Elaboração de instrumento didático sobre cateterismo vesical
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Elaboração de instrumento didático sobre cateterismo vesical
0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NUCLEO DE SAÚDE DEPARTAMENTO DE MEDICINA MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE CID OLAVO SCARPA VASCONCELLOS ELABORAÇÃO DE INSTRUMENTO DIDÁTICO SOBRE CATETERISMO VESICAL PARA AUXILIAR NA FORMAÇÃO ACADÊMICA NA ÁREA DA SAÚDE, BASEADO NA REVISÃO DA LITERATURA PORTO VELHO 2015 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NUCLEO DE SAÚDE DEPARTAMENTO DE MEDICINA MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE CID OLAVO SCARPA VASCONCELLOS ELABORAÇÃO DE INSTRUMENTO DIDÁTICO SOBRE CATETERISMO VESICAL PARA AUXILIAR NA FORMAÇÃO ACADÊMICA NA ÁREA DA SAÚDE, BASEADO NA REVISÃO DA LITERATURA Monografia a ser apresentada ao Mestrado Profissional em Ensino em Ciências da Saúde do Núcleo de Saúde da Universidade Federal de Rondônia.Trabalho elaborado sob orientação da Profa. Dra. Ana Lúcia Escobar. PORTO VELHO 2015 2 Biblioteca Central Profº. Roberto Duarte Pires Ficha Catalográfica V331p Vasconcellos, Cid Olavo Scarpa. Elaboração de instrumento didático sobre cateterismo vesical para auxiliar na formação acadêmica na área da saúde, baseado na revisão da literatura. / Cid Olavo Scarpa Vasconcellos, 2015. 71f.: il. Orientadora: Profa. Dra. Ana Lúcia Escobar Dissertação (Mestrado Profissional em Ensino em Ciências da Saúde) – Fundação Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho, 2015. 1. Cateterismo Vesical. 2. Iatrogenia. I. Fundação Universidade Federal de Rondônia. II. Título. CDU: 615.065 Bibliotecária responsável: Eliane G. G. Barros – CRB-11/549 3 FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA - UNIR Dissertação apresentada a Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR, em cumprimento dos requisitos necessários para obtenção do título de Mestre em Ensino em Ciências da Saúde sob orientação da Professora Dra. Ana Lúcia Escobar. BANCA EXAMINADORA ________________________________________________________ Mauro Shuchiro Tada Professor Doutor em Biologia Experimental ________________________________________________________ Raitane Costa de Almeida Professor Doutor em Clínica Médica ________________________________________________________ Ana Lúcia Escobar Professora Doutora em Saúde Pública (ORIENTADORA) PORTO VELHO – RO 2015 4 AGRADECIMENTOS A Deus, sou grato pelo dom da busca do conhecimento; A minha esposa, que por amor me auxiliou na confecção deste trabalho, com a cessão de seu tempo precioso com a finalidade única de me ser útil, minha eterna gratidão; A Dra. Ana Lucia Escobar, minha orientadora, que me proporcionou a oportunidade de resgatar uma perspectiva acadêmica que eu erroneamente achava esquecida; A todos os professores doutores do nosso Mestrado, pelo tempo despendido conosco, pela crítica sempre precisa e construtiva e pelo exemplo de dedicação à vida docente; Aos ilustres membros da banca, que cedem seu tempo e seus conhecimentos para me avaliar e, com suas observações e críticas, contribuem para minha formação profissional. E, finalmente, ao co-orientador desconhecido, que nada mais é do que um arquétipo – a soma de todas as pessoas, fatos e eventos que contribuíram para a consecução deste projeto. 5 RESUMO No modelo tradicional de treinamento médico no Brasil, a prática é subestimada. O foco dos programas de treinamento médico é baseado na teoria, e a maioria dos programas propiciam poucos treinamentos práticos. A tendência mundial nos programas de aquisição de habilidades é focar exaustivamente na prática, a fim de que os alunos sejam capazes de executar procedimentos médicos complexos. O cateterismo vesical em indivíduos do sexo masculino é prática médica corriqueira e um dos métodos mais utilizados em unidades de atendimento de urgência. A iatrogenia intrínseca liga-se não só à ocorrência de infecção urinária, mas a trauma uretral grave pela formação de falso trajeto uretral, uretrorragia e hematúria. A médio e longo prazos, pode causar estenose de uretra, infertilidade e prostatite crônica. Neste trabalho pretendemos mostrar o que contém a literatura mundial sobre a práxis e os métodos utilizados na transferência e na aquisição de habilidade em caterismo vesical masculino. Observamos estudos que totalizam mais de 6000 pacientes estudados em consultórios especializados em urologia, e os dados obtidos foram tabulados e analisados estatisticamente a fim de estabelecer indicativos de lesões iatrogênicas associadas ao procedimento e as medidas didáticas intervencionistas que podem ser utilizadas para reduzi-las. Os dados estratificados e analisados indicam principalmente que o falso trajeto durante o cateterismo vesical e a ocorrência de uretrorragia são os eventos mais frequentemente indicativos de que o cateterismo vesical foi inadequadamente realizado, indicando a falta de treinamento específico padronizado durante a formação do profissional de saúde. Utilizando os dados obtidos, podemos propor um modelo didático de rápida aquisição de habilidade envolvendo conhecimentos cognitivos a respeito da anatomia genital e da técnica de cateterismo vesical, associada à prática em modelos inanimados, com carga horária adequada. Nos estudos analisados, a simples exposição de um vídeo educativo não melhorou a performance dos alunos. Ressaltou-se a importância da presença do urologista como líder do ensino dessa prática, e a prática exaustiva pode reduzir de maneira significativa os erros e as lesões associados ao procedimento. Palavras-Chaves: Cateterismo vesical, iatrogenia 6 ABSTRACT In the traditional model of medical training in Brazil, there is a lack of hands-on training. The focus of medical training programs is mostly academic-based, and most programs provide insuficient hands-on training. The world trend for medical training programs is to exhaustively focus on hands-on training, so students will be able to exit the program being capable of realizing complex medical procedures. The bladder catheterization in males is a common medical procedure and one of the most widely performed procedures in emergency care units. This procedure connected to not only the occurrence of urinary tract infection, but also to severe urethral trauma by leading to the formation of a false urethral passage, urethral bleeding and hematuria. In the medium and long term, it can result in urethral stricture, infertility and chronic prostatitis. This paper will begin with a review current medical literature from around the world on bladder catheterization in males and how the hands-on skills necessary for its successful performance are transferred and acquired. Next, by presenting a statistical analysis of data from studies totaling over 6,000 urology patients in order to establish how iatrogenic lesions are associated with the bladder catheterization, it will argue that iatrogenic lesions are most often indicative that the catheterization was performed incorrectly. This indicates a lack of standardized and specific hands-on training of medical professionals. Finally, it will propose teaching interventions that can be used to reduce the risk of iatrogenic lesions. Using statistical data, a didactic model of rapid acquisition of skill involving cognitive knowledge about the genital anatomy and bladder catheterization technique, coupled with the practice on inanimate models with required workload under the close supervision of a urologist will be proposed. In conclusion, exhaustive practice under the close supervision of an urologist can significantly reduce errors and injuries associated with the procedure. Key Words : bladder catheterization , iatrogenic 7 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Distribuição de pacientes masculinos submetidos ao cateterismo vesical nos países estudados .............................................................................................................. 38 8 LISTA DE FIGURAS Figura 01: Ambroise Parè, considerado “Pai da cirurgia”..................................................... 16 Figura 02: Curva de Proficiência ........................................................................................... 23 Figura 03: O calibre dos cateteres de Foley é determinado pelas cores da válvula .............. 17 Figura 04A: Cateter de Foley com o cuff de auro-retenção insuflado ................................... 17 Figura 04B: Posicionamento correto do cateter e do cuff (balão), em relação à uretra e o colo vesical.................................................................................................... 17 Figura: 05 (A) modo correto de fixação do cateter de Foley................................................. 19 Figura: 05 (B) modo incorreto de fixação ............................................................................. 19 9 LISTA DE TABELAS Tabela 01: Artigos identificados em busca ampla ............................................................... 33 Tabela 02: Artigos Selecionados .........................................................................................33 Tabela 03: Lesão Iatrogênica da Uretra ...............................................................................34 Tabela 04: Descrição dos artigos selecionados sobre lesão iatrogênica da uretra...............37 Tabela 05: Distribuição de grupos estudados em atendimento em consultórios de urologia que sofreram iatrogenia durante o cateterismo uretral ...................37 Tabela 06: Correlação das variáveis localidades; consulta urológica e cateterismo ...........39 Tabela 07: Correlação dos dados coletados e sua tabulação pelo método de Kendall ........40 Tabela 08: Teste ANOVA de análise multifatorial .............................................................40 10 LISTA DE QUADROS Quadro 01: Simuladores de aprendizado .............................................................................24 Quadro 02: Etiologia da Estenose uretral em suas várias porções anatômicas, Índia, 2011 ....................................................................................................... 