O uso de traduções na investigação linguística

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O uso de traduções na investigação linguística
O uso de traduções na investigação
linguística
Vantagens, inconvenientes e aplicação às orações iniciadas com para
Dissertatie voorgelegd tot het behalen van de graad van
Master of Advanced Studies in Linguistics: Linguistics in a Comparative Perspective
Clara Vanderschueren
Promotor: Prof. Dr. Eugeen Roegiest
Gent, 2006-2007
[1]
Antes de mais, uma palavra de agradecimento para todos os que me ajudaram, cada um da sua
maneira, na realização deste trabalho. Quero agradecer particularmente ao meu orientador Prof.
Roegiest, à Dra. Renata Enghels, ao António, aos meus pais e finalmente ao Daan.
[2]
O uso de traduções na investigação linguística
Vantagens, inconvenientes e aplicação às orações iniciadas com para
1. Introdução
Artigos recentes demonstram que a prática da tradução continua sendo considerada como
traiçoeira. No entanto, outros estudiosos vêem na tradução uma maneira de investigar
fenómenos linguísticos. Neste artigo percorremos algumas reflexões e observações relativas à
praxis da tradução e apresentamos algumas propostas para o uso de traduções como recurso
metodológico na investigação linguística.
Aplicamos depois estas descrições a um estudo concreto sobre as orações encabeçadas
por para, realizado no âmbito do nosso estudo mais amplo das construções oracionais
infinitivas com sujeito próprio em português e em espanhol (cf. Vanderschueren 2006). O uso
de dois corpora de textos traduzidos, um do português para o espanhol e outro do espanhol
para o português, permite tomar em consideração tanto o corpus tradutivo como o corpus
comparável de originais português e espanhol. Assim, confrontamos os resultados obtidos por
avaliação das traduções com as investigações à base dos textos originais.
Concretamente concentrar-nos-emos na referência do sujeito de orações introduzidas
por para (Vamos à escola para aprendermos algo; ¡Haz tus deberes para que obtengas
buenos resultados!). Averiguaremos em que medida as traduções fornecem resultados que
contribuem para a formulação de uma hipótese, asseverada também pela análise de corpora de
textos originais. Esta hipótese resume-se ao seguinte: cada nível de elaboração morfológica
encontrada nas orações com para corresponde prototipicamente a um certo tipo de coreferência, tanto em espanhol como em português. Porém, observaremos que o emprego da
construção [para + inf fl], em que para vem acompanhado por um infinitivo flexionado (inf
fl), e de [para + inf], onde o infinitivo (inf) não se flexiona, ambas sem sujeito explícito,
depende de um mesmo tipo de co-referência.
Esta constatação, obtida a partir da análise do corpus tradutivo e comparável, leva-nos a
examinar estes dois casos em pormenor e a formular uma série de hipóteses adicionais sobre
os factores que possam ser de influência na escolha entre ambas estas construções. Deste
modo queremos não só contribuir para a discussão sobre a utilidade das traduções na
formulação de argumentos linguísticos, mas também para um estudo particular de construções
oracionais em português e em espanhol.
[3]
Este artigo divide-se, pois, em três secções: uma breve parte teórica sobre a tradução e
mais em específico o uso da tradução na argumentação linguística; uma aplicação às
construções verbais com para em português e em espanhol em que confrontamos as traduções
com os textos originais; por fim, um aprofundamento da hipótese formulada na parte anterior
com vista à continuação do nosso estudo das infinitivas em português e em espanhol.
2. A tradução na argumentação linguística
2.1. Traduttore traditore? – Pessimistas e optimistas face aos problemas ligados à prática
da tradução
A prática da tradução é um assunto bastante controverso. Existe uma tradição crítica que
firmemente rejeita a possibilidade de traduzir todas as finezas de um texto de uma língua para
outra (por exemplo em Berman 1985, citado em Chesterman 2004: 215-217). Com efeito, os
problemas surgem a vários níveis da linguagem. Pensemos nos casos em que uma dada língua
carece de expressões para designar certos conceitos para os quais existem (por vezes várias)
palavras noutra língua 1 . Outros problemas são relacionados com o rigor no tocante à própria
formalização sintáctica das ideias. Assim, certa estrutura sintáctica, ligada a um conteúdo
semântico específico, pode tornar-se problemática ao traduzir-se para uma língua que não
conhece construção sintáctica similar para exprimir a mesma mensagem e que deve, portanto,
fazê-lo mediante outros recursos, ou ainda, quando a língua-alvo (LA) conhece uma
construção sintáctica formalmente similar, mas que difere quanto ao conteúdo ou quanto ao
contexto em que se usa. Por exemplo, Muñiz Cachón (2001:171) aduz uma frase similar em
francês e em espanhol:
Quand tu iras à Paris appelle mes amis / Cuando vayas a París
llama a mis amigos. Ainda que tanto o francês como o espanhol conheçam as formas
gramaticais do futuro do indicativo e do presente do conjuntivo, a norma prescreve que nesta
situação se empregue o conjuntivo em espanhol – sublinhando assim o matiz de
« possibilidade » – enquanto em francês se foca a « acção futura », usando o futuro do
indicativo.
Desta maneira, produzem-se divergências quantitativas e formais entre textos traduzidos
e textos originalmente escritos numa língua. Por conseguinte, construções usadas na tradução
nem sempre correspondem às da língua-fonte (LF). Na literatura tradutológica mencionam-se
1
Um exemplo popular é a multiplicidade de palavras que os esquimós usam para indicar diversos tipos de neve.
[4]
casos como a tendência a aumentar a coerência, a explicitar, o enobrecimento do estilo, a
perda de variação lexical e a destrução do ritmo (cf. Chesterman 2004: 215-216).
Logo, vários cépticos concentram-se nos problemas de linguagem causados nas
traduções pela influência do texto original e nas divergências para com outros textos na LA.
Abaitua (2000:7) nota, por exemplo, que a variação lexical tende a reduzir-se nos textos
traduzidos e que nos mesmos textos se descobre uma acumulação de palavras funcionais 2 . Li
& Xu (2003) assinalam que a tradução pode provocar efeitos enfáticos não intendidos pelo
autor do texto original. Estas interferências, explica Yebra (2006: 24), costumam ser calcos
desnecessários ou incorrectos, contrários à norma da LA e resultando no fenómeno que se
chama pejorativamente galicismos, anglicismos etc. Gellerstam (1996) fala de translationese 3
para designar tais efeitos pouco apropriados de interferência da LF no texto-alvo. Por fim,
Muñiz Cachón (2001) constata que as interferências do original na tradução resultam
particularmente recorrentes quando se apresentam correspondências nos sistemas gramaticais
da LF e da LA, como é exactamente o caso do português e do espanhol.
Nesse aspecto, este autor fala de falsos amigos gramaticais, ou seja, paradigmas
gramaticais que, por terem uma estrutura aparentemente similar nas duas línguas, são
classificados sob a mesma etiqueta, mas que correspondem a referências e usos – e mais em
especial, frequências de uso – diferentes. Por isso, estes paradigmas não são falsos amigos no
sentido de « gramaticalmente incorrectos », mas situam-se no âmbito da norma e dos usos 4 .
Veremos abaixo que esta observação vem muito a propósito ao estudarmos as construções
com para.
Chesterman (2004) mostra-se menos negativo quanto à possibilidade de traduzir, sem
por isso ignorar as divergências das traduções comparadas com a LA e com o texto-fonte.
Este autor distancia-se do ponto de vista por si designado de « aproximação tradicional
prescritiva » – ou seja, a ideia de que a tradução deve reflectir as propriedades do texto-fonte
e conformar-se à LA – e também da « aproximação pejorativa » 5 – admitida pelos que opinam
que uma tradução é predestinada a falhar, sendo demasiado livre em relação ao texto-fonte, e
ao mesmo tempo soando pouco natural em relação à LA. Em compensação, autores como
Chesterman (2004) e Baker (1999) defendem uma abordagem descritiva: aceitar e descrever a
tradução como variante linguística em si, com as suas próprias especificidades e diferente dos
2
Isto é, palavras de alta frequência.
Santos (1998) utiliza em português a palavra tradutês para designar o mesmo fenómeno.
4
Exemplos de Muñiz Cachón (2001) são o uso excessivo do pronome sujeito e o uso abusivo da construção
perifrástica passiva no espanhol traduzido do inglês ou do francês.
5
Os termos portugueses são traduções nossas de traditional prescriptive approach e de pejorative approach
(Chesterman 2004).
3
[5]
textos originalmente escritos na língua em questão, em vez de ser considerada como um textoalvo imperfeito. Assim, a descrição de textos traduzidos leva à formulação de características
da tradução, se não universais, pelo menos aplicáveis a certos tipos de traduções 6 .
Contudo, a « traduzibilidade » sintáctica entre o português e o espanhol é
indubitavelmente bastante alta e muito menos problemática do que entre línguas de famílias
totalmente diferentes, como por exemplo o português e o chinês. Wong (2006) sustenta que
são exactamente as grandes divergências sintácticas que formam a causa principal da
dificuldade de tradução entre idiomas geneticamente diferentes. Ao contrário, prossegue o
autor, as traduções dentro da mesma família são consideravelmente mais fáceis de realizar,
dado que muitas vezes basta « descarregar » a estrutura de um texto para outra língua.
Evidentemente, o português e o espanhol estão muito próximos um do outro. No entanto,
acabamos de ver que precisamente nestes casos há um maior risco de encontrar falsos amigos
gramaticais.
Por fim, vem a propósito frisar, com Yebra (1989: 30-33; 2006: 46-54), que a tradução
consiste em duas fases: uma fase de compreensão e outra de expressão 7 . Depois de captar o
sentido do texto-fonte, com maior intensidade do que um leitor comum, o tradutor procede em
direcção contrária para exprimir este sentido na LA. Se este é o objectivo, nem sempre – e
muitas vezes não – é possível manter a estrutura da LF. Ou como o expressa Emery (2004:
150):
“The translation process (translating) is thus a double negotiation consisting of two phases: 1.
interpreting, inferencing, and establishing a text’s coherence and 2. rendering this text’s
pragmatic meaning into a TT [target text] in line with TL [target language] expectancy
norms.”
A prática da tradução é portanto um exercício onde se tenta encontrar uma solução ao
enfrentar problemas. A questão é de saber como o conteúdo cognitivo e conceptual se traduz
nas duas línguas (cf. também Jung Song 2005: 308).
Agora, apesar do risco de interferência, certos linguístas consideram a tradução como
instrumento útil no estudo linguístico. Além disso, na secção seguinte citaremos alguns
investigadores que utilizam as traduções como verdadeiro método para estudar certos
fenómenos da linguagem.
6
Chesterman (2004: 220-221) e Baker (1999) distinguem várias condições que podem influenciar a aparição de
certas características, tal como os idiomas em questão, o tipo de texto, o próprio tradutor e factores situacionais,
por exemplo convenções formuladas pela editora.
7
É interessante notar que estas duas etapas aparecem não só nas traduções, mas em todo o tipo de comunicação
linguística.
[6]
2.2. Propostas metodológicas para o uso de traduções na argumentação linguística
Ao percorrermos os obstáculos da tradução, o que parece mais problemático no uso de
corpora tradutivos para a investigação linguística, é a interferência do texto-fonte no textoalvo. Chesterman (2004: 223-225) alega que este inconveniente surge quando a fase da
deverbalização – a busca da mensagem intencionada pelo autor do texto-fonte – não foi
completada e que o significado não se dissocia portanto integralmente da sua forma. Por esta
razão, o uso de corpora tradutivos em estudos linguísticos constitui matéria perfeita para vasta
discussão.
