a indústria de artesanato da colômbia

Transcrição

a indústria de artesanato da colômbia
A INDÚSTRIA DE ARTESANATO
DA COLOMBIA
Angela da Rocha1
Renato Cotta de Mello2
1 Professora da IAG Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
2 Professor do Instituto Coppead da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A INDÚSTRIA DE ARTESANATO DA COLÔMBIA
ÍNDICE
SUMÁRIO EXECUTIVO
3
INTRODUÇÃO
4
EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA DE ARTESANATO DA COLÔMBIA
4
ORGANIZAÇÕES ENVOLVIDAS
6
Artesanías de Colombia
6
Proexport Colombia
7
PROGRAMAS ESTRATÉGICOS PARA DESENVOLVIMENTO DO SETOR
8
Programa Nacional para La Conformación de Cadenas Productivas para el
Sector Artesanal
8
Laboratório Colombiano de Diseño para La Artesanía y La Pequeña Empresa
8
Proyecto de Identidad Colombiana
9
Concurso Nacional de Diseño para La Artesanía
9
Centros Comerciais de Artesanato
9
Feiras e Exposições
9
Selo de Qualidade
10
Registro de Denominação de Origem de Artesanato
11
Marca Coletiva
11
Outros Esforços para Comercialização do Artesanato Colombiano
12
Comércio Eletrônico
13
CONSIDERAÇÕES FINAIS
13
ANEXO1
15
2
SUMÁRIO EXECUTIVO
Este estudo examina a indústria de artesanato da Colômbia, buscando proporcionar
um quadro geral de sua evolução, de modo a proporcionar um benchmark competitivo
que possa ser útil às organizações envolvidas com a produção e comercialização do
artesanato brasileiro, em seu desenvolvimento doméstico e internacional.
A Colômbia sempre teve uma rica tradição de artesanato, oriunda dos povos indígenas
da região, herdeiros de grandes civilizações ameríndias. Os descendentes dos povos
pré-colombianos mantiveram suas tradições de artesanato, que se constitui em fonte
importante de renda para essa parcela da população colombiana. Mas, entre os anos
de 1993 e 1999, as exportações de artesanato da Colômbia haviam caído a menos da
metade dos valores do início daquela década. Parte do problema decorria da
dependência de um grande mercado, os Estados Unidos, mas também resultava da
concorrência de artesanatos de outros países, particularmente do Sudeste Asiático,
que competiam não só em qualidade, como também em preço. Isto levou o governo,
por meio de seu braço empresarial para este setor, Artesanías de Colombia, a
desenvolver uma série de esforços, que se mostraram bastante bem sucedidos,
revertendo o quadro de declínio das exportações de artesanato colombiano e tornando
a Colômbia em uma referência mundial nesta área.
O governo colombiano, em parceria com entidades civis, desenvolveu vários
programas estratégicos para o setor de artesanato daquele país, dentre os quais
destacam-se:
•
Programa Nacional para La Conformación de Cadenas Productivas para el
Sector Artesanal – Este programa busca aprimorar a estruturação de clusters
locais, articulando fornecedores de matérias primas, artesãos e comerciantes.
•
Laboratório Colombiano de Diseño para La Artesanía y La Pequeña Empresa Este programa tem por objetivo promover o desenvolvimento de produtos, por
meio de inovação de materiais e design, colocando em contato designers e
artesãos em oficinas conjuntas.
•
Proyecto de Identidad Colombiana – Tem por objetivo definir as linhas gerais de
uma identidade colombiana de design, gerando desenhos de moda associados
às tradições artesãs, de tal modo a incorporar tais tradições aos segmentos
mais sofisticados.
•
Selo de Qualidade – Este programa tem por objetivo certificar o caráter
artesanal e a qualidade dos produtos de artesanato procedentes da Colômbia,
além de garantir sua autenticidade.
•
Designação de Origem e Marca Coletiva – Outras iniciativas importantes foram
a criação da Designação de Origem para artesanato com características
próprias, provenientes de determinadas de determinadas regiões, ou de
marcas coletivas, para artesanato de uma mesma origem cultural, não
necessariamente relacionado a uma região geográfica.
