Monografia completa - Calem

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Monografia completa - Calem
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
Centro Acadêmico de Línguas Estrangeiras Modernas
Curso de Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas
JANE AUSTEN ON SCREEN: A LITERATURA E O CINEMA
CURITIBA
2006
TÂNIA FRUGIUELE SOARES AGOSTINHO
Monografia de conclusão do Curso de Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas
da UTFPR.
Orientador: ***
CURITIBA
2006
TERMO DE APROVAÇÃO
Tânia Frugiuele Soares Agostinho
Jane Austen on Screen: A Literatura e o Cinema
Monografia aprovada com nota 9,0 como requisito parcial para obtenção de título de
Especialista, pelo curso de Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras
Modernas, do Centro Acadêmico de Línguas Estrangeiras Modernas – Universidade
Tecnológica Federal do Paraná, pela seguinte banca examinadora:
Orientadora:
Márcia dos Santos Lopes
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Regina Helena Urias Cabreira
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Eliane Regina Costa Oliveira
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Coordenadora:
Carla Barsotti
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
CURITIBA
2006
ii
Dedicatória
Dedico este trabalho a todos que me apoiaram, ao
meu marido e meus filhos, e em especial a alguém sem o
qual eu não teria chegado a esse curso e não teria
escolhido esse tema. Alguém que me ensinou a amar as
artes, principalmente a música e o cinema, sem nunca
sugerir nada, apenas com seu bom gosto e exemplo.
Alguém com quem eu pude sempre conversar e trocar
idéias sobre qualquer assunto e que sempre esteve
disponível para me ouvir, que nunca faltou aos meus
momentos importantes, mesmo presente apenas em
pensamento. Que fez suas, as minhas preocupações e
ambições, que viu crescer em mim os sonhos e me apoiou
na hora das frustrações. Hoje, mesmo estando longe,
continua ao meu lado, em sintonia com minhas ações e
meus pensamentos. Alguém que, enfim, me ensinou a
amar a família e amar a mim mesma, e que sempre me
amou incondicionalmente: MEU PAI.
iii
Agradecimentos
Tenho muito a agradecer, em primeiro lugar a Deus,
que me deu vida e permitiu que eu chegasse até aqui, aos
meus pais que me ensinaram a base de tudo, que a mim
se dedicaram e em mim acreditaram. Aos meus colegas e
professores que me acompanharam nessa jornada, e com
os quais eu pude partilhar momentos de alegria e
amizade. Aos meus filhos que são a razão da minha vida
e para quem eu quero ser sempre a mãe amiga e
presente. A minha orientadora, que partilhou comigo a
realização deste estudo e me auxiliou nas dúvidas e
incertezas.
E,
finalmente,
ao
meu
marido,
meu
companheiro e amigo, que me incentivou a estudar e
realizar meus sonhos, sem o qual jamais teria chegado
neste curso, a quem muito admiro, muito respeito e muito
amo.
iv
Epígrafe
It is a truth widely acknowledged that
mediocre
books
often
make
good
film
or
television; great books do exactly the same.
PRESTON (apud MACDONALD, 2003:12)
v
Sumário
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................01
2 JANE AUSTEN: VIDA E INFLUÊNCIA LITERÁRIAS............................................03
2.1.Biografia da autora....................................................................................03
2.2.As relações literárias de Jane Austen e suas influências......................... 06
3. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA E CULTURAL DA OBRA.........................12
3.1. Tema principal da obra: o casamento .................................................16
3.2. Leis e Costumes da época: a herança e o casamento........................18
4. ANÁLISE COMPARATIVA: ROMANCE E FILMES.............................................27
4.1. A Literatura e o Cinema: do romance para a tela..................................32
4.2. O Renascimento de Jane Austen..........................................................44
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................48
REFERÊNCIAS .........................................................................................................50
ANEXO 1................................................................................................................... 54
ANEXO 2....................................................................................................................56
vi
Resumo
Este trabalho pretende discutir a adaptação cinematográfica da obra de
Jane Austen, enfocando como o cinema pode difundir e até mesmo incentivar a
leitura e o conhecimento de uma obra através de sua linguagem numa abordagem
artística e comercial. São várias as obras de Jane Austen adaptadas para o cinema,
dentre elas, este trabalho direcionou-se para uma das mais conhecidas: Pride and
Prejudice ou Orgulho e Preconceito. São inegáveis as influências da escritora no
cinema e a atração que suas histórias exercem sobre os grandes estúdios, pois
contêm todos os ingredientes que formam um grande sucesso de bilheteria: amor,
orgulho, preconceito, intrigas e heroínas. Há também em suas obras um fiel retrato
da sociedade da época em um estilo sarcástico e ousado de escrever. Para que se
possa avaliar até que ponto as adaptações cinematográficas retratam realmente o
espírito da autora, é preciso primeiro conhecer sua obra original para depois
estabelecer um paralelo com o filme. Dessa forma, este trabalho divide-se em quatro
partes. A primeira aborda a biografia, a bibliografia e a filmografia da autora, dados
que são relevantes no entendimento do estudo. A segunda procura estabelecer o
contexto social e histórico do final do século XVIII e início do século XIX, época em
que se desenrola a ação do romance, através de pesquisa sócio-econômica e
cultural. A terceira enfoca o tema principal da obra, que é o casamento e faz uma
análise comparativa da obra literária e de suas adaptações cinematográficas. E
finalmente, a quarta parte faz a avaliação conclusiva da influência do cinema na
divulgação da autora e a importância da autora para a sétima arte.
Palavras-chave
Cinema-literatura inglesa-adaptação cinematográfica - Jane Austen
vii
1
1
INTRODUÇÃO
A história em “Orgulho e Preconceito”, obra literária a que se refere este
estudo, teve lugar em uma aldeia do interior da Inglaterra chamada Meryton, no
início do século XIX. Trata-se de um romance escrito à época de sua ação, por uma
jovem de classe média, como seria classificada hoje, cujo objetivo era meramente
divertir e distrair a família com as sessões de leitura noturna, hábito muito comum
naquele tempo.
Para entender a obra de Jane Austen, é preciso, primeiramente, conhecer um
pouco da vida e da família da autora; depois conhecer os usos e costumes de sua
época, a maneira de pensar e de agir do meio social em que ela vivia e no qual se
passa o romance. Para não julgar seu enredo de maneira superficial, como apenas
“uma melosa história de amor”, aliás, como muitos já o fizeram, são necessários um
olhar mais atento e a mente desprovida de preconceito; as personagens cômicas e
suas atitudes muitas vezes ridículas, os diálogos e o comportamento da comunidade,
e, sobretudo, a sagacidade e ironia da autora na condução do enredo mostrarão que
mais do que uma simples estória romântica, a obra é um retrato fiel da sociedade
inglesa do final do século XVIII e início do século XIX, com suas hipocrisias e
injustiças, suas leis e costumes. Tal retrato é desenhado com nuances de sarcasmo
e velada denúncia contra a situação feminina de uma época na qual a mulher não
tinha outra escolha: ou se casava ou se tornava marginal em sua própria sociedade.
Esta sociedade foi moldada dentro de um contexto histórico-cultural que
precisa ser citado e explicado neste estudo para que se tenha perfeita clareza da
importância dos fatos, das leis e dos costumes da época e como tais aspectos
influenciaram toda a obra. Feito isto, julga-se importante conhecer a biografia da
autora, assim como sua bibliografia e sua correspondente filmografia, para que se
conheça a influência de sua obra literária na sétima arte e se demonstre a sua
aceitação por grande parte dos leitores e espectadores.
Sabe-se que o romance objeto deste estudo já foi adaptado ao cinema e à
televisão algumas vezes, assim como outros romances da mesma autora, tais como:
“Sense and Sensibility”; “Emma”; “Persuasion” e ”Mainsfield Park”. Sabe-se
2
também, que acaba de chegar aos cinemas mais uma adaptação do clássico
romance “Pride and Prejudice”, rodada recentemente, mais precisamente no ano
de 2005 e que concorreu ao Oscar em 2006 em quatro categorias a saber: melhor
atriz, melhor direção de arte, melhor figurino e melhor trilha sonora.
Então, deve-se perguntar: por que os grandes estúdios de cinema e as
grandes redes de TV têm tanto interesse na obra de Jane Austen? A resposta mais
óbvia que primeiramente vem à cabeça é a grande audiência que ela traz e o grande
sucesso de bilheteria que alcança. Mas, deve-se ainda perguntar qual o motivo de
tanto interesse do público em relação à sua obra? O que de fato atrai as pessoas ao
cinema, à tela da TV e à leitura de seus romances depois de tanto tempo?
Este estudo não pretende dar respostas definitivas para tais questões, mesmo
porque os interesses podem ter sido diferentes em diferentes épocas, como também
a visão de quem adaptou e dirigiu tais filmes e séries deve ter se modificado. Mas
pretende sim, analisar um dos romances mais famosos de Jane Austen e sua
adaptação para o cinema, e assim demonstrar a relevância de sua obra para a
literatura e para a arte em geral.
Desta forma, pretende-se demonstrar também quão importante sua obra pode
ser como subsídio histórico e cultural à medida que retrata, na visão de uma mulher
inteligente e culta, a sociedade européia do final do século XVIII e início do século
XIX. E por fim, constatando-se a influência e a importância que a sétima arte tem
sobre seus espectadores, pode-se avaliar como isso pode beneficiar a literatura à
medida que estimula a leitura. Assistir a uma adaptação cinematográfica vinda da
literatura clássica pode despertar o interesse sobre a obra original, mesmo que seja
apenas para compará-las.
3
2. JANE AUSTEN: VIDA E INFLUÊNCIAS LITERÁRIAS
2.1 BIOGRAFIA DA AUTORA
Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775, na paróquia de Steventon,
em Hampshire, Inglaterra e era a sétima dentre os oito filhos do Reverendo George
Austen, (1731-1805), reitor local (clérigo) da Igreja Inglesa, e de Cassandra, 17391827. Sua família tinha uma vida estável e confortável devido aos proventos do
cargo de seu pai adicionados aos pagamentos que recebia daqueles que viviam sob
o seu teto como seus pupilos e pelos quais ele era responsável pela educação e
formação. Porém, a família não era rica e, tal como Mr. Bennet, personagem do
romance Pride and Prejudice, seu pai não tinha posses para dar às suas filhas
bons dotes no casamento.
Os irmãos de Jane Austen eram: Henry (1771-1850) o irmão favorito de Jane,
que estudou em Oxford, mais tarde casou-se com Eliza de Feuillide (morta em 1813)
e tornou-se um ministro calvinista; Cassandra Elizabeth (1773-1845) era a única
irmã de Austen e sua confidente. Mais de cem cartas de Jane para a sua irmã
sobreviveram e dão o testemunho de quanto sua ligação era íntima e verdadeira.
Frank (1774-1865) e Charles (1779-1852) entraram para a Academia Real da
Marinha quando tinham doze anos, lutaram durante o período das guerras
napoleônicas e ambos tornaram-se almirantes. Edward (1767-1852), foi adotado por
um casal de primos da família que não possuía filhos, no início da década de 1780 e
mais tarde adotou o sobrenome da família “Knight”. O irmão mais novo de Jane
chamava-se James (1765-1819), era muito estudioso, foi para Oxford aos 14 anos e
foi ordenado clinico em 1887.
Em 1783, Jane e sua irmã mais velha Cassandra foram mandadas para a
casa de Mrs. Cawley, irmã de um de seus tios, para receberem formação. Primeiro
moraram em Oxford e depois se mudaram para Southampton. Porém, houve um
grande surto de doença na cidade, e elas foram mandadas de volta para casa. Por
volta de 1785, as duas irmãs foram para um internato em Abbey para aprenderem a
ler. O restante da educação se deu em casa, onde aprenderam a desenhar, bordar,
tocar piano e etc.
4
Jane Austen sempre gostou muito de ler, seu pai possuía uma biblioteca
muita vasta, com mais de 500 exemplares, onde ela e sua família eram assíduos
freqüentadores e de onde ela recebeu muitas influências. Entre 1782 e 1784, muitas
peças de teatro foram representadas pela família de Jane Austen, na reitoria de
Steventon. Mais tarde, entre 1787 e 1788, produções mais elaboradas se realizaram
sob a influência de sua prima Eliza de Feuillide, cuja educação era mais sofisticada.
Em sua adolescência em Steventon (1801) e mais tarde em Bath (1801-1806)
para onde seu pai repentinamente resolveu mudar com a família, Jane Austen
sempre gostou dos eventos sociais, bailes e festas, retratados em suas primeiras
cartas, como também, suas visitas a Londres, Bath e Southampton.
Há indícios de que a autora estava mantendo flertes com dois homens
diferentes, Mr. Heartley e Mr. Thomas Lefroy, um parente irlandês de uma velha
amiga, Mrs. Anne Lefroy. Em 14 e 15 de janeiro de 1796, quando ela tinha 20 anos,
Jane escreveu à sua irmã Cassandra, de maneira um tanto sarcástica, em uma
carta:
“Tell Mary that I make over Mr. Heartley and all his estate to her for
her sole use and benefit in future, and not only him, but all my other
admirers into the bargain wherever she can find them, even the kiss
which C. Powlett wanted to give me, as I mean to confine myself in
future to Mr. Tom Lefroy, for whom I do not care sixpence. Assure her
also, as a last and indisputable proof of Warren's indifference to me,
that he actually drew that gentleman's picture for me, and delivered it
to
me
without
a
sigh.
Friday. -- At length the day is come on which I am to flirt my last with
Tom Lefroy, and when you receive this it will be over. My tears flow at
the melancholy idea.”.
(Jane Austen's letters,1884:II, Lord Brabourne edition apud Jane
Austen’s Letters,1995)
“Diga a Mary que terminei com o Sr. Heartley [...] quero dizer,
pretendo confiar a mim mesma, em futuro, ao Sr. Lefroy. [...]. Sextafeira: hoje foi o último dia que flertei com o Sr.Lefroy, quando receber
esta, tudo estará terminado [...].”1
Em janeiro de 1805, o pai da autora morreu e os proventos da Sra. Austen e
suas duas filhas, as únicas que permaneciam em casa, ficaram muito reduzidos. A
família precisou contar com a ajuda dos irmãos de Jane para se sustentar.
