O DESENVOLVIMENTO DE OFICINAS DE ARTESANATO

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O DESENVOLVIMENTO DE OFICINAS DE ARTESANATO
O DESENVOLVIMENTO DE OFICINAS DE ARTESANATO COM
USUÁRIOS DO CAPS AD NO MUNICÍPIO DE CANOAS-RS
GT 7 - Economia solidária e sustentabilidades
Relato de experiência
SOUZA, Égon Ferreira1
RESUMO
O presente relato aborda um projeto realizado pela Incubadora de Empreendimentos Solidários do
Unilasalle Canoas em parceria com uma aluna do curso de psicologia da instituição. Trata-se de um
projeto elaborado pela aluna que fará parte de seu estágio curricular. O objetivo deste projeto é
qualificar e ampliar a produção artesanal de usuários do CAPS AD - Centro de Atendimento
Psicossocial Álcool e Drogas, do município de Canoas, Rio Grande do Sul, para a geração de
trabalho e renda. Nesse meio, o papel da incubadora é dar oficinas de artesanato e trabalhar no
desenvolvimento técnico do grupo, visando o engajamento do mesmo na economia solidaria.
Palavras-chave: Artesanato, Geração de renda, Trabalho em grupo.
Introdução
Diante de uma demanda de um grupo de pessoas em vulnerabilidade psicossocial, a
Incubadora de Empreendimentos Solidários do Unilasalle Canoas, fez uma parceria com uma aluna
de Psicologia da instituição em prol da qualificação destas pessoas para o mercado. Ao fazer estágio
no CAPS AD – Centro de Atendimento Psicossocial Álcool e Drogas, do município de Canoas, Rio
Grande do Sul, a aluna descobriu que naquele espaço alguns usuários produziam produtos
artesanais. Foi percebido que o artesanato poderia ser um meio de geração de renda, de modo que
poderia ser trabalhado algo no sentido de potencializar essa atividade. Diante disso, a aluna
procurou a Incubadora de Empreendimentos Solidários para conversar sobre um possível projeto
onde ela faria seu estágio curricular e a incubadora, em parceria, iria executar oficinas de
capacitação e qualificação em artesanato para os usuários do CAPS. O objetivo principal era
qualificar e ampliar a produção artesanal para a geração de trabalho e renda, visto que essa era uma
atividade já praticada por algumas pessoas daquele espaço, e também se tinha o objetivo de que o
grupo formado se tornasse um empreendimento de economia solidaria. Outro objetivo do projeto
era a multiplicação do conhecimento adquirido nas oficinas, o grupo formado iria dar continuidade
1
Graduando do Curso de Design de Produto. E-mail: [email protected]. Centro Universitário La Salle Unilasalle Canoas.
no projeto dando oficinas para os demais usuários do CAPS. Assim, quem não teve a oportunidade
de participar do projeto poderia receber o conhecimento adquirido pelos usuários que participaram
das oficinas e se formaram. Também é interessante ressaltar que nesse processo é explorada a
capacidade e potencialidades do usuário, fomentando sua autoestima e o reconstituindo como
sujeito.
A incubadora recebeu positivamente a ideia de se trabalhar com usuários do CAPS AD em
um projeto de geração de renda. Foi dado o procedimento para a execução do projeto em parceria
com a aluna da instituição. Logo, foi elaborado um cronograma do projeto que seria apresentado
aos usuários juntamente com a proposta do projeto, cujos foram apresentados em dois Centros, o
CAPS Travessia e o CAPS Amanhecer, ambos localizados no município de Canoas. Neste projeto,
iriam participar representando a incubadora eu (estudante de Design) como responsável das
oficinas, mais uma técnica da incubadora (Pedagoga) e uma bolsista da incubadora estudante de
Psicologia.
