Edição 54 - Superpedido Tecmedd
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Edição 54 - Superpedido Tecmedd
LETRA E MÚSICA Uma entrevista exclusiva com Michel Teló, o cantor que, depois de conquistar as paradas mundiais, avança agora também sobre o mundo dos livros Editorial Editorial Editorial pág. 4 O valor das livrarias Cartas Em meio à montanha de números da pesquisa “Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro”, divulgada em junho, o que mais se destaca são os dados do encolhimento da participação do governo no bolo – algo que, claro, já vinha sendo sentido pelas editoras. Em relação a 2013, houve uma diminuição de 20% no total de exemplares vendidos, e 15% no faturamento. Gostaria de parabenizar a revista pela reportagem com a Paula Pimenta (edição 53). E também dar parabéns à escritora não apenas pelo excelente trabalho mas pela humildade e dedicação aos leitores. Já pude presenciar lançamentos e elas sempre atende a todos, com um sorriso verdadeiro. Seria bom se todas fossem assim. Alice Santiago Oliveira São Paulo-SP Já o faturamento com mercado o subiu 7,33% em 2014. E as livrarias seguem sendo seu principal canal de comercialização – de acordo com dados da mesma pesquisa (realizada pela Fipe em parceria com a CBL e o Snel), representando praticamente 50% no volume de exemplares vendidos e 60% do faturamento. Ótimo o texto do Carlos Maltz para a revista (Ficções Livrescas, edição 53). Já era fã dos Engenheiros do Hawaii, fiquei mais agora, vou procurar o livro. Abraços a todos. Ricardo Ramos São Paulo-SP E por que destacamos essas informações? Durante muito tempo, as vendas para o governo eram garantia fácil de receita para muitas editoras, que, por isso, andaram descuidando das vendas ao mercado. Agora, o mercado volta a mostrar sua força. “Com o tripé economia estável, projeto educacional e distribuição de renda o mercado editorial cresce”, afirmou Marcus da Silva Pereira, presidente do Snel, em entrevista à Veja. “Se o Governo vai ter papel menor no mercado, vamos ver o que fazemos.” Que tal se todos começássemos a dar as livrarias o valor que elas sempre tiveram – e ainda precisam ter – na cadeia editorial? Celso de Campos Jr. Editor Ligue para a Superpedido São Paulo 11 3505-9788 A equipe da revista quer ouvi-lo, leitor-livreiro! Sugestões, críticas e idéias podem ser enviadas ao e-mail [email protected], ou remetidas para o endereço da redação. Mãos à obra! Índice 4 6 8 10 16 18 22 24 26 27 30 32 38 40 42 44 46 47 Editorial e Cartas Brasil Internacional Capa Mercado Literatura Entrevista Quadrinhos Em alto e bom tom Perfil Fotografia Artigo Ficções livrescas Papo de escritor Arte Música Top 100 Editoras Top 20 Livros Revista Superpedido Edição de Ago/Set. de 2015 Ano XI - Nº54 Essa revista é uma publicação da Superpedido Comercial S/A Av. Doutor Antonio João Abdalla, 260 Bloco 400 - Área D - Sala H Empresarial Colina - Cajamar/SP cep. 07750-020 tel. 11-3505-9788 site. www.superpedido.com.br e-mail. : [email protected] Distribuição gratuita. Venda proibida. É proibida a cópia e a reprodução total sem prévia autorização. Não nos responsabilizamos pelo preço de capa dos livros desta revista. São sugeridos pela editora e podem ser alterados sem prévio aviso. Superpedido Comercial S/A. Todos os direitos reservados. Edição Celso de Campos Jr. Produção e projeto gráfico Nathália Furlan Nesta edição colaboraram Fernando Moreira, Lucas Alves, Reinaldo Polito e Ruy Leal Ilustrações Estúdio Canarinho Brasil Brasil Brasil pág. 6 em áreas como meio ambiente, demografia, educação, economia, política, saúde, energia, agricultura e tecnologia – e adianta que o futuro será implacável para os países que não se prepararem para ele. Confira a entrevista a seguir. História do futuro, seu terceiro livro de não-ficção, mapeia tendências e decisões que indicam o que está por vir. O que você chama de futuro? Qual foi o recorte temporal adotado para o livro? O futuro começa no presente, por isso há capítulos em que tenho que partir da situação atual para então olhar a evolução provável dos fatos. Como sou jornalista, o que fiz foi entrevistar especialistas, analisar dados, encontrar pessoas que representem as tendências e assim explicar. Mas cada área permite um tempo diferente quando se fala de futuro. Os demógrafos conseguem falar sobre o que acontecerá daqui a várias décadas. Os economistas enfrentam um grau de incerteza muito maior. Os climatologistas trabalham com um tempo enorme. Os educadores sabem que a geração que está agora estudando é o futuro. Por isso o livro não estabelece um ano exato. Ele mostra riscos, chances e tendências, mas a narrativa é a de uma jornalista. E o que nós gostamos é de contar histórias. Previsões em VERDE-AMARELO A jornalista Míriam Leitão discute o futuro do Brasil em novo livro Há mais de quarenta anos no mundo do jornalismo, Míriam Leitão é um rosto muito familiar aos telespectadores brasileiros. E, embora pouca gente saiba, também um nome presente no mercado editorial, autora do romance Tempos extremos e de três obras infantis. A jornalista lança agora História do futuro – O horizonte do Brasil no século XXI (Intrínseca), um livro-reportagem em que Miriam mapeia o que está por vir com base em entrevistas, viagens, análises de dados e depoimentos de especialistas, fruto de quatro anos de pesquisas. Ela aponta tendências que não podem ser ignoradas Em meio a um cenário de crise, qual é a importância de avaliarmos agora as conquistas e os desafios do Brasil? Não há melhor momento que este. O país está mergulhado numa crise complicada e com uma sensação de derrota. A gente pode se afundar no pessimismo ou fazer um balanço racional dos muitos acertos e dos vários erros para, assim, organizar o futuro. Temos um monte de problemas de curto prazo e, ao mesmo tempo, muita chance de ter sucesso no nosso projeto. Ao longo de sua pesquisa, desenvolvida por quatro anos, você teve muitas surpresas? Deparou-se com descobertas que contrariam o senso comum? Aprendi muito. Há várias informações no livro que contrariam o senso comum. Há outras que confirmam mas tornam mais exatas. Todos sabem que o país está vivendo mais e a população está ficando mais madura. Mas, olhando os dados, me dei conta de que em 2050 haverá dez milhões de crianças de zero a quatro anos a menos do que havia em 2010. Isso é equivalente à população inteira de Portugal. Naquele ano, haverá um pág. 7 Uruguai a mais na cidade de São Paulo. Isso cria uma série de tarefas em várias áreas. Eu sabia que o Brasil era um gigante na área ambiental, mas a conversa com os especialistas me surpreendeu. “ É possível pensar o futuro. E mais: é fundamental fazer esse esforço exatamente neste momento em que o país está ” Que desafios você encontrou durante o processo de pesquisa e de escrita do livro? Como conseguiu conciliar com sua atribulada agenda como jornalista? Foi difícil, muito difícil. Até porque a agenda do Brasil é lotada de emergências. Eu me programava para ficar uma parte do dia só dedicada ao livro e, de repente, meus planos tiveram que ser alterados. Trabalhei muito em fins de semana e nas férias. Mas para realizar so- nhos — os livros para mim são sonhos que realizo — a gente sempre encontra tempo. Quais foram os aprendizados mais importantes decorrentes da criação de História do futuro? Quais são suas expectativas para a recepção do livro? Que é possível pensar o futuro. E mais: que é fundamental fazer esse esforço exatamente neste momento em que o país está. Por ter me ocupado da investigação do que está por vir, junto com as pessoas que entrevistei, estou passando por esta crise atual mais calma. A conclusão a que cheguei é que há muito trabalho a fazer, nada vai ser de graça, mas o Brasil tem muita chance. Espero que seja tão bom para o leitor quanto foi para mim. Internacional Internacional Internacional pág. 8 pág. 9 A decisão de publicar um quarto livro na série Millennium foi recebida com críticas por algumas pessoas. Uma das objeções é que seria antiético permitir que outro autor escreva uma sequência baseada nos personagens de um autor falecido. Também foi sugerido que o principal objetivo desta publicação fosse o lucro. Stieg teria se oposto se estivesse vivo, alguns afirmaram. Nós respeitamos o fato de que outras pessoas têm suas opiniões sobre como escolhemos administrar o legado de Stieg. Mas em um ponto, porém, os críticos estão indiscutivelmente errados: no de que isto foi feito para ganhar um dinheiro rápido. Desde o princípio, deixamos claro que qualquer lucro que obtivermos com A garota na teia de aranha irá diretamente para a revista antirracista Expo, da qual Stieg foi cofundador. POR QUE MILLENNIUM CONTINUA Desde a morte de Stieg, a Expo recebeu 18 milhões de coroas suecas (cerca de 7 milhões de reais) da renda gerada pelas vendas da trilogia Millennium. Ao longo dos últimos anos, o nível de apoio financeiro recebido tem ficado, em média, em torno de 2 milhões de coroas anuais. Graças à receita gerada por A garota na teia de aranha, a Expo vai se beneficiar com um capital adicional no valor de vários milhões de coroas suecas. Numa sociedade em que o racismo e