revista canguru | fevereiro de 2016 | edição nº05

Transcrição

revista canguru | fevereiro de 2016 | edição nº05
Criando filhos em BH
www.cangurubh.com.br | fev 2016 | nº 5
E XE M P LAR G RAT U I TO PARA E SCO LAS PARCE I RAS
COMO EXPLICAR OS
REFLEXOS DA crise
econômica aos filhos
O QUE FAZER (E O
QUE NÃO FAZER)
na hora da
disciplina AS CRIANÇAS E
os benefícios da ioga
PEQUENOS
campeões
A trajetória do tenista Pedro
Martins Rodrigues e de outros
seis atletas mirins que já treinam
e competem como gente grande
nesta edição3
26
seções
A amazona Elisa Resende, de 9 anos: sonho
de representar o Brasil nas Olimpíadas
24
4
6
10
12
14
15
16
18
20
42
43
44
45
46
Os irmãos João e Olívia Guerra: os exercícios de
ioga ajudaram a dupla a melhorar nos estudos
47
48
50
Primeiras palavras
Nossos leitores
www.cangurubh.com.br
Missão Instagram
Eles dizem cada coisa
Canguru viu e curtiu
Mundo Kids
Moda
Comprinhas
Viagens, modo de usar, por Luís Giffoni
História de mãe, por Fádwa Andrade
Para ler com seu filho, por Leo Cunha
Na Pracinha, por Flávia Pellegrini e Miriam
Barreto
Padecendo no Paraíso, por Bebel Soares
e Tetê Carneiro
Artigo, por Carla Marques Nagem de Abreu Chagas
Artigo, por Léa Machado
Crônica, por Cris Guerra
Reportagens
38
22
24
26
A artesã Marcela Bastos, com Miguel Tito, de 3 anos:
mercadorias vendidas em sites de bazar desde 2013
34
36
Nossa capa
38
Pedro, de 9 anos, é filho de Cinara
Martins e Frederico Bastos Rodrigues.
FOTO: Gustavo Andrade
40
Economia | Franqueza e calma são essenciais
na hora de falar da crise financeira
Bem-estar | A ioga promete ajudar na
concentração, disciplina e socialização
Esporte | Sete atletas mirins que já fazem
sucesso nas quadras, ringues, pistas, piscinas...
Comportamento | O mal que as pequenas
mentiras podem fazer às crianças
Família | Especialistas explicam como tratar o
momento da disciplina
Negócios | Mães vendem roupas e acessórios
usados em sites de bazar
Saúde | Saiba como se proteger do zika vírus,
causador do surto de microcefalia no país
FOTO: GUSTAVO ANDRADE
4primeiras palavras
Dois temas que vão
dar o que falar em 2016
Ivana e os filhos
Gabriel e Pedro
CHEGAMOS AO ANO da Olimpíada do Rio, a primeira a ser realizada no
país. A competição mundial que reunirá, em agosto, atletas de 42 modalidades
esportivas — do golfe ao rúgbi — certamente ocupará cada vez mais espaço
nos veículos de comunicação impressos e eletrônicos. E não são só os adultos
que estão interessados nessa cobertura, de olho nas últimas notícias sobre os
atletas que lideram os rankings de performance. O tema interessa também aos
pequenos, principalmente aqueles aficionados dos esportes.
Para a reportagem de capa desta edição, a repórter Isabella Grossi ouviu
as histórias de sete atletas mirins, meninos e meninas que levam os treinos
muito a sério e sonham, no futuro, chegar às olimpíadas. São crianças como
o tenista Pedro Martins Rodrigues, que desde os 4 anos frequenta as quadras,
dando suas raquetadas. O que pretendem esses pequenos? Eles respondem
sem titubear: querem conquistar medalhas e subir ao pódio, como seus ídolos.
E enquanto vão somando competições ao currículo, garotinhos como Pedro
ganham também em senso de disciplina, de responsabilidade e em habilidade
no convívio social. É possível que alguns deles desistam da vida de atleta na
adolescência ou na juventude, mas provavelmente não se esquecerão das lições
aprendidas com o esporte.
Esta edição da Canguru contempla ainda outro tema que está em todos
os noticiários: a crise econômica do Brasil. Para a maior parte das famílias, o
cenário atual é de contenção nos gastos. Está sobrando menos dinheiro para
viagens, idas ao shopping. Como explicar aos filhos os reflexos dessa retração
financeira e a necessária mudança de hábitos em casa? Especialistas ouvidos
pela repórter Sabrina Abreu recomendam franqueza e calma por parte dos pais
na hora de falar sobre o assunto.
Olimpíada e crise econômica. Os dois temas que certamente vão dar o que
falar em 2016 não poderiam ser ignorados pela redação da Canguru. Mas há
muitos outros debates relevantes nas próximas páginas, como as consequências das pequenas mentiras que contamos às crianças. Eu adorei o cardápio de
matérias, espero que você também aprecie. Boa leitura!
Ivana Moreira, DIRETORA DE REDAÇÃO
[email protected]
4
Canguru
. FEVEREIRO 2016
DIRETOR EXECUTIVO: Eduardo Ferrari
DIRETORA DE PROJETOS ESPECIAIS: Ivana Moreira
Aprender a ler é descobrir
um mundo novo a cada dia.
www.cangurubh.com.br
DIRETORA DE REDAÇÃO: Ivana Moreira
EDITORES EXECUTIVOS: Alessandro Duarte e Paola
Carvalho
EDITORA DE ARTE: Christina Castilho
PROJETO GRÁFICO: Christina Castilho (Mondana:IB)
REPÓRTER: Rafaela Matias
COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: Cris Guerra, Cristiane
Miranda, Isabella Grossi, Leo Cunha, Luís Giffoni,
Naiara Patrícia, Nara Montezano, Sabrina Abreu
FOTÓGRAFOS: Gustavo Andrade e Victor Schwaner
REVISORA: Shirley Souza Sodré
COORDENADORA DE MARKETING E PLANEJAMENTO
DIGITAL: Camila Capone
ANALISTA DE MARKETING E PLANEJAMENTO DIGITAL:
Juliane Ferreira
GERENTE COMERCIAL E ADMINISTRATIVA: Suellen Moura
ASSISTENTE ADMINISTRATIVA: Laura Ramos
A Canguru é uma publicação mensal da
Scrittore Comunicação e Editora Ltda.
CNPJ 12243254/0001-10, Rua Alberto Bressane,
223, Belo Horizonte/MG, CEP 30240-470
TIRAGEM: 25 000 exemplares
IMPRESSÃO: Artes Gráficas Formato Ltda.
DISTRIBUIÇÃO: Gratuita na rede de escolas parceiras*
e vendida em bancas de BH.
* Instituições particulares de educação infantil que se
encarregam de enviar a revista aos pais de seus alunos na
mochila dos estudantes. A relação das escolas parceiras pode
ser consultada por anunciantes.
PARA ANUNCIAR
Suellen Moura: (31) 3546-7818 . (31) 98651-2047
[email protected]
Fabiana Paiva: (31) 3546-7818 . (31) 99105-6994
[email protected]
QuNd cMeça aCoStUi
oFuUr d sUIlO
Assim como os pais da Elisa, muitos outros começaram
a construir o futuro dos filhos ainda na primeira infância. Hoje, a pequena tem 4 anos e adora ler livros!
No Kumon, os alunos pré-escolares contam com um
material de Português exclusivo para a sua idade, por
meio do qual aprendem a ler, ampliam seu vocabulário
e despertam o gosto pela leitura.
PARA FALAR COM A REDAÇÃO: mande e-mail para
[email protected]
ENDEREÇO: Rua Paul Bouthilier, 207, Mangabeiras,
Belo Horizonte – MG – CEP 30315-010.
(31) 4109-0825 . 3546-7818
Artigos assinados são de inteira responsabilidade dos
autores e não representam, necessariamente, a opinião
da revista e de seus responsáveis.
KuOn, vCê aReIt, sUIlOHeAá.
Encontre a unidade mais próxima!
Tel.: (31) 3222-9171
Acompanhe-nos nas redes sociais
Facebook cangurubh
Google+ +Cangurubhbr2015
Twitter @cangurubh
Instagram cangurubh
YouTube Cangurubhbr2015
Matemática . Português . Inglês . Japonês
www.kumon.com.br
Assim nasceu a Curumin Pouch Slings.
— Bruna Veloso
Quando engravidei, sempre
pen­
sava em como gostaria de
poder ver de perto o crescimento da minha filha. Fui demitida
um ano após a licença-maternidade e comecei a fazer brownies
por encomenda. Assim nasceu
a Brownielover, há quase três
anos espalhando delícias pela
cidade.
— Raquel Ladeira
Comportamento
Amei participar da matéria
sobre animais de estimação,
escrita para pessoinhas tão especiais (“Bons companheiros”,
jan. 2016). Obrigada pelo convite, Canguru.
— Giselle Elediê
Tenho uma cadelinha da raça
poodle e, desde o nascimento
da minha filha, elas convivem
bem de perto. Nunca tivemos
problemas.
— Júlia Caires
Negócios
Assim como a Carol, do Ateliê
Materno (“Empreendedorismo
materno”, jan. 2016), eu juntei um sonho antigo e a paixão
pela costura à vontade de estar
perto da cria. Fui demitida,
como tantas outras mulheres
que voltam da licença-maternidade, e estou começando a empreender no mundo dos slings.
6
Canguru
. FEVEREIRO 2016
Saúde
Lembro que sentia muita, mas
muita dor na fase de crescimento (“Crescer dói?”, jan.
2016). Com 13 anos de idade
eu já media 1,75m de altura. Minha menina está com 3
anos e nunca reclamou. Espero que ela não passe pelas dores que passei. Na época, fiz
várias radiografias e exames
até chegarem à conclusão de
que as dores eram de crescimento mesmo.
— Pollyanne Marroques
Mundo kids
Sensacional a ideia da Koralle
de produzir uma caixa de giz
de cera com opções de “cor
de pele” (“Cor de pele de verdade”, jan. 2016). Agora será
possível fazer um desenho com
pessoas de vários tons. Nunca
curti esse papo de chamar o
bege de “cor de pele”. Cor da
pele de quem, né?
— Marina Bonfatti
História de mãe
Não sei explicar, mas a história contada por Marina Vasconcellos no texto “O pior
dos pesadelos e o sonho mais
doce” (jan. 2016) me envolveu
como se as pessoas descritas
fossem muito próximas a mim.
Parabéns por não desistir do
seu sonho de família no mais
intenso momento de tristeza.
Marina, sua família é linda. O
anjo Henrique e suas meninas
devem ter muito orgulho pela
mãe que você é.
— Arícia Bueno
Linda família, belíssima história de superação e uma grande
lição: o nosso amor de mãe sobrevive a tudo. Mesmo que sejam três princesas na terra e um
príncipe no céu, sempre serão
quatro filhos muito amados!
— Andrezza Alencar
Linda a sua história, Marina.
Imagino a sua dor, mas Deus te
retribuiu em dobro. Suas meninas são lindas. Parabéns.
— Luciana Nunes
Deus abençoe sua família cada
dia mais. Linda história. Superação e fé acima de tudo.
— Aline de Paula
Marina, além de uma mãe
exemplar, você é uma guerreira. Sinto orgulho de ser avó
“postiça” dessas netas lindas e
educadas. Parabéns.
— Lilian Neves
Transcendendo
Que lindo o texto “Onde está
o seu tesouro?”, de Luciene
Duar­
te (jan. 2016). Adorei a
leitura. Às vezes, nos esquecemos das palavras sagradas.
— Sonia Beatriz Diniz
Papo de menino
É, Eduardo Ferrari. Muito lamentável o que aconteceu com
Chico Buarque, assunto que
você abordou no texto “Pau
que dá em Chico dá em Francisco? ou “O que é mais importante?” (jan. 2016). O artista
continua defendendo um PT
que não existe mais. Ele pode
não ter mudado, mas o PT...
— Paulo e Alice Lisboa
dias. Agora entendi que o lado
B está presente em qualquer
lugar ondes eles estejam. Nada
foi diferente do seu relato.
— Divina Marcia Santos
Ciranda
Identifiquei-me bastante com o
texto. Aqui em casa não é muito diferente.
— Ilkeline de Paula
Os meus filhos já estão criados
e posso garantir que aceitarmos
o lado B é o primeiro passo para
uma criação mais assertiva. Muito bom o texto “Lado B”, de Fernanda Agostinho (jan. 2016).
— Mari Lúcia Cardoso De Lucena
Capelari
Recebi os meus sobrinhos-netos aqui em casa por poucos
FALE COM A CANGURU
Entre em contato por e-mail:
[email protected]
ou deixe um comentário em
nossas redes sociais.