Porém, certos investigadores advogam o uso de traduções para explorar sistematicamente
fenómenos linguísticos. Assim, Aijmer & Altenberg (1996: 12) enumeram uma série de
possibilidades de aplicação dos corpora paralelos 8 , mas sem fazer distinção entre traduções e
textos originais paralelos, entre as quais retemos:
(i)
permitem aqduirir novos conhecimentos a propósito das línguas comparadas, que
correm o risco de ficar inadvertidos em estudos à base de corpora monolínguos
(ii)
aclaram diferenças entre textos-fonte e traduções por um lado, e por outro entre
textos nativos e não-nativos
Na sua investigação sobre os verbos de crença, Noël (2002) considera o emprego de
corpora tradutivos como uma maneira de verificar empiricamente as intuições de uma pessoa
(o tradutor) quanto ao sentido de certas formas linguísticas. As regularidades que se observam
nas desviações da tradução comparadas às expressões do texto-fonte, ajudam o linguista a
inquirir propriedades da LF 9 . Em vista disso, o que interessa neste tipo de estudo não é
comparar duas línguas, mas averiguar a intuição do tradutor perante a expressão na LF. O
tradutor é visto como um informante, sem ter consciência do seu papel informador 10 .
8
Note-se bem que o termo corpus tradutivo abrange aqui os textos-fonte com as respectivas traduções.
Chamamos corpus comparável aos textos originais de género e conteúdo similar em (pelo menos) duas línguas.
Estes dois tipos de corpora também se classificam ambos sob o nome de « corpus paralelo ». (cf. Altenberg &
Granger 2002: 7-8, Noël 2002)
9
Nöel (2002) mostra desta maneira como a gramaticalização da construção passiva com verbos de crença em
inglês (be considered/said/reported to) pode corroborar-se nas traduções para o francês. Nem só constata que
regularmente a ausência de tradução correspondente à expressão, o que sugere uma gramaticalização, mas
também nota que as traduções contêm frequentemente indicadores de evidencialidade como os advérbios
apparemment e prétendument ou o verbo no condicional. Assim, ele demonstra que certos verbos de crença se
tornam indícios gramaticais de evidencialidade.
10
Aliás, desta maneira tem-se a vantagem de contornar o problema do « observer’s paradox », ou seja, o
problema de observar dados linguísticos sem influenciar estes dados.
[7]
Do mesmo modo, linguistas como Gellerstam (1996) 11 , Dyvik (1998) 12 , Aijmer &
Simon-Vandenbergen (2004), Aijmer, Foolen & Simon-Vandenbergen (2006), Aijmer &
Simon-Vandenbergen (2006) 13 defendem o potencial heurístico de corpora tradutivos em
diversas áreas da linguística.
Como já o especificámos, a prática da tradução é um exercício que obriga a desenvolver
soluções para os problemas encontrados. Perguntamo-nos no presente artigo se este exercício
e as propostas de solução que se encontram nas traduções existentes podem formar um indício
acerca da estrutura da LF. Como o notaram autores como Dyvik (1998), Noël (2004) e
Aijmer, Foolen & Simon-Vandenbergen (2006), a avaliação do texto original pelo tradutor
revela-nos directamente uma maneira de interpretar este original. Seguindo este raciocínio,
examinaremos se o uso de corpora tradutivos, apesar do risco da interferência, poderá
contribuir para a nossa investigação das estruturas oracionais em português e espanhol 14 .
Será que diferenças estruturais entre ambas as línguas, encontradas nas traduções,
podem servir como instrumento para localizar os mecanismos de escolha entre diversas
possibilidades sintácticas interrelacionadas? Concretamente, a diversificação nas construções
subordinadas com para da tradução perante o original poderá oferecer indicações sobre as
condições de uso da construção correspondente no original? O espanhol não dispõe, por
exemplo, de inf fl, enquanto o português além disso conhece todas as possibilidades
sintácticas do espanhol. Por quê e quando é que se usa então um inf fl na tradução portuguesa
a partir do espanhol que de todas maneiras não tem acesso a um recurso similar? E vice versa,
como é que se traduz esse inf fl para o espanhol? Não será possível detectar através das
traduções razões subjacentes? As traduções levarão à luz diferenças estruturais deste tipo?
Se a resposta a estas perguntas for positiva, as traduções revelar-se-ão úteis na reflexão
sobre e na solução deste tipo de questões, aplicadas a casos mais diversos do que somente as
11
De acordo com Aijmer & Altenberg (1996), este autor conclui no seu estudo que, apesar da influência da LF
na LA, as traduções são por vezes incontornáveis em estudos contrastivos, pois permitem por vezes observar
factos linguísticos – tanto no vocabulário e na sintaxe, como na retórica – difíceis de localizar em outros tipos de
contextos (Gellerstam 1996: 61).
12
Dyvik (1998 : 51) adere à mesma ideia que Noël (2002) : a tradução constitui uma maneira de verificar
intuições linguísticas sem recorrer a situações artificiais. Dyvik descreve como as traduções podem ser utilizadas
no âmbito da semântica lexical. Sem por isso se reduzir à análise de traduções, a semântica lexical encontra nas
traduções um recurso útil de exteriorisação empírica para controlar critérios linguísticos formulados.
13
Os três últimos citados usam corpora tradutivos para sondar o sentido dos marcadores do discurso (pragmatic
markers). Dado a polissemia e a polifuncionalidade dos marcadores do discurso, é difícil descrever o sentido
deles a partir da observação de um corpus monolingue. Estes autores argumentam que as traduções podem
contribuir a fundamentar um sentido básico e a descobrir factores contextuais que levam a um dado significado
derivado, pois o tradutor vê-se obrigado a fazer escolhas ao representar o sentido de um marcador do discurso.
Além disso, a análise da tradução de uma língua para outra e vice versa, permite estabelecer campos semânticos
de marcadores e perscrutar relações semânticas com outros marcadores.
14
A fim de limitar o presente estudo exploratório, examinamos só as construções com núcleo verbal introduzidas
por para.
[8]
orações com para. A par disso, poderão ser uma maneira de verificar hipóteses formuladas
em estudos focados sobre uma única língua.
Além disso, visto a especificidade do corpus (cf. infra 3.1), composto tanto de textos
originais escritos em português como originais de língua espanhola com as suas respectivas
traduções, podemos comparar também os textos originais entre si, de modo que se possibilita
um confronto entre observações à base do corpus tradutivo e resultados do corpus
comparável.
Apresentamos em primeiro lugar as nossas construções estudadas nas secções seguintes,
para depois ilustrar as interferências encontradas nas traduções, tanto do espanhol para o
português como vice versa. A seguir, estudaremos o que nos ensinam as traduções e depois os
originais sobre o tema da referencialidade nas orações encabeçadas por para.
3. Estudo de um caso: as orações encabeçadas por para em português e em
espanhol
3.1. Apresentação das construções estudadas e compilação do corpus
Para realizar o presente estudo comparativo apoiamo-nos num conjunto de 812 frases,
contendo uma oração iniciada pela preposição para e encontradas em dois corpora paralelos
tradutivos literários, um português-espanhol e outro espanhol-português. Na nossa
perspectiva, o termo oração inclui todas as construções com núcleo verbal, tanto as infinitivas
genéricas (1) e não genéricas (2), como as subordinadas com forma verbal finita, sempre
conjuntiva depois de para que (3):
(1)
[...] cuando en la mañana Tita olía que los frijoles ya estaban cocidos, o cuando a
mediodía sentía que el agua ya estaba lista para desplumar a las gallinas, […]
[ESQ 12] 15
(2)
Si estamos solos, dejamos la lámpara encendida para vernos bien, y yo puedo gritar
todo lo que quiera sin que nadie tenga que meterse [...] [GAR 42]
(3)
Al hacerlo, Eliza se colocó lo más cerca posible de él, calculando la dirección de la
brisa para que le llevara el aroma del hombre quien, estaba decidido, era suyo.
[ALL 93]
15
A notação dos exemplos conforma-se ao padrão seguinte: [abreviatura do autor ou do corpus – página ou
referência do corpus] para originais e [abreviatura – tr(adução) esp/ptg – página ou referência do corpus] quando
se trata de uma frase traduzida. A explicação das abreviaturas encontra-se na bibliografia.
[9]
Além disso, nem só se considerarão as adverbiais (não obrigatórias), mas também
construções com um estatuto menos tipicamente adverbial, como as orações introduzidas por
pedir ou dizer, como em (4), ou as construções dependentes de um substantivo (5) ou
adjectivo (1) 16 :
(4)
Liloca atarefada nos últimos preparos da matança mas, comungando da inquietude
dos filhos, pediu a Diogo para lhes deixar ir ver o desfile. [PALOP QUE 1033]
(5)
Nunca tivemos soldados de chumbo para brincarmos. [PALOP CHI 1574]
O corpus de português-espanhol foi constituido a través de pesquisas no corpus
PALOP 17 . Procurámos separadamente ocorrências de [para + inf], de [para + inf fl] (ambas
as construções com ou sem sujeito expresso) e de [para que + Vfinito] 18 . Para aumentar o
número de exemplos com inf fl e de inf com sujeito expresso, também incorporámos no
corpus frases encontradas em seis romances portugueses traduzidos para o espanhol 19 . Por
falta de um corpus electrónico acessível de traduções do espanhol para o português,
compusemos um corpus a partir de obras de ficção de autores hispano-americanos traduzidas
para o português.
Assim, o presente estudo toma por foco a linguagem literária. Não é preciso elucidar
amplamente que esta escolha é parcialmente guiada pelo uso de um corpus tradutivo, uma vez
que a literatura ficcional é a área por excelência que fornece textos traduzidos 20 . Por isso, uma
desvantagem evidente do emprego de traduções no estudo linguístico é a disponibilidade
limitada de textos traduzidos. É óbvio que esta dificuldade não surge para uma língua como o
inglês. Ora, para o português e o espanhol – no entanto duas línguas bastante estudadas – o
corpus PALOP foi o único corpus tradutivo electrónico encontrado.
16
Deste modo, baseámo-nos na correspondência formal entre todas estas estruturas. Para sustentar esta escolha,
opinamos em conformidade com Delbecque (1994: 369) que a preposição para manifesta um único valor
semântico abstracto em todas as suas ocorrências, independentemente do nível de organização linguística em que
se encontra (pelo menos num mesmo idioma). Pelo contrário, não exploraremos as estruturas onde para introduz
um verbo nominalizado (por exemplo: Para melhor compreensão do jogo, leia bem as regras), mesmo se estas
apresentam um paralelismo com as orações (Galán Rodríguez 1999: 3625) e que provavelmente constituem um
ponto na margem da hierarquia subordinativa (cf. Lehmann 1988).
17
Trata-se de um corpus livremente disponível na internet, segmentado e alineado por frase. Os textos não são
romances de autores europeus, mas de literatura pos-colonial portuguesa. Apesar disso, as possibilidades
gramaticais aqui estudadas não diferem fundamentalmente nas variedades linguísticas do espanhol e do
português. A acessibilidade e a facilidade de consulta foi decerto um factor preponderante para a colecção dos
dados.
18
inf= infinitivo; inf fl= infinitivo flexionado; Vfinito= forma verbal finita
19
Veja-se ao fim as referências bibliográficas dos autores e do corpus PALOP.
