Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Ano 3 n.3

Transcrição

Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Ano 3 n.3
ISSN 2011 - 2178-1923
ANO 3 - Nº 3
REVISTA DO PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DO
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNISEB - RIBEIRÃO PRETO
Expediente
A Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica é uma publicação anual
do Programa de Iniciação Científica do Centro Universitário UNISEB, de
Ribeirão Preto, que envolve trabalhos de iniciação científica desenvolvidos
nas diferentes áreas de conhecimento.
Mantenedora
Chaim Zaher
Presidente do Sistema Educacional Brasileiro - SEB
Adriana Baptiston Cefali Zaher
Vice-presidente do Sistema Educacional Brasileiro - SEB
Nilson Curti
Diretor Superintendente do Sistema Educacional Brasileiro - SEB
Rafael Gomes Perri
Diretor Executivo do Sistema Educacional Brasileiro - SEB
Fernando Henrique Costa Roxo da Fonseca
Diretor Executivo do Sistema Educacional Brasileiro - SEB
ISSN 2178-1923
Centro Universitário UNISEB - Ribeirão Preto/SP
Chaim Zaher
Thamila Cefali Zaher
Prof. Me. Reginaldo Arthus
Prof. Me. Onivaldo Gigliotti
Reitor do UNISEB
Vice-Reitor do UNISEB
Prof. Me. Jeferson Ferreira Fagundes
Pró-Reitor de Ensino à Distância do UNISEB
Profª. Ma. Karina Prado Franchini Bizerra
Pró-Reitora de Graduação do UNISEB
Profª. Ma. Claudia Regina de Brito
Diretora Acadêmica de EaD do UNISEB
4
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
Diretora Executiva do Convênio Pós-Graduação - FGV- do UNISEB
Coordenador Acadêmico do Convênio Pós-Graduação –
FGV do UNISEB
Profª. Claudette Alves Pereira Galati
Coordenadora Geral de Ensino-Aprendizagem
Planejamento Educacional do UNISEB
Prof. Dr. Romualdo Gama
e
Coordenador Geral de Gestão e Operações Acadêmicas
do UNISEB
Profª. Ma. Lilian Silvana Perilli de Pádua
Coordenadora Geral de
Acadêmicas do UNISEB
Registros
e
Informações
Profª. Dra. Elizabete David Novaes
Prof. Me. João Paulo Leonardo de Oliveira
Coordenador do Curso de Administração do UNISEB
Profª. Ma. Márcia Mitie Durante Maemura
Coordenadora do Programa de Iniciação Científica/
Núcleo de TCC e IC do UNISEB
Coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em
Gestão de Recursos Humanos e Tecnologia em Gestão
Comercial de EaD do UNISEB
Profª. Noemi Olimpia Costa Pereira
Profª. Drª. Marilda Franco de Moura
Profª. Drª. Gladis Salete Linhares
Profª. Drª. Marina Caprio
Profª. Ma. Alessandra Henriques Ferreira
Profª. Ma. Ornella Pacífico
Coordenadora de Extensão do UNISEB
Coordenadora Pedagógica de EaD do UNISEB
Coordenadora Pedagógica de EaD do UNISEB
Profª. Adriana Millo Saloti
Coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em
Secretariado de EaD do UNISEB
Profª. Esp. Alessandra Silva Santana Camargo
Coordenadora do Curso de Ciências Contábeis do UNISEB
Prof. Me. Alexandre de Castro Moura Duarte
Coordenador do Curso de Engenharia de Produção do
UNISEB
Profª. Drª. Andrea Regina Rosin Pinola
Coordenadora dos Cursos de Licenciaturas do UNISEB
Profª. Ma. Andréia Marques Maciel
Coordenadora do Curso de Ciências Contábeis de EaD do
UNISEB
Prof. Me. Antonio Nardi
Coordenador do Curso de Tecnologia em Gestão
Financeira do UNISEB
Profª. Ma. Ariana Siqueira Rossi Martins
Coordenadora do Curso de Serviço Social de EaD do
UNISEB
Profª. Ma. Candida Lemos França Maris
Coordenadora do Curso de Jornalismo do UNISEB
Coordenadora do Curso de Letras de EaD do UNISEB
Coordenadora do Curso de Pedagogia de EaD do UNISEB
Coordenadora do Curso de Administração e do Curso
Superior de Tecnologia em Gestão Financeira de EaD do
UNISEB
Prof. Dr. Osmar Sinelli
Coordenador do Curso de Engenharia Ambiental do
UNISEB
Prof. Me. Paulo Cesar Carvalho Dias
Coordenador dos Cursos de Ciência e Engenharia da
Computação do UNISEB
Prof. Dr. Pedro Pinheiro Paes Neto
Coordenador do Curso Educação Física do UNISEB
Prof. Dr. Ricardo A. M. Pereira Gomes
Coordenador do Curso de Engenharia Civil do UNISEB
Profª. Ma. Sara Gonzales
Coordenadora do Curso de Publicidade e Propaganda do UNISEB
Profª. Ma. Vanessa Bernardi Ortolan Riscifina
Coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em
Negócios Imobiliários de EaD UNISEB
Laura de Faria Silveira e Silva
Design Gráfico e Diagramação
Tiago José Guimarães
Design Gráfico e Diagramação
Prof. Dr. Cesar Rocha Muniz
Coordenador do Curso de Arquitetura do UNISEB
Profª. Drª. Cristiane Soncino Silva
Coordenadora do Curso de Fisioterapia do UNISEB
Profª. Ma. Daniela Pereira Tincani
Coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em
Marketing de EaD do UNISEB
Prof. Dr. Dirceu José Vieira Chrysostomo
Diretor da Faculdade de Direito do UNISEB
Profª. Ma. Helcimara Affonso de Souza
Coordenadora do Curso de Tecnologia de Informação de
EaD do UNISEB
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
5
Ficha Catalográfica
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica / Centro
Universitário UniSEB – COC. Ano 1. n. 1 (jan. 2009) -.- Ribeirão
Preto, SP : UNICOC, 2009.
Ano 3. n. 3 (dez. 2011)
Anual
ISSN: 2178-1923 (versão impressa)
1. Educação. 2. Pesquisa Científica. 3. Multidisciplinaridade. 4.
Ambiente. 5. Comportamento. I. Centro Universitário UniSEB COC. II. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica.
CDD 001
6
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
Editorial
Revista Multidisciplinar do Programa de Iniciação Científica do
Centro Universitário UniSEB - Ribeirão Preto
A Revista Multidisciplinar de Iniciação
Científica do Centro Universitário
UNISEB expressa, em seu terceiro
número, o somatório de esforços
coletivos dos professores orientadores
e estudantes de graduação dos diversos
cursos do Centro Universitário UNISEB,
na modalidade Presencial e a Distância.
A Revista propõe-se a discutir, divulgar
e promover o desenvolvimento da
ciência pautada na formação científica,
tendo como intenção principal, a
publicação dos resultados de pesquisas
primárias e/ou secundárias, em temas
multidisciplinares, voltados para gestão,
recursos humanos, inovação, tecnologia,
ANO 3 n.3 - 2011
meio ambiente, direito, educação e saúde.
Com tal publicação buscamos oferecer
aos nossos acadêmicos, além de uma
formação sólida e atualizada, pautada
na necessária articulação entre teoria
e prática, também um fundamental
estímulo à pesquisa, o que consideramos
elemento essencial de qualquer projeto
que vislumbre um ensino de qualidade,
voltado para as exigências da sociedade
contemporânea.
Coloca-se assim, como um projeto
concebido para expressar o compromisso
do Centro Universitário UNISEB com
a pesquisa, reforçando a missão desta
Instituição de Ensino Superior.
Editores
Prof. Me. Reginaldo Arthus
Prof. Me. Jeferson Ferreira Fagundes
Profª. Drª. Elizabete David Novaes
Conselho Editorial
Prof. Me. Alexandre de Castro Moura Duarte, Prof. Dr. Alexandre Vinicius da Silva
Pereira, Profª. Drª. Ana Paula Lazarini, Profª. Ma. Andrea Marques Maciel, Prof.
Dr. Antônio Carlos Pacagnella Júnior, Prof. Dr. Antonio Donizetti Gonçalves de
Souza, Prof. Dr. Celso Luiz Franzotti, Profª. Drª. Cristiane Soncino Silva, Profª. Drª.
Daniela Barbato Jacobowitz, Profª. Drª. Elizabete David Novaes, Profª. Drª. Fabiana
Cristina Severi, Prof. Dr. Fernando Scandiuzzi, Prof. Dr. Flávio Marques Vicari,
Prof. Me. Giovanni Comodaro Ferreira, Profª. Drª. Gladis Linhares, Prof. Dr. Hélcio
de Pádua Lanzoni, Prof. Dr. Jean-Jacques G. S. de Groote, Prof. Me. João Paulo
Leonardo de Oliveira, Profª. Drª. Marilda Franco de Moura Vasconcelos, Profª. Drª.
Marina Caprio, Prof. Ma. Marilia Godinho, Prof. Me. Paulo Cesar de Carvalho Dias,
Prof. Me. Paulo Henrique Miotto Donadelli, Prof. Dr. Ricardo A. M. Pereira Gomes,
Prof. Dr. Roberto Barbato Junior.
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
7
8
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
Sumário
Artigos
10
Uso da ferramenta web E-mail marketing com mineração de dados
22
Desenvolvimento de software para Identificação de úlceras corneanas com
base no histograma das cores
30
Pegada ecológica de Ribeirão Preto, SP: Instrumento para avaliação ambiental
40
Análise das propriedades mecânicas de concretos de baixa resistência
enriquecidos com fibras PET
50
Processo de homologação das coordenadas dos vértices de apoio base por
meio de posicionamento por ponto preciso
60
Efeito da dominância de membros sobre o desempenho dos membros
inferiores de atletas em testes funcionais
70
Revisão bibliográfica de estudos sobre o nível de atividade física em
adolescentes brasileiros
80
O uso da tecnologia virtual da realidade aumentada (RA) no processo de
ensino-aprendizagem
90
A influência do transcurso temporal nas modificações ocorridas no direito civil
estudo sobre o perfil empreendedor dos alunos de administração de uma
100 Um
Faculdade de Ribeirão Preto - SP
110
Qualidade do serviço interno do centro de serviços e logística de um Banco em
Ribeirão Preto
118
As perspectivas da pós-vendas frente às mudanças contemporâneas: um caso
de sucesso
130 Análise do capital de giro e da liquidez de uma empresa do ramo de cosméticos
turismo pedagógico como ferramenta de
138 Ogeografia
e história no ensino fundamental 1
ensino e aprendizagem em
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
9
USO DA FERRAMENTA WEB E-MAIL MARKETING
COM MINERAÇÃO DE DADOS
Leonardo Meloni ¹
Washington Jorge de Oliveira ²
Reginaldo Aparecido Gotardo ³
1. Resumo
Atualmente as pessoas se encontram
em situações em que ficam na dúvida sobre
qual produto e/ou serviço devem escolher
devido à grande quantidade de alternativas
disponíveis. Tomar esta decisão pode não
ser tão trivial quanto parece principalmente
se for algo desconhecido da pessoa ou um
produto/serviço novo no mercado. Assim,
uma recomendação vinda de outro cliente
que conhece determinado produto/serviço,
pode influenciar de maneira positiva na
decisão de compra, à medida que tal produto/
serviço já foi testado e aprovado por outros
consumidores e pode ser indicado. Uma
alternativa para auxiliar nesta decisão é o
uso de sistemas de recomendação, pois por
meio deste uma indicação de compra será
apresentada ao consumidor. Estes sistemas
possuem a capacidade de analisar não
somente o perfil do usuário, mas também
analisar um grupo de clientes similares, os
produtos mais vendidos, basearem-se no
histórico do cliente ou pela sua localidade
geográfica. Com isso, o E-Mail Marketing
nasceu como uma ferramenta publicitária
por meio da constante evolução da internet. À
medida que a internet se populariza e se torna
mais acessível a todas as classes, empresas
de vários ramos de atividades enxergaram
no e-mail marketing uma forma mais direta
e com menor custo para atingir um maior
número de pessoas simultaneamente. Desta
forma, neste trabalho foram estudadas
técnicas de personalização de conteúdo para
clientes e implementada uma ferramenta de
marketing direto que se baseia nos perfis dos
clientes e às suas necessidades e interesses
para auxilio em tomadas de decisões finais.
Palavras-Chaves: E-Mail Marketing,
Personalização e Recomendação, Mineração
de Dados.
1. Abstract
Nowadays people are in situations
that are in doubt about which product and
/ or service must choose due to the large
amount of available alternatives. Making
this decision may not be as trivial as it
sounds especially if an unknown person or
a product / service new to the market. A
recommendation from another client who
knows a particular product / service, you
can positively influence the purchasing
decision, such as product / service has been
tested and approved by other consumers and
can be displayed. An alternative to assist in
this decision is the use of recommendation
systems, because through this an indication
of purchase will be presented to the
consumer. These systems have the ability to
analyze not only the user profile, but also to
analyze a group of similar customers, selling
products, based on the history of the client
or their geographic location. The E-Mail
Marketing began as an advertising tool
by means of the constant evolution of the
Internet. As the Internet becomes popular
and becomes more accessible to all classes,
companies of various branches of activity
saw the e-mail marketing a more direct
and less costly to achieve a greater number
of people simultaneously. Thus, this paper
studied techniques for customizing content
to customers and implemented a direct
marketing tool that is based on customer
profiles and needs and interests to help in
final decision making.
¹ ² Bacharel em Ciências da Computação do Centro Universitário UniSEB de Ribeirão
³ Doutorando em Ciência da Computação pela Universidade Federal de São Carlos, UFSCAR, Brasil, Professor do
Centro Universitário UniSEB.
10
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
Key Words: E-Mail Marketing,
Recommendation and Personalization, Data
Mining.
1. Introdução
Atualmente, a internet está cada vez
mais presente no dia-a-dia das pessoas. Por
meio dela, é possível interagir tanto com
um vizinho quanto ultrapassar fronteiras e
interagir com uma pessoa de outro país ou
continente sem ter que sair do conforto de
sua casa. Todas essas facilidades disponíveis
ao alcance de um clique permitem um meio
de comunicação que evidencia um novo meio
de exploração de marketing e proporciona
um resultado mais efetivo, rápido e de menor
custo, isto é, é possível atingir um maior
número de pessoas com a velocidade da
internet e sem os custos de contratação de
mídias sociais.
1.1 Objetivos
Este artigo apresenta a elaboração de
uma ferramenta Web que permite disparos
de e-mails personalizados, que são enviados
para clientes que possuam um perfil com
características que determinam um interesse
relevante ao conteúdo da publicidade. O
método utilizado para esta recomendação
personalizada é a Mineração de Dados, que
neste projeto tem a função de obter padrões
por meio da análise de perfis dos clientes,
sugerindo recomendações que atinjam
diretamente o interesse do mesmo.
As técnicas de mineração de
dados empregadas nesta recomendação
personalizadas foram o algoritmo de K-Means
e o algoritmo de Apriori, capazes de encontrar
um padrão e poder sugerir determinada
recomendação, fato que não necessariamente
deve ser seguido pelo usuário.
O algoritmo de K-means é baseado
em análises e comparações entre os valores
numéricos dos dados, assim fornece uma
classificação automática sem a necessidade
da supervisão humana, considerado então
um algoritmo de mineração de dados não
supervisionado.
O algoritmo de Apriori é utilizado
para resolver o problema da mineração de
dados de conjuntos de itens frequentes,
fazendo buscas recursivas na base de dados
à procura de conjuntos que satisfazem o valor
de suporte e de confiança estabelecidos.
2. E-Mail Marketing
O E-Mail marketing é uma evolução do
meio tradicional utilizado por meio da mala
direta. A forma de se pensar na prática de
marketing foi remodelada, adaptando-se ao
novo meio disponibilizado. Com a constante
evolução dos meios de comunicações e do
seu grande poder de presença no cotidiano
das pessoas, o e-mail marketing se tornou
um candidato natural a assumir esta posição
no mercado com maior destaque. Não é
uma solução que acabará a princípio com
os meios já existentes, mas à medida que a
conscientização e a preocupação com o meio
ambiente aumentam, evidenciam a busca
por novas fontes ecologicamente corretas
colocando o e-mail marketing neste posto.
O E-Mail Marketing é uma mensagem
de correio eletrônico enviada e recebida pela
internet com a intenção de divulgar ou ofertar
produtos e serviços de determinada empresa,
manter o relacionamento com a base
disponível de clientes ou ainda, disponibilizar
atendimento ao consumidor.
3. Personalização na Web
Personalizar é tornar algo adaptável
a alguém, adequando os serviços oferecidos
à vontade, necessidade e preferências
desta pessoa; é apresentar algo de forma
diferente a cada pessoa, pois cada uma
tem um gosto definido, um perfil formado
(GABBER, GIBBONS, MATIAS e MAYER,
1997). Portanto atender aos interesses de um
consumidor nem sempre é possível através
de uma campanha de interesse voltada a um
grupo geral. Para tal, é necessário utilizar
uma abordagem adaptativa, onde o conteúdo
e as ofertas devem ser feitas de acordo com os
interesses e preferências de cada cliente.
A personalização na web é um recurso
muito útil que permite tomar decisões
baseadas no interesse peculiar de cada
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
11
| USO DA FERRAMENTA WEB E-MAIL MARKETING COM MINERAÇÃO DE DADOS |
usuário, com esta abordagem é possível
direcionar uma campanha a um cliente
ofertando apenas produtos que satisfaçam as
necessidades e vontades de cada pessoa.
É necessário obter estas informações
sobre os clientes de forma controlada e não
invasiva. Ao se cadastrar em um site, por
exemplo, o cliente pode criar seu perfil,
indicando áreas de interesse para que este
possa receber e-mails de ofertas, portanto, é
necessário o consentimento do cliente para
receber tal serviço de mensagens.
A personalização de conteúdo é
obtida pelo o auxílio da mineração de dados
para a análise de uma grande base de dados
utilizando técnicas computacionais para
extração e obtenção de padrões desejados, é
possível auxiliar na tomada final de decisão.
3.1 Mineração de Dados
São
técnicas
que
buscam
reconhecimentos de padrões dentro de uma
grande base de dados, por meio de processos
computacionais que extraem conhecimento
não trivial e são muito utilizadas para o
auxilio de tomada de decisões.
A mineração de dados é também
chamada de Knowledge Discovery in
Databases – KDD (em português: Descoberta
de Conhecimento em Bancos de Dados).
Conforme Berry E Linoff (1997), mineração
de dados é a exploração e análise, da maneira
mais automatizada possível, de grandes
bases de dados com objetivo de descobrir
padrões e regras. O seu objetivo principal é
fornecer informações úteis que permitam as
empresas montarem de forma mais objetiva
as estratégias de marketing, vendas e suporte,
melhorando assim os seus negócios.
3.2 O Algoritmo K-Means
K-means é considerado um algoritmo
de classificação cujo objetivo é encontrar
modelos de classificação que possam
classificar dados em classes distintas, para
tal, são analisadas propriedades (atributos)
comuns entre objetos em uma base de dados.
Segundo Amo (2003), o algoritmo
é baseado em análises e comparações entre
os valores numéricos dos dados, assim
fornece uma classificação automática sem
a necessidade da supervisão humana,
considerado então um algoritmo de
mineração de dados não supervisionado.
O método K-means recebe uma base
de dados de objetos (tuplas) e um número
k que representa o número de classes que
se deseja formar entre as tuplas da base de
dados.
Essas classes são denominadas
clusters, coleção de objetos que são
semelhantes uns aos outros de acordo com
algum critério de semelhança pré-fixado e
diferenças entre objetos de outros clusters.
A base de dados é dada como uma
matriz de dissimilaridade entre os objetos.
Nesta matriz são definidos i, j e d(i, j) como
sendo respectivamente linha, coluna e a
distância entre os objetos i e j. A representação
por dissimilaridade é baseada na comparação
entre todos os objetos envolvidos, isso nos
leva a uma matriz D, na qual cada elemento da
matriz representa o valor de dissimilaridade
entre dois objetos.
Figura 3. 1 – Matriz de dissimilaridade
FONTE: AMO, 2003.
Dependendo do tipo de dados
presentes no banco de dados, existem técnicas
para construir a matriz de dissimilaridade,
tais como a distância Euclidiana, distância de
Manhattan e a distância de Minkowski.
Seja C = {C1, C2, C3 ..., Ck} uma
partição do banco de dados em k clusters
e sejam s1,s2,s3, ...,sk elementos que
³ Segundo Fábio Konder Comparato, a Constituição Mexicana de 1917 foi “a primeira a atribuir aos direitos
trabalhistas a qualidade de direitos fundamentais, juntamente com as liberdades individuais e os direitos
políticos”. A afirmação histórica dos direitos humanos, p. 174.
12
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
| USO DA FERRAMENTA WEB E-MAIL MARKETING COM MINERAÇÃO DE DADOS |
representam o centro dos clusters escolhidos
em cada um dos mesmos.
O erro quadrático da partição é obtido
por meio de:
Erro(C) = ∑ni = 1∑x ∈ Ci | x – si |² .
O algoritmo de K-means procura
construir uma partição P contendo k clusters
para a qual o erro quadrático seja mínimo.
Segundo AMO (2003) o algoritmo é
dividido em 6 passos:
1º Passo: Neste passo são escolhidos k
objetos {p1, p2, p3 ..., pk} da base de dados,
geralmente são escolhidos os k primeiros
registros da tabela. Esses objetos serão os
centros de k clusters, ou seja, os k centróides.
Cada cluster Ci é formado somente pelo
objeto pi.
2º Passo: A distância entre cada ponto
e os centróides é calculada, para cada objeto
O diferente de cada um dos pi’s. Considerase a distância entre O e cada um dos pi’s.
Considera-se o pi para o qual a distancia é
mínima, o objeto então passa a fazer parte do
cluster representado por pi.
Este processo é o que mais exige
processamento de cálculos, pois para N
pontos e k centróides o calculo será N x k
distâncias.
3º Passo: Os pontos são classificados
de acordo com sua distância dos centróides
de cada cluster.
O centróide que está mais perto deste
ponto vai pertencer ao cluster do ponto.
4º Passo: Calcula-se a média dos
elementos de cada cluster, isto é, o seu
centro de gravidade, este ponto será o novo
representado pelo cluster.
5º Passo: O algoritmo volta para o
2º passo, varrendo a base de dados e para
cada objeto O a distância é calculada entre
este objeto e os novos centros dos clusters. O
objeto O será realocado para o cluster C tal
que a distância entre O e o centro de C é a
menor possível.
6º Passo: O processo fica repetindo
iterativamente e o refinamento do cálculo
das coordenadas dos centróides, até que
nenhuma mudança ocorra, isto é, os clusters
se estabilizem.
Figura 3. 2 – Funcionamento do algoritmo k-means para k = 3
FONTE: AMO, 2003.
Na primeira iteração os objetos
selecionados representam que foram
escolhidos aleatoriamente, nas iterações
segunda e terceira os centros de gravidade
são marcados com o sinal positivo (+).
A vantagem do algoritmo é sua
eficiência em tratar grandes conjuntos de
dados. Sua desvantagem porém, se encontra
no fato do usuário ter que fornecer o valor de
k clusters e por serem sensíveis à ruídos, já
que valores altos podem causar uma grande
alteração do cento de gravidade dos clusters,
e assim distorcer a distribuição dos dados nos
mesmos.
3.3. O Algoritmo Apriori
O Apriori é considerado uma ténica
de associação que consiste em regras eficazes
na busca por associações ou relações em
uma transação entre conjuntos de atributos
denominadas itens, a regra de associação
tem a função de encontrar uma relação
entre esses dois produtos e informar o quão
confiável é esta relação, isto é, a regra busca
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
13
| USO DA FERRAMENTA WEB E-MAIL MARKETING COM MINERAÇÃO DE DADOS |
caracterizar quanto um conjunto de atributos
na base de dados implica na presença de
outro conjunto.
De acordo com Amo (2003), é
considerado um algoritmo clássico na regra
de associação, proposto pela equipe de
pesquisa QUEST da IBM em 1994. Utilizado
para resolver o problema da mineração de
dados de itemsets frequentes, fazendo buscas
recursivas na base de dados à procura de
conjuntos que satisfaçam o valor de suporte
e de confiança estabelecidos.
conf(C → (L-C)) =
total de trans. suportando L
total de trans. suportando C
Para efetuar o cálculo da confiança C
→ (L – C) deve-se apenas dividir o suporte de
L pelo suporte de C.
O algoritmo de Apriori é divido em 3
diferentes fases:
1.Geração dos candidatos
2.Poda dos candidatos
3.Validação
As fases 1 e 2 são realizadas na
memória principal e não precisam varrer a
base de dados B. A memória secundária é
apenas utilizada caso o conjunto de itemsets
candidatos seja muito grande e exceda o
tamanho da memória principal. Apenas na
fase 3 onde ocorre o cálculo do suporte dos
itemsets candidatos é que é necessário varrer
a base de dados B.
Nas fases de geração e de poda (1 e
2) é utilizada a propriedade de Apriori ou
antimonotonia:
Propriedade de Apriori ou
antimonotonia: Segundo Camilo (2010),
sejam V e U dois itemsets tais que V ⊂ U,
se U é frequente então V também é. Dada
uma sequência de itemset de tamanho k,
um k-itemset será freqüente se todos os seus
(k-1)-itemsets também forem frequentes.
O algoritmo de associação Apriori
possui a execução de forma iterativa: os
itemsets frequentes são calculados através do
seu anterior, ou seja, 2-itemset é calculado a
partir do 1-itemset e assim sucessivamente,
14
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
Considerando, por exemplo, todos
os itemsets frequentes com relação à base
de dados B e valor mínimo de suporte β.
E para cada itemset frequente L, todas as
regras candidatas C → (L – C), onde C ⊂
L e é verificado para cada uma das regras
candidatas se o valor de confiança excede o
grau α. Para efetuar o cálculo de confiança de
C → (L – C) não é preciso varrer novamente
a base de dados B. Durante a execução do
algoritmo de Apriori já foi calculado o valor
de suporte para L e C . Veja:
=
total de trans. suportando L
total de transações
total de trans. suportando C
total de transações
Sup (L)
= Sup (C)
não é necessário calcular o suporte de
k-itemset, pois basta utilizar a propriedade
de Apriori ou antimonotonia e verificar se
são frequentes os itemsets anteriores.
1º Fase: Geração dos candidatos
Nesta fase ocorre a geração dos
itemsets candidatos, não necessariamente
frequentes, de tamanho k a partir do
conjunto Lk – 1.
O conjunto C’k de itemsets candidatos
de tamanho k é construído unindo-se pares
de itemsets de tamanho k – 1 que tenham k
– 2 registros em comum. Dessa forma pelo
menos dois subconjuntos de tamanho k – 1
serão frequentes em um itemset de tamanho
k.
a
b
c
d
e
x
itemset frequente de tamanho 6
a
b
c
d
e
y
itemset frequente de tamanho 6
Figura 3. 3–Exemplo de construção de itemsets candidatos de tamanho k
a partir de itemsets frequentes de tamanho k-1.
Para a construção do conjunto C’k é
utilizado a função de Apriori-Gen, requer
como argumento o Lk – 1 que consiste no
conjunto de todos os conjuntos de itemsets
frequentes com (k – 1)-itemsets e retorna
um conjunto de todos os itemsets frequentes
com k-itemsets.
| USO DA FERRAMENTA WEB E-MAIL MARKETING COM MINERAÇÃO DE DADOS |
2º Fase: Poda dos candidatos
Com base na explanação de AMO
(2003). Utilizando a propriedade Apriori é
possível descartar subconjuntos de itens de
tamanho k – 1 que não estiverem em Lk –
1 , pois não possui chance de ser um item
frequente.
Nessa fase é calculado o conjunto Ck
= C’k – { V | existe U ⊂ V tal que |U| = k – 1 e
U ∉ Lk – 1 }. A notação |U| significa numero
de elementos do itemset U.
Exemplo: Considerando o exemplo
anterior da função Apriori-Gen, neste caso o
C3 = C’3 – { { 1 , 4 , 5 } , { 1 ,3 , 5 } } = { { 1 , 3 ,4
} , { 2, 3 , 4 } }. O itemset { 1 , 4 , 5 } foi podado
mas será descartado pois não possui chance
de ser um itemset frequente, pois possui o
2-itemset { 4 , 5 } que não aparece em L2.
3º Fase de Validação: cálculo do valor
de suporte
Nesta fase são calculados o valor
de suporte de cada um dos itemsets do
conjunto Ck, isso pode ser feito varrendo
uma única vez a base de dados B. Para cada
transação verifica-se quais são os candidatos
suportados por cada transação e para esses
candidatos é incrementado uma unidade no
valor de suporte.
• Itemsets frequentes de tamanho
1: São computados todos os itemsets de
tamanho 1, a base de dados é varrida uma
vez para calcular o suporte de cada um destes
conjuntos de tamanho 1, descartando-se
aqueles que não possuem suporte ≥ β.
4.
Ferramenta
Marketing
de
E-Mail
A ferramenta de E-mail Marketing
tem como objetivo o disparo de e-mails com
campanhas publicitárias para vários clientes.
Para esse trabalho de conclusão de curso,
foi desenvolvida uma ferramenta divida
em duas áreas: área pública (cliente) e área
restrita (administrador).
Na área pública a ferramenta
permite o cadastro de usuários a partir dos
campos: nome, e-mail e áreas de interesse
(várias opções que permitem a ferramenta
armazenar um perfil inicial do usuário). Este
processo é ilustrado na Figura 4.1.
Figura 4.1– Cadastro de clientes na ferramenta
A área restrita foi desenvolvida para
uso do administrador, ou seja, a pessoa que
irá gerenciar o disparo dos e-mails. Por ser
uma área privada o sistema conta com uma
identificação por login e senha para que seja
permitido o acesso.
Além dos disparos dos e-mails, é
possível gerenciar novos administradores,
permitindo adicionar, editar e excluir um
registro.
Inserir, visualizar e excluir clientes
cadastrados, gerenciar de forma dinâmica
as áreas de interesse que são exibidas para
o usuário na hora do cadastro. Permite
também configurar o SMTP para envio dos
e-mails.
Quando o administrador efetua o
disparo dos e-mails, a ferramenta realiza
esse comando da seguinte forma: verifica
no banco de dados onde estão todas as
informações do sistema os clientes que
estão ativos, ou seja, que desejam receber
e-mails, exibe uma listagem de áreas que
por meio de algoritmos de mineração de
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
15
| USO DA FERRAMENTA WEB E-MAIL MARKETING COM MINERAÇÃO DE DADOS |
dados mostraram similaridades dando
ao administrador liberdade para análise
e escolha dessas áreas antes de realizar
realmente o disparo da campanha conforme
é visto na Figura 4.2.
Figura 4.2 – Processo de envio de mensagens pelo administrador
O cliente possui a opção de cancelar
seu cadastro para recebimentos de e-mails,
dentro do corpo do e-mail existe um link
com essa opção, quando o cliente clicar
nesse link automaticamente o seu status será
desativado, isto é, no próximo disparo de
e-mails esse cliente não será selecionado.
Quando um e-mail é aberto, essa
informação é inserida no banco, ou seja, o
sistema saberá qual cliente, a data e a hora
que o e-mail foi aberto, dentro do corpo do
e-mail contém produtos cadastrados que
quando clicados, insere no banco o código do
cliente e qual o produto foi de interesse do
mesmo, de acordo com a Figura 4.3.
Figura 4.3– Disponibilidade de cancelamento do recebimento de
e-mails
16
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
4.1 Ferramenta Personalizada
A ferramenta trabalha com listas de
recomendações personalizadas baseadas em
perfis formados a partir dos disparos dos
e-mails, onde serão armazenados eventos
realizados pelos usuários, e regras de
associações criadas por meio de semelhanças
encontradas entre os perfis dos usuários
cadastrados no sistema.
A cada nova campanha gerada, os
perfis dos usuários são atualizados a partir
do momento que o mesmo mostra interesse,
abrindo o e-mail sobre a campanha enviada.
Os algoritmos de mineração de
dados são executados off-line, ou seja, são
agendados para executar em um horário
em que não haja uso da ferramenta e
consequentemente atrapalharem o seu
uso normal, atualizando as listas de
recomendação, com usuários que possuem
interesse direto sobre os assuntos enviados,
algoritmo de classificação e possíveis novos
interesses, gerados pelo algoritmo de regras
de associação, conforme Figura 4.4.
| USO DA FERRAMENTA WEB E-MAIL MARKETING COM MINERAÇÃO DE DADOS |
Figura 4.4– Processo de criação de modelos off-line
À medida que a base de dados é
atualizada pela interação dos clientes com os
e-mails disparados, são criados os modelos
off-line que sugerem listas de recomendações
baseadas nos interesses dos perfis de clientes
atualizados. A Figura 4.5, ilustra esta geração
dos modelos a partir da nova base de dados
que foi atualizada.
Figura 4. 5 – Processo de envio de mensagens pelo administrador
com a base atualizada após a mineração de dados.
4.2 Utilização da Ferramenta
para Obtenção dos Dados
Com a ferramenta implementada
vários usuários acessaram o front-end e
realizaram o cadastro com nome, e-mail
e as possíveis áreas de interesse que foram
previamente inseridas, com isso, a base
de clientes foi preenchida de acordo com o
interesse inicial dos usuários.
Paralelamente, foram cadastrados
produtos
de
diferentes
categorias
alimentando a base de produtos da
ferramenta a serem utilizados em cada
campanha.
Com a conclusão dessas etapas,
iniciou-se a elaboração das campanhas para
o envio dos e-mails, neste trabalho foram
criadas 11 (onze) campanhas contendo
produtos categorizados em áreas distintas,
que ao serem selecionadas pelos usuários
atualizavam o perfil do mesmo.
Nota-se que por enquanto ainda não
foi utilizada nenhuma técnica de mineração
de dados, os registros iniciais de cadastro
se dão pela inserção dos dados pelo usuário
por meio do cadastro no site e pela interação
com os emails de campanhas recebidas, na
qual, caso um cliente tivesse interesse em
algum produto de área que ainda não fazia
parte do seu perfil, o mesmo seria atualizado
com a nova informação. Desta forma, os
perfis individuais são criados e atualizados
conforme a necessidade.
As personalizações e recomendações
se dão pela execução dos algoritmos
específicos presentes na ferramenta, os quais
serão descritos nos estudos de casos.
5. Avaliações e Resultados
Este capítulo de avaliação visa
descrever as atividades realizadas para
demonstrar a proposta apresentada para este
trabalho e a análise dos resultados obtidos
apoiados na utilização dos algoritmos de
mineração de dados propostos para este fim.
As técnicas de mineração de dados
para a criação de perfis são obtidas por
meio de um algoritmo de associação
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
17
| USO DA FERRAMENTA WEB E-MAIL MARKETING COM MINERAÇÃO DE DADOS |
(algoritmo de Apriori) e por um algoritmo de
criação de grupos (técnica do algoritmo de
K-Means). Na sequência, serão descritos os
resultados adquiridos após a execução de tais
algoritmos, uma vez que a base de dados com
as informações necessárias para esta análise
já se encontram armazenadas no banco de
dados após a colaboração dos usuários.
5.1 O Funcionamento dos
Algoritmos
O propósito da utilização desses
algoritmos é obter novas áreas que
possam ter algum conteúdo relevante para
determinado cliente, de acordo com a análise
do hábito de outros que possuam um perfil
semelhante. Isto é importante, pois o uso
dessa abordagem permite descobrir novas
áreas que mesmo não estando no perfil
cadastrado inicialmente, possa despertar a
atenção deste cliente atualizando assim seu
perfil de acordo com a aceitação ou não das
novas campanhas publicitárias.
Com isso é possível descobrir um
novo interesse desconhecido ou esquecido
pelos clientes, aumentando assim o número
de dados e informações sobre eles.
5.1.1 A Técnica do Algoritmo de
Apriori
A técnica do algoritmo de Apriori se
baseia na obtenção de regras de associação
entre dois itens, desta forma são procuradas
regras de associação que possam determinar
um grau de relevância entre ambas.
Neste trabalho, esta análise se baseia na
comparação entre áreas que representam
o interesse de um usuário por determinado
assunto, mais especificamente sobre áreas de
produtos que possam se identificar e gostar,
assim, campanhas sobre oferta de produtos
podem ser enviados aos clientes de acordo
com o seu perfil.
Na aplicação do algoritmo de Apriori
são utilizados dois parâmetros com os valores
desejados para este trabalho. O primeiro
representa o fator de suporte mínimo e tem
o valor de 30%, o segundo indica o fator de
confiança e tem o valor de 70%.
18
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
O suporte mínimo é o percentual de
vezes em que uma área aparece dentro de um
conjunto de transações do banco de dados,
neste caso, será considerada a área que tiver
uma representação mínima de 30% dentro
da base.
A confiança representa o percentual
de ocorrência de uma regra dentro do
conjunto de transações obtido pelo suporte
mínimo, neste caso, essa regra deverá ocorrer
em no mínimo 70% dos casos.
O algoritmo cria uma tabela
temporária onde são inseridas as áreas e
as frequências em que as mesmas ocorram
dentro das transações, onde essa frequência
deve ser superior ou igual ao valor do suporte
mínimo, assim fica garantido que somente
serão encontradas associações que possuam
um grau de relevância mínima e ao mesmo
tempo seja satisfatória para ser apresentada
a outros clientes.
A execução do algoritmo Apriori como
dito anteriormente, cria uma tabela que ao
ser visualizada demonstram os resultados
baseados nos parâmetros configurados.
A partir dessa tabela temporária são
criadas associações entre as áreas, obtendo
como resultado: áreas cadastradas, áreas
associadas, frequência total da área
cadastrada e frequência total das áreas
associadas dentro da associação criada. O
resultado obtido pelo algoritmo de Apriori é
inserido em de uma tabela na base de dados
e é utilizado para exibição das informações
conforme pode ser observado na Figura 5.1.
A figura 5.1 demonstra as associações
encontradas dentro dos parâmetros de
suporte mínimo e de confiança estipulados,
ou seja, cada área deve ocorrer no mínimo
30% dentre todas as transações da base de
dados e uma regra de associação precisa estar
presente em no mínimo 70% das ocorrências
neste conjunto de áreas.
Analisando estes dados, o sistema exibe
outro relatório que demonstra as conclusões
obtidas pelo processo de associações geradas,
conforme pode ser observado na Figura 5.2.
| USO DA FERRAMENTA WEB E-MAIL MARKETING COM MINERAÇÃO DE DADOS |
Figura 5.1- Informações obtidas por meio do algoritmo de Apriori
Figura 5.2 – Relatório obtido por meio do algoritmo de Apriori
Portanto, quanto maior for o
percentual de ocorrência (suporte) de uma
área na base dados, assim como, quanto maior
for seu percentual de associação (confiança)
à outra área distinta, pode-se concluir que
existe uma forte relação entre ambas as áreas
dentro do cenário estudado.
Está análise permite demonstrar
como são correlacionados os interesses dos
usuários baseados em todo o histórico de
abertura de e-mails dos clientes cadastrados,
assim, descobrir novos interesses tornase uma forma de sugerir novos temas aos
usuários mas também não será uma garantia
ou imposição de que este se interessará pelo
novo tema.
5.1.2 A Técnica do Algoritmo de
K-Means
A técnica do algoritmo de K-Means
baseia-se em encontrar grupos cuja distância
entre áreas de interesses sejam a menor
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
19
| USO DA FERRAMENTA WEB E-MAIL MARKETING COM MINERAÇÃO DE DADOS |
possível, ou seja, uma vez que é concluído
todo o processo da execução do algoritmo,
garante-se que os grupos serão formados por
cliente, com isso foram gerado três clusters
de áreas com interesses similares conforme
mostrado na Figura 5.3.
Figura 5.3– Classificação das áreas de interesse similares por meio do Algoritmo de K-Means.
áreas que estão próximas umas das outras,
essa proximidade é dada pelo cálculo da
distância Euclidiana.
O algoritmo de K-Means é considerado
um algoritmo não supervisionado, pois
não necessita da supervisão humana, o seu
objetivo é fornecer uma classificação de
informações de acordo com um conjunto de
dados informados, para isso ele utiliza de
comparações entre valores numéricos desses
dados.
Para a aplicação desse algoritmo é
necessário informar o valor do parâmetro k
que vai representar a quantidade de classes
(clusters) ou grupos, que serão gerados. As
classes são formadas por meio da distância
Euclidiana, para isso vai depender da
quantidade de atributos da tabela fornecida,
após descobrir as distâncias, o algoritmo
calcula centróides de cada classe formada.
Neste trabalho foi utilizado para o
parâmetro k o valor 3 e passado uma lista
contendo todas as áreas de interesse de cada
20
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
De acordo com a Figura 5.3, são
demonstrados 3 grupos, este valor k foi
escolhido pois a base de dados com as áreas
de interesses não é muito grande, o que não
justificaria adotar um valor muito alto.
De acordo com a Figura 5.3 e fazendo
uma escolha aleatória para melhor explanar,
será considerado o Grupo 3 para ser analisada.
Segundo este grupo, é visto que ele contém
quatro áreas que possuem um algo grau de
similaridade dentro deste contexto de estudo.
As áreas Vestuário, Bebidas, Entretenimento
e Literatura formam um grupo, pois a
distância Euclidiana entre elas é pequena, isto
demonstra um forte indício de similaridade e
proximidade entre ambas.
Como o estudo se ampara nos
interesses e gostos pessoais dos clientes, a
análise desses grupos sugere que os clientes
que não possuem alguma destas áreas
cadastradas em seu perfil, está suscetível a se
interessar em alguma dessas áreas, uma vez
que esse grupo destaca pessoas com interesses
| USO DA FERRAMENTA WEB E-MAIL MARKETING COM MINERAÇÃO DE DADOS |
similares.
6. Conclusões
Considerando-se
estas
técnicas
de mineração de dados como uma nova
abordagem para realização de disparos de
e-mails publicitários aos clientes cadastrados,
foi possível encontrar uma nova forma de
chamar a atenção dos clientes para novos
produtos que até então podiam passar
despercebidos por este. Esta nova abordagem
é uma forma sugerir novos interesses às
pessoas sem que se possa tornar uma
frustração ou incômodo a ela. Analisar os
hábitos de pessoas similares nos remete a algo
que possa ser do interesse de todos, mas não
necessariamente uma imposição, uma vez que
esta pode não se interessar por algo mesmo
que muitos outros possam gostar.
Utilizar estas técnicas permite
analisar os perfis dos clientes e encontrar
padrões que possam gerar um novo modelo
de recomendação que sugira áreas que
aparentemente não tivessem correlação,
isto é, não realiza o envio para clientes que
não possuem nenhum tipo de interesse
pela campanha criada, sendo este um fator
preponderante para não invadir a privacidade
dos clientes.
O uso destas técnicas permite que
o administrador faça uma análise mais
profunda dos dados que possui na base de
dados, com o pré-cadastro dos clientes é
possível obter uma formação de um perfil
inicial e ao cadastrar as campanhas é possível
verificar por meio de análises quais são as
áreas com maior relevância, desta forma, a
ferramenta de disparo de e-mails é capaz de
abranger um novo público alvo que está além
do tema original da campanha criada.
Utilizar
estes
novos
artifícios
demonstrou a relevância destas técnicas de
mineração para realização do disparo da
campanha, objetivando o auxílio na tomada
de decisão do administrador. Com a conclusão
deste trabalho, observa-se a capacidade da
ferramenta em proporcionar sugestões de
novas áreas que possam acrescentar uma
abrangência maior ao disparo e ainda assim
estar focado em uma similaridade entre os
interesses de áreas distintas.
Referências
AMO, S. Curso de Data Mining. Programa de Mestrado em Ciência da Computação, Universidade Federal de Uberlândia, 2003.
BERRY, Michael J. A.; LINOFF, Gordon. Data Mining Techniques: For Marketing, Sales,
and Customer Support. New York: Wiley Computer Publishing, 1997.
CAMILO, C. O.Uma Metodologia para Mineração de Regras de Associação Usando Ontologias para Integração de Dados Estruturados e Não-Estruturados - Dissertãção apresentada
ao Programa de Pós-Graduação do Instituto de informática da Universidade Federal de
Goiás como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciência da Computação,
2010.
GABBER, E., GIBBONS, P., MATIAS, Y. and MAYER, A. (1997).How to Make Personalized
Web Browsing Simple, Secure, and Anonymous. Bell Laboratories, Information Sciences
Research Center, Lucent Technologies. Disponível em: <http://www.bell-labs.com/project/
lpwa/papers.html>. Acessado em: 13 fev. 2011.
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
21
DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE PARA
IDENTIFICAÇÃO DE ÚLCERAS CORNEANAS
COM BASE NO HISTOGRAMA DAS CORES
Luciana F. Almansa ¹
Jean-Jacques De Groote ²
1. Resumo
Ulceras corneanas são lesões que
envolvem danos em sua camada epitelial.
Podem ser causadas por trauma, infecções
virais, bacterianas, fungos, pelo uso de
substâncias químicas como antibióticos ou
cortisona sem acompanhamento médico.
Para avaliar seu processo de cura verifica-se
a epitelização da área necrosada (migração
de células epiteliais vizinhas). O médico
geralmente analisa a lesão com o biomicroscópio
de uma Lâmpada de Fenda, e o diagnóstico é
realizado por meio das conclusões baseadas
em sua experiência. Considerando que, via de
regra, essas análises são realizadas com base
em observações a olho nu, o acompanhamento
da evolução da lesão pode ser difícil e
impreciso, abrindo espaço para divergência
entre diagnósticos de diferentes especialistas.
Neste trabalho apresentamos um método
semi-automático para identificação e medida
da área sem epitélio causada por essas lesões.
Foram desenvolvidos algoritmos baseados em
técnicas de Processamento Digital de Imagens
na linguagem de programação do IDE Delphi.
O software permite que o oftalmologista
determine uma pequena amostra da região
de interesse, e a partir dos parâmetros desta
região, o software segmenta de forma precisa
a área dominada pela úlcera. Os resultados
foram embasados por meio do estudo dos
falsos positivos e negativos a partir de imagens
de referência.
Palavras-Chave: Úlceras corneanas,
Processamento digital de imagens, Lâmpada
de Fenda.
1. Abstract
Corneal Ulcers are open sores on
the cornea that involve damage to their
epithelial layer. They may be caused by
trauma, viral infections, bacterial, fungi,
by chemical substance use as antibiotics or
cortisone without medical monitoring. In
order to evaluate the healing process the
epithelization of necrosed area is verified
(healing by the growth of epithelium over
a denuded surface). Doctors usually look
at the damage with a biomicroscope Slit
Lamp, and the diagnosis is made by means
of observations based on his experience.
Since, usually such analyzes are based on
observations made bythe naked eye, to
monitor the evolution of the lesion can be
difficult and imprecise, making room for
disagreement between diagnoses of different
experts. We present in this work a semiautomatic method for identification and
measurement of the area without epithelium
caused by such lesions. Algorithms were
developed based on techniques of Digital
Image Processing and using Delphi IDE
programming language. The software
allows ophthalmologists to choose a small
sample of the region of interest, and based
on this region characteristics, the software
accurately identify the corneal area
dominated by ulcer. The results precision
was determined by the analysis of false
positives and negatives from reference
images.
Keywords: corneal ulcers, Digital
image processing, Slit Lamp.
¹Luciana Farina Almansa, aluna de graduação em Ciência da Computação – UNISEB. e-mail: [email protected]
²Prof. Dr. Jean-Jacques de Groote, Coordenador do Laboratório de Inteligência Artificial e Aplicações- UNISEB. e-mail:
[email protected]
22
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
2. Introdução
Úlceras corneanas são lesões oculares
graves que podem ser causadas por infecções
de bactérias, protozoários, fungos ou vírus,
ou também pelo uso contínuo de substâncias
químicas como, por exemplo, antibióticos
ou cortisona. Essas lesões podem causar um
grande impacto, uma vez que podem levar a
seqüelas, desde o comprometimento visual
parcial à perda total da visão, e mesmo do olho,
em alguns casos.
O critério de avaliação de cura de
uma úlcera corneana é a epitelização da área
necrosada (OLIVEIRA et al, 2002). Na prática,
o médico realiza um exame clínico simples,
onde a lesão é analisada com uma Lâmpada
de Fenda e o diagnóstico é feito com base
nas conclusões que ele julgue importante.
Vale ressaltar, que como essas medições
são usualmente realizadas manualmente, a
evolução da lesão pode ser lenta e imperceptível
aos olhos do médico em um próximo retorno,
sem mencionar a divergências de opiniões
entre médicos.
Este problema foi investigado por
outros autores, que desenvolveram um sistema
composto por uma câmera CCD acoplada a
uma Lâmpada de Fenda, através de um divisor
de feixes, onde o olho do paciente previamente
submetido a um procedimento clínico é
exposto, e a imagem apresentada no monitor
de um computador (CHIARADIA, 1999).
Neste trabalho, é desenvolvido um
método semi-automático para identificação,
medida e análise da área sem epitélio na
córnea, causada por úlceras. Para isso foram
desenvolvidos programas que processam,
identificam e analisam a região lesionada
em imagens digitais, fornecendo aos
oftalmologistas informações sobre a área
afetada e o contorno da lesão. Entre os métodos
utilizados se destacam a análise de histograma,
operadores morfológicos e filtros convolutivos.
Para o desenvolvimento deste software foi
utilizado a IDE Delphi.
3. Metodologia
Para o programa ter um bom
desempenho, é importante que nas imagens
utilizadas, a úlcera esteja destacada. Para
obter-las desta forma, é utilizado um
processo clínico onde o oftalmologista pinga
no olho do paciente um composto químico
conhecido como fluoresceína (RAMALHO,
2011). Trata-se de um colírio na cor amarela,
que em contato com a região lesionada,
fornece um tom esverdeado e ao restante um
tom azul (Fig.1).
Em seguida, o oftalmologista
examina o olho em um aparelho conhecido
como Lâmpada de Fenda (CHIARADIA,
1999). Nele, há uma câmera acoplada a
um divisor de feixes, onde as imagens são
enviadas para o computador. Essas imagens
possuem tamanho médio 500x500 cm, com
em média 150 dpi (dots per inch ou pixels
por polegada). Normalmente seu formato é
JPEG podendo variar para bitmap.
O software apresentado neste
trabalho foi elaborado utilizando a IDE
Delphi versão 7 (CANTU, 2003). Delphi
é um compilador, uma linguagem e um
ambiente (IDE) de programação, orientado a
objetos, que permite a criação de aplicativos
desktop para diversos sistemas operacionais,
porém, este é mais direcionado a plataforma
Windows. Utiliza como dialeto a linguagem
Object Pascal. É compatível com a maioria
dos bancos de dados do mercado, e sua
interação é feita de maneira simples.
Para este software, foi escolhida esta
linguagem por permitir o desenvolvimento e a
implementação de algoritmos especialmente
desenvolvidos para os objetivos desta
pesquisa. Além disso, o programa executável
resultante apresenta melhor desempenho
comparado com versões baseadas em
linguagens com compiladores virtuais. O
processamento da imagem é realizado com
auxilio de várias técnicas, e algoritmos são
empregados tanto para a melhora, quanto na
análise da imagem.
Neste trabalho, o processo de análise
da mancha foi dividido em duas etapas,
pré-processamento e identificação das
estruturas. A etapa de pré-processamento
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
23
| DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE PARA IDENTIFICAÇÃO DE ÚLCERAS CORNEANAS COM BASE NO HISTOGRAMA DAS CORES |
se estende da aquisição até as correções
para melhorar a qualidade da imagem, com
o intuito de facilitar a análise da mancha
por parte do usuário. Em seguida, realizase a identificação e análise das manchas.
Devido aos métodos de aquisição
da imagem ou às condições em que esta
foi capturada, a produção de regiões com
grande quantidade de pontos indesejáveis
(ruídos), pode prejudicar a análise do
software. Logo, foi também necessária
a aplicação de filtros que minimizam
esse problema. Eles agem eliminando as
altas freqüências, reduzindo flutuações
pontuais. Esses filtros são conhecidos
como filtros passa-baixa ou filtros
convolutivos (ESQUEF, ALBUQUERQUE,
ALBUQUERQUE, 2011).