No cronograma do projeto foram estipulados oito encontros, ocorrendo oficinas semanais. A
tabela a seguir mostra o cronograma proposto:
Tabela 1 - Cronograma
Oficina
Tema
Metodologia
01
Acolhimento/ apresentação/ nivelamento do
grupo: o que conhecemos de artesanato?
Diagnóstico dos produtos./Sua origem.
Significado.
Como é feito – o processo produtivo e
materiais.
Troca de conhecimentos sobre
artesanato e um pouco da história do
artesanato.
02
03
Conhecendo outros recursos/
texturas/cores/materiais.
04
Seleção de um produto. Desenvolvimento
(cor/ proporção/acabamento).
05
Desenvolvimento (cor/
proporção/acabamento).
06
Desenvolvimento (cor/
proporção/acabamento).
Serão levantadas experiências e
aprendizagens, assim como alternativas
de trabalho.
Explorando novas formas de
aplicar/usar o material conhecido.
Apresentação de novos materiais para
uso na produção.
O grupo selecionará um produto
específico. Após iniciarão a confecção
do mesmo seguindo critérios de
qualidade.
O grupo selecionará um produto
específico. Após iniciarão a confecção
do mesmo seguindo critérios de
qualidade.
O grupo selecionará um produto
específico. Após iniciarão a confecção
do mesmo seguindo critérios de
qualidade.
07
08
Acabamento: a importância da finalização
do produto.
Novos produtos.
Será colocada a importância do
acabamento com qualidade.
A ideia é oportunizar conhecer novos
produtos ampliando as possibilidades de
atuação.
Fonte: Elaborada pelo autor
Foram feitas visitas aos Centros para conhecer os espaços e apresentar o projeto. Nas
apresentações, foi mostrado o trabalho da incubadora de modo a contextualizar a forma de atuação
com os empreendimentos solidários, colocando que o grupo participante do projeto poderia
futuramente formar um empreendimento de economia solidaria, caso houvesse o engajamento. Nas
apresentações houve interesse por parte de alguns usuários, mas um número relativamente pequeno.
Após a apresentação do projeto, foi levantada uma lista com as pessoas interessadas em fazer
parte do mesmo. Inicialmente havia vinte pessoas na lista, o que foi considerado um número alto de
pessoas para uma oficina. Sendo assim, o grupo seria dividido em dois, havendo dois encontros
mensais para cada turma. Foi pensado também na mescla entre usuários de diferentes Centros,
visando a integração do grupo como um todo.
Em reunião com técnicos dos CAPS, foi definido um dia da semana para a execução das
oficinas, considerando as atividades internas dos Centros e a disponibilidade dos demais
envolvidos. O próximo passo seria fazer o levantamento dos participantes para organizar as turmas,
nesse primeiro momento não foi feita nenhuma inscrição formal. Definido o dia da semana ideal
para as oficinas e articulado o ingresso de usuários no projeto, foi dado o inicio as oficinas.
O primeiro encontro ocorreu no dia 29 de abril de 2015. Eram esperadas vinte pessoas que
iriam participar das oficinas, mas devido a desistências e motivos diversos, apenas oito pessoas
compareceram nesse primeiro dia de oficina. Foi de certa forma uma surpresa, pois menos da
metade de pessoas interessadas compareceu, mas entende-se que se trata de pessoas em tratamento
psicológico, o que pode dificultar o acompanhamento.
Primeiramente, foi feito o acolhimento ao grupo, com uma roda de apresentações. Alguns
técnicos do CAPS Travessia participaram desse primeiro encontro, dando um acompanhamento
inicial aos usuários. A rodada de apresentações, que deveria ser curta, se estendeu durante muito
tempo. Percebeu-se que o grupo é bastante espontâneo e comunicativo. Fizeram muitas perguntas,
colocaram ideias, conversaram assuntos diversos relacionados ao artesanato e se mostraram
contentes em fazer parte do projeto.
