GESTÃO DO PROGRAMA CALHA NORTE: um - OBED
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GESTÃO DO PROGRAMA CALHA NORTE: um - OBED
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO TRÓPICO ÚMIDO MESTRADO EM PLANEJAMENTO DO DESENVOLVIMENTO AURILENE DOS SANTOS FERREIRA GESTÃO DO PROGRAMA CALHA NORTE: um estudo sobre as ações de infraestrutura no município de Monte Alegre, Pará Belém 2008 AURILENE DOS SANTOS FERREIRA GESTÃO DO PROGRAMA CALHA NORTE: um estudo sobre as ações em infraestrutura no município de Monte Alegre, Pará Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Planejamento do Desenvolvimento (PLADES), do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), da Universidade Federal do Pará (UFPA) como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Planejamento do Desenvolvimento. Orientador: Prof. Dr. Durbens Martins Nascimento Belém 2008 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Biblioteca do NAEA/UFPA) Ferreira, Aurilene dos Santos Gestão do Programa Calha Norte: um estudo sobre as ações de infraestrutura no município de Monte Alegre, Pará / Aurilene dos Santos Ferreira ; Orientador Dubens Martins Nascimento. – 2008. 104f.: ; il. ; 23 cm Inclui bibliografias Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Pará, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido, Belém, 2008. 1. Projeto Calha Norte. 2. Segurança Nacional – Amazônia. 3. Sistema de Vigilância da Amazônia (Brasil). I. Nascimento, Durbens Martins, orientador. II. Título. CDD 21. ed. 355.60918115 AURILENE DOS SANTOS FERREIRA GESTÃO DO PROGRAMA CALHA NORTE: um estudo sobre as ações em infraestrutura no município de Monte Alegre, Pará Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Planejamento do Desenvolvimento (PLADES), do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), da Universidade Federal do Pará (UFPA) como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Planejamento do Desenvolvimento. Orientador: Prof. Dr. Durbens Martins Nascimento Aprovada em: 24 de novembro de 2008 Banca Examinadora: Prof. Dr. Durbens Martins Nascimento Orientador, NAEA/UFPA Prof. Dr. Milton Cordeiro de Farias Filho Examinador Externo Prof. Dr. Armin Mathis Examinador, NAEA/UFPA Profa. Dra. Nírvia Ravena Suplente Ao meu filho Itauê Ferreira Martins, por me indicar um novo olhar sobre o mundo e sobre a vida e pela compreensão de minhas indesejadas ausências, necessárias para concluir mais essa etapa na vida acadêmica. AGRADECIMENTOS À CAPES, que por meio do PRÓ-DEFESA me financiou uma bolsa de estudos; Ao meu orientador, Prof. Dr. Durbens Martins Nascimento pelo apoio, incentivo, disposição e pela sobriedade com que conduziu a orientação deste trabalho; Ao Gerente do Programa Calha Norte, Coronel Roberto de Paula Avelino pela longa entrevista que nos concedeu; Aos funcionários do Departamento de Cooperação (DECOP) do Ministério da Defesa, em particular agradeço a Carlos Augusto Rollemberg de Resende e a Marcelo Lucio Sabóia Fonseca pela atenção e gentileza, o que facilitou o agendamento da entrevista com o gerente do PCN. Ao Secretário de Meio Ambiente de Monte Alegre, Francisco Carlos Carvalho de Lima, "Pirrique", por sua disponibilidade e pelas informações que nos prestou; A todos os funcionários e servidores da Prefeitura Municipal de Monte Alegre que contribuíram para a obtenção de dados para que esta pesquisa se concretizasse; Aos funcionários do NAEA, em especial às bibliotecárias pelas orientações técnicas; ao Albano Rita Gomes pela revisão final deste trabalho. Ao meu esposo, pela paciência e incentivo nos momentos difíceis vivenciados no decorrer da feitura deste trabalho, sem os quais, certamente, a finalização desta dissertação teria se tornado mais difícil; Aos amigos do PLADES 2006, Monaldo Begot, Betanha Barbosa, Cristina Amorim, Luciane Cristina, Ana Carolina Pimenta e a todos os colegas pelo compartilhamento do aprendizado. Ao professor Armin Mathis pelas contribuições dadas a esta investigação através das críticas elaboradas. A todos professores e professoras do curso agradeço imensamente! Devemos julgar um homem mais pelas suas perguntas que pelas respostas. Voltaire RESUMO Concebido originalmente no ano de 1985 como projeto e transformado em Programa em 1997, o Calha Norte tem sido um campo fértil para investigação no meio acadêmico, especialmente no campo da defesa e da segurança nacional. Embora realize seus objetivos de defesa através de investimento social e de obras de infraestrutura por meio de convênios realizados com os municípios da área do Programa Calha Norte (PCN), na fronteira amazônica, considerada estratégica para a defesa, detectou-se uma lacuna nos estudos vigentes, que não enfocam centralmente o PCN do ponto de vista de sua gestão. Este trabalho objetiva ampliar o debate acerca do PCN nesta direção, buscando compreendê-lo como um programa público, tendo como base a peculiaridade de ser gerenciado por militares no plano mais amplo e por civis no âmbito local. O trabalho analisa o processo de gestão e de implementação do PCN e suas ações de infraestrutura no município de Monte Alegre e como se dá a gerência e a fiscalização da aplicação dos recursos, principalmente com base no exame de documentos e em entrevistas realizadas com a gerência do PCN e com a coordenação de convênios desse município. Palavras-chave: Programa Calha Norte. Análise de Programa. Políticas Públicas. Defesa Nacional. Desenvolvimento. ABSTRACT „Calha Norte‟ was originally created in 1985 as a project and was transformed into a Program in 1997. It has been an excellent academic research field, particularly in the areas of defense and national security. The „Calha Norte‟ program (PCN) achieves its goals through social investments and infra-structure works executed within the framework of agreements signed with municipalities located inside the area covered by the program along the Amazon border, which is considered a strategic area for defense purposes. However, a gap has been detected in current studies, which do not approach PCN management issues as a central point. The goal of this work is to further enhance the debate on PCN towards that direction, aiming at understanding it as a public program based on the peculiar fact that it is managed by the military, in a broad sense, and by civilians at the local level. This work analyzes the management process and the implementation of PCN, as well as its infra-structure actions in the municipality of Monte Alegre, studying its management aspects and the monitoring of the use of funds, examining documents and interviews conducted with the PCN management team and with the persons responsible for the agreements made with the above mentioned municipality. Keywords: „Calha Norte‟ Program. Program Analysis. Public Policies. National Defense. Development. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Gráfico 1 - Recursos aplicados pelo Programa Calha Norte na Amazônia de 1986 36 a 2007 Quadro 1 - Diretrizes estratégicas do PCN por área 39 Mapa 1- Área atual de abrangência do PCN 47 Quadro 2 - Número de municípios por estado pertencentes ao PCN de 2003 a 2005 50 Quadro 3 - Estados e número de municípios pertencentes ao PCN no estado do Pará até 2008 50 Quadro 4 - Municípios paraenses pertencentes à área de abrangência do PCN até 51 o ano de 2008 Quadro 5 - Recursos repassados através de convênio entre o PCN e os estados e 52 número de obras realizadas (2007) Mapa 2 - Localização do município de Monte Alegre 68 Mapa 3 - Localização da Terra Indígena Paru d‟Este 70 Quadro 6 - Terras indígenas na fronteira norte 71 Quadro 7 - Grupos indígenas distribuídos em ambos os lados da fronteira entre o 71 Brasil e os países limítrofes Quadro 8 - Instituições e entidades com representação efetiva no PCN 77 Fluxograma 1 - Ciclo de avaliação do processo de gestão pública 78 Quadro 9 - Convênios realizados e valores repassados pelo PCN por estado no ano 2005 81 Fluxograma 2 - Etapas para elaboração de convênio com o PCN 80 Fotografia 1 - Setor de convênios da Prefeitura Municipal de Monte Alegre - PA 81 Quadro 10 - Convênios realizados e valores repassados pelo PCN por estado no 82 ano de 2006 Quadro 11 - Emendas parlamentares para o PCN no ano de 2005 84 Gráfico 2 - Recursos alocados na LOA para o PCN – vertente militar e civil (2000 a 2008) 84 Organograma 1 - Organização administrativa do MD 85 Organograma 2 - Estrutura organizacional do PCN 80 85 Quadro 12 - Convênios entre o Ministério da Defesa (PCN) e os municípios 87 paraenses (1997-2007) Quadro 13 - Convênios realizados entre o Ministério da Defesa e o município de 88 Monte Alegre no âmbito do PCN Fotografia 2 - Vista parcial da voçoroca, bairro Cuxari 88 Fotografia 3 – Erosão provocada por águas pluviais, bairro do Cuxari 88 Fotografia 4 - Drenagem, asfaltamento e sinalização de ruas no bairro do Curaxi 89 Fotografia 5 - Parte interior do terminal hidroviário de Monte Alegre - PA 89 Fotografia 6 - Parte externa do terminal hidroviário de Monte Alegre - PA 89 Fotografia 7 - Drenagem pluvial para esgotamento sanitário no bairro Terra Amarela, Monte Alegre - PA 90 Fotografia 8 - Asfaltamento e sinalização de ruas no bairro do Curaxi, Monte Alegre - PA 90 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Orçamento anual - Ministério da Defesa: dotação x despesa tipo: outras 57 despesas de custeio e capital (2007-2004) Tabela 2 - Orçamento anual - Ministério da Defesa: dotação x despesa tipo: pessoal 58 e encargos sociais (2007- 004) Tabela 3 - Despesas militares do Brasil de 1988 a 2007 59 Tabela 4 - População absoluta e densidade demográfica do Brasil por região (2007) 65 Tabela 5- População dos municípios do estado do Pará na área do PCN, para o ano 65 de 2000 Tabela 6- População dos municípios do estado do Pará na área do PCN, para o ano de 2007 66 Tabela 7 - Percentual de desmatamento na Amazônia entre 2007 e 2008 por estado 67 Tabela 8 - Indicadores demográficos do município de monte alegre comparados 72 com os indicadores do estado do Pará e do Brasil (2000 e 2004) Tabela 9 – Indicadores sociais do município de Monte Alegre - PA em comparação 73 com o estado do Pará e com o Brasil (2002 a 2005) Tabela 10 - Receitas municipais de Monte Alegre - PA (2002-2005) 73 Tabela 11 - Transferências constitucionais do ICMS, FPM, IPI, FUNDEF, IPVA (1995-2006) 74 LISTA DE SIGLAS CCPY – Comissão Pró-Yanomami CODELCO – Corporação de Cobre do Chile CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito CSN – Conselho de Segurança Nacional DMN – Doutrina Militar Nacional FA – Forças Armadas FPM – Fundo de Participação dos Municípios FUNAI – Fundação Nacional do Índio GT – Grupo de Trabalho IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis INCRA – Instituto de Colonização e Reforma Agrária ITERPA – Instituto de Terras do Pará LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias LOA – Lei de Orçamento Anual MD – Ministério da Defesa MEPE – Ministério Extraordinário de Projetos Especiais ONG – Organização Não-Governamental ONU – Organização das Nações Unidas PCN – Programa Calha Norte PDN – Política de Defesa Nacional PDS – Plano de Desenvolvimento Sustentável PEF – Pelotões Especiais de Fronteira PES – Planejamento Estratégico Situacional PF – Polícia Federal PIB – Produto Interno Bruto PIN – Programa de Integração Nacional PLAME – Plano de Metas PN – Planejamento Normativo POLAMAZÔNIA – Programa de Polos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia PPA – Plano Plurianual SADEN – Secretaria de Assessoramento de Defesa Nacional SAE – Secretaria de Assuntos Estratégicos SALTE – Saúde, Alimentos, Transporte e Energia SEPLAN – Secretaria de Planejamento SG – Secretaria Geral SIAFI – Sistema Integrado de Administração Financeira SIPAM – Sistema de Proteção da Amazônia SIPRI – Instituto de Investigação Internacional da Paz de Estocolmo GSIP – Gabinete de Segurança Institucional da Presidência SIVAM – Sistema de Vigilância da Amazônia TCU – Tribunal de Contas da União SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 15 2 PLANEJAMENTO, POLÍTICAS E PROGRAMAS: A CONEXÃO DO DESENVOLVIMENTO 21 2.1 A CONCEPÇÃO DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL PRESENTE NO PCN 2.2 A AMAZÔNIA NO CENTRO DAS POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO: A ÓTICA DO PODER CENTRAL 2.3 O PLANEJAMENTO E A INTERVENÇÃO DO PROGRAMA CALHA NORTE EM PERSPECTIVA HISTÓRICA NA FRONTEIRA NORTE 2.4 PLANEJAMENTO E IMPLEMENTAÇÃO DE PROGRAMAS NO BRASIL 29 3 34 ORIGEM E DESENHO INSTITUCIONAL DO PCN 3.1 JUSTIFICATIVA 36 3.2 OBJETIVOS E DIRETRIZES ESTRATÉGICAS 37 3.3 INDICADORES DE DESEMPENHO 4 O PCN COMO POLÍTICA PÚBLICA DE SEGURANÇA, DEFESA E DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL 4.1 A VALORIZAÇÃO DA DEFESA DA AMAZÔNIA E A NOVA POLÍTICA DE DEFESA NACIONAL (PDN) 4.2 A REGIÃO DO PCN E A IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA DE MONTE ALEGRE 5 O PROCESSO DE GESTÃO DO PCN 5.1 CONVÊNIOS: INSTRUMENTO DE IMPLEMENTAÇÃO DAS AÇÕES DO PCN 5.2 O GERENCIAMENTO DOS RECURSOS E A IMPLEMENTAÇÃO DO PCN EM MONTE ALEGRE 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS ANEXOS 43 15 1 INTRODUÇÃO O interesse em estudar Programas Públicos é algo recente no Brasil, especialmente quando se trata de um programa planejado e concebido por militares, ainda que tenha contado com a participação de outros ministérios comandados por civis. O PCN, produto da conhecida Exposição de Motivos nº 018/1985 da Secretaria Geral do Conselho de Segurança Nacional, orientada pelo Ministro-Chefe da Casa Militar, General Rubens Denys Bayma, o Programa Calha Norte (PCN) vem passando por modificações no que se refere à sua área de abrangência e também aos seus objetivos. Apesar de ter sido elaborado em julho de 1985, apenas em 1986, deu-se inicio a suas ações na região ao norte das Calhas dos rios Amazonas e Solimões, o que justifica o nome do programa. Originalmente sua área, se estendia das calhas desses rios até as fronteiras com a Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa, incluindo os Estados do Amapá, Roraima e partes dos Estados do Amazonas e Pará, num total de 74 municípios e de 7.413 km de linha fronteiriça. No estado do Pará 27 municípios fazem parte do Programa. O município de Monte Alegre é um dos mais antigos do PCN e um dos mais estratégicos para a defesa. Nele está localizada a maior parte da Área indígena Paru d‟Este1, cuja extensão é de aproximadamente 11.828 km², o equivalente a 690 km, pertencente ao grupo indígena Apalaí, Wayana2 espaço visado por garimpeiros e que faz fronteira com a Guiana Francesa. O PCN, portanto se sobressai, por exemplo, pela amplitude de alcance ao longo da fronteira brasileira ao Norte. No discurso dos militares, se constitui numa das ações mais visíveis do Estado, orientada para a manutenção e ocupação do espaço e da soberania nacional e da integridade territorial do espaço amazônico. Uma de suas principais propostas para alcançar esse objetivo é contribuir com a promoção do desenvolvimento regional da Amazônia com a realização de obras voltadas para saneamento básico, educação, saúde, urbanização, etc., isto é, execução de ações de infraestrutura. 1 Delimitada através do Decreto n. 958/93 de 04/02/91, localizada nos municípios de Almeirim, Alenquer e Monte Alegre, Pará. Faz fronteira com a maior área contínua de preservação do mundo, criada pelo governo do estado do Pará através do Decreto Estadual 2.610 de 04 de dezembro do ano de 2006. 2 Segundo Lopes (1994), hoje, os Aparai e Wayana estão distribuídos em três grupos territoriais definidos pelas vias fluviais: os do rio Paru de Leste, no Brasil, os do rio Litani, na Guiana Francesa e os dos rios Paloemeu e Tapanahony no Suriname. Essa "separação" resulta da história de contato vivida pelos dois grupos, onde em cada espaço geográfico passaram a ter um relacionamento particular com a sociedade envolvente. No entanto, isso não impediu que continuassem, até o presente, realizando trocas sociais, simbólicas e materiais, que passam fundamentalmente por laços de parentesco. No Brasil, a área por eles ocupada integra a subárea "Guiana Brasileira" da Área Cultural "Norte Amazônica" que em termos do território nacional, abrange o território do Amapá e a faixa setentrional do estado do Pará. 16 O PCN realiza essas obras nos municípios que abrange por meio da celebração de convênios, através dos quais libera os recursos para financiar os projetos objeto do convênio, caso seja aprovado. Com base nesse contexto a pesquisa procurou responder como se dá institucionalmente o processo de gestão e aplicação dos recursos do PCN, definido seus principais agentes e, ao mesmo tempo, analisando as ações em infra-estrutura resultante dos convênios firmados entre a prefeitura de Monte Alegre, no Baixo-Amazonas, e a gerência do Programa Calha Norte. O problema assim definido escapa da avaliação de resultados de programas na escala local; foge também da busca das motivações que levam a opção pelo município de Monte Alegre em comparação aos outros municípios localizados na fronteira do estado do Pará com o Suriname e que estão na órbita do PCN, o que, apesar do mérito da problemática, não se insere no âmbito do objetivo do presente estudo; sobretudo, a delimitação do escopo do problema a partir da gestão e aplicação dos recursos do PCN e análise das ações em infra-estrutura resultante dos convênios, evita uma análise dos possíveis conflitos latentes ou abertos provocado pelo desenho institucional das regras que regulam o jogo entre os agentes interessados na feitura dos convênios entre as prefeituras e a gerência nacional do PCN. Nesse sentido, as evidências extraídas de pesquisa exploratória sobre o tema nos leva a inferir que o modelo de gestão executado pela gerência do PCN que obedece a critérios claros para a acessibilidade de propostas de convênios com prefeituras, prioriza a dimensão técnica na concretização das parcerias e utiliza seu quadro técnico para exercer a fiscalização necessária para o cumprimento dos prazos e lograr desempenho eficiente na execução do programa. Esta hipótese poder ser verificada no município de Monte Alegre, onde identificouse o maior número de convênios para a implementação de ações voltadas para obras de infraestrutura. O objetivo norteador do trabalho no plano mais geral é compreender o PCN como um programa público, tendo como base a peculiaridade de ser este programa gerenciado por militares no plano mais amplo e por civis no âmbito local. Especificamente objetiva-se: 1) Analisar o processo de gestão e de implementação 3 do PCN; 2) Mostrar o PCN como resultado da valorização da defesa da Amazônia, reforçada pela nova PDN, na visão dos militares; 3) Identificar os requisitos exigidos para a realização de convênios com o PCN/MD; 3 Para Arretche (2001, p. 15) a implementação é um conjunto complexo de relações entre formuladores e implementadores, e entre implementadores situados em diferentes posições na máquina governamental. Em princípio, as vontades, os interesses, as lealdades e as concepções ideológicas destes diversos atores dificilmente serão inteiramente coincidentes. 17 4) Identificar as ações do PCN em Monte Alegre e como se dá a gerência e a fiscalização da aplicação dos recursos. Metodologia A investigação realizada teve como objeto de estudo a implementação do PCN no município de Monte Alegre. O método de procedimento é o estudo de caso, uma vez que a problemática em foco é um fenômeno contemporâneo, devidamente inserido na vida real (YIN, 2001, p. 19). A metodologia obedeceu às etapas descritas por Boni e Quaresma (2005, p. 70) que consideram que o ponto de partida de uma investigação científica deve basear-se, num primeiro momento, em: levantamento de dados e pesquisa bibliográfica. Num segundo momento, o pesquisador deve realizar uma observação dos fatos ou fenômenos para que ele obtenha maiores informações e num terceiro momento, o pesquisador deve fazer contatos com pessoas que possam fornecer dados ou sugerir possíveis fontes de informações úteis. A base da metodologia foi qualitativa e quantitativa. Na primeira tipologia considerou-se que o número de sujeitos a ser definidos para as entrevistas dificilmente pode ser exato a priori. O que define a quantidade de sujeitos é, de fato, a qualidade das informações que se consegue obter. No caso desta pesquisa escolheu-se os sujeitos em razão de sua importância estratégica acerca da gestão e da implementação do PCN, portanto o fator determinante foi a qualidade das informações e não a quantidade. A segunda tipologia metodológica se tornou relevante no momento da análise dos dados orçamentários do PCN e dos municípios. Parte dos dados quantitativos estava disponível na internet em órgãos oficiais como o IBGE, MD, TCU etc. Método de abordagem e estratégias de pesquisa A análise do objeto se valeu da abordagem dedutiva e indutiva, relevante para o processo de construção do conhecimento, uma vez que é capaz de penetrar nas especificidades da realidade, possibilitando uma apreensão mais completa acerca do objeto de investigação que consiste na [...] análise que reencontra o concreto através da abstração segue também um duplo movimento, que vai do todo às partes, elementos, aspectos, mediante a captação da origem interna dessas diferenças. Nesse duplo movimento, o conhecimento apreende, analisa e, em seguida, reencontra racionalmente o concreto, o real em seu movimento e seu desenvolvimento, em sua vida (KOCKA, 1977, p.36). 