1
tradução da pesquisadora
5
Em 1806, a família mudou-se para Clifton, e no outono do mesmo ano, para
Southampton, que era mais próxima da base naval de Portsmouth, onde os irmãos
da autora estavam, o que lhe trouxe muita alegria. Já em 1809, Jane, sua mãe, sua
irmã Cassandra e Martha Lloyd , cunhada de James, irmão de Jane, que morava
com elas desde 1805, mudaram-se para Chawton, próximo de Alton e Winchester,
onde Edward, um de seus irmãos, lhes cedeu uma casa dentro de sua propriedade.
Austen estava novamente próxima ao lugar de sua infância, Steventon, Hampshire.
A autora nunca se casou e viveu toda sua vida com a mãe e sua irmã, sendo
auxiliadas por seu irmão, pois sua parte na herança não era suficiente para sua
sobrevivência. Austen, então, resolveu publicar seus romances sob um pseudônimo,
porque apesar de a atividade de escritora ser uma das maneiras comuns de uma
mulher solteira se sustentar, não era tão bem vista pela sociedade. Com esse
expediente a autora ganhou algum dinheiro.
Em março de 1817, ela começou a ficar doente, supõe-se que ela sofria de
uma doença chamada Mal de Addison e em 27 de abril do mesmo ano, fez um
testamento em favor de sua irmã Cassandra. Em maio, ela mudou-se para
Winchester, em busca de tratamento médico e no dia 18 de julho de 1817, Jane
Austen morreu aos 41 anos e a causa de sua morte não foi totalmente esclarecida.
Ela foi enterrada na Catedral de Winchester, em 24 de Julho de 1817. Como era de
costume naquela época, as mulheres não podiam ir aos funerais e sua irmã querida
e confidente, Cassandra, não esteve presente em seu enterro.2
2
Biography: Life 1775 – 1817 and family. Jane Austen InfoPage
6
2.2. AS RELAÇÕES LITERÁRIAS DE JANE AUSTEN E SUAS INFLUÊNCIAS:
Segundo muitos fãs e estudiosos de Jane Austen, é difícil classificá-la em um
determinado movimento literário porque nenhum dos nomes usados para a literatura
de sua época, - Romantismo, Século XVIII, Era Vitoriana ou Regencial - consegue
definir e enquadrar sua obra de maneira indubitável.
“O Século XVIII”
Cobre o período de 1700-1800, no qual se situa o nascimento de Jane Austen
(1775) e com o qual a autora tem algumas similaridades, tais como a época em que
escreveu, por volta de 1780, algumas pequenas peças de humor e as primeiras
versões de seus últimos romances. Não se pode esquecer que um de seus
romances teve lugar entre 1798-1799, “Northanger Abbey”. Mas também não se
pode esquecer que ela jamais vendeu um romance durante este período e que sua
primeira publicação se deu em 1811. Mesmo aqueles romances que foram escritos
durante o século XVIII, só foram publicados depois de serem revisados pela própria
autora em 1809, portanto, seu período de atividade literária foi de 1809 - 1817
motivo já suficiente para não classificá-la como autora desse século.
“Romantic”
O termo refere-se artisticamente ao período do final do século XVIII e início do
XIX , quando mais se destacaram os preceitos e características da escola romântica,
sentimentalismo, nacionalismo e liberdade de expressão que se baseiam nos
princípios da Revolução Francesa e no pensamento que versava sobre a Europa de
“liberdade, igualdade e fraternidade”. Muito embora a autora tenha vivido
exatamente no período das Revoluções e das Guerras Napoleônicas, não há
menção dessas transformações em seu trabalho e nem traços característicos
definidos de sua tendência “romântica”.
7
“Victorian”
A rainha Victoria ascendeu ao trono em 1837, foi coroada em 1838 e morreu
em 1901. Jane Austen morreu um ano antes de a rainha nascer. Portanto, Austen
faz parte da lista de predecessores da Era Vitoriana, e tendo como base a linha
cronológica de escritores ingleses, encontra-se a escritora no período do
Romantismo , na literatura, e no período Regencial, no contexto histórico cultural.
“Regency”
Historicamente falando é o período entre 1811-1820, quando o Rei George III
foi declarado insano e o Príncipe de Gales (George IV) assumiu o trono como
Regente. Seu estilo de vida indolente e esbanjador influenciou todo seu reinado e
desagradou muito seus súditos. Seu casamento com Caroline of Brunswick foi um
desastre desde o princípio e por causa disso o Príncipe teve muitas amantes o que
desagradava toda a corte, inclusive Austen. Neste período aconteceram inúmeras
batalhas e a Inglaterra lutou contra o exército de Napoleão, que mais tarde foi
derrotado na Batalha de Waterloo.
Os poetas românticos, liderados por Byron, Shelley e Keats estavam em
evidência durante a Regência de George IV e Londres era o “centro nervoso” dessa
era. A Temporada abria com o Parlamento, em Março e se estendia até o fim de
Junho, quando as famílias influentes partiam para suas casas de campo.
As jovens faziam suas “entradas” na corte da Rainha e partiam em busca de
um marido. Faziam suas compras, iam a bailes, ao teatro e a ópera, enquanto os
homens, quando não estavam nos seus “clubs”, praticavam esportes ou cortejavam
as moças.
Jane Austen soube muito bem retratar todos esses costumes e maneirismos
da vida no campo, mesmo porque viveu e presenciou esse período e talvez por isso,
esse seja o nome que mais se adapta à obra da autora.porém, não é usado
tradicionalmente para classificar uma escola literária.3
3
Write Byte by Melinda McRae,1999 e Jane Austen Chronology and Periodization: introdução
8
Entretanto, parece que a autora apresenta alguns traços estilísticos que são
comparáveis aos de seus colegas contemporâneos e que podem, muitas vezes,
aproximá-la de uma ou outra escola literária e outros traços mais, que podem
ratificar a posição de seus admiradores.
Cody4 (The Victorian Web,2000:introdução) faz as seguintes considerações
em seu ensaio sobre Jane Austen:
Austen read and enjoyed writers like Fanny Burney, Maria Edgeworth,
Mrs. Radcliff, Defoe, Fielding, Sterne, Richardson, "dear Dr. Johnson,"
and the essayists (Addison and Steele, et al.). Poets she read
included Cowper and Crabbe, a particular favorite. The remarkable
thing about this list is who is not on it‹namely the Romantic poets. As
in the religious and political areas, we again see her refusing to
respond to her contemporaries. Wordsworth, Coleridge, and Byron
were the literary lions of the day, but we find nothing in her works of
the Romantic hero or the Romantic quest. Do you then classify her as
an eighteenth-century novelist?
How then do we account for her enormous influence? (And how, on
the other hand, can a modern critic say that "the truth of the matter is
that she arrived on the story-telling scene without ancestors and left it
without progeny.") A hint may come from Sir Walter Scott's remark in
his 1826 diary that "the big Bow-Wow strain I can do myself like any
now going; but the exquisite touch which renders ordinary commonplace things and characters interesting from the truth of description
and sentiment, is denied to me."
Neste trecho, vemos que o ensaísta destaca as influências de Jane Austen,
seus poetas e escritores preferidos, notadamente classificados de Românticos e
também seus contemporâneos literários, como Wordsworth, Coleridge 5 e Byron,
considerados os “papas” da época, em contraste com a recusa da autora em igualarse a eles em seus temas e estilo. Segundo CODY (2000:2), não há traço algum do
herói romântico e nem das questões românticas na obra de Jane Austen.
Algo notório na obra de Jane Austen é sua espirituosidade, a maneira como
as personagens principais de Pride and Prejudice, Elizabeth e Darcy, tecem
4
David Cody – professor de Inglês, membro da Hartwick College
5
Samuel Taylor Coleridge (1772 – 1834), poeta, filósofo e crítico inglês e um dos fundadores do
Romantismo Inglês.
9
comentários inteligentes e observações sagazes, demonstram muito esse traço da
autora.
De acordo com o artigo de McCarrin 6 (1998:32), Alexander Pope 7 e Jane
Austen estão entre os autores mais notáveis no uso dessa espirituosidade em seus
textos, para exemplificar tal comparação, o ensaísta cita dois trechos da obra de
cada autor e em seguida analisa-os:
True
wit
is
nature
to
advantage
dressed,
What oft was thought, but ne'er so well expressed,
Something,
whose
truth
convinced
at
sight
we
find,
That
gives
us
back
the
notion
of
the
mind.
( Alexander Pope, An Essay on Criticism [1711] part 2, lines 297-300)
"There is, I believe, in every disposition a tendency to some particular
evil, a natural defect, which not even the best education can
overcome."
"And your defect is a propensity to hate everybody."
"And yours," he replied with a smile, "is willfully to misunderstand
them."(Jane Austen, Pride and Prejudice, p.40)
Among those writers most notable for their use of wit, Pope and
Austen stand as being particularly well qualified to define the term
itself. The two views of wit out expressed in the above quotations each
in their own way address the question of its nature and appropriate
use. Each provides a distinct theory, and both share distinct
similarities. Though they arise in vastly different literary contexts, the
passages may be seen within the setting of the changing scientific
and religious views of the eighteenth century. In addition, the reader
may observe a common delicacy of balance phrase and balance that
connects the two excerpts. Both passages serve as well to represent
the tradition of wit that runs through English Literature.
Dentre os escritores mais notáveis no uso da espirituosidade, Pope e
Austen destacam-se como os mais qualificados para definir o próprio
termo. As duas visões de espirituosidade expressas nos textos acima,
cada uma a sua maneira, demonstram sua natureza e seu uso
apropriado. Cada um prova uma teoria distinta, e ambos dividem
distintas similaridades. Apesar de surgirem em contextos literários
muito diferentes, as passagens (os textos) podem ser vistas dentro de
um cenário de mudanças científicas e visões religiosas do século
XVIII. Além disso, o leitor deve observar uma comum delicadeza na
cadência da frase que conecta os dois extratos. Ambas as passagens
representam muito bem a tradição da espirituosidade que ocorre na
Literatura Inglesa. (Jane Austen – Literary Relations,1998:32)
6
Michael McCarrin, professor e crítico literário
7
Alexander Pope, escritor inglês do século XVIII, mais conhecido por seus poemas satíricos e
épicos.
10
Ainda no mesmo artigo, McCarrin (1998:33) atribui o estilo formal e a maneira
concisa de Austen escrever como influências advindas do Neoclassicismo. Segundo
ele, Austen resiste à descrição detalhada, tão usada na época, e comparando o
trabalho de Wordsworth8, com a obra em questão, onde o leitor recebe informações
sobre as personagens através dos diálogos, McCarrin destaca a diferença de estilos.
O romance Pride and Prejudice é notoriamente conhecido por sua parca descrição
do cenário natural. Jane Austen restringe suas descrições ao estritamente
necessário. A primeira, que retrata a visão que Elizabeth tem de Pemberley, é
econômica e concisa, onde a autora demonstra que não é seu objeto de trabalho dar
a descrição de Derbyshire e que o romance só deve retratar a cena quando ela é de
relevante significância para as personagens.
The park was very large, and contained a great variety of ground.
They entered it in one of its lowest points, and drove for some time
through the beautiful wood stretching over a wide extent.
Elizabeth's mind was too full for conversation, but she saw and
admired every remarkable spot and point of view. They gradually
ascended for half a mile, and then found themselves at the top of a
lively considerable eminence, where the wood ceased, and the eye
was instantly caught by Pemberley House, situated on the opposite
side of the valley. Elizabeth was delighted. She had never seen a
place for which nature had done more, or where beauty had been so
little counteracted by awkward taste. (Jane Austen, Pride and
Prejudice, 1813).
De acordo com GARDNER 9 (1990:32), essa passagem que descreve a
natureza e a beleza natural de Pemberley ilustra a tênue linha sobre a qual Austen
caminha entre o Neo-Classicismo e o Romantismo. O tema sobre a beleza natural,
um típico tema do Romantismo, é compartilhado com o poema de Shelley10 “Mont
Blanc” (1817, apud Gardner:32), porém cada palavra escolhida por Austen, sua
8
William Wordsworth - escritor inglês, do início do século XIX, um dos fundadores do
Romantismo cuja forma de descrição de uma paisagem era afetuosamente pormenorizada.
9
Laura C. Gardner, professora de Inglês e escritora de diversos artigos sobre a mulher na
Política e nas artes.
10
Percy Bysshe Shelley (1792 – 1822), poeta romântico inglês do início do século XIX,
contemporâneo de Austen.
11
sintaxe e seu ponto de vista delineiam as diferenças entre a sua natureza e aquela
de Shelley. Segundo o artigo, Austen escreve em sentenças balanceadas, muitas
delas divididas ao meio pela vírgula: “The park was very large, and contained a great
variety of ground.” Suas sentenças elegantes e delicadas descrevem a ascensão do
olhar para Pemberley com tanta sutileza quanto à beleza da visão do bosque se
estirando sobre uma vasta extensão. Enquanto a descrição de Shelley do gelo de
Mont Blanc é mais entrecortada, com uma lista de adjetivos: “escuro”, “brilhante”,
“grosso, nu, alto/ fantasmagórico e assustador” por exemplo.
Austen escreve sobre um tema comum no Romantismo, a natureza, porém
com um estilo predominantemente Neo-Clássico, onde a descrição da natureza foca
o aspecto belo em si, muito mais do que os aspectos selvagem, emocional e caótico,
abordados na visão Romântica.
