o Batalhão de Infantaria Mecanizado
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o Batalhão de Infantaria Mecanizado
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO Ten Cel Inf WILSON ROGÉRIO PINHEIRO Transformação da Brigada de Infantaria Motorizada em Mecanizada: o Batalhão de Infantaria Mecanizado (BI Mec) – uma Proposta Rio de Janeiro 2015 Ten Cel Inf WILSON ROGÉRIO PINHEIRO Transformação da Brigada de Infantaria Motorizada em Mecanizada: o Batalhão de Infantaria Mecanizado (BI Mec) – uma Proposta Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares. Orientador: Ten Cel JULIO CESAR TOLEDO SOUSA DE ALMEIDA Rio de Janeiro 2015 P654t Pinheiro, Wilson Rogério. Transformação da Brigada de Infantaria Motorizada em Mecanizada: o Batalhão de Infantaria Mecanizado (BI Mec) – uma Proposta. / Wilson Rogério Pinheiro. 2015. 64 f. : il : 30 cm. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização). Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2015. Bibliografia: f. 61-64. 1.Infantaria Mecanizada. 2. Doutrina. 3. Projeto Guarani. 4. Estrutura Organizacional. I. Título. CDD 355.2 Ten Cel Inf WILSON ROGÉRIO PINHEIRO Transformação da Brigada de Infantaria Motorizada em Mecanizada: o Batalhão de Infantaria Mecanizado (BI Mec) – uma Proposta Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares. Aprovado em ___/___/___. COMISSÃO AVALIADORA _________________________________________________________________ JULIO CESAR TOLEDO SOUSA DE ALMEIDA - Ten Cel Inf QEMA - Presidente Escola de Comando e Estado-Maior do Exército ______________________________________________________________ WASHINGTON HARRYSON ALCOFORADO - Ten Cel Inf QEMA - Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército ________________________________________________________ TEMÍSTOCLES DA ROCHA TORRES - Ten Cel Inf QEMA - Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército A Deus, pela indubitável referência em todos os momentos. Aos meus pais, pelo inconteste amor e apoio em toda a minha existência. À minha esposa Andréa e às minhas filhas Ana Carolina e Amanda pelo carinho e compreensão demonstrados durante a execução deste trabalho. AGRADECIMENTOS A Deus, suporte espiritual e presença sempre constante em toda a minha existência. Aos meus pais, Sr. Francisco Percival Pinheiro, já falecido, e Sra. Maria do Carmo Nocce Pinheiro que me ensinaram, com humildade, simplicidade, labuta e sabedoria, valores morais que me têm acompanhado e permitiram a realização deste trabalho. Ao Tenente-Coronel Julio Cesar Toledo Sousa de Almeida pela orientação firme, segura, incentivo e confiança, evidenciados em várias oportunidades. Sua dedicação se revestiu de capital importância para que eu pudesse realizar o trabalho com tranqüilidade e eficiência. Ao Tenente-Coronel Eloy Woellner Junior, Comandante do 33º Batalhão de Infantaria Mecanizado no biênio 2013-14, pela disponibilidade e colaboração inconteste no levantamento de fontes e dados sobre a Infantaria Mecanizada. Aos Majores Maykon Dutra Barbosa e Edson Paulo Queiroz Silva de Sá e aos Capitães Henzo Gerardi Neto e Alexandre Medeiros Picinini pela inestimável colaboração prestada por ocasião da confecção deste trabalho, ratificando os nossos laços de sã camaradagem e amizade. À minha esposa Andréa e às minhas filhas Ana Carolina e Amanda meu afeto e carinho pela compreensão incondicional durante a realização deste trabalho. “O oficial de Estado-Maior é um renovador e um criador. Deve lutar contra o conservantismo, tornando-se permeável às idéias novas a fim de que possa escapar à cristalização, ao formalismo e à rotina”. (Marechal Castello Branco) “Quando a guerra grassa e o perigo é iminente, Deus e os Soldados são o grito do povo. Quando a paz é feita e todas as coisas são restabelecidas, Deus é ignorado e os Soldados esquecidos”. (Ditado Inglês) RESUMO O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma proposta de estrutura adequada para um Batalhão de Infantaria Mecanizado, visando o seu preparo e o seu emprego como peça de manobra da Brigada de Infantaria Mecanizada, abrangendo os seguintes aspectos: a evolução da Doutrina Militar Terrestre, o Projeto Estratégico GUARANI, a implantação da Infantaria Mecanizada, a transformação e a experimentação doutrinária do 33º Batalhão de Infantaria Motorizado. Inicialmente é explicada a importância da edição da Estratégia Nacional de Defesa baseada na estratégia da dissuasão, dando início ao processo de modernização da Força Terrestre. A reestruturação do Exército Brasileiro motivou o autor a focalizar a implantação da Infantaria Mecanizada como o cerne deste trabalho. No prosseguimento, definem-se as concepções e as bases da transformação, voltadas para novas capacidades operativas e impulsionadas pelos Projetos Estratégicos do Exército na Era do Conhecimento com a inserção no amplo espectro dos conflitos modernos. É feita uma análise da formação por capacidades, das novas estruturas da Doutrina Militar e dos elementos do poder de combate terrestre. Na etapa seguinte, são detalhadas as características da Viatura Blindada de Transporte de Pessoal – Média de Rodas (Guarani) que deu início à nova família de blindados de rodas do Exército Brasileiro, por intermédio do Projeto Estratégico GUARANI. Em seguida, é abordado o ponto focal da proposta do presente trabalho, apresentando a implantação da Infantaria Mecanizada, a transformação da 15ª Brigada de Infantaria Motorizada e do 33º Batalhão de Infantaria Motorizado. A execução da experimentação doutrinária teve como parâmetros as bases doutrinárias de Brigada e de Batalhão de Infantaria Mecanizado para a formação da nova doutrina de preparo e emprego, apresentando uma proposta de estrutura organizacional coerente com o emprego dos novos materiais de emprego militar. Concluindo, são destacadas as vantagens da Infantaria Mecanizada e as contribuições que essa tropa trará para o fortalecimento do Exército Brasileiro do presente e do futuro. Palavras-chave: Infantaria Mecanizada, Doutrina, Projeto Guarani, Estrutura Organizacional. ABSTRACT This task aims to present a proposal for a suitable structure for a Mechanized Infantry Battalion, aiming their preparation and their using as maneuver unit of Mechanized Infantry Brigade, seeking the following aspects: the evolution of the Ground Military Doctrine, the GUARANI Strategic Project, implantation of the Mechanized Infantry, transformation and doctrinaire experimentation of 33th Motorized Infantry Battalion. The importance of the edition of National Defense Strategy based on dissuasion strategy, beginning the process of modernization of the Ground Force is explained initially. The restructuring of the Brazilian Army motivated the author to focus on the implementation of the Mechanized Infantry as the core of this task. In pursuance, the concepts and the bases of transformation are defined, for the purpose at new operative capacities and they are stimulated by the Strategic Projects of the Army in the Knowledge Era with the inclusion in the broad spectrum of modern conflicts. An analysis of the training for capacities, new structures of Military Doctrine and elements of the ground combat power is made. In the next step, the features of the Personnel Transport Armored Vehicle – Medium Wheels (Guarani) that initiated the new family of wheeled armored of the Brazilian Army through the GUARANI Strategic Project. Then the focal point of the proposal of this task is approached, with the implementation of the Mechanized Infantry, the transformation of the 15th Motorized Infantry Brigade and the 33th Motorized Infantry Battalion. The execution of the doctrinaire experimentation had as parameters the doctrinaire bases of Brigade and Mechanized Infantry Battalion for the formation of the new doctrine of preparation and using, presenting a proposal for a coherent organizational structure with the use of new materials for military using. In conclusion, the advantages of Mechanized Infantry are highlighted and the contributions that this troop will bring to the strengthening of the Brazilian Army of the present and future. Keywords: Mechanized Infantry, Doctrine, Guarani Project, Organizational Structure. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Evolução da EBF/2009 para o PROFORÇA......................................... 17 Figura 2 - Combinação de Atitudes em Operações no Amplo Espectro............... 19 Figura 3 - A Evolução da Força Terrestre.............................................................. 25 Figura 4 - O Espectro dos Conflitos....................................................................... 26 Figura 5 - Planejamento Baseado em Capacidades............................................. 29 Figura 6 - Capacidades Modulares........................................................................ 30 Figura 7 - Elementos do Poder de Combate Terrestre.......................................... 31 Figura 8 - Projetos Estratégicos do Exército.......................................................... 35 Figura 9 - Viatura Blindada de Transporte de Pessoal (Protótipo)........................ 37 Figura 10 - Outras configurações das Viaturas Blindadas – Média de Rodas...... 38 Figura 11 – Base Doutrinária Experimental da Bda Inf Mec.................................. 44 Figura 12 – Base Doutrinária Experimental do BI Mec.......................................... 48 Figura 13 – Exercício de SU em ambiente virtual no CI Bld/ Santa Maria, RS..... 52 Figura 14 – M Cmb, Atq Coor e Atq Loc de FT SU Mec........................................ 52 Figura 15 – Emprego de FT SU Mec na Operação LAÇADOR............................. 52 Figura 16 – Organograma do 33º BI Mec.............................................................. 53 Figura 17 – Organograma da Cia Fuz Mec........................................................... 54 Figura 18 – Quadro de Cargos do Pel Fuz Mec.................................................... 54 Figura 19 – Distr VBTP–MR (conforme Sistema de Armas) por Pel Fuz Mec...... 55 Figura 20 – Organograma do Pel AP..................................................................... 55 Figura 21 – Organograma da Cia C AP................................................................. 55 Figura 22 – Organograma do Pel Mrt P................................................................. 56 Figura 23 – Organograma do Pel AC.................................................................... 56 Figura 24 – Organograma do Pel Exp................................................................... 56 LISTA DE FOTOGRAFIAS Fotografia 1 - Fábrica da IVECO (em destaque) na cidade de Sete Lagoas, MG. 36 Fotografia 2 - Protótipo da VBTP-MR Guarani (sem sistema de armas)............... 37 Fotografia 3 - Realização de testes com a VBTP-MR Guarani............................. 39 Fotografia 4 - Realização de testes balísticos, anti-incêndio e antiminas............. 39 Fotografia 5 - VBTP–MR Guarani com Sistema de Armas REMAX...................... 