Primeiras páginas - A Esfera dos Livros

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Primeiras páginas - A Esfera dos Livros
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Ana Isabel Buescu
CATARINA DE ÁUSTRIA
(1507-1578)
INFANTA DE TORDESILHAS
RAINHA DE PORTUGAL
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A Esfera dos Livros
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Reservados todos os direitos
de acordo com a legislação em vigor
© Ana Isabel Buescu, 2007
© A Esfera dos Livros, 2007
1.a edição: Novembro de 2007
Capa: Compañia
Imagem da capa: Catarina de Áustria de Antonio Moro,
Museu do Prado, Madrid
© Oronoz / Cover
Revisão: Francisco Boléo
Paginação: Segundo Capítulo
Impressão e Acabamento: Tilgráfica
Depósito legal n.° 266 268/07
ISBN 978-989-626-080-4
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ÍNDICE
I – infanta de tordesilhas (1507-1525)
1. «A rainha é parida de uma filha» . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2. Crescer cativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3. Catarina, «en tiempo que la Junta estuvo en Tordesillas» . . . . . . . . . 73
4. Destinos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
II – RAINHA DE PORTUGAL (1525-1557)
1. Um novo reino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2. «Como anjo para o paraíso» . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3. Modos de ser . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4. «Y al Rey y la Reyna hallé juntos» . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5. Maria, Princesa das Astúrias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6. João, «coluna que sustinha as esperanças destes Reinos» . . . . . . . . . . 7. Morte de D. João III . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
181
211
231
265
287
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III – DEPOIS DO TRONO (1557-1578)
1. Primeiros anos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2. Novos combates . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3. Crepúsculos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4. A espada e o escudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 327
349
383
423
GENEALOGIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 437
CRONOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 443
FONTES IMPRESSAS E BIBLIOGRAFIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 457
ÍNDICE ONOMÁSTICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 481
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Em memória de minha mãe, Maria Leonor (1932-1999)
À minha filha, Maria Leonor
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PARTE I
INFANTA DE TORDESILHAS
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Capítulo 1
«A rainha é parida de uma filha»
S
exta-feira, 15 de Janeiro de 1507. Em Valhadolide, no coração de
Castela, frei Henrique de Coimbra, bispo de Ceuta e embaixador do
rei D. Manuel de Portugal, preparava-se para seguir viagem em direcção
a Torquemada, onde o monarca o enviava com uma missão específica.
Para além da visitação formal de pêsames, que o rei quis que apenas então tivesse lugar, pela morte inopinada e fulminante do jovem
rei Filipe I de Castela, ocorrida em Burgos a 25 de Setembro de 1506,
D. Manuel procurava inteirar-se do ambiente e das movimentações
políticas em torno de D. Joana, rainha e viúva de vinte e sete anos de
idade, e dos meandros da «governança de Castela». Procurava, ainda,
fazer avançar aquela que era a ambição maior da política imperial de um
rei que juntara «o Oriente ao Ocidente»: persuadir os reis cristãos e a
cúria pontifícia à cruzada contra os muçulmanos, através do confronto
com o reino mameluco do Egipto e o Turco otomano, no palco europeu
e no longínquo Oriente, conseguir a destruição de Meca e a libertação
da cidade santa de Jerusalém, assim se alcançando – desejava D. Manuel
que sob a égide do rei português – uma nova idade de um império cristão
universal.
No caso dos reinos da Península, agora que era morto o jovem e efémero rei Filipe I, tratava-se de dar continuidade a esse ambicioso desígnio
ANTT, Corpo Cronológico (CC), I, maço 5, n.o 120.
Pedro de Meneses, Oração proferida no Estudo Geral de Lisboa…, [1504], 1964,
p. 113.
Sobre o projecto imperial manuelino, v., por todos, Thomaz, 1990, 1991 e 2000.
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político junto de Fernando, o Católico e também de quem rodea­va a
jovem rainha, então forçada e inesperadamente aposentada em Torquemada. Outros episódios desta ofensiva político-diplomática junto das
cortes europeias haviam tido lugar nos anos de 1505 e 1506, e emissários
de D. Manuel procuraram junto de Henrique VII de Inglaterra, do imperador Maximiliano, do rei de França, Luís XII, e de Fernando, o Católico, fazer valer os pontos de vista e a estratégia do monarca português.
Por duas vezes, D. Manuel incumbira então o franciscano frei Henrique
de Coimbra, homem letrado, experiente e da sua absoluta confiança, seu
confessor e conselheiro, dessas missões – de Agosto de 1505 a Março de
1506, frei Henrique esteve nas cortes de Inglaterra e Castela a advogar a
cruzada contra o infiel. Agora, em Janeiro de 1507, o monarca tornava
a enviá-lo, já provido do bispado de Ceuta, a avaliar a situação política
castelhana e a dar continuidade a esse projecto. Era, pois, em Valhadolide, a caminho de Torquemada, com objectivos político-diplomáticos
bem precisos, que se encontrava o embaixador de D. Manuel naqueles
primeiros dias de Janeiro do ano de 1507.
Depois de dizer missa no mosteiro de Valhadolide e estando prestes
a prosseguir a sua jornada, como previsto, frei Henrique de Coimbra
recebia uma carta de João Mendes de Vasconcelos, trazida por um
moço de estribeira de D. Manuel. Nela, aquele agente do rei português
junto da corte castelhana informava o bispo, entre outros assuntos que
considerava de maior relevância, de que D. Joana, rainha de Castela,
«era parida de uma filha», nascida no dia anterior, 14 de Janeiro, em
Torquemada. O diligente e zeloso frei Henrique escreveu de imediato
a D. Manuel relatando o sucedido e anunciando a intenção de ir de
imediato aposentar-se em Dueñas – como aliás estava já determinado –,
lugar a cerca de quatro léguas de Torquemada, para mais perto estar dos
acontecimentos e cumprir a missão de que fora incumbido pelo monarca
e prevendo que, a breve trecho, não haveria pousada na região com a
chegada dos grandes à corte.
Dos dias que se seguiram é ainda eloquente o testemunho do bispo
de Ceuta. A 7 de Fevereiro, frei Henrique escrevia de novo a D. Manuel,
dando conta das dificuldades em cumprir a missão que o levara a Castela. Observando preceitos protocolares habituais, informava o rei de
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Lopes, 1997.
As Gavetas da Torre do Tombo, vol. i, 1960, gav. ii, 6-28, p. 816.