18 O método de procedimento investigativo obedeceu às seguintes estratégias: Exploratória; de campo, análise e tratamento do material; elaboração dos capítulos. Utilizouse também as técnicas de Observação Direta intensiva por meio da técnica de entrevistas não estruturadas que ajudaram na composição do Banco de Dados e se fizeram necessárias porque os relatórios, diagnósticos e outros documentos existentes sobre o município de Monte Alegre e sobre o PCN, não foram suficientes para esclarecer as dúvidas e para responder a questão fundamental da investigação. Fontes Parafraseando Yin (2001, p. 105), um estudo de caso requer fontes de evidências e, dessa forma, a coleta de dados pode se basear em diversas dessas fontes, dentre as quais destaca: documentação, registros em arquivos, entrevistas, observação direta, observação participante e artefatos físicos. A estratégia de pesquisa utilizada compôs-se de levantamento da literatura relacionada ao PCN, na fase exploratória e pela pesquisa de campo dividida em duas etapas4: na primeira etapa, realizada em Brasília, na Sede do PCN, entrevistou-se o Gerente do PCN Cel. Roberto de Paula Avelino e se optou pela técnica da entrevista não-estruturada, sem nenhuma pergunta pré-determinada, deixando o interlocutor motivado a falar livremente sobre o programa investigado. Esta etapa foi fundamental para identificar as impressões discursivas, (embora a análise do discurso não seja aqui utilizada como opção metodológica) sobre a relevância desse programa para a segurança e defesa da Amazônia e sobre a gestão e fiscalização da aplicação dos recursos. A segunda etapa foi realizada no município de Monte Alegre - PA, utilizando-se um roteiro de entrevista, aplicado ao Diretor do Setor de Convênios, ator diretamente envolvido no processo de gestão do PCN, uma vez que não foi possível entrevistar o prefeito municipal, mas conversamos com sua assessora que nos encaminhou a esse setor. Considera-se que esta limitação não prejudicou a obtenção das informações pretendidas. Pelo contrário, observou-se que o ator indicado era a pessoa chave 4 Ambas as etapas foram desenvolvidas no âmbito do Projeto Consórcio Forças Armadas Século XXI (CFAS21), coordenado nacionalmente pelo Prof. Dr. Celso Castro da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e regionalmente pelo Prof. Dr. Durbens Martins Nascimento (NAEA/UFPA). As entrevistas foram feitas por mim e pelo Prof. Durbens, porém cada pesquisador direcionou as perguntas para o tema de sua pesquisa. O dele “Forças Armadas e o PCN em Santarém e Oriximiná” e o meu, Gestão do PCN e suas ações em Monte Alegre - PA. 19 no município para o fornecimento de informações sobre a realização de convênios com o PCN e a gestão dos recursos oriundos do programa para o município de Monte Alegre. Ainda que não seja o corolário deste trabalho a relação civis-militares, percebe-se necessária, ainda que residualmente abordá-la, dado que o PCN possui perfil interministerial, mas é comandado por militares. A relevância disso se percebe dada a especificidade de esse programa ser gerenciado por militares e de outro lado ser executado por civis, no âmbito municipal. O campo teórico-metodológico alicerça-se nas Ciências Sociais, dada a exigência de natureza multidisciplinar exigida pelo objeto, ainda que a Ciência Política seja o marco principal da análise, que se tangencia mais para as políticas públicas. É inegável que qualquer objeto de investigação possa ser analisado do ponto de vista das políticas públicas, mas abordar o PCN considerando-as como central para entender esse programa do ponto de vista do processo de gestão é o diferencial que se apresenta nesta investigação, ou seja, conhecer o PCN endogenamente, não somente a partir de uma visão de que ele seja relevante para a defesa e para a segurança. O trabalho, também incorpora essa questão, inclusive levando em consideração a nova Política de Defesa Nacional (PDN) como marco legal que veio reforçar os objetivos do PCN em relação a sua importância estratégica para a Amazônia. O PCN é, portanto, apresentado como política pública de defesa, segurança e de desenvolvimento regional. Isso responde em parte à questão de que e como se constitui o programa, uma vez que é composto de ações voltadas para a defesa, segurança e para o desenvolvimento regional. Contudo para que ele atinja plenamente esses objetivos é preciso que o processo de gestão e de fiscalização seja capaz de evitar e corrigir eventuais falhas ou má aplicação dos recursos. A pesquisa realizada não tem o intuito de mensurar graus de eficiência, eficácia, efetividade e impacto, alcance de metas, etc. Optou-se por analisar o processo de gestão e as ações implementadas no município de Monte Alegre, no estado do Pará, mostrando a cobertura do programa e a população-alvo que está sendo atendida, buscando acompanhar seus processos internos. Enquadram-se nessa perspectiva, programas, segundo Figueiredo e Figueiredo (1986), que não visam nenhuma mudança entre o presente e o futuro, nenhuma alteração na estrutura social dos beneficiados. O eixo central do modelo de análise tem em vista a identificação dos objetivos do programa; a consistência da definição de suas metas e meios; a análise das relações causais que implícita ou explicitamente o programa adota; o desenho organizacional estruturado para viabilizar as ações planejadas; os pontos fortes e fracos da estratégia na busca de apoio e suporte político, interno e externo à organização, para garantir a sua implantação. O resultado dessa análise é a reconstituição da estratégia de 20 implementação dos programas, desde seu desenho inicial até sua configuração mais recente. Este módulo procura ainda retratar e analisar: atribuições, distribuição e hierarquia dos órgãos; matrizes e fluxos decisórios; legislação e recursos disponíveis (organizacionais, financeiros, tecnológicos, físicos e humanos) (SILVA; COSTA, 2002). Apesar de esse trabalho ter beneficiado do uso de entrevistas, não se utilizou análise do discurso, uma vez que não se objetivava analisar o significado do discurso dos sujeitos militares, civis. Por isso a análise do discurso não é a base metodológica da pesquisa, haja vista que o objeto do trabalho centra-se na análise da implementação do PCN. Isso não quer dizer que não haja uma crítica dos discursos presentes na análise do PCN. Embora a pesquisa tenha como foco o município de Monte Alegre, o fato de o PCN ser um programa nacional, a análise busca a transversalidade do central com o local e vice-versa. A discussão entre as escalas local (feita com o município), regional (bancadas, que tiveram papel importante elaborando emendas ao orçamento do PCN) e nacional (MD). Esses propósitos serão demonstrados em consonância com os objetivos deste trabalho, da seguinte forma: o primeiro capítulo é esta Introdução onde são apresentados os objetivos, o problema, a metodologia e uma síntese dos capítulos deste trabalho. O segundo capítulo apresenta uma discussão sobre o arcabouço teórico utilizado, com destaque para a reflexão e a conexão entre planejamento, políticas públicas e implementação de programas, e enfatizando a concepção de desenvolvimento pensada tradicionalmente para a Amazônia, inclusive pelos militares o que está na base das diretrizes políticas do PCN. Esse capítulo, ao mesmo tempo, será o suporte indispensável para definir o PCN como programa de Segurança, Defesa e Desenvolvimento. O terceiro relata sucintamente a origem, o desenho institucional e a trajetória do PCN, explicitando suas características (objetivos, diretrizes estratégicas e ações), que subsidiam sua gestão e implementação, mostrando seus indicadores de desempenho. O quarto mostra como este programa se define como política pública de segurança, defesa e de desenvolvimento regional, destacando o PCN como conseqüência da política de valorização da Amazônia ratificada na nova PDN. A região do PCN é também apresentada neste capítulo, do ponto de vista do seu valor estratégico. Em particular dá-se ênfase ao município de Monte Alegre - PA. O quinto descreve o processo de gestão do PCN, como se dá o gerenciamento e a fiscalização da aplicação dos recursos do PCN, mostrando as ações do PCN realizadas no município de Monte Alegre; o sexto são as conclusões do trabalho. 21 2 PLANEJAMENTO, DESENVOLVIMENTO POLÍTICAS E PROGRAMAS: A CONEXÃO DO Este capítulo objetiva estabelecer o arcabouço teórico utilizado, com destaque para a reflexão e a conexão entre planejamento, políticas públicas e implementação de programas, e enfatizando a concepção de desenvolvimento presente no PCN a qual está na base das diretrizes políticas do PCN. Esse capítulo, ao mesmo tempo, será o suporte indispensável para entender que o PCN não se define apenas como programa de caráter militar, caracterizando-se como política pública tridimensional nas áreas de Segurança, Defesa e Desenvolvimento. 2.1 A CONCEPÇÃO DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL PRESENTE NO PCN As políticas regionais de desenvolvimento no Brasil, como narram Diniz; Crocco (2006, p. 10) do ponto de vista teórico podem ser divididas em três momentos distintos: o primeiro baseado na teoria keynesiana, influente durante os anos de 1950 e 1960. Esta corrente de pensamento coloca em xeque a capacidade de auto-regulação do mercado, em especial o de trabalho, o que exigia a intervenção do Estado na economia. Mais do que isso arrematam os autores Esta concepção macroeconômica mais geral influenciou várias interpretações teóricas acerca do desenvolvimento regional e das políticas necessárias para combater os desequilíbrios existentes. Tais teorias postulavam que o desenvolvimento de uma região estaria condicionada pela posição ocupada por esta região em um sistema hierarquizado e assimétrico de regiões, cuja dinâmica estava em grande medida fora da região. Está era a perspectiva que estava presente nas teorias de centro-periferia e da dependência e modelos de causação cumulativa (MYRDAL, 1957; KALDOR, 1957; HIRSCHMAN, 1958, p. 11). Além de estar presente nessas teorias do desenvolvimento regional, a proposta de Keynes exerceu influencia na ideia de Polos de Crescimento5. Há ainda algo mais central da teoria keynesiana para o desenvolvimento regional, qual seja: a necessidade de intervenção estatal para a superação dos desequilíbrios regionais. O segundo, predominante na década de 1970 e 1980, diz respeito ao enfoque teórico da competitividade, cujos teóricos defendiam o inverso da concepção keynesiana, isto é: o mercado possui mecanismos capazes de garantir o crescimento econômico a longo prazo, de forma sustentada. Para isso era preciso melhorar as condições de oferta, flexibilizando o 5 A proposta dos Polos de Crescimento implantados no Brasil era instalar uma indústria motriz nas regiões mais atrasadas para estimular o desenvolvimento da região. Como exemplo disso tem-se como resultado o POLAMAZÔNIA, POLOTAPAJÓS, POLONOROESTE, etc. 22 mercado de trabalho, reduzindo os encargos das empresas. O foco principal desse modelo é a “ênfase na competitividade, mensurada na inserção internacional, como elemento central do desenvolvimento” (DINIZ; CROCCO, 2006, p. 14). O terceiro, já na década de 1990 supera a aparente oposição entre políticas de desenvolvimento endógeno e exógeno. O argumento norteador desse modelo, ou terceira geração é que a racionalidade sistêmica na utilização dos recursos é mais importante que o aumento deles. Este modelo passa a dar valor a outras variáveis, não econômicas, para o desenvolvimento regional como a cultura, conhecimento, ou seja, aspectos institucionais formais e informais. No Brasil, conforme assinala Cano (1985) duas vertentes teóricas direcionaram esse debate acerca do regionalismo: a Regional Science e a cepalina. Esta, como se sabe foi a escola teórica que prevaleceu não apenas no Brasil como na América Latina de um modo geral. Mostrou-se inadequada à nossa realidade uma vez que seu principal problema teórico consistiu em que a concepção centro-periferia só é válida quando aplicada ao relacionamento entre Estados-Nações politicamente independentes, e não entre regiões de uma mesma nação como defendiam os cepalinos. Ainda segundo a análise de Cano (1985) o regionalismo brasileiro faz parte da história política e social do Brasil, tendo se manifestado, sobretudo, nos movimentos revolucionários regionais do século XIX, pelo debate parlamentar desde o Império; pela vasta produção literária e, já em fins do século passado, pelo agravamento do problema das secas do Nordeste (CANO, 1985, p. 21). Entretanto, destaque maior foi dado a esse problema a partir de fins dos anos de 1950, no segundo governo de Getúlio Vargas. Além da criação da SUDENE, em 1953 foi criada a Superintendência do Plano de Valorização da Amazônia (SPVEA), em 1966 transformada em Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM). Para isso criou-se também um sistema de incentivos fiscais, basicamente centrado na isenção total ou parcial do imposto sobre a renda, (CANO, 1985, p. 25) para subsidiar essas ações governamentais nessas regiões. A tentativa de [...] transplantar para o marco regional uma política cepalina de substituição de importações referida ao marco nacional, tentando compensar, precariamente, através de incentivos fiscais, a inexistência de fronteiras políticas regionais lastreadas por dispositivos alfandegários ou fiscais protecionistas ao Nordeste (CANO, 1985, p. 26). Apesar dos esforços feitos com base nesse modelo, aponta-se tal tentativa como um dos maiores equívocos dessa política intervencionista. O resultado disso dispensa qualquer comentário mais aprofundado. 23 2.2 A AMAZÔNIA NO CENTRO DAS POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO: A ÓTICA DO PODER CENTRAL Além do Nordeste, a Amazônia foi palco dessa intervenção por meio de diversos planos governamentais direcionados a seu processo de ocupação e de uso de seu território. Não se pode considerar menos importante enfatizar o fato de que historicamente, as questões relativas à segurança e à defesa nacionais estão interligadas às estratégias de desenvolvimento da Amazônia Brasileira. Prova disso encontra-se na recente história do país, principalmente no segundo governo de Getúlio Vargas, que inaugurou diversas ações voltadas para o desenvolvimento regional da Amazônia, inclusive do ponto de vista do fortalecimento institucional do Estado na região. Isso não significa que os resultados dessa política tenham se manifestado de forma inteiramente positiva. Nesse contexto merece destaque além da criação de instituições como a SPVEA, o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDE), e autarquias como o Banco Nacional de Crédito Cooperativo, o Instituto Nacional de Imigração e Colonização, dentre outras cuja finalidade era incentivar o desenvolvimento agrícola e a colonização do país. Independentemente das conseqüências intencionais ou não intencionais da política de desenvolvimento varguista, o fato é que ela lançou as raízes para a era desenvolvimentista do governo de Juscelino Kubitschek (JK), influenciando os governos militares até o ano de 1980. No governo de JK o Plano de Metas era o documento síntese dos compromissos desenvolvimentistas do governo. Entretanto, o grande desafio era e continua sendo elaborar políticas públicas para o desenvolvimento baseado na ideia de modernização e de eliminação dos obstáculos ao desenvolvimento das regiões menos desenvolvidas do país. No que se refere aos governos militares, há, contudo uma reflexão necessária acerca das ideias de desenvolvimento que os orientaram. Além da influência cepalina no modelo de desenvolvimento adotado no Brasil, convém ressaltar o pensamento de (1967, p. 74), talvez o mais célebre dos autores presentes no pensamento militar da época. As ideias de Golbery priorizam a geopolítica interna, defendem a incorporação efetiva e a vitalização de todo o amplo domínio brasileiro. Em sua visão do território nacional o núcleo central de desenvolvimento era a região sudeste, existindo, segundo ele, três “penínsulas” onde o desenvolvimento estaria presente em menor grau: as regiões sul, centro-oeste e nordeste, e uma imensa região ilhada das demais, na qual o desenvolvimento não se daria de modo automático na região amazônica, que necessitaria de um projeto de integração, que segundo Tílio Neto (2003, p. 104-105, 108) consistia no fortalecimento das três regiões centrais, para 24 posteriormente inserir a região amazônica. O entendimento do General Carlos de Meira Mattos, por outro lado, também se sobressai nesse campo atinente à geopolítica brasileira. Este era defensor de que a Amazônia fosse prioritária no processo de integração, ou melhor, a Pan-Amazônia, uma vez que em seu pensamento concebia a Amazônia brasileira e as demais Amazônias (Equador, Colômbia, Peru, Bolívia, Venezuela, Suriname, Guiana), dos países que fazem fronteira com o Brasil, como parte da estratégia de segurança de desenvolvimento da região. As abordagens de Meira Mattos acerca da integração da Amazônia se classificam em três: uma delas se daria pelo rio amazonas e seus diversos afluentes; outra se daria por terra, descendo do Planalto Central à Amazônia. Cabe ressaltar que os Planos de Desenvolvimento elaborados para a Amazônia, a partir dos anos 60, se pautavam nessa ideia, portanto vê-se aqui um exemplo da influência que o General Meira Mattos, exerceu sobre o projeto desenvolvimentista dos governos militares. Ainda sob sua ótica, identifica-se uma última abordagem acerca desse assunto, a de que a integração se daria por meio de uma frente fronteiriça que vai de Roraima a Rondônia. Essa frente faz fronteira com a Guiana, Peru, Venezuela, Colômbia e com a parte norte da Bolívia. Isso demonstra que tal proposta seria indispensável para a integração das diversas Amazônias, para Golbery e para o desenvolvimento de uma Pan-Amazônia. Esse conjunto de ideias externas e internas como já se debateu inicialmente embasaram o contexto de planejamento e de concepção do PCN, embora ele possua suas origens nos anos de 1980. Não obstante esse programa seja voltado para a Amazônia, no que se refere à Segurança e desenvolvimento na região ao norte das Calhas dos rios Solimões e Amazonas ele distoa do modo como as demais políticas voltadas para a Amazônia foram pensadas e construídas, uma vez que não fora propiciada a participação de uma gama de especialistas de diferentes áreas do conhecimento, nem mesmo de instituições como o BASA, a Sudam e a Suframa, como outrora. O PCN foi elaborado em caráter de sigilo pelo Conselho Nacional de Segurança e por um grupo de trabalho interministerial restrito formado pela SEPLAN, MRE e MINTER. Não cabe aqui discutir acerca do caráter democrático ou autoritário do PCN, entretanto importa ressaltar aspectos ideológicos das políticas voltadas para a Amazônia que o antecederam. Prevaleceu no programa a intenção de se apresentar um Plano de Desenvolvimento da Região com a justificativa de “sua efetiva integração no contexto nacional”, portanto, nota-se que a concepção presente no PCN é a da integração nacional e o desenvolvimento regional como fatores relevantes para a segurança e para a defesa nacional. Ou seja, o desenvolvimento para os militares é visto sob outra ótica. Não se enquadra por 25 exemplo na ideia de promover o desenvolvimento para diminuir as desigualdades sociais, em estrito senso. O desenvolvimento pregado no PCN seria, para se reportar a Max Weber uma racionalidade entre meios e fins (desenvolvimento = segurança e defesa da região amazônica). 2.3 O PLANEJAMENTO E A INTERVENÇÃO DO PROGRAMA CALHA NORTE EM PERSPECTIVA HISTÓRICA NA FRONTEIRA NORTE O PCN como política governamental representa uma mudança pontual no plano do discurso e das ações estatais sobre a Amazônia no momento em que o país, segundo Lourenção (2007, p. 81), era pressionado internacionalmente a abandonar o predominante modelo de desenvolvimento gerador de uma ocupação desordenada que agravara as tensões sociais, em particular no campo, agressivo aos recursos naturais e às populações locais, sobretudo às indígenas. Entretanto, o PCN preservou o objetivo da integração da Amazônia aos outros centros mais desenvolvidos do país, porém a partir de uma lógica diferente daquela presente na concepção de desenvolvimento anterior pautada na ocupação humana incentivada por mega programas de colonização e de infra-estrutura. O modelo de fomento ao desenvolvimento e à defesa nacional do PCN baseia-se na presença estatal na região amazônica através de ações voltadas para a realização de obras básicas de infra-estrutura nos municípios da Calha Norte. Como se vê o programa intenciona incentivar o desenvolvimento e contribuir com a integração regional, baseada na substituição do conceito de polarização pelo de eixos de integração. Este conceito, de acordo com Lemos (2006, p. 188) privilegia a logística da infra-estrutura de transportes A mudança de paradigma não é menos importante no que tange às formas de planejar o desenvolvimento regional e local na Amazônia O PCN, embora num contexto diverso daquele em que se tentou aplicar as teorias desenvolvimentistas de origem cepalinas no Brasil, constitui-se no aprimoramento da ideia de que política de desenvolvimento entrelaça-se à questões de defesa e de segurança na Amazônia, do ponto de vista dos militares. Uma das diferenças cruciais entre a concepção militar daquela época e a do momento presente, reside no fato de que naquele contexto as funções militares se confundiam com as de governante (civis) enquanto que no estágio atual da política brasileira, há uma clara definição entre o papel dos civis e o dos militares, demarcados pela Carta Magna vigente. As ações estatais que recaíram sobre o espaço amazônico marcado pela intervenção fundamentada em planos (Planos de Metas, PIN, POLAMAZÔNIA e outros) inspirados na 26 teoria cepalina e cuja finalidade era a ocupação e a integração da Amazônia, fator considerado essencial para a segurança nacional, expressa no slogan “Integrar para não entregar”. O desenvolvimento, portanto estava na ordem do dia. Passada esta fase que se enquadra no período pré-democratização, esse tema continuou sendo relevante, entretanto os estudos se pautavam mais na crítica ao fracasso dos planos de desenvolvimentos e em suas conseqüências para a Amazônia, com enfoque especial para a ocupação desordenada que se deu em lugar do grande vazio demográfico de outrora. Recentemente, depois do ano de 1992, já no período de consolidação democrática do Brasil e sob a influência da RIO 92, os estudos cujo enfoque central era o desenvolvimento passaram a incluir uma nova vertente e um novo conceito que agora se acresce ao termo desenvolvimento – a palavra sustentável. A necessidade de interligar políticas públicas de desenvolvimento e política e estratégia de defesa e de segurança nacional pode ser atribuída à desconfiança dos militares em relação á eventual “ameaça” estrangeira ao território brasileiro, especialmente à Amazônia, embora os interesses internacionais pela Amazônia tenham raízes seculares. De outro modo, pode-se dizer que a PDN para ser posta em prática se alicerça num conjunto de políticas públicas, inclusive as de cunho desenvolvimentista. E isso não é uma peculiaridade apenas da Nova PDN. As políticas públicas de desenvolvimento voltadas para a Amazônia como se viu possuem uma intrínseca relação com a segurança nacional seja no período áureo da política desenvolvimentista nas décadas de 50 a 70, seja no período pósredemocratização brasileira, vide Programa Calha Norte (1985). No final da década de 60 (1966) ganhou destaque a conhecida Operação Amazônia, uma marca do período militar, cuja finalidade era desenvolver a Amazônia por meio de investimentos e de incentivos à ocupação territorial, atendendo assim ao discurso de segurança nacional que tinha como uma de suas principais metas, preencher o que equivocadamente se denominou de vazio demográfico (baixa densidade demográfica). A PDN se consolida, além outras coisas como uma estratégia continuada de valorização da Amazônia, haja vista que a estabelece como prioridade. O planejamento público no Brasil teve suas origens com o Plano SALTE, em 1947 no governo de Eurico Gaspar Dutra. Ele incluía as áreas de saúde, alimentação, transporte e energia. Entretanto, somente após o governo de JK (1956-1961) foi possível falar acerca do planejamento governamental do desenvolvimento, no qual se destaca o Plano de Metas (PLAME), cuja experiência até então é reconhecida como uma das mais eficazes em matéria de planejamento no Brasil (TEIXEIRA, 1997, p. 16). Depois desse período, notou-se uma profunda crise em relação ao planejamento não apenas no Brasil como na América Latina como um todo. Ela tem ligação direta com o que alguns autores denominam de crise de teoria 27 e de paradigma que atingira a economia e o planejamento (normativo-tradicional), que se baseava nos paradigmas econômicos, logo fora atingido no seu cerne. Há, contudo, pós o período de redemocratização e de superação do paradigma econômico como alicerce do planejamento governamental, uma tentativa de se ultrapassar a crise do planejamento inserindo nele novas variáveis além das econômicas, como variáveis sociais, ambientais e, sobretudo democráticas (planejamento participativo). O fato é que, a partir dos anos de 1970 e posteriormente com a introdução do planejamento na Carta Constitucional de 1988, este tornou-se um processo corriqueiro para qualquer governante. Entretanto cabe ressaltar que alguns governos o vê como uma mera norma legal, enquanto outros os transformam em instrumento, mais dinâmico e democrático. O planejamento já não era mais tão visto como um instrumento técnico, e deveria ser um instrumento político, mas nem tanto de advocacy, e sim para moldar e articular os diversos interesses envolvidos no processo de intervenção de políticas públicas. (OLIVEIRA, 2006, p. 284). Em 1988 com a Reforma Constitucional foi instituído o Plano Plurianual (PPA), considerado o maior instrumento de planejamento de médio prazo do governo brasileiro. Há, recentemente, maior flexibilidade no processo de planejamento governamental. O planejamento Estratégico-Situacional (PES) é um exemplo da mudança de paradigma que ocorreu nesse processo de crise. Matus (1993) cita quatro momentos no processo do planejamento situacional: explicativo, normativo, estratégico e o tático- operacional. No primeiro momento (M1) é necessário explicar a realidade à nossa volta; No segundo (M2) explica-se os fundamentos que justificam a escolha do desenho escolhido para esse momento e por que não outros; No terceiro, explica-se a viabilidade do desenho escolhido bem como a explicitação das dificuldades surgidas; No quarto momento deve-se explicar como serão executadas as ações. O planejador realiza o seu cálculo situacional em diferentes horizontes de tempo. A articulação entre o cálculo situacional imediatista e o cálculo situacional de futuro, articulado e sistemático, é o que Matus chama de planejamento sem adjetivos (1997, p. 24-25). Na mesma linha de pensamento de Matus, Oliveira (2006, p. 279) define quatro tipos de planejamento: primeiro, o tradicional, que tende a assumir um caráter estático e o planejamento está propenso à centralização, mesmo tendo a possibilidade de ser revisto com regularidade. Segundo, o planejamento estratégico, que se caracteriza por objetivar “um processo contínuo e sistemático de tomada de decisões, em que os planos são permanentemente revistos conforme as circunstâncias” (OLIVEIRA, 2006, p. 280). Sua 28 evolução é que indica a necessidade de eles serem ou não revistos, não um cronograma técnico pré-determinado. No processo de desenvolvimento desse tipo de planejamento, destacam-se pelo menos seis etapas: a) definição da missão da organização; b) análise do ambiente externo (oportunidades e ameaças às organizações); c) análise interna (pontos fortes e pontos fracos); d) desenho das estratégias para atingir os objetivos; e) avaliação e comparação das estratégias para identificar as mais adequadas para os objetivos; f) execução, avaliação e controle (identificação e acompanhamento das decisões e possíveis revisões das mesmas). Na avaliação de Teixeira (1997, p. 18) a diferença entre o PES e o Planejamento normativo (PN) – tradicional é que o primeiro tem como foco os problemas públicos e tem como cerne as variáveis econômicas, sociais e políticas e institucionais. Não se restringe exclusivamente ao mercado por não ser fundamentado no planejamento empresarial, dificilmente aplicável à realidade governamental. No âmbito legal, além do PPA, o planejamento governamental no Brasil é estabelecido também com base nas Leis de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e na Lei Orçamentária Anual (LOA). Em alguns casos estes instrumentos tornam-se as únicas formas de planejamento pelos governantes, embora Estados como o Rio Grande do Sul, Ceará os utilize apenas como base para a construção de um planejamento mais amplo e democrático, o que os tem tornado modelo na área de planejamento participativo (BANDEIRA, 1999). Ainda que haja esforços neste sentido, é preciso aproximar a relação entre planejamento governamental e políticas públicas “conjunto de ações emanadas pelo Governo, com o objetivo de atender a todos os anseios e aspirações de uma sociedade, bem como os instrumentos que se empregam com o objetivo de alcançá-los.” (WATSON, 1965 apud SANTANA, 1986, p. 6), não somente no que tange à alocação de recursos para áreas específicas. É imprescindível planejar a partir das demandas surgidas em políticas públicas nas diversas áreas (Mapa 1), traçar quais serão as estratégias necessárias para atender tais demandas, para na seguinte fase solicitar os recursos necessários para a implementação das políticas públicas necessárias planejadas. Alocar recursos com base em distribuição técnica sem um planejamento prévio pode tornar inviável a elaboração e implementação de políticas públicas indispensáveis à sociedade. 