Edição 05 Universo Tecnológico Janeiro a Dezembro de 2015

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Edição 05 Universo Tecnológico Janeiro a Dezembro de 2015
ISSN 2317-255X
REVISTA UNIVERSO TECNOLÓGICO
Faculdade Capixaba de Nova Venécia – Multivix
v. 02 n. 01 Jan/Dez. – 2015 - Anual
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Universo Tecnológico / Faculdade Capixaba de Nova Venécia / – Nova Venécia: (Jan/Dez. 2015).
Anual
ISSN 2317 255X
1. Produção científica – Faculdade Capixaba de Nova Venécia. II. Título
EDITORIAL
A Revista Científica Universo Tecnológico é uma iniciativa da Faculdade Capixaba de Nova
Venécia que possibilita a divulgação de artigos e resumos de contribuições relevantes para a
comunidade científica das diversas áreas de estudo que abrange a Instituição.
Portanto, trata-se de um veículo de publicação acadêmica a n u a l , cujo público-alvo são
professores e alunos de graduação e pós-graduação.
Diante disso, a Instituição almeja que a Revista Científica Universo Tecnológico contribua
para o fomento contínuo da prática da investigação, e promova o crescimento educacional.
UNIVERSO TECNOLÓGICO
SUMÁRIO
ARTIGOS
A ARQUITETURA DE MUSEUS COMO ELEMENTO CATALISADOR DE ESPAÇOS
EVENTUAIS INTERATIVOS .......................................................................................... 05
Marcos Solon Kretli da Silva
O E-MAIL COMO UMA FERRAMENTA PODEROSA DO WEB MARKETING .... 16
Carla Salvador
Christina do Vale Pena
Marcus Vinicius Oliveira Camara
Thayse Ferrari
ANÁLISE DOS PRINCIPAIS IMPACTOS AMBIENTAIS GERADOS PELOS
RERÍDUOS URBANOS NO MUNICÍPIO DE PONTO BELO - ES .............................. 27
Talita alves de Carvalho
Vitor Pereira Mota
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM EDIFICAÇÕES RESIDENCIAIS NO
MUNICÍPIO DE PINHEIROS - ES ................................................................................... 41
Ana Carolina Souza Teixeira
Raphael Melo Borges
Giuliana de Angelo Ferrari
A IMPORTÂNCIA DA MANUTENÇÃO INDUSTRIAL NO SISTEMA PRODUTIVO
DA EMPRESA VENEZA – COOPERATIVA AGROPECUÁRIA DO NORTE DO
ESPÍRITO SANTO .............................................................................................................. 51
Ádamo Ozório Barros Rocha
Luiz Gustavo Gobbi Firmino
Marcelo Piovezan Calegari
Olívia Nascimento Boldrini
Yuri Rodrigues de Souza
ISSN 2317 255X
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A ARQUITETURA DE MUSEUS COMO ELEMENTO CATALISADOR DE ESPAÇOS
EVENTUAIS INTERATIVOS*.
Marcos Solon Kretli da Silva¹
* Este artigo é fruto de um a pesquisa de pós-doutoramento denominada TRANSmuseus, entre
através dos espaços expositivos: a arquitetura museológica contemporânea e sua relação a
cidade, a arte e as novas mídias, desenvolvida no PPGAV USP entre 2010 e 2013, com o apoio
da FAPESP e supervisão da professora livre docente Mônica Baptista Sampaio Tavares.
Resumo
Ao final do século XX, muitos arquitetos se destacaram no cenário internacional ao
desenvolverem alguns projetos de arquiteturas museológicas de grande arrojo e expressividade
formal, a partir de experimentações morfogenéticas complexas que só foram possíveis graças
ao avanço das tecnologias, ferramentas e recursos digitais usados no planejamento. O que fez
com que elas adquirissem uma maior visibilidade pública, tornando-se bem mais atrativas.
Nesses casos, as espetaculares formas arquitetônicas foram concebidas como imagens de forte
impacto e amplo apelo midiático, apresentando em sua monumentalidade um caráter de marco
referencial inserido na paisagem que o envolve, como se a arquitetura fosse, em seu aspecto
comunicacional e simbólico, o principal objeto a ser oferecido à população. Entretanto, o
objeto arquitetural não é só forma expressiva, porque assim ele seria uma escultura. Entre os
experimentos projetuais apresentados recentemente por alguns arquitetos consagrados, os mais
interessantes procuram ir além do formal e do espacial para voltar-se à dimensão temporal da
arquitetura, explorando todas suas dinâmicas em potencial. Esses projetos muitas vezes são
desenvolvidos a partir do estudo das atividades e dos eventos que dão vida aos espaços desses
edifícios. Desta maneira, eles não foram pensados apenas a partir de suas características
estruturais estáticas, mas, também, enquanto objetos dotados de programas, cujas instruções
solicitam a produção de processos eventuais, com dinâmicas operacionais próprias, envolvendo
diversos percursos, movimentos e fluxos que acontecem e se propagam de acordo com a
vivência e interação dos usuários no e com os espaços.
Palavras-chave: Arquitetura de museus, espaços eventuais interativos, evento
Abstract
At the end of the 20th century, many architects have excelled in the international arena to
develop some projects of museum architecture of great boldness and formal expressiveness.
However, the architectural object is not only significantly, because then it would be a sculpture.
Among the projective experiments recently presented by some famous architects, the most
interesting looking to go beyond the formal and spatial to turn the temporal dimension of
architecture, exploring all its potential dynamics. These often projects are developed from the
study of activities and events that give life to the spaces of these buildings.
Keywords: Architecture museums, any interactive spaces, event.
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Arquiteto e urbanista graduado pela UFES com mestrado e doutorado em Comunicação e Semiótica pela PUC
SP e pós-doutorado em Artes Visuais pela ECA USP.
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Para entendermos os modos de pensar e planejar a arquitetura museológica contemporânea é
necessário tentar transcender seu aspecto formal para abordá-la como um elemento que incita
a fomentação de eventualidades em espacialidades. Nesse sentido, a relação entre os espaços e
os eventos que neles são desenvolvidos precisa acontecer nos dois sentidos, ou seja, o eventual
a influenciar o espacial, assim como este o influencia, num diálogo em que ambos se
qualificam, mutuamente. Para isso é preciso indagar como devemos explorar os meandros
desse processo relacional? Em sua tese de doutorado David Moreno Sperling (Sperling, 2008)
aborda as noções de espaço e evento, em seus diálogos leitura de textos de pensadores como
Alain Badiou ou Jacques Derrida, além dos escritos do arquiteto e teórico da arquitetura
Bernard Tschumi, esse pesquisador aponta algumas vias de investigação e entendimento
possível.
Com o início da leitura vem à tona uma pergunta. O que é um evento? Originária do latim
eventu, a palavra é utilizada em alguns campos disciplinares com algumas variações de
significado, algumas vezes contraditórias, predominando em geral o sentido de acontecimento
ou ainda o de acontecimento organizado e programado que visa alcançar resultados prédeterminados. Ao contrário dessa definição corrente, Sperling (Sperling, 2008: 41) diz que
Bernard Tschumi explora o eventual em seus estudos arquiteturais como algo imprevisível e
não programável. O que simplesmente acontece, uma ocorrência incidental que vem à tona em
um contexto espaço-temporal que é tranformado por ela.
É o que ocorre repentinamente quando certas condições são reunidas e vem o
imprevisto (Apud Sperling, 2008: 41).
No campo filosófico, Sperling (Sperling, 2008: 32) lembra que Jacques Derrida aborda o
evento como algo não apenas indeterminado, mas também irrepetível em sua singularidade,
pois vai além de um fato cotidiano ou corriqueiro. Sendo assim, o eventual surge como aquilo
que acontece em um agora distinto de qualquer outro agora experienciado pelo mesmo sujeito.
(Apud Sperling, 2008: 32).
Mais do que um simples acontecimento, o evento é, segundo, uma ação crítica no espaço.Um
momento de questionamento ou problematização das condições anteriores, que já carrega em
si a invenção, o devir outro. Para David Sperling (Sperling, 2008: 31) o estabelecimento de
vínculo entre a ação e a reflexão é inerente ao eventual, pois o evento implica uma posição
ativa de um sujeito no processo de diferenciação. Característica que o distancia de uma
ocorrência que não mobiliza ou afeta alguém, como também de qualquer ação mecânica ou
irrefletida (Sperling, 2008: 48).
Levando em consideração esse esclarecimento inicial de Sperling sobre a noção de
eventualidade, devemos distinguir e relacionar na leitura dos projetos arquitetônicos dos
museus e centros culturais desenvolvidos nas últimas décadas duas noções introduzidas por
esse autor: as de espaço de eventos e espaço para eventos.
Na primeira sobressai o imprevisto e na segunda resulta o programado. Diante dessa distinção,
vale perguntar o que é uma eventualidade programada e como se dá a programação dos
eventos? Segundo Sperling (Sperling, 2008: 96), ela é comumente desenvolvida a partir dos
estágios de planejamento, promoção, instalação, atendimento e revisão, ou seja, o
aperfeiçoamento do ciclo.
É o reflexo de uma sociedade da programação e do controle, em que eficiência e segurança
são modos de adequação ótima dos meios aos fins (Sperling, 2008: 96). A noção de evento
programado está relacionada então a uma ação controlada que ocorre no mundo
contemporâneo, a partir de uma inversão fundamental destacada por Sperling (Sperling, 2008:
97), ou seja, o evento estrito senso, ocorrência imprevisível, é associado à violência. E o
controle das ações, violência por excelência, é associado à segurança. O risco inerente a
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qualquer criação efetiva cede lugar ao risco regulado (Sperling, 2008: 97).
Programar o eventual, manter a eficiência dos sistemas e controlar os possíveis riscos em sua
ocorrência são, para Sperling (Sperling, 2008: 97), algumas funções de um campo de
investigação e ação, posicionado no contexto de uma área de gerenciamento de sistemas
informáticos, chamada event-driven architecture, que em português pode ser traduzido como
arquitetura dirigida a eventos.
Em linhas gerais, são sistemas que permitem a previsão e a classificação de eventos,
como também a tomada de decisões a partir de suas características intrínsecas e de
correlações suas com o contexto, oferecendo como ferramentas bases de dados,
detecção e visualização de padrões dos eventos e identificação de processos inerentes
a eles, (...) reagindo de maneira inteligente a quaisquer mudanças nas condições de
uma situação (Sperling, 2008: 97).
Com as arquiteturas dirigidas a eventos, a esfera cultural – com suas espacialidades e
temporalidades processuais – operam, conforme Sperling, a partir dos programas e das
programações para a criação de uma (im)previsibilidade controlada (Sperling, 2008: 97).
Dessa maneira, de acordo com Virgínia Lisboa (Lisboa, 2010: 24), um evento programado
precisa ser entendido em toda sua complexidade espaço-temporal, muito além dos interesses
de quem o promove e de seu público específico,para atender a múltiplas agendas, incorporar
objetivos e regulamentações dos governos, exigências das mídias, necessidades dos
patrocinadores e expectativas da comunidade (Lisboa, 2010: 24). Até porque os eventos são
únicos.
Mesmo quando idênticos no formato, programa e local, a apresentação e a participação do
público nunca serão iguais, fazendo com que cada evento seja, no máximo, similar. Por mais
que se programe uma ocorrência ela sempre apresentará variáveis (Lisboa, 2010: 16).
Ao abordar o eventual no campo arquitetural, Bernard Tschumi propõe outra natureza para a
disciplina arquitetônica que, segundo Sperling (Sperling, 2008: 11), deve estar situada nas
relações espaciais e nas dinâmicas de uso que se engendram nos espaços. O que ele nomeia de
eventos (Sperling, 2008: 11).
No pensamento de Bernard Tschumi a arquitetura é a relação “disjuntiva” entre a concepção
do espaço e a experiência do espaço. Essa separação entre o concebido e o vivenciado
demonstra, segundo Sperling (Sperling, 2008: 20-23), que a vivência das espacialidades
arquitetônicas e a experienciação de suas ocorrências eventuais, tendem a fugir ao controle do
arquiteto, pois são na maioria das vezes incontroláveis, mesmo quando programadas de
antemão. Sendo assim, cabe à estratégia projetual do profissional da arquitetura apenas
instaurar algumas condições especiais para os eventos acontecerem efetivamente. Entendida
por Tschumi como potência antes que debilidade, a disjunção entre o espaço e o evento é
vista, nestes termos, como uma qualidade arquitetural, pois é a partir dela que podemos
explorar zonas intersticiais de relação e contaminação entre essas duas instâncias conceituais
(Sperling, 2008: 23). A partir do diálogo entre o espacial e o eventual surge a noção de
espaço-evento, sendo o espaço “um elemento catalisador de eventos” (Sperling, 2008: 27).
No projeto arquitetônico do MASP – Museu de Arte de São Paulo, desenvolvido nos anos 50
pela arquiteta Lina Bo Bardi, a configuração espacial surge de uma estratégia organizacional
que busca gerar uma continuidade entre espacialidades distintas, entre o interior e o exterior,
em interstícios. Os espaços internos se inter-relacionam de modo a favorecer a atualização de
diferentes eventos programados, quase simultâneos. Exposições, mostras, performances,
seminários etc. Além disso, a arquitetura também se abre para o surgimento de outros eventos,
muitas vezes inesperados, espontâneos. Isso ocorre principalmente no térreo, com a criação do
grande vão livre que dialoga com a Avenida Paulista e o Parque Trianon em frente,
funcionando ainda como um ponto de observação da paisagem urbana, ao se expandir em
direção ao platô com vista para a Avenida Nove de Julho, atrás. Nesse campo expandido
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ocorrem diariamente diversas atividades, não apenas artísticas ou culturais, mas também
sociais e políticas, fazendo do lugar um ponto de atração, reunião e difusão urbana, uma área
de aproximações, encontros e vivências. Sua espacialidade eventual envolve e absorve uma
confluência de fluxos e energias, em movimentos que se cruzam e se misturam à dinâmica
urbana cotidiana.
Figura 1 - MASP – Museu de Arte de São Paulo
Fonte: www.linux.ime.usp.br/~btco/fotografia/fotos-u/02-SaoPaulo/
Outros museus e centros culturais tem se apropriado dos espaços públicos envolventes, em seu
campo circundante, respondendo à necessidade dessas instituições de criar espacialidades que
possibilitem o surgimento de eventualidades, sejam elas programadas ou não. É possível que o
planejamento possa também dar conta do inesperado? O projeto arquitetônico do Centro
Pompidou em Paris procura seguir essa indicação. Ao tomar partido da praça que se
configurou em frente como um espaço-evento, onde são desenvolvidas diversas atividades
inter-relacionadas que mobilizam uma série inumerável de indivíduos e grupos vindos de
todas as partes da cidade, o lugar se transforma a cada ação ou manifestação da população,
com seus movimentos imprevisíveis e muitas vezes improváveis.
Figura 2 - Centro Pompidou, Paris
Fonte: Marcos Solon Kretli da Silva
Figura 3 – Centro Pompidou, Paris
Fonte: Marcos Solon Kretli da Silva
Figura 4 - Centro Pompidou, Paris
Fonte: Marcos Solon Kretli da Silva
Figura 5 - Centro Pompidou, Paris
Fonte: Marcos Solon Kretli da Silva
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Ao analisarmos alguns exemplos representativos como o do pátio central do Louvre em Paris
ou o da Praça São Pedro em Roma, devemos entendê-los como espacialidades eventuais que
se tornam ponto de atração e distribuição de fluxos que se cruzam e se dispersam,
resignificando constantemente o lugar. Desse modo, esses espaços públicos mutantes tornamse um local privilegiado para encontros, embates e trocas de informações e vivências culturais,
em diálogos interpessoais.
Figura 6 - Pátio Central do Louvre, Paris
Fonte: Marcos Solon Kretli da Silva
Figura 7 - Praça São Pedro, Roma
Fonte: Marcos Solon Kretli da Silva
Nesse contexto, foi erguida recentemente na Plaza de la Encarnacion em Sevilha uma grande
marquise de arquitetura orgânica, com estrutura em forma de casa de abelha que filtra os raios
solares revelando sombras fugidias: o Metropol Parasol de Jürgen Mayer-Hermann. A
construção de formas expressivas transformou essa esplanada pública, reorganizando e
requalificando-a para se adaptar a outras funções e objetivos programáticos. Uma
reestruturação que proporcionou à população a possibilidade de desfrutar de um novo
equipamento cultural urbano, multifuncional com vários platôs em níveis interligados através
de estratégias projetuais. Com as escavações destinadas à construção dos alicerces do edifício,
os construtores descobriram algumas ruínas arquitetônicas datadas do período do antigo
império romano, que logo foram incorporadas ao projeto, podendo ser apreendidas no subsolo.
De lá o visitante pode subir de elevador até o nível mais alto, onde passarelas serpenteiam pela
cobertura, desvelando uma vista panorâmica da cidade. O resultado é um mix de museu,
mirante e espaço para os mais diversos eventos em simultaneidade, cujo dinamismo dialoga
com os fluxos dos transeuntes que atravessam e percorrem os ambientes a cada dia,
corriqueiramente.
Figura 8 - Metropol Parasol. Sevilha
Fonte: Marcos Solon Kretli da Silva
Figura 9 - Metropol Parasol. Sevilha
Fonte: Marcos Solon Kretli da Silva
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Poderíamos dizer que não há arquitetura sem programa, sem ação e sem evento. De acordo
com Sperling (Sperling, 2008: 26) ela só se torna efetiva, quando realiza o deslocamento do
continente para o conteúdo, dos espaços para aquilo que neles acontece, suas eventualidades.
A vivência espacial se instaura assim no uso ou na apropriação dos espaços, através de uma
apreensão e percepção que se alcança com a mobilidade corporal. Desse modo, o evento como
experiência arquitetural, é o momento em que o corpo pela “ação como reflexão” transgride a
lógica [corrente] do espaço e se diferencia como corpo experienciador (Sperling, 2008: 48).
Para Sperling (Sperling, 2008: 50), esse processo pressupõe um modo de estar “entre”. Não
apenas no sentido de delimitação, de estar entre limites, mas enquanto abertura interrelacional. Conexão. Passagem. Nesse sentido, a prática arquitetural não deve se voltar apenas
às formas, mas às forças e relações dialógicas entre os espaços, os movimentos e os eventos.
