Velocidade de reação

Transcrição

Velocidade de reação
Universidade do Vale do Paraíba
Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento
“Velocidade de reação motora e o lactato sangüíneo, em diferentes
tempos de luta no judô.”
Elessandro Váguino de Lima
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Ciências
Biológicas, como complementação dos
créditos necessários para obtenção do
título de Mestre em Ciências-Biológicas.
São José dos Campos, SP
2003
Universidade do Vale do Paraíba
Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento
“Velocidade de reação motora e o lactato sangüíneo, em diferentes
tempos de luta no judô.”
Elessandro Váguino de Lima
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Ciências
Biológicas, como complementação dos
créditos necessários para obtenção do
título de Mestre em Ciências-Biológicas.
Orientador: Prof. Dr. Rodrigo A. B. L. Martins
Co-Orientador: Prof. MSc. Charli Tortoza
São José dos Campos, SP
2003
“Velocidade de reação motora e o lactato sangüíneo, em diferentes tempos de luta
no judô.”
Elessandro Váguino de Lima
Banca Examinadora
Prof. Dr. Rodrigo Alexis Lazo Osorio, Presidente da Banca (UNIVAP).
Prof. Dr. Rodrigo A. B. L. Martins, Orientador (UNIVAP).
Prof. MSc. Charli Tortoza, Co-Orientador (UNIVAP).
Prof. Dr. Emerson Franchini, Membro Convidado (MACKENZIE).
Prof. Dr. Marcos Tadeu Tavares Pacheco
Diretor do IP&D
São José dos Campos, 03 de dezembro de 2003.
Dedico este trabalho aos atletas de judô
que buscam o aperfeiçoamento físico e
mental, com o objetivo de alcançar o alto
desempenho competitivo, em especial, meu
sobrinho Igor Sene.
Agradeço a Deus por ter me dado a oportunidade
e perseverança para finalizar esta dissertação;
Ao apoio do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da
Univap durante a elaboração deste trabalho;
À Secretaria do IP&D e Biblioteca Setorial;
Ao Prof. Dr. Rodrigo Álvaro Brandão Lopes Martins,
incentivador e orientador do trabalho;
Ao Prof. MSc. Charli Tortoza, co-orientador,
que através das cobranças mostrou o caminho,
que nem sempre é agradável, mas necessário para o conhecimento;
Aos amigos atletas que foram voluntários para a execução dos testes;
Aos meus pais Maria e Joel, à minha irmã Eleane,
meu cunhado Moisés e as pessoas especiais
que cruzaram o meu caminho me ensinando a ser melhor,
ou pelo menos mais paciente.
“Não se desvie do caminho que o destino lhe atribuiu”.
(Provérbio Chinês)
RESUMO
Introdução: A velocidade de reação motora humana ou tempo de reação (TR) é
uma capacidade física importante para judocas, sendo observada na reação aos
ataques ou pegadas do adversário, a fim de realizar um contra golpe, ou fazer
uma esquiva. Durante uma luta de alta intensidade, há um aumento considerável
na concentração de lactato sangüíneo (LS), que está relacionado com a fadiga
muscular, podendo interferir na capacidade do atleta reagir rapidamente, pois a
fadiga pode agir em diferentes locais desde a percepção do sinal externo, até a
contração muscular. Objetivos: O objetivo deste trabalho foi de verificar a
influência da elevação da concentração do LS, após estímulo de luta (Randori) de
1 min e 30s, 3 min e 5 min, no TR em atletas de judô de alto nível. Métodos:
Foram analisados 11 indivíduos do sexo masculino, competidores, saudáveis, com
idade média de 23,4 anos + 2 anos. Para o registro do TR simples foi utilizado o
Sistema Cybex Reactor. Para os registros do LS foi utilizado um lactímetro portátil
Accusport ®, com fitas de análise Boehringer Mannheim ®. Resultados: A análise
da variância (Kruskal-Wallis) mostrou diferença significativa entre o LS antes e
após as lutas (p < 0,05) no teste de TR, e na comparação do número de erros
(NE) na execução da tarefa em repouso, imediatamente após as lutas e após três
min do final (p < 0,05). Foi demonstrado que houve correlação significativa
(Pearson) entre o NE para executar a tarefa de TR e a concentração de LS (r =
0,9341; p < 0,05). Entretanto, não houve diferença significativa entre os registros
de TR pré e pós-lutas (p > 0,05). Conclusões: No presente estudo foi concluído
que altas concentrações de LS não influenciam na capacidade de atletas de judô
de alto nível em reagir rapidamente ao estímulo visual, mas faz com que haja uma
diminuição na eficiência na tarefa de reação. Isto foi demonstrado na alta
correlação entre as concentrações de LS e o NE da tarefa de TR, sendo
provavelmente o resultado da diminuição da concentração dos atletas de judô sob
condição fatigante de luta.
Palavras-chave: Fadiga muscular, lactato, velocidade de reação motora, judô.
ABSTRACT
Introduction: The velocity of motor reaction in humans is a important physical
quality to judo competitors, that is observed in attacks reaction or griped
opponents, to do a contra attack or to do a escape. During a High intensity fight,
there is a considerable increase in serum lactate, which is closely related to muscle
fatigue. This fact may interfere in the capacity of the athlete in reacting to stressful
situations during the combat, because the fatigue may be acting at locals several,
since signal perceptive until muscle contraction. Objectives: The main purpose of
this work is to study the role of serum lactate increases after a 1’30”, 3’ and 5’,
combat situations (Randori) in the velocity of motor reaction in High Level Judo
Competitors. Methods: For this purpose we evaluated 11 healthy male athletes,
competitors, 23,4 + 2 years old.
To record the simple reaction time, initially,
immediately after combat and at the three minutes to rest, we employed the Cybex
Reactor System. To record the serum lactate concentrations it was used a portable
lactate analyser Accusport with test strips purchased from the Boehringer
Mannheim Company. Results: Variance analysis (Kruskal-Wallis) and showed
significant differences between serum lactate before, immediately after combat and
at the three minutes to rest (p < 0,05) and in the velocity of motor reaction (Cybex
Reactor), between the number of errors to execute the tests before and after
combats (p < 0,05). It was observed a significant correlation (Pearson Correlation
Linear) between the number of errors to execute the tests at Cybex Reactor and
the serum lactate concentration (r = 0,9341; p < 0,05). However, it wasn’t found
significant differences between the motor reaction time before and after combats (p
> 0,05). Conclusions: The results demonstrate that the high serum lactate
concentration does not affect the motor reaction time in high level judo competitors,
indeed it suggests that there is a decrease in the efficiency of the reaction. This
fact was demonstrated by the high correlation found between the serum lactate
concentrations and the number of errors in the reaction tests, it was probably the
results of concentration reduction in judo competitors to stressful situations.
Key-words: Muscle fatigue, lactate, velocity of motor reaction, judo.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
1
2. REVISÃO DE LITERATURA
3
2.1 Percepção e Processamento do Estímulo Externo
3
2.2 Estrutura Básica de um Neurônio, Propagação e Transmissão
do Estímulo Nervoso
7
2.3 Estrutura e Contração do Músculo Esquelético
10
2.3.1 Composição da Fibra Muscular
10
2.3.2 Fases da Contração Muscular
11
2.3.3 Tipos de Fibra Muscular
12
2.4 Transferência de Energia
13
2.5 Fadiga
15
2.6 Velocidade de Reação Motora
20
2.7 Características Fisiológicas do Judô
24
2.7.1 Tempo de Reação e Fadiga no Judô
25
3. OBJETIVO
27
4. HIPÓTESE
28
5. METODOLOGIA
29
6. RESULTADOS
35
7. DISCUSSÃO
48
8. CONCLUSÃO
55
9. REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS
56
10. ANEXO
61
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – Atleta estabilizado nas plataformas Cybex Reactor
na tarefa de TR
31
Figura 02 – Atleta durante a tarefa de TR no Cybex Reactor
31
Tabela 01 – TR em repouso, pós-lutas e após 3 min do final das lutas
36
Tabela 02 – Número de erros de TR em repouso, pós-lutas e após
3 min do final das lutas
37
Tabela 03 – Lactato em repouso e após 3 min do final das lutas
38
Tabela 04 – Lactato e número de erros pré e pós-lutas
40
Figura 03 – Gráfico de TR em repouso e pós-lutas
42
Figura 04 – Gráfico de TR em repouso e após 3 min do final das lutas
43
Figura 05 – Gráfico de TR em repouso, pós-lutas e após 3 min
do final das lutas
Figura 06 – Gráfico da concentração de lactato em repouso e pós-lutas
44
45
Figura 07 – Gráfico do n° de erros de TR pré, pós-lutas e após 3 min
do final da luta
46
Tabela 05 – Dados completos de TR (Anexo)
61
Tabela 06 – Dados completos de lactato
63
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
%
-
Percentual
ADP -
Adenosina Difosfato
ATP -
Adenosina Trifosfato
bpm -
Batimentos por Minuto
Ca
-
Cálcio
CP
-
Creatina Fosfato
Fig
-
Figura
K
-
Potássio
l
-
Litro
min
-
Minuto
mmol -
Milimol
Na
-
Sódio
Pi
-
Fosfato Inorgânico
s
-
Segundo
SNC -
Sistema Nervoso Central
Dp
-
Desvio Padrão
Tab
-
Tabela
TR
-
Tempo de Reação
X
-
Média
1
1. INTRODUÇÃO
O judô é um esporte de contato que foi criado no Japão, adaptado do Jiu-jitsu
em 1882 pelo professor Jigoro Kano (SILVA et al., 1983). É um esporte de luta
composto de técnicas de projeção e técnicas de solo (estrangulamentos, chaves de
articulação e imobilizações).
Uma luta masculina em competição de judô na classe sênior (adulta) tem a
duração total de 5 minutos, podendo ser finalizada a qualquer momento, caso um dos
lutadores consiga um Ippon (considerado golpe perfeito), ou haja desistência de um
dos lutadores antes do final do tempo regulamentar. Este tempo pode ser prorrogado
por mais 5 minutos (Golden-Score), se a primeira etapa terminar empatada, sendo
que nesta segunda fase qualquer vantagem na pontuação por parte de um dos
lutadores, é determinado o encerramento da luta e o vencedor. Atualmente, em
competições, o judô é desenvolvido em lutas de alta intensidade de esforço, em
períodos intermitentes de atividade e repouso (DRIGO et al., 1994).
Como esporte de alto nível, o judô requer amparo científico para que
proporcione, aos técnicos e treinadores, referências fisiológicas que auxiliem na
organização do treinamento. Alguns parâmetros podem ser conseguidos por meio da
avaliação que permite a caracterização das capacidades físicas específicas e
predominantes da modalidade, e da condição física do atleta, para que a preparação
física possa suprir as deficiências do judoca. Atualmente, existem poucos trabalhos
na literatura que enfatizem os aspectos fisiológicos do judô em comparação com
pesquisas de outras modalidades (DRIGO et al., 1994, 1996; FRANCHINI et al.,
1998, 2000, 2001; SERRANO et al., 2001). Isto leva o treinador a prescrever um tipo
de treinamento com pouco embasamento, ou ainda a utilizar como referência
resultados obtidos de outras modalidades esportivas que foram mais profundamente
investigadas. Protocolos de avaliação de esportes como atletismo e luta grecoromana, têm sido utilizados pelos treinadores para avaliar e prescrever treinamento
para atletas de judô, porém, devido às diferenças fisiológicas, técnicas e táticas entre
2
essas modalidades, as aplicações e os resultados práticos podem ser pouco
significantes.
Uma das capacidades físicas essenciais para o desempenho em competições
de judô é a velocidade de reação motora, ou tempo de reação (TR), simples ou
complexo, que corresponde ao tempo entre a percepção de um estímulo (visual,
acústico ou tátil) e o início da resposta muscular apropriada (BARBANTI, 1997;
SCHMIDT, 1993). Ao mesmo tempo em que o judoca define estratégias de ataque no
decorrer de uma luta ele deve estar atento às ações do adversário, devendo reagir
apropriadamente aos seus golpes a fim de responder com um contra golpe ou
simplesmente executar uma esquiva, o que depende de um alto grau de atenção
(VILKINER, 1982, citado por WEINECK, 1999) e da velocidade com que aconteça a
resposta após o estímulo.
Quando uma luta se desenvolve em alta intensidade, fatores relacionados à
fadiga, como altas concentrações de lactato no sangue e no músculo assim como dos
íons hidrogênio (STACKHOUSE et al., 2001), começam a influenciar negativamente a
performance do atleta, e o TR pode ser uma das capacidades físicas afetadas, pois
compreende diversas fases, desde a percepção do estímulo até a resposta muscular,
e fatores fatigantes podem interferir em algumas destas fases (DUARTE, 1989, citado
por FARINATTI & MONTEIRO, 1992; GUYTON, 1977; SCHAUF et al., 1993). Com o
intuito de observar o comportamento do TR do judoca, sob condições de luta de judô,
foi desenvolvido um protocolo de teste onde se induziu o aumento da concentração
de lactato no sangue, para verificar sua influência no TR simples.
3
2. REVISÃO DE LITERATURA
A execução dos movimentos voluntários realizados depende de 3 elementos
fundamentais: da percepção dos aspectos do ambiente, do processamento e
elaboração da resposta e da produção da atividade muscular organizada (SCHMIDT,
1993). Estes aspectos são requeridos durante a execução de atividades que
necessitam de um movimento estruturado, tornando-se primordiais para o rendimento
esportivo. Alguns fatores como a atenção, motivação, experiência com a atividade,
energia disponível e aspectos relacionados à fadiga, podem interferir desde a
percepção do estímulo até a resposta motora, e influenciar o desempenho atlético
(SCHIMIDT, 1993).
Parece ser de fundamental importância compreender as limitações que os
processos fatigantes podem trazer durante as fases do movimento, e como os fatores
que auxiliam na performance podem atenuar a instalação da fadiga (WEINECK,
1999). Este estudo procura verificar alguns destes aspectos.
Para facilitar a compreensão dos leitores serão apresentados e discutidos os
fatores relacionados à performance motora, desde a percepção do estímulo até a
contração muscular, e o que pode estar limitando ou influenciando neste processo.
Serão abordados, ainda, o TR, que é uma capacidade física importante para o
desempenho em muitos esportes, em especial no judô, e os aspectos relacionados à
fadiga e de sua influência sobre o TR, que providenciarão a discussão principal deste
trabalho.