Outro autor consagrado, Jonathan Swift 11 , também é comparado a Austen
quando os aspectos analisados são a ironia e o preconceito presentes em suas
obras. Assim como na obra de Swift, onde o preconceito de Houyhnhnm o faz
prevenir-se contra os fantásticos contos do Sr. Lemuel Gulliver, da mesma forma na
obra de Austen, Pride and Prejudice, o preconceito de Elizabeth a previne contra
Darcy. Segundo McCarrin [1998:32] “a exposição de um orgulho que impede o senso
julgador e dissimula a verdade, como o encontrado nas obras de Swift e Austen,
demonstra o olhar crítico dos escritores sobre o vasto mundo da cultura européia. De
fato, a crítica dessas tendências egocêntricas é tão bem recebida e desejada que
dificilmente pode ser negada por qualquer pessoa sensível.“
Portanto, as características que se vêem em Austen não podem defini-la
como uma escritora romântica ou realista, muito menos vitoriana, pois, não
pertenceu a esse período, como já foi dito. O que se pode realmente perceber são
suas habilidades estilísticas que podem parecer românticas aos olhos de quem
assim o quiser, mas podem também parecer realistas, aos olhos daqueles que
enxergam a crítica social subentendida em suas linhas.
11
Jonathan Swift, autor de “As Viagens de Gulliver” (1735)
12
3. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA E CULTURAL:
O romance Pride and Prejudice foi escrito por Jane Austen no final do século
XVIII, porém, só foi publicado depois de uma revisão da própria autora, no ano de
1813, ou seja, já na primeira década do século XIX. Esse fato torna imprescindível
conhecer-se o contexto histórico desses dois períodos para que melhor se
compreendam as atitudes, as ações e as reações das personagens, suas
preocupações e ambições, seus sentimentos e, principalmente, seus direitos e
deveres.
Ainda no século XVIII, em 1775, as colônias americanas revoltaram-se contra
a dominação inglesa e contra a monarquia, deflagraram uma guerra em busca de
sua liberdade e em favor de uma nova forma de governo: A República. Em 1780, o
povo francês também se revoltou contra a tirania da monarquia e contra a herança
aristocrática que determinava quem era nobre e quem devia governar o país e como
conseqüência se insurgiu contra os membros da família real, executando muitos
deles. Tais revoluções tiveram inspiração num mesmo ideal: igualdade de
oportunidades e respeito à individualidade. (TEACHMAN, 1997:introdução)
Ao mesmo tempo, a Inglaterra foi o país pioneiro na Revolução Industrial no
século XVIII, diversos fatores contribuíram para isso, entre eles a grande reserva de
carvão mineral em seu subsolo (fonte de energia das máquinas e locomotivas a
vapor); grandes reservas de minério de ferro (principal matéria-prima do período);
muita mão-de-obra disponível; a burguesia com forte capitalização e disposta a
investir e o bom mercado consumidor inglês.
O grande avanço tecnológico trazido pela Revolução Industrial marcou o
século XVIII e transformou os transportes, as fábricas e os preços das mercadorias,
que baratearam e aumentaram a produção; porém, a relação empregadorempregado era falha, pois, não havia direitos trabalhistas, os salários eram baixos e
as condições de trabalho, péssimas. Os trabalhadores estavam sujeitos a castigos
físicos e, além disso, havia a exploração do trabalho infantil e feminino.
13
Todo esse quadro causou muita revolta e fez com que os trabalhadores se
organizassem e se unissem em busca de seus direitos; surgiram as “trade unions”
(espécie de sindicatos) que buscavam melhorar as condições de trabalho nas
fábricas. Outros movimentos mais violentos surgiram como aqueles em que as
pessoas entravam nas fábricas e destruíam os equipamentos (o ludismo) e o
cartismo, menos violento e mais político.
A Revolução tornou os métodos de produção mais eficientes. A velocidade da
produção barateou o preço e estimulou o consumo. Por outro lado, aumentou
também o número de desempregados. As máquinas foram substituindo, aos poucos,
a mão-de-obra humana. Houve aumento das poluições ambiental e sonora, assim
como o êxodo rural e o crescimento desordenado das cidades. Até hoje, o
desemprego é um dos grandes problemas nos países em desenvolvimento e o
grande desafio é gerar empregos. (artigo da wikipédia, 2006:URL história/revoluçãoindustrial)
Segundo Recco12 (Folha de S.Paulo, 2002) a Revolução Industrial deve ser
encarada de forma mais abrangente:
No entanto o aspecto mais importante, ao analisarmos esse processo,
é entender o seu significado. De que maneira podemos definir a
Revolução Industrial? Dizemos: "Foi um conjunto de transformações
socioeconômicas e tecnológicas responsável por consolidar o sistema
capitalista".
Uma definição bastante simples, mas que possui um elemento
fundamental: primeiro o homem, depois a máquina. Isso significa que
a revolução não deve ser entendida apenas como um conjunto de
inovações técnicas, novas máquinas e novos procedimentos de
produção. A revolução deve ser entendida a partir da alteração
estrutural que determinou.
A partir da Revolução Industrial, quando as burguesias européias, enlevadas
pelo dinheiro da industrialização e do comércio, passaram a desempenhar um papel
importante dentro da sociedade, surgiu, primeiramente na Inglaterra e na Alemanha,
um movimento artístico em favor do nacionalismo e dos sentimentos populares. Tal
12
Cláudio B. Recco, coordenador do site www.historianet.com.br, professor do Curso Objetivo, e
autor do livro “História em Manchete - na Virada do Século.
14
movimento, que mais tarde se espalhou pela Europa e pelo mundo ocidental,
recebeu o nome de Romantismo. São características do movimento:
1. o nacionalismo – valorização das particularidades locais,
destaque das características da região nos aspectos geográficos,
históricos e culturais.
2. a liberdade de expressão – um dos pontos mais importantes do
Romantismo, pois o artista não se prende a regras préestabelecidas e nem segue modelos.
3. o egocentrismo – é a supremacia do sujeito, com destaque para
o sentimentalismo; a emoção supera a razão, o sonhador deixase levar pela fantasia e se torna passional. O artista cria um
universo particular e idealiza sua personagem. A mulher amada,
torna-se um exemplo de virtude, o herói está associado ao Bem
e o vilão, conseqüentemente ao Mal.
No Romantismo, as paisagens retratam o estado de espírito do autor e das
personagens. Assim, momentos de felicidade ligam-se a imagens agradáveis e
luminosas, enquanto os momentos tristes, a lugares sombrios. Especificamente na
literatura, a poesia lírica é a grande expressão do movimento, como também os
romances são muito freqüentes, nos quais os diálogos são diretos, usam-se muitos
vocábulos estrangeiros e metáforas e os amores são irrealizados, a morte e os fatos
históricos são os temas principais.
O poeta fundamental do Romantismo inglês é Lord Byron13, na Alemanha, o
maior expoente do movimento é Goethe14 e na França, o Romantismo impõe-se
com Victor Hugo15 e Alexandre Dumas 16. ( Artes, 2001:educação 11)
13
George Gordon Noel Byron ou simplesmente Lord Byron, (1788 – 1824), um dos mais
famosos poetas ingleses do Romantismo.
14
Johann Wolfgang von Goethe, (1749 – 1832), cientista, filósofoe escritor alemão destaque
do Romantismo europeu.
15
Victor Hugo, (1802-1885), o maior expoente francês do Romantismo, escreveu “Os
Miseráveis”, seu mais notório trabalho.
16
Alexandre Dumas (1802-1870), escritor francês que tem como romance mais conhecido “Os
Três Mosqueteiros”.
15
Nesse
movimento,
a
literatura
se
identifica
muito
com
os
ideais
revolucionários, pois suas características principais são a liberdade de criação e a
valorização da emoção, influência da tese do filósofo Jean-Jacques Rousseau 17 que
vê o homem como ser bom em sua essência, mas que se corrompe com a
sociedade. O movimento recebe influência direta, também, do ideal de liberdade da
Revolução Francesa (1789), motivo pelo qual o Romantismo ganha força definitiva
na França e de lá se espalha para o mundo.
Além dessas revoltas, novas idéias estavam surgindo, novos pensamentos
libertários que não eram muito bem aceitos pela sociedade e que foram declarados
em dois documentos: “A Vindication of the Rights of Men”, publicado em 1790, no
qual a autora, Mary Wollstonecraft18, declara o direito de igualdade e individualidade
entre os homens; e “A Vindication of the Rights of Women”, 1792, declarando os
mesmos direitos para as mulheres. Havia também um grande movimento contra a
escravidão e contra o racismo. (TEACHMAN,1997:introdução)
Nesse contexto, situa-se a obra de Jane Austen, que recebeu o crédito de ter
sido a primeira escritora a dar traços mais modernos ao romance através da
caracterização da vida cotidiana de uma provinciana sociedade inglesa de classe
média.
17
Jean-Jacques Rousseau, (1712 – 1778), pensador e revolucionário francês do século XVIII,
cujos ideais libertários fomentaram a Revolução Francesa e serviram de base para o
movimento do Romantismo.
18
Mary Wollstonecraft, (1759 – 1797), escritora inglesa, precursora do feminismo.
16
3.1. TEMA PRINCIPAL DA OBRA: O CASAMENTO
A primeira frase de abertura do romance Pride and Prejudice, não só é muito
famosa como também demonstra o humor irônico e o estilo inconfundível da autora
e introduz o assunto principal do livro: o casamento.
“It’s a truth universally acknowledge, that a single man in possession of good
fortune must be in want of wife.”
“É uma verdade universalmente conhecida, que um homem solteiro, que
possui uma grande fortuna, deve estar precisando de uma esposa.”
(AUSTEN,1813:5)
Como já foi dito aqui, Jane Austen construiu seu romance na época em que
viveu, durante o período conhecido como Regencial; e retratou em sua obra a
sociedade em que vivia, que era extremamente estratificada e preconceituosa, onde
as pessoas só se relacionavam com aqueles que eram da mesma camada social.
Essas camadas eram formadas por diferenças de procedência familiar e recursos
financeiros; primeiro, vinham os aristocratas, aqueles que já nasciam ricos e nobres;
em seguida, os “gentry” (classe média alta); depois, os comerciantes (classe média);
os trabalhadores (pobres) e por fim, os indigentes e desempregados.
Porém, apesar de ser bem definida, essa divisão não era tão rígida, pois
podia ser transposta através da ascensão social, ou seja, aquele que conseguia
ganhar dinheiro suficiente e fazer fortuna podia ascender à alta classe média e até
mesmo à aristocracia em algumas gerações.
A posição social era estabelecida muito mais em termos familiares do que
individuais, principalmente no caso das mulheres cuja posição correspondia a de seu
pai enquanto era solteira, e se modificava para a do marido, quando casava. Além
disso, as regras sociais e morais eram rígidas e qualquer desvio de conduta de um
membro da família, podia levar todos os outros membros a uma situação muito
17
delicada, essencialmente quando se tratava de uma mulher, que poderia perder
todas as chances de casar-se e tornar-se respeitável, caso algum escândalo moral
ocorresse em sua família.
O homem era menos atingido em sua respeitabilidade do que as mulheres,
porém, o status familiar influenciava muito em seu destino. Um homem nascido na
aristocracia ou em uma família abastada, já tinha uma ótima posição perante a
sociedade e receberia uma boa educação e formação. Se este homem fosse o filho
mais velho, então, herdaria a maior parte do patrimônio de seus pais e teria total
arbítrio sobre os destinos da família.
Já as mulheres nascidas em famílias igualmente importantes e ricas não
tinham as mesmas chances de escolha do que seus irmãos; eram educadas apenas
para serem esposas (aprendiam piano, bordado, costura, canto e leitura); suas
heranças, geralmente, eram pequenas e não lhes era dado o direito de desenvolver
uma profissão com a qual pudessem se tornar respeitáveis. Se uma mulher, mesmo
sendo “bem-nascida”, não se casasse e não tivesse alguém na família que lhe
sustentasse, só lhe restava a opção de ser governanta ou professora em uma escola
para moças. Mesmo assim, não era uma posição que atraísse “bons casamentos”.
(TEACHMAN,1997:3-4)
Portanto, o casamento era a melhor chance que uma moça possuía de ser
econômica e socialmente respeitada. Dentro desse “status quo” a mulher não muito
podia fazer senão aceitar a situação e procurar casar-se “bem” e sem muita demora.
É neste cenário patriarcal e extremamente preocupado com as aparências
que encontramos uma das personagens principais do romance: a Sra. Bennet, cuja
preocupação com o casamento das filhas parece ao leitor, ou espectador, mais
desavisado, um tanto excessiva, mas àquele que sabe como “funcionavam” as
relações familiares e sociais daquela época, a preocupação se torna compreensível
e até certo ponto justificável.
Cabe aqui, neste ponto, esmiuçar um pouco mais as leis e costumes da
época, a fim de que se possa ter uma visão mais abrangente do que significava a
instituição do matrimônio à época de Jane Austen e, por conseguinte, do romance.
18
3.2. LEIS E COSTUMES DA ÉPOCA: a herança e o casamento
Este estudo considera de suma importância o conhecimento das leis que
regiam a Inglaterra dos séculos XVIII e XIX, especialmente aquelas que concernem
ao casamento e aos direitos e deveres que essa união trazia para cada uma das
partes envolvidas nesse compromisso. Como se poderá ver a seguir, o casamento
nessa época era encarado como um negócio e como tal, possuía suas regras e suas
vantagens e desvantagens.
O mundo de Pride and Prejudice, assim como toda obra de Jane
Austen, é fundamentado no princípio da propriedade que regia a
atividade social e econômica no final do século XVIII e início do XIX,
onde a posse de uma propriedade estava intimamente ligada às
conexões pessoais e familiares do indivíduo. Uma casa não era
meramente uma construção, mas também significava uma linhagem,
englobava a família toda (ancestrais, descendentes e parentes)e as
propriedades, por sua vez, pertenciam à linhagem. No dicionário da
Língua Inglesa de Samuel Johnson (1775), a definição para a palavra
“house” (casa) era a seguinte: família de ancestrais, descendentes e
parentes; raça. ( TEACHMAN. 1997: 27)
Seguem abaixo alguns ensaios que versam sobre o assunto deste item por
terem relevância no entendimento do enredo e também, pelo fato de que eles eram
bastante populares à época do romance ao ponto de um deles aparecer na própria
obra, quando o Sr. Collins o lê para as jovens Bennet.
À hora do chá, porém, o Sr. Bennet achou que a dose tinha sido
suficiente, e de bom grado acompanhou o hóspede até a sala.
Terminado o chá, convidou-o a ler em voz alta para as senhoras. O Sr.