20
Um corpus tradutivo não ficcional é o corpus EUROPARL, que inclui uma colecção de proceedings do
parlamento europeu, publicados até agora em onze línguas europeias (cf. Koehn 2005).
[10]
Tivemos de optar, pois, por pesquisar de maneira manual, além deste corpus
electrónico, romances escritos para ambos os idiomas 21 . É escusado dizer que se trata de um
método laborioso. Além do mais, a busca de romances não é muito evidente. Os romances
escritos em espanhol e traduzidos para o português são muitas vezes de origem hispanoamericana. As obras portuguesas traduzidas para o espanhol são escassas e limitam-se
sobretudo a escritores conhecidos (como José Saramago), ainda que nos últimos anos haja um
maior interesse do lado hispano-falante 22 . Em consequência, o trabalho do linguista que
deseja usar corpora tradutivos no estudo comparativo é – conforme as línguas de interesse –
dificultado por um problema de disponibilidade.
3.2. Tipos de construções encontradas
Antes de passar à própria investigação contrastiva, apresentamos brevemente as construções
estudadas e subsequentemente a problemática abordada a partir dos dois tipos de corpus, um
tradutivo e um comparável. Já esclarecemos que o ponto de interesse são as orações
subordinadas encabeçadas por para em português e em espanhol, dado que ambos os idiomas
admitem construções divergentes. Uma primeira análise do corpus ensina que, tomando em
consideração as marcas [±flexão] e [±sujeito explícito], se obtêm as seguintes categorias,
organizadas segundo uma escala de elaboração morfológica da subordinada, similar à escala
de proeminência tal como foi exposta em Vesterinen (2006: 63-64) 23 para o português. A
elaboração morfológica abrange aqui o uso ou não da flexão, a explicitação do sujeito, a
forma finita ou não finita do verbo e o conector em forma de preposição – para – ou de
conjunção – para que, que é mais elaborado, pois mais complexo. Quanto mais uma oração é
morfologicamente elaborada – ou por termos funcionais, menos tipificada 24 – mais
proeminência tem:
21
Obtivemos assim 301 ocorrências para o corpus original espanhol e 138 para o corpus original português. No
corpus PALOP, reunimos 372 exemplos.
22
Vejam-se por exemplo as traduções das obras africanas do PALOP, que datam todas de entre os anos 2000 e
2003.
23
Vesterinen (2006) apresenta esta escala de proeminência para as orações adverbiais em português e baseia-se
em Ariel (1991, 1994) que o faz para o hebraico.
24
Isto é, o inf representa um processo verbal menos fixado no respeitante ao tempo, ao espaço e aos
participantes. O inf fl é tipificado em menor grau, pois clarifica em maior medida o participante envolvido no
evento. Não se refere a uma situação específica, mas está-se perante a descrição “desactualizada” de um
processo (cf. entre outros Achard 1998: 48-49, Lehmann 1988: 193). Notemos que o modo conjuntivo –
chamado subjuntivo em espanhol e de regra nas orações com para que – também é em certa medida tipificado:
apesar de se referir aos participantes, o estado de coisas é, tal como no inf, apresentado como virtual, pois a
temporalidade é controlada pela oração principal (cf. Rodríguez Espiñeira 2004: 122).
[11]
português
preposição + inf
preposição + inf fl
preposição + suj + inf
preposição + suj + inf fl
preposição + conjunção + V finito
preposição + conjunção + sujeito + V finito
para estar aqui
para estarem aqui
para ele estar aqui
para eles estarem aqui
para que estejas aqui
para que ele esteja aqui
espanhol
preposição + inf
preposição + inf + suj
preposição + conjunção + V finito
preposição + conjunção + sujeito + V finito
para estar aquí
?para estar él aquí 25
para que estés aquí
para que él esté aquí
Figura 1: as construções encontradas em português e em espanhol
Em oposição às gramáticas tradicionais, constata-se no quadro que tomamos aqui como
ponto de partida o perceptível – ou seja, a carga fonológica – para atribuir ao infinitivo a
marca [+flexão] ([+fl]). Nesta óptica, a primeira e a terceira pessoa do singular, não recebem
o traço [+fl] porque carecem de morfema flexivo 26 . O que na realidade podem manifestar é
um sujeito lexical (pronominal ou nominal) próprio, de maneira que conferimos a estes casos
o traço [+sujeito explícito] ([+suj]).
Na ausência de um morfema flexivo no infinitivo espanhol, a escala reduz-se a quatro
níveis, enquanto o português manifesta seis possibilidades. A par disso, os quadros elucidam a
posição não marcada do sujeito do infinitivo, basicamente diferente em espanhol e em
português: consoante a norma, o sujeito coloca-se posverbalmente em espanhol, enquanto em
português o sujeito do infinitivo mantém em maior medida a ordem das orações
independentes e aparece normalmente em posição preverbal 27 . Mesmo assim, o corpus
25
Juntamos a este exemplo um ponto de interrogação para assinalar que as ocorrências desta construção
apresentados no corpus são escassas. As únicas ocorrências deste tipo são traduções do português, e
explicaremos mais à frente que se trata provavelmente casos de interferência da LF no texto traduzido. No
entanto a literatura não exclui a construção. Na nota de rodapé 28 assinalamos algumas outras preposições que
admitem mais facilmente um infinitivo com sujeito próprio em espanhol.
26
Por isso atribuímos o traço [+flexão] unicamente ao infinitivo nos casos em que há realmente desinência, ou
seja na 2ª,4ª,5ª e 6ª pessoa. Recordemos que as desinências são respectivamente -ø, -es, - ø, -mos, -des, -em.
Gramáticos tradicionais (como Cunha & Cintra 1984: 485) analisariam os casos de [suj + inf] na 1ª e 3ª pessoa
como infinitivo flexionado.
27
Se bem que no espanhol padrão seja aconselhada a posição posverbal para o sujeito do infinitivo, admitem-se
sujeitos preverbais no registo falado, sobretudo com o nexo sin. No espanhol do Caribe o uso até é frequente e
em certas regiões usual (cf. Hernanz 1999: 2305, DeMello 1995).
[12]
apresenta certa liberdade para mudar o sujeito de lugar. Um infinitivo com sujeito explícito
resulta porém extremamente raro em espanhol 28 (cf. infra).
Por fim comprova-se na figura 1 que o português e o espanhol admitem o mesmo tipo
de estrutura quando o elemento introdutor é a locução conjuncional para que – isto é, a
preposição para mais a conjunção que.
Agora, da nossa escala emerge o problema da transmissibilidade e da correspondência
entre ambas as línguas. O que, a partir da escala, separa as diversas possibilidades gramaticais
das orações com para, é a marcação de um sujeito ligado ao evento da subordinada. Assim, as
discordâncias gramaticais relacionam-se com a assinalação dos referentes em questão. O uso
de tais sinais gramaticais de introdução de referentes por um lado e de coesão textual por
outro lado é conectado com a codificação da coerência referencial. Desta maneira, os recursos
gramaticais aqui estudados servem para orientar o « processamento » mental do receptor da
manifestação linguística. De acordo com Givón (1990: 914), partimos da ideia de que a busca
dos referentes na memória é ajudada por recursos gramaticais que permitem identificar de
maneira correcta os antecedentes co-referentes.
As seguintes tabelas mostram o número de cada construção incluída no corpus dos
textos originais:
português (original)
espanhol (original)
para que
+suj
-suj
77 100,0%
47 61,0%
30 39,0%
para que
+suj
-suj
61 100,0%
25 41,0%
36 59,0%
para + inf
+suj
-suj
220 100,0%
56 25,5%
164 74,5%
para + inf
-suj
240 100,0%
240 100,0%
para + inf fl
+suj
-suj
213 100,0%
32 15,0%
181 85,0%
Tabelas 1 : número de casos por construção incluídos no corpus dos originais
28
Efectivamente, o infinitivo com sujeito explícito encontra-se com mais frequência em espanhol nas orações
adverbiais encabeçadas pelas preposições al, por, de, sin (cf. Gawełko 2005, Maris García S. & Mara Braun
2005, Goethals 1998, Hernanz 1999).
[13]
3.3. Falsos amigos gramaticais
Em vista dos problemas encontrados na prática da tradução referidos acima em 2.1, interessa
primeiro darmos conta de alguns casos de clara interferência da LF na LA. Os falsos amigos
gramaticais supracitados observam-se nas divergências entre o texto original e a tradução
quanto às frequências das construções. Esta situação manifesta-se nos casos de para que em
português. Se bem que pela maneira de coleccionar os dados no corpus PALOP – como o
esclarecemos antes, executámos separadamente pesquisas das construções [para + inf], [para
+ inf fl], [para que] – não possamos realmente confrontar as frequências das estruturas com
para que nas traduções e nos originais, constatamos que estas são bem mais abundantes nas
traduções.
Para controlar esta observação, comparamos as traduções portuguesas das construções
originais encabeçadas por para que em espanhol com as estruturas originais portuguesas que
deram lugar a uma tradução por para que em espanhol:
construção ptg
tradução
#
para que [±suj]
50
82,0%
para + inf fl
4
6,6%
para + inf
3
4,9%
para + suj + inf
1
1,6%
outra
3
4,9%
total
61
100,0%
%
Tabela 2: tradução portuguesa do original espanhol com para que
construção ptg
original
#
%
para que [±suj]
65
37,4%
para + inf fl
35
20,1%
9
5,2%
para + inf [+suj]
42
24,1%
para + inf fl [+suj]
23
13,2%
total
174 100,0%
para + inf
Tabela 3: original português correspondente a uma tradução por para que em espanhol
[14]
De facto comprova-se nas tabelas 2 e 3 que as construções iniciadas por para que
aparecem com bastante mais frequência nas traduções para o português a partir das mesmas
construções em espanhol (82,0%) do que nos originais em português equivalentes a uma
tradução espanhola por para que (37,4%). Nas segundas observa-se uma maior diversificação
nas construções possíveis: as estruturas [para + inf fl + suj], [para + suj + inf fl] e [para +
inf + suj] não aparecem nas traduções dos torneios com para que em espanhol.
Por outras palavras, dado que o original espanhol apresenta menos estruturas diversas
(veja-se também as tabelas 1 acima), a tradução portuguesa a partir deste original mostra
menos variedade sintática do que um texto original português.
Pelo contrário, descubrimos uma maior variação nas construções com para nos textos
traduzidos para o espanhol do que nos originais espanhóis. Constatamos que as construções
infinitivas iniciadas por para levam mais frequentemente um sujeito expresso no espanhol
traduzido do que nos textos escritos originalmente em espanhol, onde não se verifica nenhum
caso destes. É bem sabido que o português admite facilmente a estrutura [para + inf [+ suj]]
29
, enquanto em espanhol esta possibilidade é reduzida (cf. supra a nota de rodapé 28).
Desta maneira, o corpus tradutivo contém seis manifestações da construção [para + inf
+ suj] (as versões b nos exemplos seguintes), entre as quais estas três:
(6)
a. -- Queres então que eu mande embora a Muari? Para tu seres a única? – Não, não
quero nada. [PALOP CAG 892]
b. --¿Quieres pues que eche a Muari? ¿Para ser tú la única? --No. Yo no quiero
nada. [PALOP tr esp CAG 829]
(7)
a. Quando lhe trato assim, faz conta um doentio, é para esses grandes pensarem ele é
tonto, suas palavras são sempre de tira-e-põe. [PALOP SON 4349]
b.Cuando le trato así, hazte a la idea de alguien que esta [sic] tocado, es para esos
grandes pensar que él es tonto, sus palabras son siempre de tira y afloja.