Teatrinho
no Patio
A DIVERSÃO
V E I O PA S S A R A S
FÉRIAS AQUI
PE ÇA S E TE AT
RO
IN FA N TI L D
D E 6/ 1 A 6/ 3
•
ES PE TÁ CU LO
N O AN FI TE ATS
RO
, PI SO
con sult e a pro gra L2
ma ção
• VE N DA D E
TO DA CA M PAIN G RE SS O S D E
N H A, PI SO L3
*Validade: 29 de fevereiro de 2016.
Que
?
r
e
s
r
e
u
q
ê
oc
v
e
ã
m
A
U
S
Á
J
A
T
N
GARA
M
O
C
O
Ã
Ç
I
R
INSC
S
I
A
I
C
E
P
S
E
PREÇOS
C.indd 1
ARIO OP
ACESSE:
www.seminariodemaes.com.br
COPIE: o código Canguru-Seminario-Maes-2016 e obtenha 50% de desconto*
CAPA SEMIN
DATA: 4 de junho, no Ouro Minas Palace Hotel
44
11/12/15 09:
4
AS PALESTRANTES
LÍGIA
GABRIELA LAURA
KAPIM
GUTMAN GUERRA
Nutricionista,
apresentadora do
programa “Socorro, Meu
Filho Come Mal”, do
canal pago GNT
Psicopedagoga argentina, autora
dos best sellers “A Maternidade
e o Encontro com a Própria
Sombra” e “O Poder do
Discurso Materno”
ASHLEY
FILOMENA
CAMILA DO VALE
(DRA. FILÓ)
MERRYMAN
Escritora americana, autora do
livro “Os 10 Erros Mais Comuns
na Educação de Crianças”, colunista
das revistas Time e New York
Pediatra especialista em
cardiologia, médica do CTI
Infantil da Santa Casa de
Belo Horizonte
APOIO:
Psicóloga, autora do livro
“Mulheres às Avessas” e
apresentadora do programa de
mesmo nome, na RPCTV, afiliada
da Rede Globo, no Paraná
A MEDIADORA
CRIS
GUERRA
Publicitária, escritora,
palestrante e colunista da
rádio BandNews FM e
das revistas Canguru
e Pais&Filhos
www.cangurubh.com.br
Todos os
meses, a Canguru
promove seminários
gratuitos sobre temas
relacionados à educação
dos filhos. Fique atento
à programação dos
próximos eventos.
evento
Dinheiro + filhos = ?
O Encontro Canguru de fevereiro
será com a jornalista Mara Luquet
COMO E QUANDO começar a falar sobre grana com as crianças? E como
se planejar financeiramente para as despesas com os filhos desde o nascimento até a idade adulta? Especialista em finanças pessoais, Mara Luquet é
a convidada do Encontro Canguru do mês de fevereiro e falará sobre essas
questões aos nossos leitores. O evento com a colunista da Rede Globo e da
rádio CBN será no dia 27, sábado, às 10h30, no Cineart Boulevard. Após a palestra
da jornalista, que é autora de livros como Tristezas Não Pagam Dívidas e O Assunto É
Dinheiro, haverá sessão de autógrafos de sua obra mais recente, Muito Além do Voo,
escrita em parceria com o neurocientista e instrutor de voo livre Ruy Marra. A sessão
contará também com a presença do coautor. As inscrições para o Encontro Canguru
são gratuitas, mas as vagas são limitadas. Faça a sua no cangurubh.com.br.
Promoção
Um ano de delícias na sua casa
QUER RECEBER, TODOS os meses, na sua casa,
essas delícias da marca Forno de Minas? Participe da promoção “2016 com a Forno de Minas”. A
Canguru e a indústria de alimentos vão sortear dez
kits de produtos (um a cada mês do ano, de março
até dezembro) para um leitor. Quem for sorteado
só precisará pôr o forno para aquecer e aguardar a
entrega. Entre no www.cangurubh.com.br, confira as regras e participe dessa promoção de dar água
na boca. O prazo para as inscrições é até 26 de fevereiro, às 12 horas.
10
Canguru
. FEVEREIRO 2016
FOTOS: DIVULGAÇÃO
Ganhe todo mês um kit de pães
de queijo, waffles, folhados,
tortinhas, empanadas...
EDIÇÃO Alessandro
Teatro para baixinhos
Está aberta a temporada teatral de 2016. Neste ano, a Campanha de Popularização do Teatro e da Dança chega a sua 42ª edição, reunindo mais de
100 espetáculos adultos, infantis e de dança. Com ingressos que vão de 5
a 15 reais nos postos oficiais do evento, as atrações são apresentadas em
vários teatros e espaços culturais da capital. Para os pequenos, as opções vão
dos clássicos Três Porquinhos, Chapeuzinho Vermelho e Cinderela a comédias contemporâneas como Meu Malvado Predileto (foto) e Seven — Circo dos
Números Capitais. Mais informações sobre o evento e as peças infantis em
cartaz você confere em cangurubh.com.br.
Duarte
NA CBN
Às terças e quintas,
às 10h40, acompanhe
ao vivo o boletim
Canguru: criando
filhos em BH.
Todos os áudios estão
disponíveis no portal
cangurubh.com.br.
Ter um bichinho é uma alegria. Para
comprovar isso, pedimos aos pais de BH
que fotografassem seus filhos com os pets
da família e compartilhassem os cliques
usando a marcação #cangurubh.
Confira algumas das imagens
As pequenas Paula e Julia curtiram a
chegada do peixinho “Nemo”. O flagra
foi da mãe @andrezzalencar.
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
O pequeno Gael apertou com força a
gata “Sophia” e @dolardathata registrou
a fofura.
Próxima missão: no ziriguidum
Levou seu filhote para se divertir nos blocos de Carnaval ou nos bailes dos clubes de BH? Então compartilhe a imagem usando a
marcação #cangurubh. Os melhores registros serão publicados na edição de março da revista.
12
Canguru
. FEVEREIRO 2016
FOTOS: REPRODUÇÃO INSTAGRAM
@regina_saravia clicou a filha Fernanda se divertindo de
montão com a calopsita “Nino”.
POR Rafaela
Matias
Mãe, por
fa
vá à reun vor,
ião da
escola ve
stida
de mãe!
LIS, 10 anos, filha de
Leonardo Silveira Damasceno
e Luciana de Castro Terra
PAULO ANDRÉ, 5
anos, filho de Rodrigo
Parreiras Passos e
Paula Adriana de
Freitas, e irmão
Vitor, de 1 ano
Meu irmãozinho é tão
bagunceiro que eu acho
que Deus deu ele para a
gente porque ele estava
fazendo muita bagunça
lá no céu.
Por que o
Brasil é assim,
esquisito?
Eu queria ter
nascido na
Disney!
Eu vi
um marciano
lá de Mercúrio!
MARIA, 4 anos, filha
de Leonardo Hermont
Good God e Paula
Zawadzki Ribeiro
A gent
e
alegria suga a
ec
a trist ospe
eza
MARIA EULÁLIA, 6 anos, filha de
Geraldo Arcanjo de Sousa e Maria
Eliana Pereira
14
Canguru
. FEVEREIRO 2016
Se seu filho também diz pérolas, envie a frase
para o e-mail [email protected].
FOTOS: ARQUIVO PESSOAL
RAPHAEL, 5 anos, filho
de Ricardo Wagner
Figueiredo Pereira e
Renata Santos Amaral
EDIÇÃO Camila
Capone
O QUE ESTÁ ROLANDO DE ÚTIL, DIVERTIDO OU CURIOSO NA WEB E NAS REDES SOCIAIS
Cadê
todo
mundo?
Seu filho está na escola?
Seu marido chegou em
casa? Sua esposa já saiu
para ir ao dentista?
Através do aplicativo
FAMILO, você sempre
vai saber exatamente
onde cada membro
de sua família se encontra e em tempo
real. O aplicativo possui recursos de
bate-papo somente para os membros do
grupo, notificações automáticas de “check
in” e “check out” de locais predeterminados e ainda conta com a função “pedido de
ajuda”, que permite que familiares sejam
informados por e-mail e por sinal sonoro
no celular caso alguém da família esteja
correndo perigo ou precisando de ajuda,
com apenas um clique. O aplicativo é gratuito e está disponível nas versões para
iOS e Android. Use nosso QR Code para
fazer o download. Lembre-se: ele precisa
ser instalado em todos os aparelhos celulares dos familiares.
IMAGENS: REPRODUÇÃO
Android
bit.ly/familoandroid
iOS
bit.ly/FamiloIOS
Bonecas em prol
da diversidade
De pele negra em vários tons, cabelos cacheados e lindíssimas — assim são as BONECAS DA LINHA MALAVILLE,
criadas pela modelo caribenha Mala Bryan, que estava
cansada de procurar e não encontrar bonecas que se parecessem com ela. Mala, Maisha, Malina e Mhina arrasam
no visual e também no preço — cada boneca custa 20
dólares (esse valor não inclui frete e taxas). Esperamos que as bonecas sirvam
de inspiração para outras empresas.
Acesse bit.ly/MalavilleDolls
ou use nosso QR Code
Uma câmera na
mão, uma estrada
abandonada...
Imagine uma estrada deserta, um pai fotógrafo e muita imaginação. Essa é a essência da série de fotografias
MAGIC ROAD (estrada mágica, em
português). Com elementos simples,
no mesmo cenário, ele fotografou sua
filha em várias cenas divertidas.
Acesse bit.ly/MagicRoad
ou use nosso QR Code
FEVEREIRO 2016 .
Canguru
15
O melhor amigo
das crianças
NA EDIÇÃO DE dezembro, a matéria de
capa da Canguru abordou os benefícios
de ter um animal de estimação na infância.
Um estudo feito por pesquisadores americanos comprovou o que nós já sabíamos: crianças
com cachorro em casa têm menos chances de desenvolver stress e ansiedade. A pesquisa analisou 643 guris, com idades entre 4 e 10 anos, dos quais 58% tinham cachorro e 42%, não.
Foram considerados fatores como índice de massa corporal, prática
de atividades físicas, tempo em frente ao computador/TV e saúde
mental. O resultado: apenas 12% das crianças com cachorros foram
diagnosticadas com stress e ansiedade, enquanto 21% das que não
tinham o animal de estimação apresentavam os problemas. O cão
também é o melhor amigo das crianças.
Livre, leve
e solto
Quem nasceu com o cabelo enroladinho, cheio de cachinhos na
cachola, está convidada a dar um
grito: “ALISA NÃO, MÃE!”. O
chamado é feito por um projeto criado pela fotógrafa mineira Carolina
Castro, que busca reforçar a autoestima de meninas que têm os cabelos
crespos e incentivá-las a se assumirem como são. Encantada com a nova
geração de mulheres que estão se libertando da ditadura do liso, Carolina
decidiu, em dezembro do ano passado, dar uma forcinha para a criançada já começar a entrar na onda. Ela passou a fazer ensaios fotográficos
com meninas negras de 9 meses a 16 anos, enfatizando o poder de seus
cabelos. Uma chuva de apoiadores e pessoas interessadas se formou e o
projeto já conta com mais de 4 000 curtidas em sua página no Facebook,
na qual os ensaios são divulgados. Basta acessar facebook.com/carolinacastrofoto e se encantar com a beleza das pequenas divas cacheadas.
16
Canguru
. FEVEREIRO 2016
[1]
Não basta
ser pai,...
...TEM QUE PARTICIPAR! Já dizia
aquela velha propaganda. E não é que
eles estão participando mesmo? Mas,
assim como as mamães, os genitores
não nascem sabendo trocar fralda,
dar mamadeira e colocar os filhos
para dormir. Por isso, o curso “VOU
SER PAI. E AGORA?”, desenvolvido
pelo administrador Fernando Dias,
mostra aos papais de primeira viagem
como se portar quando o neném nasce. “Percebi que em Beagá só existiam
cursos voltados para mães, mas os pais
também precisam aprender”, explica
Dias, na foto com suas filhas Eduarda, de 4 anos, e Gabriela, de 2. A aula,
com duração de três horas, ensina a
realizar tarefas como trocar fraldas, dar
banho e curar o umbigo, incluindo
uma parte prática que conta com o auxílio de bonecos. Também são abordados aspectos do relacionamento
com a mulher, desde a gravidez até os
primeiros meses de vida do bebê.
“Ressaltamos a importância de participar, junto com a mãe, desse processo e das rotinas que envolvem a criação de um filho”, diz. O curso pode
ser feito em grupo, por 160 reais,
ou individualmente, por 190 reais.
Matrículas pelo telefone (31) 999661520 ou pela página facebook.com/
vouserpaieagora.
FOTOS: DIVULGAÇÃO; [1] ARQUIVO PESSOAL.
22%
dos ESTUDANTES DE ESCOLAS PÚBLICAS DO
3º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL FORAM
CLASSIFICADOS NO “NÍVEL 1”, o mais baixo de
uma escala que vai até 4, segundo a Avaliação
Nacional de Alfabetização (ANA) de 2014, divulgada no fim do ano passado.