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que fora já visitado «com muita afeição» por figuras como o condestável
de Castela, D. Bernardino de Velasco, o marquês de Villena, D. Diego
López Pacheco, o bispo de Mondoñedo, o embaixador do Rei Católico
«e outras pessoas mais baixas»; mas a nenhum havia retribuído porque
não conseguira ainda ser recebido pela rainha D. Joana. E este aparentemente simples facto revelava-se talvez impossível, como constatava o
embaixador do rei, devido à condição em que se encontrava a rainha
de Castela: oculta e retirada nos seus modestos aposentos, a ninguém
queria ouvir ou receber, «nem grande nem pequeno, nem homem nem
mulher salvo uma escrava que se chama Anastasia». Ao embaixador do
rei seu pai, Fernando de Aragão, que assomara à porta da sua câmara
rogando-lhe que recebesse o enviado de D. Manuel, respondera a voz
de D. Joana «eu o ouvirei». E acrescentava frei Henrique: «Carta,
Senhor, que lhe venha, lança-a em um canto da casa e não dá por cousa
nenhuma nem, Senhor, rege nem manda nem desmanda nem assina nem
faz cousa alguma.» Concluía, desassombrado e contrito: «a rainha é de
todo enferma.»
A rainha, cujo estado de prostração e de retraimento era assim descrito por frei Henrique, facto bem conhecido, aliás, de D. Manuel, tinha
dado à luz a sua última filha em 14 de Janeiro. A infanta, nascida de um
parto feliz, como haviam sido sempre os partos da fisicamente robusta
D. Joana, em breve foi baptizada. No derradeiro dia do mês de Janeiro,
saindo o cortejo das modestas casas em que se alojava a rainha, a infanta
foi levada nos braços pelo marquês de Villena e baptizada pelo arcebispo
de Toledo, Francisco Jiménez de Cisneros, sendo padrinhos o condestável de Castela e o bispo de Málaga, seu capelão-mor, e madrinhas duas
damas da rainha, uma das quais a sua fiel camareira, Maria de Ulloa.
À cerimónia assistiram ainda muitos grandes de Castela, embaixadores,
entre os quais frei Henrique, bispos e o núncio do Papa. Na igreja de
Torquemada, onde a infanta recém-nascida recebeu o sacramento do
baptismo e o nome de Catarina, repousava, momento transitório de
uma mais longa jornada, por ordem de D. Joana, o corpo insepulto do
rei seu pai.
A missiva de frei Henrique de Coimbra a D. Manuel deixava transparecer, através das referências, concisas mas certeiras, a situação de
As Gavetas…, vol. i, gav. ii, 6-28, pp. 816-818.
ANTT, CC, doc. cit.
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apatia, isolamento e enfermidade da rainha D. Joana, a delicadeza e
a complexidade do momento político que então se vivia no reino de
­Castela. A infanta a quem foi dado o nome de Catarina nascia já órfã
de pai, e filha de uma rainha a quem muitos começavam a chamar
louca. Sexta e último dos filhos de Joana e Filipe, Catarina vinha ao
mundo em circunstâncias singulares e particularmente dramáticas, num
momento em que o futuro de Espanha se tecia de incertezas, temores e
incógnitas, num turbilhão de acontecimentos que se sucediam, de forma
quase alucinante, desde o já longínquo ano de 1497 quando, no dia 6
de Outubro, morreu o príncipe D. João, herdeiro dos Reis Católicos.
Recuemos, então, alguns anos, procurando desenredar a complexa,
volátil e em tantos aspectos fortuita teia dos acontecimentos, e entender
como a roda da fortuna fizera de Joana, terceira filha dos reis Fernando
e Isabel, herdeira da coroa e rainha de Castela.
Em meados da década de 90 do século xv os Reis Católicos eram,
por um conjunto diversificado de circunstâncias, monarcas de prestígio
numa Europa tão profundamente heterogénea que se abria aos tempos
modernos. Através da união das coroas de Castela e Aragão, consumada
com o seu casamento em 1469, Isabel de Castela (1451‑1504) e Fernando de Aragão (1452-1516) não só haviam unificado o mosaico de
uma Hispânia politicamente fragmentada como tinham concluído com
êxito, coroando-se de glória, a Reconquista cristã iniciada tantos séculos
antes pelos seus antecessores, com a conquista do reino de Granada em
1492, fazendo desaparecer o último reino muçulmano da Península Ibérica. Ainda nesse singular ano de 1492, Cristóvão Colombo desvelava
um novo mundo a toda a Cristandade, lançando as raízes de um futuro
e colossal império. Mas outro factor se revelava decisivo para o fortalecimento da realeza de Fernando e Isabel. Na verdade, a trama de alianças matrimoniais urdida pelos Reis Católicos revelou-se um elemento
crucial de afirmação da monarquia e constituiu peça de uma bem montada estratégia política e diplomática, que os soberanos apontaram em
duas principais direcções: a primeira, para o vizinho reino de Portugal,
encerrado que estava o prolongado conflito que culminara na paz das
Alcáçovas, celebrada em 1479, no declinar do reinado de D. Afonso V
(r. 1438-1481), a outra destinada a fortalecer a monarquia espanhola
no palco europeu.
A primeira expressão peninsular dessa estratégia foi o casamento da
sua filha primogénita, Isabel (n. 1470), com Afonso (n. 1475), único filho
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legítimo e sucessor do rei de Portugal, D. João II (r. 1481-95), que acabou tragicamente com a morte do desafortunado príncipe no Verão de
1491, em Santarém, da queda de um cavalo, deixando os pais e o reino
na mais absoluta desolação. A morte do príncipe português parecia
inviabilizar os desígnios de aliança então pretendidos, mas a estratégia
dos Reis Católicos em relação a Portugal, reino também profundamente
empenhado em dar continuidade a essa aliança, havia de ser reafirmada
alguns anos mais tarde. Em Outubro de 1497, depois de difíceis negociações que se fizeram já em larga medida sob o signo do drama dos
judeus peninsulares após o édito de expulsão de 1492, o novo monarca
português, D. Manuel (r. 1495-1521), casava com a princesa viúva, e
depois da morte desta, em 1498, com outra filha dos Reis Católicos, a
infanta Maria (n. 1482), em 150010.
Mas além do espaço peninsular, estavam em jogo outros horizontes.
No coração da Europa a «aposta» de Fernando e Isabel fazia-se com
a casa de Borgonha e com o Império, nas mãos dos Habsburgo desde
1438, procurando estabelecer uma aliança que pusesse dificuldades à
França de Carlos VIII (r. 1483-1498) e aos seus desejos de conquista
do reino de Nápoles, no âmbito das guerras europeias, que em 1494 se
haviam iniciado tendo como cenário o palco italiano. Talvez, também,
por parte do imperador Maximiliano, fosse ocasião para «vingar» o
humilhante e frustrado episódio do fugaz casamento infantil de sua filha
Margarida com o jovem Carlos de França em 1483, tinha Margarida
três anos de idade11, o que acabou por favorecer a estratégia matrimonial
e dinástica de Fernando e Isabel. Os casamentos concertados e realizados em 1496 e 1497 materializavam, pois, uma visão política que havia
de estar na base do fortalecimento da Espanha no concerto das nações
europeias.
