publication - International Energy Agency

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publication - International Energy Agency
World
Energy
Outlook
2014
SUMÁRIO
Portuguese
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French translation
AGÊNCIA INTERNACIONAL DE ENERGIA
A Agência Internacional de Energia (AIE) é um organismo autónomo, criado em Novembro de 1974, com uma missão
dupla: promover a segurança energética entre os países membros, ao propor uma resposta colectiva às rupturas de
abastecimento de petróleo, e aconselhar os países membros acerca de uma política energética consistente.
A AIE desenvolve um extenso programa de cooperação energética entre 29 economias avançadas, através do qual
cada uma se compromete a manter stocks de petróleo equivalentes a 90 dias das suas importações líquidas.
A agência tem por objectivos:
n Assegurar o acesso dos países membros a fontes de aprovisionamento fiáveis e amplas de todas as formas de
energia, em particular, através da manutenção de uma capacidade de resposta de emergência eficiente em caso de
ruptura do abastecimento de petróleo.
n Promover políticas energéticas sustentáveis que estimulem o crescimento económico e a protecção do meio
ambiente num contexto global – em particular em matéria de redução das emissões de gases com efeito de
estufa, que contribuem para a alteração climática.
n Melhorar a transparência dos mercados internacionais através da colecta e análise de dados relativos à
energia.
n Apoiar a colaboração mundial em matéria de tecnologias energéticas de modo a assegurar
os abastecimentos de energia no futuro e a minorar o seu impacto ambiental, inclusive
através de uma maior eficiência energética, do desenvolvimento e da disseminação de
tecnologias hipocarbónicas.
n Encontrar soluções para os desafios energéticos mediante o empenho e
o diálogo com os países não-membros, a indústria, as organizações
internacionais e outras partes interessadas.
© OECD/IEA, 2014
International Energy Agency
9 rue de la Fédération
75739 Paris Cedex 15, France
Países membros da AIE:
Alemanha
Austrália
Áustria
Bélgica
Canadá
Coreia (República da)
Dinamarca
Espanha
Estados Unidosda América
Estónia
Finlândia
França
Grécia
Hungria
Irlanda
Secure Sustainable Together
Itália
Japão
Luxemburgo
Noruega
Nova Zelândia
Países Baixos
Polónia
Portugal
Reino Unido
República Checa
República Eslovaca
Suécia
Suíça
Turquia
A presente publicação está sujeita
a restrições específicas que limitam
a sua utilização e distribuição. Os termos
e condições podem ser consultados na página:
http://www.iea.org/termsandconditionsuseandcopyright/
A Comissão Europeia
também participa
no trabalho da AIE. .
Sumário
Um sistema energético sob pressão
O sistema energético mundial corre o risco de ficar aquém das esperanças e
expectativasque gerou. A agitação em certas partes do Médio Oriente – que continua a ser
a única fonte importante de petróleo barato – raramente atingiu as proporções atuais,
desde os choques petrolíferos dos anos 1970. Por sua vez, o conflito entre a Rússia e a
Ucrânia despertou novamente as preocupações acerca da segurança do gás. Quanto à
energia nuclear, que em certos países desempenha um papel estratégico para a segurança
energética (e que é analisada aprofundadamente na presente edição do World Energy
Outlook [WEO-2014]), o seu futuro é incerto. A eletricidade ainda permanece inacessível,
para um grande número de pessoas, incluindo dois terços da população da África
Subsariana (o destaque regional do WEO-2014). O ponto de partida das negociações sobre
o clima, que deverão culminar em 2015, não é encorajador, com o aumento contínuo das
emissões de gases com efeito de estufa e a poluição do ar sufocante em muitas das cidades
que mais rapidamente crescem no mundo.
