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CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 Ciência e Cultura 1 2 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE BARRETOS PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA CIÊNCIA E CULTURA Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos Endereço: POSGRAD - Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389 – Aeroporto 14783-226 – Barretos – SP – Brasil [email protected] www.feb.br/revista/revista.htm Publicação Semestral / Semi-annual publication Solicita-se permuta / Exchange desired / Si chiede lo cambio / On demande l’échange / Man bittet um Austausch Ciência e Cultura 3 4 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 CIÊNCIA E CULTURA CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE BARRETOS Reitoria Reitor: Prof. Dr. Álvaro Fernandez Gomes Pró-Reitor de Graduação: Profa. Dra. Luiza Maria Pierini Machado Pró-Reitor de Pós-Graduação: Prof. Dr. Romildo Martins Sampaio Superintendente de Administração e Finanças: Manoel Nunes Filho Conselho Diretor Luiz Carlos Diniz Buch - Presidente Rogério Ferreira da Silva - Vice Presidente Orlando de Paula Filho - Tesoureiro Paulo Roberto Teixeira Júnior- Secretário Ezisto Hélio Fernandes Césari - Conselheiro Ronaldo Fenelon Santos Filho - Conselheiro Augusto César Arcuri Antoniazzi - Suplente Roberto Arutim - Suplente Ciência e Cultura Editor: Editores Adjuntos: Prof. Dr. Romildo Martins Sampaio (UNIFEB) Prof. Dr. João Antonio Galbiatti (Unesp/Jaboticabal) Prof. Dr. Raphael Carlos Comelli Lia (Unesp/Araraquara e UNIFEB) Profª. Dra. Regina Helena Porto Francisco (USP/São Carlos) Prof. Dr. Victor Haber Perez (UENF/RJ) Prof. Dr. Sebastião Hetem (Unesp/Araçatuba e UNIFEB) Comissão Editorial Adriana Galvão Moura Abílio (Direito – FEB) Benedicto Egbert Correa de Toledo (Odontologia – UNESP/Araraquara) Agnaldo Arroio (Ensino de Química – Educação – USP/São Carlos) Camila Ferreira de Avila (UNIFEB) Alberto Cargnelutti Filho (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Caren Elisabeth Studer (UNIFEB) Alex Tadeu Martins (Odontologia-UNIFEB) Carlos Eduardo Angeli Furlani (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Alexandre Bryan Heinemann (CIRAD – França) Carlos José dos Santos Pellegrino (Odontologia – FEB) Alfredo Argus (Serviço Social – FEB) Carlos Reisser Junior (Agrometeorologia – EMBRAPA/Clima Temperado) Álvaro Fernandes Gomes (Física – FEB) Carlos Teixeira Puccini (Engenharia Civil – FEB) Ana Carolina Garcia Canoas (UNIFEB) Celso Eduardo Sakakura (Odontologia-UNIFEB) Ana Maria de Souza (Farmácia – USP/Ribeirão Preto) Cesar Augusto Moreira Amendola (UNIFEB) Ana Emília F. Fontes (Odontologia-Unifeb) Ciro Sérgio Abe (Administração – FEB) André Cordeiro Leal (Direito - PUC MG e Milton Campos/MG) Claudia Regina Bonini Domingos (Biologia – UNESP/São José do Rio Preto) André Del Negri (Direito – UNIUBE) Cláudio Roberto Pacheco (Engenharia Elétrica - FEB) Andréia Raquel Simoni (UNIFEB) Clovis Sansigolo (INPE) Ângelo Rubens Migliore Júnior (Engenharia Civil – FEB) Cristina Cunha Carvalho Terrone (Química – FEB) Antonio Aparecido Pupim Ferreira (Química - Unesp/Araraquara) Daniela Jorge de Moura (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Antonio Baldo Geraldo Martins (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Daniela Russo Leite (UNIFEB) Antonio Carlos Delaiba (Engenharia Elétrica – UFU) Danilo Cesar Checchio Grotta (UNIFEB) Antonio Carlos Pizzolitto (Farmácia – UNESP/Araraquara) Danísio Prado Munari (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Antonio de Paulo Peruzzi (UNIFEB) David Chacon Álvares (Eng. Alimentos – Univ. Est. Paraná/Guarapuava) Arlindo José de Souza Júnior (Educação Matemática – UFU) David Luciano Rosalen (Engenharia Civil - FEB) Ciência e Cultura 5 v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB Deise Maria Fontana Capalbo (Meio Ambiente - EMBRAPA/Jaguariúna) Jean Carlo Alanis (Engenharia de Alimentos – FEB) Deise Pazeto Falcão (Farmácia - UNESP/Araraquara) Jeosadaque José de Sene (Química – FEB) Delly Oliveira Filho (Engenharia Agrícola – Universidade Federal de Viçosa) João Antonio Galbiatti (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Deny Munari Trevisani (Odontologia – FEB) João Domingos Biagi (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Diana Maria Serafim (UNIFEB) João Marino Júnior (Administração – FEB) Dietrich Schiel (Ensino de Física – USP/São Carlos) Jorge Aberto Vieira Costa (Eng. de Alimentos – Univ. Fed. do Rio Grande/RS) Dílson Gabriel dos Santos (Administração – FEA/USP) José Carlos Barbosa (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Dirceu da Silva (Educação – UNICAMP) José Eduardo Cora (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Durval Dourado Neto (Ciências Agrárias - USP) José Luiz Guimarães (Educação – UNESP/Assis) Édson Alves Campos (Odontologia – FEB) José Marques Júnior (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Eduardo Katchburian (Medicina – UNIFESP) José Tadeu Jorge (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Eduardo Teixeira da Silva (Eng. Agrícola – Universidade Federal do Paraná) José Walter Canoas (Serviço Social – UNESP/Franca) Élcio Marcantônio Júnior (Odontologia – UNESP/Araraquara) Juliana Rico Pires Eleny Balducci Roslindo (Odontologia – UNESP/Araraquara) Juliemy Aparecida de Camargo Scuoteguazza (Odontologia – FEB) Elisabete Frollini (Química – USP/São Carlos) Júlio César dos Santos (Engenharia Química – FAENQUIL/Lorena) Elisabeth Pimentel Rosseti (Odontologia – FEB) Jurnadyr Carneiro Nobre de Lacerda Neto (UNIFEB) Elizangela Partata Zenza (UNIFEB) Karina Silva Moreira Macari (Odontologia – FEB) Emanuel Carlos Rodrigues (UNIFEB) Késia Oliveira da Silva (Engenharia Agrícola – ESALQ/USP) Fernanda Scarmato de Rosa (Farmácia – FEB) Khosrow Ghavami (Engenharia Civil – PUC/RJ) Fábio Luiz F. Scannavino (Odontologia - UNIFEB) Kil Jin Park (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Fernando Horta Tavres (Direito – PUC/MG) Kleiber David Rodrigues (Engenharia Elétrica – UFU) Fernando Salimon Ribeiro (UNIFEB) Lindamar Maria de Souza (Farmácia – FEB) Flávio Dutra de Rezende (Zootecnia - APTA/AM – Secret. Agricultura de SP) Lisete Diniz Ribas Casagrande (Educação – FEB/UNAERP) Francisco José Vela (Engenharia Civil – FEB) Letícia Helena Theodoro Geraldo Nunes Correa (Sistema de Informação – FEB) Lizeti Toledo de Oliveira Ramalho (Odontologia – UNESP/Araraquara) Gláucia Heloisa Malzone Bastos de Aquino (UNIFEB) Lorival Larini (Farmácia – FEB) Gustavo Rezende Siqueira (Zootecnia - APTA/AM – Secret. Agricultura de SP) Lucas de Souza Lehfeld (UNIFEB) Helcio Zanetti Bocato (UNIFEB) Lúcia Helena Sipaúba Tavaraes (Engenharia Agrícola – UNESP/Jaboticabal) Heizir Ferreira de Castro (Engenharia Química – FAENQUIL/Lorena) Luciana Rezende Alves de Oliveira (UNIFEB) Helio Grassi Filho (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Luiz Alves Rodrigues (UNIFEB) Hélio Massaiochi Tanimoto (Odontologia – FEB) Luiz Carlos Pardini (Odontologia – USP/Ribeirão Preto) Hérida Regina Nunes Salgado (Farmácia – UNESP/Araraquara) Luiz Fernando Rimoli (UNIFEB) Hidetake Imasato (Química – USP/São Carlos) Luiz Macelaro Sampaio (Odontologia – FEB) Holmer Savastano Júnior (Eng. Civil/Agrícola – FZEA/USP Pirassununga) Luiz Manoel Gomes Junior (Direito – UNAERP) Hugo Barbosa Suffredini (Química – UNIJUÍ) Luiz Paulo Geraldo (Física – FEB) Humberto Tonhati (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Luiz Rodrigues Wambier (Direito - UNAERP) Ignácio Maria dal Fabro (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Luiz Rogério Dinelli (Química – FEB) Irenilza de Alencar Naas (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Luiza Maria Pierini Machado (Engenharia de Alimentos – FEB) Isabel Cristina Moraes Freitas (Engenharia de Alimentos – FEB) Manoel de Jesus Simões (Medicina – UNIFESP) Jackson Rodrigues de Souza (Química – Universidade Federal do Ceará) Manoel Victor Franco Lemos (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Jairo Osvaldo Cazetta (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Marcelo Borges Mansur (Engenharia Química – Univ. Federal de Minas Gerais) Janice Rodrigues Perussi (Química – USP/São Carlos) Marcelo Henkemeier (Engenharia de Alimentos - Univ. de Passo Fundo) Jaqueline Aparecida Bória Fernandes (UNIFEB) Marcelo Henrique de Faria (Zootecnia - APTA/AM – Secret. Agricultura de SP) 6 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 Márcia Justino Rossini Mutton (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Ranulfo Monte Alegre (Engenharia de Alimentos – UNICAMP) Márcia Luzia Rizzatto (Engenharia de Alimentos – FEB) Raphael Carlos Comeli Lia (Odontologia – FEB) Marcia Maisa de Freitas Afonso (UNIFEB) Regina Célia de Matos Pires (Recursos Hídrico – IAC/Campinas) Marco Aurélio Neves da Silva (Zootecnia – ESALQ/USP- Piracicaba) Regina Helena Porto Francisco (Química – FEB) Marcos Eduardo de Mattos (Administração – FEB) Regina Kitagawa (Engenharia de Alimentos – ITAL) Maria Auxiliadora Brigliador Conti (Química – FEB) Reginaldo da Silva (Direito – FEB) Maria Cristina Thomaz (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Reginele Steluti (UNIFEB) Maria José de Almeida (Educação – UNICAMP) Renata Camacho Miziara (Odontologia – FEB) Maria José Soares Mendes Giannini (Farmácia – UNESP/Araraquara) Renato de Mello Prado (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Maria Teresa do Prado Gambardella (Química – USP/São Carlos) Renato Moreira Ângelo (Física – Univ. Federal do Paraná) Maria Tereza Ribeiro Silva Diamantino (Engenharia de Alimentos – FEB) Ricardo Dias Signoretti (Eng. Agronômica - APTA/AM – Secret.Agricultura- SP) Marília Oetterer (Agroindústria – ESALQ/USP – Piracicaba) Rinaldo César de Paula (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Marilú Pereira Serafim Parsekian (Engenharia Civil – FEB) Rober Tufi Hetem (Medicina – UNICAMP) Mário José Filho (Serviço Social – UNESP/Franca) Roberta Toledo Campos (Direito – UNIUBE) Mário Rolim (Engenharia Agrícola – Univ. Federal Rural de Pernambuco) Roberto Braga (Planejamento Urbano – UNESP/Rio Claro) Marlei Aparecida Seccani Galassi (Odontologia – FEB) Roberto Holland (Odontologia – UNESP/Araçatuba) Marta Regina Farinelli (UNIFEB) Romildo Martins Sampaio (Engenharia de Alimentos – FEB) Mauro dal Secco de Oliveira (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Rosemiro Pereira Leal (Direito – UFMG e PUC/MG) Miguel Carlos Madeira (Odontologia – UNESP/Araçatuba) Rouverson Pererira da Silva (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Miriam Eiko Katuki Tanimoto (Odontologia – FEB) Salete Linhares Queiroz (Química – USP/São Carlos) Neyton Fantoni Junior (Direito – FEB) Sally Cristina Moutinho Monteiro (Farmácia – FEB) Nilza Maria Martinelli (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Sebastião Hetem (Odontologia – FEB) Norberto Luiz Amsei Júnior (UNIFEB) Sérgio de Freitas (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Odair A. Fernandes (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Sérgio Henrique Tiveron Juliano (Direito – UNIUBE) Odila Florêncio (Química – UFSCAR) Shirley Aparecida Garcia Berbari (Engenharia de Alimentos – ITAL) Orlando Fatibello Filho (Química – UFSCAR) Silvano Bianco (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Oselys Rodrigues Justo (Engenharia de Química - FEQ/UNICAMP) Simone Barone Salgado Marques (UNIFEB) Osvaldo Eduardo Aielo (Física – FEB) Sissi Kawai Marcos (Engenharia de Alimentos – FEB) Patrícia Amoroso (Odontologia – FEB) Sônia Maria Alves Jorge (Química – UNESP/Botucatu) Patrícia Helena Rodrigues de Souza (Odontologia – FEB) Sonia Regina Meira (Educação - FAEX) Patrícia Maria Nassar (Química – FEB) Sylvio Luís Honório (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Paula Homem de Mello (Química – USP/São Carlos) Telmo Antonio Dinelli Estevinho (Sociologia/Ciência Política – UFMT) Paulo César Hardoim (Engenharia Agrícola – Univ. Federal de Lavras) Tetuo Okamoto (Odontologia – UNESP/Araçatuba) Paulo Estevão Cruvinel (Embrapa – São Carlos) Ueide Fernando Fontana (Odontologia – FEB) Paulo Sérgio Cerri (Odontologia – UNESP/Araraquara) Valdir Gouveia Garcia (UNESP-Araçatuba) Pedro Leite de Santana (Engenharia Química – Univ. Federal de Sergipe) Victor Haber Perez (UENF/RJ) Pedro Paulo Scandiazzo (Educação Matemática – UNESP/S. J. do Rio Preto) Walter Antonio de Almeida (Odontologia – FEB) Rael Vidal (Biologia – FEB) Zaiden Geraige Neto (UNIFEB) Ciência e Cultura 7 v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB Editorial Alcançar a 5ª edição em dois anos de existência, mantendo a periodicidade, a diversidade dos assuntos tratados nos artigos publicados e o critério na seleção dos mesmos, é para nós do Ciência e Cultura, motivo de muita satisfação. Mais que isso, significa manter os propósitos e ideais quando da criação da mesma: ser um meio para divulgação científica de trabalhos oriundos do Centro Universitário da FEB e de outras instituições do Brasil e do exterior. Assim, é com muita satisfação que apresentamos esse número com trabalhos oriundos das ciências agrárias, das ciências exatas e da terra e da educação e saúde. Esperamos poder continuar recebendo a expressiva quantidade de contribuições científicas, que nos permitirá crescer e melhorar ainda mais a qualidade desse veículo de divulgação científica. Por último, renovamos os agradecimentos a todos que contribuíram acreditando nesse projeto, em especial ao Professor Dr. Sebastião Hetem, brilhante pesquisador e educador, um dos criadores da Ciência e Cultura e seu primeiro editor-chefe, que por vários anos se dedicou ao Centro Universitário da FEB, especialmente ao Curso de Odontologia e ao Centro de PósGraduação – CPG, e a quem merecidamente dedicamos esta edição. 8 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 SUMÁRIO Artigos Científicos Original Articles Determinação do teor de urânio em amostras de sedimentos do ribeirão pitangueiras Uranium content determination in sediment samples from the pitangueiras creek José Mário SEGALA JÚNIOR, Ione Makiko YAMAZAKI, Luiz Paulo GERALDO ......................................................................................................................................................................................................11 Um estudo estatístico da associação de sete anomalias dentais em uma população brasileira A statistical study of the association of seven dental anomalies in the brazilian population. Renata Camacho MIZIARA; Celso Teixeira MENDES JUNIOR; Claudia Emília Vieira WIEZEL; Aguinaldo Luiz SIMÕES; Juliemy Aparecida de Camargo SCUOTEGUAZZA ...............................................................................................................................................................................................19 Estudo cinético da substituição do ligante cloro do complexo trans-diclorobis(etilenodiamina) cobalto (III) pelo aminoácido alanina A kinetic study on substitution of chloro ligand from trans-dichlorobis(ethylenediamine) cobalt (III) complex by alanina aminoacid Luís Rogério DINELLI, Thais Milena de Souza BEZERRA e Jeosadaque José de SENE ...............................................................................................................................................................................................29 Crescimento e nutrição mineral de fedegoso Growth and mineral nutrition of java-bean Silvano BIANCO; Robinson Antonio PITELLI; Leonardo Bianco de CARVALHO .......................................................................................................................................................................................35 Avaliação da infiltração marginal de um cimento à base de polímero de mamona em retroobturações. Estudo piloto de eficácia in vitro Marginal leakage evaluation of a castor bean polymer cement used in retrofilling. A pilot study of in vitro eficac Devanir de Araújo CERVI, Liliane Hitomi SUNTO, Carlos Alberto MOSQUINI, Elizangela Partata ZUZA .......................................................................................................................................................................................43 Melhoria da Educação Pública: Ensino de Ciências em Barretos, SP Improvement of the public education: the science teaching in Barretos, SP Cristina Cunha Carvalho TERRONI, Lindamar Maria de SOUZA, Norberto Luis AMSEI Júnior, Regina Helena Porto FRANCISCO, Rosângela de Carvalho GOULART, Sally Cristina Moutinho MONTEIRO .......................................................................................................................................................................................51 Hepatite C: Inimigo silencioso Hepatitis C: Silent enemy Cátia REZENDE, Roberto Carlos Grassi MALTA, Fernanda Lima CUSTÓDIO, David José FERREIRA .......................................................................................................................................................................................57 Reparação de lesão periapical por meio da utilização do agregado de trióxido mineral. Relato de caso. Repairing of periapical lesion through the use of mineral trioxide aggregate. Case Report. Fabiano de Sant’Ana dos SANTOS, José Umberto BAMPA, Gabriella Taveira Batista BAMPA, Rogério Ferreira da SILVA, Alexandre Miranda PEREIRA, Fábio Luiz SCANNAVINO, Alex TADEU MARTINS. .......................................................................................................................................................................................71 Alternativa de tratamento para fratura corono-radicular com envolvimento pulpar. Relato de caso. Alternative of treatment for crown-root fracture with pulp involvement. Case report. Walter Antonio de ALMEIDA, Angelo POLISELI NETO, José Umberto BAMPA, Maria José Pereira de ALMEIDA, Fabiano de Sant’Ana dos SANTOS. .......................................................................................................................................................................................77 Ciência e Cultura 9 10 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 Determinação do teor de urânio em amostras de sedimentos do ribeirão pitangueiras Uranium content determination in sediment samples from the pitangueiras creek José Mário SEGALA JÚNIOR1, Ione Makiko YAMAZAKI2, Luiz Paulo GERALDO1* José Mário Segala Júnior1, Ione Makiko Yamazaki2, Luiz Paulo Geraldo1* 1 Fundação Educacional de Barretos Av. Prof. Roberto Frade Mote, 389 – 14783-226 Barretos (SP) 2 Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares – IPEN-CNEN/SP C.P. 11049 Pinheiros, 05422-970 São Paulo (SP) RESUMO Neste trabalho determinou-se o teor de urânio pelos fragmentos de fissão. Em seguida os traços de fissão em amostras de sedimentos do ribeirão pitangueiras. A técnica empregada foi a do registro de traços de fissão revelados foram contados em um sistema constituído por um microscópio óptico comum e câmara de vídeo. O em um plástico policarbonato denominado PCLIGHT(Durolon). As amostras de sedimentos foram irradiadas na forma de depósitos sobre o detector plástico (dry method), em um fluxo de nêutrons térmicos produzido no reator nuclear IEA-R1 (3,5MW). valor médio obtido para o teor de urânio nas amostras de sedimentos do ribeirão pitangueiras foi de (6,07 ± 0,69) ppm. Este resultado é superior a 3 vezes a média Juntamente com as amostras de sedimentos foi irradiada uma amostra padrão contendo uma quantidade conhecida de urânio. Após as irradiações, os filmes mundial para solos e, portanto, evidencia a ocorrência de um acúmulo de urânio na área estudada, provavelmente, em virtude de processos geoquímicos e/ou do uso indiscriminados de fertilizantes fosfatados na agricultura da região. plásticos passaram por um processo de revelação química, para ampliação dos traços ou furos produzidos Palavras-Chave: urânio, fissão nuclear, detectores de traços nucleares, sedimentos. ABSTRACT In this work the uranium content in sediment samples from the pitangueiras creek has been determined. The employed technique was the fission track registration in a policarbonate plastic named PCLIGHT (Durolon). The sediment samples were irradiated in the form of deposits on the plastic detector(dry method) in a thermal neutron flux produced by the IEA-R1(3.5 MW) nuclear reactor. Together with the sediment samples it was irradiated an uranium standard having a known uranium content. After the irradiations, the plastic films were chemical etched in order to increase the tracks or holes produced by the fission fragments. The etched fission tracks were counted with a system consisting of an optical microscope and a video camara. The mean value obtained for the uranium content in sediment samples from the pitangueiras creek was (6.07 ± 0.69) ppm. This result is 3 times above the world mean value for soils and thus, it points out for an uranium cumulation occurrence in the studied area, probably, due to geochemical processes and/or the large scale application of phosphate fertilizers in agricultural soils of the region. Keywords: uranium, nuclear fission, nuclear track detectors, sediments. Ciência e Cultura 11 Determinação do teor de urânio em amostras de sedimentos do ribeirão pitangueiras INTRODUÇÃO TICELLI et al. de traços de fissão em um plástico policarbonato comercialmente conhecido como PCLIGHT. O urânio, um dos metais mais pesados encontrado na natureza e em praticamente todos os locais, é nocivo não só por seu efeito químico tóxico como também o radio-tóxico. Está presente nos meios aquáticos e em MATERIAL E MÉTODOS outros compartimentos ambientais em decorrência de processos geoquímicos e de atividades antrópicas, dentre No período de estiagem, entre 10 e 15 de maio de 2007, foram feitas as coletas das amostras de as quais, destacam-se os resíduos de mineração, queima sedimentos ao longo do ribeirão pitangueiras, em locais de carvão, lixiviação de depósitos naturais e o uso de fertilizantes a base de fosfato na agricultura. Desta forma, relativamente próximos ao ponto de captação de água para o abastecimento da população do município de pode estar presente em quantidades apreciáveis nos solos, plantas, animais, e através da cadeia alimentar, ir Barretos. As amostras, com massas em torno de 1,0 Kg, foram coletadas superficialmente (entre 0 e 10 cm) se bioacumulando nos diferentes níveis tróficos até utilizando uma colher de aço inox, dentro de uma região chegar ao consumo humano. Nos últimos anos a prática da monocultura tem em torno de 3,2 Km a montante do local de captação das águas. As amostras foram armazenadas em frascos levado ao empobrecimento do solo, resultando em maior acidez da terra e na falta de nutrientes. A acidez normalmente pode ser corrigida com a aplicação de calcário e a deficiência de nutrientes exige o uso de fertilizantes que por vezes são empregados de maneira plásticos previamente lavados com uma solução de HNO3 (2%) para eliminar possíveis contaminações e levadas ao laboratório para serem processadas Os locais de amostragem foram escolhidos da indiscriminada. A preocupação existe porque normalmente os fertilizantes são confeccionados a base de fosfatos e no processo de sua extração das rochas tipicamente agrícola, sendo a atividade atual predominante o plantio de cana-de-açúcar. Os pontos 3 e 4 são locais dentro dos limites urbanos da cidade de Barretos e o ponto 5, o local onde é feita a captação de água para o abastecimento de cerca de 85% da fosfáticas o urânio aparece como um sub-produto. Desta forma, o teor de