O monarca tinha um filho bastardo, Jorge (1481-1550), que D. João II quis fazer rei após
a morte do príncipe D. João. Tal não aconteceu, e foi seu primo e cunhado, Manuel (n. 1469)
quem herdou a coroa de Portugal. D. Jorge veio a ser duque de Coimbra e mestre das poderosas ordens de Avis e Santiago.
Garcia de Resende, Crónica de D. João II e Miscelânea, ed. Joaquim Veríssimo Serrão,
1991, cap. 132, pp. 192-200.
10 Damião de Góis, Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel, I, 1949, cap. 46, pp. 110-114.
Sobre D. Manuel, v. a recente biografia de Costa, 2005.
11 Em 1491, Carlos VIII casou com a duquesa Ana de Bretanha, o que significou a incorporação daquele território na coroa francesa. Para tal, foi necessário repudiar Margarida, que
em 1493 regressou aos Países Baixo. Para todos os efeitos, Margarida de Áustria chegou a ser
rainha de França.
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Em Agosto de 1496, partia de Laredo, na presença e com a emoção
da rainha Isabel e de todos os seus irmãos, a imponente armada que
levava a infanta Joana (n. 1479), então com dezasseis anos de idade, para
a distante e faustosa corte da Flandres, para casar com Filipe (n. 1478),
arquiduque de Áustria, duque de Borgonha e senhor dos Países Baixos,
filho do imperador Maximiliano e de Maria de Borgonha12. Meses
depois, no seu regresso, a mesma armada trazia Margarida de Áustria
(n. 1480), única irmã de Filipe, que casou, em Abril de 1497, depois da
Semana Santa, na catedral de Burgos, com fausto e solenidade, com o
único filho varão dos Reis Católicos, João, herdeiro do trono de Castela
e Aragão. Em Outubro desse mesmo ano, os reis casavam a sua primogénita, a infanta e princesa viúva Isabel, com o rei português, D. Manuel,
em Valencia de Alcantara.
O acaso, a fortuna e o destino fizeram com que o rumo dos acontecimentos divergisse e fosse tão diferente de sonhos e projectos que tantos
então acalentaram; mas por essas outras vias determinava-se, afinal,
aquilo que viria a ser o projectar da hegemonia espanhola na Europa
do século xvi. Isabel, a dilecta e primogénita filha de Fernando e Isabel,
havia de ser, por um momento breve, princesa das Astúrias e rainha de
Portugal. O jovem e amado João, único filho homem dos Reis Católicos,
era o herdeiro natural das coroas de seus pais, mas morreu príncipe.
No que respeita a Joana, nada fazia então prever o seu régio, mas ao
mesmo tempo triste e singular destino. Casada com o duque de Borgonha,
filho do imperador do Sacro Império Romano-Germânico, o seu futuro
parecia talhado para se cumprir longe da Espanha onde nascera, senhora
de estados naquela Europa mais a norte, densa, rica e cosmopolita. Mas
Joana havia de voltar a Espanha, e aí reinar, cativa, até à morte.
Caprichosa, a roda da fortuna continuava a girar. O príncipe D. João,
nascido em 30 de Junho de 1478, oito longos anos após Isabel, até
então única filha de Fernando e Isabel, criado com desvelo e primorosa educação pelos Reis Católicos, fora desde a infância uma criança
débil, que crescera rodeado de muitos cuidados e de grande ansiedade.
No momento do casamento da sua irmã mais velha com o monarca
12 O imperador Maximiliano (1459-1519) era filho do imperador Frederico III († 1493) e
de Leonor († 1467) de Portugal. Casou em 1477 com Maria († 1482), única filha de Carlos,
o Temerário († 1477), duque de Borgonha. O imperador Maximiliano e Maria de Borgonha
eram ambos bisnetos de D. João I († 1433) e de Filipa de Lencastre († 1415), que em Portugal
inauguraram a dinastia de Avis.
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português, o estado de saúde do príncipe das Astúrias, que se deteriorara
de forma rápida, era desesperado13, vindo a morrer em Salamanca a
6 de Outubro, facto que constituiu um golpe profundíssimo para os reis
seus pais.
O infausto acontecimento coincidiu com o matrimónio de D. Manuel, que ocultou a triste nova à mulher até entrarem em Évora, depois
de casados apenas na presença da rainha Isabel, já que o rei Fernando
permanecera com o príncipe em Salamanca, assistindo aos seus últimos
momentos. Só então a corte portuguesa tomou luto pela morte do irmão
da rainha ordenando D. Manuel «suas exéquias, e saimento com muita
solenidade»14. Mas as teias da morte continuavam a urdir-se de forma
inexorável. O príncipe das Astúrias morrera «de amor», como cunharam os cronistas coevos, deixando Margarida de Áustria grávida de um
filho. Também essa réstia de esperança se desvaneceu. Aos sete meses de
gravidez, em Alcalá de Henares, já depois da morte do príncipe herdeiro,
a sua jovem viúva dava à luz uma criança morta15, fazendo ruir os planos político-dinásticos concebidos por Fernando e Isabel.
Assim, de forma inesperada, D. Manuel e D. Isabel, reis de Portugal,
passavam a ser herdeiros daquelas coroas peninsulares, não sem que
se manifestassem então as ambições do duque de Borgonha, que após
a morte do príncipe das Astúrias pretendeu o título para a sua mulher,
D. Joana, procurando assim ultrapassar os direitos da primogénita dos
Reis Católicos. Esta pretensão foi desatendida por Fernando e Isabel,
que não só tiveram em conta os direitos da sua primogénita como pro­
curaram assegurar a continuidade dinástica da monarquia através do
ramo hispânico. Desta forma, em Março de 1498, a pedido insistente
dos Reis Católicos, os soberanos de Portugal, estando D. Isabel grávida,
partiam de Lisboa a caminho de um destino que parecia reservar-lhes a
coroa de todas as Espanhas…
Na cidade de Toledo, perante Fernando e Isabel, os reis de Portugal
foram solenemente jurados em cortes herdeiros da coroa de Castela.
Mas quando tudo estava preparado para idêntica cerimónia de juramento nas cortes de Aragão, reunidas em Saragoça, depois de alguma
resistência devida ao facto de se ir jurar uma mulher e não um varão
13 Provavelmente tuberculose, na época doença crónica e endémica. Gargantilla, 2005,
p. 45.