Collins consentiu prontamente.[...] Collins escolheu os Sermões, de
Fordyce.Lydia olhou atônita para o volume aberto, e antes que ele
tivesse lido três páginas, com monótona solenidade, interrompeu-o
dizendo: [...] As duas irmãs mais velhas pediram a Lydia que se
calasse. Mas o Sr. Collins, muito ofendido, colocou o livro de lado e
disse:
- Já percebi como as meninas pouco se interessam por livros sérios,
escritos aliás para seu benefício. Confesso que isso me espanta, pois
com certeza nada pode haver de mais vantajoso para elas do que a
instrução. Contudo, não impotunarei mais a minha jovem prima.
(AUSTEN, 1813: 58)
19
Por este pequeno trecho da obra em questão, pode-se divisar como as
convenções sociais, as leis, os direitos e enfaticamente, os deveres, norteavam a
conduta da sociedade do final do século XVIII e início do XIX, e mais do que tudo,
determinavam o comportamento, as vestes, a linguagem, o gosto, enfim, o próprio
destino da mulher.
O primeiro ensaio é de Alexander19 ,onde ele descreve com clareza as leis da
época de Pride and Prejudice, assim como os direitos e deveres das pessoas,
principalmente das mulheres. Alguns trechos dessa obra se apresentam a seguir
como forma de enfatizar os costumes de uma sociedade machista e preconceituosa,
na qual Jane Austen viveu e sobre a qual escreveu, definindo sobremaneira esses
costumes e leis e o impacto que isso tudo tinha sobre a vida e o destino de uma
mulher do fim do século XVIII e início do XIX.
“By the law of this country, the moment a woman enters into the state of
matrimony, her political existence is annihilated or incorporeted into that of her
husband; [...]”.
Ou seja, a partir do momento do matrimônio, a mulher era
considerada nula politicamente ou incorporada à existência política do marido.
(Alexander,1779:323 – 324 apud TEACHMAN, 1997:42)
O autor cita ainda em outros trechos, algumas “vantagens” que a lei
outorgava às mulheres, inclusive às viúvas: “[...] but wives can not be imprisoned for
debt,nor deprived of their personal liberty for any things but crimes; […] viúvas não
podem ser presas por débito, nem privadas de sua liberdade, a não ser por
crimes;[...]”. William Alexander vai além, ao citar aqueles que ele considera
“privilégios” da condição feminina, tais como:
So long as a wife cohabits with her husband, he is, by the laws of his
country, obliged to provide her with food, drink, clothing and all other
necessaries suitable to her rank and his circumstances, even although
he received no fortune with her. If he leaves her, or force her leaves
him by ill usage, he is also liable to maintain her in the same manner;
but if she runs away from him, and he is willing she should abide in his
house, he is not liable to give her any separate maintenance, nor to
pay any of her debts, unless he take her again; […] (Alexander,
1779:323-324 apud TEACHMAN,1997:43)
19
William Alexander – ensaísta inglês, publicou em Londres em 1779, um livro em 2 volumes
entitulado “The History of Women from the earliest antiquity to the present time”
20
Enquanto a mulher coabitar a mesma casa de seu marido, este fica
obrigado a lhe prover sustento de tudo que for necessário (comida,
bebida, roupas, etc.), mesmo que dela não tenha recebido nenhuma
fortuna. Se o marido a deixar, ou forçar a esposa a deixá-lo, também
continua obrigado a mantê-la da mesma maneira; porém, se ela fugir
dele, ele não é mais obrigado a dar-lhe subsistência, nem tão pouco
pagar-lhe as despesas, a menos, que a tome de novo sob o mesmo
teto.
Outro trecho interessante e elucidativo é este a seguir:
Every married woman is considered as a minor, and cannot do any
deed which affects her real or personal property without the consent of
her husband;[…]
The laws of this country not only deny to a married woman the power
of making a will, but also dissolve and render of no effect upon her
marriage all and every will she may have while single;[…].
Toda mulher casada é considerada menor, e não pode realizar
nenhum ato que afete sua propriedade real e pessoal sem o
consentimento de seu marido.[...].
As leis deste país não só negam à mulher casada o poder de poder
fazer seu testamento, como também dissolve e torna sem efeito, sob
o casamento, qualquer testamento que ela tenha feito enquanto
solteira;[...].
Em mais outro trecho, há algo que impressiona e demonstra todo o poder do
marido naquela sociedade: “Se uma mulher prova insanidade, o marido, como seu
guardião, tem o direito de confiná-la em sua própria casa ou em clínica particular de
repouso;[...]”. (Alexander,1779:339 – 340 apud TEACHMAN,1997:43 - 44)
Há uma outra obra que trata do mesmo tema e que se mostra útil quando se
quer tornar claras as leis e costumes da época. É uma edição de 1898, cujo título é:
“The History of English Law Before the Time of Edward I” onde seus autores, Sir
Pollack e
Sir Maitland, fazem “uma viagem” pelas leis britânicas através dos
tempos; o que resultou, mais tarde, na era Vitoriana, em uma defesa veemente pela
reforma das leis do país. A seguir, um trecho da obra:
Our law institutes no community even of movables between husband
and wife. Whatever movables the wife has at the date of the marriage,
become the husband’s,[…], and without her concurrence he can sue
for all debts that are due to her.[…] What the husband gets
possession of is simply his; he can freely dispose of it…If she dies in
his lifetime, she can have no other intestate successor. Without his
consent, she can make no will,[...]. (Pollack and Maitland,1898:404 –
405)
21
Nossa lei institui que não há compartilhamento de bens através do
casamento, entre esposa e marido. Porém, os bens que a esposa
possui na data do casamento, tornam-se do marido,[...], e sem sua
concordância, o marido pode requisitá-los para pagamento de débitos
[...]. O patrimônio amealhado pelo marido, só a ele pertence; ele pode
dispor dele livremente ...se ela morrer antes dele, não terá direito a
eleger nenhum outro sucessor. Sem o consentimento dele, ela não
pode fazer um testamento [...].
We must remember when reading Austen’s novels that people of her
time believed, as Blackstone and Alexander expressed so eloquently,
that marriage women had no independent legal identify, that their
identities were subsumed into those of their husbands, and that their
legal rights, independent of their husbands’ will, were slight.
(TEACHMAN,1997: 30)
Teachman, no trecho acima, procura lembrar aos leitores das obras de
Austen que as pessoas de sua época acreditavam que as mulheres casadas não
tinham identidade legal independente, e que suas identidades eram submetidas às
de seus maridos e de que seus direitos legais, independente de testamentos
deixados por seus maridos, eram mínimos, assim como expressaram Blackstone e
Alexander.
Marriage in Eighteenth- and early Nineteenth-century England was as
much (sometimes more) a matter of property as of love or
companionship. Under the law , marriage was then treated, as it
continues to be today, as an issue of property. But unlike today, the
married couple in Austen’s England was treated as a single entity
under the law, an entity with only one legal identity. ( TEACHMAN,
1997: 38 )
O casamento na Inglaterra dos séculos XVIII e início do XIX era mais
( às vezes muito mais ) uma questão de propriedade do que de amor
e companheirismo. Sob a lei, o casamento era tratado então, como
continua até hoje, como um assunto de bens e propriedades. Mas,
diferentemente de hoje, o casal sob a lei do casamento na Inglaterra
de Austen, era tratado como uma entidade única, uma entidade com
uma única identidade legal.
Assim, pode-se avaliar quão importante era o casamento para as mulheres da
época de Jane Austen e é isso que ela retrata na obra em questão, onde se vê que
a única maneira de uma moça ter segurança financeira é o casamento, tal qual as
personagens da família Bennet. Mais ainda, pode-se compreender quanto o caráter
do marido e sua estabilidade financeira eram primordiais e indispensáveis à
“felicidade” de uma mulher do século XIX.
22
O próximo ensaio é de BLACKSTONE 20
-
mulheres casadas eram
comparadas às crianças ou aos insanos, pois não tinham capacidade de cuidar de si
mesmas. (Blackstone,1760:vol. 1:190 apud TEACHMAN:39 – 40)
Para um homem, casar com uma mulher era “adotá-la” e sobre ela assumir
direitos e deveres “The husband and wife are one, and the husband is the one”.
(frase de Blackstone, retirada do livro The Family, Sex and Marriage in England,
1500 – 1800, 222).
The “house” of a British aristrocatic or gentry family generally had only one
primary leader at a given time. Because of general adherence to the pratice
of primogeniture within British society, the head of house role within the
family was usually filled by the eldest living male in the main line of descent.
(TEACHMAN, 1997: 27)
A importância da lei da primogenitura se reflete diretamente na sociedade
britânica do século XIX, onde o líder da família era normalmente o filho mais
velho da prole ou aquele que preenchesse as mesmas condições dentro da
linha direta de sucessão. Dentro dessa linha, a personagem do Sr. Darcy,
cuja posição social e familiar é a mais privilegiada possível, tem capital
influência nos destinos de sua família e total poder sobre os bens e
propriedades da mesma. Diante disso, é de se entender como tal “partido”
podia se tornar, diante dos olhos das moças e das famílias das moças
“casadouras”, o mais cobiçado e o mais adequado.
A visão tradicional do casamento é aquela na qual ele é encarado como uma
instituição não apenas e tão somente legal, mas principalmente, como uma
instituição familiar e sagrada, com função aglutinadora e perpetuadora das famílias e
da sociedade. Porém, nos séculos XVIII e XIX, o casamento era encarado como um
contrato, geralmente estabelecido entre as famílias dos noivos (sem que estes
fossem consultados), com vistas em vantagens políticas, sociais e financeiras de
ambas as partes.
Entretanto, com o passar dos tempos e o advento dos ideais liberais e
humanistas, tornou-se mais comum os noivos quererem casar-se “ por amor”, o que
resultou em inúmeros conflitos familiares.
20
Sir William Blackstone, um dos mais famosos e proeminentes especialistas em leis inglesas no
século XVIII e escreveu muito sobre inúmeros assuntos pertinentes à sua área, incluindo o
casamento e suas conseqüências para homens e mulheres.
23
Surgiram diferentes opiniões e visões sobre o assunto e delas nasceram
alguns documentos versando sobre o tema, que parece oportuno se conhecer, a
seguir:
[...]marriage is a general state, and it is no more unhappy, generally
speaking, than is life. It is a necessary part of life and people should
approach it as such and make the best of it. (JOHNSON21,1750:45
apud TEACHMAN,1997:54). [...] casamento é um estado geral, e não
é mais infeliz do que a própria vida. Faz parte dela e as pessoas
devem procurar lidar com ele e tirar dele o melhor.
Defoe 22 , (apud TEACHMAN,1997:54), ao contrário de seu contemporâneo
Jonhson, execrava o casamento da maneira como era concebido e praticado,
considerando-o uma forma legalizada de prostituição. Segundo Defoe (1727:26 –
28) apenas se o amor fosse a causa e a base de um relacionamento matrimonial,
poderia ser significativo e válido diante dos olhos de Deus.
Ao final do século XVIII, havia aqueles que realmente se preocupavam com a
instituição matrimonial e particularmente com a situação das mulheres. Pode-se citar
entre eles Godwin23 e Mary Wollstonecraft24, cujas opiniões quanto ao casamento
praticado àquela época eram enfaticamente contrárias ao estado estabelecido,
considerando-o desumano e cruel. Tais autores consideravam o divórcio como uma
solução para àqueles casamentos infelizes, questionando a relevância do ato diante
da infelicidade dos interessados. Os escritos destes e outros autores contrários ao
convencional casamento da época, foram importantes para a mudança, embora
lenta, das leis e dos direitos da mulher que vieram a se concretizar no século XX.
Existem outros ensaístas da mesma época (apud TEACHMAN,1997:54-55)
que discorreram sobre o mesmo tema sob aspectos diferentes, tais como; John
Gregory 25 , Lady Sarah Pennington
26
e Thomas Gisborne 27 , cujo foco não era a
21
Samuel Jonhson, ensaísta inglês do século XVIII, escreveu o ensaio The Rambler
22
Daniel Defoe, (1660 [?] – 1731), jornalista e escritor inglês, famoso por seu romance “Robinson
Crusoe”
23
Willian Godwin, (1756 - 1836) , político,escritor e romancista inglês
24
Mary Wollstonecraft (1759 – 1797), escritora e feminista inglesa
25
John Gregory, físico, filósofo e ensaísta
26
Lady Sarah Pennington, ([?] – 1783), publicou,em 1761,seu livro mais famoso que tratava de
conselhos para as suas filhas afastadas
24
função do casamento dentro da sociedade e sim “ensinar” como contrair um “bom
casamento” e como encontrar “um marido apropriado”, ensinamentos esses,
especialmente dirigidos às jovens solteiras.
Gregory, pai de filhas, publicou em 1774 um ensaio entitulado “A Father’s
Legacy to His Daughters”, que foi, durante muitos anos, um dos mais populares e
influentes ensaios sobre a educação e o comportamento adequado para jovens
moças. Uma de suas frases mais contundentes e que retratam bem seu pensamento
sobre o assunto é: “eu jamais direi com quem você deveria se casar mas com
certeza, deverei avisá-la com quem você não deveria se casar.” (apud
TEACHMAN ,1997: 60).
Assim como Gregory, Lady Sarah Pennington, (apud TEACHMAN, 1997:65),
entregou seus conselhos às suas filhas em um livro. Entretanto, há uma grande
diferença entre esses dois livros, pois, enquanto Gregory tinha suas filhas vivendo
sob o seu teto quando escreveu seu livro, o mesmo não se deu com Lady
Pennington, que teve suas filhas levadas pelo seu marido, quando da separação do
casal e foi proibida pelo mesmo de vê-las, pois, naquela época, a mulher não tinha
direitos sobre os filhos, este privilégio pertencia ao homem. Por causa dessa horrível
situação, ela escreveu e publicou um livro entiltulado “An Unfortunate Mother’s
Advice to Her Absent Daugthers”, no qual ela tenta avisar suas próprias filhas do
perigo que se corre ao escolher a pessoa errada e realizar um casamento ruim,
obviamente, influenciada pela sua própria experiência.