a xenofobia estão em ascensão, sua causa parece mais urgente do que nunca. Por JOAKIM E ERLAND LARSSON Em carta especial aos fãs da série, o pai e o irmão de Stieg Larsson explicam os motivos de a família decidir continuar publicando, após a morte do autor, novas histórias de Lisbeth Salander – o novo volume de Millennium, A garota na teia de aranha, será lançado em agosto Agosto marca o aniversário de dez anos da publicação de Os homens que não amavam as mulheres na Suécia. Foi o começo de uma das maiores histórias de sucesso literário sueco de todos os tempos. Até hoje, os três romances da série Millennium venderam em torno de 80 milhões de cópias em 48 idiomas ao redor do mundo. Todos os anos turistas de diversos países viajam a Estocolmo para seguir os passos de Lisbeth Salander e Mikael Blomkvist. Maior do que isso é a nossa tristeza por nosso filho e irmão Stieg Larsson não ter tido a chance de testemunhar este sucesso fenomenal. Menos de um ano antes da publicação do primeiro livro ele faleceu, rápida e inesperadamente. Foi, é claro, uma dor insuperável perder alguém querido tão de repente. Além disso, o fato de não termos conseguido chegar a um acordo amigável com a parceira de Stieg, Eva Gabrielsson, permanece como uma ferida aberta para todos os envolvidos. Após a morte de Stieg, nós, seu pai e irmão, herdamos os direitos de seu espólio literário. Uma vez que Eva Gabrielsson se recusou a cooperar conosco em relação ao legado de Stieg, nós somos os únicos responsáveis por decidir como as obras dele podem ser usadas. Concordamos que David Lagercrantz escrevesse sua própria sequência independente para a série Millennium. Em agosto, bem a tempo do décimo aniversário do primeiro romance, A garota na teia de aranha chegará às livrarias. O livro será traduzido e lançado simultaneamente em pelo menos 35 países. Leitores de todo o mundo poderão viver novas aventuras com os protagonistas Lisbeth Salander e Mikael Blomkvist. Nós sabemos que muitos estão ansiosos por isso. Apesar disso, é verdade que as editoras poderão, naturalmente, ganhar dinheiro com A garota na teia de aranha. O que nos parece um bom negócio, já que a renda e a lucratividade geradas por publicações bem-sucedidas são essenciais para manter uma indústria editorial forte e dinâmica. Consideramos ainda que a editora Norstedts e as editoras internacionais de Stieg trataram suas obras e seu falecimento prematuro com grande dignidade. Caso contrário, nós jamais teríamos aprovado uma sequência independente para a série Millennium. Nós nos orgulhamos do que Stieg criou com seus romances. Enxergamos uma oportunidade de permitir que seus personagens e histórias continuem vivos na sequência de David Lagercrantz. Sua maestria literária é célebre, e ele demonstrou perspicácia e empatia ao dar voz a pessoas como Göran Kropp, Alan Turing e Zlatan Ibrahimovic. Não conseguimos pensar em um autor melhor para esse projeto. David Lagercrantz assinou o romance com seu nome, como ficará perfeitamente claro em todos os materiais Na versão cinematográfica sueca, Lisbeth Salander foi interpretada pela atriz Noomi Rapace de venda, incluindo a capa do livro. Afirmar que estamos tentando vender A garota na teia de aranha como se fosse uma obra de Stieg não faz o menor sentido. Vale lembrar que a história da literatura está repleta de exemplos de sequências escritas após a morte do criador original dos personagens, do James Bond de Ian Fleming à Agatha Christie de Sophie Hannah. Nós esperamos e acreditamos, ainda, que a publicação de A garota na teia de aranha contribuirá para despertar um interesse renovado nos títulos da série Millennium escritos pelo próprio Stieg. Como herdeiros, não podemos nos esquivar da responsabilidade associada à administração de seu legado. Nós sabemos que Stieg esperava — e sentia — que a trilogia Millennium estivesse destinada a um grande sucesso comercial, e agora tomamos a decisão de permitir que David Lagercrantz continue a esta missão. A carta da família foi publicada originalmente no Expressen no dia 21 de junho de 2015 e republicada no site da Companhia das Letras, a editora dos livros de Stieg Larsson no Brasil. pág. 11 Capa Capa Capa VOLTA ÀS ORIGENS No livro Bem Sertanejo, Michel Teló faz tributo ao ritmo do interior que conquistou o Brasil – e o ajudou a ganhar o mundo Como, quando e por que surgiu a ideia do projeto Bem Sertanejo? Esse é um projeto que eu tinha em mente há alguns anos, desde 2011. Eu queria fazer há muito tempo. Eu nasci e fui criado pelos meus pais ouvindo música sertaneja e queria contar a história da música. A ideia era resgatar um pouco da história da nossa música, de uma maneira bem simples, mas com muita qualidade. Tocando uma viola, uma sanfona, sem muita edição, de uma maneira verdadeira. A primeira ideia era só ser um DVD mesmo. No decorrer das reuniões, do desenvolvimento das ideias e das conversas as coisas foram crescendo, e achamos que seria legal oferecer e levar para um programa de TV. Quando levamos a ideia pro Fantástico, eles abraçaram a ideia na hora. Foi uma honra poder fazer esse quadro. E foi muito especial que um programa do tamanho do Fantástico, no horário nobre da TV brasileira, abriu espaço para esse trabalho. O Bem Sertanejo é composto pela série, CD, DVD e livro. Qual a importância do livro nesse combinado, e quais as novidades que a edição impressa traz ao público? Eu queria fechar o ciclo com todos os meios possíveis para divulgar o trabalho. Cada capítulo da série tinha que ser curto, misturando bate papo e música, e não tinha como colocar tudo no ar. O livro traz fotos de bastidores, histórias que não foram contadas e curiosidades sobre cada gravação. Como foi o processo de produção do texto, realizado em parceria com o jornalista André Piunti? Fomos colocando cronologicamente tudo o que conversamos com cada artista, contando detalhes de cada viagem e cada gravação. Tínhamos todo o material pronto, por conta da edição da série e do DVD. De todas as histórias e causos de artistas que você retratou no Bem Sertanejo e que estão no livro, qual a que mais impressionou você, ou que ficou como uma grande lição? Todos foram muito especiais. Gravar com Christian e Ralf foi emocionante, porque sempre fui muito fã e não os conhecia. Eles cantaram todas as modas que eu tinha vontade de ouvir, eu toquei sanfona. Milionário e José Rico pela história deles com a música. Almir Sater que eu não conhecia pessoalmente também e realizei esse sonho. Cantar com ele no Pantanal foi muito especial pra mim. Difícil falar um nome só, todos são muito importantes pra mim, todos são ícones da música. Eu fiquei feliz em poder mostrar cada fase da música sertaneja, as influências que recebeu, as barreiras que quebrou, a forma como a música sertaneja soube se reinventar. Seu cotidiano envolve meses e meses na estrada. Nesses dias longe de casa, você costuma ter livros na bagagem? Quais são os gêneros preferidos do leitor Michel Teló? E seus autores favoritos? Gosto muito de ler biografias e conhecer a história dos meus ídolos e pessoas que marcaram a história de um modo geral. Um dos que mais gostei nos últimos tempos foi o do Pablo Escobar, escrito pelo próprio filho. Fotos: Fernando Hiro Queira ou não o distinto leitor, Michel Teló já te pegou. Seu inconfundível hit alastrou-se por setores alheios ao gênero e ganhou o mundo inteiro – e não é figura de linguagem, não. Chegou a liderar as paradas em 23 países na Europa e na América Latina, em 2012. Depois desse meteórico e internacional trajeto, Michel Teló resolveu voltar às origens. O cantor, que participou por mais de uma década do grupo Tradição, assumiu um projeto multimídia de resgate da música sertaneja, focando em sua história e em alguns de seus principais protagonistas – que agora chega à fase do livro, lançado pela Planeta. Bem, o melhor é ouvir a explicação do próprio Michel Teló, que concedeu a seguinte entrevista exclusiva à revista Superpedido. pág. 12 Com Almir Sater, a realização de um sonho Você tem uma longa carreira na música, e já fazia sucesso com o Tradição mas se tornou conhecido mundialmente depois do hit “Ai se eu te pego”. Pode nos contar como isso alterou sua vida e sua carreira? O que aconteceu com essa música foi surreal, historicamente nunca aconteceu isso com nenhuma música brasileira. Foi a música mais vista na história do YouTube aqui no Brasil, foram mais de 600 milhões de views em um único vídeo. Se juntar todos, dá mais de 1 bilhão de visualizações. Uma música cantada em português no mundo inteiro é inacreditável. Então, foi uma coisa absurda tudo o que eu vivi e foi uma benção poder viajar o mundo, foi incrível. é sertanejo. Lógico que é rico de culturas diferentes, você vai pro Nordeste, o forró é muito forte, você vai pro Sul a música gaúcha também é muito forte. Mas o sertanejo entrou com muito poder em todas as regiões. “ Acho que hoje, mais do que nunca, com todas as quebras de preconceitos que existiam na música sertaneja, o Brasil é sertanejo ” Ainda sobre isso: você arriscaria uma explicação para o estrondoso sucesso popular que não apenas você, mas a música sertaneja em geral tem alcançado nos