Falar em escola e Direitos Humanos coloca grandes
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Falar em escola e Direitos Humanos coloca grandes
MODULO II - INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS AULA 04: EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS: DO QUE ESTAMOS FALANDO? TÓPICO 07: SAÚDE, PREVENÇÃO À OBESIDADE E BULLYING: O QUE OS DIREITOS HUMANOS TÊM A VER COM ISSO? Falar em escola e Direitos Humanos coloca grandes desafios diante do tema da violência. Mas você acha que esta se manifesta do mesmo modo para todas as minorias? Há formas de violência que são mais explícitas e outras mais veladas? Às vezes, uma atitude de preconceito pode parecer até mesmo 'bom humor' ou algo sem importância. Mas colocamos para você uma provocação: piadas não contém um ensinamento moral? Elas não podem trazer elementos de injúria? Quando falamos em injúria, nos referimos a discursos, práticas sociais, formas de insulto que rebaixam o outro. REFLEXÃO Você já ouviu piadas sobre pessoas obesas? Você já riu com elas? Quase nunca nos damos conta de que quando rimos com estas piadas, estamos endossando a inferiorização destas pessoas. Você já ouviu alguém ser xingado de "gordo"? Vocês acham mais provável que uma pessoa "xingue" outra de "gorda", ou de "sarada"? "Sarado" poderia ser um xingamento? Será que pessoas "magras" estão sujeitas ao mesmo tipo de rejeição que as pessoas "gordas"? Elas podem, eventualmente, ser rotuladas como "magrelas", com um sentido pejorativo. Contudo, de modo geral não são responsabilizadas por sua "magreza"; o "gordo", por outro lado, é acusado, julgado e sentenciado por "comer demais". Afinal, a pessoa magra talvez "passe necessidade", enquanto o gordo "exagera", é "destemperado", "descontrolado", "excessivo" na alimentação – ou ainda, "sedentário", "preguiçoso", "inativo". Não é somente o discurso do senso comum que sustenta visões negativas da obesidade: estas podem, com frequência, receber um respaldo "científico". Na cultura ocidental moderna, o corpo 'gordo' é associado a problemas de saúde, e considerado esteticamente indesejável por muitas pessoas. O discurso da biomedicina que apresenta a "obesidade" como condição patológica é parte de uma cultura que compreende a funcionalidade dos corpos com um valor. (Buscando maximizar a produtividade destes corpos e a extensão da vida humana.) Nesta cultura, o "prazer" individual, evidentemente, também é valorizado. (embora, de certo modo, subordinado a essa busca da funcionalidade.) Mas será que a circulação dessas ideias científicas sobre o corpo não pode - ainda que indiretamente - favorecer a estigmatização das pessoas obesas? Vejam as fotos abaixo, que fizeram parte de uma campanha de prevenção contra a obesidade infantil alguns anos atrás: Fonte (HTTP://WWW.NOVASB.COM.BR/NOTICIA/ALERTA-SOBRE-OBESIDADE-INFANTIL/) Para além de sua presumida eficácia na prevenção da obesidade infantil, o que estas imagens comunicam sobre as crianças e adolescentes obesos, ao dizer que "uns quilos a mais hoje" implicam "colesterol amanhã" e "uns anos a menos no futuro"? No Brasil, o debate sobre os direitos humanos de pessoas obesas é ainda bastante incipiente. Em parte, a relativa desatenção ao tema pode ter relação com a ausência na cena pública brasileira de coletivos organizados reivindicando direitos para estas populações. Em parte, com o poder exercido pela medicina na caracterização da "obesidade" como condição patológica. Nada disto, evidentemente, justifica a discriminação de pessoas obesas. OLHANDO DE PERTO O "MOVIMENTO PELA ACEITAÇÃO DOS GORDOS" No cenário internacional, existe uma incipiente mobilização em torno da Fat Acceptance (a "Aceitação dos Gordos"). Não se trata de apologia ao 'sobrepeso' ou à 'obesidade', mas de um movimento de afirmação da autoestima e reconhecimento das pessoas nesta condição: procuram desconstruir os preconceitos e discriminação que atingem pessoas "gordas", afirmando que "sobrepeso" e "obesidade" não são sinônimos de infelicidade. Organizações da sociedade civil, como a "Associação Nacional pelo Progresso da Aceitação dos Gordos" (http://www.naafa.org/) dedicam a promover esta agenda. No Brasil, até o momento, estas discussões não alcançaram grande reverberação. Uma interessante reportagem sobre este tema foi publicada, alguns anos atrás, pela Revista Veja: "Fat pride", o orgulho de ser gordinha (http://veja.abril.com.br/noticia/saude/fat-prideorgulho-ser-gordinha-obesidade) . Modelos do Desfile de Moda 2010 da NAAFA ("Associação para o Progresso da Aceitação dos Gordos"). Fonte (HTTP://WWW.NAAFAONLINE.COM/NEWSLETTERSTUFF/2010-10/FASHION-SHOW-2010A.GIF) O debate sobre direitos das pessoas obesas no Brasil tem sido conduzido, via de regra, em torno do tema da "acessibilidade". Existe um projeto de lei em tramitação no Senado Federal (PLC 132/2011 (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)) que visa alterar