1 A jovem Sakura Monan, sonha em tornar

Transcrição

1 A jovem Sakura Monan, sonha em tornar
A jovem Sakura Monan, sonha em tornar-se vitoriosa nas batalhas de
robôs, esporte muito famoso em vários planetas. Como treinadora de uma
equipe iniciante, ela recebe ajuda também da agente secreta Luibla, que
investiga uma possível relação entre as batalhas e o crime organizado.
Graças à Luibla, alguns dos amigos de Sakura são chamados para a
Organização Protetores da Galáxia, que visa treinar jovens e transforma-los
em super-soldados.
Mas com o decorrer do tempo, a treinadora Sakura e os que restaram
na sua equipe acabam se envolvendo na guerra entre seu planeta e maior
inimigo deste, e uma vez no meio desta disputa, eles têm que se unir para
voltarem para casa.
1
Índice:
Introdução................................................................................4
01 - A vida de Sakura na Guanabara...........................................10
02 - O Navio Saint Anna............................................................20
03 - O Ferro-Velho dos Robôs de Assuam....................................26
04 - O Início da KVC.................................................................37
05 - Doom Bots vs. Abzurds.....................
...........
43
06 - Abzurds vs. Gandoray........................................................47
07 - 3ª Rodada - A Escolha de Máik: Pishadores vs. Abzurds..........52
08 - Suellina Team vs. Abzurds..................................................58
09 - Os Z-9 Atacam..................................................................63
10 - O Final da KVC..................................................................69
11 O Treinamento na OPG......................................................80
12 O simbionte......................................................................85
13 A Guerra do Quadrante......................................................95
14 O Planeta dos Mutantes....................................................102
15 Uma tentativa de fuga.....................................................115
16 - A Luta na Vila de Troskvu.................................................119
17 O Planeta Zeelish............................................................127
18 - A Execução.....................................................................131
19 A Invasão a Smoockerr....................................................141
20 Uma nova visão de um antigo ideal do inc. José..................154
Portais..................................................................................162
Mapa de Zeelish.....................................................................162
Mapa de Caracówl..................................................................163
Animais de Caracówl...............................................................164
Tradutor Instantâneo..............................................................164
Seysu...................................................................................165
Música Caracolesa..................................................................166
O Alfabeto e o Idioma Caracolês...............................................161
2
Protetores da Galáxia ©
2005, Leandro Rocha, todos os direitos reservados.
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem o consentimento do autor.
Agr a de ço a D e us pe la for ça nos m om e nt os difíce is, a os m e us
a m igos qu e m e a j uda r a m , e a você qu e e st á com pr a n do e st e livr o, e
m e a j uda n do a sust e nt a r os m e us 1 1 filh os ( qu e fe lizm e n t e , a in da
vão demorar alguns anos pra nascerem ou serem adotados).
Est a obr a é de dica da a t odos os que cola bor a r a m pa r a qu e e la
fica sse pr ont a , ou que de ce r t a for m a a j u da r a m com suge st õe s,
cr ít ica s, e logios ou sim ple sm e n t e a cr e dit a n do n e st e t r a ba lh o. Em
e spe cia l, a os m e u s consu lt or e s de a ssu nt os t e cn ológicos Pa u lo José
e Pe dr o M e squ it a , à Fa bíola Yum e qu e divulgou n o sit e de la m u it o
a n t e s do livr o fica r pr on t o, a m in h a ir m ã Ca r olin e e a os m e u s a m igos
W á r lle y, Lu cia nn a , Álva r o, Cá ssia , Lília n Rose , D ou gla s, M a u r ício,
Shimene, Thaís Mayumi e Michelle Saab.
Um abraço a todos, e nos vemos na cerimônia de entrega do Oscar, quando
Protetores da Galáxia virar filme.
Leandro Rocha
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Qualquer dúvida, mande um e- mail para: [email protected]
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INTRODUÇÃO:
Discurso de Trbluzikzay, ao fundar o movimento de resistência de Zeelmoockerr:
Os humanos eram uma espécie nativa do Planeta Terra, pelo o menos é o que sua
tradição nos mostra. Mesmo na história oficial de seu lendário planeta, não faltam relatos de seres
humanos torturando e assassinando seus semelhantes, pelos motivos mais banais.
Por volta do ano 2030 de seu calendário, o que equivale a 4583 de nosso planeta, os
humanos criaram naves espaciais capazes de saírem de seu próprio sistema estelar. Uma disputa
fantástica gerou-se entre os vários povos humanos, cada um querendo provar ter mais tecnologia
que o outro. Vários cruzadores estelares saíram da Terra com o objetivo de explorar a Via-Láctea,
suposta galáxia onde ficaria esse planeta. Mas a verdade é que os humanos não tinham o
conhecimento pleno da própria tecnologia que tinham em mãos. A tecnologia de dobra ainda não
havia sido dominada com perfeição, e o que era óbvio aconteceu: um acidente! Através de um
distúrbio criado no espaço por uma de suas própria naves, cerca de 103 cruzadores estelares da
Terra foram lançados a bilhões de anos-luz de sua galáxia original, e vieram parar na nossa
galáxia MRM. Sem ter como voltar, os humanos foram criando novas civilizações em todos os
planetas que encontraram pela frente. E se esse planeta já fosse habitado, eles rapidamente
tratavam de desabita-lo, tomando dos nativos o que era seu por direito.
Calendário Caracoles
1591
1670
1671
2155
Calendário Gregoriano
2000
2079
2080
2564
José, na época agente secreto da ÔNUC, ao conhecer Trbluzikzay:
Uma vez perdidos, meus ancestrais não puderam mais voltar para seu planeta nem viver
para sempre em naves espaciais, por isso tiveram que procurar novos lares, novos planetas com
condições semelhantes à Terra. Justamente para que não houvesse guerras no novo planeta, os
capitães de cada cruzador espacial combinaram de que cada um deles seguiria para um lado
diferente, e escolheriam planetas diferentes para começar de novo. Por isso a espécie humana se
espalhou tanto. Alguns desses humanos fundaram o Império de Zeelish. Já outros encontraram o
Planeta Caracówl, o lugar de onde venho, e passaram a morar em áreas não utilizadas pelos
nativos. Humanos e caracoleses sempre foram amigos, e juntos, criaram a ÔNUC, a organização
que me mandou aqui para verificar o que Zeelish está fazendo com vocês. Você pode me chamar
de humano, de caracolês, ou do que você quiser, mas lembre-se que há muitos do meu povo
querendo ajudar vocês neste momento. E lembre-se também que você não pode julgar um povo
por seu governante. Eduardo é seu inimigo, os zeelishianos não.
GALÁXIA MRM, QUADRANTES ONDE HÁ HUMANOS:
Ao lado, o quadrante Delta, onde foram parar os
cruzadores estelares dos humanos após o grande
acidente, e os quadrantes vizinhos. Dos seis
quadrantes acima, três possuem planetas colonizados
pelos descendentes dos exploradores da Terra.Cada
um dos quadrantes representaapenas uma pequena
porcentagem do tamanho total da galáxia MRM.
Principais planetas habitados por humanos:
Zeelish, Smoockerr (dividido com os nativos),
Threvam, Terrax, Caracówl (dividido com os nativos),
Tróya, Delta, Iréxon, Linox, etc.
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A GALÁXIA MRM
O Planeta Zeelish e seu Império:
Zeelish foi colonizado por humanos que chegaram à bordo
das naves Avalon I e II, que estavam a serviço da Irlanda do Norte.
Cerca de 30 anos depois, Eduardo, um líder dos humanos do Planeta
Scórpion, decidiu transferir a maioria de sua população para lá,
criando o Império e a idéia de Povo Zeelishiano.
Todos os Planetas do Império de Zeelish: Zeelish, Tuex, Zeelish 2, Twin, Terrax, Loser, Nongáris,
Zeelmoockerr, 8-P, Zeel-kimur, Knartexiana, Zeckflimptick, Oidolk, Odaedac, Etnen, Oterp, Kogues,
Jezax, K1, K2, K3, Klepis e Folopolixadi. Além de BST, Hessel, Yawribabawk e Shuráctor que são
livremente associados ao Império.
Zeelish
Diâmetro: 22.000km
Densidade: 4,7
Gravidade: 1,41 G
Tipo: rochoso
Temp. eq. média: 35º
Pressão: 1,2 atm
Composição atm: 75% nitrogênio, 22% oxigênio
Terrenos: 60% savanas, 20%
florestas destruídas, 10% desertos Rotação: 20 h
Sa t é lit e s( lu a s ) :4
População: 69.043.236.000 hab. (85% humanos, 10% shunâmis, 5% outros)
Línguas: Zeelishiano e Shunâmi Religiões: sem dados
Povos: 47 Países: 47
Cidades: 420.100 Organização política Reguladora: Império de Zeelish
Líder: Imperador Eduardo I
Moedas: Zillos e Guin
Crisaller - A Crisaller é o laser normalmente usado pelas tropas
zeelishianas, sendo possível encontra-la em duas formas: pistola e
rifle. A pistola Crisaller tem potência máxima de 25 PWs 1, enquanto o
rifle Crisaller pode chegar aos 100 PWs.
Elet r ola se r H e n e vu l - Eletrolasers são armas de feixe ionizantes
que descarregam eletricidade. Têm efetividade dobrada em locais
úmidos, mas em atmosferas mais rarefeitas ou secas, não têm a
mesma utilidade. São boas para missões de captura e também
existem nas versões pistola e rifle.
1
AM é a uma unidade de medida usada em Caracówl para definir o quão eficiente é uma blindagem.
No caso, 1 AM corresponde a 1 tijolo. PW é a potência que uma arma deve ter para destruir 1 AM de
blindagem. Se uma arma possui 5 AM, é porque com um tiro ela é capaz de destruir 5 tijolos
enfileirados.
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O Planeta Caracówl e a ÔNUC:
Caracoleses e humanos criaram a ÔNUC, uma organização
política e militar que deveria garantir a segurança de todos os
habitantes de Caracówl, dentro e fora de seu planeta. Séculos
depois de os humanos terem ido morar em Caracówl, superado o
trauma pelo acidente que os separou de seu planeta-natal, eles
passaram a colaborar com os caracoleses, para que juntos
pudessem desbravar o espaço. A tecnologia de Dobra Espacial, a
mesma que causou o acidente que levou os humanos para lá, foi
exaustivamente testada, e agora, com total segurança, os
caracoleses começaram a explorar o resto da galáxia.
Caracówl
Diâmetro: 12200km Densidade: 4,75
Gravidade: 0,82 G
Tipo: rochoso
Temp. eq. média: 43º
Pressão: 0,87 atm
Composição atm: 66% nitrogênio, 30% oxigênio
Terrenos: 30%
urbano, 40% cidades arborizadas , 5% savanas, 10% florestas
tropicais
Rotação: 25 h
Sa t é lit e s ( lu a s ) : 7
População: 55 bilhões
Línguas: Akina, Caracolês, Marronês, Português, Inglês e Espanhol
Religiões: Ackysoísmo, Caracòwlismo, Cristianismo e crenças tribais Países: 112
Cidades: 581.013 Organização Política Reguladora: ÔNUC
Líder: Yul loi z Luy lkow (Presidente)
Moeda: Sèic Caracwu
A palavra caracolês normalmente é usada para se referir aos indivíduos da espécie nativa de
Caracówl. Algumas vezes, essa palavra também pode ser usada para identificar os humanos nascidos no
planeta.
Os seres da espécie caracolesa evoluíram de peixes e mamíferos aquáticos, e até hoje eles
conservam algumas dessas características, mas ao longo de sua evolução, foram ganhando um aspecto
humanóide.
Não são muito comuns os casamentos entre humanos e caracoleses, mas de vez em quando eles
acontecem.O único inconveniente disso é que é praticamente impossível um caracolês ter um filho com
uma humana de modo natural.
A espécie caracolesa é dividida em 12 raças: amarela, vermelha, cinza, cinza-das-ilhas, sanid,
goiya lpa, sheikíri, vulwu, marrom, rosada, amarela-do-leste e azul.
Características Físicas dos Caracoleses:
Altura entre 1, 65 e 1,85 (homens) e 1,60 e 1,75 m (mulheres); Corpo forte, mas sem ser gordo ou
musculoso; Praticamente desprovidos de pêlos na maior parte do corpo; Entre 0,9 % e 14 % de escamas na
pele; Volume do crânio de 1500 m cúbicos, um pouco maior que o do humano atrás, mas disfarçado pelo
cabelo; Rosto levemente mais largo que o do humano, com a cabeça quase sempre arredondada; Pescoço
curto; Cabelo sempre muito liso, com fios grossos; na maioria dos povos caracoleses, os homens têm o
costume de corta-lo em estilo asa-delta; Testa um pouco menor que a do humano; Dentes pequenos, todos
molares e pouco afiados; Língua igual à humana, porém azulada; Pernas grossas e não muito compridas;
Olhos levemente puxados, variando para mais ou para menos de acordo com a raça, nas cores vermelho,
amarelo, verde, azul-escuro e preto; Expectativa de vida em torno de 200 anos.
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Calendário Caracolês
Um dia em Caracówl tem
exatas
25
horas,
sendo
chamado
de
ano
em
Caracówl
(uleujik
em
Caracolês) o período de 350
dias caracoleses.Vale lembrar
que o uleujik é apenas uma
medida de tempo usada para
medir idade de pessoas e
épocas, que nada tem a ver
com a translação do planeta. A
semana
adotada
pelos
caracoleses
também
é
diferente
da
tradicional
humana.São dez dias por
semana, sendo 6 dias úteis,
um dia de meio expediente e
três dias de folga.
O ano é dividido em 10 meses,
cada um com 35 dias.Os
meses
de
número
ímpar
começam
sempre num Domingo, e os
meses
de
número
par
começam sempre numa sextafeira, sendo assim por todos os
anos.
Hierarquia Militar:
Nas Forças Armadas Caracolesas (países humanos de Caracówl não contam), há sete postos: Incobryidi
(que equivaleria a um general), Bryidjasf, Bryi-Lkasfi, Lurobryidi, Ikrobryidi, Tuirkbryidi e Bryidi(que
equivaleria a um soldado). Em nenhum país de Caracówl o alistamento militar é obrigatório, nem mesmo
em épocas de guerra.Normalmente, o serviço militar é encarado como uma profissão como as outras, onde
a pessoa deve entrar numa espécie de universidade militar, fazer um curso(teórico e prático), e quando se
formar ela já sai como soldado. Apenas os governos nacionais e a ÔNUC podem ter faculdades militares,
e o acesso a elas é bem difícil, pois depende do contingente que as Forças Armadas vão precisar. Todos os
que passam são aproveitados na carreira militar. A ÔNUC chama os melhores nos quadros dos exércitos
nacionais para integrarem o seu próprio exército.
A ÔNUC atualmente apresenta em seu exército três divisões: As tropas normais, em geral
integradas por robôs, divisão esta que atende pela sigla BD. Também há a CIC, Central de Inteligência
Caracolesa, que seve para investigar grandes crimes internacionais, e a OPG, Organização Protetores da
Galáxia. Seus soldados recebem instrução especial para infiltração e combates em outros planetas. A
OPG, de todas essas divisões, é a mais nova, só existe faz 10 anos.
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Apresentação de Lugares em Caracówl
ZIKAM
População2 : 28.154.321.812 (sem contar os robôs)
Capital: Daha
Línguas:Akina, Inglês
Religião: Ackysoísmo
Divisão Administrativa: 52 Estados, 650 Municípios
Chefe de Estado: Imperador Osamu
Sist e m a de vot o: Sacerdote decide quem será
imperador e o primeiro-ministro é escolhido pelo povo.
Porcentagem dos robôs que são cidadãos: 0,00000000000467% (4 de 85,5 trilhões)
o
Zikam é a maior potência de Caracówl. Seu povo foi formado de japoneses e uma minoria de cultura
européia, que passou a constituir uma raça própria em Caracówl. A cultura zikana hoje difere muito de
culturas humanas do passado.Tudo no país se baseia na religião, o Ackysoísmo. São os sacerdotes
ackysoístas que escolhem o futuro imperador entre os mais de 50 filhos que o imperador ainda em gestão
tem (a maioria gerados em laboratório). Essa mesma religião diz que o imperador é o filho do maior deus
de sua cultura.
Nome: Craytèyryi
População*: 486.560.171 (0,03 % robôs cidadãos)
Capital: Craytè
Língua: Caracolês dialeto craytè
Religião: Caracòwlismo
Div. Administrativa: Dividido em 25 Estados e 6341 municípios
Chefe de Estado: Presidente Lulelkòw
Porcentagem dos robôs que são cidadãos:12%
Nome: República Federativa Popular da Guanabara
População*: 18.000.000 (0,07% robôs cidadãos)
Capital: Madúrei
Língua: Português
Religião: Cristianismo, cultos Afro-Caracoleses
Div. Administrativa: Dividido em 13 Estados e 2341 municípios
Chefe de Estado: Presidenta Benedita Maia
Porcentagem dos robôs que são cidadãos: 11,8%
Nome: República de El Pueblo
População*: 19.500.221 (0,025 % robôs cidadãos)
Capital: Zapata
Língua: Espanhol
Religião: Cristianismo
Div. Administrativa: Dividido em 12 Estados e 1243 municípios
Chefe de Estado: Presidente Luís Allende Silva
Porcentagem dos robôs que são cidadãos: 9,11%
Nome: Caracówlish Republic of California
População*: 62.328.000 (0,1% robôs cidadãos)
Capital: San Angeles
Língua: Inglês
Religião: Cristianismo
Div. Administrativa: Dividido em 25 Estados e 7069 municípios
Chefe de Estado: Presidente Bill Madison
Porcentagem dos robôs que são cidadãos: 8 %
2
Os robôs podem conquistar cidadanias nacionais, dependendo da lei de cada país. Pela lei de Zikam
isso é mais difícil de acontecer, e lá justamente é onde existe a maior população de robôs inteligentes
do mundo.
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Cronologia: (de acordo com o Calendário Caracolês)
2030
Os humanos haviam formado dois grandes impérios no mesmo quadrante :
Threvam e Zeelish, que competiam entre si. Threvam estava perdendo essa disputa, e o
Império de Zeelish estava se tornando maior, então, para que todos os planetas mais fracos
não acabassem dominados por ele, o imperador de Threvam negociou a criação da Aliança
Galáctica, que controlaria as relações entre os planetas daquele quadrante. Foram incluídos
na aliança Threvam, Zeelish, suas colônias e outros planetas não-dominados.Nessa época,
Caracówl já explorava o espaço próximo, e mantinha boas relações com seu vizinho BCC. É
descoberto um wormhole que ligava o quadrante de Caracówl às proximidades do planeta
Druuuk.
2045 Caracówl e BCC instalam colônias nos satélites de Druuuk.
2046 Zeelish e Threvam chamam Caracówl e BCC para fazer parte da Aliança.
2050
Caracówl decide inscrever uma chapa à presidência da Aliança, com a
proposta de dar mais poder aos planetas menores, e com o objetivo de mais tarde libertar
as colônias de Zeelish e Threvam. Nessa época, começaram as rivalidades entre Caracówl e
os outros dois planetas.
2054 O imperador de Threvam decide adiar as eleições da Aliança. Caracówl e BCC
saem da aliança. O político caracolês Jozé Leandro vai morar em Ela m, planeta de extração
mineral dividido entre Threvam e Zeelish, e lá se casa com a filha de um guerrilheiro morto
pelas tropas da Aliança.
2055
Threvam trai seus aliados zeelishianos, e acusando Zeelish de atrocidades
contra os povos dominados, usa as tropas da Aliança para invadi-lo. Os Zeelishianos acabam
derrotados, mas Caracówl e BCC dão abrigo para seu imperador, para mais tarde obter a
ajuda dos zeelishianos e assim derrotar Threvam, que na época era o planeta mais forte.
2080
Muda a liderança da ÔNUC, e Caracówl passa a dar preferência a fazer
contato com os planetas vizinhos, e não com os do outro quadrante. O plano de derrotar
Threvam é deixado de lado.
2090
Uma nave misteriosa sai de Caracówl sem a autorização da ÔNUC, e
atravessa o wormhole que levava para o outro quadrante. Uma vez lá ela sai do Sistema
Ozzy e não se tem mais notícias dela.
2100 Eduardo I morre em Caracówl.
2110 Um novo imperador surge em Zeelish e retoma o Planeta.Depois, à frente de
um enorme exército, ele vai invadindo novamente todos os planetas que faziam parte do
Império anteriormente.Com sua fúria devastadora, durante mais de 20 anos os zeelishianos
combateram as tropas da Aliança, até que Threvam já não era mais que um planeta fraco,
prestes a ser invadido e arrasado.O novo imperador que surgia dizia ser Eduardo I, o
mesmo que havia fugido a 50 anos atrás, e que segundo os caracoleses morreu já bastante
idoso em 2100. Mas esse novo Eduardo, ao contrário, tinha uma aparência relativamente
jovem e aparentava bastante vigor físico.
2130 Caracówl recebe notícias de abusos cometidos por Zeelish e manda agentes
secretos para verificarem a situação.Um deles acaba preso pelos zeelishianos, mas ele
consegue fugir, levando com ele Trbluzikzay, o líder da resistência do Planeta
Zeelishmoockerr.Trbluzikzay ganha abrigo em Caracówl, que lança um plano para derrotar
Zeelish, sem entrar oficialmente em guerra.Caracówl apóia os guerrilheiros inimigos de
Zeelish, sendo que Trbluzikzay se torna um mito para eles.Os guerrilheiros se tornam uma
pedra no sapato dos zeelishianos, até que o imperador decide mandar que seus soldados
matem Trbluzikzay.Isso era considerado impossível, uma vez que ele estava protegido em
Caracówl, até que...
2149 Ouvem-se rumores de que soldados zeelishianos estavam em Caracówl com
o objetivo de cometer um atentado contra Trbluzikzay, o que foi desmentido pela ÔNUC.
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01- A vida de Sakura na Guanabara
Retirado da Revista Guanabara Esporte, 02/02/2155:
Associação Abzurds
Fundação: 22/02/2150.
Mascote: Zebra de Gráwlin
Cores: verde-claro e preto.
Fundadores: Máik, Léo, Víni, Guto, Carbone, Nando, Gómez, Thiago e Edu.
O Abzur ds, ant es de se t or nar uma gr ande equipe de bat alha de r obôs, er a apenas o nome do t ime
de futsal que disputava o Campeonato do Colégio Natan, em Madúrei. Foi graças a idéia de Máik dos
Sant os, que Sakur a Monan passou ser a gr ande t r einador a que é.
Sakura Monan era uma menina muito bonita, cabelos negros bem lisos e olhos
castanhos bem escuros, pequenos e rasgados. Ela havia nascido em Daha, capital de Zikam,
a mesma terra de seus pais. Sua pele era muito clara, como a de todos de seu povo, e ela
tinha por volta de 1,70 m de altura, com um cheiro inconfundível, porém indescritível no
cabelo, que era muito comprido, passando da cintura. Sakura morava desde os sete anos
com seus pais na República da Guanabara e sua casa ficava no Jardim Paineiras, um bairro
residencial da cidade Madúrei.
Sakura era um tanto tímida, e ainda não tinha se acostumado muito bem à vida
naquele país. Por vir de um lugar onde a educação era mais rígida, ela estava vários anos
adiantada na escola.Com 12 anos, já cursava o primeiro ano do segundo grau do Colégio
Natan Silva Pereira, ou seja, estudava junto com pessoas alguns anos mais velhas que ela.
Laísa, uma garota branca, de olhos castanhos, cabelo castanho escuro e liso, que ia até um
pouco abaixo do ombro; e Raiane, uma garota morena, de cabelo preto encaracolado na
altura do ombro e olhos castanhos, eram as únicas amigas que Sakura tinha desde que foi
morar naquele país. Elas sempre estudaram na mesma escola que ela, exatamente na
mesma turma, e sempre se falavam depois da aula ou nos finais de semana.Mas
ultimamente, Sakura havia notado que as duas andavam meio distantes. Aquilo estava
deixando a garota um pouco chateada, mas ela logo resolveu esquecer e fazer algo.
Era uma nona-feira, dia 34 do mês 8, do ano de 2154, dia de final do Campeonato
Estadual de Batalhas de Robôs, e por volta das 14 horas, Sakura, como sempre, foi assistir
às partidas, sua maior diversão.O Campeonato Estadual chegava agora ao seu fim, e ela não
havia perdido um só dia de competição.
Montada em seu vikliconch, uma espécie de patinete voador, movido a baterias
eletromagnéticas, Sakura chegou ao local onde aconteceria a disputa. Era a sede do Madúrei
Tênis Clube, um prédio imponente, com o teto em formato arredondado, mais parecendo
uma mesquita, mas todo pintado em vermelho, azul e verde. Mas nada se comparado aos
prédios gigantescos de seu país. Havia uma relativa calma em Madurei que fazia Sakura
sentir falta de Zikam e suas ruas estreitas, com carros e mais carros voadores, movidos por
suas turbinas eletromagnéticas e guiados por satélites.
Em Madúrei havia só algumas poucas zonas onde os carros podiam voar, pois numa
cidade onde os prédios eram menores, que não possuía um sistema de teleguiagem de
carros, isso se tornaria um pouco perigoso. Madúrei era grande, mas para Sakura, vinda do
país das gigalópoles , aquela cidade parecia até um pouco rural.
Chegando onde queria, Sakura olhou para seu braço e conferiu o horário em seu
Seysu3, que ela não tirava do pulso para nada, nem mesmo para dormir e às vezes nem
para tomar banho.
3
Ver página 164.
10
Acho que já vai começar, cheguei bem na hora!
ela pensava, enquanto ia até
o estacionamento para guardar o seu vikliconch. Mas ao chegar lá, teve uma ingrata
surpresa. Lá estavam um grupo de quatro colegas de escola seus, além de quatro robôs: um
Pit-Viwt, um GRU 19 L, um Zóti e um Beebot. Uma equipe de batalhas de robôs que os
possuísse seria considerada muito forte. E era o caso da Equipe Suellina, que era formada
pelo treinador Charles, pela auxiliar Suellina, pelo mecânico Leonardo e pelo programador
Ramirez. Sakura, apesar de conhece-los bem, não era amiga de nenhum deles, além de
sentir uma aversão em especial por Suellina.
Suellina Farias era uma garota que apesar de não ser tão bonita, e muito menos tão
inteligente quanto Sakura, era popular como ninguém no Colégio Natan. Era repleta de
admiradores, sendo o principal deles o treinador Charles, que montou uma equipe e deu a
ela o nome da garota.E ainda por cima colocou Suellina como sua auxiliar, mesmo ela não
gostando do esporte.Realmente, das batalhas ela não gostava, mas adorava a fama que
aquilo poderia lhe trazer. Sakura tinha realmente motivos para não gostar de Suellina, pois
esta era uma garota arrogante, metida, que gostava de humilhar aqueles que fossem
diferentes.E seus admiradores, meio que pressionados por ela, acabavam fazendo o
mesmo.Sakura era sempre alvo de provocações, por isso queria estar sempre distante
daquele grupo.
-Olha lá, vejam quem está aqui! Quer dizer que ela gosta de batalhas de robôs
disse Charles num tom meio debochado, ao avistar Sakura.A garota fez de conta que não
era com ela, continuou andando por mais alguns metros, até ouvir a voz de Suellina.
-É uma idiota mesmo! Ainda finge que não é com ela! Tinha que ser essa lunática.
-Afinal, o que eu fiz para vocês ? Sakura virou-se, inconformada.
-O que você fez ? Nasceu! Você é toda errada, garota, se enxerga...Olha essa sua
roupinha, por acaso você não troca de roupa quando acorda não ? Sakura estava vestida
com uma espécie de kimono de malha que lembrava um pouco até mesmo um vestido,
estilo de roupa que era moda em Zikam, mas que Suellina adorava dizer que era um pijama.
-Isso são roupas tradicionais do meu país!
-Do seu país...Tinha que ser! Bom, mas pelo o menos, nem todos os zikanos são
lerdos iguais a você! Eu não agüentaria saber que respiro o mesmo ar que bilhões de
idiotas!
Sakura virou-se mais uma vez. Queria ir logo para as arquibancadas do Madúrei
Tênis Clube, para aguardar o início das finais do torneio. Jurou para si mesma que iria
ignorar tudo o que dissessem, mas não conseguia.
-Hei, Sakura, espere a gente! gritou Charles Vamos te fazer companhia hoje.Você
gosta de batalhas de robôs, não é ? Então vai adorar saber que no ano que vem nós
disputaremos esse torneio também!
-O que ?
Sakura não pôde acreditar, virando-se para trás mais uma vez, vendo
Suellina e seus amigos se aproximarem cada vez mais delas.Charles então concluiu.
-Semana passada foi a final do Campeonato Estadual da Segunda Divisão, e nós
vencemos! No ano que vem, estaremos todos os dias aqui, para alegrar as suas tardes de
nona-feira!
-Ah, não pode ser... Sakura levou as mãos a testa.
-Pode acreditar! disse Suellina, mostrando-lhe uma medalha que comprovava o que
Charles dizia.
Deve estar se roendo de inveja agora porque eu sim sou integrante da
melhor equipe e você não!
-Pra mim chega! Eu vou embora! Gosto muito de batalhas de robôs mesmo, mas não
vou ficar aqui ouvindo você me insultar! Deve ter algo melhor para se fazer nessa cidade!
ela disse, voltando a passos largos até seu vikliconch para deixar o local, enquanto Suellina
morria de rir.
Enquanto isso, num outro ponto da cidade, numa pracinha que ficava próximo ao
Colégio Natan, no Jardim Paineiras, os garotos integrantes do Abzurds faziam seu treino
coletivo numa quadra esportiva que ficava no meio da praça, todos vestidos com seus
uniformes.
11
A qualidade técnica do time era realmente muito baixa, não era à toa que aquele era
um dos piores times do Campeonato Escolar. Mas o que mais o estragava era a falta de um
sistema tático eficiente. Do lado de fora, sentado num banco que ficava sob algumas
árvores, o técnico Gómez, quebrava a cabeça pensando em bolar uma tática para seu time.
Ao seu lado, estavam duas garotas: Bibi e Laísa. A primeira era negra, tinha o cabelo
preto encaracolado na altura do ombro, 1,59 m de altura e tinha 15 anos. Já havia sido
namorada de Léo e Máik, e ainda fazia questão de ter um ótimo relacionamento de amizade
com os dois hoje, sendo a maior torcedora do time. Ela fazia questão de acompanhar todos
os jogos e treinos. Já Laísa, apesar de estudar no mesmo colégio que eles, tinha conhecido
os jogadores do Abzurds a pouco tempo, e apenas estava lá por causa de Máik, com quem
ela estava saindo a cerca de um mês.
- Hei, Laísa disse Gómez E aquela sua amiga, a Raiane, onde está ?
- Eu não sei, ela me disse que viria hoje ver o treino, mas até agora...
- Gómez... Não é por nada não, mas...O nosso time tá uma droga!
- É, eu sei, Bibi! Mas você sabe que eu não sou técnico de verdade, não entendo de
posicionamento, nem nada disso. Estou aqui só porque eu sou ruim demais pra estar lá
jogando!
disse o garoto, meio desanimado. De repente, viu uma garota montada em um
vikliconch se aproximar velozmente de onde eles estavam. Era Raiane, que logo estacionou
o seu transporte em volta da quadra e foi falar com eles. Ela trazia em suas mãos uma
caixinha transparente com um pequeno disco dentro, e logo a entregou a Gómez.
-O que é isso, Raiane ?
-É aquilo que eu tinha te prometido!
disse a garota, sorrindo
Isso vai ajudar o
time de vocês a vencer! Veja com calma, quando chegar em casa, Gómez! Garanto que
vocês vão ganhar as próximas partidas.
Laísa, Bibi e o próprio Gómez ficaram sem entender nada, mas Raiane resolveu
explicar melhor.
-Gómez, eu e a Laísa temos uma amiga que se chama Sakura. Faz um tempo que a
gente não se fala direito, mas a alguns dias, eu levei pra ela aquelas filmagens que vocês
fizeram dos últimos jogos do Abzurds. Ela olhou tudo e criou um esquema tático pra vocês.
Todas as explicações dela estão gravadas nesse MD4 que eu te dei.Quando chegar em casa,
vê isso no seu computador e depois é só você passar pro time a tática criada por ela.
-Espera aí, Raiane, essa garota aí entende alguma coisa de futsal ?
-Ah, é uma longa história...Você conhece aquele jogo FIFC Manager 2150 ?
-Sim, conheço. É um jogo pra computador onde você é uma espécie de presidentetreinador de um time, onde além de administrar o dinheiro do time, a pessoa também tem
que fazer contratações, criar táticas de jogo... Mas eu desisti de jogar. Aliás aquele jogo foi
um fracasso de vendas, porque ele é muito difícil! O realismo dele é muito grande, e daquele
jeito só um técnico de verdade venceria.
-Pois é, só que essa minha amiga Sakura é tão viciada em jogos de computador que
conseguiu ser campeã mundial nesse jogo na categoria Futsal.
-Puxa, então ela deve gostar muito de futsal.
-Pior é que não, ela só gosta de batalhas de robôs.Mas quando se trata de jogos
eletrônicos, ela é insuperável! O jogo que ela mais gosta é o Universal Bat t le Bot s, nesse aí
não há ninguém que ganhe dela!
Gómez então pegou o MD, e prometeu que daria uma olhada.Na mesma hora
encerrou o treino e correu para casa para analisar o conteúdo. Chegou então a segundafeira, dia 2/9. As aulas haviam terminado, e Sakura se preparava para deixar o Colégio
Natan, já montando em seu vikliconch, quando novamente encontrou Suellina na sua frente.
-E aí, garotinha rejeitada ?
-Me deixe em paz, Suellina! Deixe de ser inconveniente!
- Você é uma idiota mesmo, tem inveja de mim, só porque eu sou linda, gostosa,
maravilhosa e tenho muitos amigos e todos os garotos caem aos meus pés!
ela insistia,
cada vez mais arrogante Você tem inveja porque ninguém liga pra você!
4
Micro disk, disco de gravação, parecido com um CD, mas em tamanho bem menor, pode gravar
milhares de vezes o conteúdo de um DVD.
12
-Hei, Sakura! ela ouviu então duas vozes de jogadores do Abzurds, vindo do outro
lado da rua. Eles vieram falar com ela, praticamente ignorando a presença de Suellina.
-Você é Sakura Monan, não é ? Eu sou o Léo, e esse aqui é o Máik! Olha só, nós
queremos falar uma coisa muito importante com você, então não vai embora! Espera mais
um pouco e encontra a gente daqui a uns 10 minutos, lá na Cleide s ele apontou para uma
velha lanchonete que ficava em frente à escola.Um letreiro caído, aspecto de um autêntico
buteco , mas dizia-se que lá era feito o melhor hambúrguer da região.
Léo era moreno, tinha olhos castanhos e o cabelo preto curto. Também tinha 15
anos, assim como Máik e Bibi. Usava sempre camiseta de malha, bermuda ou calça de plastjeans, e alguns cordões por baixo da camisa, sendo um deles prateado e muito brilhante.
Mas naquele dia estava com o uniforme do Colégio Natan, além de um boné. Já Máik era
moreno, de cabelo asa-delta, olho levemente puxado característico de descendente de
indígenas e tinha 1,72 de altura. Normalmente costumava se vestir com um visual misto de
rapper de Califórnia com jogador de futebol da Guanabara, embora também estivesse
naquele momento com a roupa de sua escola.
-Está bem!
respondeu Sakura, deixando Suellina com a cara no chão. Ela então
virou-se e procurou sair de fininho.Sakura pensou ainda em perguntar sobre o que mesmo
ela dizia, mas preferiu deixar pra lá.
Então ela fez como os garotos haviam pedido. Foi até a lanchonete Cleide s e sentouse em volta de uma mesa. Esperou alguns minutos, até que de repente apareceram Máik,
Léo e Bibi. Eles todos sentaram-se à mesa também.
-E aí, Sakura, tudo bem ? disse Máik, como se a conhecesse a muito tempo.
-O que queriam falar comigo ? ela quis ir direto ao assunto.
-Espera só mais um instante! Só estou esperando mais um amigo nosso, o Guto!
Alguns instantes depois, Guto entrou no estabelecimento também, acompanhado de
um robô. Sua voz era metálica, e sua aparência era de impor respeito. Ele era bem alto,
tinha mais de 2 metros de altura. Braços e pernas fortes, e sua face era feita para lembrar
um pássaro.Possuía um bico de metal totalmente dourado, e o resto de seu corpo era meio
vermelho.Na cabeça haviam alguns fiapos, colocados por Guto para lembrar penas, e seus
olhos eram realmente parecidos com olhos de pássaro.
-Amigos, esse é o Viwtóitar! Eu mesmo o criei! disse Guto orgulhoso.
Tudo bem, já que estamos aqui, podemos começar a reunião agora! Sakura, você
costuma assistir ao Campeonato Estadual de Batalhas de Robôs ?
-Sim, Máik! É uma pena que esse ano o torneio tenha acabado, mas...
-Já jogou Universal Battle Bots ?
-Já sim! Jogo só por não ter mais nada pra fazer, porque já zerei esse jogo muitas
vezes!
ela disse, o que deixou Máik mais confiante ainda no que estava fazendo, pois
Battle Bots era um jogo considerado muito difícil.Os outros adolescentes observavam
curiosos a conversa dos dois.
-Bom, Sakura, eu soube que você não gosta muito de futebol, nem de futsal, nem de
nenhum esporte do tipo. Mas eu soube pelo Gómez que foi você quem criou a nossa tática
de jogo.
-Eu não gosto de futsal, mas aprendi um pouco do esporte graças ao FIFC Soccer.
-Um pouco ? Você praticamente se tornou uma técnica só jogando vídeo-game!
Graças as suas dicas, nós conseguimos vencer todos os jogos de sábado.Terminamos o
Torneio Escolar em 5º lugar. Foi nossa melhor colocação até hoje! Agora, eu
imagino como você não seria uma boa treinadora de robôs, já que também deve ter
aprendido muito sobre batalhas de robôs com jogos de vídeo-game e anos assistindo as
partidas todo final de semana.Será que isso nunca passou pela sua cabeça ?
-Eu já pensei nisso sim, mas...Sabe, os robôs ainda são caros.Eu não tenho dinheiro
pra comprar um, então, me contento com os virtuais mesmo.Além do mais, uma equipe não
é só o treinador, também precisaria de um mecânico e um programador, no mínimo, e se
possível um auxiliar também!
13
-Então, Sakura, se é por isso, seus problemas acabaram! Está vendo aqui o nosso
amigo Guto ? Esse robô Viwtói-não-sei-o-que que está aí, bom, foi o próprio Guto quem
construiu! Com peças velhas, ele fez um robô perfeito! E foi ele que fez a maior parte da
programação do robô também! Ou seja, nossa equipe já tem o mecânico e o programador,
numa só pessoa! Só falta agora a treinadora!
-Eu não ia saber comandar robôs numa batalha, nem criar táticas de luta, mas acho
que você é a pessoa certa pra isso! disse Guto.
-Eu ? Sakura ficou meio surpresa com o convite.
-E então ? - perguntou Léo Aceita ser a treinadora da nossa equipe ?
-Eu, eu...Puxa, eu nem sei o que dizer! É claro!
-Então está certo, o Abzurds acaba de criar seu departamento de batalhas de robôs!
-Mas espere, Máik! As equipes geralmente têm quatro robôs cada uma.Nós só temos
um! Vamos entrar numa grande desvantagem!
-Nem tanto, Sakura! Se você for tão eficiente no esporte que você gosta quanto foi
naquele que você não gosta... Vamos comprar só mais um robô que já estará bom! Eu já
falei com os nossos amigos. Cada um vai dar uma parte do dinheiro, e assim nós
compramos um robô novo. Com dois robôs, acho que vocês dois se garantem! Vocês entram
com o seu talento, e nós com a verba. Podemos ser os seus empresários!
Máik sonhava
alto, com seu estilo empreendedor.
Todos aprovaram a idéia, com exceção de Viwtóitar. O robô não gostou da parte de
ter um companheiro na equipe, sentiu um pouco de ciúmes. Era interessante para alguns
ver uma máquina com sentimentos dessa natureza, mas no entanto ele não fez objeção. Ele
era só o robô combatente, sabia que a decisão não era sua, e por mais que quisesse ser o
único robô da equipe, sabia também que não seria capaz de vencer sozinho.
Então Máik mostrou a todos uma folha de papel, com um anúncio que ele tinha
achado na Enterwave, a grande rede de computadores que interliga Caracówl e alguns planetas
vizinhos.
Dia 5/ 10 - Torneio de Bat alhas de Robôs do Shopping Madúrei
equipe! O prim eiro lugar ganha 15.000 Sèic Caracwus .
inscreva j á a sua
-Olhem, 15000 SC$! 50 % vão pra Sakura e pro Guto, e os outros 50% vão pro time,
está certo ? Depois de amanhã, vamos comprar o outro robô. disse Máik.Todos mais uma
vez concordaram, e então a equipe ficou toda definida.Era algo arriscado, se Sakura e Guto
não vencessem o torneio, todos os outros levariam prejuízo, mas eles realmente confiavam
no que estavam fazendo.
Dois dias depois, com tudo combinado, Léo, Bibi e Máik foram novamente ao
Shopping Madúrei. Mesmo eles estando ainda no mês 9, naquela semana já tinha sido
armada uma enorme decoração de Natal. Sinos, árvores, tudo pra chamar a atenção. Na
praça central do Shopping, havia um robô imitação de duende, que falava com várias
criancinhas sentadas ao redor dele.
-Crianças, agora com vocês, direto das montanhas de Blâni, o Papai Noel!
-Row, Row, Row !!! Feliz Natal, crianças
apareceu do nada um cara vestido de
Papai Noel. Ou melhor, tentava estar vestido de Papai Noel, porque a barba era muito mal
feita, a manga da camisa curta demais, mas enfim, todas as criancinhas acreditaram que
era o próprio.
Ao ver aquela figura, Bibi começou a rir e debochar dele, mas como ela não era nem
um pouco discreta, o sujeito ouviu e reclamou.
-Hei, onde está o seu espírito de Natal, garota ? Quer sentar no colo do Papai Noel ?
-Não, ih, sai fora...
-A gente só veio aqui procurar um robô. disse Léo.
-Ah, sim, não querem comprar esse aqui não ? disse o Noel, apontando para o seu
ajudante.
-Não, tem que ser um próprio pra batalhas.
-Ah sim...Por que vocês não dão uma passada lá no subsolo 4. Lá está acontecendo
uma feira sobre robôs.Tem uns bem em conta lá.
14
-É, vamos dar uma passada lá então disse Máik Valeu Noel!
-Valeu, pessoal. E um Feliz Natal pra vocês! Row, row, row!
Eles acharam a tal feira, mas era um lugar muito escondido, em meio àquele
shopping enorme. Se não fosse a dica, talvez nunca chegassem lá... Mesmo assim, os
preços não eram tão em conta assim. Rodaram por horas, mas não encontraram nenhum
robô decente por um preço bom. Já tinham até se arrependido de não terem levado o robôduende mesmo, quando com a feira quase acabando, eles viram um vendedor com um
G.R.U. 18 L. Era um robô de médio porte, por apenas SC$ 3800.
Eles poderiam até usar o serviço de entrega do vendedor, mas queriam tê-lo o mais
rápido possível, por isso, pegaram um táxi na porta do Shopping que os levou até a porta da
casa de Máik. Lá os três soltaram, pagaram o motorista e subiram de elevador até o quinto
andar de um prédio, com uma enorme caixa em suas mãos.
Léo e Bibi deixaram a caixa no apartamento de Máik com ele, e foram para suas
casas, pois já eram lá pelas 23 H.
-Valeu, galera.Vejo vocês e o resto da equipe na escola amanhã. Querem o dinheiro
do táxi pra irem pra casa ?
-Não precisa. respondeu Bibi As nossas casas são aqui perto também.Tchau!
-Valeu!
Máik não conseguia dormir direito naquela noite. Apenas pensava no robô que ele e
seus amigos haviam comprado para Sakura. Depois de rolar na cama por cerca de uma
hora, lá pelas 24:30 ele se levantou, para beber um copo d água. Nisso, deu uma passada
rápida na sala, e olhou para a caixa onde o robô havia vindo. Na verdade, ele não queria
liga-lo naquela hora. Pretendia deixar para a própria Sakura, que seria sua treinadora fazer
isso, mas não conseguiu resistir por muito tempo.
No mesmo instante em que Máik abriu a caixa, o robô ligou sozinho, e deu um
enorme salto para fora. De susto, o garoto correu pra trás, e o robô caiu bem à sua frente.
Ele era baixo, com a cabeça arredondada, embutida no corpo, dois braços longos e elásticos,
feitos de metal por dentro, mas revestidos com borracha por fora.No final de seu corpo
havia rodinhas, que ele usava pra se movimentar, mas também possuía pernas que ficavam
pra dentro de seu corpo e ele só usava pra dar saltos como aquele. Onde seria sua barriga,
havia uma tela de cristal, que podia ser protegida por uma capa de metal, ideal pra quando
ele estivesse em combate. Na sua cabeça, onde seria a boca numa pessoa, havia também
uma abertura, de onde saíam sons produzidos por uma caixa de som de última geração.Sem
dúvida, era um robô muito resistente. Restava saber se era também habilidoso nas lutas.
-Olá, eu sou GRU 18 L, fabricado pela Jeslar Produtos Eletrônicos S.A. Meu número
série é 07378 e fui programado para ser um robô guerreiro e servir ao meu treinador. Qual
o seu nome ?
-Máik disse ele, meio espantado.
-Olá, mestre Máik.Vamos começar o treinamento agora ?
-Não, não, eu não sou o seu mestre! Sua treinadora vai ser a Sakura.Vou te
apresenta-la amanhã, na escola.
-Está bem.E o que eu faço agora ?
-Você eu não sei, mas eu vou voltar a dormir. Faça o mesmo.
-Mas robôs não dormem, eles entram em modo stand-by.
-Então faz isso.Ou fica conhecendo a casa, vai assistir TV, você é quem sabe. disse
Máik para o robô, antes de voltar para o seu quarto, já com sua curiosidade satisfeita.
No dia seguinte, logo que a aula terminou, Léo e Bibi esperaram Sakura sair, e a
chamaram para que fosse com eles até a casa do Lublizo.
-Para que devo ir até lá com vocês ?
-O treinamento começa hoje! O Guto e o Máik já foram pra lá, e nós só estávamos
esperando você.
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-Todo mundo vai pra lá, todos os jogadores do Abzurds, e as suas amigas, Laísa e
Raiane também vão estar lá pra ajudar.
disse Léo.Vendo que Sakura ainda continuava
meio hesitante, ele arriscou O Máik já levou pra lá o novo robô.O seu robô!
-Meu robô os olhos da garota brilharam Está bem, vamos pra lá então!
Chegando onde Lublizo morava, num condomínio próximo à escola, eles já
encontraram todos os seus amigos, prontos para começarem. Na porta de sua casa, estava
Lublizo, que logo cumprimentou a treinadora.
-Olá, eu sou Lublizo Galdeym! disse o garoto, que era mais novo e um pouco mais
baixo que Leandro e Máik, e tinha a mesma idade e altura de Sakura. Lublizo era um
caracolês de raça azul, tinha o cabelo curto asa-delta, olhos azuis.
-Muito prazer, eu sou a Sakura Monan!
-Léo, Bibi... Vamos almoçar então ?
-Claro, mas onde está a sua prima, Lublizo ?
-Mais uma vez, ela não está. Eu queria que ela estivesse um dia aqui e conhecesse
vocês, mas ela ta sempre trabalhando.Nunca tira folga. Mas ela deixou o almoço pronto pra
gente, autêntica culinária craytèyryense. Sabe, até que ela cozinha bem, se não fosse
investigadora, poderia ser chef de cozinha também. Mas vamos, entrem!
Lublizo então entrou para sua casa, e todos o seguiram. Lá dentro, encontraram
todos os outros amigos deles que apoiavam a iniciativa de montar uma equipe. Lá estavam
Thiago, Gómez, Edu, Nando, Carbone e Víni, que até então Sakura só conhecia por vídeos.
Víni era branco, tinha o cabelo castanho claro curto, olhos castanhos e também tinha
12 anos, como Sakura, Lublizo e Guto. É meio calado por natureza, mais reflexivo, mais
calmo que os seus amigos,e bastante observador. Ele morava numa casa que ficava no
mesmo condomínio que Lublizo.
Mas quem mais chamou a atenção de Sakura foi o robô GRU 18 L, que estava junto
de Máik e Laísa. Ao vê-lo, seus olhos brilharam novamente, e ela se dirigiu lentamente até
onde ele estava. Apesar de não ser um robô imponente como o Viwtóitar, ela estava
fascinada.
-GRU 18 L, essa é a Sakura! disse Máik para o robô.
-Olá, eu sou GRU 18 L, fabricado pela Jeslar Produtos Eletrônicos S.A. Meu número
série é 07378 e fui programado para ser um robô guerreiro e servir ao meu treinador.
-Esse é o robô que vocês compraram ?
Sakura perguntou, já sabendo a
resposta.Máik apenas acenou com a cabeça, confirmando aquilo que era óbvio.
-Adorei! Parece um ótimo robô!
-Não tanto como o meu Viwtóitar! reclamou Guto.
-Não vamos começar discutindo agora, não é ? Laísa tentou encerrar o assunto ali.
-Tem razão, Laísa Lublizo a apoiou vamos almoçar agora pra podermos trabalhar
bem depois ele disse, e assim eles fizeram.
Depois de almoçarem, todos foram para uma área aberta do condomínio, e
começaram o treinamento. Lublizo deu atenção especial àquilo, ajudando Guto, e
principalmente a Sakura, em tudo. E assim, todos os dias, eles faziam depois da aula: todos
se reuniam no condomínio onde Víni e Lublizo moravam para ajudar no treinamento. Sakura
ensinava os robôs a melhorarem suas técnicas, e Guto baixava na Enterwave programas
para melhorar o desempenho deles nas lutas. Para testarem se o seu desempenho estava
bom, às vezes Guto também assumia o papel de treinador e comandava Viwtóitar contra
Gru.Sim, Sakura achava complicado falar GRU 18 L, e para simplificar, passou a chamá-lo
apenas de Gru .Na maioria das vezes, dava empate, pois os dois robôs eram muito bons, e
mesmo sendo apenas máquinas, eram programados para simular terem sentimentos
parecidos com os dos seres orgânicos.Os dois tinham uma espécie de orgulho próprio, e não
aceitavam serem derrotados um pelo outro.O início foi difícil, mas mesmo assim, Gru e
Viwtóitar entenderam que faziam parte de uma mesma equipe, e precisavam colaborar um
com o outro.
No último dia antes do torneio, numa das tardes de treino, Sakura estava
descansando embaixo de uma amendoeira, Guto fazia alguns upgrades nos robôs e a
maioria dos outros conversavam um pouco distantes dali.Lublizo então aproximou-se então,
sem que a garota percebesse.
16
-Em que está pensando, Sakura ?
-Nada demais.
-Pode falar, vamos... Você as vezes tem um olhar um pouco triste.
-Bobagem. Só fico triste mesmo é pelos meus pais serem um pouco distantes. Logo
agora que eu estou tendo uma atividade que eu gosto tanto, eles nem estão aí pra me
apoiar, entende...
-Sei bem o que você quer dizer.
-Ah, não sabe não, você só está dizendo para me agradar.
-Não, é sério! insistiu o caracolês Só que no meu caso o problema não é tanto os
meus pais, mas sim a minha prima Luibla.
-Como assim ? - Sakura mostrou-se interessada no assunto.
-Eu e a Luibla sempre fomos muito próximos, ela sempre brincava comigo quando eu
era pequeno. Naquela época ela morava comigo em Craytèyryi. Mas depois ela teve que se
mudar por causa do trabalho. Vive viajando por causa disso.Quando ela disse que ia passar
seis meses aqui em Guanabara, eu pedi pra vir junto. Pensei que nós fossemos ficar mais
tempo juntos, mas...Ela está sempre ocupada no trabalho dela.
-Igualzinho aos meus pais, eles trabalham muito aqui também, é muito difícil
encontra-los em casa, sabe... As vezes eu me sinto tão sozinha... Com você também é
assim ?
-Não, sozinho eu não me sinto, eu falo com a minha família todo dia pela Enterwave,
e depois, já fiz muitos amigos aqui também. Só com a minha prima eu não consigo falar
direito. Mas Sakura, me falaram que você gosta muito de ir ver batalhas de robôs. Eu nunca
vi uma batalha dessas, na minha cidade elas não eram muito populares.Bom, eu acho que
só vou ficar morando aqui até o fim do ano, mas se por acaso eu ficar mais tempo, nós
podíamos ir juntos assistir uma partida dessas.
-É claro.Mas pra que pensar no ano que vem, se agora nós temos a nossa equipe ?
-É verdade.Eu não entendo muito disso, mas prometo que vou tentar aprender tudo,
só pra ajudar você nisso! disse Lublizo.
No meio daquela pequena pausa no treinamento, enquanto estavam se conhecendo,
os dois conversaram muito sobre muitas coisas. Sakura então percebeu que Lublizo era um
pouco como ela. Os dois eram estrangeiros naquele lugar. Cada um vinha de uma cultura
muito diferente. A diferença é que Sakura já morava lá fazia vários anos, e não estava
totalmente adaptada; já Lublizo estava lá a apenas 3 meses, mas muitas vezes, se não
fosse pela cor, pareceria um guanabarense como qualquer outro.
Era mesmo algo único em sua vida conhecer alguém como Lublizo. Em Zikam os
caracoleses não tinha boa fama, eram chamados de preguiçosos, mas não era isso que
Sakura percebia. Em pouco tempo que se conheciam, os dois estavam já simpatizavam
muito um com o outro, já eram grandes amigos.
E assim, finalmente chegou o dia do Torneio do Shopping Madúrei. Um domingo
muito quente, com o Esmýlion brilhando forte e mais verde do que nunca nos céus da
Guanabara. Sakura, Guto, Víni, Léo, Lublizo, Bibi e o próprio Máik, além é claro de Gru e
Viwtóitar, saíram de casa juntos, e juntos chegaram também no Shopping Madúrei.
Uma vez lá, todos foram direto à Arena onde aconteceria o tão esperado torneio.
Como chegaram cedo, o lugar estava vazio, e logo Sakura pôde enxergar nas
arquibancadas, todos aqueles que lhe ajudavam nos treinos da equipe, que estavam lá com
cornetas, bumbos, bandeiras e camisas do time, como uma grande torcida organizada.
- Onde já se viu fazer torcida organizada num torneio de robôs ? disse Máik.
-Está vendo agora! Thiago respondeu enquanto batucava mais uma vez.
Logo, a arquibancada começou a encher, os competidores foram chegando, e a
Equipe Abzurds, formada pela treinadora Sakura, Guto, Léo e Bibi, sendo esses dois últimos
só para completar, teve que ir pra área reservada aos competidores. Uma voz grave, saindo
de caixa de som espalhada por vários lugares então cumprimentou os participantes e os
espectadores, anunciando o início da competição.
17
Em volta da arena do torneio, havia uma arquibancada feita para cerca de 4 mil
pessoas. A arena era em formato elíptico. Com um chão de terra batida, ela possuía 80 m
de comprimento e 20 m de largura. Em seu centro, havia uma plataforma de 30 m de
comprimento, 20 de largura e 1,80 m de altura, que era feita de pedras polidas e tinha o
chão totalmente liso e numa cor entre o branco e o prateado. Os robôs deveriam lutar ali em
cima, e pelas regras do torneio, quem fosse imobilizado, danificado ou derrubado da arena
seria declarado eliminado. Exatamente as mesmas regras do Estadual, que Sakura conhecia
muito bem, mas que também foram muito bem explicadas pelo narrador do torneio antes da
primeira partida começar. Nos cantos opostos da arena, existiam cabines de 5 metros
quadrados, feitas para as equipes ficarem dentro.Do interior dessa cabine, um sistema de
comunicação conectava a treinadora ao robô que estivesse lutando, permitindo assim que
ele recebesse suas instruções.
A equipe Abzurds começou bem o torneio, derrotando os Guerreiros da Zona Oeste, e
todas os outros quatro adversários seguintes, até estar na final. Tudo graças às estratégias
de Sakura, e ao modo como ela ensinou os robôs a lutar. As duas primeiras partidas foram
mais fáceis, pois enfrentaram equipes com apenas dois robôs também. Mas logo viriam
times com até quatro robôs, o que tornaria as batalhas mais complicadas.
- Abzurds! Abzurds! gritavam Víni, Thiago, Gómez e companhia, batendo forte nos
bumbos, agitando as bandeiras e vibrando muito, a cada vitória.
Da área reservada aos competidores, que ficava sob as arquibancadas, Sakura,
Lublizo, Léo, Bibi, Gru e Viwtóitar atravessaram para uma das cabines. Então, de uma das
cabines saiu o robô Gru, e da outra, ocupada pela equipe adversária, saiu um G.R.U. 17 L,
robô de mesmo tipo, porém de um modelo mais velho. Mesmo assim, aparentava ter sido
bastante melhorado, com a colocação de peças e acessórios mais novos.
-E agora... dizia o locutor a partida final entre Ricky Team e Abzurds!
Do outro lado da plataforma, dentro da cabine oposta Ricky, um garoto loiro, de
olhos verdes, cabelo meio espetado e que parecia ter uns 15 anos, comandava a outra
equipe, que contava também com Joana e Fernando, respectivamente a programadora e o
mecânico. Ricky fazia sinais de que Sakura perderia fácil, pois o Ricky Team era o atual TriCampeão daquele torneio, e também havia vencido fácil seus adversários.
A partida começou mais fácil para o Abzurds, pois Viwtóitar derrotou G.R.U. 17L e
Battle Bull, mas acabou caindo diante de Glasney. Em seguida, Glasney foi derrotado por
Gru, mas não sem antes deixar alguns danos no oponente. O Abzurds estava melhor, mas a
desvantagem numérica de robôs parecia estar prejudicando a equipe. Restava apenas um
robô para cada time, mas Ricky ainda podia usar um robô inteiro para a batalha. Ele
mandou o único que restava, talvez fosse o seu robô mais forte que ele guardou para o
final, um Pit-Viwt, robô em forma de cachorro, com garras de metal afiadíssimas, e presas
pontiagudas.
E a luta então começou. O Pit-Viwt atacava sem piedade. Acertou Gru por algumas
vezes, mandando-o a alguns metros de distância, mas o robô de Sakura não desistia. PitViwt atacou de novo, mordendo o braço do oponente.
-Calma, Gru, não se desespera! disse Sakura, pelo rádio. Use o golpe número 32
nele, como nós treinamos!
Graças à brilhante idéia dela, Gru esticou seu braço ao máximo, impulsionou seu
corpo para trás e jogou-o para cima do oponente. Com a outra mão, ele segurou sua cabeça
e usou seus dedos para tampar a sua visão. Mas Ricky insistia em sua estratégia, mandando
seu robô segurar a todo custo o outro braço de Gru.
-Não desista! Se ele continuar fazendo força, vai ficar sem o braço. Continue, Pit!
Mas Ricky não contava com a astúcia de Sakura. Ela mandou que Gru apoiasse seus
pés no chão e segurasse o oponente o mais forte possível, com o braço que estava solto.
Então Gru usou toda a sua força para dar um enorme salto, em direção à parte de fora da
arena. Pit-Viwt foi junto com ele.
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-Essa garota é maluca, o que será que ela quer ?
Parecia uma tática suicida,mas Sakura sabia o que fazia. Os dois robôs caíram fora
da arena, e pela regra do torneio, os dois estariam eliminados. Mas os sensores digitais
instalados no chão constatam que Pit-Viwt tocou o chão primeiro.
O locutor, que também era uma espécie de juiz, tinha um computador conectado aos
sensores e micro-câmeras que existiam em volta da plataforma, e automaticamente soube
do resultado.
-Como Pit-Viwt tocou a arena primeiro, Gru é o vencedor da partida, e o Abzurds é o
campeão do 7º Torneio de Batalhas de Robôs do Shopping Madúrei!
Após ele terminar de dizer isso, foi uma alegria só para Sakura e seus amigos. Ela
ainda estava meio tímida para comemorações exageradas, mas os outros correram para o
meio da arena, pularam, gritaram e batucaram muito.
Na hora da premiação, Ricky cumprimentou Sakura, pois nunca achou que uma
iniciante como ela pudesse vence-lo
-Sabe, garota, você é muito boa mesmo... No bom sentido! A sua estratégia pra me
ganhar foi dez! Eu nunca gostei de perder, mas só poder disputar uma partida com uma
treinadora assim é uma honra!
-Puxa, obrigada, Ricky.
Então, ele, juntamente como resto de sua equipe, pegou seu troféu de segundo
lugar, orgulhoso, mesmo tendo perdido. Sakura ficou mais orgulhosa ainda, e olhando para
Gru e Viwtóitar, dedicou esse título a eles.
-Vocês foram ótimos! disse Sakura, arrancando aplausos da vibrante platéia.
Em meio à todas as brincadeiras e ao clima alegre daquela noite, todos retornaram
para suas casas, muito contentes com a vitória. Ao chegarem em casa, após o torneio, já
quase de madrugada, Sakura e Gru encontraram apenas a avó da garota assistindo no seu
quarto um vídeo na Enterwave.
-Oi, vó, onde estão a minha mãe e o meu pai ?
-Trabalhando.
-Puxa, mas hoje é domingo.E de noite! Pensei que fossem guardar o dia de hoje pra
saírem, ou pra ficarem juntos.
-Ora, minha neta, você conhece bem os seus pais.Sabe muito bem que eles são
fanáticos pelo trabalho. Aliás, como todo bom zikano...
-Eu sou zikana também, sou empenhada nos estudos, mas não chego a esse ponto.
-Mas você vive aqui no meio desses guanabarenses preguiçosos. Mas como foi lá ?
-Nós ganhamos!
-Mas que boa notícia!
ela abraçou sua neta
Se no primeiro torneio você já está
assim, daqui há uns dois anos vai ser a campeã mundial.
-Tomara! Sakura, respondeu, meio sem jeito.
Sakura ficou acordada até tarde, esperando seus pais chegarem para lhes contar a
novidade. Mas eles não deram muita atenção. Deram um parabéns meio frio, um boa
noite e foram dormir. Estavam muito cansados, e não se preocupavam com mais nada.
-Eu pensei que eles fossem ficar felizes...
-Não ligue, Sakura. Você sabe que eles são assim quando estão cansados. E eles
também acham que ser treinador é uma profissão sem futuro, e encaram isso só como uma
brincadeira a avó dela tentava explicar.
-Por que eles pensam assim ? Gru perguntou. Eles não gostam de robôs ?
-Não, Gru, não é nada contra você. Apenas eles preferiam que eu fosse cientista, ou
alguma profissão que precisasse de bastante estudo, que desse status, entende ?
-O grande mal das pessoas é achar que certas profissões são melhores que as outras.
dizia Kaori, com bastante sabedoria - Sakura, jamais deixe que eles interfiram em algo
importante na sua na sua vida. Tanto a sua profissão, como o seu namorado e coisas assim,
é você quem deve escolher.
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-Espere, por que está falando do meu namorado ? Eu nem tenho namorado.
-Foi só um exemplo. Mas não se esqueça que na nossa cultura as pessoas costumam
se casar com 15 anos, e você já tem 12...
-Ainda há muito tempo, muita coisa acontece em 3 anos...
Ela não entendia de onde sua avó tinha tirado aquela idéia maluca. Ficou muito tempo
pensando sobre aquilo, antes de ir dormir.
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02
O Navio Saint Anna
Lublizo e Víni chegaram juntos em suas casas, que eram vizinhas uma à outra. Já
bastante cansados depois de muito comemorarem a vitória, eles se despediram e cada um
entrou na sua casa. Lublizo, dentro de sua casa, encontrou o lugar totalmente escuro, como
sempre acontecia, pois sua prima chegava em casa tarde todas as noites. Porém em seu
quarto, a luz estava acesa, o que o deixou intrigado.De lá vinha uma música muito alta, em
um ritmo conhecido como Kraimbu5 , cantado no dialeto Liníingj.
Lublizo não entendia nada daquilo, preferia as músicas naturais de seu país, ou até
mesmo as músicas guanabarenses, mas sabia que quem gostava de ouvir aquele tipo de
música era Luibla.
Ao chegar em seu quarto, Lublizo viu Luibla, deitada em sua cama, vestida com uma
dwulf, espécie de bustiê de um tecido macio, com dois desenhos imitando enormes olhos de
animais, duas grossas alças e que tapava toda as costas, mas deixava a barriga à mostra e
também usava um calção de capim desfiado, vestimenta típica do povo Il lhuano. Em seu
pulso ela também usava uma espécie de seysu, como o de Sakura, porém de uma
tecnologia inferior, de design quadrado e tamanho maior. Não costumava usar ele sempre
como Sakura fazia, normalmente levava-o preso ao pulso apenas quando estava em horário
de trabalho, mas naquele dia ela havia esquecido de tira-lo. Suas pernas estavam
levantadas e ela se encontrava distraída com o som da banda Kraimburugútzis. Luibla
Dal Lurik era uma caracolesa de raça azul, nativa de Craytèyryi, tinha olhos levemente
puxados e muito brilhantes, azuis como os de seu primo, e de quase todos os de sua raça.
Tinha o cabelo bem liso, também azul, um pouco abaixo do ombro, e 1,68 m de altura.
-Luibla ? no que Lublizo apareceu na porta de seu quarto, sua prima se assustou e
levantou-se rapidamente. Parecia meio desnorteada.
-Ah, é você, Lublizo ? Já estava até meio preocupada, você todo dia chega em casa
bem antes de mim!
-É que hoje eu fui ver a final do torneio de batalhas de robôs do Shopping Madúrei.
-E desde quando você gosta disso ?
-Desde que os meus amigos inscreveram uma equipe nesse torneio, e colocaram a
Sakura para ser a treinadora.
- A Sakura ? Ela é treinadora ?
perguntou Luibla. Pessoalmente as duas não se
conheciam, mas a caracolesa já ouvira Lublizo comentar muito sobre ela.
-É treinadora sim, e uma das melhores. Ela começou a pouco tempo, acho que
menos de um mês, e já venceu o primeiro torneio que disputou!
falava Lublizo,
empolgado, mas percebia que sua prima parecia incomodada com alguma coisa - Luibla, o
que está acontecendo ? Nós sempre fomos tão próximos, mas ultimamente nós quase não
nos vemos mais. Você fica tanto tempo trabalhando que...
-São os caracuzos, Lublizo! Eles é que estão fazendo isso comigo!
Luibla deu um
leve soco na cama, demonstrando um desapontamento em relação à sua própria atitude.
Mas a simples menção da palavra caracuzos foi suficiente para assustar Lublizo e fazer
com que ele compreendesse a gravidade da situação.
A Caracuza era uma terrível organização criminosa internacional conhecida como a
máfia caracolesa . O objetivo dessa máfia não era só ganhar muito dinheiro com seus
crimes. Seus integrantes também tinham interesses políticos. Queriam derrubar a ÔNUC e
dominar o mundo. Queriam desacreditar essa instituição, e fazer com que Caracówl ficasse
sem um comando forte, para que então eles pudessem tomar o poder.A ÔNUC, é claro,
tinha que responder à altura, por isso desejava prender todos os criminosos da Caracuza,
para evitar que o pânico se espalhasse pelo mundo.Essa era uma das missões de seus
agentes secretos.
Luibla era uma agente secreta da CIC, a agência de inteligência caracolesa, um ramo
das Forças Armadas Internacionais. Ela sempre foi inteligente e esteve adiantada na escola.
Tinha 22 anos agora, e com apenas 16 havia entrou para a Faculdade de Ciências Militares
5
Ver página 165
sobre música caracolesa.
21
da Universidade Federal de Craytèyru Os., sua cidade-natal. Formou-se com 20 anos, e foi
selecionada para trabalhar na Ônuc. No posto de bryidi, ela foi mandada para sua divisão,
onde foi promovida algum tempo depois por atos de bravura, ao posto de Tuirkbryidi.
-Lublizo, me diz uma coisa, essa Sakura é uma treinadora assim tão boa mesmo ?
Você acha que, se ela pudesse disputar a KVC, ela se sairia bem ?
-KVC ? Hum...Eu não sei, ela é boa treinadora, mas eu não sei se...
-Lublizo, amanhã, chame até aqui a Sakura e os outros integrantes dessa equipe!
-Está bem, mas por que esse seu interesse assim, tão de repente ?
-Amanhã você saberá!
Mesmo nessa época, final de ano, época de festas, Luibla estava numa importante
missão: fazia alguns meses ela recebeu informações de que a Caracuza poderia promover
atentados durante a realização da KVC, a liga mundial de robôs de Caracówl, que começaria
no próximo dia 5, em Bõung-Bõung.
Ela havia também descoberto que no dia 2 do primeiro mês do ano, do porto que
havia próximo a Madúrei, dois agentes Caracuzos embarcariam no Saint Anna, um navio de
luxo para treinadores de robôs, e iriam até Bõung-Bõung, onde tentariam passar pelas
eliminatórias da KVC, entrar na Liga e uma vez lá dentro, seqüestrariam o presidente da
KVC, um alienígena refugiado em Caracówl, chamado Trbluzikzay, que foi quem mais lutou
pelo crescimento das batalhas de robôs no planeta. Luibla tentaria evitar isso a todo custo,
principalmente porque Trbluzikzay era alguém muito estimado pelos oficiais da ÔNUC, pois
era graças ao esporte que ele comandava que eram desenvolvidos os principais modelos de
robôs para guerra usados pelas Forças Armadas. Luibla poderia muito bem avisar sobre o
seqüestro à CIC, e a agência colocaria dezenas de agentes dentro no local da disputa, para
prenderem os caracuzos. Mas ela era orgulhosa, preferia confiar em sua capacidade. Queria
ela mesma estar presente no momento da captura dos criminosos, pois conhecia os
caracuzos como ninguém, sabia como eles sempre escapavam incrivelmente dos policiais, e
com a sua experiência adquirida em tão pouco tempo na sua profissão, Luibla sabia também
que não havia ninguém melhor do que ela para captura-los.
Mas como estar dentro dos bastidores da KVC ? Como estar no local certo, na hora
certa, para evitar o crime ? Eu podia pedir uma licença especial para isso, mas não quero
levantar suspeitas. , era o pensamento dela, que sabia que as informações às vezes
vazavam, e caso os Caracuzos soubessem que ela sabia do plano de seqüestro,
provavelmente tentariam faze-lo de outro jeito, em outra ocasião. Luibla sabia também que
se pedisse essa licença especial, a ÔNUC mandaria outros agentes secretos, alguns de
cargos superiores ao dela, que iriam comandar a operação de um jeito diferente, e
acabariam fazendo algo de errado. Ela tinha que dar um jeito de entrar lá por si mesma,
mas para isso precisava de uma equipe, mas uma equipe em que os integrantes fossem de
confiança, que se classificasse para a KVC, e que a colocasse como acompanhante.Enquanto
eles estivessem disputando a competição, ela estaria por dentro de tudo o que acontecesse,
poderia vigiar de perto todos os caracuzos... E agora, parecia que Luibla tinha finalmente
encontrado essa equipe de confiança.
No dia seguinte, conforme Luibla queria, Sakura, Guto, Léo e Bibi estavam lá na casa
dela, levados por Lublizo. Luibla os recebeu em seu quarto, e mandou que se sentassem em
sua enorme cama. Eles achavam um pouco estranho aquilo de receber os convidados no
quarto, mas era um costume do país dela, para demonstrar proximidade com o visitante.
Luibla então começou a explicar sua história, seu problema com a Caracuza e tudo o mais.
Falou sobre o provável seqüestro que Trbluzikzay sofreria, e mostrou-lhes ainda uma foto do
alienígena, já um tanto idoso, de pele verde, cabeça bastante arredondada, maxilar e olhos
grandes, nariz pequeno e alguns poucos fios de cabelo.
Aquilo tudo parecia um pouco assustador para todos eles no início. Era no mínimo
inusitado que a prima do amigo deles fosse uma agente secreta e estivesse envolvida em
uma conspiração como aquelas. Uma situação um pouco amedrontadora, sem dúvida. Mas
22
um ponto todos eles ficaram sem entender: Como poderiam entrar na KVC, se apenas os
campeões nacionais participavam da competição ?
-Há uma mudança nas regras da KVC esse ano
disse Luibla, deixando até mesmo
Sakura surpresa
Esse ano, algumas federações nacionais de países mais fracos nesse
esporte tiveram problemas com a organização e deixarão de mandar equipes para a Liga.
Então a KVC resolveu criar uma eliminatória onde qualquer um pode inscrever a sua equipe,
e 23 times se classificarão e se juntarão às equipes campeãs nacionais e algumas vicecampeãs também, além dos quatro times mais bem-colocados na última KVC.
-E onde vai ser a KVC desse ano ?
-No mesmo lugar em que ela acontece todo ano, na cidadezinha de Truyblin, em
Bõung-Bõung. Vai começar no dia 6, e vai até o dia 15. Mas as eliminatórias serão um dia
antes
disse Luibla, olhando firmemente para cada um daqueles amigos de seu primo.
Esperou alguns instantes, e como ninguém disse nada, ela resolveu arriscar.
-E então, vocês, equipe Abzurds, me digam: aceitam se inscrever nas eliminatórias
da KVC e me colocar como acompanhante de vocês ?
-Hum...Mas Luibla, só tenho uma dúvida, porque você mesma não compra um robô e
inscreve a sua própria equipe ? Não seria mais fácil ?