Há
filtros,
responsáveis
por
segmentar uma imagem, ou seja, separar
determinados fragmentos com base em
uma característica. As segmentações
podem se basear nos formatos (Detecção
de Descontinuidades, Pontos, Linhas
e Bordas), nas características do pixel
(Segmentação de Cores ou Intensidade) ou
no histograma. Esses filtros são conhecidos
como filtros passa - alta, que destacam
bordas e detalhes, antes imperceptíveis sem
recursos especiais.
Morfologia matemática (SOUZA;
SANTOS, 2011) envolve um conjunto
de técnicas de processamento digital
de imagens, baseadas na geometria e
topografia da imagem. Estas técnicas
são utilizadas para ressaltar aspectos
específicos das formas, facilitando sua
identificação, permitindo serem contadas
ou reconhecidas. As operações básicas da
morfologia são erosão e dilatação.
4. Resultados
Algoritmos foram desenvolvidos
de forma a destacar a lesão ulcerada do
24
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
restante da imagem, permitindo sua
análise. As técnicas serão demonstradas
com base na Fig. 1 e os processos utilizados
seguem a sequência descrita a seguir.
Figura 1 – Imagem original [2].
Inicialmente um algoritmo para
análise das propriedades do histograma
de cada cor da imagem, e das proporções
relativas destas cores foi implementado,
com o intuito de definir parâmetros de corte
para segmentação da imagem. A úlcera
corresponde a uma região bem definida do
histograma (Fig. 2). Separando esta parte, o
restante da imagem é removido, restando a
úlcera e alguns ruídos.
| DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE PARA IDENTIFICAÇÃO DE ÚLCERAS CORNEANAS COM BASE NO HISTOGRAMA DAS CORES |
Figura 2 – Histogramas das tonalidades R, G e B
A segmentação na imagem é realizada
por amostragem. Para evitar que ruídos
influenciem o resultado final, o médico escolhe
a região de interesse, clicando em qualquer
ponto da imagem com o mouse e arrastando,
formando um retângulo (Fig. 3), onde é efetuado
o cálculo da média aritmética das intensidades
de cores, definindo um pixel médio.
Figura 3 –Selecionando área de interesse
Dois limiares são levados em
consideração na segmentação da imagem,
envolvendo a proporção de cores e a
intensidade de brilho. Como o programa
deve ser sensível a tonalidade verde, as cores
vermelho e azul, que compõe a cor do pixel
junto ao verde, são escaladas de forma a
facilitar esta análise. Assim são definidos os
parâmetros, RG = Vermelho/Verde e BG =
Azul/Verde.
Outro fator levado em consideração
na segmentação é o brilho da imagem. Uma
imagem é uma função bidimensional de
luz f(x,y), onde x e y denotam coordenadas
espaciais e o valor da função f em qualquer
ponto (x,y) da imagem é proporcional
a intensidade de brilho naquele ponto
(MASCARENHAS, VELASCO, 1984). A
intensidade de brilho é dada pelo produto
entre luminância (quantidade de luz que
recai sobre o objeto) e as propriedades de
refletância (quantidade de luz refletida
pelo objeto). Ajustes manuais podem ser
realizados, para melhorar o resultado da
segmentação nesses parâmetros (Fig. 4).
Figura 4 – Ajustes nos limiares de
“segmentação” e “intensidade”
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
25
|DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE PARA IDENTIFICAÇÃO DE ÚLCERAS CORNEANAS COM BASE NO HISTOGRAMA DAS CORES |
Figura 4 – Ajustes nos limiares de “segmentação” e “intensidade”
Após a segmentação, a mancha
assume um aspecto irregular (Fig. 5a)
devido a pixels que não atendem às
condições ideais de segmentação. Para
que esses erros de amostragem sejam
removidos, e a mancha assuma um aspecto
natural, desenvolveu-se um algoritmo
baseado em morfologia matemática
(abertura e fechamento). Primeiro utilizase abertura para eliminar ruídos causados
pela segmentação, em seguida, utiliza-se o
fechamento para preencher os lugares onde
o elemento estruturante não iria ajustar na
imagem (Fig. 5b).
Figura 5 – Processos morfológicos. (a) Mancha segmentada com erros de amostragem. (b) Úlcera com algoritmo baseado em operadores
morfológicos
Com base na imagem segmentada,
uma imagem binária (branco e preto) é
criada (Fig. 6a). A cor branca corresponde
à área necrosada, e a cor preta ao restante.
Para delimitar a borda, compara-se um
26
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
pixel branco com seus oito vizinhos, caso
um destes seja preto, o pixel pertence à
borda, logo, ele é colorido com uma cor
diferenciada (fig. 6b).
| DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE PARA IDENTIFICAÇÃO DE ÚLCERAS CORNEANAS COM BASE NO HISTOGRAMA DAS CORES |
Figura 6 – Processo para identificação da úlcera. (a) Imagem binária. (b) Úlcera delimitada
Para calcular a área da região
segmentada, utiliza-se a imagem binária,
onde a técnica de flood (GONZALEZ;
WOODS, 2010) é aplicada em cada mancha
da imagem, uma por vez, inundando-a
com uma cor diferenciada e através
deste procedimento, coleta-se os dados
necessários para sua caracterização. Em
seguida, aplica-se o flood novamente,
tingindo a mancha com outra cor, para
que o programa não a analise novamente
(Fig. 7).
Figura 7– Processo para identificação da úlcera. (a) Imagem binária. (b) Úlcera delimitada
Para calcular a precisão dos
resultados do programa, foi criada uma
rotina que compara uma imagem de
referência com a imagem segmentada,
calculando a porcentagem de acerto, o
falso positivo (fragmentos da mancha que
o programa não deveria identificar, mas
identificou) e o falso negativo (fragmento
da mancha que o programa deveria marcar
e não marcou).
A aquisição das imagens de
referência é realizada manualmente, onde,
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
27
| DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE PARA IDENTIFICAÇÃO DE ÚLCERAS CORNEANAS COM BASE NO HISTOGRAMA DAS CORES |
uma cópia das imagens originais é feita e
com auxílio de um editor de imagens o
desenvolvedor marca toda a área ulcerada
com a cor vermelha (Fig. 8).
Figura 8 – Imagem de referência
Após o programa ter analisado uma
imagem (Fig. 9), a opção para calcular
o erro é habilitada no software. Nela, o
algoritmo solicita a inserção da figura
de referência (Fig. 8) e realizara uma
comparação com o resultado obtido na
segmentação da imagem original (Fig. 10).
Os resultados para a imagem apresentada
mostram uma precisão aproximada de
85.2%, com 11.6% de falsos positivos, e
5.1% de falsos negativos.
Figura 9 – Imagem original, analisada pelo software
28
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
Figura 10 – Janela Erro
5. Conclusões
A proposta deste trabalho foi o
desenvolvimento de um sistema para
identificação de úlceras corneanas. Os
resultados mostram o protótipo desenvolvido
e sua aplicação. As regiões das úlceras são
identificadas com boa precisão. Para isso, no
software foram implementados algoritmos
que envolveram técnicas de processamento
digital de imagens. Entre estas técnicas
se encontram a extração de informações
das cores de cada pixel da imagem digital,
sua conversão para matrizes de dados,
a utilização de algoritmos para remoção
de ruídos, operações morfológicas, e um
processo para determinação do contorno dos
defeitos.
As áreas das úlceras determinadas
pelo software foram comparadas com
imagens de referência, e a precisão analisada
de acordo com a determinação de falsos
positivos e negativos. A porcentagem de
acerto do programa varia entre 85% e 92%,
levando em consideração, outros fatores
como, a qualidade da imagem, a localização
da mancha e quanto ela é bem definida.
Para melhorar esta precisão novos estudos
estão sendo realizados tendo como base
| DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE PARA IDENTIFICAÇÃO DE ÚLCERAS CORNEANAS COM BASE NO HISTOGRAMA DAS CORES |
a utilização de redes neurais artificiais
(CARVALHO, 2007).
O programa pode ser testado por
oftalmologistas como um instrumento de
auxilio a análise das úlceras. Esta interação
permitirá a evolução dos algoritmos para
atender casos diferenciados que possam
surgir ao longo dos testes, o que é possível
uma vez que as rotinas principais foram
desenvolvidas a partir de primeiros
princípios, abrindo a possibilidade de que
sejam adaptadas a aplicações futuras.
Agradecimentos
Os autores gostariam de agradecer
ao Dr. Sidney Júlio de Faria e Sousa por
importantes discussões sobre a pesquisa.
A pesquisa foi financiada por uma
bolsa de iniciação científica do Centro
Universitário UNISEB.
Referências
CANTU, M. Dominando o Delphi 7, a Bíblia. Tradução de Kátia Aparecida Roque. São Paulo:
Pearson Education do Brasil, 2003.
CARVALHO, André Carlos Ponce de Leon Ferreira de; BRAGA, Antônio de Pádua. Redes
neurais artificiais: teoria e aplicações. 2 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2007.
CHIARADIA, Caio; VENTURA, L. ; SOUSA, Sidney Júlio de Faria e . Automatic Analysis of
Corneal Ulcer. Ophthalmic Technologies IX, v. 3591, p. 295-302, 1999.
ESQUEF, I. A.; ALBUQUERQUE, M. P.; ALBUQUERQUE, M. P. Processamento Digital de
Imagens. Disponível em http://www.cbpf.br/cat/pdsi/pdf/cap3webfinal.pdf. Acessado em:
15/03/2011
GONZALEZ, Rafael C.; WOODS, Richard C.. Processamento Digital de Imagens [Digital
image processing]. 3a ed.. São Paulo: Person Prentice Hall, 2010. 624 p.
MASCARENHAS, Nelson D. A; VELASCO, Flávio R. D. Processamento digital de imagens.
São Paulo: Instituto de Matemática e Estatística, 1984. 1v p.
OLIVEIRA, A. D. D.; COSTA, I. C.; SOARES, A. S.; SANTOS, M. S.; ARAÚJO, M. E. X. S.;
Correlação clínico-laboratorial de úlceras infecciosas de córnea. Arq. Bras. Oftalmol. 2002;
65:431-4.
RAMALHO,
António.
Angiografia
Fluoresceínica
Ocular.
Disponível
em:
http://www.antonioramalho.com/direscrita/ficheiros/ANGIOGRAFIA%20
FLUORESCE%C3%8DNICA%20OCULAR.pdf. Acessado em: 20/12/2011
SOUZA, A. I.; SANTOS, C. A. Morfologia Matemática. Disponível em http://www.inf.ufsc.
br/~visao/morfologia.pdf. Acessado em: 20/10/2011
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
29
PEGADA ECOLÓGICA DE RIBEIRÃO
PRETO, SP: INSTRUMENTO PARA
AVALIAÇÃO AMBIENTAL
Álvaro Gennari Cavallini¹
Felipe Fernandes Pinto¹
Marcel Labadeça Fernandes¹
Raphael Calió Aleixo¹
Tadeu Coghi Roncato¹
Tayla Fernanda Biagi¹
Thaís Vilela Silva¹
Victor Loss Bolfarini¹
Victória Sant’ Anna de Araujo¹
Wesley Aparecido Saltarelli¹
Analu Egydio Jacomini²
1. Resumo
O
termo
“Pegada
Ecológica”
refere-se a um indicador ambiental de
sustentabilidade proposto em 1996 por
Wackernagel e Rees. O calculo pode ser
utilizado em diferentes escalas de análise,
podendo ser observada a pegada ecológica
individual, de um município ou de uma
instituição, por exemplo. O resultado de
uma pegada ecológica representa o espaço
ecológico necessário para sustentar este
indivíduo ou este sistema durante um ano.
Neste espaço ecológico são considerados os
recursos utilizados e os desperdícios gerados
por cada indivíduo, obtendo-se um resultado
na forma de hectares por ano per capita. As
cidades correspondem a sistemas que não
sustentam uma sociedade em equilíbrio com
a natureza, uma vez que absorvem recursos
de diferentes locais, acelerando o ritmo dos
impactos negativos no meio ambiente e geram
grande quantidade de resíduos em função da
demanda para satisfazer as necessidades de
moradia, alimentação, emprego e lazer da
população. Neste sentido, o objetivo deste
trabalho foi calcular a Pegada Ecológica
da cidade de Ribeirão Preto, SP, através da
análise das principais variáveis e avaliar
os impactos gerados pela cidade, e pelos
cidadãos que nela habitam. O valor obtido
neste trabalho foi de 2,49 hectares de terra
produtiva para cada habitante de Ribeirão
Preto no período de um ano, valor este 2,24
vezes maior do que a área do município.
Palavras Chave: Pegada Ecológica,
sustentabilidade, Ribeirão Preto.
1. Abstract
The term “Ecological Footprint”
refers to an environmental indicator
of sustainability proposed in 1996 by
Wackernagel and Rees. The calculation
can be used at different scales of analysis,
can be observed the individual ecological
footprint, the ecological footprint of a city
or the ecological footprint of an institution,
for example. The result of an ecological
footprint represents the ecological space
needed to support this individual or this
system for a year. In this ecological space
are considered resources used and waste
generated by each individual, yielding a
result in hectares per year per capita. Cities
are systems that do not support a society
in balance with the nature, since they
absorb resources from different locations,
¹Acadêmicos do Curso de Engenharia Ambiental do Centro Universitário UNISEB – Ribeirão Preto.
²Docente do Curso de Engenharia Ambiental do Centro Universitário UNISEB – Ribeirão Preto.
30
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
accelerating the negative impacts on the
environment and generate large amounts of
waste due to the demand to housing , food,
employment and leisure of the population.
In this way, the objective of this study was
to calculate the Footprint of Ribeirão Preto
city, SP, through the analysis of variables
and assess the impacts generated by the
city, and by the citizens. The value obtained
in this study was 2,49 hectares of productive
land for each inhabitant of Ribeirão Preto
during the period of one year, and this value
is 2.24 times greater than the area of the
municipality.
Key-words: Ecological Footprint;
sustainability; Ribeirão Preto
2. Introdução
A Pegada Ecológica (Ecological
Footprint), proposta por Wackernagel e
Rees (1996), vem sendo utilizada como
um importante indicador ambiental e de
sustentabilidade em diferentes escalas de
análise. Representa o espaço ecológico
necessário para sustentar um determinado
sistema ou unidade. Trata-se de um
instrumento que contabiliza os fluxos de
matéria e energia que entram e saem de um
sistema econômico, convertendo-os em área
correspondente de terra ou água existentes
na natureza para sustentar esse sistema
(VAN BELLEN, 2005). Segundo os autores,
todo indivíduo ou região, ao desenvolver
seus diferenciados processos, tem um
impacto sobre a Terra, através dos recursos
usados e dos desperdícios gerados. Para
obter o valor numérico da Pegada Ecológica,
calcula-se em hectares a quantidade de terra
e água produtivas utilizada para a obtenção
dos recursos consumidos, assim como para a
absorção dos resíduos gerados, devendo ser,
de maneira geral, menor do que sua porção
de superfície ecologicamente produtiva.
O cálculo da Pegada Ecológica vem
sendo utilizado como instrumento de análise,
comprovando seu valor como método
comparativo que pode ser aplicado em escala
individual, regional, nacional e mundial.
A medida da pegada de uma cidade, por
exemplo, quantifica o território circundante
que cada habitante desta cidade necessita
para sobreviver.
A grande maioria das cidades no
mundo não sustenta uma sociedade em
equilíbrio com a natureza. Elas absorvem
recursos de diferentes locais, acelerando
o ritmo dos impactos negativos no meio
ambiente. Segundo O´Meara (1999), as
cidades ocupam 2% da superfície da Terra,
mas consomem 75% de seus recursos, o que
evidencia o ritmo do consumo de recursos,
aliado com o aumento da demanda para
satisfazer as necessidades de moradia,
alimentação, emprego e lazer destas
populações.
A Região Administrativa de Ribeirão
Preto está situada no nordeste do Estado
de São Paulo (Figura 1) e ocupa o quinto
lugar em termos de concentração da
população paulista. O município de Ribeirão
Preto apresenta uma área total de 650,37
Km2, população de 604.682 habitantes e
densidade demográfica de 928,46 hab/ Km2
segundo dados do IBGE (2010). A população
urbana corresponde a 99,72% da população
do município. A cidade contém 219.614
domicílios com uma média de moradores
por domicílos de 3,07. Segundo dados do
Ministério das Cidades, Departamento
Nacional de Trânsito – DENATRAN, em
2010 a cidade apresentava uma frota total de
397.919 veículos.
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
31
| PEGADA ECOLÓGICA DE RIBEIRÃO PRETO, SP: INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO AMBIENTAL |
Figura 1: Localização do município de Ribeirão Preto no Estado de São Paulo com a indicação do número de habitantes. Fonte: IBGE 2010.
Este trabalho apresenta algumas
análises sobre a sustentabilidade ambiental
das cidades utilizando-se o instrumento da
Pegada Ecológica para a cidade de Ribeirão
Preto, SP, mensurando sua pegada. O método
de Wackernagel e Ress (1996), que calcula a
biocapacidade média em pegadas na escala
planetária foi referência para o trabalho e outros
observados na literatura (LISBOA e BARROS,
2010; LEITE e VIANA, 2003).
Neste sentido, o objetivo deste trabalho
foi avaliar os impactos gerados pela cidade
de Ribeirão Preto, SP, e pelos cidadãos que
Tabela 1: Variáveis calculadas e origens dos dados.
(1) IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(2) SEADE- Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados
32
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
nela habitam, por meio do cálculo da Pegada
Ecológica da cidade.
3. Metodologia
No presente artigo utilizou-se a Pegada
Ecológica para uma análise ambiental urbana,
avaliando os impactos gerados pela cidade de
Ribeirão Preto, SP, e pelos cidadãos que nela
habitam. A pegada foi calculada através de
variáveis, qualitativas e quantitativas, analisadas
a partir de coleta de dados disponibilizados no
site do município, IBGE e valores de referência
de outros autores (Tabela 1).
| PEGADA ECOLÓGICA DE RIBEIRÃO PRETO, SP: INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO AMBIENTAL |
Para o cálculo da Pegada Ecológica
da cidade de Ribeirão Preto foi analisado
o espaço que cada habitante ocupa e
utiliza para consumir os recursos naturais
necessários à sua sobrevivência. Os cálculos
iniciais estimam a quantidade de área por
habitante, dividindo a população urbana
pela área do município (602.966 habitantes/
650,37 Km²), o que resultou em 927,11
hab/ Km². Transformando este valor para
hectares e invertendo a fração tem-se 0,0108
hectares para cada habitante de Ribeirão
Preto (Tabela 2).
No entanto, este valor não corresponde
à Pegada Ecológica individual, pois a pegada
significa a área necessária e disponível para
consumo e desperdício de cada habitante.
Esta foi calculada utilizando dados do
IBGE (2010) e levantamento bibliográfico,
objetivando avaliar os impactos gerados por
esta cidade. Os dados do consumo de energia
elétrica foram obtidos no site do SEADE
(Fundação Sistema Estadual de Análise de
Dados) (Tabela 2).
Tabela 2: Dados do município de Ribeirão Preto do ano de 2008 e 2011 segundo dados
do IBGE
As variáveis utilizadas neste estudo
foram área verde, área urbana construída,
consumo de alimentos e carne bovina,
emissões produzidas pela queima de
combustíveis fósseis, consumo de eletricidade
e produção de lixo (WACKERNAGEL e
REES, 1996). Para cada variável estimouse sua pegada e os valores correspondentes
foram então somados a fim de se obter um
índice geral para a cidade de Ribeirão Preto.
4. Resultados
4.1 Alimentos
Os dados para o consumo de
alimentos foram obtidos do IBGE (Pesquisa
de Orçamentos Familiares 2008-2009
Análise do Consumo Alimentar Pessoal
no Brasil) utilizando-se as informações
referentes à região sudeste do país (Tabela
3). Para os cálculos de alimentos de origem
vegetal foram utilizados os itens mais
representativos da cesta alimentar da região
sudeste (arroz, feijão, milho e preparações à
base de milho, salada crua, batata, laranja,
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
33
| PEGADA ECOLÓGICA DE RIBEIRÃO PRETO, SP: INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO AMBIENTAL |
maçã, mamão, macarrão e farinha de trigo).
Os dados de produtividade (Kg/ha) de cada
item foram extraídos de Leite e Viana (2003).
Tabela 3: Consumo referente à região sudeste durante o período de 2008 e 2009 e respectivos valores dos
componentes da pegada que serão utilizados nos cálculos para o município de Ribeirão Preto.
4.2 Florestais não energéticos
Para o cálculo da área bioprodutiva
requerida por habitante para a produção de
papel, foram utilizados os dados apresentados
por Leite e Viana (2003), onde considera-se o
consumo médio do Brasil, de 51 Kg de papel/
pessoa/ano. Assim, estimou-se o consumo de
papel da população em estudo em 30.838,78 t/
ano (51 Kg/pessoa/ano x 604.682 pessoas). Em
seguida utilizou-se o fator de conversão de 1,8 m3
de madeira, produzindo uma tonelada de papel
(WACKERNAGEL e REES, 1996) o que resulta
em um consumo de 55.509,80 m3 de madeira
para a produção de papel utilizado durante um
ano na cidade de Ribeirão Preto. Uma vez que
um hectare apresenta o rendimento lenhoso de
2,3 m3 de madeira/ano (WACKERNAGEL e
REES, 1996), então, foram utilizados 24.134,70
ha/ano e a área anual requerida para a demanda
de papel foi de 0,039 ha/pessoa.
Segundo Leite e Viana (2003) a madeira
34
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
está entre os insumos dos ecossistemas urbanos
mais significativos em termos de quantidade
e extensão da cadeia de impactos negativos,
gerados pela sua extração e consumo. De
acordo com dados do IBGE, o consumo médio
de madeira serrada no Brasil no ano de 2010
é de 0,12 m3/pessoa/ano. Considerando o
rendimento lenhoso de 2,3 m3/ha/ano para
florestas tropicais (WACKERNAGEL e REES,
1996), a área bioprodutiva para atender a esta
demanda é de 0,0521ha/pessoa.
4.3 Energia
O consumo de energia elétrica no
município de Ribeirão Preto no ano de 2008
foi de 1.403.236 MWh segundo os dados do
SEADE (Tabela 2). A partir do consumo total
de energia da cidade num período de um ano,
foi definida a quantidade média de consumo da
cidade durante o período de 24 horas (160,18
MW) para dividir pela quantidade produzida
| PEGADA ECOLÓGICA DE RIBEIRÃO PRETO, SP: INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO AMBIENTAL |
por Itaipu (9,3 MW/ Km2) e assim obter a área
utilizada na produção de energia para Ribeirão
Preto, que foi 17,2243 Km². Transformando
esta área em hectares têm-se 1722,43 ha o qual
dividido pela população encontra-se a pegada
de energia de 0,00285 ha/pessoa.
4.4 Combustível fóssil
Os cálculos das emissões produzidas pela
queima de combustíveis fósseis foram realizados
de acordo com as informações fornecidas em
Lisboa e Barros (2010). Foi considerado o
consumo médio de combustível de um carro
de 822,1 litros por ano. Considerando que cada
litro de combustível libera 2,3 Kg de CO2, e
que a frota total de veículos de Ribeirão Preto
em 2011 era de 397.919, tem-se 327.129.209,9
litros por ano e 752.397.182,8 t de CO2 emitidos
neste período. Como 1,8 t de CO2 emitido serão
absorvidos por cada hectare de área verde, serão
necessários 417.998,43 hectares de área verde
para absorção do CO2 emitido pela frota de
veículos de Ribeirão Preto. É evidente que a área
verde disponível na cidade de Ribeirão Preto
não é suficiente para absorver o CO2 emitido
pela frota de veículos. Dividindo-se esta área
pela população urbana obtêm-se 0,6932 ha/
pessoa em relação ao consumo de combustíveis
fósseis.
ano. Dividindo esta área pela população obtêmse a pegada de 0,1676 ha/pessoa em relação aos
resíduos sólidos domésticos.
4.7 Área Verde
A partir dos dados obtidos no site da
Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto, o
município dispõe de 27m2/hab ou 0,0027ha/
hab. Por ser esta uma variável que representa a
área de absorção de CO2, seu valor é negativo na
soma da pegada total.
5. Resultados
Os resultados obtidos pela metodologia
aplicada revelam um valor de Pegada Ecológica
para a cidade de Ribeirão Preto, SP de 2,42
hectares por pessoa para obtenção dos
recursos consumidos (Tabela 4). A fração mais
representativa no cálculo da Pegada Ecológica,
como pode ser observado na figura 2, é referente
ao consumo de alimentos.
4.5 Área Urbana Construída
Para os cálculos para a determinação
das áreas construídas foi considerado o valor
per capita mundial de áreas construídas de 0,06
ha (WACKENARGEL et al. 1999).
4.6 Resíduos sólidos
Para o cálculo da pegada dos resíduos
sólidos foram utilizados dados da Prefeitura
Municipal de Ribeirão Preto relativos à coleta
de lixo doméstico, o qual corresponde a
500.000Kg/ dia (182.500ton/ano). Sabendo
que cada 3 Kg de resíduos sólidos domésticos
produzem 1 Kg de CO2, foram produzidos
60.833,333 t de CO2 em um ano. Como cada
hectare de área absorve 1,8 t de CO2, são
necessários 101.388,89 ha para absorção de
todo o resíduo sólido doméstico produzido no
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
35
| PEGADA ECOLÓGICA DE RIBEIRÃO PRETO, SP: INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO AMBIENTAL |
Tabela 4: Estimativa da Pegada Ecológica de Ribeirão Preto, SP.
Evidentemente, a área necessária para
atender às necessidades de recursos energéticos,
alimentar, moradia, resíduos sólidos, entre
outros, é superior à área produtiva do
município de Ribeirão Preto. Considerando
que a área necessária para cada habitante do
município é de 2,42 ha, a área necessária para
a população urbana e rural gerar e absorver
os recursos consumidos será de 1.463.330,44
ha, valor 2,24 vezes maior do que a área do
município de Ribeirão Preto (650.370 ha).
Estes
resultados
revelam
a
necessidade de políticas públicas voltadas à
elaboração de programas de reflorestamento
de áreas degradadas no município,
incremento da arborização urbana, entre
outras ações, como de reaproveitamento
de resíduos da construção civil e ações de
melhor eficiência no consumo de recursos.
Os fatores que mais influenciam para
esse alto valor encontrado é a dependência
da importação de insumos e grande
consumo de combustíveis fósseis pelos
veículos automotivos. A “Pegada Ecológica”
36
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
per capita de Ribeirão Preto assemelha-se à
“pegada” do Brasil, 2,4 ha/pessoa, segundo
o Living Planet report 2008 (HAILS, 2008).
Estudo divulgado em outubro de 2008 pela
organização internacional WWF aponta que
a população brasileira já ultrapassou o que
seria considerada uma Pegada Ecológica
per capita máxima (área necessária para
produzir os recursos que utilizamos e para
absorver as emissões de carbono).
Enquanto o valor calculado para
garantir a sustentabilidade da população no
planeta é de 2,1 hectares/ano por pessoa, a
média brasileira é de 2,4 hectares/ano por
pessoa. As cinco maiores pegadas per capita
nacionais são dos Emirados Árabes (9,5
ha/ano/pessoa), dos Estados Unidos (9,4
ha/ano/pessoa), do Kwait (8,9 ha/ano/
pessoa), da Dinamarca (8 ha/ano/pessoa)
e da Austrália (7,8 ha/ano/pessoa).
As cinco menores pegadas ecológicas
pertencem a Maláui (0,5 ha/ano/pessoa),
ao Afeganistão (0,5 ha/ano/pessoa), ao
Haiti (0,5 ha/ano/pessoa), ao Congo (0,5
| PEGADA ECOLÓGICA DE RIBEIRÃO PRETO, SP: INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO AMBIENTAL |
ha/ano/pessoa) e a Bangladesh (0,6 ha/
ano/pessoa).
Figura 2: Gráfico com a distribuição das principais contribuições para a Pegada Ecológica da cidade de
Ribeirão Preto, SP, no ano de 2011.
Comparando-se com outras cidades,
a Pegada Ecológica, como indicador,
constituiu-se numa ferramenta útil para
avaliar o grau de sustentabilidade da área
urbana de Londrina. Em Londrina existem
apenas 0,55 hectares por cada habitante da
sua área urbana e, uma pegada de 1,03 ha,
ou seja, existe um déficit de -0,48 de hectares
na área urbana do município. Contudo, este
déficit é compensado se tomada como base
à pegada de toda a área de expansão urbana
e não somente da área construída, pois é
expressiva a parcela de área rural dentro
da área de expansão urbana (LISBOA e
BARROS, 2010).
Já na cidade de Taguatinga, DF a
Pegada Ecológica foi de 2,24 ha/pessoa,
com um déficit ecológico de 2,22 ha/
pessoa (DIAS, 1999). Este autor estudou o
metabolismo sócio-ecossistêmico urbano
desta região analisando as contribuições
dessa região para as mudanças climáticas
ambientais globais. Foram considerados, no
cálculo, os consumos de combustíveis fósseis
(gasolina e GPL), energia elétrica, água,
madeira, papel, alimentos (carne bovina) e
produção de resíduos sólidos.
Leite e Viana (2003) analisaram
a magnitude da “Pegada Ecológica” per
capita da Região Metropolitana de Fortaleza
(RMF), Ceará, obtendo um valor de 2,94 ha/
pessoa no ano de 1996. Isto significa que
naquele ano a população da RMF requereu
7.593.490,80 ha de áreas naturais para
atender às suas necessidades de alimentação,
transporte, água e moradia para absorver
seus resíduos sólidos.
Propõe-se como perspectiva futura
fazer uma avaliação da Pegada Ecológica
intra-urbana a partir da interpretação de
imagens de satélite delimitando o uso e
ocupação do solo e elaboração de cartas
temáticas como ferramenta de gestão
para a cidade de Ribeirão Preto. Além
desta complementação, pode também ser
investigado o consumo per capita de recursos
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
37
| PEGADA ECOLÓGICA DE RIBEIRÃO PRETO, SP: INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO AMBIENTAL |
florestais não energéticos como papel e
madeira.
Os autores também sugerem o cálculo
da pegada hídrica para a cidade de Ribeirão
Preto, com o objetivo de contribuir para a
gestão dos recursos hídricos urbanos, o qual
não foi incluído neste trabalho uma vez que a
captação da água para abastecimento público
é proveniente de poços e não captação
de águas superficiais, como na literatura
observada.
38
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
| PEGADA ECOLÓGICA DE RIBEIRÃO PRETO, SP: INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO AMBIENTAL |
Referências
DIAS, G. F. Estudo sobre o metabolismo sócio-ecossistêmico urbano da Região de Taguatinga - DF e as alterações ambientais globais. 179 p. Tese (Doutorado em Ecologia) – Universidade de Brasília, Brasília, 1999.
HAILS, C. Living Planet Report. 2008. URL: http://assets.wwf.org.br/downloads/living_
planet_report_2008.pdf
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. URL: http://www.ibge.gov.br/home/
default.php
LEITE, A. M. F; VIANA, M. O. L. Pegada Ecológica: instrumento de análise do metabolismo
do sócio-ecossistema urbano. V Encontro Nacional da ECOECO - Caxias do Sul (RS) - 2003.
Resumo completo. http://www.ecoeco.org.br/conteudo/publicacoes/encontros/v_en/
Mesa3/osorrio.pdf
LISBOA, C. K.; BARROS, M. V. F. A Pegada Ecológica como instrumento de avaliação ambiental para a cidade de Londrina. Confins [Online], 8, 2010. URL : http://confins.revues.
org/6395
O´MEARA, M. Explorando uma nova visão para as cidades. Estado do mundo, 1999.
VAN BELLEN, H. M. Indicadores de Sustentabilidade: uma análise comparativa.Rio de
Janeiro: Editora FGV, 2005.
WACKERNAGEL, M.; REES,W. Our ecological footprint. The new catalyst bioregional series. Gabriola Island, B.C.: New Society Publishers, 1996.
WACKERNAGEL, M.; ONISTO, L.; BELLO, P.; CALLEJAS, A. L.; FALFAN, I. S. L.; MENDEZ, J. G.; GUERRERO, A. I. S.; GUERRERO, M. G. S. National natural capital accounting
with the ecological footprint concept. Ecological Economics. vol.29, n. 3, p. 375-390, jun.
1999.
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
39
ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS
DE CONCRETOS DE BAIXA RESISTÊNCIA
ENRIQUECIDOS COM FIBRAS PET
Willian Cle Carvalho¹
Ricardo Adriano Martoni Pereira Gomes²
1. Resumo
A utilização de materiais reciclados
na construção civil pode se configurar como
um importante canal de eliminação de
resíduos urbanos que, de outra forma, seriam
depositados em qualquer lugar, um fator
inevitável que ocorre diariamente nas cidades
brasileiras, agredindo o meio ambiente de
maneira descontrolada. Um dos materiais mais
descartados é o PET (Politereftalato de Etileno),
com certa resistência que deve suportar altas
pressões e temperaturas no envasamento e
transporte de bebidas gaseificadas. A presente
pesquisa procurou verificar a influência de
diferentes tipos, teores e formatos de fibras
PET nas propriedades mecânicas do concreto,
melhorando o atrito entre os dois compósitos e
observar seu comportamento e suas vantagens.
Para desenvolvimento da pesquisa foram
utilizados corpos de prova cilíndricos de
concreto de cimento Portland e inseridas na
mistura fibras PET.
Diferentes formatos foram escolhidos
a fim de estudar o atrito da fibra com o
concreto e garantir que a resistência do PET
influenciasse na resistência do concreto. Os
corpos de prova foram submetidos então aos
ensaios de compressão simples e compressão
diametral, com as idades de cura de 07 e de
28 dias. Os resultados da utilização das fibras
PET como agregado do concreto mostraram
que a resistência não foi elevada, porém a sua
utilização pode ser muito favorável quando
aplicada em concretos cuja finalidade não exija
alta resistência, como é o caso do concreto
utilizado para a execução de meio-fio, blocos,
pisos, mas que pode trazer vantagens tanto
econômicas quanto ecológicas.
Palavras-chave: Concreto, fibras, PET,
resistência, meio ambiente.
1. Abstract
The use of recycled material for
building may be an important way to
eliminate the urban trash that would be laid
up somewhere in the city, that is everyday
inevitable fact in many of Brazilian cities.
One of the most discarded materials is PET
(Polyethylene terephthalate), with can
support high pressures and temperatures and
commonly use to bottle carbonated drinks. The
goal of our study was to observe the influence
of different types, content and format of the
PET fibers on the mechanic properties on the
concrete, by the improvement the friction
between the two components. The study
was performed using cylindrical specimens
composed of Portland cement mixed with PET
fibers. Three different size of PET fiber were
used in the study. The specimens underwent
mechanical compression test seven and
twenty eight days after the initial mixture of
concrete and PET fibers. The results showed
that the addiction of PET fibers to concrete do
not increase the resistance. However the use
of PET fibers would be advisable in situations
that required no high resistance such as curb,
blocs and floors, considering the economic
and ecologic use of the PET fibers.
Keywords: Concrete, fiber, PET,
resistance, environment.
2. Introdução
Um dos maiores problemas atuais
¹Aluno do curso de Engenharia Civil do Centro Universitário UniSEB- Ribeirão Preto. Bolsista PIBIC – UNISEB.
[email protected]
²Docente e Coordenador do Curso de Engenharia Civil do Centro Universitário UniSEB- Ribeirão Preto.
40
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
é o destino dos resíduos gerados pelo ser
humano. É fato que os espaços reservados
para esse “armazenamento”, projetados
ou não, estão a cada dia menores, e
consequentemente o desequilíbrio nos
ecossistemas e na biodiversidade, por conta
da poluição e o desmatamento, tornam-se
cada vez mais evidentes. Segundo GRIPPI
(2001) o lixo é matéria-prima fora do lugar.
A reciclagem do lixo gerado nas cidades,
antes de tudo é uma questão cultural, e
neste caso, se melhor encaminhado para
reaproveitamento nos diversos setores de
produção e construção contribui para gerar
novos empregos, diminuir a degradação do
meio ambiente, e na economia energética do
processo industrial (ZANIN, 2001).
O
crescimento
acelerado
das
cidades no Brasil vem gerando muito lixo,
o que poderá se tornar um pesadelo para
a humanidade se não reaproveitado ou
encaminhado corretamente. Este cenário
evidencia ainda mais a necessidade de
desenvolvimento de novas tecnologias e
formas de produção, o que vem fazendo
muitas instituições de ensino pesquisar
alternativas conscientes, pois maior parte
desse lixo é desnecessariamente depositada
em aterros e lixões.
Deve-se, portanto, reciclar e procurar
adquirir produtos que possam gerar volumes
menores nos aterros.
O concreto pode ter em sua
composição diversos materiais (dependendo
onde será aplicado), e dentre eles vários tipos
de fibras, metálicas, sintéticas ou até mesmo
naturais. O que pode se observar nestes casos
é a redução da retração plástica, aumento
da tenacidade, ductibilidade, resistência ao
impacto e um possível aumento da resistência
à tração (MARANGON, 2004). Segundo Mapel, Barbosa & Azevedo
(2007), o PET (polietileno tereftalato) é
hoje uma das resinas mais utilizadas, seja
na forma de material, ou como embalagem,
por possuir excelentes propriedades como
elevada resistência mecânica, térmica e
química, ser reciclável. Foi descoberto em
1928, nos laboratórios da DuPont, porém
somente em 1988 chegou ao Brasil, sendo
utilizado primeiramente na indústria têxtil.
Nesta pesquisa foi analisado o
comportamento estrutural e mecânico
do concreto quando adicionado em sua
composição fibras provenientes de garrafas
PET com formatos e preparos variados.
Portanto, torna-se bastante atraente a
possibilidade de melhorar as propriedades
do concreto utilizando fibras de garrafas PET.
Aliando assim, um benefício ambiental com
a melhoria de um material importantíssimo
nas obras de construção civil.
3. Materiais e Métodos
3.1 Revisão Bibliográfica
A fase de revisão bibliográfica foi
dividida em três etapas essenciais para
a utilização de materiais alternativos na
construção civil. A primeira etapa consiste
na reciclagem do lixo e as construções
sustentáveis e/ou ecológicas.
O lixo produzido pelo ser humano
ainda é um grande coadjuvante na
deterioração do meio ambiente, ao lado dos
“gases estufa”, e necessidade de criar novos
locais para o seu armazenamento é limitada
pela falta de espaços adequados. Diversos
estudos sobre a substituição de agregados
minerais convencionais em concreto de
cimento Portland estão sendo realizados
atualmente como alternativa na construção
civil (MODRO, 2009). A Engenharia
Civil é uma área que envolve volume
extremamente grande de recursos naturais
e consequentemente possui grande impacto
ambiental, logo pode e deve apresentar
potencial para o aproveitamento de resíduos
industriais, minerários e agrícolas (MAIA,
2008). Ao lado das peles dos animais, os
materiais de construção são a categoria mais
antiga de materiais usados pelo homem
para manter a sua subsistência e, de fato, o
cimento Portland é o material de construção
de mais extenso uso no mundo (MODRO
apud ANÔNIMO, 2002). Porém o número
de pesquisas realizadas ainda é baixo se
comparado à quantidade de lixo produzido
diariamente. Enquanto que a construção
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
41
| ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE CONCRETOS DE BAIXA RESISTÊNCIA ENRIQUECIDOS COM FIBRAS PET |
sustentável/ecológica é uma alternativa já
utilizada. A maioria dos materiais utilizados
é de origem vegetal, como o bambu,
utilizado pelo Homem desde a mais remota
antiguidade, fibras sintéticas (polímeros e
vidro), fibras metálicas, além da utilização de
produtos mistos de gesso, madeira e isopor.
Quanto à utilização de fibras
sintéticas, as fibras mais utilizadas são a de
poliéster e vidro. Sua função no concreto é
de evitar o fissuramento causado pelo efeito
de retração durante o período de cura do
concreto. Outra opção de fibra, com função
estrutural no concreto, é a fibra metálica.
Exerce bom desempenho se aplicada de
forma correta, mas seu custo ainda é um
pouco elevado.
Como visto, existem várias opções
disponíveis no mercado de materiais
alternativos para serem aplicados na
construção civil, porém para sua utilização
necessitam de certa industrialização e a
maioria não é reciclável. Quando utilizados
de forma correta proporcionam um bom
conforto térmico e acústico, e bons resultados
estéticos, além de que em alguns casos
viabiliza economicamente parte da obra.
Já na segunda etapa, o objetivo foi
o estudo das propriedades e o traço do
concreto. Buscava-se definir a quantidade
de cada componente do concreto (cimento,
água, agregado miúdo, agregado graúdo e/
ou aditivo) visando obter características de
trabalhabilidade adequada, enquanto fresco,
e de resistência e durabilidade, enquanto
endurecido. A trabalhabilidade do concreto é
avaliada pelo ensaio de abatimento do tronco
de cone (Slump Test), enquanto a resistência
em ensaios de ruptura à compressão. O traço
pode ser em peso ou em volume, conforme
se adote uma unidade de peso ou de volume
para medir os componentes do concreto.
Há mais precisão quando se adota o traço
em peso, no entanto, na maioria das obras,
é mais prático se trabalhar com o traço em
volume. Por exemplo, o traço em peso 1:2:3
(x=0,5), corresponde a um concreto com 1 kg
de cimento, 2 kg de areia, 3 kg de agregado e
fator água/cimento igual a 0,5.
42
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
O concreto só é considerado
trabalhável quando apresenta consistência
adequada à obra a que se destina (dimensões
das peças, espaçamento e distribuição das
armaduras) e ao método de lançamento,
adensamento e acabamento empregado,
sem apresentar segregação ou exsudação,
podendo ser adequadamente compactado
e envolvendo totalmente as armaduras. No
ensaio de abatimento do tronco de cone
(Slump Test) o concreto é colocado dentro
de um cone de 30 cm, em 3 camadas, sendo
cada uma delas compactada com 25 golpes
de uma haste padrão. Após a compactação e
arrasamento da superfície o molde troncocônico é retirado e o “abatimento”, ou a
medida em mm, que houve em relação à
altura original é o valor medido (NBR 7212,
1984).
A resistência do concreto depende
basicamente do fator água/cimento utilizado.
A resistência varia de forma inversa com o
fator água/cimento, ou seja, quanto mais
seco for o concreto maior sua resistência.
Segundo Abrams (1924) a resistência não
era mais explicada pela simples interação
entre os grãos dos agregados, como se
pensava na época, mas sim pelo espaço a ser
preenchido pelos produtos da hidratação do
cimento. Abrams demonstrou pelo resultado
de 50.000 testes que, para um determinado
cimento e conjunto de agregados, a resistência
do concreto a uma certa idade é dependente
essencialmente da relação água/cimento.
Essa proporção é hoje conhecida como Lei de
Abrams em função de sua importância e da
extensão de sua validade. Em termos simples
o que a Lei de Abrams diz é que a resistência
do concreto é tanto menor quanto maior for
a quantidade de água adicionada à mistura.
Atualmente existem vários métodos
para o estudo de dosagem do concreto, mas
todos eles baseiam-se na Lei de Abrams
quando se trata de encontrar a melhor
proporção entre os materiais que resulte em
um concreto com a resistência especificada
em projeto.
| ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE CONCRETOS DE BAIXA RESISTÊNCIA ENRIQUECIDOS COM FIBRAS PET |
Prova
3.2 Moldagem dos Corpos de
Após o aprofundamento teórico deuse início a fase se moldagem dos corpos
de prova. As fibras de garrafa PET foram
preparadas com dimensões aproximadas
de 1,5x10 cm e nos formatos desejados para
estudo (Figura 1, Figura 2 e Figura 3).
do formato no atrito, e consequentemente
um aproveitamento da resistência do PET no
concreto.
Os corpos de prova foram moldados
com o apoio da empresa Leão Engenharia
S/A, que disponibilizou um concreto com
resistência desejada e laboratório para parte
dos testes. Foram moldados vinte corpos de
prova, sendo cinco de concreto puro (como
margem de estudo) e cinco corpos de prova
para cada tipo de fibra. O concreto utilizado
possuía resistência nominal a 15 MPa, e
slump test de 10±2 cm. Sua dosagem para
cada 1 Kg de cimento segue na tabela 1.
Figura 1 – Fibra “lisa” obtida a partir de garrafas PET.
Tabela 1 - Dosagem do Concreto (Resistência Nominal 15 MPa – w = 0%)
Figura 2 – Fibra “serrilhada” obtida a partir de garrafas PET.
Figura 3 – Fibra “ranhurada” obtida a partir de tiras de
engradados industriais.
Lembrando que, os formatos de fibra
foram escolhidos para o estudo da influência
Os corpos de prova possuíam
dimensionamento de 20x10 cm, formato
cilíndrico, e foram moldados conforme
norma técnica vigente (NBR 6118). Para os
corpos de prova com concreto puro a forma
foi preenchida até a metade, daí o conteúdo
recebeu doze golpes com haste padrão
numa trajetória circular dentro da forma, e
três golpes para assentamento e eliminação
dos vazios. Posteriormente a forma foi
preenchida até a superfície, novamente
recebendo o mesmo número de golpes e
acertado a superfície de modo a ficar plana.
Já para os corpos de prova contendo fibras,
antes da moldagem, o concreto foi processado
junto com as fibras em betoneira por dois
minutos. A dosagem de fibra adotada foi a de
1000 g/m³ de concreto. Para a moldagem,
os corpos de prova foram submetidos ao
mesmo processo citado anteriormente, sem
desrespeitar a norma.
Dois dias após a moldagem, os
corpos de prova foram mergulhados em
solução com certa dosagem de cal, por onde
permaneceram para o processo de cura,
conforme a figura 4.
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
43
| ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE CONCRETOS DE BAIXA RESISTÊNCIA ENRIQUECIDOS COM FIBRAS PET |
Figura 4 - Tanque com solução de cal.
2.3 Coleta e Apuração dos
Resultados
Após 07 dias, um corpo de prova de
cada amostra de concreto foi retirado para
o primeiro teste de compressão simples,
realizado em prensa devidamente calibrada
conforme figura 5 e obtendo-se os resultados
expressos na tabela 2.
Os resultados obtidos após 07 dias
são satisfatórios, porém são realizados para
controle, uma vez que o concreto ainda está
úmido e nem todos os agregados adquiriram
aderência ao cimento, fazendo com que sua
resistência máxima só possa ser medida após
o período de cura estar completo.
Após 28 dias, tempo de cura
completo do concreto, o restante dos corpos
de prova foi retirado e submetido a novos
testes. Com o apoio do Departamento de
Geotecnia e o Departamento de Engenharia
de Estruturas da Escola de Engenharia de
São Carlos (USP), testes de compressão
simples e compressão diametral foram
realizados. O teste de compressão simples
é o representante quase que global da
qualidade do concreto, sendo mais sensível
às variações intrínsecas de produção,
e o mais fácil de ser quantificado. Para
tanto foi utilizado um equipamento de
compressão servo controlada com uma taxa
de deslocamento de 0.3mm/min. e força
máxima igual a 3000kN. (Conforme figura
6).
Figura 6 - MTS 815 – “Rock Mechanics Test System” e MTS 810 –
“Material Test System”.
Figura 5 - Teste de compressão simples após 07 dias
Tabela 2 - Resistência à compressão simples após 07 dias
44
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
Para a realização dos ensaios de
compressão simples os corpos de prova foram
equipados com extensiômetros longitudinais
e diametrais. (Figura 7).
| ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE CONCRETOS DE BAIXA RESISTÊNCIA ENRIQUECIDOS COM FIBRAS PET |
Figura 9 - Gráfico tensão x deformação do concreto puro com comportamento pós-pico.
Figura 7 - Corpo de prova equipado com
extensiômetros longitudinal e diametral
Após os corpos de
prova serem submetidos ao
ensaio de compressão simples
(Figura 8), os gráficos de
tensão x deformação (Figuras
9, 10, 11, 12 e 13) puderam ser
elaborados.
Figura 8 – Corpo de prova durante o ensaio
de compressão simples (comportamento
pós-pico).
Figura 10 - Gráfico tensão x deformação do concreto composto por fibras “lisas” com
comportamento pós-pico.
Figura 11 - Gráfico tensão x deformação do concreto composto por fibras “serrilhadas”
com comportamento pós-pico.
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
45
| ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE CONCRETOS DE BAIXA RESISTÊNCIA ENRIQUECIDOS COM FIBRAS PET |
Figura 12 - Gráfico tensão x deformação do concreto composto por fibras “ranhuradas”
com comportamento pós-pico.
Figura 13 – Gráfico de tensão x deformação comparando os três compósitos em relação
ao concreto puro e seus respectivos comportamentos pós-pico.
Os corpos de prova foram submetidos ainda ao ensaio de compressão diametral. Para
este ensaio foi utilizado um equipamento cuja força máxima chega a 2000kN, e a taxa de
carregamento igual a 0.94kN/s (Figura 14). O ensaio brasileiro de compressão diametral
para determinação indireta da resistência à tração (RT) foi desenvolvido pelo Professor Lobo
Carneiro para concreto-cimento (CARNEIRO, 1943). A aplicação de duas forças concentradas
e diametralmente opostas de compressão em um cilindro gera, ao longo do diâmetro solicitado,
tensões de tração uniformes perpendiculares a este diâmetro (Figura 15). Obteve-se a partir
deste ensaio a tabela 3.
46
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
| ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE CONCRETOS DE BAIXA RESISTÊNCIA ENRIQUECIDOS COM FIBRAS PET |
Figura 14 – Equipamento utilizado nos ensaios de compressão
diametral - Autotest 2000 – ELE.
Figura 15 – Detalhe do posicionamento do corpo de prova no
ensaio de compressão diametral.
Tabela 3 - Resistência à compressão diametral
3. Discussão dos Resultados
Segundo Mheta e Monteiro (1994),
a resistência à compressão não é a mais
importante contribuição do reforço com
fibras no concreto, isto pôde ser facilmente
observado, pois todas as amostras reforçadas
com
fibras,
independentemente
do
formato, obtiveram valores de resistência à
compressão simples inferiores aos valores
da mistura de referência. A redução da
resistência à compressão deve-se ao fato
de que ao adicionar um material inerte na
composição do concreto, há o aumento do
volume vazios em seu interior, reduzindo
a área de contato entre as partículas de
cimento, areia e pedrisco. Tal redução
também pôde ser observada nos ensaios de
compressão diametral, onde a resistência das
amostras compostas por fibras foi reduzida
em aproximadamente 10%.
Porém observou-se nas amostras
compostas por fibras “lisas” e “serrilhadas”,
um valor maior de tenacidade, ou seja,
absorção de energia aplicada. Para os mesmos
valores de tensão, as amostras compostas
por fibras obtiveram uma deformação menor
quando comparadas à amostra de referência.
Enquanto que as amostras que continham
fibras com “ranhuras”, o mesmo resultado
não foi encontrado.
Os dados obtidos a partir dos
ensaios estavam dentro dos padrões
definidos pela NBR 6118 para o Coeficiente
de Poisson e Módulo de Elasticidade.
Segundo Coró (2002), a alteração
nas propriedades mecânicas, e a melhora
do desempenho do concreto composto por
fibras PET estão associadas ao ponto de
equilíbrio da relação cimento x agregado e a
aderência da fibra ao concreto. A utilização
de fibras de diversos tamanhos, aumentando
a área de contato é um fator importante
quando se trata de aderência em materiais
de características diferentes, porém, neste
caso, a variação dos comprimentos de fibra
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
47
| ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE CONCRETOS DE BAIXA RESISTÊNCIA ENRIQUECIDOS COM FIBRAS PET |
não alterou significadamente a aderência
do compósito ao concreto. Entretanto, se
alterarmos o formato da fibra de maneira a
“encaixá-la” no concreto, assim como barras
de ferro utilizadas em concreto armado, a
resistência característica do PET será mais
bem aproveitada.
4. Conclusão e Considerações
Finais
É fato que a ausência de atrito entre
qualquer material adicionado sem controle
na composição do concreto fará com que
a sua resistência seja reduzida. Embora o
PET possua certa resistência para suportar
altas pressões e temperaturas das bebidas
gaseificadas, se adicionado aleatoriamente
na construção civil não terá o mesmo
desempenho.