Essas iniciativas já produziram e continuam a produzir frutos, valorizando o artesanato
colombiano no mercado internacional.
3
INTRODUÇÃO
A Colômbia obteve reconhecimento internacional pelo excelente trabalho realizado em
desenvolver e promover sua indústria de artesanato. Por este motivo, um estudo
focado no processo sobre como este país realizou importantes ações estratégicas
para o desenvolvimento dessa indústria pode servir como referência para outros
países, como o Brasil.
Ao examinar o processo de desenvolvimento desse setor colombiano, é importante
remeter ao início dos anos 1990, quando as primeiras tentativas de alto alcance foram
realizadas com vistas ao seu desenvolvimento. Neste processo, destaca-se uma
importante organização, Artesanías de Colombia, responsável pela organização e
desenvolvimento do setor. Esse estudo, portanto, se concentra, em grande parte, na
atuação desenvolvida por esta organização ao longo das duas últimas décadas e o
impacto transformador de suas ações sobre o setor de artesanato colombiano.
EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA DE ARTESANATO COLOMBIANA
A Colômbia sempre teve uma rica tradição de artesanato, oriunda dos povos indígenas
da região, herdeiros de grandes civilizações ameríndias. Os descendentes dos povos
pré-colombianos mantiveram suas tradições de artesanato, que se constitui em fonte
importante de renda para essa parcela da população colombiana.
Várias iniciativas, a partir dos anos 1960, vão proporcionar as bases para o
desenvolvimento do setor de artesanato colombiano:
1964 – É fundada a organização governamental Artesanías de Colombia.
1966 – É criada a Asociación Colombiana de Promoción Artesanal.
1971 – Esta associação cria o Museo de Artes y Tradiciones Populares.
1972 – Com apoio da Fundação Ford, da associação e do museu, é conduzido o
primeiro seminário de design aplicado ao artesanato.
1973 – É criada a primeira escola técnica de design: Escuela Taller de Diseño.
1975 – O Museu cria o Centro de Estudios Artesanos, apoiado pela OEA e pela
Fundación Interamericana.
1978 – Com apoio da OEA e do Ministerio de Educación de Colombia inicia-se o
Proyecto de Incorporación de La Cultura Popular en La Educación y Recuperación
Cultural.
Entre 1992 e 1994, Artesanías de Colombia realizou um “Censo Económico
Artesanal”, que só chegou a ser publicado em 1998, servindo de base para a
elaboração de políticas públicas de apoio ao setor. Este Censo era, até 2006, a
principal fonte de informação sobre o setor.
De acordo com este censo, em 1994 o setor de artesanato colombiano empregava
15% da população ocupada em manufatura, ou seja, cerca de um milhão de pessoas.
Desses, apenas 23% estavam em cidades. Os principais centros artesanais
4
encontravam-se em: Nariño, Sucre, Córdoba, Boyacá, Atlántico e Santa Fe de Bogotá.
Havia ampla predominância do artesanato de tecido (58%), seguido pelo de madeira
(13%) e de cerâmica (7%). Estimou-se que as receitas totais dos artesãos montavam,
naquele ano, a US$ 56 milhões. 3
Os artesãos, de forma geral, ocupavam os estratos inferiores da sociedade,
apresentando 17% de taxas de analfabetismo e baixo nível educacional em geral. O
nível tecnológico da produção era rudimentar, com praticamente nenhum uso de
tecnologia nos processos produtivos: 24% utilizavam apenas as próprias mãos e 57%
usavam ferramentas simples. Além disso, não estavam organizados para a produção
ou para o comércio de seus produtos: 82% não participavam de nenhuma forma de
organização e 6% estavam associados a grupos indígenas. Os grupos de artesãos
existentes eram tipicamente familiares. Um quarto dos artesãos havia aprendido o
ofício sozinho e o restante em oficinas de artesanato.
Entre 1993 e 1999, as exportações de artesanato da Colômbia haviam se reduzido
substancialmente, caindo a menos da metade dos valores do início daquela década
(Figura 1).
