Este relato parte da minha experiência como professor de música
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Este relato parte da minha experiência como professor de música
A PROPOSTA SOLINHO1: DESENVOLVENDO ASPECTOS MUSICAIS E SOCIAIS ATRAVÉS DA AULA DE VIOLÃO EM GRUPO Igor Luiz Medeiros2 [email protected] Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Artes, Filosofia e Ciências Sociais Curso de Graduação em Música Comunicação – Relato de Experiência Resumo: Este relato apresenta minha experiência como professor voluntário de música no Centro de Formação da Divulgação Espírita Cristã, situado em Uberlândia – MG, no período de maio a julho de 2010. Procurando proporcionar uma prática musical prazerosa e motivadora às crianças na aula de violão, criei a música Solinho, com o objetivo de possibilitar a todos os alunos que tocassem em poucas aulas uma melodia no instrumento. Essa proposta mostrou o quanto a aula de violão em grupo, além do desenvolvimento das habilidades de execução instrumental, também pode possibilitar as crianças um momento de valorização individual e respeito entre todos que fazem parte do grupo. Introdução Este relato parte da minha experiência como professor voluntário de música no Centro de Formação da Divulgação Espírita Cristã, conhecido como Ticôti, situado no bairro Tibery em Uberlândia – MG. Esse Centro de Formação atende crianças e adolescentes nos turnos matutino e vespertino oferecendo atividades de lazer, cultura e educação. A experiência abordada aconteceu nas minhas aulas de violão realizadas no período matutino, com crianças e adolescentes de sete a quatorze anos no período de maio a julho de 1 Solinho foi uma sugestão de título para a música que eu havia criado dada pela professora do Curso de Música da Universidade Federal de Uberlândia Prof.ª Dra. Cintia Thais Morato durante uma de nossas conversas sobre Educação Musical. 2 Graduado em música, instrumento violão, pela Universidade Federal de Uberlândia. 2010. As aulas foram realizadas em uma sala ampla ainda em processo de acabamento, que além das cadeiras e dos violões abriga alguns instrumentos de percussão. Neste relato apresento as aulas de violão em grupo do qual sou professor levantando aspectos pedagógicos e metodológicos envolvidos na construção dessas aulas, como a escolha e o desenvolvimento do repertório. Cenas das aulas de violão Entro na sala e algumas crianças já estão tocando as músicas que aprenderam nas aulas anteriores ou apenas conversando com os colegas. Enquanto pergunto como elas estão, outras chegam e organizam suas cadeiras na forma de círculo. Começo a afinar todos os violões da melhor forma que consigo devido ao curto espaço de tempo que tenho até que todas as crianças cheguem. Então eu pergunto – “Vamos lá!? Vamos começar a tocar!?” – e logo elas ajeitam o violão no colo e montam os primeiros acordes esperando o meu sinal para começar a música. Quando tocamos, todos participam. Olho ao redor e percebo que mesmo aquela criança que ainda não assimilou muito bem algum acorde está feliz em tocar violão e procura dar o seu melhor para o grupo. Essa situação me emociona e me faz sentir um nó na garganta, pois recordo nesse instante que por muito tempo eu excluí essa e outras crianças porque julgava que elas não sabiam tocar como as outras da sala. Observo com muita felicidade as crianças cantando e tocando e logo sinto um arrepio percorrer meu corpo, enquanto reafirmo para mim mesmo que todas elas são capazes. Logo a música termina e percebo a alegria que está implícita em suas falas – “Êêêêê, consegui professor!”; “Ficou bom né!?”; “Vamos tocar de novo!?”. Então tocamos de novo, tocamos outras músicas, e logo o tempo da aula começa a acabar. Cada um de nós vai guardando os violões em suas capas e empilhando as cadeiras para que o centro da sala fique livre. Todos já sabem que é hora da brincadeira! Alguém sugere alguma brincadeira, como, por exemplo, atividades de roda ou de concentração, e todos se divertem brincando, inclusive eu. Percebo que esse momento contribui para que os nossos laços afetivos se estreitem, o que nos torna cada vez mais parte desse grupo. Acabamos a brincadeira do dia e me sinto importante quando algumas crianças se despedem de mim dizendo – “Tchau professor, até a semana que vem”. A contribuição das crianças na construção do repertório Partindo da afirmação de Souza (2000) de que “sem compreender as realidades socioculturais dos alunos não há como propor uma pedagogia musical adequada” (p. 7), procuro sempre prestar atenção nas conversas e nas ações das crianças para estruturar nossas aulas de violão. No decorrer das aulas desse