Semana da Solidariedade

Transcrição

Semana da Solidariedade
A VIDA QUE A JUVENTUDE QUER VIVER
Rodas de conversa
Semana da Solidariedade
De 05 a 12 de Novembro de 2012
Juventude, desenvolvimento e solidariedade
Equipe de produção:
Alessandra Miranda de Souza – Secretariado Nacional
Ediane Soares –Regional Santa Catarina
Eraldo Paulino – Regional Norte II
Leon Patrick Afonso de Souza – Regional Minas Gerais
Monyse Ravena – Regional Ceará
Victória Holzbach – Regional Rio Grande do Sul
Projeto gráfico e diagramação:[email protected]
Tiragem:1.000 exemplares
Apresentação
A Cáritas Brasileira realiza todos os anos a Semana da
Solidariedade. Neste ano com o tema Juventude, desenvolvimento e
solidariedade, a Cáritas tem como objetivo estimular ações solidárias com
milhões de jovens vítimas da violência em todo o pais.
Os dados da realidade brasileira sobre os índices de violência
contra a juventude cresce cada vez mais. O que nos desafia e nos provoca
refletir e agir sobre as causas da violência. O mapa da violência 2012 nos
apresenta dados da realidade que nos mobiliza para agir nessa realidade.
Tendo como base o cenário repugnante de violência, a Semana da
Solidariedade deve ser assumida por todos os jovens, agentes,
voluntários, assessores, enfim, todos os homens e mulheres que
acreditam no Reino de Deus, na Terra Sem Males.
Este subsídio A vida que a Juventude quer viver – Rodas de
Conversa, tem o objetivo de contribuir no processo da Semana da
Solidariedade, sendo um instrumento de preparação para a vivência da
Semana. Queremos através dos assuntos das Rodas de Conversa, refletir
sobre as juventudes como sujeitos de direitos e celebrar as possibilidades
de ações concretas na superação da violência, assim como os sinais de
esperança e de transformação que os próprios jovens podem vivenciar.
O nosso desejo é que cada um e cada uma possa vivenciar as Rodas
de Conversa, afim de que possamos mudar nossos olhares sobre as
juventudes nas suas mais diferentes realidades, especialmente os/as
jovens empobecidos/as.
Vamos nos animar e animar mais gente pelo caminho para entrar
nessa ciranda da vida, pela vida dos/as jovens, pela vida de todos/as.
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Roda de Conversa
Condição Juvenil- Quem são os/as jovens?
Objetivo da oficina
Refletir a pessoa do/a jovem, discutindo a condição juvenil e os anseios
desta juventude afim de compreender essa categoria.
Preparando a oficina
Materiais necessários:
Cartaz da Semana da Solidariedade; faixas ou panos coloridos; imagens
que reflitam as diversas realidades da juventude nos ambientes – escola,
trabalho, igreja, família, roda de amigos, praticando esportes, comendo
pizza; símbolos que expressem as muitas “tribos” – tênis, skate, bola de
futebol, rockeiros, livros, computador, maquiagem; cópias dos textos “O
Nome” e “Alguma coisa está fora da ordem” (anexo)
Preparar o ambiente com um círculo de cadeiras, já prevendo o número de
participantes da roda. Possibilitar que todos os símbolos estejam visíveis
no centro da roda, bem como o objetivo da oficina, que pode estar escrito
em um cartaz exposto em lugar visível.
Acolhida Solidária
Cada pessoa se apresenta dizendo o nome e as expectativas que traz.
A cada duas ou três apresentações, pode-se cantar um refrão de acolhida.
Entra um/a jovem e faz a leitura do texto O nome (anexo). Em seguida,
pedir para que cada pessoa possa fazer memória do significado do seu
nome e da história da escolha do mesmo. Cada um/a vai partilhar esse
momento com um “cochicho” com que estiver mais próximo.
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Saberes da Juventude
Organizar os participantes em rodas de 5 pessoas e distribuir cópias do
texto Alguma coisa está fora da ordem (Anexo) para que todos/as façam a
leitura nas rodas.
Depois da leitura do texto, nas rodas os participantes devem destacar:
Quais as principais características da juventude desse tempo?
-Como percebe-se a participação da juventude nessa conjuntura?
Caminhos de solidariedade
Os participantes devem, a luz do texto discutido anteriormente,
apresentar para todos os participantes o resultado das rodas de conversa,
através de formas criativas e lúdicas (música, paródias, dança, desenhos,
mímicas)...
Na mística da solidariedade juvenil
Escutar a música: Tocando em Frente/Almir Sater
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz...
Ao final combinar a data, local e quem coordena a próxima Roda de
Conversa.
Todos se despedem com abraços e beijos.
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Anexos
O Nome
Rubem Alves
[...] O Amílcar falou e eu me surpreendi. Ele me disse:
Rubem, eu tenho um sonho. Sonho que um dia qualquer eu vou acordar e vou ter
esquecido o meu nome. Quem sou eu? – eu vou me perguntar. E eu não saberei o
que responder. Não terei memória do meu nome. O ruim é quando a gente esquece
o nome, mas os outros continuam a saber quem somos. Aí os psiquiatras dizem que
tivemos um ataque de amnésia. E tratam de nos curar, de fazer-nos lembrar o nome
para que saibamos quem somos. O nome é uma gaiola onde o que somos mora.
Declaram-nos curados quando o nosso ser aparece de novo dentro da gente. Aí eles
teriam perdido a memória da gaiola que prendia o nosso ser. E o nosso ser se
transformaria em pássaro e voaria livre por espaços por onde nunca havia voado. O
nome é uma prisão.
É preciso confessar que não foram essas, precisamente, as palavras do Amílcar. Faz
muito tempo que tivemos essa conversa. Mas foram essas as associações que sua
declaração provocou em mim. E isso que ele falou, coisa na qual eu nunca havia
pensado, foi para mim uma revelação. Vi repentinamente, o que eu nunca tinha
visto. É isso mesmo. Nomes são gaiolas. Neles se guardam as coisas que fizemos.