[PALOP tr esp SON 4349]
(8)
a. [... ] por agora bastem os toscos aposentos para neles descansarem os ossos os
fatigados homens do alvião e da enxada [...] [SAR 123]
b. […] por ahora bastan los toscos aposentos para en ellos descansar sus huesos los
fatigados hombres del pico y el azadón [...] [SAR tr esp 164]
Julgamos, por conseguinte, que aqui se está perante um caso de falsos amigos gramaticais.
Esta suposição certifica-se pelo facto de que estas traduções correspondem sempre com a
mesma construção [para + inf [+ suj]] no original português. Além disso, o sujeito do
29
As parênteses na indicação [±suj] significam que não levamos em conta a posição do sujeito, que pode ocupar
um lugar pre- ou posverbal.
[15]
infinitivo no exemplo (7) tem a forma de um sintagma nominal preverbal, uma situação muito
excepcional no espanhol escrito e claramente influenciada pela estrutura do original
português, sendo exactamente igual. O mesmo vale para (8), onde se trasladou literalmente a
estrutura do original português para o texto em espanhol.
Cotejamos aqui as construções encontradas nos originais e nas traduções espanholas.
Constata-se efectivamente que a variação de construções é maior nas traduções:
para + inf
para que [-suj]
para que [+suj]
para
para
para
para
para
239
36
25
+ inf
+ suj + inf
+ inf + suj
que [-suj]
que [+suj]
264
1
5
86
88
Tabela 5: traduções para o espanhol
Tabela 4: originais em espanhol
Por fim, cabe assinalar que a construção portuguesa que diverge de maneira mais nítida
das possibilidades espanholas – a saber [para + inf fl [+suj]], em que se apresentam um inf fl
e um sujeito explícito ao mesmo tempo – não aparece nas traduções dos textos escritos em
espanhol. Isto é claramente devido ao facto de que nesse caso traduzir-se-á antes mediante
uma construção consabida em espanhol, a conjunção [para que [+suj]]:
para + inf
para que [+suj]
para que [-suj]
para + inf fl
para + suj + inf
213
29
22
21
1
Tabela 6: construções encontradas nas traduções portuguesas
Nas secções seguintes reflectimos sobre as divergências e as convergências entre o
português e o espanhol quanto à assinalação do sujeito e o instrumento conectivo nas
construções encabeçadas por para. Argumentamos que a análise das traduções tanto como dos
textos originais nos guia na direcção da formulação da mesma hipótese. Mostramos como
ambos os métodos – tradutivo (3.4) e comparado (3.5) – nos instruem acerca disto.
Constatamos que em português, ambos os infinitivos – flexionado e não flexionado – surgem
em contextos idênticos no tocante à referência. Depois ocupamo-nos com a presença ou a
ausência da flexão no infinitivo. A partir daí formulamos hipóteses e pistas de investigação
[16]
para estudos mais aprofundados no futuro, sobre a comparação das estruturas oracionais em
português e em espanhol (3.6).
3.4. Flexão vs sujeito explícito em português: contribuição das traduções na formulação
de uma hipótese
Ao dar um elenco das possibilidades das orações com para na figura 1, apresentámos ao
mesmo tempo a escala de elaboração morfológica das orações introduzidas por uma
preposição tal como foi descrita também por Vesterinen (2006) 30 . Interessa formular
brevemente a sua tese, pois o nosso corpus tradutivo permitir-nos-á precisar as suas ideias.
A fim de explicar o uso de um inf fl nas adverbiais em casos onde é perfeitamente
possível empregar um infinitivo não flexionado, o estudioso parte da Teoria da Acessibilidade
Referencial, formulada por Ariel (1991, 1994). Consoante esta teoria, o uso de expressões
anafóricas é determinado pelo grau de acessibilidade do antecedente na representação mental
do locutor, de modo que uma expressão mais elaborada – ou em termos cognitivistas, mais
proeminente – aparece em casos de baixa acessibilidade. Ao contrário, emprega-se uma
expressão menos proeminente quando o referente é facilmente acessível. Conforme esta
óptica, estabelece-se uma escala de proeminência das expressões anafóricas.
Por sua parte, Vesterinen esboça uma escala similar para o infinitivo em posições
adverbiais. O autor argumenta que em casos co-referenciais, a flexão – inesperada, pois um
infinitivo sem flexão acarreta em geral sem problemas uma leitura co-referencial com algum
argumento da oração principal – se justifica por uma necessidade cognitiva de realçar o
trajector 31 da adverbial, em casos onde este corre, por vários motivos (cf. infra 3.6), o risco de
perder a acessibilidade na memória de curto-tempo do locutor. Assim, a flexão assinala um
grau de acessibilidade menor do que a ausência de flexão. Em outros termos, a flexão ajuda a
memória de curto tempo a encontrar o referente adequado. Um ponto mais avançado na escala
é a aparição de um sujeito explícito, sob forma de um pronome. O trajector mais proeminente
– segundo o autor, o nome próprio 32 – aparece quando o trajector é muito inacessível e que
por esta razão se requer uma elaboração mais completa.
30
Com esta diferença de que por razões de clareza não distinguimos entre um sujeito pronominal e nominal, já
que nos concentraremos na divergência entre as possibilidades de sujeito explícito, flexão e ausência de flexão.
Além disso, o autor chama a escala, conforme a terminologia cognitivista, escala de proeminência.
31
O termo trajector adoptado por Vesterinen, vem de Langacker (1987: 231) e refere-se à entidade com maior
saliência cognitiva numa predicação linguística. Assim, esta entidade coincide muitas vezes com o que se chama
tradicionalmente sujeito.
32
Aqui perguntamo-nos onde ficaram os sintagmas nominais, dado que estes são bastante mais numerosos no
corpus do que os nomes próprios (respectivamente 72 casos contra 13 casos no corpus lusófono).
[17]
Esta representação condiz em grande medida com o que Givón (1990: 893, 915) explica
a propósito da relação entre a codificação gramatical e a coerência ou continuidade temática:
a coerência referencial é orientada por sinais gramaticais que provocam operações mentais no
receptor da mensagem – isto é, operações de activação da atenção e de procura na memória 33 .
Nesse aspecto, o autor fala de « grammar-triggered memory ». O tipo de indício gramatical
usado revela o tipo de busca que é preciso fazer na memória.
Assim, a activação de um referente inactivo na memória requer um maior esforço
mental para encontrar o tal referente. Igualmente, um maior esforço é necessário para
interpretar sequências de material codificador mais compridas. Daí que uma maior porção de
codificação seja mais eficiente para activar a atenção e indicar que se necessita de um maior
esforço para encontrar o referente. Por outro lado, uma menor porção de material codificador
corresponde com informação já activada na memória. Na escolha entre orações finitas e
infinitas, por exemplo, a morfologia finita é usada para assinalar discontinuidade temática,
impredizibilidade da informação ou reorientação cognitiva (cf. Givón 1990: 891). Nos casos
contrários (continuidade temática, informação predizível, falta de reorientação cognitiva),
uma menor quantidade de codificação – isto é, a morfologia não-finita – chega para dar a
informação relevante34 .
Agora, a comparação dos nossos exemplos portugueses com as respectivas traduções
espanholas suscita algumas observações quanto à tese de Vesterinen. Assim, perguntamo-nos
em primeiro lugar como se explica a grande quantidade de traduções espanholas por um
infinitivo (70,0 %, veja-se a tabela 7), que a priori não apresenta flexão em espanhol.
33
Notemos que o ponto de partida de Vesterinen (2006) e de Givón (1990) é fundamentalmente diferente:
enquanto que Vesterinen se concentra no locutor e a sua maneira de codificar uma mensagem, Givón concentrase na posição do ouvinte.
34
Esta problemática inscreve-se na tradição das ideias fundadoras acerca da informação dada e nova,
desenvolvidas por Chafe (1976). O linguista declara que a informação dada – que ele prefere chamar informação
já activada – é formulada de maneira mais atenuada do que a informação nova – ou informação novamente
activada. Além disso, o autor pergunta-se se ambas estas categorias são discretas ou se se trata antes de um
contínuo. Com a sua escala, que veremos em certa medida confirmada no nosso estudo, Vesterinen (2006)
manifesta a sua aderência à segunda resposta.
[18]
para + inf
#
%
para que
#
outra 35
%
#
126 70,0 % 35 19,4 % 19
total
%
10,6 %
#
180
Tabela 7: traduções dos casos de [para + inf fl]
Se o uso da flexão fosse realmente imputável a uma dificuldade de memória e que o
antecedente fosse pouco acessível, seria lógico concluir que a memória dos hispano-falantes é
mais eficaz do que a dos luso-falantes. Evidentemente não aderimos a esta ideia. O que
sugerimos aqui, é que a flexão constitui um recurso para assinalar a coesão temática do
discurso, ao passo que a explicitação do sujeito serve antes para introduzir um referente que é
realmente pouco acessível – ou inacessível, pois novo – num ponto do discurso. A
acessibilidade está efectivamente ligada com a introdução de novos referentes e com a
disponibilidade de referentes já mencionados. Com efeito, Vesterinen (2006:42) diz que
factores contextuais podem contribuir para um menor grau de coesão entre a oração superior e
a adverbial (cf. supra). O que aqui tentaremos demonstrar é que se deve distinguir coesão
reduzida e inacessibilidade mental. As traduções ensinam-nos que em espanhol não se
assinala a diminuição da coesão na mesma medida que em português 36 , como mostra
claramente o exemplo seguinte:
(9)
a. As estrelas da noite eram navios que navegavam havia longos séculos para nos
virem buscar. [PALOP CHI 937]
b. Las estrellas de la noche eran navíos que navegaban desde hacía largos siglos,
para venir a buscarnos. [PALOP tr esp CHI 937]
35
A etiqueta outra tradução abrange as frases onde a construção com para foi traduzida por outro tipo de
construção do que uma oração introduzida por para, como nestes dois exemplos:
(i) a. Aturas maçadas do toda a casta, para receberes por mês uma ninharia...[PALOP CHI 4784]
b. Aguantas todo tipo de fastidios a cambio de una miseria mensual... [PALOP tr esp CHI 4784]
(j) a. Atendem aos fregueses de Armanda e em troca comem duas refeições ao dia e têm um colchão de
coco-de-milho para se deitarem. [PALOP CHI 2387]
b. Atienden a los clientes de Armanda y a cambio comen dos veces al día y tienen un colchón de hojas
de maíz donde acostarse. [PALOP tr esp CHI 2387]
A oração infinitiva introduzida por para resultou em (ib) num sintagma preposicional, encabeçada pela locução
preposicional a cambio de. A tradução em (jb) consiste numa relativa introduzida pelo pronome relativo donde.
36
Aliás, Ariel (1991: 451) comenta que várias línguas podem ter vários pontos de codificação para assinalar a
acessibilidade dos referentes. Além disso, Jung Song (2005) alega que, muito frequentemente, elementos
semânticos codificados formalmente numa dada língua não o são noutras e necessitam então de ser
pragmaticamente inferidos nas traduções. A nossa investigação ilustra exactamente esta situação: em espanhol
deduz-se mais frequentemente a coesão temática no sujeito semântico do infinitivo a seguir a para, enquanto em
português se explicita esta coesão pela flexão.