Os avanços da tecnologia e da eficiência energética fornecem alguns motivos de
otimismo, embora esforços políticos sustentados sejam essenciais para que as tendências
da energia se tornem positivas. Os sinais de pressão seriam muito mais sérios se a
eficiência energética não melhorasse e se não houvesse continuados esforços de inovação
e de redução do custo das tecnologias energéticas emergentes, como a energia solar
fotovoltaica (PV). Apesar de tudo, as tendências da energia mundial não se alteram
facilmente e as preocupações sobre a segurança e a sustentabilidade do abastecimento de
energia não se resolverão automaticamente. Serão necessárias ações, tomadas por
decisores bem informados, quer sejam políticos, industriais ou outras partes interessadas.
O WEO-2014, que pela primeira vez apresenta projeções e análises até 2040, fornece uma
visão suscetível de garantir que o sistema de energia se transforme deliberadamente e não
unicamente por força dos acontecimentos.
Energia: a resposta a - e a causa de - problemas que se torna urgente resolver
Em 2040, a matriz energética mundial divide-se em quatro partes praticamente iguais: o
petróleo, o gás, o carvão e as fontes de energia com baixas emissões de carbono. Os
recursos não constituem uma condicionante durante este período, mas cada um destes
pilares depara-se com um conjunto de desafios diferentes. As opções políticas e os
desenvolvimentos do mercado, que em 2040 diminuem apenas em um quarto a proporção
dos combustíveis fósseis na procura de energia primária, não bastam para travar o
aumento das emissões de dióxido de carbono (CO2) decorrentes da energia, que sobem
20%. Esta tendência coloca o mundo na senda de um aumento da temperatura global a
longo prazo de 3,6 oC. O Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas das
Nações Unidas considera que para limitar este aumento de temperatura a 2 oC – a meta
acordada internacionalmente para evitar os efeitos mais severos e generalizados das
alterações climáticas –, o mundo não pode emitir mais de aproximadamente 1 000 giga
Sumário
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toneladas de CO2 a partir de 2014. Esta quantidade será totalmente utilizada até cerca de
2040 no nosso cenário central. Dado que as emissões não vão cair bruscamente para zero
depois de se atingir este ponto, é óbvio que o objetivo dos 2 °C exige que sejam tomadas
medidas urgentes para repor o sistema energético num caminho mais seguro. Este será o
foco de um Relatório Especial do WEO, a publicar em meados de 2015, antes da realização
em Paris das negociações das Nações Unidas sobre o clima, que serão críticas.
Aumentam as preocupações sobre a segurança energética
A visão a curto prazo de um mercado do petróleo bem aprovisionado não deverá ocultar
os desafios que se aproximam, devido à dependência cada vez maior em relação a um
número de produtores relativamente pequeno. As tendências da procura de petróleo
variam bastante de uma região para outra: para cada barril de petróleo que já não é gasto
nos países da OCDE, são gastos dois barris suplementares nos países não OCDE. A utilização
crescente de petróleo nos setores do transporte e da petroquímica determina um aumento
da procura, que passa de 90 milhões de barris por dia (mb/d) em 2013 para 104 mb/d em
2040, embora os preços elevados e as novas medidas políticas condicionem
progressivamente o ritmo do consumo global, fixando-o num determinado nível. Nos anos
2030, serão necessários investimentos de cerca de 900 mil milhões de dólares por ano em
desenvolvimentos prévios para o petróleo e o gás, de modo a fazer face à procura prevista.
Todavia, existem ainda muitas incertezas quanto à realização atempada desses
investimentos, sobretudo porque os níveis de produção de petróleo compacto dos Estados
Unidos, no início dos anos 2020, tal como a produção total, começam finalmente a
diminuir. A complexidade e a intensidade de capital necessário para o desenvolvimento dos
campos de águas profundas do Brasil, a dificuldade de abranger a experiência americana do
petróleo compacto fora da América do Norte, as questões ainda por resolver quanto às
perspetivas de crescimento da produção das areias petrolíferas do Canadá, as sanções que
limitam o acesso da Rússia às tecnologias e ao mercado dos capitais e, sobretudo, os
desafios políticos e da segurança no Iraque poderão, no seu conjunto, contribuir para um
deficit de investimentos, abaixo dos níveis exigidos. A situação no Médio Oriente constitui
uma grande preocupação, devido à dependência crescente em relação a esta região, do
crescimento da produção de petróleo, especialmente os países da Ásia, que deverão
importar dois em cada três barris de petróleo bruto comercializado no mundo em 2040.