Segundo esse pesquisador, Tschumi introduz o movimento como terceiro termo entre o espaço
e o evento não como um mero cinetismo ou ação mecânica, mas como o contato dinâmico
entre os corpos ou entre eles e o espaço, a partir do qual resultam trocas de informações e
experiências, tanto as individuais quanto as coletivas. Uma situação dinâmica sugere assim
uma maior probabilidade de ocorrência de eventos representativos que outra meramente
estática.
Os espaços museológicos são campos eventuais de mobilidade e também de mobilização, seja
ela estética, cultural ou política. Desse modo, é importante para Lisboa (Lisboa, 2010: 27) a
participação ativa e crítica do público com suas experiências interativas. Os eventos
oferecidos pelos museus e centros culturais são programados para mobilizar o público em
geral, sem distinção ou restrição, atraindo não só a população que reside no seu local de
inserção, mas também visitantes de outras localidades. Sendo assim, segundo Lisboa (Lisboa,
2010: 17-18), o planejamento dessas espacialidades deve prever a necessidade de receber ou
apoiar, com eficiência ou funcionalidade, eventos muito distintos, oriundos de todas as partes
do mundo, mantendo sempre um mesmo padrão de excelência, sem deixar de preservar suas
características próprias, de modo a evidenciar técnicas e costumes do lugar. Sua identidade.
Como não pertencem ao rol das atividades corriqueiras, alguns megaeventos artísticos e
culturais geram complexos sistemas de circulação organizados em redes físicas e virtuais, cujo
dinamismo coexiste com dos fluxos cotidianos dos espaços urbanos. O que pode gerar
inúmeros problemas, provocando transtornos incontornáveis para a população, pois as
infraestruturas das cidades muitas vezes não comportam tais eventualidades. O resultado são
filas, congestionamentos e caoticidades.
Alguns eventos artísticos e culturais têm alcançado nas últimas décadas uma abrangência
global, em atividades e processos interstitucionais. Com a expansão e diversificação das
funções e ações museológicas, nota-se a intensificação de relações eventuais que
interconectam localidades, muitas vezes distantes. De acordo com Lisboa (Lisboa, 2010: 2425), isso acontece de tal maneira que acontecimentos locais são, algumas vezes, modelados
por eventos que ocorrem a milhas de distância e vice-versa” (Lisboa, 2010: 24-25).
No contexto da nossa sociedade globalmente conectada pelos sistemas de transporte e de
informação, podemos considerar casos em que há uma simultaneidade eventual. Aqui e lá ao
mesmo, em inter-relações e complementaridades, através de interfaces midiáticas. Como
lembra Sperling (Sperling, 2008: 95), há situações em que a própria informação de um evento,
veiculada nos meios de comunicação, converte-se em sua atuação. Dessa maneira, o eventual
se desdobra não apenas no espaço, mas também no tempo. É como se não precisássemos mais
da eventualidade em si, mas de sua transmissão e difusão. Graças à ubiquidade proporcionada
pelas novas mídias, um algo que “simplesmente acontece” pela velocidade e abrangência de
atuação da informação, tende a se transformar em um “acontece para mim” global
(Sperling,2008: 95).
Com o advento da sociedade informacional e o avanço das tecnologias midiáticas, o evento
enquanto “ação crítica no espaço” passou a exigir do sujeito experienciador um processo de
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apreensão espaço-temporal menos passivo e mais participativo, com mais interatividade e
menos reatividade. Os experimentos participativos seminais desenvolvidos entre os anos 1950,
1960 e 1970 por artistas como os brasileiros Hélio Oiticica e Lygia Clark tornaram-se um
território fértil para o surgimento da interação. Apesar de algumas vezes não terem ainda um
bom nível de inserção e participação do público nas propostas, essas experiências artísticas
ganharam o mundo, influenciando outros artistas posteriores da arte interativa. De lá para cá,
foram desenvolvidos inúmeros projetos, com base na noção de participação e interação, que
ajudaram a transformar os modos de apreender os objetos ou processos artísticos
apresentados, assim como os próprios espaços de exposição. A complexidade crescente dessas
práticas levou à interatividade com dispositivos tecnológicos como conhecemos hoje,
classificada por Mônica Tavares a partir de diferentes categorias e níveis. A interatividade
tornou-se palavra de ordem no contexto contemporâneo sendo teorizada, praticada e
disseminada em eventos diversos, principalmente os da arte midiática com sua revolução nos
processos de emissão e recepção da arte.
Nos últimos anos, as possibilidades abertas pelo avanço tecnológico da sociedade pósindustrial e o desenvolvimento dos sistemas midiáticos no contexto da ciberculturaa1 ou
cultura digital, com suas ideias, conceitos, diretrizes e potencialidades representacionais ou
informacionais, impulsionaram alguns arquitetos contemporâneos em direção à
experimentação e à busca de novas referências teóricas e outros procedimentos projetuais que
levaram à criação de algumas propostas arquitetônicas diferenciais, onde os espaços
museológicos apresentam características e qualidades, muitas vezes inexploradas. Um caso
representativo é o do ZKM, um centro de arte e mídia localizado em Karlsruhe na Alemanha.
Ao final do século XX, a diretoria dessa instituição alemã abriu um amplo debate na sociedade
que visava refletir sobre o futuro dos espaços expositivos dos museus no século XXI. Uma
discussão, com referências e questões particulares, focada na evolução das novas mídias e no
surgimento de outras categorias ou linguagens artísticas como a ciberarte e a arte interativa,
entre outras introduzidas pelos artistas dessas vertentes ciberculturais, com seus
revolucionários modos de apresentação e recepção. Como um desdobramento desse debate
embrionário foi apresentada uma convocação pública para escolher o partido da configuração
formal e espacial da arquitetura do edifício de sua sede.
Figura 10 - Centro de Arte e Mídia de Karlsruhe
Fonte: OMA. In www.oma.eu
a
Pierre Lévy definea cibercultura como o conjunto de técnicas materiais e intelectuais, de práticas, de atitudes, de
modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço, também
chamado de “espaço do saber” ou “rede de conhecimento global”, que surge da interconexão mundial dos
computadores. Para esse autor, “o termo especifica não apenas a infra-estrutura da comunicação digital, mas,
também, o universo oceânico de informações que ele abriga, sem falar nos seres humanos que navegam e
alimentam esse universo” (Lévy, 1999: 17-41).
12
Figura 11 - Centro de Arte e Mídia de Karlsruhe
Fonte: OMA. In www.oma.eu
Entre as diversas propostas que participaram da seleção, a que mais repercutiu entre a crítica
especializada foi a do arquiteto Rem Koolhaas, apesar de não ter sido aprovada no concurso.
A arquitetura proposta por ele foi pensada e planejada como uma máquina ou um computador,
a partir da relação entre hardware e software, ou seja, entre o material e o imaterial, o tangível
e o intangível. Esse projeto representativo revelou espacialidades que surgiram da interface
entre as tecnologias arquitetônicas e midiáticas, podendo se auto-organizar e se reconfigurar
com flexibilidade, eventualmente, de acordo com as características dos eventos programados
ou mesmo daqueles imprevistos, de modo a corresponder às solicitações da instituição e seus
programas ou projetos, com suas possíveis mudanças ou variações programáticas.
A primeira característica do planejamento que chama a atenção está relacionada à maneira
como a arquitetura do edifício foi implantada no sítio urbano. O local que foi destinado à
construção da sede desse centro cultural localizava-se numa zona de transição da urbe. De
acordo com Koolhaas (Koolhaas, 1989: 126-130), a implantação foi feita exatamente no ponto
limite entre a cidade antiga e a nova, entre o centro histórico e a periferia, bem próximo a uma
estação de trens. A via férrea que passa por essa região separava e criava uma barreira,
bloqueando o trânsito entre o terreno do edifício e o desse equipamento de transporte público
que se localiza na área central de Karlsruhe. Esta configuração infraestrutural impedia o
acesso ao local para quem vinha do centro. Objetivando liberar esse trajeto e criar outra
possibilidade de se chegar à nova edificação esse arquiteto diz que procurou religar o que a
linha ferroviária antes separava, criando uma passarela suspensa que possibilitava a
interconexão e integração dos dois espaços arquitetônicos, inter-relacionando universos
independentes e atividades distintas situadas em polos opostos. Segundo ele, essa operação
visava seduzir e atrair um público extra que cotidianamente transita pela estação, vindo do
centro ou de outras partes da cidade, mas que ainda não adquiriram o hábito de frequentar
espaços ou equipamentos culturais desta natureza.
Diferente de outras propostas apresentadas recentemente, o projeto realizado por Rem
Koolhaas (Koolhaas, 1989: 126-130) e sua equipe não prioriza a experimentação formal. Ele
procura criar sistemas operantes e procedimentos de caráter funcionalista para intervir no
local. Segundo ele, essa intervenção infraestrutural inicial, que se tornou um das principais
ações do projeto, acabava com a desconexão existente e poderia, assim, gerar uma melhor
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fluidez nesse eixo de conexão com o núcleo urbano histórico. Uma estratégia projetual
importante e necessária que pretendia distribuir e organizar os percursos físicos, de maneira
flexível, para serem potencialmente otimizados. Esta operação tornar-se-ia imprescindível
para a inter-relação do edifício com seu campo circundante. Com esta interferência ele
interconectou o edifício ao sistema viário e articulou seus espaços a outros espaços urbanos de
referência, abrindo-os e tornando-os acessíveis às diferentes comunidades da cidade, para que
pudessem ser apreendidos por todos e cumprir a contento sua função social e educativa.
As atividades e interatividades do ZKM, previstas de antemão no programa, foram
distribuídas com liberdade de organização no interior de um grande cubo transparente e neutro
com vários andares, constituídos por espaços arquitetônicos abertos, contínuos e fluídos que
foram pensados para aumentar a fluidez dos percursos e do trânsito, do interior ao exterior do
edifício e vice-versa. A continuidade espacial foi alcançada através de vários experimentos
projetuais desenvolvidos com ferramentas analógicas e digitais. Segundo Koolhaas
(Koolhaas, 1989: 126-130) ela permitiu a sobreposição e inter-relação de atividades ou
funções diferenciadas, aumentando a versatilidade da edificação proposta. Isso só se tornou
exequível porque os espaços internos não foram compartimentados. A utilização de alguns
recursos estruturais possibilitou a ausência de paredes divisórias e o excesso de elementos
estruturais verticais como pilares, liberando os vãos e estabelecendo uma ligação entre um
espaço e outro ou entre um andar e outro, que é reforçada ainda mais pelo posicionamento de
rampas, escadas e elevadores, organizados de modo a distribuir os fluxos pelos espaços,
desdobrando-os, eventualmente, de acordo com as solicitações da instituição.
A preocupação com a fluidez dos percursos físicos, durante o processo de criação das
espacialidades, veio acompanhada da necessidade de se pensar, de maneira criteriosa, sobre o
funcionamento e a dinâmica dos sistemas ou circuitos informacionais e seus recursos
tecnológicos como a comunicação à distância e a tele presença, entre outros. Segundo Rem
Koolhaas (Koolhaas, 1989: 126-130), a arquitetura contemporânea não pode mais se
relacionar somente com o lugar onde ela está inserida, mas precisa se conectar também a uma
rede mais ampla, globalizada, que envolve ambientes concretos e virtuais ou ciberespaciais,
com seus campos de forças e fluxos em constante interação e transformação. Para responder a
essa demanda era preciso equipar o edifício e seus diversos espaços com tecnologias
midiáticas de última geração que pudessem servir de apoio às interatividades previstas.
Procurando desenvolver uma arquitetura propícia a isso, esse criador optou pela organização
espacial em planta livre, uma herança da arquitetura moderna, o que facilitava a instalação de
vários meios e aparatos tecnológicos comunicacionais necessários à eficiência funcional da
edificação, atendendo às exigências de alguns experimentos e manifestações artísticas do
nosso tempo que solicitam em seus processos de criação e apresentação o desenvolvimento de
interfaces entre mídias distintas, com misturas de linguagens. Em resposta a essas solicitações,
Koolhaas (Koolhaas, 1989: 126-130) acredita que a arquitetura deve incorporar a capacidade
de se adaptar e se transformar quando necessário, a partir da interface ou da inter-relação entre
os espaços físicos e os ambientes virtuais, convertendo-se, desta maneira, em um mecanismo
computacional que pode se auto-organizar e se auto-regulamentar, de modo constante.
A busca de conexões e de inter-relações entre os espaços internos, externos ou intersticiais e
os ambientes virtuais foi intensificada com o desenvolvimento de um recurso tecnológico
empregado por esse criador. Sobre a fachada externa do edifício, ele criou um painel
eletrônico de cristal líquido que vai da base ao topo do volume. Uma parede midiática feita de
pixels que funciona como um grande monitor de vídeo de sua arquitetura-computador, uma
espécie de janela virtual que se abre para o entorno. Através dela, seria possível apresentar ao
público que mora ou circula pelas redondezas as imagens de tudo o que acontece,
cotidianamente, no interior do edifício, seus eventos, atividades e fluxos, aumentando sua
visibilidade e seu poder de atração e comunicação com a comunidade, a partir da sobreposição
e entrelaçamento entre a realidade física e a virtualidade, entre a forma e a informação
(Koolhaas, 1989: 126-130).
14
Figura 12 - Painel Eletrônico na fachada
Fonte: OMA. In www.oma.eu
A experiência nesses espaços arquitetônicos eventuais da arte tecnológica contemporânea
possibilita ao público interator o desenvolvimento e a vivência de outros processos
perceptivos ou sensíveis, além de novos modos de cognição. Os ambientes polisensoriais
fantásticos, de caráter físico e virtual, envolvem a dinâmica dos corpos. assim como os
sentidos dos usuários, em sinestesia, com recursos midiáticos de onde proliferam efeitos e
sensações dinâmicas a partir da combinação de luzes, imagens e sons caleidoscópicos,
potencializadas pelos dispositivos tecnológicos de imersão e interação. Ao mesmo tempo, o
excesso de tentativas frustradas em propostas interativas tem levado a uma banalização de
práticas, referências e questões teóricas. Segundo Sperling (Sperling,2008: 101), o eventual
como algo coletivo,“como erupção da criatividade artística ‘para todos’ por meio da conexão
de interfaces de interação” tem se convertido em mero entretenimento. Nas palavras dele, o
“entretenevento”.
Figura 13 - Pavilhão da Água Salgada, Ilha de Neeltje Jans
Fonte: www.oosterhuis.nl/quickstart/index.php?id=116
Figura 14 - Pavilhão da Água Salgada, Ilha de Neeltje Jans
Fonte: www.oosterhuis.nl/quickstart/index.php?id=116
15
REFERÊNCIAS
1. KOOLHAAS, Rem (1989). “ZKM”. En El Croquis no. 73, pp. 126-130.
2. LÉVY, Pierre (1999): Cibercultura. Rio de Janeiro, Editora 34.
3. LISBOA, Virgínia Santos (2010): Eventos programados e suas dinâmicas espaciais.
São Paulo em foco. Dissertação de Mestrado FAU USP.
4. SPERLING, David Moreno (2008): Espaço e evento. Considerações críticas sobre a
arquitetura contemporânea. Tese de Doutorado FAU USP.
5. TAVARES, Mônica (2000): A recepção no contexto das poéticas interativas. São
Paulo, Tese de Doutorado, USP.
6. TSCHUMI, Bernard (2005): Event Cities. MIT Press.
16
O E-MAIL COMO UMA FERRAMENTA PODEROSA DO WEB MARKETING
Thayse Ferrari²
Marcus Vinicius Oliveira Camara³
Christina do Vale Pena4
Carla Salvador5
RESUMO
Com o advento das constantes transformações que o mundo e as pessoas têm vivido, tornou-se
necessário a adaptação das empresas a diversas ferramentas que promovem essas mudanças de
comportamento, onde a Internet é a principal delas. Nesse sentido, também houve uma
adequação do marketing a esse novo mercado que surgiu, ou seja, foram desenvolvidas novas
maneiras de atingir os consumidores, de forma a captar novos clientes e reter os antigos. Com
isso, nasceu o web marketing, com o intuito de construir relações cliente x empresa mais
próximas, fato esse possibilitado pela utilização de uma de suas principais ferramentas, o e-mail
marketing. No entanto, nem sempre este instrumento atinge seus objetivos de vantagem
competitiva para a empresa, devido à indiscriminada distribuição dos mesmos que ocorre por
determinadas organizações. Partindo desse pressuposto, o objetivo deste artigo é analisar até que
ponto essa nova ferramenta do marketing contribui efetivamente para o aumento das vendas das
empresas que a utilizam. O método utilizado para realização dessa análise é uma pesquisa
bibliográfica com utilização de recursos analíticos, baseados em estudos anteriores e na
percepção do cliente frente às vantagens e desvantagens do novo método.
Palavras-chave: E-mail; spam; web marketing.
ABSTRACT
With the advent of constant transformations that the world and people have lived, it became
necessary to adapt the business to several tools that promote these changes in behavior, where
the Internet is the main one. In this sense, there was also an adaptation of marketing to this new
market that has emerged, in other words, new ways to reach consumers were developed in order
to attract new customers and retain old ones. With this, the web marketing was born, in order to
build customer x company closer relationships, a fact made possible by the use of one of its
main tools, e-mail marketing. However, this instrument does not always reach their goals of
competitive advantage for the company, due to the indiscriminate distribution of these occurring
by certain organizations. Based on this assumption, the goal of this paper is to analyze to what
extent this new marketing tool effectively contributes to increased sales of the companies that
use it. The method used to perform this analysis is a literature search with use of analytical
resources, based on previous studies and customer perception forward to the advantages and
disadvantages of the new method.
Key-words: Email; spam; web marketing.
