Baixe e leia um trecho

Transcrição

Baixe e leia um trecho
Miolo Como se livrar de um vampiro apaixonado:MIOLO 10/27/10 1:55 PM Page 3
Como se livrar de um
B E T H FA N TA S K EY
Miolo Como se livrar de um vampiro apaixonado:MIOLO 10/27/10 1:55 PM Page 5
Para meus pais –
Donald e Marjorie Fantaskey
Miolo Como se livrar de um vampiro apaixonado:MIOLO 10/27/10 1:55 PM Page 7
“Lembrem-se, garotas: o vampiro jovem
é um predador por natureza. Alguns podem
vê-las não apenas como parceiras, mas
como presas...”
Crescendo como morto-vivo – Um guia para o
vampiro adolescente sobre namoro, saúde e
emoções, Capítulo 1: “Prestes a se tornar
um vampiro adulto”.
Miolo Como se livrar de um vampiro apaixonado:MIOLO 10/27/10 1:55 PM Page 9
C APÍTULO 1
Na primeira vez que o vi, uma névoa pesada e cinz enta parecia se
agarrar ao milhar al, c om faixas de neblina deslizando ent re as plantas
quase mortas. Era um início de manhã sombrio e eu estava esperando o
ônibus escolar para o primeiro dia de aula, cuidando da minha vida, parada no fim da est radinha de t erra que liga a cas a de faz enda onde moro à
estrada principal que leva à cidade.
Eu pensa va em quantas v ezes, nos últimos 12 anos, tinha esper ado
aquele ônibus. Estava fazendo cálculos de cabeça quando notei a presença
dele.
Então, de repente, aquele trecho familiar de asfalto pareceu terrivelmente
desolado.
Ele estava parado sob uma enorme faia que ficava do outro lado da estrada, os braços cruzados na frente do peito. Os galhos baixos e retorcidos da
árvore se enr oscavam em v olta dele, cam uflando-o sob r amos, folhas e
sombras. Mesmo assim dava para ver que ele era alto e usava botas e um
sobretudo escuro que parecia uma capa.
Senti um aperto no peito e engoli em seco. Que tipo de pessoa fica parada debaixo de uma ár vore, ao amanhecer , no me io do nada, usando uma
capa preta?
Ele deve ter percebido que eu o notei, porque se mexeu um pouco, como se
decidisse se deveria ficar ou ir embora. Ou atravessar a estrada.
Eu n unca ha via me t ocado de c omo ficar a vulneráv el t odas aquelas
manhãs, esperando sozinha ali fora, mas, naquele momento, essa constatação me atingiu como um soco no estômago.
Percorri com os olhos toda a extensão da estrada, o coração martelando.
Cadê aquele ônibus idiota? E por que, afinal, meu pai precisa ser tão a favor do
transporte coletivo? Por que não poss o ter um car ro, como quase todo colega
do último ano do ensino médio? Mas, não, eu tinha que “compartilhar a viagem” par a sal var o me io ambie nte. Quando eu for s equestrada pelo car a
9
Miolo Como se livrar de um vampiro apaixonado:MIOLO 10/27/10 1:55 PM Page 10
ameaçador que está debaixo da ár vore, é capaz de papai insist ir par a que
minha foto de desaparecida seja impressa apenas em papel reciclado.
Na preciosa fração de segundo que per di sentindo r aiva do meu pai, o
estranho saiu de onde esta va, debaix o da ár vore, e s e m oveu na minha
direção. E no moment o exato em que o ônibus, graças a Deus, surgiu no
topo do morro uns 50 metros adiante, eu poderia jurar que o ouvi dizer
“Antanasia”.
Meu ant igo nome... O nome que r ecebi ao nas cer, na E uropa or iental,
antes de s er adotada e t razida para os Estados U nidos, onde fui r ebatizada
como Jessica Packwood...