40 Fotografia 6 - VBTP–MR Guarani com Sistema de Armas UT30BR..................... 41 Fotografia 7 - Comando da 15ª Bda Inf Mec, sediada em Cascavel, PR.............. 45 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas AC Anticarro AMAN Academia Militar das Agulhas Negras Atq Coor Ataque Coordenado Atq Loc Ataque à Localidade ATT Auto Target Tracking Bda Brigada Bda C Mec Brigada de Cavalaria Mecanizada Bda Inf Mec Brigada de Infantaria Mecanizada Bda Inf Mtz Brigada de Infantaria Motorizada BIB Batalhão de Infantaria Blindado BI Mec Batalhão de Infantaria Mecanizado B Dout Base Doutrinária C2 Comando e Controle CAEx Centro de Avaliação do Exército Can Au Canhão Automático Cb Cabo C Dir Tir Central de Direção de Tiro C Dout Ex Centro de Doutrina do Exército C&T Ciência & Tecnologia Cia C Companhia de Comando Cia C Ap Companhia de Comando e Apoio Cia Fuz Companhia de Fuzileiros Cia Fuz Mec Companhia de Fuzileiros Mecanizada CI Bld Centro de Instrução de Blindados Cmdo Comando Cmt Comandante CMS Comando Militar do Sul CONDOP Condicionantes Doutrinárias e Operacionais CO Ter Comando de Operações Terrestres CTEx Centro Tecnológico do Exército CV Cavalo-vapor DCT Departamento de Ciência e Tecnologia DF Distrito Federal DMT Doutrina Militar Terrestre DOAMEPI Doutrina, Organização (e/ou processos), Adestramento, Material, Educação, Pessoal e Infraestrutura EB Exército Brasileiro EBF Estratégia Braço Forte ECEME Escola de Comando e Estado-Maior do Exército EEID Elementos Essenciais de Informação Doutrinária EM Estado-Maior EME Estado-Maior do Exército END Estratégia Nacional de Defesa EPEx Escritório de Projetos do Exército Esc Escalão Ex Exército Expr Dout Experimentação Doutrinária FA Forças Armadas FT Força-Tarefa F Ter Força Terrestre GLO Garantia da Lei e da Ordem GPS Global Position System (Sistema de Posicionamento Global) Gp Cmdo Grupo de Comando GC Grupo de Combate GU Grande(s) Unidade(s) Inf Mec Infantaria Mecanizada Inf Mtz Infantaria Motorizada IP Instrução Provisória Lç Gr Lançador de granadas Ltda Limitada LWS Laser Warning System MAG Metralhadora automática a gás Man Manual(ais) M Cmb Marcha para o combate MD Ministério da Defesa Mec Mecanizada(o) MEM Material de emprego militar MG Minas Gerais Mot Motorista Mrt Morteiro Mtr Metralhadora NB Núcleo-Base NFBR Nova Família de Blindados de Rodas OA Observação avançado ODS Órgão de Direção Setorial OM Organização(ões) Militar(es) Op Operação PBC Planejamento Baseado em Capacidades P&D Pesquisa e desenvolvimento PEE Projetos Estratégicos do Exército Pel Pelotão Pel AC Pelotão Anticarro Pel Ap Pelotão de Apoio Pel Cmdo Pelotão de Comando Pel Com Pelotão de Comunicações Pel Exp Pelotão de Exploradores Pel Fuz Pelotão de Fuzileiros Pel Fuz Mec Pelotão de Fuzileiros Mecanizado Pel Mnt Trnp Pelotão de Manutenção e Transporte Pel Mrt P Pelotão de Morteiros Pesado Pel Sau Pelotão de Saúde Pel Sup Pelotão de Suprimento Pf Perfurante PND Política Nacional de Defesa PP Programa-Padrão PPQ Programa-Padrão de Qualificação PR Paraná PROFORÇA Projeto de Força do Exército Brasileiro PROTEGER Sistema Integrado de Proteção de Estruturas Estratégicas Terrestres QC Quadro de Cargos QCP Quadro de Cargos Previstos QDM Quadro de Dotação de Material QO Quadro de Organização QT Qualquer Terreno RCC Regimento de Carros de Combate RC Mec Regimento de Cavalaria Mecanizado Rec Reconhecimento RECOP Recuperação da Capacidade Operacional da Força Terrestre Res Reserva(do) Reu Coor Reunião de Coordenação Doutrinária Dout RJ Rio de Janeiro ROB Requisito(s) Operacional(is) Básico(s) RS Rio Grande do Sul SARP Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilotadas SCTEx Sistema de Ciência e Tecnologia do Exército S Ch Subchefe, subchefia S Cmt Subcomandante Sd Soldado Seç Seção SIDOMT Sistema de Doutrina Militar Terrestre SIPLEx Sistema de Planejamento do Exército SISFRON Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras SP São Paulo SU Subunidade(s) TI Tecnologia da Informação TIC Tecnologias da Informação e Comunicações TNT Trinitrotolueno U Unidade(s) VBC Viatura Blindada de Combate VBCI Viaturas Blindadas de Combate de Infantaria VBE Viatura Blindada Especial VBR-L Viatura Blindada de Reconhecimento - Leve VBTP Viatura Blindada de Transporte de Pessoal VBTP-MR Viatura Blindada de Transporte de Pessoal – Média de Rodas VT Vetores da Transformação Vtr Viatura Vtr L Viatura Leve Vtr Me Viatura Média SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................. 16 2 METODOLOGIA.......................................................................................... 22 3 EVOLUÇÃO DA FORÇA TERRESTRE...................................................... 24 3.1 AS BASES PARA A TRANSFORMAÇÃO DA DOUTRINA MILITAR TERRESTRE............................................................................................... 24 3.2 A DOUTRINA MILITAR TERRESTRE......................................................... 29 4 O PROJETO ESTRATÉGICO GUARANI................................................... 34 4.1 A NOVA FAMÍLIA DE BLINDADOS DE RODAS......................................... 35 4.2 AS CARACTERÍSTICAS DA VBTP-MR GUARANI.................................... 39 5 A INFANTARIA MECANIZADA.................................................................. 43 5.1 A TRANSFORMAÇÃO DA 15ª BDA INF MTZ............................................. 44 5.2 A TRANSFORMAÇÃO DO 33º BI MTZ....................................................... 46 5.3 A EXPERIMENTAÇÃO DOUTRINÁRIA...................................................... 48 5.3.1 A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO BI MEC (3ª S CH EME)............. 49 5.3.2 OS ELEMENTOS ESSENCIAIS DE INFORMAÇÕES DOUTRINÁRIAS.... 50 5.3.3 A EXPERIMENTAÇÃO DOUTRINÁRIA DO 33º BI MEC............................ 51 5.3.4 AS PROPOSTAS DA EXPERIMENTAÇÃO DOUTRINÁRIA...................... 53 6 CONCLUSÃO.............................................................................................. 58 REFERÊNCIAS............................................................................................ 61 16 1 INTRODUÇÃO A globalização, a revolução tecnológica, a expansão do comércio internacional e os fluxos de capitais são características do atual cenário global. Com o fim da Guerra Fria, no final do século XX, surgiram novos fatores: a disputa por recursos naturais escassos, a migração descontrolada e a degradação ambiental. Terrorismo, narcotráfico, crime organizado, proliferação de armas de destruição em massa, ataques cibernéticos também afetam a conjuntura da segurança e da defesa nos tempos atuais. Os fatores supramencionados moldam as Guerras do Futuro1. A emergência do Brasil como nação de grande relevância e a imprevisibilidade dos conflitos da atualidade contribuíram para a aprovação da Política Nacional de Defesa2 (PND), no ano de 2005, tendo como base a estratégia da dissuasão. Dentro desse contexto, o governo brasileiro editou a Estratégia Nacional de Defesa (END), em dezembro de 2008, com a finalidade de modernizar a estrutura nacional de defesa. O Plano dessa estratégia focou ações de médio e de longo prazo, atuando em três eixos estruturantes: reorganização das Forças Armadas (FA), reestruturação da indústria brasileira de material de defesa e política de composição dos efetivos das FA. Seguindo essas diretrizes, em 2009, o Exército Brasileiro (EB) apresentou a Estratégia BRAÇO FORTE (EBF/2009) – Figura 1, cuja estrutura geral abrangeu 02 (dois) grandes Planos – Articulação e Equipamento. Esses planos desdobraram-se em 04 (quatro) programas principais: Amazônia Protegida e Sentinela da Pátria (Articulação); Mobilidade Estratégica e Combatente Brasileiro (Equipamento). Em 2011, a idealização do Projeto de Força (PROFORÇA) do Exército Brasileiro orientou os rumos do Processo de Transformação, tornando-se a Concepção Estratégica do Exército (constante do Livro 4 da versão 2011 do Sistema de Planejamento do Exército – SIPLEx). Assim, o PROFORÇA acelerou o processo evolutivo da Força Terrestre (F Ter), com horizontes de curto, de médio e de longo 1 2 Guerra do Futuro: conflito que exige a aplicação do poder militar da Nação e cujas características exigirão a adoção de novos conceitos, capacidades, técnicas e equipamentos. Significa, genericamente, um cenário futuro a ser prospectado permanentemente. A Política Nacional de Defesa (PND) é o documento condicionante de mais alto nível do planejamento de ações destinadas à defesa nacional coordenadas pelo Ministério da Defesa. Voltada essencialmente para ameaças externas, estabelece objetivos e orientações para o preparo e o emprego dos setores militar e civil em todas as esferas do Poder Nacional, em prol da Defesa Nacional. 17 prazos, respectivamente, 2015, 2022 e 2031, impulsionando-a para a Era do Conhecimento3. Figura 1 – Evolução da EBF/2009 para o PROFORÇA Fonte: Projeto de Força do Exército Brasileiro (PROFORÇA), 2011, p. 12. Coerente com todo o processo, o Exército definiu uma metodologia para conduzir a transformação, por intermédio dos Projetos Estratégicos do Exército (PEE), em 2012, propiciando eficiência e efetividade na gestão dentro da Força. Dessa forma, a Força buscou racionalizar as estruturas operacionais e de apoio, alinhando-se às tendências do combate moderno, seguindo nove Vetores de Transformação (VT): Ciência e Tecnologia, Doutrina, Preparo e Emprego, Educação e Cultura, Engenharia, Recursos Humanos, Gestão, Logística, Orçamento e Finanças. Por conseguinte, a atual implantação de tropas mecanizadas veio ao encontro do desenvolvimento das novas capacidades4 de pronta resposta, de mobilidade estratégica, de flexibilidade de emprego, de elasticidade, de interoperabilidade entre 3 4 A Era do Conhecimento surgiu do acelerado desenvolvimento tecnológico, em especial da tecnologia da informação e da comunicação, tendo como características marcantes a maior velocidade, confiabilidade e baixo custo de transmissão e armazenamento de conhecimentos e outros tipos de informação. Capacidade é a aptidão requerida a uma força ou organização militar, para que possa cumprir determinada missão ou tarefa. 18 Forças Singulares e dessas com outras agências5. Segundo Montês (2001, p.10), o blindado mostrou sua silhueta na maioria dos conflitos mundiais, lançando poder letal local e provendo proteção à manobra. Seja sobre lagarta ou sobre rodas, se apresentou como peça fundamental para a definição dos combates. A modificação das Brigadas de Infantaria Motorizada (Bda Inf Mtz) em Mecanizadas (Mec) visou também a atualização da doutrina, conforme (GOMES, 2000, p. 9) “o emprego de forças blindadas e mecanizadas buscou o movimento, a diminuição do número de baixas, o combate não linear com ações de grande profundidade, num curto espaço de tempo [...].” As tropas mecanizadas foram consideradas mais aptas ao emprego no combate moderno, evidenciando versatilidade e modularidade, privilegiando a estratégia da dissuasão. Desse modo, por meio de pesquisa bibliográfica, descritiva, qualitativa e documental, este trabalho teve a finalidade de analisar a transformação da Brigada de Infantaria Motorizada em Mecanizada, inserida com uma proposta de estrutura para o Batalhão de Infantaria Mecanizado (BI Mec). Após a II Guerra Mundial, a Doutrina Militar Terrestre (DMT) e a tecnologia bélica experimentaram uma evolução extremamente rápida. A estrutura organizacional, o desenvolvimento de novos materiais de uso militar e a própria doutrina propiciaram modificações substanciais no âmbito mundial. O armamento tornou-se mais preciso e letal, a mobilidade no campo de batalha tornou-se essencial para os efeitos da surpresa e da massa. O binômio carro de combate-apoio aéreo aproximado assumiu caráter reconhecidamente decisivo. Recentes e sucessivas mudanças em todos os campos do poder produziram significativos reflexos no modo de operar das forças militares. As forças a serem empregadas devem estar aptas a conduzir Operações no Amplo Espectro, combinando atitudes, simultânea ou sucessivamente, em operações ofensivas, defensivas, de pacificação e de apoio a órgãos governamentais, tudo isso em um ambiente conjunto e interagências e, por vezes, multinacional (BRASIL, 2014, p. 1-2). O ambiente operacional atual incorporou novos conceitos e características: a 5 Agências são organizações, instituições e entidades, governamentais ou não, civis ou militares, públicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras, fundamentadas em instrumentos legais e/ou normativos, que têm competências específicas e que possam exercer alguma interferência, que possuam interesses ou possam ser instrumentos, atores ou partes na prevenção de ameaças, no gerenciamento de crises e/ou na solução de conflitos. 