urânio presente em fertilizantes pode atingir níveis relativamente elevados (até centenas de ppm) (YAMAZAKI e GERALDO, 2003), tornandose uma fonte importante de contaminação ambiental . O uso destes fertilizantes na agricultura pode estar causando um aumento na concentração de urânio nos solos da região do município de Barretos, inclusive no ribeirão pitangueiras que percorre áreas de intensa atividade agrícola. Preocupa também o fato de que as águas deste córrego são captadas para o abastecimento da população da cidade de Barretos, tratando-se, portanto, de um problema de saúde pública. O objetivo principal deste projeto foi investigar o teor de urânio em amostras de sedimentos do ribeirão pitangueiras, na região do município de Barretos, em áreas próximas a captação de água para o abastecimento, para avaliar o nível de contaminação existente e os riscos à saúde da população. A técnica utilizada foi a do registro 12 Ciência e Cultura seguinte forma: os pontos 1 e 2 estão em uma área população da cidade. Na figura 1 é exibido um recorte da carta topográfica do município de Barretos divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE) (IBGE, 2007) onde podem ser identificados os pontos de amostragens.. O método utilizado neste trabalho para a determinação do teor de urânio em sedimentos é aquele conhecido como método a seco (dry method). Este método permite determinar concentrações de urânio na região de ppb (10-6 gU/l) de uma maneira simples, relativamente rápida e à um baixo custo desde que haja um reator nuclear disponível para as irradiações. Em resumo, as amostras de sedimentos coletadas superficialmente nos pontos de amostragem ao longo do ribeirão pitangueiras passaram, inicialmente, por um processo de secagem à temperatura ambiente. Cada amostra foi dividida em 4 partes e de cada uma destas CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 Figura 1: Recorte da carta topográfica do município de Barretos SP realçando o ribeirão pitangueiras. partes, foi retirada uma pequena porção, em torno de 20 g. As porções foram misturadas e o conjunto passou por um novo processo de secagem em estufa por 24 h à uma temperatura em torno de 100 oC. Em seguida foi feita uma moagem manual utilizando gral e pistilo, passouse o pó obtido, primeiro por uma peneira com malha de 0,5 mm e depois por uma outra com malha de 74 µm. De acordo com a literatura, além de ser mais fácil a digestão ácida de pós extremamente finos, os metais estão preferencialmente alojados em grãos com dimensões inferiores a 63 µm (RIOEUMONT et al., 2005). O processo de triagem em peneiras com malhas de 74 µm permitiu a passagem de todos os grãos de sedimentos menores que esta dimensão. De cada uma das amostras de sedimentos com grãos menores que 74 µm, foi retirada uma fração, com massa aproximada de 40 mg, para a confecção da amostra final na forma de solução. Estas frações passaram então por um processo de digestão acida a quente (em torno de 100 oC) em água régia (3 HCl : 1 HNO3) com o intuito de dissociar os metais de seus compostos químicos e produzir uma solução homogênea. Cada amostra foi digerida em 10 ml de água régia em bequers de 50 ml tapados com vidro de relógios, utilizando uma chapa térmica convencional. A digestão foi feita durante um período de tempo em torno de 40 minutos, ou até que o ácido fosse evaporado totalmente. O processo foi repetido três vezes e no final utilizou-se uma solução de HNO3 (2%) para a diluição do resíduo em um balão volumétrico até completar o volume de 25 ml. Para todas as 5 amostras foram obtidas soluções contendo aproximadamente 40 mg de material em 25 ml de HNO3(2%) . As amostras não passaram por nenhum tipo de filtragem após a digestão ácida de forma a garantir que, partículas ou grãos eventualmente não dissolvidos, ficassem em suspensão na solução final e não fossem perdidos no processo de filtração. Isto é importante para o método, pois, se alguma quantidade de urânio contido no sedimento não for adequadamente dissolvido, produzira durante a irradiação com nêutrons aglomerados localizados de traços de fissão no detector plástico. Entretanto, estes traços podem ainda ser contabilizados durante a contagem visual. Após o tratamento químico, alíquotas das soluções das amostras e padrão de urânio foram depositadas sobre os detectores com a utilização de micropipetas automáticas. Sobre cada detector (área em torno de 1 cm2) depositou-se 10 ìl da solução amostra e sobre esta gota foi adicionado 5 ìl do detergente Cyastat que atua como um neutralizador eletrostático e possibilita a obtenção de um depósito mais homogêneo (YAMAZAKI e GERALDO, 2003). A secagem das gotas foi realizada Ciência e Cultura 13 Determinação do teor de urânio em amostras de sedimentos do ribeirão pitangueiras TICELLI et al. com o auxílio de uma lâmpada incandescente (150W), estanqueidade da soldagem foi verificada por imersão por um período de tempo em torno de 40 minutos. Foram preparados 5 depósitos para cada amostra do frasco em um recipiente contendo glicerina à e 10 depósitos para a solução padrão com concentração de urânio em torno de 10-5 g U/l, de forma a se obter no posição Eira 24b, em um local onde o fluxo de nêutrons térmicos é da ordem de 1,2x1013 n/cm2.s. final 7 conjuntos de 5 filmes. Cada conjunto foi cuidadosamente embrulhado em papel alumínio e em A irradiação no reator nuclear produz danos na cadeia carbônica dos filmes plásticos devido à interação seguida todos foram inseridos em um frasco de alumínio com nêutrons rápidos e radiação gama (YAMAZAKI e (22 mm de diâmetro e 70 mm de altura) usualmente empregado para irradiações com nêutrons do reator GERALDO, 2003; ARAÚJO et al., 1998). Estes danos fazem com que a velocidade de ataque químico seja mais nuclear de pesquisa IEA-R1 (3,5MW) do IPENCNEN/SP. Na montagem dos conjuntos de filmes dentro rápida e desta forma, tempos de revelação menores são necessários para produzirem o mesmo aumento dos do frasco colocou-se um dos conjuntos referente ao traços nucleares que aqueles obtidos sem danos por padrão de urânio na parte superior e o outro na parte inferior, de forma a permitir um melhor monitoramento irradiação. O melhor tempo obtido para a revelação química dos filmes irradiados no reator nuclear foi de 55 do fluxo médio de nêutrons durante a irradiação das amostras. Antes de ser irradiado, o frasco de alumínio, minutos. Na figura 2 pode ser visto o esquema do núcleo contendo os depósitos das amostras e padrão de urânio, foi selado por meio da soldagem de uma tampa. A do reator IEA-R1 e a localização da posição utilizada para a irradiação das amostras com nêutrons térmicos. temperatura de 250 oC. Os filmes foram irradiados na Figura 2: Esquema do núcleo do reator nuclear IEA-R1 e posição de irradiação das amostras de sedimentos. Durante a irradiação, ocorrerá predominantemente a reação de fissão no isótopo de 235U (0,72%) e cada um destes eventos, é registrado no filme plástico por meio de um traço (ou furo) produzido pelo fragmento 14 Ciência e Cultura de fissão. O outro fragmento de fissão é emitido em direção oposta e, portanto, não incide sobre o filme plástico. A densidade de traços T (traços/cm2) registrada no detector está diretamente relacionada com a CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB concentração C (g/cm3) de urânio na amostra. Desta forma, irradiando-se simultaneamente com a amostra em estudo depósitos de uma solução padrão tendo uma concentração em urânio conhecida (Cp), pode-se determinar a concentração em urânio (Cx) da amostra por meio da seguinte relação: v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos para as densidades de traços média nos filmes detectores plásticos são apresentados na tabela 1. Na tabela 2, estão listados os valores dos teores de urânio obtidos para as amostras de sedimentos estudadas neste trabalho. Os erros totais Cx = Cp (Tx/Tp) onde, apresentados correspondem ao desvio padrão da média da densidade de traços e foram calculados utilizado o Tx e Tp são as densidades de traços obtidos nos detectores plásticos, para as amostras de sedimentos e solução padrão de urânio, respectivamente. O teor de urânio em ppm na amostra de sedimento -6 é determinada por meio da relação [Cx/Ca}x10 onde Ca é a concentração total da amostra preparada na forma de solução. programa de computador Microsoft Excel®. Como pode ser observado na tabela 2, dentro das incertezas experimentais, os valores obtidos são praticamente iguais para todas as amostras de sedimentos, indicando que no trecho do ribeirão pitangueiras estudado neste trabalho, não houve uma variação espacial significativa do teor de urânio nos sedimentos analisados. Tabela 1: Valores médios das densidades de traços obtidas nos filmes detectores para as amostras de sedimentos e padrão de urânio. Tabela 2: Resultados obtidos para os teores de urânio nos sedimentos do Ribeirão Pitangueiras. Na tabela 3, o valor médio do teor de urânio nos sedimentos do ribeirão pitangueiras é comparado com resultados divulgados na literatura para amostras de sedimentos e solos coletadas em locais com diferentes níveis de poluição ambiental. O Canal de Bega é atualmente um dos mais poluídos da Sérvia e de acordo com os resultados obtidos por Bikit et al. (2005) os sedimentos deste canal podem também ser considerados como contaminados por urânio quando comparado com os valores encontrados para o Rio Danúbio (3,4 ppm) e a média mundial em solos. Em análises de sedimentos de açudes de reciclagem para duas instalações de mineração de estanho na Malásia (BAHARI et al., 2007), foram encontrados valores relativamente altos de urânio (maiores que 6 ppm) e de acordo com os autores, estes açudes representam um potencial risco radiológico ambiental. Analisando solos de áreas com níveis altos de radiação natural na Malásia, Ramli et al. (2005) Ciência e Cultura 15 Determinação do teor de urânio em amostras de sedimentos do ribeirão pitangueiras TICELLI et al. encontraram teores de urânio acima de 4,9 ppm carvão o urânio é um subproduto importante. indicando também uma correlação positiva entre a presença de urânio e a radioatividade anômala nestas O valor médio obtido neste trabalho para os teores de urânio nos sedimentos do ribeirão pitangueiras é áreas. Em solos próximos de usinas termoelétricas a compatível com os níveis encontrados em solos e carvão Singh et al. (1998) verificaram, como era de se esperar, que os teores de urânio eram relativamente altos sedimentos caracterizados como contaminados em diversos locais de estudo e maior que 3 vezes a média (até 9,2 ppm) e diminuíam a medida que as distâncias de amostragem ficavam mais afastavam da fonte mundial para solos (UNSCEAR, 1988) evidenciando, portanto, um acúmulo significativo de urânio neste poluidora. Sabe-se que no processo da queima do compartimento ambiental. Tabela 3: Comparação do valor médio do teor de urânio obtido em sedimentos do Ribeirão Pitangueiras com resultados divulgados na literatura para amostras similares. CONCLUSÃO Neste trabalho, foram realizadas medidas do conteúdo de urânio em amostras de sedimentos do ribeirão pitangueiras, utilizando a técnica do registro de traços de fissão em um plástico policarbonato comercialmente conhecido como PCLIGHT. Os resultados obtidos são praticamente iguais, 16 Ciência e Cultura dentro das incertezas experimentais, para todos os pontos de amostragem, mostrando que não há uma variação espacial significativa para o teor de urânio nos sedimentos da área estudada. O valor médio determinado é superior a 3 vezes a média mundial para solos divulgada pela UNSCEAR (UNSCEAR, 1988) e em geral, da mesma ordem de grandeza dos valores encontrados em solos e sedimentos com níveis altos de poluição ou radioatividade CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 natural. Desta forma, os resultados deste trabalho indicam que há uma contaminação por urânio apreciável no ribeirão pitangueiras e isto pode estar ocorrendo por processos geoquímicos e/ou uso indiscriminado de fertilizantes a base de fosfato na agricultura da região. MILJEVIC, N. R.; MARCOVIC, M. M.; TODOROVIC, D. J.; CVIJOVIC, M. R.; GOLOBOCANIN, D. D.; ORLIC, M. P.; VESELINOVIC, D. S.; BIOCANIN, R. N. Uranium content in the soil of the Federal Republic of Yugoslavia after NATO intevention. Archive of.Oncology, v. 9, n. 4, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS p. 245, 2001. Al ZAMEL, A.Z.; BOU-RABEE, F.; OLSZEWSKI, M.; BEM, H. Natural radionuclides and RAMLI, A. T.; HUSSIEN, A. W. M. A.; WOOD, A. K. Environmental 238U and 232Th concentration measurements in an area of high level natural background radiation at Palong, Johor, Malaysia. Journal of 137 Cs activity concentration in the bottom sediment cores from Kuwait Bay. Journal of Radioanalytical and Nuclear Chemistry, v. 266, n. 2, p. 269, 2005. ARAÚJO, E.S.; KHOURY, H.J.; SILVEIRA, S.V. Silveira. Effects of gamma-radiation on some properties of durolon polycarbonate. Radiation Physics and Chemistry, v. 53, p. 79,1998. BAHARI, I.; MOHSEN, N.; ABDULLAH, P. Environmental Radioactivity, v. 80, p. 287, 2005. RIOEUMONT, S. O.; DE LA ROSA, D.; LIMA, L.; GRAHAN, D. 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Ciência e Cultura 17 Determinação do teor de urânio em amostras de sedimentos do ribeirão pitangueiras TICELLI et al. VARGAS, M. J.; TOMÉ, F. V.; SANCHEZ, A. ZHMODIK, S. M.; VERKHOVTSEVA, N. V.; M.; VÁZQUEZ, M. T. C.; MURILLO, J .L. G. Distribution of uranium and thorium in sediments and SOLOBOEVA, E. V.; MIRONOV, A. G.; NEMIROVSKAYA, N. A.; ILIC, R.; KHLYSTOV, plants from a granitic fluvial area. Applied Radiation O.M.; TITOV, A.T. The study of distribution and forms and Isotopes, v. 48, n. 8, p. 1137, 1997. of uranium occurrences in Lake Baikal sediments by the SSNTD method. Radiation Measurements, v. 40, p. 532, YAMAZAKI, I. M.; GERALDO, L. P. Uranium content in phosphate fertilizers commercially produced 2005. in Brazil. 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Fone: (16) 36023050 3 Bióloga, doutora e especialista do laboratório de Genética-bioquímica do Departamento de Genética da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP. Av. Bandeirantes, 3900. CEP: 14040-900. Ribeirão Preto-SP. Fone: (16) 36023050 4 Profo Associado da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP. Av. Bandeirantes, 3900. CEP: 14040-900. Ribeirão Preto-SP. Fone: (16) 36023050 5 Profa do Curso de Odontologia do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos. Av. Professor Frade Monte, 389. CEP 14873-226. Barretos-SP. Fone: (17) 33216411 RESUMO O propósito deste estudo foi revelar padrões de associações entre sete tipos de anomalias dentais (agenesia dos segundos pré-molares, tamanho reduzido do incisivo lateral superior, infraoclusão do primeiro molar inferior, hipoplasia do esmalte, erupção ectópica dos primeiros molares, dentes supra numerários e erupção ectópica dos caninos superiores) em uma amostra populacional ortodonticamente não tratada de 7 a 14 anos de idade. Um total de 172 pacientes foram atendidos na Clínica Infantil do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos passando pelo exame clínico. Deste total onze pacientes foram selecionados de acordo com uma anomalia dental primariamente diagnosticada e submetidos à Radiografia Panorâmica. Associação significativa (p< 0,05) foi encontrada entre 6 pares de anomalias (agenesia dos segundos prémolares x erupção ectópica dos primeiros pré-molares; agenesia dos segundos pré-molares x infraoclusão do primeiro molar inferior; agenesia dos segundos prémolares x tamanho reduzido do incisivo lateral superior; dentes supra numerários x tamanho reduzido do incisivo lateral superior; erupção ectópica dos primeiros prémolares x hipoplasia do esmalte; infraoclusão do primeiro molar inferior x tamanho reduzido do incisivo lateral superior), sugerindo uma origem genética comum destas condições. Apenas em um caso em que houve compartilhamento de anomalias pelos pacientes (aplasia do segundo pré-molar x hipoplasia do esmalte) a associação não foi significativa. A existência de uma anomalia é clinicamente relevante para um diagnóstico precoce de uma possível associação, sendo que uma anomalia pode indicar um aumento do risco de outras. Palavras-Chave: anomalias dentais; etiologia genética; população brasileira ABSTRACT The objective of this study was to show the association patterns among seven types of dental anomalies (second pre-molar agenesis, upper side incisive reduced in size, lower first molar infra-ochlesis, enamel hypoplasia, first molar ectopic eruption, supra numerous teeth and upper canine ectopic eruption) in a population sample without dental treatment ranging in age from 7 to 14. A total of 172 patients were attended and underwent the clinical examination at the Clínica Infantil do Centro Universitário Fundação Educacional de Barretos. Eleven patients from this total were selected according to a first dental anomaly diagnosis and submitted to panoramic radiography. A significant association (p<0.05) was detected among six pairs of anomalies (second pre-molar agenesis x first pre-molar ectopic eruption; second pre-molar agenesis x lower first molar infra-ochlesis; second pre-molar agenesis x upper side incisive reduced in size; supra numerous teeth x reduced size upper side incisive; first pre-molar ectopic eruption x enamel hypoplasia; lower first molar infraochlesis x upper side incisive reduced in size) suggesting a common genetic origin for these conditions. The association was not significant in only one case where there was anomaly sharing by the patients. The existence of an anomaly is clinically relevant for early diagnosis of a possible association and an anomaly can indicate an increased risk of other anomalies. Key Words: dental anomalies; genetics etiology; brazilian population Ciência e Cultura 19 Um estudo estatístico da associação de sete anomalias dentais em uma população brasileira INTRODUÇÃO MIZIARA et al. superior do dente foi considerado. Existem mais de 500 anomalias causadas por O espectro de uma possível associação entre anomalias dentárias foi relatado por Hoffmeister entre fatores genéticos simples e talvez número equivalente de 1975 e 1985. As seguintes manifestações foram outras, originadas por causas multifatoriais ou aberrações cromossômicas, em que ocorrem alterações orofaciais. encontradas em três gerações consecutivas em uma família: perdas múltiplas dos dentes, agenesia do incisivo Através das informações genéticas é possível calcular a freqüência de portadores assintomáticos de anomalias lateral superior, erupção ectópica do primeiro molar permanente maxilar e deslocamento intraósseo dos hereditárias que afetam os dentes, o que é muitas caninos superiores. (HOFFMEISTER, 1975; vezes indispensável para fornecer aconselhamentos sobre probabilidade de prole afetada HOFFMEISTER, 1977; HOFFMEISTER, 1985). De acordo com Eidelman et al. (1973), Graber (SALZANO,1982). Os dentes pela facilidade de seu exame constituem (1978) e Pilo et al. (1987), a prevalência de agenesia dentária na população em geral varia entre 1,6 e 10% ótimo material para a pesquisa de fatores hereditários não havendo diferença estatisticamente significante entre do homem. Sua conservação por prolongados períodos de tempo, por outro lado, fornece a possibilidade de os sexos masculino e feminino. Entretanto, Bergstrom (1977), em um estudo com crianças suecas, descreveu relacionar a variabilidade atual com a existente em épocas pré-históricas, o que é muito importante para estudos evolucionários. Já o estudo populacional trata dos problemas relacionados com a distribuição dos genes e genótipos nas populações. Preocupa-se, portanto, com uma maior predileção da condição para o sexo feminino da ordem de 3:2. Brook (1984) observou uma prevalência de agenesia dentária de 4,4%, sendo 5,7% e 3,1% para os sexos feminino e masculino respectivamente, diferença esta estatisticamente a natureza e origem das diferenças genéticas, sua manutenção ou processo de eliminação, bem como com o cálculo de suas freqüências relativas. Através de suas significante para uma amostra de 120 crianças inglesas. Em crianças brasileiras, a mesma predileção pelo sexo feminino foi observada por Glavam & Silva (1995) e informações genéticas é possível calcular a freqüência de portadores assintomáticos de doenças hereditárias que afetam os dentes, o que é muitas vezes indispensável para fornecer aconselhamento sobre probabilidade de prole afetada (SALZANO, 1982) Garn et al. (1963) concluíram que “pequena atenção foi dada a possibilidade de que o polimorfismo no número de dentes em humanos não é um fenômeno isolado mas sim leva a uma fundamental correlação com o tamanho, desenvolvimento, e calcificação da dentição como um todo”. Uma significante correlação entre variações de padrões de molares permanentes mandibulares e aplasia destes dentes foi encontrada a poucos anos atrás. A ausência do terceiro molar foi descrita como um polimorfismo dental comum em humanos. Contribuições definitiva (BAUM et al., 1971; BROOK, 1984; GARN, 1970) confirmaram a direta significância entre aplasia e tamanho dos dentes, especialmente quando o diâmetro médio-distal da parte Meira (2002). No Brasil, a prevalência de agenesia dentária varia de 1,1% a 14,2% (PATRÍCIO et al., 1979; ROCHA et al., 1983). Glavam & Silva (1995), em um levantamento sobre a ocorrência de hipodontia em crianças de 3 a 12 anos de idade, examinaram 1625 prontuários odontológicos e relataram uma prevalência de 3,12%. Watanabe et al. (1997), em um estudo, utilizando radiografias panorâmicas de 5353 pacientes, encontraram uma prevalência de 1,57%. Antoniazzi et al. (1999), utilizando o mesmo método de diagnóstico encontraram uma prevalência de 1,75%. Quanto ao grupo étnico, Muller et al. (1970) verificaram um número maior de casos de agenesia dentária entre asiáticos, especialmente nos japoneses, seguidos por caucasianos e afros-descendentes. Freitas et al. (1991), em um levantamento da condição em 357 crianças nipo-brasileiras, relataram uma prevalência de 16,16%. 