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16 Rumos Cruzados AÇORIANO ORIENTAL QUINTA-FEIRA, 29 DE NOVEMBRO DE 2012 COORDENAÇÃO PAULO MENDES | TEXTOS JOSEFINA CRUZ | www.aipa-azores.com Nota de Abertura Percursos migratórios Desta vez os “Rumos Cruzados” foram até à Terceira para falar com uma imigrante originária da Polónia, cujo percurso migratório foi iniciado por motivos de coração. O marido é natural desta ilha e ela nunca tinha imaginado que viria viver no meio do atlântico. Aliás, os fenómenos migratórios assumem, muitas vezes, esse caráter de imprevisibilidade, ou seja, simplesmente acontecem e nos sítios mais improváveis. Hoje, cerca de 5% da população mundial é migrante (cerca de 200 milhões de pessoas), sendo que 60% desses fluxos é concretizado entre os países do Sul. Por outro lado, e potenciando a própria desconstrução do senso comum, a larga maioria das pessoas nasce, vive e morre no mesmo sítio. Isso significa que é apenas uma minoria que concretiza um projeto migratório. Portugal e os Açores não estão, por isso, alheios aos fluxos migratórios internacionais. As ilhas têm sido palco de um movimento imigratório mais ou menos regular, obedecendo aos mesmos contornos que o fenómeno assume no continente português, nomeadamente em relação à origem, à inserção sócio laboral etc. Dados de 2010, apontam para a existência de 3461 cidadãos estrangeiros, cuja presença é visível em todas as ilhas sendo que a predominância está diretamente ligada às ilhas de maiores dinâmicas económicas (S. Miguel, Terceira e Faial). A população estrangeira representa, hoje, 1,4% da população total residente nos Açores e 2,8% da população ativa. À semelhança com o continente português, nos Açores a maioria dos imigrantes estão inseridos em setores de atividade que exigem baixas qualificações (ex: construção civil, restauração). Observamos que o fluxo imigratório é maioritariamente masculino, facto que acompanha a tendência nacional, com 63,9% do total. Por outro lado, não deixa de ser significativa a presença do sexo feminino, com 36,1%. É realçar este aspeto perante a recente tendência de maior incremento da participação feminina nas migrações. “Encontrei aqui o meu lugar no mundo” DIREITOS RESERVADOS Miroslawa Krychowska Morais é o seu nome, tem 30 anos e nasceu na Polónia, cidade de Olesnica. O seu marido é português, hoje vive na ilha Terceira e já tem uma filha açoriana Ainda estava a estudar quando saiu pela primeira vez da sua terra natal. No âmbito do programa ERASMUS, viveu durante um ano na República Checa e lá conheceu o seu atual marido, um terceirense de raiz. Terminado o programa Europeu, ainda lhes faltava um ano para a conclusão dos seus cursos. “E para que pudéssemos ficar perto um do outro, o meu marido conseguiu um intercâmbio na Polónia, onde estudou e residiu durante um ano”. Depois, o seu então namorado regressou ao Porto, onde conseguiu emprego e Miroslawa permaneceu no seu país para a frequência do mestrado. Esta distância não durou por muito tempo. Ao concluir o mestrado foi para o Porto, ao encontro do seu marido para o começo de uma vida a dois. No entanto, o período em que estiveram a residir no Porto foi muito curto, de um mês. “Tentei por várias vezes arranjar um emprego, mas sem sucesso. Não falava português, apenas conhecia o básico”, disse. Na impossibilidade de encontrar emprego naquela cidade, o casal optou por vir viver para os Açores. Em Agosto de 2007, chegaram à Terceira, onde lhes esperava todo o Segundo dados do SEF, Miroslawa é a única Polaca a residir na ilha Terceira apoio da família do marido. Nesta ilha, o esposo conseguiu emprego e ela, no âmbito do programa Estagiar L, começou a trabalhar no Museu de Angra do Heroísmo. Da chegada, diz que se recorda “perfeitamente”. Lembra-se de sentir uma “onda de humidade”, porque o clima é muito diferente ao que estava habituada. Recordase do quanto foi bem recebida no aeroporto. Mas, também se lembra de ter medo. “Acho que uma pessoa sente sempre medo”, acrescentou. À pergunta se já tinha ouvido falar nos Açores, responde que se lembra de brincar, na sua infância com uma prima, a encontrar os lugares mais distantes do mundo. E nesta brincadeira encontraram os Açores. “Não tinha ideia sequer de que pertenciam a Portugal. Só sabia que ficavam muito longe”. Visita do Consulado de Angola O Consulado angolano vai levar a cabo atividades consulares junto da comunidade angolana residente em São Miguel. Os atendimentos serão realizados na Direção Regional das Comunidades nos dias 30 de