19 dimensão humana, o combate em áreas humanizadas, a importância das informações, o caráter difuso das ameaças, o ambiente interagências, as novas tecnologias e o espaço cibernético6. As operações podem ser desenvolvidas em áreas geográficas lineares ou não, de forma contígua ou não, em situações de guerra e de não guerra, ou seja, num ambiente de amplo espectro (Figura 2). Figura 2 – Combinação de Atitudes em Operações no Amplo Espectro Fonte: Doutrina Militar Terrestre – EB20-MF-10.102, 02/01/14, p. 4-4 Dessa forma, seguindo o planejamento de transformação da F Ter, a implantação da Infantaria Mecanizada (Inf Mec) iniciou a fase de experimentação doutrinária níveis Subunidade (SU) e Unidade (U), sob responsabilidade da 15ª Brigada de Infantaria Mecanizada. (15ª Bda Inf Mec). Ainda, a execução do Projeto GUARANI, um dos sete Projetos Estratégicos – Indutores da Transformação do Exército – aumentou a sinergia do processo, tendo por objetivo a transformação das Organizações Militares (OM) de Infantaria Motorizada (Inf Mtz) em Mecanizada e a modernização das Organizações Militares de Cavalaria Mecanizada. Para isso, uma nova família de Viaturas Blindadas de Rodas está sendo desenvolvida, a fim de dotar a F Ter de meios para incrementar a dissuasão e a defesa do território nacional. Nesse contexto, surgiu a situação-problema da pesquisa desenvolvida: a estrutura do Batalhão de Infantaria Mecanizado está adequada, visando o seu preparo e o seu emprego como peça de manobra de uma Brigada de Infantaria Mecanizada? O objetivo geral deste trabalho foi apresentar uma estrutura adequada para um Batalhão de Infantaria Mecanizado, visando o seu preparo e o seu emprego como peça de manobra de uma Brigada de Infantaria Mecanizada. Para tanto, foram escolhidos os objetivos específicos infracitados: 6 O Espaço Cibernético é o ambiente virtual onde as informações digitais transitam, são processadas e/ou armazenadas. É composto de dispositivos computacionais, conectados em redes, ou não. 20 - descrever a implantação da Infantaria Mecanizada; - identificar em que nível o processo de implantação da Inf Mec se encontra e quais as perspectivas para médio prazo (2016); - identificar as mudanças no preparo e no emprego do BI Mec, de acordo com a Doutrina Militar Terrestre atual; - identificar se a estrutura proposta para o BI Mec atende às necessidades de transformação da Bda Inf Mec; - identificar as missões, as possibilidades e as limitações do BI Mec; e - descrever as possibilidades e as limitações da Viatura Blindada para Transporte de Tropa – Média de Rodas Guarani (VBTP-MR Guarani) para o preparo e o emprego do BI Mec. Segundo Gil (2002) a hipótese é uma proposição testável que pode solucionar o problema, de modo específico, simples, passível de ser verificada, com relevância e variáveis claramente definidas. Conforme o problema formulado, foi possível afirmar que a estruturação correta do Quadro de Cargos (QC) e do Quadro de Dotação de Material (QDM) de um BI Mec contribuiria para o preparo correto e o emprego adequado da OM. Considerando o título deste trabalho "Transformação da Brigada de Infantaria Motorizada em Mecanizada: o Batalhão de Infantaria Mecanizado (BI Mec) – uma Proposta" e a hipótese citada no parágrafo anterior foram levantadas duas variáveis com o intuito de solucionar o problema desta pesquisa. A variável independente constituiu-se pelo QC e QDM do BI Mec. A variável dependente foi o nível de preparo e de emprego da OM. A pesquisa questionou qual estrutura seria mais adequada para um Btl Inf Mec. Para Vergara (2009, p. 23), a delimitação do estudo aponta “as fronteiras concernentes a variáveis, aos pontos que serão abordados [...].” Este trabalho teve por objetivo estudar a transformação do BI Mtz a partir da implantação da Inf Mec, as alterações no Quadro de Cargos, o recebimento de novos materiais de emprego militar (MEM), por consequência, as mudanças no efetivo de pessoal e na distribuição de material do BI Mec. Por conseguinte, o trabalho também objetivou evidenciar as novas possibilidades e limitações do BI Mec, voltadas para o preparo e o emprego, conforme a doutrina militar em vigor. Quanto à VBTP-MR GUARANI, este estudo limitou-se à sua 21 utilização pelo BI Mec, evidenciando as mudanças na formação, no adestramento e no emprego do Btl como OM (peça de manobra) integrante de uma Bda Inf Mec. Assim, o estudo em pauta foi importante para identificar as mudanças proporcionadas pela implantação da Inf Mec e a transformação futura de outras Bda Inf Mtz em Mec. A nova estrutura, ora implantada, servirá de modelo para a continuidade do processo, sendo a base de conhecimentos consolidados, por intermédio de experimentações doutrinárias, bem como a aplicação da doutrina militar terrestre vigente. Além disso, este trabalho servirá de subsídio para pesquisas futuras: como exemplo de estrutura e de preparo da Força Terrestre; ferramenta para o planejamento do preparo e do adestramento da OM, com a finalidade de desenvolvimento das novas capacidades previstas na concepção estratégica da Força Terrestre; e parâmetro para o desempenho do combatente do futuro com a evolução da doutrina militar. 22 2 METODOLOGIA Seguindo a taxionomia de Vergara (2009), a metodologia para o desenvolvimento do trabalho foi a pesquisa qualitativa, descritiva, bibliográfica e documental. Foram executados o estudo e a análise de documentos emitidos em consonância com o SIPLEx, a EBF/2009 e o PROFORÇA (2011), respaldados no contexto da Estratégia Nacional de Defesa (END). Conforme a autora foi qualitativa, uma vez que privilegiou análises de documentos e relatos doutrinários para entender o fenômeno do desenvolvimento e da evolução da doutrina militar vigente de uma forma mais profunda. Descritiva porque descreveu as características da atual implantação da Inf Mec, a estruturação e a organização da Bda Inf Mec e do BI Mec, sob a ótica das Bases para a Transformação da Doutrina Militar Terrestre e do Sistema de Doutrina Militar Terrestre (SIDOMT). Bibliográfica porque teve sua fundamentação teórico-metodológica na investigação sobre assuntos de gestão e criação do conhecimento, desenvolvimento de doutrina militar disponíveis em livros, manuais e artigos de acesso livre ao público em geral. Documental porque se utilizou de documentos de trabalhos e de relatórios do EB, não disponíveis para consultas públicas. O universo foi composto com todos os documentos resultantes dos estudos, diagnósticos, formulações e concepções surgidas no Estado-Maior do Exército (EME) ao longo dos trabalhos relativos à Estratégia Nacional de Defesa, à elaboração da Estratégia BRAÇO FORTE e ao planejamento do SIPLEx 2011/2014. A amostra foi fornecida pela 15ª Bda Inf Mec, Grande Unidade (GU) piloto da implantação da Inf Mec, selecionada pela tipicidade e critério de representatividade, segundo Vergara (2009). Essa pesquisa iniciou-se com uma pesquisa bibliográfica na literatura (livros, manuais doutrinários e de fundamentos, revistas especializadas, artigos científicos, internet, teses, dissertações e monografias) com dados pertinentes ao assunto. Nessa oportunidade, foram levantados os fundamentos e as características do processo de transformação do EB, da Inf Mec e todas as informações disponíveis sobre o tema. Em prosseguimento, utilizou-se a pesquisa documental nos arquivos do EB, mais especificamente do EME, órgão responsável pelo desenvolvimento da DMT, pela condução da implantação da Inf Mec e do Projeto GUARANI. O objetivo principal foi 23 levantar informações precisas sobre a estrutura da Bda Inf Mec, do BI Mec e identificar o atual estágio de transformação da 15ª Bda Inf Mec, brigada piloto. A leitura seletiva do material de pesquisa contribuiu para o processo de síntese e de análise, consubstanciando um corpo de literatura atualizado e compreensível. Finalmente, as conclusões decorrentes das pesquisas bibliográfica e documental permitiram estabelecer uma relação direta entre a estruturação correta do Quadro de Cargos (QC), do Quadro de Dotação de Material (QDM) de um BI Mec e a contribuição para o preparo correto e o emprego adequado da OM. Em decorrência da natureza do problema dessa pesquisa e do perfil desse pesquisador, foi escolhida a abordagem fenomenológica, a qual privilegiou procedimentos qualitativos de pesquisa. Assim, foram utilizados dois métodos de pesquisa distintos para o tratamento dos dados a serem coletados. Inicialmente, foi empregada a análise de conteúdo, que, para Vergara (2008, p. 15), é “uma técnica para o tratamento de dados que visa identificar o que está sendo dito a respeito de determinado tema”. Dessa forma, foram identificados os fundamentos e o estágio atual da Inf Mec, da organização estrutural da GU e da U, potencializados com a execução do Projeto GUARANI. Posteriormente, foi feita uma comparação entre os dados obtidos na literatura compulsada e as experiências colhidas em relatórios de bases doutrinárias aplicadas na amostra considerada, no intuito de atingir o objetivo geral dessa pesquisa. A metodologia escolhida para esta pesquisa apresentou algumas dificuldades e limitações em relação à coleta e ao tratamento dos dados. Quanto à coleta de dados, o método limitou-se à pesquisa e à análise da documentação oficial aberta à consulta. A limitação quanto ao tratamento dos dados se refletiu no fato do autor ter se envolvido diretamente no problema abordado, pois foi integrante da 15ª Bda Inf Mec, na fase inicial de transformação, prejudicando em parte a isenção da análise em questão. Enfim, a metodologia utilizada evidenciou de forma objetiva e clara, os seus tipos, universo e amostra, formas de coleta, de tratamento de dados e as limitações dos métodos elencados. Mesmo com limitações, acreditou-se que o método escolhido foi acertado e possibilitou alcançar com sucesso o objetivo final desta pesquisa. 24 3 EVOLUÇÃO DA FORÇA TERRESTRE A Estratégia Nacional de Defesa enfatizou a importância dos conceitos de segurança e de defesa nacional a todos os segmentos da sociedade, alinhados à política externa brasileira e ao desenvolvimento do país. Foi um marco histórico importante na evolução da Defesa do Brasil, a partir de 2008, firmando objetivos estratégicos para as Forças Armadas. Nos anos de 2009 e 2010, a EBF/2009 proporcionou a alteração de concepções como a doutrina, a gestão e o perfil desejável do profissional militar. Na Era do Conhecimento, a evolução e facilidade de acesso às novas tecnologias aproximaram os níveis político e tático dos conflitos armados. A socialização da rede mundial de computadores (internet) disponibilizou a qualquer cidadão informações antes reservadas aos Estados. O aparecimento das redes sociais e a atuação da mídia favoreceram a rápida inserção da sociedade no contexto dos conflitos. Por conseguinte, as características do século XXI impõem à Força Terrestre uma forte gestão do conhecimento num espaço multidimensional integrado à informação. 