29 2.4 PLANEJAMENTO E IMPLEMENTAÇÃO DE PROGRAMAS NO BRASIL A relação entre planejamento e a implementação de programas no Brasil, conforme assinala Oliveira (2006, p. 273) foi tardiamente reconhecida, dado que os estudiosos de Políticas Públicas priorizavam uma postura tradicional da Ciência Política, cujo enfoque central dava-se em torno do processo legislativo e administrativo do Executivo, partidos, eleições etc. Não que esses enfoques não tenham a ver com planejamento e políticas públicas, apenas eram e em muitos casos, ainda são, abordados de maneira dissociada dessas questões. Há, por exemplo, uma vasta literatura na Ciência Política que trata dos modelos de análise de políticas públicas no Brasil. Neste sentido, Levy et al. (1980) mostram referências a modelos de análise de políticas públicas no Brasil a partir da década de 1980, que revelam matrizes teóricas, que mesmo após 20 anos continuam sendo muito utilizadas, dada sua eficiência. Urge refletir sobre a abordagem de cada um deles partindo de suas peculiaridades, convergências e divergências. Santana (1986) faz uma revisão dos principais modelos de análise, dentre os quais: teorias de sistemas; teoria das elites; teoria de grupo; teoria racional; incrementalismo, institucionalismo. Segundo a teoria de sistemas a política pública é um produto do sistema político. Para transformar as demandas sociais em resultados, “o sistema deve formular decisões e fazê-las cumprir em relação às partes interessadas” (SANTANA, 1986, p. 13). Para a teoria da elite “a política pública pode ser analisada sob o prisma das preferências e valores da elite governante” (SANTANA, 1986, p. 14). Não se considera a ideia de demanda social influenciando na elaboração de políticas públicas, uma vez que estas surgem de cima para baixo, excluindo a importância das massas. A teoria dos grupos parte da premissa de que a política pública resulta do equilíbrio entre os grupos interessados. Desse modo, “a política pública se orientará na direção desejada pelos grupos que ganham influências e se afastará dos anseios dos grupos que perdem influência e poder” (SANTANA, 1986, p. 17). A teoria racional preocupa-se com a eficiência da política. Interessa aos racionalistas “se a proporção entre os valores que ela alcança e os que ela sacrifica é positiva e superior a qualquer alternativa política” (SANTANA, 1986, p. 19). Para o modelo incremental a política pública representa a continuidade das atividades de governos anteriores, com algumas adaptações, acréscimos ou cortes, o que não muda seu cerne. 30 Já o institucionalismo, defende a ideia de que a política só se transforma em política pública, quando adotada, implementada ou imposta por uma instituição governamental. É esse tipo de instituição a responsável por colocar o Estado em ação através do processo de planejamento público e da elaboração e implementação de políticas públicas seja por meio de programas ou de projetos. Em particular, este enfoque é prioritário aqui. É central na análise de modelos de análise de políticas públicas realizada por Santana (1986) a importância do processo decisório que precede esse tipo de política, bem como a relevância dos esquemas de financiamento para se definir que tipo de política pública será formulado, uma vez que eles influenciam nas preferências, portanto, na tomada de decisões. Ao lado disso, a presença de categorias como eficiência e relação custo benefício demonstra um viés economicista no pensamento do autor, embora ele mesmo reconheça a limitação da economia para a análise das políticas públicas, daí a necessidade de ampliar para outros tipos de análise que vão além da área econômica. Figueiredo; Figueiredo (1986) no que tange a essa temática fazem uma referência muito aproximada da que fez Santana. Eles apresentam uma análise sistemática da bibliografia especializada sobre a avaliação de políticas públicas e dos estudos de avaliação de políticas sociais no Brasil. A abordagem era considerada atual para o contexto e época em que escreveram. De modo mais evidente, as políticas públicas, tradicionalmente são estudadas baseadas na tomada de decisões, o que pressupõe o envolvimento dos fatores que as influenciam e as características desse processo (SANTANA, 1986). Por outro lado, Figueiredo; Figueiredo (1986) detêm-se mais especificamente nos modelos analíticos de avaliação de políticas públicas. A análise desses autores é mais concentrada na relação entre os objetivos da avaliação, os critérios da avaliação e os modelos analíticos capazes de responder, sobretudo se as políticas foram eficazes para a resolução dos problemas que se propunham a resolver. Os modelos analíticos nesse caso exercem mais a função de mensurar o alcance de metas, dos meios, da relação custo-benefício e custo-resultado, diferente da análise realizada por Santana (1986) que se refere mais propriamente às vertentes teóricas utilizadas para enquadrar teoricamente as políticas públicas. De outro modo, num contexto mais recente apresentado por Silva; Costa (2002), as políticas Públicas são pensadas a partir de outro enfoque, qual seja: o da implementação e avaliação. Na concepção desses autores as transformações econômicas por que passou a América Latina, trouxe como conseqüências sociais o desemprego, o empobrecimento da 31 população de países como o Brasil, a Argentina e o Chile. Tais transformações deram às políticas públicas compensatórias e redistributivas importância crucial para a reversão e o controle desse quadro emergente. Isso implica na necessidade de uma mudança institucional no sentido atribuído por Levy (1991) uma vez que, para esta “Uma das fontes de mudança institucional reside no problema da redistribuição dos recursos de poder coercitivo e de barganha dentro de uma instituição”. A mudança se reflete no que Silva; Costa (2002) descrevem como o favorecimento do desenvolvimento de novos formatos institucionais que realcem as relações intergovernamentais e governamentais com Organizações Não-Governamentais (ONG), e entre os setores público e privado numa tentativa de alargar as bases para a elaboração, implementação e avaliação continuada das políticas públicas, requisitos indispensáveis para garantir sua sustentabilidade dentro dos parâmetros da eficiência e eficácia. Esse novo momento requer uma reafirmação da influência da economia nas políticas públicas, haja vista que o quadro de transformações requer maior eficácia e eficiência dessas políticas no que tange à resolução de problemas da sociedade. Em alguns aspectos, a proposta de análise de políticas públicas de Silva; Costa (2002) se aproxima da de Figueiredo; Figueiredo (1986), sobretudo no que se refere à importância dada à avaliação. Para estes, a avaliação de políticas pressupõe dois tipos básicos de pesquisas: avaliação de processos e avaliação de impactos. O primeiro visa a aferição da eficácia, isto é se o programa está sendo ou foi implementado de acordo com as diretrizes concebidas para a sua execução. O segundo diz respeito aos efeitos da política ou programa público sobre a população-alvo e visa estabelecer uma relação entre a política e as alterações nas condições sociais. Há, contudo, divergência no que diz respeito à metodologia de avaliação utilizada nos diferentes períodos por esse conjunto de autores. Figueiredo; Figueiredo (1986) centramse na avaliação de impactos: efetividade objetiva, subjetiva e substantiva. O objetivo essencial deste tipo de análise é constatar se as mudanças pretendidas nas condições sociais, econômicas ou em qualquer outra área ocorreram conforme os objetivos, metas e meios previstos. Trata-se, em fim, de uma avaliação ex post. Em contraponto, Silva; Costa (2002, p. 20) defendem a utilização da abordagem da “avaliação formativa” que se dá durante todo o período de implementação da política ou de programa públicos, o que possibilita ao gestor público realizar as mudanças operacionais necessárias para fortalecer o desenvolvimento de programas e políticas especificas. O foco de investigação é direcionado aos condicionantes institucionais do desempenho do programa ou política, buscando identificar problemas relacionados ao 32 funcionamento das instituições6 no curso da implementação de tais políticas. De acordo com estudos realizados pela UNICAMP (2002) o processo de implementação pode ser enfocado segundo distintas perspectivas de análise: a) organizacional: quando o tipo de organização é planejado em função do tipo de ação; b) processual: a implementação é um resultado de uma sucessão de processos; c) comportamental: há uma ênfase na necessidade de reduzir conflitos durante o processo; d) político: padrões de poder e influência entre e intra organizações são enfatizados. Isso é possível na medida em que se traça o desenho institucional, especificamente no que se refere ao perfil do gasto público; à forma de organização da ação governamental; ao modo como se organizam as demandas; e à adesão do bem ou serviço às condições específicas do demandante (UNICAMP, 2002, p. 22). Silva; Costa (2002, p. 22), de outro modo reconhecem a relevância da avaliação somativa (de impactos), contudo, ela revela-se incompleta e ineficiente, se não for precedida pela avaliação formativa. Ambos os tipos contribuem para o fortalecimento de avaliações de políticas públicas e programas, apesar de terem suas limitações particulares. De maneira mais estrita, com exceção de Levy (1991) a literatura citada nessa discussão aborda diretamente um assunto comum, a análise de políticas públicas. Há, entretanto dissonância entre suas análises em alguns aspectos. Santana (1986) se deteve mais na fase inicial de elaboração e de decisão sobre os fatores que determinam a escolha de uma 6 A tipologia das instituições é vasta. Aqui interessa tratar especificamente das instituições políticas estatais responsáveis por colocar o Estado em ação através do processo de planejamento público e da elaboração e implementação de políticas públicas seja por meio de programas ou de projetos. Não se trata de enfocar endogenamente essas instituições, o objetivo é estabelecer conexão entre instituições políticas e planejamento. A história das instituições se confunde com a própria história da humanidade. Do ponto de vida da ação humana, as instituições cumprem o valioso papel de reduzir a incerteza e criam uma união favorável para a troca humana (não necessariamente eficiente) seja de ordem política, social ou econômica. Por essas razões para Douglas North (1990), além dessas características as instituições (juntamente com a tecnologia) afetam o desempenho da economia em seu efeito sobre os custos de produção e de troca. De acordo com North (idem) as instituições têm três dimensões: as regras formais, constrangimentos informais, mecanismos de execução. 1) Constrangimentos Informais – ocorrem quando a informação é transmitida socialmente como parte da cultura. Eles surgem com a necessidade de interagir e de se reduzir as incertezas, mas ainda não se tem uma boa explicação de como isso ocorre. 2) Constrangimentos formais. As regras formais podem aumentar a eficácia dos constrangimentos informais, modificá-los, ou substituí-los. Dada a negociação inicial das partes, a facilitar a troca de regras. 3) Execução. Diz respeito aos custos associados à execução imperfeita dos contratos. O desenvolvimento de credibilidade por parte dos órgãos políticos para não violar contratos, é uma condição necessária para o crescimento econômico. 33 política pública e não de outra, principalmente utilizando-se de critérios orçamentários para explicar essa questão, sendo que o processo avaliativo propriamente dito não aparece de maneira detalhada. Figueiredo; Figueiredo (1986) detiveram-se mais na fase de avaliação ex post, não sendo central em suas reflexões o processo de elaboração e de implementação de políticas públicas, mas sim os resultados, se positivos ou negativos, levando em consideração a relação entre meios e fins. Silva; Costa (2002), por sua vez, avançam para uma análise mais integrada acerca das políticas públicas e dos programas, uma vez que criticam a forma desintegrada de como no passado se analisava políticas públicas, o que se torna evidente com os estudos acima mencionados. A diferença básica entre Santana (1986), Figueiredo; Figueiredo (1986) e Silva; Costa (2002) reside na tentativa destes últimos em enfatizar o processo de implementação, desde o processo de elaboração das políticas públicas e não como uma fase estanque e dissociada das outras. A avaliação do resultado desses programas surge como conseqüência da maneira como elas foram planejadas, implementadas e das mudanças institucionais realizadas no decorrer do processo de avaliação para a consecução dos objetivos e metas propostos por meio das políticas em avaliação. Neste caso, o avaliador de políticas pode contribuir para a obtenção de resultados positivos e não apenas para indicar, ao final, se eles foram positivos ou negativos e neste aspecto também contribuir para uma mudança institucional, uma vez que coopera para que o Estado cumpra seu papel através de políticas públicas eficientes 7 e eficazes8 frente às demandas sociais a ele imputadas. A conexão entre programas e políticas públicas ou vice-versa é algo inegável. Há, entretanto diferenças conceituais básicas. Os programas públicos podem ser definidos como uma harmoniosa ligação entre o planejamento e o orçamento públicos e precisam cumprir alguns atributos como justificativa, objetivo, denominação, público alvo, unidade responsável, horizonte temporal, valor, indicadores, ações. Os programas estratégicos possuem uma relevância maior porque são responsáveis por fazer a ligação entre orçamento, plano e visão de longo prazo, contribuindo para aumentar a consistência estratégica e a seletividade das ações de governo. 7 Cotta (1998) conceitua uma política pública como eficiente quando há relação entre os resultados e os custos envolvidos na execução de um projeto ou programa com base na otimização dos recursos utilizados, ou seja, o melhor resultado possível com os recursos disponíveis. Quando resultados e custos podem ser traduzidos em unidades monetárias, recorre-se à Análise Custo-Benefício (ACB) que, grosso modo, pretende verificar se os benefícios líquidos do projeto excedem seus custos operacionais. 8 Eficácia pode ser conceituada como “Grau em que se alcançam os objetivos e metas do projeto da população beneficiária, em um determinado período de tempo, independentemente dos custos implicados” (COHEN; FRANCO, 1993, p.102) 34 3 ORIGEM E DESENHO INSTITUCIONAL DO PCN Os objetivos deste capítulo são relatar a origem e a trajetória do PCN, bem como, defini-lo, explicitar seu desenho institucional (objetivos, diretrizes estratégicas e ações), indicadores de desempenho elaborados pelo MD para o PCN e como este programa se define como política pública de segurança, defesa e de desenvolvimento regional. A trajetória de planejamento e de tentativa de implantação do PCN desde 1985 foi marcada pela participação de diversos atores (militares (Forças Armadas) e civis (FUNAI, Ministério da Integração Regional, Presidência da República etc.). Algumas pesquisas já se ocuparam de detalhar o quadro político (COSTA, 1994), institucional e jurídico que contribuiu para o surgimento do PCN. Referindo-se a este, Nascimento (2005, p. 158) argumenta que foram determinantes: Os acontecimentos na fronteira política, a existência de mecanismos jurídicos e a articulação institucional e, sobretudo, a enorme influência política exercida pelos militares, especialmente os ligados ao CSN (Conselho de Segurança Nacional) mediante sua SG (Secretaria Geral), junto ao Presidente da República compõem as condições favoráveis à formação de um GT (Grupo de Trabalho) para a elaboração de um ambicioso projeto de segurança nacional para a Faixa de Fronteira. Ainda que tenha existido no contexto de seu surgimento atores, sobretudo os ligados ao movimento indigenista, que viam o PCN como um projeto disfarçado de defesa e de soberania, mas que no fundo seria uma estratégia para ocupar as terras indígenas através da implantação de Pelotões de Fronteira, o que, por conseguinte era considerado ameaça à cultura e sobrevivência dos índios da fronteira, o PCN foi criado com fulcro no marco legal da Constituição de 1967. Institucionalmente o PCN já esteve ligado a vários ministérios: - 1985 - SG/CSN e Secretaria de Planejamento (SEPLAN) - 1985 a 1988 – Secretaria Geral do Conselho de Segurança Nacional (SG/CSN) - 1988 a 1990 – Secretaria de Assessoramento de Defesa Nacional (SADEN ) - JAN a JUL / 1999 - Ministério Extraordinário de Projetos Especiais (MEPE) - 10/06/99 até os dias atuais - Ministério da Defesa (Secretaria de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais e Departamento de Política e Estratégia) Como é possível notar, no decorrer desses anos de existência o PCN já passara por transformações de cunho institucional e até mesmo no que tange seus objetivos, uma vez que estavam voltados para a esfera militar. Em entrevista concedida a Andrade (2003, p. 58), o 35 atual gerente do programa, o Coronel do Exército Roberto de Paula Avelino detalha as transformações por que passou o PCN: Esse programa, ele era militarizado, porque o Programa Calha Norte era para atender a parte militar [...] e tinha o Programa de Auxílio Financeiro à Faixa de Fronteira, que pertencia à SAE, que fazia aquelas obras civis da faixa de fronteira. Então a extinção da SAE, e com a vinda do Programa Calha Norte para o Ministério da Defesa, e o Programa de Auxílio Financeiro à faixa de fronteira para o Ministério da Integração Nacional, o Programa, ele revitalizou quando foi incluída dentro do programa a ação voltada para o desenvolvimento regional, que é exatamente a implantação de infra-estrutura básica nas comunidades carentes e apoio à comunidade carente também [...] então o programa ficou mesclado, com ações voltadas para a manutenção da integridade, da soberania nacional, e também ações voltadas para o desenvolvimento regional. (Entrevista fornecida a autora em Brasília, em 5 de dezembro de 2006.) O PCN, na condição de programa nacional, segue os ritos do PPA e seus recursos precisam ser aprovados pelo Congresso Nacional, conforme preceitua o artigo 165, § 4º da Constituição Federal do Brasil. É definido como um programa estratégico do PPA, uma vez que visa garantir a continuidade das transformações sociais e econômicas que o país necessita e por essa razão é considerado prioritário para o Governo. No ano de 1995, em meio a uma grave crise por ausência de recursos necessários para sua manutenção, foi apresentada a proposta de sua revitalização através do Requerimento n° 06/95 com o objetivo de que fosse criada Comissão Especial Mista destinada a “Reavaliar o Projeto Calha Norte, visando seu revigoramento no sentido da integração da população setentrional brasileira aos níveis de desenvolvimento das demais regiões, propor novas diretrizes ao projeto que definam uma política de ocupação racional da região amazônica, bem como vistoriar e apresentar sugestões sobre as demarcações das áreas indígenas localizadas no norte do país”. Em 1997 o Programa foi revitalizado e tornado prioridade pelo governo no ano de 2000. O Gráfico 1 ilustra historicamente os recursos destinados ao PCN em toda a sua trajetória. 36 Gráfico 1 - Recursos aplicados pelo Programa Calha Norte na Amazônia de 1986 a 2007 Fonte: Ministério da Defesa/ Programa Calha Norte (2007) É nesse momento que se percebe mais fortemente a relação entre planejamento e programas governamentais, uma vez que planejamento também pode ser entendido como um processo antecipado de alocação de recursos para o alcance de fins determinados. Planejar e decidir no presente as ações que se executarão no futuro para realizar propósitos préestabelecidos, são, portanto, as raízes das políticas públicas e dos programas governamentais. Importa, portanto, ao analista de programas e de políticas públicas, identificar os principais atributos de um programa, quais sejam: Justificativa, objetivo, denominação, público alvo, unidade responsável, horizonte temporal, valor, indicadores (avaliar como se dará a implementação do programa; ações - o que é, na realidade, entregue aos beneficiários); e, indicar fatores que possam influenciar na implementação do programa, provocando mudanças entre o previsto e o realizado. Não se preocupa com a efetividade do programa, pois focaliza seus processos e mecanismos de execução. 