-Não, porque por melhor que fosse meu o robô, eu não ia saber treina-lo e perderia
logo nas eliminatórias. E eu como treinadora logo ia ser reconhecida pelos caracuzos, e ia
ser mais difícil investigar. Tenho que fazer tudo de um modo bem calculado.
-Eu não acho que eu tenha chances de me sair bem nessa competição, mas em todo
o caso, eu fico muito honrada em poder lhe ajudar! - disse Sakura.
-Se a Sakura aceita, nós aceitamos também!
Léo completou
Quem sabe nossa
equipe não arranja um patrocinador!
-Muito obrigada a todos! Vocês realmente são planetriotas! - disse Luibla, empolgada.
- Planetriota
repetiu Bibi essa foi boa...
-Quando iremos para lá então ? perguntou Léo.
-No segundo dia do próximo ano. Nesse dia sairá um navio de Porto Banana, que fica
aqui do lado de Madúrei. O famoso Saint Anna! Eu já tenho uma passagem dele, que me foi
dada pela ÔNUC, e posso levar até dez acompanhantes com ela.
-Ou seja, dá pra ir todos os nossos amigos.
-Isso mesmo, Lublizo! Se os pais de vocês deixarem que vocês viajem comigo...
-É claro, quanto a isso não tem problema garantiu Bibi.
-Puxa, nem acredito, vamos conhecer Bõung-Bõung! Só espero que não faça frio.
-Ah, é melhor esperar disse Luibla, bastante satisfeita por ter sua proposta aceita.
Agora era só esperar o tempo passar para poder pôr o seu plano em prática. Enquanto isso,
restava-lhe curtir o seu último mês naquele país. Ela ainda não havia contado a Lublizo, mas
ao final daquele ano, e assim que prendesse os caracuzos Liyba e Malhin nko, sua missão
em Guanabara estaria encerrada, e ela retornaria para sua pátria.
Ela também sabia que Lublizo estava gostando demais da Guanabara, talvez por
causa de Sakura. Então decidiu não estragar o momento de alegria deles, ao saberem sobre
a viagem que fariam juntos nas férias. Contaria isso mais tarde. Naquele momento, ela
decidiu compartilhar com seus mais novos ajudantes alguns de seus documentos. Sem que
eles percebessem, ela foi até seu computador, ligou-o e acionou o projetor de
hologramas.Na sala inteira pode-se ver então imagens em tamanho real de pessoas que
apenas a própria Luibla conhecia.Uma voz saía do computador falando coisas que ninguém,
exceto Lublizo compreenda.Luibla então fez alguns ajustes no computador, e a voz que saía
no Idioma Caracolês, passou a falar em Português, podendo ser compreendida agora por
todos.
Na imagem, apareceram uma caracolesa vermelha, de cabelos vermelhos, com
mechas amareladas, um pouco gordinha, e um homem caracolês, de raça cinza. Eramas
imagens de Líyba e Malhin nko, dois caracuzos procurados em todo mundo,famosos por suas
ações criminosas.
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Por mais assustador que aquilo parecesse, não era nada comparado a alegria em
saberem sobre a viagem. Então, todos foram avisar ao resto do grupo, mas não contaram
nada sobre a investigação que Luibla estava fazendo, apenas disseram que o Abzurds
tentaria uma vaga na KVC. Alguns, como Laísa e Raiane, se animam bastante, já outros,
como Thiago e Gómez nem tanto. Esses disseram que não poderiam ir, pois já tinham
alguma programação para as férias. No fim do dia, Luibla foi conversar com os pais de todos
aqueles que demonstraram interesse em viajar com a equipe, e pediu autorização para levalos com ela. Levar os amigos de seu primo para viajar com ela seria uma forma de
compensar o fato de que Lublizo teria que se separar deles no ano seguinte.
Logo, dia 2 de Altxiibu chegou, o dia da partida do Saint Anna. Luibla e Lublizo saíram
de casa cedo e junto com seu vizinho Víni, foram logo de aero-táxi na direção do porto. Às 8
horas, todos estavam no cais de Porto Banana, cidade vizinha a Madúrei City, de onde o
Saint Anna sairia. Após Luibla, Lublizo e Víni, chegaram lá Bibi, Léo, Máik, Raiane, Laísa e
Sakura, sendo que esta última estava acompanhada dos robôs Gru e Viwtóitar. Cada um
deles, com exceção dos robôs, vinha montado em um vikliconch, veículo que estava na
moda na Guanabara, além de trazerem mochilas que pareciam bem cheias.
-E então, só vocês vieram ? perguntou Luibla.
-É, os outros não quiseram vir Raiane respondeu.
-O Guto me disse que não poderia ir disse Sakura Ele não me disse porque, mas
passou na minha casa hoje cedo e deixou comigo o Viwtóitar!
Então, uma rampa desceu do navio e encostou no cais, autorizando a entrada.
Nome: Saint Anna 06
Tipo: Transatlântico
Altura: 412m
Comprimento: 800m
Largura: 280m
Vel. normal: 45 nós
Peso: 50.000 Ton.
Potência: 5000 cv.
Energia: Reator nuclear
RSI V de 22Mwt.
Capacidade: 30000 pessoas (exceto os marinheiros).
O que possui: sistema de scanner holográfico.
Fabricante: Zoltus Corporation Inc.
País de origem: Zikam
Mesmo num navio antigo, nada faltava em matéria de conforto aos seus ocupantes.
Ao subirem pela rampa e chegarem ao convés, Luibla, Sakura e seus amigos foram
recebidos por um pequeno robô esférico, que carregava em suas mãos um leitor arc. Um a
um, todos tiveram o leitor encostado na palma de uma das mãos. Uma vez tendo seus DNAs
registrados, eles estavam definitivamente contados como passageiros.
-Têm algum objeto estranho a declarar ? - o robô perguntou.
-Sim - disse Luibla, vestida com roupas bem leves e levando às costas uma mochila
amarela. Ela então abriu a mochila e retirou de dentro dela uma Vuytchi Pislutxyi, arma
laser amarela, de pequeno porte, com 22 PWs de potência.
-Luibla, você tem uma arma ? - Laísa ficou boquiaberta, imediatamente se jogando
para junto de Máik.
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Por que está assustada, Laísa ?
a caracolesa perguntou, com naturalidade,
enquanto mostrava um cartão de identificação da ÔNUC para o robô - Como oficial da ÔNUC
eu tenho direito de portar armas. Fui treinada para isso.
-Está tudo certo, podem passar!
dizia o robô - Obrigado por escolherem o
Saint´Anna e boa viagem!
Mesmo tendo se assustado de início, Laísa logo se esqueceu da visão da arma assim
que o robô liberou a passagem. Ela confiava em Luibla, e além disso, havia muita coisa para
ver agora. Eram cinco andares no navio, no total. No primeiro deles ficava um verdadeiro
parque aquático: piscinas quentes, frias, de ondas, normais... Enfim, de todos os tipos. Além
disso, também havia quadras esportivas e um salão social. Nos dois últimos ficavam as
suítes, sendo 800 no total. Para Luibla tinha sido reservada a de número 415. Ao chegarem
à porta da suíte, eles encontraram, presa nela um outro leitor arc. Um computador embutido
na suíte coletou os dados de Luibla, e em seguida, deixou-os entrar.
-Uau! Muito maneiro isso aqui - admirou-se Laísa, pulando na enorme cama de casal
que ficava bem no centro do lugar. De cada lado dela, havia duas camas beliche, uma
esquerda e outra à direita.
-Vai ter espaço pra todo mundo aqui ?
-Espero que sim! - disse Luibla - mas é melhor se preocupar com isso só de noite. O
que querem fazer agora ?
Vamos para as piscinas! - sugeriu Raiane, recebendo apoio de quase todos os outros.
Só Sakura não se manifestou. E então lá foram, deixando antes suas mochilas sobre as
camas.
Uma vez chegando ao parque aquático, em volta das dezenas de piscinas que lá
existiam, ficavam algumas mesinhas de madeira. Sakura sentou-se em uma cadeira,
enquanto seus amigos ficaram de roupa de banho e logo depois pulavam na água.
-Não vai entrar na piscina também, Sakura ?
-Não, vou ficar aqui observando vocês - ela disse, enquanto virava-se para o lado, e
via por toda parte diversas pessoas se divertindo naquelas águas. Muitos eram treinadores,
e tinham seus robôs consigo. Sakura então observou que seus robôs permaneciam parados,
junto a ela.
-Vamos, Gru, Viwtóitar, vamos cair na água então! - disse Bibi. Eles então viraram-se
para Sakura, como se perguntando se deveriam ir, e ela fez um sinal de que poderiam, se
quisessem. Mas ela própria continuou ali, apenas observando o lugar e tantos treinadores, a
maioria humanos, alguns poucos caracoleses, e robôs de vários tipos. Talvez uns 60 % dos
passageiros daquele navio fossem treinadores.
-Sakura, o que está acontecendo com você ? - perguntou Lublizo, saindo de repente
da piscina onde estava, e indo ao encontro dela.
-Ah, nada, Lublizo, não se preocupe. É que eu não gosto muito de piscina, nem tenho
esses trajes de banho indecentes que as garotas não-zikanas costumam usar.
-Indecentes ? E como as pessoas vão à praia no seu país ?
-Lá quase não há praias, e mesmo assim as pessoas não têm esse costume.
-Ah, então entra na piscina com essa roupa mesmo! É uma pena, por que você deve
ter um corpo tão bonito - disse o caracolês. Sakura, ao ouvir isso, ficou um tanto vermelha,
tentou disfarçar, virou-se de lado. Não soube reagir diante de uma cantada tão descarada.
-Mas... - Lublizo então tocou na mão direita da garota, que permanecia sobre a mesa
- Se você não quiser mesmo, eu posso ficar aqui com você, nós podemos tomar um sorvete,
dar uma volta pelo navio.
-Está bem! - Sakura concordou, ainda timidamente. Lublizo então fez um sinal para
um robô-garçom que passava por ali, e pediu um sorvete para cada um, sendo prontamente
atendido. Então, após isso, os dois se levantaram e foram dar uma volta pelo Saint Anna,
chegando a uma das partes mais altas do navio: a pista de pouso, onde ficava o helicóptero
de resgate. De lá do alto, apoiada na grade de metal, Sakura passou a observar o mar, e
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todo o resto do navio que era possível ver dali. Pessoas passeando com seus robôs, se
divertindo, felizes.
-É tão bom poder ver todo mundo daqui de cima dizia Sakura.
-Como o Máik e a Laísa ali em baixo Lublizo respondeu, colocando-se ao lado dela,
e apontando lá para baixo, ao reconhecer ao longe os seus amigos.
-É mesmo... A Laísa parece bem feliz ao lado dele.
-E você, Sakura ? - perguntou Lublizo, com um ar de inocência, mas de um certo
modo já querendo chegar a algum lugar.
-Eu ? Bem, eu também estou feliz como nunca. Um pouco ansiosa com a KVC, mas...
-Você nunca pensou em namorar alguém, ou algo assim ?
-Já sim, mas só se fosse algo sério, não por empolgação, como fazem os
guanabarenses. Na minha cultura as pessoas não se beijam quando mal se conheceram, não
existe esse a idéia de ficar . Em Zikam só se namora de preferência quando passar pela
cabeça do casal a idéia de se casarem. Lá as pessoas se casam bem novas, com 15 anos,
normalmente. Eu gostaria de ter um namorado sim, mas que fosse alguém que me levasse
a sério, como fazem os zikanos.
-Eu te levaria a sério! respondeu Lublizo, provocando um silêncio repentino, que foi
quebrado por ele logo em seguida
Sakura, você sabe que eu gosto muito de você. Eu
gostaria de namorar com você, te levaria a sério. Nós seríamos como Máik e a Laísa!
-Lublizo, me desculpe. Eu não vou negar que gosto de você, que você é quem mais
me compreende, está sempre por perto, mas... Não teria sentindo nós dois namorando. É
contra os meus costumes namorar com alguém que eu tenho certeza absoluta que jamais
me casaria.
-E por que ?
-Por que eu sou humana, e você é caracolês!
-Então, como diriam lá na Guanabara, caracoleses não fazem o seu tipo ?
-Não é isso, mas... imagina como seriam nossos filhos ?
-Qual o problema, existem crianças híbridas.
-Lublizo, nós somos diferentes. Podemos conviver como amigos, mas não devemos
misturar nosso sangue desse modo. É contra a lei da natureza isso. E em Zikam crianças
híbridas costumam sofrer um preconceito muito grande. Não quero que meus filhos sofram
preconceito quando eu voltar à minha terra natal.
-Sakura, se você me olhar nos olhos e me disser que não gosta de mim, eu vou
entender normalmente, não vou ficar chateado e continuarei sendo o seu melhor amigo,
sem nunca mais tocar no assunto. Fale isto e eu desisto agora mesmo dessa idéia.
ele
insistiu, olhando fixamente a garota nos olhos Não pode deixar uma tradição atrapalhar a
sua vida.
-No seu país as pessoas não dão tanta importância às suas tradições, como nós,
mas... Mas deviam. Vamos deixar as coisas como estão. Ao contrário do que você pode
pensar, eu não sou racista. Somos povos irmãos, vivemos sob o mesmo céu, vemos sempre
o mesmo Esmýlion verde nascer todas as manhãs, e eu tenho uma profunda amizade e
respeito por você e a sua prima. Mas entenda, por favor!
-Está bem, Sakura. Mas eu não ouvi você dizer que não gosta de mim.
-Eu gosto muito de você, Lublizo!
-Está bom, isso pra mim é o mais importante ele a abraçou - Eu vou deixar você
só um pouco, mas lembre-se que estarei sempre do seu lado.
-É claro, Lublizo. Obrigada!
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03 - O Ferro- Velho dos Robôs de Assuam
Na segunda noite da viagem do Saint Anna da Guanabara à Bõung-Bõung, então
noite de 3 de Altxiibu, haveria uma festa no salão social do navio. Ainda era cedo, por volta
das 14h, quando Lublizo e os outros garotos estavam indo para o Complexo Esportivo, jogar
um pouco de bola, e nisso aproveitavam para conversar sobre a viagem.
-Quer dizer que a Sakura disse que não quis ficar contigo por causa da sua espécie ?
Que coisa mais idiota! disse Máik, enquanto Lublizo contava-lhes o ocorrido.
-Não fale assim dela, eu a admiro muito assim mesmo! Mas o problema é que...
Depois que a Luibla concluir a missão, eu voltar para... Ah, não quero pensar nisso!
-Hei, vocês aí! um grupo de cinco jovens aproximou-se então deles. Eles eram mais
velhos, aparentavam ter por volta de uns 20 anos. Um deles era branco, muito branco, tinha
o cabelo ruivo e espetado, uma cicatriz na bochecha e era bem feio.Seu nome era Carlos,
mas ele tinha o sugestivo apelido de Zé Bonito . Junto dele estavam Pitoco e Djóba, como
eram conhecidos, além de uma garota de pele morena e cabelo castanho escuro
encaracolado, chamada Clara. Todos eles tinham um visual de skatista, e integravam uma
famosa equipe de batalha de robôs, o Pishadores, da República de Pishe. Eles eram os atuais
campeões nacionais de seu país, e por isso já tinham vaga garantida na KVC.
-Vocês estão indo jogar um futsal ? Pitoco olhou para Víni, que carregava uma bola
de futsal nas mãos.
-Puxa, futsal ? Caramba, e eu que estava achado que isso era uma bola de pingpong! Valeu por me avisar! Léo debochou, com basante ironia.
-Ele só ta brincando, vamos sim! disse Víni.
-Topam jogar um pouco ? tem que ser só 4 contra 4, mas...
-Sem problemas! Tão achando que só porque são grandes vão nos vencer, é ?
disse Máik, enquanto via uma garota branca, de cabelo castanho e olhos cor-de-mel, se
aproximando do pessoal dos Pishadores, parecendo um tanto apressada. Ela era mais
novinha, parecia ter a mesma idade de Máik e Léo.
-Clara, você não vai se arrumar pra festa que vai ter hoje ?
-Ai, Mayra, vou, mas a festa é só mais tarde. Eu não demoro 5 horas pra me arrumar
igual a você, não!
-Você é que sabe, mas depois não diz que eu não te lembrei. Até mais tarde, garotos
ela disse, com um leve sorriso, olhando de uma forma diferente para Máik, que ela ainda
nem conhecia. Máik respondeu com um aceno e ficou pensando... Mayra, que gatinha! Ela
deve ser amiga deles. Quer saber, vai ser bom ficar amigo desse pessoal , pensava o
garoto.
Mayra não participava da equipe, apenas torcia. Ela era a irmã de Clara, e estava
viajando junto com o Pishadores. Não gostava das batalhas em si, mas era quase uma
torcedora fanática dessa equipe. Mas Mayra não ficou muito tempo, e os outros passaram a
tarde na quadra jogando bola.
Enquanto isso, Sakura e suas amigas, ao saberem da festa, logo quiseram se
arrumar da melhor forma possível. Sakura tinha roupas de gala típicas de Zikam: longos
vestidos vermelhos, rosas e azuis que lembravam um pouco as roupas tradicionais do Japão
feudal. Já as outras garotas só haviam colocado em suas bagagens shorts, tops, camisetas,
biquínis, roupas mais para praia. Mesmo assim, isso não foi problema, elas resolveram
pegar algumas roupas emprestadas com Luibla.
Já eram por volta das 19:00 h, quando Bibi, Sakura, Laísa e Raiane estavam na suíte
se arrumando. Como elas ficariam o tempo todo trocando de roupa, enquanto as
experimentavam, pediram aos garotos que só passassem lá na suíte por volta das 19:10 h.
-Bota essa blusa logo, Laísa! Daqui a pouco os garotos chegam aí e...
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-Calma, Raiane, eles podem esperar. Homem sempre se arruma rápido, mas eu
preciso ficar bem bonita pro Máik...
-Ih, então acho que nunca mais vamos ver a galera toda de novo... - Bibi debochou
dela, fazendo as outras morrerem de rir.
-Hum... Invejosas. Só porque eu estou saindo com o garoto mais gato do grupo.
-Mais galinha, você quer dizer.
-Galinha ? O Máik foi galinha, mas agora ele só tem olhos pra mim. - ela disse, logo
depois de colocar a blusa e ir ver em frente ao espelho ver se estava combinando com a
saia.Depois, foi passar um batom, maquiagem, ajeitar o cabelo...
-Sakura, me empresta o seu seysu ?
-O meu seysu ? Mas pra quê ?
-Ah, é que ele é bonitinho, ia ficar um charme a mais em mim...
-Tome cuidado com ele Sakura por um milagre finalmente tirava seu aparelho.
Ao terminarem de se arrumar, elas ficaram esperando que os garotos chegassem,
mas eles não chegaram. A festa estava pra começar, então as garotas do grupo resolveram
ir logo pro salão social do navio. Lá, havia muitas pessoas, também muito bem vestidas,
luzes muito fortes, música bem alta, de vários estilos e muitos treinadores com seus robôs.
Laísa logo pensou em Máik, onde ele estaria naquele momento. Ele garantiu que iria
logo para a festa, mas os dois não se viam desde cedo. Ela então atravessou a pista,
esbarrando em algumas pessoas, olhando em todos os cantos, procurando pelo seu quase
namorado . Mas enquanto isso, num outro canto do salão, Máik conversava com Mayra. Os
dois se conheceram naquela tarde, mas já pareciam bastante íntimos. Da troca de olhares à
uma conversa mais quente, o interesse de um pelo outro era evidente. Máik, com seu
instinto de conquistador, não perdia mesmo tempo. Tinha fama de mulherengo, e não era à
toa. Com seu charme habitual, ele soube atrair Mayra muito rápido, e logo os dois já se
encontravam num ardente beijo ali no canto do salão. Nesse momento, Laísa apareceu
diante deles, e os flagrou, horrorizada.
-Máik... Como você ...
Laísa mal podia acreditar. Pensou em voar em cima dele e
arranca-lo dos braços da outra, mas foi impedida por Bibi e Raiane, que junto com Sakura,
chegaram logo depois. Não agüentando de vergonha, ela saiu correndo o mais rápido que
pôde, na direção contrária a que veio. Enquanto corria, quase empurrou Léo, Víni e Lublizo,
que também passavam por ali naquele momento. Bibi, Raiane e Sakura foram atrás dela, e
quando encontraram com os garotos, estes lhes perguntaram o que acontecia.
-Olha praquele lado! Bibi apontou na direção de Máik, para então esclarecer tudo.
Laísa entrou na suíte e saiu correndo para a cama, onde soltou o choro.
-Droga! Isso não é justo! Eu fiquei a tarde toda me arrumando pra ficar junto do Máik
durante a festa e ele me troca por aquela vagabunda! Por que?
Laísa gritava, se
perguntando, entre lágrimas. Sakura, Bibi, Léo e Lublizo entraram em seguida, tentando
apóia-la de alguma forma.
-Por que ? Por que ele tinha que fazer isso?
-Laísa, eu entendo o que você está sentindo, mas...Não vai adiantar nada ficar desse
jeito. - Sakura então foi até ela, sentou-se na cama ao lado de sua amiga, colocou a mão
em sua cabeça, tentando confortá-la. Bibi, de longe, apenas observava. Ficou um tanto
indignada com a atitude de Máik, mas como o conhecia a muito tempo, de um certo modo já
sabia que aquilo não demoraria muito a acontecer. Víni, Léo e Lublizo resolveram ir cobrar
explicações dele. Foram até o salão, onde ele e Mayra continuavam se beijando.
-Máik! - Víni gritou do outro lado do salão. A música abafou em muito a sua voz, mas
foi o suficiente para que seu amigo escutasse. Na mesma hora, ele separou seus lábios dos
de Mayra e olhou para trás do ombro dela, vendo na outra ponta do salão os seus amigos.
-Mayra, só um instante.
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-O que foi ?
-É que eu esqueci os robôs da Sakura, a líder da minha equipe, andando soltos por
aí, e sabe,ela é meio paranóica, acha que tem ladrões copiadores de memória por aqui.
-Ah, sim... - Mayra disse meio decepcionada, achando que aquela desculpa tão malfeita fosse uma forma de dispensa-la de repente Está bem, vai lá ver se está tudo bem.
-Eu já volto, gatinha
disse Máik, levantando-se bem rápido. Ao encontrar seus
amigos, já chegou levando a maior bronca.
-Está maluco ? Como é que fica com essa garota na frente da Laísa ? - disse Léo.
-A Laísa ? Putz! Máik deu um forte tapa na testa - Onde é que ela tá ?
-Ela estava aqui, agora está lá na nossa suíte, chorando!
-Droga, pra mim ela ainda ia ficar se arrumando mais meia-hora!
-Você sabe que ela gosta de você.
-Lublizo, deixa eu te explicar uma coisa: eu só estava "ficando" com a Laísa. A gente
não tinha compromisso nenhum! Eu deixei isso bem claro pra ela várias vezes. Não tenho
culpa se ela... - ele parou por um instante, levou a mão ao queixo e concluiu - está bem, eu
vou falar com ela Máik correu na direção da suíte 415. Ele chegou lá apressado, e quando
se aproximava da porta, Gru e Viwtóitar a estavam empurrando para entrar lá também.
Cada um deles trazia uma bandeja cheia de salgadinhos da festa.
-Oba! Gru, Viwtóitar, trouxeram os salgadinhos - disse Bibi, do lado de dentro,
tentando distrair Laísa um pouco, quando de repente Máik chegou por trás deles, e no seu
afobamento, sem querer esbarrou nos robôs e derrubou suas bandejas com salgados.
-Foi mal, pessoal! - disse Máik, aos robôs.
-Não se preocupe! - disse Viwtóitar - Vou limpar isso tudo.
-E eu vou pegar mais salgados! - disse Gru. Máik fez um sinal de positivo e em
seguida virou-se para a cama, onde estava Laísa.
Ao ouvir a sua voz, a garota, que estava com o rosto em meio aos travesseiros,
virou-se enfurecida. Bibi e Sakura se entreolharam, concordando que não havia sido uma
boa idéia Máik ter ido lá naquela hora.
-Laísa, eu preciso falar com você! - Máik se aproximou da garota, que estava com o
rosto encharcado.
-Seu idiota, sai daqui! - ela se levantou, partindo para a agressão. Ao tentar dar um
tapa em Máik, este segurou sua mão.
-Espera, Laísa, eu quero te explicar uma coisa.
-Não briguem! - disse Viwtóitar, que já tinha terminado de limpar o chão e estava se
retirando da suíte, mas voltou ao ver que aquilo ia dar confusão - Só nós robôs estamos
aqui para lutar, vocês não!
-Mas eu não to brigando, ela que tá!
-Você é muito cara-de-pau! Acha que eu não vi o que você acabou de fazer ?
-Mas Laísa...
-Máik! - Bibi chamou-o de longe - É melhor você voltar pra festa. Deixa a Laísa
sozinha um tempo, deixa as coisas se acalmarem, aí vocês conversam!
-Está bem! Se não quer conversar...
-Isso mesmo, volta, volta praquela horrorosa! - gritou Laísa, voltando a enfiar a
cabeça entre os travesseiros. Bibi e Sakura continuaram observando, enquanto Máik se
retirava, acompanhado de Viwtóitar.
-Essas mulheres...- Máik resmungava. De volta à festa, ele foi cercado novamente
pelos outros garotos do grupo.
-E aí, falou com ela ?
-Tentei, mas ela já veio partindo pra ignorância!
-Agora vai ter que ter paciência, cara!
Máik então retornou à festa, para perto de Mayra.
-Pensei que não ia voltar mais ela disse, recebendo-o de volta com um sorriso.
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-Que é isso, gata ? Eu não faria isso, eu to adorando você! Mas realmente tive que
resolver uns problemas que só lembrei agora - Máik sentou-se ao lado dela, colocando os
dois copos em cima da mesa, mas não sem antes tomar um gole de um deles. Em seguida,
voltou a beijá-la, tentando esquecer tudo o que estava acontecendo
Mas os meus
problemas acabaram agora, quando conheci você!
A festa prosseguiu madrugada adentro, e ambos se divertiram bastante. O mesmo
não se podia dizer de Laísa, que logo adormeceu, com Sakura e Bibi ao seu lado. Léo,
Lublizo e Víni ficaram mais um tempo no salão, na festa, até que foram dormir, por volta
das quatro horas. Às seis horas, o Saint'Anna aportou em Assuam. Uma meia hora depois,
Luibla entrou na suíte. Estava muito cansada, pois esteve tempo todo na festa, observando
os caracuzos. Não sabia sobe os desentendimentos entre os adolescentes. Ao olhar para as
camas, notou nelas a falta de Máik e de Laísa, mas não se importou. Logo se atirou numa
delas para descansar um pouco, porém, às nove horas pôs-se de pé novamente, pois foi
tomada por uma estranha preocupação.
-Lublizo, acorde!
-O que foi ?
-Onde estão a Laísa e o Máik ?
-O Máik deve estar até agora com aquela garota que ele conheceu na festa, e a Laísa
está aí na cama! - disse o garoto, dando um longo bocejo em seguida.
-Não está não!
-Como ? - Lublizo levantou assustado - Não é possível! - A conversa dos dois acordou
também Sakura, que também ficou preocupada com aquilo.
-Bibi, Léo, Víni! Acordem! - Lublizo começou a chamar os seus amigos, enquanto
Luibla correu na direção da saída.
-Vou dar uma volta pelo navio pra procurar os dois - disse Luibla, antes de sair.
Logo em seguida, Gru, que estava ao lado de Viwtóitar, encostado na parede, saiu do
modo stand-by. Ele tinha ouvido a conversa, e resolveu colaborar.
-Eu vi a Laísa dizendo algo sobre se esconder na cidade - disse Gru.
-Quando isso ?
-Eram umas 6:15 h!
-A essa hora, o navio já deve ter aportado em Assuam.
-Isso não é bom! A Laísa não fala Akina, não sabe nada sobre esse país! É melhor a
gente ir atrás dela, trazê-la de volta - disse Sakura. Lublizo concordou. Enquanto estavam
saindo, Léo se levantou também. Ele parecia estar dormindo, mas na verdade estava
acordado desde que o Lublizo havia começado a gritar pelo nome de todos. Ele estava
ouvindo toda a conversa dali por diante, apesar de ainda estar com muito sono.
-Agora que o Lublizo me acordou mesmo, eu vou com vocês!
Gru também quis ir, então os quatro partiram. Foram até o estacionamento de
vikliconchs do Saint Anna para pegar os seus, saíram do navio, passaram pelo porto e foram
visitar a cidade de Assuam, a procura de sua amiga.
Nome: Reino de Assuam
População: 238.000.000
Capital: Assuam
Língua: Akina
Religião: Ackysoísmo
Divisão Administrativa: 32 municípios
Chefe de Estado: Rei Yoshi Takedha Mitsuo
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A capital de Assuam era uma cidade com prédios cilíndricos e altos, feitos de
polímeros de carbono. A maioria deles era de um formato e cor padrão, com raras exceções.
O país era uma ex-colônia de Zikam, e sua arquitetura, o estilo das cidades, seus prédios e
sua gente lembravam muito a Sakura o seu país-natal, embora a Zikam de hoje em dia,
pelo que Sakura sabia, já estava bem mais high-tech do que aquele lugar.
-Se alguém aqui tivesse um seysu... Sakura dizia consigo mesma.
-De que isso iria adiantar. A Laísa não tem!
-Ontem ela pediu o meu seysu emprestado. Deve estar com ele ainda. Se alguém
aqui tivesse um, nós podíamos rastreá-lo.
-Será que aqui não tem algum tipo de seysu público ? perguntou Máik
-Seysu público ?
-É, aquelas cabines que a gente tanto ouve falar, onde a pessoa entra pra acessar a
Enterwave.
-É verdade, embora eu ache que aqui ninguém usa mais isso, mas pode ter mesmo!
Sakura então correu na direção de uma mulher meio idosa que andava pela rua sozinha. Ali
havia muitos carros, muita gente com veículos voadores, mas era raro ver alguém andando
nas ruas a pé.
-Hei, senhora, por favor, sabe onde existe algum seysu público aqui ?
-Isso aqui é difícil de encontrar! Você não tem um seysu não ?
-Está com a minha amiga, e eu estou tentando localizá-la!
-Ih, então está com azar, o seysu público mais próximo fica bem longe daqui, e está
lá só meio que pra enfeitar, nem sei se ainda funciona. Também, isso não é usado desde o
tempo em que se amarrava glúlzu6 com cipó! Mas se quiser, use o meu emprestado! disse
a simpática senhora, em Akina, emprestando a Sakura o seu aparelho. Então Sakura
rastreou por ali onde estaria o seu aparelho, descobrindo a exata localização de onde Laísa
estava.
-Obrigado, senhora!
-De nada, minha filha! Vá com Ackyzotio!
Seguindo na direção indicada, Sakura, Lublizo, Léo e Gru seguiram na parte mais
distante da cidade. Já eram por volta das 14 horas, mas o tempo ainda não havia
esquentado.Nuvens cobriam o céu, uma neblina desceu sobre aquela parte da cidade, dando
ao local um aspecto meio sombrio.Apesar dos prédios altos, aquele lugar parecia
abandonado.Ninguém era visto nas ruas, apenas um ou outro carro circulava, pelo chão ou
pelo céu. Seguindo a avenida principal, acharam um prédio pequeno para os padrões locais:
apenas uns 35 metros de altura, arquitetura totalmente diferente, várias figuras de dragões
chineses detalhadamente esculpidas e pintadas em sua fachada. Janelas de madeira,
material raríssimo de se encontrar em casas de todo o planeta. Mas aquele era um museu, e
um museu que passava por reformas, pois vários robôs consertavam a fachada.
E qual não foi a surpresa do grupo ao ver que bem em frente ao museu havia
justamente uma cabine de seysu pública ? Talvez fosse aquele o mais próximo seysu a que
a velhinha se referia. E surpresa maior ainda para eles foi encontrar também ali sua amiga
Laísa, totalmente imóvel, apenas observando o trabalho dos robôs. Sua roupa parecia meio
bagunçada, e ao seu lado estava estacionado o seu vikliconch. Ela então virou-se
subitamente, notando a presença e aproximação dos seus amigos.
-Sakura ? Ah...Como vocês me acharam ?
-Rastreando o seu... Ou melhor, o meu Seysu! O que você está fazendo aqui ?
-Eu ? Só vim ver a cidade, não posso ? Só porque é uma parte da cidade que os
turistas não visitam ?
6
Ver página 163
sobre animais de Caracówl.
31
-E por que sumiu de manhã cedo ? Porque não avisou que vinha pra cá ? - perguntou
Sakura, num tom mais severo. Os olhos de Laísa começaram a se encher de lágrimas
novamente.
-Está bem, eu admito, eu só não queria ficar no navio! Eu não vou agüentar ficar lá e
ver o Máik agarrado com aquela garota!
-Não adianta ficar jogando a culpa pra cima do Máik, você mesma se iludiu com ele!
-É, eu sei. Mas é que... - Laísa procurava uma explicação, mas não encontrava.
-Deixa isso pra lá. Vamos voltar pro navio e fazer de conta que nada aconteceu.
-Eu preciso de um tempo pra esquecer isso, gente!
-Mas você consegue! Agora vamos. Esse lugar é muito deserto, pode ser perigoso.
-Não acredito, falam tão bem da polícia de Assuam
Láisa discordou, mas mesmo
assim foi até o seu vikliconch, e montou nele. Sakura, Lublizo, Léo e Gru fizeram o mesmo.
Já se preparavam para partir, quando ouviram um grito estridente e metálico, e um barulho
que sugeria luta. Uma voz pôde ser ouvida, por trás da esquina mais próxima, mas a única
coisa possível de se identificar foi um pedido de ajuda.
-O que é isso ? - perguntou Laísa, assustada.
-Vamos ver, Gru! - disse Sakura, dando a partida no seu vikliconch e correndo com
ele na direção de onde vinha o barulho. O seu robô e seus amigos logo fizeram o mesmo.
Laísa hesitou um pouco, mas acabou indo também, pois não queria ficar sozinha lá atrás. Ao
virarem a esquina, avistaram um robô da Companhia de Limpeza de Assuam. Um tipo baixo,
com cerca de 1 m de altura. Quase tão largo quanto comprido, o que lhe dava um aspecto
quase cúbico.Na ponta de seu braço direito havia uma pá, e nos esquerdo uma vassoura. No
braço que ficava a pá, havia também um mecanismo de sucção, uma espécie de aspirador
de pó.
O robô corria o mais rápido que podia, tentando escapar de um outro robô. Este
parecia perigosíssimo. Tinha o formato de uma esfera, de onde saíam 12 grossos tentáculos
com garras na ponta. Uma dessas garras foi até o robô da limpeza e o prendeu. Os pedidos
de socorro continuaram e Sakura não teve dúvidas em ordenar a Gru que atacasse aquele
robô esférico. Ele prontamente obedeceu, saltou do vikliconch de Sakura e correu na direção
do adversário, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, uma das garras do robô esférico
o alcançou e o capturou. Gru estava imobilizado. Em seguida, todos os tentáculos se
enroscaram ao redor da esfera, e em questão de segundos, ela arrancou para o alto.Tudo foi
bem rápido, não houve o que Sakura pudesse fazer. Quando se deu conta, aquele robô
capturador já voava por trás dos altos prédios, e ela o tinha perdido de vista.
-Gru! Não! Não pode ser! O que ele vai fazer com o Gru ? ela começou a entrar em
desespero. Mas logo tentou se acalmar, e então, olhando para o lado, correu na direção do
seu vikliconch, para tentar ir ao resgate, sendo prontamente seguida pelos garotos.
-Gente, eu estou começando a ficar com medo de tudo isso... dizia Laísa.
-Mas eu preciso procurar o meu robô! respondeu Sakura, tentando dar a partida no
vikliconch, já convencida de que aquela era uma situação-limite. Gru havia sofrido um
seqüestro, e ela precisava ser rápida.
-Vamos fazer o seguinte: vocês se garantem de ir sozinhos ? perguntou Léo.
-É claro! Qualquer coisa eu protejo a Sakura! Lublizo respondeu, confiante.
-Hum...Eu acho mais fácil ela te proteger.Mas por você tudo bem, Sakura ?
-Sem problemas a garota garantiu.
-Então eu vou levar a Laísa até o navio e avisar a Luibla.Assim que puder, volto pra
encontrar com vocês. Léo disse, e Sakura e Lublizo concordaram com a cabeça. Antes de
se separarem, Laísa foi até Sakura e entregou-lhe o seu seysu, o qual ela estava desde a
noite anterior.
-Amiga, me desculpe não ir com você, mas eu não tenho a coragem que você tem!
Boa sorte pra você e pro Gru!
-Está bem, Laísa. Tomara mesmo que tenhamos boa sorte.
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Sakura e Lublizo então montaram nos vikliconchs e saíram voando na mesma direção
em que o robô seqüestrador havia partido.Voando em meio aos prédios, tomando o máximo
de cuidado para evitar as rotas de tráfego aéreo, os dois jovens puderam observar, bem lá
embaixo, uma área desocupada, uma espécie de depósito de lixo, onde alguns operários
pareciam trabalhar direto, como formigas à procura de comida.
- Sakura, vamos lá ver se a gente descobre alguma pista ali ?
- Naquele lugar ?
- É, por que não ? Não dá pra ver nada daqui.
- Então tudo bem, vamos!
Chegando lá, eles entenderam que ali era o depósito de materiais recicláveis da
cidade. Plásticos, papéis, alumínio, ferro e o pouco de vidro que se consumia, tudo isso era
mandado para lá pela companhia de limpeza, onde era devidamente separado pelos
operários. Mas estes nem de longe pareciam pessoas. Seres humanos e caracoleses já
haviam sido retirados daquele serviço a muitos anos, e agora, ocupavam apenas funções
administrativas, ou faziam a manutenção nos robôs, sendo a maioria do tipo Cleabot NH-12,
um robô fabricado especialmente para esse tipo de serviço. O mesmo modelo do robô que
Gru tentava defender quando havia sido pego.
Ali no depósito, centenas deles carregavam lixo de um lado para o outro.Numa área
aberta com mais de 1 km2, havia pilhas e mais pilhas de material reciclável, esperando a
hora de serem transformados. Sakura então, ao chegar no depósito foi de encontro a um
grupo de robôs, para perguntar a algum deles se tinham visto algo que pudesse ajudá-la.
-Com licença, será que vocês... Hei, você aí, Cleabot... Será que...
Todos passavam direto por ela, simplesmente a ignoravam, como se não pudessem
vê-la. Lublizo tentou fazer a mesma coisa, supondo que os robôs tivessem algo pessoal
contra Sakura, mas não, eles também o ignoraram.
-É melhor esquecer! Por mais que sejam robôs com Inteligência Artificial, não foram
programados pra falar com a gente.
-Então, acho que não valeu mesmo a pena vir aqui...
Mas quando eles já iam partir, preparando para levantar vôo novamente com os
vikliconchs, um dos Cleabots se aproximou de Sakura, e batendo de leve com sua pá
mecânica no pé da garota,chamou-lhe a atenção.
-Acho que posso te ajudar, garota!
-Obrigada pela atenção...
Sakura, mal acreditou que um deles finalmente tinha
parado seu serviço para lhe ouvir - um robô em forma de esfera, com vários tentáculos,
agarrou o meu robô de batalhas e fugiu com ele pelo céu dessa cidade. Você não o viu
passar voando por aqui ?
-Não vi, mas acho que sei para onde eles levaram o seu robô! Vou levá-los até lá.
Sakura e Lublizo deixaram o depósito, ainda sobre os Vikliconchs, mas andando rente
ao solo, sendo guiados pelo robô do serviço público de limpeza.
-Qual o seu nome ?
-Meus colegas me chamam de RNHFDG-01657. É meu código.
-Ah, sim. Vamos chamá-lo só de Cleabot tudo bem ?
-Qual é o tipo do seu robô ?
-É um GRU 18 L. O nome dele é Gru!
-Deve ser mesmo interessante participar de batalhas.
-Ah, é muito, mas eu ainda só disputei um torneio até hoje.
-Eu sempre acompanho essas batalhas, quando não estou em serviço.Sempre que
possível paro em frente a um bar ou lojas de TVs e fico olhando as lutas.A sensação da
multidão aplaudindo e torcendo deve ser muito boa para qualquer robô.
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Sakura achou muito engraçado o modo como ele falava.Através da fala sem emoção,
daquela voz robótica, Sakura percebia que o sonho daquele robô era ser um robô de
batalhas. Será mesmo que poderia uma máquina sonhar ? , Sakura pensava.
-Você não gosta do seu serviço, Cleabot ?
-Limpar ruas ? Eu adoro, é uma forma muito interessante de ajudar as pessoas.Eu
acho que deve ser um trabalho muito desgastante para os orgânicos realizarem.Me orgulho
muito de minha função, mas as vezes parece que me colocaram dois chips, e que o
principal foi o de um robô de batalhas.
-Você gostaria então de ser um robô de batalhas ?
-Cada um vem com o seu destino de fábrica robô desconversou.
-Cleabot, você sabe que robôs não são escravos. Você pode ser emancipado.
-Eu não quero ser emancipado! Eu gostaria apenas de ser de uma equipe de batalhas
de robôs, mas se não puder, prefiro continuar trabalhando na Limpeza.
-Mas se você pedir a sua independência, poderá procurar uma equipe!
-Eu não sou robô de batalhas! Que treinador me colocaria em sua equipe ?
Neste instante, eles chegaram em frente a um prédio com a maioria dos outros ali,
porém com um emblema muito familiar desenhado nele: o símbolo de uma formiga imperial,
animal nativo de Zikam e que era muito significativo na cultura de lá. Aquele símbolo, o
Cleabot guardava muito bem em seus registros. Foi para aquele mesmo lugar que ele vira, a
alguns dias, companheiros de trabalho seus serem arrastados.
-Foi para aí que eles levaram o seu robô! Cleabot apontou sua pá mecânica.
-O que tem aqui ?
-É um desmanche de robôs! Eles nos seqüestram para vender nossas peças.
Lublizo se assustou com a gravidade daquela acusação.
-Mas isso é um crime grave pela Lei internacional!
-O meu Gru não vai ser desmontado! Eu vou entrar lá é agora!
-Calma, Sakura! Se entrar lá eles vão desmontar é você! Por que não chama a
polícia, Cleabot ?
-Não adianta, há vários policiais que fazem parte do esquema. Se eu denunciar esses
bandidos, o policial pode é me prender e me entregar a eles! Podemos ter sorte de
encontrarmos um policial honesto, ou não.
-Se não conhecemos algum policial de Assuam, conhecemos uma de Craytèyryi!
-Tem razão! Lublizo exclamou, empolgado. Parecia tudo tão fácil.
Sakura então não perdeu tempo, pegou seu Seysu para pedir ajuda a Luibla. Mas
antes mesmo que pudesse ligar, ela pôde sentiu a frieza de uma arma em seu ombro.
Quando olhou para trás, viu que Lublizo e Cleabot também tinham armas apontadas para si:
Autênticos Vulcan Death Eyes. Uma meia dúzia de homens mascarados as seguravam, e
falavam em Akina, visivelmente nervosos.
-Espionando nossa fábrica, é ?
-Vocês roubaram o meu robô, devolvam! - respondeu Sakura.
-Se você não soubesse do nosso esquema, nós até devolveríamos, mas agora que
esse intrometido desse robô contou tudo, vamos andando!
Lublizo não estava entendendo o que se passava, mas seguiu Sakura e Cleabot, que
por sua vez recebiam ordens de entrar no prédio ao qual eles observavam minutos atrás.
Enfim, Sakura entraria onde ela queria estar. Só não sabia se agora isso era boa idéia. Uma
vez lá dentro, viram um autêntico ferro-velho, e vários robôs presos, amarrados com
correntes. Mais três bandidos estavam lá dentro. Um deles, gordo, forte e alto, carregava
nos braços um dos Cleabots que acabava de retirar das correntes, e levava para outro que o
estaria esperando para desmonta-lo.
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-Vocês não podem fazer isso comigo, eu sou propriedade do governo de Assuam! o
robô gritava por piedade, mas tudo era em vão.
-Cale-se, lata-velha, você é propriedade minha agora!
respondeu o homem, que
então virou-se para a entrada do prédio e viu chegando naquele instante o resto de sua
quadrilha, que havia ido dar uma volta pelo quarteirão.
-Pegamos esse robô
disse um deles, que apontava uma arma para o Cleabot que
guiava Sakura e Lublizo, enquanto estes, por sua vez, eram arrastados pelos outros
membros do bando - Esse aqui foi aquele que escapou de nós faz alguns dias. Agora
podemos ficar tranqüilos, ele era o único que sabia do esquema! o bandido comemorava,
pois acreditava que mesmo que aquele robô houvesse contado alguma coisa aos seus
companheiros, eles não lhes dariam muito crédito, e não espalhariam a notícia sem que
vissem por si próprios.
Um dos bandidos, que se preparava para desmontar um dos robôs, deixou este de
lado para ir logo de encontro ao outro Cleabot.
-Desgraçado! Não sabe como eu fiquei algumas noites sem dormir por causa de você!
o bandido olhou para a lataria do limpador de ruas. Viu nela uma pequena avaria,
ocasionada por um disparo feito por ele próprio, enquanto aquele robô fugia, da primeira
vez em que fora capturado Vai ser o primeiro a ser desmontado! Nunca mais vai me fazer
perder o sono
o bandido então pegou alguns instrumentos, para retirar do Cleabot peça
por peça. Neste momento, disparos lasers rasgarem o ar, partindo da entrada. Sakura então
se virou, e viu, na porta, a agente Luibla, com sua arma em punho.
-Abaixem as armas agora mesmo!
gritou Luibla, com bastante firmeza, fazendo
pleno uso da língua Akina, que ela conhecia muito bem. Mal ela disse aquelas palavras,
todos os bandidos viraram-se para ela, apontando suas armas. Mas Luibla não perdeu a
pose.
-Atirem nela!
um dos bandidos ordenou aos demais, enquanto fazia o mesmo.
Todos eles então disparavam com seus lasers contra a caracolesa, que correu para um
canto, tentando desviar. Os ladrões provocaram um terrível estrago em seu próprio
esconderijo, fazendo várias perfurações na parede do ferro-velho e enquanto Luibla tentava
se esconder atrás das pilastras, pela porta entraram de repente mais de vinte policiais da
Força de Assuam.
-Polícia real! Todo mundo para o chão! os policiais chegaram gritando em Akina. A
quadrilha, não estava preparada para aquilo e teve então que se render. O Ferro-velho foi
todo cercado, vasculhado, revistado. Mais de 25 pessoas foram presas, e mais de 70 robôs
foram libertados.
-Como nos achou, Luibla ? Lublizo perguntou, após ser libertado.
-Do mesmo jeito que vocês acharam a Laísa hoje cedo. Rastreando o seysu da
Sakura. O Léo e a Laísa me avisaram sobre tudo o que havia acontecido, e eu resolvi pedir
reforço policial.Tenho alguns amigos na polícia daqui também.
-Sorte nossa! constatou Sakura, enquanto respirava aliviada, não só por si própria,
mas também por ver que seu robô estava salvo, e a essa altura também era libertado por
um dos policiais. O mesmo ia acontecendo com os demais robôs que lá estavam, enquanto
todos os malfeitores eram colocados de frente para a parede, revistados, algemados e
levados dali. Aquela quadrilha deixaria de ser uma ameaça aos robôs daquela ilha por muito
tempo. Enquanto a polícia fazia mais buscas no prédio, chegou ao local o presidente da
Companhia de Limpeza de Assuam. Parecia bastante aliviado com a descoberta, fazendo
então uma reverência para Luibla, Sakura e Lublizo.
-Muito obrigado! Graças a vocês capturamos esses ladrões que tanto nos davam
prejuízo! Eu gostaria de poder recompensa-los de alguma forma...
- Por mim
disse Luibla
não precisa, eu sou agente da lei, não deixo de estar
fazendo o meu dever. Agora, quanto a eles...
-Posso pedir o que eu quiser mesmo ? Sakura perguntou.
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-Sim, eu posso conseguir até trinta mil de recompensa, posso homenageá-la com o
nome de um local público aqui na cidade, ou mandar fazer uma cerimônia em sua honra.
-Na verdade
disse Sakura, olhando para o Cleabot que a tinha conduzido até lá,
que a essa hora era libertado pelos policiais
eu não quero exatamente dinheiro.eu queria
que, o senhor deixasse que aquele robô de limpeza viesse a integrar a minha equipe!
-O robô ? Bem...Se é isso que quer...
-Cleabot!
gritou Sakura. Nesse instante, todos os robôs que estavam ali, e que
eram do tipo Cleabot, olharam para ela, mas um deles, em especial, sabia que era a ele que
a garota estava se referindo. Rapidamente se locomoveu até próximo à treinadora e ao
presidente da Companhia.
-Você gostaria mesmo de deixar a Companhia e fazer parte da minha equipe ?
-Se o meu presidente permitir que sim, mas...Eu poderei ir ? Não há problema ?
-Vá tranqüilo, Cleabot! Se essa garota quer mesmo isso...
-Você foi um herói hoje, Cleabot. Graças a você, os seus amigos, e também o meu
amigo Gru, foram salvos! Bem-vindo ao Abzurds, Cleabot!
-Bem vindo ao Abzurds!
repetiu Gru, que, agora livre, se aproximou de sua
treinadora e de seu novo companheiro, para saudá-lo. Tudo afinal, naquele dia, tinha dado
certo. Sakura conseguiu ter seu robô de volta, ajudou a prender uma grande quadrilha, e
principalmente, ajudou a realizar o sonho de alguém. Cleabot não era o robô ideal para
participar da KVC.Talvez sua equipe fosse ridicularizada por aquilo, mas ela não se
importava.Antes que a imprensa pudesse chegar para noticiar a prisão da quadrilha, Sakura,
Lublizo, Luibla, Cleabot e Gru tiveram que correr para o Saint Anna, pois ele logo partiria
para seu destino final, a cidade Truyblin, onde ficaria aportado até que terminasse a grande
competição.
De volta ao navio, o grupo foi recebido logo por Léo e Laísa.
-Quem é esse ? Léo perguntou.
-É o Cleabot, ele vai ser o terceiro robô da equipe! disse Sakura.
-Na verdade, eu ainda posso conseguir mais um robô pra equipe de vocês
disse
Luibla, surpreendendo a todos - Esperem até chegarmos em Truyblin, que a equipe vai estar
completa, com quatro robôs, que é o normal. Por enquanto, vamos entrar na Enterwave e
ver o canal de notícias daqui de Assuam dizia Luibla, enquanto era anunciada a partida do
navio daquele lugar vamos ver o que a imprensa vai dizer sobre a nossa atuação hoje.
-Atuação de vocês ? O que aconteceu afinal ? Laísa ficou curiosa.
-Veja você mesmo! Luibla insistiu, andando na frente, pedindo que eles fossem até
a suíte e ligassem o computador para verem com seus próprios olhos.Foi o que eles fizeram,
chamaram todos os outros, para que assistissem também.Algum tempo depois, na suíte,
eles viam a matéria completa que citava Luibla como a principal responsável pela libertação
dos robôs roubados, e mostrava uma perigosa operação, onde inclusive dois adolescentes
também estiveram envolvidos.Todos estavam lá pra assistir, com exceção de Máik.
-Tomara que os meus pais não estejam vendo esse canal, se não vão ficar
apavorados. Foi mesmo muita ação pra um dia só - dizia Laísa, que foi quem indiretamente
colocou todo mundo no meio daquela confusão. Ela ainda demonstrava estar meio chateada,
mas já meio conformada pelo que tinha acontecido na noite anterior.
Enquanto isso, Máik e Mayra, que haviam passado o dia inteiro no navio, entre beijos
e abraços, agora estavam no parque aquático do navio, numa piscina aquecida.
-Máik, você me disse que estava viajando com seus amigos. Mas onde estão eles,
que até agora você não me apresentou ?
-Olha, melhor deixar isso pra lá. Acho que não seria uma idéia muito boa.
-Por quê ?
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-A Laísa... Eu estava saindo com ela e ela viu nós dois juntos ontem e... Bom, não
era nada sério, eu sempre falei isso pra ela, só que ela ficou meio chateada. Mas isso é
passado, só que os meus amigos ficaram do lado dela. Sabe, o clima está até meio chato lá.
-Puxa, que pena...
-Não, deixa isso pra lá, vamos curtir só o nosso momento agora. Mayra, agora
falando sério, não é conversa fiada, não é pra querer te enganar, o que eu vou te falar
agora é sério, aliás eu nunca disse pra nenhuma outra garota:mas você é demais, depois de
ontem, eu posso dizer que você é a garota mais incrível que eu já fiquei.É uma pena que a
gente mora tão longe um do outro, é uma pena que depois que a KVC acabar, eu vou voltar
pra Guanabara, você pra Pishe, e talvez a gente fique um tempo sem se ver, porque talvez
pudesse acontecer algo mais sério entre nós.
-Você quer dizer que, ao contrário dessa Laísa, comigo você queria namorar mesmo.
-É isso mesmo! Máik disse instantaneamente, sem nem deixa-la terminar de falar.
Mayra a princípio fingiu não acreditar, achando ser só historinha, mas os olhos do garoto
transmitiam uma sinceridade tremenda - E olha que eu nunca fui romântico, sempre fiz a
linha de cafajeste
ele continuou, deixando um leve sorriso aparecer no final da frase.
Mayra, após ouvir isso, encostou nele e beijou-o mais uma vez, e mais umas duas vezes.
Em seguida, fez a tal proposta.
-Máik, quando acabar a KVC, eu prometo que nós vamos continuar nos falando, seja
pela Enterwave, ou pelo que for, e todo final de semana eu vou lá na Guanabara pra te ver!
-Se quiser pode dormir lá na minha casa então.
-É claro, ou você na minha também! E se isso der certo por alguns anos, quem sabe
um de nós não pode se mudar pra cidade do outro, e podemos ficar juntos
-Hahaha... Máik não agüentou e soltou uma leve risada novamente.
-O que foi, a idéia não é boa ?
-É ótima! É que chega até a ser engraçado, talvez meio irônico.Eu nunca gostei de
namorar sério, e agora to ouvindo um plano de casamento com alguém que eu não conheço
nem a 25 horas. E o que é pior ele continuou, agora com a voz mais suave, mais sedutora
- eu adorei essa idéia
Máik concluiu, antes de beija-la mais uma vez. Era o início do
namoro dos dois.
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04
O Início da KVC
Nome: Bõung-Bõung
População: 1.702.000.000 (1,3% robôs cidadãos)
Capital: Bõung
Língua: Caracolês dialeto Bõung
Religião: Caracòwlismo
Div. Administrativa: 15 Estados e 21591 municípios
Chefe de Estado: Presidente Lulelkòw
Porcentagem de robôs cidadãos: 13%
Então, logo já eram 22 horas. À medida que o tempo passava, o navio se dirigia cada
vez mais para o norte, e o clima ia ficando cada vez mais frio. Sorte a deles que a suíte
possuía um bom aquecedor, pois para quem estava acostumado com os quarenta graus
Celsius de Guanabara, aquele frio era mesmo de matar. Já deitada, Sakura olhou para o
lado, e viu que estavam todos ali, menos Máik, que havia ido dormir na suíte dos
Pishadores.
Só espero que o Máik não se afaste por completo, afinal, ele foi o idealizador disso
tudo! , ela pensava, enquanto lentamente pegava no sono.
Finalmente, por volta das 6 horas da manhã, o Saint Anna chegou na cidade Truyblin.
Luibla acordou mais cedo que todos, e foi até a cidade, apressada. Algum tempo depois,
voltou. A maioria dos adolescentes ainda estava acordando naquele momento, quando
Luibla entrou de repente na suíte, trazendo consigo o quarto robô de que ela havia falado.
Seu formato era semelhante ao de uma pessoa, mas sua cabeça era bem maior que o
normal de um caracolês, e uma viseira ficava no lugar dos olhos. Seus pés e mãos eram
retráteis e seu corpo metálico era recoberto por uma mistura de silicone e borracha.
-Esse é o reforço pra nossa equipe:é o Lóyd!
-Bom dia a todos! - disse o robô, com um aceno, deixando Sakura bem surpresa.
-Onde o conseguiu, Luibla ?
-O Lóyd ? Ele é um protótipo, feito por uns amigos meus do Centro de Pesquisas de
Liglwu. Ele tem habilidades muito interessantes, uma enorme força e agilidade e sabe
muitos golpes de várias artes marciais. Faz já uns quatro meses que o Lóyd está comigo,
mas eu o deixei aqui em Bõung-Bõung com um outro amigo meu, antes de viajar pra
Guanabara. É um ótimo robô, por isso tenho certeza de que vocês vão entrar na KVC!
Enquanto isso, num canto, os outros robôs conversavam entre si.
-Duvido que esse Lóyd seja assim tão bom -disse Gru.
-Eu também duvido! - Viwtóitar concordou.
-Ora, companheiros, vocês deviam estar contentes por... Cleabot dizia, quando foi
interrompido por Gru.
- Nós estamos contentes! Só não quero que ele ache que vai vencer sozinho.
- Sakura, está animada para a eliminatória de hoje ? Luibla então perguntou.
-É, verdade! Eu havia me esquecido que já começa hoje.
-Bom, eu sei que vocês acabaram de acordar, mas Sakura, Lublizo, Léo e Bibi, vocês
precisam vir comigo. Temos só até o meio-dia pra fazer a inscrição da equipe. Ah, e vistam
isso!
Luibla foi até o canto e abriu sua mochila, de onde retirou quatro casacos
alaranjados, imitação de pele de grauéver da montanha
Comprei isso ontem lá em
Assuam! Acho que vão precisar.
-Valeu, Luibla! Bibi, logo pegou um deles e se cobriu. Assim, eles foram com Luibla
até a sede da KVC. Saindo do porto, passearam pela cidadezinha, que já estava agitada
àquela hora da manhã, lotada de turistas, vendedores de bugigangas e treinadores de toda
parte do mundo.
38
Truyblin era uma cidade bem pequena, cerca de 20.000 habitantes, casinhas em
estilo tradicional de Bõung-Bõung predominavam, em meio a ruas em traçado reto, bem
definido, muito bem asfaltadas. Em volta das casas, nada de muros, apenas algumas
pequenas cercas. Em várias delas nem isso. Os quintais em geral não eram grandes, mas
nem havia necessidade disso, porque para os moradores de Truyblin, era como se ela fosse
o seu quintal. Para o leste da cidade havia apenas um enorme terreno vazio, para o oeste
uma estradinha e para o norte, algumas montanhas. Junto às montanhas, havia o Complexo
da KVC, uma área de 12 km2, repleta de árvores Glóib-tóyb, planta azulada típica da ilha de
Bõung-Bõung, que chegava a 20 metros de altura e era cheia de cipós. Também havia
algumas pracinhas, muitas enfeitadas com esculturas em estilo medrulae clássico, outras
com chafarizes e outras ainda com pequenos brinquedos. Havia uma parte desse complexo
onde apenas algumas pessoas poderiam entrar, por motivos de segurança. Era o caso da
parte onde ficava o prédio da sede administrativa da KVC, onde o alienígena Trbluzikzay,
presidente da entidade, morava e passava a maior parte do dia. Ali o acesso era restrito a
funcionários e aos treinadores e acompanhantes. Estes tinham um mini hotel para ficarem
durante a competição, que ficava ao lado do prédio da KVC. Já fora da área restrita, em
volta desses dois prédios, ficavam as seis arenas. A Principal, mais no meio, e outras cinco,
cada uma designada por uma letra: A, B, C, D e E.
Todas eram estádios
com capacidade para 60.000
espectadores, sendo a Arena
Principal a única que tinha
uma
capacidade
maior:
80.000 pessoas. Revestidas
de blocos de argila metalizada
produzidos no Planeta Hessel,
elas tinham uma arquitetura
um tanto diferente, com
muros mais baixos nos lados.
No centro dos estádios, a
arena propriamente dita era
um círculo, o qual no meio
ficava uma plataforma um
pouco maior do que aquela do
Torneio do Shopping Madúrei. Nas arenas A, B, C, D e E, essa plataforma era muito parecida
com a do shopping: lisa, mesma cor, mesma textura, e quase o mesmo tamanho, ou seja, o
modelo de plataforma padrão das batalhas de robô em todo o mundo. Mas a plataforma da
arena principal não, esta tinha o chão propositadamente acidentado, cheio de pedras
colocadas lá pela organização do evento, com algumas poças de água e bastante terra, além
de algumas partes gramadas, para dar um aspecto mais rústico à batalha.
Quando passavam em frente a Arena Principal, Sakura avistou um dos postos da KVC
e decidiu logo ir se inscrever. Apesar da enorme procura, não havia fila, pois havia muitos
desses postos espalhados estrategicamente. Um robô esférico, vermelho, do tamanho de
uma bola de basquete, atendia aos treinadores.
-Bom dia, aqui é um posto de inscrição da KVC. Vocês vieram se inscrever ?
-Que nada! Nós viemos comprar amendoim. disse Léo, sarcasticamente - É porque
dizem que aqui nos postos de inscrição vende um ótimo amendoim... o robô permaneceu
sem entender nada por alguns instantes, como se seu sistema tivesse entrado em conflito.
-Não liga pra ele não... disse Bibi - Viemos nos inscrever sim.
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-Precisam preencher este cadastro aqui!
o robô entregou-lhes um papel, onde
deveriam preencher alguns dados, nada muito difícil.
À noite, começou tudo. Sakura, Lublizo, Léo, Bibi e os quatro robôs se dirigiram para
o Complexo da KVC, onde cerca de 2000 outros competidores também aguardavam a ordem
da Organização para o início da seletiva. Por sorteio, a organização do evento separou as
equipes pelas várias arenas, a fim de que se realizassem provas eliminatórias dos mais
diferentes estilos. Em cada arena, uma habilidade dos robôs era testada, a fim de qualificálos, ou eliminá-los.
O Abzurds foi mandado para a Arena E. Chegando lá, Sakura estava um pouco
ansiosa, mas logo se sentiu um pouco mais à vontade, quando olhou espantada para as
arquibancadas e as viu praticamente vazias.
O Torneio do Shopping Madúrei tinha mais gente que isso. Deve ser só porque é
eliminatória, por isso o público não demonstra muito interesse , ela pensou.
Já a arena estava cheia, havia ali cerca de outras 40 equipes. Um robô da Comissão
Organizadora veio flutuando até bem no meio da arena, explicando todas as regras para os
treinadores, e perguntando se restava alguma dúvida. Logo em seguida, um narrador
repetiu tudo, para que as regras pudessem ser ouvidas pelos poucos espectadores, em geral
uns poucos parentes e amigos dos competidores e uma meia dúzia de fanáticos pelo
esporte.
-A competição consiste no seguinte: Todos os robôs de todas as equipes deverão
subir na Plataforma simultaneamente, e lutar entre si, com o objetivo de empurrar para fora
dela os oponentes. A equipe na qual um único robô cair da plataforma será desclassificada!
Devem começar a subir na plataforma quando eu contar até três, e só após uma nova
contagem, devem começar a empurrar os oponentes. Quem fizer alguma coisa antes da
contagem se encerrar será automaticamente eliminado, e o mesmo acontecerá com sua
equipe!
Sakura achou esse tipo de eliminatória meio estranha, quase como uma loteria.
-É como se quisessem usar uma disputa de pênaltis pra classificar times de futebol
para uma Copa do Mundo Léo concordou.
-Lóyd, Viwtóitar Sakura chamou os dois robôs - quando o juiz autorizar, peguem o
Cleabot e arremessem-no bem no meio da plataforma. Protejam-no a todo custo. Eu vou
estar aqui, dando instruções para vocês.
Uma vez autorizados, Lóyd e Viwtóitar fizeram como Sakura pediu, e em seguida,
eles e Gru subiram na plataforma também, encontrando-a já um pouco cheia. Eram mais de
160 robôs num espaço de 800 m quadrados. Sobre a plataforma, estava formada uma
enorme confusão, e seria óbvio que os últimos robôs a subirem nela, aqueles que
conseguiram os piores lugares, acabariam eliminados logo de início.
A sorte de Sakura foi que seus robôs conseguiram ficar bem posicionados, assim
como ela queria. E assim começou a disputa, e com menos de um segundo, mais de 10
robôs já estavam fora da plataforma, e mais de oito equipes já estavam eliminadas. Alguns
robôs tentaram voar, e esses eram as vítimas preferidas dos lançadores de cápsulas, uma
arma permitida pela organização. Esses acertavam poderosos tiros, derrubando os mais
espertos . Do lado de fora, Sakura gritava várias instruções para seus robôs, que tentavam
segui-las à risca, mas a comunicação era um pouco precária, pois vários treinadores davam
ordens ao mesmo tempo, e na eliminatória, o sistema de rádio ainda não estava
funcionando.
Rapidamente, a arena foi se esvaziando, e a preocupação que Sakura tinha não era
eliminar ninguém, mas sim que seus robôs chegassem até onde estava Cleabot, no meio da
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arena, para protege-lo. Quando Viwtóitar conseguiu, chegar até ele, um robô do tipo Birdle,
uma espécie de ave mecânica de um metro e meio de altura, tentou bica-lo ferozmente, e
uma batalha de robôs pássaros se iniciou. Cleabot levou a melhor e derrubou o Birdle, que
foi arremessado para fora da arena por um Mega Cannon que estava logo atrás.
Após uns cinco minutos, uma sirene tocou, e o narrador anunciou o fim da
competição. Todos os robôs pararam automaticamente o que estavam fazendo.
-Já temos os vencedores! Ainda há 33 robôs sobre a plataforma, mas apenas 4
equipes inteiras. Essas equipes são: Fat Team, de Sugar; Cascamole, de El Pueblo; Abzurds,
de Guanabara; e Strong Bots, de Pishe.Todas elas estão classificadas para a KVC! As outras
poderão tentar ainda na competição, mas só no ano de 2155! ironizou o narrador.
Sakura mal podia acreditar que havia entrado na Liga Mundial dessa maneira.
-Foi fácil, não foi ? Bibi, sorriu para ela.
-Fácil até demais. Eu diria até que foi pura sorte. Isso é que me preocupa!
-Você fez bem o seu trabalho, Sakura. Daqui por diante, deixa que eu vou fazer o
meu. Aproveite bem essa sua participação na KVC, porque pra uma treinadora principiante
isso é realmente muito difícil de se conseguir. disse Luibla, que saltou das arquibancadas
para o meio da arena, na intenção de parabenizá-los.
Sakura a princípio pensou que Luibla estivesse ironizando, mas logo percebeu que
não. Então resolveu tentar acreditar que passar pela eliminatória tinha sido um grande feito.
Um membro da Organização da KVC veio então falar com os integrantes do Abzurds. Ele era
caracolês, aparentemente nativo de Bõung-Bõung, e usava um chapéu típico daquele país,
além de vestes roxas feitas de tecido emborrachado, no mesmo estilo das roupas usadas
pelos oficiais caracoleses das Forças Armadas, quando estavam em serviço. Porém, no
peito,ele tinha grafada a inscrição K.V.C. Kyinat ie Viwt óinys ip Caracówl.
-Meus parabéns por terem se classificado! Agora podem se preparar para
enfrentarem os melhores do esporte
disse o homem, em Português, mas com um forte
sotaque. Todos os que trabalhavam em eventos esportivos internacionais costumavam ser
poliglotas - Equipe Abzurds, vou mostrar a vocês tudo por aqui. A Organização do evento
reservou-lhes um quarto no mini-hotel. Querem ir vê-lo agora ?
-Sim, é claro.
O funcionário os levou até lá. Luibla, como acompanhante, ia sempre com eles. O
quarto era mais simples que a suíte onde estavam no Saint Anna, mas eles ao menos
estariam mais perto dos locais de competição, o que era uma enorme vantagem.
-Vocês têm direito a dar no máximo oito autorizações para acompanhantes, que
terão livre acesso, como se fossem membros da equipe.
Ouvindo isso, Sakura repassou ao inspetor da KVC os nomes de todos aqueles que
teriam direito a uma licença de acompanhantes. No caso, Luibla e todos os seus amigos que
tinham ficado no Saint Anna.
Agora eu consegui o que precisava. Vou estar mais perto dos Caracuzos Luibla
pensava, olhando para o final do corredor, onde um outro comissário da KVC dava as chaves
de um quarto para Liyba e Malhin nko, os criminosos que ela tanto procurara, e que agora,
de repente, estavam bem diante de seus olhos. Se inscreveram como uma equipe e parece
que conseguiram se classificar em uma dessas eliminatórias. Mas eu vou prende-los em
flagrante, antes que possam fazer qualquer coisa
Por volta das 20 horas Sakura e toda a sua equipe compareceram à Arena Principal,
pois estava marcada para aquela hora a cerimônia de abertura da grande competição. Nos
bastidores, encontraram-se com os integrantes do Ricky Team, do Madúrei Mega e da
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Equipe Suellina, outras equipes da Guanabara que conseguiram se classificar. Com exceção
do Madúrei Mega, atual campeão nacional, todos os outros também haviam disputado as
eliminatórias.
-Não acredito que essa nerd passou nas eliminatórias também! A que nível esta
competição está chegando Suellina começou a reclamar. Mas Sakura fez de conta que não
ouviu. Preferiu receber os cumprimentos de Ricky, que havia sido seu adversário na final do
Torneio do Shopping Madurei.
-Que maneirom, vocês passaram também, agora vou querer a minha revanche! disse ele, num tom provocativo, porém amistoso, ao contrário do modo como Suellina
falava.
De repente apareceu Geraldo Moreno, presidente da Federação Esportiva de
Guanabara. Ele era um homem branco, de cerca de 1,85 de altura, calvo, com um grosso
bigode, barba mal-feita e um tanto acima do peso, com uma barriga bem redonda. Uma
figura simpática, que fazia bem o seu papel à frente da entidade que comandava a tantos
anos. Ele fez um breve discurso, exaltando as qualidades dos competidores, e disse-lhes que
fizessem o seu melhor na competição, representando bem o seu país. Em seguida, passou a
bandeira da Guanabara ao líder do Madúrei Mega, o treinador Jadil, e dali, todas as equipes
seguiram juntas para a arena, embora a de Suellina um pouco mais afastada das demais.
Deram a volta no local, junto com as equipes de outros países, cada um representado por
uma bandeira, que era carregada sempre por um integrante da equipe campeã nacional.
-Um dia nós ainda vamos entrar aqui na arena como campeões nacionais, assim
como o Madúrei
disse Lublizo, segurando firme a mão de Sakura. Mas ela retrucou,
dizendo que se sentiria estranha representando mundialmente um país que não era o dela.
Depois de um bonito espetáculo de abertura, houve o sorteio dos grupos. Várias
esferas, cada uma com o nome de uma equipe escrito nela, foram colocadas numa urna
preta. Em seguida, cada presidente de federação nacional ia colocando a mão dentro da
urna, e retirando esfera por esfera, fazendo-se então a definição dos grupos.
Quando estava sendo definido o Grupo 21, o presidente da Federação de Sheik
colocou a mão na urna e puxou uma esfera onde podia ser lido o nome Abzurds . Em
seguida, o presidente da Federação de Pishe puxou uma outra esfera com o nome
Gandoray .
A regra era simples: Havia um total de 128 equipes classificadas, sendo 95 campeãs
nacionais, 8 vice-campeãs nacionais de países com maior tradição no esporte (Zikam,
Vulucõu, Rowissa l, Gal'wagrwi, Sheik, Englao, Floresta, Escólthland), a atual campeã e a
atual vice e mais 23 classificadas por eliminatória. Todos esses times eram divididos em 32
grupos de quatro equipes cada. Um empate valia um ponto e uma vitória três. Ao final das
três batalhas, as duas equipes mais bem colocadas de cada grupo se classificariam e
disputariam batalhas em sistema de mata-mata, até que só sobrassem duas equipes, que
fariam a final entre si. Na primeira fase, seria definido por sorteio antes da luta quantos
robôs deveriam ser usados, sendo um de cada vez. Já nas fases seguintes, todos os robôs
subiriam ao mesmo tempo na plataforma, e lutariam todos ao mesmo tempo.
Depois da Cerimônia de Abertura, toda a equipe e seus acompanhantes voltaram
para o seu quarto dentro do Complexo. Estavam cansados depois daquela noite. Apenas
Máik não voltou para lá com eles. A Equipe de Mayra, os Pishadores, preferiu não trocar sua
suíte no Saint Anna pelo quarto que a Organização do evento lhes reservou. Isso contribuía
para deixar Máik mais longe ainda de seus amigos, que durante o dia, quase não o viam
mais.
42
Sakura então foi ligar pra casa. A essa hora, já passava das 25 horas em BõungBõung, mas ainda era bem mais cedo em Guanabara.
-Minha filha, meus parabéns! eles disseram, do outro lado do vídeo, quase que ao
mesmo tempo, deixando Sakura perplexa. Não esperava que a notícia de sua classificação
chegasse aos ouvidos de sua família tão rápido. Não imaginou também que eles se
preocupassem tanto com isso.
-Ora, Sakura, sempre apoiaremos o que você quiser fazer. Eu preferia que você fosse
cientista, mas se gosta das batalhas de robôs, honre o nosso país nessa atividade também!
Seja uma grande treinadora vencendo a próxima batalha amanhã!
disse Yoshi, seu pai.
Isso fez Sakura se sentir um pouco esquisita, com uma enorme sensação de
responsabilidade nas costas. Para os zikanos, quando o nome de sua pátria ou de seu
imperador era colocado como centro de qualquer questão, aquilo ficava sempre
superestimado.
-Sakura, amanhã nós nem iremos trabalhar! Então vamos falar com a família dos
seus amigos aqui e organizar uma torcida organizada. Vamos todos estar juntos aqui pra ver
a sua primeira vitória nesse torneio!
