A Pedagogia da Sensibilidade

Transcrição

A Pedagogia da Sensibilidade
Ano 13 - nº 108 - Maio de 2014
UM NOVO OLHAR
SOBRE A EDUCAÇÃO
A Pedagogia da
Sensibilidade
[Página 13]
Gratidão
por José Pacheco
[Pág. 06]
Escola e Família
por Cleide Arantes
[Pág. 11]
Mudanças e Trasnformações
por Marcus De Mario
[Pág. 16]
Maio 2014
1
SUMÁRIO
03
OS EDUCADORES
06
07
08
09
PELOS CAMINHOS DA EDUCAÇÃO
10
EDUQUEMO-NOS
11
VAMOS CONVERSAR
12
EXPERIÊNCIAS QUE DÃO CERTO
13
Emmi Pikler: os cuidados
com os bebês
Gratidão
por José Pacheco
GESTÃO
E agora, o que fazer?
por Marcus De Mario
OBSERVATÓRIO
Periferias sem
Educação
ATUALIDADES
Os interesses políticos
e a Educação
O desafio de educar
por Ronaldo Gomes
Escola e Família
por Cleide Arantes
Uma Escola
sem Paredes
CAPA
A Pedagogia da
Sensibilidade
16
APRENDENDO A EDUCAR
17
FAMÍLIA
18
20
21
22
ENTREVISTA: PESTALOZZI
23
EDITORIAL
Mudanças e Transformações
por Marcus De Mario
Participação na
Vida Escolar do Filho
por Bruno Zaminsky
Educando as crianças
com amor e liberdade
Fazendo Mais para Você
Com o relançamento da revista ReConstruir, agora em nova
formatação e diagramação, iniciamos um novo período no
IBEM, dentro das comemorações de 15 anos de existência e
atividades do Instituto. E aproveitamos para dar as boas-vindas
a dois novos colaboradores, aos quais devemos o trabalho de
relançamento da revista: a Fernanda Vasconcelos, que com sua
experiência de designer formatou a revista, e também o Flávio
Filipe, webdesigner, responsável pelo novo site. Devemos a eles
novas ideias e vários projetos gráficos.
Como anunciado, também relançamos o Programa Vivendo
Sempre em Paz, agora disponibilizando seis Cadernos de
Atividades Educacionais sobre a Paz, que podem ser acessados e
baixados gratuitamente em nosso site.
Nossos articulistas estão se empenhando em produzir textos
inéditos para a revista, com abordagens práticas e instigantes,
fazendo com que você, leitor amigo, não apenas pense e
repense, mas igualmente tenha em mãos possíveis caminhos,
sugestões práticas, para colocar em ação na sala de aula ou no
ambiente familiar.
O boletim IBEM on Line, trazendo informações variadas
sobre o Instituto, está alcançando cada vez mais escolas e
secretarias de educação, graças ao esforço que nossa equipe
realiza em aumentar o banco de dados.
E, por fim, aí está o Clube Amigos do IBEM, convidando a
todos para se associarem e contribuírem com a manutenção de
nossa organização.
Não esqueça de enviar sua mensagem. Participe!
Sua contribuição é muito importante.
E agora ...
Boa leitura!
PENSANDO A EDUCAÇÃO
Dar a mesma educação
ATIVIDADES
Dinâmicas
Educacionais
CONTANDO HISTÓRIAS
Um simples
desejo
LITERANDO
Leitura Sempre
por Kate Portela
A revista Reconstruir é uma publicação do
IBEM - Instituto Brasileiro de Educação Moral
Coordenção Editorial: Marcus De Mario
Colaboradores: Bruno Zaminsky, Cleide Arantes,
José Pacheco, Kate Portela e Ronaldo Gomes
Projeto Gráfico e diagramação: Fernanda Vasconcelos
Publicação online: Flávio Filipe
www.educacaomoral.org
www.facebook.com/educacaomoral
Imagem: www.wikipedia.org
OS EDUCADORES
Emmi Pikler:
os cuidados com os bebês
Emmi Pikler, nascida em 09 de janeiro de 1902,
em Viena, e falecida em 06 de junho de 1984 em
Budapeste, teve como nome de nascimento Emilie
Madleine Reich, e foi um pediatra húngara, que
introduziu novas teorias da educação infantil, e
colocou-os em prática em um orfanato que ela criou.
SUA VIDA
Emmi Pikler passou a infância
em Viena. Ela era a única criança.
Sua mãe era uma professora de Viena e seu pai era um artesão húngaro.
Em 1908 seus pais se mudaram para
Budapeste. Quando Emmi Pikler
tinha doze anos de idade, sua mãe
morreu.
Ela retornou a Viena para estudar
Medicina, onde recebeu seu diploma
de médica em 1927. Recebeu seu
treinamento pediátrico no Hospital
Infantil da Universidade de Viena
com Clemens von Pirquet e estudou
cirurgia pediátrica com Hans Salzer
.
O terceiro professor da Emmi
Pikler foi o seu próprio marido, um
matemático e educador por cujas
experiências foi confirmada em suas
considerações fisiológicas de desenvolvimento. Juntos, eles decidiram
no nascimento de seu primeiro filho,
permitir que a sua liberdade de movimento e aguardar pacientemente o
seu desenvolvimento. No início, eles
viviam em Trieste e mais tarde em
Budapeste.
Em 1935 Emmi Pikler qualificou-se como pediatra na Hungria.
Desde o início, seu objetivo era pro-
mover o desenvolvimento saudável
da criança. A partir da experiência
com a filha, ela sabia que a criança
não deve ser estimulada ao movimento e ao jogo e que cada detalhe
em lidar com a criança e seu meio
ambiente é importante. Mesmo nestes anos Emmi Pikler escreveu e deu
palestras sobre o cuidado e a educação de crianças e jovens. O resultado
foi o seu primeiro livro para os pais.
Foi publicado em 1940 e passou por
várias edições na Hungria e outros
países.
Os dez anos que trabalhou como
médica de família foram difíceis para
eles, não só porque
a família era judia,
mas também porque o marido estava
na prisão por motivos políticos (19361945). Com a ajuda
dos pais das crianças
que ela cuidou , ela e
sua família sobreviveram à perseguição
dos judeus durante
a Segunda Guerra
Mundial.
Depois da guerra,
ela se tornou mãe de
mais dois filhos. Ela não abriu seu
consultório particular novamente,
mas trabalhava para uma associação
nacional para crianças abandonadas e desnutridas. Além de muitas
outras atividades, fundou em 1946,
a Lóczy, orfanato que ela dirigiu até
1979. Desde o início, ela procurou
estabelecer uma atmosfera reconfortante, incluindo uma cuidadosa
seleção do pessoal, permitindo que
as crianças do orfanato crescessem
sem o dano institucional habitual.
Em 1946 Emmi Pikler fundou o
Instituto Lóczy em Budapeste. Sob
sua liderança, e com a publicação
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OS EDUCADORES
de livros e publicações científicas,
a instituição foi reconhecida internacionalmente Depois que Emmi
Pikler se aposentou em 1978, ela
continuou o seu trabalho científico
e consultivo em Lóczy. Nos últimos
anos de sua vida, ela recebeu mais e
mais reconhecimento na Hungria e
outros países. Em 1984 Emmi Pikler
morreu após uma breve doença.
UM MÉTODOPARA BEBÊS
Sua decisão de se tornar pediatra
a levou de volta para estudar medicina em Viena onde recebeu o título
de PhD em 1927, como especialista
em pediatria do Hospital Infantil da
Universidade de Viena com o professor Von Pirquet e cirurgia pediátrica
com o Prof Salzer. O Método Pikler,
conhecido em todo o mundo, foi desenvolvido através de anos de pesquisas com bebês, onde Emmi percebeu que atitudes vistas nas famílias
e escolas, com intuito de acelerar o
desenvolvimento motor da criança,
como ajudá-la a ficar em pé, a andar, fazê-la sentar sem antes estar
preparada, trazem como resultado
uma criança insegura física e psicologicamente. A aplicação do método Pikler leva em consideração três
princípios:
1) Autonomia,
2) Motricidade livre e Assistência
Necessária,
3) Respeito pelo ritmo e autonomia
da criança.
A aplicação do método, respeitando esses princípios, tem como
resultado crianças mais confiantes,
alegres e ativas. O mesmo percebe-se nas relações com os adultos,
sejam eles educadores ou a própria
família.
Diz-se que em Budapeste, “bebês Pikler” podem ser reconhecidos,
mesmo quando forem mais velhos
porque eles se movem com graça e
liberdade. Segundo Pickler, isso se
deve ao fato de ninguém tê-los forçado sentar ou andar, mas sim autorizados a aprender no seu próprio
ritmo natural.
O INSTITUTO
No Instituto Lóczy, criado por Pikler para atender crianças órfãs ou
abandonadas após a Segunda Guerra Mundial, a médica liderou estudos
sobre o desenvolvimento dos bebês
e a conduta dos adultos responsáveis por essas crianças. Ela deixou
como legado uma sequência detalhada de ações que os profissionais
podem adotar no cuidado cotidiano
dos bebês, de modo a garantir seu
crescimento em condições
físicas, psicológicas e
afetivas saudáveis.