últimos anos? Diversos cantores afirmam que a música sertaneja sofre preconceito por parte da crítica e da mídia infelizmente, a trágica morte de Cristiano Araújo colocou alguns desses pontos em evidência. Você chegou a sentir esse preconceito, seja na época do Tradição, seja durante sua carreira solo? Há algumas décadas que o Brasil deixou de ser rural pra ser urbano, e a música sertaneja, que era extremamente rural, soube acompanhar as mudanças. Todo mundo tem um avô que ouvia, um pai que curtia música sertaneja. Isso fica na raiz, fica no sangue. Acho que hoje, mais do que nunca, com todas as quebras de preconceitos que existia na música sertaneja, o Brasil A música sertaneja é realmente mais simples. Culturalmente, ela vem do campo, falava de coisas do campo. É uma música simples, sim, mas que sabe tocar o coração das pessoas. Não é qualquer um que, mesmo fazendo algo mais simples, consegue emocionar as pessoas e levar alegria pro público. O sertanejo tem esse dom. Cada estilo de música tem sua veia, tem seu pág. 13 pág. 14 Encontro com os lendários Chitãozinho e Xororó sangue, tem sua verdade, e temos que respeitar cada um deles. “ O Brasil deixando de ser rural e virando urbano exigiu que a música sertaneja ficasse urbana também. Sei que tem muita gente que não gosta, mas há espaço para todos os estilos sempre ” O chamado “novo sertanejo”, do qual você é um dos precursores, introduziu um ritmo mais moderno e dançante à música sertaneja. Para alguns, isso representou um rompimento com o gênero; para outros, uma modernização. Como você vê a questão? Qual o fio condutor que une as raízes do gênero até os dias de hoje? Temos estilos diferentes dentro da música sertaneja. Cada década que você pega, desde que a música sertaneja começou a ser gravada, na década de 10 e de 20 até hoje, houve uma evolução e muita mudança. E acho que precisava evoluir. No começo era uma violinha e uma sanfona. Depois Leo Canhoto e Robertinho trouxeram a bateria, o baixo, a guitarra com a influência da Jovem Guarda. O Chitão e Xororó trouxeram influências da música country, as guarânias. O Brasil deixando de ser rural e virando urbano exigiu que a música sertaneja ficasse urbana também. Sei que tem muita gente que não gosta do sertanejo mais pop, mais moderno de hoje, mas há espaço para todos os estilos sempre. O sertanejo soube se popularizar e se modernizar. Para finalizar, quais são os próximos passos de Michel Teló? Depois dessa experiência com o livro, os fãs e leitores podem esperar uma autobiografia de Michel Teló? Autobiografia eu não penso agora. Mas para este ano, já estamos programando a gravação de um DVD. Será em São Paulo, no dia 02 de setembro, com algumas participações, músicas inéditas e alguns sucessos. Estou ansioso para começar um novo trabalho. Além disso, tenho um desafio enorme porque fui convidado para ser técnico do The Voice Brasil. pág. 15 pág. 17 Mercado Mercado Mercado Esta moda vai passar? Um bate-papo sobre os livros de colorir com Rafaella Machado, editora da Galera Record e autora de Ateliê Fashion as ilustrações para o Ateliê Fashion? É verdade que você as realizou em prazo recorde? E, em sua opinião, no que o Ateliê se o diferencia das outras obras para colorir? Quando decidi fazer um livro de colorir com minhas estampas, sabia que tinha que correr para não perder o timing do hype, então preparei 40 ilustrações em apenas uma semana. Nunca antes produzi tanto em tão pouco tempo, mas a experiência certamente valeu a pena. Eu acho que o maior diferencial do Ateliê Fashion em relação a outros títulos para colorir é que, além de ser voltado para a moda e a estamparia, agregando um público mais adepto ao design, 50% dos lucros obtidos com a venda do livro irão para instituições de resgate de animais abandonados. Meu livro é o único que além de propor uma atividade lúdica – no caso colorir – também traz uma proposta social. Como editora, qual sua visão sobre o fenômeno dos livros de colorir? Quais os prós e os contras de tê-los em uma livraria – se é que há contras em um produto que atrai leitores para as lojas... Uma coisa que observei enquanto editora é que muita gente do mercado editorial, autores e editores, sentiram-se ameaçados ao verem livros de colorir entre as listas de mais vendidos. Isso gerou uma discussão saudável sobre o que é livro, o que é narrativa etc e penso que esse tipo de questionamento é extremamente benéfico para toda forma de arte. Afinal, nem todo livro é narrativa e nem toda narrativa requer palavras. A ascensão desse tipo de livro interativo trouxe esse debate à tona. Como editora, não acho que os livros de colorir competem com a literatura de forma alguma. Quem consome literatura continuará comprando Graciliano, Clarice etc. E muita gente que nem tinha o hábito de frequentar livrarias passou a fazê-lo por causa dos livros de colorir, o que é positivo para o mercado editorial especialmente em um ano de crise. Meses depois de dar início a um inacreditável turbilhão de vendas em todo o Brasil, os livros de colorir continuam invadindo as prateleiras das livrarias – e criando polêmica por onde passam. São ou não são livros? Devem ou não entrar na lista dos mais vendidos? Nesta edição, conversamos com alguém que pode falar com extrema propriedade sobre o fenômeno: Rafaella Machado, editora da Galera Record, autora de Ateliê Fashion – estampas para colorir e fã assumida de carteirinha do gênero desde os tempos de menina. Ninguém melhor do que ela para dizer, bem, se os livros de colorir vão ou não sair de moda... Como leitora (e ilustradora amadora), de que forma os livros de colorir influenciaram em seu gosto por estampas e pela moda em geral? Os livros de colorir fizeram parte da minha infância e com certeza influenciaram minha paixão por ilustrações e arte. Desde pequena eu amo desenhar e colorir, e lembro que colecionava os álbuns de colorir da Disney. Inclusive pintava os “101 Dálmatas” com cores vibrantes, nunca os deixava brancos. Os vestidos das princesas eram outra fonte de inspiração na época, e acredito que tiveram um papel na minha formação como fashionista! Como autora, pode nos dizer como foi preparar Por fim, um exercício como futuróloga: o que acha que vai acontecer com a onda de livros de colorir? Deve arrefecer ou é algo que veio para ficar? Eu acho que o livro de colorir, enquanto desdobramento da tendência de livros interativos, continuará existindo, mas deve sofrer uma diminuição nos números atuais de vendas. Imagino que outros livros com uma proposta interativa surgirão para esse público. pág. 18 Literatura Literatura Literatura pág. 19 imensos. Quando as peças ficaram em seus devidos lugares e a “figura” mostrou-se, no momento da defesa da tese, a própria banca examinadora já recomendou que esse trabalho chegasse ao grande público. A tese trazia elementos mais técnicos e precisou passar por um outro trabalho que consistiu no recorte do que caberia publicar. No livro, apresento as parcelas propriamente concluídas pelo romancista que, como todos sabem, morreu prematuramente aos 51 anos. A edição abre-se com o ensaio que busca traçar o percurso da criação deste romance, mostrando momentos da redação: interrupções e retomadas; e fecha-se no posfácio à guisa de conclusão, trazendo ao leitor um possível desfecho. Como foi o trabalho para revisar os manuscritos de Mário de Andrade até chegar nesta edição de Café e ao que se considerou o texto final, já que registros mostram que este livro foi escrito ao longo de vários anos e levando em conta que Mário de Andrade costumava escrever várias versões de um texto? Colheita tardia Livrarias recebem Café, romance inédito de Mário de Andrade Sem meias palavras, vamos direto à pergunta: um inédito de Mário de Andrade, 70 anos depois de sua morte? A professora Tatiana Longo Figueiredo, organizadora do recém-publicado Café (Nova Fronteira), explica melhor essa história na entrevista a seguir. Por que Café nunca tinha sido publicado até agora? Café é um romance inacabado, portanto, para que chegasse à publicação precisava passar necessariamente por um trabalho de decifração e ordenação de um emaranhado de documentos. Sendo assim, tive a honra de cumprir essa tarefa, sob orientação da Profa. Telê Ancona Lopez, com minha tese de doutoramento defendida na FFLCH-USP, em 2009. Neste trabalho debrucei-me sobre o dossiê Café, ou seja, os manuscritos pertencentes à redação do romance, que estão no Instituto de Estudos Brasileiros da USP; identifiquei e datei 11 fases da criação de Mário de Andrade relacionadas ao Café e busquei, na biblioteca do escritor, obras lidas por ele que lhe valeram como matrizes de sua criação. Foi um processo que se poderia comparar ao da montagem de um quebra-cabeças, daqueles Por se tratar de um texto que ocupou a preocupação de Mário de Andrade durante praticamente duas décadas e, ainda por cima, por ser um texto inacabado, o caso de Café é muito especial dentre os manuscritos do escritor. Para estabelecer o texto que chegou a esta edição precisei, antes de mais nada, identificar qual era de fato a última versão da parte inicial do romance. Isso porque das três versões dessa parte, duas