Dom João Batista Costa, SDB, filho de italianos migrantes vênetos
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Dom João Batista Costa, SDB, filho de italianos migrantes vênetos
Dom João Batista Costa, SDB, filho de italianos migrantes vênetos em Santa Catarina, família profundamente cristã, nasceu Dom João Batista Costa em Luiz Alves, aos 22 de dezembro de 1902, filho de Luiz Costa e Esperança Lazaris. João é um dos tres primeiros aspirantes, futo das atividades missionárias do P. Ângelo Alberti. No dia 11 de dezembro de 1916, provenientes de São Paulo chegaram os seis primeiros Salesianos para o trabalho dos Filhos de Dom Bosco nas abençoadas terras catarinenses, assumindo as Paróquias de S. Vicente de Paulo em Luís Alves e de Santo Ambrósio em Ascurra. O P. Angelo Alberti, que assumira a Paróquia de Ascurra, desde o começo se preocupou de formar outros operários apostólicos, tirados daquela terra. Vamos deixar a palavra ao próprio P. José Fernandes Stringari para que com sua linguagem fluente e pitoresca nos relate o trabalho do P. Alberti em favor das vocações e a sua chegada a Ascurra. São tópicos tirados de sua "Palestra Jubilar", pronunciada nos festejos do cinquentenário da fundação da Obra Salesiana em Santa Catarina, no dia 8 de outubro de 1967, em Ascurra. 1 "Convém acentuar que o P. Ângelo Alberti não perde tempo. Principia logo a trabalhar pelas vocações, mesmo sem colégio. Percebeu que o campo devidamente arroteado era promissor de messes ubertosas. Nas suas excursões apostólicas, ia semeando a boa semente vocacional, que medrava fácil e ao voltar ia trazendo um que outro jovem candidato, que alojava no sótão da "canônica", por tempo razoável, suficiente para sondar a índole do rapaz; faziao estudar na escola paroquial, ocupava-o em vários misteres domésticos, como limpar a igreja, arranjar a casa, preparar a ração para as mulas, e outras pequenas tarefas. . . Os primeiros desses moços vieram da Paróquia de Luís Alves. No princípio de 1919, vem o João Batista Costa que após uns meses é enviado para o seminário São Manoel de Lavrinhas, São Paulo. No dia primeiro de abril do mesmo ano, entram mais dois de Luís Alves: João Balestieri e eu, que meses depois, numa aventurosa viagem de uns 15 dias, chegamos também nós a Lavrinhas, onde, juntamente com o João Batista Costa, fizemos o curso de humanidades requerido naquele tempo...”. João Batista estudou em Lavrinhas e aí fez o noviciado em 1924, A 1ª Profissão no dia 28/01/1924, a filosofia e o tirocínio também foram em Lavrinhas num exercício pedagógico e de magistério. Depois foi estudar teologia no Instituto Internacional da Crocetta, em Turim, de 1929 a 1932. Foi ordenado sacerdote, aos 9 de julho de 1933, em Turim, na Basílica de Maria Auxiliadora. Celebrou a primeira Missa na matriz de Canale D'Agordo, terra natal de seus pais, rodeado pelos tios e primos. Quem ajudou a Santa Missa foi o seminarista da mesma aldeia, Albino Luciani, que mais tarde seria o Papa João Paulo I. Voltando para o Brasil esteve em Lavrinhas de 1933 a 1935, São Paulo, de 1936 a 1937 foi professor no Instituto Pio XI, em Campinas como diretor de 1938-1940 no Externato São João, no Colégio Salesiano no Rio Grande (RS) como diretor de 1941-1943, no Liceu Coração de Jesus também como diretor de 1944 a 1946 quando foi eleito bispo titular de Scilo e Prelado Porto Velho, capital do Território Federal do Guaporé (Rondônia a partir de 1956). Recebeu a ordenação episcopal no dia 30 de novembro de 1946, das mãos do Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, Dom Pedro Massa, SDB e de Dom José Selva, SDB. Gozava de grande popularidade entre os alunos. 