Figura 1
Exportações de Artesanato da Colômbia – 1993-1999
(em milhões de dólares)
Fonte: Ministerio de Cultura de Colombia. Impacto econômico de las industrias culturales em
Colombia. Bogotá, Edición Del Convenio Andrés Bello, 2003. Elaboração dos autores.
Parte do problema decorria da dependência de um grande mercado, os Estados
Unidos, mas também resultava da concorrência de artesanatos de outros países,
particularmente do Sudeste Asiático, que competiam não só em qualidade, como
também em preço. Além disso, enquanto os países asiáticos estavam bem
organizados para as vendas desses produtos, a Colômbia desenvolvia poucas ações
institucionais de apoio à comercialização de produtos artesanais. Por sua vez, os
artesãos colombianos, em geral pobres e despreparados, provenientes de populações
marginalizadas, não tinham acesso a canais de distribuição, nacionais ou
internacionais, para levar seus produtos ao mercado.
Tudo isto levou o governo, por meio de seu braço empresarial para este setor,
Artesanías de Colombia, a desenvolver uma série de esforços, que se mostraram
bastante bem sucedidos, revertendo o quadro de declínio das exportações de
artesanato colombiano. A partir desses esforços, obtiveram-se os resultados
apresentados na Figura 2.
Figura 2
Exportações de Artesanato da Colômbia – 2000-2005
(em milhões de dólares)
Fonte: Strouss, 2006, op.cit.
3 O histórico até 2002 foi obtido em: Ministerio de Cultura de Colombia. Impacto econômico de las industrias
culturales em Colombia. Bogotá, Edición Del Convenio Andrés Bello, 2003.
5
Em 2006, o setor artesanal da Colômbia respondia por 4% do PIB colombiano. O
principal mercado de atuação eram os Estados Unidos, que respondiam por 64% das
exportações, seguido pela França, com 24% e o México com 9%.
ORGANIZAÇÕES ENVOLVIDAS
Artesanías de Colombia
Com o intuito de estimular e desenvolver o setor foi criada, em 1964, a organização
Artesanías de Colombia, empresa de economia mista vinculada ao Ministério de
Comércio, Indústria e Turismo da Colômbia, tendo como propósito a promoção e o
desenvolvimento de todas as atividades econômicas, sociais, educacionais e culturais,
necessárias ao progresso dos artesãos do país e da indústria artesanal”. Sua missão
está contida nos seguintes pontos: 4
•
Atuar de forma completa no setor artesanal de modo a aumentar sua
competitividade;
•
Adaptar processos de pesquisa e desenvolvimento para o aprimoramento
tecnológico do setor;
•
Promover a comercialização do artesanato, de modo a assegurar uma
participação crescente na economia;
•
Estimular o desenvolvimento de recursos humanos para o setor;
•
Garantir a sustentabilidade;
•
Preservar o patrimônio cultural.
Apesar de ter sido fundada em 1964, a contribuição desta organização ao
desenvolvimento do setor é mais recente, concentrando-se principalmente nas duas
últimas décadas.
Proexport Colombia
É uma organização ligada ao Ministerio de Comercio, Industria y Turismo de Colombia,
que tem as seguintes funções:
•
Promover as exportações colombianas;
•
Implementar as ações previstas no Plano Estratégico Exportador da Colômbia;
•
Desenvolver instrumentos de apoio às exportações
4 Strouss, S. Promoción de La comercialización nacional e internacional. Apresentação
realizada em Bogotá em outubro de 2006. Disponível em:
http://www.eclac.org/mexico/capacidadescomerciales/SeminarioEcuadorActB/presentacion_S
andra_Strouss.pdf (acesso em 09.05.2010).
6
•
Contribuir para o fortalecimento da competitividade e produtividade do país.
Para fomentar a realização de negócios internacionais, esta organização conduz as
seguintes atividades:
•
Identificação de oportunidades no mercado internacional.
•
Elaboração de estratégias de penetração em mercados internacionais.