-Ah, obrigada, pai!
ela falou, meio sem-graça. Então desligou a ligação e se
preparou para ir dormir. Todos já estavam deitados, menos Lublizo, que se aproximou dela,
já percebendo que algo estava diferente com sua amiga.
-O que foi ?
-Lublizo, eles vão assistir a batalha amanhã. Os familiares de todos nós!
disse
Sakura, num tom meio pesaroso.
-Que bom, né ? Lublizo ainda não entendia o motivo de tanta preocupação.
-É, que bom... Sakura tentou concordar. É melhor a gente ir dormir.
-É mesmo, vai ser um grande dia...
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05
Doom Bots Vs. Abzurds
Sakura almoçou cedo, e lá pelas 17:30 tentou comer um lanche, alguma coisa que
pudesse encher o estômago. Mas não conseguiu, pois ele revirava de tanta ansiedade. Ela
andava e um lado para o outro, de tanto nervosismo. Havia passado pela eliminatória da
KVC, mas o mais difícil viria agora.
-Sakura, assim vai abrir um buraco no chão Lublizo brincou, tentando diminuir toda
a tensão, mas não adiantou muito. Alguns segundos depois, Raiane e Laísa chegam
correndo, apressando-os, dizendo que a partida já começaria.
-É daqui à uma hora! Laísa afirmou, como se uma hora fosse um segundo
-Ai... Sakura resmungou
Amigas, eu ainda não estou preparada! Seria bom se o
Guto estivesse aqui, ele poderia me substituir.
-Mas ele não está aqui.Tem que ser você mesmo, garota! Você é a única que sabe
comandar tão bem os robôs!
-Vou fazer o possível! Sakura respondeu, baixinho Apenas o possível.
Logo já eram por volta de 19:00, e a luta de Sakura seria a sétima da Arena C.
Enquanto ela e o resto da equipe se aproximavam da entrada do estádio, uma tela imensa
que havia no meio do caminho mostrava detalhes de lutas que haviam acontecido durante
aquele dia. Numa dessas imagens, Sakura pôde ver cenas de uma luta que havia acontecido
por volta das 16:00 horas, entre um robô da Suellina, e outro da equipe Turyn. O placar
final da partida havia sido 4 x 1 para a equipe da Guanabara.
Isso deu a Sakura uma certa força, pois sabia que se um treinador também não tão
experiente como Charles havia conseguido vencer, não seria então tão difícil para ela. Mas
enquanto ela tentava se concentrar na batalha, seus eternos rivais apareceram, vindo na
direção oposta. Estes vinham eufóricos com a primeira vitória. Suellina, como sempre, ao
vê-la, não perderia uma chance de fazer provocações.
-Perdedora! Sua equipe já era!
-Calma Sakura, não liga pra ela. Raiane tentou controlar os ânimos, enquanto Laísa
arrastou a treinadora para longe dali.
Ao chegarem na arena, Sakura e Lublizo encontraram-se com Léo, Bibi e os robôs,
que já estavam lá desde cedo. Eles foram até a área dos treinadores, que ficava sob as
arquibancadas, para que a partida pudesse começar. Para Bibi e Léo, tudo era festa, pois
eles confiavam na líder da equipe. Mas o problema é que nem Sakura realmente acreditava
nela mesma. Ela estava muito nervosa, tremia muito, tinha vontade de sair correndo dali.
-Sakura, você tá pálida! E está tremendo! disse Lublizo.
-É o frio!
ela respondeu, desviando-lhe o olhar. Era evidente que não era o frio,
pois aquele dia estava bem mais quente que o anterior. Os termômetros já registravam 16
graus Celsius, e a luz verde do Esmýlion já brilhava bem mais forte. Mesmo assim, ela e
todos de sua equipe estavam vestidos com os mesmos casacos do dia anterior. Era óbvio
que não era frio.
O Abzurds encontrou-se com a equipe adversária, o Doom Bots. Seus integrantes
eram Doom, Cab liyke e Lorfikye, todos caracoleses de raça sheikíri, com sua pele meio
alaranjada, cabelos com fios espetados, diferente da maioria dos caracoleses, e vestidos
com seus durhk, mantos da cor de areia, que lhes cobriam dos ombros aos pés, como as
roupas tradicionais árabes, porém com um visual que, se não fosse pela cor, mais lembraria
um uniforme de motoqueiros. Tinham todos por volta de 20 anos, sendo que Doom usava
uma espécie de touca e óculos escuros, e tentava se fazer de bad boy, embora para os
padrões guanabarenses, estivesse parecendo mais um artista de circo.
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Cada um deles cumprimentou a todos os outros, inclusive aos robôs, e após isso os
treinadores e seus auxiliares se dirigiam às cabines que ficavam uma em cada canto oposto,
no fundo da arena. Já os robôs ficaram em volta dela, esperando seu momento de entrarem
em ação. Antes de começar, todas as regras foram lhes explicadas, embora Sakura, já
dentro de sua cabine, não estivesse entendendo uma só palavra do que o narrador dizia,
pois ela não dominava o idioma Caracolês muito bem. Mas isso não foi tanto um problema,
pois ela podia contar com a tradução automática que Lublizo ia fazendo. Além disso, em
cada um dos quatro telões de diodo orgânico que ficavam um em cada canto da arena,
apareciam legendas com as traduções em várias línguas.
-A partida vai se iniciar agora. Um dos participantes deverá jogar um dado de 4
faces, e o número que cair será o número de robôs que vocês poderão utilizar. Devem usar
um robô por vez. A equipe que derrotar todos os robôs da oponente primeiro será declarada
vencedora. O robô que estiver danificado, imobilizado por pelo o menos 30 segundos ou cair
da arena será declarado eliminado e perderá a luta. O tempo máximo da batalha será de 30
minutos, após isso, se a partida continuar, os juízes decidirão quem venceu por pontos, ou
se houve empate.
Os robôs do Doom Bots eram um Aracno, um Centaurus, um Jirutzive e um Dandrif
médio. O Centaurus então pegou das mãos do árbitro um dado de quatro faces, foi até o
centro da plataforma e o lançou para o alto. Caiu o justamente número 4, o que significava
que cada equipe poderia usar seus quatro robôs. Em seguida, Centaurus desceu da
plataforma e Doom, de sua cabine e escolheu Jirutzive para começar. Já Sakura preferiu
começar com Gru.
-Que comece a luta!
gritou o narrador, para a alegria da torcida. Os dois robôs
subiram na arena, cada um partindo de uma de suas extremidades. Jirutzive era totalmente
construído pela própria equipe Doom Bots. Por ser um robô único de seu tipo, Sakura não
tinha muitas informações a seu respeito. Não sabia quais as suas habilidades, nem seus
pontos fracos. A princípio, aquele robô não parecia ser dos mais fortes. Tinha pequenas
pernas com garras, que muito lembravam as pernas de uma ave. Seus braços eram longos,
sua cabeça era grande, e também possuía um bico, assim como Viwtóitar, mas era rente ao
seu corpo, que era quase um quadrado arredondado nas pontas. Um robô assim não parecia
grande coisa realmente, mas Sakura sabia que ele era mais perigoso do que demonstrava,
sabia que os adversários tinham um carta na manga, caso contrário, não teriam sido
campeões de seu país.
-Gru, preste atenção, rodeie o adversário, tente observa-lo de vários ângulos, e tente
descobrir um ponto fraco.
disse Sakura pelo rádio, sendo prontamente obedecida. Gru
rodeava Jirutizve, nem muito devagar, nem muito rápido. O robô da equipe Doom Bots só
ficava observando. De repente, Gru atacou-o por trás, mas Jirutzive rapidamente se virou,
conseguindo parar o ataque com apenas uma mão.
-Vamos, força Gru! Continue! - Sakura o incentivava. Jirutzive era mais lento que
Gru, e o robô de Sakura conseguiu mandar um golpe sobre a cabeça do oponente.
-Eles estão caindo direitinho!
disse Doom consigo mesmo
Percebe-se que não é
uma equipe muito experiente, pois só sabe atacar. Vamos acabar com isso. Cresça,
Jirutzive!
Enquanto Gru atacava, Jirutzive, seguindo as ordens de seu treinador, praticamente
se transformou em outro robô no meio da luta. Suas pernas aumentaram de tamanho e se
esticaram, seus braços ficaram maiores ainda, saindo de dentro de seu corpo, a caixa
arredondada. De dentro dela saiu também um pescoço enorme, fazendo a cabeça ficar bem
mais no alto. Resumindo, após isso, Jirutzive já estava com mais de quatro metros de
altura. Rapidamente, ele se atirou sobre Gru. O robô de Sakura não teve nem ao menos
tempo de correr, foi atingido pelo corpo do oponente, que o imprensou contra o chão da
45
arena, por cerca de vinte segundos. Em seguida, Jirutzive saiu de cima dele, e preparou-se
para ataca-lo novamente, quando o juiz declarou Gru como eliminado .
Sakura então escolheu Viwtóitar, e uma segunda luta começou. Viwtóitar começou
atacando bem o agora gigante Jirutzive.
-Em robôs grandes o fraco costuma ser as pernas. Se conseguirmos acertar as penas
dele... Toma cuidado para ele não se jogar em cima de você! Tente acertar as pernas dele, e
derruba-lo!
disse Sakura para Viwtóitar, que também começou encarando Jirutzive por
alguns instantes, esperando que ele baixasse a guarda.
-Ataca agora! seguindo a ordem de Sakura, Viwtóitar foi com toda a força com seu
bico na direção das pernas de Jirutzive, que se preparou para executar mais uma vez seu
ataque de corpo.
-Espera, volta, Viwtóitar!- Sakura fez com que o robô de sua equipe parasse no meio
do ataque. Ele tentou voltar rápido, e conseguiu escapar do ataque de corpo, mas ficou
bastante confuso.
-Viwt...Viwtói... - Sakura começou a gaguejar. Travou totalmente, perdeu o controle
da situação. Não sabia mais o que fazer, o que falar, e antes que Viwtóitar pudesse fazer
alguma coisa, Jirutzive mandou uma forte cabeçada contra seu tronco. Viwtóitar ainda
tentou se defender, mas não conseguiu, sendo derrubado na mesma hora.
-Viwtóitar está eliminado
o narrador sentenciava. Vendo que o robô já não estava
mais em suas perfeitas condições, três robôs que trabalhavam para a organização do evento
entraram na arena, e o retiraram de lá numa espécie de maca.
-Calma, Sakura! dizia Lublizo, ao seu lado. Ele também estava meio assustado com
a situação. Como auxiliar, também não conseguia ajuda-la a pensar em nada que fosse útil
naquele momento, em algo que pudesse ajudar a equipe a ponto de que ela conseguisse
uma reação. Pouco antes, ele tinha muitas idéias de como parar o adversário, mas agora
sua mente estava vazia.
-Vá, Lóyd, eu confio em você!
o robô trazido por Luibla agora recebia a ordem de
entrar em ação e mostrar a que tinha vindo. Ele dirigiu-se lentamente até a arena, subiu
nela, e assim que a luta iniciou-se, começou a correr de um lado para o outro, usando de
muita agilidade, enquanto aguardava instruções de sua treinadora. Jirutzive, por usa vez,
não esperou e pela primeira vez na partida, começou atacando, tentando dar golpes com as
mãos e a cabeça. Lóyd então desistiu de adotar uma postura defensiva e de esperar um
comando por parte de Sakura, e também atacou. Lutava por si próprio, por mais que aquilo
parecesse absurdo. A ação inesperada de Lóyd, de longe o robô mais forte do Abzurds, de
um certo modo até assustou Jirutzive, que recuou, e uma vez golpeado em seu corpo,
ameaçou cair. Lóyd então saltou sobre a cabeça do oponente, mas num reflexo rápido
Jirutizive esticou seu pescoço e envolveu-o com ele.
-Ele está agindo que nem uma cobra, espremendo a presa com o próprio corpo! - Foi
a única coisa que Sakura conseguiu dizer: o óbvio! Então Jirutzive foi caminhando
lentamente até a beirada da plataforma, onde com um movimento rápido com o pescoço,
soltou Lóyd, e o lançou com força contra o chão fora da plataforma.
Para o Abzurds não restava mais nada a fazer do que mandar Cleabot lutar. Assim
que o robô de limpeza subiu na plataforma, foi motivo de admiração por muitos na
plataforma, e de risos por outros. Alguns torcedores se perguntavam se aquela equipe era
maluca por levar um robô de limpeza para o combate. Outros se perguntavam o que a falta
de dinheiro não fazia. O fato é que aquilo irritou Doom profundamente.
-Ora, essa garota acha mesmo que pode colocar um robô de lixo pra nos derrotar. O
que ela quer dizer, que eu sou um lixo ? Vou mostrar pra ela...
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Jirutzive atacou Cleabot com vontade. Uma cabeçada bastou para arremessa-lo para
fora da arena. Foi talvez a luta mais rápida da história da KVC, pois terminou em exatos 6,3
segundos. O pobre Cleabot nada pôde fazer contra a investida. Tudo durou menos de 10
minutos. A multidão não podia acreditar no que estava vendo.
- Cleabot eliminado! A equipe Doom Bots vence por 4 x 0!
o histérico narrador,
sempre em Caracolês, quase destruía o microfone para anunciar o fim da partida. Lublizo, ia
mais uma vez traduzindo, mas ao contrário da voz original, ele pronunciava cada palavra
sem nenhuma empolgação.
-Eu perdi...E tão rápido... Como ?
Sakura se perguntava. No fundo, sabia a
resposta. Seus robôs não eram tão fortes, e ela ainda não tinha experiência suficiente para
competir bem a nível mundial. Mas Charles também não, e mesmo assim venceu.
-É, perdemos...
disse Lublizo, já meio conformado, assim como os seus amigos,
que já pensavam na próxima partida. Mas a líder parecia ter uma idéia diferente da
competição a partir daquela derrota.
-Se eu já perdi desse jeito na estréia... Sakura estava bastante triste.
-Mestra Sakura, podemos melhorar mais na próxima
insistiu Gru, vindo do centro
da arena, e entrando na cabine onde sua treinadora estava.
-De que adianta ? Não é culpa de vocês. Eu é que não sirvo pra treinadora...
Ela então saiu correndo, deixando todos para trás. Outra luta já iria começar, mas ao
invés de assisti-la para tentar aprender mais, ou até mesmo se divertir, Sakura só conseguia
pensar em chorar, em sumir dali. Seus amigos tentaram ir atrás dela, mas num certo
momento a perderam de vista, no meio da multidão. Procuraram e procuraram, e assim o
fizeram por horas, mas de nada adiantou. Sakura não havia ido para o quarto cedido pela
própria KVC, nem para a suíte no Saint Anna, que permanecia parado no porto da cidade.
Onde ela estaria então? Já era alta noite, e todos começavam a ficar preocupados...
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06
Abzurds vs. Gandoray
Depois de tanto procurar, Léo e Víni finalmente a encontraram, sentada na pracinha
da cidade, encostada numa enorme árvore Glóib-tóyb. Ela olhava fixamente para o céu, e
seus olhos estavam encharcados de lágrimas.
-Sakura ? Espera aí - Víni se aproximou dela, enquanto Léo chamou Lublizo pelo
comunicador, sem que ela percebesse. Aproximaram-se dela, tentando conversar um pouco.
-Me deixem sozinha! Eu não quero que vocês sintam pena de mim!
-Nós não sentimos pena, Sakura, nós sentimos orgulho!
-Orgulho de que ? De eu ter feito aquela batalha vergonhosa ?
-Em primeiro lugar, uma equipe de batalha de robôs não é só o treinador...Nós
estamos juntos nisso. Todos nós perdemos, não é mesmo ? Não seja idiota de achar tudo
culpa sua. Você deu o melhor de si, no bom sentido é claro. Se orgulhe por isso e tente
fazer melhor amanhã.
-Vamos lá, Sakura, vamos pro hotel. Amanhã será uma outra partida.
-Amanhã ?! Eu não sei se quero continuar amanhã...Acho melhor nós desistirmos.
-Por acaso a Luibla pediu pra você ganhar essa liga ? Ela só pediu pra nós
disputarmos, mais nada. Então já que estamos aqui, vamos apenas disputar, por diversão,
ganhando ou perdendo
disse Léo. Enquanto ele dizia isso, Lublizo, apareceu, correndo
bastante afoito.
-Sakura! ele disse, abraçando-a, com uma enorme sensação de alívio.
-Não faz mais isso, como você acha que nós vamos ficar bem lá com você aqui fora
no meio desse frio ?! Vamos lá, Sakura, sem você lá não é a mesma coisa!
O Lublizo ainda se preocupa comigo, mesmo depois de todas as coisas que eu disse
pra ele no navio , era o que Sakura pensava no momento, bastante comovida com a
preocupação de todos eles. De repente, os robôs também chegaram.
-Sakura!
chamou Cleabot
logo agora que eu consegui ser um robô de batalhas
como eu sempre quis ser, você vai nos abandonar ?
-Não, não vou! ela disse, novamente demonstrando sua determinação habitual. As
palavras de seus amigos tinham sido realmente confortantes, e agora, era como se após a
derrota, uma nova Sakura tivesse nascido.
-Eu pensei em parar, mas já que vocês querem, vamos em frente então. Não sei o
que pode acontecer de pior, mas, se estamos todos juntos nessa...
ela olhou para todos
eles, que a abraçaram e a reconduziram de volta ao quarto da equipe.
No dia seguinte, logo cedo, Sakura, Lublizo e os robôs foram até o quarto da equipe
Ricky Team. Eles queriam alguém com quem pudessem treinar. Ainda um pouco tímida,
Sakura pediu para que Lublizo tocasse a campainha e falasse com ele.
Um robô do tipo Glasney atendeu-lhes, e chamou por seu mestre Ricky, que logo
apareceu na porta, ainda com muita cara de sono. Devia ter acabado de acordar.
-Ora, o que temos aqui, um GRU 18 L, um robô em forma de passarinho, um
andróide totalmente sinistro e um robô-gari ??!!
Ricky falou, sem observar direito as
pessoas, somente os robôs. -Ah, são vocês Sakura e Lublizo ! ele então os reconheceu
Po, quase esqueci daqueles que derrotaram o tri-campeão do Shopping Madúrei! Bom,
entrem. Vi a batalha de vocês ontem... Mas vocês não foram ver a minha... - ele reclamou.
-Bom, é que tivemos alguns problemas... Mas você não quer treinar com a gente ?
-É uma boa. Esperem só a Joana, minha auxiliar voltar. Ela deu uma saída, mas já
volta. Enquanto isso sentem aí ele apontou para alguns assentos esquisitos que havia por
lá Vamos aproveitar para conversar um pouco, trocar uma idéia... Ricky apontou para o
Glasney - Lembram dele ?
ele mostrava seu robô, que possuía dois enormes olhos
vermelhos, um corpo atarracado, e no braço direito uma mão, enquanto no braço esquerdo
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possuía um tubo com várias garras que saíam dele. Depois disso Ricky chamou o resto da
equipe. O Primeiro foi G.R.U. 17 L. Depois, apareceram Pit-Viwt e Battle Bull, este último
uma máquina em formato de um touro, porém de um tamanho reduzido, mais ou menos do
porte de um pônei, porém aparentando ser mais forte do que um touro de verdade.
-Este foi o meu primeiro robô, está comigo desde que montei a minha equipe. É
como se fosse um membro da minha família dizia Ricky, orgulhoso. Eu gosto de todos os
meus robôs, mas esse é o cara! Comprei de um primo meu quando comecei a minha
carreira. Mesmo ele tendo quase uns 15 anos, ele não perde em nada para os robôs mais
modernos!
Quinze anos ? , pensou Sakura, Esse robô é mais velho que eu! Pra um robô de
batalhas continuar na ativa, ganhando, por tanto tempo, ele tem que sofrer upgrades muito
bons, ou já ser um robô muito bom por natureza. Ou então, ter um perfeito entrosamento
com seu treinador
-E sobre os seus robôs, falem alguma coisa sobre eles também - Ricky pediu, curioso
Quando a minha equipe lutou contra a sua daquela vez, lembro que vocês só tinham dois
robôs. Mas agora na KVC vocês estão completos...
Sakura e Lublizo então contaram sobre sua equipe, sobre como tiveram a idéia de
monta-la e de como conseguiram os dois últimos integrantes, deixando Ricky especialmente
espantado com a história de Cleabot. Após isso, eles passaram a conversar sobre a KVC.
-Ricky, como foi a sua partida ontem ? Você ganhou ? perguntou Lublizo.
-Ganhei nada! Perdi, mas de pouco: 4 x 3!
-E você considera um bom resultado ?
-É claro! Eu venho tentando entrar na KVC pelas eliminatórias por uns 3 anos, e essa
foi a primeira vez que consegui. Qualquer resultado pra mim é lucro, pelo o menos estou
ganhando experiência. Quando eu for adulto tenho tudo pra ser um campeão!
-Tem razão! - disse Viwtóitar. Lublizo também concordou, olhando para Sakura...
-Até se eu tivesse perdido de 4 x 0, já sairia daqui muito feliz! Ricky continuou. Ele
sabia que Sakura tinha ficado chateada pela derrota, e disse aquilo justamente para animala.
Com essas palavras de Ricky, Sakura ficou finalmente convencida a tentar reverter a
sua situação na liga.Tinha ainda mais duas partidas, e precisaria vencê-las para se classificar
para a próxima fase. Então a auxiliar de Ricky chegou, e as duas equipes foram para uma
quadra que ficava na mesma pracinha onde Sakura estava querendo ficar sozinha na noite
anterior. Lá, treinaram bastante, o dia inteiro. Só pararam para almoçar, lá pelas 13 horas,
para logo depois recomeçarem. Enquanto isso, as partidas prosseguiram naquele dia e
algumas chaves das 32ªs de final já se definiram. De onde treinavam, às vezes era possível
ouvir um som mais alto dos narradores que sempre se empolgavam demais com as
batalhas, ou os gritos da torcida. Ou as duas coisas. Mas por mais curiosidade que ela
tivesse a respeito dos resultados que estavam acontecendo, Sakura não se distraía,
permanecia sempre concentrada. Isso até as 17:30, quando olhando em seu seysu, viu que
faltava pouco para sua próxima luta. Foi então que ela se despediu de Ricky, e junto com
Lublizo e os robôs, voltou para o seu quarto, para se arrumar para a partida. Todos, com
exceção de Máik e Luibla, estavam por lá. Antes de sair, Bibi, com grande ânimo, disse
algumas palavras de incentivo e puxou o grito de guerra do Abzurds. Quando eles já
estavam para deixar o quarto, o seysu de Sakura recebeu um sinal, vindo justamente da
Guanabara.
-Sakura, sei que está meio em cima da hora, mas só te liguei pra desejar boa sorte!
disse sua mãe, olhando pelo outro lado da tela.
-É, mãe, acho que eu vou precisar!
-Minha filha, acho que você entendeu errado o que eu disse sobre honrar o seu país.
Não quis te colocar uma responsabilidade exagerada. Tudo o que você tinha que fazer era
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competir do melhor jeito que podia, e isso você fez. Todo aquele que luta por Zikam o está
honrando!
-É, tem razão! Vou me preocupar mais com a minha vitória pessoal.
-Isso mesmo. Agora, boa sorte, e vá lá e faça o melhor que puder! Até mais!
Chegando na mesma arena do dia anterior, a mesma torcida fanática do dia anterior,
e o mesmo narrador louco do dia anterior continuavam lá. Tudo tão igual, mas o resultado
tem que sair diferente , era o que Sakura pensava naquele instante.
-Senhoras e senhores; caracoleses, humanos e alienígenas; orgânicos e robôs! Vai
começar agora mais uma partida, válida pela segunda rodada do Grupo 21 da KVC, entre as
Equipes Abzurds, da Guanabara, e Gandoray, de Zikam!
Antes de entrar em sua cabine, Sakura cumprimentou o líder dos adversários, um
homem bem alto, que usava um bigodinho bem fino e tinha a aparência de ser um zikano
um tanto conservador; seu nome era Oshiga.
-Zif- dhin oiu Hauharu! gritou Oshiga em Akina, ao ver Sakura.
-Salve o Imperador! ela respondeu, em Português.
-Não sabe mais falar em Akina, garota ?
-Sim, eu sei, mas os meus amigos não. Não quero dizer na frente deles nada que não
entendam
ela disse, olhando firmemente para o adversário, enquanto Lublizo, Léo e Bibi
ficaram espantados com o modo como Sakura falou. De repente, ela já não era mais a
mesma menina tímida de antes.
- Fico feliz em saber que minha adversária é uma conterrânea. Então espero que isso
torne a nossa partida mais interessante. Vamos duelar de modo limpo, como irmãos. disse
Oshiga, tentando ser simpático.
-Está bem! Sakura respondeu.
Nisso, apareceram os outros integrantes da equipe Gandoray, e cumprimentaram
todos os integrantes do Abzurds. Então Oshiga lançou para o alto o dado que lhe foi
entregue pela organização do evento, e caiu virado para cima o número um. Em seguida,
todos seguiram para suas cabines, e o narrador deu a ordem para o início.
-Que lance é esse de Salve o Imperador ? perguntou Léo, dentro da cabine.
-É costume de todos em Zikam dizer isso quando se conhecem ou se encontram no
exterior. Mas você não entenderia mesmo... disse Sakura, tentando se concentrar.
-Teremos uma batalha de apenas um robô por equipe!
disse o narrador
Vai ser
uma batalha bem rápida, apenas uma luta, que será decisiva para os dois times. A Equipe
Gandoray vem de um empate contra os Pishadores, e o Abzurds vem de uma humilhante
derrota diante do Doom Bots! Ambos os times precisam desesperadamente da vitória hoje!
O Gandoray não era como a maioria das equipes zikanas. Em geral, elas eram
equipes de universidades ou grandes empresas. Apesar de contar com um patrocínio do
governo, eles não eram tão fortes como outras do mesmo país, como Zoltus, Kowyan e
CyberTakedha. Mesmo assim, inspirava cuidados.
Oshiga escolheu para começar Metaleer, um robô forte, de 3 metros de altura, com
pernas grossas, visual de rockeiro, todo preto, e tinha uma guitarra presa ao braço, que ele
usava como se fosse uma arma.
Sakura por sua vez escolheu Viwtóitar, o robô fisicamente mais forte, mais pesado.
Seria força contra força. Ambos subiram na plataforma, do centro da arena, e a batalha
iniciou-se. Cada um numa extremidade, eles ficaram por um tempo apenas se encarando e
se movimentando lentamente, de lado, e vez ou outra davam um passo para frente.
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Metaleer recebia as primeiras instruções de seu treinador pelo comunicador, enquanto
Viwtóitar ficou apenas se movimentando, aguardando...
Lublizo então lembrou-se daqueles movimentos e avisou:
-Cuidado, Sakura, ele vai mandar o Tiro Sônico, eu vi o vídeo da outra luta!
Sakura, diante daquele aviso, nem pensou duas vezes e ordenou que seu robô
contra-atacasse com um tiro de sua gosma produzida pelo Guto. Enquanto Metaleer
apontava seu braço direito contra Viwtóitar, o robô do Abzurds disparou contra ele o tiro de
gosma. O encontro do tiro Sônico de Metaleer e do tiro de Gosma de Cleabot no ar bloqueou
ambos os ataques, lançando gosma para todos os lados, inclusive na torcida.
-Mas que luta suja, quase voou gosma em mim agora! reclamou o narrador.
Viwtóitar então atacou rapidamente, usando o seu bico e suas mãos.
-Viwtóitar, vá com calma! Sakura o advertiu, lembrando da batalha anterior. Nisso,
Viwtóitar diminuiu a velocidade e Metaleer atacou com sua guitarra. Ele não podia atirar
mais o Tiro Sônico por alguns minutos, pois tinha que esperar sua bateria ser recarregada.
Mesmo assim, estava conseguindo golpear fortemente Viwtóitar, que tentava se defender
como podia com o bico. Após algum tempo, Oshiga ordenou novamente que Metaleer usasse
o Tiro Sônico, mas Viwtóitar foi mais rápido e golpeou-o no braço, fazendo com que o tiro
sônico fosse disparado para o alto do estádio.
Com a outra mão, Metaleer faz um movimento rápido, e acertou a guitarra bem na
cabeça do adversário, fazendo com que o robô comandado por Sakura caísse no chão.
-Agora, mais uma vez, ataque ele com a guitarra! disse Oshiga. Metaleer levantou
sua guitarra para golpear Viwtóitar.
-É agora, Viwtóitar, nós o pegamos!
disse Sakura. No que o adversário veio para
cima de seu robô, este, seguindo a orientação de sua treinadora, lançou gosma bem no
rosto do oponente, tapando-lhe a visão.
-Metaleer, não desista, ele está a sua frente, dê um passo à frente e pise bem na
cabeça dele! - ordenou Oshiga. Metaleer tentou fazer isso.
O robô comandado por Sakura também não perdeu tempo e bloqueou o pisão que
receberia, usando toda a sua força para derrubar o seu adversário. Com aquele astuto
movimento, fez com que o Metaleer perdesse o equilíbrio e caísse de costas. Viwtóitar então
se levantou rapidamente e o imobilizou com o bico e as mãos. Nos telões que ficavam em
volta da arena, o cronômetro foi disparado, a contagem se iniciou. Metaleer tentou se soltar
de várias maneiras, mas a primeira coisa que Viwtóitar fez foi lançar gosma sobre o seu
lançador de tiro sônico, impedindo-lhe de mandar aquele ataque de novo. O tempo jogava
contra o Gandoray, e logo a contagem terminou, fazendo com que o juiz da partida
finalmente se manifestasse.
-Metaleer está eliminado! Por 1 x 0, a vitória é de Abzurds!
Sakura enfim podia respirar aliviada. A torcida então comemorou, aplaudindo o
Abzurds da Guanabara, que após uma terrível derrota, conseguiu se recuperar.
Sakura então comemorou como nunca! Ela vibrava, pulando dentro da cabine. Seu
jeito normalmente contido, naquele momento deu lugar a muita alegria pela vitória.
Imediatamente, ela sai correndo para o meio da arena, onde abraçou os robôs da equipe,
um por um. Em seguida, Sakura foi até Oshiga, que já se retirava da Arena, e novamente
lhe cumprimentou.
-Foi muito bom ter disputado essa partida com você!
-Obrigado!
Oshiga respondeu.
Ainda temos mais uma partida para disputar
amanhã, porém, minha equipe agora tem poucas chances. Desejo-lhe sorte daqui pra
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frente, garota! Se pelo o menos eu não vencer a KVC, que uma ótima treinadora de Zikam a
vença. Agora vou me retirar
disse Oshiga, ao ver que o resto de sua equipe já havia
deixado o local.
Mas sinceramente torço pelo seu sucesso. Vá lá e aproveite para
comemorar a sua vitória, afinal, não é todo dia que se vence numa competição como essa. E
nunca se esqueça, Sakura Monan, jamais se desapegue das tradições de seu povo. Suas
raízes são tudo o que você tem! disse Oshiga, finalmente passando pelo portão que levava
para fora dali.
Então, os amigos de Sakura invadiram a arena e foram até ela, abraçando-a e
comemorando muito. Foi uma grande festa naquela noite. Mas apesar da alegria que Sakura
sentia naquela noite, sua mente estava cheia de pensamentos confusos.
...jamais se desapegue das tradições de seu povo. Suas raízes são tudo o que você
tem! , ela lembrava-se do que tinha ouvido ainda a pouco. Por que ele me disse isso ? , ela
pensava, e logo lembrou-se na sua atitude de ter preferido falar Português na frente de
Oshiga do que sua língua-pátria. Lembrou-se também na discussão sobre tradições que
havia tido com Lublizo, quando este disse-lhe tudo o que sentia por ela. Isso é tudo muito
confuso, mas é melhor esquecer tudo isso agora e pensar só no campeonato por enquanto
Sakura também sabia que nem tudo estava terminado. Ela havia conseguido
espantar o fantasma da derrota, mas a classificação ainda não estava assegurada. Foi até a
Arena D, onde, pelo grupo 28, começaria dentro de mais meia hora a partida do Ricky
Team. Todos foram com ela. Chegando lá, logo na entrada, o grupo todo encontrou Luibla,
que andava meio preocupada. Mas bastou a caracolesa encontrar Sakura, e já mudou sua
fisionomia.
-Foi uma grande vitória! Luibla sorriu para eles.
-Pena que você nem você e nem o Máik viram! Raiane reclamou.
-É claro que eu vi. Eu estava parada no corredor de acesso, próximo a onde vocês
estavam disse Luibla
Mas não pude ficar até o final porque percebi uma movimentação
estranha aqui fora e vim ver. Mas voltando ao assunto, como eu dizia, eu vi a luta inteira. E
Raiane, quanto ao Máik, ele também viu a luta toda. Ele estava no outro lado do estádio,
assistindo a luta junto com a namorada dele. Apenas não quis ficar junto de vocês. Eu
conversei por alguns instantes com ele um pouco antes da partida, e acho que ele está meio
envergonhado pelo que aconteceu. Mas não o julguem dessa maneira
Luibla tentou
defender o garoto. - Eles foram mais cedo para ver a partida entre Doom Bots e Pishadores.
Também estavam torcendo pelo Pishadores, mas o Máik estava bem mais animado na
partida do Abzurds.
-Espera...Pishadores é a equipe da irmã da Mayra, não é mesmo, Luibla ?
Raiane
ficou intrigada com aquilo. Luibla respondeu que sim, então, se eles haviam enfrentado o
Doom Bots, o mesmo time que enfrentou o Abzurds na primeira rodada, isso poderia
significar que...
-O nosso próximo adversário é essa equipe Pishadores! concluiu Sakura.
-Exatamente
Luibla respondeu, tirando de seu outro bolso a tabela da KVC. Ela,
apesar de mais preocupada em investigar a Caracuza, assistia todas as lutas que podia, e
depois se interessava em saber todos os outros resultados. Com sua caneta vermelha, ela ia
anotando tudo na sua tabela. Léo quis dar uma olhada na tabela também. A primeira coisa
que quis ver foi o Grupo 21. Lá, pelo que ele podia ver dos resultados, o Doom Bots já
estava classificado, pois tinha 6 pontos. O Abzurds estava em segundo lugar com 3 pontos,
e em terceiro estavam o Pishadores e o Gandoray, ambos com um ponto cada.
A última rodada se aproximava, e eles sabiam que com ela viria ainda muita
apreensão, e talvez não tanta cortesia entre os competidores. Agora, valia tudo pela
classificação!
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07
3ª Rodada - A Escolha de Máik: Pishadores vs. Abzurds
Sentados próximos à piscina do Saint Anna, Máik e Mayra podiam observar dali
a movimentação gerada em Truyblin pela última rodada da primeira fase da liga. Naquele
dia, 8 Altxiibuu, as batalhas eram vitais para a maioria das equipes.
-Vamos voltar lá para a suíte pediu Mayra quero ver com a minha irmã como vai
ser a preparação deles para esta noite.
Máik então foi com ela. Uma vez lá, eles encontraram todo o pessoal do Pishadores,
discutindo sobre a derrota de 4 x 3 para o Doom Bots, na noite anterior. Havia sido um
duelo de campeões nacionais, e eles levaram a pior. Agora, pensavam na próxima e decisiva
batalha.
-Máik, o que você sabe sobre o Abzurds ? disse Djhóba, ao vê-lo chegar.
-Como assim ?
o garoto, que estava abraçado a Mayra, se assustou com a
pergunta. É uma equipe, a equipe da Sakura, do Lublizo, do Léo e da Bibi. Os quatro são
meus amigos, têm 4 robôs, só que dois deles eu não conheço muito bem. Por que ?
-Precisamos da sua ajuda. Eles são nossos próximos adversários.
Ao ouvir isso, Máik sentiu-se muito estranho. Estava tão afastado de seus amigos nos
últimos dias, que praticamente já torcia mais pela equipe da irmã de sua namorada do que
pela equipe que ele mesmo ajudou a criar.
-Eu, eu não sei de muita coisa - Máik tentou se justificar. Estava um pouco nervoso
naquele momento. Levantou-se, deixando Mayra sentada no chão, e começou a andar de
um lado para o outro.
-É uma pena, cara
disse Djhóba.
Eu não conheço essa Sakura, mas conheço
alguns dos seus amigos. Eu sei que Abzurds era o seu time, antes de ser equipe de robôs.
Seus amigos são todos uns caras bacanas. É uma pena que tenhamos que disputar a mesma
vaga.
-Eu não sabia que eles eram da mesma chave que o Pishadores Mayra lamentou.
-Nem eu disse Máik
Nós não estávamos na hora do sorteio, e nem paramos pra
perguntar pra ninguém sobre as chaves. Eu nem peguei na tabela da KVC durante esses
dias! Mas é lógico, se a partida do Abzurds foi na mesma arena, contra a equipe que o
Pishadores já tinha enfrentado antes...
-E o pior continuou Djhóba é que eles lutam pelo empate apenas.
A dúvida mais cruel para Máik era: por quem torcer na última batalha? vou ser
neutro, quem ganhar, pra mim está bom , ele pensou primeiramente, para depois se
consertar: Não, não consigo ser assim. Não dá pra fazer de conta que tanto faz .
Mais tarde, Máik e Mayra estavam numa sorveteria em Truyblin.
-Droga! Eles tinham que estar logo decidindo a vaga. Não podia um dos dois times já
ter sido eliminado, ou um dos dois já estar classificado ? Ou até os dois eliminados,
disputando só pra cumprir tabela...Mas não... Máik resmungava consigo mesmo.
-Você está chateado pelo Abzurds, não é mesmo ? Mayra perguntou. Ela percebeu
logo que seu namorado estava numa situação meio desconfortável.
-Sabe, não é nem por mim. Eu não ligo mesmo se o Abzurds está ganhando ou
perdendo, mas existem coisas maiores, sabe... A galera já tá meio bolada comigo por causa
da Laísa e...
-E o que tem a Laísa ?
-Bom, você sabe da história. Eu preferi ficar junto de você, e o clima ficou meio chato
lá por isso. E agora, bom, essa luta é muito importante pra Sakura, que é a líder da
equipe... Eu não posso deixar de dar uma força pra ela...
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-Ai, eu não acredito, mais uma vez essa Sakura ? Mayra, que até alguns segundos
estava com um olhar doce de apaixonada, subitamente se enfureceu. Ela nem ligava para
Laísa, sabia que ela não significava nada para Máik, mas acreditava que ele gostasse da
Sakura. Por isso, não podia nem ouvir nome dela.
-Máik, você tem que tomar uma posição, eu não quero perto de mim um cara que
não sabe o que quer. Se você gosta dessa Sakura, vai atrás dela, torcer pela equipe dela
mesmo. E me esquece de uma vez, ok ?
-Mas Mayra, a Sakura é minha amiga... Não dá pra comparar...
-Amiga ? Se você fosse cabeleireiro, carnavalesco ou decorador eu até acreditaria.
Amiga, sei...Olha aqui: Hoje à noite vai acontecer a luta decisiva, é a sua chance de mostrar
se gosta de mim ou não.
Após dizer isso, Mayra foi embora, deixando Máik mais confuso ainda. Ele levou suas
mãos à cabeça e começou a refletir sobre aquilo tudo. Nisso, apareceram seus velhos
amigos, Bibi e Léo. Aqueles que, juntamente com ele próprio, desde o início investiram em
Sakura para que ela se tornasse uma grande treinadora.
-Brigou com a Mayra ? Bibi perguntou, colocando a mão em seu ombro.
-Vocês não sabem o que tá pegando. A próxima luta é...
-Entre o Abzurds e os Pishadores. Nós sabemos - disse Léo.
-A Mayra estava parecendo que me compreendia, mas quando eu falei na Sakura, ela
mudou completamente. Disse que eu vou ter que escolher entre as duas. Como se algum
dia eu tivesse gostado da Sakura. Isso é com o Lublizo, não comigo! E a Sakura, e não só
ela, mas vocês também. São todos meus amigos. Por mais que eu goste da Mayra, a gente
se conheceu faz só alguns dias!
Léo então sentou-se na cadeira, ao lado de seu amigo, e disse:
-Máik, você é que sabe. Se você acha que vai deixar a Mayra mal se não estiver junto
com ela durante a luta... Não tem problema! Faz o que você achar certo.
-Nós nunca vamos deixar de ser seus amigos por causa disso... Bibi completou.
-Puxa, galera, valeu! Vocês estão me deixando até mais tranqüilo agora. Pena que a
Mayra não pensa assim.
-Ela está com ciúmes. E é até meio normal, mas só não deixa que ela comece a
mandar em você. Um namoro pra ser legal, tem que ter respeito dos dois lados.
-É isso mesmo. E deixar mulher mandar em você é pior coisa
Léo disse, agora já
em tom de brincadeira, mais pra descontrair e pra provocar a Bibi -Como dizem aqui em
Bõung-Bõung, não deixe o glúlzu montar nas suas costas!
-Valeu! Máik respondeu, rindo.
Como medida de segurança adotada pela KVC, para evitar favorecimento de chaves,
as partidas de cada grupo deveriam acontecer simultaneamente. Na arena C, onde o
Abzurds esteve até então, disputariam uma última partida Doom Bots e Gandoray, enquanto
a luta da equipe de Sakura seria na Arena D. A torcida do Abzurds, formada em geral pelos
próprios amigos de Sakura e um ou outro nativo de Truyblin que eles haviam conhecido,
vestida toda de verde, e a do Pishadores, vestida toda de preto e branco, estavam
relativamente próximas, deixando as outras partes da arquibancada para aqueles que iam
apenas observar o espetáculo, a grande maioria entre os presentes.
Máik foi de mãos dadas a Mayra, e estava lá na torcida dos Pishadores. Mas seu
pensamento não estava ali. As duas equipes se dirigiram para suas cabines, mas antes
disso, no meio da arena, Djóba jogou um dado para o alto, e caiu o número quatro,
indicando que seria aquela uma batalha de quatro robôs para cada lado. Ambos os membros
de cada equipe se cumprimentaram, e a partida então começou.
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Sakura escolheu Gru para começar, e Djóba por sua vez escolheu um Bukazol 51, um
robô de design arrojado, corpo e braços fortes, pernas flexíveis e elásticas, e uma cabeça
quadrada e bem grande, bem acoplada ao tronco. Nas costas, levava um propulsor para
poder flutuar.
Bukazol começou partindo para cima, e Gru, sob orientação de Sakura, permaneceu
na defensiva, até que durante um ataque, ele conseguiu imobilizar o braço do oponente.
Então ele o puxou com força e com o outro braço que estava livre, golpeou Bukazol na
cabeça e o derrubou.Em seguida, Gru saltou sobre o oponente e conseguiu imobiliza-lo. A
contagem então se iniciou, a platéia se mostrou apreensiva. Mayra ficou angustiada, e ao
final de 30 segundos, o juiz anunciou:
-Bukazol eliminado!
-É! - Máik levantou-se com a mão direita fechada e estendida. Ao seu lado Mayra
logo fez uma cara horrível. É um roubo! Máik logo disfarçou, dando uma espécie de soco
no ar, de alto a baixo, tentando demonstrar insatisfação. - Esse juiz é um ladrão, ele tinha
que esperar mais um pouco! disse Máik, deixando sua namorada mais tranqüila.
Os Pishadores então escolheram Mega Cannon. Este era um robô grande, com três
metros de altura por dois de largura. Em cada lado de seu corpo ele levava dois canhões que
disparavam o temível Tiro Sônico , que na verdade era um pulso de ar por onda magnética,
capaz de exercer uma enorme pressão no oponente, atirando-o a vários metros.
-Esse vai ser difícil! pensou Sakura. E ela estava certa. Mal o juiz autorizou o início
da segunda luta, Mega Cannon mandou um belo disparo, que acertou em cheio em Gru,
deixando-o caído. Não demorou para que fosse também declarado eliminado.
-Uhu!
neste momento foi Mayra quem comemorou, junto com toda a torcida do
Pishadores. Máik também se levantou e aplaudiu.
Sakura continuou em dúvidas sobre qual robô usar. A princípio, ela pensou em
Cleabot, mas em seguida pediu uma opinião ao resto da equipe. Lublizo, Bibi e Léo foram
unânimes em apontar Viwtóitar como melhor no momento. E ela seguiu o conselho. A luta
que se iniciou foi mais disputada. Mega Cannon começou disparando com força total na
direção de Viwtóitar, que começou apenas se esquivando, até estar bem perto do
adversário. Vendo que seria difícil atirar dali, Mega Cannon começou a usar os braços para
acertar o adversário. Mandou primeiro um soco na cabeça, outro na barriga, e mais um de
raspão no bico de Viwtóitar, que respondeu mandando uma bicada bem na cabeça de seu
oponente, o ponto fraco dele.
-Agora, Viwtóitar, se atire sobre ele! - disse Sakura. E foi o que seu robô fez, jogou
seu corpo contra o oponente, que também fez força e atirou Viwtóitar de novo para trás.
Agora, Viwtóitar estava caído, e seria a oportunidade de Mega Cannon acerta-lo novamente.
-Viwtóitar, mande a sua gosma na cara dele!
disse Sakura, ao mesmo tempo em
que Mega Cannon também atirava. A gosma de Viwtóitar bateu bem no canhão do
oponente, o que travou o disparo, e fez o tiro sair com um grande impacto para os dois
lados. Foi o suficiente para jogar Viwtóitar muito para a esquerda, e Mega Cannon muito
para a direita, fazendo com que ambos caíssem da plataforma quase ao mesmo tempo.
-Pelo o menos eu eliminei esse robô. Espero que o próximo não seja tão forte
Sakura começou a pensar em voz alta.
-Não! O próximo é mais fraco! disse Lublizo - O próximo vai ser Helik, ou Octopus.
Então Sakura decidiu colocar Cleabot na batalha. Se fosse para perder, que fosse
logo. E os Pishadores usaram Helik, um robô circular que mais parecia uma bandeja
colocada em pé, porém dele saíam quatro braços com hélices na ponta, que giravam rápido
o bastante para faze-lo voar com agilidade na medida certa. Emitindo com suas hélices um
barulho parecido com o de um besouro, voando e girando de um lado para o outro, não
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demorou nem dez segundos para que Helik agarrasse Cleabot com duas mãos que saíramlhe subitamente pelas costas, e o atirasse para fora da plataforma.
-Cleabot está eliminado!
-Já esperava a derrota nessa luta, mas não esperava que ele fosse fazer isso! De
onde saíram aquelas mãos ?
perguntou-se, Sakura, virando-se para Lóyd - eu confio em
você agora!
Helik acertou um soco em Lóyd, que era o último robô do Abzurds. Ele recuou um
pouco para trás, e nisso seu oponente começou a flutuar até chegar a uns cinco metros de
altura, onde Lóyd não poderia acerta-lo.
Helik, parado no ar, de repente voou na direção de Lóyd como uma águia, dando-lhe
um poderoso golpe no tórax. Lóyd foi rolando até quase cair da plataforma, mas conseguiu
parar a tempo.
-Não se desespere, Lóyd. Pegue impulso, e quando eu mandar, suba em cima dele!
Sakura seguia firme, concentrada, instruindo calmamente o seu robô.
Helik deu um novo ataque, um vôo rasante. Lóyd olhou friamente, e quando o
adversário estava a alguns metros, ele pegou um impulso, e colocou o pé sobre a cabeça do
aversário. Enquanto ele sobrevoava a plataforma, Lóyd pressionou o corpo de Helik contra o
chão, enquanto este se descompôs de sua postura ofensiva. Após Helik rolar sem rumo por
vários metros, Lóyd saiu de cima dele, e Helik parou de se mexer. Um momento de
apreensão seguiu-se por toda a arquibancada, e nas duas cabines. O juiz principal correu
até lá e viu que estava tudo bem com o robô, mas declarou-o também como eliminado.
Alguns robôs com maca também tiveram que entrar na arena para retira-lo de lá e leva-lo
para o reparo. Então, sobrava apenas um robô de cada lado: Lóyd e Octopus.
Octopus era o maior dos robôs que o Abzurds já havia enfrentado. Sua cabeça
quadrada tinha uma parte mais comprida na frente, que lembrava um focinho de cachorro, e
em cima da cabeça havia alguns adornos, imitando pêlos. Tinha oito braços, que o tornavam
eficiente no ataque e ao mesmo tempo na defesa. Octopus entrou na arena, cheio de moral,
e quase todos na arquibancada gritavam o seu nome. Sakura se deixou intimidar um pouco
por ele, e Mayra àquela altura já dava a vitória como certa, abraçando Máik, que por sua vez
também já considerava que o Abzurds fosse sair derrotado.
Lóyd em momento algum se deu por vencido e atacou Octopus como um verdadeiro
campeão. Sakura mandava que seu robô não desistisse, e era isso que ele fazia, mas era
evidente a superioridade do adversário. No início dessa mesma luta, foi anunciado pelo
narrador que na outra batalha válida pelo Grupo 21 da KVC, a equipe Doom Bots havia
vencido o Gandoray, classificando-se em primeiro lugar.
Lóyd atacou com todas as suas forças e foi conseguindo fazer Octopus recuar. Mas
tudo estava dentro da estratégia de Djóba. Com cerca de três minutos de luta, próximo ao
fim da plataforma, enquanto Lóyd saltava sobre Octopus, o robô dos Pishadores usou um de
seus tentáculos e segurou Lóyd no ar, envolvendo todo o corpo dele.
-Isso Octopus! Mayra vibrava.
-Octopus, joga ele pra fora da plataforma!
Djóba ordenou, e foi o que o robô fez.
Esticou seu tentáculo para arremessar Lóyd que tentava se soltar de todas as formas, mas
era impossível.
A multidão se preparava para aplaudir a equipe Pishadores, que seria a vencedora,
quando Máik se levantou antes de todos e gritou.
-Lóyd, não se esqueça, você só precisa do empate!!
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-O que disse, Máik ? sua namorada se espantou com aquilo que ele havia dito. Lóyd
não pôde ouvir a instrução, mas Sakura sim, e ela captou a mensagem. Tinha agora, graças
a seu amigo, o caminho da classificação.
-Lóyd, faça força ao máximo pra fora da arena, e puxe o tentáculo do Octopus!
disse Sakura, sendo prontamente obedecida pelo robô. Antes que Octopus pudesse
empurra-lo, sentiu Lóyd fazer mais força ainda para fora da plataforma. Os dois robôs agora
estavam caindo, e a multidão não podia acreditar no que via, ambos tocaram juntos o solo.
-Octopus e Lóyd estão eliminados, o que significa que essa batalha terminou
empatada em 4 x 4! Com isso, o grupo 21 termina com a seguinte classificação: 1º Doom
Bots, 9 pontos, 2ºAbzurds, 4 pontos 3º Pishadores, 2 pontos 4ºGandoray, 1 ponto!
Enorme foi a comemoração de Sakura e todos os outros depois que aquilo acabou. A
torcida verde da equipe da Guanabara fez uma grande festa para aquela que era então a
maior surpresa da competição. Máik, por sua vez, estava bem feliz por Sakura, embora um
pouco chateado por ver a equipe da irmã de sua namorada ter sido eliminada. Mas Mayra
não ficou simplesmente chateada pela derrota da sua equipe. Ela ficou furiosa!
-Máik, o que você fez ?
-Mayra, me desculpa. Você sabe que eu te adoro, mas não dá pra torcer contra a
Seleção da Guanabara, o Real Madúrei e o Abzurds!
-Ora, seu... Você torceu contra a minha equipe!
-Da sua irmã.
-Não importa, é como se fosse minha. Como você pôde ?!
-Mayra, me entende. Não tem como torcer contra eles. Mas cada um tem que ter
liberdade pra torcer pra quem quiser. Eu estou feliz pela vitória dos meus amigos sim, mas
não quer dizer que eu não goste de você. E eu posso te demonstrar isso...
ele dizia,
quando ouviu o som das comemorações, viu todos os seus amigos reunidos, e não pensou
duas vezes. Puxou Mayra pelo braço, tentando convence-la a se juntar a sua festa.
-Amor, vamos lá comemorar com eles também. Eles mereceram a vitória...
-Tá maluco ? Nunca! E se você for lá, nunca mais fale comigo!
-Olha, eu queria que você me entendesse mesmo, mas acho que se você realmente
gostasse de mim, ficaria feliz por eles... Mayra, você está de cabeça quente, amanhã você
vai estar mais calminha... Então, até lá eu falo contigo, agora, se você está triste, eu estou
muito feliz, então me deixa comemorar com os meus amigos. Valeu, fui! ele a deixou, indo
correndo na direção de Sakura.
-Aê, parabéns!
Alguns olharam desconfiados. Mas a própria Sakura foi quem fez questão de explicar.
-Muito obrigada, Máik, por ter me dado aquela dica!
-Que é isso ? Foi a minha vez de retribuir pelas suas dicas de futsal.
ele sorriu. E
assim, a comemoração se estendeu por toda a noite. Haveria um dia de descanso na
competição, e após serem eliminados, muitos times deixaram Bõung-Bõung e voltaram para
seus países de origem, preferindo não esperar o fim da KVC.
Chegando o dia seguinte, Máik foi tentar se reconciliar com Mayra. Foi até o
Saint Anna, tocou em sua suíte, mas foi avisado pelo computador que a Equipe Pishadores
havia deixado aquele local na noite anterior. eles nem quiseram esperar o Saint anna
voltar, pegaram um avião da cidade mais próxima de volta para seu país , Máik concluiu. E
a Mayra nem me procurou.
-Vejo que a Mayra ficou chateada mesmo com você, não é ?
perguntou Lublizo,
acompanhado de Sakura, ao encontra-lo.
-Sinto muito disse Sakura, para tentar consola-lo.
-Não sinta nada não! Quer saber, foi como eu disse, se ela gostasse de mim, teria
ficado feliz do mesmo jeito que eu ficaria feliz por ela, caso os Pishadores ganhassem. Se ela
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me deixou sem falar uma palavra, azar o dela, não sou eu que perco com isso, afinal,
mulher é que nem biscoito, vai uma, vem dezoito! Estou pronto pra outra!
-É, Máik, você não muda nunca! - Sakura constatou. Enfim, todos já estavam
bem de novo, e suas atenções começavam a se voltar para a próxima luta, que seria no dia
seguinte.
-Máik - chamou Laísa timidamente. O garoto virou-se, e ela correu, dando-lhe um
forte abraço. Pela primeira vez, Laísa foi correspondida por ele com um gesto de carinho na
mesma intensidade.
-Foi uma atitude muito legal a sua. Não fica triste por ela...
-Não, eu não estou. Eu fico muito feliz por ter amigos como você, a Sakura, o Víni...
-Máik, já que vocês terminaram, se quiser nós ainda...
-Esquece isso, Laísa! Você é uma garota muito interessante, talvez até demais pra
mim. Eu devia ter levado você mais a sério antes, mas... Acontece, acho que o meu negócio
não é arrumar nada sério mesmo. Se a gente continuar juntos, eu vou te fazer sofrer de
novo. Então procura alguém que tenha a ver com você, e vamos continuar amigos!
-Máik... - Laísa repetiu, olhando o garoto sem entender muito bem.
-Sabe... Eu queria ser como o Lublizo. Ele é mais... Digamos... Romântico. Ele gosta
da Sakura de verdade, os dois formariam um belo casal. Já eu, acho que eu não formaria
um belo casal com ninguém mesmo. Mas não adianta tentar mudar agora! - disse Máik,
sorrindo. Em seguida, deu um beijo na testa da Laísa e um sorriso afetuoso.
-Vamos esquecer tudo o que aconteceu até aqui, está certo ?
-Claro!
Foi quando Víni chegou correndo e encontrou-se com os três. Eles não
chegaram a ver os resultados de todas as outras lutas da noite anterior, e quando o garoto
mostrou-lhes a tabela da KVC, não puderam acreditar: o primeiro colocado do Grupo 12, era
ninguém menos que a equipe Suellina. Quem diria que as duas se enfrentariam logo na liga
Mundial.
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08
Suellina Team vs. Abzurds
Na manhã do dia 10, numa pracinha do Complexo da KVC, Víni, Máik, Lublizo,
Sakura, Laísa, Bibi, Léo, Raiane e os robôs estavam jogando bola, até que Sakura, num
certo momento, se empolgou demais com a brincadeira, e meio desajeitada como era com
certos esportes, acabou chutanto-a forte demais, meio sem direção. Naquele mesmo
instante, Suellina estava passando por ali, quando viu a cena, e a bola vindo em sua
direção. Quando Sakura e Lublizo vieram à frente dos demais pra pegar o objeto de volta,
ela então a chutou para bem longe.
-Grande treinadora de robôs você é! Ao invés de treinar...
Suellina mais uma vez
tentou tirar o juízo de Sakura.
-Vejo que você também está treinando muito respondeu Lublizo.
-Deve estar é treinando a língua Máik, chegando logo em seguida, completou.
-Acontece que eu não preciso treinar, porque o Charles dá conta do recado. Ele
treinou o dia todo ontem, e continua treinando agora. O ano passado inteiro ele além de ter
treinado todos os dias os seus robôs, também têm estudado muito para passar para o
Centro Tecnológico Federal da Guanabara, ele sim é um garoto obstinado, não é que nem
você. Quer saber, Sakura, você deu muita sorte de ter chegado até aqui, mas sua
participação na KVC vai acabar hoje.
Luibla, que estava ali por perto, ao vê-los, aproveitou para ir até lá, para conhecer
melhor Suellina e Charles. Pelas histórias que ouvia, ela conhecia um pouco do
temperamento de Suellina, mas imaginava que fosse tudo um pouco exagerado.
-Olá, eu sou Luibla Dal Lurik, de Craytèyryi. Vocês são colegas da Sakura, certo ?
Luibla estendeu-lhes a mão. Suellina olhou para o seysu que Luibla levava preso ao pulso
quando estava em serviço, e reparando nos detalhes, reconheceu que nele estava impresso
o símbolo da Ônuc.
-Você é de Craytèyryi e trabalha na ÔNUC ?
-Sim, sou, puxa você é muito inteligente! Como sabe ?
-Reparei no seu aparelhinho. Mas como você é de Craytèyryi, das duas uma: ou ele é
roubado, ou é falso!
disse Suellina, sem o menor constrangimento. Luibla poderia tê-la
detido por desacato, mas o modo como a garota agiu foi tão surpreendente que ela ficou
sem reação - Agora, me deixem ir, tenho que me concentrar pra minha próxima partida na
KVC. Os adversários não são lá grande coisa, mas a nossa equipe quer estar bem preparada
-Achava que tudo o que diziam sobre essa garota era exagero disse Luibla.
-No passado eu ficava meio chateada com as palavras dela, mas agora, a cada
provocação que alguém fizer, meus robôs vão responder por mim em cima da plataforma!
Essa vai ser a pior disputa da vida dela!
A hora da partida decisiva chegou. Nesse dia, para o Abzurds, ela seria mais cedo, às
16:30, pela primeira vez na Arena Principal. Como sempre, estádio lotado, multidão
vibrante. Agora, quem narrava a luta era uma mulher, e esta não era menos empolgada do
que os narradores das outras arenas. Antes de entrar na sua cabine, Sakura conversou uma
última vez com seus robôs, tentando dar-lhes alguns últimos conselhos antes daquela
partida. Para a maioria dos espectadores e demais presentes ali, aquilo era só uma 32ª de
final da KVC, mas para Sakura era mais importante que uma final.
Então a Equipe Suellina chegou lá também, e o juiz mandou que os adversários se
cumprimentassem, mas Suellina, ao contrário do resto de sua equipe, se recusou a fazer
isso, virando as costas para todos. Muito constrangidos com a atitude de sua companheira
de equipe, Leonardo e Ramirez ainda tentaram se justificar.
-Foi mal, mas vocês sabem como ela é...
disse Ramirez, dessa vez meio
envergonhado, diante de tanta antipatia por parte de sua companheira de equipe. Léo e
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Bibi, pelo Abzurds, aceitaram sua justificativa. Então o juiz-principal se aproximou das duas
equipes e avisou sobre a mudança de regulamento que estava prevista para a segunda fase
da competição.
-Agora, ao invés de cada robô lutar de uma vez, todos lutam contra todos ao mesmo
tempo! ele falou, com um forte sotaque, esforçando-se para falar bem o Português, língua
falada pelos dois times - Vão para seus lugares, e boa sorte a todos!
A narradora anunciou o início de mais uma batalha:
-Os desafiantes de hoje são duas equipes da Guanabara, da mesma cidade, Madúrei,
e seus integrantes estudam quase todos no mesmo colégio. Sem dúvida todos já se
conhecem e devem ter um grande sentimento de coleguismo. Essa luta deverá ser muito
especial para todos eles, como uma batalha em família!
ela realmente viajava em suas
suposições malucas. Suellina tinha vontade de esganá-la naquele momento.
-Vamos acabar com esse bando de nerds!
disse Suellina, apenas para começar o
combate, e dar a impressão de que era mesmo a líder. Os robôs das duas equipes subiram
na plataforma e se posicionaram.
Seguindo as instruções de seus treinadores, Pit-Viwt atacou Cleabot, o mais fraco do
Abzurds, com o objetivo de tirar logo um adversário da disputa, o que traria um impacto
moral muito grande. Lóyd então se posicionou na frente do pequeno robô para protege-lo,
enfrentando Pit-Viwt. Gru já se preparava para atacar Pit-Viwt também, quando foi
orientado por Sakura para mudar de idéia, e se esconder atrás de uma pedra que tinha sido
colocada pela organização no meio da plataforma. Enquanto isso Beebot e Zóti atacavam
Viwtóitar, que tentava se defender como podia.
-Hei, Beebot, deixa esse Viwtóitar só com o Zóti, e ataca o robô-lixeiro!
disse
Charles pelo comunicador. Beebot partiu para cima de Cleabot, mas vendo Lóyd, que levava
vantagem contra as garras afiadas de Pit-Viwt, decidiu ataca-lo primeiro.Com uma cabeçada
poderosa, Beebot levou Lóyd ao chão e depois correu atrás de Cleabot, perseguindo-o
implacavelmente.
-Viwtóitar, defenda o Cleabot!
disse Sakura para seu robô, que mesmo sendo
atacado impiedosamente pelo Zóti, não hesitou em disparar sua gosma com toda a sua força
contra o Beebot. A gosma passou a dois metros de Beebot, deixando Charles com medo de
perder seu robô.Então ele desistiu de atacar Cleabot, que apesar de frágil, era muito rápido,
e mandou que Beebot atacasse Viwtóitar novamente, pois seria mais fácil elimina-lo de uma
vez.Nem a própria torcida do Abzurds estava entendendo porque os robôs da equipe
estavam protegendo tanto o Cleabot, mas Sakura tinha a explicação.
-Quero usar o Cleabot como objeto de intimidação. Se o tempo passar e o Charles
não conseguir elimina-lo, ele pode entrar em desespero e começar a errar.Vou jogar no erro
dele.
disse Sakura para Léo, Bibi e Lublizo, que estavam tão confusos quanto seus
torcedores. Enquanto Viwtóitar continuava se defendendo de Zóti, Beebot voou em sua
direção para ataca-lo por trás.
-Agora, Viwtóitar, atire a gosma para trás!
mandou Sakura. Seu robô foi rápido e
certeiro, acertou a gosma em cheio no Beebot, que perdeu o rumo. Viwtóitar então se atirou
no chão, e Beebot colidiu com o seu parceiro Zóti, empurrando-o com força. Os dois foram
ao chão e rolaram ainda por vários metros, por entre as pedras, só indo parar bem no final
da plataforma. Nesse momento, Gru, que estava escondido, era atacado por GRU 20 L, e
começou a lutar com ele, até que recebeu uma ordem de Sakura para que parasse de lutar.
-Gru, corre e empurra os outros!
Então Gru apenas se esquivou e fugiu do robô que o atacava, correndo para o outro
lado da plataforma. Enquanto Beebot e Zóti se levantavam, completamente sujos pela
gosma rôxa, Gru chegou por trás e deu-lhes um leve empurrão, suficiente para que caíssem
da plataforma.
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-Beebot e Zóti estão eliminados!
a narradora anunciava.
Mas logo após isso, Gru foi pego desprevenido por GRU 20 L, que seguindo as
instruções de Charles, acertou-lhe com força, fazendo-o também cair.
-GRU 18 L eliminado! A Equipe Suellina diminuiu a diferença!
Então Lóyd correu na direção de GRU 20 L, em meio àquele terreno pedregoso, se
esquecendo de que atrás dele estava também Pit-Viwt, procurando o melhor momento para
derruba-lo.Quando Lóyd passou ao lado de Viwtóitar, o robô pássaro, que estava caído, fez
um tremendo esforço para se levantar também, mas foi atingido fortemente por uma
cabeçada de Pit-Viwt, e mais uma vez caiu. A contagem se iniciou para Viwtóitar, que
parecia já se encontrar eliminado.A luta mais disputada passou então a ser a de Lóyd e GRU
20 L. Lóyd tentava dar vários socos e chutes no adversário, e achou que seria fácil vencer,
pois já havia treinado bastante com Gru, também do tipo G.R.U., porém de um modelo mais
antigo, e por isso tinha noção dos pontos fortes e fracos do oponente.
Mas a luta logo mostrou-se não tão fácil assim. GRU 20 segurou Lóyd pelos braços e
levantou-o, atirando em seguida para trás. Lóyd parecia que iria cair fora da plataforma,
mas conseguiu tocar a beirada dela, e se manteve ainda em cima.
-Empurra ele pra fora! disse Charles para GRU 20 L, que prontamente foi até onde
estava Lóyd e começou empurrar os dedos do oponente, para que ele saísse. Viwtóitar
conseguiu se levantar, mas a verdade era que ele já estava meio danificado. Mesmo
parcialmente caído, e sendo atacado a todo instante por Pit-Viwt, ele ainda tentava resistir.
-Viwtóitar, não desiste! Lóyd, tenta voltar pra arena!
-E o que eu faço, Sakura ? perguntou Cleabot.
-Ataque Pit-Viwt ou o GRU 20 se achar que consegue!
disse Sakura. Cleabot não
perdeu tempo. Ele via a essa altura Lóyd quase sendo empurrado para fora da plataforma, e
o mesmo acontecendo com Viwtóitar, só que cada um numa extremidade diferente. Era a
oportunidade para ele decidir a partida. Escolheu atacar primeiro GRU 20 L, mas enquanto
corria na direção deste, Viwtóitar conseguiu erguer seu corpo de novo e atirou o último
estoque de gosma que lhe restava na direção do robô que empurrava Lóyd para fora, na
outra ponta da plataforma, antes de tombar novamente. Gru 20L, que estava na beirada, foi
empurrado com violência, mas acabou caindo sobre Lóyd, e os dois tocaram a areia da
arena.
-Agora GRU 20 L e Lóyd também estão eliminados!
Vendo que tinha chegado tarde demais, Cleabot decidiu correr para o outro lado, para
atacar Pit-Viwt, o único robô que restava na equipe adversária.
-Falta pouco! Estamos na desvantagem, mas eles vão perder! Na equipe deles, um
dos robôs está danificado, e o outro é uma piada! Pit-Viwt, empurra o Viwtóitar pra fora com
força total! ordenou Charles.
Viwtóitar era pesado, por isso Pit-Viwt não conseguia arrasta-lo por muitos metros
com muita velocidade. Mas antes dele cair da plataforma, passariam os 30 segundos de
contagem de combatente caído, e ele seria mesmo declarado eliminado. Cleabot usou de
sua rapidez para atacar Piwt-Viwt, mas esse nada sofreu com um ataque, e apenas revidou
com uma forte cabeçada, lançando o robô lixeiro a vários metros dali, para o meio da
plataforma, a área mais pedregosa.
-Agora ele está eliminado! disse Charles. A torcida estava tensa, pois a contagem
de Viwtóitar já estava nos 28 segundos.
-Reage, Viwtóitar, reage! dizia Sakura, mas nada adiantou. O cronômetro alcançou
as marca dos trinta, e um dos juizes anunciou a terrível sentença.
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-Viwtóitar está eliminado!
a narradora anunciou, enquanto Charles comemorava.
Mas ele havia se esquecido que o robô Cleabot ainda não estava fora de combate. Mesmo
levando um poderoso golpe, ele incrivelmente ainda queria luta!
-Agora acabou. Bibi constatou.
-Não acabou não! Sakura rebateu - Cleabot, a partida está nas suas mãos!
Pit-Viwt correu com força máxima contra Cleabot, mas ele também acionou sua
potência máxima e conseguiu desviar de todos os ataques. A multidão não conseguia crer:
um robô criado para coleta de lixo e adaptado para lutas, dando trabalho a um Pit-Viwt.
-Será que essa garota não desiste mesmo ?
Suellina perguntava para Charles
Estou a fim de ir logo tomar um bom banho, não agüento mais isso aqui.
-Vou cuidar para acabar logo!
Charles respondeu.
Pit-Viwt, mande esse gari pra
fora da arena, cm o golpe número 7!
Que coincidência incrível! Minha primeira final foi contra um Pit-Viwt, e agora, a
partida mais importante pra mim até aqui, é contra um Pit-Viwt também. Já derrotamos um
desses uma vez, e vamos derrotar de novo! , Sakura pensava, confiante.
Pit-Viwt arrastou os pés no chão, como um touro prestes a dar uma chifrada mortal.
Como um pitbull furioso, partiu a toda velocidade para cima do adversário.
-Cleabot, usa o máximo da sua velocidade! Corre pra cima dele! Sakura mandou, e
Cleabot obedeceu, correndo na direção contrária, indo de encontro ao Pit-Viwt -Agora
desvia!
Por muito pouco, Pit-Viwt não o acertou em cheio. Tirou um fino de seu metal.
Cleabot quis atacá-lo com suas pás mecânicas coletoras, mas Sakura o instruiu para que
não fizesse, pois de nada adiantariam.O objetivo seria cansar o adversário, fazendo seu
treinador perder o equilíbrio, levando-o ao erro. Mas Charles parecia não estar cansado. Ele
era persistente, mandou um novo ataque, quando então seu robô conseguiu desferir um
golpe definitivo no robô de Sakura.
-Agora sim acabou! disse Charles, vendo o robô dos Abzurds ser arremessado por
Pit-Viwt a metros de distância, indo para fora da plataforma. Numa última atitude de
desespero, Cleabot começou a movimentar sua pá mecânica com força, com o intuito de
tentar exercer resistência ao ar, enquanto dava enormes cambalhotas no alto. Conseguiu
diminuir sua velocidade, e cair ainda dentro da plataforma. Caiu com seu corpo para cima, e
sua pá mecânica virada para baixo.Parecia ter ficado numa posição um tanto desfavorável.
Parecia que o fato de ter caído daquele jeito seria para Cleabot o mesmo que já estar
eliminado, mas ele surpreendeu a todos. Com um grande impulso de sua pá mecânica
contra o chão da plataforma, ele conseguiu projetar seu corpo no ar novamente, agora na
direção contrária. Sua projeção foi perfeita, fazendo-o rodopiar sobre a plataforma, antes de
cair bem sobre a cabeça de seu oponente, prendendo seu pescoço com suas pás mecânicas.
-Mas isto é uma coisa espantosa, fenomenal!
gritava a narradora
O robô da
equipe Abzurds conseguiu desferir um golpe de imobilização em seu adversário. E isso conta
muitos pontos no caso de um empate, minha gente!
-Isso, grande Cleabot! - Sakura enfim conseguiu o que queria: agora Charles é que
estava sem reação. Ele não sabia mais o que fazer, pois por mais que tivesse estudado
todas as táticas de batalha, nunca poderia prever que seu Pit-Viwt pudesse ser imobilizado
por um robô de limpeza. Pit-Viwt tentou correr, se bater, se atirar ao chão, mas Cleabot
permanecia preso nele, batendo em sua cabeça com uma de suas pás de metal, e
prendendo-se nela com a outra.
Charles então ordenou que Pit-Viwt corresse até a o fim da arena e virasse
bruscamente um pouco antes, o que em sua estratégia, jogaria o adversário para fora da
plataforma. Percebendo sua intenção, Sakura não teve dúvidas.
-Cleabot, força total, empurra ele agora!
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Usando suas pás de metal mais uma vez, Cleabot atacou o adversário com toda a sua
força, aumentando em muito o impulso que este último já tinha dado, na direção do fim da
plataforma. Graças a isso, seu adversário escorregou, e Cleabot saltou de suas costas,
enquanto o robô comandado por Charles deslizou sem rumo, para cair da plataforma e tocar
o chão da arena.
Suellina e Charles não puderam acreditar quando viram Pit-Viwt caído no chão, e
quando a o estádio inteiro vibrou, para saudar a força e a determinação de um ex-robô de
limpeza, que como lutador, levou sua treinadora à vitória contra sua maior adversária. O
placar final anunciava: Suellina Team 3 x 4 Abzurds.
-Você conseguiu! Nós ganhamos!
Sakura foi até Cleabot, que agora, mais do que
um robô, era um símbolo da própria equipe, um símbolo da vontade de vencer. Suellina, por
sua vez, saiu muito decepcionada, e Charles mais ainda. Ele tinha certeza absoluta do que
estava fazendo quando mandou Pit-Viwt se atirar para fora da arena.
-Como ? Depois de estudar tanto as jogadas...Eu perdi! Charles se lamentava.
-Como a gente perdeu praquela garota ? Suellina se perguntava, enfurecida.
Ela e sua equipe então pegaram um ônibus até a cidade mais próxima com
aeroporto, e voltaram à Guanabara por conta própria.
Sakura, por esse lado, estava com sorte, mas por outro com bastante azar, quando viu que
seu próximo adversário seria nada menos que a equipe Caracolês, comandada por Garý
Caracolês, o melhor treinador de Rowissa l, e que, até agora, não havia perdido uma só
partida na KVC. Realmente, a brincadeira tinha acabado naquela luta. Agora, viriam apenas
treinadores e equipes muito experientes.