POR Rafaela
eu já fui
Matias
criança
Mariana Rios
Débora Falabella
Moradora da Rua da Bahia, a pequena
Débora tinha dois “quintais” invejáveis em casa: o Minas Tênis Clube e a
Praça da Liberdade. Ao lado das duas
irmãs mais velhas, era nesses dois lugares que ela gostava de descansar e
brincar nos fins de semana. Muitas
vezes, a diversão era na companhia do
pai, o ator, diretor e dramaturgo Rogério Falabella, de quem Débora parece
ter herdado o talento para os palcos.
Thiago Pereira
Ele não é mineiro, mas representa o esporte da capital desde pequeno. Hoje
um dos maiores nomes da natação
brasileira, o fluminense Thiago Pereira iniciou sua carreira no Minas Tênis
Clube, sob o comando do técnico Fernando Vanzella. Naquela época, a mãe
do craque já assistia assiduamente às
competições, sempre soltando o bordão que a deixou famosa: “Vai, Thiago!”. Em 2015, ele voltou a integrar a
equipe do clube mineiro e recebe ajuda dos técnicos daqui para se preparar
para a Olimpíada deste ano.
Aos 6 anos de idade, a atriz e cantora Mariana Rios soltava a voz na cidade de Araxá, no Triân­gulo Mineiro,
onde nasceu. Com a mesma carinha
de hoje, a morena já era vaidosa e não
dispensava um batom vermelho em
suas apresentações. Mariana aprendeu
com o pai a apreciar um complemento
alimentar comum na região: o óleo de
fígado de bacalhau.=
4moda
Para o que der e vier
Se há um clássico fashion, é o JEANS. O tecido cai bem em calças, jaquetas, biquínis,
camisas, shorts... Não dá para errar. É só vestir uma peça para ficar na estica, como
Marcos Henrique de Paiva Ferreira, de 12 anos, com uma bermuda da Alphabeto.
POR Nara
Montezano
BIQUÍNI BORDADO, R$ 253,00,
da Monnalisa. Avenida Olégario
Maciel, 1755, Lourdes.
SHORTS, R$ 159,50,
da Le Lis Petit.
BH Shopping; Pátio Savassi.
CALÇA BIGODE DE GATO,
R$ 45,99, da Hering Kids.
BH Shopping; Pátio
Savassi; DiamondMall;
Shopping Del Rey.
BERMUDA, R$ 99,95,
da Alphabeto.
Pátio Savassi; BH Shopping.
18
Canguru
. FEVEREIRO 2016
FOTOS: DIVULGAÇÃO
CAMISA ESTONADA, R$ 119,90,
da PUC. Pátio Savassi.
apresenta
FOTO: VICTOR SCHWANER
Pequenos pacientes,
grandes cuidados
Levar o filho para fazer exames laboratoriais não é
uma tarefa fácil. E não adianta falar que não vai doer
nada. Todos sabemos que dói um pouco, sim. Alguns
cuidados, no entanto, são capazes de tornar a experiência dos pequenos menos traumática. “Sempre falamos
para os pais que a preparação deve começar em casa”,
afirma a diretora médica e técnica do laboratório São
Marcos, Mariana Cerqueira, com especialização em pediatria e hematologia. “É importante explicar que passar
pelos procedimentos não é agradável, mas vai ajudar a
criança ficar mais forte.”
Veja a seguir algumas atitudes seguidas pelo São Marcos para ajudar as crianças e também pais e mães:
›› Assim que chegam ao laboratório, crianças e responsáveis são recepcionados e tranquilizados por profissionais preparados para cuidar dos menorzinhos. Em
todas as suas unidades, o São Marcos conta com o
Espaço Kids, área de espera infantil com brinquedos
coloridos e um visual lúdico.
›› Todos os profissionais envolvidos no processo têm experiência em coleta pediátrica tanto de bebês (com até
1 ano de idade) quanto de crianças até 12 anos. Nada
mais tranquilizador, nesse momento de apreensão, do
que saber que o filho está em boas mãos, já que a coleta infantil exige maior habilidade, perícia e carinho.
›› Os instrumentos de coleta são próprios para os pequenos. A coleta pode ser feita com scalp, que tem agulha
mais fina, e os tubos à vácuo são de volume menor, o
que diminui o incômodo, agiliza o processo e reduz o
números de picadas.
›› Há a opção de coleta em sala especial, em que a criança
pode ficar deitada. A sala de vacinas também é toda
preparada e decorada para aplicação em crianças.
›› Após o lanchinho, o menino ou menina ganham um
** Unidades vacinadoras: Buritis, Floresta, Lourdes, Prudente e Savassi.
Veja os endereços em nosso site.
2104.0100
O Espaço Kids da unidade Savassi e o
“Certificado de Coragem” (no detalhe)
“Certificado de Coragem”. Essa ideia surgiu no São
Marcos há dez anos. “Algumas crianças que precisam
fazer exames rotineiramente colecionam o diploma”,
conta a doutora Mariana.
›› Não quer passar pelo stress de ir até o laboratório? O
São Marcos tem a opção de atendimento domiciliar,
tanto para coletas, quanto para aplicação de vacinas,
com hora marcada. Esse serviço é bastante procurado
para recém-nascidos e lactentes até 1 ano de idade.
›› Todos os exames infantis já saem com valores de referência adequados ao sexo e à idade da criança. Isso auxilia os médicos a darem um diagnóstico mais preciso.
›› Mesmo em suas ações de marketing, o São Marcos
busca sempre levar alguma diversão para os pequenos.
“No Natal, por exemplo, colocamos papais-noéis em
algumas unidades”, conta a doutora Mariana. “Nossa
ideia é que a criança veja o laboratório como um local
amigável, sem aquela velha cara de hospital.”
saomarcoslaboratorio.com.br
saomarcoslaboratorio
Na volta às aulas, a primeira tarefa é a vacinação dos filhos.
ARCOS
NO SÃO M
EM
AGORA T
VACINA!
Responsável técnico: Dr. Cláudio M. M. Cerqueira - CRM MG 6888
Acesse saomarcoslaboratorio.com.br/calendario-vacinal
e baixe o calendário atualizado de acordo com
a Sociedade Brasileira de Imunicação (SBIM).
Para conforto da
mamãe e da criança
atendemos em domicílio.
Resultados
com com
precisão
e carinho.
Resultados
precisão
e carinho.
JOGO DE PORCELANA COM ESTAMPA
DE DINOSSAUROS (TRÊS PEÇAS)
59,00
R$
Presentes Mickey
mickey.com.br
FONES DE OUVIDO
39,90
R$
Uatt
Shopping Boulevard,
tel.: 3241-4488.
ÓCULOS PARA MERGULHO
14,99
R$
Lojas Americanas
BH Shopping,
tel.: 4003-1000.
PATINS IN LINE AJUSTÁVEL
(ACOMPANHA CAPACETE,
JOELHEIRA E COTOVELEIRA)
189,99
R$
B Mart
DiamondMall, tel.: 9952-9666.
47,99
R$
Submarino
www.submarino.com.br
20
Canguru
. FEVEREIRO 2016
FOTOS: DIVULGAÇÃO
COPO TÉRMICO COM
CANUDO MUNCHKIN
EDIÇÃO Nara
Montezano
GANGORRA BIDU
198,00
R$
Casa da Educação
casadaeducacao.com.br
TARTARUGA QUE ESPIRRA
ÁGUA FIRST STEPS
49,99
R$
Shoptime
www.shoptime.com.br
NAVIO DO TESOURO
SYLVANIAN FAMILIES
R$
BONECA APRENDA
A FALAR
86,90
R$
Americanas.com
229,00
Tool Box
Pátio Savassi,
tel.: 3261-6722.
www.americanas.com.br
FEVEREIRO 2016 .
Canguru
21
4economia
Precisamos falar
sobre a crise
Com franqueza e calma, os dias de dificuldade financeira podem
servir de aprendizado para as crianças — e para toda a família
Abreu
INFLAÇÃO EM DOIS dígitos, moeda desvalorizada,
desemprego em alta, otimismo em baixa. A
crise econômica de
2015 e seus efeitos
em 2016 deixam o
brasileiro com a
impressão de que
já viu esse filme —
ou assistiu a esse
telejornal, com uma
má notícia atrás
da outra. Enquanto
muitas famílias se veem
obrigadas a enxugar o orçamento doméstico, pais e
responsáveis de crianças não
podem deixar de dar atenção especial à adaptação dos pequenos à nova
realidade. “É preciso falar a verdade, numa linguagem adequada e sem cobrança”, alerta a psicóloga e
pedagoga Renata Miranda. Uma conversa sincera é
necessária, até mesmo porque os pequenos são capazes de perceber, pelo comportamento dos adultos ao
seu redor, quando há algo de errado acontecendo. E a
desinformação pode ser angustiante. “As crianças são
esponjinhas que observam e captam tudo ao seu redor. Elas absorverão muito mais o que sentirem do
que o que escutarem”, explica a educadora e coach
22
Canguru
. FEVEREIRO 2016
em finanças pessoais Ana
Paula Hornos.
No livro infantil Pai
sem Terno e Gravata,
obra de ficção baseada em histórias
(muito) reais, Andreia, uma menina de 10 anos, vê
sua vida mudar
após seus pais
perderem o emprego, numa época
de crise no país.
A família de classe
média se muda para
um apartamento menor,
transfere os filhos do colégio
particular para uma escola pública e cancela a festinha de aniversário
da caçula. Mais do que o esforço para economizar, o estado psicológico do pai chama atenção. Numa
passagem, a menina o vê chorando. Em outra, diz que
ele passou a gritar com ela e seus irmãos, coisa que
nunca fazia antes.
“Em fases de stress, surge a tendência de culpar os
outros”, explica a psicóloga Renata. “Adultos precisam ter discernimento para não agirem assim.” É consenso entre os especialistas que a atitude dos responsáveis vai afetar as crianças, de modo a deixá-las
FOTO: ISTOCKIMAGE
POR Sabrina
tranquilas ou ansiosas. Viver num clima de stress e
desesperança pode até ser traumático e comprometer
o desenvolvimento nas fases seguintes do crescimento. O educador financeiro Phillip Souza afirma que é
corriqueiro atender adultos que sabotam a própria
carreira ou não aceitam cargos de chefia, por associações nocivas feitas na infância. “Em vez de ensinar
que o dinheiro é algo ruim, é melhor mostrar aos filhos que estamos no controle e podemos resolver
nossos problemas, inclusive os financeiros.”
Mas como os adultos podem evitar a angústia?
“Antes de tudo, é preciso entender que na economia
sempre haverá altos e baixos. Que o dinheiro é um
recurso limitado e, portanto, sujeito a ciclos”, diz Ana
Paula. “O importante é desenvolver flexibilidade para
se adaptar aos diferentes cenários.” A especialista
também acredita que o mau momento financeiro tem
seu lado positivo. “A atual geração de crianças nasceu
e cresceu em uma economia aquecida e com o consumo em alta no Brasil. A crise pode ser vista como uma
excelente oportunidade de ensinar aos pequenos sobre esses altos e baixos.” Renata ressalta que, mesmo
um cenário extremo, como a mudança da rede particular para rede pública de ensino, pode levar a criança a perceber qualidades, caso seja estimulada corretamente. “Os pais podem chamar a atenção dos filhos
para a chance que eles têm de fazer novas amizades e
conviver com crianças de realidades diferentes da velha escola”, aponta. “Claro que se o responsável disser
‘agradeça ao governo por você estar nessa porcaria de
sala de aula’, o aluno terá menos facilidade de assimilar a mudança”, compara a psicóloga. Ela também esclarece que, embora lutem para resolver os problemas
financeiros e não afetar negativamente a família, alguns adultos apresentam mais dificuldade para conseguir isso. Pode ser o caso, por exemplo, de compra-
“Antes de tudo, é preciso entender que na
economia sempre haverá altos e baixos.
Que o dinheiro é um recurso limitado e,
portanto, sujeito a ciclos.”
Ana Paula Hornos, educadora
e coach em finanças pessoais
“Em vez de ensinar que o dinheiro é algo
ruim, é melhor mostrar aos filhos que
estamos no controle e podemos resolver
nossos problemas, inclusive os financeiros.”
Phillip Souza, educador financeiro
dores compulsivos que não deixam de fazer dívidas,
mesmo sem ter como quitá-las. Esses devem procurar
ajuda especializada, para seu próprio bem e para o
bem dos filhos.
Autora de Pai sem Terno e Gravata, Cristina Agostinho teve a ideia de escrever o livro depois da empresa de siderurgia em que trabalhava pedir concordata.