26 Quadro 03: Descrição da tabela PICO para elaboração da questão de pesquisa. ................31 Quadro 04: Descrição da estratégia pico para elaboração da pesquisa. ..............................31 11 LISTA DE SIGLAS CNE - Conselho Nacional de Educação BCTU - Board Certificate of Training in Urology EUM - Estenose da Uretra Masculina Fr - Escala French de Charrière NCBI - National Center of Biotechnology Information PubMed - US National Library of Medicine SciELO - Scientifics Eletronic Library Online PICO - Construção de Pesquisa de Natureza Diversa CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior SPSS - Statistical Package for the Social Sciences NUSAU - Núcleo de Saúde ANOVA - Analysis of variance 12 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................... 14 1.1 Breve história do cateterismo vesical .................................... 15 1.2 Risco de lesões e complicações iatrogênicas decorrentes da utilização do cateter vesical de demora ................................. 17 1.3 Benefícios e finalidades do cateterismo vesical ....................... 18 1.4 A qualificação do profissional de saúde e seu impacto na diminuição da iatrogenia nos procedimentos de cateterismo vesical ................................................................................ 19 1.5 Justificativa ........................................................................ 24 1.6 Aspectos acerca da Iatrogenia e a Educação Médica ............... 27 2 OBJETIVOS .......................................................................... 28 2.1 Objetivo geral ..................................................................... 28 2.2 Objetivos específicos ........................................................... 28 3 METODOLOGIA .................................................................... 29 3.1 Tipo de Pesquisa ................................................................. 29 3.2 Estabelecimento da amostra ................................................. 31 3.2.1 Critérios de inclusão ......................................................... 31 3.2.2 Critérios de exclusão......................................................... 31 3.2.3 Técnica para análise dos dados .......................................... 31 3.2.4 Aspectos Éticos ................................................................. 31 4 BUSCA BIBLIOGRÁFICA;...................................................... 32 4.1 Cateterismo Vesical: ............................................................ 32 13 4.1.1 Artigos identificados em busca ampla. ................................ 32 4.1.2 Artigos Selecionados ......................................................... 32 4.2 Lesão Iatrogênica da Uretra ................................................. 33 4.2.1 Descrição dos artigos selecionados sobre lesão iatrogênica da uretra................................................................................. 33 5 DISCUSSÃO .......................................................................... 40 5.1 Formação Médica ................................................................ 40 5.2 Cateterismo vesical e lesão iatrogênica da uretra ................... 41 5.3 A Adequada Técnica de Cateterismo Vesical Masculino ........... 43 5.4 O Ensino e a Aquisição da Habilidade do Cateterismo Vesical Masculino no Contexto da Literatura Mundial ....................... 44 6 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................. 47 REFERÊNCIAS ........................................................................ 48 ANEXOS ............................................................................................................................... 59 14 1 INTRODUÇÃO “Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam” ((Juramento de Hipócrates) IN MOOG et al, 2005). Hipócrates, o pai da Medicina, em seu juramento, afirma que qualquer procedimento médico deve ser realizado por profissionais bem treinados e capacitados. Este é o motivo da escolha do tema deste trabalho, no qual discutiremos e apresentaremos proposta para melhorar a capacidade técnica e prática de profissionais de saúde para a realização do cateterismo vesical de demora, buscando a redução das complicações e iatrogenias associadas. Por meio de descobertas arqueológicas foram observados que os Egípcios já realizavam operações urológicas complexas e cateterismo vesical como tratamento de várias patologias (MOOG et al, 2005), fato este confirmado pelo sofisticado processo de mumificação de corpos praticados por aquela civilização. Dentro das possíveis complicações iatrogênicas associadas ao cateterismo vesical de demora, destaca-se a estenose de uretra. A estenose de uretra é um problema urológico antigo. As primeiras descrições remontam os Egípcios, há 4.000 anos e seu tratamento tem desafiado a medicina desde então. Trata-se de patologia que gera intenso desconforto, sofrimento e angústia para o paciente, e um grande problema e ansiedade para o cirurgião. É uma das condições cirúrgicas da urologia mais difíceis de tratar, talvez porque muito pouco foi feito para modernizar o seu tratamento. Nos últimos 3.000 anos o homem tem lidado com suas estenoses por meio de dilatações. Assim, uma vez estenose, sempre estenose (XIMENES,2013). Sua incidência depende da faixa etária. Acomete um a cada dez mil homens aos 25 anos e um a cada mil aos 65 anos (MUNDY, 2006). Seu espectro etiológico pode ser idiopático, iatrogênico, traumático, infeccioso e inflamatório. Nos países desenvolvidos, as etiologias idiopática e iatrogênica são as mais frequentes. Nos países subdesenvolvidos destacam-se as etiologias infecciosa e traumática (LUMEN, 2009). No presente trabalho avaliamos os riscos de lesão iatrogênica da uretra e bexiga, decorrentes do cateterismo vesical de demora, e as possíveis medidas utilizadas para reduzir sua incidência nos centros médicos e de cuidados primários em saúde. 15 1.1 Breve história do cateterismo vesical Instrumentos para drenagem da bexiga urinária estão entre os mais antigos instrumentais médicos descritos na história. E uma das mais antigas descrições de cateter urinário foi encontrada em texto de Hipócrates Por dentro das Doenças (400a.c.), em que a drenagem vesical era considerada uma habilidade básica da arte médica grega (MOOG et al., 2005). Avicenna em seu livro Canon of Medicine também citou o cateterismo uretrovesical como método de terapia intravesical tópica com medicamentos (MADINEH, 2009). No século XVI, Ambroise Paré (Figura 01) introduziu o uso de cateteres vesicais feitos de prata, bronze e outros metais. Na Renascença, António Luiz, médico e humanista português, usou o cateterismo para diferenciar retenção urinária e anúria. No século XVII, o principal avanço foi a utilização de borracha na produção de sondas; Bernard foi seu inventor e por muito tempo foi o único fabricante (REQUIXA, 2002). Figura 01: Ambroise Parè, considerado “Pai da cirurgia” Figura 02 e os primeiros cateteres desenvolvidos por ele para drenar a urina intra-vesical Os cateteres vesicais de Foley podem diferir em relação ao diâmetro (Figura 02), número de lumens, forma e tipo de material com que são confeccionados (PRADO; DANTAS, 1989). 16 26Fr 24Fr 22Fr 18Fr 20Fr 16Fr 14Fr 12Fr Figura 03: O calibre dos cateteres de Foley é determinado pelas cores da válvula Os cateteres de Foley são comumente utilizados para o cateterismo de demora (Figura 3A), apresentando um balão de retenção C (Figura 3B) . Seu projeto foi idealizado para que não se desloquem da luz vesical, enquanto é necessário o seu uso. O balão deve ser insuflado após a introdução completa do cateter. O balão ou cuff acomoda-se sobre o colo vesical , permitindo uma fixação segura e eficaz do cateter. No cateterismo intermitente, os cateteres utilizados são diferentes e seu mecanismo de fixação difere do cateterismo de demora (PRADO; DANTAS, 1989). A B Figura 4A: Cateter de Foley com o cuff de auro-retenção insuflado; 4B: Posicionamento correto do cateter e do cuff (balão), em relação à uretra e o colo vesical. Quanto ao diâmetro, os cateteres vesicais têm seu calibre determinado de acordo com a Escala French de Charriére (Fr), cujas unidades são equivalentes a 0,33 mm (LENZ, 2006). A escolha do diâmetro do cateter dependerá da estrutura física do paciente e da indicação ou finalidade do uso do mesmo (STOLLER, 2007). Quanto ao número de lumens, os cateteres podem possuir um, dois ou três lumens. O primeiro lúmen tem a finalidade de encher ou esvaziar o balão de retenção, permitindo a sua permanência no interior da luz vesical e a sua retirada ou troca segura. O segundo lúmen de 17 maior calibre tem como finalidade drenar a urina e permitir a injeção de medicamentos tópicos intravesicais e lavagens periódicas da bexiga. O terceiro lúmen, quando presente, permite a irrigação contínua da bexiga com soluções específicas para a realização de procedimentos endourológicos e irrigar a bexiga no pós-operatório das cirurgias de próstata e de tumores vesicais (ISABELLA et al, 2010). Quanto a sua forma e aspecto, os cateteres podem ser com a ponta reta ou com a ponta curva (CANCIO; SABANEGH; THOMPSON, 1993). Atualmente, os materiais mais utilizados na fabricação dos cateteres são o látex e o silicone. Segundo Lenz (2006), a disponibilidade de um látex flexível para a confecção do cateter de Foley foi uma das contribuições mais importantes da bioengenharia. A introdução do silicone permitiu que algumas complicações como a adesividade bacteriana e a calcificação da ponta do cateter fossem menores, o que possibilita a utilização do mesmo cateter por um período de tempo maior. 