Software livre e interoperabilidade na área de SIG: ficção ou

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Software livre e interoperabilidade na área de SIG: ficção ou
Software livre e interoperabilidade na área de SIG:
ficção ou realidade?
Claudia de Andrade Tambascia, Lin Tzy Li*, Marta Duarte Teixeira, Rafael de Melo
Cuba, Sandro Danilo Gatti
Este artigo apresenta os principais projetos de software livre na área de Sistemas de Informações
Geográficas (SIG), abordando banco de dados espaciais, bibliotecas, soluções de software básico de infraestruturas e aplicativos de visualização de mapas. O artigo tem como foco a contribuição de conceitos de
interoperabilidade e de iniciativas internacionais na definição de padrões abertos para o crescimento de
software livre na área de SIG. Com a experiência do CPqD no desenvolvimento de soluções corporativas e de
missão crítica baseadas em manipulação de informações georreferenciadas na área de telecomunicações, foi
possível alavancar pesquisas em software livre e padrões abertos para sistemas de informações geográficas.
Os impactos dessa atuação forneceram ferramental para atuar em projetos de contexto diferenciado do
quadro corporativo, como prefeituras, empresas de diversos portes e também em políticas públicas de
telecomunicações junto ao Ministério das Comunicações através do projeto SIGPPT.
Palavras-chave: Interoperabilidade. OGC. Padrões abertos. Componentes. SIG.
1
Introdução
O software livre (SL) (FSF, 1994) (DAHER, 2004b)
tem revolucionado o mercado de software, principalmente pela oferta de uma gama de produtos
que vão de simples editores de texto a robustos
servidores de aplicação.
A definição de padrões abertos para Sistemas de
Informações Geográficas (SIG), principalmente
pelo Open Geospatial Consortium (OGC) (OGC,
2005c), tem possibilitado não apenas a interoperabilidade entre sistemas, mas também o uso
de arquiteturas SIG baseadas em componentes.
É justamente essa arquitetura que torna a combinação SL e padrões abertos muito interessante
para toda a comunidade SIG, pois impulsiona o
trabalho tanto da comunidade de SL, uma vez
que os padrões viabilizam o desenvolvimento de
componentes livres, como do OGC, que busca a
comprovação prática de suas especificações.
Os resultados de pesquisa do projeto de P&D
SIGPPT1 (CPqD, 2006) apresentados neste artigo
mostram a viabilidade do desenvolvimento de
aplicações SIG com soluções de SL e padrões
abertos para a obtenção de interoperabilidade e
*
1
flexibilidade na composição de uma solução SIG
baseada em componentes, totalmente baseada
em SL ou como parte de uma solução baseada
em software proprietário.
A seguir, serão apresentadas a tecnologia envolvida no desenvolvimento de software livre e
soluções interoperáveis e a viabilização de uma
solução SIG utilizando componentes livres e
padrões abertos internacionais. Também serão
mostrados alguns componentes e bibliotecas
existentes de SL para SIG e casos de sucesso
aplicando conceitos e propostas discutidos neste
artigo.
2
J2EE e arquitetura em componentes no
desenvolvimento de software
Uma arquitetura de software estruturada é essencial para o sucesso de uma aplicação. Para minimizar impactos e atender às pressões do negócio
e da tecnologia, são necessários requisitos como
flexibilidade, adaptabilidade, manutenibilidade,
reusabilidade, aproveitamento do legado, interoperabilidade, escalabilidade, robustez, menor
tempo de desenvolvimento e baixo risco. Uma
Autor a quem a correspondência deve ser dirigida: [email protected].
Sistemas de Informações Geográficas para Política Pública de Telecomunicações – SIGPPT.
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arquitetura multicamada e modularizada em componentes facilita o desenvolvimento e a evolução
do software.
A tecnologia J2EE (OLIVEROS, 2004) e seu
modelo baseado em componentes facilitam o
desenvolvimento e a evolução de soluções de
software. A tecnologia provê liberdade de escolha
de plataforma de execução e conectividade, além
de padronização da arquitetura através do uso de
HTTP e XML.
3
Solução SIG utilizando componentes
livres e padrões abertos
Conceitualmente, arquiteturas SIG são formadas por
componentes como sistema de armazenamento de
dados espaciais, servidores de mapas e dados e
aplicações cliente para visualização e manipulação
de dados. As arquiteturas SIG existentes, tanto comerciais (MapGuide, ArcGIS, MapInfo, Geomedia)
como livres (TEIXEIRA et al., 2004), diferem em relação à representação de estilo, formato dos mapas,
representação das geometrias, armazenamento de
dados espaciais, formato de imagens, etc. Considerando-se ainda as linguagens de programação,
plataformas e interfaces de comunicação, é possível compreender por que o conceito de reuso de
componentes no contexto SIG parece, a princípio,
inviável. Porém, graças à definição de um padrão
internacional aberto e ao suporte da comunidade
SIG, isso se tornou possível no desenvolvimento
das soluções da área.