Existem até os currículos, gaiolas que já fizemos. Aí, com base naquilo que já fizemos,
as pessoas e nós mesmos imaginamos aquilo que se pode esperar da gente.
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Peirce, lógico respeitável, no seu ensaio sobre “Como tornar claras as nossas
ideias”, oferece-nos a seguinte fórmula para nos ajudar a ter clareza sobre a natureza de
um objeto qualquer: “Considere quais os efeitos práticos que imaginamos que esse
objeto possa ter. Então, a soma desses efeitos é o que é o nosso conceito desse objeto”.
Exemplificando: o objeto “galinha” – que efeitos práticos, em nosso pensamento, são
invocados por esse nome? Respondo: cacarejo, ninho, ovo, cocô, ciscar na terra, molho
pardo, canja etc. Esses efeitos práticos, somados, são aquilo que, na minha cabeça, está
contido dentro do nome “galinha”. Aí eu pergunto: “Como foi que cheguei a associar
esses efeitos práticos ao nome galinha?”. Resposta: “Pela minha experiência passada
com essa entidade penosa cacarejante”. O nome, assim, é um saco onde se deposita a
experiência passada. E é baseado nessa experiência que se conclui sobre o que esperar
no futuro. Ninguém vai imaginar que uma galinha vai contar como pintassilgo, nem que
vai botar ovos azuis, nem que vai fazer ninhos parecidos com os dos beija-flores. Galinha
e galinha, para todo o sempre. Está dito no nome.
Isso que foi dito sobre a galinha vale para tudo. Para as pessoas também.
Quando o meu nome é pronunciado, eu sou imediatamente informado do que fiz no
passado. E, ao ser informado, pelo som enfeitiçador do meu nome, daquilo que fiz no
passado, sou também informado do meu ser e daquilo que se espera de mim no futuro.
O nome, assim, obriga-me a ser de um jeito que se espera. O nome contém o programa
do meu ser.
O Amílcar sabia das coisas. Imagino que aquela confissão – “Sonho que, um dia
qualquer, eu vou acordar e vou ter esquecido o meu nome...” -, imagino que essa
confissão nasceu de uma dor, a mesma dor que Álvaro de Campos colocou num verso:
“Sou o intervalo entre o que desejo ser e o que os outros me fizeram”.
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Ele acorda numa manhã, com vontade sei lá de quê, há pessoas cuja presença
numa feira ou numa igreja é impensável, não combina; o lindo cirurgião de roupa
branca, ele é impensável numa feira, comprando cebolas, de bermudas e sandálias, e
também não se pode imaginar que o professor de economia ateu confesso ponha-se a
chamar por Santa Bárbara no meio da tempestade de raios (sobre as invocações a Santa
Bárbara vale ser o Alberto Caeiro). Pois imagino que o Amílcar acordou com um desejo
estranho qualquer, não previsto no seu nome, desejo que nunca tivera, ou que sempre
tivera, mas cujo reconhecimento fora sempre proibido pelo seu nome. Mas logo veio a
interdição: “Essa ação não é permitida pelo nome Amílcar Herrera. Essa ação não está
prevista no programa Amílcar Herrera”.
Compreendi, então, o curioso costume de um povo primitivo que sempre dá
dois nomes às pessoas. O primeiro deles é o nome igual ao nosso, anunciado, falado,
escrito, conhecido, a gente grita o nome e a pessoa responde, o nome é falado e todo
mundo sabe sobre quem estamos falando. O outro nome só a própria pessoa sabe. O
primeiro nome é nome falso, apenas para efeitos práticos, uma mentira socialmente
necessária. O outro nome, secreto, é o lugar onde mora o meu ser verdadeiro, que é
muito diferente do outro. Assim, por meio desse artifício, todo mundo sabe que
ninguém está preso dentro de uma gaiola de sons, que não se pode exigir que a pessoa
seja, no futuro, aquilo que foi guardado no saco do nome, no passado. Cada pessoa tem,
dentro de si, um segredo, um mistério. Cada burrinho pedrês tem, dentro de si, um
cavalo selvagem. Cada pato doméstico tem, dentro de si, um ganso selvagem. Cada
velho tem, dentro de si, uma criança que deseja brincar.
Acho que era isso que o Amílcar estava dizendo:
Se eu esquecer o meu nome e se os outros não exigirem que eu continue a ser o que
sempre fui, então alguma coisa nova poderá nascer da velha: uma fonte no deserto.
Afinal de contas, esta é a suprema promessa do evangelho: que os velhos nascerão de
novo e virarão crianças.
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Alguma coisa está fora da ordem
Fora da nova ordem mundial
Agnes Heller (2004) em Cotidiano e a História trata do fenômeno axiológico e
sua relação com a história. Para autora húngara valor é uma “categoria ontológico-social
e como tal, é algo objetivo” (p. 5) que tem uma objetividade social; é portanto resultado
das relações e situações sociais. É do humano atribuir valores as situações sociais nas
quais se encontra envolvido. Uma primeira aproximação imediata resulta que os valores
estão ligados as situações e problemas da vida cotidiana e até mesmo os valores ditos
universais, pela sua objetivação, revestem-se de um caráter prático e imediato. A
felicidade como valor, só o é, se explicitada numa vida digna, resultado de um bom
trabalho, de boa escolarização, de tempo livre para lazer... Um segundo aspecto ligado
ao fenômeno axiológico tomado como categoria ontológico-social está no fato de que o
valor representa um fundamento, constitui-se uma finalidade pela a qual a humanidade
anseia, em certo sentido, apresenta um carácter teleológico: os valores estão para o
humano como um fundamento para que se alcance determinadas finalidades. Assim, a
felicidade ao mesmo tempo em que se objetiva ela também faz parte da “finalidade
última” que todos ansiamos. Nesse sentido o valor também é “tudo aquilo que produz
diretamente a explicitação da essência humana ou é condição de tal explicitação”
(HELLER, 2004, p. 8).
Numa pesquisa realizada pelo jornal Folha de São Paulo (2008) com cerca de
1500 jovens de 168 municípios brasileiros, quando perguntados qual o maior sonho, as
respostas obtidas foram:
18% trabalhar em uma profissão de status.