Lóczy, que é o nome
da rua onde a instituição foi erguida, é hoje
chamado Instituto Pikler e não é mais um or-
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fanato, mas uma creche, onde mesmo após as mudanças continua uma
intensa atividade de pesquisa sobre a
infância.
Pikler tinha uma visão aberta de
levar as crianças a serem ativas e autônomas. O mais visível está nos movimentos. Há 100 anos se colocava a
criança de pé, se forçava a criança a
determinadas posturas, ela era colocada em cadeiras e amarrada. As
crianças eram completamente imobilizadas. Quando Emmi Pikler propôs,
então, deixar a criança deitada de costas sobre uma superfície e de barriga
para cima, ela liberou os movimentos
do bebê. Ele não vive passivamente,
fechado, enrolado. Ele pode seguir
seus interesses e, assim, não é necessário a todo o momento provocar o
bebê a fazer alguma coisa.
Ela fundou o instituto em 1946,
recebendo crianças em pequenos
grupos e não 15 ou 20. Ela viu na
Ucrânia dormitórios de 50 crianças.
Então ela formou pequenos grupos,
de dez, oito crianças, e propôs a estabilidade do adulto. Um adulto trabalha sempre com o mesmo grupo; três
pessoas ou quatro por grupo, porque alguns trabalham menos. Mas a
equipe era a mesma durante anos. E
é necessário organizar uma estrutura: pequenas unidades, estabilidade,
para a criança e o adulto se conhece-
OS EDUCADORES
rem. Então o adulto sabia que amanhã e depois de amanhã ele sempre
cuidaria de determinada criança. E
pensava: “eu sei como acalmar essa
criança hoje, porque eu estava ao
lado dela ontem”. Ela elaborou uma
coreografia de como o adulto deve
agir durante os cuidados.
Emmi Pikler trabalhou os detalhes. Por exemplo: não é possível pegar um bebê sem dizer “olá, eu estou
aqui, eu vou te pegar”. Não é permitido pegar e puxar o seu braço e fazer
tudo rápido. Tem de falar, como quando nós falamos com as flores: “O que
você está fazendo? Eu vou te levantar
pelos braços. Eu vou te alimentar”.
O bebê escuta atentamente, ele é humano, muito sensível. Se ele escuta o
adulto, é mais fácil para ele aprender
a falar. E para isso tem de dar tempo.
TRABALHANDO COM BEBÊS
Pikler, em suas pesquisas e trabalhos, viu que após o nascimento, os
músculos do bebê saudável já estão
prontos para funcionar, embora seus
movimentos estejam ainda descoordenados. Ele mexe os braços e as
pernas, mexe o tronco para os lados
e seus gestos parecem em alguns momentos enrijecidos, não tendo controle sobre eles.
Assim, ela descobriu que para
que a criança desenvolva movimentos seguros e suaves, a criança deve
percorrer um longo caminho no seu
desenvolvimento físico e psíquico.
Conforme o bebê vai crescendo, ele
descobre novas possibilidades motoras e durante o período em que ele
está desperto, ele se mexe bastante,
exercendo sua musculatura e aos
poucos torna-se cada vez mais hábil.
É incrível ver como a criança é
perseverante diante do intenso trabalho muscular que varia muito. A
criança rola para o lado, rola para o
outro, descobre que pode se movimentar no espaço, se arrasta, experimenta novos movimentos, novas
posições, descobre o espelho…
A riqueza do movimento livre e
espontâneo desperta na criança um
prazer constante, pois a cada novo
movimento e mudança de posição
ela se apropria mais de seu corpo,
e desta forma sente-se mais segura
consigo mesma. A conquista desses
movimentos foram descobertos por
ela mesma “de dentro para fora”,
respeitando seu próprio ritmo e com
movimentos leves, ela descobre novas possibilidades motoras.
Um bebé não pode existir sozinho, ele é parte de uma relação. Embora o adulto não precise interferir
diretamente nesse período em que
a criança está desperta, deitada no
chão, descobrindo a atividade autônoma livre, é fundamental que ele
esteja disponível e proporcione um
ambiente seguro, organize o cotidiano da criança, cuidando dela com
respeito, tranquilidade e acolhimento de forma que ela possa evoluir,
desenvolver-se e amadurecer emocionalmente de forma saudável.
Clique e assista um vídeo sobre
o método Pickler para bebês
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PELOS CAMINHOS DA EDUCAÇÃO
por José Pacheco
Doutor em Educação.
Coordenador do Projeto
Âncora (Cotia/SP).
Gratidão
Quando histórias reais fazem pensar e alcançar o verdadeiro valor da educação.
Desta vez, trago-vos algumas histórias
e fico grato pelo tempo que possa ser
dispensado à sua leitura. Falam-nos de
gratidão e poderão fazer-nos pensar no
quanto a gratidão fará, ou não, parte das
nossas vidas. Estou certo de que sabereis
extrair a moral das histórias.
Uma brasileira, sobrevivente de campo de extermínio
nazi, contou que, por duas vezes, esteve numa fila que a encaminhava para a câmara de gás. E que, nas duas vezes, o
mesmo soldado alemão a retirou da fila.
Aristides de Sousa Mendes foi cônsul de Portugal na
França. Quando as tropas de Hitler invadiram esse país,
Salazar ordenou que não se concedesse visto para quem
tentasse fugir do nazismo. Contrariando o ditador, Aristides
salvou dez mil judeus de uma morte certa. Pagou bem caro a
sua atitude humanitária, Salazar destituiu-o do cargo e o fez
viver na miséria até ao fim da vida. Diz um provérbio judeu
que quem salva uma vida salva a humanidade. Em sinal de
gratidão, há vinte árvores plantadas em sua memória no Memorial do Holocausto, em Jerusalém. E Aristides recebeu dos
israelenses o título de “Justo entre as Nações”, o que equivale
a uma canonização católica.
Quando um empregado de um frigorífico foi inspecionar
a câmara frigorífica, a porta se fechou e ele ficou preso dentro
dela. Bateu na porta, gritou por socorro, mas todos haviam
saído para suas casas. Já estava muito debilitado pela baixa
temperatura, quando a porta se abriu e o vigia o resgatou
com vida. Perguntaram ao vigia-salvador: Por que foi abrir a
porta da câmara, se isso não fazia parte da sua rotina de trabalho? Ele explicou: Trabalho nesta empresa há 35 anos, vejo
centenas de empregados que entram e saem, todos os dias e
esse é o único funcionário que me cumprimenta, ao chegar, e
se despede, ao sair. Hoje, ele me disse “bom dia”, ao chegar.
E não percebi que se despedisse de mim. Imaginei que poderia lhe ter acontecido algo. Por isso, o procurei e o encontrei.
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A minha amiga Ângela enviou-me uma mensagem que a
sua neta Giovanna redigiu para um ente querido, que falecera: (…) quero falar sobre o presente de Rei. Acredito que não
possa ser algo material, pois não posso levá-lo com a morte.
Meu presente de Rei é uma lembrança. Um dos grandes presentes que a vida nos deu foi o tempo passado ao lado desse grande amigo. Seu coração e sua casa sempre foram um
grande albergue, recebendo cunhados, amigos e sobrinhos,
como se fossem seus próprios filhos. Obrigado por ter estado
presente em nossas vidas.
Era uma vez… dois amigos: Amir e Farid. Durante uma
viagem, Farid resolveu tomar um banho e foi arrastado pela
correnteza do rio. Amir atirou-se no rio e o salvou. Grato, Farid ordenou a um seu escravo que escrevesse numa pedra, em
letras grandes: “aqui, com risco de perder sua vida, Amir salvou o seu amigo Farid”. Mais tarde, numa discussão, Amir
esbofeteou Farid. Este se aproximou da margem do rio, e
escreveu na areia: “aqui, por motivos tolos, Amir esbofeteou
Farid”. O escravo, que escrevera na rocha a frase anterior,
ficou intrigado: Senhor, quando fostes salvo, mandastes
gravar o feito numa pedra. Agora escreveis na areia a ofensa
recebida. Por que agis assim? Farid olhou o escravo e respondeu: “os atos de amor devem ser gravados na rocha, para que
todos os que tiverem oportunidade de tomar conhecimento
deles, procurem imitá-los. Porém, quando recebermos uma
ofensa, devemos escrevê-la na areia, bem perto das águas,
para que seja por elas levada”.
Talvez a gratidão devesse ser uma rotina nas nossas vida,
algo indissociável da relação humana, mas talvez ande arredada dos nossos quotidianos gestos. E se começássemos
cada dia dando gracias a la vida, como faria a Violeta?
Os atos de amor
devem ser gravados
na rocha
GESTÃO
por Marcus De Mario
Educador. Escritor.
Diretor do IBEM.
E agora, o
que fazer?
Suspensão, expulsão e polícia
degradam a escola e mostram
fraqueza da gestão escolar em
enfrentar o problema da violência
Para resolver o dramático problema da violência nas escolas sugestões e medidas as mais diversas estão em pauta: proibir o tema
consumo de drogas na sala de aula;
silenciar diante da descoberta de
um aluno portar uma arma; criar
bônus salarial para os docentes que
lecionarem em escolas próximas a
áreas violentas; instalar detectores
de metal e circuito interno de vigilância através de câmeras; manter
ronda policial permanente na porta
das escolas.
