiras
De ilustres patronesse e patronos.
Cadeira nº. 01_ Patrono: Abelardo Souza.
Miriam de Almeida, poetis a.
Considerada com muito afeto,
Ela mudou de residência
Não disse o endereço certo.
Cadeira nº. 02_ Patrono: Aderbal Ramos da Silva.
Adauto Beckhäuser, advogado e escritor.
Organizou um “site” para a academia,
Gosta de tudo documentado
Está a disposição todo dia.
Cadeira nº. 03_ Patrono: Adolfo Konder.
Joaquim Gonçalves dos Santos, historiador.
Atual presidente da Academia,
Quer organização e participação
Caso contrário ele renuncia.
Cadeira nº. 04_ Patrono: Altino Flores.
Hilta T. Bencciveni, poetisa.
Acadêmica isenta de vaidade,
É muito amiga de todos
Não importa qual a idade.
Cadeira nº. 05_ Patrono: Aníbal Nunes Pires.
Zenilda Nunes Lins, poetisa.
Vice-presidente muito democrática,
Usa sempre o bom senso,
Amigas de todos e simpática.
102
Cadeira nº. 06_ Patronesse: Antonieta de Barros.
Zelka de Castro Sepetiba, escritora.
Na academia é do conselho fiscal,
Trata os assuntos com seriedade
Pois não considera nada banal.
Cadeira nº. 07_ Patrono: Luiz Delfino.
Dorinda Rabelo M. Waltrick, poetisa.
Estava muito doente,
Ela deixou o nosso mundo
Causando saudades na gente.
Cadeira nº. 08_ Patrono: João da Cruz e Souza.
Norberto Nazareno B. Fortes, escritor.
Está em Santo Amaro da Imperatriz,
Voltou a participar ativamente
Está contente e muito feliz.
Cadeira nº. 09_ Patrono: Elpídio Barbosa.
José Braz da Silveira, advogado e escritor.
É o nosso competente tesoureiro,
Sempre está à disposição de todos
Muito atencioso e companheiro.
Cadeira nº. 10_ Patronesse: Ala íde Sardá de Amorim.
Janice Marés Volpato, escritora.
Na academia é a bibliotecária,
Muito prestativa e amiga
Pessoa assim é coisa rara.
Cadeira nº. 11_ Patrono: Juvêncio A.
Figueredo.
Willian Wollinger Brenuvida, poeta.
Intelectual muito competente ,
103
Irradia alegria e otimismo
Nos eventos está sempre presente.
Cadeira nº. 12_ Patrono: Francisco Galloti.
Toni Vidal Jochem, historiador.
Faz falta a sua participação,
Esperamos o seu retorno
Pois é uma pessoa de ação.
Cadeira nº. 13_ Patrono: Fr itz Müller.
Wanda Ritta, historiadora.
Não deu o novo endereço,
Talvez ocorra algum problema
Sem comunicação não há jeito.
Cadeira nº. 14_ Patrono: Geraldino A. de Azevedo.
Dalvina de Jesus Siqueira, poetisa.
Educadora e ótima escritora,
É nossa Presidente de Honra
Da academia é a fundadora.
Cadeira nº. 15_ Patrono: Henrique Fontes.
Arlete Carminatti Zago, advogada.
Brilhante na sua profissão,
Queremos sua valiosa presença
Nos eventos ou em reunião.
Cadeira nº. 16_ Patrono: Holdemar de Menezes.
Maria do Carmo Antunes, poetisa.
Voltou disposta para a academia,
Muitos acadêmicos até pensaram
Que ela não retornaria.
Cadeira nº. 17_ Cônego Rodolfo Machado.
José Ricardo Petry, filósofo.
104
Entende tudo de fotografia,
É muito amigo das pessoas
Trabalha sempre com alegria.
Cadeira nº. 18_ Patrono: Arnaldo de S. Thiago.
Stela Máris Piazza Souza, escritora.
Não temos a sua biografia,
É competente e assídua
Sempre disposta em qualquer dia.
Cadeira nº. 19_ Patrono: João C. Pacheco.
Onete Ramos Santiago, psicóloga.
Sempre notada a sua ausência,
Aguardamos a sua volta
Pois temos a preferência.
Cadeira nº. 20_ Patrono: João Nicolau Born.
Osmarina Maria de Souza, poetisa.
Da academia também é fundadora,
Muito prestativa e organizada
Tem o perfil de historiadora.
Cadeira nº. 21_ Patrono: Jorge Lacerda.
Orival Prazeres, escritor.
Está sempre muito atarefado,
Defensor dos fracos e oprimidos
Por todos é muito estimado.
Cadeira nº. 22_ Patrono: Vidal Mendes.
Valdir Mendes, advogado.
É o nosso assessor jurídico,
Fez a reforma do estatuto
Dando o valioso veredicto.
105
Cadeira nº. 23_ Patrono: Lausimar Laus.
Vilca Marlene Merízio, poeti sa.
Sabe tudo sobre Portugal,
Trabalha sempre com projetos
Companheira e muito legal.
Cadeira nº. 24_ Patrono: Paschoal A. Pitsica.
Cezar Luiz Pasold, escritor.
Em Imbituba está residindo,
Sempre muito disposto
Feliz por um filho lindo.
Cadeira nº. 25_ Patronesse: Luiza dos R.
Prazeres.
Miguel João Simão, historiador.
Educador muito atuante,
Gosta muito de escrever
Desprovido de qualquer rompante.
Cadeira nº. 26_ Patronesse: Maria da Glória V. de Faria.
Rogério Kremer, historiador.
Muito amigo e organizado,
Do município de Antônio Carlos
Tem muito documento arquivado.
Cadeira nº. 27_ Patrono: Mário Quintana.
Vanda Lúcia Sens Schäffer, poetisa.
Das pessoas é muito amiga,
Seu coração é de todos
Jamais comprou uma briga.
Cadeira nº. 28_ Patrono: Manoel de Menezes.
Esperidião Amim Helou Filho, educador.
Precisa reservar algum tempo ,
106
Está ausente da academia
Até o presente momento.
Cadeira nº. 29_ Patronesse: Maura de Senna
Pereira.
Alzira Maria S. dos Santos, poetisa.
Educadora de grande qualidade,
Sempre enaltece Biguaçu
E defende nossa cidade.
Cadeira nº. 30_ Patrono: Nereu Corrêa.
João F. Vaz Sepetiba, escritor.
Sua ausência é muito sentida,
Algum motivo deve existir
Aguardamos agora sua vinda.
Cadeira nº. 31_ Patrono: Nereu Ramos.
Homero Costa Araújo, escritor.
Intelectual muito competente,
Quando não pode comparecer
Sempre justifica antecipadamente.
Cadeira nº. 32_ Patronesse: Nila Sardá.
Resilamar F. M. Silva, escritora.
É otimista e sorridente,
Deve reservar algum tempo
Para prestigiar nossa gente.
Cadeira nº. 33_ Patrono: Oswaldo R. Cabral.
Dulcinéia F. Beckhäuser, escritora.
Assumiu recente esta cadeira,
Demonstra muita competência
Sempre atenta e ordeira.
Cadeira nº. 34_ Patrono: Othon Gama D`Eça.
107
Vera Regina da S. de Barcellos, escritora.
É a nossa competente secretária,
Apresenta sempre boas idéias
Não importa qual seja a área.
Cadeira nº. 35_ Patrono: Raulino Reitz.
Maria de L. Zunino Duarte, escritora.
É uma acadêmica ausente,
Gostaríamos de saber os motivos
Porque não está presente.
Cadeira nº. 36_ Patrono: D. Jaime de B. Câmara.
Alfredo da Silva, escritor.
Agora muito participativo,
Ficamos contentes com a volta
É intelectual muito ativo.
Cadeira nº. 37_ Patrono: Thomé da R. Linhares.
Ana Lúcia Coutinho, historiadora.
Batalha pela cultura em geral,
Sempre muito atarefada
Pessoa competente e leal.
Cadeira nº. 38_ Patrono: Lauro Locks.
Neusita Luz de A. Churkin, poetisa.
Está sempre com disposição,
Viaja de longa distância
Para prestigiar uma reunião.
Cadeira nº. 39_ Patrono: Virgílio Várzea.
Ernestina Faizer Kurth, poetisa.
Também é acadêmica ausente,
Já enviamos correspondência
Aguardamos resposta urgente.
108
Cadeira nº. 40_ Patrono: Visconde de Taunay.
Leatrice Moellmann Pagani, escritora.
Acadêmica de grande capacidade,
Seus livros são tão import antes
Que nunca perdem a validade.
Encerro minha homenagem
Com estes versos inéditos,
Sei que não agradei a todos
Da próxima vez serão completos.
JOSÉ RICARDO PETRY
Nasci em 22 de novembro de 1958 em Florianópolis, filho de Luiz
Felipe Ramos Petry (in memoriam) e Marina Petry. Meu pai era Coletor
Estadual de Biguaçu.
Estudei o primário na Escola Básica José Brasilísio. Concluiu a
8ª série no Colégio Estadual M aria da Glória V. de Faria. E o 2ª grau
estudou no Estreito no Colégio Co mercial Pio XII, foi a última turma com
reconhecimento Técnico em Contabilidade. Exercia a função de contador.
Em 1974 meu irmão Luiz Renato montou o “Foto Ideal”, tendo
contratado o fotógrafo Amaro, Daí despertou meu interesse pela
fotografia, e o cont ado com o Padre Francisco Costa (in memoriam) que
tinha um grande conhecimento da fotografia, que muito ensinou. E em
1976 Luiz Renato fechou seu Foto Ideal, e eu fui trabalhar de continuo no
Banco Real, trabalhei até 1977 onde tinha sido promovido para ca ixa. No
109
início de 1978, já formado, sai do Banco e montei meu comércio Foto
Ricardo usando os equipamentos do meu irmão.
No 2ª semestre de 1978 fiz um curso Pré -Vestibular a noite em
Florianópolis, onde conheci a colega de aula Cátia Regina Gonçalves,
casamos em 1981, foi o Cônego Rodolfo Machado quem celebrou nossas
alianças.
Tenho 3 filhos: Ricardo Luiz Petry – 1983, Júlia Gonçalves Petry
–1984, e João Vitor Gonçalves Petry – 1989. Em 1983 prestei vestibular
UFSC para Filosofia e me formei em 1986.
Sou um fotógrafo Social, perdi as contas de quantos
casamentos, batizados, festas de aniversário, desfile 7 de setembro,
bailes, eventos religiosos e políticos que eu fiz cobertura.
Em 1990 fui Presidente da ACIBIG (Associação Comercial e
Industrial de Biguaçu), e 2004 fui candidato Vice-Prefeito com Pedro
Cardoso, na coligação entre PSDB com PTB, meu partido até hoje.
Uns dos meus trabalhos mais relevantes foi da pesquisa fotográfica
“Atividades Cônego Rodolfo Machado” (in memoriam). Em 2000 na casa
dos Açores Museu Etnográfico, fiz a doação do acervo, ficando a
exposição permanente até hoje.
Segue em ordem cronológica, certificados e homenagens
recebidos: 1969 – Lembrança 1ª Eucaristia em 28 de setembro na Igreja
Matriz São João Evangelista . 1974 – certificado de conclusão de 1ª grau
no Colégio Mª da Glória V. de Faria. 1977 – Formatura de 2ª grau no
Colégio Comercial Pio XII, no Estreito. 1980 – SENAC (Serviço Nacional
de Aprendizagem Comercial) “Curso de Fotografia e Arte”. 1991 –
Destaque Empresarial, promovido pela Sociedade Recreativa 17 de Maio.
1993 – Padrinho de turma 8ª série da Escola Municipal Donato. 1995 –
Homenagem Projeto Biguá -Flor, Troféu Raulino Reitz. 1996 –
Homenagem da Margan Confecções “Cliente Amigo”. 1996 – Padrinho
turma 8ª série da Escola Avelino M üller. 1996 – Troféu Empresarial do
Ano, promovido pela ACIBIG. 1998 – Destaque do ano pela Empresa de
Pesquisa Promatex. 1998 – Troféu Empresarial pela ACIBIG. 1998 –
Certificado Associação Com. e Industrial de Joinville, 1 ª colocado
concurso categoria “Foto Social”. 2000 – Imprensa – Cobertura Viagem
Presidencial a Petrobras em Biguaçu/SC, para o Jornal Biguaçu em Foco.
2000 – Certificado Exposição Fotográfica “Atividades Cônego
Rodolfo Machado (in memoriam), pela Fundação Catarinense de Cultura
Casa dos Açores e Museu Etnográfico. 2001 – Troféu Lar do Idoso
Osvaldo Alípio da Silva (Padrinho). 2001 – Certificado Espaço do Artista
DICAVE – Blumenau Foto Arte. 2003 – Troféu Biguá-Empresarial CP
Propaganda. 2004 – Câmara de Vereadores de Biguaçu em Secção
Solene Homenagem “Honra ao Mérito”. 2004 – Biguaçu Atlético Clube BAC. Diploma Amigo do BAC. 2004 – Troféu Top Of Mind. Destaque
110
empresarial “Biguá 2004”. Pela conquista da Preferência popular e
reconhecimento da comunidade de Biguaçu. 2005 – Troféu OF-MIND,
destaque empresarial. 2006 – Troféu OF-MIND, 4ª edição destaque
empresarial. 2007 – Prefeitura Municipal de Biguaçu – Secretaria
Municipal de Cultura Esporte Turismo e Lazer, “Honra ao Mérito
Bom Cidadão”. 2008 – Homenagem pela contribuição da turma Heróis da
Fé e amigo da Igreja do Evangelho Quadrangular.
É com grande responsabilidade que vou ocupar a cadeira do
Grande Homem Público, o Cônego Rodolfo Pereira Machado, estou com
um acervo de mais de 500 fotos reproduções inéditas. Aos meus
familiares, amigos e clientes uma grande gratidão. Biguaçu é minha vida,
agradeço a Deus pela cidade maravilhosa.
Acadêmico: José Ricardo Petry
Nascimento: 22-11-1958
Cadeira nº: 17
Posse: 14-05-2008
Título: Filósofo / Escritor
Endereço: Rua João Born, Biguaçu -SC
CEP: 88160-000
Fone: Não informado
E-mail/Site: Não informado
Patrono: Cônego Rodolfo Pereira Machado
Título: Cônego / Orador
Mensagem
Por Cônego Rodolfo Pereira Machado
Meus Caros Amigos
Dezembro de 1996
Nada mais importante na vida de um homem do
que o agradecimento, e eu sempre agradeço a Deus os
benefícios que Ele me concedeu ao longo da minha
vida. Ao me levantar de manhã ou na cama deitado,
peço sempre a Deus que abençoe a todos,
111
principalmente aos necessitados, os doentes e todos
aqueles que precisam de sua misericórdia para
perseverar no caminho do bem e da salvação.
Nada mais gratificante para um padre se levantar
e ver diante de si os seus sucessores, aqueles que o
substituíram e vem pregando a palavra de Nosso
Senhor Jesus Cristo.
Por isso, nas minhas orações, eu sempre peço a
Deus para glorificar aqueles que pastoreiam as almas.
Espero que todos em 6 de janeiro de 1997, quando
completarei 60 anos de sacerdócio, foi nesse dia em
1937, que prometi a nosso Senhor lutar pela salvação
das almas.
Vamos, portanto, meus amigos, com muita
satisfação rezar pelo menos uma vez por dia pedindo
paz e harmonia nesse mundo.
Que as famílias de Biguaçu esteja m unidas no
nome de Deus. Muito Obrigado e que Deus conceda a
bênção a todos. Amém.
Cônego Rodolfo Pereira Machado
64 anos de sacerdócio e 92 anos de vida
Janeiro de 2001
A igreja de Biguaçu, São João Evangelista,
prepara uma missa em ação de graças para
comemorar os 64 anos de sacerdócio do C ônego
Rodolfo em 6 de janeiro de 2001, do padre símbolo da
112
cidade. Muito doente, sofre de artrose, não anda; ouve
e vê com dificuldade.
Mesmo tendo deixado as atividades de pároco
em 1976, ele continua sendo procurado por seus fiéis,
a maioria deles grato pelo trabalho realizado desde
1943. Apesar de doente ele está lúcido, e quando
procurado, ele ouve as confissões completa s.
Padre Rodolfo como é conhecido, completaria 93
anos em novembro, natural de Florianópolis, localidade
de Canasvieiras, viu surgir a vocação sacerdotal após
sua crisma, com o padrinho Padre João Casale.
Estudou Filosofia a Teologia em São Leopoldo -RS,
concluiu em Mariana -MG e ordenou-se padre em Itajaí
(1937).
Foi nomeado para Orleans (1937 a 1938), São
Pedro de Alcântara (1938 a 1941) e Itajaí (1941 a
1943). Em 1943 veio para Biguaçu permanecendo até
sua morte.
Os moradores mais antigos ainda se lembram
que o primeiro carro a aparecer na localidade foi o seu.
Além das atividades de Padre, realizou trabalho
comunitário, buscando junto as autoridades, donativos
para as famílias carentes. Político, professor e muito
mais.
Era o Padre Rodolfo quem dava assistência as
mulheres que tinham dificuldades no parto caseiro,
levando para o Florianópolis no seu carro.
A primeira creche, para as mulhe res poderem
trabalhar, ajudar no orçamento familiar, foi criada por
ele, (Jardim de Infância Chapeuzinho Vermelho).
Nomeado Cônego em 1962, quando comemorou
suas Bodas de Prata como sacerdote, também recebeu
113
homenagem de Honra ao Mérito pela Câmara de
Vereadores como “Cidadão de Biguaçu” . Padre Rodolfo
tinha grande domínio da língua Alemã.
Não posso esquecer de falar de Dona Paulina
Brugemann (em memória). Grande auxiliadora na casa
paroquial, fazia expediente, cuidava da casa, do Jardim
de Infância, professora de catequese e de música na
Igreja. Teve toda sua vida voltada a cuidar do Cônego
Rodolfo Pereira Machado. Todo dia fornecia muitos
pratos de comida aos necessitados, mendigos e outros.
No fim da vida, Padre Rodolfo depend ia em tudo
de Vilma Lourenço Peres, criado por ele desde 3 anos
de idade “Ele é praticamente uma criança, apesar da
lucidez”, conta ela. O Cônego não anda, apenas dá
alguns passos, de uma cadeira a outra, sofreu um
derrame, que agravou sua saúde. Um cilindro de
Oxigênio é instalado em seu quarto, esta muito frágil.
Em 2000, a poetisa Dalvina de Jesus Siqueira,
em comemoração do Jubileu de Ouro da Igreja Matriz
que ele construiu, fez a o utorga da cadeira nº 17 ao
acadêmico Cônego Rodolfo Pereira Machado.
Em 21 de março de 200 1, veio a falecer o Padre
Rodolfo, sendo sepultado no cemitério Municipal São
João Evangelista. Fez parte importante como
personalidade Histórica de Biguaçu.
Procissão de Corpus Christi
Numa manhã de junho 1975, Grupos de
Famílias, Movimento de Irmãos, Grupo de Jovem e a
população em geral se reúnem ao redor da praça, na
114
madrugada, para confeccionar os tapetes a procissão
de Corpus Christi. Muita serragem, flores, tampinhas de
garrafas, areia fina, pó de café, papel picado e muito
mais material reciclad o, além das formas para os
corredores.
Já os tapetes são únicos em cada estação,
surgem os belos tapetes para os fi éis expressarem,
através da arte, seus sentimentos da fé cristã.
De todos os tapetes, o que me faz pensar, é o da
Dona Augusta, no cruzament o da Rio Branco com
Lúcio Born, feito na maioria com tampinhas de garrafas
cobertas com papel laminado, lembro minha mãe
(Marina Petry), cobria estas tampas com antecedência,
para entregar no dia. Era um Cálice e uma Hóstia,
representando a fé em Jesus Cristo; muito lindo.
“O corpo de Jesus é um alimento forte que
sustenta a nossa caminhada na fé” diz o Padre
Rodolfo.
Começa a profissão, uma multidão acompanha o
Cônego Rodolfo, que termina com a missa ao ar livre,
pois dentro da Igreja não caberia a quant idade de fiéis
devotos no dia de Corpus Christi.
Festa da Nossa Senhora dos Navegantes
Tudo começa num sábado de fevereiro às 10h,
no Posto Texaco beira do rio, na rua João Pessoa,
centro Biguaçu. Muita s embarcações enfeitadas com
bandeirinhas e fogos de artifício, comandadas pelo
fogueteiro Pialo, segue a imagem de Nossa Senhora
dos Navegantes, da Igreja Matriz até beira do rio . Ia de
115
procissão pelo rio até o mar, ficando na Capela da
Praia até a noite, quando segue a procissão a pé em
direção a Igreja Matriz vindo pela rua 7 de setembro .
Mais fogos são estourados neste percurso . Chegando
na Igreja Matriz havia uma verdadeira bateria de
foguetes coloridos e barulhentos.
O Cônego Rodolfo estava a frente de toda a
festividade, barraquinhas eram dist ribuídas em toda a
praça, muita comida era servida nas barracas; as
bebidas eram do Sr. Vidal Mendes – responsabilidade
Bebidas Marte; as galinhas eram com recheio alemão;
o churrasco bem temperado em cocho com temperos.
A maioria das vendas era realizada através de
roletas que tinha os números 00 a 99, fabricad as a
partir da roda de bicicleta . O baile no salão era
realizado nas tardes de domingo ; as domingueiras
eram gratuitas.
Padre Rodolfo adorava fazer a Guerra dos
Bonecos em fogos de artifício, era a última atração na
praça.
Que belas festas eram realizadas ! Todos
ajudavam: uns na cozinha, outros nas bebidas, outros
ainda nas churrasqueiras improvisadas . Nas barracas
haviam tortas de suspiro, pão de trança, cucas. .. Tudo
ficou na saudade...
Reconhecimento
Quando fizeres o bem, não espere aplausos,
abraços ou notícias na mídia. Talvez seja por timidez,
orgulho, desprezo, as pessoas raramente reconhecem
116
a realização do bem . Mas, nem por isso, deixe de
praticá-lo.
Agora, se fizeres o mal, esta rás sujeito a todo
tipo da má sorte; estarás nas páginas de jornal c om
todo pejorativo em evidência;
descobrem o
inacreditável e sua vida vira uma eterna desgraça.
Portanto, ainda é melhor fazer o bem, um dia
serás homenageado por Ele e serás uma pessoa feliz.
LEATRICE MOELLMANN PAGANI
Natural de Florianópolis -SC, Leatrice Moellmann é formada em
Direito e Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal de
Santa Catarina. Tem onze livros publicados, três dobraduras e inúmeros
artigos em jornais, revistas e antologias.
Pertence à Academia Catarinense de Letras, à Academia de
Letras do Estado do Rio de Janeiro, à Academia de Letras de Biguaçu -SC
e outras instituições culturais.
Acadêmica: Leatrice Moellmann Pagani
Cadeira nº: 40
Posse: 17-12-1997
Título: Escritora
Endereço: Rua Esteves Júnior, 563, Apto. 301, Florianópolis -SC
CEP: 88015-130
Fone: (48) 3222-5862
E-mail/Site: [email protected]
Patrono: Visconde de Taunay
Título: político / Orador
ESPELHO
117
Passando pelo espelho eu me vi
com um ar tão feliz e tão contente
que fiquei bela e me surpreendi
de ter-me transformado de repente .
E logo em seguida eu entendi
a razão de tornar-me esplendente
Foi porque me flagrei pensando em ti
e o amor me iluminou completamente .
Senti-me como noiva engrinaldada
senti-me uma mulher abençoada
senti-me desejada e formosa .
Vendo-me de relance no cristal
senti-me uma mulher especial
tornando o nosso mundo cor -de-rosa.
MARACANÃ
Foi uma apoteose ver dadeira.
No estádio, a família carioca,
são artistas, a sociedade inteira:
o nosso patriotismo nos convoca.
Depois de sete anos, a chuteira
risca o maracanã e nos provoca.
Oitenta mil é a claque brasileira
numa explosão que a TV enfoca.
Em dribles e firulas corre o jogo,
118
vai o Maracanã pegando fogo.
O nosso adversário é o Equador.
Cacá, Robinho e Dunga, alvissareiro.
E canta o torcedor: Sou brasileiro
com muito orgulho, com muito amor...or!
NOSSO VELHO AFETO
Um belo dia tu me presenteias
com uma linda peça musical.
Nossa vida pregressa tu folheias,
dizes que meu olhar te é fatal.
Com teu canto de amor me homenageias,
surpresas me dedicas às mãos-cheias.
Meu carinho também é especial.
Uma alva camélia invernal
a cada ano eu te oferecia.
Assim recordo, cheia de saudade.
Tu me amavas e eu não percebia.
Meu passado de ti está repleto.
Pela instável fronteira entre amizade
e amor, transita o nosso velho afeto.
O DIA SEGUINTE
119
É um calor de sol a iluminar
É uma embriaguez que me faz bem
Em ti agarradinha, a recordar
Eu entro em alfa e vou além do além...
Existe uma utopia pelo ar
Se me abraças, não sei mais quem é quem
Este êxtase hei de perpetuar
Ao anjos todos vão dizer amém .
Meu corpo necessita e exige o teu
Minh’alma se compraz em teu ardor
Teu corpo necessita e exige o meu .
Ao me entregar me sinto inebriada
E te devoto todo o meu amor
Na certeza de ser também amada .
MARIA DO CARMO ANTUNES
Tem formação na área da saúde e prestou relevantes trabalhos
como funcionária pública estad ual da Secretaria da Saúde de Santa
Catarina.
É bonsaista (produz bonsai – arte oriental), é mosaicista de
cerâmica (produz mosaico – arte lusitana) e é poetisa.
120
Participou de 5 (cinco) antologias da Associação dos Cronistas,
Poetas e Contistas Catarinens es.
É acadêmica da egrégia Academia de Letras de Biguaçu, onde
ocupa a cadeira de número 16, cujo patrono é o escritor Holdemar
Menezes, que foi médico obstetra em Florianópolis -SC, profissional esse
com quem esta acadêmica teve a honra de trabalhar como
instrumentadora na Maternidade Carlos Corrêa.
Participou da antologia “Renascer da Primavera”, lançada pela
Academia de Letras de Biguaçu.
Atualmente fixou domicílio em Santo Amaro da Imperatriz -SC,
onde mora com seu esposo, e também poeta, Norberto Naza reno
Barreiros Fortes – acadêmico da Academia de Letras de Biguaçu –, com
quem tem um filho que se chama André Frederico Antunes Fortes.
Acadêmica: Maria do Carmo Antunes
Cadeira nº: 16
Posse: 17-12-1997
Título: Poetisa
Endereço: Caixa Postal 59, Santo Amaro da Imperatriz-SC
CEP: 88140-000
Fone: Não informado
E-mail/Site: Não informado
Patrono: Holdemar de Menezes
Título: Escritor
Desejo
(Para Norberto Nazareno Barreiros Fortes)
– Que sua vida seja feita com canções
de vitórias e de alegrias;
– Que sua consciência esteja sempre
submersa na luz divina;
– Que os ventos lhe soprem as músicas
dos que sabem amar;
– Que a inspiração poética e musical
esteja sempre constante em seus dias;
– Que o amor seja sempre a nota
musical maior em sua vida.
121
Voa pássaro, voa!
I
Voa pássaro, voa!
Cumpre teu destino,
A janela é pequena
Mas está aberta!
Sai de mansinho.
II
Voa pássaro, voa
Em direção à liberdade!
Segue teu bando,
Todos vão te admirar!
Na hora de cantar,
Não sejas brando!
III
Voa pássaro, voa!
Faze de tua melodia
Um engajamento de multidões,
Migra para outras fronteiras,
Cantando, formando fileiras!
IV
Voa pássaro, voa!
E que no adejar de tuas asas
Nunca saibas o que é cansar,
E que teu canto seja ac alanto
122
E venha as almas tristes alegrar!
V
Voa pássaro, voa!
Sai feliz a cantar,
Toca muitas notas,
Canta muitas letras,
A música é tua sina!
VI
Voa pássaro, voa!
Não fiques a esperar,
Derruba muros,
Abre alas,
Espalha mensagens
Para a terra melhorar!
Tarde de outono!
Bruscamente a chuva cai!
Meu coração entoa uma canção desconhecida,
mística, quase sinistra!
Sua imagem plasmada em minha mente povoa
meu mundo, momentaneamente desalicerçado:
a chuva, a rua, a lama, o vento, o pensamento, o
lamento..., a sensação se expande, o sentimento voa à
toa, a lembrança navega numa maré agitada,
desvairada, desacreditada, num barco sem proa.
Você chegou e amorteceu, acalentou, beijou,
adentrou, pousou e ritmado meu coração ficou!
123
Ser Poeta!
É volitar entre as nuvens!
Catar estrelas!
Beijar as bochechas da lua cheia!
É “morrer de amor”!
É ter um amor maior que o Mundo!
Um coração maior que tudo!
Parabéns por saber amar!
Vós tendes a chave do conhecimento mas se,
contudo, não entrardes no coração de cada criança,
vosso saber é como uma primavera sem flores!
Conhecimento e emoção precisam ser
despertados na mesma medida, do contrário cresce um
adulto desequilibrado.
É decepcionante o desequilíbrio profissional nos
graduados de ciências humanas. Temos cada vez mais
especialistas que aprenderam ser peritos em tratar
olhos, ossos, cérebros, coração etc; entretanto, não
aprenderam a tratar os doentes. Ciências humanas
sem amor é uma oficina onde o essencial não é
prescrito, nem admin istrado.
Sobretudo nossas crianças precisam aprender a
praticar o verbo amar; precisamos injetar amor em
nossas crianças, para que no futuro tenhamos
profissionais, especialistas de todas as áreas, que
também saibam amar.
124
Há mais de cem anos, já dizia Ch arles Chaplin:
“mais do que inteligência precisamos de afeição e
doçura”!
Toscas notas
O barulho do silêncio ecoa
E cria toscas notas
Num piano roto.
As notas assumem seqüência
E o pianista,
Que de pé permanecia
Dedilhando teclas empoeiradas,
Agora se ajoelha e, em forma
De prece, abraça o piano
Que só toca toscas notas
Que evaporam,
Formando brumas
Mescladas, amareladas, empoeiradas.
Janelas opacas,
Tudo tão desnudo,
Tudo tão mudo,
Paredes solitárias,
Minha mente tão ocupada,
Tantos versos atrope lados
Por tantos pensamentos
Tão desalinhados.
Um campeão
(Um acróstico para meu filho André Frederico Antunes Fortes)
Amor de nossas vidas,
125
Nessa dimensão és exemplo a ser seguido:
Determinado, animado!
Regras não te prendem,
És campeão na arte de viver!
Festeiro, gozador, ímpar!
Rico menino de alma nobre,
Entendes a linguagem
Da natureza como ninguém.
Entre tantos nativos
Reinas junto com as águas do riacho.
Imperas o mundo da ecologia
Como um professor de área rural.
Orientas a todos para jamais prender animais.
Antigamente um manezinho na ilha a abençoar o mar!
Naquele gesto de reverência, na cadência das ondas,
Tinhas cor dourada para contrastar com o sol.
Uma paralisia cerebral
Não te faz menos capaz.
Estais cada vez melhor nas artes marciais!
Serás também campeão na natação.
Fazes da vida um manancial de delícias!
Ontem parecias um ser indefeso, hoje
Recrias condições para vencer!
Trata com amor todos os que de ti se aproximam!
Encontras na terra a poderosa energia para
Ser um implacável campeão!