1.2 Risco de lesões e complicações iatrogênicas decorrentes da utilização do cateter vesical de demora O ato do cateterismo vesical e o uso do cateter podem resultar na ocorrência de várias complicações. Essas complicações podem ser classificadas como traumáticas e infecciosas (PRADO; DANTAS, 1989; MARVULO e NOGUEIRA, 2001). Partindo dessa premissa, os autores concordam que o cateterismo deve ser realizado apenas quando indicado, e por profissionais treinados e capacitados para o procedimento, visto que a manipulação do trato urinário associada à inserção de um cateter vesical pode resultar em lesão traumática da uretra, da próstata e da bexiga e infecção do trato urinário em muitas ocasiões (STOLLER,2007). O tempo de uso do cateter vesical de demora também pode causar lesões do trato urinário inferior (MARVULO; NOGUEIRA, 2001; KASHEFI et al, 2008). Podemos afirmar, então, que a utilização correta do cateter vesical de demora leva a necessidades especiais de cuidado, cuja responsabilidade os profissionais de saúde envolvidos no procedimento, como médicos e enfermeiros, dividem. Segundo Lenz (2006), o risco de lesão reduz de maneira sensível quando são obedecidos critérios para a indicação e utilização do cateterismo vesical: a escolha de cateteres de calibre adequado à anatomia da uretra, a lubrificação adequada de uretra com lidocaína gel a 2%, a introdução e manipulação cuidadosa do cateter pelo meato uretral até a completa inserção do mesmo na luz vesical, fixação adequada ao sexo do paciente e uso de água destilada, preferencialmente, para manter o balão adequadamente insuflado. No caso em questão discutimos o ato de cateterismo vesical de demora em pacientes do sexo masculino. A fixação pre- 18 conizada neste caso é na região hipogástrica, onde a possibilidade de lesão por avulsão do cateter acidental é menor, e anatomicamente segue a curvatura fisiológica da uretra, evitando lesões isquêmicas com formação de abscessos e fístulas uretro-cutâneas (Figura 4A e 4B). A B Figura: 5 (A) modo correto de fixação do cateter de Foley. Figura 5 (B) modo incorreto de fixação A fixação adequada do cateter impede a ocorrência de trauma da uretra por tração involuntária do mesmo, e necrose da área do meato uretral externo, provocada pela tração, compressão e isquemia tecidual. Pacientes do sexo masculino em nossa observação clínica pessoal apresentam um potencial maior de risco de lesão iatrogênica do trato urinário inferior, ocasionada pelo uso do cateter. Comumente, os cateteres, neste caso, devem ser fixados na região hipogástrica com a finalidade de reduzir a curvatura uretral, prevenindo a escarificação da uretra no ângulo penoescrotal, ocasionando a formação abscesso e fístula uretrocutânea, fato este frequente em pacientes portadores de disfunções miccionais por traumatismo raquimedular (PRADO; DANTAS, 1989); (MARVULO; NOGUEIRA, 2001) (HOMENKO; LELIS; CURY, 2003). Nos indivíduos do sexo feminino, a fixação do cateter é realizada na face medial da coxa (ISABELLA et al, 2010). 1.3 Benefícios e finalidades do cateterismo vesical O cateterismo urinário é um procedimento invasivo em que se insere um cateter uretral até a bexiga com a finalidade, dentre outras, de drenar a urina armazenada na bexiga em pacientes com disfunção do esvaziamento vesical. A drenagem urinária pode ser realizada por meio de sistema aberto (intermitente ou alívio) ou fechado (demora) e por via suprapúbica (GOULD et al., 2009) 19 Os benefícios decorrentes deste procedimento, que permite drenar a urina da bexiga, fizeram com que o cateterismo vesical fosse a intervenção mais frequente do trato urinário (STOLLER,2007), e um dos procedimentos realizados com maior frequência em ambiente hospitalar (LENZ, 2006). O uso do cateter vesical proporciona um fluxo contínuo e uniforme de urina nos pacientes com obstrução infravesical ou com incapacidade temporária ou definitiva de controle miccional. Tal dispositivo também permite um parâmetro de avaliação do débito urinário em situações clínicas críticas e de instabilidade hemodinâmica (LENZ,2006). O cateterismo vesical pode ter finalidade diagnóstica e terapêutica. Pode-se citar: drenagem vesical em casos de retenção urinária, mensuração do débito urinário em pacientes críticos, irrigação vesical em pós-operatório de várias cirurgias urológicas e coleta de amostra de urina quando não é possível o ato miccional normal (GONZALGO, 2010). 1.4 A qualificação do profissional de saúde e seu impacto na diminuição da iatrogenia nos procedimentos de cateterismo vesical Recentes dados registram o declínio do conhecimento urológico em alunos do terceiro e quarto ano do curso médico (LITWIN et al, 2005). A educação permanente possui extrema importância na geração de responsabilidade e no compromisso com os profissionais, proporcionando condições benéficas na atenção ao paciente e na manutenção da dimensão cuidadora (CNE, 2002). As habilidades dos profissionais de saúde em geral se modificaram de forma rápida ( BUSS, 2000). No entanto, essa modificação de habilidades na formação acadêmica tem sido lenta, apesar de manter as diretivas estruturantes do curso de medicina: ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, capacidade de raciocinar criticamente, analisar problemas da sociedade, princípios bioéticos e da dialética (SILVIA, 2014; BERNARDES, 2009). A tomada de decisão do profissional de saúde deve estar fundamentada na capacidade adquirida durante sua formação educacional e estágios profissionais. Em vários países, observa-se, na realidade, um declínio da educação urológica nas escolas médicas (LOUGHLIN, 2008). A insuficiência e inadequação do conteúdo disciplinar das escolas médicas, ao formar médicos e enfermeiros despreparados para abordagens em ambiente extra-hospitalar e em centros de saúde avançados, indicam a priorização de novas formas e condutas acadêmicas e científicas. Segundo Winne (2014) um dos grandes fatores que influencia a continuidade de formação é o custeio, para propiciar um planejamento para a criação de orientações adequadas 20 que possam potencializar e influenciar a formação dos profissionais de saúde, de maneira a realizar vários estudos experimentais sobre a eficácia das intervenções educativas para a melhora dos pacientes (PIMENTA, 2014). Nos laboratórios de habilidade os alunos têm a oportunidade de iniciar e desenvolver as habilidades manuais, sem a presença física do paciente ou cliente e, assim, adquirir confiança e segurança para o estágio supervisionado, etapa imediatamente posterior a essa atividade (FUSTINONI & SURIANO, 2008). Assim, a medicina como arte não é estática, desenvolve-se em conjunto com as pesquisas científicas que incorporam o homem como objeto do estudo (FERRAZ, 1997). Porém, o tradicionalismo das escolas médicas em geral impede que os alunos de graduação e em formação na residência participem dos processos inovadores e da elaboração de novos modelos de aulas práticas, através das quais poderiam se qualificar na especialidade escolhida. Estas deficiências são demonstradas no aumento em 130% das denúncias de erro médico em relação ao ano de 2003, apenas no Estado de São Paulo (OLIVEIRA, 2006). A medicina ao longo das últimas décadas, como tendência, vem se tornando cada vez mais especializada. Dentro desta linha de especialização podemos citar a Academia Médica de Gdafisk, na Polônia, que criou o Centro de Cirurgia Urológica, com o objetivo de propiciar aos estudantes, enfermeiros e médicos uma prática mais eficaz nos procedimentos urológicos, comuns do cotidiano médico, facilitando a aquisição dessas habilidades e sua aplicação na práxis em saúde. É necessário observar que a práxis médica é fundamental no refinamento da arte e na continuidade da formação (ZAJACKOWSK, 2014). Em 1994, Ramiro & Santiago, descreveram que a utilização de um cateter de Foley seria um método “menos doloroso” na realização de cateterismo de uretra. Nongueira et al (2004), descreveram que o uso do cateter uretral pode ter diversas complicações para o paciente e para os profissionais que querem realizar este procedimento invasivo e rotineiro em Pronto Atendimentos de todo o país. César (1998), observando o que acontecia depois da realização de procedimento de cateterismo em Pronto Atendimento, trabalhou com um grupo de 62 pacientes que foram submetidos a cateterismo vesical e necessitaram de tratamento com antibióticos potentes para evitar o retorno do paciente com infecções potencializadas pelo manejo indevido dos materiais necessários. Prado e Dantas (1989) já levantavam o problema de um procedimento que é constante, tanto em homens quanto em mulheres e que pode ser danoso à saúde, podendo levar o paciente a óbito, com o uso de cateter vesical a longo prazo em decorrência de sepse de origem urinária e de complicações iatrogênicas. Sendo um procedimento realizado em diversas enfermidades urológicas e sistêmicas, o cateterismo uretrovesical possui relativo sucesso em sua utilização, em 89% dos casos (BET- 21 TIO,2007). Porém ainda é levantado que o procedimento não pode ser demorado e sua realização necessita de protocolos de segurança biológica e nível de treinamento adequados e integrados na ação do procedimento (BETTIO, 2007). Assim, sendo o cateterismo vesical um ato médico, envolvendo um número expressivo de habilidades e conhecimentos, é necessário padronizar o procedimento visando reduzir sua morbidade e a iatrogenia relacionadas. A Urologia é considerada hoje a primeira das treze especialidades cirúrgicas em complexidade, propedêutica e terapêutica, devido ao impacto ocasionado pela adoção de novas tecnologias (ABRAMS P. et al., 2011). Para sua plena atividade, o urologista necessita de um domínio profundo da anatomia e fisiologia do trato urinário e do manejo das doenças que podem afetar tanto os tratos geniturinários masculino e urinário feminino. A urologia é dividida em numerosas subespecialidades, a saber: (i) urologia feminina, (ii) andrologia, (iii) neurourologia, (iv) uroncologia, (v) uropediatria, (vi) transplante renal e de outros órgãos urinários como ureter e bexiga, (vii) tratamento da urolitíase e (viii) cirurgia videolaparoscópica, sendo propostas hoje novas subespecialidades que são a (ix) urologia da reabilitação e a (x) urologia do adolescente (ABRAMS P. et al, 2012). Por esse motivo, são de alta relevância o ensino e a habilitação das competências urológicas por parte de urologistas e médicos generalistas (ABRAMS P. et al., 2012). A práxis médica moderna faz com que os laboratórios de aquisição de habilidades médicas sejam muito necessários para a determinação de problemas práticos e técnicos, que devem ser corrigidos, e na adoção de protocolos seguros para os diversos procedimentos médicos que o estudante e o profissional de saúde realizam (HESS et al, 1950). Porém, as facilidades de comunicação, que são grandes em centros de formação acadêmica, em regiões como a Amazônia, às vezes, inexistem, agravadas pela ausência de profissionais especialistas médicos (SOARES et al., 2013). Geiges et al. (2005) se pergunta por que a práxis urológica não é adequada durante o período de formação médica e conclui que o médico generalista necessita de maior participação nas discussões clínicas urológicas em geral. Wright (1936), estudando as maneiras de aumentar a eficiência na produção de aviões, indicou um paradigma de aprendizagem onde a proficiência da habilidade aumentava geometricamente com o tempo despendido em desenvolvê-lo (FIGURA 2). Suas observações indicavam que o desenvolvimento lento e progressivo de uma habilidade possuía maior eficiência do que quando realizado de maneira rápida e intempestiva. Ressalta que o pleno desenvolvimento de uma percepção háptica, isto é, a exata percepção da ação motora no ato em que se está realizando e, sendo percebido implica em observação e repetição. 