2 Após uma longa viagem de 62 dias, aos 9 de março de 1947 chegava a Porto Velho, tendo tomado posse da Prelazia no mesmo dia. A primeira surpresa foi quando o prefeito da cidade, entregando-lhe as chaves simbólicas, lhe disse: "Aqui nestas chaves, o senhor recebe Porto Velho, onde há duas mil e quinhentas pessoas. Há também mil e quinhentos cachorros!" Depois da leitura do documento pontifício na Catedral, tomou posse, e puxou o discurso, já preparado... porém, quando viu que o povo começava a cochilar... guardou o discurso no bolso, e deixou falar o coração... e foi quando o povo prestou atenção. Meia hora antes do almoço, cansando como estava, foi para o quarto, fechou a porta: "Ao entrar no quarto, sozinho me ajoelhei aos pés da cama. E ali, comecei a soluçar, como uma criança. Não podia conter o choro. Dizia para mim mesmo: João, onde você veio cair?" "Mas pensando nos padres salesianos que trabalharam na mesma Prelazia e foram heróis... Por que não poderei imitá-los? Coragem!" Como Abraão, "contra a esperança, acreditou na esperança". Durante 49 anos dedicou-se, sacrificou-se pela Prelazia Diocese de Porto Velho, trabalhando apostolicamente na ativa, e nos últimos anos rezando e oferecendo seus sofrimentos pela sua querida e amada Diocese de Porto Velho. Do Diário de Dom João: "Meus primeiros passos em Porto Velho. Logo que cheguei a Porto Velho, a primeira coisa que fiz foi procurar ver a situação em que se encontrava a cidade. Então fui visitar todas as famílias dos bairros, que havia em derredor. Acontecia que, quando chegava a um bairro, batia na porta e era recebido por alguém que dizia: 'senhor Bispo, aqui não convém o senhor entrar, porque tem muito vício e mulher da vida!' Mas eu não fui fazendo caso de mulher da vida nenhuma... e fui benzendo todas as casas! Até protestantes me recebiam. E me recebiam de braços abertos. Havia os Matistas e os da Assembleia de Deus. Devo dizer, como testemunho em favor dos protestantes: muitas vezes era mais bem recebido por um protestante do que por um católico. Como vi que os padres eram capazes de cuidar da cidade, eu me dediquei ao interior. Passava meses fora da cidade, lá pelo interior: Rio Madeira, Rio Machado, Rio Machadinho, pelos seringais, pelos rios... Posso dizer que, os primeiros anos de minha vida como Bispo, foram vividos no interior." 3 "Primeira visita de civilização aos índios Boca Preta. Estando no rio Machadinho, perguntei se tinham contato com eles. Responderam que não. Então eu disse: eu vou e sozinho. Peguei a canoa e um pouco de farinha, recomendei-me a Nossa Senhora Auxiliadora, e fui... Estando na maloca, durante a noite, ouvi gritos do lado de fora... devia ser uma daquelas crianças que eles sacrificavam... era uma menina esquelética, toda pele e osso, com as pernas cobertas de barro até a barriga, e olhava para mim, estendendo a mão. Pedi ao tuchaua, e ele a deu. Pelas nove horas da manhã, voltei...na casa de João Alves a batizei, dando-lhe o nome de Maria Auxiliadora... 16 anos depois quando ia casar, o missionário perguntou o nome do pai, ela respondeu... Dom João Batista Costa." Dom João várias vezes nas desobrigas pelo interior, apanhou a malária, tão comum em algumas zonas. A última vez que apanhou, foi na Cachoeira de Samuel. Foi levado a Porto Velho de ambulância. Estando no hospital, ouviu o médico que disse à irmã enfermeira: "Dom João morreu." Melhorou, e um mês depois, na rua encontrou o médico, e lhe disse: "Doutor, aqui está Dom João que morreu!" Depois disto, os médicos e outras pessoas, insistiam com ele que pedisse para deixar Porto Velho. Ele um dia, foi à Catedral, ajoelhou-se na frente do tabernáculo, e com fé, fez esta oração-pedido: "Senhor, eu vim para trabalhar e não para dar trabalho. Se quereis que continue, dai-me a saúde." Depois dessa oração-pedido nunca mais teve malária!!! Nas últimas semanas que lhe restavam de vida, Dom João teve de ser recolhido ao hospital por duas vezes. O maior problema era a dificuldade de se alimentar, porquanto a memória e a lucidez de mente não o deixaram por um só instante, em seus pronunciamentos silábicos! Não podendo ficar em pé, nem andar pelos corredores da casa passou a usar a cadeira de rodas. Uma enfermeira permanecia constantemente ao seu lado”. Bispo missionário, como os demais missionários itinerantes detinha-se em pequenas comundiades, ou até mesmo em barracos isolados ao longo dos rios ou nos seringais para uma catequese. Era inconfundível o espírito de fé, a piedade, o amor pelas almas que transpirava em D. João. Com sua inclinação para o social, não era dificil vê-lo à porta da Prelazia, distribuindo leite, queijo e outros alimentos recebidos para os pobres 4 necessitados. Viu