Haviam algumas propostas para este primeiro encontro, mas devido ao prolongamento da
conversa no processo de apresentações, foi aproveitado este momento de conversa menos formal
para retomar a proposta do projeto e explicar sobre questões que iam surgindo e até mesmo
analisando possíveis mudanças que poderiam ocorrer no projeto. O trabalho com grupos é muitas
vezes imprevisível, nesse primeiro dia de oficina o planejamento não foi cumprido como no escrito.
E isso foi visto como positivo, considerando a qualidade do grupo.
Alguns dos participantes já eram artesãos, produziam produtos e comercializavam. O que
buscavam era o aprimoramento e como foi dito por um dos alunos: “A gente quer fazer a troca de
conhecimentos, esse é um espaço que a gente pode fazer muitas trocas.” Para mim, que sou
estudante de Design e bolsista da incubadora, certamente iria ser uma grande oportunidade de
adquirir novos conhecimentos e também passar adiante um pouco da teoria que aprendo no meio
acadêmico. Uma ideia que me veio em mente é a de que “eu vou aprender muito mais com eles do
que eles comigo”. Nesse primeiro dia de oficina deu para sentir a qualidade do grupo, e em relação
ao número de ausentes, foi colocado pela técnica pedagoga da incubadora que “é melhor ter um
grupo pequeno e interessado, em vez de um grande número de pessoas, mas com menor vontade e
interesse.”
O primeiro dia de oficina foi positivo, o segundo seria na próxima semana, na qual eu iria
apresentar um material teórico sobre o artesanato. Como eu também estava aprendendo, deveria
estudar sobre o assunto para depois desenvolver um material teórico para compartilhar com o
grupo. É um trabalho muito interessante, pois nele se coloca em prática a multiplicação do saber, e
quando o saber é compartilhado, ele se enriquece quando somado a outros saberes. Trabalhar com
pessoas mais experientes é um trabalho gratificante, sendo muitas vezes complicado se enxergar na
condição de “professor”.
Juntamente com o desenvolvimento das oficinas de artesanato, a aluna que fazia seu estagio
curricular também desenvolvia dinâmicas de grupo. Seu objetivo era fortalecer o trabalho em grupo,
de modo a complementar o trabalho por mim realizado.
Na segunda oficina dei inicio ao conteúdo teórico sobre artesanato. Apresentei slides
contando a historia do artesanato de modo geral, aprimorando o conhecimento já obtido por alguns
membros do grupo. No decorrer da apresentação o grupo se mostrou interessado e participou
ativamente da atividade. No conteúdo da apresentação coloquei alguns exemplos de artesanato, de
modo a analisar sob o ponto de vista do design e tentando salientar os pontos fortes e pontos fracos
dos exemplos expostos. No final coloquei ideias que devem ser pensadas por eles no momento de
produzir seus produtos, questões como valores, qualidade, funcionalidade e etc.
Houve uma boa troca de conhecimentos, foi muito interessante passar um pouco do meu
conhecimento acadêmico e empírico para um grupo de pessoas onde parte delas já pratica
atividades de artesanato. Foi percebido que a teoria pode ser facilmente colocada em prática, e que
o conhecimento é um fator relevante nesse meio. A principal ideia que eu tinha era a de ampliar a
visão do grupo, “abrir a cabeça do pessoal”, mostrar a ele que existe muita coisa sendo feita pelo
mundo, e que basta pesquisar para adquirir novas ideias e evoluir a mente. Coloquei que referências
diversas é um fator que pode diferenciar um produto, de modo que quanto mais se trabalhar na
qualidade do produto, mais e melhor aceito ele será no mercado.