Os relatos dos colegas demitidos deram origem ao título, que já vendeu mais de 100 000 cópias, desde
que foi lançado, em 1992. Apesar de tantos problemas, o final da história da família de Andreia é feliz,
uma superação que Cristina também viu na vida de
alguns de seus ex-companheiros de trabalho. “É triste
pensar que o tema continua atual, porque, no Brasil,
as crises vêm e vão, mas fico feliz por ter recebido
cartas de pais e filhos de todo o Brasil, com depoimentos de como superaram os obstáculos”, conta ela.
Cristina recebeu centenas de cartas de leitores, para
os quais os personagens tornaram mais fácil a tarefa
de lidar com os reveses da vida real.
Na ficção, a família permaneceu unida e usou a
criatividade para suprir a falta de recursos. Eles combinaram, no Natal das vacas magras, fazer um amigo
oculto diferente, em que cada um confeccionou a
mão o presente que daria. Apesar de o peru da ceia ter
sido substituído por um frango, foi uma noite feliz. E
esse é outro legado que a crise pode deixar. “A sociedade tem valorizado o ter e o ostentar mais do que o
ser, mas podemos voltar a dar valor às pessoas acima
das coisas”, indica Renata. Para estimular essa atitude,
a educadora Ana Paula Hornos recomenda uma rotina de gratidão em família. “No jantar, por exemplo,
todos podem compartilhar e agradecer por coisas
boas que aconteceram durante o dia. É um exercício
que leva à percepção de felicidade, independentemente das circunstâncias.” Independentemente das
notícias do telejornal. =
FEVEREIRO 2016 .
Canguru
23
4bem-estar
Iogues mirins
Segundo especialistas, a atividade milenar ajuda na respiração,
concentração, sono, postura e socialização dos pequenos
Patrícia
QUANDO OS ADULTOS procuram os centros de
ioga, estão atrás de aumento da concentração, flexibilidade e controle da ansiedade, entre outros benefícios. O que muitos pais estão descobrindo é que os
pequenos também podem se beneficiar da técnica
que, estima-se, surgiu na Índia há mais de 5 000 anos.
“A ioga traz para as crianças uma maior consciência
do corpo, facilita sua forma de se relacionar, ensina a
relaxar e melhora a autoestima, a respiração, a postura e o sono”, afirma a pedagoga, psicóloga e especialista em formação de professores em ioga Gangadhara
Saraswati. “Faz ainda com que elas resgatem o contato com seu mundo interior, distanciando-se do mundo tecnológico em que vivem.”
Para cativar esse público tão cheio de energia, são
necessárias, é claro, abordagens mais lúdicas. A professora de ioga infantil do instituto Satyananda, Beatriz Gomes Silveira, traz elementos como o trabalho
em grupo, que facilita a integração e o relacionamento com os colegas, e jogos cooperativos de atenção,
que estimulam a sociabilidade e a criatividade dos
iogues mirins. “A música é um excelente instrumento auxiliador, uma maneira de conduzir um momento mágico, trazendo para dentro das crianças a essência da ioga”, diz.
Coordenação motora
As aulas são adaptadas de acordo com a idade dos
alunos. Para os menores, de 4 a 7 anos, que se encontram na fase do mito, são usadas brincadeiras, jogos,
fantasias e desafios. As posições realizadas são inspiradas em animais ou elementos da natureza. “A posição do leão é muito legal, adoro fazer porque me traz
24
Canguru
. FEVEREIRO 2016
felicidade”, conta Olivia, de 7 anos, que pratica ioga
há mais de um ano, com seu irmão, João, de 9. “Eles
ficaram mais concentrados e, consequentemente, melhoraram nos estudos”, comemora a historiadora Isabela Guerra, mãe da dupla.
Com 4 anos, Júlia, filha da artista plástica Flávia
Carvalho, garante que não perde as aulas de ioga por
nada. “Eu fico sempre muito empolgada”, afirma. Ela
começou a praticar os movimentos há seis meses e
sua mãe já notou uma evolução. “Sua coordenação
motora mudou muito”, comemora Flávia. “A ioga
passou a ser uma atividade essencial na vida dela.”
Todos os especialistas concordam que o importante é
criar uma atmosfera acolhedora que encoraje os pequenos a relaxar e se divertir. “Assim eles desenvolvem não apenas força, coordenação, flexibilidade e
equilíbrio, mas consciência, foco e autoconfiança”,
resume a professora de ioga e terapeuta ocupacional
da Casa Ideia, Nara Reis de Meneses. =
onde praticar e saber mais
›› CASA IDEIA. Rua. Outono, 535 , Carmo.
Tel.: 3281-2434.
›› INSTITUTO ARAVINDA MIRIAM AMORIM
E EMÍLIO REZENDE. Rua João Edmundo
Caldeira Brant, 139, Itapoã. Tel.: 3441-2003.
›› SATYANANDA YOGA CENTER. Rua Quintiliano
Silva, 368, Santo Antônio. Tel.: 3296-2869.
FOTO: VICTOR SCHWANER
POR Naiara
Olivia faz a postura da
árvore e João, a posição
de lótus: melhora na
concentração da dupla
ajudou nos estudos
4esporte
Talento precoce
Conheça a história de sete crianças prodígios
que apesar da pouca idade já fazem carreira nas
quadras, campos, pistas, ringues e piscinas
POR Isabella
Grossi
NÃO É SEGREDO nenhum que a prática regular
de esportes traz uma série de benefícios à saúde dos
pequenos. Além de ocupar a mente e desenvolver o
corpo — aumentando a flexibilidade, a coordenação e a capacidade cognitiva e motora —, também
desperta as noções de responsabilidade, disciplina e
respeito pelo outro. Praticar uma atividade física é,
acima de tudo, uma forma de socialização. Para algumas crianças, no entanto, o treinamento vai muito
além da farra. “Em certas modalidades, para ser um
26
Canguru
. FEVEREIRO 2016
atleta de alta performance é preciso começar cedo
e ter uma rotina intensa de treinamento”, afirma a
educadora física da Cia Athletica Tatiana Yotsumoto.
É o caso da natação e das lutas, por exemplo, que
exigem adaptações do próprio corpo para alcançar
um bom rendimento.
Na hora de escolher investir ou não na carreira
do filho, uma dúvida paira no ar: o treinamento especializado precoce pode causar prejuízos? “É questão de bom senso”, responde o professor do Centro
Luca Simões Saraiva
Neuenschwander na pista
de kart: o garoto sonha
chegar à Fórmula 1
FOTO: GUSTAVO ANDRADE
de Treinamento Esportivo da UFMG, o polonês Leszek Antoni Szmuchowski, responsável por encontrar e desenvolver jovens para o atletismo. Segundo
ele, muito mais do que física, a sobrecarga mental
pode realmente ser prejudicial. “Quando a criança
não tem motivação, ela não consegue um bom rendimento inicial”, diz. “Com a cobrança, passa a se
empenhar mais e o exagero causa um stress tanto
físico quanto psicológico.” O problema é conhecido como síndrome de overtraining. De acordo com
Tatiana, 20% dos atletas passam por isso. E poucos
superam. “É importante destacar a parte lúdica do
esporte”, explica. “Dessa forma, a criança continua
tendo prazer no que faz e, provavelmente, vai querer
levar para a vida inteira.”
A seguir, veja a rotina de sete crianças que já treinam e competem como gente grande. Em comum,
o fato de terem começado bem cedo, colecionarem
pódios, medalhas e troféus, sonharem grande e, o
melhor, levarem tudo na brincadeira. 4
FEVEREIRO 2016 .
Canguru
27
“Serei igual ao Ayrton Senna.”
Luca Simões Saraiva
Neuenschwander, 8 anos, kart
Aficionados de corrida, o engenheiro, empresário e piloto Mauro Eduardo Neuenschwander, de
37 anos, e a advogada Tatiana Simões Saraiva, de
34, batizaram o filho em homenagem ao ex-pre­
sidente da Ferrari Luca di Montezemolo. O futuro do garoto, hoje com 8 anos, parecia traçado.
Aos 6, conseguiu ser aceito numa escolinha de
kart, embora a idade mínima para começar fosse
7. “Todo mundo via que ele tinha talento”, lembra Tatiana. No início de 2015, o garoto correu o
Campeonato Mineiro de Kart, na categoria mirim,
e ficou em segundo lugar. Participou ainda do
Campeonato Brasileiro — e foi parabenizado por
ninguém menos que Emerson Fittipaldi, depois
de chegar na frente de seu filho, Emmo Fittipaldi.
Para alcançar seu objetivo, que é a Fórmula 1,
Luca treina toda sexta e sábado por, no mínimo,
três horas. “Serei igual ao Ayrton Senna”, sonha.
Apesar de ter alguns patrocínios de apoio, a família aguarda, neste ano, uma proposta integral.
Um alívio, já que só o kart custa em torno de
15 000 reais, enquanto a manutenção mensal
não sai por menos de 5 000.
28
Canguru
. FEVEREIRO 2016
Enquanto a maioria dos garotos brinca de jogar
futebol, Pedro Henrique, de 9 anos, dribla como
um craque. Desde que começou no esporte, aos 5
anos, o jovem atleta se diferenciava. Entrou para
o time de salão do Minas Tênis Clube e de campo
do Beagá Futebol Clube. Sua performance acabou
chamando a atenção do Cruzeiro, que, no ano passado, o colocou como volante — e capitão — da
equipe Sub-9, pela qual faturou o Campeonato
Mineiro IMEF 2015 e a Copa Alterosa de Futebol.
A rotina do pequeno é basicamente dividida entre escola e futebol. Treina de segunda a segunda,
no mínimo duas horas por dia, com exceção de
sexta, que é quando descansa e brinca, como toda
criança. No sábado e domingo, joga. Uma vez por
semana, também, tem treinamento funcional para
atletas kids na academia. “O nível de exigência
é muito alto, eles realmente estão investindo em
sua formação profissional”, afirma o pai, o advogado Davidson Ferreira, de 38 anos. Embora seja
titular no Cruzeiro, Pedro Henrique é enfático.
“Meu sonho é jogar no Atlético, e eu nunca vou
desistir de tentar.”
FOTOS: GUSTAVO ANDRADE
“Eu nunca vou desistir.”
Pedro Henrique Lima Ferreira,
9 anos, futebol
Boa parte das crianças fica alucinada com cachorros. Elisa, não. Desde pequena, gostava mesmo
era de cavalos. Quando tinha 4 anos, fez uma aula
experimental de hipismo, mas a mãe, a arquiteta
e empresária Iaiá Resende, de 41 anos, achou prudente esperar. “Ficamos inseguros, ela era muito
pequena e tínhamos medo de que se machucasse”, conta. Hoje, aos 9 anos, Elisa faz parte do Top
Team e já tem até o próprio cavalo, o brasileiro de
hipismo Thor. Equipada de culote, bota, camisa
e casaca, ela monta de quatro a cinco vezes por
semana, treina salto, equilíbrio, adestramento e
postura. Em 2015, passou a disputar o Campeonato Mineiro, na categoria escola intermediária, com
saltos de 80 centímetros. “A Elisa tem um talento
natural e nós queremos investir nela, para que mais
à frente represente o Brasil”, ressalta o cavaleiro e
treinador Felipe Morgan. Apesar dos custos — no
mínimo 2 500 reais mensais de manutenção e mais
as trocas de cavalo, que podem chegar a custar
200 000 euros —, a família aposta no sonho da garotinha. “Não penso em parar, quero muito chegar
às Olimpíadas”, fala, com seu jeito tímido. 4
“Quero muito chegar às Olimpíadas.”
Elisa Resende, 9 anos, hipismo
FEVEREIRO 2016 .
Canguru
29
Juan tinha 3 anos quando pisou pela primeira vez
numa academia. Sob a influência do pai, o lutador Isaías dos Santos Silva, de 40 anos, começou a
colocar as luvas e a dar socos e chutes no saco de
pancada. A brincadeira foi ficando séria e, todos os
dias, depois de largar a escola, o pequeno passou a
treinar. Quando completou 7 anos, não via a hora
de disputar. Amparado pela equipe Ely Kickboxing
MMA — dentro da categoria point fight —, ele ficou
em primeiro lugar na Copa Divinópolis, no Campeo­
nato Mineiro e no Brasileiro. “É emocionante quando eu estou ganhando, mas o que importa não é só
ganhar, perder também faz parte”, considera Juan,
que, em breve, passa da faixa laranja para a verde.
O treinamento, apesar de puxado, respeita os limites do atleta mirim. “Ele
faz uma hora de treino todo dia,
não há necessidade de mais do
que isso. Cansou, tudo bem,
relaxa”, enfatiza Silva. “Importante mesmo é cuidar
do corpo, se alimentar
bem, trabalhar a técnica
e alongar.” O objetivo,
daqui a alguns anos, é
lutar no Glory, principal
organização do kickboxing profissional. A julgar pela sua trajetória,
o garoto tem tudo para
chegar lá.
“Perder também faz parte.”