Entretanto, nada disso será solução. Ninguém cogita de rever
a filosofia que rege a educação.
Ninguém pensa em modificar o
processo
ensino-aprendizagem.
Ninguém quer saber de reestruturar as escolas. E, pior, a maioria
dos professores se nega a discutir
a educação, pois ela seria questão
exclusiva do foro familiar ou acadêmico, acreditando que estão na
escola para ensinar, e ai de quem
questionar como ensinam.
Provavelmente devem pensar
que Paulo Freire, educador de ponta do nosso Brasil, estava errado ao
afirmar que aluno é gente, é um ser
humano. Não deve ser, pois é trata-
do como se não fosse. Deve haver
professor que pense que talvez seja
melhor transformar as escolas em
prisões do sistema penitenciário.
Por mais que melindre muitos
professores e pedagogos, precisamos aprender a amar crianças,
adolescentes e jovens, nossos alunos, e fazer a educação com amor.
Precisamos humanizar o processo
ensino-aprendizagem. Precisamos
transformar a escola numa família
em escala maior, no sentido estudado, compreendido e aplicado
por Pestalozzi, marco da educação
mundial.
Mas, que estou dizendo? Citando Paulo Freire e Pestalozzi para
uma massa de professores que
muito mal ouvir falar deles? Proclamando o amor na educação para
quem nunca ouviu falar disso enquanto fazia sua graduação? Sim, e
continuarei falando e proclamando,
e trabalhando, para que a verdadeira educação possa realizar o bom
combate, e vencer a violência.
Mas este é um texto sobre gestão
escolar, e o que esta tem a ver com o
assunto até aqui tratado? Tudo. Se a
gestão escolar não se comprometer
com transformações, se não acreditar nos alunos, se não se empenhar
em capacitar periodicamente os
professores, se não estiver aberta ao
diálogo, se não implementar novas
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Precisamos
aprender a
amar crianças,
adolescentes e
jovens, nossos
alunos, e fazer
a educação
com amor”
práticas pedagógicas, a violência
continuará dominando o ambiente
de ensino.
A criança, o jovem e a família
precisam estar inseridos no processo educacional da escola. Precisam
ver e sentir a escola como um espaço que também é seu. E os professores só podem ser educadores se trabalharem com amor, dando amor,
acreditando nos alunos.
Expulsar o aluno é a medida mais
fácil e inócua: o problema continua,
só foi transferido, e no lugar desse
aluno aparecerá outro.
Aplicar uma suspensão é tudo o
que o aluno quer: não terá de assistir as aulas por um período e voltará
do mesmo jeito.
Chamar a polícia é demonstrar
a toda a sociedade que a escola não
sabe mais educar, que os professores não sabem mais o que fazem.
Para combater a violência não se
pode usar de violência, deve-se utilizar o amor, a educação, mas insistem que educação é igual a ensino,
que ensino é igual a transmissão de
conhecimentos, deixando os valores humanos e a formação do caráter em segundo plano.
Se você é gestor escolar, ou está
pensando em ser, pense profundamente e não violente mais os alunos, os pais, os professores e a…
educação.
O B S E R VAT Ó R I O
Quem percorre as periferias das
grandes cidades brasileiras descobre
um retrato bem parecido: grande número de habitantes, ausência de bibliotecas, poucas unidades de saúde,
quase nenhuma praça, áreas de lazer
improvisadas, escolas públicas sucateadas, falta de delegacias de polícia.
Diante dessa realidade, o tráfico de
drogas ganha espaço e as gangues ou
facções são uma constante. Crianças
e adolescentes saem da escola, ou nela
não chegam, por conta não apenas da
violência, mas também por outro fator
sempre presente: a pobreza com todas
as suas consequências, ou seja, condições precárias de moradia, ensino descontextualizado, situações de racismo,
discriminação social, falta de transporte, entre outras questões.
Segundo dados de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), 70,8% da população extremamente pobre do país é constituída por
pessoas dos grupos de raça ou cor preta
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e parda. A maioria (63%)
das crianças e dos adolescentes de 4 a 17 anos fora
da escola no país é afrodescendente. O relatório
Situação da Adolescência
Brasileira 2011, do Unicef, mostra que 6,1% das
garotas de 10 e 17 anos
sem filhos não estudavam
em 2008, último dado disponível. Na mesma faixa etária, entre
aquelas com filhos, a proporção chegava a 75,7%. Também é grande a evasão
de alunas por motivo de ter de cuidar de
irmãos menores, em auxílio à mãe.
Indisciplina, desinteresse pelos estudos, aulas sem criatividade provocam baixa aprendizagem, atraso escolar, repetência e distorção idade-série.
Muitas escolas percebem os alunos
como um problema, afastando-os do
sistema de ensino para a realidade exterior, considerada pelos jovens mais
atraente que a sala de aula.
Imagem: http://www.inesc.org.br
Periferias sem educação
Em contrapartida assistimos o governo anunciar verbas fantásticas, de
bilhões de reais, para obras de estádios de futebol, construção de avenidas, compra de refinarias no exterior
e tantas outras coisas, deixando a
educação de lado e solenemente fingindo não ver a miséria de boa parte
da população brasileira.
Até quando vamos ter periferias
pobres? Até quando elas estarão marginalizadas? É bom lembrar que todo
ser humano tem direito a uma vida
digna e educação de qualidade.
AT U A L I D A D E
Os interesses políticos
e a Educação
Em ano eleitoral pais e professores
precisam ter atenção redobrada. É fato
histórico em nosso país os candidatos
aos diversos cargos, em todas as esferas,
utilizarem discursos e fazerem promessas
em torno da educação. E é também fato
histórico que, após eleitos, esquecem
os discursos e promessas, deixando a
educação à margem de suas atividades.
E mais: muitas vezes interesses políticos
se sobrepõem às prioridades da área
educacional, com a descontinuação
dos programas pedagógicos, com a
substituição de secretários de educação
e de diretores escolares.
Há que se ter muito cuidado com discursos sobre qualidade do ensino, e também com a apresentação de índices e
estatísticas, nem sempre fiéis à realidade. Muitos políticos
têm a intenção apenas de ganhar votos, não possuindo real interesse na
área da educação. Como os candidatos sabem que apelar para a educação
rende audiência e votos, procuram
valorizar esse aspecto, mas será que
realmente possuem créditos para que
possamos confiar nessa fala?
Lembremos que prometer construir escolas, pagar melhor os professores e assim por diante, nem sempre
impactam positivamente a educação.
Podem ser canais abertos para mais
desvio de verbas, e para a realização
de acordos políticos usando a educação como moeda de troca.
Precisamos escolher os candidatos com cuidado, pois outro grave
problema são as mudanças na administração pública. Em
ano eleitoral é frequente a troca de cargos por conta de
alianças partidárias e, algumas vezes, a educação perde
profissionais valiosos, assim como cargos técnicos são preenchidos levando-se em conta apenas o critério político.
A saída de prefeitos para candidatarem-se a cargos
estaduais e federais acarreta muitas vezes a troca de todo
o secretariado por parte de quem assume, normalmente
o vice-prefeito, ocorrendo quase sempre uma ruptura do
processo educacional no município. É o eterno recomeço,
verdadeira síndrome que abala as estruturas educacionais
do país.
A educação, de fato, precisa ser prioridade na administração pública. Basta de acordos partidários, transferências
de cargos, descontinuidade dos projetos e outras práticas
eleitoreiras que prejudicam o setor. Nem sempre novos planos de governo são positivos para a qualidade do ensino.
Lembre-se o eleitor que a educação é um setor em que
os resultados nem sempre aparecem a curto prazo, e a mudança constante de gestão impede a consolidação de um
trabalho anteriormente proposto. Portanto, muita cautela
diante dos discursos, que são fáceis de serem feitos, mas
nem sempre revelam a verdade.
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EDUQUEMO-NOS
por Ronaldo Gomes
Pedagogo. Psicopedagogo.
Professor da UNISUAM.
Diretor do IBEM.
O desafio
de educar
A solução dos problemas sociais não é de competência
apenas do governo, passa também pela escola e pela família
Reconhecer o trabalho dos poderes
públicos é fundamental, no entanto,
discordar de alguns pontos quanto aos
problemas sociais é ato de cidadania.
Como cidadão com direitos e deveres, devo reconhecer os esforços dos
Governos Federal, Estadual e Municipal, e de todos os seus Secretários das
pastas, assim como os assessores que
buscam efetivamente realizar, trabalhando frente a frente com a população, minimizando ao máximos os problemas sociais.
Deixo apenas 3 pontos a serem observados e, se possível, analisados:
1. Maior fiscalização e supervisão efetivas de todos os secretários e assessores, ou seja, ir
a campo.
2. N
as escolas os profissionais Orientador Acadêmico
e Psicopedagogo deveriam
estar presentes na contribuição e colaboração psicopedagógica, frente às problemáticas que a direção,
corpo docente, corpo discente, pais e comunidade
vivenciam no dia a dia nas
escolas. Trabalho de forma
preventiva.