15% emprego.
14% ter casa própria.
12% terminar os estudos.
10% ter uma boa família.
9% ganhar dinheiro.
4% ter carro / moto.
3% ter negócio próprio.
3% ser feliz.
2% viajar.
2% ser bem sucedido.
1% um mundo sem violência.
Trecho do texto Juventude e Desterro, a condição dos valores juvenis nesse tempo, de Antonio Frutuoso
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No topo da lista aparecem: ter uma profissão de status, ter emprego, ter casa
própria... No nono lugar aparece ser feliz. Como vimos os jovens estabelecem uma
relação pragmática com os sonhos, é como se estivessem nos dizendo: ter um emprego,
uma casa, um carro, uma família nos fará felizes. Em outra pesquisa de 2003, esta
desenvolvida pela Fundação Perseu Abramo (2005), feita com cerca de 3500 jovens em
198 municípios, ao serem estimulados a responder quais são os valores mais
importantes da sociedade, não exitaram em apontar o temor a Deus (17%) como o mais
importante seguidos do respeito ao meio ambiente (12%), da igualdade de
oportunidades (12%), da religiosidade (10%), do respeito as diferenças (8%), da
solidariedade (8%), da justiça social (7%), da dedicação ao trabalho (6%) e da liberdade
individual (5%). Observem que aqui os valores universais tais como a igualdade, a
justiça, a liberdade, a solidariedade não aparecem nos primeiros lugares. Na mesma
pesquisa 44% responderam que esforço pessoal é condição mais importante para se
melhorar de vida.
Resulta que os jovens compreendem o valor apenas na esfera pragmática e
isso está diretamente relacionado com a resolução das situações de suas vidas, daí
porque a condição para se melhorar de vida dependa apenas deles, os jovens. O outro
aspecto do valor – seu caráter de fundamento, de teleologia, parece não ser
preocupação da juventude, ou se esvai no pragmatismo das ações que vivem. Heller
(2004) lança luzes sobre esse fenômeno ao tomar o valor como aquilo que faz parte do
ser genérico – enquanto estatuto humano, em conexão com o ser particularizado. No
tempo atual há uma exacerbação do indivíduo, do ser particularizado, há uma
centralidade no indivíduo. O genérico, o social perde valor diante do individual.
Recorro a Lipovetsky (2000, p. 47-48) que ao analisar a sociedade atual,
sociedade que ele classifica como do bem-estar, verifica que os valores estão
“adocicados e anêmicos” porque a ideia de sacrifício, de heteronomia, estão
“socialmente deslegitimados” e que não se exige mais “consagrar-se a um único fim
superior” já que os direitos subjetivos, particulares é que dominam, são como
mandamentos dessa sociedade mutante, trata-se de uma “moral indolor, último
estágio da cultura individualista” que marcam esse tempo e que são uma máxima do
homem light. Barth (2004) constata que:
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Não se aceitam mais normas e regras morais, senão aquelas que
forem descobertas como importantes e necessárias, a partir do
protagonismo humano. A heteronomia (moral proposta por outro
além de mim mesmo), nesse caso, cede seu espaço para a autonomia
moral (cada um estabelece a sua moral). A verdade de um único
sistema moral, um único conjunto de verdades dá seu lugar a um
conjunto variado de verdades e a sistemas abertos e aleatórios, o que
fatalmente leva ao desajuste geral e uma verdadeira crise. Por toda
parte ecoam ações e estilos de vida desfigurados daquela verdade
outrora absoluta e se percebe uma atrofia de consciências e o
aparecimento de novos estilos e comportamentos. Estes são
tolerados; afinal, a verdade é pessoal e resultado da experiência e dos
gostos individuais (p. 100).
Como vimos a vivência dos valores aspergidos pela sociedade mutante
empurra o jovem cada vez mais para a existência superficial. Evidente que o auspicio da
modernidade tem também pontos positivos. O jovem de hoje é mais livre do que eram
as gerações anteriores. A tecnologia e as ferramentas abrem para ele múltiplas
possibilidades. Vive muito mais cercado de direitos e de uma rede de proteção social
legitimada por leis, resultado da luta de movimentos sociais e juvenis anteriores. É mais
emocional, subjetivo e não tem medo de viver sua emotividade e subjetividade. Não
conhece outro regime de governo se não democracia. Cresce uma consciência dos
direitos sociais e individuais o que lhe confere um certo grau de igualdade e autonomia.
Há uma maior consciência planetária e ecológica, uma certa dimensão em que ele se
compreende parte de uma totalidade maior que é o cosmos. Há também uma abertura
maior para transcendente, experiência do absoluto na vida individual de cada jovem.
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Roda de Conversa
A Juventude como sujeito de direitos – na construção do bem viver!
Objetivo da oficina:
Considerando o número de 50 milhões de jovens hoje no Brasil, a roda de conversa quer
refletir sobre a atuação dessas juventudes na busca por seus direitos, no combate à
violência e a todos os preconceitos.
Preparando a oficina:
Preparar tarjetas com os seguintes dados:
- 70% dos presidiários no Brasil estão entre a faixa etária de 18 a 29 anos
-Apenas 13% dos jovens tem acesso à universidade
-Cerca de 30% dos estudantes não concluem o ensino médio
-20% das crianças que nascem no Brasil são filhas de jovens mulheres - sendo
-84% na faixa etária entre 16 e 17 anos.
E um cartaz maior com a frase: ONDE ESTÃO NOSSOS DIREITOS?
Junto às tarjetas colocar também no ambiente: fotos, cartazes e outros símbolos que
remetam a momentos de mobilizações juvenis.
Acolhida:
Os/as jovens fazem uma roda, sentados no chão e fazem sua apresentação. No
momento da apresentação pedir a cada um e cada uma que conte ao grupo um sonho
de sua vida. Depois da apresentação o grupo conversa um pouco sobre as semelhanças
e diferenças no que cada um \sonha e quais os planos para realizá-los. No final o grupo
canta um refrão de sua preferência.
Saberes da Juventude:
Distribuir para cada uma/um o poema “O analfabeto político”, de Bertold Brecht. Cada
um lê em silêncio e em seguida andam pela sala visualizando as tarjetas. Voltam para
Roda e espontaneamente colocam o que o poema tem haver com as afirmações das
tarjetas. Em seguida o mediador provoca a Roda no sentido de identificar quais direitos
são negados nas comunidades \lugares onde vivem esses jovens. Uma pessoa do grupo
vai listando esses direitos negados.
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Caminhos de solidariedade:
Os/as jovens se dividem em grupos de cinco pessoas e a partir dos direitos negados que
foram listados pensam e planejam formas de mobilização para a conquista desses
direitos. Em seguida apresentam para o conjunto da Roda de Conversa.
Na mística da solidariedade juvenil:
O grupo encerra a roda de conversa com uma ciranda. Todos\as cantam e dançam e se
despedem com alegria.
O Analfabeto Político
Berthold Brecht
O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político
é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo
que odeia a política.
Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e o lacaio
das empresas nacionais e multinacionais.
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Roda de Conversa
Juventude contra a violência e extermínio de jovens
Objetivo:
Aprofundar sobre as causas da violência e do extermínio de jovens no Brasil..
Materiais necessários
Cartazes da Semana da Solidariedade e da Campanha contra Violência e Extermínio de
Jovens, cópias do texto para discussão, cartazes e pincéis coloridos, tarjetas, CD com as
músicas de acolhida e Ciranda pela Vida, letra das músicas para os participantes.
Preparar o ambiente com um círculo de cadeiras, já prevendo o número de
participantes do encontro. Possibilitar que todos os símbolos estejam visíveis no centro
da roda, bem como o objetivo da oficina, que pode estar escrito em um cartaz exposto
em lugar visivel.
Acolhida Solidária
Enquanto os/as participantes chegam colocar a música: Não é sério.
Quando todos/as estiverem presentes, dar as boas-vindas e dizer do objetivo da Roda
de Conversa que deve estar escrito em uma cartaz e exposto em lugar visível.
Realizar um momento de apresentação: pedir que cada um/a diga seu nome. Acolher a
todos com cuidado e atenção. Em seguida motivar para que todos/as possam olhar para
os pés e fazer memória por onde os pés tem nos levado. Quais os lugares, pessoas,
realidades que nossos pés tem nos levado? Partilhar na roda.
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Ao final entra um/a jovem e declama a poesia:
Andei pelos caminhos da vida.
Caminhei pelas ruas do destino
procurando meu signo.
Bati na porta da Fortuna,
mandou dizer que não estava.
Bati na porta da Fama,
falou que não podia atender.
Procurei a casa da Felicidade,
a vizinha da frente me informou que
ela tinha se mudado sem deixar novo endereço.
Procurei a morada da Fortaleza
Ela me fez entrar:
deu-me veste nova, perfumou meus cabelos...
fez-me beber de vinho.
Acertei o meu caminho.
Cora Coralina
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Saberes da Juventude
Entregar a roda em dois grupos para fazer a leitura do texto: Extermínio e Violência
Juvenil. O que nós temos a ver com isso?
Após a leitura os/as participantes devem ser motivados/as a conversar sobre o que mais
chamou atenção no texto.
Sistematizar em cartazes e apresentar as ideias na Roda.
Caminhos de solidariedade
Quem está animando fala rapidamente com os participantes sobre a Campanha contra
Violência e Extermínio de Jovens: se já conhecem, o que sabem sobre a campanha ou
que já vem sendo feito nas suas realidades...
Provocar para a questão: como cada um/a e/ou seus respectivos grupos e organizações
podem fazer um gesto concreto a favor da vida da juventude?
Na mística da solidariedade juvenil
Neste momento, motivar para que os participantes escrevam nas tarjetas quais os
sonhos que tem para a juventude e vão colocando as tarjetas em círculo em volta do
cartaz da Semana da Solidariedade ou da Campanha contra Violência e Extermínio de
Jovens.
Pode-se colocar a música Minha alma(anexo).
Convidar os/as participantes para que, em volta do cartaz da Semana da Solidariedade,
dancem ou cantem a Ciranda pela Vida (anexo).
Combinar com o grupo sobre o próximo encontro: dia, local e quem fica responsável por
preparar.
Despedirem-se uns/umas dos/as outros/as com abraços e beijos
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Não É Sério
Charlie Brown Jr.
Eu vejo na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério
O jovem no Brasil nunca é levado a sério
Eu vejo na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério, não é sério
Eu vejo na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério
O jovem no Brasil nunca é levado a sério
Eu vejo na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério, não é sério
Sempre quis falar
Nunca tive chance
Tudo que eu queria
Estava fora do meu alcance
Sim, já
Já faz um tempo
Mas eu gosto de lembrar
Cada um, cada um
Cada lugar, um lugar
Eu sei como é difícil
Eu sei como é difícil acreditar
Mas essa porra um dia vai mudar
Se não mudar, prá onde vou...
Não cansado de tentar de novo
Passa a bola, eu jogo o jogo
A polícia diz que já causei muito distúrbio
O repórter quer saber porque eu me drogo
O que é que eu uso
Eu também senti a dor
E disso tudo eu fiz a rima
Agora tô por conta
Pode crer que eu tô no clima
Eu tô no clima.... segue a rima
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"O que eu consigo ver é só um terço do problema
É o Sistema que tem que mudar
Não se pode parar de lutar
Senão não muda
A Juventude tem que estar a fim,
Tem que se unir,
O abuso do trabalho infantil, a ignorância
Só faz destruir a esperança
Na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério
Deixa ele viver! É o que Liga."
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Deixa ele viver! É o que Liga.”
Extermínio e Violência Juvenil. O que nós temos a ver com isso?