Juan Camargo dos Santos,
8 anos, kickboxing
30
Canguru
. FEVEREIRO 2016
FOTOS: GUSTAVO ANDRADE; [1] VICTOR SCHWANER.
“É preciso ter cabeça boa.”
Pedro Martins Rodrigues,
9 anos, tênis
Fã de carteirinha do tenista espanhol Rafael Nadal,
o pequeno Pedro, de 9 anos, se inspira no ídolo
quando pisa nas quadras. Jogador desde os 4 anos,
o garoto começou a competir com 5. “Como não
tinha categoria para a idade, eles abriram uma exceção e o colocaram para jogar com os atletas de
9 anos”, conta o pai, o engenheiro de produção
Frederico Bastos Rodrigues, de 34 anos. Pedro
não se intimidou e levou para a casa não só o vicecampeo­nato na Copa Arlindo, ex-Copa Integração,
mas o troféu revelação. De lá para cá, disputou,
ainda, um dos principais torneios de tênis do país,
a Copa Guga Kuerten. No total, o atleta mirim tem
onze títulos de simples e oito finais, além de quatro
títulos de duplas e duas finais. O segredo, segundo
ele? “É preciso ter uma cabeça boa, ter consciência
do que está fazendo e respeitar o adversário.” No
início deste ano, Pedro começa a treinar pela equipe do Pampulha Iate Clube, onde quer se profissionalizar. A rotina, lá, será mais intensa, superando o treinamento atual, de três vezes por semana e
duas horas diárias. “Só não dá para exagerar, para
não sobrecarregar”, pontua o pai.
[1]
“Quero ganhar o mundial.”
Bernardo Eto Tibúrcio,
8 anos, motocross
Para quem pergunta quando surgiu o interesse
de Bernardo pelas motocicletas, a família Tibúrcio conta uma história orgulhosa: aos seis meses
de idade, o bebê não podia ouvir o ronco de um
motor que já arregalava os olhinhos, fascinado.
Estimulado pelo pai, o comerciante Geison, de 43
anos, Bernardo ganhou, aos 2 anos, sua primeira
moto elétrica. “Era muito pesada para ele, precisamos colocar rodinha”, conta a mãe, a administradora Lucília, de 40 anos. A paixão do garoto pelo
esporte só crescia. Fez curso com os pilotos mineiros Jorge Balbi Jr. e Alexandre Teles, o Dino, e começou a treinar pesado. Pratica o motocross todo
fim de semana e, no dia a dia, condiciona o físico
com voltas de bike. No ano passado, participou,
pela primeira vez, da Copa Minas Gerais de Motocross, na categoria 50cc. Não levou o troféu para
casa, mas, no Campeonato Mineiro, abocanhou o
primeiríssimo lugar. “Quero ser campeão brasileiro
e, depois, ganhar o mundial”, revela o menino, que
corre com uma moto de 19 800 reais. Enquanto
não arruma patrocínio, conta com o apoio dos
pais. “É o sonho dele, então vamos incentivar”, arremata Lucília. 4
FEVEREIRO 2016 .
Canguru
31
“Eu não sabia que ia gostar tanto.”
Ariana Martins Gomes,
10 anos, natação
32
Canguru
. FEVEREIRO 2016
FOTO: GUSTAVO ANDRADE
Como quase toda menininha, Ariana pensou em fazer balé. Por causa de uma forte crise de bronquite, aos 5
anos, acabou orientada pelos médicos a praticar natação. Assim começou a trajetória da pequena atleta, que,
estimulada pelo professor da escolinha, entrou, aos 8 anos, para a equipe do Olympico Club. “Foi uma surpresa,
eu não sabia que ia gostar tanto. Queria mesmo só nadar nas piscinas”, revela Ariana, fã número 1 do ganhador
da medalha de ouro olímpica e ex-campeão mundial Cesar Cielo. Hoje, aos 10 anos, a garota treina cinco vezes
por semana, no mínimo duas horas por dia. Recebe acompanhamento médico e nutricional. Entre as suas quase
setenta medalhas, estão as de ouro na Copa Mackenzie, no Campeonato Mineiro de Natação e no Metropolitano
Mirim. Conquistou, também, o primeiro lugar no ranking da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos
(CBDA) na modalidade 100 metros livre feminino mirim. Seu rendimento a colocou na mira do Minas Tênis
Clube. “Minha esperança é de, em breve, termos mais uma nadadora representando o nosso país”, empolga-se
o pai, o taxista Wilson Martins de Almeida, de 43 anos.=
UMA DAS MAIORES PISTAS
DE PATINAÇÃO NO GELO DO BRASIL
VOLTOU AINDA MAIS DIVERTIDA.
Ursos, pinguins e temperaturas abaixo
de zero chegam ao BH Shopping
para você curtir as férias no clima
das regiões mais frias do mundo.
DE 7/1 A 20/3,
das 10h às 22h.
Piso Ouro Preto.
Domingos e feriados:
das 11h às 22h.
Última turma de patinadores: 21h30.
BR-356, nº 3049 - Bairro Belvedere
Mais informações:
www.bhshopping.com.br/bhonice
4comportamento
Verdade
seja dita
Relembre algumas mentiras que os
pais contam aos filhos e por que,
afinal, elas devem ser evitadas
POR Rafaela
Matias
Todo mundo
já ouviu
Com a ajuda das três
especialistas citadas
nesta reportagem,
Canguru enumerou
algumas mentiras que
os pais contam aos
filhos e explica
a melhor maneira
de lidar com as
situações sem deixar a
honestidade de lado
FOTO: ISTOCKIMAGE
34
Canguru
. FEVEREIRO 2016
VOCÊ CONTA MENTIRAS? Nem de vez em quando? Se a resposta foi não, essa provavelmente é uma
mentira. E das grandes. De acordo com uma pesquisa
feita por psicólogos da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, o hábito de mentir está embutido na psique humana. Os testes, feitos com 242
pessoas, mostraram que 60% delas mentem pelo menos uma vez durante uma conversa de dez minutos.
Além de ludibriar o chefe, o parceiro e os amigos,
os adultos também costumam contar lorotas para os
filhos. Quem não se lembra de ouvir histórias sobre
o bicho-papão que pegaria crianças desobedientes?
E sobre aquele ente querido que virou uma estrelinha? São inverdades contadas com a melhor das
intenções pelos pais, mas que podem ter consequências negativas. “Quando os pais mentem, seja
por pequenos ou grandes motivos, os filhos acabam
aprendendo que as mentiras são permitidas”, afirma
Tatiana Jezini, psicóloga clínica pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em
desenvolvimento infantil.
Muitas dessas mentirinhas são uma tentativa de
educar ou poupar a criança de algum sofrimento.
Segundo a psicóloga e psicoterapeuta Maria Luíza
Rocha de Andrade, mestre em educação e com uma
experiência de 22 anos em atendimento a crianças,
a melhor opção para contar verdades difíceis aos filhos é adotar uma linguagem que se adeque à idade
de cada um. “E ajudá-las a compreender o que está
sendo dito”, explica. Engana-se quem pensa que os
pequenos não conseguem perceber quando estão
sendo ludibriados. “Na maioria das vezes, os adultos pensam que as crianças são pequenas demais para
entenderem o que é dito, mas elas entendem tudo e
acabam perdendo a confiança”, alerta Beatriz Neves
Braga, psicóloga clínica pela PUC Minas, especialista
em diagnóstico infantil, ludoterapia, aconselhamento
de pais e neuroeducação.
“A CEGONHA TE TROUXE”
Sexualidade não é um assunto fácil para a
maioria dos pais. Mas, nem por isso, eles estão
liberados para contar mentirinhas. A dica é seguir a linha de raciocínio
da criança e não ultrapassar aquilo que ela está preparada para ouvir.
Perguntar o que ela acha antes de responder pode dar uma boa ideia
de como conduzir o assunto. Sobre a clássica “De onde vêm os bebês?”,
uma boa opção é dizer que o papai plantou uma sementinha na barriga
da mamãe. É lúdico, mas não deixa de ser verdade.
“É SÓ UMA PICADINHA”
Não, não é. Vacina dói e a criança vai descobrir isso assim que tomar a
primeira dose. O ideal é que os pais expliquem a importância daquele
procedimento doloroso e deixem claro que ele é necessário. Não tem
problema explicar de uma maneira criativa, dizendo que lá dentro existem super-heróis (anticorpos) capazes de proteger o nosso organismo. O
mesmo vale para os remédios de gosto ruim.
“O BICHO-PAPÃO VAI TE PEGAR”
Além de não deixar ninguém mais obediente, esse tipo
de história ameaçadora cria fobias e gera ansiedade.
A cuca, o bicho-papão e o homem do saco não serão
capazes de assumir uma responsabilidade que é dos
pais: a de educar. Se o seu filho fez algo errado, deve-se ter uma boa conversa e — se necessário — aplicar
um castigo plausível (sem punições físicas, é claro).
“O VOVÔ VIROU ESTRELINHA”
Até se pode dizer que o ente querido virou
uma estrelinha, para amenizar as incertezas
da morte. Mas é importante explicar o que
levou a isso, como uma doença ou um acidente. Dizer que ele viajou para bem longe ou
caiu em um sono profundo está proibido. A
primeira frase por gerar na criança a expectativa de que aquela pessoa volte e a segunda
por associar o sono com algo negativo. Você
também ficaria com medo de dormir, não?
“VOU ALI E JÁ VOLTO”
Não diga isso se não for
verdade. A criança leva esse
tipo de promessa ao pé da
letra e fica na expectativa de
que a volta seja rápida. Se ela
acontecer várias horas depois, o pequeno
ficará ansioso e com medo de que a pessoa não volte mais. É importante dar uma
referência como “depois do almoço” ou “ao
anoitecer”. Dizer que vai trabalhar e sair arrumado para um jantar ou uma festa também não cola. =
FEVEREIRO 2016 .
Canguru
35
4família
Na hora da bronca
Cantinho do pensamento, restrição de privilégios ou uma simples conversa?
O método de correção depende, acima de tudo, dos valores dos pais
POR Cristiane
Miranda
HÁ ALGUM TEMPO, psicólogos e educadores lutam para riscar do dicionário de pais e filhos o verbo
castigar. Preferem usar corrigir. “A palavra castigo dá
uma falsa conotação de que o processo de aprendizado está centrado na punição”, explica o psicólogo
Jânio Carlos, diretor do Instituto Brasileiro de Referência da Família, no Santo Agostinho. “O que devemos buscar é o desenvolvimento de uma consciência
saudável, de modo que a criança tenha de lidar com
os efeitos de seus acertos e erros.” Mas na busca dessa “consciência saudável”, qual é a melhor forma de
disciplinar os pequenos? Não há apenas uma resposta correta. Para Jânio Carlos, até os 5 anos, o método
do cantinho do pensamento funciona. “Se a criança é
colocada ali depois de, conscientemente, não obedecer às ordens estabelecidas, essa foi uma escolha sua
e não dos pais”, afirma. Isso não quer dizer que a
garotada vai realmente ficar matutando sobre o que
fez. “Antes de pensar criticamente, a criança pequena é coordenada pela ação”, explica o psicólogo. “Por
isso as repetições são importantes. As menorzinhas
marcam território, fazem birra e, no cantinho, entendem que o mundo delas é limitado”. A partir dos 6,
no entanto, Carlos acredita na privação de privilégios: restringir o uso do computador, de brinquedos,
do smartphone ou proibir os pequenos de assistir ao
programa predileto na TV. Para ele, esse processo
possibilitará à garotada correlacionar os efeitos de
sua atitude com o seu comportamento.
A palavra castigo dá uma falsa
conotação de que o processo de
aprendizado está centrado na punição
36
Canguru
. FEVEREIRO 2016
A terapeuta comportamental Erica Carvalho, que
há quinze anos auxilia pais e mães a lidar com a meninada, concorda. Ela segue os ensinamentos do especialista americano Gary Ezzo, que serviram de inspiração para a criação do programa de televisão
Supernanny, na Inglaterra, com versões em vários paí­
ses, inclusive no Brasil. Erica garante que a disciplina
deve começar desde os primeiros anos. Para cada ano
de idade, um minuto para “pensar”. “Mas essa relação
serve, principalmente, como orientação aos pais, para
não dimensionarem errado o tempo da correção”,
pondera Erica. É preciso deixar claro o que está ocorrendo, conversar olho no olho.
Sem diálogo, não
Mas o “adestramento” não é consenso entre os especialistas. A psicóloga e psicopedagoga Débora Galvani defende a tese de que antes dos 4 anos esse tipo
de correção não produz resultados. “Até essa idade o
ideal é repreender com firmeza e ensinar a atitude
correta”, pondera. “A disciplina não pode ser uma
forma de os pais exercerem um autoritarismo injustificado. O filho precisa aprender a respeitar limites e
não simplesmente passar por uma privação como forma de punição, sem que haja uma conversa.” Para ela,
a correção precisa fazer parte de um processo de
aprendizagem e de aquisição de valores.