Segundo Teachman (1997:66), a distinção particular que Lady Pennington faz
entre um homem que é mal caráter por natureza e aquele que é simplesmente mal
humorado, parece ter clara significância no estudo das personagens de Pride and
Prejudice, Mr.Darcy e Mr.Wickham, pois saber distinguir entre esses dois traços
pode levar a personagem de Elizabeth Bennet a conhecer realmente o caráter de
cada um.
27
Thomas Gisborne, (1758 – 1846), pastor anglicano que escreveu sobre as virtudes femininas e
o papel da mulher em casa.
25
Contemporâneo de Jane Asuten, Gisborne, é lembrado por dois principais
ensaios, um deles também
dedicado a ensinar às jovens seus deveres e
responsabilidades diante do casamento. (TEACHMAN,1997:69)
Embora o romance Pride and Prejudice centralize seu enredo na importância
do casamento para as vidas das mulheres na Inglaterra Regencial, muitas mulheres
dessa época (incluindo a própria Austen), jamais se casaram.
O que Austen faz questão de mostrar em seu romance é a condição feminina
das jovens que não eram herdeiras (caso das personagens das irmãs Bennet e de
Charlotte Lucas) e das
“solteironas” , ou seja, as mulheres que ficavam “privadas”
da companhia conjugal, viúvas ou não, levavam uma vida muito diferente das outras
mulheres. Precisavam se casar para obter segurança financeira.
As próprias cartas da autora demonstram uma excessiva preocupação com
as mulheres solteiras que se tornavam pobres com a morte de seus pais, como no
caso das personagens já citadas.
Single women have a dreadful propensity for being poor – which is
one very strong argument in favour of matrimony. ( Austen’s Letters,
483 – citada por Teahman, 1997: 87). Mulheres solteiras têm
uma enorme propensão a serem pobres – o que é um fortíssimo
argumento a favor do casamento.
Também era costume da época que as mulheres pertencentes à classe média,
que tinham o “infortúnio” de não se casarem, permanecessem virgens e dedicassem
suas vidas a serviço dos outros. Aquelas que não tinham famílias que as
mantivessem, tornavam-se governantas, professoras ou damas de companhia.
“A Philosophical, Historical and Moral Essay on Old Maids” é um dos mais
extensos documentos do século XVIII sobre as mulheres solteiras, escrito por
William Hayley 28 , que se apresenta como “amigo das mulheres solteiras”. Esse
documento contém três volumes de conselhos de como as solteironas deveriam se
comportar, o mais virtuosamente possível, segundo ele, por causa da condição em
que se encontravam. (apud TEACHMAN,1997:88)
28
William Hayley, (1745 – 1820), escritor e ensaísta inglês
26
Ao
longo
de
seus
três
volumes,
Hayley
(1785:7-8)
faz
inúmeras
considerações sobre o tema e descreve o que ele considera ser os maiores
“problemas” de uma mulher solteira: os insultos recebidos, a pobreza e as restrições
sociais. Ele chega a compará-las às pessoas deformadas ou incapazes,
considerando que elas “deveriam” ter e criar os filhos como única forma de encontrar
utilidade em suas existências.
Nestes ensaios, o autor ainda faz considerações a respeito daquelas que ele
considera serem “falhas” das governantas e solteironas, tais como: muita
curiosidade, muita credulidade, muita afetação, muita inveja. Mas também associa a
elas algumas “qualidades” : ingenuidade, paciência e espírito de caridade. O fato é
que, a visão de Hayley a respeito das mulheres solteironas não era apenas comum
entre os homens como também, entre as mulheres.
A widow, of course, has not always been single, but she does share
the spinter’s financial independence when she is left well provided for
and prospect of poverty and downward-spiralling social standing when
she is not.
The role of the widow in Austen’s fiction is an important one. Widows
in eighteenth- and nineteenth-century England, […] could own
property and make wills regarding whatever portion of their property
had not previously been disposed of by their husband’s will or by
entailment;[…].
In Austen’s novels, many of the most powerful women are, in fact,
wealthy widows, but despite their fortunes, they never achieve the
same degree of power in society as men with similar fortunes. Lady
Catherine de Bourgh of Pride and Prejudice is the woman with the
most political and financial power in all of Austen’s fiction. […]
( TEACHMAN,1997: 101)
No trecho acima, Teachman chama a atenção da situação das viúvas que
herdavam propriedades e bens de seus maridos, sobre os quais podiam dispor e
principalmente cita a personagem de Lady Catherine de Bourgh, do romance Pride
and Prejudice, cujo poder político e financeiro lhe confere uma posição de destaque
e respeitabilidade dentro da sociedade.
Nesta breve exposição, pode-se observar quantos eram os empecilhos à
mulher no tocante a sua formação e a sua liberdade e quantas eram as dificuldades
27
que essa mesma mulher enfrentava , em caso de permanecer solteira , por opção ou
por acaso do destino, para manter-se financeiramente, socialmente e dignamente.
E é esse destino que Jane Austen denuncia e questiona em sua obra, de
maneira velada talvez, irônica e até cômica, mas sem nunca perder a lucidez daquilo
que ela realmente queria retratar: a sociedade em que vivia e sua “injusta” condição
feminina.
4- ANÁLISE COMPARATIVA: ROMANCE E FILMES
Pride and Prejudice parece, à primeira vista, uma simples história de amor,
com um final previsível e feliz para as personagens principais; entretanto, depois de
uma leitura mais atenta, de uma análise um pouco mais profunda do enredo, é que
se percebe a verdadeira intenção de Austen ao escrever esta obra:
criticar a
sociedade em que vivia e seus costumes, como também e talvez principalmente, por
trás da pecha de “romance açucarado”, chamar a atenção das moças de sua época
para a discriminação que sofriam, para as leis patriarcais e injustas, para as poucas
opções da mulher dentro da sociedade, enfim, para a condição feminina.
Já no primeiro capítulo se conhece o mote principal da obra: o casamento e
seus desdobramentos para a família e para a sociedade; como as personagens se
relacionam com essa instituição e quanta importância ela tem na vida de cada um.
As diferenças sociais, advindas do poder econômico e do “berço” do indivíduo,
aparecem durante toda a obra, descritas de maneira precisa e objetiva, para que o
leitor perceba como as relações entre as personagens eram por elas influenciadas.
Um dos objetivos da autora é destacar a ignorância e o mercenarismo da
sociedade de sua época e para tal, usa de dois personagens em especial: Mrs.
Bennet e Mr.Collins. Torna-os inconvenientes e ridículos, colocando-os em situações
embaraçosas e cômicas, como forma de demonstrar o quanto seu comportamento é
inaceitável e superficial.
28
As personagens das irmãs Bennet e sua relação com seus “supostos
pretendentes” têm por função demonstrar como era o pensamento da maioria das
jovens e quão fúteis e despreparadas para a vida elas podiam ser. Tanto que Lydia,
a irmã de Lizzie (Elizabeth Bennet), durante toda a obra demonstra seu caráter fraco
e sua vida vazia. Tudo isso incentivado pela mãe e ignorado pelo pai, a tornam
“presa fácil” de alguém inescrupuloso e mal intencionado como Wickham. O trecho
do livro que se refere exatamente à fuga dessas duas personagens, e a
conseqüente “desgraça” que se abate por sobre toda a família, dá a exata dimensão
do que significava uma moça viver com alguém sem se casar, o que isso podia
acarretar para a sua vida e seus familiares.
Os acontecimentos são narrados pela personagem de Elizabeth, porém não
em primeira, mas em terceira pessoa, cujo ponto de vista é limitado, ou seja, o
narrador conta a história, porém, restrito àquilo que vivencia, pensa e sente, sem a
onisciência sobre as outras personagens, o que resulta numa visão limitada sobre os
fatos e as outras personagens.
As descrições são dadas pela visão da personagem central (Lizzie) e as
ações principais do romance são as interações entre as idéias e opiniões que
aparecem gradativamente no enredo. As personagens não expressam diretamente
aos leitores suas emoções, estas são percebidas através das atitudes e desenrolar
da ação.
Jane Austen tem a habilidade de usar um estilo simples e bem humorado de
escrever, sutil e ao mesmo tempo perspicaz, para denunciar a discriminação que a
mulher sofria em sua época, ou seja, consegue abordar um tema complexo e
realizar uma contundente crítica social .
As personagens principais da obra são:
1. Elizabeth Bennet – “a heroína do romance”, portanto, é a personagem
central da obra e ao mesmo tempo “porta-voz” da autora quando, de
maneira irônica, critica o “status quo” de uma sociedade hipócrita e
patriarcal. Sua visão é analítica e muitas vezes sarcástica, porém, ao
29
mesmo tempo, sua sagacidade e temperamento tenaz a tornam mais
suscetível ao pré-julgamento, ou seja, ao preconceito.
2. Fitzwilliam Darcy – “a personagem masculina principal”, complemento
do “par romântico” essencial a qualquer história de amor, é
apresentada, primeiramente, como uma pessoa orgulhosa e entediante,
com
um
temperamento
reservado
e
cerimonioso.
Austen,
deliberadamente, leva o leitor a ter esta impressão da personagem, tal
qual Elizabeth, na clara intenção de demonstrar o quanto uma opinião
precipitada e baseada em fatos superficiais pode prejudicar um
relacionamento.
3. Mr. Wickham – personagem que completa “o triângulo amoroso” do
romance e tem a função de acentuar a idéia de que a aparência pode
enganar
verdadeiramente
o
julgamento
de
alguém.
Seu
comportamento amável e galanteador, unido a sua boa aparência,
esconde sua personalidade dúbia e seu caráter inescrupuloso.
4. Mr. Bennet – o patriarca da família Bennet, dono de uma propriedade
rural na pequena cidade de Meryton, interior da Inglaterra. Da
propriedade retira o sustento da família, sem que dele exija muito
esforço, o que aliás é um traço de sua personalidade durante toda a
trama. Austen faz questão
de demonstrar seu comportamento
“indolente” diante dos problemas e sua omissão perante as
dificuldades de sua família. É uma pessoa amável, porém, fechada em
si mesma, cujo interesse maior parece ser manter-se alheio aos
acontecimentos para manter sua própria paz de espírito.
5.
Mrs. Bennet – a personagem mais cômica da obra e talvez por isso, a
que mais chama a atenção. Austen muitas vezes expõe a personagem
ao ridículo, claramente com o intuito de criticar a maneira de pensar e
agir das mulheres de sua época. A Srª Bennet faz de seu objetivo
maior, o casamento de suas filhas, e para tanto, não mede esforços. É
sua a primeira fala do romance, que tornou-se famosa, pois nela se
insere toda a motivação do enredo e sua problemática:”Trata-se de
30
uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro,
dotado de uma considerável fortuna, deve estar precisando de
esposa.” (AUSTEN,1813:5)
6. Mr. Collins – outra personagem que tem no casamento seu maior
objetivo pois o encara seriamente como um negócio. Caracteriza-se
pela personalidade enfadonha e meticulosa, presa demais às
convenções sociais e deslumbrada pelo poder e pelo dinheiro.
7. Charlotte Lucas – personagem a princípio secundária, porém, com
importância significativa no enredo, pois traduz para o leitor o
pensamento da moça solteira do tempo de Austen, preocupada em
casar-se a todo custo, mesmo que for com quem não tenha nenhuma
afinidade, para evitar a “solteirice” e tudo que ela representa em termos
individuais e sociais.
8. Lady Catherine De Bourgh – personagem que representa a aristocracia
inglesa, sua hipocrisia e seu sentimento de superioridade. Seu
comportamento é propositadamente austero, sua personalidade
autoritária e seu traço de caráter mais marcante é a soberba. Retrata o
relativo poder que possuía uma viúva com independência econômica e
sua influência na sociedade.
Para fazer a comparação da grande obra de Jane Austen e sua adaptação
cinematográfica, é preciso se considerar vários aspectos diferenciais entre essas
duas formas de arte.
Primeiramente, há que se considerar suas formas de expressão e suas
linguagens peculiares, ou seja, a maneira de “dizer algo” no cinema pode ser
completamente diferente daquela usada no livro. Mesmo porque, obviamente, o
primeiro conta com recursos visuais e auditivos que o livro não possui.
Contudo, tanto uma forma como a outra são expressões artísticas e como
tais possuem estilo e vida própria. É muito difícil que se possa “transpor” um
31
romance para o cinema, sem dele se “apoderar” , assim sendo, é necessário adaptar,
transformar, resumir e editar as falas para que se transformem
em cenas
adequadas à linguagem cinematográfica.
Porém, nem sempre essa “adaptação” agrada àqueles que procuram na tela a
obra escrita, ou melhor, na maioria das vezes, essas pessoas se frustram e se
revoltam. São os chamados “puristas literários” que defendem a leitura de uma obra
como uma experiência única e insubstituível, quase que santificada.
Por outro lado, há aqueles que procuram na tela a essência da obra, sem
esperar que dela se faça uma cópia fiel e irrepreensível. Esses, os entusiastas do
filme, vêem com menos preconceito tais adaptações para depois julgá-las boas ou
péssimas. (MACDONALD, 2003:9 – 11)
Entre esses dois extremos, situam-se aqueles que lêem e vão ao cinema por
divertimento e por puro prazer, sem se preocupar com a fidelidade de uma obra,
com a sua execração ou exaltação.
Há muitas dificuldades em se “filmar” uma obra literária, uma delas é trazer à
tela a narrativa do texto, a câmera nem sempre cumpre esse papel com eficiência,
todavia, a música pode “criar o clima” ideal para uma cena de amor ou de suspense.
Há muitos outros “truques” e recursos que o cinema pode usar para recriar
uma estória e trazer para a tela todo o encantamento de uma narrativa histórica e de
forte apelo romântico.
32
4.1. A LITERATURA E O CINEMA – DO ROMANCE PARA A TELA
O romance tem sido uma mina de ouro para a indústria cinematográfica
desde que surgiram os primeiros filmes narrativos [...], os críticos têm sido
fascinados também pelas similaridades entre as formas do cinema e do romance.