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09 - Os Z- 9 Atacam
No dia seguinte, 11 de Altxiibu, as 16:00 horas, o Abzurds enfrentava na Arena E a
Equipe Caracolês, de Rowissa l, numa batalha emocionante. Sakura foi confiante como
nunca, mas o treinador Garý era franco favorito, e todos ali sabiam que a vitória da Equipe
Abzurds seria algo mesmo muito difícil de acontecer. Garý era um garoto de raça rosada, de
cerca de 18 anos, e o cabelo vermelho, e usava calça e casaco plast-jeans.
Sakura comandava seus robôs com um estilo agressivo, mandava-os atacar, mas se
preocupava também com a defesa. Todos os robôs lutaram muito bem, mas nesse momento
valeu a experiência e a determinação do adversário. Depois de 25 minutos de uma batalha
muito empolgante, restava no Abzurds apenas o robô Lóyd. Na equipe adversária, ainda
estavam em combate dois Sagwei. Aquele era um tipo de robô pequeno, que apresentava
uma eficiente defesa, com quatro braços fortes protegidos por escudos, e que também era
muito ágil. Com a desvantagem técnica e numérica, não havia muito o que Lóyd pudesse
fazer. Encurralado, ele começou a ser golpeado pelos dois robôs de Garý, até cair. A
contagem se iniciou, até que finalmente o juiz a encerrou.
-Lóyd está fora! O time Caracolês é o vencedor! Final: Caracolês 2 x 0 Abzurds! A
equipe de Garý Caracolês está classificada para a próxima fase! disse o narrador, esse um
pouco menos empolgado que os narradores das outras arenas.
Garý comemorou, mas com um certo ar de eu já sabia . Ele saiu de sua cabine, e
caminhou até a plataforma, onde os integrantes do Abzurds já estavam, ajudando o robô a
se levantar, e os cumprimentou pela excelente luta e por terem chegado tão longe, mesmo
sendo principiantes. Afinal, ser eliminado nessa altura do torneio não era tão ruim pra eles.
Ao contrário de sua estréia, quando ficou decepcionada com sua atuação, naquele dia
Sakura sentiu-se saindo por cima, com uma sensação de dever cumprido, de vitória, de
superação. Edurante a tarde inteira, e até à noite, ela conservou aquele sorriso de satisfação
por ter vencido, mesmo com uma derrota. Mal sabia ela que estava mais perto do que
imaginava da maior adversidade de sua vida até então.
À noite, ela e Lublizo caminhavam a sós pelo Complexo da KVC, na área próxima a
mata, ondecirculavam poucas pessoas àquela hora. Muitos competidores eliminados já
haviam voltado pra casa, as batalhas daquele dia já tinha quase todas terminado, isso
contribuía para deixar a Praça do Chafariz Roxo, setor onde eles dois estavam, mais deserto
que o de costume. Foi quando eles viram aparecer subitamente aquele que até então
cercava-sede seguranças e quase não aparecia em público, vivia escondido. Nada menos
que Trbluzikzay, o presidente da KVC, circulava livremente por ali, sozinho, indo na direção
do meio do mato, como se estivesse em um transe. Sakura e Lublizo tomaram um grande
susto com a cena, e comoe stavam sozinhos ali, acharam que era melhor chamarem Luibla.
Num outro ponto afastado do compexo, um treinador desprevenido, humano de
Charúckytus, membro da Equipe Silveira, depois de encher a cara de álcool, com preguiça
de ir ao banheiro, resolveu se aliviar atrás de algumas plantas. Como estava acompanhado
de seu robô, um Saparoug, pediu para que ele vigiasse, para que nenhum segurança visse o
que estava fazendo. Um terrível erro, visto que naquele lugar não havia nenhum segurança,
e era perfeito para que os caracuzos agissem. Logo, o robô foi atacado por Malhin nko, que
atirou nele com uma pistola eletromagnética, fazendo-o ficar paralisado. Em seguida, Liyba
acoplou à cabeça de Saparoug um dispositivo copiador de memórias, para poder roubar
informações confidenciais do treinador, que poderiam mais tarde ser do interesse da
Caracuza.
-Agora vamos nos dar bem
disse Liyba - vamos conseguir muitas informações
valiosas desses treinadores todos.
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-Parados aí! Em nome de Caracówl, vocês estão presos, mãos pra cima!
a oficial
Luibla apareceu de repente, com sua Vuytchi Pislutxyi nas mãos, apontando-a na direção
dos marginais. Bastante assustados, eles se renderam na hora.
-Hei, calba, hic! Não athiremm, eu não to fazenbo naba...
resmundou Paulinho, o
treinador, saindo de trás da árvore, totalmente embriagado, e sem noção nenhuma do que
se passava no momento. Em seguida, ele caiu no chão de tão bêbado.
-Droga, estava tão fácil
Malhin nko murmurou, decepcionado, uma vez que havia
sido pego de surpresa por sua velha conhecida, a oficial Luibla. Ela mandou que jogassem as
armas no chão, colocassem as mãos na cabeça e deitassem. Em seguida, retirou do bolso
suas algemas magnéticas para prendê-los.
-Quer dizer que vocês estavam se preparando para roubar esse robô e iam usa-lo
para atacar o Trbluzikzay agora, não é mesmo ?
-Atacar quem ?
Liyba, deitada no chão, de costas para Luibla, demonstrou não
saber do que a oficial estava falando.
-Não se faz de desentendida, eu tenho uma fonte confiável de que vocês iriam tentar
seqüestrar o Trbluzikzay esta noite.
-Nós ? Eu nem sei do que vocês está falando. Não pode nos acusar de tentativa de
seqüestro!
reclamou Malhin nko, bastante irritado. Luibla levou em consideração o que
eles falavam. Conhecia-os bem de outros tempos, conhecia seu modo de falar, o modo como
usavam a voz para enganar as pessoas, e começava a desconfiar que talvez eles tivessem
falando a verdade, talvez Trbluzikzay não fosse o alvo deles. Será que esses dois foram só
uma isca pra mim ? Será que tudo isso foi uma tentativa de desviar o meu trabalho ? ,
Luibla pensava, quando seu seysu recebeu uma chamada.
-Luibla, venha para cá! ela reconheceu a figura de Sakura do outro lado Estou aqui na Praça do Chafariz Roxo! Siga o sinal do seysu que você vai me achar!
-O que está acontecendo ?
-É o Trbluzikzay! Ele está agindo estranho. Parece que está hipnotizado. Aqui só
estamos, além dele, o Lublizo e eu, e ele está se dirigindo pra mata.
- Mas eu pensei que os caracuzos é que... Aguardem que eu já estou indo.
Mas não se exponham a riscos. Fiquem quietos, só observando, não se aproximem dele!
disse Luibla, um tanto assustada. Ela correu dali, esquecendo-se de algemar os caracuzos,
que num pequeno momento de distração de Luibla, aproveitaram para se levantar e fugir.
Enquanto isso, Trbluzikzay se deslocava cadavez mais para dentro da mata que
limitava o Complexo da KVC, e Sakura e Lublizo iam atrás dele, mantendo sempre uma
certa distância. Ele andava feito um zumbi, com um olhar sem expressão, como se estivesse
hipnotizado. Sakura e Lublizo aguardavam Luibla, mas conforme o tempo ia passando, a e
eles iam adentrando mais na mata, passavam por lugares cada vez mais sinistros.
Após alguns minutos de caminhada, Trbluzikzay parou. Sakura e Lublizo, vindo mais
atrás, puderam notar que ele havia parado em frente a uma área mais descampada no meio
do bosque. Na sua frente havia uma espécie de aeronave, parada entre duas árvores; cor
verde oliva, com detalhes vermelhos e azuis, era comprida e a sua frente lembrava a cabeça
de algum animal, onde logo abaixo havia uma espécie de canhão. Em volta dela, havia dois
seres humanóides, verdes, com cerca de 1,80 de altura. Seus olhos eram grandes, seus
narizes e bocas eram muito pequenos, os membros compridos e firmes, os corpos esguios, e
cobertos de folhas verdes. De seus ombros saíam folhas como as de samambaia, e alguns
tentáculos que eram como cipós, com alguns esporões venenosos.Tinham o peito e parte da
perna também recobertos com um tipo de armadura metálica prateada, que não parecia ser
muito resistente.
-Não acredito! disse Sakura São samambers!
-Samambers ? O que são os samambers ?
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-Eu só ouvi falar deles por alto. São soldados de laboratório criados pelo Império de
Zeelish. Dizem que são meio irracionais, mas muito fortes dizia Sakura. Subitamente, uma
porta se abriu, e uma rampa desceu até o chão. Por ela começaram a descer um grupo de
homens, todos vestidos com armaduras metálicas azuis, que possuíam o brasão zeelishiano
e a inscrição Z-9 gravados nelas. Nas mãos traziam pistolas Henevul Eletrolaser, mas
presos nas roupas de cada um deles, também era possível ver rifles Henevul, e também
rifles Crisaller.
De todos os que desceram da nave, o mais esquisito era um que tinha por volta de
1,20 de altura, a cabeça oval, com as extremidades triangulares, sendo meio
desproporcional em relação ao corpo, para os padrões humanos. Suas orelhas, olhos e boca
eram grandes, mas o nariz era diferente, uma espécie de reentrância na face, onde havia
dois furos triangulares, e a pele era da cor verde oliva, a mesma cor da nave. Seu corpo era
largo, suas pernas curtas, os braços finos e as mãos e pés tinham quatro dedos. Esse era o
coronel Yawrinke, líder do grupamento especial Z-9, do Exército Imperial de Zeelish, que era
da espécie nativa do planeta Yawribabawk.
Atrás dele, vieram descendo três humanos: Volty, um indivíduo de pele pardoamarelada, olhos não muito pequenos e rasgados, rosto triangular e expressivo, nariz
pequeno e a barba por fazer, o cabelo era liso, meio ondulado e preto, e as sobrancelhas
grossas; Runshnker, também humano, de rosto arredondado e cabelo em estilo moicano,
nariz de médio para grande e olhos médios levemente rasgados; Psider, que era bem
branco, tinha nariz arredondado, bochechas gordas, era careca e com a cabeça um pouco
maior que o normal. Seus olhos eram claros, grandes e profundos, também levemente
rasgados, e seu rosto tinha profundas olheiras.
Sakura e Lublizo sabiam perfeitamente que aqueles homens e alienígenas
provavelmente não queriam boa coisa em Caracówl. Poderiam ser antigos inimigos de
Trbluzikzay, que os estariam querendo mata-lo. Os dois jovens ficaram muito
impressionados com a cena, mas não se moveram, apenas observaram.
-Lublizo, o que será que eles querem ?
-Não sei. Volte pro Complexo. Deixa que eu fico aqui vendo.
-De jeito nenhum.Eu não sou medrosa!
-Tudo bem, se você diz, mas vamos fazer silêncio!
Eles continuaram observando. De repente, os zeelishianos começaram
a rir, com exceção de Psider, que permanecia sempre sério, imóvel. Seus olhos estavam
fechados, e ele colocava os dedos polegares na cabeça, como se estivesse fazendo um
enorme esforço para se concentrar. De repente, ele começou a sentir uma dor horrível, não
se agüentando e caindo ajoelhado no chão. Trbluzikzay, que permanecia todo o tempo numa
espécie de transe, finalmente acordou, olhou para o lado, como se tentasse reconhecer onde
estava. Ao ver os Z-9 na sua frente, naquele lugar, ele entrou em desespero, tentando
correr, mas foi automaticamente imobilizado e teve a boca tapada pelos tentáculos dos
samambers. Nesse momento, uma mão tocou o ombro de Sakura, e ela teve vontade de
gritar, mas automaticamente sua boca foi também tapada, e um rosto familiar apareceu ao
seu lado, fazendo sinal para que fizesse silêncio. Era Luibla, que havia chegado naquele
momento e começou a também observar a cena:Trbluzikzay sendo levado para a nave.
-Então são esses os inimigos que ele tinha! Não eram os caracuzos que pretendiam
seqüestrar o Trbluzikzay, eram os alienígenas! Mas como eles entraram no planeta desse
jeito ?
Luibla se perguntava
Eles formam o Z-9, um grupamento especial zeelishiano
usado para infiltrações no campo inimigo e missões de reconhecimento.
disse a
caracolesa, mexendo em seu Seysu, onde tinha guardadas informações sobre aqueles seres.
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Então Luibla resolveu agir. Enquanto Trbluzikzay era conduzido ao interior da nave
Zeel Okrawan, a caracolesa mandou Lublizo e Sakura se esconderem, e foi falar com os
soldados zeelishianos.
-Atenção senhores! Sou a oficial caracolesa Luibla Dal Lurik, e tenho que dizer que
esse homem está sob nossa proteção e não pode ser conduzido à força! Eu não sei como
conseguiram passar por nossas defesas espaciais sem autorização, mas peço que deixem
Trbluzikzay em paz e retornem a seu mundo de origem!
disse Luibla, imaginando que
resolveria tudo na diplomacia. Mas não foi isso que aconteceu. Volty, que estava de costas
para ela, virou-se, e com a pistola que estava em suas mãos, disparou contra a caracolesa,
que graças a um bom reflexo conseguiu fugir do disparo e correr para trás de uma árvore.
-Ora, Volty, você sempre precipitado! Nós não deveríamos mostrar hostilidade
gratuita. Agora deixe, vamos embora logo - disse Yawrinke para seus subordinados.
Rapidamente, Volty, Runshnker e Psider entraram na nave, mas quando os samambers iam
entrando nela em seguida, carregando Trbluzikzay com eles, Luibla de trás da árvore sacou
sua Vuytchi Pislutxyi e após mirar muito rapidamente, disparou contra os dois, acertando
seus alvos com precisão. Feridos, um no peito e outro nas pernas, os dois mutantes caíram,
deixando Trbluzikzay livre para correr.
-O que é isso, como ela se atreve ? Yawrinke perguntou-se, agora mais assustado
do que o próprio Trbluzikzay. Faz muitos anos, nem me recordo direito, quando foi a última
vez que uma equipe especial zeelishiana ser desafiada dessa maneira. Todos no Império de
Zeelish nos respeitam e nos temem, mas esse povo daqui mal deve nos conhecer .
-Peguem ele! - gritou Yawrinke, e nisso mais seis soldados samambers saíram de
dentro da Zeel Okrawan, estes armados com eletrolasers, e correram na direção de
Trbluzikzay.
-E peguem também aquela garota!
Nisso, Sakura, que estava com Lublizo, escondida, resolveu pedir ajuda. Usando seu
seysu, chamou a todos que estivessem próximos, inclusive os seus robôs, pedindo ajuda.
Era a única coisa que podia fazer naquela situação.
Luibla corria entre as árvores, fugindo dos disparos dos samambers.Até que viu que
um deles tinha colocado seus tentáculos em Trbluzikzay novamente.Então a caracolesa
correu até ele e surpreendeu-o dando-lhe um chute nas costas, fazendo o samamber cair no
chão. Mas os samambers eram fisicamente mais fortes que os caracoleses, então ele reagiu
e bateu na caracolesa com apenas um tentáculo.
-Ai!
Luibla gritou com a dor da pancada. Mas ao cair, ela pegou a sua arma e
disparou contra aquele samamber também, fazendo-o tombar, agora em definitivo.
-Por aqui! - Luibla puxou Trbluzikzay pelas mãos. Ele tentava acompanha-la na
corrida, mas já não era tão jovem quanto a caracolesa, o que deu tempo para que os
samambers os cercassem pelo outro lado.
-Por ali não, por aqui! disse Luibla, puxando o alienígena para o outro lado. Mas ao
virarem de costas viram mais quatro samambers os cercando por outros lados. Confiando
em sua pontaria mais do que na dos samambers, Runshnker sacou a sua arma e partiu para
atingir Luibla, quando sentiu um pedaço de metal golpeá-lo pelas costas, derrubando-o.
-Isso, muito bem Viwtóitar!
Sakura, escondida atrás de alguns arbustos,
comandava os seus robôs, que haviam chegado no local onde tudo acontecia naquele
mesmo instante. Em seguida, ela viu Lóyd, Gru e Cleabot ao seu lado e mandou que
atacassem também, coisa que os dois fizeram na mesma hora. Mas ao ver Cleabot passando
do seu lado, ela olhou bem e mudou de idéia.
-Espera, Cleabot, você não! Deixa ele ir sozinho
por mais que Cleabot tivesse
provado ser um grande robô de batalhas na luta contra a equipe de Suellina, Sakura ainda
achava aquilo arriscado demais para ele participar de uma ação daquelas. Já Lóyd, Sakura
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permitiu que fosse à luta. Ele agarrou os tentáculos de um dos samambers com força,
derrubando-o e atirando o mutante contra outros dois deles.
Trbluzikzay, aproveitando que Luibla e os robôs de Sakura combatiam os samambers,
se embrenhou na mata, tentando chegar de novo no Complexo da KVC. Nessa altura, os
robôs de Sakura, por mais combativos que fossem, começaram a não ser mais páreo para
os samambers. Um deles já era como um humano ultra-forte; sete deles era algo muito
difícil de se enfrentar. Gru fugia bravamente de seus tentáculos e contra atacava com
rápidos e precisos golpes. Viwtóitar os cercava com poderosas bicadas, e Lóyd aplicava-lhes
golpes fortíssimos, mas como se fossem bonecos do tipo João-bobo , eles caíam e
retornavam a luta quase que instantaneamente, com seus tentáculos recobertos de
esporões que pareciam mais folhas de samambaia, e que também pareciam aumentar em
número, tamanho e em agilidade quanto mais a luta durava. Logo, os robôs passaram a não
mais conseguir revidar os ataques que sofriam, e começaram a ser imobilizados pelos
poderosos tentáculos dos inimigos. Irritados, os samambers agora os espremiam com força,
tentando esmaga-los como a insetos. Luibla mandou Trbluzikzay ir à frente, corria de um
lado para o outro, novamente entre as árvores, em meio a um intenso tiroteio contra
Runshnker e seus outros samambers.
- Caracolesa, não sabe em que está se metendo!
Volty então gritou, e sua voz
ecoou por vários metros - Não irá ganhar nada nos atacando. Me diga logo onde está
Trbluzikzay, ou terá o mesmo destino que ele!
o zeelishiano gritou, com um ódio terrível
em sua voz, sentindo seu poder e seu status de guerreiro sendo jogados na lama por uma
simples mulher não-humana, com feições que mais lembravam a de um bebê do que a de
uma grande guerreira. Aquilo não poderia ficar assim.
-Você não vai pega-lo! gritou Luibla saindo de trás de uma das árvores, disparando
contra Volty mais uma vez. Nesse instante, ele desviou do disparo e revidou a ele também,
atingindo a caracolesa no abdômen. Se aquele fosse um laser normal, ela teria morrido, mas
no momento apenas caiu atordoada pelo disparo eletromagnético.
-Luibla! gritou Lublizo de trás de uma árvore, e em seguida correu em sua direção.
Sakura foi atrás dele, e o robô Cleabot foi atrás de sua treinadora.
-Agora eu vou te matar!
gritou Volty, apontando sua arma para ela, e ajustando
sua potência para a força máxima.
-Não faz isso! gritou Lublizo, em desespero. Ele corria com toda força, num esforço
inútil de tentar impedir que o zeelishiano fizesse qualquer coisa com sua prima. E no mesmo
instante, mais barulhos foram ouvidos no meio do mato, quando por detrás de algumas
árvores, apareceram vários treinadores de robôs. Entre eles estavam Oshiga, líder do
Gandoray, time eliminado pelo Abzurds de Sakura logo na primeira fase. Também estava lá
Ricky, líder do Ricky Team; Kulíypu, líder do Vuytchóckis de Rowissa l e Márcio, auxiliar da
equipe Urubus, de Flamengo.
-Saiam daqui arruaceiros! disse Oshiga.
-Voltem para o seu planeta, e deixem o nosso em paz!
O Z-9 Volty já se preparava para atirar neles também, quando percebeu descendo,
entre as árvores, vários robôs. Eram no total 10, os quatro das equipes Gandoray e Ricky
Team, além dos robôs Flamingwul do Urubus e Zóti X do Vuytchóckiss. Os Z-9 foram pegos
de surpresa, e estavam agora em desvantagem numérica. Thor Bot e Titan Bot
inesperadamente saltaram sobre os samambers que prendiam com seus tentáculos os robôs
de Sakura. Enquanto os samambers rolavam no chão com as máquinas comandadas por
Oshiga, Gru, Viwtóitar e Lóyd aproveitaram para voltar à briga. Flamingwul e Zóti X
atacaram os outros samambers, e conseguiam um bom resultado. Os samambers
revidavam, disparando contra os robôs caracoleses, mas a maioria dos tiros saía errado. Um
deles, porém, atingiu o robô Metaleer, lançando-o contra o tronco de uma árvore glóib-tóyb,
mas seus colegas não desistiram, e logo cercaram os samambers. Com suas habilidades de
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batalhas e seus acessórios, derrubaram todos os inimigos. Volty, Psider e Runshnker
reagiram e atingiram também o robô Zóti X, de raspão.
-Vamos deixa-los de lado e procurar quem nós queremos! gritou Volty, e os outros
dois concordaram com ele. Não se preocupavam com a tímida reação dos caracoleses. Para
eles, pegar Trbluzikzay era prioridade, e questão de tempo, mas por causa daqueles
mesmos caracoleses, a missão estava ficando mais difícil do que parecia. Mas subitamente
os zeelishianos receberam uma mensagem pelos comunicadores que levavam no braço, uma
espécie de seysu fabricado em Zeelish.
-Z-9s, aqui é o Coronel Yawrinke! Os caracoleses já nos descobriram!
- Eu sei, senhor! Estão nos dando um trabalho enorme aqui! Mas já pegaremos o
rebelde Trbluzikzay! Ele não pode estar longe...
-Você não entendeu, Runshnker! A Força Aérea e a Espaçonáutica foram acionadas!
Yawrinke explicou melhor, fazendo Volty olhar para o alto, e então por entre as copas das
árvores, ele viu uma nave de ataque caracolesa sobrevoando a região.
-Abortem a missão! Yawrinke ordenou mais uma vez.
-Atenção soldados, bater em retirada!
gritou Runshnker para os samambers.
Quatro deles ainda podiam correr e conseguiram se soltar dos robôs caracoleses, voltando
então pela trilha na direção de onde estava a nave. Nesse instante, Luibla se recuperava do
disparo que a havia atingido, e se levantava, tentando encarar os inimigos.
-Ainda vamos nos ver de novo, caracolesa!
disse Volty para ela, antes de sair
correndo, junto com Runshnker e Psider, na mesma direção dos samambers. Luibla não se
conformou com aquilo, e mesmo ainda atordoada, correu até a sua pistola e em seguida
começou a tentar perseguir os Z-9.
-Luibla...
Lublizo mal podia acreditar que a caracolesa ainda tivesse forças.
Preocupado com ela, ele resolveu segui-la, assim como Sakura e todos os outros. Após uma
breve perseguição, todos chegaram no lugar onde a nave Zeel Okrawan estava
originalmente, mas ela não estava mais pousada no chão, e sim a vários metros de altura.
Da parte de baixo dela saía um raio azulado, que sugava até o interior da nave tudo o que
fosse atingido por ele. Os samambers em fuga foram se colocando um por um debaixo da
luz azul, passando pela abertura que havia em baixo da nave. Os zeelishianos ainda
puderam observar Luibla, correndo em sua direção. O pensamento dos Z-9 naquele
momento era apenas um: como poderia uma missão tão fácil como essa ter dado errado ?
Estava tudo muito bem planejado, muito bem arquitetado. Era só hipnotizar Trbluzikzay à
distância, traze-lo e captura-lo. A culpa era daquela mulher . Mesmo que Luibla sozinha
nada pudesse fazer contra eles, mesmo que tivesse tido a ajuda de tantas pessoas e robôs,
era mais fácil colocar nela a culpa, direcionar para ela toda a sua frustração pelo nãocumprimento da missão, coisa que raramente acontecia com eles. E logo aquela missão, que
havia sido planejada a mais de um ano! Nossa honra foi ferida por aquela mulher!
Precisamos limpar nossa moral, nos vingando de nossa maior inimiga! , era o pensamento
deles, que agora tinham uma vontade maior de colocar suas mãos em Luibla do que no
próprio Trbluzikzay, seu objetivo inicial. Ela terá o que merece!
A nave Zeel Okrawan então decolou, quando todos os Z-9 e samambers que ainda
podiam correr chegaram em seu interior. Logo, naves OPGs da Espaçonáutica Caracolesa
que sobrevoavam a área começaram a persegui-la, e a disparar contra os zeelishianos.
-Tomara que eles derrubem esses caras! torcia Márcio, da Equipe Urubus. Mas isso
não aconteceu, pois enquanto a nave rumava nos céus, ela começou a ganhar uma cor
diferente, e uma energia começou a se acumular em volta dela, até que inesperadamente a
Zeel Okrawan desapareceu no meio do céu. Era a famosa tecnologia de Gateway7, com ela
os zeelishianos conseguiram abrir um portal e voltar para seu planeta. Alguns instantes
7
Ver página 161
sobre portais.
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depois, um grupo de soldados caracoleses e humanos, vestidos com o uniforme auri-azul de
tecido emborrachado da ÔNUC chegaram armados ao local.
-Está tudo bem com todos aqui ?
-Ela está um pouco atordoada! disse Lublizo, apontando para sua prima.
-Não precisa ter medo, nós vamos leva-la para um hospital. um soldado disse.
Eu não tenho medo
Luibla respondeu a ele, e então virou-se - Sakura, Lublizo
voltem pro quarto, e digam aos seus amigos que eu irei para lá logo!
ela continuou.
Sakura e Lublizo acenaram para ela. Seu primo estava agora mais tranqüilo, sabia que o
pior já tinha passado. Mas Sakura ainda permanecia preocupada. Ela foi corajosa no
momento em que tudo aconteceu, mas guardou dentro de si toda a tensão, e não tinha
conseguido solta-la ainda. A sensação de estar no meio de um fogo cruzado como aquele foi
talvez a pior que já tivesse tido na vida.
-Tudo bem, Sakura, já passou
disse Lublizo, abraçando-a
Vamos voltar pra lá
como a Luibla pediu
o caracolês insistiu, enquanto a garota o abraçava mais forte ainda,
de olhos fechados, mas ainda assim com algumas lágrimas escorrendo por seu rosto.
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10 - O Final da KVC
Os soldados não paravam de chegar. Já eram mais de 30, quando um deles foi até
Trbluzikzay, Sakura, Lublizo, e todos os outros treinadores.
-Vamos, iremos acompanha-los até seu abrigo. Nós patrulharemos essa área a noite
inteira, e faremos a segurança da KVC até o final! disse um dos militares.
Muitas pessoas estranharam que tantos militares estivessem rondando o lugar, além
de naves espaciais fazerem evoluções logo acima, mas era dito que aquilo era apenas
treinamento de rotina, e as pessoas acreditavam.
Algumas horas depois do incidente, deitada em seu quarto, Sakura já parecia mais
tranqüila. Lublizo, deitado ao lado dela, como fazia todas as noites, admirava toda a sua
beleza e graciosidade. Levemente passou a mão pelo longo cabelo dela.
-Não tenha medo, Sakura. Eu sempre vou estar com você.
-Eu não tenho, Lublizo!
ela surpreendentemente abriu os olhos, lentamente. Não
estava totalmente dormindo
Agora eu posso ter certeza disso!
ela sorriu para ele de
volta Juntos, nós podemos enfrentar tudo, Lublizo.
Suas palavras foram animadoras. Eram tudo o que o garoto queria ouvir. Não teve
coragem de pedi-la em namoro de novo, mas pensou consigo: É, Sakura, juntos nós
podemos tudo, até enfrentar os zeelishianos. Por que não podemos enfrentar um
preconceito idiota então ?
Logo pela manhã, Sakura, Lublizo e Luibla chegaram na sede da KVC, onde estavam
reunidos militares caracoleses de alta patente com as pessoas que viram o incidente da
noite passada.
O Incobryidi José, um grande líder militar do Exército de Caracówl, havia sido
mandado para verificar a situação anormal da noite anterior em Bõung-Bõung, a estranha
movimentação alienígena naquele lugar. Foi ele quem mandou chamar todos os que
testemunharam o tal incidente, para aquela reunião. José veio até Luibla e os que estavam
com ela, antes que a reunião começasse, e os cumprimentou. Sakura achou-o bastante
simpático, alguém que tinha firmeza e delicadeza no falar e na maneira de lidar com as
pessoas, um líder nato: elegante, cortês, carismático e seguro de si. E alguém que tinha
uma aparência incomum também. Era um homem alto, cerca de 1,90 m, com a cabeça
redonda, de pele escura, com algumas escamas, mas diferente dos caracoleses de raça
marrom. Sua pele era mais parecida com a dos humanos, porém tinha tons amarelados
como os dos caracoleses de Escólthland, seu país natal. Seu cabelo lembrava mais um
rastafári cortado em estilo asa-delta, mas ele nunca havia feito trancinhas. Já havia nascido
daquele jeito. Também usava um ralo bigode muito bem cortado, coisa que não se via nos
caracoleses, que dificilmente apresentavam pelos na face. Usando um apertado traje militar
de tecido emborrachado amarelo, ele esbanjava simpatia, e apesar de já ter talvez quase
uns 70 anos, parecia um garotão, com sua vitalidade aparente e pouquíssimas rugas no
rosto.
-Luibla, quando eu te vi da última vez você era só uma garotinha, mas agora está
uma mulher linda! Olha, já estou até começando a te ver de outro jeito...
José brincou
com a caracolesa, demonstrando bastante intimidade com ela. Naquele momento, ele não
era o incobryidi, e nem ela era a tuirkbryidi, mas sim velhos amigos. José era um velho
amigo de Luibla, conhecido de sua família de longa data, e também foi ele quem ajudou a
garota quando esta decidiu entrar na organização. Mas o que Luibla não sabia, e foi
descobrir somente naquele dia, era que o Inc. José era também amigo do alienígena
Trbluzikzay.
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-E vejo que seus amigos são também belos jovens
ele disse, em um fluente
Português e sem nenhum sotaque, como se o Português fosse sua língua desde que nasceu,
ao contrário da maioria dos caracoleses, que até sabiam usar a língua, mas sempre se
enrolavam bastante. Ouvindo aquilo, Sakura não se conteve.
-Obrigada pelos elogios, mas... Posso lhe fazer uma pergunta ?
-Sim, mas é claro!
-O senhor é humano, ou é caracolês ?
-Sou um híbrido! ele respondeu com orgulho - Meu pai é humano, de Charúckytus,
e minha mãe uma caracolesa de raça amarela, nascida em Escólthland, onde também nasci
e vivi. O sangue de ambas as espécies de Caracówl corre em mim!
-Ah, sim, me desculpe a ...
-Te desculpar ? Não há porque, minha jovem, tenho um grande orgulho disso, e
gosto muito quando alguém me pergunta isso!
ele disse, sorrindo. E então acenou para
todos que conversavam ali, para que a reunião começasse.
Quando todos estavam devidamente acomodados, Trbluzikzay, o presidente da KVC,
pediu a palavra.
- Acho que não posso expressar minha gratidão diante de sua atitude. Hoje, mais do
que nunca, eu me orgulho de ter escolhido este planeta para vir morar. Quem dera em
todos os planetas, espécies diferentes trabalhassem juntas pelo bem comum, como vocês,
caracoleses e humanos de Caracówl, fazem aqui. Luibla, Oshiga, Kulíypu, Márcio, Lublizo,
Sakura e Ricky, a todos vocês, o meu muito obrigado!
-Não se esqueça dos robôs também!
-E os robôs também, é claro! Metaleer, TitanBot, Thor Bot, Samurai, GRU 17 L, Battle
Bull, Pit-Viwt, Glasney, Flamingwul e Zóti X! Meu muito obrigado a vocês também. Fiquei
muito feliz quando soube que conseguiram consertar todos os robôs. Mas o que eu queria
falar é que agora eu finalmente tenho certeza de que o meu projeto faz mesmo sentido. Se
robôs de luta normais como esses chegaram a trazer dificuldades para os Z-9, acredito que
um exército de máquinas muito bem armadas possa ser o que precisamos para acabar com
a Tirania de Eduardo.
-É pena que ainda existam humanos como ele... lamentou Márcio.
-Não, ele não é humano...Ele pode ser da espécie nativa do planeta original de todos
vocês, a Terra , mas para mim, ser humano é mais do que isso. Para mim ele é apenas um
louco, mas tenho certeza de que os verdadeiros seres humanos e os caracoleses, unidos,
conseguirão derrota-lo. Trbluzikzay dizia, confiante.
-Inc. José, apenas os robôs irão para a guerra ? perguntou Sakura.
-Na verdade, já deveria ser assim há muito tempo José respondeu Mas a última
guerra em que a Ônuc esteve foi há mais de 60 anos. Nossos atuais robôs nunca foram
usados, mas eles estão preparados para qualquer conflito. Isso quer dizer que para a
próxima guerra que houver, não haverá mais pessoas no campo de batalha, apenas robôs.
Não robôs como esses que vocês têm aqui, mas sim máquinas controladas à distância,
construídas sem inteligência artificial.
-E é por causa desses robôs que eu sou tão perseguido Trbluzikzay completou A
Fundação Trbluzikzay, que eu criei, e mantêm convênio com a KVC, financia as pesquisas
com robôs de guerra e ajuda os rebeldes do meu planeta natal. Eu também fui o fundador
do Movimento Revolucionário em minha terra, e ao fugir dos zeelishianos, me tornei um
ícone para meu povo. Por isso eles querem tanto acabar comigo.
-Mas então por que Caracówl não declara guerra a Zeelish ?
o treinador Márcio
perguntou.
-Nós ainda dependemos do comércio com os zeelishianos, assim como eles também
dependem do comércio conosco. E nós ainda precisamos ter certeza de que nossas forças
podem mesmo superar as dele. Isso leva tempo pra ter certeza, é um longo trabalho
investigativo, mas se perdermos a guerra, isso seria um desastre para nós. Por enquanto, a
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única coisa que podemos fazer é financiar grupos guerrilheiros para tentar libertar as
colônias de Zeelish. Isso não gera uma guerra declarada, uma vez que os zeelishianos não
podem provar que somos nós que os financiamos. Mas vou lhes dizer uma coisa que deve
ficar apenas aqui, não divulguem isso para ninguém, pois não queremos gerar pânico, mas a
verdade é que... A guerra inevitavelmente acontecerá! Não sabemos quando, pode ser
amanhã, ou daqui a 15 anos, mas no dia que acontecer, estejam preparados!
Então, após isso, alguns militares começaram a interrogar a todos os que estiveram
presentes naquela hora, que viram o ataque alienígena. Pediram também para analisar as
memórias dos robôs que estiveram presentes, e assim levantaram o maior número de
informações possíveis acerca do grupamento inimigo Z-9. Em seguida, todos foram
dispensados. Todos, menos Luibla, pois José disse que queria falar com ela por mais alguns
instantes.
Algumas horas depois, Sakura estava na Arena B, ao lado de Lublizo, Máik, Cleabot e
Gru, assistindo à oitava de final entre as equipes Vuytchi e Doom Bots. Ela prestava atenção
em cada detalhe da partida, buscando aprimorar-se como treinadora. Nesse instante, Luibla
chegou apressada.
-Eu tenho boas notícias!
disse a caracolesa. Mas nesse momento, sua voz foi
abafada pela multidão que gritava entusiasmada com a luta.O robô Jirutzive acabava de
golpear fortemente o tronco do adversário, que caiu no meio da Arena, ficando eliminado, e
o Doom Bots venceu por 4 x 2. Sakura por um momento se esqueceu do que estavam
conversando, para aplaudir seus colegas de profissão, que haviam feito uma magnífica
batalha. Com o fim do espetáculo, o público começou a deixar seus lugares, para ir até a
cantina do complexo KVC comer alguma coisa, ou ir ao banheiro, dando chance para que
Luibla pudesse então falar melhor o que queria.
-Já ouviram falar nos Protetores da Galáxia ?
-Quem ? Lublizo não fazia idéia do que era aquilo. Nem Sakura.
-Não sei nem pra que eu fui perguntar, é óbvio que vocês nunca ouviram falar. Eles
são a nossa versão para esquadrões como os Z-9, são equipes especiais das Forças
armadas, treinadas para situações de infiltração, espionagem e combates em pequeno
número... Pra ser um deles, você precisa ser selecionado por técnicos especiais da Ônuc, ou
pelos instrutores. Depois, a pessoa deve passar por longos anos de treinamento, aonde vai
aprimorando várias habilidades físicas e mentais.
-Que tipo de habilidades ?
-Vocês em breve saberão.
-Como assim ?
-É que eu fui indicada pelo José pra ser instrutora dos Protetores da Galáxia!
-Luibla ?!
-É verdade! Hoje pela manhã, depois que vocês deixaram a reunião, o José veio falar
comigo. Ele tem influência junto aos diretores da OPG, a organização militar subordinada à
Ônuc, que comanda os Protetores da Galáxia, e disse que eu estaria encarregada de ser
uma chefe de equipe especial e por isso vou poder escolher a metade dos meus alunos, que
devem ter idades entre 11 e 18 anos.
-E quem você vai escolher ?
-E vocês ainda têm dúvidas ? É lógico que vocês! disse Luibla, como se aquilo fosse
a coisa mais óbvia do mundo. Mas alguns instantes depois, ela se lembrou que as coisas
realmente não eram bem assim, e já com a voz mais baixa, se corrigiu Bom, na verdade,
nem todos vocês. Entre os escolhidos já está a minha sobrinha Taklyba.
-Nepotismo não vale!
disse Lublizo, num tom óbvio de brincadeira, afinal ele
também era parente de Luibla e também queria uma vaga.
-Acontece... É que ela sempre foi a sobrinha mais próxima de mim, sendo que eu
nunca pude lhe dar muita atenção, e agora quero corrigir isso. E eu sei também que o sonho
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dela sempre foi ser militar, assim como eu, sei o quanto isso é importante pra ela, então
não posso deixa-la de fora. Mas vocês estarão entre os outros escolhidos. O problema é
que...Eu só tenho direito a escolher cinco pessoas. Com a Taklyba, sobram 4. Ou seja, de
vocês 8, a metade vai ficar de fora disso.
- E quais de nós você vai escolher ? O Lublizo ?
- Ainda não sei...embora o Lublizo seja meu parente, todos vocês já são igualmente
meus amigos, então eu não quero ser injusta. Pretendo fazer algum tipo de prova, algo que
teste algum tipo de habilidade, e os melhores serão selecionados. Não é o ideal, mas é mais
justo do que eu sair escolhendo. Mas não se preocupem com isso agora, nem falem com os
outros. Quando a KVC terminar, eu voltarei até a Guanabara com vocês, porque preciso
pegar algumas coisas minhas que ficaram na casa que estava alugada, e... Então eu vou
decidir quem serão os escolhidos, e vou pedir autorização a seus responsáveis.
-Autorização ? Mas Luibla, por que nosso pais não deixariam ?
-Eu não sei. Tem mais uma coisa, vocês terão que morar por um tempo no Centro de
Treinamento, que fica na Zona da Ônuc. Será que estão dispostos a ficarem a maior parte
do tempo longe e suas famílias. Ou será que suas famílias estão preparadas pra ficarem a
maior parte do tempo longe de vocês ?
Então aquela discussão ficou em aberto. Eles ficaram a princípio realmente animados
com a proposta, mas deixaram para pensar melhor naquilo mais tarde. Os dias foram se
passando, e a KVC foi se decidindo. Sakura foi assistir ao máximo de partidas possível, mas
tratou de aproveitar de outros modos a estadia em Truyblin, aquela cidade tão diferente de
tudo o que já tinha visto. Passeou por lá com seus amigos, foi a bares e lanchonetes, visitou
vários points do lugar, conheceu bastante gente, e inclusive se aventurou a entrar numa das
fontes de águas termais que existiam ao pé do morro próximo ao complexo da KVC. Luibla
também passou a estar mais próxima deles, e só então, de certo modo também pôde
aproveitar a viagem, pois até então esteve tão ocupada vigiando os caracuzos que nem
havia podido se permitir simples prazeres.
Quando eu vim pra cá, só me preocupava com a Caracuza e o provável seqüestro
que o Trbluzikzay sofreria, até descobrir que eles não tinham nada a ver com isso. Agora só
quero saber de descansar! E se os caracuzos escaparam, deixo que as polícias nacionais se
preocupem com isso , Luibla refletia tranqüilamente sobre tudo até então. Seu trabalho só
começaria em mais de um mês, e agora ela queria suas merecidas férias. Não queria mais
saber de preocupações, agora apenas tinha muitos planos para sua carreira no ano que
começava, e já podia se imaginar no comando de uma tropa em treinamento na OPG. Nada
mais de investigações, nada mais de caracuzos. Ela sabia que sentiria falta desse tipo de
ação, mas queria fazer algo diferente mesmo, algo em que pudesse ter mais contato com
quem ela gostava. Naquele momento, ela nadava tranqüilamente numa das inúmeras
piscinas naturais que existiam naquele lugar, vestida com uma espécie de biquíni da cor da
pele, quando de repente os garotos pularem sobre dela, atirando água sobre seu rosto, e
cortando totalmente o seu raciocínio.
-É guerra!
-Ah, é ? Então se preparem pra sentir o poder da Ônuc! - ela falou, com seu um leve
sorriso de despreocupação. Revidando aos ataques e aumentando a guerra de água, ela
também começou a fazer cócegas em sue primo e nos amigos dele, além de tentar
imobiliza-los, como se estivessem lutando. Com seu jeito brincalhão, ela olhou para a beira
da piscina natural, e viu Sakura num canto, rindo bastante coma cena.
-Hei, futura Protetora da Galáxia, me ajude a acabar com a escória zeelishiana!
-Está bem!
disse Sakura rindo, enquanto se juntou à brincadeira deles, e em
seguida todas as outras garotas fizeram o mesmo. Assim, eles se divertiram por muito
tempo, de várias formas, naquele dia e nos que se seguiram.
74
Mas logo chegou o dia 15, dia da grande final da KVC, e para comemorar, foram
todos os amigos juntos para a Arena Principal, onde aconteceriam as últimas batalhas, e a
cerimônia de encerramento da competição. Com um breve atraso, às 19:00 h, os refletores
da Arena Principal se acenderam na potência máxima. Na tribuna de honra, era possível ver
Trbluzikzay e o Incobryidi José, conversando animadamente, enquanto a multidão vibrava
como nunca, ansiosa por conhecer o grande campeão mundial que seria aclamado naquela
noite.
A Zoltus, equipe zikana que chegara como favorita ao título, foi a primeira a entrar
na arena, e seus integrantes pareciam tão decepcionados por terem perdido para a GF nas
semifinais, que agora encaravam a partida contra o Maritchlw como algo banal, um simples
cumprimento do dever de casa. Seus robôs, muito mais fortes, não tiveram dificuldades
para derrotar os adversários, numa partida que durou exatos 8 minutos. Após vencerem,
seus integrantes disfarçaram com sorrisos amarelos, e voltaram para os bastidores,para
esperar o resultado da final. Eles tinham a melhor campanha, tinham os melhores robôs, por
isso a derrota era mesmo uma decepção. Fazia 5 anos que apenas equipes de Zikam eram
campeãs. Agora, esse pequeno tabu iria ser quebrado.
Com um intervalo de quase uma hora entre as duas batalhas, às 20:00 começou a
partida mais aguardada daqueles onze dias, a final entre Destroyers e GF. Uma luta muito
disputada, onde os robôs, numa luta de todos contra todos, faziam um esforço imenso para
continuarem no combate. Apenas três haviam sido dados como eliminado : um pelo GF, e
dois pelos Destroyers. O limite do tempo foi se aproximando, a torcida gal'wagrina já
agitava suas bandeiras, e os robôs da GF, que levavam vantagem, mantinham-se na
defensiva. Apreensão nos últimos momentos, os robôs dos californianos partiam para o
ataque com tudo, mas era inútil, até que o cronômetro encostou na marca dos 30 minutos,
e a partida foi dada como encerrada. O mundo todo acompanhava aquela batalha, e a
comemoração que se viu ali foi muito maior em Galápagos, principalmente na área próxima
à sede da montadora de aparelhos eletrônicos GF, que era a maior referência do país.
O narrador anunciou vibrante, seguido de gritos alucinados da torcida e de um show
de fogos que saíam do lado de fora do estádio, o novo campeão, Equipe GF.
Seus integrantes, três caracoleses de raça marrom, e uma caracolesa de raça rosada,
logo puseram as mãos na taça, que estava num canto da arena, próximo ao muro que a
delimitava, guardada por dois seguranças. Uma vez com ela nas mãos, eles deram a volta
olímpica pelo meio da arena, em volta da plataforma, acenando muito e depois em volta do
estádio. Em seguida, passada a euforia inicial, eles voltaram ao centro da plataforma, para
receberem suas medalhas e subirem no pódio que foi montado naquele instante.
-Vamos agora, premiar aqueles que estiveram entre os melhores este ano - Um dos
narradores continuou... Em 4º lugar, Maritchlw, de Escólthland! Em 3º lugar, Zoltus, de
Zikam! Em 2º lugar, Destroyers, da Califórnia, e o Grande Campeão, GF, de Galápagos!!
Todos ouviram o Hino Nacional de Galápagos tocar, ao mesmo tempo em que a
bandeira do país, bem como a bandeira da equipe, eram hasteadas. Após a emocionante
premiação, chegava a hora da cerimônia de encerramento. Robôs gigantes desfilavam,
carregando chamas, disparando água para o alto, produzindo flocos de neve que eram
atirados no público, como num enorme desfile temático que exaltava o espírito de
competição.
-Uau, parece os Jogos de Caracówl
disse Víni, na arquibancada, lembrando-se da
competição esportiva geral que acontecia a cada dois anos, sempre no meio do ano. A festa
então prosseguiu por mais um tempo, até que todos os narradores, que com tanta
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empolgação haviam narrado a KVC até aqui, mais uma vez se dirigiram, agora todos ao
mesmo tempo, ao público.
-Pedimos que todas as equipes que disputaram a KVC este ano, que venham até a
arena
eles disseram, como uma só voz, e então, alternadamente, os seis começaram a
chamar todas essas equipes, uma por uma. Algumas delas já haviam ido embora para seus
países de origem, mas muitas permaneciam acompanhando o final.
-Abzurds, da Guanabara! chamou a narradora mulher, e então Sakura, Lublizo, Bibi
e Léo descem da arquibancada e entram na arena. Um funcionário da KVC lhes entrega uma
bandeira guanabarense, para que pudessem desfilar com ela, como faziam todos ali com as
bandeiras de seus países.
-É engraçado...Nós dois, de países tão diferentes, fomos nos conhecer na Guanabara,
um lugar também diferente, e agora estamos aqui...
-É Lublizo, a minha vida ficou muito diferente depois que eu te conheci...Aquele dia,
lembra ?
-É, foi bem legal essa viagem, e tudo o que a gente fez como equipe. É muito bom
quando estamos todos juntos, mas você... é mais legal ainda!
Os portões, após um tempo, foram abertos, e todos invadiram a arena, que começou
a se encher cada vez mais de gente, numa explosão de alegria. Em volta do estádio, novos
fogos de artifício coloriram o céu de todas as cores imagináveis, e houve até uma exibição
de naves da Espaçonáutica de Bõung-Bõung, para dar um clima de segurança ao evento. O
que quase ninguém ali sabia é que aquelas naves haviam sido chamadas para realmente
patrulhar a região, pois os organizadores não queriam mais nenhuma surpresa. Olhando
para as naves que circundavam a arena, Trbluzikzay, ainda na tribuna de honra, faz um
breve discurso.
-Meus amigos fãs da KVC! Faz muitos anos que eu tenho o prazer de dirigir essa
instituição. E meu prazer é maior ainda ao saber que graças a ela, e a vocês, treinadores,
robôs, e fãs do esporte, a luta pela liberdade do meu planeta é fortalecida. Por causa desse
trabalho à frente da KVC, tenho recebido inúmeras ameaças de terroristas zeelishianos. Eles
estão por aí, tentando calar a minha voz, mas esse ano, mais do que nunca, tive a prova de
que vocês, cidadão desse planeta, estão comigo! Hoje, eu parabenizo as equipes:GF;
Destroyers; Zoltus e Maritchlw. Parabenizo a todos que competiram, a todos que disputaram
essa eliminatória e a todos os torcedores também. Mas acima de tudo, gostaria de tornar
pública a minha gratidão especial a quatro equipes, e a uma agente secreta da ÔNUC, que
me ajudaram especialmente este ano. Prefiro não dizer seus nomes, pois meus inimigos são
vingativos, e podem tomá-los como seus inimigos também. Mas aqueles a quem estou me
referindo, saibam que estou extremamente grato! Vocês ajudaram o seu planeta, o meu, e
ajudaram um velho homem a ter mais tempo para ver seu sonho se tornar realidade.Sim,
porque eu acredito ainda que vou ver minha terra-natal livre de novo! Viva a Liberdade!
Obrigado!
Assim, oficialmente foi encerrada a KVC 2155, mas a festa continuou, e para
surpresa de Luibla, por uma das entradas da arena, chegaram ninguém menos que os 5
integrantes da banda Kraimburugútzis, de quem ela tanto era fã.
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KRAIMBURUGÚTZI'S SONG (tradução para o Português)
Olha só
preste atenção naquilo que eu vou
Te falar
Você hoje fica aí
do seu lugar
Achando que foi fácil estar aqui
Não foi não
Muita coisa tivemos que enfrentar
A vida tem muitas dificuldades
As vezes gera muita acomodação
mas tento lutar, buscar emoção
Buscar muita força pra vencer
Pra hoje estar aqui com você
E hoje eu tenho certeza
Valeu acreditar
Foi tão bom!
Quando eu falei, você duvidou
mas nós conseguimos, nosso dia chegou
Kraimburugútzis, esse é o nosso show!
Não vai acabar
Nosso som, não vai parar
Senta aqui
Não vai embora
Tanta coisa ainda há pra fazer, lá fora!
uma nova etapa vamos começar
Ainda temos o mundo para correr
Livre como um glúlzu- do- pântano eu quero ser!
A multidão curtia bastante o show, principalmente Luibla. O repertório era variado, a
maioria das músicas da banda eram cantadas em Caracolês, mas havia algumas poucas em
Português, Inglês e até Akina, e foram estas últimas, em geral músicas românticas, e por
mais que não gostasse muito de Kraimbu, aquelas músicas tocaram fundo em Sakura
naquela noite.
Muita gente que não tinha nada a ver com as batalhas chegava apenas para ver o
show, e a arena ia se enchendo, e o lugar ia ficando cada vez mais tumultuado. Sakura e
Lublizo se perderam dos outros, e encostaram num canto, observando tudo calmamente.
-Sakura, você não vem dançar não ?
-Você não me conhece mesmo. Eu odeio dançar!
-Eu te conheço mais do que você imagina. E queria até conhecer melhor...
-Você com isso de novo...Você sabe que entre a gente...
-Entre a gente o que ? Só porque você é humana e eu caracolês ? Isso não tem nada
a ver! Olha, fala a verdade, se pra você o que aconteceu aqui esse ano não foi especial,
então esquece, ficamos sendo só amigos mesmo, mas fala isso nos meus olhos agora!
-Eu...Eu não consigo mesmo mentir pra você...
disse Sakura
encarando Lublizo,
com um olhar doce, e um jeito carinhoso.
-Juntos, nós pudemos ser mais fortes que tantas coisas.
-Por que não podemos ser mais fortes que um preconceito bobo então ?
disse
Sakura, repetindo o mesmo que o garoto havia pensado alguns dias antes.
-Então você...
-Lublizo, eu não queria perder por nada nesse Universo a sua amizade. Não queria
que você ficasse ofendido pelo preconceito que o meu povo, ou talvez a minha própria
família possa ter se estivermos juntos. Agora me diga, você acha que nós podemos ser mais
fortes que tudo isso mesmo ?
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-É claro que sim, Sakura! Eu não ficaria longe de você nem que o Imperador
Eduardo, esse que é inimigo do Trbluzikzay, colocasse uma arma na minha cabeça! Eu adoro
você! disse Lublizo, decidido. Sabia que tinha feito aquela que ele tanto gostava entender
que não fazia sentido os dois não estarem juntos mesmo se gostando tanto. Sakura sentia
uma perfeita calma ao seu lado, sentia algo totalmente diferente, algo que ela, que até
então se considerava meio que uma criança, até então nunca havia sentido. Para os dois, ali
no canto da arena, toda aquela multidão que estava curtindo o show não existia. Todo
aquela música alta era inaudível, e a única coisa que Sakura podia sentir eram as mão do
caracolês por seu cabelo, e a boca dele encontrando a sua. Foi o primeiro beijo dela, um
beijo inesquecível, assim como foram inesquecíveis aqueles dias ali.
Assim a KVC se encerrou, o show ainda foi pela madrugada adentro, mas por volta
das 13 h do dia seguinte a cidade foi voltando a ser como era. Navios voltando para seus
países de origem, aviões decolando para várias partes do mundo, as ruas se esvaziando, e
com o Abzurds não podia ser diferente. Eles arrumam suas malas, e foram se despedindo de
todas pessoas que conheceram ali naquele ano. Componentes de outras equipes, que
Sakura aprendeu a admirar como colegas de profissão, como Ricky, Márcio, Oshiga, Garý e
tantos outros. Todos voltavam para casa naquele instante também, e ela sabia que
guardaria para sempre consigo tudo o que aprendeu naqueles bons momentos de disputa
que viveu ali. Também se lembraria para sempre de pessoas comuns que ela conversou por
alguns momentos. Alguns repórteres e moradores de Truyblin, as pessoas sempre
simpáticas que trabalhavam nos estabelecimentos comerciais do lugar, os militares e gente
que trabalhava na organização da KVC. O próprio Trbluzikzay. Tudo aquilo seriam
lembranças muito interessantes por muitos anos. Sakura pediu que Víni reunisse algumas
sementes de uma árvore glóib-tóyb, e guardasse-as para entrega-la depois. Talvez aquelas
sementes daquele vegetal tão diferente fossem aquilo que mais lhe faria lembrar da
cidadezinha e de seus bons momentos lá. Para Sakura, aquilo seria como o troféu da KVC.
A viagem do Saint Anna de volta para Madurei foi tranqüila e rápida. Uma vez saindo
de Truyblin, o navio rumou sempre para o norte, contornando posteriormente a costa de
Xíwlton e vai entrando no Canal de Janeiro, virando depois para o sul, rumo ao país de onde
ele havia saído. Apenas 15 dias longe de casa, mas um período de muito aprendizado para
aqueles jovens. Agora, eles veriam de perto novamente suas famílias e poderiam pisar
novamente em Madúrei, sua cidade maravilhosa. Sabiam que em Porto Banana, uma
calorosa recepção lhes esperava, e a festa prosseguiria ainda por muito tempo depois.
-E o melhor de tudo vai ser zoar a cara da Suellina! - disse Máik, arrancando um
sorrisinho de satisfação do rosto de Sakura Vamos fazer assim, um caixão de papelão com
o símbolo da equipe dela na frente e vamos sair com ele desfilando por aí, o que acham ?
disse Máik, que andava pelos corredores do navio, se dirigindo para as piscinas,
acompanhado de Léo, Bibi, Sakura, Cleabot e Lublizo.
-Grande idéia, Máik, que original! disse Lublizo.
-Nossa, que original
Léo debochou - a torcida do Atlético de Madúrei fez isso com
a do Real quando eles perderam a última Taça Guanabara!
Enquanto eles riam da própria idéia, Sakura subitamente tocou no ombro de Lublizo e
fez um sinal para que ela deixasse os outros irem na frente. Cleabot olhou para eles e parou
também, mas a garota fez um sinal de que ele poderia ir com os outros.
-Lublizo, eu queria falar uma coisa com você
disse ela, demonstrando estar ainda
um pouco aflita Talvez essa seja a última vez em que vamos ficar juntos, e eu queria que
hoje fosse especial.
-Última vez ? Por que ?
-Ora, a Luibla não vai mais morar em Madúrei, e eu sei que você vai com ela.
-Se nós estivermos juntos na OPG.
78
-Pois é, esse é o problema, eu não sei se eu quero ir para lá. Aliás, na verdade eu
prefiro mesmo continuar como treinadora. Graças a vocês, eu realmente encontrei o que eu
quero pra minha vida
dizia ela decidida, algo até incomum para alguém com tão pouca
idade. Eu não quero ser Protetora da Galáxia, eu quero é ser treinadora! Mas se eu não for
pra lá, eu vou ficar longe de você e...
-Não se preocupa, se é isso, então eu desisto de ir pra OPG. Lá seria a chance
perfeita de nós ficarmos juntos, mas se você prefere ficar aqui na Guanabara, não tem
problema!
- Ah, não, mas esse era o seu sonho, não é justo...
- Meu sonho ? Isso é o sonho do Víni, talvez do Máik porque ele acha que vai seduzir
todas as garotas se aparecer aqui com aquela roupa de militar. Provavelmente é o sonho
dessa minha prima Taklyba, mas meu sonho ? Claro que não, pra mim isso é uma profissão
como qualquer outra. Se você quer continuar com a equipe, meu sonho então é ser o
melhor auxiliar que você pode ter! ele disse, de modo carinhoso.
-Mas então, onde você vai ficar ? Quer ficar morando na minha casa ?
-Não, nada disso! Os seus pais iam perceber o nosso namoro... Não, não ia dar certo.
Meus pais vão vir morar na Guanabara também, vão ficar na mesma casa da Luibla.
-Está falando sério ?
-É claro, falei com eles um pouco antes de sairmos de Truyblin. Eles estão indo pra
Guanabara nos recepcionar com os outros, e vão ficar por lá mesmo, por uns tempos.
-Não poderia acontecer coisa melhor pra mim...
-Ah, poderia sim, e ainda vão te acontecer muitas coisas melhores daqui pra frente disse Lublizo, antes de beija-la mais uma vez.
79
Dois meses após o término da Liga dos Robôs, Luibla assumiu o cargo oferecido pelo Inc.
José no comando de um batalhão de treinamento dos Protetores da Galáxia. No enorme Centro de
Treinamento que ficava na Zona da Ônuc, ela e sua tropa tinham um alojamento, que ficava no
terceiro sub-nível do prédio. Na entrada, uma sala de contornos arredondados, com três portas,
que davam uma para o dormitório, outra para os vestiários e banheiros, e a do meio para o salão
de treinamento.
Nesse salão, seus alunos tinham a sua disposição todos os equipamentos necessários para
seu aprendizado: o simulador, a câmara gravitacional, aparelhos de musculação e uma piscina de
14 x 12 m.
No dormitório, por sua vez, havia várias camas, onde sobre cada uma delas, pendurada,
havia uma caixa laranja, por onde saía um fio, ligado a um capacete da mesma cor. Aquilo era um
aparelho de nome bem sugestivo: Dream Book.
A tropa de Luibla era formada por Máik, Víni, Laísa, Raiane e sua sobrinha Taklyba, além
de outros cinco jovens.
Figúpi
Nascimento: 17/03/2140
Altura: 1,65
Tuyjífey
Nascimento: 11/10/2137
Altura: 1,74
Malicklia
Nascimento: 29/09/2138
Altura:1,63
Joaquina
Nascimento: 33/04/2139
Altura: 1,63
Lienruyl
Nascimento: 16/06/2139
Altura: 1,7
PROGRAMA PADRÃO DE TREINAMENTO:
Hora
0-6
6-7
7-8
8-9
9-9:20
9:20-10
10-11
11-12
12-12:20
12:20-1
1-2
2-4
4-5
Atividade
Descanso
Banho e café da manhã reforçado
Prática de Tiro
Técnicas de Guerrilha
Lanche
Musculação
Natação
Corrida em Gravidade e Ar Rarefeito
Banho em águas Termais
Almoço
Relaxamento, massagens e Psicoterapia
Treinamento da Mente
Artes Marciais
Prof.
Luibla
Luibla
Luís Sérgio
Luibla
Luibla
Flik urilg
Flik urilg
80
Eu sei que isso aqui não lem bra m uit o a idéia de t reinam ent o m ilit ar t radicional, não
é m esm o ? Mas a verdade é que hoj e em dia o exércit o não est á m ais precisando de
soldados de cam po de bat alha com o ant igam ent e. Guerras hoj e se decidem com naves
gigant escas, com est rat égia, com t ecnologia de pont a, e t alvez com um bom núm ero de
robôs, que podem ser controlados à distância, assim como muitas naves também. Por isso é
que hoj e em dia o efet ivo das Forças Arm adas dim inuiu m uit o. Os m ilit ares se resum em a
est rat egist as, ocupant es de cargos burocrát icos, invest igadores, inst rut ores, t écnicos de
m anut enção de robôs e int egrant es de Equipes Especiais. Vocês estarão treinando para isso,
para serem part e de um a Equipe Especial Cham ada Prot et ores da Galáxia . Sua m issão
será sem pre Espionagem , infilt ração, sabot agem ...Coisas que orgânicos fazem m elhor do
que m áquinas, m as j am ais irão para frent e de bat alha caso t enham os um a guerra. Vocês
aprenderão a usar arm as, m as sua especialidade não será essa, porque at irar um robô
também pode, mas o que vocês farão, ninguém poderá fazer igual! Um robô pode transmitir
sentimentos, pode ser considerado vivo, mas...Ele não tem aquilo que só nós temos:O Poder
Psiônico!
O cérebro, com o foi const at ado pela ciência há séculos, é o m ais pot ent e com put ador
que exist e! I nfelizm ent e nós, t ant o os caracoleses com o os hum anos, não sabem os com o
usar nem 10 % dessa m áquina. Agora, pensem com igo, o que seríam os capazes de fazer se
pudéssem os usar t oda a capacidade do nosso cérebro ? Passar de ano facilm ent e, aprender
novas tecnologias... Isso sem dúvida, mas se limitar a isso é pensar pequeno.
Existe um poder muito maior que esse. Algo que a ciência demorou muito tempo para
aceit ar,m as que hoj e é algo reconhecido por t odos. Todo o nosso corpo é m ovido por pulsos
elétricos. É assim que enviamos para nossos músculos a ordem de que ele se mova, e ele se
move. Uma ordem do cérebro, um pulso elétrico enviado, e o dedo se dobra. E se eu estiver
segurando um a colher, e enviar um com ando do m eu cérebro para que ela se dobre, ela vai
dobrar ? É claro que não, porque eu não t reinei para isso! Não desenvolvi o m eu PP. Mas
alguém que o t enha desenvolvido, vai sim poder ordenar a essa colher que se m ova, e ela
se m overá! Com o isso é possível ? Pelo PP, a energia que o nosso cérebro possui, e que nos
faz capazes de modificar o mundo todo a nossa volta. Com ela podemos manipular átomos e
produzir feit os incríveis! É um a pena que a m aioria das pessoas j am ais vai t er o PP
necessário para isso, ou por não acredit arem , ou por não t erem essa capacidade m esm o. O
fat o é que o obj et ivo das Forças Arm adas com esse bat alhão é j ust am ent e esse, t reinar
soldados paranorm ais conscient es de seus poderes, que possam usa- los em favor das
Nações Unidas de Caracówl! I sso t alvez um robô não possa fazer, em bora um exércit o de
robôs sej a m elhor que um de orgânicos, apenas um orgânico pode ser m elhor que 1000
robôs em cert os casos. É m uit o difícil achar alguém que fique poderoso assim , m as nós
t reinarem os vocês t odos. Talvez nenhum de vocês consiga se t ornar um prot et or da Galáxia
ideal, mas tentaremos fazer o melhor possível. Com milhares de jovens em outros batalhões
treinando ao mesmo tempo, a chance de conseguirmos ao menos uma meia- dúzia de supersoldados é bem alt a .
Luibla, ao assumir sua tropa, explicando sobre os objetivos da OPG
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11 - O Treinamento na OPG
Eram cerca de 20 h quando Máik retornou ao setor de sua tropa. Ao entrar, ele viu
Luibla na sala, sentada de frente para a porta, olhando para a tela do computador embutido
na mesa.
-Já recebeu seu kit, Máik ?
-Já! Fui no setor de estoque, uns caras me chamaram, anotaram meu nome e me
deram isto ele disse, se referindo a uma mochila amarela que levava nas costas.
-Viu se está tudo aí ?
-Tudo certo. Uniforme de treinamento, esportivo, de campanha, de frio, para climas
áridos, coletes, capacetes, óculos infra-vermelho...
-Onde estão os outros ? ela perguntou pelos colegas dele. Aquele era o primeiro dia
deles lá, e Luibla os tinha liberado para fazer o que quisessem, a fim de que pudessem se
conhecer melhor, e conhecer todo o CT.
-Só vi o Figúpi e o Víni. Aliás, que esquisito esse pessoal selecionado pela Ônuc!
-Não é culpa deles, Máik! Luibla riu, compreendendo o que ele dizia.
-Ah, mas eles não parecem ter ido muito com a sua cara hoje cedo.
-Não é isso, é que eles se sentiram meio desconfortáveis. Acho que eu toquei na
ferida deles ao falar sobre o Poder Psiônico logo na minha apresentação. Sabe, Máik, eles
não foram colocados nesse programa à toa. Na verdade, o mais normal ali é o Figúpi. Ele foi
escolhido pela força, e pela incrível velocidade. Os outros têm tido problemas com o PP.
-Como assim ?
-Eu pesquisei um pouco sobre a vida de cada um deles. Não devia estar te contando
isso, porque são informações pessoais. Mas eu confio em você, sei que você pode ajudar a
integrá-los melhor.
Luibla falou, com uma voz confidente. Ela então sentou-se no chão e
pediu que Máik fizesse o mesmo - O Tuyjífey, por exemplo, ele tem problemas com
combustão. Morava com sua família em uma aldeia em Fa lwulisá, e sua casa, de palha,
incendiou-se repentinamente. Felizmente nem ele nem os parentes dele ficaram feridos,
mas, com o tempo descobriram que qualquer material inflamável que ficava perto dele se
incendiava facilmente. Isso é um poder paranormal, que o Tuyjífey não consegue controlar,
e com certeza já o fez sofrer muito.
-Puxa, eu pensava que casos assim eram lenda...
-É mais comum do que você pode imaginar. Mas não se preocupe, aqui no CT nada é
inflamável, e nosso sistema anti-incêndio é ótimo! Não há perigo para nenhum de nós. Com
o treinamento, ele vai aprender a controlar esse poder.
-Quer dizer que ele já tem o PP alto, não é mesmo ?
-Sim, o cérebro dele já consegue enviar energia para fora do corpo, produzindo fogo.
Quando ele conseguir controlar isso... Mas não é só ele que pode fazer. A Joaquina, por
exemplo, ouve vozes, e consegue fazer adivinhações, e às vezes lê a mente das pessoas
também.
-Puxa, que incrível! Eu sempre soube de histórias assim, mas pensava que era
invenção.
-Esse é o problema, Máik. Mesmo o PP sendo algo provado, muitos não acreditam e
chamam os paranormais de mentirosos. Sem contar quando outras pessoas ou eles mesmos
não compreendem o que é o PP, e o confundem com curandeirismo, feitiçaria, ou dizem que
é coisa de fantasmas, ou do Capeta, que é como vocês humanos representam o mal. Os
paranormais em geral sofrem muito, como se tivessem uma doença. Uma doença que na
verdade é um dom sendo desperdiçado. O meu trabalho aqui vai ser orientar vocês e eles,
para que tenham a consciência de como o PP pode ser utilizado.
-Mas então, eu, a Raiane, O Víni, a Laísa e a Taklyba... Nós então somos só
figurantes nesse treinamento. Nós não temos PP nenhum pra ser aproveitado.
-Essa é uma coisa que ninguém pode ter certeza. A telepatia, por exemplo, pode ser
usada de modo inconsciente por qualquer um. Ou você nunca esteve no shopping com a sua
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namorada, e de repente falou: Vamos tomar um sorvete ? . Só que na verdade, você nem
gosta muito de sorvete, e depois descobre que a sua namorada estava pensando em sorvete
o tempo todo.
-É, isso já aconteceu comigo...Não era bem sorvete, mas...Então isso é telepatia ?
- Pode ser! O que eu quero dizer é que...todos podemos ter um PP, mais forte ou
mais fraco, mas às vezes ele não se manifesta em algo fantástico. Você pode ter um maior
que o deles, mesmo sem conseguir criar fogo, ou levitar objetos, ou entortar metais. Na
verdade, nem eles tem um poder tão alto, só que a paranormalidade deles se manifesta de
uma forma mais visível.
-Então, eu posso ser paranormal e não saber ?
-Talvez sim. Mas só vai manifestar o seu poder quando treinar para isso. Qualquer
um pode ser alguém muito poderoso e não saber disso. A ÔNUC só dá preferência aos
chamados paranormais nesse projeto porque há mais chances de eles se tornarem supersoldados do que você, mas isso não é regra.
- Então,eles só usam seus poderes de vez em quando ?
- É, por isso que muita gente os chama de farsantes. Pense bem, Máik, se alguém
pudesse prever o futuro com perfeição, jamais morreria de acidente, nem nenhum de seus
amigos também. Mas simplesmente não dá. Você faz o seu destino a cada momento, então
o máximo que os paranormais podem ver é o provável futuro. E se a pessoa acredita, ela
tem o poder de mudar esse futuro, e já há uma grande chance de acontecer diferente.
- É verdade, eu nunca pensei nisso também.
- Eu ainda acho engraçado esses caras que vêm à público dizer: A seleção de
Craytèyryi não vai passar da Primeira Fase na Copa do Mundo , ou uma equipe zikana vai
chegar à final da KVC . Até eu faço esse tipo de previsão! Um paranormal de verdade não
pode ficar usando seus poderes para prever isso o tempo todo. Seria desgastante demais!
-Tem razão, Luibla! Olha,eu vou tomar um banho, mas quando eu voltar, vamos
continuar falando disso.Tô gostando do assunto!
-Está bem. Eu vou estar lá no dormitório disse Luibla, levantando-se e desligando o
computador
vou deitar um pouco, mas quero continuar a conversa também. Sabe, você
está me surpreendendo, Máik! Até outro dia era só um moleque amiguinho do meu primo, e
agora...
-E agora ?
-Vai logo tomar banho,vai!
Ele se foi,e ao voltar, já vestido com um pijama branco com os detalhes amarelos e
azuis, entrou no dormitório pela primeira vez. Luibla estava deitada numa das camas, com
um dos capacetes do Dream Book na cabeça. Virada de barriga para cima, ela pôde ver
quando Máik chegou.
-O que é isso, Luibla ?
-É o Dream Book!
-Dream Book ? Que maluquice é essa ? Tem algo a ver com o PP ?
-Não, mas pode te ajudar em outras áreas, como memorização, a aprender mais
rápido... Com esse aparelhinho vai ser fácil estudar aqui! ela disse, mais entusiasmada do
que o próprio Máik, que não poderia pensar numa real utilidade para aquela caixa laranja.
- Deita naquela cama ali! Luibla insistiu, apontando para a cama ao lado da que ela
estava - Eu programei pra que esses dois Dream Books fiquem ligados um no outro. Vamos,
deite naquele ali e coloque o capacete
ela disse, e ele obedeceu. -Agora, ligue o botão
vermelho- disse Luibla, enquanto fazia o mesmo no seu Dream Book. Em menos de um
minuto, os dois adormeceram. Logo, viram-se num enorme espaço branco, sem limites.
Estendia-se para todos os lados, e não se podia ver o seu fim.
-Onde estamos ?
-Dentro de nossas próprias mentes.
-Nós estamos sonhando ?
-Estamos! É o que faz o Dream Book! O livro dos sonhos está ao seu alcance agora.
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-Livro dos sonhos Máik repetiu, quase sem acreditar.
-O Dream Book é muito interessante, ele te permite controlar todos os seus
sonhos. Você está sonhando, mas sabe que é apenas um sonho, e pode acordar quando
quiser. Além disso, uma vez que tudo isso aqui é baseado no seu pensamento, você sonhará
com aquilo que quiser. Só terá sonhos que te agradem.
-Entendo, mas... Mesmo assim, não é o mesmo que estar acordado.
-Claro que não, sonhos são só sonhos, principalmente porque a sua mente está só
descansando, embora ainda raciocine. O Dream Book só direciona melhor esses sonhos. Mas
pense no que você pode aprender enquanto estiver com isso. Você fica oito horas dormindo.
Esse tempo todo a sua mente só se recorda de alguns fatos e idealiza outros. Mas e se você
pudesse usar essas oito horas pra estudar ? E mais, a maior parte dos sonhos acabam sendo
esquecidos, mas com o Dream Book isso não acontece.
-Sai fora, Luibla, eu já não gosto de estudar acordado, vou estudar dormindo ?
Nunca! E tem mais, se isso aqui é uma Fábrica de sonhos , então você não é a Luibla de
verdade.É só a minha mente pensando nela.
- Mas eu programei o meu Dream Book pra ficar conectado ao seu.
- E como eu posso saber que é a Luibla mesmo ?
-É um sonho neutro. Se estivéssemos na sua mente, provavelmente o cenário seria
uma praia na Guanabara, e você ia estar me imaginando nua e fazendo poses sensuais.
-Tem razão. Então, por que não vamos pro meu cenário ?
-Ótimo, pode ir! Eu vou acordar agora. Boa noite!
disse Luibla, que então foi
desaparecendo lentamente diante dos olhos do garoto.
-Hei, espera aí! Ta bom, eu acredito, você é a Luibla mesmo, agora volta!
Nesse instante Luibla então acordou. Lentamente tirou o capacete, e foi até a parede,
desconectando o seu Dream Book do de Máik. Então começou a fazer alterações na
programação do Dream Book dele.