O aumento de mais de 50% da procura de gás, o combustível fóssil com a taxa de
crescimento mais rápido, e a crescente flexibilidade do comércio mundial do gás natural
liquefeito (GNL) oferecem uma certa proteção contra o risco de roturas de
abastecimento. As regiões que mais impulsionam a procura mundial de gás são a China e o
Médio Oriente; contudo, por volta de 2030, o gás também se torna o principal combustível
da matriz energética dos países da OCDE, apoiado pelas novas regulamentações nos
Estados Unidos, que limitam as emissões no setor da energia. Contrariamente ao petróleo,
a produção de gás aumenta praticamente em toda a parte (sendo a Europa a principal
exceção) e o gás não convencional representa cerca de 60% do crescimento da produção
mundial. A maior incerteza – fora da América do Norte – consiste em saber se o gás pode
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World Energy Outlook 2014
ser disponibilizado a preços atrativos para os consumidores enquanto ainda existem
incentivos para os necessários investimentos com grande intensidade de capital no
domínio do abastecimento de gás. Trata-se de uma questão de regulamentação interna,
em muitos países emergentes dos mercados não OCDE, nomeadamente a Índia e o Médio
Oriente, mas também de uma preocupação a nível do comércio internacional. As
necessidades de importação aumentarão numa grande parte da Ásia assim como na
Europa; no entanto, as questões de segurança dos futuros aprovisionamentos de gás serão
parcialmente resolvidas graças ao número crescente de fornecedores internacionais de gás,
ao número de unidades de liquefação no mundo, que quase triplica, e à quota crescente do
GNL, que pode ser redirecionada para satisfazer as necessidades a curto prazo de mercados
regionais cada vez mais interligados.
Embora o carvão seja abundante e o seu fornecimento seguro, a sua utilização futura é
limitada por medidas destinadas a conter a poluição e a reduzir as emissões de CO2. A
procura mundial de carvão aumenta 15% até 2040, mas praticamente dois terços deste
incremento ocorrem nos próximos dez anos. A procura de carvão da China atinge um
patamar a um pouco mais de 50% do consumo mundial, antes de iniciar uma descida, a
partir de 2030. A procura diminui nos países da OCDE, incluindo os Estados Unidos, onde a
utilização do carvão para a geração de eletricidade cai mais de um terço. A Índia substitui
os Estados Unidos enquanto segundo maior consumidor de carvão antes de 2020 e pouco
tempo depois, ultrapassa a China como principal importador. Os baixos preços atuais do
carvão pressionaram os produtores do mundo inteiro para reduzir os custos, mas espera-se
que a supressão da capacidade com os custos mais elevados, associada ao aumento da
procura, suportarão uma subida de preços suficiente para atrair novos investimentos. A
China, a Índia, a Indonésia e a Austrália representam no seu conjunto mais de 70% da
produção mundial de carvão em 2040, salientando assim a importância da Ásia nos
mercados do carvão. A adoção de tecnologias de geração de carvão de alta eficiência, bem
como de captação e armazenamento de carbono, poderá revelar-se uma estratégia
prudente a longo prazo, de modo a garantir uma transição suave para um sistema de
energia com baixas emissões de carbono, reduzindo simultaneamente o risco de
inutilização da capacidade antes da recuperação dos custos de investimento.