•
Apoio à internacionalização de empresas.
•
Apoio ao desenvolvimento
internacionalização.
•
Promoção de contatos entre empresários colombianos e estrangeiros voltados
para exportação, investimentos e turismo.
•
Serviços a empresas estrangeiras que desejam importar bens ou serviços da
Colômbia, ou realizar investimentos no país.
de
planos
de
ação
nos
processos
de
O Anexo 1 apresenta um detalhamento dos programas da Artesanías de Colombia.
PROGRAMAS ESTRATÉGICOS PARA DESENVOLVIMENTO DO SETOR
Segue-se o detalhamento de alguns programas estratégicos desenvolvidos para o
setor de artesanato.5
Programa Nacional para La Conformación de Cadenas Productivas para el
Sector Artesanal
Por meio deste programa são feitos esforços no sentido de aprimorar a estruturação
de clusters locais, articulando fornecedores de matérias primas, artesãos e
comerciantes. Este programa, em 2006, incluía 11 cadeias produtivas, atingindo 6.000
artesãos.
Em uma primeira etapa, realiza-se um diagnóstico de cada cadeia produtiva, relativo a
como se encontra estruturado o fornecimento na cadeia, envolvendo uma avaliação da
qualidade das matérias-primas e das condições de produção e comercialização. Em
seguida, esse diagnóstico é apresentado e discutido com a comunidade beneficiária,
artesãos, fornecedores, agentes governamentais, organizações privadas e sem fins
lucrativos etc., com o propósito de definir um plano de trabalho. Uma vez acordado o
plano de trabalho, dá-se início ao mesmo, atacando os pontos mais frágeis do sistema
em questão, presentes em cada elo da cadeia produtiva. As ações específicas
desenvolvidas envolvem melhorias de produto e design, métodos de produção e
5 Os dados relativos aos programas estratégicos que se seguem foram extraídos de Strouss,
op.cit.
7
comercialização, capacitação etc. Um dos resultados mais marcantes deste programa
foi a obtenção, por parte dos artesãos, de margens de lucro da ordem de 15%.6
Laboratório Colombiano de Diseño para La Artesanía y La Pequeña Empresa
Este programa tem por objetivo promover o desenvolvimento de produtos, por meio de
inovação de materiais e design, colocando em contato designers e artesãos em
oficinas conjuntas. Os primeiros laboratórios de design voltados para o artesanato na
Colômbia foram criados em 1994. Essas iniciativas têm caráter regional, situando-se
junto aos pólos de produção de artesanato do país.
Um exemplo recente é o da Casa Colombiana, que teve início em 2001. Nesta
iniciativa, voltada para o aumento da competitividade dos produtos artesanais, foi
convidado um designer filipino, P.J. Arañador, para realizar uma série de desenhos de
novos produtos em conjunto com designers colombianos ligados ao Laboratorio
Colombiano de Diseño. Nesses projetos, foi criado um conceito inicial, que
correspondia à identidade do artesanato colombiano, chamado de “Look Colombiano”.
Até 2006, haviam sido realizados aproximadamente mil desenhos de novos produtos,
sempre preservando nos desenhos a identidade cultural do artesanato colombiano,
incluindo móveis, objetos de decoração etc.
Proyecto de Identidad Colombiana7
Nessa linha, foram convidados cinco dos principais designers do país para gerar
desenhos de moda associados às tradições artesãs, de tal modo a incorporar tais
tradições aos segmentos mais sofisticados. Esta iniciativa deixou os artesãos
satisfeitos com a oportunidade de ver suas criações associadas à alta moda.
Concurso Nacional de Diseño para La Artesanía
Seguindo a linha anterior, foi criado um prêmio para o design inovador, de modo a
estimular o interesse dos designers no setor de artesanato.
Centros Comerciais de Artesanato
6 Experiências em inovação social. Ciclo 2005-2006. Programa Nacional Cadeias Produtivas no
Setor Artesanal (Colômbia). Disponível em:
http://www.eclac.cl/dds/innovacionsocial/p/docs/Resumo.CadenasProductivas.Colombia.port
.pdf (acesso em 09.05.2010).