2 Mestrando em Engenharia de Transportes na Universidade Federal do Rio de Janeiro
3 Mestrando em Engenharia de Transportes na Universidade Federal do Rio de Janeiro
4 Mestrando em Energia na Universidade Federal do Espírito Santo/ Professora e Coordenadora da Escola Técnica de
São Mateus
5 Mestrando em Energia na Universidade Federal do Espírito Santo/ Professora da Escola Técnica de São Mateus e da
Faculdade Multivix – Nova Venécia
17
1 INTRODUÇÃO
Num ambiente globalizado em que vivemos, a evolução constante dos recursos tecnológicos
proporcionam alto crescimento da internet como ferramenta de comunicação. O surgimento da
internet e a disseminação do seu uso são considerados por Drucker (2000) como tão importante
quanto à invenção da máquina a vapor na Revolução Industrial, tornando-se peça chave da
Revolução da Informação.
Dessa forma, as empresas passaram a contar com uma nova ferramenta para o contato e
relacionamento com os clientes, com um custo abaixo do que é praticado pelos métodos
tradicionais de marketing, como a mala-direta, o telemarketing e a catalogação. O acesso às
diversas tecnologias, como enviar e receber correspondências eletronicamente e visualizar os
produtos de determinada empresa propicia um maior conforto ao cliente, podendo acessar a
qualquer tempo e em qualquer lugar com acesso à internet, e proporcionam ainda, às empresas
uma imensa capacidade de expandir seus negócios, atingindo um aumento em sua carteira de
clientes. Além disso, também é possível interagir com eles de maneira personalizada e atingir
grupos específicos de pessoas.
Nesse sentido, o e-mail marketing surgiu como uma importante ferramenta na construção e
manutenção dessas relações que promovem uma aproximação com os clientes. Assis (2003)
define essa ferramenta como a mais poderosa do marketing direto e, quando utilizada
corretamente, pode, além de construir um relacionamento com o cliente, aumentar as vendas da
empresa e melhorar a imagem da marca. Por esse e outros motivos, tal ferramenta tornou-se
uma escolha extremamente popular entre as empresas.
O autor cita ainda que na década atual, já conhecida como a Era do Marketing Interativo e de
Permissão, o objetivo passou a ser criar um diálogo com prospects (possíveis clientes) e
clientes, no entanto, para que isso ocorra da melhor maneira, é necessário que se obtenha uma
permissão prévia. Para dar sustentabilidade a essa nova ferramenta é preciso que haja uma
integração completa do mix de marketing, ou dos 4 Ps do marketing, atuando em um novo
ambiente, no caso a web, principalmente através dos e-mails.
Apesar das vantagens proporcionadas pela utilização dessa ferramenta, tanto para as empresas
quanto para os clientes, com o aumento do uso do e-mail marketing passaram a circular uma
imensa quantidade de e-mails não solicitados, conhecidos popularmente como spams. Tal
ocorrência causa um incômodo geral entre os clientes, os quais muitas vezes têm suas caixas de
e-mails lotadas com comunicações de marketing que não solicitaram ou não são da sua área de
interesse.
Moustakas, Ranganathan e Duquenoy (2006) destacam que os spams são reconhecidos como
um problema grave e que custam bilhões de dólares para a sociedade americana todos os
anos. Tal problema se estende além dos usuários domésticos de Internet, chegando ao ambiente
empresarial na forma de várias preciosas horas de trabalho que são desperdiçadas todos os dias
na busca por uma maneira de reduzir essa incidência. Gartner (2003) estima que mais da metade
das mensagens eletrônicas recebidas pelas empresas de médio porte nos Estados Unidos são
constituídos por esses e-mails não solicitados e o esforço empregado para lidar com essas
mensagens tendem a diminuir consideravelmente a produtividade dessas empresas.
Transpondo os ambientes pessoais e empresariais, os problemas gerados com o recebimento
desses e-mails não solicitados acarretam, além dos desperdícios de tempo, esforço e espaço em
disco, um maior consumo da banda larga de rede, podendo afetar diretamente os recursos
críticos de tecnologia. Como consequência da maior quantidade de spams levar as pessoas a
gastarem mais tempo lendo suas mensagens, aumentam-se os custos de utilização de Internet,
podendo resultar no aumento das taxas de serviço aos clientes.
18
No entanto, para que as empresas enviem essas correspondências eletrônicas aos seus clientes,
ou futuros clientes, deve haver alguma forma de direcionamento, ou seja, elas precisam
identificar os perfis das pessoas que deverão receber determinadas informações.
Outro questionamento comum de ser feito quando se trata da utilização dos e-mails marketing,
seria a respeito da percepção dos clientes frente a essa prática. Afinal, o que é visto por alguns
clientes como uma comodidade, pode ser entendido por outros como um incômodo ou uma
perda de tempo. Sendo assim, será que essa nova ferramenta do Marketing realmente contribui
para o efetivo aumento das vendas das empresas?
Diante desses questionamentos, o presente artigo está organizado da seguinte forma: na Seção 2
será realizada uma revisão bibliográfica a respeito do web marketing, com suas vantagens e
desvantagens para as empresas, e, sua principal ferramenta, o e-mail marketing, bem como os
tipos de e-mails não autorizados, os possíveis métodos que as empresas utilizam para o
direcionamento desses e-mails e a percepção do cliente frente à essa ferramenta do marketing;
na Seção 3 será apresentada a metodologia utilizada para a elaboração deste artigo; e, na Seção
4 serão apresentadas as considerações finais do estudo, as quais indicam a efetividade, ou não,
da utilização das ferramentas de web marketing para captação de novos clientes e fidelização
dos antigos.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Com a revolução que a internet tem provocado nas formas de acesso à informação, criou-se uma
nova maneira de aplicação do marketing, o Web Marketing. Essa ferramenta pode ser
considerada como tudo que a internet efetua em termos de melhorias ou influências no processo
do composto de produto, preço, praça e promoção. Para tanto, é tida como necessária a
utilização de alguns métodos que apoiem essa ferramenta, sendo o mais comum deles o e-mail
marketing.
Apesar dos imensos benefícios proporcionados pela utilização deste, existem também
desvantagens, as quais dizem respeito principalmente ao envio desmedido de e-mails não
solicitados. Essa questão tem causado muitos transtornos aos clientes, tanto pessoas físicas
quanto jurídicas, pelo desgaste causado, principalmente, pela perda de tempo com propagandas
as quais não foram requeridas.
Existem diferentes tipos de mensagens não solicitadas que as empresas enviam com diversos
propósitos aos clientes. Cada uma delas visa atingir um público específico que, no entanto, nem
sempre está interessado na informação que lhe foi transmitida. As empresas possuem um
método próprio de direcionamento desses e-mails, o fato é que nem sempre são respeitadas as
opções e preferências de cada cliente, motivo que pode ser evidenciado pelo conceito de mídia
de massa.
Do outro lado dessa questão estão os clientes que recebem essas informações. A visão que eles
têm da empresa que os envia determinadas mensagens pode ser extremamente variável. Quando
os e-mails são enviados com autorização prévia, ou seja, o cliente de certa forma aguarda por
aquilo, o mesmo tende a aumentar sua satisfação com a empresa. No entanto, quando ele não
está esperando pelo e-mail, ele pode surpreender-se, por uma nova necessidade percebida em
função da oferta apresentada, ou então chatear-se por receber em seu endereço eletrônico
pessoal informações sobre assuntos que não fazem parte do seu campo de interesse. E é essa
percepção que o cliente tem dessa ferramenta que influencia na efetividade dela no que se refere
à confirmação das vendas e aumento da lucratividade das organizações.
19
2.1 WEB MARKETING
Para Peruzzo (2002), o Web Marketing pode ser conceituado como um novo instrumento de
comunicação e distribuição alcançado por meio de recursos digitais, em que organizações e
clientes buscam total interatividade em seus relacionamentos, fato esse que proporciona uma
troca com satisfação rápida, personalizada e dinâmica.
Rita e Oliveira (2006) destacam que o e-marketing ou marketing eletrônico se fundamenta na
utilização das tecnologias de informação e comunicação para que ocorra o processo de criação,
comunicação e fornecimento de valor aos clientes. Além disso, ele também influencia na gestão
da relação cliente x empresa, de modo a favorecer tanto a organização quanto seus stakeholders.
Com isso, essa nova ferramenta do marketing promoveu diversas mudanças relacionadas às
vantagens competitivas das empresas. De acordo com Peruzzo (2002), com o advento desse
instrumento, houve uma redução considerável no ciclo de vida dos produtos, os preços dos
produtos sofreram uma intensa queda e foram criados novos mercados para as empresas. Com
isso, então, as empresas precisaram alinhar suas vantagens competitivas com as exigências dos
mercados, principalmente, promovendo uma ampliação do desenvolvimento de produtos
diferenciados (possibilitada pelo aumento dos investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento), a
um custo acessível, que permita que o preço final do produto seja competitivo, para um mercado
cada vez mais aberto e exigente.
Para que a utilização do web marketing fosse efetiva surgiram métodos que relacionaram as
atividades normais do marketing com aquelas desempenhadas na rede de computadores. O email marketing é o principal deles, sendo o mais utilizado quando uma empresa decide se lançar
no meio digital. No entanto, o e-mail marketing está relacionado a outros conceitos que devem
ser levados em conta nessa atividade, são eles o marketing de permissão e o marketing viral.
Para Barata (2011), o marketing de permissão consiste na obtenção de uma autorização prévia
do cliente para receber comunicações de marketing em áreas do seu interesse. Caso a
informação enviada trate de algum assunto sobre produtos, a mensagem deve ter foco nos
benefícios específicos que o produto terá para quem for utilizá-lo. No entanto, a empresa precisa
restringir o envio desses e-mails àqueles clientes com autorização prévia. Quando isso não
acontece, ou seja, a empresa não restringe o envio dessas mensagens para pessoas as quais não
tem permissão para fazê-lo, o cliente recebe a mesma como spam.
Já Salzman, Matathia e O’Railly (2003) conceituam o marketing viral como a técnica de
marketing que explora o interesse dos consumidores para o conhecimento as marca, ou seja,
sem autorização prévia do cliente, a empresa envia comunicações a eles com o objetivo único de
divulgar sua marca. Essa técnica consiste na divulgação de um produto ou serviço de uma
pessoa (cliente) para a outra (o popular “boca a boca”) de forma a gerar uma epidemia. O
objetivo da empresa sendo alcançado com a utilização dessa ferramenta representa uma
importante redução dos gastos com comunicação e divulgação do produto / serviço. Com isso,
passa a ser necessário apenas captar a atenção do cliente, que ocorre através da criatividade
empregada na campanha.
Outros conceitos importantes no que se refere às ferramentas do web marketing estão
relacionados às diferentes técnicas utilizadas por ele. Tais técnicas, destacadas por Rublescki
(2009) são o marketing one to one, de afiliação e de relacionamento. Segundo a autora, o
marketing one to one consiste na oferta de produtos ou serviços similares aos já adquiridos pelo
cliente, a partir do perfil do mesmo cadastrado no banco de dados da empresa. Já o marketing de
afiliação, também chamado de comissão, trata-se de um sistema de anúncios em que um site
disponibiliza um link em outro site e ganha comissão sobre as vendas que ajuda a concretizar.
Por fim, o marketing de relacionamento é conceituado como o relacionamento ativo entre
empresa e clientes, visando a sua fidelização, através das funções de atendimento e de vendas.
20
Quando praticado de maneira adequada o web marketing tende a resultar em imensas vantagens
para as empresas. Entre essas vantagens pode-se destacar a visibilidade que a marca passa a ter
quando utiliza esse meio de comunicação com os clientes. É sabido por todos que o acesso ao email pessoal é o principal motivo para que as pessoas acessem a internet, ou seja, quem se
conecta a internet, muito provavelmente irá checar seus e-mails. Sendo assim, investir nesse
meio de comunicação é como atirar exatamente no alvo que se deseja acertar.
Além dos benefícios do web marketing apresentados, a utilização do e-mail marketing também
traz algumas vantagens, que vão desde a segmentação do mercado, a interatividade e a
agilidade, até uma boa relação custo x benefício. Uma melhor segmentação do mercado é
possibilitada tendo em vista que o perfil das pessoas que se cadastram para receber esse tipo de
e-mail pode ser muito significativo para as empresas, já que podem ser solicitadas informações
adicionais que possibilitem a identificação de novos clientes potenciais. A maior interatividade
com o cliente se dá através de uma troca rápida de informações entre a empresa e o cliente, sem
necessidade dele ter que ir até uma loja física, podendo resolver suas pendências apenas com
cliques no computador.
A agilidade se dá por conta da imensa quantidade de e-mails que podem ser enviados em
questão de segundos. E, por fim, não há como comparar a relação custo x benefício desse tipo
de campanha com outras quaisquer. O custo de enviar e-mails para os clientes é praticamente
nulo, enquanto no retorno desse tipo de campanha pode ser criada uma forte relação de
credibilidade com o cliente.
No entanto, a utilização dessas novas ferramentas não trazem apenas vantagens para as
empresas. O problema ocorre quando essas campanhas e e-mail recebidos como spam passam a
desagradar o consumidor. As campanhas realizadas esporadicamente não refletem tanto na
percepção do cliente, pois as mesmas não “incomodam” tantas vezes ao ponto de denegrir a
imagem da empresa. Já quando trata-se dos e-mails marketing enviados sem solicitação, ou seja,
os spams, a continuidade de envio muitas vezes faz com que o cliente se sinta incomodado e,
muitas vezes, preocupado com esse recebimento constante, principalmente no que tange à
grande quantidade de vírus transmitidos através desses e-mails.
Quando um cliente passa a desconfiar da credibilidade de determinada empresa porque ela envia
diversos e-mails que, na visão dele, podem causar algum dano, esse tipo de campanha não
desempenha seu papel, representando um custo que gera perda da imagem da empresa frente aos
clientes. Diversos tipos de e-mail, que nem sempre são prejudiciais, são encaminhados para um
local separado, sendo considerados como lixo eletrônico apenas por não terem autorização.
2.2 TIPOS DE E-MAILS NÃO AUTORIZADOS (SPAM)
De acordo com Turban et al. (2000), o spam é definido como uma prática de distribuição
indiscriminada de mensagens sem permissão do receptor e sem levar em conta as áreas de
interesse das pessoas as quais essas mensagens são enviadas.
Os spams podem ser classificados de diversas formas, como mensagens comerciais; mensagens
que apresentam conteúdo direcionado a fraudes e golpes; ou simplesmente, mensagens enviadas
em batelada ou larga escala.
Moustakas, Ranganathan e Duquenoy (2006) definem mensagens comerciais como aquelas que
visam promover algum produto ou serviço. Quanto às mensagens fraudulentas, são conceituadas
como aquelas que tem a intenção de invadir a privacidade do destinatário, ou ainda, que contêm
códigos de programação maliciosos. Já as mensagens enviadas em larga escala, podem se referir
aos mais variados assuntos, tendo como principal exemplo àquelas enviadas como correntes que
prometem sorte, riqueza ou mesmo benefícios aos endereçados.
21
Sendo assim, com o crescimento do número de emails mal intencionados enviados, juntamente
com o aumento da prática do web marketing, as empresas que mantêm os serviços de internet
(e-mail e provedores de acesso) são forçadas a elevarem vertiginosamente seus investimentos
em tecnologia e ferramentas inteligentes de controle (filtro) dessa categoria de mensagens
eletrônicas, de forma a proteger a integridade dos serviços e o conforto e bem-estar do seus
usuários.
A filtragem de mensagens é uma tarefa muito difícil, pois, classificar uma mensagem como
sendo um spam envolve diversos fatores. Da mesma forma que existem as mensagens
comerciais não solicitadas e emails contendo conteúdo nocivo aos usuários, existem as
mensagens que são enviadas simultaneamente para um grande número de clientes, onde parte
desses permite esse envio ou mantêm algum vinculo com a instituição remetente.
Por esse motivo, empresas que utilizam a pratica do web marketing como forma de promoção
dos seus produtos e serviços tem tido uma maior preocupação com o conteúdo, mas também,
com a determinação do público-alvo das suas mensagens. Dessa forma, espera-se que as
empresas que enviam esses e-mails tenham algum método de seleção para determinação dos
clientes ou prospects, de forma a filtrar as informações enviadas.
2.3 MÉTODOS QUE AS EMPRESAS UTILIZAM PARA DIRECIONAR OS E-MAILS
MARKETING
A segmentação é o um dos métodos mais utilizados para direcionamento de e-mails marketing,
sendo considerada como segredo do sucesso para o alcance dos objetivos Essa separação em
diferentes segmentos apresenta ao cliente algo realmente relevante e que proporcione o interesse
em ler a sua mensagem.
Quando bem feita, essa segmentação traz benefícios para a empresa que a está aplicando, pois
assim a organização pode atingir diversos grupos de clientes ao enviar diferentes malas diretas,
a partir da pesquisa do seu público alvo. O processo de criação de grupos é o primeiro passo o
direcionamento do e-mail marketing, que também deve levar em consideração informações
demográficas, socioeconômicas, comportamentais, faixa etária, sexo, e interesses pessoais para
oferecer diferentes tipos de conteúdos aos diferentes perfis de contatos em uma base.
Outras formas de direcionamentos que podem ser explorados são os links nas páginas
eletrônicas, que permitem a identificação do(s) maior(es) ponto(s) de interesse do usuário na
mensagem, como por exemplo, no produto (através de cliques na foto, nome ou descrição do
mesmo), na marca, no preço ou qualquer outro item que se deseja mensurar. Resultando em um
diagnóstico dos dados obtidos, que servirão para conduzir melhorias a serem feitas nos modelos
utilizados no websites.das empresas.
A empresa também pode trabalhar com e-mails transacionais, que podem ser definidos como
quaisquer e-mails enviado ao usuário após alguma ação realizada pelo mesmo no site, como um
e-mail de confirmação de cadastro, confirmação de compra, entre outros. Esse método trabalha
na filtragem de informações, e a partir da oferta de produtos correlatos ao adquirido na empresa
pelos clientes.
Através dos métodos apresentados, as empresas tendem a direcionar melhor seus e-mails,
favorecendo o atendimento do seu público-alvo. Com isso, há uma maior possibilidade de
satisfazer os clientes, de forma que eles visualizem a empresa ou o produto / serviço como
confiável e como uma opção em caso de necessidades.