A maior eficiência da matriz energética exige políticas e preços adequados
A eficiência energética é um instrumento crucial para aliviar a pressão sobre o
abastecimento de energia, podendo igualmente compensar parcialmente o impacto da
concorrência nas disparidades de preços entre regiões. Um novo enfoque político sobre a
eficiência energética tem vindo a ganhar consistência em numerosos países, com o setor do
transporte na linha de frente. Visto que mais de três quartos das vendas de automóveis no
mundo estão doravante sujeitas a normas de eficiência, prevê-se que a procura de
transporte de petróleo aumente apenas um quarto, embora o número de automóveis e de
camiões nas estradas do mundo aumente para mais do dobro em 2040. Novas medidas de
eficiência levam à diminuição da procura total de petróleo, de aproximadamente 23 mb/d
em 2040 – uma quantidade superior à atual produção de petróleo conjunta da Arábia
Saudita e da Rússia – e outras medidas tomadas principalmente na geração de energia e na
Sumário
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indústria reduzem o crescimento da procura de gás em 940 mil milhões de metros cúbicos,
uma quantidade superior à atual produção de gás da América do Norte. Além de diminuir
as faturas de importação de gás e os impactos no meio ambiente, as medidas de eficiência
podem também contribuir para minorar as preocupações, em certas regiões dependentes
das importações, relativas aos preços bastante elevados do gás natural e da eletricidade,
que conferem uma desvantagem competitiva às suas indústrias com elevada intensidade
energética. Todavia, as discrepâncias de preços da energia entre regiões deverão persistir e
a América do Norte em particular, permanece uma região com custos relativamente baixos
até 2040: o valor médio gasto numa unidade de energia nos Estados Unidos deverá
inclusive baixar para um preço inferior ao da China, na década de 2020.
Os subsídios aos combustíveis fósseis atingiram um total de 550 mil milhões de dólares
em 2013 – mais do quádruplo do montante dos subsídios às energias renováveis – e têm
travado os investimentos na eficiência energética e nas energias renováveis. No Médio
Oriente, são utilizados praticamente 2 mb/d de petróleo bruto e de derivados de petróleo
para gerar eletricidade quando, na ausência de subsídios, as principais tecnologias de
energias renováveis poderiam competir com as centrais elétricas alimentadas a petróleo.
Na Arábia Saudita, o custo inicial adicional de um automóvel com consumo de combustível
eficiente equivalente ao dobro da média atual levaria hoje cerca de 16 anos a rentabilizar,
mediante a diminuição dos gastos de combustível, mas esse período de rentabilização
baixaria para 3 anos se a gasolina não fosse subsidiada. A reforma dos subsídios à energia
não é uma tarefa fácil e além disso, não existe uma fórmula de sucesso única. No entanto,
tal como demonstram os nossos estudos de casos no Egito, na Indonésia e na Nigéria,
objetivos claros e um calendário de reformas são essenciais, bem como a avaliação
criteriosa dos seus efeitos e a forma como podem (caso necessário) ser mitigados, ou ainda
a realização de consultas aprofundadas e uma boa comunicação em todas as fases do
processo.
O setor elétrico impulsiona a transformação da energia mundial
A eletricidade é a forma de energia final que regista o crescimento mais rápido e no
entanto, o setor elétrico contribui mais do que qualquer outro para a redução da
percentagem de combustíveis fósseis no combinado energético mundial. Deverá ser
construída uma capacidade total de cerca de 7 200 gigawatts (GW) para atender à procura
crescente de eletricidade e simultaneamente, deverão ser substituídas as atuais centrais
elétricas previstas para serem desativadas em 2040 (cerca de 40% do parque atual). O forte
crescimento das energias renováveis num grande número de países aumenta de um terço a
sua quota-parte na geração de eletricidade mundial em 2040. Deverão ser indicados preços
adequados para garantir atempadamente os investimentos na necessária nova capacidade
de geração térmica, a par dos investimentos nas energias renováveis, de modo a manter a
fiabilidade do abastecimento de eletricidade. Para tal, o mercado deverá ser restruturado
ou em certos casos, a fixação dos preços da eletricidade deverá ser revista. A transição para
tecnologias com maior intensidade de capital e os preços elevados dos combustíveis fósseis
conduzem a um aumento dos custos médios do aprovisionamento de eletricidade e dos
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World Energy Outlook 2014
preços ao consumidor na maior parte dos países do mundo. Contudo, os ganhos de
eficiência na utilização final da energia contribuem para reduzir a proporção do custo da
eletricidade no orçamento dos agregados familiares.