22 Figura 02: Curva de Proficiência Muitas barreiras culturais e ideológicas dentro das organizações científicas e especificamente as médicas, impedem a adoção de novos métodos de ensino. No método Halstediano há uma vinculação direta e íntima entre o mestre e o aluno no contexto de um caso clínico. Neste caso necessita de maior observação do que prática, isto é, um contexto convencional sem adoção de um ambiente simulativo, onde a prática repetida e corrigida permite uma aquisição sólida da habilidade a ser desenvolvida (LUNA & DONN, 2014). A utilização da simulação na educação médica é uma realidade incontestável e adotada de maneira integral em vários centros de ensino em saúde no mundo. Permite uma transição do modelo educacional centrado no professor, para um modelo focado no aluno, permitindo interações interdisciplinares e multidisciplinares mais próximas da realidade do exercício profissional diuturno e intensamente voltado para suprir eficientemente as necessidades dos pacientes (LUNA & DONN, 2014). Há uma tendência dos cursos na área de saúde centrarem seus currículos na proficiência. São métodos mais flexíveis e eficientes, utilizando com mais racionalidade os recursos disponíveis e permitindo um nível de aprendizagem muito semelhante entre os aprendizes (QUADRO 1) 23 Quadro 01: Simuladores de aprendizado. MODELO DESCRIÇÃO São modelos inanimados, geralmente de baixo custo, portáteis e reutiModelo de Bancada lizáveis. Sua principal vantagem é a possibilidade de fragmentação de tarefas complexas em seus elementos essenciais. Funcionam muito bem para o ensino de tarefas básicas para iniciantes. Sua limitação principal é a baixa fidelidade oferecida, o que restringe sua capacidade de simular tarefas complexas; Simulação em Ani- Oferecem alta fidelidade na simulação de tarefas complexas, como mais Vivos cirurgias em condições "reais". São úteis porque reproduzem o comportamento do tecido vivo e testam habilidades técnicas avançadas que influenciam o resultado final de uma cirurgia, como sutura laparoscópica intracorpórea, hemostasia, anastomoses etc. O alto custo, necessidade de pessoal e instalações especializadas, considerações éticas, diferenças anatômicas e impossibilidade de reutilização limitam o uso disseminado desta técnica; Cadáveres Oferece a maior fidelidade dentre os modelos de simulação e permitem a reprodução de procedimentos de alta complexidade. Eles são melhores utilizados para treinamento de procedimentos específicos e habilidades de dissecção. O custo, disponibilidade, riscos de infecção e considerações éticas limitam sua aplicação; Simuladores de Per- Podem ser usados repetidamente com alta fidelidade e interatividade. formance Humana Manequins com diferentes níveis de sofisticação podem ser usados em diversos cenários, incluindo situações multidisciplinares e interprofissionais para treinamento de equipes e gerenciamento de crises. As principais limitações são os custos e a limitação na aplicação de procedimentos, valendo-se mais para definir um padrão de resposta organizado em vez de uma habilidade técnica específica; Simulador Virtual Tem como vantagens ser reutilizável e poder capturar e armazenar dados de desempenho, permitindo um feedback ao aluno e o monitoramento da progressão do treinamento. Ela pode ser utilizada tanto para aquisição de habilidades básicas como avançadas, sendo amplamente aplicada no treinamento de procedimentos endoscópicos e laparoscópicos. Suas principais limitações são custo, manutenção e ausência de sensação tátil. LUNA & DONN, 2014 24 A sociedade moderna é ávida por conhecimento e exige, de maneira subliminar, uma maior segurança das práticas clínicas em geral. O custo elevado dos procedimentos médicos implicou em um esforço de implementação de programas de simulação. A finalidade principal destes programas é evitar a exposição do paciente, reduzindo a incidência de eventos iatrogênicos. A prática não depende da chegada aleatória de pacientes e a execução dos procedimentos. O contexto ambiental é totalmente controlado, onde as consequências são mínimas em caso de ato mal executado ou executado de maneira imperfeita sem obedecer aos preceitos técnicos preconizados. Os tutores são familiarizados com a técnica e controlam de maneira integral o ambiente de simulação. Isto permite um aprendizado e aquisição de habilidades mais homogênea entre os aprendizes, aumento a segurança do procedimento. A prática livre se refere à prática repetitiva e focada de uma tarefa supervisionada, permitindo assim a correção imediata de eventuais erros cometidos (ERICSSON, 2004). 1.5 Justificativa “Nós somos o que fazemos repetidamente. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito ” – Aristóteles (IN MOOG et al, 2005) Estudo realizado por Sullivan (2014) analisa as complicações iatrogênicas evitáveis do cateterismo uretral masculino e suas relações com o treinamento adequado dos internos de medicina. O autor indica que a implementação de treinamento estruturado em cateterismo uretral é prioritária para o primeiro ano de internato médico e isso demonstrou um significante decréscimo da incidência de lesões iatrogênicas durante o cateterismo uretral e a sua morbidade. Abboudi et al. (2013) analisou um número de casos de cirurgiões urológicos que deveriam completar a sua total proficiência em vários procedimentos urológicos e não o fizeram de maneira adequada. Este mesmo autor observou que são necessários quatro vezes mais casos do que era previsto anteriormente na curva de aprendizado para a obtenção de um estado de arte razoável na realização de vários procedimentos endourológicos, como exemplo, a prostatectomia radical videolaparoscópica. A utilização da simulação virtual reduz em 50% os eventos iatrogênicos relacionados ao procedimento. Inicialmente, o número previsto para a total qualificação era de 200 casos, mas foram necessários em torno de 750 procedimentos para que se alcançasse o estado de arte, indicando 25 que o mínimo de casos para alcançar a proficiência deve ser aumentado (ABBOUDI et al., 2013). Jonathan (2011) analisou a experiência operatória de residentes em urologia do Reino Unido entre os anos de 2004 e 2009 para a certificação do Board Certificate of Training in Urology e concluiu que existe uma enorme variante de experiências a serem assimiladas pelos residentes em urologia, que reflete as atitudes dos estudantes e também as diferentes exposições aos vários procedimentos em diferentes hospitais e unidades de treinamento, concluindose também que é necessária uma maior supervisão por parte dos instrutores. Médicos e enfermeiros que atuam no cuidado primário de saúde proporcionam o tratamento inicial para homens e mulheres com patologias urológicas. O conhecimento da avaliação e condutas urológicas básicas não podem ser subenfatizadas. Estes cuidados, quando bem ou mal realizados, determinam o curso de muitas condições urológicas e seu tratamento. Entretanto, seria esperado que a educação urológica começasse na grade curricular do curso de medicina e enfermagem e nos seus estágios rotativos supervisionados. Isto é especialmente importante desde que quase a metade dos estudantes e generalistas, bem como especialistas, inevitavelmente se deparam com pacientes com queixas urológicas associadas (NEWTON; GRAYSON, 2003). A despeito deste cenário, vários estudos recentes sugerem um consistente declínio da educação urológica nas escolas médicas, (BENSON, 1994). De fato, nos Estados Unidos da América somente 20% das escolas médicas requerem estágios rotativos na clínica urológica nos últimos anos (LOUGHLIN, 2008). São necessários estudos que avaliem o nível de conhecimento, atitudes e práticas com especial atenção aos mais comuns problemas urológicos na prática médica diária entre estudantes, internos, residentes, membros do corpo clínico e enfermeiros envolvidos no cuidado primário de saúde. Segundo Bhushan et al. (2011), na área rural da Índia prevalece a etiologia iatrogênica da estenose uretral em suas várias porções (QUADRO 2): Quadro 02: Etiologia da Estenose uretral em suas várias porções anatômicas, Índia, 2011 ______________________________________________________________________________________ Etiologia da Estenose Local da estenose Total ---------------------------------------------------------------------------------------Prostática Membranosa Bulbar Peniana Múltipla _________________________________________________________________________________________ Traumática 1 6 2 2 1 12 Infecciosa 0 4 23 6 3 36 Inflamatória 0 1 3 1 2 7 Iatrogênica 1 7 21 10 5 44 Pós-operatória 8 0 2 1 0 11 Total 10 18 51 20 11 __________________________________________________________________________________________ Fonte: WANI et al. (2011). 26 Observa-se que em países com o mesmo perfil demográfico e socioeconômico que o nosso e com processo de aprendizagem semelhante, a etiologia iatrogênica da estenose de uretra masculina (EUM) é mais frequente (XIMENES et al, 2013). O grande trunfo introduzido no século XX que facilitou sobremaneira o cateterismo foi a idealização do cateter uretral com balão de retenção idealizado por Foley (ELLIS, 2006), com a utilização de materiais sintéticos e atualmente impregnados de drogas antimicrobianas. Charles et al. (2014) concluíram que é necessário um tempo maior de treinamento em urologia para consolidação dos conhecimentos e habilidades e a realização de pesquisas, influenciando o refinamento do estado de arte e a redução drástica da iatrogenia, justificando-se a procura e a idealização de novos métodos de treinamento. Novos modelos de resolução de problemas são cotidianamente criados. Daurat et al. (2015) observando pacientes em pós-operatórios urológicos, utilizaram avaliação automatizada da vazão do volume da bexiga e compararam os processos de cateterização uretral e esvaziamento vesical, medindo a velocidade de fluxo urinário por segundo utilizando um eco-doppler, usando a correlação de Pearson. Suas conclusões indicaram que o exame ultrassonográfico com Doppler fluxo simples é eficaz para o diagnóstico pronto de patologias da uretra (ALVES et al., 2012). Os estudos de Krebs et al. (2015) confirmam ainda mais os resultados de Daurat et al. (2015). As patologias da uretra possuem um aspecto amplo quando se analisa suas repercussões na qualidade e expectativa de vida e sua prevalência expressiva. O cateterismo uretral, apesar de simples e singelo, tem um espectro importante nas possibilidades de ocorrência de fenômenos iatrogênicos. (GARRAWAY et al., 1991). WILDE et al. (2015) sugerem o autocateterismo uretral ser um procedimento seguro e menos avesso aos eventos iatrogênicos, utilizando análise fatorial confirmatória adequada, sugerindo desta forma a necessidade de capacitar os pacientes que necessitam de esvaziamento vesical adequado, sequelas ao traumatismo raquimedular (DEFINO, 1999) e outras disfunções miccionais (WELCH et al., 2002), (JACOBSEN et al., 1996), (ROBERTS et al., 2000), (DESCAZEAUD et al.2009). Já em um estudo de caso, a utilização contínua do cateter, com trocas recorrentes, fez com que o paciente paraplégico desenvolve infecções oportunistas (VAIDYANATHAN et al., 2013). Em outro caso, em um processo raro, ocorreu um nó espontâneo do cateter em paciente com 87 anos de idade. Tal complicação ocorreu devido a uma calcificação no corpo do cateter (ROMERO PÉREZ et al., 2013). 