- Ainda bem que você não sabe controlar isso aqui direito, pra acordar
sozinho igual a mim. Enquanto isso, vou fazer você estudar um pouquinho
Ela então
pressionou a parede e um vão se abriu, mostrando que embutido na parede havia um
guardador de MDs de 1,5 m de altura. Ela passou rapidamente olho pelos MDs, até que
retirou um deles e colocou no Dream Book de Máik.
Ainda dormindo, Máik agora sonhava com uma praia de nudismo ensolarada, onde
havia várias mulheres com um belo corpo. Algumas o reconheciam e ficavam histéricas
quando ele passava perto delas, chamando-o de lindo , gostoso e coisas assim. De
repente, ele começou a ouvir uma transmissão de rádio, onde o narrador anunciava que
após vencer por 10 x 0, o Real Madúrei era campeão mundial de futebol. E logo à frente ele
pôde avistar um sorvete de mais de 20 m de altura e 30 de diâmetro.
-Isso aqui era tudo o que eu queria.Se eu sonhasse com algo assim todo dia... Mas
agora que eu sei que é sonho, tudo parece não ter a mesma graça. É, já que é sonho, deixa
eu aproveitar - mal ele terminou de dizer isso, e todo aquele cenário desapareceu. Como
nos famosos saltos de um sonho para o outro, ele agora estava no meio do espaço sideral,
viajando entre planetas, e ouvindo uma voz que não sabia de onde vinha, mas que dava
várias informações sobre cada um desses planetas. Aquilo foi ficando interessante, e
prosseguiu por horas. Para o garoto, no entanto, a impressão foi não ter durado mais do que
30 minutos. Quando menos esperava, todas as imagens desapareceram sozinhas, e logo em
seguida ele acordou. Seu Dream Book já estava desligado, assim como o de todos os seus
colegas, que acordavam no mesmo instante.
-Tiveram uma boa noite ? perguntou Luibla Tenho certeza que sim.Agora sigamme, o treinamento começou, futuros Protetores da Galáxia!
Máik foi o último a deixar o quarto. De todos, era o mais espantado com seus sonhos.
Olhou o relógio e viu que eram 6 horas. Normalmente, se acordasse àquela hora, ficaria com
84
muito sono o resto do dia, mas agora ele tinha a impressão de ter dormido por três dias
direto, de tão relaxados que estavam seu corpo e sua mente.
-Zeelish: planeta sede do Império de Zeelish, um dos maiores parceiros comerciais
de Caracówl, e ao mesmo tempo um dos maiores rivais. Diâmetro de 22.000 km, Densidade
4,7 e Gravidade 1,41 G ele começou a citar fichas técnicas inteiras de vários planetas, sem
que pudesse crer que realmente estivesse conseguindo fazer aquilo, já que o que ele mais
odiava na escola era ficar decorando esse tipo de coisa - Puxa, eu sei Espaçografia!
-Máik, tá falando sozinho ? perguntou Víni, enquanto eles tomavam café da manhã.
-Eu sei Espaçografia! - Máik não parou mais de repetir essa frase.
-Desisto!
-Cara, aquele Dream Book é demais!
-Ah, é disso que você ta falando ?! A Luibla é que programou o seu Dream Book pra
você receber informações de Espaçografia. Ela falou que você ia servir de cobaia pra gente
ver como funcionava mesmo - mal Víni acabou de dizer isso, e Luibla apareceu diante deles.
-Muito bem, vejo que todos já acabaram! Já vai dar oito horas, então venham
comigo.Vamos aprender a atirar agora!
Toda a tropa foi com ela. Saíram do seu setor e desceram mais um andar, chegando
no galpão de tiro, onde lhes foram entregues réplicas de pistolas Vuytchi Pislutxyi. Dessas
réplicas saíam apenas disparos eletromagnéticos, em direção a alvos de madeira
posicionados estrategicamente pelo galpão. Era a aula de Prática de Tiro, comandada pela
própria Luibla.
-Mais para o futuro vamos simular situações onde vocês vão ter que atirar correndo,
em meio a multidões, contra alvos móveis. Mas por enquanto vamos treinar algo simples!
Naquele mesmo galpão, outras tropas também treinavam, cada uma comandada por
seu instrutor.Depois,eles seguiram para o andar nº 0, ou seja, a superfície.Em volta do
prédio do Complexo, também havia outras tropas. Eles receberam de Luibla várias
instruções do treinamento de guerrilha. Em seguida, voltaram para o seu setor para a aula
de natação, De 11 às 12 h, praticaram corrida na câmara de gravidade, que servia para
simular, ora o ar mais rarefeito, ora gravidade um pouco maior ou menor.
-Ah, isso aqui não é pra mim, eu preciso de férias
reclamava Laísa, ofegante,
depois do duro treinamento.
-Achou que seria moleza ? Mas calma, você vai se acostumar Luibla sorriu.
-Mas não hoje, hoje eu não agüento mais.
-Claro que sim, espera só até depois do almoço!
Todos almoçaram na mesa da sala.Pareciam bem desgastados com o primeiro dia, e
não imaginavam como continuariam. Mas mesmo assim tentaram.Após o almoço, seguiram
para as piscinas de hidromassagem, e lá ficaram aguardando, até que um por um,eles eram
chamados até o dormitório. A primeira foi Raiane, que chegando lá deparou-se com um
alienígena baixo, de pele cinzenta-azulada, com a cabeça arredondada e grande, desprovida
de pêlos, e vestido com uma espécie de manto que parecia feito de uma mistura de couro
com borracha, além de ter alguns adereços metálicos.
-Não tenha medo. Sou Flik Urilg! Serei seu professor de Desenvolvimento da
mente . Mas para que possa desenvolver sua mente, precisa ter o corpo bastante
relaxado.Deixe que eu aplique agora uma técnica milenar do Planeta Disto, de onde eu
venho!
-Está bem...
-Por favor, deite-se numa dessas camas, virada com a barriga para baixo.
Após Raiane fazer isso, Flik´urilg passou a massagear suas costas com apenas uma
mão, enquanto a outra ele deixava estendida sobre seu corpo, realizando leves movimentos.
Enquanto fazia isso, o alienígena fechou seus olhos e, se concentrou e começou a emitir um
suave zumbido, uma espécie de canto. Fez aquilo por uns cinco minutos apenas, e em
seguida, mandou que ela voltasse para a hidromassagem, e chamasse outro aluno. Flik Urilg
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repetiu o procedimento com os outros, e ao final de uma hora, todos já sentiam o corpo e a
mente leves novamente, como quando haviam acabado de acordar.Estavam prontos para a
próxima aula,que seria em seguida, dentro de uma das câmaras, com o próprio Flik urilg.
Em seguida, ainda lá, foi ministrada a aula de Artes Marciais, pelo professor Akira Minoshi.
Apenas às 17 horas o treinamento terminou, mas eles ainda tinham energia para irem
aproveitar o dia se divertindo pelo Complexo da OPG.
Luibla, quando não ministrava as aulas, fazia anotações sobre o desempenho de seus
alunos, o que mais tarde seria alvo de uma análise estatística, que poderia guiar melhor os
rumos do treinamento.
86
12
O Simbionte
Após cinco meses, no dia 1º de Alzéiybu, chegou a grande notícia que todos
esperavam. No final de semana seguinte, eles viajariam para o Planeta Tuy, no quadrante
de Zeelish. Fazia parte da rotina de um futuro Protetor da Galáxia viajar bastante, então lá
foram eles para aquele diferente lugar.
PLANETA TUY
Diâmetro: 10124 km Densidade: 5,4
Gravidade: 0,79 G
Tipo: rochoso
Temp. eq. média: 33º
Pressão: 0,92 atm
Composição atm: 78% nitrogênio, 21% oxigênio, 1% amônia
Terrenos: 80% florestas de capim gigante, 13% pântanos
Rotação: 13 h
Sa t é lit e s( lu a s ) : 2
População: não há notícias de populações permanentes
Só estava previsto que eles ficassem lá por uma semana. Tuy era um mundo
desabitado, em que Caracówl, BCC e Donugar estabeleceram bases exploratórias algumas
décadas atrás. Aquela parte do planeta era coberta pela chamada Floresta de Capim
Gigante . Eram árvores de caule fino e mais de 20 m, que mais lembravam o capim de
origem terrestre, a não ser pela altura e pela distância de uma para a outra. Animais havia
bem poucos, e em meio às árvores-capim , havia algumas crateras e muitas cavernas.
Aquele planeta não tinha nada demais, enfim aquela viagem não havia entusiasmado
ninguém, nem na tropa de Luibla, nem nas outras tropas que também tinham viajado para
lá. Luibla prometeu que se esforçaria para negociar com o Alto Conselho da OPG uma
viagem para um lugar melhor da próxima vez.
Lá em Tuy eles só podiam sair da base em grupos grandes, e apenas uma vez por
dia, para treinarem táticas de guerrilha.De resto faziam alguns exercícios dentro da base
mesmo, mas em geral o treinamento era menos puxado que em Caracówl, até porque a
infra-estrutura da base não era muito boa.
-Olhe pelo lado bom, Máik, faltam só 49 horas pra gente voltar para o nosso planeta
disse Víni, num dos vários momentos de tédio em que eles se encontravam.
-Graças a Deus!
-Realmente, é até difícil ter noção de tempo aqui, o dia é todo esquisito: 6 horas de
dia, 7 de noite...
Víni dizia, quando sentiu algo estranho, uma sensação de estar sendo
observado - Quem está aí ? ele gritou de repente, assustando os outros.
-Que é isso, Víni, ta maluco ?!
-Puxa... Víni levou as mãos à cabeça, meio sem-graça. Eu juro que ouvi alguém
me chamando.
- Eu não ouvi nada!
- Eu sei que não, era como se o som viesse de dentro da minha cabeça!
- Ih, que esquisito...
Na noite seguinte, Víni não conseguia dormir direito. Lá, eles não possuíam Dream
Books, por isso, tinham que dormir ao modo natural. Mas numa noite, durante o jantar,
enquanto alguns deles contavam a Luibla sobre as experiências que tiveram durante o dia,
Víni apenas pensava. Não conseguiu comer nem metade da comida, o que Luibla achou bem
estranho.
-Está acontecendo alguma coisa com você, Víni ?
ela se aproximou, passando a
mão em sua cabeça.
-Não, Luibla, não é nada.
87
-Você nem comeu direito.Sabe que para desenvolver o seu corpo e a sua mente tem
que ter uma ótima alimentação. Se não, você nunca vai ter a altura ideal pra começar a azer
musculação como os outros.
-Eu sei, mas eu não to muito a fim de comer hoje não. Mas não precisa ficar se
preocupando não, é besteira, amanhã passa!
Luibla não se convenceu do que ele disse. E insistiria mais, não fosse sua sobrinha
Taklyba chegar lhe puxando, pedindo que ela fosse jogar uma partida de Sklump com ela e
as outras garotas.
-Ai, já começou, Taklyba?! Eu não posso dar atenção só pra você! Espera aí, Víni, eu
já volto!
Figúpi e Laísa, vendo-o daquele jeito, foram falar com o garoto.
-Fala logo, cara! Puxa, nós somos seus amigos a um tempão. Por que você tá assim ?
Não confia na gente e na Luibla ?
-Tudo bem ele deu um sorriso meio amarelo - é que eu não queira deixar a Luibla
preocupada. Mas sabem, desde que eu cheguei nesse planeta eu tenho ouvido vozes me
chamando. To com medo de estar ficando maluco!
-E o que essas vozes dizem ?
perguntou Figúpi. Laísa estava ficando meio
assustada, mas permanecia curiosa.
-Elas dizem Víni, venha até a nossa caverna. Nós precisamos de você, e você precisa
de nós!
-Isso não me parece maluquice disse Laísa Você não está lembrado das aulas de
Desenvolvimento da Mente ? Tá na cara que isso é Telepatia! Estão querendo se comunicar
com você!
-Mas quem ?
-Aí você só vai saber se for lá. Deve ser algum lugar aqui perto. Figúpi concluiu.
- Puxa, eu to curiosa pra saber o que é!
disse Laísa - Eu sei que pode ser meio
perigoso, mas a minha curiosidade é maior!
- Víni, você sabe de onde as vozes vêm ? Tem que nos levar lá!
- Não! A Luibla não vai gostar disso, ela não vai deixar a gente sair nessa mata no
maio da noite! E nem vai querer ir junto.
- É verdade, eu lembro que mais cedo alguns garotos queriam explorar o lugar e ela
não deixou.Mesmo estando claro, ela falou que podia ser perigoso.
- Ora, vocês querem ser Protetores da Galáxia ou não ? Não podemos ter medo do
desconhecido Figúpi insistiu.
- Eu só estou dizendo que a Luibla não vai deixar a gente ir. Mas não estou com
medo!
-Ah, mas eu tô! disse Víni.
-Vamos durante a madrugada, quando todos estiverem dormindo! falou Figúpi.
-Tá maluco ? Eu não saio daqui de jeito nenhum! Víni gritou, antes de sair correndo
para o dormitório. Lá, ele se atirou sobre a cama e colocou um travesseiro sobre sua
cabeça, tentando, em vão, não ouvir mais aquilo. Tanto tentou que elas pararam por um
tempo, e ele pegou no sono. Mas em seus sonhos, ele pôde ver aquele que o chamava: um
tipo de felino roxo, de olhos vermelhos e dentes compridos e grossos, perfeitos, sem
nenhum sinal de desgaste. Seus pelos eram grossos e arrepiados, as garras afiadas e as
orelhas pontudas. Em volta dele, havia alguns ovos, pouco menores que ovos de avestruz. O
animal então começou a falar com Víni sem mexer a boca.
-Víni, eu gostaria que você viesse até mim, mas caso não se sinta preparado, diga
isso a si mesmo de uma vez, e eu nunca mais o incomodarei. Mas se quiser poder elevar o
seu poder ao máximo, venha até mim. Eu poderei ajuda-lo, e você também me ajudará.
Por mais apavorado que estivesse com aquela visão, Víni, mesmo no sonho, tinha
uma enorme vontade de descobrir do que ele estava falando.
-Sim, eu quero! Me diga, o que tenho que fazer ?
88
Nesse exato momento, o garoto acordou, todo suado, em sua cama. A sua esquerda
estava deitada Laísa, e a sua direita estava Máik. Os dois também acordaram na mesma
hora, e se assustaram com seu amigo.
-O que foi, Víni ?
-Onde está a Luibla ? Ela foi dormir ?
-Sim, já - respondeu Laísa.
-Tá certo, Laísa, você venceu! Vamos até eles!
Laísa sorriu para ele.Estava muito feliz por ele ter concordado em ir ao tal lugar,
descobrir o enigma por trás daquelas vozes.
-Vamos.Mas vamos falar com o Figúpi primeiro.
-Do que vocês estão falando ? perguntou Máik.
-Fala baixo, garoto! Olha, a gente deixa você vir com a gente, se quiser, mas fica de
boca fechada, tá certo ?
Eles só foram achar Figúpi saindo do dormitório, na área de treinamento. Ele e
Joaquina estavam treinando há muito tempo, praticando tudo o que tinham aprendido em
Artes Marciais até agora. Vestidos com as roupas protetoras, eles lutavam incansavelmente.
Ao ver seus colegas chegando, Figúpi se distraiu.
-O que fazem aqu...
no meio da distração,o garoto acabou golpeado e derrubado
por Joaquina.Após cair, ele pediu um tempo e foi falar com os outros. Os seis então se
reuniram, e Laísa finalmente lhes explicou a situação.
-Então vocês vão contrariar a Luibla ? Vão mesmo entrar naquela mata ?
-Joaquina, se está com medo, fique!
disse Figúpi, sem intenção de debochar dela
.Mesmo assim, foi o suficiente para que Joaquina se visse como sendo chamada de
medrosa, o que ela não podia aceitar.
-Tudo bem, galera só uma coisa, a menos que aconteça algo sério, ninguém deve
saber que a gente vai à floresta.Vamos tentar voltar antes que alguém acorde.
Todos concordaram com Víni, e então cada um pegou algumas lanternas potentes de
luz amarelada e saíram do dormitório sem que ninguém percebesse. Do lado de fora, havia
alguns robôs de guarda, mas estes não perceberam a movimentação deles.
Depois de um tempo caminhando pela mata de capim-gigante, Figúpi era o único que
ainda permanecia com alguma coragem. Os outros já começavam a se arrepender do que
tinham feito.
-E aí, Víni ? De que direção vêm as vozes ?
-Eu não sei, Laísa. Elas pararam!
-Como pararam ? Não pode ser!
-Eu falei pra vocês que não queria vir! Por que foram insistir ?
-Calma, amigos! Vamos achar um jeito de achar o local.
Figúpi procurou acalmalos.Mas a verdade é que agora, depois de caminharem por cerca de 1 quilômetro, ninguém
mais sabia como voltar para o dormitório. A mata de capim-gigante estava se tornando mais
densa, mais escura, e já nem mesmo era possível enxergar a luz das luas . Eles apenas
conseguiam seguir em frente graças às lanternas.
-Ai, eu tô morta.É melhor a gente parar e dormir aqui mesmo.Talvez de dia a gente
ache um jeito de avisar a Luibla que nós nos perdemos na floresta.
Todos concordaram com Laísa, apesar de saberem que ali no chão poderia haver
alguns insetos indesejáveis.Realmente, não havia sido uma boa idéia tentar explorar a
floresta desconhecida daquele planeta.Mas de repente, Víni pôs a mão na cabeça,
começando a sentir novamente o chamado em sua mente.
-Por ali! ele apontou e saiu correndo. Todos estavam distraídos, quando viram, ele
já estava bem à frente. Todos então saíram correndo para poder acompanha-lo e não se
perderem. Alguns metros à frente, o garoto está parado em frente à entrada de uma
caverna. Dela, saía uma luz verde que iluminava toda a entrada.
-Ele está me chamando.
disse Víni, entrando na caverna. Os outros iam sempre
atrás. Agora, até Figúpi estava amedrontado, porém eles haviam chegado longe demais
89
para voltar. Na entrada da caverna, sob uma enorme pedra, estava o animal que o
chamava: o mesmo felino de antes, mas agora seus olhos emitiam uma luza azulada bem
forte, e Víni, de alguma maneira, percebia que não era bem aquele gato gigante roxo que
falava. Mesmo assim, seja quem fosse que estivesse tentando se comunicar, este passava
uma enorme confiança, como se algo de sobrenatural estivesse tentando fazer contato com
eles.
-Muito prazer, Víni.
-Vo... Você me conhece ?
-Entre minhas habilidades, posso ler a mentes de seres vivos à distância, desde que
esses não bloqueiem o meu acesso a ela. Isso é possível devido a interesses de meu
hospedeiro em desenvolver sua habilidade telepática, o que também me proporcionou
utilizar este dom no momento.
Todos ficaram apenas observando. Não tinham mais medo, mas achavam muito
estranho aquele papo de hospedeiro, telepatia...
-Sei que vocês já devem ter percebido que não é este tigre-de-Graham que está
falando com vocês. Este animal nem mesmo é próprio deste planeta, na verdade ele foi
abandonado aqui a muitos anos, e somente conseguiu sobreviver até hoje por estar em
simbiose comigo. Quem está falando com vocês, é alguém que vive dentro do tigre, mas
não é o tigre: quem está falando com vocês, é o simbionte! Nós simbiontes dependemos de
outros seres para sobrevivermos, alimentando-nos de seus nutrientes. Normalmente, nós
escolhemos animais racionais para sermos hospedeiros, ou pelo o menos algo que seja
próximo da racionalidade. Escolhi este tigre para ser meu hospedeiro porque ele é mais
desenvolvido psiquicamente que a maioria dos animais deste planeta, e também porque
assim o estaria ajudando, uma vez que sem mim ele morreria. Eu o ajudei, e agora ele me
ajuda, eu vivo nele, e graças a ele posso continuar a me reproduzir, e a propagar minha
espécie.
-E daí ?
-Como e daí ? Meus jovens, trago a vocês a oportunidade única de se tornarem o que
vocês quiserem! Estou em época de reprodução, meus descendentes estão lá dentro,
esperando para encontrarem novos hospedeiros. Mas não temos muitos hospedeiros
racionais aqui, então, aproveitando que vocês vieram visitar este planeta, estou lhes
convidando a serem hospedeiros para meus filhos, para que possam assim nos ajudar a
continuar existindo.
-Como ?
-Víni, eu consegui te descobrir e fazer contato com você à distância. Isso porque você
é um ser com a mente aberta, e por isso, acredito que seria um ótimo hospedeiro. E o
mesmo digo de seus amigos, que acabo de conhecer. Mas caso não aceitem, não há
problema, voltem para onde vieram e façam de conta que nunca me viram.
-Eu aceito - disse Figúpi, que sentia uma enorme vontade de ajudar aqueles seres.
Os outros também pensavam em ajudá-los de alguma forma, mas ainda achavam muito
estranha aquela história.
-Espera aí, o que a gente ganha com isso ? Joaquina perguntou.
-Nós simbiontes temos um poder mental elevado, mas que não pode se desenvolver
porque nos falta um corpo maior. Em simbiose com vocês, aumentaríamos nosso poder, e
também o de vocês. Vocês poderiam desenvolver certos poderes psicocinéticos que ainda
não conhecem. Além do mais, ganharão uma saúde extrema e um alto poder de
regeneração e resistência física ao cansaço. E terão uma impressionante capacidade de
memorização e aprendizado. Vocês vão se tornar os melhores naquilo que quiserem fazer!
É claro que todos duvidaram na hora e tiveram vontade de correr no mesmo instante,
mas ao mesmo tempo em que ouviam a voz do simbionte sendo diretamente impressa em
suas mentes por via telepática, era como se pudessem sentir uma sinceridade incrível na
sua mensagem. Ele realmente não parecia ter nenhuma intenção de lhes enganar. Mas o
90
que ainda pesava era o fato de o simbionte dizer que eles teriam que conviver com seus
filhotes dentro de seus corpos.
-Mas não se preocupem: Jamais eles irão interferir na vida de vocês e raramente irão
falar com vocês, a menos que vocês queiram falar com eles. Apenas viverão com vocês, mas
se preferirem, será como se eles não existam. Eu só estou usando o corpo deste tigre para
lhes falar porque ele na verdade está em seu período de sono. Sua mente já estava
descansando, ele já havia ido dormir quando entrei em ação, e antes de tomar o controle de
seu corpo, eu lhe pedi permissão, pois não há como assumir o controle sem a permissão do
hospedeiro.
Era algo ainda muito estranho, porém muito tentador. Diante da oferta, eles ainda
tentaram resistir um pouco, mas não conseguiram. Cada um por seus motivos, um a um
eles foram aceitando se tornarem hospedeiros para os filhotes do simbionte.Apenas
Joaquina recusou.
-Tá bom, o que temos que fazer ? perguntou Máik.
-Me sigam! disse o simbionte, caminhando mais para o fundo da caverna.Lá, havia
um laguinho circular, de águas quentes e límpidas.No fundo d água, havia 10 pequenos
ovos, que se supunha ser do tal simbionte.Chegando próximo à entrada do laguinho, ele
virou-se para os adolescentes e pediu para que tirassem suas roupas.
-O que ?? Quer que eu fique pelada na frente deles ? Laísa se assustou.
-Então tirem apenas a camisa.Perdoe-me, garota, mas é realmente necessário.
Eles então fizeram como o ser pediu.Laísa ainda estava meio com vergonha de ficar
de sutiã na frente dos garotos, mas concordou.Entraram na água, e continuaram seguindo
as instruções do simbionte. Joaquina, que achava aquilo maluquice, ficou do lado de fora,
apenas olhando.
-Agora, encostem na parede, fechem seus olhos e relaxem.Tentem se desfazer de
todos os seus pensamentos.Desprendam suas mentes...
Logo, todos os quatro caíram num sono hipnótico, ainda sentados dentro do lago. De
todos os ovos do simbionte, quatro deles foram então se partindo, se chocando, e deles
foram saindo pequenas criaturinhas, parecidas com águas vivas, mas talvez um pouco mais
espessas e brilhantes, e com uma cauda bem fina e comprida. Essas criaturas tinham a
mesma luz verde saindo de seus corpos, e iluminaram mais ainda o local. Iam nadando na
direção dos umbigos dos jovens, grudando neles, e através de pequenos furos, os
simbiontes foram entrando em seus corpos, iniciando o processo de fusão.
Laísa então acordou em sua cama, no dormitório. Já havia amanhecido já muito
tempo, o dia já estava bem claro, e isso indicava que ela havia dormido por demais da
conta. Em sua cabeça ela sentia uma leve, porém irritante dor, e seus olhos permaneciam
bastante embaçados e com o rosto cheio de olheiras. Todos já haviam acordado, com
exceção de Máik. Assustada, ela foi ao espelho e começou a olhar sua imagem refletida.
-Puxa, parecia ter sido tão real!- Laísa lamentou-se, pois queria mesmo os tais
poderes prometidos pelo simbionte.
Já não sabendo o que fazer, ela foi ao refeitório.Sentia uma fome terrível, como se
não comesse há três dias. Quando chegou lá, encontrou Figúpi e Víni mandando pra dentro
todo tipo de comida que viam pela frente. Comiam quase engolindo diretamente a comida,
como se realmente passassem fome, e como se a comida fosse fugir deles. Joaquina
também estava ali com eles, mas esta comia com mais educação, como uma pessoa normal.
Laísa estava intrigada com seu sonho. Sentiu vontade de conta-lo a seus amigos,
mas preferiu primeiro atacar a comida, antes que não sobrasse nada pra ela. Sentou-se em
91
frente a uma enorme torta, e começou a devora-la, da mesma maneira que os garotos
faziam. Foi nesse momento que Máik entrou sorrindo no refeitório. Também parecia ter
muita fome, mas antes de mais nada sentou-se ao lado de Laísa e fez um comentário que
chamou a atenção de todos.
-Aê, Laísa, gostei daquele seu sutiã branquinho com detalhes roxos. Ainda mais que
na água eles ficavam meio transparentes. Será que a calcinha é daquele modelo também ?
Quando Máik achou que a garota fosse ficar sem graça com o seu tipo de comentário,
ela olhou nos olhos de Víni, que por sua vez olhou para Figúpi, e por aí foi. Todos se
olharam espantados.
-Então foi verdade!!! Laísa comemorou.
-É claro que foi verdade disse Joaquina, com um olhar de reprovação Vocês são
mesmo loucos...
-O que aconteceu então ?
-Nada! Depois que aquelas coisas entraram em vocês, vocês começaram a dormir,
mas em seguida levantaram, como se fossem sonâmbulos, e voltaram para cá. Eu mesma
não sabia como voltar, apenas vim seguindo vocês, e aí vocês foram, deitaram-se em suas
camas e lá ficaram.Ninguém percebeu a nossa entrada aqui, nem a nossa saída. Mas eu
pensei que vocês não fossem mais voltar ao normal, por isso, quase contei tudo para a
Luibla!
-Não! Não faça isso!
-Por que ? Amigos, isso que vocês fizeram é muito perigoso, vocês não sabem o que
querem esses simbiontes.
-Mas Joaquina, eu pelo o menos estou me sentindo tão bem agora.Sei lá, me sinto
mais estimulada a treinar... E quando a gente estava lá, falando com aqueles bichos, sei lá,
eu senti uma confiança tão grande neles.
-Eles tem um poder mental muito alto,podem inspirar confiança em quem eles
quiserem. Podem falar a mentira mais absurda e vocês acreditarão cegamente.
-Não, não foi isso. Foi diferente. Eu sei que eles precisam de nós e nós deles. Não vai
acontecer nada demais comigo ou com os garotos. Nós vamos ficar bem. Por favor, não
avisa pra Luibla, ela não entenderia. pediu Laísa.
-Está bem!
disse Joaquina
Eu não vou falar nada, por enquanto. Mas se vocês
começarem a agir de algum jeito estranho, não vou nem pensar duas vezes.
-Valeu, Joaquina! Você é uma amigona!
-Mas o que você chama de jeito estranho ? É, porque o Máik, por exemplo, ele já é
estranho todo dia, então...- brincou Víni, provocando risos em todos.
De repente, enquanto conversavam, Taklyba apareceu diante deles, perguntandolhes do que riam tanto ainda a pouco. Nesse momento, todos ficaram se olhando,
indecisos.O que fazer ? Alguns ali, apesar de gostarem da garota, nesse ponto não
confiavam tanto nela. Acreditavam que por ser a sobrinha de Luibla, ela contaria para sua
tia toda a história dos simbiontes, caso a ouvisse.
-Nada não, Taklyba! Era só uma piada que eu ouvi uma vez, conhece a piada do
papagaio do zikano num hospício conversando com a loira ?
-Não, como é ?
-É assim, estava o Satoshi andando perto do hospício
Máik continuou, e Taklyba
realmente acreditou que era esse o assunto mesmo, sem desconfiar de nada.
E assim, mais seis meses se passaram, e os resultados começaram a aparecer. O
desempenho da tropa de Luibla sempre melhorava mais e mais, como era de se esperar.
Mas no caso de Máik, Laísa, Víni e Figúpi, essa melhora era espantosa! Era como se
treinassem por três dias a cada dia de verdade. De uma maneira misteriosa, os simbiontes
potencializavam o treinamento de todos eles.
92
Na aula de desenvolvimento da mente, enquanto Lienruyl tentava levantar um peso
de 500 gramas, Víni conseguiu facilmente levantar um de 600 gramas. Ninguém viu, e nem
ele queria que vissem, pois logo suspeitariam de algo. Poderiam mandar que lhe fizessem
uma ressonância magnética ou algo assim, e descobrissem o simbionte. Não, melhor não
revelar a todos as habilidades extras que estava conseguindo tão rapidamente.
Mas a partir disso, não só ele, como os outros três passaram a ter certeza de que os
simbiontes estavam realmente ajudando. Cada um deles passou a se empenhar mais ainda
numa área específica. Víni no desenvolvimento da mente, Máik em técnicas de guerrilha e
armas de fogo, Laísa procurou desenvolver mais sua agilidade e Figúpi sua força, embora,
não se descuidassem de nenhuma área. O tempo passou, e logo já chegava o mês 10. Logo
um novo natal, um novo ano-novo, e já despontaria o ano de 2156. Mas antes disso, logo no
início do mês, chegou a notícia de que a partir do dia 10, as tropas dos Protetores da
Galáxia participariam de um encontro interplanetário com aprendizes militares dos planetas
BCC, Donugar, Smoockerr e Druuuk. O encontro aconteceria no Planeta Kwy-Kwy, onde
Caracówl também possuía uma base. Todos ficaram bem animados com isso, até porque
Luibla garantiu-lhes que dessa vez a viagem seria boa.
Um dia antes de embarcarem, Víni conversava com Sakura pela Enterwave. Os dois
contavam as novidades, quando Sakura então falou-lhe sobre uma viagem que ela e o resto
da equipe Abzurds iriam fazer para outro planeta.
-Pra onde vocês vão ?
-Para a Plataforma Espacial Ajdapri, perto do Planeta Kwy-Kwy!
-Que coincidência, nosso batalhão também vai viajar pra esse planeta! Embarcamos
dia 9!
-Que bom, Víni! É uma pena que talvez não nos encontremos lá, mas mesmo assim,
boa viagem pra vocês! disse Sakura, continuando a conversa, que ainda durou por algum
tempo.
93
A Declaração de Guerra
Oiils City
D.C., Oiils, Smoockerr, 13 Altxuúbunu, 2155.
Já está chegando o final de mais um ano em Caracówl, e toda a população está preocupada com as festas de
fim de ano, em gastar dinheiro, movimentando a Economia. Isso é muito bom, deixemos que aproveitem
tranqüilamente esse período. Alguns querem viajar, então deixemos que viajem, mas temos apenas que impedir
nossa população de vir para qualquer planeta próximo. A situação aqui não está nada boa!
Eduardo descobriu ligações de guerrilheiros separatistas com o nosso planeta. Ele está furioso, fora de
controle. Nossa diplomacia falhou. Parece que não há alternativa se não a guerra. Não a guerra total, mas a verdade
é que nossas bases no quadrante de Zeelish estão sendo atacadas. Apenas uma pequena parte de nossa Espaçonáutica
estava aqui, e nós não estamos tendo como resistir, por isso a fuga está sendo a única saída. Quase todos os planetas
que nós protegíamos estão sendo tomados, e é possível que até Smoockerr seja atacado em breve. Eu estou aqui em
Smoockerr, negociando com os nativos e demais líderes de planetas aliados para que possamos nos preparar para
caso haja uma invasão. Eu não acredito que Eduardo queira atacar Smoockerr, e tenho certeza de que ele não atacará
Druuuk. Pelo o menos não agora, mas o fato é que essa rixa entre a ONUC e o Império Zeelishiano é como uma
partida de xadrez, ou como o Jogo WAR. É preciso ter muita calma, e saber quando atacar e quando se defender.Não
se pode perder espaço demais, não se pode deixar que nossos territórios sejam tomados, pois pode ser tarde demais
para reagirmos depois. Havia civis caracoleses em vários planetas atacados por Eduardo e também na Plataforma
Ajdapri, onde havia um Campeonato de Batalha de Robôs. Eles foram retirados junto com nossos militares em fuga,
mas há notícias de que alguns não tenham tido tempo de ser salvos, e de que caíram em poder dos zeelishianos.
Sinceramente, eu temo pelo pior, mas temos que pensar que não podemos divulgar essas informações
livremente em nosso mundo, ou aqui em Smoockerr, pois qualquer população que saiba da aproximação dos
zeelishianos entraria em pânico, e o medo muitas vezes é um péssimo aliado.
Eu, como um incobryidi do Exército Caracolês, e comandante de todas as Forças Caracolesas em
Smoockerr, farei tudo que estiver ao meu alcance para proteger a vida de todos os nossos civis e militares que
tiverem sido capturados, mas tenho que admitir que muito pouco está ao meu alcance. Não há como mandar uma
equipe de resgate no momento, até mesmo por que não sabemos quem foi capturado, onde e como. Nossa
inteligência está trabalhando para isso. Quanto a vocês, peço que façam como lhes pedi, não divulguem essas
informações por enquanto, e deixem que nós resolveremos esse conflito do melhor jeito possível. Smoockerr não
cairá diante dos zeelishianos, vocês têm a minha palavra!
Inc. José, em mensagem enviada aos seus subalternos que estavam em Caracówl.
94
NAVES CARACOLESAS:
OPG
Tripulação: 3000 normal
Tamanho: 130 m X 50 m X 50 m
Armô: 20 m de titânio
Velocidade:
Possui: 2 antenas de comunicação
Enterwave Alta-Freqüência,
Invisibilidade ou campo de força,
Sonda, Sistema de Scanneamento e
Desinfecção, Teleguiagem, Reator de
Dobra, Gateway, Turbina de íons, Scanner holográfica, Blindagem espelhada, 1000 naves
Kraivur,
ARMAS:
84 lança mísseis (200 disparos), mísseis plasma penetradores 300000 PWs, mísseis 300000
Kt, nitrogênio 100 m3 alcancem, Desintegrador 1171 Kt, 42 lasers 10000 PWs (50000 5 s),
feixe de elétrons 30000 PWs, Laser Especial 51000 PWs (371 charge)
Kraivur
Tripulação: 10 a 15 normal, 50 pessoas (máximo), 120
(caso extremo)
Tamanho: 8,74 m X 4 m X 4 m
Armô: 0,50 m de titânio-carbono
Velocidade: 100.000 km/h (espaço)
Possui: 2 antenas de comunicação Enterwave,
Invisibilidade ou campo de força, Sonda, Sistema de Scanneamento e Desinfecção,
Teleguiagem, Gateway, Turbina de íons, Scanner holográfico, Blindagem espelhada.
ARMAS: 4 lança mísseis (200 disparos), 2000 mísseis plasma penetradores 2500 PWs, 2000
mísseis hidrogênio penetradores 100 Kt 1000 nitrogênio 20 m3 alcance, 20000 penetradores
desint., 500 mísseis soníferos, 6 lasers 1000 PWs (4000 charge), feixe de elétrons 1000 PWs
NAVES ZEELISHIANAS
Ze e l Tr ish W a n
8.000m X 5.000 m X 5.000m
Velocidade: 120.000km/h (fora da dobra)
Armo: 20.200.000AM (Escudo
Eletromagnético +4; 35.500.000AM)
Armas: Principal (10X on-charge 2.000.000
PW); extras: 150.000 Canhões de 40.000 PW; 230 ogivas nucleares de 25 kt
Outros: 5.000.000 Naves de combates
Zeel Okrawan
Tamanho: 17m X 6 m X 6 m
Velocidade: 45.000km/h.
Armo: 2.500AM (Escudo Gravitacional +4; 30.000AM).
Armas: Principal: 2 Lasers 3.000PW;
95
Sistemas estelares mais próximos de Zeelish em seu quadrante:
Legenda:
Z Sistemas com planetas
sob a influência de Zeelish
T - Sistemas com planetas
sob a influência de Threvam
C - Sistemas com planetas
sob a influência de Caracówl
N Sistemas com planetas
neutros
Sistema Ozzy
SMOOCKERR
Diâmetro: 15.563km
Densidade: 5
Gravidade:1,10 G
Tipo: rochoso
Temp. eq. média:43º
Pressão:1,07 atm
Composição atm: 71% nitrogênio, 28% oxigênio
Rotação:30 h
Sa t é lit e s( lu a s ) :1
População: 25.000.000.000 hab. (51 %humanos , 40% smoockerranos, 9 % híbridos)
Línguas: Darswano, Barroni, Oiil e línguas primitivas
Religiões:Cristianismo e crenças nativas Países: 72 Cidades: 203.115
Organização Política Reguladora: União das Nações de Smoockerr (C.P.S.)
Moeda: cada país tem a sua, sendo que a mais importante é o Dars
ISBARCENSES
Diâmetro:15111km Densidade:5,1
Gravidade:1,09 G
Tipo: rochoso
Temp. eq. média:37º
Pressão:1,1 atm
Composição atm: 81% nitrogênio, 18% oxigênio
Terrenos:53% savanas, 22% matas isb, 10 pântanos
Rotação:28,5 h
Satélites( luas ):0
População:2.576.000.000 hab. (99,8% Isbarcenses, 0,2% humanos de Zeelish)
Línguas:Dialetos nativos Religiões:Isbarcismo Países: Cidades:50.881
Moeda: isbts
DRUUUK
Diâmetro:82563
Densidade:7,2
Gravidade:8,44 G
Tipo: metálico
Temp. eq. média:60º
Pressão:0,93 atm
Composição atm: amônia, nitrogênio, metano
Rotação:12,3 h
Satélites( luas ):32
Inóspito para a vida, é usado por caracoleses e aliados apenas para a extração mineral e
área de testes de armas. Porém, a metade das suas luas é habitável.
96
Todos os Planetas:
Sistema Fendrow
Faíri, Toscan, Melvin, Fellias, Dracoria, Basbron
Sistema Ozzy
Sbaachmaz, Smoockerr, Ibarcenses, Druuuk
Sistema Nongáris
N1, N2, SZYV, Nongáris, Zeelishmoockerr, NG6
Sistema Lanz
Lanzio, Arzwí-ti, Kwy-Kwy, Tuy, Gri zlê, LA 6, LA 7
Sistema Urgin
UG 1, UG 2, Oldolk, Odaedac, Eten, Oterp
Sistema Zhor
Zhor
Sistema Zeelish
Truzy, Twin, Zeelish, Z4, Loser, Z6
Sistema Maqüi
M1, M2, Magwi, Lechid, M5, Tuiyt, Yawribabawk, Makei
Sistema Alrac
Shoyond, Leguns, Mogo, Sgron, Inôvax, Scórpion, Alagon, Donugar, Friex
Sist e m a Ela m
El 1, EL 2, EL 3, Ela m, Turylan
Sistema Zeelish 2
Kogues, Jezax, ZXWYK, Zeel. 2, K1, K2, K3, Japoles, Guráculo, Zépoles,Klepis, Folopolixadi
Sistema Amy
Amy, Vandysh, Vandyn, Smaler, Acqua, Stoyond
Sistema Edlek
Tristop, Threvam, Volan, Corânia, Camile
Sistema Twex
8-P, Zel-kimur, Tuex. Terrax, Knartexiana, Zeckflimptick, Shuráctor, BST
Sistema Bowng
S1, S2, S3, S4, S5, Bowng, Súdar
Sistema Ber
ZVC, Beron, Ishy
Sistema Hessel
HS 1, Hessel, (desconhecido), (desconhecido 2)
97
13 - A Guerra do Quadrante
A Plataforma Espacial Ajdapri era algo fantástico visto de fora. Uma construção
metálica brilhante, de uma cor entre o amarelo e o prateado, em forma oval, como se fosse
uma gigantesca bola de futebol americano, posicionada de lado. Tinha cerca de 16 km de
comprimento por 12 km de altura e largura, e poderia ser talvez como uma nave
gigantesca, mas ao invés de estar em constante movimento, ela apenas acompanhava a
translação do Planeta Kwy-Kwy, em volta do qual ficava. Dentro dela havia inúmeros
pavimentos, onde existiam hangares para pouso de naves, arenas para as lutas e quartos
para os competidores. Na parte de cima e na parte de baixo havia entradas para naves, mas
como no espaço não há gravidade e a noção de cima e baixo não existe, pouco importava
saber qual entrada era qual.
Uma vez autorizada, uma nave da Espaçonáutica da Guanabara entrou por um portão
que se abriu ao meio, e depois que este se fechou, outro se abriu. Ambos eram feitos de
puro titânio, criados para permitir a entrada de naves sem a saída do ar que existia lá
dentro.
A Equipe Abzurds havia sido convidada, juntamente com várias outras equipes de
batalhas de robôs de seu planeta, para participar do Desafio de Ajdapri, torneio organizado
por um milionário do Império de Zeelish, proprietário daquela plataforma. Após irem na
Federação Esportiva da Guanabara pedir orientações acerca do convite, a resposta que
Sakura ouviu de Geraldo Moreno, o presidente da entidade, foi cautelosa.
-Ao invés de ter simples robôs com participantes das lutas, no Desafio de Ajdapri
lutam seres de vários tipos. Seres inteligentes, animais irracionais, tanto pequenos quanto
grandes, robôs, andróides... E em geral as lutas não são como as da KVC, mas sim disputas
cruéis, onde combatentes lutam às vezes até a morte, por culpa de seus treinadores
irresponsáveis e de regras desumanas. Sakura, eu até aconselho que vocês participem, mas
saiba desde já que as regras desse torneio contrariam os princípios esportivos internacionais
de Caracówl. Se você realmente tem afeição pelos robôs de sua equipe, saiba retira-los de
um combate quando este se tornar perigoso, caso contrário, você corre o risco de perde-los
para sempre!
Sakura ficou um pouco incomodada com a natureza daquele torneio, mas soube
também que a premiação, apesar de não ser previamente divulgada, era considerada muito
boa. E ela estava disposta a descobrir que premiação seria aquela. A garota soube também
por Geraldo que neste torneio eles precisariam apenas de um de seus robôs, por isso, ela
decidiu que levaria para lá apenas Gru, mas não sem antes consultá-lo sobre o perigo pelo
qual o robô passaria num torneio como aqueles.
-Não se preocupe, sou um robô forte o suficiente para agüentar um torneio assim!
Gru disse na mesma hora. Sakura de um certo modo já imaginava que essa fosse ser a
resposta dele, mas isso não diminuiu a sua preocupação. Em todo caso, ela sabia que
poderia abandonar uma luta a qualquer momento, por isso acreditava que nada de mal iria
ocorrer ao seu robô.
No dia 12 do último mês de 2155, Sakura, Lublizo, Bibi, Léo e Gru foram deixados na
Plataforma por militares da Espaçonáutica da Guanabara, que prometeram voltar para
buscá-los de volta em 13 dias, quando a disputa acabasse. Guto, que por algum motivo
desconhecido parecia ser meio avesso à viagens, tinha preferido ficar em Caracówl cuidando
dos outros robôs, e preparando-os para as competições do ano seguinte. Já seus amigos
chegaram na plataforma confiantes de que conseguiriam um bom resultado. Todos estavam
98
vestidos com roupas em seu estilo habitual, ou seja, kimonos zikanos, no caso de Sakura,
uma camiseta tlyij e um calção com detalhes emborrachados, típico de Craytèyryi, no caso
de Lublizo, camiseta de malha e bermuda de plast-jeans para Léo e blusa de alcinha e saia
para Bibi. Mas o interessante é que eles haviam mandado confeccionar especialmente para
eles suas roupas, gravando nelas as cores verde-escuro e preto, e o escudo de sua equipe,
fazendo delas uma espécie de uniforme, algo no mínimo inusitado. Sem contar que diante
daquela infinidade de alienígenas que existiam ali, todos eles falando línguas muito
diferentes, o melhor que eles puderam fazer foi cada um deles comprar um Tradutor
Instantâneo Escolta8, e tratar de prende-lo em volta de suas cabeças, para não se perderem
naquela Babel que era Ajdapri.
O torneio seria em forma de mata-mata, ou seja, quem perdesse uma luta seria
eliminado. Dois dias caracoleses se passaram, e a equipe Abzurds já havia passado por 8
adversários. Após a oitava luta, estavam todos exaustos e se preparando para irem dormir.
O que mais estava lhes deixando cansados era o fuso-horário. Mas nada que pudessem
prejudica-los, diante das equipes fracas que estavam enfrentando até então.
-Antes de nós embarcarmos pra cá, eu falei com o Víni pela Enterwave
disse
Sakura de repente
É impressionante como os nossos amigos estão diferentes. Não sei
dizer ao certo o que é, mas...
-Falou com a Luibla, Sakura ? Lublizo perguntou.
-Não, não falei. Falem a verdade, vocês não se arrependem nem um pouco de não
terem ido treinar na OPG com eles ?
Sakura ficou curiosa. Ela tinha recusado desde o
início, mas Léo e Lublizo queriam ir, e abriram mão de suas vagas mais tarde.
-Sabem, o Víni queria mais ir pra lá do que eu Léo falou, de modo sério E mesmo
eu tendo ficado melhor no teste, acho que ele merecia mais a vaga. Não falei brincando
quando disse que ele seria um soldado melhor. Não sei porque, mas acho que ele tem um
grande futuro lá
ele dizia, se referindo a uma prova que Luibla fez ainda na Guanabara,
antes de ir para a Zona da Ônuc, para decidir quem ela levaria com ela. Como Sakura quis
continuar em sua carreira de treinadora, Lublizo nem quis participar dessa prova para ficar
lá junto a ela. Máik, Raiane, Léo e Laísa foram os classificados, mas ao ver o
desapontamento de Víni por não ter ido, Léo abriu mão da vaga para que Víni fosse, uma
vez que aquele era seu grande sonho.
-E quanto a você, Lublizo ?
-Ora, o que você quer que eu diga mais uma vez ? Que eu te amo ? Que por mais
que eu quisesse estar lá, nada é melhor que estar aqui ao seu lado ? Você sabe muito bem
disso Sakura ele disse, com um tom romântico, abraçando a sua namorada. Sim, Lublizo e
Sakura estavam namorando oficialmente há vários meses, mas ainda não haviam contado
nada aos pais da garota. Quando estavam na casa dela ou em algum lugar perto deles, os
dois agiam como sempre agiram. Já naquele lugar eles tinham mais liberdade para ficar
juntos. Enquanto eles andavam por entre um dos corredores da Plataforma, Sakura viu uma
porta, com um desenho de árvores, e uma estranha inscrição na língua zeelishiana.
Jardins da Plataforma , Sakura ficou ali parada observando aquilo por um tempo.
-Sakura, não vai dormir ? Temos só 8 horas pra descansar, já será outra batalha
Léo advertiu, embora ele mesmo já estivesse meio perdido com o tempo.
-Pode ir, se quiser, só quero olhar isso. Deve ser mesmo curioso um jardim dentro
desse lugar disse Sakura indo em direção à porta, que automaticamente se abriu. Ela foi,
naturalmente seguida por Lublizo e Gru. Léo e Bibi ficaram se olhando por alguns instantes.
-E aí, vamos com ela ?
-Você é que sabe...Por mim, vamos!
-Então tá!
8
Ver página 163.
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O jardim era belíssimo. Apresentava espécies vegetais, e até pequenos insetos, de
vários planetas. Em frente a algumas plantas, existiam placas com os seus nomes. Havia lá
uma Orkuna Zeel, uma arvore de 3 metros, tronco pegajoso, recoberto de insetos, e que
exalava um doce perfume, e um pólen que parecia purpurina. Conforme passavam próximo
a ela, um pouco do pólen caiu sobre Bibi, atraindo alguns insetos até ela.
-Sai! Sai daqui! gritou a garota, afastando os insetos e limpando sua blusa Ai, to
começando a não gostar desse lugar!
-Ora, Bibi, como você pode não achar esse lugar lindo ? perguntou Sakura Veja,
em meio a tantas estruturas metálicas, a tanta tecnologia, a natureza brotar dessa forma!
Veja, olhe ali pro canto, uma parede de metal, e aqui mais de 3000 m de verde puro!
disse Sakura, sendo logo corrigida por Léo.
-Verde ? Tem certeza ?
Realmente, verde não era bem a palavra certa para definir a natureza ali. Havia
muitas plantas roxas, outras de uma cor indefinida, entre o cinza e o roxo. Havia plantas
que pareciam serem recobertas por cristais, e outras que pareciam com cristais de verdade.
Havia a hipoflora roxa, planta que parecia uma flor, e que podia chegar a 1,80 m de altura e
quase 2 m de largura. Dentro dela faziam ninho alguns colibris-de-rayd, pássaros azuis de
bico fino e comprido nativos de Zeelish, e que já não mais podiam ser vistos na natureza de
seu planeta de origem, e se assemelhavam bastante aos beija-flores da Terra.
Até que em meio àquele ambiente de paz, de repente, se ouvem gritos e gemidos.
Todos os cinco se assustaram, enquanto um som de chicote estalava no ar e depois se ouvia
mais um som, de algo sendo golpeado. Em seguida, novos gritos. Então todos eles
resolveram seguir o barulho, até que encontraram um pouco mais à frente um lagarto
bípede acorrentado à uma árvore. Tinha o tom da pele entre o verde e o marrom, garras
pontiagudas e uma espécie de cauda que mais lembrava a cauda de um escorpião.Seu corpo
estava todo ferido, e de sua pele saía um líquido viscoso, possivelmente algum tipo de
sangue. Em frente a ele havia um outro alienígena, este de aspecto mais humanóide, porém
com a cabeça no formato de uma pêra, e olhos enormes. Tinha por volta de 1,50 m de
altura, o corpo fino e a pele pegajosa e avermelhada, e em suas mãos ele segurava um
chicote, que usava para golpear o corpo do outro ser, com uma terrível fúria.
A primeira reação, quase espontânea dos adolescentes foi de gritarem para que
aquele ser parasse com o que estava fazendo. Mas o alienígena que tinha o seu chicote em
suas mãos praticamente ignorou seus apelos e continuou a castigar o seu escravo.
-Vocês não deviam se preocupar com o que não lhes diz respeito!
ele disse
friamente, lançando sobre a Equipe Abzurds um olhar de raiva.
-Gru, não podemos permitir que esse ser faça isso. Acabe com ele! disse Sakura ao
seu robô. Com toda a sua força, Gru partiu para cima do segundo alienígena, o que tinha o
chicote em suas mãos. Mas nem bem o robô aproximou-se dele, sentiu como se houvesse
um campo de força a sua volta parando todos os seus movimentos. Em seguida, Gru tentou
mover-se para trás e para os lados, mas também não conseguia.
-O que está havendo, Gru ?
-Não sei, mestra Sakura, eu não posso me mover!
O alienígena havia usado a sua mente para paralisar Gru, e agora começava a torcer
o metal que o revestia, criando nele deformações. Era claro que ele possuía altos poderes
psíquicos.
-O que você está fazendo com o Gru ? Seu...
-Eu avisei para não se intrometerem com os meus negócios. Agora, garota, vai ficar
sem o seu robô!
disse o alienígena, estendendo a mão à frente de seu rosto.Ele tinha o
olhar concentrado em Gru e tentava explodi-lo, apenas usando o seu poder. O robô não
100
tinha defesas, não podia fazer nada, quando de repente a força que o segurava e o destruía
cessou, e ele pôde afastar-se alguns metros.
Sem que todos percebessem, alguém rapidamente se aproximou do cruel alienígena
e desferiu-lhe um chute no tórax, lançando-lhe entre raízes das maiores entre as árvores
daquele jardim.
Bibi, Lublizo, Léo e Sakura, ao verem que Gru ainda estava inteiro, olharam para o
lado e reconheceram Víni, seu amigo que eles não viam a muito tempo.
-Víni ?
O que você está fazendo aqui ?
perguntou Lublizo. Antes que ele tivesse
tempo de responder, Máik, Laísa e Luibla, além de Figúpi, chegaram correndo e se juntaram
a eles. Apenas este último eles não conheciam pessoalmente. Todos eles estavam vestidos
com camisas emborrachadas amarelas, com inscrições da Ônuc e da OPG; um tipo de calça
azul, sendo que Luibla, usava algo que mais lembrava uma bermuda; além de botas tlíèyk
também amarelas. Desta vez Luibla não estava com o seu seysu, mas tanto ela como os
seus alunos estavam também com tradutores instantâneos.
-Rápido, galera! Temos que sair daqui! disse Máik, apressado.
-Mas por que, cara ?
Léo ficou sem entender nada. A aparição deles ali tinha
realmente sido uma grande surpresa.
-Não dá tempo pra explicar, nossas vidas estão correndo perigo aqui!
-O que está havendo ? Fala! - Bibi insistiu em querer saber.
-A guerra começou! Eduardo declarou guerra a Caracówl e seus aliados. Uma
esquadrilha imensa foi deslocada para invadir Kwy-Kwy. A base onde esta acontecendo o
nosso Congresso foi evacuada, e a nave que nos levou até lá está voltando para Druuuk.
Mas primeiro, ela parou aqui na plataforma e mandou que alguns de nós viéssemos e
retirássemos todos os treinadores caracoleses daqui. Todos os caracoleses que estiverem
aqui correm perigo!
-Em quanto tempo as naves de Zeelish vão chegar à plataforma ?
-Há uma estimativa de 30 minutos! Mas em 20 minutos a nossa nave vai embora,
estejam todos lá ou não.Temos que ir rápido! disse Luibla.
-Então disse Sakura Vamos até o nosso quarto. Tenho que pegar nossas malas.
-Em 20 minutos dá tempo!
Luibla então concordou. Então, Léo se lembrou do
alienígena que estava acorrentado à arvore, muito ferido, quase desmaiado.
-E ele ? todos imediatamente se viraram. Vamos deixar esse cara aqui ?
-Figúpi, solte ele e leve-o com você de volta para a nave.Enquanto isso nós vamos
até o quarto deles ajuda-los a pegar a sua bagagem. disse Luibla.
Tudo então estava certo. Com um único e poderoso golpe Figúpi arrebentou as
correntes que prendiam aquele alienígena à arvore, e em seguida colocou-o nas costas e
correu na direção da saída do jardim.
-Vão rápido. Estamos esperando vocês! disse Figúpi. Máik fez um sinal de positivo
para ele, e seguiu junto com os outros.
Então Sakura, Léo, Bibi, Gru e Lublizo, acompanhados de Máik, Víni, Laísa e Luibla,
voltaram ao dormitório da equipe. Uma vez lá, todos correram para pegar os seus
pertences, e coloca-los dentro de suas mochilas.
-É uma pena que vamos ter que abandonar esse torneio. Estávamos indo tão bem.
-Vamos poder ir a outros torneios, Sakura. Isso se a gente for embora, por que se
ficarmos aqui, e eu acho que o único torneio que nós vamos disputar vai ser o da Prisão de
Zeelish. E quem vai lutar não vão ser os robôs...
-Tem razão. Terminei de arrumar minhas coisas Sakura, fechou sua mochila.
-Eu também
disseram seus três amigos, quase que instantaneamente, ao mesmo
tempo em que o robô Gru veio quase implorando para ele mesmo carregar as mochilas.
-Deixem que eu as levo! disse o robô.
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-Ah, já que você insiste, então toma! disse Léo, entregando-lhe a sua mochila. Bibi
fez o mesmo, e Lublizo e Sakura ainda demoraram para dar-lhe as suas, mas como o robô
era muito insistente, eles acabaram entregando-lhe também.
Então, lá se foi todo o grupo, caminhando de volta ao hangar.
-A quanto tempo não nos víamos assim de perto, hein amigos
disse Luibla, para
Lublizo, Sakura, Léo e Bibi.
-É verdade Bibi respondeu Acho que o treinamento de vocês está dando resultado
mesmo. O Víni esculachou aquele alienígena lá em baixo.
-Aquilo lá ?! Patinho... Muito fraco! Víni desdenhou do oponente.
-Temos que lutar contra inimigos de verdade, não é Víni ? disse Máik.
-É isso aí!
Porém, mal eles haviam terminado de falar no alienígena que haviam enfrentado a
pouco, e ele aparece bem na frente deles, junto com cinco seguranças da Plataforma, que
param o grupo de caracoleses.
-Foram eles! gritou o alienígena, nervoso.
-Com licença, temos que falar com vocês. Este cidadão afirma que vocês roubaram o
escravo lutador dele, e lhe agrediram
disse o segurança. Sakura então tomou a frente, e
começou a usar toda a sua diplomacia para argumentar com os seguranças, mentindo um
pouco para livrar a barra deles, dizendo que estavam com pressa e que não poderiam
perder tempo com uma acusação infundada. Máik, diante da situação de pressa que eles
tinham, pensou em usar a força para que ele e seus amigos pudessem passar, mas ao ver
que os seguranças estavam armados, desistiu da idéia.
Léo, vendo que eles não obteriam sucesso com aquela conversa, foi até Gru e faloulhe, de modo que só o robô pudesse escutar.
-Gru, vai pelo canto e não deixe que eles te vejam passar. Passa por aqui e vai até o
hangar. Encontre o pessoal da Espaçonáutica e peça reforços a eles, está entendendo ?
-Sim! Já estou indo
respondeu o robô, que seguindo fielmente o pedido de Léo,
passou pelos seguranças sem que eles vissem, e seguiu até seu destino, enquanto Sakura
continuava naquela prolongada discussão com os seguranças e com o alienígena que os
acusava de roubo.
No hangar da Plataforma Ajdapri, a nave caracolesa ainda estava lá parada, e os
militares coordenavam entrada nela de alguns refugiados. Alguns dos últimos caracoleses, e
e cidadãos de planetas aliados, ou pessoas que sofressem perseguição por parte do Império
Zeelishiano. Figúpi estava na frente da nave, junto com demais militares já formados,
esperando o retorno de Luibla e os demais.
Uma treinadora caracolesa de raça vermelha foi a última a entrar, seguida de um
robô do tipo Tlóker. Em seguida, um dos militares, já bastante nervoso, recebeu a notícia de
um outro militar que saía apressado de dentro da nave.
-Hei, temos que ir!
-Esperem!
gritou Figúpi
ainda tem caracoleses para serem resgatados! Não
podemos partir!
-Quantos ainda são ? - perguntou um tuirkbryidi.
-São quatro pessoas e um robô, senhor!
-Isso só os civis, mas ainda tem mais quatro treinandos e uma oficial da ÔNUC.
-Não há mais tempo, os zeelishianos chegaram mais rápido do que esperávamos,
eles já estão muito perto da plataforma!
-Mas, senhor...
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-Garoto, me desculpe, mas se esperarmos mais, vamos estar arriscando a vida de
centenas de pessoas por causa de 8 e um robô! Isso não é certo.
-Mas eu pensei que cada vida sempre valesse a pena... E os ideais da ÔNUC ?
-Nesse caso isso não conta, garoto! Vamos entrar. disse o oficial, arrastando-o
-Não, esperem, me dêem meio minuto e eu vou lá chamá-los
-Não há tempo! repetiu o militar Figúpi teve ímpeto de correr, mas foi seguro por
outros três militares, e eles o conduziram para dentro da nave. Quando a porta já estava
quase se fechando, eles viram o robô Gru aparecendo no hangar, correndo em direção a
nave, ainda com todas as quatro mochilas que lhe foram dadas.
-Hei, esperem! Meus treinadores estão precisando de ajuda. Eles estão tendo
problemas com a segurança, venham nos ajudar! pedia Gru.
-Viram ? Viram só ?!
repetia Figúpi, ainda com esperança de que atendessem ao
seu pedido. Mas os três soldados apenas correram até o robô e o levantaram, levando-o de
volta para dentro da nave. Gru ainda acreditava que fossem mandar socorro, mas assim que
o levaram para dentro da nave, a porta desta se fechou, e através de seu seysu, o
tuirkbryidi deu ordem para o piloto ir embora.
-Espera! repetia Figúpi, agora recebendo a ajuda de Gru em seus pedidos -Ainda
tem oito dos nossos lá!
insistiu o garoto. Mas de nada adiantou, a nave vôo e saiu de
dentro da Plataforma Ajdapri, deixando os outros para trás. Uma vêz lá fora, ela quase deu
de frente com milhares de naves de ataque Zeelishianas do tipo Zeel Okrawan, e algumas
naves Zeel Trish wan.
Ao ver a nave auri-azul à sua frente, os zeelishianos começaram a disparar contra
ela, mas os caracoleses ainda tiveram tempo de acionar o Gateway e fugir dali. Algumas
Zeel Okrawan ainda rumaram na direção da Plataforma, e uma vez lá, começaram a sair
soldados samambers de dentro dela.
Logo na primeira Zeel Okrawan a chegar na plataforma, estavam, junto com os
samambers, os Z-9, com exceção do coronel Yawrinke. Mas com os Z-9, dessa vez, havia
um outro homem, que parecia lidera-los. Juviks era o seu nome, e ele era um ser da
espécie nativa do Planeta Ela m. Ele era bem forte, e tinha por volta de 1,80 m de altura.
Seus olhos eram um pouco maiores que os de um humano, de cor preta-esverdeada. O
nariz fino e reto, o cabelo grosso e crespo em cima e liso nos lados, negro-cinzento. Tinha o
rosto marcado por uma pequena cicatriz na bochecha esquerda, assim como outras
cicatrizes pelo braço, a pele cor de cobre e ao mesmo tempo pálida, meio esbranquiçada, a
testa larga e as orelhas mais largas e achatadas que as de um humano. Estava coberto com
uma armadura metálica azul no tronco, nas pernas e em parte do braço, o que já permitia
ver que ele possuía algumas cicatrizes nos punhos e mãos, mas dizia-se que tinha outras
maiores pelo resto do corpo. Como parte do uniforme dos batedores zeelishianos, Juviks
deveria usar também um capacete, mas ele normalmente se recusava a isso, pois dizia que
aquilo atrapalhava o inimigo de sentir o verdadeiro terror ante a sua presença. Seus olhos
de ela miano eram terrivelmente penetrantes, e ele parecia só de olhar a personificação da
maldade, o reflexo exato da crueldade praticada por Zeelish.
- Onde estão aqueles que me mandaram executar ?
perguntou Juviks, com uma
voz seca e mórbida que fazia até mesmo os Z-9 sentirem um súbito terror só de ouvi-la.
-Capitão Juviks... Runshnker tentou chamá-lo, mas foi interrompido.
-Não sou seu capitão, estou a serviço do império, mas meu único patrão é o Reich!
-Está bem, mas senhor... Não se esqueça que nós a queremos viva! Runshnker
explicou-se, e Juviks fez um gesto de que concordava. Ele falava em executar mais por
força do hábito.
-Esperem, eu estou sentindo a presença de nossa inimiga aqui! disse Psider.
-Por onde ? perguntou Juviks, que seguia por onde ele indicava. Psider, assim como
os outros Z-9, nutria pela caracolesa Luibla um ódio mortal fazia um ano, desde que ela
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impediu que eles capturassem Trbluzikzay, havia um ano. Quando descobriram, por
informações passadas pelo Serviço Secreto Zeelishiano, que ela poderia estar no Planeta que
eles invadiriam, logo trataram de chamar Juviks, um perigoso matador que trabalhava para
um homem influente no império, para que fizesse um serviço extra para eles, auxiliando-os
na sua captura.
Ainda parados no mesmo lugar onde estavam antes, Sakura e seus amigos
continuavam naquela discussão com os seguranças, até que eles finalmente se cansaram de
tudo aquilo:
-Espere, senhor Uteyrf
eles disseram para o alienígena acusador
o Sr. Não tem
provas contra eles, então não poderemos mais segurá-los aqui.
-Ora, mas isso é um insulto! - Reclamava o alienígena, esbravejando contra todos ali.
-Bom, eu acho que sem provas, vocês estão livres para ir embora daqui disse outro
dos seguranças
lamento que não possam ficar até o fim da competição, mas espero que
possam voltar aqui no futuro.
-Vamos ver
disse Sakura, despedindo-se deles, e se apressando para chegar logo
no hangar. Mas antes de virar o primeiro corredor, ela e seus amigos deram de cara com
seus antigos inimigos, os Z-9.
Juviks, vindo na frente, já chegou atirando contra Luibla, que ao levar o primeiro
disparo, caiu. Os seguranças se espantaram com tudo aquilo, mas não tiveram reação, e o
alienígena Uteyrf vibrava com a cena.
-Malditos! Estão tendo o que merecem!
Víni, Laísa e Máik tentaram reagir ao ataque, mas com suas pistolas eletrolasers, os
Z-9 foram atacando todos eles de uma vez. Nenhum deles teve como correr. Foram sendo
todos paralisados por aquelas armas, e indo ao chão.
-Força especial Z-9! Assunto imperial
gritou Volty, mostrando uma espécie de
distintivo para os seguranças, que nada puderam fazer então, a não ser continuar olhando,
de certo modo penalizados, para aqueles estrangeiros. O que teriam feito para serem
atacados dessa forma ? , era o que os seguranças se perguntavam. Assim, os Z-9
recolheram todos os caracoleses, e os levaram para dentro de sua nave.
-Finalmente, teremos nossa vingança!
disse Volty, enquanto carregava Luibla em
seus braços obrigado, cap... digo, senhor Juviks, pela ajuda! ele disse, quase caindo de
novo no erro de chamar Juviks por sua patente militar. E ele realmente já havia sido um,
antes de conseguir um emprego que lhe fosse mais rentável, fora das Forças Armadas.
Agora, não gostava muito de lembrar de seu passado militar, e apenas prestava serviços a
eles, quando considerava a proposta interessante. Chegando no hangar, com todos os
caracoleses dentro da nave, os Z-9 se perguntavam o que fazer com eles.
-Essa azul aqui, por ter nos humilhado, merece o pior dos castigos! Esses outros,
bem... Vamos consultar outros departamentos militares, que saberão o que fazer com eles
Volty encerrou a questão.
104
14 - O Planeta dos Mutantes
PLANETA 8-P:
Diâmetro:14013km Densidade:4,7
Gravidade:0,93 G
Tipo: rochoso
Temp. eq. média:33º
Pressão:0,87 atm
Composição atm:70% nitrogênio, 26% oxigênio
Terrenos:
Rotação: 28,4 h
Sa t é lit e s( lu a s ) :1
População: sem dados
Línguas: praticamente todas do Império e mais algumas desconhecidas
Religiões: todas as remanescentes das religiões proibidas do Império
Povos: não há dados
Países: dividido em 8 regiões, mas não há países.
Cidades: sem dados
Organização Política Reguladora: cada uma das 8 administrações regionais que
obedecem ao Império de Zeelish
Líderes: administradores militares nomeados pelo Imperador
Moeda Internacional: troca de mercadoria
Após ser atingida pelo disparo, Sakura só voltou a si muito tempo depois. Sua cabeça
e seus braços doíam um pouco, e seus olhos foram abrindo levemente, até que ela se viu
numa espécie de laboratório, onde vários cientistas humanos trabalhavam incessantemente.
Ela estava presa numa espécie de jaula, junto com Bibi e Laísa, que ainda estavam
desacordadas, deitadas no chão.
-Onde nós estamos ? Sakura começou a bater de leve, no rosto das duas, até que
acordassem. Ainda meio atordoadas, elas demoraram a perceber o óbvio: tinham sido feitas
reféns por soldados zeelishianos.
-Eu to com medo...
-Só você ? Esses caras parecem loucos!
-O que vai acontecer ? perguntava Laísa,quase tremendo e molhando todo o chão
de lágrimas. Estava desesperada, quase em estado de choque. Bibi a abraçou e tentou darlhe forças, para tentar diminuir em sua amiga o terror de estar num lugar como aqueles.
Uma porta então se abriu e um sujeito alto, de pele alaranjada, cabeça meio triangular, com
um fino cavanhaque e braços muito finos surgiu de repente. Ele era na verdade um nativo
do Planeta Terrax, e vestia um sobretudo cinza, onde havia a inscrição Okrayeee . Esse era
o nome do cientista, que estava acompanhado de dois soldados mutantes. Ambos tinham
cerca de 1,95 de altura, pele numa tonalidade entre o branco e o cinza, bem pálida, o cabelo
loiro, quase prateado; pareciam bem fortes e vestiam armaduras vermelho-metálicas.
Diferenças entre eles não eram muito bem perceptíveis, pois os dois eram como se fossem
gêmeos, de tão parecidos.
Logo depois, juntaram-se a eles mais uns três cientistas, todos humanos. Os seis se
dirigiram até a jaula e os cientistas auxiliares ordenaram às garotas que saíssem, e em
seguida, que se despissem. Sakura ficou muito envergonhada na hora, mas, assim como
suas amigas, decidiu obedecer, diante da ameaçadora situação em que estavam. Cobrindo
seus corpos restaram apenas os tradutores instantâneos, mas não por muito tempo, pois
reparando naqueles estranhos acessórios, um dos soldados zeelishianos os arrancaram de
cada uma delas, entregando-os aos cientistas.
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A partir daí, eles disseram algumas palavras entre si, analisando aquele objeto,
especulando o que seria. As garotas, viradas de costas para eles, uma vez que não
dominavam o Idioma Zeelishiano, naquele momento não entenderam nada do que eles
diziam, mas também nem se esforçaram para isso. Pareciam estátuas, paralisadas de tanto
medo.Laísa, teve vontade de gritar, espernear, correr, mas simplesmente não conseguia,
tamanho o pavor que sentia na hora.
O cientista Okrayeee apenas analisava as prisioneiras, fazia anotações num pequeno
aparelhinho, parecido com um palm-top, que carregava nas mãos. Os soldados então
pegaram um outro aparelho, quadrado, muito parecido com uma câmera de filmar, porém
com a lente quadrada, e começaram a apontar para as prisioneiras, uma por uma. Do
aparelho saía uma forte luz vermelha, que fazia rapidamente a leitura completa de suas
anatomias, como uma espécie de scanner. Após isso, deixaram que elas se vestissem e lhes
devolveram os tradutores. Laísa foi ficando mais aliviada, até que viu num canto daquele
lugar uma estranha máquina, quadrada, com botões brilhantes, como se fosse um
brinquedo. Na verdade, era uma caixa, mais ou menos do tamanho de uma bola de
basquete, presa na parede, com uma haste que saía do alto dela e ficava presa no ar. A
ponta dessa haste se assemelhava muito ao ferrão de um escorpião.
Okrayeee mandou que todas fossem, novamente uma por uma, até ela e esticassem
o braço. A máquina então jogou uma espécie de agulha pela ponta de sua haste sobre o
braço de cada uma, e numa fração de segundos inseriu essa agulha na pele delas, retirando
um pouco de sangue. A sensação era como de uma leve picada, muito rápida, menos
perceptível que uma injeção, mas logo uma deixou profundas marcas roxas em seus pulsos.
Sakura não conseguia parar de imaginar para que serviria aquilo.
Após isso, o cientista mandou que elas acompanhassem os soldados, que por sua vez
saíram do laboratório e voltaram ao escuro corredor, caminhando por cerca de uns 100
metros, até que chegaram numa espécie de passagem, onde havia uma rampa. Ele mandou
que, uma a uma, todas as garotas fossem descendo aquela rampa. Todas obedeceram, e
após alguns minutos, estavam num lugar mais estranho e assustador ainda: Uma caverna
com vários quilômetros de extensão, onde o chão era arenoso, e havia muitas pedras com
cavidades menores, a maioria cobertas por um limo gosmento. Havia também outros tipos
de vegetais um tanto sombrios, como as plantas-minerais, que eram cobertas de cristais
esverdeados, os mesmos que haviam aos montes, espalhados pela caverna. Eram de um
verde-fosforescente muito forte, que produzia a única iluminação do local. Mas era possível
ver que havia holofotes desligados a uns 50 metros de altura, ou seja, no teto da caverna.
O ar ali era úmido, e naquela parte onde elas estavam, havia um cheiro insuportável, de
esgoto puro. Em toda a caverna, havia muitas pessoas, inclusive crianças, muitos aleijados
ou as vezes completamente deformados. Também havia muitos animais dos tipos mais
bizarros, que chegavam a assustar, principalmente pelo fato de elas nada conhecerem sobre
o lugar onde estavam. Vendo aquele cenário de horror, Laísa teve vontade de correr de
volta para onde estava. Tentou voltar pela rampa, pois via os soldados que as
acompanharam ali retornando tranqüilamente por ela, indo de volta a seus afazeres. Mas
quando tentou subir pela rampa de novo, sua entrada parecia estar bloqueada por uma
parede invisível. Laísa tentava passar por ali de qualquer maneira, mas à medida que
empurrava seu corpo contra a passagem, ele era repelido com mais força na direção oposta.
-Não adianta, Laísa, é uma barreira magnética.Um campo de força... disse Sakura,
desanimada. Quando Laísa finalmente desistiu, e virou-se para trás, já imaginava que não
estariam muito seguras ali. Aquilo era uma espécie de depósito de espécimes de
experiências malditas feitas pelos zeelishianos. Em Caracówl se falava muito sobre Zeelish
manter lugares como aquele, mas achava-se que tudo não passava de lenda.