A definição de padrões abertos para SIG, principalmente pelo OGC (OGC, 2005c), tem possibilitado não apenas a interoperabilidade entre
sistemas, no sentido de comunicação e troca de
dados, mas também a definição de arquiteturas
baseadas em componentes e distribuídas, conforme Figura 1, em que cada padrão OGC é uma
“linguagem” utilizada para a comunicação.
3.1
Padrões OpenGIS
Os principais padrões (Figura 1) definidos pelo
OGC (OGC, 2005c) que vêm impulsionando o
desenvolvimento de componentes de software
livre para a área de SIG também têm sido adotados por empresas como Oracle, IBM, Autodesk,
ESRI e MapInfo no desenvolvimento de produtos,
o que torna real a interoperabilidade e a flexibilidade na combinação de diferentes componentes
de software. A seguir, os principais padrões OGC
são descritos.
3.1.1 Simple Features (SFS)
O objetivo da especificação Simple Features
for SQL (SFS) (OGC, 1999) (DAHER, 2004a) é
definir um esquema no padrão SQL que suporte
o armazenamento, a recuperação, a consulta e
a atualização de coleções de objetos espaciais
através de uma API ODBC.
3.1.2 Geography Markup Language (GML)
A GML (OGC, 2004b) é uma codificação XML
para transporte e armazenamento de informações
geográficas, incluindo tanto as propriedades
espaciais como as não-espaciais de objetos
(features).
Figura 1 Soluções SIG e visão geral do uso de padrões OGC [17]
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3.1.3 Filter Encoding (Filter)
A especificação OGC Filter Encoding (OGC,
2005a) define um vocabulário XML para a construção de filtros. Um filtro é uma estrutura utilizada
para descrever restrições formadas por propriedades alfanuméricas e espaciais dos objetos, com
o propósito de identificar um subconjunto de um
determinado tipo de objeto (feature type).
3.1.4 Styled Layer Descriptor (SLD)
A especificação Styled Layer Descriptor (SLD)
(OGC, 2002a) (OLIVEIRA, 2005) define um esquema XML para a representação de estilos e
layers, bem como de interfaces necessárias para
a utilização desses elementos em um servidor de
mapas (WMS).
quais camadas podem ser mostradas e quais
podem ter seus objetos consultados.
Um servidor WMS pode empregar um SLD para
aplicar um estilo fornecido pelo cliente para a geração de um mapa. Um cliente WMS é qualquer
aplicação que se comunica com um ou mais
servidores de WMS. O cliente WMS deve organizar as camadas retornadas pelas requisições ao
servidor, compondo o mapa, conforme Figura 2.
É possível agrupar servidores WMS em cascata
(WMS Cascading), disponibilizando o acesso a
vários outros WMS em um único servidor (Figura
3). Isso simplifica as alterações na configuração
dos servidores e, em alguns casos, contorna
deficiências de outros WMS que não podem,
por exemplo, publicar dados em determinada
projeção ou determinado formato.
3.1.7 Web Map Context (WMC)
3.1.5 Web Feature Services (WFS)
A especificação Web Feature Services (OGC,
2002b) (MANDOLESI, 2004) define interfaces para
que dados de um servidor de objetos espaciais
(features) possam ser acessados via HTTP. Documentos GML são utilizados para representação de
metainformações e dados. O padrão OGC Filter
Encoding é utilizado para definição de consultas.
Um servidor WFS pode oferecer suporte a transações (insert, update, delete). Um cliente WFS é
qualquer aplicativo que se comunica com um
ou mais servidores WFS utilizando as interfaces
definidas nesse padrão.
3.2
Produtos, componentes e bibliotecas
de software livre para SIG
3.1.6 Web Map Services (WMS)
3.2.1 Sistemas Gerenciadores de Banco de
Dados
A especificação Web Map Services (OGC, 2004a)
(MANDOLESI, 2004) padroniza as interfaces
utilizadas por clientes para requisitar mapas e
metadados aos servidores e sua resposta. Há
interfaces para a requisição de mapas, consulta
a objetos apresentados no mapa, descrição de
Os Sistemas Gerenciadores de Banco de Dados
(SGBD) livres com suporte espacial mais relevantes são o MySQL e o PostgreSQL.