Encontrar a melhor forma de ensinar limites aos
filhos é, quase sempre, um grande desafio para os
pais. A dona de casa Flávia Silveira Ricardo Diniz,
mãe do pequeno Estevão, de 1 ano e 10 meses, e de
Melody, de 4 anos, recorreu a especialistas para pôr
ordem em casa. “A Melody nunca me deu trabalho
FOTO: GUSTAVO ANDRADE
A psicóloga Isis Prisco, com Sofia e Julia: se elas fazem birra, não podem brincar
e eu considerava que era mérito meu, mas percebi
que era por causa do temperamento dela”, conta.
“O Estevão é completamente diferente, mais nervoso e mais birrento.” Até alguns meses atrás, Flávia
tentou, junto com o marido, Mário Junior, impor
regras ao pequeno. Em vão. Com as birras e os gritos em altíssimos decibéis, mãe e filho não conseguiam se entender. “Percebi que precisava de ajuda
e voltei para a sala de aula”, lembra Flávia. Ela se
matriculou no curso Primeiros Passos, voltado para
pais de crianças de 0 a 3 anos, do Instituto Brasileiro da Família. Agora, a paz está aos poucos voltando. Estevão se mostra menos nervoso e reconhece
que, se fizer birra, vai para o canto da disciplina. Já
a psicóloga Isis Prisco, mãe de Sofia, de 6 anos, e de
Julia, de 4, é adepta da restrição de privilégios desde cedo. Para ela, o melhor é a negociação. “Eu
sempre respeito os combinados. Não cumpriu ou
fez birra, não vai à aula de balé ou não pode brincar”, explica. “Acredito que dessa maneira, contribuo para a formação delas.”
O mais importante é que a forma de correção seja
condizente com a realidade familiar. “Sempre digo
que o diálogo é essencial”, afirma a psicóloga Isabel
Christina do Carmo Gonçalves, com mestrado em
psicologia do desenvolvimento. “Deve-se fazer com
que o filho entenda por que certas atitudes não podem ser repetidas.” De acordo com Jânio Carlos, a
correção é um processo pedagógico no qual a criança
tem a oportunidade de livrar-se da culpa por comportamentos inadequados. “Funciona como um remédio
que ajuda a curar e amadurecer e, assim, prepara a
criança para uma vida adulta saudável”, diz. Um remédio muitas vezes amargo, mas necessário. =
FEVEREIRO 2016 .
Canguru
37
4negócios
Não serve mais? Que
tal vender na internet?
Sites de bazar são uma boa
opção tanto para mães que buscam
economizar quanto para as que
querem ganhar um dinheiro extra
Miranda
AQUELE BODY NOVINHO que o bebê ganhou
logo ao nascer mas nunca usou, ou o sapato que só
entrou no pé do garotinho duas vezes. Qual mãe
nunca se viu em alguma dessas situações? A dúvida
que fica é: doar, deixar para o irmãozinho planejado
(quando a família deseja mais um rebento) ou ver o
guarda-roupa cheio de lindas roupinhas, sem nenhuma utilidade? Uma boa opção para resolver esse
dilema são os sites de bazar, nos quais mães e pais
podem vender e comprar produtos em bom estado.
“Quem vende recupera parte do que gastou e libera
espaço em casa. Quem compra economiza adquirindo com desconto produtos quase novos ou nunca
usados”, explica o publicitário Alexandre Fischer,
fundador do site Ficou Pequeno, um dos endereços
especializados nesse comércio (veja algumas opções no
quadro). A ideia de criar uma plataforma que reunisse diversas lojas de pais nasceu quando Alexandre
visitou sua irmã Eduarda. Mãe das gêmeas Clara e
Julia, de 5 anos, ela tinha um armário cheio de roupas que não serviam mais nas meninas. Eram apenas
as peças das sobrinhas que estavam à venda quando
o Ficou Pequeno foi lançado, em 2013. Mas não demorou para receber mais adesões. “Na primeira seA artesã Marcela Bastos e o pequeno
Miguel Tito, de 3 anos: mercadorias embaladas
e com um sabonete em forma de pato
38
Canguru
. FEVEREIRO 2016
FOTO: MARCELO TITO
POR Cristiane
mana já havia mais de vinte lojinhas e, em um mês,
eram mais de 100”, lembra Alexandre. Hoje são
2800 lojinhas de todo o Brasil e mais de 50 000 produtos disponíveis.
Moradora do bairro Anchieta, a artesã Marcela
Bastos descobriu o Ficou Pequeno quando estava à
procura de uma ocupação, logo após o nascimento
de seu filho Miguel Tito, atualmente com 3 anos.
“Assim que o Miguel nasceu, queria voltar a mexer
com artesanato e numa dessas buscas na web conheci o site”, conta. Em dezembro de 2013, Marcela
criou a Lá Vem o Pato, sua lojinha virtual dentro do
Ficou Pequeno. “Além de vender, já comprei várias
coisas para o meu filho, pois creio que essa é uma
maneira de consumirmos com consciência, de forma
sustentável.” A artesã já se desfez de dois carrinhos
de bebê e uma cadeirinha de alimentação. Todas as
mercadorias da Lá Vem o Pato são entregues embaladas, cheirando a novinho e com um mimo: sabonetinhos em forma de pato.
Como funciona?
O fundador do Ficou Pequeno explica que mamães, papais, vovós e titios podem cadastrar os produtos que desejam vender, pelo preço que bem entenderem, sem nenhum custo. “Quando alguém
compra uma mercadoria, o vendedor é responsável
pelo seu envio e o Ficou Pequeno recebe uma comissão”, diz Alexandre. Todo mês, pelo menos 5 000
produtos encontram um novo lar no Ficou Pequeno.
A administradora de empresas Marta Soares, do bairro Santa Amélia, também tem optado por comprar e
vender as roupas do filho Enzo Gabriel, de 1 ano e 5
meses, pelas plataformas virtuais. “Fiz um teste para
ver como seria, se a roupa estaria em bom estado”,
afirma. “Depois disso, não parei mais.” A sua lojinha
virtual é a Ficou Pequeno no Enzo, mas Marta confessa que é mais consumidora do que vendedora.
Outro site que também faz sucesso é o Retroca.
Quem tem interesse em colocar as roupinhas dos filhos à venda precisa primeiro selecionar no mínimo
vinte peças em bom estado e enviá-las para o Retroca, que paga o frete. É a plataforma que faz a triagem
do que será colocado à venda e precifica os produtos.
De acordo com Andréia Cha, diretora de marketing e
cofundadora do site juntamente com Caio Sagae e
Pedro Roni, a ideia é servir de curadoria para facilitar
a vida das mães. “O que for reprovado pode ser doado ou retirado”, explica. O Retroca coloca à venda
produtos para recém-nascidos e crianças até 12 anos.
Recebe peças das regiões Sul e Sudeste do Brasil e
vendeu, apenas em 2015, 30 000 unidades. Desde o
início das operações, em julho de 2013, cerca de 4,5
toneladas de roupas foram comercializadas e mais de
15 000 peças tiveram como destino a doação para
instituições parceiras.=
Onde comprar e vender
›› FICOU PEQUENO: www.ficoupequeno.com.br.
›› RETROCA: www.retroca.com.br.
›› ENJOEI: www.enjoei.com.br (vende para
crianças e adultos).
›› SANTO BAÚ — BRECHÓ E OUTLET
INFANTIL: www.santobau.com.br.
Buffet completo
Almoço & Jantar
Simplesmente uma delícia!
Coffee Break
Personal Chef
Contato
Tel.: 31 3375-9927 | 31 98654-2404
E-mail: [email protected]
Encomendas
4saúde
Para se defender do zika
Entenda como age o vírus que preocupa gestantes e médicos
Matias
IDENTIFICADO PELA PRIMEIRA vez no Brasil em
abril do ano passado, o zika vírus não seria, a princípio, um grande problema para a saúde pública. Isso
porque a doença, transmitida pelo mosquito Aedes
aegypti — o mesmo causador da dengue e da febre
chikungunya —, costuma evoluir de forma benigna,
apresentando sintomas como coceira, febre e dores
musculares. As constatações que se seguiram desde
então, no entanto, transformaram o zika em um dos
mais temidos vírus do momento.
A preocupação se deve à sua associação com outras doenças, especialmente a microcefalia, detectada
em bebês que tiveram contato com o vírus na barriga
da mãe. “Ainda não sabemos com exatidão como o
vírus age no organismo, mas descobrimos que ele
provoca uma alteração no sistema imunológico que o
permite atravessar a placenta e chegar até o bebê, causando má-formação cerebral em alguns casos”, explica a médica Juliana Cordeiro de Melo Franco, coordenadora do Pronto Atendimento Pediátrico do Hospital
Felício Rocho. Ela relata ainda que o período de maior
vulnerabilidade é durante a fase embrionária, que vai
da terceira à nona semana de gestação. Especialmente
nessa fase, a mulher deve redobrar os cuidados, utili-
40
Canguru
. FEVEREIRO 2016
zando repelentes próprios para grávidas e evitando
locais e horários em que há maior número de mosquitos (veja mais medidas no quadro).
O Brasil não é o único país que sofre com a epidemia do vírus. De acordo com Juliana, foram detectados casos em vários países da América do Sul e Central, Ásia, África e Oceania. A Organização Mundial
da Saúde (OMS) lançou um alerta epidemiológico
para que os países membros fiquem vigilantes a fim
de detectar e confirmar casos de infecção pelo vírus.
A pesquisa para a produção de uma possível vacina
contra o zika foi iniciada em janeiro pela Fundação
Oswaldo Cruz, mas não há previsão de quando ela
será lançada. =
Enquanto a vacina não chega..
O Ministério da Saúde elaborou uma cartilha de
prevenção para ajudar a população a se manter
longe do mosquito. Veja alguns cuidados:
›› Colocar telas em janelas e portas e usar
preferencialmente roupas compridas — calças
e blusas.
›› Nas áreas do corpo expostas, aplicar repelente.
›› Observar o aparecimento de sinais e sintomas
de infecção por vírus zika (manchas vermelhas
na pele, olhos avermelhados e febre) e buscar
um serviço de saúde para atendimento.
›› Para febre e dor, usar acetaminofeno (paracetamol) ou dipirona.
›› Não tomar qualquer outra medicação sem
orientação médica.
FOTO: ISTOCKIMAGE
POR Rafaela
4viagens, modo de usar
Londres para
baixinhos
42
Canguru
. FEVEREIRO 2016
relevos dos assírios. Eta povo bravo!
Eram de arrepiar.
Ao ar livre, a grande pedida são as
caminhadas pelos parques reais. As
crianças adoram. Podem correr à vontade, pisar na grama, jogar comida
para os bichos, tentar pegar os esquilos. Meu favorito é o REGENT´S PARK,
com seu gramado sempre verde, o
lago com milhares de aves, além do
Teatro ao Ar Livre e as roseiras do Jardim da Rainha. No SAINT JAMES´S
PARK, podem alimentar os pelicanos
e, depois de um rolezinho, esticar
até o Palácio Buckingham para ver a
troca da guarda. No GOLDERS HILL
PARK ZOO, sem gastar um tostão,
a garotada se diverte nos bosques e
conhece bichos estranhos, como as
risonhas kookaburras.
Londres tem muitas outras atrações gratuitas para crianças. A
maior, no entanto, é a própria cidade, verdadeiro museu a céu aberto,
em que os séculos se misturam, com ostentação,
inovação e simplicidade. Tudo isso faz da capital
um paraíso para a infância. E leva os adultos a
grandes curtições ao lado dos filhos. É pagar para
ver. Aliás, pagar não precisa.=
Luís Giffoni
é cronista, romancista e palestrante. Autor de 26 livros, tem nas viagens
uma de suas paixões. Nelas aprende a diversidade do mundo e das
pessoas, experiência que acaba traduzindo em suas obras. Neste espaço,
dá dicas sobre como aproveitar o mundo com os pequenos.
[email protected]
FOTO: GUSTAVO ANDRADE; ILUSTRAÇÃO: KILI/ISTOCKIMAGE
QUER OFERECER AOS filhos um
gostinho de paraíso? Leve-os para
Londres. A cidade tem atrações para
todas as exigências e orçamentos. Inclusive orçamento zero. Se você não
quiser gastar um centavo enquanto
as crianças se divertem muito na capital inglesa, aqui vão algumas dicas.
Apenas algumas.
Londres possui mais de 2 000
anos de história. E milhões de anos
de história universal guardados em
seus museus, que estão entre mais
completos da Terra. Um deles, o de
HISTÓRIA NATURAL, tem 75 milhões
de objetos no acervo e a maior coleção de dinossauros, inclusive um tiranossauro em tamanho natural, com
direito a garras, urros e olhar amedrontador. De graça, é claro.