3.1 AS BASES PARA A TRANSFORMAÇÃO DA DOUTRINA MILITAR TERRESTRE Em setembro de 2013, o Estado-Maior do Exército aprovou as Bases para a Transformação da Doutrina Militar Terrestre, introduzindo fundamentos, concepções e conceitos doutrinários com vistas à incorporação, na F Ter, das capacidades e das competências necessárias ao seu emprego (Figura 3). A irrefutável realidade, sobejamente evidenciada no cotidiano, indica a premente necessidade de um Exército da Era do Conhecimento, que pressupõe uma Força com novas capacidades operativas. Esta Força deve ser dotada de armamentos e de equipamentos com alta tecnologia agregada, sustentada por uma doutrina em constante evolução, integrada por recursos humanos altamente treinados e motivados (BRASIL, 2014, p. 8/32). O Exército Brasileiro vem se reorganizando em estruturas com características de flexibilidade, adaptabilidade, modularidade, elasticidade e sustentabilidade, com a finalidade de alcançar resultados decisivos nas Operações no Amplo Espectro, com prontidão operativa e com capacidade de emprego do poder militar de forma gradual 25 e proporcional à ameaça. Inserida na Era do Conhecimento, a Instituição tem buscado, por meio de uma gestão integrada, processos otimizados e estruturas racionalizadas, a constante atualização e a adaptação às mudanças do cenário global. Figura 3 – A Evolução da Força Terrestre Fonte: Palestra 7ª S Ch EME, 28/07/14, lâmina 36 As mudanças experimentadas pelas sociedades no contexto da ordem mundial conduziram ao surgimento de um cenário geopolítico incerto, complexo e instável para o planejamento da Defesa da Pátria, missão precípua das Forças Armadas, particularmente da Força Terrestre. As recentes alterações em todos os campos de poder trouxeram diversos e novos fatores que modificaram os conflitos armados, sendo reflexos diretos destas características. Dessa forma, foram incorporados conceitos próprios dos conflitos contemporâneos, tais como: espaço de batalha não linear e multidimensional, operações conjuntas, integradas, sincronizadas e simultâneas no amplo espectro e em ambiente interagências, maior proteção individual e coletiva, minimização de danos colaterais sobre as populações e meio ambiente, o caráter difuso das ameaças, a importância da informação, as novas tecnologias, o espaço cibernético, dentre outros. 26 As atividades, ações, comportamentos e peculiaridades dos grupos humanos introduziram a dimensão humana nos combates. As sociedades estão mais conscientes do valor dos homens, considerando não apenas o custo em recursos para a solução bélica dos conflitos, mas também a perda de vidas. Assim, a forma de lidar com a população em áreas deflagradas mudou significativamente a atuação dos combatentes, o armamento e o equipamento utilizados, a natureza e o adestramento da tropa empregada. A presença cotidiana da população junto ao desenvolvimento do combate em áreas humanizadas dificulta a identificação dos contendores, aumentando a possibilidade de danos colaterais. A letalidade deve ser seletiva e efetiva. Logo, as considerações civis assumiram um alto grau de importância em todos os níveis de planejamento e de condução das operações militares no espectro dos conflitos (Figura 4). Figura 4 – O Espectro dos Conflitos Fonte: Doutrina Militar Terrestre – EB20-MF-10.102, 02/01/14, p. 4-2 O Espectro dos Conflitos representa uma escala na qual se visualizam os diferentes graus de violência politicamente motivada. Abrange desde a Paz Estável, em um extremo, até a situação de Guerra, no outro. Ao longo desse espectro, a Paz Instável é a situação na qual ocorre violência localizada e limitada, que não comprometa a segurança do Estado como um todo; e a Crise, caracterizada por grave ameaça ao Estado cujo nível de violência não implique no envolvimento de toda a capacidade militar da Nação (contingência limitada). A produção, a obtenção, a disseminação e o emprego de informações passaram a influir diretamente na qualidade do processo decisório, tornando-se primordial no 27 Espaço de Batalha7. Com suporte de Tecnologias da Informação e Comunicações (TIC) a mídia passou a disponibilizar informações que antes eram reservadas aos Estados. Por conseguinte, civis não combatentes, grupos e organizações presentes em áreas conflagradas, dirigentes e líderes em todos os níveis tornaram-se partícipes da dinâmica dos conflitos com influência direta, sendo fundamental o controle da informação para o emprego de forças de Defesa. O emprego excessivo de força passou a ser inaceitável. Perder o controle da narrativa pode levar a sérias restrições à liberdade de ação e até mesmo impor a derrota no Espaço de Batalha. É o tratamento a ser dado a essas e outras questões – a comunicação com as sociedades nacional e global – que determinará a narrativa dominante. A importância da opinião pública, portanto, transforma-a em um dos objetivos estratégicos a ser conquistado em qualquer situação de emprego de um exército (BRASIL, 2013, p. 10/32). O ambiente incerto, característica do século XXI, ampliou o caráter difuso das ameaças. As ameaças concretas ou potenciais tornaram-se difíceis de serem identificadas, bem como a conjunção de atores, estatais ou não, capazes de realizarem ação hostil contra o país e os interesses nacionais. A proeminência de grupos transnacionais ou insurgentes, com ou sem apoio político e material de países, dificultam a identificação do adversário dominante, regular ou não. Nos últimos anos, a declaração formal de guerra entre Estados deixou de ser regra, mas os conflitos bélicos continuam ocorrendo sejam de alta ou baixa intensidade. Cresceu de importância também a ação coordenada entre as forças militares e outros atores na defesa dos interesses legítimos nacionais. As operações interagências demonstraram ser o caminho para o sucesso das ações, exigindo efetivos militares com mentalidade, linguagem e estruturas adequadas ao relacionamento com diversidade de atores. As organizações governamentais e as não governamentais, agências supranacionais de organismos internacionais com elevado poder de influência ganharam espaço no ambiente interagências. Ainda, ao encontro do planejamento e da condução das operações militares vieram a proliferação dos atuais recursos tecnológicos. Surgiram novos sistemas e 7 Espaço de Batalha é a dimensão física e virtual onde ocorrem e repercutem os combates, abrangendo as expressões política, econômica, militar, científico-tecnológica e psicossocial do poder, que interagem entre si e entre os beligerantes. Compreende todas as dimensões, tangíveis e intangíveis, nas quais o Comandante deve aplicar o Poder de Combate. O Campo de Batalha está incluído no Espaço de Batalha. 28 plataformas militares com alta tecnologia agregada, ampliaram-se as vulnerabilidades de sistemas vitais para as Forças Armadas, permitindo o acompanhamento e a influência de todos os atores do campo de batalha. A Geoinformação, os Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilotadas (SARP), os Sistemas de Mísseis e Foguetes, os Sistemas de Monitoramento e Sensores são exemplos destas novas tecnologias. Além disso, o espaço cibernético surgiu como um novo vetor de combate, com efetividade decisiva, utilizando a Tecnologia da Informação (TI). As ações conduzidas nessa dimensão, normalmente, têm por objetivo a proteção dos próprios ativos de informação; exploração e ataques a redes do oponente, mantendo a capacidade de interferência no desenrolar das operações militares no Espaço de Batalha. Logo, de acordo a Diretriz Cmt Ex 2011-2014 e a Concepção Estratégica do SIPLEx 4, o Exército Brasileiro lançou uma visão de futuro até 2022: [...] o Processo de Transformação do Exército chegará a uma nova doutrina, com o emprego de produtos de defesa tecnologicamente avançados e profissionais altamente capacitados e motivados, para que o Exército enfrente, com os meios adequados, os desafios do século XXI, respaldando as decisões soberanas do Brasil no cenário internacional. Para a consecução do processo a Instituição vem maximizando a obtenção de recursos do orçamento e de outras fontes e ampliando a integração com a sociedade, a fim de fortalecer a dimensão humana. A Força Terrestre está fortalecendo os valores, os deveres e a ética militar para implantar um novo e efetivo sistema de educação e cultura, visando a consolidação do aprendizado. O Exército, ainda, está aprimorando a governança de TI, implantando novos Sistemas Operacional Militar Terrestre, Logístico Militar Terrestre, de Doutrina Militar Terrestre e de Ciência, Tecnologia e Informação, bem como aumentando a efetividade na gestão do bem público para solucionar os processos críticos dos vetores de transformação. O Braço Forte e a Mão Amiga pretende contribuir com a dissuasão extrarregional, ampliando a projeção do Exército no cenário internacional com liberdade de ação no espaço cibernético e contribuir com o desenvolvimento sustentável e a paz social. 29 3.2 A DOUTRINA MILITAR TERRESTRE O Processo de Transformação permitiu ao Exército o ajuste às necessidades para a execução das tarefas e das missões. Na evolução da DMT, alinhada com a PND e com a END, a Força Terrestre adotou a geração de forças por meio do Planejamento Baseado em Capacidades (PBC) – Figura 5. Figura 5 – Planejamento Baseado em Capacidades Fonte: Palestra C Dout Ex, 26/09/14, lâmina 16 A formação de capacidades é obtida a partir de um conjunto de sete fatores determinantes, inter-relacionados e indissociáveis: Doutrina, Organização (e/ou processos), Adestramento, Material, Educação, Pessoal e Infraestrutura (DOAMEPI). Ainda, as capacidades, orientadas pelos diplomas legais brasileiros, têm por base a análise da conjuntura e os cenários prospectivos, identificando-se as ameaças potenciais e as concretas ao Estado e aos interesses nacionais. E para alcançar resultados decisivos com pronta resposta operativa, as unidades da Exército Brasileiro passaram a adotar, por intermédio da Doutrina Militar, novas estruturas como modularidade, elasticidade, flexibilidade, adaptabilidade e sustentabilidade, evidenciando-as nas capacidades de emprego do poder militar terrestre, de modo gradual e proporcional à ameaça. A modularidade confere ao elemento de combate a condição de receber módulos que ampliam o poder de combate ou lhe agregam capacidades, partindo de uma estrutura básica mínima (Figura 6). Esta qualidade está diretamente relacionada ao conceito de elasticidade, facultando ao Cmt adotar estruturas de 30 combate “sob medida” para cada situação de emprego, bem como a possibilidade de operação de forma independente. Figura 6 – Capacidades Modulares Fonte: Palestra C Dout Ex, 28/06/13, lâmina 73 Por conseguinte, a característica da elasticidade faculta ao Cmt de uma força a variação do poder de combate pelo acréscimo ou supressão de estruturas, com oportunidade, dispondo de adequado apoio de Comando e Controle e de Logística. A flexibilidade possibilita ao Cmt um número maior de opções para reorganizar os elementos de combate em estruturas temporárias, adequando às especificidades de cada situação de emprego de acordo com os fatores da decisão. Esta característica permite uma rigidez mínima pré-estabelecida, com o adequado suporte logístico. A adaptabilidade facilita uma rápida adaptação às mudanças nas condicionantes que determinam a seleção e a forma como os meios serão empregados, em qualquer faixa do espectro do conflito, nas situações de guerra