22
2.4 PERCEPÇÃO DO CLIENTE
Para Kotler (2003) os consumidores são pessoas e organizações que adquirem produtos para uso
direto ou coma finalidade de incorporá-los a outros produtos, de forma a servir ou satisfazer
clientes finais, a qual, obviamente, é a razão de ser da estratégia de marketing.
Pode-se confirmar a ideia de Kotler (2003) pela afirmação de Schlosser et al (2002), para o qual
o marketing é o processo social orientado para a satisfação das necessidades e desejos dos
indivíduos e organizações, criando produtos e serviços geradores de utilidade. Neste sentido, o
web marketing surge como uma aplicação deste conceito no conceito da internet.
Segundo Dionísio et al. (2009), tem sido uma tarefa extremamente difícil para o marketing
satisfazer as necessidades dos consumidores atualmente, uma vez que eles estão mais ativos e
informados do produto que pretendem comprar. Tais características são fortalecidas devido à
oferta, cada vez mais diversificada, e às opções de escolha dos consumidores, que são cada vez
maiores. Por tal motivo, torna-se fundamental que as empresas estudem o comportamento do
consumidor e, principalmente, suas necessidades relacionadas à web.
Kotler (2000) destaca uma relação afirmativa entre o comportamento e o envolvimento do
consumidor na intenção e decisão de compra. O autor assegura que a atitude de outros clientes e
os fatores situacionais imprevistos tendem a interferir consideravelmente na decisão de compra
e na própria compra dos consumidores. Por esse motivo, compreender os consumidores tem-se
tornado o foco da atenção no mundo dos negócios, uma vez que a prosperidade das empresas
depende da satisfação e da fidelidade dos seus consumidores. O web marketing veio, então,
revolucionar esse novo mercado do consumo.
Esta nova abordagem do marketing, que consiste na criação de ligações, negócios e opiniões
online, visa, igualmente, atingir o consumidor com maior eficácia. É nesse contexto que
Rublescki (2010) afirma que as novas ferramentas do marketing têm que acrescentar nos
benefícios dos consumidores os “4C´s”, que são cliente, conveniência, comunicação e custo.
Para o autor, essas são apontadas como as principais vantagens que o consumidor retira da
internet, ou seja, se o cliente quer alguma coisa imediata, seja a que hora for, ele pode usar a
internet e satisfazer a sua necessidade, com um menor custo e esforço, maior conveniência do
cliente e, por fim, com uma comunicação mais próxima com o produto.
No entanto, o cliente é o maior atingido pelas desvantagens da utilização das ferramentas de
web marketing. De acordo com Gonçalves (2008), o spam é um dos principais fatores
contribuintes para o descontentamento dos consumidores, já que, devido à alta probabilidade
dele ser percebido como uma mensagem massificada, ele é capaz de afetar a credibilidade da
empresa que o envia.
Além da falta de credibilidade dos e-mails massificados enviados pelas empresas, Evans e
Mathur (2005) destacam que a falta de habilidade dos consumidores com outra possível causa
de descontentamento com os e-mails marketing. Isso porque, apesar do amplo alcance da
internet, ainda existem consumidores que não estão habituados a esse novo ambiente virtual e,
por isso, consideram todas as mensagens que recebem através do e-mail sem autorização como
algo inútil para ele.
Gonçalves (2008) destaca ainda que, apesar da tentativa das empresas de personalizar os e-mails
marketing enviados, outro problema, na percepção dos clientes é a impessoalidade das
mensagens. Muitas pessoas ficam incomodadas com a falta de contato humano durante as
transações, ou mesmo em caso de dúvidas, e isso limita a aceitação dessa nova ferramenta por
uma parcela maior da comunidade.
23
Apesar da existência de diversos fatores que tornam a percepção e aceitação dos clientes um
processo árduo, principalmente quando as dificuldades estão relacionadas à segurança dos
usuários, uma pesquisa realizada pela empresa americana SeeWhy apresenta resultados
surpreendentes para o retorno das ações do web marketing. Utilizando uma amostra de 60.000
transações concluídas no comercio eletrônico, analisou-se a origem dos usuários ao utilizar os
serviços e o percentual de clientes que efetivamente compraram no website. Com isso chegou-se
aos valores apresentados na Figura 1.
Figura 1 – Origem do usuário do Comércio Eletrônico
Fonte: Adaptado de SeeWhy (2011)
Sendo assim, os resultados dessa pesquisa mostram que o web marketing possui papel
fundamental nas atividades comerciais das organizações, sendo responsável por 69% dos
acessos que resultaram em compra, especialmente, o e-mail marketing, que nesse caso
direcionou 28% do total de usuários que efetivaram a transação comercial. Entretanto, a
pesquisa foi realizada em websites de diversos segmentos de mercado e os diferentes resultados
obtidos, quando analisa-se de forma individual, indicam que as estratégias de atuação devem ser
diferenciadas para cada tipo de produto ou serviço oferecidos pelas empresas SeeWhy (2011).
O trabalho apresentado por Bueno (2012) também afirma a efetividade da ferramenta e-mail
marketing, onde, por meio de um estudo em 5 empresas do ramo de autopeças foi possível
constatar uma redução dos gastos com marketing em todas as empresas, além disso, verificou-se
que o objetivo de aumentar o número de clientes foi alcançado. O autor mostra ainda que, após
uma avaliação do retorno obtido através do web marketing, foi possível identificar um aumento
de aproximadamente 20% no faturamento de uma das empresas estudadas. Além disso, a
ferramenta em questão foi utilizada para feedback dos clientes, que resulta em melhorias nos
serviços oferecidos, consequentemente, em vantagens competitivas.
3 METODOLOGIA
A metodologia utilizada pautou-se numa pesquisa bibliográfica com a utilização de recursos
analíticos. Para tanto, utilizou-se estudos previamente publicados, além de referências
bibliográficas voltadas para a pertinência do assunto.
A identificação dos fatores que convergem para a concepção das análises realizadas foram
baseadas em pesquisas adaptadas da empresa americana SeeWhy do ano de 2011 e o estudo das
empresas do ramo de autopeças apresentado por Bueno no ano de 2012.
24
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do que foi apresentado fica evidente que a prática dessa nova metodologia do marketing
pode ser muito antagônica, podendo tanto alavancar as vendas gerando resultados expressivos,
como manchar a imagem da marca da empresa de forma a fazer com que ela perca seus clientes.
A diferença entre esses dois possíveis resultados é a forma e a seriedade com que o web
marketing é praticado por essas organizações.
A maioria das desvantagens da utilização do e-mail marketing está relacionada ao uso incorreto
dessa ferramenta, que tem como consequências principais a insatisfação dos usuários e a perda
do valor da imagem da marca, provocadas pela propagação de e-mails não autorizados, os
populares spams. Além disso, outro problema encontrado pelas organizações que recorrem ao
web marketing está relacionado à dificuldade em criar campanhas efetivas que promovam seus
produtos ou serviços, o que faz com que, muitas vezes, as informações disponibilizadas não
gerem interesse nos clientes, desperdiçando recursos financeiros e a oportunidade de efetivação
das vendas.
Apesar dessas desvantagens citadas, os estudos apresentados por SeeWhy (2011) e Bueno
(2012) comprovaram que as organizações agregaram valor à sua marca, obtiveram diferenciação
de mercado e buscaram seu desenvolvimento a partir do emprego das técnicas de web
marketing, sendo a principal delas o e-mail marketing.
As principais vantagens competitivas obtidas por essas organizações estão relacionadas à:
diferenciação, tanto dos seus concorrentes, quanto da fatia de mercado em que atuam; redução
de custos, favorecida pelo baixo investimento necessário para campanhas dessa natureza; ofertas
de novas alternativas aos clientes, fortalecendo o mix de marketing; expansão da carteira de
clientes, proporcionada pela captação de novos clientes e geração de prospects; e, o
fortalecimento da imagem da marca, possibilitando a reativação de antigos clientes inativos das
empresas.
Por tudo isso, pode-se afirmar que mesmo com todos os benefícios proporcionados às
organizações pelo uso do web marketing, é de extrema importância e relevância que elas
preocupem-se com a forma de selecionar os clientes para envio dos e-mails, de forma a
direcionar melhor as informações a serem enviados, diminuindo o índice de insatisfação dos
receptores.
25
5 REFERÊNCIAS
1. ASSIS, Gustavo. Guia de e-mail marketing. São Paulo: Ibrasa, 2003.
2. BARATA, Liliana. A nova abordagem do web marketing aliada ao comportamento do
consumidor. 2011. 354 f. Dissertação (Mestrado em Publicidade e Marketing) – Instituto
Politécnico de Lisboa, Escola Superior de Comunicação Social, Lisboa, 2011.
3. BUENO, Fernando Ferreira. O e-mail marketing como vantagem competitiva no ramo de
autopeças. 2012. 54 f. Monografia (Bacharelado em Administração) - Departamento de
Administração, Universidade de Brasília, zBrasília, 2012.
4. DIONÍSIO, Pedro; et al. B - Mercator blended marketing. Lisboa: Dom Quixote, 2009.
5. DRUCKER, Paulo. Além da Revolução da Informação. HSM Management. São Paulo, v.18,
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6. EVANS, J. R.; MATHUR, A. The value of online survey. Internet Research, v 15, n 2,
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26
18. TURBAN, Efrain., et al. Electronic Commerce: a managerial perspective. Prentice-Hall,
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27
“ANÁLISE DOS PRINCIPAIS IMPACTOS AMBIENTAIS GERADOS
PELOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO MUNICÍPIO DE PONTO
BELO – ES”
Talita Alves de Carvalho6
Vitor Pereira Mota7
RESUMO
No Brasil, em média 58,1% do lixo coletado segue para aterros sanitários, porém
aproximadamente 75 mil toneladas diárias possuem ainda uma destinação inadequada. O
lixão é uma forma de acondicionamento onde o lixo é lançado a céu aberto, sem uma
impermeabilização prévia do solo e sem tratamento do lixiviado. Por muitos anos acreditou-se
que o solo possuísse uma capacidade ilimitada para absorção de substâncias nocivas ao
ambiente, porém essa capacidade é limitada e diversos resíduos podem causar alterações na
qualidade do solo. Conhecer a velocidade de infiltração básica (VIB) da água no solo é
fundamental para definir técnicas de conservação do solo e também descobrir o tempo
necessário para que a água ou substância líquida infiltrada alcance as águas subterrâneas. Este
estudo teve como objetivo analisar os principais impactos ambientais causados pelos resíduos
sólidos urbanos no município de Ponto Belo-ES.
Palavras – chave: Lixão; Água subterrânea; Contaminação.
ABSTRACT
In Brazil, on average 58.1% of the collected waste goes to landfills, but approximately 75,000
tonnes per day still have an inadequate allocation. The dump is a form of packaging where
garbage is thrown in the open, without a prior soil sealing and untreated leachate. For many
years it was believed that the soil possess an unlimited capacity to absorb harmful substances
to the environment, but this capability is limited and many residues can cause changes in soil
quality. Know the basic infiltration rate (BIR) soil water is fundamental to define soil
conservation techniques and also find the time to the water or liquid substance infiltrated
reach groundwater. This study aimed to analyze the main environmental impacts of municipal
solid waste in the city of Belo-ES Point.
Keywords: dump; Groundwater; Contamination.
6 Graduada em Engenharia Ambiental e Sanitária.
7 M. Sc.em Agroecossistemas – UFSC; Graduado em Ciências Agrárias.
28
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho trata principalmente da problemática resultante da geração de resíduos
sólidos urbanos (RSU), aqueles gerados no âmbito municipal, sendo que o crescente aumento
populacional, desenvolvimento tecnológico e ações antrópicas do homem levaram a uma
intensificação do consumo de bens e serviços, assim como a consequente geração de lixo.
Sabe-se ainda que a destinação correta do RSU é imprescindível para a conservação do meio
ambiente , assim como uma melhor qualidade de vida para a população.
No Brasil, em média 58,1% do lixo coletado segue para aterros sanitários, porém
aproximadamente 75 mil toneladas diárias possuem ainda uma destinação inadequada, onde
os resíduos são encaminhados para lixões que não possuem as medidas necessárias para
proteção do meio ambiente contra os riscos de degradação ambiental causados pelos resíduos
sólidos em decomposição (ABRELPE, 2011).
O lixão é uma forma de acondicionamento onde o lixo é lançado a céu aberto, sem uma
impermeabilização prévia do solo e sem tratamento do lixiviado, causando a proliferação de
vetores que causam doenças, poluição do solo, e das águas subterrâneas, pela infiltração dos
líquidos percolados resultante dos processos de decomposição dos RSU (BECK et al., 2010).
A qualidade da água subterrânea relaciona-se diretamente com o uso e ocupação do solo, onde
as atividades realizadas pelo homem afetam nas características dos recursos hídricos, podendo
impactar de forma negativa o meio ambiente (NAKAMURA et al., 2011).
Sendo assim a identificação dos principais impactos provenientes dos resíduos sólidos
urbanos, tal como, o gerenciamento e tratamento adequado do lixo são de fundamental
importância para solucionar problemas ambientais e sanitários.
O município de Ponto Belo – ES é uma cidade de pequeno porte onde dispõem seus rejeitos
no lixão municipal que foi criado em 1997, a gestão do RSU no município limita-se a varrição
e coleta diária do lixo.
Com base nesses fatores, o presente estudo visa realizar uma análise dos principais impactos
ambientais gerados por resíduos sólidos urbanos no município de Ponto Belo – ES,
diagnosticando os fatores que evidenciam a contaminação do solo e das águas subterrâneas,
beneficiando assim o município na caracterização dos riscos ambientais causados pelo lixão,
facilitando a administração pública na realização das pesquisas necessárias para o tratamento
e recuperação da área degradada.
29
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS
De acordo com Philippi et al.(2005) os resíduos sólidos compreendem todos os restos
domésticos e os resíduos não perigosos, tais como comerciais, institucionais, o lixo da rua e
restos de construção civil. Para Monteiro et al.(2001) com o crescimento populacional das
cidades, o desafio da limpeza urbana não consiste apenas em remover o lixo das ruas e
edificações, mas o principal desafio é dar um destino final adequado aos resíduos coletados.
No Brasil, os resíduos sólidos urbanos são caracterizados pela coleta, transporte e destinação
final sendo que estes processos são de responsabilidade das prefeituras municipais incluindo o
lixo domiciliar, comercial e público. Com o aumento do lixo urbano e a necessidade de uma
disposição final, o mesmo se enquadra entre os mais sérios problemas ambientais enfrentados
por países ricos, industrializados e pelas sociedades em desenvolvimento (JUNKES, 2002).
Magalhães (2008) comenta que lixões são locais afastados do centro das cidades, onde os
resíduos coletados são dispostos no solo a céu aberto, os mesmos se constituem como uma
maneira inadequada de disposição final do resíduo, podendo levar a contaminação dos solos e
dos corpos hídricos (superficiais e subterrâneos) pela lixiviação de chorume, entre outros
fatores.
2.2 CONTAMINAÇÃO DO SOLO
Borges (2011) salienta que o solo é de fundamental importância para a biosfera, além de agir
como depósito de diversos contaminantes, age também como tampão natural, que controla o
transporte dos elementos químicos. Domingues (2009) cita que por muito tempo acreditou-se
que a disposição de resíduos diretamente no solo era uma boa alternativa, considerando que o
mesmo possuísse uma capacidade ilimitada para absorção de substâncias nocivas ao
ambiente, porém essa capacidade é limitada e diversos resíduos podem causar alterações na
qualidade do solo e assim a contaminação do mesmo.
Para Campos (2010) o solo é um importante compartimento de acúmulo de substâncias, assim
é primordial conhecer seus componentes originários e relacionar os aspectos naturais do solo
com seus atributos, como a matéria orgânica, pH , assim como, as concentrações de metais e
nutrientes no solo .
2.3 CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
As águas subterrâneas podem aflorar na superfície por meio de fontes ou nascentes, sendo que
as águas das nascentes em seu estado natural são consideradas de boa qualidade ambiental e
sanitária, pois o processo de infiltração no subsolo promove sua purificação e tem se tornado
fonte de consumo alternativo tanto em áreas rurais quanto em urbanas (FARIA, 2006).
A contaminação das águas subterrâneas não é de imediato visível, pois as águas superficiais
possuem uma facilidade e rapidez para purificação, porém a poluição da água subterrânea é
um problema que só pode ser resolvido em longo prazo, e possui também um elevado custo
(BAIRD, 2002).
30
Nakamura et al.( 2011) enfatizam que as águas subterrâneas estão sofrendo alto grau de poluição por
lixiviação de resíduos sólidos dispostos inadequadamente no solo , assim Martins e Kawakubo (2012)
comentam que o consumo de água fora dos padrões de potabilidade definidos pela Portaria 2914/2011
do Ministério da Saúde, constitui-se fatores de riscos a saúde humana, sendo que o uso das
potencialidades do solo representa uma possível ameaça à qualidade química, física e microbiológica
da água.
A contaminação das águas subterrâneas se dá pelo processo de entrada da água no solo, por meio da
infiltração, que é o processo realizado pela água através da superfície do solo e seus compartimentos
no subsolo, conhecer a velocidade de infiltração básica da água no solo (VIB) é fundamental para
definir técnicas de conservação do solo e definir o tempo necessário para que a água ou substância
líquida infiltrada alcance as águas subterrâneas (FAGUNDES et al., 2012).
3 METODOLOGIA
O presente estudo foi realizado no lixão do município de Ponto Belo - ES, a partir de uma
orientação de pesquisa quantiqualitativa, baseado em trabalho de campo e análises
documentais.
3.1 LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
De acordo com o IBGE (2010) a extensão territorial do município é de 361 Km2 e o
município possui uma população de 6.979 habitantes.
O lixão do município foi criado no ano de 1997, possui uma área total de 256,25 m2 e é o local
para onde é enviado diariamente uma média per capta de 5 toneladas por dia de resíduos de
origem doméstica e comercial, de acordo com dados da Secretaria Municipal de Meio
Ambiente da cidade de Ponto Belo – ES.