[19]
Assim, enquanto na versão espanhola desta frase (9b) não se explicita a continuação do tema
(em negrito) no infinitivo, o original português possui com o inf fl uma maneira de sublinhar
esta continuidade na subordinada introduzida por para. Estas observações conformam-se
antes ao que diz Givón (1990: 916) sobre a activação prolongada dos referentes na memória:
esta associa-se com o uso de anáforas átonas, pronomes clíticos, e – este é o elemento que nos
interessa aqui – da concordância.
Em segundo lugar, a tabela 8 confirma a natureza diferente da explicitação do sujeito e
do uso da flexão. Ambos, como o sugere a escala proposta, situam-se num nível diferente, na
medida em que a acessibilidade é mais reduzida no primeiro caso. O que a escala não prediz,
é que ambas as situações são ligadas a situações de co-referência bem diferentes.
Tradução esp
>>
para + inf
[-suj]
Original
português
#
Para + inf fl
para + suj + inf fl
para + inf
[+ suj]
%
para que
[-suj]
%
#
126 70,0%
0 0,0%
3,7%
2 7,4%
1
para que
[+suj]
%
#
35 19,4%
2
7,4%
%
#
total
outra
0
%
#
0,0%
19 10,6%
180
18 66,67%
4 14,8%
27
Tabela 8: traduções espanholas das construções portuguesas com inf fl
Com efeito, os casos em que aparecem ao mesmo tempo um inf fl e um sujeito explícito
parecem ser traduzidos de preferência por uma construção com sujeito explícito, introduzida
pela locução conjuncional para que. Se não levarmos em linha de conta as quatro traduções
díspares, 87 % dos casos restantes – ou seja, 20 casos – é traduzido por uma construção com
sujeito explícito, quer por [para que + suj + V finito] (10), quer por [para + inf + suj] (11):
(10)
a. Essa água é para os seus ossos ficarem moles, daptáveis [sic]. [PALOP VOZ 2302]
b. Esta agua es para que tus huesos se queden blandos, adaptables.
[PALOP tr esp VOZ 2302]
(11)
a. Queres então que eu mande embora a Muari? Para tu seres a única? --Não, não
quero nada. [PALOP CAG 892]
b. ¿Quieres pues que eche a Muari? ¿Para ser tú la única? --No. Yo no quiero nada.
[PALOP tr esp CAG 892]
[20]
#
Os três casos em que a construção [para + suj + inf fl] foi traduzida por uma construção
sem sujeito são estes:
(12)
a. O camarada tem de aceitar a crítica e eu cheguei aqui só para você e a dona
educarem melhor os pioneiros. [PALOP QUE 672]
b. El camarada tiene que aceptar la crítica; yo vine aquí para decirles a usted y a su
mujer que eduquen mejor a sus pioneros. [PALOP tr esp QUE 672]
(13)
a. Contava, por exemplo, uma história para os alunos a redigirem [...] [FER 115]
b. Contaba, por ejemplo, una historia a los alumnos para que la redactasen.
[FER tr esp 151]
(14)
a. É para vocês pensarem que ela ainda está. [PALOP VOZ 1678]
b. Es para que penséis que ella aún está. [PALOP tr esp VOZ 1678]
Observe-se que em (12) e (13) os elementos se reorganizam de tal maneira que, em (12), o
sujeito da subordinada infinitiva co-refere com o sujeito da principal yo, e que em (13), o
sujeito da frase com para que co-refere com o objecto indirecto a los alumnos. Em (14) não
há problemas para omitir o pronome sujeito na versão espanhola, visto que se trata de uma
segunda pessoa do plural. No original português, a explicitação do sujeito é necessária porque
o verbo tem a forma gramatical de uma terceira pessoa do plural, de modo que da própria
desinência não se pode deduzir que se trata de um interlocutor no plural.
Contrariamente, as construções do tipo [para + inf fl] correspondem sem excepção –
de novo, sem tomarmos em consideração os casos de tradução divergente – a uma construção
sem sujeito explícito, seja pela estrutura [para + inf] (15), seja por [para que + V finito] (16):
(15)
a. Ficou furioso quando percebeu que lhe tinham posto coisa no grogue para o
tirarem da bebida. [PALOP CHI 491]
b. Se enfureció cuando se dio cuenta de que le habían puesto algo en el grogue para
apartarle de la bebida. [PALOP tr esp CHI 491]
(16)
a. Bastava olharmos para a mobília americana, o microfones, os quadros na parede,
para sentirmos papai assistindo connosco, embora tão longe. [PALOP CHI 58]
b. Bastaba con que mirásemos el mobiliario americano, el gramófono, los cuadros en
la pared, para que sintiésemos a papá entre nosotros, aunque estuviera tan lejos.
[PALOP tr esp CHI 58]
Um terceiro argumento encontra-se nas traduções do espanhol para o português.
Constatamos que as 21 traduções portuguesas por [para + inf fl] são todas traduções a partir
[21]
dum original espanhol sem sujeito explícito: 17 casos são do tipo [para + inf] (17) e 4 do tipo
[para que + Vfinito] (18):
original espanhol
para + inf
17
81,0%
para que
4
19,0%
total
21
Tabela 9: casos em que o original espanhol dá lugar a uma tradução por [para + inf fl]
(17)
a. Entró atropelladamente y todas suspendieron de inmediato sus labores para no
perderse una sola de sus palabras. [ESQ 18]
b. Entrou atrapalhadamente e todas interromperam imediatamente os seus trabalhos
para não perderem uma só das suas palavras. [ESQ tr ptg 17]
(18)
a. Ambos eran tan dóciles y serviciales que Úrsula se hizo cargo de ellos para que la
ayudaran en los oficios domésticos. [GAR 52]
sb. Eram ambos tão dóceis e prestáveis que Úrsula ficou com eles em casa para a
ajudarem nas lidas domésticas. [GAR tr ptg 37]
Aqui efectivamente não existe necessidade cognitiva de explicitar o sujeito, visto que a
construção encontrada na tradução não contém nenhuma indicação do sujeito no próprio
constituente introduzido por para. Em (17), o sujeito de perder co-refere com o sujeito da
principal, enquanto em (18) a co-referência se estabelece com o complemento preposicional
(de ellos/com eles).
Estas constatações corroboram efectivamente que, como Vesterinen o assume, quando
se explicita um sujeito, existe a necessidade cognitiva de introduzir um referente no discurso.
No que diz respeito à flexão, porém, dificilmente se pode falar de necessidade, já que a
tradução reflecte que é perfeitamente possível omitir a flexão. Como já o mencionámos,
suspeitamos, portanto, que a flexão fortifica a coesão temática no texto e que não introduz
nenhum referente novo no discurso. O português tem, sob a forma do inf fl, um recurso para
sublinhar a coesão temática e frequentemente emprega-o. Por isso, parece-nos adequado ver a
explicitação do sujeito e a marca flexional como dois recursos linguísticos fundamentalmente
diferentes, em vez de considerar ambos como um meio para indicar uma acessibilidade
reduzida.
À base destes dados, estamos de acordo com Noël (2003: 176-177) quando pensamos
que a regularidade nas traduções, ou antes a consistência do desvio em relação ao original, tal
como aparecem nas tabelas 1, 2 e 3, revela algo sobre a(s regularidades na) estrutura do
[22]
idioma original. Concretamente, pensamos que estes resultados permitem reorientar a posição
defendida por Vesterinen, na medida em que o uso da flexão e do sujeito explícito parecem
ser de natureza diferente: a flexão serve para sublinhar a coesão temática enquanto um sujeito
explícito introduz efectivamente um referente pouco acessível.
Na parte seguinte, tentaremos verificar se o corpus comparável proporciona provas
adicionais para asseverar esta hipótese. A análise do corpus tradutivo mostrou que certas
regularidades no original se reflectem nas traduções.
3.5. Confirmação da hipótese nos textos originais
Nesta secção verificamos se a partir do nosso corpus comparável – isto é, os textos
originalmente escritos em ambas as línguas – chegamos à mesma constatação fundada nas
traduções: a flexão do infinitivo difere fundamentalmente da explicitação de um sujeito do
infinitivo.
Se nos concentramos na combinação do instrumento conectivo – ou seja, a bifurcação
entre para e para que – com a eventual explicitação do sujeito, constatamos que em espanhol
cada possibilidade estrutural está prototipicamente associada a uma das situações de coreferencialidade 37 :
para + inf
para que
para que [+ suj]
Total
co-ref princ outra co-ref 38 não co-ref total 39
68
9
248
171
1
1
33
31
0
1
25
24
177
83
36
296
Tabela 10: co-referência, conector e expressão do sujeito em espanhol
Citemos aqui uns exemplos das situações típicas:
37
Lembremos que só consideramos a co-referencialidade nas margens da própria frase. Esta escolha justifica-se,
pois permite formular a nossa hipótese. Contudo, é certo que se possa refinar os resultados em considerando um
contexto mais amplo.
38
A indicação outra co-referência alude principalmente às construções onde o sujeito do processo verbal é coreferente com o complemento de objecto directo (i), com o complemento de objecto indirecto (ii), com um
tópico genérico (iii) e em alguns outros casos (como o complemento do nome em (20) acima):
(i)
Esta es la vaca, hay que ordeñarla todas las mañanas para que produzca leche [...] [MAR 64]
(ii) [...]le cruzó las manos sobre el pecho para que no se fuera a rasguñar la cara. [ESQ 68]
(iii) Esto basta para garantizar su buen estado por varios meses. [ESQ 27]
Não co-referentes são os casos onde nenhum antecedente na mesma frase serve para interpretar o sujeito da
subordinada.
39
Deixámos fora de consideração os casos em que, por motivo de falta de contexto, havia dúvidas sobre a
interpretação do sujeito do verbo introduzido por para, que provavelmente poderão ser resolvidas pela inclusão
de um contexto maior, como o assinalámos na nota 38.
[23]
(19)
Así pasaron semanas, mientras Michael Steward pesaba y medía las consecuencias
del paso que deseaba dar y se comunicaba por carta con su padre para discutir sus
planes. [ALL 89]
(20)
Al hacerlo, Eliza se colocó lo más cerca posible de él, calculando la dirección de la
brisa para que le llevara el aroma del hombre quien, estaba decidido, era suyo. [ALL
93]
(21)
Fingiendo serenidad, siguió partiendo las teleras, para que sus hermanas y Nacha se
encargaran de rellenarlas. [ESQ 19]
Portanto, para um sujeito co-referencial, e particularmente co-referencial com o sujeito da
oração principal, como em (19), emprega-se de preferência a construção [para + inf] (171 dos
248 casos). Por outro lado, em situações não co-referenciais, [para que + suj + Vfinito] é o
torneio indicado (a saber, 24 dos 25 casos, exemplo (21)). [Para que + Vfinito] sem sujeito
especificado, ocupa uma posição intermediária e aparece principalmente nas orações em que o
sujeito mostra uma co-referência com outro elemento da principal que não seja o sujeito da
principal (31 casos num total de 33, veja-se o exemplo (20)).