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3. Não há como separar as pastas, ou seja, todas as secretarias de governo devem estar
uníssono, coesos e integrados,
numa palavra: interligadas,
minimizando problemas de
distanciamentos dos problemas da população em geral.
Ex: A escola integra todas as
secretarias de governo. Transporte, Saúde, Segurança, Administração, Cultura, Pessoas
com deficiência, Políticas das
Mulheres etc.
Desta forma as escolas são o termômetro das problemáticas sociais
de uma comunidade, sinalizando
para sérios problemas que existem e
que hão por vir, mas que não são levadas a sério com a devida urgência,
pelo poder público.
Na escola pode-se trabalhar de forma preventiva, minimizando impactos em todos os setores da sociedade.
Arregaçar as mangas e ir a campo, esse o trabalho para ser realizado
com urgência.
A evasão escolar, por exemplo,
mostra que o pais não está realizando
seu dever de casa em educar, instruir,
ensinar, empurrando as crianças e jovens para fora das escolas.
As escolas são o
termômetro das
problemáticas
sociais de uma
comunidade”.
Outro problema: escolas não realizando seu dever de casa em ensinar,
instruir e educar, rotulando alunos
como difíceis, problemáticos etc..
Escola e família devem priorizar
suas responsabilidades. Enquanto
negligenciamos os compromissos,
frente às ações educativas de nossos
educandos, ambas sofrerão as consequências de sempre, afinal, é uma
via de mão dupla: escola e família.
Ficaremos fadados ao finjo que ensino e educo, enquanto você finge que
aprende e está sendo educado?
Sendo a escola e a família os núcleos de uma sociedade, estas deveriam de fato trabalharem desde
cedo o resgate dos valores humanos,
como o antidoto das problemáticas
sociais da nação.
Numa palavra: eduquemo-nos.
VAMOS CONVERSAR
por Cleide Arantes
Pedagoga. Professora de
Educação Infantil.
Escola e Família
Contribuições Sócio-Educativas
As razões que levam a escola enxergar a família como um vínculo indissociável e participativo é a concepção filosófica em que se baseia. Como
fazer um bom trabalho de educação
se não se tem claro os objetivos e metas que se pretende alcançar? Quando a escola se compromete em trazer,
aproximar a família, ela acredita que
todos contribuem para o desenvolvimento integral desse aluno. E como
desvincular algo que já “nasceu”
vinculado? Ilustremos com algumas
formas de realização este trabalho
de aproximação: Feira Cultural, os
pais se organizam com seus filhos
com um tema relevante e proposto
pela turma. Outro exemplo poderia
ser uma excursão da turma, aqui os
pais se reúnem e comparecem em um
ambiente livre de lazer. Reuniões de
Responsáveis, onde a família participa mais ativamente da construção
dos projetos, iniciativas e contribuem
com ideias. Citemos Andréa Cecília
Ramal (2000), pesquisadora do Centro Pedagógico Pedro Arrupe e autora de Histórias de Gente que Ensina
e Aprende, da EDUSC e doutora da
PUC-Rio. A autora, em seu artigo
para a Revista Pedagógica Pátio sobre avaliação escolar, diz: “Não é possível pensar em formação e autonomia com aulas estruturadas sobre um
paradigma tradicional de ensino”.
Ela aborda claramente a necessidade
de se rever aspectos importantes da
ação pedagógica. Ela ainda comenta
que o aluno é o principal interessado
em verificar o quanto rendeu seu estudo e como pode aprimorar as estratégias de construção desse saber.
A família, como primeiro espaço
de convivência, torna-se excelente
celeiro de afetividade e de compromisso. Não importa a forma com que
a família está constituída (modelos
antigos ou modernos), o respeito e os
limites precisam ser estabelecidos se
pretendemos uma família sob as bases dos valores humanos, da ética e
da cidadania.
Os alunos querem mais liberdade
e levam para a escola os reflexos que
encontram e constroem dentro de
casa. Hábitos que podem prejudicar
ou contribuir positivamente para o
convívio escolar.
VASCONCELOS (1994) argumenta que o aluno precisa se envolver
e entender o que é proposto para ele e
assim ajudar os pais a compreender a
proposta da escola. Os pais, ao estabelecerem com seus filhos, de forma bem
clara, as regras básicas, estará contribuindo para a prevenção de situações
não desejáveis em casa e na escola.
Não é de hoje que se houve falar
em filhos desatentos, tensão e violência no ambiente escolar e familiar. Que fazer diante dessa situação?
Muitos métodos foram apregoados
no passado em que era comum o
uso da palmatória, das réguas, como
meios de punição para os erros de
alunos e filhos indisciplinados. No
entanto, não se concebe mais tal atitude. O autor explica que “o enfoque
tradicional no enfrentamento da indisciplina tem sido o “sermão” e a
punição”. (VASCONCELOS, 1994
p. 90, 95). Em casa ou na escola não
se faz um trabalho de conscientização porque não se tem “tempo a
perder”. Pais e educadores deixam o
“tempo” passar e o problema “só se
avoluma, se multiplica, se agrava!”.
As punições, segundo ele, partem
do pressuposto de que o sofrimento
provocado educa. Uma visão medieval carregada de equívocos. Já o sentido das sanções faz alterar a rotina
para fazer pensar, ajuda na tomada
de consciência, reparar a falta cometida. Não se trata de “fazer sofrer”,
mas sim de ajudar a assumir as responsabilidades de seus atos.
Os alunos e filhos que apresentam
problemas de indisciplina precisam
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VAMOS CONVERSAR
por Cleide Arantes
de uma ação educativa apropriada:
aproximação, diálogo e estabelecimento de contratos. O autor amplia nossa
compreensão quando fala que a sanção
precisa ser relacionada à falta cometida.
Ele chama de “sanção por reciprocidade”. Pais e professores devem pensar
bem para não sancionar sem ter avisado antes o que esperava; não aplicar
sanção maior à falta cometida; não prometer algo que não possa cumprir.
A escola enfrenta grandes dificuldades para o estabelecimento de normas
e limites. Instituição em crise gerada
muitas vezes pela discordância entre a
teoria e a prática, pela falta de diálogo
entre os agentes educadores e todos da
comunidade escolar, a escola se vê “so-
zinha” com tantos desafios. Abriríamos
outro tema se fôssemos desenrolar esse
assunto.
A escola precisa encontrar na família maior interação no processo de
superação. Uma das melhores formas
de se atingir a família é através dos próprios filhos e a escola desenvolver um
trabalho participativo.
REFERÊNCIAS
PÁTIO. Revista Pedagógica. Porto Alegre, RS: Artes Médicas – ano 3, nº 12 – fev/abril, 2000.
VASCONCELOS, Celso dos Santos. Disciplina: construção da disciplina consciente e interativa em sala de aula e na escola / Celso dos S. Vasconcelos. –São
Paulo: Libertad, 1994. – (Cadernos Pedagógicos do Libertad; v.4).
Uma Escola sem Paredes
A Escola Municipal Presidente Campos Sales, localizada em Heliópolis, zona
sul da cidade de São Paulo (SP), implementou um projeto inovador: as paredes
das salas de aulas foram derrubadas. No
lugar, surgiram grandes salões de aula
onde os alunos da mesma série são agrupados formando uma só turma.
O objetivo é buscar uma alternativa à
forma tradicional de educação, fazendo
com que os alunos se tornem cidadãos
ativos na sociedade, além de conseguirem ingressar no ensino superior e, posteriormente, no mercado de trabalho.
Antes considerada uma favela, Heliópolis hoje é um bairro que possui cerca
de 120 mil habitantes e tem uma área de
quase um milhão de metros quadrados.
“A escola exerce um grande papel no
local, pois é um centro de liderança e os
problemas da comunidade passam a ser
também da escola. Tudo passa pela educação”, explica o diretor Braz Rodrigues
Nogueira.
Inaugurado em 1927, o colégio começou a se transformar em 1999. Nesse
ano uma aluna envolvida com o tráfico de
drogas foi assassinada depois de sair da
escola. O fato fez com que Braz e outros
integrantes da escola organizassem uma
passeata pela paz com o objetivo de mobilizar a comunidade. O diretor lembra
que se sentiu responsável pelo ocorrido
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Maio 2014
EXPERIÊNCIAS QUE DÃO CERTO
e que precisava promover uma mudança
na escola, única que era mantida aberta
na região na época.
Foi então que, em 2006, em um encontro com pessoas ligadas à educação,
Braz conheceu o modelo pedagógico da
Escola da Ponte, de Portugal. Resumidamente, o projeto consiste em não oferecer aulas expositivas e um currículo definitivo. Os alunos escolhem suas áreas
de interesse e desenvolvem o itinerário
de aprendizado, por meio de projetos de
pesquisa individuais e em grupo. À medida que se sente preparado, cada aluno
procura o professor, e juntos fazem a
avaliação do trabalho. Diante do modelo,
o diretor brasileiro, junto com a comuni-
dade, decidiu implementar um projeto
semelhante na escola de Heliópolis.