2.1 Percepção e processamento do estímulo externo
A percepção do estímulo ou sinal externo proveniente do ambiente é a fase
que antecede o processamento das informações geradas a partir dos aspectos do
ambiente, fazendo com que o mesmo seja organizado corretamente (SCHMIDT,
1993). Deste modo, é necessário que ocorra a percepção do estímulo, pela detecção
4
das informações que o ambiente proporciona para que a execução da tarefa seja feita
de forma adequada. Os órgãos sensoriais captam os estímulos, sejam, visuais, táteis,
acústicos, que normalmente estão sendo emitidos simultaneamente, cabendo ao
SNC priorizar os que são relevantes para a tarefa (WEINECK, 1999).
A dificuldade de se estudar os efeitos do fenômeno perceptivo nos processos
relacionados à performance habilidosa, faz com que, em muitos casos, pouca
importância seja dada à fase da percepção. Apesar de muitas pessoas geralmente
perceberem um mesmo elemento da mesma maneira, diferenças no processo
perceptivo podem existir e são os resultados de uma variedade de fatores pessoais
(SINGER, 1980). Alguns desses fatores são relacionados a diferenças presentes no
estilo
perceptivo,
na
atenção
seletiva
e
conjunta
dos
sinais
externos
(VERKHOSHANSKI, 2001), na motivação que providencia maior concentração
(estado de alerta) ao sujeito, na experiência com a tarefa a ser executada, e no nível
de desenvolvimento e maturidade (SINGER, 1980).
O estilo perceptivo é descrito como sendo um processo pelo qual o sujeito
recebe informações do ambiente de formas distintas, podendo ser dependente ou
independente do campo visual. O estilo perceptivo dependente do campo visual
apresenta-se com uma visão espacial ampla, ou seja, o sujeito observa diversos
componentes que estão sendo apresentados no ambiente como parte de um conjunto
de informações que fornecerão as ferramentas necessárias para a percepção. O
estilo perceptivo independente do campo visual, ou seja, com uma visão espacial
mais centrada, faz com que as informações do ambiente sejam aproveitadas de
forma mais específica, onde o sujeito prioriza informações dentro de um campo visual
observado. Com estas diferenças nos fatores pessoais relevantes para o processo de
percepção, os sujeitos podem se apresentar mais aptos a desenvolver certos tipos de
atividade, dependendo de tarefas com complexidade distinta em que o ambiente tem
maior interferência. Sage (1977, citado por SINGER, 1980) entende que indivíduos
dependentes de campo visual teriam maior dificuldade em modalidades com bola,
pois não discriminam a bola de outros componentes apresentados no campo com
eficiência.
5
A atenção seletiva providencia ao sujeito a capacidade de eliminar aspectos
que não têm influência sobre a tarefa. Essa capacidade de seleção dos estímulos
apresentados providencia uma percepção rápida e facilitada dos aspectos relevantes
para o processo perceptivo.
Um outro fator que influencia no processo perceptivo é a motivação. O sujeito
motivado se mostra mais concentrado para a execução da tarefa, conseguindo
perceber e selecionar mais facilmente os sinais relevantes, previamente definidos
pela vontade de percebê-los no ambiente que os apresenta (SINGER, 1980).
Assim como os fatores supracitados, a experiência prévia do sujeito com o
ambiente ou com os objetos que este ambiente apresenta, pode promover um nível
de expectativa que melhora sua percepção (SINGER, 1980). A familiaridade com
estas situações é o resultado da aprendizagem motora e é descrita como
aprendizagem perceptiva. Segundo Epstain (1967, citado por SINGER, 1980) a
aprendizagem perceptiva está relacionada às experiências com a tarefa, com a
exposição a fatores conflitantes que o ambiente apresenta, promovendo uma melhora
na capacidade de percepção correta dos sinais apresentados, e estariam também
relacionados ao nível de desenvolvimento e de maturidade que o indivíduo possui.
Após
a
percepção
do
estímulo
pelos
órgãos
sensoriais
haverá
o
reconhecimento de que este sinal foi apresentado, e posteriormente a seleção e
organização da resposta no SNC. Estes três estágios (reconhecimento, seleção e
organização) fazem parte do processamento das informações no sistema nervoso
(SHIMIDT, 1993).
Durante a primeira etapa, ou fase do reconhecimento do estímulo, ocorre a
interpretação se o estímulo foi apresentado e se a forma em que isto aconteceu foi
correta. A análise da informação concernente à condição em que o objeto se
encontra é um estágio sensorial que utiliza fontes como a visão, tato e audição. Neste
momento fatores como a trajetória do objeto no ambiente, seu peso e velocidade em
que se encontra e sua posição no espaço, são considerados. O resultado deste
estágio é representado como uma apresentação do estímulo.
6
Em seguida, na fase de seleção da resposta, as informações sobre as
condições do estímulo em relação ao ambiente apresentarão as ferramentas
necessárias para programar a resposta mais adequada a ser feita. Nesta fase é
definida a escolha dos movimentos disponíveis em virtude do estímulo que foi
apresentado.
Na última etapa do SNC que é a da programação da resposta, ocorre uma
organização das informações armazenadas, para que seja desencadeada a
propagação do estímulo aos níveis inferiores no tronco cerebral e espinha dorsal, e
estes sinais sejam mandados aos músculos específicos para que possam realizar a
ação ou movimento propriamente dito. Este movimento será melhor desenvolvido,
quanto mais correta as informações tiverem sido percebidas e processadas no
sistema nervoso. Por isso, nesta fase o sistema procura organizar de forma
apropriada e com níveis de força e de intensidade eficientes, de acordo com o
estímulo apresentado e percebido, para que o músculo se contraia e responda
adequadamente (SCHMIDT, 1993).
Durante o estágio de processamento da informação alguns fatores podem
auxiliar ou prejudicar o sistema na organização das informações, adequadamente,
assim como ocorre durante a fase de percepção do sinal. A experiência com a tarefa
pode determinar se o processamento da informação será facilmente compreendido
pelo SNC. A motivação também pode providenciar um maior grau de atenção ao
sujeito, facilitando o processamento da informação, ou interferindo negativamente se
o indivíduo não estiver concentrado (SCHMIDT, 1993).
Após a verificação de como o sinal é percebido e processado, serão
abordados os processos que ocorrem durante a propagação do estímulo nervoso, até
sua chegada na junção neuromuscular (SCHMIDT, 1993).
7
2.2 Estrutura básica de um neurônio, propagação e transmissão do
estímulo nervoso
A propagação e transmissão do sinal neural são dependentes de células
nervosas denominadas neurônios (FOX et al., 1991; GUYTON & HALL, 1998;
SCHAUF et al., 1993). O neurônio é formado pelo corpo celular, pelos dendritos e
pelo axônio (SCHAUF et al., 1993; WILMORE & COSTILL, 2001). O corpo celular é o
centro de controle do neurônio e possui ramificações denominadas dendritos, que
são curtos ramos neurais por onde recebem estímulos de outras terminações
nervosas, e aumentam a superfície de contato entre os neurônios (FOX et al., 1991;
MCARDLE et al., 2003). A condução do estímulo nervoso acontece somente em uma
direção, não sendo possível que um sinal percorra o caminho inverso ao que foi
programado (GUYTON & HALL, 1998). O sistema nervoso é constituído por ligações
entre neurônios, entre os neurônios e os receptores sensoriais e entre os neurônios e
as fibras musculares (GUYTON & HALL, 1998).
Cada neurônio motor inerva até milhares de fibras musculares, no entanto
cada fibra muscular é inervada por apenas uma “ramificação” axonal de um neurônio.
O conjunto entre um neurônio motor e as fibras musculares que ele inerva é
conhecido como unidade motora (TORTORA, 2000; WILMORE & COSTILL, 2001). O
espaço entre a terminação axonal e o sarcolema é conhecido como fenda sináptica,
sendo necessário um mediador químico (neurotransmissor) para atravessar este
espaço para que o estímulo elétrico seja transmitido da membrana pré para a pós
sináptica. O neurotransmissor responsável por propagar este sinal do neurônio motor
para a fibra muscular é a acetilcolina (AIRES et al., 1999; FARINATTI & MONTEIRO,
1992; GOLDBERG, 1997; GUYTON & HALL, 1998; LERNER, 1982; MCARDLE et al.,
2003).
Para que a acetilcolina atinja o sarcolema é necessário que antes ela seja
liberada na fenda sináptica. Depois que o estímulo elétrico atinge a terminação
axonal, os íons Ca++ do líquido intersticial migram para dentro da terminação nervosa
fazendo com que as vesículas contendo acetilcolina liberem-na na fenda sináptica.
8
(AIRES et al., 1999; LIPPOLD & WINTON, 1970, TORTORA, 2000). A acetilcolina
atravessa a fenda e se liga a receptores na membrana da fibra muscular, mudando
sua conformação, e abrindo canais iônicos a fim de desencadear um potencial de
ação que é decorrente da mudança de carga elétrica no interior da membrana
(FARINATTI & MONTEIRO, 1992; SCHAUF et al., 1993). Parte da acetilcolina,
porém, é degradada pela enzima acetilcolinesterase. A colina resultante desta
degradação será reutilizada para ressintetisar mais acetilcolina (TORTORA, 2000).
As atividades do sistema nervoso são originárias de receptores sensoriais,
auditivos, visuais ou táteis. Eles detectam estímulos sensoriais como o tato, calor, luz
e fazem ligação com neurônios que, por sua vez, se ligam a outros neurônios para a
condução
do
impulso
nervoso.
Os
mecanorreceptores,
termorreceptores,
nociceptores, receptores eletromagnéticos (fotorreceptores) e os quimiorreceptores
são basicamente os tipos de receptores sensoriais existentes em diversos locais do
corpo (GUYTON & HALL, 1998; WILMORE & COSTILL, 2001).
As sensações e o estado fisiológico são detectados por receptores sensoriais
distribuídos pelo corpo. Terminações nervosas como o Corpúsculo de Meissner
(tato), o Corpúsculo de Pacini (pressão), Receptores Sinestésicos (angulação
articular), entre outros, são responsáveis por converterem os diferentes tipos de
estímulos em potencial de ação e transmitir estas informações, por vias aferentes, ao
sistema nervoso. O sistema sensorial oferece ao SNC informações do ambiente, do
posicionamento do corpo, e de seu estado funcional para que possa organizar
diversas atividades por meio da contração muscular (WILMORE & COSTILL, 2001).
O músculo esquelético pode ser controlado a partir de muitos níveis distintos do
sistema nervoso, incluindo a medula espinhal, o bulbo, a ponte e o mesencéfalo, o
cerebelo e o córtex motor (GUYTON & HALL, 1998).
O SNC controla de forma organizada, como a fibra será estimulada. Para se
manter a força de uma contração muscular por tempo prolongado, o sistema nervoso
varia a quantidade de unidades motoras ativadas (KERNELL, 1992, citado por
ENOKA, 2000), através da mudança do número de unidades motoras, ou do volume
de atividade destas unidades que tenham sido ativadas. Existe basicamente uma
9
seqüência pré-estabelecida pela qual ocorre um controle ordenado de recrutamento
das unidades motoras. A princípio, a ordem em que uma unidade motora é recrutada
é definida pelo tamanho do neurônio motor indicado pela área de superfície do corpo
celular e dos dendritos, sendo que os menores neurônios são recrutados primeiro por
serem mais facilmente excitáveis. Porém, outros fatores podem interferir no
recrutamento ordenado das unidades motoras, como a sensibilidade dos receptores
ao neurotransmissor, e a quantidade deste que é liberada a cada potencial de ação
pela terminação nervosa. Esta organização é encontrada entre neurônios motores
que inervam um músculo em particular (ENOKA, 2000).
Se a musculatura esquelética se contrai por tempo prolongado ou durante uma
alta intensidade de exercício, pode haver um declínio na capacidade do músculo em
gerar a força necessária para a manutenção do trabalho. Nestas condições pode se
iniciar a instalação dos processos de fadiga o que prejudica o rendimento, fazendo-se
necessário que algum tipo de adaptação seja providenciado. O SNC pode receber
uma resposta, sobre as condições do músculo em fadiga, através dos tratos
sensoriais ascendentes que conduzem os impulsos nervosos da periferia ao encéfalo
(TORTORA, 2000), ou isto pode ocorrer na região supra-espinhal através de uma
interpretação e resposta voluntária da condição fatigante ao músculo, ou ainda pela
reposta reflexa do neurônio motor espinhal para o músculo (WESTERBLAD &
ALLEN, 2002). Esta questão será melhor abordada no capítulo sobre fadiga
muscular.
Em condições fatigantes, o percentual do tipo de fibra muscular recrutada pode
se alterar para se manter o trabalho no músculo. Então é conduzido um impulso ao
sistema nervoso para que ele defina que resposta será enviada ao músculo para
tentar atenuar a situação fatigante. Um exemplo disto é mostrado quando o sistema
motor altera o percentual de recrutamento entre os músculos que compõe um mesmo
grupo muscular. Sjogaard et al. (1986, citados por ENOKA, 1995) verificaram este
comportamento através de registros eletromiográficos (eletrodos de superfície) no
quadríceps da coxa, onde observaram uma variação na ordem de recrutamento dos
músculos que compõe o quadríceps, durante 1 hora de tarefa. Embora o torque tenha
10
permanecido constante durante o tempo de duração do protocolo experimental,
concluiu-se que o SNC foi capaz de desencadear uma alteração na atividade
muscular para manutenção da tarefa, fazendo com que houvesse no decorrer do
teste uma maior ação do vasto lateral, em relação ao começo da tarefa.
2.3 Estrutura e contração do músculo esquelético
2.3.1 Composição da fibra muscular
Quando um estímulo elétrico percorre a fibra muscular, uma série de
acontecimentos é necessária antes que ocorra a contração muscular (MCARDLE et
al., 2003). O entendimento das estruturas do músculo é importante para a
compreensão de como o músculo se contrai.
O músculo esquelético é formado por milhares de fibras contráteis envolvidas
por tecido conjuntivo denominado endomísio (FOX et al., 1991). Internamente, presa
ao Endomísio está a membrana da fibra, conhecida como sarcolema (MCARDLE et
al., 2003). Na extensão do sarcolema estão os túbulos transversos (túbulos T), os
quais permitem que os impulsos nervosos que chegam ao sarcolema sejam
transmitidos às miofibrilas rapidamente (FOX et al., 1991; WILMORE & COSTILL,
2001). Entre as miofibrilas há um espaço preenchido pelo sarcoplasma, que é uma
substância gelatinosa. Este espaço é o próprio citoplasma da fibra muscular, onde o
retículo sarcoplamático irá liberar Ca++ necessário para a contração muscular
(GUYTON & HALL, 1998; WILMORE & COSTILL, 2001).