Agora, o português parece exibir uma mesma relação entre estrutura e tipo de coreferência, mas o maior número de possibilidades faz com que as três situações de coreferência se vejam repartidas pelas seis possibilidades conectivas combinadas com a
explicitação do sujeito:
para + inf
para + inf fl
para que
para + inf [+ suj]
para + inf fl [+ suj]
para que [+ suj]
Total
co-ref princ outra co-ref não co-ref total
32
13
155
110
54
18
172
100
2
10
29
17
2
17
55
36
1
3
33
29
0
4
46
42
215
127
148
490
Tabela 11: co-referência, conector e expressão do sujeito em português
Desta maneira constatamos que tanto [para + inf] como [para + inf fl] se escolhem
para relatar um evento cujo sujeito co-refere com o sujeito da oração principal. A construção
[para que + Vfinito] aparece na maior parte dos casos quando o seu sujeito co-refere com um
elemento diferente do sujeito da principal. Por fim, a grande maioria dos casos com sujeito
explícito – seja com inf, seja com inf fl, seja com Vfinito introduzido por para que– associase com uma situação não co-referencial.
[24]
O que chama a nossa atenção em relação à hipótese formulada é de novo, que os casos
com inf fl (sem sujeito explícito) se situam no mesmo nível que os casos com inf sem flexão.
Em contrapartida, todos os casos com sujeito explícito são similares no que diz respeito à
referência. A explicitação do sujeito parece, pois, situar-se no mesmo nível em todos os casos,
apesar de divergências eventuais na aparição ou ausência da flexão e na escolha do conector.
Repitimos que esta discrepância se explica pelo facto de que a flexão do infinitivo, uma
vez que sublinha a relação entre sujeito e verbo, serve para enfatizar a coesão temática. Já que
o português permite fazê-lo, encontram-se tanto infs fls como infs não flexionados na mesma
situação de co-referência. Um sujeito explícito assegura a introdução de um novo sujeito.
Efectivamente, como se pode ler na tese de Vesterinen, a inacessibilidade de um novo
referente requer explicitação deste referente. Por outro lado, interessa saber onde reside
exactamente a diferença entre inf fl e inf sem flexão em casos sem sujeito. O autor imputa
esta diferança a uma acessibilidade reduzida. Queremos atenuar esta visão, e sustentamos que
a função da flexão no infinitivo é salientar a coesão temática em exemplos como estes:
(22)
Os braços balançam o pé de cimbrão, as mãos fazem concha para apanharem os
grãos que vão caindo. [PALOP CHI 3281]
(23)
Fizemos uma pequena conspiração para afastarmos Parafuso da ideia de jogar
futebol no campeonato liceal. [PALOP CHI 3528]
Além disso, em termos de prototipicalidade, consta que a distinção em português entre
o conector preposicional para e o conector conjuncional para que é similar à distinção entre
ambos em espanhol. De facto, nas duas línguas para que caracteriza-se por introduzir um
sujeito não co-referencial com o sujeito da principal. Para seguido por um infinitivo, por seu
lado, introduz tipicamente um sujeito co-referencial com o sujeito principal.
3.6. Factores de influência na escolha entre inf não flexionado e inf fl
Em que direcção é que nos levam todas estas constatações? Esboçaremos aqui umas pistas de
reflexão para prosseguir o estudo das orações infinitivas em português e em espanhol –
utilizando tanto as traduções, como o original português –, à luz da hipótese formulada a
partir da nossa análise do corpus tradutivo e dos corpora originais.
Concentramo-nos nas disparidades entre [para + inf] e [para + inf fl] em português.
Com esta finalidade, retemos os casos para os quais ambas as construções parecem ser típicas,
a saber os casos de co-referencialidade com o sujeito da principal (cf. tabela 11). Além disso,
[25]
mantendo um paralelismo total entre ambas as possibilidades, os casos pertinentes de [para +
inf] limitam-se às ocorrências com um sujeito na 2ª, 4ª e 6ª pessoa gramatical 40 : dado o
paradigma desinencial do inf fl, a construção [para + inf fl] só se produz para estas pessoas.
Deste modo obtemos 23 casos de [para + inf] e 100 de [para + inf fl]. Se bem que nos
realizemos que se trata de um número de exemplos limitado, insistimos que o nosso objectivo
é oferecer umas pistas hipotéticas para prosseguir o nosso estudo mais amplo.
Ora, a pergunta que interessa nesta fase é a seguinte. Será que se encontram indícios que
apontam para uma maior coesão com [para + inf], de maneira que nos casos de [para + inf
fl] se tenha mais razão para marcar a coesão por meio da flexão? Por outras palavras, haverá
sinais de que uma menor coesão é compensada morfologicamente pelo uso da flexão?
Investigamos portanto uma série de elementos que possam ser de influência na escolha entre
ambas as possibilidades.
Vesterinen (2006: 88) menciona já certas motivações cognitivas que incitam a empregar
uma proposição adverbial proeminente, tanto em casos não co-referenciais como em casos
co-referenciais: a distância entre a proposição que contém o antecedente e a proposição
adverbial, a competição entre vários antecedentes possíveis, uma relação catafórica, pausas,
repetições e reformulações. Nesta secção especificamos de maneira mais concreta alguns
indícios e formulamos outros possíveis factores de influência na escolha entre inf fl e inf não
flexionado. Além disso, Vesterinen ilustra as suas ideias, mas não aclara em que medida se
confirmam estatisticamente e não compara a presença destes factores nos casos em que se usa
um infinitivo sem flexão.
3.6.1. As traduções
Um primeiro indício, não referido por Vesterinen (2006), é a própria tradução. Observa-se
uma divergência entre as frases com [para + inf] e as frases com [para + inf fl], apesar de
ambas serem usadas em casos co-referenciais. As primeiras construções são todas, excepto
uma (24), traduzidas por [para + inf] em espanhol (25):
(24)
a. [...] colocou o desenho no centro da mesa e todos se levantaram para observar.
[PALOP QUE 593]
b. [...] puso el dibujo en el centro de la mesa y todos se levantaron para observarlo.
[PALOP tr esp QUE 593]
40
Da 5ª pessoa gramatical não havia occorrências, sendo uma forma pouco usada na linguagem actual.
Evidentemente, a segunda pessoa do plural exprime-se antes pela 6ª pessoa gramatical, que refere ao pronome
vocês.
[26]
(25)
a. Amanhã temos que mandar o fiscal em casa do gajo e descobrir esse porco para
lhe multar ou mesmo correr com esta gente do prédio. [PALOP QUE 53]
b. Mañana tenemos que mandar al fiscal a casa de ese tipo, pillarlo con el cerdo y
multarlo o, mejor, expulsar a esa gente del edificio. [PALOP tr esp QUE 53]
Na tradução (25b), [para + inf] traduziu-se por uma conjunção de coordenação, y, em vez de
se utilizar a construção final com para. Assim, apesar da perda do matiz final, conserva-se o
infinitivo em espanhol e logo a continuidade temporal e referencial.
Os casos de [para + inf fl] mostram mais diversidade nas traduções, ainda que a
maioria também corresponda com [para + inf] na tradução (86 casos, ou seja 86,0 % – vejase o exemplo 26). A par desta maioria, o corpus apresenta cinco casos de tradução por [para
que + Vfinito] (27) – sem sujeito explícito – e nove onde se utiliza outro tipo de construção
(o que coincide respectivamente com 5,0 % e 9,0 % dos casos) (28,29). Neste último grupo há
dois casos de tradução pela preposição a seguida por um inf (28):
(26)
a. Por que comes tu pão, tendo fechados os olhos, se não o comendo és cega, não o
comas para não veres tanto, Blimunda [...] [SAR 79]
b. Por qué comes tu pan con los ojos cerrados, si no comiéndolo eres ciega, no comes
para no ver tanto, Blimunda [...] [SAR tr esp 100]
(27)
a. Luís e Aníbal foram autorizados a entrar para se explicarem às autoridades.
[PALOP VOZ 2117]
b. Luis y Aníbal fueron autorizados a entrar para que se explicasen frente a las
autoridades. [PALOP tr esp VOZ 2117]
(28)
a. Abriram a porta -- no hall havia sapatos, canas de pesca, recados, como se os
donos tivessem saído para tomarem limonada e estivessem de volta. [JOR 77]
b. Abrieron la puerta: en el hall había zapatos, cañas de pescar, provisiones, como si
los dueños hubiesen salido a tomar limonada y estuviesen por volver. [JOR tr esp 88]
(29)
a. [...] e ela veio nua como sempre vinha, mas ele nem a olhou, disse-lhe apenas vaite vestir para não te constipares. [PALOP NPO 937]
b. Ella vino desnuda como siempre iba, pero él ni la miraba, le dijo ponte algo, si no
te vas a constipar. [PALOP tr esp NPO 937]
Portanto, enquanto em (26b) [para + inf fl] se traduz por [para + inf], oração menos
elaborada – ou seja, mais tipificada –, em (27b) já se apresenta maior elaboração, pela
[27]
indicação da pessoa gramatical na desinência 41 . Estas duas possibilidades mostram que
efectivamente, a escala de Vesterinen é certa quando assume que o inf fl é mais proeminente
do que o inf e que por isso aparece em casos de menor coesão.
Contudo, repetimos que a maior parte das ocorrências de [para + inf fl] em situação
co-referencial se traduz por [para + inf]. Além disso, na tradução em (28) observa-se
possivelmente maior coesão: a expressão de finalidade com verbos de movimento pela
preposição a (cf. Galán Rodríguez 1999: 3620), poderá incarnar uma relação mais estreita
entre verbo e complemento de finalidade, já que esta é inerente ao movimento numa certa
direcção 42 .
3.6.2. Distância e complexidade
Evidentemente, um factor influente – também assinalado por Vesterinen (2006: 81-86) – para
a coesão é a distância. Quanto mais distância entre os elementos que se reportam ao mesmo
referente, mais cresce a necessidade de assinalar a coesão. É exactamente o que se observa
nos casos co-referentes de [para + inf] e de [para + inf fl]. Ao perscrutarmos o corpus, o
primeiro tipo de construção emerge em duas situações quanto à distância entre verbo principal
e complemento com para: (i) o complemento com para segue imediatamente ao verbo
principal (6 casos, ou seja 26,1%, cf. o exemplo 30) (ii) intercala-se um constituinte – em
geral um sintagma nominal na função de objecto como no exemplo (31) – entre eles (16
casos, equivalente a 72,7%) 43 :
(30)
Vêm para nos tirar daqui… [PALOP SON 1121]
(31)
Abrem uma única campa para poupar esforço. [PALOP SON 135]
Os casos de [para + inf fl] mostram mais variação na distância com o verbo principal.
Nos exemplos em que [para + inf fl] sucede imediatamente ao verbo, salientamos que se trata
de um predicado complexo em 8 dos 15 casos (32,33) :
(32)
Ir para a América, ora um passo natural que os filhos das ilhas tinham de dar para se
vestirem com fatos de bom pano, terem relógios e sapatos e ganharem dólares [...]
[PALOP CHI 1549]
41
É notável que todas as traduções por para que decorrem de frases com principal passiva: uma possível
explicação poderia ser que se quer evitar uma leitura co-referente com o agente da principal, diferente do
paciente que é expresso pelo sujeito.
42
Seria, pois, interessante verificar se em espanhol se encontram indícios de coesão nos complementos finais
introduzidos por a.
43
Deixámos aqui de lado um exemplo em que há elipse do verbo principal: E às seis horas aqui em casa PARA
ajudar no trabalho da limpeza e comer carne fresquinha. [PALOP QUE 1037]
[28]
(33)
Abriram a porta -- no hall havia sapatos, canas de pesca, recados, como se os donos
tivessem saído para tomarem limonada e estivessem de volta. [JOR 77]
Desta maneira, entre os dois verbos flexionados se intercala um inf (32) ou um particípio
passado (33).