Ou talvez eu estivesse ouvindo coisas, porque a palavra foi abafada pelo
som de pneus sibilando no asfalto molhado, por engrenagens rangendo e
pelo chiado da porta que o motorista, o velho Sr. Dilly, abria para mim. Eu
te amo, ônibus número 23. Nunca me senti tão feliz por ent rar nele.
Com seu grunhido usual, “Dia, Jess”, o Sr. Dilly engrenou o ônibus e eu
fui cambaleando pelo c orredor, enquant o pr ocurava um lugar vazio ou
um rosto amigo em meio aos passageiros sonolentos. Às vezes era um saco
morar na zona rural da Pensilvânia. Os adolescentes da cidade ainda deviam
estar dormindo àquela hora, na segurança de suas camas.
Encontrei um assento bem no fundo e me deix ei cair, com um suspiro
de alívio. Será que estava exagerando? Talvez eu estivesse imaginando coisas
ou minha cabeça estivesse confusa de tanto assistir àquele programa sobre
os bandidos mais pr ocurados do país. Ou, tal vez, o est ranho quisesse
mesmo me faz er mal. Girando o pesc oço, dei uma espiada p ela janela de
trás e... meu coração se apertou.
Ele continuava lá, mas agora estava na estrada, cada uma de suas botas
plantadas de um lado da faixa amar ela, os br aços ainda cr uzados, observando o ônibus se afastar. Olhando para mim.
“Antanasia...”
Será q ue e u t inha m esmo e scutado o c ara m e c hamar u sando a quele
nome esquecido havia tanto tempo?
E se ele c onhecesse esse fat o obscur o, o que mais aquele est ranho de
cabelos escuros escondido em meio à névoa saberia sobre meu passado?
Mais do que isso: o que ele estava querendo comigo no presente?
10
Miolo Como se livrar de um vampiro apaixonado:MIOLO 10/27/10 1:55 PM Page 11
C APÍTULO 2
– Quer ouvir um resumo do verão que passei na colônia de férias?
– perguntou minha melhor amiga, Melinda Sue Stankovicz. Ela deu um
suspiro, abriu a pesada porta de vidro da Escola Woodrow Wilson e disse:
– Crianças com saudade de casa, queimaduras de sol, urticária e ar anhas
enormes nos chuveiros.
– Parece que foi horrível trabalhar de monitora – comentei, solidária, ao
entrarmos no corredor familiar, que cheirava a desinfetante e cera recém-aplicada. – Se serve de consolo, eu ganhei pelo menos dois quilos trabalhando de garçonete. Comia um pedaço de torta sempre que tinha uma folga.
– Você está c om um c orpão. – M indy não deu bola par a minha r eclamação. – Já seu cabelo...
– E i! – pr otestei, alisando meus cac hos desobedient es, que par eciam
mesmo estar se rebelando na umidade do fim de verão. – Fique sabendo que
passei uma hora com o secador e usei um “bálsamo de alisamento” que me
custou uma semana de gorjetas... – Parei de falar ao perceber que Mindy
estava distraída, sem me escutar. Acompanhei seu olhar pelo c orredor, na
direção dos armários.
– E por falar em c orpão... – disse ela.
Jake Zinn, que morava numa fazenda p erto d a minha, lutava com o
novo segredo do seu armário. Franzindo os olhos para um pedaço de papel
na mão , g irou o disc o e c hacoalhou a maçaneta. U ma camiseta b ranca
nova em folha fazia seu br onzeado de verão parecer especialmente intenso.
As mangas se apertavam ao redor dos bíceps volumosos.
– Jake está incrível – sussurrou Mindy enquanto nos aproximávamos do
meu vizinho. – Deve ter entrado para uma academia ou sei lá o quê. E não
é que ele fez luzes?
– Ele juntou fardos de feno o verão inteiro sob o sol, Min – sussurrei de
volta. – Ele não precisa de academia. Nem de água oxigenada no cabelo.
Jake levantou os olhos enquanto passávamos e sorriu ao me ver.
– Oi, Jess.
– Oi – respondi. Depois me deu um branco.