20 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 Excluindo os terceiros molares, os dentes mais Baccetti (2000), ao avaliar a presença de anomalias comumente ausentes são os incisivos laterais superiores e os segundos pré-molares (BACCETTI, 1998b). associadas à falha de erupção de molares permanentes, não observou associação desta condição com agenesia Baseado nos resultados obtidos por Eidelman et al. de pré-molares ou microdontia de incisivos laterais. (1973), a prevalência de ausência dos incisivos laterais superiores é de 2,1% e de segundos pré-molares é de Brook (1984), ao examinar parentes de primeiro grau (pais e irmãos) com agenesia dentária, observou 1,8%, sem diferença significante entre os sexos. Os segundos pré-molares foram os dentes mais comumente que 33,8% também apresentavam alguma forma de agenesia dentária. Chosack et al. (1975), observaram ausentes no estudo de Meira (2002), seguidos dos que 9,4% dos pais com hipodontia também incisivos laterais superiores. O grupo de dentes mais freqüentemente ausente apresentavam a condição, sendo que em 11,8% dos casos foi observada hipodontia do mesmo elemento também sofre variação em relação ao grupo étnico, sendo os incisivos inferiores os elementos mais dentário. A ocorrência de agenesia dentária é mais freqüente entre familiares do que na população em geral, comumente ausentes em asiáticos enquanto em caracterizando uma hereditariedade da condição caucasianos a hipodontia mais freqüente é a de segundos pré-molares e incisivos laterais superiores (ZHU et al., (KOTSOMITIS & FREER, 1997). No estudo de Meira (2002), 38% dos casos apresentavam história positiva 1996). Pacientes que exibem agenesia dentária também apresentam um aumento na prevalência de outras anomalias de desenvolvimento como hipoplasia de esmalte e falha na erupção dentária (AHMAD et al., de agenesia dentária na família. Ranta (1986) revisou a literatura referente às anomalias dentárias presentes em crianças com fissuras de lábio e palato e, segundo o autor, o incisivo lateral superior na área de fissura é o elemento dentário mais 1998), alterações de forma e tamanho de incisivos laterais superiores (conóides), impacção de caninos, giroversões de pré-molares e encurtamento anormal das raízes susceptível a injúrias nas dentições decídua e permanente, aumentando a prevalência de agenesia com a gravidade da fissura. (BACCETTI, 1998a; PIRINEN et al., 2001). Pacientes com ausência de incisivos laterais superiores freqüentemente apresentam alterações de forma e tamanho do incisivo lateral oposto e erupção ectópica do canino adjacente (PECK et al., 1996a; BACCETTI, 1998a). Peck et al. (1996b) observaram que indivíduos com transposição de canino e primeiro pré-molar superiores, apresentam um risco treze vezes maior de ocorrência de agenesia de incisivos laterais na maxila, sugerindo a hipótese de que essa condição é geneticamente regulada por um sítio específico anteroposterior. Kotsomitis & Freer (1997) descreveram uma correlação entre molares decíduos em infraoclusão e agenesia do sucessor permanente. Baccetti (1998b), verificou uma associação significativa entre giroversão de prémolares e agenesia de incisivos laterais superiores e também observou presença de associação entre giroversão de incisivos laterais superiores e agenesia do dente homólogo no hemiarco oposto. Entretanto, A prevalência de infra-oclusal de molares decíduos foi analisada em estudo que envolveu rediografias panorâmicas de 700 pacientes de 6 a 12 anos atendidos em consultórios de ortodontistas e odontopediatras da cidade de Salvador. A anomalia foi relacionada com o sexo, faixa etária, arcada, lado, grau de severidade de dente mais afetado. Os resultados revelaram que a prevalência de infra-oclusal foi de 5,71 %. A faixa etária mais afetada foi de 8 e 9 anos (7,86%) seguida da faixa de 6 a 7 anos (6,42%). Ambos os sexos foram envolvidos iqualmente pela condiçäo, assim como os lados. A arcada inferior apresentou maior ocorrência (88,89%) e o envolvimento único foi mais comum (70%) do que o múltiplo. O dente mais afetado pela infra-oclusäo foi o primeiro molar decíduo inferior (56,95%), seguido do segundo molar decíduo inferior (31,95%). O grau de infra-oclusäo mais frequente foi o leve (63,89%). A ausência do sucessor permanente ocorreu em apenas 0,14% da amostra (LAMBERTI, 2000). Ciência e Cultura 21 Um estudo estatístico da associação de sete anomalias dentais em uma população brasileira MIZIARA et al. A hipoplasia de esmalte pode ser conseqüência Os dentes supranumerários são mais freqüentes de eventos sistêmicos, traumáticos, ambientais ou genéticos que ocorrem durante o desenvolvimento dos na dentição permanente, com predominância na maxila em relação à mandíbula, numa proporção de 10:1 dentes, interferindo na formação normal da matriz do (REGEZI; SCIUBBA, 1991). Sua prevalência gira em esmalte, causando defeitos e irregularidades na sua superfície. Podem se apresentar como manchas torno de 1%, sendo o sexo masculino mais acometido numa proporção de 2:1. Importante salientar que 90 a esbranquiçadas, irregulares, rugosas, ou ainda, sulcos e ranhuras, bem como outras alterações na estrutura do 98% dos casos ocorrem na maxila e, dessa porcentagem, 90% são encontrados na pré-maxila (TORRES e esmalte (SHAFER et al., 1987). Clinicamente, a FERNANDES, 1996). hipoplasia de esmalte manifesta-se com falta total ou parcial da superfície de esmalte, apresentando uma A ocorrência desses elementos supranumerários pode ocasionar uma variedade de complicações, como, estética insatisfatória, dentes sensíveis, má-oclusão, bem como predisposição à cárie dental (SEOW, 1991). por exemplo, apinhamento dental, impactação de dentes permanentes, erupção retardada e/ou ectópica, rotação Segundo Oliveira e Rosenblatt (2002) a ocorrência de dentária, formação de diastemas, desenvolvimento de defeitos de esmalte na dentição decídua é comum e o odontopediatra tem grande responsabilidade na sua lesões císticas, reabsorção de dentes adjacentes, dentre outras. Sendo assim, o diagnóstico precoce e um detecção e acompanhamento, já que as alterações que ocorrem na sua estrutura podem acarretar o aparecimento de cárie precoce na infância. Ranalli et al. (1986) compararam a prevalência de erupção ectópica em 118 crianças, com média de tratamento apropriado são fundamentais para prevenir as alterações causadas pelos supranumerários (CÂNCIO et al., 2004; COUTO FILHO et al., 2002) O objetivo da presente investigação é verificar evidências que provem a existência de associação idade de 9,3 anos, portadoras de fissuras de lábio e palato. Após análise radiográfica, 236 dentes mostravam erupção ectópica, sendo que 49 eram primeiro molar significante entre sete diferentes tipos de anomalias: agenesia dos segundos pré-molares, tamanho pequeno do incisivo lateral superior, infraoclusão do primeiro superior permanente, e destes, 38 haviam irrompido espontaneamente. Os autores concluíram que a erupção ectópica do primeiro molar superior permanente incide mais freqüentemente em portadores de fissuras labiopalatinas do que em indivíduos não fissurados, e que grande número de molares com erupção ectópica, entram em posição normal espontaneamente. O aumento do número de dentes representa a hiperdontia, sendo esses elementos denominados supranumerários (BERTOLLO et al., 2000). Quanto à etiologia de tais dentes, ainda não há um consenso definido, existindo várias teorias, como a proliferação continuada da lâmina dentária permanente ou decídua, que forma um terceiro germe dentário (teoria da dicotomia); regressões a padrões da dentição do homem primitivo (tendência atávica); correlações a distúrbios do desenvolvimento (Síndrome de Gardner, disostose cleidocraniana e fissuras lábiopalatinas) e hereditariedade (TOMMASI, 1989). molar inferior, hipoplasia do esmalte, erupção ectópica dos primeiros molares, dentes supra numerários, erupção ectópica dos caninos superiores, em uma amostra da população brasileira ortodonticamente não tratada, composta por indivíduos de 7 a 14 anos de idade. As sete anomalias foram selecionadas para o estudo com base na freqüência em que foram evidenciadas no exame clínico na Clínica Infantil da UNIFEB e também baseado no trabalho de Baccetti (1998a) que realizou um estudo para procurar padrões de associações entre as mesmas anomalias dentais encontrando associação recíproca (p< 0,005) entre cinco das anomalias (agenesia dos segundos pré-molares, tamanho pequeno do incisivo lateral superior, infraoclusão do primeiro molar inferior, hipoplasia do esmalte e erupção ectópica dos caninos superiores), sugerindo uma origem genética comum destas condições. Uma vez identificada uma das anomalias pelo exame clínico, pode-se então diagnosticar as outras, se 22 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 existissem, precocemente trazendo ao paciente um dentais. A hipoplasia do esmalte foi determinada tratamento de maior eficiência gerando beneficio ao mesmo. principalmente por exame clínico e confirmada com radiografia se necessário. MATERIAL E MÉTODOS 5) Erupção ectópica dos primeiros molares ocorre quando ele é inicialmente bloqueado pela erupção do A amostra foi obtida de um total de 172 pacientes dente adjacente avaliados clinicamente e radigraficamente. de 7 a 14 anos de idade que foram atendidos consecutivamente de abril a dezembro de 2002 na Clínica Infantil da Faculdade de Odontologia da 6) Dentes supranumerários foram diagnosticados por material radiográfico. Fundação Educacional de Barretos. O critério utilizado para inclusão dos pacientes foi obtido através do exame 7) Erupção ectópica dos caninos superiores foram clínico com a detecção de pelo menos uma das anomalias diagnosticados baseando-se na posição palatal estudadas. Critério diagnóstico das anomalias: intraossea dos caninos superiores permanentes, unilateralmente ou bilateralmente, avaliados em raios X 1) A agenesia dentária consiste em uma alteração de número bastante significativa, uma vez que representa um importante fator etiológico da maloclusão. Agenesia do segundo pré-molar foi diagnosticada usando raios X panorâmicos. panorâmicos e periapical radiografias. 2) O tamanho pequeno do incisivo lateral superior, definido como uma severa redução de parte do incisivo lateral, em alguns casos associada com um certo decréscimo no diâmetro do cervix para a extremidade do incisivo lateral canóide foi diagnosticado através do exame clínico. 3) Infraoclusão do primeiro molar inferior se refere ao primeiro molar inferior se refere ao primeiro molar que não consegue manter sua posição relativa ao dente adjacente na arcada dentária e gradualmente perde contato com o dente oposto adotando uma posição inferior em relação ao plano oclusal. Esta infraoclusão foi diagnosticada quando a distância entre o dente afetado e o plano oclusal for maior que 1mm através do exame clínico. 4) A hipoplasia do esmalte foi diagnosticada quando houve apenas um dente permanente afetado ou uma quebra na continuidade ou perda da superfície do esmalte que não foi relacionado com trauma ou cáries Material radiográfico foi obtido de onze pacientes que apresentaram uma das anomalias primariamente diagnosticada. Já haviam sido excluídos seis indivíduos desta amostra; com mal formação craniofacial (1), palato e/ou lábio fendidos (2), seqüelas de acidentes traumáticos nos dentes (1) e múltiplas e/ou avançadas cáries (2). Outros dez indivíduos foram excluídos devido a; registros incompletos ou inadequados (5), diversidade étnica (apenas os indivíduos de cor branca foram incluídos no estudo) (4) e correlação familiar (gêmeos ou irmão foram excluídos do estudo) (1). A freqüência de cada das sete anomalias estudadas foi estimada a partir da amostra de 172 indivíduos submetidos à análise. Para verificar se a ocorrência de uma determinada anomalia é independente da ocorrência de outra, ou se existe associação entre elas, na amostra foi aplicado o teste exato de Fisher, indicado principalmente para situações em que o total esperado em pelo menos uma das categorias é inferior a 5. Para isto, foram construídas tabelas de contingência 2x2, relacionando a presença ou a ausência da anomalia ‘A’ com a presença ou ausência da anomalia ‘B’, fixandose sempre o total geral em 172. Os aspectos étnicos referentes à experimentação com seres humanos foram aprovados junto ao Comitê Ciência e Cultura 23 Um estudo estatístico da associação de sete anomalias dentais em uma população brasileira MIZIARA et al. de Ética em Pesquisa da Fundação Educacional de onze indivíduos (6,4%) apresentou pelo menos uma das Barretos (protocolo nº02/2001). anomalias pesquisadas. Destes, apenas três (27,3%) apresentaram simultaneamente duas ou mais das anomalias. A anomalia mais freqüente foi a hipoplasia do RESULTADOS E DISCUSSÃO A freqüência de ocorrência de cada uma das sete anomalias pode ser observada na tabela 1. Um total de esmalte, sendo encontrada em 3,5% dos indivíduos. A menos freqüente foi o deslocamento palatino do canino maxilar, que não foi sequer observada. Tabela 1: Freqüência da ocorrência de sete anomalias dentais em 172 indivíduos analisados. de tais anomalias, dificultando a comparação com outras populações. Dentre estes a freqüência de dentes supra famíliaExistem analisando trêstrabalhos gerações, várias poucos queapresentaram relatam a freqüência anomalias associadas com infraoclusão do primeiro numerários foi a mais explorada. Um estudo onde se analisou uma população dos Estados Unidos composta por 1.100 pacientes sete destes apresentaram dentes supra numerários com uma freqüência de 0,64% (RUBENSTEIN, 1991). Um trabalho onde se analisou 2.264 crianças negras americanas a taxa de dentes supra numerários foi 1,49% (BRUCE, 1994), bem superior à freqüência encontrada em uma população nigeriana (0,098%) composta por 13 pacientes (UMWENI, 2002). A freqüência de dentes supra numerária encontrada em nosso trabalho (2,3%) foi superior as relatadas na literatura o que torna a população brasileira diferenciada das demais e, portanto outros estudos são necessários para refinar tais comparações. Um único trabalho que analisou uma segunda anomalia (tamanho reduzido do incisivo lateral maxilar) em uma população nigeriana apresentou freqüência de 29,4% (UMWENI, 1997) bem superior à encontrada em nosso estudo (1,2%). Oitenta indivíduos de um estudo realizado em uma molar. Mais recentemente, taurodontismo do primeiro molar inferior foi encontrado em 34,8% dos pacientes com perda congênita de dentes, e infraoclusão do 24 Ciência e Cultura primeiro molar foi encontrado em 65,7% nas mesmas amostras (LAI, 1989 e SEOW, 1989). A associação entre quatro anomalias (erupção ectópica dos primeiros molares, infraoclusão do primeiro molar inferior, erupção ectópica do canino superior e agenesia pré-molar) foi investigada por Bjerklin et al. em 1992. Os achados indicaram a presença de uma associação recíproca significante entre agenesia dos pré-molares e infraoclusão do primeiro molar inferior, associação essa também confirmada por um estudo subseqüente usando uma grande amostra (BACCETTI, 1995). Erupção ectópica dos caninos superiores aumentou significativamente quando quaisquer uma das outras três condições acima citadas foram encontradas, enquanto erupção ectópica do primeiro molar inferior aumentou a prevalência de infraoclusão do primeiro molar. Estes resultados foram interpretados para sustentar a hipótese de uma comum, presumidamente hereditária, etiologia para o estudo de CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 distúrbio dentário e é sabido que cada distúrbio tem erupção ectópica dos caninos superiores). Associação penetrância incompleta. Finalmente, uma alta prevalência de anomalias recíproca (p< 0,005) foi encontrada entre cinco das anomalias (agenesia dos segundos pré-molares, tamanho dentais associadas (76,02%) foi calculada a partir de pequeno do incisivo lateral superior, infraoclusão do uma amostra de 169 síndromes herdadas com distúrbios dentários, sugerindo fortemente a possibilidade de uma primeiro molar inferior, hipoplasia do esmalte e erupção ectópica dos caninos superiores), sugerindo uma origem correlação genética entre o número, tamanho, forma e características estruturais dos dentes (BACCETTI, genética comum destas condições. (Baccetti, 1998b) estudou o padrão de 1993). Evidências concretas sugerem que genes associação entre cinco tipos de anomalias dentais desempenham uma função preponderante na etiologia de anomalias dentais. Algum tipo de interrelação (agenesia dos segundos pré-molares, tamanho pequeno do incisivo lateral superior, infraoclusão do primeiro geneticamente controlada pode existir para algumas destas anomalias evidenciadas pela suas freqüências de molar inferior, erupção ectópica dos primeiros molares, erupção ectópica dos caninos superiores). Associação associação. Também tem sido especulado que um recíproca significante (p<0,008) foi encontrada entre “defeito genético comum” pode levar a diferentes manifestações fenotípicas, incluindo perda, malformação, quatro tipos de anomalias dentais (agenesia dos segundos pré-molares, tamanho pequeno do incisivo lateral erupção ectópica e mau posicionamento dos dentes. Sendo assim, anomalias dentais, podem ser causadas por um distúrbio herdado no desenvolvimento da estrutura dos dentes. Sabendo que estas anomalias dentais podem ser superior, infraoclusão do primeiro molar superior, erupção ectópica dos caninos superiores). Erupção ectópica do primeiro molar parece ser uma entidade patológica separada com respeito a todas as outras anomalias dentais examinadas (BACCETTI, 1998b). herdadas, uma história familiar e um diagnóstico clínico precoce ou detecção radiográfica pode alertar pais e clínicos para a alta probabilidade de detecção de outras As probabilidades de independência entre as anomalias estudadas neste trabalho, obtidas pelo teste exato de Fisher, estão apresentadas na Tabela 2. no mesmo indivíduo e anomalias similares em outros membros da família (KOTSOMITIS, 1997). Em 1998 Baccetti (BACCETTI, 1998a) realizou um estudo para procurar padrões de associações entre sete tipos de anomalias dentais (agenesia dos segundos pré-molares, tamanho pequeno do incisivo lateral superior, infraoclusão do primeiro molar inferior, hipoplasia do esmalte, erupção ectópica dos primeiros molares, dentes supra numerários, Assumindo-se um nível de significância de 5% (a = 0,05), pode-se observar que existe associação significativa entre 6 pares de anomalias. Apenas em um caso que houve compartilhamento de anomalias pelos pacientes (aplasia do segundo pré-molar e hipoplasia do esmalte) não houve probabilidade de associação significativa entre as anomalias (Tabela 2). Tabela 2. Probabilidade de associação entre os pares de anomalias analisadas, obtidas por teste exato de Fisher. Os valores significativos estão destacados em negrito a-Agenesia dos segundos pré-molares; b-Dentes supra numerários; c-Erupção ectópica dos caninos superiores; d-Erupção ectópica dos primeiros molares ; e-Infraoclusão do primeiro molar CONCLUSÃO inferior; f-Hipoplasia do esmalte; g- Tamanho reduzido do incisivo lateral superior Ciência e Cultura 25 Um estudo estatístico da associação de sete anomalias dentais em uma população brasileira O presente trabalho permite concluir com base nos resultados que padrões de associações entre os sete tipos de anomalias dentais analisadas (agenesia dos segundos pré-molares, tamanho reduzido do incisivo lateral superior, infraoclusão do primeiro molar inferior, hipoplasia do esmalte, erupção ectópica dos primeiros molares, dentes supra numerários e erupção ectópica dos caninos superiores) apresentaram associação significativa (p< 0,05) entre 6 pares de anomalias (agenesia dos segundos pré-molares x erupção ectópica dos primeiros pré-molares; agenesia dos segundos prémolares x infraoclusão do primeiro molar inferior; agenesia dos segundos pré-molares x tamanho reduzido do incisivo lateral superior; dentes supra numerários x tamanho reduzido do incisivo lateral superior; erupção ectópica dos primeiros pré-molares x hipoplasia do esmalte; infraoclusão do primeiro molar inferior x tamanho reduzido do incisivo lateral superior) e que a existência de uma delas é clinicamente relevante para um diagnóstico precoce de uma possível associação, sendo que uma anomalia pode indicar um aumento do risco de outras. Estes resultados representam um forte indício de que as anomalias estudadas estão relacionadas, embora uma amostra mais ampla ainda seja necessária para obtenção de conclusões mais robustas sobre o padrão de associação de tais anomalias na população brasileira. AGRADECIMENTOS Nós agradecemos aos pacientes e seus familiares pela cooperação e ao Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos pelo apoio financeiro. MIZIARA et al. chromosome 16q12.1. Am J Hum Genet, Chicago, v.26, p.987-991, Apr. 1998. ANTONIAZZI, M.C.C.; CASTILHO, J.C.M.; MORAES, L.C.; MEDICI FILHO, E. Estudo da prevalência de anodontia de incisivos laterais e segundos pré-molares em leucodermas brasileiros, pelo método radiográfico. Rev Odontol UNESP, Araraquara, v.28, p.177-185, Jan./June 1999. BACCETTI T . Analisi della prevalenza di anomalie dentali isolate associate nelle sindromi ereditarie: modello per la valutazione del controllo genetico sulle caratterstiche della dentatura. 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CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 Estudo cinético da substituição do ligante cloro do complexo trans-diclorobis(etilenodiamina) cobalto (III) pelo aminoácido alanina A kinetic study on substitution of chloro ligand from trans dichlorobis(ethylenediamine) cobalt (III) complex by alanina aminoacid Luís Rogério DINELLI, Thais Milena de Souza BEZERRA e Jeosadaque José de Sene Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos - FEB - Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389 CEP 14784-220, Barretos – SP [email protected] RESUMO Foi realizado estudo cinético da reação entre trans[CoCl2(en)2]Cl e o aminoácido alanina, nas temperaturas de 25, 35, 45, 55, 65 e 75°C, para determinação das constantes de velocidade e energia de ativação, sendo Ea = 66,6 KJ.mol-1 para a reação de substituição do trans-[CoCl2(en)2] utilizando alanina como ligante. Palavras-chave: Estudo cinético, constante de velocidade, energia de ativação. ABSTRACT A kinetic study on substitution of chloro ligand from trans-dichlorobis(ethylenediamine)cobalt (III) complex by alanina aminoacid was carried out as different temperatures. This reaction follows rate constants determined at 25, 35, 45, 55, 65 and 75°C. The activation energy is 66.6 kJ.mol-1. Keywords: kinetic study, rate constants, activation energy. Ciência e Cultura 29 Estudo cinético da substituição do ligante cloro do complexo transdiclorobis(etilenodiamina) cobalto (III) pelo aminoácido alanina DINELLI et al. INTRODUÇÃO significativos são observados onde, em uma escala Os aminoácidos são moléculas constituintes das proteínas e coordenam-se facilmente aos metais através caracterizada como <10 pouca atividade, >10 atividade moderada e >16 atividade significativa. O [Zn(L5)2(H2O)2] apresenta uma atividade de 25 para dos seus grupos funcionais amino e carboxila. Os complexos formados por metais e aminoácidos são Escherichia coli quando o controle indica 30, e o [Zn(L3)2(H2O)2] apresenta uma atividade de 24 para potencialmente importantes para os sistemas biológicos. Os complexos de cobre (II) e zinco (II) que contém Salmonella typhi quando o controle indica 27. Complexos de cobalto apresentam uma elevada atividade aminoácidos são importantes para o transporte de íons antifúngica segundo a mesma escala. O complexo [Co(L2)(H2O)4]Cl indica atividade de 17 para Cândida metálicos no sangue. Complexos ternários de cobre (II) como [Cu(his)(thr)] são preferencialmente formados no sangue humano, e em sua maioria são complexos de cobre (II) e histidina contendo asparagina, glutamina ou treonina. Inúmeros outros exemplos de importância biologia da interação entre metais e aminoácidos podem ser citados, como a propriedade da histidina de coordenar-se fortemente aos metais e ser utilizada para tratamento do distúrbio genético de transporte de cobre no sangue, e as interações envolvendo as cadeias laterais dos aminoácidos na presença de íons metálicos que são responsáveis pela recognição biológica molecular, reatividade das enzimas e estabilidade das estruturas protéicas(YAMAUCHI et al., 2002). A forte interação entre os grupos thiol do aminoácido cisteína e o mercúrio é um motivo de sua alta toxicidade ao sistema fisiológico. A formação de complexos do tipo [Hg(Cys)n] onde n é igual a 1, 2, 3 ou 4 é determinada pela concentração de cisteína. A distância de ligação entre Hg-S nos complexos [Hg(Cys) 2]-2 e [Hg(Cys) 3] -4 é de 2.35Å e 2.44Å respectivamente. Complexos do tipo [Hg(Cys)n] formados são sugeridos como agentes desintoxicantes em caso de intoxicação por mercúrio (JALILEHVAND et al., 2006). Muitos complexos formados por metais de transição e aminoácidos ou peptídeos têm comprovada ação anticancerígena, antibacteriana, entre outras. Complexos do tipo [M(L)(H2O)4]Cl e [M(L)2(H2O)2] foram estudados por Chohan et al. (2006), onde M = Zn, Cu, Ni e Co e L = acetilacetona substituída com um dos