27 Estudos de caso que descrevem as lesões iatrogênicas da uretra durante o cateterismo terapêutico ou diagnóstico sugerem que o procedimento deve a obedecer critérios e metodologia crítica, descritas por Yin (2014). Assim, é de relevância clínica o estudo e a introdução de métodos inovadores no treinamento de médicos e enfermeiros nos procedimentos que envolvam a instrumentalização da uretra, principalmente da masculina, visando a drástica redução da incidência de eventos iatrogênicos inusitados e inesperados e suas graves complicações. A introdução de informações que possam facilitar a ação do procedimento de cateterismo vesical podem proporcionar aos profissionais de saúde segurança adequada durante o procedimento, além de observar possíveis dificuldades que possam ocorrem no processo. 1.6 Aspectos acerca da Iatrogenia e a Educação Médica A palavra iatrogenia deriva do radical grego iatro (“iatrós”), podendo significar médico, medicamento ou remédio; geno - aquele que gera; ia - uma qualidade. Etimologicamente, iatrogenia poderia significar qualquer atitude do médico. No contexto contemporâneo, mais utilizado, significa os resultados negativos e efeitos adversos da prática médica ou da prática em saúde, em geral. O termo mais adequado é “iatropatogenia”, que enfatiza de maneira peremptória a noção maléfica do ato médico, isto é, uma ação que provocará prejuízos ao paciente (TAVARES, 2005). Nesta visão, o médico ainda que tenha a seu dispor os melhores recursos tecnológicos, diagnósticos e terapêuticos pode gerar iatrogenias. Balint (1975) modificou este conceito ao afirmar que todo médico é, em infinitos graus variáveis, iatrogênico. Assim, ele, o médico, tem a obrigação de considerar este aspecto quando propõem um tratamento ao seu paciente. Tais falhas são explicadas no modelo biomédico cartesiano que impede que o médico enxergue o paciente como um ser biopsicossocial, como uma máquina fosse, e necessitasse de ajustes, como um quebra-cabeças. Outro aspecto é no âmbito da relação médico-paciente, onde o futuro médico deve compreender que o paciente, na condição em que se encontra, idealiza e fantasia a figura do médico, gerando uma série de expectativas quanto à figura deste e aos resultados do tratamento. A prática médica é humana, em sua essência, e requer do futuro médico capacidades para lidar com frustrações, paciência, perseverança, dedicação (CRUZ, 1997). Nem todas as pessoas selecionadas num processo seletivo possuem inclinação para o curso médico. É notório que indivíduos instáveis emocionalmente estão dispostos a cometer iatrogenia. Ressalta-se 28 que os professores possuem destacado papel na constituição de uma identidade iatrogênica ou saudável (CRUZ, 1997) O debate deste tema é inesgotável. Temos a esperança de que a abordagem aprofundada deste assunto durante a formação médica contribua para a construção de sujeitos impregnados de uma identidade médica ética, muito saudável e bem menos iatropatogênica. 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral Desenvolver um instrumento didático para a formação acadêmica continuada de profissionais especialistas na área urológica, demonstrando procedimentos habituais e novos que possam orientar as condutas com os pacientes urológicos. 2.2 Objetivos específicos a) Identificar, na literatura, as principais estratégias de ensino adotadas para o desenvolvimento das habilidades necessárias para o adequado cateterismo uretral, realizando levantamento bibliográfico das lesões iatrogênicas da uretra relacionadas ao cateterismo vesical e a instrumentalização da mesma na literatura científica; b) Incluir os dados levantados sistematicamente em um banco de dados para análises estatísticas; c) Levantar junto ao material coletado as técnicas de cateterismo vesical e suas principais nuances e relacioná-los ao método de formação mais eficiente, sistematizando um conjunto de conhecimentos a serem disponibilizados na forma de material didático, visando reduzir a incidência da iatrogenia no procedimento. 29 3 METODOLOGIA Os objetivos da pesquisa foram alcançados realizando uma revisão integrativa da literatura utilizando os bancos de dados NCBI/PUBMED, Periódicos Capes e SCIELO. Seguimos com uma análise integrativa (MENDES et al, 2008) da literatura mundial, com a finalidade de definir com as evidências científicas acerca do risco de lesão pelo uso do cateter vesical. Utilizaremos método de revisão integrativa proposto por Broome (2000), em que a pesquisa realizada sobre determinado assunto ou aspecto novo ou inusitado são sumarizados/sintetizados. A autora afirma que este método torna possível a confecção de uma síntese bem fundamentada do conhecimento pré-existente do conhecimento em geral, A revisão integrativa foi utilizada por ser a maneira mais ampla e completa de revisão da literatura. Sua técnica permite a inclusão simultânea de pesquisas experimentais e não-experimentais. Sua finalidade é a compreensão plena do fenômeno em estudo assim como a combinação de dados teóricos com a literatura empírica (WHITTEMORE; KNAFL, 2005). A revisão integrativa elaborada em tema de relevância clínica apresenta impacto direto na qualidade de cuidados (BEYA; NICOLL, 2005). O seguinte roteiro: 1ª Fase- elaboração da pergunta norteadora; 2ª Fase – Busca ou amostragem na literatura; 3ª Fase- Coletas de dados; 4ª Fase – Análise crítica dos estudos incluídos; 5ª Fase – Discussão dos resultados; 6ª Fase – Apresentação da revisão integrativa. 3.1 Tipo de Pesquisa Utilizamos o método de Broome (2000). Este sugere que o tema seja escolhido e posteriormente seja elaborada a questão norteadora da revisão com a finalidade de delimitar a pesquisa. Autores sugerem utilizar o formato PICO conforme os quadros 3 e 4, estratégia esta que pode ser utilizada para construção de questões de pesquisas de naturezas diversas (NOBRE; BERNARDO; JATENE, 2003; SANTOS; PIMENTA; NOBRE, 2007; MELNYK; FINE-OVERHAULT, 2005). Uma questão de pesquisa bem formulada foca o cerne da pesquisa, possibilitando o retorno das evidências adequadas, economizando esforço na realização de pesquisas desnecessárias e infrutíferas (BERNARDO; NOBRE; JATENE, 2004). Será reali- 30 zado levantamento bibliográfico sistematizado, utilizando a técnica integrativa baseada em evidências, dos artigos científicos em inglês e português, versando sobre cateterismo vesical e suas lesões iatrogênicas, no NCBI/PUBMED, Periódicos Capes e SCIELO, utilizando as palavras chaves: “cateterismo vesical”; “iatrogenia”; “ensino em urologia”; “habilidades e competências em urologia”. Quadro 03: Descrição da tabela PICO para elaboração da questão de pesquisa. ACRÔMIO DEFINIÇÃO DESCRIÇÃO Pode ser um único paciente, um grupo P Paciente ou Problema de pacientes com uma condição particular ou um problema de saúde. Representa a intervenção de interesse, que pode incluir uma exposição, pode I Invenção ser terapêutica, preventiva, diagnóstica, prognostica administrativa ou relacionada a assuntos econômicos. Definido como uma intervenção padrão, C Controle ou Comparação a intervenção mais utilizada ou nenhuma intervenção. O Desfecho (outcome) Resultado Esperado Fonte: (BROOME, 2000). O registro das informações coletadas foi organizado em fichamento manual ou tabelas/quadros concebidos a partir de um software de processamento de textos, podendo varia de acordo com os propósitos de cada revisor. O conteúdo de relevância coletado englobou o objetivo, a metodologia e os resultados de cada estudo selecionado (BROOME, 2000). Para este estudo a formulação norteadora utilizou-se o formato PICO da seguinte forma: Quadro 04: Descrição da estratégia pico para elaboração da pesquisa. Acrômio P I C O Definição Descrição Paciente ou proble- Pacientes adultos ma masculinos, submetidos ao cateterismo vesical de demora ou de alivio Intervenção Cateterismos vesical Controle ou compa- Complicaçoes ou ração fatores de risco para lesão iatrogênica Desfecho (outcome) Risco de lesão iatrogênica do trato urinário relacionado ao cateterismo vesical 31 3.2 Estabelecimento da amostra 3.2.1 Critérios de inclusão A amostra foi constituída de dados da literatura científica mundial, publicados nos últimos cinco anos, que abordem a questão norteadora do estudo – Quais as evidências disponíveis na literatura sobre o risco de lesão/trauma iatrogênico da uretra e outras partes do trato urinário inferior relacionado ao cateterismo vesical de pacientes adultos. 3.2.2 Critérios de exclusão Todos os artigos científicos versando sobre lesões urológicas do trato urinário inferior relacionadas ao envelhecimento do trato urinário, lesões em crianças e indivíduos do sexo feminino e estudo de caso. 3.2.3 Técnica para análise dos dados Foram utilizamos o software SPSS FREE para tabulação e análise dos dados obtidos dos artigos com suas referências bibliográficas, utilizando métodos descritivos da estatística. O trabalho foi centrado nas estatísticas descritivas, tabulando os resultados encontrados por diferentes autores. 