Wagner – crítico de cinema - identifica três possibilidades de relacionamentos
entre um filme e um romance, nos quais, um é baseado na “transposição”, em que o
romance é passado diretamente para a tela; o outro baseado no “comentário” , no
qual o filme é alterado com o propósito de re-enfatizar ou reestruturar o enredo ; e
por último, baseado na “analogia”, no qual o filme alude ao romance por “atitudes
análogas e técnicas retóricas análogas” porém, sem a intenção de reproduzir o
original.”
Ever since the earliest narratiive films, the novel has been a gold mine for
the film industry, and ever since Serfei Eisenstein’s discourse on the
influence of Charles Dickens on D.W.Griffith, film critics have been
fascinated by the similarities between novelist and cinematic forms. […]
Geoffrey Wagner, for example, identifies three possible relationships
between a film and the novel on which it is based: “transposition”, in which a
novel is directly given on the screen”; “commentary” in which a novel is
altered for purposes of “re-emphasis or re-structure”; and “analogy”, which
alludes to the novel by “striking analogous attitudes and…finding analogous
rhetorical techniques” but which “ has not attempted to reproduce the
original”. (MACDONALD,2003:175-176)
O relacionamento entre o cinema e a literatura tem “uma história de
ambivalência, confrontação e dependência mútua” (CORRIGAN, 1999) que pode ser
confirmada através da ira dos críticos contra as produções cinematográficas dos
romances de Austen.
Segundo Macdonald, o que se pode notar é que por causa dos roteiros
adaptados, há hoje muito mais leitores dos romances do que haveria se o cinema
não os divulgasse, ou seja, através do cinema as pessoas passaram a conhecer
Austen e a se interessar mais pelos seus livros, buscando na leitura um
conhecimento mais aprofundado e mais rico de sua obra. (2003:1)
A divulgação que a obra de Austen alcançou com tais adaptações
cinematográficas, fez dela a única, entre os escritores de seu período, a transpor as
33
barreiras das prateleiras da “literatura clássica” para se tornar mais popular e mais
recomendada até mesmo nas escolas que muitos outros escritores.
Alguns escritores, contemporâneos a ela, foram também adaptados.Para citar
como exemplo, Daniel Defoe e sua obra mais conhecida Robinson Crusoe , que foi
roteirizada para o cinema algumas vezes e alcançou sucesso e fama, mas não
causou nas livrarias um aumento significativo de venda da obra original.
A explicação para tal comportamento diverso pode estar no interesse que o
público tem pelos assuntos relacionados ao gênero humano e na mudança do
comportamento da sociedade através dos tempos. A obra de Austen dá um
excelente subsídio para que os roteiristas discutam e principalmente retratem o
papel da mulher na sociedade, que é um tema atual, partindo do século XVIII. “É
inegável a simbiose que existe entre a prosa de ficção de Jane Austen e a tela do
cinema e por isso mesmo esse fenômeno vem sendo intensamente explorado.”
( MACDONALD, 2003:1)
Outro traço peculiar da obra de Austen que atrai leitores, espectadores e
estudiosos da literatura e do cinema é a ambivalência. Muito se tem discutido: a
autora tinha intenções de denunciar a condição feminina de sua época? Se havia tal
intenção, ela realmente aparece nas telas? Consegue um filme transmitir tudo o que
uma obra escrita transmite? Muitos acreditam que não. Puristas literários discutem
tais adaptações, classificando-as como “melosas” e “comerciais” e duvidam que o
cinema possa ter a habilidade de realmente retratar os pensamentos da autora.
Essa ambivalência pode tornar-se resistência, pois, muito se ouve, ao sair da
sala de exibição, a famosa frase: “não foi tão bom quanto o livro!”.
Porém, se muitos agem na defensiva quando vão assistir a uma adaptação de
uma obra cinematográfica, os defensores do cinema assumem uma postura mais
aberta ao novo, procurando ver no filme uma “releitura” da obra. Diretores,
produtores, roteiristas e artistas vêm o fato de transformar um romance em filme
como um ato criativo e, portanto, como arte.
Visto por este ângulo, o que ocorre neste caso é tão somente, a transposição
de uma obra escrita para uma obra áudio-visual, de uma mídia para a outra. Não se
34
pode negar que são veículos diferentes e como tais, exigem “tratamentos” diferentes
quanto à linguagem e a abordagem. Nesta transposição, com certeza, sempre há
perdas e ganhos.
Quais perdas? Por exemplo, aqueles críticos mais ortodoxos declaram ser os
cortes de personagens considerados “secundários” e de cenas consideradas
“menores” pelos estúdios, que quase sempre ocorrem nas adaptações, como uma
destruição do original.
Roger Gard em “A Few Skeptical Thoughts on Jane Austen and Film”
efetivamente declara seu cetismo em relação aos limites de uma produção
cinematográfica e Jan fergus em “ Two Mansfield Parks: Purist and Postmodern”
compara as versões de 1983 e 1999 de Mansfield Park , buscando uma forma para
produções “puristas”, as que mais podem se aproximar, enquanto filmes, da intenção
romancista de Austen. (MACDONALD, 2003:3)
Porém, há outros críticos mais favoráveis a tais adaptações como Paulette
Richards (apud MACDONALD,2003:3), que vê nos filmes uma forma de transformar
a literatura e principalmente o romance da Era Regencial em algo que possa ser
compreendido pelo público comum, gerando uma audiência em massa e divulgando
a literatura.
Contudo há algo que quase todos concordam: “[…] wether or not the film
versions of Austen’s novels truly reflect her authentic world and vision, they are
exciting and intriguing artistic works themselves.”.
“[...] se as versões dos romances de Austen refletem verdadeiramente ou não
seu mundo e visão autênticos, elas são, por si só, ao menos interessantes e
instigantes trabalhos artísticos.” (MACDONALD,2003:3)
GARD29 (apud MACDONALD,2003:9),diz que :
mesmo aquele leitor mais impressionado depois de ver uma versão de seu
trabalho favorito na tela, saberá que a essência que faz o trabalho respeitável
está perdida, ou pelo menos, tristemente depauperada.[...] ao alto nível de
sensibilidade que a literatura possui, o cinema só pode se aproximar, mas
jamais ocupará seu lugar.
29
Roger Gard, eloqüente defensor da experiência “única” da literatura
35
Já PRESTON 30 (apud MACDONALD,2003:9), diz que “as personagens de
Jane Austen vivem e respiram diretamente através das imagens do diretor. [...] A
perspectiva artística se dá muito mais pela representação, a exposição da prosa,
do que pela experiência literária,.[...] O filme captura essa perspectiva perfeitamente
[...].”
A adaptação de uma obra literária precisa ser cuidadosamente pensada e
realizada em todos os seus detalhes. Há que se ter um alto grau de
responsabilidade com a obra e um grande comprometimento com o autor dessa obra
ou se incorre no risco de transformá-la em algo vulgar e falso.
One way the Austen adaptations have tried to maintain high culture
status while achieving mass popularity and hence commercial
success is to claim authenticity that manifests itself trough location,
costume, and casting. Pidduck 31 (apud Macdonalds,2003:31) notes,
realism is the least that one can anticipate from such fims, in contrast,
supposedly, with Holywood productions such as the 1940 MGM Pride
and Prejudice. (Macdonald, 2003:31)
A única maneira das adaptações de Austen materem o status de alta
cultura ao mesmo tempo que um caráter de popularidade de massa e
sucesso comercial, é alcançar a autenticidade que se manifesta
através da locação, da vestimenta e do elenco. Pidduck observa, o
realismo é o mínimo que alguém pode esperar de tais filmes, em
contraste, supostamente, com as produções de Holywood tal qual a
da MGM de 1940 de Orgulho e Preconceito.
As versões de Pride and Prejudice para o cinema e para a Televisão tiveram
início no ano de 1940, numa realização dos estúdios MGM. Depois vieram uma série
de realizações: em 1949, pelos estúdios americanos de TV , NBC; em 1952, outra
versão televisiva realizada pela BBC de Londres, que mais tarde realizou mais duas
versões seriadas em conjunto com a emissora A&E, nos anos de 1979 e 1995. E por
fim, a mais recente versão, realizada em 2005, pela UNIVERSAL STUDIOS.
( MACDONALD,2003:260-265)
The 1990s’ adaptations of Jane Austen novels display an intriguing
variety of relationships between the screen adaptations and their
predecessors. However, the screen history of Pride and Prejudice
30
Gaylene Preston, cineasta
31
Julianne Pidduck, “Of Windows and Country Walks:Frames of Spaces and Movement in 1990s
Austen Adaptations,(1998:35)
36
provides a unique opportunity to consider the way in which an
adaptation reflects its own particular historical moment. (BELTON
apud MACDONALD,2003:175)
As adaptações cinematográficas dos anos 90, dos romances de Jane
Austen, mostram uma intrigante variedade de relacionamentos entre
elas a as suas predecessoras. Entretanto, a história dessas
adaptações de Pride and Prejudice disponibiliza uma oportunidade
única para se perceber como cada adaptação reflete seu momento
histórico particular.
A versão de Pride and Prejudice de 1940, feita pela MGM, teve sua inspiração
em uma performance teatral vista pelo ator Harpo Marx em 1935. Havia sido
escohida para a personagem central, a esposa e atriz do produtor Irving Thalberg,
Norma Shearer e para seu par, Clark Gable. Contudo, Thalberg morreu semanas
antes das filmagens começarem, o que adiou o projeto, que era para ser, leve,
alegre e brilhante como Harpo havia visto no teatro.
Em 1939, o projeto foi retomado por um novo diretor, Robert Z. Leonard,
novos roteiristas, Huxley e Murfin, e novos astros, Laurence Olivier no papel de
Darcy e Greer Garson, no papel de Elizabeth. Era um contexto diferente, o início da
produção se deu pouco antes do estouro da guerra na Europa. A Inglaterra estava
na batalha e os roteiristas viram no filme, uma oportunidade de fazer propaganda da
guerra e suscitar nos americanos o gosto pelo estilo inglês de vida que estava sendo
atacado pelos alemães.
O filme retrata a paisagem bucólica do interior da Inglaterra, os bailes e as
jovens do século XIX como algo inocente a ser preservado. Neste sentido, o filme foi
recebido como um ícone da cultura britânica e, além disso, como um elo entre os
Estados Unidos e a Inglaterra, com significativo apelo à característica democrática
desses dois povos.
Há no filme uma distinta separação de classes sociais entre os protagonistas,
reforçando a idéia, no final quando eles se casam, de que apesar da diferença
econômico-financeira, a democracia estabelece a igualdade para todos, ou seja, não
há discriminação quando há amor e fraternidade.
37
No livro, Elizabeth não se considera inferior a Darcy socialmente por ser filha
de um cavalheiro e não possuir as mesmas condições sócio-econômicas. Já Darcy
recusa-se a dançar com Elizabeth exatamente motivado por seu orgulho e
sentimento de superioridade.
Austen mostra gradativamente o amor nascendo entre os protagonistas à
medida que o orgulho e o preconceito (daí o título do romance) vão se dissipando
através das atitudes e pensamentos das personagens. Enquanto no filme há uma
sugestão visual de que ocorre uma atração mútua e instantânea entre os
protagonistas que transformada em amor, transpõe todas as barreiras, inclusive a
diferença social.
Entre outras modificações do romance para o filme, há uma excepcional e
com um propósito definido: a atitude de Lady Catherine diante do casamento de
Darcy com Lizzie. No livro, a personagem deixa claro seu descontentamento perante
a situação, frisando inclusive para a própria Lizzie, numa tentativa de demovê-la de
sua intenção de casar-se com seu sobrinho, o quanto sua posição e educação eram
inferiores a ele.
Há no livro apenas uma remota sugestão de que após o casamento, Lady
Catherine de Bourgh acabará aceitando a situação. Enquanto que no filme, a
mesma personagem não só “abençoa” a união entre os protagonistas como também,
diz ser Elizabeth a mulher perfeita para Darcy. Esta total mudança de caráter da
personagem tem por finalidade demonstrar ao espectador o quanto a aristocracia
britânica pode ser democrática estabelecendo uma aliança entre os britânicos e os
ideais “igualitários” americanos.
Também para servir aos interesses das relações políticas entre os Estados
Unidos e a Inglaterra, o filme mostra a família Bennet como uma família solidária e
amorosa, cuja caridade está presente como um traço inerente de todas as famílias
de classe média. Diferentemente, no romance de Austen, as irmãs Jane e Elizabeth
se mostram muito mais inteligentes e generosas, com traços de personalidade
superiores aos de suas outras irmãs e de sua mãe.
38
A cena final do livro mostra um tênue equilíbrio entre o clamor do sentimento
familiar e a importância da realização plena de uma relação amorosa. As novas
relações familiares advindas dos casamentos de Jane e Elizabeth trazem a todos os
parentes próximos vantagens e satisfação, principalmente para os protagonistas.
“Austen “navega”, então, na fronteira imaginária entre a agostiniana auto-moderação
e a romântica auto-indulgência, entre a razão e a sensibilidade.” (MACDONALD,
2003:185)
Em contraste com a cena acima descrita, a cena final do filme da MGM de
1940 concentra-se no fato de que os Bennet conseguem realizar seus desejos. Há
um clima de harmonia e paz entre a família, subentendidas no comportamento de
cada um. O fato de que Jane e Elizabeth, ao menos no livro, têm muito mais
chances de serem felizes por terem realizado casamentos mais adequados, é
completamente ignorado e a Sra. Bennet termina a cena e o filme dirigindo-se ao
marido, com essa frase: “Pense nisso. Três delas já estão casadas e as outras duas
estão em vias de fazê-lo.” Ela sai de cena, fecha-se a porta atrás de si, e o filme
termina.
De acordo com Birtwistle 32 (apud MACDONALD,2003:186), o acerto da
produção de Pride and Prejudice da BBC de 1995, foi manter o verdadeiro espírito
da obra de Austen sem deixar de explorar as possibilidades que uma narração visual
oferece.
A série recebeu muitas críticas positivas à época de seu lançamento e
alcançou o sucesso, principalmente pela fidelidade à obra de Austen. Porém a BBC
produziu uma série também “antenada” com às necessidades do público dos anos
90 e essa fidelidade parece mais um ilusão criada por uma interpretação muito bem
feita da narrativa da autora.