aminoácidos: glicina, fenilalanina, alanina, valina ou histidina, apresentaram geometria octaédrica e propriedades bactericida e fungicida. Resultados 30 Ciência e Cultura albicans, Aspergilius flavus, Microsporun canis e Fusariun solani e o complexo [Co(L4)(H2O)4]Cl apresentou atividade de 20 para Cândida albicans, Aspergilius flavus, Microsporun canis, Fusariun solani e Cândida Glaberata (CHOHAN et al., 2006). Reações de substituição no complexo trans[CoCl2(en)2]Cl foram estudadas, no qual a constante de velocidade e a energia de ativação para a reação de aquação do trans-[CoCl2(en)2]Cl foram determinadas através do estudo cinético da reação. Como a reação obedece ao mecanismo SN1, a velocidade da reação depende da concentração inicial do complexo [CoCl2(en)2]+. Logo, a velocidade da reação pôde ser determinada como a derivada da variação da concentração do [CoCl2(en)2]+ em um momento t. A constante da velocidade da reação foi determinada através de um gráfico de ln[At-A”]/[A0-A”], onde At é a absorbância do [CoCl2(en)2]+ no tempo t, A0 é a absorbância do [CoCl2(en)2]+ quando t=0 e A” é a absorbância depois da reação ter se completado. A partir do coeficiente angular da reta no gráfico de lnk/(T-1/K-1) foi determinado o valor de Ea (MOURA et al., 2006). Este trabalho tem como objetivo o estudo cinético da reação de substituição entre trans-[CoCl2(en)2]Cl e o aminoácido alanina para determinação das constantes de velocidades e energia de ativação da reação. MATERIAL E MÉTODOS A cinética da reação foi realizada nas temperaturas de 25, 35, 45, 55, 65, e 75ºC onde o complexo trans[CoCl2(en)2]Cl e a alanina foram dissolvidos em água, CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 sendo que a proporção trans-[CoCl2(en)2]Cl/alanina foi analisadas. Em relação às velocidades de reação pode- de 1:2, respectivamente. A solução foi mantida à temperatura de estudo por um banho termostatizado se observar que a primeira etapa da reação ocorre mais rapidamente seguida de uma etapa mais lenta, como Fanem 120/3, e a cada intervalo de tempo a solução foi mostra os gráficos(At-A”)/(A0-A”) versus tempo para analisada em um espectrofotômetro Hach DR/400U para o acompanhamento cinético da reação de substituição. todas as temperaturas apresentados na Figura 1. As constantes de velocidade foram determinadas através de um gráfico de ln(AtA”)/(A0-A”) versus o RESULTADOS E DISCUSSÃO tempo. Os valores de k foram obtidos a partir do coeficiente angular das retas da figura 2, e são dispostos na tabela 1. O estudo cinético da reação de substituição no trans-[CoCl2(en)2]Cl foi realizado utilizando como ligante o aminoácido alanina, a temperatura de 25, 35, 45, 55, 65, e 75Cº. O acompanhamento cinético da reação foi realizado pela diminuição da absorção em 605nm do complexo de partida. Uma curva de (At-A”)/(A0-A”) onde At é a absorbância no tempo t, A” é a absorbância depois da reação ter se completado e A0 é a absorbância inicial, versus tempo é mostrada na figura 1 para as temperaturas Segundo estudos de Moura et al., (2006) a constante de velocidade para a reação de substituição de um átomo de cloro no complexo trans-[CoCl2(en)2]+ por uma molécula de água a 25ºC é de 1,44x10-3 s-1. O valor para a mesma reação utilizando o aminoácido alanina como ligante é de 7,73 x10-3 s-1. Pode-se atribuir a diferença de valores observada, em parte ao impedimento estérico que se mostra maior para a alanina, com a presença de grupos volumosos como metila e amino, que dificultam sua aproximação do sítio do metal. Tabela 1: Valores de constante de velocidade para reação de substituição do trans-diclorobis(etilienodiamina)cobalto(III) utilizando o aminoácido alanina nas diversas temperaturas de estudo. Ciência e Cultura 31 Estudo cinético da substituição do ligante cloro do complexo transdiclorobis(etilenodiamina) cobalto (III) pelo aminoácido alanina DINELLI et al. FIGURA 1: Cinética da reação de substituição no trans-diclorobis(etilenodiamina)cobalto(III) em meio aquoso utilizando o aminoácido alanina como ligante, acompanhada pela diminuição da absorbância em 605nm em diversas temperaturas: 25Cº(a); 35Cº(b); 45Cº(c); 55Cº(d); 65Cº(e) e 75Cº(f). 32 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB A partir de um gráfico de ln k versus 1/T a energia de ativação para a reação foi determinada, pelo coeficiente angular da reta da figura 3 , sendo Ea=66,6 kJ.mol-1. Uma relação entre o constante de velocidade e a energia de ativação pode ser feita. Quanto maior a energia de ativação, Ea, maior será a variação da constante de velocidade com a temperatura. Reações v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 que apresentam energia de ativação ao redor de 10 kJ. mol-1 tem velocidades que crescem muito pouco com a temperatura e, consequentemente, as constantes de velocidade apresentam menor variação com o aumento da temperatura. Para a reação em estudo pode-se observar um variação considerável da constante de velocidade, que esta de acordo com a energia de ativação encontrado. Figura 2: Linearização de cinética para a reação de substituição no trans-diclorobis(etilenodiamina) cobalto(III) em meio aquoso utilizando o aminoácido alanina como ligante, acompanhada pela diminuição da absorbância em 605nm em diversas temperaturas:25Cº(a);35Cº(b); 45Cº(c); 55Cº(d); 65Cº(e) e 75Cº(f). Figura 3: Gráfico da equação de Arrhenius para a reação de substituição do trans-diclorobis (etilenodiamina) cobalto (III) utilizando alanina como ligante. CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A cinética da reação de substituição no trans[CoCl2(en)2]Cl utilizando o ligante alanina foi estudada em seis diferentes temperaturas apresentando valores de constante de velocidade de 7,73 x10-3 s-1 a 25ºC e 343,13 x10-3 s-1 a 75ºC. Esta variação da constante de velocidade com a temperatura pode ser relacionada com a energia de ativação da reação, pois reações que apresentam valores maiores de energia de ativação têm velocidades que crescem com o aumento da temperatura. Para a reação de substituição do trans-[CoCl2(en)2]Cl a Ea apresentou valor de 66,6 kJ.mol-1. CHOHAN, Z. H.; ARIF, M.; AKHATAR, A. M.; SUPURAN, C. T.; Metal-Based Antibacterial and Antifungal Agents: Syntheses, Characterization, and in vitro Biological Evaluation of Co(II), Cu(II), Ni(II), and Zn(II) Complexes With Amino Acid-Derived Compounds. Bioinorganic chemistry and Applications. p. 1-13, 2006. JALILEHVAND, F.; LEUNG, B. O.; IZADIFARD, M.; DAMIAN, E.; Mercury (II) Cysteine Complexes in Alkaline Aqueous Solution. Inorganic Chemistry. v. 45, p. 66-73, 2006. Ciência e Cultura 33 Estudo cinético da substituição do ligante cloro do complexo transdiclorobis(etilenodiamina) cobalto (III) pelo aminoácido alanina MASSABNI, A. C.; CORBI, P. P.; MELNIKOVB, P.; ZACHARIASC, M. A.; RECHENBERGD, H. R.; Four New Metal Complexes with the Amino Acid Deoxyalliin. Jounal of Brazilian DINELLI et al. Estudos cinéticos da aquação do trans-[CoCl2(en)2]Cl. Quim. Nova, v. 29, No. 2, p. 385-387, 2006. YAMAUCHI, O.; ODANI, A.; TAKANI, M.; Chemical Society. v. 16, No. 4, p. 718-722, 2005. Metal–amino acid chemistry: Weak interactions and related functions of side chain groups. Journal of MOURA, A. O.; MARTINS, L. B. F. R.; BOLZON, L. B.; JONAS, P.; PRADO, A. G. S.; Chemical Society. Dalton Transations. p. 3411-3421, 2002. 34 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 Crescimento e nutrição mineral de fedegoso Growth and mineral nutrition of java-bean Silvano BIANCO; Robinson Antonio PITELLI; Leonardo Bianco de CARVALHO Departamento de Biologia Aplicada à Agropecuária – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – UNESP – Câmpus de Jaboticabal. [email protected]. RESUMO Senna obtusifolia, popularmente conhecida por fedegoso, é uma das plantas daninhas mais freqüentes nos solos cultivados das regiões Centro e Sul do país, infestando todas as culturas, entretanto é particularmente mais importante em lavouras anuais de soja e milho. Com o objetivo de estudar a produção de massa seca, distribuição e acúmulo de macronutrientes em plantas de fedegoso, foi conduzido o presente trabalho em condições de casa-de-vegetação. As plantas foram cultivadas em vasos preenchidos com areia de rio lavada e peneirada, irrigadas diariamente com solução nutritiva completa de Hoagland & Arnon a 50% da concentração original. A primeira avaliação foi realizada aos 21 dias após a emergência (DAE) e, as seguintes, em intervalos de 14 dias. Foi determinada a biomassa seca das diferentes partes da planta e os teores de macronutrientes. Os resultados indicaram que a planta apresentou crescimento durante toda a fase experimental. O maior acúmulo ocorreu em 147 DAE, quando a planta acumulou 87,16 gramas de biomassa seca. Em 161 DAE, cerca de 13,03% da biomassa seca estava alocada nas raízes, 39,30% nos caules, 29,87 nas folhas e 17,80% na parte reprodutiva. Em 77 DAE (período de maior competição das plantas daninhas com a maioria das culturas anuais), uma planta de fedegoso acumula 15,47 gramas de biomassa seca, 434,50 mg de N, 33,97 mg de P, 422,61 mg de K, 392,87 mg de Ca, 67,04 mg de Mg e 45,95 mg de S. Palavras chaves: macronutrientes, planta daninha, Senna obtusifolia. ABSTRACT Senna obtusifolia, commonly known as java-bean, is one of the most frequency weeds in agricultural soils of the Central and South regions of Brazil. This species infest all crops however it is more important in annual crops as soybean and maize. This research aimed to study the biomass production and the macronutrients distribution and accumulation for java-bean plants grown under greenhouse conditions. The plants grew in pots filled with river sand. The pots were daily irrigated with 50% original concentration of Hoagland & Arnon complete nutrient solution. The first evaluation was done 21 days after seedling emergence (DAE) and the following evaluations were done every 14 days intervals. The evaluations based on the determination of dry biomass accumulation and macronutrient content in the different plant tissues. The results indicated that the plant grew during the whole experimental time. The maximum dry biomass accumulation occurred at 147 DAE, when java-bean plants accumulated 87.16 grams. At 161 DAE, about 13.03% of the dry biomass was allocated by roots, 39.30% by stems, 29.87% by leaves, and 17.80% by reproductive parts. At 77 DAE (period with the strongest competition between weeds and annual crops), one javabean plant presented a dry biomass accumulation of 15.47 grams, together with 434.50 mg of N, 33.97 mg of P, 422.61 mg of K, 392.87 mg of Ca, 67.04 mg of Mg and 45.95 mg of S. Keywords: macronutrients, Senna obtusifolia, weed. Ciência e Cultura 35 Crescimento e nutrição mineral de fedgoso INTRODUÇÃO BIANCO et al. L., Erasmo et al. (2000) com S. obtusifolia, Souza Filho Senna obtusifolia (L.) Irwin & Barneby, et al. (2000) com Urena lobata L., Gravena et al. (2002) com Hyptis suaveolens (L.) Poit., Brighenti et al. (2003) popularmente conhecida como fedegoso, é uma planta com Cardiospermum halicacabum L., Pedrinho Júnior daninha muito freqüente tanto em solos de cultivo intensivo bem como pastagens, pomares e terrenos et al. (2004) com soja e Richardia brasiliensis Gomes, Carvalho et al. (2007) com milho e Brachiaria baldios de todo o território brasileiro. A espécie é uma importante infestante de lavouras de soja, uma vez que é plantaginea (Link) Hitchc., entre outros. Nesta linha de pesquisa, o presente trabalho foi dificilmente controlada por meio de herbicidas, por ser conduzido com o objetivo de estudar a produção de uma espécie daninha de “folha larga”, assim como a cultura. Geralmente formam densas infestações. A planta biomassa seca, distribuição e acúmulo de macronutrientes por plantas de S. obtusifolia, cultivadas é considerada tóxica ao gado (LORENZI, 2000). Esta espécie tem uma ampla dispersão nas regiões tropicais em condições padronizadas de nutrição mineral. e subtropicais no mundo. Provavelmente é nativa do Continente Americano, onde tem ampla distribuição, inclusive no Brasil onde é amplamente disseminada e, MATERIAL E MÉTODOS atualmente, sua presença é mais intensa na região CentroOeste. Pode ser considerada uma planta ruderal e cosmopolita; tem ciclo de planta anual ou perene com ciclo estival; floresce de setembro a dezembro e frutifica até março, propagando-se por sementes (KISSMANN O experimento foi instalado e conduzido em condições de casa-de-vegetação, pertencente ao Departamento de Biologia Aplicada à Agropecuária, da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – UNESP – Câmpus de Jaboticabal, SP, no período de outubro & GROTH, 1999). Dentro dos fatores que influenciam o processo de colonização e estabelecimento das plantas daninhas de 1992 a abril de 1993, utilizando vasos plásticos com capacidade para sete litros, tendo como substrato para crescimento, areia de rio lavada e peneirada. em determinados ambientes, as características do solo desempenham um papel predominante. Os fatores edáficos, associados às características ecofisiológicas próprias de determinados grupos de plantas, que lhe asseguram a sobrevivência em locais específicos, são bases para a sua classificação como espécie ruderal. Estas se caracterizam pela sobrevivência em locais freqüentemente perturbados, com elevadas taxas de crescimento, grande esforço reprodutivo e elevada capacidade de exploração de nutrientes do solo (GRIME, 1979). Para tanto, o conhecimento de aspectos da biologia das plantas daninhas é fundamental, destacando-se os padrões de crescimento, as exigências nutricionais e as respostas às alterações do ambiente, entre outras (BIANCO, 2003). Os trabalhos publicados sobre requerimentos nutricionais de plantas daninhas são poucos, destacandose os de Pavani (1992) com Cenchrus echinatus L., Rodrigues et al. (1995) com Commelina benghalensis A semeadura foi realizada em meados de outubro de 1992, com 50 sementes por vaso. Quando as mudas atingiram o estádio de dois pares de folhas verdadeiras totalmente expandidas, foi efetuado o desbaste, deixando quatro plantas por vaso. Os vasos foram irrigados diariamente com solução nutritiva completa de Hoagland & Arnon (1950). Nos primeiros 21 dias após a emergência (DAE), foi utilizada uma solução nutritiva a 25% da concentração original e, depois, 50% até o final da fase experimental. O delineamento estatístico foi em blocos inteiramente casualizados, com onze tratamentos, correspondendo aos períodos de avaliação (21, 35, 49, 63, 77, 91, 105, 119, 133, 147 e 161 DAE), e quatro repetições. A cada 14 DAE, com exceção da primeira avaliação que ocorreu aos 21 DAE, as plantas de quatro repetições (quatro vasos) foram coletadas, lavadas e separadas em raízes, caules, folhas e partes reprodutivas, que foram colocadas para secar em estufa de renovação 36 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 forçada de ar a 70 oC por 96 horas, quando foi comportamental de cada espécie em relação à massa determinada a biomassa seca das diferentes partes das plantas. Após a moagem do material vegetal, foram seca e ao nutriente estudado, com o auxílio do “software” determinados os teores de macronutrientes. O nitrogênio total (Ntotal) e o fósforo (P) foram 2004). Para a escolha da equação de regressão foram considerados a lógica do fenômeno biológico do crescimento e o valor do coeficiente de determinação. determinados pelos métodos semi micro kjedahl e colorimétrico do ácido fosfovanadato-molibdico, STATISTICA 6.0 (STATSOFT SOUTH AMERICA, Os pontos de inflexão e de máximo da curva foram respectivamente, conforme descrito por (SARRUGE & determinados pelas derivadas, primeira e segunda da HAAG, 1974). Para a extração do potássio (K), do cálcio (Ca) e do magnésio (Mg) foi utilizado o método equação ajustada aos dados obtidos, utilizando o “software” MAPLE V (CHART et al., 1991). descrito por Jorgensen (1977), por meio de espectrofotometria de absorção atômica. O enxofre (S) foi determinado pelo método turbidimétrico, descrito por Vitti (1989). Os dados de acúmulos de nutrientes para cada RESULTADOS E DISCUSSÃO uma das partes da planta foram determinados multiplicando-se o teor do nutriente pela massa seca Na Figura 1 estão apresentadas às curvas relativas às variações do acúmulo de massa seca nas diferentes partes das plantas de S. obtusifolia, ao longo correspondente. O acúmulo total foi obtido por meio da somatória dos acúmulos das diferentes partes da planta, enquanto que o teor total da planta foi obtido pela relação entre o acúmulo total da planta e a massa seca total do seu ciclo de desenvolvimento. O acúmulo de massa seca nas diferentes partes da planta foi crescente até 147 DAE. Uma planta de fedegoso acumulou 79,53 g correspondente. Para cálculo do acúmulo total teórico dos de massa seca, 161 DAE, enquanto que o acúmulo de massa seca pelas folhas foi de 23,76 g planta-1. O macronutrientes, utilizou-se a integral sob a equação exponencial ajustada, Y = exp (a + bx + cx2), sendo Y= fedegoso iniciou seu florescimento no período de 49 a acúmulo do nutriente e x = dias após a emergência, ajustando-se curvas de crescimento em função dos dias do ciclo de vida da planta, refletindo um esboço 63 DAE, apresentando acúmulo de massa seca crescente até o final da fase experimental, quando acumulou 14,16 g. Figura 1. Acúmulo de massa seca nas diferentes partes da planta de Senna obtusifolia, ao longo do seu ciclo de desenvolvimento. Ciência e Cultura 37 Crescimento e nutrição mineral de fedgoso BIANCO et al. Na Figura 2 são apresentados os resultados da sistema radicular, visando melhor fixação da planta no distribuição percentual da massa seca acumulada nas diferentes partes da planta, ao longo do ciclo de substrato, aumentando assim o contato dos nutrientes por interceptação radicular, levando a um rápido acúmulo desenvolvimento, do fedegoso, onde é possível observar dos mesmos pelas raízes. um incremento inicial na alocação de biomassa seca no É importante destacar que as folhas, principal Figura 2. Distribuição percentual da biomassa seca nas diferentes partes da planta de Senna obtusifolia, ao longo do seu ciclo de desenvolvimento. órgão na produção de fotossintatos, diminuíram sua obtusifolia, Desmodium tortuosum (Jacq.) DC. e participação já a partir de 49 DAE, intensificando está Solanum americanum Mill., CARVALHO et al (2007) diminuição a partir do início do florescimento do com B. plantaginea. fedegoso. Comportamentos semelhantes com espécies O nitrogênio e o cálcio foram os nutrientes daninhas foram relatados por Rodrigues (1992) em C. banghalensis, Pavani (1992) em C. echinatus, Pedrinho Júnior (2003) em R. brasiliensis, H. suaveolens e Alternathera tenella Colla, Bianco (2003) em Euphorbia heterophylla L., Sida rhombifolia L., S. extraídos em maiores quantidades pelas plantas (Tabela 1), seguidos pelo potássio, magnésio, enxofre e fósforo. Durante todo o ciclo de desenvolvimento das plantas, as concentrações dos nutrientes estudados oscilaram, entre os períodos amostrados. Tabela 1. Concentração de macronutrientes ao longo do ciclo de desenvolvimento na massa seca de Senna obtusifolia. DAE - Dias após a emergência. 38 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 As curvas ajustadas de acúmulos totais dos teórico ocorreu ao redor de 141 DAE e foi da ordem macronutrientes, ao longo do ciclo de desenvolvimento da planta (Figura 3), evidenciam que o acúmulo total de 2.373,58 mg planta-1; para o fósforo, o acúmulo dos macronutrientes estudados foi crescente até 147 DAE. Este acúmulo foi lento até 63 DAE. Após este período, o acúmulo dos macronutrientes foi crescente e rápido, até 147 DAE, quando começa a diminuir até o máximo teórico ocorreu ao redor de 152 DAE (211,42 mg planta-1); para o potássio, o acúmulo máximo teórico ocorreu ao redor de 141 DAE (1.651,23 mg planta-1); para o cálcio, o acúmulo máximo teórico ocorreu ao redor de 153 DAE (1.990,23 mg planta-1); para o final da fase experimental. Após o cálculo do acúmulo magnésio, o acúmulo máximo teórico ocorreu ao redor de 140 DAE (419,62 mg planta-1) e para o enxofre, o máximo teórico para cada macronutrientes estudado constata-se que para o nitrogênio, o acúmulo máximo acúmulo máximo teórico ocorreu ao redor de 136 DAE (312,97 mg planta-1). Figura 3. Variação no acúmulo total de nitrogênio (A), fósforo (B), potássio (C), cálcio (D), magnésio (E) e do enxofre (F) ao longo do ciclo de desenvolvimento de Senna obtusifolia. Ciência e Cultura 39 Crescimento e nutrição mineral de fedgoso BIANCO et al. Ao comparar os resultados obtidos neste trabalho com REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA aqueles envolvendo outras espécies plantas daninhas folhas largas já estudadas, até o ponto de acúmulo BIANCO, S. Estudo comparativo do acúmulo de massa máximo teórico considerado para cada macronutriente, seca e de macronutrientes por plantas de soja cv. BR- pode-se constatar que S. obtusifolia apresentou acúmulo máximo teórico para todos os nutrientes 16 e cinco espécies daninhas. 2003. 95f. Tese (Livre Docência) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade acumulados menor que os observados para D. tortuosum e S. americanum (BIANCO, 2003) e, de Ciências Agrárias e Veterinárias, Jaboticabal, 2003. maiores que os observados para S. rhombifolia, E. BRIGHENTI, A.M.; VOLL, E.; GAZZIERO, D.L.P. heterophylla (BIANCO, 2003), H. suaveolens, A. tenella (PEDRINHO JÚNIOR, 2003) e R. brasiliensis Biologia e manejo do Cardiospermum halicacabum. Planta Daninha, v.21, n.2, p.229-237, 2003. (PEDRINHO JÚNIOR et al., 2004). Assim, podemos dizer que S. obtusifolia é uma planta daninha menos CARVALHO, L.B., BIANCO, S., PITELLI, R.A.; exigente em termos nutricionais que o pega-pega e a BIANCO, M.S. Estudo comparativo do acúmulo de maria-pretinha, no entanto, é mais exigente que e a guanxuma, amendoim-bravo, cheirosa e apaga-fogo. massa seca e macronutrientes por plantas de milho var. BR-106 e Brachiaria plantaginea. Planta Daninha, Analisando as diferentes partes da planta de fedegoso, para o nitrogênio, cálcio e enxofre, a ordem nos teores médios obedeceu a seguinte seqüência decrescente folhas, parte reprodutiva, raízes e caules; para o fósforo a seqüência foi parte reprodutiva, folhas, v.25, n.2, p.293-301, 2007. raízes e caules; para o potássio a seqüência foi raiz igual à parte reprodutiva, caules e folhas, enquanto que para o magnésio a seqüência foi raiz, folha e parte reprodutiva. Verlag, 1991. 411p. Em 77 DAE (período de maior competição das plantas daninhas com a maioria das culturas anuais), uma planta de fedegoso acumulou 15,47 gramas de biomassa seca; 434,47 mg de N; 33,97 mg de P; 422,61 mg de K; 392,87 mg de Ca; 67,04 mg de Mg e 45,95 mg de S. BERRINGELI, P. 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Ciência e Cultura 41 42 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 Avaliação da infiltração marginal de um cimento à base de polímero de mamona em retro-obturações. Estudo piloto de eficácia in vitro Marginal leakage evaluation of a castor bean polymer cement used in retrofilling. A pilot study of in vitro eficacy Devanir de Araújo Cervi**, Liliane Hitomi Sunto*, Carlos Alberto Mosquini*, Elizangela Partata Zuza*** *Cirurgiões-Dentistas. **Professor da Disciplina de Endodontia do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos. ***Professora do Curso de Pós-Graduação em Periodontia do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos Autor responsável: Devanir de Araujo Cervi. Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389 – Jardim Aeroporto, 14.783-226 – Barretos SP. Fone: (17) 3321-6411 – e-mail: [email protected] RESUMO Os cimentos retro-obturadores utilizados em endodontia não apresentam todas as propriedades biológicas desejáveis, dessa forma, estudos têm sido realizados no intuito de buscar novos materiais que apresentem características ideais. O objetivo deste estudo piloto foi avaliar a infiltração marginal de um cimento à base de polímero de mamona em retroobturações endodônticas. Neste estudo utilizaram-se 15 caninos que foram inicialmente instrumentados e obturados, sendo em seguida, realizados retro-preparos com auxílio do ultra-som. Os preparos foram retroobturados inserindo-se um cimento à base de polímero de mamona (Biosteo®), sendo as amostras imersas em uma solução de azul de metileno a 2 % à vácuo, lavadas e cortadas. As mensurações das infiltrações foram realizadas com lupa esteroscópica. Os graus de infiltração variaram de 0 a 4 e foi apresentado em porcentagens. Na maioria dos casos, o Biosteo® (cimento à base de polímero de mamona) mostrou bom selamento marginal (0 e 1), totalizando 70,7% dos casos. Dentro dos limites deste estudo piloto, foi possível concluir que o cimento à base de polímero de mamona mostrou resultados satisfatórios in vitro, com baixo grau de infiltração marginal na maioria dos dentes estudados. Palavra chave: Endodontia, Polímero de mamona, Infiltração marginal. ABSTRACT The endodontics retrofillling cements do not present all the biological properties, thus, studies have been performed to find other materials with ideals characteristics. The aim of this pilot study was to accomplish a marginal leakage pilot study to test a castor bean polymer cement used in endodontic retrofilling. Fifteen canines were initially instrumented and filled; then, retro-preparations were performed with the use of an ultrasonic appliance. Preparations were retrofilled inserting castor bean polymer cement (Bioosteo®) and the samples were afterwards immersed into 2% methylene blue solution in vacuum, rinsed and sectioned. Leakages measurements were performed with a stereoscopic magnifying glass. The scores of leakage varied from 0 to 4 and it was given in percentages. In most of the cases, Biosteo® (castor bean polymer cement) enabled a clinical acceptable marginal seal (levels 0 and 1), totaling 70.7% of the cases. Within the limits of this pilot study, it was possible to conclude that the castor bean polymer cement showed satisfactory results in vitro, with low degree of marginal leakage in the most of the teeth studied. Keywords: Endodontics, Oil polyurethane, Marginal leakage. Ciência e Cultura 43 Avaliação da infiltração marginal de um cimento à base de polímero de mamona em retro-obturações. Estudo piloto de eficácia in vitro INTRODUÇÃO CERVI et al. (CARVALHO et al, 1997). De acordo com PASCON et al. (2000), a resina poliuretana de mamona mostrou Os cimentos retro-obturadores de canais qualidades biológicas de um material com grandes radiculares encontrados no mercado não apresentam possibilidades de ser utilizado como cimento obturador propriedades ideais, tais como selamento marginal e ação de canais radiculares. Diante de tais considerações, o bactericida. Outro fator importante a ser considerado é objetivo deste estudo piloto foi avaliar a infiltração a capacidade de reabsorção quando extravasado na marginal de um cimento à base de polímero de mamona região apical, além da indução de depósitos mineralizados utilizado para retro-obturações endodônticas. no periápice. Muitos materiais foram pesquisados como material obturador de canais radiculares, dentre eles pode-se citar o óxido de zinco e eugenol (TANOMARU et al, 2004), MATERIAL E MÉTODOS o óxido de zinco puro (GARCIA, 2003), ionômero de vidro (PIRES & BUSATO, 2000; DALÇÓQUIO et al Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética 2001), cianocrilato (ENNES & MARQUES, 2000; em Pesquisa da Faculdade de Odontologia da Fundação DALÇÓQUIO et al, 2001), super EBA (YAMASHITA Educacional de Barretos (processo no 041/2006). Foram et al, 1999; GOMES et al, 2001), MTA (SILVA et al, selecionados 15 dentes humanos caninos (superiores e/ 1996; BUSATO et al, 1999, SILVA NETO et al, 2005), ou inferiores), unirradiculares, retirados do banco de resina epóxica (PASCON et al, 2000; PAVAN et al, dentes da Faculdade de Odontologia de Barretos, os 2001) e mais recentemente o polímero de mamona quais foram radiografados para verificação de variações (COSTA et al, 1997, FUENTEFRIA et al, 1998; anatômicas. Em seguida, as amostras foram limpas, YUNES, 1999; CAVALIERI, 2000; PASCON et al, hidratadas e desinfectadas por 4 dias em solução de 2001; BONINI et al, 2002; PAVAN, 2003; TAGLIANI, hipoclorito de sódio à 1%. 2004 e MORAES, 2005). Os diversos materiais Realizou-se a abertura coronária dos dentes de utilizados para retro-obturações apresentam bons acordo com a técnica preconizada pela Disciplina de resultados clínicos com regressão das lesões periapicais, Endodontia da Faculdade de Odontologia de Barretos, entretanto, não apresentam todas as propriedades ideais sendo o preparo biomecânico realizado pela técnica desejáveis. Dessa forma, novas pesquisas têm sido Escalonada com emprego de brocas especiais e realizadas com o propósito de melhorar a resposta intercaladas com irrigação de hipoclorito de sódio à 1% biológica ao tratamento retro-obturador. (seringa de 3ml). Após o término da instrumentação, os O polímero de mamona tem se mostrado canais radiculares foram secos com pontas de papel biocompatível, bactericida, germicida, praticamente absorventes e obturados com cimento obturador Endofil atóxico (GUTIERREZ, 2006), além de promover ósseo- (Maillefer Industria e Comércio Ltda, Petrópolis, RJ, indução e bom selamento marginal (devido à expansão Brasil), pela técnica termoplastificada de McSpadden, quando de sua manipulação) (LEONEL et al., 2003). sendo as aberturas coronárias seladas com cimento Este material foi inicialmente empregado na medicina nos restaurador à base de Óxido de Zinco e Eugenol (IRM). casos de ortopedia e cirurgias plásticas e pesquisas Os dentes foram conservados em temperatura ambiente recentes têm sido desenvolvidas no âmbito por 4 horas para que houvesse total presa do cimento Odontológico, a fim de verificar seu desempenho clínico obturador e restaurador. 44 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 Figura 1 – Apresentação comercial do Biosteo Após esse período, realizou-se a apicectomia ao nível de 3 mm aquém do ápice radicular com auxílio de uma broca carbide (nº 701), tronco cônica em baixa rotação, perpendicularmente ao longo eixo do dente. As retrocavidades foram preparadas com 3mm de profundidade utilizando-se uma ponta ultra-sônica (nº S 12/90ºD), montada num aparelho Ultra Sônico (Multi - Sonic (Satelec System, Gnatus, Ribeirão Preto, SP, Brasil). Com exceção do preparo retrógrado, em todas as amostras foram aplicadas 2 camadas de cola epóxica Araldite 10 minutos (Brascola, São Bernardo do Campo, SP, Brasil), e duas camadas de esmalte para unha de secagem rápida. Após este tempo, os preparos retrógrados foram obturados com Biósteo. (Figura 1). Após a presa do material imergiu-se as amostras em uma câmara para vácuo com solução de azul de metileno a 2 % tamponada, com 60 mmHg de pressão, por 10 minutos e mantidas por 24 horas em imersão. Após este tempo, as amostras foram lavadas em água corrente por 1 hora para a retirada do excesso de corante. Foram removidas as impermeabilizações com lâmina de bisturi nº 15 e fixaram-se as amostras com godiva de baixa fusão em suportes de madeira, onde foram cortadas longitudinalmente com um disco de aço sob irrigação. Para verificação do grau de infiltração marginal do corante considerou-se os seguintes escores: Grau 0: Ausência de infiltração; Grau 1: Infiltração até o limite de 3mm da retroobturação; Grau 2: Infiltração de 4 a 6mm além do limite da retroobturação; Grau 3: Infiltração de 7 a 10mm além do limite da retro-obturação; Grau 4: Infiltração > 10mm além do limite da retroobturação. Os espécimes foram observados com lupa esteroscópica por cinco avaliadores, os quais realizavam as medidas dos graus infiltrativos com auxílio de uma régua milimetrada. Todos os examinadores foram instruídos quanto à forma correta de se executar as mensurações, sendo que cada um verificou as respectivas medidas em duas ocasiões distintas para adequada calibração. (figura 2) Figura 2 – Diferentes graus de infiltração marginal na região apical. Ciência e Cultura 45 A reprodutibilidade intra-examinador foi verificada excelente com correlação intra-classe variando de 0.8 a pelo método de correlação intra-classe para dados paramétricos e a concordância inter-examinadores foi 0.9, o que equivale dizer que houve concordância em 80 a 90% das avaliações. A comparação entre as médias analisada pelo teste ANOVA (um critério) para obtidas por cada avaliador não mostrou diferença comparação entre as médias obtidas por cada examinador nos diferentes dentes mensurados. Para a estatisticamente significante (p=0.92), havendo concordância entre os mesmos. aplicação dos testes estatísticos utilizou-se o programa BioEstat 4.0. A média dos escores de infiltração observada por cada examinador pode ser observada na tabela 1. Na RESULTADOS E DISCUSSÃO A reprodutibilidade intra-examinador mostrou-se tabela 2 verificam-se os escores de infiltração, o número de observações e as porcentagens obtidas. O gráfico 1 mostra o histograma de freqüência dos escores de acordo com as médias verificadas na tabela 1. Tabela 1 – Média das mensurações (em milímetros) realizadas em cada dente do estudo. 46 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 O tratamento endodôntico tem o propósito de Esta particularidade físico-química é um dos principais impedir que microrganismos e/ou endotoxinas atinjam os tecidos apicais, promovendo desinfecção do sistema fatores para um bom selamento hermético nas cavidades preparadas para retro-obturações, prevenindo contra a de canais radiculares. No entanto, em alguns casos em penetração de fluídos e bactérias que infiltrem em lacunas que não houve o desaparecimento da lesão periapical após o período de proservação, a cirurgia deixadas pela contração do material (SILVA NETO et al, 2005); Para avaliação dos graus de infiltrações nas paraendodôntica com obturação retrógrada está bem indicada (YUNES, 1999). retro-obturações com polímero de mamona, optou-se pela utilização do corante azul de metileno por este O Biosteo® é uma poliuretana desenvolvida a apresentar baixo peso molecular e grande poder de partir do óleo de mamona para ser utilizado em cirurgias ortopédicas para reconstituição e preenchimento de penetração nos espaços vazios (OPPENHEIMER et al., 1979). Utilizou-se a concentração de 2% por ser melhor espaços ósseos e na confecção de endopróteses (CARVALHO et al., 1997). Ele apresenta boa observada que concentrações inferiores, além de ser de fácil obtenção e apresentar manchas definidas que biocompatibilidade, capacidade de ósseo-indução e facilitam a leitura dos resultados (DIEP et al., 1982). expansividade quando da sua polimerização, tendo grande possibilidade de ser utilizado como cimento Os nossos resultados deste estudo piloto mostraram resultados satisfatórios, com 25.3% das obturador (MORAES, 2005; PASCON et al, 2001). O estudo deste material para obturação retrógrada de canais radiculares deveu-se ao fato de haver expansão após o tempo de presa (de acordo com o fabricante). amostras apresentando grau 0 de infiltração. Apesar de haver infiltração em graus variáveis (de 1 a 4), totalizando 74.7% dos dentes, 45.4% apresentaram apenas grau 1, não ocorrendo infiltração além da obturação (Tabela 2). Tabela 2 – Escores de infiltração, número de observações e porcentagens obtidas Gráfico 1 – Histograma de freqüência dos escores de infiltração de acordo com as médias obtidas. Ciência e Cultura 47 Avaliação da infiltração marginal de um cimento à base de polímero de mamona em retro-obturações. Estudo piloto de eficácia in vitro O polímero de mamona apresentou bom desempenho na maioria dos dentes (Grau 0= 25.3%; Grau 1: 45.4%), totalizando 70.7% dos casos com pouca ou nenhuma infiltração marginal. Este fato confirma a boa capacidade seladora do material utilizado nesta pesquisa. Graus reduzidos de infiltração também foram observados nos estudos de Yunes (1999), Pavan et al. (2001), Pavan et al. (2003) e Leonardo (2005). Há escassez de estudos na literatura que descrevam o comportamento de retro-obturações com materiais à base de polímero de mamona, por isso não encontrou-se estudos que contradizem o bom selamento apical obtido em nossa pesquisa. Este material tem se CERVI et al. dentário, JBC J. Bras. Clin. Odontol. Integr;3(18):3234, 1999. CARVALHO, T.L.; ARAÚJO, C.A.; TEOFILO, J.M.; BRENTEGANI, L.G. Histologic and histometric evaluation of rat alveolar wound healing around polyurethane resin implants. Int J Oral maxillofac Implants; 26 (2): 149-152, abr, 1997. CAVALIERI, I. Estudo do processo de reparação óssea entre os implantes de polímero de mamona, resina acrílica termicamente ativada e cimento ósseo, em tíbia de coelhos. São José dos Campos, UNESP, Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Odontologia mostrado eficiente como material selador, entretanto, de São José dos Campos da Universidade do Estado de São Paulo, p. 108, 2000. outros estudos com amostras maiores e com padronização adequada ainda são necessários. Outro COSTA, C. A. S. de; MARCANTONIO, R. A. C.; HEBLING, J.; TEIXEIRA, H. M.; KURAMAE, M. aspecto importante é a realização de estudos prospectivos longitudinais “in vivo” para se atestar sua real aplicabilidade clínica. Biocompatibilidade do polímero de poliuretana vegetal derivada do óleo de mamona em estudo comparativo com cimento de óxido de zinco e eugenol: avaliação histopatológica de implantes subcutâneos de ratos, Odonto 2000;1(1):44-8, jan.-jun. 1997. DALÇÓQUIO, C.; SHOENAU, F.; LUCENA, CONCLUSÕES 1. Apesar dos graus de infiltração (de 1 a 4) totalizarem 74.7% dos dentes, a maior porcentagem (45.4%) concentrou-se no grau 1, que se estendeu apenas até o limite do material obturador; 2. Na maioria dos casos o polímero de mamona foi capaz de promover um selamento marginal aceitável clinicamente (grau 0 e 1), totalizando 70.7% dos casos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BONINI, S.; MAZZER, M. N.; BARBIER, C. H.; CAMPANELI, A. P. 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Professor Roberto Frade Monte, 389, Aeroporto, 14783-226, Barretos, SP [email protected] RESUMO Com o objetivo de melhorar a capacitação dos professores e assim interferir positivamente no processo de ensino-aprendizagem de Ciências no município, 56 professores do ensino infantil e fundamental da rede municipal de ensino de Barretos, SP participaram do curso “Aprimoramento do Ensino de Ciências”, de 180 horas, no qual foram abordados os temas da área das Ciências tanto do ponto de vista de conteúdo como também de como ensinar este conteúdo, com forte ênfase nas atividades experimentais. As monografias apresentadas ao final demonstraram o impacto que a atividade teve na atuação dos professores. Palavras-chaves: ensino de Ciências, educação básica, ensino fundamental. ABSTRACT With the objective to improve the teacher’s efficiency and consequently to improve the Science teaching and learning process of the county children, 56 teachers from Barretos, SP, public elementary school have participate of the 180 hours course “Improvement of Science Teaching”, whose content were the themes from Science discipline and also how to teach these themes. The monographs presented at the end revealed the impact of this activity in the routine of the teachers. Keywords: Science teaching, basic education, elementary school.Introdução: o ensino de Ciências Ciência e Cultura 51 Melhoria da Educação Pública: Ensino de Ciências em Barretos, SP TERRONI et al. É voz corrente em todo o país que o sistema da comunidade e de seus interesses, peculiaridades e brasileiro de educação formal não está sendo capaz de formar jovens em quantidade e com a qualidade expectativas. Os vários documentos que analisam a questão necessária para o desenvolvimento do país. Os do processo educacional formal no país, assim como a resultados das avaliações nacionais e internacionais comprovam isto (SARESP, Saeb, PISA). própria Lei de Diretrizes e Bases, enfatizam a necessidade do respeito às características de cada As direções de desenvolvimento que o Brasil, juntamente com os países mais desenvolvidos, estão comunidade. Outro ponto recorrente é o distanciamento entre as comunidades de Ensino Superior e do Ensino adotando impõem novas necessidades educacionais para Fundamental e Médio (Crosby, 1997). Muitos enfatizam nossas crianças, adolescentes e jovens. Para serem cidadãos atuantes e conscientes particularmente a pouca participação dos professores do Ensino Fundamental e Médio na tomada de decisões diante de tantas solicitações novas, é preciso que tenham uma boa base de conhecimento científico, mesmo que a acerca de medidas que deverão, ao final, serem adotadas e implementadas por eles (Cunha & Krasilchick; Ricci, área de futura atuação profissional não esteja diretamente 1999). ligada às Ciências da Natureza. Também a indústria nacional está demandando mão de obra mais qualificada, com formação, no mínimo, correspondente ao Ensino Médio. Está cada vez mais evidente para os cidadãos e particularmente para as autoridades, que é urgente e necessária uma intervenção no Ensino Fundamental e SISTEMA PÚBLICO DE ENSINO EM BARRETOS, SP Médio para aumentar a eficiência na formação dos jovens brasileiros. Desde a década de 1960 foram feitas várias responsabilidade da Prefeitura Municipal. Não fugindo à regra geral, o desempenho dos alunos nas avaliações estaduais não atendeu às reformas em sucessivas tentativas de transformar o Ensino de Ciências (Krasilchic, 2000). Mais recentemente destacam-se as atuações dos Centros de Ciências e das Universidades (Hamburger; Schiel) e os incentivos gerados por programas ligados a instituições nacionais como o Premem (Projeto de Melhoria do Ensino de Ciências e Matemática), o SPEC (Subprograma de Educação para a Ciência), o pró-Ciências vinculado à Capes, além dos programas de educação científica e ambiental do CNPq. Também são importantes os programas da FAPESP, de âmbito estadual, como o de Políticas Públicas o de Melhoria do Ensino Público. Muitos outros estudos independentes também são feitos freqüentemente (Nardi, 2002 e 2003). Dado o tamanho e a alta complexidade da sociedade brasileira, dificilmente a solução virá apenas através de medidas de caráter nacional, tomadas pelas autoridades centrais. Essas medidas podem indicar os rumos, mas a intervenção efetiva requer o conhecimento expectativas e várias medidas foram tomadas pelas autoridades locais. Uma destas medidas foi investir na formação dos seus professores. Para isto foram contratados vários cursos de 180 horas cada um, em diversas áreas e com número total de vagas suficiente para atender a todos os professores. Um desses cursos foi “Aprimoramento no Ensino de Ciências” realizado pelo Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos. Segundo os “Parâmetros Curriculares Nacionais”, PCN, publicados pelo Governo Federal em 1997, o ensino das Ciências Naturais no ciclo I da escola fundamental deve ser organizado e implementado de modo a proporcionar aos alunos o ganho das seguintes competências: a) observar, registrar e comunicar semelhanças e diferenças entre diversos ambientes; b) estabelecer relações entre características e comportamentos dos seres vivos e as condições 52 Ciência e Cultura Na cidade de Barretos, SP, o Ensino Infantil e o Fundamental estão quase que totalmente sob a CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 ambientais; c) observar e identificar características do que foi apresentada na forma de seminário nas duas corpo humano; d) reconhecer processos e etapas de últimas semanas de aula. O conteúdo do curso foi o seguinte: transformação de materiais em objetos; e) realizar experimentos simples; f) utilizar características e propriedades de materiais, objetos, seres vivos para elaborar classificações; g) formular perguntas e suposições; Módulo I: Meio ambiente: ar, água e terra. Módulo II: Os seres vivos. Módulo III: O corpo humano. Módulo IV: Tópicos especiais no ensino de Ciências. Módulo V: Elaboração e apresentação de h) organizar e registrar informações; i) valorizar atitudes e comportamentos favoráveis trabalhos científicos. Observe-se que os três primeiros módulos à saúde, em relação à alimentação e à higiene pessoal, desenvolvendo a responsabilidade no cuidado com o cobrem todo o conteúdo de Ciências do Ensino Fundamental. O quarto módulo foi dedicado a temas próprio corpo e com o espaço que habita. modernos e de grande interesse atualmente como: No Ensino Fundamental o objetivo principal das Ciências deve ser também viabilizar a compreensão do “Impacto do Desenvolvimento Científico na Humanidade”; “Sistema Solar e Fusos Horários”, papel da tecnologia na atualidade e possibilitar que os cidadãos sejam capazes de tomar decisões que afetam suas vidas, munidos de razões bem fundamentadas. O professor deve formar cidadãos críticos e conscientes, capazes de exercer opções autônomas, sem “Átomos e Moléculas”; “Substâncias Químicas importantes na nossa vida”; “DNA, RNA e Genoma”; “Soros e Vacinas”. As aulas combinaram metodologias e recursos diversificados como: aulas expositivas; discussão de simplesmente subordinarem-se às regras de mercado e consumo ou dos meios de comunicação (Bosetti, 1995; Carvalho & Gil-Perez, 1995, Delizoicov & Angotti, textos; exibição de filmes didáticos e de divulgação científica. Foram incluídas muitas atividades práticas, em laboratório e também em campo aberto, como coleta 2001). Piaget afirmou que o desenvolvimento do conhecimento ocorre através do envolvimento ativo da criança com objetos e fenômenos (Piaget, 1970). Isto é viabilizado através da experimentação, conduzida pelo professor, mas vivenciada pelo aluno. Além disso, é preciso colaborar de modo efetivo para a formação de recursos humanos qualificados para se engajarem no sistema produtivo nacional. de folhas (parte de aula prática de Botânica) no Campus do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos - UNIFEB, sempre priorizando atividades que pudessem ser utilizadas posteriormente, em sala de aula do Ensino Fundamental. As abordagens priorizaram explorar a aprendizagem significativa (Moreira, M. A., Masini, 1982; Johnstone, 1997). Ao final de cada módulo houve uma avaliação que consistiu em exposição de uma aula de Ciências, de cerca de 15 minutos, para a classe, mas como se fosse uma aula para as crianças. As aulas foram filmadas e em seguida a classe assistiu ao filme. Este recurso é bastante poderoso por promover a auto-crítica. Observe-se que a filmagem foi feita às claras e a aula de avaliação foi ministrada para toda a classe. Muitos participantes, ao se verem nos filmes, fizeram comentários do tipo: numa mais farei isto ou aquilo! A maioria deles considerou a filmagem muito proveitosa por viabilizar a autocrítica. Em uma das classes, as filmagens foram suspensas, pois “APRIMORAMENTO NO ENSINO DE CIÊNCIAS” O curso foi estruturado em cinco módulos de 36 horas cada um, sendo quatro deles presenciais, com aulas teóricas e práticas. O quinto módulo foi parcialmente não presencial e este tempo foi dedicado à elaboração de um trabalho de conclusão de curso, feito em grupos pequenos e que constou da redação de uma monografia Ciência e Cultura 53 Melhoria da Educação Pública: Ensino de Ciências em Barretos, SP uma pessoa considerou-as uma agressão pessoal. TERRONI et al. FINAL A elaboração e execução de um projeto como trabalho de conclusão de curso, envolvendo Os autores agradecem ao prof. Adonai César preferencialmente o relato crítico de atividades práticas, Mendonça, supervisor geral da formação continuada da realizadas com as crianças, visou despertar o prazer pela pesquisa, incentivar atividades de leitura, crítica, redação Secretaria Municipal de Educação de Barretos, SP, que propôs a realização deste curso.. de textos e principalmente proporcionar a percepção de que os assuntos relacionados com a disciplina Ciências podem ser explicados e ensinados de maneira clara para REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS as crianças, desde que os professores também tenham uma compreensão adequada dos temas, que, aliás, não BOSETTI, L.; “School choice: public education precisam ser compreendidos em profundidade, como é esperado dos especialistas, mas de modo compatível at a crossroad”; American Journal of Education, 2005, 111, 435-442. com os requisitos do Ensino Fundamental. CARVALHO, A. M. P.; Gil-Perez, D.; RESULTADOS “Formação de Professores de Ciências”, Editora Cortez, 1995, São Paulo. O curso foi realizado durante o ano letivo de 2007, no Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos. Ofereceu 120 vagas distribuídas em 4 turmas, sendo uma delas às terças e quartas feiras, de CROSBY, G. A.; “The Necessary Role of Scientists in the Education of Elementary Teachers”; Journal of Chemical Education, 1997, 74, 271-272. CUNHA, A. M. de O. & Krasilchic, M.; “A formação continuada de professores de Ciências: 18:00h a 21:00 horas e três aos sábados, das 8:00h às 14:00 horas. Logo na primeira semana houve cerca de 50% percepções a partir de uma experiência”; disponível em www.educacaoonline.pro.br/a-formcao-continuada.ap DELIZOICOV, D.; Angotti, J. A.; “Metodologia de desistências. Entretanto, os demais permaneceram e realizaram todo o curso. 