3.1 JUSTIFICATIVA Considerando a existência de uma vasta área de fronteiras terrestres, que se estendem de Tabatinga à foz do Oiapoque, que se trata de uma região com baixa densidade demográfica, cujo subsolo é rico em jazidas minerais, torna-se necessária a presença do Estado nessa região 37 para combater a utilização predatória de recursos naturais, o comércio ilegal de minerais e pedras preciosas, a atividade de garimpagem, conflitos envolvendo índios, fazendeiros, posseiros, garimpeiros e empresas de mineração, o contrabando de armas e do narcotráfico, uma vez que as Forças Armadas entendem que esses fatores constituem-se como ameaça à defesa e a segurança do país. Daí a necessidade de se criar um programa voltado para a defesa e a segurança com o perfil do PCN. 3.2 OBJETIVOS E DIRETRIZES ESTRATÉGICAS Obedecendo ao ciclo das políticas públicas, como assinala Silva; Costa (2002, p. 18) a política transforma-se em programa a partir do momento em que suas propostas ganham forma e estatuto de política, ou seja, quando se define metas, objetivos, recursos e, finalmente, ao ser explicitada a estratégia da implementação. É nesse momento que são criadas as “condições iniciais” que antecedem a sua implementação. Um programa cujas características visam a ação pública, possui duas dimensões, que podem ser desagregadas, em: i) objetivos e ii) uma metodologia ou estratégia pela qual pretende-se que estes objetivos sejam atingidos. O grau de sucesso da implementação estará, portanto, diretamente associado à capacidade de obtenção de convergência dos agentes implementadores em torno dos objetivos e da metodologia de operação de um programa (UNICAMP, 1999, p. 107), o que não é fácil de alcançar. A falta de convergências pode dificultar sua implementação. Essas duas dimensões (objetivos e estratégias) que definem um programa como de ação pública, estão claramente explícitas no PCN através da PORTARIA NORMATIVA Nº 1185-SPEAI/MD, DE 13 DE SETEMBRO DE 2007 e encontram-se aqui especificadas: Objetivo geral do PCN Aumentar a presença do Poder Público na sua área de atuação, contribuindo para a Defesa Nacional, proporcionando assistência às populações e fixando o homem na região. Objetivos específicos - Aumentar a presença do Poder Público na área de atuação do PCN; 38 - Contribuir para a defesa nacional; - Assistir às populações da área de atuação do PCN; - Fixar o homem na área de atuação do PCN; - Promover o desenvolvimento sustentável; - Ocupar vazios estratégicos; - Integrar a população à cidadania e ao conjunto nacional; - Melhorar o padrão de vida das populações da área de atuação do PCN; - Modernizar o sistema de gestão municipal da área de atuação do PCN; - Fortalecer as atividades econômicas estaduais e municipais da área de atuação do PCN. Para alcançar esses objetivos o PCN elaborou as seguintes diretrizes estratégicas: a) Implantar e melhorar a infra-estrutura básica nas áreas de Defesa, Econômica, de Educação, de Saúde, Social e de Transportes nos municípios da área de atuação do PCN, criando condições para a fixação do homem na Região. b) Melhorar a qualidade de vida das populações atendidas; c) Integrar socialmente comunidades isoladas e aumentar a presença do Estado na Região. d) Intensificar a troca de informações e articular com órgãos públicos (federais, estaduais e municipais), de modo a identificar as necessidades de obras de infra-estrutura na área de atuação do Programa. e) Aplicar os recursos orçamentários do Programa nas obras de infra-estrutura, com a finalidade de produzir resultados geradores de renda e emprego, bem como o fortalecimento da cadeia produtiva, a melhoria das condições de vida e a fixação do homem em suas localidades, sendo as aplicações para todas as áreas consideradas de cunho social, de acordo com o art. 26 da Lei nº 10.522/2002. Essa concepção de defesa, contida no PCN visa principalmente a implementação de ações de infra-estrutura e sociais nos municípios considerados estratégicos para a defesa das fronteiras do Brasil. Isso mostra um novo modo de tratar questões de fronteira, como a necessidade de proteção, a partir de um enfoque ampliado de defesa que inclui não apenas questões estritamente militares, mas a área social, econômica, ambiental, infraestruturais etc. Na condição de Programa estratégico que é o PCN, e à luz do que os objetivos acima nos indicam, é possível constatar que ele cumpre papel relevante porque além de ser um programa de segurança e de defesa nacional, que objetiva o desenvolvimento dos municípios 39 que abrange, desempenha papel do Estado em perspectiva federal, à medida que financia e executa ações indispensáveis para a realização do PCN como política pública. As diretrizes estratégicas consideradas de cunho social por área, especificadas no Quadro 1, colocam de modo mais detalhado como esses objetivos serão alcançados: ÁREA Social DIRETRIZES ESTRATÉGICAS DO PCN Implantar ou ampliar sistemas de abastecimento de água, de eletrificação rural, de coleta e tratamento de esgotos, de unidades de resíduos sólidos urbanos, de drenagem urbana, de urbanização de áreas públicas e de recuperação e preservação de nascentes, mananciais e cursos d'água. Transportes Construir, ampliar e reformar pequenos aeroportos, pistas de pouso, portos, terminais hidroviários, terminais de passageiros, rodovias, e pavimentar vias urbanas. Econômica Construir, ampliar e reformar terminais de carga, mercados populares, entrepostos de pescado, feiras cobertas, matadouros, centros de comercialização, armazéns, depósitos de grãos, olarias e usinas de beneficiamento. Viaturas, máquinas e equipamentos Esportes Educação Segurança e Defesa Adquirir máquinas, equipamentos e viaturas utilitários. Implantar e reformar estádios de futebol, piscinas, pistas de atletismo, quadras esportivas e ginásios poliesportivos em instituições de ensino. Construir, ampliar e reformar escolas de ensino pré-escolar, fundamental e médio, centros profissionalizantes, centros de inclusão digital, museus, centros de ensino e cultura. - Construir unidades militares e instalações necessárias ao seu funcionamento para as Forças Armadas e Forças Auxiliares, delegacias e presídios. - Acompanhar e fiscalizar projetos, realizar avaliações de impacto e resultados dos produtos (obras) dos recursos aplicados, com a finalidade de aferir a efetividade, economicidade, eficiência e eficácia de sua implementação. - Divulgar as atividades do PCN e seus resultados. - Executar convênios com Estados e Prefeituras abrangidos pela área de atuação do PCN e obedecer a critérios estabelecidos nestas diretrizes, levando em consideração as seguintes variáveis: 1. Localização das obras, priorizando as realizadas na faixa de fronteira; 2. Tipo de obra a ser executada; e 3. População dos municípios com referência a dados do IBGE, divulgados após primeiro de julho de dois anos anteriores à Lei Orçamentária em vigor. Quadro 1 - Diretrizes estratégicas do PCN por área Fonte: Boletim do Exército, nº 39 (2007) 40 As diretrizes estratégicas do PCN apontam para a necessidade de proteção da fronteira, a partir de um enfoque ampliado de defesa que inclui não apenas questões estritamente militares, mas também a área social, econômica, ambiental, e o desenvolvimento regional como produto final. Com isso não se pretende afirmar que desenvolvimento regional na Amazônia e, principalmente nos municípios que são agraciados com obras do Calha Norte se resuma às ações desse programa, entretanto não se pode de igual modo negar que elas de algum modo contribuem para o aumento da qualidade de vida das pessoas que delas usufruem, e nesse caso seria prudente concluir que o PCN contribui para o desenvolvimento regional. Saber o grau de contribuição desse programa para o desenvolvimento da região amazônica seria interessante para uma nova pesquisa, uma vez que requer um estudo mais aprofundado acerca disso, o que não se pretende aqui. 3.3 INDICADORES DE DESEMPENHO O conceito de indicador de desempenho pode de entendido como número, razão ou percentual utilizado para medidas com metas previamente estabelecidas (TCU, 2000, p. 9). A ideia de construir indicadores associados aos objetivos e estratégias teve sua origem em empresas privadas americanas. Quando utilizado para aferir resultados é considerado uma metodologia voltada para a análise relacionada ao gerenciamento orientado para resultados (results oriented management – ROM). Além disso, que não é o propósito desta investigação, o uso de indicadores de desempenho é relevante para realizar o controle na administração, seja ela pública ou privada, uma vez que são ferramentas gerenciais de gestão que facilitam a fiscalização e a avaliação de programas governamentais, embora possa ser aplicado em programas empresariais. Há, no que tange à avaliação de programas governamentais, diferentes tipologias: avaliação por desempenho organizacional, avaliação gerencial e auditorias de desempenho são alguns dos tipos mais usuais. Na opinião de Ala-Harja; Helgason (2000, p. 5) o objetivo da avaliação de programas é atuar como um mecanismo de melhoria no processo de tomada de decisão. Ela deve ser capaz de dar ao governo as informações necessárias por meio das quais ele fundamente suas decisões e preste contas sobre suas políticas e programas. Santos apud Freitas (2006, p. 116) apresenta alguns atributos importantes que os indicadores devem possuir: Refletir as necessidades dos clientes e das organizações; 41 Fornecer uma base adequada para a tomada de decisão; Ser de fácil compreensão; Ter ampla aplicação; Ser interpretados uniformemente; Possibilitar a mensuração com os sensores (informações existentes); Ser preciso na interpretação dos dados; Ser economicamente aplicável; Ser confiável; Oferecer validade; Ser relevante; Ter consistência. Obedecendo a esses critérios voltados para a avaliação de gestão de programas, governamentais, vista pelo TCU (2000) como uma tentativa de modernização da gestão pública, entende-se que a utilização de indicadores de desempenho é indispensável para mensurar os resultados e para contribuir para a facilitação da execução do programa. Os indicadores oficialmente utilizados pelo MD para elevar o desempenho do PCN são os abaixo elencados: 1. Recursos Descentralizados pelo Programa (todas as ações) - recursos financeiros descentralizados pelo PCN em relação aos recursos financeiros liberados no orçamento (percentual). 2. Recursos Descentralizados pelo Programa na Ação Implantação de Unidades Militares relação entre os recursos descentralizados pelo PCN na ação Implantação de Unidades Militares e o que foi liberado para execução na Lei Orçamentária Anual (percentual). 3. Recursos Descentralizados pelo Programa na Ação Implantação de Infraestrutura Básica nos Municípios do Programa Calha Norte - relação entre os recursos descentralizados pelo PCN na ação Implantação de Infraestrutura Básica nos Municípios do Programa Calha Norte e o que foi liberado para execução na Lei Orçamentária Anual (percentual). 4. Fiscalização dos Convênios em Execução - relação entre os convênios fiscalizados no ano corrente, dividido pelos convênios cujos términos tenham ocorrido entre primeiro de setembro do ano anterior e 31 de agosto do ano corrente (percentual). 42 Esses indicadores estão em sintonia com aqueles apresentados por Santos apud Freitas (2001), notadamente porque se mostram economicamente aplicáveis, relevantes e consistentes. Os indicadores de desempenho são, de outro modo, relevantes por ajudarem na compreensão do funcionamento interno do programa, indispensável, a qualquer tipo de avaliação de programas e/ou políticas públicas, em especial às avaliações de processo e de gestão. O interesse que se tem ao se apresentar os indicadores do PCN é, portanto, voltado apenas para este último tipo de avaliação e possui a intenção de mostrar o que realmente compõe o programa, quais são seus objetivos, ações, diretrizes estratégicas e indicadores de desempenho. Isso possibilita caracterizar o PCN e mostrar com esses e com outros elementos que este programa pode ser definido como política pública de segurança, defesa e desenvolvimento regional. A seção que segue aborda com maior profundidade essa questão. 43 4 O PCN COMO POLÍTICA PÚBLICA DE SEGURANÇA, DEFESA E DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL A principal característica de uma política pública é a especificidade de ser ela uma política de Estado, e desse modo diferente de outras políticas possui um caráter de continuidade, independentemente da troca de governantes. A Defesa Nacional enquanto política pública, além desse aspecto, de acordo com Oliveira (2006) há um segundo que diz respeito a sua conexão com o regime democrático: (a) ela é dirigida pelo chefe de Estado, que a associa à política exterior e a outros domínios da vida nacional (como educação, ciência e tecnologia e outros); (b) as forças armadas respondem administrativa e politicamente à direção suprema do presidente da República, (c) atuando segundo diretrizes presidenciais e no respeito à legalidade democrática tanto no país quanto no exterior; (d) estruturas profissionais à administração da capacidade de violência do Estado, as forças armadas são apartidárias, não dependem dos partidos para o seu funcionamento institucional nem os partidos se beneficiam de fatores estritamente militares. Esses aspectos institucionais relados acima são positivos para a implementação do PCN como política pública por torná-lo menos vulnerável a influências políticas externas. Todavia, isso não significa que ele esteja imune a cortes orçamentários. A consolidação do PCN como política pública tridimensional (segurança, defesa e desenvolvimento regional) faz parte de uma nova concepção de defesa, e revela a intenção do governo para tratar questões de fronteira, reconhecendo a necessidade de protegê-las, partindo de um enfoque ampliado de defesa que inclui as variáveis, econômica, social, política e ambiental. Esse pensamento revela a necessidade de transversalidade entre políticas públicas de vários setores para fins de defesa nacional. Essa concepção inovadora para Nascimento (2005) está associada aos eventos que marcaram a sociedade nas últimas três décadas. Com o fim do regime militar (1964-1985) e dos regimes autoritários no Leste Europeu a partir de 1989, que culmina com o fim da bipolaridade em 1991, as Forças Armadas (FA) em todo mundo, foram obrigadas a reorientarse para os novos tempos. Nessa virada algumas delas buscaram se adequar aos regimes democráticos e a uma conjuntura instável no plano mundial com a expansão do terrorismo e do tráfico de drogas, de seres humanos e de armas e, por fim, do aumento da crise ecológica. As mudanças impulsionadas pelo período Pós-Guerra e pelo surgimento de uma Nova Ordem Mundial, caracterizada pela queda da bipolaridade e o estabelecimento de uma ordem multipolar, são responsáveis por uma espécie de conflito no qual o Estado se encontra 44 diretamente envolvido, à medida que deixa de exercer funções tradicionais, a saber na economia, que passam a ser desempenhadas por blocos econômicos dentro de uma nova divisão internacional do mercado que atribui ao Estado uma nova função ainda não bem definida (DIAS, 2000, p. 167). Tornou-se mais perceptível a ligação entre segurança, defesa e desenvolvimento. As políticas de desenvolvimento seriam uma estratégia preventiva para estimular o povoamento nas regiões e áreas de fronteira. Ao falar em área de fronteira é preciso definir não apenas de maneira ilustrada, mas conceitualmente o que é fronteira. Ainda que esta possa ser entendida aqui como espaço (físico, político, social, militar, cultural e outros) dinâmico em permanente construção, formado por atores políticos e sociais que interagem. Necessário se faz definir o tipo ou de que fronteira se trata, não sendo o objetivo deste trabalho definir conceitualmente cada uma delas. Entretanto, em oposição à separação conceitual do termo fronteira Huntington (1997) assinala que as fronteiras políticas estão sendo redesenhadas para coincidir com as fronteiras culturais, étnicas, civilizacionais e religiosas, o que no Brasil se vê de maneira muito tênue, dada a história de ocupação do território brasileiro e amazônico que desconsiderou a existência, principalmente das fronteiras culturais e étnicas, o que é de domínio público. Esta análise vai ao encontro do conceito de fronteiras políticas de Lima (1991, p. 64-65) que entende que elas são os limites de um Estado-nação, e que sua transcendência implica guerra entre nações e/ou diplomacia. Da mesma maneira, demandaria perceber os militares como fundamentais para análise do mecanismo de fronteira, produtores que são de há muito tempo, de um saber geopolítico e de uma ideologia de ocupação do território, na qual os índios foram sempre figurantes. Apesar de o objetivo desta investigação não estar direcionado para o estudo de fronteiras especificamente, é oportuno colocar algumas discussões sobre esse conceito. Referindo-se às fronteiras internacionais García (2006) criou aportes para uma epistemologia de estudos dessas fronteiras por entender que apenas definir conceito de fronteira não permite compreender a dinâmica da fronteira em meio a um processo contínuo de mudança que tem se dado em todos os campos da sociedade moderna, influenciada pela globalização. Em seu estudo o autor apresenta princípios teóricos e metodológicos sobre os quais devem se sustentar os estudos sobre fronteira. Ele mostra que quanto mais abrangente e flexível for o conceito de fronteira mais capaz ele se torna de revelar nela conflitos e disputas por territórios, presentes implícita ou explicitamente. 45 A Lei n º 6.634, de 02 de maio de 1979 define a largura da faixa de fronteira brasileira estabelece os 150 km como prioritários para a segurança e para a defesa do território nacional. Há críticas na metodologia utilizada para essa definição de faixa de fronteira sob a alegação de que grande parte dessas demarcações são arbitrárias e não levam em conta fatores sócio-culturais presentes, e sim, fatores homogêneos de controle social e político da perspectiva do Estado de que em diferentes momentos históricos a delimitação da área destinada à defesa das fronteiras não levou em consideração os fatores políticos de cada período. Neste sentido constata-se, segundo Silva, Escobar; Mello (2004, p. 5) que com a Constituição de 05 de outubro de 1988 ratificou a delimitação da largura da faixa de fronteira, até 150 km. Na fronteira amazônica, a inserção do Brasil no sentido de influenciar a segurança internacional mais precisamente no norte do Brasil revela-se tímida, porém mais recentemente o Brasil tem fortalecido essa ideia ao buscar compor o conselho de segurança da ONU (CARVALHO; GUEDES, 2007, p. 12). Os atores estatais responsáveis pelo controle da fronteira, Forças Armadas, Polícia Federal, tem atuado contra traficantes e contrabandistas que disputam o domínio do território, entre si e com o Estado, apesar de que mesmo com a presença do Estado na fronteira, ilícitos continuam ocorrendo, como concluiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada através do Projeto de Resolução nº 189, que se destina a investigar as organizações criminosas do tráfico de armas. No estado do Pará a cidade de Santarém, inserida na área do Programa Calha Norte em 2006, foi identificada como rota do tráfico internacional de drogas e de armas. A maior parte da droga passava pela rota: Bolívia/Santarém/Amapá/Suriname. Com isso se percebe que Santarém é uma cidade estratégica do ponto de vista da defesa e da segurança. Apesar de não estar na linha de fronteira, está na sua proximidade e se destaca por ser uma das principais cidades do Pará, servindo como entreposto entre diversos municípios (Monte Alegre, Alenquer, Curuá, Prainha, Oriximiná, Óbidos, Terra Santa, Faro, Juriti, Almeirim) pertencentes à área do Programa Calha Norte na região do Baixo Amazonas. Apesar das limitações orçamentárias do PCN, este tem se destacado como política pública de grande amplitude na região norte nos âmbitos civil e militar. Ambas as vertentes, que possuem valores disponíveis para a realização de convênios tem possibilitado a construção de obras na área de urbanismo (drenagem e pavimentação de ruas, saneamento etc.). A amplitude do PCN se reforça com a expansão de sua área de atuação, chegando a englobar Estados inteiros. Inicialmente o Projeto abrangia 14% do território nacional, numa superfície de 1.221.000 km2, povoada por 1,7 milhão de habitantes, que se estendia pelos 46 estados do Amapá, Amazonas, Pará e Roraima. Até o mês de agosto do ano de 2008 a área de abrangência do PCN totaliza 2.743.986 km2, o que corresponde a 32,23% do Território brasileiro (Mapa 1). Em comparação com a faixa de fronteira terrestre do Brasil que é de 15.719 km, 10.938 km ficam na área de abrangência do PCN. 47 Mapa 1 - Área atual de abrangência do PCN Fonte: Ministério da Defesa (2007) 48 A expansão da área do PCN nos últimos anos está em congruência com os objetivos atuais do Programa (2004 a 2007), isto é: Aumentar a presença do Poder Público na Região de atuação do Programa Calha Norte, contribuindo para a defesa nacional, proporcionando assistência às suas populações e fixando o homem na Região. (grifo da autora). Além de ser forte aliado da PDN, em alguns municípios o programa é o único meio de realizar determinadas obras, uma vez que a cota de transferências do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), principal fonte de recursos do Governo Federal aos municípios brasileiros não é suficiente para financiar as políticas públicas necessárias para o município. Por outro lado, as fontes de recursos próprios, advindas de tributações e de outras fontes de arrecadação de competência municipal, na área do PCN no Estado do Pará e especificamente no município de Monte Alegre indicam que pouco se pode fazer com esses recursos, como se verá mais adiante. Como política pública o PCN, nada mais é que o Estado em ação. Isso indica que o Estado brasileiro tem investido na defesa do país, sobretudo, da Amazônia, ainda que de modo insuficiente, principalmente por meio do PCN. A estratégia de defesa da fronteira pelo PCN é constituída não apenas pela atuação armada dos pelotões de fronteira em operações isoladas e/ou conjuntas com a Polícia Federal (PF) e com o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA), também se constitui das chamadas Ações Subsidiárias das Forças Armadas, como bem define a Doutrina Militar Nacional (DMN, 2007) em vigor. São ações que possuem um fundo social (saúde, construção de pontes, hospitais, infra-estruturas urbanas, etc.), porém estão diretamente relacionadas à defesa nacional como se percebeu na Política de Defesa Nacional (2005) e no discurso do Coronel Roberto de Paula Avelino, Gerente do PCN, ao falar a respeito dos objetivos do PCN. [...] a gente percebe o seguinte: há uma preocupação da defesa nacional do ponto de vista estratégico, militar, mas nós temos a consciência do seguinte: o que nós precisamos mesmo é dessa simbiose da defesa não só como coisa militar, mas a presença do povo, do Estado brasileiro. Se você não conseguir fixar numa linha de fronteira que é o objetivo do programa, outros vão ocupar. Então por exemplo, se você não desenvolve aquela Ilha de Marajó as pessoas vão viver na periferia de Belém; se você não desenvolve ali o norte do Pará, as pessoas saem parte toda ali do norte, vai sair! Vai para Oriximiná, vai para Santarém, vai para outros polos maiores [...].9 O que se nota é que o PCN tem ampliado sua área de abrangência para além de municípios que fiquem na fronteira, passando a incluir novos municípios também em suas 9 Entrevista concedida à autora em Brasília na Sede do PCN, no dia 05.12.2006.Também participou da entrevista o Prof. Dr. Durbens M. Nascimento, coordenador do CFAS21. 