viagem no tempo
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viagem no tempo
Aos olhos de todos Alexandre Le Voci Sayad O Irã agora é um país aos olhos de todos. Imagens da violência, em uma passeata de jovens em oposição ao resultado das eleições, foram colocadas na internet para quem quisesse ver. Por mais terríveis que fossem, os vídeos permitiram que o mundo percebesse que há, além de um presidente anti-semita, juventude e indignação em Teerã. Índice Até então pouco se conhecia sobre o país e sua sociedade. A comunicação permitiu que aquela violência não ficasse escondida, por mais alguns séculos, sob um belo tapete oriental. Editorial 03 Um Dia 04 Mais Lento Há pessoas que resolveram repensa perceberam o quão bo r prioridades e condiçõ m é tirar o pé do acelerad es de vida, e or. Como Sustentar um Mun do de empresas, governos Sustentável? 06 Quando o assunto é su e cidadãos vai valer a pe stentabilidade, o esforço na ou tudo não passa de mais uma moda passage ira? Proteção em Cheque An im ais do mésticos podem ficar for caso Projeto de Lei seja a da proteção da legisla aprovado. ção brasileira 08 Naquele tempo é que er a bom... 10 Enquanto isso, aqui em Pindorama, escândalos envolvendo o presidente do Senado mobilizaram uma massa de cidadãos que, via Twitter, cobraram de políticos a tomada de posições. O legado importante da ação foi que, desta vez, ninguém pôde dar-se ao luxo de ficar com “cara de paisagem”, o que era bem comum em outras épocas. A comunicação é uma ferramenta fundamental para a liberdade de expressão e democracia. Afinal, o Twitter, o YouTube e os blogs exercem hoje, com mais fluidez, o papel que os fanzines e jornais políticos bem humorados, como o Pasquim, tinham em épocas mais duras da história do Brasil. Na lógica da comunicação atual, tempo, espaço e meios de produção não são mais entraves; os canais abertos da internet fazem de todos nós pequenos empresários da mídia. E, nesse cenário, a educação continua correndo atrás da comunicação. Cada um encara a nosta lgia de uma maneira dif alta tecnologia, o passa erente. O do mantém um lugar no coração de muitas pesso as . Olha o Flash! Assim são os flash mobs , protestos ou brincadeir como objetivo quebrar as organizados via intern a rotina e chamar a ate et, que têm nção para alguma caus a. O desafio é antigo: Célestin Freinet, pedagogo francês, já estimulava a produção de jornais por seus estudantes na década de 30 do século passado. Acabou expulso do sistema educacional da França. Assim muitas outras experiências sucederam-se; com características e ritmos próprios, a educação e a comunicação são como duas irmãs que se amam e se odeiam ao mesmo tempo. Procuram estar juntas, mas acabam repelindo-se mutuamente, intolerantes. A propaganda, os amigo s ou o comportamento os jovens brasileiros es de algum ídolo são tejam entre os maiores consumidores do mund o. As Várias Faces do Fã Se ja po r ob sessão ou mero entreten grande parte da socieda imento, o fanatismo está de e tem raízes filosófic presente em as e psicológicas Com coragem, o Colégio Bandeirantes tornou-se um pioneiro em experimentar essa relação. Há oito anos o curso Idade Mídia estimula estudantes a produzir comunicação autêntica de qualidade e conhecer melhor seus meandros. Afinal, numa época em que todos se comunicam, é preciso fazê-lo ainda melhor. fato é que, em tempos de 12 Mãe, eu preciso muito! 14 alguns dos motivos para que 16 Jovens de Todo o Bras il, Uni-vos! 18 “Fora, Sarney”, as ruas Enquanto o Twitter é co ngestionado de mensag não vêem uma manifes ens de tação política maciça de jovens há muito tempo. Viagem no Tempo Nu ma era de shopping ce prometem um retorno triu nters, as galerias dos an nfante em São Paulo. os 50 mantêm seu charm ee 20 Pági 22 nas Digitais Mercado editorial começa a passa substituem celulose na r por reviravolta semelha produção de livros. nte ao musical: bytes Interessados, com identidade própria, calcados em múltiplas referências e dotados de uma estranha nostalgia, os