Os Filamentos de actina e os de miosina formam o sarcômero, que é a
unidade funcional básica de uma miofibrila (WILMORE & COSTILL, 2001). Eles se
interagem e mudam a posição de seus filamentos para que o músculo se contraia
(GUYTON & HALL, 1998). Os filamentos de miosina são dispostos em forma de
dupla hélice, com duas cabeças em cada extremidade, denominadas pontes
cruzadas (FOX et al., 1991), enquanto os filamentos de actina são compostos por
actina, troponina e tropomiosina (FOX et al., 1991; GUYTON & HALL, 1998). A
troponina tem três subunidades, uma ligada a actina, outra ligada a tropomiosina
11
(enrolada à actina de forma helicoidal) e uma última sendo o sítio de ligação para os
íons cálcio (Ca
++
) (MCARDLE et al., 2003; SCHAUF et al., 1993). O retículo
sarcoplasmático é responsável pelo armazenamento e liberação do Ca
++
(GUYTON
& HALL, 1998), que irá agir ligando-se à troponina para eliminar sua capacidade de
inibição em repouso (veja detalhes a seguir).
2.3.2 Fases da contração muscular
Antes que aconteçam os processos contráteis, algum estímulo deve ser
enviado ao cérebro e ser processado para determinar qual a musculatura será
acionada e qual o tipo de contração será desencadeado. Neurônios do córtex motor
são excitados e o estímulo elétrico é mandado pelas fibras nervosas eferentes para a
junção neuromuscular. Quando um potencial de ação chega à junção neuromuscular,
canais de cálcio voltagem-dependente são abertos, fazendo com que ocorra o influxo
de Ca++ para a terminação nervosa (GUYTON & HALL, 1998; SCHAUF et al., 1993).
Esse processo faz com que vesículas contendo acetilcolina se fundam com a
membrana pré-sináptica e as libere na fenda sináptica (MCARDLE et al., 2003). Parte
da acetilcolina liberada é degradada pela enzima acetilcolinesterase, gerando colina
que é reabsorvida pelo botão sináptico, e ácido acético que é metabolizado
(FARINATTI & MONTEIRO, 1992). A acetilcolina que não foi degradada e chega à
membrana da fibra muscular se liga então aos receptores colinérgicos nicotínicos, e
muda a conformação da membrana, abrindo canais de sódio (Na +) e potássio (K +),
desencadeando um potencial de ação na fibra muscular (SCHAUF et al., 1993). Esse
potencial de ação ocorre com a entrada de Na + (despolarização) para dentro da
célula, e posteriormente ocorre a saída de K + (repolarização) (BULLOCK et al., 1998).
Com a despolarização da membrana da fibra muscular, o impulso elétrico
percorre os túbulos t e chega até o retículo sarcoplasmático, o qual libera íons Ca++
armazenados, no sarcoplasma (TORTORA, 2000; WILMORE & COSTILL, 2001). Os
íons Ca++ liberados, ligam-se à troponina e eliminam seu poder de inibição,
permitindo que as pontes cruzadas de miosina se acoplem à actina (FOX et al.,
12
1991). Nesse momento a actina ativa a enzima ATPase, que fraciona adenosina
trifosfato (ATP) (ligado à cabeça da miosina) em adenosina difosfato + fosfato
inorgânico (ADP + Pi), liberando energia (MCARDLE et al., 2003). Essa energia é
utilizada para fazer a acoplagem da cabeça de miosina com o sítio de ligação da
actina (SCHAUF et al., 1993; WILMORE & COSTILL, 2001), e produzir a tração
necessária para o deslizamento dos filamentos de actina sobre os de miosina,
resultando no encurtamento do sarcômero (FOX et al., 1991; GUYTON & HALL,
1998), que é a contração muscular propriamente dita. Nova molécula de ATP é ligada
à cabeça da miosina desfazendo a ligação actina-miosina (MCARDLE et al., 2003).
Na quebra desse ATP, é liberada novamente energia para a acoplagem e posterior
deslizamento dos filamentos de actina com a tração das cabeças de miosina, com o
aumento do encurtamento do sarcômero e continuação ou manutenção da contração
do músculo (MCARDLE et al., 2003; WILMORE & COSTILL, 2001).
Enquanto houver Ca++ ligado à troponina, decorrente do impulso que chega à
fibra, o processo contrátil continua, mas é cessado quando o Ca++ é levado de volta
para o retículo sarcoplasmático. Este processo também é dependente de gasto de
energia, e é feito a partir da hidrólise de ATP (FOX et al., 1991; GUYTON & HALL,
1998; SCHAUF et al., 1993).
Dependendo da intensidade do exercício e do tempo em que este é
prolongado, há uma predominância na excitação de determinados tipos de fibras
musculares. Isto é importante para determinar a capacidade do indivíduo em resistir a
determinados volumes e intensidades de esforço. A disponibilidade de energia,
representada pelo ATP, e dos íons Ca++ são também fatores limitantes nos processos
de contração muscular (MCARDLE et al., 2003).
2.3.3 Tipos de fibra muscular
Os músculos são constituídos por diferentes tipos de fibras musculares: as
fibras do tipo I (vermelhas de contração lenta), e as do tipo II (brancas de contração
rápida) (FOSS & KETEYIAN, 2000). As fibras do tipo I são predominantemente
13
aeróbias (FARINATTI & MONTEIRO, 1992), enquanto as do tipo II podem ser
subdivididas de acordo com suas características: IIA são anaeróbias, podendo atuar
aerobiamente, IIB tipicamente anaeróbias e IIC indiferenciadas que podem participar
na reinervação ou na transformação das unidades motoras (MCARDLE et al., 2003).
As fibras vermelhas possuem um grande percentual de mioglobina, de
mitocôndrias, e uma maior capilarização, e são mais resistentes à fadiga, sendo
recrutadas predominantemente em atividades de resistência, enquanto as fibras
brancas possuem maior percentual de miofibrilas e de enzimas que participam da
glicólise anaeróbia e menor percentual de mioglobina, sendo fibras utilizadas
essencialmente em atividades de alta potência com menor capacidade de resistência
à fadiga (CHICHARRO & VAQUERO, 1995; DOUGLAS, 2002). Logo, dependendo do
percentual do tipo de fibra muscular que o indivíduo possui, e do treinamento das
capacidades aeróbia ou anaeróbia, este pode ter maior ou menor capacidade de
resistir à fadiga no músculo, caracterizando-o como um atleta de “endurance” ou de
atividades de potência muscular.
2.4 Transferência de energia
Uma das formas de armazenamento de energia na musculatura esquelética e
no fígado é o glicogênio, o qual pode ser hidrolisado para produzir glicose, no
processo denominado glicogenólise (TORTORA, 2000). A glicose será convertida por
diversas reações químicas em outras substâncias até disponibilizar energia, ou ATP.
O ATP, quando degradado em ADP, libera Pi, e esta “quebra” libera energia
que é utilizada em todo trabalho celular onde for necessária (ALBERTS et al., 2002;
FOX, 1984; LEFF & SCHUMACKER, 1996; MCARDLE et al., 2003; WILMORE &
COSTILL, 2001), incluindo várias etapas da contração muscular. Além do ATP, a
creatina fosfato (CP) é um composto químico com uma ligação fosfato, rica em
energia (GOLDBERG, 1997; MCARDLE et al., 2003; WILMORE & COSTILL, 2001). A
CP pode decompor-se e liberar Pi que deverá ser utilizado na ressíntese de ATP
14
(FOX, 1984; WILMORE & COSTILL, 2001), para repor rapidamente o que está sendo
utilizado e manter o trabalho muscular por mais tempo.
O ATP mais a CP celular que estão armazenados no músculo esquelético são
denominados como o sistema do fosfagênio de alta energia. Em conjunto, eles
predominam no fornecimento de energia para a potência muscular rápida entre 8 e 10
segundos, podendo chegar à 15 s, nas atividades que requerem especialmente
capacidade de explosão muscular, e esse processo é denominado de metabolismo
anaeróbio aláctico (FARINATTI & MONTEIRO, 1992; GUYTON & HALL, 1998;
MCARDLE et al., 2003; WILMORE & COSTILL, 2001), onde não há a necessidade da
utilização de oxigênio para a produção de energia (anaeróbio), e a concentração de
ácido láctico não se eleva de maneira significativa, como quando observado na
predominância do metabolismo anaeróbio láctico, onde é verificado aumento
exponencial na concentração de lactato sangüíneo (MCARDLE et al., 2003),
especialmente em atividades intensas entre 1 e 3 min de duração (FOX, 1984;
LEHNINGER et al., 2000; MURRAY et al., 1998). Os primeiros estágios de exercícios
que culminam em altas concentrações de lactato sangüíneo se iniciam pelos
processos do metabolismo anaeróbio, onde cada molécula de glicose é convertida
em duas moléculas de ácido pirúvico, que pode ser convertido em Acetil-Coa para
entrar no Ciclo de Krebs e produzir ATP na mitocôndria (metabolismo oxidativo)
(ALBERTS et al., 2002; BERKALOFF et al., 1975; GUYTON & HALL, 1998; LEITE,
2000). Porém, na falta de oxigênio suficiente para que ocorra o processo oxidativo do
metabolismo da glicose, a maior parte do ácido pirúvico é hidrogenado e converte-se
em ácido láctico, a partir da combinação de íons hidrogênio (H+) ao ácido pirúvico
(SILVA et al., 1983; TORTORA, 2000; WILMORE & COSTILL, 2001). O ácido láctico
se difunde, então, das células musculares para o líqüido intersticial e o sangue
(BULLOCK et al., 1998; GUYTON & HALL, 1998; LEHNINGER et al., 2000).
O lactato sangüíneo é dissociado a partir do ácido láctico, com liberação de
íons hidrogênio (FARINATTI & MONTEIRO, 1992), mas sua concentração no sangue
e no músculo não representa apenas a produção de ácido láctico, mas depende do
15
balanço entre sua liberação na corrente sangüínea e sua remoção (BROOKS, 1991,
citado por DENADAI, 1997).
A capacidade que o atleta possui de realizar esforço com alta concentração de
lactato no sangue é resultado da adaptação à capacidade física anaeróbia láctica.
Além disso, ocorrem adaptações no organismo do indivíduo treinado, como o
aumento de enzimas que regulam a glicólise anaeróbia (MCARDLE et al., 2003).
Com o desenvolvimento desta capacidade física, a diminuição do rendimento deve
ser retardada e provavelmente o judoca realizará um maior número de lutas com
menor indício de fadiga, comparado com um judoca menos condicionado,
acumulando menos lactato no sangue em esforço submáximo e/ou removendo-o
mais rapidamente (FRANCHINI, 2001), já que o acúmulo elevado de lactato no
sangue está associado com a diminuição do rendimento (AHMAIDI et al., 1996,
citados por FRANCHINI, 2001).
Os sistemas do ácido láctico juntamente com o ATP/CP são predominantes
nas lutas em competições de judô, mas a capacidade aeróbia também tem papel
essencial nas lutas que se prolongam até o final e principalmente naquelas que
terminam empatadas e vão para o Golden-Score, podendo chegar a 10 min de
duração.
2.5 Fadiga
O termo fadiga é usado para descrever estado de desconforto e de menor
eficiência muscular (FITTS, 1996; FOSS & KETEYIAN, 2000). A fadiga muscular
localizada foi definida como a diminuição na capacidade de gerar força (DEEB, 1999;
ROZZI et al., 2000; STACKHOUSE et al., 2001), diminuição da velocidade,
resultando em erros, falta de coordenação, atraso no TR e diminuição do
desempenho atlético (BARBANTI, 1997), dependendo da intensidade e duração da
tarefa.
Podem existir diferentes causas para a fadiga muscular que resultam na falha
do mecanismo contrátil. Elas podem ser decorrentes de fatores periféricos, que
16
resultam da incapacidade local do músculo em gerar força, e fatores centrais por uma
diminuição da ativação do SNC (FITTS, 1996; WESTERBLAD & ALLEN, 2002). A
falha periférica pode ser decorrente de fatores relacionados ao sistema energético
(ATP-CP, glicólise e oxidação), à disponibilidade de Ca++, ao acúmulo de subprodutos
metabólicos que alteram o pH fisiológico (DUARTE, 1989, citado por FARINATTI &
MONTEIRO, 1992; EDMAN et al., 1992, citados por ENOKA, 1995; GUYTON, 1977;
SCHAUF et al., 1993), e ao aumento da quantidade de Pi na fibra muscular
(RASSIER & MACINTOSH, 2000; WESTERBLAD & ALEEN, 2002). A falha central
pode ser decorrente de informações das condições estressantes do músculo para o
sistema nervoso por um estímulo aferente, que providenciará uma diminuição na
freqüência de estímulos mandados para a fibra muscular por um estímulo eferente
(GANDEVIA, 2001, citado por WESTERBLAD & ALLEN, 2002, WILMORE &
COSTILL, 2001).
Quando acontece um distúrbio no músculo que leva ao estado de fadiga, pode
ocorrer um feedback inibitório aferente (BIGLAND-RITCHIE et al., 1995; GARLAND et
al., 1990; HAYWARD et al., 1991, citados por ENOKA, 1995) para a região supraespinhal que desencadeia uma resposta inibitória para um neurônio motor
(BIGLAND-RITCHIE et al., 1986; GARLAND et al., 1990, citados por FORESTIER &
NOUGIER, 1998), com a redução da freqüência das descargas elétricas para estes
neurônios, ou por uma inibição direta que parte do próprio neurônio motor em direção
à fibra muscular (GANDEVIA, 2001, citado por WESTERBLAD & ALLEN, 2002),
resultando em declínio no rendimento do músculo (FOSS & KETEYIAN, 2000). Esta é
uma forma de ajuste que o sistema nervoso utiliza para manter o trabalho muscular,
através de uma espécie de economia de estímulos do comando central para o
músculo em trabalho (BIGLAND-RITCHIE et al., 1983, citados por FORESTIER &
NOUGIER, 1998).