Bluestone33(apud MACDONALD,2003:187) afirma que os romance de Austen
possuem os ingredientes essenciais para um “script” de cinema tais como a falta de
32
Birtwistle and Colkin, Making of “Pride and Prejudice
33
George Bluestone, Novels into Film
39
particularidade, ausência de linguagem metafórica, ponto de vista onisciente, a
necessidade do diálogo para revelar a personagem e uma insistente clareza.
Alguns elementos são vitais na narrativa de Austen, o processo de interrelação entre a moral e a paixão geralmente vivido pelas personagens principais.
Esse processo passa pelo estabelecimento da distância física entre os protagonistas
que só pode ser transposta por um gesto, um olhar, uma expressão facial, ou algo
assim. Essa parece ser, nos romances de Austen, uma técnica dramática que
“facilita” a representação de seus textos e ajuda a transformá-los em excelentes
roteiros.
Ruoff34 (apud MACDONALD, 2003:187) toca nesse aspecto quando se refere
à dimensão dramática existente em Pride and Prejudice, especialmente nos
momentos de reflexão e meditação vividos por Elizabeth, momentos de tensão que
aproximam o romance do cinema.
Ainda de acordo com Birtwistle ( apud MACDONALD, 2003:186) e, a série
televisiva da BBC conseguiu expressar esses momentos de meditação da
personagem usando apelo visual e dramaticidade. Na realidade, a cada vez
Elizabeth e Darcy se fitam, o que ocorre muitas vezes durante a exibição da série, é
nítido o desenvolvimento do relacionamento entre eles, ou seja, as fases desse
relacionamento aparecem em cada olhar.
As palavras não são necessárias para se perceber a mudança de
comportamento e julgamento de um personagem para o outro. É um recurso visual
muito bem construído e de forte impacto na tela. Todavia, tal recurso traz aos
protagonistas um traço de isolamento em relação aos outros personagens
inexistente tanto no romance, quanto na versão da MGM de 1940.
Também as irmãs Jane e Elizabeth Bennet, vividas respectivamente por
Susannah Harker e Jennifer Ehle, estão visualmente ligadas entre si e isoladas das
outras pessoas da família em muitas cenas da série. E mesmo quando aparecem
junto ao grupo, a diferença entre elas e seus familiares é enfatizada por suas ações
34
Gene W. Ruoff, The Dramatic Dilema in Jane Austen’s Pride and Prejudice
40
e palavras. Essa diferença está, obviamente no filme, caracterizada pela
superioridade da índole e da inteligência de ambas.
O comportamento das heroínas (Lizzie e Jane) difere tanto dos demais de sua
família e da maioria dos seus conhecidos que consegue realmente transmitir a idéia
de que ambas são muito mais distintas, educadas e de caráter indubitável. A
conclusão a que se chega é que apenas e só então serão felizes quando
encontrarem seu “verdadeiro” lugar no mundo através de um excelente casamento.
Em contraste a essa abordagem está a que é dada a Elizabeth e Darcy (Colin
Firth) na primeira metade da série, na qual eles pouco aparecem juntos e quando
isso acontece, os obstáculos entre eles são sempre enfatizados através da mobília e
dos lugares. Por exemplo, na cena em que Darcy propõe casamento a Elizabeth,
ambos aparecem sentados, um de cada lado, emoldurados por janelas diferentes e
olhando diretamente para a câmera. Seus olhares não se cruzam e há entre as
janelas, ao fundo da cena, uma escrivaninha alta que domina o centro do cenário.
Mesmo que desde o primeiro encontro entre eles e o espectador, e por que
não também o leitor, tenha a certeza de que os dois se unirão no final do romance,
há pouca proximidade e poucas palavras entre eles durante as cenas.
Há uma cena no romance em que Austen descreve a observação de Darcy
em relação a Elizabeth. A autora faz também uma pequena descrição da mudança
de opinião de Darcy em relação a Lizzie desde o seu primeiro encontro até o
presente, e quando ele se apercebe do fato fica mortificado.
A ênfase que a autora dá ao olhar do protagonista e a clareza da intenção da
cena dentro da trama parecem aos cineastas perfeitas instruções para transpô-la
para a tela.
Ora, se no livro, quando Elizabeth lê a carta de Darcy, Austen faz uso da sua
voz autoral para fazer Lizzie lembrar de todos os julgamentos precipitados que fez
em relação a Darcy e quão injustamente ela o “condenou”, no filme esse efeito se dá
através de outro interessante recurso usado pelos cineastas é “a visualização do
pensamento” da personagem central. Lizzie fita a carta e as imagens aparecem na
tela “materializando” todo o pensamento dela.
41
In the 1940 and 1995 films, as in the novel, the relationship between
Elizabeth and Darcy is animated by a tension between attraction and
resistance, but in the MGM film moments in which attraction seems about to
vanquish resistance occur from the very beginning, while in the BBC film the
process of overcoming such resistance is prolonged and difficult. The MGM
film additions and changes to the relationship between Elizabeth and Darcy
often call into question the notion that Darcy is proud, aloof and mysterious.
It is obvious from the outset that he is drawn to Elizabeth and makes very
little effort to resist succumbing to her charms. Elizabeth is equally drawn to
him, and various characters allude, if only jokingly, to Darcy as a prospective
marriage partner for her throughout the film. This is a couple who seem
continually to be on verge of moving to a new level of intimacy but to be
prevented from achieving it by some misunderstanding or accidental
reminder of the superficial differences between them. (MACDONALD,
2003:194)
Nas versões do cinema de 1940 e de 1995, assim como no romance, o
romance entre Elizabeth e Darcy é instigado pela tensão existente entre a atração e
a resistência, porém, na versão da MGM, os momentos nos quais a atração parece
conquistar a resistência aparecem desde o início. Já na versão da BBC, essa
conquista da atração sobre a resistência ocorre de maneira lenta e difícil. Na versão
da MGM, as mudanças no comportamento e no relacionamento dos protagonistas
têm o objetivo de enfatizar o caráter orgulhoso e misterioso de Darcy. Este é um
casal que parece estar continuamente a ponto de “cair” na tentação da intimidade
mas que é impedido de fazê-lo por um mal-entendido ou lembrança acidental que
sempre os relembra de suas diferenças superficiais.
A ironia crítica, traço tão presente na obra de Austen e tão sutilmente
percebida em algumas falas das personagens, torna-se mais exagerada na tela, o
que a transforma em cena cômica, descaracterizando sua função no enredo.
Isso se nota claramente na última adaptação da obra Pride and Prejudice,
de 2005, pela Universal, quando a personagem da Sra. Bennet, aliás muito bem
interpretada por Brenda Blethyn, logo no início do filme comenta a chegada de
“novos partidos” na vizinhança que poderão casar com suas filhas. A frase inicial do
romance não está presente na cena, porém a importância do casamento é bem
enfatizada através da visível euforia da Sra. Bennet, o que no livro se traduz com a
seguinte frase: “Trata-se de uma verdade universalmente conhecida que um homem
solteiro, dotado de uma considerável fortuna, deve estar precisando de esposa.”
(AUSTEN, 1813)
42
Outra diferença que se nota nessa mais nova adaptação é a condição
financeira da família Bennet, pois o filme a retrata quase como pobre, com uma casa
bem descuidada, móveis em péssimo estado e senhores mal vestidos. Tanto no
livro, quanto na série televisiva feita pela BBC, os Bennet aparecem como uma
família não rica mas remediada e relativamente bem posicionada em seu vilarejo.
Parece ser um recurso usado pelo diretor a aparência pobre e desmazelada
da família para contrastar com a riqueza e elegância dos Bingley e do Sr. Darcy,
estabelecendo desde o princípio, para o espectador, o abismo social entre os
protagonistas do filme, para criar intencionalmente o clima de “amor impossível” tão
apreciado pelo público em geral.
Não há também no filme quase nenhuma menção às leis e costumes da
época, o que pode dificultar o entendimento do espectador em relação à “exagerada
preocupação” da Sra. Bennet quanto ao casamento de suas filhas, tornando todas
as suas ações nesse sentido ridículas e descabidas.
Já a cena na qual o Sr. Collins pede a Srta. Bennet em casamento e por ela é
recusado, tem o poder de estabelecer para o espectador toda a tolice e ignorância
de seu caráter. Claro está que, no livro, esse caráter vai se revelando em pequenas
atitudes e comentários, algo que se torna mais difícil de realizar no cinema, devido à
condensação do enredo.
As personagens das irmãs de Elizabeth pouco são exploradas, não se tem
portanto a exata noção do quanto elas são fúteis e vazias, traços de personalidade
bem destacados no livro, com o propósito evidente de demonstrar o quanto as
jovens daquela época eram ignorantes e despreparadas e quais eram as suas
únicas preocupações.
Até mesmo a leviandade de Lydia, irmã de Lizzie, não é enfatizada como no
livro, o que prejudica o entendimento de sua atitude: ao fugir com o Sr. Wickham.
Isso é claro no livro, ela difama todo o nome da família, segundo os costumes da
época e é urgente que esse “mal” seja reparado para que não se ponha a perder a
honra de todos os membros da família Bennet.
43
A personagem da irmã mais velha de Lizzie, Jane, demonstra com mais
exatidão a personalidade dócil, gentil e frágil descrita no livro, através de suas
atitudes compreensivas e resignadas.
O Sr. Bingsley não parece tão sedutor e gentil quanto no livro e nem tão
medroso e indeciso quanto na série televisiva, é uma personagem com pouco
“apelo” visual. Já a irmã dele, Caroline, é bem representada pela atriz Kelly Reilly , a
inveja e a malediscência estão presentes tanto na tela quanto na obra.
Judi Dench representa com maestria Lady Chatherine de Bourgh pois, dela
se sente emanar através da tela a soberba e a maldade talvez até mais do que na
própria obra.
Ao se comparar algumas cenas de algumas adaptações da obra Pride and
Prejudice, a conclusão a que se chega é a de que cada versão tem seu objetivo e
sua história. Talvez uma agrade mais que a outra. As pessoas podem divergir nas
opiniões a respeito dessa ou daquela versão, afinal cada uma carrega consigo seu
momento histórico e político assim como a visão de seus idealizadores.
O que parece inegável é o fato de que nenhuma adaptação de uma obra
literária pode conseguir uma fidelidade absoluta ao original. Nem mesmo aquelas
realizadas com este intuito. A transposição de uma narrativa escrita para o cinema
não é um processo simples e fácil. Pelo contrário, envolve muita criatividade, muita
seriedade e principalmente muita competência.
44
4.2.
O RENASCIMENTO DE JANE AUSTEN
A popularidade de Jane Austen se deu a partir da segunda década do século
XIX quando da publicação de seu primeiro livro Sense and Sensibility (Razão e
Sensibilidade), em 1811. A autora, a princípio, não pensou que o livro sequer
cobrisse as despesas de publicação e surpreendeu-se por haver ganho dinheiro com
ele.
Tal fato impulsionou Austen a escrever e publicar mais romances: Pride and
Prejudice, em 1813, “Mansfield Park”, 1814, “Emma”, 1815, “Persuasion”, 1817 e
“Northanger Abbey”, 1817, seus seis romances.
O fato de suas personagens poderem ser reconhecidas em qualquer
sociedade, viverem em lugares comuns e terem comportamentos habituais,
contribuiu muito para o aumento de sua popularidade, ao ponto do Príncipe Regente
ter se tornado um de seus fãs.
Após a sua morte, Jane Austen sofreu um declínio em sua popularidade que
durou 50 (cinqüenta) anos. Entretanto, em 1870, sua fama foi revigorada através da
publicação do trabalho de sua sobrinha, J.E. Austen-Leigh: A memoir of Jane Austen.
Em 1920, Austen recebeu mais um impulso em sua reputação, quando houve um
movimento a favor do Romantismo e os leitores passaram a apreciar muito o
equilíbrio e a sensibilidade da autora. Sua popularidade era tamanha nesta época
que houve até a publicação de uma livro chamado “Janeites”, de Rudiyard Kipling,
cuja estória girava em torno de um grupo de tenentes que queriam um memorial
militar em honra aos romances de Austen.
Por outro lado, havia muitos críticos literários que não apreciavam a obra de
Austen. Em 1928, um deles, H.W.Garrod, publicou em livro entitulado: “Jane Austen:
Depreciation”, no qual a escritora é definida como uma “sensível intolerável”. Apesar
disso, inúmeras sociedades se formam ao redor do mundo em prol de seu nome,
seus livros continuaram a ser impressos e lidos, alguns tornaram-se peças teatrais e
Pride and Prejudice se transformou em sua obra mais conhecida através do cinema
com a filmagem de sua adaptação em 1940.
45
Em 1980, a rede de televisão inglesa BBC em associação com a rede de
entretenimento americana ARTS and ENTERTAINMENT NETWORK produziram
uma adaptação para a televisão de Pride and Prejudice que foi um enorme sucesso,
com mais de 10 milhões de espectadores em seus seis últimos episódios, atingindo
a marca de quase 40 (quarenta) por cento da audiência total de televisão em todo o
Reino Unido.
Entretanto, a versão de Pride and Prejudice de 1995, realizada pela BBC, foi
o caso de maior sucesso já visto na televisão, tanto que seu último capítulo causou
furor em uma pequena cidade perto de Exeter porque não pôde ser exibido
adequadamente por problemas técnicos. O povo protestou porque julgou ter os seus
direitos de espectador prejudicados. Uma versão em vídeo, então, foi lançada
vendendo mais de 100.000 (cem mil) cópias.
Hollywood também contribuiu para esse aumento de popularidade quando
produziu e lançou no cinema, em 1995, a versão de “Sense and Senbility” , escrita e
estrelada por Emma Thompson e Hugh Grant e que despertou um grande interesse
no livro, publicado nos Estados Unidos pela editora Signet Books, alcançou o topo
da lista semanal dos mais publicados. Emma Thompson, inclusive, ganhou o prêmio
de melhor escritora dado pela Associação de Escritores Americanos e pelo qual
Thompson agradeceu dizendo:
“I think they (film audiences)have misconceptions about Austen in the
same way they have misconceptions about Shakespeare that they
won’t be able to understand...But one of things I like about Austen’s
books most is that her characters are people that we recognize now.”