estudantes de 2009 elaboraram e produziram a oitava revista do curso. Uma palavra oriunda das máquinas antigas de fliperama (tilt) deu nome à publicação, que aborda diferentes temas, de maneira profunda e divertida. Uma constante profusão de ideias e uma sede de expressão quase causaram um verdadeiro tilt nos educadores durante o processo. Mas valeu a pena. Comunicação e educação deram as mãos. E os estudantes, aos olhos de todos, são nitidamente cidadãos. Por Juliana Morato e Luiz Leite Há pessoas que resolveram repensar prioridades e condições de vida, e perceberam o quão bom é tirar o pé do acelerador. Acordar, vestir a primeira roupa que vir pela frente, sair correndo para o trabalho, almoçar em um fast-food, trabalhar, trabalhar, trabalhar, voltar tarde para casa, tomar banho, comer algo rápido, escovar os dentes e dormir (se der tempo!). No dia seguinte? Acordar, vestir a primeira roupa que vir pela frente... Essa é a rotina de muitos hoje em dia. Poucas pessoas têm tempo para a família ou para si mesmos. A exposição diária a inúmeras informações e propagandas não ajuda. Há muito a ser refletido e pouco tempo para isso. É preciso, segundo a mídia, trabalhar incessantemente para ganhar o máximo de dinheiro: condição essencial para adquirir os bens materiais que proporcionarão felicidade e bem-estar. Mas será que tudo isso é mesmo necessário? Há pessoas que não levam a vida desse jeito. Elas integram o slow movement (movimento lento). Contra o estresse em que muitos vivem, alguns resolveram repensar a conduta de vida e agora aproveitam mais o dia, a família e eles próprios. O slow movement iniciou-se em 1986, quando o McDonald’s decidiu abrir uma franquia em Roma, na Itália, próxima à Piazza di Spagna, uma praça histórica, fascinante e muito visitada. Em protesto, um grupo, armado de tigelas de penne e liderado pelo cozinheiro italiano Carlo Petrini, manifestou-se contra os fast-foods e a produção industrial de alimentos. Assim surgiu o Slow Food, organização internacional (da qual Petrini é o presidente) em defesa da chamada ecogastronomia e das culinárias regionais, propondo uma alimentação caseira, nutritiva e de qualidade, em que a comida é degustada lentamente, para ser de fato apreciada. Depois, movimentos semelhantes foram surgindo, como slow travel (em defesa de um novo modelo de turismo, em que o viajante se integra de fato à cultura visitada), slow books (pelo resgate do prazer da leitura desinteressada e compartilhada entre as pessoas), slow living (por uma vida tranqüila) e muitas outros que, juntos, constituem o slow movement. Ricardo e Valéria Corrêa, proprietários da padaria Wheat Organics, na Vila Leopoldina, em São Paulo, são adeptos do Slow Food. A casa foi criada antes da adesão, mas já com a proposta de conciliar o trabalho com uma vida mais saudável e balanceada. Os donos, inclusive, moram próximos da padaria e vão até ela bicicleta. “Ainda que nosso trabalho exija muito esforço, dedicação e certa ‘correria’, nós gostamos do que fazemos e sabemos por quais processos passam os alimentos que servimos. Por isso, não o vemos como um fardo, mas como algo prazeroso, que pode ajudar o planeta”, explica Valéria. Visando equilibrar sabor, qualidade e sustentabilidade, os produtos utilizados são muito bem selecionados e, sempre que possível, orgânicos, ou seja, livres de agrotóxicos, valorizando o produtor e o consumidor e preservando o meio ambiente. Por ser recente, o slow movement ainda não tem muitos seguidores, mas está crescendo. A vantagem de integrarse formalmente é, principalmente, a troca de ideias com outros membros. Aderir a ele é relembrar que a vida não precisa passar na velocidade máxima. Afinal, quando se está muito rápido, não se percebe o está ao redor: as pessoas e a própria natureza. Serviço Wheat Organics Rua Carlos Weber, 1622 – Vila Leopoldina – São Paulo (SP) - Tel. (11) 3628-8209 Slow Food Brasil www.slowfoodbrasil.com Slow Movement Disponível em inglês: www.slowmovement.com Quando o assunto é sustentabilidade, o