À medida que a atividade muscular se prolonga, também pode ocorrer uma
falha no mecanismo de transmissão do impulso elétrico do neurônio motor para a
fibra muscular, pela excessiva e freqüente chegada de estímulo na junção
neuromuscular, resultando na limitação da liberação do neurotransmissor acetilcolina
17
pela terminação nervosa (FARINATTI & MONTEIRO, 1992; LERNER, 1982). Com a
menor liberação de acetilcolina na fenda sináptica, ocorrerá uma redução em sua
quantidade que irá atingir os receptores da fibra muscular (membrana pós-sináptica)
podendo limitar ou bloquear a excitação da fibra muscular.
Outro fator que pode levar à fadiga é a interrupção do fluxo sangüíneo para um
músculo em contração por cerca de 1 min, pela queda dos níveis de nutrientes e
oxigênio que chegam no músculo envolvido (LERNER, 1982). Em caso de fadiga
extrema, o músculo pode entrar em espasmo (câimbra). Isso deve ser decorrente da
queda dos níveis de ATP na musculatura esquelética (DOUGLAS et al., 2002;
LERNER, 1982), impossibilitando que o complexo actina-miosina se separe,
resultando numa contração continuada (MCARDLE et al., 2003). Essa redução dos
níveis de ATP é resultado do aumento da depleção do glicogênio muscular, com
diminuição na ressíntese de ATP (GUYTON & HALL, 1998; SCHAUF et al., 1993).
Durante o processo dependente da atuação do Ca++ na capacidade de gerar
força para a contração muscular, pode ocorrer limitação na sua liberação pelo retículo
sarcoplasmático ou na sua utilização no sarcoplasma, em casos de fadiga. Nesta
condição haverá uma redução na concentração de Ca++ liberado pelo retículo
sarcoplasmático (ALLEN et al., 1989; WESTERBLAD et al., 1993, 1996, citados por
RASSIER & MACINTOSH, 2000), ou diminuição na sensibilidade ao Ca++ que foi
liberado (WESTERBLAD et al., 1991, citados por RASSIER & MACINTOSH, 2000). O
segundo fator pode ser decorrente da diminuição da afinidade da troponina pelo Ca++.
(RASSIER & MACINTOSH, 2000; WESTERBLAD & ALLEN, 2002). O metabolismo
anaeróbio envolve a hidrólise da CP, para creatina e Pi. Esta é uma forma de
disponibilizar energia para a ressíntese de ATP e acontece durante atividades de alta
intensidade de 10 s de duração aproximadamente, onde o Pi liberado se liga ao ADP
para formar ATP (WILMORE & COSTILL, 2001). Com a diminuição da CP e a
redução na formação de ATP é observado um aumento na concentração de Pi no
sarcoplasma (SAHLIN & KATZ, 1990). Porém, o Pi aumentado pode diminuir a
função contrátil (WESTERBLAD & ALLEN, 2002), a partir da redução na produção de
força das pontes cruzadas e da redução na sensibilidade ao Ca++ (ALLEN et al.,
18
1995; FITTS, 1994; WESTERBLAD et al., 1991, citados por RASSIER &
MACINTOSH, 2000; DAHLSTEDT et al., 2001, citados por WESTERBLAD & ALLEN,
2002). O Pi pode diminuir a liberação do Ca++ do retículo sarcoplasmático ao entrar
no retículo e causar precipitação de um complexo Ca++-Pi (DUKE & STEELE, 2001;
POSTERINO & FRYER, 1998), que é menos sensível para se ligar à troponina, além
de levar a uma quantidade reduzida do Ca++ livre para ser liberado posteriormente
(FRYER et al., 1997; DAHLSTEDT et al., 2001; GIANNESINI et al., 2001 KABBARA
et al., 2001, citados por WESTERBLAD & ALLEN, 2002). O aumento de Pi, segundo
os autores, é considerado um dos fatores intramusculares de grande importância na
diminuição da produção de força induzida pelo processo de fadiga em atividades de
alta intensidade (STACKHOUSE et al., 2001; THOMPSON & FITTS, 1992;
WESTERBLAD & ALLEN, 2002; WESTERBLAD & LEE, 1991).
No caso da fadiga decorrente do acúmulo de substratos metabólicos, é
observada como principal causa, a presença acentuada de ácido láctico em
atividades intensas (VOLTARELLI et al., 2002), que é uma forma de disponibilizar
ATP pelo sistema da glicólise anaeróbia, que ocorre na ausência de oxigênio. A
formação de ácido láctico ocorre pela reação do ácido pirúvico com o hidrogênio.
Porém o excesso de ácido láctico pode levar à diminuição da performance. O ácido
láctico em si não é responsável pela fadiga, mas quando dissociado em lactato e íons
H+, pode resultar numa condição de acidose muscular (FOSS & KETEYIAN, 2000;
GHORAYEB & NETO, 1999; GUYTON & HALL, 1998). Essa condição ácida
resultante do acúmulo dos íons H+ pode alterar a fisiologia muscular, como a ação
enzimática nos processos contráteis (CONN & STUMPF, 1994; GOLLNICK et al.,
1990; SCHAUF et al., 1993). O H+ acumulado pode reduzir a força de contração do
músculo por competir com o Ca++ pelos seus receptores na troponina (BALL et al.,
1994, citados por STACKHOUSE et al., 2001), e o lactato que foi dissociado, quando
em concentração entre 15 e 30 mmol/l, reduz a geração de força nas pontes
cruzadas gerada pela ligação do Ca++ à troponina, entre 8 e 10 % (ANDREWS et al.,
1996; DUTKA et al., 2000, citados por STACKHOUSE et al., 2001).
19
A acidose metabólica deve ser controlada nas células e nos líquidos corporais,
que possuem tampões como o bicarbonato, os quais minimizam a ação de
desequilíbrio do H+. Sem o tamponamento, em casos extremos, o pH seria reduzido
pelo aumento da presença dos íons H+ podendo resultar em morte celular
(GHORAYEB & NETO, 1999; WILMORE & COSTILL, 2001). Num pH de 6,4 começa
a interrupção na degradação de glicogênio para produção de energia, podendo
interferir também no acoplamento das pontes cruzadas entre a actina e a miosina,
pela redução de energia disponível no sarcoplasma (WILMORE & COSTILL, 2001).
Portanto, a atividade catalítica das enzimas é sensível às diferenças de pH,
sendo que uma pequena variação do pH pode provocar uma diferença na velocidade
de algumas reações catalisadas enzimaticamente (LEHNINGER et al., 2000), ou a
inibição de enzimas regulatórias da via glicolítica como a fosfofrutoquinase,
fosforilase quinase e adenilciclase (ROBERTS et al., 1989, citados por DRIGO et al.,
1996). Além da fadiga induzida por altas concentrações de ácido láctico, algum fator
central também pode acentuar este processo, seja por inibição reflexa do neurônio
motor espinhal, seja por inibição voluntária da atividade motora supra-espinhal devido
à percepção pelo sistema nervoso, do desconforto no músculo durante o exercício
intenso que está sendo causado pela acidose (WESTERBLAD & ALLEN, 2002).
As formas em que a fadiga muscular se apresenta devem estar associadas ao
tipo de tarefa que será executada, em relação à intensidade e duração em que é
sustentada, além de ser dependente da flexibilidade de adaptação do SNC. Além
disso, o grau de motivação do sujeito pode interferir no tempo de aparecimento da
incapacidade em gerar ou manter a força de contração em situações de fadiga.
Sendo assim, quanto mais motivado estiver o indivíduo para executar uma tarefa,
mais tempo levará para que sua performance seja diminuída durante trabalhos
fatigantes (BIGLAND-RITCHIE et al., 1986, citados por ENOKA, 1995).
Os diferentes tipos de fibra muscular podem ter influência no tempo de
aparecimento da sensação de fadiga no músculo, sendo que o indivíduo que tiver um
percentual maior de fibras tipo I (contração lenta), provavelmente terá um retardo no
início do processo de fadiga, já que as fibras tipo II (contração rápida), entram em
20
fadiga mais facilmente que as do tipo I (FITTS, 1996; FOSS & KETEYIAN, 2000).
Evidentemente, isto é dependente da duração e intensidade de esforço, pois se o
indivíduo tiver um percentual maior de fibras de contração lenta, terá maior
capacidade de executar exercícios de “endurance”, enquanto aqueles que possuem
maior percentual de fibras de contração rápida terão melhor desempenho em
exercícios de força e velocidade (CASEY et al., 1995, citados por FOSS &
KETEYIAN, 2000).
A fadiga, portanto, pode ser o resultado de diversos fatores ocorrendo em
diferentes locais, e não de um processo único, e que podem estar agindo
simultaneamente para essa condição (GANONG et al., 1993), e por isso muitas vezes
é difícil distinguir exatamente onde a fadiga está se instalando e todos os fatores que
estão agindo neste processo, e até que ponto a motivação pode interferir no
desempenho durante o esforço.
2.6 Velocidade de reação motora
A velocidade de reação motora, ou tempo de reação (TR), é o intervalo de
tempo entre um estímulo externo, seja acústico, ótico ou tátil, e uma resposta
muscular apropriada (BARBANTI, 1997; JOHNSON & NELSON, 1986; WEINECK,
1999). O TR não deve ser confundido com a atividade reflexa, que também é
decorrente de um estímulo e uma resposta, mas que ainda é inconsciente durante a
elaboração da resposta (WILMORE & COSTILL, 2001). Os valores do TR são
diferentes entre os estímulos óticos e os estímulos acústicos. Os estímulos óticos
(visuais) têm valores médios de 0,250 segundos para não treinados e de 0,150 a
0,200 segundos para treinados, e os valores acústicos são em média de 0,130 a
0,160 segundos para homens e 0,140 a 0,170 segundos para mulheres (OBERSTE
et al., 1974; ZACIORSKIJ, 1977, citados por WEINECK, 1999).
O TR deve estar compreendido dentro de algumas fases distintas, desde o
sinal apresentado, até o início da resposta desencadeada pela musculatura
21
esquelética (ZACIORSKIJ, 1992; ZAKHAROV, 1957, citados por WEINECK, 1999;
WILMORE & COSTILL, 2001):
• Percepção de um estímulo (sinal) apresentado no ambiente;
• Excitação de um receptor sensorial (visual, acústico), a partir do sinal
externo;
•
Condução deste estímulo para o SNC;
•
Interpretação e processamento do estímulo no SNC;
•
Condução deste estímulo até um membro efetor;
•
Desenvolvimento da excitação do membro efetor;
•
Desencadeamento da resposta motora (contração muscular).
Pode-se distinguir o TR Simples e o Complexo (VERKHOSHANSKI, 2001), e
ambos podem ser influenciados pela concentração e pela motivação, que
providenciam o estado de alerta ao indivíduo (JOHNSON & NELSON, 1986;
VILKINER, 1982, citado por WEINECK, 1999). O TR Simples, que é adquirido
geneticamente e pouco se modifica com o treinamento (JOHNSON & NELSON, 1986;
VERKHOSHANSKI, 2001; WEINECK, 1999), envolve apenas um estímulo prédeterminado e uma possível resposta, e representa a capacidade do indivíduo em
reagir rapidamente, pois não depende de um processamento muito complexo da
informação, sendo que seu valor médio para estímulo visual está por volta de 0,180 s
(TEICHNER, 1954; WOODWORTH et al., 1954, citados por SCHIEFER et al., 2001).
Já o TR Complexo, que pode ser modificado pelo treinamento (WEINECK, 1999), é
decorrente de estímulos randomizados, e ainda podem exigir respostas distintas a
partir do estímulo apresentado (SCHMIDT, 1993; BARBANTI, 1997). Quanto maior a
quantidade de possíveis sinais e de respostas para cada sinal que o indivíduo deva
responder, além da complexidade da tarefa, haverá uma maior necessidade de
tempo para o processamento da informação no SNC e determinação da ação
específica (KLAPP, 1996), e isto pode variar de acordo com a experiência com a
tarefa, por parte do indivíduo. Um estudo feito por Merkel (1885), adaptado por
22
Woodworth (1938, citados por SCHMIDT, 1993), mostrou que ao se aumentar o
número de alternativas estímulo-resposta, de uma para duas, o TR terá um atraso
aproximado de 58 %, já quando é aumentado de nove para dez alternativas o TR terá
um atraso de apenas 02-03 %. Deste modo, de acordo com o aumento do número de
sinais, o TR será maior, mas não proporcionalmente de acordo com o aumento do
número de tentativas.
Como toda tarefa a ser realizada é dependente da percepção do estímulo
apresentado (sinal externo), interpretação, processamento e desencadeamento da
resposta (FARINATTI & MONTEIRO, 1992), e fatores fatigantes resultantes do
estresse físico podem interferir em algumas fases do processo de contração
muscular, desde o SNC até o recrutamento das unidades motoras (DUARTE, 1989,
citado por FARINATTI & MONTEIRO, 1992; GUYTON, 1977; JOHNSON & NELSON,
1986; SCHAUF et al., 1993), é de se esperar que o TR possa sofrer um aumento no
decorrer de atividades fatigantes, levando o indivíduo a não reagir de forma tão
rápida e satisfatória. Chmura et al. (1994), verificaram o efeito da concentração de
lactato sobre o TR complexo. Após a tarefa de esforço em cicloergômetro os sujeitos
foram instruídos a realizar uma tarefa de TR complexo, respondendo a um estímulo
áudio-visual. Foi observado que nos primeiro estágios houve uma melhora gradual no
TR até valores de 6 mmol/l de lactato no sangue. Porém, o TR sofreu aumento
significativo juntamente com o aumento da concentração de lactato a partir deste
valor. Esta melhora inicial no TR, até valores médios de concentração de lactato no
sangue até 6 mmol/l, segundo os autores, pode estar relacionada ao estado de préativação do SNC, durante cargas baixas de exercício (CHMURA et al., 1994). Num
outro estudo, Levitt et al. (1971, citados por JOHNSON & NELSON, 1986)
relacionaram o TR complexo com o aumento da freqüência cardíaca (FC) entre 80,
115, 145, e 175 batimentos por minuto (bpm), durante caminhada em esteira rolante.
Eles verificaram o melhor TR na FC de 115 bpm, podendo estar relacionado aos
efeitos do aquecimento corporal em cargas leves de exercício, o que também deve
ter levado ao estado de pré-ativação do SNC, e o pior TR na FC de 175 bpm, sendo
que algum fator estressante causou uma deterioração nos valores de TR.