11
Miolo Como se livrar de um vampiro apaixonado:MIOLO 10/27/10 1:55 PM Page 12
Mindy se intrometeu e evitou um silêncio constrangedor.
– Parece que deram o segredo errado a você – disse ela, apontando com
a cabeça na direção do armário de Jake, ainda fechado. – Já tentou dar um
chute nele?
Jake ignorou a sugestão.
– Você não trabalhou ontem à noite, Jess?
– Não, saí da lanchonete. Era só um emprego de verão.
Ele pareceu meio desapontado.
– Ah. Bem, então acho que vou ver você só na escola.
– É. Com certeza vamos fazer algumas matérias juntos – completei, sentindo minhas bochechas esquentarem. – A gente se vê.
Praticamente arrastei Mindy pelo corredor.
– Que papo foi aquele? – pergunt ou ela quando nos afastamos. Ela
olhou para Jake por cima do ombro.
Meu rosto ficou ainda mais quente.
– Como assim?
– Jake todo triste porque você saiu da lanchonete. Você ficando vermelha...
– Ih, nada a ver. Ele apareceu umas vezes perto do fim do meu turno e
me deu carona para casa. A gente conversou um pouco... E eu não estou
vermelha.
– Verdade? – O sorriso de Mindy era presunçoso. – Você e Jake, hein?
– Não foi nada de mais – insisti.
Os olhos de Mindy brilhavam. Ela sabia que eu não estava sendo completamente sincera.
– Esse ano vai ser bem int eressante – previu ela.
– E por falar em int eressante...
Ia começar a contar à minha melhor amiga sobre o estranho amedrontador no ponto de ônibus, mas, no momento que pensei nele, os pelos da
minha nuca se eriçaram, quase como se eu estivesse sendo vigiada.
“Antanasia...”
A voz grave e profunda ecoou no meu cérebro, como se fosse um daqueles pesadelos de que não nos lembr amos muito bem ao acordar.
Cocei a nuca. Talvez eu contasse a história a Mindy mais tarde. Ou talvez
12
Miolo Como se livrar de um vampiro apaixonado:MIOLO 10/27/10 1:55 PM Page 13
a coisa toda simplesmente sumisse da minha memór ia e eu n unca mais
voltasse a pensar no cara.
Era provavelmente o que iria acontecer.
Mas a sensação esquisita não passou.
C APÍTULO 3
– Esta matéria será muito estimulante – pr ometeu a Sr a.
Wilhelm, bor bulhando de entusiasmo enquanto entregava a lista de leitur a
de literatura inglesa do terceiro ano, que ia de Shakespeare a Bram Stoker.
– Vocês vão simplesmente adorar os clássicos que escolhi. Preparem-se para
um ano de sagas épicas, r omances de ac elerar o c oração e c onfrontos de
grandes e xércitos. Tudo isso sem pr ecisar pôr os pés par a for a da Esc ola
Woodrow Wilson.
Pelo jeito nem todo mundo ficou tão extasiado com confrontos de exércitos e corações acelerados quanto a Sra. Wilhelm, porque ouvi um monte
de gemidos enquant o a lista cir culava pela tur ma. M inha cópia c hegou
pelas mãos de meu eterno tormento, Frank Dormand, que havia se sentado na carteira à minha frente como uma enorme bola de gosma. Fiz uma
avaliação rápida da lista. Ah, não. Ivanhoé, não. E Moby Dick... quem tinha
tempo para Moby Dick? Este de veria s er o ano e m que eu teria uma vida
social. Para não mencionar Drácula... dá um tempo. Se havia uma coisa que
eu odiava eram historinhas macabras sem qualquer embasamento na realidade ou na lógica. Esse era o território dos meus pais e eu não tinha interesse em entrar nele.
Lancei um olhar rápido par a Mindy, sentada do out ro lado do c orredor, e vi pânico e sofrimento nos olhos dela também.
– “Uivantes”? Essa palavra existe? – sussurou ela.
– Não faço ideia – r espondi. – A gente procura depois.