Um pouco do que é ser mãe
126
Ser mãe é sentir-se o máximo, pela condição de
sê-la!
Ser mãe é saber falar, calar e, sobretudo, ouvir o
que seu filho tem para lhe contar.
Ser mãe é afagar, fazer ninar aquela criancinha
que faz parte do maior encanto da vida!
Ser mãe é esquecer -se de si, de suas
preferências, sem, contudo, anular -se, para poder
dividir sua vida com seu filho.
Ser mãe é ser mestra na arte de amar, porque
há que ser dócil, generosa, companheira, amiga
incondicional de todas as horas.
Ser mãe é emocionar -se ao ver que seu filho
está aprendendo as lições da escola e, sobretudo,
aprendendo a arte de viver, porque saber viver é uma
arte!
MIGUEL JOÃO SIMÃO
Natural de Governador Celso Ramos -SC, Miguel João Simão
nasceu em 21 de julho de 1960. Casado com Lucineide de Azevedo
Simão desde 1981 é pai de Diego, Eduardo e Iolanda. Professor da Rede
Estadual de Ensino dede 1980, atua como Professor Supervisor de
Estágio e Didática na E.E.B. Wanderley Júnior, em São José. Presidente
e Fundador da Academia de Letras de Governador Celso Ramos, ocupa a
Cadeira Nº 1, tendo como Patronesse Iolanda dos Santos Simão.
É Membro da Academia de Letras de Biguaçu ocupando a
Cadeira Nº 25, sendo Patronesse Luiza dos Reis Prazeres. É Membro da
127
Oficial Academia Tijuquense de Letras, ocupando a Cadeira Nº 11, sendo
Patrono Padre Jacob Hudieston Steler. Presidente e Fundador da
Associação dos Escritores dos Municípios da Região da Grande
Florianópolis.
Presidente da Academia de Letras do Brasil em Santa Catarina,
ocupando a Cadeira Nº 01. Tem três obras publicadas: “Ganchos – Um
pedacinho de Portugal no Brasil”, “De Ganchos a Governador Celso
Ramos” e “Mulheres de Ganchos ”. Participou das seguintes antologias:
Devaneios de Verão e Aconcheg o pela Academia de Letras de Biguaçu e
Encontros da Primavera pela Academia de Letras de Governador Celso
Ramos, onde foi organizador da Obra. Escreve para diversos Jornais da
Região.
Acadêmico: Miguel João Simão
Nascimento: 21-07-1960
Cadeira nº: 25
Posse: Não informado
Título: Educador / Escritor
Endereço: Rua São Pedro, 105, Canto dos Gaúchos, Governador Celso
Ramos-SC
CEP: 88190-000
Fone: (48) 3262-0296 / 9972-1823
E-mail/Site: [email protected]
Patronesse: Luiza dos Reis Prazeres
Título: Educadora
A ROSA QUE EU PERDI
Do alto do campanário da velha igrejinha sentada
no topo do morro, o sino badalava sem cessar.
O sino era tão velho quanto a construção das
paredes da igrejinha rebocadas com óleo extraído de
fígados de baleias.
A igreja foi um sonho do povo que necessitava de
um lugar para rezar.
128
Sua construção data de 1941, mas não é a data
da pedra fundamental, que foi colocad a no local bem
antes, nem se sabe ao certo quanto tempo antes.
Todo mundo queria ver a igrejinha acabada, com
janelas, com portas, com uma torre bem alta. Muitos
não alcançaram, foram embora desse mundo antes da
obra ficar pronta, não chegaram nem a conhecer o
padre. Mas, outros tiveram até o privil égio de vestir
seus primeiros ternos na inauguração, chapéus de
carmuça e lenços brancos no bolso do paletó.
Para as “moças de famílias” não faltou o véu que
lhes cobriam os rostos e que só eram levantados na
hora de tomar a comunhão. R oupas descentes, sem
decotes e saias abaixo dos joelhos, é claro.
Teve até a banda de músicos que veio de
Florianópolis; foi aquele festão!
Depois da missa, começava a domingueira no
salão improvisado ao lado da igrejinha. Salão Poeira,
como diziam os hilários de plantão. Uma cobertura com
lonas, cercado com uns pedaços de madeira, e ali
todos se divertiam.
Começou a dança. Pedro se encheu de coragem
e respondeu ao olhar fascinante da mais bela jovem
que ali estava a enfeitar ainda mais a festa.
Chegou de mansinho, meio envergonhado e pediu
permissão para aquela dança. Prontamente a moça
aceitou.
Começaram a dançar. Os olhares se atentaram a
eles, centro de atenção por criarem um momento de
raro esplendor. Formou um belo casal aos olhos dos
mais velhos que ali estavam e deu inveja nos mais
jovens.
129
Ele era nativo da pacata vila de pescadores
denominada Canto dos Ganchos, hoje Governador
Celso Ramos. Descendia de uma mistura de alemães
com portugueses. O moço moreno claro, de olhos meio
esverdeados trazia bem os traços das duas raças. Alto,
de bela presença, chamava a atenção por onde
passava.
Ela chamava-se Rosa, uma rosa pura e bela que
chamava a atenção por onde passava por sua beleza
ímpar.
Loira pura de cabelos amarelinhos e de olhos
azuis, lindos como o céu clareado sem nuvens, era
percebida sempre. Sua simpatia, seu carisma eram
qualidades admiradas por todos que lhes conheciam.
Essa dança foi o primeiro contato que ela teve
com um moço desconhecido, por isso tão marcante
para sua vida. Era a primeira vez que saia só, sem a
companhia dos pais.
Mal terminava essa dança e o músico já
comunicava a dança da gasosa, um costume da época
que, muitas vezes, esvaziava o salão e que
permaneciam apenas os poucos sortudos.
A dança da gasosa era uma espécie de
brincadeira que acontecia em todos os bailes, onde as
moças eram quem convidavam os moços a dançar, e
como uma maneira generosa de retribuir o convite, o
moço pagava uma gasosa (refrigerante) para a moça.
Nesse momento, ficavam todos de orelhas bem em pé,
pois os convidados geralmente eram seus futuros
pretendentes ao namoro.
130
Rosa dirigiu seu olhar encantador para Pedro. As
expressões no rosto, o sorriso singelo já dizia tudo, era
o convite para dançar.
Na primeira dança nem uma palavra, mas na
dança da gasosa já estavam mais soltos, mais a
vontade, e puderam trocar algumas palavras que
marcariam aquele momento como único, sagrado para
o jovem casal.
Final de tarde! Algumas estrelas começam a pintar
o céu, que vai perdendo o azul irradiante pelo tom
escuro da noite que se aproxima. A domingueira
termina, as moças dirigem -se as suas casas, apenas
os rapazes ficam ainda por mais tempo trocando idéias,
fazendo comentários da festa, dando boas
gargalhadas.
Rosa vai acompanhada da tia e da prima, mesmo
assim ainda consegue deixar algumas palavras de
despedida a Pedro, visto que partiria cedo no dia
seguinte.
Na manhã de inverno, daquele 30 de junho,
agasalhada com um casaco que lhe protegia do frio, ela
se despede dos parentes e embarca na lancha que a
levaria até Tijucas.
Quando chegou em casa, não levou muitas
novidades, o pai já sabia da festa, das companhias e
até da dança.
O pai de Rosa era um homem duro,
incompreensível, áspero. Era do tipo que achava que
um bom pretendente para a filha tinha que se r dali dos
arredores, gente de família conhecida, menino que ele
viu nascer e crescer, nada de gente de fora. Dizia que
paixão é igual fogo de palha, logo se apaga. Um bom
131
casamento não precisa ter paixão, amor, essas coisas
tiradas da cabeça de gente nova . Um bom casamento
se fazia com obediência. Mulher obediente e
trabalhadeira tem futuro, pega bom casamento. A moça
tem que ser prendada, saber cozinhar bem para
agradar o marido, usar bem o ferro de passar para não
amarrotar a roupa, deixando -a bem passada.
Por mais que Rosa, co m a ajuda da compreensiva
mãe, tentasse explicar que tinha sido apenas uma
dança, o homem não queria entender. Para tanto,
tratou logo de arrumar um casamento para a filha. O
moço em questão era de família tradicional de Tijucas e
há muito tempo se interessava por Rosa.
No pacato vilarejo de Ganchos, Pedro continuava
suas atividades profissionais ao lado do pai. Em suas
horas de solidão, buscava no amigo violão o antídoto
para suas dores de cotovelos. Cantava, inventava
canções, declamava poesia, vivia um sonho acordado.
Era um incansável lutador pelo sonho que
desenhou ao lado de Rosa. Sempre que ia alguém de
confiança para Tijucas, mandava uma carta. As viagens
à Tijucas eram comuns na época e aconteciam quase
todos os dias. Semp re ia alguém para Tijucas, fazer
compras, buscar remédios nas benzedeiras, vender
crivos, enfim, sempre alguém tinha alguma coisa para
fazer em Tijucas, visto ser uma cidade desenvolvida,
com muitos recursos por aqui inexistentes.
Em todas as cartas receb idas por Rosa vinha a
certeza do amor de Pedro. Mas, seu coração partia de
dor em imaginar que já era comprometida, mesmo
contra-gosto, mas por força de seu pai. Pedro sabia
das atitudes do pai de Rosa, mas a cada casa, a cada
132
barco que terminava de constr uir, guardava o dinheiro,
moeda sobre moedas, pois haveria de surpreender a
família de Rosa. Era uma promessa feita para si
mesmo, economizar, e quando tivesse um montante
suficiente iria à Tijucas e fugiria com a moça.
Namorou Rosa quase um ano por carta e se
encontraram depois daquela inesquecível domingueira
apenas duas vezes, tempo suficiente para jurarem
amor eterno.
Pedro trabalhava incansavelmente e não via a
hora de buscar Rosa, pois já fazia algum tempo que ele
não recebia notícias dela . As costumeiras cartas já não
lhe eram respondidas e, depois do último encontro, ele
recebeu apenas uma carta sua, que suplicando ela
dizia que o casamento, logo seria marcado.
No sábado, depois da Páscoa, do ano seguinte,
com uma quantia de dinheiro qu e era suficiente para
assumir tamanho compromisso, o de tirar uma moça de
família de casa de seus pais e dá -lhe o conforto
necessário, Pedro se preparou para buscar Rosa.
Acordou feliz! Como se tivesse achado ouro
enterrado. Ele foi buscar um terno que ma ndou o
alfaiate fazer, engraxou seus sapatos e tratou com um
dono de embarcação a hora da surpresa.
Mar calmo! E lá se vão os homens, remando rumo
à Tijucas.
Na entrada da barra já se avista as casas e a
Igreja de São Sebastião. Foram eles se aproximando e
vendo a presença de pessoas que se dirigiam para a
igreja. Pessoas bem arrumadas, carroças e charretes
enfeitadas e cheiro de festa no ar. Pedro, os dois
133
remadores e o dono da embarcação atracam a canoa
no Porto e descem.
A curiosidade de Pedro instigo u-lhe a perguntar
uma senhora, qual era a festa que tinha na cidade. A
senhora que também se dirigia à igreja, sorrindo,
calmamente falou:
– É o casamento da Rosa, filha do seu Antônio,
com Geraldo, o filho do fazendeiro.
Os remadores e o dono da embarcaç ão baixaram
a cabeça e só as levantaram quando os sinos da igreja
anunciavam a entrada da noiva. Ficaram estáticos, nem
os olhos se mexiam, esperando a reação de Pedro que
teve seu olhar transformado em dor, solitário,
aprisionado. Lágrimas lhes caiam do r osto, mas
manteve a postura de um homem educado, nem uma
palavra falou, apenas pasmo ficou.
Deixou todas as pessoas entrarem na igreja, e
quando os noivos se aproximam do altar, ele chega de
mansinho a porta da igreja. Olha as pessoas, a igreja,
dirige seu olhar em direção aos noivos.
Peito rasgado, não conseguia imaginar Rosa nos
braços de outro, para viver como manda os
mandamentos de Deus. Casar para a vida toda, na
alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Queria
uma explicação plausível para o c aso, queria saber se
Rosa havia deixado de lhe amar. Saiu da porta da
igreja da mesma maneira que ali chegou, e preferiu
esperar o casamento terminar próximo a embarcação.
Gostaria de poder olhar nos olhos de Rosa, mesmo que
fosse pela última vez.
Quase uma hora depois, saia da igreja a noiva de
braços dados com o noivo. Ela não o percebeu. Soube,
134
muitos anos depois por uma amiga, que Pedro tinha ido
lhe buscar, bem no dia de seu casamento.
Ele pode apreciar sua beleza, mesmo de longe, lá
da barranca do rio, viu pela última vez sua amada,
como desejou um dia vê -la, vestida de noiva.
Ordenou aos homens que dessem a volta na
lancha e dando seu último olhar em direção a igreja,
com os olhos marejados de lágrimas, disse: Lá se foi a
Rosa que eu perdi...
NORBERTO NAZARENO
Nome literário de Norberto Nazareno Barreiros Fortes. De
descendência portuguesa (Barreiros) e espanhola (Fortes), nasceu numa
cidade de colonização italiana, ao sul de Santa Catarina, Urussanga, a
“Terra do Vinho”, em 1959. Aos 7 anos de idade já tocava violão e,
enquanto entoava os primeiros acordes musicais, também cursava o
ensino fundamental no Grupo Escolar “Barão do Rio Branco”.
Na adolescência passou a compor poemas e a musicá -los, vindo
a formar um grupo musical que se apresen tava em shows beneficentes.
Durante a infância e adolescência sempre veio muito à Florianópolis
visitar irmãos mais velhos que já cursavam Universidade e, junto com os
amiguinhos ilhéus, apresentavam o boi -de-mamão. Em 1977 concluiu o
ensino médio, formand o-se no “Curso Técnico em Análises Químicas”, no
Colégio “Rainha do Mundo”, em Urussanga.
Em 1978 veio morar em Florianópolis, fixando seu domicílio na
Capital do Estado até 2006, quando mudou -se com sua família para Santo
Amaro da Imperatriz-SC, onde reside atualmente. Em 1978 fez o curso
pré-vestibular do Barddal e estudou inglês na escola FISK. De 1978 a
1980, na Capital do Estado de Santa Catarina, passou nos concursos
públicos da Polícia Federal, Centro de Informática e Automação de Santa
Catarina (CIASC), Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) e
Ministério das Comunicações.
Ainda em 1979 foi aprovado no vestibular da Universidade
Federal de Santa Catarina para o curso de Farmácia e Bioquímica, onde
135
cursou a primeira fase. Neste ano participou d o I Concurso Universitário
de Violão, realizado na Igrejinha do campus universitário, concorrendo
com grandes violonistas do cenário musical, classificando -se para a etapa
final do certame. Em 1980 foi novamente aprovado no vestibular da
Universidade Federal de Santa Catarina para o curso de Direito. Formou se no segundo semestre de 1985, colando grau em 04/01/1986.
De 1987 a 1994 classificou vários poemas musicados em
diversos Festivais da Canção em Santa Catarina (já publicados – com
detalhes dos locais apresentados – no livro “Aconchego” da Academia de
Letras de Biguaçu), passando então, posteriormente, a apresentar -se
profissionalmente como músico (e sempre muito bem acompanhado por
excelentes músicos) no Shopping Itaguaçu, no Lagoa Iate Clube (LIC),
restaurante Kantão (próximo ao Banco Itaú no bairro Estreito), festas
particulares e casamentos.
De 1990 a 1996 participou de vários cursos e vivências
alternativas para o autoconhecimento, especializando -se no estudo do
Tarot e massoterapia ayurvédica, vin do a tornar-se Terapeuta holístico.
Em 1996 classificou “Saudades” no concurso promovido pelo
Grupo Brasília de Comunicação, com sede em Brasília -DF e Rio de
Janeiro-RJ, vindo a ser membro, neste mesmo ano, da Associação dos
Cronistas, Poetas e Contistas Catarinenses (ACPCC), participando da
maioria das antologias lançadas por esta agremiação. Em 1997 recebeu a
medalha do mérito cultural “Stella Brasiliense” (Estrela de Brasília) do
Grupo Brasília de Comunicação – pela participação ativa nas atividades
culturais dessa empresa jornalística – e tornou-se acadêmico da
“Academia São João Evangelista da Barra de Biguaçu”, que mais tarde,
por votação democrática de seus acadêmicos, viria denominar -se
simplesmente de “Academia de Letras de Biguaçu”, onde ocupa a c adeira
nº 8 do poeta Cruz e Sousa. Tem participado, até o presente, de todas as
antologias lançadas por esta insigne Academia de Letras.
Em 2001 conquistou o título de “Maestro Letterato” (Mestre
Literato) pela Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas L iterárias
(ABEPL), em Brasília -DF. De 2001 a 2003 concluiu pós -graduação em
Direito Constitucional e Direito Tributário pelo Instituto de Preparação
Jurídica, com sede em Brasília -DF. Atualmente, participa do website da
“Sociedade
dos
Poetas
Advogados
de
S anta
Catarina”
(www.poetasadvogados.com.br ).
Em concurso de poesias realizado em São Paulo -SP (produção
de Arnaldo Giraldo), classificou alguns poemas e foi convidado pelo editor
a participar de um website literário – www.giraldo.org – para divulgar
trabalhos
literários.
Endereço
pessoal
no
website:
www.giraldo.org/norbertofort
136
Acadêmico: Norberto Nazareno Barreir os Fortes
Nascimento: 29-08-1959
Cadeira nº: 08
Posse: 17-12-1997
Título: Não informado
Endereço: Caixa Postal 59, Santo Amaro da Imperatriz -SC
CEP: 88140-000
Fone: (48) 9106-1161
E-mail/Site: Não informado
Patrono: João da Cruz e Souza
Título: Poeta
Água doce 37
A água doce é um bem essencial à vida. É um
dos maiores valores da vida, assim como é o oxigênio
que, através da respiração, é levado pelo sangue a
todos os tecidos do nosso corpo, mantendo a vida em
todos os seres humanos. A água doce é um direito de
todos. Temos que democratizá -la com uma gestão
comunitária e não transformá -la em consórcio para
geração de lucros particulares e capitalistas.
A água doce não é mercadoria, pois sendo
mercadoria não tem nenhum objetivo ou valor social.
Se for considerada apenas uma mercadoria, gera um
desastre, um caos social, porque muitas pessoas
excluídas economicamente da sociedade não poderão
sobreviver, pois a água doce é um bem insubstituível à
vida.
37
Crônica publicada no Jornal VIP – Vitrine Popular, de Santo Amaro da
Imperatriz-SC, cidade conhecida como o “Paraíso da Águas”, com
distribuição para a Grande Florianópolis, de 22 a 28 de setembro de 2006.
137
Temos a obrigação, nós, seres humanos
conscientes, de trabalhar para diminuir a poluição nos
mananciais e nos rios das águas doces e proteger o
meio ambiente. Temos que formar grupos ativistas para
proteger as nascentes e os rios, cada pessoa dando
sua cota de contribuição e participação dentro de sua
área profissional, com o apoio do Poder Público –
Executivo, Legislativo e Judiciário.
Em razão de a água potável ser um dos maiores
valores da vida, é dever de todos economizá -la,
principalmente em razão dos níveis alarmantes de
poluição que permeiam os n ossos rios atualmente.
Como é um bem que está ficando cada vez mais raro a
cada dia que passa, conseqüentemente, está também
a cada dia mais valorizado e cobiçado, chegando a
haver, atualmente, estrangeiros que estão querendo
internacionalizar a Amazônia, que é um dos maiores
reservatórios de água doce no mundo, isso sem falar
da sua biodiversidade – flora e fauna – que é de uma
riqueza incomensurável.
Então, atualmente, está havendo uma grande
corrida para o apossamento dos mananciais de água
doce no planeta. Compete ao Poder Público, com o
apoio de ONG’s (Organizações Não Governamentais –
formadas com o objetivo de dar consciência ecológica
às pessoas menos esclarecidas, e, conseqüentemente,
dar também uma consciência mais humanitária –),
continuar proporcionando uma vida comunitária justa e
igualitária, com distribuição de água potável para toda a
sociedade, garantindo qualidade de vida a todos os
seus membros, combatendo a poluição dos rios e dos
seus mananciais, protegendo o meio ambiente do
138
Planeta Terra, garantindo a continuidade da vida às
futuras gerações.
Altruístas
Ainda existem, atualmente, pensamento e
oratória de algumas mulheres que persistem em
dizerem-se “feministas”.
Em pleno século XXI conclui -se que esse
discurso já está ultrapassado. Senão vejamos:
O movimento feminista aconteceu até o final do
século XX. Foi bom ; as mulheres evoluíram muito,
atingiram um grau de crescimento justo, semelhante ao
do homem ou ainda maior em muitos casos; exemplo
disso é o atual Código Civil Brasileiro (Lei n. 10.406, de
10/01/2002) que criou medidas igualitárias entre o
homem e a mulher promovendo a tão sonhada justiça
entre os sexos, os direitos iguais, que tanto as
mulheres almejavam.
A Lei n. 11.340, de 07/08/2006, também criou
mecanismos de defesa e proteção à mulher, eliminando
todas as formas de discriminação contra as mulheres e
previne, pune e erradica a violência contra a mulher.
Então, hoje, não há mais necessidade de
movimentos “feministas” ou “machistas”. E les estão
superados. Não há mais espaço para rivalidades e
competições entre os sexos porque isso só prejudica o
bom relacionamento e o entrosamento entre as
pessoas no seio da sociedade, sociedade esta já tão
abalada em sua estrutura pela falta de seguran ça, de
139
paz social, de moral, de respeito e de confiança entre
seus membros.
Deixemos as competições, saudáveis para
todos, no âmbito dos esportes, dos concursos públicos
e dos diversos outros concursos de várias modalidades
para ambos os sexos.
Neste século XXI, denominado de Nova Era,
preocupemo-nos todos em sermos humanitários,
contribuindo para ajudar a sanar o problema da
injustiça social em nosso país, a erradicar a fome no
mundo e a miséria nos países subdesenvolvidos,
periféricos, e tentarmos soluc ionar, juntos, o problema
do aquecimento global e da poluição do meio ambiente,
para que as futuras gerações possam continuar
sobrevivendo com dignidade, qualidade de vida e com
as mesmas facilidades e condições que uma parcela da
humanidade desfruta nos d ias atuais.
Para que os dias continuem bons na atualidade
e no futuro, e a felicidade esteja ao alcance de todos os
habitantes do Planeta Terra, busquemos sermos
saudáveis com entendimento, ajuda mútua e amor:
sejamos “altruístas”!
140
Ao grande saxofonista38
Muitos vôos alçamos juntos: eu com meu violão,
Você com o seu saxofone! A vida ficava mais alegre
E vibrante quando entoávamos nossos sons,
Que se eternizaram no infinito!
Hoje a vida ficou mais triste
Pois não poderá ouvir jamais
As notas sonoras do seu saxofone,
Ainda mais belas quando tocadas de improviso!
Vamos procurar absorver o conteúdo
Dessa estranha realidade: a perda de um
Grande músico, dedicado, uma alma amiga
Que nos deixou, vítima de estúpido ato de violência.
38
Homenagem ao músico saxofonista, Cabo Osvaldir Gonçalves , da
Banda do Exército – 63º Batalhão de Infantaria, em Florianópolis -SC,
tragicamente assassinado a tiros na madrugada do dia 2 de fevereiro de
1998, em frente à Associação dos Funcionári os da Bescri, no Jardim
Atlântico, Florianópolis -SC.
Poema publicado no Jornal AN Capital, Florianópolis -SC, poucos
dias após a sua morte. Curiosidades: O músico Osvaldir Gonçalves era de
raça negra, mas falava fluentemente a língua alemã. Certa noite ao
chegar numa cidade catarinense de colonização alemã, foi xingado em
língua alemã por dois anfitriões alemães, por ser negro, ao entrar no clube
da cidade onde iria apresentar -se com seu saxofone. Ele contava que
tinha entendido todos os palavrões contra el e dirigidos. Após a
apresentação, essas mesmas pessoas que o haviam xingado foram
parabenizá-lo e ele os questionou porque o haviam xingado em língua
alemã momentos antes, e fez com que os agressores pedissem
desculpas.
Osvaldir Gonçalves contava essa his tória com um senso de
humor muito grande. Todos nós, amigos, ríamos muito com essa e outras
histórias e muitas piadas que ele contava. Por isso que, além de grande
músico, era uma pessoa maravilhosa.
141
Você foi embora, mas o seu sorriso largo ficou,
Como também ficou o seu exemplo de homem público
Cheio de otimismo, companheirismo, honestidade,
Amor, espírito de coletividade e respeito ao próximo!
Osvaldir Gonçalves: cabo do exército à espera da farda
De sargento, por merecime nto, pois que já havia sido
Aprovado num concurso federal, no ano próximo passado.
Meus parabéns! Grande músico da banda e de grandes parcerias!
Você foi um vitorioso por aqui! A platéia,
Bem como seus amigos do mundo da música,
Tanto da banda do quartel, quanto dos bares e restaurantes,
Todos ouviram e se emocionaram com suas apresentações
maravilhosas!
Aonde você estiver, esteja com Deus,
Na Luz do Amor Divino! Amor esse
Que muito você soube nos irradiar
Com simplicidade, amizade e calor humano!
Não à violência! Que se continue a conscientização
Pela não violência em Santa Catarina, no Brasil
E no mundo. Que todos os países lutem em prol de uma
Convivência fraterna, de respeito e dignidade.
“Os responsáveis pelo futuro
são os pais e as autoridades!
Ou o homem acaba com o crime
Ou o crime vai acabar com o homem”.
Que a concórdia, o entendimento entre os cidadãos,
Seja a meta principal a ser alcançada no seio
De uma sociedade civilizada, onde, acima de tudo,
O diálogo deve imperar, por amor a si, ao pr óximo e à paz!
142
Um acróstico para Orlando Amorim
Ontem você apareceu em minha vida!
Rico de conhecimentos, deu -me chance de
Laborar com você para eu crescer profissionalmente.
Agora, somos, além de colegas, também amigos.
Nem a pressão do sistema va i desatar esse laço de amizade!
De vez em quando, estaremos longe um do outro:
Olharei para o horizonte e, com as estrelas, rezarei por você.
Advogado competente, simples, humilde e solidário.
Muito trabalhador, discreto, independente, leal e correto.
Orgulha-me ter conhecido você e desfrutar do seu convívio.
Rico conhecedor das leis e do trabalho prático forense!
Inteligentemente vai ajudando muitas pessoas:
Moços, adultos, idosos e todos são gratos ao seu trabalho.
Catarinense 24 horas por dia 39
Florianópolis é a capital de Santa Catarina, terra amada dessa
nação!
É terra amada de todos, do Rio Grande do Sul ao do Norte!
Mas, por favor, não troquem a sigla do nosso Estado, não!
Nós, catarinenses, não queremos trocar nosso passaporte!
Nós, catarinenses, somos um povo de muito orgulho e tradição!
39
Esta poesia foi composta em resposta a uma correspond ência
endereçada ao autor por uma Instituição Literária de Brasília -DF, em cujo
envelope constava “ Florianópolis-RS”. Assim que terminei de compô -la,
coloquei-a num envelope com o endereço da Instituição Literária
Brasiliense, dirigi-me a uma agência do c orreio e a remeti de volta em
resposta ao erro crasso que constava no envelope que eu havia recém
recebido.
143
Para cá imigraram, dentre outros, o negro, o açoriano, o espanhol
e o alemão!
Do nosso folclore temos o pau -de-fita e o boi-de-mamão!
Por que trocar a sigla do nosso Estado, então? Quanta
desatenção!
Nós, catarinenses, os perdoamos, pois, com certeza, foi falta de
atenção!
Mas esperamos que não se repita, pois por aqui já campeia muito
gauchão!
Aceitamos amizade, mas troca ou perda, jamais. Por favor, não!
Assim, espero que vocês não levem a mal esta carta em forma de
poesia!
Porque esses versos são de um catarinense 24 horas por dia!
Poeta que ama essa terra e por nada no mundo a trocaria!
Confiante e feliz
Ame
Como se você estivesse
Numa guerra:
Desprendido,
Apesar de toda tensão;
Confiante,
Apesar de toda incerteza;
Feliz,
Apesar de todo clima adverso;
Alegre,
Porque essa é a natureza
harmônica
Do nosso ser,
144
Mesmo diante da morte!
Perfume de mulher
(Homenagem a todas as mulheres do Planeta
e a lembrança pela passagem do dia 8 de março quando é celebrado,
todos os anos, o Dia Internacional da Mulher).
Mulher...
Quem és tu?
És uma ave?
És um cantar?
És o fogo?
És a terra?
És o mar?
És a brisa suave?
És o nascer e o pôr-do-sol?
Pois és tudo isso e muito mais...
És fonte de amor,
Um oásis relaxante, mitigador!
És uma flor, um abraço, um licor!
És um aconchego familiar!
És um incenso a queimar!
És um coração alado
Que a tudo quer tocar
E deixar...
O teu perfume de mulher!
Eu e Carminha em Floripa
(Carminha é minha esposa Maria do Carmo Antunes)
145
Floresta e mar
E animais, vegetais,
Flores, pássaros, enfim,
Cores, multicores,
Da natureza,
Naturalmente bela.
Pensando... imaginei
Nós dois felizes,
Num lugar livres,
Tranqüilos,
Numa ilha imensa,
Onde há paz,
Onde há harmonia,
Onde há beleza e amor:
Floripa,
Belas praias e calor.
OSMARINA MARIA DE SOUZA
Natural de Florianópolis. Nasceu em 17 de novembro de 1929.
Faz poesias e crônicas. Sócia e fundadora da Associação dos Poetas,
Cronistas e Contistas Catarinenses. Fundadora da Academia São José de
Letras, da Academia Desterrense de Letras e da Academia de Letras de
Biguaçu, Voluntária no Núcleo de Estudos da Terceira Idade -UFSC. Fez o
Curso de Monitora da Ação Gerontológica do NETI -UFSC.
Tem participação em muitos seminários e Congressos bem como
na Primeira Conferência Nacional para Política da Pessoa Idosa, em
Brasília, Faz parte da Missão Açores com participação na Escola de
Ensino Superior em Setúbal - Portugal e na Universidade dos Açores na
cidade de Ponta Delgada, nas Ilhas: Graciosa, do Pico e Faial nos Açores.
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Acadêmica: Osmarina Maria de Souza
Nascimento: 17-01-1929
Cadeira nº: 20
Posse: 18-12-1996
Título: Poetisa
Endereço: Rua Ivo Reis Montenegro, 328, Apto. 101, Ed. Emanuelle, Bl.
C, Bairro Floresta, São José -SC
CEP: 88110-618
Fone: (48) 3246-2931 / 9972-2272
E-mail/Site: Não informado
Patrono: João Nicolau Born
Título: Político / Orador
VOCÊ SABIA?... Na história de Biguaçu
Você que é natural desta simpática cidade, já
deve saber que a história de Biguaçu tem dois tempos:
Primeiro o tempo dos portugueses, açorianos chegados
por volta de 1748. Alguns destes casais foram
assentados na localidade de Três Riachos , outros em
São Miguel.
O segundo, o tempo dos alemães, que da vila d a
Armação da Piedade, transferiram -se para São Pedro
de Alcântara, e para a Foz do rio Biguaçu.
João Nicolau Born era um dos filhos do próspero
agricultor prussiano John Born, que também se
transferira para a localidade do Louro.
João Nicolau, também agricultor, como seu pai,
descia o rio para negociar suas mercadorias na barra
do rio ou atravessar a baía para vendê -las na capital.