23
Quando o indivíduo executa cargas leves de exercício, é gerado um efeito de
aquecimento e conseqüentemente isto aumenta a temperatura central (WEINECK,
1999; ENOKA, 2000). Nestas condições o SNC é ativado, provocando estado de
alerta e atenção, e melhora do desempenho (WEINECK, 1999). Isto também resulta
num aumento na dissociação do oxigênio da hemoglobina, maior fluxo sangüíneo nos
músculos, um declínio na resistência causada pela viscosidade no músculo e um
aumento na velocidade de condução dos potenciais de ação (SHELLOCK et al.,
1985, citados por ENOKA, 2000; MCARDLE et al., 2003; WEINECK, 1989). Com
estas considerações pode ser observado, que durante a execução de exercícios
moderados, o TR pode ser melhorado (tornar-se menor) em relação aos tempos
observados em situação de repouso.
Se por um lado a fadiga, representada pelo aumento elevado da concentração
de lactato, pode causar aumento no TR, sendo um fator limitante desta capacidade
física, um fator que pode melhorar ou estabilizar o TR é a experiência com o esporte
ou com a tarefa que será realizada (JOHNSON & NELSON, 1986), fazendo com que
a resposta ao estímulo específico da modalidade seja mais rápida e correta entre
atletas mais experientes (MORI et al., 2002). A capacidade de antecipação
desenvolvida com a experiência de contato com os movimentos atléticos específicos
da modalidade, após anos de treinamento, é um dos fatores que promovem melhores
tempos de reação para os atletas de alto nível (MORI et al., 2002), devido à redução
no tempo necessário para o processamento do sinal para a determinação da resposta
correta, que é o resultado da aprendizagem produzida pela experiência com o
esporte. Porém, um erro na antecipação pode acontecer quando a reação é feita a
um estímulo que não foi aquele que se esperava, desencadeando um atraso na
resposta correta, que é o tempo levado para primeiro inibir a ação inicial e na
seqüência, reagir corretamente (SCHIMIDT, 1993).
24
2.7 Características fisiológicas do judô
Nas atividades físicas intermitentes, como as lutas e os esportes com bola, a
característica aleatória da ocorrência dos movimentos dificulta a determinação da
resposta metabólica, que é influenciada diretamente pela intensidade e duração dos
períodos de exercício e de pausa (DRIGO et al., 1994). Esta consideração é
verificada em competições de judô, onde ocorrem freqüentes pausas determinadas
pelos árbitros (Mate), devido às regras desta modalidade. Quando o atleta sai das
delimitações da área de competição, quando não está aplicando golpes, quando a
faixa que prende o Judogui (uniforme do judô) se solta, quando o atleta se lesiona ou
quando ocorre um sangramento, são alguns exemplos de situações que levam à
paralisação de uma luta.
Estudos observando a duração média das lutas e do tempo de confronto e de
pausa
em
campeonatos
internacionais
(Mundiais
e
Olímpicos)
mostraram
predominantemente, seqüências de combate com duração entre 15 e 30 segundos, e
paralisações
aproximadas
de
10
segundos
(CASTARLENAS et al., 1997;
MONTEIRO, 1995; SIKORSKI et al., 1987, citados por FRANCHINI, 2001).
Durante uma competição de judô entre adultos, com lutas realizadas em alta
intensidade que podem chegar a 5 min, podendo ser prorrogadas por mais 5 min
quando a primeira etapa termina empatada, além da probabilidade do atleta realizar
por volta de 5 a 6 lutas (ou mais), é requerido um alto desenvolvimento da
capacidade anaeróbia láctica. Isto pode ser mostrado em alguns estudos que
verificaram altas concentrações de lactato no sangue em lutas de judô (DRIGO et al.,
1996; FRANCHINI et al., 1998; SERRANO et al., 2001). Um dos motivos de se
manter uma intensidade elevada na luta é que o atleta não pode ficar muito tempo
sem aplicar uma técnica (aproximadamente 10 s), o que pode resultar em uma
advertência. Porém, esta intensidade pode ser bastante variada, sendo o resultado
da estratégia do atleta, e dependente de variáveis como o condicionamento físico,
nível técnico esportivo, experiência com o esporte, número de lutas e duração em
que foram disputadas, além do grau de motivação do indivíduo. Então, estes fatores
25
somados podem determinar se a luta poderá desencadear algum processo de fadiga,
e a partir daí podem ser observados diferentes contribuições do sistema energético
para o trabalho muscular, já que a duração e a intensidade da atividade, definem o
metabolismo
energético
que
predomina
(FARINATTI
&
MONTEIRO,
1992;
GHORAYEB & NETO, 1999).
2.7.1 Tempo de reação e fadiga no judô
Os tempos de reação simples e complexo podem ser utilizados durante a luta
de judô em diversos momentos. Quando o judoca reage ao golpe, à pegada, ou a
uma seqüência de golpes do adversário, com um contra-golpe ou simplesmente
executando uma esquiva, está utilizando ora de reações simples ora de reações
complexas. Estas reações podem ser requeridas, dependendo da forma em que as
técnicas são aplicadas. Se o oponente utiliza ações previsíveis, o TR simples pode
predominar. Já para os atletas com um maior repertório de golpes o TR de reação
complexo pode ser mais utilizado. No entanto, há a necessidade em estar atento para
as duas condições.
O TR é uma capacidade física que pode ser influenciada pela antecipação. A
experiência que o atleta tem com o esporte, como no judô, faz com que a variável
antecipação, que pode ser o resultado de anos de treinamento, seja um fator que
determine valores de TR corretos e melhor estabilizados (SCHMIDT, 1993).
Uma das formas de diminuir a chance de reação adversária a partir do
segundo golpe em uma luta de judô, é a aplicação de técnicas em seqüência. Esta
diminuição no acerto do adversário em reagir corretamente pode melhorar o
desempenho dos ataques na luta. De modo geral, o tempo ideal de intervalo entre
estímulos em seqüência deve ficar entre 0,050 e 0,060 segundos, para que o
estímulo subseqüente seja otimizado enquanto o primeiro ainda está em
processamento (SCHIMIDT, 1993). Este é o tempo médio (estimado) que o sinal leva
para ser processado, sendo que, se for aplicado estímulos repetidos num tempo
menor de intervalo, numa seqüência de golpes de judô, por exemplo, o SNC
26
processará os dois sinais como um único estímulo, facilitando a reação do adversário,
e se demorar mais que este intervalo, o segundo golpe da seqüência terá um
processamento individual e satisfatório após o primeiro ataque (FRANCHINI, 1999).
O relato dos atletas de judô referentes ao estresse da luta, geralmente é
referido a um cansaço geral extremo, e uma diminuição de resistência no decorrer da
luta em segurar no Judogui, além de uma diminuição da capacidade de reagir aos
golpes adversários. Estes podem ser alguns indícios de que as condições de luta
podem levar o judoca à indícios de fadiga, em algumas situações e momentos da
luta, principalmente se for prolongada por muito tempo em elevada intensidade.
Na luta de judô, são encontradas elevadas concentrações de lactato
sangüíneo (AMORIM et al., 1995, citados por FRANCHINI, 1998; DRIGO et al., 1996;
SERRANO et al., 2001), e isto pode interferir no desempenho do judoca,
principalmente se sua capacidade de eliminar este acúmulo de lactato for lenta, já
que no próximo combate ele terá maior chance de sucesso quanto mais rápida for a
remoção do lactato. Em condições de luta intensa, o rendimento do judoca pode ser
comprometido, e o TR pode ser uma das capacidades físicas que serão afetadas
negativamente nesta etapa. Se o adversário diminuir a capacidade em reagir
rapidamente nas situações de golpes em seqüência que está recebendo do
adversário, e sua capacidade anaeróbia láctica for insuficiente para manter sua
performance, sobrecarregando ainda mais o bom desempenho de TR, é provável que
diminua as chances de executar uma esquiva ou de contra-golpear o adversário,
resultando na derrota esportiva.
Já que pode haver uma inter-relação entre o TR e o acúmulo elevado de
lactato no sangue (relacionado com processos de fadiga), e estes fatores estão
envolvidos na performance em competições de judô, averiguou-se até que ponto
estão influenciando no desempenho do judoca em competições, e como poderia ser a
interferência do técnico sobre as variáveis em questão, na fase de treinamento.
27
3. OBJETIVO
O objetivo deste trabalho foi de comparar a capacidade de atletas de judô em
reagir rapidamente através da verificação do TR simples, com altas concentrações de
lactato no sangue por intermédio do aumento do esforço induzido por 3 diferentes
tempos de luta (1 min e 30 s, 3 min e 5 min), em relação aos valores de repouso.
28
4. HIPÓTESE
Esperou-se que houvesse aumento do TR em virtude da elevada concentração
de lactato (relacionado com a fadiga) após lutas de judô, essencialmente a partir do
limiar anaeróbio (concentração de lactato sangüíneo acima de 4 mmol/l), como
demonstrado em outro estudo de TR (CHMURA et al., 1994).
29
5. METODOLOGIA
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale
do Paraíba (protocolo n° A011/2003/CEP), seguindo as diretrizes e normas de
pesquisa envolvendo seres humanos, conforme resolução n° 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde.
Local
O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Biodinâmica da Faculdade de
Ciências da Saúde, na Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP - São José dos
Campos).
Sujeitos
Participaram do experimento 11 judocas do sexo masculino, competidores há
pelo menos 10 anos, assíduos aos treinamentos universitários desta instituição, com
idade média de 23,4 + 2,4 anos, que foram esclarecidos sobre o trabalho, e
assinaram um termo de consentimento pós-informado, para sua participação. Antes
do início das coletas, foi feito um eletrocardiograma de esforço com a utilização do
protocolo de Bruce, para averiguar a condição física dos sujeitos e a ausência de de
cardiopatia. Todos os resultados foram normais (resultados não apresentados).
Nenhum sujeito fez uso de medicamento durante a fase experimental. Atletas com
menos de 10 anos de experiência competitiva, ou com alguma alteração no teste
ergométrico seriam excluídos do protocolo experimental.
Equipamentos
Para as coletas dos valores de TR foi utilizado o aparelho Cybex Reactor, que
é um sistema informatizado desenvolvido para medir o TR e outras capacidades
30
físicas, além de desenvolver algumas qualidades atléticas essenciais para o
desempenho competitivo (GERACI, 1998). É composto por uma área com 8
plataformas ativadas por sensores que detectam a alteração de pressão no solo,
transmitindo-a à memória do computador. A apresentação das plataformas é ilustrada
no monitor, o qual é responsável pela transmissão dos sinais visuais (luz verde) e da
seqüência que o indivíduo seguirá sobre as plataformas. Dois estudos foram
encontrados com a utilização deste equipamento. Hertel et al. (1999, citados por
JOHNSON et al., 2002) verificaram a validade de um teste de agilidade, e Johnson et
al. (2002) observaram o efeito da lesão cerebral na execução de um teste de
agilidade no Cybex Reactor. Estes estudos mostraram que os sensores são
considerados fidedignos para registrar as mudanças de pressão sobre as plataformas
e enviar os dados corretamente para a memória do computador.
Os sujeitos fizeram uma adaptação neste equipamento (fase de treinamento)
durante 10 minutos, executando diversas tentativas do protocolo experimental
elaborado. Na seqüência o indivíduo foi instruído a executar 12 repetições com saída
para a direita e para a esquerda das plataformas alternadamente, sendo registradas e
analisadas as últimas 6 tentativas, para confirmar a adaptação no teste realizado.
Esta adaptação foi confirmada com a observação pelos autores que verificaram que
os valores estavam estabilizados para cada sujeito que participou dos testes.
Para a coleta e análise de lactato foi utilizado o Lactímetro Portátil Accusport ®
e Fitas de Análise Boehringer Mannheim ®, que é instrumento de avaliação válido e
fidedigno para analisar a concentração de lactato sangüíneo (FELL et al., 1998,
citados por FRANCHINI, 2001).
Procedimentos
Todo experimento foi realizado em um único dia, dividido em 3 etapas, com
intervalo de 4 horas entre elas. Em cada etapa os sujeitos executaram a tarefa de TR,
e fizeram a coleta de sangue para verificação do lactato sangüíneo. O TR foi
registrado em 3 condições experimentais (em repouso, imediatamente pós-lutas e
31
após 3 min do final da luta), e o lactato em duas (em repouso e após 3 min do final da
luta). Após um aquecimento de 10 minutos foram submetidos a um estímulo de luta
de judô para induzir o aumento da concentração de lactato sangüíneo. Este
procedimento foi realizado três vezes, cada uma delas com um tempo de luta
diferente: 1 min e 30 s, 3 min e 5 min, com início às 8, 12 e 16 horas,
respectivamente. Os atletas avaliados lutavam com apenas um oponente por todo o
tempo de cada luta, as quais não eram finalizadas após com o Ippon, e também não
havia nenhuma pausa durante a luta.
Para o registro do TR o indivíduo foi instruído a permanecer em pé e estável
sobre duas plataformas, de frente para o monitor aguardando que a luz verde se
acendesse. Após o sinal, eles deveriam seguir para a plataforma apresentada no
monitor, que foi ora para o lado esquerdo ora para o direito. Para esta tarefa foram
instruídos a responder ao sinal visual o mais rapidamente possível. A tarefa pode ser
observada nas Figuras 1 e 2, as quais foram registradas por uma câmera fotográfica
digital (SONY DSC – P51). Eles totalizaram 6 tentativas em cada condição
experimental, 3 para o lado esquerdo e 3 para o direito das plataformas,
alternadamente.
Figura 1: Atleta estabilizado sobre as
Figura 2: Atleta reagindo ao sinal
plataformas
que é mostrado no monitor Cybex
do
Cybex
aguardando sinal luminoso.
Reactor,
Reactor, para o lado direito das
plataformas.
32
Foi desenvolvido um protocolo de avaliação de TR para ser executado de uma
forma simplificada, facilitando respostas corretas e apropriadas e evitando uma maior
variabilidade do TR entre os valores individuais dos sujeitos. Durante a elaboração do
protocolo experimental, foi determinado para análise o TR simples, já que representa
a capacidade do atleta em reagir rapidamente. O TR simples é uma capacidade física
adquirida geneticamente, onde fatores do treinamento têm pouca influência, o que
reduz a possibilidade dos resultados serem comprometidos por fatores como a
antecipação incorreta e a aprendizagem. O treinamento tem maior influência na
estabilização dos valores de TR nos menores tempos possíveis adquiridos
geneticamente. Além disso, o tempo do processamento do sinal, no caso de um
estímulo complexo não específico, poderia resultar numa maior variabilidade do TR
entre os valores adquiridos por cada sujeito.