– Também quero que vocês preencham esse mapa das carteiras – continuou a S ra. Wilhelm, suas sapatilhas c hiando no c hão da sala. – O lugar
que escolheram para se sentar vai ser o mesmo o ano t odo. Estou vendo
13
Miolo Como se livrar de um vampiro apaixonado:MIOLO 10/27/10 1:55 PM Page 14
alguns rostos novos e quer o que vocês conheçam uns aos out ros o mais
depressa possível, portanto não troquem de lugar.
Afundei n a c adeira. Maravilha. E u esta va destinada a passar um ano
inteiro aturando os comentários imbecis e maldosos que Frank Dormand
certamente faria sempre que se virasse para entregar alguma coisa. E Faith
Crosse, a líder de torcida nojenta, havia ficado com a carteira logo atrás de
mim. Eu estava encurralada entre duas das pessoas mais perversas da escola.
Pelo menos Mindy estava ao lado. E, olhando para a esquerda, vi que Jake
tinha encontrado uma carteira perto da minha. Ele sorriu para mim. Acho
que poderia ter sido pior. Mas não muito.
Frank se virou para trás e jogou o mapa dos lugar es para mim.
– Pega aí, Pacotão – zombou ele, usando o apelido que me der a no jardim de infância. – Ponha isso no mapa.
É. Imbecil e maldoso , exatamente como eu ha via previsto. E s ó faltam
180 dias de aula.
– Pelo menos eu sei escrever o meu nome – alfinet ei. Babaca.
Dormand girou para a frente com uma careta de desprezo e eu enfiei a
mão na moc hila para pegar uma caneta. Quando fui escr ever o nome, vi
que a caneta estava seca, provavelmente porque tinha ficado sem tampa o
verão inteiro. Dei uma sacudida nela e t entei de novo. Nada.
Comecei a me v irar para a esquer da, achando que tal vez Jake pudesse
me emprestar uma caneta. Mas, antes mesmo de pedir , senti um tapinha
no ombro direito. Agora não... Agora não... Pensei em ig norar, mas a pessoa insistiu.
– Com licença, você precisa de um instrumento de escrita?
A voz profunda, com sotaque europeu, vinha de trás. Não tive escolha a
não ser me virar.
Não!
Era ele. O car a do ponto de ônibus. Eu teria reconhecido em qualquer
lugar a roupa estranha – o sobretudo, as botas –, para não falar de sua altura
imponente. Só que dessa vez ele estava bem perto. O bastante para eu ver
seus olhos. Eles er am tão escuros que pareciam negros e se cr avavam em
mim com um jeito tranquilo e um tanto irritante. Engoli em seco, congelada na cadeira.
14
Miolo Como se livrar de um vampiro apaixonado:MIOLO 10/27/10 1:55 PM Page 15
Será que ele tinha estado na sala o tempo todo? Nesse caso, por que não
o notei antes?
Talvez porque ele estivesse um pouco afastado do resto de nós. Ou porque o canto que ele ocupava parecesse mais escuro, já que a luz fluorescente sobre a car teira dele esta va apagada. Mas era mais do que isso . Era
quase como se ele criasse a escuridão. Isso é ridículo, Jess... Ele é uma pessoa,
não um buraco negro...
– Você precisa de um instrumento de escrita, não é? – repetiu ele, estendendo o br aço, um br aço comprido e m usculoso, para me ofer ecer uma
brilhante caneta dour ada. Nada a v er com as B ics de plástic o que t odo
mundo usava. Só pelo modo c omo reluzia dava par a ver que er a car a.
Quando hesitei, uma expressão de irritação atravessou seu rosto aristocrático e ele balançou a caneta par a mim. – Você reconhece uma caneta, não
é? Não se trata de um objeto familiar?
Não gostei do sar casmo nem de c omo ele havia surgido perto de mim
duas vezes num m esmo d ia, v indo d o n ada, e f iquei o lhando, e stupidamente, até que Faith Crosse se inclinou para a frente e beliscou meu braço.