a lei nº 10.098 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L10098.htm) , de 19 de dezembro de 2000 que versa sobre a promoção da acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. Se aprovado, tornará obrigatória a disponibilização de assentos especiais para pessoas obesas nos transportes coletivos, assim como em estabelecimentos voltados a educação ou ao entretenimento. No estado do Rio de Janeiro, existe já uma lei que torna obrigatória a disponibilização de assentos adaptados para pessoas obesas em estabelecimentos de ensino e locais de realização de concursos públicos (a Lei 5.829/10 (http://g1.globo.com/rio-dejaneiro/noticia/2010/09/lei-obriga-instituicoes-de-ensino-do-rjter-cadeiras-para-obesos.html) ). No ambiente escolar, quando o tema da obesidade é de algum modo debatido, aparece em duas frentes de discussão bem diferentes entre si. Vejamos: CAMPANHAS DE PREVENÇÃO À OBESIDADE INFANTIL. São via de regras conduzidas à partir do ponto de vista das ciências da saúde. Compreendem a obesidade como condição de risco, que é potencializada pelo sedentarismo e por maus hábitos nutricionais (ao lado da predisposição genética, fatores hormonais e emocionais). Nesta abordagem, são sublinhados os riscos que a obesidade apresenta para a saúde das pessoas (ver, por exemplo, Semana de Mobilização Saúde na Escola alerta sobre obesidade infantil (http://www.direitosdacrianca.org.br/em-pauta/2012/03/1osemana-de-mobilizacao-saude-na-escola-alerta-sobre-obesidade -infantil) ). PREVENÇÃO DO BULLYING CONTRA CRIANÇAS OBESAS. Outro tipo de debate - que parece receber atenção um pouco menor que o primeiro. Pesquisas internacionais sugerem que, com recorrência, crianças acima do peso ou obesas tem mais risco de sofrer agressões e bullying na escola. Acesse a matéria em: Crianças acima do peso tem maior risco de sofrer bullying (http://oglobo.globo.com/saude/criancasacima-do-peso-tem-maior-risco-de-sofrer-bullying-3010894) . Se compreendermos a saúde em uma perspectiva integral, que valorize não só a integridade física, mas também o bem estar emocional e a dimensão social da vida humana é razoável sustentar que a educação em saúde não deve ser dissociada da educação em direitos humanos. Valorizar a dignidade da pessoa obesa e questionar os estigmas que a atingem é, também, uma forma de promover a saúde desta população. REFLEXÃO Vamos refletir sobre isto? Em sua escola, existem discussões sobre o tema da obesidade de crianças e/ou adolescentes? Como este é abordado? Você percebe diferenças na forma como crianças e adolescentes obesos, ou com sobrepeso, são tratados por outros alunos, funcionários e professores? Como poderíamos debater na escola a prevenção à obesidade, incentivar a prática de atividades físicas e de hábitos nutricionais saudáveis (contribuindo assim para a educação em saúde e o direito de acesso à saúde), sem reforçar preconceitos e favorecer formas de discriminação? PORTFÓLIO 4 Veja o vídeo com a entrevista de Vera Candau e faça um texto discutindo as noções de preconceito, violência, discriminação e diferença. Compartilhe com os demais postando no portfólio. Assista: Entrevista Prof.ª Vera Candau - PUC/RIO (http://www.youtube.com/watch?v=bP-DNlSKXqQ) . FÓRUM 4 TODOS DIFERENTES, TODOS IGUAIS. Nesse fórum vamos discutir sobre a relação entre educação em direitos humanos e discriminação. Veja o vídeo e faça uma reflexão no fórum, relacionando o que leu nessa aula com o vídeo que assistiu. Assista: A violência escolar (http://www.youtube.com/watch? v=QZbZtI5AzYQ) . FÓRUM PERMANENTE DISCUSSÃO COLETIVA DOS CONCEITOS E DO CONTEÚDO DA AULA Esse fórum é um espaço para discussão dos conteúdos, conceitos e noções que aprendeu lendo essa aula. Discuta o que lhe chamou atenção. Vamos fazer um debate coletivo nesse fórum. REFERÊNCIAS BADINTER, E. “A indiferença materna” in UM AMOR CONQUISTADO: O MITO DO AMOR MATERNO. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. BECKER, H. OUSIDERS: ESTUDOS DE SOCIOLOGIA DO DESVIO. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. BOBBIO, N. ELOGIO DA SERENIDADE E OUTROS ESCRITOS MORAIS – Tradução Marco Aurélio Nogueira - São Paulo: Editora Unesp, 2000, pag. 108. ______________________________. A ERA DOS DIREITOS. Rio de Janeiro: Campus Editora – 1992 – pag. 45, 92, 97. BRASIL. Constituição (1988). CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Brasília: Senado Federal, 1999. CARRARA, S. et al. DIVERSIDADE, DIFERENÇA E DESIGUALDADE. Curso de Especialização em Gênero e Sexualidade. 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Dissertação de Mestrado, Faculdade de Educação da USP, 2009 acesso em 15/03/2012 - disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-23092009134856/pt-br.php (http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-23092009 -134856/pt-br.php) . Responsável: Professor Marcelo Natividade Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual