poemas épicos

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poemas épicos
POEMAS ÉPICOS
Samambaia
Deixo
na poeira
gravado o meu rastro
Trago
no meu rosto
misturados suor e lágrimas
Concretizo
o meu sonho
com areia, cimento e ferro.
Enquanto
ao meu redor
se agiganta uma cidade
Parabéns Samambaia
(escrito em 2001, quando a cidade completou 12 anos)
Samambaia, qual o teu futuro, cidade menina?
Completas 12 anos nesse outubro, 25, uma data qualquer que tanto fosse 15, 19, 13...
Setembro ou dezembro, o que importa?
Mas não: são 12 anos dessa breve história emoldurada de lama e poeira
Sonho e realidade, verdade de quem te vê de dentro.
Nem era para existires, projeto do acaso!
Brasília nem te imaginava.
És resultado do excessivo contingente humano que migrou ou nasceu
Nesse Distrito Federal
Da mesma forma que o são tuas coirmãs Santa Maria
Recanto das Emas, São Sebastião, Paranoá, Riacho Fundo
As expansões de Sobradinho e Planaltina
O inchaço de Santo Antônio do Descoberto, Céu Azul, Valparaizo, Águas Lindas...
Tudo saldo da mesma farra urbana.
Ceilândia, do alto do seu orgulho sutil sorri e pensa: “fui eu que inspirei tudo isso!”
Resultado de invasões, fundo de quintais
Subdivisão de diminutas frações de terra no traçado das cidades
Palmilhado palmo-a-palmo.
Taguatinga é diferente: ali é onde muitos vão ganhar seus trocados
De alguma maneira
No Gama, está o melhor time de futebol
No Núcleo Bandeirante, “Cidade Livre”
Viveu o Jorge Eschriqui, artista e mestre nas artes
No Guará, Cruzeiro e Asa Norte mora a classe média
Sem nenhum complexo de inferioridade
A Asa Sul e as margens sul e norte do Lago Paranoá
Estão reservadas para os mais privilegiados
Seguindo os sagrados ditames da sócio-geografia.
Samambaia, Samambaia, eu e tantos que em ti vivemos te vimos nascer
Assim como vemos nascer sobre ti o sol a cada manhã
Brotaste do cerrado numa rapidez incrível
Com a pressa e o entusiasmo dos que acreditam, finalmente
Ter encontrado seu lugar ao sol
Ocupaste, sem hesitar, teus 106 quilômetros quadrados
Constantes no mapa da capital brasileira
Ninguém nega tua existência que esses 12 anos confirmam.
Mas qual será teu futuro, minha querida?
Que cartomante, médium ou vidente ousará pronunciar tua sorte e destino?
Quantos serão, daqui 12 anos, teus atuais 163 mil habitantes?
O que será dos 48 mil alunos que hoje frequentam tuas escolas públicas
E de tantos outros mais que frequentam a escola da vida?
O que será da renda per cápita que hoje não chega a quatro mil reais?
O que será dos teus botecos, quiosques, mercados...
Da tua indústria tão insipiente
Das tuas inumeráveis igrejas que surgem a cada instante
Provando que a fé está sempre em alta?
Não tapemos o sol com a peneira não, Samambaia
Mais fácil seria tapá-lo com a poeira nos meses de agosto e setembro
Quando é seco e venta muito
Não te deixe enganar, minha cidade
Teus córregos andam mal cheirosos
Tuas reservas naturais estão escassas
As nascentes cada vez mais secas
O lixo rola solto nas ruas sem pavimentação
Dando a impressão de que não te prezamos, minha cara
Muitos meninos, cachorros, cavalos, gatos e outros bichos
Se confundem nesse teu cenário quase nada salutar
Teus índices de violência exprimem, literalmente, o que é a luta pela sobrevivência
Para passar o tempo os adultos jogam dominó e os menores soltam pipas
Enquanto todos sonham com altos voos.
Samambaia, Samambaia, quero que tudo de bom te aconteça
Que os cérebros dos que te determinam estejam tomados
Sempre da mais fina lucidez
Samambaia, quero que sejas imensamente feliz
Condição essencial da minha própria felicidade.