49 proximidades, mas que na maioria dos casos são estratégicos para servir como base logística para os municípios que ficam na faixa de fronteira. Além do que, segundo o General José Benedito de Barros Moreira, A chegada de quartéis muda o perfil econômico das cidades. Eles contribuem para o desenvolvimento regional. Esse também é nosso papel ao ocupar as áreas de fronteira e inserir cada vez mais as Forças Armadas na sociedade (CORREIO BRASILIENSE, 2 de dezembro de 2007). Para os militares, na atualidade tão importante quanto as estratégias de defesa e a presença militar na Amazônia é a presença civil. Isto é, o surgimento de instituições civis e o estreitamento entre civis e militares 10 com objetivos estratégico-militares e sociais é visto como fundamental no pensamento militar. Pautado nessa concepção Pós-Guerra fria como já se colocou, são planejadas e implementadas as ações do PCN nos municípios. Se por alguns anos, durante o governo Fernando Collor de Mello as verbas foram reduzidas drasticamente, ao ponto de o projeto ser considerado praticamente extinto. No presente momento histórico, as coisas têm se mostrado diferentes. A situação financeira do PCN foi revertida, o projeto foi transformado em Programa estratégico, passou a ter mais verbas no Orçamento Federal e como resultado dessas transformações a partir de 2003 aumentando sucessivamente o número de municípios. Os dados dos Quadros 2 e 3 ilustram o aumento que se deu no número de municípios pertencentes ao PCN nos últimos anos. 10 Apesar de haver posições dissonantes no estudo da relação civis-militares, há pelo menos um consenso entre elas, a saber: a defesa de que o fim da Guerra Fria e a transição do autoritarismo para a democracia na América Latina, em especial, impactaram diretamente nessas relações. No entendimento de Albuquerque (2008, p.6) no Brasil, o tráfego aéreo civil, exposto pela crise por que passou, é um exemplo inegável disso. Ele argumenta que a consolidação democrática tem como desafio reduzir prerrogativas não militares exercidas por militares, para que a missão militar seja redefinida, sobretudo para questões de segurança externa e de defesa nacional. Não se pode considerar consolidada uma democracia na qual o poder civil se encontra sob encargo militar, ou mesmo quando tal poder ainda é inexistente em áreas civis cuja reserva de domínio de autoridade caiba aos militares. Zaverucha (2000) é defensor de que a autonomia do poder civil em relação aos militares está relacionada ao número de prerrogativas concedidas a estes. Quanto maiores as prerrogativas, mais autônomos são os militares em relação aos civis Na análise de Martins Filho (2000) a literatura existente acerca da autonomia militar no Brasil pode ser aglutinada em três perspectivas que consideram: que a questão fora superada e que, portanto essa discussão é desnecessária; as que destacam as prerrogativas militares; algumas e importantes áreas de autonomia militar permanecem, mas estão na eminência de serem resolvidas. Diante disso, o autor propõe algo diferente. A hipótese geral sugerida por ele é a de que é preciso considerar que as Forças Armadas, na última década as forças armadas têm mostrado capacidade de adaptação e iniciativa às novas regras institucionais. 50 ESTADO NÚMERO DE MUNICÍPIOS Amazonas 45 Rondônia 27 Pará 26 Acre 22 Amapá 16 Roraima 15 Total 151 Quadro 2 - Número de municípios pertencentes ao PCN por estado de 2003 a 2005 Fonte: Relatório Final de Atividades do PCN (2003 a 2005) Do ano de 2005 para 2006 foram incluídos 43 novos municípios, o que resultou de uma redefinição do PCN, ato que, na avaliação de Nascimento (2007, p. 2), consolida o Programa como parte da política de defesa nacional para a Amazônia brasileira, reafirmando a Doutrina de Segurança Nacional, que para muitos parecia esquecida bem como o PCN que em seu momento de crise, era considerado um fracasso por seus críticos mais desacreditados. Todavia, não obstante o PCN não seja suficiente para assegurar a defesa e a segurança das fronteiras brasileiras, tem desempenhado papel relevante nessa área, seja direta ou indiretamente. Nos Quadros 3 e 4 visualiza-se os estados da federação que fazem parte do PCN, bem como o nome dos municípios do estado do Pará nele inseridos. ESTADO NÚMERO DE MUNICÍPIOS Amazonas 62 Rondônia 52 Pará 27 Acre 22 Amapá 16 Roraima 15 Total 194 Quadro 3 - Estados e número de municípios pertencentes ao PCN até o ano de 2008 Fonte: Relatório Final de Atividades do PCN (2006) O estado do Acre merece destaque nessa nova configuração do PCN porque antes de 2003 não pertencia ao programa. Sua inserção se deu em razão de a maior parte de sua 51 extensão territorial está inserida na “faixa de fronteira11” e todos seus municípios dela fazem parte, total ou parcialmente. Nos últimos 20 anos, a faixa de fronteira foi objeto de políticas relacionadas à garantia da soberania nacional, implementadas pelas Forças Armadas e delineadas por uma longa linhagem de órgãos ligados aos militares: o Conselho de Segurança Nacional (CSN), a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) e, no atual governo, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSIP) e o Conselho de Defesa Nacional (CDN). Inegavelmente o PCN é fruto dessas políticas. NÚMERO 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 MUNICÍPIO Afuá Alenquer Almeirim Anajás Bagre Breves Cachoeira do Arari Chaves Curralinho Curuá Faro Gurupá Juruti Melgaço Monte Alegre Muaná Óbidos Oriximiná Ponta de Pedras Portel Prainha Salvaterra Santarém Santa Cruz do Arari São Sebastião da Boa Vista Soure Terra Santa Quadro 4 - Municípios paraenses pertencentes à área de abrangência do PCN até o ano de 2008 Fonte: Relatório de situação parcial das Atividades do PCN (2007) 11 Conceito definido no início desta seção. 52 Uma análise voltada para o montante de recursos resultantes de convênios entre o Ministério da Defesa e os estados, aponta o estado do Pará como estado que menos recebeu recursos, ocupando, portanto, a última posição, apesar de possuir uma área territorial maior que alguns países europeus. Entretanto, estados em posição mais favorável no ranking dos recursos do PCN como é o caso do estado de Roraima e do Amazonas, localizam numa área mais estratégica do ponto de vista da defesa e da segurança nacional, por estarem na área de fronteira propriamente dita. Além disso, o que contribui para as vultosas quantias de recursos são as emendas parlamentares das bancadas desses estados. Estado Número de obras Valor (R$) % Roraima 212 111.853.341,49 39,18 Acre 92 61.008.429,01 21,37 Amazonas 135 45.537.164,89 15,94 Rondônia 131 30.289.243,62 10,61 Amapá 66 28.255.900,36 9,90 Pará 31 8.564.815,90 3,00 667 285.508.895,27 100 Quadro 5 - Recursos repassados através de convênios entre o PCN e estados e número de obras realizadas (2007) Fonte: Relatório de Atividades do PCN (2007) O PCN e os investimentos que ele realiza nesses estados da Amazônia são o reconhecimento de que a atuação do Estado com a intenção de vivificar a faixa de fronteira, tem acontecido de fato. Os dados contidos no Quadro 5 informam a quantidade de obras realizadas nesses estados e o custo total delas ao PCN. O estado de Roraima ocupa a primeira posição em razão dos recursos adquiridos através de emendas da Bancada Parlamentar desse Estado, segundo revelou em entrevista o Cel. Roberto de Paula Avelino, gerente do PCN. Como admite a PDN (2005) essa atuação do Estado brasileiro nessa região é dificultada pela baixa densidade demográfica, pelas grandes distâncias, aliada a uma precária malha viária, que colocam as hidrovias e o transporte aéreo como principais alternativas de acesso a alguns municípios. Ao mesmo tempo o aumento da presença do Estado, em 53 particular das Forças Armadas, ao longo das fronteiras, é condição necessária para se conquistar os objetivos de estabilização e desenvolvimento integrado da Amazônia. Neste sentido, o PCN investe no desenvolvimento dos municípios que abrange, cumprindo função de Estado em perspectiva federal à medida que financia e executa políticas públicas por meio dos convênios que realiza com prefeituras municipais ou com o governo do Estado. O município de Monte Alegre destaca-se na realização de convênios com o PCN, apesar de não ser o único que necessita naquela região, porém é o único sobre o qual aqui interessa dissertar. Ao se levar em conta as políticas públicas de desenvolvimento planejadas para a Amazônia nas últimas décadas pode-se inferir que a noção de evolução e de progresso interpretadas equivocadamente como palavras de significados sinônimos, marcaram o pensamento político brasileiro e as teorias do desenvolvimento impostas a partir de um modelo de desenvolvimento exógeno não se mostraram eficazes para proporcionar um desenvolvimento com base em estágios evolutivos, dadas as diferenças regionais, culturais, políticas, econômicas, ambientais e territoriais que diferem daquelas encontradas em países europeus. A mudança de paradigma não é menos importante no que tange às formas de planejar o desenvolvimento regional e local na Amazônia. Historicamente, as questões relativas à segurança e à defesa nacionais estão interligadas às estratégias de desenvolvimento da Amazônia Brasileira. O PCN, embora num contexto diverso daquele em que se tentou aplicar as teorias desenvolvimentistas de origem cepalinas no Brasil, constitui-se no aprimoramento da ideia de que política de desenvolvimento entrelaça-se a questões de defesa e de segurança na Amazônia, do ponto de vista dos militares. Uma das diferenças cruciais entre a concepção militar daquela época e a do momento presente reside no fato de que naquele contexto as funções militares se confundiam com as de governante (civis) enquanto que no estágio atual da política brasileira, há uma clara definição entre o papel dos civis e o dos militares, demarcados pela Carta Magna vigente. As ações estatais que recaíram sobre o espaço amazônico marcado pela intervenção fundamentada em planos (Planos de Metas, PIN, POLAMAZÔNIA e outros) inspirados na teoria cepalina e cuja finalidade era a ocupação e a integração da Amazônia, fator considerado essencial para a segurança nacional, expressa no slogan “Integrar para não entregar”. O desenvolvimento, portanto estava na ordem do dia. Passada esta fase que se enquadra no período pré-democratização, esse tema continuou sendo relevante, entretanto os estudos se pautavam mais na crítica ao fracasso dos planos de desenvolvimentos e em suas 54 conseqüências para a Amazônia, com enfoque especial para a ocupação desordenada que se deu em lugar do grande vazio demográfico de outrora. Recentemente, depois do ano de 1992, já no período de consolidação democrática do Brasil e sob a influência da RIO 92, os estudos cujo enfoque central era o desenvolvimento passaram a incluir uma nova vertente e um novo conceito que agora se acresce ao termo desenvolvimento – a palavra sustentável. A necessidade de interligar políticas públicas de desenvolvimento e política e estratégia de defesa e de segurança nacional pode ser atribuída à desconfiança dos militares em relação á eventual “ameaça” estrangeira ao território brasileiro, especialmente à Amazônia, embora os interesses internacionais pela Amazônia tenham raízes seculares. De outro modo, pode-se dizer que a PDN para ser posta em prática se alicerça num conjunto de políticas públicas, inclusive as de cunho desenvolvimentista. E isso não é uma peculiaridade apenas da Nova PDN. As políticas públicas de desenvolvimento voltadas para a Amazônia como se viu possuem uma intrínseca relação com a segurança nacional seja no período áureo da política desenvolvimentista nas décadas de 1950 a 1970, seja no período pós-redemocratização brasileira, vide Programa Calha Norte (1985). No final da década de 1960 (1966) ganhou destaque a conhecida Operação Amazônia, uma marca do período militar, cuja finalidade era desenvolver a Amazônia por meio de investimentos e de incentivos à ocupação territorial, atendendo assim ao discurso de segurança nacional que tinha como uma de suas principais metas, preencher o que equivocadamente se denominou de vazio demográfico (baixa densidade demográfica). A PDN se consolida, além outras coisas como uma estratégia continuada de valorização da Amazônia, haja vista que a estabelece como prioridade. 4.1 A VALORIZAÇÃO DA DEFESA DA AMAZÔNIA E A NOVA POLÍTICA DE DEFESA NACIONAL (PDN) Este capítulo tem como objetivos mostrar o PCN é resultado da política de valorização da defesa da Amazônia; identificar os requisitos exigidos para a realização de convênios com o PCN/MD; mostrar como se dá o gerenciamento e a fiscalização da aplicação dos recursos do programa; identificar as ações do PCN no município de Monte Alegre. A ideia de defesa do território da Amazônia, segundo Souza e Castro (2006, p.42) tornou-se relevante com o estabelecimento de um Exército permanente, em 1753. Defendem, 55 entretanto que as expedições nela realizadas por Francisco Caldeira Castelo Branco, não tinham o objetivo de defesa, uma vez que seu caráter era meramente exploratório, “ainda que tenha sido organizada sob o impacto da investida francesa no litoral maranhense”. Decisivamente, a partir de 1753 a coroa portuguesa passara a investir numa “política mais sistemática de reconhecimento do território e um maior cuidado com sua defesa”. Não obstante a capitania geral do Pará abrangesse uma área atualmente correspondente ao Amapá, Rondônia, Roraima, Acre e o estado do Amazonas, até o ano de 1822, a defesa da Amazônia era muito precária e contava somente com três regimentos de infantaria e um corpo de cavalaria. Isto significa que: As forças militares responsáveis pela defesa das fortalezas e pelo interior da Amazônia, que na época formava a capitania do Rio Negro, eram igualmente inexpressivas. [...] não só a presença do Exército continuava inexpressiva, como também não se pode atribuir a ela a constituição e a defesa das atuais fronteiras brasileiras [que foram definidas diplomaticamente na segunda metade do século XIX] (SOUZA; CASTRO, 2006, p.60). O pensamento de Souza; Castro (2006) sobre a valorização da Amazônia pelo Exército brasileiro se deve a fatos relacionados a representações simbólicas como a Batalha dos Guararapes (durante a qual o Exército expulsou as tropas holandesas do território brasileiro - Pernambuco) e a um processo de transformação histórica ligada ao fenômeno da globalização e à noção de “cobiça internacional” pela Amazônia, o que instigaria nos militares brasileiros o papel que desempenhariam diante desse cenário internacional. O fim da guerra fria e o surgimento de “novas ameaças” despertaram nos militares brasileiros um espírito mais vivificado quanto à segurança e à defesa nacionais. Ainda durante o primeiro mandato presidencial de Fernando Henrique Cardoso, no ano de 1996, a aprovação da PDN foi considerada um grande marco do ponto de vista das relações entre civis e militares no Brasil. Sua finalidade era “fixar os objetivos para a defesa da Nação, bem como orientar o preparo e o emprego da capacitação nacional, em todos os níveis e esferas de poder, e com o envolvimento dos setores civil e militar” (PDN, 1996). Com isso, questões antes de competência exclusivamente militar deram espaço à participação de outros membros da sociedade, inclusive de acadêmicos civis nessas questões. A criação do Ministério da Defesa em 1999 reforçou o novo modelo de gestão no campo da defesa e da segurança no país, inaugurando o comando de civis no mais alto posto dessa área, embora, com a manutenção de algumas prerrogativas aos militares. 56 A primeira PDN tratou de lançar as bases para uma Política de Defesa mais consolidada e com base em novos eventos ligados ao período Pós-Guerra, como o narcotráfico, o terrorismo, etc. Segurança conforme a PDN, instituída pelo Decreto n.º 5.484, de 30 de junho de 2005, durante o primeiro mandato do presidente Luís Inácio Lula da Silva fora no seu inciso I, é entendida como [...] a condição que permite ao País a preservação da soberania e da integridade territorial, a realização dos seus interesses nacionais, livre de pressões e ameaças de qualquer natureza, e a garantia aos cidadãos do exercício dos direitos e deveres constitucionais. Esta mesma legislação no seu inciso II define o conceito de defesa nacional como [...] o conjunto de medidas e ações do Estado, com ênfase na expressão militar, para a defesa do território, da soberania e dos interesses nacionais contra ameaças preponderantemente externas, potenciais ou manifestas. O conceito de defesa explícito na PDN (2005) acena para a adoção de diversos tipos de ações pelo Estado, sejam elas voltadas para a área social, econômica, política ou qualquer outra que direta ou indiretamente contribua para os objetivos mais amplos de defesa do território brasileiro. A atual PDN é vista por estudiosos do tema como Silva (2004) e Nascimento (2005) como uma política que consolida a Amazônia como prioridade estratégica para a defesa nacional. A transcrição que segue ratifica claramente as afirmações: 4.3 O planejamento da defesa inclui todas as regiões e, em particular, as áreas vitais onde se encontra maior concentração de poder político e econômico. Complementarmente, prioriza a Amazônia e o Atlântico Sul pela riqueza de recursos e vulnerabilidade de acesso pelas fronteiras terrestre e marítima. 4.4 A Amazônia brasileira, com seu grande potencial de riquezas minerais e de biodiversidade, é foco da atenção internacional. A garantia da presença do Estado e a vivificação da faixa de fronteira são dificultadas pela baixa densidade demográfica e pelas longas distâncias, associadas à precariedade do sistema de transportes terrestre, o que condiciona o uso das hidrovias e do transporte aéreo como principais alternativas de acesso. Estas características facilitam a prática de ilícitos transnacionais e crimes conexos, além de possibilitar a presença de grupos com objetivos contrários aos interesses nacionais. 4.5 A vivificação, política indigenista adequada, a exploração sustentável dos recursos naturais e a proteção ao meio-ambiente são aspectos essenciais para o desenvolvimento e a integração da região. O adensamento da presença do Estado, e em particular das Forças Armadas, ao longo das nossas fronteiras, é condição necessária para conquista dos objetivos de estabilização e desenvolvimento integrado da Amazônia. [...] 57 O PCN investe na defesa da Amazônia, por meio de diversas ações de ordem civil e militar a depender de seu orçamento. O orçamento anual do MD, entretanto não pode ser considerado baixo, embora o investimento em defesa o seja, dado o alto percentual gasto com folha de pagamento de ativos, reservas e pensionistas, acrescidos de gastos com a previdência. Para ilustrar a situação tomamos como referência dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (SIAFI), referentes ao mês de dezembro de quatro anos a partir de 2004. O mês foi escolhido aleatoriamente apenas com o intuito dar sustentação às afirmações através da visualização dos dados. Vê-se na Tabela 1 que há uma nítida diferença entre os valores destinados a despesas com pessoal e encargos sociais como demonstram as tabelas a baixo: Tabela 1 - Orçamento anual - Ministério da Defesa: dotação x despesa tipo: outras despesas de custeio e capital (2007-2004) 2007 Dotação orçamentária 8,658,563.89 Despesa empenhada 8,094,541.92 2006 6,924,584.79 2005 2004 Ano 8,094,496.17 Restos a pagar pagos 6,048,693.14 1,104,366.82 6,101,727.62 6,101,727.62 4,956,752.18 1,213,156.95 7,042,633.67 6,192,755.96 6,192,748.37 4,953,345.92 1,008,936.44 5,334,577.45 5,166,504.85 5,166,505.39 3,918,300.55 787,852.17 Despesa executada Despesa paga Fonte: Portal SIAFI (2008) De acordo com dados da mesma fonte, para se ter uma ideia mais real da situação da defesa no Brasil, no ano de 2007, 80% do orçamento do MD foi gasto com pessoal mais déficit da previdência social. São cerca de um milhão de pessoas na folha de pagamento mensalmente, com 300 na ativa. 58 Tabela 2 - Orçamento anual - Ministério da Defesa: dotação x despesa tipo: pessoal e encargos sociais (2007- 2004) 2007 Dotação orçamentária 30,839,992.15 Despesa empenhada 30,773,379.77 Despesa executada 30,773,379.77 2006 28,583,517.46 28,531,150.60 28,531,150.60 28,477,594.59 33,856.63 2005 25,116,203.51 24,856,831.36 25,001,389.51 24,822,506.87 50,842.93 2004 22,866,620.86 22,612,418.63 22,612,418.63 22,561,572.23 11.78 Ano Despesa paga 30,697,033.52 Restos a pagar pagos 53,517.92 Fonte: Portal SIAFI (2008) Em alguns casos as despesas com pessoal e encargos sociais equivalem a mais de 90% do orçamento do MD. Isso nos chama a atenção pelo fato de termos no Brasil uma das maiores riquezas do planeta, a Amazônia, para a qual tem sobrado poucos recursos de investimento em defesa, apesar das ações do PCN, que tem desempenhado papel relevante nesta área. Embora a maioria dos pesquisadores da área de defesa e segurança descarte a possibilidade de uma guerra ou de uma invasão sobre a Amazônia, urge a necessidade de maior investimento em defesa e segurança nacional, inclusive na área de ciência e tecnologia militar, bem como na renovação dos instrumentos e armas de combate nas três forças. Dados do banco de dados sobre despesas militares do Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI) dão conta do baixo investimento do Estado brasileiro na defesa nacional em comparação com outros países da América Latina como se pode visualizar na Tabela 3. 