As tecnologias das energias renováveis, que são um elemento crítico do pilar do baixo
nível de carbono no aprovisionamento mundial de energia, ganham terreno
rapidamente, apoiadas pelos subsídios globais, que atingem 120 mil milhões de dólares
em 2013. Graças às rápidas reduções de custos e ao apoio contínuo, as energias renováveis
representam praticamente metade do aumento da geração total de eletricidade em 2040,
enquanto a utilização dos biocombustíveis aumenta mais do triplo, a 4,6 mb/d, e a
utilização de energias renováveis para a produção de calor cresce mais do dobro. A quotaparte das energias renováveis na geração de eletricidade aumenta na maioria dos países da
OCDE, atingindo 37%, sendo o seu crescimento equivalente ao aumento líquido total do
abastecimento de eletricidade nos países da OCDE. Contudo, a geração a partir de energias
renováveis aumenta mais do dobro nos países não OCDE, liderados pela China, Índia,
América Latina e África. Globalmente, a energia eólica representa a maior parte do
crescimento na geração de energia com base em energias renováveis (34%), seguida da
energia hidroelétrica (30%) e das tecnologias solares (18%). Como a proporção das energias
eólica e solar fotovoltaica quadruplica na matriz energética mundial, a sua integração,
tanto do ponto de vista técnico com do mercado, torna-se mais complexa: a energia eólica
atinge 20% da geração total de eletricidade na União Europeia e no Japão, a energia solar
fotovoltaica representa 37% da procura no pico do verão.
Um conjunto complexo de elementos a levar em conta nas tomadas de decisão sobre
a energia nuclear
As políticas no domínio da energia nuclear permanecerão um elemento fundamental das
estratégias nacionais para a energia, mesmo em países que se comprometeram a
desmantelar progressivamente essa tecnologia e que deverão propor alternativas. A
capacidade mundial da energia nuclear aumenta quase 60% no nosso cenário central,
passando de 392 GW em 2013 para mais de 620 GW em 2040. Contudo, a sua proporção
na geração global de eletricidade, que atingiu o seu pico há praticamente duas décadas,
aumenta apenas um ponto percentual, passando para 12%. Este modelo de crescimento
traduz os desafios que se colocam para todos os tipos de novas capacidades de geração
térmica em mercados de energia competitivos, assim como outros desafios subsequentes
económicos, técnicos e políticos, que a energia nuclear tem de vencer. O crescimento
concentra-se nos mercados onde a eletricidade é fornecida a preços regulamentados, onde
as empresas públicas de eletricidade são apoiadas pelo estado ou onde os governos
facilitam o investimento privado. A China representa 45% do crescimento da geração de
energia nuclear enquanto a Índia, a Coreia e a Rússia constituem uma quota adicional de
30%. A geração aumenta 16% nos Estados Unidos, volta a crescer no Japão (embora nunca
mais atinja os níveis anteriores ao acidente de Fukushima Daiichi) e desce para 10% na
União Europeia.
Sumário
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Apesar dos seus desafios atuais, a energia nuclear apresenta características específicas
que explicam o empenho de certos países em mantê-la como uma opção para o futuro.
As centrais nucleares contribuem para a fiabilidade do sistema de energia, aumentando o
seu leque de tecnologias para a geração de eletricidade. Nos países importadores de
energia, pode reduzir a sua dependência em relação a um abastecimento estrangeiro e
limitar a sua exposição às flutuações dos preços do combustível nos mercados
internacionais. Numa Projeção Nuclear Baixa, na qual a capacidade mundial diminui 7% em
relação à situação atual, os indicadores da segurança energética tendem a deteriorar-se
nos países que utilizam a energia nuclear. Por exemplo, a proporção da procura de energia
satisfeita com recursos nacionais diminui no Japão (13 pontos percentuais), na Coreia (seis
pontos) e na União Europeia (quatro pontos), comparada com o nosso cenário central.