Com força.
– Só assina o mapa, Jenn, beleza?
– Aiê!
Esfreguei o que iria virar um hematoma, desejando ter coragem de dar
um for a em F aith, tant o por me beliscar quant o por t rocar meu nome.
Mas a última pessoa a se met er com Faith Crosse acabou se t ransferindo
para a Santa Mônica, a escola católica da região, para se ter ideia de como
Faith havia infernizado a vida dela na Woodrow Wilson.
– Anda logo, Jenn – repetiu Faith, ríspida.
– Tá, tá.
Com relutância, estendi a mão par a o est ranho e aceitei a caneta pe sada. Quando nossos dedos se tocaram, tive a sensação mais bizarra de todas.
Tipo um déjà vu t rombando com uma premonição. O passado colidindo
com o futuro.
Então ele sor riu, revelando os dent es mais perfeit os, alinhados e b rancos que eu já tinha v isto. Eles brilhavam. Acima dele a luz fluor escente se
acendeu por um instante, piscando como um relâmpago.
15
Miolo Como se livrar de um vampiro apaixonado:MIOLO 10/27/10 1:55 PM Page 16
Isso foi esquisito.
Minha mão tremeu um pouco enquanto eu escrevia o nome no mapa
de lugares. Era idiotice pirar daquele jeito. Ele era só outro aluno. Obviamente recém-chegado. Talvez morasse perto da nossa fazenda. Devia estar
esperando o ônibus, como eu, e de algum modo não c onseguiu embarcar. Seu surgimento meio misterioso na sala de aula – per tinho de mim
– provavelmente também não era motivo para alarme.
Olhei para Mindy procurando a opinião dela. Estava na cara que estivera
esperando que eu fiz esse contato. Com os olhos ar regalados, balançou o
polegar na direção do cara, falando sem som: “Ele é muito gato!”
Gato?
– Tá maluca? – sussurrei. É, o cara era tecnicamente bonito. Mas também era aterrorizante com o sobretudo, as botas e a capacidade de se materializar perto de mim parecendo vir de lugar nenhum.
– O mapa, anda! – resmungou Faith atrás de mim.
– Toma. – Passei o mapa por cima do ombr o e, quando Faith puxou o
papel da minha mão, ganhei um corte fino, porém profundo. – Ai!
Sacudi o dedo que ardia e sangrava, depois o enfiei na boca, sentindo o
gosto salgado na língua, antes de me virar para o lado e devolver a caneta.
Quanto mais depressa, melhor...
– Aqui, obrigada.
O car a que ger ava sua própr ia escur idão olhou par a os meus dedos e
percebi que meu sangue tinha sujado sua caneta car a.
– Ah, desculpa – falei, enxugando a caneta na minha perna, por falta de
lenço de papel. Eca. Será que essa mancha vai sair da minha calça jeans?
Seu olhar ac ompanhou meus dedos e ac hei que ele esti vesse sentindo
repulsa por eu estar sangrando. Mas vi algo bem diferente de nojo naqueles olhos pretos. E então ele passou a língua devagar sobre o lábio inferior.
O que é que foi aquilo?
Joguei a caneta par a ele e me ajeit ei na cadeira. Eu devia trocar de escola, como a gar ota que s e me teu com F aith. Vou para a Santa Mônica. É o
jeito. Não é tarde demais...
O mapa dos lugares voltou à Sra. Wilhelm e ela leu os nomes, depois levantou a cabeça com um sorriso que se dirigia para além da minha car teira.
16
Miolo Como se livrar de um vampiro apaixonado:MIOLO 10/27/10 1:55 PM Page 17
– Vamos dar as boas-v indas ao nosso no vo aluno de int ercâmbio,
Lucius... – Franzindo a testa, ela olhou de novo para o gráfico. – Vla-des-cu.
Falei certo?
A maioria dos alunos teria apenas murmurado “É, tudo bem”. Quem se
importaria tanto com um sobrenome?
O meu perseguidor, é claro.