56 professores concluíram o curso com sucesso. As desistências foram causadas principalmente por dificuldades em cumprir a carga horária presencial e discordância com o modo de avaliação. Os trabalhos apresentados ao final do curso foram bastante diversificados e estão descritos no Quadro 1. Todos eles demonstraram o empenho dos alunos em utilizar em suas próprias salas de aulas recursos didáticos e de conteúdo apresentados e discutidos durante o curso. Assim, na sua maioria foram relatos de projetos associados à área das Ciências, elaborados na escola e executados juntamente com alunos Alguns destes trabalhos despertaram maior atenção e relatos mais detalhados dos mesmos encontram-se disponível na Revista Eletrônica de Ciências do CDCC/USP em http:/ /www.cdcc.sc.usp.br. do Ensino de Ciências”, Editora Cortez, 2001, São Paulo. HAMBURGER, E.; Estação Ciência, USP, São Paulo; http://www.estaçãociencia.usp.br 54 Ciência e Cultura JOHNSTONE, A. H.; “Chemistry Teaching – Science or Alchemy?”; Journal of Chemical Education; 1997, 74, 262-268. KRASILCHIC, M.; “Reformas e Realidade, o caso do ensino das ciências”, São Paulo em Perspectiva, 2000, 14, (1), 85-93. MOREIRA, M. A., Masini, E. F. S.; “Aprendizagem Significativa, a teoria de David Ausubel”, Editora Moraes Ltda., 1982, São Paulo. NARDI, R.; “Educação em Ciências: da pesquisa à prática docente”, Editora Escrituras, 2003, São Paulo. NARDI, R.; “Questões atuais no Ensino de Ciências”, Editora Escrituras, 2002, São Paulo. PCN, Parâmetros curriculares nacionais: Ciências Naturais, Ministério da Educação e do Desporto; CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 Secretaria do Ensino Fundamental, Governo Federal, de uma das autoras. Brasília, 1997. PIAGET, J.; “The Science of Education and the 5. A influência das drogas nos adolescentes na idade escolar Psychology of the Child”, Editora Grossman, 1970, Nova Relato das principais características e efeitos sobre organismo humano de drogas lícitas (tabaco e Yorque. PISA, Programa Internacional para Avaliação de álcool) e ilícitas (maconha, cocaína, crack, solventes e Alunos, http://www.inep.gov.br/download/internacional/ pisa/aplicacao_pisa2006.pdf LSD), e destaque ao PROERD (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência) executado pela RICCI, R.; “O perfil do educador para o século Polícia Militar no Estado de São Paulo e considerado altamente eficaz na cidade. XXI: de boi de coice a boi de cambão”; Educação e Sociedade, 1999, (66), 143-178. 6. Água: origem, uso, poluição e preservação SAEB, Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, http://www.inep.gov.br/basica/saeb/ Apresentação das propriedades físicoquímicas da água, ciclo hidrológico, recursos hídricos default.asp. naturais, principais causas de poluição e maquetes de estações de tratamento de água e de esgoto de centros SARESP, Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo, disponível em http:// urbano. QUADRO 1. RELAÇÃO DOS 7. Alimentação e Saúde Apresentação das características da boa alimentação e os principais distúrbios alimentares. 8. Aquecimento Global Relato das conseqüências do aumento de TRABALHOS FINAIS APRESENTADOS. temperatura na atmosfera e demonstração prática do 1. A cana de açúcar A cultura da cana de açúcar no Estado de São Paulo e o impacto da implantação de uma usina em Colômbia, SP, uma pequena cidade da região. 2.A coleta seletiva na Educação Infantil Discussão acerca das características do lixo e da importância do “reduza, reuse, recicle”. Relato de oficina de reuso, na qual crianças de 3 a 5 anos construíram vários brinquedos com material descartado. 3. A Importância do Laboratório de Ciências no Projeto de Período Integral. Relato de atividades feitas no período complementar na E. M. Dorotóvio do Nascimento Filho e detalhamento das atividades que estão sendo feitas no Laboratório de Ciências. 4. A influência da música no cérebro humano Relato do modo como a atividade musical é percebida simultaneamente por várias regiões do cérebro. Relato do uso da música na educação infantil e apresentação de grupo instrumental composto por cerca de 20 crianças e adolescentes, que atuam sob regência aumento do nível do mar com maquete, utilizada em aula para crianças de 4 anos. 9. Aquecimento global: como o Brasil será afetado Apresentação dos problemas relacionados com o aquecimento global e os possíveis impactos sobre o Brasil. 10. Dengue Apresentação das características da dengue e a necessidade de prevenção. Relato de atividade educativa de combate á dengue feita com crianças da E. M. Marlene Carboni Pereira. 11. Doenças relacionadas com a queimada da cana de açúcar Foram descritas as principais características das doenças das vias respiratórias associadas à poluição do ar cuja causa mais importante na região, é a queimada dos canaviais. 12. Ensino de Ciências na Educação Infantil: o reino vegetal Discussão do uso de cultivo de algumas plantas (feijões) no ensino de Botânica para crianças abaixo de saresp.edunet.sp.gov.br SCHIEL, D.; Centro de Divulgação Científica e Cultural, USP, São Carlos; http://www.cdcc.sc.usp.br. Ciência e Cultura 55 Melhoria da Educação Pública: Ensino de Ciências em Barretos, SP TERRONI et al. 6 anos, incluindo relato documentado de atividade início da sua utilização. Na visita feita agora, o mesmo realizada com uma criança de 5 anos. 13. Ensino de Ciências na Educação Infantil: aterro está quase completamente cheio. A comparação das fotos das duas épocas impressionou o grupo e levou- trabalhando os conceitos de compostagem e os a decidir trabalhar firmemente na redução, reutilização vermicompostagem Relato de atividade realizada com classe de e reciclagem do lixo. Implantaram então um programa de coleta seletiva do lixo na CEMEIF Maria Fernandes educação infantil e documentada com várias fotografias. As crianças prepararam o composto e o Rodrigues. 17. Órgãos dos Sentidos vermicompostosto e utilizaram o material na formação Apresentação de explicações sobre os órgãos de uma pequena horta na escola. Além de aprenderem sobre os processos de compostagem, dos sentidos, incluindo a atual discussão acerca da inclusão do equilíbrio como mais um sentido. Relato de vermicompostagem e manutenção de hortas, as crianças também foram estimuladas a adquirirem hábitos atividade “Sala dos Sentidos” realizada em feira de Ciências da E. M. Prof. Dorothóvio do Nascimento Filho, alimentares adequados. com imenso sucesso. As crianças entravam com olhos 14. Hábitos de Higiene Bucal Discussão da importância e dos cuidados vendados em sala, cuja entrada estava fechada por cortina, e durante um percurso era estimulada a identificar necessários para a saúde bucal das crianças e relato de projeto de saúde bucal realizado em escola maternal com crianças de 1 a 6 anos. Uma ortodontista que atua em Unidade Básica de Saúde vizinha à escola orientou as atividades e cuidou das crianças que apresentaram vários objetos, odores e sabores. Uma “Sala dos Sentidos” foi preparada e utilizada pelos presentes por ocasião da apresentação da monografia. 18. Por dentro do corpo humano Como explicar o corpo humano e seus principais problemas nos dentes. 15. Implantação de horta na escola como estratégia interdisciplinar sistemas para crianças utilizando um esqueleto, um modelo de cabeça e tronco com os órgãos internos e alguns experimentos simples. Relato de atividade realizada com alunos das salas de recreação (3 a 4 anos), série inicial (5 anos) e primeiro ano (6 anos). As crianças formaram uma horta com várias hortaliças como alface e cenoura. Elas participaram ativamente de todo o processo, conforme documentação apresentada (fotografias), inclusive da colheita e higiene para uso na alimentação. Além de aprender sobre o cultivo das plantas, aprenderam sobre vegetais e foram instadas a melhorarem seus hábitos alimentares. 16. O impacto ambiental do lixo Relato das características de um aterro sanitário urbano, exemplificado com o existente na cidade de Barretos. O grupo sofreu grande impacto pois, três anos atrás, um dos participantes visitou o aterro sanitário do município e viu uma enorme vala ainda no 19. Professor desestimulando o hábito da chupeta Apresentação dos principais problemas decorrentes do uso da chupeta, incluindo entrevistas feitas com: cirurgião-dentista; psicólogo e fonoaudiólogo. Relato de projeto feito em CEMEIF com crianças de 3 e 4 anos. 20. Reciclagem: uma alternativa inteligente Apresentação das questões ligadas ao lixo urbano e ao meio ambiente e relato de oficina de reuso na qual crianças de 4 e 5 anos usaram material descartado para fazer diversos brinquedos. 21. Sistema Respiratório na Educação Infantil Discussão sobre como ensinar o assunto para crianças e apresentação de alguns experimentos utilizados em aula. 56 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 Hepatite C: Inimigo silencioso Hepatitis C: Silent enemy Cátia Rezende1, Roberto Carlos Grassi Malta2, Fernanda Lima Custódio1, David José Ferreira1 1. Curso de Biomedicina do Centro Universitário de Votuporanga. 2. Curso de Farmácia-Bioquímica do Centro Universitário de Votuporanga E-mail do autor responsável: [email protected] Endereço para correspondência: Rua Pernambuco, 4196 – Centro – Votuporanga SP, CEP: 15500-006. RESUMO A Hepatite C é uma doença infecciosa ocasionada pelo vírus da hepatite C (HCV), considerada endêmica em várias regiões do mundo e um problema de saúde pública mundial. O presente artigo apresenta informações concernentes ao agente viral, tais como: estrutura e composição genética, mutação genética, genótipos, ciclo replicativo nos hepatócitos, patogenicidade, sintomatologia e cronicidade, progressão da doença e correlação com genótipos, transmissão e fatores de risco, co-infecção HIV/HCV e epidemiologia. Palavras-chaves: Hepatite C. HCV. Saúde Pública. Epidemia ABSTRACT Hepatitis C is an infeccious disease caused by the virus of the C hepatitis (HCV), considered endemic in some regions of the world and a problem of world-wide public health. The present article presents information related to the viral agent, such as: structure and genetic composition, genetic mutation, genotypes, replicative cycle in the hepatocyties, pathogenicity, sintomatology and cronicity, disease progression and correlation with genotypes, transmission and factors of risk, co-infection HIV/HCV, diagnosis, epidemiology and treatment. Word-keys: C Hepatitis C. HCV. Public Health. Epidemic. Ciência e Cultura 57 Descobrimento do vírus e mutação gênica características biológicas peculiares que o diferenciam A hepatite C é uma doença infecciosa, dos outros agentes virais hepatotrópicos (HOUGHTON et al., 1991). ocasionada pelo vírus da hepatite C (HCV), sendo O HCV, por ser um vírus de RNA, apresenta considerada um dos maiores problemas de saúde pública no mundo devido à alta morbidade e mortalidade (DA uma alta taxa de mutação espontânea, resultando em seqüências de nucleotídeos de alta heterogeneidade SILVA; ROSSETTI, 2001). No início da década de 70, foi possível o (ROBERTSON et al., 1998). A característica mais marcante do HCV está relacionada com sua habilidade diagnóstico das hepatites A e B, tornando-se evidente em persistir no hospedeiro. Dados recentes indicam que que existiam hepatites pós-transfusionais, que não podiam ser associadas a esses vírus, chamando-se de cerca de 10% das pessoas infectadas são curadas na fase aguda e 90% não eliminam o vírus antes de seis hepatites não A-não B, NANB (SANTOS, 2002). Estas, em geral, evoluíam em mais de 50% dos casos meses, desenvolvendo hepatite crônica com viremia persistente (DI BISCEGLIE; BACON, 1999). Essa para formas crônicas sem que pudessem estabelecer o(s) persistência viral parece ser resultado da capacidade do agente(s) etiológico(s) envolvido(s) (AVILA; FERREIRA, 2001). Durante várias décadas, esta HCV mutar rapidamente, dando origem a variantes relacionadas, porém imunologicamente distintas. questão foi uma constante interrogação aos pesquisadores e estudiosos da história natural das hepatites pós-transfusionais NANB (FONSECA, 1999). O vírus da hepatite C só foi realmente identificado em 1989, quando Choo e colaboradores (1989) isolaram Qualquer uma destas variantes pode tornar-se uma cepa dominante e coexistir (ALTER, 1995). A alta viabilidade do HCV é decorrente destas mutações que ocorrem em seu genoma, quando a enzima RNA polimerase, durante a biossíntese viral, promove erros na etapa de um clone de cDNA do sangue de um paciente com hepatite NANB. Esta descoberta levou rapidamente a triagem rotineira dos doadores de sangue através de um replicação do vírus (AVILA; FERREIRA, 2001). Estudos filogenéticos, realizados a partir do sequenciamento de todo o genoma do HCV, ou das ensaio para anticorpos, até mesmo antes do isolamento completo do vírus (WILVER, 1999; STITES et al., 2004). A análise das moléculas de cDNA revelou que este consiste numa fita de RNA, com aproximadamente 9.500 nucleotídeos, contendo uma única seqüência aberta de leitura (ORF), codificando assim, uma poliproteína com cerca de 3.000 aminoácidos. Estruturalmente, apresenta moléculas de proteína C, formando o nucleocapsídeo à extremidade aminoterminal. Cobrindo o nucleocapsídeo, encontra-se o envelope de composição lipoglicoprotéica, constituído por dois tipos de glicoproteínas, denominadas E1 e E2. Já, as proteínas não estruturais são as p7, NS2, NS3, NS4a, NS4b, NS5a, NS5b, representando a extremidade carboxiterminal do genoma, onde cada uma possui características e funções particulares durante a biossíntese viral (SANTOS, 2002). Tal agente foi denominado de “vírus da hepatite C” (HCV), apresentando regiões do envelope (E1) e das não-estruturais (NS4 ou 5b) de diversas cepas, permitiram a comparação entre as mesmas, indicando a presença de diferentes variantes. Estes dados levaram a classificação do HCV em 6 tipos ou genótipos e aproximadamente 100 subtipos, designados com os números de 1 a 6 e com as letras minúsculas do alfabeto (a-f), respectivamente. Diversos grupos de pesquisa propuseram diferentes classificações para os genótipos do HCV. Porém, uma uniformização da nomenclatura desses genótipos foi proposta e aceita pela comunidade científica internacional, sugerida por Simmonds et al. (1993), onde os 6 genótipos foram subtipados como 1a/1b/1c, 2a/2b/2c, 3a/3b/3c, 4a, 5a, 6a (ROBERTSON et al., 1998; NGUYEN; KEEFFE, 2005). Existem, subclasses descobertas (7 a 11), até hoje, onde pesquisadores propuseram que estes, devem ser considerados variantes do grupo 6 e classificados num único genótipo, tipo 6 (TOKITA, 1994; MELLOR 58 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 et al., 1995; SIMMONDS et al., 1996; DE não foram respondidas. Pensa-se que, a heterogeneidade LAMBALLERIE et al., 1997;). Os tipos 7, 8 e 9 foram relatados no Sudeste Asiático, segundo Mizokami e genética do HCV possa esclarecer algumas das diferenças no resultado e na resposta da doença e no colaboradores (1996). tratamento. Sabe-se que o genótipo 1 representa a classe Os subtipos 1a e 1b parecem ter originado aproximadamente há 100 anos, visto que os tipos 4 e 6 mais agressiva do HCV, e que é menos provável a possibilidade de responder ao tratamento do que o parecem ser muito mais antigos, 350 e 700 anos, respectivamente. As taxas de crescimentos dos subtipos genótipo 2 ou 3 (ZEIN, 2000). 1a e 1b são consideravelmente maiores do que aquelas dos tipos 4 e 6, fornecendo a confirmação de uma propagação recente e rápida dos genótipos 1a e 1b, em Ciclo replicativo no hepatócito contraste com o longo período de infecção dos genótipos 4 e 6, que é endêmico e localizado (PYBUS et al., 2001). O período de incubação do HCV varia de 5 a O papel dos genótipos do HCV na progressão 10 semanas, embora tenha sido observado períodos mais da doença é uma das áreas mais controversas. Análises retrospectivas de pacientes com infecção crônica por curtos (2 semanas) e mais prolongados (4 meses) (PYBUS et al., 2001). HCV, cujo momento da aquisição do vírus foi sabido, demonstraram que os tempos médios da exposição até o diagnóstico de hepatite crônica, cirrose e carcinoma hepatocelular eram 11, 18, 23 e 29 anos, respectivamente. As complicações severas, tais como A infecção de células distantes do sítio de inoculação depende de receptores específicos ou de enzimas tecidos-específicas que influem no chamado tropismo tecidual dos vírus. O vírus penetra na célula por endocitose, o ácido nucléico é liberado, entra em cirrose e o carcinoma hepatocelular podem ocorrer sobre um curto período de tempo em alguns, visto que em outros, apesar de um período longo de infecção, não replicação e passa a comandar os principais mecanismos de síntese da célula. Ocorre a síntese da fita negativa do RNA viral, com posterior síntese da nova fita positiva houve relato de complicação. Conseqüentemente, é provável que os fatores de virulência, incluindo o genótipo infectante do HCV, associado com outros co-fatores como álcool, duração da infecção e carga viral, contribuem com estas variações na história natural entre pacientes infectados (BELD et al., 1998). A identificação dos diferentes genótipos do HCV é importante para estudar a diversidade genética e epidemiológica da infecção, evolução da doença, compreender sua estrutura genética, as implicações no diagnóstico sorológico e molecular, além de outras investigações que permitem correlacionar estes genótipos à resposta terapêutica e formas de transmissão (AVILA; FERREIRA, 2001). A caracterização destes grupos genéticos facilitará e contribuirá com o desenvolvimento de uma vacina contra a infecção pelo HCV. Embora diversos estudos avaliassem especificamente o papel de cada genótipo e sua utilidade clínica, muitas perguntas, ainda para que a replicação tenha continuidade. A tradução do genoma viral ocorre dentro dos ribossomos e as proteínas são processadas no retículo endoplasmático; a montagem do vírus se faz no citoplasma, onde seu ácido nucléico é envolto pelas proteínas do core e reunido às proteínas do envoltório; estão formados os vírions. Sua saída pode ocorrer após a morte da célula ou por exocitose. A disseminação do vírus se faz por via sanguínea, sendo liberados livres na circulação, onde são envoltos por um complexo lipoprotéico. Causam uma infecção persistente, com síntese contínua e eliminação de vírus, produzindo a chamada infecção lenta ou arrastada, com lesões celulares cumulativas que demoram a ter expressão clínica (BRASILEIRO FILHO, 2006). A maioria dos pacientes continua a produzir quantidades significativas de vírus por um longo período. Este estado de portador segue uma infecção assintomática resultando numa doença crônica (LEVINSON; JAWETZ, 2005). Ciência e Cultura 59 Patogenicidade e favorecendo a citotoxicidade mediada por células A infecção crônica pelo HCV, além de evoluir dependentes de anticorpos. Nesta ativação de linfócitos são produzidas citocinas de supressão da replicação viral lentamente, em anos ou décadas, costuma apresentar onde promovem a migração de outras células para o um amplo aspecto clínico, desde formas assintomáticas com enzimas hepáticas normais até a hepatite crônica fígado, como as células NK (linfócitos natural killer) e outras inespecíficas do sistema imune, que destroem as intensamente ativa, cirrose e hepatocarcinoma. Nos últimos anos, diferentes pesquisas têm evidenciado que células infectadas podendo reduzir ou anular a expressão de MHC I (LEVINSON; JAWETZ, 2005). as lesões hepáticas se relacionam aos mecanismos Linfócitos T CD4+ ajudam a promover a imunomediados. A qualidade da resposta imunológica célula-mediada parece ser crucial para a eliminação ou maturação do linfócito T CD8+, desse modo, as células infectadas são alvos obrigatórios destas células, que persistência do HCV. Os linfócitos T CD4+ apresentam padrões de respostas distintas: Th1 e Th2; com secreção reconhecem epítopos via MHC I, e destroem-nas por indução de apoptose. Somente a replicação viral pode de interleucina 2 e interferon g, estimulando a resposta ocasionar diretamente danos ao hepatócito e induzir a anti-viral do hospedeiro e producção de interleucinas 4 e 10, que estimulam a formação de anticorpos e inibem esteatose. O vírus interage igual, direta ou indiretamente com o sistema linfóide, causando desordem a resposta Th1, respectivamente. O desequilíbrio entre as respostas Th1 e Th2 seria responsável tanto pela incapacidade de eliminação do HCV como pela maior ou menor gravidade da lesão hepática (MISSALE et al., 1996). linfoproliferativa incluindo crioglobulinemia e autoimunidade. Por todo este conjunto, a célula pode ser lesada e morta mesmo que o vírus não tenha efeito citopático. A destruição da célula infectada é indispensável para a erradicação da infecção, já que os O HCV infecta os hepatócitos, e não existindo evidências de indução do efeito citopático nestas células, a destruição dos mesmos ocorre devido ao ataque das anticorpos só podem neutralizar os vírus ou opsonizálos, se os encontrarem livres na circulação, o que acontece somente quando a célula infectada é destruída células T citotóxicas que reconhecem os antígenos virais na superfície destas células. Portanto, os vírus produzem lesões por mecanismos indiretos (imunitários). Os antígenos virais são expressos na membrana plasmática da célula hospedeira; já, que são sintetizados pela mesma via de síntese dos componentes das membranas celulares. Em geral, a infecção é seguida da produção de interferons, que favorecem a expressão de MHC de classe I na célula infectada, aumentando a quantidade de antígeno viral associado a essas moléculas na membrana celular. Os linfócitos Th1, estimulados pelos antígenos virais, liberam fatores citotóxicos ou estimuladores de macrófagos, que, uma vez ativados, também liberam fatores citotóxicos que destroem a