3.2.4 Aspectos Éticos O presente projeto foi submetido ao comitê de ética e pesquisa da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) para verificação dos aspectos éticos e ajustes das condutas que estão sendo utilizadas para obtenção dos dados. Foi aprovado com Número: CAAE 35880014.0.0000.5300, sendo assim, autorizado pela gestora do NUSAU- UNIR. 32 4 BUSCA BIBLIOGRÁFICA; NCBI/PUBMED/SCIELO 4.1 Cateterismo Vesical: 4.1.1 Artigos identificados em busca ampla. Base de Dados Data Hora Quantidade de Artigos Relacionados NCBI/PUBMED 18/08/2015 20:44 175 CAPES/SCIELO 18/08/2015 21:00 13 Tabela 1 4.1.2 Artigos Selecionados Quant. PMID BASE ANO PUBLI- REVISTA TITULO AUTORES CAÇÃO 01 18834682 NCBI 2008 j.maturitas Urological cerns: con- De Stefani S, Should Sighinolfi trans- MC, Micali urethral catheter be S, Mofferdin located over or A, De Carne under the thigh? C, Grande M, Rivalta M, Bianchi G. 02 18637181 NCBI 2008 Cases J Long catheter sign: Vaidyanathan a reliable bedside S, Hughes sign of incorrect PL, Oo T, positioning of Soni BM. foley catheter in male spinal cord injury patients. Tabela 2 33 4.2 Lesão Iatrogênica da Uretra Base de Dados Data Hora Quantidade de Artigos Relacionados NCBI/PUBMED 24/08/2015 21:11 178 CAPES/SCIELO 24/08/2015 22:11 33 Tabela3 4.2.1 Descrição dos artigos selecionados sobre lesão iatrogênica da uretra Quant. 01 PMID BASE 25784590 NCBI ANO 2015 REVISTA Andrology TITULO AUTORES Erectile dysfunction Sangkum P, Levy in urethral stricture and pelvic J, Yafi FA, frac- Hellstrom WJ. ture urethral injury patients: diagnosis, treatment, and outcomes. 02 25778817 NCBI 2015 Int Urol Ne- Erectile dysfunction El-Assmy A, Harphrol post-perineal anas- raz AM, Benhastomotic urethroplas- san M, Fouda M, ty for traumat- Gaber H, Nabeeh ic urethral injuries: analysis of A, Ibrahiem el HI. inci- dence and possibility of recovery. 03 25757350 NCBI 2014 Nihon Hin- Nurse questionnaire Yagihashi yokika Gak- survey kai Zasshi about Shimabukuro the urethral catheter Y, S, Arakaki Y. ization and clinical analysis of iatrogenicurethral injury]. 04 24978365 NCBI 2014 Can J Urol. Inadvertent foley Modi PK, Salmasi 34 catheterization of AH, the ureter. 05 24704934 NCBI 2014 Arch Perlmutter MA. Ital Surgical repair of Dogan F, Sahin Urol Androl. the iatrogenic falsep AF, Sarıkaya T, assage in the treat- Dırık A. ment of trauma- induced posteriorurethral injuries. 06 23905930 NCBI 2013 Urol Clin Current epidemiol- McGeady North Am. JB, ogy of genitourinary Breyer BN. trauma. 07 23153951 NCBI 2013 Urology Contempo- Palminteri E, rary urethral strictur Berdondini E, e characteristics in Verze P, De Nunthe developed zio C, Vitarelli A, world. 08 22765859 NCBI 2012 Int Braz Urol. Carmignani L. J Missed iatrogenic p Lang EK, Nguyen artial disruption of QD, the Zhang K, male urethra, Smith MH. caused by catheterization. 09 21956699 NCBI 2012 Eur Radiol. Efficacy Jeong SH, Park of urethral catheteri SJ, Kim YH. sation with a hydrophilic guidewire in patients with urethral trauma for treating acute urinary bladder retention after failed attempt at blind catheterisation. 10 21951692 NCBI 2011 BMC Educ. Med Medical knowledge interns' Manalo and Lapitan M Jr, MC, 35 regard- Buckley BS. training ing urethral catheter insertion and insertionrelatedurethral injury in male patients. 11 21756384 NCBI 2011 Int Braz Urol. J Comprehensive Mathur R, Ag- analysis of etiology garwal G, Satsanon the prognosis gi B, Khan F, of urethral strictures Odiya S. . 12 21442395 NCBI 2011 Int Urol Ne- Etiology and current Fall B, Sow Y, phrol. clinical characteris- Mansouri I, Sarr tics of A, Thiam A, Diao male urethral strictu re disease: B, Fall PA, expe- Ndoye AK, Ba M, rience from a public Diagne BA. teaching hospital in Senegal. 13 1913034 1 NCBI 2009 Ulus Travma Evaluation of pa- Kaya C, Koca O, Acil Cerrahi tients with urogenit- Kalkan S, Oztürk Derg al trauma managed M, Ilktaç A, Kain a urology clinic]. 14 15 18423712 16281970 NCBI NCBI 2008 2005 J Urol BMC Urol raman IM. Incidence and pre- Kashefi C, Mesvention ser K, Barden R, of iatrogenic urethra Sexton C, Parsons l injuries. JK. Immediate endos- Maheshwari PN, copic management Shah HN. of com- plete iatrogenic ante rior urethral injuries : a case series with 36 long-term results. 16 16052359 NCBI 2005 Urologe A Urethral trauma Pinggera GM, Rehder P, Bartsch G, Gozzi C. 17 11966638 NCBI 2002 BJU Int Treatment of posterior and anterior urethral trauma. Dobrowolski ZF, Weglarz W, Jakubik P, Lipczynski W, Dobrowolska B. 18 19 20 11675967 11547072 11391833 NCBI NCBI NCBI 2001 2001 2000 Ann Urol Rare cause (Paris). of iatrogenic stenosi s of the penile urethra. Case report]. Touiti D, Ameur J Urol Pannek J, Brands Particle migration after transurethral injection of carbon coated beads for stress urinary incontinence. West Afr J IatrogenMed ic urological trauma: a 10-year experience from Port Harcourt. A, Beddouch A, Oukheira H. FH, Senge T. Eke N Tabela 4 Distribuição de grupos estudados em atendimento em consultórios de urologia que sofreram iatrogenia durante o cateterismo uretral Pais N % Irlanda 3 27,3 Canada 2 18,2 Índia 2 18,2 Bélgica 2 18,2 África do Sul 1 9,1 Itália/USA 1 9,1 Total 11 100 Tabela 5 37 Gráfico 1: Distribuição de pacientes masculinos submetidos ao cateterismo vesical nos países estudados. Dentro da distribuição dos pacientes cateterizados com iatrogenia e, somando todas as consultas realizados 63,88% dos pacientes cateterizados foram do grupo da Italia e USA e os que sofreram menor índice de cateterização (3,41%) foram os pacientes sul-africanos. Correlação das variáveis localidades; consulta urológica e cateterismo Cateterismo Variáveis de controle Localidade Consulta Urológica Consulta Urológica Correlação 1,000 ,873 Significância (2 extremidades) . ,001 Df 0 8 Viés ,000 ,000 Erro Padrão ,000 ,000 Inferior 1,000 ,873 Superior 1,000 ,873 Correlação ,873 1,000 Significância (2 extremidades) ,001 . Bootstrap a Intervalo de Confiança 95% Cateterismo Iatrogênico Iatrogênico 38 Df Bootstrap a 8 0 Viés ,000 ,000 Erro Padrão ,000 ,000 Inferior ,873 1,000 Superior ,873 1,000 Intervalo de Confiança 95% a. A menos que indicado de outra maneira, os resultados da autoinicialização são baseados em 1000 amostras bootstrap estratificadas Tabela 6 Utilizando a análise de reamostragem proposto por Bradley Efron, o método de bootstrap facilita a aproximação da distribuição da amostra em levantamento de conjunto de dados. Em um conjunto de 1000 amostras, selecionadas pelo método empregado, demonstrou uma significância a nível de 5% da relação de pacientes que procuram atendimento especializado em consultório urológico e cateterismo vesical com iatrogenia. E a relação do retorno destes pacientes para o consultório também mostrar significância a nível de 5%. Esse dado demonstra que a chance do paciente ser submetido ao cateterismo vesical quando procura atendimento especializado urológico é de 87% e o retorno do paciente ao atendimento urológico mantém a mesma porcentagem para cada 1000 pacientes. Correlação dos dados coletados e sua tabulação pelo método de Kendall tau_b de Ken- Consulta Urológica Cateterismo Hematúria Trajeto Infecção ,400 ,270 ,023 . ,117 ,170 ,281 ,928 11 11 8 10 10 Iatrogenia do Catete- Coeficiente de Correlação ,370 1,000 ,036 ,225 ,068 rismo ,117 . ,901 ,369 ,787 11 11 8 10 10 Coeficiente de Correlação ,400 ,036 1,000 ,643* -,400 Sig. (2 extremidades) ,170 ,901 . ,026 ,170 8 8 8 8 8 * 1,000 -,135 Sig. (2 extremidades) Sig. (2 extremidades) N Hematúria N Falso Trajeto Coeficiente de Correlação ,270 ,225 Sig. (2 extremidades) ,281 ,369 ,026 . ,590 10 10 8 10 10 Coeficiente de Correlação ,023 ,068 -,400 -,135 1,000 Sig. (2 extremidades) ,928 ,787 ,170 ,590 . 10 10 8 10 10 1,000 ,489 ,611 ,328 ,052 . ,127 ,108 ,354 ,887 11 11 8 10 10 N Infecção N man Urológica Falso ,370 N rô de Spear- Iatrogenia do 1,000 dall Coeficiente de Correlação Consulta Consulta Urológica Coeficiente de Correlação Sig. (2 extremidades) N ,643 39 Iatrogenia do Catete- Coeficiente de Correlação ,489 1,000 ,228 ,328 ,107 rismo ,127 . ,588 ,354 ,769 11 11 8 10 10 Coeficiente de Correlação ,611 ,228 1,000 ,810* -,527 Sig. (2 extremidades) ,108 ,588 . ,015 ,180 8 8 8 8 8 * 1,000 -,158 Sig. (2 extremidades) N Hematúria N Falso Trajeto Coeficiente de Correlação ,328 ,328 Sig. (2 extremidades) ,354 ,354 ,015 . ,663 10 10 8 10 10 Coeficiente de Correlação ,052 ,107 -,527 -,158 1,000 Sig. (2 extremidades) ,887 ,769 ,180 ,663 . 10 10 8 10 10 N Infecção N ,810 *. A correlação é significativa no nível 0,05 (2 extremidades). Tabela 7 Teste ANOVA de análise multifatorial ANOVA Soma dos Quadrados Hematúria Entre Grupos (Combinado) Termo Linear 21,204 ,165 8154,553 1 8154,553 45,178 ,094 14809,822 5 2961,964 16,410 ,185 180,500 1 180,500 23144,875 7 109421,100 8 13677,638 121,579 ,070 Ponderado 64864,771 1 64864,771 576,576 ,026 Desvio 44556,329 7 6365,190 56,579 ,102 112,500 1 112,500 109533,600 9 1280,000 8 160,000 6,531 ,294 12,614 1 12,614 ,515 ,604 1267,386 7 181,055 7,390 ,276 24,500 1 24,500 1304,500 9 224,000 3 74,667 2,333 ,441 16,275 1 16,275 ,509 ,606 207,725 2 103,863 3,246 ,365 32,000 1 32,000 256,000 4 Ponderado (Combinado) Nos grupos Total Infecção Entre Grupos (Combinado) Termo Linear Ponderado Desvio Nos grupos Total Parafimose Entre Grupos (Combinado) Termo Linear Ponderado Desvio Nos grupos Total Tabela 8 Sig. 3827,396 Total Termo Linear Z 6 Nos grupos Entre Grupos Quadrado Médio 22964,375 Desvio Falso Trajeto Df 40 Bootstrapping (ou simplesmente bootstrap, em inglês algo como "alça de botina") é um método de reamostragem proposto por Bradley Efron em 1979. Utilizamos para aproximar distribuição na amostra de nosso levantamento estatístico. Usa-se frequentemente para aproximar o viés ou a variância de um conjunto de dados estatísticos, assim como para construir intervalos de confiança ou realizar contrastes de hipóteses sobre parâmetros de interesse. Na maior parte dos casos não pode obter-se expressões fechadas para as aproximações bootstrap e, portanto é necessário obter reamostragens em um ordenador para por em prática o método. 