O MySQL (MySQL AB, 2005), (DAHER, 2004c)
tem uma arquitetura simples e leve, focada no
desempenho. Conta com suporte nativo a trata-
Figura 2 Cliente WMS
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A especificação OGC Web Map Context (WMC)
(OGC, 2005b) define um documento XML que descreve um conjunto de mapas, o qual deverá ser
exibido ao cliente, proveniente de um ou mais servidores WMS. O WMC inclui informações como,
por exemplo, camadas que compõem o mapa
e servidores que as provêem, área geográfica
apresentada, sistema de coordenadas e tamanho
do mapa.
Figura 3 Cascade WMS
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mento de dados espaciais a partir da versão 4.1,
mas ainda não permite criar tabelas espaciais que
suportem transação. O MySQL implementa o suporte a dados espaciais seguindo um subconjunto
da especificação OGC SFS (OGC, 1999).
O PostgreSQL (POSTGRESQL, 2005) (DAHER,
2004c) oferece tipos geométricos nativos, inúmeras funções geométricas de conversão e
operadores espaciais. Porém, as funcionalidades
geográficas podem ser melhoradas com a extensão PostGIS (REFRACTIONS RESEARCH,
2005b). Ela adiciona uma série de tipos para a
manipulação de dados geográficos e funções para
operações mais complexas contempladas pela
especificação OpenGIS SFS (OGC, 1999).
3.2.2 Servidores de Mapas e Dados
(WMS e WFS)
3.2.2.1 MapServer
O MapServer (UMN, 2005) (OLIVEIRA & GATTI,
2005) é um ambiente de desenvolvimento de
software livre para aplicações espaciais baseadas
em Internet. É baseado em outros sistemas de
software livre como Shapelib, FreeType, Proj.4,
GDAL e LibTIFF. Assim, grande parte das características oferecidas pelo MapServer é provida por
serviços de outros sistemas e bibliotecas.
De acordo com as bibliotecas opcionais incorporadas, o MapServer oferece suporte a
formatos vetoriais e raster, indexação espacial,
mapas temáticos utilizando expressões lógicas
ou regulares, consultas a SGBD com suporte
geoespacial no padrão SFS, protocolos OGC
WMS (Cliente/Servidor), WFS (Cliente/Servidor)
não-transacional, WCS (Servidor) (OGC, 2003),
WMC, SLD, GML, Filter Encoding, SFS, e suporte
à dimensão temporal em WMS.
O MapServer pode ser executado como uma
aplicação CGI de um servidor HTTP, ou pode-se
utilizar a API do MapServer diretamente em aplicações mais avançadas.
3.2.2.2 Geoserver
Geoserver (TEIXEIRA, 2004) é uma implementação Java da especificação OGC WFS, com
suporte completo a transações e um WMS integrado, que permite a recuperação de dados
tanto no formato GML (através do WFS) como
em imagens (através do WMS). Utiliza a biblioteca
Geotools (TEIXEIRA, 2004) para a implementação
das interfaces definidas pelo OGC, como representação de features, feature type, filtros, estilo em
SLD e acesso a diversas fontes de dados. Suporta
dados do tipo PostgreSQL/PostGIS, Shapefile,
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Oracle Spatial, ArcSDE, MySQL e WFS remoto,
além de todos os operadores espaciais para base
de dados Oracle Spatial e PostgreSQL/PostGIS.
O Geoserver WMS foi desenvolvido como uma
opção para disponibilizar os dados do servidor
WFS de forma gráfica.
3.2.2.3 Deegree
A arquitetura do Deegree (DEEGREE, 2004) é
totalmente baseada nos padrões OGC: dados e
metainformação dos objetos representados como
feature e feature type (GML, WFS), geometrias no
padrão SFS e estilos no padrão SLD.
O Deegree WFS trabalha com formatos de dados
de entrada: Oracle, PostgreSQL/PostGIS, MySQL
(com extensão espacial), SDE (ESRI), objetos do
tipo ponto armazenados em bancos convencionais (geometria colunas X/Y), objetos com parte
espacial representada em GML em bancos convencionais, Shapefiles e MapInfo (MIF).
As feature types são configuradas definindo-se
um GML e um arquivo XML de mapeamento
entre o esquema GML e o esquema de armazenamento.