Gostou das terras, achou -as apropriadas e na
barra do rio fincou sua morada, construiu ali uma casa
de negócios em estilo português, em 1892. Em 1894
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construiu o casarão, ago ra em estilo alemão, ao lado
de seu armazém, que até hoje, com mais de um século,
continua desafiando o tempo na praça da cidade. É um
dos símbolos de Biguaçu.
Muito se escreveu sobre a vida do casarão dos
Born, todo biguaçuense sabe de sua história e mui to
deve a João Nicolau Born. Ele foi uma mola propulsora
no desenvolvimento da cidade.
Foi o primeiro Superintendente da cidade. Em
sua gestão se abriu a estrada que liga Biguaçu a
Florianópolis, e desviou a estrada Biguaçu Tijucas,
passando pela localida de de Sorocaba e Timbé, de vez
que por São Miguel era muito difícil a passagem pelo
local Inferninho. Hoje neste trajeto temos a famig erada
e devastadora rodovia BR-101 que destruiu parte do
patrimônio histórico local.
Não estou aqui para escrever a histó ria de
Biguaçu e sim para uma proposta diferente com um
capítulo cujo título é: Você Sabia, e dando início já lhe
faço a pergunta. Você sabia...
– que Tomé da Rocha Linhares, nascido em São
Miguel foi um líder na vida pública da vila. Foi o
primeiro presidente da Câmara de São Miguel, foi Juiz
de Paz, Vereador e exerceu, ainda, outros cargos na
vida político-administrativo da cidade.
Quando chamado para assumir uma cadeira na
Câmara de Deputados, recusou. Conforme relato de
Maria Lúcia Coutinho Locks, a m orte de Tomé
aconteceu em 9 de novembro de 1848, aos 77 anos de
idade, motivada por uma queda de cavalo .
– que no dia 19 de março de 1780, nascia na
localidade de São Miguel, o garoto Laureano José.
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– que segundo Maria do Carmo Ramos Krieger
Goulart em seu livro “Um Ramo da Família Ramos”, o
menino era filho de Matheus José Coelho, um dos
açorianos ali assentados. Por ser aquele dia um
Domingo de Ramos, Matheus o registrou como
Laureano José Ramos. Seu casamento com Maria
Gertrudes e Moura, natural de L apa no Paraná consta
do Livro 1º de Casamento da Paróquia de Santo
Antônio da Lapa. Laureano foi o primeiro varão da
grande família Ramos de Santa Catarina que fixou
residência na cidade de Lages.
– Nove foram os filhos deste casal: Davi José
Moura Ramos, Policarpo José Ramos, João José
Ramos, Henrique Ferreira Ramos, Fidelis José Ramos,
Luiz José de Oliveira Ramos, Gertrudes Maria de
Moura Ramos.
Dos descendentes destes, em especial
Henrique, temos: Aureliano de Oliveira Ramos, Vidal de
Oliveira Ramos, Manoel de Oliveira Ramos, e mais
seus familiares, Nereu de Oliveira Ramos, Celso
Ramos, Aderbal Ramos e tantos outros que foram
figuras de projeção na história de Santa Catarina .
– que o tenente-coronel João da Silva Ramalho,
filho do tenente-coronel Joaquim da Silva Ramalho, foi
comandante da Guarda Nacional de São Miguel, local
de seu nascimento?
– Que Joaquim da Silva Ramalho, avô de João
da Silva Ramalho foi o primeiro catarinense a receber
direitos de sangrar, operar, e fazer sanguessugas, ou
seja, o certificado de médico cirurgião?
– que Cipriano Coelho Ruiz, nascido em São
Miguel, foi comandante do 6º Batalhão a Guarda
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Nacional?
– que os dois primeiros historiadores de Santa
Catarina, Joaquim de Almeida Coelho e Manoel de
Almeida Coelho eram na turais de Biguaçu, mais
precisamente da localidade de São Miguel e filhos do
Brigadeiro Manoel Coelho Rodrigues também natural e
São Miguel?
– que eram também nascidos em Biguaçu o
Marechal Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão,
Visconde de Santa Teresa?
– que o Marechal de Campo A ntônio Nicolau
Falcão da Frota aos dezesseis anos ingressou na vida
militar e participou na guer ra contra o Uruguai e
Paraguai chegando ao posto de Brigadeiro , depois a
Marechal, e ocupou a Pasta da Guerra; e que seu
irmão Júlio Anacleto Falcão da Frota foi militar do
Corpo de Engenheiros e tomou parte também na
Guerra do Paraguai e Uruguai. Serviu o gabinete do
Marechal Osório e foi o primeiro brasileiro a receber os
bordados de general. Chegou ao posto de Marechal
como o seu irmão, ambos eram também naturais de
Biguaçu?
– Joaquim da Silva Ramalho também exerceu o
cargo de Promotor Público na capital e foi VicePresidente da Província de Santa Catarina. Todos
estes vultos tiveram destaque na história não só de
Santa Catarina, mas do Brasil?
– Sabia que em 1829, se instalaram em São
Pedro de Alcântara, alemães vindos das margens do
Rio Mosela e na década de 1860 chegaram os vindos
de Vestfália, entre eles a família Locks que foram
assentados na Colônia Teresópolis. Alguns deles
150
migraram para Braço do Norte, onde se formava um
novo núcleo de colonização alemã, inclusive os Locks.
Duas ou três gerações após, nascia também em Braço
do Norte o menino Lauro, filho de Bernardo Francisco?
– que Lauro Locks iniciou sua vida profis sional
como professor primário e depois como Diretor, nas
escolas de Braço do Norte, Bom Retiro e Tubarão
quando foi transferido para Biguaçu. Lauro foi eleito
Deputado Estadual, por Biguaçu e com votos de Braço
do Norte, e como tal exerceu o cargo em quatro
legislaturas. Foi Secret ário Estadual de Educação,
Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e Prefeito
da cidade. Em sua gestão à frente da Prefeitura,
Biguaçu teve grande impulso em seu desenvolvimento.
A cidade deve muito a este homem nascido em Braço
do Norte e aqui estabelecido desde 1951.
A morte de sua querida esposa Tabita, o deixou
em viuvez, rodeado de seus dezesseis filhos e netos,
mas vivendo na cidade que adotou a sua querida
Biguaçu.
Você, jovem ou garoto que estudou ou estuda na
velha escola no centro da cidade, sabe, é lógico, o seu
nome, pois está escrito no seu frontal e muitas foram às
vezes que escreveu em seus cadernos “Escola Básica
José Brasilício”. Muitos , no entanto, não tiveram a
curiosidade de saber quem foi este homem que deu
nome a sua escola.
Você sabia que José Brasilício, nasceu em
nasceu em Pernambuco e chegou a Santa Catarina
com apenas três anos de idade. Era ateu, mas regeu
por muito tempo o coro da Igreja da Ordem Terceira de
São Francisco. Foi grande Professor, c olecionador de
151
selos e moedas, astrônomo, e sobre isto se
correspondia com grandes conhecedores do assunto.
Divulgador do idioma volapük, e sobre ela manteve
farta correspondência com divulgadores europeus.
José Brasilício foi casado com a poetisa Maria
Carolina Corcoroca de Souza, pai do músico Álvaro
Souza e avô do cronista, m úsico, escritor e poeta
Abelardo Souza.
José Brasilício foi autor da letra do Hino do
Estado de Santa Catarina que recebeu música de
Horácio Nunes Pires.
– que Abelardo Souza, con ta com riqueza de
detalhes o que aconteceu na noite e 4 de fevereiro de
1890. Com a presença do Governador Lauro Müller, do
Tenente Carlos Augusto de Campos, seu secretário e
José Artur Boiteux, seu oficial de gabinete, quando em
sua bela residência à rua Álvaro de Carvalho nº 14 , na
cidade de Desterro, José Brasilício, sua esposa dona
Maria Corcoroca receberam os ilustres visitantes e os
conduziram à sala onde, entre seleto auditório com
farfalhar de saias e leques já se encontrava o Maestro
Horácio Nunes Pires. Após todos terem se acomodado
José Brasilício senta -se ao piano-de-cauda, e
acompanhado pelo violino do maestro João Adolfo
Ferreira Melo, três jovens cantam o Hino do Estado de
Santa Catarina. É um longo e belo capítulo este que
Abelardo Souza no s apresenta com o título de
“Pequena História de um Grande Hino ”, em seu livro “O
Mestre-Escola Viaja no Tempo ”.
– que o piano acima mencionado esteve por
muitos anos na Escola José Brasilício de Biguaçu, hoje
se encontra corroído no Museu Histórico de S anta
152
Catarina.
– que um dia conversando com a professora
Dalvina, ex-Diretora daquela escola, ela me
confidenciou comovida:
– Visitei o Museu e quando vi o piano onde
muitas vezes meus dedos dedilharam seu teclado,
confesso que chorei. Doeu no fundo do m eu coração,
acrescentou ela.
– E você sabia que a família Ramalho foi quem
construiu o sobrado de São Miguel, que mais tarde
passou a ser propriedade de outras famílias e hoje é
patrimônio do Estado, onde funciona o Museu
Histórico?
– que o sobrado, além de residência, foi Paço
Municipal, Paço da Capitania, abrigo das tropas que
combateram no sul a gente Farroupilha e foi onde
nasceu o miguelense Joaquim da Silva Ramalho , que
chegou a Vice-Governador e depois Governador da
Província?
Abro aqui um parêntese para contar um encontro
que tive no ano de 2000, com a senhora Araci Tavares
Neves. Esta senhora, que há três ou quatro anos nos
deixou, era neta de João Nicolau Born. Com quase
noventa anos Araci muito lúcida me contou passagens
pitorescas de seus av ós; porém um caso interessante
aconteceu com o rico tijucano Jacó Lameu Tavares,
filho do proprietário do sobrado de São Miguel, que se
enamorara de Guilhermina uma da s filhas de João
Nicolau Born. Jacó muito apessoado, de boas posses,
boêmio, pediu a jovem em casamento. João Nicolau,
querendo saber se realmente o galã tinha dinheiro,
perguntou:
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– Você pode me emprestar duzentos mil réis?
Ao que o jovem mancebo, à queima roupa respondeu lhe com outra pergunta.
– O senhor quer este dinheiro em dólar ou em
libra esterlina?
João Nicolau silenciou admirado. Em pouco
tempo estavam casados Jacó e Guilhermina e deste
casamento eu nasci, complementou Araci.
Certa vez, acrescentou Araci, meu pai, e outros
familiares visitaram o Museu de São Miguel, antiga
residência da nossa família. Ficaram empolgados com
as fotos e utensílios, e tudo mais que viram, inclusive
com a foto de vovô João Nicolau. Passaram então, a
narrar aos presentes um pouco da história dos Born e
Neves, ligadas por laços familiares, pela política, e
pelos dois casarões, de Biguaçu e de São Miguel que
guardam curiosidades deste aprazível recanto à beira
mar. Os turistas presentes, disse Araci, passaram a
escutá-lo; o guia do Museu muito admirado também o
ouvia, pois também ele viveu momentos de sauda de.
Sabia que Biguaçu em sua vida literária conta
com pessoas importantes ligadas às letras e que aqui
tentamos lembrar e perguntamos: você sabia que?
– Geraldino Atto de Azevedo, natural de
Camboriu viveu anos de sua vida entre Rio Grande do
Sul, Florianópolis (Canasvieiras) . Em 1924 veio morar
em Biguaçu indo trabalhar no armazém de Aníbal A.
da Silva e apaixonou -se pela filha de seu patrão com
quem se casou. Começou a publicar suas poesias e
ficou conhecido como “O Poeta de Biguaçu”, título que
serviu para ilustrar seu livro póstumo, editado em 1948
pelo amigo Manoel Félix Cardoso.
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– Geraldino é patrono da Cadeira nº 14 da
Academia de Letras de Biguaçu, onde tem acento a
escritora Dalvina de Jesus Siqueira .
– que Salim Miguel, para todos, um bigua çuense
que nasceu no Líban o, veio para o Brasil ainda muito
pequeno, criou-se no interior do município, no meio da
colonização alemã. Sempre escreveu ressaltando sua
vida em Biguaçu, ena ltecendo a cidade suas praias, a
praça, e logradouros com passagens pi torescas de um
menino levado, feliz, que viveu sua infância como todo
menino deve viver, isto é, brincando de ser feliz, na
cidade também simples , mas com cara de cidade feliz.
É um contista de renome, elogiado pela crítica. Biguaçu
se orgulha de Salim Mig uel que tanto a valorizou em
seus escritos.
– que João Machado Mendes – é um autor,
nascido em Biguaçu, cujo destino lhe pregou uma peça.
Sofreu um acidente e perdeu a visão, mas nem por isso
deixou de estudar. Escreveu livros . O primeiro foi
prefaciado pela professora Nila Sardá e o segundo pelo
escritor gaúcho Nilo Ruschel. Joã o Mendes montou em
Biguaçu uma livraria e papelaria. Figura muito querida
na cidade. Em 1951 escreveu “Amor, Amizade e
Esperança”, poesias líricas, prefaciado também por Nila
Sardá.
– que João Crisóstomo Pacheco, é natural de
Camboriu, mas se transferiu para Biguaçu e em 1921
fundou a imprensa com o jornal “O Arauto”, onde além
de proprietário era o seu diretor. Faleceu em Blumenau
a 4 de maio de 1948.
– que José Nicolau Bor n, filho de João Born,
tinha o diploma de Engenheiro -Geógrafo. Foi
155
funcionário da Diretoria de Terras e Colonização. Mais
tarde foi trabalhar no Ministério da Agricultura, no Rio
de Janeiro. Em 1961 foi eleito Deputado Estadual.
Membro do Instituto Históri co e Geográfico de Santa
Catarina. Foi o primeiro autor de Biguaçu a se dedicar à
história do município. Escreveu um livro com notícias
descritivas sobre estatística, em diversos volumes.
Começou a escrever um novo livro sobre a história de
Biguaçu, porém com sua morte, este trabalho foi
perdido. Faleceu em maio de 1966, deixando escritos e
alguns ensaios topográficos sobre agricultura, e
geografia.
– que Walter José Jorge – nasceu em Biguaçu,
filho de pais libaneses. Advogado, defendeu tese em
Direito Florestal. Foi Consultor Jurídico do Serviço
Florestal da Diretoria de Terras e Colonização,
Conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil,
Conselheiro Jurídico do Estado, fundador da
Confederação Brasileira de Fotografia e Cinema em
São Paulo, Crítico em foto grafia, escreveu em jornais
de Santa Catarina e Rio de Janeiro. Tem livros
publicados. É sócio fundador da Associação dos
Cronistas, Poetas e Contistas Catarinenses, e
acadêmico fundador da Academia São José de Letras,
onde ocupa a Cadeira nº 09 cujo Patro no é Oswaldo
Rodrigues Cabral.
– que Lídio Martins Barbosa – natural de
Biguaçu, foi autodidata. Era jornalista e fez parte do
jornal “A Tribuna” era amigo de Martinho Callado, Cruz
e Souza e de Virgílio Várzea. Ao lado de Esteves Júnio r
representou
Santa
Catarina
no
Congresso
Republicano, na Corte em 1887. Membro do Instituto
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Histórico e Geográfico de Santa Catarina. É patrono da
Cadeira nº 28 da Academia Catarinense de Letras, e da
Cadeira nº 24 da Academia Biguaçu de Letras.
– que Alaíde Sardá Amorim – nascida em
Biguaçu, recentemente falecida foi professora nesta
cidade. Exerceu sua profissão com muita dedicação
sem com isto deixar de escrever poesias. Seu primeiro
livro, cujo título foi Turismo a Dois, onde se encontram
dados biográficos da autora e tem apresentação do
grande historiador Oswaldo Rodrigues Cabral.
Pertenceu à Academia de Letras de Biguaçu, e hoje é
patronesse de uma cadeira nesta mesma Academia. É
fundadora da Associação dos Cronistas, Poetas e
Contistas Catarinenses.
– que Durval Neto – jovem boêmio, alegre,
poeta, compositor, professor, era autor do Hino de
Biguaçu. Netinho pertenceu à Academia de Letras de
Letras de Biguaçu.
– que Dalvina de Jesus Siqueira – nascida em
Biguaçu, sempre morou em sua cidade natal. É
professora, licenciada em Pedagogia, Letras e
Psicologia. Todos os habitantes de Biguaçu conhecem
dona Dalvina, pois se não foram seus alunos, seus
filhos ou seus pais o foram.
Dalvina foi professora e Diretora da Escola
Básica José Brasilício, e Diretora do Colégio Mari a da
Glória Veríssimo de Faria. É escritora e poetisa. Tem
cinco livros publicados além de participação em
diversas Antologias. Dalvina é pessoa saudosista e tem
um acervo de memória sobre curiosidades e casos
acontecidos em Biguaçu. É fundadora e foi Pres idente
da Academia de Letras de Biguaçu.
157
Você sabia que em fins de 1906 fo i terminada a
estrada Biguaçu – Tijucas, obra iniciada por João
Nicolau Born, e que em dezembro deste mesmo ano o
Governador Gustavo Richard inaugurou a ponte
metálica sobre o rio Biguaçu?
Muitos moradores desta cidade lembram da
velha ponte coberta de zinco, assoalhada, e que media
30 metros.
Às 8 horas de uma manhã de sol, o Governador
e sua comitiva fizeram a bordo de uma lancha, a
travessia para o Estreito. Daí para o municíp io de
Biguaçu foram de carro de cavalo. Segundo descreveu
a escritora Sillviamélia, neta do Governador.
– Você sabia que no chão da Igreja de São
Miguel estão enterradas algumas pessoas ilustres,
entre elas Joaquim da Rocha Linhares, o médico
Joaquim da Silva Ramalho Pereira, o Juiz José
Joaquim Varela, o Coronel João Florêncio Jordão, o
Coronel Henrique e Azevedo Leão Coutinho, o Padre
Serrano e outros. No cemitério ao lado da Igreja
podemos ainda ler em algumas tumbas, inscrições com
mais de 200 anos cu jos restos são de pessoas de
famílias ilustres e até hoje conhecidas como: os Moura,
Demoro, Linhares, Azevedo Coutinho, Siqueira, Neves,
Farias, Born, Dias, Couto, Amorim, Ramalho. Ali
podemos inclusive levantar dados da história do
município.
– Você sabia que ainda hoje são lembrados em
Biguaçu o nome de professores dedicados, amigos e
muitos deles nascidos nesta cidade, Procuramos aqui
lembrar alguns nomes: Ana Amélia Pereira, filha do
Coronel Henrique de Azevedo Leão Coutinho, foi
158
nomeada para dirigir a primeira escola provincial
feminina.
Em 1851, funcionava em Biguaçu duas escolas,
uma do professor Caetano José Gonçalves, com 5
alunos e outra de Francisco José Pereira Duarte, com 7
alunos. Em 1864, João Rodrigues Pereira era nomeado
professor de primeiras letras. Nas localidades pouco
distantes do centro da vila, outras escolas funcionavam
precariamente. Sabe -se que em Três Riachos, a
professora Bernardina Manoela Siqueira dirigia a
escola com 19 meninos e 14 meninas matriculadas. Em
1917, nesta mesm a escola era professora Benta
Siqueira com um total de 12 alunos.
Para não nos estender muito, podemos, ainda,
anotar que na sede do município estavam os
professores: Donato Alípio de Campos e Maria Barbosa
que foi a primeira professora normalista nomeada em
Biguaçu e lecionou francês na Escola Feminina. Fa zia
textos teatrais que apresentava no casarão dos Born.
Maria Barbosa era casada com Alfredo Bor n,
filho de João Nicolau Born. Em São Miguel também
estava ensinando as primeiras letras, a professora
Julieta Amorim.
Mais recentemente lembramos as professoras
Maria da Glória Veríssimo Faria, cuja dedicação a
causa, foi distinguida merecidamente com seu nome
em um Colégio, Nila Sardá, a dona Nenem como era
conhecida pelos seus alunos e familiares, não te ve a
atenção da Prefeitura, com uma homenagem, A cidade
não lhe distingui nem com uma placa de rua. É uma
pena que dona Nila não tenha sido lembrada como
também dona Alaíde Sardá, a poetisa de quem já falei
159
acima. Anita Borbi Coutinho, que em entrevista e m
1997, nos contou:
– Sou professora aposentada e por 18 anos dei
aula em São Miguel, e 8 anos no José Brasilício de
Biguaçu, lecionei também em Três Riachos.
Durval Borba, o Netinho, de saudosa memória foi
professor no Colégio Maria da Glória Faria.
João Brasil de Azevedo – nasceu em Biguaçu, é
filho do poeta de Biguaçu, Geraldino Atto de Azevedo.
Foi aluno do Grupo Escolar José Brasilício .
Comerciante e contabilista, foi eleito por diversas vezes
vice-prefeito e como tal assumiu a Prefeitura, na
ausência dos titulares.
À frente da Prefeitura deu grande impulso e
prioridade a formação de escola no interior do
município. Foi fundador e pertenceu à Diretoria do
Clube 17 de Maio.
Encerrando meu trabalho, deixo além destas
breves curiosidades, novamente a pergunta: Você
Sabia?...
Antes de encerrar meu trabalho vejamos o que
disse Duperrey Lesson, em 1822 quando em viagem
para o Prata, esteve em São Miguel, cujo relato se
encontra às páginas 257 e 258 do livro Ilha de Santa
Catarina – relatos de Viajantes Estrangeiros nos
Séculos XVIII e XIX:
“Avançamos para o sul, ao logo da costa,
encontra-se a Vila de São Miguel, notável
por seu moinho de água e uma linda
cascata. A vila de São Miguel é situada a
O.S.O. a cerca de umas seis milhas do
forte de Santa Cruz.
160
Esta se compõe de uma série de casas
distantes umas das outras. Na sua
estrada fica a aguada onde os navios se
abastecem. Esta é fresca e límpida e vem
das montanhas vizinhas por meio de um
aqueduto de madeira que conduz a água
sobre os cubos de uma larg a roda de
moinho que serve para debulhar arroz...
Basta estender o recipiente onde ela cai
sob a mesma escoa até o mar que não
está a mais de cinqüenta passos.
... As casas que constituem o vilarejo são
particularmente dispostas em duas fileiras
muito espaçadas; em seguida o terreno
sobe e desce e as casas isoladas não
ultrapassam uma pequena cadeia que se
dirige de leste a oeste.
As mulheres voltadas para os d iferentes
trabalhos domésticos, ocupam-se de fazer
renda que elas trabalham com gosto, e a
limpar o algodão que elas fiam nos fusos,
com os quais elas fazem roupas para toda
a família. Elas têm formas graciosas às
suas figuras não faltam encantos nem
expressão. Embora ponham um certo
esmero em seus adornos, elas usam
vestimentas simples de uma limpeza
notável. Um vestido leve de chita que
desenha uma estatura bem apanhada,
algumas flores colocadas com arte sobre
a bela cabeleira, lhes dão um ar
provocante.
Elas
possuem
aquela
161
coqueteria tão comum ao seu sexo, e tão
atraentes paras os estrangeiros... “
E assim galantemente segue Lesson sua
narrativa tão pitoresca, romântica e cheia de verdades.
Uma verdade ainda hoje notada na gente de Biguaçu.
UMA PRACINHA ALEGRE
Caminhando com uma amiga pela calçada da
romântica e gostosa pracinha da cidade, ou vi o
cantarolar de alguém. Eram 9 horas de uma ensolarada
manhã.
Uma aragem, que balançava a ramagem, as
árvores e as flores, anunciava que o dia não seria tão
quente. Aquele cantarolar se tornava cada vez mais
próximo de nós que, paradas na esquina,
aguardávamos a passagem de um ou dois carros
apressados. Foi então que vimos e nos surpreendemos
com uma cena pitoresca; pedalando uma bicicleta,
muito velha, um jovem senhor aparentando vinte e
cinco anos de idade. Vestindo bermuda azul, camisa
branca e boné vermelho, cantava bem alto uma canção
alegre e dava vivas à vida, sem acanhamento e sem
se preocupar com aqueles que paravam para admirá lo.
Olhava para os lados, dava um alegre bom -dia e
continuava cantando sua alegre canção de felicidade
em bom tom. Ainda se podia ouvi-lo ao longe.
Caminhamos mais alguns passos, e o encontro
com uma simpática senhora professora aposentada e
162
amiga de minha colega, que agora se dedica a um
pequeno sítio. Haviam trabalhado juntas no colégio
próximo.
– Crio animais, disse ela. Cavalos, vacas,
galinhas, perus. Colho ovos, bananas, leite, continuou
feliz. E gesticulando muito, mostrando com isto sua
felicidade, completava:
– Ganhei um carro de minha filha, mas preferi
comprar uma bicicleta, para correr pela cidade e sentir me ainda mais livre e feliz. Respiro melhor, concluiu
sorrindo, ao se despedir.
– Dirigimo-nos a uma agência bancária, e resolvi
aguardar minha amiga, do lado de fora. Minha atenção
despertou para uma senhora que se aproximava.
Aparentava sessenta anos e chegava ali pedalando
uma velha bicicleta já enferrujada. Olhou para um lado
e para o outro, saltou e encostou a sua velha condução
a uma parede, e sem o menor cuidado também se
dirigiu ao Banco.
Eu fiquei só meditando : “Como a bicicleta é
importante nesta cidade e como seus habitantes são
felizes. Cantam pelas ruas, preferem a bicicleta ao
automóvel, e não têm medo que lhes roubem sua
magrela; podem deixá -las encostadas a qualquer
parede sem perigo”.
Confesso que também me senti feliz por e star ali
e tive até vontade de fazer parte daquela população. É
uma cidade tão simples e rom ântica, onde todos se
conhecem se respeitam, e além desta virtude a cidade
conta com belas praias, um rio de integração, piscoso e
com grande participação em sua história. Como é bom
passear as nove horas da manhã pela pracinha da
163
querida Biguaçu tão romântica.
Fontes de consultas:
CARDOSO, Manoel Félix. O Poeta de Biguaçu . 1948.
Ilha de Santa Catarina – Relatos de Viajantes
estrangeiros nos Séculos XVIII e XIX . Florianópolis:
Editora UFSC, 2ª edição, 1984.
PIAZZA, Walter. História de Biguaçu . Fascículo 01,02,
03. Florianópolis: Ed. Lunardelli e UFSC, 1983.
Revistas da Academia Catarinense de Letras : Anos
1995, 1996, 1997, 1998 e 1999. Florianópolis: Ed. da
UFSC.
SCHEIDT, Marlene Luzia & SOUZA, Osmarina Maria
de. Nossas Memórias. Florianópolis: Ed. da UFSC,
1997.
SIQUEIRA, Dalvina de Jesus. Grandes Momentos .
1999. Biguaçu: Prefeitura Municipal, 1997.
SOARES, Iaponam & LOCKS, Ana Lúcia Coutinho .
História de Biguaçu através su a Gente. Florianópolis:
Ed. Lunardelli e UFSC, 1983.
SOARES, Iaponam. História do Município de
Biguaçu. Florianópolis: Ed. Lunardelli e UFSC, 1983.
SOUSA, Abelardo. O Mestre Escola Viaja no Tempo .
Florianópolis: Imprensa Oficial, 1978.
Um Passeio pela G rande Florianópolis . Biguaçu:
Academia de Letras de Biguaçu , 1999.
164
ROGÉRIO KREMER
Nascido em 05 de abril de 1940, em Antônio Carlos -SC. Filho de
Humberto Kremer e Ana Apolônia Pereira Kremer. Casado por duas
vezes. Pai de três filhos. Todos co m nível superior de escolaridade.
Formado em Pedagogia pela UDESC, com Licenciatura Plena em
Psicologia, Didática e Sociologia. Oficial de Farmácia com Registro no
CRF/SC sob N.º 364 N. Aposentado como professor e diretor de escola.
Participou de diversos cursos nas áreas da saúde e educação. Vereador
em 1965 e 1972 à Câmara Municipal de Antônio Carlos.
Possuidor de diversas condecorações por serviços prestados a
sua comunidade e a literatura catarinense. Autor e co -autor de diversos
livros. Organizador e proprietário de um Arquivo Histórico de Antônio
Carlos, em oito volumes. Proprietário e responsável técnico de uma
drogaria. Acadêmico da Academia de Letras de Biguaçu, com posse em
18 de dezembro de 1996.
Acadêmico: Rogério Kremer
Nascimento: 05-04-1940
Cadeira nº: 26
Posse: 18-12-1996
Título: Escritor
Endereço: Rua 06 de Novembro, 102, Antônio Carlos -SC
CEP: 88180-000
Fone: (48) 3272-1152
E-mail/Site: Não informado
Patronesse: Maria da Glória Viríssimo de Faria
Título: Educadora
165
AS ESCOLAS PAROQUIAIS DO ALTO BIGUAÇU –
1880/1937
A preocupação com a questão escolar entre os
alemães, principalmente a leitura -base para uma
melhor prática religiosa, fez com que fossem criadas,
nas comunidades, Escolas Paroquiais. O descaso do
governo em construir escolas públicas e o desejo de
manter a língua alemã foram condições suficientes para
que essas escolas proliferassem e persistissem até o
final da década de 1930.
Data de 1880 a fundação da primeira Escola
Paroquial Alemã, no Rachadel, pelo Pe. Guilherme
Roer, então responsável pela Paróquia de São Pedro
de Alcântara, sob a qual encontravam -se vinculados os
colonos de Alto Biguaçu (Antônio Carlos). E ssa escola
continuou funcionando até 1937, quando num período
intenso de nacionalização do ensino foi fech ada pelo
interventor Nereu Ramos.
Durante aproximadamente, duas décadas, a
Escola Paroquial do Rachadel foi a única escola
particular alemã que se tem conhecimento na região.
Somente em 1902 é que foram criadas por Pe. Frei
Ernerto Zeno Walbroehl * 30/07/ 1866 + 03/06/1925 –
OFM, também vigário de São Pedro de Alcântara,
outras escolas paroquiais : Capela do Louro, Rio Farias,
Egito e Santa Maria. Segundo o ex -vereador Sr. João
José Guesser * 01/08/1914 + 02/05/2002, em 1898
havia uma escola particular alemã em Alto Rio Farias,
que durou 2 anos. Pedro José Franzner, um dos
professores, mais tarde, em 1906, lecionou na Escola
Paroquial do Rachadel. Ainda em 1929, Cô nego Dr.
166
Raulino Reitz localizou duas Escolas Paroquiais em
Braço do Norte, uma no Egito e duas no interior do
Rachadel.
Em função do abandono das comunidades pelas
autoridades educacionais, as escolas paroquiais
alemãs cresceram como fruto da própria comunidade e
em tudo se identificava com ela. A importância dada à
língua alemã pelos colonos de c erta forma foi
responsável pela manutenção das escolas paroquiais.
A necessidade em aprender o português os levou a
aceitar as escolas bilíngües à medida que o português
era a única língua admitida para o ensino.
As escolas paroquiais eram pagas pelos pa is
dos alunos através da Caixa Escolar. Cada
comunidade escolhia uma diretoria escolar que deveria
zelar pelo pagamento do professor. Assim sendo, a
Diretoria da Caixa Escolar era responsável pelo
recolhimento de uma determinada taxa mensal por
aluno, que variava entre 1 a 3 mil réis, destinada ao
salário do professor. Conseq üentemente, quanto mais
alunos, maior seu salário.