5 DISCUSSÃO 5.1 Formação Médica A sociedade, como um todo, estabelece inúmeras atribuições ao médico, deificando este profissional. O poder alcançado pela Medicina e a sua pretensão ao mesmo, quando atua intencionalmente através do dispositivo das inter-relações pessoais e sociais, é efetivamente assombroso (BALINT, 1975). Ainda sobre esse tema, e comentando o texto de Balint (1975), o autor refere que “caracterizado o médico como professor dos pacientes, como mago das dificuldades humanas, todas as questões passam a ser incluídas no campo da Medicina” (MOOG, 2005). Um pequeno trecho do clássico juramento hipocrático, ainda repetido a cada formatura de novos médicos, exemplifica esta idealização: “... Manterei a minha vida e a minha arte com pureza e santidade; qualquer que seja a casa em que penetre, entrarei nela para beneficiar o doente; evitarei qualquer ato voluntário de maldade ou corrupção...” (MOOG, et al 2005). Dados de minha experiência, resultado de 30 anos de prática e observação clínica, remete-nos a refletir sobre o papel da escola médica, no sentido de ajudar a esclarecer seus alunos sobre a imensidade de questões que estão envolvidas em sua formação, uma vez que só se pode apreender e interferir no processo de formação da identidade profissional analisando a correlação de forças atuantes no processo de socialização dentro da instituição. A apreensão da natureza psicológica e espiritual do Homem é um estudo laborioso que necessita tempo e habilidade. Se a este contexto, entretanto, adicionar-se o universo material e as relações de produção, passa-se a obter uma performance representativa do homem da modernidade. A implementação de um programa de treinamento para internos, médicos e cirurgiões envolvendo a aquisição de conhecimentos urológicos, habilidades de atitudes adequadas permitirão que os pacientes urológicos que, porventura, lhes sejam apresentados sejam atendidos e manejados de maneira eficaz em suas mais prementes necessidades (GOHIL, 2011). Tal 41 aspecto, característico do atual perfil de formação médica, é realizado com a pressão exercida pelo tempo para que as habilidades sejam alcançadas e pela necessidade jurídica de tornar o ato médico o menos iatropatogênico possível. Assim, é fato que devamos adotar técnicas e atitudes no ensino médico em geral, que permita a aquisição do conhecimento e habilidades essenciais e necessárias para a práxis em curtos espaços de tempo. No caso da aquisição de habilidades em cateterismo uretral, vários estudos demonstram que estudantes de medicina transferem a habilidade de cateterismo vesical em seis semanas de treinamento no laboratório de habilidades até serem confrontados com situações clínicas reais (TODSEN, 2013), não havendo diferenças entre o treinamento de 6 semanas para 12 semanas. A prática repetitiva, massificante e estandartizada em laboratório de habilidades é o melhor método para a aquisição da habilidade em cateterismo uretral. Este fato é demonstrado pelo mesmo autor ao observar que a simples assistência de um vídeo instrutivo sobre cateterismo não melhora a performance dos estudantes no ato do mesmo. Sullivan (2014), em estudos clínicos longitudinais, em 2007, na unidade de cuidados terciários em que trabalhava na República da Irlanda, de 864 pacientes submetidos à cateterismo vesical, 51 sofreram lesões iatrogênicas (6%). Após a implementação de um programa de treinamento baseado na prática em laboratório de habilidades que envolveu internos, enfermeiros e médicos observou que em 2011 725 pacientes foram submetidos à cateterismo uretral com 29 casos de lesões iatrogênicas (4%), com resultado estatístico significante de p<0,05. Thomas (2009), em estudo similar ao de Sullivan, concluiu que a morbidade iatrogênica relacionada ao cateterismo uretral não é incomum. Este estudo identificou que estudantes, internos e residentes recebem treinamento inadequado e insuficiente em cateterismo uretral. Conclui, também que muitos destes eventos iatrogênicos poderiam ser evitados e prevenidos pela adoção de uma correta técnica de cateterismo uretral obtida pela prática repetitiva em laboratório de habilidades e sua reprodução clínica real sob a supervisão de professores. 5.2 Cateterismo vesical e lesão iatrogênica da uretra Utilizando as palavras-chave cateterismo vesical e lesão iatrogênica de uretra foram encontrados nas principais bases de dados científicas (NCBI, ScIELO) 398 trabalhos publicados em revistas científicas indexadas correlacionando o ato do cateterismo vesical e a ocorrência de eventos iatropatogênicos (Tabelas 1 e 3). Dentro do conjunto de artigos identifica- 42 dos foram selecionados 22 trabalhos que, em seu bojo, continham dados relevantes que poderiam ser tabulados e analisados estatisticamente. Na leitura atenta e cuidadosa dos 22 artigos, 11 deles continham dados e informações objetivas e numéricas que permitiriam uma análise estatística sólida. Nestes artigos foram estudados mais de 6.000 pacientes submetidos ao cateterismo vesical e correlacionados às lesões advindas do ato inadequado do mesmo. Segundo Sullivan (2014), o cateterismo vesical é ato comum e corriqueiro da prática médica e requere uma performance regular de internos e médicos recém-graduados. É citado em seu artigo que a incidência de lesão iatrogênica relacionada ao cateterismo em seu serviço é de 6% antes da intervenção didática realizada posteriormente, com redução para 4%, que se revelou estatisticamente relevante. Kashefi (2008) cita que 24 milhões de pacientes são submetidos a cateterização vesical por ano nos Estados Unidos da América. A Tabela 05 demonstra que em estudos na Irlanda 27, 3% pacientes foram submetidos à cateterismo vesical com algum evento iatropatogênico durante o mesmo; no Canadá 18,2%, Índia 18,2%, Bélgica 18,2%, África do Sul 9,1% e Itália e Estados Unidos 9,1%. Shimoni (2014) diz que 50% dos cateterismos vesicais não são justificados influenciando diretamente no aumento da morbidade. Estes dados nos mostram que independente do país e seu desenvolvimento na praxis médica o cateterismo vesical é um procedimento corriqueiro, mas negligenciado costumeiramente. Sullivan (2014), acentua que a prática é a única forma de evitar as lesões de uretra, com importante e impactante incidência mórbida relacionado ao mesmo. Kashefi (2008), diz que a incidência de lesões iatrogênicas da uretra observada antes de sua intervenção didática foi de 3,2 eventos por 1000 pacientes. Após a implementação de um programa de treinamento que envolvia 1 hora de sessão didática versando sobre anatomia do trato urinário, técnicas de inserção de cateter uretral e prática em modelos plásticos inanimados por duas horas, a incidência de lesões iatrogênicas da uretra foi reduzida para 0,7 eventos por mil pacientes, resultado significante (Teste exato de Fisher p = 0,006). No Gráfico 1 é demonstrado que, em populações onde o desenvolvimento econômico e educacional é maior, há um cuidado mais acurado com a saúde em geral porque o acesso aos serviços de saúde é mais fácil, bem como as instalações de saúde são homogeneamente distribuídas no território. As populações das amostras selecionadas neste estudo são bem homogêneas em sua estrutura social de acesso aos serviços de saúde. Já na Índia, existe um desequilíbrio na distribuição das instalações de saúde comparativamente pior na zona rural do que nas grandes metrópoles do país (DAVEY, 2015). 43 Na Tabela 6, que demonstra as correlações das variáveis consulta urológica e cateterismo vesical iatrogênico / cateterismo vesical iatrogênico e consulta urológica, em pacientes do sexo masculino, utilizando o método de boodstrap, observou-se que pacientes que buscaram atendimento urológico possuíam, dentro do intervalo de confiança, tinham uma alta probabilidade de serem cateterizados com algum evento iatropatogênico, p= 0,001. Da mesma forma os pacientes cateterizados, anteriormente tratados possuem uma elevada probabilidade de serem novamente cateterizados em caso de serem novamente atendidos em serviços de urologia. Procedeu-se a análise do conjunto de amostras das localidades citadas nos 10 artigos selecionados, em 7 países diferentes com N significativo de pacientes que apresentaram lesões iatrogênicas ocorridas durante o ato do cateterismo vesical masculino (6532 consultas) ou mais tardiamente (sequelas). Relacionou-se, usando a Técnica de Bootstrap, as variáveis consulta urológica e cateterismo vesical iatrogênico. Demonstrou-se uma correlação significativa (p=0,001) entre a realização do atendimento urológico e a indicação e realização de cateterismo vesical nestes eventos iatrogênicos. A possibilidade de um paciente em uma consulta urológica ser submetido a um cateterismo vesical com iatrogenia foi de 87,6%. É significativa, também, a probabilidade de um paciente que foi anteriormente ser cateterizado o ser novamente (100%). Partindo deste princípio, Stoller (2007), diz que o cateterismo vesical deve ser realizado apenas quando necessário, já que a manipulação do trato urinário inferior associada à inserção de um cateter vesical de demora pode resultar em lesão iatrogênica significativa e infecção urinária (DIEZ M.; OSSA MONTOYA, 2005), corroborada pelas observações de Kashefi (2008). 5.3 A Adequada Técnica de Cateterismo Vesical Masculino O cateterismo vesical bem realizado demanda algumas condições técnicas relacionadas ao treinamento e ao material que será utilizado. O calibre do cateter deve ser adequado à faixa etária do paciente e às suas condições anatômicas. O paciente e familiares devem ser esclarecidos sobre o evento, sua taxa de sucesso, complicações e nível de incômodo que será proporcionado. A utilização de luvas esterelizadas e a adoção da técnica asséptica devem ser preconizados. A utilização de campos cirúrgicos também é recomendada (LENZ, 2006). A correta manipulação do pênis é essencial na inserção segura do cateter. A uretra deve ser lubrificada com lidocaína gel a 2%, com tempo de latência de 5 minutos antes da inserção, reduzindo a estimulação dolorosa da uretra e colo vesical. A introdução deve ser lenta, progres- 44 siva e sempre seguir as curvaturas naturais da uretra. Quando ocorrer dificuldade de progressão do cateter o procedimento deve ser abortado, evitando a ocorrência de falso trajeto e suas consequências a longo prazo (estenose de uretra), hematúria e uretrorragia abundantes com grande chance de choque hipovolêmico e a necessidade de tratamento endourológico ou cirúrgico de urgência e emergência. O cateter deve ser totalmente introduzido antes de se insuflar o balão de retenção. A insuflação do balão na luz da uretra é ocorrência catastrófica e deve ser evitada sempre. Em caso de dúvida da sua exata localização, o balão não deve ser insuflado (MARVULO, 2001). A fixação do cateter no sexo masculino deve ser na região hipogástrica sem tensão, evitando a avulsão acidental do cateter com o balão insuflado, que ocorre com frequência quando é fixado na face anterior da coxa do paciente. Mahershawari (2005) diz que em relação a uretra anterior masculina, a sua ruptura ou lesão é rara, na maioria das vezes, iatrogênica, decorrente de cateterização ou ao ato de insuflar-se o balão do cateter de Foley na luz uretral. Isto resulta sempre em uretrorragia, lesão similar à da resultante da “queda à cavaleiro ou em sela”. Afirma que é um evento iatrogênico típico do treinamento inadequado em cateterismo vesical, fato verificado em médicos e enfermeiros indianos. A maioria dos pacientes desta série foram submetidos a realinhamento uretral endoscópico imediato, que se demonstrou um procedimento seguro, rápido e de alta efetividade nesta modalidade de lesão da uretra. Apesar de não ser o foco deste estudo, as indicações mais frequentes de cateterismo citadas foram: monitorização do débito urinário em pacientes graves, retenção urinária secundária a cirurgias, por obstrução infra-vesical por hipertrofia benigna da próstata, disfunções miccionais que evoluam com esvaziamento vesical incompleto e intervenção urológica prévia (ressecção endoscópica da próstata) (THOMAS,2009). O mesmo autor alerta da iatrogenia gerada por desconhecimento, por parte do profissional de saúde, do uso de anticoagulantes pelo paciente que será submetido ao cateterismo vesical. 