14 15 Damião de Góis, Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel, I, 1949, cap. 24, p. 52.
A criança que então nasceu era uma rapariga.
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– argumento invocado por muitos como indo contra as leis do reino –, a
morte tornou a intervir. Já naquela cidade aragonesa, depois de meses de
viagens e itinerância que terão fragilizado e desgastado a rainha, a 24 de
Agosto, dia de S. Bartolomeu, D. Isabel dava à luz um rapaz, não sobrevivendo ao parto e expirando, em ambiente de profunda dor, perante o
desfalecimento da rainha Isabel, nos braços do seu pai, que pela filha
chamava em voz alta16.
Sobrevivia-lhe no entanto a criança, a quem foi posto o nome de
Miguel. Logo em Setembro, ainda não se havia cumprido um mês sobre
a morte da mãe, o príncipe era jurado herdeiro nas cortes de Aragão,
e no início de 1499 nas de Castela, reunidas em Ocaña, onde também,
muitos anos antes, em 1468, Isabel, a Católica fora jurada herdeira
daquele reino. Na ausência do príncipe, que permanecera em Castela
junto dos avós, também em Portugal se jurava aquele que havia de
suceder um dia a D. Manuel no trono português: em cortes reunidas a
7 de Março de 1499 no convento de S. Domingos em Lisboa, Miguel
tornava-se também herdeiro do reino de Portugal17.
D. Miguel da Paz, filho de D. Manuel e da rainha D. Isabel, era a partir de então o herdeiro natural e jurado dos reinos de Portugal, Castela,
Aragão e Sicília. Mas a 19 de Julho de 1500, o pequenino príncipe, que
ainda não havia cumprido dois anos de idade, faleceu em Granada, onde
foi sepultado na capela real. A sua morte constituiu, como é possível
avaliar, um novo e profundo golpe para os Reis Católicos, e foi sentida
com dor e muitas lágrimas na corte castelhana e em «toda a Espanha,
parecendo-lhes que perdiam um senhor natural, nascido neste solo»18;
ao contrário, na corte de Filipe, o Belo essa fatalidade provocou indisfarçável contentamento, quase como se já fosse esperada19, facto que
bem se entende, já que desta forma se desenhava em Castela a sucessão
dinástica em favor da casa de Áustria20.
Morta Isabel, primogénita dos Reis Católicos, desaparecidos João,
príncipe das Astúrias, e o pequenino Miguel, efémera esperança de uma
16 Damião de Góis, Crónica…, Parte I, 1949, caps. 26-30, pp. 54-67 e cap. 32, pp. 68-69;
Garcia de Resende, «A Entrada del Rey Dom Manoel em Castella», in Crónica de D. João II
e Miscelânea, ed. cit., pp. 313-314.
17 Cópia do juramento na BNL, PBA (Colecção Pombalina), 249, fóls. 407-408v.
18 Prudencio de Sandoval, Historia de la Vida y Hechos del Emperador Carlos V, I, 1955,
cap. 8, p. 19.
19 Fernández Álvarez, 2003a, pp. 51-52; idem, 2003b, pp. 388-389.
20 Idem, 2002, pp. 89-94; Ladero Quesada, 2003, pp. 441-444.
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Espanha politicamente unificada, era Joana, terceira filha de Fernando
e Isabel, duquesa de Borgonha e arquiduquesa de Áustria, quem saía à
luz, a uma nova e inesperada luz que dela fazia herdeira das coroas de
Castela e de Aragão.
Na longínqua Flandres, numa corte que em tantos aspectos lhe
continuava estranha, Joana dera já dois filhos a Filipe – depois da
primogénita Leonor, nascida em 1498 em Lovaina, Joana trazia ao
mundo, de 24 para 25 de Fevereiro de 1500, um filho varão, a quem
foi posto o nome de Carlos. Não deixava de causar admiração a forma
sur­preendentemente fácil com que D. Joana paria os seus filhos, evidenciando uma singular robustez física, num momento tão temido e
incerto, e em que sempre a morte rondava mães e filhos21. No caso
do nascimento de Carlos, a duquesa de Borgonha assistia a uma festa
no palácio de Gand, quando as dores de parto a forçaram a retirar-se;
deu tranquilamente à luz nessa mesma noite, pelas três horas e meia
da madrugada, o primeiro dos seus filhos varões. Como registava não
sem algum assombro o cronista Sandoval, citando palavras do bispo de
Málaga por ocasião da cerimónia de baptismo do infante D. Fernando,
«[…] permitiu Deus […] que [D. Joa­na] não receba dor nos seus partos,
e assim, rindo-se e brincando, entre jogo e brincadeira dá à luz […] sem
mais paixão nem tribulação» 22.
Tal condição contrastava com outras dimensões da sua vida e do
seu quotidiano. D. Joana mostrava fragilidades que iam progressivamente ficando mais notórias: as cenas públicas de ciúmes perante um
marido «muito dado a mulheres»23, momentos de cólera alternando com
outros de profundo ensimesmamento, a indiferença a certas obrigações
inerentes ao seu estado, em particular deveres de natureza religiosa ou
o desmazelo com a sua pessoa, revelavam uma instabilidade que a ia
Prudencio de Sandoval, I, 1955, cap. 13, p. 22.
Prudencio de Sandoval, Historia de la Vida y Hechos…, vol. i, 1955, cap. 4, p. 17;
Fernández Álvarez, 2002, p. 89.
23 Pedro de Torres, Apuntamientos, cit. por Rodríguez Villa, 1892, p. 183. Traço sublinhado
pela generalidade dos cronistas, que também referem as devastadoras consequências em D.
Joana. Ouçamos o cronista anónimo de 1506: «[…] ela [D. Joana] conduzia-se como mulher
desesperada e toda cheia de ciúmes, que não se lhe podiam tirar, e parecia-lhe que o seu marido
era muito belo e estava em idade de comprazer o desejo das damas e todas elas quando o viam
o desejavam, e também ele desejava todas as que via, e em tal ardor de amor e louca raiva [D.
Joana] continha-se de tal modo que não encontrava alegria no mundo e não desejava senão
a morte.» Cronista anónimo, «Segundo Viaje de Felipe el “Hermoso”, publicado por Garcia
Mercadal, Viajes de Estranjeros por España y Portugal, vol. i, 1952, p. 582.
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tomando, e que à distância tornava cada vez mais sólida a angústia de
seus pais, em particular da rainha Isabel, bem informados e alarmados
com o estado de saúde e de abatimento da sua terceira filha.