-Vamos ver se pra lá isso aqui fica menos fedorento! sugeriu Bibi.
-Eu to com medo!
106
-E eu também...Mas prefiro ficar com medo sentindo um cheiro mais agradável...
Sakura e Laísa, depois de um pouco de insistência, concordaram com ela, e então
andaram mais para longe daquela entrada, por caminhos de areia entre paredes de rocha.
Não perceberam que por ali, logo em seguida, um grupo de prisioneiros do sexo masculino
era conduzido por outros guardas, que em seguida também retornaram a seus postos,
abandonando-os ali. Nesse grupo estavam seus amigos: Máik, Víni, Lublizo e Léo. Passaram
pelos mesmos procedimentos que elas, e estavam igualmente confusos.
Lublizo tentou fazer o mesmo que Laísa, tentar furar a barreira magnética que isolava
a saída do lugar. Demorou até mais tempo para ser convencido por seus colegas que iria
gastar toda a sua energia e não conseguiria fazer nada.
-Mas...Eu tenho que salvar a Sakura! Vocês têm que me deixar tentar!
-Todos nós queremos isso.E não só a Sakura, mas as outras garotas também. Mas se
não temos como passar por ali, vamos dar um outro jeito de sair.
-Tem razão. É melhor nós darmos uma volta por aí.
-De repente, as garotas foram trazidas pra cá também. Olha quantas mulheres têm
aqui
disse Máik. E realmente ele tinha razão, aquele lugar tinha bem mais mulheres do
que homens. Muitas eram jovens, algumas ficavam olhando-os com olhares provocantes,
mas a maioria era tão estranha que mesmo alguém como ele não sentia nenhuma atração.
A aparência delas não era simplesmente alienígena, pois era possível para um humano ver
beleza em mulheres de outras espécies como as caracolesas ou as nativas de BCC, ou ainda
as mulheres de Smoockerr. Mas aquelas mulheres tinham um aspecto monstruoso, meio
que como várias deformações em seus corpos e rostos.
Todo o grupo caminhava, procurando por suas amigas. Lublizo, numa atitude
desesperadora, gritava o nome de Sakura o tempo todo. Às vezes gritava também por Bibi e
Laísa, mas era tudo em vão. Alguns mutantes por onde eles passavam os encaravam, meio
que irritados com a barulheira.
-É melhor a gente procurar em silêncio Máik advertiu.
-Vai dizer que você ficou com medo daquele cara ?
-É melhor não abusar...
ele avisou, quando viu passando tranqüilamente à frente
deles uma zeyeellwow adulta, minhoca gigante e inteligente, originalmente nativa de Terrax,
mas que já havia sido levada para outros lugares do império. Aquela era uma zeyeellwow
mutante, de 2 metros de comprimento e 40 cm de diâmetro, coberta de espinhos originários
de mutações devido às experiências realizadas ali.
Quem diria que essas zeyeellwows foram a maior resistência que os zeelishianos já
sofreram, quando tentaram tomar seu território. Um bando de minhocas crescidas. Elas já
tiveram uma civilização poderosa mesmo, e tantos humanóides foram capturados com
facilidade. Nós, por exemplo... , Máik lembrava-se do que havia estudado sobre o assunto.
Quando eles pararam de gritar pelas garotas, foi então que puderam ouvir um grito
diferente ecoar no ar. Bem longe, uma voz fininha, com aspecto de sofrida, fazia estranhos
barulhos. Não entendiam ao certo o que ela falava, mas de repente, Víni identificou
claramente a palavra Zrruror , algo como socorro , em zeelishiano.
Por alguns momentos eles hesitaram, tiveram medo do que poderia acontecer, medo
daquele mundo desconhecido onde estavam. Mas Lublizo tomou a frente de todos, correndo
na direção de onde vinha o pedido de ajuda.
Eles então, passaram por algumas pedras, e logo viram um enorme monstro,
parecido com uma lesma gigante, porém com garras e pinças, como um caranguejo, que
prendia com seus membros um garotinho, aparentando não mais que 7 anos de idade, e
levando-o à sua boca, prestes a engoli-lo.
107
O garoto tentava fugir de todas as maneiras, desesperado, mas não havia
escapatória, pois o bicho o apertava com toda a sua força.
-Vou lá ajudar! - disse Máik, correndo em direção ao garoto, para tentar tirá-lo
daquela terrível situação. Saltou contra o terrível animal, com a mão fechada, tentando
aplicar-lhe um soco. Mas nada adiantou, pois a pele mole e gosmenta do animal absorveu
totalmente o impacto, e ele pareceu não ter sentido nem cócegas.
A única coisa que ele consegui foi chamar a atenção do bicho para ele. Com um
rápido movimento, a lesma-caranguejo capturou Máik com a outra garra.
-Se a gente desse um jeito de fazer aquela pedra cair em cima dela. disse Léo. Víni
então olhou para cima, e mesmo naquela escuridão, conseguiu ver do que ele falava. Bem
em cima do animal, havia uma pedra grande o suficiente para esmaga-lo. Viu também que a
pedra estava presa por pedrinhas menores, e então ele lembrou-se da sua aula de
treinamento da mente, e se lembrou de como usar a sua mente para mover levitar objetos à
distância. Concentrou-se ao máximo, focou toda a sua atenção na pedra, e estendendo a
sua mão na direção dela, rapidamente conseguiu fazer com que as pedrinhas menores se
deslocassem. Aquilo provocou uma pequena avalanche, e a enorme pedra desmoronou bem
em cima do monstro, espalhando um líquido verde grudento por toda parte.
Como estavam presos pelas garras do animal, que estavam levantadas na hora, Máik
e o garotinho nada sofreram, mas ainda tiveram que esperar alguns minutos para poder
descer, pois as garras ainda permaneciam se mexendo mesmo após a sua morte. Após
algum tempo, elas pararam de se mexer, e os dois caíram.
-Ai!
disse Máik, enquanto caía de cara no chão. Todos acharam que ele havia se
ralado todo, mas na verdade a areia ali era bem macia.
Todos olharam para o garotinho que haviam acabado de salvar. Repararam em sua
fisionomia e detalhes de seu corpo: Magrinho, quase raquítico, por volta de 1,35 m de
altura, e de uma espécie indefinida. A princípio, tinha muito de humano, mas parecia um
tanto deformado. Ele era bem claro, quase albino, tinha o rosto liso e gordo, ao contrário do
resto do corpo. O nariz era muito pequeno e ele era até meio bochechudo. Seu cabelo era
totalmente arrepiado, como se ele tivesse levado um grande choque, seus olhos não
possuíam a parte branca, sendo totalmente azulados e brilhantes, meio como os olhos dos
caracoleses, porém, os daquele garoto chegavam a emitir uma forte luz, tornando até
mesmo difícil olha-lo nos olhos por muito tempo. Sua caixa craniana era um pouco maior
que a de um humano na parte de trás, sua testa era bem larga e em um de suas mãos tinha
seis dedos, enquanto na outra possuía apenas quatro. Seus pés não tinham dedos, mas
garras, e suas pernas eram bem compridas.
-Obrigado! Vocês salvaram a minha vida! Vocês querem ser meus amigos ?
perguntou o garotinho, com um olhar melancólico, meio sem expressão.Ao verem-no, os
caracoleses, ficaram meio assustados.
-Buuuá...Vocês não querem ser meus amigos!! Buááá
o menino sentou no chão,
com suas pernas cruzadas, abaixou a cabeça e começou a chorar.Apesar do medo que
sentiam, eles ficaram com pena do garoto, que não parecia mesmo ser uma ameaça, apesar
da estanha aparência.
-Qualé, amiguinho, qual o seu nome, hein ?
-Jibiu.E o seu ?
-Eu sou o Léo.E aquele ali é o Máik, ele é o Lublizo, aquele branquinho ali é o
Víni.Olha, você pode dizer que lugar é esse aqui ? Nós estamos tentando voltar pra nossa
casa e....
-Casa ? Não existe jeito de voltar pra casa...Aqui deve ser a sua casa agora.É o preço
que você tem a pagar pelo que você cometeu.
Aquela resposta deixou todos sem reação.
-Isso aqui deve ser algum tipo de prisão dos zeelishianos Léo concluiu.
108
-O que você fez pra estar aqui ?
Máik perguntou, curioso. Não podia crer que um
garoto daquele tamanho fosse um criminoso. E também não conseguiu uma resposta de
imediato.
-Eu não sei, só sei que todos os que vêm pra cá, vêm pra ser castigados pelo que
fizeram de mau!
ele insistiu. - Mas só a minha mãe sabe explicar isso direito.Vocês
querem perguntar pra ela ?
Como não tinham nada mesmo pra fazer, resolvera ir com ele. Foram todos curiosos,
e ainda bem assustados com aquela estranha caverna, pra falar com ela, e pensavam que
talvez fosse a única pessoa ali que poderia ajudá-los.
Enquanto andavam pra chegar onde estava a mãe de Jibiu, por onde passavam,
todos ali viam mais cenário de horror. Pessoas doentes, mais gente deformada, uns
paralíticos, outros deitados no chão, com algumas feridas, que eram lambidas por pequenos
animais. Por um lado era fácil entender porque Jibiu dizia que aquele era um lugar de
castigo. Realmente, parecia uma visão do Inferno.
Mas logo eles estavam próximos a um buraco na parede, por onde tiveram que entrar
abaixados. Jibiu dizia que era a sua toca , e convidou os outros garotos a entrarem
também. Ali dentro, o ambiente era bem mais limpo do que do lado de fora, e podia-se dizer
até mesmo que era bem cheiroso, pois u m aroma de flores atingia todos os cantos daquela
toca , deixando Víni bastante curioso. Começaram a olhar em todos os cantos do lugar, até
que, deitada num dos cantos, viram uma garota muito bonita, embora bastante malcuidada. Seu cabelo estava todo desgrenhado, sua pele estava encardida pela poeira, seus
pés descalços, estavam com as solas meio enlameadas, e apresentavam algumas feridas
também. Humana, tinha o cabelo claro, entre o louro e o castanho, as sobrancelhas finas, e
um rosto expressivo e angelical, com algumas manchas, talvez algum tipo de fungo ou
micose que ela houvesse contraído naquele lugar, mas que não lhe tiravam em nada seu
charme. Seus olhos eram verdes, mas de uma tonalidade nunca vista antes entre os
humanos de Caracówl. Eram verdes como azeitonas, e pareciam ter um brilho próprio
dentro deles. Não um brilho, no sentido literal da palavra, como nos olhos dos caracoleses,
mas algo que ninguém conseguia explicar. Ao menos os garotos, ao olharem diretamente
para ela, perceberam em seu olhar confuso diante da repentina aparição deles, uma mistura
de sentimentos, alguns até meio antagônicos, que eram transmitidos espontaneamente. Um
olhar mágico, penetrante, perturbador e que ao mesmo tempo acalmava, um olhar doce. No
lado esquerdo de seu rosto, próximo ao nariz, aquela garota tinha um minúsculo sinal
vermelho. Também tinha os olhos levemente puxados, como se tivesse uma distante
ascendência zikana, e seu corpo, coberto por alguns trapos que pareciam ser a pele de
algum animal, talvez um réptil, possuía curvas generosas, ao mesmo tempo em que
mostrava-se também adaptado às dificuldades da vida naquele lugar.
Máik ficou a observá-la por muito tempo, encantado com aquela jovem, alguém
aparentemente tão frágil e ao mesmo tempo tão forte. Ela deve ser parente desse tal
Jibiu , foi a primeira coisa que ele pensou. Conseguiu reparar nos dois alguns traços em
comum, embora ela não tivesse nenhuma deformação, ao contrário do primeiro. Pensou em
perguntar a Jibiu se era sua irmã, mas antes que pudesse fazê-lo, viu o garotinho se dirigir
a ela de uma maneira inesperada.
-Mãe! Esses são os meus novos amigos
ele disse, correndo em sua direção.Ao
chegar próximo a ela, Salina agarrou-o e apertou-lhe contra o peito, num abraço muito
forte.
-Jibiu! Eu pensei que ia perder você! Acabei de acordar de um pesadelo em que...
-Calma, mãe! Eu estou bem. Meus amigos vieram falar com você disse o garoto,
fazendo com que sua mãe então parasse para reparar melhor neles. Não deveria ser seu
costume receber a visita de estranhos, e além do fato de que ela acabava de acordar de um
109
sonho não muito agradável, e dos tradutores que os garotos traziam presos às suas
cabeças, dando-lhes um aspecto meio estanho para ela, isso tudo junto fez com que ela não
tivesse a princípio uma boa impressão dos visitantes.
-Afastem-se de mim, criaturas! Eu não quero isso de novo! Não! a garota gritava,
agarrando o seu filho, e pressionando-o contra seu peito. Com a outra mão, fazia gestos
como se tentasse expulsa-los.
-Espera, a gente não quer te fazer mal. Só queremos conversar.
disse Léo,
tentando demonstrar suas reais intenções. O grupo todo fez o mesmo, mas a garota só se
acalmou após Jibiu dizer que eles o salvaram da lesma gigante. Então, só assim ela ficou
mais calma, e parou para dar-lhes alguma atenção.
-Amigos, essa é a minha mãe!
-Qual o seu nome ? Léo perguntou.
-Salina.
-Prazer, eu me chamo Léo.
-Eu sou o Máik, e esses são nossos amigos: Víni e Lublizo! o garoto se apresentou,
lançando mão de um largo sorriso, enquanto olhava fixamente para a anfitriã.
-A gente só quer conversar um pouco. Somos novos por aqui e não conhecemos
nada, não sabemos que lugar é esse e...
Máik tentava se explicar, mas quanto mais ele
falava, mais Salina ficava desconfiada.
-Não sabem sobre a prisão de 8-P ? De que planeta vocês vieram ?
-8-P ? E o que seria isso ? É o nome desse planeta ?
-Mãe, o que é um planeta ? Jibiu ficou curioso no meio de toda aquela conversa.
-Depois eu te explico, filho. Primeiro me digam: de onde vieram ?
-Viemos de Caracówl! Léo respondeu por eles.
-Caracówl ? Aquele planeta de bárbaros selvagens com escamas pela pele ?
-Os nativos de Caracówl não são bárbaros selvagens, eles são seres pacíficos. E lá
também tem muitos humanos, como eu, como você... Léo explicou, pacientemente.
Demorou um pouco para que Salina pudesse se recompor do choque e aceitar que
aqueles estranhos poderiam ser bons amigos. Demorou, mas depois de algum tempo, já
estavam conversando normalmente. Mas foi Jibiu quem justamente chamou bastante a
atenção dos forasteiros. Logo, o garoto deitou-se no colo de Salina e adormeceu. Foi a
chance deles perguntarem tudo o que queriam saber.
-Salina, eu to muito curioso com uma coisa: Quantos anos você tem ?
-Dezoito! ela respondeu, deixando todos um pouco assustados.
-Em que planeta você nasceu ?
-Em Zeelish mesmo ela respondeu, ainda um pouco confusa.
-É, a diferença do ano caracolês pro ano zeelishiano são só 250 horas, ou seja, em
18 anos não faz uma diferença de nem um ano a mais ou a menos.
-Quantos anos o seu filho tem ?
-Bom, eu acredito que tenha uns 6 anos.
-Quer dizer que...Você teve o Jibiu quando era apenas uma criança ? Como isso...
-Foi tudo uma experiência.
-Que tipo de experiência ?
A garota ficou calada. Afastou a cabeça de seu filho, colocando-o cuidadosamente
sobre o chão. Em seguida, levando a mão ao rosto, cobriu-o e começou a chorar.
-Acho que a gente exagerou nas perguntas
Léo reconheceu. Máik concordou, e
então aproximou-se de Salina, passando a mão entre seu cabelo já bagunçado, abraçou-lhe
de leve e se desculpou pela intromissão.
-Aê, foi mal. A gente não queria ter ido tão a fundo. É que precisamos saber das
coisas pra poder voltar pra casa.
ele tentou se explicar. Salina pareceu entender,
balançando levemente a cabeça.
110
- Salina, dá pra perceber que você é uma garota legal, e já sofreu muita coisa. E
nesse momento, temos algumas amigas da nossa idade, perdidas por aí, e estamos
tentando fazer de tudo pra encontrá-las.Eu prometo que a gente não vai ter perguntar mais
nada que te chateie.
-Não, está bem! disse Salina, já mais calma. eu vou contar tudo a vocês. Apenas
me descontrolei porque lembrei de como tem sido difícil criar o Jibiu desde que ele nasceu.
Mas é bom que tenham me perguntado isso. Preciso mesmo colocar isso pra fora, conversar
com alguém que possa me entender. Tenho me sentido mesmo muito sozinha desde que
cheguei aqui, e o que ainda me ajuda é o meu filho, mesmo ele tendo nascido de...uma
experiência genética ela disse, provocando um certo espanto nos seus ouvintes.
E começou a contar toda a sua história naquele terrível planeta de mutantes.
Eu nasci em Zeelish, sou do povo zeelishiano, tenho a cidadania do Império, ao
contrário da maioria dos prisioneiros aqui, que são prisioneiros de guerra. Quando eu tinha
12 anos, fui presa em Zeelish, e me mandaram pra essa prisão.
-Por que você foi presa ?
-Por que eu estava em um culto religioso.
-O quê ? Nenhum deles pareceu acreditar no que ouviram. Mas Salina explicou-se.
-Em Zeelish as religiões são proibidas, e qualquer um que esteja participando de um
culto religioso é considerado criminoso. A justificativa para isso é que as diferentes religiões
do Império viviam em guerra entre si, e isso desunia a nação e trazia a guerra... Por isso o
Imperador decidiu proibir todas elas.
-E olha quem está falando contra a guerra, logo o Eduardo! Que ridículo!
-Hoje, eu vivo aqui, tive que aprender a me virar aqui nesse lugar, pra não virar
comida de algum desses predadores que eles soltam nessa caverna. Algum tempo depois de
vir pra cá, alguns dias apenas, eu estava escondida aqui na caverna, e eu não sei como uns
guardas mutantes, acompanhados de alguns cientistas, me acharam. Levaram-me para o
laboratório, e lá fizeram uma inseminação artificial em mim. Logo eu tinha um bebê, o Jibiu.
Cheguei a ver quem era o pai dele, um alienígena muito diferente de nós, de uma espécie
que eu não sei pronunciar o nome. Quando eu vi o Jibiu, chorei mais ainda ao ver meu filho
todo deformado. Não era nem bem humano, nem da espécie do pai. Um híbrido totalmente
esquisito, cheio de doenças. Eu achei que ele não fosse viver muito, até que ele me
surpreendeu: cresceu forte, quase saudável. Hoje eu lhe dou todo o amor possível, mas sei
que é impossível ser feliz num lugar como esse. Como eu sinto saudades do meu mundo...
Todos ouviam atentamente o depoimento, mas ficaram sem entender muitas coisas.
-Pra que eles fazem esse tipo de experiência com os prisioneiros ?
-Eles querem fazer combinações genéticas a fim de criar um padrão que seja ideal
pra produzirem gerações melhores de soldados mutantes para o exército. Os soldados
samambers, foram criados assim, misturaram o DNA de seres diferente por gerações até
chegarem num samamber, depois clonaram esse samamber e assim o fazem até hoje. E o
desenvolvimento mental infantaria é limitado, esses soldados são pedaços de carne
ambulantes. Seres sem mente, sem alma, meio que sem vontade própria. Foram criados em
laboratório apenas para servir ao Império, e enquanto o Império os tiver em suas mão, ele
terá o poder.
-A quantos anos você foi condenada, Salina ? Víni perguntou.
-Como assim ? Isso não existe! Um vez condenada, eu fico presa a vida inteira.
-Independente do crime que você cometeu ?
-É claro. Dependendo do crime, você pode ser condenado à morte, ou mandado pra
laboratórios como esse, pra servir de cobaia à experiências genéticas.
-E a lei de Zeelish permite isso ?
111
-Pela lei de Zeelish, os condenados, são propriedade do governo. Na TV, a todo
momento diziam que esse sistema é que era bom, pois se não nosso mundo ia ser uma
bagunça, igual aos bárbaros de Carac...Hã, me desculpem!
-Tudo certo... Mas não tem ninguém que se revolte ? Nem os parentes dos presos ?
-Se revoltar ? Contra o Império ? Isso não adianta, muitos já tentaram, e foram
mortos de maneira terrível, pra servir de exemplo. Depois deles, ninguém mais tentou.
Todos temem o imperador, por isso ninguém se revolta. Não há como se revoltar contra
uma infantaria de soldados que não têm medo nem mesmo da morte. E depois, a maioria
dos zeelishianos vive bem. Com isso, o imperador Eduardo consegue ao mesmo tempo o
respeito e o temor das pessoas, e mantém o poder.
-E depois, os bárbaros somos nós...
Léo concluiu, quase num resmungo, sem
deixar que Salina escutasse.
-Mas e vocês, como vieram parar aqui ?
-Bom tudo começou por causa da guerra disse Máik.
-Que guerra ? Salina quase caiu para trás, tamanho o susto.
-Entre Caracówl e Zeelish. Vocês aqui não devem saber, e no nosso planeta acho que
ninguém sabe também. Mas lá no espaço estão todos se estourando uns aos outros. Eu e ele
Víni apontou para Máik - somos aprendizes de militares de Caracówl, e fomos resgatar
nossos amigos, eles dois
ele agora apontou para Lublizo e Léo
e mais umas garotas.
Estávamos no espaço, tentando fugir de volta para nosso planeta, mas fomos cercados, e
então acordamos aqui, nesse planeta que você chama de 8-P.
-Lamento muito por vocês, mas agora não há mais o que fazer!
-Ah, não, eu vou sair daqui de qualquer jeito!
-E antes disso nós vamos achar as garotas! Onde elas podem estar ?
-Eles separam homens e mulheres para examina-los antes de joga-los aqui. Suas
amigas devem estar em algum lugar nessa caverna também.
-E se eles fizeram alguma coisa com elas ?
-Acho que ainda não, eles querem testar a capacidade de adaptação de todo mundo.
Jogam todos aqui nesse ambiente hostil pra ver quem sobrevive, e assim vão selecionando o
que acham que é o DNA mais perfeito
disse Salina, que parecia ser bem intelectual.
Apesar das leis rígidas, o ensino em Zeelish era de ótima qualidade, talvez melhor até que
em Caracówl.
Léo e Lublizo então saíram da toca. Queriam achar suas amigas a qualquer custo,
para sair de qualquer jeito daquele lugar. Ao passarem pela entrada da pequena gruta, se
assustaram com um soldado muito parecido com aqueles que auxiliavam os cientistas no
exame pré-eliminar feito com os novos prisioneiros. Era quase uma cópia fiel daqueles,
inclusive com uma roupa igual à daqueles outros, como uma espécie de uniforme. Sua
expressão facial era totalmente nula, parecendo mais uma máquina. Até Gru parecia mais
com alguém de carne e osso do que ele. De repente, o mutante estendeu sua mão direita,
onde havia um pequeno círculo de metal prateado.
-Isso é um chip implantado no pulso de cada peça capturada. Serve para
identificação. Ninguém nunca conseguiu tirá-los, mas esse aqui pertencia a um de vocês, e
foi arrancado. Como conseguiram isso ?
-Sei lá, eu não tirei nada e...Quer dizer que tem um troço desses no meu braço ?!
Léo então começou a coçar o seu pulso, onde havia a mancha roxa feita pela agulha que
fora introduzida em seu pulso. Ele e Lublizo então permaneceram em silêncio por alguns
instantes, apenas se olhando, sem dizer nada para o mutante.
-Apareçam!
ele ordenou, com uma voz seca e sem emoção. Nisso, saindo da
escuridão, surgiram saíram Sakura, Laísa e Bibi.
-Sakura! Você está bem ? Lublizo já saiu gritando.
112
-Lublizo!!!!
Sakura e Lublizo se abraçaram fortemente, como a muito tempo, e
inclusive chegaram a se beijar rapidamente. Depois, todo o grupo de amigos se abraçou, ao
ver que estava tudo bem, pelo o menos por enquanto. O barulho chamou a atenção de Máik
e Víni, além de Salina, que estavam dentro da toca. Eles saíram, e a princípio se assustaram
com o mutante. Salina ficou apavorada, levando a mão à boca, e recuando a passos largos,
com a intenção de novamente entrar em seu esconderijo. Já os outros, mesmo com medo,
não se incomodaram, preferindo ir ver se estava tudo bem com suas amigas.
-Onde vocês estavam ? Máik perguntou, e foi Laísa quem respondeu.
-Aqui nessa mesmo, escondidas num desses buracos nas paredes.E vocês ?
-Bem nessa toca aqui. É da Salina, uma garota muito legal que nós conhecemos...
Ela nos explicou algumas coisas sobre esse lugar.
O soldado mutante reparava com certa estranheza no modo como os caracoleses
conversavam. Reparava também em Salina, escondida na entrada da toca, olhando aquilo
tudo com um certo receio, e no modo como ela reagia a tudo aquilo. Percebia-se claramente
que ela não era do mesmo lugar que eles. Então, com uma estranha curiosidade, o mutante
se aproximou de todos, perguntando sobre suas origens. Sua voz era austera, com um certo
tom de arrogância e desconfiança.
-Vocês se conhecem, não é mesmo ? De onde vocês vêm ?
-Caracówl. Pra ser mais exato, de Madúrei, Guanabara.
-Nunca ouvi falar desse lugar. Vocês são algum tipo de espiões ?
-Não! Nós fomos presos apenas por sermos caracoleses e estarmos no território
espacial de Zeelish no meio de uma guerra. Nem armados nós estávamos
Máik se
explicava, enquanto tentava se lembrar de mais detalhes do que tinha acontecido. Sua
cabeça ainda estava meio confusa, e foi então que ele deu pela falta de Luibla
- Hei, garotas, onde está a Luibla ?
-A gente não sabe, desde quando acordamos não a vimos mais.
-Qual o seu nome ? Máik virou-se repentinamente para o mutante.
-Meu nome ? Meu nome é Slink. Mas a maioria aqui apenas me chama de soldado...
Qual o seu interesse nisso ?
-Slink, o que você é exatamente ?
-Eu sou um soldado do tipo ZWXK-04 do Império de Zeelish.
-Mas qual a sua origem ?
-Venho de uma incubadora artificial que há neste laboratório, como tantos outros
soldados iguais a mim, clonados a partir de um ser perfeito.
-O que é um ser perfeito pra você ? Na natureza todos estão evoluindo o tempo todo.
-Soldados mutantes como eu também evoluem! Não por reprodução, mas novas
combinações genéticas com outros seres estão sendo feitas pelos cientistas. Eles podem
misturar até mesmo o DNA de um de nós com o de qualquer um de vocês, e concluir que o
resultado gerará um ser mais evoluído geneticamente que os soldados antigos.
-E o que acontece com os soldados antigos então ? após Léo perguntar isso, Slink
ficou calado por alguns instantes. Seu olhar continuava inexpressivo, mas por dentro parecia
que sua cabeça estava muito agitada. Até que depois de tanto pensar, alguma coisa pareceu
ter resultado de seus pensamentos.
-Assim é a vida. Todos somos prezados até que não sejamos mais úteis. A evolução
natural dos seres vivos também funciona assim. Apenas nosso processo de evolução
funciona mais rápido.
Slink respondeu, quase como uma máquina, como se aquela
resposta tivesse sido jogada na sua mente, e ele apenas tivesse demorado não para
formular uma resposta, mas para buscar aquela frase em sua memória.
-E seus pais ? Não se incomoda de que talvez seus pais ainda sejam cobaias ?
-Eu não tenho pais. Meus pais são os cientistas que me criaram.
-Espera, você pode não ter nascido como nós, mas geneticamente...
-Isso não me importa.
113
-Não importa ou você nunca parou pra pensar no assunto ? disse Sakura. Ao ouvir
isso, Slink, até então totalmente frio, teve vontade de voar no pescoço dela.
-Agradeça por ser uma cobaia importante para o programa. Se não você teria sido
destruída agora mesmo! disse Slink, deixando o local em seguida.
-Tem um pessoal que é estressado mesmo! disse Máik, após observar a cena.
Deixando o estranho mutante ir embora, todos voltaram a raciocinar sobre como
fugir, e em tentar achar Luibla. Mas apesar de terem acordado a pouco tempo, suas cabeças
estavam pesadas demais para pensar em algo. Máik perguntou a Salina se eles poderiam
descansar um pouco em sua gruta por um tempo, e ela respondeu que sim, que seria bom
ter um pouco mais de companhia. Os dois pareciam se dar muito bem, e Laísa não podia
negar que ainda sentia uma pontinha de ciúmes de Máik, mas ela na verdade também
simpatizara muito com a zeelishiana renegada.
Totalmente exaustos, todos deitaram naquele chão arenoso, tentando descansar um
pouco, mas não sem antes Máik e Léo contarem às garotas tudo o que Salina lhes tinha dito.
Após todos deitarem, ninguém conseguia dormir. Salina estava fascinada com as histórias
que seus mais novos conhecidos contavam a respeito de Caracówl.
-Hei, é Sakura o seu nome, não ?
-Isso mesmo respondeu-lhe Sakura, já com os olhos quase pregados de cansaço.
-O que você faz em seu planeta ?
-Eu estudo e sou treinadora de robôs também ela concluiu, após um rápido bocejo.
-Robôs de batalha, iguais aos de Zeelish ? Salina perguntou.
-Não, estes não lutam até se destruírem. As lutas lá são mais politicamente corretas.
-Interessante... E esse negócio que você tem em volta da sua cabeça, e que vai
fazendo um som mais forte por cima da sua voz. Isso é um tradutor ?
-Sim, é um tradutor.
-Puxa, que interessante também! Em Zeelish nunca pararam pra inventar algo assim.
Acho que é porque quando as pessoas começam a viajar pra um planeta, eles já o
dominaram e fizeram todo mundo aprender Zeelishiano na marra.
-Meu povo também tentou fazer com que os outros povos de Caracówl aprendessem
a nossa língua. Mas isso acabou não dando muito certo disse Sakura. E elas continuaram
falando por um tempo. O único que realmente dormia era Jibiu. Dormia profundamente.
-Só achei uma coisa estranha: Por que aquele mutante trouxe vocês aqui ?
-Também não entendi
Sakura respondeu a Salina - Tudo começou quando a Laísa
sentiu um formigamento e depois viu um objeto prateado sair do braço dela, deixando-o cair
no chão. Pouco depois, esse mutante apareceu perguntando como ela tinha tirado aquilo do
braço.
-E depois ?
-Depois nós falamos que só falaríamos se ele nos levasse até nossos amigos, e ele
concordou. Usou um aparelho pra rastrear todo mundo, até que esse aparelho levou até
outros dois desses objetos, perdidos entre a areia. Cada vez que ele via uma peça dessas
perdida, ia ficando mais furioso.
Devem ter sido os simbiontes , era o que pensava Laísa, que parecia estar
dormindo, mas escutava toda a conversa entre as duas. Eles disseram que iam tirar tudo
de ruim que aparecesse em nossos corpos. Devem considerar esses implantes um corpo
estranho também, por isso os expeliram pela pele mesmo. Por isso me fizeram não sentir o
braço, pra que eu não sentisse dor na hora. Foi por isso que esse tal Slink ficou perguntando
sobre os implantes: seria impossível alguém normal tira-los sem perder o braço
Enquanto Laísa ficava cada vez mais admirada com o que faziam os simbiontes que
ela levava consigo, Salina ficava cada vez mais admirada com o que os caracoleses podiam
114
realizar. Ela sabia tudo sobre os implantes colocados pelos zeelishianos, sabia que serviam
para localizar quem quer que fosse dentro da caverna, e sabia também que foi assim que a
acharam para fazer nela a tal experiência, e que ainda levava um daqueles implantes dentro
de seu pulso. Por isso, achava fascinante alguém conseguir expeli-los assim, facilmente,
sem nenhuma dor.
-Hei, Salina! Você sabe o que tem aqui ? Digo, fora dessa caverna e dessa base...
-Eu nunca estive fora daqui, desde que me trouxeram pra esse planeta. Mas dizem
que antigamente, antes de existirem laboratórios fechados como esse, os cientistas usavam
todo o planeta pra estudos.
-Como assim ?
-Vou tentar explicar toda essa história desde o início: faz muitos e muitos anos, esse
era um planeta com uma biodiversidade bem baixa e não havia nenhum ser vivo inteligente
aqui. Então o Imperador Eduardo começou a fazer experiências genéticas aqui com
prisioneiros de guerra. A cada planeta invadido, ele capturava milhões, bilhões de nativos,
tanto animais como pessoas, e os mandava para cá. Aqui, ele fazia as experiências:
misturava seres de vários planetas e criava aberrações monstruosas. Mas esses seres
fugiam, se revoltavam e criavam povoamentos por aí. Por isso resolveram criar bases como
essas. Depois de um tempo, o Eduardo concluiu que seria mais proveitoso pegar também os
criminosos do próprio povo para servir a essas experiências também. No início ele mentiu:
disse para os zeelishianos que no Planeta 8-P eram testados remédios. Mas hoje vejo que
era tudo mentira, ele apenas usa as cobaias mais fortes para produzir novas gerações de
soldados de frentes de combate que não questionem, apenas obedeçam.
-Como os samambers ?
-É, como os samambers! Quando eu fui presa o Projeto Samamber ainda estava em
testes, mas estou vendo que hoje eles são uma referência.
-Põe referência nisso!
-Por isso os cientistas querem pessoas de lugares tão diferentes, pra fazer
cruzamentos genéticos. Agora, imagine cruzar um scorpioniano com um humano ? Boa coisa
não iria sair, não é mesmo ?
-Hum...Acho que tem razão disse Lublizo.
-Pois ele já fez isso. E fez também coisas muito piores.
-Eu imagino como o Jibiu deve ter a mente perturbada. Ele é uma mistura mal feita
de várias espécies que nunca poderiam se cruzar... disse Laísa, inocentemente.
Ao que ela terminou de dizer isso, Lublizo e Sakura se olharam por um momento,
sentindo-se meio estranhos. Haviam conversado algo sobre casamento e filhos, e num
momento o garoto se sentiu meio como se tivesse um pouco de Eduardo em seu sangue.
Não, não é bem assim, caracoleses e humanos podem se misturar tranqüilamente,
não é o mesmo caso do Jibiu. É uma reprodução diferente do normal, mas controlada, não é
algo bizarro , ele tentava colocar essa idéia em sua mente o tempo todo, mas aquele
pensamento contrário o deixava sempre um tanto inquieto, por mais que tentasse nega-lo.
Será que um filho híbrido de Sakura com ele poderia resultar em algum tipo de aberração
também ? Eles não quiseram se perguntar, preferiam fugir do assunto, tentar tirá-lo de suas
mentes, por mais que ele ficasse martelando a todo o momento.
-Lublizo, você acha que nós podemos fugir daqui ? perguntou Sakura.
-Talvez antigamente eu não acreditasse, mas depois que eu vi o Abzurds ganhar,
depois de ver até onde a nossa equipe foi na KVC, de ver como nós evitamos que os Z-9
pegassem o Trbluzikzay...Agora eu não duvido de mais nada. Vamos fugir sim!
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Eles não perceberam, mas aquela manifestação de confiança, e a idéia da fuga eram
presenciados por Slink. O mutante havia voltado para observar a entrada da gruta, e agora
estava ciente de seus planos.
15 - Uma tentativa de fuga
Após algumas horas de descanso, os holofotes no alto da caverna estavam ligados, e
o lugar foi tomado por uma súbita claridade, que tentava imitar assim a simulação da luz
solar. Talvez fosse uma maneira de manter vivas as espécies vegetais por exemplo, e de
tornar o lugar habitável para todas as espécies, noturnas e diurnas.
- Não sejam bobos, já disse que fugir é impossível
Salina insistia, quando via que
seus hóspedes ainda pensavam em deixar o lugar.
- Não vamos te obrigar a vir com a gente. A fuga vai ser arriscada, mas você acha
que o Jibiu vai ter algum futuro vivendo aqui pra sempre ?
Salina pensou por alguns instantes, olhou para seu filho, ainda dormindo, e viu que
eles estavam certos. Então ela foi com eles. Acordou seu filho, chamou-o e seguiu os
caracoleses pelos corredores arenosos entre as enormes rochas das cavernas.
Após um bom tempo de caminhada e especulações sobre possíveis jeitos de deixar o
lugar, ouviram-se novos gritos, assim como na noite anterior.
-Vocês ouviram alguma coisa ?
-Veio dali! - Víni e Laísa correram por cima de algumas rochas para ver o que
acontecia. Os gritos vinham do outro lado, mas não eram vozes de crianças, mas sim de
adultos, vários adultos. O resto de seus amigos foi atrás, embora tivessem menos agilidade
para subir entre as rochas. Do outro lado, grandes monstros de formato humanóide, com
2,70 m de altura, cabeça muito achatada, principalmente atrás, rosto deformado, pele
esverdeada, e totalmente musculosos, sendo ao todo cinco, e parecendo ter um terrível
extinto de destruição, agrediam tudo o que vissem pela frente.
Aquele lugar estava cheio de gente, e ao vê-los, todas essas pessoas saíam correram
para o lado oposto de onde eles vinham, tentando escapar de sua fúria. Mas logo se viam
encurraladas pelas pedras, ficando sem ter para onde correr. Muitos caíam e eram chutados
pelos tais mutantes, chamados pelas pessoas de Orgs . Um desses orgs , pegou um
homem caído no chão pela gola da roupa, e começou a soca-lo. Depois, arremessou-o na
direção de outro org, para que esse também o usasse como saco-de-pancadas. Eles
pareciam totalmente irracionais, não diziam uma palavra, não emitiam nenhum som, eram
como máquinas de bater.
Os caracoleses Sakura e seus amigos, descendo das rochas, ao observarem aquela
terrível cena que acontecia do outro lado, ficaram horrorizados, principalmente as garotas.
Mesmo diante da insistência de Salina para que saíssem dali, todos os outros permaneceram
parados, para ver o que aconteceria. Ao verem o homem sendo espancado, Sakura e Bibi
correram na direção dos orgs, esbarrando nas pessoas que corriam desesperadas na direção
oposta.
-Hei, parem com isso! Soltem ele! gritou Bibi.
-Por que vocês fazem isso ? Por que ?
Imediatamente, os orgs soltaram o seu homem, com o rosto e parte do corpo cheia
de hematomas e vários cortes, e jogaram-no no chão, ensangüentado, virando-se na
116
direção das garotas. Demonstravam estar furiosos, pois nunca tinham sido desafiados dessa
maneira, uma vez que estavam acostumados apenas com o medo daquelas pessoas. Sakura
e Bibi não conheciam o seu real poder antes de desafia-los, e quase se arrependeram após
fazer isso. A população daquele local olhou horrorizada a cena que se seguia. Um dos orgs
virou sua mão fechada na direção da garota zikana, que não teve nem ao menos tempo de
gritar.
Antes que chegasse nela, Lublizo e Léo pularam na frente e começaram a golpear o
braço do Org, que mais uma vez se assustou com uma ousadia nunca antes vista por
aquelas cobaias. Assustado, ele apenas deslocou rapidamente o braço e lançou longe os
garotos.
-Corre, Sakura!!
Lublizo gritou, enquanto era arremessado a vários metros, para
então sair rolando pela areia. Nesse instante, Máik e Víni passaram a olhar um para o outro,
e tomados por seus instintos de guerreiros, resolveram mostrar tudo o que haviam
aprendido em quase um ano de treinamento.
Em várias partes da caverna, existiam micro-câmeras, usadas pelos cientistas para
melhor estudar o comportamento de todas as suas cobaias. De dentro de seus locais de
trabalho, em confortáveis andares superiores à caverna, eles observavam todos os
movimentos dos orgs. E podiam ver também o incrível combate que se seguiu naquele
momento entre aqueles gigantescos mutantes e um grupo de adolescentes.
-O que são esses garotos ? Que tipo de mutação fizeram neles ?
-Eles não são mutantes, senhor. Foram capturados ontem!
-Vejo que eles têm um poder incrível. Em poucos segundos esses orgs cairão!
-Cinco dos nossos melhores orgs ? O que é isso, senhor ? Está brincando, não ?
-Estou falando sério, como nunca falei em minha vida! disse o cientista-chefe.
E ele tinha razão. Máik e Víni, como se tivessem combinado, partiram pra cima do
primeiro dos orgs, o que havia ameaçado bater em Sakura. Primeiro, com saltos incríveis,
eles lhe aplicaram golpes no rosto, no tórax, abdômen e pernas, levando-o ao nocaute em
menos de dois segundos. Os outros orgs reagiram, tentando de qualquer jeito esmaga-los,
como a insetos, mas a agilidade dos três era enorme. Quando um org tentava soca-los, sua
vítima já estava atrás dele, pronto para golpeá-lo de surpresa. Assim, logo todos os cinco
orgs foram ao chão, inconscientes. Todas as pessoas que estavam ali começaram a aplaudilos e a comemorar, como se vissem pela primeira vez em suas vidas sofridas, uma chance
de liberdade. Mas a comemoração não durou muito, pois a porta por onde os orgs saíram
logo se abriu novamente, e por ela vieram dezenas de soldados ZWXK-04, iguais ao
mutante chamado Slink, armados com pistolas paralisantes.
Antes que pudessem perceber o que acontecia, Víni e Máik já estavam caindo
totalmente paralisados no chão. Ainda tiveram alguns segundos, antes de perderem
completamente a consciência. Depois de derrubarem três integrantes do grupo, ele apontou
Sakura, Bibi, e todos os demais, inclusive aos que assistiam a tudo de cima das pedras.
Tiveram todos um destino igual, sendo impiedosamente atacados com as armas magnéticas
dos soldados, e arrastados pelos soldados para fora da caverna. Em seguida, os orgs,
desacordados, também foram removidos. Os outros prisioneiros ficaram muito felizes ao
verem os orgs derrotados, e ao mesmo tempo tristes ao ver que seus heróis haviam sido
capturados. Um triste fim possivelmente os aguardava.
Foram todos levados para o mesmo laboratório onde as garotas estiveram antes.
Agora estavam ali todos, os garotos e as garotas, incluindo também Salina e Jibiu. Cada um
deles estava preso nas mãos e pernas e envolvido por um campo de força. Aos poucos, cada
um foi retomando sua consciência e se perguntando o que aconteceria agora. Não havia
ninguém no lugar, ele estava completamente vazio, com um silêncio até mesmo estranho.
117
Subitamente, Slink apareceu, trazendo as suas costas uma enorme sacola. Seu olhar
era frio e distante como antes, mas ele parecia estar bem intencionado agora. Foi até a
parede e desligou o campo de força e soltou os ferros que estavam prendendo os
caracoleses, Salina e Jibiu.
-Confiem em mim! disse Slink Vou ajuda-los a fugir deste lugar.
Ninguém entendeu aquilo muito bem, mas o fato é que estavam livres. Por que ?
-Venham comigo. Temos que ser rápidos, pois logo eles vão voltar, e se nos
encontrarem circulando pelo interior da base, seremos mortos
falou Slink calmamente.
Ninguém ainda confiava muito nele, mas não tinham alternativa, então o seguiram. Slink
conhecia como ninguém a base, por isso sabia por quais corredores entrar. Havia por lá
inúmeras passagens secretas, que ele usou sabiamente, tentando tirar os caracoleses dali.
Quando pegaram um último corredor, ouviram soar o alarme, dizendo que os prisioneiros
haviam fugido.
-Apressem-se!
Os caracoleses entraram na saída do esgoto, um lugar mais nojento do que a pior
das partes da caverna-prisão. Tentaram passar por lá o mais rápido possível, pois num lugar
como aqueles seria um risco enorme pegarem alguma doença misteriosa. Não demorou
muito, e estavam já saindo por um enorme cano de metal, que dava saída para um pântano,
já do lado de fora da prisão, em volta dos muros que a delimitavam. O pântano-esgoto
parecia não ter mais fim, a não ser na direção norte, onde ficava a base zeelishiana onde
estavam presos, e para o sul, onde havia um morro e algumas trilhas.
-Que lugar horroroso!
-Qualquer lugar é melhor que a aquela caverna!
-Oh, então é assim o mundo fora das cavernas! jibiu estava muito espantado,
maravilhado com o que estava vendo É daqui que vocês vieram ? Aqui é Caracówl ?
-Não, não é! Nosso mundo é melhor ainda!
-To vendo que ele ainda vai ter que aprender muita Espaçografia!
-Querem voltar para o seu mundo, não querem ? Então sigam para o sul, por entre
as trilhas. Vocês chegarão à cidade de Troskvu após um dia de caminhada, e em seguida,
caminhem para o Oeste, aonde chegarão a um lugar chamado Hoshigai, onde vive um
mutante como eu, conhecido como Sônik. Ele lhes ajudará a voltar para seu mundo.
-Espera, Slink! Só uma pergunta: a nossa amiga Luibla também foi feita prisioneira.
Mas nós não a achamos esse tempo todo. Ela pode estar lá dentro também. Não podemos
voltar pra Caracówl sem ela!
-Como ela era ?
-Ela é... Igual ao Lublizo, só que é mulher! E mais alta também...
-Então não é aqui que devem procura-la!
disse Slink
É lá que ela está!
ele
apontou para um ponto prateado no céu, um planeta que podia ser visto mesmo de dia.
-Como assim ?
-Quando vocês foram capturados, essa caracolesa a que vocês se referem foi
declarada inimiga do Império, por isso foi condenada a ter uma execução pública, no Planeta
Zeelish, para servir de exemplo a todos os outros inimigos. Vocês, por serem prisioneiros de
guerra comuns, foram mandados para esse planeta para serem usados como cobaias.
-inimiga do império...Eu não entendo...
-Talvez seja por causa daquela vez, depois da KVC!
disse Lublizo.
Sim, os Z-9,
devem tê-la reconhecido, por isso mandaram que ela fosse para lá.
-Que legal, e como faremos para ir até Zeelish ?
-Não há como!
disse Slink
é impossível passarmos pela defesa espacial.A única
coisa a fazerem é voltarem para seu planeta -Vocês querem voltar para casa, não querem ?
Então vão à Vila de Troskvu e consigam comida! Depois falem com Sônik.
-Espera, você não vem com a gente ?
118
-Estou ajudando vocês a fugirem daqui, isso já é o bastante, agora voltarei as minhas
funções.
-E acha mesmo que eles ainda vão querer que você volte as suas funções ? Acha que
eles não vão perceber que foi você que soltou a gente ?
disse Léo, com uma voz meio
debochada. Slink parou e pensou por um instante, e acabou dando razão a ele.
-Acho que você tem razão, caracolês. Então eu vou com vocês até Troskvu!
disse
Slink, partindo na frente, apressado, sendo seguido pelos outros.
Máik continuou um pouco decepcionado por não conseguir ajudar Luibla. Ele ficava a
todo momento imaginando como ela estaria em Zeelish.Não se conformava em saber que
ela seria executada e ele não poderia fazer nada para ajuda-la.
-Você tá preocupado com a Luibla, não tá, Máik ?
-É, cara...
-Não se preocupa. Nós vamos dar um jeito!
-Tomara mesmo!
-Por que está nos ajudando, Slink ? É tão estranho, você é um mutante criado para
servir ao Império, e de repente nos liberta. Não é que eu esteja duvidando de você, mas...
quando decidiu nos ajudar ? Tipo, tantos mutantes estão lá, presos naquela caverna...Por
que você foi soltar logo a gente ?
-Vocês me fizeram ver coisas que eu nunca tinha visto antes.Era o mínimo que eu
podia fazer por vocês. E depois, vocês não são pessoas como a maioria, eu não sei bem o
que é, mas sei que vocês têm algo de diferente. Não podia deixar que pessoas como vocês
morressem num lugar como aquele. Agora, é um compromisso meu faze-los voltar para seu
planeta em segurança.
-Obrigado, Slink!
119
16 - A Luta na Vila de Troskvu
Caminhando algumas horas pela floresta, finalmente todo o grupo estava lá. Troskvu
era uma vila bem pequena, com casas de pedra, talvez colocadas pelas mãos de seus
próprios donos. Parecia já ter centenas de anos que foram construídas, pois havia lodo sobre
as pedras, e toda a cidade era coberta por uma relva bastante úmida, dando a impressão de
que o local tinha constantes chuvas.Aparentemente não havia a presença de qualquer tipo
de habitante. O lugar estava quieto, e só podia se escutar o barulho de pequenos insetos.
Eram ruídos que jamais eles escutaram entre os insetos de Caracówl.
Slink ia na frente, seguido de Lublizo e Sakura, que seguiam de mãos dadas. Máik,
mais atrás, carregava Jibiu no colo, como se fosse seu filho, de certo modo agradando muito
a Salina, que realmente começava a vê-lo como um possível ótimo pai para o garoto.
Entrando na vila, que estava com suas ruas vazias, uma chuva forte e gelada começou a
cair, obrigando o grupo a ir procurar abrigo no lugar mais próximo. Viram no final de uma
rua, aberta, uma espécie de taverna. Na entrada, uma coluna de pedras com incrustações
decorativas de pedras preciosas, onde cristais esverdeados que emitiam uma forte luz
florescente, formavam, na língua local, o nome do bar. Totalmente indecifrável para eles,
mesmo com seus tradutores, aquilo era uma escrita ainda desconhecida.
O grupo todo entrou correndo na taverna, tentando fugir da chuva. Por dentro, ela
era um lugar pouco iluminado. O que ainda dava alguma iluminação eram mais pedaços do
mesmo cristal esverdeado, aquele mesmo que iluminava a caverna onde eles estiveram
presos. Naquele ambiente, havia música, muita comida e um cheiro esquisito, que vinha de
uma fumaça que infestava o ambiente, uma espécie de incenso local.
Os seres daquela cidade, como todos que estavam na taverna, eram descendentes de
mutantes fugidos dos laboratórios do planeta. Seres deformados, assim como os que
existiam na caverna que ficava dentro do laboratório onde todos estavam. Vários mutantes
eram completamente diferentes uns dos outros, mas todos ali eram unidos pelo fato de
terem nascido e viverem na vila. Alguns eram grandes, com braços finos, tortos e pernas
atrofiadas, além de um pescoço comprido, com artérias pulsantes e crânio gigantesco.
Outros eram bem pequenos, avermelhados, com braços elásticos que podiam ir de uma das
várias mesas que se espalhavam pelo ambiente, e pés gigantescos. Existiam uns 25 tipos
diferentes de consumidores naquela taverna. Sendo que entre cada espécie apresentava
muitas diferenças e um indivíduo para outro, e existiam também indivíduos com
características de mais de uma espécie.
Num canto, sentados numa mesa, quatro humanóides esverdeados, com aparência
agressiva e feições de lagartos, além de alguns espinhos no alto da cabeça e na nuca,
disputavam algum tipo de jogo com as mãos.Cada um deles tinha quatro dedos.Além dos
cinco normais de um humano, possuíam um dedo a mais, o qual dois deles usavam para
apertar um ao outro, enquanto os outros dois apenas observavam a cena e torciam.No final
da "luta de dedos", um deles arrancou o dedo do oponente, que parecia não sentir nada,
nenhum tipo de dor.
-O que é aquilo ? Jibiu, que antes dormia sobre o ombro de Máik, agora acordava, e
logo se assustou com a disputa dos nativos.
-Fale mais baixo, não deixe que eles escutem isso. - disse Salina, repreendendo-o,
com medo de uma possível reação dos mutantes.
-Muito bom! - disse o mutante perdedor, que havia ficado sem o dedo.em seguida,
ele levantou sua mão, e um novo dedo foi surgindo no lugar. -Round 2! - ele gritou,
encostando novamente sua mão na do adversário, para um novo confronto.
120
De repente, enquanto eles estavam parados no meio da taverna, bastante entretidos
com tudo o que acontecia, um outro ser avermelhado, com cerca de 1,60 m de altura, olhos
quatro vezes maiores que os de um humano, esbugalhados e cinzentos, além de um nariz
pequeno e disforme, apareceu na frente do grupo, e cumprimentou-os com um forte grito.
-Olá, sejam bem-vindos ao meu estabelecimento! - disse o ser, provavelmente o
dono do lugar. Ele usava um tipo de chapéu com os mesmos símbolos que estavam escritos
na entrada da taverna. Estava sem camisa e com uma calça comprida apertada na cintura,
mas muito larga nas pernas, e em suas mãos trazia um enorme facão sujo de sangue, o que
assustou Slink, que rapidamente apontou sua arma contra o rosto do nativo.
-Hei, acalmem-se, forasteiros! Por que agem dessa forma ?
-Espera, Slink! Hei amigo, pra que essa faca ? perguntou Léo.
-Hã...Ah, me perdoem! Isso lhes assustou ? Mas não foi minha intenção.Eu apenas
estava usando essa faca para preparar comida.Por que vocês não se sentam numa das
mesas e comem aqui no meu estabelecimento também ?
-Olha, nós não temos dinheiro.Não dinheiro daqui.Nós éramos prisio... dizia Lublizo,
inocentemente, tendo sua boca logo tampada por Máik.
-Tá maluco ?! disse Máik, afastando de seu rosto o tradutor instantâneo, para falar
em bom Português. Mas já era tarde, o dono da taverna já havia captado a mensagem.
-Ah, então foram vocês que fugiram da Grande Prisão, do outro lado das montanhas
? Então estão convidados a comerem e beberem o quanto puderem hoje no meu
estabelecimento! Os inimigos dos zeelishianos são amigos do povo de Troskvu!!
gritou o
alienígena, se apresentando.
-Eu sou Tubawstle , o dono da Taverna Drôzi! Esse aqui é o centro de diversões de
nossa vila.
dizia o alienígena, que gesticulava muito e tinha alguns tiques nos olhos.
Enquanto ele falava, seus olhos pareciam saltar de seu rosto, mas ele demonstrou bastante
simpatia, e mandou que todos se sentassem em torno de uma das mesas vazias. Meio
espantados com a inesperada hospitalidade, Sakura, Lublizo, Víni, Laísa e Máik fizeram
como ele havia dito.As cadeiras em torno da mesa se acabaram, então Tubawstle foi até
uma das mesas vazias e pegou mais cadeiras para o resto do grupo. Só então Jibiu desceu
dos braços de Máik e foi sentar-se em uma das cadeiras, ao lado de sua mãe.Mas Slink
ainda permanecia desconfiado, e só sentou-se após algum tempo. Ficava olhando para todos
os lados, pensando se não seria nenhuma armadilha.
Naquela taverna, em todas as mesas várias pessoas bebiam, cantavam, se divertiam.
Algumas dançarinas se aproximaram dos garotos, e o próprio Tubawstle veio pessoalmente
trazer alguns copos com bebidas e alguns petiscos, que não tinham um gosto nem uma
aparência lá muito agradável.
-É melhor a gente ir comendo aos poucos, pra não fazer desfeita...
disse Máik,
dando uma leve beliscada num salgado e tomando um pouco da bebida.
Alguns dos seres sentados nas outras mesas pediam que todos contassem histórias
sobre si mesmos.
-De onde vocês vêm ? perguntou um dos que antes praticava a luta quebra-dedos
-O que faziam lá em seu planeta ?
Máik e Bibi eram os mais empolgados na conversa. Respondiam as perguntas como
se estivessem num programa de chat da Enterwave. Achavam-se verdadeiras celebridades.
Pouco a pouco, iam dando detalhes sobre seu passado, sobre tudo o que tinham feito até
então. Num certo momento, Máik chegou até a falar sobre a Organização Protetores da
Galáxia, sendo recriminado por seus companheiros com expressões faciais desfavoráveis.
-Foi mal, galera, eu me esqueci que não era pra falar disso!
Máik se desculpou a
Laísa e Víni, agora em língua portuguesa, para que os nativos não entendessem.
-Vê se também não fala sobre os simbiontes!
121
-Que simbiontes ? perguntaram ao mesmo tempo Sakura, Lublizo, Léo e Bibi. Slink
não disse nada, mas entendeu perfeitamente o que havia sido dito, guardando bem aquela
informação. Salina e Jibiu ficavam apenas observando. Ao se lembrar que os outros também
não sabiam de seu segredo, Laísa percebeu que ela é que havia falado besteira, mas logo os
nativos voltavam a fazer novas perguntas, que mais uma vez desviaram a atenção de seus
amigos, que por sua vez se esqueceram do assunto.
Enquanto Máik, Víni e Laísa se encarregavam de saciar a curiosidade dos nativos,
Slink levantou-se e foi falar com Tubawstle, que estava se encarregando de servir mais
bebida a outros clientes.
-Estas pessoas precisarão de um lugar para passar a noite. Você pode conseguir
alguma hospedagem, e um pouco de comida e bebida para nossa viagem ?
-Mas é claro! Minha taverna tem alguns quartos lá nos fundos, onde vocês poderão
descansar esta noite. E é claro que eu fornecerei o quanto precisarem de comida! Será um
prazer enorme!
Então Slink retornou para a mesa, enquanto os caracoleses, sendo tratados feito
verdadeiras celebridades, continuavam sendo interrogados pelos nativos. Depois de algumas
horas de conversa, o papo estava ficando agradável, quando Tubawstle foi até a entrada da
taverna, saiu de seu estabelecimento por alguns minutos, e em seguida voltou correndo,
empurrando a porta de qualquer maneira.
-Os Z-9! Os Z-9 estão vindo pra cá!
Todo o povo imediatamente se assustou, levantando-se das mesas, fazendo menção
de que iriam embora tentar se proteger em suas casas. Sakura logo percebeu que aquele
nome Z-9 tinha um efeito um tanto perturbador na vila.
-Espera aí, Z-9 ? disse Máik Quantos ?
-São três! disse Tubawstle.
Ora Víni, se fossem vários inimigos, mas são só 3! , pensava Máik.
-Estão loucos ? disse um dos mutantes, clientes da taverna Não importa o quanto
vocês possam ser fortes, os Z-9 são soldados com poderes mágicos. Eles têm parte com o
Coisa-Ruim!
-Não são poderes mágicos, são poderes psíquicos! Quer saber, nós treinamos
bastante pra isso!
disse Víni, socando uma mão na outra
Máik, os Z-9 são aqueles
mesmos que tentaram seqüestrar o Trbluzikzay em Caracówl aquela vez. Também foram
eles que mandaram a Luibla pra Zeelish, sabe o que isso quer dizer ?
-Se a gente vencer agora, podemos obriga-los a nos levarem até onde ela está!
-Esperem por mim! - uma voz se faz ouvir bem atrás deles. Sakura, Lublizo, Léo,
Slink, Máik e Víni estavam na porta da taverna, ainda meio aberta, olhando para o lado de
fora. Léo, Sakura e Lublizo e Slink se assustaram de cara, assim também como Bibi, que
ainda estava se escondendo debaixo da mesa, junto com Salina e Jibiu.
-Laísa, você também vêm com a gente ? isso é meio perigoso pra...
- Pra uma garota ? Máik, eu tenho sido meio medrosa esse tempo todo, mas é hora
parar com isso. Eu treinei a mesma coisa que você e o Víni, então se vocês podem
enfrentar os Z-9, eu também posso!
Víni, Laísa e Máik saíram confiantes da taverna e se posicionaram no meio da rua. Na
esquina, a cerca de uns 50 m, podia-se ver Volty e Runshnker, caminhando lentamente na
direção da taverna.
-Quem seriam aqueles que desafiam os Z-9? alguns ali se perguntavam, enquanto
Léo, Lublizo, Sakura e Slink, ainda parados na porta da taverna, olhavam apreensivos.
-Droga, chega a ser humilhante estar numa situação dessas e ver a Laísa lutando
contra esses caras, e ter que ficar só olhando!
122
-Acalme-se disse Slink também sou um guerreiro, e fui condicionado para a luta,
mas sei que não devo tentar enfrentar estes Z-9. Se os seus amigos acham que podem,
deixe-os, pode ser que consigam mesmo, afinal, derrotaram orgs facilmente!
Os três humanos de Caracówl e os dois soldados especiais zeelishianos permaneciam
se encarando por alguns segundos ainda no meio da rua, quando de repente, vindo da
mesma direção que os Z-9, flutuando no ar, Juviks apareceu também diante deles, pondo-se
ao lado dos Z-9. Estava usando o mesmo traje que usara durante a primeira vez que atuou
na captura daqueles caracoleses, mas desta vez carregava preso as costas uma pequena
mochila com propulsor magnético, que o permitia voar. Todos os caracoleses imediatamente
lembraram-se daquele homem, aquela presença perturbadora, aquela sinistra imagem
elamiana, com a mesma expressão maligna que demonstrara antes de, a dois dias, disparar
contra eles na Plataforma Ajdapri. Luibla havia lhes mostrado fotos de todos os integrantes
da equipe Z-9, inclusive de outros que não estavam ali, mas nunca havia falado daquele
homem, que trazia a morte no seu semblante.
Será ele mais um Z-9 ? Não sei, mas ele parece mais forte ainda do que os outros
dois juntos , pensava Víni.
-Foi ele... Foi ele que disparou contra a gente! gritou Máik, ao sentir novamente em
sua mente imagens que ele havia esquecido, de antes de ser paralisado pelo tiro
eletromagnético.
Foram eles que fugiram do laboratório. Nós não nos lembrávamos da garota de
olhos puxados e do garoto azul, mas eles também atrapalharam nossa missão em Caracówl
naquele ano. Se me lembrasse, teria dito ao Coronel Yawrinke para manda-los para Zeelish,
ao invés desse simples laboratório... Esses nossos inimigos merecem o pior dos castigos ,
pensava Volty, roendo-se de raiva.
-Você mandaram que a Luibla para Zeelish, mas vão nos dizer como liberta-la!
Olhando ainda da entrada da taverna, Slink desesperou-se quando reparou melhor no
terceiro homem que chegara junto dos dois primeiros. Ele não era um Z-9, ele era mais
forte e mais cruel do que eles. Era Juviks, conhecido matador de aluguel do império. Mestre
em lutas, usava técnicas poderosas classificadas como mágicas entre povos mais
primitivos. Juviks era conhecido por sua sede de luta e por sua vontade de ver o sangue
inimigo sendo derramado, não demonstrando qualquer tipo de piedade com suas vítimas.
Era treinado para matar rápido, do jeito mais simples possível, mas as vezes gostava de
deixar-se envolver por lutas demoradas, só para sentir mais o gosto do combate.Não se
sabia ao certo quantos ele já havia matado, mas supunha-se que eram já mais de uma
centena.
-Caracoleses, fujam! Afastem-se desse homem! Ele não é o que vocês pensam que
seja
Slink gritou, mas sem causar efeito nenhum nos adolescentes, que permaneciam
prontos para a luta.
-Eu não me lembrava de vocês, Então, seus malditos, vocês também estavam
naquele dia em que aquela vadia nos humilhou, não é ? Vocês vão ver só agora!
gritou
Volty, como sempre irritado, sacando sua arma, mas sendo logo repreendido por Juviks, que
mesmo sem estar na ativa no exército zeelishiano, tinha sido colocado pelo Coronel
Yawrinke para chefiar a missão.
-Volty, Runshnker, guardem suas armas! Eu não sei que tipo de seres eles são e não
tenho certeza da potência certa para atordoá-los. Recebi ordens do coronel para leva-los
vivos até Zeelish e não quero correr o risco de mata-los antes da hora.
-E então ?
-Vamos usar apenas nossa habilidade de luta disse o elamiano.
123
-Víni, Laísa, só usem suas armas se precisarem. Vamos tentar deixar pelo o menos
um deles vivo, para nos contar onde está a Luibla
disse Máik. Seus companheiros
concordaram com ele. Uma briga limpa, sem armas, mas ainda assim muito difícil, iria
começar. E eles teriam que ter muito cuidado para saírem vivos dela.
-O que está havendo ?
perguntou Bibi, acompanhada de Salina e Jibiu, que só
então foram à entrada da taverna ver o que acontecia.
-Isso não é nada bom! Esse que está aí é Juviks, um dos piores assassinos do
Império, devemos fugir, ou ele os matará!
Slink insistia, falando aquilo agora para Léo,
Lublizo, Sakura e Bibi, que não estavam no meio da briga. Distante da luta, o mutante
parecia prever que a vitória dos Z-9 seria questão de tempo. Enquanto isso, pelas janelas da
taverna, os freqüentadores do lugar mal podiam crer no que estavam vendo. Olhavam
assustados e admirados ao mesmo tempo.
Os dois grupos se colocaram em posição de combate,mas permaneceram observando
uns aos outros por uns instantes, até que subitamente Víni dá alguns passos à frente, e
provoca o início do ataque por ambos os lados. Os Z-9 começaram demonstrando mais força
física, atacando fortemente os caracoleses, que usavam toda a sua perícia em lutas, e todo
o aprendizado que tiveram, para esquivarem. Num momento de descuido por parte do
inimigo, Víni conseguiu acerta-lo com um chute.
Eu consegui!
pensou Víni, animado. Mas nesse mesmo instante, Runshnker
levantou muito rápido girando três vezes no ar, até parar e revidar com outro chute.
-Agora ele me irritou! - Runshnker correu mais uma vez para cima de Víni, que se
levantou rápido e passou a novamente se defender dos ataques impiedosos do inimigo.
Enquanto isso, Juviks e Volty pararam em frente a Máik e Víni.
Vou esmagar a todos em pouco tempo
Juviks pensou, de modo calculista, mas ao
mesmo tempo um tanto animado com a briga.
Laísa se esforçava para lutar no nível de seus amigos, mas por mais que insistisse ela
não tinha a mesma força. Após dar um chute no rosto de Volty, o Z-9 irritado revidou com
outro chute na barriga da garota, um chute tão poderoso que destruiu o colete que ela
vestia sob a blusa emborrachada, e lançou a garota contra a parede de uma das casas.
Vendo aquilo, Léo e Lublizo correram para ajuda-la, quando Volty partia sobre a
garota para golpeá-la mais uma vez, os dois chegaram com pedaços de madeira e o
atacaram.
-Tira ela daí! gritou Léo para Lublizo, quando este desistiu de atacar o zeelishiano e
correu até onde sua amiga estava, arrastando-a para onde estavam as outras garotas. Léo
tentou dar-lhe cobertura encarando o Z-9, mas foi a nocaute com um único e preciso golpe
na nuca. Volty então correu na direção de Lublizo e Laísa, quando Máik, vendo o que
acontecia, num ato de desespero, correu até lá e acertou um poderoso chute na nuca de
Volty, fazendo-o ir ao chão. Ele tentou revidar, mas recebeu outro golpe, agora no maxilar,
caindo enfim, desacordado. Nisso, Runshnker saltou sobre Máik, com a intenção de golpearlhe pelas costas, quando o garoto percebeu o movimento do inimigo e virou-se, segurando a
sua mão.
-Seu desgraçado! Seu moleque!
Aquilo deixou Máik mais enfurecido, e numa
descarga de toda essa fúria, ele golpeou com a perna o tórax de Runshnker, e em seguida
aplicou-lhe um soco em seu rosto e uma rasteira. Sem reação, Runshnker caiu, bastante
ferido.
Juviks, que lutava contra Víni, observando aquilo por um instante, parou de lutar
impressionado com o modo como aquele jovem humano lutava, dando tempo para que Víni
lhe golpeasse fortemente e o mandasse a vários metros de distância, rolando pelo chão.
124
-Nós ganhamos!
Máik comemorou, ofegante, após ver os três inimigos caídos. Em
seguida, ele virou-se para Laísa, que estava caída rente a uma parede. Léo, Lublizo, Slink e
Sakura estavam prestando-lhe socorro. Máik então saiu correndo para ajuda-la, quando
ouviu a voz de Juviks novamente.
-Ora, caracolês, não fuja da briga, nós ainda não acabamos!
Víni e Máik olharam espantados para ele. Depois de tomar um terrível golpe, ele
ainda podia se levantar, e nem aparentava ter nenhum ferimento, nem um arranhão sequer
no rosto.
-Esses fracos - ele disse, com ar de desdém absoluto, se referindo a Volty e
Runshnker - não agüentaram quase nada. Vocês até que me surpreenderam... Mas acabou!
Mas eu posso pensar em pedir ao coronel Yawrinke que lhes dê uma morte rápida, se me
disserem como conseguiram ficar tão fortes sendo tão jovens.
Máik e Víni não quiseram saber de conversa, partiram para cima de Juviks
novamente, Víni atacou com um chute e Máik com um soco, mas com um rápido e sutil
movimento, Juviks desviou dos dois e aplicou-lhes um chute nas costas e uma rasteira em
cada um. Ao vê-los caídos no chão, o elamiano ficou olhando para os dois ainda por alguns
instantes.
-Garotos...Vocês acham que são mais fortes do que eu só porque aprenderam a usar
um pouco o poder psíquico. Vejam então o que é o poder de verdade!
Juviks então começou a se concentrar, fechou os seus olhos, contraiu as suas mãos.
Uma sensação de pavor tomou conta de Víni. Ele tentava ainda se levantar e voltar ao
combate, mas não conseguia. Estava paralisado de medo.
-O que tá acontecendo, Víni ?
-Eu não sei, ele...Ele é um monstro!
Juviks então abriu os olhos novamente, e em volta de seu corpo o ar começou a girar
mais e mais rápido. Uma ventania se formava ao seu redor, e ia se expandindo, se
aproximando dos caracoleses. Um vento quente, como se estivesse energizado. O chão da
vila de Troskvu, antes úmido, começou a secar e a rachar, na parte atingida pelo vento
criado por Juviks.
-Você não vai me assustar com isso! gritou Máik, partindo para cima de Juviks com
as mãos fechadas, tentando socar o rosto do inimigo, mas conforme se aproximava, sentiu o
seu corpo paralisado, e Juviks facilmente segurou o seu braço, e sem fazer nenhum
movimento a mais, quebrou-o.
-Ai! Ele quebrou meu braço! - gritou Máik, antes que Juviks, apenas com a mente, o
empurrasse novamente. Enquanto Máik tentava soltar o seu braço agora quebrado, Juviks
usou seus poderes paranormais para arremessar Máik a metros de distância.
-Máik! gritava Salina, olhando de longe. Os outros caracoleses pensaram em fazer
alguma coisa. Léo e Lublizo correram na direção de Máik para socorre-lo, mas chegando no
meio do caminho, passaram a ter a mesma sensação que Víni: o terror psicológico imposto
pela simples presença inimiga. Slink também começou a se sentir amedrontado, e numa
atitude de puro desespero, sacou sua arma e apontou para Juviks, tentando elimina-lo de
uma vez, mas antes que ele conseguisse disparar a primeira vez, Juviks rapidamente virouse de costas e correu em sua direção. Estava a cerca de uns 10 m de distância, quando Slink
disparou contra ele, mas suas mãos tremiam, e o primeiro disparo, assim como os outros
três subseqüentes, saíram errados, passando ao lado de Juviks, que logo estava a sua
frente, e logo acertou o primeiro soco em seu rosto.
-Toma! Seu mutante traidor! Como pode se juntar a esses seres primitivos ? Toma
mais isso! Juviks deu uns três chutes em Slink, que acabou deixando sua arma cair. Com
125
suas mãos ele tentava se defender, mas não conseguia nem mesmo fazer isso, até não
conseguir se levantar mais, após uns cinco ou seis socos.
-Deixa ele, desgraçado!
uma voz se fez ouvir novamente, por trás de Juviks. Ele
levantou a cabeça, tentando ver por trás dos ombros do mutante, a quem ele segurava.
Nesse momento, suas mãos relaxaram, e ele o soltou. Quem havia gritado era Sakura, que
tentava encará-lo. Juviks, enfurecido pela insolência daquela garota, passou a andar na
direção dela.
-Fica longe dela!
gritaram Lublizo e Léo, vindo por trás de Juviks. Eles tentavam
ajudar em alguma coisa, mas ficava claro que não tinham a mínima chance contra o
elamiano.
Juviks então virou-se de lado, e tentava olhar para Sakura e para os outros dois
garotos, ao mesmo tempo em que lançou um olhar perverso na direção da taverna, onde
alguns nativos de Troskvu ainda observavam o combate. Todos correram, restando lá
apenas Bibi, Salina e Jibiu, que cuidavam de Laísa, além de Tubawstle, o dono do
estabelecimento. Mas antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, Víni, que a alguns
minutos estava caído, de repente se levantou mais uma vez. Mesmo ferido, ele ainda
tentava vencer o medo provocado pelo inimigo e caminhava lentamente em sua direção,
tentando derrota-lo a qualquer custo.
Esses garotos não desistem mesmo... Mesmo nessas condições.A quanto tempo eu
não tinha o prazer de enfrentar inimigos assim numa luta limpa! Bom, até que enfim vou
poder testar o meu poder novamente , era o que Juviks pensava, parecendo bastante
entretido com a situação. Não podia deixar de escapar uma leve sensação de
contentamento. Quando se preparava para atacar Víni novamente, repentinamente ele viu o
garoto cair sozinho, sem que nada o encostasse, ele simplesmente desmaiou.
Primeiramente, em seus pensamentos, ele se gabou por estar mesmo mais forte do que
esperava, pois por mais forte que fossem os inimigos, eles não resistiram muito tempo aos
seus golpes.
-Espero que não morra antes de chegar em Zeelish, ou não vão me pagar
Juviks
resmungou, quando se virou para o lado, viu também Sakura, Léo e Lublizo caírem
desmaiados. Em seguida, olhou para a taverna, onde a mesma coisa aconteceu com Jibiu,
Bibi e Salina.
-O que está havendo ? Eu nem encostei neles ainda ? Por que estão desmaiando ?
-Foi graças a mim tudo isso!
alguém sai correndo de dentro da taverna, trazendo
novamente uma faca em suas mãos. Era Tubawstle, o dono da taverna. Sorridente, ele vem
ao encontro de Juviks, que observa aquilo muito seriamente.
