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RELATO DE CASO: Doença de Graves
Virgínia VIANA1
Maria José Resende GRODZKI2
Ricardo Hernane Lacerda G OLIVEIRA3
Sérgio Ricardo MAGALHÃES4
1
Acadêmico do curso de Medicina da Universidade Vale do Rio Verde – UninCor, campus Belo Horizonte.
E-mail: [email protected]
2
Acadêmico do curso de Medicina da Universidade Vale do Rio Verde – UninCor, campus Belo Horizonte.
E-mail: [email protected]
3
Docente do curso de Medicina da Universidade Vale do Rio Verde – UninCor, campus Belo Horizonte. E-mail:
[email protected]
4
Doutor em Engenharia Biomédica. Docente do curso de Odontologia da Universidade Vale do Rio Verde – UninCor,
campus Belo Horizonte. E-mail: [email protected]
RESUMO:
A Doença de Graves (DG) é a principal causa de hipertireoidismo. Trata-se de uma doença auto-imune, de etiologia não
esclarecida, mas certamente multifatorial e com evidente predisposição genética, com maior predominância em
mulheres jovens, provoca sintomas que podem atrasar o diagnóstico. Os sintomas mais clássicos são o bócio tireóideo, a
tireotoxicose, a doença ocular (que pode levar a exoftalmia) e as dermatopatias, porém, eles aparecem em estágio mais
avançado da doença. As modalidades terapêuticas descritas na literatura podem ser: as drogas antitireoidianas, o iodo
radioativo e a cirurgia (tireoidectomia parcial). Objetivo: apresentar um relato de caso sobre diagnóstico da Doença de
Graves associado a revisão de literatura acerca do tema. Conclusão: podemos concluir que o diagnóstico precoce da
DG diminui o aparecimento de complicações relevantes a saúde. É uma doença com várias opções de tratamento, o que
leva o paciente a ter qualidade de vida.
PALAVRAS CHAVE: Doença de Graves. Hipertireoidismo. Doença tireóidea auto-imune. Drogas antitireoidianas.
CASE REPORT: Graves' disease
ABSTRACT:
Graves' disease (GD) is the leading cause of hyperthyroidism. It is an autoimmune disease of unknown etiology but
certainly multifactorial, with genetic predisposition evident, with a higher prevalence in young women, causes
symptoms that may delay the diagnosis. The most classic symptoms are the thyroid goiter, thyrotoxicosis, eye disease
(which can lead to exophthalmos) and skin diseases, however, they appear in more advanced disease. Therapeutic
modalities described in the literature can be: the antithyroid drugs, radioactive iodine and surgery (partial
thyroidectomy). Objective: To present a case report on diagnosis of Graves' disease associated with literature review on
the topic. Conclusion: We can conclude that early diagnosis of DG decreases the incidence of complications relevant to
health. It is a disease with various treatment options, which leads the patient to have quality of life.
KEYWORDS: Graves' disease. Hyperthyroidism. Autoimmune thyroid disease. Antithyroid drugs.
23
Revista de Iniciação Científica da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 5, n. 1, 2015, p. 23-32
Sabe-se
INTRODUÇÃO
ambientais
e
que
fatores
genéticos,
constitucionais
interagem,
A Doença de Graves (DG) é um
segundo mecanismos desconhecidos, para
distúrbio que foi descrito inicialmente por
desencadearem a doença auto-imune. Não
Caleb Parry (1755-1822), mas o crédito foi
parece haver envolvimento de um gene
atribuído ao médico Robert Graves que os
específico e ocorre concordância em gêmeos
publicou em 1835, cerca de dez anos depois.
idênticos em apenas 20% dos casos. Na
O epônimo doença de Basedow, usualmente,
literatura
é
desenvolvimento
utilizado
nos
países
europeus
em
foi
relatada
da
propensão
DG
ao
agregada
a
reconhecimento pela exposição feita por Karl
polimorfismo do gene CTLA-4 (cytotoxic T-
A. Von Basedow (GOLDMAN, LEE, 2009).
lymphocyte
em
brancos
e
afetando
As manifestações clínicas da DG
principalmente as mulheres (5- 10:1) entre
podem ser divididas entre as usuais a qualquer
40-60 anos. Na Inglaterra apresenta uma
forma de hipertireoidismo e as específicas da
prevalência de 2% em mulheres e 0,2% em
DG.
homens, enquanto nos EUA estima-se que
nervosismo, cansaço, palpitações, intolerância
acometa 0,4% da população. A maioria dos
ao calor, perda de peso; estão presentes em
estudos relata taxas de incidência de 0,5/1000
mais da metade dos pacientes com a doença.
indivíduos/ano e o
A fibrilação atrial é mais comum nos
mulheres
e
(60%-80%),
4)
japoneses.