células infectadas. Linfócitos T CD4+ (Th1), também, ativam os linfócitos B a produzirem anticorpos específicos que não desempenham sua função natural nos vírus que ainda estão dentro dos hepatócitos, lisando a célula parasitada, através da ativação do sistema complemento (BRASILEIRO FILHO, 2006). A grande importância da hepatite C não se limita ao enorme número de pessoas infectadas, estende-se também às complicações de formas agudas a crônicas; estas envolvem doença hepática severa, em 20% dos indivíduos infectados, incluindo cirrose, falência hepática, e carcinoma hepatocelular (KIYOSAWA et al., 1990; TONG et al., 1995; MIZOKAMI et al., 1996; HNATYESZYN, 2005; MONDRAGON-SANCHEZ et al., 2005; THOMSON; FINCH, 2005). Clinicamente, a infecção aguda por HCV é amena, onde febre, anorexia, náuseas, vômitos e icterícia, sintomas mais comuns. Urina escura, fezes claras e níveis elevados de transaminases também são indicativos. A maioria das infecções são assintomáticas sendo detectadas somente pela presença de anticorpos (BRASILEIRO FILHO, 2006). A incidência de cirrose hepática e de carcinoma hepatocelular é muito elevada depois de uma década, ou mais, de infecção crônica 60 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 pelo HCV. A infecção também está associada às doenças O uso de drogas injetáveis é o principal modo extra-hepáticas (distúrbio linfoproliferativo auto-imune dos rins e outros sítios), sendo a crioglobulina mista, uma de transmissão da Hepatite C atualmente, por meio de seringas compartilhadas ou equipamentos contaminados, das mais notáveis. Algumas evidências demonstram que utilizados no preparo da mesma. Dados apresentados o HCV pode se replicar nos linfócitos do sangue periférico, contribuindo para a doença (SCHAECHTER, em diversos estudos têm demonstrado que a maioria das infecções pelo HCV é devido ao uso de drogas injetáveis 2002). (GISH et al., 2005; MONTELLA et al., 2005; SULKOWSKI; THOMAS, 2005; WASLEY; ALTER, A habilidade de evoluir para doença crônica, associada aos danos severos ao fígado, é a característica 2000). mais impressionante do HCV. A cura espontânea, que segue a infecção aguda em uma proporção muito Estudos comprovam que a taxa de infecção pelo HCV, em jovens usuários de drogas, é quatro vezes maior pequena de pacientes, foi o foco de intensas investigações, sendo proposta que diferenças na do que a infecção pelo HIV e após cinco anos de uso, até 90% dos usuários podem se ter infectado. A imunidade celular ou humoral em resposta a infecção é transmissão através da inalação de cocaína também pode o ponto principal (MISSALE et al., 1996). Amoroso e colaboradores (1998) investigaram especificamente o ocorrer, por ulceração da mucosa nasal e compartilhamento de equipamento contaminado utilizado papel dos genótipos do HCV na persistência da infecção. A taxa de evolução à cronicidade depois da exposição aguda era 92% nos pacientes expostos à infecção pelo genótipo 1b, comparada com 33% a 50% em pacientes expostos a outros genótipos. Diversas pesquisas para inalação da mesma (PELLICANO et al., 2004; IV SEFARM, 2006). Até 1991, a transfusão sanguínea foi a principal fonte de contaminação da hepatite C, quando, em 1992, a pesquisa de anticorpos reativos passou a fazer parte relacionaram o genótipo 1b com a progressão da doença, e associação a uma doença do fígado mais severa e com curso mais agressivo, sendo mais prevalente entre da rotina da vigilância do sangue. Desde então, as transfusões e transplantes são vias raras, mas não exclusas, de transmissão, porém a alta taxa de pacientes com cirrose e transplantados hepáticos (NOUSBAUM et al., 1995; ZEIN et al., 1995; LAU et al., 1996; SIMMONDS et al., 1996; ZEIN et al., 1996; BENVEGNU et al., 1997; BRECHOT, 1997; NAOUMOV et al., 1997; PELLICANO et al., 2004). cronicidade, aliada com o longo período entre a infecção e a exteriorização de sintomatologia, sugestiva desse contato prévio a hepatite C, faz com que muitos indivíduos contaminados por essa via, há mais de uma década, ainda permaneçam como fonte de contaminação dos seus contatos. O risco de transmissão através de transfusão sanguínea é de aproximadamente 1 para cada 100.000 unidades transfundidas (IV SEFARM, 2006). Estudo realizado por Paltanin e Reiche (2002) determinou a soroprevalência do anticorpo anti-HCV em doadores de sangue e correlacionaram os resultados obtidos nos testes sorológicos de triagem com os testes confirmatórios (RIBA). Algumas amostras na triagem, dadas como negativas, foram positivas pelo teste confirmatório, sugerindo que a transfusão sanguínea ainda é um meio de transmissão. Lima e Magalhães (1991) estudando a soroprevalência de anti-HCV em doadores de sangue e a associação com vários fatores de risco, mostraram que Transmissão e fatores de risco A infecção pelo HCV tem uma distribuição universal e a sua alta taxa de prevalência está diretamente relacionada com os chamados fatores de riscos. Os indivíduos considerados de risco são aqueles que receberam transfusões de sangue e/ou hemoderivados antes de 1992, usuários de drogas endovenosas, pessoas com tatuagens e/ou “piercings”, alcoólatras, portadores de HIV, transplantados, hemodialisados, hemofílicos, presidiários, múltiplos parceiros sexuais e profissionais da área da saúde (CDC, 2002; STITES et al., 2004). Ciência e Cultura 61 a faixa etária que apresentou maior prevalência foi a de hemodiálise foram registradas taxas de prevalência de 30 a 39 anos. Em outro estudo desenvolvido por PatinoSarcineli e colaboradores (1991), em doadores de sangue 10% entre os pacientes, chegando a 60% em alguns serviços. Os pacientes com lúpus eritematoso sistêmico voluntários no Brasil, observou que a soro positividade (LES) apresentam fatores de risco para a aquisição de estava fortemente associada ao sexo masculino, à etnia não-branca e idades mais avançadas, o que hepatite C, como hospitalizações e hemotransfusões, e superioridade estatisticamente significativa na freqüência provavelmente reflete um longo tempo de exposição à infecção, e baixas condições sócio-econômicas. de anti-HCV (COSTA et al., 2002). Preparações comerciais de imunoglobulinas são geralmente seguras, Estudos demonstram que 75% dos pacientes mas muitos casos de transmissão de HCV foram infectados pelo HCV apresentaram como principal fonte de infecção a via parenteral, seja de forma direta ou verificados. Esta é a única doença infecciosa transmitida até hoje por preparações de imunoglobulinas. O maior indireta. A transmissão via direta estaria provavelmente localizada no ambiente familiar, tendo como principais surto ocorreu em 1994, nos Estados Unidos (LEVINSON; JAWETZ, 2005). O risco por outros fatores: à exposição e transmissão por lesões cutâneas e fluídos, não está quantificado, mas é aparentemente baixo de mucosa; já, a via indireta estaria relacionada com o contato íntimo prolongado ou através de contaminação (IV SEFARM, 2006). A co-infecção do vírus da hepatite C (HCV) e o instrumental e utensílios contaminados com sangue infectado, tais como: serviços de manicura e pedicura (CONRY-CANTILENA et al., 1996). Embora o HCV seja transmitido pelo contato direto, percutâneo ou através de sangue contaminado, um percentual vírus da imunodeficiência humana (HIV) é cada vez mais frequente, estimando uma prevalência de 7 a 98% que afeta o curso clínico da hepatite C crônica (WHO, 1997). Mohsen e colaboradores (2001), em estudo epidemiológico, também encontraram uma maior significativo de casos de infecção, esporádica e adquirida na comunidade não está associado a qualquer risco conhecido, não estabelecendo ao certo o modo de freqüência da infecção de HCV, entre indivíduos HIV positivos, particularmente em usuários de drogas. Vogler e colaboradores (2004), após análise de transmissão (STITES et al., 2004). Desta maneira, a melhor compreensão das rotas de transmissão é essencial para combater a propagação da doença (MEMON; MEMON, 2002). O risco de transmissão sexual é baixo, podendo ocorrer, embora menos freqüente que a hepatite B e ineficiente para a disseminação do vírus (IV SEFARM, 2006). Segundo Ohto e colaboradores (1994), a transmissão vertical (materno-fetal) ocorreria em apenas 5,65% dos casos e estaria relacionada com os altos títulos do HCV circulante materno (1.000.000 de genoma/mL de soro). Nos estabelecimentos de saúde, a transmissão é possível se não houver um controle de infecção hospitalar eficaz. Trabalhadores de saúde e outros como bombeiros e agentes carcerários estão mais sujeitos à infecção. Segundo estudos realizados, a média de soro-conversão após um acidente percutâneo de fonte HCV positiva, foi de 1,8% (0,3% para HIV). Nos centros de alguns fatores de risco associado com infecção pelo HCV, mostraram que o uso de drogas endovenosas e a prática homo-bissexual foram os fatores de riscos mais freqüente entre os pacientes co-infectados pelo vírus HIV e HCV, 68,3% e 78%, respectivamente. Diversos estudos demonstram que o HIV acelera o dano hepático ocasionado pelo HCV (POYNARD et al., 1997). Da mesma maneira, a terapia antirretroviral, que melhorou a expectativa de vida dos pacientes HIV e estendeu a sobrevivência dos mesmos, permitiu o desenvolvimento da cirrose pelo HCV; associada com a toxicidade do fígado, contribuindo com danos e um resultado desfavorável da doença (SORIANO et al., 1999). Pesquisas comprovaram que os genótipos 3a e 1a estão relacionados com a transmissão por uso de drogas endovenosas e o genótipo 1b, está em maior freqüência, em pacientes que adquiriram HCV por transfusão sanguínea (KUO et al., 1989). Em contraste, o tipo 4 e 6, são transmitidos frequentemente em regiões 62 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 menos desenvolvidas, por uma variedade de vias de 2,89%, novos dados registraram uma prevalência média transmissão (PYBUS et al., 2001). Uma análise da soroprevalência dos genótipos do HCV em co- de aproximadamente 1,7% de anti-HCV em bancos de sangue. Porém existem regiões no país, como Acre, onde infectados (HIV), nas cidades de Salvador-Bahia, a prevalência chega a 10% dos doadores de sangue demonstrou que 70% eram dos genótipos 1 contra 30% dos genótipos 2 e 3 (SILVA et al., 2000). (PATINO-SARCINELI et al., 1991). Fonseca (1999) estudando a soro positividade para o anti-HCV em populações de risco nas regiões do Estado do Paraná, demonstrou taxas de 0,66% em Epidemiologia Curitiba, 0,57% em Campo Mourão, 0,52% em Estima-se que existam no mundo de 200 a 500 Francisco Beltrão, 0,54% em Apucarana, 0,47% em Guarapuava e 0,45% em Cascavél. Dados recentes milhões de pessoas infectadas com o vírus HCV, grande parte destas assintomáticas e sem conhecimento do sobre a infecção pelo HCV na região Norte do Paraná são escassos. Dados do Ministério da Saúde indicam estado de portador do HCV (WHO, 1999; soroprevalência de 0,9%, superior à encontrada na região BARTENSCHLAGER; LOHMANNM, 2000; ST JOHN; SANDT, 2005). Sudoeste (0,66%) e Nordeste (0,65%). Não se conhece com precisão a prevalência do Pesquisas estimam que 2,5% a 4,9% da população brasileira estão infectadas pelo HCV (WHO, 2000), destes, 70%-85% desenvolvem uma infecção crônica, comumente assintomática (THOMSON, FINCH, 2005), o que significa 3,9 a 7,6 milhões de HCV no nosso país, há relatos em diversas áreas sugerindo uma média de 1 a 2% da população em geral (ALVARIZ, 2004). Estudos brasileiros demonstraram que a distribuição dos genótipos do HCV foi estatisticamente diferente entre as regiões do Brasil. O pessoas com risco de desenvolver cirrose ou hepatocarcinoma (FONSECA, 1999). A hepatite C é freqüentemente diagnosticada em genótipo 1 foi o mais freqüente em todas as regiões, entretanto o genótipo 2 foi mais prevalente na região Centro-Oeste. A freqüência do genótipo 3 foi alta na estágio clínico avançado ou quando os portadores assintomáticos se candidatam à doação de sangue (LAUER, WALKER, 2001). Muitos estudos epidemiológicos em países desenvolvidos registram prevalência de anti-HCV variando de 0,5% a 1,4%, o que não reflete a prevalência na população em geral, uma vez que doadores de sangue são pertencentes a um grupo seleto de indivíduos que são avaliados clinicamente e triados para fatores de risco associados às várias doenças infecciosas (PATINO-SARCINELI et al., 1991). A infecção do vírus da hepatite C (HCV) alcançou proporções epidêmicas, mais de um milhão de novos casos da infecção são relatados anualmente, acredita-se ser mais prevalente do que a infecção pelo vírus da hepatite B (HBV) (COOREMAN et al., 1996; ALTER et al., 1999). Estudos investigaram a prevalência de anticorpos anti-HCV em doadores de sangue voluntários no Rio de Janeiro e obtiveram uma taxa de região Sul. Os genótipos 4 e 5 foram raramente isolados e todos os casos encontrados foram na região Sudeste. Este padrão de distribuição foi semelhante ao encontrado na Europa, onde os genótipos 1 e 3, mais prevalentes, tiveram comportamento epidemiológico típico de cepas virais que expandiram espontaneamente nos últimos anos, através das transfusões sanguíneas (PYBUS et al., 2001; CAMPIOTTO et al., 2005). Pybus et al. (2001) encontraram diferenças significantes no comportamento epidêmico dos genótipos do HCV. Os genótipos 1 e 3 expandiram rapidamente antes da adoção de testes na doação de sangue, enquanto as infecções pelos genótipos 4 e 6 obedeceram um padrão de doenças adquiridas na comunidade por várias vias sociais e domésticas (DI BISCEGLIE; BACON, 1999). Os subtipos 1a e 1b do HCV são os genótipos mais comuns nos Estados Unidos (ZEIN et al., 1996; AMOROSO et al., 1998). Estes subtipos também são Ciência e Cultura 63 predominantes na Europa (DUSHEIKO et al., 1994; do HCV. Primeiro, existem no mínimo seis genótipos MCOMISH et al, 1994; OKAMOTO et al., 1996). No Japão, o subtipo 1b é responsável por até 73% dos diferentes desse vírus, e cada um com numerosos subtipos. Em segundo, durante a replicação do HCV, as casos de infecção por HCV (TAKAHASHI et al., regiões hipervariáveis dentro de genes sofrem mutações 1993). É sugerido que o carcinoma hepatocelular ocorre com maior freqüência ou emerge mais cedo entre os constantemente. Essas propriedades permitem que esses vírus escapem da eliminação mediada pelo sistema imune. pacientes japoneses HCV infectados (TAKAHASHI et al., 1993), do que entre portadores de HCV nos países Aliada a isto, está o fato de que os pacientes que parecem ter eliminado uma infecção aguda por HCV não ocidentais (DUSHEIKO et al., 1994; DI apresentam proteção imune contra infecções futuras. O BISCEGLIE;BACON, 1999); já que dados confirmam que o genótipo 1b do HCV é ainda mais comum no HCV continuará a ser uma ameaça importante para a saúde mundial nas décadas futuras (LAI ME et al., 1994; Japão do que na Europa ou nos Estados Unidos (ZEIN et al., 1996). Os subtipos 2a e 2b do HCV são SCHAECHTER, 2002). relativamente comuns na América do Norte, na Europa, e no Japão, o subtipo 2c é encontrado geralmente no norte da Itália. O genótipo 3a do HCV é particularmente Tratamento prevalente em usuários de drogas endovenosas na Europa e nos Estados Unidos (PAWLOTSKY, 1999). O genótipo 4 do HCV é prevalente no norte da África e no Oriente Médio (ABDULKARIM et al., 1998) e os genótipos 5 e 6 parecem ser confinados na África do Existem três classes de interferons (INFs) alfa/ beta/gama, imunológica, estrutural e antigenicamente diferentes entre si. O alfa é produzido por monócitos e células B frente às infecções virais e estímulos antigênicos. O beta é produzido por fibroblastos e é semelhante ao Sul e em Hong Kong, respectivamente (SIMMONDS et al., 1993). Os genótipos 7, 8 e 9 do HCV foram identificados somente em pacientes Vietnamitas e os anterior, formando o tipo 1. O gama tem estrutura e loco genético diferente dos dois anteriores e se constitui no tipo 2, formado pelas células T e NK (Natural killer), genótipos 10 e 11 foram identificados em pacientes da Indonésia (TOKITA et al., 1994). Embora os genótipos 1, 2, e 3 do HCV pareçam ter uma distribuição mundial, sua prevalência relativa varia de uma área geográfica para outra (AIZAKI ET AL., 1996), enquanto o genótipo 4 é prevalente no norte da África, e os genótipos 5 e 6 na África do Sul e Ásia, respectivamente (SIMMONDS et al., 1994; TOKITA et al., 1994; BUKH et al., 1995; MELLOR et al. 1995; ZEIN, 2000; VOGLER et al., 2004; CANTALOUBE et al., 2005; ZARIFE et al., 2006). De acordo Stransky e Kyncl (2005), a epidemiologia das infecções pelo HCV tem mudado. Devido ao aumento do número de usuários de drogas injetáveis infectados (de 35% para 60%) e do número de infecções transmitidas pelo contato sexual (de 7% para 20%). Atualmente, não existe uma vacina disponível que impeça a infecção pelo HCV. O desenvolvimento da vacina foi dificultado por pelo menos duas propriedades sendo seu efeito mais imunomodulador do que anti-viral (PETER, 1989). Os INFs pertencem à superfamília das citocinas e modulam a atividade de vários componentes do sistema imune, aumentando a habilidade dos organismos na luta contra as infecções bacterianas, parasitárias e virais. Constituem-se, portanto, em famílias de proteínas responsáveis por efeitos antivirais, antiproliferativos e imunomoduladores por excelência. Sem nenhuma dúvida, eles são as primeiras linhas de defesa contra essas infecções mesmo antes de uma completa mobilização do sistema imune reativo (PETER, 1989). Até meados da década de 90, a única medicação disponível para o tratamento da hepatite crônica C era o interferon-á. Contudo, após 48 semanas de tratamento, a resposta virológica, ou seja, a negativação do RNA do HCV era observada em apenas 5% a 20% dos pacientes. Esse insucesso, apesar das diversas dosagens, preparações e esquemas terapêuticos utilizando 64 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 monoterapia com interferon, estimulou a realização de o interferon peguilado ou peginterferon. A peguilação estudos com terapia combinada, sendo a mais avaliada a associação de interferon-á com ribavirina, um análogo consiste em unir uma molécula de polietilenoglicol à molécula de interferon, tornando-se maior e mais nucleosídio sintético (TINE et al., 1991; LIN et al., 1995; dificilmente metabolizado; dessa forma suas dosagens POYNARD et al., 1995; POYNARD et al., 1996; CARITHER; EMERSON, 1997; HOOFNAGLE; DI sanguíneas permaneceriam elevadas por um maior tempo. A atividade biológica do interferon peguilado permanece BISCEGLIE, 1997). Estudos comparando os resultados da qualitativamente inalterada, porém mais fraca do que a do interferon livre, e sua administração, que ao invés de terapêutica com o uso isolado de interferon-á ou ser três vezes por semana, passa a ser semanal associado à ribavirina em pacientes com hepatite C crônica, demonstraram que a taxa de resposta virológica (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002). Uma vacina que consiste em proteínas sustentada (persistência da negativação do RNA por 24 semanas após o término do tratamento) foi recombinantes, E1 e E2 do HCV (genótipo 1a), foi testada em chimpanzés. Sete chimpanzés foram significativamente maior nos pacientes que usaram a infectados com HCV (1a), após a vacina, cinco foram combinação (POYNARD et al., 1997; MCHUTCHISON et al., 2001). Por tais razões, foi protegidos contra uma re-infecção do mesmo genótipo. Produzir estas proteínas derivadas da região hipervariável recomendado que portadores de hepatite C crônica ?com alterações persistentes das aminotransferases, sem terapia prévia ou contra-indicações, deveriam ser tratados com a combinação interferon-á e ribavirina (EASL, 1999; MCHUTCHISON et al., 2001). do genoma do HCV, que possam fornecer bases protetoras no sistema imune é o principal desafio para o desenvolvimento de uma vacina amplamente eficaz para a prevenção do HCV (CHOO et al., 1994). Sem dúvida, o objetivo final é uma vacina Vários estudos determinaram que alguns fatores estão relacionados a melhor resposta ao tratamento com interferon-á e ribavirina, tais como, sexo feminino, idade universal eficaz, impedindo novos casos, especialmente em países subdesenvolvidos, onde a infecção pelo HCV tem maior prevalência e o tratamento é financeiramente inferior a 40 anos, fibrose leve ou ausência de fibrose, genótipos 2 ou 3 e carga viral menor que 3,5 milhões de cópias/mL (ACRAS et al., 2004). Mesmo após a combinação dos fármacos, ainda permaneceram vários desafios clínicos, como por exemplo: a avaliação correta do grau e do estágio evolutivo da doença frente ao tratamento instituído e à completa eliminação do agente viral da circulação e do tecido hepático; aumentar os índices de resposta sustentada; diminuir os efeitos colaterais dos tratamentos usuais; diminuir a probabilidade de recaída (volta do RNA do HCV até 6 meses após a interrupção do tratamento, nos pacientes não reativos) e de custos financeiro. No entanto, sabe-se que estas recaídas podem ocorrer até doze meses depois, em cerca de 20% dos pacientes (KORETZ, 2000). Uma nova fórmula de interferon foi desenvolvida, fora do alcance para o governo e para a maioria dos pacientes. De fato o desenvolvimento de tal vacina é dificultado, principalmente, pela grande heterogeneidade do genoma do HCV (CHOO et al., 1989). Portanto, pode-se concluir que a Hepatite C é um importante problema de saúde pública mundial. Têmse visto poucas ações pelos órgãos de saúde brasileiros, na tentativa de informar a população sobre riscos de transmissão. Sendo assim, dados estatísticos brasileiros podem estar subestimados, pois muitos não devem ter consciência do estado portador que se encontram. Isto ocorre, pois esta doença é crônica e pode não apresentar sintomas, tornado-se um inimigo silencioso. Isto gera um problema maior, pois dados indicam que quanto maior o tempo de infecção sem tratamento, maior a probabilidade de desenvolvimento de seqüelas irreversíveis: cirrose e em maior grau hepatocarcinoma. Ciência e Cultura 65 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS M.; GOUDSMIT, J. Hepatitis C virus serotype-specific ABDULKARIM, A.S; ZIEN, N.N.; GERMER, J.J.; core and NS4 antibodies in injecting drug users participating in the Amsterdam cohort studies. J. Clin. KOLBERT, C.P.; KABBANI, L.; KRAJNIK, K.L; et Microbiol., v.36, p. 3002-3006, 1998. al. 