As fibras PET influenciaram nas
propriedades mecânicas do concreto
reduzindo sua resistência, no entanto
aumentaram a sua tenacidade, fazendo
com que o concreto composto tenha uma
deformação menor para níveis de tensão
abaixo da tensão máxima, tal propriedade
pôde ser observada também no período
pós-pico. Observou-se ainda que dentre as
amostras experimentais, a que obteve valor
superior de resistência, tanto à compressão
quanto à tração indireta são aquelas em que a
fibra possuía as extremidades “serrilhadas”,
mostrando que quanto maior a superfície
de contato que garanta o atrito entre a
fibra e o concreto, maior será a resistência
obtida. O concreto composto por este tipo
de fibra mostrou também um valor maior de
tenacidade e consequentemente diminuição
da deformação em comparação a amostra de
referência e as outras amostras estudadas.
Pode-se concluir que embora os
resultados da utilização das fibras PET como
agregado do concreto, não tenha elevado
a resistência do mesmo, a sua utilização
pode ser muito favorável quando aplicada
em concretos cuja finalidade não exija
alta resistência, como é o caso do concreto
utilizado para a execução de meio-fio, blocos,
48
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
pisos, mas que pode trazer vantagens tanto
econômicas quanto ecológicas.
Com a finalidade de complementar
a pesquisa, bem como dar continuidade
a esta linha, sugere-se ainda desenvolver
outras matrizes com traços diferentes,
alterar a proporção fibra-concreto e
utilizar as fibras que apresentaram melhor
desempenho, avaliar o comportamento deste
composto em relação à resistência ao fogo,
desenvolver novos formatos para as fibras
PET, preparando-as com “frestas” em seu
interior, permitindo a passagem do concreto
e melhorando ainda mais o atrito.
| ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE CONCRETOS DE BAIXA RESISTÊNCIA ENRIQUECIDOS COM FIBRAS PET |
Referências
ABEPET. Associação Brasileira dos Fabricantes de Embalagens PET. Disponível em: www.
abepet.com.br. Acesso em: Março de 2011.
ABRAMS, Duff A.; Design of Concrete Mixtures. Chicago: Lewis Institute, 1924.
ANÔNIMO; Boletim Técnico 106: Guia básico de utilização de cimento Portland. 7ª Ed., São
Paulo: ABCP – Associação Brasileira de Cimento Portland, 2002.
ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Execução de Concreto
Dosado em Central - NBR 7212, Rio de Janeiro, ABNT, 1984.
ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS; Projeto e Execução de Obras
de Concreto Armado - NBR 6118, Rio de Janeiro, ABNT, 1980.
CARNEIRO, F. L.; Um Novo Método para Determinação da Resistência à Tração dos Concretos. Comunicação, 5. Reunião Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio De Janeiro:
Publ. Inst. Nac. Tecnol., 1943.
CORÓ, Ângela G.; Investigação das propriedades mecânicas de concretos reforçados com
fibras PET. Ijuí: UNIJUÍ, 2002.
GRIPPI, Sidney. Lixo, reciclagem e sua história: guia para as prefeituras brasileiras / Sidney
Grippi. – Rio de Janeiro: Interciência, 2001.
HIBELER, R. C. Resistência dos Materiais. 7ª Edição. São Paulo: Ed. Pearson Education,
S/D.
MAIA, J. L.; O uso de resíduos em sistemas cimentíceos – Aplicação do método físico-químico para otimização de formulações. Rio de Janeiro: UFRJ, 2008.
MARANGON, Ederli; Aspectos do comportamento e da degradação de matrizes de concreto
de cimento Portland reforçados com fibras provenientes da reciclagem de garrafas PET. Ijuí:
UNIJUÍ, 2004.
MEHTA, P. K. & MONTEIRO, P. J. M. Concreto: Estrutura, propriedades e materiais. São
Paulo: Pinni, 1994.
MODRO, N. L. R.; Avaliação do Concreto de Cimento Portland contendo resíduos PET. Revista Matéria, Vol. 14, n. 01, PP. 725-736, Rio de Janeiro, 2009.
Programa de Pesquisa em Saneamento Básico. Metodologias e Técnicas de Minimização de
Resíduos Sólidos Urbanos. Rio de Janeiro: ABS - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, 1999. 65 p. il.
SHACKELFORD, James F. Ciência dos Materiais. 6ª Edição. São Paulo: Ed. Pearson Education, S/D.
SÜSSEKIND, J. C.; Curso de Concreto. Vol. 1. São Paulo: Ed. Globo, 1980.
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
49
PROCESSO DE HOMOLOGAÇÃO DAS COORDENADAS
DOS VÉRTICES DE APOIO BASE POR MEIO DE
POSICIONAMENTO POR PONTO PRECISO
Ricardo Alexandre Carmanhan¹
Anderson Manzoli²
1 .Resumo
Os avanços da instrumentação
eletrônica e da informática tem dado um
novo dinamismo para a topografia ‘moderna’
nos campos de aplicação da engenharia
e áreas afins. Um dos resultados desse
desenvolvimento foi o surgimento do ‘Global
Position System’, o GPS, cujo conceito básico
data de 1973 e foi projetado de forma que
qualquer lugar do mundo e em qualquer
momento exista um número mínimo de
satélites para garantir a condição geométrica
necessária à navegação em tempo real, e
obtenção de coordenadas do lugar referido.
Devido à demanda crescente de usuários
e para facilitar a utilização do sistema há a
necessidade de utilizar vértices reconhecidos
pelo órgão responsável. Portanto, o objetivo
principal deste trabalho é apresentar
os
procedimentos
necessários
para
monumentalizar, medir, ajustar e requerer
homologação de um marco geodésico no
Centro Universitário UNISEB COC de
Ribeirão Preto – SP, cumprindo as atuais
normas do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) que é o órgão gestor do
Sistema Geodésico Brasileiro (SGB). Espera
– se com isto contribuir com as comunidades
estudantis e profissionais da área, pondo
em prática as normas para implantação de
vértices com coordenadas homologadas
indispensável no desenvolvimento de
projetos topográficos, georreferenciamento
de imóveis rurais e urbanos, e trabalhos
acadêmicos, entre outros.
Palavras – chave: Sistema Geodésico,
georreferenciamento,
coordenadas
homologadas.
1. Abstract
Advances
in
electronic
instrumentation and information technology
have given a new dynamic topography
for the ‘modern’ in the application fields of
engineering and related areas. One result
of this development was the emergence of
‘Global Positioning System’ GPS, whose
basic concept dates back to 1973 and was
designed so that anywhere in the world and
at any time there is a minimum number of
satellites to ensure the geometric condition
necessary
for
real-time
navigation,
and obtaining coordinates of the place
mentioned. Due to increasing demand of
users and to facilitate the use of the system
is the vertices need to use recognized by
the agency responsible. Therefore, the our
main objective is to present the necessary
procedures to monumentalize, measure,
adjust and apply for approval of a station
geodesic in the University Center UNISEB
COC Ribeirao Preto - SP, fulfilling current
standards of the Brazilian Institute of
Geography and Statistics (IBGE), which
is the managing agency of the Brazilian
Geodetic System (SGB). Waiting with the
communities that contribute to student and
professional area, putting in place standards
for deployment of vertices with coordinates
essential in the development of approved
¹Bacharel em Engenharia Civil – Centro Universitário UNISEB – Ribeirão Preto. [email protected]
²Docente do Curso de Engenharia Civil - Centro Universitário UNISEB – Ribeirão Preto.
50
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
projects topographic, georeferencing of
rural and urban properties, and academic
papers, among others.
Keywords:
Geodetic
System,
georeferencing, coordinate approved.
2. Introdução
Desde os primórdios da civilização
o Homem tratou de demarcar sua posição
e seu domínio. Os babilônios, os chineses,
os gregos, os romanos e os árabes foram
os povos que legaram instrumentos e
processos que foram de extrema importância
na descrição, delimitação e avaliação de
propriedades tanto urbanas como rurais,
com finalidades cadastrais.
De lá pra cá foram muitos pensadores
que contribuíram de maneira satisfatória
para a evolução da topografia “convencional”
à topografia “moderna”. Marino de Tiro
(Século I), Claudio Ptolomeu (90 – 168 d.C),
Erastóstenes (276 – 196 a. C), o hispânico –
árabe Azarquiel (Século XI), Jaume Ribes de
Mallorca, foram alguns que contribuíram com
seus conhecimentos para o desenvolvimento
da ciência que é considerada uma das mais
importantes da engenharia.
Atualmente, com o desenvolvimento
da instrumentação eletrônica e da informática
que opera neste setor tem dado um novo
dinamismo para a topografia “moderna” nos
campos de aplicação da engenharia e áreas
afins.
Um
dos
resultados
desse
desenvolvimento foi o surgimento do GPS
(Global Positioning System), cujo conceito
básico data de 1973 e foi projetado de forma
que qualquer lugar do mundo e em qualquer
momento exista um número mínimo de
satélites suficientes para garantir a condição
geométrica necessária à navegação em
tempo real, e obtenção de coordenadas do
lugar referido.
Devido à demanda crescente de
usuários e para facilitar a utilização do
sistema há a necessidade de utilizar vértices
reconhecidos pelo órgão responsável e que
estão incluídos na rede do Sistema Geodésico
de cada nação.
No Brasil, para realizar a homologação
de um vértice e incluí-lo na rede do Sistema
Geodésico Brasileiro (SGB) é necessário
seguir procedimentos normatizados pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).
2.1 Objetivos
Para a homologação das coordenadas
cujo objetivo é garantir a precisão e
consequentemente a certificação do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística é
necessário seguir as normativas impostas
por esta instituição. Portanto, é de extrema
importância pesquisar a norma vigente neste
momento.
Os vértices a serem homologados
localizam – se na cidade de Ribeirão Preto SP, mais precisamente no campus do Centro
Universitário UNISEB.
O trabalho possui os seguintes
objetivos específicos:
→ Realizar uma revisão bibliográfica,
mostrando os princípios envolvidos.
→
Apresentar
a
metodologia
empregada, baseada nas normas e
procedimentos
exigidos
pelo
órgão
responsável
pelo
Sistema
Geodésico
Brasileiro, o IBGE.
→ Acompanhar, registrar, descrever e
apresentar todos os procedimentos realizados
para definição do local, implantação e
monumentalização dos vértices, observações
dos cálculos das baselines e ajustes das
coordenadas.
→ Organizar e apresentar todo
material para a diretoria de geociência do
departamento de geodésica do IBGE.
3. Geodésia
Aristóteles foi o primeiro homem a
utilizar o termo ‘geodésia’. Esta palavra tem
origem grega e pode significar tanto divisões
geográficas da terra como também o ‘ato de
dividir a terra’. Refere – se do levantamento
e da representação da forma e da superfície
terrestre, global e parcial, com as suas feições
naturais e artificiais e o campo gravitacional
da Terra.
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
51
| PROCESSO DE HOMOLOGAÇÃO DAS COORDENADAS DOS VÉRTICES DE APOIO BASE POR MEIO DE POSICIONAMENTO POR PONTO PRECISO |
Segundo Friedrich Robert Helmert
(1880) geodésia é a ciência da medida e
mapeamento da superfície da Terra, que é
formada pelo seu campo da gravidade e das
observações geodésicas está a ele referida.
Para que seus objetivos sejam
alcançados a geodésia utiliza diferentes
tipos de operações, de onde surgiu a divisão:
geodésia geométrica, geodésia física e
geodésia por satélite.
A geodésia geométrica faz operações
geométricas sobre a superfície terrestre
(medidas angulares e de distâncias).
A geodésia física estuda e realiza
medidas sobre o campo de gravidade da
Terra ou direção e magnitude das forças que
mantêm os corpos na superfície e atmosfera
terrestre.
Já a geodésia por satélite ou celeste
utiliza técnicas espaciais de posicionamento,
ou seja, estuda a determinação de posição
de pontos na superfície da Terra através da
utilização de satélites artificiais.
3.1 Geodésia Celeste: Breve
Histórico
Foi na década de 70, nos Estados
Unidos da América que cientistas propuseram
o projeto NAVSTAR – GPS, um sistema que
vinha a revolucionar praticamente todas as
atividades que dependiam da determinação
de posições.
Porém, não era somente os
Americanos que estavam interessados em
dominar essa tecnologia. A antiga URSS
desenvolveu um sistema parecido com o
NAVSTAR – GPS chamado de GLONAS
(Global Orbitting Navigation Satellite
System).
Alguns anos depois, mais precisamente
na década de 90, a Agência Espacial Européia
anuncia o desenvolvimento do Galileo. Esse
sistema encontra-se em desenvolvimento até
os dias atuais sendo que o primeiro satélite
foi lançado em 2005.
De lá pra cá vários países estão
desenvolvendo seus próprios projetos, como:
Japão com o MSAS (MSAT Satellite – based
Augmentation System), Índia com o GAGAN
52
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
(GPS Aided Geo Augmented Navigation ou
GPS and GEO Augmented Navigation), a
China com o sistema Beidou/Compas.
Na 10ª Conferência de Navegação
Aérea, a Associação Internacional de Aviação
Civil (ICAO) reconheceu que a utilização
desses sistemas de maneira integrada
seria a fonte primária para a navegação
aérea no século XXI e que essa integração
passou a ser rotulada de GNSS (Global
Navigattion Satellite System – Sistema
Global de Navegação por Satélite). O uso
integrado desses sistemas também deverá
revolucionar ainda mais todas as atividades
que necessitam de posicionamento.
3.2 Sistema dos satélites e dos
sinais NAVSTAR - GPS
O objetivo principal desse sistema é
determinar de forma instantânea a posição,
velocidade e tempo de um usuário, em
qualquer lugar na Terra, independentemente
das condições atmosféricas, em um
referencial global e homogêneo, com base em
medidas e distâncias.
Essas distâncias são denominadas
pseudodistâncias, em razão do não
sincronismo entre o relógio do usuário e
o dos satélites, o qual comparece como
uma incógnita adicional no problema a ser
resolvido. Logo, cada equação de distância
(pseudodistâncias) apresenta-se com quatro
incógnitas (três posições e o erro do relógio
do receptor), requerendo que, no mínimo,
quatro satélites estejam disponíveis para
a realização de medidas simultâneas pelos
receptores (MONICO, 2008).
Para a obtenção de posicionamento
de melhor qualidade faz – se também o uso
das medidas de fase de batimento da onda
portadora, as quais permitem obter posições
com elevado nível de acurácia.
O GPS é composto de três segmentos,
que são: espacial, de controle e de usuários.
3.2.1 Segmento Espacial
O Segmento espacial consiste de
no mínimo de 24 satélites MEO (Medium
Earth Orbits – Satélites de Órbita Média)
distribuídos em seis planos orbitais
igualmente espaçados, com quatro satélites
em cada plano, em uma altitude aproximada
| PROCESSO DE HOMOLOGAÇÃO DAS COORDENADAS DOS VÉRTICES DE APOIO BASE POR MEIO DE POSICIONAMENTO POR PONTO PRECISO |
de 20.200 Km (MONICO, 2008).
Os planos orbitais são inclinados 55º
em relação ao Equador e o período orbital
é de aproximadamente 12 horas siderais.
Dessa maneira, a posição dos satélites se
repete a cada dia, a cada quatro minutos
antes em relação ao dia anterior. Com essa
configuração a visibilidade de no mínimo
quatro satélites em qualquer local da
superfície terrestre e em qualquer hora fica
garantida.
Quatro tipos de satélites fizeram
parte do projeto NAVSTAR – GPS, são eles:
Satélites Bloco I, II, IIA, e IIR.
O Bloco I era composto por onze
protótipos e todos eles foram lançados,
sendo que o último satélite, denominado
SVID 12, foi desativado no fim de 1995.
Já os Blocos II e IIA (“A” significa
‘advanced’) são formados por 28 satélites,
os quais se referem, respectivamente, à
primeira e à segunda geração de satélites
GPS (MONICO, 2008).
Os equipamentos do Bloco IIA
foram fabricados pela companhia Rockwell
International, sendo que o primeiro
satélite pesava mais de 1.500 kg, com um
custo estimado em 50 milhões de dólares
americanos
(HOFMANN–WELLENHOF;
LICHTENEGGER; COLLINS, 1997). Quando
o sistema foi declarado operacional, em 27 de
abril de 1995, todos os satélites pertenciam a
esses dois blocos.
Outros 22 satélites que compõe o
Bloco IIR ( ‘R’ refere – se ‘replenishment’
– reabastecimento) estão substituindo
os satélites do Bloco II e IIA. Essa nova
geração possui duas vantagens que são a
capacidade de medir distancias entre eles e
calcular efemérides no próprio satélite, além
de transmitir essas informações entre os
satélites e pra o sistema de controle da Terra.
Esses satélites foram fabricados
pela companhia Lockheed Martin, seu peso
é superior a 2.000 kg, com custo estimado
em 25 milhões de dólares americanos,
aproximadamente a metade do custo de um
satélite do bloco II.
Os equipamentos responsáveis
pela modernização do GPS formam a
quarta geração de satélites e é denominado
de Bloco IIF (‘F’ refere – se a ‘Follow – on’
– continuação) e será composto por 33
satélites.
3.2.1.1 Sinais GPS e suas
características
Os satélites emitem sinais que
são caracterizados por certo número
de componentes todas baseadas numa
frequência fundamental de 10,23 MHz.
Essa frequência, quando multiplicada,
respectivamente, por 154 e 120, formam
duas ondas portadoras denominadas L1 e L2.
Assim, as frequências (L) e os comprimentos
de onda (λ) de L1 e L2 são:
L1 = 1575,42 MHz e λ = 19 cm;
L2 = 1227,60 MHz e λ = 24 cm;
Essas frequências permitem corrigir
grande parte dos efeitos provocados pela
ionosfera. E em um futuro bem próximo,
quando o Bloco IIF estiver em operação,
uma terceira portadora estiver fazendo
parte do sistema, a qual é designada L5, com
frequência de 115*fo, ou seja, 1176,45 MHz
(L5 = 1176,45 MHz e λ = 25,5 cm).
Os códigos que formam o PRN são
modulados, em fase, sobre as portadoras L1
e L2. Essa técnica permite realizar medidas
de distâncias, a partir da medida do tempo
de propagação da modulação (LEICK, 1995).
Um PRN é uma sequência binária de
+1 e -1, que parece ter característica aleatória.
Trata – se basicamente dos códigos C/A e P.
O código C/A significa ‘coarse
acquisition’ e tem um comprimento de
onda por volta de 300 m, é transmitido em
uma razão de 1,023 MHz. Ele é modulado
sobre a portadora L1, e é o código que os
usuários civis utilizam para obter medidas de
distâncias. Ele não é criptografado, mas pode
ter sua precisão degradada.
Já o código P significa ‘precise or
protected’, ou seja, ‘preciso ou protegido’. É
reservado para uso militar norte – americano
e usuários autorizados. É transmitido a uma
frequência de 10,23 MHz, o que corresponde
a uma sequência de 10,23 milhões de dígitos
binários por segundo. Medidas resultantes
dessa frequência são mais precisas em
relação ao código C/A.
Há também o código Y, que trata de
uma versão segura do código P. O propósito
desse código é evitar que inimigos consigam
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
53
| PROCESSO DE HOMOLOGAÇÃO DAS COORDENADAS DOS VÉRTICES DE APOIO BASE POR MEIO DE POSICIONAMENTO POR PONTO PRECISO |
fraudá-lo. Somente pessoas autorizadas têm
acesso a sua estrutura.
Com a modernização do GPS o
código L2C entrou em cena e passou a
ser modulado na portadora L2, visando
reduzir os problemas advindos do código Y.
Também já é sabido que em breve haverá
uma nova portadora denominada L5 que
modulará sobre ela um código 10 vezes mais
longo eu o C/A, denominado L5C.
3.2.1.2 Formato e conteúdo da
mensagem
Os dados de navegação são
modulados em ambas as portadoras,
na razão de 50 bps, com duração de 30
segundos. Portanto, a duração de um bit
é 20 ms. As informações contidas em uma
mensagem perfazem um total de 1.500
bits, denominado quadro de dados (data
frame). Ele é dividido em 5 subquadros, de
6 segundos de duração (300 bits) cada um,
contendo, cada um, dez palavras de 30 bits
(MONICO, 2008).
O conteúdo de cada subquadro é
apresentado logo abaixo:
Tabela 1 – Conteúdo dos subquadros da mensagem de navegação Fonte: MONICO, 2008.
No quadro acima, há duas palavras
importantes, TLM e HOW, elas referem – se
a telemetria. A palavra TLM é modificada
quando há o envio de mensagens para os
satélites. Já a palavra HOW é expresso em
unidades de 1,5 segundo, contado a partir
do início da semana GPS e com duração de
uma semana. Ela contém um número, que
multiplicado por 4, proporciona o ToW do
próximo subquadro.
54
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
Enquanto os dados do subquadros 1 a
3 não sejam renovados os dados dos mesmo
repetem – se nos quadro seguintes. Os
subquadros 4 e 5, cada um com 25 páginas,
contêm dados distintos em cada quadro.
A obtenção do conteúdo completo dos
subquadros 4 e 5 levará 12, 5 minutos, pois
cada quadro tem duração de 30 segundos.
A figura abaixo evidencia a estrutura de um
quadro.
| PROCESSO DE HOMOLOGAÇÃO DAS COORDENADAS DOS VÉRTICES DE APOIO BASE POR MEIO DE POSICIONAMENTO POR PONTO PRECISO |
Figura 2 – Estrutura de um quadro de mensagens GPS (WELLS et al., 1986).
Os satélites contidos nos subquadros
4 e 5 fornecem informações úteis para
calcular posições aproximadas dos satélites.
Essas informações são mais simplificadas
que as contidas nos subquadros 2 e 3, mas são
essenciais para o planejamento de navegação
com GPS ou trabalho de posicionamento.
Como a duração da transmissão de
1 bit de mensagem é 20 ms, tem – se que,
durante esse intervalo de tempo, os códigos
C/A (1,023 MHz) e P (10,23 MHz) se repetem
20 vezes, e o número de ocorrência de ciclos
da portadora L1 é de 315.084.00 (WELLS et
al., 1986).
Com a melhora frequente do GPS,
essa estrutura deverá sofrer modificações.
3.3 Detecção de Perdas de Ciclo
Quando o sinal é interrompido por
algum motivo externo (fatores ambientais,
artificiais, etc.) há a ocorrência da perda
na contagem do número inteiro de ciclos
medidos no receptor. Essa condição é
chamada de “cycle slip”.
As causas não estão restritas
ao bloqueio do sinal, a aceleração da
antena, variações bruscas na atmosfera,
interferências de outras fontes de rádio,
problemas com o receptor e software podem
também resultar em perdas de ciclos.
Na maioria das vezes é possível
corrigir essa perda. Isso se dá através da
localização do instante em que ocorreu o salto
e sua dimensão. Esse processo é chamado de
“cycle slip fixing”.
Diversas
técnicas
têm
sido
desenvolvidas para esse fim. Boa descrição
de algumas delas é apresentada em Hofmann
– Wellenhof; Lichtenegger; Collins (1997,
p.208) e Leick (2004, p.223) (MONICO,
2008).
Um método que é considerado viável
e que apresenta bons resultados consiste na
realização de cálculos preliminares com o
algoritmo da tripla diferença de fase, que
não é afetada por ocasionais perdas de ciclo.
Nesse algoritmo, sempre que na observável
entra uma leitura anterior à perda de ciclos
e outra posterior, ocorre um resíduo grande
indicando o local da perda. Os resíduos são
de magnitude normal quando as observáveis
são determinadas só com observações
anteriores ou só com observações posteriores
a perda de ciclos.
A partir do momento em que é
conhecido o instante que ocorreu a perda de
ciclos, basta procurar qual satélite teve seus
dados corrompidos. Para corrigir o efeito da
perda de ciclos é ideal verificar quantos ciclos
são necessários acrescentar ou subtrair na
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
55
| PROCESSO DE HOMOLOGAÇÃO DAS COORDENADAS DOS VÉRTICES DE APOIO BASE POR MEIO DE POSICIONAMENTO POR PONTO PRECISO |
última leitura ótima, para que o resíduo da
tripla diferença de fase caia para um valor
inferior a um ciclo.
A detecção e a correção de perdas
de ciclo estão intimamente ligadas com o
problema de solução das ambiguidades.
4. Metodologia
4.1 Etapas que devem ser
obedecidas
Para homologação dos vértices, fazse necessário que sejam obedecidos critérios
técnicos definidos pelo IBGE – Diretoria de
Geociências – Coordenação de Geodésia.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística. O processo de homologação será
realizado pelo processo de Posicionamento
por Ponto Preciso ou Posicionamento
Absoluto Preciso. Este processo basea – se em
um serviço on-line para o pós-processamento
de dados GPS (Global Positioning System).
Ele permite aos usuários de GPS, obterem
coordenadas de boa precisão no Sistema de
Referência Geocêntrico para as Américas
(SIRGAS2000) e no International Terrestrial
Reference Frame (ITRF). No posicionamento
com GPS, o termo Posicionamento por Ponto
Preciso normalmente refere-se à obtenção
da posição de uma estação utilizando
as observáveis fase da onda portadora
coletadas por receptores de duas frequências
e em conjunto com os produtos do IGS
(International GPS Service).
4.2
Implantação
e
Monumentação
Foram analisados diversos locais
com potencial de receber os procedimentos
necessários para oficializar os vertíces. Os
locais analisados foram:
• Caixa d’água das UNISEB: Com
altura de aproximadamente 30(trinta)
metros, laje superior feita de concreto e
com uma vista ideal para diversos pontos na
cidade de Ribeirão Preto.
• Parte superior do prédio do Centro
Universitário UNISEB.
• Esquina do quarteirão onde
se localiza o estacionamento do Centro
Universitário UNISEB.
ideal
56
4.3 Triagem e escolha do ponto
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
Para iniciar as etapas de triagem
foram realizadas visitas e análises técnicas
dos locais com potenciais para receber os
vértices. As dificuldades encontradas em
cada uma foram:
Caixa d’água: Primeiro ponto que foi
levado em consideração, mas foi eliminado,
pois na parte superior de sua estrutura
há uma proteção metálica que impede a
captação dos sinais GPS impossibilitando as
análises.
• Parte Superior do prédio da
UNISEB: Esse local foi facilmente eliminado,
pois sua estrutura não foi construída com
uma laje maciça, isso impede a instalação de
um vértice.
• Esquina do quarteirão: Das
alternativas disponíveis, essa foi a melhor
opção
escolhida.
Das
características
positivas pode – se destacar o seu fácil
acesso, e a facilidade de coleta de dados, pois
não há construções próximas que impedem
a captação do sinal GPS. A principal
desvantagem é que ele não possui altitude
suficiente para se ter uma visada ideal de
toda a cidade, podendo assim, prejudicar
determinados projetos que possam a ser
feitos tomando como base os vértices.
4.4 Etapa Final: coleta de dados
O local escolhido foi o terceiro
ponto citado acima. Foi utilizado um par de
GPS L1/L2 da marca LEICA.
Os equipamentos ficaram nos
pontos pré – determinados durante duas
sessões, sendo que cada sessão foi composta
por 8 (oito) horas sem intervalos.
Todos os dados foram salvos,
processados e organizados seguindo
rigorosamente os critérios para homologação
de vértices por posicionamento por ponto
preciso (PPP).
4.5 Resultados
A partir dos dados coletados foi
construído um arquivo tipo RINEX e enviado
ao departamento de Geociência do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística para
análise e aprovação.
Segue abaixo a monografia final
evidenciando as principais características
dos vértices.
| PROCESSO DE HOMOLOGAÇÃO DAS COORDENADAS DOS VÉRTICES DE APOIO BASE POR MEIO DE POSICIONAMENTO POR PONTO PRECISO |
Figura 3: Monografia vértice COC 01
Figura 4: Monografia vértice COC 02
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
57
| PROCESSO DE HOMOLOGAÇÃO DAS COORDENADAS DOS VÉRTICES DE APOIO BASE POR MEIO DE POSICIONAMENTO POR PONTO PRECISO |
Foram utilizados 02 vértices (m01
e m02) para o georreferenciamento da(s)
propriedade(s) através do Transporte de
Coordenadas pelo método de posicionamento
GNSS relativo estático (vértices de referência
ao georreferenciamento do tipo C1).
Tabela 2 – Tempos de rastreio dos vetores
Tabela 3 – Informações sobre os equipamentos utilizados
5. Conclusão
Conforme mostrado no decorrer
deste trabalho, as dificuldades foram muitas.
Um dos obstáculos foi ter que estudar
outro local para a instalação dos marcos,
uma vez que na caixa de água uma placa de
metal que a envolve torna – a inutilizada por
GPS e estações totais, uma vez que impede a
captação do sinal dos satélites.
No mais, este trabalho atingiu
seu objetivo de homologação dos marcos
geodésicos,
mostrando
cada
passo
necessário para elaboração, organização e
envio dos dados ao IBGE. Foi ainda além,
pois cria condições para que outros alunos
utilizem esses pontos para elaboração de
diferentes projetos voltados à topografia,
geoprocessamento, etc.
58
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
Para efetuar os cálculos do transporte
de coordenadas foi utilizado o método de
Posicionamento por Ponto Preciso-PPP do
IBGE.
a) Informações sobre o transporte de
coordenadas:
| PROCESSO DE HOMOLOGAÇÃO DAS COORDENADAS DOS VÉRTICES DE APOIO BASE POR MEIO DE POSICIONAMENTO POR PONTO PRECISO |
Referências
CANADIAN INSTITUTE OF SURVEYING AND MAPPING. Proceceedings of the Second International Symposium on Precise Positioning with the Global Positioning Sustem – GPS’90. Ottawa. 3
a 7 7 de setembro de 1990.
COSTA, S.M.a. e FORTES, I.P.S.. Ajustamento da Rede Planialtimétrica do Sistema Geodésico
Brasileiro. XV Congresso Brasileiro de Cartografia. São Paulo. 28 de julho a 2 de agosto de 1991.
FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Especificações
e Normas Gerais para Levantamentos Geodésicos em Território Brasileiro. Rio de Janeiro. 01 de
agosto de 1983.
FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Padronização
de Marcos Geodésicos. Norma de Serviço do Diretor de Geociências nº 029/88. Rio de Janeiro. 22
de setembro de 1988.
FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Parâmetros
para Transformação de Sistemas Geodésicos. RPR nº 23/89. Rio de Janeiro. 21 de fevereiro de
1989.
MONICO, João Francisco Galera, 1956 – Posicionamento pelo GNSS: descrição, fundamentos e
aplicações. 2.ed. São Paulo: Editora UNESP, 2008.
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
59
EFEITO DA DOMINÂNCIA DE MEMBROS SOBRE
O DESEMPENHO DOS MEMBROS INFERIORES
DE ATLETAS EM TESTES FUNCIONAIS
Rafael Mian¹
Caio de Paula Martins¹
Juliana Moraes Santos¹
Carla Paola Ferreira Felipe¹
Mayara Yamamoto¹
Rawane Karyn Oliveira Cardozo1
Cristiane Soncino Silva²
Daniel Ferreira Moreira Lobato³
1. Resumo
Os efeitos da dominância de
membros sobre o desempenho funcional
ainda não está bem estabelecido e a sua
correta compreensão é necessária para
aprimorar a habilidade do clínico em avaliar
as lesões no membro inferior, bem como a
sua progressão, especialmente no âmbito
esportivo. Deste modo, o presente estudo
teve como objetivo avaliar a influência
da dominância de membros sobre o
desempenho em testes funcionais. Oito
atletas recreacionais (20,70±2,19 anos;
75,90±15,3 kg; 1,73±0,07 m) foram avaliados
em três testes funcionais: hop test (HP), sixmeter timed hop test (STHT) e square hop
test (SHT). O teste t-Student para amostras
dependentes (α=5%) não evidenciou
alteração significativa no desempenho entre
os membros dominante e não-dominante,
nos três testes funcionais: HT (p=0,27),
STHT (p=0,70) e SHT (p=0,23). Deste
modo, a dominância de membros inferiores
parece não influenciar de forma decisiva o
desempenho funcional de atletas.
Palavras-chave – Dominância de
membros, desempenho funcional, testes
funcionais.
1. Abstract
The effects of limb dominance on
functional performance are still unclear
and this correct understanding is needed
to improve the ability of the clinician to
evaluate lower limb injuries and their
progression, especially in the sports arena.
Thus, this study proposed to investigate the
influence of limb dominance on functional
tests performance. Eight recreational
athletes (20.70±2.19 years; 75.90±15.3
kg; 1.73±0.07 m) were evaluated by three
functional tests: hop test (HT), six-meter
timed hop test (STHT) and square hop test
(SHT). The Student t-test for dependent
samples (α=5%) revealed no difference
between dominant and non-dominant limbs
in the three functional tests performed: HT
(p=0.27), STHT (p=0.70) and SHT (p=0.23).
Thus, it seems that the limb dominance
does not decisively influence the functional
performance in athletes.
Keywords – Limb dominance,
functional performance, functional tests.
2. Introdução
A avaliação funcional do membro
inferior após uma lesão é necessária para
que o fisioterapeuta acompanhe e monitore
efetivamente o processo de reabilitação
(MCCURDY & LANGFORD, 2005). As
avaliações de rotina clínica geralmente
utilizam o desempenho do membro não
¹Discentes do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário UNISEB
²Professora Doutora do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário UNISEB
³Professor Mestre do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário UNISEB
60
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
lesionado como uma referência para
essa comparação. Contudo, questionase a viabilidade desse procedimento em
virtude dos possíveis efeitos relacionados à
dominância de membros (HOLFMAN et al.,
1998). Neste sentido, a falha em considerar
a existência de diferenças bilaterais
relacionadas à dominância ou à lateralidade
pode ser problemática em situações de teste
em que um membro serve de controle para
o outro.
Alguns autores têm sugerido que
as diferenças bilaterais entre membros
podem representar uma forma de assimetria
funcional, definida como uma discrepância
consistente entre os membros dominante
e não-dominante na realização de tarefas
(SEELEY et al., 2008). Deste modo, esses
autores apontam que as diferenças bilaterais
podem afetar a habilidade individual durante
a realização de tarefas unilaterais e bilaterais
envolvendo descarga de peso corporal, o que
pode aumentar o risco de lesões no membro
inferior (HEWETT et al., 2001. GROUIOS,
2005)
Contudo, os efeitos da dominância
de membros sobre o desempenho funcional
ainda não são muito claros. A maioria
dos estudos consultados não verificou
diferenças entre os membros dominante e
não-dominante quanto à força muscular ou
quanto ao desempenho em testes funcionais
(LOBATO et al., 2011; MCCURDY &
LANGFORD, 2005; MASUDA et al., 2003;
PETSCHNIG et al., 1998; GREENBERGER
& PATERNO, 1995; HAGEMAN et al., 1988).
Controversamente, estudos epidemiológicos
têm evidenciado que não apenas os
desequilíbrios de força existem, mas que eles
podem resultar em um aumento no risco de
lesões para atletas que apresentem diferenças
bilaterais superiores a 10% (KNAPIK et al.,
1991).
Uma provável razão para a
inconsistência entre os resultados dos
estudos experimentais e epidemiológicos
ocorre em função do fato de que a maioria
desses estudos avaliou o desempenho dos
membros inferiores apenas considerando a
função muscular concêntrica ou isométrica.
Sabe-se que a maioria das atividades
esportivas apresenta uma grande demanda
de ação muscular excêntrica, caracterizada
por forças de aceleração e desaceleração
de alta intensidade, e que esta ação está
diretamente relacionada ao controle de
movimentos articulares excessivos, que
representam um dos principais fatores para
as lesões esportivas (GUSTAVSSON et al.,
2006). Contudo, até o momento menor
atenção foi destinada ao estudo desse tipo de
ação muscular.
Além disso, a comparação de
déficits bilaterais no desempenho funcional
pode apresentar um papel crucial para o
fisioterapeuta dada à aproximação desses
testes com os gestuais esportivos. Saltos
em distância ou que ocorrem em função
do tempo são comumente utilizados para
avaliar a função do joelho em pacientes com
lesão do ligamento cruzado anterior (LCA) e
são designados a refletir a demanda de uma
atividade física de alto nível (PETSCHNIG
et al., 1998; WILK et al., 1994; NOYES et
al., 1991; BARBER et al., 1990). Portanto,
supõe-se que pesquisas sobre esse assunto
fornecerão melhor suporte às avaliações
prévias à participação de um atleta em
atividades de alta intensidade, ou ainda em
períodos de pré-temporada, com o objetivo
de detectar assimetrias funcionais, direcionar
intervenções voltadas à correção desses
déficits e, conseqüentemente, reduzir os
riscos de lesão (MCCURDY & LANGFORD,
2005; ROSS et al., 2004).
Considera-se que uma correta
compreensão dos efeitos da dominância de
membros sobre o desempenho funcional
permitirá ao clínico aprimorar as suas
habilidades em avaliar as lesões do membro
inferior e sua progressão, especialmente no
âmbito esportivo. Deste modo, este estudo
teve por objetivo investigar a influência da
dominância de membros sobre o desempenho
dos membros inferiores de atletas amadores
em testes funcionais.
3. Metodologia
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
61
| EFEITO DA DOMINÂNCIA DE MEMBROS SOBRE O DESEMPENHO DOS MEMBROS INFERIORES DE ATLETAS EM TESTES FUNCIONAIS |
3.1 Sujeitos
Oito atletas amadores recreacionais
(20,75±2,19 anos; 75,90±15,35 kg; 1,73±0,07
m), de ambos os gêneros (sendo 5 homens e
3 mulheres), com idade entre 19 e 25 anos,
participaram do presente estudo. Um atleta
recreacional foi considerado como aquele
praticante de atividades físicas regulares
com uma freqüência mínima de 3 vezes
por semana, no mínimo de 30 minutos
por sessão (HEINERT et al., 2008). Foram
considerados como critérios de exclusão:
a) idade inferior a 18 anos e superior a 26
anos; b) condição de sedentarismo ou de
prática de atividade física em nível inferior
ao utilizado para classificar os atletas
como recreacionais; c) presença de dores
ou disfunções relacionadas aos complexos
articulares do membro inferior; d) existência
de cirurgias prévias no membro inferior e e)
presença de disfunções cárdio-respiratórias
que limitassem a realização da atividade.
Todos os voluntários assinaram um termo de
consentimento previamente à participação
no estudo, sendo a pesquisa previamente
aprovada pelo Comitê de Ética institucional.
3.2 Procedimentos
Os voluntários foram submetidos a
uma avaliação inicial para a coleta de dados
clínicos e físicos, bem como para a verificação
dos critérios de inclusão e exclusão no estudo.
A dominância de membros foi determinada
perguntando aos atletas qual o membro
que eles utilizam para chutar uma bola na
máxima distância possível (HAGEMAN et
al., 1998). O membro inferior direito foi o
dominante em seis atletas (75 %). Por fim, foi
sorteado qual membro (dominante ou nãodominante) seria primeiramente submetido
aos testes funcionais, bem como a ordem de
avaliação dos testes, para cada voluntário.
O desempenho funcional foi
avaliado por meio de três testes de ampla
utilização clínica para a avaliação do membro
inferior: hop test, six-meter timed hop test e
square hop test. Os sujeitos receberam uma
breve explicação sobre os testes funcionais e
assistiram a uma demonstração de realização
dos mesmos. Em seguida, foram submetidos
a uma familiarização com cada teste, para
garantir a adequada compreensão das ações
requeridas e dos procedimentos envolvidos.
62
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
Além disso, esse procedimento consistiu em
uma medida de aquecimento específico para
cada tarefa a ser realizada.
Para a realização do hop test (HT),
os atletas foram instruídos a permanecer
em apoio simples imediatamente atrás de
uma marcação inicial. Com os membros
superiores livres ao lado do corpo, os
atletas deveriam saltar a máxima distância
horizontal possível, aterrissando unicamente
sobre o membro inferior que realizou o
salto (Figura 1), com a medida de distância
saltada (em centímetros) sendo registrada
pelos examinadores por meio de uma fita
métrica comum. O teste foi executado em
três tentativas válidas, sendo a média dos
resultados obtidos utilizada para a análise
dos dados. Os critérios para considerar
uma tentativa válida foram a manutenção
do equilíbrio em apoio unipodal, sobre o
membro inferior que realizou o salto, por um
período mínimo de 2 segundos sem a perda
de equilíbrio, sem tocar com a extremidade
inferior contralateral ou com a extremidade
superior no solo, ou ainda sem realizar um
salto adicional durante a aterrissagem. Foi
respeitado um intervalo de repouso de 30
segundos entre cada tentativa. O mesmo
protocolo foi repetido para o membro
contralateral.
Figura 1 – Realização do hop test com o membro inferior direito
Para a realização do six-meter timed
hop test (STHT), os atletas foram instruídos a
permanecer em apoio simples imediatamente
atrás de uma marcação inicial. Com os
membros superiores livres ao lado do corpo,
| EFEITO DA DOMINÂNCIA DE MEMBROS SOBRE O DESEMPENHO DOS MEMBROS INFERIORES DE ATLETAS EM TESTES FUNCIONAIS |
os atletas deveriam percorrer uma distância
de seis metros (demarcada no local do exame
por cones) saltando na máxima velocidade
possível e sem desacelerar ao longo do teste
(Figura 2), com a medida de tempo decorrido
(em segundos e centésimos de segundo)
sendo registrada pelos examinadores por
meio de um cronômetro digital. O teste foi
executado em três tentativas válidas, sendo
a média dos resultados obtidos utilizada
para a análise dos dados. Os critérios para
considerar uma tentativa válida foram
a manutenção do equilíbrio ao longo
da atividade, sobre o membro inferior
que realizou os saltos, sem tocar com a
extremidade inferior contralateral ou com
a extremidade superior no solo, bem como
a manutenção de um estado de aceleração
máxima ao longo do teste. Foi respeitado
um intervalo de repouso de 60 segundos
entre cada tentativa. O mesmo protocolo foi
repetido para o membro contralateral.
Figura 2 – Realização do six-meter timed hop
test com o membro inferior direito
Para a realização do square hop
test (SHT), os atletas foram instruídos
a
permanecer
em
apoio
simples
imediatamente atrás de uma marcação em
forma de quadrado (44 cm X 44 cm). Com
os membros superiores livres ao lado do
corpo, os atletas deveriam saltar para dentro
e para fora desse quadrado (em sentido antihorário para o membro inferior direito e
em sentido horário para o membro inferior
esquerdo), da forma mais rápida e precisa
possível (Figura 3), durante o período de 30
segundos, registrados por cronômetro. O
examinador observava a realização do teste
e considerava o número de saltos realizados
com aterrissagem do pé inteiramente dentro
da marcação em quadrado. O teste foi
executado em três tentativas válidas, sendo
a média dos resultados obtidos utilizada
para a análise dos dados. Os critérios para
considerar uma tentativa válida foram
a manutenção do equilíbrio ao longo da
atividade, sobre o membro inferior em
avaliação, sem tocar com a extremidade
inferior contralateral ou com a extremidade
superior no solo. Foi respeitado um intervalo
de repouso de 60 segundos entre cada
tentativa. O mesmo protocolo foi repetido
para o membro contralateral.
Figura 3 – Realização do square hop test com o membro inferior
direito
3.3 Análise dos dados
Os dados de desempenho funcional
foram analisados por meio do software
STATISTICA 5.0 for Windows (StatSoft,
Inc, Tulsa, USA). O teste de KolmogorovSmirnov foi utilizado para testar a
normalidade dos conjuntos de dados e, uma
vez tais critérios foram satisfeitos, utilizou-
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
63
| EFEITO DA DOMINÂNCIA DE MEMBROS SOBRE O DESEMPENHO DOS MEMBROS INFERIORES DE ATLETAS EM TESTES FUNCIONAIS|
se o teste t-Student para amostras
dependentes para a comparação
do desempenho funcional entre
os membros dominante e nãodominante, considerando um nível
de significância de 5%.
4. Resultados
Não
houve
diferença
significativa entre o desempenho
funcional dos membros dominante
e não-dominante em qualquer um
dos testes funcionais realizados:
HT (p=0,27), STHT (p=0,70) e
SHT (p=0,23), embora tenha sido
observado um melhor desempenho
para o membro dominante no HT
(membro dominante= 1,78±0,48
m; membro não-dominante=
1,75±0,45 m) – Figura 4 e do
membro não-dominante no STHT
(membro dominante= 2,20±0,48
seg; membro não-dominante=
2,15±0,39 seg) – Figura 5 e no SHT
(membro dominante= 16,96±7,80
saltos; membro não-dominante=
18,50±6,56 saltos) – Figura 6.
5. Discussão
Este estudo preliminar
surgiu
da
necessidade
em
descrever e comparar as diferenças
no desempenho funcional entre
os membros dominante e nãodominante em atletas. Neste
contexto, nenhuma diferença
significativa foi encontrada, o
que concorda direta (CAFFREY
et al., 2009; PETSCHNIG et al.,
1998; BARBER et al., 1990) e
indiretamente (LOBATO et al.,
2011; MCCURDY & LANGFORD,
2005; MASUDA et al., 2003;
PETSCHNIG
et
al.,
1998;
GREENBERGER & PATERNO,
1995; HAGEMAN et al., 1988) com
alguns estudos, porém discorda
indiretamente de outros (KONG &
BURNS, 2010; ROSS et al., 2004;
KELLIS et al., 2001).
Greenberger & Paterno
(1995)
avaliaram
o
torque
concêntrico extensor do joelho
64
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
Figura 4 – Média e desvio-padrão do desempenho funcional (em metros) do membro
dominante (MDOM) e não-dominante (MNDOM) no hop test (n=08).
Figura 5 – Média e desvio-padrão do desempenho funcional (em segundos) do
membro dominante (MDOM) e não-dominante (MNDOM) no six-meter timed hop
test (n=08).
Figura 6 – Média e desvio-padrão do desempenho funcional (em saltos) do membro
dominante (MDOM) e não-dominante (MNDOM) no square hop test (n=08).
| EFEITO DA DOMINÂNCIA DE MEMBROS SOBRE O DESEMPENHO DOS MEMBROS INFERIORES DE ATLETAS EM TESTES FUNCIONAIS |
a 240º/s e não verificaram diferenças
significativas entre a força dos membros
dominante e não-dominante, enquanto
Hageman et al. (1988) não evidenciaram
diferenças significativas nos valores de
torque entre os membros dominante e nãodominante durante atividades concêntricas
e excêntricas. Além disso, McCurdy
& Langford (2005) não encontraram
diferenças entre membros dominante e
não-dominante na carga utilizada durante o
exercício de agachamento unipodal, tanto em
homens quanto em mulheres. Ainda, outros
estudos (MASUDA et al., 2003; COSTAIN
& WILLIAMS, 1984) não encontraram
diferenças bilaterais significativas em
jogadores de futebol. Em conjunto, esses
estudos indicam desempenho similar entre
os membros dominante e não-dominante,
tanto para atividades realizadas em cadeia
cinética aberta quanto em cadeia cinética
fechada.
Contudo, resultados contrários foram
verificados outros estudos, que identificaram
maior força no membro dominante de
adultos jovens (ROSS et al., 2004) e em
jogadores de futebol (KELLIS et al., 2001).
Ainda, Kong & Burns (2010) evidenciaram
que o pico de torque isométrico e isocinético
dos isquiotibiais a 300º/s foi maior no
membro dominante. Assim, esses estudos
indicam melhor desempenho do membro
dominante em relação ao não-dominante, o
que não foi verificado pelo presente estudo.
Uma possível fonte de diferenças
entre os resultados dos estudos supracitados
pode ocorrer em função do perfil da amostra
utilizada. No presente estudo, foram avaliados
atletas amadores em nível recreacional.
Neste caso, parece haver um ambiente menos
favorável ao desenvolvimento de assimetrias
funcionais, uma vez que o trabalho requerido
para a maioria das atividades do dia a
dia é usualmente bilateral e que o tempo
de exposição à prática esportiva desses
voluntários pode ser insuficiente para a
instalação de diferenças significativas entre o
desempenho dos membros dominante e nãodominante. Observa-se que, embora haja
diferenças entre os estudos supracitados
quanto aos músculos testados, a ação
muscular estudada, a velocidade e o tipo
de exercício utilizado nos testes, a forma
de familiarização dos sujeitos, o tempo de
repouso, as variáveis mensuradas e o perfil
da amostra avaliada, considera-se que as
comparações entre membros continuam
sendo de importante indicação, uma vez que
os métodos utilizados para avaliar um dos
membros, em cada estudo, foram idênticos
àqueles utilizados para avaliar o membro
contralateral.
É importante mencionar que, apesar
da importância das medidas de força como
uma forma de avaliar se e como a fraqueza
muscular pode afetar o recrutamento de
unidades motoras, uma avaliação funcional
parece necessária para oferecer maiores
detalhes sobre o desempenho muscular, uma
vez que simula situações que são comuns
às atividades esportivas. Neste sentido, os
resultados do presente estudo concordam
com outros autores (CAFFREY et al., 2009;
PETSCHNIG et al., 1998; BARBER et al.,
1990). Petschnig et al. (1998) não verificaram
diferenças significativas entre os membros
dominante e não-dominante no salto vertical
em uma perna (one-leg vertical jump), no hop
test e no triple hop test, enquanto Barber et al.
(1990) não revelaram assimetrias funcionais
em cinco testes funcionais utilizados. Com
resultados de mesma tendência, Caffrey et
al. (2009) sugerem que a dominância de
membros não representa um papel relevante
no desempenho funcional.
Deste modo, os resultados do presente
estudo sugerem a existência de uma simetria
funcional entre os membros inferiores
em atletas amadores, e que a dominância
de membros parece não ter efeito sobre
essa condição. Esses resultados são úteis
na medida em que fornecem informações
adicionais sobre o desempenho funcional
de atletas, considerando os aspectos
relacionados à dominância de membros
e, ao mesmo tempo, são necessários ao
conhecimento do fisioterapeuta devido
ao amplo uso desses testes no ambiente
clínico, tanto para avaliação, quanto para a
reabilitação de atletas.
Clinicamente, outro aspecto que
parece relevante diz respeito à possibilidade
de eliminação de escores pré-teste como
medida de linha de base ou o uso de um
grupo controle externo (VAN CINGEL et al.,
2006), uma vez que o membro não lesionado
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
65
| EFEITO DA DOMINÂNCIA DE MEMBROS SOBRE O DESEMPENHO DOS MEMBROS INFERIORES DE ATLETAS EM TESTES FUNCIONAIS |
poderia ser utilizado para comparação,
independente dos efeitos de dominância,
desde que os indivíduos não realizem
atividade assimétrica repetitiva. Após uma
lesão, os sujeitos tendem a mudar a sua
preferência de membros inferiores, com ou
sem uma mudança funcional de dominância
associada. Esta é outra relação em que
as informações a respeito das adaptações
fisiológicas frente a uma lesão podem ser
benéficas para o clínico (HOFFMAN et
al., 1998). Quando uma grande assimetria
estiver presente, ela pode ocorrer em função
de uma lesão aguda ou crônica e não devido
à dominância de membros.
Este estudo apresenta algumas
limitações. Primeiramente, a amostra
utilizada foi de conveniência. Como
conseqüência, ela pode ser mais saudável
do que a população em geral e menos
condicionada do que uma população de
atletas de elite. Desta forma, esses resultados
devem ser analisados com cautela, e não
devem ser aplicados a pacientes ou atletas
de elite. Além disso, em virtude do reduzido
tamanho
amostral,
esses
resultados
não podem ser generalizados dentro da
população de atletas recreacionais.
Por fim, uma consideração em
especial deve ser realizada em relação
ao método utilizado para classificar a
dominância de membros. Os voluntários
foram instruídos a indicar com qual perna
eles preferencialmente chutariam uma
bola, e o membro reportado para o chute foi
considerado como o dominante. Contudo,
existe a possibilidade de que este membro
não represente aquele mais utilizado em
tarefas que não envolvam o chute, tais
como o salto e a aterrissagem. Enquanto a
assimetria funcional em membros superiores
parece óbvia, existem diversos testes para
avaliar a dominância de membros inferiores.