A escola e o professor paroquial, contratado ou
dispensado pelo vigário responsável, eram a ponte
entre a igreja católica e a coloniz ação alemã. Os
vigários alemães mantinham escolas paroquiais nas
pequenas comunidades com a intenção de manipular a
religião, além da escolarização. Pois, sabendo ler e
escrever estes poderiam participar dos cultos
dominicais, manusear livros e partituras de cânticos nos
atos litúrgicos e festas familiares. Os professores,
verdadeiros líderes comunitários, eram considerados
uma extensão do padre. Mantinham a comunidade
167
informada dos acontecimentos nacionais e mundiais
através da leitura de jornais, almanaqu es, revistas, etc.
Sua função social ia desde o zelo pelos bens da
comunidade (capela, escola, terrenos), árbitro e
pacificador
de
desentendimentos,
até
sua
representação junto às autoridades. Na ausência do
padre, cuja visita à comunidade era mensal, pres idia o
culto, acompanhava os doentes com preces,
encaminhava os atos fúnebres e, geralmente, era
iniciado em música para dirigir o coral e o canto na
igreja. Era, ainda, responsável pela catequese.
Nem sempre os professores paroquiais eram
qualificados para exercerem a profissão. Dos
professores de Alto Biguaçu sabemos que Vítor Pauli
(Capela do Louro) era ex -seminarista e Pedro Amâncio
Conrat, apesar da grande influência que exerceu na
comunidade não tinha qualquer formação profissional.
Exemplo de “virtude e retidão no agir” eram condições
suficientes para a indicação do professor pelo vigário.
Por outro lado, o governo dispensava uma
grande atenção aos professores regentes das escolas
rurais. Muitas vezes, mal falavam o português não
podendo, segundo um Relatório da Instrução Pública
de 1929,
“satisfazer
as
justas
necessidades
da
nacionalização do ensino primário, assunto esse
que em Santa Catarina se reveste de real
importância e ao qual o governo vem de anos
dispensado a maior atenção”.
Apesar de não resolver os problemas com o
ensino público, o governo matinha inspetores a fim de
fiscalizar as poucas escolas existentes: particulares e
168
públicas. Com a intensificação da política de
nacionalização através do ensino, a língua alemã foi
sendo proibida, e uma pronúncia correta do português
era o que se esperava dos professores.
Com a falta de cursos de formação para
professores, as longas distâncias e mesmo o interesse
dos colonos em manter a língua alemã, as escolas
paroquiais persistiram e conviveram com as escolas
públicas. A última Escola Paroquial do Alto Biguaçu foi
a de Rachadel, fechada em 1937; tendo como último
professor Pedro Amâncio Conrat.
Desde o início, a Igreja Católica participou da
colonização alemã na região.
STELA MÁRIS PIAZZ A SOUZA
Nascida a 4 de julho, em Florianópolis -SC, filha de Luiz Boiteux
Piazza e de Carolina Taranto Piazza; cursou Serviço Social na
Universidade Federal de Santa Catarina; Bolsista da Fullbright, cursou
especialização em Desenvolvimento de Comunidade, na Universidade de
Michigan, E.U.A; professora titular do Departamento de Serviço Social da
UFSC; Mestre em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul, Porto Alegre – 1990; Mestre em Inovação do Sistema
Educativo, Pedagogia A plicada (Universidade Autônoma de Barcelona –
1996); Doutoranda Inovação do Sistema Educativo, Pedagogia Aplicada
(Universidade Autônoma de Barcelona – 2006).
Autora do livro "Serviço Social e Universidade – Resgate de
Lembranças" Editora da UFSC – 1994; Cronista do Jornal "A Gazeta"
Florianópolis, com o pseudônimo de ASTER; Professora de Sociologia
Aplicada à Administração – ESAG/UDESC; Professora de Sociologia –
169
Faculdade de Educação UDESC; Doutoranda do Curso Inovação no
Sistema Educativo – Pedagogia Aplicada Universidade Autônoma de
Barcelona – 2002; Presidente do Clube Soroptimista Internacional e
Florianópolis – 1976/1978 – 1978/1980 – 1993/1996 – 2006/2008 –
2008/2010; Conselheira da Fundação d os Professores de Santa Catarina
–FUCAPRO/FPOLlS – 2000/2003.
Co-fundadora do Curso de Serviço Social Universidade do
Contestado Caçador/SC; Membro da Comissão Editorial da Revista
Katalysis, do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de
Santa Catarina.
Acadêmico (a): Stela Máris Piazza Souza
Nascimento: 04-07-......
Cadeira nº: 18
Posse: Não informado
Título: Não informado
Endereço: Rua Dom Joaquim, 866, Apto. 802, Ed. Solar Flambo yan,
Florianópolis-SC
CEP: 88015-310
Fone: (48) 3222-5550
E-mail/Site: [email protected]
Patrono: Arnaldo de S. Thiago
Título: Poeta
BILLY, O PERALTA
Quando ele desapareceu, numa manhã em
Canasvieiras, neste verão, a família toda ficou em
polvorosa. Como o Billy fugiu? Para onde ele foi?
Quem deixou o portão aberto? C omo? Quem estava
em casa? Quem abriu o portão e não fechou?
Estas perguntas martelavam a cabeça e o
coração da mãe de Billy.
Foi ela que, ao sair, havia recomendado que
tomassem conta do cãozinho e não deixassem o portão
aberto. Pois Billy era o seu xodó.
170
Quando chegou, de suas lides acadêmicas, já
haviam lhe comunicado do desaparecimento de Billy,
aquele cãozinho amoroso, tão leal e companheiro.
Como isto aconteceu? Não podia ser, logo o Billy que
todos cuidavam tanto. Não, isto não podia acontecer.
Ela não acreditava e logo se pôs em ação para achar
seu querido animalzinho.
Telefonemas e mais telefonemas, procura nas
casas das ruas próximas, dos supermercados, dos
mercadinhos, das clínicas, das lojas e nada do
cãozinho aparecer.
Foi quando surgiu a idéia de colocar nos locais
com maior afluência de público, a fotografia de Billy,
prometendo uma recompensa para aquele que o
trouxesse de volta.
A fotografia era muito própria e mostrava muito
bem como era aquele cachorrinho.
Toda a manhã se passou, a tarde ta mbém e a
noite estava se aproximando e nenhuma notícia havia
chegado. Que agonia... Todos estavam ansiosos por
um telefonema, uma batida na porta, com a boa notícia.
Mas nada.
E como era o Billy? Um cachorrinho da raça
Shitsu, todo rajado de preto e branc o, pêlo muito
sedoso, com dois olhinhos pretos, bem redondos, muito
expressivos, um focinho bem delineado e tinha um
jeitinho todo especial de caminhar. O que mais se
salientava nele era o companheirismo, a lealdade, o
querer ficar sempre perto da gente.
Era muito manso e fazia festa para todo mundo.
Jamais ladrava assustando as pessoas. Quando
171
dormia, sonhava, e sonhando ladrava. Gostava de
tomar banho de sol no inverno.
Seu rabinho peludo, meio arredondado, estava
sempre abanando para as pessoas e fazendo festa.
Billy veio para nossa casa, no dia 23 de março,
justo no aniversário de Florianópolis. Quando a mãe o
viu, no canil, para ser vendido, logo se encantou pela
sua beleza e pelo seu jeito de ser. Tinha dois meses de
idade, e, agora, quase 2 anos. Não era possível que
não achassem o Billy, pensavam todos os que estavam
a sua procura.
A preocupação era que o cachorrinho só podia
comer ração e gostava de muita limpeza. Toda semana
quando vinha do veterinário, após o banho, trajava uma
gravata diferente e vinha muito elegante e perfumado.
Era tão leal e companheiro que só ia dormir quando
sua mamãe (a que ele tinha escolhido) também se
recolhia. Isto, quase sempre de madrugada, pois a mãe
estava fazendo sua tese de doutorado e, Billy, o
guardião, ficava sem pre aos seus pés ou a seu lado,
esperando a hora de se recolher.
É bom lembrar que gostava muito do
computador, daquele barulhinho gostoso que o fazia
dormir. Pudera, não era só o computador que o
tranqüilizava, mas também a televisão e o som do CD.
Era um cachorrinho muito feliz e trazia felicidade para
todos.
Quando mamãe chegava em casa Billy pegava
seu chocalho e chocalhava numa demonstração de que
queria brincar. Uma graça. E brincava mesmo. Tinha
uns brinquedos que gostava muito, e outros que, para
brincar os colocava na soleira da varanda do
172
apartamento e, com a patinha, jogava para a rua. E
assim perdia o brinquedo. O único que não conseguira
jogar fora era um osso de plástico, que parecia osso de
verdade. Ruía que fazia gosto.
Este era o cãozinho tã o querido e amoroso que
havia desaparecido. Como? Não, ninguém se
conformava! Onde estará ele? Será que alguém roubou
e vai levá-lo embora? Será que vão levá -lo para outro
país, já que é grande o número de turistas na cidade e
nos balneários? Estes pensam entos povoavam a
mente daqueles que o estavam procurando e as
dúvidas deixavam todos muito ansiosos. E o que vai
comer? Está acostumado com ração e, sempre da
melhor qualidade.
De repente, um telefonema. Tudo indicava que
haviam encontrado o Billy. Mas qu eriam a presença
das pessoas chegadas a ele para fazerem o
reconhecimento, a acareação.
Lá foram todos à Clínica Veterinária para ter a
certeza de que era mesmo o Billy. Lá estava ele, o
peralta.
Haviam encontrado Billy na frente de sua casa e,
percebendo que era um cachorrinho de raça, bem
tratado, o levaram para uma Clínica Veterinária. E. lá,
na Clínica, se depararam com o cartaz e a fotografia de
Billy, com os seguintes dizeres: “Quem encontrar, por
favor, devolva este cãozinho que é o nosso xodó. Nós o
queremos muito e, ele, a nós”. Então telefonaram para
a família. Era um casal de namorados. A alegria foi
grande. Abraços, agradecimentos e recompensas
foram trocados.
173
Billy havia passado parte da manhã e a tarde
toda brincando com os meninos, bem na rua aonde
havia desaparecido. Mais tarde os meninos se
cansaram de brincar e deixaram o cãozinho
perambulando pelas ruas próximas a sua casa. Até que
o casal de namorados o viu e o levou para a Clínica.
E, por coincidência, esta era a Clínica que
cuidava de Billy, quando ele estava veraneando em
Canasvieiras.
Talvez vocês perguntem: E, por acaso, cãozinho
também veraneia? Claro que sim!
Não é preciso dizer que a chegada de Billy, em
casa, foi uma festa, regada a refrigerantes, docinhos e
salgadinhos.
Afinal, este cãozinho peralta, merecia.
Mas, para ele foi um dia bem diferente. Vadiou à
bessa. Se sentiu saudades, não se sabe, mas nós
sentimos.
TONI JOCHEM
Toni Jochem é bacharel e licenciado em Filosofia pela
Universidade Federal de Santa Catari na. Mestre em História Cultural pela
mesma Universidade, na linha de pesquisa "Migrações, Cultura e
Identidade".
É autor dos livros: “Pouso dos Imigrantes” (1992); “A Epopéia
de uma Imigração” (1997); “A Formação da Colônia Alemã Teresópolis e a
Atuação da Igreja Católica (1860 -1910)” – Dissertação de Mestrado
(2002); "Nossos Pais" (2005); "Uma Caminhada de Fé: História da
Paróquia Santo Amaro (Santo Amaro da Imperatriz e Águas Mornas -SC)"
174
(2005); e "Tecendo o Saber Confessional Católico em Santa Catarina "
(2006).
Toni é organizador das publicações: “Sesquicentenário da
Colônia Santa Isabel – 1847-1997, Celebração e Memória” (1998); “São
Pedro de Alcântara – Aspectos de sua História” (1999); e "História da
Família Beckhäuser no Brasil" (2006).
Co-autor dos livros: “São Pedro de Alcântara: 170 anos
depois” (1999); “Terras da Esperança – A Trajetória dos Irmãos Buss em
Santa Catarina” (2003); e “Os Cunha e os Tatim na História de Soledade”
(2005).
E editor dos livros: “Caminhos da Integração Catarinense –
Do Caminho das Tropas à Rodovia BR 282” (2004), de autoria de Antônio
Carlos Werner; "São Bonifácio -SC: Aspectos de sua História" (2006), de
Anselmo Buss; "Senhor Bom Jesus de Nazaré – Padroeiro do Município
de Palhoça/SC: Arte, História e Devoção" (200 6), de autoria de Manoel
Scheimann da Silva; "As Alavancas do Progr esso da Região de Braço do
Norte-SC" (2008), de autoria de Anselmo Buss; “Estradas da Vida –
História de um Ramo da Família Deschamps” (2001); e “São Pedro de
Alcântara – Memórias da Nossa Terra e Nossa Gente” (2005), esses dois
últimos de autoria de Osvaldo Deschamps.
Toni Jochem foi coordenador do biênio comemorativo do 170º
aniversário da imigração alemã de São Pedro de Alcântara – 1998/1999.
É Presidente da Associação da Família JOCHEM no Brasil – AFAJO;
membro da Academia de Letras de Biguaçu -SC; Membro da Academia de
Letras de Santo Amaro da Imperatriz -SC; e sócio efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico de Santa Catarina -IHGSC. É coordenador dos
seguintes websites: IMIGRAÇÃO ALEMÃ : www.tonijochem.com.br e
FAMÍLIA JOCHEM NO BRASIL: www.familiajochem.com.br
Acadêmico: Toni Jochem
Nascimento: 13-10-1969
Cadeira nº: 12
Posse: 18-05-2001
Título: Historiador
Endereço: Rua Gerânio, 217, Apto. 303, Residencial Pedra Branca,
Jardim das Palmeiras, Palhoça-SC
CEP: 88133-800
Fone: (48) 3242-0826 ou (48) 3344-2777
E-mail/Site: [email protected] / www.tonijochem.com.br
Patrono: Francisco Galloti
Título: político / Orador
175
NOS PERCALÇOS DA HISTÓRIA:
DO ALTO BIGUAÇU A ANTONIO CARLOS
Apesar de ser uma extensão fí sica da colônia São
Pedro de Alcântara, a localidade do Alto Biguaçu, bem como
suas imediações, foram, aos poucos, se desenvolvendo.
Nessa localidade, no dia 30 de abril de 1838, mediante o
Decreto Nº. 100 foi autorizada a construção de uma capela e
de um cemitério. E, após quase três décadas, mediante a
Lei Nº. 544, de 02 de maio de 1864, foi criada a Freguesia
(paróquia) de São Pedro Apóstolo do Alto Biguaçu 40, e, uma
vez desmembrada da paróquia de São Pedro de Alcântara,
por razões diversas, nunca foi ofi cialmente instalada 41.
Registra a história que:
”Antônio Carlos, antigo distrito de Biguaçu,
começou a ser colonizado em 1830, quando João
Henrique Schoeting, juntamente com outras dez
famílias e alguns homens solteiros assentaram -se
42
às margens do Rio do Louro . Constitui-se de
uma extensão física do povoamento da Colônia
40
Mais informações cf. Doc. 28, Leis 1857 -1866, pp. 146v-147, CMALESC. Veja ainda Doc. 22, ATAS, 1867, p. 142, CM -ALESC.
41
Cf. KREMER, Rogério. Antônio Carlos – 175 Anos de História –
1830-2005. Biguaçu: Litográfica, 2007, p. 205.
42
Na região do Louro, instalaram -se, entre outras, as seguintes famílias:
Schenk/Vieira, Geissbusch/Kraemer, Kuber (solteiro), Hoener, Meinschein
(solteiro), Sieglin (sol teiro), Schwart/Both, Crels (viúva), Holze (solteiro),
Schwarz/Schneider,
Schwarz/Hermes,
Schwartz
(solteiro),
Hermes/Reimaelus, Jochem (viúvo), Bins/Pudinger, Emmerich/Vhors,
Soechting/Silva, Revoets (solteiro) e Ruppel/Kickn, cf. MATTOS, p. 61.
176
43
São Pedro de Alcântara , primeiro núcleo de
44
colonização alemã em Santa Catarina (1829)” .
Os imigrantes que se estabeleceram em São Pedro
de Alcântara e nas cabeceiras dos r ios Louro e Biguaçu
eram provenientes, em sua maioria, da Região do Eifel 45 e
do Hunsrück, na Alemanha.
A imigração alemã para o Brasil pode ser classificada
em duas categorias (de acordo com o método aplicado e
com objetivos propostos), quais sejam: a imi gração de
parceria; e a imigração baseada na pequena propriedade. A
imigração de parceria utilizava -se do método do
“endividamento” e era voltada para o Sudeste brasileiro,
principalmente São Paulo, considerando a existência,
naquela província, de grandes latifundiários. Esta forma de
imigração visava a resolução do problema decorrente da
extinção paulatina da escravidão, relacionado à falta de
mão-de-obra no cultivo do café – que a partir de meados do
século XIX passa a ser o principal produto de exportaçã o do
Brasil. A imigração baseada na pequena propriedade era
composta por colonos livres e foi dirigida principalmente ao
Sul do Brasil. Esta segunda forma de imigração tinha entre
43
Interessante observar que, não raras vezes, as denominações das
colônias homenageavam a família imperial; assim temos as seguintes
colônias: São Leopoldo -RS, Petrópolis-RJ, Santa Amélia-PE, São Pedro
de Alcântara das Torres -RS, Teresópolis-SC, Leopoldina-SC, Santa
Leopoldina-ES, Santa Isabel-SC e ES, entre outras.
44
http://www.antoniocarlos.sc.gov.br/portal1/municipio/historia.asp?iIdMun=
100142015 – Consulta realizada em 30/07/2007. Cf. também BESEN,
José Artulino; PAULI Evaldo. A Comunidade de Antônio Carlos . Antônio
Carlos: Prefeitura Municipal e Paróquia Sagrado Coração de Jesus, 1983,
p. 2.
45
A região de Eifel "tirou" de localidades como Brohl, Forst, Moselkern,
Treis-Karden, Kaisersesch, Müsntermaifeld etc. parte dos emigrantes
enviados a Santa Catarina em 1828.
177
seus objetivos, povoar a região e desenvolver uma
agricultura voltada ao aba stecimento do mercado interno.
Pretendia o governo brasileiro, com a colonização
baseada no regime de pequenas propriedades e do trabalho
livre, criar profundas mudanças na realidade brasileira:
demográficas (povoamento), morais (dignificação do
trabalho manual), sociais (instituição de uma classe média),
militares
(defesa
das
fronteiras)
e
econômicas
(desenvolvimento do Brasil).
Neste contexto, os alemães eram considerados bons
agricultores e, portanto, ideais para povoar vazios
demográficos. Assim, fund aram-se algumas colônias pelo
Brasil: em 1818, na Bahia, a Colônia Leopoldina; em 1820,
Nova Friburgo, no Rio de Janeiro; e, para encerrar, em
1822, com a Colônia São Jorge dos Ilhéus, no Sul baiano, o
ciclo da colonização alemã na região montanhosa do lit oral
médio brasileiro. Mas, a colonização alemã no Brasil, sob o
regime de pequena propriedade, se concentrou em suas
Províncias Meridionais (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e
Paraná), onde os imigrantes deixaram sua marca. Assim,
pode-se dizer que:
“Os descendentes de imigrantes que se
estabeleceram no Alto -Biguaçu, construíram ao
longo do século XX, um patrimônio cultural
bastante expressivo. Apesar do contato antigo e
contínuo com Florianópolis e região, Antônio
Carlos ainda mantém características mar cantes da
colonização do imigrante alemão, principalmente
na zona rural. Junto a alguns valores culturais,
pratos típicos ou o dialeto ainda hoje falado,
encontramos ao percorrer suas localidades,
46
edifícios isolados que marcam sua história” .
46
http://www.antoniocarlos.sc.gov.br/portal1/municipi o/historia.asp?iIdMun=
100142015 – Consulta realizada em 30/07/2007.
178
A formação da população de Antônio Carlos pode ser
caracterizada por quatro principais etnias: luso -brasileira de
origem açoriana, alemã, libanesa e negra 47. No entanto,
predominam os descendentes da matriz étnica alemã,
provenientes, em sua maioria, das colônias viz inhas, tais
como: São Pedro de Alcântara 48, Santa Isabel 49 e Piedade 50,
além da Colônia Leopoldina 51 localizada nas imediações.
47
Veja mais em: REITZ, Raulino. Alto Biguaçu – Narrativa Cultural
Tetrarracial. Florianópolis: Ed. Lunardelli e Ed. da UFSC, 1988.
48
A Colônia São Pedro de Alcântara foi fundada em março de 1829 por
635 imigrantes alemães, constituindo -se a mais antiga colônia alemã
fundada em Santa Catarina. Foi elevada à Freguesia em 1844 através da
Lei Nº. 194, sendo emancipada político -administrativamente do município
de São José mediante Lei Nº. 9.534 datada de 16 de abril de 1994.
49
Fundada em 1847 por imigrantes recém -chegados da Alemanha, a
Colônia Santa Isabel foi composta, em sua maioria, por agricultores e
provenientes da região do Hunsrück, no atual Estado da Renânia Palatinado. Professavam a re ligião católica e a luterana sendo que, nesta
última, Santa Isabel tem a primazia cronológica sobre todas as colônias
fundadas no Estado de Santa Catarina. Instalada às margens do
Caminho-de-Tropas que ligava o Litoral catarinense ao Planalto serrano, a
denominação da colônia é uma homenagem prestada pelo Governo
constituído à Princesa Isabel. Inicialmente, além da sede da colônia,
localizada num terreno excessivamente montanhoso e impróprio para a
agricultura, foram fundadas e povoadas as linhas coloniais de
Löffelscheidt e Primeira Linha. Em 1860, o Governo resolveu remeter
novos imigrantes para a Colônia, a qual desde 1851 crescia apenas pelo
desenvolvimento interno de sua população, sem receber novos
imigrantes. O núcleo foi ampliado e submetido ao regim e colonial com a
chegada de novos imigrantes resultando na fundação de novas linhas
coloniais, entre elas: Segunda Linha, Terceira Linha, Quarta Linha, Quinta
Linha, Rancho Queimado, Linha Scharf e Taquaras.
50
Em 1847, foi fundada na Armação da Piedade – localizada no
continente da Baía Norte da Ilha de Santa Catarina – uma Colônia Alemã
formada por, aproximadamente, 150 imigrantes chegados durante os
meses de janeiro a março daquele ano. Todos professavam a religião
católica. Sem regulamento especial, a Co lônia Piedade era dirigida pelos
comandantes da fortaleza de Santa Cruz, localizada na Ilha de
Anhatomirim. As terras eram íngremes, destituídas de fertilidade e,
179
Seu nome foi uma homenagem ao estadista
brasileiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrade 52, político
mineiro, com destacada atuação na Revolução de 1930. A
nomenclatura foi imposta à população local. Antônio Carlos
era integrante de uma das famílias de maior tradição na
portanto, impróprias para a agricultura. Por isso, os imigrantes foram se
retirando. Dos 150 imigrantes com os quais a Colônia fora fundada havia,
um ano após, apenas 120; em 1849, 114; em 1850, 105 e em 1854
somente 54. Em 1856, o censo demográfico apurou 41 habitantes para a
Colônia. Finalmente, também os mais esperançosos se deixaram vencer
migrando para as regiões vizinhas, especialmente para Biguaçu.
Extinguiu-se, assim, a Colônia Piedade.
51
Colônia Leopoldina é uma homenagem a Dona Leopoldina Teresa
Francisca Carolina Miguela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e
Bourbon (Rio de Janeiro, 13 de julho de 1847 – Viena, 7 de fevereiro de
1871), princesa do Brasil e duquesa de Saxe -Coburgo-Gota, foi a
segunda filha de D. Pedro II do Brasil. A referida colônia foi um
empreendimento particular de duas léguas em quadro de terras, que
foram medidas em 1847 e c oncedidas em 24 de fevereiro de 1848, aos
empresários Sheridan Telghuys Filho e Henrique Ambauer Schutel. De
Hamburgo, Alemanha, em 1849, vieram para a Colônia Leopoldina nove
pessoas; em 1852, mais cinco imigrantes. Pela inacessibilidade das terras
nenhuma delas se fixou na área. Em 1853, foram estabelecidas quatro
famílias alemãs e uma belga. Mas a colônia não se desenvolveu. Em
1849, havia ali apenas um estabelecimento de criação de gado e nenhum
colono. Como se demorou a vinda de novos imigrantes, foram
estabelecidos brasileiros. Em 1853, foram colocados em 14 lotes de terra,
38 colonos belgas e alemães, procedentes quase todos da fracassada
colônia da Armação da Piedade. Cf.: BESEN, José Artulino; PAULI
Evaldo. A Comunidade de Antônio Carlos . Antônio Carlos: Prefeitura
Municipal e Paróquia Sagrado Coração de Jesus, 1983, p. 6. Cf. também
REITZ, Raulino. Alto Biguaçu – Narrativa Cultural Tetrarracial .
Florianópolis: Ed. Lunardelli e Ed. da UFSC, 1988, pp. 46ss. Veja ainda:
Doc. 20, Ofícios 1849 -1857, de 22/04/1851, pp. 86 -7, CM-ALESC. Cf.
também KREMER, Rogério. Antônio Carlos – 175 Anos de História –
1830-2005. Biguaçu: Litográfica, 2007, p. 118.
52
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada nasceu em Barbacena -MG a 05 de
setembro de 1870 e faleceu no Rio de Janeiro-RJ, em 02 de janeiro de
1946.
180
política brasileira. Em julho de 1963, foi cogitada na Câmara
Municipal de Biguaçu a conveniência da mudança da
denominação “Antônio Carlos” para “Reitzburgo” em
homenagem a João Adão Reitz, pioneiro da colonização no
vale do Rio Rachadel. Após acalorada discussão, a proposta
não obteve aprovação daquela casa legislativa 53.
Além da questão do nome a se adotar para um
município, outra problemática estava na pauta daqueles que
estavam a construir a história política de Alto Biguaçu, ou
seja, a sede onde se instalaria a administração do então
Distrito:
“Pela Lei Municipal Nº. 121 de Biguaçu/SC, de 15
de julho de 1919, era criad o o quarto Distrito de
Paz na localidade de Louro, cuja instalação
ocorreu em 02 de agosto do mesmo ano. A sede
do Distrito foi localizada na casa de Leopoldo
Freiberger, que possuía também uma casa
comercial de secos e molhados, ambas situadas
no entroncamento das estradas da Capela do
Louro e Santa Maria. O proprietário era político
influente, tendo exercido os cargos de segundo
secretário da Mesa da Câmara em 1919 e chefe
do Poder Executivo Municipal no período de 1927
54
a 1930” .
53
REITZ, Raulino. Alto Biguaçu – Narrativa Cultural Tetrarracial .
Florianópolis: Ed. Lunardelli e Ed. da UFSC, 1988, p. 176.
54
http://64.233.169.104/search?q=cache:2Ua1MKcS3gMJ:www.portalsant
oamaro.com.br/antoniocarlos.php+limites+do+munic%C3%ADpio+de+Ant
%C3%B4nio+Carlos&hl=pt -BR&ct=clnk&cd=1&gl=br – Consulta realizada
em 31/07/2007. Cf. também BESEN, José Artulino; PAULI Evaldo. A
Comunidade de Antônio Carlos . Antônio Carlos: Prefeitura Municipal e
Paróquia Sagrado Coração de Jesus, 1983, p. 2. Cf. ainda REITZ,
Raulino. Alto Biguaçu – Narrativa Cultural Tetrarracial . Florianópolis:
Ed. Lunardelli e Ed. da UFSC, 1988, p. 167. Cf. também KREMER,
181
Mas, a sede do Distrito do Louro foi transferida para
outras localidades até ser confirmada, em definitivo, em
1938, no atual centro urbano de Antônio Carlos:
“Em 1930, a sede do Distrito de Louro, era
transferida para o local chamado ‘Encruzilhada’ ou
Coração de Jesus, por se en contrar ali um
pequeno povoado e uma Ermida dedicada ao
Sagrado Coração de Jesus. Passava também a
denominar-se Antônio Carlos, o nome do Distrito,
através do Decreto Nº. 24, de 09 de dezembro de
1930. (...). Pelo Decreto Estadual Nº. 489 de 15 de
fevereiro de 1934, era a sede transferida
novamente ao Louro, sua sede inicial. Porém, as
repartições
públicas
(correio
e
cartório)
permaneceram em Coração de Jesus, o que
impediu o retorno. Em 1938, com a elevação à
categoria de Vila, foi confirmada a sede em
definitivo, e delimitados os perímetros urbano e
suburbano da Vila de Antônio Carlos, com
55
vigência em 01 de janeiro de 1939” .
Localizado na região da Grande Florianópolis, em
Santa Catarina, distante 33 quilômetros da capital do
Estado, Antônio Carlos foi em ancipado político-
Rogério. Antônio Carlos – 175 Anos de História – 1830-2005. Biguaçu:
Litográfica, 2007, p. 135.
55
http://64.233.169.104/search?q=cache:2Ua1MKcS3gMJ:www.portalsant
oamaro.com.br/antoniocarlos.php+limites+do+munic%C3%AD pio+de+Ant
%C3%B4nio+Carlos&hl=pt -BR&ct=clnk&cd=1&gl=br – Consulta realizada
em 31/07/2007. Cf. também BESEN, José Artulino; PAULI Evaldo. A
Comunidade de Antônio Carlos . Antônio Carlos: Prefeitura Municipal e
Paróquia Sagrado Coração de Jesus, 1983, p. 2. Cf. ainda REITZ,
Raulino. Alto Biguaçu – Narrativa Cultural Tetrarracial . Florianópolis:
Ed. Lunardelli e Ed. da UFSC, 1988, p. 168. Cf. também KREMER,
Rogério. Antônio Carlos – 175 Anos de História – 1830-2005. Biguaçu:
Litográfica, 2007, p. 135.
182
administrativamente em 06 de novembro de 1963, pela Lei
Estadual Nº. 928 56.
Atualmente, o município é integrado pelas seguintes
localidades: Egito, Alto Egito, Divisa, Rocinha, Rancho
Miguel, Morro do Gato (hoje Morro da Glória), Nova
Inglaterra (atualmente Santa Maria), Braço do Norte, Alto
Braço do Norte, Capela do Louro, Louro, Santa Bárbara, Rio
Farias de Baixo, Rio Farias de Cima, Alto Rio Farias (ex -Rio
Antinhas), Canto dos Petry, Colônia Leopoldina, Vargem dos
Pinheiros, Faxinal (hoje Reserva Ecológica Caraguatá),
Espeito (Espeto), Vila Doze de Outubro, Cantos dos
Guesser, Rachadel (ex-Salto), Morro da Gaita (Morro dos
Hoffmann), Canto do Seu Belmiro, Canto da Sinhá Dadinha,
Morro dos Cunha, Usina, Encruzilhada (posteriormente
Coração de Jesus), hoje sede municipal de Antônio Carlos,
Canudos, Califórnia, Riacho Negro e Rosápolis (ex Bananal) 57.
Com relação aos aspectos demográficos, a
população total do município era de 6.434 de habitantes, de
acordo com o Censo Demográfico do IBGE (2 000); uma
estimativa da população residente para 2006 apresenta
7.041 habitantes 58. Vale ressaltar que a maioria absoluta
desse total professa a religião católica. Quanto à área
territorial 59,
Antônio
Carlos
possui
229,12
km 2,
56
BESEN, José Artulino; PAULI Evaldo. A Comunidade de Antônio
Carlos. Antônio Carlos: Prefeitura Municipal e Paróquia Sagrado Coração
de Jesus, 1983, p. 6. Cf. também KREMER, Rogério. Antônio Carlos –
175 Anos de História – 1830-2005. Biguaçu: Litográfica, 2007, pp. 12 e
137ss.