esforço de empresas, governos e cidadãos vai valer a pena ou tudo não passa de mais uma moda passageira? A partir do lançamento do documentário “Uma Verdade Inconveniente”, baseado nas conferências feitas pelo ex-vice-presidente americano Al Gore sobre as mudanças climáticas do planeta, a questão da sustentabilidade ambiental parece que ganhou proporções maiores nas agendas social e política do mundo. É como se todos tivessem finalmente despertado de uma hibernação com relação ao destino do planeta. O que poucos realmente discutem é a que modelo de sustentabilidade estamos nos referindo. Como ter uma economia e um modelo de vida sustentável? E será que esse assunto veio para ficar ou é algo momentâneo, apenas uma moda? Segundo Ana Paula Coscrato, consultora em gestão de sustentabilidade corporativa, da consultoria Via Gutenberg, não se trata de um tema momentâneo, mas de um passo definitivo para a transformação profunda das formas de produção e organização da sociedade. “Ela pressupõe todo um novo modelo de desenvolvimento econômico. As empresas investem volumes representativos de dinheiro no desenvolvimento de tecnologias de produção mais limpa, na gestão de resíduos e na adaptação de sua estrutura produtiva para gerar menor impacto social e ambiental”, esclarece. É extremamente importante a iniciativa privada liderar o movimento a favor da sustentabilidade, mas existem também empresas que acabam por mudar hábitos somente no que diz respeito à sua imagem, e não promovem de fato grandes Por Joaquim Eugênio de Lima e Thales Zanichelli transformações. Por pressão da sociedade, quando o tema ganhou força maior, governos e instituições internacionalmente reconhecidos (como a Organização Internacional do Trabalho, OIT, entre outras) estabeleceram novas regulamentações e padrões de operação das empresas. De acordo com a geógrafa Regina Mara, “sustentabilidade é poder se manter continuamente sem exaurir os recursos necessários”. Levar uma vida sustentável, então, seria utilizar, no cotidiano, recursos renováveis, ou seja, que possam ser reaproveitados, minimizando os danos ao meio ambiente. No campo individual, e nas pequenas comunidades, pessoas têm percebido que esse modelo é também bom para o bolso. Muitos vêm adotando outra maneira de viver porque, além da melhora da qualidade de vida, acabam economizando nas despesas do dia-a-dia, como a conta de luz e de água. Os cerca de quinhentos pescadores que habitam a comunidade da Prainha do Canto Verde, em Beberibe, no Ceará, por exemplo, utilizam energia solar e eólica como forma de abastecimento, aproveitam a água da chuva para a descarga nos banheiros e empregam a água do vaso sanitário como adubo natural. Sinal da importância de se pensar grande e agir pequeno, ou seja, preocupar-se com o planeta cuidando do quintal da própria casa. Animais domésticos podem ficar fora da proteção da legislação brasileira caso Projeto de Lei seja aprovado. Por Beatriz Lima Um dia, o líder indiano Mahatma Gandhi disse: “O grau de civilização de uma sociedade pode ser medido pela forma como trata seus animais”. Enquanto a Espanha tenta abolir as touradas, a União Europeia proíbe a importação de peles vindas da China e Canadá, a Tailândia deixa de abrigar navios baleeiros japoneses e a Bolívia veta a utilização de animais em espetáculos circenses, parece que o Brasil está na corrente contrária. Acaba de voltar à pauta o projeto de lei 4548/98, do exdeputado José Thomaz Nonô. O PL, que propõe a retirada da expressão “domésticos ou domesticados” do Artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais, seria um retrocesso para a proteção animal no Brasil. O projeto foi apresentado ao plenário em 1998 e, desde então, teve de passar pela aprovação da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, cuja função é avaliar as propostas sob os aspectos de constitucionalidade, juridicidade, técnica legislativa e mérito. Também passou pela Comissão de Defesa do Consumidor. Depois de aprovado por essas comissões, foi