– Não – retrucou ele. – Não está certo.
Atrás de mim ouvi uma cadeira raspando no linóleo e então uma sombra se ergueu acima do meu ombr o. Os pelos da minha n uca se eriçaram
de novo.
– Ah – gemeu a Sra. Wilhelm, parecendo um tanto intimidada enquanto
um adolescente alto usando um sobretudo preto de veludo avançava pelo
corredor. Ela ergueu um dedo cauteloso, como se fosse mandar que se sentasse, mas ele passou direto.
Ele pegou um marcador no suporte ao lado do quadro branco, tirou a
tampa com autoridade e escreveu a palavra Vladescu numa letra floreada.
– Meu nome é Lucius Vladescu – anunciou, apontando a palavra. – VlaDES-cu. Ênfase na sílaba do meio, por favor.
Cruzando as mãos às c ostas, ele c omeçou a andar de um lado par a o
outro, c omo se fosse o pr ofessor. Fez c ontato v isual c om cada aluno da
sala, obviamente nos avaliando. Pela expressão dele, senti que fomos considerados um tanto medíocres.
– O sobrenome Vladescu é bastante reverenciado na Europa oriental –
disse, em tom de sermão. – É nobre. – Ele parou de andar e cravou seus
olhos nos meus. – Um nome da realeza.
Eu não fazia ideia do que ele estava falando.
– Isso não faz “cair a ficha”, como vocês costumam dizer? – A pergunta
era para a turma em geral, mas ele continuava me olhando.
Meu Deus, seus olhos são negros mesmo.
Encolhi-me, olhando p ara Mindy, que esta va se abanando e me ig norando. Era como se estivesse enfeitiçada. Todo mundo estava. Ninguém se
mexia nem abria a boca.
Contra a vontade, voltei a atenção para o adolescente que havia se apoderado da aula de literatura inglesa. E era quase impossível não olhá-lo.
17
Miolo Como se livrar de um vampiro apaixonado:MIOLO 10/27/10 1:55 PM Page 18
O c abelo b rilhoso e l igeiramente c omprido d e L ucius Vladescu p arecia
deslocado no condado de Lebanon, na Pensilvânia, mas combinaria muito
bem com os modelos europeus das revistas Cosmopolitan de Mindy. Ele
era musculoso e mag ro como um modelo, também, com maçãs d o rosto
definidas, nariz reto e queixo forte. E aqueles olhos...
Por que ele não parava de me olhar?
– Gostar ia de nos c ontar mais alguma c oisa a seu r espeito? – suger iu
finalmente a Sra. Wilhelm.
Lucius Vladescu se virou para encará-la e tampou o marcador com um
estalo firme.
– Na verdade, não.
A resposta não foi grosseira, mas ele também não se dirigiu à Sra. Wilhelm
como um aluno. Foi mais como alguém do mesmo nível.
– Tenho c erteza de que ador aríamos saber mais sobr e suas or igens –
insistiu a Sra. Wilhelm. – Parece mesmo interessante.
Mas Lucius Vladescu tinha voltado sua atenção para mim.
Afundei na minha cadeira. Será que todo mundo está ve ndo isso?
– Vocês saberão mais sobre mim no momento oportuno – disse Lucius.
Havia uma leve frustração em sua voz e eu não entendi por quê. Mas isso
me assustou. – É uma promessa – acrescentou ele, me encarando.
Pareceu mais uma ameaça.
C APÍTULO 4
– Viu como o cara estrangeiro estava secando v ocê na aula de
literatura ing lesa? – ber rou Mindy quando nos enc ontramos depois das
aulas. – Ele é muito lindo e está a fim d e você! E é da realeza.
Apertei o pulso dela, tentando acalmá-la.
– M in, a ntes d e v ocê c omprar u m p resente p ara o n osso c asamento
“real”, tenho que dizer uma coisa apavorante sobre esse cara supostamente muito lindo.
Minha amiga cruzou os braços, incrédula. Dava para ver que Mindy já
18