Mesmo sendo uma tarefa simples foi observado que os sujeitos erraram sua
execução em alguns momentos. Então, foram considerados para o TR os registros
errados pré e pós-lutas, sendo considerados erros quando o TR ao estímulo visual foi
menor do que 0,130 s, tempo considerado como improvável na literatura, (OBERSTE
et al., 1974; ZACIORSKIJ, 1977, citados por WEINECK, 1999) e padrão determinado
como erro pelos autores, ou quando o valor não foi registrado (atleta não
estabilizado). Estes valores de TR, ou o não registro dos mesmos foram
considerados como sendo o resultado da antecipação e/ou da não estabilização dos
indivíduos sobre as plataformas. Os erros foram registrados sobre o total de
tentativas de todos os sujeitos, sendo que cada um dos 11 indivíduos executou 6
tentativas, perfazendo um total do grupo de 66 reações ao sinal.
Para a verificação da concentração de lactato em mmol/l, foi feita uma coleta
em repouso (antes de cada luta), para confirmar que haviam retornado aos seus
valores de lactato sangüíneo de repouso em todas as etapas do experimento, já que
as coletas foram realizadas em um único dia, porém, com 4 horas de intervalo entre
elas, tempo considerado suficiente para que 100 % do lactato acumulado durante o
esforço fosse reabsorvido (GUYTON & HALL, 1998). Para a análise da concentração
de lactato após o esforço, foi respeitado um tempo de 3 min após o término da luta,
33
onde o indivíduo aguardava a coleta em recuperação passiva (sentado). Para a
coleta da gota de sangue para estas análises, foi feita a assepsia da polpa do dedo
dos sujeitos, com algodão e álcool. Vale ressaltar que este tempo determinado para a
análise de lactato pós-lutas, não representa a fadiga propriamente dita e nem seu
pico, mas sim a concentração de lactato no sangue num momento padronizado, ou
seja, o lactato muscular pode não estar elevado no momento da verificação de sua
concentração sangüínea, já que o lactato no sangue representa o balanço entre a
formação de ácido láctico no músculo, sua dissociação em lactato e íons H+ e sua
remoção. Então, a determinação da concentração de lactato foi nada mais que uma
padronização do momento de uma coleta de sangue.
Posterior às coletas de TR e de lactato sangüíneo em repouso, antes do
estímulo de esforço, os sujeitos fizeram um aquecimento livre de 10 min com
aplicação de técnicas variadas de judô (Uchi-Komi). Em seguida, para o estímulo do
estresse físico, foi realizada uma luta (Randori) de 1 min e 30 s, uma luta de 3 min e
uma de 5 min, com início às 8, 12 e 16 horas, respectivamente, onde o sujeito foi
instruído e incentivado a manter uma intensidade máxima do início ao término da luta.
O sujeito foi informado do tempo de duração de cada luta, e a implicação deste
procedimento será discutida posteriormente.
Os dados registrados de TR foram extraídos do equipamento informatizado
Cybex Reactor, e organizados no programa Excel. Foi escolhido para uma análise
inicial, o menor valor dentre as 3 tentativas de saída para a esquerda e o menor valor
dentre as 3 tentativas de saída para a direita das plataformas. Como não foi
encontrada diferença significativa entre os lados de saída, foi determinada para o
restante das análises com a utilização do TR de repouso, a média do menor valor
conseguido entre as saídas para a esquerda e a direita das plataformas. Para análise
do TR pós-lutas, foi utilizado o menor valor conseguido entre as 3 tentativas para a
esquerda e as 3 tentativas para a direita das plataformas. Os registros de lactato
também foram organizados em planilhas e transportados para o programa Excel,
onde foram submetidos a uma análise posterior. Todas as análises foram realizadas
no Programa de Análise Estatística Bioestat 2.0.
34
Análise dos dados
Os dados foram submetidos à Análise da Variância Kruskal-Wallis, que é um
método não paramétrico. Esta escolha foi feita porque o TR é uma capacidade
herdada, sendo uma característica individual, o que poderia comprometer os
resultados, caso fosse utilizado um método paramétrico que utiliza a média e desvio
do grupo para analisar os dados, podendo interferir nos resultados. Em todos os
testes o nível de significância aplicado foi de p < 0,05, onde se verificou a diferença
do TR pré e pós-lutas, com saída para o lado esquerdo e para o direito das
plataformas, e foi analisado o número de erros de tentativas na execução da tarefa de
TR, em repouso, imediatamente após as lutas e após 3 min do final da luta. Verificouse também a diferença nas concentrações de lactato sangüíneo em repouso e após
as lutas.
Foi correlacionado o n° de erros de coletas de TR com a concentração de
lactato, em repouso e após 3 min do final da luta, através do Coeficiente de
Correlação de Pearson, a fim de fazer uma associação entre estas variáveis.
35
6. RESULTADOS
Foram registrados os valores de TR em repouso, imediatamente após a
realização das lutas de 1 min e 30 s, 3 min e 5 min, e 3 min após o término das lutas.
Na Tabela 1 são apresentadas as médias entre os menores valores conseguidos
entre as tentativas de reação em repouso com saída para o lado esquerdo e para o
lado direito das plataformas, e os menores valores de TR imediatamente após as
lutas e aos 3 min do término das lutas. Os valores representam a capacidade do
indivíduo em reagir rapidamente.
36
Tabela 1: Média do menor valor de TR em repouso, saindo para a esquerda e a
direita das plataformas, menor valor de TR imediatamente pós-lutas e
após 3 min do final, para as lutas de 1 min e 30 s, 3 min e 5 min (média
+ desvio padrão).
N
Média TR
TR imediatamente pós-luta (s)
D/E
(s)
Repouso
1’ 30”
3’
5’
TR 3 min pós-luta (s)
1’ 30”
3’
5’
1
0,156
0,168
0,149
0,170
0,189
0,157
0,178
2
0,228
0,298
0,188
0,178
0,220
0,208
0,170
3
0,158
0,170
0,156
0,159
0,181
0,154
0,240
4
0,197
0,232
0,218
0,176
0,199
0,184
0,188
5
0,174
0,180
0,189
0,166
0,172
0,156
0,205
6
0,188
0,174
0,222
0,384
0,180
0,181
0,168
7
0,166
0,133
0,141
0,176
0,136
0,144
0,151
8
0,176
0,222
0,194
0,192
0,223
0,188
0,163
9
0,155
0,186
0,175
0,192
0,159
0,170
0,173
10
0,144
0,136
0,132
0,152
0,154
0,135
0,139
11
0,182
0,181
0,163
0,157
0,181
0,198
0,153
X
0,175
0,189
0,175
0,191
0,181
0,170
0,175
Dp
0,024
0,047
0,030
0,065
0,026
0,023
0,028
p > 0,05 – sem diferença significativa para qualquer condição
De modo geral, observamos que os sujeitos conseguiram executar a tarefa
proposta, embora tenham sido observados valores de TR entre os indivíduos,
relativamente diferentes, pois os desvios médios do grupo foram na maioria próximos
a + 0,050 s. Porém, durante a fase de adaptação pôde ser observado que cada
sujeito havia estabilizado seus valores. Além desta diferença natural do TR, os
indivíduos foram incapazes de realizar corretamente a tarefa em alguns momentos
37
das coletas. Esta incapacidade em se manter o desempenho na execução da tarefa,
foi determinada como sendo o número de erros durante os registros de TR (dados
completos em anexo). Estes erros de execução da tarefa podem ser observados na
Tabela 2, os quais estão divididos por tempo de luta.
Tabela 2: Número de erros de execução da tarefa de TR em repouso às 8 horas (A),
12 horas (B) e 16 horas (C), imediatamente após as lutas e no momento
da coleta de sangue, entre os três tempos de luta.
Número de erros
Repouso
Tempo de luta
Pós-luta
Pós 3 min
A
6
1’ 30”
11 *
9*
B
4
3’
13 *
10 *
C
3
5’
18 *
11 *
* p < 0,05 – diferença significativa do repouso para as condições depois das lutas
Foi observado o percentual do número de erros para o total de tentativas do
grupo. Para os valores de repouso pôde-se observar que o n° total de erros dos 11
indivíduos foi de no máximo 6, que representa entre 5 e 10 % do total de tentativas do
grupo (66 tentativas). Imediatamente após as lutas, o percentual de erros triplicou, e
ficou entre 20 e 27 %. Após 3 min do término de luta, o n° de erros teve uma leve
diminuição, mas não próximo aos valores de repouso, ficando entre 14 e 20% do total
de tentativas, aproximadamente. Estes dados demonstraram que houve uma
variação da quantidade de erros em função do tempo de esforço gerado pelas lutas,
experimentado pelo sujeito em relação aos valores de repouso. A análise estatística
dos resultados poderá ser observada posteriormente na “Análise do número de erros
de registros de TR”.
38
A Tabela 3 mostra os valores do lactato sangüíneo em repouso e na condição
pós-esforço para as lutas de 1 min e 30s, 3 min e 5 min. Pode-se observar que a
concentração do lactato em repouso, antes da luta de 1 min e 30 s variou entre 1 e
2,1 mmol/l, e entre 10,4 e 12,7 mmol/l posteriormente à luta. Os valores referentes ao
repouso, antes da luta de 3 min variaram entre 1 e 2,2 mmol/l, e entre 9,5 e 15,7 pósluta. A concentração de lactato em repouso, antes da luta de 5 min variou entre 0,9 e
2,4 mmol/l, e entre 8,3 e 16,2 mmol/l pós-luta. Estes resultados demonstraram que a
concentração de lactato sangüíneo pós-lutas, aumentou expressivamente comparado
com a concentração de lactato em repouso.
39
Tabela 3: Concentração de lactato sangüíneo em mmol/l, em repouso e após os
tempos de luta de 1 min e 30 s, 3 min e 5 min (média + desvio padrão).
Lactato pré e pós-lutas (mmol/l)
N
Repouso Luta 1’ 30” Repouso
Luta 3’
Repouso
Luta 5’
1
1,3
11,3
2,1
13,7
1,5
12,2
2
1
10,7
1,7
10,7
1,4
8,7
3
1,5
11,4
1,5
11,2
1,5
10,6
4
1,2
12
1,3
9,5
2,3
14,2
5
1
12,4
1,9
10,8
1,2
9,3
6
1
12,2
2
11,6
1,4
12,7
7
1,4
10,4
1
9,7
1
8,3
8
2,1
12,7
2,2
12,5
2,4
14,4
9
2,1
11,5
1,9
11,7
2,3
11,7
10
1,5
10,7
1,6
15,7
1,9
16,2
11
1,6
11,5
1,1
10,6
0,9
9,6
X
1,4
11,5 *
1,7
11,6 *
1,6
11,6 *
Dp
0,4
0,7
0,4
1,8
0,5
2,6
* p < 0,05 – diferença significativa das condições em repouso para pós-lutas
A Tabela 4 mostra a média dos valores de lactato do grupo, em repouso e
após 3 min do término das lutas, e o número de erros de execução da tarefa também
em repouso e após 3 min do término das lutas, para as lutas de 1 min e 30 s, 3 min e
5 min. Estes dados serão posteriormente correlacionados através do Coeficiente de
Correlação de Pearson, como se apresentam.
40
Tabela 4: Média da concentração de lactato sangüíneo e do n° de erros de execução
da tarefa do grupo, em repouso e pós-lutas.
Média de Lactato (mmol/l) e n° de Erros, pré e pós-lutas
Repouso
1’ 30”
Repouso
3’
Repouso
5’
X Lactato
1,4
11,5
1,7
11,6
1,6
11,6
N° Erros
6*
9*
4*
10 *
3*
11 *
* p < 0,05 – correlação significativa entre os erros e o lactato
r = 0,9341
41
Análise do TR
Foi feita a comparação do TR entre as saídas para o lado esquerdo e o direito
das plataformas na situação de repouso. Os resultados indicaram que não houve
diferença significativa entre os valores encontrados (p = 0,6446).
Foi analisado se houve diferença significativa entre a média dos menores TR
em repouso entre os lados direito e esquerdo das plataformas, na condição
imediatamente após a luta de 1 min e 30 s e aos 3 min do término da luta. O
resultado não mostrou diferença significativa (p = 0,7785). Da mesma forma não
houve diferença significativa entre o TR em repouso, imediatamente pós-luta e após 3
min do final, para a luta de 3 min (p = 0,9226), ou para a luta de 5 min (p = 0,8635)
(Tab. 1).
42
Na Figura 3 é observada a média dos menores valores de TR em repouso
entre as saídas para o lado esquerdo e o direito das plataformas, e o TR pós-lutas de
1 min e 30 s, 3 min e 5 min (Tab. 1). Os resultados da análise indicaram que não
houve diferença significativa entre os valores encontrados (p = 0,9163).
Tempo de Reação (s)
0,300
0,250
0,200
0,150
Tempo de
0,100
0,050
0
Rep
1,5
3
5
Tempo de Luta (min)
Figura 3: TR em repouso e o TR pós-lutas (p > 0,05) (média + desvio padrão).
43
A Figura 4 mostra a média dos menores valores de TR em repouso e aos 3
min do término da luta, para as lutas de 1 min e 30 s, 3 min e 5 min (Tab. 1). A
análise estatística não demonstrou diferença significativa (p = 0,7742) nesta
Tempo de Reação (s)
condição.
0,300
0,250
0,200
0,150
0,100
0,050
0
Rep
1,5
3
5
Tempo de Luta (min)
Figura 4: TR em repouso e após 3 min do final da luta, para as lutas de 1 min e 30 s,
3 min e 5 min (média + desvio padrão). Não foi encontrada diferença
significativa (p > 0,05).
44
Para verificar o TR em repouso, imediatamente pós-luta e após 3 min do final
da luta, entre as lutas de 1 min e 30 s, 3 min e 5 min, foram analisados os registros
de TR, os quais também não mostraram diferença significativa (p = 0,9512) (Tab. 1).
A Figura 5 mostra este resultado.
Repouso
Pós-luta
Tempo de Reação (s)
Após 3 min final da luta
0,300
0,250
0,200
0,150
0,100
0,050
0
Rep
1,5
3
5
Tempo de Luta (min)
Figura 5: TR em repouso, imediatamente pós-lutas e após 3 min do término da luta
para as lutas de 1 min e 30 s, 3 min e 5 min, não demonstrando diferença
significativa (p > 0,05) (média + desvio padrão).