Estas tarefas incluem chutar uma bola, subir
degraus de uma escada, e acompanhar com
os pés o ritmo de uma melodia, por exemplo.
Nestas atividades, o membro não-dominante
é geralmente utilizado como suporte de peso
corporal, enquanto o membro dominante
provê a propulsão para realizar tarefas mais
complexas (SEELEY et al., 2008).
Uma vez que não há critério claro
para validar as medidas adotadas no
66
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
presente estudo, a seleção de procedimentos
para classificar a dominância de membros
deve ser guiada por predileção pessoal.
Conseqüentemente, um estudo tem variado
em relação ao outro na forma de avaliar a
dominância de membros inferiores, tornando
difícil determinar se as diferenças de
resultados encontradas entre os estudos são
significativas ou simplesmente conseqüência
de uma variação metodológica. Deste
modo, os resultados controversos entre os
estudos consultados podem ser decorrentes
de diferentes desenhos experimentais,
bem como do modo de determinação da
dominância de membros.
Por fim, fatores de cunho psicológico,
como o estado de motivação dos voluntários
para a execução dos testes e o fenômeno da
habituação com os mesmos, sempre devem
ser considerados como relevantes ao se
avaliar o desempenho muscular. Entretanto,
a padronização do comando verbal, a
utilização de apenas um examinador para
conduzir cada avaliação, bem como a devida
familiarização dos voluntários com todas
as etapas do teste foram adotadas como
estratégias experimentais para reduzir a
possibilidade de interferência desses fatores.
6. Conclusão
O presente estudo verificou que
a dominância de membros parece não
alterar de forma significativa o desempenho
funcional do membro inferior. Entretanto,
destaca-se o seu caráter ainda preliminar
que, associado a uma amostra de maior
representatividade e ao estudo de outras
variáveis do desempenho muscular, poderá
levar a resultados mais conclusivos sobre
este tema.
| EFEITO DA DOMINÂNCIA DE MEMBROS SOBRE O DESEMPENHO DOS MEMBROS INFERIORES DE ATLETAS EM TESTES FUNCIONAIS |
Referências
BARBER SD, NOYES FR, MANGINE RE, MCCLOSKEY JW, HARTMAN W. Quantitative assessment of functional limitations in normal and ACL deficient knees. Clin. Orthop. 1990;
255:204-14.
CAFFREY E, DOCHERTY CL, SCHRADER J, KLOSSNER J. The ability of 4 single-limb hopping tests to detect functional performance deficits in individuals with functional ankle instability. J. Orthop. Sports Phys. Ther. 2009; 39:799-806.
COSTAIN R, WILLIAMS AK. Isokinetic quadriceps and hamstring torque levels of adolescent,
female soccer players. J. Orthop. Sports Phys. Ther. 1984; 5:196-200.
GREENBERGER HB, PATERNO MV. Relationship of knee extensor strength and hopping
test performance in the assessment of lower extremity function. J. Orthop. Sports Phys. Ther.
1995; 22:202-6.
GROUIOS G. Footedness as a potential factor that contributes to the causation of corn and
callus formation in lower extremities of physically active individuals. The Foot. 2005; 15:15462.
GUSTAVSSON A, NEETER C, THOMEÉ P, SILBERNAGEL KG, AUGUSTSSON J, THOMEÉ
R, KARLSSON J. A test battery for evaluating hop performance in patients with an ACL injury and patients who have undergone ACL reconstruction. Knee Surg. Sports Traumatol. Arthrosc. 2006; 14:778-88.
HAGEMAN P, GILLASPIE D, HILL L. Effects of speed and limb dominance on eccentric and
concentric isokinetic testing of the knee. J. Orthop. Sports Phys. Ther. 1988; 10:59-65.
HEINERT BL, KERNOZEK TW, GREANY JF, FATER DC. Hip abductor weakness and lower
extremity kinematics during running. J. Sport Rehabil. 2008; 17(3):243-56.
HEWETT TE, MYER GD, FORD KR. Prevention of anterior cruciate ligament injuries. Curr.
Wom. Health Rep. 2001; 1:218-24.
HOFFMAN M, SCHRADER J, APPLEGATE T, KOCEJA D. Unilateral postural control of the
functionally dominant and nondominant extremities of healthy subjects. J. Athl. Train. 1998;
33:319-22.
KNAPIK JJ, BAUMAN CL, JONES BH, HARRIS JM, VAUGHAN L. Preseason strength and
flexibility imbalances associated with athletic injuries in female collegiate athletes. Am. J.
Sports Med. 1991; 19:76-81.
LOBATO DFM, SILVA CS, SANTOS JM, LOPES LO. Efeito do alongamento muscular agudo
sobre a força de preensão manual – um estudo preliminar. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica / Centro Universitário UNISEB – COC. 2011; 2:172-181.
MASUDA K, KIKUHARA N, TAKAHASHI H, YAMANAKA K. The relationship between crosssectional area and strength in various isokinetic movements among soccer players. J. Sports
Sci. 2003; 21:851-8.
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
67
| EFEITO DA DOMINÂNCIA DE MEMBROS SOBRE O DESEMPENHO DOS MEMBROS INFERIORES DE ATLETAS EM TESTES FUNCIONAIS |
McCURDY K, LANGFORD G. Comparison of unilateral squat strength between dominant and
non-dominant leg in men and women. J. Sports Sci. Med. 2005; 4:153-9.
NOYES FR, BARBER SD, MANGINE RE. Abnormal lower limb symmetry determined by functional hop test after anterior cruciate ligament rupture. Am. J. Sports Med. 1991; 19:513-8.
PETSCHNIG R, BARON R, ALBRECHT M. The relationship between isokinetic quadriceps
strength test and hop tests for distance and one-legged vertical jump test following anterior
cruciate ligament reconstruction. J. Orthop. Sports Phys. Ther. 1998; 28:23-31.
ROSS S, GUSKIEWICZ K, PRENTICE W, SCHNEIDER R, YU B. Comparison of biomechanical factors between the kicking and stance limbs. J. Sport Rehabil. 2004; 13:135-50.
SEELEY MK, UMBERGER BR, SHAPIRO R. A test of the functional asymmetry hypothesis in
walking. Gait & Posture. 2008; 28:24-8.
VAN CINGEL REH, KLEINRENSINK G, UITTERLINDEN EJ, ROOIJENS PPGM, MULDER
PGH, AUFDEMKAMP G et al. Repeated ankle sprains and delayed neuromuscular response:
acceleration time parameters. J. Orthop. Sports Phys. Ther. 2006; 36:72-9.
WILK KE, ROMANIELLO WT, SOSCIA SM, ARRIGO CA, ANDREWS JR. The relationship
between subjective knee scores, isokinetic testing, and functional testing in the ACL-reconstructed knee. J. Orthop. Sports Phys. Ther. 1994; 20:60-73.
68
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
| EFEITO DA DOMINÂNCIA DE MEMBROS SOBRE O DESEMPENHO DOS MEMBROS INFERIORES DE ATLETAS EM TESTES FUNCIONAIS |
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
69
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DE ESTUDOS
SOBRE O NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA EM
ADOLESCENTES BRASILEIROS
Naiara Fernandes Oliveira1
Pedro Pinheiro Paes2
1. Resumo
A presente revisão teve como objetivo
analisar os artigos de 2000 a 2010 reunindo
informações mais recentes sobre o nível de
atividade física em adolescentes, a partir
da análise investigativa dos métodos e
resultados obtidos. Foram analisados onze
artigos brasileiros, seis da região sul, dois
da região sudeste, dois da região nordeste e
um que analisou todas as capitais brasileiras.
Para a selecão dos artigos foram utilizadas
as bases de dados eletrônicas: Google
Acadêmico, Scielo e Bireme. Os métodos, em
geral, analisaram atividades auto-referidas
moderadas e vigorosas nos sete dias
anteriores ao estudo. Havendo estudos que
se preocupam mais com o tempo e outros
com a intensidade. A média de inatividade
física obtida foi de 67,4% nos 11 artigos,
sendo maior na região nordeste com 88,3% e
menor na região sul com 59,5% de inatividade
física. Observou-se que todas as referências
pesquisadas indicam que é necessário um
maior número de investigações científicas
para a conscientização dos adolescentes
sobre os benefícios da atividade física e
os prejuízos à saúde e à qualidade de vida
advindos do sedentarismo.
Palavras-chave:
Adolescentes;
Atividade Física; Inatividade Física.
1. Abstract
This review aimed to analyze the
articles of 2000 to 2010 gathering the latest
informations about the level of physical
activity in adolescents from the investigative
analysis of the methods and results. It were
analyzed eleven Brazilian articles, six of the
region south, two of the Southeast region,
two of the northeast and a which analyzed
all Brazilian capitals. For the selection of
articles were used databases Electronic:
Google Scholar, Scielo and Bireme. The
methods in general, analyzed self-reported
activities moderate and vigorous in the
seven days preceding the study. Some
studies were more concerned with time
and others with the intensity. The average
physical inactivity obtained was 67.4% in 11
articles, being higher in the region northeast
with 88.3% and lowest in the southern
region with 59.5% of physical inactivity. It
was observed that all references surveyed
indicate that is necessary a greater number
of scientific researchs to raise awareness of
adolescents about the benefits of physical
activity and damage to health and quality
of life arising by sedentary lifestyle.
Keywords: Adolescents, Physical
Activity, Physical Inactivity.
2. Introdução
Com o aumento da tecnologia e da
ciência nos últimos séculos, recebemos uma
série de benefícios e facilidades; facilidades
tais que imitam o movimento humano,
ou simplesmente o tiram, como forma de
economia de esforços. Num simples “click”
no controle remoto, ou digitar no teclado do
computador ou celular; nos jogos que não são
mais na rua, mas em frente ao computador
ou internet, vemos também o mal que essa
¹ Acadêmica do Curso de Educação Física do Centro Universitário UNISEB.
Endereço eletrônico: [email protected].
² Prof. Orientador, Dr. em Ciências da Saúde EERP/USP, Coordenador e
docente do curso de Educação Física do Centro Universitário UNISEB.
70
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
tecnologia nos trouxe. Como resultado
dessas facilidades temos o sedentarismo,
a obesidade, as doenças relacionadas, os
hábitos alimentares incorretos, entre outros.
Muitos por causa do trabalho não têm tempo
para preparar a sua alimentação, e acabam
comprando comidas rápidas e práticas, que
na maioria das vezes excedem a quantidade
de calorias para uma refeição (NUNES et al.,
2007).
A atividade física faz bem em todas
as idades, ajuda a prevenir doenças, ajuda
no raciocínio, na saúde mental (ANTUNES
et al., 2006), e ainda contribui para uma
melhora física, entre outros.
A prática de atividade física na
adolescência pode ser um estímulo a
continuar na vida adulta (AZEVEDO et
al., 2007), e aliada a práticas alimentares
saudáveis é fator determinante para uma boa
saúde.
Algumas
evidências
mostram
o aumento da inatividade física em
adolescentes, em parte pela diminuição do
tempo que normalmente destinam para
a atividade física, ou mesmo pela falta de
estímulo (HALLAL et al.,2010). Um grande
agravante nessa idade é também o período
da puberdade, onde passam por alterações
físicas, hormonais e emocionais que levam a
um desinteresse, tanto nas aulas de educação
física, como em atividades físicas fora da
escola.
Um estudo recente realizado nos
jovens brasileiros mostrou que a maior
parte dos jovens da região sudeste, centrooeste, nordeste e norte são insuficientemente
ativos, apenas no sul a maioria é considerada
ativa, e na maioria das vezes as meninas são
consideradas mais inativas que os meninos
(HALLAL et al.,2010).
Vários artigos recentes mostram
alguns fatores para o sedentarismo na
adolescência, um fato que vem aumentando
consideravelmente nas últimas décadas.
Como meio de mostrar a realidade atual
sobre o nível de atividade física dos
adolescentes brasileiros, esse estudo em
forma de pesquisa bibliográfica visa analisar
os artigos de 2000 a 2010 com o objetivo de
reunir informações mais recentes sobre esse
assunto, a partir da análise investigativa dos
métodos e resultados obtidos.
3. Metodologia
Este
estudo
é
de
natureza
bibliográfica, a partir da busca de artigos
científicos, publicados no Brasil, nas bases
de dados eletrônicas: Google acadêmico,
Scielo e Bireme, utilizando as seguintes
palavras chaves: atividade física, inatividade
física e adolescentes. Foram selecionados
apenas onze artigos brasileiros com data de
publicação entre 2000 e 2010 (Quadro 1),
que relatassem estudos com adolescentes,
medindo nível de atividade física, inatividade
física ou sedentarismo. Foi feita análise dos
métodos utilizados e respectivos resultados
alcançados (Quadro 2 e Gráfico 1). Diversos
termos e sinônimos foram empregados
nos artigos para definir o baixo nível de
atividade física, são eles: inatividade física,
sedentarismo, insuficientemente ativos e
prática de atividades leves, que nessa revisão
foram considerados como sinônimos para
melhor entendimento dos resultados, pois
haviam termos diferentes citados pelos
autores com o mesmo objetivo.
*Obs.: 9º ano do Ensino Fundamental compreende de 14 – 15 anos
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
71
| REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DE ESTUDOS SOBRE O NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA EM ADOLESCENTES BRASILEIROS|
4. Desenvolvimento
4.1 Atividade Física e Saúde
Gomes,
Siqueira
e
Sichieri
(2001) definem atividade física como os
movimentos corpóreos produzidos pelos
músculos esqueléticos que resultam em
gasto energético.
Segundo Matsudo et al., (2002) desde
os textos clássicos gregos, romanos e orientais,
a atividade física tem sido mencionada como
instrumento de repercussão, manutenção e
promoção da saúde. Já segundo Gonçalves
(2004) a saúde é um estado de relativo
equilíbrio entre os organismos e as forças que
agem sobre estes no modelo de prevenção de
Leavel e Clarck (1976), e ainda conclui que
no modelo clássico de prevenção, a atividade
física é vista como uma boa escolha pra evitar
que o corpo se torne frágil às doenças.
No discurso moralizante higienista
é de responsabilidade do indivíduo,
independente de suas condições sócioeconômicas, hábitos familiares ou cultura,
optar por um estilo de vida mais saudável
para o seu próprio bem, sendo isso um
incentivo aos “bons hábitos” e as práticas
de “saudável condicionamento físico”
(GONÇALVES, 2004).
A atividade física é fator determinante
para uma boa saúde, ela ajuda no raciocínio
(ANTUNES et al., 2006), na memória, na
saúde psicológica e prevenção de doenças
cardiovasculares (ANDERSEN, 2009), e
ainda um estudo com vários autores mostram
que indivíduos ativos na adolescência têm
uma probabilidade 67% menor de terem
osteoporose na vida adulta (SIQUEIRA et
al., 2009). Ficou evidenciado também que
quanto maior tempo em atividade física
menor é o nível de estresse prejudicial à
saúde (PIRES et al., 2004). Em um estudo
longitudinal de Farias et al. (2009) a
atividade física programada resultou em
melhoria e manutenção nas variáveis da
composição corporal e redução da freqüência
de sobrepeso e obesidade.
Mesmo com tantos benefícios
resultantes da atividade física, hoje em
dia o sedentarismo e a inatividade física se
72
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
tornaram um dos maiores problemas de
saúde pública das sociedades modernas,
está cada vez mais, afetando jovens e
adolescentes (SEABRA et al., 2008).
Entre vários fatores de risco, ao longo da
última década, o sedentarismo é um dos
fatores de risco que podem aumentar a
predisposição de um indivíduo ao prejuízo
cognitivo. Sedentarismo esse, que engloba
60% da população dos norte-americanos
que não se exercitam regularmente e ainda
25% destes que não se exercitam de forma
alguma (ANTUNES et al., 2006). Porém
recentes revisões com estudos a longo prazo
tem mostrado resultados promissores da
influência da atividade física na mudança
de estilo de vida e, consequentemente , da
composição corporal, tanto para a prevenção
como para o tratamento do sobrepeso/
obesidade em crianças e adolescentes
(FARIAS et al., 2009).
Concluímos a partir disso que
a atividade física mesmo tendo tantos
benefícios, está sendo deixada de lado, às
vezes por falta de tempo, devido a uma
sociedade marcada pela correria e o estilo
fast de tudo acontecer, ou mesmo pela falta
de estímulo do meio. Muitos autores têm
tentado descobrir as verdadeiras causas para
o aumento elevado do sedentarismo.
Seabra (2008) destaca que já é
consenso que aspectos demográficobiológicos (idade, gênero, estatuto sócioeconômico), psicológicos (motivação) e sócioculturais (família e pares) influenciam na
heterogeneidade populacional nos hábitos de
atividade física em adolescentes. Já Ceschini
et al. (2009) num estudo realizado com
adolescentes da cidade de São Paulo associa,
além de fatores demográfico-biológicos e
região geográfica da cidade, fatores como
não participar das aulas de educação física,
uso de tabaco, ingestão de bebidas alcoólicas
e tempo diário de televisão. E ainda Fermino
et al. (2010) mostra que o apoio social da
família e dos amigos pode aumentar a chance
dos adolescentes praticarem atividade física,
porém há muitos fatores socioculturais,
biológicos, de gênero e relacionados à
| REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DE ESTUDOS SOBRE O NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA EM ADOLESCENTES BRASILEIROS |
educação, que podem influenciar nessa
prática dos adolescentes. Porém, Nunes,
Figueiroa e Alves (2007) afirmam que o
status socioeconômico desempenha uma
maior influência na gênese da obesidade do
que os fatores étnicos e geográficos.
4.2 Desenvolvimento Motor na
Adolescência
Segundo Gallahue e Ozmun (2005),
a transição da infância para a adolescência
é marcada por uma série de eventos
significativos, de natureza física e cultural,
que contribuem notavelmente para o
crescimento e o desenvolvimento motor,
sendo o início da puberdade regulado pela
hereditariedade podendo ser influenciado
pela nutrição, doenças, clima e estresse
emocional.
A adolescência, segunda fase da
maturação, vai da menarca, nas meninas,
e da espermarca, nos meninos, até o
alcance da maturação total ou maturidade.
Ela é caracterizada pela estabilização,
diferenciação específica e expressa do sexo,
e da progressiva individualização. Essa
fase tem uma superação da contradição no
comportamento motor, típica da puberdade,
e se alcança uma estabilização. As formas
de comportamento motor tornam-se
constantes, mais equilibradas e estáveis tendo
mais solicitações de rendimento esportivo.
Há uma evidente diferenciação dos sexos
nas capacidades de força e de resistência,
nos rendimentos esportivos básicos e em
determinadas habilidades de velocidade e
coordenação. E também uma progressiva
individualização que nota-se cada vez maior
em todas as capacidades essenciais do
desenvolvimento motor (MEINEL, 1984).
Porém, mesmo havendo diferenças entre os
sexos, ambos possuem potencial para obter
melhorias significativas em atividade física
rigorosa regular (GALLAHUE e OZMUN,
2005).
As mudanças que afetam o
desenvolvimento motor são relacionadas a
um aumento na massa corporal e mudanças
na composição corporal, principalmente o
crescimento muscular e ósseo (GALLAHUE
e OZMUN, 2005).
4.3 Avaliação dos Níveis de
Atividade Física
Existem inúmeros métodos que se
propõem avaliar o nível de atividade física
da população, principalmente aqueles que
utilizam de técnicas não invasivas, a partir
da utilização de questionários e entrevistas
individualizadas, algumas vezes associadas
às técnicas de medidas de alguma variável de
composição corporal.
Silva e Malina (2000) propondo
avaliar o nível de atividade física de
adolescentes de Niterói – RJ utilizaram
o questionário de atividade física PAQ-C
desenvolvido por Crocker et al. (1997), que foi
traduzido e modificado para excluir algumas
atividades não praticadas no Brasil. Esse
questionário investiga o nível de atividade
física moderada e intensa de crianças e
adolescentes nos sete dias anteriores ao
preenchimento do questionário, porém,
ele não discrimina intensidade, freqüência
e duração das atividades e nem estimula o
gasto calórico do período, devido a isso os
autores destacam que a alta prevalência do
sedentarismo, constatado em seu estudo,
pode estar relacionada à necessidade
de validação do questionário PAQ-C em
amostras brasileiras.
Guedes et al. (2001) para calcular
os níveis de prática de atividade física
habitual em adolescentes de Londrina –
PR, utilizou um instrumento retrospectivo
de auto-recordação das atividades diárias,
preconizado por Bouchard et al. Onde
as atividades são classificadas em nove
categorias de acordo com o gasto calórico
médio das atividades realizadas por
humanos, com o objetivo de identificar o
tipo de atividade realizada em cada período
de 15 minutos ao longo das 24 horas do
dia, realizados em quatro dias por semana
(dois no meio da semana e dois no final de
semana). Foi utilizado variáveis como: horas
assistindo televisão e classe socioeconômica
familiar.
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
73
| REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DE ESTUDOS SOBRE O NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA EM ADOLESCENTES BRASILEIROS |
Pires et al. (2004) em seu estudo com
adolescentes de Florianópolis – SC, tentou
obter, além dos hábitos de atividade física, a
vulnerabilidade ao estresse dos adolescentes.
Para obter informações sobre a atividade
física foi utilizado o questionário 3-DPAR,
que requer recordar as atividades realizadas
em um curto período de tempo (três dias
consecutivos), com o propósito de estimular
a quantidade e os níveis de esforço em
atividades físicas que o adolescente realizou
nestes três dias.
Silva et al. (2005) num estudo com
crianças e adolescentes de Maceió-AL,
analisou fatores de risco cardiovascular
como: prevalência de hipertensão arterial
sistêmica, risco de sobrepeso, sobrepeso,
sedentarismo e tabagismo. Para a análise
do sedentarismo foi utilizado o questionário
PAQ, que foi adaptado a fim de excluir
atividades físicas não praticadas no Brasil.
Arruda e Lopes (2007) analisaram
a gordura corporal, o nível de atividade
física e os hábitos alimentares de meninos
adolescentes de Lages – SC. Para a análise
do nível de atividade física foi utilizado uma
adaptação do diário de atividades físicas
proposto por Bouchard et al. (1983), o qual
fornece o gasto energético diário, e para a
classificação do nível adotou-se a proposta
apresentada por Cale (1994), que vem
sendo utilizada em estudos com populações
similares. Também foram analisadas
variáveis como fatores socioeconômicos e
se os adolescentes eram de escolas públicas
estaduais/municipais ou privadas.
Ceschini et al. (2009) utilizou no
seu estudo com adolescentes de escolas
estaduais da cidade de São Paulo-SP o
Questionário Internacional de Atividade
Física (IPAQ) versão curta, onde se questiona
sobre a realização de atividades físicas de
intensidade leve, moderada e vigorosa em
vários domínios para mensurar a atividade
física e ainda utilizou variáveis diferentes
como: gênero, idade, nível socioeconômico,
região geográfica da cidade, conhecimento
do programa Agita São Paulo, participação
nas aulas de educação física escolar, uso
74
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
de tabaco, ingestão de bebidas alcoólicas e
tempo diário assistindo televisão, para ver
em a influência desses fatores na atividade
física.
Silva et al. (2009) buscou analisar o
nível de atividade física e o comportamento
sedentário num estudo com crianças e
adolescentes de Aracaju – SE utilizando o
questionário PAQ-C, o qual contém perguntas
sobre o nível de atividade física de crianças
e adolescentes realizados nos últimos sete
dias anteriores ao estudo, classificando em
cinco tipos: muito sedentário, sedentário,
moderadamente ativo, ativo e muito ativo.
O questionário ainda contém questões que
verificam o tempo de assistência à TV.
Moraes et al. (2009) num estudo com
adolescentes de Maringá – PR, tentando
estimar a prevalência de inatividade, utilizou
o questionário IPAQ na forma curta, que
considera a prática de atividade física dos
últimos sete dias anteriores ao estudo. O
ponto de corte para a classificação foi de 300
minutos/semana de atividade moderada
ou vigorosa. Também foram consideradas
variáveis independentes como: sexo, idade,
nível socioeconômico, tipo de escola, estado
nutricional, obesidade central, tabagismo e
comportamento sedentário.
Fermino et al. (2010) num estudo
com adolescentes de Curitiba – PR, utilizou
uma avaliação da atividade física autoreferida em número de dias por semana
em que se realiza atividades de intensidade
moderada e vigorosa com duração de ≥
60 minutos. E ainda utilizou variáveis
demográfico-biológicas, socioeconômicas,
comportamentais e socioculturais.
Hallal et al. (2010) num estudo com
adolescentes das capitais brasileiras criou
um questionário baseado em instrumentos
previamente validados e usados em pesquisas
nacionais para a investigação da prática
de atividade física, que incluía perguntas
sobre o modo de deslocamento para a escola
e retorno para casa, número de aulas de
educação física que tiveram na semana,
prática de outras atividades física tanto
dentro quanto fora da escola e o número de
| REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DE ESTUDOS SOBRE O NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA EM ADOLESCENTES BRASILEIROS |
horas despendidas assistindo televisão.
Dumith et al. (2010) tentando
estimar a prevalência de atividade física
entre adolescentes de Pelotas – RS utilizou
uma análise por meio de três diferentes
abordagens: 1) prevalência de alguma
atividade física de lazer, 2) prevalência de
algum deslocamento ativo para a escola
e 3) prevalência de engajamento em pelo
menos 300 minutos/semana de combinação
de ambos (1 e 2). E ainda utilizou
variáveis diferentes como: características
demográficas,
socioeconômicas,
comportamentais, biológicas.
que a prevalência de sedentarismo neste
grupo aumenta a probabilidade de adultos
sedentários.
Guedes et al. (2001) num estudo
com adolescentes de uma escola municipal
de Londrina-PR, constatou que o grau de
inatividade era de 46% nos meninos e 65%
nas meninas (média de 55,5%). Os meninos
demonstraram ser consistentemente mais
ativos que as meninas, independente da
idade e da classe socioeconômica familiar
considerada.
Obs.: Neste artigo os conceitos de “inatividade física”, “sedentarismo”, “prática de atividades leves” e “insuficientemente ativos” são considerados como sinônimos.
4.4 Níveis de Atividade Física na
Adolescência
No Brasil, alguns autores avaliaram
os níveis de atividade física em adolescentes
e crianças e constataram que cada região
tem a sua forma e costume quanto à prática
de atividade física, porém, não divergem
muito entre si, no que diz respeito ao objeto
de pesquisa, ou seja, como é o nível de
atividade física entre nossos adolescentes.
As divergências encontradas são, na maioria
das vezes, devido a diferentes métodos
utilizados.
Silva e Malina (2000), em um
estudo com adolescentes da rede pública
de ensino de Niterói – RJ classificaram
84% dos meninos e 94% das meninas como
sedentários (média de 89%), e ainda alertam
Pires et al. (2004) em um estudo
com adolescentes de Florianópolis – SC,
constatou que os adolescentes passavam
a maior parte do tempo em atividades de
intensidade leve como: dormir, assistir TV,
ficar sentado na sala de aula, comer e andar
de carro ou de ônibus. E ainda os meninos
eram mais ativos que as meninas.
Silva et al. (2005) avaliando vários
fatores de risco em crianças e adolescentes
de Maceió – AL, identificou que 93,5%
dos estudantes da amostra estavam entre
sedentários e muito sedentários, tendo
uma associação do sedentarismo ao gênero
feminino.
Arruda e Lopes (2007) num estudo
com meninos adolescentes de Lages
– SC constataram que o percentual de
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
75
| REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DE ESTUDOS SOBRE O NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA EM ADOLESCENTES BRASILEIROS |
adolescentes classificados como inativos
ou muito inativos foi de 29,4%, sendo que
nas escolas públicas observou-se maior
proporção de adolescentes ativos comparado
às escolas privadas.
Ceschini et al.(2009), em um estudo
realizado com estudantes do ensino médio de
escolas públicas estaduais do município de
São Paulo – SP, constatou uma prevalência
geral de 62,5% de inatividade física entre os
adolescentes.
Silva et al. (2009) em um estudo
com crianças e adolescentes de Aracaju
– SE constatou que o percentual de
crianças e adolescentes classificados como
sedentários ou muito sedentários chegaram
a 78,6%. Sendo que o percentual apenas
para adolescentes, isolando-os das crianças,
chegou a 83,1%.
Moraes et al. (2009) em um
estudo com adolescentes de Maringá – PR
analisando a inatividade física e outras
variáveis chegou a um percentual de 56,9%
de inatividade física entre os adolescentes, e
ainda constatou que adolescentes das escolas
públicas são mais inativos do que os das
escolas privadas (61,3% versus 47,8%).
Fermino et al. (2010), em um estudo
transversal realizado com adolescentes do
76
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
município de Curitiba – PR, constatou que
mais da metade dos adolescentes praticavam
atividade física moderada ou vigorosa em
pelo menos um dia da semana, porém,
apenas 14,5% atingiram o nível recomendado
(≥ 300 min./semana), tendo então 85,5%
de inatividade física. Ele ainda sustenta a
afirmação de que os adolescentes do sexo
masculino são fisicamente mais ativos.
Hallal et al. (2010) num estudo com
adolescentes das capitais brasileiras no
9º ano do ensino fundamental de escolas
públicas e privadas, constatou que o
percentual geral de adolescentes ativos foi
de 43,1%, sendo esse percentual maior nos
meninos do que nas meninas. A maior parte
dos jovens do Centro-Oeste, do Sudeste, do
Nordeste e do Norte é insuficientemente
ativa. Na região Sul, a maioria dos jovens foi
considerada ativa. E ainda foi constatado que
alunos de escolas privadas eram mais ativos
do que aqueles de escolas públicas (45,1%
versus 42,6%).
Dumith et al. (2010) num estudo com
adolescentes de Pelotas – RS chegou a um
total de prevalência de atividade física de
48,2%, sendo maior em meninos do que em
meninas.
| REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DE ESTUDOS SOBRE O NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA EM ADOLESCENTES BRASILEIROS |
5. Conclusão
Analisando os onze estudos citados,
observou-se que todos os artigos investigados
utilizaram pesquisas de natureza transversal
retrospectiva, com variações de 3 a 7 dias
como base para analisar o nível de atividade
física. Os métodos, em geral, analisaram
atividades auto-referidas moderadas e
vigorosas nos sete dias anteriores ao estudo.
Havendo estudos que se preocupam mais
com o tempo e outros com a intensidade.
Os questionários PAQ-C, IPAQ curto
e o questionário de Bouchard et al., foram
utilizados cada um em dois estudos, o PAQ
e o questionário 3-DPAR foram utilizados
cada qual em um estudo, e ainda três estudos
utilizaram questionário próprio. Apenas o
questionário de Bouchard et al. analisou a
atividade física a partir do gasto energético,
os outros questionários utilizaram tempo,
freqüência ou/e intensidade. Os autores
que utilizaram questionário próprio tiveram
como base outros questionários já validados
na literatura.
A porcentagem de inatividade física
ou sedentarismo ficou entre 50% e 90%,
apenas no estudo de Arruda e Lopes (2007)
a porcentagem foi de 29,4%, divergindo dos
outros estudos. A média geral de inatividade
física foi de 67,4% nos onze estudos
analisados, concordando com recentes
revisões na literatura. Foi concordância
quase em 100% dos estudos que os meninos
são mais ativos que as meninas, mostrando
que elas são mais propensas ao sedentarismo
e a inatividade física do que eles.
Os estudos em grande parte (54,5%)
foram realizados na região sul, 18,2% na
região sudeste e nordeste, e 9,1% analisou
todas as capitais brasileiras. As regiões
norte e centro-oeste tiveram uma grande
carência de estudos sobre atividade física em
adolescentes, não havendo nenhum estudo
citado nessa revisão. A região sul foi a mais
estudada e a as regiões nordeste e sudeste
tiveram poucos estudos sobre o assunto. As
médias de inatividade para as regiões foram:
sul: 59,5%, nordeste: 88,3% e sudeste: 75,7%.
Com o resultado obtido, chegouse a conclusão que faltam mais pesquisas
sobre atividade física na adolescência em
várias regiões brasileiras. É preciso maior
conscientização dos adolescentes brasileiros
sobre a importância da atividade física e os
devidos prejuízos causados pela sua falta.
Referências
ALVES, J. G. B. et al. Prática de esportes durante a adolescência e atividade física de lazer na
vida adulta. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 11, n. 5, set/out, 2005.
ANDERSEN, L. B. Physical activity in adolescents. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro, v. 85,
n. 4, p.281-283, jul/ago, 2009.
ANTUNES, H. K. M. et al. Exercício físico e função cognitiva: uma revisão. Revista Brasileira
de Medicina do Esporte, v. 12, n. 2, p. 108-114, mar/abr, 2006.
ARRUDA, Edson L. M; LOPES, Adair da S. Gordura corporal, nível de atividade física e hábitos alimentares de adolescentes da região serrana de Santa Catarina, Brasil. Revista Brasileira
de Cineantropometria & Desempenho Humano, v. 9, n. 1, p. 05-11, março, 2007.
AZEVEDO, M. R. et al. Tracking of physical activity from adolescence to adulthood: a population-based study. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 41, n. 1, p. 69-75, fevereiro, 2007.
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
77
| REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DE ESTUDOS SOBRE O NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA EM ADOLESCENTES BRASILEIROS |
BOUCHARD, C. et al. A method to assess energy expenditure in children and adults. American Journal of Clinical Nutrition. v. 37, n. 3, p. 461-467, march, 1983.
CALE, L. Self-report measures of children’s physical activity: recommendations for future development and a new alternative measure. Health Education Journal, v. 23, n. 4, p. 439-453,
December, 1994
CESCHINI F. L. et al. Prevalência de inatividade física e fatores associados em estudantes do
ensino médio de escolas públicas estaduais. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro, v.85, n. 4, p.
301-306, agosto, 2009.
CROCKER, P. R. Measuring general levels of physical activity: Preliminary evidence for the
physical activity questionnaire for older children. Medicine and Science in Sports and Exercise Journal, v. 29, Issue 10, p. 1344-1349, October, 1997.
DUMITH, S. C. et al. Prevalence and correlates of physical activity among adolescents from
Southern Brazil. Revista de Saúde Pública, v.44, n. 3, p. 457-467, junho, 2010.
FARIAS, E. S. et al. Influence of programmed physical activity on body composition among
adolescent students. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro, v. 85, n.1, p.28-34, jan/fev, 2009.
FERMINO, Rogério C. et al. Atividade física e fatores associados em adolescentes do ensino
médio de Curitiba, Brasil. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 44, n. 6, p.986-995, dezembro, 2010.
FRUTUOSO, Maria F. P.; BISMARCK-NASR, Elisabeth M.; GAMBARDELLA, Ana M. D. Redução do dispêndio energético e excesso de peso corporal em adolescentes. Revista de Nutrição, Campinas, v. 16, n. 3, p. 257-263, jul/set, 2003.
GALLAHUE, David L.; OZMUN, John C. Compreendendo o desenvolvimento motor – bebês,
crianças, adolescentes e adultos. 3 ed. São Paulo: Phorte, 2005.
GOMES, Valéria B.; SIQUEIRA, Kamile S.; SICHIERI Rosely. Atividade física em uma amostra probabilística da população do município do Rio de Janeiro. Caderno de Saúde Pública,
Rio de Janeiro, v. 17, n. 4, p. 969-976, jul/ago, 2001.
GONÇALVES, Aguinaldo. Conhecendo e discutindo saúde coletiva e atividade física. 1 ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.
GUEDES, D. P. et al. Níveis de prática de atividade física habitual em adolescentes. Revista
Brasileira de Medicina do Esporte, v. 7, n. 6, p. 187-199, dezembro, 2001.
HALLAL, P. C. et al. Evolução da pesquisa epidemiológica em atividade física no Brasil: revisão sistemática. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 41, n. 3, p. 453-460, junho, 2007.
HALLAL, P. C. et al. Prática de atividade física em adolescentes brasileiros. Revista de Ciência
& Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, Supl. 2, p.3035-3042, outubro, 2010.
LEAVEL, H. R.; CLARCK, E.G. Medicina Preventiva. São Paulo: Mc-Graw-Hill do Brasil, 1976.
78
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
| REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DE ESTUDOS SOBRE O NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA EM ADOLESCENTES BRASILEIROS |
MASCARENHAS, L. P. G. et al. Relação entre diferentes índices de atividade física e preditores de adiposidade em adolescentes de ambos os sexos. Revista Brasileira de Medicina do
Esporte, v. 11, n. 4, jul/ago, 2005.
MATSUDO, S. M. et al. Nível de atividade física da população do Estado de São Paulo: análise
de acordo com o gênero, idade, nível socioeconômico, distribuição geográfica e de conhecimento. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, v. 10, n. 4, p. 41-50, outubro,
2002.
MEINEL, Kurt. Motricidade II – O desenvolvimento motor do ser humano. Vol. 2. Rio de
Janeiro: Ao Livro Técnico, 1984.
MORAES, A. C. F. et al. Prevalência de inatividade física e fatores associados em adolescentes.
Revista da Associação Médica Brasileira, v. 55, n. 5, p. 523-528, 2009.
NUNES, Marília M. A.; FIGUEIROA, José N.; ALVES, João G. B. Excesso de peso, atividade
física e hábitos alimentares entre adolescentes de diferentes classes econômicas em Campina
Grande, Paraíba. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 53, n. 2, p.130-134, abril, 2007.
PIRES, E. A. G. et al. Hábitos de atividade física e o estresse em adolescentes de Florianópolis – SC, Brasil. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, v. 12, n. 1, p. 51-56, jan/
mar, 2004.
SEABRA, A. F. et al. Determinantes biológicos e sócio-culturais associados à prática de atividade física de adolescentes. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, n. 4, p. 721-736,
abril, 2008.
SILVA, R. C. R; MALINA, Robert M. Nível de atividade física em adolescentes do município
de Niterói – RJ, Brasil. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.16, n. 4, p. 1091-1097,
out/dez, 2000.
SILVA M. A. M. et al. Prevalência de fatores de risco cardiovascular em crianças e adolescentes da rede de ensino da cidade de Maceió. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 84, n. 5, p.
387-392, maio, 2005
SILVA K. S. et al. Associações entre atividade física, índice de massa corporal e comportamentos sedentários em adolescentes. Revista Brasileira de Epidemiologia, v.11, n. 1, p. 159-168,
março, 2008.
SILVA, D. A. S. et al. Nível de atividade física e comportamento sedentário em escolares. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano, v. 11, n. 3, p. 299-306, 2009.
SIQUEIRA, F. V. et al. Prática de atividade física na adolescência e prevalência de osteoporose
na idade adulta. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 15, n. 1, jan/fev, 2009.
TASSITANO, R. M. et al. Atividade física em adolescentes brasileiros: uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano, v. 9, n. 1, p. 55-60,
2007.
TUCKER, L. A. The relationship of television viewing to physical fitness and obesity. Adolescence, v. 21, n. 84, p. 797-806, 1986.
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
79
O USO DA TECNOLOGIA VIRTUAL DA
REALIDADE AUMENTADA (RA) NO PROCESSO
DE ENSINO - APRENDIZAGEM
Helder Grillo de Souza1
Ivan Curvêlo da Silva11
Thiago W. J. de Almeida2
Luciana A. Rodrigues3
1. Resumo
O propósito deste trabalho foi
analisar a viabilidade da aplicação da
Realidade Aumentada (RA) no processo
de
ensino-aprendizagem
no
Ensino
Fundamental, tendo como princípio básico
o fato de haver, atualmente, uma larga gama
de possibilidades e aplicações das novas
tecnologias na educação. Através de pesquisa
bibliográfica, este trabalho buscou contribuir
teoricamente para o tema, discorrendo
acerca da origem da RA, seu desenvolvimento
e aplicações, e traçando um panorama da
educação na atualidade, as novas tecnologias
e as novas formas de comunicação. Na
pesquisa de campo, foram aplicados os
conceitos de RA como ferramenta de auxílio
ao professor, e também pelos alunos, como
forma de complemento ao material didático
disponível.
Palavras-chave: educação, novas
tecnologias, realidade aumentada.
1. Abstract
The purpose of this paper was
to analyze the feasibility of applying
Augmented Reality in teaching-andlearning process in elementary school,
having as basic principle the fact that there
is currently a wide range of possibilities
and applications of new technologies in
education. Through bibliographic research,
this study tried to contribute theoretically to
the subject, talking about the origin of AR, its
development and applications, and drawing
an overview of education nowadays, the
new technologies and the new forms of
communication. In field research, were
applied the concepts of AR as an assistant
tool to the teacher, and also by students, as
a way to supplement the teaching material
available.
Keywords:
education,
new
technologies, augmented reality.
2. Introdução
Atualmente, na “era digital” está
presente o uso intenso da tecnologia, nas
mais diversas áreas do conhecimento
(indústria, comunicação, entretenimento,
medicina, etc.). Na educação não é diferente,
visto que cada vez mais são inseridos novos
recursos e técnicas para fins didáticos.
O apogeu da internet e a facilidade
de acesso a recursos e equipamentos
proporcionaram sensível crescimento na
utilização das Tecnologias da Informação e
Comunicação no setor educacional. O acesso
às tecnologias já não está mais restrito a
classes sociais e as ferramentas disponíveis
são inúmeras. O que falta é saber como
utilizar e quais ferramentas são importantes
para complementar e auxiliar no ensino
educacional.
O uso das TIC no processo ensinoaprendizagem tende a promover a
potencialização da abstração e visualização
dos diversos conteúdos pelos alunos, se
aplicado adequadamente, o que justifica
o trabalho proposto. No ensino técnico e
profissionalizante, a utilização de recursos
tecnológicos é mais ampla, uma vez que o
Graduados em Licenciatura em Computação pelo UNISEB – [email protected]
Prof. Me. em Física Aplicada à Medicina e Biologia, docente do UNISEB – [email protected]
3
Prof.ª Me. Em Distúrbios do Desenvolvimento, docente do UNISEB – [email protected]
1
2
80
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
foco desse segmento é a preparação direta
dos alunos para o mercado de trabalho, que
muitas vezes exige o conhecimento e prática
em tais tecnologias. Na educação básica, tal
prática não ocorre com tanta frequência,
é mais recente, e vem sendo inserida
gradativamente. Por isso este trabalho irá
situar suas atividades em salas de aula do
Ensino Fundamental.
Dentre os muitos recursos existentes
hoje, este trabalho pretende focar-se na
aplicação da Realidade Aumentada, tendo
por objetivo geral verificar as diversas
possibilidades da aplicação desta ferramenta
no cotidiano escolar, de forma a promover
melhor aproveitamento dos alunos no que
diz respeito à assimilação e abstração dos
temas trabalhados em sala de aula. Definir
de que forma os conteúdos regulares da
escola podem ser apresentados em Realidade
Aumentada a fim de desempenhar tal papel.
Serão apresentados primeiramente
os conceitos do uso da tecnologia na
educação, trazendo um breve histórico,
contextualizando várias ferramentas com a
época em que eram utilizadas, e de que forma.
As novas tecnologias, o apogeu da internet e
as novas formas de comunicação existentes,
bem como sua influência no cotidiano das
pessoas são pontos a serem discutidos. São
apresentados também alguns fundamentos
teóricos da Realidade Aumentada, como
funciona, e algumas aplicações.
Como parte do trabalho, foi feita
pesquisa de campo aplicando a técnica da
Realidade Aumentada no processo ensinoaprendizagem, avaliando os resultados dessa
aplicação, apresentando uma descrição do
trabalho feito em sala de aula, detalhando
a metodologia de trabalho, de que forma
este processo pode ser aplicado à educação
e como pode contribuir para um melhor
aproveitamento dos alunos em sala de aula,
e traz ainda alguns exemplos do material
utilizado durante o processo.
O artigo traz ainda os resultados
obtidos com as pesquisas bibliográficas e
de campo, além das discussões acerca da
viabilidade do trabalho proposto.
3. Fundamentos Teóricos
A história do desenvolvimento
humano foi marcada por processos de
virtualização. O desenvolvimento das
linguagens ao longo dos anos possibilitou
ao homem desenvolver uma consciência
social, com base nas relações interpessoais.
De acordo com Lévy (1996, p.71), a partir do
momento em que o ser humano adquire o
domínio da linguagem, “[...] passa a habitar
um espaço virtual, o fluxo atemporal tomado
como um todo, que o imediato presente
atualiza apenas parcialmente, fugazmente.
Nós existimos”.
Com relação à transmissão e
assimilação do conhecimento, pode-se
discorrer sobre três fases distintas, conforme
define Ramal (2003, p.251): “[...] a da
oralidade, a das sociedades da escrita, e o
momento contemporâneo: a cibercultura.”
Se inicialmente predominava a
oralidade na transmissão dos conhecimentos,
o que poderia ser facilmente perdido ou
distorcido, o surgimento da escrita foi o
marco que delimitou o fim da era em que o
conhecimento era algo subjetivo, dependente
do autor. O domínio da escrita permitiu às
sociedades registrarem e transmitirem de
forma integral o conhecimento gerado, sendo
responsável por um crescimento intelectual
inestimável do ser humano.
O conceito de escola, como se vê
até os dias atuais, é fruto da mentalidade
das sociedades da escrita. O professor é o
detentor do conhecimento adquirido dos
livros, e cabe a ele transmiti-lo aos alunos.
Este modelo predominou até meados do
século XX, quando começaram a surgir novas
vertentes pedagógicas, tomando o aluno
também como produtor de conhecimento,
e o processo de ensino-aprendizagem, um
processo não mais unilateral. Ainda que
hoje em dia essa mentalidade seja a base
pedagógica em muitas escolas, já houve
mudanças significativas no pensamento
geral.
Essa escola prepara para um
mundo do trabalho que já não
existe mais: no qual os saberes
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
81
| O USO DA TECNOLOGIA VIRTUAL DA REALIDADE AUMENTADA (RA) NO PROCESSO DE ENSINO - APRENDIZAGEM |
aprendidos no início da formação
valiam para a vida inteira, no
qual as pessoas não precisavam
trabalhar cooperativamente nem
desenvolver novas competências.
esse atrativo e, se o conteúdo e
a metodologia pedagógica não
tornarem a atividade interessante
e significativa para os aprendizes,
de nada adiantarão os ‘efeitos
especiais’.
3.1 O momento atual: a
Cibercultura
O processamento de uma imagem
não precisaO desenvolvimento técnico e
tecnológico que se vê nos dias atuais,as novas
formas de comunicação, com o advento da
internet, contribuiu de forma significativa
para a mudança do paradigma da escola.
No momento atual, a cibercultura, muda,
em primeiro lugar a concepção de tempo.O
conhecimento é produzido, transmitido e
adquirido de forma quase simultânea, a todo
instante. É impossível, portanto, continuar
seguindo o mesmo modelo educacional sem
perdas significativas na qualidade do ensino.
Diante disso, cada vez mais buscase inserir as novas tecnologias no cotidiano
escolar, de forma a auxiliar o professor no
decorrer do processo ensino-aprendizagem.
Para isso, é necessário preparo do professor,
para que possa utilizar a ferramenta de
forma a enriquecer a aula e contribuir com
a assimilação do conhecimento pelos alunos.
É preciso, porém, analisar a melhor maneira
de aplicar a tecnologia dentro da sala de aula,
para que não tenha efeito contrário, uma
vez que os alunos, em especial no Ensino
Fundamental, já crescem familiarizados
com a tecnologia (computador, internet,
jogos eletrônicos, etc.), quase sempre
relacionando-a com o lazer. Isso pode leválas a encarar uma aula de informática, por
exemplo, como um momento de lazer, ao
invés de estudo. Deve-se evitar, também,
o uso da tecnologia como fim, ao invés de
meio, como define Tori (2010):
Dentre as ferramentas digitais
existentes hoje, este trabalho pretende focarse na Realidade Aumentada, uma tecnologia
relativamente recente, e aplicá-la dentro de
sala de aula, de forma a exercer esse papel de
ferramenta auxiliar ao professor, algo pouco
utilizado até então.
(RAMAL, 2003, p.253)
Ao se usar didaticamente uma
nova tecnologia apenas porque
nos encantamos com ela, só
conseguiremos atrair a atenção de
nossos alunos pela curiosidade.
O problema é que, na segunda
vez, já não poderemos contar com
82
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
3.2 Realidade Aumentada
A RA pode ser definida, segundo
Azuma (1997), como a inserção de objetos
virtuais no ambiente físico, mostrada ao
usuário com o apoio de algum dispositivo
tecnológico, criando um ambiente misto em
tempo real.
3.2.1 Conceitos e Histórico
Os primeiros conceitos de Realidade
Virtual e Aumentada aparecem em meados
da década de 60, embora esta seja uma
tecnologia a firmar-se na década de 90
(KIRNER, 2008). Em 1968, Sutherland
(1968) descreveu o desenvolvimento de
um capacete estereoscópico que projetava
imagens diretamente nos olhos do usuário,
estabelecendo o conceito de imersão.
Outro
ponto
importante
no
desenvolvimento tecnológico que levou
às aplicações de RA foi a invenção dos QR
Codes (Figura 1), um tipo de código de
barras bidimensional com maior capacidade
de armazenamento de informações que
os códigos de barra convencionais. Os QR
Codes (o termo QR varia de Quick Response,
“resposta rápida”, em inglês) surgiram em
meados de 1994, com o propósito de substituir
os códigos de barras convencionais em
tarefas as quais eles não tinham capacidade
de processar, que exigiam a transmissão de
um número maior de informações.
Desta forma, foram criados os
QR Codes, que armazenam os dados
através da leitura de pontos em um espaço
| O USO DA REALIDADE AUMENTADA NO PROCESSO DE ENSINO - APRENDIZAGEM |
bidimensional, sendo que cada região do
código QR tem sua própria função, tais como
posicionamento, alinhamento, versão de
produto e outras voltadas para segurança.
Embora essa tecnologia tenha sido
criada com o propósito original de identificar
carros (HAUTSCH, 2009), foi em pouco
tempo incorporada a outro segmento de
mercado: a publicidade. Devido à sua
maior capacidade de armazenamento de
informações, os QR Codes são capazes
de guardar URL’s de sites na internet, e
passaram a ser amplamente utilizados para
divulgação de produtos, serviços e eventos.
Qualquer pessoa que tenha um
prédios, etc.
Mas afinal, o que os QR Codes têm a
ver com Realidade Aumentada? Tudo.
Conforme define Gabriel (2010),
“realidade aumentada é a coexistência e
interação de objetos digitais com objetos
físicos [...]”. Podemos dizer então, que os
QR Codes trazem uma camada digital de
informações que interage com o mundo
físico. Mas a RA pode ser mais do que do que
uma simples identificação de informações
digitais, de direcionamento para um site, por
exemplo. Essa interação do virtual com o real
é mais complexa, mais visual.
A RA trabalha com marcadores, os
chamados tags ou patterns, que são uma
evolução dos códigos bidimensionais. Esses
marcadores (Figura 2) trazem uma gama
maior de possibilidades, pois podem ser
uma figura, um objeto, ou o texto de um
anúncio, e têm uma vantagem muito grande
sobre os QR Codes: capacidade ilimitada de
armazenamento de informações. Isso porque,
ao contrário dos códigos 2D, o conteúdo não
está gravado no código lido, mas sim no
software acionado pelo marcador.
celular com câmera e acesso à internet pode
ler QR Codes, pois não é necessário hardware
dedicado de leitura, como no caso dos
códigos de barra lineares, basta instalar um
aplicativo simples no celular. No Japão e nos
Estados Unidos, onde são mais utilizados,
é muito comum encontrar QR Codes em
outdoors, placas publicitárias, fachadas de
Eles permitem projetar objetos
virtuais em uma filmagem do mundo real,
melhorando as informações exibidas,
expandindo as possibilidades de interação
e utilização de novas tecnologias. Portanto,
a Realidade Aumentada é utilizada
combinando-se um marcador com um
programa de computador, acionado por uma
Figura 1: Exemplos de QR Codes
Fonte: http://www.tecmundo.com.br/realidadeaumentada
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
83
| O USO DA TECNOLOGIA VIRTUAL DA REALIDADE AUMENTADA (RA) NO PROCESSO DE ENSINO - APRENDIZAGEM |
câmera de vídeo.
3.2.2 Aplicações
Assim como os QR Codes, muitas
aplicações
de
Realidade
Aumentada
remetem ao mercado publicitário, sendo
muito comum em propagandas de carros,
imóveis, anúncios em revistas, entre outros.