arquivado e retirado da gaveta muitas vezes. Agora está para ser colocado em pauta no plenário. A consequência direta de sua aprovação será a exclusão dos animais domésticos da proteção que a lei fornece. Entende-se por animais domésticos não só o cachorro ou gato, mas aqueles que não vivem mais em ambientes naturais e tiveram seu comportamento alterado pelo convívio com o homem. Assim, muitos vão ficar sujeitas à mera boa vontade de quem os trata. Há um propósito maior na aprovação: liberar atividades culturais, esportivas e folclóricas que utilizam animais – como a Farra do Boi. Mas, segundo o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, as expressões culturais e as competições esportivas podem conviver harmoniosamente com as normas de proteção aos animais já existentes. Cada um encara a nostalgia de uma maneira diferente. O fato é que, em tempos de alta tecnologia, o passado mantém um lugar no coração de muitas pessoas. Por Carolina Arcas e Nathália Castanho São sete da matina e, assim, como em todas as férias escolares, estou em Avaré, na casa de meus avós. Acordo com o cheiro de café recém-passado no coador. O friozinho da manhã faz com que a cama pareça cada vez mais aconchegante. Retorço-me mais umas duas vezes, ainda deitada, mas o aroma da broa de milho quentinha da minha avó não me deixa alternativas. Levanto e escuto o doce canto dos passarinhos e meu avô desejando-me bom dia. Um tempo bom que não volta mais! São lembranças como essa que caracterizam o sentimento nostálgico. Afinal, quem nunca ouviu de seus pais algo como: “Ah, no meu tempo...”? Não conseguindo acompanhar todas as mudanças da vida moderna, algumas pessoas preferem recorrer a coisas que remetam ao passado. Para o cantor e compositor Lobão, que tem entre seus trabalhos o CD Nostalgia da Modenidade, de 1995, “as pessoas nostálgicas tendem a não se adaptar à vida presente ou não ver possibilidade de ter um futuro mais interessante do que o já vivido”. O antigo ganha espaço no cenário atual, em que o moderno tem maior destaque social, mas talvez não maior valor pessoal. Os adeptos das bolachas de vinil, por exemplo, acreditam que nenhuma tecnologia lançada por Steve Jobs irá substituir as vantagens dos seus queridinhos. “O CD oxida facilmente, enquanto os LPs têm uma maior durabilidade, são eternos”, alega Carlos Galdy, amante dos vinis e dono de uma loja no centro de São Paulo que contém centenas deles. Ele ainda afirma se sentir “meio dinossauro”, considerando que vive em um mundo no qual as tecnologias se renovam a cada minuto. Aproveitando-se desse saudosismo, algumas empresas direcionam as suas campanhas publicitárias ao público nostálgico. A Kibon lançou, no final de 2009, embalagens retrô que, segundo Lucíola Costa, uma das responsáveis pelo marketing da empresa, “têm a intenção de resgatar a nostalgia de uma maneira positiva, mostrando que os produtos do passado também têm qualidade”. Outro tipo de apego ao passado é a saudade do não vivido. É comum encontrar jovens que têm em seus aparelhos de última tecnologia, músicas que fizeram sucesso vinte anos antes do surgimento do CD. Como alguém pode ter como ídolo alguém que nem é da sua época? Muitos adolescentes acreditam que a música de hoje em dia não tem um conteúdo tão diferenciado como as músicas de antigamente. Para sair da mesmice, essas pessoas buscam músicas de tempos passados e tentam trazê-las de volta, construindo, então, um sentimento nostálgico. Mas, afinal, o sentimento nostálgico está ou não associado à saudade? O exemplo dado no início da reportagem tem ou não a saudade “do tempo que não volta mais”? Para o músico Lobão, a saudade representa o quanto valeu a pena ter vivido certo momento, diferentemente do sentimento nostálgico, que se manifesta quando há uma sensação de perda daquele tempo. O fato é que não há certo ou errado quando se trata de tal assunto, apenas manifestações diferentes em cada um. Como você encara a nostalgia, afinal? Assim são os flash mobs, protestos ou brincadeiras