Outro ponto que coloquei foi sobre o valor contido em um produto artesanal. Por tratar-se de
um produto produzido manualmente e localmente por pessoas, e não por máquinas, deve-se colocálo a frente dos demais. Esse seria um ponto de vista social e ambiental. Um produto deve ser
analisado em aspectos diversos, como onde foi feito, por quem foi feito, como foi feito e etc. Esses
aspectos são muito importantes, pois quando expostas ao cliente, transparece a historia do produto,
o que acaba o valorizando. Procuro sempre expor ideias que são pouco conhecidas, algo que é
importante e que pode e deve ser colocado em prática. Valores sociais são mais importantes que
valores materiais (minha opinião), então, como se vive em uma sociedade de consumo material,
procuro sempre buscar a questão de valores sociais em paralelo ao material, nunca a deixando de
lado ou para trás.
Na segunda oficina houve também a assinatura das autorizações de uso de imagem, visando
que possivelmente o projeto será publicado em algum meio de comunicação e serão utilizadas
imagens do grupo. Foi feita também a inscrição do projeto e a escolha de um nome para o mesmo,
através de uma dinâmica realizada pela estagiária, onde o grupo escolheu o nome Criarte. Uma
coisa interessante que ocorreu neste encontro foi a presença de uma bolsista estadunidense de um
projeto de outra universidade da região, ela estava fazendo um estudo sobre economia solidaria e
achou interessante acompanhar o trabalho da incubadora com este grupo. É interessante a relação
com pessoas de outras nacionalidades do ponto de vista cultural e também no aspecto de que isso
pode despertar nas pessoas a vontade de conhecer coisas novas. No meio acadêmico é normal
acontecer esse tipo de coisa, e é muito interessante por sinal. Mas talvez para os usuários dos
Centros isso é pouco comum e até mesmo não muito interessante, ou insignificante, mas no entanto,
a oportunidade lhes foi dada.
Na primeira oficina foi colocada pelo grupo em algum momento a ideia de se produzir velas
aromáticas, era um produto que lhes interessava, mas nada foi definido neste primeiro momento.
Como as oficinas eram realizadas em uma sala de aula comum, e não havia no Unilasalle a
disponibilidade de um laboratório para atividades práticas que requeressem ferramentas especificas,
como por exemplo, um fogão (necessário para a produção de velas), foi colocado na terceira oficina
que não haveria a possibilidade de se produzir velas aromáticas, e sendo assim, deveria ser
escolhido outro produto. Até foi proposta a ideia de se trabalhar com moldes de velas, onde seria
desenvolvida a técnica de se fazer moldes personalizados, e consequentemente, o grupo daria
sequencia produzindo velas em algum outro espaço. Mas o grupo não concordou, pois sua vontade
era produzir velas.
Foi um momento tenso, algumas pessoas do grupo ficaram desmotivadas e até pensaram em
desistir do projeto. Percebeu-se que dentro do grande grupo, havia alguns usuários do mesmo
Centro que já haviam decidido entre eles que gostariam de fazer velas, e como eles eram a maioria
do grupo do projeto, tiveram destaque. Foi uma surpresa para nós que executamos o projeto, pois
não sabíamos que eles já haviam decidido que queriam fazer tal produto, esperávamos que o grupo
compreendesse a limitação de estrutura que tínhamos e concordasse em selecionar outro produto.
Isso nos serviu de experiência para futuros projetos. Ao elaborar o projeto não foi pensado na
limitação de estrutura que o centro universitário nos fornecia, e para trabalhar com artesanato é
essencial a disponibilidade de um laboratório ou espaço viável para a execução de atividades
práticas.
Após esse momento de tensão, seguiu-se uma conversa com o grupo explicando melhor a
situação e tentando resolver o problema. Realmente eram velas aromáticas que o grupo queria fazer,
então, a conversa foi direcionada a buscar alternativas. Foi pensado na possibilidade de se realizar
as oficinas em algum dos Centros, pois haviam espaços para a prática de atividades de artesanato.