Outras aplicações existentes para a RA são:
• Apoio a tarefas de montagem e
manutenção em indústrias;
• Dispositivos
de
navegação
em
construções, como na manutenção
de plantas industriais e em serviços
militares;
• Simuladores de voo;
• Entretenimento e educação;
O uso da realidade aumentada em
educação é relativamente recente, e pouco
frequente até então. Luz, et al. (2008)
e Zorzal, et al. (2008) citam conceitos da
aplicação de RA no ensino técnico, por meio
de livros contendo códigos que, colocados
em frente à câmera, projetavam imagens,
objetos em 3D e animações, relacionados
a dispositivos mecânicos, simulação de
funcionamentos de motores, etc.
Não foram encontradas citações da
aplicação deste tipo de tecnologia no ensino
fundamental, que é o foco deste trabalho.
4. Materiais e Métodos
No início da definição do trabalho, foi
proposta a aplicação de RA dentro da sala
84
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
de aula, pelo professor, como ferramenta de
auxílio ao material de que já se dispunha.
Seriam criadas animações e imagens em 3D
que ilustrassem os conteúdos que seriam
trabalhados, definidos pelos professores. A
ideia era desenvolver o material baseado em
conceitos em que os alunos tivessem mais
dificuldade em visualizar e abstrair.
Foi realizada pesquisa bibliográfica
e ferramental sobre o assunto, e assim ficou
definido que a melhor forma de aplicar as
ferramentas de realidade aumentada na área
educacional seria através de conteúdos que
os próprios professores utilizariam durante a
explicação da matéria.
Porém, considerando-se que o
aluno é participante ativo do processo de
ensino-aprendizagem, e contribui para a
produção do conhecimento, sendo o ensinoaprendizagem um processo bidirecional,
optou-se por desenvolver um material que o
próprio aluno utilizasse como forma de apoio
ao material didático utilizado pelo professor
em sala de aula. Para preparar o material
para uso em sala de aula, definiu-se que o
professor seria o responsável por fornecer o
conteúdo textual e figuras a serem inseridas
no material didático.
Para facilitar o andamento do
trabalho, foi organizado um cronograma em
várias etapas, para cada tarefa a ser realizada
durante a elaboração do material, conforme
Tabela 1 a seguir:
| O USO DA TECNOLOGIA VIRTUAL DA REALIDADE AUMENTADA (RA) NO PROCESSO DE ENSINO - APRENDIZAGEM |
4.1 Definição do conteúdo
Para garantir que o trabalho teria o
resultado esperado, foi realizada pesquisa
de campo com professores da rede pública
municipal de Ribeirão Preto, na EMEF
Geralda de Souza Espin. Nesta etapa do
trabalho foi conversado com os professores
de quatro disciplinas (Matemática, Biologia,
Química e Língua Portuguesa) para saber
quais os conceitos que eles julgavam ser
interessantes aplicar com o auxílio da
RA, quais assuntos os alunos tem mais
dificuldade em abstrair e as possíveis forma
de aplicá-los. Os conteúdos definidos foram
os seguintes:
• MATEMÁTICA: Geometria Espacial.
Conceitos sobre sólidos geométricos,
citando fórmulas de volume e
apresentando cada sólido em 3D com
auxílio da Realidade Aumentada.
• BIOLOGIA: O Sistema Reprodutor
Humano. Imagens sobre o órgão
reprodutor feminino e masculino;
ilustrações com cortes, permitindo
conhecer a estrutura interna desses
órgãos.
• QUÍMICA: Moléculas. Elaborar imagens
em 3D para ilustrar a organização dos
átomos em uma molécula, suas ligações
e estruturas típicas.
• PORTUGUÊS: Jogo de Letras. Formação
de palavras, utilizando marcadores
individuais para cada letra, e estando na
sequência correta, forma a imagem do
objeto. Auxiliar na alfabetização.
4.2 Definição de Objetos
Após definidos os conteúdos que
seriam trabalhados, a etapa seguinte foi
discutir a melhor forma de elaborar o
material.
Porém, antes de começar a elaboração
propriamente dita, era preciso conhecer
o funcionamento do software de RA que
seria utilizado, para evitar retrabalho com
modelagem de objetos 3D e otimizaras
pesquisas.
Há diversos softwares que permitem
criar aplicativos para RA como o ARToolKit,
o FlartoolKit, uma versão do ARToolKit
utilizando Flash, o SACRA (KIRNER, 2010),
entre outros.
Para a elaboração do aplicativo que
gera a RA, foi utilizado em primeiro momento
o ARToolKit, um software destinado a
construção de aplicações para RA, disponível
gratuitamente para uso não comercial.
Primeiramente foi feito o download do
aplicativo no site oficial¹.Para sua instalação
é necessário seguir alguns passos para que
o software funcione corretamente, o que é
um pouco complexo, pois é preciso instalar e
configurar alguns outros componentes, como
o OpenVRML, bibliotecas GLUT e DSVL e
algumas DLL’s externas na pasta System 32
do Windows.
Após a instalação e a realização de
alguns testes de funcionamento, é sugerido
utilizar uma aplicação que já esta compilada
o “simpleVRML.exe”, aplicação esta que
permite que sejam trabalhados objetos em
3D. Estes objetos trabalham com linguagem
VRML (Virtual Reality Modeling Language
– Linguagem para Modelagem de Realidade
Virtual, em português), através da qual é
possível criar objetos e ambientes virtuais.
Para a criação de um cubo em 3D, por
exemplo, há a possibilidade de usar objetos
predefinidos na linguagem VRML, através do
modo de texto, utilizando o bloco de notas,
ou utilizar um software que modele objetos
3D e os exporte em VRML, definindo cor,
mapeando texturas, pontos de luz, etc.
No caso da modelagem em 3D, alguns
exemplos de softwares que atendem a essa
necessidade são: Blender, software open
source da Blender Foundation, 3DSMax e
Maya, ambos da Autodesk, entre outros.
Em alguns softwares existe a necessidade de
baixar alguns plugins para gerar arquivos no
formato VRML, que podem ser encontrados
na internet.
A criação desse tipo de arquivo está
associada às imagens que serão inseridas
no ambiente virtual após o marcador ser
focalizado pela webcam.
Para a criação dos objetos 3D
foi utilizado o software 3DS Max, e
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
85
| O USO DA TECNOLOGIA VIRTUAL DA REALIDADE AUMENTADA (RA) NO PROCESSO DE ENSINO - APRENDIZAGEM |
exportado para linguagem VRML. Todas
as características do objeto, como cor,
dimensões, posicionamento (eixos x, y e z),
mapeamento de texturas, são definidas no
próprio programa.
Após esta etapa este arquivo deve ser
copiado na pasta bin/Wrl que se encontra na
pasta raiz do ARToolKit.
Algumas imagens também podem
ser encontradas disponíveis em sites que
possuem comunidades de desenvolvedores,
nos quais há compartilhamento de modelos
neste formato, além da possibilidade de
se obter imagens em outros formatos e
utilizando software de geração de arquivos
3D, converter para VRML. Arquivos deste
tipo possuem a extensão “.wrl”, que é
interpretada pelo ARToolKit.
Tendo os objetos construídos e no
formato adequado, a etapa seguinte foi
definir os marcadores que seriam utilizados
e cadastrá-los no aplicativo.
4.3 Definição de Marcadores e
do Aplicativo
Os marcadores a serem utilizados
como referencia de definição de projeção
do objeto e posicionamento, devem ser
cadastrados no ARToolKit. Cada marcador
utilizado na aplicação deve ser único, pois
cada um será referenciado a um objeto
diferente.
Para cadastrar um marcador utilizase uma webcam conectada ao computador e
a aplicação “mk_patt.exe” que se encontra na
pasta “Bin”, na raiz do ARToolKit, devendose colocar o marcador no campo de visão da
webcam e seguindo as orientações do prompt
de comando.
Tendo o objeto em formato .wrl e o
marcador cadastrado, o passo seguinte foi
a configuração do aplicativo “simpleVRmL.
exe”, que está associado aos objetos que
devem estar na pasta WRL, aos marcadores
e ao arquivo “object_data_vrml”, presente
na pasta “Data”. Todos estes arquivos e
diretórios encontram-se na pasta “Bin” do
ARToolKit.
86
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
A pasta “WRL” deve conter todos
os objetos que serão exibidos sobre os
marcadores durante a execução do aplicativo.
Para cada arquivo VRML deve ser criado um
arquivo “.dat”, que traz algumas informações
acerca das características de cada objeto
projetado, conforme mostrado na Figura 3.
Na pasta “Data” são salvos os arquivos
de todos os marcadores e o arquivo “object_
dat_vrml.dat”. Este arquivo fará a associação
de qual objeto estará referenciado a qual
marcador. Neste exemplo (Figura 4), cada
pattern recebe uma numeração, que será o
mapeamento de RA. Nas linhas seguintes do
código são especificados a pasta na qual está
o arquivo .dat do objeto, a pasta e arquivo do
marcador.
Figura 4: código do arquivo object_data_vrml
As
outras
informações
estão
relacionadas ao tamanho do marcador e
posicionamento de projeção em relação o ao
centro do marcador.
4.4 Execução do Aplicativo
A execução do aplicativo acontecerá
mediante conexão de uma webcam no
computador e através do aplicativo
“simpleVRML.exe”.
| O USO DA TECNOLOGIA VIRTUAL DA REALIDADE AUMENTADA (RA) NO PROCESSO DE ENSINO - APRENDIZAGEM |
Figura 5: Exemplo de execução do aplicativo
Após todo o processo de elaboração
do software, ficou constatado que para
executar o arquivo havia a necessidade de
ter o ARToolKit instalado na máquina a
qual iria processar o aplicativo. Através de
alguns testes posteriores constatou-se que
o aplicativo chamado SACRA (Kirner, 2010)
permitiria a execução do aplicativo a partir
de um pen drive, o que facilitaria muito a
aplicação do método na escola e até mesmo
pelos próprios alunos em casa. Com isto, fezse a ação de migrar as pasta WRL e Data do
diretório do ARToolKit para o do SACRA.
aula
5. Aplicação da RA em sala de
Após o desenvolvimento do aplicativo
e a elaboração do livreto de Geometria
Espacial e algumas imagens do Sistema de
Reprodução Humana, foi realizada uma
demonstração desse material na Escola
Municipal de Ensino Fundamental Geralda
de Souza Espin, com turmas de Ensino
Fundamental regular e EJA, de 5º a 8º anos.
Começando com a aula de Biologia,
o professor utilizou um retroprojetor para
exibir o material preparado, algo novo para
todos, visto que até mesmo para os próprios
professores era o primeiro contato com essa
tecnologia. A visualização desse material foi
interessante, pois a curiosidade do que seria
visto em cada marcador fazia com que os
alunos prestassem mais atenção à explicação
do professor.
Em seguida, utilizando o livreto de
Geometria Espacial, novamente os alunos
estavam atentos à aula. Neste exemplo,
percebeu-se uma boa compreensão dos
formatos de cada objeto, visto que quando
são desenhados em superfície plana há a
necessidade de abstrair alguns pontos da
figura que ficam obscuros devido à sua
representação bidimensional.
Como o livreto foi elaborado com a
intenção de ser utilizado diretamente pelos
alunos, a aplicação deste exemplo foi diferente
do primeiro. Os alunos demonstraram
grande interesse em participar, e ficaram
bastante satisfeitos com o resultado da aula.
5.1 Resultados e Discussão
Como citado anteriormente, foi
desenvolvido um livreto sobre Geometria
Espacial, contendo informações e fórmulas
acerca dos sólidos geométricos, além de
marcadores de RA, que exibem imagens
tridimensionais de cada sólido ao serem
expostos a uma câmera de vídeo. Este livreto
(Apêndice A) tem o propósito de auxiliar a
compreensão de objetos sólidos geométricos,
o usuário poderá ter uma visualização do
objeto em 3D, permitindo identificar como
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
87
| O USO DA TECNOLOGIA VIRTUAL DA REALIDADE AUMENTADA (RA) NO PROCESSO DE ENSINO - APRENDIZAGEM |
é a estrutura de cada objeto, suas faces e
extremidades, permitindo visualizar os
pontos que estão relacionados aos cálculos
de suas propriedades (volume, área, etc.).
O material textual foi extraído de
fontes diversas sobre o tema, e em seu
planejamento ficou definido que para cada
figura seria associado um objeto em 3D,
com a identificação de suas medidas para
associação com os cálculos e suas respectivas
fórmulas, também presentes nas páginas do
livro junto de uma breve teoria sobre cada
objeto.
Ao aplicar-se o material em sala de
aula, verificou-se um aumento sensível na
motivação dos alunos em aprender sobre a
disciplina, o que já é um grande passo para
a melhoria na abstração das informações.
Isto porque a maioria deles nunca havia tido
contato com a Realidade Aumentada, então a
novidade atraiu muito sua atenção.
Uma análise estatística poderá medir
a eficácia deste método, visto que a proposta
deste trabalho foi apenas analisar as
possíveis formas e viabilidade da aplicação
da ferramenta, efetuando uma breve
demonstração prática.
6. Conclusão
A pesquisa bibliográfica realizada ao
longo do trabalho elucidou vários pontos
acerca do funcionamento da Realidade
Aumentada, bem como suas aplicações em
diversas áreas do conhecimento.
Referente à pergunta central do
trabalho, quanto à possibilidade de inserção
desta tecnologia no cotidiano escolar,
constatou-se que a Realidade Aumentada
pode sim ser aplicada à educação, de forma
a auxiliar o professor e o material didático
regular, e potencialmente eficaz se aplicada
de forma correta.
É fato que na atual situação da
educação pública brasileira, as escolas
ainda carecem de recursos, incentivo e
capacitação de profissionais para que possa
haver maior uso das novas tecnologias no
processo de ensino-aprendizagem, mas este
trabalho mostrou que com recursos simples
e potencialmente baratos é possível aplicar
a Realidade Aumentada como ferramenta
auxiliar nesse processo.
Referências
ARToolKit. Download Page. s.d. Disponível em www.hitl.washington.edu/artoolkit/download. Acesso em 10 de agosto de 2011.
AZUMA, Ronald T. A Survey of Augmented Reality. Teleoperators and Virtual Environments.
Los Angeles, 1997. p. 355-385.
GABRIEL, Martha. QRCodes: realidade aumentada, Internet das coisas e crossmídia. IDG
Now! 13 de Setembro de 2010. Disponivel em http://idgnow.uol.com.br/blog/estrategia-digital/2010/09/13/qrcodes-realidade-aumentada- internet-das-coisas-crossmidia-e-rastreamento-com-sustentabilidade/ Acesso em 06 de outubro de 2011.
HAUTSCH, Oliver. Tecmundo. 19 de maio de 2009. Disponivel em http://www.tecmundo.
com.br/realidadeaumentada/2124-como-funciona-a-realidade-aumentada.htm Acesso em 11
de agosto de 2011.
HEIDE, Ann. Guia do professor para a Internet: completo e fácil. 2ª Edição. Porto Alegre:
Artes Médicas Sul, 2000.
88
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
| O USO DA TECNOLOGIA VIRTUAL DA REALIDADE AUMENTADA (RA) NO PROCESSO DE ENSINO - APRENDIZAGEM |
KIRNER, Cláudio. Evolução da Realidade Virtual no Brasil. X Symposium on Virtual and Augmented Reality.João Pessoa, 2008. 1-11.
_____________. Funcionamento e Utilização do Sistema de Autoria Colaborativa com Realidade Aumentada – SACRA. 2010. Disponível em http://www.ckirner.com/sacra/ Acesso
em 02 de outubro de 2011
_____________. VRML: Conceitos e Instalação. s.d. Disponivel em http://www.realidadevirtual.com.br/cmsimple-rv/?%26nbsp%3B_VRML:Conceitos_e_Instala%E7%E3o Acesso
em 06 de outubro de 2011.
____________. VRML: Primeira Modelagem. s.d. Disponivel em http://www.realidadevirtual.com.br/cmsimple-rv/?%26nbsp%3B_VRML:Primeira_Modelagem Acesso em 06 de
outubro de 2011.
LÉVY, Pierre. O que é virtual. São Paulo: Editora 34, 1996.
LUZ, Roger A. et al. Análise de aplicações de realidade aumentada na Educação Profissional:
um estudo de caso no SENAI DR/GO. UNESP - Universidade Estadual Paulista. 2008. Disponivel em http://www2.fc.unesp.br/wrva/artigos/50460.pdf Acesso em 14 de setembro de
2011.
MEIRELLES, Fernando de Souza. Informática: novas aplicações com microcomputadores. 2ª
Edição. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 1994.
RAMAL, Andrea Cecília. A Hipertextualidade como Ambiente de Construção de Novas Identidades Docentes. Educação & Tecnologia: trilhando caminhos, 2003.
SETZER, V.W. Meios Eletrônicos e Educação: uma visão alternativa. 2a.ed.São Paulo: Ed.
Escrituras, 2002.
SUTHERLAND, Ivan E. A Head-mounted Three-dimensional Display. 1968 Fall Joint Computer Conference, AFIPS Conference Proceedings. Cambridge, 1968. 757-764.
TAKAHASHI, Tadao (org.) Sociedade da Informação no Brasil: Livro Verde. Ministério da
Ciência e Tecnologia, Brasília, set. 2000.
TORI, Romero. Blog do Romero Tori. 14 de maio de 2010. Disponivel em http://romerotori.
blogspot.com/2010/05/realidade-aumentada-na-educacao.html acesso em 14 de setembro
de 2011.
VELLOSO, Fernando de Castro. Informática: conceitos básicos. São Paulo: Editora Campus,
1999.
ZORZAL, Ezequiel Roberto, Alexandre Cardoso, Cláudio Kirner, e Edgard Lamounier. Realidade Aumentada Aplicada em Jogos Educacionais. Realidade Aumentada. 2008. Disponivel
em http://www.realidadeaumentada.com.br/artigos/24462.pdf Acesso em 26 de agosto de
2011.
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
89
A INFLUÊNCIA DO TRANSCURSO TEMPORAL
NAS MODIFICAÇÕES OCORRIDAS NO DIREITO
CIVIL
Antonio Dinei Aguiar de Araujo Jr.1
Angel Tomas Castroviejo 2
1. Resumo
Trata-se de um estudo teórico sobre
a importância e prejuízo do transcurso
temporal na aplicação do Direito Civil
Brasileiro. Observa-se que, sem o lapso
temporal, teríamos apenas teorias, e poucos
direitos esparsos.
Palavras-chave: Direito, Civil, Processo,
Tempo.
1. Abstract
This is a teoric study on the
importance of passing time and injury in
the application of the Brazilian Civil Law.
Noting that, without the delay, we would
just theories, sparse and few rights.
Keywords: Law, Civil Procedure, Time.
2. O Tempo no Direito Civil
O Direito Civil rege todas as
manifestações de vontade entre pessoas,
portanto, refere-se ao Direito Privado.
Este ramo do direito é o reflexo direto
da sociedade, das mudanças que nela ocorre
no transcurso do temporal. O processo de
mudança da sociedade é muito mais rápido
que do Direito, sofrendo influências de
muitos elementos que a modifica a cada
geração. Atualmente, a maior interferência
é da tecnologia, que inova e acelera os
processos de relação entre as pessoas e que
pode provocar conflitos quando utilizada
de forma controversa: por exemplo a mídia,
que se valendo da tecnologia, nos afoga em
informações em uma velocidade cada vez
maior e em quantidade também exponencial,
podendo violar direitos individuais e
coletivos, com câmeras especiais, gravações
clandestinas, violação de e-mails, tudo isso
sendo divulgado praticamente em tempo
real e tendo amplitude mundial com o uso da
internet.
Segundo Carlos Roberto Gonçalves:
A evolução social, o progresso
cultural e o desenvolvimento
científico pelos quais passou a
sociedade brasileira no decorrer
do século passado provocaram
transformações que exigiram do
direito uma contínua adaptação,
mediante crescente elaboração
de leis especiais, que trouxeram
modificações relevantes ao direito
civil, sendo o Direito de Família
o mais afetado, como a Lei dos
Registros Públicos, a Lei de
Locação, o código de defesa do
consumidor, o código das águas, o
código de minas e outros diplomas
que transformaram e revogaram
vários dispositivos e capítulos
do código civil em uma tentativa
de atualizar a legislação privada.
A própria constituição de 1988
trouxe importantes inovações ao
direito de família, especialmente
no tocante à filiação, bem como ao
direito das coisas, ao reconhecer
a função social da propriedade.
(GONÇALVES, 2009, p.21)
Deste modo, vemos que o transcurso
do tempo causou uma modificação intensa
no Direito Civil, o surgimento do transporte
aéreo, da indústria automobilística massiva,
das telecomunicações, da informática, todos
¹ Acadêmico do Curso de Direito- UNISEB. Bolsista PIBIC do Centro Universitário UNISEB.
² Docente do Curso de Direito do Centro Universitário UNISEB.
90
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
alteraram os modos de como as pessoas se
relacionam, com isso, obrigou, como dito
acima, a produção constante de normas
especiais. A sociedade também se modificou,
enquanto no início do século passado
a mulher era dona de casa e o homem
responsável pela obtenção de recursos para
o sustento da família, no final dos anos 70
as mulheres começaram a trabalhar para
obter a independência financeira e maior
qualidade de vida para sua família, mas
ainda eram tratadas de forma desigual em
relação aos homens. Com a Constituição de
1988, isso mudou, segundo seu texto, não é
mais admitida nenhuma discriminação entre
os dois sexos, e na década de 90, as mulheres
conquistaram seu espaço no mercado de
trabalho e na sociedade como profissionais
nas mais diversas áreas e como chefes de
família. As modificações sociais foram tão
intensas que foi necessária a elaboração
de um novo código civil, promulgado em
2002. Um fato curioso é que a comissão que
originou este novo código foi composta em
1967, seu projeto apresentado em 1972 e se
tornou projeto de lei em 1975. Mas em 2002
mesmo, foi proposta uma nova modificação
que afetaria 160 artigos, ainda no período
de vacatio legis, buscando aperfeiçoar os
dispositivos do novo Código.
A maior mudança social amparada
pelo Estado é o reconhecimento da relação
estável entre pessoas do mesmo sexo. Tal
amparo se deu, não por um texto legislativo,
mas sim por uma interpretação extensiva,
pelo Poder Judiciário, de uma lei já existente.
Podemos ver que o próprio Direito
se tornou mais ágil às modificações, graças
à tecnologia. Hoje, devido à velocidade
em que a informação pode percorrer
o globo terrestre, é mais fácil observar
mudanças sociais ou a necessidade de impor
modificações à sociedade.
Em relação ao texto do Código Civil,
já deparamos com a interferência temporal
em sua Lei de Introdução, por exemplo. Nela
se determinam as regras de aplicabilidade
do código. Toda lei produzida deve ter um
período de vacatio legis, que é o período que
compreende o intervalo existente entre sua
publicação e sua obrigatoriedade. Como
regra geral o prazo de 45 dias após sua
publicação para sua aplicação no território
nacional, mas é aceita a alteração conforme a
necessidade entalecida para que a sociedade
se adeque às mudanças que deverão ser
feitas devido a esta nova lei, podendo ser de
vigência imediata no ato de sua publicação
ou posterior aos 45 dias, como foi o caso do
próprio Código Civil que ficou em vacatio
legis por 1 ano após sua publicação.
Como o objeto do Direito Civil é o
Direito Privado, ele inicia determinando
quem são as pessoas, primeiramente as
pessoas naturais, sua personalidade e
capacidade. Todo aquele que nasce com vida
torna-se pessoa, assim vemos que o tempo
é elemento crucial para que se saiba se uma
nova personalidade jurídica chegou a existir,
independente de que seja um segundo ou cem
anos, se foram constatados sinais vitais após
a desvinculação do ventre materno, aquele
individuo, juridicamente, passou a existir:
neste momento ele passa a adquirir todos
os direitos inerentes a sua personalidade
e que se estende a todos os homens, como
direito a vida, liberdade e igualdade. É
possível também que, este novo indivíduo
receba direitos e obrigações relacionados a
patrimônio, em caso de herança. Então este
momento dita o direito de gozo, mas não a
capacidade de fato, ou exercício.
Assim, para ser “pessoa” basta que
o homem exista, e para ser “capaz”
o ser humano precisa preencher
os requisitos necessários para
agir por si, como sujeito ativo ou
passivo duma relação jurídica.
Eis por que os autores distinguem
entre capacidade de direito ou de
gozo e capacidade de exercício ou
de fato. (DINIZ, 2005, p. 511)
Para a capacidade de fato, o código
determina outras regras que apenas são
possíveis de serem aplicadas devido ao
transcurso do tempo. Em regra, aqueles
entre zero e 16 anos, são incapazes,
por terem sua capacidade de analise e
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
91
| A INFLUÊNCIA DO TRANSCURSO TEMPORAL NAS MODIFICAÇÕES OCORRIDAS NO DIREITO CIVIL |
compreensão limitada, necessitam, assim,
de outra pessoa para substituir ou completar
sua vontade. Os indivíduos entre os 16 e 18
anos são os parcialmente incapazes, estes
indivíduos podem adquirir obrigações, mas
devem ser assistidos por seus responsáveis,
por exemplo, para abrir conta em bancos.
Já os indivíduos que ao completarem 18
anos, adquirem capacidade plena para
adquirir tanto direitos como obrigações,
não precisando de intervenção de nenhuma
outra pessoa para manifestar sua vontade
em contratar. Não podemos esquecer que
a personalidade jurídica, nesse caso, se
encerra com o óbito da pessoa natural, que
segundo o texto legal determina que “Art.
6o A existência da pessoa natural termina
com a morte; presume-se esta, quanto aos
ausentes, nos casos em que a lei autoriza
a abertura de sucessão definitiva”. Nesse
transcurso cronológico de sua existência,
a pessoa adquiriu direitos e obrigações,
foi parte passiva ou ativa em contratos que
demandaram tempo para serem exauridos.
Já a Pessoa Jurídica, que é a associação
de pessoas naturais organizadas com o intuito
de superar limitações individuais e atingir um
objetivo comum, o Direito Privado disciplina
esta unidade coletiva e lhe confere uma
personalidade individual e própria, alheia
aos seus fundadores, sendo como o resultado
da vontade humana. Diferentemente da
pessoa natural, no momento que se inicia
sua personalidade, a Pessoa Jurídica adquire
capacidade plena de direitos e obrigações,
e sua existência é indeterminada, em regra,
podendo ser desvinculada totalmente da
personalidade de seus sócios.
2.1 A prescrição e decadência
Os institutos do direito civil que
sofrem influência do transcurso temporal
de forma perceptível são a prescrição e a
decadência.
No direito romano primitivo, as
ações eram perpétuas, sendo permitido que
o interessado a elas recorresse a qualquer
tempo. A ideia de prescrição surge no
direito pretoriano, pois o magistrado vai
92
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
proporcionar, às partes, determinadas ações
capazes de contornar a rigidez dos princípios
dos jus civile.
A prescrição é o modo pelo qual se
extingue um direito (não apenas a ação)
pela inércia do titular durante certo lapso de
tempo; já a decadência é a extinção do direito
pela inércia do titular, quando a eficácia desse
direito estava originalmente subordinada ao
exercício dentro de determinado prazo, corre
indefectivelmente contra todos e é fatal, e
nem pode ser renunciado (CC, art.209).
A prescrição pode ser interrompida
ou suspensa, e é renunciável. A prescrição
resulta somente de disposição legal; a
decadência resulta da lei, do contrato e do
testamento.
A decadência extingue o direito e
indiretamente a ação; a prescrição
extingue a ação e por via obliqua
o direito; o prazo decadencial é
estabelecido por lei ou vontade
unilateral ou bilateral; o prazo
prescricional somente por lei;
a prescrição supõe uma ação
cuja origem seria diversa da do
direito; a decadência requer uma
ação cuja origem é idêntica à do
direito; a decadência corre contra
todos; a prescrição não corre
contra aqueles que estiverem sob
a égide das causas de interrupção
ou suspensão previstas em lei; a
decadência decorrente de prazo
legal pode ser julgada, de oficio,
pelo juiz, independentemente
de arguição do interessado; a
prescrição das ações patrimoniais
não pode ser, ex oficio, decretada
pelo magistrado; a decadência
resultante de prazo legal não
pode ser enunciada; a prescrição,
após sua consumação, pode sêlo pelo prescribente; só as ações
condenatórias sofrem os efeitos
da prescrição; a decadência só
atinge direitos sem prestação que
tendem à modificação do estado
jurídico
existente.
(DINIZ,
2003, p. 341)
Ainda, segundo a autora:
| A INFLUÊNCIA DO TRANSCURSO TEMPORAL NAS MODIFICAÇÕES OCORRIDAS NO DIREITO CIVIL |
As
causas
impeditivas
da
prescrição são as circunstancias
que impedem que seu curso
inicie e, as suspensivas, as que
paralisam temporariamente o seu
curso; superado o fato suspensivo,
a prescrição continua a correr,
computado o tempo decorrido
antes dele. (DINIZ, 2003, p.
341)
Os artigos 197, I a III, 198, I e 199,
I e II, todos, do CC estabelecem as causas
impeditivas da prescrição. De acordo com
Maria Helena (Curso de Direito Civil, 2003,
p. 341) as causas impeditivas da prescrição
se fundam no: “status da pessoa, individual
ou familiar, atendendo razões de confiança,
amizade e motivos de ordem moral.”
Primeiramente não corre prescrição
entre os cônjuges, na constância do
matrimônio. A propositura de ação judicial
por um contra o outro seria fonte de
invencível desarmonia conjugal. É provável
que a influência do cônjuge impedisse seu
consorte de ajuizar a ação, que no qual, se
extinguiria pela prescrição (CC, art.197,
I).Também não há prescrição enquanto durar
o poder familiar do filho sobre influência dos
pais, que o representam quando impúberes
e assistem quando púbere. Não sendo certo,
deixar que preservem seus direitos, se vissem
os filhos obrigados à ação judicial, sob pena
de prescrição (CC, art.197, II).
Ademais não há prescrição entre
tutelados e tutores e curatelados e curadores.
O tutor e o curador devem zelar pelos
interesses de seus representados. Sendo
que, a lei suspende o curso da prescrição
das ações que uns podem ter contra os
outros, para evitar que descuidem dos
interesses, quando conflitarem com esses
(CC, art.197, III). O artigo 198 do CC também
estabelece que não corre prescrição contra:
os absolutamente incapazes (CC, art,198,
I). Sendo, uma maneira de os proteger. O
prazo só começa a fluir depois que acabar a
incapacidade absoluta. Outrossim, não corre
prescrição contra os que estiverem a serviço
público da União, dos Estados e Municípios,
estão fora do Brasil (CC, art.198, II) e contra
os que estiverem incorporados às Forças
Armadas, em tempo de guerra. Suponha-se
que estes estejam ocupados com os negócios
do País, não tendo tempo para cuidar dos
próprios (CC, art.198, III). O artigo 199 do
CC igualmente determina que não corre
prescrição pendendo condição suspensiva
(CC, art.199, I), não estando vencido o prazo
(CC, art.199, II), pendendo ação de evicção
(CC, art.199, III).
Já o artigo 200 do CC estabelece
que não deva correr a prescrição antes da
respectiva sentença definitiva, quando a
ação originar de fato que deva se apurado no
juízo criminal. Isso serve para evitar decisões
contrapostas. Sendo necessária a apuração do
poder judiciário para que seja determinado
a responsabilidade e o dever de reparação
por um ato criminal, a reparação civil deverá
ser imputada somente ao criminoso, sendo
necessária a sentença criminal transitada
em julgado para indicar o responsável para
a reparação civil.
Segundo Maria Helena Diniz (2003, p.
339) as causas que interrompem a prescrição
são: “as que inutilizam a prescrição iniciada,
de modo que o seu prazo recomeça a correr
da data do ato que a interrompeu ou do
último ato do processo que a interromper.”
O artigo 202 do Código Civil
apresenta algumas hipóteses de interrupção
de prescrição.
A primeira hipótese é quando do
despacho do juiz determinando a citação
do réu, mesmo sendo o juízo incompetente,
caso o interessado a promover no prazo e na
forma da lei (CC, art. 219). Mesmo o despacho
que a ordena e não a citação propriamente
dita, que tem o condão de interromper a
prescrição. Sua eficácia fica dependendo de
a citação efetuar-se no prazo determinado
pela lei. A lei admite que tal efeito se alcance
ainda que a citação seja ordenada por
juiz incompetente. A regra não beneficia
alguém que de última hora queria se salvar
da prescrição que está quase consumada,
devido a sua negligência, requerendo que
a prescrição seja interrompida perante o
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
93
| A INFLUÊNCIA DO TRANSCURSO TEMPORAL NAS MODIFICAÇÕES OCORRIDAS NO DIREITO CIVIL |
primeiro juiz que achar. A citação deve
interromper a prescrição, porem a prescrição
não se interrompe com a citação nula por
vício de forma ou por achar perempta a
instância ou a ação.
A segunda hipótese que interrompe
a prescrição é o protesto, nas condições
do art. 202, I. Aqui se prescinde de um
comportamento ativo do credor, sendo
este, desnecessário dado o procedimento do
devedor. Se este reconhece, inequivocamente,
sua obrigação, seria estranho que o credor se
apressasse em procurar tornar ainda mais
veemente tal reconhecimento. A hipótese se
configura quando o devedor faz pagamento
por conta da dívida, solicita ampliação do
prazo, paga juros vencidos, outorga novas
garantias, e outros.
A interrupção operada contra um dos
herdeiros do devedor solidário não prejudica
os outros herdeiros ou devedores, somente
quando se tratar de obrigações e direitos
indivisíveis. A interrupção produzida contra
o principal devedor prejudica o fiador.
Em regra geral a prescrição ocorre
em dez anos quando a lei não tenha fixado
prazo menor. Sendo este, o prazo máximo
da prescrição. Caso o Código Civil não tenha
previsto outro prazo, o prazo mencionado
vale para todos os casos de prescrição, de
modo que, ou a lei impõe um prazo menor,
ou a ação prescreve dentro do tempo
mencionado. O Código Civil apresenta
várias ações e fixa-lhes um prazo diferente
de prescrição, que começa de um e vai até
cinco anos, atribuído a muitas ações, (CC,
Art. 206).
Por exemplo, prescreve no prazo de
um ano a pretensão dos credores não pagos
contra os sócios ou acionistas e os liquidantes,
contado o prazo da publicação da ata de
encerramento da liquidação da sociedade.
Prescreve em dois anos a pretensão para
haver prestações alimentares, a partir da
data em que se vencerem. Prescreve no prazo
de três anos a a pretensão de ressarcimento
de enriquecimento sem causa (CC, art. 206,
§3º , IV).
Prescreve em quatro anos a pretensão
94
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
relativa à tutela, a contar da data da
aprovação das contas. Por fim prescreve
em cinco anos a pretensão de cobrança de
dívidas líquidas constantes de instrumento
público ou particular (CC, art. 206, I).
Destarte, vemos que o tempo é o
instrumento necessário para que a ciência
jurídica absorva as modificações ocorridas
em seu âmbito jurisdicional, logo o tempo é
fundamental na existência do Direito.
3.
O
Tempo
no
Direito
Processual Civil
O Direito Processual Civil é o
instrumento de materialização do Direito
Civil. O Código de Processo Civil é a lei que
trás ao Judiciário, não apenas as regras para
o pleito de tutela jurisdicional compreende
toda a estrutura que concerne ao exercício da
jurisdição civil, a que determina a distribuição
de atribuições entre só componentes dos
órgãos judiciários, horário de funcionamento
dos serviços forenses, competência de juízes
e auxiliares e etc.
Também cabe à lei processual Civil
regrar sobre a forma e a dinâmica do exercício
da ação em juízo, o procedimento. E por fim,
as normas e princípios gerais ou específicos
de interpretação e equacionamento da
função jurisdicional e do exercício do direito
de ação. Como por exemplo, condições e
pressuposto processuais.
Para Theodoro (2010), o Código
de Processo Civil é o meio de harmonizar
o direito processual com outras normas
jurídicas estranhas ao código, e de solucionar
conflitos intertemporais de normas.
Toda lei, como criação humana, está
sujeita a um início e a um fim, ou seja, ao
começo de sua vigência e ao momento que
cessa sua eficácia. A produção normativa
relacionada ao Processo Civil não possui um
rito especial, como dito no capítulo anterior,
as normas estão subordinadas à Lei de
Introdução ao Código Civil brasileiro.
Em regra, a lei não atinge fatos
anteriores a sua entrada em vigência, porém,
existe uma discussão sobre as mudanças
relacionadas à lei processual pelo fato de seus
| A INFLUÊNCIA DO TRANSCURSO TEMPORAL NAS MODIFICAÇÕES OCORRIDAS NO DIREITO CIVIL |
efeitos incidirem imediatamente também
nos processos em andamento.
Deste modo, entende-se que as leis
processuais são de efeito imediato frente aos
feitos pendentes, mas não retroativas, pois só
os atos posteriores à sua entrada em vigor é
que se regularão por seus preceitos. Tempus
regit actum
Antes de debater mais sobre o tema
deste trabalho, ainda é necessário apresentar
os princípios gerais e específicos do direito
processual civil, sendo eles relativos ao
processo, e outros ao procedimento.
3.1
Princípios
Gerais
e
Específicos do Direito Processual Civil
Do devido processo legal: o devido
processo legal, no Estado Democrático
de Direito, jamais poderá ser visto como
simples procedimento desenvolvido em
juízo. Seu papel é o de atuar sobre os
mecanismos procedimentais de modo
a preparar e proporcionar provimento
jurisdicional compatível com a supremacia
da Constituição e a garantia de efetividade
dos direitos fundamentais, sendo elas, o
direito de acesso à Justiça, o direito de
defesa, o contraditório e a paridade de armas
processuais entre as partes, a independência
e a imparcialidade do juiz, a obrigatoriedade
da motivação dos provimentos judiciais
decisórios, e, a garantia de uma duração
razoável, que proporcione uma tempestiva
tutela jurisdicional.
Do dispositivo: tem duas derivações
importantes, o da demanda, que determina
que cabe apenas à parte o poder de abrir um
processo, e não ao juiz, e a congruência, que
determina que o juiz deverá ficar limitado ao
pedido da parte.
Do contraditório: é a garantia do
pleno direito de defesa e de pronunciamento
durante todo o curso do processo.
Do duplo grau de jurisdição: diz a
respeito de que todo ato do juiz que possa
prejudicar um direito ou um interesse da
parte deve ser recorrível, como meio de
evitar ou emendar os erros ou falhas que são
inerentes aos julgamentos humanos.
Da boa-fé e da lealdade processual: a
lealdade processual é a consequência da boafé no processo e exclui a fraude processual,
os recursos torcidos, a prova deformada, as
imoralidades de toda ordem.
Da verdade real: o processo civil
busca a verdade, porém não sendo possível,
o juiz pode se contentar com a verdade
formal, baseando-se apenas nos fatos e
circunstancias constantes dos autos e a
sentença necessariamente deverá conter os
motivos que lhe formaram o convencimento.
Da oralidade: sendo a identidade da
pessoa física do juiz, de modo que este dirija
o processo desde seu início até o julgamento,
a concentração que é uma ou em poucas
audiências para a produção de provas e o
julgamento da causa, e, irrecorribilidade das
decisões interlocutórias, evitando a cisão
do processo ou a sua interrupção contínua,
mediante recurso, que devolvem ao tribunal
o julgamento impugnado.
Da publicidade: a justiça não
deve ser secreta, assegurada por preceito
constitucional(CF, art. 93, IX)
Da economia processual: o processo
deve-se apoiar-se em proporcionar às partes
uma Justiça a mais barata possível e a mais
rápida possível.
Da eventualidade e da preclusão:
determina que o processo tem determinados
momentos para determinadas manifestações,
como por exemplo, Nos termos do art. 300
do Estatuto Adjetivo “compete ao réu alegar,
na contestação, toda a matéria de defesa...”,
não havendo meios de se retornar a fase
anterior quando terminado o prazo para tal
ato, obrigando o processo seguir sempre um
sentido único.
Apresentado
estes
requisitos
fundamentais que devem ser observados no
Direito Processual, há condições de se iniciar
da discussão sobre a influência do tempo no
Processo Civil.
O tempo é algo natural, é uma
constante universal, porém a contagem
do tempo é uma invenção humana, é um
interesse social em se medir dias, meses e
anos, e suas frações ou suas conglomerações.
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
95
| A INFLUÊNCIA DO TRANSCURSO TEMPORAL NAS MODIFICAÇÕES OCORRIDAS NO DIREITO CIVIL |
Desta forma, a tramitação do processo
não poderia ficar ausente a influência
temporal, tanto que durante a produção
normativa, o legislador determinou que a
tutela jurisdicional fosse sempre prestada
pelo Estado dentro de um limite razoável de
tempo, com a finalidade de tornar o processo
idealmente instrumentalizado, a fim de que
pudesse ter duração razoável. Conforme
descrito no texto da Constituição Federal
em seu art. 5º, LXXVIII a todos, no âmbito
judicial e administrativo, são assegurados a
razoável duração do processo e os meios que
garantam a celeridade de sua tramitação.
Assim, o juiz é impossibilitado de
retroagir a atos praticados anteriormente,
com exceção da das matérias de ordem
publica.
Muitas vezes se diz que o tempo é um
inimigo do processo, que seus operadores
devem batalhar contra este elemento, porém,
deve-se observar que esta frase corre em
omissão e contradição, primeiro, o tempo não
é um inimigo do processo, o que é um inimigo
do processo e da própria tutela jurisdicional
é o excesso de tempo, o transcurso temporal
é necessário para que as partes, o juiz e
seus auxiliares atendam todos os princípios
processuais. Em segundo, a luta contra o
tempo é uma batalha que se for travada de
forma descuidada pode vir a prejudicar o
exercício do direito e a resolução definitiva
da lide. Não basta apenas solucionar a lide
entre as partes, deve buscar a solução da
lide social. Para isso, é necessário tempo,
na quantidade certa, não se tendo uma
receita, pois o processo é relacionado a um
caso especifico, a para cada caso, existe uma
demanda temporal necessária.
Ocorrem atualmente discussões para
que se torne o processo mais dinâmico e
breve, entretanto, não se pode querer acelerar
os procedimentos, pois se corre o risco de
prejudicar a solução da lide. Para a maioria
dos processos, as soluções dos litígios podem
ser buscadas fora do judiciário, mas não
contrárias à lei.
No procedimento processual temos
três tipos de prazos: prazos legais, prazos
96
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
judiciais, e prazos convencionais. O primeiro
é determinado pela lei, como o de resposta do
réu e o dos diversos recursos. Já o segundo
é determinado pelo próprio juiz, no caso
da designação de data para audiência, o de
fixação do prazo do edital, o de cumprimento
da carta precatória e etc, podendo ser pelo
prazo que seja razoavelmente necessário para
atender alguma determinação judicial. Por
fim, o terceiro, refere-se aos prazos ajustados,
de comum acordo entre as partes, como o de
suspensão do processo, ou de concessão pelo
credor ao devedor na execução, para que a
obrigação seja voluntariamente cumprida.
O processo caracteriza-se pelo
constante diálogo travado entre
as partes, no mais das vezes por
meio de uma cognição plena e
exauriente, tornando necessário
estabelecer prazos para que isso
ocorra racionalmente, sob pena de
não se ter o mínimo de parâmetros
para determinar o tempo e a
forma com que será solucionado
o conflito de interesses. Como a
prestação da tutela jurisdicional
não é marcada pelos traços
do
automatismo,
procura-se
fazer o possível para abreviar o
tempo entre a lesão ao direito
e a sentença judicial, ou entre a
ameaça ao direito e a decisão que
visa impedir a sua ocorrência.
(NUNES, 2010, p. 132)
Segundo a natureza dos prazos,
eles podem ser considerados dilatórios
ou peremptórios. Os prazos dilatórios são
aqueles que embora fixados na lei, admitem
ampliação pelo juiz ou por convenção das
partes, podendo ser reduzidos ou ampliados,
conforme o art. 181 Código Processo Civil.
Já os prazos Peremptórios são
aqueles que a convenção das partes e
ordinariamente, o próprio juiz, não podem
alterar, porém, é permitida, em casos
excepcionais, a ampliação de todo e qualquer
prazo, mesmo os peremptórios, desde que
seja difícil o transporte na Comarca, ou tenha
ocorrido caso de calamidade pública.
Por regra, o curso do prazo é contínuo,
| A INFLUÊNCIA DO TRANSCURSO TEMPORAL NAS MODIFICAÇÕES OCORRIDAS NO DIREITO CIVIL |
uma vez iniciado não sofrerá interrupção em
seu curso pela superveniência de feriado
ou dia não-útil. Porém, as férias forenses,
terão efeito suspensivo sobre o prazo ainda
em andamento, sem distinguir entre sua
natureza. Suspendendo sua contagem e
continuando pelo prazo restante já no
primeiro dia útil seguinte ao termino das
férias, art. 179, CPC. Não atingindo o prazo
decadencial, restringindo apenas aos atos
processuais.
Outro instituto que interfere no prazo
processual são os Recursos, que no sentido
amplo implica em todo meio empregado pela
parte litigante a fim de defender o seu direito.
Porém, em uma acepção técnica e
restrita, o recurso pode ser definido como
o meio ou remédio impugnativo apto para
provocar dentro da relação processual ainda
em curso, o reexame de decisão judicial, pela
mesma autoridade judiciária, ou por outra
hierarquicamente superior visando obter
sua reforma, invalidação, esclarecimento ou
integração.
Apenas os atos do juiz são sujeitos
a recursos, e de acordo com o art. 162 do
CPC, apenas as “sentenças”, “decisões
interlocutórias”. Aos despachos, que são atos
judiciais que apenas impulsionam a marcha
processual, não cabe recurso algum.
De acordo com o texto do art. 508,
o prazo para recurso será de 15 dias para
interpor os recursos de apelação, embargos
infringente, recurso ordinário, recurso
especial e recurso extraordinário. Os outros
recursos sujeitam-se a prazos menores.
Cada espécie de recurso tem um
prazo particular, que é comum para ambas
as partes, começando sua contagem a partir
da intimação do conteúdo do ato judicial.
Os recursos podem ser apreciados
pelo próprio magistrado que proferiu
a decisão recorrida, ou, pelo tribunal
hierarquicamente superior. Entretanto, ao
interpor um recurso, acaba-se prolongando a
vida do processo. Infelizmente, a vasta gama
de recursos que podem ser apresentados, é
utilizada apenas como meio de postergar
uma obrigação judicial.
4. Conclusão
Como apresentado, o Direito se
materializa com o auxílio do transcurso
temporal. Sem a aplicação desta variável
no Direito, se tornaria impossível sua
aplicabilidade. Pois sem delimitar prazos
não existiria segurança jurídica.
Normalmente quando se relaciona
processo e tempo, logo associamos a ideia de
demora, de lentidão, de justiça tardia. Porém
existe uma relação muito mais profunda e
intrínseca.
Assim,
devemos
separar
a
influência do tempo no Direito, do tempo
do procedimento processual. O primeiro
está relacionado aos critérios específicos e
objetivos que instruem o aprimoramento da
tutela judicial. Já o segundo, reflete como tal
tutela é prestada pelo Estado.
A busca por meios para deixar o
processo mais célere e seu tempo de vida
menor não pode ser focada apenas na
mudança legislativa. Os juízos abarrotados
de processos, a falta de infraestrutura,
servidores capacitados com quantidade
e qualidade necessária, são os principais
fatores para prolongar e perpetuar e lentidão
judiciária.
Para que os magistrados possam,
assim, exercer sua função de membro do
poder judiciário de forma adequada, que
atenda as necessidades locais, afim de
proporcionar a tutela jurisdicional no menor
tempo possível para aquele caso específico,
será necessária uma reforma administrativa
e gestora dos Tribunais. Enquanto não
ocorrer isto, veremos constantemente
o quadro de servidores e membros
insuficientes, infraestrutura arcaica e um
baixo nível de renovação de funcionários,
afetando diretamente a satisfação de um
direito desejado.
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
97
| A INFLUÊNCIA DO TRANSCURSO TEMPORAL NAS MODIFICAÇÕES OCORRIDAS NO DIREITO CIVIL |
Referências
BARROS MONTEIRO, Washington de. Curso de Direito Civil. 38.ed. São Paulo: Saraiva, 2001.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil. 20. ed. rev. aum. São Paulo: Saraiva 2003.
GONÇALVES, Carlos Roberto, Direito Civil Brasileiros. Volume I. 7. ed. São Paulo: Saraiva
2009.
NUNES, Gustavo Henrique Schneider, Tempo do Processo Civil e Direitos Fundamentais. 1ª
ed. São Paulo: Letras Jurídicas, 2010.
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. 34. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
SAID CAHALI, Yussef. Código Civil. 6.ed. São Paulo: RT, 2004.
THEODORO JR., Humberto, Curso de Direito Processual Civil, 51ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010.
TUCCI, José Rogério Cruz e. Tempo e Processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.
98
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
| A INFLUÊNCIA DO TRANSCURSO TEMPORAL NAS MODIFICAÇÕES OCORRIDAS NO DIREITO CIVIL |
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
99
UM ESTUDO SOBRE O PERFIL EMPREENDEDOR
DOS ALUNOS DE ADMINISTRAÇÃO DE UMA
FACULDADE DE RIBEIRÃO PRETO - SP
Luiz Guilherme de Paula Madeira¹
João Paulo L. de Oliveira²
1. Resumo
O empreendedorismo é um assunto
que ganhou considerável importância
no Brasil nas últimas décadas. A grande
importância das micro e pequenas
empresas para a economia brasileira e o
alto índice de mortalidade destas empresas,
motivaram a criação de órgãos de apoio e
institutos de ensino e pesquisa na área de
empreendedorismo. Atualmente, o ensino
de empreendedorismo faz parte de muitos
cursos de administração de empresas. O
presente estudo tem como objetivo analisar
o perfil empreendedor dos alunos de uma
faculdade de administração na cidade de
Ribeirão Preto - SP, comparando os alunos
ingressantes com os alunos concluintes
e medindo o nível de evolução do perfil
empreendedor ao longo do curso. Foi
realizado um levantamento junto a 85 alunos
de primeiro e último ano deste curso, com
a utilização de um questionário envolvendo
perguntas sobre a vida empresarial do aluno
e um teste de perfil empreendedor. Os
resultados obtidos mostraram que há uma
evolução do perfil empreendedor destes
alunos ao longo do curso, já que o percentual
de alunos do último ano que afirmaram
serem bons ou excelentes na maioria das
características empreendedoras pesquisadas
foi maior que o percentual dos alunos do
primeiro ano. A pontuação final atribuída a
cada aluno após a soma das notas de cada
característica mostrou uma nota média
maior dos alunos concluintes em relação aos
ingressantes, e também maior presença no
grupo dos alunos classificados como de perfil
empreendedor mais desenvolvido.
Palavras
chave:
Empreendedorismo,
comportamento empreendedor, pequenas
empresas.
1. Abstract
Entrepreneurship is a topic that has
gained considerable importance in Brazil
in recent decades. The great importance
of micro and small enterprises for the
Brazilian economy and the high mortality
rate of these companies, led to the creation
of support agencies and institutes of
education and research in the field of
entrepreneurship. Currently, the teaching of
entrepreneurship is part of many courses of
business administration. The present study
aims to analyze the entrepreneurial profile
of students at a business school in the city
of Ribeirão Preto – SP, comparing the first
and final year students, and measuring the
level of entrepreneur profile development
along the course. It was performed a survey
with 85 students from the first and final
year of this course, using a questionnaire
involving questions about the business life of
the student and an entrepreneur profile test.
The results showed that there is an evolution
of the entrepreneur profile of students along
the course, since the percentage of final year
students who said to be good or excellent in
most of the entrepreneurs characteristics
surveyed was higher than the percentage of
first year students. The final grade assigned
to each student after the sum of the scores of
each characteristic, also showed a greater
average score of final year students in
¹ Acadêmico do Curso de Administração do UNISEB
² Docente e Coordenador do Curso de Administração do UNISEB
100
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
relation to new students, and also greater
presence in the group of students classified
as more developed entrepreneur profile.