7 Ingerencia del diseño em la artesanía colombiana. Disponível em:
http://www.slideshare.net/rldiseno/exporaces-popayn (acesso em 09.05.2010).
8
• La Plaza de los Artesanos y La Microempresa – Trata-se de um centro de
negócios dedicado a produtos artesanais, situado em Bogotá. Dispõe de uma área
para a realização de feiras.
• Centro Colombiano de Artesanías – Área criada na cidade de Bogotá, em
meados da década de 1990, onde se reúnem pequenas lojas de comerciantes de
artesanato, com vistas a disponibilizar o rico artesanato colombiano aos turistas
que visitam o país.
Feiras e Exposições
•
Expoartesanías – É a principal feira do setor de artesanatos, da qual participam
anualmente cerca de 800 artesãos e organizações artesanais, contando ainda com
cerca de 50 compradores de outros países convidados pela organização do
evento. Esta iniciativa é feita conjuntamente com a Cámara de Comercio de
Bogotá e o programa governamental Proexport. O objetivo principal era o de
facilitar o contato direto do artesão com compradores voltados para os segmentos
mais nobres do mercado internacional. A primeira feira foi realizada em 1991,
tornando-se, em cinco anos, a principal feira artesanal da América Latina.8 A Figura
3 mostra os resultados de vendas alcançados pela Expoartesanías, entre 2001 e
2005. A linha de tendência mostra claramente o aumento contínuo das vendas
obtidas.
•
Outras feiras – Outras feiras importantes são: Manofacto (com vendas em 2005 de
US$ 250 mil); Eje Cafetero (vendas de US$ 208 mil); Sur Occidente Colombiano
(US$ 291 mil); e Artes Manuales (US$ 167 mil).
Figura 3
Vendas Obtidas pela Feira Expoartesanías – 2001-2005
(em milhões de pesos colombianos)
Fonte: Extraído de Strouss (2006)
Selo de Qualidade
Outro programa importante desenvolvido pela Colômbia é a criação de um Selo de
Qualidade ICONTEC “Hecho a Mano”. O ICONTEC é o Instituto Colombiano de
Normas Técnicas y Certificación, que realizou este trabalho em parceria com a
organização Artesanías de Colombia.
Figura 4
Selo de Qualidade Colombiano
8 Ingerencia del diseño...,op.cit.
9
Fonte: ICONTEC (www.icontec.org.co)
O desenvolvimento do selo consumiu aproximadamente três anos de trabalho, em que
foi elaborada a metodologia a ser aplicada para a concessão do selo por um grupo de
trabalho unindo representantes do ICONTEC e de Artesanías de Colombia. O
processo se iniciou em fevereiro de 1999 e os primeiros selos foram outorgados
experimentalmente em abril de 2003.
O prestigioso selo do ICONTEC certifica que o produto que o exibe:
•
Foi feito a mão;
•
É uma criação de um artesão colombiano;
•
É um artesanato autêntico, diferenciando-se de imitações.
A solicitação do selo é feita pelo artesão ou grupo. Para avaliação da solicitação, um
auditor visita a oficina de trabalho e faz uma avaliação com base em uma série de
parâmetros. No ano de 2005 foram certificadas 616 oficinas de artesanato. Embora se
trate de uma concessão de caráter permanente, são realizadas visitas periódicas às
oficinas para verificar a continuidade do cumprimento das condições estabelecidas
para a concessão do selo.9
Uma pesquisa realizada em 2007 com artesãos certificados mostrou que 91% deles
acreditavam que a certificação havia aumentado as oportunidades de comercialização
de seus produtos. Os fatores percebidos como responsáveis pela melhoria nos
resultados comerciais eram: efetiva melhoria de qualidade, maior percepção de valor
do comprador e o fato de o selo ser visto como garantia de autenticidade pelo
consumidor final. Aproximadamente 16% dos entrevistados informaram que suas
exportações aumentaram até 25% após a obtenção do selo.10
9 Informações obtidas no site do ICON TEC. Disponível em:
http://www.icontec.org/BancoConocimiento/S/sello_de_calidad_hecho_a_mano/sello_de_
calidad_hecho_a_mano.asp?CodIdioma=ESP(acesso em 09.05.2010).