delas estavam identificadas por Mário como “1ª versão”. Através da análise das rasuras, o confronto das versões determinou o percurso da criação, isto é, o trajeto percorrido de uma versão para outra, visto que essas alterações no texto – interferências geralmente a tinta (trocando uma palavra por outra, por exemplo) – eram assimiladas na datilografia da versão seguinte. Já o texto da segunda parte do romance trouxe outros desafios, tais como a correção de pequenos deslizes de quem anda no terreno escorregadio da criação. Após a interrupção da escrita por 7 anos, a retomada fez com que o escritor não atentasse para detalhes menores, como o apelido de um personagem, que acabou por ficar não padronizado ao longo do texto. Também foi preciso levar em conta que o processo criativo continha, além das versões de texto, planos, esquema, notas de trabalho, esboços e até lembretes do escritor para ele mesmo. O primeiro retrato: São Paulo, 1893 O escritor na adolescência Que comentários você achou dentre os manuscritos de Mário que indicam o que ele próprio achava deste livro e o que pretendia com essa obra? Em carta a Manuel Bandeira, datada de 13 de julho de 1929, um mês após o início da redação do romance, Mário de Andrade afirma “iniciei e gosto muito dum romance Café”. Em abril de 1930, publica fragmentos desse romance em duas revistas diferentes. No mesmo ano, ao lançar os poemas de Remate de Males, o primeiro livro que publica a partir de então, coloca o título Café na lista de obras em preparo. Em uma carta-testamento escrita para seu irmão Carlos (sem data, mas, certamente, de alguns anos antes de sua morte), Mário aponta Café como uma das obras que, se ele morresse, levaria consigo a tristeza de não ter terminado. Sem dúvida, foi um livro que suscitou muito interesse e atenção do escritor. A casa na rua Lopes Chaves, clicada pelo escritor em 1927 pág. 20 De que maneira aparecem neste livro traços do estilo do escritor como a crítica social e o experimentalismo linguístico? Você poderia citar algum exemplo? É claro que o texto de Café está recheado de idiossincrasias linguísticas e neologismos, que Mário de Andrade chama de “cacoetes”, em carta a Moacir Werneck de Castro, datada do início de 1942, quando da retomava a escritura do texto. Entretanto, o experimentalismo linguístico não era o foco do romance, conforme Mário de Andrade elucida na mesma carta. A linguagem deveria ser menos intencional e mais direta porque a intenção estaria no assunto; assim sendo, a crítica social está presente de forma aguda, explorando as contradições da sociedade paulista moderna na qual migrantes e imigrantes viviam. O quanto você acha que as viagens que Mário de Andrade fez pelo Brasil no final da década de 1920 influenciaram a escritura deste livro? Na praia do chapéu virado, em Belém, maio de 1927 A 2ª viagem de Mário de Andrade ao Nordeste do Brasil foi fundamental para a redação de Café porque foi justamente nela em que o escritor conheceu Chico Antônio, o cantador de cocos norte-rio-grandense. Ainda durante a viagem, enquanto escrevia crônicas para o Diário Nacional, intituladas “O Turista Aprendiz”, ao tratar do coqueiro, cuja manifestação artística tanto o encantara, Mário percebe que precisa celebrá-lo melhor, em livro. Sem dúvida, esse encontro traz ao universo ficcional esse personagem em torno de quem toda a trama do romance Café será estruturada. Qual a importância de destacar nesta edição fac-símiles de anotações de Mário? De que maneira isso é interessante para que o leitor entenda o processo de criação de um escritor como ele? Esta edição de Café desvela-se em fac-símiles de manuscritos não só por fazer parte de um conjunto de títulos de Mário de Andrade, lançados pela editora Nova Fronteira, que se complementam em um dossiê de documentos, mas também porque acredito que essa visualização é fundamental para que o leitor perceba que nenhum livro nasce pronto. Aliás, todo livro é fruto de um trabalho de escrita e reescrita, no qual planos são modificados e, ao longo do tempo, um determinado projeto pode ser transformado em outro ou outros. No meu entender, a edição tem o mérito de exibir ótimas reproduções, que permitem a leitura até do lápis mais esmaecido. Em seu estúdio domiciliar, em São Paulo, em 1934 Em poucas palavras, qual a importância dele para a literatura brasileira? Mário de Andrade foi um dos pilares do movimento modernista de 1922. O direito permanente à pesquisa, marca principal que ele destaca, em 1942, em seu severo balanço “Movimento modernista”, pode-se dizer que se refere especialmente à obra dele, sempre aberta a novas perspectivas. Sendo assim, Mário dialogou com escritores de sua geração e com os moços, aliás, foi mentor de escritores jovens, incentivando e orientando os novos rumos da nossa literatura, para além do modernismo de programa. Em 15 de fevereiro de 1945, dez dias antes de sua morte pág. 21 Entrevista Entrevista Entrevista Superando barreiras A história de FML Pepper, da autopublicação a um pioneiro contrato no mercado editorial Sucesso no mundo dos ebooks na Amazon, a escritora FML Pepper, autora da trilogia Não Pare!, passou a ter seus livros editados pela Valentina, sem abrir mão dos direitos para a venda na Amazon – um contrato híbrido pioneiro no Brasil. Nesta entrevista, Pepper explica o acordo e conta um pouco mais sobre sua atividade – ou atividades, já que ela é dentista... Pode narrar como foi seu começo como escritora? A autopublicação na Amazon foi uma opção ou a única alternativa diante de um mercado fechado? Não me considero uma “escritora”, mas apenas alguém que ama escrever e que o faz com paixão. Comecei a escrever quando descobri que estava grávida e meu médico informou que se tratava de uma gravidez de risco. Ele disse que eu teria que ficar os nove meses de cama caso quisesse segurar o bebê em meus braços. Workaholic assumida, de início quase entrei em depressão e, para “matar” o tempo, comecei a ler livros de ficção. Mas ler muuuuuito mesmo. Foram quase cem livros em um único ano!!! Só que depois que as leituras acabaram, algumas histórias continuaram martelando em minha cabeça, então, para não me afastar dos meus pág. 22 personagens queridos, resolvi escrever e fazer finais alternativos. E assim foi indo até chegar aqui... Costumo dizer que ao término da gestação eu tive dois filhos: o meu lindo menininho e o amor pela literatura! Por incrível que pareça a autopublicação na Amazon foi os dois: uma opção e única alternativa! Não me iludi com um caminho encantado no processo e jamais esperei o pote de ouro no final do arco-íris. Sempre fui muito “pé no chão” e ciente das mínimas oportunidades para um autor iniciante (e cujo gênero era fantasia!) no nosso mercado literário, principalmente em um país onde pouquíssimo valor se dá à leitura, como é o caso do Brasil. Até o “boom” dos autores autopublicados, as grandes editoras estavam interessadas apenas em autores nacionais reconhecidos ou best-sellers internacionais. Tentei os meios tradicionais por apenas uns três meses e, conforme eu imaginava, não obtive qualquer resposta. Dei de ombros e tomei a melhor de todas as decisões: passei para o passo seguinte, a autopublicação! O mais interessante disso tudo foi que meu sucesso na autopublicação me permitiu não apenas furar a barreira quase intransponível do mercado editorial nacional como se transformou em uma vitrine. Foi graças à autopublicação que as minhas histórias ganharam força e se tornaram atraentes aos olhos das grandes editoras. Mais do que isso, ela selou meu nome como uma aposta promissora e me deu a chancela para fechar um contrato híbrido com a Editora Valentina. A que credita a escalada de vendas em seus livros na Amazon? Imaginava essa projeção apenas com o resultado das vendas virtuais? Credito o sucesso de vendas e projeção do meu nome nas mídias graças à originalidade da obra, ao boca a boca dos leitores na internet e por ter dado ouvido às sábias palavras de Malcolm Gladwell: “A sorte acompanha os preparados”. A escrita é uma profissão, um ofício, e que, portanto, precisa de empenho, estudo e muitas horas de dedicação para evoluir e se tornar forte e interessante por muito além de um único livro ou modismo. Seu contrato híbrido para a publicação no impresso é o primeiro do Brasil do gênero. Como foi essa negociação? E porque foi importante para você, como escritora, permanecer com os direitos para os livros eletrônicos? A negociação foi muito tranquila porque tive a sorte de encontrar não apenas um editor sensacional como toda uma equipe gentil, em sintonia. Meu sucesso na autopublicação é o ponto forte da minha plataforma e, por- pág. 23 tanto, abrir mão do controle sobre os livros digitais seria abrir mão não apenas de um produto, mas da minha marca como autora. Sem contar que, ao assinar um contrato de publicação híbrido, posso estar pavimentando o caminho para o sucesso de novos talentos brasileiros que só esperam uma oportunidade para brilhar. Em sua opinião, como será a configuração do mercado editorial em um futuro próximo, com livros e e-books disponibilizados aos leitores? Como será essa convivência? Nunca o