Para analisar os principais riscos de contaminação ambiental causados pelos resíduos sólidos
urbanos no município de Ponto Belo, analisou-se a composição química do solo da área do
lixão comparativamente com a do solo de seu entorno, buscou-se determinar a velocidade de
infiltração básica de água no solo (VIB), a fim de calcular o gradiente hidráulico do solo e o
tempo necessário para uma possível contaminação da água subterrânea por líquidos
percolados, analisou-se a água da nascente mais próxima quanto as suas características
microbiológicas e físico-químicas em vista de relacionar os fatores de contaminação do lixão
com a qualidade da água.
Figura 1: Lixão de Ponto Belo-ES
Fonte: Dados coletados pela pesquisadora
31
3.2 COLETA DE DADOS
3.2.1 Análise química do solo ( lixão / entorno )
De acordo com Embrapa (2006), o solo estudado foi classificado como Argissolo VermelhoAmarelo distrófico, para verificar a composição química do solo, realizou-se a análise do solo
comparando dois tipos de áreas com solos naturalmente iguais, porém com usos diferentes,
sendo que uma área é usada para deposição de resíduos e a outra como pastagem.
A coleta do solo e as análises foram realizadas no mês de Abril de 2013, de acordo com
estação meteorológica do Incaper esse mês precipitou uma média de 100,8 mm.
Para a coleta e preparo de amostras utilizaram-se recipientes (sacos de plásticos) devidamente
identificados, dividiu-se a área do lixão e a do entorno uniformemente para a retirada de amostras,
cada área escolhida foi percorrida separadamente em zig-zag, retirando-se com uma sonda, amostras
de 15 a 20 pontos diferentes, obtendo amostras de aproximadamente 500g para área do lixão e a área
do entorno, assim após a coleta as amostras foram encaminhadas para o laboratório responsável.
3.2.2 Velocidade de infiltração básica (VIB)
O estudo de permeabilidade é fundamental para definir a condutividade hidráulica (K) do solo
em estudo. Sendo que de acordo com Maranhão et al.(2007) a condutividade hidráulica (K) é
um fator que determina a capacidade do aquífero em conduzir água sob a influência de um
gradiente de uma superfície potenciométrica, sendo que quanto maior a condutividade
hidráulica, mais rapidamente o aquífero conduzirá a água até a nascente. Para calcular a
permeabilidade do solo e a taxa de infiltração da água subterrânea, utilizou-se o método de
infiltrômetros de anéis concêntricos que consiste em dois anéis dispostos no solo
concentricamente, sendo que o menor possui um diâmetro de 25 cm e o maior com 50 cm, e
altura de ambos 30 cm (BERNARDO et al., 2002).
Assim após a instalação dos anéis no solo, com uma régua posicionada no anel interno
acompanhou-se a infiltração vertical da água, em intervalos de tempo, sendo que as leituras
foram feitas nos intervalos de 0, 1, 3, 5, 10, 15, 30 minutos a contar do instante zero até a
estabilização, o teste teve uma duração de 150 minutos, a determinação da VIB se deu a partir
de quando começou a se repetir os valores. Equação de velocidade de infiltração foi
determinada pela expressão:
3.2.3 Determinação do gradiente hidráulico
Através de um levantamento topográfico da área do lixão e a cota topográfica do poço freático
situado na mesma altitude, foi possível determinar o mapa potenciométrico, por meio da
interpolação dos valores de carga hidráulica em linhas equipotenciais. O levantamento
topográfico foi realizado através do processo de nivelamento geométrico com irradiações a
partir de um ponto com cota conhecida. Traçando-se as linhas de fluxo de água subterrânea na
área do poço, observa-se que o escoamento da água subterrânea está no sentido da nascente
estudada.
32
A velocidade de migração das águas subterrâneas foi calculada em função do padrão defluxo
e dos parâmetros hidrogeológicos do aquífero, de acordo com a Lei de Darcy, através das
expressões:
q  K i
i  (h1  h2)
L
Onde:
i=gradiente hidráulico (m/m)
h1=Altura 1 (m)
h2=Altura 2 (m)
L=distância (m)
K= Condutividade hidráulica (m/d)
q=Velocidade de Darcy (m/d)
3.2.4 Análise microbiológica da água
Para monitoramento da qualidade da água, foi analisada uma nascente mais próxima do lixão.
Buscou-se analisar os parâmetros de potabilidade da água seguindo as normativas da portaria
do Ministério da Saúde 2.914/2011.
A amostra foi coletada em janeiro/2013, mês considerado chuvoso com uma precipitação
média mensal de 132,2 mm (INCAPER). A amostra de água para análise microbiológica foi
coletada em frasco de polietileno previamente esterilizado e identificado, após a coleta, as
amostras foram enviadas para o laboratório responsável onde foram realizadas as análises
microbiológicas (coliformes totais, Coliformes E.coli).
3.2.5 Análise físico – química da água
Foram feitas as análises físico – químicas da água da nascente, sendo que coletou-se duas
amostras da água, porém em períodos diferenciados. A primeira amostra foi coletada em
janeiro/2013, período considerado chuvoso, em frasco de polietileno previamente esterilizado
e identificado, a segunda amostra foi coletada no mês de abril/2013 seguindo o mesmo
procedimento anterior, após a coleta as amostras foram enviadas para os Laboratórios
responsáveis pelas análises, onde foram feitas as análises de pH com a primeira amostra e de
metais (alumínio, ferro, e manganês) na segunda amostra analisada , o método utilizado para a
realização da análise foi o Standart Methods for the Examination of Water and Wastewater, 21th
(2005).
Figura 2: Nascente
Fonte: Dados coletados pela pesquisadora
33
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO SOLO
Os principais resultados analisados comparativamente entre a área do solo lixão e a do seu
entorno estão apresentados na Tabela 1, assim como os valores de referência para
interpretação da análise.
Observa-se que os teores totais dos parâmetros químicos encontrados no solo do entorno do
lixão apresentam-se dentro dos limites estabelecidos. Evidenciou-se também que o solo da
área do lixão apresentou teores totais de fósforo, potássio, enxofre, cálcio, zinco e boro acima
do valor máximo permitido, segundo Moraes (2007) quando os metais ultrapassam os valores
limites estabelecidos o solo se torna incapaz de reter os metais e as a suas propriedades físicas
e químicas são alteradas.
O solo do lixão apresentou um alta alcalinidade, com um pH de 8,1. Ferreira e Morita (2012)
comentam que solos que sofreram ações antrópicas tendem a alcalinidade.
O solo do lixão apresentou uma alta concentração de saturação de Ca e K na CTC, que
relaciona a capacidade de troca catiônica nos sítios de adsorção do solo, conforme Domingues
(2009) a CTC é um fator que contribui na disponibilidade de metais pesados no solo, ainda
Lopes (2004) cita que regiões que apresentam altos níveis de matéria orgânica os valores da
CTC podem ser bastante elevados.
Tabela 1. Principais parâmetros analisados
Parâmetro analisado
Unid.
Local
Área
Entorno
lixão
lixão
mg/dm3 159
5.0
Fosforo Mehlich
mg/dm3 350
110
Potássio (K)
Baixo
Níveis de referência
Médio
Alto
< 11
<31
11-20
31-60
>20
>60
Enxofre (S)
mg/dm3
68
5.0
<5
5,0-10
>10
Cálcio (Ca)
Cmol
5,2
1,6
<1,6
1,6-4
>4,0
Magnésio (Mg)
Cmol
0,8
0,5
4.1 - 6,9
7,0-40
>40
Ph em H2O
-
8,1
6,1
-
-
-
Matéria Orgânica
Dag/Kg
Ferro (Fe)
2,2
2,1
<1,6
1,6-3,0
>3,0
3
141
94
21-31
31-200
>200
3
mg/dm
Zinco (Zn)
mg/dm
41,1
2,6
4.1-6,9
7,0-40
>40
Cobre (Cu)
mg/dm3
1,8
0,2
0,6-1,5
1,6-20
>20
3
6-11
<0.21
12-130
0,21- 0,6
>130
> 0,6
40 – 60
7-10
60 – 65
10-15
>65
>15
Manganês (Mn)
Boro (B)
mg/dm
mg/dm3
65
0,7
22
0,55
Sódio (Na)
mg/dm3
200
49
Sat. Ca na CTC (T)
Sat. Mg na CTC (T)
%
%
67,6
10,4
39,2
12,2
%
11,7
6,9
03-05
5
Sat. K na CTC (T)
%
58,4
89,6
26-50
51-70
Saturação de Bases
Fonte: Dados coletados pela pesquisadora, Instituto agronômico e Fundação IAC.
>5
71-90
34
4.2 VELOCIDADE DE INFILTRAÇÃO BÁSICA (VIB)
A determinação da velocidade de infiltração básica do solo (VIB) foi obtida conforme os
dados da tabela 2.
De acordo com Bernardo et al. (2002) a velocidade de infiltração nos solos diminui com o
passar do tempo, observando-se também que o solo em estudo pode ser classificado de acordo
com sua velocidade de infiltração básica e textura, em solo de VIB alta com uma textura
franco arenosa.
Com o resultado da VIB na área do lixão, sugere-se que as águas subterrâneas podem está
sofrendo um risco de contaminação por meio de líquidos percolados que infiltram no solo
numa velocidade considerada alta.
Tabela 2. Determinação da velocidade de infiltração
Tempo (min)
Régua (cm)
Tempo
Horário
Leitura
0
13:44
1
13:45
2
3
13:47
5
DT
Infiltração
Diferença
Vi(mm/h)
7,9
1
300
2
8,4
0,5
150
13:49
2
8,7
0,3
90
10
13:54
5
9
0,3
36
20
14:04
10
9,7
0,7
42
30
14:14
10
10,4
0,7
42
45
14:29
15
11,3
0,9
36
60
14:44
15
12,2
0,9
36
90
15:14
30
13,9
1,7
34
120
15:44
30
15,2
1,3
26
150
16:14
30
16,5
1,3
26
6,9
Fonte: Dados coletados pela pesquisadora
Inicialmente observou-se uma velocidade de infiltração de 300 mm/h e este valor foi
diminuindo lentamente no decorrer do tempo, sendo que após duas horas e trinta minutos,
alcançou um valor constante de 26 mm/h como pode ser observado no gráfico 1.
35
Gráfico 1.Velocidade de infiltração básica da água no solo ( mm/h)
Infiltração
(mm)
Tempo (minutos)
Fonte: Dados coletados pela pesquisadora
De acordo com Feitosa e Filho (2000) além do chorume, a infiltração da água de chuva em
depósitos de resíduos sólidos produz vários tipos de gases por decomposição bioquímica de
matéria orgânica, aumentando assim, o impacto ambiental às águas subterrânea.
4.3 DETERMINAÇÃO DO GRADIENTE HIDRÁULICO
A caracterização hidrogeológica da área é importante para a definição do sentido do fluxo das
águas subterrâneas e identificação das áreas de recarga, a distância entre o lixão e a nascente é
de 473 metros, a altitude da nascente é de 230 metros, sendo que o lixão está a uma altitude de
265,68 metros, podendo representar risco de contaminação do corpo hídrico devido à
distância da nascente e a declividade de 7,54 %.
Tendo como referência a cota do nível do lençol freático do poço freático mais próximo do
lixão e o nível da nascente, forma-se assim uma linha piezométrica de aproximadamente
5,32%.
Com as análises potenciométricas, constatou-se que o sentido preferencial do fluxo é de 45°
sudeste, seguindo para a nascente em estudo.
O gradiente hidráulico médio é da ordem de 0,0532 m/m. Empregando-se a condutividade
hidráulica (K=0,624 m/d) obtida a partir da VIB, estima-se assim a velocidade para a
migração das águas subterrâneas na área estudada. Maranhão et al .(2007) cita que esta
informação é de fundamental importância, pois tem o papel de avaliar o risco contaminante da
área em estudo , sendo que a velocidade de migração das águas subterrâneas é um fator
determinante para intensificar a contaminação.
Lopes (2005) fala que a lei de Darcy é o princípio básico do fluxo da água subterrânea em
meios porosos, assim, de acordo com os resultados encontrados, o contaminante é
considerado uma massa de alguma substância dissolvida, que se move no meio fluido, com
água no meio poroso do solo, sendo ele saturado ou não.
36
Utilizando a velocidade de Darcy obteve-se uma velocidade do fluxo da água do lençol de
0,0332 m/dia, sendo deslocado horizontalmente no sentido da nascente, nesse sentido
Maranhão et al .(2007) salienta que o comportamento da pluma de contaminantes é
influenciado não só pelas condições hidrológicas e características do lençol freático, mas
também pelas propriedades físicas e químicas dos componentes percolados na área do lixão,
assim estima-se que levaria aproximadamente 39 anos para que a pluma de contaminantes
percoladas na área do lixão atingisse horizontalmente a nascente, no entanto, pode-se afirmar
a partir da VIB que em apenas 15 dias os líquidos percolados alcançam o lençol freático da
área do lixão verticalmente.
4.4 ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA
Os resultados microbiológicos da água da nascente, assim como os valores máximos
permitidos (V.M.P) de acordo com a portaria 2.914/2011 do Ministério da Saúde, estão
apresentados tabela 3, onde se observa que a qualidade microbiológica da água subterrânea
está comprometida, porém a água analisada não apresentou fonte de contaminação por
Escherichia coli.
PARÂMETRO
Tabela 3. Resultado da análise microbiológica
RESULTADO
V.M.P – Portaria 2.914/2011
Coliformes totais
Positivo
Ausência em 100 ml
Escherichia coli
Ausência em 100 ml
Ausência em 100 ml
Fonte: Dados coletados pela pesquisadora e Portaria 2.914/2011
O clima no período de coleta da amostra para análise foi chuvoso, e com altas temperaturas
(janeiro / 2013), segundo Ayach et al. (2009) o verão apresenta características climáticas que
podem favorecer a contaminação e o desenvolvimento de bactérias nas águas.
Beck et al. (2010) comentam que a decomposição dos resíduos tente a gerar o lixiviado
contaminando o solo e a água subterrânea.
4.5 ANÁLISE FÍSICO – QUÍMICA DA ÁGUA
O pH da nascente apresentou um valor de 4.5, de acordo com a Portaria do Ministério do
Estado da Saúde 2.914 /2011 recomenda-se para água potável um pH entre 6.0 a 9.5.
Sendo assim, a água da nascente apresentou um pH ácido. Silva et al. (2007) falam que a
acidez pode esta associada a poluição por resíduos , assim as medidas de pH fornecem
inúmeras informações quanto a qualidade da água .
Os resultados para as análises dos metais alumínio, ferro, e manganês, são apresentados na tabela
4, juntamente com os valores máximos permitidos (V.M.P) pela portaria 2.914/2011 do Ministério da
Saúde.
PARÂMETRO
Tabela 4. Resultados dos metais pesados analisados
UNIDADE
RESULTADO
VMP - PORT 2.914/2011
Alumínio total
Ferro total
Mg/L
Mg/L
0, 100
0, 199
0,2
0,3
Manganês total
Mg/L
<0, 033
0,1
Fonte: Portaria 2.914/2011 e dados coletados pela pesquisadora
37
Não foram encontrados teores de alumínio, ferro e manganês, acima dos valores máximos
permitidos pela legislação.
O índice pluviométrico do período estudado foi considerado seco Abril/2013, ou seja,
estiagem, podendo explicar o baixo teor de contaminação por metais provenientes da
lixiviação de resíduos.
A presença de metais no aquífero subterrâneo, embora dentro dos V.M.P supõe um alerta
quanto à futura contaminação oriunda da decomposição do lixo, tendo em vista que a análise
foi realizada em período de estiagem, e que o ponto de coleta está há 473 m de distância do
lixão (MONTEIRO et al., 2002).
Segundo Nakamura (2011) a toxicidade por metais depende da dosagem, do tempo de
exposição do metal, a forma física e química do elemento e o tipo de absorção no local de
influência direta.
5 CONCLUSÃO
Com base nos estudos realizados, constata-se que o solo do lixão apresentou altos teores de
metais e nutrientes acima dos limites estabelecidos, apresentando também um solo alcalino
com pH de 8.1 , a elevação do pH e a intensificação de matéria orgânica no solo , aumenta as
concentrações de CTC , sendo que o mesmo contribui na disponibilidade de metais no solo,
entende-se que as ações antrópicas do homem intensificam a possibilidade de contaminação
do solo por resíduos sólidos.
A VIB no solo estudado apresentou um valor de 26 mm/h, assim podemos afirmar que os
líquidos percolados na área do lixão alcançam em curto tempo o lençol freático verticalmente
causando contaminação nas águas subterrâneas. Com o cálculo do gradiente hidráulico
realizado e a velocidade de migração da água subterrânea, verificou-se que em média 0,0332
m/dia de líquidos percolados deslocam horizontalmente no sentido da nascente estudada,
sendo que em aproximadamente 39 anos de uso e ocupação do solo do lixão haverá uma
contaminação horizontal elevada, porém verticalmente já se evidencia essa contaminação.
As análises físico-químicas e microbiológicas realizadas indicam que a água da nascente está
fora dos padrões de potabilidade do Ministério da Saúde 2.914/2011, porém não apresentou
altos índices de metais e nem houve presença de coliformes fecais.
Entende-se que o meio ambiente, trata-se de um ciclo natural onde os conjuntos de fatores
bióticos e abióticos interagem entre si, sendo assim constata-se que a contaminação do solo
por resíduos pode afetar de maneira significativa o uso das águas subterrâneas, desta forma o
estudo da área e a conservação do solo são fundamentais para a proteção tanto da água
subterrânea quanto das águas superficiais, assim como a manutenção da saúde humana e
preservação ambiental.