Por Eraldo Paulino
2
Pra início de conversa, uma pergunta: quem aqui conhece algum/a jovem que
já morreu assassinado? A situação da violência letal envolvendo jovens no Brasil vem
criando em nós reações muitas vezes perigosas ao longo do tempo. Entre elas, duas em
especial: estamos nos acostumando com tanta morte de jovens e não estamos nos
dando conta do quão grave é a situação na medida em que as mortes se tornam mais
frequentes, não só nas grandes cidades, mas cada vez mais nas cidades do interior.
No período de 2000 a 2010, foram assassinadas/os 201.469 jovens, segundo
dados do Mapa da Violência do instituto Sangari. Para termos ideia do que isso significa
o conflito histórico entre Israel e Palestina, numa região vista por nós como de extrema
violência, foram mortas 125.000 pessoas no período de 1947 a 2000. Ou seja, em 53
anos de conflitos intensos, morreram 38% a menos pessoas de todas as faixas etárias do
que jovens em apenas 10 anos no Brasil que vive em “tempos de paz”.
A violência também vem se interiorizando cada vez mais e mais rápido. Dados
do último Censo do IBGE revelam que a/o brasileira/o ainda vive, na sua maioria, no
interior (55,1% da população), o que torna essa questão ainda mais problemática. Em
2010, por exemplo, a diferença entre assassinatos nos interiores em relação às regiões
metropolitanas foi de 67%, sendo que já tinha chegado a ser de 242,2% em 1995, por
exemplo. Tais dados dão uma boa amostra de que em todo o Brasil vivemos a realidade
de extermínio de jovens. E um extermínio com um claro padrão: as vítimas são na ampla
maioria pessoas do sexo masculino, negros e empobrecidos.
Por detrás de todos esses números cruéis, há o modelo de desenvolvimento
econômico excludente adotado em nosso país e o processo histórico que nos levou até a
condição de enorme desigualdade social. Concentração de terra, inchaço das cidades,
falta de políticas públicas para a juventude, desestruturação da família, falta de critérios
humanísticos nas implantações dos grandes projetos e violência policial são alguns
fatores que contribuem para esses dados sangrentos. A própria interiorização da
violência é uma amostra de que os polos de desenvolvimento estão mais variados, mas
a lógica nefasta que produz exclusão não mudou.
Longe de fazer uma análise por um viés mais aprofundado, infelizmente, a
forma como a perda da vida de jovens é abordada nos noticiários e encarada pelo senso
comum estão produzindo em nós um estilo quase nazista de encarar a morte, uma vez
que, não raro, encontramos pessoas - incluindo formadores de opinião - sentenciando
algo do tipo: “ladrão tem que morrer”, “Esse aí não vai fazer falta”, “Quando a polícia
pegar ele tem logo é que matar, porque esse aí não tem mais jeito”.
Portanto, existe no Brasil uma pena de morte velada apresentada como
solução para os males do nosso tempo, ajudada pela facilidade com que se pode
adquirir armas e munições clandestinamente. As grandes vítimas são pessoas punidas
por se exigir delas deveres antes que tenhamos ao menos garantido a elas o mínimo de
direitos.
2 Jornalista
e articulador da juventude da Cáritas Norte 2
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Ciranda pela Vida
Minha Alma (A Paz Que Eu Nao Quero)
O Rappa
Letra/Música/Vocal: Equipe CDL Musical
(ciranda.juventudeemmarcha.org)
Vamos juntos gritar
Girar o mundo
Chega de violência
E extermínio de jovens
1. São milhares de jovens mortos
Proibidos de sonhar
Sem direitos nem respeito
Sem ter paz para cantar
Vamos juntos gritar
Girar o mundo
Chega de violência
E extermínio de jovens
2. Nossa gente que tá chorando
Nosso povo que tá sangrando
Com Jesus a nos guiar
Pela juventude nós vamos lutar
A minha alma tá armada e apontada
Para cara do sossego!
(Sêgo! Sêgo! Sêgo! Sêgo!)
Pois paz sem voz, paz sem voz
Não é paz, é medo!
(Medo! Medo! Medo! Medo!)
Às vezes eu falo com a vida,
Às vezes é ela quem diz:
"Qual a paz que eu não quero conservar,
Prá tentar ser feliz?"
As grades do condomínio
São prá trazer proteção
Mas também trazem a dúvida
Se é você que tá nessa prisão
Me abrace e me dê um beijo,
Faça um filho comigo!
Mas não me deixe sentar na poltrona
No dia de domingo, domingo!
Procurando novas drogas de aluguel
Neste vídeo coagido...
É pela paz que eu não quero seguir admitindo
É pela paz que eu não quero seguir
É pela paz que eu não quero seguir
É pela paz que eu não quero seguir admitindo
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CELEBRANDO A VIDA QUE A JUVENTUDE QUER VIVER
“Somos Cáritas, Somos Solidariedade!”
Ambientação: Cadeiras em circulo, pano colorido, Bíblia, velas, cartaz da Semana da
Solidariedade, símbolo que represente a Cáritas (regional, diocesana, paroquial), fotos
de jovens da comunidade, imagem de Dom Hélder Câmara, sementes
(preferencialmente crioulas).
Abertura
Enquanto as pessoas se acomodam, cantar os mantras:
“Onde reina o amor, fraterno amor.
Onde reina o amor, Deus ai está.”
Animador/a 1: Queridos irmãos e irmãs, filhos e filhas do Deus da solidariedade que
hoje nos reúne para celebrar a vida. Nos últimos dias vivenciamos momentos de
reflexão e partilha, fazendo memória da solidariedade libertadora que nos coloca a
caminho do Reino de Deus, junto com os excluídos e excluídas de nossos tempos. Na
Semana da Solidariedade deste ano, toda Cáritas Brasileira se propôs a estar mais
próximo das diversas realidades juvenis, refletindo com a sociedade brasileira os
desafios que assolam os/as jovens num cenário de violação dos direitos humanos. Hoje,
ao finalizar a Semana, queremos celebrar as lutas, conquistas e os desejos que as
juventudes carregam em seu caminhar. Queremos reafirmar os/as jovens como sujeitos
de direitos e como portadores da solidariedade que aponta e solidifica novos caminhos
e novas relações com toda humanidade. Com todas essas motivações, celebremos
cantando!