organizados via internet, que têm como objetivo quebrar a rotina e chamar a atenção para alguma causa. Por Mariana Pereira e Sophia Torres Sábado, 4 de abril. Você está andando pelo Parque do Ibirapuera prestes a passar pelo Obelisco. Eis que percebe que nem tudo está onde deveria. Olhando mais de perto, vê uma aglomeração de pessoas. Nos rostos repetem-se expressões de ansiedade por algo que você não entende bem o que é. Deixando o som dos carros para trás, escuta um coro arrastado e agitado de “3, 2, 1”... Travesseiros voam pelo ar. Começou. Mas o que exatamente? Disseram-nos que era um tal de flash mob. Fomos investigar. A brincadeira surgiu em junho de 2003 em Nova York, na loja de departamento Macy’s, em volta de um tapete. Lá se reuniram cem pessoas. Para os olhos e ouvidos curiosos tratava-se de um grupo que morava junto, nos subúrbios da cidade, em busca de um tal “tapete do amor”. Era, na verdade, uma crítica ao conformismo, modismo e à cultura hipster (moderna e alternativa). Mas foi muito mais que isso: marcou a origem do que viria a ser um flash mob (em português, algo como “mobilização relâmpago”). Achar um ponto em comum entre o tapete de Nova York e uma guerra de travesseiros em pleno parque paulistano pode parecer difícil, mas começa a ficar fácil a partir do momento em que se encontra uma definição para esses eventos. Basicamente, trata-se de um grupo de pessoas que se organiza, em geral pela internet, para quebrar a rotina por alguns minutos com uma ação inusitada, muitas vezes como protesto, e logo voltar à normalidade, como se nada houvesse ocorrido. Todo mob tem o mesmo ponto de partida: os megabytes de um computador. A partir dele, pessoas que nunca se conheceram se unem para fazer com que a ação saia do mundo digital para o concreto das cidades. Assim, os flash mobs quebram o paradigma de que a internet isola as pessoas. “É um efeito muito único, que é a sensação de grupo. Ao agir em bando contagiamos uns aos outros e nos libertamos de qualquer constrangimento”, explica Stefano Azevedo, integrante da equipe do programa de televisão Mob Brasil (Canal Multishow), dedicado à divulgação das mobilizações tupiniquins. Pessoas usando pijamas à luz do dia (em plena Avenida Paulista), danças coreografadas em praças públicas, homens andando de cueca no metrô. Tudo isso é flash mob, inclusive guerras de travesseiros, como a citada no início desta matéria. A pillow fight, como é conhecida no mundo todo, é um mob diferente, organizado simultaneamente em vários países e chamada de Dia Internacional da Guerra de Travesseiros. “Imagina você ir para o Ibirapuera e bater e brincar com pessoas desconhecidas! É fantástico!” afirma Audrey Martini, de 16 anos, que foi ao evento em abril deste ano. Fantasiado ou com um travesseiro na mão, cada um acha no mob uma forma de se expressar. “Eles buscam fazer parte de algo que consideram moderno, sofisticado ou quaisquer conceitos que desejem agregar às suas identidades”, completa Stefano Azevedo. A beleza do fenômeno “mobeiro” é a possibilidade de cada grupo dar sua cara ao mundo, seja qual for e ainda que efêmera. “São 20 havaianas, 13 sapatilhas, 16 rasteirinhas e 18 tênis”, conta Luiza Russo, 17 anos, ao ser perguntada sobre quantos pares de sapatos possui. “Não uso tudo porque descubro que não gosto quando chego em casa, ou porque não é útil ou porque comprei por instinto”. Personagem típica do cenário consumista adolescente da atualidade, Luiza afirma ser consciente de seu consumismo exagerado. “Eu compro e, quando entro no meu closet e vejo que tem muita coisa, me sinto mal”, assume. A propaganda, os amigos ou o comportamento de algum ídolo são alguns dos motivos para que os jovens brasileiros estejam entre os maiores consumidores do mundo. Por Carolina Lima, Flávia Dorgan e Sofia Hanashiro Luiza é só mais uma entre os milhares de adolescentes brasileiros que não conseguem se conter na hora de ir às compras. Além dela, outros jovens são verdadeiras vítimas do consumo, influenciados por diversos fatores, sejam os amigos, a propaganda ou o comportamento de algum ídolo. O consumismo assume, assim, diversas formas, chegando até a ser considerado uma doença, em casos extremos. O também estudante Douglas Faria, de 17 anos, tem uma coleção de 25 pares de tênis. Só em sua última viagem comprou sete calças e oito camisetas polo. O garoto explica que comprar o deixa feliz. “Eu compro por impulso, e depois eu fico triste porque comprei. Mas na hora parece que ficou legal.”