Ao contrário de uma noção persistente, não fora na Flandres que
essa instabilidade se revelara: em 1495, meses antes da sua partida para
casar com Filipe, a rainha Isabel ordenava que ninguém, nem mesmo
pais e irmãos, tivesse o menor contacto com as damas da infanta, facto
eloquente, já então, das peculiaridades do comportamento da jovem
D. Joana, que a rainha procurava assim, tanto quanto possível, reservar24. Mas agora, depois de tantas vezes a roda da fortuna ter girado,
não era apenas a dor de mãe que se manifestava no coração e na mente
da rainha Isabel: a partir de Julho de 1500, com o desaparecimento do
neto Miguel, era esta a filha destinada a suceder-lhe no trono de Castela.
Como determinavam as leis da sucessão, era agora necessário que as
cortes de Castela jurassem a nova princesa das Astúrias. A viagem dos
arquiduques de Áustria e duques de Borgonha para Espanha foi sendo
sucessivamente retardada, talvez por motivos de natureza política mas
também em virtude de nova gravidez de Joana, que a 27 de Julho de
1501 deu à luz em Bruxelas uma rapariga, a quem foi dado o nome de
Isabel. Só no Outono desse ano o séquito flamengo partiu, fazendo caminho pela França, facto que não deixou de provocar tensão, pois eram
de conflito as relações entre a monarquia ibérica e os reis de França, e
notória a francofilia de Filipe, o Belo.
A comitiva entrou em Espanha já corria o ano de 1502, e foi a 27
de Maio desse ano que em cortes reunidas em Toledo, na presença dos
monarcas, Joana e Filipe foram jurados herdeiros da coroa de Castela.
Meses mais tarde, a 27 de Outubro, na cidade de Saragoça, Joana era
jurada em cortes legítima sucessora do reino de Aragão, com uma ressalva fundamental: esse juramento seria anulado se o rei de Aragão,
Fernando, tivesse filho varão de matrimónio legítimo25.
Muito em breve Filipe de Borgonha dava mostras de pretender regressar à Flandres, alegando que se comprometera a fazê-lo antes do final
do ano; a sua intenção esbarrou na firme oposição dos Reis Católicos,
que procuraram fazer-lhe ver a imprudência de tal viagem, enconDocumento revelado e publicado por Zalama, 2003, pp. 410-411.
Rodríguez Villa, op. cit., pp. 65-66. Esta primeira viagem é descrita por António de
Lalaing, que acompanhou os arquiduques. Publicada em tradução castelhana por García de
Mercadal, op. cit., pp. 433-548.
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trando-se Joana em adiantado estado de nova gestação. Naturalmente,
existiam também razões de natureza política, que se prendiam com a
ambígua posição de Filipe perante o conflito que opunha o Rei Católico
a Luís XII de França, e sempre na mira de recuperar os territórios borgonheses incorporados na coroa francesa depois da batalha de Nancy e
da morte do último duque de Borgonha, o seu avô, Carlos, o Temerário
(† 1477). As próprias cortes de Castela e Aragão procuraram dissuadi-lo do seu intento, tanto mais que a viagem havia de fazer-se através do
território francês.
Nada demoveu o príncipe, nem a resistência de Isabel nem os rogos
«da Princesa sua mulher, que extremadamente o amava e nada fazia
senão gemer e chorar»26. Talvez a inflexibilidade de Filipe se prendesse
também com os rumores de envenenamento que rodearam a repentina
morte do arcebispo de Besançon, François de Busleyden, seu íntimo
conselheiro, ocorrida a 23 de Agosto27; o facto é que o príncipe das
Astúrias abandonou Madrid com o seu séquito a 19 de Dezembro
desse mesmo ano de 1502 em direcção a Aragão para, atravessando a
França, regressar aos Países Baixos. Para trás ficava Joana, grávida do
seu quarto filho e num estado de abatimento que piorou após ter dado
à luz, a 10 de Março de 1503, em Alcalá de Henares, um rapaz a quem
puseram o nome do avô, Fernando. Em carta de 20 de Junho de 1503, os
físicos da câmara da rainha davam conta ao rei Fernando, então ausente
em campanha militar, do estado da rainha Isabel, já muito enferma, e
da condição da filha. Esse testemunho era bem eloquente do estado da
jovem princesa das Astúrias que, diziam os médicos, a qualquer um inspiraria piedade: «porque dorme mal, come pouco, e às vezes nada, está
muito triste e bem fraca. Às vezes não quer falar […] a sua doença vai
muito avançada.»28
Depois de dar à luz o infante Fernando, o único fito de D. Joana foi
partir. Partir ao encontro do volúvel Filipe e dos filhos, Leonor, Carlos e
Isabel, intenção a que continuou a opor-se a rainha de Castela, temerosa
na sua condição de mãe e de rainha. Já muito debilitada pela doença
que havia de matá-la29 e profundamente amargurada, Isabel, a Católica
acabou por ceder, depois de episódios dramáticos e bem conhecidos
Estanques, cit. por Rodríguez Villa, op. cit., p. 67.
Idem, ibidem; Zalama, 2003, p. 38.
28 Cit. por Rodríguez Villa, op. cit., p. 83.
29 Um tumor ginecológico. Gargantilla, 2005, pp. 71-72. V. Junceda Avello, 1995, p. 44.
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como aquele em que D. Joana, arrostando o frio intenso de Novembro,
entre gritos e ameaças, recusou recolher-se depois de impedida de partir
e permaneceu toda a noite ao relento junto à porta encerrada do castelo
de la Mota, em Medina del Campo, onde se encontrava confinada por
ordem da rainha sua mãe. Após dura entrevista entre ambas, quebrada
a resistência da quase moribunda Isabel de Castela, D. Joana partia
enfim, novamente de Laredo, na Primavera de 1504, com destino à
ansiada Flandres.
Não é difícil entender em que situação a grande rainha Isabel, que
verdadeiramente nunca recuperara do profundo desgosto que significara
a morte do seu amado filho João, vendo aproximar-se o fim da vida,
fez redigir o seu testamento, a 12 de Outubro de 1504. Sucedia-lhe no
trono uma filha enferma e vulnerável, um rei estrangeiro, ambicioso e
tão inclinado aos interesses da França, inimiga da monarquia dos Reis
Católicos. Nas suas últimas vontades, a rainha traçava um plano político
bem definido que procurava responder a tão delicada situação, dando
ao rei Fernando, arguto e experiente companheiro de tantas lides, um
protagonismo decisivo. Assim, decidia Isabel, a Católica no seu testamento que, na ausência de D. Joana dos seus reinos, ou, acrescentava de
forma subtil «encontrando-se neles não queira ou não possa entender
na sua governação», o governador de Castela até à maioridade do neto
primogénito, Carlos, havia de ser o rei Fernando; deviam Joana e Filipe
mostrar-se «muito obedientes e sujeitos ao Rei, meu senhor»30.