59 Tabela 3 - Despesas militares do Brasil de 1988 a 2007 Fonte: SIPRI (2008) O investimento em defesa nacional, considerando o percentual do PIB até o ano de 2007, o Brasil só ganha de países como a Guiana e o Peru, embora se ressalte na nova PDN que a Amazônia é prioridade de defesa. Se isso fosse fato, o Brasil deveria ocupar a posição mais alta de investimentos em defesa dos países amazônicos, uma vez que é responsável pela maior parte da Amazônia. Há, portanto desencontros entre conteúdos legais, discursos e realidades. Ainda assim, a temática da defesa e da segurança da Amazônia são redefinidas e nela se inserem as preocupações contidas nos objetivos do PCN, isto é: aumentar a presença do poder público na região amazônica, contribuindo para a defesa nacional; proporcionar assistência às suas populações; fixar o homem nas fronteiras, dentro do arco do PCN que atua nos estados do Amapá, Acre, Amazonas, Rondônia, Roraima e os municípios da calha norte do rio Amazonas no estado do Pará e a ilha do Marajó. O PCN seria então uma válvula de escape, visto que parte dos recursos que compõem esse programa são oriundos de Emendas Parlamentares e/ou emendas de bancadas da região Norte. O seu caráter interministerial o descaracteriza institucionalmente como programa estritamente militar, apesar haver opiniões contrárias, sobretudo por parte de algumas tendências da antropologia. Seus objetivos convergem para o que a Doutrina Militar denomina de objetos da segurança. Estes, são os valores e os bens da nação. Entre os valores destacam-se a soberania, a independência, a liberdade e a integridade territorial, e, entre os bens, o povo e as infra-estruturas dos sistemas públicos e privados responsáveis pela promoção do bem comum, do desenvolvimento e do progresso do país (BRASIL, 2007, p.17) Partindo dessa orientação da própria doutrina militar no que tange especialmente à promoção do bem comum, do desenvolvimento e do progresso do país, presente na concepção 60 do PCN, o Ministério da Previdência Social (MPS) através da Portaria nº 1.378, de 10 dezembro de 2004, estabelece os parâmetros de sua participação no PCN, conforme prevê a Exposição de Motivos 616/MD de 19 de dezembro de 2003, sob as seguintes justificativas: CONSIDERANDO a necessidade de adoção de procedimentos uniformes que viabilizem atendimento e o acesso aos direitos previdenciários à expressivo número de brasileiros residentes na região de abrangência do Programa Calha Norte; e CONSIDERANDO a necessidade de se estruturar a articulação interministerial e setorial nas ações que precedam à efetivação dessa participação, resolve: Art. 1º Constituir Grupo de Trabalho - GT, composto por representantes deste Ministério e do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, com os seguintes objetivos: I - analisar os projetos do Programa Calha Norte do Ministério da Defesa, para conhecer seu escopo e possibilidades de participação da Previdência Social na assistência à população, informando-a sobre seus direitos e deveres perante à legislação previdenciária brasileira; II - elaborar proposta de Convênio entre os Ministérios da Previdência Social, da Defesa e o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, visando as ações prioritárias para o estabelecimento de uma política de inclusão previdenciária na região geográfica do Programa; III - propor diretrizes, sugerir medidas e analisar propostas para a participação da Previdência Social no Programa Calha Norte. Nota-se que o PCN possui uma forte amplitude militar, realizando obras nas áreas mais remotas da Amazônia, exercendo controles, pautados em ações estritamente direcionadas à defesa do território. Além do que possui singularidades positivas no que se refere à vertente social do programa, apesar de não ser um programa social na sua essência. A relevância da participação de outros ministérios no PCN contribui para a ampliação das ações do programa sem utilizar recursos do programa. Com isso aumentam-se as possibilidades do PCN se firmar como uma política pública de grande magnitude e atingir seu principal objetivo “Aumentar a presença do Poder Público na Região de atuação do Programa Calha Norte, contribuindo para a defesa nacional, proporcionando assistência às suas populações e fixando o homem na Região” (MD, 2006). Mais estritamente relacionado à defesa, Segundo Zanetti (2006, p. 42) uma consequência direta do PCN para a Amazônia é que “foram criados diversos Pelotões Especiais de Fronteiras (PEF) ao longo das fronteiras norte e ocidental do Brasil, permitindo, com isso, melhor distribuição dos efetivos militares”. Outra consequência da criação desses pelotões é o surgimento de vilas, povoados e até cidades em razão da infra-estrutura criada que funciona como atrativo para a população à sua volta. Pode-se citar como exemplo o caso de Pacaraima, que surgiu originalmente como uma Base Militar instalada na fronteira com a 61 Venezuela, no Marco BV-8, sendo mais tarde elevada à categoria de cidade pela Assembléia Legislativa de Roraima. Há defensores12 de que o conflito atual entre índios e não-índios na área da Reserva Indígena Raposa Serra do Sol tenha suas raízes fincadas na criação de Pacaraíma como cidade, uma vez que essa área já era definida como terra indígena. Ainda que esse tema seja relevante para discussão não faz parte do objetivo deste trabalho aprofundar a análise neste sentido, principalmente porque a criação dessa reserva e os conflitos nela existentes requerem interpretações e complexidades que fogem do enfoque aqui proposto. Por outro lado faz parte das ambições do PCN fornecer elementos necessários para a criação e fortalecimento de instituições estatais na Amazônia com a intenção de reduzir a vulnerabilidade da fronteira, por onde circulam os produtos e mercadorias dos agentes da ilegalidade, seja do contrabando, seja do tráfico de drogas, contra os quais o Estado procura tomar medidas a fim de desestimular essas atividades, porque criam as condições sociais para a instabilidade e a insegurança tanto da sociedade quanto da defesa do país. Estas preocupações estão explicitadas na PDN (2005). A nova PDN atualizou o debate não apenas quanto à segurança e à defesa nacionais, mas quanto à forma de incentivar o desenvolvimento regional na área de fronteira, haja vista que entre suas principais diretrizes constam: V - aprimorar a vigilância, o controle e a defesa das fronteiras, das águas jurisdicionais e do espaço aéreo do Brasil; VI - aumentar a presença militar nas áreas estratégicas do Atlântico Sul e da Amazônia brasileira [...] Essas diretrizes encontram-se em plena consonância com o PCN, especificamente no que diz respeito à Amazônia brasileira. O PCN na Amazônia que entende que a melhor estratégia para minimizar a vulnerabilidade da fronteira é assegurar a presença da população amazônida nela. Com base nisso “O PCN busca desenvolver ações de desenvolvimento que sejam socialmente justas e ecologicamente sustentáveis. Para isso, considera indispensável respeitar as características regionais e os interesses da Nação..13”. Com essa nova concepção a PDN se afirma não apenas como uma política pública de defesa e de segurança, mas também de desenvolvimento regional, ambos, cernes do PCN. Isto vai de encontro ao modelo de desenvolvimento puramente econômico, em razão de uma nova ordem das coisas, segundo a 12 Pró-Yanomami Comissão Pró-Yanomamy (CCPY) e outras ONG. 2 Disponível em: https://www.defesa.gov.br/programa_calha_norte/index.php 62 qual “os desequilíbrios regionais intensificados pela reorganização da produção globalizada passaram a ser estudados, basicamente, sob duas categorias analíticas, que, embora diferentes em muitos aspectos, ao fim são convergentes e complementares: a sustentabilidade e a endogenia” (MORAES 2003, p. 125). Essas duas categorias associadas ao objetivo de soberania, defesa e segurança são basilares para se atingir os objetivos do PCN. A ciência, a tecnologia, a biotecnologia possuem papel fundamental para a solução dos problemas relacionados não somente à prática do desenvolvimento sustentável, mas também àqueles atinentes à segurança e à defesa do país. Ainda que não sejam esses os objetivos do PCN, mas notoriamente é o caso do Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) e do Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM). Urge pensar o desenvolvimento sustentável com base nas relações trans-fronteiriças, levando em conta que a questão ambiental não tem fronteiras e inevitavelmente a disputa por recursos naturais pode se tornar o pivô de conflitos nacionais e internacionais, com vários exemplos em que o desfecho final foi a guerra. Ainda que não haja elementos para se afirmar que a guerra esteja no horizonte a curto e longo prazo nas fronteiras do Brasil. Isto porque a crise ambiental é, além de tudo, uma crise na relação entre os homens. Pensar a defesa, a segurança e o desenvolvimento sustentável requer não apenas planejar levando em consideração os limites físicos e territoriais, mas, sobretudo a questão social, que é um dos panos de fundo dos problemas ambientais, o principal gargalo do desenvolvimento regional e local e um dos grandes desafios para o Estado brasileiro é garantir a soberania, a defesa e a segurança nacionais. O PCN reconhece a relevância do desenvolvimento regional e local na globalização, que se fortalece principalmente porque “a construção de um sistema local autônomo e mais integrado nas redes globais é parte da estratégia de desenvolvimento e coloca o Estado e os agentes econômicos como atores fundamentais do desenvolvimento” (MORAES, 2003, p. 136). De outro modo, atingir o desenvolvimento local e regional é importante também para “gerar sinergias” necessárias para impedir que certas regiões fiquem à margem ou excluídas da dinâmica global, e, portanto, mais vulneráveis às chamadas novas ameaças. O momento é oportuno para se entender que o conceito de local é relativo tanto ao contexto global como ao regional. Esse cuidado pode evitar a formação de uma teoria genérica e/ou extrema sobre a relação entre o micro e o macro. Neste sentido, Ianni (2004, p. 243) desmistifica a aparência dicotômica existente entre local e global, criticando aos que se restringem a estudar o local como algo dissociado do global. É certo que o local possui uma dinâmica própria, mas essa dinâmica se define diante dos contextos regional, nacional e global. 63 Se há um limite entre local, regional, nacional e/ou global é do ponto de vista administrativo, legal e territorial, não do ponto de vista das relações sociais, econômicas, políticas ou culturais. O argumento mais forte do autor é o de que na essência, “o local e o global determinam-se reciprocamente, umas vezes de modo congruente e consequente, outras de modo desigual e desencontrado. Mesclam-se, tencionam-se singularidades, particularidades e universalidades”. De fato, a literatura sobre o local e o global deixa evidente a relevância do desenvolvimento local na era da globalização. Ele também se constitui numa forma de integração econômica com o contexto regional, nacional e internacional. Globalização, desenvolvimento regional e desenvolvimento local não se excluem. “Na realidade, constituem dois polos de um mesmo processo complexo e contraditório, exercendo forças de integração e desagregação, dentro do intenso jogo competitivo mundial” (BUARQUE, 2002, p. 34). O desenvolvimento regional e local é uma estratégia de relacionamento e de inserção do Estado Nacional às características dominantes da economia global, sobretudo no que tange aos padrões de competitividade, utilizando como instrumento de negociação as condições endógenas próprias de cada região, de cada local. Do ponto de vista da defesa e da segurança nacional, desenvolvimento local e regional são aglutinados e pensados, principalmente, como uma estratégia de vivificação das fronteiras nacionais, uma vez que incentiva a fixação de pessoas em lugares pouco habitados, fator imprescindível para a defesa e para a segurança nacionais. Como resume a tese de Nascimento (2005, p. 306): é neste particular que se percebe a ambição do Estado: proteger a fronteira com uma arrojada política de ocupação baseada no desenvolvimento local. Articula defesa militar por terra, mar/rios e ar, com o desenvolvimento e formação das habilidades profissionais objetivando criar as condições de funcionamento das instituições públicas e privadas. Isto é, criar e desenvolver o capital social mediante a formação acadêmica, sobretudo com o estímulo ao investimento em ciência e tecnologia, únicas capazes de dissuadir os intentos internacionais sobre a biodiversidade amazônica. Somando-se ao projeto de segurança e vigilância em andamento na região. Chama à atenção o fato de a literatura sobre o PCN ter abordado suas origens, o papel da Amazônia na Política de Defesa Brasileira (SILVA, 2005), implicações estratégicas e políticas para a fronteira e para a Amazônia em geral, no entanto nenhum deles procurou investigar o processo de gestão do PCN, indispensável para que suas metas e objetivos no âmbito civil e militar sejam alcançados. O modo de gestão do PCN no que concerne à aplicação dos recursos a realização de convênios diretamente contribuem para o desenvolvimento no âmbito local e para a defesa no plano mais geral se partirmos da premissa 64 de que o desenvolvimento cumpre a tarefa de fixar pessoas nos lugares em que a presença do Estado se dá de modo menos freqüente. 4.2 A REGIÃO DO PCN E A IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA DE MONTE ALEGRE O PCN abrange a maior parte da Amazônia Legal 14, excetuando-se apenas os estados do Mato Grosso, Tocantins e Maranhão. Portanto, abrange uma região onde se concentra a maior reserva de recursos do país e do mundo. Além de englobar 95 municípios que ficam diretamente na faixa de fronteira em 6 estados, acrescentou-se mais os municípios que ficam ao longo dos 150 km da faixa de fronteira nos estados do Amazonas, Acre e Rondônia, além dos municípios que ficam à margem esquerda do rio Juruá, ainda no Amazonas e os municípios da ilha do Marajó, no Pará. De acordo com dados do Ministério da Defesa, disponíveis nos relatórios de atividades do PCN (2007) essa região tem a especificidade de possuir cerca de 10% da água doce do mundo e 5% de toda a biodiversidade conhecida no planeta. Com esses dados é possível compreender a necessidade de investimento em políticas públicas de defesa e de segurança na Amazônia em sua totalidade e, principalmente nessa região que também se destaca pela baixa densidade demográfica de menos de 2 habitantes por km² e pela alta taxa de concentração urbana, fato que se revela em toda a Amazônia Legal, que cresce num ritmo de quase 2,0% ao ano e mais de 70% dessa população vive em áreas urbanas. No ano de 2007, a população da Amazônia Legal chegou a 23,6 milhões, o que significa quase 13% do total nacional e 518% maior que em 1950 (Tabela 4). 14 A Amazônia Legal, possui dimensões maiores que a bacia Amazônica. Cobre 5,1 milhões km² (60% do total nacional), concentra 30% das florestas tropicais úmidas do planeta; 20% da água doce fluvial e lacustre do mundo; 30% da diversidade biológica mundial e possui subsolo com incalculáveis reservas minerais. Cerca de 40% desse território constitui-se de áreas protegidas ou de destinação específica como: unidades de conservação de proteção integral e de uso sustentável, terras indígenas, terras quilombolas e áreas militares. 65 Tabela 4 - Urbanização da Amazônia Legal, 1950-2007 Fonte: IPEA apud Diniz (2008) Tabela 5 - Coeficiente de Gini15 para o estado do Pará e suas regiões de integração 2003/2004 Região de integração 2003 2004 Pará 0,69 0,70 Araguaia 0,36 0,34 Baixo Amazonas 0,57 0,57 Carajás 0,64 0,65 Guamá 0,51 0,52 Lago de Tucuruí 0,61 0,59 Marajó 0,35 0,36 Metropolitana 0,70 0,70 Rio Caetés 0,47 0,46 Rio Capim 0,45 0,45 Tapajós 0,41 0,43 Tocantins 0,63 0,67 Xingu 0,38 0,38 Fonte: IBGE/SEPOF (2006) Parte da preocupação manifestada dos militares no período de idealização do PCN é aqui ratificada com as informações acima. Ganha destaque a desigualdade registrada pela Tabela 5 no estado do Pará e na região do baixo Amazonas onde se localiza a área de estudo (o município de Monte Alegre), ocupando a quarta posição no que se refere à desigualdade e 15 Coeficiente utilizado para medir a desigualdade, que varia de 0 a 1. Quanto maior o número, maior a desigualdade, quanto mais próximo de zero menor a desigualdade. 66 concentração de renda, perdendo apenas para a região metropolitana, para o estado do Tocantins e, para a região do Carajás. A região Norte ganha destaque também por possuir a maior área, contrastando com a sua população, que é a segunda menor do Brasil. Tabela 6 - População dos municípios do estado do Pará na área do PCN, para o ano de 2007 Município População total Dens. dem Área/km2 1 Almeirim 30.903 0.42 72.960 2 Alenquer 52.661 2,36 22.282 3 Curuá 11.928 8.33 1.431 4 Faro 17.253 1,47 11.767 5 Juruti 33.775 4,06 8.304 6 Monte Alegre 61.350 2,82 21.703 7 Prainha 26.436 2,09 12.599 8 Óbidos 46.793 1.66 28.021 9 Oriximiná 55.175 0.51 107.603 10 Terra Santa 15.316 8,05 1.901 11 Melgaço 17.845 2,63 6.774 12 Afuá 31.183 3,72 8.373 13 Breves 94.458 9,89 9.550 14 Anajás 24.942 3,60 6.922 15 Chaves 19.368 1,48 13.085 16 Cachoeira do Arari 18.995 6,12 3.102 17 Bagre 18.580 4,22 4.397 18 Gurupá 24.384 2,85 8.540 19 Muaná 28.796 7.64 3.766 20 Ponta de Pedras 24.276 7,21 3.365 21 Salvaterra 17.077 16,35 1.044 22 Portel 45.586 1,79 25.385 23 Santarém 274.285 11,98 22.887 24 Santa Cruz do Arari 5.921 5,50 1.075 25 São Sebastião da Boa Vista 20.500 12,56 1.632 26 Soure 21.395 6,09 3.513 27 Curralinho 25.388 7,01 3.617 Fonte: IBGE – Contagem da População (2007) 67 A população total do município de Monte Alegre16 é a terceira maior dos municípios que fazem parte do PCN, contudo ainda permanece com densidade demográfica abaixo de 3 pessoas por km², embora haja municípios com densidade demográfica menor que Monte Alegre como se vê na tabela acima. Outro fator relevante sobre a região são os índices de desmatamento registrados ao longo dos anos, o que só reforça a necessidade urgente da atuação mais efetiva do Estado por meio de políticas públicas. Isso tem implicações para a governança17 da Amazônia brasileira, haja vista que é através da governança que se poderá avaliar os impactos provocados pelas diferentes modalidades de experiências direcionadas para a contenção do desmatamento, sobretudo apostando nela para a solução do impasse na luta pela diminuição do desflorestamento, haja vista que a criação da governança impõe o fortalecimento da autoridade estatal no controle de processos que vão na contramão do desenvolvimento sustentável. Dados recentemente publicados na imprensa nacional e resumidos na Tabela 7 mostram que ainda é necessário tomar medidas mais enérgicas para conter o desmatamento, sobretudo no sentido de fiscalizá-lo. Tabela 7 - Percentual de desmatamento na Amazônia entre 2007 e 2008 por estado Estado Pará Mato Grosso Rondônia Amazonas Roraima Acre Tocantins % 62,7 12 11,3 9,8 2,9 1 0,1 Fonte: Imazon/SAD (2008) 16 Para melhor compreensão da história do município de Monte Alegre é preciso entender que ela se confunde com a história colonial do Brasil. Foi colonizada pelos religiosos capuchos de Portugal, no século XVI. Em 1824, foi uma importante base do movimento da Cabanagem que contestava a forma de “independência” do Brasil, uma vez que continuava com os portugueses o poder de mando e a economia local. Em 1880, foi elevada à categoria de cidade pelo Império, entretanto a divisão territorial atual data de 1943. 17 Governança, diz respeito aos arranjos político-institucionais para o fortalecimento da autoridade estatal na busca do exercício efetivo de suas atribuições constitucionais concernentes à produção, execução e monitoramento das políticas públicas. O conceito aponta para a busca de marcos regulatórios que determinem a participação de atores sociais, o formato do público e do privado, assim como o financiamento das políticas governamentais com a finalidade de resolver os impasses da sociedade; enfim, a governança aborda o modus operandi das instituições estatais e públicas e a capacidade dessas instituições políticas de responder, em tempo hábil, as demandas dos cidadãos. Segundo o Banco Mundial (1992, p.3 e nota 1) a governança (governance) inclui: a) a forma do regime político (parlamentarismo ou presidencialismo, civil ou militar e autoritarismo ou democracia); (b) os processos pelos quais a autoridade é exercida no gerenciamento dos recursos econômico e social de um país; e (c) a capacidade do governo para formular e implementar políticas, e, em geral, para o governo cumprir suas funções. 68 A ineficiência do Estado na fiscalização do cumprimento da legislação ambiental e também em outras áreas pode impactar nos índices de desmatamento. No município de Monte Alegre, localizado na mesorregião do Baixo Amazonas e na microrregião de Santarém (Mapa 2) a falta de agilidade para a legalização do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Serra Azul, criado no ano de 2005 pelo Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), está contribuindo para o desmatamento ilegal na área, que foi interditada pela Justiça Federal no ano de 2007. ESCALA 1:10.000.000 Mapa 2 - Localização do município de Monte Alegre Fonte: CPRM Belém/PRIMAZ (2007) Como parte da Amazônia Brasileira, sua importância para o país está principalmente no fato de possuir rico potencial natural, onde merece destaque a rede hidrográfica, integrada por três grandes bacias, cujos principais cursos d'água são os rios Amazonas, Maecuru e Jauari (alto curso). A bacia do Amazonas, que fica situada no lado sul do município serve de limite entre Monte Alegre e os municípios de Prainha e Santarém, ocupando cerca de 15% do espaço municipal e tendo como principal integrante o rio Amazonas, que corta o município de 69 Monte Alegre no sentido oeste/leste e, sudoeste/nordeste, num percurso aproximado de 100 km. Além disso seu potencial histórico-cultural como os sítios arqueológicos e as pinturas rupestres, consideradas vestígios da mais antiga ocupação humana na Amazônia, e talvez nas Américas, são fatores relevantes para definir esse município como estratégico para a defesa nacional. Os sítios mais conhecidos ficam na área centro-sul do município, no complexo constituído pelas serras da Lua, do Ererê, do Paituna e do Aroxi. Portanto, para a defesa nacional, o município de Monte Alegre possui características singulares para estar no PCN: além de está localizada na área do programa, possuir baixa densidade demográfica, perfil social compatível com o que estabelece o PCN (Alta Taxa de Urbanização, baixa densidade demográfica e outros indicadores demográficos), abriga a maior parte de uma das mais importantes áreas indígenas brasileiras, a Terra Indígena Paru D‟Este, dos grupos indígenas Aparai e Wayana cujas fronteiras se estendem compreendem o Norte do Pará, Guiana Francesa e Suriname, Amapá, Parque do Tumucumaque, 3,8 milhões de hectares, área equivalente ao tamanho da Bélgica, sendo que, 1. 195,786 hectares estão localizados no Estado do Pará, de acordo com informações do Instituto de Terras do Pará (ITERPA) (Mapa 3). 70 Mapa 3 - Localização da Terra Indígena Paru d‟Este Fonte: ITERPA (2008) 71 Alguns dos grupos indígenas (Amapá e norte do Pará) estão distribuídos em ambos os lados da fronteira entre o Brasil e os países limítrofes. De um lado ao outro, há contatos regulares, embora intermitentes (Quadros 6 e 7). TERRA INDÍGENA Uaçá ESTADOS MUNICÍPIOS Amapá Oiapoque Juminã Amapá Oiapoque Galibi do Oiapoque Amapá Oiapoque Waiãpi Amapá Parque de Tumucumaque Pará e Amapá Amapari, Laranjal do Jari Oriximiná, Óbidos, Almeirim, Alenquer, Monte Alegre Rio Paru d´ Este Pará Zo'é Pará Almeirim, Alenquer, Monte Alegre Oriximiná Óbidos, Alenquer Quadro 6 - Terras indígenas na fronteira norte SUPERFÍCIE POVOS /HA 470.164 Galibi Marworno Karipuna Palikur 41.601 Galibi Marworno Karipuna 6.889 Galibi do Oiapoque Karipuna 607.017 Wajãpi 3.071.067 1.195.785 664.465 Aparai Katxuyana Tiriyó Wajãpi Wayana Aparai Wajãpi Wayana Zo'é Fonte: Instituto de Pesquisa e Formação em Educação Indígena (IEPE) (2008) GRUPOS PAÍSES INDÍGENAS Tiriyó Suriname Wayana Guiana Francesa Suriname LOCALIZAÇÃO POPULAÇÃO / FONTE 1400 (Boven, 2001) 800 (Lopes, 2002) 500 (Lopes, 2002) Rios Paloemeu e Sipaliweni Margem direita do alto rio Maroni (ou Aretani) Margem esquerda do alto rio Maroni Wayapi Guiana Francesa Margem esquerda do rio 710 (Tinoco, 2002) Oiapoque, entre Camopi e Trois Sauts Palikur Guiana Francesa Saint Georges de l´Oyapock e 720 (Passes, 1994) rio Gabaret Kali´nã Guiana Francesa Awala-Yalimapo, Iracoubo, 3000 (OkaMag, 2002) (Galibi) Suriname Mana, St. Laurent du Maroni, 3000 (OkaMag, 2002) Venezuela Kourou 11150 (OkaMag, 2002) Quadro 7 - Grupos indígenas distribuídos em ambos os lados da fronteira entre o Brasil e os países limítrofes Fonte: Instituto de Pesquisa e Formação em Educação Indígena (IEPE) (2008) 72 Além dessa importância estratégica de Monte Alegre, o município também possui o perfil social e econômico, exigidos para que possa fazer parte do PCN, o que não é apenas uma peculiaridade desse município, mas de todos os 27 do Estado do Pará, atualmente inseridos no programa. Um dos instrumentos mais utilizados para delinear o perfil social de um município é o Índice de Desenvolvimento Humano18 (IDH), que, no caso de Monte Alegre, segundo dados do PNUD/Atlas de Desenvolvimento Humano (2000) é de 0,69. Isso aponta indícios da necessidade de investimento das três esferas da federação brasileira para executar ações consideradas básicas para seu desenvolvimento. Além do IDH, o perfil social e econômico do município de Monte Alegre podem ser constatados (Tabelas 8, 9, 10 e 11). Tabela 8 - Indicadores demográficos do município de Monte Alegre comparados com os indicadores do estado do Pará e do Brasil (2000 e 2004) Indicadores População Total¹ Menor 1 ano¹ 1 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 19 anos¹ 20 a 49 anos¹ 50 a 59 anos¹ 60 e +¹ Proporção de menores de 5 anos de idade na população¹ Proporção de adolescentes na população (10 a 19 anos)¹ Proporção de mulheres em idade fértil (10 a 49 anos)¹ Proporção de idosos na população (60 anos e mais)¹ Densidade demográfica² Grau de urbanização² Monte Alegre 64.747 1.769 7.274 9.079 16.419 22.440 3.458 4.308 13,97 25,36 28,28 6,65 3,07 34,11 Pará Brasil 6.695.940 179.108.134 163.994 3.399.251 677.799 13.918.815 826.201 17.471.260 1.611.582 37.226.209 2.670.146 78.737.506 363.334 13.142.561 382.884 15.212.532 12,57 9,67 24,07 20,78 31,61 32,73 5,72 8,49 4,96 19,92 66,55 81,25 Fonte: Elaborada pela autora com dados do IBGE/Ministério da Saúde (2008) Notas: 1 – IBGE estimativa 2004 2 – IBGE 2000 18 A conceituação sobre o que vem a ser Desenvolvimento Humano, segundo Sposati (2000, p. 5) está relacionada a estudos realizados pela ONU/PNUD. “Com base em suas reflexões, entende-se que o desenvolvimento humano é a possibilidade de todos os cidadãos criarem uma sociedade melhor e desenvolverem seu potencial com menor grau possível de privação e de sofrimento; a possibilidade da sociedade poder usufruir coletivamente do mais alto grau de capacidade humana.” 