Os usuários do CAPS Amanhecer colocaram que havia fogão e espaço para se produzir velas,
então, foi dado o procedimento para se tentar executar naquele espaço as oficinas. Foi explicada a
situação ao Centro, logo, foi discutido em assembleia e foi aprovado o desenvolvimento do projeto
dentro do Centro. Foi legal ver que o grupo se motivou em buscar uma solução para aquele
problema, e positivamente acabou conseguindo resolver.
O próximo passo (para mim) seria providenciar os materiais necessários para se produzir
velas e aprender as técnicas de produção. Fiz uma lista com todos os materiais necessários e
providenciei a compra dos mesmos. Em paralelo a isso, elaborei um passo a passo para a produção,
cujo seria distribuído para o grupo. Antes do inicio das atividades práticas no Centro, ocorreu uma
oficina teórica para irmos estudando os processos de produção. Através de vídeos fui mostrando
algumas técnicas e alternativas de trabalho, o grupo acompanhou muito empolgado e motivado para
dar inicio as atividades práticas.
Na quarta oficina, além da aula teórica sobre produção de velas, foi realizada uma dinâmica
de grupo pela estagiária e a estudante de psicologia da incubadora. Foi um momento muito
interessante e emocionante, o grupo foi instigado a expressar o que sentia em relação ao projeto. Foi
colocado que o projeto era uma oportunidade muito especial e que possibilitava um “recomeço”.
De modo geral, o grupo estava empolgado e até colocou que se sentia muito bem pelo simples fato
de estar naquele espaço, deixando um pouco de lado a condição de sujeito em tratamento e estando
num lugar “limpo”, no sentido de estar havendo o inicio de um novo ciclo.
Na primeira oficina prática levei o material necessário para a produção de velas e foi acordado
que todo o material ficaria lá, sob responsabilidade dos usuários daquele Centro. Foi distribuído aos
participantes do projeto os passos para a produção de velas, sendo estes explicados, assim como
dúvidas e questões diversas. Logo, dei inicio a execução dos processos de produção explicando-os
ao grupo, ele participou ativamente da execução dos passos, havendo trocas de informações e
esclarecimentos de dúvidas. Após o termino dos processos de produção, foram dadas as
recomendações finais e combinado de no próximo encontro o grupo fazer as velas.
Na oficina seguinte o grupo executou os processos de produção sob minha monitoria, fui
dando as dicas e deixando que o ele pusesse em prática todo o conteúdo que lhe foi passado até
então. Neste dia, alguns membros do grupo não compareceram, e também nem todos participaram
ativamente dos processos, mas estavam acompanhando. O grupo é bastante comunicativo e isso
acaba tirando um pouco o foco do trabalho, sempre tenho que convocá-los para fazer as tarefas, pois
caso contrário, apenas alguns membros praticam enquanto os demais ficam apenas observando.
Ocorreu tudo bem, dei dicas e ajudei durante os processos, ocorreram experiências que são
importantes para o aprendizado.
Após as tarefas práticas, a estagiária propôs uma dinâmica referente à trabalho em equipe.
Cada membro deveria iniciar um desenho e passar adiante para o desenho ser complementado pelo
restante do grupo, resultando em desenhos feitos com a colaboração de todos. Após esta tarefa, o
grupo foi instigado a levantar reflexões sobre a dinâmica. Foram levantadas questões de crítica,
divisão de tarefas, companheirismo e trabalho em equipe no modo geral. Foi ressaltada ao grupo a
importância do trabalho em equipe, de modo a superar todas as dificuldades encontradas.
Alguns membros do grupo já tinham idealizado que iriam dar continuidade na atividade de
produzir velas como atividade econômica. Pediram informações dos custos dos materiais e fizeram
pesquisas. Em paralelo a isso, alguns membros do grupo ficaram para trás, devido a faltas e pouca
participação nas atividades. Acredito que estas pessoas possuem dificuldades no acompanhamento,
assim como também é muito relevante a questão de interesse, alguns se apresentam mais
interessados do que outros. Mas de modo geral, é bom perceber que o trabalho realizado até então
tem afetado positivamente algumas pessoas em situação de vulnerabilidade psicossocial.