38
7 REFERÊNCIAS
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41
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM EDIFICAÇÕES RESIDENCIAIS NO
MUNICÍPIO DE PINHEIROS-ES
Ana Carolina Souza Teixeira82
Raphael Melo Borges93
Giuliana de Angelo Ferrari104
RESUMO
A atual busca por reduções de custo nas construções muitas vezes força a escolha de materiais
de qualidade inferior e/ou a contratação de profissionais pouco qualificados tanto para a fase de
projeto quanto para a fase de execução da obra, culmina no aparecimento de manifestações
patológicas. Patologias na construção civil podem ser compreendidas como os danos ocorridos
em edificações que se manifestam de vários modos como: fissuras, trincas, rachaduras,
infiltrações, umidade, descolamento, oxidação de esquadrias, bolor, vesículas, lixiviação, entre
outros. Edificações de todos os tipos e regiões estão sujeitas a apresentar esses tipos de
manifestações, como é caso das edificações residenciais do município de Pinheiros-ES. Tendo
em vista o exposto acima, o objetivo desse trabalho é identificar patologias nas edificações
residenciais da cidade de Pinheiros/ES, verificando se as mesmas estão associadas à inexistência
das atividades de manutenção. Dentre os procedimentos metodológicos adotados encontra-se a
revisão de literatura (qualitativa e quantitativa) e para o levantamento de campo o foi utilizado o
método walkthrough. Os dados obtidos foram organizados em planilhas eletrônicas e
posteriormente analisados. As análises mostraram, entre outras coisas, que apenas 4% das
edificações analisadas possuem plano de manutenção e a maior parte das reclamações dos
moradores diz respeito à qualidade dos serviços de manutenção prestados. Sendo que a
manutenção preventiva um dos meios mais eficientes estender a vida útil das edificações e
reduzir o número de manifestações patológicas que as edificações possam apresentar.
Palavras-chave: Patologias em edificações. Manutenção de edificações. Residências.
ABSTRACT
The current search for cost savings in buildings often forces the choice of quality materials
lower and / or hiring low skilled professionals for both the design phase and for the execution of
the work phase, culminating in the appearance of pathological manifestations. Pathologies in
construction can be understood as the damage occurred in buildings that are manifested in
various ways such as fissures, cracks, cracks, leaks, humidity, detachment, frames oxidation,
mold, blistering, leaching, among others. Buildings of all types and regions are subject to
present these types of events, as is the case of residential buildings the Pinheiros-ES
municipality. In view of the above, the objective of this work is to identify pathologies in
residential buildings in the town of Pinheiros-ES, checking whether they are associated with
lack of maintenance activities. Among the methodological procedures used is the literature
review (qualitative and quantitative) and the field survey was used the walkthrough method.
Data were organized in spreadsheets and later analyzed. The analysis showed, among other
things, that only 4% of the analyzed buildings have maintenance plan and most of the
complaints of the residents concerns the quality of maintenance services provided. Since
preventive maintenance one of the most effective ways to extend the useful life of buildings and
reduce the number of pathological manifestations that buildings may present.
keywords: Pathologies in buildings. Maintenance of buildings. Residences.
Graduanda em Engenharia Civil – Faculdade Capixaba de Nova Venécia.
Mestre em Engenharia Civil - Universidade Federal de Viçosa. Graduado em Arquitetura e Urbanismo –
Universidade Federal de Viçosa.
10
Mestre em Engenharia Civil - Universidade Federal de Viçosa. Graduado em Engenharia Civil – Universidade
Federal de Viçosa.
8
9
42
1 INTRODUÇÃO
Desde que o homem começou a construir as edificações já apresentavam manifestações
patologias, porem suas origens não eram conhecidas. Com a evolução das técnicas construtivas
essas manifestações não desapareceram, mas passaram a ser identificadas e corrigidas. Com o
recente aquecimento do mercado e o avanço acelerado da construção civil os problemas com
relação às patologias começaram a surgir com maior frequência e mais precocemente. A busca
por reduções de custo na construção muitas vezes coloca em segundo plano o uso de materiais
de qualidade e a contratação de profissionais qualificados tanto para a fase de projeto como para
a fase de execução da obra. Esse quadro traz sérios reflexos no número de manifestações
patologias apresentado nas edificações.
Conforme Helene et al (2004) “a patologia pode ser entendida como a ciência que se encarrega
de entender e estudar os problemas da construção civil: suas origens, suas causas, suas
manifestações e o mecanismo principal de deterioração.” As patologias podem ocorrer devido a
falhas de projeto, de execução e de utilização, uso de materiais de qualidade inferior e falta de
manutenção.
Atualmente, com o desenvolvimento do conceito de desempenho dentro do contexto da
construção civil, o mercado voltou seus olhos para a qualidade das construções. Por
consequência, as manifestações patológicas na fase de uso começam a ser compreendidas e
passam a ser estudadas em busca de soluções. O estudo das manifestações patológicas deve
compreender o diagnóstico, tratamento e manutenção planejada. O tratamento na Engenharia é o
conjunto de operações com finalidade de redução e/ou eliminação total das patologias
existentes.
O entendimento básico do que é patologia em edificações é necessário para todos os agentes
envolvidos no mercado da construção civil e até mesmo para os que irão usufruir desta obra.
Segundo Verçoza (1991), quando se tem conhecimento dos problemas que uma construção pode
vir a exibir e suas origens, a possibilidade de errar é menor. A vida útil de uma construção
depende da cautela e cuidados na fase de projeto, execução e na sua manutenção.
Apesar de se tratar de um assunto de grande importância para extensão da vida útil das
edificações e conforto dos usuários, estudos relacionados com manifestações patológicas em
edificações ainda são incipientes. São encontrados na literatura poucos trabalhos como o
desenvolvido por Dardengo (2010) que trata da identificação de patologias e proposição de
diretrizes de manutenção preventiva em edifícios residenciais multifamiliares da cidade de
Viçosa – MG. Outro trabalho pioneiro foi desenvolvido por Lapa (2008) que tem com assunto
específico o estudo e reparo de patologias em estruturas de concreto.
Trabalhos como os citados são inciativas louváveis que contribuem em muito para o
desenvolvimento dessa linha de pesquisa e também contribuem de forma prática para a redução
e reparo de patologias nas construções.
Levando em consideração a problemática exposta estudos acerca das manifestações patológicas
em edificações são de suma importância para garantir o bom desempenho dessas edificações na
fase de uso e para desenvolvimento de planos de manutenção periódica. No entanto, como
citado estudos a esse respeito ainda são escassos principalmente quando focados edificações
localizadas em cidades de pequeno porte com o município de Pinheiros/ES.
Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo identificar as patologias mais comuns nas
edificações residenciais da cidade de Pinheiros/ES, verificando se as mesmas estão associadas à
inexistência das atividades de manutenção ou a outro fator.
43
2 PATOLOGIAS EM EDIFICAÇÕES
Quando se pretende que um produto atinja o nível de qualidade desejado, deve-se garantir que o
mesmo tenha conformidade com os requisitos de satisfação do cliente a um preço aceitável.
O surgimento de problemas patológicos em dada estrutura indica, em última instância e de
maneira geral, a existência de uma ou mais falhas durante uma das etapas da construção, além
de apontar para falhas também no sistema de controle de qualidade próprio a uma ou mais
atividades.
Patologias em edificações podem ser compreendidas como falhas nas construções que podem
ocorrer tanto nos detalhes mais simples como nos mais complexos. Segundo Ripper e Souza
(2009), a patologia na construção civil pode ser entendida como o baixo ou fim do desempenho
da estrutura em si, no que diz respeito à estabilidade, estética, servicibilidade, e principalmente,
durabilidade da mesma em relação às condições a que está submetida.
As causas das patologias podem ser as mais diversas, desde o envelhecimento “natural” da
estrutura até os acidentais, não se esquecendo da possibilidade de alguns profissionais
irresponsáveis que utilizam de materiais fora da especificação ou de má qualidade.
O conceito de qualidade em edificações pode ser compreendido como o atendimento a critérios
que satisfazem as necessidades dos clientes. Feigenbaun (1986) afirma que qualidade é a união
das características de “marketing”, engenharia, fabricação e manutenção de um produto ou
serviço, através das quais o produto ou serviço atenderá as expectativas do cliente.
Segundo Melhado (2006), com a recente demanda da qualidade na construção civil ficou
explicito que o método de projeto transfigura-se um fator importante na cadeia produtiva. De
mais a mais uma ferramenta de decisão acerca de aptidão do produto final, o projeto interfere
diretamente nos resultados econômicos e na eficiência do processo. Decisões tomadas nas fases
iniciais tem enorme influência na diminuição das despesas e das falhas na edificação.
O edifício deve ter a durabilidade e o desempenho necessários de forma que o mesmo seja
adequado ao público que irá utiliza-lo, visto que a visão do usuário é de primordial importância
para se diagnosticar as patologias e identificar suas causas (CARVALHO, 1998).
Patologias podem ocorrer devido a falhas de projeto, de execução, de utilização, de manutenção
e uso de materiais de baixa qualidade. Sendo que os maiores problemas de patologia são
decorrentes do Projeto e da Execução conforme mostra o Erro! A origem da referência não
foi encontrada..
Gráfico 1 - Origens das patologias
44
Fonte: Adaptado de MESEGUER, 1991.
As principais causas das patologias estão apresentadas na Erro! A origem da referência não
foi encontrada..
Figura 2 - Causas das patologias
Sendo que as patologias congênitas ocorrem devido à concepção inadequada e erros de projeto.
Como consequências têm-se fissuras, desagregação, ruptura e colapso. As patologia executivas
ocorrem devido à ausência de mão de obra qualificada ou materiais e métodos construtivos
inadequados. Como consequências têm-se concentração de tensões, rupturas, porosidade,
desgaste do concreto e corrosão. As patologias acidentais ocorrem devido à ação da natureza
como ventos fortes, terremotos, recalques e incêndios. As patologia adquirida por sua vez
ocorrem devido fenômenos térmicos e utilização inadequada. Tendo como consequência a
desagregação do concreto, redução da seção do aço, rupturas e colapso.
3 METODOLOGIA
Os procedimentos metodológicos adotados na primeira parte do trabalho tiveram como base a
pesquisa bibliográfica (qualitativa e quantitativa) sobre patologias nas edificações.
Em um segundo momento foi feita uma pesquisa de campo. O levantamento de campo foi feito
através do método walkthrough. O walkthrough é um método de análise que combina com a
observação é uma entrevista. O percurso falado envolvendo todos os ambientes, registrado por
fotografias, gravações, filmagens, facilita a observação do entrevistador de forma com que se
familiarizem com a edificação, com seu estado de conservação e com seus usos.
“O Walkthrough é bastante útil para identificar as principais qualidades e defeitos de
um determinado ambiente construído e de seu uso. Sua realização permite identificar,
descrever e hierarquizar quais aspectos deste ambiente ou de seu uso merecem estudos
mais aprofundados e quais técnicas e instrumentos devem ser utilizados. Além disso,
esse método também permite identificar as falhas, os problemas e os aspectos positivos
do ambiente analisado”. (RHEINGANTZ et al., 2009).
Durante o walkthrough, são feitos questionamentos que geram anotações e esclarecimentos no
que se refere à residência, as suas características, sobre sua operação. Além disso, o registro
fotográfico ajuda identificar a localização do problema facilitando a posterior análise.
No início da aplicação do walkthrough em cada edificação foi feita uma explanação sobre o que
45
são patologias em edificações e sobre os principais tipos de patologias. Um questionário foi
utilizado para orientar as perguntas. O mesmo é composto de 29 (vinte e nove) questões que
indagam sobre idade da edificação, perfil predominante dos residentes, avaliação de patologias
existentes, manutenção do edifício, dentre outras.
As edificações selecionadas para participar da amostra foram casas residenciais unifamiliar, ao
todo foram analisadas 30 (trinta) edificações. Foram selecionadas edificações de 10 (dez)
bairros da cidade de Pinheiros, sendo eles: Centro, Vila Verde, Nova Canaã, Canário, Nova
Galiléia, Jundiá, Morada dos Pinhos, Santo Antônio, Niterói, Vila Nova. Também houve a
preocupação de se selecionar unidades habitacionais com vários padrões de acabamento sendo
10 (dez) de padrão baixo, 16 (dezesseis) de padrão médio e 4 (quatro) de padrão alto. Nesse
artigo definisse como padrão baixo: casas populares, com um banheiro, sem revestimento
cerâmico, paredes inacabadas e/ou sem pintura, como padrão médio: casas com até dois
banheiros revestido com cerâmica, paredes pintadas, como padrão alto: casas com mais de dois
banheiros.
A fase de levantamento de campo teve uma duração de 15 (quinze) dias. Os walkthrough foram
aplicados em dias úteis durante o horário comercial 15:00 h às 17:00 h. O método foi aplicado
apenas a um morador por residência. Durante a aplicação do walkthrough os pesquisadores e o
usuário da edificação circulavam por cada ambiente.
Posteriormente os dados obtidos foram organizados em tabelas eletrônicas as quais facilitaram o
cruzamento das informações a fim de encontrar padrões que ajudem a entender como ocorrem
os problemas patológicos e a manutenção. As edificações foram separadas de acordo com o
padrão construtivo visando à organização das análises e conclusões.
46
4 ANÁLISE E RESULTADOS
Através da análise dos dados coletados no levantamento foi possível identificar alguns
parâmetros recorrentes. Confrontando os dados obtidos na pergunta ‘De que forma o
condomínio realiza os serviços de manutenção?’
Conforme expõe o Gráfico 2:
Gráfico 2 - Manutenção das edificações
Constatou-se que o padrão construtivo das edificações estudadas contraria a hipótese inicial, de
que os usuários das edificações com padrão construtivo baixo realizavam os serviços de
manutenção através de mão de obra própria, 30% dos moradores desse padrão contratam
serviços de terceiros para todos os serviços, e outros 30% contratam serviços de terceiros apenas
para alguns serviços.
Também foi possível identificar que os moradores de edificações com padrão construtivo alto
são mais exigentes quanto ao desempenho das edificações em que moram. Em consequência
disso os mesmos apresentaram 30% a mais de reclamações que moradores de edificações com
padrão construtivo baixo e fazem mais solicitações de serviços, que são facilitadas em função do
maior poder aquisitivo.
47
Gráfico 3 - Problemas enfrentados pelos moradores de edificação de padrão baixo
Em contrapartida conforme apresentado no Gráfico 3 o principal problema enfrentado pelos
moradores de edificações de padrão baixo para executar serviços de reparo em suas casas é a
falta de recursos financeiros. No entanto, em todas as unidades habitacionais de padrão baixo
analisadas não apresentavam patologias aparentes na sua fachada principal o que demostram
certa preocupação dos moradores com a aparência estética de suas casas.
Quanto aos planos periódicos de manutenção foi constatado que 80% dos entrevistados só
realizam a substituição de um componente quanto o mesmo apresenta um defeito que inviabiliza
a sua utilização. Apenas 4% das pessoas possui plano de manutenção e a maior parte das
reclamações dos moradores diz respeito à qualidade dos serviços de manutenção prestados.
Além disso, foi constatado que as edificações mais velhas têm maior número de patologias se
comparadas as edificações mais novas. Isso é reflexo da falta de manutenção periódica.
Gráfico 4 - Patologias em edificações alugadas
48
Todas as edificações que se encontravam alugadas possuem algum tipo de patologia sendo que
as patologias mais presentes são as Fissuras, Trincas e Infiltrações, conforme análise no Gráfico
4. Quanto às edificações que são ocupadas pelos proprietários 83% apresentavam patologias.
Isso indica que essas edificações sofrem manutenções mais recorrentes. No entanto, são
necessários maiores estudos a esse respeito.
É possível visualizar no Gráfico 5 o panorama geral das patologias mais encontradas nas
edificações analisadas. Nota-se que a patologia mais recorrente nas edificações analisadas são
Fissuras e Trincas, seguido de Infiltrações em geral.
Obs. Foram analisadas 30 edificações.
Gráfico 5 - Patologias encontradas mas residências analisadas
49
5 CONCLUSÕES
Importante aspecto inicial para a realização deste trabalho de pesquisa foi o processo de
levantamento e estudo do disponível na literatura sobre as principais manifestações patológicas
em edificações.
A adoção no trabalho de campo do método Walkthrough foi útil para identificar as principais
manifestações patológicas das edificações analisadas e ainda obter dos moradores outros
aspectos relevantes para o tema proposto.
Do capítulo de análises e resultados pode-se concluir que as patologias mais presente nas
edificações analisadas foram fissuras e tricas. Os moradores das edificações com padrão
construtivo alto são mais exigentes e fazem mais solicitações de serviços. Quanto aos moradores
de edificações de padrão baixo, esses utilizam um menor número de vezes a mão de obra
própria para fazer reparos contratando terceiros para realizar serviços de manutenção. No
entanto, são necessários estudos adicionais a fim de esclarecer os motivos dessa opção de
contratação de terceiros, uma vez que o uso de mão de obra própria pode ser uma estratégia de
redução de gastos. Também foi constatado que apenas uma pequena parte dos moradores tem
um plano de manutenção da edificação o que justifica o grande número de manifestações
patológicas encontradas nas edificações analisadas.
No decorrer do trabalho também foi possível concluir que o meio mais eficiente de diminuir o
número de manifestações patológicas na fase de utilização das edificações é evitar erros durante
as fazes iniciais de planejamento, projeto e execução. Entretanto, um plano de manutenção
periódica colabora para diminuir os gastos com reparos maiores, estender a vida útil dessas
edificações e reduzir o número de manifestações patológicas que a edificação possa apresentar.
50
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51
A IMPORTÂNCIA DA MANUTENÇÃO INDUSTRIAL NO SISTEMA PRODUTIVO DA
EMPRESA VENEZA – COOPERATIVA AGROPECUÁRIA DO NORTE DO ESPÍRITO
SANTO
Ádamo Ozório Barros Rocha115
Luiz Gustavo Gobbi Firmino126
Marcelo Piovezan Calegari137
Olivia Nascimento Boldrini148
Yuri Rodrigues De Souza159
RESUMO
O desenvolvimento deste estudo buscou verificar a importância da manutenção industrial no
sistema produtivo da empresa Veneza – Cooperativa Agropecuária do Norte do Espírito Santo
localizada no município de Nova Venécia - ES. Para isso, foi realizado um estudo de caso na
empresa e aplicada uma entrevista ao gestor para obtenção de informações relevantes. Esse
estudo proporcionou como resultado que a manutenção industrial é de extrema importância para
a redução de falhas no sistema produtivo, que geram custos desnecessários e podem ocasionar
uma desvantagem competitiva, sendo que para a produção acontecer sem interrupções, é preciso
um planejamento adequado. A manutenção industrial precisa ser vista como uma atividade
essencial para o bom funcionamento do processo produtivo, visto que a manutenção moderna
não existe somente para reparar falhas de equipamentos, mas sim para evitar que as falhas
aconteçam. A manutenção, quando bem planejada, funciona como uma estratégia que pode gerar
bons resultados em relação ao desenvolvimento industrial e colocar a empresa em uma posição
vantajosa em relação à concorrência.