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Professor do Curso de Graduação e Especialização de Endodontia do Centro de Pós-Graduação do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos. 3- Graduanda do Curso de Odontologia do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos. 4- Cirurgião-Dentista. Vice-presidente do Conselho Diretor do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos. 5- Cirurgião-Dentista. Professor de Ortodontia do Colégio e Escola Técnica do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos. 6- Cirurgião-Dentista. Professor do Curso de Odontologia do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos. RESUMO O objetivo deste trabalho foi relatar um caso clínico de reparação de lesão periapical do dente 12, proveniente de um tratamento endodôntico sem sucesso e com instrumento fraturado (fragmento metálico). Sacou-se a coroa e o pino com auxílio de ultra-som, para se realizar o retratamento endodôntico. Durante o retratamento endodôntico o fragmento metálico foi levado além ápice, permanecendo inerte neste local. O agregado de trióxido mineral foi extravasado para o interior da lesão com o objetivo de reparar a lesão e estabilizar o fragmento metálico, tais resultados podem ser visualizados nas imagens radiográficas e nos exames clínicos de 38 meses de acompanhamento. Palavras-chave: Endodontia/complicações, material restaurador do canal radicular. ABSTRACT The reason of this work was to tell a clinical case of repairing of lesion apical of the tooth 12, originating from a unsuccessful treatment endodontics and with fractured instrument (metal fragment). It was taken out the crown and the pin with ultrasound aid, to accomplish the retreatment. During the endodontics retreatment the metallic fragment was taken apical beyond, staying inert in this place. The mineral trioxide aggregate was extravasated inside of the lesion with the aim to repair the lesion and stabilization of the metal fragment, this results it can be verified in the clinics and radiologycs exams for 38 months of follow-up. Keywords: Endodontics /complications, Root canal filling materials. Ciência e Cultura 71 INTRODUÇÃO consiste na desinfecção da área lesada e na manutenção deste estado de desinfecção por meio da obturação O mineral de trióxido agregado (MTA) foi a desenvolvido por Torabinejad et al. (1995 ), o qual é professor e pesquisador da Universidade de Loma Linda, Califórnia – E.U.A. Este material apresenta-se como um pó cinza ou branco de fácil manipulação e é composto de óxidos minerais e íons, tais como cálcio e fosfato, os quais também são componentes dos tecidos dentais, motivo este que confere biocompatibilidade ao material (TORABINEJAD et al., 1995a). O MTA é um indutor de osteoblastos e estimula a produção de citoquina, oferece um substrato biologicamente ativo para células do osso, estimula produção de interleucina e a resposta inflamatória é tênue (KOH et al., 1997; KOH et al., 1998; MITCHELL et al., 1999; SAIDON et al., 2003). Ultimamente, o MTA tem sido utilizado com um material para indução da apicificação em dentes com rizogênese incompleta, capeamento pulpar direto, selamento de comunicações periodontais (perfurações), material de retrobturações, tampão cervical em clareamentos internos, material restaurador temporário, obturação de sistema canais, confecção de plugue apical e extravasado além ápice (GIULIANI et al., 2002; RUIZ et al., 2003). O MTA apresenta propriedades antimicrobianas, principalmente sobre as bactérias anaeróbias facultativas encontradas nos processos infecciosos apicais (TORABINEJAD et al. 1995 b). O tratamento das complicações endodônticas hermética do sistema de canais. Com relação ao uso do MTA em tratamentos complicados, os trabalhos sugeriram que o estabelecimento do sucesso está relacionado com três fatores: biocompatibilidade, vedamento e desinfecção. Com essa preocupação, pareceu-nos interessante eleger o referido material para ser utilizado neste caso clínico. Foi propósito do presente trabalho apresentar um caso clínico onde se utilizou o MTA com a finalidade de obturar o canal radicular e com isto conseguir o reparo de uma lesão periapical de provável origem bacteriana e sepultar um instrumento fraturado que foi levado além ápice durante a tentativa de sua remoção. RELATO DE CASO CLÍNICO Paciente do gênero feminino, 45 anos, diabética, hipertensa, obesidade mórbida, foi encaminhada para atendimento de urgência, pois estava com dor intensa. Durante exame físico notou-se tumefação e rubor na região de asa de nariz direito; no exame clínico observouse que o dente 12 estava com mobilidade leve, apresentava coroa total e um retentor intra-radicular. Por meio do exame radiográfico de diagnóstico, constatouse que o dente foi tratado endodonticamente com obturação radicular incompleta e uma imagem sugestiva de lima tipo Kerr® fraturada no terço apical (Figura 1). Figura 1. Radiografia de diagnóstico 72 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB Inicialmente, realizou-se a remoção da coroa ® utilizando um saca prótese automático Anthogyr e, em seguida, o pino foi desgastado com o intuito de expor a linha de cimentação que se encontrava entre ele e o v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 parecer médico com relação ao seu estado geral de saúde para que o tratamento odontológico pudesse ser instituído. O parecer médico além de confirmar as remanescente radicular, na porção mais cervical, com uma broca esférica ½. Um Tips® de ultra-som apropriado informações obtidas durante a anamnese, informou que para essa finalidade (Remo N) foi aplicado sobre todas as faces do núcleo promovendo uma microfragmentação compensação dos quadros glicêmico e cardiovascular. Foi ainda sugerido que as consultas fossem breves e se do cimento, possibilitando desta forma, a remoção do possível, evitados os procedimentos cirúrgicos. Após o esclarecimento quanto ao prognóstico pino sem fratura radicular. Foi realizado o isolamento absoluto do a paciente encontrava-se em tratamento médico para reservado do dente 12 e o consentimento do paciente, remanescente radicular observando os princípios de biossegurança e, em seguida, irrigou-se a área com planejou-se a retirada do instrumento fraturado (corpo estranho) via canal e o retratamento endodôntico. hipoclorito de sódio a 1%. Com o contra-ângulo e uma broca de Largo número 2 removeu-se a obturação do 1/ Decorridas 96 horas da urgência, a paciente apresentou alívio da dor. Foi realizado isolamento médio da raiz e todo resíduo da antiga cimentação, irrigou cuidadosamente o canal radicular, aspirou-se e foi colocado uma bolinha de algodão umidecida em absoluto do dente 12, remoção do curativo de demora, irrigação com hipoclorito de sódio a 1% e aspiração do excesso, com o canal inundado de solução irrigadora, tricresol formalina (removido o excesso numa gaze esterilizada) e fechamento da câmara pulpar com IRM®. Devido à história médica da paciente, foi solicitado utilizando uma lima 25 tipo K com 16 mm de comprimento conseguiu-se ultrapassar o instrumento fraturado (Figura 2). 3 Figura 2. Imagem sugere lima tipo K ultrapassando o fragmento metálico Ultrapassando o instrumento fraturado, foi realizada a neutralização do conteúdo séptico/tóxico do canal radicular em todo o comprimento do dente. Estabeleceu-se o comprimento de trabalho igual a 14,5 mm, iniciou-se o preparo biomecânico do canal radicular e entre as limas 35 e 40, o fragmento metálico que se encontrava no canal radicular foi levado além ápice e se alojou no interior da lesão, frustrando assim, a tentativa de removê-lo. Foi realizado o curativo de demora com a pasta Calen®, cimentação provisória com IRM® e agendamento do paciente para 15 dias. Ciência e Cultura 73 O paciente retornou sem sintomatologia, realizouse o isolamento absoluto, remoção de curativo de demora, irrigação com hipoclorito de sódio a 1% e ® aspiração do excesso, a partir da lima 40 tipo K com comprimento de trabalho determinado, instrumentou-se até a lima 60 tipo K®. Realizou-se exaustivamente a irrigação e aspiração do canal radicular, procedeu-se à secagem utilizando pontas de papel absorvente esterilizadas. Preparou-se uma porção de MTA (Angelus) com a finalidade de levá-lo além ápice, utilizando para isto, um lentulo (Maillefer) acionado por contra-ângulo, e posteriormente, pontas de papel absorventes esterilizadas. Com o canal radicular seco, selecionou-se o cone de guta-percha número 60 e preparou uma porção de cimento Sealapex® para obturação do canal radicular principal, e finalmente, cimentação provisória com IRM® (Figura 3). Figura 3. Imagem sugere fragmento metálico inerte e o MTA envolta do terço apical A paciente retornou após dez dias para a confecção oito meses de acompanhamento do caso não foi relatado de um núcleo metálico fundido e uma coroa de resina qualquer anormalidade ou sintoma pela paciente. provisória, que foi devidamente confeccionada e com a Clinicamente, a área encontra-se com aspecto sugestivo oclusão ajustada. O retorno foi marcado para cada 3 meses durante o período de um ano, para que se confeccionasse uma coroa de porcelana. Após trinta e de normalidade, a imagem radiográfica sugere que a lesão encontra-se em franco processo de reparação e o fragmento metálico está inerte (Figura 4). Figura 4. Após 38 meses de acompanhamento o fragmento metálico está inerte e a lesão sugere estar em processo de reparação. 74 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB É importante ressaltar que o paciente está em acompanhamento e a alta está prevista para quando houver formação total de lâmina dura visível radiograficamente. DISCUSSÃO Atualmente, o agregado de trióxido mineral (MTA) é um dos materiais mais pesquisados em Odontologia e têm demonstrado resultados notáveis; a maior parte das publicações ainda é baseada em estudos in vitro e em animais, entretanto na literatura já se encontram casos clínicos com resultados promissores e com períodos de v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 presentes nas crateras do cemento periapical. As radiografias de acompanhamento do caso sugerem que a lesão encontra-se em reparação com formação de lâmina dura e o fragmento metálico encontra-se inerte. Os dados dos exames clínicos periódicos são animadores uma vez que a paciente não relatou sintomatologia à palpação e percussão da região do dente 12 durante o período de 38 meses de acompanhamento. É importante ressaltar que o resultado promissor deste caso clínico está diretamente relacionado com a manutenção da cadeia asséptica durante os procedimentos e da manipulação correta do material, que requer habilidade e conhecimento de suas propriedades físico-química. acompanhamento superiores a 4 anos. Estes fatos são de grande importância visto que a Odontologia moderna é uma ciência também baseada em evidências (MAIN et al., 2004). Frente ao exposto, a utilização deste material para o presente caso clínico, sugeriu ser a melhor alternativa, uma vez que uma das contra-indicações das cirurgias parendodônticas são o diabetes não CONCLUSÃO compensado e a hipertensão (LEAL et al., 2005). O MTA têm sido proposto como uma alternativa para o selamento do sistema de canais radiculares e na radiográficas sugerem que a lesão encontra-se em processo de reparação e o fragmento metálico está inerte, sendo assim, a utilização deste material torna este reparação de lesões apicais por parte dos clínicos devido a biocompatibilidade, a capacidade seladora, a alcalinidade, a regeneração do cemento e a formação de tecido ósseo, sendo este último observada em tempos que variam de 3 a 8 meses (HOLLAND et a.l, 2001; MAIN et al., 2004; BUENO et al., 2007), enquanto que este período poderia atingir até 21 meses se a técnica clássica de reparação de lesões periapicais com o CaOH2- fosse a utilizada (METZGER et al, 2001). Como procedimento operatório mais previsível, em especial para casos complexos, onde existe lesão crônica e as condições de saúde do paciente apresenta limitações, como o relatado neste trabalho. A alta do paciente está prevista somente quando houver formação completa da lâmina dura periapical visível radiograficamente. este material pode ser utilizado além ápice, optou se por sua extrusão na expectativa de conter a progressão da lesão crônica existente. De acordo com Torabinejad et al. (1995a, 1995b), o efeito antibacteriano do MTA é alcançado graças ao seu pH alcalino que é em torno de 10 logo após a sua espatulação e maior que 12 decorridos 3 horas, desta forma, espera-se que o contato deste material com a lesão e o fragmento metálico contaminado permita uma reação de neutralização e inativação dos microrganismos As figuras sugerem que o MTA quando extravasado para o ápice alcança as crateras provocadas pelas bactérias presentes neste 1/3 radicular. As imagens REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bueno, C.E.S.; Fontana, C.E.; Miguita, K.B.; Araújo, R.A.; Martin, A.S.D.; Cunha, R.S. Selamento de perfuração radicular com MTA. Rev. Assoc. Paul. Cir. Dent., v. 61, n.2, p.36-38, 2007. Giuliani, V.; Baccetti, T.; Pace, R.; Pagavino, G. The use of MTA in teeth with necrotic pulps and open apices. Dent. Traumatol., v.18, n.4, p.217-21, 2002. Holland, R.; Filho, J.A.; de Souza, V.; Nery, M.J.; Bernabé, P.F.; Junior, E.D. Mineral trioxide aggregate Ciência e Cultura 75 repair of lateral root perforations. J. Endod., v.27, n.4, apices. Dent. Traumatol.; v.17, n.2, p.86-92, 2001. p.281-284, 2001. Koh, E.T.; Torabinejad, M.; Pitt Ford, T.R.; Mitchell, P.J.C.; Pitt Ford, T.R.; Torabinejad, M.; McDonald, F. Osteoblast biocompatibility of mineral Brady, K.; McDonald, F. Mineral trioxide aggregate trioxide aggregate. Biomaterials, v.20, n.2, p.167-173, stimulates a biological response in human osteoblasts. J. Biomed. Mater. 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Professores do Curso de Odontologia do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos-SP. Fabiano de Sant’Ana dos Santos Av. 27 n. 931, Barretos-SP, CEP: 14780-340, e-mail: [email protected] ; celular 17 8132-6963. RESUMO O objetivo deste trabalho, é apresentar por meio de um relato clínico, uma alternativa para o tratamento de um dente que sofreu uma fratura corono-radicular com para tração, retratamento do canal radicular com dique envolvimento pulpar. As etapas deste caso clínico consistiram dos seguintes procedimentos: cirurgia periodontal, tratamento endodôntico provisório com isolamento relativo, tracionamento ortodôntico utilizandose de um pino provisório de aço inoxidável e elástico priorizando os requisitos fisiológicos da oclusão e estéticos. Proservação de 2 anos. de borracha e reconstituição protética do dente 13. Os autores demonstraram a importância interdisciplinar, Palavras-chave: Trauma dental, extrusão ortodôntica, endodontia, periodontia, estética dental. ABSTRACT The aim of this work is to present a clinical report through an alternative for the treatment of a tooth that suffered a crown-root fracture with pulp involvement. The stages of this clinical case consisted of the following procedures: periodontal surgery, endodontics temporary treatment with relative isolation, orthodontic traction being used of a temporary pin of stainless steel and elastic for traction, endodontics retreatment with rubber dam and prosthetic rebuilding of the tooth 13. The authors demonstrated the interdisciplinary importance prioritizing the physiologic requirements of the occlusion and esthetics. Report of 2 years of follow-up. Keywords: Tooth fracture, orthotondic extrusion, endodontics, periodontics, esthetics dental. Ciência e Cultura 77 Alternativa de tratamento para fratura corono-radicular com envolvimento pulpar. Relato de caso. INTRODUÇÃO A fratura radicular geralmente ocorre como ALMEIDA et al. principalmente, devido às forças aplicadas para mover os dentes não serem igualmente distribuídas ao longo do ligamento periodontal, provocando reabsorção radicular resultante de um impacto, que acomete estruturas como: (RUELLAS, BOLOGNESE, 2000). o esmalte, a dentina e cemento com ou sem envolvimento pulpar. O dente que sofre injúria traumática com É consagrada por diversos autores a importância de se realizar um tratamento endodôntico com isolamento envolvimento infra-ósseo constitui um problema de difícil ou impossível solução, deixando o cirurgião-dentista com absoluto, principalmente em dentes que se apresentam com exposição pulpar, pois a contaminação nestes casos dúvidas em relação ao seu prognóstico, por apresentar só ocorre superficialmente, nunca no seu âmago um grau de complexidade de tratamento, sendo imprescindível um envolvimento interdisciplinar (LEONARDO, 2005). O objetivo desse artigo é apresentar, por meio de (ANDREASEN, ANDREASEN, 1991; ALMEIDA et al., 2001; SANTOS et al., 2003). um caso clínico, uma alternativa de tratamento restaurador de um dente que sofreu uma fratura corono- Almeida et al. (2001) descreveram tracionamento radicular com envolvimento pulpar. ortodôntico como sendo um procedimento que promove um movimento dentário no sentido vertical, cujos RELATO DO CASO CLÍNICO sinônimos são tracionamento dentário, erupção forçada, extrusão forçada, extrusão controlada. O tracionamento radicular pode ocorrer por um movimento induzido ou natural, na mesma direção do movimento de erupção dentária, havendo um Paciente do gênero feminino, 35 anos, procurou o consultório e relatou que perderia o dente 13, por ter sido diagnosticado uma fratura e a solução, seria a colocação de um implante dental. Questionava outro tipo alongamento das fibras periodontais com depósito de osso nas zonas da crista alveolar. É considerado um procedimento que permite a recuperação dos casos de de tratamento que não envolvesse a exodontia da raiz do dente. Durante a anamnese disse ter sofrido um atropelamento, a mais ou menos 15 anos atrás e que fraturas radiculares horizontais e oblíquas (CIRRUFO et al., 2001). A maioria dos movimentos dentários ortodônticos envolve algum grau de dano tecidual que varia, havia fraturado quase todos os ossos do seu lado direito. No exame clínico, observou-se a presença de resina acrílica envolvendo um amarrilho de fio de aço entre as faces dos elementos 12, 13 e 14 (Figura 1). Figura 1. Imagem ilustra uma contenção rígida realizada com resina acrílica e amarrilho de fio de aço entre as faces dos elementos 12, 13 e 14. 78 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 No exame radiográfico, foi observado uma linha elásticos de látex, e confecção de um provisório, para oblíqua indicando uma fratura envolvendo terço cervical da raiz do dente 13 e o fragmento encontrava-se posteriormente realizar o retratamento endodôntico e a confecção da prótese definitiva. distalizado. O dente respondia ao teste de vitalidade Depois de realizada a cirurgia com retalho e pulpar com frio e calor. Realizaram-se dois planos de tratamento, sendo: a) cirurgia periodontal a retalho, exposição da fratura, verificou-se que esta havia ocorrido há vários anos, pois existia a reabsorção da parte remoção da porção coronária fraturada, tratamento endodôntico e colagem dos fragmentos; b) exposição coronária do dente e o remanescente radicular estava obliterado por uma calcificação biológica, e que havia do fragmento por meio de cirurgia periodontal, uma consolidação da fratura pela deposição de tecido tratamento endodôntico provisório, cimentação de um pino e tracionamento radicular com a utilização de ósseo, que foi deslocado na confecção do amarrilho com o fio de aço (Figura 2). Figura 2. Imagem radiográfica apresenta uma fratura corono-radicular do dente 13 e uma contenção rígida envolvendo os dentes 12, 13 e 14. Após a remoção da porção coronária, o tratamento endodôntico foi realizado, provisoriamente com isolamento relativo, em seguida, foi confeccionado e cimentado um pino provisório em aço inoxidável com a finalidade de promover o tracionamento radicular, por meio de um elástico de látex de 1/8" pesado, que foi conectado no pino e na barra ortodôntica, que estava fixada com resina fotopolimerizável na face palatina dos dentes 12 e 14 (Figuras 3 e 4). Optou-se pelo tracionamento radicular para resgatar as condições periodontais, endodônticas e protéticas, para satisfazer os requisitos fisiológicos da oclusão e a estética. O elástico foi trocado diariamente pelo período de 5 semanas, visando minimizar a dissipação da força ortodôntica, de 20 e 30 gramas. O tecido gengival foi reposicionado, suturado e protegido por cimento cirúrgico, após 7 dias foi removido a sutura. Durante essa fase, foi programado uma faceta provisória com o próprio fragmento coronário e fixado nos dentes 12 e 14 com resina fotopolimerizável. Decorrido o período de 5 semanas, foi observado a extrusão radicular de 3 mm, confirmado Ciência e Cultura 79 Alternativa de tratamento para fratura corono-radicular com envolvimento pulpar. Relato de caso. ALMEIDA et al. Figura 4. Barra de fio ortodôntico fixado por palatina com elástico para tração. Figura 3. Imagem ilustra o pino provisório em aço inoxidável utilizado para realizar a tração da raiz do dente 13. por uma sonda milimetrada. Foi realizado o retratamento endodôntico com isolamento absoluto, com a finalidade definir o preparo biomecânico do canal radicular de forma compatível a receber o pino intracanal, de neutralizar a ação bacteriana e uma possível contaminação no decorrer do tratamento, e também para responsável pela sustentação da coroa de cerâmica (Figura 5). Figura 5. Após a extrusão e contenção do remanescente radicular, o retratamento endodôntico com isolamento absoluto. 80 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB Decorridos 2 anos, foi observado a boa condição endodôntica, periodontal, remodelação v. 3, nº 2, Novembro/2008 - ISSN 1980 - 0029 radicular apical, estética favorável e satisfação da paciente (Figuras 6 e 7). Figura 7. Imagem ilustra a estética do dente 13 após dois anos de proservação. Figura 6. Proservação radiográfica de dois anos. DISCUSSÃO endócrino, nos mensageiros intracelulares e citocinas locais, que contribuem para as mudanças ósseas Almeida et al. (2001) indicaram a extrusão para localização de margens em estrutura dental sadia, manutenção do espaço biológico facilita a perfeita moldagem do preparo e o restabelecimento da estética. No presente relato, a extrusão de 3 mm foi suficiente para resgatar o espaço biológico e exposição da estrutura dental sadia, que permitiu a realização do retratamento endodôntico com isolamento absoluto, a confecção da moldagem e do preparo para reabilitação estética. Cirrufo et al. (2001) demonstraram que por meio de uma força ortodôntica de 20 a 30 gramas, mantida pelo controle diário de uso de elástico 1/8" pesado, durante 4 semanas obtiveram uma extrusão de 3 mm. No presente caso clínico , foi confirmado os mesmos resultados encontrados pelos autores acima referenciados. Quando a raiz é deslocada, uma seqüência de reações ocorre no sistema nervoso, imunológico, adaptativas. A absorção radicular constitui um efeito colateral do movimento dentário ortodôntico, podendo ocorrer em maior ou menor grau, dependendo da associação com outros fatores agravantes. É praticamente impossível prever com segurança o grau de reabsorção radicular durante o tratamento ortodôntico, devendo o paciente ter consciência de tais riscos (RUELLAS e BOLOGNESE, 2000). O dente 13 sofreu reabsorção radicular no terço apical, conforme demonstraram as radiografias de proservação, porém foi possível notar que há estabilidade, já que no período de 2 anos a área radiolúcida não sofreu variação significativa. Valdrigui et al., 1998 relataram que dentes tratados endodonticamente são passíveis de movimentação ortodôntica tanto quanto os dentes vitais, desde que o canal radicular esteja adequadamente obturado. É indicada atenção especial para os casos associados a trauma, ou seja, injúria prévia ao ligamento Ciência e Cultura 81 Alternativa de tratamento para fratura corono-radicular com envolvimento pulpar. Relato de caso. ALMEIDA et al. periodontal. No presente caso clínico o dente 13 foi 2. ANDREASEN, J. O., ANDREASEN, F. M. tratado endodonticamente, extruído por movimentação ortodôntica e retratado sobre isolamento absoluto, Traumatismo dentário: soluções clínicas. Tradução de Frieda Werebe. São Paulo: Panamericana, 1991. respeitando os limites biológicos, técnicos e científicos. 3. CIRRUFO, P. A. D. R. et al. Extrusão ortodôntica, uma solução na clínica odontológica – relato de caso clínico. J Bras Ortodon Ortop Facial, ano 6, n. CONCLUSÃO 31, p. 52-55, jan./fev. 2001. 4. LEONARDO, M.R. Endodontia: Tratamento ·O sucesso clínico foi obtido utilizando-se dos de canais radiculares – princípios técnicos e biológicos. conhecimentos interdisciplinares. ·Trata-se de uma alternativa de tratamento viável São Paulo: Artes Médicas; 2005. 5. SANTOS, F. S.; Bampa, J.U.; BATISTA- e pode ser realizado por um clínico geral. BAMPA, A.T.T. Colagem autógena mediata na solução de fratura radicular de incisivo central superior. Rev Assoc Paul Cir Dent, v. 57, n. 3, p. 195-197, mai./jun. 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