Na sétima oficina foi trabalhado o acabamento das velas, também houve uma conversa com o
grupo para discutir questões sobre o andamento do projeto. A estagiária colocou questões ao grupo
sobre o relacionamento do mesmo com os demais usuários do CAPS, no sentido de conscientizá-los
da importância de manter boas relações com este grupo externo ao projeto que poderá ser
beneficiado na réplica do projeto, onde os próprios aprendizes serão os oficineiros. Isso devido a
algumas atitudes do grupo que se mostrou muito incomodado com a presença de alguns usuários
não pertencentes ao projeto no espaço onde ocorrem as oficinas. Foi levantada também a questão da
ausência de alguns membros do grupo, cujos fazem parte de outro CAPS, podendo este fato estar
relacionado às ausências. O grupo entrou em consenso de que deve haver mais tolerância com os
usuários do CAPS externos ao projeto e que é importante manter boas relações para que os próprios
não sejam prejudicados de alguma forma. Em relação aos colegas de grupo ausentes, foi levantada a
questão de interesse maior por parte de alguns, e ao mesmo tempo, também pode haver dificuldades
dos demais em acompanhar o andamento do projeto. Foram opiniões semelhantes às minhas.
Após a conversa, foi dado o início às etapas de acabamento das velas, levei as ferramentas
para o devido trabalho e foram praticadas algumas técnicas de acabamento e colocadas algumas
possibilidades de trabalho. Durante os processos sempre são ressaltadas as experiências que se dão,
de modo que elas servem de aprendizado para seguir o trabalho visando sempre maior qualidade. O
próximo passo para as oficinas práticas é trabalhar na embalagem do produto, após a conclusão do
produto, serão feitas oficinas de cunho administrativo, como o custo do produto, a precificação e
etc. A ideia é passar ao grupo todo o conhecimento necessário para empreender, e esse é o papel da
incubadora.
Considerações finais
O desenvolvimento deste projeto está sendo muito valioso para mim, pois nele aprendo muita
coisa sobre trabalho com grupos, assim como desenvolvo minhas capacidades de lidar com grupos.
Pelo fato de ser um trabalho realizado com pessoas em tratamento psicológico e que muitas vezes
possuem muitos problemas pessoais, há um aprendizado social muito relevante nesse meio, e isso
valorizo muito no meu trabalho, pois me agrega como cidadão.
Em relação ao desenvolvimento das oficinas de artesanato está ocorrendo tudo bem, os
produtos estão sendo produzidos com qualidade e os membros mais ativos do grupo já estão
dominando as técnicas. O projeto não está seguindo à risca o cronograma pré-estabelecido, isso se
deve à instabilidade que ocorre no trabalho com grupos, imprevistos e readaptações são constantes.
Mas de modo geral, se percebe que o trabalho realizado até então tem obtido resultados positivos
para alguns usuários dos Centros, não todos, mas alguns, o que para a equipe de trabalho já é um
bom resultado, visto que estamos trabalhando com pessoas em processo de reintegração social.
O projeto ainda está em andamento e a equipe da incubadora fará o possível para encaminhar
o grupo que se formar ao Fórum de Economia Solidaria de Canoas, onde poderão fazer parte da
economia solidária de fato e ter um espaço para debater questões mais abrangentes que envolvem o
trabalho do empreendimento. Pelo andamento do projeto, percebe-se que o grupo que irá se formar
é um grupo pequeno, mas essas poucas pessoas que estão mais envolvidas realmente estão querendo
investir na atividade de artesanato trabalhada neste projeto, a produção de velas artesanais
aromáticas, inclusive já investiram em ferramentas de trabalho.
Na sequência, pretendo escrever um artigo com os resultados finais deste trabalho, destacando
as experiências tidas e como se deu o encaminhamento deste grupo.

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