Como fonte de dados, o Deegree WMS utiliza
os serviços dos componentes Deegree WFS e
Deegree WCS. O Deegree WMS não acessa a
base de dados diretamente. O servidor WMS pode
obter dados de WFS e WCS locais, localizados
na mesma máquina virtual, ou de WFS, WCS e
WMS remotos.
3.2.3 Clientes WMS e WFS
O MapServer pode também ser configurado como
um cliente WFS e/ou WMS, fornecendo mapas a
simples clientes HTML, além de empregar o SLD
para descrever sua simbologia. O iGeoPortal
(DEEGREE, 2005) é um cliente de mapas no
padrão cliente WMS. Ele possui arquitetura em
módulos componentes baseados em HTML e
JavaScript. Isso permite que o cliente de mapas
seja expandido e adequado de acordo com as
necessidades de um projeto específico. A arquitetura foi projetada visando à interoperabilidade e à
configuração através dos padrões OGC.
3.2.4 Software SIG Desktop
Com relação ao ambiente desktop, destacam-se
o uDig (REFRACTIONS RESEARCH, 2005a) e o
JUMP (Unified Mapping Platform) (VIVID, 2005b).
O uDig (User-friendly Desktop Internet GIS) é
um framework Java para desenvolvimento de
aplicações sobre plataforma Eclipse Rich Client
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Figura 4 Arquitetura uDig
(Fonte: Refractions Research)
Figura 5 Arquitetura JUMP
(Fonte: Vivid Solutions)
Platform (RCP). Novos módulos e funcionalidades
são facilmente incorporados em sua arquiteturabase por meio de plug-ins. A arquitetura do uDIG
é mostrada na Figura 4. O JUMP é um framework
Java para o desenvolvimento de aplicações de
visualização e manipulação de dados espaciais.
Sua arquitetura (Figura 5) é dividida em duas
partes principais: JUMP API, usada para a representação de features, entrada e saída de dados e
funcionalidades espaciais fundamentais e JUMP
Workbench, uma interface gráfica de acesso às
funcionalidades disponibilizadas.
3.2.5 Bibliotecas
O Geotools (TEIXEIRA, 2004) é um conjunto de
APIs Java que pode ser utilizado para o desenvolvimento de soluções SIG, em conformidade
com o padrão OGC. Não é objetivo do projeto
Geotools desenvolver aplicações completas e sim
disponibilizar bibliotecas que possam ser utilizadas para esse fim. A arquitetura é modularizada,
o que permite que novas funcionalidades sejam
facilmente incorporadas às bibliotecas. Entre as
funcionalidades providas pelas APIs, destacamse a análise em redes, a manipulação de grid e
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imagens e os componentes para a criação de
uma aplicação SIG.
O JTS Topology Suite (VIVID, 2005a) é uma API
Java que implementa o modelo geométrico para
objetos espaciais definido na especificação SFS
e funções espaciais sobre esse modelo. É uma
biblioteca robusta, utilizada por uma série de
outros projetos de software livre como Geotools,
uDig, Geoserver, Deegree e JUMP.
O TerraLib (INPE, 2005) é uma biblioteca de
classes e funções para SIG, disponível sob licença LGPL. Entre outras características, permite
a “espacialização” de bancos de dados que não
suportam nativamente dados espaciais ou a extensão dessa capacidade, através da definição
de um modelo de dados geográficos e um conjunto de funções externas ao SGBD. As funções,
escritas em ANSI C++, englobam algoritmos de
estatística espacial, processamento de imagens
e projeções cartográficas, entre outras.
4
Solução SIG/GIS do CPqD
Com os resultados obtidos pelo projeto de P&D
SIGPPT (CPqD, 2006) nasceu uma nova solução
SIG/GIS no CPqD, construída sobre os seguintes
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Figura 6 Solução GIS composta por Cliente Mapas, Visualizador de atributos, Geocodificador, GeoAnálise
Figura 7 Composição da consulta e visualização do resultado (formato tabular)
pilares básicos: emprego de software livre, arquitetura baseada em componentes empregados
conforme as necessidades do cliente, padrões
abertos de interoperabilidade – em especial OGC
e W3C, ambiente Web, plataforma J2EE e banco
de dados geográfico objeto-relacional. Os componentes que formam a solução SIG/GIS completa
são descritos a seguir e ilustrados na Figura 6.