Hoje, o Campos Sales tem cerca de
1.300 alunos que ainda são separados
por séries. Eles seguem o plano pedagógico da escola, não escolhendo suas áreas de interesse, mas estudam em grupos
de trabalho, pesquisando da forma que
preferem. Assim, os professores, sempre
mais de um nos salões, não exercem o
papel de transmissores do saber, mas sim
de auxiliadores no processo de aprendizagem.
Os alunos estão satisfeitos, pois conseguem aprender mais e, sempre que têm
dúvida, é possível resolvê-la com os colegas, antes de recorrer aos educadores.
Clique na imagem para assistir a
reportagem sobre esta escola.
C A PA
UM NOVO OLHAR
SOBRE A EDUCAÇÃO
A Pedagogia da
Sensibilidade
A Pedagogia da
Sensibilidade
trabalha a teoria
e a prática da
educação moral
e formação do
caráter do homem,
considerando-o
um ser integral
- inteligência e
sentimento criado por Deus
para um fim
superior na vida.
Sua base está em três princípios: educação com amor, educação com exemplo, educação com experiência própria. Estuda e desenvolve os valores humanos, promovendo a sensibilização dos sentimentos e a compreensão da vida,
fazendo com que o educando tenha atitudes conscientes de valorização de si
mesmo e dos outros.
CONCEITO DE SENSIBILIDADE
Pesquisando os dicionários encontramos para a palavra sensibilidade dois
conceitos. O primeiro conceito é: "Faculdade de sentir; sentimento; faculdade
de experimentar sentimentos de humanidade, ternura, simpatia."
Sendo a sensibilidade uma faculdade, isso significa que a mesma pertence
ao homem, é-lhe natural. Somos sensíveis porque a sensibilidade já está em
nós, mas o grau de sensibilidade varia de indivíduo a indivíduo, e num mesmo
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C A PA
indivíduo sofre graduação de intensidade de acordo com o
fato, o momento, as pessoas envolvidas. É que cada um de
nós possui diversificadas experiências de sentimentos de
humanidade, ternura e simpatia e está num determinado
patamar de desenvolvimento da sensibilidade.
Estudos revelam que crianças que raramente ou nunca
são surradas têm melhor desempenho em testes de inteligência do que crianças que apanham freqüentemente.
O atraso no desenvolvimento de suas capacidades cognitivas está relacionado com a falta de diálogo e afeto dos
pais, fatores de estímulo e enriquecimento de sua capacidade de aprender. Quanto mais diversificadas as experiências, melhor desenvolvimento cognitivo e emocional.
O segundo conceito encontrado para a palavra sensibilidade é: "Compaixão; emoção; sentimento; afetividade." Compadecer-se do sofrimento do outro; emocionar-se com a alegria do outro; sentir afeto por alguém, são
estados sensíveis do ser, manifestações de sensibilidade,
floração dos sentimentos.
VISUALIZANDO A SENSIBILIDADE
Eis a sensibilidade: 1. faculdade de experimentar sentimentos de humanidade; 2. possui graus variados de
intensidade; 3. depende dos estímulos e do afeto que
recebe; 4. exterioriza-se através da compaixão e da alegria; 5. sua promoção é feita através dos relacionamentos interpessoais; e 6. é característica predominante do
homem moral.
A sensibilidade, por possuir graus de intensidade,
pode ser trabalhada pela educação, fazendo com que o
ser eleve seus instintos naturais ao grau de sentimento,
o que depende de uma pedagogia, ou seja, o conjunto
teórico de ensino-aprendizagem que norteia o processo educativo.
DEFININDO SENTIMENTO
Sentimento é a disposição afetiva do ser em relação a coisas de ordem moral ou intelectual. Essa "disposição afetiva" é muito
importante, pois compete
à educação moral despertar essa disposição em cada ser,
e isso a partir da
infância. Se colocarmos a palavra
"sentimento" no
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Maio 2014
plural, ampliamos seu entendimento, pois então teremos o conjunto das qualidades morais do indivíduo.
As qualidades morais podem ser listadas como sendo:
paciência, humildade, benevolência, fraternidade, honestidade, solidariedade, tolerância, operosidade, ou seja, o
conjunto das virtudes que fazem o homem moral. O educando deve trabalhar os sentimentos para: a) estar ligado
ao ambiente em que vive; b) elaborar conceitos éticos; c)
incorporá-los ao patrimônio psíquico; e d) realizar a aquisição do senso moral.
Para que essa educação dos sentimentos se realize dependemos: a) do ambiente em que vivemos (natural e social); b) das influências que recebemos (do meio, dos outros, da sociedade); c) das prioridades escolhidas (uso da
liberdade); e d) do esforço de nos auto-educarmos (querer, saber, amar).
TRABALHANDO OS VALORES HUMANOS
Podemos apresentar o seguinte quadro sintético
dos valores humanos: 1. Valores Físicos: Corpo;
Atividades Físicas; 2. Valores Intelectuais: Economia; Política; Cultura; Ciências; 3. Valores Morais:
Sentimentos; Sociedade; Artes; Virtudes; Família;
4. Valores Espirituais: Religiosidade.
Os valores morais e espirituais, de ordem superior,
devem orientar os valores
físicos e intelectuais, mas
todos necessitam ser trabalhados em conjunto, pois
fazem parte de um mesmo
sistema, que é a educação.
PROCESSO AVALIATIVOCONSCIENCIAL
Os sentimentos e os conhecimentos estão integrados num
processo dinâmico de desenvolvimento do educando, motivo
pelo qual podemos dizer que a
razão humana é formada de dois
componentes básicos: 1. intelecto
(a racionalidade); 2. sentimento (a
disposição afetiva).
C A PA
Nem apenas Q.I. (coeficiente intelectual) nem apenas Q.E. (coeficiente
emocional), mas ambos, num sistema
funcional que chamamos de Processo
Avaliativo Consciencial (PAC) quando o educando realiza seu auto-descobrimento. O Processo Avaliativo Consciencial leva o educando a: a) dar valor
às experiências situacionais e pessoais;
b) dar e receber cargas de sentimento; c)
desenvolver a capacidade de afetar e ser
afetado; d) vincular-se ao objeto (coisa ou
sujeito) afetado e/ou que afeta; e) provocar relacionamento com o próximo.
PRINCÍPIOS
METODOLÓGICOS
A Pedagogia da Sensibilidade trabalha no
sentido de dispor o educando para fazer por
si mesmo a conquista das virtudes. Para tanto
faculta o desenvolvimento do seu senso moral e
coloca sua inteligência a serviço do bem. Isso não será
alcançado pelo simples estudo teórico, necessário porém
incompleto sem a prática, sem a experiência viva, pois o
educando deve se sensibilizar diante do próximo através
da resolução de conflitos, da cooperação, do exercício da
fraternidade e da solidariedade.
Tanto no lar como na escola devem ser propiciados ao
educando práticas reais de vivência solidária, ao mesmo
tempo em que exercita o conhecimento de si mesmo, como
ser integral que é.
O sentimento é conteúdo e também expressão das
nossas relações, e tem por objetivo auxiliar na avaliação e
compreensão do processo racional de tomada de decisão
diante da vida.
A Pedagogia da Sensibilidade leva o educando a se sensibilizar diante da vida e do próximo, a se descobrir como
ser integral, a agir em benefício de si mesmo e dos outros.
Para chegarmos às suas finalidades e consequências
necessitamos colocar em ação uma metodologia interativa, mesclando conteúdo curricular com atividades de
desenvolvimento dos sentimentos: exercícios de vida;
práticas de bondade; vivências de solidariedade; técnicas de sensibilização; atividades de desenvolvimento do
instinto, do cognitivo, do sentimento; técnicas de estudo;
jogos cooperativos; jogos para estimulação das relações
interpessoais.
As expressões da criatividade pelas artes plásticas, o
teatro, o cinema, a música, a literatura e outras manifestações culturais devem estar presentes no desenvolvimento
tanto do educando enquanto "ser no mundo", como dos
conteúdos curriculares das disciplinas.
A Pedagogia da Sensibilidade deve permear todo o sistema ensino-aprendizagem, abarcando toda a escola, toda
a dinâmica educacional, numa visão integral e espiritualizante do educando e da educação, por isso trabalhando
num mesmo conjunto o educando, o educador, a escola, a
família e a sociedade.
A Pedagogia da Sensibilidade leva o educando
a se sensibilizar diante da vida e do próximo,
a se descobrir como ser integral, a agir em
benefício de si mesmo e dos outros.
PARA SABER MAIS
Visite o site do IBEM: www.educacaomoral.org.
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APRENDENDO A EDUCAR
por Marcus De Mario
Educador. Escritor.
Diretor do IBEM.
Mudanças e
Transformações
Resistência para as transformações necessárias
sempre existirão, mas podem ser superadas
Fazer mudanças pedagógicas na
escola não é tão fácil, são muitas as resistências. A começar da gestão escolar,
que muitos ainda chamam de direção
escolar, nem sempre sensível aos reclamos da sociedade e dos pensamentos
educativos.
Há também a resistência dos professores, acomodados ao sistema, à
prática pedagógica um tanto quanto
“secularizada”, afinal mudar dá muito
trabalho, não tanto em termos físicos,
mas pessoalmente falando, pois mudar
significa renovar posturas, o que nem
todos estão dispostos a fazer.