Ela constitui a forma mais comum de
hipertireoidismo
antigen
risco calculado de
homens
Os
sintomas
mais
comuns
são:
desenvolverem
pacientes acima dos 50 anos (20%) e 90% dos
hipertireoidismo em alguma fase de suas
pacientes com menos de 50 anos, apresentam
vidas é de 5% e 1% respectivamente
bócio. A presença de co-morbidades pode
(Andrade, Gross & Maia, 2001).
também afetar a queixa principal.
A DG é pouco freqüente na infância e
O objetivo deste artigo é relatar um
adolescência, sendo que apenas 1 a 5% dos
estudo de caso sobre a Doença de Graves,
pacientes afetados estão com- preendidos
uma desordem que se não tratada pode se
nessa faixa etária (Monte; Calliari; Longui;
tornar grave, pois suas complicações podem
2004).
levar até mesmo a distúrbios cardíacos e
neurológicos.
24
Revista de Iniciação Científica da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 5, n. 1, 2015, p. 23-32
(tonteira,
Relato de Caso
em
Ibirité
(MG).
desde
2011,
onde
Iniciado Metformina 850 + Propiltiouracil
100mg. 12/06/2014: Hemog Glic 14,9% e
apresentava
Glic capilar: 278mg/dl. Foi aumentada a dose
infertilidade, hirsutismo e obesidade. Exames
de Metformina (3x/dia) e iniciado Daonil.
(26/05/2011): TSH 1,24mU/ml; Prolactina
10,1ng/mL.
Ultrassom
Abdominal
poliúria,
Diagnóstico de DM + Hipertireoidismo.
Em
acompanhamento na Unidade Básica de
Saúde
polidpsia,
nictúria). Mantém uso de Captopril 25 mg.
V N S, 37 anos, cor negra, separada, natural e
residente
polifagia,
Também
(US)
solicitou
anti-TRO,
anti-
tireoglobulina e TLAB. 07/10/2014: paciente
(15/04/2011): cisto ovário E 10,3 e em ovário
retorna com PA 150x60, queixando dor nos
D 60,1. Foi pedido US c/ Doppler, Dosagens
olhos e edema. TSH (26/08/2014): inferior a
de Ca 125, Testosterona e Estradiol e iniciado
0,004mU/ml
Diane. Em 05/07/2011: em uso de Diane. US
e T4:
3,9mcg/dl.
Paciente
mostrava-se agitada ao falar, de difícil
com Doppler: ovário D 69,1 e ovário E 17,1 +
diálogo, não aceitando orientações. Revelou
ausência de vascularização. Ca 125 9,0;
não estar fazendo dieta adequadamente nem
estradiol 31 e testosterona 0,9. Sugerido
tomando
ooforectomia a D, porém paciente ia se mudar
mediações
prescritas.
Foi
com
urgência
ao
encaminhada
para São Paulo. Foi orientada a buscar novo
médico lá, assim que se estabelecesse.
26/02/2014: paciente reaparece na UBS, para
Endocrinologista
da
Rede
06/03/2015:
101;
TSH
glic
Pública.
inferior
a
0,004mU/ml; T4 4,1mcg/dl; glic 248; glic
renovar receita de anti-hipertensivo (Captopril
pós-prandial 378; 21/03/2015: TSH inferior a
25 mg). Porém também queixa de “caroço”
0,004mU/ml; T4 3,6mcg/ml; T3 484ng/dL;
no pescoço, com início há +/- 3 semana. Foi
21/01/2015:
detectada tumefação em região cervical
hemog
glic
13,4%.
US
(16/12/2014): bócio difuso tireoidiano +
anterior (sem febre); apenas “dor de garganta”
aumento de fluxo ao Doppler, compatível
pela manhã. Revela nesta consulta que
com Doença de Graves (vol total 85 cm3).
conseguiu engravidar em 2013 e veio a
Foi mantido as medicações em curso:
desenvolver DMG. Nova revisão laboratorial
Losartan
revela: Trig 129; Colest T 108; HDL 42; LDL
50mg,
Metformina
850,
propiltiouracil 100mg e iniciado insulina
40; Glic 335; TSH 0,006mU/ml; T4 superior a
(26UI).