Keywords: entrepreneurship, entrepreuner
behavior, small businesses.
2. Introdução
Este trabalho discorrerá sobre o
perfil comportamental do empreendedor de
sucesso, fazendo uma análise comparativa
da evolução deste perfil ao longo de um
curso de administração de empresas de uma
faculdade de Ribeirão Preto.
Segundo
Dornelas
(2008),
o
empreendedorismo é um conceito muito
difundido e estudado há várias décadas em
países como os Estados Unidos da América,
onde o capitalismo já tem bases mais sólidas.
No Brasil, o conceito de empreendedorismo
começou a ganhar popularidade no final da
década de 90, com a crescente preocupação
em criar pequenas empresas longevas,
dadas as altas taxas de mortalidade de
novos negócios registrada no país até
então. A grande preocupação do governo
e das entidades de classe era o fato de as
grandes empresas, procurando aumento
na competitividade e redução de custos,
provocarem um alto índice de desemprego.
E a conseqüência desse desemprego foi
a criação de diversos pequenos negócios
por parte dos ex-funcionários das grandes
empresas, mesmo não tendo grande
experiência no ramo em que escolheram.
Nos últimos anos, o índice
de sobrevivência das MPE (Micro e
Pequenas Empresas) tem aumentado
substancialmente. (SEBRAE, 2007).
Porém, para Dornelas (2008), mesmo
com esta melhora no índice de sobrevivência
das MPE, deve-se atentar ao fato de que
a concorrência aumentará conforme
aumenta a estabilização da economia e a
capacitação dos empreendedores. Por isso
os empreendedores devem sempre buscar
mais conhecimentos e se desenvolverem nas
habilidades necessárias para gerir o negócio
com sucesso.
Por ser o empreendedorismo um
assunto que gerou interesse nos brasileiros
de forma tardia, este ainda é pouco abordado
dentro
das
universidades.
Segundo
Tachizawa (2004), tradicionalmente os
alunos entram nas universidades com
o objetivo de obterem uma graduação e
conseguirem um emprego em uma grande
empresa. São raros os casos em que alunos
universitários obtêm seu diploma, e abrem
seu próprio negócio
O objetivo geral deste trabalho é
estudar e comparar o perfil empreendedor
dos alunos ingressantes e concluintes de
administração de uma faculdade privada de
Ribeirão Preto.
3. Revisão teórica
3.1
Conceituação
de
empreendedorismo
Para
Dornelas
(2008),
o
empreendedor pode ser definido como o
indivíduo que tem as habilidades necessárias
para transformar simples idéias em
oportunidades reais de negócio, e abre uma
empresa para explorar o retorno financeiro
advindo desta oportunidade. Há um consenso
entre os estudiosos de empreendedorismo
de que os empreendedores têm algumas
características em comum, tais como:
coragem de empreender em um novo
negócio, gosta do que faz, tem habilidade
para alocar recursos de forma inteligente, é
um agente transformador do ambiente, não
tem aversão ao fracasso e aos riscos de o
negócio não prosperar.
Hisrich e Peters (2004) consideram o
empreendedorismo como um processo que
engloba quatro pontos principais. O primeiro
diz respeito à novidade (criação de algo
valioso para o empreendedor e seu público). O
segundo aborda o tempo e o esforço exigidos
em um novo empreendimento. O terceiro
aspecto é o risco que o empreendedor deve
assumir ao iniciar um negócio. E o quarto
diz respeito às recompensas de ser um
empreendedor, tais como: independência,
satisfação pessoal e retorno financeiro.
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
101
| UM ESTUDO SOBRE O PERFIL EMPREENDEDOR DOS ALUNOS DE ADMINISTRAÇÃO DE UMA FACULDADE DE RIBEIRÃO PRETO - SP|
De acordo com Filion (1999), o
empreendedor é aquele que tem capacidade
de: estabelecer e atingir metas de uma forma
criativa; detectar tendências e oportunidades,
por entender com facilidade o contexto em
que está inserido; admitir riscos controláveis
e aprender continuamente, confirmando
assim sua condição de empreendedor. De
acordo com Filion (1991, apud FILION, 1999,
p. 19) “Um empreendedor é uma pessoa que
imagina, desenvolve e realiza visões”.
Segundo
Bernardi
(2010),
um
indivíduo
pode
lançar-se
ao
empreendedorismo de diversas formas.
Uma delas é efetivamente montando uma
nova empresa. Também pode comprar
uma empresa já em funcionamento. Além
disso, existem as sociedades, ou seja, o
empreendedor pode se associar a uma
empresa em criação, ou que já existe há algum
tempo. E finalmente, existem as franquias,
que por terem modelos formalizados de
negócio, reduzem os riscos para aqueles
empreendedores que não conhecem bem o
mercado em que pretendem atuar.
Conforme
Dornelas
(2008),
há um processo empreendedor que
compreende quatro etapas, que não seguem
necessariamente uma seqüência, já que o
empreendedor pode ter que realizar alguma
etapa mais de uma vez. As etapas do processo
empreendedor consistem em identificar
uma oportunidade, elaborar um plano de
negócios, obter os recursos financeiros
necessários e por último, gerenciar o negócio.
3.2
Análise
histórica
do
empreendedorismo
Segundo Hisrich e Peters (2004),
o termo empreendedorismo deriva da
expressão francesa entrepreneur, que
significa “intermediário” ou “aquele que
está entre”. Um dos primeiros exemplos de
empreendedorismo é de Marco Polo, que
atuava como um intermediário assinando
um contrato de risco com uma espécie de
“capitalista” da época, para vender suas
mercadorias em rotas comerciais entre a
Europa e o Extremo Oriente. Assim, em caso
102
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
de sucesso na operação, Marco ficava com um
pequeno percentual da venda e o “capitalista”
com a maior fatia do faturamento. Na Idade
Média, era chamado de empreendedor
aquele que gerenciava ou participava de
grandes projetos, tais como construção de
prédios públicos e grandes igrejas.
No século XVII, empreendedor
era visto como aquele que assumia riscos
ao fazer um contrato de valor fixo com o
governo para o fornecimento de serviços
ou produtos estipulados. O escritor e
economista Richard Cantillon, observando
esta forma de empreendedorismo, escreveu
uma das primeiras teorias classificando
como empreendedor aquele que trabalhava
com risco em suas atividades.
Filion (1999) ressalta que de acordo
com os manuscritos de Cantillon, ele poderia
ser comparado aos atuais capitalistas de
risco, pois procurava obter retorno sobre o
capital investido, através das oportunidades
de negócios que encontrava. Cantillon
também era uma pessoa que acreditava na
gestão inteligente e eficiente para obter os
rendimentos esperados.
Para Hisrich e Peters (2004), no
século XVIII ficou clara a distinção entre
capitalista de risco e empreendedor. Um
dos exemplos é Thomas Edison, que contou
com capital de terceiros para concluir seus
experimentos com química e eletricidade.
Uma das causas para essa distinção foi a
industrialização, onde surgiu a necessidade
de que capitalistas de risco financiassem
projetos de empreendedores, em troca de
altas taxas de retorno.
Filion (1999), ao falar da visão
comportamentalista do empreendedorismo
(aquela dos psicólogos, psicanalistas e
sociólogos), destaca a contribuição do
psicólogo americano David McClelland,
que em seu estudo percebeu que existem
muitos heróis na literatura, e que as
gerações seguintes tentavam seguir o
comportamento destes heróis, criando um
grande desejo de realizar e este desejo era
associado aos empreendedores. Entretanto,
como McClelland considerava qualquer
| UM ESTUDO SOBRE O PERFIL EMPREENDEDOR DOS ALUNOS DE ADMINISTRAÇÃO DE UMA FACULDADE DE RIBEIRÃO PRETO - SP|
executivo de uma grande corporação como
um empreendedor, não se encontrou em
seus escritos qualquer ligação entre desejo
de auto-realização e desejo de possuir um
negócio próprio.
Os
comportamentalistas
ainda
dominaram os estudos sobre o empreendedor,
até o início da década de 80, na tentativa
de descrever os traços e características
dos empreendedores de sucesso. Apesar
destas tentativas, os resultados foram muito
contraditórios, o que leva a conclusão de
que não é possível predizer se um futuro
empreendedor terá sucesso, mas é possível
detectar se ele possui as características
mais
encontradas
normalmente
nos
empreendedores de sucesso. (FILION, 1999)
3.3
Panorama
do
empreendedorismo no Brasil
De acordo com Dornelas (2008),
no Brasil, os estudos no campo do
empreendedorismo se popularizaram em
meados dos anos 90, com a criação de
entidades e programas que apóiam o micro e
pequeno empreendedor, tais como o Sebrae
(Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas) e a Softex (Sociedade
Brasileira para Exportação de Software).
Segundos dados do Sebrae (2007), a
taxa de sobrevivência das MPE brasileiras
com pelo menos dois anos de existência,
saltou de 56% em 2002 para 78% em 2005.
Esta evolução pode ser creditada à melhoria
das condições da economia brasileira
(redução dos juros, controle inflacionário,
aumento do consumo) e ao melhor preparo
dos empresários. Neste mesmo período,
o percentual de empresários que tiveram
habilidade para detectar oportunidades no
mercado passou de 15% para 43%.
De acordo com dados do Sebrae e
Dieese (2010), em 2008 o Brasil contava com
5.838.070 estabelecimentos formais, sendo
que destes, 5.486.649 (94%) eram micro
empresas, 300.047 (5,1%) eram pequenas
empresas, 33.597 (0,6%) eram médias
empresas e 17.777 (0,3%) eram grandes
empresas.
Para Degen (2009), houve certa
liberalização
da
economia
brasileira
após a eleição de governos democráticos
e a conseqüente privatização de muitas
empresas, entretanto, o Brasil está distante
de estar totalmente integrado à economia
globalizada. Uma das conseqüências é o
chamado “custo Brasil”, que é o fator que
onera o produto brasileiro, gerando falta de
competitividade. O “custo Brasil” nada mais
é que o reflexo da infra-estrutura precária
e da alta carga de impostos praticada no
país, dificultando o desenvolvimento do
empreendedorismo.
Segundo Maximiano (2011), apesar
dos obstáculos impostos aos empreendedores
brasileiros, hoje existem diversos órgãos
que apóiam o desenvolvimento do
empreendedorismo, além dos órgãos
governamentais, tais como escolas superiores
que oferecem cursos e programas voltados ao
ensino empreendedor, incubadoras de novas
empresas e também os sites de organizações
especializadas
que
disponibilizam
informações aos empreendedores na
internet.
3.4 O perfil do empreendedor de
sucesso e as implicações em sua vida
Para Bernardi (2010) há um consenso
na literatura de empreendedorismo acerca
das características e traços de personalidade
do empreendedor. O empreendedor tem
facilidade para encontrar e desenvolver
oportunidades, é enérgico e realizador, confia
em si mesmo e é otimista, se sujeita a riscos,
sabe se relacionar e construir networking, é
dinâmico, sabe criar e inovar, é independente
e persistente.
Segundo Maximiano (2011), os
estudos indicam que o perfil empreendedor
engloba algumas características essenciais,
tais como criatividade e capacidade de
implementação, disposição a correr riscos,
perseverança, otimismo e independência.
Degen (2009) se baseia nas definições
de Joseph Schumpeter, David McClelland e
Bernard Shaw para definir o comportamento
do empreendedor. O empreendedor é aquele
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
103
| UM ESTUDO SOBRE O PERFIL EMPREENDEDOR DOS ALUNOS DE ADMINISTRAÇÃO DE UMA FACULDADE DE RIBEIRÃO PRETO - SP|
que não se conforma com o status quo, faz
parte de uma minoria que se sacrifica por
um objetivo desafiador, demonstrando
uma grande necessidade de realização e
disposição a correr riscos, e por fim, tenta
superar tudo o que já existe no mercado,
introduzindo novos produtos e/ou serviços.
Ainda segundo Degen (2009), o
empreendedor se sujeita a trabalhar muito
além do que um empregado comum,
sacrificando uma grande parte de sua
vida em prol do sucesso de seu negócio. O
empreendedor tem noção do quanto valioso
é o seu tempo e trabalho, e assim procura
maximizar sua utilização, sempre com o
objetivo de obter o sucesso empresarial.
Para
Dornelas
(2008),
os
empreendedores devem possuir além das
características pessoais, habilidades técnicas
e gerenciais. Ter habilidades técnicas
significa saber se comunicar e gerenciar
informações de forma eficaz, ser organizado,
ter habilidades de liderança e trabalho em
equipe e principalmente conhecer muito
bem tecnicamente a área em que atua. Ter
habilidades gerenciais significa ter uma boa
base de conhecimentos em todas as áreas
da administração (marketing, operações,
finanças e administração geral), ser um bom
negociador e tomador de decisões.
Para Filion (2000), os empreendedores
são indivíduos experientes no mundo dos
negócios, trabalham exaustivamente e são
envolvidos, são visionários, têm capacidade
de liderança e de controle do comportamento
alheio, se relacionam com seus empregados
de maneira única, e normalmente são
influenciados ainda na juventude, por algum
modelo empreendedor, algo ou alguém que
serviu de guia para a formação de sua cultura
empreendedora.
Para Drucker (2005), o “espírito
empreendedor” é uma característica que
pode ser encontrada em indivíduos das mais
diversas personalidades e temperamento,
portanto não deve ser considerado como
um traço de personalidade e sim um
comportamento. Tais indivíduos devem
aceitar a incerteza, dado que são tomadores
104
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
de decisão. Para o empreendedor, a mudança
é algo natural e inevitável, ao qual ele deve
reagir e explorar todas as oportunidades
recorrentes.
3.5 A comparação entre o
empreendedor e o administrador
tradicional
Segundo Dornelas (2008) existem
muitas discussões acerca das características
dos administradores (gerentes) tradicionais
e dos empreendedores. Ambos compartilham
algumas características, mas o empreendedor
possui outras que o diferem. Os bons
empreendedores devem dominar as técnicas
da administração para obterem o sucesso
empresarial, entretanto existem muitos
bons administradores que não apresentam
características empreendedoras.
Para Filion (2000) os gerentes
tradicionais baseiam seu trabalho em uma
estrutura preexistente, criada por outra
pessoa. Seu trabalho consiste em atingir
objetivos organizacionais, através da
utilização de recursos de forma racional e
eficiente. Os empreendedores trabalham
em estruturas normalmente criadas através
de seu conhecimento de um mercado ou
produto específico, têm a capacidade de
visão do futuro, do que desejam fazer e
qual resultado esperam obter. A ação dos
empreendedores está ligada a maneira como
interpretam o que está acontecendo em
determinado contexto.
Para Dornelas (2008), conhecer
profundamente o mercado em que atua,
com considerável dispêndio de tempo e
experiência, é uma habilidade única do
empreendedor. Outra forte característica do
empreendedor é a capacidade de enxergar
algo no futuro, se baseando nisso para fazer
um plano. Como o planejamento é uma
função da administração, presume-se que
o empreendedor é aquele que incorpora as
características do administrador de forma
complementar, utilizando o melhor das
várias abordagens e tomando suas decisões
a partir de sua visão do contexto em que vive.
Para Lemes Júnior e Pisa (2008),
| UM ESTUDO SOBRE O PERFIL EMPREENDEDOR DOS ALUNOS DE ADMINISTRAÇÃO DE UMA FACULDADE DE RIBEIRÃO PRETO - SP|
os empreendedores são aqueles que
detectam oportunidades em forma de
necessidades, criando assim demanda por
um produto ou serviço, e capitalizam sobre
esta oportunidade, criando uma empresa
e assumindo todos os riscos ligados a ela.
Assim são agentes de mudança e inovação.
Já os gerentes tradicionais têm a função
de gerir pessoas e informações. Com estas
habilidades, os gerentes conseguem atingir
os objetivos organizacionais, extraindo o
melhor das habilidades e competências de
cada funcionário.
3.6 Considerações sobre o
ensino de empreendedorismo
Segundo Dornelas (2008), as
faculdades de administração formavam
gestores de grandes empresas e não
empreendedores, criadores de suas próprias
empresas. Isso ocorria devido à estabilidade
oferecida por estas grandes organizações e por
empresas públicas, além de salários, status
e possibilidades de ascensão profissional
animadores. Com a mudança de contexto,
os jovens profissionais e as faculdades de
administração se depararam com um cenário
para o qual eles não haviam se preparado e
por isso o ensino de empreendedorismo
passou a ter a importância merecida
tardiamente.
Durante muito tempo acreditouse que as características empreendedoras
eram fruto de predestinação, ou seja, o
empreendedor já nascia assim e não podia
se preparar alguém para desenvolver estas
características. Entretanto, hoje se sabe que
é possível o ensino do empreendedorismo.
Um curso de empreendedorismo deve
abordar as características e habilidades do
empreendedor de sucesso e sua importância
para o desenvolvimento da economia e o
processo empreendedor como um todo,
desde a avaliação de idéias e oportunidades
até a conclusão do plano de negócios, e seus
desdobramentos práticos.
Para Filion (2000), o ensino de
empreendedorismo não deve ser pautado
exclusivamente
pela
transmissão
de
conhecimento, mas pelo desenvolvimento
de know-how e do conceito de si.
Desenvolver o know-how significa entender
profundamente o mercado, saber lidar com
idéias e oportunidades, saber como criar
uma estrutura, uma organização, a partir
de uma visão de futuro. Também significa
conhecer as técnicas administrativas. Já o
conceito de si, implica no desenvolvimento
da autonomia, autoconfiança, criatividade,
capacidade de liderar, determinação,
entre outras características consideradas
fundamentais para o empreendedor de
sucesso.
Filion (2000) ainda ressalta que
é necessário o devido cuidado para que o
programa de ensino empreendedor não se
torne um curso tradicional de gerenciamento,
caso o conteúdo não seja adaptado à realidade
do empreendedor e das pequenas empresas.
O know-how e o autoconhecimento são
desenvolvidos através de situações que levem
o aluno a definir contextos, através do uso
de estudos de caso, depoimentos e contato
direto com empreendedores.
Para Degen (2009), atualmente
existem
centros
de
ensino
de
empreendedorismo, tanto em faculdades
como em escolas técnicas, que oferecem
condições para o desenvolvimento do
empreendedorismo através de instrumentos
como
incubadoras
e
treinamentos.
Entretanto, a maioria desses cursos faz
parte do currículo regular de cursos de
graduação, onde a maioria dos alunos
ainda é inexperiente no que diz respeito às
habilidades do empreendedor, tais como
a detecção de oportunidades. Além disso,
os cursos são muito focados em tecnologia
e gestão da empresa, excluindo outras
disciplinas igualmente importantes que
ajudariam na formação de empresas voltadas
para a melhoria das condições ambientais,
econômicas e sociais, ou seja, a criação de
oportunidades com base na sustentabilidade.
4. Metodologia
Este trabalho desenvolve uma
pesquisa quantitativa, tipo descritiva, que
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
105
| UM ESTUDO SOBRE O PERFIL EMPREENDEDOR DOS ALUNOS DE ADMINISTRAÇÃO DE UMA FACULDADE DE RIBEIRÃO PRETO - SP|
utiliza como técnica o levantamento (ou
survey).
Segundo Malhotra (2006), pesquisa
quantitativa é aquela que através de algum
tipo de análise estatística, busca quantificar
dados de uma amostra, generalizando-os
para uma população-alvo.
Segundo Cervo, Bervian e Silva
(2007), as pesquisas descritivas buscam
observar, registrar e analisar a ocorrência
de fenômenos e fatos, a freqüência com
que ocorrem e sua correlação com outros.
Tem como objetivo descrever aspectos e
características do comportamento humano
e a correlação entre suas variáveis, e
justamente por isso, as pesquisas descritivas
são largamente utilizadas nas ciências sociais
e humanas.
Para Malhotra (2006), levantamento
é um método que utiliza um questionário
para obter certos dados e informações de
indivíduos que fazem parte de uma amostra
da população. Através do questionário, é
possível entrevistar estes indivíduos, e obter
informações sobre suas características,
comportamentos, entre outros dados que
sejam importantes para o objetivo do estudo.
As principais vantagens do levantamento
são: a facilidade de aplicação, a confiabilidade
das informações obtidas (devido ao fato de
as respostas serem fixas, predeterminadas)
e a análise final mais simples. A principal
desvantagem é o fato de alguns dados
apresentarem mais dificuldades para
serem conseguidos, seja por relutância ou
incapacidade dos indivíduos que participam
do levantamento.
Para Kotler e Keller (2006),
questionário é um instrumento de pesquisa
com perguntas para os entrevistados, para a
coleta de dados primários. Dados primários
são aqueles coletados para uma pesquisa
específica, ao contrário dos secundários que
são aqueles que foram colhidos para outra
finalidade e estão disponíveis em algum lugar.
Em relação ao tipo de perguntas contidas
no questionário, os autores destacam que
podem ser abertas ou fechadas. As perguntas
fechadas, como já oferecem um conjunto
106
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
de respostas predeterminadas, oferecem
mais facilidade na tabulação e análise das
respostas. Já as perguntas abertas, como são
respondidas com as palavras do entrevistado,
são mais reveladoras.
Foi realizado um levantamento
dentro de um curso de administração de uma
Faculdade privada de Ribeirão Preto, para
avaliar a evolução do perfil empreendedor
dos alunos, comparando os ingressantes com
os concluintes. O curso tem 134 alunos de
primeiro e quarto, ano sendo 76 do primeiro
e 58 do quarto. Deste total, entrevistouse 85 alunos, sendo 48 ingressantes e 37
concluintes.
O questionário utilizado foi dividido
em duas partes, sendo a primeira uma
série de sete perguntas para levantar dados
básicos dos alunos tais como idade, se o
aluno é ingressante ou concluinte, e alguns
dados sobre a vida empresarial do aluno. A
segunda parte envolveu um teste de perfil
empreendedor, elaborado por Dornelas
(2008), onde os alunos se auto-avaliaram,
dando notas de 1 a 5 para cada uma das 30
características empreendedoras. A soma das
notas de cada característica resulta em uma
nota global de 0 a 150, que define o grau de
desenvolvimento do perfil empreendedor
dos alunos.
5. Resultados e Conclusões
Foram listadas 30 características
empreendedoras, e os alunos classificaram
cada uma de 1 a 5, onde 1 significa
Insuficiente, 2 Fraco, 3 Regular, 4 Bom
e 5 Excelente. As características foram
divididas em seis grupos, sendo eles: 1)
Comprometimento e determinação, 2)
obsessão pelas oportunidades, 3) tolerância
ao risco, ambigüidade e incertezas, 4)
Criatividade, autoconfiança e habilidade de
adaptação, 5) Motivação e superação e 6)
Liderança.
A soma das notas atribuídas a cada
uma das 30 características pesquisadas
leva a uma nota global de 0 a 150, que
segundo Dornelas (2008) define o perfil
empreendedor de uma pessoa, neste caso os
| UM ESTUDO SOBRE O PERFIL EMPREENDEDOR DOS ALUNOS DE ADMINISTRAÇÃO DE UMA FACULDADE DE RIBEIRÃO PRETO - SP|
alunos.
a)120 a 150 pontos: O aluno já é um
empreendedor, possui as características
comuns aos empreendedores e tem tudo
para se diferenciar no mundo dos negócios.
b)90 a 119 pontos: O aluno possui
muitas características empreendedoras e às
vezes se comporta como um, porém pode
melhorar ainda mais, se equilibrar os pontos
ainda fracos com os pontos já fortes.
c)60 a 89 pontos: O aluno ainda não
é muito empreendedor e provavelmente se
comporta, na maior parte do tempo, como
mais evoluídos em termos de habilidades e
características empreendedoras, se situaram
27% dos alunos ingressantes e 46% dos
concluintes, mostrando uma importante
evolução do perfil empreendedor dos alunos,
conforme mostra o gráfico 18.
Um total de 71% dos ingressantes
e 54% dos concluintes se situou na
segunda faixa, demonstrando ter muitas
características empreendedoras, e se
comportando como um às vezes, mas
necessitando de desenvolvimento em
algumas habilidades.
um administrador e não um “fazedor”. Para
se diferenciar e começar a praticar atitudes
empreendedoras ele deve procurar analisar
os seus principais ponto fracos e definir
estratégias pessoais para eliminá-los.
d)Menos de 59 pontos: O aluno não
é empreendedor e, se continuar a agir como
age, dificilmente será um. Isto não significa
que não tem qualidades, apenas que prefere
seguir a ser seguido. Se ele pretende ter um
negócio próprio, deve reavaliar sua carreira e
seus objetivos profissionais.
Com base nessa classificação, e na
análise dos resultados tem-se que:
A média de pontuação dos alunos
ingressantes foi de 112,27 pontos, enquanto
que a média dos concluintes foi de 120,59
pontos.
Na primeira faixa, que indica os alunos
Na terceira faixa, observou-se a
presença de apenas um aluno, ingressante,
demonstrando possuir poucas características
empreendedoras. E nenhum aluno se situou
na última faixa, que representa aqueles que
não possuem as características comuns aos
empreendedores de sucesso.
Esta análise mostra que a grande
maioria dos alunos, no mínimo, possui a
maioria das características e habilidades
necessárias para se empreender com sucesso.
Supõe-se que além da experiência
acadêmica adquirida ao longo dos quatro
anos de curso, outros fatores talvez
possam influenciar no desenvolvimento
empreendedor dos pesquisados, tais como
formação familiar, idade, sexo etc. Algumas
características como disposição ao sacrifício
para atingir metas e capacidade de imersão
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
107
| UM ESTUDO SOBRE O PERFIL EMPREENDEDOR DOS ALUNOS DE ADMINISTRAÇÃO DE UMA FACULDADE DE RIBEIRÃO PRETO - SP|
total nas atividades que desenvolve,
mostraram grande evolução e talvez
tenham sido influenciadas pela simples
experiência de vida dos estudantes, ou seja,
são características que possivelmente são
influenciadas pelo avanço da idade.
Em relação ao sexo, por exemplo,
os alunos homens do 4º ano apresentaram
média de pontuação geral superior às
mulheres. Já no 1º ano a média masculina
também foi superior, porém a diferença
entre homens e mulheres foi menor.
Uma
das
características
que
mostrou maior disparidade entre os
ingressantes e concluintes foi a obsessão
por criar valor e satisfazer os clientes, o que
supostamente mostra que estes conceitos
foram corretamente absorvidos pelos
alunos durante o curso de administração de
empresas.
O
perfil
empreendedor
dos
alunos concluintes (último ano de
curso) entrevistados apresentou mais
desenvolvimento do que o perfil dos alunos
ingressantes. A análise individualizada
de cada característica demonstrou que
em 26 das 30 características analisadas,
o percentual de alunos concluintes que
afirmaram ser bons ou excelentes foi maior
do que o de ingressantes.
Quando foi analisada a nota
global, que determina em qual faixa de
desenvolvimento se encontra o perfil
empreendedor dos alunos, a nota média dos
concluintes foi superior à dos ingressantes.
Além da média, o percentual de concluintes
que se concentraram na faixa de maior
desenvolvimento do perfil empreendedor,
foi maior que o percentual de ingressantes.
A partir destas constatações, podese afirmar que houve evolução do perfil
empreendedor dos alunos durante o curso
de administração, com os alunos concluintes
demonstrando
maior
desenvolvimento
nas características, comportamentos e
habilidades empreendedoras cruciais, tais
como maior disposição a sacrifícios e riscos,
maior preocupação com a satisfação dos
clientes, disciplina e dedicação.
108
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
| UM ESTUDO SOBRE O PERFIL EMPREENDEDOR DOS ALUNOS DE ADMINISTRAÇÃO DE UMA FACULDADE DE RIBEIRÃO PRETO - SP|
Referências
BERNARDI, Luiz Antonio. Manual de empreendedorismo e gestão: fundamentos, estratégias
e dinâmicas. São Paulo: Atlas, 2010.
CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino; SILVA, Roberto da. Metodologia científica. 6
ed. São Paulo: Prentice Hall, 2007
DEGEN, Ronald Jean. O empreendedor: empreender como opção de carreira. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.
DORNELAS, José Carlos Assis. Empreendedorismo: transformando idéias em negócios. 3. ed.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
DRUCKER, Peter. F. Inovação e Espírito Empreendedor (entrepreneurship): prática e princípios. São Paulo: Pioneira Thomsom Learning, 2005. (obra original publicada em 1986)
FILION, Louis Jacques. Empreendedorismo e gerenciamento: processos distintos, porém
complementares. RAE Light- Revista de Administração de Empresas - FGV, São Paulo, v. 7,
n.3, p.02-07, jul./set., 2000.
FILION, Louis Jacques. Empreendedorismo: empreendedores e proprietários-gerentes de
pequenos negócios. Revista de Administração, São Paulo, v. 34, n.2, p.05-28, abr/jun, 1999.
HISRICH, Robert D.; PETERS, Michael P. Empreendedorismo. 5 ed. Porto Alegre: Bookman,
2004.
KOTLER, Philip; KELLER, Kevin Lane. Administração de Marketing. 12 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.
LEMES JUNIOR, Antonio Barbosa; PISA, Beatriz Jackiu. Administrando micro e pequenas
empresas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
MALHOTRA, Naresh K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 4. ed. Porto Alegre:
Bookman, 2006.
MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Administração para Empreendedores: fundamentos da
criação e da gestão de novos negócios. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011.
SEBRAE (Org.); DIEESE. Anuário da micro e pequena empresa. 3 ed. Brasília; São Paulo:
SEBRAE; DIEESE, 2010.
SEBRAE. Fatores condicionantes e taxas de sobrevivência e mortalidade das micro e pequenas empresas. Brasília: SEBRAE, 2007. Disponível em: < http://www.biblioteca.sebrae.com.
br/bds/bds.nsf/8F5BDE79736CB99483257447006CBAD3/$File/NT00037936.pdf >. Acesso em: 10 out. 2011.
TACHIZAWA, Takeshy; FARIA, Marília de Sant’Anna. Criação de novos negócios: gestão de
micro e pequenas empresas. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004.
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
109
QUALIDADE DO SERVIÇO INTERNO DO
CENTRO DE SERVIÇOS E LOGÍSTICA DE UM
BANCO EM RIBEIRÃO PRETO
Ana Laura Dalpian1
Carla Junqueira Tavares Jacomo1
Alexandre de Castro Moura Duarte2
1. Resumo
O setor de serviço é o setor mais
representativo da economia. Para que a
entrega do serviço ocorra, existem varias
etapas a serem executadas até o serviço final.
A essas etapas intermediárias dá-se o nome
de serviço interno, as quais são realizadas
pelos clientes internos. A importância
dos clientes internos está na qualidade do
serviço executado e na sua interação com
os clientes externos, pois um serviço com
qualidade é percebido de maneira diferente
pelos clientes. Para que haja qualidade
em serviço, os clientes internos precisam
estar motivados e satisfeitos, o que os leva
também a aumentar a sua produtividade
e consequentemente o crescimento da
empresa. Este fato está diretamente ligado
as políticas de Recursos Humanos praticadas
pelas empresas: os benefícios oferecidos
aos funcionários, as condições e ambiente
de trabalho, o relacionamento com colegas
e gerencia e etc. Este estudo se propõe a
analisar a qualidade do serviço interno
do setor Centro de Serviços e Logística,
de um Banco do município de Ribeirão
Preto. A instituição financeira do estudo
existe a mais de 200 anos e vêm crescendo
no decorrer dos anos, assim, o estudo foi
realizado para se analisar a relação entre
a qualidade do serviço interno deste setor
com o desempenho e satisfação dos seus
funcionários, o que reflete diretamente na
empresa. O estudo analisou a satisfação dos
funcionários referente a cinco critérios da
qualidade em serviço. Para atingir o objetivo
proposto, utilizou-se um referencial teórico
que abrangesse a importância do serviço
interno, a qualidade em serviço e políticas
de Recursos Humanos, optou-se pela
realização de um estudo de caso descritivo
do tipo qualitativo e quantitativo, utilizandose como ferramenta o levantamento do
tipo survey.Os resultados sugerem que os
clientes internos estão satisfeitos, variando
conforme cada critério analisado, porém,
percebeu-se que para se realizar uma analisa
mais profunda, será necessário comparar o
crescimento da instituição financeira com
pesquisas anuais de satisfação do setor.
Constatou-se também que o que dificulta
uma analise mais profunda do estudo é a
falta de índices de produtividade. Palavras
chave: Serviço interno, Qualidade e Políticas
de Recursos Humanos.
2. Abstract
The service sector is the most
representative sector of the economy. To
occur a service delivery, there are several
stages to be executed until the final service.
These intermediate stages are called
internal service, which are conducted by
internal customers. The importance of the
internal costumers are the quality of service
performed and its interaction with external
customers, because a quality service is
differently perceived by customers. To ensue
the quality of service, internal customers
must be motivated and satisfied, so they
increase their own productivity and then
the growth of the company as well. This fact
¹ Acadêmicas do Curso de Administração do Centro Universitário UNISEB – Ribeirão Preto.
² Docente do Curso de Administração e Coordenador do Curso de Eng. De Produção, do Centro Universitário
UNISEB – Ribeirão Preto.
110
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
is directly related to the Human Resources
policies practiced by the companies: benefits
provided to employees, the conditions and
working environment, relationship with coworkers and manages and so on. This study
aims to analyses the quality of internal
service of the sector Center of Services
and Logistics, of Bank of Ribeirão Preto
city. The financial institute of the study
has more than 200 years and has been
growing over the years, therefore, the study
was conducted to analyze the relationship
between the internal service’ quality in
this sector with the performance and
satisfaction of its employees, which directly
reflects in the company. The study analyzed
the satisfaction of the employees regarding
the five criteria of quality in service. To
reach the goal of the study, was utilized a
theoretical framework that encompasses
the importance of internal service, quality
in service and Human Resource policies, it
was decided to carry out a descriptive case
study of qualitative and quantitative types,
using survey as a tool. The results suggest
that the internal customers are satisfied,
ranging according to each examined
criterion, however, it was realized that to
perform a deeper analysis will be necessary
to compare the growth of the financial
institute with annual surveys of satisfaction
in the sector. Besides, it was also found that
what hinders a deeper analysis of the study
is the lack of productivity rates.
Keywords: Internal Service, Quality and
Human Resources Policies.
2. Introdução
A importância do serviço juntamente
com a globalização evoluiu nos últimos anos.
Segundo Lovelock e Wright (2001) vivemos
hoje em uma economia de serviços e não
em uma economia agrícola ou industrial.
Para Fitzsimmons e Fitzsimmons (2005),
os serviços estão no centro da atividade
econômica de qualquer sociedade e
representam a força vital de transição ruma
a uma economia globalizada.
Os clientes estão tornando-se cada
vez mais críticos em relação aos serviços que
recebem, por isso, a qualidade dos serviços
é um assunto tão importante (DENTON,
1990). Empresas de serviço, bem como as
de produto, têm se preocupado em manter
e/ou melhorar a qualidade que oferecem,
pois além de refletir externamente na
imagem da organização, o gerenciamento da
qualidade atua internamente influenciando
os funcionários. As organizações cada vez
mais tendem a reconhecer a importância
estratégica da qualidade e a tomar medidas
para a sua melhoria, pois a qualidade tem
assumido maior destaque no ambiente atual
de negócio, uma vez que permite agregar
valor aos produtos e serviços oferecidos
pelas empresas (SOBRAL, 2008).
Quando se fala em qualidade, os
funcionários são o aspecto mais visível nos
serviços com qualidade inferior, porém,
segundo Denton (1990) o culpado é o sistema
em que os funcionários desempenham suas
funções. Para Sobral (2008) a liderança
é um dos papéis do administrador que
está intimamente ligada com a direção e a
motivação dos membros organizacionais.
Segundo o autor, liderar é saber dirigir e
influenciar o comportamento dos membros
da organização, para conduzi-los à realização
de determinados objetivos. Quando os
benefícios oferecidos pela empresa são
percebidos
pelos
funcionários,
estes
trabalham mais motivados e a qualidade dos
seus serviços aumenta e conseqüentemente,
os clientes a percebem em seus momentos
da verdade. Com isso, muitas empresas já
estão tirando o foco dos clientes externos
e passando a olhar mais para seus clientes
internos.
Seguindo ainda o pensamento de
Sobral (2008), uma série de fatores deve
ser analisada quando se fala na satisfação
dos funcionários que executam os serviços
internos. Para que os trabalhadores sejam
comprometidos com a organização, esta deve
criar condições para que a força de trabalho
se sinta satisfeita e motivada. Além do salário
e a participação no lucro, existem outros
fatores, os fatores não-monetários, que são
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
111
| QUALIDADE DO SERVIÇO INTERNO DO CENTRO DE SERVIÇOS E LOGÍSTICA DE UM BANCO EM RIBEIRÃO PRETO |
benefícios concedidos pela empresa e que
não são mensuráveis, mas que interferem no
bem estar dos funcionários.
3. O Setor de Serviços
O setor de serviço é considerado a
parcela mais dinâmica da economia. Além
de ser responsável pela maior participação
do PIB mundial, segundo Lovelock e
Wright (2001) o setor de serviço no Brasil
corresponde a 55% do seu PIB, é o setor que
possui a taxa mais elevada de crescimento
no número de empregados em relação aos
outros setores da economia. Segundo Côrrea
e Caon (2006), nas estatísticas brasileiras,
60% da população se dedicam as atividades
de serviço.
Na economia brasileira, conforme
dados do Governo do Estado de São Paulo,
o Estado de São Paulo representa 31% do
PIB do país, sendo a mais rica das unidades
federativas, com melhor infraestrutura, mão
de obra qualificada, fabricar produtos de alta
tecnologia, além de abrigar o maior parque
industrial, a maior produção econômica e
maior população do Brasil (formada por mais
de 40 milhões de habitantes). Assim, São
Paulo recebe o status de “motor econômico”.
3.2 Importância do Serviço
Interno
Toda organização possui diversas
subdivisões
funcionais
–
gerências,
departamentos ou seções. Dentre essas
subdivisões, algumas executam atividades
de apoio e são consideradas serviços. Para
atingir seus objetivos internos, a organização
precisa integrar essas diversas funções e
manter uma boa relação entre as pessoas,
pois nessa interface supervisor-subordinado
ambos têm que se apoiar. E é dessa interface
que se origina o conceito de cliente interno
(CORREA; CAON, 2006).
Os clientes internos não são aqueles
que pagam, estes são indivíduos ou
grupos de indivíduos que fazem parte da
mesma organização, mas que pertencem
a uma unidade ou operação diferente
(JONHNSTON; CLARK, 2008).
112
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
A qualidade dos serviços internos,
juntamente com outros fatores, para Heskett
et al. (1994 apud SALOMI et al., 2005)
influencia a fidelidade dos clientes gerando
uma relação de causa e efeito. Assim, Salomi
et al. (2005) sugere que ações gerencias
que se baseiam na satisfação dos clientes
internos venham a proporcionar aumento na
satisfação dos clientes externos, o que gera a
base de um diferencial competitivo.
O encontro entre o prestador de
serviço e o cliente é chamado de ponto de
contato, isso se refere a qualquer ocasião
em que o cliente tem contato com a marca
ou com o produto e essa comunicação
podem ser pessoais ou em massa (KOTLER;
KELLER, 2006).
Um problema que ocorre na maioria
das empresas de serviço, segundo Albrecht
(1994), é que o pessoal menos qualificado,
mais jovens, mais novos na empresa, com
menos experiência e treinamento são
colocados na linha de frente em contato
direto com o cliente.
Para se criar um encontro de serviço
benéfico, Fitzsimmons e Fitzsimmons
(2005) cita que existe uma interação entre
três partes: organização de serviço, pessoal
da linha de frente e o cliente, conhecida
como a tríade do encontro em serviço. Essas
três partes ganham ao trabalharem juntas,
pois o bom gerenciamento cria funcionários
motivados, os quais, transmitem essa
mensagem aos clientes, que satisfeitos geram
feedback positivo para a empresa.
3.3 Qualidade e Produtividade
em Serviço
As organizações que querem ser bem
sucedidas no fornecimento de um serviço
com qualidade devem pensar também em
produtividade e esquecer a separação que
existe entre elas. Para isso, Denton (1990)
propõe o termo “qualitividade”, onde
a prática de um gerenciamento efetivo
reflete conjuntamente na qualidade e na
produtividade. Segundo o autor, as duas
juntas significam a satisfação dos clientes e o
sucesso do negócio.
| QUALIDADE DO SERVIÇO INTERNO DO CENTRO DE SERVIÇOS E LOGÍSTICA DE UM BANCO EM RIBEIRÃO PRETO |
Pensando no cliente, para uma
empresa de serviço, é cada vez mais
um desafio melhorar a qualidade dos
serviços oferecidos juntamente com o
aumento de sua produtividade, segundo
Lovelock e Wright (2001), ser eficiente na
transformação de insumos em produto
pode afetar negativamente a satisfação do
cliente. O autor explica que a maioria das
empresas pensa em reduzir custos da força
de trabalho, assim, os funcionários passam
a trabalhar mais, porém, após algum tempo,
estes começarão a se esgotar, cometer erros
e tratar os clientes de modo desinteressado.
Pensando na produtividade dos
funcionários, Robbins (2005) afirma que
embora haja uma relação entre a satisfação
do funcionário e sua produtividade, o
autor sugere que as organizações também
se preocupem com a qualidade de vida da
organização, afinal, embora não se possa dizer
que um funcionário feliz é mais produtivo,
pode-se afirma que as organizações felizes
são mais produtivas.
Heskett
et
al.
(1994
apud
FITZSIMMONS; FITZSIMMONS, 2005)
sugere uma relação entre a lucratividade,
a lealdade do cliente e o valor do serviço
prestado pelo empregado sobre três
perspectivas: satisfação, capacidade e
produtividade, a qual da o nome de cadeia de
lucro dos serviços.
Para Fitzsimmons e Fitzsimmons
(2005) a satisfação do cliente em relação à
qualidade do serviço é obtida comparando
a percepção do serviço prestado com a
expectativa do serviço desejado pelo cliente.
Quando a expectativa do cliente se excede, o
serviço prestado é visto como excepcional,
como uma agradável surpresa, porém,
quando o serviço prestado não atende a
expectativa do cliente, passa a ser visto como
inaceitável. Já quando a expectativa confirma
percepção, o serviço é considero satisfatório
(FITZSIMMONS; FITZSIMMONS, 2005).
As diferenças entre expectativa e
percepção dos clientes geram os GAPS da
qualidade do serviço, os quais totalizam
cinco falhas, sendo a última o resumo das
quatro falhas anteriores, assim, a satisfação
do cliente depende de minimizar as quatro
falhas (FITZSIMMONS; FITZSIMMONS,
2005).
Com base no modelo de falha
na qualidade em serviço, originou-se a
ferramenta SERVQUAL, que segundo
Fitzsimmons e Fitzsimmons (2005) é uma
ferramenta valiosa na pesquisa da satisfação
dos clientes. A ferramenta SERVQUAL
é apropriada para avaliar a qualidade de
qualquer empresa prestadora de serviços.
Utilizando as cinco dimensões da qualidade
com relação às expectativas e as percepções,
mede-se as pontuações obtidas nos itens
que formam cada dimensão para depois
comparar a performance da empresa
prestadora do serviço frente ao esperado
pelo cliente e verificar qual das dimensões
requer maior atenção.
3.4 Serviços Internos e Gestão
de RH
Até certo tempo atrás, as pessoas
eram vistas como recursos humanos
da organização, pois realizavam tarefas
repetitivas e que exigiam esforço físico ou
muscular. Segundo Chiavenato (2008) com
a evolução da Era da Informação, o que era
recurso tornou-se capital, pois o trabalho
está se tornando cada vez mais criativo e
inovador e na medida em que as pessoas
conseguem desenvolver suas competências,
elas geram mais valor a organização.
A valorização pessoal de hoje
está ligada, segundo Dutra (2002), a
complexidade da sua entrega na organização.
Para Denton (1990) os funcionários precisam
entender que seus papéis são importantes
na sobrevivência da empresa no longo
prazo, afinal, empregados motivados e bem
treinados mantêm a satisfação dos clientes.
Além da interação entre os clientes e o
pessoal da linha de frente, o relacionamento
interpessoal e um ambiente de trabalho
agradável também são importante, pois
segundo Chiavenato (2004) podem melhorar
a produtividade do pessoal, bem como
reduzir acidentes, doenças, absenteísmo e
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
113
| QUALIDADE DO SERVIÇO INTERNO DO CENTRO DE SERVIÇOS E LOGÍSTICA DE UM BANCO EM RIBEIRÃO PRETO |
rotatividade. Na visão de Robbins (2005),
existem quatro variáveis dependentes que
impactam o comportamento organizacional:
produtividade, absenteísmo, rotatividade e
satisfação no trabalho.
Existem antigas e importantes
teorias desenvolvidas sobre a motivação
dos funcionários e que enfocam suas
necessidades internas, como a Teoria da
Hierarquia das Necessidades de Maslow
e a Teoria dos Dois Fatores de Herzberg
(SOBRAL, 2008).
Robbins (2005) afirma que a forma
de interagir do indivíduo em cada situação
é diferente, da mesma forma, as pessoas se
diferem quanto à tendência do que as motiva.
Hoje existem opções mais flexíveis
de trabalho para torná-lo mais motivador.
Robbins (2005) propõe algumas: rodízio de
tarefas; ampliação de tarefas; horário flexível
e telecomutação.
Com essas diversas formas de tornar o
trabalho motivador aos funcionários, tornase difícil estimar o valor da contribuição, em
função das atividades de cada pessoa, para
a organização. Segundo Chiavenato (2004)
o desempenho varia de pessoas para pessoa
e de situação para situação, pois depende
das habilidades e capacidades da pessoa, da
percepção do papel a ser desempenhado e
sua recompensa.
4. Metodologia
Este estudo teve como ponto de
partida investigar a satisfação e produtividade
dos funcionários do setor Centro de Serviços
e Logística da instituição financeira Banco
do Brasil do município de Ribeirão Preto
em relação à qualidade dos serviços internos
oferecidos. Assim buscou-se encontrar
conclusões a respeito do desempenho dos
funcionários e seus reflexos na instituição.
O estudo foi classificado como
descritivo, considerando-se que o tema de
estudo já foi consideravelmente explorado e
o problema de pesquisa está objetivamente
definido. Foi realizado um estudo de caso,
com dados coletados a partir do método de
levantamento survey, do tipo qualitativo e
114
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
quantitativo.
Para o cálculo do estudo, foi utilizada
a fórmula para variáveis qualitativas e
população finita. “Para determinar o
tamanho de amostras empregadas em
estudos com variáveis qualitativas, ordinais
ou nominais, a estimativa do tamanho da
amostra a ser analisada dependerá das
proporções estudadas e do nível de confiança
do estudo”. (BRUNI, 2008, p. 205). Segundo
o autor, se a população for considerada finita
de tamanho N, utiliza-se a seguinte equação:
n=
N ⋅ p ⋅ q ( Zα / 2 ) 2
p ⋅ q( Zα / 2 ) 2 + ( N − 1) E 2
Assim, considera-se:
• E= Margem de erro
• Z= Confiança
• N= Tamanho da população
• p e q= proporção amostral
No estudo foi utilizado erro de 4%,
confiança de 95%, proporções amostrais
de 50% e tamanho da população de 170,
resultando uma amostra de 133. Não foi
levado em consideração erro de 5%, pois a
amostra do trabalho seria menor, tornando
o trabalho menos preciso.
Referente às proporções amostrais, p
e q, segundo Bruni (2008, p. 204) “Quando
não for possível estimar os valores de p e q,
ambos devem ser assumidos como iguais a
50% ou 0,5. Esse fato possibilita maximizar
o valor do produto (p.q) e do tamanho da
amostra a ser analisada”.
5. Conclusões
O estudo de caso foi realizado
em um setor específico da instituição
bancária, conhecido como CSL (Centro de
Serviços e Logística). O CSL é uma Unidade
Organizacional do Nível Operacional,
pertencente à Rede de Apoio aos Negócios e
à Gestão, destinada à prestação de serviços
de logística para as unidades do Banco
localizadas em sua área de abrangência. Tem
| QUALIDADE DO SERVIÇO INTERNO DO CENTRO DE SERVIÇOS E LOGÍSTICA DE UM BANCO EM RIBEIRÃO PRETO |
como responsabilidade assegurar a satisfação
das necessidades dos clientes do CSL, no
que se refere a serviços de infraestrutura
e apoio geral em logística de material, de
bens, serviços, engenharia, processamento e
suporte aos negócios e serviços de apoio ao
funcionamento do Banco e responder pela
qualidade, confiabilidade, adequabilidade
e integridade dos controles internos, nos
processos, produtos e serviços a cargo do
CSL.
O
questionário
aplicado
foi
estruturado em oito questões, sendo as três
primeiras referentes ao gênero, masculino
o cálculo das médias da satisfação de cada
dimensão, considerou-se que o valor de
cada item selecionado pelo entrevistado
correspondia ao valor da escala Likert: 1, 2,
3, 4 e 5. Dentre as 5 dimensões, a dimensão
Condições e Ambiente de Trabalho totalizou
11 itens; a dimensão Políticas de Benefícios,13
itens; a dimensão Sistema de Trabalho, 5
itens; a dimensão Relacionamento, 8 itens; e
a dimensão Carreira, 6 itens.
A partir da análise dos resultados, foi
elaborado o gráfico 1 onde pode-se verificar
as médias gerias das satisfações referente as
cinco dimensões da qualidade em serviço, as
e feminino; tempo de casa, até 5 anos, de 5
a 10 anos, de 10 a 15 anos, de 15 a 20 anos
e acima de 20 anos; e cargo, escriturário,
assitente B, analista B, analista engenheiro
A Treinamento, analista engenheiro A e
gerente;
respectivamente. Para manter
a privacidade dos funcionários, os cargos
gerente de grupo em UA, gerente de setor em
UA, gerente de área em UA e gerente geral
foram classificados de uma forma geral como
gerente. As cinco questões restantes referente
à satisfação dos funcionários em relação
a cinco critérios: condições e ambiente de
trabalho, políticas de benefícios, sistema de
trabalho, relacionamento e carreira.
As questões referentes à satisfação
dos funcionários foram medidas seguindo
a escala de Likert de cinco pontos, sendo 1
muito insatisfeito e 5 muito satisfeito. Para
quais foram adequadas ao estudo.
Dentre as cinco dimensões verificouse que a dimensão relacionamento é a melhor
avaliada, tendo como satisfação média
79,74%, por outro lado, a menor avaliação foi
dada a dimensão políticas de benefícios, com
a satisfação média de 53,21%.
Conforme verificado entre os anos
de 2010 e 2011, o crescimento da instituição
financeira bancária pode ser justificado
pelo fato da qualidade nos serviços por ela
realizados, pois conforme Denton (1990)
afirma organizações que querem ser bem
sucedidas e satisfazer seus clientes, não
podem pensar separadamente em qualidade
e produtividade, e sim nelas juntas, e
também têm que reconhecer que os serviços
são pessoas – clientes e empregados – e
que empregados bem treinados passam a
Gráfico 1 - Médias Gerais – Satisfação
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
115
| QUALIDADE DO SERVIÇO INTERNO DO CENTRO DE SERVIÇOS E LOGÍSTICA DE UM BANCO EM RIBEIRÃO PRETO |
mensagem aos clientes. Assim, com a pesquisa
realizada neste trabalho, foi percebida a
relação existente entra o crescimento da
instituição com a satisfação e qualidade do
serviço realizado pelos funcionários do setor
em questão. Porém, devido à falta de dados
de pesquisa sobre satisfação interna do
setor, de desempenho dos funcionários do
setor e de informações sobre o crescimento
do setor de anos anteriores não foi possível
realizar uma correlação entre os dados,
assim, foi proposto à criação de indicadores
da satisfação interna, indicadores de
desempenho dos funcionários e indicadores
de crescimento do setor para que seja possível
verificar se essa relação de crescimento
é verdadeira no decorrer dos anos. Foi
sugerido como indicadores de desempenho
dos funcionários individualizar o cálculo do
número de aberturas de novas agências, do
número de novos clientes adquiridos pelas
agências, entre outros aspectos que são
medidos de forma geral no setor.