57
Cf. KREMER, Rogério. Antônio Carlos – 175 Anos de História –
1830-2005. Biguaçu: Litográfica, 2007, p. 11.
58
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php – Consulta realizada em
30/07/2007.
59
Coordenadas: Latitude: -27 31 0 Gr. Min. Seg. Longitude: -48 46 03 Gr.
Min. Seg.
183
representando 0.2403% do Estado de Santa Catarina,
0.0407% da Região Metropolitana de Florianópolis e
0.0027% de todo o território brasileiro 60. Faz fronteira com os
municípios de Biguaçu, São Pedro de Alcântara, Angelina,
São José, São João Batista e Major Gercino.
Eis, portanto, uma rápida caracterização do
município de Antônio Carlos, objeto de estudo desse artigo.
VALDIR MENDES
Filho de Lauro Mendes e Clarice da Silva Mendes , nascido em 01
de novembro de 1947, em Florianópolis-SC. Casado com Clarice
Aparecida Cabral Mendes . Filhos: Pierre, Michel, Bianca, Michelli, Lauro,
Davi e Ana Clara.
I – Comércio: Gerente da Seguradora "Mendes" ; Secretário da
empresa "Nova Sauna" ; Secretário da Empresa "Mendes Representação" ;
Diretor Proprietário da "Pousada Sol da Costa" , em Florianópolis.
II – Professor: Grupo Escolar Lauro Müller (diurno) / 1965 ; Escola
Arquidiocesana São José (noturno) / 1966 ; Colégio Antonieta de Barros
(noturno) / 1967; Instituto Estadual de Educação – IEE (diurno/noturno) /
1968/1969; Colégio Catarinense (diurno /noturno) / 1969/1973 ; Diretor
proprietário da Escola de Datilografia Pierre Mendes / 1973/1985 .
III – Órgão Público: Chefe da Assessória Jurídica da Secretária
de Estado da Justiça – 1980/1985.
IV – Advocacia: Presidente da Associação dos Advogados
Criminais do Estado de Santa Catarina A.ACRIMESC ; Advogado Militante.
60
http://www.antoniocarlos.sc.gov.br/portal1/dado_geral/mumai n.asp?iIdMun
=100142015 – Consulta realizada em 30/07/2007.
184
V – Jornalismo: Apresentador do Programa Toque Ilhéu – TV AI
TV Capital; Apresentador do Programa Passaporte Catarinense – TV São
José / Viamax 2003/2005; Colunista do Jornal Fique Esperto 20 03/2005.
Acadêmico: Valdir Mendes
Nascimento: 01-11-1947
Cadeira nº: 22
Posse: 17-12-2005
Título: Escritor / Advogado
Endereço: Rua Tenente Silveira, 85, Sala 101, Ed. ....., Florianópolis -SC
CEP: 88010-030
Fone: (48) 3222-5071
E-mail/Site: [email protected]
Patrono: Vidal Mendes
Título: Empresário
Apresento três motivações: A natureza, ser
humano e ser animal
UM DIA A MAIS
Após uma noite de agradável sonhar, vagando
por lembranças mil, d e saudosismo de meus pais,
avós, parentes e amigos, estes que já se encontram em
um estágio iluminado, visualizando o encanto das
flores, do mar, do céu e da terra, das pessoas, dos
sorrisos, dos olhares... acordei.
Sentado a cama, pensei.
185
Que bom dormir, acordar alegre e assim ficar.
O dia-a-dia se torna então motivado.
Assim caminhei em volta da casa, sozinho, sem
ninguém acordar.
Cedo, pois.
Resido em frente a praia de mar grosso,
circundada por morros e com visual para a ilha dos
“Moleques” e das “Três Irmãs;’ local onde as gaivotas
fazem seus vôos e pousam. Lá onde os peixes
abundam e os barcos navegam formando um cenário
de harmonia e paz.
E com olhar carinhoso para a s flores, sentindo o
charme de seus perfumes; para o céu, ainda
adormecido, embalado por uma suave brisa; para o
mar, com ondas pequenas deitando -se na praia,
espumosas e com leve chuás; saindo da fantasia de
um sonho para a realidade e tudo ao som dos
pássaros, estes inquietos, buscando seus alimentos na
relva e nas árvores, a lguns com brincadeiras entre si e
outros saltitando alegremente e lá no fundo, como se
brotasse do mar, esbelto, forte, avermelhado, nascia o
grande astro o sol, elevando -se ao céu como se
majestade fosse e é, fazendo com que a natureza, por
um todo, com ele acordasse.
E então pensei... como somos abençoados por
Deus.
Elevei, pois, o espírito a um pensar divino e
agradeci, mais ainda, quando retornei para a casa e
encontrei a família acordada iniciando as obrigações da
manhã.
Deu fez e faz este universo de bondade, de
certeza, de amor e de beleza.
186
Seguir para o trabalho, com es ta fantasia real é
com certeza o lado bom da vida.
Mocidade... esperança
Tudo na vida passa por um processo de
evolução, crescimento, amadurecimento. O ser
humano, portanto, possui este perfil, nasce aprende a
andar, falar, pensar e a conhecer os sentimentos de
alegria e de dor. Após vem a formação da
personalidade. Ao atingir a mocidade, idade que
acelera o direito de independência, procura criar uma
autoconfiança de que seus argumentos, suas vontades,
suas interpretações são efetivamente as credenciadas
como as corretas. Entretanto, assim agindo, por vezes
vem a incorrer em erros de somenos importância , mas
também cai em contrariedades que podem ser fortes e
de grande prejuízo. Contudo, por absoluta certeza,
tenho na mocidade como a fase ideal, perfeita,
emocionante de sonhos e de ideais. Estamos na época
do modernismo, da tecnologia, da poderosa máquina
que é o computador e da internet o que torna,
inobstante a inteligênc ia desta tecnologia, um
afastamento do jovem do que é belo no contexto de
sua formação. As conversas pessoais passam a ser
virtuais, a prática esportiva se detém em sentar em
frente ao computador e interagir ali jogando qualquer
tipo de esporte. A educação sexual, posto
completamente permissivo no computador, torna este
mecanismo um tanto quanto nocivo. É salutar, na
minha visão, que por oportunidades, a família se reúna,
desligando o computador, e em conversação sadia,
187
façam as reflexões que sejam convenie ntes, digam o
que querem e o que não querem. Apresentem suas
vontades. Ainda, que a mocidade procure no esporte
outra forma de se comportar, pois assim estará
melhorando sua condição física e participará de
competições. E, é claro, no descansar do dia, apó s os
trabalhos escolares, o bate papo pessoal com a família
e amigos, a participação esportiva, estar com o
computador se torna extremamente salutar. Posto
então, com certeza a mocidade estará sendo motivada
para um futuro promissor.
BOB... um grande am igo
Em um determinado dia, ao entardecer, no final
do ano de um mil novecentos e noventa, meu grande
amigo Rubinho, artesão de elevada competência, tendo
sua tenda de atendimento nas areias da Praia de
Pântano do Sul, foi me visitar e me presenteou com um
filhote de cão da raça Setter, de origem Irlandesa,
caçador, porte grande e pelo longo, com a
característica de ser ágil e ain da dotado de rara
inteligência.
Recebi o presente com muita alegria.
Imediatamente, sem ninguém consultar, em atitude até
antidemocrática, passei a lhe chamar de BOB. Com o
tempo, todos concordaram com o nome e ass im se
familiarizaram. Na época BOB ficava sob a
responsabilidade de caseiros, vez que eu não residia
na praia. Com ele, portanto, tinha contacto nas férias
188
de julho e final de ano. BOB foi um cão fiel, estimado
pela família e pelos amigos. Em sua minúscula idade
eu o levava ao costão e lá, choramingando, tentava
ultrapassar as barreiras das pedras e com dificuldade
vinha aos poucos conseguindo alcançar este objetivo.
Ganhou então uma destreza muito grande. Ademais
disso, desde cedo ia para a praia, época, pois, que não
se proibia a presença de cão e prazerosamente tomava
seu banho de mar. Às vezes, forte o calor, ia se banhar
no período noturno. As ondas não se aprese ntavam
como problema, eis que BOB pulava sobre elas como
se gigante fosse. Era um animal magro, pois assim é a
formação de sua raça. Suas pernas compridas lhe
davam a vantagem de superar os obstáculos.
Entretanto, como é realidade para todos os seres vivos ,
este querido cão de estimação alcançou a terceira
idade e aos poucos foi se deixando le var, embora
estivesse presente no dia a dia da família. Certa noite
como de costume, passei a mão em sua cabeça e
desejei-lhe uma boa noite. Ao acordar, quando fui ao
quintal lá estava BOB deitado, sem vida, de olhos
abertos e lacrimejados, como se estivesse em choro de
despedida, olhando para o quintal onde gostava de
estar brincando com as crianças, perseguindo gatos e
entregadores, enfim o seu mundo.
A perda foi grande e hoje quando a s ós estou,
fechando os olhos, mentalizo BOB ao meu lado, junto
com todos que o amavam, pulando as ondas do mar e
outras saudades. Posso afirmar que BOB foi um cão
incomum em razão de suas atitudes. Destaco, pois,
que, quando estávamos tomando banho de mar e
levantávamos a mão, como se pedindo socorro, este
189
mergulhava e mordia a mão da pessoa que buscava
ajuda e a trazia para a praia, largando o socorrido
somente quando na areia estivesse. Os turistas,
encantados fotos batiam levando a i magem de BOB
para outras cidades. Ainda, quando deitado, o
chamávamos de “cara sem vergonha” e ele
prontamente colocava suas patas sobre sua cabeça,
como se envergonhado estivesse. Para pedir alimento,
quando nos sentávamos, BOB colocava sua pata sobre
nossa perna e olhava para outro lado. Era um grande
pedinte. Seu olhar transmitia carinho e amizade
profunda. E tantas e tantas outras manifestações do
BOB fizeram com que ele fosse para mim e tenho
certeza que para tantos outros, um cachorro amigo e
inesquecível.
Mãe... que saudade
Como é gratificante falar a respeito de minha
mãe... CLARICE DA SILVA MENDES . Uma pessoa
maravilhosa que manteve uma vida voltada para seus
familiares, para o bem e para a cultura. Eu e o meu
irmão VILSON MENDES, Presidente da Academia
Desterrense de Letras, sabemos o quanto nossa mãe
foi importante e como somos gratos a ela.
Em meu Programa de Televisão, na T V Capital,
Programa Toque Ilhéu, tive o prazer de estar com ela
participando do primeiro programa e quando assumi
como Acadêmico da Academia de Letras de Biguaçu, lá
estava ela, brilhante, de sorriso, na primeira fila,
190
assistindo ao evento, assim como também estava por
ocasião da posse de meu irmão, sendo inclusive
homenageada.
No dia do escritor – 26/07/2008 –, na aprazível
praia de Palmas, em evento presidido pelo Presidente
da Academia de Letras do Brasil (SC), Professor Miguel
Simão, fui diplomado como Presidente Municipal de
Florianópolis da Academia de Letras do Brasil,
oportunidade em que estavam presentes meus filh os
Michel e Nívea, Bianca e Alexandre, Lauro, Davi e Ana
Clara, tendo a companhia de minha esposa que leva o
nome de minha mãe...Clarice, tive forte sensação de
que ela estava presente iluminando o momento. Em
sua residência sempre acolheu seu familiares ,
ofertando bem estar. Como professora teve uma
dedicação muito forte para com seus alunos, sendo
respeitada e amada. E, quando Diretora do Grupo
Escolar Lauro Müller, além do trato para com os alunos,
ela incansavelmente atendia aos interesses dos
professores e pais.
Naquela época, os alunos tinham a obrigação de
saudar a bandeira nacional, cantando o hino, todos
perfilados em respeito, motivação esta que tive a grata
satisfação de participar, eis que fui aluno do Grupo
Escolar Lauro Müller. Nossa mãe e xerceu o Magistério
por 47 anos, sendo de 1938 até alcançar a
aposentadoria em 1985. Nascida na cidade (vila) de
Camboriu, iniciou suas atividades como professora em
Ibirama, vindo a encerrar sua carreira em Florianópolis,
ocupando a Presidência da Associa ção dos
Professores. Foi agraciada pela Câmara de Vereadores
de Florianópolis e Camboriu.
191
Participava do Grupo de Idosos do Instituto de
|previdência do Estado de Santa Catarina – IPESC e
nas festividades gostava muito de dançar. As colegas
do Grupo dos Idosos eram como se irmãs fossem. Com
o falecimento de nosso pai, LAURO MENDES, a quem
ela sempre teve admiração e dedicação, passou a viver
sozinha, independente, cuidando de si, sendo, pois,
uma verdadeira guerreira. Como colaboradora pessoal,
na verdade sua amiga, tinha sempre presente LUIZA
FARIAS. Mãe de VALDIR MENDES e VILSON
MENDES, tendo dez netos e sete bisnetos a quem
estava sempre dedicando carinho e atenção.
Seu falecimento ocorreu no dia 11 de março de
2007, quando contava com 89 anos. Agora, e m plano
superior, com certeza junto com nosso pai, suas irmãs,
Altina e Zizi, ela está em sua plenitude junto com
Deus... Todos nós que a conhecemos sentimos uma
saudade imensa, harmonizada com o orgulho de ser
ela CLARICE DA SILVA MENDES uma professora qu e
marcou época, conforme assim bem define a
reportagem realizada no dia seis de dezembro de 2006.
VANDA LÚCIA SENS SCHÄFFER
Filha de Francisco Sens e de Olinda Thiesen Sens. Nasceu aos
22 de setembro de 1952 , em Taquaras, município de Rancho Queimad oSC. Fez seus primeiros estudos no Grupo Escolar daquel a localidade.
Vanda, mais tarde, estudou como interna, no Colégio "Nossa Senhora",
no município de Angelina -SC. Por motivos alheios a sua vontade, não
concluiu os estudos. Pensou então, dedicar -se à música, mas em sua
192
bucólica cidade, não havia aula para tal. Além da música, gostava muito
de ler.
No seu primeiro livro intitulado "A DANÇA DAS FLORES" ,
publicado pela Editora Paulus de São Paulo, ela relata com veemência
que a natureza é a sua maior fonte de inspiração. Em todos os seus
contos e poesias, viaja -se por um mundo colorido, cheio de pássaros,
flores e noites enluaradas. Hoje com aproximadamente cento e cinqüenta
contos e muitas poesias de ótimo conteúdo, Vanda também está
escrevendo três livros.
Casada com Adilso Amo Schäffer desde 1972, Vanda tem três
filhos: Keila, Mateus e Lucas; e duas netas: Beatriz e Heloísa. Além de
escritora e poetisa, é comerciante. No entanto, com a publicação do seu
primeiro livro, afirma que se abriram os caminhos p ara a sua vida literária.
Vanda que é católica e temente a Deus. Diz ser apenas uma partícula em
busca do seu Criador.
Acadêmica: Vanda Lúcia Sens Schäffer
Nascimento: 22-09-1952
Cadeira nº: 27
Posse: 17-12-1997
Título: Poetisa
Endereço: Avenida Lédio João Martins, 543, Kobrasol, São José -SC
Fone: (48) 3259-1711
E-mail/Site:
Patrono: Mário Quintana
Título: Poeta
ALGUÉM A PROCURA DE FELICIDADE
Procurei a liberdade
pois estava aprisionado por meu orgulho.
Dos humanos sentia-me o melhor!
Procurei a liberdade
pois estava aprisionado por meu egoísmo.
De tudo queria mais e melhor!
193
Na bebida procurei a liberdade.
Aprisionei-me na embriagues!
Nas drogas procurei a liberdade.
Aprisionei-me na insensatez!
Na prostituição procurei a liberdade.
Aprisionei-me nas fúteis paixões.
Perdi a dignidade!
Na preguiça procurei a liberdade.
Nela aprisionei o meu coração
em perniciosas cobiças sem prosperidade!
No roubo procurei a felicidade
de possuir sem trabalho.
Tombei qual a mais alta árvore de carvalho!
Na noite procurei a liberdade.
A encontrei escura fria e traiçoeira.
Procurei-a em vão.
A lua e as estrelas, somente tem para tanto permissão!
Ah! Mas quando encontrei o Sol Maior
notas rítmicas e perfeitas tocaram
em meu peito a mais bela canção.
Era a força
brotara do amor e enlaçava o meu coração!
Deixei seduzir-me por Jesus!
Abri os braços em cruz.
Hoje sou livre como o vento.
Sou pássaro que vôo no espaço dos meus pensamentos.
Livres, livres pensamentos
194
modificados pela liberdade que
Deus me deu e me dá a cada momento!
Não sou mais alguém a procura.
Sou a própria liberdade.
Sou liberdade em forma de criatura!
25/07/2001
ANJO DEFORMADO
Fazendo caminhadas matinais
que somam cinco voltas ao redor do Shopping.
Oro.
E em cada volta uma oração especifica
e muitas inventadas na hora.
Eis uma delas.
Os meus pensamentos, os meus sentimentos,
as minhas emoções e os meus desejos, Senhor a ti os
entrego.
Ao término dessa oração olhei para o céu
e vi um anjo deformado.
Logo pensei. “Que anjo engraçado”.
Seus cabelos encaracolados.
O rosto...
O rosto de um lado era achatado.
Uma asa era pequena a outra enorme.
Na volta seguinte o anjo havia se modificado
e na outra volta ele estava sem a asa maior, e parecia
desanimado.
A asa menor acenava para o mar.
195
Mas... o mais curioso deu -se com o rosto abriu-se uma
fenda.
Nitidamente vi que era uma boca implorando a Deus para
que a humanidade de todo o mal a defenda.
Continuo caminhando...
E em todas a voltas continuo orando.
Porém o anjo deformado que v i naquele dia
jamais saiu do meu pensamento.
Penso nele todos os dias...
No entanto nunca mais o vi nas nuvens retratado.
Concluo
também não há necessidade.
Há tantos ao meu lado interiormente deformados.
E ... quem sabe não sou um deles.
11/09/2000
CRÔNICA DO BOM CAFÉ
Levantei bem cedo, fui para a cozinha fazer o café,
lembrei-me da minha filha que sempre diz:
– Mãe, você está na idade da pedra.
E sabem por quê?
Porque não uso cafeteira.
Pus a chaleira no fogo e, enquanto esperava a água ferver,
minha mente trabalhava e esta crônica fez nascer.
Obrigado, Senhor!
Como preciso de Vós para, em mim, nascer a chama do
amor.
O fogo não mais para ferver a água.
196
Mas, o fogo que abrasa.
O fogo que cada indivíduo deveria ter em sua casa interior.
E... a chama, amarelo-azulada logo a água fez borbulhar.
O café, mais gostoso em seguida pude saborear.
Coadjuvantes do meu café, o leite quentinho e o adoçante
eles inspiraram-me ainda mais.
Não é tão raro, mas todos não têm café saboroso assim.
Analisado poeticamente e degustado vagarosamente,
originando esta crônica tão diferente.
No entanto, muitos não têm café
e jamais um pão com manteiga, isso já pela manhã.
O restante do dia passam fome; são indivíduos excluídos da
sociedade e errantes, vagu eiam no mundo chamados de
vagabundos.
E quanto a nós, que temos café, almoço e jantar, podem nos
chamar do quê?
Mui capacitados e sensíveis?
Ou a nossa sensibilidade evaporou com as labaredas do
desamor?
Eis a receita do meu café; de um bom café.
Água filtrada, pó de boa qualidade, leite também do melhor.
E foi assim nesse entrosamento, um necessitando do outro,
que o meu café ficou pronto.
Então me transportei ao passado; visualizei uma plantação
de café. Visualizei muitas vacas prontas para serem
ordenhadas; prontas a repartirem conosco e com os
bezerros o leite, uma das fontes de vida terrena, sustento
primeiro.
Visualizei também quem não tem o básico sustento.
Concluí que nós, humanos, precisamos compartilhar até os
talentos.
Agradecer a Deus ainda é m uito pouco.
197
Colocarmo-nos à sua disposição e ajudar os desvalidos, é
nossa obrigação.
Não querendo dizer com isto que sempre devemos dar a
eles o café pronto, mas ensiná -los a plantar.
O que nós sabemos, eles querem aprender. Utopia não é,
pois até o papagaio aprende a falar e a dar o pé.
04/11/2002
ENSOPADO
Lá vai o pintainho
recém da casca saiu.
Contente piando vai...
Nem sabe o pobre inocente
que o seu fim será azarado
reverter-se-á
num frango ao molho pardo.
Meses mais tarde...
– Que delícia este ensopado!
– Parabéns cozinheira!
Ela escondendo a verdade se agita
e ao pé do fogão grita.
– Não me contento com elogios
tenho saudade de ver o pintainho
subindo a escada aos pius...
Eis que de repente
ouve-se do galinheiro
um có-có-ri-có mui afinado.
198
Era um galo faceiro
que de cima do poleiro
cantava para todo o galinheiro.
Surpresa geral à quem ali almoçava.
Os que na rua passavam
ouviam também o catar estridente.
– Que galinho esperto!
Por certo alguém o adotou como gente.
E o papagaio falador
fazendo o maior alvoroço bradou de alivio.
– Graças a Deus que do meu convívio
desapareceu o gato e o cachorro!
06/02/2003
VERA REGINA DA SILVA DE BARCELLOS
Vera Regina da Silva de Barcellos denomina-se Vera De
Barcellos como nome literário. Nasceu em Florianópolis , capital de Santa
Catarina, em 1948.
Suas atividades literárias aconteceram em 1996, quando
começou a participar de entidades literárias em Santa Catarina.
Inicialmente foi convidada a participar da Associação de
Contistas, Poetas e Cronistas Catarinense, posteriormente como
acadêmica da Academia São José de Letras, da Academia de Letras de
Biguaçu e fundadora e acadêmica da Academia Desterrense de Letras,
todas catarinense.
199
É membro correspondente das: Academia Municipali sta do Rio
Grande do Sul, Aca demia Petropolitana de Letras, Academia de Letras
Raul de Leoni, estas duas últimas da cidade de Petrópolis no Rio de
Janeiro. Mantém com orgulho o título de Membro Titular do Clube dos
Escritores de São Paulo e mais onze entid ades literárias de renome
nacional.
Editou em 1997 duas obras literárias “Na luz a dor da saudade
tua (poesias e poemas já em segunda edição) e Cores poéticas em teu
coração (Pensamentos, na quarta edição) e um DVD poético que
acompanha suas apresentações literária e artística e em 2004 lançou
juntamente com o escritor. Hugo Bessoni em Belo Horizonte -MG, a obra
infantil “A ratinha vaidosa”.
Hoje Vera De Barcellos colabora com sessenta e cinco jornais,
revistas e boletins literárias e mantém um acervo de se tenta e cinco
antologias literária, realizado junto a outros escritores de renome nacional.
Sempre participando de concursos literário s contando hoje com
dezenove prêmios e troféus em primeiro lugar, Menção Honrosa, Honra
ao Mérito, classificação p or Destaque e outras honrarias de nível nacional.
Para os próximos meses será lançada a coleção “Tia Vera”
contendo nove obras infant is.
Acadêmica: Vera Regina da Silva de Barcellos
Nascimento: Não informado
Cadeira nº: 34
Posse: 17-12-1997
Título: Não informado
Endereço: Avenida Rubens de A. Ramos, 2 .082, Apto. 302, Ed.
Belvedere, Florianópolis -SC
CEP: 88015-701
Fone: (48) 3207-6888 / 9621-7660
E-mail/Site: [email protected]
Patrono: Othon da Gama Lobo D’Eça
Título: Poeta
VIDA DE POETA
Vera de Barcellos
200
Poemas e poesias
Um Poeta a outros poetas
que poetando
fazem do verdadeiro “POETA” um monge
na sua simples e infinita sabedoria.
Ah! poeta
Ainda era madrugada,
precisamente 2:45 da manhã,
quando me acordaste com tua infinita inspiração
para compor estes versos
nas ondulações dos cantos líricos de outros tempos...
Abri vagarosamente meus olhos
espreguicei-me... tentando ainda continuar a dormir
mas, tu, oh! poeta dos meus encantos,
fizeste-me colocar meus pés no chão e,
preguiçosamente, levantei -me para
estender em linhas poéticas o que me vem á alma !
Canta pois, alma querida
os deleites dos teus cantos despertos da aurora
e vislumbre em tuas cadências rítmicas
os mais puros sentimentos de outrora...
--------0000-------
201
Despertei na madrugada primaveril...
Poeta, sei que despertei
de um sono profundo;
que descoberto dos deslizes do tempo
vem à tona todos os ímpetos juvenis
das pequenas almas que percorrem seu s espaços,
vislumbrando em cada canto de seus mundos
as incessantes perturbações de seus novos pensares!
Sei, que não é fácil dedilhar
os pesares do dia a dia...
Sei que não é simples
colocar-se a descoberto aos incessantes olhos que
vêem
sem olhar na mesma direção os códigos morais
que deslizam nas políticas inconformadas dos tempos.
Diz o político com seus botões:
Será o certo ou o incorreto?
É correto saber colocar o ovo em pé?
Nas vicissitudes da vida,
um chapéu de palha voa ao vento,
de quem a cabeça pertence?
Ao ancião que vende quitutes na esquina
ou ao jovem que busca outros empregos
na boléia de um caminhão?
Ah! poeta... segues poetando sem parar,
pensando talvez que este não seja o teu poema,
mas na poeira do tempo as linhas que se descobr em
202
fazem parte do rodeio do teu próprio mundo,
fazem parte da tua própria descoberta...
Entender que as almas que caminham juntas
nas descobertas de si mesmas
seguem o mesmo compasso
dos sonhos inevitáveis do destino.
Quem viu que o diga!
Hoje é teu dia...
Sei poeta que hoje é o teu dia,
ou serão todos os dias da tua vida
o dia de tuas descobertas ou
as descobertas de outras almas...
Tua inspiração como um bisturi médico
dilacera vísceras para curar o mal
ou quem sabe as mãos de um pedreiro
que soma pedra sobre pedra para formar
uma grande parede indiv isível quem sabe!
Pingos pingados de uma saudade
conta as contas dos rosários das ave -marias,
ou o pai nosso de cada dia
do pão de aluguel que na mesa fornece,
ou o feijão de um bago só
no tempero da água com sal
fervendo na panela a dias!
Ah poeta! Quantas viagens nos teus mundos,
203
já se conta mais de centenas talvez!
Somos como o vento que apazigua os temporais
ou as fagulhas que aumenta o fogo nos vendavais?
Ah! poeta deixe nas linhas de tuas diretrizes
o consolo que aumenta de dia
e atemoriza nas noites os teus sonhos despertos da
intuição.
Canta poeta os teus sentimentos mais íntimos
da pureza que tua alma de criança crescida
deixa transparecer as luzes que sempre foram
o néctar do mais puro mel!
Ah! poeta dedilha tua oração matinal
rezando baixinho a outros poetas
que seguem pelo mesmo caminho em direção ao sol!
Chame poeta, teus companheiros da lida,
deixe-os dedilhar nas linhas das tuas descobertas
teus sonhos ínfimos de contornos s oletrados de
mistérios,
olhando jardins a descobertos!
Sim poeta, hoje é teu dia,
tua liberdade começa quando a do outro poeta termina.
Sim quando termina...
Se num mesmo festival de cantorias
os poetas poderão um dia terminar suas poesias!
Pois as poesias, poeta dos meus encantos,
resistem ao tempo e ao espaço
elas são infinitamente belas e eternas...
204
--------000-----Simplesmente poeta!
Poeta, hoje é teu dia.
Voas como as borboletas leves em seus vôos primeiros
nos mais altos valseios de um d ança qualquer .
Não preferes jazz, rock ou samba,
somente dança de um compasso três por quatro
para que tuas asas junto a outras
possam delinear a frênesi dança dos eternos
enamorados...
Poeta, hoje desperta stes tão romântico,
deixastes em teu lençol na ca ma
os vestígios de uma noite de amor!
Deixastes um coração cantando baixinho
as melodias do encanto d’alma,
sussurrando apaixonadamente teu nome poeta,
anônimo inspirador dos trovadores dos tempos!
Ah! poeta... teu vesperal desperta corações,
faz saltar poesias... jardins de rosas...
e as águas das mil correntezas...
faz cantar passarinhos ... voar borboletas...
contornar nuvens altaneiras...
azuis no céu... e verdes mares do sul!
Teus encantos poeta, encantam a muitos,
namoricam a outros e apaixonam a tan tos...
Teus dizeres poeta colorem sonhos,
assumem diretrizes das almas que te escutam...
205
que se comprazem em atender o teu chamado
para que seus corações não parem de bater
neste mundo infinitamente belo de emoções e encantos
...
Poeta...
continue a dedilhar o compasso de tua própria dança
e não deixes jamais de seres simplesmente um poeta
do mundo...
um poeta da vida...
um poeta do amor!
“UM POETA NESTE GRANDE UNIVERSO DE DEUS”.
Um caminho solitário, talvez!
Poeta, sei que caminhavas sozinho
pelas veredas da vida,
bisbilhotando outras vidas...
ou espiando outras almas...
Quem sabe!
Somente olhando as almas em sua simplicidade,
passando pela vida,
dedilhando sapatilhas de balé,
sapateando castanholas,
ou picoteando rebolés de samba...
Não importa poeta,
para ti tudo é possível.
Tens livre caminho nas curvas que a vida dá...
Tens livre conduto nas fronteiras de outros mundos...
Tens passe aberto na s portas de todos os corações...
Pois dedilhas em tuas linhas
206
toda a euforia
toda a candura
toda a beleza
toda a tristeza
toda a amargura
todas... todas as vicissitudes de todas as vidas...
E não paras por aí...
descobres em cada pouso da tua imaginação
os contornos febris das almas que nascem sementes,
germinam raízes e descobrem -se frutos maduros
para serem corrompidas pelas maldades do mundo ou
inebriadas pelos mistérios da vida .
Oh! poeta...
nas frases que compões
trazes em teu próprio peito os cód igos
que delimitam a sabedoria do Universo,
para que todas as almas possam um dia conhecer
as delícias de tua própria vivência em direção á luz
e a sensibilidade de teu coração na força de um grande
amor!
Hoje ainda é o teu dia!
Hoje ainda é teu dia, poeta
estás de parabéns!
Acordei-te de mansinho
para que teus sonhos coloridos
não se diluíssem no sabor de um mero despertar...
Hoje ainda é teu dia, poeta
vislumbre em teu amanhecer o quanto já fizestes. ..
Quantos já despertastes do seu sono eterno?
207
Quantos que enviastes a outros mundos...
mundos de esperanças e sonhos...
mundos de amor e descobertas...
mundos de altruísmo e sabedoria...
mundos eternos de poesia...
Forme hoje se puderes, poeta
um grande ramalhete de flores
e envie a cada um daqueles
que passaram por tua vida
e ainda não descobriram
que o verbo “AMAR” está intri nsecamente ligado
ao verbo da eterna declinação “POETAR”...
Dê hoje poeta, se puderes,
as linhas das tuas poesias a outros poetas
que parados em suas linhas
dedilham dicionários a procura de novas palavras
quando está na verdadeira alma do sábio poeta
a simplicidade das “Verdades Eternas”...
Poeta vejo que estas a amar... amando a poesia,
poetar... poetando o amor!
Nas tuas mais simples emo ções do dia a dia
e na singeleza de hoje semente
amanhã desabrochas em botões,
flores de um mesmo ramo
beleza infinita do teu bem querer!