e não guerra. Logo, a força empregada ou o comandante dessa força podem ajustar-se à constante evolução da situação e do ambiente operacional e adotarem soluções mais adequadas aos problemas militares apresentados. Por fim, a sustentabilidade permite ao elemento de combate durar na ação, pelo prazo que se fizer necessário, mantendo as capacidades operativas, resistindo às oscilações do combate. O termo também é aplicado no processo de obtenção de 31 determinada capacidade operativa, ou seja, ao ciclo de vida dessa capacidade, estando diretamente relacionado ao conjunto de fatores DOAMEPI. Dessa forma, conforme o novo manual, a Doutrina Militar Terrestre (BRASIL, 2014, p. 1-2): [...] é o conjunto de valores, fundamentos, conceitos, concepções, táticas, técnicas, normas e procedimentos da F Ter, estabelecido com a finalidade de orientar a Força no preparo de seus meios, considerando o modo de emprego mais provável, em operações terrestres e conjuntas. Assim, foi estabelecido um enquadramento comum para ser empregado pelos quadros da Força Terrestre como referência na solução de problemas militares. Esta normalização visou o preparo dos meios e o emprego das capacidades que a F Ter necessita em situação de Guerra8 ou de Não Guerra9, por meio dos Elementos do Poder de Combate Terrestre. São eles: Liderança, Informações e as Funções de Combate – Comando e Controle, Movimento e Manobra, Inteligência, Fogos, Logística e Proteção (Figura 7). Figura 7 – Elementos do Poder de Combate Terrestre Fonte: Doutrina Militar Terrestre – EB20-MF-10.102, 02/01/14, p. 5-9 A liderança confere ao indivíduo a capacidade de dirigir e influenciar outros militares, por meio de motivação, objetividade e exemplo. Os conflitos da Era do 8 9 São aquelas que empregam o Poder Nacional, com predominância da Expressão Militar, explorando a plenitude de suas características de violência na defesa da Pátria, no amplo espectro dos conflitos. Quando o Poder Nacional, com predominância da Expressão Militar, for empregado sem implicar em ações de efetivo combate, exceto em circunstâncias especiais, onde o poder de combate é usado de forma limitada, em situação de normalidade institucional ou não, na garantia dos poderes constitucionais, garantia da lei e da ordem, prevenção de ameaças, gerenciamento de crise e na solução de conflitos. 32 Conhecimento, dentro do contexto do amplo espectro, exigem comandantes e líderes extremamente adaptáveis e com pensamento crítico. A criatividade também se faz necessária para a transmissão clara das diretrizes aos subordinados e da intenção do Cmt em tempo hábil. Segundo o Manual de Doutrina Militar Terrestre (BRASIL, 2014, p. 5-9) “comandantes competentes, informados e dotados de iniciativa e coragem física e moral são capazes de extrair o melhor resultado do pessoal e dos sistemas de combate colocados sob seu comando.” As informações promovem a compreensão atualizada do Espaço de Batalha. Elas determinam a amplitude e a exatidão da consciência situacional agregada ao processo decisório, interferindo no rendimento das forças empregadas e dos respectivos sistemas de armas – progressivamente mais dependentes da Tecnologia de Informação e Comunicações. O Comando e Controle é um conjunto de atividades, tarefas e sistemas interrelacionados. Permite aos comandantes o exercício da autoridade e a direção das ações, integrando todas as demais funções de combate por intermédio de representações inteligíveis de objetos, estados e acontecimentos nos domínios real, virtual e subjetivo. Ainda, a Função de Combate Movimento e Manobra é empregada para deslocar forças, de modo a posicioná-las em situação de vantagem em relação às ameaças. Primeiramente, há o deslocamento ordenado de forças visando ao cumprimento de uma missão, sem interferência do oponente, representando o movimento. De outra forma, a manobra destina-se ao deslocamento de uma tropa que esteja em contato ou que tenha a previsão de contato com uma força oponente. Do mesmo modo, a Inteligência assegura a compreensão sobre o ambiente operacional, as ameaças, os oponentes (atuais e potenciais), o terreno e as considerações civis. Esta função por fim a execução de tarefas associadas às operações de Inteligência, Reconhecimento, Vigilância e Aquisição de Alvos (Busca de Alvos), de acordo com as diretrizes do comando. E, segundo o Manual de Doutrina Militar Terrestre (BRASIL, 2014, p. 5-10), a Função de Combate Fogos é o “conjunto de atividades, tarefas e sistemas interrelacionados que permite o emprego coletivo e coordenado de fogos cinéticos orgânicos da Força ou conjuntos, integrados pelo processo de planejamento e coordenação de fogos.” 33 A Logística, por conseguinte, tem a função de prover apoio e serviços, assegurando a liberdade de ação e proporcionando amplitude de alcance e de duração às operações. Engloba os apoios ao material, ao pessoal e de saúde. Finalmente, a Proteção permite que os comandantes disponham do máximo poder de combate para emprego, preservando os elementos da força. Esta função identifica, previne e mitiga as ameaças às forças e aos meios vitais para as operações, de modo a preservar o poder de combate e a liberdade de ação. Inclui, também, a preservação das populações civis. Portanto, de acordo com a Diretriz Geral Cmt Ex 2011-2014 (BRASIL, 2011, p. 16 e 17): a doutrina dimensiona e organiza a Força, orientando-a para a aquisição das capacidades necessárias à sua destinação constitucional. A doutrina é, portanto, um dos “motores” do Processo de Transformação e o Sistema de Doutrina Militar Terrestre (SIDOMT) deve ser constantemente fortalecido. Nesse sentido, as seguintes ações deverão ser empreendidas: [...] implantar mecanismos que assegurem maior efetividade aos atuais processos de transmissão, análise, assimilação e difusão das experiências e ensinamentos coletados por militares em missões fora da Força, no Brasil e no exterior. Dessa forma, a Doutrina Militar Terrestre é um sistema de primeira ordem, devendo estar ajustada à postura do Brasil no cenário internacional. Ela orienta como agir, sem estabelecer um conjunto de regras fixas, tendo um enquadramento comum como referência para a solução de problemas militares. Baseia-se na experiência acumulada pela Força Terrestre, sendo o alicerce para a educação e o treinamento, em especial, ao planejamento, à preparação, à execução e ao acompanhamento das Operações Terrestres. 34 4 O PROJETO ESTRATÉGICO GUARANI A evolução doutrinária do Exército Brasileiro trouxe como conseqüência diversas necessidades prioritárias, traduzidas em novas capacidades, para a F Ter na Era do Conhecimento. Essas foram delineadas pelo SIPLEx-4, alinhadas ao Processo de Transformação. Segundo o Manual de Doutrina Militar Terrestre (BRASIL, 2014, p. 3-4), as novas capacidades são: a) dissuasão terrestre compatível com o status do país; b) projeção internacional em apoio à política exterior do país; c) atuação no espaço cibernético com liberdade de ação; d) prontidão logística; e) interoperabilidade com as demais Forças Singulares e complementariedade com outros órgãos e agências – operações interagências; f) gestão integrada em todos os níveis; g) efetividade na doutrina militar; h) maior ênfase na dimensão humana; i) fluxo orçamentário adequado; j) produtos de defesa vinculados às capacidades operacionais; e k) gestão sistêmica da informação operacional. A criação do Escritório de Projetos do Exército (EPEx), por meio da Portaria nº 134-EME, em setembro de 2012, contribuiu para consecução dos objetivos organizacionais traçados em busca das novas capacidades, por intermédio de projetos, com a apoio dos Órgãos de Direção Setorial (ODS). Os sete PEE10 com impactos estratégicos foram os verdadeiros indutores do Processo de Transformação (Figura 8), recebendo a mais alta prioridade no orçamento e no Plano de Articulação e Equipamento do Exército Brasileiro. Esta medida permitiu eficiência e efetividade na gestão e no alinhamento estratégico dentro da Força, no âmbito do Ministério da Defesa (MD) e do Governo Federal. Dessa forma, o Projeto GUARANI, inserido no escopo dos PEE, tem por objetivo a transformação das OM de Infantaria Motorizada em Mecanizada e a modernização das OM de Cavalaria Mecanizada. Para isso, uma nova família de Viaturas Blindadas de Rodas está sendo desenvolvida, com a finalidade de dotar a Força Terrestre de meios para a dissuasão terrestre e a defesa do território nacional. 10 Os Projetos Estratégicos do Exército são: Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON); Sistema Integrado de Proteção de Estruturas Estratégicas Terrestres (PROTEGER); Defesa Cibernética; GUARANI; Defesa Antiaérea; Astros 2020; e Recuperação da Capacidade Operacional da Força Terrestre (RECOP). 35 Figura 8 – Projetos Estratégicos do Exército Fonte: Revista Verde-Oliva, nº 217, 2012, p.11 4.1 A NOVA FAMÍLIA DE BLINDADOS DE RODAS Em 2006, após a 1ª Reunião Decisória, o Exército Brasileiro decidiu iniciar a Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Nova Família de Blindados de Rodas (NFBR) pela Viatura Blindada de Transporte de Pessoal – Média de Rodas (VBTP–MR), sendo a plataforma básica na versão 6x6 com fácil migração para 8x8 e foco na defesa externa do território nacional. O projeto seria desenvolvido pelo Sistema de Ciência e Tecnologia do Exército (SCTEx) em parceria com uma empresa nacional. Em novembro de 2007, a F Ter, por meio do Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT), firmou parceria com a empresa IVECO LA Ltda., subsidiária da FIAT, sediada na cidade de Sete Lagoas, MG (Fotografia 1), para P&D, após o devido processo de avaliação, seleção, qualificação e licenciamento entre várias propostas. Em 2010, o EME aprovou as Condicionantes Doutrinárias e Operacionais (CONDOP) nº 02/10 da NFBR do Exército Brasileiro, em consonância com o SIPLEx-4. 36 Fotografia 1 – Fábrica da IVECO (em destaque) na cidade de Sete Lagoas, MG Fonte: Palestra DCT, 28/11/14, lâmina 14 A NFBR deveria dotar os futuros BI Mec, as Cia C/Bda Inf Mec e OM integrantes das Bda Inf Mec. A partir de 2015, ainda, as viaturas EE-9 Cascavel e EE-11 Urutu, utilizadas pelas OM de Cavalaria Mecanizada e também OM enquadradas pelas Brigadas de Cavalaria Mecanizada (Bda C Mec), seriam substituídas pelas primeiras VBTP–MR Guarani. Conforme a Portaria nº 092-EME-Res, de 31 de agosto de 2010, a NFBR teria dois “chassis” básicos, um médio do tipo 6x6 (Figura 9 e Fotografia 2) e um leve do tipo 4x4, preferencialmente, que seriam a origem de duas subfamílias de blindados. O chassi único das viaturas médias, com boa mobilidade através campo, baixa silhueta, deveria possuir as seguintes características gerais: - capacidade de realizar deslocamentos a grandes distâncias; - desenvolver velocidades compatíveis em estrada e em terreno variado; - capacidade anfíbia; - possuir condições de ser transportada por aeronave tipo C-130 e KC-390; - raio de ação superior a 600km; - baixa dependência logística e facilidade de manutenção; - baixa silhueta, assinatura térmica e assinatura radar; - proteção contra minas anticarro, assegurando a sobrevivência da guarnição; - baixa pressão sobre o solo e boa mobilidade tática através campo; e - capacidade para receber blindagem adicional (passiva ou reativa). 