12
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4.1
Visualizador de atributos
O visualizador de atributos (FDV) (GIGLIOTTI,
2005e) é uma ferramenta de consulta a dados
georreferenciados. O usuário pode fazer consultas
com expressões lógicas, como AND, OR, >, <, =,
e LIKE sobre quaisquer campos de um determinado tipo de objeto. O resultado pode ser mostrado
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em formato tabular ou destacado no mapa. Sua
implementação é baseada nos padrões WFS,
GML e Filter, que o torna independente de banco
de dados. O resultado da consulta com saída em
formato tabular é ilustrado na Figura 7.
4.2
GeoAnálise
O GeoAnálise (GIGLIOTTI, 2005d) é uma ferramenta de configuração e geração de mapas
temáticos que utiliza os padrões OGC GML, WFS e
Filter e auxilia as análises do usuário. A construção
de consultas temáticas pode ser feita por valor
único ou por estratificação e o usuário escolhe a
propriedade do objeto a ser usada na análise, o
método de estratificação dos dados e as cores ou
símbolos dos temas a serem utilizados na exibição
dos resultados da consulta no mapa. Um exemplo
de geração de um mapa temático, cuja consulta
é feita por estratificação e diferenciada por cores,
é ilustrado na Figura 8.
4.3
Cliente Mapas
O Cliente Mapas (GIGLIOTTI, 2005a) é uma ferramenta criada pelo CPqD para a visualização
de mapas em ambiente Web baseado no cliente
WMS e Context iGeoPortal. Ele oferece funciona-
lidades de legenda, mapa de referência, zoom,
pan, controle de camadas e recuperação de
informações de objetos ativos no mapa (Figura
9). Além disso, permite que o usuário inclua dinamicamente camadas de outros servidores WMS
de mapas disponíveis na rede, bastando indicar
o endereço HTTP do servidor.
O Cliente Mapas é responsável pela integração
dos vários componentes da solução GIS apresentados na Figura 6. Ele é flexível para configurar
itens como as camadas a serem habilitadas e
o nível de zoom desejado quando o módulo é
iniciado pela primeira vez.
4.4
Geocodificador
O Geocodificador (GIGLIOTTI, 2005b, 2005c) é
uma ferramenta para localização geográfica de um
endereço no mapa. Esse endereço pode ser um
número da casa, um logradouro, um cruzamento
ou um ponto de referência, mesmo incompleto. As
formas de representação do endereço, requisição
e resposta são baseadas no padrão OpenLS do
OGC, adaptado para o modelo de endereçamento
brasileiro.
O componente Geocodificador está ligado ao Componente de Endereços, camada responsável pela
manipulação de diferentes padrões de endereça-
Figura 8 GeoAnálise: escolha do modo de estratificação do resultado e definição do estilo de exibição do resultado
temático no Cliente Mapas ao fundo
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Figura 9 Cliente Mapas ao fundo com camadas Ruas e Lotes e informação sobre a camada ativa (Lote) selecionada
mento presentes na base de dados. O Componente de Endereços utiliza o framework Geotools,
que permite acesso a diferentes SGBDs de forma
transparente, usando os padrões GML e Filter.
5
Aplicações e cases
Os cases descritos a seguir foram desenvolvidos
pelo CPqD com base nas premissas discutidas na
Seção 4, demonstrando, na prática, a viabilidade e
a flexibilidade do emprego de componentes e padrões internacionais nas soluções SIG, fomentando a interoperabilidade e soluções baseadas em
software livre e/ou software proprietário.
5.1
RadCom SIG
O RadCom SIG (CARVALHO, 2005) busca georreferenciar rádios comunitárias, fornecendo consultas e validações de coordenadas, e apresenta
um simulador de pontos que o Ministério das
Comunicações (MC) poderia usar para novas
outorgas de rádio, baseado em regras de negócios do próprio ministério. Possui, ainda, controle
de autenticação e acesso, administração de
privilégios de usuários e funcionalidades para o
cidadão verificar a viabilidade de candidatar-se a
um processo de outorga do MC.
2
5.2
SMP
Solução para a área de Atendimento a Clientes
SMP (call center, suporte e lojas de atendimento)
que fornece aos clientes informações sobre área
de cobertura, localização de lojas e pontos de
venda de cartão. O SMP emprega o Geocodificador (Seção 4.4) para informar dados de cobertura,
nível de sinal, estado de operação das estações
radiobase, localização de lojas de venda e pontos
de assistência técnica mais próximos da localização do cliente.
Nessa solução, foi utilizado o Autodesk MapGuide
como cliente e servidor de mapas para a visualização geográfica dos elementos do sistema no
mapa e SGBD Oracle Spatial, que segue a especificação OGC SFS.
Padrões de Interoperabilidade de Governo Eletrônico (COMITÊ EXECUTIVO, 2005).