leitor teve tanto poder nas mãos e isso é sensacional! Acredito que a convivência entre os livros físicos e os digitais será harmônica, paralela e de retroalimentação. Isso mesmo! Acredito que será uma simbiose altamente positiva, onde o sucesso de um repercutirá no do outro. Ao contrário do que muitos imaginavam e das intermináveis discussões de qual deles ia sobressair e etc., hoje está claro aos meus olhos que os livros impressos e os e-books coexistirão e que o mercado literário vai se autorregular. “ Meu sucesso na autopublicação é o ponto forte da minha plataforma e, portanto, abrir mão do controle sobre os livros digitais seria abrir mão não apenas de um produto, mas da minha marca como autora ” A política agressiva da Amazon faz com que ela seja vista como vilã por muitos setores do mercado editorial. Para você, porém, a gigante foi uma aliada. Como vê a chegada da Amazon no mercado brasileiro? Vejo com bons olhos, pois trata-se de uma ferramenta para os autores autopublicados bem como uma nova plataforma para fornecimento de conteúdo digital. Quais os conselhos que daria para um escritor que queira se iniciar no mundo da autopublicação? O mundo da autopublicação não é diferente de nenhuma área da literatura ou da própria existência humana. Sobressaem os que acreditam e que não paralisam diante das derrotas. Meu humilde conselho aos que estão iniciando é sempre o mesmo: que não desistam do sonho. Escrevam. Por duas horas ou cinco minutos diários, não importa. O importante é que façam da escrita um ofício. Que tenham fé, que acreditem no seu talento e força. Tenho certeza de que o sucesso é certo se houver disciplina, perseverança e, principal- mente, muita paixão pelo que faz. Imagino que FML Pepper seja um pseudônimo. Se a suposição estiver correta, como foi essa escolha? E por que? Eu sabia que essa pergunta não ia faltar! Sim! FML Pepper é o meu pseudônimo da sorte! Além de escritora eu também sou dentista e tenho muitos trabalhos publicados na área odontológica, então percebi que isso poderia causar confusão e resolvi que deveria ter um pseudônimo para separar a literatura da odontologia e não tive dúvidas qual seria: “Pepper”! Como meu sobrenome é Pimentel, “Pepper” (pimenta em inglês) foi o apelido carinhoso que meus alunos me deram durante os anos em que eu era professora de inglês para crianças. O que fiz foi apenas acrescentar as minhas iniciais (vou deixar um misteriozinho aqui)... Como concilia a vida de escritora com a de dentista? Escrever segue ainda como hobby, ou tornou-se uma nova profissão? Com bom-humor, disciplina e me desdobrando em mil mulheres! Atuo no meu consultório dentário (agenda cheia!) e, apesar da escrita ter se transformado em mais que um hobby, ela ainda não assumiu o papel de uma nova profissão em minha vida para lá de agitada! Separei alguns horários específicos durante a semana para escrever. Sei que é pouco, mas é o que é possível em meio à loucura de administrar consultório, pacientes, casa, marido, um filhinho lindo, cachorrinhas e ainda ter que arrumar tempo para estar nas mídias (facebook/twitter) e atender com carinho a todos meus leitores! Ufa! Cansei só de ouvir. E, para finalizar, quais são seus próximos planos literários? Além de tentar fazer da trilogia Não pare! um grande sucesso de vendas nacional, meu grande desejo é vê-la traduzida em diversos idiomas e adaptada às telonas dos cinemas (não custa nada sonhar, né?). Planejo continuar a escrever não pelo retorno econômico ou pela obrigação de ter de produzir, mas sim pelo prazer de criar algo realmente novo, histórias que possam manter a chama da paixão literária acesa dentro de mim e encantar o meu público alvo: os jovens (de todas as idades!). pág. 26 Quadrinhos Quadrinhos Quadrinhos Liberdade e o futuro Em O árabe do futuro, ex-colaborador do Charlie Hebdo relembra sua juventude nos tempos das ditaduras de Assad e Kadafi Reconhecido quadrinista da nova geração francesa, Riaf Sattouf faz uma recordação de sua passagem pelo Oriente Médio no premiado O árabe do futuro – Uma juventude no Oriente Médio (1978-1984). Filho de mãe francesa, nascida na Bretanha, e de pai sírio, de uma aldeia próxima a Homs, o autor traduz em quadrinhos o choque cultural experimentado por uma criança criada na França ao vivenciar as ditaduras da Síria de Hafez Al-Assad e da Líbia de Muammar Kadafi. Em menos de um ano, a obra teve mais de 90 mil exemplares vendidos na França. No Brasil, chega pela Intrínseca. Recebeu também o prêmio principal da 42ª edição do Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême. Além disso, Riaf também foi colaborador da revista Charlie Hebdo – ele publicava a série sarcástica A Vida Secreta dos Jovens no Charlie e rompeu o contrato com o jornal seis meses antes do atentado que deixou 12 mortos, em janeiro deste ano. Em visita à Flip, o quadrinista afirmou que os cartunistas satíricos são “paladinos” da liberdade de expressão, dizendo que, na verdade, “eles não passam de pessoas frustradas que usam o desenho como válvula de escape”. E completou: “Eu compreendo perfeitamente que algumas pessoas possam ter se sentido ofendidas com aqueles desenhos, mas nunca existe um bom motivo para alguém matar alguém, qualquer que seja a razão, nada pode justifica. pág. 27 EmEmalto bom tom alto e e bom tom Em alto e bom tom pág. 28 Cinco detalhes de COMUNICAÇÃO que nem sempre LEVAMOS EM CONTA Por REINALDO POLITO 1 – Conquiste a atenção dos ouvintes logo no início. Se não conseguirmos conquistar a atenção dos ouvintes logo no início, dificilmente será possível reverter a situação ao longo da fala. Devemos planejar bem o que pretendemos dizer no início para conquistar rápido a atenção. Alguns recursos excelentes para conquistar a atenção: mostrar o benefício que os ouvintes terão com a mensagem. Contar uma pequena história interessante. Lançar mão de uma frase de impacto. Fazer uso da presença de espírito, exagerando uma informação para transformá-la em um fato bem-humorado. Instigar com uma reflexão relevante. 2 – Comece a falar sabendo o que vai dizer no final. Um dos maiores problemas na comunicação é a pessoa começar a contar uma história, por exemplo, e não saber o que irá dizer no final. É muito comum, depois de até termos iniciado bem, no meio da história ficarmos inseguros porque não temos ideia de como concluir. O receio de nos mostrarmos perdidos por falta da conclusão pode provocar uma descarga de adrenalina que nos deixa nervosos e sem ação diante das pessoas. Por isso, ao iniciar devemos saber bem o que pretendemos dizer no final. 3 - Evite fugir com os olhos. Também não encare fixamente o interlocutor. Se fugirmos com os olhos enquanto conversamos, corremos o risco de passar imagem de sermos inibidos, desinteressados, inseguros. De maneira geral, a consequência é quase sempre negativa. Por outro lado, se falarmos encarando o interlocutor, podemos parecer invasivos e inconvenientes. Portanto, ao conversar, não devemos fugir com os olhos, nem encarar o interlocutor. 4 - Sua comunicação e comportamento devem estar de acordo com sua atividade profissional. Afinal, como devemos nos comportar? De maneira formal ou informal? Ser informal não significa se comportar com erros e negligências. Da mesma forma que ser formal não pressupõe comportamento rígido e inflexível. O importante é que sendo formal ou informal nos comportemos sempre com naturalidade. Tudo dependerá da circunstância e da nossa atividade profissional. 5 - Observe se há coerência entre o que comunica com as palavras e com o semblante. Não é tão raro uma pessoa dizer que está triste mantendo o semblante arejado e até sorridente. Tentando ser simpáticos, não percebemos que a mensagem exige nessas circunstâncias senão um semblante entristecido, pelo menos quase impassível. Da mesma forma, às vezes, não nos damos conta de que não poderíamos nos apresentar com o semblante pesado e até triste quando falamos em alegria, vitórias e conquistas. pág. 29 pág. 30 Perfil Perfil Perfil Bob Cuspe contra a hipocrisia Icônico Lendário personagem de Angeli ganha coletânea Ele também tem uma resposta para tudo. A mesma, em todas as ocasiões. E não se conhece ninguém que tenha resistido a ela. Políticos, artistas, socialites, modernetes, publicitários, colunistas de jornal e mauricinhos, todos eles tentaram, todos eles falharam. A resposta vinha de um buraco de esgoto: CUSP. Uma das criações máximas de Angeli, Bob Cuspe foi a grande resposta do cartunista aos excessos dos anos 1980, à hipocrisia reinante da elite cultural e financeira, à vida espalhafatosa e deslumbrada dos yuppies que vicejaram no Brasil após o fim da ditadura. Seu brinco era um grampo, suas roupas não passavam de trapos, a porta de sua casa era um bueiro e suas bandas eram os Ramones, os Ratos de Porão, os Sex Pistols e o The Clash. Seus inimigos estavam por toda parte. Agora, em Todo Bob Cuspe, lançamento da Companhia das Letras, o leitor conhecerá mais deste que serviu para encapsular a frustração, a raiva, os anseios e a revolta dos desfavorecidos na era da redemocratização. Mas não adianta procurar em Bob militância e proselitismo. A resposta de Angeli está à altura