5.4 O Ensino e a Aquisição da Habilidade do Cateterismo Vesical Masculino no Contexto da Literatura Mundial Na literatura mundial disponível, vários estudos que avaliam o conhecimento prévio e a habilidade do cateterismo vesical foram encontrados. N o Reino Unido, um estudo realizado pelo Royal College of Surgeons of England em 2010, demonstrou que apenas 1 em 5 internos do curso médico tinham realizado qualquer tipo de cateterismo vesical (THOMAS, 2009). Neste pais, o cateterismo vesical é raramente realizado por enfermeiras e a supervisão nos 45 primeiros cateterismos é maior e mais próxima. Neste estudo, nos questionários distribuídos aos internos de medicina demonstraram que 55,6% referiam ter tido um adequado aporte teórico sobre cateterismo vesical e, 66,7% (2/3) afirmaram que seu treinamento prático foi adequado. Na França, um estudo similar, utilizando os mesmos cenários e questões levantados no estudo de Thomas (2009), somente 26% dos internos de medicina sentiram que estavam habilitados a realizar o cateterismo vesical masculino. Algo mais grave foi descobrir que menos de ¼ dos internos questionaram os pacientes sobre cateterismo vesical prévio ou da realização de cirurgias urológicas anteriormente, conhecimento que poderia ajudar a prever a presença de estenose uretral e a presença de próstatas muito volumosas (CARTER, 2007). Apenas metade dos internos injetou lidocaína a 2% na uretra, prática que propicia uma boa lubrificação e uma inserção eficiente e pode ser particularmente benéfica nas grandes próstatas (CARTER, 2007). A grande maioria dos internos que foi avaliada nestes estudos referiu ter a exata noção de quando insuflar o balão do cateter, quando da evacuação de urina. Mas observou-se que na primeira performance apenas 10% deles insuflava o balão quando ocorria evacuação da urina e tinham a absoluta certeza que o cateter estava todo introduzido até a luz vesical. Este fato aumenta o risco de lesão uretral iatrogênica e indica um déficit no treinamento. As implicações destas observações na educação médica são variadas e heterogêneas. Uma maior preocupação com a percepção de performance de internos e médicos sobre o cateterismo vesical pode auxiliar no aumento do conhecimento e prática e, assim reduzir o risco de complicações e lesões não esperadas. Estudos sugerem que urologistas devem liderar o treinamento dos internos de medicina no cateterismo vesical (KASHEFI, 2007; BIGOT,2008; CETTI, 2010). Na França, pesquisas recentes realçam os efeitos benéficos do treinamento em cateterismo vesical, com um período de treinamento no departamento de clínica urológica (BIGOT, 2008). Através de leituras de manuais, apresentação de vídeos, e o treinamento em modelos de material sintético antes do primeiro cateterismo vesical supervisionado os internos do curso médico devem ser esclarecidos ponto a ponto no procedimento, com ênfase particular em pontos chave como: lubrificação uretral, a posição do pênis e a extensão do cateter a ser inserida antes de se de se insuflar o balão. A importância da história clínica do paciente deve ser priorizada e as condições e cenários implicados e associados ao cateterismo devem ser discutidos (EZIYI, 2009). Dado o alto risco de lesão iatrogênica da uretra associado ao procedi- 46 mento, acredita-se que urologistas experientes devam fornecer estes conhecimentos iniciais no começo do internato médico (PATEL, 2008). 47 6 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise dos dados contidos nos artigos relacionados e que possuíam uma consistência clínica sólida e níveis de evidência aceitáveis, permitiram identificar as relações entre o cateterismo vesical iatrogênico e a ocorrência de falso trajeto e uretrorragia, sinais inequívocos que a inserção do cateter vesical foi realizada de maneira inadequada, refletindo um treinamento ineficiente e que não ocorreu o cumprimento dos objetivos didáticos pela tradicional visão de ensino médico halstediana. Na análise estatística utilizando métodos não-lineares, demonstrou que o risco de um paciente que necessitar de ser submetido a um cateterismo vesical e este ser iatrogênico é de 87%. E se este mesmo paciente ser novamente ser submetido a outro cateterismo em um futuro próximo ser praticamente de 100%. Na nossa visão, o método idealizado por Todsen (2013) que sugere uma forma rápida e massificante de aquisição da habilidade do cateterismo vesical é o mais adequado a ser adotado. O autor realizou suas observações em 2 grupos de internos de medicina, todos submetidos a uma avaliação inicial com um simples questionário e a um intensivo curso de 70 horas de ensino teórico, enfocando a técnica geral, a atenção aos pontos chaves e a prática em manequim, no primeiro grupo por uma semana e no segundo por seis semanas, com uma avaliação similar a inicial no final do período de treinamento. O autor verificou que a transferência das habilidades para a realização de um cateterismo seguro foi igual nos dois grupos, igualmente a percepção dos internos avaliados. Ainda identificou que a simples apresentação de apenas um vídeo sobre o assunto não melhorou a performance dos internos no cateterismo vesical. Bigot (2008) foi muito feliz ao observar e concluir que urologistas devam ser os multiplicadores desta habilidade nos momentos iniciais do internato médico, onde esta e outras habilidades essenciais ao estado da arte médica em geral e urológica são consolidadas. Assim os dados da literatura e a experimentação demonstraram que a transferência do conhecimento sobre o assunto deve basear-se na prática supervisionada em manequins em laboratório de aquisição de habilidades após uma sessão teórica sólida. Isto permite uma melhor performance destes futuros profissionais da área médica no ato do cateterismo vesical, levando a uma maior segurança em ambiente de ação médica real, reduzindo o risco e a incidência da lesão iatrogênica do trato urinário inferior, notadamente da uretra masculina e sua catastrófica influência na qualidade de vida dos pacientes envolvidos nestes eventos. Baseando-se nessas observações, principalmente no trabalho de Todsen (2013), propomos o roteiro de um instrutivo em treinamento e aquisição de habilidade de cateterismo vesical, constante no anexo 1. 48 REFERÊNCIAS ABBOUDI, H.; KHAN, M.S.; GURU, D.A.; FROGHI, S.; D.E. WIND, G.; VAN POPPEL, H.; DASGUPTA, P. Ahmed K. Learning curves for urologicalprocedures: a systematic review. BJU Int., 2013 - 18 de Junho, Doi: 10.1111. ABRAMS, P; BRAUSI, M; BUNTROCK, S; EBERT, T; HASHIM, H; TISELIUS, HG; WYNDAELE, JJ. The future of urology. Eur Urol. 2012 Mar;61(3):534-40. doi: 10.1016/j.eururo.2011. 11.005. Epub 2011 Nov 12. 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O autor propõe um método de transferência das habilidades em cateterismo vesical em curto período de tempo (uma semana), visto ter observado que não há diferença estatisticamente significativa no conhecimento e no desempenho dos alunos quando comparados com o métodos de longo tempo (6 semanas). Seguiremos o seguinte roteiro para o treinamento: 1ª. Fase: avaliação inicial de conhecimento e habilidade com aplicação de teste prático inicial em manequim aos alunos envolvidos. A aferição do conhecimento se dará pelo preenchimento do seguinte questionário pelo examinador, baseado nos preceitos do exame clínico, objetivo e estruturado. 1 1. Informar o paciente sobre a indicação, complicações e expectativa de uso do cateterismo vesical 2. Planejar o procedimento 3. Manejar dos equipamentos de cateterismo vesical de maneira estéril 4. Colocar das luvas de maneira estéril 5. Realizar de assepsia e antissepsia de maneira correta 6. Manejar do pênis com as mãos durante a inserção do cateter 7. Inocular de lidocaína gel 2% 8. Aplicar técnica correta de inserção do cateter 9. Confirmar colocação correta do cateter na bexiga (saída de urina) 10. Usar corretamente das mãos durante a inserção do cateter (segurar o cateter de maneira correta) 11. Conectar o cateter a um coletor urinário fechado 12. Insuflar do balão do cateter com 10 ml de água destilada esterilizada e puxar o cateter contra o colo vesical até correta acomodação 13. Completar o procedimento com o mínimo de risco para o paciente 14. Identificar problemas e escolher a estratégia apropriada 2 3 4 5 60 (quando necessário pedir ajuda) 15. Comunicar e interagir com o paciente Tempo (minutos) ............................. Muito ruim Ruim Bom Muito Excelente bom Impressão geral 2ª. Fase: Serão disponibilizados 70 minutos de instrução em sala de aula versando sobre anatomia do trato urinário inferior e da técnica recomendada de cateterismo vesical. 3ª. Fase: apresentação de vídeo demonstrativo de no máximo 15 minutos que demonstrará todos os aspectos práticos necessários para a correta e segura inserção de cateter vesical. 4ª. Fase: Os alunos farão 4 sessões de treinamento em manequim durante uma hora num período de 7 dias. 5ª. Fase: Aplicação de teste prático de cateterismo vesical aos alunos, utilizando o mesmo questionário da primeira fase. 6ª. Fase: Aferição dos resultados e avaliação da eficácia do método. 7ª. Fase: Retificação do aprendizado da habilidade em cateterismo vesical, baseado no resultado da sexta fase. 3. Considerações finais: A adoção de procedimento operacional padrão em cateterismo vesical propiciará uma aquisição de habilidade de maneira eficaz e em curto espaço de tempo.