Temos um terceiro nível de resistência, externa, que é exercida pelos pais,
acostumados a uma escola tradicional,
envolvidos por um processo “passagem para a faculdade via vestibular”,
e que cobram da escola as “notas” dos
seus filhos como único meio possível será? - de avaliação.
Como vemos, são muitas as resistências. Por esses motivos, porque não
são poucos, as transformações são, em
grande maioria, de “fachada”. Uma
maquiagem física na escola - nova
pintura, novos equipamentos - e está
carimbada a “mudança”. Ou, em termos de procedimentos pedagógicos, a
implantação de algumas novas ideias,
a introdução de novas atividades - e,
pronto, está feita a “transformação”.
A verdade é que, apesar das inúmeras oportunidades de capacitação
pedagógica, porque elas existem e são
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oferecidas, vários desses conteúdos são
sumariamente arquivados/engavetados pelos professores após a capacitação, o que impossibilita que o processo
educacional seja renovado. E o problema não são apenas esses professores
arquivistas, mas também seus gestores, que não implementam na prática
as capacitações.
Agora, diante desse complexo quadro de resistências, podemos avaliar
as barreiras a um projeto de educação
moral, que muitos confundem com ensino religioso, confusão essa originada
do encobertamento da crise moral pela
qual passam o homem e a sociedade.
Como poucos querem enxergar e
discutir as inversões de valores, teimando em estabelecer diferença entre “ser ladrão”, por exemplo, e “ser
corrupto”, não querendo entender
que todos “roubam” e assim prejudicam a coletividade, a educação moral
não tem espaço, não é prioridade, até
porque, para trabalhar a formação do
caráter do educando, é preciso antes
trabalhar a nossa formação do caráter,
e isso nem todos os gestores, professores e pais querem fazer. Dura realidade, mas verdadeira.
De qualquer forma acreditamos
na transformação através da educação moral, e que a escola fará significativas mudanças quando reconhecer que o caminho é a aplicação da
educação moral.
Ah, você quer saber o que é, afinal,
educação moral? Convido-o a ler meu
livro “A Educação Moral e Sua Aplicação”, disponível em formato digital
(eBook) em www.almadolivro.com.
Uma grande nação é construída
pela educação. Uma educação que
trabalhe valores humanos, ética, cidadania, espiritualidade do ser, humanização das ações, com o olhar
voltado para o futuro enquanto mantém no hoje os pés no chão.
Apesar das resistências, afirmamos que a educação tem solução, e
que essa solução está intimamente associada à vontade política de fazer, de
implementar ações continuadas, para
que o quadro esteja muito melhor no
futuro próximo.
E nossa participação, como cidadãos, nesse processo de melhoria da
educação é imprescindível.
Vamos, pelo menos, pensar sobre o
assunto?
FAMÍLIA
por Bruno Zaminsky
Doutor em Educação.
Professor universitário.
Pais e Escola
1. comparecer na escola sempre que
pedido ou por iniciativa própria;
2. participar ativamente e cooperar
em atividades extracurriculares;
3. incentivar a criança a usar a
biblioteca da escola, se existir.
Participação na
Vida Escolar do Filho
Compete aos pais, na educação dos filhos, muito mais do
que somente cobrar o dever de casa trazido da escola
Assistimos, de há muito tempo,
grande maioria dos pais limitarem-se,
com relação à vida escolar dos filhos, a
duas ações: 1 – comparecer na escola
somente quando esta convoca; 2 – verificar e, às vezes, apoiar a realização
do dever de casa. Convenhamos que
é bem pouco, num momento tão rico
para a criança, onde ela amplia e aprofunda seus conhecimentos, suas experiências de vida e insere-se em novos
contextos sociais. Por que essa falta de
interação entre os pais e a vida escolar
dos filhos? Um dos motivos da baixa
participação dos pais decorre da postura de grande parte das escolas, onde
direção e professores não avaliam com
muita satisfação essa presença, considerada intrusa, algo que atrapalharia
o andamento pedagógico das atividades. Pais e responsáveis são vistos
como pessoas que nada sabem de educação, de ensino e, portanto, seriam
um incômodo, sendo melhor ficarem
distantes do ambiente escolar.
Esse pensamento, muito utilizado,
é um equívoco. Diversas experiências e
pesquisas mostram que quando os pais
são bem-vindos e são integrados ao
dia a dia da escola, participando mais
ativamente das atividades de ensino, o
rendimento dos alunos melhora significativamente. E os pais e responsáveis
que pouco entendem de educação, passam a ter um outro olhar sobre a escola,
a importância dos estudos e do relacionamento interpessoal no desenvolvimento dos filhos. Escolas que criam
barreiras para a entrada dos pais cometem um grave erro pedagógico.
Outro pensamento equivocado,
agora por parte da família, é acreditar
que a educação escolar é algo à parte,
e que os pais nada têm a ver com isso.
A escola deve tudo resolver e ponto
final. Nessa consideração, pais e responsáveis enxergam o ensino apenas
pelo viés das matérias curriculares, esquecendo que a escola e o ensino são
muito mais do que isso. O ambiente
escolar é rico de vivências e descobertas, e a criança nem sempre consegue
absorver com equilíbrio tudo o que
descobre, necessitando, portanto,
igualmente do auxílio dos pais, responsáveis pela orientação moral dos
seus filhos.
Para mudar esse quadro e melhorar a participação dos pais na vida escolar dos filhos, recomendamos:
Pais, Filhos e Escola
1. incutir nas crianças/alunos a
compreensão nítida da necessidade
de respeito pelo trabalho, o horário,
os professores e as exigências
disciplinares da escola;
2. incentivar a criança a participar nas
atividades promovidas pela escola.
Em Casa
1. proporcionar um local adequado
em casa para que a criança possa
estudar e fazer os deveres escolares;
2. respeitar algum silêncio quando a
criança estiver fazendo os trabalhos de
casa, para que seja um momento de
concentração que permita uma melhor
apreensão dos conteúdos das aulas.
3. estabelecer, em acordo com a
criança, um horário para a realização
dos trabalhos escolares.
Em Geral
1. procurar criar o hábito de ser
assídua e pontual às aulas;
2. atribuir pequenas
responsabilidades, ajudando a
criança a organizar-se nas atividades
escolares para torná-la mais
independente e segura de si;
3. mostrar interesse em tudo o que a
criança realiza, incentivando-a nas
pesquisas e esclarecendo dúvidas,
sem, no entanto, fazer os trabalhos
por ela;
4. favorecer o seu desenvolvimento
de acordo com sua capacidade,
não fazendo comparações com
os colegas, mas estimulando-a a
superar-se;
5. ser otimista perante a vida
em geral, criando um ambiente
positivo.
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E N T R E V I S TA
Educando as crianças
com amor e liberdade
Apresentamos uma entrevista que realizamos com o mestre Pestalozzi (17461827), naturalmente utilizando-nos de seus escritos para montagem do texto, na verdade a Carta de Stans, documento muito importante para a educação, onde ele revela
suas ideias, seus princípios e sua metodologia de trabalho.
A Carta de Stans é verdadeiro documento pedagógico, onde temos Pestalozzi com
todo sentimento, com todo ardor pela educação, e onde encontramos a base de tudo o
que ele viria posteriormente a desenvolver no Instituto de Iverdon (1805-1825).
Vamos à entrevista:
A política exercida pelos homens
pode mudar o cenário da educação?
Pestalozzi – Nunca acreditei na exterioridade da forma política, mas
acredito que alguns conceitos trazidos
pelos políticos à ordem do dia e alguns
interesses suscitados, podem acarretar aqui e ali alguma coisa verdadeiramente boa para a humanidade.
Isso quer dizer que ao falar da
educação popular, não entende
que ela deva ser feita pelo governo?
Pestalozzi – Trouxe à baila, o quanto
pude, meus velhos anseios de educação popular e confiei-os, primorosamente, com toda a envergadura
em que os concebia, ao Diretório
(governo provisório da Suíça). Eu e
Legrand (membro do Diretório) concordávamos que a formação popular
podia ter maior eficácia, atingindo
um número apreciável das crianças
mais pobres, dando-lhes educação
completa, se essas crianças não fossem retiradas do seu meio, mas se
tornassem, ao contrário, ´por meio
da educação, muito mais atadas a ele.
O governo me apoiou quando da tragédia de Unterwalden (1798), e pude
ali instalar um Instituto (Orfanato de
Stans), mas logo perdi o apoio governamental, era preciso investir o dinheiro em outras ações, e não na educação.
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Maio 2014
Essa experiência foi dramática,
educando crianças órfãs, pobres,
abandonadas, vítimas da guerra …
Pestalozzi – A completa ausência de
formação escolar era o que menos me
preocupava. Confiante nas faculdades
da natureza humana, que Deus colocou também nas crianças mais pobres e mais desprezadas, eu não tinha
apenas aprendido em experiências
anteriores que essa natureza desdobra as mais formosas potencialidades
e capacidades em meio ao lodo da rudeza, do embrutecimento e da ruína,
mas via nas minhas próprias crianças
irromper essa força viva, mesmo em
meio a toda sua brutalidade. Eu sabia
o quanto a própria miséria e as necessidades da vida contribuem para mostrar aos homens a relação essencial
das coisas, para desenvolver a mente
sadia e o bom senso e para estimular
energias – que parecem estar no fundo
da existência, cobertas de imundície,
mas que, se limpas do lodo ao redor,
brilham intensamente.
família. Eu estava convencido de que
apenas isso era preciso, e essas disposições naturais despontariam num
sentido elevado, com energia superior, para se provarem capazes de
tudo o que satisfaz o espírito e corresponde à mais profunda tendência do
coração.