com bons olhos montar na cidade um centro social onde se administravam desde a alfabetização de adultos até aulas de datilografia, de corte e costura. Não podia deixar de admirar o zelo de um de seus missionários a construir no interior da região um moderno hospital, donativo dos católicos europeus, ao lado de alguma cooperativa para beneficiamento dos produtos agrícolas. Com seu trabalho o território foi dividido em mais duas circunscrições eclesiástivas: Prelazia de Ji-Paraná foi criada no dia 3 de janeiro de 1978 pelo Papa Paulo VI. Foi desmembrada das Prelazias de Porto Velho e Guajará-Mirim. Foi elevada a Diocese no pontificado de João Paulo II no dia 19 de fevereiro de 1983. Passou a ser chamada Diocese de Ji-Paraná. Foi bispo prelado da Prelazia de Porto Velho (1946-1979) e bispo da Diocese de Porto Velho (1979-1982). Renunciou ao múnus episcopal no dia 9 de junho de 1982 e de 1982 a 1996 foi confessor no Colégio D. Bosco de Porto Velho. Na madrugada do dia 16 de abril de 1996, Dom João Batista Costa, primeiro Bispo-Prelado de Porto Velho e, depois primeiro Bispo Diocesano, partiu para a casa do Pai. "Vem João, servo bom e fiel, vem alegrar-se com teu Senhor". Dom João sempre pensava na morte - na irmã morte - como dissera uma vez a um irmão! Na "irmã morte" não com a foice na mão como é caracterizada por alguns cristãos! Mas a "irmã morte" com a chave de ouro na mão! As chaves da portado Céu! Após vários meses de delicado estado de saúde, sempre assistido e bem servido pela Comunidade Salesiana, pela enfermeira e pelos amigos. Dom João nos deixou! Partiu para receber o prêmio eterno! Diagnóstico médico: "causa mortis, deficiência orgânica." Foram 94 anos, totalmente dedicados à vivência do Evangelho e ao anúncio do Reino de Deus. Numa das últimas entrevistas concedidas por Dom João à Rádio Caiari, há uma passagem que emocionou a todos os presentes e ouvintes: "Um dia nos encontraremos todos no Céu". Inúmeras vezes a gravação foi levada ao ar pela Rádio Caiari, merecendo sempre o aplauso das multidões! 5 A voz de imprensa local (Estadão-Diário da Amazônia-Alto Madeira). Povo comparece em massa - Missa reuniu católicos, evangélicos e políticos - Bispo dedicou sua vida aos pobres - Católicos em luto: morreu Dom João Batista Costa, o bispo dos pobres - Morreu o primeiro Bispo de Porto Velho - Dom João foi o primeiro a receber o título de cidadania (24-05-1972). Adeus, Dom João Multidão presta a última homenagem a Dom João Batista Costa - Multidão vai à sepultura de Dom João Batista Costa. Não tenhamos dúvida, Dom João em Porto Velho, foi uma bênção de Deus! O homem certo para a época certa! Ele foi o primeiro que abriu picadas, lançou sementes, para que outros pudessem colher frutos abundantes. Dom João escreveu uma belíssima página da história de Rondônia, que não se pode deixar perder. Entretanto, este homem alegre, que gostava de cantar e tocar gaita, como verdadeiro discípulo de Cristo Jesus, teve que derramar lágrimas secretas, muitas e muitas vezes, em decorrência de calúnias e de perseguições, que não lhe foram poupadas a começar de jovem Bispo de Porto Velho até idade avançada. O discípulo não está acima do Mestre. Dom João sempre saiu-se vitorioso, porque estava sob a proteção da Virgem Mãe Auxiliadora, como está no escudo episcopal. Dom João Batista Costa, foi timoneiro seguro e fiel à Igreja no governo da Diocese de Porto Velho. Como religioso, observante das Santas Regras. Como Bispo, digno sucessor dos Apóstolos. Dele podemos dizer: "passou fazendo o bem a todos e mal a ninguém." Faleceu com 93 anos. Ao lado dos restos mortais do bom pastor estiveram o governador do Estado, Valdir Raupp, autoridades civis, militares, inúmeros pastores evangélicos, espíritas e representantes das mais diversas religiões que foram apresentar a sua homenagem e respeito a D. João. Era verdadeiramente amado. Era o bispo dos pobres. + Miguel D’Aversa, Bispo emérito de Humaitá (AM) 1999. 6 DADOS PARA O NECROLÓGIO JOÃO BATISTA COSTA E. *Luiz Alves (SC), 22 de dezembro de 1902 † Porto Velho (RO), 16 de abril de 1996 com 93 anos de idade, 72 de vida religiosa salesiana, 63 de vida presbiteral, 50 anos de episcopado. 7