73 Tabela 9 - Indicadores sociais do município de Monte Alegre – PA em comparação com o estado do Pará e com o Brasil (2002 a 2005) Indicadores Pará Brasil Proporção de pobres Monte Alegre --- 41,09 31,06 Taxa de analfabetismo da população (15 anos ou mais) 20,21 16,77 13,63 Cobertura de rede de abastecimento de água (população urbana) 58,56 56,15 88,50 Cobertura de sistemas de esgotamento sanitário (população urbana) 34,20 48,83 69,52 Cobertura de sistemas de coleta de lixo (população urbana) 87,09 73.20 90,50 Fonte: Elaborada pela autora com dados do IBGE/Ministério da Saúde (2008) Pelo que mostram os indicadores do município de Monte Alegre, há uma necessidade explícita de atuação do Estado nas três esferas de poder através do planejamento em políticas públicas para incentivar o desenvolvimento. Todos os indicadores apresentados nas tabelas acima, comparados com o Brasil e com o Estado do Pará o colocam em posição desfavorável. Esses números existem mesmo com as ações do PCN em Monte Alegre. Isso, na nossa concepção não significa que o programa não contribua para o desenvolvimento local, pode significar que o PCN não seja, sozinho, suficiente para elevar esses indicadores. Entretanto deixaremos essa questão para outra pesquisa, haja vista não ser o objetivo desta investigação, mensurar a contribuição do PCN para o desenvolvimento de Monte Alegre. Tabela 10 - Receitas municipais de Monte Alegre - PA (2002-2005) Receitas municipais Receita corrente 2002 18.580.805,88 2003 22.478.682,32 2004 26.006.526,16 2005 31.614,69 Receita tributária 444.988,19 552.327,88 534.819,75 1.015,780 Impostos 302.458,89 415.779,54 364.774,03 863.188 IPTU 101.426,16 115.079,71 141.793,86 107.507 ISSQN 116.943,07 111.547,20 114.090,96 241.088 ITBI 2.771,74 4.912,82 18.742,00 8.527 IRRF 81.317,92 184.239,81 90.147,21 506.065 Taxas 142.529,30 136.548,34 170.045,72 152.596 Outras receitas próprias 373.023,71 444.837,38 1.102.462,33 1.046.110 8.847.411,27 21.481.517,06 24.369.244,08 297.552.79 Receitas transferidas Fonte: TCU/SEPOF (2005) 74 Tabela 11 - Transferências constitucionais do ICMS, FPM, IPI, FUNDEF, IPVA 1995 - 2006 ANOS ICMS (¹) FPM (¹) IPI (¹) FUNDEF IPVA TOTAL 1995 482.976,19 2.543.165,38 39.813,35 - - 3.065.954,92 1996 560.419,78 2.877.186,70 50.137,29 - 14.862,93 3.502.606,70 1997 502.747,69 2.870.904,56 57.272,89 1.066.868,94 14.524,55 4.512.318,63 1998 513.880,26 3.498.207,51 52.877,87 2.733.193,30 25.056,20 6.823.214,44 1999 597.115,95 3.884.261,46 51.282,87 3.422.362,53 39.789,91 7.994.812,72 2000 906.530,00 3.881.009,00 69.392,00 3.657.141,00 30.657,00 8.544.729,00 2001 1.176.704,22 4.605.421,74 79.332,77 5.474.422,59 35.070,99 11.370.952,31 2002 1.278.935,72 5.397.854,72 67.038,64 6.727.840,26 54.335,91 13.526.005,25 2003 1.541.994,80 6.134.987,42 54.187,43 7.451.132,60 83.868,82 15.266.171,07 2004 1.741.005,87 6.776.176,65 58.122,59 7.353.476,21 95.297,79 16.024.079,11 2005 2.182.374,93 8.372.525,91 69.503,04 10.206.077,07 107.713,93 20.938.194,88 2006 2.799.139,51 9.257.856,99 91.728,82 11.177.714,91 122.651,39 23.449.091,62 Fonte:SEPOF/SEFA/TCU/SEDUC (2006) (1) Menos 15% do FUNDEF Ao se comparar os valores dos convênios feitos entre o município de Monte Alegre e o PCN, pode-se ter uma noção de como os recursos do PCN são relevantes. Apenas um dos convênios, no valor de 1.450.000,00, realizado no ano de 2007 para drenagem de águas pluviais, é maior que o valor referente à receita tributária do ano de 2005. Além do que como se pode observar a maior parte dos recursos de que dispõe Monte Alegre advém de transferências constitucionais, das quais quase 50% obrigatoriamente devem ser aplicados na educação, por ser verba do Fundo de Valorização do Ensino Fundamental (FUNDEF). O diretor de convênios do município, Francisco Carlos Carvalho de Lima, em entrevista 19 afirmou que, praticamente todas as demandas maiores de Monte Alegre são atendidas via Calha Norte. 19 Entrevista realizada no dia 24 de agosto de 2007, na Prefeitura Municipal de Monte Alegre com a participação do Coordenador do CFAS21. 75 5 O PROCESSO DE GESTÃO DO PCN O conceito de gestão, apesar de ser largamente utilizado não é algo de fácil definição, principalmente quando o que está em pauta é a gestão das organizações estatais. Ela pode ser, sem dúvida, fator de sucesso ou de fracasso das políticas públicas e dos programas de governo. Os conceitos existentes na literatura fundamentam-se em campos teóricos diversos e a polarização qualitativa encontra-se entre o campo da administração e o da ciência política. Na administração, o conceito de gestão se aproxima da ideia de gerência e desta forma toma um caráter mais operacional e instrumental ao prevalecer o entendimento de que se trata de uma função organizacional voltada para a coordenação e o controle. Na ciência política, que também possui proximidade com a administração pública, o conceito de gestão incorpora uma dimensão política traduzida em aspectos menos procedimentais, privilegiando a discussão sobre o poder e sua legitimidade, politizando assim os conflitos presentes no processo de decisão no âmbito das organizações, inclusive nas organizações públicas (GUIMARÃES; SANTOS; MELO, 2004, p. 1642). A análise da gestão de programas públicos é, portanto possível na medida em que se traça o desenho institucional, especificamente no que se refere ao perfil do gasto público; à forma de organização da ação governamental; ao modo como se organizam as demandas; e à adesão do bem ou serviço às condições específicas do demandante (FREY, 2000, p. 22). O interesse da análise de políticas públicas não pode se resumir a aprofundar o conhecimento acerca de planos, programas e projetos desenvolvidos e implementados pelas políticas setoriais. De um modo mais completo, a abordagem da policy analysis' pretende analisar a inter-relação entre as instituições políticas, o processo político e os conteúdos de política com o arcabouço dos questionamentos tradicionais da ciência política (WINDHOFF-HÉRITIER, 1987 apud FREY, 2000, p. 14). Em razão disso, busca compreender em maior grau de profundidade os aspectos empíricos e políticos presentes nas políticas públicas. A análise de programas pode incluir além da dimensão institucional e processual a dimensão material, ou seja, o que concretamente se obteve com o programa. Particularmente, e em sintonia com os conceitos acima dispostos entende-se que a gestão pública diz respeito, pois, à forma como os recursos públicos são gerenciados e aplicados para que o Estado atenda as demandas da sociedade. A gestão pública capaz de cumprir esse papel precisa ser eficiente (racionalizar custos com o máximo de resultados) 76 eficaz (usar os instrumentos gerenciais adequados para atingir seus objetivos e metas) e efetiva (atender as demandas sociais com eficiência e eficácia). Os resultados da gestão pública são alcançados por meio das funções fundamentais da gestão, quais sejam: planejar, organizar, dirigir e controlar. Desde o ano de 1995, quando foi redefinido o PCN tem se fortalecido mediante a aplicação de metodologia específica para a gestão do Programa, afinada com o propósito governamental de integração de suas ações na Amazônia, priorizando, as dimensões e o alcance social desse Programa para a Região. A metodologia aplicada se caracteriza pelo esforço constante de integrar e articular os três níveis da administração pública: o federal, o estadual e o municipal. Para isso, estimula, articula e valoriza convênios e/ou parcerias com outras instituições específicas em outras esferas, visando integrar instituições de ensino, pesquisa, planejamento, organizações não-governamentais e associações, que se autoidentifiquem com o processo de desenvolvimento sustentável da Amazônia, ligado tanto à vertente civil quanto à militar do PCN. Possuem representação efetiva no Calha Norte as instituições que o quadro a seguir descreve: continua... QUANTIDADE 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 NOME DA INSTITUIÇÃO Comando da Marinha Comando do Exército Comando da Aeronáutica Estado do Acre Estado do Amapá Estado do Amazonas Estado do Pará Estado de Rondônia Estado de Roraima Casa Civil da Presidência da República Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Ministério das Cidades Ministério da Ciência e Tecnologia Ministério das Comunicações Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Ministério da Educação Ministério da Fazenda Ministério da Integração Nacional Ministério da Justiça - Polícia Federal Ministério do Meio Ambiente Ministério de Minas e Energia Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão 77 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 continuação Ministério da Previdência Social Ministério das Relações Exteriores Ministério da Saúde Ministério do Trabalho Ministério dos Transportes Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA Fundação Nacional do Índio - FUNAI/MJ Associação dos Municípios da Calha Norte do Pará -AMUCAN Associação dos Municípios da Ilha do Marajó Associação dos Municípios do Estado do Amapá –AMEAP Associação dos Municípios do Estado de Roraima –AMER Associação Amazonense de Municípios –AMM Associação dos Municípios do Acre – AMAC Associação dos Municípios de Rondônia – AARON Sistema de Proteção da Amazônia – SIPAM Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA Instituto Superior de Administração e Economia da Amazônia ISAE/FGV Museu Emílio Goeldi/PA Serviço de Apoio à Pequena Empresa - SEBRAE Superintendência da Zona Franca de Manaus - SUFRAMA Universidade Federal do Amazonas - UFAM Universidade Federal do Pará – UFPA Universidade Federal de Roraima – UFRR Universidade Federal do Amapá – UFAP Universidade Federal do Acre – UFAC Universidade Federal de Rondônia – UFRO Secretaria Nacional Anti-Drogas/GSI Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social / BNDES Quadro 8 - Instituições e entidades com representação efetiva no PCN Fonte: Ministério da Defesa/Programa Calha Norte (2007) É relevante destacar que essas instituições possuem apenas um papel consultivo. A deliberação de qualquer questão relativa a convênio e/ou área de investimento é privativa do MD e da Gerência do PCN. Apesar disso, elas desempenham importante papel pelo conhecimento que possuem da região e por poderem apontar, discutir e sugerir ações que contribuam para o desenvolvimento regional sustentável e para a defesa e segurança nacional, sobretudo no que concerne à Amazônia. O processo de avaliação legal do PCN, como todo programa de Estado diz respeito à aplicação dos recursos a ele alocados na Lei de Orçamento Anual (LOA), obedecendo o seguinte ciclo: 78 Controle Interno Poder Judiciário CIDADÃO Poder Legislativo Ministério Público Tribunal de Contas Fluxograma 1 - Ciclo de avaliação do processo de gestão pública Fonte: TCU (2000) Além de avaliar o Programa quanto à aplicação dos recursos, sua gestão e as instituições formais que fazem parte desse ciclo de avaliação (Tribunal de Contas da União, Ministério Púbico e Poder Judiciário) também avaliam a legalidade dos convênios realizados entre PCN e prefeituras municipais ou Estados se for o caso, observando a legislação específica para a realização dos convênios. A seção seguinte aborda com maior detalhamento essa questão específica. 5.1 CONVÊNIOS: INSTRUMENTO DE IMPLEMENTAÇÃO DAS AÇÕES DO PCN Os Convênios são elementos essenciais para a implementação de políticas públicas, previamente definidas no planejamento estratégico. Na área da administração pública o conceito de convênio é muito amplo e possui infinitos significados. Pode ser conceituado como o instrumento de realização de um objetivo específico, comum às partes a quem possa interessar, embora com tarefas individualmente definidas a cada partícipe. No convênio, o ato de assumir deveres cumpre a finalidade de regular a atividade dos integrantes da Administração Pública envolvidos na busca da realização de um interesse comum e público. Trata-se de uma relação institucional formal que pode ser estabelecida entre órgãos ligados à administração direta e indireta. O PCN segue este rito legal em sua relação com os municípios da área da Calha Norte com os quais consegue instrumentalizar o processo de convênio, uma vez que em sua estrutura organizacional, este prevê recursos para investimento em municípios da fronteira amazônica, definidos por esse programa como indispensáveis à defesa nacional.Um dos maiores entraves para a não realização de convênios entre o MD e os municípios da área de integração do Estado do Pará (Baixo Amazonas e Marajó) segundo assinalou em entrevista o Gerente Executivo do PCN, comandante José Almeida, reside no 79 fato de que a maioria dos municípios das duas áreas, encontra-se inadimplente com o Governo Federal, associado ao desconhecimento e a ausência capacitada para elaborar projetos são os principais Motivos para que os recursos do PCN não atinjam plenamente seu alvo. Objetivando suprir esse obstáculo detectado pela equipe técnica do programa, através de avaliação interna anual do PCN, completou o Comandante Almeida: “Disponibilizamos na internet as normas e instruções para a celebração de convênios do Calha Norte. Utilizando-se desse documento as prefeituras não terão o que errar”. Encontrar obstáculos e apontar soluções, de fato é um dos principais objetivos da avaliação de processo e de gestão. No mesmo sentido, a avaliação de políticas públicas, de um modo geral, tem sido percebida como instrumento indispensável para conhecer a viabilidade de programas e projetos, para o redirecionamento de seus objetivos, quando for o caso, ou mesmo para a reformulação de suas propostas e/ou atividades. A avaliação, portanto se revela como um importante mecanismo de gestão, dado que fornece informações e subsídios para a tomada de decisão dos gestores, formuladores e implementadores de programas, pois possibilita conhecer o que está acontecendo e atuar sobre a realidade de forma a realizar ajustes necessários, economizando se dessa forma tempo e recursos, o que eleva a credibilidade dos gestores públicos. O discurso acima citado é um exemplo nessa direção. O PCN realiza suas ações através da realização de convênios que obedecem um conjunto de normas (Documento nº 1 – Instrução Normativa nº 01, de 15.01.1997; Documento nº 2 – Instrução Normativa STN nº 01, de 28.02.2002; Documento nº 3 – Instrução Normativa STN nº 01, de 04/05/01; (Lei de Responsabilidade Fiscal e Cadastro Único – CAUC); Documento nº 4 – Lei Complementar nº 101, de 04.05.2000; Documento nº 5 – Portaria nº 2436, de 10.07.2001), dentre as quais é preciso que o município possa: a) atender aos requisitos da Lei de Diretrizes Orçamentárias vigente quanto ao cumprimento das disposições constitucionais, ressalvados os casos de calamidade pública; b) comprovar a inexistência de débito para com o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) mediante a apresentação dos comprovantes de recolhimento referentes aos 03 (três) meses imediatamente anteriores ao previsto para a celebração do convênio e, se for o caso, também a regularidade quanto ao pagamento das parcelas mensais relativas aos débitos renegociados na forma da Lei nº 8.212/91; e c) comprovar a situação de regularidade perante o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS. Com base nessas exigências e nas demais, constantes no Anexo B, o PCN obedece às seguintes etapas para a realização de convênios: 80 Manifesto do proponente (Parlamentar) Aceito/não aceito Apreciação do Md Emissão do Termo de Assentimento pelo MD Aprovação da LOA Apreciação CISET/CONJUR Pagamento Ajustes para o enquadramento Técnico e Jurídico Pré-Convênio Empenho Celebração do Termo de Convênio Apresentação de Plano de Trabalho e Projeto Básico Análise da documentação apresentada (IN STN 01/97, LRF, CAUC) Proposta aprovada ou não Numeração do Processo Apreciação DPE SPEAI Fluxograma 2 - Etapas para elaboração de convênio com o PCN Fonte: Ministério da Defesa/Programa Calha Norte (2007) Execução do Objeto do Convênio Prestação de Contas Vistoria da Execução do Objeto Aprovado 81 Em entrevista concedida em Brasília, 05 de dezembro de 2006, o Coronel Roberto de Paula Avelino, gerente do PCN, descreve que para celebrar um convênio com o PCN, a prefeitura ou governo do Estado envia o projeto para a gerência do programa em Brasília, no qual deve constar o valor e a obra que se pretende realizar com o projeto. A parte técnica e documental é analisada e se estiver tecnicamente viável e conforme a legislação, o convênio pode ser fechado. No que tange à licitação, fica a cargo da parte interessada, a prefeitura ou do estado. Na região norte, o PCN realiza parcerias com diversos municípios dos estados de Roraima, Pará, Amazonas, Amapá, Acre, Rondônia. No município de Monte Alegre, não obstante a infraestrutura da prefeitura municipal seja bastante precária, há um setor exclusivo para tratar de convênios (Fotografia 1). Fotografia 1 - Setor de Convênios da Prefeitura Municipal de Monte Alegre - PA Fonte: Ferreira (23.08.2007) Os recursos advindos de convênios entre o PCN e as prefeituras desses Estados conforme os critérios definidos pelo MD no total estão representados abaixo em ordem decrescente. Nº DE ESTADO CONVÊNIOS VALOR (R$) ORDEM 1 Amazonas 7 3.950.000,00 2 Roraima 4 2.510.153,57 3 Rondônia 1 172.734,06 4 Acre 5 Amapá 6 Pará TOTAL 12 6.632.887,63 Quadro 9 - Convênios realizados e valores repassados pelo PCN por estado no ano de 2005 Fonte: Ministério da Defesa (2005) 82 ESTADO Roraima Acre Amazonas Rondônia Amapá Pará TOTAL CONVÊNIOS 31 14 21 24 8 7 105 VALOR (R$) 30.736.812,63 26.673.579,41 9.238.420,00 7.833.228,66 4.325.268,07 2.849.685,00 81.656.993,77 Quadro 10 - Convênios realizados e valores repassados pelo PCN por estado no ano de 2006 Fonte: Ministério da Defesa (2006) Além desses convênios como forma de contribuir para o desenvolvimento regional em sua área de atuação o PCN fez também convênio com a FGV, o Instituto Superior de Administração de Economia do Amazonas, com o objetivo de elaborar estudos de “Subsídios para uma Estratégia de Desenvolvimento da Amazônia Setentrional 2001 – 2010” e “Planos de Desenvolvimento Integrado e Sustentável Regionais e dos Municípios do Alto Solimões e do Estado de Roraima”. Embora a Amazônia Oriental não tenha sido contemplada com essa ação, que tem possibilidade de ser ampliada, a depender das Emendas e do Orçamento alocados para essa região, é oportuno mencioná-la para enfatizar a importância do PCN como política pública para a Amazônia nos campos da defesa e da segurança nacional e do desenvolvimento regional sustentável. 5.2 O GERENCIAMENTO DOS RECURSOS E A IMPLEMENTAÇÃO DO PCN EM MONTE ALEGRE O gerenciamento de processos pode ser usado como um fim em si mesmo, para guiar programas de redução de custos e de tempos de prestação de serviços, de melhoria da qualidade do processo ou outros esforços para melhoria do desempenho da organização. Como resultado do processo de planejamento, que, como assinala Matus (1997, p. 24) precede e preside a ação tem-se a aplicação desses recursos como consta no gráfico acima. Os repasses são feitos por meio de convênios entre os entes públicos do PCN e do MD e são fiscalizados in loco pela equipe que gerencia o programa. O repasse das demais parcelas fica condicionado à execução da obra, objeto do convênio, dentro do cronograma. Este é requisito básico para a celebração do convênio e é apresentado no do projeto inicial, anexado ao projeto da obra. 83 No que se refere ao processo de gestão do PCN, especialmente no que concerne à fiscalização da aplicabilidade dos recursos, resultantes dos convênios, percebe-se, certa preocupação dos militares que comandam o PCN. A visitação às obras pelo programa financiadas são um claro indicativo da tentativa de impedir o desvio de recursos. Esse é um dos pontos positivos do Processo de Gestão do PCN. Nesse sentido, esse programa exerce função típica do TCU com os municípios que firma convênio, embora tudo isso também seja fiscalizado pelo TCU. O dispositivo legal que ampara os militares nesse tipo de ação encontra-se no Regimento Interno do MD, Inciso X, que diz: “cabe a essa instituição [...] supervisionar programas e projetos em áreas ou setores específicos, de interesse da defesa nacional” (BRASIL, 2000, p. 19). Os investimentos realizados pelo PCN revelam um forte incremento em suas atividades, dentro de seus objetivos voltados à “manutenção da Soberania Nacional e da Integridade Territorial Nacional” e “promoção do Desenvolvimento Regional na Região da Calha Norte”. Vale ressaltar que os dados do Quadro 10 revelam que esforços foram empreendidos para que a contribuição do PCN à região não se exaura apenas em sua vertente militar, mas que ela fosse incrementada com obras e realizações concretas, com benefícios para área do desenvolvimento regional, em particular voltadas para a infra-estrutura, beneficiando comunidades locais, comunidades indígenas, contribuindo para a preservação da soberania e para a efetiva integração da região norte às regiões mais desenvolvidas do Brasil. A importância dessas duas vertentes, civil e militar, para o PCN são resumidas pela fala do gerente do PCN, Roberto de Paula Avelino como segue: O que é que [significa] manter a soberania e a integridade territorial? Aumentar a presença do Estado brasileiro nas fronteiras Amazônicas. Esse é o nosso objetivo. E aumentar o quê? Aumentar a presença das Forças Armadas, Exército, Marinha e Aeronáutica e aumentar o quê, por exemplo? Aumentar a população nas nossas fronteiras. Uma melhor qualidade de vida. Uma fixação do homem na faixa de fronteira. Agora como é que você vai dar uma qualidade de vida? Como é que você vai fixar o homem na faixa de fronteira, se você não vai desenvolver? Adianta você ter lá as Forças Armadas, se não tem a população com televisão, uma escola, um posto de saúde, com geração de rendas e emprego pra fixar o homem lá na fronteira. Então é esse que é o aspecto que o Programa, ele é um programa, eu considero ele, um pouco mais completo, exatamente, que ele faz uma Defesa numa área, mas também cumpre um papel social nessa região. 