Nenhum dos resultados encontrados na análise da capacidade em reagir
rapidamente sob condições de esforço mostrou diferença significativa, demonstrando
que o lactato não influenciou no TR, na fase de aplicação deste protocolo.
45
Análise do lactato sangüíneo
Foram analisadas as diferenças entre as concentrações de lactato em repouso
com os valores pós-lutas de 1 min e 30 s, 3 min e 5 min. Esta análise demonstrou
diferença significativa (p = 0,0000). Não houve diferença significativa entre as
concentrações de lactato em repouso para as três coletas (p = 0,4186), ou nas
condições pós-lutas entre os tempos de 1 min e 30 s, 3 min e 5 min (p = 0,9731)
(Tab. 3). Estes resultados podem ser observados na Figura 6.
Pós-lutas
Lactato (mml/l)
15
12
9
6
Antes das lutas
3
0
1,5
3
5
Tempo de Luta (min)
Figura 6: Concentrações de lactato sangüíneo em repouso (antes das lutas) e nas
três condições temporais de luta (p < 0,05) (média + desvio padrão).
46
Análise do número de erros de registros de TR
Foi comparado o número de erros de registros do TR em repouso,
imediatamente pós-lutas e após 3 min do final da luta (Tab. 2). Houve diferença
significativa (p = 0,0321) demonstrando um aumento no número de erros
imediatamente ao término da luta e depois de 3 min, comparado com o número de
erros antes da luta (Fig. 7).
Repouso
Pós-luta
Número de Erros
20
Após 3 min final da luta
15
10
5
0
1,5
3
5
Tempo de Luta (min)
Figura 7: Número de erros de registros do TR em repouso, imediatamente após as
lutas e após 3 min do final da luta (p < 0,05).
47
Análise da correlação entre a concentração de lactato sangüíneo e o número de
erros de execução da tarefa de TR
Foi observada uma correlação significativa entre a concentração de lactato
sangüíneo em repouso e após 3 min do encerramento da luta e o número de erros de
registros do TR em repouso e após 3 min do término da luta (r = 0,9341; p = 0,0064)
(Tab. 4). Foi utilizado nesta análise, o Coeficiente de Correlação de Pearson.
48
7. DISCUSSÃO
O TR é dependente da percepção do estímulo externo, do processamento da
informação, da condução do impulso nervoso até a fibra muscular e de sua excitação,
e do início da resposta do músculo. Fatores relacionados à fadiga podem aumentar o
TR, e segundo a literatura, o lactato é um substrato metabólico relacionado com a
fadiga, e que pode interferir em algumas fases do processo que envolve o TR.
Foi encontrado um estudo que relaciona o acúmulo de lactato no sangue com
o TR. Chmura et al. (1994) demonstraram que o aumento acentuado da concentração
de lactato no sangue (6 mmol/l ou mais) faz com que o TR seja maior. Para induzir o
aumento da concentração de lactato foi utilizado um protocolo com aumento gradual
de carga no cicloergômetro.
Neste trabalho foi verificado o TR em repouso e em condição de altas
concentrações de lactato sangüíneo, induzidas por diferentes tempos de luta no judô.
Foi analisada a concentração de lactato sangüíneo em repouso antes do início dos
três tempos de luta, a fim de verificar a concentração de lactato no início de cada fase
da coleta de sangue, e averiguar se os indivíduos haviam retornado aos valores de
lactato de repouso, essencial para que eles fizessem a luta subseqüente com os
valores iniciais desta substância, já que as coletas foram realizadas em um único dia.
Não foi encontrada diferença significativa, demonstrando que o intervalo de 4 horas
entre cada luta foi o suficiente para que os sujeitos tivessem a concentração de
lactato similar aos valores de repouso. Nos resultados obtidos foi encontrado um
aumento significativo na concentração de lactato no sangue após as lutas de 1 min e
30 s, 3 min e 5 min, em relação à concentração de lactato em repouso. Estes
resultados demonstraram que o esforço provocado pelas lutas foi suficiente para
elevar significativamente o lactato para altas concentrações como esperado e
observado em outros estudos (DRIGO et al., 1996; FRANCHINI et al., 1998;
SERRANO et al., 2001).
Os diferentes tempos de luta realizados para procurar induzir o aumento de
diferentes
concentrações
de
lactato
no sangue poderiam, dependendo da
49
concentração de lactato, provocar uma diminuição inicial no TR, e causar um
posterior aumento do TR em decorrência da elevação gradual de lactato acima de
valores aproximados de 6 mmol/l da concentração de lactato no sangue, como os
resultados de Chmura et al. (1994). A diminuição inicial do TR em cargas leves de
exercício é relacionada com fatores de aquecimento que promovem melhor ativação
do sistema nervoso (FORESTIER & NOUGIER, 1998; LEVITT et al., 1971, citados
por JOHNSON & NELSON, 1986), que promovem aumento das catecolaminas no
plasma (adrenalina, noradrenalina) (CHMURA et al., 1994). No entanto, os diferentes
tempos de luta não induziram um aumento gradual e significativo na concentração de
lactato sangüíneo como esperado, provavelmente, devido a um possível controle da
intensidade do esforço pelos sujeitos durante as lutas, já que eles foram informados
previamente sobre a duração dos combates, mesmo sendo instruídos a desenvolver
cada luta em intensidade máxima durante todo o tempo, e mesmo reportando terem
mantido tal intensidade (limitação na metodologia utilizada). Este controle da
intensidade da luta é muito comum entre atletas de judô experientes, e neste caso em
especial, no qual os atletas já experimentaram na prática do treinamento todos estes
diferentes tempos de luta (dependendo da fase e do objetivo do treinamento), e têm a
percepção do esforço necessário para suportar o estresse causado pelas mais
variadas durações no tempo de luta. Outra possibilidade de não ter sido encontrada
diferença significativa na concentração de lactato entre os tempos de luta pode ser
pela característica distinta deste protocolo em relação ao de Chmura et al. (1994),
que controlaram a carga do esforço em um ergômetro, juntamente com o aumento da
concentração de lactato, o que não pôde ser feito neste protocolo. A diferenciação da
carga possibilita um aumento gradual e controlado de esforço, o que permite o
controle de um aumento exponencial de lactato.
Apesar das altas concentrações de lactato no sangue foi observado que o TR
do judoca, após a apresentação de estímulo visual, não sofreu alteração significativa
em nenhuma condição temporal de luta (1 min e 30 s, 3 min e 5 min) em relação aos
valores de TR de repouso, diferentemente dos resultados encontrados por Chmura et
al. (1994). Além disso, o desempenho no TR não é dependente do lado do membro
50
que irá executar a tarefa (direito ou esquerdo), ao contrário dos resultados
encontrados por Mori et al. (2002) que observaram diferença significativa entre os
lados de execução da tarefa de TR. Porém, na comparação entre os protocolos, outra
particularidade deve ser considerada, que é a posição do sujeito no momento em que
o sinal era apresentado e o membro que era requerido para reagir ao sinal. No
protocolo aplicado por Mori et al. (2002), os sujeitos permaneciam sentados e
reagiam ao sinal visual com os membros superiores apertando uma tecla que
registrava o TR, ora com a mão esquerda ora com a direita. Com isso, os sujeitos não
dependiam dos dois lados do membro simultaneamente para reagir, fazendo com que
não houvesse interferência de um dos lados, quando o outro tivesse que responder
ao sinal, providenciando realmente um TR distinto para cada lado (membro) de
execução da tarefa. Já, neste protocolo os sujeito realizavam o teste de TR em pé e
reagiam ao sinal com os membros inferiores. Eles eram posicionados sobre duas
plataformas, distribuindo o peso uniformemente sobre elas, e deveriam reagir ao sinal
quando este fosse apresentado, procurando se deslocar para uma plataforma à sua
diagonal esquerda, com seu pé esquerdo, ou á sua diagonal direita com seu pé
direito. Na apresentação do sinal os sujeitos dependiam de uma mudança de pressão
no solo que era executada por uma distribuição de força desenvolvida pelos dois pés,
para se moverem o mais rápido possível em direção à plataforma apresentada no
monitor, independente do lado que fosse apresentado. Isto mostra que os membros
utilizados para a execução da tarefa não foram requeridos isoladamente para reagir
ao sinal, para os registros de TR, talvez sendo o motivo de não ter sido encontrada
diferença significativa nos resultados da análise entre as saídas para o lado esquerdo
e para o lado direito das plataformas, por não ter sido verificado o TR de cada
membro em particular.
Forestier & Nougier (1998) verificaram o TR após induzir os músculos do braço
à fadiga com exercício isométrico em 70 % da contração voluntária máxima. Eles
observaram que o TR aumentou após a fadiga e relacionaram este fator a um
controle para se manter a tarefa de arremesso de bola num ótimo desempenho como
no realizado anteriormente à condição fatigante, ou seja, eles se adaptaram durante o
51
exercício de arremesso de bola aumentando o TR, pois sabiam que a “performance”
durante a tarefa de arremesso poderia diminuir após o músculo estar fatigado. Da
mesma forma, os sujeitos que executaram os testes deste protocolo experimental
possivelmente tiveram um maior controle da tarefa principal, realizando os testes com
maior atenção para manutenção do desempenho. Porém, a capacidade de reação
(TR) era a própria tarefa principal, e isto pode ter sido um dos fatores que levaram os
sujeitos a terem mantido os valores de TR inalterados, por controlarem esta variável
com o intuito da manutenção de seu desempenho.
No entanto, quando foram observados os registros de TR, foi verificado que
houve um aumento do número de erros de execução da tarefa de TR pós-lutas em
relação ao número de erros de execução em repouso, provavelmente porque a
atenção utilizada para manterem o TR, prejudicou o desempenho em alguns
momentos ao executarem a tarefa (erro do TR), possivelmente promovendo a
manutenção da capacidade de reação, mas não possibilitando que fosse mantida
uma consistência no número de acertos, fazendo com que as saídas fossem
antecipadas ou que os sujeitos não ficassem completamente estabilizados sobre as
plataformas, com a finalidade de manterem seus valores de TR pós-lutas em relação
ao repouso. Além disso, o número de erros foi ainda maior imediatamente após o
término das lutas do que quando observado no momento da coleta de sangue para
verificação da concentração de lactato. Isto demonstra que o momento de uma
coleta, padronizado neste trabalho como 3 min após o término das lutas, não
necessariamente representa a fase de maior concentração de lactato no músculo ou
de maior acidose muscular, mas sim a dinâmica entre a produção de ácido láctico
muscular, sua dissociação em lactato e íons H+ e sua remoção, e que imediatamente
após as lutas houve provavelmente, uma maior interferência da acidose do que no
momento da coleta de sangue. Esta concentração de lactato observada aos 3 min
após o término da luta não pode ser confundida com o pico de lactato, que é
determinada pela sua dosagem em diversas coletas após o esforço (normalmente
com intervalos de 1 min), para verificar quando ocorreu seu pico, o que não foi
52
aplicado neste protocolo experimental. Contudo, um estudo de Franchini et al. (1998),
mostrou que o pico de lactato ocorre de forma geral entre 1 e 3 min após esforço.
Os resultados mostram que, para se manter uma tarefa em ótimo
desempenho, é necessário que haja uma maior atenção do indivíduo, essencialmente
após esforço de alta intensidade, e isto pode causar algum tipo de deterioração de
uma outra variável, o que foi observado neste trabalho, onde os sujeitos mantiveram
os valores de TR durante todas as fases de coleta inalterados significativamente, mas
diminuíram seu desempenho do TR indiretamente, ao não conseguirem a
manutenção na capacidade de reagir rapidamente em alguns momentos de tentativas
de execução da tarefa, observados pelo aumento do número de erros. É possível que
a fase de percepção do sinal pelo órgão sensorial ótico, a fase do processamento das
informações (reconhecimento do sinal, seleção de uma resposta e sua organização)
e/ou a fase de propagação do estímulo nervoso, foram afetadas pela condição
fatigante das lutas, já que a redução na concentração e/ou na motivação pode
interferir na percepção e no processamento da informação no sistema nervoso
(SINGER, 1980), ou seja, mesmo que os indivíduos tenham se concentrado para o
aumento da atenção, esta foi atingida, mas provavelmente num grau menor.
A manutenção nos valores do TR pode ter ocorrido pelo fato de que os atletas
estão adaptados a desenvolverem lutas em alta intensidade, fazendo com que
suportem altas concentrações de lactato sem que reduzam a capacidade de reação.
Porém, após as lutas alguma limitação pode ter ocorrido, não na capacidade de
reagir rapidamente como foi mostrado, mas na capacidade em se manter esta reação
correta em todo o tempo durante a coleta dos valores de TR. Nesta fase, em
decorrência do aumento do número de erros pós-lutas em comparação com o
número de erros em repouso, pode ser que alguma interferência na capacidade de
contração no músculo possa ter ocorrido, podendo ser também o resultado da
acidose muscular causada pelo acúmulo de H+, que foi dissociado a partir do ácido
láctico.
A disponibilidade de energia é um fator que pode limitar a capacidade de
contração do músculo. Sua falta poderia prejudicar o acoplamento das pontes
53
cruzadas, no momento em que o ATP se liga à miosina para que esta possa se
desligar do sítio de ligação com a actina e dar continuidade ao ciclo de contração.
Além desses fatores, a diminuição dos níveis de energia e também de CP para a
ressíntese de ATP, relacionados com o aumento dos níveis de Pi no sarcoplasma,
podem ter limitado a capacidade de contração do músculo (STACKHOUSE et al.,
2001; WESTERBLAD & ALLEN, 2002). Um complexo formado pela interação de Pi e
Ca++ pode provocar uma precipitação deste complexo para dentro do retículo
sarcoplasmático, reduzindo a quantidade de Ca++ livre disponível no sarcoplasma,
além de causar uma menor afinidade com os sítios de ligação da troponina pelo
complexo que permanece no sarcoplasma (DUKE & STEELE, 2001; FRYER et al.,
1997; POSTERINO & FRYER, 1998; GIANNESINI et al., 2001, citados por
WESTERBLAD & ALLEN, 2002), podendo reduzir a força de ligação das pontes
cruzadas entre actina e miosina no final da fase da contração muscular. Um outro
fator que pode reduzir a força de ligação das pontes cruzadas e interferir no
acoplamento do Ca++ com a troponina é o acúmulo de lactato e íons H+ no
sarcoplasma (STACKHOUSE et al., 2001).