. Douglas diz que ao comprar leva em consideração principalmente aquilo que os seus ídolos usam, de modo que são como uma inspiração para ele. Duas pesquisas diferentes realizadas nos últimos anos – uma da Organização das Nações Unidas (ONU), outra do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente –, o jovem brasileiro é o que mais se interessa pela compra no mundo, à frente até do americano. Para a psicóloga e psicanalista Soraia Bento, os adolescentes estão em fase de descoberta de sua identidade e, ao comprarem, buscam um meio de se identificarem e serem identificados. “Encontrar um espaço no mundo para você ser quem quer ser e não o que desejam que você seja é a maior busca do adolescente”, explica. Justamente por serem facilmente influenciados e estarem repletos de incertezas, os jovens são alvo frequente das campanhas publicitárias. “É um público aberto a novas tendências. Por quererem experimentar coisas novas, muitas vezes não diferenciam com clareza desejo e necessidade”, explica a publicitária Mariana Viggiani. Apesar de consumir ser, até certo ponto, saudável para a construção de uma personalidade própria, comprar de forma exagerada prejudica não só a pessoa que consome, mas todos ao seu redor e até mesmo o meio ambiente. Por esses motivos, em diversos países, entre eles Irlanda, Itália e Inglaterra, há regras para a publicidade voltada ao público infantil e juvenil. No Brasil, recentemente foi mais uma vez regulamentada a propaganda voltada a crianças, para que elas entrem na adolescência sem tanta influência da publicidade e estímulo ao consumo. nto, o fanatismo está presente ime ten tre en ro me ou são ses ob r po Seja filosóficas e psicológicas. zes raí tem e e ad ied soc da rte pa e em grand Por Beatriz Moura e Izabella Bueno rações, seja numa não se cansam de mostrar suas ado que os vídu indi , hoje de pos tem nos fanáticos, pois perdem o É comum encontrar, Alguns podem até ser denominados m. age tatu ou do mpa esta nho oa passa a ter sua peça de roupa, dese ndo esse limite é ultrapassado, a pess Qua . cado obce te men real ser e ar equilíbrio entre o gost a a sua obsessão. vida totalmente restringida e dedicad holandês Bento de Spinoza, um dos em filosofia, é estudiosa do filósofo da tran mes m, Turi Eva ra esso prof A ação de que a razão pode dominar . Spinoza rejeitou fortemente a afirm XVII lo sécu do res sado pen des gran jo. Quando os homens esquecem ença do homem no mundo é o dese pres da ores mot dos “Um ção. emo a desejos se tornam imoderados é a substância que tudo gerou, seus que e, itud infin da e part m faze que diato disso é que os homens se qual são dotados. O efeito mais ime da de lida ona raci à em epõ sobr se e pensamentos”, acredita Eva. desequilibram em suas ações e seus toro, psicóloga, acredita r da realidade a encará-la. Ariane Mon fugi s veze tas mui erem pref cais radi Os fanáticos momentos da vida as pessoas causas do fanatismo. “Em muitos is cipa prin das uma ser e pod o que o escapism a diferente. Quando isso s às de outras que pensam de form riore supe são ças cren suas que tentam mostrar ica. tismo, causado pelo escapismo”, expl chega ao extremo, chamamos de fana e oas. Cristiana Assumpção, bióloga o é parte saudável da vida das pess há não que dita Em muitos casos, porém, a adoraçã acre Ela e Star Trek. l, por exemplo, até hoje é fã da séri doutora em tecnologia educaciona bros do fã-clube no cinema, para mem os outr com e nova, encontrava-s iram idade para ser fã. Quando era mais s. Segundo ela, muitos cientistas segu organizarem