Desta forma a rainha reconhecia e implicitamente declarava a incapacidade de D. Joana em assegurar a governação do reino, confiando-a
ao marido, e quase não mencionando Filipe; mas ao tomar tal decisão,
tornava também inevitável o já anunciado confronto político pelo poder
em Castela, que iria ter lugar entre Filipe de Áustria e Fernando de Aragão. Isabel, a Católica fechou os olhos a 26 de Novembro de 1504, em
Medina del Campo. No próprio dia da sua morte, na presença do rei
Fernando e de muitos Grandes e senhores do reino, D. Joana foi proclamada rainha de Castela. Na mesma ocasião foi lida a cláusula testamentária que fazia de Fernando de Aragão governador do reino, o que
foi em breve ratificado e jurado nas cortes reunidas em Toro, em Janeiro
de 1505, onde pela primeira vez, de forma pública e oficial, se referiam
30 Cit. por Fernández Álvarez, 2003b, pp. 443-444. O codicilo ao testamento que ­nomeava
Fernando de Aragão governador de Castela era de 23 de Novembro, redigido 3 dias antes da
morte da rainha. Belenguer, 2001, p. 230.
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e invocavam a «enfermidade e paixão» da rainha D. Joana para justificar as funções de governador atribuídas ao Rei Católico. Mas contra o
plano concebido por Isabel corriam rumores de que Filipe, agora rei de
Castela, teria a intenção de deixar a mulher na Flandres e entrar sozinho
em Espanha, manobrando ainda para afastar o sogro da governação do
reino e remetê-lo à exclusiva condição de rei de Aragão.
A guerra surda e de bastidores entre ambos endurecia e ganhava
novos contornos. Nobres e Grandes de Castela hesitavam nas fideli­
dades, dividiam-se; muitos «desamavam o rei D. Fernando»31, vindo
ao de cima reservas ao inegável ascendente, ainda em vida da rainha
Isabel, do partido aragonês na governação e nos destinos de Castela32.
Juan Manuel, senhor de Belmonte, respaldava a mando de Filipe o
reaparecimento político de membros de uma nobreza antiga – como
os duques de Nájera, Béjar, Medina Sidonia ou o conde de Benavente – caída numa certa obscuridade depois de 1479, procurando e
conseguindo em muitos casos ganhá-la para o campo do rei flamengo
de Castela33. Entretanto, na longínqua Flandres, a nova rainha de Castela, martirizada embora e sempre com os ciúmes provocados pelos
devaneios amorosos de Filipe com outras mulheres, tornava a engravidar e a 15 de Setembro de 1505 dava à luz em Bruxelas uma filha,
baptizada com o nome de Maria.
Príncipes das Astúrias desde 1502 e, depois da morte da rainha Isabel, a Católica reis de Castela, Joana e Filipe partiam finalmente da Flandres no início de Janeiro de 1506 em direcção a Espanha, para tomarem
posse da coroa que agora lhes pertencia de direito. A viagem por mar,
realizada em pleno Inverno, foi tormentosa, perdendo-se na borrasca
várias embarcações e chegando a estar iminente o naufrágio da nau
capitânia, onde seguiam os monarcas. Testemunhos coevos sublinham a
intrepidez e coragem física da rainha, que contrastava com o temor e o
desespero que se apoderara de todos, inclusive de Filipe – enfrentando a
intempérie, Joana teria afirmado que nunca nenhum rei tinha morrido
afogado…
A violência do temporal forçou a armada a aportar a Inglaterra, onde
foram acolhidos pelo rei Henrique VII – que após a morte de Filipe
31 Pedro Mexía, Historia del Emperador Carlos V, ed. Juan de Mata Carriazo, 1945,
Liv. I, cap. 4, p. 28.
32 Belenguer, 2001, pp. 233-234.
33 Ibidem, pp. 243-244, 260-261; Ladero Quesada, 2003, p. 451.
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­ retendeu casar com Joana, desejo que esta rejeitou liminarmente34
p
– cuja corte se encontrava então em Windsor, cenário de calorosa recepção onde se sucederam festas de grande aparato para homenagear os
reis de Castela, e ocasião que quer o rei de Inglaterra quer o de Castela
aproveitaram para fazer política. Este percalço na jornada que havia de
conduzir os monarcas a Espanha teve como consequência o inesperado
reencontro de Joana com a sua irmã Catarina (n. 1485), jovem viúva de
vinte e um anos do príncipe Artur († 1502), primogénito de Henrique VII
(† 1509), com quem esteve casada poucos meses, e que o pai, Fernando
de Aragão, apesar das insistentes e quase dramáticas súplicas da filha,
não fez regressar a Espanha vindo a casar em Junho de 1509 com o
cunhado, Henrique VIII, jurado rei dois meses antes35.
Apesar do retraimento bem visível da rainha e dos esforços de Catarina para distrair a irmã, foi talvez em Inglaterra que Joana viveu, como
observa um dos seus biógrafos36, dos últimos momentos felizes de uma
existência amargurada e emocionalmente instável. Foi durante essa
estadia que concebeu aquela que veio a ser a sua última filha, a quem
chamou Catarina recordando porventura aquele derradeiro encontro
com a sua irmã mais nova, cujo destino também não foi feliz. A viagem
que em Janeiro de 1506 Filipe e Joana empreendiam, deixando para trás
os seus filhos, Leonor, Carlos, Isabel e Maria era, sem que nenhum deles
o soubesse, uma viagem sem regresso. Filipe de Áustria morreu depois
de um curtíssimo reinado, a 25 de Setembro desse mesmo ano de 1506,
Joana não mais voltou à Flandres, e de 1509 a 1555, data da sua morte,
o destino, circunstâncias e razões políticas fizeram dela uma rainha
cativa em Tordesilhas ao longo de quase meio século.
No domingo 26 de Abril de 1506, a frota flamenga desembarcava
na Corunha, ostensivamente longe do porto de Laredo, onde Fernando,
o Católico contava receber com pompa os novos reis de Castela, e
para onde convocara os grandes senhores do reino. O encontro entre
Fernando e Filipe foi sendo adiado durante dois longos meses; a 20 de
Junho, depois de muitos preparativos, teve finalmente lugar crispada
entrevista entre ambos. Já previsível e anunciado, tornava-se evidente
o desentendimento pessoal e político entre Filipe de Áustria, agora rei
V. documentos publicados por Rodríguez Villa, 1892, pp. 472-480.
Rodríguez Villa, 1892, pp. 132-135; «Segundo Viaje de Felipe el “Hermoso” a España
en 1506» (anónimo), publicado por Garcia Mercadal, Viajes de Extranjeros…, pp. 559-571.