Outro ponto analisado no estudo
foi à falta de indicadores internos de
produtividade para analisar a relação entre o
crescimento da empresa e sua lucratividade
com a produtividade e satisfação dos
funcionários e clientes, conforme proposto
por Heskett et al. (1994 apud FITZSIMMONS;
FITZSIMMONS, 2005) na cadeia de serviço
– lucro.
À instituição também foi sugerida
realizar pesquisas com os funcionários
das agências quanto à satisfação do
serviço recebido do CSL, além de realizar
algumas modificações para melhor servir
seus clientes internos, abrindo meios de
comunicação para os funcionários exporem
suas críticas e sugestões, e ao mesmo tempo,
que a instituição divulgue e incentive seus
funcionários a conhecerem e utilizarem os
benefícios disponíveis. Referente a algumas
alterações, é sabido que por ser uma grande
instituição existem normas e padrões a serem
seguidos, inviabilizando algumas mudanças,
como por exemplo, nas condições e ambiente
de trabalho, onde se verificou insatisfação.
Referências
ALBRECHT, K. Serviços internos: como resolver a crise de liderança do gerenciamento de
nível médio. São Paulo: Pioneira, 1994.
BRUNI, A L. Estatística aplicada à gestão empresarial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: e o novo papel dos recursos humanos nas organizações.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
CHIAVENATO, I. Recursos humanos: o capital humano das organizações. 8. ed. São Paulo:
Atlas, 2008.
CORRÊA, H. L.; CAON, M. Gestão de serviços: lucratividade por meio de operações e satisfação dos clientes. São Paulo: Atlas, 2006.
DENTON, D. K. Qualidade em serviços: o atendimento ao cliente como favor de vantagem
competitiva. São Paulo: Makron; Mcgraw-hill, 1990.
DUTRA, J. S. Gestão de pessoas: modelo, processos, tendências e perspectivas. São Paulo:
Atlas, 2002.
116
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
| QUALIDADE DO SERVIÇO INTERNO DO CENTRO DE SERVIÇOS E LOGÍSTICA DE UM BANCO EM RIBEIRÃO PRETO |
FITZSIMMONS, J. A.; FITZSIMMONS, M. J. Administração de serviços: operações, estratégia e tecnologia da informação. Porto Alegre: Bookman, 2005.
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Uma potência chamada São Paulo. 2011. Disponível em: < http://www.saopaulo.sp.gov.br/conhecasp/principal_conheca>. Acesso em: 03
out. 2011.
JONHNSTON, R.; CLARK, G. Administração de operações de serviço. São Paulo: Atlas, 2008.
KOTLER, P.; KELLER K. L. Administração de marketing. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2006.
LOVELOCK, C.; WRIGHT, L. Serviços: marketing e gestão. São Paulo: Saraiva, 2001.
ROBBINS, S. P. Comportamento organizacional. 11. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall,
2005.
SALOMI, G. G.; CAUCHICK, P. A.; ABACKERLI, A. J. SERVQUAL x SERVPERF: comparação
entre instrumentos para avaliação da qualidade de serviços internos. Gestão & Produção, São
Carlos, v. 12, n. 2, p. 279-293, maio/ago. 2005.
SOBRAL, F. Administração: teoria e prática no contexto brasileiro. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008.
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
117
AS PERSPECTIVAS DA PÓS-VENDAS FRENTE ÀS
MUDANÇAS CONTEMPORÂNEAS: UM CASO DE
SUCESSO
Antonio Aparecido Meneghini1
Juliana Rocha Fernandes1
Marcos Antonio Kerges de Menezes1
Patrícia Tietz Vieira Granja1
Marco Antonio Nicotari2
1. Resumo
Trata-se de um estudo teórico sobre a
impoO sucesso empresarial depende de uma
série de estratégias adotadas, com destaque à
liderança, motivação e marketing. O presente
artigo tem por objetivo analisar as opções que
podem ser utilizadas para conseguir garantir
a satisfação e lealdade de clientes. Nesta
conjuntura a metodologia adotada constituise de pesquisa bibliográfica através de livros,
artigos e revistas sobre o assunto, bem como
em informações reais de uma empresa onde
os pesquisadores trabalham e que não fora
identificada a pedido de sua direção. Os
resultados demonstram que a combinação
de diversos fatores pode justificar o crescente
interesse nas questões relacionadas à pósvenda, assim como a viabilidade de planos e
ações.
Palavras-chave:
Pós-vendas,
satisfação, clientes.
1. Abstract
The business success depends on
a number of strategies adopted, with
emphasis on leadership, motivation and
marketing. This article aims to analyze
the options that can be used to ensure
satisfaction and achieve customer loyalty.
At this juncture the adopted methodology
consisted of literature through books,
articles and magazines on the subject, as
well as on real information of one company
where the researchers work that will not be
identified at the request of its leadership.
The results show that the combination of
several factors may explain the growing
interest in issues related to post-sale as well
as the feasibility of plans and actions.
Keywords: post-sales; satisfaction;
customer.
2. Introdução
A sociedade contemporânea, e, por
consequência a rotina empresarial, tem
assistido a uma série de mudanças, sobretudo
nas duas últimas décadas, tanto nos aspectos
sociais e políticos, quanto econômicos,
técnicos, trabalhistas, todos resultados da
globalização, dos avanços tecnológicos,
da reestruturação produtiva, o que tem
exigido das empresas, em uma conjuntura
geral, valorização do cliente, assim como a
elaboração de estratégias capazes de garantir
o alcance das metas e a maximização dos
resultados.
No cenário organizacional, seja nas
grandes corporações, nas microempresas
ou nas empresas familiares, liderança,
motivação e fidelização do cliente constituem
pilares para a elaboração de estratégias,
relevantes para o sucesso. Além disso, é
significativo que se incorporem as novas
tecnologias e valorize o conhecimento,
aprimorando serviços e produtos, e mantendo
uma linha de comunicação eficiente no
cotidiano organizacional, possibilitando que
se acompanhem as tendências de mercado e
¹ Acadêmicos do Curso de Administração do UNISEB Interativo – Centro Universitário UNISEBRibeirão Preto.
² Docente do Curso de Administração do UNISEB Interativo; orientador do presente artigo.
118
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
as necessidades dos clientes.
Com base nestas perspectivas
o presente artigo objetiva verificar as
tendências características no contexto
empresarial contemporâneo, tendo como
propostas a necessidade de elaboração de
estratégias, tendo a pós-venda como uma
delas. Para tanto, além dos referenciais
teóricos a pesquisa contou com a análise
prática, cuja empresa é identificada como
X, por solicitações de seus diretores, sendo
possível identificar que a mesma busca
a excelência no relacionamento com os
clientes, através da pós-venda.
O mundo dos negócios, dinâmico
e competitivo, tem exigido das empresas
metas, objetivos e visão que se enquadrem na
busca de qualidade dos produtos e serviços,
cuja inovação, dinamismo e criatividade
devem fazer parte da rotina. Em razão de tal
conjuntura, torna-se necessária a elaboração
de estratégias que contemplem a ocorrência,
possibilitando a captação, satisfação e
fidelização do cliente.
3.
Empresa
e
Contexto:
Perspectivas de Atuação
A sociedade contemporânea tem
apresentado significativas transformações
nos últimos anos, em escala sem precedentes,
deixando de ser eminentemente industrial e
se tornando uma sociedade do conhecimento.
Em razão disso, o valor deixou de se
concentrar na capacidade de produzir um
bem industrializado, tangível, passando
a valorizar o intangível, produzindo bens
que sejam intensivos em conhecimento.
“O conhecimento necessário e a resultante
tecnologia empregada na produção do bem
ou serviço valem muito mais do que o produto
em si.” (MIRANDA, 2003, p. 5). Disso
resultam diversas mudanças nas relações
sociais e nas conjunturas empresariais,
possibilitando quebra de paradigmas e
reestruturações nos mais variados aspectos,
como destaca Costa (2009).
Além disso, tais situações têm
proporcionado alterações nas relações
entre empresa e cliente, uma vez que este
tem se tornado cada vez mais exigente, a
concorrência mais acirrada e o mercado
mais competitivo. Os fenômenos apontados
exigem das empresas elaborações de
estratégias “[...] para melhorar seus produtos
e processos e manter sua competitividade.
Uma destas alternativas é a implantação
de programas de gestão da qualidade, que
combinem fatores humanos e técnicos”
(RODRIGUES; WERNER, 2011, p. 823).
Segundo Valente et al. (2010), as
mudanças também foram percebidas nos
processos decisórios e no gerenciamento
dos indivíduos, os quais são sentidos não
somente na organização, mas no contexto
em que ela se encontra, cuja necessidade de
se lidar com pessoas passou a ser o foco das
estratégias desenvolvidas. Por conta desta
realidade o sucesso empresarial passou a
encontrar forças na liderança eficaz e na
motivação dos colaboradores, os quais
passam a sentir e fazer parte da equipe de
maneira integral e positiva.
Gradativamente tal constatação foi
fortalecida por uma postura mais ética,
empreendedora, visionária, engajada com
as mudanças evidentes na rotina, onde a
sociedade do conhecimento passou a exigir
organizações mais comprometidas com o seu
entorno, com seu cliente, e, em particular,
com seu colaborador, onde, como destacam
Silva, et al. (2009), para que alcancem os
objetivos empresariais, é preciso canalização
dos esforços das pessoas, a sinergia entre
os agentes na rotina de trabalho, para
que anseios individuais e coletivos se
complementem para o bem de todos. De
maneira moderada a solução encontra-se no
tipo ganhar-ganhar, para que os interesses
dos envolvidos sejam buscados e atingidos,
apresentando-se como solução que exige
negociação, participação e sinergia dos
esforços, tanto do trabalhador quanto da
empresa.
Empresas
existem
para
gerar valor. Essa é a missão
primordial, a razão de ser
de qualquer negócio. É para
isso que seus líderes armam
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
119
| AS PERSPECTIVAS DA PÓS-VENDAS FRENTE ÀS MUDANÇAS CONTEMPORÂNEAS: UM CASO DE SUCESSO |
estratégias, seus funcionários
trabalham
duro,
seus
acionistas investem. É para
gerar valor, e se perpetuar por
meio dele, que companhias de
todo o mundo se reinventam
quase que diariamente, a fim
de se adaptarem a um mercado
cada vez mais exigente,
global e mutante que, nos
últimos anos, vem cobrando
de maneira obsessiva uma
transformação no modo como
as empresas fazem negócios e
se relacionam com o mundo
que as rodeia. (DIAS, 2004, p.
68).
Em razão disso se identifica em
Borges e Baylão (2011) que as pessoas
passaram a constituir o ponto fundamental
para o sucesso da organização, deixando de
serem meras fornecedoras de mão-de-obra
para fornecedoras de conhecimento. Como
apresentado, esta condição é decorrente de
uma nova cultura e de uma nova estrutura
das empresas, as quais passaram a se dar
conta desta premissa, passando a privilegiar
o capital intelectual, sendo que este somente
pode ser proporcionado pelas pessoas.
Destaca-se ainda, que elas são
responsáveis por criar, inovar, produzir,
vender, atender o cliente, tomarem decisões,
liderarem, motivarem e gerenciarem. Sob
este prisma o talento humano passa a ocupar
grau de importância na rotina, igualando-se
ao próprio negócio, constituindo elemento
essencial para sua preservação, consolidação
e o sucesso organizacional.
Ciente disso, a organização vem
buscando um melhor relacionamento entre
as pessoas, dispondo de incentivos para o
trabalho em equipe, valorizando a harmonia
no grupo e tendo como ênfase o significado
dos líderes para o desenvolvimento das
competências. Não poderia ser diferente,
já que, como Ramos (2009) apresenta, o
enfrentamento da constante concorrência e
da acirrada competitividade mercadológica,
120
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
é possível graças a existência de pessoas
competentes e criativas, na medida em que
o colaborador na empresa passa a se tornar
“mais valias”, representando o diferencial
que esta é capaz de oferecer ao mercado,
mostrando-se competitiva e engajada na
elaboração de estratégias eficientes. Para
tanto, não se pode ficar somente no discurso,
sendo latente a integração das pessoas,
sua formação, lideranças atuantes, grupos
motivados, avaliações constantes, para
que os agentes se sintam participantes das
decisões.
É relevante a existência de planos
de treinamento, benefícios adequados,
desenvolvimento das necessidades da
empresa e das pessoas envolvidas no
contexto, tendo por resultado minimizar o
impacto das mudanças necessárias, como
destacam Rodrigues e Werner (2011).
Situação de destaque na rotina
é a comunicação, a qual assume papel
estratégico na organização, responsável
por unificar conceitos, difundir objetivos
e metas, propiciar o compartilhamento
de informações e conhecimentos, integrar
equipes e departamentos, e ouvir o
cliente. Desta forma é fundamental que se
reduzam as dificuldades que se relacionam
ao envolvimento e comprometimento
de todos os agentes, assim como se
desenvolvam canais eficientes que atinja o
todo, melhorando a comunicação entre a
alta direção e demais colaboradores, e, por
sua vez, o cliente. Clareza e comunicação
dos objetivos e dos negócios estratégicos
da organização são fundamentais para a
maximização dos resultados.
É interessante destacar que a empresa
deve ter propostas inovadoras de valorizar
seu colaborador, transmitindo seriedade,
comprometimento e ética com este e com
o cliente externo, considerando e revendo
constantemente as estratégias, definindo
a missão organizacional como centro do
sistema de gestão, relacionando-a com a
orientação e execução do plano estratégico.
Definido os objetivos e contando
com a participação de todos, a empresa,
| AS PERSPECTIVAS DA PÓS-VENDAS FRENTE ÀS MUDANÇAS CONTEMPORÂNEAS: UM CASO DE SUCESSO |
nas mais variadas situações, cria um
diferencial no contexto, possibilitando sua
permanência no mercado e cumprindo
as exigências do consumidor que atende.
Assim, esta conjuntura tem por função
permitir a integração entre o nível individual
e organizacional, na medida em que a
colaboração eficaz das partes possibilita a
obtenção dos objetivos, lançando estratégias
a curto, médio e longo prazo.
4. Estratégias e Ações para
Cativar o Cliente
A gestão empresarial não se limita no
espaço físico da empresa, sendo responsável
em atender ao mercado e ao consumidor
que utilizam de seus produtos e serviços,
pois, contrário ao observado na economia
tradicional em que o lucro é a preocupação
primária, atender os clientes, nas mais
diversas instâncias, de maneira ética e com
qualidade tornou-se uma exigência.
Neste
contexto
de
mudanças
marketing,
qualidade,
comunicação
constituem estratégias fundamentais frente
ao concorrente, pois transmitem os valores
e as posturas adotadas pela empresa, tendo
intrínseco cativar o cliente, fortalecendo
a marca e transmitindo as verdadeiras
propostas organizacionais.
Em Machado e Pereira (2009)
é possível identificar que as empresas
contemporâneas têm enfrentado constantes
desafios, seja por parte da concorrência, ou
internamente, resultado de comportamentos
e necessidades das pessoas, sendo
fundamental
que
mantenham
uma
visão futura, sob pena de sucumbir caso
permaneçam estáticas.
Por conta disso torna-se essencial
que se desenvolvam estratégias, se tracem
objetivos para a conquista e permanência
no mercado. Para tanto se torna relevante
avaliar o entorno em que a empresa encontrase inserida, assim como dados referentes ao
mercado de atuação, o concorrente, deixando
transparentes os objetivos, os valores e
as metas, ideias estas compartilhadas por
Yoshizaki (2009); entre as ações mais
significativas que possibilitam a elaboração
de estratégias e ações é a medição do potencial
do mercado onde a empresa atua, já que
tanto a introdução quanto o continuísmo do
processo de atuação precisa ser seguido ou
interrompido quando for o caso, avaliando o
real potencial mercadológico e absorção do
produto ou serviço disponível.
Gradativamente, a eficácia tem sido
somada à preocupação com a identidade
moral e cultural da organização, sendo que
o conhecimento tem-se tornando um grande
diferencial, como destacado anteriormente,
tornando-se um conceito integrante de um
conjunto de questões técnicas, vinculadas
aos interesses concretos. Interessante
apresentar que, com a reestruturação do
capitalismo, a construção da identidade
institucional é resultado da organização do
corpo administrativo e operacional vinculado
aos interesses da comunidade, tendo o gestor
como importante estrategista, lançando mão
de recursos que buscam garantir a qualidade
do processo. Atualmente diversos conceitos
têm feito parte da rotina, as quais se
apresentam como diferencial, com destaque
à gestão de talentos, clima organizacional,
desenvolvimento sustentável, concepções
estas compartilhadas com os estudos de
Gerheim (2008).
Com base nesses pressupostos
Machado e Pereira (2009) destacam que a
empresa, para ter sucesso, deve se preocupar,
além do lucro, com seu crescimento de
maneira organizada e permanente, tendo por
preocupação buscar inovação e conquista
cada vez maior de seu público-alvo. Para
formalizar a proposta de planejamento
estratégico torna-se necessária a elaboração
e aplicação de pesquisas junto aos clientes,
fornecedores,
colaboradores,
gestores,
objetivando melhoria dos produtos e serviços,
assim como a utilização do marketing como
forma de desenvolver propostas formais e
ações para um planejamento estratégico,
diagnosticando o ambiente interno e externo,
identificando vantagens competitivas e
propondo um roteiro formal para execução
das propostas.
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
121
| AS PERSPECTIVAS DA PÓS-VENDAS FRENTE ÀS MUDANÇAS CONTEMPORÂNEAS: UM CASO DE SUCESSO |
O marketing, para tanto, tem por
desafio criar marcas fortes que convergem
nas necessidades e desejos dos clientes,
sendo uma política da empresa que
apresenta por objetivo gerar a satisfação,
o bem-estar e a lealdade do consumidor.
Sob tal prisma ele constitui planejamento,
análise, implementação e controle de
programas e metas, as quais se destinam a
provocar trocas voluntárias dentro de alvos
mercadológicos definidos, concretizando a
razão de existência da organização, seja ela
uma grande corporação ou uma empresa de
pequeno porte.
Para o sucesso da mensagem do
produto ou serviço é significativa a definição
clara dos objetivos de marketing, assim
como das estratégias definidas pelo gestor.
Em razão disso, definir os objetivos é
relevante durante a campanha do marketing
e o sucesso da empresa, servindo como base
comparativa com os resultados obtidos
e servindo de parâmetro para as etapas
de desenvolvimento da campanha de
propaganda, ficando explícita a necessidade
do estabelecimento claro das metas, para
realizá-las.
No dinâmico contexto do mercado
contemporâneo
surgem
diversas
oportunidades de ação, tornando excelentes
oportunidades de negócios, sendo necessário
que se desenvolvam decisões estratégicas
conscientes com estas questões, analisando
tendências e contando com a participação
de uma equipe atuante, utilizando das
ferramentas disponíveis. Aperfeiçoamento
da mão-de-obra, utilização de canais
de comunicação, atendimento eficaz
nos processos de venda e pós-venda,
contratações, soluções novas e condizentes
às necessidades, utilização da tecnologia, do
marketing e de uma propaganda condizente
com os ideais da empresa proporcionam
crescimento substancial, agilidade no
processo, perspectivas reais de trabalho,
qualidade e demais benefícios que geram
situações positivas no mercado.
Nesta conjuntura, a rotina da empresa
influencia significativamente nos resultados
122
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
esperados e obtidos, onde aspectos como
preço, localização, público-alvo, produtos
e serviços servem como canalizadores de
resultados e estratégias. Analisando a prática
que envolve o marketing, escolher diversos
canais de distribuição e veiculação constitui
aspecto significativo, além de que, envolvendo
produtos, transporte e armazenamento
do gênero constituem outros aspectos
que precisam ser analisados, avaliando e
mensurando aspectos que resultem em
ganhos aos envolvidos no processo, como se
verifica em Martins (2000).
Nota-se, sob estes aspectos, que o
gestor precisa levar em consideração tais
fatores para a elaboração de planos e ações,
analisando constantemente as necessidades
dos clientes. Utilizando-se do marketing e da
pesquisa contínua ele é capaz de determinar
o segmento ao qual se dirige, necessitando
de uma análise fidedigna, assim como uma
extensa planificação. Além disso, outros
fatores são responsáveis na elaboração de
estratégias, com destaque à intensificação
da concorrência, resultante do aumento
do número de empresas similares, os
movimentos em defesa do consumidor, assim
como a preocupação com o meio ambiente,
situações estas que afetam o desenho do
produto e das técnicas empregadas pelo
marketing.
Buscar oportunidades concretas
utilizando-se do marketing e aproveitandose das mudanças evidentes na rotina
requer ousadia, perspicácia, dinamismo,
proatividade, aperfeiçoamento, qualificação
dos colaboradores, além de um trabalho em
parceria com o gestor, necessitando de um
referencial que fundamente a construção do
projeto empresarial. Para tanto, é preciso
se alicerçar em pressupostos de uma teoria
crítica viável, personificada em uma prática
compromissada em solucionar problemas
que venham ocorrer e atender os clientes
com primor e qualidade.
Segundo Antunes e Rita (2008), a
filosofia de marketing cria uma relação de
aprendizagem com os clientes, por meio
de uma grande interatividade, obtendo
| AS PERSPECTIVAS DA PÓS-VENDAS FRENTE ÀS MUDANÇAS CONTEMPORÂNEAS: UM CASO DE SUCESSO |
informações necessárias para oferecer
produtos e serviços de qualidade, de acordo
com as necessidades do mercado, buscando
a construção de relações duradouras e
resultados positivos ao nível da satisfação e
fidelização.
Realizando um trabalho com estas
considerações é possível elucidar a realidade
que atende e a rotina do empreendimento,
onde o contexto empresarial, tido como
complexo,
apresenta
praticidade
de
manutenção quando se adotam ações
de maneira ordenada, reais para serem
atingidas e atentas às exigências do mercado.
Por conta disso, agregar lucratividade
com a realidade do mercado resulta em
vencer as dificuldades e disponibilizar
recursos para o sucesso da empresa, tendo
sempre como premissa o contexto que
atua, pois este é o maior responsável pela
manutenção da organização, na medida em
que as estratégias e as ações personifiquem
a intenção de permanecer atuando na rotina.
5. Empresa X: Pós-Venda Como
Estratégia
Com
base
das
considerações
apresentadas nos tópicos anteriores é
possível destacar a relevância da elaboração
de estratégias para captar, cativar e garantir
a fidelização dos clientes, situações estas
percebidas na Empresa X, desta maneira
caracterizada a pedido dos diretores, para que
não haja identificação. Empresa de Bens de
Capital, considerada de grande porte e líder
mundial no fornecimento de equipamentos
e plantas completas para usinas de açúcar
e álcool, possui tecnologia de ponta para
fabricação de equipamentos tanto em aço
carbono como de aço inox; possui um
sistema de reposição de peças e serviços,
para atender de forma personalizada às
necessidades de seus clientes e também ao
mercado sucroalcooleiro.
Por diversos anos a empresa atuou
como uma das principais fornecedoras de
plantas para fabricação de etanol e essas
plantas estavam começando a escassear-se.
Todo o atendimento para fornecimento de
peças de reposição para as unidades mais
tradicionais do setor competia fortemente
com o fornecimento de equipamentos novos.
As pesquisas realizadas sinalizavam certa
insatisfação dos clientes tradicionais na
medida em que se sentiam preteridos em
suas necessidades de peças de reposição e
atendimento de emergência em função dos
novos equipamentos.
Com a incerteza de atender a todos
os clientes com satisfação, a empresa
optou por procurar novas técnicas no
mercado, buscando um plano estratégico
que apresentasse resultados e conseguisse
atender de forma uniforme seus clientes,
visto que, como apresenta Abreu (1996),
as empresas devem ser flexíveis para
permanecer atuando.
Segundo Miyashita (2007), neste
cenário dinâmico a pós-venda configurase como extremamente relevante, já que,
mesmo depois de implantado o sistema e “que
dê tudo certo e as vendas ocorram, o trabalho
não termina com os negócios realizados.
Pelo contrário, começa”. Ainda segundo o
consultor, muitos empresários pensam que
depois de implantado os sistemas de vendas
“o restante é consequência: a satisfação, a
fidelização e o boca a boca do cliente. Isso
explica porque muitas estratégias terminam
nas vendas e não se preocupam com sua
manutenção”.
A empresa X, para cumprir uma
pós-venda eficiente, utiliza-se do Sistema
de Reposição de Peças e Serviços, criado
de forma a integrar todas as atividades
empresariais, inicialmente buscando a plena
satisfação de seus clientes. Tendo como
principal objetivo oferecer aos clientes o
melhor preço, prazo de entrega, qualidade
e o atendimento satisfatório, busca com
intensidade a personalização. Além disso,
o sistema dá ênfase a um sério trabalho de
pós-vendas e à inter-relação das diversas
atividades, abrangendo quase todas as áreas
da empresa.
Conforme o Manual Sistema de Gestão
da Qualidade Procedimento Sistêmico –
Avaliação da Satisfação de Clientes adotado
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
123
| AS PERSPECTIVAS DA PÓS-VENDAS FRENTE ÀS MUDANÇAS CONTEMPORÂNEAS: UM CASO DE SUCESSO |
pela empresa X, os clientes são classificados
de formas diferentes, de A a C, envolvendo
poder técnico, saúde financeira, parceria
e número de visitas anuais, sendo que as
conceito A apresentam maiores potenciais.
A empresa X possui uma equipe
de consultores de vendas composta por
profissionais qualificados e treinados
periodicamente para melhor atender os
clientes, também possui, em contrapartida,
um consultor interno para cada um externo,
visando um melhor atendimento ao cliente
final.
O consumidor moderno busca
constantemente novos produtos
e serviços, neste sentido, é preciso
que as organizações acompanhem
as mudanças desse novo mercado
e ofereçam um atendimento de
qualidade, causando satisfação aos
clientes e se fortalecendo perante
a
concorrência.
(KOTLER;
ARMSTRONG, 2003).
Para isso a empresa X mantém os
consultores internos responsáveis por darem
apoio permanente aos assuntos relacionados
à regional, atender clientes que visitam a
empresa, atender aos clientes via telefone
e eletrônica, fazer as intermediações das
propostas comerciais colocadas no mercado
e disponibilizar ao consultor externo todas as
informações durante sua ausência.
Para cada visita ao cliente, o consultor
de vendas externas emite o Relatório de
Visita (conforme modelo em anexo) onde
escreve todas as informações referentes
aos mesmos, sendo estas mercadológicas,
da concorrência e a todos os assuntos
tratados durante a visita. O referido
relatório, além de fornecer informações
importantes, para a implementação de
ações corretivas e preventivas, pode também
fornecer indicativos para a prospecção de
novos negócios, atuação da concorrência,
atualização cadastral, comportamento do
mercado, bem como, alimentar o banco de
dados da empresa.
Mensalmente,
são
realizadas
reuniões, com todos os consultores, na área
124
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
comercial, gerências e superintendência,
onde são analisados todos os assuntos
pertinentes ao desempenho de vendas e
análise crítica sobre os resultados alcançados
por cada regional.
As equipes de vendas, os consultores,
têm suporte técnico das áreas de engenharia
do produto e detalhamento, estrutura de
campo e pós-vendas (administração de
contratos), bem como mantém estreito
relacionamento com o cliente, transmitindo
informações relevantes sobre o andamento
da encomenda.
Porque só o ato de vender não é
garantia de satisfação. Há de se
lembrar de que a competição é
enorme e que o cliente sempre
tem opção comparável. Comprar,
para o cliente, é o início de uma
experiência, um teste mesmo.
Será na condição de usuário
que comprovará a qualidade
prometida do produto e os serviços
disponibilizados pela empresa e
seus parceiros. Daí poderá surgir a
verdadeira satisfação. Só o ato de
adquirir e de possuir não mantém
cliente satisfeito. (MIYASHITA,
2007).
A empresa disponibiliza também
serviços de plantões de emergência que
funcionam 24 horas inclusive finais de
semana e feriados em todas as unidades
fabris. Os plantonistas, devidamente
treinados são orientados a tomar todas as
providências no sentido de resolver todos
os problemas do cliente, seja ele técnico,
de fabricação, reformas ou mesmo uma
simples orientação via telefone. O sucesso do
sistema de emergência está suportado pela
disponibilização pela empresa, de estoque
estratégico mínimo onde os plantonistas
têm condições de atender de imediato a
maior parte das emergências com ocorrência
principalmente à noite e finais de semana.
Em função do aumento de custos
para a realização de uma visita
de vendas, algumas alternativas
começam a aparecer. É comum a
substituição das visitas por outros
| AS PERSPECTIVAS DA PÓS-VENDAS FRENTE ÀS MUDANÇAS CONTEMPORÂNEAS: UM CASO DE SUCESSO |
mecanismos de comunicação,
como telemarketing ou mala
direta, e pensar na otimização
dessas visitas. (CASTRO, 2008,
p. 141)
Outro instrumento do sistema de
gestão da qualidade, regularmente utilizado
como fonte de informações para a tomada
de decisões de marketing, é a Pesquisa de
Avaliação da Satisfação do Cliente, que
periodicamente, é enviado via mala direta
onde os clientes podem dar seu parecer
e sugestões sobre os atendimentos de
emergência (conforme modelo em anexo).
Este documento fornece elementos para
avaliar o nível de satisfação e expectativas,
bem como, o grau de importância do cliente,
desde a fase inicial de abordagem do processo
de vendas, passando pelas condições de
atendimento ao cliente, suas necessidades,
seu pedido, aos produtos e serviços
solicitados, aspectos gerais do fornecimento
e campo para sugestões de melhorias.
O gerente/vendedor deve informar
o cliente sobre o objetivo da pesquisa e de
sua importância para a empresa, no sentido
de resolução dos problemas internos, bem
como para aprimoramento da qualidade dos
bens e serviços fornecidos.
A empresa deve medir a satisfação
com regularidade porque a
chave para reter clientes está em
satisfazê-los. Em geral, um cliente
altamente satisfeito permanece
fiel por mais tempo, compra mais
à medida que a empresa lança
produtos ou aperfeiçoa aqueles
existentes, fala bem da empresa
e de seus produtos, dá menos
atenção a marcas e propaganda
concorrentes e é menos sensível
a preço. (KOTLER; KEVIN,
2006, p. 144).
O procedimento de avaliação da
satisfação do cliente é anualmente executado
pela Superintendência de Negócios, por
meio de pesquisa via meio eletrônico
(e-mail). Os dados são tabulados pela área
de administração de vendas e divulgada
internamente aos setores envolvidos e
analisada criticamente nas reuniões mensais
de desempenho.
Para os casos em que a avaliação
já reflete uma reclamação/insatisfação do
cliente, é necessário tomar as providências
aplicáveis para resolução do problema,
levando o caso ao conhecimento da Diretoria,
se necessário.
No que se refere à área de vendas, esta
tem responsabilidades emitir a Confirmação
de Pedido; emitir o Contrato Legal da
Confirmação de Pedido, quando solicitado
pelo cliente; encaminhar ao administrador,
todos os documentos válidos para projetos
aplicáveis; destinar documentos internos
para determinação das verbas de compra
para Suprimentos.
A área de Administração de Contratos
é responsável pela Fase Pós-Vendas. Com a
documentação em mãos, o administrador
deverá proceder à análise crítica do contrato,
certificando-se de que os dados norteadores
para os usuários estão definidos.
Durante esta análise, o administrador
deverá comparar todos os requisitos
estabelecidos, certificando-se de que: todos
os requisitos do cliente correspondem
plenamente aos ofertados na proposta
consolidada e/ou negociações acordadas;
todos os documentos enviados pelo cliente a
serem considerados, correspondem àqueles
utilizados na elaboração de proposta técnicocomercial ou nas ofertas de venda; os dados
divergentes estão devidamente acordados
com o cliente; os eventos financeiros
registrados na Confirmação de Pedido estão
devidamente considerados no Fluxo de
Caixa.
A satisfação das necessidades do
comprador quase sempre envolve
a coordenação de atividades
ligadas. Por exemplo, o tempo
de entrega frequentemente é
determinado não apenas pela
logística externa, mas também
pela velocidade do processamento
de pedidos. (PORTER, 1990, p.
116).
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
125
| AS PERSPECTIVAS DA PÓS-VENDAS FRENTE ÀS MUDANÇAS CONTEMPORÂNEAS: UM CASO DE SUCESSO |
Durante a Gestão de Contratos, o
administrador deve trabalhar para estreitar
os laços com o cliente, primeiramente
apresentando-se como representante da
empresa, colocando-se à disposição para
assuntos relacionados aos itens requeridos e,
depois realizando visitas periódicas durante
o processo de fabricação dos produtos.
Todas as fases do fornecimento
passaram a ter um acompanhamento mais
adequado e melhor documentado, cabendo
ao administrador registrar e manter o arquivo
atualizado com as ocorrências, de modo a
resguardar a empresa contra possíveis ações
futuras, multas ou penalizações.
Para as Confirmações de Pedidos
onde o desenvolvimento do projeto depender
dos dados do cliente ou seu representante
deve-se monitorar as datas de entrega,
dados e, em caso de atraso, informar o
cliente da prorrogação automática do prazo
de fornecimento dos itens relativos, sem
quaisquer multas, de acordo com cada
contrato.
Durante o processamento dos
equipamentos a serem fornecimento,
o
administrador
deve
monitorar
periodicamente a evolução do contrato
seguindo o cronograma e demais condições
contratuais, evidenciando-se as divergências
e ações necessárias a serem tomadas através
de atas, e-mails ou outros documentos,
sempre acompanhando de maneira eficiente
para evitar qualquer atraso.
Monitorar o cumprimento das
datas de envio de documentos ao cliente e
retorno dos mesmos, quando em caráter de
aprovação. Em caso de demora pelo cliente,
pleitear prorrogação de prazo de entrega.
Monitorar as datas de convocação
do órgão inspetor externo e datas de
atendimento, registrando com destaque,
as situações onde o prazo de atendimento
for maior que o acordado contratualmente.
Cuidar para que o cliente seja informado.
Havendo atraso no fornecimento dos
itens, esta informação poderá auxiliar na
negociação de prorrogação do prazo de
entrega.
126
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
Para o cliente ficar satisfeito, o
Administrador de Contratos tem que estar
atento a cada fase em andamento, pois
uma fase depende da outra. O resultado
final depende do cuidado dispensado no
decorrer de todo o contrato. Os problemas
e dificuldades devem ser detectados e
solucionados dentro do prazo estabelecido
ou o prazo ser prorrogado de comum acordo
com o cliente, para eliminar a insatisfação e
penalidades futuras.
Desta forma, o planejamento e as ações
precisam se basear em conceitos e práticas
de atuação, ocorrendo resultados esperados
e positivos, avaliando e reformulando
constantemente as estratégias, justificando e
tornando claras as verdadeiras intenções da
empresa no contexto, já que, desta forma, o
corpo administrativo, operacional, produtivo
e o cliente encontram-se em energia,
possibilitando ganhos a todos os envolvidos.
6. Conclusão
Ao término do presente artigo que
integrou levantamento teórico e observação
prática na empresa X tornou-se possível
verificar as significativas transformações que
o mercado consumidor vem atravessando,
resultando na necessidade de entender
o cliente, estudar o concorrente, quebrar
paradigmas
tradicionais
e
elaborar
estratégias responsáveis por possibilitar à
organização maximização dos resultados,
integrando expectativas individuais e
coletivas, na medida em que, cliente satisfeito
e leal possibilita à empresa o alcance de
resultados positivos.
Com base nas informações estudadas,
pode-se perceber que a função de pós-vendas
exerce influência na satisfação do cliente,
além de influenciar diretamente na lealdade
dos clientes e construir a sua fidelização.
Na teoria, se todos os procedimentos
forem respeitados e cumpridos, a
probabilidade de sucesso é grande,
resultando em clientes satisfeitos. Na
prática, e o decorrer da rotina da empresa,
há uma realidade diferente, mas que, por
conta disso, não pode deixar o cliente em
| AS PERSPECTIVAS DA PÓS-VENDAS FRENTE ÀS MUDANÇAS CONTEMPORÂNEAS: UM CASO DE SUCESSO |
segundo plano, refém da falta de estratégias
empresariais.
O engajamento e o comprometimento
das pessoas precisam ter objetivos comuns
e metas que direcionam ao sucesso no
mercado. Ao abordar marketing, vendas, pósvendas, comunicação, motivação nota-se que
tais situações são capazes de proporcionar
ganhos em diversas circunstâncias, pois,
quando utilizados em prol da empresa
resultam em captação, satisfação e fidelização
dos clientes, sobretudo por se sentirem
valorizados, consumindo produtos e serviços
de qualidade.
Desta forma, é fundamental que
as intenções reflitam as ações, na medida
em que se prime o mercado consumidor, o
colaborador, o cliente e práticas condizentes
aos propósitos da sociedade contemporânea,
condições estas que precisam fazer parte da
rotina empresarial, para que, por meio de
tal conjuntura todos se beneficiem com o
processo.
Referências
ABREU, C. B. Serviço pós-venda: a dimensão esquecida do Marketing. ERA – Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 36, n. 3, p. 24-31, jul./set. 1996.
ANTUNES, J.; RITA, P. O marketing relacional como novo paradigma: uma análise conceptual. Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão, v. 7, n. 2, p. 36-46, abr./jun. 2008.
BORGES, A. F.; BAYLÃO, A. L. S. Liderança em tempo de mudanças. Disponível em: <http://
www.mbc.org.br/mbc/uploads/biblioteca/1187383236.2602A.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2011.
CASTRO, L. T. E. Administração de vendas: planejamento, estratégia e gestão, São Paulo,
Editora Atlas, 2008.
COSTA, A. F. Qual é o papel do líder no ambiente organizacional? 2009. Disponível em:
<http://revista.newtonpaiva.br/seer_3/index.php/RevistaPsicologia/
article/viewFile/81/90>. Acesso em: 10 ago. 2011.
DIAS, M. O desafio da Gestão de Pessoas diante da necessidade de conciliação entre competitividade e humanização. Revista de Administração da UNIMEP, Piracicaba, v. 2, n. 2, p.
66-76, maio/ago. 2004.
GERHEIM, A. C. M. Sutentabilidade empresarial: um mapeamento do movimento da gestão
de sustentabilidade empresarial. São Paulo: FGV, 2008.
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
127
| AS PERSPECTIVAS DA PÓS-VENDAS FRENTE ÀS MUDANÇAS CONTEMPORÂNEAS: UM CASO DE SUCESSO |
KOTLER, P.; ARMASTRONG, G. Princípios de Marketing. 9. ed. São Paulo: Prentice Hall,
2003.
KOTLER, P.; KELLER, K. L. Administração de Marketing. 12. ed. São Paulo: Editora Pearson
Prentice Hall, 2006.
MACHADO, M. M.; PEREIRA, R. M. Proposta de planejamento estratégico: pet shop Clean
Dog. Revista Interdisciplinar Científica Aplicada, Blumenau, v. 3, n. 4, p. 361-380, 2009.
MARTINS, E. Avaliação de empresas: da mensuração contábil à econômica. Caderno de Estudos, São Paulo, FIPECAFI, v. 13, n. 24, p. 28 - 37, jul./dez. 2000.
MIRANDA, J. F. P. Balanced Scorecard em uma indústria da velha economia. Projeto (Especialização) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.
MIYASHITA, M. A importância do pós-vendas. Mundo do Marketing, jun. 2007. Disponível em <http://www.mundodomarketing.com.br/3,1353,a-importancia-do-pos-venda.htm>.
Acesso em 16 jun. 2011.
PORTER, M. E. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior da
concorrência. Rio de Janeiro: Editora Campos, 1990.
RAMOS, A. F. S. A influência da liderança na motivação: um estudo sobre o programa de trainees 2008 da Galp Energia. Dissertação (Mestrado de Gestão) - Instituto Superior de Ciências
do Trabalho e da Empresa, cidade, 2009.
RODRIGUES, J. T. M. C.; WERNER, L. A Gestão de Pessoas contribuindo com o Programa
Seis Sigma: multi-casos de empresas instaladas no Rio Grande do Sul. Revista Produção Online, Florianópolis, v.11, n. 3, p. 823-850, jul./set. 2011.
SILVA, C. C.; et al. Gestão do administrador na visão dos funcionários da empresa Refritec
Refrigeração do município de São Gabriel da Palha – ES, ano 2009. Monografia (Graduação
em Administração de Empresas) - Faculdade Capixaba de Nova Venécia, Nova Venécia, 2009.
VALENTE, J. B.; et al. Análise dos estilos de liderança e a sua relação com os resultados: um
estudo de caso numa simulação gerencial. Revista LAGOS – UFF, Volta Redonda, v. 1, n. 1, p.
1-15, nov./abr. 2010.
YOSHIZAKI, R. Gestão empresarial/planejamento empresarial e empreendedorismo: recursos humanos. Diadema: Centro Paula Souza, 2009.
128
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
| AS PERSPECTIVAS DA PÓS-VENDAS FRENTE ÀS MUDANÇAS CONTEMPORÂNEAS: UM CASO DE SUCESSO |
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
129
ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO E DA LIQUIDEZ
DE UMA EMPRESA DO RAMO DE COSMÉTICOS
Benedito França de Souza1
Lineia Soares Lincho Dias1
Marcelo Rodolfo Siqueira1
Regiane de Fátima Freitas Ramos1
Vanessa Anelli Borges2
1. Resumo
A análise do capital de giro líquido
e da liquidez representa um diagnóstico da
empresa, que possibilita ao gestor identificar
as necessidades operacionais envolvidas nos
processos do seu ciclo operacional, bem como
maximizar a eficiência das decisões a serem
tomadas para evitar descontrole operacional
e financeiro, uma vez que este descontrole
pode prejudicar a saúde financeira da
entidade, provocando sua descontinuidade.
O estudo apresentado neste artigo analisa
a evolução do capital de giro líquido e dos
indicadores de liquidez de uma empresa
do ramo de cosméticos, empresa de grande
importância no setor de cosméticos, que
a partir de 2.004 teve seu capital aberto,
integrando o Novo Mercado da Bolsa de
Valores de São Paulo – BOVESPA, para o
período compreendido entre 2.005 e 2.009. A
empresa apresenta folga financeira em todos
os períodos analisados, bem como ótimos
indicadores de liquidez, que permitem
constatar sua boa saúde financeira.
Palavras-Chave: capital de giro
líquido, diagnóstico, ciclo operacional.
1. Abstract
The analysis of net working capital
and liquidity is a diagnostic company,
which enables the manager to identify
the operational needs of the processes
involved in its operating cycle as well,
as maximize the efficiency of decisions
to be taken to prevent uncontrolled and
financial performance, a since this lack
may undermine the financial health of the
company, leading to its discontinuation.
The study presented in this paper analyzes
the evolution of net working capital and
liquidity indicators of a branch company
of cosmetics, a company of great impact on
the cosmetics industry, which since 2004
had its publicly traded integrating the new
market of the Bolsa de Valores de São Paulo
- BOVESPA, for the period between 2005
and 2009. The company has financial slack
in all periods analyzed, as well as good
indicators of liquidity, which help determine
their financial health.
Keywords:
working
capital,
diagnosis, operating cycle.
2. Introdução
Este estudo analisa o desempenho
do capital de giro líquido e dos indicadores
de liquidez de uma empresa do ramo de
cosméticos, com o objetivo de demonstrar
a saúde financeira da empresa no decorrer
do período analisado e verificar como seus
gestores deram andamento na administração
destes indicadores.
A empresa do ramo de cosméticos
é uma empresa originalmente brasileira
de grande importância no mercado de
cosméticos que, no decorrer dos anos,
vem atingindo as diversas classes sociais,
e que alavanca seu desenvolvimento por
¹ Acadêmicos do Curso de Ciências Contábeis UNISEB Interativo - Centro Universitário UNISEB.
² Mestre em Ciências – Docente do Uniseb Interativo Centro Universitário UNISEB.
130
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
meio da eficiência dos seus processos
produtivos e pelo investimento em pesquisa
e aprimoramento de seus produtos. Entre os
diferenciais que oferecem competitividade
à empresa do ramo de cosméticos estão: a
oferta de produtos de qualidade e de grande
aceitação pelo mercado consumidor, bem
como o desenvolvimento de um modelo de
vendas diretas, que aproxima o cliente da
empresa pelo intermédio de consultores.
Outro destaque é a disponibilização
de ações para investidores por meio da
qual a empresa pode aumentar seu capital,
utilizando esses recursos para novos
investimentos, gerando melhores produtos
e, também, maior liquidez.
Segundo Hoji (2008, p. 107), o
capital de giro é também conhecido como
capital circulante e corresponde aos recursos
aplicados em ativos circulantes, que se
transformam constantemente dentro do ciclo
operacional. Já os indicadores de liquidez são
utilizados na análise da capacidade que uma
empresa tem de cumprir com as obrigações
assumidas.
O ciclo operacional consiste no prazo
que vai desde a compra de matérias-primas
até o recebimento pela venda de produtos, a
partir de onde se inicia o processo novamente,
que se repete ao longo da vida da empresa,
muitas vezes até mais de uma vez dentro de
um mesmo período. A figura a seguir ilustra
o ciclo operacional de uma empresa:
Figura 1 – Ciclo Operacional.
Fonte: Assaf Neto e Silva (2009, p. 21)
Considerando o exposto e diante
da importância que o tema tem para a
manutenção da saúde financeira da empresa,
o presente trabalho propõe uma análise do
comportamento do capital de giro líquido
e da liquidez de uma empresa do ramo de
cosméticos para o período compreendido
entre 2.005 e 2.009, utilizando-se
indicadores de liquidez: Capital Circulante
Líquido (CCL), Liquidez Imediata (LI),
Liquidez Seca (LS), Liquidez Corrente (LC)
e Liquidez Geral (LG), que possibilitam
mensurar a folga financeira da empresa e
sua liquidez; com o objetivo de responder
à seguinte questão: A empresa do ramo de
cosméticos apresenta capacidade de cumprir
com as obrigações assumidas no período
compreendido entre 2005 e 2009?
Tal estudo será realizado por pesquisa
bibliográfica, tendo aspecto descritivo e
analítico, extraído de material relacionado
com o assunto em questão, sustentado por
demonstrações financeiras publicadas na
CVM – Comissão de Valores Mobiliários
e tópicos essenciais dos relatórios de
desempenho dos exercícios em análise.
A seguir serão apresentados aspectos
importantes da história da Natura.
3. Um Pouco de História da
empresa
Fundada em 1.969, com uma
pequena loja e laboratório em São Paulo,
na Rua Oscar Freire. Em 1.974, optou pelo
método de vendas diretas, efetuadas através
de consultoras sem vínculo empregatício.
Em 1.983 foi uma das primeiras fábricas
de cosméticos a comercializar produtos
com refil, dando início a sustentabilidade
ecológica. Em 1.990 busca aprimorar a
governança corporativa.
Em 2.001 inaugura centro integrado
de pesquisa e produção, um dos mais
modernos da América Latina, além de
manter centro comercial e de distribuição
nos seguinte estados: São Paulo, Minas
Gerais, Pernambuco e Rio Grande do
Sul, sempre produzindo produtos de
alta qualidade e de baixa necessidade de
investimentos para futuras expansões.
Em 2.004, teve abertura de capital,
quando passou a integrar o novo mercado da
Bolsa de Valores de São Paulo – BOVESPA,
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
131
| ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO E DA LIQUIDEZ DE UMA EMPRESA DO RAMO DE COSMÉTICOS |
com registro na Comissão de Valores
Mobiliários – CVM.
Em 2.005 inicia suas atividades
e divulgação no exterior, dando ênfase
no trabalho de sustentabilidade social
onde a globalização fez uma sociedade
comprometida com recursos naturais,
economia verde, buscando idéias inovadoras
para obter negócios bem sucedidos em longo
prazo, como a reciclagem de suas embalagens
e utilização de vegetais em suas fórmulas,
com destaque ao desenvolvimento de seus
produtos sem testes em animais.
Em 2.006, inaugura a primeira
Casa do ramo de cosméticos no Brasil
em Campinas – São Paulo, espaço de
relacionamento e visitação para consultoras e
clientes; expande o centro de distribuição em
Mathias Barbosa – Minas Gerais; e também
inicia testes do modelo de vendas diretas e
inauguração do laboratório de pesquisas em
Paris – França.
Em 2.007 começa a operar na
Venezuela e na Colômbia. Passou a fornecer
a seus consumidores produtos de carbono
neutro graças ao seu “Programa Carbono
Neutro” destinado a reduzir e compensar
as emissões de gases geradores do efeito
estufa (GEEs) desde a atividade de extração
de matéria prima até a disposição final do
produto no meio ambiente.
Em 2.008 já prepara as mudanças
de acordo com a Lei 11.638/2.007, para
possibilitar o processo de convergência das
práticas contábeis adotadas no Brasil com as
normas internacionais.
Em 2.009 houve evolução no modelo
de gestão da empresa do ramo de cosméticos
apoiado em três pilares: gestão por processos,
fortalecimento da cultura organizacional
e desenvolvimento de liderança de forma a
apoiar a implantação das unidades regionais
e das unidades de negócio do Brasil;
continuidade dos investimentos em inovação
e manutenção de investimentos competitivos
em marketing.
Também em 2.009, as demonstrações
contábeis
foram
apresentadas
antecipadamente conforme orientações do
132
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
Comitê de Pronunciamento Contábil – CPC,
com previsão para 2.010.
A partir do exercício 2.010, os
comentários e demonstrações financeiras
serão
apresentados
unicamente
em
conformidade com as Normas Internacionais
de Contabilidade – IFRS.
4. Capital de Giro e os
Indicadores de Liquidez
4.1 Capital de Giro
O capital de giro, também conhecido
como capital circulante, corresponde ao
montante destinado à aplicação de recursos
(ativos circulantes) para que a empresa
complete seu ciclo operacional, ou seja,
ara a aquisição de matéria-prima, gastos
com o processo produtivo e com vendas, de
maneira que o produto seja disponibilizado
para o atendimento da demanda do mercado
consumidor (BERTI, 1999, p. 15).
Assaf Neto e Silva (2009, p. 15) afirmam
que o capital de giro ou capital circulante
é representado pelo ativo circulante, isto
é, pelas aplicações correntes, identificadas
geralmente pelas disponibilidades, valores
a receber e estoques. Num sentido mais
amplo, o capital de giro representa os
recursos demandados por uma empresa para
financiar suas necessidades operacionais
identificadas desde a aquisição de matériasprimas (ou mercadorias) até o recebimento
pela venda do produto acabado.
O estudo do capital de giro é
fundamental
para
a
administração
financeira, pois a empresa precisa recuperar
todos os custos e despesas, inclusive
financeiras, que vão se despontando durante
o ciclo operacional, para então obter o lucro
desejado, por meio da venda do produto ou
prestação do serviço (HOJI, 2008, p. 107).
Pode-se verificar que as afirmações
indicam que a análise do capital de giro é de
suma importância para a empresa, pois os
gestores conseguem identificar o caminho a
ser seguido de acordo com um planejamento
estratégico, levando em consideração os
valores de seu ativo circulante e seu passivo
circulante, além de permitir a mensuração
| ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO E DA LIQUIDEZ DE UMA EMPRESA DO RAMO DE COSMÉTICOS |
dos valores que devem ser aplicados e quais
as aplicações devem ser feitas para que o
ciclo operacional funcione bem, em termos
de melhores prazos e menores custos.
4.2 Capital (de giro) circulante
líquido e indicadores de liquidez
O capital circulante líquido é medido
pela diferença entre o ativo circulante e o
passivo circulante. Quanto maior for esse
valor, melhor será a posição de liquidez de
curto prazo da empresa, ou seja, maior se
apresenta sua folga financeira (ASSAF NETO
E SILVA, 2.009, p. 29). A fórmula utilizada
para o cálculo do CCL é apresentada a seguir:
CCL = Ativo Circulante - Passivo Circulante
No entanto, segundo Assaf Neto e
Silva (2.009, p. 29) é importante destacar
que a avaliação da liquidez com base no valor
do CCL não é suficiente para conclusões mais
definitivas, o que é explicado principalmente
por seu volume depender das características
operacionais de atuação da empresa (política
de estocagem, prazo de produção e venda
etc.), das condições de seu setor de atividade
e da sincronização entre pagamentos e
recebimentos.