concursos de fantasia para e séri a zou utili ano assistirem aos episódios, além de eric norte-am Trek, inclusive ela mesma; o governo essa carreira influenciados por Star na população. despertar o interesse pela Ciência e que fez o personagem Sulu na séri tiana: quando o ator George Takei, Cris a cion emo r icula idou part conv em me ória Uma hist para Los Angeles e ele ada para ser a tradutora. “Depois fui original, veio ao Brasil, ela foi cham brunch na casa dele”, orgulha-se. um fez e Ele me levou aos estúdios ele. com ana sem de l fina o ar para pass Curiosidade s de Fã Objetos tec nológicos id ealizados p inspiraram or séries de a ciência re ficç al. A fã de S listou algun tar Trek Crist ão científica s exemplos: iana Assum pção • O celular fo i inspirado no série Star Tr comunicad or do ek. Capitão Kirk , concebido para a • O smartpho ne, com múl tiplas funçõe s, vem do Tr • A cama ho icorder, tam spitalar que bém da séri faz avaliaçõ que abre au e. es tomaticamen e leituras no te também sã s pacientes e a porta o invenções • Já são real decorrentes izadas expe da série. riên utilizado em quase todas cias na área do teletran as ficções ci sporte, “rec urso” entíficas. Enquanto o Twitter é congestionado de mensagens de “Fora, Sarney”, as ruas não vêem uma manifestação política maciça de jovens há muito tempo. Por Marcos Vinicius Schimitd e Priscila Garcia 24 de abril de 1984: 1,7 milhão de pessoas tomam a Praça da Sé e o Vale do Anhangabaú, em São Paulo, com o grito “Um, dois, três, quatro, cinco mil... Queremos eleger o presidente do Brasil”. O movimento “Diretas Já” reivindicava eleições diretas para presidente da República. 15 de agosto de 2009: também em São Paulo, aproximadamente 500 manifestantes foram para a Avenida Paulista protestar contra o presidente do Senado, José Sarney, acusado, entre outras coisas, de desvio de dinheiro público, movimentação de contas ilegais no exterior, sonegação de impostos e nepotismo. Para onde foram os outros um milhão, seiscentos e noventa e nove mil e quinhentos brasileiros? Para onde foi a vontade dos jovens de mudar o país? O jovem brasileiro continua politicamente ativo e tem consciência dos problemas que o seu país enfrenta. A diferença do número de manifestantes pode ser explicada pela tecnologia de uma ferramenta que é muito usada quando a questão é protestar: a internet. Para a subprefeita da Lapa, Soninha Francine, que se elegeu vereadora com o apoio maciço da juventude, “o envolvimento do jovem na política acontece e é extremamente importante”. O que acontece é que a manifestação parece ter migrado para o mundo digital. A campanha “Fora Sarney”, por exemplo, chegou por alguns dias a figurar nos Trending Topics (tópicos mais influentes) do Twitter, site de relacionamento da internet. “A internet é uma ótima ferramenta para unir as pessoas e mostra-se, em diversos casos, uma maneira de disseminar informações”, acredita Ricardo Joseph, criador do site Urbanias (www.urbanias.com.br), que une o mundo virtual e real, disponibilizando informações de interesse público de forma simples e integrada às tecnologias de comunicação. Contudo, para que os protestos se façam sentir, incomodem e tenham verdadeiro impacto, os jovens têm de ir além da internet. As manifestações online podem ser ignoradas simplesmente mantendo-se o computador desligado. Por isso, a geração atual precisa ir para as ruas, votar conscientemente, protestar, exigir seus direitos e fazer-se ouvir também fora do ambiente virtual. Um bom exemplo de que isso é possível foi a presença de cerca de quatrocentos jovens, num debate promovido pela revista Trip em outubro de 2009, em São Paulo, numa tarde de domingo, com o objetivo justamente de estimular a participação política. Numa era de shopping centers, as galerias dos anos 50 mantêm seu charme e prometem um retorno triunfante em São Paulo. Por Anna de Oliveira e Isabela Taccolini A porta não chama muito a atenção, apagada entre todos os prédios da cidade; não seria difícil ignorá-la e