Fístula Infra-Orbitária em animais de companhia
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Fístula Infra-Orbitária em animais de companhia
| Açores magazine | | Açores magazine | CONSULTÓRIO CONSULTÓRIO Fístula Infra-Orbitária em animais de companhia Francisco Teves Médico veterinário Os problemas dentários não deixam ninguém imune, nem mesmo os nossos amigos de companhia de quatro patas. Para além das cáries (que são raras em cães e gatos) e o acúmulo de tártaro (muito frequente), as fístulas dentárias são problemas da cavidade oral com alguma expressão no cão e no gato, especialmente naqueles menos vigiados ao nível dentário. Existem alguns tipos de fístulas da cavidade oral, sendo aqui desenvolvido o tema específico da fístula infra-orbitária. Em primeiro lugar o termo fístula significa uma abertura ou passagem não normal entre dois órgãos ou cavidades do organismo animal, ou entre um órgão e o exterior do animal, por onde circulam produtos orgânicos (ex: pus ou sangue). No caso específico da fístula infra-orbitária (figura 1) é uma comunicação existente entre a cavidade oral (através da raiz de um dente) e a face do animal, causando uma abertura abaixo do olho, que quase sempre lança pus e sangue. Em cães, esta é uma fístula normalmente causada pelo abcesso do dente º pré-molar superior (também vulgarmente conhecido por “carniceiro”), que pode ser bilateral, mas onde se observa numa primeira fase uma bolsa com líquido logo abaixo do canto do olho (localização esta designada de “infra-orbitária”). Nos gatos esta fístula está relacionada com a infecção do dente canino superior. O abcesso tem origem em ligeiras fracturas do dente (ex: como consequência de cães que mordem muito grades metálicas com vigor) ou periodontites severas (inflamação grave das estruturas que sustentam a base do dente). Estas últimas são na sua maior parte das vezes consequência de acúmulo de tártaro por baixo da gengiva respectiva ou por apreensão de corpos estranhos (ex: fragmentos de ossos, farpas de madeira), naquela zona. Como consequência da evolução do abcesso, a quantidade de pus na base do dente é cada vez maior, fazendo com que saia da cavidade oral pela pele da face do animal, mesmo abaixo do canto do olho (na referida zona infraorbitária – figura 1). A evolução desta patologia é muito variável, podendo ser desde alguns meses a vários anos, mas o animal evidencia alguns sinais que devem ser tidos em conta, nomeadamente dor à palpação/manuseamento da zona, escurecimento dentário, excesso de salivação, dificuldade em apreender os alimentos e mastigá-los com dificuldade, presença de úlcera e/ou bolsa gengival na base do dente (figura ), arrastar a face no chão, ou mesmo a presença da fístula infra-orbitária (tratando-se este do sinal mais evidente e sugestivo do diagnóstico). figura Para auxiliar no diagnóstico é importante radiografar a zona afectada. Numa situação de presença de abcesso apical haverá uma “mancha” mais transparente (radiotransparente – traduzindo-se por uma zona mais cinzenta/menos branca) em redor da raiz dentária afectada (figura ). difícil preservar o dente e mantê-lo no futuro do animal; - a idade do animal. Nos jovens, normalmente deve-se tentar preservar a vitalidade do dente; - a opção financeira do proprietário do animal. De um modo geral, um dente que não tem mobilidade ou que é reduzida, sendo perfeitamente funcional, não deve ser removido porque irá fazer falta ao animal na correcta trituração dos alimentos durante toda a sua vida. Como tratamento, existem basicamente duas opções: - fazer a extracção do dente (exodontia); - ou o tratamento endodôntico da raiz envolvida com vista a salvar o dente afectado (tal como nós quando vamos ao dentista e temos de fazer o tratamento do abcesso durante algumas fases). Na opção do tratamento pesam alguns factores: - a mobilidade do dente. Nos dentes muito soltos, por vezes é O tipo de alimentação dada ao animal de companhia pode influir e muito na prevenção desta patologia. É positivo que haja aconselhamento com o médico-veterinário assistente sobre esta matéria e que todos os animais sejam avaliados anualmente também a este nível. figura 1 figura 28 29 1 de janeiro de 1 1 de janeiro de 1