36 Fernández Álvarez, 2002, pp. 123.
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de Castela, e Fernando de Aragão, que como vimos se fizera entretanto
jurar nas cortes de Toro, de acordo com o determinado no testamento
de Isabel, a Católica, governador de Castela. Por outro lado, menos de
um ano após a morte da rainha Isabel, em Agosto de 1505, Fernando
de Aragão concertara com Luís XII de França, depois de D. Manuel
recusar dar-lhe por mulher D. Joana37, o casamento com a sua sobrinha
Germana de Foix (n. 1488). Assim conseguia o monarca de Aragão uma
aliança audaciosa e politicamente decisiva: Luís XII renunciava às suas
pretensões sobre o reino de Nápoles, Filipe deixava de poder contar com
o apoio de uma França que lhe fora sempre próxima – não por acaso,
Filipe recebeu notícia deste matrimónio qualificando-o de «ultrajante»38.
Mas outros desígnios sustentavam esta boda que, ocorrida pouco
mais de um ano após a morte da rainha Isabel, surgia aos olhos de muitos em Castela como surpreendente e escandalosa. Na verdade, uma das
cláusulas do casamento do Rei Católico com a sobrinha do rei francês
estabelecia que os filhos deste enlace seriam os legítimos herdeiros da
coroa de Aragão; e assim os reinos de Aragão, Nápoles e Sicília separar-se-iam do reino de Castela, agora herdado por uma rainha frágil e um
rei estrangeiro, pondo fim à unidade política da Espanha, «coroa de
glória» do reinado dos católicos Fernando e Isabel39. Quando Joana e
Filipe desembarcaram na Corunha, naquele final de Abril de 1506, havia
pouco mais de um mês que Fernando recebera a jovem Germana em
Dueñas, a 16 de Março, casando-se a 18 e entrando com grande pompa
na cidade de Valhadolide.
Tornava-se agora totalmente explícita a dura luta política pelo poder
em Castela num cenário de desconfiança, de ambições e de partidos e
facções que se digladiavam, de hesitações por parte de muitos sobre a
que senhor servir, exacerbada pela cada vez mais evidente incapacidade
e desinteresse de Joana em exercer o seu poder legítimo. Em Julho de
1506, D. Joana e Filipe entraram em Valhadolide, para serem jurados reis.
O cortejo não se deteve a apreciar as ruas engalanadas, os jogos e os
37 Filha de Henrique IV de Castela (r. 1454-1474) e de Joana de Portugal (1440‑75), irmã
de Afonso V. Joana de Castela (1462-1530), que nunca reinou, veio a ser pejorativamente
cognominada em Castela a «Beltraneja», por se dizer que era filha não do rei mas do seu
favorito, Beltrán de La Cueva. Em Portugal, onde veio a morrer em 1530, ficou conhecida
como a «Excelente Senhora».
38 «Vitupereulx», no original. Cit. por Rodríguez Villa, 1892, p. 131.
39 Fernández Álvarez, 2002, p. 136.
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festejos preparados para tão solene e feliz ocasião como era sempre o
juramento de um rei. Sob o pálio, montada numa mula branca guarnecida
de veludo negro, D. Joana seguia, vestida de negro, com o rosto oculto.
O juramento de D. Joana como legítima rainha de Castela teve lugar no
dia 12 de Julho. Antes de partir para o seu reino de Aragão, Fernando
quis ver a filha, segundo Mexía sem sucesso, pois Filipe não o permitiu, e
«por alguns foi atribuído este facto a desamor e secura»40. Em Agosto, a
rainha e o rei consorte partiram para Segóvia. No lugar de Cogeces, novo
episódio trazia à luz o drama de D. Joana: temerosa de que o marido e os
seus conselheiros quisessem encarcerá-la – como em certo sentido já havia
sucedido na Flandres –, a rainha de Castela recusou terminantemente
entrar na vila com o séquito real; passou a noite deambulando montada a
cavalo, insensível a rogos e ameaças com que procuraram dissuadi-la da
sua excêntrica decisão41.
No início do mês de Setembro, no dia 4, Fernando de Aragão embarcava com a rainha Germana numa poderosa armada em direcção ao seu
amado reino de Nápoles, num momento que era de profunda solidão
política para o Rei Católico, numa Castela em que muitos se arrimavam
a outro senhor – só o duque de Alba permaneceu sempre fiel ao rei Fernando. Deixava este como seu embaixador junto de Filipe I o mosén42
Luís Ferrer, que havia de ser carcereiro de D. Joana em Tordesilhas. Três
dias depois, os reis de Castela entravam em Burgos, cidade escolhida por
Filipe para sede da sua corte. No dia 25, a morte arrebatava de forma
inesperada e fulminante Filipe de Castela, morto de umas febres e indisposições que se terão seguido à prática do jogo da péla com o seu privado,
Juan Manuel, ou talvez de peste, que então matava um pouco por toda
a cidade; correram também rumores de envenenamento. Filipe, o Belo,
amante dos prazeres da mesa e da carne, morria na força da juventude,
com vinte e oito anos de idade. Deixava viúva Joana, com vinte e seis
anos43 e grávida do seu sexto filho, e o reino de Castela mergulhado
numa dramática crise política, agravada pelos ares de peste e pela fome.
Durante a breve doença do marido, D. Joana, apesar da gravidez,
nunca deixou a sua cabeceira, dando-lhe de comer e de beber, adminisPedro Mexía, Historia del Emperador…, Liv. I, cap. 4, p. 34.
Rodríguez Villa, op. cit., pp. 175-178.
42 Título dos clérigos da antiga coroa de Aragão.
43 Cumpriria os vinte e sete anos no dia 6 do mês de Novembro (alguns autores indicam
ainda o dia 5 e outros o dia 7 como data de nascimento de D. Joana).
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trando‑lhe os remédios prescritos pelos físicos, impassível, abúlica, sem
verter uma lágrima44. Depois da morte de Filipe, só a custo a rainha foi
levada para a sua câmara, onde permaneceu vários dias e noites sem se
despir nem se deitar, em estado de profunda perturbação.