“Eu acho que os espectadores têm uma concepção errada em
relação à Austen do mesmo modo que têm em relação a
Shakespeare, acham que não poderão entendê-los... Mas uma das
coisas que eu mais gosto sobre os romances de Austen é que a
maioria de suas personagens são pessoas que você pode reconhecer
atualmente.” (Emma Thompson’s speech apud Yelce, 2005:15).
“Clueless” filmado na mesma época, traz a história de Emma e Mr Knightley
para a Los Angeles dos anos 90, com Alicia Silverstone e Paul Rudd nos papéis
principais. Houve também, um ano mais tarde, uma outra adaptação de “Emma”
feita por uma companhia britânica de televisão independente, Meridian Television,
com Kate Beckinsale no papel principal.
46
Em 2001, o Estúdio Working Title Films em associação com a Universal
lançaram “O Diário Secreto de Bridget Jones”, uma estória baseada na obra Pride
and Prejudice, onde uma das personagens principais chama-se Mark Darcy, numa
clara alusão a personagem do livro, e que no filme foi interpretado pelo mesmo ator
que fez Darcy na série da BBC de 1995, Colin Firth. O filme conta ainda, nos
principais papéis, com Renée Zelweger e Hugh Grant e foi indicado a dois “Oscars”
nas categorias: melhor atriz e melhor roteiro adaptado.
Em 2004, os mesmos estúdios, devido ao enorme sucesso do filme, lançaram
sua continuação: “Bridget Jones no Limite da Razão”, com os mesmos atores e foi
indicado ao “Globo de Ouro” de melhor atriz de comédia.
Em 2005, dos mesmos produtores de “O Diário de Bridget Jones”, os estúdios
filmaram e lançaram a mais nova adaptação de Pride and Prejudice, com Keira
Knightley no papel de Elizabeth Bennet, o que lhe valeu uma indicação ao Oscar de
melhor atriz e Matthew Macfadyen como Mr Darcy.
Some would argue that remaking the five hour BBC version of Jane
Austen’s Pride and Prejudice constitutes a criminal act .But most of
moviegoers should find that, despite a lack of duplicative accuracy,
Joe Wright’s 2005 adaptation adds a little bit of Hollywood to an old
story in order to make every romantic heart twirl and dance. If you are
a hardcore Jane Austen worshipper and believe that her words and
vision should never be altered, than do not go see the new Pride and
Prejudice. But if you can tolerate some changes and a new look on an
old classic, then the tale promises to leave you mesmerized at how
grand love can be. ( MARSHALL, 2005:B4)
O trecho acima, refere-se ao lançamento da versão de 2005 de Pride and
Prejudice, comentando a respeito das modificações feitas pelo diretor Joe Wright
que acrescentaram uma “pitada” de Hollywood a uma “antiga história” capaz de fazer
um coração romântico girar e dançar. Todavia, avisa a autora do artigo, aqueles
mais aficionados de Jane Austen, que não suportam ver sua obra modificada, não
devem assistir ao filme.
Vale aqui perguntar: a que se propõe um filme? Contar histórias, ganhar
prêmios, causar polêmica, alcançar o grande público, divulgar grandes autores,
“estourar” a bilheteria? Antes de tudo isso, a primeira função de um filme, assim
como também a de um livro é a de entreter. Há entretenimento de boa qualidade e
47
de má qualidade, cabe ao leitor/espectador escolher e julgar, e principalmente,
gostar ou não daquilo que lê e vê .
Além de todas essas adaptações e versões citadas, outras foram realizadas,
umas com algum sucesso, outras, nem tanto. Além disso, há outros fatos que são
importantes citar para se ter uma dimensão maior do quanto Jane Austen é
importante no contexto cultural dos últimos séculos.
Segundo TEACHMAN (2003:142-143), ao lado de todas as versões
cinematográficas e televisivas da obra de Austen, também se encontra muito da
autora na World Wide Web, W W W, não somente sobre os seus escritos mas
também sobre sua vida. Há inclusive listas de usuários da internet dedicadas à
leitura e à discussão de sua obra.
Uma dessas listas é administrada por um membro da Universidade McGill de
Montreal, que com certeza fornece excelente material para pesquisas escolares e
também é freqüentada por fãs e pessoas comuns que gostam de discutir sobre os
trabalhos de Austen assim como sobre os filmes feitos sobre eles e os temas
levantados por eles. Há até mesmo discussões a respeito de séries populares de TV
dos anos 90 como Cybil e Jag e o drama atual One life to live, cujos enredos fazem
referências claras a Austen e fazem parte da contemporânea “Austen Mania”.
48
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitos podem se perguntar: Por que Jane Austen? Por que nesse momento
da história? Especulações a parte, algumas pessoas insistem no fato de que os
valores familiares da época de Austen são atraentes ainda hoje, quando a família e
a sociedade se encontram tumultuadas e um tanto perdidas em seus papéis.
Talvez se possa encontrar outra explicação, como a ausência da violência em
suas obras, o que pode trazer aos espectadores uma sensação de relaxamento e
contentamento, e até mesmo de paz, todas advindas da ambientação muito bem
realizada pelos cineastas quando retratam a vida no campo dos séculos XVIII e XIX.
Há também o fato de as ações e comportamentos das personagens diante de
seus dilemas, na visão de muitos, serem muito parecidos com os que são vistos
atualmente. E ainda, segundo TEACHMAN (2003:144), se os leitores e
espectadores acreditam ser os temas casamento, moralidade e expectativa social
tão importantes nos dias de hoje como eram nos tempos de Austen, essas mesmas
pessoas consideram as opiniões da autora tão pertinentes aos leitores atuais quanto
eram há duzentos anos atrás.
Todas essas perspectivas dos trabalhos de Austen têm validade, mas
nenhuma delas, de acordo com Teachman, parece explicar satisfatoriamente a
explosão de popularidade de Austen nos anos 90. Talvez a explicação desse
fenômeno não seja tão importante quanto o prazer que ele traz. Jane Austen
escreveu seus romances porque ela acreditava que as pessoas poderiam gostar de
suas histórias, em grande parte porque elas poderiam reconhecer a si mesmas e em
outras porque conheciam as personagens e as situações que ela criava.
A atual popularidade dos romances de Austen se baseia na mesma
premissa: nós podemos nos reconhecer, reconhecer aqueles que amamos e
aqueles que não gostamos nos livros de Austen. Nós nos enxergamos nas
situações que ela descreve, mesmo que os detalhes tenham se modificado.
E ainda, nos podemos sim, enquanto lemos seus romances ou vemos os
filmes adaptados de sua obra, esquecer os perigos reais do nosso século, a
vida ameaçada pelas armas, drogas, gangs e outras violências não
pertencentes ao mundo de Austen, e simplesmente apreciar a
representação do modo de vida do campo na Inglaterra de anos de 1790 e
de 1800. ( TEACHMAN, 2003:144)
49
Assim sendo, depois de ler muitas críticas e muitas opiniões a respeito de
Jane Austen e sua obra, conhecer um pouco de sua história e de sua trajetória,
assim como tomar conhecimento de como eram as leis e os costumes de sua época,
pode-se perceber claramente o motivo da preocupação de Austen em relação ao
casamento e porque esse tema é tão recorrente em sua obra.
Através desse pequeno estudo, pode-se entender um pouco da problemática
da autora em relação à condição feminina nos séculos XVIII e XIX e avaliar o
quanto essa condição lhe causava aflição e preocupação.
Austen parece ter encontrado em sua maneira bem humorada de escrever,
nos diálogos cômicos entre suas personagens, na postura de seus protagonistas e
antagonistas, nas descrições simples e nas frases bem equilibradas de sua talentosa
narrativa, a maneira ideal de criticar a sociedade em que vivia sem perder de vista a
primeira condição para se redigir um bom livro: o prazer do leitor.
Essa mesma qualidade encontrada nos romances de Austen consegue
perdurar nas versões de seus livros quando essas são realizadas com o mesmo
objetivo, ou seja, a diversão. Se um filme ou uma série televisiva consegue adaptar
um romance clássico renovando sua apresentação e sua narração sem dele
modificar a essência, será com certeza, assim como sua obra inspiradora, um
sucesso de audiência, pois, manterá a mesma qualidade imprescindível às duas
formas de arte, literatura e cinema, o entretenimento.
50
REFERÊNCIAS:
AUSTEN, Jane. Orgulho e Preconceito.
4 ed.
Rio de Janeiro: Editora Best
Seller,2004.
MACDONALD, Gina e Andrew (org.).
Jane Austen on Screen.
Cambridge,
Cambridge University Press,2003.
TEACHMAN, Debra.
Understanding Pride and Prejudice.
Connecticut:
Greenwood Press,1997
REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS:
acesso em junho de 2005:
http://www.antimoon.com/how/movies.htm
http://jeffreyhill.typepad.com/english
acesso em julho de 2005:
http://www.britishcouncil.org/arts-literature-oxford-conference-reading-screens.htm
http://www.bedu.com/Publications/PueblaFinal2.pdf
http://www.profissaomestre.com.br/smu/smu_vmat.php?s=501&vm_idmat=941
http://www.linguaestrangeira.pro.br/
http://www.braztesol.org.br/
http://falcon.jmu.edu/~ramseyil/asialit.htm#C
http://www.carla.umn.edu/esl/
51
acesso em agosto de 2005:
http://www.filmeducation.org/secondary/StudyGuides/index.html
http://www.georgetown.edu/tamlit/
http://www.oup.com/elt/?cc=br
http://www.eslnotes.com/
http://www.cambridge.org/
http://www.lang.ltsn.ac.uk/resources/goodpractice.aspx?resourceid=421#toc_31786
http://www.english-togo.com/english/resources.cfm?CFID=1820246&CFTOKEN=85587109
acesso em setembro de 2005:
http://www.editoreric.com/greatlit/indexM.html
http://www.pbs.org/teachersource/arts_lit/high-film.html
http://www.webenglishteacher.com/litmain.html
http://www.cortland.edu/flteach/
http://www.languageimpact.com/articles/rw/krashenbk.htm
http://www.eslpartyland.com/interactive/scavenger/scavhunt.htm
http://coe.sdsu.edu/people/jmora/ALMMethods.htm
http://www.cal.org/resources/faqs/rgos/methods.html
acesso em outubro de 2005:
http://www.jasna.org/persuasions/on-line/vol21no1/mcmaster_papp.html-Jane austen
52
http://www.pemberley.com/janeinfo/janelife.html#life1a
http://www.gradesaver.com/
http://www.kn.pacbell.com/wired/fil/pages/listlanguagema3.html
acesso em novembro de 2005:
http://www.sparknotes.com/
http://www.sk.com.br/sk.html#menu
http://www.ac-nancy-metz.fr/enseign/anglais/Henry/cinema.htm
http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/interatividade/criticas/obrigado.asp
acesso em dezembro de 2005:
http://www.english-trailers.com/index.php
http://library.scsu.ctstateu.edu/litbib.html#amteach
http://www.btinternet.com/~ted.power/teflindex.htm
http://www.discoveryglobaled.org/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_Inglaterra
http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=177
www.artesbr.hpg.ig.com.br/ Educacao/11/interna_hpg11.html - 14k
www.austen.thefreelibrary.com
www.teachingwithmovies.com
53
acesso em Janeiro de 2006:
http://www.imdb.com
www.cinemaemcena.com.br
www.cineminha.com.br/noticias
www.buscatextual.cnpq.br
www.findarticles.com
acesso em fevereiro de 2006:
http://cineclick.virgula.com.br/cinemateca/ficha_filme.php?id_cine=4569%20
http://www.victorianweb.org/previctorian/pope/mccarrin2.html
54
ANEXO 1:
FILMOGRAFIA DA OBRA DE JANE AUSTEN
CATEGORIA: FILMES
1940 (MGM): Pride and Prejudice
1948 (BBC) : Emma
1949 (NBC): Pride and Prejudice
1950 (NBC) Sense and Sensibility
1952 ( BBC): Pride and Prejudice
1995 ( BBC )e 1996 (A&E): Pride and Prejudice
1996 (MERIDIAN [ITV]) e 1997 (A&E): Em ma
2000 (BOLLYWOOD): I Have Found it ( numa adaptação de Sense and
Sensibility)
2004 (GRANADA): Northanger Abbey
2005 (UNIVERSAL): Pride and Prejudice
CATEGORIA: MINISSÉRIES
1954 (NBC): Emma
1958 ( BBC ): Pride and Prejudice
1960 ( BBC) : Emma
1960 (CBS) : Emma
1961 (BBC): Persuasion
1967 (BBC) : Pride and Prejudice
1971 (BBC): Sense and Sensibility
55
1971 (Granada [ITV]): Persuasion
1972 (BBC): Emma
1979 (BBC e A&E): Pride and Prejudice
1981 (BBC): Sense and Sesibility
1983 (BBC): Mansfield Park
1986 (BBC e A&E) Northanger Abbey
1995 (MIRAGE/ COLUMBIA): Sense and Sesibility
CATEGORIA: TELEFILMES
1995 (BBC e WGBH): Persuasion
1995 (PARAMOUNT) Clueless
1999 (MIRAMAX): Mansfield Park
(fontes: The Revival of Jane Austen, 2005:12-17 e MACDONALD, 2003:260-265)
56
ANEXO 2:
BIBLIOGRAFIA DE JANE AUSTEN
Romances
Sense and Sensibility (publicado em 1811).
Pride and Prejudice (publicado em 1813).
Mansfield Park (publicado em 1814).
Emma (publicado em 1815).
Persuasion (publicado em 1817).
Northanger Abbey (publicado em 1817).
Textos incompletos, cartas, pequenas peças e poemas
Juvenilia ( incluindo Love and Friendship)
Lady Susan
The Watsons
Sanditon
The Plan of a Novel according to Hints from Various Quarters
Her light verse
(JaneAusten’s Writings, Jane Austen Infopage)
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