-Como assim ? o matador ficou sem nada entender.
-Muito simples, eu soube por clientes meus que aqueles garotos eram fugitivos.
Então coloquei óleo de rilgsbloyvs na bebida deles, eles tomaram, e nem desconfiaram. Isso
age em meia hora, por isso eles adormeceram agora.
-Jeito traiçoeiro de pegar um inimigo
Juviks resmungou, ignorando o taverneiro,
dando-lhe as costas. Parecia bastante decepcionado em não poder lutar contra Víni até o
final. Dirigindo-se até o outro mutante, Slink, que estava caído no chão, inconsciente, ele
viu, um pouco à sua frente, a arma com que o mutante tinha lhe tentado tirar a vida. Foi até
ela, pegou-a e apontou rapidamente para a cabeça do mutante.
-De todas as coisas que eu odeio nesse Universo, a pior delas todas são os traidores.
Seu ser maldito, você traiu o Império e se uniu aos caracoleses... É uma pena que você seja
um simples mutante sem alma, porque eu adoraria ver você no inferno com eles!
Nesse momento, enquanto Juviks tentava expressar tudo o que sentia pelo mutante,
Tubawstle, o outro mutante, foi até ele e segurou o seu braço. Seu tom de voz já não era
amigável como antes. Ao contrário, parecia ameaçador.
-Hei, eu quero meu dinheiro por ter ajudado você!
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-Dinheiro ? Você só pode estar brincando
Juviks, que era de poucas palavras, não
se exaltou, mas também não lhe deu atenção.
-Hei, é surdo! Você me deve dinheiro. Quero 50000 $! E agora!!
-Você acha que eu preciso da sua ajuda para capturar os inimigos ? Seu inútil
disse Juviks, dando lhe as costas novamente. Possesso de raiva, Tubawstle segurou firme
em sua faca e partiu para cima do elamiano. Lançou com toda a sua força o objeto na
direção do pescoço de Juviks, mas antes que conseguisse finalizar essa ação, o batedor
levantou a arma que havia roubado de Slink , e sem nem ao menos virar-se para trás,
apontou-a por trás de seus ombros, mandando um disparo certeiro na cabeça de Tubawstle,
que caiu morto no chão no mesmo instante, espirrando um líquido vermelho-amarelado para
todos os lados.
-Idiota! disse Juviks, retirando de seu bolso um aparelhinho. Ele mexeu no
aparelho por uns instantes, e em seguida uma nave Zeel Okrawan surgiu por detrás das
montanhas, até chegar rapidamente até onde ele estava. Sua sombra tampou a luz do Los9
no quarteirão inteiro, quando um raio de luz azul saiu debaixo dela, atingindo o chão de
Troskvu, bem perto de onde estava Juviks. Lentamente, ele caminhou até seus Runshnker e
Volty, que estavam caídos, e os fez levantar-se.
Aqueles jovens não eram comuns, eu sei disso! Eles não podem ser humanos, eles
devem ser mutantes também! Ou então eram andróides de guerra! , dizia Runshnker,
incrédulo, enquanto levantava, com o corpo ainda doído.
-Não seja idiota, eles são pessoas comuns, apenas tiveram um treinamento razoável,
ao contrário de vocês!
Juviks respondeu de um jeito ríspido - Vamos pegar todos eles e
colocar na nave! ele ordenou aos dois, sentindo-se o próprio Yawrinke.
Runshnker e Volty foram pegando cada um dos caracoleses e colocando os sob a luz
azulada emitida pela nave, que estava parada no ar, sobre suas cabeças. Conforme iam
sendo colocados na luz, seus corpos eram sugados pela Zeel Okrawan, e iam flutuando até
ela, onde se abria uma passagem no fundo da nave, por onde eles iam entrando.
-E esse mutante ? perguntou Juviks Estava ajudando os inimigos...
-Um traidor! Poderíamos mata-lo aqui
Volty pensou, colocando a mão no queixo mas acho que o coronel Yawrinke gostará de executa-lo em Zeelish também, junto com a
caracolesa.
Após recolherem todos os inimigos, Juviks, Volty e Runshnker foram os últimos a
entrar sob a luz azul, sendo também sugados pela nave.Em seguida, a luz azul
cessou.Dentro da nave existiam ainda dois samambers, que estavam pilotando.Um deles
saiu do controle e foi ajudar os Z-9 a levar os prisioneiros para a parte de trás da nave,
onde havia uma cela, fechada por um campo de força, onde os prisioneiros ficariam até
chegarem ao seu destino. Uma mensagem do coronel Yawrinke apareceu na tela, avisando a
Runshnker e Volty que no dia seguinte em Zeelish, ou seja, dali a poucas horas, aconteceria
a execução daquela prisioneira que os humilhou a um ano em Caracówl.
-Ah, sim.Não poderei perder por nada nesse Universo essa execução!
-Então, vamos logo entregar esses prisioneiros no laboratório de onde fugiram e
voltar para Zeelish, assim minha missão aqui estará concluída! disse Juviks.
-Não, mudança de planos! - Volty pela primeira vez falou com ele como se estivesse
no comando - Nós não vamos entregar esses prisioneiros no laboratório, vamos levar todos
para Zeelish: o mutante e os outros também. Esses garotos também estavam no ano
passado, eles também nos humilharam, por isso, temos que nos vingar deles também!
Samambers, preparem-se para estabelecer uma ponte hiper-espacial para Zeelish!
9
Los é o nome da estrela em volta da qual 8-P gira.
127
A verdade é que uma vez capturando Luibla e os que estavam com ela, Juviks,
famoso matador a serviço de uma poderosa família, tinha cumprido sua missão extra. Ele as
vezes, quando estava de folga em seu serviço oficial, fazia pequenos bicos, prestando seus
serviços a outras famílias ou ao Império, desde que seus patrões oficiais não o proibissem.
Sua missão havia sido cumprida, e ele não via a hora de retornar ao planeta Hessel, onde
passava a maior parte do tempo. Mas logo soube da fuga dos prisioneiros em 8-P, e foi
encarregado pelo Coronel Yawrinke de ir até lá junto com os Z-9 para averiguar a situação e
leva-los de volta à prisão. Seu objetivo era devolve-los aos cientistas, mas desta vez Volty
os reconheceu e exigiu que eles tivessem o mesmo destino de Luibla. Dessa vez,
preocupado em não se enganar de novo, em não esquecer de ninguém, o Z-9 preferiu levar
consigo todos, inclusive Jibiu e Salina, que agora, depois de muitos anos, voltaria a pisar no
solo de Zeelish, seu planeta-natal. Mas isso para ela talvez não fosse motivo de tanta
alegria.
Então, a Zeel Okrawan rumou na direção dos céus. Do espaço! Após sair da
atmosfera de 8-P, ela ganhou mais velocidade e abriu a passagem para o hiperespaço. Foi
sair novamente no Espaço normal já a uns 400 km de Zeelish, para em pouco tempo
penetrar na atmosfera do planeta.
128
17 - O Planeta Zeelish
-Runshnker, leve-me ao Deserto de Tutwot Wayt antes de seguir para a cidade
Imperial de Zeelish disse Juviks, para o Z-9 que pilotava a nave onde estavam.
Runshnker não sabia porque aquele mercenário queria aquilo, mas tratou de
obedecer, pois Juviks tinha bastante prestígio com Yawrinke, seu superior. Após fazer esse
pedido, Juviks foi até o compartimento traseiro direito da nave, verificar os prisioneiros.
Olhava para os caracoleses, e sentia-se com uma sensação de dever cumprido, uma espécie
de honra que mesmo seres cruéis como ele carregavam consigo. Mas ao mesmo tempo, de
certo modo ele mantinha consigo, por mais que lutasse para não admitir, um estranho
sentimento de piedade pelo pequeno Jibiu, que estava ali entre eles.
Esse é só uma criança. Eu deveria devolve-lo a 8-P depois, mas... Pensando bem,
ele é só um mutante deformado e infeliz. Poderia abreviar seu sofrimento com uma morte
rápida, e abandonar seu corpo para ser sepultado nas areias do grande deserto , ele
pensava, e seus pensamentos não paravam por aí. É uma pena eu ter sido chamado para
executar esses jovens antes que chegassem ao seu desenvolvimento máximo. Seria uma
briga interessante se pudesse enfrenta-los depois que já fossem completamente maduros
-Runshnker, veja o que achei com o caracolês!
a voz forte de Volty ecoou pelo ar
de repente, cortando os pensamentos de Juviks pelo meio. Ele sempre ficava furioso quando
algo não deixava sua mente trabalhar até o final. Volty trazia em suas mão um cordão de
prata, com um círculo preso a ele, onde estava gravada a inscrição JL . Esse era um cordão
que Léo sempre levava ao pescoço, por baixo da blusa.
- Me dê isso aqui! disse Juviks, arrancando o cordão das mãos de Volty.
- Hei, espere, eu ia ficar com ele!
-Cale-se inútil ! Juviks ordenou, com um quase rosnado, como se fosse o líder
da equipe, despertando uma estranha raiva em Volty. Este teve vontade agredi-lo, mas
conteve-se. Mesmo um Z-9 tinha certas reservas quando o assunto era o batedor Juviks.
Juviks, uma vez com o cordão em suas mãos, passou a olha-lo minuciosamente,
reparando em cada detalhe de sua confecção, de seu auto-relevo... Aquela inscrição
definitivamente lhe remetia a algo de seu passado, algo que ele precisava
desesperadamente descobrir.
Não pode ser , ele pensou, colocando a mão sobre a testa, e depois esfregando toda
a cabeça, com se tentasse refrescar a sua mente, pois uma enorme agitação tomava conta
dela. Quando viram Juviks na entrada da cela, Sakura, Lublizo, Máik, Bibi, Léo, Salina, Jibiu,
Víni, Laísa e Slink se assustaram, e mais ainda quando ele desligou o campo de força, e
mostrando que estava armado, foi entrando no local.
-Se algum de vocês tentar algo, eu não hesitarei em atirar! disse ele, impondo um
terror psicológico aos prisioneiros. Em seguida, apontou para Léo
Você, caracolês, venha
até aqui!
-Eu sou humano, não caracolês!
-Isso não me interessa! Eu apenas mandei vir.E rápido, inútil!
Sem querer provocar mais o inimigo,que estava armado e parecia estar nervoso, Léo
obedeceu. Juviks e ele saíram da cela, e em seguida ele apertou novamente o botão que
ligava o campo de força.
-Como você o conseguiu ?
-Ah, então você que pegou ele ?
Léo pôs a mão por dentro de sua blusa, e então
espantou-se, pois ainda não tinha dado pela falta do objeto - Isso era da minha mãe, e tinha
sido do meu avô, pai dela. Ela me deu isso a muitos anos.
-E ela disse quem foi que fez esse cordão ?
-Não, ela só disse que era do pai dela, mais nada!
129
-O nome Jozé Leandro não te diz nada ?
-Não, não conheço esse!
-Droga! Você pode ser a chave para o mistério que venho tentando solucionar
durante toda a minha vida! - Juviks ficou totalmente desnorteado com a constatação de que
uma coisa tão importante sem querer estivesse agora diante de seus olhos.
Como pode, algo que eu persegui durante todos anos, e eu encontro agora, quando
menos esperava, quando não estava procurando. Mas pensando bem, vou demorar um
tempo para arrancar tudo desse garoto, e se... E se ele for levado para a execução, então
esse segredo vai se perder com ele!
Atormentado pela dúvida, Juviks apenas mandou que Léo voltasse para a cela, e em
seguida a fechou de novo. Ele queria apenas ter tempo para pensar o que fazer. Devo
cumprir minha missão e entrega-los aos soldados de Zeelish, ou devo mantê-los vivos para
tentar solucionar esse mistério de uma vez ?
-Pousamos no deserto de Tutwot Wayt, bem onde o senhor pediu avisou Runshnker,
sem sair da frente do painel de comando. Juviks acenou com a cabeça e apertou um botão
na parede, fazendo com que se abrisse uma porta na lateral da nave, por onde uma rampa
desceu até o chão. Ao descer por ela, Juviks viu que ainda era noite naquela parte de
Zeelish. Alta madrugada.Diante de seus olhos, ele podia ver uma visão magnífica da noite
zeelishiana. Chuvas de meteoros, uma luz rosada decorrente de reações químicas entre
tantos produtos que as indústrias lançavam na atmosfera todo dia, estações espaciais que
se espalhavam pelos céus, pequenas naves que faziam suas acrobacias aéreas, parte do
treinamento da Espaçonáutica. E ao longe, era possível ver as vezes algumas tempestades
de areia também, ou um ou outro meteorito se chocando contra o solo.
A noite aqui no deserto lembra muito as noites que eu passava no terraço do castelo
Juvianer, em dias de grandes festas. A diferença é que aqui as noites são frias, e lá, mesmo
a noite era bastante quente , Juviks divagou por um momento, lembrando-se de um
distante passado, mas essas lembranças logo sumiram de sua mente. Mas que importa
isso? O Universo é o meu lar. Eu posso ser o senhor disto tudo! Eduardo vive preso dentro
de seus castelos, e morre de medo só de sair do sistema planetário. Ele jamais retornou a
Caracówl, depois de fugir de lá em 2090, quando eu nem mesmo era nascido. E eu diversas
vezes já passeei por aquele planeta asqueroso. Meu senhor Herr Reich me fornece tudo o
que eu preciso, e na maior parte do tempo, posso fazer o que eu quiser. Posso desfrutar da
minha força o tempo todo, e ele só é forte com um exército de bilhões de mutantes burros e
alguns super-guerreiros como eu. Se ele tivesse que enfrentar esses adolescentes sozinhos,
ele teria levado uma surra! , Juviks divertia-se só de imaginar a situação.
-Do que está rindo, senhor Juviks ? perguntou Runshnker, ao se aproximar.
-Não é da sua conta. Vá dormir, inútil! o elamiano respondeu grosseiramente.
-Me desculpe, senhor, mas também não consigo dormir mais, então pensei que...
-Pensou errado! Juviks passou a ficar sisudo, mal-humorado. Virou-se então para a
nave, ainda com a porta aberta, e chamou os samambers.
-Hei, vocês aí! Venham cá! Juviks chamava, aos berros, fazendo sua voz ecoar por
todas as dunas, sendo prontamente obedecido
Estão vendo aquele ponto distante ?
Juviks apontou para o norte, para a direção que estava em frente à nave.
-Aquilo ali é a Escola de Treinamento Militar de Tutwot wayt. Deve ficar a uns 10 km
daqui. É para lá que vocês devem levar aquele garoto que está lá atrás, na cela. Coloquem
um agasalho sobre seu corpo e levem-no até lá. Digam aos oficiais que ele foi recomendado
por Juviks, capitão reformado do batalhão Especial Z-9. Mesmo ele sendo um mutante,
tenho esperanças que um dia se torne um grande e impiedoso guerreiro, como eu sou.
130
Juviks então tirou do bolso um papel e uma caneta, e escreveu detalhadamente tudo aquilo
que tinha acabado de falar, pois se lembrou então que os samambers não falavam.
Tomem, entreguem isso a eles. Vão, rápido!
-Não é melhor nós irmos até lá com a nave logo, senhor ? Runshnker se intrometeu
novamente.
-Negativo! Juviks logo descartou a idéia.
Se ele soubesse como odeio aquele lugar e todos aqueles abutres. Mas depois que
eu me tornei um Z-9 e assassinei o antigo diretor da escola, todos hoje em dia me temem
profundamente. Quem sabe isso não se repita com essa criança . Talvez um dia ele me
odeie também por manda-lo praquele lugar. E quem sabe ele queira até me matar por isso,
mas vai estar tão forte, que talvez eu tenha um inimigo altura.
Os dois samambers trataram de obedecer às ordens, indo à cela onde estavam os
prisioneiros, sendo logo parados por Volty.
-O que vão fazer lá atrás ? ele perguntou, e um dos samambers logo mostrou-lhe o
bilhete escrito por Juviks.
-Então Juviks quer que a sua história se repita. É nisso que dá nunca ter tido filhos.
Pois bem, vão então e cumpram sua ordem
disse Volty, se dirigindo então para ir falar
com o mercenário elamiano. Ao se aproximarem da cela, os samambers viram todos os
prisioneiros dormindo, e não tiveram dúvidas em desligar o campo de força que os matinha
presos lá dentro. Ainda do lado de fora, um deles esticou seus tentáculos até Jibiu e o
envolveu, e então começou a arrastá-lo para fora.O garoto acordou assustado.
-Hei, mamãe, amigos! Eles estão me levando, socorro!
Salina acordou no mesmo instante, e começou a sacudir Máik, para que ele acordasse
também.
-Máik, Máik, acorde, estão pegando o meu filho! gritava ela. O garoto na verdade já
estava acordado, mas teve sangue frio suficiente para fingir que ainda dormia. Então Salina
avançou sobre o samamber que o puxava, mas foi golpeada no rosto por um de seus
tentáculos, fazendo a cair no chão, sobre Sakura e Lublizo, que acordaram assustados no
mesmo instante. Volty, que nesse instante descia a rampa da nave, voltou para dentro
novamente, a tempo de ver a hora em que Máik e Víni, subitamente, levantaram-se e num
rápido impulso saíram da cela, antes que os samambers pudessem novamente acionar o
campo de força.
-Desgraçado, solta ele!
gritou Máik, golpeando o inimigo na barriga, ao mesmo
tempo em que Víni, também furioso, acertava um chute no outro samamber, lançando-o na
direção da porta da nave, fazendo-o empurrar Volty pela rampa abaixo, até os dois caírem
na areia do deserto.
Juviks e Runshnker observavam o deserto, e ao virarem-se para trás, viram o que
acontecia, correndo imediatamente de volta à nave. Nesse instante, Máik rolava no chão
com o samamber que mantinha Jibiu preso, e em seguida, recebeu a ajuda de Víni, até que
o inimigo soltasse o garoto. Jibiu, uma vez solto, muito espertamente correu de volta a sua
cela, onde estava a sua mãe.
Slink foi quem não teve dúvidas quanto ao que fazer. Correu para o painel de
controle da nave, enquanto Víni e Máik, após terem colocado o samamber desacordado,
seguraram o seu corpo e foram até a porta da nave.
-Peguem eles! - gritava Juviks, que só agora percebia a gravidade da situação,
enquanto, junto com Volty, Runshnker e o outro samamber, subia correndo a rampa da
Zeel Okrawan. Quando estavam na metade, Máik e Víni atiraram em sua direção o
samamber que estava com eles. Juviks deu um impulso, desviando do samamber e saltando
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na direção da porta, mas já era tarde, pois Slink já havia acionado o fechamento
automático. Juviks apenas deu de cara com a porta já se fechando, e inconformado,
começou a soca-la.
-Abram! Abram essa porta ou eu vou arromba-la! - ele gritava, tremendamente
furioso. O momento foi de euforia para os caracoleses, pois agora eles estavam no controle,
enquanto os inimigos, pegos de surpresa, esbravejavam.
-Vamos nos esconder! - Ordenou Juviks
Aquele mutante desgraçado sabe pilotar
essa nave. Ele vai nos atacar!
pensava o ex-capitão Z-9. Logo ele avistou um buraco na
areia, e correu para lá, onde se escondeu, juntamente com os outros.
Mas o seu medo não se concretizou. Uma vez no controle da nave, os caracoleses
nem se preocuparam em elimina-los. Só pensavam numa única coisa.
-Slink Sakura chamou o mutante, que estava sentado agora em gente ao painel de
controle Você sabe como podemos ir até o Estádio Imperial resgatar a Luibla ?
-Se eu fosse vocês, tentaria voltar agora para Caracówl, enquanto há tempo.
Estamos com uma nave Zeel Okrawan, o comando imperial ainda não sabe que estamos
com ela, nós podemos passar livremente sair do planeta e irmos para onde quisermos, e
ninguém irá nos impedir. disse Slink, mas ele já previa que sua idéia não
seria aceita. Mas como eu sei que vocês nem sequer pensarão nessa hipótese, eu já lhes
respondo que há sim um meio de salvar a caracolesa que está presa na cidade imperial.
-Então, toca pra lá, comandante! disse Máik, encerrando a conversa.
Ainda entocados num buraco no deserto, os Z-9 viam a sua nave novamente levantar
vôo, e sumindo nos céus. Mas não para cima, tentando sair do planeta, e sim rumando na
direção da cidade imperial.
-Esses malucos vão tentar resgatar a companheira deles! Sabem que não há como,
mas vão tentar mesmo assim. Que soldados tão tolos, e ao mesmo tempo tão fantásticos
são eles! dizia Juviks consigo mesmo, num misto de raiva e admiração.
-E o que faremos senhor ? perguntou Runshnker.
-A única opção que nos restou. Vamos caminhar até o Centro de Treinamento militar,
e pegar uma nave emprestada com eles.
-Eles nos emprestarão ?
-Com o pavor que sentem por mim, com certeza sim. De lá, eu irei até a cidade
Imperial e pegarei novamente os inimigos.
-E nós ?
-Vocês ficarão aqui. Não quero mais esse bando de idiotas atrás de mim. E se
ousarem me desobedecer, espalharei para todos os militares o modo como vocês foram
derrotados por esses garotos lá em 8-P. Juviks ameaçou, tocando juntamente no orgulho
daqueles homens, aquilo que mais poderia mexer com a mente de um soldado Z-9.
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18 - A Execução
Na cidade Imperial de Zeelish, eram por volta de 17 horas, quando uma multidão
começava a se reunir num enorme estádio esportivo que havia sido requisitado ao Zack FC
pelo governo, e ficava bem no centro da cidade. Havia mais ou menos 30.000 pessoas, de
um total de 230.000 que eram esperadas, todas ansiosas para ver aquilo que era
considerado o maior espetáculo do Império. Próximo a uma das câmeras que filmava o
evento, estava o Coronel Yawrinke, líder dos Z-9, e outros integrantes da equipe. Eles
esperavam ansiosos pelo seu momento de vingança, e esperavam também por Runshnker e
Volty, que haviam dito que logo estariam lá. Mas desde que retornaram ao Planeta Zeelish,
estes ainda não tinham dado notícias.
-Localizamos a nave deles! Ela está passando agora pela região de Otering, e se
dirigindo para cá. Chegarão aqui cerca de uma hora antes do início da cerimônia!
-Ótimo! Obrigado pela informação! - Yawrinke nem suspeitava era que a nave tinha
sido roubada pelos caracoleses, que a essa altura, em seu interior, pensavam num jeito de
passarem pela segurança zeelishiana. Enquanto isso, dentro da nave, que era pilotada pelo
mutante Slink, Sakura e seus amigos discutiam sobre como fariam a operação de
resgate.Slink então decidiu dar a sua opinião:
-Alguém vai ter que ficar aqui para controlar a nave, enquanto os outros entram no
estádio, como simples espectadores. Enquanto isso, quem estiver controlando a nave
passará com ela por cima do estádio e lançará o raio trator.Nesse momento, vocês devem
correr para o centro da arena e tentar libertar sua companheira, e em seguida correrem na
direção do raio!
-É um bom plano, mas acha que vão nos deixar entrar no estádio ? Não seremos
reconhecidos ?
-Eu acredito que não, pois embora vocês fossem prisioneiros em 8-P, os soldados
daqui não têm nenhuma informação sobre vocês, nem nenhuma ordem para captura-los.
-Seria bom se a gente tivesse armas! Máik murmurou, e nem bem ele terminou de
dizer isso, Slink pôs a mão num compartimento abaixo do painel central, e tirou de lá 5 rifles
Crisaller.
-Eu irei com vocês, e entrarei com elas no estádio. Como eu sou um soldado
mutante, não precisarei passar por nenhum sistema de detecção. Uma vez lá dentro, eu lhes
entregarei as suas armas, e todos nós poderemos agir.
-Mas Slink, se você for lá com a gente, quem vai comandar a nave ?
-Eu ensinarei para o garoto azul. ele respondeu, se referindo a Lublizo Ele ficará
aqui e a controlará.
-Eu ?
-Tem outro azul aqui ? Máik perguntou.
-Deve ser você! Slink insistiu - Você é da mesma raça da caracolesa capturada. Os
outros todos são humanos, passarão tranqüilamente pela segurança. Mas se você entrar no
estádio a segurança pode desconfiar. É melhor que você fique aqui, controlando a nave!
-E Laísa, dessa vez é bom você ficar dentro da nave Máik pediu eu sei que você é
uma grande guerreira, pode lutar de igual pra igual com a gente, já provou isso pra nós,
mas eu estou vendo que você ainda não se recuperou totalmente da briga contra os Z-9.
-Está certo
ela concordou de imediato. Aprendera uma vez com Luibla que só
deveria ir a luta aquele que estivesse confiante de que poderia vencer, e ela sabia que
naquele momento não estava preparada para aquilo, não estava realmente em seu melhor
estado físico e emocional, por isso concordou em ficar.
Então ficou acertado que iriam participar da Operação Resgate apenas Víni, Máik,
Sakura, Léo e Slink. Lublizo pilotaria a nave temporariamente, e Laísa, Bibi, Salina e Jibiu
esperariam lá com ele. A paisagem, que podia ser observada lá do alto, pelas janelas, ia se
modificando cada vez mais. Conforme se aproximavam da sede do Império, regiões
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desérticas e cobertas por vastos campos iam dando lugar a Gigalópoles, com prédios de
mais de 200 metros de altura, de arquitetura totalmente diferente da caracolesa.
-Galera, só uma coisa: mesmo que a gente consiga libertar a Luibla, talvez não dê
pra fugir do planeta, não é mesmo ?
-Tem razão, caracolês! Isso é uma operação de alto risco.A defesa planetária pode
mandar naves para nos abaterem.
-Então, não seria melhor a gente deixar a Salina e o Jibiu aqui ?
disse Máik,
deixando todos surpresos com a sua idéia.
-Olhem só, a Salina é zeelishiana, ela agora está em casa. Se a deixarmos aqui, ela
não vai ser presa novamente. Pode ficar morando com a família dela de novo.
-Não!
Salina protestou na mesma hora, correndo em direção de Máik e o
abraçando.
-Graças a vocês eu consegui escapar daquela prisão. Eu vou aonde vocês forem!
-E se a gente não conseguir ?
-Vocês podem tudo, vocês são mágicos! Vale a pena morrer tentando, não ? Máik, eu
vi vocês fazerem coisas que eu nunca imaginei que alguém pudesse fazer. Se Caracówl for
tudo isso que vocês dizem, eu acho que meu filho merece uma chance de conhece-lo!
disse ela, fazendo Máik pelo o menos tentar concordar. Ele ainda achava aquilo um risco
desnecessário para ela, mas como a garota insistia, não pôde negar.
Slink então começou a mexer no computador de bordo, e se conectou à rede de
computadores do Império, uma espécie de Enterwave local. Como era apenas um soldado
de laboratório, ele não tinha muita experiência naquilo, mas sabia o básico sobre
Informática. Demorou um pouco, mas depois de uma meia hora Slink finalmente conseguiu
fazer um download da planta da Cidade Imperial de Zeelish. Logo, ele tinha um arquivo
mostrando detalhes da cidade, como o local onde ficava o Estádio Imperial Zack Winter,
além de pontos de defesa do império, como postos de guarda, que poderiam intercepta-los e
pôr o seu plano em risco. Enquanto isso Slink também foi explicando para Lublizo como
fazer para pilotar a nave e como acionar seus mecanismos.O caracolês ia pegando o jeito
rápido, mas se mostrava ainda um pouco inseguro.
Logo, eles chegaram na cidade Imperial, com seus prédios bastante uniformes: a
maioria compridos, com algumas abóbadas de fibra de carbono recobrindo-os. Eles eram de
mais de 300 metros de altura, feitos de blocos compactos de pedras e metal
cuidadosamente encaixados uns nos outros. Seus revestimentos eram de cores variadas,
mas sempre escuras, como verde musgo ou roxo, e por toda parte havia letreiros digitais e
algumas luzes acesas, mesmo que ainda não houvesse escurecido totalmente. Lá embaixo,
as ruas fervilhavam de gente.
Slink guiava a nave a uma altura maior que a que a maioria dos carros voadores
estavam. Ele a levou para o topo de um prédio, e pousou-a parcialmente em sua abóbada.
Uma parte da nave ficou sobre o nada, ideal para que fosse de lá disparado o raio
transportador até o chão, para que os seis membros da Operação Resgate pudessem descer
em segurança daquela altura.
Na parte de trás da nave, havia um baú cheio de roupas tipicamente zeelishianas:
para os homens, uma espécie de camisa larga feita de um tecido muito fino, mangas
compridas e um adereço especial, além de uma calça pesada, feita de algo que parecia ser
algum tipo de couro. De roupas femininas, havia um vestido prateado comprido, com uns
detalhes cor-de-rosa, feito de um material parecido com o da camisa masculina. No baú
existiam várias roupas daquelas. Víni, Máik, Léo e Sakura vestiram aquelas roupas mesmo
por cima das suas, e tomaram o cuidado de guardar seus tradutores nos bolsos, para não
chamarem a atenção de ninguém. Slink guardou consigo todos os rifles, colocando-os no
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meio de sua armadura. Enquanto Lublizo se preparava para acionar o mecanismo de
transporte, Víni pensou num último aviso:
-Vamos fazer assim, quando atacarmos, vamos fazer vários disparos pro alto.
-Certo, quando vários lasers puderem ser vistos daqui, eu irei atrás de vocês! disse
Lublizo, olhando pela nave para o estádio, que estava a cerca de uns 500 metros dali.
-Certo! disse Máik.
-Sakura, eu queria ir com você, pra te proteger, mas o Slink me proibiu. Então por
favor, fique aqui comigo! Lublizo pediu.
-Não, Lublizo, me deixe ir! Preciso fazer isso. Eles precisam de mim, a Luibla precisa
de mim. E eu preciso de mim. Minha consciência diz que eu devo ir, e que vou retornar bem.
Não se preocupe! ela disse, com um certo nervosismo, mas com um largo e bonito sorriso,
antes de dar-lhe um último beijo antes da ação mais arriscada de sua vida. Então, todo o
grupo se posicionou na cápsula de lançamento, e lá foram eles, sendo transportados pelo
raio azulado que saía de baixo da nave.
Uma vez no chão da poluída e caótica Cidade Imperial, o grupo dos caracoleses foi
caminhando ainda apressadamente, devidamente disfarçados de zeelishianos comuns, tendo
cuidado para agirem do jeito mais normal possível, para os padrões zeelishianos. Em pouco
tempo, eles sentiram os efeitos de uma gravidade e pressão atmosférica maior que a de 8P, que por sua vez já era um pouco maior que a de Caracówl. Sentiam-se um pouco mais
pesados, mas Máik e Víni já estavam acostumados, pois várias vezes treinaram artes
marciais em câmaras que simulavam aquelas condições.
Ainda restava cerca de meia hora para o início das execuções, e o estádio já estava
lotado. Felizmente, o grupo todo conseguiu encontrar ainda cinco lugares vagos, ficando
todos devidamente acomodados. Não era um lugar ruim, pois dali podiam ter uma boa visão
de tudo o que acontecia. Slink então, discretamente, entregou as armas para os
adolescentes. Estes ficaram conversando por alguns instantes, enquanto observavam cada
ponto do lugar.
-O que mais acontece nesse estádio além de execuções públicas ? Léo perguntou a
Slink.
-Alguns eventos esportivos
-Que tipo de eventos ?
-Isso eu não sei lhe informar. Melhor perguntar pra Salina mais tarde. Ela já foi uma
cidadã zeelishiana, com certeza vai saber responder.
-Espero mesmo que a gente tenha chance de perguntar isso pra ela depois!
A execução estava atrasada em alguns minutos, tudo porque os zeelishianos
esperavam que chegassem os oficiais Z-9 que deveriam estar vindo de 8-P. Mas eles não
chegavam. O público começava a ficar impaciente, e as câmeras já começavam a
transmissão do evento para uma emissora local.
-E então, Yawrinke, seus soldados vão chegar ou não vão ? perguntou um homem
de pele clara, com uma espécie de farda azul-marinho, com várias condecorações
espalhadas e inscrições com o brasão de Zeelish espalhadas por ela, e no seu capacete.
-Comece então!
Yawrinke autorizou o capitão Bosch, que iniciasse a cerimônia.
Bosch era o militar responsável por conduzir as execuções de possíveis inimigos do Estado.
De um lado do campo, estavam vinte samambers. De outro, vinte soldados do tipo
ZWXK. E de uma das laterais, vieram sendo trazidos vários prisioneiros: um homem de pele
morena, com um fino bigode, olhos amendoados, cabelo vindo na altura do ombro e a barba
por fazer, talvez porque não tivesse podido faze-la realmente; um garoto moreno, tendo por
volta de 15 anos; e quatro mulheres, uma tendo talvez uns 40 anos, também morena, de
corpo farto, olhos grandes e castanhos e cabelo preto ondulado; e as outras duas tinham
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talvez uns 19 e vinte e poucos anos, e tinham as feições parecidas com as da primeira
mulher e com a do homem. A última das quatro mulheres, a única que não era humana, era
Luibla. Com exceção da caracolesa, todos os outros tinham a cidadania zeelishiana, mas
eram acusados de conspirarem contra o império. Na verdade, o único que realmente havia
conspirado era o pai daquela família, mas às vezes as penas eram transferidas também para
seus familiares mais próximos. Todos estavam amarrados nos braços e pernas, sendo
conduzidos cada um por dois soldados ZWXK-04, até chegarem no centro do campo, onde
foram amarrados à hastes de ferro que ali tinham sido colocadas.
O capitão Bosch acompanhava tudo das laterais, e dava as ordens para os soldados.
Havia um narrador, que lembrava muito o narrador da KVC, em Caracówl, inclusive na voz,
porém este falava em Zeelishiano, e sem seus tradutores, ninguém ali, exceto Slink,
entendia uma só palavra. Uma bandeira do Império foi hasteada num dos cantos, e o Hino
do Império de Zeelish começou a ser tocado. A multidão toda se levantou, e começou a
cantar a melodia. Slink falou algo para eles num volume bem baixo, e eles não entenderam
nada do que este disse, pois ainda não dominavam bem o Zeelishiano.
-Jux rae i nba ueit a z valadãgy! É melhor vocês cantarem! You should sing! Sdhemodho akarin- dhin! - Slink disse, forçando para resgatar em sua memória o pouco que sabia
sobre aqueles idiomas, uma vez que até então não sabia a língua original falada por aqueles
jovens humanos de Caracówl.
-Mas eu não sei cantar isso!
disse Máik, que se questionava como um simples
soldado mutante seria tão bem instruído assim, a ponto de ter conhecimentos básicos de
várias línguas, coisa que muitos cidadãos zeelishianos, talvez por falta de interesse mesmo,
pareciam não os ter.
-Finja! Slink insitiu. E ele tinha razão em insistir tanto, porque qualquer ali que não
estivesse cantando seria um suspeito.
Oh grande Zeelish!
Os teus servos se reúnem
para te exaltar
Com a espada em punho
O Crisaller nas mãos
E a força de nossa tecnologia
O teu poder ao Universo levaremos
Derramemos o sangue do inimigo
E acabemos com os impuros para sempre
Oh Majestoso Zeelish
Que o céu de Tutwot wayt
que a todos encanta
Traga a força a teu povo
Para resistir às adversidades
E o poder esteja com Eduardo
Nosso imperador vitorioso
Planeta incomparável
Império invencível
Que a sua glória se espalhe pelo infinito!
Após o Hino Imperial ser tocado, todos se sentaram novamente, e aberturas
começaram a aparecer no chão do campo, por onde, através de alçapões, iam subindo
vários objetos. Foi montado então um circo dos horrores de fazer inveja aos humanos do
período conhecido como Idade Média de seu planeta original. Mesmo no meio daquela
multidão, Máik, em determinado instante, não resistiu a curiosidade de escutar o que era
dito, e colocou novamente o seu tradutor.
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-E então vamos começar a nossa festa!
gritava o narrador - Nosso imperador foi
desafiado por esses seres perversos que hoje executaremos: Odail Zilkwin, e sua mulher
Mariya, seu filho Zelshu e suas filhas Shumin e Shunãy. O Nosso querido Imperador, amado,
idolatrado, salve, salve! Nosso ilustríssimo, digníssimo, excelentíssimo imperador, que nos
dá a vida, que nos dá proteção, teve o seu poder contestado por este homem. Agora, ele e
sua família sentirão o seu poder. Vamos mostrar a todos os planetas do Império, o que
acontece àqueles que ousam desafiar nosso mui amado imperador Eduardo! Ah, não poderia
me esquecer! Aproveitando que estamos em guerra, também temos uma caracolesa
capturada esta semana na Plataforma Ajdapri. Essa caracolesa é uma oficial daqueles povos
bastardos! Ela tentou humilhar nossa tropa de elite Z-9 a um ano. Mas vamos deixa-la por
último. Começaremos com a filha do conspirador.
Então, eles pegaram a mais jovem entre as prisioneiras, e o narrador então começou
a falar sobre ela.
-Essa é Shunãy Zilkwin, filha desse maldito conspirador! O que devemos fazer a ela ?
Joga-la no moedor de carne gigante ? Espanca-la até a morte, joga-la no tonel de arnacs ?
-Arnacs! Arnacs! gritava a maioria das pessoas.
-Vocês pediram! Vamos lá, soldados!
Os Soldados então começaram a arrastar Shunãy na direção do tonel de vidro onde
estavam os tais arnacs. Arnacs eram insetos carnívoros criados em laboratório, capazes de
arrancar vários pedaços de uma pessoa e reduzi-la a um monte de ossos em segundos.
Vendo aquilo, os caracoleses estavam muito assustado com o tamanho da maldade daquelas
pessoas. O próprio Juviks perto daquilo parecia um santo.
-Vamos esperar que isso acabe para podermos resgatar a sua amiga disse Slink.
-De jeito nenhum, vamos atacar agora! Máik levantou-se, furioso.
-Esperem! - disse Víni - Eu sei como fazer tudo! o garoto começou a se concentrar,
e estendeu sua mão direita na direção do tonel de vidro, onde estavam todos os insetos.
-Saiam! Saiam!
repetia Víni, enquanto os tais arnacs começaram a subir uns nos
outros, até que chegaram ao topo do tonel e começarem a sair.
-O que estão fazendo ? Não deixem esses bichos sair! gritava o capitão, assustado
com o imprevisto que estava acontecendo. Era tarde demais, vários e vários arnacs já
começavam a andar pela arena. Os arnacs eram animais perigosos, pois atacavam tudo que
encontrassem pela frente e se mexesse. Mas aqueles arnacs pareciam inteligentes, pois só
corriam na direção dos soldados zeelishianos, que tentavam revidar com pisões. Mas eram
muitos arnacs, que agiam como se estivessem sendo controlados. Eles nada fizeram aos
prisioneiros, nem foram em sua direção. Os dois soldados que seguravam Shunãy estavam
entre os primeiros a serem atacados, e enquanto os dois tentavam se livrar das mordidas
dos perigosos animais, a garota livrou-se das mãos deles e correu.
-Vai, foge! Foge daqui! gritava Odaeho, seu pai, ainda preso no meio da arena, mas
esperançoso de que ao menos alguém de sua família se salvasse. Nesse momento Luibla,
que estava ao seu lado, amarrada a um dos ferros, e com sua roupa de oficial da Ônuc toda
surrada, aos farrapos, e uma aparência de mendiga, olhou para a arquibancada, e
reconheceu, em meio a vestes tipicamente zeelishianas, os seus amigos.
-Não é possível ?! Então... Eles vieram!
Enquanto os soldados zeelishianos se desdobravam para acabar com todos os arnacs,
os caracoleses aproveitaram o momento para invadir a arena. Todos colocaram seus
tradutores de novo naquele momento.
-É agora, vamos! - Máik disparou para o alto, na direção da abertura do estádio,
fazendo com que os disparos de sua armas pudessem ser vistos no céu, dando a senha para
que Lublizo fosse resgata-los. Ao ver os disparos lasers, o povo que estava nas
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arquibancadas entrou em pânico, pensando num ataque terrorista. Rapidamente eles
abandonaram as cadeiras e correram para as saídas, enquanto os caracoleses corriam para
o meio da arena, atirando nos soldados imperiais.
Slink logo sacou uma granada que ele guardava consigo desde 8-P, e com força,
atirou-a para o outro lado da arena, atingindo de uma só vez oito samambers. Enquanto
isso, 10 outros samambers eram derrubados pelo ataque dos vorazes arnacs. Sakura correu
na frente na direção dos prisioneiros, enquanto Máik, Víni, Slink e Léo davam-lhe cobertura,
abatendo os soldados inimigos. Eles tinham a vantagem, pois os soldados mutantes estavam
armados apenas com pistolas, enquanto eles tinham rifles, que conseguiam cerca de 10
disparos por segundo, mais que o triplo dos inimigos.
E o que era um trunfo a mais para os caracoleses era que a maioria dos soldados ali
presentes, pelo o menos os da espécie samamber, não eram ideais para todas as situações.
Eram soldados burros, que só sabem agir por ordens específicas, por isso não estavam
preparados para um eventual ataque daquela maneira, algo que nunca ocorrera em 50 anos.
A segurança zeelishiana, graças a Slink, fora driblada.
-Sakura, não sabem como estou feliz em ver vocês!
gritava Luibla, emocionada,
mesmo em meio a toda aquela confusão. Sakura, chegando até ela, conseguiu soltá-la, e
em seguida as duas foram libertando, um por um, todos os outros prisioneiros. Mas faltava
ainda saber para onde fugir a partir de agora. Odaeho, uma vez livre, apenas pensou em
correr atrás de sua filha, que havia se escondido num dos corredores de acesso lateral. O
resto de sua família foi atrás dele, pois pensavam que fugindo por ali poderiam sair do
estádio.
-Vamos, Sakura! pedia Luibla - Vamos todos sair daqui! - Ela então gritou o mais
forte que pôde, para que pudesse ser ouvida por seus amigos Hei, eu já estou livre, vamos
embora!
mas não adiantava, os garotos e o soldado mutante que estava com eles
permaneciam correndo de um lado pro outro, tentando fugir dos disparos inimigos, e ao
mesmo tempo limpar a arena dos samambers.
-Luibla, o Lublizo está com uma nave, ele vai vir aqui nos resgatar!
explicou
Sakura, deixando Luibla ainda mais confusa.
O Lublizo ??
ela perguntou, muito
espantada.
-Procurem abrigo por agora!
gritou Léo. Nesse momento, havia poucos soldados
zeelishianos ainda de pé. A maioria havia sido derrubada pelos caracoleses, ou havia
recuado junto com o Capitão Bosch, que assustado com o ataque, foi o primeiro a correr
para a saída lateral que estava mais próxima, a oposta da qual Shunãy havia entrado. Ele
estava amedrontado, e mandava que seus soldados também recuassem estrategicamente .
Nas arquibancadas, mais nenhum espectador permanecia presente, todos correram de lá.
Nas ruas ou em suas casas, os zeelishianos estavam perplexos com a mensagem Devido a
problem as t écnicos, est am os fora do ar , exibida pelo canal que a alguns minutos transmitia
a execução. O que teria acontecido ? , era o que todos se perguntavam, mas a verdade é
que a emissora havia sido cuidadosamente tirada do ar no momento em que o ataque
terrorista começou, para não levar pânico à população.
Luibla e Sakura já estavam escondidas no túnel de acesso à arena, que ficava na
lateral, e apenas esperavam Víni, Máik, Léo e Slink chegarem lá também. Ao se
aproximarem, ela pôde sentir uma energia paranormal incrível saindo do corpo de Máik e
Víni.
-Onde é que está o Lublizo ?
Máik se perguntava, desesperado com a demora de
seu amigo. Ele ficou parado na boca do túnel, de onde podia ver todo o estádio, agora
totalmente vazio, e a arena agora cheia de arnacs, que ainda se alimentavam de restos dos
corpos dos soldados mortos, como se fossem abutres. Mas aquilo não permaneceu assim por
muito tempo. Cápsulas redondas muito pequenas foram lançadas da saída do túnel oposto
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ao que os caracoleses estavam, e começaram a espalhar uma fumaça alaranjada entre os
arnacs. Logo, todos eles começaram a enrijecer e a morrer. Era um potente inseticida sem
dúvida. Após isso, mais de 50 soldados, todos do tipo samamber, saíram daquele túnel.
Estavam com o armamento pronto para a guerra, ou seja, armados cada um com dois rifles
Crisaller, iguais àqueles que os caracoleses levavam consigo. O recuo estratégico do general
havia dado tempo para que os zeelishianos se armassem melhor, e mobilizassem mais
pessoal.
-Peguem eles! Eles não podem sair desse estádio. Estão cercados!
ordenava o
Capitão Bosch. Yawrinke e os demais Z-9, bem como outros convidados de honra , não
estavam mais ali com ele. Todos tinham fugido, só ficando Bosch ali por que a segurança do
evento era de sua responsabilidade. Ele seguia em meio aos samambers, Maritchlwando
pela arena, determinado a eliminar o foco de revolta.
-Não vai adiantar ficarmos esperando o Lublizo aqui!
concluiu Víni
Vamos tentar
sair e procurar a nave lá fora!
Todos concordaram com ele que isso seria o melhor a fazer, e então seguiram o
escuro corredor até o final. Correram por uns 20 metros, e viram algumas portas, mas
estavam todas trancadas, e eram impossíveis de serem derrubadas. Ao chegarem no final
do corredor, viram Odaeho e sua família, desesperados, socando o nada, tentando passar
por ali, mas sem conseguir.
-É mais um campo de força concluiu Slink Estamos cercados!
-E agora, o que faremos ?
-Só temos uma coisa a fazer. Vamos voltar pra lá e tentar passar pelos inimigos.
-Mas isso é suicídio!
-Eu avisei desde o início que essa missão seria suicida. Vocês não quiseram me dar
ouvidos
respondeu o mutante, friamente. Naquele instante, eles se viram perdidos, sem
saída, quando no alto, no teto, bem acima de suas cabeças, alguém fazia um furo ali, e em
seguida pulava até onde eles estavam. A altura não era pequena, de modo que o homem
que fazia isso poderia quebrar uma perna nesse ato, mas na verdade ele não caiu direto, ele
veio como se estivesse flutuando, contendo a gravidade, até encostar no chão. Sua presença
não era estranha para Víni, Máik, Slink, Sakura e Léo. Só pela sua aparição, eles sentiram a
morte no ar. Só uma pessoa trazia-lhes aquela estranha sensação.
Ao tocar o chão, o homem olhou rapidamente para os caracoleses, e então virou-se
de costas para eles. Estava coberto com um manto negro, e seu rosto não podia ser
visualizado perfeitamente, mas seu ódio podia ser sentido a distância. Ele então retirou o
manto, e virou-se mais uma vez, e alguns deles confirmaram suas suspeitas. Mais uma vez,
estavam diante de Juviks.
-Caracoleses! Quem vocês pensam que são para querer me enganar ? Juviks falou,
espumando de raiva. Imediatamente, Víni e Máik entraram em posição de combate, e os
outros apontaram-lhe suas armas.
-Eu poderia matar todos vocês antes que apertassem o gatilho! E vocês dois, ô
branqueio e você do cabelo de cuia! Não foi por que aquele idiota os dopou que vocês
perderam lá em 8-P. Eu não pedi para aquele mutante intrometido fazer aquilo. Queria
mostrar a vocês o meu poder! Mas talvez jamais tenha essa oportunidade... disse Juviks,
ouvindo os passos dos samambers se aproximando. Eles vão chegar agora. Mesmo vocês
sendo fortes, eles são muitos e estão muito bem armados. Vão matar todos vocês!
-Não vamos morrer sem lutar! disse Sakura. Nesse instante, um barulho diferente
foi ouvido no meio da arena. Barulho da nave Zeel Okrawan, barulho do raio capturador
sendo disparado. Com certeza Lublizo havia chegado para resgata-los, mas eles estavam
presos ali.
- Corram até lá e fujam logo! Juviks ordenou, autoritário como sempre.
- O que ?
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- É horrível pra mim ter que ajudar meus inimigos, mas no momento vocês podem
ser a resposta para aquilo que eu mais procurei por toda a minha vida! Corram logo, vou
dar-lhes uma chance de escaparem por um tempo! Vou negociar sua fuga.
-Eles podem vir com a gente também ? Sakura então perguntou, pedindo pela vida
dos outros prisioneiros, que seriam executados com Luibla.
-Por mim tanto faz. No dia em que o Império de Zeelish destruir o seu planetinha,
eles vão morrer de qualquer jeito mesmo!
Quando a Zeel Okrawan pilotada por Lublizo posicionou-se sobre o estádio, Bosch,
que já sabia que ela havia sido roubada pelos inimigos, imediatamente mandou que seus
soldados parassem de perseguir os terroristas em terra.
-Vamos atacar primeiro o seu transporte. Fogo naquela nave!
ele ordenou. Os
primeiros disparos então se fizeram todos contra Lublizo, que no painel de controle, ficou
sem saber o que fazer. Slink não o havia ensinado a ativar o campo de força, e a blindagem
dela, apesar de ser forte, não agüentaria muito tempo. Quando o ataque se iniciava, Juviks
apareceu na arena, saindo pela mesma passagem em que os caracoleses haviam entrado.
-Esperem! - ele gritou, e sua voz ecoou por todos os cantos.
-Identifique-se!
-Juviks Veck, antigo capitão do comando especial Z-14! General, peço que não atire
na nave desses invasores, deixe que voltem para o seu planeta!
-O que está sugerindo, capitão ?
-Não posso lhe dizer o porquê, mas tenho fortes motivos para deixar que eles fujam.
-O que ? Cale-se! Infantaria, preparar para atirar! Fogo!
O general ordenou um
novo ataque, fazendo com que Lublizo pensasse em recuar. Ele não sabia o que tinha
acontecido com seus amigos, não conseguia vê-los, então já estava pronto para fugir,
quando viu sua prima Luibla, Sakura, Máik, Víni, Léo, Slink e mais cinco pessoas entrando
na arena, atrás de Juviks.
É uma pena que eu não pude conversar com vocês o suficiente , pensou Juviks. Ao
ver aquele grupo entrando na arena, os samambers novamente pararam de atirar na nave,
e voltaram-se para eles.
-Capitão Juviks, saia da frente dos inimigos, ou serei obrigado a mandar que meus
soldados atirem em você também!
-Eu já disse que é importante para mim que esses inimigos sobrevivam por
enquanto. E não os deixarei morrer, mesmo que tenha que desafiar os seus comandos!
-Desafiaria uma ordem minha ?
-Desafiaria até o Eduardo, se fosse preciso! Minha fidelidade é só para com meu
patrão, o senhor Herr Reich.
-Fogo neles!
ordenou o capitão Bosch, mas antes que os samambers pudessem
fazer qualquer coisa, Juviks passou a fazer uso das inúmeras e fantásticas técnicas de luta
que conhecia, atacando vários dos soldados de Bosch, ao mesmo tempo em que também
atirava neles com uma pistola eletrolaser. Víni e Máik, reconhecendo o esforço de seu
inimigo, correram para combater ao lado dele, enquanto Lublizo, espertamente, arrancou
um pouco mais a nave e posicionou-a bem acima dos outros, acionando o raio trator, e
sugando todos eles para dentro dela.
Ao ver a luz descendo até o campo, Máik e Víni correram até ela. O primeiro
conseguiu, mas o segundo foi capturado pelos tentáculos de um dos samambers, enquanto
estava a caminho.
-Víni!
gritava Máik, sem poder fazer nada, uma vez que já estava dentro da luz
azulada e agora seguia para dentro da nave. Juviks foi tentar ajuda-lo, mas mesmo em meio
a tantos esforços, foi atingido por um laser de raspão na coxa esquerda, e em seguida uma
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vez mais, dessa vez nas costas, na junção com o quadril, caindo bastante ferido. Os
samambers julgaram-no morto e enquanto Víni tinha seu corpo espremido por um deles, os
demais começam a atirar contra a nave.
Não, um poderoso batedor elamiano como eu, um descendente de Júvio Veck, não
pode morrer desse jeito , pensava o cruel guerreiro, enquanto estava caído, e já podia
sentir seu espírito enfraquecendo-se, sua respiração tornar-se ofegante, e ver seu sangue
formar uma pequena poça do lado direito de seu corpo. Num último esforço, Juviks esticou
seu braço e tocou um botão que havia em sua mochila propulsora, fazendo com que ele
rapidamente flutuasse em direção ao teto metálico do estádio. Foi um movimento bastante
rápido, e os samambers, concentrados em tentar destruir a Zeel Okrawan, nem perceberam.
Uma vez lá, Juviks colocou suas mãos no metal que ficava sobre o estádio, e concentrandose, começou a energizá-lo, fazendo-o ganhar uma coloração avermelhada, até ir se
fundindo.
Essa é uma técnica especial que eu aprendi mas usei poucas vezes, por ser muito
perigosa...Mas agora, não há outra escolha!
O pedaço do metal que estava no teto de repente se desprendeu do resto e foi
lançado numa velocidade incrível contra o chão da arena, abrindo uma cratera de cinco
metros de profundidade, arrastando mais de 10 samambers.
-O que é isso ? Pela coroa do imperador!! exclamou o capitão.
Um dos samambers aniquilados pelo disparo era o que estava segurando Víni, que
com isso se libertou e correu na direção da luz azul. Em seguida, a cobertura do estádio
começou a cair. O capitão e outros samambers correram tentando se proteger do
desabamento, mas acabaram sendo atingidos. Juviks também caiu de lá, vindo por cima dos
escombros.
Antes de entrar na luz azul, Víni observou Juviks caído sobre os escombros. Viu que
ainda vinham samambers na direção dele para mata-lo, mas ele não desistia de tentar
energizar mais um pedaço de metal, que estava logo abaixo de seu corpo.Víni ainda viu o
elamiano sorrindo para ele.
- Um dia ainda vamos nos enfrentar de novo, nem que seja na próxima vida,
caracolês! Nesse dia, eu terei mais calma para obriga-los a me darem a resposta que eu
tanto procuro! disse Juviks, parecendo mais estar tendo uma alucinação.
-Juviks, corre!
-E me juntar a vocês ? Jamais, serei seu inimigo até a morte! - foi a última coisa que
Víni pôde ver, antes de chegar à parte de cima da nave.
-O Víni está aqui! Arrancar, Lublizo! disse Máik, ao ver seu amigo em segurança.
Imediatamente, Lublizo arrancou com a nave, que foi flutuando na direção dos céus.
Víni imediatamente correu para a janela, mas nada mais pôde ver da parte interna do
estádio, pois eles já estavam a cerca de quase um quilômetro dali. A última coisa que ele
pôde ver foi uma grande explosão no meio do estádio, seguida pela destruição de uma das
paredes laterais. Em seguida, um grande clarão saiu do interior do estádio. Um clarão tão
forte, que pôde ser visto até mesmo fora da cidade.
Nesse mesmo instante, no Palácio Imperial de Zeelish, uma figura sinistra estava
reunida com vários ministros em uma enorme mesa, num salão com grandes colunas e
paredes prateadas. Numa das pontas dessas mesas, estava um homem de pele parda,
cabelo negro, com fios grossos e ondulados e olhos levemente puxados. Usava óculos de
lentes claras, com uma leve coloração bege, mesmo não tendo nenhum problema de vista.
Um manto negro cobria o seu corpo, e na cabeça ele tinha um capacete azul escuro, com
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um Z verde esculpido em pedras preciosas na frente. Este era o temido imperador
Eduardo. Numa acalorada discussão, ele e seus ministros viam a situação da Espaçonáutica
na guerra contra Caracówl, quando de repente um mensageiro entrou na sala, apressado.
- Ilustríssimo Digníssimo Excelentíssimo Senhor Doutor Imperador Eduardo I, houve
uma rebelião no Estádio Imperial Zack Winter. Caracoleses espiões libertaram vários
prisioneiros e fugiram numa nave Zeel Okrawan roubada.
- Como isso foi acontecer?
- Ainda não sabemos, senhor. Mas a nave está tentando passar pelas defesas.
-Então não percam tempo, acionem todas elas e destruam esses caracoleses
imediatamente, não deixem que fujam!
-Eu tenho uma idéia melhor, senhor! disse Zey Hull, um dos ministros, que estava
relativamente próximo ao imperador - Use uma nave Zeel Trish wan para engolir essa nave
deles, e depois reúna a Espaçonáutica. Poderemos usar esses espiões como escudos.
-Como assim ? perguntou Eduardo, sem saber onde aquele ministro queria chegar.
-Se os caracoleses atirarem na nossa nave, eles matarão pessoas de seu próprio
povo, e ainda por cima militares como eles. Nenhum líder caracolês ousaria fazer isso, pois
vai contra ética deles! Assim será fácil invadirmos o planeta Smoockerr, por exemplo, que é
nosso próximo alvo Zey Hull continuou.
-Grande idéia! Eduardo comemorou tomaremos de uma vez o Planeta Smoockerr,
e em seguida Druuuk. Reúna essa Trish Wan às outras que já estão posicionadas próximas
ao Sistema Ozzy. Expulsaremos de vez os caracoleses da nossa área!
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19 - A Invasão a Smoockerr
-Vocês vieram aqui pra me resgatar...
Luibla estava comovida com os esforços de
seus alunos Como conseguiram ?
-É uma longa história, Luibla! Mas Como você está ? perguntou Laísa, logo que se
deu conta que o resgate havia dado certo. Apesar do aspecto de abandono em que Luibla
estava, tudo parecia estar bem com ela.
Até aqui tudo deu certo! Só espero que a gente continue com essa sorte toda , Víni
pensava. Nem tudo acabou, é verdade, mas o mais incrível é que só conseguimos fugir
graças ao Juviks. Que cara mais arrogante, poderia ter fugido com a gente, mas preferiu
morrer lá . Definitivamente, aquela cena de parte do estádio explodindo não lhe sairia da
mente por muito tempo, e ele sabia bem disso.
Odaeho e sua família colocaram-se num canto da nave, e lá permaneceram, calados,
olhando para os caracoleses ainda com uma certa reserva. Foram instruídos a vida inteira
sobre a periculosidade daqueles povos, e assim como Salina, sempre ouviram pela imprensa
que os caracoleses eram bárbaros terroristas, e no fundo ainda carregavam consigo aquele
preconceito, mas mesmo assim não podiam negar sua gratidão para com eles.
A primeira ação do mutante Slink, logo que voltou, foi correr até o painel de
comando, pedindo a vez a Lublizo para assumir daqui pra frente. O garoto, por sua vez,
então olhou para sua prima Luibla e os outros, ainda sem acreditar no que acabaram de
fazer.
Essa foi talvez a maior operação de fuga já realizada em território do Império de
Zeelish. E foi feita por jovens com a idade do meu filho , Odaeho raciocinava, meio confuso,
encostado na parede da cabine central da nave, com mente cansada, e já quase cochilando.
-Caracoleses, há uma dispensa na parte de trás da nave. Não há muita comida, mas
tem pastilhas com vitaminas, suficientes para todos aqui
disse Slink, enquanto olhava
concentrado para o painel da nave, verificando a todo instante se havia alguma ameaça
próxima
Aquilo não matará a fome de vocês, mas comam umas duas de cada tipo e
saciarão a necessidade que seu corpo têm de energia.
A essa altura, a Zeel Okrawan já estava saindo da atmosfera zeelishiana. Slink
parecia não sentir cansaço ou sono, nem nenhum sinal de fraqueza. Sakura e seus amigos
já estavam a quase 25 horas, ou seja, um dia caracolês, acordados. Estavam mortos de
sono, mas a tensão daquele momento os mantinha de pé. Já Luibla, esta estava a dois dias
caracoleses acordada. Não conseguiu pregar o olho uma só vez em meio às más condições
da prisão. Foi então até a dispensa, pegou um pote cheio das pastilhas e levou-o à parte da
frente da nave, onde ofereceu-as a todos os outros. Comeu algumas também e em seguida
deitou-se num canto da nave. O mesmo fizeram Jibiu, Odaeho e todos os outros.
Salina, a única zeelishiana ainda acordada, estava junto de Máik por todo o tempo.
Morria de medo do que ainda poderia acontecer, ao mesmo tempo em que já sonhava com
uma vida nova, uma vida diferente. Jamais terei outra vez a minha vida de princesa, de
quando estava junto de minha família em Zeelish, mas poderei criar meu filho com
dignidade junto desses caracoleses . Era assim que ela pensava, enquanto aguardava o
término da viagem.
-Tudo vai dar certo, gatinha!
disse Máik, sentando no chão da nave, ao seu lado.
Ele então colocou suavemente o braço por trás dos ombros da garota, e ela encostou sua
cabeça nele. Máik olhava para ela com doçura, de um outro modo, diferente de como olhara
em outras ocasiões para outras garotas, como Laísa ou Mayra. Não, com Salina era algo
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diferente, ele sentia um amor por ela, mas de outro modo. Ele a via como alguém que
precisava do seu carinho e da sua proteção.
-Nessas horas eu sinto uma inveja enorme de você, cara! disse Léo para Máik.
-Por que ?
-Por que você, o Víni e a Laísa vão ser soldados, e vão poder lutar contra Eduardo. Só
de pensar que nós resgatamos a Salina, mas que ainda devem existir milhões de Salinas,
Shunãys e jibius por aí... Só de pensar que é tudo por culpa desse Eduardo!
-É verdade, se eu estivesse frente a frente com ele, eu quebraria todos os ossos
daquele infeliz! Ia bater nele até ele gritar ai em Marronês!
De repente, o tranqüilo Slink começou a ficar bastante assustado.
-Perigo! Uma força está puxando a nossa nave em sua direção!
-Hã, como assim, Slink ?
Léo ,Víni, Sakura e Bibi viraram-se bruscamente para o
painel. Salina também se assustou e levantou-se apressada, sendo seguida por Máik. Todos
então viram o monitor de bordo mostrar a aproximação de uma nave Zeel Trish wan, uma
nave de grande porte, feita para comportar milhares de Zeel Okrawan dentro dela, e usada
especialmente para atacar planetas distantes. Seu formato era quase idêntico, mas ela era
milhares de vezes maior que a nave onde eles estavam. Uma espécie de nave-mãe. Ela era
mais rápida que a Zeel Okrawan, e antes que Slink pudesse fazer algo, ela colocou-se acima
deles, de baixo dela saiu também a mesma luz azulada, o raio trator.
-Vão nos atacar ? Bibi quis saber.
-Não sei...Não estou entendendo...Parece que estão nos sugando!
-Tente fugir! disse Máik para o mutante.
-Não é possível! Estou acionando a força máxima, mas não está adiantando...
Uma pequena passagem se abriu no casco da Zeel Trish wan, e a nave onde estavam
os caracoleses foi sugada por aquele buraco. Após isso, a passagem se fechou, e a Zeel
Okrawan foi parar num hangar, e a luz, que vinha de um dispositivo preso ao teto,
conduziu-a até embaixo de um outro dispositivo bem grande que ficava preso ao chão, e
que gerava um campo magnético até o teto, mantendo-a presa, parada no ar.
-Vamos tentar fugir!
-Não é possível! Um campo magnético está em volta de nossa nave, e não nos deixa
sair. Estamos presos concluiu Slink.
Passaram-se algumas horas, e em Smoockerr, uma reunião de emergência foi
convocada por líderes do planeta inteiro e por oficiais caracoleses e de demais planetas
aliados, que cuidavam da defesa. O incobryidi José, amigo de Luibla, e que a essa altura se
encontrava bastante preocupado por não ter notícias dela, estava presente nessa reunião,
pois ele havia sido chamado para ser o comandante-geral das tropas caracolesas naquele
planeta. A população ainda não havia sido avisada, de modo que estava totalmente
despreparada para enfrentar os invasores do espaço.
Os smoockerranos são uma espécie um tanto parecida fisicamente com os
caracoleses, ao menos na textura e nas cores vivas nas suas peles. No entanto, o número
de raças entre eles é bem reduzido, apenas quatro: os chamados brancos, que na verdade
tinham uma tonalidade meio entre o bege e o creme; os negros, de pele muito escura, bem
mais que a dos negros humanos; os azuis-escuros, uma raça que lembrava muito os
caracoleses de Craytèyryi, como Luibla, porém tinham o rosto musculoso, com traços fortes;
e os azuis-claros, espécie de variação desta última raça. Tirando a cor da pele e alguns
traços do corpo e do rosto, todas estas raças de smoockerranos eram muito semelhantes, e
a exemplo dos caracoleses, também dividiam o seu planeta com humanos. Humanos de
cultura descendente da alemã, e também alguns judeus.
144
Num país conhecido como Oiil, num salão que ficava no maior centro militar do país,
chefes de estado e líderes militares de Caracówl, BCC, Druuuk e do próprio planeta
Smoockerr tentavam encontrar um plano de emergência para combater o ataque zeelishiano
que ameaçava o planeta, e discutir o que fazer diante da terrível guerra que acontecia. Um
homem de cabelo loiro e despenteado, com um enorme topete na frente, usando uma
espécie de terno que parecia ser feito de papel laminado, mas na verdade era de um tecido
fino local, a fritzna, foi o primeiro a se pronunciar. Ele era o general Matthaus Fruhbuckens,
comandante geral das tropas da República de Darson.
-Senhor José, eu ainda me encontro meio perdido diante de toda esta situação
constrangedora. Ainda a pouco não sabia de nada, e agora o caos está espalhado pelo
quadrante. Por favor, me diga o que está havendo ?
-A situação é a seguinte
disse o inc. José, indo direto ao assunto - segundo o
Calendário Caracolês, no dia 12 Altxuubunu, os zeelishianos atacaram nossa base em
Yawribabawk: 50 de nossas naves OPG de porte médio e mais 5000 naves Kraivur
enfrentaram 7 naves Zeel Trish wan e 3000 naves Zeel Okrawan. Saldo: 3281 naves kraivur
e 291 Zeel Okrawan abatidas. Zeelish teve 291 baixas e nós nenhuma, mas perdemos a
base de Yawribabawk. Em breve os zeelishianos invadirão todo o planeta. Poucas horas
depois, sofremos outro ataque em Donugar: 20000 naves OPG e 100000 naves Kraivur
enfrentaram 100 naves Zeel Trish wan e 100000 Zeel Okrawan. Saldo:30000 kraivur, 10000
Zeel Okrawan e 1 Zeel Trish wan abatidas. Baixas caracolesas, nenhuma. E por último,
sofremos mais um ataque em Kwy-Kwy, onde...
-Senhor, isso tudo não vai ajudar. Sabemos que Caracówl perdeu todas as bases
neste quadrante. E sabemos que Smoockerr será o próximo planeta a ser invadido. Só
precisamos saber o que teremos que enfrentar reclamou Tyjhull Bremengkamp, presidente
de Barron, um homem de meia idade e cabelos levemente grisalhos, que parecia ser um
híbrido. Ele usava um pequeno topete também, e de trás de sua cabeça, seus longos
cabelos formavam tranças que iam até pouco abaixo do ombro.
-Tudo bem
disse José, a informação que tenho é a seguinte: hoje, dia 18
Altxuubunu, por volta das 6:00, horário da Zona da Ônuc, a defesa detectou três naves Zeel
trish Wan, ou seja, naves de grande porte, paradas na entrada do sistema.
-Paradas ? disse Laueylan, oficial enviado pelo Planeta BCC para analisar o conflito
Não foi essa a informação que recebi.
-Como assim ? perguntou José.
- Faz mais ou menos uma hora, uma quarta Zeel Trish Wan emergiu do Hiperespaço
e se juntou às demais, a cerca de 150.000 km de nosso planeta, e agora todas elas estão
vindo na nossa direção. É provável que cheguem aqui em menos de uma hora.
-Uma hora ? José se assustou, levando o pânico também a todos os outros líderes.
Mas como eu não fui informado disso ? Uma hora é muito pouco tempo para agirmos!
-Os caracoleses não podem liberar mais naves para nos ajudar ?
-Não há tempo, a maioria de nossa Espaçonáutica está realizando treinamentos em
nosso próprio quadrante, e não há nenhum equipamento Estrada de Kivuwl aqui em
Smoockerr. O mais próximo fica em Druuuk! Meu Deus, acho que subestimei nossos
inimigos! Eu deveria ter pedido mais naves à Caracówl quando tudo isso começou, mas
achei que os zeelishianos não teriam condições de continuar nos atacando. Mas parece que
eles estão querendo nos tomar todos os planetas mesmo, de uma vez só!
-Então acha que Caracówl liberaria mais naves para cá a uma hora dessas ?
-Eu acho que sim, mas o problema não é esse, mas sim que elas não vão chegar à
tempo. Mesmo que eles se apressem, uma hora é muito pouco! Um dia talvez, mas uma
hora não...
-O meu planeta está no meio de uma guerra interna disse Laueylan, um oficial do
Planeta BCC não podemos também mobilizar tropas para defender Smoockerr.
145
-Esse foi o nosso problema, nós sempre contamos com a colaboração de nossos
aliados, e quando a guerra realmente aconteceu, eles não têm condições de nos ajudar
disse Matthaus.
-Me desculpem, a culpa foi minha, não da ÔNUC. Subestimei os inimigos e ... José
tentava concluir seus pensamentos, enquanto tentava visualizar em sua mente a batalha
que em breve aconteceria. Ele sabia que embora os zeelishianos viessem em menor
número, o tamanho das naves inimigas era maior, por isso teriam a vantagem. Vence-los
seria algo muito difícil agora Hei, vocês Smoockerranos não têm nenhuma esquadrilha ?
-Podemos mobiliza-la também, mas são naves de baixa qualidade, nem campo de
força têm. Nossas naves não teriam a menor chance, seria algo quase suicida
disse
Tyjhull.
-Agora temos que arriscar Matthaus socou a mesa em volta da qual estavam.
-Sim, é claro, enquanto as naves de assalto caracolesa são guiadas a distância e as
que são tripuladas logo fogem do campo de batalha à medida que seus campos de força não
são mais suficientes, nós temos que enviar nossos espaçonautas para morrerem lá!
reclamou Tijhull.
-Ora, mas é dever de um militar morrer pela pátria Matthaus insistiu.
-Ele tem razão, Matthaus! Nós de Caracówl nos comprometemos a defender o
planeta, e é isso que faremos. Usem suas naves apenas em último caso, se acharem
necessário. Se nós perdermos e vocês preferirem serem invadidos, aí a decisão é de vocês,
mas... Em todo caso, mobilizem ao menos o canhão laser que vocês tem em volta do
planeta.
-Mas aquilo é uma arma velha, não é usada a anos. Seu tiro máximo chega a 5000
PWs com charge, não fará nem cócegas nos inimigos.
-Que seja, mas pelo o menos usem quando for a hora! Não deixem nada pros
inimigos caso eles tomem o planeta!
-Está bem! Matthaus concordou. Então José pediu licença aos demais.
-Vou até a sala de transmissão me comunicar com as naves caracolesas que estão
patrulhando a entrada do planeta. Darei as instruções para que estejam prontos para a
batalha e pedirei reforços disse José, antes de deixar a reunião.
Enquanto isso, dentro da nave Zeel Okrawan, o grupo de Sakura e seus amigos ainda
não sabia o que aconteceria.
-O que eles estão fazendo ? Laísa perguntava a todo instante, até que recebeu uma
resposta de Slink.
-Acho que sei o que pretendem: usar vocês como escudo pra ganhar tempo na
invasão a Smoockerr!
-Invasão a Smoockerr ??
-Onde fica Smoockerr ? perguntou Bibi.
-Smoockerr fica próximo à Druuuk, a principal base de Caracówl no espaço próximo.
-Quando estávamos em 8-P, eu me recordo que os zeelishianos estavam ganhando a
guerra. Já tinham invadindo todos os planetas do quadrante que têm bases caracolesas e se
dirigiam para o Sistema Ozzy. Mas o que tinha ouvido é que Smoockerr seria mais difícil de
se invadir. Acho que agora que estamos fugindo, eles devem ter mudado de opinião! Ao
invés de resolverem eliminar a Luibla em cerimônia pública, devem estar querendo usa-la
como escudo!
-Desgraçados! Se Caracówl atacar, nós morremos também! disse Léo.
- Vocês acham mesmo que o Governo Caracolês iria arriscar perder um planeta aliado
por causa de um pequeno grupo de cidadãos ?
-Slink, para o Exército da Ônuc, cada vida é importante.
-É realmente interessante este modo de pensar. Eu, como soldado nunca fui
valorizado a esse ponto. Mas sinceramente, acho que seria uma enorme tolice se não
146
atacarem Eduardo dessa vez. Porque se eles deixarem de atacar essa nave por causa de
algumas pessoas de seu povo, milhões, ou talvez bilhões em Smoockerr morrerão!
Slink estava certo, em Smoockerr, na sala de transmissões onde estava agora José,
uma imagem apareceu repentinamente num dos monitores que havia ali. Era uma
transmissão que vinha da esquadrilha inimiga. Ele e os outros soldados caracoleses que lá
trabalhavam puderam ver um coronel zeelishiano, fazendo-lhes ameaças.
-Caracoleses, vocês devem se render, e deixarem que nossa nave entre na atmosfera
de Smoockerr.
-Tentem se aproximar de Smoockerr, e vocês serão atacados! respondeu José.
-Ah, é ?
o zeelishiano continuou, ironicamente
Pois entenda também que nós
capturamos uma oficial de seu exército, chamada Luibla dal Lurik. E junto com ela estão
mais alguns jovens cidadãos de Caracówl!
-O quê ??
-Isso mesmo, caracolês! Eles estão dentro de nossa nave, se vocês a destruírem, vão
destruir tudo o que está dentro dela! Querem arriscar matar gente de seu próprio povo
dessa maneira ?
-Não pode ser...
foi a última palavra dita por José, antes de a comunicação ser
interrompida.