A energia nuclear é uma das poucas opções disponíveis com capacidade para reduzir as
emissões de dióxido de carbono, fornecendo ou deslocando simultaneamente outras
formas de geração de eletricidade de base. Estima-se que desde 1971, evitou-se a emissão
de 56 giga toneladas de CO2 ou seja, o equivalente de praticamente dois anos das emissões
mundiais totais à taxa atual. As emissões anuais evitadas em 2040 graças à energia nuclear
(em percentagem das emissões previstas nessa época) atingem praticamente 50% na
Coreia, 12% no Japão, 10% nos Estados Unidos, 9% na União Europeia e 8% na China. O
custo médio das soluções destinadas a evitar as emissões através da implantação de novas
capacidades nucleares depende da matriz energética e do custo dos combustíveis que
desloca e por conseguinte, poderá variar de um nível muito baixo para mais de 80
dólares/tonelada.
Praticamente 200 reatores (num total de 434 operacionais no final de 2013) são
desativados até 2040. Situados em grande maioria na Europa, nos Estados Unidos, na
Rússia e no Japão, colocam desafios para substituir a baixa provocada na geração
elétrica, com maior acuidade na Europa. O setor público da energia deve começar a
planear o desenvolvimento de uma capacidade alternativa ou a continuação da exploração
das centrais existentes, vários anos antes da extinção do período de autorização das atuais
centrais nucleares. Para facilitar este processo, os governos devem mostrar uma maior
transparência ao considerar prolongar as licenças de operação e outros detalhes relativos
aos procedimentos legais envolvidos, muito antes do possível encerramento das centrais.
Estima-se a mais de 100 mil milhões de dólares o custo do desmantelamento das centrais
nucleares que param de funcionar até 2040. Todavia, subsistem ainda grandes incertezas
quanto a esses custos, devido à experiência bastante limitada até hoje, em matéria de
desmantelamento e de descontaminação dos reatores, bem como de restauro dos locais
para outras utilizações. Os legisladores e as empresas públicas de energia devem continuar
a garantir a provisão dos fundos necessários para cobrir essas despesas futuras.
As preocupações do público em relação à energia nuclear devem ser ouvidas e atendidas.
A experiência recente mostrou como a opinião pública sobre a energia nuclear pode mudar
rapidamente e desempenhar um papel determinante na presença futura desta energia em
certos mercados. A segurança é a preocupação principal, especialmente no que diz respeito
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World Energy Outlook 2014
aos reatores em funcionamento, à gestão dos resíduos radioativos e à prevenção da
proliferação das armas nucleares. A confiança na competência e na independência da
fiscalização regulamentar é fundamental, sobretudo na medida em que a energia nuclear
abrange mais países: no nosso cenário central, o número de economias que operam
reatores nucleares passa de 31 para 36, visto que os países que adotam a energia nuclear
ultrapassam em número aqueles que a desmantelam. O total acumulado do consumo de
combustível de origem nuclear duplica, passando para mais de 700 mil toneladas no
período da projeção; apesar disso, até à data, nenhum país implementou ainda um
dispositivo de eliminação permanente, de modo a isolar os resíduos com maior prazo de
vida e maior radioatividade, produzidos pelos reatores comerciais. Todos os países que
produziram resíduos radioativos deveriam ter a obrigação de desenvolver uma solução
para a sua eliminação permanente.
A energia para moldar o futuro da África Subsariana
Aqueles que não têm acesso à energia moderna são os que sofrem a forma mais extrema
de insegurança energética. Estima-se que 620 milhões de pessoas na África Subsariana não
têm acesso à eletricidade e para aqueles que o têm, o abastecimento é muitas vezes
insuficiente, carece de fiabilidade e é dos mais caros do mundo. Cerca de 730 milhões de
habitantes desta região dependem da biomassa sólida para cozinhar, um processo que,
quando utilizado no interior com fogões ineficazes, provoca uma poluição do ar
responsável anualmente por cerca de 600 000 mortes prematuras em África. A África
Subsariana representa 13% da população mundial mas apenas 4% da procura mundial de
energia (constituída em mais de metade por biomassa sólida). Trata-se de uma região rica
em recursos energéticos, que todavia estão muito subdesenvolvidos. Praticamente 30% das
descobertas mundiais de petróleo e de gás realizadas nos últimos cinco anos ocorreram
nesta região, que também possui enormes recursos de energias renováveis, em particular
solares e hidroelétricas, bem como eólicas e geotérmicas.