Um outro ponto importante é que uma resposta inibitória pode ser
desencadeada pela condição fatigante no músculo, mandando um sinal aferente à
região supra-espinhal e posteriormente ao neurônio motor (BIGLAND-RITCHIE et al.,
1986; GARLAND et al., 1990, citados por FORESTIER & NOUGIER, 1998), ou por
uma inibição reflexa diretamente do neurônio motor em direção à fibra muscular
(GANDEVIA, 2001, citado por WESTERBLAD & ALLEN, 2002), fazendo com que
seja reduzido o número de sinais à fibra muscular, como uma espécie de economia
de estímulo, para que o músculo prolongue o trabalho, mesmo que esteja diminuindo
a força de contração (FORESTIER & NOUGIER, 1998). Esta condição que está
fatigando o músculo pode providenciar um sinal aos comandos centrais conhecido
como feedback inibitório aferente (BIGLAND-RITCHIE et al., 1995; GARLAND et al.,
1990; HAYWARD et al., 1991, citados por ENOKA, 1995). Além disso, pode ocorrer
uma falha no mecanismo de transmissão do impulso elétrico do neurônio motor para
a fibra muscular, pela excessiva e freqüente chegada de estímulo na junção
54
neuromuscular, resultando na redução da freqüência de liberação da acetilcolina pela
terminação nervosa (FARINATTI & MONTEIRO, 1992; LERNER, 1982).
Todos estes fatores, associados à diminuição no grau de concentração dos
sujeitos, levaram à redução na manutenção da performance de reação, pois ocorreu
um maior número de respostas consideradas erradas no total de tentativas realizadas
após o esforço em relação aos valores de repouso. Pode ter ocorrido também uma
diminuição na capacidade de percepção do sinal externo, o que deve ter interferido
negativamente na concentração, ou estado de alerta do indivíduo (resultando em
erros). Porém, não foi verificada exatamente onde a limitação ocorreu, sendo possível
então, apenas levantar hipóteses entre os resultados encontrados.
Com o intuito de verificar o comportamento entre a concentração de lactato
sangüíneo e o número de registros errados de TR, foi feita uma análise entre estas
variáveis através do Coeficiente de Correlação de Pearson em repouso e após 3 min
do final da luta, sendo encontrada uma correlação significativa. Isto demonstra que o
aumento de lactato em lutas de judô pode interferir no desempenho durante a
manutenção da resposta correta na capacidade de reação, e que o aumento do
número de erros de respostas ao sinal pós-lutas comparado com os valores de
repouso têm correlação com o aumento da concentração de lactato pós-lutas
relacionada às concentrações iniciais.
Contrariamente à hipótese apresentada de que o lactato aumentaria os valores
de TR pós-lutas por ser uma substância que em elevadas concentrações representa
um estado de acidose por sua dissociação do H+, este estudo não encontrou
mudanças no TR, mas foi encontrada alguma influência negativa da fadiga durante a
execução da tarefa (número de erros).
55
8. CONCLUSÃO
Alguns autores afirmam que o TR pode ser influenciado por diversos fatores,
sejam de forma positiva ou negativa (BARBANTI, 1997; CHMURA et al., 1994). Na
primeira condição têm-se como fator principal o aquecimento e na segunda, altas
concentrações de lactato no sangue após esforço intenso. Este lactato pode levar o
indivíduo à fadiga, o que foi observado como sendo determinante para que o TR seja
aumentado em outro estudo (CHMURA et al., 1994), diferentemente dos resultados
encontrados neste protocolo experimental. Porém, observou-se um aumento no
número de respostas erradas na execução da tarefa de TR, paralelamente ao
aumento do lactato, sendo uma interferência negativa na capacidade do indivíduo em
reagir rapidamente. Além disso, os resultados mostraram que o número de erros se
correlaciona significativamente com o lactato, pré e pós-lutas.
A partir destes resultados foi determinada a importância de se observar as
variáveis que influenciam o TR no judô durante as fases de treinamento.
56
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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61
10. ANEXOS
Tabela 5: Dados Completos de TR em repouso (TRr), imediatamente pós-luta (TR1)
e após 3 min do término de luta (TR2) dos 11 indivíduos.
N
Lado
E
1
D
E
2
D
E
3
D
E
4
D
E
5
D
Luta de 1'
TRr TR1
0,28 0,24
0,04 * 0,23
0,18 0,18
0,24 0,17
0,17 0,21
0,20 0,20
0,34 0,56
0,42 0,55
0,54 0,30
0*
0,39
0*
0,39
0,19 0,49
0,19 0,17
0,39 0,20
0,23 0,38
0,17 0,92
0,21 0,24
0,21 0,51
0,19 0,37
0*
0,20
0,20 0,23
0,22 0,23
0,62 0,23
0,52 0,45
0,23 0,20
0,24 0,18
0,21 0,22
0,24 0,19
0,24 0,23
0,35 0,18
* Resposta errada de TR
30"
TR2
0,37
0,23
0,28
0,06 *
0,19
0,21
0,28
0,22
0,25
0,30
0,71
0,27
0,44
0,21
0,61
0,24
0,44
0,48
0,20
0*
0,22
0,23
0*
0*
0,22
0,26
0,17
0,30
0,39
0,21
Luta de 3'
TRr TR1 TR2
0,17 0,18 0,26
0,19 0,17 0,16
0,17 0,24 0,19
0,21 0,39 0,06 *
0,20 0,15 0,16
0,19 0,16 0,23
0 * 0,46
0,29
0,42 0,22 0,21
0,27 0,20 0,45
0,23 0,19 0,51
0,24 0,44 0,48
0,07 * 0,50 0,38
0,16 0,16 0,45
0,16 0,20 0,50
0,19 0,16 0,23
0,19 0,20 0,15
0,18 0,17 0,17
0,10 * 0,32
0*
0,19 0,22 0,19
0 * 0,35
0,27
0 * 0,22
0,31
0,21 0,25 0,23
0,22 0,25 0,18
0,27 0,23 0,21
0,23 0,21 0,23
0,24 0,23 0,19
0,21 0,19 0,30
0,24 0,22 0,23
0,24 0,19 0,16
0,35 0,21 0,16
Luta de 5'
TRr TR1 TR2
0,17 0,21 0,19
0*
0,19 0,24
0 * 0,19
0,22
0,18 0,18 0,18
0,14 0,18 0,19
0,19 0,17 0,22
0,55 0,56 0,44
0,28 0,43 0,32
0,50 0,34 0,27
0,56 0,18 0,24
0,56 0,25 0,56
0 * 0,17
0,54
0,20 0,07 * 0,37
0,37 0,22 0,55
0,48 0,17 0,50
0,19 0,16 0,28
0 * 0,35
0,18
0,12
* 0,03 *
0,16
0,19 0,18 0,19
0*
0,20 0,28
0*
0,20 0,26
0,22 0,22 0,19
0,62 0,38 0,39
0*
0,52 0,21
0,35 0,03 * 0,21
0,17 0,18 0,23
0,22 0,36 0,33
0,18 0,17 0,26
0,18 0,21 0,21
0,19 0,18 0,22
62
Cont.
N
Lado
E
6
D
E
7
D
E
8
D
E
9
D
E
10
D
E
11
D
Luta de 1' 30"
TRr TR1 TR2
0,21 0,23 0,22
0 * 0,19
0,19
0,44 0,17 0,18
0,19 0,18 0,25
0,18 0,25 0,20
0,19 0,24 0,30
0 * 0,16
0,17
0,17 0,13 0,03 *
0*
0,18 0,22
0 * 0,14
0,17
0,06 * 0,18 0,08 *
0,03 * 0,24 0,19
0,22 0,56 0,27
0 * 0,22
0,25
0,23 0,12 * 0,23
0,47 0,22 0,24
0 * 0,25
0,48
0 * 0,29
0,48
0 * 0,11 *
0,15
0,44 0,19 0,16
0*
0,16 0,19
0,16 0,19 0,26
0,08 * 0,27 0,16
0,33 0,22 0,24
0,16 0,30 0,23
0,09 * 0,17 0,21
0,22 0,14 0,17
0,13 0,44 0,18
0,19 0,20 0,17
0,03 * 0,21 0,15
0,32 0,32 0,32
0,21 0,23 0,24
0,20 0,34 0,32
0,19 0,19 0,18
0,18 0,33 0,32
0,38 0,18 0,32
* Resposta errada de TR
Luta de 3'
TRr TR1 TR2
0,25 0,07 * 0,19
0,34 0,38 0,21
0,22 0,22 0,18
0 * 0,21
0,19
0,19 0,23 0,35
0,20 0,34 0,26
0*
0,16 0,18
0 * 0,18
0,19
0,18 0,14 0,17
0,18 0,18 0,11 *
0,21 0,15 0,20
0,17 0,17 0,14
0 * 0,23
0,21
0,24 0,21 0,10 *
0 * 0,19 0,21
0,21 0,22 0,25
0,24 0,22 0,32
0*
0 * 0,19
0*
0,26 0,18
0,16 0,18 0,19
0*
0*
0,16
0 * 0,17
0,21
0 * 0,18
0,28
0*
0*
0,32
0,24 0,17 0,22
0 * 0,01 *
0,26
0,18 0,17 0,20
0,16 0,47 0,19
0,30 0,13 0,14
0,21 0,14 0,32
0,23 0,21 0,37
0,21 0,19 0,21
0,36 0,18 0,20
0,35 0,16 0,32
0,31 0,21 0,22
0*
0,36 0,23
Luta de 5'
TRr TR1 TR2
0 * 0,22
0,27
0,42 0,38 0,19
0*
0*
0*
0
*
0*
0,27
0,38 0,40 0,23
0 * 0,17
0,21
0,18 0,26 0,15
0,30 0,18 0,17
0,01 * 0,34 0,16
0,20 0,18 0,15
0,18 0,18 0,05 *
0,21 0,37 0,20
0,18 0,19 0,27
0,20 0,22 0,19
0 * 0,08 * 0,16
0 * 0,21
0,27
0*
0,17 0,27
0,20 0,11 * 0,25
0,20 0,20 0,21
0,21 0,22 0,19
0,23 0,20 0,29
0 * 0,24
0,24
0,12
* 0,17
0,21
0,19 0,04 * 0,18
0,28 0,27 0,16
0,16 0,56 0,19
0,39 0,12 * 0,26
0,15 0,01 * 0,14
0,15 0,15 0,14
0*
0,20 0,35
0*
0,25 0,28
0,19 0,47 0,42
0,30 0,34 0,21
0,35 0,22 0,20
0,31 0,20 0,15
0,36 0,16 0,23
63
Tabela 6: Dados da concentração de lactato em repouso e após 3 min do final das
lutas de 1 min e 30 s (A), 3 min (B) e 5 min (C).
Lactato
Indivíduo Repouso
A
1,3
1
Lactato
Repouso
B
2,1
Lactato
Repouso
C
1,5
Luta A
Luta B
Luta C
11,3
13,7
12,2
2
1
1,7
1,4
10,7
10,7
8,7
3
1,5
1,5
1,5
11,4
11,2
10,6
4
1,2
1,3
2,3
12
9,5
14,2
5
1
1,9
1,2
12,4
10,8
9,3
6
1
2
1,4
12,2
11,6
12,7
7
1,4
1
1
10,4
9,7
8,3
8
2,1
2,2
2,4
12,7
12,5
14,4
9
2,1
1,9
2,3
11,5
11,7
11,7
10
1,5
1,6
1,9
10,7
15,7
16,2
11
1,6
1,1
0,9
11,5
10,6
9,6
64
Termo de consentimento pós-informado
I. Identificação:
Nome do voluntário:
Identidade n°
Sexo: M ( ) F ( ) Data de nascimento-----/ -----/ -----
Endereço:
Cidade:
Estado:
Telefone:
II. Dados sobre o estudo:
Título: Velocidade de reação motora e o lactato sangüíneo, em diferentes tempos de
luta no judô.
Pesquisadores:
Aluno: Elessandro Váguino de Lima
Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Álvaro Brandão Lopes Martins
Co-Orientador: Prof. MSc. Charli Tortoza
Aprovação pelo comitê de ética e pesquisa em: 04 de fevereiro de 2003
Início do estudo em: 10 de fevereiro de 2003
65
III. Explicação dos pesquisadores ao voluntário:
1. Justificativa e objetivos da pesquisa: desenvolvimento de um protocolo
experimental para verificar o comportamento do TR em situação de fadiga. O
objetivo é de analisar os locais de instalação da fadiga em decorrência da
possível diminuição da “performance” do TR.
2. Procedimentos que serão utilizados: o voluntário passará por uma avaliação
ergométrica para eliminar risco de cardiopatia, já que será submetido a um
esforço físico. Serão registrados os valores de TR no equipamento Cybex
Reactor, após ter se adaptado à tarefa do protocolo experimental. Será feita a
coleta de sangue da polpa do dedo para verificar a concentração de lactato
(gota de sangue), seguindo os cuidados contra os riscos de contaminação do
voluntário e do pesquisador. O indivíduo será submetido ao esforço físico
provocado por diferentes tempos de luta de judô, o que eleva a concentração
de lactato sangüíneo acima dos valores de repouso.
3. Complicações e riscos esperados: não haverá risco em decorrência do
cuidado nos procedimentos seguidos.
4. Fui esclarecido sobre a garantia de receber resposta a qualquer pergunta ou
esclarecimento, sobre os procedimentos, riscos e benefícios relacionados com
a pesquisa.
Sim ( ) Não ( )
5. Fui esclarecido de que não haverá remuneração financeira, além da prevista
para as despesas do estudo.
Sim ( ) Não ( )
6. Fui esclarecido de que não haverá indenização, além das previstas pela lei,
em reparação a dano imediato ou tardio, causado pela pesquisa em questão.
Sim ( ) Não ( )
7. Fui esclarecido de que minha identidade será preservada, mantendo-se todas
as informações em relação aos resultados em caráter confidencial.
Sim ( ) Não ( )
66
IV. Consentimento pós-informado
Declaro que após ter sido esclarecido de todos os aspectos deste estudo, conforme
definido nos itens 1 a 7, do inciso III, consinto em participar, na qualidade de
voluntário, do projeto de Pesquisa referido no inciso II.
São José dos Campos,
Assinatura do Voluntário:
Assinatura do Pesquisador:
de
de
.