14
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Esse é um dos primeiros exemplos de implementação de interoperabilidade entre sistemas,
segundo e-PING2, para o compartilhamento de
informações comuns com o sistema de cadastro
de rádios comunitárias do MC. Além disso, foi
um caso totalmente baseado em software livre,
aplicando a arquitetura J2EE e as especificações
dos padrões WMS e SLD, servidor de aplicação
JBoss, banco de dados PostgreSQL, em ambiente
Linux.
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Software livre e interoperabilidade na área de SIG
5.3
Monitoração RNI
O CPqD Monitoração RNI (ALMEIDA et al., 2005)
é um sistema para a medição contínua e a simulação de intensidade das emissões eletromagnéticas das estações radiotransmissoras dos sistemas de telecomunicações sem fio. O sistema usa
os componentes Cliente Mapas, Geocodificador
e GeoAnálise. O Cliente Mapas provê interação
do usuário com o mapa e a visualização dos
elementos georreferenciados do sistema (simulação de emissões eletromagnéticas, arruamento,
estradas, praças, entre outros), enquanto a consulta de um endereço e sua localização no mapa
são funcionalidades providas pelo componente
Geocodificador. A criação de camadas préconfiguradas com destaque de objetos no mapa
por um determinado atributo, como é o caso de
pontos de coleta conforme a data da operação,
foi possível graças ao componente GeoAnálise.
Esse é um exemplo em que a parte SIG da solução
foi composta exclusivamente por software livre e
pelo reuso de componentes.
5.4
SAM
Outro exemplo de uso exclusivo de software livre
em sua solução SIG é o protótipo do projeto Serviços de Aplicações Móveis (SAM) de “uma plataforma de comunicação de dados entre agentes em
campo e os centros de dados de suas corporações,
utilizando terminais móveis” (BRUZONI et al., 2005).
O SAM emprega o componente Geocodificador,
sendo adotados o SGBD PostgreSQL/PostGIS e
o servidor de mapas WMS Mapserver.
5.5
MapForce
Com o objetivo de minimizar o deslocamento de
equipes de atendimento ao cliente, aumentar a
eficiência e melhorar o gerenciamento da força
de trabalho de campo, foi idealizado um software
com a capacidade de disponibilizar, via Web,
informações de posicionamento geográfico e de
roteirização sobre atividades, elementos e força
de trabalho.
Essa solução (CPqD, 2005), desenvolvida para
georreferenciar objetos específicos do sistema
(atividades, executores, estações) a partir de
seus endereços e do mapeamento urbano cadastrados no sistema, utiliza o Geocodificador.
O GeoAnálise, por sua vez, é o responsável por
construir mapas temáticos que ajudam na análise
dos objetos plotados no mapa, como, por exemplo, na definição de como os objetos aparecerão
no mapa ou como deverão ser agrupados, de
acordo com sua situação no sistema.
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Neste case, foram utilizados o Oracle Spatial como
SGBD e o Autodesk MapGuide como servidor e
cliente de mapas, em conjunto com os componentes SIG aqui descritos, baseados em software
livre. Embora o Autodesk MapGuide não suporte
alguns padrões OGC utilizados no desenvolvimento dos componentes SIG – por exemplo, o
SLD –, foram desenvolvidos adaptadores que
possibilitaram o reuso de componentes. Esse é
um exemplo do benefício do uso de padrões e
componentes, possibilitando o reaproveitamento
e a composição de solução SIG com software livre
e software proprietário.
6
Conclusão
O software livre deixou de ser exercício acadêmico, tornando-se parte do mercado mundial de
software. Ele já é utilizado em diversos sistemas
críticos e a evolução dos sistemas de software
gerados como SL tem sido veloz.
A definição de padrões abertos para SIG, principalmente pelo Open Geospatial Consortium
(OGC), tem possibilitado não apenas a interoperabilidade entre sistemas, no sentido de comunicação e troca de dados, mas também a definição
de arquiteturas SIG baseadas em componentes,
facilitadas graças a esse “protocolo-padrão de
comunicação”.
Essa arquitetura impulsiona o trabalho tanto da
comunidade de SL como do OGC, uma vez que
o OGC busca a comprovação prática de suas
especificações e a comunidade de SL precisa
de padrões que viabilizem o desenvolvimento
baseado em componentes. Nesse cenário fértil,
acrescenta-se ainda a vantagem da portabilidade,
já que a linguagem Java foi eleita como a linguagem de programação da grande maioria dos
desenvolvedores da comunidade de SL.