10 A experiência do selo “Hecho a Mano”foi premiada em um concurso de boas práticas
1
realizado em Dubai e incluída no Best Practices database. Disponível em:
10
Registro de Denominação de Origem de Artesanato
Outra iniciativa valiosa no desenvolvimento do artesanato colombiano, mais recente, é
a criação da Denominação de Origem para Produtos de Artesanato do país. O objetivo
desta certificação é proteger o artesanato típico de determinada região de imitação. Ao
final de 2009 foi concedida a primeira Denominação de origem para a comunidade de
Guacamayas, em Bocayá. O propósito desta e de outras iniciativas de proteção à
propriedade industrial é fazer com que os artesanatos da Colômbia se diferenciem dos
de outros países e, ao mesmo tempo, não sejam confundidos com cópias de baixa
qualidade proveniente do próprio país.11
Marca Coletiva
Outra iniciativa similar foi a concessão de “marca coletiva” à comunidade de La
Chamba, em Tolima. Esta comunidade produz uma cerâmica negra peculiar. A
obtenção da marca coletiva permite proteger o nome, os processos e os materiais
utilizados na fabricação desse tipo de cerâmica de cópias não autênticas. Pretendia-se
prosseguir com esse tipo de ação em outras comunidades artesãs.
Outros Esforços para Comercialização do Artesanato Colombiano
Nessa linha de ação são desenvolvidos diversos esforços importantes para aumentar
o acesso ao mercado de produtos de artesanato, entre os quais:
•
Estudos de mercado, voltados para o conhecimento de mercados externos e
identificação de oportunidades no mercado internacional.
•
Estudos setoriais, voltados para a compreensão do comportamento da oferta e
das necessidades específicas de grupos de artesãos no país.
Além disso, foram realizados esforços de comercialização direta dos produtos, por
meio de:
•
Contratos de distribuição
•
Contratos de agenciamento
•
Exportações
•
Abertura de centros de armazenamento no exterior.
http://habitat.aq.upm.es/dubai/08/bp1988.html (acesso em 09.05.2010).
11 Disponível em: http://www.artesaniasdecolombia.com.co/PortalAC/Contenido/Noticia.jsf?
1
noticia=367 (acesso em 09.05.2010).
11
Segundo uma pesquisa relatada por Artesanías de Colombia, design, originalidade e
qualidade eram os três principais fatores determinantes da compra de artesanato,
conforme Figura 5.
Figura 5
Características Consideradas na Compra de Artesanato (%)
Fonte: Extraído de Strouss (2006)
Comércio Eletrônico
Outro projeto que vem sendo realizado consiste no estímulo ao uso da internet como
canal de venda pelos artesãos colombianos. Isto é feito por meio da capacitação de
artesãos e apoio técnico ao desenvolvimento de sites na web, de modo a permitir a
exposição e venda direta de seus produtos no mercado internacional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A experiência da Colômbia no desenvolvimento do setor de artesanato tornou este
país uma referência mundial nesta área. De uma situação de crise do artesanato
colombiano, um esforço combinado de várias entidades públicas e privadas e das
próprias comunidades permitiu à Colômbia reverter esse processo, reconquistando
posição no mercado mundial.
Quais as principais lições que podem ser aprendidas da experiência colombiana?
1. O esforço de exportação de produtos artesanais passa por ações
estratégicas que devem abarcar as diversas etapas da cadeia de produção e
comercialização do artesanato.
Uma análise da experiência colombiana mostra que as ações devem ocorrer em todos
os elos da cadeia produtiva, não sendo suficiente o esforço de apoio simplesmente à
comercialização internacional. É preciso uma preocupação com todo o processo de
geração do produto artesanal, desde sua concepção até sua chegada às mãos do
consumidor final. Isso significa que é preciso considerar ações de natureza muito
variada, que precisam ser implementadas em vários níveis e com graus de
especificidade distintos. No entanto, não se deve perder de vista a natureza sistêmica
dessas ações.
