CORIZA felina

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CORIZA felina
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CONSULTÓRIO
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Figura 
CORIZA felina
Francisco Teves
Médico veterinário
A Coriza felina, ou Influenza felina, também conhecida
como Gripe dos gatos, é uma doença do aparelho respiratório superior, incluindo nariz, faringe, boca, laringe, traqueia, e, pontualmente, os brônquios e pulmões (já pertencentes ao trato inferior). Esta doença é semelhante à dos
humanos, mas não nos é transmissível! A infecção poderá
ocorrer de forma simples ou em associação de vários agentes, podendo ser agentes o Herpesvírus felino tipo 1 (HVF-1),
o Calicivírus felino (FCV) e a Chlamydia felis, estando com
frequência outros agentes envolvidos, como bactérias
(Bordetella bronchiseptica) e micoplasmas (Mycoplasma
felis).
Esta patologia ocorre em ambientes de sobrepopulação,
quando coabitam vários gatos em pequenos locais. É frequente em gatis e colónias de gatos vadios, embora também ocorra em ambientes domésticos com muitos gatos,
fustigando especialmente os gatos jovens.
A transmissão ocorre tanto por contacto directo com as
secreções nasais, oculares e salivares de animais infectados, ou por contacto indirecto através do material libertado
pelos espirros e tosse ou pelo contacto com fomites (objectos capazes de reter os agentes infecciosos e transmitir a
outros animais – ex: comedouros, bebedouros, brinquedos,
jaulas).
De entre a população de gatos, os
grupos de maior risco são, em primeiro lugar, os não vacinados (por
isso se deve vacinar e revacinar
anualmente todos os gatos), em segundo, os gatos muito
jovens e em terceiro lugar os gatos muito velhos. Os animais que possuírem concomitantemente outras doenças,
especialmente as imunossupressoras (que deprimem o sistema imunitário), são também grupos de risco pela vulnerabilidade do seu sistema imunitário (exemplos de doenças
imunossupressoras são a Leucemia felina e a
Imunodeficiência felina).
No que respeita à sintomatologia, a doença poderá apresentar-se de diversas formas relacionadas com o(s) agente(s) envolvido(s), podendo o animal manifestar febre, corrimento nasal, secreções oculares (figura 1), espirros, úlceras na cavidade oral e a nível ocular. Os gatos apresentam
um estado geral de prostração e depressão, perdendo gradualmente o apetite (motivado pela dor gerada pelas
lesões) o que complica e agrava o quadro clínico do animal.
A pneumonia pode surgir como complicação do quadro clínico. A apresentação típica nos gatos jovens é a de exuberante conjuntivite (têm grande dificuldade em abrir os
olhos), corrimento nasal consistente, perda de apetite e o
enfraquecimento muito rápido, de dia para dia.
O diagnóstico da coriza é normalmente feito com base nos
sintomas apresentados pelo animal em consulta, na sua
história pregressa (histórico) e a
possibilidade de exposição ao
agente infeccioso. O diagnóstico
definitivo só é possível com o isolamento e identificação do agente
em laboratório, mas a avaliação clínica dos animais afectados normalmente confere indicações suficientes e com alguma segurança para o
diagnóstico provável da infecção.
O tratamento quando instituído
numa fase inicial da infecção é sintomático e surte rápida melhoria
no estado do animal, sem lesões
irreversíveis, podendo passar pela a aplicação de colírios
oculares específicos, o isolamento do(s) animal(ais), a disponibilização de um ambiente controlado em temperatura
e sem correntes de ar. Em situações clínicas mais avançadas, em que já existam infecções secundárias associadas,
poderá haver necessidade de instituir terapêutica antimicrobiana apropriada, administração de antivíricos, fluidoterapia (administração de soro) e recurso a expectorantes
para os casos de maior secreção naso-ocular. Em associação, terá de se insistir para que o animal ingira a alimentação, mesmo que forçadamente. Os cuidados de enfermagem são importantes (limpeza dos olhos e focinho, etc.).
Com a suspeita de infecção desta natureza, os donos dos
gatinhos devem procurar imediatamente o seu veterinário
para avaliação e tratamento do animal. O não tratamento
destes casos ou o tratamento tardio conduz muitas vezes a
sequelas (como a cegueira irreversível do animal – figura )
e algumas vezes à morte.
Após a infecção comprovada de gatos num determinado
local, há a necessidade de se
desinfectar com agentes virucidas
o espaço e todo o equipamento
com que os gatos infectados contactaram, como forma de reduzir o
risco de infecção de outros animais. Dependendo do agente
infeccioso envolvido, o gato,
mesmo que recuperado clinicamente, torna-se portador, ou seja, excreta o vírus através
na sua saliva, lágrimas, corrimento nasal e outras secreções, por períodos variáveis, podendo assim infectar outros
gatos. No caso do Herpesvírus felino (HVF) os animais
depois de infectados são portadores para toda a vida,
enquanto que no caso do Calicivírus felino (CVF) são-no
normalmente por pouco tempo.
A melhor forma de prevenção é a vacinação dos gatinhos
jovens, ainda pequenos, de preferência antes de serem retirados definitivamente à mãe, bem como a revacinação
anual dos mesmos. Outras medidas que auxiliam na prevenção da doença, estão relacionadas com o maneio,
nomeadamente mantendo os gatos muito novos em
ambientes que não sofram grandes oscilações térmicas,
que não sejam expostos a correntes de ar, evitando o confinamento de muitos animais em espaços restritos, procedendo à boa limpeza, higienização e desinfecção do equipamento e espaços que sejam partilhados por outros gatos,
em especial por gatos mais jovens.
Figura 1
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 de junho de 11
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