A administração pública e as organizações em
geral têm muito a ganhar com o SL e padrões
internacionais abertos que oferecem vantagens
como a interoperabilidade entre os vários sistemas
desenvolvidos nessa plataforma, o não-aprisionamento a um único fornecedor e a interrupção da
obsolescência programada. Empresas de desenvolvimento de soluções SIG ganham agilidade no
processo de implementação e flexibilidade para decidirem onde utilizar software livre e quais produtos,
proprietários ou não, comporão sua solução.
Em suma, através de software livre e padrões internacionais abertos, pessoas e organizações de
todo o mundo têm se beneficiado da liberdade de
escolha e do compartilhamento de informações.
O CPqD contribui com o desenvolvimento de
soluções empregando esses novos instrumentos.
Conforme descrito neste artigo, os componentes
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Software livre e interoperabilidade na área de SIG
desenvolvidos pelo projeto SIGPPT, fundamentados nesses conceitos, fizeram parte de uma gama
de soluções que evidenciam a flexibilidade na
composição com software livre ou software pro-
prietário, graças à sinergia entre padrões abertos
e SL. Portanto, o uso de software livre e padrões
abertos em soluções SIG é definitivamente uma
realidade nos dias atuais.
Referências
ALMEIDA, A. M. et al. Controle e gestão de
radiações não-ionizantes produzidas pelo
sistema de telecomunicações: uma abordagem
inovadora. Cadernos CPqD de Tecnologia,
Campinas, v.1, n.1, p. 71-84, jan./dez. 2005.
BRUZONI, A. L. et al. Serviços e aplicações
móveis. Cadernos CPqD de Tecnologia,
Campinas, v.1, n.1, p. 85-94, jan./dez. 2005.
CARVALHO, K. R. F. de. RadCom 1.2.1: Manual
do usuário. PD301168A0034A-RT08AA.
Campinas: CPqD, mar. 2005. (Relatório
técnico).
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VIVID SOLUTIONS. JUMP – Unified Mapping
Platform. Disponível em: <http://www.
vividsolutions.com/jump/>. Acesso em: 01
jun. 2005b.
Abstract
This article presents the main free software projects related to the Geographic Information System (GIS)
area, addressing spatial databases, basic tools and applications for mapping and viewing spatial data. This
paper is focused on how the interoperability concept and international initiatives for open standards have
contributed to the growth of GIS free software. CPqD’s large experience in developing corporate critical
mission solutions based on geospatial data processing, mainly in the telecommunications field, has led to
research on free software and GIS open standards. As a result, a set of tools has been developed, proving
CPqD competence to offer solutions in distinctive projects such as city halls, enterprises of any size and
telecommunications public policies for the Brazilian Ministry of Communications through the SIGPPT project,
which in Portuguese stands for Geographic Information System for a Telecommunication Public Policy.
Key words: Interoperability. OGC. Open standards. Components. GIS.
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Avaliação de impactos para gestão ambiental:
um estudo dos descartes de empresas
de telecomunicações
Sirney Silveira*, Evandro C. Longui, Joceli M. G. Angelini, Luiz Carlos Neves,
Maria A. Rodrigues, Rozely F. Santos
Este trabalho tem como objetivo apresentar alguns resultados obtidos no projeto Telecomunicações e
seus Impactos na Saúde e Meio Ambiente, através de um levantamento feito junto às empresas do setor de
telecomunicações sobre o estado-da-arte do descarte de produtos pós-uso na rede de telecomunicações.
Os produtos e seus componentes foram classificados segundo normas brasileiras e internacionais. A partir
desses dados, foi desenvolvida uma nova metodologia para auxiliar a avaliação do impacto ambiental do
descarte de produtos de telecomunicações. A significância do impacto produzido foi avaliada com o uso
de ferramentas ambientais, sendo identificados quatro produtos prioritários a serem tratados na elaboração
de um programa ambiental no setor de telecomunicações.
Palavras-chave: Meio ambiente. Resíduos. Rede de telecomunicações. Rede externa. Impacto ambiental.