84 Gráfico 2 - Recursos alocados na LOA para o PCN -vertente militar e civil (2000 a 2008) Fonte: Ministério da Defesa (2007) Além desses valores que são alocados no Orçamento do Ministério da Defesa, há ainda a possibilidade dos Estados captarem mais recursos através de duas outras fontes: Comissões, Emendas de Bancadas Estaduais e Emendas Individuais de Parlamentares para o PCN. Neste último caso o deputado autor da Emenda preenche um termo de notificação para celebração de convênios com o PCN, no qual consta o objeto do convênio, o valor e o município para o qual o deputado deseja destinar os recursos da Emenda. Autor 1. Comissões: Amazônia e Integração Regional 2. Individuais 3. Bancadas Quadro 11 - Emendas parlamentares para o PCN no ano de 2005 Valor R$ 7.602.000,00 50.150.000,00 145.559.000,00 Fonte: Ministério da Defesa (2005) Apesar de não ser este o enfoque desta investigação, é conveniente destacar a importância do Processo Decisório para a implementação das ações do PCN, uma vez que boa parte dos recursos do programa advém de Emendas Parlamentares, como se constatou no 85 Quadro 11. Santana (1986) já ressaltava a importância do processo decisório para o esquema de financiamento de políticas públicas. Ainda no que se refere às ações do PCN, é necessário reconhecer que compreendê-las requer conhecimento dessas duas vertentes indissociáveis do programa, bem como a forma como o mesmo está administrativamente estruturado, considerando que a implementação dos objetivos do PCN está diretamente ligada ao modo como a gestão é feita. Neste sentido cabe mostrar não apenas a estrutura institucional na qual se insere (MD, Organograma 1), mas também sua própria estrutura organizacional dentro dessa estrutura maior (Organograma 2): MINISTRO DA DEFESA Secretaria de Logística e Mobilização Secretaria de Política Estratégia e Assuntos Internacionais Departamento de Política e Estratégia Estado-Maior de Defesa Secretaria de Estudos e de Cooperação Departamento de Política e Estratégia Organograma 1 - Organização administrativa do MD Fonte: Ministério da Defesa (2007) GERENTE Assessoria de Coordenação Assessoria de Convênios Seção de Apoio Organograma 2 - Estrutura organizacional do PCN Fonte: Ministério da Defesa (2007) Há, contudo, uma proposta de reformulação na administração do PCN, que já foi apresentada ao Ministro da Defesa Nelson Jobim pelo chefe da secretaria, o General-de- 86 Exército, José Benedito de Barros Moreira. Caso seja aprovada o Calha Norte deixará de ser vinculado ao Departamento de Política e Estratégia (DPE) e passará a ser coordenado por um general da ativa da Força, em substituição a um coronel da reserva, como ocorre atualmente. Propõe-se também que o programa seja gerenciado por 33 oficiais, sendo dentre eles quatro engenheiros. O objetivo é melhorar o acompanhamento das obras, uma vez que a estrutura gerencial precisa acompanhar a expansão do Programa e melhorar a economia. O PCN, ainda que gerenciado por militares, desempenha boa relação com os civis no que diz respeito à captação de recursos necessários para que o programa atinja as metas pretendidas. Entretanto, em caso de Emendas de parlamentares, a aceitação fica a critério da administração do Programa. Apesar de serem as emendas importantes fontes de captação de recursos para o PCN, e igualmente necessárias para que o programa atinja seus objetivos e metas, para evitar sua descaracterização e, para não torná-lo um programa de caráter assistencialista, recentemente, em outubro de 2007, o Ministro da Defesa, Nelson Jobim baixou portaria proibindo o atendimento de emendas parlamentares ligadas ao programa Calha Norte, se elas não estiverem vinculadas ao processo de desenvolvimento autosustentável da região. "É que as emendas que estavam sendo feitas acabavam perdendo o sentido infra-estrutural do projeto”(O ESTADÃO, 15.10.2007), disse o ministro. Após a realização dos convênios com as prefeituras, os recursos previstos são repassados em etapas pelo MD para, a partir de então, se iniciarem as obras. O município de Monte Alegre destaca-se por ter sido o maior beneficiado com esse tipo de convênio no estado do Pará20 (Quadro 12). 20 Os outros 12 municípios paraenses que não constam no quadro não fizeram nenhum convênio com o PCN. 87 N° ordem Município Quantidade Período Total conveniado R$ 01 Monte Alegre 05 2000 a 2007 3.292.800,00 02 Terra Santa 04 2001 a 2007 1.120.803,90 03 Curuá 04 1997 a 2005 634.500,00 04 Juruti 03 2001 a 2007 260.000,00 05 Gurupá 02 1996 a 2005 450.000,00 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 Óbidos Portel Melgaço Afuá Faro Muaná Oriximiná Breves Curralinho Alenquer 02 02 02 02 02 01 01 01 01 01 1997 a 2001 1997 a 2007 1997 a 2006 --2001 a 2006 2006 2008 2008 2005 2000 269.750,00 950.000,00 900.000,00 700.000,00 285.000,00 500.000,00 100.000,00 100.000,00 400.000,00 99.000,00 6.769.053,90 Quadro 12 - Convênios entre Ministério da Defesa (PCN) e municípios paraenses (1997 a 2007) Fonte:Ministério da Defesa (2007) Quase todo esse valor repassado ao município de Monte Alegre foi importante para a área urbana, que está dividida em Cidade Alta e Cidade Baixa, limitados por uma quebra de relevo, resultado desse processo de erosão ou voçoroca. Segundo nos falou o diretor de convênios do município, Francisco Carlos Carvalho de Lima, as obras do PCN foram fundamentais para atenuar a situação de erosão. Basicamente [...], toda parte de convênio que foram celebrados com o Ministério da Defesa, no caso, através do Programa Calha Norte, eles foram obras de infraestrutura, né? É, a obra primeira que nós tivemos aqui no município foi a hidroviária que foi entre 2002 mais ou menos, 2002, 2003. É, que foi o período. A gente tem aí o registro. E a partir daí todos a obras se voltaram para a área de drenagem. Drenagem urbana de águas pluviais. Ou seja, ao todo aqui me, precisamente nós temos hoje um, dois, mais ou menos três convênios celebrados com o Ministério da Defesa. Ou é três ou quatro convênio celebrado com o Ministério da Defesa. Já assinamos mais um que também é pra drenagem, já em 2007. E devemos ter, temos possibilidade de ter mais outro. A questão de ser obra desse porte, de drenagem, ela tá em função da própria geografia da cidade. Então, eu acho que tu já percebeste que a cidade tem um relevo muito acidentado e ela é uma cidade fisicamente muito bonita. É. Mas, ela tem um transtorno muito grande pro gestor, porque em função do relevo e da alta incidência de solos arenosos, ela acaba provocando aí um surgimento de assoreamento, voçoroca. Nós temos aqui por sinal a maior voçoroca do estado e talvez até da região norte aqui. Uma voçoroca urbana aqui dentro da cidade. E por isso a gente canaliza todos os esforços na busca de recursos do, que mais do Calha Norte porque o acesso é mais fácil entre os nossos parlamentares que atuam na nossa área, onde tem as pessoas. E porque as áreas de infra-estrutura sempre ela é mais visada pelo gestor. E aqui não se pode fazer asfalto sem antes fazer a drenagem. E por isso que se busca intensamente isso. E agora a gente concluiu a última etapa do convênio do Calha Norte que foi a drenagem e posteriormente nós pavimentamos, como o Bairro de Terra Amarela. 88 O problema acima descrito pode ser visualizado através das Fotografias 2 e 3. Fotografia 2 - Vista parcial da voçoroca bairro Curaxi Fonte: CPRM (2007) Fotografia 3 - Erosão provocada por águas pluviais bairro do Curaxi Fonte: CPRM (2007) Os convênios realizados entre o município de Monte Alegre e o PCN resultaram na execução de obras voltadas para a área de infra-estrutura. As obras quais se refere o entrevistado chegaram ao total de R$ 3.292.800,00 entre os anos de 2000 e 2007 (Quadro 13). Objeto do convênio Pavimentação e drenagem superficial na Avenida Pinto Martins no bairro da Serra Ocidental Custear, em parte, a construção de 581 metros de drenagem de águas pluviais na Rua Frei Othomar entre a Rua 1º de maio e a rua Péricles Uchoa e na rua Marcelino Brazão da Rua Frei Othomar até o canal do Curaxi, todos no bairro do Curaxi Construção de uma Estação Hidroviária de Cargas e passageiros nas margens do rio Gurupatuba Implantação de Sistema de Drenagem de águas pluviais, no bairro de Terra Amarela, Sede do Município, com extensão de 2.832 metros Valor conveniado R$ Data 350.000,00 --- 99.000,00 28/11/2000 593.800,00 13/12/2002 800.000,00 28/12/2005 Custear a construção de rede de drenagem de águas pluviais com dissipador nos bairros de 1.450.000,00 04/10/2007 Terra Amarela, Serra Ocidental e Camarazinho Total 3.292.800,00 Quadro 13 - Convênios realizados entre Ministério da Defesa e o município de Monte Alegre no âmbito do PCN Fonte: Portal Transparência Brasil (2008) 89 As ações do PCN indicam claramente que a PDN para atingir seus fins necessita das ações das Forças Armadas não apenas na esfera militar. Está, portanto implícita na nova Política de defesa um novo padrão de relações entre civis e militares. O PCN é um retrato dessa afirmação, uma vez que parte expressiva de seus recursos é destinada a obras de infraestrutura nos municípios da Calha Norte com os quais estabelece relação por meio dos convênios realizados com os gestores municipais, como se constatou em Monte Alegre. As obras citadas no quadro acima foram registradas na pesquisa de campo e encontram-se registradas nas Fotografias 4, 5, 6, 7 e 8. Fotografia 4 - Drenagem, asfaltamento e sinalização de ruas no Bairro do Curaxi Fonte: Ferreira (2007) Fotografia 5 - Parte interior do Terminal Hidroviário Monte Alegre – PA Fonte: Ferreira (23.08.2007) Fotografia 6 - Parte externa do Terminal Hidroviário de de Monte Alegre – PA Fonte: Ferreira (23.08.2007) 90 Fotografia 7 - Drenagem pluvial para esgotamento sanitário no bairro Terra Amarela - Monte Alegre - PA Fonte: Ferreira (24.08.2007) Fotografia 8 - Asfaltamento e sinalização de ruas no bairro do Curaxi, Monte Alegre - PA Fonte: Ferreira (24.08.2007) A estratégia de implementação do PCN no município de Monte Alegre foi positiva, haja vista que todos os convênios formalizados com o programa resultaram nas obras acima ilustradas. Nesse caso específico, pode se afirmar que o processo de gestão dos recursos do programa está em sintonia com os objetivos pretendidos. Entretanto, no período de 2000-2002, a gerência do programa teve algumas dificuldades para implementar suas ações e metas por razões diversas, entre as quais cabe destacar: 1. O PCN mudou de administração mais de três vezes, o que causou dificuldades em alguns momentos decisórios, principalmente naqueles em que havia a necessidade de pleitear recursos para o Programa; 2. A vinculação do PCN ao MD se deu sem que lhe dessem uma definição específica de seu emprego. O elevado número de agentes de nível hierárquico superior, porém sem qualquer vínculo de responsabilidade fiscal, patrimonial, ou administrativa perante o PPA, torna a administração do gerente, difícil, pois é o único que tem todas essas responsabilidades citadas anteriormente; 3. O desconhecimento prévio do montante de recursos a serem destinados ao programa Embora seja um programa importante para o desenvolvimento regional, os recursos não são destinados diretamente ao Programa, os mesmos são repassados pelo Ministério da Defesa, que nem sempre tem o PCN como prioridade; e 91 4. Como o PCN é unidade orçamentária, não possui Plano de Apoio Administrativo, o que às vezes tem prejudicado seu planejamento em razão de não ter recebido previamente seus recursos. Embora seja apresentada uma pré-proposta desse plano, o mesmo não tem seus recursos canalizados para o Programa, ficando a critério do Ministério da Defesa o repasse ou não. Além disso, do quadro de restrições orçamentárias apresentado anteriormente no Gráfico 2, o Programa passou por uma fase de remodelação institucional e metodológica, buscando, também, a recomposição de seu financiamento, inclusive através do incentivo às Emendas Parlamentares. Desse modo, tornou-se imprescindível e necessária a formação de novas parcerias com entidades públicas, nos diversos âmbitos, e privadas, tendo em vista a continuidade das ações do Programa dentro de outra ótica de planejamento. Nesse mesmo período, segundo revelou o gerente do PCN, o Cel. Roberto de Paula Avelino, o município de Monte Alegre embora tenha executado todas as obras financiadas pelo programa, também enfrentou dificuldades, como se pode observar em entrevista concedida à autora em 5 de dezembro de 2006. Eu vou dar só um exemplo de Monte Alegre, é Monte Alegre mesmo. É, aquela obra do porto hidroviário lá, ficou muito bonito. Inclusive todo mundo elogia aquela obra. É, aquela prefeitura teve uma dificuldade tremenda de realizar aquela obra. Nós tivemos que dar um tempo um pouco maior e ela levou pra administração própria. Nós orientamos, com nossos engenheiros militares formados pelo instituto Militar de Engenharia, que tem o carinho e o trabalho de orientar as prefeituras, secretários de obras e engenheiros. Nós temos obrigação direta de, por exemplo, eles conversam através de telefone ou mesmo e-mails. Projetos hoje em dia já chegam pra nós em CD-ROM, então já faz a análise. Outra coisa. Só é liberado o dinheiro daqui, qualquer dinheiro do Ministério, depois que o projeto está tudo ok. Inclusive com aprovação técnica com todos os itens... Então, pode acontecer, eu não nego, por exemplo, já aconteceu umas três ou quatro prefeituras tiveram que devolver o dinheiro por não ter conseguido realizar a obra, ou, quando não, atrasar a prestação de contas. Automaticamente nós colocamos os técnicos do ministério da Defesa para acompanhar. É também relevante destacar na fala do Cel. Avelino é atenção dada pelo PCN no que diz respeito à fiscalização da aplicação dos recursos, que são disponibilizados de modo que se torna mais difícil a sua aplicação para os fins diversos daqueles ao quais se destina. Na opinião do gerente do PCN, em entrevista concedida à autora na data e no local acima especificados, isso ocorre porque quando nós temos que repassar o recurso de uma obra em 1 parcela, eu faço uma ou duas fiscalização. Quando é em três parcelas eu libero a primeira parcela e libero a segunda automática porque a normativa obriga, pra liberar a terceira tem que prestar conta da primeira parcela e fazer uma fiscalização de notas. Então eu vejo o seguinte: eu estou aqui 6 anos exercendo esse programa, eu tenho mais de 92 600 convênios nessa Amazônia aí. Sem contar mais outras 600/700 obras militares que eu controlo do projeto da marinha, Calha Norte, entendeu? Agora por quê? Eu acho o seguinte: é a maneira que nós temos de acompanhar o dinheiro público. De acompanhar as obras e a facilidade que nós temos também, por exemplo. Então, é muito fácil de você acompanhar uma obra em Belém, mas acompanhar uma obra na Ilha de Marajó você tem que realizar de helicóptero. Então nós já estamos, temos um convênio com o exército, ou com a força área, ou mesmo com a marinha, para que eles nos cedam horas de vôos a gente repasse os recursos pra eles. Então, é o seguinte, a única coisa que eu digo dessa minha pequena experiência de seis anos gerenciando recursos públicos é o seguinte, desvios de recursos só acontece quando você não acompanha as obras. Porque você consegue detectar. Outra coisa, como que é que eu vou desviar um recurso que todo nosso convênio, ele é feito numa abertura de uma conta única entre o Programa Calha Norte e o Ministério da Defesa, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal e a prefeitura...objeto de convênio... se desviar algum recurso na prestação de contas ou parcial ou final, no extrato do Banco do Brasil vai aparecer, entendeu? Então acontece, por exemplo, e outra coisa que eu queria deixar.... é voce conhecer bem a região. Você está sempre na região acompanhando tudo isso e também entendendo os problemas em execução de obras [...] então o grande segredo sabe o quê que é? É você fazer um trabalho até liberar o recurso, ou seja, completo. De análise completa de documentação, aprovação judiciosa, em termos técnico de documentação completa, [...], o que acontece muitas das vezes, você quando chega digamos, a ir fazer, aprova digamos um projeto, quando chega lá na frente vai ver o projeto ele tem problema na base dele. Fazer uma ponte, tem problema na base. Então, acontece muito. Os jornais publicam isso. São obras inacabadas que tem no Brasil... Desperdício de recursos públicos. Bem é isso só. Eu até posso dizer, é o gerenciamento do dinheiro público que é o dinheiro que é do imposto que nós pagamos. O que se percebe aqui é que as Forças Armadas, diferentemente de outras instituições do Estado, dispõe de mecanismos de acesso a certos lugares que outras instituições não possuem. O fato de gerenciar os recursos do PCN acompanhado a execução das obras é, sem dúvida um diferencial para que os recursos sejam integralmente aplicados e, conseqüentemente, as obras sejam concluídas e destaca-se como um ponto forte do programa no processo de gestão. De acordo com o que define a Avaliação de Processo e de Gestão para que um programa atinja plenamente seus objetivos é preciso que o processo de gestão e de fiscalização seja capaz de evitar e corrigir eventuais falhas ou má aplicação dos recursos, vêse que o PCN cumpre esses requisitos. Entretanto a forma adotada pelo PCN para realizar os convênios e para liberar os recursos foi definida pelo Diretor de Convênios de Monte Alegre, Francisco Carlos Carvalho de Lima, em entrevista concedida à autora em 25 de agosto de 2007, como sendo mais rigorosa. eles são mais rigorosos nas análises e que de certa forma até penaliza os municípios. Porque, enquanto essa questão dessa rigorosidade eu acho que ela existe sem dúvida. Mas, por um outro lado não é bem preciso assim. Eu vou te dar um exemplo: quando nos é liberado recursos com outros ministérios, eles vêm 100% liberados pra nossa conta. Conta do convênio, vem liberado total do convênio. Então, [o Calha Norte] não vem, eles liberam uma parcela pra vim outra. Então, o 93 Calha Norte sempre foi este o procedimento. Outros Ministérios não. O DNIT. Nós temos obras do DNIT. Liberaram uma no ano passado. A percepção exposta no discurso acima que atribui aos militares do PCN o adjetivo de mais rigorosos corrobora a afirmação que Arretche (2001, p. 15) faz ao se referir à implementação de programas governamentais e políticas públicas, que se caracteriza como um conjunto complexo de relações entre formuladores e implementadores, e entre implementadores situados em diferentes posições na máquina governamental. Em princípio, as vontades, os interesses, as lealdades e as concepções ideológicas destes diversos atores dificilmente serão inteiramente coincidentes. De outro modo, a fala do diretor de convênios do município de Monte Alegre instiga-nos a elaborar uma questão que poderá ser investigada em outra pesquisa: Será que os recursos repassados em forma de convênios aos municípios sem as mesmas exigências e sem a mesma fiscalização que há no PCN são 100% aplicados como foram os recursos desse programa em Monte Alegre? O que se pode inferir acerca do processo de gestão do PCN no município de Monte Alegre, de modo geral, é que, embora num novo contexto, a segurança e a defesa da Amazônia são temas que se interligam a questões atinentes ao desenvolvimento regional e a gestão pública, haja vista que a implementação das ações de um programa como o PCN requer esforços institucionais neste sentido. 94 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa realizada no município de Monte Alegre, no estado do Pará, revela que o PCN, objeto de investigação, mostrou-se através do desenho institucional que, concretamente ele pode ser definido como política pública de defesa, segurança e de desenvolvimento regional. Neste sentido, a promoção do desenvolvimento regional da Amazônia por meio da realização de obras voltadas para saneamento básico, educação, saúde, urbanização etc., é uma das principais estratégias utilizadas pelo PCN. Nesse contexto, a nova PDN foi identificada como marco legal que veio reforçar os objetivos do PCN em relação a sua importância estratégica para a Amazônia, como se constatou em Monte Alegre. Procurou-se ainda retratar e analisar as ações do PCN, sua estrutura administrativa e organizacional, assim como a legislação na qual se baseia o programa para a realização de convênios com os municípios. Os pontos fortes da gestão do PCN encontrados na sua investigação residem, na sua capacidade de implementar suas ações por meio de convênios diretamente com os municípios e, principalmente nos meios e nos instrumentos dos quais dispõe para realizar a fiscalização da aplicação dos recursos repassados, indispensável para que o programa alcance seus objetivos. Quanto aos pontos fracos, mereceu destaque o quadro de restrições orçamentárias por que passou o programa, o que o levou a uma fase de remodelação institucional e metodológica, buscando, também, a recomposição de seu financiamento, inclusive através do incentivo às Emendas Parlamentares. O PCN foi apontado aqui como um programa e como política pública contribuindo para o desenvolvimento, financiando obras dificilmente possíveis com os recursos de que dispõe o próprio município. Ainda que seja gerenciado por militares, desempenha boa relação com os civis no que diz respeito à captação de recursos necessários para que o programa atinja as metas pretendidas. Entretanto, em caso de Emendas de parlamentares, a aceitação fica a critério da administração do Programa. O conjunto das informações, inclusive as entrevistas demonstraram que o processo de gestão do PCN e a sua implementação em Monte Alegre tem se dado de acordo com os objetivos e as diretrizes estratégicas do programa, embora tenha havido dificuldades na realização de uma das ações, para a qual o PCN ofereceu formas de superação dos obstáculos. 95 Para compreender as ações do PCN, foi necessário reconhecer que a interdependência dessas duas vertentes (civil e militar), indissociáveis do programa, bem como a forma como o mesmo está administrativamente estruturado, considerando que a implementação dos objetivos do PCN está diretamente ligada ao modo como a gestão é feita. A pesquisa revelou, por fim, que o modelo de gestão executado pela gerência do PCN, que obedece a critérios claros para a acessibilidade de propostas de convênios com prefeituras, prioriza a dimensão técnica na concretização das parcerias e utiliza seu quadro técnico para exercer a fiscalização necessária para o cumprimento dos prazos e lograr desempenho eficiente na execução do programa. 96 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, A. Relações civil-militares e consolidação democrática: o caso brasileiro. In: SEMINÁRIO DE POLÍTICA DE CIÊNCIA POLÍTICA DA UFPE, 4. Anais... Recife, 2008. ARRETCHE, M. Uma contribuição para fazermos políticas sociais menos ingênuas. In: BARREIRA, M.; CARVALHO, M. (Org.). Tendências e perspectivas na avaliação de políticas e programas sociais. São Paulo: IEE/PUC, 2001. BANDEIRA, P. Participação, articulação de atores sociais e desenvolvimento regional. Texto nº 630, Brasília, fev. 1999. BONI, Valdete; QUARESMA, Silvia. 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MENSAGEM No ID914292 0> MINISTÉRIO DA DEFESA Exposição de Motivos No- 616, de 19 de dezembro de 2003. Expansão da área de atuação do Programa Calha Norte. Aprovo. Em 2 de janeiro de 2004. Brasília, 19 de dezembro de 2003. Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Submeto à elevada consideração de Vossa Excelência proposta de expansão da área de atuação do Programa Calha Norte, mediante a aprovação da presente Exposição de Motivos. 2. O Programa Calha Norte, desde a sua criação, em 19 de dezembro de 1985, tem sido um dos principais vetores do Estado Brasileiro para a manutenção da Soberania Nacional e da Integridade Territorial e para a promoção do desenvolvimento regional na região amazônica, numa área que se estende das calhas do Rio Solimões/Amazonas até as fronteiras com a Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa, enquadrando os Estados do Amapá e de Roraima e partes dos Estados do Amazonas e do Pará, num total de 74 municípios e de 7.413 km de linha fronteiriça. 3. Seu objetivo fundamental é aumentar a presença do poder público naquela região, contribuindo para o exercício da defesa nacional, proporcionando assistência às suas rarefeitas populações e fixando o homem à área. 4. Para atingir seus objetivos, interage por meio de duas vertentes: a militar e a civil. A primeira busca, por intermédio das Forças Armadas, desenvolver ações de vigilância do espaço aéreo, das linhas fluviais interiores e da linha de fronteira, garantindo a manutenção da soberania e a integridade territorial. A segunda busca fortalecer a cidadania dos brasileiros 102 desassistidos e contribuir para o desenvolvimento socioeconômico da região, por intermédio de obras sociais e de infra-estrutura básica. 5. O Programa vem sendo conduzido com êxito pelo Ministério, fruto de acurada e transparente gestão dos recursos, provenientes do orçamento desta Pasta e de emendas individuais, coletivas e de bancadas apresentadas pelos congressistas. 6. A prioridade à Amazônia, ressaltada por Vossa Excelência quando ainda candidato, em sua "Carta aos Brasileiros", tem estimulado diversas lideranças parlamentares daquela área a pleitear a ampliação da área de atuação do Programa. 7. Os estudos levados a efeito neste Ministério indicaram a viabilidade operacional de expansão da área de atuação do Programa Calha Norte para a Ilha de Marajó e para o sul da calha do Rio Solimões/Amazonas, abrangendo a faixa de 150 km da linha de fronteira até os limites do Estado de Rondônia com o Estado do Mato Grosso, razão pela qual solicito a autorização para a expansão supracitada, consoante a ilustração anexa. Rondônia com o Estado do Mato Grosso, razão pela qual solicito a autorização para a expansão supracitada, consoante a ilustração anexa. 8. São estas, Senhor Presidente, as razões pelas quais acredito que a medida ora em questão deverá ser acolhida pelo Governo de Vossa Excelência. Respeitosamente, JOSÉ VIEGAS FILHO Ministro de Estado da Defesa 103 ANEXO B 104 CONTINUAÇÃO ANEXO B