E qual era seu objetivo nesse instituto, na verdade um orfanato de criança pobres?
E o senhor teve apoio acadêmico?
Pestalozzi – Não havia ninguém nessa terra de Deus que quisesse partilhar o meu ponto de vista a respeito
das aulas e da orientação das crianças.
Quanto mais instruída e cultivada era
a maior parte das pessoas, menos me
entendiam e menos se mostravam capazes de se firmar, nem ao menos teoricamente, nos pontos inciais a que
eu procurava retornar. Todas as suas
ideias a respeito da organização, das
necessidades do empreendimento,
etc. Eram totalmente estranhas às
minhas. Resistiam sobretudo à ideia
e à possibilidade de não se recorrer a
nenhum recurso artificial, de se usar
apenas como recurso educativo a natureza à volta das crianças, as necessidades diárias e sua atividade, sempre animada.
Pestalozzi – Elevar as crianças da
lama e transplantá-las para um ambiente simples, mas puro, doméstico,
onde as relações fossem as de uma
Pelo que entendemos o senhor
usou o Orfanato de Stans como um
laboratório para provar a certeza
de sua teoria. Foi isso mesmo?
C A PA
Pestalozzi – Eu pretendia provar,
com minha experiência, que as vantagens da educação familiar devem ser
reproduzidas pela educação pública e
que a segunda só tem valor para a humanidade se imitar a primeira.
E como o senhor define o ensino
escolar?
Pestalozzi – Aos meus olhos, ensino
escolar que não abranja todo o espírito, como exige a educação do homem,
e que não seja construído sobre a totalidade viva das relações familiares,
conduz apenas a um método artificial
de encolhimento de nossa espécie.
Ou seja, mais do que o ensino,
importante é a educação? E os
professores devem ser verdadeiros
pais?
Pestalozzi – Toda a boa educação exige que o olho materno acompanhe,
dentro do lar, a cada dia, a cada hora,
toda a mudança no estado de alma de
seu filho, lendo-o com segurança nos
seus olhos, na sua boca, na sua fronte. E exige essencialmente que a força
do educador seja pura força paterna,
animada pela presença, em toda a extensão, das circunstâncias familiares.
E foi assim que o senhor fez no
instituto?
Pestalozzi – Sobre isso eu construí.
Que o meu coração preso às crianças,
que a sua felicidade era a minha felicidade; a sua alegria, a minha alegria;
elas deviam ler isso na minha fronte;
perceber isso nos meus lábios, desde
manhã cedinho até tarde da noite, a
cada instante do dia.
Como discípulo de Rousseau,
o senhor sempre acreditou no
desenvolvimento da bondade da
criança. No processo educacional
como isso pode ser trabalhado?
Pestalozzi – O homem quer o bem
com tanto gosto, a criança tem tanto prazer em abrir os ouvidos para o
bem! Mas ela não o quer por causa
do professor, ela não o qualquer por
causa do educador, ela o quer por si
mesma. O bem para o qual o profes-
sor deve conduzi-la, não deve ter nenhuma relação com os caprichos e as
paixões do professor. É preciso que a
natureza da coisa seja boa em si e pareça boa aos olhos da criança. Ela precisa sentir a necessidade da vontade
do professor, conforme sua situação
e suas carências, antes que ela queira
a mesma coisa. Ela quer tudo o que a
torna amável, tudo o que lhe traz reconhecimento, tudo o que excita nela
grandes expectativas, tudo o que nela
gera energias, que a faça dizer: “eu sei
fazer”. Mas toda essa vontade não é
produzida por palavras, e sim pelos
cuidados que cercam a criança e pelos sentimentos e forças gerados por
esses cuidados. As palavras não pro-
duzem a coisa em si, mas apenas o seu
significado.
Desde o início do trabalho no
Instituto de Stans sua teoria foi
aprovada pela prática?
Pestalozzi – Não. O primeiro efeito
dessa teoria e dessa prática, no geral,
não foi nada satisfatório, e não poderia sê-lo. As crianças não acreditavam
tão facilmente no meu amor. Acostumadas à ociosidade, a uma vida de
abandono e embrutecimento, se queixavam de tédio e não queriam ficar.
Nem todas as crianças eram órfãs.
Os pais apoiavam seu trabalho?
Pestalozzi – O estado doentio de várias crianças durou longo tempo, e
era agravado pela influência dos pais.
Retiravam as crianças do instituto e a
levavam para a rua, para esmolar. Os
pais pensaram logo que me faziam
um favor pessoal se seus filhos ficassem, pois acreditavam que aceitara
esse trabalho por miséria, por não ter
outra coisa melhor a fazer.
Quais foram suas primeiras ações
educativas no Orfanato de Stans?
Pestalozzi – Minha meta principal
direcionou-se, antes de mais nada, a
tornar as crianças irmãs, cultivando
os primeiros sentimentos da vida em
comum e desenvolvendo suas primeiras faculdades nesse sentido. Com
isso, minha intenção era fundir a casa
no espírito simples de uma grande comunidade familiar e, sobre a base de
tal relacionamento e da predisposição
por ele gerada, suscitar em todos um
sentimento de justiça e moralidade.
E como conseguiu cultivar esse
sentimento?
Pestalozzi - Eu despertava os sentimentos das virtudes antes que se fizessem discursos sobre elas, pois considerava prejudicial tratar com as crianças
de alguma coisa enquanto não soubessem do que falavam. Além disso, ligava
esses sentimentos a exercícios de autodomínio, para lhes dar imediata aplicação na conduta da vida. Essas experiências me ensinaram que o habituar-se
simplesmente às atitudes de uma vida
virtuosa faz mais por uma verdadeira
educação da capacidade moral que todos os ensinos e pregações não assentados sobre esses recursos.
Como eram feitas as atividades
diárias?
Pestalozzi – Procurava em primeiro
lugar fazer as crianças generosas.
Pela satisfação diária de suas necessidades impregnava sua sensibilidade,
sua experiência e sua ação de amor e
de caridade, que iam se estabelecendo
e se consolidando em seu íntimo. Em
seguida acostumava-as às práticas
em que podem exercitar e espalhar
seguramente a benevolência em seu
próprio círculo.
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PENSANDO A EDUCAÇÃO
Dar a
mesma
Educação
Para educar
uma criança
é preciso
conhecê-la
muito bem
e para isso
é preciso
conviver”.
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Maio 2014
Diante de filhos rebeldes ou indiferentes, é comum ouvirmos pais se
fazendo a seguinte pergunta: Onde
foi que eu errei?
Outros reclamam, desolados: Eu
dei a mesma educação e cada um se
comporta de forma diversa.
Um exame mais detido talvez
aponte onde está a nossa falha.
Sabendo que cada criança é uma
individualidade, entenderemos que
não pode haver uma igual à outra,
psicologicamente falando.
Por essa razão, nosso primeiro
erro está em dar a mesma educação
a individualidades diferentes. O que
funciona para uns, pode não funcionar para outros.
Para educar uma criança é preciso conhecê-la muito bem e para isso
é preciso conviver. Somente a convivência nos permitirá observar cada
tendência dos nossos educandos.
No convívio diário, observando
a criança a brincar com os amiguinhos, saberemos logo se ela é egoísta ou altruísta, violenta ou pacífica,
pela sua forma de falar e de se comportar.
Se é egoísta, fala sempre na primeira pessoa: o meu carrinho, a minha bola, o meu robô, enfim, tudo é
só dela e ninguém pode tocar.
Já o altruísta tende a falar os nossos brinquedos e permite que todos
brinquem com o que lhe pertence.
O violento está sempre armado
contra os irmãos e os coleguinhas. É
aquele que bate na babá, joga os brinquedos e espanca os animais que encontra pela frente.
O pacifista busca defender os
amigos, mesmo que esses estejam
equivocados. Trata bem os irmãos e a
babá e está sempre disposto a ajudar.
Há os que nunca assumem um
erro, jogando sempre a culpa sobre
algo ou alguém.
Há os inseguros que nunca decidem sobre coisa alguma.
Há os que buscam chantagear
pais, irmãos, colegas e professores,
colocando-se sempre na posição de
vítimas, para que ninguém lhes cobre nada.
Há, ainda, os que querem mandar em tudo e em todos, como verdadeiros generais que voltam ao mundo em roupagem diferente.
Enfim, há tantas diversidades de
caráter quanto o número de pessoas
que habita a face da Terra.
Por essa razão, é importante conhecer bem os filhos para poder
ajudá-los a crescer moral e intelectualmente.
Amar a todos sem distinção,
dando a cada um uma educação específica, de acordo com as suas necessidades.
Evitar as comparações entre um
e outro, que tendem sempre a gerar
ciúmes e antipatias.