Após isso, José voltou correndo à sala de reuniões e contou tudo aos outros líderes
de todo o mundo. Ele tentou contra argumentar, explicando sobre os jovens caracoleses que
estavam a bordo da nave inimiga, e dizendo que deveria haver um plano alternativo para
combatê-los.
-Senhores, eu peço que entendam a nossa situação. Tenho que mudar minha
postura, e ao invés de ordenar que nossas naves ataquem os zeelishianos, temos que
planejar uma operação de resgate. Nós precisamos montar um esquema para resgatar os
prisioneiros e só depois atacar. É assim que nós sempre agimos, há séculos!
-Lamentamos muito isso, Incobryidi José, mas não podemos fazer o jogo deles. Agora
têm que ser diferente! Sentimos muito pelos prisioneiros, mas é a vida de poucos, ou a vida
de muitos. E depois, mesmo que nós não reajamos, depois eles vão matar os prisioneiros
mesmo, você conhece os métodos zeelishianos.
-Nós temos que ataca-los assim que for a hora! reclamou Matthaus.
José então acabou concordando com os nativos. Eles já estavam prestes a pagar um
alto preço por aquela guerra, não seria justo que não pudessem nem ao menos reagir. Não
havia como mandar missão de resgate no momento, não para resgatar quem quer que
estivesse dentro de uma nave com campo de força de 35 milhões de AM como uma Zeel
Trish Wan. Então José deixou a reunião, muito abalado. Ele se dirigiu ao quarto onde estava
hospedado, e ajoelhou-se perto da cama, segurando-se para não deixar derramar lágrimas
de num momento como aquele.
-Eu sei que isso não é postura de um oficial, mas eu não consigo ficar neutro numa
hora dessas. Não posso deixar que matem Luibla e todos aqueles garotos!
ele então se
dirigiu até a janela, onde pôde observar algumas criancinhas nativas brincando alegremente
em volta do prédio onde estava. Algumas eram filhas dos presidentes que estavam reunidos
ali, outras eram filhas de funcionários do lugar,e outras eram moradoras das proximidades.
Algumas eram smocckerranas, outras humanas, e uma ou outra era híbrida. Muito bem
agasalhadas, elas corriam entre a neve que se espalhava pelo chão, pegando-a e
arremessando-a uns contra os outros.
-Eu sou o Imperador Eduardo, e vou dominar o Universo dizia um garotinho, para
seus amigos, com uma enorme bola de neve nas mãos.
-É, e eu sou Rodrigo de Threvam, e não vou deixar você fazer isso! gritou um outro
garoto, segurando outra bola de neve ainda maior, apontando para o primeiro menino.
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-Ah, é!
disse uma garota, saindo por trás de um banco de neve
Eu sou uma
caracolesa, e vou derrotar você, Rodrigo de Threvam!
ela disse, atirando várias bolinhas
de neve contra o segundo menino. Outros garotos surgiram do lado dela, e começaram a
ajuda-la, enquanto eram ajudados pelo primeiro,que dizia ser Eduardo, até que o que dizia
ser Rodrigo de Threvam jogou-se ao chão, dramatizando, fingindo-se de derrotado.
Até essas crianças, de certo modo, sabem bem qual foi o nosso erro. Preferimos
combater Threvam, apenas porque economicamente era uma ameaça maior para nós, do
que os zeelishianos, que eram muito mais cruéis , José achava graça naquilo. Coitados,
eles brincam disso tranqüilamente, e não sabem que a guerra está mais próxima do que
imaginam. E eu tenho que fazer algo pra que a guerra não chegue até aqui .
-Me perdoem amigos! Mas não tenho outra opção...
Dentro da nave Zeel Okrawan que um dia pertenceu aos Z-9, aquele grupo de nove
pessoas que ainda permanecia de pé se desdobrava para tentar pensar em algo que eles
pudessem fazer para escapar daquele lugar. Primeiramente Slink tentou abrir a porta da
nave. Ele conseguiu, mas quando tentava caminhar para fora, era impedido pelo
magnetismo do campo de força. Em seguida, tentou acionar o raio trator, mas não dava
certo, ele também era bloqueado pelo campo.
-Haveria uma saída ? Deveria haver...
-Como assim, deveria haver, Slink ?
-Se conseguíssemos sair daqui de dentro, eu sei como sabotar esse ataque!
-Como ?
-Eu já estive numa nave parecida com essa antes. Temos apenas que chegar ao
controle principal. Lá nós poderemos desligar o campo magnético que prende a nossa nave,
e assim poderemos fugir.
-Sim, mas não vejo como passar pelo campo de força.
-Pois eu sim!
disse Víni.Quase todos olharam assustados para ele, menos Máik e
Laísa, que entenderam tudo quase instantaneamente.Eles lembraram-se das lições básicas
que tiveram em Caracówl sobre poder psiônico. Lembraram-se de tudo o que lhes foi
passado pelo mestre Flik urilg.
-Slink, se nós abrirmos esse campo de força, vocês podem passar por eles e fazer o
que tiver que ser feito ? Víni perguntou.
-Não estou entendendo... respondeu o mutante.
- Galera, vocês sabem como nós treinamos, sabem que nós podemos abrir uma
passagem no campo de força! Mas talvez não pra nós mesmos passamos por ela. Alguém
vai ter que ir lá fora e terminar a missão!
-Então eu vou!
disse Bibi, sem saber muito bem o que estava dizendo, mas
decidida a fazer o que fosse preciso. Léo, Lublizo, e Sakura também se ofereceram, além de
Slink, ex-soldado zeelishiano, que agora parecia estar incondicionalmente ao lado deles.
Laísa e Máik entenderam o que Víni queria, e se juntaram a ele.
-Então vamos lá! - disse Víni, caminhando na direção da saída da nave. Em seguida,
estendeu os braços, e começou a se concentrar, sendo seguido por Máik e Laísa. Sakura,
Bibi, Léo, Slink e Lublizo pegaram cada um uma arma e se prepararam para ir ao combate.
Víni, Laísa e Máik faziam o melhor que podiam.
-Vamos, Vamos!
Estavam ficando exaustos com aquilo, mas permaneciam de pé.
Pouco a pouco, eles foram conseguindo, uma passagem ia se abrindo no campo.
-É agora, a nossa chance! Slink correu na frente deles.
Então os cinco se apressaram e correram para atravessar a passagem.Em seguida,
Víni tentou ir atrás, mas conforme ele deixou de usar o seu poder para desestabilizar o
campo de força, este na mesma hora voltou ao normal. Víni apenas conseguiu dar de cara
com o campo de força e ser novamente lançado de volta para dentro da nave. O campo
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estava operando normalmente de novo, por isso Laísa e Máik, já mortos de cansaço,
também desistiram de tentar passar.
-Víni Máik virou-se para trás, vendo seu amigo caído. Do lado de fora, seus amigos
sinalizavam para que ficassem tranqüilos, pois eles fariam o que fosse preciso.
Máik e Laísa, assim como Salina, permaneceram apreensivos, apesar de cansados.
Mas Víni, ao contrário dos outros, não resistiu, e deitou-se próximo à entrada da nave,
adormecendo em poucos segundos.
Quanto aos que tinham saído da Zeel Okrawan, e se dirigiam para o centro de
comando, mal eles viraram as costas para a nave e se dirigiram na direção da porta de saída
do angar, por ela eles vêem sair 10 samambers, armados com pistolas eletrolaser.
-Cuidado! Perigo! - gritou Lublizo, avisando os outros. Eles então correram para trás
de colunas de metal que ficavam nas laterais, assim como fizeram no Estádio em Zeelish. Os
samambers correram atrás deles, tentando acerta-los, mas como os caracoleses já estavam
perto das colunas, foi fácil para eles se posicionarem e acertar todos os samambers um por
um. Por estarem já posicionados e escondidos atrás das colunas, eles realmente tinham uma
certa vantagem.Lublizo e Sakura demonstraram extrema pontaria. Os dois acertaram 7
samambers. Outros dois foram atingidos por Slink e um por Léo.
-Eu não acredito! Eu matei três samambers!
-Boa pontaria, Lublizo!
-Não é hora para comemorar. Temos que correr! Slink chamou.
-Vamos logo! Antes que venham mais samambers.
Corajosamente, aquele grupo foi passando por cada corredor daquela nave, tomando
o máximo de cuidado para não ser pego. Slink, com sua enorme experiência, ia guiando a
todos por aquele sombrio lugar, tentando identificar câmeras e demais dispositivos de
reconhecimento inimigos. Eles atravessaram um enorme corredor, que abria passagem para
outros corredores. Ele era arredondado, dando a impressão aos que estavam dentro dele de
estarem dentro de um cano gigantesco.Não possuía muita claridade, apenas o suficiente
para que fosse possível ver onde se estava andando.Em alguns cantos, havia aparelhos, que
ninguém ali sabia muito bem para que servia.
-Não deveria haver algum dispositivo de segurança aqui ?
perguntou Sakura,
enquanto olhava com cuidado para todos os lados.
-Deveria.Você tem razão, garota, mas não há. Conheço esse tipo de nave, e sei onde
eles costumam esconder câmeras, sensores, e armas automáticas. Se houvesse alguma
aqui, eu saberia.
A batalha espacial não podia ser mais evitada, as quatro naves Zeel Trish wan se
aproximaram demais do planeta Smoockerr, e a esquadrilha caracolesa foi mobilizada para
conter seu avanço. Mal as naves caracolesas e uma minoria de naves de BCC se
aproximaram, as Zeel Okrawan que ficavam em volta partiram para o ataque, criando uma
fantástica luta com armas de feixe. Lasers de várias cores e alguns mísseis eram disparados
de ambos os lados, tendo um efeito devastador no inimigo, normalmente explodindo cada
Kraivur ou Zeel Okrawan de uma vez só. Quando não eram explodidas, ficavam inutilizadas,
perdendo o rumo.
As OPG tentaram se concentrar e atacar de uma vez, todas juntas, apenas uma Zeel
Trish wan, esquecendo-se de se defender. O plano era todas elas atirarem no mesmo ponto,
para que pudessem, mesmo com um laser inferior, abrir uma passagem no campo de força
inimigo. Mas isso fazia com que as naves de porte médio caracolesa ficassem desprotegidas.
Num único momento, conseguiram baixar o campo de força e fazer com que seus laser o
transpassassem, abrindo um pequeno rombo no casco.
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-Conseguimos! Conseguimos! - gritou o comandante de uma das naves caracolesas,
que depois de receber vários disparos inimigos, já estava prestes a explodir.
-Senhor, não podemos mais agüentar, devemos fugir do campo de batalha ou
morreremos todos!
-Está bem, acionar Gateway! disse o comandante, fazendo sua nave ser envolvida
por uma esfera de luz, e antes que o tiro fatal pudesse atingi-la, ela desapareceu no espaço,
indo parar onde haveria o Gateway mais próximo, ou seja, Druuuk.
-Esses caracoleses são uns covardes mesmo
gabava-se Piej, comandante da nave
zeelishiana onde estavam presos Luibla e aqueles que a libertaram
basta que suas vidas
estejam ameaçadas, e eles deixam o campo de batalha como animais assustados. Esses são
os grandes guerreiros que nós enfrentamos! ele ironizou.
Mesmo com todas as kraivur ainda lutando até o fim, não foi o suficiente para conter
o avanço das naves de pequeno porte.
-Senhor, parece que o plano falhou, poucas de nossas naves permanecem em
combate!
dizia jf. Tuyluik um subalterno do inc. José, que junto dos demais líderes que
com ele estavam reunidos, acompanhava na tela de um computador a evolução da batalha.
-Mande que as naves que ficaram em combate recuem de volta a Smoockerr!
-Como, sr. José ?
-Não há mais como parar o avanço deles, vamos esperar para atacar os inimigos
quando vierem por terra. Talvez desliguem seus campos de força, e aí teremos uma chance.
-Quer deixar os zeelishianos passarem por nossa atmosfera ? Isso jamais! reclamou
Matthaus
Se vocês quiserem compactuar com este plano estúpido desses nossos falsos
aliados caracoleses - ele disse para os líderes dos outros países - tudo bem, mas as naves
de Darson irão já para o campo de batalha, e mesmo que meus soldados morram, não
deixaremos a luta antes do fim!
-Por favor, Matthaus, não coloque em risco a vida de seus soldados, eles não têm a
menor chance.
-Cale-se, caracolês, não quero conselhos de alguém que faz parte de um povo que
foge da batalha. Que honra há em ter um sistema de fuga como esse seu Gateway e poder
fazer as naves maiores fugirem antes de explodirem ? Que honra há em mandar naves de
assalto não-tripuladas ? Farsantes, vocês nos arruinaram, deixe que nós Smoockerranos
assumiremos nossa própria guerra até o fim a partir de agora! - disse o presidente,
bastante irritado, antes de deixar o local.
As naves caracolesas que ainda restavam na luta, então cerca de 30 OPGs e 250
kraivur, mais ou menos metade das naves caracolesas que existiam no início daquela
batalha espacial, recuaram de volta a Smoockerr, e uma enorme esquadrilha do país Darson
foi mobilizada, mas certamente ela não chegaria a tempo de evitar que os zeelishianos
entrassem no planeta, nem teriam condições alguma de lutar, pois seu campo de força era
baixíssimo e a potência de suas armas não teria efeito nenhum. Os demais chefes líderes de
Smoockerr permaneceram apoiando José, mas este mesmo sabia que havia fracassado.
Aliás, todos ali sabiam que a luta estava perdida, por isso decidiram negociar uma fuga.
-Inc. José, nossos satélites foram danificados, não podemos avisar à população sobre
a guerra.
-Eu sei, é tarde demais... Era melhor eu ter deixado que fizessem isso antes, mesmo
que o pânico se espalhasse pelo planeta, mas pelo o menos eles não seriam surpreendidos
pela invasão e ...
-Senhor, peça a uma de suas naves OPG que resistiu à luta que venha até aqui e leve
todos nós embora para Druuuk pediu Homlet, presidente de Sion Roberts.
-Está bem José concordou Mas não levem só vocês, levem também o máximo de
pessoas que conseguirem.
-Você não vem, José ?
150
-Não, Homlet, podem ir! Eu ficarei aqui.
-Mas...Por que ?
-Não posso abandonar o campo de batalha assim. Matthaus também ficará aqui, e
assim como ele acha justo morrer por seu planeta, eu ficarei aqui e morrerei pelos ideais da
Ônuc. Não se preocupem, eu já fui agente secreto, já combati mutantes zeelishianos a
muitos anos, isso pra mim não é nada de muito diferente.
José dizia, enquanto um
soldado entrou na sala e entregou ao jf. Tuyluik um papel escrito em Darswano.
-Como quiser, senhor disse o seu subalterno antes de ir, só queria lhe dizer que
acabamos de contatar algumas naves de Forças Armadas nacionais de alguns países de
Caracówl, bem como algumas naves de planetas aliados, que fazem exercícios na região.
Mandamos um pedido de ajuda. Sinceramente, eu duvido que cheguem a tempo, mas com
dizem entre os humanos, a esperança é a última que morre .
-Tem razão, Tuyluik!
Até então, vagando pelos corredores daquela nave zeelishiana, Sakura, Lublizo, Léo,
Bibi, Luibla e Slink não tinham sido descobertos. Isso era ótimo, pois a sala de controle
estaria bem próxima. Após subirem a enorme rampa, eles viram uma passagem, e
chegaram num galpão, onde encontraram vários orgs, iguais àqueles contra os quais Víni e
Máik tinham lutado na prisão de 8-P. Mas estes estavam presos em casulos transparentes
cheios de um líquido esverdeados, espalhados pelo lugar. Eram dezenas, e pareciam
conscientes, raivosos.Queriam sair de seus casulos a qualquer custo, mas estavam bem
presos a eles.Parecia que lá dentro seus movimentos eram de alguma forma limitados.
-Eles são a nova infantaria do império disse Slink, sem que ninguém perguntasse.
-Nova infantaria ?
-É... novos soldados mutantes produzidos em laboratório. Uma nova geração.
Soldados da mesma espécie que eu em breve já não serão mais úteis!
-E por que ainda são ?
-Por que esses orgs ainda estão sendo testados.O projeto de criação deles saiu quase
perfeito. Faltou apenas um detalhe:a inteligência.Quando forem produzidos os primeiros
orgs inteligentes, eles talvez eliminem todos os ZWXK e talvez até os samambers, e
coloquem um exército inteiro de Orgs.
-Mas desde quando os samambers são inteligentes, Slink ?
-Samambers ao menos podem portar armas leves, e obedecer a comandos básicos.
Já esses orgs não, eles apenas atacam tudo o que vêem.
-Mas vamos logo, temos uma missão a cumprir.
Após atravessarmos aquele corredor, estaremos na sala de controle.
-Vamos lá então! Léo concordou.
Todos saíram correndo, e deixaram o galpão, entrando no corredor oposto. Correram
por uns 20 metros, até observarem, ao longe, uma legião de samambers vindo em suas
direções. Eles pareciam desconfiar que os caracoleses haviam se libertado. Eram mais de
cinqüenta furiosos mutantes, armados com duas pistolas Crisaller cada um.
-Droga! E agora ?
-Vamos voltar lá atrás! - disse Slink. Os caracoleses a princípio pensaram que ele
estivesse com medo, com vontade de recuar. Em todo o caso, resolveram segui-lo, pois
sabiam que seria loucura enfrentar cinqüenta samambers armados.Slink então retornou,
eles chegaram de novo no galpão dos orgs.
-Vamos atirar nos casulos!
gritou Slink.Os outros ficaram apenas observando o
mutante disparar contra os casulos dos orgs. Não entendiam o que ele queria fazer, mas
diante da insistência de Slink, eles atiraram, até que o primeiro dos casulo começasse a
rachar, e de dentro dele um ser monstruoso começou a sair.
-Continuem.Naquele casulo agora!
151
O org, recém-liberto, começou a lamber o próprio corpo, retirando um líquido
gosmento que estava sobre a sua pele.Em seguida, fez um enorme grunhido, e começou a
destruir tudo o que estava à sua volta.
Neste instante, mergulhado num profundo sono, Víni se via num lugar totalmente
claro, onde não havia nada. Em sua frente, podia ver uma esfera luminosa, pouco maior que
uma laranja, emitindo uma forte luz verde-florescente, que seria capaz de ofuscar a sua
vista. Mas ele nada sentia. Nem mesmo ardendo seus olhos estavam. Ele podia não só
observar perfeitamente os mínimos detalhes da esfera, como também podia senti-la, como
se ela fosse viva, como sendo uma consciência. Ele podia sentir essa consciência, quase
como se fosse parte dele mesmo. O garoto ficou observando aquela esfera por alguns
instantes, até que, estranhamente, ele sentiu vontade de conversar com a esfera.
-Quem é você ?
-Para que me perguntar uma coisa que você já sabe a resposta ?
a esfera lhe
respondeu, mais estranhamente ainda. Eu sou o seu simbionte.
-Meu simbionte ? Mas eu achava que você vivesse dentro da minha mente e tivesse
outra forma!
-Nós estamos no seu sonho, Víni. Mas eu não sou parte do seu sonho. Eu entrei em
sua mente e estou provocando em você esse sonho, por telepatia. E eu posso ter a forma
que você imaginar! Esta forma lhe parece melhor ?
disse o simbionte, tomando
repentinamente a forma de Laísa, vestida em trajes mínimos, o que deixou Víni um pouco
perturbado e envergonhado.
-Eu sei que você acha essa garota bem atraente disse o simbionte.
-Como você pode saber ?!
-Ora, eu vivo conectado a você, 25 horas por dia, todos os dias! Agora, Víni disse o
simbionte, tomando outra vez a forma de esfera
Só quero que preste atenção no que eu
vou te dizer agora.
-Pode falar!
-Víni, a situação de vocês é desesperadora! Ou melhor, a nossa situação é
desesperadora! Por estar ligado à sua mente, tudo o que você sabe eu sei também! E o que
posso dizer é que nós vamos morrer se você não fizer nada!
-Eu ? Mas simbionte, eu não poso fazer mais nada! Eu fiz o que podia fazer, lutei
contra lesma gigante. Lutei contra o Juviks em 8-P, ajudei a resgatar a Luibla e abri a
passagem para os meus amigos. Mas eu não posso sair. Não há mais nada que eu possa
fazer, a não ser confiar neles!
-Você também pode fazer a sua parte, Víni
o simbionte insistiu, fazendo aparecer
ao seu lado uma imagem, onde ele via o que estava acontecendo naquele mesmo instante,
do lado de fora da nave Zeel Okrawan, com seus amigos.
-Sakura, Bibi, Lublizo e Léo!
disse Víni, vendo eles fugindo de dezenas de
samambers, e em seguida atirando em casulos de onde saíam mutantes totalmente
sinistros.
-Víni, seus amigos não vão conseguir chegar onde querem.Você precisa ajuda-los.
-E por que eu conseguiria ? Só porque eu tenho um simbionte comigo ? Só porque eu
tenho um pouco de treinamento na OPG ?
-Víni, quando você chegou com seus amigos no Planeta Tuy, eu e os outros
simbiontes que estávamos nas cavernas percebemos a sua presença. Por isso você ouvia
nossas vozes o chamando.Nem Máik, nem Laísa e nem Figúpi ouviram essas vozes, apenas
você! E sabe por que ? Por que o seu poder mental era maior que o deles!
-Você é esquisito.Fala de poder, mas o meu poder vem de você!
-Não, isso não é verdade! Nós simbiontes não damos força a ninguém, apenas
ajudamos as pessoas a desenvolverem a suas próprias habilidades. Mesmo tendo também
um simbionte, e por mais que se esforcem em seu treinamento, Máik e Laísa estão bem
abaixo de você.E eu sempre soube que seria assim.
152
-Sempre soube ?
-Normalmente, só convidamos para ser hospedeiros aqueles que vão até o nosso
ninho.Isso é porque em nosso estágio inicial, nossa telepatia não é muito boa. Mas com você
foi diferente, quando chegou ao planeta, nós sentimos a sua presença e o seu poder oculto,
e a sua própria mente nos deu a chance de nos comunicarmos.Laísa, Máik e Figúpi foram
escolhidos como hospedeiros por outros simbiontes, apenas por um motivo: não é todo dia
que podemos encontrar hospedeiros à nossa disposição! Mas você, Víni, era o hospedeiro
preferencial.Eu, por ser o ovo de simbionte mais antigo daquela caverna, tive o privilégio de
ser o seu simbionte!
-O privilégio de ser o meu simbionte...Ah, essa é boa!
disse Víni.De repente, sua
atenção se voltou novamente para a imagem que o simbionte fazia aparecer ao seu lado.Lá,
ele via novamente seus amigos novamente em perigo.
-Galera, eu não vou ficar parado! Já tô indo! gritou Víni, acordando em seguida.
-Víni, eu não sei explicar, mas você tá igualzinho ao Juviks!
disse Máik.Víni não
entendeu o que ele disse, mas também não deu muita atenção. O que Máik quis dizer foi
que ele emitia a mesma energia paranormal, que podia ser sentida por todos os outros.Víni
foi caminhando com os olhos fechados na direção da porta, que estava aberta ainda.Então,
ele abriu seus olhos e de uma só vez lançou seu corpo contra o campo de força.
-Víni, não! gritou Laísa. Mas não houve tempo para que ele ouvisse nada, a energia
psíquica que o garoto reuniu e volta de si era tão imensa que foi capaz de desestabilizar por
menos de um segundo o campo de força, tempo suficiente para que ele conseguisse passar
e cair do lado de fora da nave. Ainda lá dentro, todos os outros olhavam, incrédulos. Mas
Víni nem teve tempo para olhar para trás. Ele seguia sempre para frente, começando por
onde havia visto seus amigos correndo, e em seguida, ia sendo guiado por uma espécie de
intuição.Talvez o nome não fosse exatamente esse, mas o fato é que o garoto sentia onde
estavam os seus amigos, e a partir daí sabia por qual corredor deveria seguir.
Numa atitude meio desesperada, Sakura, Lublizo, Bibi, Léo e Slink continuavam a
atirar nos casulos dos orgs e agora já eram oito daqueles monstros soltos. Os caracoleses e
Slink, sempre escondidos num canto, só esperavam que os orgs vissem pela frente primeiro
algum samamber do que eles próprios. Os samambers então logo entraram naquele recinto,
e logo tiveram que entrar em confronto com os orgs já libertos. Eles lançavam seus
tentáculos venenosos e atiravam contra os orgs, que por sua vez davam socos e pontapés
nos samambers. Por seu elevado tamanho e resistência, os orgs levavam vantagem, pois
apenas um golpe deles era capaz de deixar inconsciente três samambers. Mesmo sendo
desprovidos de inteligência, quando eles erravam um golpe e socavam o chão da nave, isso
era o suficiente para fazê-lo tremer, o que derrubava também vários samambers, e até os
caracoleses, que escondidos, observavam de longe. Alguns orgs, porém, embora resistentes,
depois de vários tiros dos samambers acabavam não resistindo e tombando também.
-É a nossa chance de avançar!
gritou Slink, correndo e orgs, sendo seguido pelos
caracoleses. Eles esperavam não serem reconhecidos pelos inimigos, esperavam que estes
estivessem tão concentrados matando uns aos outros, que não lhes dessem atenção. Mas
não foi isso que aconteceu, enquanto corriam, um samamber se virou e disparou contra
Sakura. Antes que a garota percebesse o real perigo, Slink se jogou na frente dela, e
recebeu o disparo, bem entre as costas e o ombro.Nesse momento, todos pararam de correr
e pararam para socorrer o mutante.
-Vão! Não percam tempo!
gritou Slink, um tanto ferido, e impossibilitado de
correr.No mesmo instante, os tentáculos de um samamber agarraram Lublizo e
Bibi.Imobilizados, eles só puderam ver um enorme org, já bastante ensangüentado e
furioso, destruir um outro samamber que estava à frente deles, e partir com maior fúria
ainda para cima do mutante que os tinha imobilizado.
153
Mas por trás deles, por trás de todos os orgs, como uma flecha, surgiu Víni, que com
um golpe preciso nas pernas do org, fez ele cair para trás. Em seguida, com incrível
precisão, o garoto golpeou a cabeça do samamber que segurava os seus amigos, fazendo-o
solta-los.
-Víni, como conseguiu sair ?
-Depois eu falo! disse o garoto, apenas sentindo um org, vir pelas suas costas para
golpeá-lo, quando ele se virou e desviou.
-Vamos lá, galera!
gritou Víni, tomando a frente de seus amigos. Os samambers
que se punham na frente dos caracoleses, Víni derrubava com rápidos e precisos golpes,
ajudando o grupo todo a avançar. Então ele foi até Slink, que estava caído, e ajudou o
mutante a levantar-se.
-Vamos, agüenta aí, cara!
ele dizia para Slink, que mesmo machucado, ainda se
esforçava pra prosseguir com os caracoleses.
-Vamos até o final daquele corredor
Slink apontou para a passagem de onde
tinham vindo os samambers. Eles fizeram então como disse o mutante, deixando a briga de
soldados zeelishianos para trás. Ao chegarem no local combinado, Slink deu-lhes outra
instrução.
- Atirem agora contra essa parede!
Slink apontou para a esquerda, respirando
ofegante. Os outros mais uma vez fizeram como ele tinha dito: colocaram suas armas na
força total e atiraram, demorando cerca de uns 20 segundos, até que ela rachasse e
finalmente quebrasse, abrindo uma passagem para outra o centro de comando da nave. Lá
trabalhavam vários funcionários, todos humanos zeelishianos, usando sobretudos brancos
com detalhes azuis e óculos escuros, guardando uma caixa preta enorme, presa por alguns
ferros a outra caixa preta um pouco menor e semi-embutida na parede, e em volta dela
passava um tubo que emitia uma forte luz verde. Aquilo ia do chão ao teto e ocupava vários
metros da sala. Tal equipamento que era tão bem cuidado, na verdade era o que havia de
mais importante na nave, o gerador de anti-matéria.
Todos os trabalhadores se assustaram ao verem aquele grupo de indivíduos
estranhos atravessarem o rombo que havia sido feito na parede. Não importava que fossem
só adolescentes, pois aqueles trabalhadores que estavam na sala do gerador não eram
soldados, mas apenas técnicos. Não portavam armas, não sabiam nada de combate, por
isso não se preocuparam em defender o local, mas apenas em correr e pedir ajuda.
-Emergência, inimigos invadindo a sala do gerador!
gritou um deles numa espécie
de comunicador que ficava próximo à parede. Léo disparou um tiro de advertência contra
aquele sujeito, que fugiu dali assustado. Já Slink, ainda apoiado em Víni, assim que entrou
no lugar, com todas as suas forças ainda levantou sua arma e tratou de disparar contra o
gerador de força, para torna-lo inoperante.
-Me ajudem!
pediu Slink, sendo obedecido pelos outros, que passaram a atirar
também. Após alguns segundos recebendo os disparos, fagulhas começaram a sair dali, e o
gerador parou de funcionar. A essa altura, quase todos os técnicos zeelishianos já haviam
deixado o local, mas alguns ainda se encontravam abaixados, tentando se esconder, outros
ajoelhados, pedindo por suas vidas. Com o desligamento do gerador, as luzes diminuíram
em 60% sua intensidade, tornando o ambiente ainda mais sombrio.
-E agora ? Lublizo perguntou.
-O campo de força desta nave está desligado. Deixe que seu exército fará o resto
respondeu Slink Vamos voltar para o hangar!
Sakura, Víni, Slink, Bibi, Léo e Lublizo então fizeram o caminho de volta, só tomando
cuidado para desviar dos orgs e samambers que ainda combatiam uns aos outros.
Nesse exato momento, na Sala de Comando daquela Zeel Trish wan, o comandante
Piej, que antes tinha um ar de arrogância ao desafiar o inc. José, agora era só desespero ao
tentar comunicar-se com a sala do gerador. A nave ainda possuía baterias reservas, mas
154
estas eram controladas pelo computador de bordo para serem gastas o mínimo possível,
para durarem mais tempo. Sendo assim a iluminação da nave toda era controlada para ficar
mais fraca, assim como o campo de força externo e também aquele que envolvia a Zeel
Okrawan onde estavam os prisioneiros haviam sido desligados.
-O que está havendo ? perguntou Piej para um de seus assistentes.
-Os técnicos que trabalhavam na sala do gerador disseram que foram atacados e o
gerador foi danificado.
-Não há como consertar ?
-Sim, há, mas levará tempo, e teríamos que combater todos os inimigos que lá estão.
A informação é de que são mais de cinqüenta disse o assistente, que recebeu um número
exagerado de um dos técnicos apavorados e assim o repassou ao seu superior.
-Mais de cinqüenta ? Não é possível, os únicos inimigos que tínhamos a bordo eram
aqueles prisioneiros, mas como se soltaram ? Ligue as câmeras de segurança e acione as
armas automáticas!
-Elas não podem ser ligadas, senhor. Nem mesmo foram instaladas.
-Como assim ?
-Foram ordens do sr. Zey´Hull, responsável pela montagem da esquadrilha. Ele
preferiu não colocar câmeras de segurança ou armas automáticas para conter despesas.
-Maldito Zey´Hull! Todas as naves têm isso, por que só a minha que não ? Quando
eu voltar a Zeelish pedirei a sua cabeça!
o comandante espumava de ódio, e
provavelmente não falava aquilo em sentido figurado.
-Nós já enviamos samambers para combate-los e garantir a segurança dos técnicos
enquanto eles consertam o gerador, senhor disse o assistente, enquanto Piej pensava.
-Os caracoleses não querem nos destruir, eles não se importam que tomemos os
seus planetas, desde que eles tomem a nossa tecnologia. De nada adiantarão nossos
samambers contra eles, estamos sem o nosso gerador, estamos sem nossas câmeras de
segurança. E, breve várias naves de assalto nos atacarão como se fossem piratas, e nossa
nave cairá nas mãos deles. Nosso segredos militares serão roubados... Eu não posso
permitir isso Piej foi enfático em sua decisão Ordenem que todos os tripulantes corram
para as cápsulas de fuga. Vamos abandonar a nave e explodi-la.
-Explodi-la, senhor ?
-Sim, isso é uma emergência! Acionem os mísseis nucleares para explodirem em 5
minutos disse o comandante, levantando-se, e caminhando tranqüilamente na direção de
sua cápsula de fuga. Sob suas ordens, o alarme tocou e todos a bordo foram avisados da
explosão que se seguiria.
Dentro da Zeel Okrawan capturada, foi impossível não perceber o desligamento do
campo magnético que prendia a nave, fazendo colidir com o chão da nave-mãe de uma
altura de 5 m. Nada que pudesse fazer muito estrago, apenas a sacudida que fez foi o
suficiente para acordar Luibla e os demais que ainda permaneciam dormindo até então.
-O que houve ? perguntou a caracolesa assustada.
-Será que eles... Laísa, enquanto pensava alto, foi até a porta e a abriu.Olhou por
alguns instantes a passagem e decidiu pular contra ela, tento sucesso pela primeira vez,
caindo da nave de assalto direto no chão da nave-mãe.
-O campo de força parou de funcionar mesmo!
-Vamos lá atrás deles disse Laísa, se referindo a Sakura, Lublizo, Bibi, Léo e Slink,
mas qual não foi sua surpresa ao vê-los voltando correndo de volta ao angar onde estavam.
-Nós conseguimos, vamos fugir! disse Sakura, correndo na frente dos demais, mas
ainda olhando para trás, para se certificar que nenhum samamber estava vindo atrás deles.
Léo, Bibi, Lublizo, Sakura, e Víni, que carregava Slink, além de Laísa, entraram de volta na
Zeel Okrawan e fecharam sua porta.
155
-Falta um minuto e meio - dizia Slink, ainda sentindo suas costas arderem muito. Mas
ele tentava esquecer a dor pelos seus ferimentos se concentrando no tempo que eles tinham
ainda para fugir.
-Um minuto e vinte para a explosão...
-Que explosão ? perguntou Luibla, se aproximando deles.
-Nós destruímos o gerador deles, por isso eles vão explodir a nave!
-Caramba, então vamos sair logo!
-Me coloquem na cadeira de comando pediu Slink, sendo prontamente atendido, e
Luibla e Víni o carregaram até que ele pudesse sentar-se em frente ao painel de comando.
-Que estrago fizeram, hein Slink ?
-Não tem importância, disse ele, acionando a pequena nave de assalto onde
estavam. Ela ganhou altura, e finalmente partiu na direção da saída daquele lugar.
Neste mesmo instante, as naves zeelishianas estavam a apenas 45.000 km da
atmosfera de Smoockerr. Uma pequena esquadrilha da República de Darson partia contra
elas, e o canhão laser se posicionava bem em frente às quatro Zeel Trish wan, que se
mantinham ainda com 300.000 Zeel Okrawan à sua volta. O canhão laser Smoockerrano foi
preparado e seu charge foi ligado na potência máxima. A energia se concentrava para então
explodir de uma só vez, na esperança de ao menos baixar um pouco o campo de força de
uma das grandes naves inimigas. Mas o que os Smoockerranos já não sabiam era que o
campo de força já não mais estava ligado. Não perceberam também de imediato que
cápsulas de fuga eram ejetadas de uma das naves rivais.
Numa das outras naves Zeel Trish wan, um outro comandante conversava com seu
auxiliar a respeito de algum problema que poderia estar ocorrendo na nave de Piej.
-Não sei, eles não me disseram qual o problema, apenas disseram para nos
afastarmos, mas... Não deve ser nada demais! Vamos continuar a atacar... Veja, os
smoockerranos mandaram alguns aviões contra nós ele dizia, classificando aquelas naves
daquele jeito com o objetivo de menosprezar os inimigos. Também viu o canhão
smoockerrano apontado contra eles, mas com bastante confiança, tratou de ignora-lo
também.
-Vamos esmaga-los! - disse o comandante daquela nave, fazendo com que todas as
suas armas, e também as das naves de assalto, fossem apontadas contra os inimigos.
Mas o canhão smoockerrano foi disparado primeiro, e dele saiu uma enorme carga de
energia, direto contra a nave de Piej, que aquela hora já se encontrava abandonada. Ao
mesmo tempo em que o laser de carga total na casa de 45.000 PWs encostou nela, as
bombas nucleares dentro daquela Zeel Trish wan explodiram, dando a impressão de que a
causa da explosão tivesse sido o fraco laser, e não seu próprio mecanismo de autodestruição.
Pouco antes da explosão, Slink conduzia sua Zeel Okrawan para fora da nave maior
que estava condenada. Ele viu todas as saídas fechadas, e então acionou todas as armas
que possuía para abri-las na força. Depois de uns 10 segundos atirando, o mutante
conseguiu abrir uma passagem, e então arrancou com força total para fora da nave-mãe.
Mas eles ainda estavam próximos demais quando as bombas finalmente explodiram.
A força da explosão, potencializada pelo vácuo, acertou-os em cheio. Só não
morreram instantaneamente porque Slink acionou o campo de força na hora certa, fazendo
com que a nave agüentasse. Aquele escudo magnético não era muito forte, mas foi o
suficiente para agüentar a explosão. Mas a nave perdeu completamente o rumo, e devido à
posição em que estava, ela foi empurrada pela explosão na direção do Planeta Isbarcenses,
assim como vários destroços da nave-mãe e até partes grandes dela.
156
Várias partes da nave mãe se espalharam por outras direções também, algumas
também foram lançadas contra Smoockerr, mas o fato é que aquilo tudo assustou muito aos
demais comandantes zeelishianos, que controlavam as outras naves.
Os Smoockerranos possuem um laser capaz de destruir-nos com um só disparo , foi
o que eles pensaram naquele instante, imediatamente recuando, e cancelando o ataque a
Smoockerr. Continuar naquele momento poderia ser suicídio, e assim os comandantes das
outras naves zeelishianas, julgando a situação por um mal-entendido, resolveram retornar,
abandonando a missão de conquistar Smoockerr naquele momento.
157
20 - Uma nova visão de um antigo ideal do inc. José
Pela janela de sua sala, José observava o luar naquela noite, sentado em sua cadeira,
com os pés apoiados sobre a mesa. Encontrava-se pensativo, e esperava o momento em
que receberia mais informações sobre a guerra.
Naves zeelishianas recuaram, os reforços de Caracówl estão bem próximos e
Smoockerr já não corre mais perigo. Uma contra-ofensiva está sendo preparada, e podemos
reconquistar nossas bases em pouco tempo
Um sinistro silêncio tomou conta do lugar por alguns instantes.
-Obrigado, onde quer que vocês estejam!
nem bem José disse isto, e seu seysu
recebeu um sinal vindo de dentro da própria base. Do outro lado, Tuyluik apareceu sorrindo,
demonstrando bastante alívio.
-Senhor, os smoockerranos querem que venha até a enfermaria. Há uma coisa aqui
que ficará feliz em ver.
-Do que está falando ?
-Melhor ver por si mesmo Tuyluik insistiu.
Curioso, José foi até a enfermaria, que ficava 5 sub-níveis abaixo de onde estava.
Saiu entrando apressado no recinto, que estava repleto de tubos de fibra de vidro semitransparente, onde os doentes eram colocados. A maioria destes tubos encontravam-se
deitados, mas alguns estavam em pé, e eram mantidos cheios de líquido amniótico sintético,
para recuperar ferimentos graves.
Vários dos chefes de estado que haviam ido àquela base para a reunião de
emergência, agora estavam reunidos neste local, esperando que José aparecesse. E quando
ele chegou, Matthaus, o presidente de Darson e até então seu maior opositor, aproximou-se
dele e recebeu-o com uma aparência amistosa e um leve sorriso, parecendo disposto a
esquecer o que tinha ocorrido a menos de uma hora, durante a acalorada discussão.
-Minhas desculpas, inc. José! Gostaria que esquecêssemos nossos desentendimentos,
e selássemos a aliança entre Smoockerr e Caracówl.
-Smoockerr e Caracówl sempre foram e sempre serão aliados, e eu não preciso
desculpa-lo por nada, meu amigo! após eles dizer isso, os dois se abraçaram.
-José, ali no canto está o motivo pelo qual pedi que o chamassem. Tem alguém ali
que quer vê-lo! disse Matthaus. Foi então que José pôde observar sua velha amiga Luibla,
sorrindo para ele, ao lado de Tuyluik, seu assistente. A felicidade dos dois ao se
reencontrarem foi algo indescritível.
-Luibla!
José a abraçou, como se reencontrasse uma filha que ele não via a muito
tempo. Na verdade, eles não se viam desde a KVC, e imaginaram que realmente não se
veriam mais.
-Luibla, me perdoe por autorizar o ataque, mas não tive...
-Está bem, o que importa é que salvamos este planeta.
-É verdade! - disse Matthaus, que ouvia tudo dali salvaram mesmo!
-O que aconteceu ?
José perguntou, sem ainda entender como a caracolesa havia
sido salva das garras dos zeelishianos.
-Nós estávamos numa nave de ataque, fugindo de dentro da nave-mãe. Fomos pegos
na explosão, mas sobrevivemos à queda e fomos resgatados por uma equipe do Planeta
Carib que fazia exercícios de treinamento próximo à Isbarcenses.
-Os zeelishianos te fizeram algum mal enquanto esteve presa lá ?
-Não muito, só fiquei dois ou talvez três dias amarrada e sem comer. Mas os meus
alunos evitaram o pior!
158
-E onde estão eles ?
no que José perguntou, Luibla apontou-lhe alguns dos vários
tubos de fibra, e dentro de três destes, estavam Víni, Laísa e Máik. Ambos estavam
inconscientes, com o rosto pálido e sem vida.
-Eles se feriram quando a nave caiu ?
-Não, estão assim por outro motivo: alto índice de estresse físico e mental. Eles
lutaram contra soldados Z-9, e usaram muito seu poder mental para poderem desfazer um
campo de força por alguns instantes.
-Desfazer um campo de força ? Meu Deus, mas isso é... algo sobre-humano! Mesmo
para um paranormal
José arregalou os olhos, e ficou assim por cerca de uns dez
segundos, ainda sem crer.
-Tem razão, foi um esforço sobre-humano também, por isso eles estão assim.
-Mas eles vão ficar bem ?
-Acho que sim, mas... o que me preocupa foi resultado do exame tlorz.
-Está falando do exame feito por paranormais para detectar clones ?
-Isso é procedimento padrão, eu sei, também fui submetida a esse teste. Os
zeelishianos podem colocar cópias entre nós sem que saibamos. Bem, nenhum deles foi
reprovado neste teste, ou seja, eles são Laísa, Víni e Máik mesmo, e não alguma cópia,
mas... O teste detectou que existe uma mente extra inserida em cada um de seus corpos,
como se cada um deles tivesse sua consciência normal e uma consciência anômala. Por
causa disso fizeram uma ressonância magnética neles, e... foram detectados, em cada um,
um corpo estranho perto de suas colunas vertebrais.
-Podem ter sido colocados pelos zeelishianos. De qualquer forma, vamos descobrir o
que são esses corpos estranhos, quando eles acordarem.
-Espero que isso não lhes faça mal antes que acordem.
Tuyluik e Matthaus estavam abismados com a conversa de Luibla e José, e nem se
deram conta quando Léo, Bibi, Lublizo e Sakura chegaram na enfermaria também.
-Tem algo que eles estão escondendo de nós! disse Bibi, aborrecida Não sei o que
é, mas tem! ela continuou reclamando. Léo olhou mais em volta e viu dentro de um outro
tubo com líquido amniótico o mutante Slink, preso por vários fios minúsculos que entravam
por sua pele, ainda com um ferimento enorme no abdômen, mas que parecia ir se
recuperando lentamente.
-Este mutante lhes ajudou, é verdade ?
-Sim, José Luibla respondeu ao incobryidi foi graças a ele que chegamos até aqui.
Protegeu meus alunos desde 8-P, ajudou-os a me salvar e foi ele quem guiou a nave de
ataque que usamos. Enfim, foi de grande utilidade.
-Por quê um mutante criado para servir aos zeelishianos se juntaria a nós ?
-Eu não preciso entender isso, José. Só preciso aceitar! É estranho pensar que isso
possa acontecer, mas aconteceu, e eu ficaria feliz em ter Slink comigo na OPG!
-Um mutante de laboratório zeelishiano em Caracówl ? Luibla, tem...
-Tenho certeza! a caracolesa encarou José, sendo firme em seu modo de falar.
-Eu conversarei com os líderes da OPG. Se eles aprovarem, eu não me oponho.
-Obrigada, meu amigo!
A informação de que a paz em Smoockerr esteve tão ameaçada foi negada a todo
custo pelos militares, mas pelo o menos alguns boatos a respeito vazaram, e a imprensa de
todo o Smoockerr especulou muito nas semanas que se seguiram. Mas nenhum jornalista
conseguiu, entretanto, alguma foto, entrevista ou algo que confirmasse tudo aquilo. Apenas
o boato ficou, mas talvez este boato algum dia originasse uma lenda a respeito de heróis
super-poderosos que com sua presença varreram esquadrilhas inteiras do inimigo. Na
verdade, não havia sido nada daquilo, Sakura e seus amigos, tanto os civis como os
militares, admitiram que tiveram apenas sorte de pelo o menos três deles terem sido bempreparados durante um ano, e também por terem Slink ao seu lado.
159
Mas a verdade é que a Ônuc não poderia ter colocado um nome melhor naquela subdivisão do seu Exército: Organização Protetores da Galáxia . Um nome um tanto
demagogo, eles reconheciam, mas sobretudo encorajador. Legiões inteiras dos planetas
dominados colaborariam de todas as formas com esses protetores. Por mais que não
acreditassem em Caracówl, talvez, para os não-zeelishianos, qualquer coisa fosse mesmo
melhor do que viver sob o jugo de Eduardo.
-Vida longa a Eduardo para sempre!
bradou um soldado ZWXk-04, ao entrar num
enorme salão dourado e ornamentado tal qual os salões dos castelos medievais da Terra.
Este salão ficava exatamente dentro de um castelo desse tipo, construído nos campos
litorâneos da zona tropical do Planeta Hessel.
-Que governe-nos para sempre!
respondeu-lhe um homem alto, de porte altivo e
de presença austera. Tinha 1,83 m de altura, era forte, de corpo atlético, apesar de já ter
uma idade um tanto avançada, loiro, mas com vários fios de cabelo já brancos, olhos azuis e
olhar severo - O que o traz aqui ?
-Senhor Herr Reich, venho informar-lhe que o Sr. Juviks Veck, que trabalha em sua
guarda pessoal, foi encontrado gravemente ferido após uma explosão num estádio esportivo
em Zeelish.
-Meu Deus! Como ele está ?
-Passa bem. Foi o único sobrevivente da enorme explosão causada por terroristas
caracoleses. Vários soldados e um capitão das Forças Armadas morreram neste ataque, e
por pouco também não houve vítimas civis.
-Malditos caracoleses! Todos tinham que ser exterminados!
-E nem ao menos tivemos tempo de clonar os mortos.
-Juviks foi clonado ?
-Não, o capitão reformado Juviks está sendo mantido consciente desde que foi
encontrado. Ele não precisou ser clonado porque foi encontrado vivo. Sem dúvida, um
homem muito forte. Mas só vim até aqui para deixar-lhe a par desta situação, e garantir que
em pouco tempo ele voltará a suas funções.
-Obrigado pela informação
o homem disse, de um modo elegante, como poucos
costumavam tratar os mutantes.
-Então, agora estou me retirando. disse o mutante - Vida longa a Eduardo!
-Vida longa a Eduardo o velho homem respondeu Vida longa a Eduardo enquanto
me der lucro ele completou a frase, agora num tom mais baixo, de forma que o mutante
não pudesse mais escutar.
A guerra havia cessado temporariamente, e 2155 terminava com todo o Caracówl
desejando muita paz dali por diante. Na noite de 31 de dezembro, estavam na Guanabara o
inc. José e sua família, Luibla, Taklyba, Salina, Jibiu e o mutante Slink. Todos se
encontravam na vila onde moravam Lublizo e a família de Víni, assim como todos os amigos
deles e seus familiares, além de muitos vizinhos que eles pouco conheciam. Todos os
integrantes do Ricky Team, inclusive os robôs, também estavam presentes na festa de anonovo que era organizada ali.
-Afinal, que tipo de comemoração é esta ? Slink perguntava, desconfiado, enquanto
permanecia de pé, encostado numa parede, coçando a nuca, com os olhos bem abertos.
Léo, que estava ao seu lado, respondeu-lhe com outra pergunta.
-Ano-novo, Slink, nunca comemorou o ano-novo ?
-Não vejo razão para se comemorar um novo período de translação do planeta.
-O pior é que ano não é um período de translação do planeta. Não aqui em
Caracówl. É, você ainda vai ter muito o que aprender por aqui. Ano-novo é isso mesmo, é a
gente comemorar mais um ano junto com quem a gente gosta. É parar e pensar em como
ser melhor no próximo ano...
160
-Pode até ser uma idéia interessante. Tentarei entender isto.
-Assim como também aprendeu a trabalhar com os caracoleses
disse Gru, que
estava ali perto também.
-É curioso uma máquina falar em aprendizado
Slink olhou para o lado, fascinado
com o robô de Sakura, que agora estava diante dele.
-Máquinas podem ser mais orgânicas do que você pensa. Depende de como as
tratamos. O contrário também acontece, tanto que tem orgânicos como você que são como
máquinas para os zeelishianos.
-Acredita que eu seja programado ?
-Você venceu sua programação, Slink! Você soube pensar, fez o que não esperavam
que fizesse. Hoje você é mais livre que muitos humanos.
-Pode ser... Liberdade é um conceito um tanto vago
ele disse, antes de ir até a
mesa e pegar uma rabanada e ser servido pela mãe do Víni, que lhe trazia um copo de
vinho, bebida que ele desconhecia até então. Slink então examinava e cheirava o líquido
antes de bebê-lo, como um degustador experiente faria, procurando sentir o máximo de
sensações diferentes, procurando fazer uso máximo de seus sentidos.
Sem dúvida, há muitos prazeres aqui neste planeta que eu não poderia desfrutar em
parte alguma do império , ele pensava, enquanto observava Laísa, Raiane e mais uma
terceira garota, moradora daquela vila, dançando ao som do mais puro funk guanabarense.
Vem , t ichuquinha, vem aqui com seu glulzão!
Ao- ão- ão! Ao- ão- ão! Esse é o Bonde do Glulzão!
-Vem Slink, dança com a gente também! Laísa o puxou para junto delas, e insistiu
para que ele a imitasse. Bastante desengonçado, o mutante até se saiu razoavelmente bem
na dança, conseguindo ao menos divertir os outros participantes da festa, que o
observavam.A curiosidade de todos a respeito de sua origem era muito grande, mas os
militares caracoleses haviam lhe recomendado que não revelasse nada de sua origem a
alguém a quem não conhecesse.
Num canto do condomínio, uma árvore glóib-tóib havia crescido a partir de uma
semente trazida por Víni de Bõung-Bõung, fazia um ano. Ele a havia plantado ali no jardim
da vila antes de ir treinar na OPG. Árvores glóyb-tóib traziam muitas lembranças a Sakura e
Lublizo, e foi por isso que eles escolheram passar a virada de ano no alto dela, sentados,
entre sua copa, em partes bem sólidas e resistentes. De lá do alto, eles podiam ver todo o
condomínio, as ruas em volta, a praia ao fundo e toda a queima de fogos que aconteceria
pela cidade. De lá de baixo, não era possível vê-los.
E assim foi, o relógio logo marcou 24:59 h, logo veio a contagem regressiva, e todos
se cumprimentaram, desejando uns aos outros um feliz ano-novo. Lá no alto da árvore,
Lublizo e Sakura deram um longo beijo e se abraçaram bem forte, como se estivessem se
reencontrando depois de muito tempo longe.
-Lublizo, me diz, depois de quase um ano juntos, você tem certeza que é comigo que
você quer ficar, pra sempre mesmo ?
-Eu nunca duvidei disso desde que começamos a namorar.
-Eu também não, mas confesso que naquela noite em Zeelish eu tive medo que não
fôssemos estar hoje juntos aqui.
-Verdade, eu também temi por nós, como também temi pela Luibla. Hoje eu só temo
pelos nossos amigos. Eles estão com habilidades muito interessantes. O que o Víni fez foi
incrível, mas... Eu não sei. Tem algo muito esquisito por trás disso. Algo que ainda vai trazer
muitos problemas.
-Eu entendo, mas eu confio neles, afinal, um dia eles vão ser Protetores da...
161
-Eu espero que cheguem a ser mesmo. O Máik disse que quando se formar, vai ser
nosso guarda-costas em torneios interplanetários.
-Isso não é necessário, eu já me sinto protegida o suficiente com você ao meu lado.
-Mas eu não sei lutar, não sei usar meu poder psíquico e...
-Isso não é importante. Só o que importa é que você sempre esteve ao meu lado, e
eu estarei do seu. O Universo é muito grande, ser treinadora lá fora é perigoso, uma guerra
nos ameaça a qualquer instante, mas se nós continuarmos juntos...
-Então, um Universo lá fora nos aguarda! Lublizo apontou para os céus.
-Não tenha pressa!
disse Sakura, beijando-o mais uma vez
O Universo pode
esperar! e juntos, eles desceram para cumprimentar os outros que estavam na festa.
Máik estava com Salina e Jibiu, sentados numa mesa, conversando.
-Se vocês estão empolgados com essa festa, têm que ver como é o Carnaval! Muito
bom, vou levar vocês pra desfilarem comigo na escola de samba!
-O que ser uma escola de samba ? Salina perguntou, com um forte sotaque, pois
estava aprendendo agora o Português, assim como o seu filho.
-Ah, só vocês vendo! Um monte de carros alegóricos, com gente fantasiada,
dançando e cantando pra uma platéia, fazendo um desfile sobre algum tema... Máik se
empolgava, só de falar
E esse ano o samba da minha escola tem tudo a ver com o que
estamos vivendo e então começou a cantar o refrão.
Quero ver a Guanabara, sacudir
Minha escola faz o povo, se divertir
É a ÔNUC no samba, a caminho do céu
Com a Juvent ude de Past or Joel!
Sua mãe então apareceu, ao lado de seu irmão Fabinho, que era mais novo, tendo
10 anos, e Máik aproveitou para apresentar-lhes uns aos outros.
-Essa é a minha namorada Salina, e esse é o Jibiu!
-O que ele é ? perguntou Fabinho, tentando esconder o espanto.
-Ele é... o seu sobrinho! Máik sorriu, brincando com seus familiares E aí mãe, dá
um abraço no seu neto! ele disse, e sua mãe, embora com um pouco de medo, fez aquilo.
-Olá vovó, é bom te conhecer, e feliz ano-novo! ela ainda tinha algum receio, mas
o garotinho mutante foi tão afetuoso que qualquer preconceito que ela pudesse ter foi
instantaneamente dissolvido.
-Você vive lá na OPG também ?
ela perguntou, ainda sem saber que eles eram
refugiados de guerra.
-Sim! Salina respondeu.
-Então, sejam felizes juntos! a mãe de Máik disse, enquanto viu Jibiu e Fabinho já
brincando juntos, e pensou em quanto o seu filho mais velho agora estava responsável.
Tinha uma namorada que ele realmente parecia gostar, já pensava em ser pai mesmo ainda
sendo novo e quase não bebeu a noite inteira.
-O exército fez mesmo bem a ele!
ela disse, chamando o inc. José, que estava ali
próximo.
-O tempo fez bem a ele, as experiências fizeram... o militar respondeu.
-Mãe, antes eu só pensava em zoar. E ainda penso, mas agora eu quero estar mais
concentrado no treinamento, sabe... Eu te falei que fui preso pelos zeelishianos, não falei ?
Eu vi coisas muito ruins lá dentro. Meu ideal agora é acabar com Eduardo e todos os
imperialistas daquele planeta!
-Não se preocupe, Máik! O seu governo vai ajudar todos aqueles povos.
-Não, não vai! o inc. José foi quem surpreendeu a todos com aquelas palavras, em
resposta ao que Salina tinha dito.
-José ?
162
-Máik, eu já fui um agente de campo como você ainda será. Fui eu quem resgatei
Trbluzikzay e o trouxe para Caracówl. Eu já vi em muito a miséria e o sofrimento que nossos
inimigos têm causado, e acho que por isso eu entendo todo o seu idealismo. Eu já fui
idealista assim como você, e até a bem pouco tempo. Já acreditei que trabalhando pela
Ônuc, me engajando de verdade, eu pudesse mudar o mundo. Já acreditei que levaríamos a
democracia que existe em Caracówl para planetas onde o povo é oprimido, mas isso tudo foi
uma ilusão enorme. Depois que deixamos o nosso trabalho e passamos a ser burocratas,
esquecemos da pressa que esses povos têm em se verem livres de todo esse mal. Nós
ficamos pensando: Não podemos fazer isso ou aquilo porque vai nos dar prejuízo e isso vai
ser decisivo no futuro! Mentira, Máik, é tudo mentira. Se a Ônuc quisesse, já teria
declarado guerra a Zeelish e libertado todos as colônias. No passado eu já tentei usar toda a
minha influência para que isso acontecesse, mas a decisão nunca pôde ser minha. Sempre
quem decidia eram um bando de políticos que nunca haviam saído do seu mundo perfeito,
nunca viram o que nós vimos! Eu já tentei acreditar no que me diziam, já tentei me enganar
e enganar aos outros, mas a verdade é que me dá nojo saber que tiramos nossa renda do
comércio com os zeelishianos! Hipócritas, como nós somos hipócritas! Pregamos a liberdade,
mas não fazemos nada por ela.
-Então, isso nunca vai mudar ?
Máik perguntou, com um olhar triste. E Salina o
acompanhava, com a desesperança, a frustração por saber que embora agora sua vida
estava melhor, ela nunca voltaria a seu mundo.
-Nunca não, meu jovem! Isso pode mudar ainda, mas jamais acredite que os
governos são tão bonzinhos quanto dizem ser. Acredite menos em ideologias ou em
governos, e acredite mais em você. Ainda bem que aqui em Caracówl, o governo é o reflexo
do povo, então eles têm que depender de você, não você deles.
-Entendi, José, valeu pela dica! Máik sorriu, quando viu se aproximarem Víni, Laísa
e Taklyba, seus parceiros de treinamento.
-É pena que eu não consegui o que queria quando tinha a idade de vocês. Agora já
estou meio velho, mas nunca se esqueçam: faça sempre o que sua consciência achar que é
certo! E quando estiverem no terreno inimigo
José fez uma pausa por alguns segundos,
enquanto tomava um guaraná com Red Glúlzu, bebida energética para agüentar ficar
acordado na festa até o fim Quando vocês se tornarem poderosos guerreiros, e estiverem
no terreno inimigo, explodam os traseiros de uns samambers por mim!
-Pode deixar, José, pode deixar!
eles riram, antes de voltarem a se misturar no
meio do povo, e aproveitar o restante da festa e da primeira noite do ano que começava.
163
PORTAIS:
Tanto zeelishianos como caracoleses já dominam a tecnologia de portais há muito tempo. Através
de um grande distúrbio magnético, os equipamentos criam uma abertura no espaço, ligando dois pontos
quaisquer do Universo. Mas é preciso para abrir a passagem, que existam dois equipamentos, um do lado
que se está, e outro onde se quer chegar.
Assim, uma nave que esteja em meio a um terreno hostil, sendo atacada sem chances de defesa,
pode acionar o sistema de fuga Gateway, conhecido em Caracówl como Estrada de Kivuwl , para
retornar a uma base que possua o portal receptor. O portal convencional é um arco de metal que pode ficar
em qualquer lugar, tanto dentro, quanto fora do planeta, tendo normalmente 50 m de diâmetro.Cada portal
precisa de um outro idêntico do outro lado, e só é possível abrir passagem para um mesmo destino por
vez. Já a Estrada de Kivuwl é um enorme aparelho que normalmente fica fora de um planeta, numa base
ou estação espacial, e que não pode enviar sinal para abertura de portais para lugar nenhum do Universo,
mas pode receber sinais de abertura de qualquer ponto, podendo abrir centenas de passagens dimensionais
ao mesmo tempo.Para enviar uma freqüência de sinal para uma estrada de Kivuwl, é preciso ter instalado
em sua nave o equipamento Gateway de fuga. Na verdade o Gateway de fuga são várias esferas
carregadas de eletromagnetismo que ficam presas no casco da nave em pontos estratégicos.São elas que
criam o distúrbio magnético e abrem a passagem.
MAPA DE ZEELISH:
164
MAPA DE CARACÓWL:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
24.
25.
26.
27.
28.
29.
30.
31.
32.
33.
34.
35.
36.
37.
38.
Zikam
Linéingj
Rowissa l
Lwuóik Blonwur
Blângie z
Caroline
Leão
Blonwrs
Fa'lwulisá
Gal'wagrwi
Anna
Hópri$ Ór Nim
Lyit-kaimè
Flwuri
Hópri$ Ór
Emma
Ca's'tul
Zeliet
Helérys
U.S.L.
Nu_Å
VoltriÅivus
Caracówlis
Samarrathma
Shéykrè
Zona da Ônuc
Preywuts
Zuèdyu
Esgyet
Escólthland
Tarongt
Nuilye
Savarísvi
Paketá
Daysdwuy
Floresta
Xíwlton
Juyríssie
39.
40.
41.
42.
43.
44.
45.
46.
47.
48.
49.
50.
51.
52.
53.
54.
55.
56.
57.
58.
59.
60.
61.
62.
63.
64.
65.
66.
67.
68.
69.
70.
71.
72.
73.
74.
75.
76.
Jurayssek
Jussayek
Juyri s
Jusklye
Balzúltai
Balziklay
Jetrylye
Crulizive
Craytèyryi
Craèytew
Quinino
Zaneysrro
Charúckytus
Pishe
Tlyijio
Guanabara
Builazòw
Califórnia
Sawduyzi
Pèrnambuco
El Pueblo
PRS
Linbuerk
Orathyn
Lhuga
Pri$'Or
Bõung- Bõung
Assuam
Gostam
Íl-lhus
Sanidwitye
Goia lba
Vurucã
Charutovit
Styll
Flamengo
Liglwu
Englao
77. Winolth
78. Greny
79. Tuchê
80. Angar
81. Katýcu
82. Turyn
83. Sumi
84. Ralado
85. Renan
86. Pituk
87. Tuk
88. Leandro Barata
89. I. do Vulcão
90. Scotland
91. Tuna
92. Shara
93. España
94. Wales
95. Tasmânia
96. Shell
97. Sugar
98. Nissebes
99. Biron
100.
Asgar
101.
Norge
102.
Trona
103.
Colono
104.
Leglanchê
105.
$uinè
106.
Scargyi
107.
Medrul'layee
108.
Elaine
109.
Rifilie
110.
Elfilie
111.
Fillipe
112.
Vulucõu
165
ANIMAIS DE CARACÓWL:
Os caracoleses se alimentavam tanto de carne como de vegetais, mas um pouco antes de os humanos
chegaram, havia um consenso entre a população para que fosse proibido matar animais, mesmo para
comer, uma vez que a carne não é essencial à dieta deles.
Mesmo os animais introduzidos pelos humanos mais tarde (bois, cavalos, cães, gatos) são protegidos hoje
em dia pelo Estatuto da ÔNUC que condena o abate destes animais para qualquer fim.Quando o abate
começou a ser proibido, os caracoleses passaram a criar o krôlbitu.
Krôlbitu
É uma espécie de lagarto originário da região dos Marrons e do leste de
Liníingj.Há um total de 25 espécies, sendo o krôlbitu comum a mais utilizada
comercialmente, além de 3 espécies criadas por cruzamento genético.
O krôlbitu é o único animal usado em Caracówl hoje em dia para se extrair
carne, porque não precisa ser morto ou mutilado para isso. Sua cauda, onde está
cerca de 35 % de sua massa corporal, se regenera constantemente, assim como o da
lagartixa terrestre. O procedimento de arranca-lo é muito simples e não causa dor
ao animal. Uma vez arrancado, o rabo pode crescer novamente em até duas semanas.
Glúlzu
O glúlzu é o animal de estimação mais popular entre os caracoleses.
Eles têm o corpo parecido com o de um golfinho, mas tem patas com
exoesqueleto, como um inseto, e o corpo coberto de pêlos. Também
vivem nas florestas de quase todo o mundo, e são usados para
corridas. Têm uma inteligência considerada mais alta do que a de um
macaco. No passado, algumas raças já foram usadas para tração.
TECNOLOGIA
Tradutor Instantâneo Escolta
Você, caracolês de classe média-alta já tentou viajar para fora
do planeta, mas como você não é nenhum milionário, preferiu voar de
VESP, não é mesmo ? Só que os aviadores da VESP volta e meia têm
que fazer uma aterrissagem em um planeta diferente do que você
queria ir não é mesmo ? E depois, você fica perdido tentando se virar
com as línguas de lugares como Raewrfgú, Crisadfghubú, ou Titussifú,
que você nunca ouviu falar não é mesmo ?
Pois seus problemas acabaram!
Chegou o revolucionário Tradutor Instantâneo ESCOLTA. O T.I.E. é na verdade um
potente computador que você pode colocar em volta da cabeça, com uma poderosa microcaixa de som e um regulador para mais de 440 idiomas e dialetos.Ao ouvir uma palavra
numa língua desconhecida, automaticamente o T.I.E. envia para o seu cérebro através de
pulsos elétricos a informação recebida na língua original já traduzida para o Caracolês, o
Akina, o Português ou qualquer outro idioma à sua escolha! É incrível! E quando você falar
alguma coisa, o seu tradutor instantâneo automaticamente cria o som já traduzido nessa
mesma língua, para que o nativo de onde você estiver possa entende-lo melhor! Faça
amigos de todos os cantos do Universo! Com o novo T.I.E.
você pode! E mais, o T.I.E. pode ser conectado à
Enterwave, e de lá você poderá baixar atualizações, para
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idiomáticas, tudo isso será instalado sem custo adicional.
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Seysu SY- 6578ZT
Fabricante: Zoltus Corp.
Tipo: Multimídia de comunicação e armazenamento.
Processador: Zoltus Sei-koi de 250Ghz e cachê 256Gb.
Memória: 512Gb OBDRAM.
Armazenamento: MAP II de 600Tb.
8,5 cm. Comp. X 7,5 a 13cm larg. X 2 cm altura Peso: 212g.
Tela: Localizada acima do aparelho exibe 4 números Akina.
Chip Gráfico: color 128Bits, resolução máxima de 480X480 por
128Bits e 100Gb OBDRAM.
Extras: Drive de MD (micro disk) de 120X.
Sistema operacional: Garuk Osamio-ka 21.3.6.8 em 7 idiomas.
Modo de comunicação: Conexão em WCC Encryp 2.6, Radio laser Encryp 6.0 ou SSK
Encryp 0.8 (compatibilidade com três padrões internacionais Zikam, ONUC e Englao)
Todos os comandos são reconhecidos por voz ou teclado podendo inserir senhas
alfanuméricas ou vocais.
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Música:
Yzwnilk - Música típica dos povos amarelos e vermelhos do norte, é caracterizada pelo som
muito melódico e harmonioso, num ritmo lento, interrompido por uma espécie de refrão
cantado muito rápido.
As apresentações de músicas nesse estilo incluem normalmente três cantores, que se
revezam.A voz é sempre o principal da música, que normalmente também é acompanhada
por instrumentos de corda.
Okò - Música que mistura cantos melodiosos e muita percussão, criada pelos povos
marrons.Hoje em dia sofreu muita influência da música zikana e já é bem diferente de sua
forma original.
Goivalavin Música ao mesmo tempo melódica e eletrônica.Seu principal instrumento é a
ygrav la, que lembra muito uma guitarra, porém seu som é menos estridente.Esse ritmo
lembra o rock primitivo dos humanos (anos 50 do século XX do calendário gregoriano)
B.I.J. Esse ritmo foi criado por volta de 2000 do calendário caracolês, e é uma mistura de
música goivalavin, rock e jazz. O estilo musical leva o nome da banda que o criou. Todas as
bandas que surgiram em seguida fazendo um estilo de música parecido adotaram seu estilo
como sendo BIJ.
Craytè música típica de Craytèyryi.Em geral não tem letra e é tocada com o ulèyuj, que
faz um som semelhante ao do prato, do violão e da harpa ao mesmo tempo, além de
também ser possível criar sons semelhantes a de instrumentos de percussão.Essa música é
pouco conhecida no resto do mundo, ficando meio restrita a festas craytèyrienses.
Kraimbu O Kraimbu é o ritmo caracolês com mais popularidade entre os humanos.Usa
três instrumentos básicos: o Kraimbu, uma espécie de tambor pequeno feito de madeira,
com cordas nas laterais; o tijyey, um instrumento de sopro que parece ao mesmo tempo um
saxofone e um berrante, mas na verdade tem um som bem diferente dos dois.Na lateral há
uma espécie de manivela para alterar o som.A sua boca é quase totalmente fechada, a não
ser por pequenos quadrados que ficam na ponta e que conforme a manivela é girada
produzem os diferentes tons musicais; também há o ikutoum, um instrumento de cordas um
pouco menor que uma bateria, que produz um som que lembra uma mistura de cavaquinho
e bateria.
O Kraimbu é um ritmo acelerado, forte e animado, criado pelo povo Cerévo, do norte de
Liníingj, e que conquistou fãs em todo o mundo. É a música de origem caracolesa que reúne
o maior número de variantes
Hoje em dia, o grupo de Kraimbu de maior sucesso é o Kraimburugútzis, que mistura
Kraimbu com o pagode fundo-de-quintal dos humanos e um pouco de rap e rock em
algumas músicas, com alguns temas mais românticos.
Ainda são muito populares as músicas de origem humana como o samba e o pagode
(Charúckytus, Guanabara) o rock (Guanabara, Califórnia, El Pueblo), o jazz (Califórnia, El
Pueblo), a música mexicana (El Pueblo) e a música escocesa (Scotland, Wales)
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O ALFABETO CARACOLÊS:
A - Anima l
B - Barata
C - Caracówl
D - Doente
E - e ne rgúme no
F - fofoca
G - gato
H h elicóptero
I - I diota
J - j umento
KL - Leandro
M - manteiga
N - ninguém
O - ótimo
P - pap ai
Q - Quintino
R - rato
S - sal
T - Tatu
U - u ru bu
V - vela
W - W arlley
X - Xuxa
Y - Yasmin
Z - Zilda
S -- - S seco
$ - - Bar ata
Å - - táx i
O - - book
E -- feet
W w com som de V
H - hot
O IDIOMA CARACOLÊS
Eu
Tu / Você
Ele
Rosx
Ueit
Uáipi
Meu, minha, meus, minhas
Teu, tua, seu, sua, teus, tuas, seus, suas
Dele, dela
Nosso, nossa, nossos, nossas
Vosso, vossas, vossos, vossas
deles, delas
Nós
Vós/Vocês
Eles
Rosxa z
Ueita z
Uáipia z
Kèrrosx
Kèueit
kèuáipi
kèrrosxa z
kèrrosxa z
kèuáipia z
O/a/os/as* Pa
Um/Uma*
Piwv
Uns/umas* Piwv z
*(No Português eles são classificados como artigo, mas em Caracolês são pronomes)
Aquele/aquilo/aquela/aqueles/aquelas Tav
Este/estes/esta/estas/esse/essa/esses/essas/isto/isso
Que/qual/quais/quem Fi z
O que/o qual/cujo Fivi nba
Túvu
SUFIXOS
Caracolês O que significa
Úlywo
Ulwó
Íkiri
Íwkiri
ãzi
õzi
Ege
Gusvi
azy
Exemplo
Substantivo abstrato, derivado de substantivo Praetvúlio (leitura,De praet: livro)
Substantivo abstrato, derivado de adjetivo
Rekiulwó (Moleza, de rêki:fácil)
Adj. de referência a povo, espécie, raça... Caracowlíkiri (Caracolês)
Adj. Pátrio
Caracowlíwkiri (Caracolês, que nasceu ou é de Caracówl)
Aumentativo
Praetãzi (livrão)
Diminutivo
Praetõzi (livrinho)
Aquele que partilha das idéias do
Caracówlgusvege (Caracolista)
Religião, doutrina, práticas, idéias
Caracówlgusve (Caracolismo religião)
Advérbio de modo
(calmamente)
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Nolp
Frò
Raefa
Nimgè
faji s
emes
PREFIXOS
Aquele que não é
Aquele que é contra
Aquele que é a favor
Aquilo que é de dentro
Aquilo que é de fora
Aquilo que vem do meio
jok
jéik
mèvi
rudji
onfiè
danim
Aquilo
Aquilo
Aquilo
Aquilo
Aquilo
Aquilo
que vem antes
que vem depois
que é quase
que é pouco
que é muito
que está junto
PREPOSIÇÕES
De(upl), Sem(nesgue), em(nim), e(u), Desde(fisgu), Com(ciim), Por(urprè), Para(ixac),
Após(laò)
VERBOS
Terminam sempre em dãgy ou doguiú.Com exceção dos verbos Jux (ser) e juxke (estar)
Conjugação:
PRESENTE: Conjuga se sempre o próprio verbo em sua forma normal
Eu Rosx
jux
Nós Rosxa z jux
Tu Ueit
jux
Vós Ueita z jux
Ele Uáipi
jux
Eles Uáipia z jux
PRETÉRITO: Conjuga se sempre o próprio verbo, com o acréscimo de eiu
FUTURO: Conjuga se sempre o próprio verbo, com o acréscimo de uiia
FUTURO DO PRETÉRITO: Conjuga se sempre o próprio verbo, com o acréscimo de uiiauze
IMPERATIVO: Conjuga se sempre o próprio verbo, com o acréscimo de aji.
PRETÉRITO IMPERFEITO: Conjuga se sempre o próprio verbo, com o acrésimo de eiuze
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