A par dos 31 casos em que um só constituinte se insere entre verbo principal e [para +
inf fl] (como em 34), a maioria dos demais casos apresentam pelo menos dois constituintes
entre ambos, com frequência um complemento adverbial e um objecto (35), dois
complementos adverbiais (36) ou dois objectos (37).
(34)
Ora essas criaturas abandonam ilhas de fortes tradições próprias e já com
enraizadas formas de estar no mundo, para de repente se lançarem num espaço não
só agreste como também relativamente [...] [PALOP NPO 1275]
(35)
[...] e o escândalo ainda morno, ainda lento, das mulheres, que reajustavam na nuca
os lenços de algodão e buscavam no poial das portas um degrau seguro para
abrigadamente presenciarem. [BES 15]
(36)
Era um grupo de pessoas amigas que se reuniam rotativamente na casa de uns e de
outros para discutirem e tomarem chá. [FER 107]
(37)
[...] poderiam regressar todos ao terraço, pedir ao Gerente que mandasse servir lá
em cima o almoço, e se possível o jantar, para não perderem a cena de barbárie que
estava afinal ocorrendo entre o Chiveve e o mar. [JOR 24]
Quando se manifesta um único constituinte entre verbo principal e [para + inf fl], este é
frequentemente mais complexo do que com [para + inf], onde na maior parte das vezes
apenas se insere uma palavra – por exemplo um advérbio – ou um sintagma nominal simples
– ou seja, um artigo mais um substantivo. Esta complexidade assevera-se claramente no
objecto longo (sublinhado) das frases (34) e (37), no qual o objecto directo – que mandasse
[...] – é uma oração subordinada. Em (30) temos um exemplo da estrutura relativamente
simples no caso de [para + inf].
Além da distância entre o complemento iniciado com para e o verbo principal, as
orações com inf fl aparecem em frases bem mais complexas (e longas) do que os casos de
[para + inf]. Uma maneira de medir esta complexidade é contar o número de orações
subordinadas em que aparece a principal de ambas as construções. Se a oração de que
depende a subordinada com para faz por sua vez parte de uma subordinada, tem-se a ver com
um grau de complexidade maior do que no caso em que a oração superordinada à oração com
para é simplesmente a principal e não depende de outra oração. Neste caso poderá haver
necessidade de assinalar a coesão pela flexão, já que a identificação do referente será menos
evidente.
[29]
Desta maneira, 45,0 % das orações com [para + inf fl] dependem efectivamente de
uma principal que por sua vez depende de outro elemento da frase (38). Ao contrário, só
17,4% das ocorrências de [para + inf] estão na mesma situação (39) 44 :
(38)
A revolta surda que eu senti contra aqueles que me puseram na prenda, para fazerem
de mim homem grande, homem de capacidade. [PALOP CHI 3927]
(39)
Eu imaginava os trabalhos da rala, os tachos sobre o lume e as mulheres mexendo o
rodo para evitar que a farinha se empedrasse. [PALOP CHI 145]
Por fim, atesta-se uma diferença de complexidade na principal de [para + inf] e [para
+ inf fl]. A principal de que depende [para + inf], é uma das combinações seguintes:
(i)
(ii)
(iii)
(iv)
(v)
(vi)
adverbial [elipse do verbo] (1 caso)
(sujeito +) verbo (7 casos dos 23 exemplos, ou seja 30,4%)
(sujeito +) verbo + objecto (9 casos, o mesmo que 39,1%)
(sujeito +) verbo + adverbial (3 casos ou 13,0%)
(sujeito +) verbo + 2 objectos (1 caso ou 4,3%)
(sujeito +) verbo + objecto + adverbial (1 caso)
Por outro lado, nas frases em que aparece a construção [para + inf fl], a principal é
amiúde mais complexa:
(i)
(ii)
(iii)
(iv)
(v)
(vi)
(vii)
(viii)
(ix)
(x)
(xi)
[elipse do verbo] (2 casos 45 )
(sujeito +) verbo (7 casos)
(sujeito +) verbo + objecto (41 casos)
(sujeito +) verbo + adverbial (19 casos)
(sujeito +) verbo + 2 objectos (2 casos)
(sujeito +) verbo + objecto + adverbial (11 casos)
(sujeito +) verbo + 2 adverbiais (6 casos)
(sujeito +) verbo + objecto + 2 adverbiais (3 casos)
(sujeito +) verbo + 2 objectos + adverbial (3 casos)
(sujeito +) verbo + 3 adverbiais (3 casos)
(sujeito +) verbo + objecto + 3 adverbiais (1 caso)
A par disso, acabamos de ver que a principal é com frequência apenas uma das orações
que fazem parte de uma frase comprida e complexa. Isto é muito menos o caso com [para +
inf] onde a principal é em geral a única outra oração na frase. Assim, estas formas de
complexidades estruturais – uma principal mais complexa, com mais constituintes e um
44
Assim, em (38), a principal (sublinhada) da adverbial final com para – [aqueles] puseram-me na prenda – é
por sua vez uma relativa dependente do pronome aqueles, que faz parte do complemento preposicional
introduzido por contra. Em (39) a principal é objecto do predicado imaginava, e é coordenada aos objectos os
trabalhos da rala e os tachos sobre o lume.
45
As percentagens coincidem com o número de exemplos, já que temos 100 exemplos de [para + inf fl] em
contexto co-referencial.
[30]
predicado principal complexo, uma principal em posição subordinada, a inserção de um maior
número de elementos entre principal e subordinada e complexidade mais alta de estes
elementos – acumulam-se amiúde nos casos de [para + inf fl].
3.6.3. Marcas de distância prosódica: vírgula
Uma maneira de indicar a distância prosódica na linguagem escrita, é a utilização da vírgula.
Se considerarmos esta distância como marca de coesão reduzida, seria lógico, segundo o
nosso raciocínio, encontrar poucas vírgulas antes do complemento iniciado por para na
construção [para + inf], e mais com [para + inf fl].
E efectivamente, este é o caso. Deste modo confirma-se o parámetro da pausa, referido
por Vesterinen (2006). Enquanto 8,7% das estruturas com [para + inf] segue uma vírgula (2
frases, entre as quais o exemplo 41), a percentagem de vírgulas sobe até 25,0% (ou seja 25
das 100 frases) no caso de [para + inf fl] (42).
(41)
Saíam à noite, para evitar os ardores do sol, e era uma verdadeira procissão [...]
[PALOP CHI 389]
(42)
Aturas maçadas do toda a casta, para receberes por mês uma ninharia ...
[PALOP CHI 4784]
3.6.4. Anteposição
A posição da subordinada em relação à principal poderá ser de importância na escolha entre
[inf] e [inf fl]. Como já o notou Vesterinen (2006), a interpretação do sujeito do infinitivo, coreferente com o da principal, é menos evidente quando a subordinada precede a principal e
que se estabelece uma relação catafórica entre antecedente e sujeito do infinitivo. A flexão,
como sinal de coesão, poderá constituir uma maneira de evitar esta dificuldade. Porém, os
poucos dados que temos não confirmam esta ideia: a percentagem de relações catafóricas é
quase igual nos dois casos: 4% do total dos casos com [para + inf] (43) e [para + inf fl] (44)
(respectivamente 1 e 4 casos) 46 :
(43)
Para distrair raiva arrancavam dos ramos o fruto. [PALOP VOZ 2456]
(44)
Niguém podia suspeitar que para fugirem da proximidade do tabique, se tivessem
refugiado nos frescos mosaicos onde ela, Evita, via e sentia um lago agitado por
vagas. [JOR 17]
46
Note-se que o exemplo (43) é bem mais curto e menos complexo do que (44). Isto poderia significar que, para
escolher um inf fl, o factor da complexidade prevalece sobre o facto de se antepor a subordinada à principal.
[31]
3.6.5. Sinais de verbalidade no infinitivo
Scida (2004: 17) sustenta, na teoria da gramática relacional, que o infinitivo é apto a levar
flexão quando é predicado da sua própria oração, ou seja, em estruturas bi-oracionais. Dito de
outro modo, o inf fl aparece em casos em que a oração infinitiva goza de uma certa autonomia
– ideia que se encontra também em obras menos recentes sobre o inf fl, como em Maurer
(1968: 235).
Ora, se um evento subordinado manifesta uma maior autonomia perante a principal, é
lógico que a coesão não seja tão forte como em casos onde o infinitivo depende em maior
medida da principal. Nesta perspectiva, interessa procurar sinais de verbalidade no infinitivo,
que indicam explicitamente que o infinitivo é efectivamente predicado de uma oração
subordinada e não parte integrante de um predicado complexo 47 . Rodríguez Espiñeira (2004:
123) comenta que a presença de certas categorias gramaticais se relaciona com um maior ou
menor grau de semelhança com a oração independente e revela portanto um certo grau de
autonomia. Estas categorias são a polaridade (afirmativa ou negativa), o tempo (passado,
presente ou futuro), perífrases de modalidade e de aspectualidade e a indicação da voz (activa
ou passiva). O ponto de vista de Scida (2004: 29-30) coincide em certa medida com o de
Rodríguez Espiñeira quando – partindo da ideia de que o inf fl é sempre predicado da sua
própria oração – prediz que o inf fl se encontrará com frequência quando exprime um tempo
composto, quando aparece na estrutura passiva ou quando um pronome reflexivo se liga a ele.
Verificámos alguns destes elementos no nosso corpus.
Um primeiro indício de verbalidade é a negação do infinitivo. Nos complementos sem
flexão não se dá nenhum caso de negação. Em compensação, 14,0 % dos infinitivos nas
orações do tipo [para + inf fl] são negados:
(45)
Todos queriam que comessem das suas panelas e eles tiveram de se dividir, para não
criarem ressentimentos. [PALOP CAG 1400]
Segundamente, um infinitivo manifesta o seu carácter verbal – e por conseguinte um
certo grau de autonomia – quando leva um auxiliar. Efectivamente, entre os casos de [para +
inf] não se encontra nenhum infinitivo auxiliado, enquanto 12,0 % dos infinitivos na
construção [para + inf fl] levam um auxiliar (aspectual (46) ou modal (47)):
47
Visto as construções estudadas aqui, encabeçadas por para, é raro encontrar realmente um predicado
complexo. Não obstante, o corpus contém um exemplo da expressão estar para: Estava para terminar o sono da
água. [PALOP SON 1426]. Além disso, é evidente que numa frase como Eu não tinha coragem para imitar os
outros, mas espiava tudo com uma curiosidade deliciada. [PALOP CHI 515], omete-se com menos facilidade o
complemento com para do que na frase E eles não perdiam agora nenhuma festa, para se desforrarem dos anos
da guerra. [PALOP CAG 238], onde o mesmo complemento é realmente uma oração final, não obrigatória.