2. É necessário criar uma diferenciação do artesanato do país que reflita seu
passado, suas tradições e sua especificidade cultural.
Para que a iniciativa seja bem sucedida, é importante que todo o esforço realizado
respeite as tradições culturais e construa sobre as mesmas. No caso da Colômbia,
país rico em artesanato, os esforços se voltaram, em determinado momento, para
definir melhor a identidade cultural do artesanato colombiano. Só a partir dessa
definição é que foi possível desenvolver novos designs e novos produtos.
Este ponto de partida permite desenvolver uma imagem coerente do artesanato de um
país, torná-lo identificável pelos consumidores, estabelecendo um conceito de “Made
In” para o artesanato do país.
12
3. A associação entre designers e artesãos pode ser uma forma importante de
desenvolvimento do setor.
Quando se consideram todas as ações empreendidas pela Colômbia no
desenvolvimento de seu setor de artesanato, o que mais chama a atenção é
exatamente o importante papel desempenhado pelo design nos programas de
desenvolvimento das exportações. A aproximação entre artesãos e designers permitiu
potencializar as ações desenvolvidas no setor. Além disso, trouxe um influxo de novas
idéias em ambas as direções. Finalmente, as ações relacionadas ao design foram
fundamentais para a valorização da identidade cultural do artesanato colombiano.
4. As ações de certificação realizadas aumentam significativamente o valor dos
produtos artesanais diante do mercado, contribuindo para sua maior
competitividade no mercado internacional.
A certificação é vista pelo mercado como agregação de valor ao produto, o que
contribui para um aumento dos preços obtidos. É um atestado, ao mesmo tempo, de
qualidade e de autenticidade do produto. Além disso, a obtenção da certificação é um
estímulo à melhoria da qualidade, o que abrange uma gama de aspectos relacionados
ao produto.
5. As ações de proteção à propriedade intelectual ou industrial também
funcionam como suporte ao processo de diferenciação dos produtos de
artesanato de um país.
O uso de meios de proteção à propriedade intelectual ou industrial, como as
denominações de origem e as marcas coletivas, além de protegerem de cópias
ilegítimas e de baixa qualidade, também servem como elemento importante na
diferenciação de produtos de determinada região. Dado o valor atribuído por uma
parcela importante de compradores ao elemento étnico inserido nos produtos de
artesanato, esse tipo de meios de proteção comunica também a autenticidade e
originalidade do produto e sua associação a determinadas tradições culturais.
6. Os produtos artesanais, como quaisquer outros, concorrem com os de
outros países, e é preciso utilizar ferramentas de marketing para fazer face a
essa concorrência, em particular da Ásia.
Os países asiáticos encontram-se entre os principais fornecedores mundiais de
artesanato e são extremamente competitivos em preço. No entanto, há espaço no
mercado para diversos fornecedores, até mesmo porque os clientes valorizam a
diversidade e variedade. Desta forma, é possível encontrar um posicionamento
adequado e aumentar a competitividade do artesanato do país.
13
ANEXO 1 – PROGRAMAS DE ARTESANÍAS DE COLOMBIA
PROGRAMA
Resgate e
inovação de
design
Programa
Nacional
de Joias
Gestão de
recursos e
cooperação
internacional
Sustentabilidade
dos recursos
naturais para o
artesanato
Fortalecimento da
imagem do
artesanato
colombiano no
âmbito nacional e
internacional
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OBJETIVO
PRODUTOS E SERVIÇOS
Resgate, melhoria, redesenho,
diversificação e criação (de acordo
com as características próprias de
cada região)
Busca a competitividade do setor
artesanal colombiano através de
processos integrados em
desenvolvimento de produtos dirigidos Centros de Diseño para la Pequeña y
ao mercado nacional e internacional. Mediana Empresa, que operam em:
Bogotá,Armenia, Pasto.