6mcg/dl. US cervical mostra bócio difuso
Aguardando
retorno
tireoidiano. Paciente relata piora de sintomas
25
Revista de Iniciação Científica da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 5, n. 1, 2015, p. 23-32
no
Endocrinologista, para discussão da terapia
Patogenia
frente ao novo diagnóstico.
A DG, é um distúrbio auto-imune que
se manifesta por sinais e sintomas sistêmicos
REVISÃO DE LITERATURA
variados
secundários ao hipertiroidismo
provocado pela presença de auto-anticorpos
Introdução
estimulantes do receptor da TSH. Estes
A Doença de Graves (DG) é uma
anticorpos ligam-se ao receptor de TSH
enfermidade autoimune, órgão-específica, que
estimulando-o,
difere de todas as outras doenças autoimunes
promovendo
consequentemente o aumento da glândula e
por estar associada mais freqüentemente ao
assim,
aumento de função do órgão-alvo. É a causa
o
crescimento
dos
níveis
dos
hormônios tireoidianos.
mais que comum de hipertireoidismo em
pacientes com menos de 50 anos e é
Andreoli et al (1998) já explicava que
caracterizada por infiltração linfocitária da
a tireotoxicose na Doença de Graves resulta
glândula tireóide e ativação do sistema imune
da hiperprodução de um anticorpo que se liga
com elevação dos linfócitos T circulantes,
ao receptor do TSH. Estas imunoglobulinas
aparecimento de autoanticorpos que se ligam
estimulantes da tireóide (TSI) incentivam o
ao receptor do TSH (TRAb) (ANDRADE,
crescimento das células tireóideas e a
GROSS e MAIA, 2004).
secreção de hormônios tireóideos.
As razões do desencadeamento deste
A DG é responsável por 60-80% dos
processo
casos de hipertiroidismo. Relativamente à
auto-imune
completamente
incidência por género, surge numa relação
possivelmente
feminino/masculino de 5-10:1. A incidência
susceptibilidade
anual em mulheres durante um período de 20
constitucionais
anos é cerca de 0,5 por 1000. Pode surgir em
ainda
não
estão
mas
estão
fatores
como
entendidas,
envolvidos
genética,
(hormônios
fatores
sexuais
e
alterações da função imunológica) e fatores
qualquer idade, contudo a idade típica situa-se
ambientais (estresse, ingestão de iodo e a ação
entre os 20 e 40 anos. A prevalência é
dos
semelhante entre caucasianos e asiáticos e é
agentes
infecciosos)
(ANDRADE,
GROSS e MAIA, 2001).
menor na raça negra (NEVES, 2008).
26
Revista de Iniciação Científica da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 5, n. 1, 2015, p. 23-32
tireotoxicose (síndrome por excesso de
Apesar da associação variável com
alelos do antígeno humano leucocitário
hormônio
(HLA) conforme o grupo racial, o risco de
determinado pela dosagem de TSH.
DG
de
dosagem dos níveis séricos de T4 livre e total
indivíduos afetados, é inferior ao de gêmeos
ou de T3 livre confirmará diagnóstico de
homozigóticos indicando o envolvimento de
tireotoxicose, definirão sua gravidade e
genes não HLA–relacionados. A prática do
poderão ocasionalmente fornecer um indício
tabagismo tem sido bastante relacionada a
da sua etiologia subjacente (A toxicose com
ocorrência de oftalmopatia e hipertireoidismo.
predominância por T3 é típica da Doença de
Em ambientes iodo-deficientes, a exposição
Graves).
em
familiares
HLA-Idênticos
ao iodo suplementar pode precipitar a DG em
A
alguns indivíduos, mediante o fenômeno de
tireoidianos
A
caracterizada
por
não
são
os
aspectos
sendo
necessária
a
o paciente portador da síndrome. O bócio é
principalmente o cardiovascular e o ósseo. Os
formado por múltiplos nódulos tireoidianos
ação
autonomamente
cardioestimuladora, provocando aumento da
funcionantes
que,
coletivamente, irão sintetizar e secretar
freqüência cardíaca, pressão arterial sistólica
quantidades
(1/3 dos casos) e da massa e contração
excessivas
de
hormônios
tireoidianos. A maioria dos pacientes afetados
ventricular esquerda (ANDRADE, GROSS e
apresentam um bócio com múltiplos nódulos
MAIA, 2001).
pacientes
será
presença de todos os componentes para tornar
efeitos deletérios em múltiplos sistemas,
têm
(HT)
predominantes,
A tireotoxicose é responsável por
tireoidianos
é
diagnóstico
Em geral o bócio e o excesso de hormônios
Manifestações clínicas
Os
DG
o
hipertireoidismo, oftalmopatia, acropaquia.