Durante o canto, jovens entram com cartaz da Semana da Solidariedade, símbolo que
represente a Cáritas (regional, diocesana, paroquial), fotos de jovens da comunidade,
sementes (preferencialmente crioulas).
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Canto: Coração Livre
Eu vejo que a juventude tem muito amor,
Carrega a esperança viva no seu cantar
Conhece os caminhos novos, não tem segredos,
Anseia pela justiça e deseja a paz
Mas vejo também a dor da insegurança,
Que dói quando é hora certa de decidir
Tem medo de deixar tudo e então se cansa,
Diz que não há caminho certo e não é feliz
Ei, juventude, rosto do mundo
Teu dinamismo encanta quem te vê
A liberdade aposta tudo
Não perde nada na certeza de vencer (bis)
Vai, vende tudo que tens
Dá a quem precisa mais
Vem e segue-me depois
Vem comigo, espalhe a paz
Jesus convida, conta comigo,
Mas é preciso ter coragem de morrer
Coração livre, comprometido,
Partilha tudo sem ter medo de ser perder…
Animador/a 2: Muitos são os companheiros e companheiras que cotidianamente
constroem um novo projeto de sociedade, pautado na solidariedade, no amor fraterno
e na comunhão entre os filhos e filhas de Deus. Hoje, queremos fazer memória de um
irmão de lutas e de sonhos, que durante a vida sempre trilhou caminhos de libertação
com aqueles que estavam à beira do caminho. Dom Hélder Câmara, que em 12 de
novembro de 1956 fundou a Cáritas Brasileira, foi um profeta que acreditou e batalhou
para que todos os homens e mulheres fossem respeitados em sua condição humana.
Nesta celebração, que para nós é tempo de agradecimento pelos 56 anos de atuação da
Cáritas no território brasileiro, trazemos a imagem de Dom Hélder que para nós é
exemplo vivo de solidariedade.
Um/a jovem entra com a ilustração de Dom Helder.
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O mesmo rosto
Jorge Trevisol
Dizem que o sol, deixou de brilhar
Que as flores mais belas não perfumam mais
Os jovens teriam deixado de amar
De crer na esperança de poder mudar
Que as lutas e os sonhos o vento espalhou
E que envelheceram as forças do amor
Se fosse assim que digam vocês
De quem é o rosto que ainda sorri
De quem é o grito que nos faz tremer
Defendendo a vida, o modo de ser
De quem são os passos marcados no chão
Unindo o compasso de um só coração
Enquanto existir um raio de luz
E uma esperança que a todos conduz
Existe a certeza, plantada no chão
Ternura e beleza não acabarão
Pois a juventude que sabe guardar
Do amor e da vida não vai descuidar
O rosto de Deus é jovem também
E o sonho mais lindo é ele quem tem
Deus não envelhece, tampouco morreu
Continua vivo no povo que é seu
Se a juventude viesse a faltar
O rosto de Deus iria mudar
Temos mil razões para viver
Animador/a 1: Com vários ritmos e cores, entre variadas expressões de fé e de
movimentos, a juventude está construindo novos caminhos que nos apontam: “Um
outro mundo é possível, um novo Brasil é necessário.” Os jovens estão junto com a
Cáritas, em toda sua rede que, de norte a sul faz acontecer junto com o povo o Reino de
Deus aqui e agora. Com alegria, na certeza de que “Somos Càritas”, cantemos glória e
louvemos pelos 56 anos da Cáritas Brasileira e pela vida da juventude e de nossas
comunidades.
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A glória de Deus
Olha a glória de Deus brilhando, aleluia!
Olha a glória de Deus brilhando, aleluia!
Nosso Deus é o artista do universo
É a fonte da luz do ar da cor
É o som é a música é a dança
É o mar jangadeiro e pescador
é o seio materno sempre fértil
É beleza é pureza e é calor!
Aleluia! Aleluia! vamos criar
Que é pra glória de deus brilhar!
Nosso Deus é caminho e caminhada
Do seu povo para a libertação
Onde quer que esteja um oprimido
é Javé que promove a redenção
Ele quebra a força do tirano
E garante a vitória da união!
Aleluia! aleluia! vamos lutar
Que é pra glória de Deus brilhar!
Nosso Deus é a voz que se levanta
É o canto o gemido e o clamor
É o braço erguido para a luta
É o abraço em nome do amor
É o pé conquistando novo aespaço
É a terra é o fruto é a flor!
Aleluia! Aleluia! vamos amar
Que é pra glória de Deus brilhar!
Nosso Deus está brilhando noite e dia
Pelos campos e praças do país
É presença na voz da meninada
Que convoca um futuro mais feliz
É a infinita razão de plena vida
Todo o povo cantando hoje bendiz!
Aleluia! Aleluia! vamos cantar
Que é pra glória de Deus brilhar!
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Entrada da Palavra
Animador/a 2: “Testemunhar e anunciar o Evangelho de Jesus Cristo, defendendo e
promovendo a vida e participando da construção solidária de uma sociedade justa,
igualitária e plural, junto com as pessoas em situação de exclusão social.” Essa é a
missão da Cáritas Brasileira, que sob a luz do Evangelho vivencia a solidariedade e faz
acontecer um novo tempo de graça com os excluídos/as.
Canto: Fazei Ressoar a Palavra de Deus em todo lugar (repete-se o refrão várias
vezes)
Jovens entram com a bíblia e duas velas – preferencialmente com vestes coloridas.
Um dos jovens proclama o Evangelho: Lucas 10, 30-37 (O Bom Samaritano)
Partilhando a Vida
Animador/a 2:
Enquanto comunidade, temos reconhecido e amado o jovem como nosso irmão
próximo?
O que temos feito para acolher tantos e tantas jovens vítimas de violência? Temos
sido samaritanos?
Preces pela vida da juventude
Todos/as são motivados para fazerem preces espontâneas.
A cada prece será respondido: Senhor, que a solidariedade alimente nossa vida.