A faceirice...
Hoje poeta descobri tua alma faceira,
208
não da faceirice que o mundo conhece,
mas da beleza que canta a natureza...
A simplicidade da alvorada
com suas matrizes coloridas,
seus encantos e perfumes...
O cantar das águas do rio
cantando soltas sua liberdade
nas danças ondulantes que vão... e vão...
O vôo da cotovia que escutou na janela
as juras de amor de Romeu e Julieta...
O som das trombetas apaziguadoras
dos doze da Távola R edonda...
Das passarelas atapetadas,
dos estadistas em busca da paz nas fronteiras da Terra
...
O grito saltitante do homem que vem ao mundo
para descobrir em si mesmo a sabedoria de tudo...
Ah! poeta, este é o teu lema,
descortinar nas linhas de tuas emoções
as descobertas das histórias...
as tramas e os limiares das alcovas...
os píncaros mais altos dos filósofos...
as verdades encobertas das ciências novas...
os planos sociais inconformados de muitos...
e os objetivos arcaicos para si mesmo...
Conta poeta, hoje é teu dia.
Sabes, porém que todos os dias
sempre serão o teu dia.
209
Pois a tua liberdade não se restringe a dias,
mas à eterna sabedoria dos temp os!
Motivando almas...
abrindo corações...
traçando caminhos e iluminando com esperanças
as noites escuras de outros viventes...
Poetando, proseando, contando e estoriando
espalhas o brilho estrelares do teu coração
pelos caminhos eternos do teu sonhar!
-------0000-----
Na tristeza!
Hoje, poeta
te vi tão triste.
Estavas junto ao mendigo
que mendigava dizendo baixinho,
que tudo faria para descobrir em seu mundo
o saciar da fome de todos...
Queria descobrir em sua análise o teu coração
que a ti já não mais pertence,
mas ao mundo que de ti muito espera.
Queria dedilhar a tua própria dança
para contar aos seus pa rceiros
a ligeireza das tuas idéias e
a inteligência das tuas diretrizes...
210
Ah! poeta...
e ali te deixastes ficar...
Observastes então na quietude do teu coração
o olhos ávidos que queriam te conhecer mais de perto,
pois, analfabeto de pai e mãe,
não conhecia as letras dos teus poemas...
não conhecia a singeleza das tuas canções
e tampouco o compasso de tua própria sinfonia...
Mas tu, oh! poeta
com toda a tua simplicidade
olhastes as estrelas no céu , pois teto ali não havia...
sentistes em tuas faces a brisa fria da noite pois
estavam a descoberto...
respirastes o cheiro azedo do suor pela falta de banho
no corpo dele...
tomastes a fraca refeição do pão e água borrenta de
um ralo café,
e com os dedos envolvendo uma lata velha aquecida
olhastes fundo aqueles olhos nublados e vividos
e te deixaste pousar naquela tão grande beleza e
sabedoria,
espelhando-te nas pupilas de seus olhos
encontrastes a ti mesmo...
Mendigo das dores do mundo...
conhecedor de suas desesperanças...
analisador de suas amarguras...
avaliador de seus desconfortos...
sedento da sua sede...
faminto da sua fome..
211
E assim dedilhando um rosário das eventualidades
infinitas
adormecestes junto ao outro poeta da vida...
E assim, na manhã do outro dia,
seguistes teu caminho,
intimamente sabendo que muito aprendestes com ele.
E, lá ficou o mendigo,
olhando-te a perder de vista
dizendo para um só botão de sua malbaratada
camisa...
Segue poeta o teu mundo,
e diga a outros poetas
que fizemos parte das diretrizes do mesmo
caminho,
fizemos parte da mesma rota,
contornamos as voltas dos nossos corações,
eu com meus sonhos perdidos e tu, poeta,
dedilhando em tuas linhas os perdidos nos
caminhos...
De todos aqueles que inconformados com sua
vida
não avaliam a riqueza que existe bem dentro do
seu coração,
um Universo de belos e desprendidos
sentimentos...
Amar a todos sem distinção de raça, credo ou
cor!
Estas as verdadeiras linhas do Universo de
DEUS!
E assim, quando o poeta pouco a pouco desaparecia
no horizonte,
o mendigo transformava -se em uma nuvem luminosa
212
que pouco a pouco subindo aos céus
formava com outras nuvens
a beleza que todos os poetas delineiam
nas linhas de suas poesias!
--------0-0-------
Eu sou...
És feliz? diria o poeta
não se lembrando se é dia
sem tira da sandália de couro cru
olha o balanço da cigana andarilha...
Lenço de seda e bola de cristal
pulseira de ouro e brinco de argo las
tudo pulsa o gingado da guitarra...
Canta rouxinol o teu canto mavioso
que contorne em lágrimas
um coração em saudades...
Das cantigas ao pé da fogueira
nos rodeios das conversas ao léo...
Tudo lembra euforia
meditação e alquimia
quantas alegrias... lembranças do meu dia
de cigana andarilha...
Cantante melodia que há em seu canto
o rebordo de uma aliança de ouro...
melodia dourada nos preâmbulos
dos meus sonhos de mulher crescida...
213
........................XXX.........................
Sem querer...
Sem querer galguei
os caminhos que ora descortinavam
em flores de mil cores...
Sem querer caminhei
por atalhos de mil espinhos
em direção a sabedoria transcendental...
Sem querer tornei-me antes da hora
um ermitão tão sequioso de conhecimentos
Sem querer... continuei
no caminho das flores de mil pétalas
dos mil encantos e das mil lágrimas
que unidos formam-se em bolas cristalinas
que se encontram dentro do mar
Onde? sem querer encontrar
nos preâmbulos que a vida dá
o toque angelical do sino da c apela...
onde encontrar a alma que busca conforto
em outro alma em direção da Luz Maior?
Onde?
Sentir dentro do peito o sibilar do toque
de mil estrelas no recôndito escondido
da alma que luta por sua libertação?
Onde? sem querer ser...
sem querer estar...
214
Sei o que sou... mas e o caminho que terei que
percorrer ,
onde está? sim... onde está
pois... não quero me perder!
(nos momentos que a alma pede socorro)
Para outro poeta...
Ah! poeta de outros tempos
saboreia o vesperal de cantos
que tua alma anseia em cantar...
É este o teu lema, descortinando
em prosas os anseios de tua alma
que segue as linhas harmoniosas
dos grandes monges de outrora.
Não deixe a poeira da solidão obscurecer
o sentido exato do que propusestes a fazer.
Ah! querido amigo...
também dos tempos idos! Lembro -me das nossas
conversas
na “Torre Alta”...
tantas sabedorias e tantas alegrias...
quantas descobertas... que carinhosamente
passavas ao compasso do meu coração
que bebendo cada palavra... cada evocação...
sentia-me voar aos píncaros mais elevados dos meus
sonhos!
Hoje um despertar assola minha alma
e pingos pingados de uma saudade
215
brota em meu peito, despertando jardins
de diferentes encantos... perfumes de flores
que sempre depositavas em meus cabelos
que desciam em cachos pelos ombros
da mais clara alvura dos lírios dos campos...
Meu poeta... desfaça -se em folhas coloridas
e desperta nas páginas em branco
tua alma em cantoria..
Espero-te nos jardins entrecortados de ciprestes...
nas alamedas dos grandes valseios.. .
junto as estrelas dos nossos sonhos...
Até lá... um sopro de outono em teu coração
ao rumo na transcendência
nas Pontas do Grande Triângulo!
(Uma alma poeta para outra alma que canta a sinfonia
da Luz que não se apaga...)
PINCELADAS DE CARINHO
Percorrendo as noites de inverno
durante meus devaneios noturnos,
verifiquei que as brumas em pensamentos
assolavam todos aqueles
que defraudavam bandeiras arraigadas do passado .
Triste pensar... triste ilusão.
216
Como poderia falar clarame nte
a todos a qual visitara
no meu palco psíquico..
das minhas viagens fora do corpo?
Num bela tarde onde o crepúsculo banhava
a minha Ilha de Sol e Mar
raios violeta tocavam minhas aspirações
no meio de outras tonalidades douradas
veio-me o livro que ora está em vossa mão.
Trazendo-te raios semelhantes
para expandir flores de alegrias,
paz e equilíbrio em vossa tão bela vida.
Pense belo...
e raios de fortalecimento e amor
serão jorrados em vosso caminho...
Tendo a certeza de que o vosso Eu Interior
brilhará com o fulgor do Grande Sol Central...
Creia firmemente que tudo na vossa vida se resolvera
quando vossos pensamentos mudarem
para um positivismo maior e mais persistente...
O grande Criador provera vossa necessidade
Basta crer...
Vossa vida sempre será a dimensão de vosso pensar...
Vossa vida será a extensão de vosso amor...
Creia firmemente em vosso poder de transmutação...
E seja feliz consigo mesma
e com tudo que te rodeia.
Seja simplesmente feliz...
E tudo a vossa volta se modificara
porque você mudou seu plano
transformando seu Eu Superior na direção do AMOR!
217
Como tecer o brilho das estrelas?
Como falar a linguagens dos anjos de Deus?
Como colorir a vida com as cores do arco -íris?
Como beber da água viva que levaremos a
nossa ressurreição!
UM ESTADO INTERESSANTE
um estado interessante...
que estado?... um estado de humor,
de sabor... das estações do ano,
Ah! quantos estado...
e lá vem ela, alquebrada pelo tempo,
no estado da idade, tão interessante,
nas brumas do tempo... da saudade....
Ah! quanta saudade...
dos caminhos... dos atalhos e entulhos...
nas estradas da vida...
queria que fosse tudo tão limpo,
Ah, mundos... seria tudo tão belo tão maravilhoso
Neste estado interessante
onde as rugas aparecem iluminando teu rosto...
cada uma marcando a sabedoria de tua alma!
Ah! que estado interessante...
onde o brilho das estrelas são marcados
pela singeleza do teu sorriso cansado,
do brilho de teus olhos opacos,
218
mas teu coração... oh! qu e estado de amor,
de agrado incandescente... de ternura...
quantas... quantas mil,
na soberania dos teus anos,
a singeleza sabia dos grandes monges...
em direção da Luz que não se apaga...
Ah se todos nos pudéssemos
alcançar os seus frutos maduros.
quem sabe,,, um dia eu saberei
Estarei neste mesmo estado interessante...
no cintilar dos ventos...
nas cores do por do sol que sempre nasce...
na sempre claridade das esperanças ...
Ah! quando estarei neste estado interessante
quem sabe... ele sabe...
já o conhece... eu sei!
(na certeza de novas descobertas)
VILCA MARLENE MERÍZIO
Vilca Marlene Merízio (Brusque, Santa Catarina, Brasil) vive em
Florianópolis há 45 anos. Professora Doutora em Literatura Portuguesa
(Universidade dos Açores, Portugal, 1992; Mestre em Literatura Brasileira
(1978) e Licenciada em Letras (1973) pela Universidade Federal de Santa
Catarina. Professora de Língua Portuguesa e Literatura (1963 -2008).
Idealizadora e Coordenadora Geral do Programa MISSÃ O AÇORES 2008
e Missão Cultural Santa Catarina Açores/Portugal e Comunidades
Lusófonas (2001-2007). Criadora e Coordenadora Geral do Projeto
219
Representação Catarinense no II Encontro de Lusofonia e Açorianidade e
atividades Paralelas nas Ilhas de São Miguel e Graciosa, Açores (maio de
2007) e do Projeto Missão Açores II – 2008. Criadora e Coordenadora do
Programa Cultural Açores -SC para o Festival do Mar, Florianópolis, 1996.
Idealizadora e Professora de Cursos de Harmonização P essoal,
Açores/Portugal (2002 ) e em SC (2000-8). Conferencista e palestrante de
congressos, colóquios, painéis e outros. Membro de júris de
doutoramento, mestrado e graduação. Revisora de livros.
Atualmente, Professora aposentada da Universidade Federal de
Santa Catarina, Vice -Presidente da Academia São José de Letras.
Membro da Academia de Letras de Biguaçu. Diretora Institucional da
Associação de Amigos da Casa dos Açores -Museu Etnográfico de
Biguaçu. Sócia-fundadora da Associação dos Poetas Livres de
Florianópolis.
Livros publicados: A História de Um Amor Feliz. 2004. 375 p.
Açores... De memória . 2004. 122 p. Quase... de Corpo Inteiro . 1996. 190
p. Redação: uma Experiência de Ensino -Aprendizagem. Brasília.
Ministério da Educação e Cultura, 1980, 180 p. (Prêmio MEC 1979).
Publicações em Antologias, Jornais e Revistas Literárias. Artista Plástica
(1993-2008).
Acadêmica: Vilca Marlene Merízio
Nascimento: 05-01-1944
Cadeira nº: 23
Posse: 18-12-1996
Título: Poetisa / Escritora
Endereço: Rua Irineu Bornhausen, 3 .770, Apto. 203, Bl. 2, Ed.
Agronômica, Florianópolis -SC
CEP: 88025-205
Fone: (48) 3224-4031 / 9971-2285
E-mail/Site: [email protected] / [email protected]
Patronesse: Lausimar Laus
Título: Poetisa
“EU TAMBÉM ESCREVI CARTAS DE AMOR” 61
61
Conferência proferid a pela autora em maio de 2008, no 3º Encontro de
Lusofonia e Açorianidade, na Lagoa, Ilha de São Miguel, Açores, Portugal,
220
Nasce um poema
E ao contrário dos regulamentos
Sei porquê
O porque dum nascimento
em representação da Academia de Letras de Biguaçu, ao abrigo do
Protocolo de Intenções de Cooperação Mútua entre o Governo do Estado
de Santa Catarina e o Governo Regional dos Açores (2007) e com o
patrocínio da Secretaria de Estado da Cultura, Esporte e Turismo do
Governo do Estado de Santa Catarina , dentro das comemorações dos
260 anos da imigração açoriana e madeirense em Santa Catarina.
221
Misterioso quanto um sedimento
De longo amor e desejo .
José Martins Garcia
Era outubro de 1987. Nove de outubro. Num
restaurante, em Ponta Delgada, minha família e eu fomos
apresentadas pelo então Reitor da Universidade dos Açores,
Prof. Doutor Machado Pires, ao Prof. Doutor José Martins
Garcia (JMG) 62, que, durante cinco anos, na mesma
universidade, iria me conduzir aos caminhos da percepção
literária, instigando-me, com coragem e perseverança, a
transcender os mistérios que permeiam mar , céu, terra e
gente das ilhas açorianas. A chave capaz de abrir as portas
imateriais das ilhas, descobri mais tarde, não estava com
ele, não estava comigo, mas pairava dentro de nós, e sobre
nós, na palavra dita, no olhar hospitaleiro e nos gestos de
amizade de toda a comunidade que me recebia.
A constatação, depois a compreensão, de que, entre
brasileiros e açorianos, existiam maneiras diferentes de
pensar; a aceitação de um silêncio que, às ve zes, dizia mais
que um discurso; a imersão na arte de viver d os quantos,
62
Também escritor, poeta, contista, romancista, ensaísta e crítico literário.
Sobre JMG, David Mourão -Ferreira escreveu: o “escritor mais completo e
mais complexo que no último decénio que entre nós se revelou” (Jornal
Signo, 1987).
222
amando ou odiando estes cumes emersos do Atlântico, aqui
viviam e repartiam comigo fraternalmente a mesa e,
carinhosamente, os laços de família, tudo isso permitiu-me
conhecer e vivenciar a poesia destas ilhas. Mas foi com o
Professor JMG que a prendi a ver os Açores com o
distanciamento necessário para que nele coubesse Portugal
com sua história e conquistas, mas também com seus
desvios e desvarios, levando -me a amar a Literatura
Portuguesa, incondicionalmente, a partir de leituras a que só
ele era capaz de me fazer ascender.
Antes de vir para os Açores procurei no Pequeno
Roteiro da História da Literatura Portuguesa (1984)
informações sobre o professor -orientador com quem iria
trabalhar nos dois anos de pesquisa, pensava eu, que teria
pela frente. Lá estava, à página 282: JMG, autor de
“exegeses inovadoras, ensaísta de sólida preparação
humanística e ficcionista de largos recursos, mas polemista
de temível mordacidade. A par disso, ainda no Brasil, o Prof.
Machado Pires já havia advertido: “JMG é o melhor
professor que temos no âmbito das Letras, mas o mais
complexo, o mais difícil de se lidar...” No entanto, JMG
professor apresentou-se para mim e para meus filhos com
tanta solicitude e amabilidade, que o receio que eu sentira
antes de conhecê-lo pessoalmente desapareceu diante do
homem extremamente gentil que se colocava à disposição
para auxiliar-me naquela longa trajetória de meia década de
permanente orientação nos estudos da cultura açoriana e da
literatura portuguesa.
Muitos dos que me dava m as boas vindas referiam se ao Prof. Martins Garcia como um profissional altamente
qualificado, mas de uma sensibilidade que o levava a perder
freqüentemente a paciência em razão da sua forte tendência
à irritabilidade. Contavam -me sobre a contundência de suas
críticas, a veia satírica de suas personagens de ficção, a
linguagem quase sempre direta e acutilante dos seus
223
narradores e sobre a ironia que constantemente o
acompanhava nas suas falas. Na ocasião, senti o quanto os
seus colegas, apesar da descriçã o crítica um tanto severa,
admiravam-no, respeitando a sua maneira de ser, e quanto
alguns dos seus alunos, talvez por não o conhecerem
suficientemente, temiam -no. Contudo, no meio acadêmico,
era comum, a todos que com ele conviviam, o
reconhecimento de sua gentileza e de sua cordialidade no
trato. “Conversava amenamente, fossem os interlocutores
simpáticos e tivessem com ele afinidades. Mas era raro vê -lo
engajado numa troca”, escreve Onésimo de Almeida
(2001/04:33). Diz ainda: JMG “Quedava -se freqüentemente
pelo assentimento reverencial nas aparências, na maior
parte das vezes em polidez retraída”.
A respeito da permanência do poeta nos Estados
Unidos, Almeida relata: “Precedido pela fama de senhor de
uma têmpera de ebulição freqüente, forte e em pouca ág ua,
nunca ninguém viu Martins Garcia levantar a voz, zangar -se,
polemizar, maltratar quem quer que fosse. De uma lisura
impecável, chegava a parecer subserviente no seu saudar
de cabeça inclinada e pasta na mão. As secretárias [na
Brown University (Provide nce, Estados Unidos)], conheciamno por São Tomás de Aquino”.
E assim, JMG, um “intelectual
em estado puro”, como o definiu Machado Pires 63, era um
63
“Intelectual: talvez também aquilo a que o seu mestre Nemésio
chamava ‘o intelectual em estado puro’ – o que se refugia no luminoso
percurso espiritual das idéias e das palavras, com alhe amento total dos
prazeres ‘terrenos’ das máquinas e das tecnologias, que não sabe mexer
em aparelhos, não tem carta de condução, não se importa com inventos e
últimos modelos do que quer que seja” (Pires, Machado, 2001/04:177).
224
complexo misto de serenidade e de vulcão à flor da pele 64,
escondido por trás da amabilidade de um comportame nto
social impecável e de um caráter profissional que provocava
inveja. O seu mundo particular “era mesmo de um outro
reino” (Almeida, 2001/04:115), não importando se vivesse
nos Açores - Pico, Faial e São Miguel, se em Lisboa, França
ou Estados Unidos, lu gares que, de algum modo, fizeram
parte do seu universo profissional e literário. JMG mesmo
justifica-se: “a ficção, sendo distinta da realidade, tem
profunda relação com a realidade”, talvez, passasse a
impressão de uma procura constante de uma outra vida , de
um outro lugar. A esse respeito, Vamberto Freitas (1992:34)
confirma: “quanto mais andou, mais sobre si se fechou”,
embora essa solidão voluntária tenha sido a origem de “uma
das mais enclausuradas , mas originais, vibrantes e
desmistificadoras
obras
l iterárias
portuguesas
da
actualidade [...]. “É no acto de escrever que Martins Garcia
volta à sua comunidade” (Freitas, 1992: 37).
De volta aos Açores, em 1984, seu último refúgio,
JMG não reconheceu nas ilhas o seu mundo original. Então
foi cada vez mais se “fechando no seu imenso mundo
interior”, aceitando a situação de exilado: exílio criado por
ele mesmo, como costumava dizer. E se em Contrabando
Original dá voz a um personagem que diz: “Sim, nasci numa
ilha e perdi-me no mundo”, é numa entrevista con cedida a
Vamberto de Freitas que confirma: “Sou um exilado, é certo.
Mas um exilado por temperamento”. Logo depois, confessa:
[...] eu próprio criei o meu exílio. O mundo
circundante não me bastava... Permanecer nele
64
Ler a obra de JMG, segundo Vamberto Freitas (1992:33), “é ler com
sorrisos na cara ou então a rir a sério. São páginas que contêm, sempre,
uma espécie de escuridão cômica, de onde o medo nunca se retira por
completo, e nas quais nada e ninguém é sagrado, tudo e todos são alvos
a atingir, inclusive o próprio narrador. Está -se aqui no inferno, mas sem
nunca se perder o humor – é a vingança (aterrorizadora) do homem
pensante e artista moderno”.
225
seria resignar-me à monotonia. Sair de le seria
(como foi) uma aventura marcada por muito
sofrimento. [...] de certo modo, quis fazer coincidir
a vida com a imaginação. Claro que isso é
impossível. O resultado, quer me acredite quer
não, foi o divórcio entre a minha vida quotidiana e
os mundos que inventei. Rigorosamente falando,
não há nada de autobiográfico nos meus
romances, nos meus contos [...] Só na poesia
‘lírica’ o ‘eu’ que sinto se exprime sem a invenção
de um médium. (FREITAS, 1992:119).
E esse exílio procurado pelo cidadão foi traduzido
pela dor da ausência, no signo da saudade que o poeta dizia
sentir. Por isso, diz a Freitas (1992:127) “estou aqui, mas
não me encontro aqui”. (E teria vivido no Brasil, não tivesse
ido tão cedo, embora para os amigos mais próximos, depois
da sua aposentadoria (2001) afirmasse não mais poder
viajar.) Talvez, o que o fizesse afastar -se das suas ilhas
fosse a têmpera inflamada que, à falta de compreensão dos
conterrâneos, fazia-o crer que o problema da não aceitação
dos seus livros, da indiferença, ou me smo do esquecimento
sobre o que havia escrito – poucas foram as críticas
publicadas e menos ainda as frontalmente orais – devia ser
relegado à estética da recepção.
Na ilha, este mundo limitado, mas infinit o, como
define Fernando Aires, também outros amigos foram
percebendo que JMG abrigava-se, sozinho, no seu imenso
mundo interior. Onésimo (2001/04:43) observa que nesse
mundo de (aparente) paz e sossego o escritor parecia ser
feliz e, “quando desse mundo interior emergia, tinha uma
enorme facilidade em e ntrar em colisão com o dos outros”.
Envolvia-se, por vezes, com o público (chegou mesmo a ser
Vice-Reitor da UA, mas isso lhe ex igiu tremendo esforço),
quando lecionava ou proferia palestras e isso o fazia com
erudição e prazer. A acutilância da sua inteli gência
extravasava em brilho nos momentos serenos, ou explodiam
226
em sarcasmo cruel quando algo o a cicatava. De todas as
maneiras, “Os alunos bebiam -lhe o verbo e os
ensinamentos”, disse dele Onésimo (2001/04:44), e confirmo
eu.
Bem, naquele nosso primeiro e ncontro, nem mesmo
havíamos acabado o almoço (ele sentou -se à minha frente)
e questionou-me a respeito do tema da dissertação que eu
pretendia escrever. Falei do meu interesse em estudar uma
autora açoriana (Natália Correia, evidentemente). Ele sorriu,
sem aprovar ou contradizer a minha idéia. Do que ele me
disse, ficou na minha memória mais ou menos isso:
Escrever sobre a Lite ratura Açoriana é árduo demais para
quem não viveu em Portugal. O ser açoriano, na sua
complexidade existencial, exige que o pesquis ador observe
mais do que hortênsias, bandeiras do Espírito Santo e
marchinhas de São João. Um bom trabalho de pesquisa
exige tempo e dedicação exclusiva. Se você veio para voltar
antes de cinco anos (eu pensava ficar dois), nem procure
saber onde fica o interruptor de luz da sua casa. Volte.
Quem está aqui só de passagem não conhece as ilhas nem
os açorianos e muito menos conhecerá a sua literatura.
Adiei o estudo sobre a Natália e fiquei. Fiquei, não só cinco
anos, mas muito mais e cá ainda estou... P orque, como diz
Daniel de Sá, é saindo das ilhas que nelas se permanece.
A primeira lição recebida de JMG surtiu efeito: para
falar da exuberância de hortênsias, que embelezam os
Açores, há-de-se, antes, amar o solo em que elas vicejam e
reverenciar as mãos que as transplantaram; para saber da
sua essência, é preciso igualar -se à seiva que as fazem
florescer pelos caminhos tortuosos, como se cascatas de luz
abençoassem as escarpas negras destas ilhas. É preciso
amar, mesmo com toda a dureza e negritude, “estes ricos
penhacos”, como dizia a Sra. Dona Lili Pavão. Então,
aprendi que os Açores não eram somente a beleza das
curvas ao longo da costa onde o mar disputa atenção com a
227
estrada ladeada de plátanos a ensombrar camélias,
beladonas e azáleas. Os Açores não si gnificam apenas a
presença das criptomérias, alinhadas pelos campos e
montes, onde vaquinhas pretas com manchas brancas,
também alinhadas, ficam pastando, sempre igual, a ruminar
despedidas...
Ficar na ilha, não era somente ser o viajante
maravilhado diante dos pores de sol cheios de magenta,
dourado e ciclame... Não, os Açores não eram, e não são,
só vento, só mar (e aqui lembro Antero)... Umidade
excessiva, austeridade. Aqui existe angústia... Solidão! Se é
de despedidas que a sua gente se constrói, man têm-se, os
que aqui ficam, de reencontros, de alegrias, de felicidade por
se estar junto, de conversas longas nas mesas de uma
esplanada ou de um café,
das histórias mil vezes
recontadas... Sem pressa, com ternura, olhos nos olhos...
Coração aberto, mão estendida...
E para quem chega, hera nça dos que daqui partiram,
os Açores também não são o “cativeiro geográfico” que tanto
se promulga. São antes, o ponto de repouso, o
abastecimento da alma que anseia por silêncio e cultura. A
certeza de que a Terra de Lídia se estende por todo o
arquipélago faz o estrangeiro ir ficando, ou quando obrigado
a regressar ao seu país, retornar às ilhas porque os laços se
estreitaram e o coração já não mais abandona o seu novo
paraíso.
A alegria que hoje perceb o nos açorianos, essa
agitação interna que os leva, entre eles, a conver sar alto, a
dizerem da sua vida; o tom irônico, as observações
aguçadas, a franqueza..., mas também a solicitude, a
amizade franca e hospitaleira apontam, hoje, uns Açores
mais abertos ao progresso e d e mãos dadas com a evolução
que determina a sua identidade. JMG tinha razão. De nada
adianta o pesquisador preocupar -se apenas com as
variantes lingüísticas de cada ilha nem com o que lhe é
228
familiar na cultura. Isso não garante a açorianidade. Para se
ter uma literatura que fuja do regional é preciso mais. É
preciso universalidade sem deixar de ser original. Os
aspectos geofísicos e históricos contam, mas acrescem -se a
eles a psicologia individual e coletiva das pessoas que
habitam a região, a filosofia de vida, a moralidade e os
costumes, a sua abundância e a sua miséria, é aí, então,
que se solidifica a identidade integral do território que se
abre à globalidade das pesquisas. E a sua literatura assim
pode ser lida e apreciada por todo o mundo porque conté m,
para além da sua especificidade, os mesmos códigos da
universalidade humana.
E foi refletindo sobre tudo isso que consegui
compreender o que José Martins Garcia pretendia que eu
alcançasse a fim de melhor estudar a Literatura. Senti,
então, ser necessário à pessoa interessada no tratado da
alma portuguesa, presente na consciência das ilhas, um
tornar-se resistente e leve como a lava e, ao mesmo tempo,
sensível e doce como a aragem que passeia, no verão,
entre as faias e o louro. Mas também suportar a um idade e
os vendavais. E as distâncias. E as saudades. Se as ondas
do mar beijam as rochas e se perpetuam na espuma, é no
movimento das marés que o planeta se compõe e
recompõe. Apreciar a Literatura Açoriana, que não deixa de
ser portuguesa, por sua univer salidade, é saber ir e voltar. É
saber que ainda há homens no mar... e sereias em volta das
ilhas. É aspirar no ar da madrugada a alegria de quem volta
e sabe que há alguém à espera.. É apreciar o verde e o
azul, mas também o negro. É rir e chorar. É ter n a
polarização natural da vida o contraponto do sonho. É
resistir... Mantendo, não na vida, mas apenas na memória, a
dor do isolamento e a nódoa da partida. E, então, pela
literatura, voltar a esse tempo mágico onde tudo é permitido,
porque expressão de alma sofrida, vivida.
229
E essa luz dos Açores, tão inco nstante e variada, a
mesma luz que cativa o estrangeiro é mesma que, às vezes,
perturba o ilhéu. Essa luz das ilhas, esse tempo baço
incomodava JMG. Ouçamo -lo:
A luz dos Açores, mesmo em dias de sol, é um a
coisa aquosa, um derrame que pesa nas
pálpebras. Melhor do que eu o escreveu Raul
Brandão, encantado, sim, mas farto dessa
atmosfera de limbo. Essa atmosfera pesa na
escrita. O clima não explica nada, claro! Mas quem
nos garante que não tem a sua quota -parte de
responsabilidade na atmosfera social dos Açores?
E, por conseguinte, na escrita cercada por essa
sociedade? (GARCIA, 1999:68)
Para pouco mais adiante explicar: “Não é o efeito
directo do clima; é a translucidez das muitas teias que se
acumulam em torno da privacidade” 65 que me fazem querer
respirar o ar de fora. Referia -se ele ao convívio das ilhas, ao
conhecimento natural, quase obrigatório: ler um escritor
conterrâneo e contemporâneo era quase ver d evolvidos nas
páginas escritas os reflexos da vida comunitária 66. Questiona
Onésimo Almeida (2001/04, p. 42): “Mas ou a literatura é só
fingimento ou há uma ligação profunda (obviamente nem
sempre coincidente) entre as vozes dos narradores da ficção
de MG, do poeta e de JMG himself.” Tzvetan Todorov
mesmo dizia que “uma leitura ingênua dos livros de ficção
66
“As marcas da vida do sujeito empírico, dissimuladas pelo s artifícios de
que dispõe a literatura, procuram evidenciar -se, sem que, no entanto,
cheguem a impor a sua soberania. Contudo, elas lá estão, interferindo na
escrita, deixando impressas as vivências do criador” (DUARTE,
2001/04:109). E na mesma linha, o parecer de Rui Dores (1987: 4): “ a
ficção de Martins Garcia situa -se entre uma dimensão da vida vivida e
uma dimensão da vida recreada. O que prova, pelo menos, que o ofício
de escrever é indissociável do ofício de viver” (Idem: 125) .
230
confunde personagens e pessoas vivas” (MOURÃO FERREIRA, 1976: 89).