Berti (1.999, p. 35) afirma que uma
das razões para se calcular o capital de giro
é a necessidade de recursos para saldar as
obrigações, e os indicadores de liquidez
mostram exatamente a capacidade de
pagamento.
Diante disso, na sequência, são
apresentados os principais indicadores de
liquidez, por meio dos quais é possível apurar
se os bens e direitos da empresa (ativo) são
suficientes para liquidação das obrigações
(passivo).
O ciclo operacional deve partir de uma
estratégia eficaz para que seja o mais breve
e rentável possível, alternativa que deve ser
almejada pelas empresas de um modo geral.
Com essa estratégia há a possibilidade das
empresas atingirem com êxito uma folga
financeira considerável, podendo evitar
dívidas desnecessárias de longo prazo, que
custam mais caro.
4.2.1 Liquidez corrente
Identifica quanto a empresa mantém
em seu ativo circulante para cada $1 de
dívida de curto prazo (ASSAF NETO E
SILVA, 2009, p. 31). A liquidez corrente pode
ser obtida por meio da fórmula a seguir:
LC =
Ativo Circulante
Passivo Circulante
4.2.2 Liquidez seca
Mensura o percentual das dívidas
de curto prazo em condições de serem
liquidadas mediante o uso de ativos
monetários de maior liquidez: basicamente,
disponível e valores a receber (ASSAF NETO
E SILVA, 2009, p. 31). Calcula-se a liquidez
seca por meio da seguinte fórmula:
LS =
Ativo Circulante - Estoques - Despesas Antecipadas
Passivo Circulante
4.2.3 Liquidez imediata
Identifica a capacidade da empresa
em saldar seus compromissos correntes
utilizando-se unicamente de seu saldo de
disponível. Em outras palavras, revela o
percentual das dívidas correntes que podem
ser liquidadas imediatamente (ASSAF
NETO E SILVA, 2009, p. 30). A fórmula
utilizada para o cálculo da liquidez imediata
é apresentada a seguir:
LI=
Disponível
Passivo Circulante
4.2.4 Liquidez geral
Mostra quanto a empresa possui
de recursos a curto e longo prazo para o
pagamento das obrigações também a curto e
longo prazos (BERTI, 1999, P. 36). A liquidez
geral pode ser obtida por meio da fórmula a
seguir:
LG =
Giro
Ativo Circulante + Ativo não Circulante
Passivo Circulante + Passivo não Circulante
4.2.5 Indicadores de Capital de
Este índice demonstra quantas vezes
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
133
| ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO E DA LIQUIDEZ DE UMA EMPRESA DO RAMO DE COSMÉTICOS |
a empresa recuperou o valor de seu ativo
por meio das vendas no período de um ano.
Segundo Gitman (1997, p. 115) indica a
eficiência com a qual a empresa usa todos os
seus ativos para gerar as vendas. O indicador
de capital de giro, também chamado de giro
do ativo total, é calculado com a seguinte
fórmula:
ICG=
Vendas Líquidas
Ativo
Quanto maior for o valor absoluto
mais eficientemente a empresa parece
utilizar os seus ativos.
Os resultados da análise do CCL, dos
indicadores de liquidez e de capital de giro
na da empresa do ramo de cosméticos serão
apresentados no Capítulo 3.
5. Análise dos Indicadores da
empresa do ramo de cosméticos
5.1 Análise do CCL
O CCL apresenta-se positivo em
todos os períodos analisados, denotando
folga financeira, que varia conforme o ciclo
operacional.
A tabela a seguir apresenta os dados
referentes ao CCL da empresa do ramo de
cosméticos:
Tabela 1 – Capital Circulante Líquido da empresa (em milhares de reais)
Fonte: Elaborado pelo autor
134
A evolução do CCL é apresentada no
gráfico a seguir:
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
O gráfico demonstra as variações
do ativo circulante e do passivo circulante,
utilizados para a análise do CCL; montantes
que afetam diretamente os resultados
financeiros no curto prazo, gerando uma
importante fonte de informação para as
decisões de seus gestores, investidores,
credores, entre outros.
Percebe-se que o passivo circulante
sofre variação positiva considerável no
período de 2.005 para 2.006, e de 2.008
para 2.009, provocando uma diminuição
no CCL. As contas do passivo circulante
que mais influenciaram nesses resultados
foram: fornecedores, salários, empréstimos
e financiamentos e obrigações tributárias.
| ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO E DA LIQUIDEZ DE UMA EMPRESA DO RAMO DE COSMÉTICOS |
5.2 Análise dos Indicadores de
Liquidez
Na Tabela 2 são apresentados os
indicadores de liquidez da empresa do ramo
parte dos períodos o indicador apresentase acima de 1,00, o que é muito bom, pois
qualquer variação que a empresa apresente
com a venda de seus estoques não interferirá
rapidamente sua capacidade de pagamento
Tabela 2 – Indicadores de liquidez da empresa
Fonte: Elaborado pelo autor
de cosméticos:
Os índices expostos na tabela acima
avaliam a capacidade de pagamento da
empresa. As variações devem ser estudadas
pelos gestores para tomada de decisões em
relação ao cumprimento de suas obrigações,
com foco no seu impacto para a continuidade
da empresa.
e, portanto, seu custo de captação.
Quanto à liquidez imediata, observase que suas disponibilidades (caixa, bancos,
aplicações financeiras de curto prazo) que
podem ser utilizadas imediatamente não são
suficientes para saldar suas dívidas. Nota-se
que no período analisado esse valor
Gráfico 2 - Indicadores de liquidez da Natura
Fonte - elaborado pelo autor
Por meio da liquidez corrente
observa-se que a empresa possui bens e
direitos no ativo circulante suficientes para
saldar suas dividas no curto prazo.
A liquidez seca demonstra que a
empresa consegue cobrir suas dívidas
apenas com os ativos correntes sem precisar
vender os estoques. Observa-se que na maior
permanece próximo dos 0,43, significando
que só consegue saldar cerca de 40% de seus
compromissos no curto prazo. Isso mostra
que grande parte de seus investimentos se
mantêm em outras contas do ativo circulante,
como clientes e estoques.
Em relação à liquidez geral, a empresa
mostra ter capacidade de pagamento de suas
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
135
| ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO E DA LIQUIDEZ DE UMA EMPRESA DO RAMO DE COSMÉTICOS |
dívidas no curto e longo prazo, fato que
remete boa saúde financeira de longo prazo,
e que justifica seu alto índice de liquidez em
todos os anos.
5.3 Análise do indicador do
capital de giro
O índice do capital de giro da empresa
do ramo de cosméticos para o período
compreendido entre 2.005 e 2.009 demonstra
quantas vezes a empresa recuperou o valor
de seu ativo por meio das vendas de cada
período. Houve um crescimento nas vendas
líquidas, porém houve queda neste indicador
devido ao crescimento do seu ativo, como
demonstra a tabela a seguir:
Tabela 3 – Indicador do capital de giro da empresa
Fonte : elaborado pelo autora
O indicador do capital de giro da
empresa do ramo de cosméticos demonstra
que os ativos da empresa têm sido utilizados
de maneira eficiente, em consequência da
boa administração, que é provada pela boa
margem do capital de giro.
6. Considerações Finais
Pela análise das demonstrações
financeiras da empresa do ramo de
cosméticos, constata-se o avanço efetivo em
melhorias na estratégia para o aumento de
sua liquidez.
O CCL se mantém positivo ao longo
do período analisado, demonstrando sua
folga financeira, e permitindo que a empresa
consiga manter sua boa capacidade de
pagamento como grande atrativo para
o mercado, investidores e credores, que
utilizam informações dessa natureza, entre
outras, para tomar decisões estratégicas do
dia-a-dia.
136
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
Com esse estudo foi possível verificar
a evolução econômico-financeira positiva da
empresa, que se continuar assim tem grandes
chances de garantir sua continuidade no
mercado, bem como sua expansão por meio
de investimentos tanto na área tecnológica
para desenvolvimento de novos produtos,
quanto na política de recursos humanos,
buscando atingir o topo no setor de
cosméticos.
| ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO E DA LIQUIDEZ DE UMA EMPRESA DO RAMO DE COSMÉTICOS |
Referências
ASSAF NETO, Alexandre; SILVA, César Augusto Tibúrcio. Administração de capital de giro.
3. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
BERTI, Anélio. Análise do capital de giro: teoria e prática. São Paulo: Ícone, 1999.
BOVESPA. Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/Cias-Listadas/Empresas-Listadas/ResumoEmpresaPrincipal.aspx?codigoCvm=19550&idioma=pt-br>. Acesso em: 04 out.
2010.
BUENO, Francisco da Silveira. Minidicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: FTD: LISA,
1996.
COSMÉTICOS BR. Disponível em: <http://www.cosmeticosbr.com/conteudo/materias/materia.asp?id=1557>. Acesso em: 05 out. 2010.
CVM. Comissão de Valores Mobiliários. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br/>. Acesso
em: 27 abr. 2011.
ESTATUTO SOCIAL DA NATURA COSMÉTICOS S/A. Disponível em: <http://natura.infoinvest.com.br/ptb/2259/EstatutoSocialConsolidado.2009.08.05.pdf>. Acesso em: 05 out.
2010
FRANCO, Jeferson Cardoso; FRANCO, Ana. Como elaborar trabalhos acadêmicos nos padrões da ABNT aplicando recursos de Informática. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna,
2006.
GITMAN, Lawrence J. Princípios de Administração Financeira. 7. ed. São Paulo: Editora Harbra, 1997.
Hoji, Masakazu. Administração financeira e orçamentária: matemática financeira aplicada,
estratégias financeiras, orçamento empresarial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
ISKANDAR, Jamil Ibrahim. Normas da ABNT Comentadas para trabalhos Científicos. 4. ed.
Curitiba: Juruá, 2010.
NATURA COSMÉTICOS S/A. Disponível em: <http://www2.natura.net/NaturaMundi/src/
index.asp>. Acesso em: 04 out. 2010.
NATURA COSMÉTICOS S/A. Disponível em: <http://natura.infoinvest.com.br/ptb/s-20ptb.html>. Acesso em: 20 mar. 2011.
PADOVEZE, Clóvis Luis; BENEDICTO, Gideon Carvalho. Análise das Demonstrações Financeiras. 3. ed. São Paulo: Cengage, 2011.
cleo de hidráulica e Meio Ambiente, 2001.
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
137
O TURISMO PEDAGÓGICO COMO FERRAMENTA
DE ENSINO E APRENDIZAGEM EM GEOGRAFIA
E HISTÓRIA NO ENSINO FUNDAMENTAL 1
Fernanda Nascimento da Silva1
Ivanete de Abreu Lopes de Souza1
Marina Millard de Souza Bossi1
Patrícia Beatriz Tavares Gomes1
Romilda Lopes Suzuki1
Marcelo de Almeida2
1. Resumo
O Turismo Pedagógico também
conhecido como Estudo do meio tem sido
utilizado em diversas escolas em todo o
mundo. Este trabalho busca analisar as
possíveis formas de trabalhar com essa
ferramenta nas disciplinas de Geografia
e História no Ensino Fundamental I e
investigar quais contribuições essas visitas
pedagógicas trazem para este nível escolar. A
pesquisa se trata de uma revisão bibliográfica
sobre o tema escolhido apresentando
variadas conceituações e visões tendo como
suporte autores que discursam sobre os
conteúdos de Geografia, História e Turismo.
É uma pesquisa de cunho qualitativo visando
à interpretação do assunto estudado.
Palavras- chave: Turismo, Turismo
Pedagógico, Geografia, História.
1. Abstract
The Guide Pedagogic study also
known as the medium has been used in
many schoolsworldwide. This paper seeks
to analyze the possible ways o working
with this tool in the disciplines of geography
and history in elementary school and
investigate what contributions bring these
educational visits for this grade level. The
research is a literature review on the theme
by presenting various concepts and visions
as their support authorswho speak about
the contents of Geography, History and
Tourism. It is a qualitative research aimed
at the interpretation of the subject studied.
Keywords: Tourism, Educational
Tourism, Geography, History.
2. Introdução
As
demandas
do
mundo
moderno exigem que em todas as áreas
do conhecimento haja mudanças no
pensamento, atitudes e nas ações práticas.
Na educação, as exigências por inovações
em metodologias de ensino, aulas mais
atraentes e usos de novas tecnologias,
novas posturas de tratamento com os
alunos, acompanhamento das tendências
do mercado, dentre outras, exigem da escola
um repensar em sua prática. Os currículos
escolares têm sofrido modificações e
releituras a fim de abarcar essas mudanças
exigidas. Os Parâmetros Curriculares
Nacionais (1997) apontam a necessidade de
aulas cada vez mais contextualizadas gerando
verdadeiras experiências de aprendizado.
Dentro deste contexto de mudanças
é interessante refletir sobre as disciplinas de
geografia e história. No ensino fundamental
I, são por vezes enquadradas nos Estudos
Sociais. Há alguns que crêem em uma
aversão dos alunos por esses conteúdos
seja por não conhecerem, por não terem
vivenciado um ensino competente ou mesmo
pelo desconhecimento de sua importância. É
possível observar essa realidade dentro das
escolas quando se verificam baixas notas,
pouco interesse e até mesmo desvalorização
¹ Acadêmicos do Curso de Pedagogia do UNISEB Interativo- Centro Universitário UNISEB. Ribeirão Preto.
² Mestre em Serviço Social pela UNESP/Franca – SP. Graduado em História pela UNESP/Franca-SP.
Professor orientador do artigo, vinculado ao UNISEB Interativo. E-mail: [email protected]
138
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
destas disciplinas por parte dos alunos e
docentes.
Acredita-se que o estudo do espaço
social geográfico (geografia) e das ações
humanas realizadas no decorrer dos tempos
(história) pode ser beneficiado por vivências
práticas fora das salas de aula. Autores como
Marcelino (1995); Gonçalves (2007); Beni
(2002); Peccatiello (2007), Raykil e Raykil
(2007), Machin (2007); Bossi (2008) dentre
outros discutiram quanto às possibilidades
do uso do chamado Turismo Pedagógico
como ferramenta para o ensino e aprendizado
na modernidade.
Já que o principal objetivo destas
práticas de turismo é o de transportar
o conhecimento teórico-científico para
o
ambiente
extraescolar,
atingindo
especialmente o público infanto-juvenil, este
pode sim tornar-se uma ferramenta útil ao
ensino de geografia e história.
Assim, é necessário, em primeira
instância compreender o que estudam a
história e a geografia nos anos iniciais do
ensino fundamental para então se questionar:
como o Turismo Pedagógico pode contribuir
para o ensino e aprendizagem desses
conteúdos?
Estas indagações dentre outros
interesses foram primordiais na decisão
pela realização deste trabalho que, com base
em revisão bibliográfica, pretende atender
e corresponder aos objetivos da pesquisa
verificando se, e de que maneira, o turismo
pedagógico poderá contribuir para o ensino
de geografia e história no ensino fundamental
1.
3. O Ensino de Geografia e
História no Ensino Fundamental 1
De acordo com os Parâmetros
Curriculares Nacionais de História e
Geografia (1997) a produção acadêmica em
torno da concepção de Geografia passou
por vários momentos, produzindo reflexões
diferentes sobre os objetos e métodos do
fazer geográfico. Isso certamente influenciou
e traz influências nas práticas de ensino
dessa disciplina. (PCN, 1997, p.71). Com
relação ao ensino da História, apesar de
ser um conteúdo constante do currículo
na escola elementar desde a constituição
do Estado Brasileiro, as transformações
no enfoque dado e nos métodos utilizados
também afetaram os moldes e visões dessa
ciência. (ibdem, p. 19)
Por motivos políticos, a partir da
década de 1970 na realidade educacional
brasileira, ambas as disciplinas: Historia e
Geografia foram incorporadas nos currículos
escolares, formando apenas uma disciplina:
a de “Estudos Sociais”. Conforme Monteiro
e Oliveira (1998 apud OLIVEIRA; ASSIS,
2009), essa foi uma das marcas curriculares
da Política de Educação Básica da Ditadura
Militar que pelas Leis 5520/68 (da
Reforma Universitária) e 5692/71 (Ensino
de 1º e 2º graus) “implantou também a
licenciatura curta nessa categoria formativa
em substituição às formações específicas
de profissionais de Geografia e História”
(OLIVEIRA; ASSIS, 2009, p.7). A divisão dos
Estudos Sociais para Geografia e Historia
aconteceria somente na década de 1980,
transferindo para cada uma delas um amplo
conteúdo em particular.
Essas
disciplinas
por
muito
tempo foram erroneamente trabalhadas
e consideradas menos importantes que
a Língua Portuguesa e a Matemática,
principalmente nos anos iniciais do Ensino
Fundamental.
Bortolotti
(2009),
entretanto,
apresenta que a Geografia e a História
são fundamentais desde os primeiros
anos da escolarização, sendo ferramentas
úteis para a integração do educando na
realidade social, contribuindo também
para o desenvolvimento da capacidade de
interpretação crítica dos fatos e das situações
reais. O aluno dos anos iniciais pode, através
dessas disciplinas, adquirir a percepção
de si como ser social e sua integração na
sociedade, percebendo a sociedade em
que vive como uma construção humana. O
estudo da história e geografia pode ainda
auxiliar o aluno no desenvolvimento da
capacidade de interpretar fatos históricos
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
139
| O TURISMO PEDAGÓGICO COMO FERRAMENTA DE ENSINO E APRENDIZAGEM EM GEOGRAFIA E HISTÓRIA NO ENSINO FUNDAMENTAL 1 |
da sua região, adquirir conceitos de espaço
e de tempo, sendo também útil para o
desenvolvimento das habilidades de estudo,
apropriação de conteúdos sociais e culturais
de forma crítica e construtiva, visando a
promoção do desenvolvimento intelectual e
da socialização das crianças. A partir desse
saber, o aluno poderá valorizar sua própria
cultura, tendo conhecimento e convívio
com a diversidade cultural, aprendendo
valores de respeito mútuo como condição
necessária ao convívio social. Por fim, tanto
a geografia quanto a história são disciplinas
escolares indispensáveis para a capacitação
das crianças para o mundo do trabalho e
da política garantindo a iniciação para uma
preparação mais ampla de um bom cidadão.
(BORTOLOTI, 2009, p.22)
Neste tópico discutiremos alguns
breves conceitos sobre a Geografia e
a História e abordaremos como estas
disciplinas precisam ser ensinadas nas salas
de Ensino Fundamental 1.
3.1 A Geografia e Seu Ensino
A Geografia é uma ciência que tem
como objeto principal o estudo do espaço
geográfico que corresponde ao palco das
realizações humanas. O conhecimento
da Terra e todas dinâmicas existentes
configuram como objetivo intrínseco da
ciência geográfica que teve seu inicio paralelo
ao surgimento do homem.
Recebe diversos significados, mas de
uma forma genérica dizemos que geo significa
Terra e grafia, descrição, ou seja, descrição da
Terra. Assim, a Geografia descreve todos os
elementos contidos na superfície do planeta
Terra como: atmosfera, hidrosfera e litosfera
que compõem a biosfera da interação desses
elementos com os seres vivos.
Segundo os Parâmetros Curriculares
Nacionais (1997), alguns dos objetivos do
ensino de Geografia no Ensino Fundamental
são:
• conhecer a organização do espaço
geográfico e o funcionamento
da natureza em suas múltiplas
relações, de modo a compreender
140
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
•
o papel das sociedades em sua
construção e na produção do
território, da paisagem e do
lugar;
compreender que as melhorias
nas condições de vida, os
direitos políticos, os avanços
técnicos e tecnológicos e as
transformações
socioculturais
são conquistas decorrentes de
conflitos e acordos, que ainda
não são usufruídas por todos os
seres humanos e, dentro de suas
possibilidades, empenhar-se em
democratizá-la
No âmbito escolar a geografia
deve apresentar mais do que assuntos
paisagísticos e climáticos, incluindo também
aspectos culturais e políticos dos inúmeros
ambientes sociais existentes.
Para Callai (2005), o papel da
geografia nas séries iniciais do ensino
fundamental é o de “aprender a pensar
o espaço”. O aluno nesta etapa precisa
aprender com a geografia a “ler o mundo
da vida, ler o espaço e compreender que as
paisagens que podemos ver são resultado da
vida em sociedade, dos homens na busca da
sua sobrevivência e da satisfação das suas
necessidades”. (CALLAI, 2005, p.229)
Para isso o professor deve criar
condições para que a criança leia o espaço
vivido. Essa leitura é um processo, que é
iniciado desde quando a criança reconhece
os lugares, sendo capaz de identificar as
paisagens. É um processo que exige que ela
saiba olhar, observar, descrever, registrar
e analisar. É uma espécie de alfabetização
geográfica.
Por meio de uma geografia que
proporcione ao aluno o conhecer e
representar os espaços vividos, habilidades
necessárias para a vida cotidiana como
aprender a observar, estabelecer relações
e correlações, descrever, comparar, tirar
conclusões e fazer sínteses, poderão ser
desenvolvidas. Mas não como habilidades
terminadas, plenas e concluídas, para Callai
| O TURISMO PEDAGÓGICO COMO FERRAMENTA DE ENSINO E APRENDIZAGEM EM GEOGRAFIA E HISTÓRIA NO ENSINO FUNDAMENTAL 1 |
(2005, p. 244), “sempre como caminhos,
como instrumentos para dar conta de algo
maior”.
3.2 A História e Seu Ensino
A História define-se como um
processo social em que todos os homens
estão engajados como seres sociais. São
todas as ações humanas realizadas no
decorrer dos tempos. Assim, o estudo da
história é uma chave para a compreensão do
presente e ajuda a entender o passado. Tem
como objetivo formar no aluno a ideia de
que a realidade como está foi produzida por
determinada razão, e assim pode ser alterada
ou conservada. O estudante da história deve
também compreender e interpretar as várias
versões de determinado fato.
A
história
está
sempre
em
transformação, portanto seu conhecimento
está em constante construção. Para
Bortoloti (2009) nos anos iniciais do ensino
fundamental a disciplina de história “deve
contribuir para a formação do indivíduo
comum, que enfrenta um cotidiano
contraditório, que recebe informações
simultâneas de acontecimentos nacionais e
internacionais”. (BORTOLOTI, p.60) Cabe
ao professor apresentar o conhecimento
histórico (os conceitos, as mudanças
ocorridas na sociedade, nos espaço e
nas culturas etc.) de maneira a ampliar
a autonomia dos alunos, gerando uma
mentalidade crítica além de novas visões
de realidade e vivências reais, contribuindo
assim para que haja uma aprendizagem
verdadeiramente significativa.
Dentre os objetivos específicos do
ensino de História no Ensino Fundamental,
está “conhecer e respeitar o modo de vida
de diferentes grupos sociais, em diversos
tempos e espaços, em suas manifestações
culturais, econômicas, políticas e sociais,
reconhecendo semelhanças e diferenças
entre eles” (PCN, 1997, p. 33) Assim, a
constituição da noção de identidade está entre
os elementos mais relevantes. Conforme
este mesmo documento “é primordial que o
ensino de História estabeleça relações entre
identidades individuais, sociais e coletivas,
entre as quais as que se constituem como
nacionais.” (PCN, 1997. p.26)
É necessário assim que o educador
promova situações que auxiliem ao aluno
na relação entre o particular e o geral, seja
tratando-se do próprio indivíduo , sua
ação e papel na sua localidade e cultura,
seja tratando-se das relações entre dada
localidade, a sociedade nacional e o mundo.
Outra noção essencial a ser atingida é a das
diferenças e semelhanças. A compreensão
do “eu” e a percepção do “outro”, estranho,
diferente a mim advém das percepções das
diferenças e semelhanças no próprio grupo
de convívio do indivíduo, para, a partir daí
lançar-se à compreensão do “nós”, quando
ele é capaz de identificar elementos culturais
comuns entre seu grupo local e a população
nacional, e ainda perceber que outros grupos
e povos, sejam próximos ou distantes no
tempo e no espaço possuem hábitos de
vida diferentes. Ainda no trabalho com a
identidade na disciplina de história, é preciso
que se construa a noção de continuidade
e permanência. Ou seja, a percepção de
que o “eu” e o “nós” de hoje são diferentes
dos de outros momentos históricos, que
pensavam o mundo, viviam, trabalhavam, se
relacionavam distintamente; mas que são os
“antepassados” do homem de hoje, legando
uma história. Quando conhece o outro e o
nós, o aluno consegue comparar situações,
estabelecer relações de forma comparativa
e relacional, conhecendo cada vez mais
sobre si mesmo, seu grupo, e contexto sóciogeográfico. (PCN, 1997)
No passado, o ensino da história era
baseado “na memorização e repetição oral de
escritos, com materiais escassos, alem de ser
disciplina optativa.” (ibdem). Atualmente,
exige-se um novo modelo de ensino e estudo
dessa disciplina.
Os estudos da história dos grupos
de convívio e nas suas relações
com outros grupos e com a
sociedade nacional, considerando
vivências nos diferentes níveis da
vida coletiva (sociais, econômicas,
políticas, culturais, artísticas,
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
141
| O TURISMO PEDAGÓGICO COMO FERRAMENTA DE ENSINO E APRENDIZAGEM EM GEOGRAFIA E HISTÓRIA NO ENSINO FUNDAMENTAL 1 |
religiosas),
exigem
métodos
específicos, considerando a faixa
etária e as condições sociais e
culturais dos alunos. (PCN, 1997,
p. 20)
Portanto, o trabalho pedagógico nas
escolas do século XXI requer o estudo e uso
de novos materiais (relatos orais, imagens,
objetos, danças, músicas, narrativas), que
devem se transformar em instrumentos de
construção do saber histórico escolar.
O que é notório em alguns contextos é
o distanciamento do ensino dessa disciplina
com a realidade dos alunos. Compreender
e reafirmar a importância da história no
currículo escolar não deve ser apenas uma
preocupação com a identidade nacional, mas
no que ela, especificamente como disciplina,
pode contribuir para o desenvolvimento dos
alunos tornando-os sujeitos conscientes,
capazes de entender a História como
conhecimento, experiência e prática de
cidadania. (PCN 1997, p.20)
4. Turismo Pedagógico
4.1 Definições: O Turismo
Pedagógico Sob Alguns Olhares
Quando se fala em turismo pedagógico,
muitas concepções e definições coexistem na
realidade mundial e brasileira acabando por
causar confusão, estranhamento de conceitos
ou mesmo distorções dessa prática. Milan
(2002) apresenta algumas diferenciações
necessárias quanto às modalidades de
viagens com objetivos educacionais. Estas
modalidades são definidas basicamente de
acordo com as motivações da viagem. Assim
sendo, para a autora, existe o:
a)Turismo
Educacional:
Nesta
modalidade o viajante tem por motivação
aprender sobre a história, cultura e sociedade
e outros aspectos do destino escolhido. São
exemplos de turismo educacional programas
de intercâmbio e viagens culturais
organizadas por instituições de ensino.
b)Turismo Estudantil: na qual o
objetivo é ampliar a formação cultural (em
artes, línguas, história, etc.) ou comemorar
142
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
a conclusão de uma etapa de estudos
(formaturas de ensino médio, graduação,
etc.) Programas de intercâmbio e viagens de
formatura inserem-se nessa modalidade.
c)Turismo Pedagógico: Cujo objetivo
principal do viajante, no caso o aluno, é o
de estudar sobre o meio ambiente local e
aspectos sócio-culturais do destino a fim de
promover uma complementação prática da
teoria vista em sala de aula. De acordo com
Andriolo e Faustino (1997, apud MILAN,
2002, p.30) é “uma modalidade de turismo
que serve às escolas em suas atividades
educativas.”
d)Estudo do Meio: é um método de
ensino que estabelece uma relação entre
teoria e prática utilizando um objeto de
estudo que sirva de base para que o aluno
prossiga os estudos iniciados em sala de
aula (ou mesmo que ainda será apresentado
na sala de aula). As visitas técnicas e as de
estudo in loco são exemplos de Estudos do
Meio.
Para Mário Beni (2002), Turismo
Pedagógico é a
... retomada da antiga prática
amplamente utilizada na Europa
e principalmente nos Estados
Unidos por colégios e Universidade
particulares, e também adotada
no Brasil por algumas escolas
de elite, que consistia na
organização de viagens culturais
mediante o acompanhamento
de professores especializados
da própria instituição de ensino
com programa de aulas e
visitas a pontos históricos ou de
interesse para o desenvolvimento
educacional
dos
estudantes.
(apud RAYKIL e RAYKIL,
2007).
Para Peccatiello (2007), o Turismo
Pedagógico
... é composto basicamente por
viagens de estudo do meio,
realizadas por instituições de
ensino com o objetivo maior
de geração de conhecimento,
constituindo-se numa ferramenta
| O TURISMO PEDAGÓGICO COMO FERRAMENTA DE ENSINO E APRENDIZAGEM EM GEOGRAFIA E HISTÓRIA NO ENSINO FUNDAMENTAL 1 |
didática que pode ser utilizada
pelos educadores a fim de
facilitar e melhorar o processo de
aprendizagem. (apud BOSSI,
2008).
Segundo Hora e Cavalcanti (2003),
o turismo pedagógico pode ser realizado
por turismólogos e por docentes de diversas
áreas (uma equipe multidisciplinar), com
propostas de atividades que incluam algum
tipo de deslocamento do ambiente escolar
com o objetivo de concretizar a aprendizagem
e os conteúdos curriculares, fora da sala de
aula.
O termo “Estudos do Meio” tem
como referênciaas contribuições de Célestin
Freinet, pedagogo francês nascido em
1986. Dentre suas técnicas de ensino ele
utilizava as “aulas- passeio”, aulas de campo
voltadas para os interesses dos estudantes.
No Brasil o precursor dos Estudos do Meio
foi Domingos de Toledo Piza, que realizou
suas experiências pioneiras na área em
1960. (MILAN, 2002, p.28). Hoje é visto
como um método de ensino que atende os
propósitos educacionais da escola, uma vez
que estabelece relações entre a teoria vista
nas salas de aula e a prática vivenciada no
ambiente. Os alunos têm a possibilidade de
se envolverem em pesquisas in loco, podendo
experimentar situações reais de aprendizado
por meio do envolvimento com culturas,
novos espaços e comunidades locais. A
partir dos Estudos do Meio os alunos podem
interagir com o mundo.
Pode-se afirmar assim, que a
modalidade de Turismo Pedagógico e o
Estudo do Meio (como método de ensino
inserido nessa modalidade) são os termos
mais apropriados para o trabalho em
questão, que visa analisar em que aspectos
essas práticas podem ser úteis ou não para
o ensino da geografia e história no ensino
fundamental 1. Esse assunto será tratado no
tópico seguinte.
5. Turismo Pedagógico e Ensino
De Geografia e História: Um Campo
De Possibilidades
De acordo com Milan (2007, p.13), os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s)
consagraram o Estudo do Meio como método
de ensino propulsor da interdisciplinaridade.
Quando trata da necessidade de novas
práticas pedagógicas incluindo variadas
maneiras de ensinar cada vez mais voltadas
para a realidade do aluno em prol de uma
aprendizagem mais significativa, esse
documento assegura a importância das
saídas escolares para o currículo.
As saídas de campo, conforme os
PCN’s são atividades usualmente lúdicas, e
representam oportunidades especiais para
que os alunos e professores se coloquem em
circunstâncias distintas, envolvendo acesso e
aquisição de informações de tipos variados.
É necessário, porém, que o docente considere
o estudo do meio como
... uma metodologia específica de
trabalho, que envolve o contato
direto com fontes de informação
documental, encontradas em
contextos cotidianos da vida
social ou natural, que requerem
tratamentos muito próximos
ao que se denomina pesquisa
científica.(PCN, 1997, p. 61)
Há alguns autores que citam as
experiências de Estudos do Meio e outras
atividades de turismo pedagógico como
úteis e válidas para o ensino de disciplinas
diversas. Oliveira e Assis (2009) trazem
alguns deles. Zoe A. Thralls em seu livro
didático “O Ensino de Geografia” propõe
a aula de campo por meio de visitas na
comunidade com o objetivo de proporcionar
aos alunos a leitura da paisagem local. Nesta
experiência, o aluno pode compreender a
relação da sociedade com o ambiente, instigar
seu espírito exploratório, e interrelacionar a
paisagem local com um espaço mais amplo
(da cidade, do país, do mundo). Para a
autora, “a viagem ou a excursão, tanto na
cidade como no campo, alarga a experiência
da criança e ajuda-a na construção de
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
143
| O TURISMO PEDAGÓGICO COMO FERRAMENTA DE ENSINO E APRENDIZAGEM EM GEOGRAFIA E HISTÓRIA NO ENSINO FUNDAMENTAL 1 |
significado.” (THRALLS, apud OLIVEIRA;
ASSIS, 2009, p. 6).
Maria Helena Cozzolino de Oliveira
e Ieda da Silva Monteiro em “Didáticas dos
Estudos Sociais” (1998) trazem a reflexão das
atividades extrassalas no ensino de Geografia.
(OLIVEIRA; ASSIS, 2009). Para as autoras
as saídas proporcionam aos alunos a tomada
e aquisição de novos hábitos e atitudes de
comportamentos em ambientes diferentes,
dando a possibilidade de descobrirem novos
valores e relações tornando as experiências
mais ricas e amplas.
A autora Maria Del Carmen Calvente
em “O conhecimento, o meio e o ensino
de geografia” no livro “Para quem ensina
Geografia” (1998) também apresenta um
debate sobre o estudo do meio (OLIVEIRA;
ASSIS, 2009). Para ela “é a partir do meio
que se pode perceber a obra dos homens
no tempo e no espaço e perceber-se como
sujeito”. (ibdem, p.9) Assim, sua proposta
de estudo do meio é “trazer uma situação
concreta de existência como um problema
que desafia e exige respostas não apenas
intelectuais, mas de ação.” (CALVENTE,
p.90 apud OLIVEIRA; ASSIS, 2009, p.9).
Para Calvente, no estudo fora da sala de aula,
é necessário elaborar e realizar entrevistas
no local estudado, construir croquis desses
locais e de outros que estabeleçam com ele
relações e buscar pesquisar se essa área está
nos livros didáticos.
Oliveira e Assis (2009) acrescentam
os escritos de Nídia Pontuschka (2004) “O
conceito de estudo do meio transformase...” como um apanhado das mudanças
pelas quais esse conceito vem sofrendo
influenciado pelos contextos históricos
dentro do ambiente escolar e do ensino em
geral. Para Pontuschka o Estudo do meio
... é um método de estudo
interdisciplinar para as atividades
extras-sala, tendo a geografia o
papel de elucidar para os alunos a
importância e as significações do
espaço geográfico. É preciso saber
ver, dialogar com a paisagem,
detectar os problemas existentes
na vida de seus moradores e
144
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
estabelecer uma relação entre
os fatos verificados e o cotidiano
dos alunos. (apud OLIVEIRA E
ASSIS p.9).
Para a autora, na volta para a sala de
aula esse estudo do meio tem ainda o papel
na elaboração de material didático para a
escola e para a comunidade visitada, por
meio de relatórios de campo, exposições de
fotos e arquivos coletados.
Já o trabalho “Do estudo do meio
ao turismo geoeducativo: renovando as
práticas pedagógicas em geografia” (2006)
de Christian de Oliveira, traz a proposta de
transformação do estudo do meio para o
chamado turismo geoeducativo. (OLIVEIRA;
ASSIS, 2009). Este autor coloca que o
Turismo Geoeducativo
... permite aos estudantes uma
prática de diálogo com os lugares,
fazendo-os interagir com atrativos
e repulsivos (aqueles elementos
que no Turismo retórico não devem
ou não podem ser observados).
Não busca os lugares em si, como
se estes formassem paisagens
neutras ou desocupadas. Busca a
possibilidade de interação sócioambiental constante; mesmo em
sua forma invisível ou indireta.
(apud OLIVEIRA;
2009, p.10)
ASSIS,
Fato é que a escola tem a função de
não apenas transmitir o conhecimento, mas
de proporcionar ao aluno a construção deste
por meio de diálogos e constante reflexão.
Diálogos com o outro, com o docente, com
o próprio conhecimento e até mesmo com
o espaço. Como cita Litwin (1997 apud
MILAN 2007) “a função da escola não é
transmitir, mas reconstruir o conhecimento
experiencial”. Ou seja, é papel das instituições
de ensino permitir ao aluno que vivencie
distintas e significativas experiências de
aprendizado. Cabendo aqui ressaltar a
importância das saídas escolares como
ferramentas para essa “experienciação”.
O próprio Paulo Freire sugere:
| O TURISMO PEDAGÓGICO COMO FERRAMENTA DE ENSINO E APRENDIZAGEM EM GEOGRAFIA E HISTÓRIA NO ENSINO FUNDAMENTAL 1 |
Por que não aproveitar a
experiência que têm os alunos
de viver em áreas da cidade
descuidadas pelo poder público
para discutir, por exemplo,
a poluição dos riachos e dos
córregos e os baixos níveis de bemestar das populações, os lixões e os
riscos que oferecem à saúde das
gentes? (FREIRE, 2001, p. 33
apud CALLAI p.234)
Milan (2007) sinaliza ainda que as
saídas da sala de aula estimulam os alunos a
adquirirem uma visão crítica do mundo que
os cercam, fazendo da aprendizagem mais
significativa, pois é mais dinâmica e viva.
Isso ocorre, pois o conteúdo é apresentado in
loco aliado ao que foi ou será aprendido na
sala de aula.
Acreditamos que isso vem ao encontro
da proposta de Callai (2005) de “Ler o Mundo”.
O estudo do meio e as demais experiências
de Turismo Pedagógico criam situações e
oportunizam experiências de aprendizagem
diferenciadas. Por meio do aguçamento da
curiosidade, o despertar para a novidade,
a adrenalina da descoberta e o pulsar de
todos os sentidos corporais (audição, visão,
tato, olfato e paladar) as saídas das salas de
aula promovem uma condição ímpar para
o ensino e aprendizagem. Os alunos ficam
expostos ao pensar, à construção do próprio
conhecimento por meio de experiências
individuais e/ou coletivas, pois se sentem
mais motivados e livres para “lerem o
mundo” de sua própria maneira.
Concomitantemente a essa ideia,
os Parâmetros Curriculares Nacionais
(1997) colocam que o estudo do meio é um
recurso pedagógico privilegiado, uma vez
que “possibilita aos estudantes adquirirem,
progressivamente, o olhar indagador sobre o
mundo de que fazem parte.” (p.62) Ou seja, o
aluno, agora turista, observador e até mesmo,
pesquisador, passa a construir relações
de identidade, analisando semelhanças
e diferenças enquanto contempla novas
realidades ou até a sua própria com outro
olhar.
Conclui-se que o estudo do meio pode
sim ser uma ferramenta válida no ensino
de geografia e história, tomando-se certas
precauções e tendo a compreensão, conforme
os Parâmetros Curriculares Nacionais de
Geografia e História, de que este:
... não se relaciona à simples
obtenção de informações fora
da sala de aula ou à simples
constatação de conhecimentos
já elaborados, encontrados em
livros didáticos, enciclopédias
ou jornais, que se pode verificar
in loco na paisagem humana ou
geográfica. Não se realiza um
estudo do meio para se verificar
que as casas construídas no início
do século seguem uma série de
características relacionadas ao
estilo neoclássico. E não se visita
uma fábrica para simplesmente
verificar, por exemplo, que
existe uma divisão de trabalho
entre os operários. O estudo do
meio envolve uma metodologia
de pesquisa e de organização
de novos saberes, que requer
atividades anteriores à visita,
levantamento de questões a
serem
investigadas,
seleção
de informações, observações
em
campo,
comparações
entre os dados levantados e os
conhecimentos já organizados
por
outros
pesquisadores,
interpretação, enfim, organização
de dados e conclusões. (PCN, p.
62 grifo nosso)
6. Considerações Finais
Na
atualidade,
percebem-se
profundas mudanças, ainda consideradas
tímidas mediante o valor que se espera para
o ensino da geografia e história, utilizando a
aula passeio/turismo pedagógico. A educação
nestas disciplinas é parte importante
na formação, em tempos de crescentes
transformações, de modo a provocar no
educando uma consciência crítica, que o
capacite a ter uma visão ampliada de um
país redemocratizado socialmente, porém
portador de grandes desigualdades.
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
145
| O TURISMO PEDAGÓGICO COMO FERRAMENTA DE ENSINO E APRENDIZAGEM EM GEOGRAFIA E HISTÓRIA NO ENSINO FUNDAMENTAL 1 |
Partindo do pré-suposto de que o
processo de aprendizagem diferencia de
um indivíduo para outro, sabe-se que os
resultados são variantes, porém certos.
Entretanto, o estudo do meio possibilitará ao
educando um contado direto com a realidade
histórica e geográfica. A partir desse
encontro educativo, surgirão oportunidades
de
problematização,
questionamentos,
ao mesmo tempo em que se viabilizará a
construção do saber.
Para possibilitar bons resultados e
a melhor absorção de conhecimentos, por
parte do educando, surge então a necessidade
do desenvolvimento do processo dentro de
sala, a escolha do tema /lugar de referência,
criar discussões em torno do assunto,
aproximando o grupo. O levantamento de
conhecimento prévio, alavanca o processo
de desenvolvimento, a aula passeio, realiza o
contato com o real e viabiliza a construção do
conhecimento.
Segundo Fela Moscovici: (1997.p.96)
“é preciso um tipo de aprendizagem
vivencial, onde você possa viver a situação de
forma total, não apenas intelectual”.
É sabido que na educação o
conhecimento é construído gradativamente,
e essa construção é realizada por educadores
e educandos, sendo ambos protagonistas no
dia a dia escolar. O docente tem a função de
instigar o interesse e a curiosidade do aluno
levando para sala de aula novos desafios e
propostas coerentes com o planejamento
pedagógico.
Muitos professores já mudaram a
sua maneira de trabalhar os conteúdos das
matérias de história e geografia indo além
dos muros das escolas, proporcionando aos
seus alunos uma aula baseada no concreto
como: visitas aos museus, aos bairros da
cidade em que vivem, aos zoológicos, saindo
da monotonia das salas de aula e dos livros
didáticos. Muitos alunos não têm acesso aos
ambientes culturais, sendo assim, a escola
tem cumprindo um de seus papéis que é
proporcionar o máximo de conhecimento
experiencial aos seus alunos.
Os
Parâmetros
Curriculares
146
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
Nacionais (1997) exaltam o Estudo do Meio
como atividade didática eficaz na geração de
experiências de aprendizagem aos alunos. Na
medida em que as propostas para o ensino de
História e também da Geografia no Ensino
Fundamental traduzem a intencionalidade
de oferecer aos alunos uma formação
intelectual e cultural a fim de que consigam
estabelecer identidades e diferenças na sua
própria realidade (na família, na escola, no
lazer, nas relações econômicas, políticas,
artísticas, religiosas, sociais, culturais e
espaciais); e também compreenderem que as
histórias individuais integram-se formando
a história nacional, o Estudo do meio
apresenta-se como recurso essencial.
Esse documento apresenta que as
saídas pedagógicas permitem aos alunos o
estabelecimento de relações interpretativas
e ativas relacionadas diretamente com
a produção de novos conhecimentos,
envolvendo pesquisas com documentos
localizados em contextos vivos e dinâmicos
da realidade. (PCN). Durante essas atividades
os alunos podem se deparar com a parte e o
todo, com presente e passado, o particular
e o geral, o todo cultural, a diversidade e as
generalizações, as contradições e o que se
pode estabelecer de comum no diferente.
É fundamental que o estudante que
está começando a ler o mundo conheça a
diversidade de lugares, moradias, modos
de vida, estilos de arte ou as formas de
organização de trabalho, para compreender
de modo mais crítico a sua própria época e o
espaço ao seu redor.
| O TURISMO PEDAGÓGICO COMO FERRAMENTA DE ENSINO E APRENDIZAGEM EM GEOGRAFIA E HISTÓRIA NO ENSINO FUNDAMENTAL 1 |
Referências
ABUD, Katia. Currículos de História e Políticas Públicas: os programas de História do Brasil
na escola Secundária. In: BITTENCOURT, Circe (Org).O Saber histórico na sala de aula. São
Paulo: Contexto, 2011.
BITTENCOURT, Circe (org). O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto 1997.
BORTOLOTI, Karen Fernanda da Silva. Metodologia para o ensino de Historia e Geografia.
Ribeirão Preto> Editora UnisebCOC, 2009.
BOSSI. Marina Millard de Souza Bossi. A contribuição do turismo para o desenvolvimento
cognitivo de uma criança. Um olhar no Turismo Pedagógico. Monografia de conclusão de curso para o título de Turismóloga. Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2008.
BRASIL. MEC. Secretaria da Educação Fundamental. In: Parâmetros Curriculares Nacionais.
Brasília: MEC/SEF. 1997.
CALLAI, Helena Copetti. Aprendendo a ler o mundo: a Geografia nas séries iniciais do ensino
fundamental. Cad. Cedes, Campinas, vol. 25, n. 66, p. 227-247, maio/ago. 2005 227 Disponível em: http://www.cedes.unicamp.br Acesso em 13/09/2011
GONÇALVES, Salete. O Florescer do Turismo Pedagógico: Voando em busca de uma educação para o lazer. Trabalho integrado apresentado ao VII Curso de Especialização em Lazer da
Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte: 2006
HORA,A.S.S.; CAVALCANTI, K.B. Turismo pedagógico: conversão e reconversão do olhar.
In: REJOWSKI, M.; COSTA, B. K. (Orgs.).Turismo Contemporâneo: desenvolvimento, estratégia e gestão.São Paulo: Atlas, 2003.
MACHIN, Alan. The Educational Origins of Tourism. [An edited extract of discussion Paper
available from The Tourism, Hospitality and Events School, Leeds Metropolitan University].
Disponível em: www.alanmachinwork.net Acesso em 28/08/2007
MILAN, Priscila Loro. “Viajar para aprender”: Turismo Pedagógico na região dos Campos Gerais- PR. Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de mestre
em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí , Centro de Educação Balneário
Comburiu. Balneário Camboriú, 2007.
MORAIS. – Janaína Pilizardo, MAIA. Jorge Sobral da Silva. A prática do Turismo Pedagógico:
Um estudo de caso na creche Emei Mário Andrade de Ourinhos. Disponível em: http://www.
periodicodeturismo.com.br/site/artigo/pdf/A%20PRATICA%20DO%20TURISMO%20
PEDAG%C3%93GICO.pdf. Acesso em 17 de Maio de 2011.
MOSCOVICI, Fela. Razão e Emoção. Salvador- BA: Casa da Qualidade, 1997.
NEVES, José Luis. Pesquisa Qualitativa- tipos fundamentais. Caderno de Pesquisas em Administração. São Paulo,v.1,n.3, 2º semestre de 2006.Disponível em: www.ead.fea.usp.br/cadpesq/arquivos/c03-art06.pdf. Acesso em 18/05/2011
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
147
| O TURISMO PEDAGÓGICO COMO FERRAMENTA DE ENSINO E APRENDIZAGEM EM GEOGRAFIA E HISTÓRIA NO ENSINO FUNDAMENTAL 1 |
OLIVEIRA. Christian Dennys Monteiro de; ASSIS. Raimundo Jucier Sousa de. Travessias da
aula em campo na geografia escolar: a necessidade convertida para além da fábula.Educação
e Pesquisa, Vol. 35, Núm. 1, enero-abril, 2009, pp. 195-209 Universidade de São Paulo. Brasil. Disponível em: http://redalyc.uaemex.mx/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=29811383014.
Acesso em 13/09/2011
PECCATIELLO. Ana Flávia Oliveira. Turismo Pedagógico como uma estratégia de Ensinoaprendizagem sob a óptica dos parâmetros curriculares nacionais – 3 e 4 ciclos do ensino fundamental. Disponível em: <http://www.periodicodeturismo.com.br/site/artigo/pdf/ Acesso:
em 17 /05/2011
PINSKY, Jaime. Nação e Ensino de História do Brasil. In O ensino de historia e a criação do
fato.São Paulo: Contexto,1988.
RAYKIL. Eladyr Boaventura, RAYKIL. Cristiano. Turismo Pedagógico: Uma interface diferencial no processo ensino-aprendizagem. Revista Global Turismo – Março 2007 disponível em
http//www.periodicodeturismo.com.br Acesso em 09/ 2007
SILVA, Marcos Antonio da. (Org).Repensando a História. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1984.
TAHARA,Alexander Klein. Os passeios escolares educacionais:contextualização importância
relações com lazer a escola. Disponível em: http://www.ebah.com.br/content/Abaaabmtsak/
Acesso em 15/05/2011
148
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
| O TURISMO PEDAGÓGICO COMO FERRAMENTA DE ENSINO E APRENDIZAGEM EM GEOGRAFIA E HISTÓRIA NO ENSINO FUNDAMENTAL 1 |
Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |
149
NORMAS DE PUBLICAÇÃO DA REVISTA
MULTIDISCIPLINAR DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA
DO UNISEB
A revista Multidisciplinar de Iniciação
Científica do UNISEB tem por objetivos
incentivar a reflexão acadêmica, difundir
pesquisas e propiciar um intercâmbio
científico entre pesquisadores. A publicação
divulga trabalhos inéditos de alunospesquisadores do UNISEB e de outras
instituições de ensino. As colaborações
poderão ser apresentadas em forma de
artigos, resenhas, relatos de pesquisas em
andamento e de congressos científicos,
levantamentos bibliográficos ou informações
gerais e estarão condicionadas à aprovação
prévia da Comissão Editorial. O conteúdo
e o compromisso com o ineditismo dos
textos são de responsabilidade dos seus
autores, que deverão enviar a autorização
de publicação concordando com as normas
descritas neste documento juntamente com
o texto. Os direitos autorais de ilustrações,
gráficos, fotografias, tabelas e desenhos
que acompanharem os textos serão de
exclusiva responsabilidade do colaborador.
Os trabalhos publicados serão considerados
colaborações não remuneradas, visto que a
revista não é de caráter comercial e sim de
divulgação científica.
O Centro Universitário UNISEB
não se responsabiliza por nenhuma
informação teórica ou empírica divulgada
nos artigos, os quais são de inteira e absoluta
responsabilidade de seus autores.
Normas para envio de Artigos
1.
Os
arquivos
devem
ser
encaminhados por e-mail para os endereços:
[email protected],
configurados no programa Word for
Windows – 2003-2007.
2. Os textos devem ter entre 15 a
20 laudas em fonte Times New Roman,
corpo 12, espaço 1,5 cm. Folha A4. Editor de
texto Word for Windows 6.0 ou posterior.
150
| Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica
Parágrafo justificado com tabulação 1,25 cm.
Margens esquerda e superior de 3,0 cm e
direita e inferior de 2,0 cm.
3. A estrutura do texto deve a
apresentar a seguinte ordem: Título, nome
do autor com credenciais em rodapé (5 linhas
no máximo), resumo (em 600 caracteres no
máximo), abstract (versões para o inglês ou
espanhol); 3 a 5 palavras-chave; Corpo do
Texto; Referências Bibliográficas.
4. Nas credenciais do autor do artigo
deve conter as seguintes informações:
Nome, maior titulação, entidade a
que está vinculado e endereço eletrônico.
5. Ilustrações e/ou fotografia serão
utilizadas dentro das possibilidades de
editoração;
6. Tabelas e gráficos devem ser
numerados e encabeçados pelo seu título;
7. Desenhos, ilustrações e fotografias
devem ser identificados por suas respectivas
legendas e pelo nome de seus respectivos
autores;
8. Citações no corpo do texto deverão
seguir o padrão:
a) citações diretas com mais de 3 linhas
devem vir em recuo de 4 cm à esquerda, sem
aspas, fonte 10, espaço simples, seguidas de
referência (sobrenome do AUTOR, em caixa
alta, ano da publicação, número da página).
b) citações diretas até 3 linhas devem
vir no corpo do texto, sem recuo, entre aspas,
fonte 12, seguidas de referência (sobrenome
do AUTOR, em caixa alta, ano da publicação,
número da página).
c) citações indiretas devem apontar
somente sobrenome do AUTOR, em caixa
alta e ano da publicação.
9. As referências (obras citadas ou
mencionadas) deverão estar dispostas no final
do artigo e redigidas em ordem alfabética,
com a sequência: Autor (SOBRENOME em
caixa alta, nome). Título em bold. Edição.
Cidade: Editora, ano de publicação.