Entretanto, no meio de grande alvoroço e temor do séquito flamengo
do rei, agora sem senhor45, o cadáver de Filipe I de Castela foi vestido
com ricas vestes e sentado num trono, como se estivesse vivo, numa sala
grande das casas do condestável de Castela, onde foi velado perante
grande número de frades e membros de muitas ordens religiosas, que
rezaram continuamente os ofícios de defuntos. No dia seguinte, o corpo
foi embalsamado segundo o costume flamengo e colocado num caixão
de chumbo – diziam alguns para ser levado para a Flandres –, sendo
depois enterrado na Cartuxa de Miraflores, onde se encontravam sepultados João II de Castela († 1454) e Isabel de Portugal († 1496)46, avós
maternos de Joana, e onde muitos frades franciscanos, o prior e alguns
monges cartuxos, por ordem da rainha, diziam missas diárias e faziam
contínuas vigílias pela alma do rei defunto.
Observando luto rigoroso, absolutamente indiferente ao tumulto
político que a rodeava, que a assediava, e do qual ela era agora o epicentro, também D. Joana se deslocava com frequência a Miraflores, distante
cerca de uma légua de Burgos, assistindo aos ofícios religiosos junto à
sepultura do marido. Numa dessas ocasiões, o insólito veio quebrar a
piedosa rotina daquelas cerimónias: por ordem da rainha, o caixão foi
retirado do túmulo, quebrados a madeira e o chumbo, rasgadas as telas
enceradas que envolviam o cadáver embalsamado. Exposto o corpo, a
rainha, ajoelhada, beijou-lhe os pés durante longo tempo, sendo necessário apartá-la do caixão47. Semanalmente, D. Joana passou a cumprir tão
extraordinário ritual, olhando e tocando o cadáver, exprimindo desta
forma singular a dolorosa paixão que concebera pelo defunto Filipe; opinavam alguns que D. Joana queria certificar-se de que o corpo permanecia no sepulcro, e que não havia sido levado para a Flandres. Mas algo ia
44 Anónimo, «Segundo Viaje de Felipe el “Hermoso” a España en 1506», publicado em
tradução castelhana por Garcia Mercadal, op. cit., vol. i, p. 588.
45 O cronista anónimo dá conta do afã de muitos em se apoderarem de jóias, tapeçarias,
roupas e outras alfaias para as levarem de regresso à Flandres. Op. cit., pp. 583-584.
46 Isabel de Portugal (c. 1428-1496) era neta de D. João I, filha do infante D. João († 1442),
mestre da Ordem de Santiago.
47 Anónimo, «Segundo Viaje…», p. 589.
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catarina de áustria
dramaticamente mudar. Poucos dias antes do Natal, a 20 de Dezembro,
a rainha deslocou-se uma vez mais ao mosteiro de Miraflores. Ordenou
aos frades que retirassem o corpo do túmulo, mas desta vez para o levar
consigo; negaram-se os religiosos a fazê-lo, e o bispo de Burgos procurou
dissuadir D. Joana daquele seu estranho e escandaloso intento, que para
lá de todas as outras considerações, ia contra as leis do reino. Em vão.
Perante a cólera da rainha, e temendo um desenlace funesto com a já tão
adiantada gravidez de D. Joana, o bispo cedeu.
Assim, com a oposição e o assombro dos religiosos, dos seus ministros e de toda a corte, em breve de todo o reino de Castela, D. Joana
partiu de Burgos levando a tumba com o corpo do marido que mandara
desenterrar da Cartuxa de Miraflores, num carro puxado por quatro
cavalos cobertos com panos de seda e de ouro, em fantasmagórico cortejo que por sua ordem se fazia sempre de noite, «com o mais cerrado
nevoeiro do mundo», pelos gélidos campos de Castela Velha.
A perturbação causada pela actuação da rainha era geral. Em carta
escrita em Burgos, a 23 de Dezembro, no calor dos acontecimentos, Lope
Conchillos, secretário do Rei Católico, dirigia-se a Miguel Perez de Almazan, secretário do conselho, dando conta do escândalo que o acto da rainha
em todos provocara: «Com este disparate que fez a Rainha, não há pequeno
nem grande que já não diga que [D. Joana] está perdida e sem nenhum siso
[…]»48 Verdadeiramente, com a partida com destino a Granada, D. Joana
ganhava o cognome a Louca49. Na sua alucinação, cumprindo diariamente
a macabra devoção de beijar os pés do cadáver, a rainha não esquecia a
vontade do marido em ser enterrado, como rei de Castela, na capela real
de Granada, junto do túmulo de Isabel, a Católica.
Mas estando D. Joana «já muito prenhe, em dias de parir»50, quando
chegou ao pequeno lugar de Torquemada o fúnebre cortejo foi forçado a
parar51, acolhendo-se a rainha nas modestas casas de um clérigo, próxiPublicada por Rodríguez Villa, 1892, pp. 215-217.
Não nos cabe aqui discutir a loucura de D. Joana, as suas causas e os seus contornos,
tema desde há muito objecto de amplíssima discussão e olhares profundamente divergentes,
que vão da constatação da demência à sua negação. Para invocar apenas autores mais recentes,
seguimos preferencialmente o olhar de Fernández Álvarez, 2002, e de Zalama, 2003, menos
o de Bethany Aram, 2001. Apesar do inegável valor desta obra, Aram quer ver na reclusão de
Joana um acto de recolhimento, de austeridade espiritual e de consciência dinástica, que em
todo o caso vai encontrando eco. V. por exemplo Valdivieso, 2003.
50 Prudencio de Sandoval, Historia de la Vida y Hechos…, vol. i, 1955, cap. 24, p. 30.
51 Zalama, 2003, pp. 62-64 parece divergir na interpretação deste facto.
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«a rainha é parida de uma filha»
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mas da porta que saía para a ponte sobre o rio. Aí nasceu, entre as cinco e
as seis da manhã de 14 de Janeiro de 1507, o sexto filho de Filipe, o Belo
e de D. Joana, reis de Castela. Era uma rapariga, depois de dois filhos
varões e de três raparigas. A infanta recém-nascida foi baptizada com o
nome de Catarina, frágil e simbólico laço de afecto de D. Joana pela sua
jovem irmã viúva na longínqua Inglaterra, no último dia de Janeiro de
1507, como informava frei Henrique a D. Manuel, na igreja principal de
Torquemada, onde se encontrava depositado o corpo insepulto de seu pai.
Na comoção dos acontecimentos que então agitavam o reino de
Castela, o nascimento daquela criança, filha póstuma de um rei efémero e estrangeiro e de uma rainha perturbada, quase parecia passar
despercebido. Era esta a criança que a roda da fortuna fizera nascer em
Torquemada, e que havia de partilhar o destino da mãe em Tordesilhas,
para depois partir para ser rainha, rainha de um reino tão próximo e ao
mesmo tempo tão distante como era o reino de Portugal.
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