No BRITISH MUSEUM, a grande
atração é a Pedra de Roseta, que ajudou decifrar os hieroglifos egípcios.
Depois de vê-la, a garotada visita as
múmias e os sarcófagos nas salas adjacentes. Obviamente as lendas sobre múmias desfilando à noite pelo
museu fazem parte do roteiro. Numa outra ala, ficam
muitas das belas esculturas que adornavam o Parthenon de Atenas, com os sinais dos maus-tratos recebidos ao longo dos séculos. Minha sala preferida é a do
Iluminismo (Enlightenment Room), onde um rei louco
juntou tudo que podia da Terra inteira. Sua coleção
virou um salão de raridades. Desde fósseis até vasos
etruscos e livros antigos, entre eles o relato de uma
viagem ao Brasil do qual eu nunca tinha ouvido falar.
Ah, sim, não perca o andar da Mesopotâmia, com os
luís giffoni
4História de mãe
Quando Érica
me escolheu
FOTO: VICTOR SCHWANER
POR Fádwa
Andrade
COMO TODA HISTÓRIA de criança
começa com um “Era uma vez” e quase
sempre termina com “E viveram felizes
para sempre...”, a nossa não poderia ser de
outra forma. Nós já havíamos realizado o
sonho de sermos pais e não imaginávamos
a surpresa que a vida nos traria, a chegada
de nossa Érica.
No momento do encontro, que ocorreu na instituição acolhedora onde ela
vivia, tive a certeza de que minha missão
não era mais gerar e sim acolher, me tornar
mais uma vez mãe, mas agora pelo coração e não pelo ventre. A partir daí, tomados por um sentimento impossível de ser
explicado, começou a saga da habilitação
para adoção. Fórum, documentos, entrevistas, visitas da assistente social, lágrimas
que não nos fizeram desistir e gargalhadas
a cada pequena conquista.
Durante um tempo passamos os fins
de semana juntos e suportamos com esperança e união as despedidas aos domingos.
Ouvi que éramos loucos, que estava na
hora de aproveitarmos a vida, de curtirmos
a maturidade, pois já tínhamos vivenciado
a delícia da maternidade e da paternidade. Diante dessas falas eu só pensava: “Vou
abandonar uma filha? É isso mesmo?” Para
mim, era como se eu fosse a mãe dessa
criança desde o primeiro momento que a
vi. Ouvi até que não conseguiria conciliar
o papel de executiva com o de mãe de um
bebê de 1 ano, mas isso é conversa para
um novo encontro.
Nesse intervalo preparamos o quartinho, a casa e também nossa família e amigos, já prevendo que o amor falaria mais
alto em algum momento.
Minha gestação emocional e o amor
que eu sentia não cabiam dentro do tem-
po e dos parâmetros
jurídicos (sorte que tenho uma filha advogada
que sempre intercedia com
sua leveza e carinho quando a
situação ficava quase insustentável,
contribuindo com o fortalecimento da minha luta). Hoje olho para trás e vejo que
todo esse caminho foi extremamente necessário para que pudéssemos estar com
nossa filha em nossos braços.
Tudo isso durou quase um ano e, faltando apenas uma semana para o aniversário de 1 aninho da nossa princesa, recebemos a tão sonhada e esperada ligação
do fórum. A vontade era sair correndo
para buscar nossa menina, mas tivemos
que esperar um dia a mais por causa dos
documentos necessários. O que é mais
um dia para quem esperou um ano vivido com a intensidade de dez, vinte, trinta
anos, uma vida inteira?
Hoje, cinco meses depois do dia mais
importante de nossas vidas, temos a guarda
provisória e não mais sofremos pela guarda
definitiva. Nossa pequena nos acalenta a
cada sentimento de ansiedade e nos faz ter
a certeza de que nada disso teria acontecido
se não estivesse escrito em algum lugar que
seríamos seus pais de alma. Rezo e sonho
cada dia mais alto. Descobri que posso esperar coisas grandes desse Deus tão grande. Hoje me sinto muito mais forte do que
pensava e a cada dia mais feliz por ter sido
escolhida pela Érica para ser sua mãe. =
Fádwa Andrade
é relações-públicas e mãe de Taciana, de 27 anos, e Érica,
de 1 ano e 5 meses. Gosta de ir ao cinema e receber os
amigos em casa, mas nenhum programa é mais saboroso
do que passar um tempo com suas filhas.
FEVEREIRO 2016 .
Canguru
43
FOTO: LUÍZA VILLARROEL
4para ler com seu filho
Viva os monstros
PLUFT, O FANTASMINHA é a peça teatral que mais marcou minha infância.
Foi a primeira vez que me dei conta de como o medo era algo relativo. A peça
sugeria que os fantasmas não eram tão assustadores assim. Aliás, quem diria,
eles podiam até mesmo ter medo... de gente! Escrita por Maria Clara Machado
em 1955, Pluft antecipava em várias décadas a ideia que sustentou um filme tão
bacana como Monstros S.A., da Pixar. O fato é que, desde que conheci a história
do Pluft, eu curto muito as peças, livros e filmes infantis que desconstroem os
fantasmas, monstros e outras criaturas horripilantes. Na coluna deste mês, indico dois livros sobre monstros, ambos com abordagens bem inusitadas.
leo cunha e os filhos
André e Sofia
Em Como Reconhecer um Monstro, o autor Gustavo Roldán conversa
diretamente com o leitor (e também com o personagem, como vamos perceber), listando uma série de dicas de como ter certeza de que uma criatura
estranha é realmente um monstro. Por exemplo: “observe se suas patas são
enormes e peludas”, “se de suas orelhas saem longos pelos”, “se seu nariz é uma
gigante berinjela”. A cada página, o leitor fica mais intrigado, assim como o personagem principal, que (quanta ironia!) traz em si algumas semelhanças com
o tal do monstro. Será que todos nós somos um pouquinho monstros, afinal? .
SOBRE OS AUTORES: Gustavo Roldán é um escritor e ilustrador argentino. Já publicou mais de oitenta livros e recebeu vários prêmios importantes da literatura infantil.
CONDOMÍNIO DOS MONSTROS. Texto
de Alexandre de Castro Gomes. Ilustrações
de Cris Alhadeff. Editora RHJ, 2010.
COMO RECONHECER UM MONSTRO. Texto
e imagens de Gustavo Roldán. Tradução de
Daniela Padilha. Editora Jujuba, 2011.
Em 2012, no filme Hotel Transilvânia, conhecemos o local comandado pelo Conde Drácula e frequentado por todos os tipos de monstro. Mas dois anos antes,
em 2010, o escritor Alexandre de Castro Gomes nos trazia o Condomínio dos
Monstros, uma ideia tão bacana quanto a do hotel. Aqui, temos um prédio de
cinco andares situado na Rua Mortinho da Silva, número 13, onde vão se cruzar
várias histórias e personagens estranhos. Tudo acontece a partir de uma reunião
de condôminos, convocada para a meia-noite. O leitor se diverte ao notar que os
monstros mais assustadores também sofrem com o convívio cotidiano. Os condôminos não suportam mais a mania do Saci de apertar todos os botões do elevador,
nem as pulgas que o Lobisomem espalhou pelo prédio. A Múmia, coitada, precisa
completar seu sono de 1 000 anos, mas não consegue dormir com a barulheira dos
vizinhos. Será que os monstros vão ter sangue frio para resolver tantos problemas?
SOBRE OS AUTORES: Alexandre de Castro Gomes, carioca, advogado de formação,
vem publicando livros infantis desde 2008. É o atual presidente da AEILIJ (Associação
de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil). Cris Alhadeff, também
carioca, é ilustradora e webdesigner. Já publicou diversos livros para crianças e jovens.
Leo Cunha
é escritor e publicou mais de cinquenta livros, como Vira-lata (Ed. FTD) e ABCenário (Ed.
Autêntica). Já recebeu os principais prêmios da literatura infantil brasileira, como Jabuti,
Nestlé e João-de-Barro. Na Canguru, dá dicas de livros para crianças.
[email protected]
44
Canguru
. FEVEREIRO 2016
4na pracinha
Parque Jacques Cousteau
FOTOS: [1] DIVULGAÇÃO; [2] DUORAMA FOTOGRAFIAS.
O PARQUE JACQUES Cousteau é
um dos espaços mais indicados nas
pesquisas realizadas pelo blog Na
Pracinha quando o assunto é local
ideal para passear ao ar livre com
as crianças.
O parque, considerado como o
“quintal” de muitas famílias que moram na região do bairro Betânia, tem
muito verde, bastante espaço para
correr, um parquinho com brinquedos diversos, além de um projeto
que incentiva as crianças aniversariantes a plantarem, no parque, uma
muda de árvore levando o seu nome.
Pense em jabuticabeiras — o
Jacques Cousteau tem vários pés!
A criançada, no meio das brincadeiras, aproveita para se deliciar.
Além disso, o parque conta com um
lindo paisagismo e é possível fazer
trilha ecológica — basta informar-se na administração. O espaço, que
um dia já foi um “lixão”, chegou a
produzir as mudas de árvores para
toda a cidade e hoje é responsável
pelas plantas ornamentais usadas na
maioria dos parques de BH.
Como em outros parques da
capital, há brinquedos de madeira.
Mais recentemente, foi instalado
um brinquedão da arquiteta Suza-
[1]
[2]
na Cadaval, para a meninada de 2
a 6 anos, que também faz muito
sucesso.
A estrutura é boa: bebedouro,
banheiros, muito espaço para contemplação, academia da cidade, um
ótimo campo para soltar pipa ou bater uma bolinha.
Por tudo isso, o Na Pracinha já
realizou dois Encontros no Parque
Jacques Cousteau, e incentivamos
todas as famílias a programarem um
passeio por lá — reserve uma bela
manhã para curtir, garantimos que
será inesquecível. =
Rua Augusto José dos Santos, 366,
Betânia.
Fique por dentro das regras
NO PARQUE É PERMITIDO:
›› Brincar de bola: desde que seja leve, de plástico e que as brincadeiras
não perturbem o bom funcionamento do espaço;
›› Andar de bicicleta de aro 12, 14 ou 16 nas áreas delimitadas para o
exercício da atividade;
›› O uso de patins, patinetes ou similares para crianças de até 12 anos
de idade;
›› Soltar pipas de papel nas áreas autorizadas, desde que não se utilizem
fios cortantes (cerol ou similares), longe da rede elétrica e sem perturbar os demais usuários.
Criado em 2011 pelas mães Flávia Pellegrini
e Miriam Barreto, o blog tem o objetivo de
incentivar brincadeiras ao ar livre em família.
Na Canguru, as fundadoras do Na Pracinha
dão dicas de passeios divertidos para a
meninada.
www.napracinha.com.br
Fonte: Fundação de Parques Municipais
FEVEREIRO 2016 .
Canguru
45
4padecendo no paraíso
Crimes de
pedofilia:
como prevenir
Esse é um tema tabu, mas
acontece muito perto de nós,
independentemente da classe
social, da cor ou do credo
Como agem os pedófilos? Entram na
vida da criança, ganham sua confiança e diminuem suas chances de
defesa em situações de abuso. Se
apresentam como um adulto alegre
e participativo, condições que passam despercebidas pelos pais.
Os abusos sexuais podem acontecer
com QUALQUER um. Não existe padrão de perfil de abusador.
Na maioria das vezes, o abusador é
uma pessoa do círculo de confiança da
família. Familiares, vizinhos, colegas,
amigos ou até seus responsáveis.
Fique atento a QUALQUER mudança
comportamental da criança. Se era
agitada e passou a ficar retraída. Se
era conversadora e parou de conversar. Se ficou mais violenta ou arredia.
Se ficou mais quieta ou assustada.
Acredite no que as crianças falam.
Crianças vivem num mundo de
46
Canguru
. FEVEREIRO 2016
fantasia. Entretanto, caso ela procure um adulto para mencionar
algo que a incomoda, investigue a
fundo.
Em geral, a criança tende a não dizer
nada. O que o adulto diz é lei. Logo
ela tende a acreditar no que o abusador diz, o que torna mais difícil
descobrir o abuso.
Dialogue com as crianças. Você não
conseguirá evitar que o abusador
chegue perto do seu filho. Se ele tiver o conhecimento do que é possível e do que é perigoso, poderá não
permitir o abuso, ou, caso ocorra,
terá condições de informar.
Ao postar imagens nas mídias sociais, não publique fotos dos seus
filhos, sobrinhos ou filhos de amigos nus ou mesmo com roupas de
banho. Observe a pose das crianças nas fotos evitando aquelas que
poderão ser consideradas sensuais
por pedófilos.
Não ensine músicas ou danças sen­
suais. Você pode achar bonitinho,
mas uma pessoa com desvio de
comportamento vai dizer que a
criança o provocou e usar isso
como justificativa para um abuso.