Cuidar para não exigir demais
do filho que não tem condições de
oferecer mais do que o que já oferece, em detrimento do outro que se
esforça pouco e que poderia fazer
muito mais.
A educação é uma arte e como
tal exige esforço e dedicação por
parte do educador. Mas, sem dúvida alguma, é muito gratificante
poder ajudar as almas a caminhar
para Deus.
***
Busque amar os filhos sem deixar
de lhes oferecer o remédio necessário
para a alma ansiosa por felicidade.
Lembre-se sempre de que a escola
forma o cidadão mas só o lar constrói
o homem de bem.
Fonte: www.momento.com.br
AT I V I D A D E S
Dinâmicas Educacionais
A VIDA É UMA NOVIDADE VIBRANTE!!
Desenvolvimento: Sentados(as) em pequenos
círculos (5 a 6 educandos), cada participante
pega um giz de cera de cor diferente da que o(a)
companheiro(a) escolher. Ao som da música,
cada um inicia um desenho, procurando expressar um problema ou uma ideia. Ao comando
do educador cada participante passa o desenho
para a pessoa da direita, recebe o desenho da
pessoa da sua esquerda (sem mudar a cor do seu
lápis) e prossegue a atividade, observando o que
recebeu e completando o desenho com o que
considerar oportuno para a solução do problema ou enriquecimento da ideia. Quando a folha
com a qual cada participante iniciou a atividade,
retornar às suas mãos, fazem-se os comentários
e reflexões.
Considerações que podem auxiliar: Permitir
que o outro partilhe com você e que o(a) ajude;
se você for forte, nunca tenha tanto orgulho de
sua força, a ponto de pensar que não precisa de
apoio.
Refletir: A minha cor foi importante para o
outro? A cor do outro foi importante para mim?
Mesmo com uma cor escura no momento, você
pode expressar bons sentimentos. A força interior existe! O mesmo lápis que escreve o ódio,
escreve AMOR. Cada um de nós tinha uma cor,
mas o desenho que está conosco não tem apenas
mais uma cor, tem outras cores.
COMO TRANSFORMAR DEFEITOS
EM VIRTUDES?
Desenvolvimento: Educador “Falando em cores
do arco-íris...vamos pensar na harmonia que
existe entre elas, nas partículas de água que
refletem de formas diferentes, na água que bebemos, no ciclo da vida... e vamos escolher uma
bexiga que retrate uma das cores desse arco-íris
que estamos vendo.”
Os participantes, em posse de suas bexigas, fecham os olhos e ouvem novamente o animador:
- Vocês terão que encher uma bexiga, ao
máximo, sem estourá-la e não poderão
abrir os olhos. Deverão segurar o balão
apenas pelo “caninho”.
O animador solicita aos participantes que
encham cada vez mais os seus balões e, quando
observar que várias bexigas já estouraram, promove a reflexão.
Pontos relevantes para serem refletidos: Quando paro sem encher muito a bexiga, contento-me com o pequeno porque tenho medo! (Colocamos menos do que poderia ser colocado).
Mais e melhor, até estourar! Exagero também
é erro. (A regra era clara: não podia estourar).
Ter controle da situação é uma virtude, mas não
posso querer controlar tudo! Qual é o nosso
ponto de equilíbrio? É preciso ir em frente, porém, respeitando as regras do grupo, o limite do
outro. Nosso grande desafio é NOS CONHECERMOS MELHOR!
Veja mais sugestões de dinâmicas e atividades no
site do IBEM: www.educacaomoral.org
Maio 2014
21
C O N TA N D O H I S T Ó R I A S
Um simples
conselho
Autor Desconhecido
Certa vez um jovem muito rico foi procurar um mestre para
lhe pedir um conselho.
Toda a fortuna que possuía não era capaz de lhe proporcionar
a felicidade tão sonhada.
Falou da sua vida ao mestre e pediu a ajuda.
Aquele homem sábio o conduziu até uma janela e lhe pediu
para que olhasse para fora com atenção, e o jovem obedeceu.
— O que você vê através do vidro, meu rapaz?
— Vejo homens que vêm e vão, e um cego pedindo esmolas
na rua.
Então o homem lhe mostrou um grande espelho e novamente
o interrogou: o que você vê neste espelho ?
Vejo a mim mesmo, disse o jovem prontamente.
— E já não vê os outros, não é verdade ?
E o sábio continuou com suas lições preciosas :
— Observe que a janela e o espelho são feitos da mesma
matéria prima: o vidro. Mas no espelho há uma camada fina de
prata colada ao vidro e, por essa razão, você não vê mais do que
sua própria pessoa. Se você se comparar a essas duas espécies de
vidro, poderá retirar uma grande lição.
Dando tempo para que o jovem absorvesse a lição, voltou o
mestre a ensinar:
— Quando a prata do egoísmo recobre a nossa visão, só
temos olhos para nós mesmos e não temos chance de conquistar
a felicidade efetiva. Mas quando olhamos através dos vidros
limpos da compaixão, encontramos razão para viver e a felicidade se aproxima.
Por fim, o sábio lhe deu um simples conselho :
— Se quiser ser verdadeiramente feliz, arranque o revestimento de prata que lhe cobre os olhos para poder enxergar e
amar aos outros.
E encerrou a lição com estas sábias palavras:
— Eis a chave para a solução dos seus problemas.
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Maio 2014
LITERANDO
por Kate Portela
Doutora em Língua Portuguesa.
Professora. Escritora.
Contadora de Histórias.
Leitura Sempre
A leitura é, sem dúvida, fundamental para o bom desenvolvimento de nossos potenciais, sejam morais ou intelectuais. Ela estimula a criatividade, o senso crítico, a fantasia,
imaginação, além do estímulo ao bom nível de informação
e de formação.
De fato, estudiosos apontam dicas práticas para o incentivo à leitura:
Juntamente com os brinquedos, a criança deve ter uma
caixa de livros à sua disposição. As obras devem estar acessíveis, e não armazenadas nas estantes, distantes.
Os pais podem estimular os pequenos por meio da leitura compartilhada, se estiverem lendo um jornal, por exemplo, eles podem selecionar uma história em quadrinhos,
uma figura que seja do interesse da criança. E daí já surgirá
uma conversa gostosa.
Se os pais forem à livraria com os filhos, podem comprar
apenas um livro por vez, para terem motivos de voltar sempre, manusear livros, conhecer novos formatos, junto com
as crianças, num momento de diversão.
Os livros têm se tornado brinquedos, atrativos para as
crianças, como livros de banho, livros cujas páginas são
quebra-cabeças, livros sonoros, livros 3D, livros digitais...
então, que os pais sempre prefiram dar de presente aos filhos e às outras crianças um livro, ou um livro-brinquedo.
Conhecer a biblioteca do bairro juntamente com os filhinhos também pode ser uma boa medida, algumas promovem apresentações de contação de histórias, de troca-troca
de livros e outros eventos imperdíveis.
No site Educar para crescer, temos indicações de livros
altamente recomendáveis para as crianças, além de atividades interessantíssimas que envolvem a leitura prazerosa.
De fato, conforme afirma Paulo Freire, a leitura do mundo precede a leitura da palavra. Então, recomenda-se que
se leiam jornais, revistas, novelas, quadros, peças de teatro,
poesias e até que se leiam relacionamentos, pessoas, projetos, sonhos...
A leitura precisar ser relacionada ao prazer, ao lúdico. Não
deve, pois, ser uma mera obrigação enfadonha, cansativa.
De acordo com os Parâmetros Curriculares, todo professor é professor de leitura. Portanto, precisamos dar o exemplo, tornando clara a nossa paixão pelos livros!
Afinal, ‘quem lê nas entrelinhas, vê estrelinhas’...
“Que os
pais sempre
prefiram dar
de presente
aos filhos e às
outras crianças
um livro”.
Maio 2014
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IBEM ON LINE
O IBEM está realizando
e você pode participar:
PALESTRAS
Marcus De Mario, diretor do IBEM, estará na Escola Municipal Profa. Carmen Correa,
em Imbariê, Duque de Caxias/RJ, no dia 10 de maio, para falar sobre: “A Escola do Sentimento, Uma Escola Transformadora”.
Sua escola também pode agendar uma palestra do IBEM. Faça contato.
CLUBE AMIGOS DO IBEM
O IBEM é uma organização não governamental sem fins lucrativos, e seus diretores
são voluntários. Para manter as atividades temos o Cube Amigos do IBEM, onde você se
associa e paga uma contribuição mensal.
Seja um colaborador do Clube Amigos do IBEM. Associe-se!
O Instituto Brasileiro de Educação Moral desenvolve palestras e seminários gratuitamente para as escolas públicas. Participe!
PROGRAMA VIVENDO SEMPRE EM PAZ
Disponibilizamos 6 (seis) Cadernos de Atividades Educacionais sobre a Paz, gratuitamente, no site do IBEM, e qualquer professor, escola ou organização social tem acesso,
podendo fazer a leitura ou o download.
Os Cadernos foram revisados, ganharam novo visual, inclusive uma nova marca e
trazem dinâmicas educacionais e textos sobre a cultura da paz.
E aguarde, fique atento, porque teremos mais novidades pela frente.
Acesse www.educacaomoral.org.
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Maio 2014