novembro e 1 de dezembro. No sábado haverá ainda um jantar de confraternização, no Hotel Açores Atlântico, às 20h00. Inscreva-se. Sobre as dificuldades de integração, fala-nos da língua, do clima e da burocracia. “A língua foi para mim o mais difícil de adaptar por causa do sotaque açoriano, muito carregado”, conta. Quanto à burocracia, refere-se à complicação que teve para obter a autorização de residência. No entanto apesar destes obstáculos, conta que foi muito bem recebida. “O meu marido tem uma família muito unida e que me ajudou muito na adaptação”, acrescentou. Quanto aos açorianos, diz que sempre se sentiu bem recebida. “Eu acho que o açoriano é um povo muito aberto e tolerante. Desde logo permitiram-me trabalhar, mesmo com pouco conhecimento da língua. Um estrangeiro no meu país não tem estas condições. Os polacos não são ainda tão abertos à imigração”. Acrescenta que no meio laboral, sentiu a compreensão dos colegas e a curiosidade dos clientes da instituição onde trabalha. “Perguntam-me muita vez de onde sou e o que me fez vir viver para os Açores. Nunca me senti diferente, sinto-me integrada”. Com a Polónia mantém ainda uma grande ligação. Visita a família uma vez por ano e mantém contacto através do telefone e da internet. Mas as saudades apertam sempre, sobretudo, da família e também do clima, do Inverno e de uma Primavera muito verde e com muitas flores. “E da língua. Sinto saudades de falar a minha língua”. As memórias da sua infância e da terra natal são muitas. E recorda, sobretudo, da Páscoa e do Natal. Os costumes são diferentes e todos os anos Miroslawa faz renascer as suas lembranças. Festeja estas duas épocas com as tradições polacas. O regresso à Polónia não está nos seus planos. “Aqui encontrei o meu lugar no mundo. Às vezes quando estou na Polónia de férias, até sinto saudades. Os Açores são a minha casa agora!” Hoje sente que é uma pessoa diferente. “Acho que a imigração é um processo que muda muito a pessoa. Temos que renascer, aprender de novo a língua, hábitos, tradições…” Esta aprendizagem e enriquecimento tornou-a numa pessoa mais aberta e com mais facilidade na comunicação. Mudou a sua simples forma de cumprimentar as pessoas. “Na Polónia cumprimentamos com um aperto de mão. Aqui, eu já cumprimento com dois beijinhos. Os polacos estranham este gesto.” A AIPA foi à escola Uma manhã Saudável No âmbito da Academia da Juventude 2012, promovida pela Ajiter, foi realizada no passado sábado a atividade “Manhã Saudável”, no Parque Natural dos Viveiros. A AIPA juntou para a iniciativa 12 jovens, filhos de imigrantes. Esta manhã saudável foi constituída por um jogo de orientação. A AIPA esteve na passada semana, dia 21 de novembro, na Escola Secundária de Lagoa para a realização de uma conferência sobre a Imigração, Interculturalidade e Racismo. Estiveram presentes cerca de cem alunos de diversas turmas do secundário. Protocolo em Cabo Verde No passado dia 17 de novembro, a AIPA celebrou um protocolo com a Federação Caboverdiana da Juventude, sediada na ilha de Santiago, em Cabo Verde. No âmbito desta cooperação, as associações pretendem fomentar o intercâmbio juvenil entre os dois arquipélagos. Rumos Cruzados 17 AÇORIANO ORIENTAL QUINTA-FEIRA, 29 DE NOVEMBRO DE 2012 AIPA Voluntariado: realização de inquéritos para estudo Venha celebrar um Natal diferente Queres fazer parte de um estudo sobre as migrações? Procuramos voluntários que tenham disponibilidade para a realização de inquéritos na ilha de São Miguel. Os interessados deverão en- A AIPA, junto com a CRESAÇOR, realizará uma festa de Natal no dia 1 de dezembro, pelas 1h horas, no salão paroquial de São José. Esta será uma celebração com músicas e gastronomia dos viar um e-mail com os seus dados (nome e contactos) para [email protected] ou através do telefone . vários países, uma festa natalícia que abrangerá tradições de diversas culturas. Os interessados deverão inscrever-se: / [email protected]. Nos Açores reuniram-se oito famílias DIREITOS RESERVADOS A iniciativa transnacional “Família do Lado”, que decorreu este ano pela primeira vez em Portugal, realizou-se no passado dia 18 de novembro, em 8 países europeus. Nos Açores, juntaram-se para o almoço, em São Miguel, oito famílias, quatro açorianas e quatro imigrantes de cinco nacionalidades: Cabo-Verde, Bangladesh, Angola, México e Brasil. Estivemos à conversa com um par destas famílias e ficamos a saber o que acharam da iniciativa. Afonso Quental tem 56 anos, é natural de Ponta Delgada e bancário de profissão. Este micaelense