A posse, produção e divulgação de material de pornografia infantil é crime.
Caso você o receba ou veja em redes
sociais, DEVE denunciar. Compartilhar imagens e vídeos também é
crime. Apague todo e qualquer conteúdo que receber e denuncie.
›› www.pf.gov.br (copie o link e cole na
página da PF, na janela de denúncia)
›› www.denunciar.org.br
›› www.safernet.org.br
›› www.todoscontraapedofilia.ning.com
›› Disque 100 (Secretaria dos Direitos
Humanos da Presidência da República — denúncia anônima).=
Coordenado pela arquiteta Bebel Soares e pela
designer Tetê Carneiro, o grupo Padecendo no
Paraíso nasceu em março de 2011, no Facebook,
e é formado atualmente por mais de 6 000
mães. Na Canguru, as fundadoras do Padecendo
discutem assuntos como saúde, alimentação,
sexo, viagens, educação, estética e beleza.
www.padecendo.com.br
FOTO: ISTOCKIMAGE
O que é pedofilia? É um desvio da
preferência sexual. Geralmente o
pedófilo (aquele que tem atração
sexual por crianças) tem plena
consciência do que faz.
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
4artigo | Carla Marques Nagem de Abreu Chagas
A criança e o medo
NA RECEPÇÃO DE uma clínica médica espero o
horário de meu exame observando, enquanto folheio uma revista, uma menina. Tinha no máximo
3 anos e, como toda criança, estava se divertindo
ao explorar as possibilidades daquele ambiente diferente: subia nas poltronas, corria até a porta para
espiar, dava pulinhos de entusiasmo. A mãe, por
duas vezes, pediu que ficasse quieta, sem sucesso,
como era de esperar.
Em determinado momento, o movimento exploratório da menina foi interrompido por uma frase
que teve o poder de freá-la: “Aquela moça está vendo, e se continuar assim ela vai te dar uma injeção!”
A pequena se deteve, olhou a mãe nos olhos, como
se tivesse sentido o impacto de tais palavras e voltou para perto dela, com receio de que a ameaça
se concretizasse. Não houve tentativa de explicar à
criança os porquês do que lhe era pedido, muito
menos se tentou oferecer a ela algo mais interessante
a fazer. Essas poucas palavras, que não correspondiam à verdade, cumpriram o papel de freá-la, mas
o impacto continuava em mim. Quantas vezes já vi
essa cena se repetir em diferentes termos: o “homem
do saco vai te pegar”, “ali tem bicho-papão, monstro, bruxa” etc. São muitas as formas, mas sempre o
mesmo resultado: onde antes havia interesse passa a
existir o medo, a inibição.
Olhando aquela criança, pensei: para que mentir? Ameaçar com fatos irreais? Por que não explicar a verdade, estimular pelo bem? O medo altera
a conduta, consegue o resultado aparente, sem que
haja a compreensão do motivo pelo qual se deve
mudar o comportamento.
Como educadora perguntei-me por que a cultura, que espera jovens valentes e interessados por
aprender, estimula que desde pequenos sua liberdade seja limitada por nós, adultos, com mentiras que
colocam medo. Será para nos poupar o trabalho de
O medo altera a conduta, consegue
o resultado aparente, sem que haja a
compreensão do motivo pelo qual se
deve mudar o comportamento
explicar, explicar..., quantas vezes for preciso, até
que a criança compreenda a verdade?
Revendo a história da humanidade, pude identificar, ao longo de séculos, diversos episódios em que
o medo e a ameaça foram utilizados como recurso
para conseguir o que se queria dos demais. O que
passou despercebido é que a mente da criança, treinada a frear-se pelo medo, será a mesma mente que,
no adulto, precisará de liberdade para pensar.
Sou chamada para ser atendida e continuo pensando no assunto... Perguntei-me: e você, professora? Como faz com seus pequenos alunos? Com
essas reflexões saio apressada do consultório, afinal,
dentro de pouco tempo meus alunos chegariam à
escola, cheios de vontade de aprender.
Trato então de fazer o que posso com os meus
31 alunos, afastando a tendência a querer o fácil,
alimentando o gosto por explicar os porquês. Crio
formas para que façam ou não as coisas por compreender sua essência e não por medo ou ameaça. Não tenho dúvida de que atuar dessa forma
dá mais trabalho ao educador, exige paciência e
tempo, mas não conheço maior emoção do que ver
seres tão pequenos começar a usar a própria inteligência com liberdade para compreender o mundo
e reger a própria conduta, fazendo escolhas no sentido do bem.=
Carla Marques Nagem de Abreu Chagas
é educadora e professora da Fundação Logosófica de Belo Horizonte
FEVEREIRO 2016 .
Canguru
47
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
4artigo | Léa Machado
A formação da
nossa psique
COMECEI MINHA PRÁTICA clínica atendendo
apenas crianças por dez anos. Ao longo dessa trajetória, fui descobrindo que o resultado terapêutico
acontecia em curto tempo quando os atendimentos
se estendiam aos pais e, se necessário, à família. Com
a evolução clínica e acadêmica, passei a atender também adolescentes e adultos. As crianças vêm encaminhadas principalmente pela escola, que, muitas vezes,
percebe sintomas associados ao aprendizado e à dificuldade com a disciplina e/ou relacionamento.
Uma das maneiras de ajudá-las é compreendendo
a formação da nossa psique através da psicanálise. Temos a predisposição inata, a experiência de vida e o
fator desencadeante. O fantástico é que a experiência
de vida permite desenvolver ou inibir as predisposições inatas, direcionando o desenvolvimento através
de estimulações necessárias, desde o nascimento. Devemos respeitar a maturidade natural da faixa etária,
evitando expor a criança a situações para as quais ela
ainda não está pronta neurologicamente.
Um exemplo de estimulação auditiva: certa vez,
recebi uma criança de 6 anos com a queixa escolar de introspecção. A professora falava e a criança
parecia não perceber, ficava absorvida com algum
brinquedo, ou apenas atraída com seu material escolar. Logo na entrevista, percebi que sempre que o
assunto interessava, a criança olhava atentamente.
A avaliação psicológica demonstrou resultados adequados para a idade. Então, usei um treinamento
para aumentar sua atenção auditiva. Jogávamos uma
bolinha de ping-pong na parede e ela, de olhos fechados, teria de indicar onde a bolinha havia parado.
Quando já estava acertando, jogamos duas e depois
três bolas simultaneamente para que ela indicasse
onde haviam parado. Junto com as sessões de orientação com os pais, dei-lhe uma bola com um guizo
48
Canguru
. FEVEREIRO 2016
Quando falamos, principalmente
com crianças, que são naturalmente
literais, temos mais sucesso na nossa
comunicação se falamos exatamente o
que queremos comunicar
dentro para que ela brincasse com o seu cachorro. O
objetivo era tornar o treinamento intensivo. Assim,
a atenção auditiva ficaria automática e inconsciente.
Em três meses essa habilidade de atenção auditiva
tinha influenciado positivamente sua dinâmica e seu
resultado escolar.
As palavras produzem imagens que são próximas
do inconsciente, de onde vem nosso comportamento automático. Quando falamos, principalmente com
crianças, que são naturalmente literais, temos mais
sucesso na nossa comunicação se dizemos exatamente
o que queremos comunicar. Pensamos por imagens.
Quando os pais falam “Não atravesse a rua”, para
entender a frase, a imagem que a criança vai fazer é
justamente de atravessar a rua. E vai se comportar a
partir do que ouviu. A palavra “não” é um conceito,
não tem imagem.
Podemos fazer uma experiência, pontuando para
nosso filho todos os comportamentos adequados
que ele produzir. Também podemos informar exatamente o comportamento que deve ter, ou o comportamento que queremos que ele tenha. Essa repetição
vai para o inconsciente, contribuindo com a formação da sua psique.=
Léa Machado
é psicóloga clínica, especializada em psicoterapia breve e hipnoanálise.
Classificados
PARA ANUNCIAR
(31) 3546-7818
As mensagens dos Classificados são de responsabilidade de quem as assina.
Convide os amigos para jantar
na sua casa e deixe todo o
trabalho por minha conta.
Pratos da culinária brasileira, francesa e italiana,
à escolha do cliente. Preços por pessoa.
Descontos especiais para grupos.
Serviço com qualidade de restaurante
no conforto do seu lar.
Lu Andreolli
P
PE
ER
RS
SO
ON
NA
ALL C
CH
HE
EFF
(31) 99300-3130 . [email protected]
Animação e alegria
é com a gente!
Animação e Recreação
Locação de Brinquedos
Entretenimento Infantil
(31) 99339-3844
(31) 99359-7544
[email protected]
fb.com/animaerecreacao
CNPJ: 20.653.115/0001-92
Admiráveis
mães imperfeitas
FRANCISCO TINHA UNS 4 anos. Cheguei do trabalho mais tarde e deparei com o bilhete da professora: “Amanhã é dia de colocar o coelhinho na toca.
Traga seu coelhinho de pelúcia.” Meia-noite, Francisco dormindo. Na cômoda ao lado, vários bichos
felpudos: nenhum deles era um coelho. Fui dormir
apreensiva: de que cartola eu tiraria esse coelho? Dia
claro, voei para o quarto dele. Foi então que reparei
que eram compridas as orelhas daquele cachorrinho
branco bem peludo. Pronto, decidi. Naquele dia, ele
seria um coelho. “Toma, filho. Leva seu coelhinho
para colocar na toca lá da escola.” Ele agarrou o bicho, me deu um beijo e correu para pegar o escolar.
Mães sempre dão um jeito. Mas nem por isso precisam dar conta de tudo sozinhas.
Eu não sei quanto a você, mas eu preferi ter ajuda
em casa quando o Fran nasceu. Pude contratar uma
enfermeira experiente para os primeiros meses. Ela
me acordava na hora das mamadas, colocava Francisco no meu colo, punha para arrotar e depois para
dormir. Para uma mãe sozinha de primeira viagem,
contar com alguém dentro de casa para dar segurança
(e afeto) não tinha preço. E assim o nosso início foi
leve, sem maiores tensões e com tempo para me recuperar do parto (normal, com anestesia). Retornei da
licença-maternidade disposta e, para ser sincera, feliz
por voltar a trabalhar. Ter meu próprio tempo sempre
foi importante.
Não inflo o peito para dizer que vi o Francisco
dar seus primeiros passos — eu estava no trabalho
quando isso aconteceu. Vi os passos seguintes, que
para os meus olhos foram os primeiros, e me alegro
com todos eles. Sou a mãe possível: a melhor mãe que
posso ser. Nem sempre ajudo no para casa, porque
mal dou conta do meu. Por diversas vezes liguei a TV
no Cartoon para que ele me desse mais meia hora de
sono. A avó já me representou em reuniões da escola
quando eu tinha outra no mesmo horário. E, confes-
50
Canguru
. FEVEREIRO 2016
FOTO: MÁRCIO RODRIGUES
4crônica
cris guerra e o
filho francisco
Mães precisam de ajuda. E talvez
essa seja a parte mais divertida.
Ter um filho é passar a integrar uma
irmandade em que sempre haverá uma
mão estendida na hora do aperto
so, prefiro festas infantis para as quais só as crianças
são convidadas.
Para mim, maternidade não é um posto heroico
de quem cultiva o sacrifício como sinônimo de felicidade. Tenho uma concunhada que cria três filhos
com a maior naturalidade, sem empregada e sem
babá, morando longe da família. Tem toda a minha
admiração. Mas cada um conhece seus limites. Respeito todas as escolhas, mas o tom de alguns discursos me leva e enxergar, nas entrelinhas, uma cartilha
rezando autossuficiência.
Mães precisam de ajuda. E talvez essa seja a parte
mais divertida. Ter um filho é passar a integrar uma
irmandade em que sempre haverá uma mão estendida na hora do aperto. É disso que precisamos.
De amigas que nos digam “Não é um mar de rosas,
mas vale a pena”. E não seremos mães piores por
admiti-lo — pelo contrário, é educativo mostrar aos
filhos a nossa humanidade.
Meses atrás, Francisco foi brincar na casa do amigo e voltou com as unhas cortadas. Das mãos e dos
pés. Pensei duas vezes antes de me sentir menor como
mãe. Preferi ser grata. Quero mais é que as mães de
seus colegas o tratem como filho. Você não?=
Cris Guerra
é publicitária, escritora e palestrante. Fala sobre moda e comportamento
em uma coluna diária na rádio Band News FM e a respeito de muitos
outros assuntos em seu site www.crisguerra.com.br. Na Canguru, escreve
sobre a arte da maternidade.
[email protected]
boulevardshopping.com.br
De segunda a sábado, das 10h às 22h.
Domingo, das 11h às 20h.
Até 28/2.
Av. dos Andradas, 3.000 - Santa Efigênia | Tels.: 31 2538.7438/7439