Jod-Basedow (HARRISON et al, 2008)
hormônios
tireóideo)
tireoidianos palpáveis. O aumento progressivo
tireotóxicos
podem
pode não ser detectado quando ocorre a
apresentar hipercalcemia ou hipercalciúria,
extensão
aumento dos níveis de fosfatase alcalina,
(HARRISON et al, 2008). Cerca de 90% dos
níveis
moderadamente
pacientes com idade inferior a 50 anos,
elevados e níveis baixos ou declinantes de
apresentam bócio difuso, de consistência
colesterol total e de LDL colesterol. Na
firme e tamanho variável.
de
transaminases
subesternal
do
tecido
nodular
maioria dos pacientes com suspeita de
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As manifestações clínicas da DG
conseqüente diminuição na densidade mineral
podem ser: nervosismo, cansaço, palpitações,
óssea e risco de fraturas em mulheres idosas
intolerância ao calor, perda de peso (mais de
(ANDRADE, GROSS e MAIA, 2001).
50% dos pacientes) fraqueza, hiperatividade,
insônia,
oligomenorréia,
Achados laboratoriais
amenorréia,
ansiedade, reflexos tendinosos vigorosos,
Uma T4 livre aumentada e TSH
tremores finos, olhar fixo, retardo do reflexo
suprimido confirmam o diagnóstico clínico de
palpebral. As anormalidades cardíacas podem
tireotoxicose. O TSI costuma estar aumentado
ser
taquicardia
e é especificamente proveitoso em pacientes
sinusal, fibrilação atrial e exacerbação de
com sinais oculares que não apresentam
coronariopatia
cardíaca
outras manifestações clínicas sugestivas. Uma
(incomum em pacientes na faixa etária abaixo
captação aumentada de ¹³¹I diferencia a
dos 50 anos, mas ocorre em torno de 20% dos
Doença de Graves da tireoidite subaguda ou
pacientes idosos) (CAREY et al, 1999).
de Hashimoto incipiente, na qual a captação é
proeminentes,
ou
incluindo
insuficiência
baixa
A presença de co-morbidades pode
psiquiátrica preexistente ou piora da angina
as tentativas de tratamento dirigidas à
doença coronariana, podem ser o sinal de
produção
suspeita de hipertireoidismo sobreposto.
infrutíferas.
graves
como
de
da
tireóide
Todas
as
anticorpos
tem
sido
modalidades
terapêuticas são orientadas são orientadas à
O excesso de hormônios tireoidianos
complicações
auto-imune
estimuladores
Complicações
desenvolvimento
hipertireoidismo
No que se refere ao tratamento, todas
ou insuficiência cardíaca em indivíduo com
ao
de
Tratamento
labilidade emocional em portador de doença
levar
presença
(ANDREOLI et al, 1998).
também afetar a queixa principal. A piora da
pode
na
tireóide ou às manifestações da produção
de
excessiva de hormônios tireoidianos.
insuficiência
e
Três
arritmias, principalmente fibrilação atrial (10-
atualmente
30%). Também está associado ao aumento da
hipertireoidismo da Doença de Graves: drogas
reabsorção óssea, elevação da excreção de
antitireoidianas
cálcio e fósforo na urina e fezes, com
radioativo
cardíaca
congestiva,
cardiomiopatia
abordagens
utilizadas
(DAT),
(¹³¹I).
terapêuticas
no
tratamento
cirurgia
Nenhuma
e
delas
28
Revista de Iniciação Científica da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 5, n. 1, 2015, p. 23-32
são
do
iodo
é
considerada ideal, visto que não atuam
tionamidas
e
diretamente na etiologia / patogênese da
tratamento
da
doença (ANDRADE, GROSS e MAIA,
mais de 50 anos. O mecanismo de ação
2001).
primário das DAT consiste na redução da
tireoidologistas,
American
Thyroid
utilizam
¹³¹I
membros
Association
como
há
de efeito imunossupressor direto ou através de
tratamento
efeito primário na célula tireoidiana, com
efeitos secundários no sistema imune. O
propiltiouracill
drogas antitireoidianas. No Japão e na
(PTU)
apresenta
um
mecanismo de ação adicional que consiste na
Europa, as drogas antitireoidianas constituem
redução
o tratamento de primeira escolha, utilizado
da
conversão
de
T4
para
T3, através da inibição da deiodinase tipo 1,
por 77% e 88% dos especialistas membros da
presente nos tecidos periféricos e na tireóide
European Thyroid Association (ETA) e da
Association
Graves
de
uma ação na autoimunidade, mediada através
(ATA),
recorrência da doença após utilização de
Thyroid
no
postula-se que as DAT também apresentem
da
de primeira escolha, justificado pela alta
Japan
doença
utilizadas
Embora seja uma questão ainda controversa,
tem variado nos diferentes países. Nos EUA
dos
sido
síntese de T3 e T4 nas células foliculares.
O tratamento de primeira escolha
69%
têm
(GOLDMAN, LEE, 2009)
(JTA)
à
Na prática clínica, a escolha das DAT
preocupação com efeitos nocivos da radiação.
depende da preferência e experiência do
Já dados da América do Sul indicam que
médico assistente. Sabe–se que 30 a 40%
73% dos membros da Sociedade Latino
desses pacientes tratados com os fármacos
Americana de Tireóide (SLAT) utilizam as
antireoidianos
drogas antitireoidianas como tratamento de
prolongada, mas não permanente. Aspectos
primeira escolha, sendo o tratamento com ¹³¹I
relevantes favoráveis são: idade superior a 40
escolhido
desses
anos, sexo feminino e títulos elevados de anti-
profissionais (ANDRADE, GROSS e MAIA,
TPO, bócio pequeno, hipertireoidismo em
2001).
grau moderado e TRAb negativo.
respectivamente.
por
Esse
uso
apenas
se
deve
26%
apresentam
A radioiodoterapia
As drogas antitireoidianas disponíveis
é
remissão
a
segunda
(propiltiouracil, metimazol, tiocarbamidas e
escolha na forma do tratamento para muitos
carbimazol)
autores. O iodo radioativo foi empregado pela
pertencem
à
classe
das
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primeira vez em 1941 no Massachussets
que um tratamento de exceção (minoria dos
General Hospital, quando Hertz e Roberts
pacientes).
trataram pacientes com hipertireoidismo. Esta
probabilidade
forma
longo
de
tratamento
já
vem
Embora
associado
de
prazo,
maior
eutireoidismo
apresenta
sendo considerada de fácil administração,
cirúrgicas, diretamente relacionadas com a
efeito rápido e de baixo custo (ANDRADE,
experiência do cirurgião que realiza o
GROSS e MAIA, 2004).
procedimento. Várias complicações têm sido
de
custo,
ou das glândulas paratireoides, além de
hipotireoidismo iatrogênico e persistência ou
iodo radioativo tem benefícios que excedem a
recorrência do hipertireoidismo (ANDRADE,
cirurgia e as drogas antitireóide. O ¹³¹I é
GROSS e MAIA, 2004).
provavelmente o tratamento de escolha em
com
tireotoxicose
DG.
Os
intensa,
pacientes
glândulas
complicações
descritas, incluindo lesão dos nervos laríngeos
eficácia,
facilidade e efeitos colaterais a curto prazo, o
adultos
de
principal
desvantagem
termos
risco
como
em
sendo utilizada há aproximadamente 60 anos
Em
o
a
É
com
indicada
principalmente
aos
indivíduos alérgicos aos fármacos existentes,
muito
grandes, ou cardiopatia subjacente devem ser
aos
trazidos e um estado eutireoideo com DAT
radioiodoterapia
antes de receberem o iodo, uma vez que o
coexistência de nódulo tireoideo de natureza
tratamento com este pode levar à liberação na
indeterminada, a tireomegalia com sintomas
circulação de hormônio tireóideo pré-formado
compressivos ou, por fim, por escolha
pela glândula; isto pode levar a arritmias
própria.
cardíacas
e
exacerbar
os
sintomas
da
e, exceto pela indução de hipotireoidismo
transitório
ou
de
(ex.:
submeter-se
por
gravidez),
a
à
DISCUSSÂO
tireotoxicose. O tratamento com ¹³¹I é seguro
iatrogênico
incapazes
A gestação promove várias alterações
permanente,
hormonais e metabólicas no organismo
nenhum efeito colateral significativo tem
materno, destacando-se os efeitos sobre a
sido relatado (ANDREOLI et al, 1998).
função tiroidiana (ALMEIDA et al, 2005).
O tratamento cirúrgico atualmente tem
Os valores laboratoriais sanguíneos da
indicações limitadas nos pacientes com
paciente, em 2014, mostram sempre um TSH
doença de Graves, sendo considerado quase
diminuído e T4 livre aumentado, associando
30
Revista de Iniciação Científica da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 5, n. 1, 2015, p. 23-32
O
um resultado de investigação de imagem (US
diagnóstico
dado
de
Cervical: bócio tireoidiano). Pode-se descartar
Hipertireoidismo + Diabetes Melitus (em
alteração na hipófise, pois senão os valores de
fevereiro/2014) é condizente; o início de
TSH estariam muito altos (hipertireoidismo
Metformina 850 mg (para o Diabetes), porém
central, de causa hipofisária). Isso nos leva a
isso não é o objeto de estudo deste trabalho. O
pensar que a causa estaria, então, na própria
Propiltiouracil
tireóide pois, valores baixos de TSH mostram
Hipertireoidismo), é descrito em literatura,
que a hipófise, ao reconhecer os valores altos
como uma das primeiras drogas de escolha
de T4 livre, suspendem a produção de TSH.
para o tratamento do hipertireoidismo.
100mg
(para
o
A susceptibilidade para a DG é
Também não se pode deixar de
determinada por fatores genéticos, ambientais
relacionar a evolução da sintomatologia da
e endógenos responsáveis pela emergência de
paciente. Todo o quadro clínico relatado por
auto-imunidade das células B e T para o
ela, nas consultas em Unidade de Saúde são
receptor da TSH. Acontecimentos de vida
totalmente
geradores de stress podem ser fatores de risco
Hipertireoidismo/DG. Há de se lembrar que,
para a doença.
como o tratamento específico do Graves ainda
possivelmente
do
não tinha sido iniciado até o momento do
O stress parece induzir um estado de
imunossupressão,
caraterísticas
relato deste caso, não se pode falar em
mediado
remissão de sintomatologia.
pelo efeito do cortisol nas células do sistema
imunológico. A resolução do stress pode
CONSIDERAÇÕES FINAIS
associar-se a uma hiperatividade imunológica;
A Doença de Graves é uma doença
esta resposta pode precipitar doença autoimune
em
indivíduos
auto-imune de baixa incidência, visto do
geneticamente
avançado
susceptíveis.
precoce
A maior incidência de doença no sexo
da
prevenção.
diminui
o
O
diagnóstico
desenvolvimento
de
feminino poderá estar relacionada de algum
complicações e um tratamento adequado
modo com uma maior exposição a estrogénios
providencia um bom controlo da doença na
ou menor exposição a testosterona. Há
maioria das situações.
evidência de que quantidades moderadas de
estrogénios
aumentam
a
Porém,
reatividade
mais
estudos
se
fazem
necessários para melhor se conhecer os
imunológica.0
processos imunológicos subjacentes a esta
31
Revista de Iniciação Científica da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 5, n. 1, 2015, p. 23-32
Pittella Sodré et al. Rio de Janeiro: Elsevier,
2009.
doença e, assim, se desenvolverem métodos
diagnósticos mais precisos e tratamentos mais
eficazes.
HARRISON et al. Medicina Interna, 17ª
edição. Rio de Janeiro: McGraw-Hill/ArtMed,
2008
Esta revisão nos permitiu observar que
MONTE O; Calliari, L E P; Longui, C A.
Utilização do 131I no Tratamento da
Doença de Basedow-Graves na Infância e
Adolescência. Arq Bras Endocrinol Metab
vol 48 nº 1 Fevereiro 2004
o relato de caso descrito seguiu o referencial
teórico encontrado. Portanto, foi de grande
aprendizado pois, pode-se observar na prática
a sintomatologia descrita na literatura, o que é
NEVES, C; Alves, M; Delgado, J L;
MEDINA, J L. Doença de Graves.
ARQUIVOS DE MEDICINA, 22(4/5):13746, 2008
de suma importância para nossa formação
clínica.
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Arq Bras Endocrinol Metab vol 48 nº 1
Fevereiro 2004
ANDREOLI et al. Cecil Medicina Interna.
4ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.
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CAREY, C F et al. Washington Manual de
Terapêutica Clínica. 29ª edição. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan. 1999.
Goldman,
Lee.
Cecil
Medicina/Lee
Goldman, Dennis Ausiello; tradução Adriana
32
Revista de Iniciação Científica da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 5, n. 1, 2015, p. 23-32

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