da pergunta: ácida, cruel, sem concessões. pág. 31 Fotografia Fotografia Fotografia Gracinhas submersas Depois de cachorros, fotógrafo clica bebês no fundo das piscinas Seth Casteel provocou alvoroço na internet e nas livrarias do mundo inteiro ao apresentar suas fotos divertidas e inusitadas de cães adultos e filhotes mergulhando na água para abocanhar bolinhas e outros brinquedos. Agora, ele se supera novamente: desta vez, quem toma conta das piscinas são os bebês. Em Bebês submarinos (Intrínseca), o fotógrafo que arrebatou o Instagram clica mais de sessenta crianças em seus primeiros meses de vida, o período mágico em que tudo é uma grande novidade. E, para realizar esse projeto, conta com a participação de escolinhas de natação infantil dedicadas a ajudar os pequenos a se tornarem mais confiantes ao descobrir o mundo. Bochechas rechonchudas, dobrinhas apaixonantes e expressões da mais pura e inocente alegria. pág. 32 pág. 33 pág. 34 Artigo Artigo Artigo pág. 35 Cientistas malucos e guerras espaciais Podemos dizer que a ficção científica teve início na Europa, por volta do século 19. As primeiras obras consideradas marcos são os romances científicos da autora britânica Mary Shelley, conhecida como a mãe da ficção científica. The Last Man e Frankenstein, ambos escritos por Shelley, representam a Era Clássica – importante etapa que serviu de base para a construção da ficção científica como gênero. Esses romances possuem características bem próximas às grandes aventuras e flertam com a literatura de horror, por isso a figura do “cientista maluco”, como em O Médico e o Monstro e Frankenstein, é comum. A crítica social também está presente e aborda as mazelas da sociedade de forma crítica e sarcástica. Ainda nessa primeira fase, é fundamental citar a importância de dois escritores: Júlio Verne – com suas obras sobre viagens à Lua e ao centro da Terra – e H.G. Wells – com o clássico A Guerra dos Mundos, no qual seres intergalácticos invadem o planeta e tentam eliminar a humanidade. O FUTURO FAZENDO HISTÓRIA çamento da revista Amazing Stories, em 1926 nos Estados Unidos: a primeira a se especializar em publicar contos do gênero. O principal expoente dos pulps foi o autor, inventor e editor desta publicação: Hugo Gernsback. Seu nome foi tão importante para a área que cerca de vinte anos depois do primeiro exemplar de Amazing Stories nasceu o prêmio Hugo, que prestigiava os melhores romances da categoria. As obras do Pulp, em sua maioria, têm como objetivo o entretenimento, optando por um estilo que torna a leitura rápida e fluida. Muitos dos estereótipos da ficção científica – robôs, monstros, alienígenas assassinos, viagens no tempo e no espaço sideral – foram criados nessa época. O jeito despretensioso e ingênuo dos contos estigmatizou a ficção científica por muito tempo. Foi, inclusive, nessa época que a ficção científica passou a ser conhecida pelo nome que utiliza atualmente. Uma curiosidade: o diretor Steven Spielberg, grande fã da revista, produziu nos anos 1980 uma série homônima à publicação que fez grande sucesso. Robôs, ET’s e viagens para o espaço A ciência como protagonista A segunda fase – e uma das mais notáveis da produção de literatura de ficção científica – é conhecida como Pulp ou Era Gernsback. Ela foi impulsionada pelo lan- Os anos 1940 foram repletos de descobertas científicas, como tratamentos para tuberculose, a utilização de micro-ondas e a criação de computadores, dando Do pulp ao cyberpunk: uma linha do tempo da ficção científica mundial Por LUCAS ALVES Como definir a ficção científica? Descrever esse gênero literário não é tarefa fácil, ainda mais quando temos obras tão diferenciadas e o futuro como premissa. De forma geral, nas obras de ficção científica, o incrível é explicado pela ciência, seja ela existente ou imaginária; na fantasia, o fantástico é explicado pela magia ou pelo sobrenatural. A ciência descrita na obra pode ser bem concreta – como uma mutação genética ou uma catástrofe nuclear – ou completamente abstrata – como a viagem no tempo –, mas ela sempre estará presente, exercendo um importante papel na obra. Atualmente, muitas vezes adaptada para o cinema, séries e games, a ficção científica invadiu as casas de quem antes ficava preso a conceitos primários sobre o tema. “Não é bom, é só robozinho, navezinha e ETs” é uma das frases que você já deve ter ouvido por aí quando alguém vai discorrer sobre uma produção do gênero. Romances e contos bem desenvolvidos criados por autores com estilo próprio mostram que tais preconceitos não passam de visões ultrapassadas. A ficção científica, finalmente, conquistou o seu tão merecido lugar de honra. Neste artigo, traçaremos uma breve linha do tempo com as principais fases do gênero. Dessa forma, o leitor poderá conhecer as obras mais relevantes e nuanças de um dos gêneros mais lidos em todo o mundo e que está conquistando cada vez mais o público brasileiro. Criador e criatura: a autora britânica Mary Shelley, a mãe de Frankenstein pág. 36 Artigo Artigo Artigo Artigo Artigo Artigo Na Era de Ouro, os autores buscavam infinitamente a explicação científica para seus fatos, tornando, muitas vezes, a ciência protagonista da história. Nos anos 1960, a New Wave, bastante influenciada pelos Beats, movimento sócio-cultural dos anos 1950-1960, aparece com uma literatura mais experimental e próxima das ciências humanas. Enquanto em Asimov e Clarke a ciência era o herói, atualmente existe uma tendência a torná-la a condutora do apocalipse – o que não desvaloriza a qualidade da obra, apenas reflete o momento histórico em que vivemos. Compreender a importância da ficção científica é entender que o gênero traz mais do que livros com a temática do futuro. Para a ficção científica, a vida imita a arte. Suas criações serviram de fonte de inspiração para empreitadas no mundo real; bons exemplos disso são os tablets – fielmente descritos como são hoje no livro e no filme 2001: Uma Odisseia no Espaço, ambos lançados em meados dos 1960 –, nomenclaturas que surgiram nessas obras – como é o caso de “ciberespaço”, palavra conhecida posteriormente como sinônimo de internet – e até a plataforma virtual Second Life – inspirada no livro Snow Crash. Os ícones do período são Philip K. Dick, autor de diversos romances e contos, como Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?; Ursula K. Le Guin, com a obra A Mão Esquerda da Escuridão; e Ray Bradbury, com Fahrenheit 451. O bioquímico Isaac Asimov, ícone da Era de Ouro da literatura de ficção científica início à considerada Era de Ouro da ficção científica. Os expoentes dessa era pertenciam ao meio acadêmico e científico, como a tríade mais famosa da época: Isaac Asimov, o bioquímico russo, naturalizado norte-americano, autor dos clássicos Eu, Robô e da Trilogia da Fundação; Arthur C. Clarke, o idealizador do satélite geoestacionário e autor de 2001: Uma Odisseia no Espaço e Encontro com Rama; e Robert Heinlein, ex-militar norte-americano bastante influenciado pela Segunda Guerra Mundial, autor dos clássicos Tropas Estelares e Um Estranho em uma Terra Estranha. As tramas desenvolvidas por esses três escritores são mais profundas, complexas e realistas que as obras Pulps. Em sua maioria, são consideradas hard sci-fi, ou ficção científica hard, por serem sempre pautadas na ciência conhecida da época em que foram escritas. Devido à capacidade de abertura, essa é a geração mais adaptada para outras mídias, sendo Dick considerado o autor de ficção científica mais adaptado por Hollywood. As obras dele foram inspiração para grandes sucessos do cinema, como Blade Runner, Agentes do Destino, O Vingador do Futuro, Minority Report, entre muitos outros. A trilogia Matrix foi inspirada por Neuromancer, livro de William Gibson Cultura pop, internet e ação Os movimentos de contracultura que aconteceram entre os anos 1960-1980, como o hippie e o punk, influenciaram muito a literatura da época e o reflexo disso na ficção científica pode ser visto na produção de obras do estilo Cyberpunk. O subgênero apresenta um novo olhar sobre a sociedade, levando o leitor a um cenário urbano, cibernético, anarcocapitalista e caótico. Conceitos da cultura pop foram assimilados e apresentados em um ambiente propício à sua difusão, porém extremamente agressivo. Seu maior expoente é William Gibson, autor de Neuromancer, que inspirou a trilogia Matrix e influencia até hoje a produção de ficção científica. Essas obras tornaram-se mais comerciais, conquistaram o mercado literário e são as mais conhecidas e lidas até hoje. Evoluindo a partir da obra de Gibson, Neal Stephenson escreveu Snow Crash, obra situada no metaverso, um ambiente virtual no qual qualquer pessoa com acesso a computadores poderia criar um avatar e ser o que desejasse. Esse conceito influenciou fortemente a produção de games como os MMORPGs, The Sims e Second Life. Um novo olhar sobre a sociedade O fim está próximo Como todo gênero literário, a ficção científica também evolui a partir das respostas de uma nova geração sobre as anteriores. O reflexo da sociedade pós-moderna, a internet e o consumo de cultura pop levaram a uma nova onda de distopias na produção