PALAVRAS-CHAVE: Custos. Falhas. Planejamento.
ABSTRACT
The development of this study looked at the importance of industrial maintenance in the
production system of the company Venice - Agricultural Cooperative of Northern Spirit in the
municipality of Nova Venecia - ES. For this, a case study was conducted in the company and
applied an interview the manager to obtain relevant information. This study yielded the result
that the industrial maintenance is extremely important for reducing glitches in the production
system, which generates unnecessary costs and may result in a competitive disadvantage, and
for the production happen seamlessly, it takes proper planning. The industrial maintenance
needs to be seen as essential to the smooth operation of the production process activity, since
there is not only modern maintenance to repair equipment failures, but rather to prevent failures
from happening. The maintenance when well planned, works as a strategy that can generate
good results in relation to industrial development and put the company in an advantageous
position relative to competition.
KEY-WORDS: Costs. Failures. Planning.
11
Graduado em Engenharia de Produção pela Faculdade Capixaba de Nova Venécia - MULTIVIX
Graduado em Engenharia de Produção pela Faculdade Capixaba de Nova Venécia - MULTIVIX
13
Graduado em Engenharia de Produção pela Faculdade Capixaba de Nova Venécia - MULTIVIX
14
Especialista em Gestão de Recursos Humanos – MULTIVIX. Graduada em Engenharia de Produção –
Universidade Federal do Espírito Santo
15
Graduando em Engenharia de Produção pela Faculdade Capixaba de Nova Venécia - MULTIVIX
12
52
1 INTRODUÇÃO
Diante dos novos desafios que se apresentam para as empresas no cenário de uma economia
globalizada e altamente competitiva, onde as mudanças se sucedem em alta velocidade, a
manutenção industrial passa a ser vista como uma das atividades fundamentais do processo
produtivo.
É indispensável que as empresas sejam cada vez mais produtivas, necessitando de uma maior
disponibilidade dos equipamentos, existindo menos tempo para reparos nas máquinas. Dessa
forma, como as operações são contínuas, a manutenção precisa criar estratégias para garantir que
as máquinas trabalhem dentro de um determinado padrão de eficiência.
Para Moubray (1996), a manutenção tem procurado novos modos de pensar, técnicos e
administrativos, já que as novas exigências de mercado tornaram visíveis as limitações dos
atuais sistemas de gestão.
Assim, a manutenção industrial é vista com uma função complexa, sendo preciso o
desenvolvimento de abordagens inovadoras no que diz respeito a estratégia de manutenção.
Gerenciar adequadamente os modernos meios de produção demanda conhecimentos de sistemas
de planejamento e execução que sejam eficazes e economicamente viáveis, visto que a crescente
competitividade das empresas exige que se procure firmemente a maior eficiência do sistema
produtivo. Dessa forma, tem-se a necessidade de pensar e agir estrategicamente para que as
atividades de manutenção ocorram de maneira eficaz no processo produtivo, contribuindo para
que a empresa caminhe rumo a excelência.
Nesse cenário não existem mais improvisos, a condução moderna dos negócios requer uma
mudança de mentalidade e de posturas, onde as empresas precisam estar sustentadas em uma
visão de futuro regida por processos de gestão onde a satisfação de seus clientes seja resultante
da qualidade dos seus processos produtivos visando reduzir falhas que possam ocorrer, ou seja, a
manutenção precisa estar voltada para os resultados empresariais de uma organização.
Diante disso, justifica-se a escolha do tema devido a importância de estudar a manutenção
industrial no sistema produtivo de uma empresa, pois percebe-se a necessidade de uma gestão da
manutenção de forma planejada, visando manter a disponibilidade do equipamento para a
operação, reduzindo a probabilidade de falhas que possam provocar uma parada de produção, e
consequentemente gerar custos desnecessários.
Diante do exposto, o presente trabalho buscou identificar qual a importância da manutenção
industrial no sistema produtivo da empresa Veneza – Cooperativa Agropecuária do Norte do
Espírito Santo localizada no município de Nova Venécia?
Diante do problema, tem-se como objetivo verificar a importância da manutenção industrial no
sistema produtivo da empresa em estudo, onde buscou-se identificar os tipos de manutenção
industrial utilizados e estudar como ocorre o planejamento da manutenção visando reduzir falhas
e custos no processo produtivo.
1.1 METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada através de um estudo de caso, visto que a empresa estudada trata-se de
uma indústria de laticínios, onde seu processo produtivo é automatizado, possuindo muitos
maquinários e equipamentos, sendo preciso um estudo mais amplo e detalhado sobre como
ocorre a manutenção.
A coleta dos dados foi realizada através de entrevista com o gestor, onde foram obtidas
informações relevantes para o entendimento do processo de manutenção na empresa.
53
A escolha da empresa deu-se pela grande variedade de processos produtivos existentes e pela
facilidade de acesso a mesma, visto que suas instalações se encontram no município de Nova
Venécia.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 SISTEMA PRODUTIVO
Segundo Moreira (2002), sistema de produção é um conjunto de operações e atividades que são
inter-relacionadas e estão envolvidas na produção de bens ou serviços.
As empresas geralmente são estudadas como um sistema que transforma, via um processamento,
entradas (insumos) em saídas (produtos) úteis aos clientes. Esse sistema é chamado de sistema
produtivo (TUBINO, 2009).
Dessa forma, entende-se que o sistema produtivo envolve todas as atividades ou processos de
produção de bens ou serviços que trabalham em sinergia.
Tubino (2009) afirma que para que um sistema produtivo transforme insumos em produtos, ele
precisa ser bem pensado em termos de prazos, sendo preciso planos para que ao final dos prazos,
os eventos planejados venham a se tornar realizar.
Sendo assim, dentro desses planos deve estar o planejamento da manutenção industrial, visto
que para seguir os prazos sem contratempos, todos os equipamentos e maquinário precisam estar
em funcionamento adequado para as suas atividades.
2.1.1 Função Produção
A função produção é a que agrega competitividade a empresa ao fornecer a habilidade de
resposta aos consumidores e ao desenvolver as capacitações que a colocarão a frente dos
concorrentes no futuro (SLACK; CHAMBERS; JONHSTON, 2009).
Segundo Slack, Chambers e Jonhston (1997), se a função produção for eficaz, a empresa precisa
usar eficazmente seus recursos e produzir bens e serviços de modo que satisfaça a seus
consumidores. Além disso, deve ser criativa, inovadora e vigorosa para introduzir novas e
melhoradas formas de produzir. Se a produção puder fazer isso, ela proporcionará à organização
os meios de sobrevivência a longo prazo, pois dá a ela uma vantagem competitiva sobre seus
concorrentes. A função produção na organização representa o agrupamento de recursos
destinados à produção de seus bens e serviços. Toda organização possui uma função produção,
visto que produz algum tipo de bem e/ou serviço.
Assim, se a produção da empresa for bem trabalhada, referente a utilização de recursos para
produzir os bens ou serviços de forma inovadora, poderá gerar vantagem competitiva para a
organização.
2.2 DEFINIÇÃO DE MANUTENÇÃO
Manutenção é toda ação realizada em um equipamento, conjunto de peças, componentes,
dispositivos, circuitos ou estruturas que se esteja controlando, mantendo ou restaurando, a fim
de que o mesmo permaneça em operação ou retorne a função requerida, ou seja, o conjunto de
condições de funcionamento para o qual o equipamento foi projetado, fabricado ou instalado. O
equipamento deve desempenhar sua função requerida com segurança e eficiência, considerando
as condições operativas, econômicas e ambientais (BLACK, 1991).
54
Por sua vez, Tavares (1999) define manutenção como toda e qualquer ação necessária para que
um item (equipamento, obra ou instalação) seja conservado ou restaurado, de modo a
permanecer operando de acordo com as condições especificadas.
Diminuir as paradas de produção decorrentes de falha ou anormalidade de desempenho, segundo
Kardec e Nascif (1999), se faz necessária porque mantêm os equipamentos em ótimo estado de
conservação e evita os custos decorrentes de paradas da produção por falha nos equipamentos.
De acordo com Kardec, Arcuri e Cabral (2009, p. 23), a missão da manutenção é “garantir a
disponibilidade da função dos equipamentos e instalações de modo a atender a um processo de
produção ou de serviço, com confiabilidade, segurança, preservação do meio ambiente e custos
adequados”.
Assim, a manutenção é vista como uma atividade desenvolvida para conservar o equipamento
ou outros bens em condições que irão apoiar melhor as metas da organização.
Xenos (1998) afirma que as atividades de manutenção existem para evitar a degradação natural
ou não de quaisquer equipamentos ou instalações. Esses desgastes se manifestam de diversas
formas, desde a má aparência, perdas parciais e até perda total das funções requeridas, causando
paradas de produção, perda da qualidade dos produtos ou serviços, poluição e desastres
ambientais. Como essa área tem uma forte relação com os setores produtivos, principalmente
quanto à qualidade e produtividade, ela acaba desempenhando um papel estratégico fundamental
na melhoria dos resultados operacionais e financeiros dos negócios.
É evidente o desconhecimento da atividade da manutenção, o que leva muitas pessoas a
subestimar sua importância em um processo industrial, principalmente em indústrias de
processamento contínuo. Usualmente, quando se fala em qualidade, logo se pensa em atuar junto
a operação dos processos industriais. Poucos conseguem entender o quando a manutenção esta
pesadamente envolvida com o processo, via disponibilidade e confiabilidade dos equipamentos.
Algumas fábricas perceberam logo a grande importância da manutenção (VERRI, 2012).
Dessa forma, percebe-se que as empresas precisam buscar mais informações sobre a atividade
da manutenção, para que o processo produtivo ocorra sem interrupções, visto que as atividades
de manutenção estão diretamente ligadas ao desempenho do processo produtivo, precisando
assim, desempenhar um papel estratégico para a melhoria dos resultados na empresa.
2.3 TIPOS DE MANUTENÇÃO
Algumas práticas básicas definem os tipos principais de manutenção que são:
 Manutenção Corretiva não-Planejada;
 Manutenção Corretiva Planejada;
 Manutenção Preventiva;
 Manutenção Preditiva;
 Manutenção Detectiva;
 Engenharia de Manutenção (KARDEC; NASCIF, 1999).
2.3.1 Manutenção Corretiva
Ação corretiva é a função do controle através da qual as providências são tomadas para eliminar
as variâncias significativas entre o desempenho atual e o desempenho planejado. Visa corrigir os
desvios observados em relação ao padrão ou eliminá-los a fim de que o trabalho possa continuar
(CHIAVENATO, 2007).
55
Na NBR 5462 (apud KARDEC; NASCIF, 2013, p. 55) diz que a manutenção corretiva é “a
manutenção efetuada após a ocorrência de uma pane ou de uma falha destinada a recolocar um
item em condições de executar uma função requerida”.
Kardec e Nascif (2013) afirmam que ao atuar em um equipamento que apresenta defeito ou
desempenho diferente do esperado, esta se fazendo uma manutenção corretiva. Assim, a
manutenção corretiva não é, necessariamente, manutenção de emergência.
A manutenção corretiva visa corrigir, restaurar e recuperar a capacidade produtiva de um
equipamento ou instalação que tenha diminuído ou parado sua capacidade de exercer as funções
para as quais foi projetado (MARTINS; LAUGENI, 2012).
Existem duas condições específicas que levam à manutenção corretiva, conforme Kardec e
Nascif (2013): desempenho deficiente apontado pelo acompanhamento das variáveis
operacionais ou de funcionamento do equipamento; ou ocorrência da falha.
2.3.1.1 Manutenção Corretiva Não Planejada
A manutenção corretiva não planejada caracteriza-se pela atuação da manutenção em fato que já
ocorreu, seja por uma falha ou um desempenho menor do que o esperado. Não há tempo para
preparação do serviço ou não se faz planejamento. Infelizmente, ainda é mais praticada do que
deveria (KARDEC; NASCIF, 2013).
Segundo Kardec e Nascif (2013), esse tipo de manutenção normalmente implica altos custos,
pois a quebra inesperada pode acarretar perdas de produção, perda de qualidade do produto e
elevados custos indiretos de manutenção, além de poder afetar a segurança e o meio ambiente.
Quando o percentual da manutenção corretiva não planejada é maior que os outros tipos,
certamente, o departamento de manutenção é comandado pelos equipamentos e o desempenho
empresarial da organização não está adequado às necessidades da competitividade atuais
(KARDEC; NASCIF, 2013).
2.3.1.2 Manutenção Corretiva Planejada
A manutenção corretiva planejada compreende a ação de correção do desempenho menor do que
o esperado baseado no acompanhamento dos parâmetros de condição e diagnóstico levados a
efeito pela manutenção preditiva (KARDEC; NASCIF, 2013).
A adoção de uma política de manutenção corretiva planejada pode advir de vários fatores:
 Possibilidade de compartilhar a necessidade da intervenção com os interesses da produção;
 Aspectos relacionados com a segurança. A falha não provoca qualquer situação de risco para
o pessoal ou para a instalação;
 Melhor planejamento de serviços;
 Garantia de existência de sobressalentes, equipamentos e ferramental;
 Existência de recursos humanos com a tecnologia necessária para a execução dos serviços e
em quantidade suficiente, que podem, inclusive, ser buscados externamente à organização
(KARDEC; NASCIF, 2013).
Kardec e Nascif (1999) esclarecem que este tipo de manutenção depende da qualidade da
informação fornecida pelo acompanhamento preditivo e possibilita um planejamento para a
execução das tarefas, de forma que os custos podem ser minimizados, uma vez que estamos
esperando a falha ou a perda de rendimento do equipamento.
56
2.3.2 Manutenção Preventiva
Para a NBR 5462 (apud KARDEC; NASCIF, 2013, p. 59) a manutenção preventiva é “a
manutenção efetuada em intervalos predeterminados, ou de acordo com critérios prescritos,
destinada a reduzir a probabilidade de falha ou a degradação do funcionamento de um item”.
Por sua vez, Martins e Laugeni (2012) afirmam que a manutenção preventiva consiste em
executar uma série de trabalhos segundo uma programação preestabelecida. Este tipo de
manutenção exige, acima de tudo, muita disciplina. Citam algumas vantagens da manutenção
preventiva: aumenta a vida útil dos equipamentos; reduz custos, mesmo em curto prazo; diminui
as interrupções do fluxo produtivo; cria uma mentalidade preventiva na empresa; é programada
para os horários mais convenientes; melhora a qualidade dos produtos, por manter condições
operacionais dos equipamentos.
Kardec e Nascif (1999) tratam a manutenção preventiva como uma atuação realizada que visa
reduzir ou evitar, tanto a falha quanto a queda de desempenho, obedecendo a um plano
estratégico previamente elaborado, e baseado em intervalos de tempo definidos.
Os fatores abaixo devem ser levados em consideração para a adoção de uma política de
manutenção preventiva:
 Quando não é possível a manutenção preditiva.
 Quando existem aspectos relacionados com a segurança pessoal ou da instalação que tornam
imprescindível a intervenção, normalmente para substituição de componentes.
 Por oportunidade, em equipamentos cruciais de difícil liberação operacional.
 Quando houver risco de agressão ao meio ambiente.
 Em sistemas complexos e/ou de operação contínua (KARDEC, NASCIF, 2013).
A manutenção preventiva será mais conveniente quanto maior for a simplicidade na reposição;
quanto mais altos forem os custos de falhas; quanto mais as falhas prejudicarem a produção e
quanto maiores forem as implicações das falhas na segurança pessoal, operacional e ambiental
(KARDEC; NASCIF, 2013).
Para Black (1991), a manutenção preventiva é uma tarefa que projeta e aumenta a confiabilidade
do equipamento. Sua programação deve ser designada ao engenheiro de produção, mantendo um
alto nível de flexibilidade em blocos de tempo ou nos finais de semana, para não interferir na
produtividade da empresa. Alguns inconvenientes podem surgir caso não haja uma manutenção
preventiva eficiente, tais como:
 Perder tempo da produção devido a quebras de equipamento;
 Redução da vida útil do equipamento;
 Acidentes relacionados com segurança devido ao mau funcionamento do equipamento;
 Variação da qualidade do produto.
Conforme Black (1991), um programa cuidadosamente projetado e propriamente integrado
requer uma atitude administrativa positiva, que irá estabelecer um programa de sucesso com
benefícios a longo prazo, tais como:
 O operador terá maior conhecimento de seu equipamento, sua operação e funcionamento,
tendo maior responsabilidade pelo mesmo;
 Os processos estarão controlados por registros de máquinas e ferramentas da Manutenção
Preventiva, melhorando sua qualidade;
 A qualidade, flexibilidade, segurança, confiabilidade e capacidade de produção são
melhoradas;
 Equipamento confiável permite a redução do estoque.
57
Ao longo da vida útil do equipamento não pode ser descartada a ocorrência de falha entre duas
intervenções preventivas, o que implica em uma ação corretiva (KARDEC; NASCIF, 1999).
2.3.3 Manutenção Preditiva
A manutenção preditiva é a manutenção realizada com base na alteração de parâmetros de
condição ou desempenho, cujo acompanhamento obedece a uma sistemática. Através de técnicas
preditivas é feito o monitoramento da condição e a ação de correção. Quando necessária, é
realizada através de uma manutenção corretiva planejada (KARDEC; NASCIF, 2013).
A manutenção preditiva visa realizar manutenção somente quando as instalações precisarem
dela. Essa manutenção pode incluir monitoramentos contínuos que serviriam de base para uma
eventual programação (SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2002).
Segundo Martins e Laugeni (2012), a manutenção preditiva consiste em monitorar certos
parâmetros ou condições de equipamentos e instalações de modo a antecipar a identificação de
um futuro problema.
Kardec e Nascif (1999) complementam que a manutenção preditiva é feita pelo
acompanhamento das funções do equipamento, sendo esta a primeira grande quebra de
paradigma na manutenção. Com esse acompanhamento é possível predizer as condições dos
equipamentos e assim decidir o período correto para a realização de uma manutenção corretiva
planejada.