Interação entre artesãos de joias
tradicionais e contemporâneas de
Busca fortalecer o desenvolvimento
todo o país. Artesanías de Colombia e
das joias colombianas, definindo uma a Empresa Nacional Minera
identidade nacional.
compartilham o propósito de
dinamizar e fortalecer o setor,
agregando valor à exploração mineral
e identificando oportu-nidades para as
regiões auríferas.
Busca elevar a qualidade da produção
e o posicionamento do produto
artesanal nos mercados nacionais e
internacionais, através de
aperfeiçoamento tecnológico,
assistência técnica e intercâmbio
cultural e comercial.
Busca sensibilizar artesãos,
fornecedores de matérias primas
naturais, comerciantes, clientes e
técnicos de apoio local, sobre a
importância e responsabilidade do
manejo sustentável dos recursos
naturais para conservar os oficios,
como expressão sociocultural e factor
de desenvolvimento econômico.
Construir a imagem do artesanato
colombiano para o mundo,
contribuindo para identificar nichos de
mercado e estratégias de
comunicação para cada segmento.
Intercâmbio de experiências e
conhecimentos: programa de
assistência técnica internacional,
seminários internacionais e
formulação e apresentação de
projetos para a conservação de
recursos.
Adicionar valor agregado por meio do
conceito de sustentabilidade
associado ao produto artesanal que
permite aceder à certificação verde e
participar assim em mercados
diferenciados e sensíveis
ambientalmente; desenvolvimento de
tecnologias limpas e eficientes
aplicáveis aos processos extrativos e
transformativos; resgate de saberes
ancestrais sobre a polifuncionalidade
de usos e aplicações das espécies na
medicina, indústria, alimentos e
produção microempresarial.
Propicia a participação dos artesãos
em feiras internacionais e realiza
feiras por regiões e ofícios, conforme
calendário anual.
Sistema de
Promover a competitividade do setor
informação para artesanal colombiano e sua inserção
artesanato (SIART) nos mercados nacionais e
internacionais (em cooperação com o
Banco Interamericano de
Desenvolvimento –BID)
Por meio do SIART, os artesãos e
comerciantes vinculados ao projeto
têm acesso a informações úteis ao
exercício de sua atividade.
Design, a força da Abrir neste sistema de informação um Programas e estratégias inovadoras,
concorrência
espaço virtual para a criação,
usando a Internet.
assessoria e capacitação dos artesãos Assessorias virtuais para o
para a produção de artesanato,
desenvolvimento do produto, imagem,
tendências de mercado e eventos.
embalagem e exibição.
Informação permanente e avaliação
dos produtos, para o desenvolvimento
do trabalho artesanal.
Impulso à
comercialização
Tornar possível a inserção de produtos Impulso comercial às franquias
artesanais na dinâmica do mercado. nacionais e internacionais.
Desenvolvimento de planos de
exportação.
Comunicação com os clientes.
Participação em feiras especializadas
com vistas a identificar clientes
potenciais e conhecer os mercados.
Oferta comercial competitiva em
preços, design, qualidade e
capacidade de produção.
Lojas Artesanías de Colombia.
La Plaza de los
Artesanos –
Centro de
Exposiciones y
Negocios
Fomenta a geração de receitas
Espaço adequado para a exposição e
oferecendo um espaço adequado para venda de produtos artesanais da
a exibição, comercialização e
pequena empresa, onde se realizam
promoção de produtos artesanais.
eventos.
Expoartesanías
Busca estimular altos padrões de
qualidade nos produtos artesanais,
capacitação em design,
comercialização e promoção.
Disponibiliza o melhor da expressão
artesanal indígena, tradicional e
contemporânea por meio de produtos
elaborados com matérias primas
naturais.
Permite aos compradores negociarem
diretamente com os artesãos e facilita
uma aproximação direta com o
mercado.
Resgata as tradições, convertendo o
ofício em uma atividade rentável.
Fonte: O texto acima foi resumido a partir de documento obtido em
http://www.encolombia.com/economia/Guiadeserviciosparaempresariosturisticos/Artesaniadecolombia.htm
(Acesso em: 09.05.2010).
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