O sistema de energia subsariano deverá expandir-se rapidamente mas mesmo assim,
muitos dos desafios energéticos atuais serão vencidos apenas parcialmente. Em 2040, a
dimensão da economia da região quadruplica, a população praticamente duplica e a
procura de energia aumenta cerca de 80%. A capacidade de geração de eletricidade
quadruplica e cerca de metade do aumento da geração provém de energias renováveis,
que também fornecem cada vez mais uma fonte de eletricidade para sistemas de miniredes e fora de rede nas zonas rurais. No total, quase mil milhões de pessoas ganham
acesso à eletricidade, mas mais de meio milhão continua ainda sem acesso em 2040. A
produção da Nigéria, de Angola e de um conjunto de produtores mais pequenos mostra
que a África Subsariana continua a ser um importante centro de abastecimento de petróleo
a nível mundial, embora uma parte crescente da produção seja consumida na região. Esta
região revela-se um importante ator no domínio do gás, à medida que o desenvolvimento
das principais descobertas da costa oriental ao largo de Moçambique e da Tanzânia
acompanha o aumento da produção na Nigéria e noutros países.
Sumário
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O setor energético da África Subsariana pode contribuir mais para um crescimento
inclusivo. Num “Cenário Século Africano”, três ações no setor da energia – se forem
acompanhadas de reformas de governação mais gerais – estimulam a economia
subsariana, que aumenta 30% em 2040, propiciando uma década suplementar de aumento
do rendimento per capita:

A modernização do setor da energia: investimentos adicionais que reduzam para
metade os cortes de energia e permitam um acesso universal à eletricidade nas zonas
urbanas.

Uma maior cooperação regional: mercados em expansão e liberação de uma maior
parte do potencial hidroelétrico do continente.

Uma melhor gestão dos recursos e dos rendimentos da energia: maior eficiência e
transparência no financiamento de melhorias essenciais a realizar nas infraestruturas
de África.
Um sistema energético moderno e integrado possibilita uma utilização mais eficiente dos
recursos e permite levar a energia a um maior número de áreas, entre as mais pobres da
África Subsariana. Uma ação concertada com vista a melhorar o funcionamento do setor
energético subsariano é fundamental para que o século 21 seja verdadeiramente o século
africano.
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World Energy Outlook 2014
Este relatório foi inicialmente escrito em inglês.
Embora tenham sido envidados todos os esforços para assegurar a fidelidade da tradução,
poderá haver ligeiras diferenças entre esta e a versão original.
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IEA PUBLICATIONS, 9 rue de la Fédération, 75739 Paris Cedex 15
Printed in France by IEA, November 2014
Cover design: IEA, photo credits: © GraphicObsession
World
Energy
Outlook
2014
 O desenvolvimento do aprovisionamento de petróleo na América do
Norte representará uma nova era de abundância ou os movimentos
que agitam certas partes do Médio Oriente cobrirão o horizonte?
 A expansão do comércio do GNL trará a perspetiva de uma maior
segurança no abastecimento mundial de gás?
 Em que medida a eficiência energética pode compensar o fosso de
competitividade causado pelas diferenças regionais nos preços da
energia?
 Que considerações deverão orientar o processo de decisão nos países
que utilizam, mantêm ou desmantelam a energia nuclear?
 Como pode o setor energético da África Subsariana contribuir para
melhorar a vida dos seus cidadãos?
 Está o mundo perto de esgotar o orçamento de carbono disponível,
que não pode ser excedido caso se queira conter o aquecimento
global?
A edição do WEO-2014 oferece respostas a estas perguntas e a muitas
outras, com base em novas projeções que, pela primeira vez, se
estendem até 2040. As perspetivas energéticas da África Subsariana
são extensamente analisadas, a situação atual e as perspetivas da
energia nuclear são examinadas aprofundadamente, sempre no âmbito
de uma análise sistemática das evoluções da energia mundial, para
todos os combustíveis e todos os países.
Para mais informações visite a página:
www.worldenergyoutlook.org