As condições básicas para se adotar a manutenção preditiva são as seguintes:
 O equipamento, o sistema ou a instalação devem permitir algum tipo de
monitoramente/medição.
 O equipamento, o sistema ou a instalação devem merecer esse tipo de ação.
 As falhas devem ser originárias de causas que possam ser monitoradas e ter sua progressão
acompanhada.
 Seja estabelecido um programa sistematizado de acompanhamento, análise e diagnóstico
(KARDEC; NASCIF, 2013).
2.3.4 Manutenção Detectiva
Segundo Kardec e Nascif (2013), a manutenção detectiva é a atuação efetuada em sistemas de
proteção, comando e controle, buscando detectar falhas ocultas ou não perceptíveis ao pessoal
de operação e manutenção. Kardec e Nascif (1999) complementam que na manutenção detectiva
os sistemas são projetados para atuar automaticamente na iminência de desvios que possam
comprometer as máquinas ou a produção.
Esse tipo de manutenção é representado pelas tarefas executadas para verificar se um sistema de
proteção ainda está funcionando. A identificação de falhas é primordial para garantir a
confiabilidade (KARDEC; NASCIF, 2013).
Esse conceito surgiu com as inovações produtivas realizadas pelos japoneses. Sua ideia está
baseada no principio de que os erros humanos são inevitáveis até certo grau, e que antes da
falha, dispositivos alertem uma operação incorreta (SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON,
2002).
2.3.5 Engenharia De Manutenção
A engenharia da manutenção é o suporte técnico da manutenção que se dedica a consolidar a
rotina e implantar a melhoria (KARDEC; NASCIF, 2013).
58
Kardec e Nascif (1999) definem engenharia de manutenção como um processo de mudança
cultural, onde é preciso deixar de ficar consertando continuamente, tentar alterar situações de
mau desempenho e melhorar padrões e sistemática. Nesta técnica desenvolvem-se métodos de
manutenção baseados em técnicas usadas em empresas de Primeiro Mundo, visando aumentar a
competitividade.
Para Kardec e Nascif (2013), a engenharia de manutenção significa fazer benchmarks, aplicar
técnicas modernas, estar nivelado com a manutenção do Primeiro Mundo.
Por sua vez, Black (1991) defende que copiar técnicas de outras empresas não é uma boa
estratégia. A empresa deve fazer pesquisas e desenvolver tecnologia de manufatura,
considerando desde o projeto até a seleção do equipamento a ser comprado.
Dentre as principais atribuições da engenharia de manutenção, segundo Kardec e Nascif (2013),
estão: aumentar a confiabilidade, aumentar a disponibilidade, melhorar a manutenibilidade,
aumentar a segurança, eliminar problemas crônicos, solucionar problemas tecnológicos,
melhorar a capacitação do pessoal, gerir materiais e sobressalentes, participar de novos projetos,
dar suporte a execução, fazer análise de falhas e estudos, elaborar planos de manutenção e de
inspeção e fazer sua análise crítica periódica, acompanhar os indicadores, zelar pela
documentação técnica.
2.4 MANUTENÇÃO PRODUTIVA TOTAL
A manutenção produtiva total objetiva a eficácia da empresa através de maior qualificação das
pessoas e melhoramentos introduzidos nos equipamentos. Também prepara e desenvolve
pessoas e organizações aptas para conduzir as fábricas do futuro, dotadas de automação
(KARDEC; NASCIF, 2013).
Para Martins e Laugeni (2012), a manutenção produtiva total vai muito além da uma forma de
fazer manutenção. É muito mais que uma filosofia gerencial, atuando na forma organizacional,
no comportamento das pessoas, na forma com que tratam os problemas, não só os de
manutenção, mas todos ligados diretamente ao processo produtivo.
Segundo Nakajima (apud VERRI, 2012), a manutenção produtiva total engloba aspectos como:
normalização, sistematização, administração, produtividade e qualidade, redução de custos,
diminuição dos acidentes de trabalho, meio ambiente e clima organizacional.
A manutenção produtiva total se apoia em três princípios fundamentais:
 Melhoria das pessoas, com treinamento do pessoal para atingir a multifuncionalidade;
 Melhoria dos equipamentos, onde todos os equipamentos podem e devem ser melhorados,
conseguindo assim, grandes ganhos de produtividade;
 Qualidade total, onde a implantação de um programa de manutenção produtiva total deve
caminhar paralelamente com a implantação de um programa de melhoria da qualidade e
produtividade (MARTINS; LAUGENI, 2012).
Dessa forma, entende-se que a aplicação da manutenção produtiva total busca aumentar a
qualidade e a produtividade das indústrias.
2.5 PLANEJAMENTO DA MANUTENÇÃO INDUSTRIAL
Planejar é entender como a situação presente e a visão de futuro conjuntamente influenciam as
decisões tomadas no presente para que se atinjam determinados objetivos no futuro (CORREA;
GIANES; CAON, 2001). Assim, planejar é projetar um futuro diferente do passado, por causas
sobre as quais se tem controle.
59
A manutenção industrial, quando não considerada uma atividade nobre dentro de uma
organização, normalmente passa a ser uma atividade custosa e ineficiente, o que pode fazer a
diferença entre uma empresa competitiva e outra não (VERRI, 2012).
Dessa forma, a manutenção precisa ser vista como uma atividade essencial para o processo
produtivo, necessitando de um planejamento estratégico adequado para sobressair diante da
concorrência.
Para Kardec e Nascif (2013), é importante estabelecer um planejamento estratégico que passa
pelas seguintes questões:
 Situação atual da manutenção, conhecendo o estágio que a manutenção se encontra;
 Visão de futuro, definindo metas que explicitam de maneira transparente quais são os
objetivos a serem buscados;
 Caminhos estratégicos, aplicando as melhores práticas dentro de um plano de ação.
A manutenção, para ser estratégica, precisa estar voltada para os resultados empresariais da
organização. É preciso deixar de ser apenas eficiente para se tornar eficaz, ou seja, não basta
apenas reparar o equipamento ou instalação tão rápido quanto possível, mas é preciso,
principalmente, manter a função do equipamento disponível para a operação reduzindo a
probabilidade de uma parada de produção ou o não fornecimento de um serviço (KARDEC;
ARCURI; CABRAL, 2009).
Kardec e Nascif (1999) complementam que a estratégia atual da manutenção é fazer com que o
trabalho dos funcionários da manutenção se restrinja a programações, e não mais a reparos
emergenciais, que o equipamento não pare durante um processo, que ele pare apenas nas
programações, e nesse intervalo de tempo ele opere em perfeitas condições.
A manutenção deve estar sempre em sintonia com os objetivos da organização, sendo preciso
um planejamento adequado para que atividades não sejam interrompidas durante um processo
produtivo.
Segundo Kardec, Arcuri e Cabral (2009), o gerenciamento estratégico da atividade de
manutenção consiste em ter a equipe atuando para evitar que ocorram falhas, e não manter esta
equipe atuando, apenas, na correção rápida destas falhas.
Dessa forma, o processo de manutenção industrial tem sua importância na obtenção dos
objetivos da organização, principalmente, aos relacionados com a estratégia de produção. O
alinhamento entre o processo de manutenção e os objetivos de produção pode ser atingido com
um planejamento adequado da manutenção.
2.6 PREVENÇÃO DE FALHAS
A manutenção moderna não existe somente para reparar falhas de equipamentos ou sistemas da
forma mais rápida possível, e sim para evitar falhas e risco de paradas de produção não
planejadas ou mesmo a ocorrência de um acidente pessoal ou ambiental (KARDEC; NASCIF,
2013).
Slack, Chambers e Johnston (2009) afirmam que as falhas na produção podem ocorrer por
diversos motivos, sendo que as falhas nas instalações são um desses motivos, visto que
máquinas, equipamentos e acessórios de uma operação têm probabilidade de quebrar ou sofrer
falhas, não conseguindo trabalhar com sua capacidade normal. Alternativamente, pode ser uma
interrupção total e repentina na produção. Os efeitos da paralisação é que são importantes.
Algumas panes podem parar uma grande parte da produção, outras falhas podem somente ter um
impacto significativo se ocorrem simultaneamente a outras falhas.
60
Segundo Verri (2012), a manutenção está pesadamente envolvida com o processo, via
disponibilidade e confiabilidade dos equipamentos. Pode-se dizer que a disponibilidade mede o
tempo médio em que a variedade de equipamentos de uma indústria está operável e confiável,
referido ao tempo total do período considerado. A disponibilidade depende da confiabilidade e
da mantenabilidade. Quando mais confiável for intrinsecamente o equipamento, menor a
probabilidade de falha, e portanto, maior a probabilidade de estar disponível pra a produção. A
manutenção pode aumentar a confiabilidade através do estudo detalhado e profundo de cada
falha, indo atrás das causas básicas e eliminando esta condição, que pode ser de projeto, de
material, de montagem ou da própria manutenção. Portanto a manutenção deve trabalhar para
diminuir cada vez mais os tempos de reparo. Deve-se trabalhar arduamente para que os tempos
entre falhas sejam cada vez maiores, mas também há que se estar preparado para uma rápida
recolocação em serviço em caso de quebra.
Para Slack, Chambers e Johnston (2009), há três formas de medir falhas: taxas de falhas: com
que frequência uma falha ocorre; confiabilidade: a probabilidade de uma falha ocorrer, e
disponibilidade: o período de tempo útil disponível para a operação.
Alguns produtos podem chegar ao mercado apresentando falhas devido a falta de manutenção
dos equipamentos. É preciso ter equipamentos que favoreçam o desempenho das funções, para
produzir um produto com qualidade.
2.7 CUSTOS DE MANUTENÇÃO
Um dos objetivos primordiais das estratégias empresariais na manutenção é a redução dos custos
(TAVARES, 1999).
Kardec e Nascif (2013) classificam os custos da manutenção em três grandes famílias, a saber:
 Custos diretos – são aqueles essenciais para manter os equipamentos em operação. Onde
estão inclusos a manutenção preventiva, inspeções regulares, manutenção preditiva, manutenção
detectiva, custo de reparos ou revisões e manutenção corretiva de uma maneira geral.
 Custos de perda de produção – são aqueles causados por perdas na produção. Como falha do
equipamento principal sem que o equipamento reserva, quando existir, estivesse disponível para
manter a unidade produzindo. E pela falha do equipamento, cuja causa determinante tenha sido
ação imprópria da manutenção ou da operação.
 Custos indiretos – são os custos relacionados com a estrutura gerencial e apoio
administrativo, custos com análise e estudos de melhoria, engenharia de manutenção e
supervisão. Entram custos com a aquisição de equipamentos, ferramenta e instrumentos da
manutenção.
É importante distinguir claramente os custos de manutenção dos investimentos com a compra de
equipamentos novos ou com a expansão de instalações existentes. Os custos de manutenção dos
equipamentos representam uma parcela dos custos de produção da organização (XENOS, 1998).
Xenos (1998) cita medidas desafiadoras, porém eficazes na redução dos custos de manutenção:
 Praticar a prevenção de manutenção;
 Melhorar continuamente os equipamentos e a manutenção;
 Rever as condições de operação dos equipamentos;
 Promover uma maior cooperação entre as equipes de manutenção e produção;
 Avaliar a possibilidade de substituir os equipamentos mais antigos por outros mais novos;
 Introduzir melhorias no processo de manutenção;
 Padronizar os equipamentos, seus componentes e peças;
 Considerar a possibilidade de terceirizar serviços;
 Melhorar a qualidade da compra de peças e materiais;
61




Evitar estoques excessivos de peças e materiais;
Trabalhar para reduzir as falhas dos equipamentos;
Controlar rigorosamente o orçamento de manutenção;
Promover o treinamento do pessoal de manutenção.
Ao se utilizar essas medidas, entende-se que as empresas conseguirão gerir com eficácia os
custos inerentes ao processo de produção.
3 ESTUDO DE CASO
3.1 HISTÓRICO DA EMPRESA
A empresa objeto desse estudo foi fundada por 17 produtores rurais no ano de 1953, sendo a
Cooperativa Agropecuária do Norte do Espírito Santo - que fabrica e comercializa os produtos
da marca Veneza – criada com o objetivo de sanar os problemas de comercialização de leite
numa região controlada pela pecuária de corte e buscando melhores condições econômicas e
sociais.
A marca Veneza surgiu em homenagem aos imigrantes italianos da cidade de Veneza (Itália),
que habitaram inicialmente o município de Nova Venécia. A marca foi registrada para
identificar os produtos da cooperativa, tornando-se conhecida de todos e presente em várias
regiões do país.
Nestes 61 anos de atividades, a cooperativa cresceu e se desenvolveu junto com o município, e
se tornou uma das principais geradoras de emprego e fonte de renda da região.
Nos dias atuais, além dos mais de 1,2 mil cooperados que fornecem o leite e cerca de 480
funcionários diretos, a cooperativa também é responsável pela criação de mais de 5 mil
empregos indiretos. Possui mais de 2,5 mil clientes, espalhados pelo Espírito Santo, Bahia, São
Paulo, Rio de Janeiro e Pará, e receita anual em torno de R$ 150 milhões.
3.2 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DA ENTREVISTA
Na entrevista aplicada ao gestor da empresa em estudo, obtiveram-se os dados como segue.
Ao ser questionado sobre quais os tipos de manutenção que a empresa utiliza, obteve-se como
resposta que a empresa utiliza a manutenção corretiva planejada, corretiva não planejada, e em
alguns setores a manutenção preventiva.
Quando perguntado sobre onde é utilizado cada tipo de manutenção citado, foi respondido que a
manutenção corretiva planejada é utilizada em equipamentos com regime de trabalho abaixo do
esperado, ou seja, o equipamento encontra-se com algum problema que está afetando
diretamente sua produtividade e em equipamentos cujo manual técnico instrui que após certo
período de tempo de funcionamento, a manutenção seja aplicada de acordo com o solicitado
nesse manual. Já a manutenção corretiva não planejada é utilizada quando o equipamento
interrompe sua produção inesperadamente, e não há tempo hábil para um planejamento mais
detalhado. E por fim, a manutenção preventiva é aplicada nos equipamentos mais novos,
tecnológicos e nos fundamentais para continuidade da produção, sendo essa manutenção
realizada com um planejamento detalhado e bem antecipado, pois, alguns equipamentos
necessitam de peças provenientes de outros países.
Analisa-se que a empresa possui um conhecimento bem definido dos tipos de manutenção que
são utilizados em cada setor da empresa e como é realizada a manutenção em diferentes
equipamentos.
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Quando indagado sobre como ocorre o planejamento da manutenção na empresa, visando
reduzir falhas e custos no processo produtivo, foi respondido que o planejamento é realizado
através de reuniões com as equipes de manutenção e com os líderes de produção, para
levantamento das dificuldades, objetivos e as metas para o futuro. Nas reuniões são coletadas
informações para realização de um plano de trabalho para os próximos meses, elencando
atividades, prazos e responsáveis, sendo muito importante conhecer a situação real e a situação
que se pretende chegar com a elaboração do planejamento. Após cada manutenção, faz-se uma
avaliação dos resultados obtidos e, se há alguma outra forma de ação que necessite de menos
recursos.
Observa-se que a empresa realiza um planejamento em relação a manutenção, visto que
promovem reuniões e estabelecem um plano para o futuro. Entende-se que os planos de ação
precisam ser preparados com as informações dos funcionários da manutenção, visto que estes
são os que executam.
Enfim, ao ser questionado sobre a importância da manutenção no sistema produtivo da empresa,
obteve-se como resposta que a gestão da manutenção industrial impacta positivamente nos
indicadores de produtividade, custos, qualidade e segurança. Todos os equipamentos e
maquinários precisam estar funcionando adequadamente, sem contratempo e de acordo com
suas atividades.
Dessa forma, analisa-se que a manutenção é vista como uma questão importante pela empresa,
pois nota-se que ela realiza uma gestão voltada para a melhoria contínua dos processos,
buscando o seu crescimento.
Portanto, a empresa em estudo aplica os conceitos de uma gestão eficaz onde planeja o que deve
ser realizado junto a equipe, dirige os trabalhos aos responsáveis e avalia os resultados obtidos,
para que assim, consiga se posicionar estrategicamente no mercado perante a concorrência.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observa-se que, diante da análise das informações obtidas na empresa através da entrevista
aplicada ao gestor, os objetivos desse estudo foram alcançados, sendo respondido o problema
levantado nessa pesquisa.
Nota-se que a manutenção vem se destacando como área essencial para o sucesso da empresa,
visto que passa a ser uma atividade planejada com objetivos definidos, não sendo mais vista
como uma simples atividade de reparação. Assim, a manutenção industrial é de grande
importância para o bom andamento das atividades produtivas, visto que com um adequado
planejamento, evitam-se falhas que possam gerar uma parada repentina na produção e
consequentemente gerar custos desnecessários. A manutenção, quando bem planejada, gera bons
resultados para a empresa, sendo que o impacto da manutenção pode definir seus resultados
operacionais e financeiros, contribuindo para a sua sobrevivência no mercado. Portanto, de
acordo com a entrevista, observou-se que a empresa trabalha com os conceitos e com a prática
da manutenção corretiva e manutenção preventiva, porém, para aperfeiçoar ainda mais sua
gestão, é importante que a empresa busque a implantação da manutenção preditiva, detectiva e a
engenharia de manutenção. Dessa forma, será possível diminuir as falhas imprevisíveis, as
paradas não programadas e os custos inerentes ao processo de manutenção.
Foi detectado, ao longo da elaboração desse estudo, que existe um assunto importante para
contribuir ainda mais para o conhecimento do tema em questão: estudar a influência da
manutenção industrial na qualidade dos serviços ou produtos de uma empresa. Assim, recomendase que sejam desenvolvidos mais estudos sobre esse assunto e também novos estudos sobre a
manutenção industrial, visto a grande necessidade que as empresas têm atualmente de utilizar a
manutenção em seus processos produtivos.
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5 REFERÊNCIAS
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16 XENOS, Harilaus Georgius. Gerenciando a manutenção produtiva: o caminho para
eliminar falhas nos equipamentos e aumentar a produtividade. Belo Horizonte: Editora de
Desenvolvimento Gerencial, 1998.