Mãos abertas
Animador/a 1: O momento da celebração é um convite para ofertarmos à Deus e aos
irmãos os frutos da terra e do trabalho, nossas bandeiras e instrumentos de luta, o
que temos e o que somos. Como agentes Cáritas, queremos oferecer nossas vidas, o
trabalho que desenvolvemos nos programas e projetos. E enquanto jovens,
ofertamos a vida dos/das jovens trabalhadores/as que alicerçam nosso país.
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Ofertório do povo
Quem disse que não somos nada e que não temos nada para oferecer.
|Repare as nossas mãos abertas trazendo as ofertas do nosso viver.
A fé do homem nordestino que busca um destino e um pedaço de chão. A luta do
povo oprimido que abre caminho transforma a nação.
O, o, o, o, recebe Senhor.
Retalhos de nossa história, bonitas vitórias que meu povo tem. Palmares, Caldeirão,
Canudos são lutas de ontem e de hoje também.
O, o, o, o, recebe Senhor.
Aqui trazemos a semente sangue desta gente que fecunda o chão. Do gringo e
tantos lavradores santo e operários em libertação.
O, o, o, o, recebe Senhor.
Coragem de quem dá a vida seja oferecida neste vinho e pão. É força que destrói a
morte, muda nossa sorte é ressurreição.
O, o, o, o, recebe Senhor.
Partilha e despedida
Animador/a 2: Chegamos ao final de nossa celebração. Antes, porém, de retornarmos
para nossos lares queremos cantar as maravilhas que o Deus Libertador manifestou em
nós durante esses dias, na certeza de que o caminho continua e que alimentados pela
solidariedade seguiremos construtores de um novo mundo.
Benção
“Que a terra abra caminhos sempre a frente dos teus passos
E que o vento sopre suave sobre os teus ombros
Que o sol brilhe sempre cálido e fraterno no teu rosto
Que a chuva caia suave entre teus campos
E até que nos tornemos a encontrar
Deus te guarde no calor do seu abraço
E, até que nos tornemos a encontrar
Deus te guarde, Deus nos guarde em seu abraço”
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Textos complementares
Quem é a juventude que mata e morre?
Por que os jovens matam e morrem?
3
Um, dois, três jovens mortos. Duas jovens assassinadas. Por aí caminham as estatísticas.
A manhã fria se tornou triste e revoltante com a notícia que me veio lá de Buritizeiro, norte do
estado de Minas Gerais, minha terra mãe. Na última noite, duas jovens foram assassinadas a tiros
enquanto caminhavam pelas ruas da cidade. As moças agora fazem parte de um número
considerável de JOVENS que foram mortos violentamente nos últimos dias nesse município. Como
elas, centenas de jovens são violentados e exterminados diariamente Brasil a fora. O motivo? Vale
ressaltar em alto e bom tom: a não garantia dos direitos humanos e a não efetivação de políticas
públicas. E não estou falando de mais policiais nas ruas ou de mais cadeias. Refiro-me a uma
educação pública gratuita e de qualidade, a um sistema de saúde eficaz e acessível, a espaços
destinados a prática de atividades culturais e esportivas. E somado a isso: o reconhecimento dos
jovens enquanto sujeitos de direitos e não como objetos/mercadorias de um sistema excludente e
opressor.
A violência que tem assolado as juventudes de Buritizeiro tem endereço, classe e cor. Os
jovens que matam também morrem. Estamos falando de sujeitos que tiveram seus direitos
negados, que são excluídos por serem pobres, negros, moradores do cerrado ou da baixada. São
esses jovens que morrem todos os dias, configurando um cenário de violência e extermínio de
vidas, anseios, desejos e sonhos que não se realizam num projeto societário consumista e
individualista. Matam e morrem por que usam drogas? Não! Usam drogas porque o sistema de
educação e de saúde falha, porque as promessas eleitoreiras de construção de centros de cultura,
esporte e tantos outros se perdem nos períodos administrativos, ou melhor, são engavetadas
frente aos interesses individuais e partidários.
Enquanto as campanhas eleitorais estão acontecendo a todo vapor, os jovens estão
morrendo. E pelas justificativas que se escutam para tais atos, parece que o tempo da
contemplação vai continuar. “Tava passando da hora” ou “ele tava querendo isso” são expressões
que muita gente pronuncia e ouve quando se toca no assunto. Parece que o extermínio dos e das
jovens se tornou solução para alguns problemas, entre eles o uso e tráfico de drogas. Na verdade,
o pano de fundo dessa realidade são as injustiças sociais cometidas não só aos jovens pobres,
negros e periféricos, mas também a uma sociedade que se cala (por medo ou hipocrisia) diante de
um cenário de extrema violação dos direitos humanos.
Leon Patrick Afonso de Souza
Voluntário do Programa Infância Adolescência e Juventude, da Cáritas Regional Minas Gerais e
membro do GT de Juventudes da Cáritas Brasileira. Atualmente cursa Ciências Sociais na
Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte - MG.
3
Texto escrito em 22 de agosto de 2012, um dia após o assassinato de duas jovens moradoras de Buritizeiro, Minas
Gerais.
27
Brasília, 04 de Setembro de 2012
Alguns dados sobre violência contra crianças, adolescentes e jovens
Fonte: Mapa da violência 2011 (Os Jovens do Brasil)
Mapa da Violência 2012 (crianças e adolescentes)
A intenção com esse conjunto de informações é fazer uma rápida
apresentação de alguns dados que constam nos Mapas da Violência do Brasil.
Importante ressaltar que as análises se fazem fundamentais para a compreensão
de tais informações. O Mapa da Violência no seu conjunto apresenta análises
muito interessantes que nos ajudam. Fica a sugestão para que possam
aprofundar sobre as análises apresentadas no Mapa que se encontram no site:
http://mapadaviolencia.org.br/
Esperamos que este instrumento possa agregar os debates e reflexões
feitos pela Rede Cáritas fortalecendo a Semana da Solidariedade: Juventude,
Desenvolvimento e Solidariedade.