continuar o caminho normalmente. Mas, por vezes, os olhares dos pedestres encontram as lojas, a arquitetura, as longas escadas, e a curiosidade é inevitavelmente despertada. Viagem no Tempo Entrar na galeria é uma sensação peculiar. Percebese logo que não se trata de algo da magnitude dos shopping centers nem da desorganização das feiras de rua. As lojas são muitas e de todos os estilos; uma diferente da outra, uma nova amostra de originalidade em cada vitrine. Acabam por tornar o lugar extremamente colorido e diverso: em toda a cidade de São Paulo, não existe uma galeria a outra. Em algumas, encontra-se uma massa de compradores; em outras, apenas uns poucos visitantes. Além disso, ao entrar em uma galeria, a sensação é, inevitavelmente, a de um outro tempo. Talvez pela arquitetura, pelas lojas com aspecto antigo ou o ambiente em que cada elemento remete à década em que foi fundada (a maioria tem mais de 50 anos). Muitas vezes essa atmosfera antiga é proposital; a Barbearia 9 de Julho, por exemplo, da Galeria Ouro Velho, localizada na Rua Augusta, apesar da juventude dos funcionários, tem todas as características de uma barbearia dos anos 50. A despeito das diferenças, as galerias têm um ponto em comum: a criatividade. Segundo Maria Lúcia Costa, da loja Coelho Show, na Galeria Ouro Fino, também na Rua Augusta, as lojas são feitas sob medida para o seu público – os inovadores, que buscam algo mais original do que as produções em massa dos shopping centers. “Você não vai comprar algo aqui e encontrar alguém usando a mesma coisa; o público se enxerga nas nossas lojas”, acredita. Aline Moraes, dona da loja Fever, na Galeria Ouro Velho, defende também a criatividade das galerias: “Elas estão ficando cada vez mais fortes”. Segundo a lojista, cada vez mais pessoas estão buscando essa originalidade, já cansadas dos shopping centers. E, uma vez que as galerias agregam diferentes estilos, qualquer um, na opinião de Aline, pode encontrar algo de seu agrado nelas. Maurício Eloy, do Sebo Nós Três, também na Ouro Velho, acredita absolutamente na “volta das galerias”. Acrescenta que ele próprio não gosta do “clima” do shopping. “É muita vitrine para nada”, brinca. Nenhum deles nega que, por outro lado, os shoppings oferecem uma estrutura que, em geral, as galerias não possuem, como estacionamento e praça de alimentação. Maurício reforça a questão da comida, que, segundo ele, atrai muitas pessoas que acabam depois entrando nas lojas e comprando. É consenso entre os comerciantes das galerias que falta divulgação para elas. Poucas pessoas sabem sua localização e o que oferecem. Talvez com a divulgação certa e investimentos, possam se fortalecer e recuperar enfim o prestígio que já tiveram. Expediente Colégio Bandeirantes Diretor-Presidente: Mauro de Salles Aguiar Idade Mídia 2009: Alexandre Le Voci Sayad, Gilberto Dimenstein e Marina Consolmagno (Cidadania) Estudantes-repórteres: Anna Gabriela Nicolau Coelho de Oliveira, Beatriz dos Reis Moura, Beatriz Spínola de Góis Lima, Carolina Tomishige Alves Lima, Carolina Tonet Tambosi Arcas, Flávia Dorgan, Isabela Sarno Taccolini, Izabella Bueno, Joaquim Eugênio Fernandes de Lima, Juliana Yumi Shiina Morato, Laura Grossmann, Luiz Eduardo Rudge Leite, Marcus Vinicius de Abreu Schimitd, Mariana Campos Pereira, Nathália Castanho Brunelli, Priscila Garcia Barbosa, Sofia Yumi Mori de Hanashiro, Sophia Neitzert Torres e Thales Eduardo Zanichelli. Tilt Edição: Alexandre Le Voci Sayad • Direção de Arte e Projeto Gráfico: Murilo Martins Fotografia: Alexandre Le Voci Sayad (Estudantes); Anna de Oliveira e Isabela Taccolini (Viagem no Tempo) Revisão: Cassiano Pimentel • Tiragem: 1500 exemplares Agradecimentos Departamento Cultural (Bandeirantes), Erika Vieira, Matheus Mlot (que deu significado ao nome Tilt), Rádio 107 FM, Rubens Vianna, Sérgio Rizzo e Sylvio Ayala. Para conhecer o processo educativo do Idade Mídia, acesse o blog www.idademidia.colband.blog.br Tilt é o produto final do curso Idade Mídia 2009, do Colégio Bandeirantes.