37 Figura 9 – Viatura Blindada de Transporte de Pessoal (Protótipo) Fonte: Revista Verde-Oliva, nº 197, 2008, p.37 Fotografia 2 – Protótipo da VBTP-MR Guarani (sem sistema de armas) Fonte: Foto divulgação IVECO, 2011 Em janeiro de 2011, o EME aprovou, por intermédio da Portaria nº 004, os Requisitos Operacionais Básicos (ROB) nº 01/11 da VBTP-MR, com 69 (sessenta e nove) requisitos absolutos, 20 (vinte) requisitos desejáveis e 01 (um) complementar. A partir da versão 6x6 da VBTP-MR seriam desenvolvidas as outras versões da NFBR: Reconhecimento (em estudo na versão 8x8), Morteiro, Especial (Socorro, Posto de Comando, Comunicações, Central Diretora de Tiro, Oficina, Engenharia e Ambulância) – Figura 10. 38 Figura 10 – Outras configurações das Viaturas Blindadas – Média de Rodas Fonte: Palestra DCT, 28/11/14, lâmina 48 A construção do protótipo ocorreu no período de dezembro de 2009 a março/abril de 2011, com a montagem da carcaça, cujo aço de blindagem, inicialmente, foi de origem alemã, batoques de blindagem adicional e colagem do spall-liner (manta protetora contra estilhaços) no interior do veículo. Na sequência foram instalados os diversos sistemas que compõem o carro, terminando com a montagem do motor e de todo o interior da viatura. Cerca de 300 (trezentos) requisitos técnicos e operacionais foram avaliados, com a utilização de 10 (dez) viaturas nos ensaios e mais de 78.000 (setenta e oito mil) quilômetros rodados em pistas no Centro de Avaliação do Exército (CAEx). Testes foram executados em diversas instalações no país (Fotografia 3) com o apoio de OM como o 15° RC Mec, a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), o Centro de Instrução de Blindados (CI Bld) e de empresas como a RANDON (Caxias do Sul-RS), que permitiu a utilização do seu Campo de Provas (pneus perfurados), para os testes de durabilidade e de confiabilidade, entre outros. Ainda, no exterior, também foram realizados testes com o apoio do contingente brasileiro em Missão de Paz no Haiti, testes balísticos (7,62mm x 51 Pf e 12,7mm x 99 Pf) e antiminas (6 kg TNT sob qualquer roda) na Alemanha e anti-incêndio na Itália (Fotografia 4). 39 Fotografia 3 – Realização de testes com a VBTP-MR Guarani Fonte: Palestra DCT, 28/11/14, lâmina 19 Fotografia 4 – Realização de testes balísticos, anti-incêndio e antiminas Fonte: Palestra DCT, 28/11/14, lâmina 19 4.2 AS CARACTERÍSTICAS DA VBTP-MR GUARANI O DCT firmou com a IVECO LA Ltda. o desenvolvimento e a fabricação de 128 (cento e vinte e oito) VBTP-MR, de acordo com os Contratos nº 015/2012-DCT, nº 020/2013-DCT e nº 023/2013-DCT, incluindo 16 (dezesseis) viaturas originárias de Lote Piloto. Além disso, tais contratos também incluíram um Pacote Logístico para a plataforma automotiva e contemplaram a capacitação e o suporte logístico 40 associados. As viaturas foram classificadas como experimentais até a conclusão do apoio de C&T à Experimentação Doutrinária Inf Mec, quando deverão ter atingido a configuração final. Em agosto de 2012, teve início a produção industrial e a IVECO entregou as primeiras unidades ainda no final do ano citado (Fotografia 5). A VBTP-MR Guarani é capaz de transportar até 11 (onze) homens. Com índice de nacionalização superior a 60%, incluindo trem de força e chassi, a viatura tem peso bruto total de 18 toneladas, tração 6x4 e 6x6 (bloqueio em todos os eixos) e é impulsionado pelo motor diesel Cursor 9, da IVECO, com 383 CV de potência máxima. O veículo possui transmissão automática ZF 6HP 602S de 6 velocidades à frente e 1 à ré, suspensão independente nas 6 rodas (hidropneumáticos), direção hidráulica com esterçamento nos 1º e 2º eixos, freios a disco nas 6 rodas e ABS (1º e 2º eixos). Fotografia 5 – VBTP–MR Guarani com Sistema de Armas REMAX Fonte: Revista Verde-Oliva, nº 217, 2012, p.34-35 A VBTP-MR conta, ainda, com sistema automático de detecção e extinção de incêndio, com 8 (oito) extintores, sistema de controle de pressão dos pneus, permitindo o deslocamento de até 80 (oitenta) quilômetros com os pneus perfurados e autonomia de 600 (seiscentos) quilômetros, possibilitando grande raio de ação. Possui também como características a proteção balística básica contra 7,62mm x 51 Pf e adicional contra 12,7mm x 99 Pf, proteção antiminas contra 6 kg TNT sob qualquer roda a capacidade de navegação anfíbia em rio e lago, com velocidade 41 máxima na água de 9km/h e velocidades máxima/mínima em estrada de 90km/h e 3,5km/h, respectivamente. É capaz de transpor rampa longitudinal máxima de 60% e rampa transversal de 30%. A viatura pode ser equipada com três tipos de armas distintos: - Sistema de Armas UT30BR (Elbit): dotado de 1 (um) Can Au Bushmaster ATK Mk.44, de 30mm x 173mm, 1 (uma) Mtr coaxial 7,62mm x 51mm, 8 (oito) tubos Lç Gr 76mm, com as funcionalidades de Auto Target Tracking (ATT), Hunter Killer (transferência de alvos entre comandante e atirador) e Laser Warning System (LWS) – Fotografia 6; - Sistema de Armas REMAX (ARES): compatível com Mtr 12,7mm (.50) M2 HB e MAG 7,62mm, 4 (quatro) tubos Lç Gr 76mm, com acionamento elétrico ou manual do armamento, contador de tiro, computador balístico e câmera de visão diurna e noturna; e - Estação de armas PLATT: compatível com Mtr 12,7mm (.50) M2 HB e MAG 7,62mm, com acionamento manual. Fotografia 6 – VBTP–MR Guarani com Sistema de Armas UT30BR Fonte: Foto divulgação Centro de Avaliação do Exército, 2013 As dimensões básicas do blindado com altura máxima (até o teto) de 2347mm, (com UT30BR, de 4286mm; com REMAX, de 3330mm; e com PLATT, de 3496mm); largura máxima (sem proteção adicional) de 2750mm; comprimento máximo de 7100mm; e vão livre de 430mm, permitem a transportabilidade por aeronaves tipo C- 42 130 e KC-390. Procedimentos de engenharia com a Embraer asseguraram o teste bem sucedido de embarque no mock up do KC-390. Possui baixa assinatura térmica, assinatura radar, aviso de detecção por laser e ar condicionado. A viatura navega por meio de posicionamento global por satélite (GPS) ou inercial, com comunicação externa via rádio, estrutura para tráfego de voz, dados e imagens, integrados ao sistema eletrônico da viatura e sistema de armas. Possui, ainda, uma interface do Sistema de Comando e Controle (C2) em Combate permitindo o uso do conceito de “consciência situacional”, empregando um software de gerenciamento do campo de batalha. Todas estas características confirmam a complexidade e sofisticação tecnológica que compõem a VBTP–MR Guarani, produto de um Projeto Estratégico do Exército Brasileiro, conferindo-lhe modernidade, segurança e eficiência, virtudes indispensáveis para o espaço de batalha multidimensional presente no amplo espectro do combate moderno. 43 5 A INFANTARIA MECANIZADA A reestruturação do Sistema de Doutrina Militar Terrestre (SIDOMT) estabeleceu a permanente atualização e difusão da DMT, compatível para um Exército moderno e atual. Essa ação estratégica prevista no SIPLEx-4 transformou a F Ter com base nos conceitos de modularidade, elasticidade, flexibilidade, adaptabilidade e sustentabilidade, possibilitando o início da mecanização de Grandes Unidades, Unidades e Subunidades do Exército Brasileiro. Segundo (JANSEN, 2001, p. 9) o estudo da História Militar revela-nos que, além da capacidade de mobilizar e de organizar forças para a condução de combates, o principal fator de sucesso sempre residiu, e ainda reside, na habilidade de anteciparse aos movimentos do inimigo, impondo-lhe a nossa vontade e submetendo-o à destruição pelo fogo e pelo choque. Desse modo, a Infantaria Mecanizada em função de sua mobilidade tática, potência de fogo, proteção blindada e ação de choque relativa, é capaz de executar operações continuadas: ofensivas e defensivas; realizar manobras de desbordamento de grande amplitude, limitadas às condições do terreno, buscando atuar à retaguarda do inimigo; participar de operações de aproveitamento do êxito e perseguição; operar em condições de visibilidade reduzida e/ou sob condições meteorológicas adversas; integrar forças conjuntas em operações anfíbias; participar de Operações de Pacificação e de Apoio a Órgãos Governamentais. Permite ações rápidas em locais previamente escolhidos, para desequilibrar o combate em virtude das características de emprego da plataforma veicular blindada; de armamento com alta letalidade e precisão; e de comunicações eficazes e interativas. A rápida e constante evolução do ambiente operacional 11 de demandas multifacetadas e a velocidade das inovações tecnológicas impuseram à F Ter o desenvolvimento de capacidades operativas, como a transformação da 15ª Bda Inf Mtz na primeira Bda Inf Mec do EB, priorizando a estratégia da dissuasão regional e a projeção internacional do país. No aspecto tático, esta capacidade vem se estruturando, primeiramente, junto ao 33º BI Mec, 34º BI Mec e 30º BI Mec, 11 O ambiente operacional é caracterizado pela existência de três dimensões – física, humana e informacional – cujos fatores a serem analisados interagem entre si, formando o seu caráter único e indivisível. Sua compreensão constitui uma condição fundamental para o êxito nas operações militares. 44 elementos de manobra da 15ª Bda Inf Mec, por meio da geração de módulos sustentáveis com capacidades completas (DOAMEPI). Todas as funcionalidades de combate estão sendo desenvolvidas, mediante a combinação da estrutura organizacional, de pessoal, de adestramento, de educação, de equipamento (material) e da infraestrutura, baseadas na nova doutrina de emprego da Inf Mec. 5.1 A TRANSFORMAÇÃO DA 15ª BDA INF MTZ A Base Doutrinária (B Dout) de Brigada de Infantaria Mecanizada, em caráter experimental, foi aprovada em 8 de junho de 2010 pelo Estado-Maior do Exército, tendo a implantação de até 06 (seis) brigadas como planejamento inicial. De acordo com a Portaria nº 038-EME, a GU seria integrante da Força Terrestre no Teatro de Operações ou de uma Divisão de Exército, com a característica precípua de 100% (cem por cento) de mobilidade para o deslocamento estratégico e tático, por meio de suas viaturas sobre rodas orgânicas ou dos meios de transporte postos à sua disposição, bem como em combate, também o deslocamento utilizando as Vtr orgânicas ou do homem a pé, conforme a situação. A Base Doutrinária teria a seguinte estrutura organizacional (Figura 11): Figura 11 – Base Doutrinária Experimental da Bda Inf Mec Fonte: Portaria nº 038-EME, de 08/06/10, p. 3 45 Ainda, em 9 de junho de 2010, por meio da Portaria nº 041, o EME aprovou as diretrizes para a implantação da Bda Inf Mec e do BI Mec, designando o Cmt da 15ª Bda Inf Mtz para a função de Gerente de Projeto de Implantação da estrutura de Brigada de Infantaria Mecanizada no Exército Brasileiro. Entre as principais ações a serem executadas, a partir de 2011, estavam: - Planejar e realizar as experimentações doutrinárias, de acordo com as diretrizes do EME e as orientações do Comando de Operações Terrestres (CO Ter) e do Comando Militar do Sul; - Coordenar a elaboração de Quadro de Organização (QO) experimental para o Comando de Brigada (Cmdo Bda) e todas as unidades, subunidades e pelotão; - Coordenar a elaboração de QO experimental para o Regimento de Carros de Combate (RCC) sobre rodas; - Coordenar a elaboração de QDM experimental para o Cmdo Bda e todas as unidades, subunidades e pelotão; - Coordenar a elaboração de CONDOP e ROB dos novos MEM a serem adotados com a implantação da nova GU; e - Coordenar a implantação da doutrina e estrutura de Brigada de Infantaria Mecanizada pela transformação da 15ª Bda Inf Mtz (Fotografia 7), conforme previsão do SIPLEx. Fotografia 7 – Comando da 15ª Bda Inf Mec, sediada em Cascavel, PR Fonte: 5ª Seção da 15ª Bda Inf Mec, 2014 46 Assim, a 15ª Bda Inf Mtz, sediada em Cascavel – PR foi selecionada para ser a GU precursora da Infantaria Mecanizada. Situada no Oeste do Paraná, a região tem aspectos que favorecem o processo de transformação e o desenvolvimento da nova doutrina como a grande extensão da malha viária, terreno em planalto, com vastas plantações e pastos, compondo um cenário adequado ao emprego de viaturas de rodas. Ainda, a 15ª Bda Inf Mec possui importância estratégica e tática que oferecem muito boas oportunidades de estudos doutrinários. 