Gostaria aqui de ressaltar um sério toque de alerta: 79% da população
têm muito medo de ser assassinada, 18,8%, pouco medo; e somente 10,2%
manifestaram nenhum medo. Em outras palavras: apenas 1 em cada 10 cidadãos
não tem temor de ser assassinado e 8 em cada 10 têm muito medo.
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Seguem alguns dos dados constatados no Mapa da Violência:
1. Crianças e Adolescentes no Mapa da Violência 2012
As causas externas (homicídios, acidentes de trânsito e suicídios) de
mortalidade vêm crescendo de forma assustadora nas últimas décadas: se, em
1980, representavam 6,7% do total de óbitos nessa faixa etária (0 a 19 anos), em
2010, a participação elevou-se de forma preocupante: atingiu o patamar de 26,5%.
Causas externas em 2010 foram responsáveis por 53,2% das mortes de
crianças e adolescentes, acima da metade do total de mortes na faixa de 1 a 19 anos
de idade. Só para se ter ideia do significado: a segunda causa de mortes é
individual: neoplasias tumores representam 7,8%; e a terceira, doenças do
aparelho respiratório: 6,6%. Isoladamente, homicídios de crianças e adolescentes,
Que fazem parte das causas externas, foram responsáveis por 22,5% de total de
óbitos nessa faixa.
2. Jovens no Mapa da Violência 2011
Entre os/as jovens, as causas externas (homicídios, acidentes de trânsito e
suicídios) são responsáveis por 73,6% das mortes. Se na população não jovem só
1,8% dos óbitos são causados por homicídios, entre os jovens, os homicídios são
responsáveis por 39,7% das mortes.
Em alguns estados, como Alagoas, Bahia, Pernambuco, Espírito Santo e
Distrito Federal, mais da metade das mortes de jovens foram provocadas por
homicídio. Estados que tiveram uma súbita e forte erupção de violência, mais que
duplicando suas taxas no período, como Pará, Alagoas ou Goiás.
29
2.1 Criminalização da Juventude Negra
Efetivamente, de 2002 a 2008, para a população total: O número de vítimas
brancas caiu de 18.852 para 14.650, o que representa uma significativa diferença
negativa, da ordem de 22,3%. Já entre os negros, o número de vítimas de homicídio
aumentou de 26.915 para 32.349, o que equivale a um crescimento de 20,2%. Com
isso, a brecha que já existia em 2002 cresceu mais ainda e de forma drástica.
Em 2002, o índice nacional de vitimização negra foi de 45,6%. Isto é, nesse
ano, no país, morreram proporcionalmente 45,6% mais negros do que brancos.
Apenas três anos mais tarde, em 2005, esse índice pulou para 80,7% (morrem
proporcionalmente 80,7% mais negros que brancos).
Em 2008, um novo patamar: morrem proporcionalmente 111,2% mais
negros que brancos, isto é, acima do dobro!
Estados como Paraíba ou Alagoas, por cada jovem branco assassinado
morrem proporcionalmente entre 11 e 12 jovens negros.
2.2 Questões de gênero
Ao longo dos diversos mapas que vêm sendo elaborados desde 1998,
emerge uma constante: a elevada proporção de mortes masculinas nos diversos
capítulos da violência letal do país, principalmente quando a causa são os
Homicídios.
Nos últimos dados disponíveis, os de 2008, pertenciam ao sexo masculino:
92% das vítimas de homicídio; 81,6% das mortes por acidentes de transporte;
79,1% dos suicidas. A masculinidade das vítimas. Em 2008, continua praticamente
inalterada a marca histórica de 92% de masculinidade nas vítimas de homicídio.
30
2.3 Suicídios de jovens
Destaca-se a região Nordeste de forma preocupante, cujos suicídios
passaram de 1.049 para 2.199 mais que duplicaram no período ao crescer 109%.
Nessa região destacam-se três unidades Paraíba, Piauí e Sergipe, mais que
triplicam seus quantitativos. Bahia, Ceará, Maranhão e Rio Grande do Norte mais
que duplicam.
Também nas regiões Norte e Centro-Oeste o aumento dos suicídios foi
elevado. Na região Norte, o foco foram os estados do Amapá e Acre, onde os
suicídios mais que duplicam.
No Centro-Oeste o foco foi Goiás, cujos suicídios aumentam 88,6%.
As regiões Sul e Sudeste tiveram crescimento abaixo da média nacional,
sendo Minas Gerais o único estado dessas duas regiões a evidenciar crescimento
relevante: 78%.
A maior concentração de suicídios encontra-se na região Sul,
especialmente no Rio Grande do Sul e na região Centro-Oeste, principalmente no
estado de Mato Grosso do Sul.
Entre os jovens, o suicídio de brancos até cai levemente, -2,8%, enquanto
entre negros o suicídio cresce 29,4%. Os dados arrolados permitem verificar que das
três causas de mortalidade
violenta trabalhadas no estudo, os suicídios são os que mais cresceram na década:
17% tanto para a população total quanto para a jovem.
Mas para os jovens, três estados apresentam taxas que superam os 10
suicídios em 100 mil: Roraima, Mato Grosso do Sul e Amapá, tornando-os área de
risco para sua juventude.
31
2.3.1 Suicídio de Jovens indígenas
Em Amambaí, no Mato Grosso do Sul, encabeça a lista de taxas na população
total de suicídios, dos 17 suicídios de jovens que aconteceram em 2008, 15 foram
de jovens indígenas, o que significa 88,2% do total de suicídios do município.
No ano de 2008, foram registrados exatamente 100 suicídios de jovens
indígenas. Isso já daria uma taxa nacional de 20 suicídios a cada 100 mil índios,
isto é, quatro vezes acima da média nacional.
3. Acidentes de transito
Acidentes de transporte são responsáveis por mais 19,3% dos óbitos
juvenis, e suicídios adicionam ainda 3,9%. Em conjunto, essas três causas são
responsáveis por quase 2/3 (62,8%) das mortes dos jovens brasileiros.
Incrementos significativos nos finais de semana, principalmente entre os
jovens, que aos domingos aumentam em 140% os níveis de mortalidade de
jovens.
Dados recolhidos por
Alessandra Miranda-Cáritas Brasileira

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