aceitou acolher em sua casa uma família oriunda de Angola. Soube do projeto através da comunicação social local e não heDIREITOS RESERVADOS Foi a ponte entre as famílias Um almoço-convívio como forma de acolhimento do “Outro” sitou em participar. “Acho que nós devemos ter o espírito solidário entre todos, partilhando ideias, projetos e culturas”, disse. da não fiz muitas amizades e sinto-me muito sozinha”, acrescentou. Segundo a família visitante, a experiência foi muito boa. “Não conhecíamos o casal, mas foi tudo maravilhoso. São pessoas muito simples e que nos deixaram muito à vontade”. Guilhermina já pensa na próxima edição. “Para o ano gostaria de participar como família anfitriã e oferecer a uma família um almoço com uma muamba ou uma cachupa”. Quem sabe! De acordo com o balanço feito pelo ACIDI, no total dos 8 países Europeus, participaram 572 famílias, sendo que Portugal ficou em primeiro lugar com a associação de 160 famílias de 32 nacionalidades. DIREITOS RESERVADOS Família do Lado: a experiência A iniciativa “Família do Lado” contou com a participação de voluntários que se disponibilizaram para acompanhar as famílias participantes.Estivemos à conversa com uma assistente e esta contou-nos como foi o almoço intercultural. Sónia Meireles tem 31 anos, nasceu em França, mas reside em Portugal desde os 18 anos. Há cerca de três meses vive em São Miguel. O tema do projeto e o facto de estar desempregada levaram-na a Torneio intercultural de Corfebol A AIPA, através do CLAII de Ponta Delgada, irá participar na iniciativa “Corfebol sem Fronteiras”. A atividade surge no âmbito da 3.ª edição da Promoção da Interculturalidade a Nível Municipal e será realizada pelo ACIDI, com cofinanciamento do FEINPT. No dia 19 de maio de 2013 será realizado um torneio intercultural de Corfebol entre diversos concelhos do país. A iniciativa tem por objetivo promover a integração Quisemos saber com que pratos açorianos brindou a família visitante. “Eu para este almoço apostei no nosso bife à regional e também apresentei as assaduras, que são a carne de porco em vinha de alhos”. Para a família anfitriã, o balanço da iniciativa é muito positivo. “Uma experiência bonita e muito agradável”, como a definiu. E no final da conversa ficou a promessa de que “para o ano se existir estarei pronto a participar de novo”. Guilhermina Cata tem 35 anos e é natural de Angola. Há cerca de um ano veio viver para a ilha de São Miguel com os seus dois filhos mas, desde os seus cinco que reside em Portugal continental. Para esta Angolana, a participação no projeto “Família do Lado” deu-lhe a oportunidade para conhecer novas pessoas e para ajudar a integrar mais na sociedade açoriana. “Não tenho família aqui, ain- social e a interação entre cidadãos imigrantes e autóctones. O corfebol é uma atividade lúdico-desportiva inventada na Holanda. Este desporto tem como particularidade o facto de as equipas serem mistas. As inscrições para a constituição da equipa que irá representar os Açores já estão abertas. Os interessados poderão inscrever-se na sede da AIPA ou através de [email protected] / 296286365. participar como voluntária na iniciativa. O balanço que faz da experiência é positivo. “Foi uma tarde muito bem passada, gostei da empatia que foi criada entre as duas famílias e de ouvir as histórias de vida que ambas partilharam”, contou. Para Sónia, este projeto contribui para a integração de imigrantes. Acredito que este convívio vai deixar na mente destas pessoas a vontade de um dia mais tarde voltarem a conversar”. DIREITOS RESERVADOS Consulte o regulamento no site Consulte o regulamento em www.panazorean.com II Panazorean: prémios da competição regional As inscrições para a 2.ª edição do Panazorean International Film Festival já abriram. Além dos prémios de melhor filme internacional (2000 euros), melhor filme nacional no valor de 1250 euros, atribuído pela Direção Regional da Cultura, melhor curta internacional atribuído por Maria de Céu Patrão Neves no valor de 500 euros e prémio SATA/Macaronésia e o prémio Onda Curta/RTP2, o Panazorean conta com 3 prémios para produções regionais. O prémio para melhor filme dos Açores totaliza o valor de 1000 euros e é da responsabilidade da Câmara Municipal de Ponta Delgada. O prémio de melhor filme dos Açores resultante da votação do público é patrocinado pelo BES dos Açores e tem o valor de 500 euros. Já os realizadores emergentes, nos Açores, terão uma distinção constituída pelo prémio “Novo Talento Regional”, no valor de 350 euros em formação na escola Restart.