Carlos Ventura (2001/04:190), ao lembrar o primeiro
encontro com JMG, em Lisboa, aponta os possíveis riscos
que se pode incorrer na pro cura de “homologias, entre a
produção de um autor e a personalidade do homem” que
escreve. No caso de Martins Garcia , diz ser possível
encontrar muito da voz docente coincidindo com o cerne, por
exemplo, de Linguagem e Criação (1973), a sua primeira
obra publicada. E eu digo que muitos pensamentos do
ensaísta estão revelados sob forma “quase teórica” em
(quase) teóricos e malditos (1999). O fato de JMG afirmar
que os seus livros vão se fazendo, sem um plano
estruturado, é conceito conhecido das pessoas que com o
professor tiveram o privilégio de dialogar sobre o processo
literário de criação. A mim, por diversas vezes, ele
confessou construir suas obras passo a passo, sem
esquemas a cumprir, a escrita fluindo ao sabor da memória.
Muitas vezes, ouvi-lhe dizer que o “texto quis ser assim e eu
não pude contrariá-lo”, justificativa que deixou registrada em
seu último livro no capítulo “Uma aposta em três postas”
(1999:61) em que se refere à POLIFONIA (destaque do
autor67), recurso amplamente por ele utilizado no romance
Imitação da Morte (1982).
“Eu também fui revolucionário... ‘Eu também escrevi
cartas de amor’...” Assim começa JMG um dos parágrafos
do capítulo “Sobre Crítica Literária”, da sua última
publicação em vida, o (quase) teóricos e malditos (1999:27),
a lembrar Allain Robbe Grillet (a destruir a ‘alma’ da
burguesia) e Fernando Pessoa, (talvez mais para justificar a
sua incapacidade revolucionária do que pelas cartas de
amor de Fernando a Ofélia). 68 Mas, pelo sim, pelo não, achei
67
[...] “POLIFONIA (caixa alta quer dizer que não é o que julgam...)”
(GARCIA, 1999: 61).
68
Ver Mourão-Ferreira, 1978.
231
aí o argumento, o filão que me levaria a desenvolver estas
páginas, cujo objetivo único é o de revelar o caráter digno,
leal e compreensivelmente humano, de um açor iano
torturado pela distância, pelo isolamento voluntário a que se
dispunha e, segundo o seu sentir, pela falta de
reconhecimento público à arte do seu trabalho literário .69 Um
homem que, durante a minha permanência em Portugal
como sua orientanda, soube conservar -se ao leme do
processo que me levaria ao doutorado. Ao cabo da árdua
tarefa oficial, quando eu já retornava à minha pátria,
tornamo-nos grandes amigos, a ponto de confiar -me alguns
dos seus segredos, que, sabia ele, sei eu, iriam ser
revelados com o tempo. Por isso, sinto -me à vontade, já que
a mim pertencem, por doação do autor e autorização
expressa da destinatária, dar a público algumas das cartas
assinadas por JMG, no período que vai de novembro de
1992 a outubro de 1998.
Fernanda Leitão, no artigo “O meu Amigo da Criação
Velha” (Açoriano Oriental, 7/12/ 02:16), poucos dias após o
falecimento de JMG, ao e xaltar-lhe a coragem política de
outrora, refere-se ao depauperamento físico em
que
encontrou o amigo, dezoito meses antes do seu falecimento:
a “palidez, os olhos inundados de amargura, a linha dos
ombros a gritar desamparo. Como se tivessem passado
sobre ele 30 anos de trabalhos forçados”. E indaga,
deduzindo: “Que tratos de polé teria sofrido o artista, homem
de superior inteligência e rectidão de caráter, sabe Deus a
que mediocridade teve de obedecer em silên cio”. E a
solidão, sabemos nós, rondou a sua alma, principalmente
nos últimos anos de sua existência.
Assim é que, lendo algumas das suas cartas
particulares, fortalece-se a impressão e a (quase) certeza do
seu imenso esforço em continuar em Ponta Delgada em
69
Onésimo Almeida (2001/04: 35) confirma: (Martins Garcia queixava -se
do silêncio a que o votavam, a ele e a seus livros).
232
razão dos abalos emocionais sofridos na d écada de noventa
(um divórcio litigioso), da debilitação física que lhe foi
corroendo a capacidade de escrita, do isolamento a que se
permitia, da alma em sobressalto por razões muito pessoais.
A primeira carta é datada de 4 de novembro de 1992,
e aqui a transcrevo com o sublinhado e as caixas altas do
autor, suprimindo apenas o nome próprio da destinatária, em
respeito à memória de JMG, que a todo custo manteve, por
muito tempo, esse relacionamento em segredo.
Minha querida; meu Amor [...] – só no fim
reparei que só te chamei de meu Amor) .
As duas páginas lamurientas que te
escrevi – e destruí – estavam datadas de 1 e 2 do
corrente. Ontem, 3, após um dia de imensa
angústia, ouvi a tua voz. “Deus te proteja!”,
também to digo. Lembras -te do dia de Agosto em
que formulaste este mesmo voto?... Há quanto
tempo, meu Amor!
O que torna tão difícil o acto de escrever -te
resulta certamente da inquietação que me
atormenta de maneira contínua. Queria enviar -te
umas palavras onde houvesse algo belo... e não
consigo, não vou conseguir. E, contudo, eu
recordo momentos belos cujo centro és tu. Mas
agora, dada a tua ausência, tudo parece irreal,
amargo, sonho desmentido por um despertar cruel,
frio, solitário – talvez como o tempo e as pessoas
que me rodeiam.
E é isto. Recaio no mesmo estilo. Para ser
coerente, deveria destruir estas linhas. Mas, então,
nunca te enviaria uma única carta. Tenho o
espírito desmantelado, o coração... Ah, o coração!
Que é que posso dizer dele?...
Há uma semana ainda aqui estavas.
Gostaria de dar-te algum ânimo porque sei que
vives momentos atribulados. E , no entanto, só sei
233
queixar-me porque não te tenho junto de mim.
Creio que ultrapassei o Amor e que estou
apaixonado. Ou tonto de todo. Os apaixonados
não serão egoístas, ao contrário dos am orosos?
Eu, apaixonado, volto-me para o meu sofrimento.
Quero dizer: volto-me, principalmente, para o
sofrimento causado pela tua falta. E acho que
pratico uma terrível injustiça, porque afinal o meu
amor por ti te coloca acima (deveria colocar acima)
dos problemas da minha vida íntima. Ou será que
não consigo fugir ao paradoxo? Ou será que não
digo, de perturbado, coisa com coisa?
O teu rosto, as tuas mãos... As águas, a
luz, as ondas (sete?), a rosa... Mas quando foi
tudo isso?... Sinto doer o coração. Si nto os olhos
teimosamente húmidos. Em vez de reter a beleza
das recordações... Lá estou a bater na mesma
tecla!
Meu Amor! Afinal é o que gosto de
exclamar: meu Amor! Sei que, por mais ruas que
percorra, não há agora um acaso que me faça
cruzar contigo.
Por favor, perdoa este tom. Gostaria tanto
de imaginar o teu regresso. Tenho esperança, mas
não tenho imaginação para tanto. É horroroso o
quase nada das nossas duas vidas!
Queria falar-te de tanta coisa... Mas –
agora reparo! – há uma espécie de ‘censura’ a
impedir-me as palavras que te queria dedicar. Ou
então amo-te demais: um sentimento tão grande e
profundo (e tão ‘acorrentado’ ao longo de tanto
tempo) não cabe na escrita. Não se conforma com
a tua ausência. Tenho de dizer -te: AMO-TE, AMOTE, AMO-TE... Tenho de dizer-te que não imagino
o futuro longe de ti. Beijo -te as mãos, os olhos, os
lábios, beijo-te. Quero-te. E tanto que o próprio
querer (ou desejar) também se enovela em
sofrimento.
Um abraço. Mil beijos. Imensa saudade.
234
Escolhi entre as cartas que seguem uma seqüência
cronológica. Esta é de 15 de Agosto de 1993:
Domingo, 15 de agosto de 1993.
Minha Querida, meu Amor:
Na última sexta-feira era enorme a minha
angústia. Por isso telefonei. Ontem o teu
telefonema, se por um lado me trouxe a tua voz,
não pôde dissipar a minha ansiedade. Vivo (?) em
saudade angustiada. E os dias de Julho e Agosto
em que me deste a tua presença contraem -se
agora numa espécie de momento, um clarão
breve.
Neste estado de espírito, pesa muito, sem
dúvida, a inquietação resu ltante da tua presente
situação. Mas há outra coisa aflitiva, a um nível
mais egoísta: esta ilha sem ti, é dum imenso tédio.
Ontem, sol, Hoje, nuvens. É igual. Os dias,
contigo, voam. Sem ti, os dias voltaram a ser
imensos. Regressei a esta “penitência” de lutar (?)
contra o tempo. Lutar?... Não sei o que digo. Sinto
o peso do tempo, físico, implacável. O relógio, o
relógio... As pedras de Ponta Delgada. A cidade
deserta. O horror destes fins de semana!... Seria
tão bom abraçar-te, ou saber pelo menos que
poderias surgir algures, por uns instantes... Nada!
Vou deter esta triste prosa. Intervalo... O que esta
palavra me lembra! Tenho de parar.
15h30min do mesmo dia.
Almoçar no “Sagres”, naquela mesinha,
sem ter à minha frente os teus olhos, os teus
lábios, o teu rosto, o teu ser... Quando nos
235
reencontrarmos, estarei feito outra vez pele e
osso, que a comida não passa na garganta. E
começo a reinventar fugas... Por exemplo, tomar
Lorenin para enganar o tempo até sabe Deus
quando. Ou então: marcar passagem para fugir a
isto, nem que seja por dois ou três dias. Será que
mais alguém nota o pavor desta ilha condenada?
Ou sou eu, “doente”, a não poder v iver sem ti?
Amo-te tanto, tanto, que me parece nunca ter
amado outra...
22h do mesmo dia
Meu Amor:
Amo-te duma forma que, infelizmente, só
posso classificar de desesperada. Pensava não
tornar a inscrever no TEMPO expressões tão
desanimadoras, mas o presságio invade -me e
pode mais que a minha vontade. Vontade?... Em
mim, uma contradição: débil, raivosa, mole e
tensa. Quereria resolver tudo num instante em que
as minhas mãos te arrebatassem à distância
geográfica que nos mata e do passado que nos
sufoca. Peço-te que me ajudes, a esta hora, a lutar
contra o Mal que nos persegue... Amo -te, amo-te,
amo-te, amo-te, meu Amor, minha Vida, minha
Ressurreição, meu Amor doce com fundo de
TÍLIAS e muito MAR... Será que gosto desta sílaba
de cativeiro?... Quem me dera poder pintar,
desenhar, desleixar estes pobres vocábulos...
Sofro! Imenso! Nunca imaginei sofrer assim por
uma separação! Oxalá isto signifique alguma coisa
boa no futuro! Amo-te, quero beijar-te as mãos, os
pés, a alma! Quero-te! E não posso continuar...
Mas continuo alguns minutos depois.
Lembro-te com tanta intensidade que me faz doer.
236
Há neste sentimento qualquer coisa que tenho de
moderar. Há um sabor de fim em cada uma das
nossas despedidas. Claro que é um fim. Claro
também que a esperança não nos traiu. Mas, meu
Amor, há sempre tanto tempo, tanta lonjura entre
nós! Perdoa! Eu resistirei! Peço -te que resistas.
Peço-te por tudo quanto creias que res istas!
BEIJO-TE. Amanhã continuo.
Nessa mesma época José Martins Garcia escreveu
numa folha A4, comum, branca:
No momento em que sinto que a vida passou
Sobre mim como onda que não pude beber
No momento em que o excesso abortou
Na minha pobre e podre poesia de nada obter.
No momento em que me ferem feitas apenas dor
As estrelas do Sul e uma gaivota saída destes
penedos
No momento em que até o Verbo me abandonou
Para me deixar nuvens de vertigens várias e
segredos
De corpos mal cumpridos no contato do sonho.
Mulher
Tu que foste minha amante e minha mãe
E minha filha nos beijos com que te cerquei
Tu que vieste sem culpa (que eu te não chamei)
E voltaste a ser virgem nos meus braços viajeiros .
Mulher
Escuta
Faz-me chegar ao coração vencido
O perdão que uma só vez na vida
Se concede (quando a alma é grande
Para o conceder)
237
Perdoa-me e escuta o sangue tão culpado e vil
Que em mim bate por ti
70
(Por mais ninguém) .
Difícil é escolher, dentre tantas afirmações e
confirmações do depauperamento de JMG, os excertos mais
significativos. A evolução progressiva para um fim próximo
evidencia-se. A letra torna -se diferente, as idéias
desconexas, o esforço da rememoração agiganta -se. E,
aqui, a consciência de que também estou che gando ao fim
(deste texto), igualmente me angustia. Mas, vamos lá:
Ano de 1994, 8 de julho.
Faz hoje precisamente dois anos que, em Lisboa,
sozinho, fugindo a não sei quê fantasmas. Falei
muito comigo mesmo, tentando tomar precauções
para me defender duma grande angústia. Fui
falando comigo mesmo, sempre só, ao longo do
dia, ao longo da noite. Creio que regressei no dia
seguinte a Ponta Delgada. Parece -me que então
compreendi que fugir da ilha não me tinha ajudado
a resolver coisa nenhuma. O problema viajava
comigo, a angustia estava por dentro; não havia
fuga de mim para nenhum lugar. Desculpa, meu
Amor – beijo-te as mãos! – [...] Às vezes, tenho a
impressão, de que o perpassar do tempo é uma
coisa descontínua. O passado volta
–
mentalmente, só isso! – com uma intensidade
angustiante. Saio da angústia como que impelido
por alguma grande força. Recaio depois na
angústia, noutra angústia, noutra angústia, com
70
Publicado em 1ª Antologia Poética. Florianópolis, Associação dos
Cronistas, Poetas e Contistas Catarinenses, 1966: 34, juntamente com
mais três poemas inéditos em Portugal: “The Legend of Cutty Sark” (O fim
silenciado) – escrito num café de Ponta Delgada; O poeta (diz -se) palpa o
lado palpável do signo – escrito em Estoril, em 1993 – e um poema sem
título, escrito nos Mosteiros, Açores, em 1994, cujo primeiro verso é “Era a
terra de verde permanente”.
238
todos os sintomas da depressão. Uma enorme
inércia. Uma vontade de ficar deitado, sem
projectos, sem rumo, morto-vivo à espera do fim.
Depois,
revolto-me,
reajo...
e
assim
sucessivamente.
8 de setembro de 1994:
Depois da tua voz vem a consciência aguda de
que me faltou o teu ombro, a tua mão, o teu calor,
o teu cheiro. Sob o pouco de azul que este dia me
oferta, outra ausência se sobrepõe à presente
ausência e torno a ligar -te para Lisboa e mando -te
música pelo telefone... Lembras -te?
[...] É igualmente certo que os ‘ últimos’ dias
sempre os sinto como catástrofe, Junto ao mar, à
lagoa, num aeroporto, sob re a berma dum
passeio.
Aeronave. Encontro muito antigo/ Devolvido a
minutos de altitude /Inigualável. E o primeiro rito/
Comentário carnal e clandestino./ Areias e
palmeiras e o teu corpo.
Na alcatifa repleta de infinito/ Desejo. Hora aérea
no teu rosto. Conta-gotas suspenso. Nosso o
ardor.
Súbito a brecha. Algures o luar/ Reacendia a
contagem do interdito/ Tempo nosso. E em lugar
da aeronave/ Quatro paredes de nocturno espaço.
[...] Beijo-te mil vezes. Torno a dizer -te que foste o
mais carinhoso dos ser es que conheci na minha
vida. Quero beijar-te os olhos. Sinto-me de novo
tão triste. Apagado, obrigado a circular como um
autômato. Gostaria de falar de fé e esperança.
Talvez amanhã. Amo-te. Amo-te...
21 de Abril de 1995.
239
Meu doce Amor: Apenas um murmúrio de
saudade. Recebi a tua carta, abafou -a uma
nuvem, passei mal dois ou três dias. [...] Além
disso, que é quase uma doença, vivo (?) tenso,
coma sensação de muitas feras de dentes à
mostra, todas dispostas circularmente à minha
volta. Meu doce Amor, és tão de céu e mar e sol e
beleza! Precisamente o que não me pode se
consentido. Se te disser que me dilacero, não vais
acreditar, nem sequer aprovar. [...] Não ouso
implorar perdão, Nada faz sentido nas minhas
palavras. Eu estou enredado por algo que não
consigo decifrar. E continuaria um lamento com
muitos “sês”. Não, não pode ser. Beijo -te as mãos,
dou-te a minha alma.
Em 21 de julho de 1995.
[...] Acredites ou não, o facto de hoje se oficializar
o novo Reitor causa-me um enorme mal-estar,
uma dor. É assim uma espécie de “fim de ciclo”
Pergunto-me o que aconteceu, o que fui, o que fiz,
o que foi aquela minha vice -reitoria (um ano e
poucos meses), as circunstâncias que lhe marcam
o fim. [...] Devem existir momentos em que , sem
razão nenhuma, uma pessoa sente que está
‘embarcando’ numa grande infelicidade.
[...] nunca mais escrevi uma obra... Obra?... Nunca
mais escrevi um texto que valha a pena. Talvez se
salve algum fragmento. Fragmentos... às ve zes
tenho a impressão de s er só fragmentos. Um
resto. Claro que o meu mundo onírico é de
fragmentos. Repete-se a tua despedida, é sempre
Outubro. O cenário é que varia. As personagens
também. É angústia, é culpa, é dor.
240
Bem mais tarde, em 20 de feve reiro de 1997.
O meu tempo de escrita pessoal está quase
reduzido a zero. O que se passa na Univ. dos
Açores obriga-me a um desgaste imenso. [...] .
Assim, tendo recebido a tua mensagem de Ano
Novo (que me confrangeu – o remorso, o pesar, a
desventura...) e, ontem, o fax referente ao meu
aniversário, respondo, só agora, com gratidão
angustiada, com um afecto indefinível e com a
perturbação inerente à mudança de habitação, a
que sou obrigado [...] Perdi um ‘tecto’, perdi os
meus livros... Vou sobreviver, tal vez... [...]. E sintome cansado, desalentado com a memória a
perseguir-me (na vigília e no sono). Não te
esqueço; não vejo nenhuma luz que nos envolva.
[...] Um beijo. Uma saudade... Um cerco de
sombra permanente. Rezar?! – Oh Deus! Um
beijo.
Quase dez meses depois, em 27 de novembro de1997:
Acabo de receber a tua carta. Um solavanco na
minha (parcial) apatia. Escrevo ‘apatia’, muito
subjectivamente, quando afinal o diagnóstico da
psiquiatra diz ‘depressão reativa’ – do mesmo tipo
de moléstia de que fui vítima na Guiné Biassau
nos meus tempos de militar. Custa crer! Quase
trinta anos depois!... Mas sinto agora uma enorme
vontade de viver. Contigo. Falas de Fé; eu
acrescento ESPERANÇA. Às vezes, julgo que os
meus últimos anos foram pass ados em pavoroso
absurdo, um desgaste estúpido, um sonho mau.
[...]
Cumpri
as
determinações
médicas
escrupulosamente. Sinto -me mais forte, mas
incapaz de escrever ficção. (Tinha entre mãos dois
capítulos de um romance, que têm de aguardar...)
Fui aconselhado a escrever, mesmo que tudo me
241
desagradasse depois. Assim fiz: rabiscos sem
importância. Mas – imagina! Há dois ou três dias
planeei uma crônica humorística. Escrevi uma
página apenas, meditei no que faltava (umas seis
ou sete páginas) e senti -me muito cansado. Ainda
não!
[...] Sabes que, ao imaginar a normalização da
minha vida, me parece renascer?... Aulas de novo
(antes isso que a inércia psíquica), livros, tu... Será
possível, meu Deus?
Quero-te junto a mim. Quero tornar a olhar,
contigo, junto de mim , os ‘nossos’ lugares, o
‘nosso’ mundo. Quero que me olhes e sorrias sem
ressentimentos... Não será exigir de mais?[...]
Desculpa a minha letra. Deves achar diferenças.
Resultado dos medicamentos? Resultado da
profunda emoção que a tua carta me trouxe?
Cansaço ainda?...
Peço-te que creias no meu amor. Com infinita
saudade e um milhão de beijos, o teu [e assina].
Numa outra carta, assinada em Outubro de 1988,
JMG escreve um trecho a caneta com tinta azul, outro a
lápis e, novamente a caneta:
Aceita, por favor, esta desorganização do que não
posso exprimir correctamente. [...] (que horror, o
que se passa aqui, neste 10 de outubro de 1998! A
humidade é tanta que as mãos sujam o papel e a
esferográfica não quer deslizar. Dizem que
caminhamos para o FIM EM ESTUFA... Gostaria
de ver-te antes do FIM...). Gostaria de restituir-te a
imagem de há dez anos (vou tentar usar um
lápis): a imagem da menina de caracóis louros [...]
em Ponta Delgada. Sempre disse que não gostava
desse penteado. Inconscien temente andei a
mentir-te. É dessa imagem que guardo, sem o ter
sabido, uma SAUDADE, saudade, saudade,
Saudade, que me leva a não saber mais nada de
palavras [fim do parágrafo com traços que
242
parecem ter sido grafados com a mão a cair
pesadamente sobre o pa pel].
Num trecho mais adiante: “SEMPRE QUE MAIS
PRÓXIMO ME SENTIA DE TI, TU PARTIAS... E SABES –
agora, deves saber! – COMO É A DOR DA SOLIDÃO?
Convive-se, dorme-se... por solidão, não é? É um deserto,
sem ser bem deserto, esse horror chama do solidão!”. E
conclui, páginas adiante: “Santo Deus! Há muito anos que
não escrevia (sem obrigação ‘académica’) tantas páginas ...
assim... assim. Mas desabituei -me. No fundo, já não sei
quem ÉS. Seria melhor pensar se QUEM SOU ainda faz
sentido”.
Na última página da mesma carta, refere -se a um
telefonema recebido seis meses antes: “Que horror de
telefonema, de madrugada, eu em Lisboa . E que vontade de
não CRER em mais nada! Quase uma vontade de
autodestruição! E foi o que fiz! E foi o que viria a ser o m eu
caminho de amargura! Tanta Amargura, tanta!” E termina:
“Agora não posso escrever mais. Há uma revolta contra não
sei quê, contra mim certamente. Fiz da vida uma coisa sem
conteúdo, sem sentido, sem perdão... Alguém me escutará?
[...] Queria exprimir ta nta ternura, esperar por perdão;
sentir... O quê? Que não estamos mortos? Que vais pensar
DISTO? Não penses Mal!”.
No final da carta um X, marcado com linhas trêmulas,
como se realmente ali alguém que não o poeta -professor
devesse assinar. Quem? O homem? O amante? O poetafingidor? Não, não tenho resposta.
E na data referida ao telefonema “maldito”
(30/10/1996), em outro envelope para a mesma destinatária,
duas páginas em papel-cartão amarelo, com timbre do Hotel
Dom Carlos, de Lisboa. Uma página:
Todo o vivido é irreversível. E mais intensamente
irreversível quando mitificado. Tu és um ser
recortado naquele tempo, que abrange vários
243
tempos e lugares. Tu sabes a diferença que
marcou os teus dois regressos. A ternura e a
gratidão são indestrutíveis em mim. A vida
problematiza o prolongamento. Que destino? Rezo
sempre, cada vem com menor convicção. Um
abraço. Um beijo.
Na outra página, depois da invocação, um poema:
Nem o mínimo deus a menor gota
De bálsamo ou da fórmula sancionada
Legitimam o espanto da memória
Acordada em acorde repentino
A meio da noite onde.
A lisura dum lago determina
Um círculo de mar que falsamente
Quebra nas cristas de invernia
Remetidas ao bojo de outro tempo
A nódoa viva da espera.
Que era de lodaçal impresso numa a resta
Bico de garça ou nome passageiro
Proa matriculada no sargaço
Farol exausto sem sol que mesmo assim
Nublado indicativo prometia .
Talvez carta mais tarde talvez núpcia
Entre um olhar insaciado e crédulo
E o sonho de água Límpida
Ido e retornado dedos
Modulando na ausência todos os possíveis .
244
Talvez tenha sido esse o último poema do grande
escritor açoriano.
Pelo que sei dessa história, o escritor e a destinatária
se reencontraram em Lisboa, alguns anos depois. JMG
disse que ainda a amava e que não pa ssou dia desde a
última despedida em que não houvesse pensado nela.
Abraçaram-se. Ele chorou. Ela também. Ambos seguiram o
seu destino.
Encontrei-me, pela última vez com o Prof. Doutor
José Martins Garcia, em Ponta Delgada, em março de 2002.
Surpreso, ele me disse, com os olhos marejados de
lágrimas, quase fechados, dando a impressão de que assim
me via melhor, e em tom de queixa: “não consigo mais
escrever. Não escrevo mais”. Indagou por que vinha eu falar
de paz num tempo de guerra. Deixou que eu percebe sse
uma aliança no seu anular esquerdo 71. Últimas palavras que
dele ouvi: “Escreve-me!”
Não escrevi. Oito meses mais tarde, exatamente
sete dias antes do meu retorno aos Açores, falecia o grande
poeta e escritor açoriano, meu grande Mestre e Amigo. Dele,
a luz da escrita permanece, fazendo da Literatura Açoriana
um marco da universalidade embebida nos traços da
açorianidade atlântica.
Aqui ainda permanecem “hortênsias no colo das
ilhas” a simbolizarem os seus poetas e a gente dos Açores.
Pudesse eu, dizer a JMG, o que já disse Armando Cortes
Rodrigues, numa última homenagem prestada à (Ode à)
Solidão:
“Homem! Sacode o pó do teu caminho
Serena a dor que tens nos olhos teus,
E humilde e confiante e pobrezinho,
72
Regressa à Solidão, regressa a Deus.
71
72
Realmente havia casado meses antes com a Sra. Carmem.
Canção da Vida Vivida (1991).
245
Com certeza, JMG voltou. Está em Deus. Assim
espero.
Referências Bibliográficas
Almeida, Onésimo (2001/04) . “Coração Despedaçado a
Morrer Devagar’. Da experiência americana de José Martins
Garcia”. In Arquipélago. Línguas e Literaturas. Vol. XVII.
Revista da Universidade dos Açores, 29 -45.
ARQUIPÉLAGO (2001/04). Línguas e Literaturas. Vol. XVII.
Revista da Universidade dos Açores.
DORES, Victor Rui (1987). “ Contos Infernais ou a
efabulação do poder”. In Signo. Jornal de Letras e Artes, 16,
4.
DUARTE, Noélia (2001/04). “David Mourão-Ferreira e José
Martins Garcia: o ‘ofício de escreviver”. In Arquipélago.
Línguas e Literaturas . Vol. XVII. Revista da Universidade
dos Açores, 109-131.
MOURÃO-FERREIRA, David (1978) . Cartas de Amor de
Fernando Pessoa. Lisboa: Ática.
Pequeno Roteiro da História da Literatura Portuguesa
(1984). Lisboa: Instituto Português do Livro.
PIRES, A. Machado (2001/04) . “José Martins Garcia um
intelectual em estado puro”. In Arquipélago. Línguas e
Literaturas. Vol. XVII. Revista da U niversidade dos Açores:
171-177.
246
Fotos e imagens: Anamaria Brandão (excerto de carta)
Vilca (Fernanda Pereira, Setúbal)
JMG: autor desconhecido
ZELKA DE CASTRO SEPETIBA
Filha de José Pereira de Castro e Maria das Neves Moreira de
Castro. Nasceu no Rio de Janeiro, em 21 de janeiro de 1943.
Curso Primário: "Escola Primária D. Ida Schmidt” em Lages,
1951-1954.
Curso Secundário: Científico no Colégio Diocesano de Lages,
1959-1961. Em 1963 prestou ve stibular para Letras na Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, Faculdade Santa Úrsula. Cursou
o 1° e 2° anos na Faculdade Santa Úrsula, tendo cursado o 3° e 4° anos
na Universidade Federal de Santa Catarina. Concluiu o Curso em
10/12/1967.
Curso Superior: Licenciatura Plena em Letras; Português –
Inglês – Literaturas Brasileira e Portuguesa; Inglês – Literaturas Inglesa e
Americana. – Mestre em Lingüística Aplicada pela Universidade Federal
de Santa Catarina, 1982 -1985. – Tese: "Uma Introdução à Análise
Semiótica – Prática", 1985.
Professora Concursada no Instituto Estadual de Educação, 1969
(onde lecionou Português e Inglês). – Professora Titular da Faculdade de
Educação pela Universidade do Estado de Santa Catarina, 1975 -1995,
lecionando Língua Portuguesa, Literaturas Brasileira, Portuguesa,
Catarinense, Português Instrumental, nos Cursos de Pedagogia,
Biblioteconomia, História e Geografia. – No Curso de Educação Artística
da Universidade do Estado de Santa Catarina, lecionou Língua
Portuguesa, Fundamentos de Expressão Humana e Comunicação –
FECH, 1978-1984. – Professora de Língua Portuguesa na Academia de
Polícia Militar, no Curso de Formação de Oficiais – 1º CFO, 1987-1992,
convênio com a Universidade do Estado de Santa Catarina. – Professora
de Teoria e Prática de Redação no Curso de Formação de Oficiais da
Polícia Militar – 2° ano, convênio com a Universidade do Estado de Santa
Catarina. – Participou de diversas Bancas para Seleção de Professores
na Universidade do Estado de Santa Catarina – Faculdade de Educação .
247
– Participou da Elaboração de Provas do Vestibular da Associação
Catarinense das Fundações Educacionais, 1978 -1984, e da Universidade
do Estado de Santa Catarina, 1992 -1995. – Como Jurada participou de
Concursos Estaduais para escolh a de melhor Conto e melhor Crônica.
Acadêmica: Zelka de Castro Sepetiba
Nascimento: 21-01-1943
Cadeira nº: 06
Posse: 18-12-1996
Título: Não informado
Endereço: Rua Anita Garibaldi, 149, Apto. 801, Florianópolis -SC
CEP: 88010-500
Fone: (48) 3222-2740
E-mail/Site: Não informado
Patronesse: Antonieta de Barros
Título: Educadora / Política
CLARA E O CIRCO
Numa pequena cidade vivia a menina Clara. Ela
era esperta, bonita e muito alegre. Vivia com seus tios
e primos, pois os pais a abandonaram após seu
nascimento, indo morar em local desconhecido.
Clara fazia o serviço de casa pela manhã e à
tarde ia à escola. Era uma criança realmente feliz e a
todos alegrava.
Às vezes, ela punha -se a pensar sobre seus
pais: Como seriam? Onde viveriam? E uma tristez a
profunda a dominava.
Os tios José e Anita a criavam como filha e tudo
faziam para que fosse feliz. Eles só tinham filhos
homens – três garotos – e Clara era a filha que sempre
desejaram. Nada faltava à garota: tinha casa, comida,
248
boa escola e o carinho d os familiares que a adoravam.
Ela tinha vários amigos na cidade, era estimada por
todos.
Certo dia, chegou à cidade um circo muito
famoso, com várias atrações. Todos se alegraram com
sua chegada e pretendiam ir assistir as apresentações
no final de semana.
Curiosos, os alunos saíam da escola e iam olhar
os animais do circo, ver os artistas e os palhaços.
As crianças estavam encantadas, maravilhadas
com o novo mundo que se descortinava, tudo era lindo,
fantástico, enigmático. Como estavam felizes com a
vinda do circo! Toda a cidade só falava no circo e
aguardavam ansiosos para assistir aos shows.
Os tios de Clara prometeram levá -la, juntamente
com os filhos, para assistir o espetáculo de sábado à
tarde.