semestre, percebi que as crianças, em grande parte, conversavam sobre o cantor Luan Santana e cantavam seus maiores sucessos. Perguntei para as crianças durante uma das aulas sobre o que achavam desse artista e algumas disseram que o adoravam enquanto outras, na maioria os meninos mais velhos, que não gostavam dele. Como algumas gostavam de seus sucessos e outros não, resolvi criar uma melodia simples, que chamo atualmente de Solinho (partitura da música em anexo), com uma harmonia e um ritmo semelhante a da música Meteoro cantada por Luan Santana. Procurei com isso aproximar a música que eu havia criado com as preferências musicais das crianças, nesse caso a música sertaneja, sem, no entanto, mencionar para os alunos que não gostam desse cantor que tocaríamos uma música parecida com Meteoro. Com a proposta do Solinho, procurei não só oportunizar um momento prazeroso e motivador para as crianças, mas também desenvolver suas habilidades para tocar melodias no violão. Construí esse objetivo depois de perceber que algumas crianças não conseguiam fazer o solo inicial da música O Menino da Porteira, que também tocamos nas aulas, e que com isso estavam se sentindo deslocadas no grupo. Assim, meu objetivo com essa criação também foi proporcionar uma prática musical no qual todas as crianças participassem, tocando uma melodia, que mesmo simples, as motivassem ao mesmo tempo em que as desenvolvesse tecnicamente. Além do desenvolvimento das habilidades de execução instrumental, a música que eu havia criado poderia possibilitar “um aumento da auto-estima e valorização pessoal para todos do grupo” (JOLY; JOLY, 2007, p. 6). O processo e os resultados da proposta musical Solinho Como a melodia da música Solinho é relativamente simples, procurei ensiná-la para os meus alunos em apenas uma aula. Por imitação, as crianças rapidamente assimilaram essa música e no final da aula já estavam tocando sua melodia enquanto eu os acompanhava fazendo a harmonia. Meu objetivo de que todas as crianças participassem da aula de violão tocando uma melodia parecia estar sendo alcançado, mas por outro lado, será que o Solinho estava oportunizando uma situação prazerosa e motivadora para elas? Os alunos estavam gostando de tocar essa música? No final dessa aula acreditei que não, pois na minha percepção eles não foram embora nem felizes e nem motivados. Na próxima semana, eu havia estruturado uma aula que em que não abordaria o Solinho, pois acreditava que as crianças não haviam gostado da aula passada. Para minha surpresa, uma das crianças me perguntou no início da aula como era mesmo aquela música que eu havia inventado, e o resto da turma quis tocá-la. Assim, nas aulas posteriores fomos trabalhando essa música, desenvolvendo sua execução e criamos um final para ela, que na opinião das crianças ficou “muito legal”. Após três ou quatro aulas eu fiquei surpreso com o resultado técnico e musical alcançado pelo grupo. Com o passar das aulas todas as crianças foram desenvolvendo suas capacidades em tocar melodias no violão com prazer, e um dos resultados alcançados a partir da proposta do Solinho é que comecei a ensinar a melodia do começo da música Asa Branca para elas. Considerações finais A proposta musical que lancei na sala de aula através da música Solinho mostrou o quanto a aula de violão em um contexto educacional como o Centro de Formação pode ser produtiva em diversos sentidos. Além do fazer musical, que sempre procurei proporcionar aos alunos, considero que eles se sentem felizes e motivados a participar das atividades. Acredito também que as aulas fortaleceram o relacionamento entre os integrantes do grupo, desenvolvendo, dentre outros aspectos, o respeito de cada integrante um pelo outro. Eu também aprendi a respeitar e a compreender as crianças, e percebo que elas também me respeitam por isso. Para as próximas aulas pretendo dar um novo passo construindo junto com as crianças os arranjos das músicas que abordaremos daqui pra frente, propondo momentos de experimentação e criação musical no violão. Vou procurar abordar as músicas que as crianças gostam como também lhes apresentar novos estilos e gêneros, procurando expandir suas concepções e conhecimentos musicais. Referências Bibliográficas JOLY, Maria Carolina Leme; JOLY, Ilza Zenker Leme. Conversas nas caronas depois de ensaios e concertos: as práticas sociais e processos educativos de um pequeno grupo de jovens músicos. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL, 16., 2007, Campo Grande. Anais... Campo Grande: ABEM, 2007. p. 1-7. SOUZA, Jusamara (org). Música, cotidiano e educação. Porto Alegre: Programa de PósGraduação em Música/UFRGS, 2000. Anexo