5.2 A TRANSFORMAÇÃO DO 33º BI MTZ Ainda no ano de 2010, a 15ª Bda Inf Mtz designou o 33º Batalhão de Infantaria Motorizado como unidade precursora para iniciar os trabalhos de implantação da B Dout Bda Inf Mec e BI Mec a partir de 2011. A Portaria nº 039-EME, de 8 de junho de 2010, aprovou em caráter experimental a Base Doutrinária para o futuro BI Mec. Conforme a portaria citada (BRASIL, 2010, p. 2), o BI Mec, integrante de uma Brigada de Infantaria Mecanizada, teria as seguintes missões principais: a. Cerrar sobre o inimigo para destruí-lo, neutralizá-lo ou capturálo utilizando o fogo, a manobra e o combate aproximado. b. Manter o terreno, impedindo, resistindo e repelindo o assalto inimigo por meio do fogo, do combate aproximado e de contra-ataques. A unidade de Infantaria Mecanizada deveria ter 100% (cem por cento) de mobilidade, com características idênticas às da GU, sendo 3 (três) BI Mec por Bda Inf Mec. E, segundo a B Dout, publicada pela portaria supracitada, o BI Mec deve possuir as seguintes possibilidades (BRASIL, 2010, p. 1): a. Participar de ações que exijam alta mobilidade tática, relativa potência de fogo, proteção blindada e ação de choque. b. Participar de operações continuadas, ofensivas ou defensivas, como força independente ou fazendo parte de uma força maior. c. Participar de operações de desbordamento e de flanco de grande amplitude, buscando atuar à retaguarda do inimigo. d. Executar, quando desembarcado, operações terrestres sob quaisquer condições de tempo e terreno. e. Participar de operações de aproveitamento do êxito e perseguição. d. Participar de uma defesa móvel, quer como elemento de fixação, de bloqueio ou de contra-ataque. e. Realizar contra-ataques. 47 h. Operar em condições de visibilidade reduzida e ou sob condições meteorológicas adversas. i. Participar de operações ofensivas e defensivas sob quaisquer condições de tempo e de visibilidade em terreno variado. j. Dispersar-se amplamente e concentrar-se ou reunir-se rapidamente. k. Participar da defesa móvel, integrando elemento de fixação ou bloqueio. l. Participar de operações de força de cobertura. m. Realizar incursões, fintas e demonstrações. n. Realizar operações como força de junção. o. Constituir uma reserva móvel do escalão superior. p. Transpor linhas fluviais interiores, com a maioria de suas peças de manobra embarcadas em viaturas anfíbias. q. Integrar força combinada para operações anfíbias. r. Operar em integração com os meios da Aviação do Exército. s. Ser reforçado com meios de combate, apoio ao combate e apoio logístico, ampliando sua capacidade de durar na ação e operar isoladamente. t. Receber em reforço, temporariamente, mais uma peça de manobra sem comprometer sua capacidade de comando e controle, bem como de apoio logístico. u. Realizar operações de garantia da lei e da ordem [GLO] e de defesa territorial. v. Participar de operações de paz. Ainda, o BI Mec teria as seguintes limitações conforme a Portaria nº 039 do Estado-Maior do Exército, de 8 de junho (BRASIL, 2010, p. 2): a. Limitada proteção contra os efeitos de armas químicas, biológicas e nucleares. b. Mobilidade veicular limitada pelas florestas, montanhas, áreas fortificadas, áreas construídas e terrenos acidentados. c. Vulnerabilidade a ataques aéreos. d. Sensível às condições meteorológicas adversas, com redução de sua mobilidade. e. Sensibilidade ao largo emprego de minas anticarro e a obstáculos artificiais. f. Dificuldade de manutenção do sigilo de suas operações em virtude do ruído e da poeira decorrentes do deslocamento de suas viaturas. g. Elevado consumo de combustíveis, óleos lubrificantes, munição e grande necessidade de outros apoios, particularmente de manutenção. Dessa forma, a transformação do 33º BI Mtz para o 33º BI Mec respondeu à especialização imposta pela introdução dos novos meios blindados sobre rodas, as VBTP-MR Guarani, bem como aos novos processos e procedimentos doutrinários, requeridos pelas competências individuais e capacidades operativas para cumprir as atividades específicas nas operações. A B Dout contemplou o BI Mec com a seguinte estrutura organizacional: 48 Figura 12 – Base Doutrinária Experimental do BI Mec Fonte: Portaria nº 039-EME, de 08/06/10, p. 3 5.3 A EXPERIMENTAÇÃO DOUTRINÁRIA A Portaria nº 109-EME, de 2 de setembro de 2011, regulou a Diretriz para Experimentação Doutrinária de Pelotão de Fuzileiros Mecanizado (Pel Fuz Mec), utilizando a fração mais elementar de emprego de tropa para iniciar as atividades de experimentação doutrinária (Expr Dout), a fim de iniciar o processo, faseadamente, da nova Grande Unidade – Bda Inf Mec – no EB. O objetivo era encontrar dados iniciais e aspectos importantes que orientassem a mais adequada elaboração dos Quadros de Organização (QO) de Batalhões de Infantaria Mecanizados (BI Mec) para contribuir com a elaboração de cadernos de instrução, de manuais de campanha e de outros documentos doutrinários. A partir de 2012, o 33º BI Mec (ainda com a designação de Mtz) passou a seguir os parâmetros doutrinários nas experimentações do Pel Fuz Mec, da SU Fuz Mec e do BI Mec, conforme as diretrizes expedidas pela 3ª Subchefia (S Ch) do EME. Os exercícios realizados tiveram por base, inicialmente, os Manuais (Man), Instruções Provisórias (IP) e Programas-Padrão (PP) da Infantaria Blindada, que se encontravam em vigor, visando a modificação da doutrina preconizada pelo SIDOMT. O objetivo primordial era a obtenção de dados consistentes que permitissem o desenvolvimento de uma doutrina de emprego da Inf Mec, no âmbito da F Ter. 49 5.3.1 A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO BI MEC (3ª S CH EME) A estrutura organizacional do futuro BI Mec, de acordo com a Diretriz Complementar de Experimentação Doutrinária nº 01/2012, de 19 de agosto de 2012, seria a seguinte: - BI Mec: constituído pelo Cmdo e EM; 03 (três) Cia Fuz Mec; e 01 (uma) Cia C AP. - Cia Fuz Mec: constituída pelo Comando; Seção de Comando; 03 (três) Pel Fuz Mec; e 01 (um) Pel Ap. - Cia C AP: constituída pelo Comando; Seção de Comando; Pel Cmdo; Pel Exploradores; Pel Saúde; Pel Mrt P; Pel AC; Pel Sup; Pel Com; e Pel Mnt Trnp. - Pel Fuz Mec: constituído pelo Comando; Grupo de Comando; Grupo de Apoio; e 03 (três) Grupos de Combate. As viaturas operacionais blindadas médias e leves de rodas, capazes de dotar a Inf Mec de novas capacidades seriam distribuídas dentro das frações do BI Mec, ressaltando-se o seguintes aspectos: a. Os 03 (três) Pel Fuz Mec de cada Cia Fuz Mec: - 01 (uma) VBTP-MR com UT 30mm e Mtr 7,62mm; - 02 (duas) VBTP-MR com Mtr .50 (REMAX); e - 01 (uma) VBTP-MR com Mtr 7,62mm (REMAX). b. O Pel Ap de cada Cia Fuz Mec: - 04 (quatro) VBC Mrt 81mm [02 (duas) Seções (Seç) Mrt 81mm a 02 (duas) Peças. c. O Pel Mrt P da Cia C Ap: - 04 (quatro) VBC Mrt 120mm [02 (duas) Seç Mrt 120mm a 02 (duas) Peças; - 01 (uma) VBE Observador Avançado (AO) com Mtr 7,62mm (PLATT); e - 01 (uma) VBE com Mtr .50 (PLATT) Central de Direção de Tiro (C Dir Tir). d. O Pel AC da Cia Ap: - 01 (uma) VBC Anticarro (AC) com Mtr 7,62mm (REMAX) e posto de tiro de míssil AC para o Cmdo Pel; e - 04 (quatro) VBC AC com Mtr 7,62mm (REMAX) e posto de tiro de míssil AC [02 (duas) Seç AC a 02 (duas) Peças. e. O Pel de Exploradores da Cia C Ap: 50 - 03 (três) Viaturas Blindadas de Reconhecimento – Leve (VBR-L) com Mtr 7,62mm (REMAX). 5.3.2 OS ELEMENTOS ESSENCIAIS DE INFORMAÇÕES DOUTRINÁRIAS A Portaria nº 109-EME detalhou os Elementos Essenciais de Informações Doutrinárias (EEID) que deveriam ser buscados, por ocasião da realização da Expr Dout, tendo os principais citados abaixo (BRASIL, 2011, p. 4): a) Qual a estrutura organizacional, como uma proposta de cargos componentes de QC e QCP de BI Mec, ideal deve ser adotada para o Pel Fuz Mec, integrante de Cia Fuz Mec, orgânica de BI Mec? b) Dentre os sistemas de armas/ armamentos estipulados para dotarem as novas VBTP-MR GUARANI (torreta estabilizada com Can Au 30mm, torreta estabilizada com Mtr 7,62mm ou .50 e torreta manual com Mtr 7,62mm ou .50), qual a configuração ideal a ser adotada nos Pel Fuz Mec? c) Quantas VBTP-MR GUARANI ou Viaturas Blindadas de Combate de Infantaria (VBCI) devem compor o novo Pel Fuz Mec? d) O efetivo previsto no atual Pel Fuz, integrante de Cia Fuz, orgânica de BI Mtz é suficiente e ideal para ser adotado e previsto no futuro Pel Fuz Mec, integrante de Cia Fuz Mec, orgânica de BI Mec? [...] f) Com a evolução tecnológica, que trouxe novos MEM para o Sistema Operacional Manobra, existem cargos no Pel Fuz Mec que podem ser eliminados ou mesmo criados? [...] k) Essas novas VBTP-MR, previstas para mobiliar as tropas da Inf Mec, são adequadas para atender o futuro Pel Fuz Mec? E seus meios de comunicações “embarcados”, são suficientes, seguros e eficientes? [...] Além dos EEID estabelecidos, a Diretriz Complementar de Experimentação Doutrinária nº 01/2012 da 3ª S Ch EME enfatizou os seguintes (BRASIL, 2012, p. 7): - Há a necessidade de se distribuir uma VBTP para o S Cmt SU Fuz? Caso positivo, qual o armamento/ torre a ser adotado(a) nesta VBTP? - Existe a necessidade da Cia Fuz Mec ter um subcomandante? - Todas as VBTP da SU Fuz Mec devem possuir torre REMAX? Caso negativo, quais frações não necessitam desta torre? - As VBC Mrt devem ser dotadas de armamento para defesa antiaérea? - Há a necessidade de se constituir um Pel Ap/Cia Fuz Mec dotado, além de 02 (duas) seções de Mrt 81mm, de uma Seção AC? Caso positivo, qual seria a Vtr utilizada e seu armamento/torre, com base nas CONDOP previstas na Portaria nº 092-EME, de 31 de agosto de 2010? - A característica da VBC Mrt (Mrt 81mm e 120mm), de possibilitar o tiro embarcado, conforme CONDOP 02/2010, é essencial para a 51 operacionalidade da Cia Fuz Mec e do BI Mec, ou poderá ser utilizada Vtr ¾ Ton, à semelhança do que ocorre nos RCC e BIB? - É possível realizar o tiro embarcado empregando o atual Mrt P 120mm AR? Caso negativo, o que deve ser feito no armamento e/ou na VBC Mrt para se tornar possível a realização deste tiro? - Qual a configuração ideal do Pel Exp/Cia C Ap, em termos de Vtr? E do Pel AC/Cia C Ap? - Há a necessidade de se ter Pel Exp no BI Mec/ [...] 5.3.3 A EXPERIMENTAÇÃO DOUTRINÁRIA DO 33º BI MEC Durante o ano de 2012, o foco da Expr Dout foi o Pel Fuz Mec, tendo início pelas atividades mais simples como a formação de motoristas para VBTP Urutu (viatura utilizada para o início da implantação da Inf Mec até a chegada dos novos blindados), a qualificação do Pel Fuz Mec, com a elaboração de um ProgramaPadrão de Qualificação experimental do Pel Fuz Mec, até a maneabilidade da fração. Finalmente, o Pel Fuz Mec executou exercícios enquadrado em Operações Ofensivas [marcha para o combate (M Cmb) e ataque coordenado (Atq Coor)], em Operações Defensivas e Op GLO. Nas diversas situações e missões foram testados as configurações dos QC do BIB/ BI Mtz e QC do BI Mec (proposto para o EME). No ano de 2013, a implantação da 1ª Cia Fuz Mec foi efetivada com o NúcleoBase (NB) do 33º BI Mec, executando a própria qualificação de Cb/Sd, formação de motoristas de VBTP Urutu. A 1ª Companhia desenvolveu inúmeras atividades visando a Expr Dout Cia Fuz Mec sendo citadas as mais importantes: exercício de SU em ambiente virtual empregando sistema de simuladores no CI Bld/ Santa MariaRS (Figura 13); revisão doutrinária e exercício de M Cmb (emprego do Esc Rec), Atq Coor e ataque à localidade (Atq Loc) de FT SU Mec – Figura 14; emprego do Pel Res de uma Cia Fuz Mec no ataque; formação de 06 (seis) motoristas de VBTP Guarani no CAEx/ RJ; realização de tiro das armas coletivas do Pel Ap da 1ª Cia Fuz Mec; formação de 10 (dez) Cmt VBTP GUARANI (futuros instrutores no Btl) e 18 (dezoito) motoristas de VBTP Guarani no CI Bld/ Santa Maria-RS; e finalmente, o emprego de FT Cia Fuz Mec na Operação LAÇADOR – (Proteção de Estrutura Estratégica Terrestre) – Figura 15. 