O sábado foi ansiosamente esperado por todas
as crianças. Não se falava em outra coisa, a
expectativa era enorme.
Naqueles dias, Clara trabalhou e estudou com
mais satisfação, ajudou sua tia Anita nas tarefas
domésticas com mais alegria.
Finalmente, chegou o dia tão esperado! O
sábado. Clara e seus primos tomar am o café da
manhã, fizeram suas tarefas, tomaram banho,
almoçaram e esperavam a hora de usar suas roupas
novas para irem ao show circense. A alegria e o
contentamento eram tanto que eles riam à toa.
Há muitos anos não aparecia um circo na
cidade.
O show foi todo muito bonito, com atrações
249
maravilhosas. Trapezistas, bailarinos, domadores,
palhaços – enfim, um festival de atrações
inesquecíveis.
O que mais chamou a atenção de Clara foi um
número em que o palhaço Totó apresentou -se com
uma garota e três cach orrinhos. Foi uma atração muito
bem feita, porém a garota parecia triste e aquilo
impressionou Clara. Na saída, ela falou com a menina
do circo – Alice – e combinou de passar ali outro dia
para conversarem.
Na semana seguinte, após a escola, Clara foi até
o circo e falou com Alice. Perguntou de sua vida no
circo, se ela estudava, e falou de sua família.
Alice disse-lhe que era feliz no circo. Ali era a
sua casa e o Totó a criara desde pequena. Ela não
conhecia os pais, nem sabia se tinha irmãos. Totó
falou-lhe que a encontrou numa cestinha de vime, perto
do circo onde ela foi deixada, e isto, às vezes, a
entristecia. Gostaria de conhecer sua verdadeira
família.
Clara contou-lhe que fora abandonada pelos
pais na casa de seus tios, e que chorou muito quando
soube da historia, mas hoje, agradece aos tios e primos
com quem vive e é feliz.
– Alice, seja uma pessoa alegre e feliz, pois você
tem quem cuide de você. Eu quero ser sua amiga,
iremos nos corresponder. Não fique triste, a vida é boa
e lembre-se: “Quem tem um amigo tem tudo!”
250
ZENILDA NUNES LINS
Natural de Florianópolis, professora universitária aposentada,
escreveu a história de três entidades ligadas à educação: Faculdade de
Educação Projeto e Realidade, 1988 – 2ª edição, 1999; ACP Sucesso e
Consolidação, 1995 – 2ª edição, 2002; FUCAPRO História e Dimensão
Social, 1996. Publicou Rosas e Violetas – contos – 1998; Ondas
Rendilhadas – poemas – 1997; Contos de Outono, 2004; Horizonte de
Montanhas, 2007.
Tem participado em diversas antologias e pertence à Academia
de Letras de Biguaçu.
Acadêmica: Zenilda Nunes Lins
Nascimento: 09-04-1933
Cadeira nº: 05
Posse: 18-12-1996
Título: Não informado
Endereço: Rua Dom Joaquim, 680, Centro, Florianópolis -SC
CEP: 88015-310
Fone: (48) 3222-1758
E-mail/Site:
Patrono: Aníbal Nunes Pires
Título: Educador / Escritor
JANELA PARA O SOL
Levantei-me, hoje, muito feliz. Depois de
angustiosas semanas, posso olhar da janela do meu
quarto, o céu se tingindo com os tons anunciadores do
amanhecer, a neblina esvaindo -se ao calor dos
primeiros raios solares, a dança das palmeiras na
colina, ao longe, limitando o horizonte.
Consegui, finalmente, um agradável lugar para
251
morar. Nem sufocado pelo barulhento centro urbano,
nem isolado, distante dos serviços básicos, tão
necessários à minha atual condição de vida. E mais
importante: compatível com os meus modestos
proventos de aposentada.
Sou do tempo em que, para ser professora
primária, bastava ter-se o diploma de normalista. Essa
titulação era suficiente para lecionar nos gr upos
escolares da rede pública de ensino. Hoje, a exigência
aumentou, requerendo curso universitário. Naquela
época, o Normal era um bom curso, até porque, em
alguns estados, as faculdades eram raras ou
inexistentes. Muitas autoridades e doutores de hoje
aprenderam a ler e escrever com os professores
normalistas, tão desvalorizados atualmente. Eu mesma
vi alunos meus chegarem a altos postos da
administração pública.
Entretanto, apesar de haver lecionado por mais de
trinta anos, meus proventos não ultrapassa m dois
salários mínimos. Como não casei, não recebo pensão
de marido, nem auxílio de filhos, pois também não os
tenho. Mantive-me sempre sozinha e independente.
Desenvolvi um bom senso de economia, não gasto
dinheiro com o supérfluo.
Mas a velhice está che gando, devagarinho, mas
está. E como não se pode deter a ampulheta do tempo,
o melhor a fazer é assumir uma atitude otimista e não
desperdiçar o precioso dom da vida.
Residi, por quase doze anos, numa discreta
pensão pertencente à Dona Marta. Ela alugara, há
anos, um antigo casarão no centro da cidade, e nele
instalara o pensionato. Aceitou alguns hóspedes,
252
quatro, que garantiam o aluguel e lhe proporcionavam
pequeno lucro. Eu era uma das suas hóspedes. Atuava
como uma espécie de assessora: ajudava nas
compras, na manutenção da casa e distraia as outras
residentes, quando os frios e nevoentos dias de inverno
retinham todas em casa.
Dávamo-nos muito bem. Até que o senhorio
decidiu vender a casa, um prédio decrépito, mas
vistoso, as platibandas ornamentadas co m bonitos
arabescos, as janelas guarnecidas com vidros jateados
e uma espaçosa varanda lateral.
Dona Marta tomou conhecimento da proposta por
um corretor e, não podendo comprar o imóvel, foi
intimada a sair, desativando a pensão. Por insistência
nossa, tentou encontrar outra casa nas imediações,
mas o preço proibitivo dos aluguéis fê -la desistir.
Avisou-nos da decisão.
Duas das pensionistas tinham filhos e, embora
não desejassem residir com eles, tiveram que o fazer.
A terceira, viúva abonada, encontrou fác il um pequeno
apartamento localizado num condomínio residencial,
classe média.
Dona Marta recebeu uma razoável indenização
por deixar o imóvel antes do término contratual e
mudou-se para Curitiba, onde residia seu irmão mais
velho, negociante lá instalado.
Só eu continuava sem destino.
Choramos, todas, no dia da partida. Fizemos uma
festinha – não sei se cabia uma festa –, mas fizemos.
Festa com bolo, risos, choros e adeuses. Fiquei
sozinha no casarão que me pareceu enorme.
Pedi ao novo proprietário alguns dias. Seu projeto
253
era demolir a casa, cedendo espaço para um moderno
edifício. Uma pena, o casarão, imponente a despeito da
sua decrepitude, situado na esquina de duas ruas
centrais, merecia ser restaurado, não demolido.
Ele concordou com a pretensão, ao s aber que o
prédio estava tombado pelo serviço de patrimônio
municipal. Minha permanência seria útil por afastar
possíveis intrusos. Alegrei -me com a perspectiva de ali
ficar ainda algum tempo, acrescida da vantagem extra
de ser dispensada do aluguel.
A alegria, porém, durou pouco. Um mês depois,
chegou o engenheiro responsável pelas obras e me
informou do destombamento. A demolição estava
liberada.
Na minha alegria, havia esquecido que nesta
cidade, como em outras, a observância de certas leis
depende do prestígio e poder dos interessados.
Não consegui esconder a tristeza ante a
expectativa frustrada da permanência. O engenheiro,
penalizado com a aflição expressa no meu semblante,
indicou-me um residencial para idosos, situado num
lugarejo afastado da cidad e. Prontificou-se até a levarme lá, se eu quisesse. Combinamos ir no sábado.
Saímos cedo, aproveitando a quietude da manhã. Uma
hora de percurso e trânsito livre, chegamos ao
Residencial, encoberto por espessa vegetação.
Acionada a sineta, o alto portão s e abriu. O engenheiro
despediu-se, recomendando -me que voltasse de
ônibus ou lá pernoitasse.
Uma senhora, mais gorda que magra, idade
indefinida, recebeu-me com polidez. Conduziu -me por
uma alameda ladeada de altos ciprestes. Àquela hora
254
matinal, o arvoredo circundante sombreava todo o
caminho, provocando uma sensação de friagem. A
parte frontal da construção, longa e sólida, apresentava
poucas aberturas. Entramos numa sala, mais
parecendo um escritório, mobiliada com uma estante
com portas de vidro, deixan do ver as prateleiras cheias
de pastas, uma mesa de madeira escura e poucas
cadeiras.
Disse-lhe que procurava um lugar pare residir.
Perguntou-me
se
tinha
parentes.
Respondi
negativamente, pois primos distantes não são
reconhecidos como parentes.
– Venha, vou lhe mostrar alguns quartos.
Caminhei ao seu lado, observando atentamente
os cômodos. Atravessamos um amplo salão.
Certamente o refeitório, parecendo também uma sala
de recreação. Chamou -me a atenção o silêncio. Não se
ouviam vozes.
– A casa está vazia?
– Não, neste horário todos ficam no pátio externo.
É mais saudável permanecerem ao ar livre. Às onze e
trinta retornam para o almoço. Depois vem a sesta.
Fazemos um lanche no meio da tarde e às dezenove
horas servimos a última refeição, em geral uma sopa
seguida de um chá.
Parecia interessante. Manifestei a vontade de
conversar com algum residente.
– Veja primeiro o seu quarto, disse, destravando
uma porta. – Este lhe agrada?
Olhei o cômodo, aparentava ser bom. Acomodaria
bem os meus pertences: uma confort ável cadeira de
balanço, herdada de minha mãe, a velha, mas eficiente
255
máquina de costura, alguns livros e pouca coisa mais.
Aprendi a não acumular quinquilharias.
– Então, indagou a mulher, com voz grave.
– Gostei, mas quero saber o preço. Meus
proventos são reduzidos.
– Não se preocupe. Vamos ao escritório e lhe
mostrarei o contrato.
Apresentou-me um documento e pediu que eu
lesse e assinasse no lugar indicado.
Ao notar que eu estava lendo mesmo, apressou se em apontar o espaço da assinatura.
– É aqui, com sua identidade e CPF. Pode
terminar de ler depois.
– Prefiro ler agora, respondi. Ainda não sei quanto
vou pagar.
Notei que o documento não era um contrato de
locação ou similar. Era uma procuração permitindo que
a Direção do estabelecimento recebesse os meus
proventos mensais.
Ao pedir esclarecimento, a mulher informou, que
dada a falta de agência bancária na localidade, ser
mais fácil o tesoureiro da casa receber e descontar o
valor da hospedagem, entregando o restante ao
residente.
Não gostei. Percebi q ue iria ficar dependente
deles. Afinal, eu podia andar, enxergava bem, estava
lúcida. Era idosa, sim, mas a idade não é um fator
limitativo dos nossos direitos de cidadãos.
Disse que precisava pensar. A mulher procurou
argumentar salientando vantagens que, a meu ver,
pareciam, exatamente, o contrário. Despedi -me e sai
sem falar com mais ninguém.
256
Caminhei rápido para a rua em direção ao ponto
de ônibus. No trajeto, analisei a situação: grande
distância do centro, silêncio demais, cedência dos
meus direitos.
Não, eu teria que encontrar outra solução. E
encontrei. Ela estava à minha espera.
Sentada na varanda do casarão fechado, Dona
Marta me aguardava.
– Finalmente, você chegou, disse – abraçando-me
efusivamente. Voltei de Curitiba. Não me acostumei ao
clima. Senti falta do mar, das ondas, das gaivotas. E
das minhas amigas, também. Consegui, por influência
de um velho conhecido de meu irmão, uma casa
agradável no bairro Bosque Verde, próximo ao Campus
Universitário. O lugar é tranqüilo, tem árvores,
pássaros, como você gosta. Vim convidá -la para morar
comigo. Dividiremos as despesas e aproveitaremos o
dinheirinho restante para viajar. Há várias opções de
viagens curtas para orçamentos modestos como o
nosso. Aceita?
Minha resposta foi um longo e agradecido abraço .
Ajudou-me a empacotar minhas coisas, aluguei uma
caminhonete e, ao findar o dia, chegamos, cansadas
mas felizes, ao novo endereço. Uma be néfica noite de
sono afastou a angustiante incerteza da véspera.
Este é o meu primeiro despertar aqui. Vejo da
janela, voltada para o norte, os raios luminosos do sol,
a luz e o calor invadindo o cômodo, iluminando e
aquecendo a chegada dos meus oitenta anos.
257
WILLIAM WOLLINGER BRENUVIDA
William Wollinger Brenuvida , paulista de São Bernardo do Campo
(17/06/1979). Filho de Adilson Domingos Brenuvida e Elizabeth Wollinger
Brenuvida. Irmão de Wellington e Caroline. Escritor e poeta radicado em
Santa Catarina desde 1998. Graduado em Direito e Especialista em
Processo Penal pela Universidade do Vale do Itajaí.
Escreveu os trabalhos: “O Menino e as estrelas” (poesia/2003);
“Trabalho Penal: fator de auto -estima, valorização e inclusão social do
condenado” (monografia/2005); “Luz Lembrada – Jyoti” (poesia/2007);
“Tortura como meio de prova: aspectos da lei 9.455/97 (lei da tortura)”
(monografia/2008). Em andamento coletânea poética: “No cair das folhas”.
Contribui com jornais da grande Florianópolis. É colunista do Jornal “O
Rebate”, de Macaé-RJ.
Ativista sócio-ambiental nas seguintes entidades: Academia de
Letras de Governador Celso Ramos (cadeira n. 06) – patrono Francisco
Wollinger; Academia de Letras de Biguaçu (cadeira n. 11) – patrono
Juvêncio Araújo Figueiredo; APAE – Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais; APREMAG – Associação de Preservação do Meio
Ambiente de Governador Celso Ramos; CBHRT – Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Tijucas; Conselho da APA do Anhatomirim; Conselho
de Assistência Social de Governador Celso Ramos. Delegado Territorial
pela comunidade de Canto dos Ganchos, para revisão e aprimoramento
do Plano Diretor. Suplente de vereador (2004). Exerceu as funções de
Coordenador do Meio Ambiente (2005) e Diretor de Saneamento Básico
(2005-2007) na administração municipal de Governador Celso Ramos.
Acadêmico: William Wollinger Brenuvida
Nascimento: 17-06-1979
Cadeira nº: 11
Posse: 14-05-2008
Título: Poeta
Endereço: Rua Hipólito de Azevedo, 131, Canto dos Ganchos,
Governador Celso Ramos -SC
Fone: (48) 3262-0157
E-mail/Site: [email protected] / [email protected]
Patrono: Juvêncio Araújo Figueredo
Título: Poeta
258
LUZ LEMBRADA II
E luz lembrada…
Tem o galope de um cavalo ,
e a singeleza de uma flor .
É um descanso na loucura …
Não é verbo. É amor.
Luz lembrada…
É alma que caminha,
sem temor.
É a face de deus-energia,
e a paz interior.
Luz lembrada…
É a imagem refletida ,
Resquício-caminho-incompleto.
Sobressalto e lembrança já vivida ,
é o universo em expansão incontido .
Luz lembrada…
É medida imensurável .
A face antiga renovada,
e sempre conhecida.
Sonho que não termina .
Luz lembrada…
É Jyoti, um sânscrito, língua antiga .
259
Um caminho em verso, pra alma.
Um céu de estrelas sem pranto,
É luz que reflete na retina.
RETORNOU MEU SORRISO 73
Demorou, mais recobrei o sorriso .
Foi uma nuvenzinha aí que passou.
Sem avisar ou dar sinal.
Vento sul eu acho… Ah! Maroto.
Se eu pego um cavalo vou voando ,
espalhar o riso pra todo canto .
Voltaram as piadinhas sem sal, devo lembrar.
E o humor de fundo de quintal.
Do traço presente a eternizar.
Puta reza braba essa que fizeram, resta avisar .
A próxima macumba pra cima, eu vou revidar !
E se vier correndo eu daqui grito,
Ou mando pelo correio sem aviso.
O jeito de encantar sem dizer,
de falar pelos cotovelos tá no rosto,
Pra quem me quer em osso, deixo
a benção do torto!
73
“Retornou meu sorriso”, “Movimento”, “Luz lembrada II”, “O jardim das
borboletas”, “A borboleta” serão publicados na coletânea “No cair das
folhas”.
260
O MOVIMENTO
O movimento manso e suave da rua
mantém a mente nua e desavisada.
Veículos, demônios, um gigante puma.
Os vejo em toda parte. Dão risadas.
O sol se esconde, acho que é o fim de tarde.
A tristeza vai… prolongam gargalhadas.
Os barcos se recolhem na margem.
O cais se estreita… soldados apanham armas.
Minha pequena vila expandiu horizontes,
Minha porciúncula cansou a cidade.
O sertão em mim cortou os montes,
quando lembrou o mar sentiu saudade.
O sorriso-menino desatinou frases,
a bela juntou todas elas, e fez oração.
E assim trancou o sorriso a sete chaves,
pra que um dia lembrasse em seu coração.
O movimento das marés em vai e vem constante.
Tabulas rasas, esparsas, sentinelas e casas acesas.
Vento predominante é o sul a soprar errante…
Pede aos bateis, em seu balé, que não icem as velas.
Um universo inteiro em folhas se esvaindo,
em leis, átomos, procelas, serestas, tempos idos .
Batalhas e horizontes, novamente, se erigindo …
Um calabouço, a parte, se abrin do no abismo .
261
O JARDIM DAS BORBOLETAS 74
Vi num sonho! Acreditem, vocês todos, eu vi num sonho…
Uma menina que andava entre caminhos e jardins abertos
De belas flores multicores em contraste ao enfadonho,
O bater de asas da borboleta inspirando sorriso -universo.
Não tinha pressa. Apreciava cada paisagem e cenário.
Recriava, seus olhos, um estágio de liberdade infinita.
Na limitava, a menina, ela voava junto aos canários.
Ressurgia, quando queria, sem definir ponto de partida.
No semblante um sorriso. N a lembrança lugares invejáveis.
No coração um estandarte. Na imaginação muitas artes.
Na perseverança uma hoste de soldados incontáveis.
E o sonho? Lugares que se misturam, pedem passagem.
O jardim estaria pronto como fora idealizado?
É bem provável que s im, a espera das borboletas.
74
A poesia fiz pra Carissa. Surgiu de uma conversa nossa há tempos…
também da melodia e harmonia da música “Madame Butterf ly”, de Puccini
[Coro final de la parte 1ª del acto 2º – segundo o maestro Valdo de Los
Rios].
262
RERITYBA 75
Essa diminuta parte do meu coração bate.
Percorre suas ruas,
nossa gente e seus falares,
as paisagens e o destino.
É um recanto,
canto dos pássaros,
verde das colinas e das árvores,
colorido dos vestidos e sorrisos ,
das moças.
Flores que nascem delicadas em algumas moradas.
Essa diminuta parte do meu ser sente.
Viaja nas lembranças…
Adentra as matas, rios e cachoeiras.
Rememora encontros e transpassa a terceira marg em.
Vê sorrisos e estrelas,
na face e no jeito de gente tão simples e festiva.
A passagem dos Jês,
A Rerytiba dos Guarani,
e todos seus extintos sambaquis.
O cantar das francas nos meses de inverno,
e o balé dos golfinhos num encanto,
espaço aberto quase infinito.
Relembra essa diminuta parte do meu ser,
das migrações e apresamentos,
75
Rerityba ou Reritiba, nome de uma das aldeias Guarani no atual
município de Governador Celso Ramos até 1538. Em tupiguarani –
ostreira, lugar de muitas ostras. Os Guarani que aqui viveram foram
escravizados, mortos, ou migraram. A história de Ganchos não pode
esquecer de seus primeiros habitantes. Agradeço o conhecimento obtido
junto a minha amiga, jornalista e historiadora, Rosana Bond autora de “O
Caminho de Peabiru”.
263
da mortandade de nossos nativos,
cativos fadados ao esquecimento.
Relembra essa diminuta parte do meu ser,
o (re)surgimento dos nossos vilarejos,
na ocupação dos vicentistas , negros, alemães e açoritas.
braços cansados e fé cativa,
que deram vida aos engenhos de Ganchos, Palmas, Piedade
e outros recantos…
Essa diminuta parte do meu ser compreende…
Os erros do passado e exalta a perseverança,
aceita as etnias do hoje, espera nça e ponto de partida,
para um eterno retorno.
Essa diminuta parte do meu ser enxerga,
essa cidade esquecida e sofrida em suas mazelas.
Querida, por sua resistência ao progresso.
Em seu levante, em seu protesto quer ser ouvida,
emergida em nossos sonhos e pensamentos,
lembrada e transmitida.
É essa diminuta parte da bela e Santa Catarina:
Ameríndia e européia,
que transborda em mim,
grita em minhas veias,
pede que eu atenda ao chamado,
e siga adiante.
E Ganchos,
É um barco a vela no oceano.
Redes lançadas e o calor do espírito humano.
É um restinho de vento sul que sopra cantando,
Falando baixinho em quase silêncio.
É luz que lembra, fascina, voa e desconcerta,
que preenche a alma e nos eleva.
Essa diminuta parte de todos nós, gancheiros ,
Está viva e pulsando dentro de nós.
264
GANCHOS: NEM SEMPRE O SILÊNCIO FOI RESPOSTA
O livro “Brasil: nunca mais”, de D. Paulo Evaristo
Arns, cita: “A imagem do brasileiro, conformado,
acomodado, submisso, que sempre se procurou
vender, não corresponde ao registro da his tória”. A
repressão a artistas, idealistas, trabalhadores, e
minorias foi cruel, mas vozes sempre denunciaram a
violência do Estado, do capitalismo mercantil, industrial
e neoliberal. O fascismo arraigado nos governos
municipais age com truculência. A barb árie enrustida
nos déspotas de gabinete usa o povo de escudo em
defesa de erros fúteis, e as propagandas de
desenvolvimento escondem ranços de corrupção e
violência. Numa perspectiva local o município de
Governador Celso Ramos sofreu revezes.
A primeira greve de Ganchos ocorreu na
Armação da Piedade em 30 de julho de 1784.
Pescadores descontentes com as condições de
trabalho e agressões se rebelaram sob a liderança do
arpoador João Pereira Ruivo. Brancos e negros lutaram
juntos contra o exército e o capital mercantil. Massacre:
mortes e prisões. Ruivo levado ao Rio de Janeiro foi
condenado e torturado. Para que não houvesse
rebeliões o governo a época passou a retirar das
famílias membros para lutar no sul. O comércio de
crianças feito por ingleses aqui era omitido pelas
265
autoridades. “Não macular a imagem do Brasil frente ao
mercado internacional” – era o lema!
Em 1905 paralisação no Porto de Ganchos.
Resistência dos pescadores ao “dízimo do pescado”,
que o Distrito de Armação e Ganchos pagava ao
Município de Biguaçu. O movimento grevista foi
duramente repreendido. Desta vez não se usou apenas
da força, mas a penhora dos bens dos pescadores.
Muitos faliram. Nos anos 1960 o deputado catarinense
Paulo Stuart Wright organizou os pescadores
artesanais e as colônia s de pescadores. Anos depois a
ditadura militar prendeu ilegalmente, torturou e o
assassinou. O corpo nunca foi encontrado.
Em 1963 emancipação de Biguaçu. Não se
deixou, porém, de ser um bairro afastado. A ditadura
militar piorou a economia de Ganchos. Os recursos
destinados aos artesanais foram para armadores
destruindo a pesca artesanal. Política patrocinada pelo
governo de Celso Ramos. Nos anos 70 o agricultor
Pedro Wollinger e outros trabalhadores fundam o
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Gov. Cel so
Ramos. O movimento sindical o lança candidato a
vereador pelo MDB sob pressão da ARENA. As
manobras governistas e oligárquicas, porém, sempre
fizeram da terra um cativeiro. O sindicato pereceu.
Lassale dizia: “o povo é forte, mas
desorganizado”. Freire na “pedagogia do oprimido”
salientava o aprender com os próprios erros. Mas,
continua-se observando em cada brasileiro o coronel
da república velha: “autoritário e racista” . Essa
condição se transfere aos governantes .
266
Em 1984/86 invasão da tropa de choque da polícia
militar tentou sufocar a brincadeira do boi – é o começo
da especulação imobiliária em Gov. Celso Ramos. A
violência do Estado fez com que a população reagisse
distorcendo a evolução da cultura. Nos 1990 e início
dos 2000 houve diversas manifes tações contra as
caras tarifas de ônibus, e as condições de bem -estar
dos transportes. Em 2008 quem ousa discutir o plano
diretor “participativo” e buscar alternativas para Gov.
Celso Ramos é rotulado “descontente”, “reacionário”,
“anti-desenvolvimentista”, para não citar palavrões,
ameaças, e perda de espaço. O gancheiro, mistura de
muitos povos desde tempos imemoriais, corre o risco
de ficar sem terra, mar, e identidade.
Perguntaram sobre o futuro… Disse em linhas
céleres:
Não haverá militares. A Demo cracia será o
modelo: com justiça, igualdade e liberdade. Haverá
chance de propor idéia que não oprima e divida.
Teremos áreas verdes, cidades mais bem planejadas,
sem tirar a graça. Tecnologias limpas e pessoas
saudáveis, mas ainda pessoas! Gente risonha e
educada, nas ruas e praças. Não precisaremos da
pressa. Evoluiremos a outro estágio. Eterno -retorno ao
que somos!
William Wollinger Brenuvida, Acangatu…
267
ANHATOMIRIM
O sol queima o rosto,
como a chuva seca a alma.
Por companheira a lembrança,
a solidão, a dor da despedida,
e a visão restrita de uma ilha,
perdida na imensidão do atlântico sul.
É uma masmorra medieval,
moça ainda no tempo de sua existência.
Nas paredes espessas daquela prisão,
redigidas foram algumas preces,
repetidas aos mesmos santos,
em memória e no olhar vazio.
De súbito é uma torrente de ar,
que atrofia e faz o prisioneiro emudecer.
E é a paciência que comprime o tempo,
e não compreende sua resistência.
Ele quer voar, sair pelos poros dos muros,
através dos canhões, risos e baioneta s.
As grades da prisão,
atravessam os olhos do prisioneiro,
junto ao bramido do vento,
que ao entrar sereno, pelos gradis,
recordam tempos imemoriais,
de uma terra sem males e fuzis.
Cantam, os ventos, palavras índias,
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Herança Jê e Guarani,
provindas das cantigas e dos falares
das memórias e dos sonhos,
arremessados ao ar,
da Ilha do Arvoredo ao mar.
É quando os laços que sem dó,
e em nós, buscam artifícios,
entre as preces e as vozes dos capitães,
é que o respirar se torna o impulso da fuga,
atrofiando o último suspiro,
levando a alma pelos olhos.
Ao longe, amalgamados, entre as fardas,
as ordens, os ritos, o marulhar das ondas,
os ganidos de Anha 76 e de qualquer bandido,
disparam também os tiros,
comendo a ferrugem e a carne,
descansando, em liberdade, o prisioneiro.
Numa paragem longínqua,
perdida na imensidão do atlântico sul,
num esquecimento e absoluto silêncio,
ficou para trás a ilha e a maldição de anha.
Porque a alma viajou serena,
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Anha em tupiguarani “Diabo”. Anhatomirim: “Pequena Toca do Diabo” .
A poesia reflete minha estada na ilha em 2006. Ao passar o pórtico de
entrada, em estilo chinês, com escadaria de mármore português, lembrei
o verso de Quintana cujo título é “A Porta”: “Quem atravessa a porta da
única parede de uma casa em ruínas é como se passasse para o Outro
Mundo”. Na ilha está edificada a Fortaleza de Santa Cruz (1739). Santa
Cruz era parte do plano militar do Brig. Silva Paes que construiu outros
fortes: Santo Antônio (Ratones Grande); São José (Ponta Grossa); e
Nossa Senhora da Conceição (Barra do Sul).
269
misturou-se ao azul e infinito do mar.
TERRAÇO DA JUVENTUDE
Hei você no escuro,
do quarto abafado,
tempo perdido, já escasso,
acenando no terraço...
Da memória, a juventude,
da atitude, a fome e a sede,
de querer ser,
como a gente,
que se acha feliz.
Hei amigo espera comigo,
a estrela cadente do espaço,
que carente admite seu lado,
seu brilho seco e opaco,
perdido no espaço.
Quem sabe da outra vez,
com toda força e sensatez,
a gente mude,
ou fique mudo de uma vez.
Grita um verso nos dedos,
donde surge algum refrão,
de qualquer música,
que toque qualquer coração.
270
Na visão final do terraço,
da memória,
a alma que se eleva,
da janela e sem escada,
acena pra toda essa gente, vai!
que não se acha feliz. 77
A BORBOLETA
Olha a borboleta!
Suas listas são madeixas ,
parecem seda japonesa
na parede ela escamoteia …
Borboletinha viverá pouco tempo .
Na parede da cozinha ela fica .
Descansa ou foge do vento?
Permanece ali quietinha.
Borboleta como essa eu nunca vi .
Não me lembro de vê -la na coleção.
Será que pro vovô era condiz?
Acho que não. Não chamaria atenção.
Borboleta voa logo e ligeiro.
Vai pequenina! Diga a menina ,
77
Ao amigo Eder Oliveira Fernandes, que prematuramente foi nos levado,
mas resistiu firme aos ventos contrários. Coração vascaíno, “ a música
elevou tua alma na iminência do criador e nas notas da vida, tocasse com
amor”. Publicada em “O menino e as estrelas” (2003).
271
que nesse dia, meu luzeiro…
quer que eu nela reviva.
ORELHA DO LIVRO
A iniciativa de escrever e publicar este VII número da
Antologia da Academia de Letras de Biguaçu foi do Senhor
Presidente Joaquim Gonçalves dos Santos . Ele nos
impulsionou e nos encorajou nessa jornada : todos os
acadêmicos foram convocado s a apresentar um texto além
de uma rápida autobiografia, como homenagem aos 12 anos
da fundação da referida Academia.
Cientes do grande desafio qu e se nos apresentava
em face do tempo e em especial a uma data tão especial
para a academia, eu juntamente com a ajuda do renomado
historiador e Acadêmico Toni Jochem, mestre em história
pela Universidade Federal de Santa Catarina, que se
prontificou a auxiliar em todas as etapas dessa obra.
Com a ajuda desse escritor de renome a respeito da
imigração alemã em Santa Catarina, tudo ficou mais fácil e
iniciamos a coleta dos textos dos acadêmicos que nos
deram a honra de enviar no tempo estabelecido pelo Senh or
Presidente da Academia de Letras de Biguaçu.
E todos os que aceitaram o convite para produzir um
texto o fizeram com muita dedicação, buscando sempre
produzir o melhor.
Cabe destacar a coragem da primeira presidente da
Academia e atual presidente de hon ra, Dalvina de Jesus
Siqueira, que há doze anos atrás, juntamente com outras
acadêmicas, fundaram a academia.
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Na atual administração, partimos para uma nova
etapa, disponibilizando todos, fatos e acontecimentos para
as gerações futuras através do website. Trabalho que este
acadêmico não mede esforços para levar a todos.
Cabe aqui ressaltar o trabalho brilhante que vem
sendo desempenhando a frente da Academia pelo Sr.
Presidente Joaquim Gonçalves dos Santos . Umas das
provas disso é a viagem que nossas acadê micas fizeram a
Portugal, levando além mar o nome de nossa academia.
Acadêmico Adauto Beckhäuser