[32]
(46)
Lançavam-se em flecha no céu claro, davam uma volta escarninha, com demoras
filosóficas junto dos companheiros da farra, para voltarem momentos depois a
esvoaçar baixo, passando e repassando a sua sombra malfazeja sobre as nossas
cabeças [PALOP CHI 566]
(47 )
Na véspera, enquanto as mulheres amarravam as imbambas, para poderem sair antes
do nascer do sol, Ulume foi ao morro se despedir do cágado velho e esperar a
paragem do tempo. [PALOP CAG 1727]
Igualmente, nas frases com [para + inf] não encontramos nenhum infinitivo na
construção passiva. Entre as frases com [para + inf fl], pelo contrário, figuram cinco casos
destes, como o exemplo seguinte:
(48)
Por mais que pensemos, só encontramos na nossa cabeça explicação para sermos
continuados pelos nossos filhos. [PALOP CHI 4347]
Finalmente, com [para + inf fl], 20,0 % dos infinitivos são de carácter pronominal,
tal como no exemplo (49 ). Pelo contrário, nenhum pronome reflexivo provém das estruturas
do tipo [para + inf]:
(49)
Atendem aos fregueses de Armanda e em troca comem duas refeições ao dia e têm um
colchão de coco-de-milho para se deitarem. [PALOP CHI 2387]
Estes sinais de verbalidade não foram mencionados por Vesterinen (2006) para explicar
o uso do inf fl nas adverbiais, mas parecem, segundo os dados do nosso corpus, ter uma
influência real no uso do inf fl.
3.6.6. Particularidades da principal
É possível que na estrutura da principal também haja elementos que influem na coesão. Deste
modo, a negação da principal faz com que a continuidade temporal com a oração
subordinada introduzida por para – em geral com sentido prospectivo, pois o evento expresso
por este complemento sucede depois do evento principal (cf. Galán Rodríguez 1999: 3622)
desapareça. Ou seja, se o evento principal não tem lugar, a continuidade temporal não é
garantida pela subordinada e a coerência temporal é reduzida. Givón (1990: 876) argumenta
que, se a coesão é reduzida num aspecto, ela provocará uma marcagem explícita 48 .
Verificamos se esta ideia é aplicável à indicação da flexão em casos de falta de continuidade
48
Entre os elementos que se conservam no discurso coerente, Givón (1990: 896-897) cita: a manutenção do
referente, tempo simultâneo ou contíguo, igualdade ou contiguidade no espaço e sequencialidade da acção.
[33]
temporal. Contudo, não é o que observamos nos nossos casos: em 23 casos de [para + inf], 3
são ligados a uma principal negada (ou seja, 13,0% - exemplo 50), enquanto só 8 das 100
ocorrências de [para + inf fl] (8,0 %) são subordinadas a uma principal negativa (51):
(50)
Eles nem tiveram tempo para pensar no que fazer. [PALOP CAG 458]
(51)
Nunca tivemos soldados de chumbo para brincarmos. [PALOP CHI 1574]
Uma segunda característica ligada à estrutura da principal que possa ser de
importância para a coesão é o elemento de que o complemento com para depende. Já
explicámos que este pode ser obrigatório ou facultativo, conforme seja agramatical a sua
omissão ou conforme seja requerido pelo significado do elemento de que depende. Assim, as
orações em questão podem depender da predicação principal inteira – e neste caso são
facultativas, como em (52) – ou podem depender de um elemento específico, seja um
substantivo (53, 54), seja um adjectivo (55, 56). Nestes casos, muitas vezes são óbrigatórias,
porque o sentido do substantivo, adjectivo ou verbo o precisa para ser completo:
(52)
Outras vezes vão mergulhar lá fora, junto dos paquetes, para pegarem as moedas
que os passageiros atiram. [PALOP CHI 2780]
(53)
Eles nem tiveram tempo para pensar no que fazer. [PALOP CAG 458]
(54)
O estrangeiro não sabia, mas aqueles não eram assuntos para serem trazidos à luz
do dia. [PALOP FLA 4152]
(55)
Não tinham, contudo, sido suficientes para amparar os pesadelos lilases dos donos
daquela casa. [JOR 78]
(56)
Não és bastante bonita nem esperta, para te safares desta ratinhice doméstica e
obteres tudo quanto qualquer mulher menos subjectiva sabe conseguir. [BES 157]
De novo, o raciocíncio é o seguinte: um elemento obrigatório, exigido por outro
elemento, apresenterá mais coesão do que um elemento facultativo, não intrinsicamente
pedido pelo elemento de que depende. No que diz respeito aos casos dependentes de um
adjectivo, esta hipótese não se mantém no nosso corpos, já que para ambas as construções
houve 3 casos, o que corresponde com 13,0% e 3,0% dos casos co-referentes de [para + inf]
(55) e [para + inf fl] (56) respectivamente.
Ao contrário, nos substantivos há uma grande diferença entre ambos, visto os casos coreferenciais de [para + inf fl] estarem sujeitos gramaticalmente a um substantivo em 23,0 %
dos casos (como em 54), ao passo que nos mesmos casos com [para + inf] a proporção é
apenas 4,3% em 23 casos (ou seja, o exemplo 53).
[34]
A relação semântica que se instaura entre principal e subordinada relacionada com o
elemento de que a subordinada depende. Assim, a maioria dos casos com elemento principal
substantivo, não são orações finais puras, na medida em que não implicam um agente que
intencionalmente leva a cabo uma acção, de maneira a que o evento subordinado se verifique.
Muitas vezes esta intencionalidade não se dá em casos dependentes de substantivos (cf. Galán
Rodríguez 1999: 3625-3626)
O que chama a atenção na análise de todos estes indícios, é que na maioria dos casos se
apresenta algum deles. Por assim dizer, se [para + inf fl] não é precedido por uma vírgula,
estará acompanhado por um pronome reflexivo, ou terá uma construção negativa. Isto,
pensamos, mostra que se trata de elementos que realmente têm a sua influência na aparição da
flexão. A nossa convicção é que estes elementos não se podem ver todos como sinais de
acessibilidade cognitiva reduzida, como o alega Vesterinen (2006). Se bem que o número de
exemplos seja reduzido, cremos que estas pistas merecem um estudo mais aprofundado.
Em breve, nesta secção verificámos sucintamente alguns indicadores que podem fazer
emergir a necessidade de marcar a coesão no infinitivo pela flexão em português, ainda que se
trate de casos de co-referência com o sujeito da principal. Porém, como o constatámos antes, a
construção [para + inf fl] coincide em espanhol frequentemente com um infinitivo, sem
marca nenhuma do sujeito do infinitivo. Interessa controlar na investigação futura se nestes
casos a falta de marcador da coesão se supre por outros meios em espanhol. Visto o espaço
reduzido deste artigo, não nos ocupámos com este problema altamente relevante na
problemática aqui formulada.
4. Reflexões conclusivas
Em suma, no presente artigo vimos que vários estudiosos, apesar de óbvias interferências da
LF na LA, observadas também no nosso corpus, consideram as traduções se não
indispensáveis, pelo menos úteis em diversas áreas da investigação linguística.
No nosso próprio estudo apoiámo-nos na análise de construções oracionais com para
em português e em espanhol a fim de dar uma resposta às questões seguintes: as traduções
constituem auxiliar na investigação linguística contrastiva? Chegar-se-á ao mesmo tipo de
conclusões ao tratar textos escritos na língua original?
[35]
Efectivamente, certas regularidades nos dados obtidos pelas traduções ajudou-nos a
formular uma hipótese, confirmada depois no corpus de textos originais. Concretamente,
observámos que a flexão no inf fl serve para sublinhar a coesão temática, enquanto a
explicitação de um sujeito, tanto nas orações infinitivas como nas conjuntivas, é realmente
devida à introdução de novos referentes. Assim, confirma-se a escala proposta por Vesterinen
(2006), que atribui ao sujeito explícito uma maior proeminência do que à flexão. Porém,
precisámos esta escala, dizendo que o inf fl aparece para fortificar a coesão, e que o sujeito
explícito serve quando o referente é na verdade cognitivamente inacessível. Os factos
seguintes, observados nas traduções, confirmam este ponto de vista: (i) um inf fl sem sujeito
explícito é na maior parte das vezes traduzido por um inf em espanhol e em menor medida por
um verbo finito sem sujeito explícito; (ii) vice versa, produz-se uma tradução por inf fl
quando no original espanhol não aparece sujeito explícito (na maioria dos casos com
infinitivos); (iii) um inf fl com sujeito explícito é traduzido por uma construção com sujeito
explícito.
O corpus original mostrou que o inf fl e o inf sem sujeito explícito aparecem na
mesma situação quanto à co-referência, isto é, quando o seu sujeito co-refere com o sujeito da
oração de que depende. As demais elaborações morfológicas das orações com para – [para
que - suj], [para que + suj], [inf (fl) + suj] – são ligadas a outras situações de co-referência,
como em espanhol. Deste modo, tanto o corpus tradutivo como o corpus de textos originais
dirigem-nos para a mesma ideia: a flexão é ligada à coesão, o sujeito explícito à verdadeira
inacessibilidade mental de referentes.
Concentrámo-nos depois nos factores que possam ter influência na escolha entre inf fl
e inf em português. Muito concretamente, investigámos as situações em que uma coesão
reduzida possa conduzir ao uso da flexão. Recapitulamo-las brevemente nesta tabela:
factor
influência: [para + inf] vs [para + inf fl]
Tradução
[para + inf] sobretudo traduzido em espanhol por [para +
inf], mais possibilidades com [para + inf fl]
Distância
Maior distância entre V principal e [para + inf fl]
Complexidade
- Intercalação de elementos mais complexos entre V
principal e [para + inf fl]
- Mais casos de principais subordinadas com [para + inf
fl]
- Principal mais complexa com [para + inf fl]
[36]
Distância
- Mais vírgulas no caso de [para + inf fl]
prosódica
Anteposição
- Influência não observada: não há mais anteposição com
[para + inf fl]
Sinais de
- Mais infinitivos negados com [para + inf fl]
verbalidade
- Mais infinitivos auxiliares com [para + inf fl]
- Ligeiramente mais construções passivas com [para + inf
fl]
- Mais infinitivos pronominais com [para + inf fl]
Elementos da
- O contrário do esperado: mais negação na principal de
principal
[para + inf]
- Influência do elemento de que depende a oração
subordinada: não observada para o adjectivo como
elemento principal, mas observada no caso do substantivo
como elemento principal
- Relação semântica: menos finais puras com [para + inf
fl] ?
A partir destas observações interessa verificar estas situações num corpus bem mais
extenso. Decerto, mais material será indispensável para verificar estas pistas e para conhecer a
importância de todos estes factores. Além disso, o espaço limitado deste artigo obrigou-nos a
deixar fora de consideração várias questões que também merecem um estudo aprofundado no
futuro, como tais:
- Dado que as 1ª e 3ª pessoas gramaticais não têm morfema flexivo, será que se indica
em português a coesão por outros meios, por exemplo pelo uso de pronomes ?
- Se o português utiliza o inf fl para sublinhar a coesão, será que em espanhol existem
factores que fortifiquem esta coesão, por exemplo a ordem das palavras ou a posição da
subordinada em relação à principal ?
- Qual é a importância de diversos tipos de sujeitos explícitos do infinitivo: em que
casos é que se emprega um pronome sujeito, que em geral coincide com um referente já
conhecido? Onde se situa este recurso em relação à flexão por um lado, e ao sujeito
nominal e explícito por outro?
- Estas conclusões são aplicáveis a construções oracionais diversas que apresentam
vários níveis de elaboração morfológica? Pensamos sobretudo nas adverbiais, nas quais
[37]
em espanhol, conforme a preposição introdutória, a construção infinitiva com sujeito
explícito, [preposição + inf + suj], também é possível.
- Quais são os factores que, nos casos onde se apresenta em espanhol e em português a
possibilidade de um inf com sujeito explícito, fazem optar por uma oração conjuncional
ou por uma infinitiva?
Como nos revela o presente artigo, tanto o estudo de traduções como a análise de
originais poderão contribuir para a solução destas perguntas na nossa investigação futura.
[38]
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