52 Figura 13 – Exercício de SU em ambiente virtual no CI Bld/ Santa Maria, RS Fonte: 3ª Seção 33º BI Mec, 2013 Figura 14 – M Cmb, Atq Coor e Atq Loc de FT SU Mec Fonte: 3ª Seção 33º BI Mec, 2013 Figura 15 – Emprego de FT SU Mec na Operação LAÇADOR Fonte: 3ª Seção 33º BI Mec, 2013 53 5.3.4 AS PROPOSTAS DA EXPERIMENTAÇÃO DOUTRINÁRIA Os resultados mais significativos da Experimentação Doutrinária de Pel Fuz Mec e Cia Fuz Mec, registrados em Atas de Reu Coor Dout para a implantação da Inf Mec pela 15ª Bda Inf Mec, foram remetidos à 3ª Subchefia do Estado-Maior são: a. Elaboração da proposta do Caderno de Instrução do Emprego do Pelotão de Fuzileiros Mecanizado; b. Elaboração da proposta do Programa-Padrão de Qualificação da Infantaria Mecanizada; c. Levantamento de dados para a elaboração do anteprojeto do Manual de Cia Fuz Mec; d. Propostas de materiais de defesa a serem adotados pelo Batalhão de Infantaria Mecanizado; e. Elaboração da proposta de Quadro de Cargos (QC) do Batalhão de Infantaria Mecanizado; A plataforma básica do Guarani tem plenas condições de incorporar os sistemas de armas e outros sistemas de tecnologia modernos a serem adotados pela Força Terrestre. A VBTP–MR Guarani foi destinada a equipar os grupos de combate e apoio dos Pel Fuz e Pel Ap/Cia Fuz e demais Pel/ Frações da Cia C Ap dos BI Mec das Bda Inf Mec. A proposta do novo Quadro de Cargos do 33º BI Mec está baseada na seguinte estrutura organizacional (Figura 16): Figura 16 – Organograma do 33º BI Mec Fonte: 3ª Seção 33º BI Mec, 2014 54 As Cia Fuz Mec e os respectivos pelotões terão a constituição seguinte(Figura 17), confirmando a proposta estabelecida pela 3ª S Ch EME, estabelecida pela Diretriz Complementar de Experimentação Doutrinária nº 01/2012: a. Companhia de Fuzileiros Mecanizada Figura 17 – Organograma da Cia Fuz Mec Fonte: 3ª Seção 33º BI Mec, 2014 b. Pelotão de Fuzileiros Mecanizado (Figuras 18 e 19): Figura 18 – Quadro de Cargos do Pel Fuz Mec Fonte: 3ª Seção 33º BI Mec, 2014 O quadro de cargos proposto para o Pel Fuz Mec terá a inclusão de 01 (um) Cb Motorista (Mot) no Grupo de Comando (Gp Cmdo) e 01 (um) Atirador para o sistema de armas de cada Grupo de Combate (GC). Modificação substancial está no Grupo de Apoio que será composto por uma Seção Mtr L a 02 (duas) peças. 55 Figura 19 – Distr VBTP–MR (conforme Sistema de Armas) por Pel Fuz Mec Fonte: 3ª Seção 33º BI Mec, 2014 c. Pelotão de Apoio (Figura 20): Figura 20 – Organograma do Pel Ap Fonte: 3ª Seção 33º BI Mec, 2014 O pelotão será composto com 04 (quatro) VBC Mrt 81mm, sendo 02 (duas) Seç Mrt 81mm com 02 (duas) Peças Mrt 81mm. Na Companhia de Comando e Apoio (Figura 21) também permaneceram as propostas do Estado-Maior do Exército, com exceção do Pel AC e do Pel Exp: a. Companhia de Comando e Apoio: Figura 21 – Organograma da Cia C Ap Fonte: 3ª Seção 33º BI Mec, 2014 56 b. Pelotão de Morteiros Pesado (Figura 22): Figura 22 – Organograma do Pel Mrt P Fonte: 3ª Seção 33º BI Mec, 2014 O pelotão será composto com 04 (quatro) VBC Mrt 120mm, sendo 02 (duas) Seç Mrt 120mm com 02 (duas) Peças Mrt 120mm; 01 (uma) VBE Cmdo - Observador Avançado (AO) com Mtr 7,62mm (PLATT); e 01 (uma) VBE com Mtr .50 (PLATT) Central de Direção de Tiro (C Dir Tir). d. Pelotão Anticarro (Figura 23): Figura 23 – Organograma do Pel AC Fonte: 3ª Seção 33º BI Mec, 2014 O pelotão será composto com 01 (uma) VBC com Mtr 7,62mm (REMAX) para o Cmdo Pel; e 04 (quatro) VBC AC com Mtr 7,62mm (REMAX) e posto de tiro de míssil AC, sendo 02 (duas) Seç MAC a 02 (duas) Peças MAC. e. Pelotão de Exploradores: Figura 24 – Organograma do Pel Exp Fonte: 3ª Seção 33º BI Mec, 2014 O pelotão será composto com 03 (três) VBC com Mtr 7,62mm (REMAX). 57 No desenvolvimento dos trabalhos de experimentação foram observados aspectos ligados à necessidade de manutenção da plena capacidade operacional do futuro 33º BI Mec, quando de sua transformação, buscando-se eliminar supressões de elementos essenciais ao comando e controle e ao poder de combate das frações. Projetando-se grande expectativa na tecnologia agregada que equipará os novos MEM, colimada com o elevado número de viaturas, blindadas ou não, que equiparão a Unidade, foram estabelecidas comparações com outros núcleos de projeção tecnológica e excelência gerencial do EB, como a Aviação do Exército e o Centro de Instrução de Blindados. O estudo realizado teve por objetivo as características técnicas da VBTP–MR Guarani, os modernos equipamentos embarcados de alta tecnologia agregada e o sistema de armas de última geração dotado de estabilização de tiro. O relatório sinalizou para o emprego de recursos humanos altamente especializados, tanto na operação dos sistemas quanto na manutenção dos mesmos, a fim de manter a sustentabilidade logística à nova tropa de Infantaria do EB. Por conseguinte, foram incluídos na proposta do Quadro de Cargos do BI Mec elementos nos cargos de mecânicos de blindados, de equipamentos eletrônicos, de armamentos e controladores de equipamentos e acessórios para integrarem as Turmas de Manutenção e Grupos de Logística dos Pelotões da Companhia de Comando e Apoio e das Companhias de Fuzileiros Mecanizadas. 58 6 CONCLUSÃO O Processo de Transformação do Exército Brasileiro está propiciando o desenvolvimento das novas capacidades para o cumprimento das missões ou desempenho das novas funções de combate, alterando as concepções e projetando a Força para o futuro. Para enfrentar este desafio, um criterioso e coerente Planejamento Estratégico, partindo de objetivos bem definidos, está retirando a Força Terrestre da Era Industrial e colocando-a na Era do Conhecimento, preparando-a, em melhores condições, para a execução de sua finalidade constitucional e a consecução de sua Visão de Futuro. Trata-se, portanto, de um processo que pretende conduzir o Exército ao patamar de ator global, capaz de se fazer presente, com a prontidão necessária, respaldando a atuação do Brasil em qualquer área de interesse estratégico nacional. Dentro desse contexto, a Doutrina Militar Terrestre é a grande indutora do Processo de Transformação que conduzirá o Exército ao nível de excelência de Força Armada de país desenvolvido, combinando o seguinte conjunto de inovações: - a atuação no espaço de batalha multidimensional; - a geração de forças por capacidades (conjuntas); - as operações no Amplo Espectro; - o domínio da dimensão informacional; - a mecanização; e - a missilização. Dessa forma, a Força Terrestre terá a eficácia organizacional e doutrinária para realizar Operações no Amplo Espectro, ampliando a gama de opções disponíveis aos comandantes, por meio de capacidades operativas, orientadas para a obtenção de um efeito estratégico, operacional ou tático. Os líderes do futuro terão a possibilidade de decidirem adequada e oportunamente, empregando meios com poder de combate efetivo e proporcional às ameaças. Por conseguinte, o Projeto Estratégico GUARANI acelerou a transformação viabilizando o desenvolvimento da Nova Família de Blindados de Rodas e a implantação da Infantaria Mecanizada no Exército Brasileiro. O projeto é um programa estratégico de Estado de concepção da Força Terrestre, sendo dela a propriedade intelectual. A parceria do Departamento de Ciência e Tecnologia com a IVECO LA Ltda. possibilitou o desenvolvimento tecnológico da nova Viatura Blindada 59 de Transporte de Pessoal – Guarani no próprio território nacional, com custo de produção abaixo do preço de mercado, sendo mais de 60% (sessenta por cento) das peças fabricadas no país. A absorção de tecnologias sensíveis, de uso militar e civil, por empresas nacionais permitiu a geração de divisas e royalties com a possibilidade de exportação da viatura, havendo a participação de engenheiros militares desde a concepção do projeto até a produção em série. O projeto trouxe perspectivas concretas para a NFBR, incluindo viaturas com características de emprego dual e uma excelente oportunidade para a Infantaria Mecanizada de ser equipada com 128 (cento e vinte e oito) viaturas, inicialmente. O projeto possibilitou o incremento da Indústria Nacional de Material de Defesa, projetando mundialmente o Brasil, sobretudo, na América do Sul. Por fim, a Infantaria Mecanizada é uma realidade no Exército Brasileiro e uma capacidade operativa de nível operacional e tática para a Força. A plataforma básica de combate é a viatura blindada média de rodas, que agrega ao combatente característico de infantaria maior mobilidade tática, proteção blindada e maior poder de fogo, favorecendo o flanqueamento, o combate em profundidade e não linear o que permite em melhores condições a destruição ou inviabilização do dispositivo inimigo. Assim, pode-se afirmar que a Força Terrestre está fortalecendo os meios que lhe asseguram condições de possibilidade de sucesso tático no ambiente operacional moderno. Está evidenciando, dentre outras, as seguintes capacidades: - Mobilidade tática no campo de batalha, relativa à execução de ações táticas e apreciada, particularmente, por seu raio de ação, velocidade, insensibilidade ao terreno e às condições meteorológicas, bem como flexibilidade de emprego; - Mobilidade estratégica, relacionada a grandes distâncias e relativa à execução de ações estratégicas, apreciada, particularmente, por sua transportabilidade, raio de ação, velocidade de intervenção e flexibilidade do emprego; - Letalidade, derivada da habilidade de concentrar seus fogos, diretos e indiretos, no momento e no ponto decisivo, maximizando os seus efeitos sobre o inimigo; - Versatilidade, capacidade de combater, em todo o espectro do conflito, segundo diferentes regras de engajamento; e 60 - Interoperabilidade como a possibilidade de realizar operações conjuntas ou combinadas, assegurada pela unidade de doutrina, treinamento integrado e um sistema de comando e controle eficiente. Finalmente, com a transformação do 33º BI Mec, a entrada em serviço das VBTP– MR Guarani, desde março de 2014 e a aprovação do novo Quadro de Cargos do BI Mec, totalizando 845 (oitocentos e quarenta e cinco) militares, o batalhão executará até o término do ano de 2015 o objetivo de adestramento de OM de Infantaria Mecanizada, no contexto da experimentação doutrinária, conforme o Plano Estratégico do Exército, elevando o nível de operacionalidade, ampliando a capacidade de mobilidade e manobra estratégica e tática da Força Terrestre. ______________________________ Wilson Rogério Pinheiro – Ten Cel 61 REFERÊNCIAS ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Informação e documentação – numeração progressiva das seções de um documento escrito – apresentação (ABNT NBR 6024:2003). Rio de Janeiro: ABNT, 2003. 3 p. ______. Informação e documentação – citações em documentos – apresentação (ABNT NBR 10520:2002). Rio de Janeiro: ABNT, 2002b. 7 p. ______. 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