contemporânea. Entre diversas pág. 37 influências, as questões sociais, econômicas e ambientais (que afetam a sociedade de diferentes formas) também são encontradas nas obras. Novos autores tratam de temáticas que atingem um novo público, como o feminismo, a sustentabilidade, o futuro anarcocapitalista ou militarista. Antigos conceitos são revisitados, trazidos à luz da contemporaneidade e atualizados para a nova visão do futuro. Isso só para citar alguns. São vários os exemplos em que a vida inspirou-se em obras de ficção científica e, aos poucos, o gênero prova que, para o bem ou para o mal, o futuro já chegou. Lucas Alves é jornalista e produtor de conteúdo na editora Aleph. Seu primeiro contato com a ficção científica foi quando trabalhava no depósito de reciclagem da família. Um dia subiu em uma caçamba de papel e encontrou um exemplar do clássico 2001: uma odisseia no espaço. E nunca mais parou de viajar. Enquanto as outras eras possuíam características mais distintas, a produção atual leva aos leitores uma mistura de todos os movimentos em um modelo antropofágico de evolução. É bastante comum ver obras híbridas, mesclando conceitos do cyberpunk associados à ficção científica hard e, até mesmo, a volta do horror associado ao fim da sociedade como conhecemos; esses conceitos estão presentes em livros como Sombra do Paraíso, de Michael Cassutt e David S. Goyer, uma obra que se aproxima muito dos romances da Era de Ouro, e no filme Interestelar, de Christopher Nolan. Na Era de Ouro, a ciência conduzia a sociedade à harmonia; a tecnologia levava os leitores a um universo incrível, quase mágico. As obras contemporâneas, no entanto, situam-se próximas ao fim da humanidade, ou mesmo durante sua decadência, sendo aqui a grande vilã a tecnologia ou o uso abusivo dela. Phillip K. Dick, o autor de ficção científica mais adaptado por Hollywood pág. 39 Ficções Ficções livrescas livrescas Ficções livrescas da de Cabul a Meca. – Então o meu amigo tinha razão ao me condenar! – Por Alá! Não! Não se trata de condenação. Sei que você bateu na sua mulher com a melhor das intenções. O que você tem que fazer de agora em diante é seguir o caminho da retidão e aposentar o seu taco de críquete. – Na verdade, ele não é meu. Eu tomei o taco de um apóstata que ousou se casar com um demônio hindu de vestido colorido. O leitor se aproximou de Ali e cochichou: – O desgraçado está agora ardendo no inferno. – Bem, mais um motivo para deixar esse taco de lado. Confie em suas mãos calejadas e, se preciso, em uma vara. Elas bastam para esse nobre propósito. O paraíso de Borges e o genérico Por FERNANDO MOREIRA A fila na livraria do Centro de Srinagar serpenteava corredores entre pilhas de livros e avançava por dezenas de metros na calçada suja onde ambulantes barulhentos disputavam a venda de pão e chá. Apesar do frio, a resistência da multidão era inabalável. Ao fundo da loja de livros, Ali Shafia dava o seu milésimo autógrafo naquele fim de tarde cinzento, de acordo com a contagem do seu assessor. – Senhor Ali, é uma bênção tê-lo aqui conosco na Caxemira. Que Alá o ilumine todos os dias, todos os dias! – disse o leitor, com um sorriso largo e dentes encavalados. – Alá seja louvado! – replicou o escritor, tentando disfarçar o cansaço. – Qual é o seu nome? – Senhor Ali, um amigo meu que mora no Canadá e já leu o seu livro me deixou um pouco perturbado. E bastante ansioso, confesso. Espero que a edição para a Caxemira possa estar diferente. – Diferente?! – Sim, eu espero poder telefonar para ele e dizer que aqui na Caxemira podemos bater em nossas mulheres com taco de críquete. Ou não podemos? Com uma expressão apaziguadora, o escritor concluiu o autógrafo e comentou: – Belo nome. Mil vezes belo. – Meu caro, taco de críquete não é a ferramenta adequada para educarmos as nossas mulheres de acordo com os preciosos fundamentos do Islã. No meu livro deixo isso bem claro. Há um capítulo dedicado à aplicação da força no matrimônio. Nele, eu explico que o fiel deve usar apenas a mão ou uma vara. Quando Ali começava a rabiscar o autógrafo, foi interrompido pelo impaciente leitor. Halim se irritou, mas conteve a fúria, afinal estava diante de uma autoridade religiosa e literária respeita- – Halim. Resignado, Halim agradeceu o conselho, pegou o seu livro devidamente autografado e, quando dava as costas, sentiu o peso da mão de Ali no seu ombro direito. Virou-se imediatamente. No seu íntimo, acreditava que pudesse receber uma concessão de última hora para que continuasse surrando a esposa com o taco do esporte bretão criado em 1566. Ali o desapontou, novamente: – Não exagere na violência. Provoque a dor exata a que a sua mulher deve ser submetida. Qualquer sofrimento a mais deve ser condenado. Está escrito aqui. O meu livro é um livro de amor. O amor que Maomé, sob a inspiração do arcanjo Gabriel, tão bem sublinhou no Corão. O marido deve tratar a esposa com bondade e amor, mesmo que às vezes ela tenda a ser estúpida e lenta para compreender as coisas mais óbvias. Neste caso, puxar pelas orelhas é até aceitável. *** Halim pegou um ônibus velho num quarteirão próximo ao da livraria. No trajeto até sua residência, na periferia de Srinagar, folheou a obra de Ali. Ao ler um trecho em que o escritor ressalta que a esposa não pode sair de casa sem a permissão do marido, lembrou-se de uma das surras aplicadas com o taco. Naquela oportunidade, Amani havia saído com o filho pequeno para comprar legumes em uma feira. Halim, que estava trabalhando na sapataria herdada do pai, recebeu um telefonema anônimo, denunciando a ousadia pecaminosa de Amani. Fechou bruscamente a loja no meio da tarde e não tardou em chegar em casa. A mulher estava na cozinha preparando uma sopa para o marido. Ali mesmo, ela foi golpeada violentamente pelas costas. O bastão de críquete zuniu na lombar de Amani, que caiu no chão em dores lancinantes. A esposa foi deixada em uma cama, sem comida e água, por três dias. Até que um médico foi chamado à residência. – Ela mereceu. Uma bofetada teria bastado? Duvido... – balbuciou Halim, ao se levantar para descer no seu ponto, localizado em uma área em que grupos extremistas floresciam mesmo no inverno rigoroso. Amani costurava uma colcha quando o marido entrou no quarto do casal. Halim beijou a testa do filho, que brincava com um carrinho de plástico no chão e, sem cumprimentar a esposa, abriu o armário de três portas. Retirou umas caixas de sapato e algumas roupas e, enfim, teve acesso ao que procurava. O taco de críquete repousava no fundo do compartimento de madeira envelhecida. Com os olhos marejados, Halim pegou a chibata condenada por Ali e saiu do aposento sem dizer nada. Pouco mais de meia hora depois, Amani serviu o jantar ao marido, sentado à cabeceira da mesa. Ao lado do prato, Halim fez repousar o taco de críquete bem lustrado. Tinha mais saudade do que fome. Não se conformava com o fato de abrir mão do porrete moral. Relutava. Debatia-se contra a tentação de voltar a abrigá-lo no fundo do armário e recorrer a ele em situações extremas. Ao mesmo tempo, sentia-se envergonhado. Vergonha pelo amigo no Canadá, vergonha pelo escritor. Em um gesto sofrido, Halim ergueu o taco e o entregou à esposa, postada atrás dele. Amani não teve dúvida: golpeou o marido na cabeça e voltou ao quarto. Ainda não havia acabado de costurar a colcha. Caída sem vida no prato, a cabeça de Halim ensopava a louça com um vermelho aterrorizante. Fernando Moreira é autor do livro “Baseado em fatos reais” (Editora Agir), inspirado em histórias do blog “Page not found”, do jornal O Globo. O blog foi criado por ele em 2006 e é conhecido por noticiar histórias inusitadas, curiosas, polêmicas e bizarras. Papo Papo de escritor de escritor Papo de escritor pág. 40 pág. 41 volvimento humano, essa garotada avançará até onde precisamos que avancem. Os jovens que chegaram ou que chegarão ao meio empresarial neste século trazem consigo um modo novo de enxergar o mundo, sendo educados e preparados com o uso de diferenciada parafernália tecnológica e, possivelmente, por isso, capazes de encontrar soluções novas para as mais variadas necessidades. Se são portadores de propostas que levarão a inéditos processos produtivos, serão hábeis o suficiente para desenvolver inovadores e sustentáveis modelos de produção? Terão a sensibilidade para estabelecer outras formas, bem menos poluidoras e extrativistas, de promover o bem-estar da humanidade nesta única moradia que ainda se tem para viver? Essa é a grande aposta que eu faço e a ideia que defendo nas páginas do Jovens Digitais, somando-se à corrente que prega profundas transformações no centenário jeito de produzir, comprovadamente poluidor e responsável direto pelas dramáticas mudanças climáticas e ambientais que vivenciamos. O maior desafio dos jovens digitais Por RUY LEAL Sinceramente, acredito que os jovens são o único capital que a humanidade tem para o futuro. Jovens representam, por sua natureza e definição, a continuidade das coisas, a evolução e a existência neste planeta. Qualquer horizonte só pode ser alcançado se houver outro horizonte à frente e, nesta metáfora, o jovem é o próprio instrumento de construção do futuro e da permanência humana neste pequeno planeta Terra. Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Na relação entre jovens e gestores de empresas neste século, quem deve se adequar a quem? Tanto na primeira situação como na segunda há quem valorize muito a busca da resposta, como há quem não valorize isso. No meu ponto de vista, o que importa é que um precisa do outro, só fazendo sentido se um contar com o outro. Em meu livro Jovens Digitais, abordo os onze combates que o jovem do século XXI precisará enfrentar em sua inadiável caminhada ao mundo produtivo, destacando as questões relevantes dessa empreitada profissional e considerando o que é valor para o contratante e o que é valor para o contratado. A ideia é transgredir e transpassar a maneira recorrente utilizada na abordagem da relação dos jovens deste século com as empresas. Assumir a necessidade que um tem do outro, insistindo que o campo de atuação de ambos não se dará somente dentro das fronteiras da empresa, mas, obrigatoriamente, olhando os impactos do que for realizado diante das necessidades deste planeta, que grita por urgentes mudanças nos sistemas produtivos vigentes. Também é preciso analisar o mundo que deixamos aos jovens. A situação do nosso planeta é dramática: o aquecimento global é somente a ponta do iceberg. Há incontáveis ambientes bastante deteriorados que apresentam enorme perigo à existência humana, cujos estoques estão se exaurindo. No contraponto, aos nossos jovens, estamos deixando vigorosos instrumentos como o desenvolvimento tecnológico forte e disponível, num patamar suficientemente poderoso para se alcançar metas impossíveis. E a biotecnologia, com força suficiente para ressemear a vida no planeta. Se conseguirmos passar valores suficientes para alcançarem o necessário desen- Você, leitor, poderá verificar ainda no livro a apresentação das melhores práticas existentes no mercado de trabalho para a introdução e desenvolvimento de jovens em programas bastante utilizados para a formação de novas equipes nas empresas. São dedicados sete dos onze combates para uma conversa sobre os programas de estágio, aprendiz e trainee. Minha proposição, por diversas vezes reiterada, é a de que os jovens representam a única estrada para a formação de futuras lideranças e, por conseguinte, a sempre almejada revitalização dos negócios. Há dezenas de anos, notadamente nos últimos sete ou oito, observo que tem havido acentuada preocupação, quase obsessão, de escolados gestores em descobrir a fórmula mágica que possa encantar os talentosos jovens deste século a abraçar profissionalmente suas organizações. E os jovens, de seu lado, procuram organizações dos sonhos, que possam ser o oásis nesse monumental emaranhado de realidade empresarial, disponibilizando, a um só tempo, rápida ascensão profissional e proporcionando consistente qualidade de vida aos seus colaboradores. Se não existe fórmula mágica de encantamento, como também não há empresa dos sonhos, de que modo se promoverá o casamento ideal de empresas reais com os talentosos jovens, que não estão prontos, mas que enxergam o mundo por um prisma único e só seu? “ De que modo se promoverá o casamento ideal de empresas reais com os talentosos jovens, que não estão prontos, mas que enxergam o mundo por um prisma único e só seu? ” Como no casamento, em que um lado não pode subjugar o outro, indico, no décimo primeiro combate de meu trabalho, o amálgama – propondo aos dois lados, empresas e jovens, a fusão das gerações, com o entendimento de que, qualquer que seja o caminho a trilhar, que ele possa nos levar a soluções que transcendam os muros empresariais e nos leve ao futuro sustentável. Tenho a sensação e a expectativa de que você, leitor, viaje bem por essas páginas, rumando ao seu melhor amanhã. Que assim seja! Ruy Leal atua há mais de 30 anos no trabalho de capacitação de jovens para o ingresso no mercado de trabalho e na orientação de profissionais de Recursos Humanos e educadores sobre programas de estágios, coaching e mentoring. Atualmente é superintendente geral do Instituto Via de Acesso. Seu mais recente livro é Jovens digitais, lançamento da Integrare Editora. pág. 42 Arte Arte Arte Um gênio... ...por outro gênio O pintor Caravaggio tem sua história contada em quadrinhos no traço do desenhista Milo Manara Milo Manara, o ícone máximo dos quadrinhos eróticos, retorna às livrarias com aquela que talvez seja a obra mais ambiciosa de toda sua carreira: uma biografia em quadrinhos de ninguém menos que Michelangelo Merisi de Caravaggio, o enigmático e escandaloso pintor italiano. Manara nos revela em Caravaggio - A morte da virgem, aclamado por sua arte mas atormentado por seus demônios interiores, dividindo seu tempo entre a vida nos palácios do Vaticano, bebedeiras em bordéis e temporadas na prisão. Usava prostitutas como mode- los para suas pinturas sacras – ponto em que Manara aproveita para criar, como é sua especialidade, mulheres lindas e sensuais. O livro foi lançado simultaneamente na Europa, nos Estados Unidos, no Japão e no Brasil, pela Veneta. Nas entrevistas de lançamento, quando jornalistas compararam seus talentos ao do pintor, Manara foi modesto. “Sei que entre mim e Caravaggio há uma distância sideral. Apenas quis narrar sua história como um admirador devoto. Sua presença me pareceu compreensiva, jamais ameaçadora.” pág. 43 pág. 44 Música Música Música Lacuna preenchida Livro desvenda vida de John Lennon em Nova York Obsessivamente investigada ao longo dos anos, a história dos Beatles e de seus integrantes tem poucos buracos para serem preenchidos. No tocante a John Lennon, um de seus períodos menos conhecidos foi final e devidamente esclarecido com o livro John Lennon em Nova York – Os anos de revolução (Valentina). O ativismo político, a evolução musical, a relação com a esposa Yoko Ono e com os antigos companheiros de banda foram alguns dos temas abordados pelo autor, o jornalista norte-americano James A. Mitchell. A obra, ilustrada por uma série de algumas fotos históricas – algumas aqui reproduzidas – revela os processos de criação dos discos solo de Lennon, as perseguições do FBI e do presidente Nixon para deportá-lo pela oposição à Guerra do Vietnã, e como Lennon e Yoko se integraram ao cotidiano da cidade. pág. 45 TOP 100 EDITORAS DISTRIBUÍDAS TOP 20 LIVROS MAIS VENDIDOS pág. 46 Nesta página, listamos, por ordem alfabética, as 100 editoras que registraram, nos meses de maio e junho de 2015, o maior volume de vendas e negócios com a Superpedido. Agradecemos a parceria de todos. ALAUDE ALEPH ARQUEIRO ARTMED ATHENEU ATICA AUTENTICA BAKER & TAYLOR BELALETRA BELAS LETRAS BICHO ESPERTO BLACKBOOK BLU EDITORA BRINQUE BOOK CASA DOS LIVROS CASA LYGIA BOJUNGA CENGAGE LEARNING COMPANHIA DAS LETRAS CONTEXTO CORTEZ EDITORA DARKSIDE DCL DISCOVERY DSOP EDGARD BLUCHER EDIOURO EDIPRO EDITORA FTD ELSEVIER FEB FUNDAMENTO GEN GENTE GERACAO EDITORIAL GIRASSOL GLOBAL GLOBO GMT SEXTANTE GRYPHUS HAGNOS HQM INTRINSECA IRMAOS VITALE ITATIAIA J.C TEXTOS JOHN WILEY & SONS JORGE ZAHAR L&PM LAFONTE LASELVA VIAGENS LEYA MADRAS MANDACARU MANOLE MARTIN CLARET MARTINS MASTER BOOKS MATRIX MEDIACAO MELHORAMENTOS MODERNA MUNDO CRISTAO NACIONAL NOBEL NOSSA CULTURA NOVA FRONTEIRA NOVO CONCEITO NOVO SECULO OBJETIVA ORIGINAL OXFORD UNIVERSITY PANDORGA PANINI PAPALEGUAS PAPALEGUAS PAPIRUS PARABOLA PEARSON EDUCATION PENSAMENTO PETIT PLANETA DO BRASIL POSITIVO PUBLIFOLHA RECORD ROCCO SAIDA DE EMERGENCIA SARAIVA SCIPIONE SENAC EDITORA SPRINGER VERLAG SUMMUS THIAGO MOURA THOMAS NELSON TODOLIVRO UNIVERSO DOS LIVROS VALE DAS LETRAS VERGARA & RIBA VIDA E CONSCIENCIA VOZES WMF Confira na lista a seguir os livros mais vendidos na Superpedido nos meses de maio e junho de 2015. Para não perder oportunidades, mantenha o estoque de sua livraria sempre abastecido com estas obras. 1 2 JARDIM SECRETO ISBN: 9788543101637 R$ 29,90 3 FLORESTA ENCANTADA ISBN: 9788543101958 R$ 29,90 6 11 LIVRO DE COLORIR MANDALAS ISBN: 9788584170708 R$ 29,90 DIÁRIO DE UM BANANA VOL. 9 ISBN: 9788576838234 R$ 36,90 LIVRO DE COLORIR ANIMAIS SILVESTRES ISBN: 9788584170760 R$ 24,90 12 HERDEIRA, A VOL. 4 ISBN: 9788565765657 R$ 29,90 LIVRO DE COLORIR NATUREZA E PAISAGENS ISBN: 9788584170791 R$ 24,90 LIVRO DE COLORIR TATUAGENS ISBN: 9788584170753 R$ 29,90 14 18 SURUBA PARA COLORIR VOL. 2 ISBN: 9788568477069 R$ 30,00 15 UM JARDIM DE CORES ISBN: 9788582350102 R$ 29,90 19 PEQUENO PRINCIPE, O 48 ED. ISBN: 9788522005239 R$ 19,90 PHILIA ISBN: 9788525060044 R$ 19,90 10 SURUBA PARA COLORIR VOL. 1 ISBN: 9788568477052 R$ 30,00 BORBOLETAS ENCANTADAS ISBN: 9788599644362 R$ 24,90 MUNDO DAS CORUJAS, O ISBN: 9788599644355 R$ 24,90 DIARIO DE UM BANANA VOL. 1 ISBN: 9788576831303 R$ 36,90 5 9 13 17 ANSIEDADE COMO ENFRETAR O MAL DO SECULO ISBN: 9788502218482 R$ 14,90 4 8 7 16 Para conhecer a lista completa de editoras distribuídas, ligue para a central de vendas ou acesse o portal. pág. 47 FLORESTA MAGICA ISBN: 9788577486892 R$ 29,90 20 LIVRO DE COLORIR ANTIESTRESSE PAISAGENS, CIDADES E FLORES ISBN: 9788584170678 R$ 24,90 AMANHA A DEUS PERTENCE, O ISBN: 8577220087 R$ 32,50 Anúncio Revista Vitrolla - NC.pdf 1 21/07/2015 18:26:35