1
Introdução
As atividades das empresas de telecomunicações
geram produtos e subprodutos que interferem
direta ou indiretamente no meio ambiente, na
geração de materiais ou produtos de descarte,
cujo controle e manejo são imprescindíveis. Não
há muitos dados disponíveis sobre o impacto
ambiental decorrente de instalações, processos
e produtos de telecomunicações. As indústrias e
operadoras desse setor geram uma grande quantidade de produtos que passam a ser sucatas e,
via de regra, não se conhece seu destino. Não
existem padrões para controle do desempenho
das fontes de poluição ou do estado de qualidade
do meio ambiente nas cercanias das instalações
ou áreas de descarte desses produtos (REICHLING & OTTO, 2002). A ITU Telecommunication
Standardization Sector (ITU-T) é um órgão permanente da International Telecommunication Union
(ITU), responsável por estudos técnicos e operacionais e pela elaboração de procedimentos padronizados para o setor de telecomunicações. Em 1996,
a ITU-T aprovou a norma ITU-T L.24, voltada para
a classificação de produtos de rede externa pósuso. Para o desenvolvimento do presente trabalho,
foram realizadas a identificação e a classificação
dos produtos e materiais de telecomunicações
que causam maior impacto ambiental. A estratégia
*
utilizada foi desenvolvida por meio de entrevistas e
pesquisas junto a empresas de telecomunicações,
operadoras, empreiteiras, terceirizadas do setor
e também órgãos públicos. Posteriormente, foi
realizada a análise do estágio atual da disposição
pós-consumo dos produtos identificados como
problemáticos que foram classificados sob os padrões nacional e internacional de resíduos sólidos,
segundo as normas ABNT:NBR 10004 (Resíduos
Sólidos – Classificação) (ABNT, 1996) e ITU-T
L.24 (Classification of Outside Plant Waste) (ITU-T,
1996). Foi feito também um levantamento dos
tipos de contaminação e processos patológicos
oriundos do descarte desses produtos, bem como
de áreas críticas de contaminação, utilizando,
para isso, ferramentas específicas de avaliação
ambiental chamadas de matrizes de conformidade
(SANTOS, 2004). A aplicação dessas ferramentas
justifica-se pela diversidade de componentes e
substâncias dos produtos, cujos impactos podem
apresentar uma variação significativa de potencial,
tipo, abrangência, entre outros fatores.
A Seção 2 deste artigo apresenta as definições
utilizadas no desenvolvimento do trabalho e a
Seção 3 mostra uma compilação de dados relativos a quantidades e tipos de disposição final
dos produtos de telecomunicações no Brasil.
Na Seção 4, são destacadas as metodologias
utilizadas para a valoração dos aspectos do
Autor a quem a correspondência deve ser dirigida: [email protected].
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Avaliação de impactos para gestão ambiental
descarte e seus impactos ambientais. A análise e
a discussão dos resultados são realizadas na Seção
5 e a conclusão final é apresentada na Seção 6.
2
bidimensionais, dispostas em forma de linhas e
de colunas. Em uma delas, por exemplo, são
elencados os produtos ligados ao descarte ou as
principais atividades e, na outra, são apresentadas as principais características que, pelo menos
potencialmente, induzem a impactos. O objetivo é
identificar as interações possíveis entre todos os
componentes por meio da avaliação das células
correspondentes (BLOCK, 1999). Os números
inseridos em cada célula correspondem a uma
pontuação de magnitude da interação, em uma
escala arbitrária de 0 a 3 ou de 0 a 5, que pode
representar a intensidade do efeito do descarte. A
partir dessa ferramenta, construiu-se uma matriz
de conformidade que permite definir, para cada
um dos produtos, se existe conformidade ou não
no descarte (SANTOS, 2004).
Definições
Neste trabalho, serão chamados de “aspectos” as
características associadas ao descarte de produtos
e materiais de telecomunicações e de “impactos
ambientais” os efeitos decorrentes da existência,
do manejo e das ações tecnológicas relativas a
esse descarte, realizado numa determinada área
de abrangência (BLOCK & MARASH, 2006). Estabeleceu-se, na realidade, uma relação de causa
e efeito entre produtos e materiais de descarte
e alterações ambientais. Foi também necessário
observar os impactos que não são decorrentes de
uma única ação ou de uma única matéria, mas de
um conjunto que, quando associado, tem um efeito
particular; dados importantes para o cumprimento
da legislação sobre o meio ambiente (VENTURA
& RAMBELLI, 1996). Ferramentas metodológicas
auxiliaram na identificação e na qualificação dos
impactos ambientais. Optou-se por utilizar listas de
verificação e diferentes tipos de matrizes.
A lista de verificação é um instrumento que arrola
os diferentes produtos, materiais e atividades,
e tem como objetivo a garantia de um levantamento sistemático e exaustivo dos aspectos
ligados a esses elementos. As matrizes são listas
3
Quantidade e disposição dos produtos
de telecomunicações
Após levantamento de dados das empresas de
telecomunicações, obteve-se uma listagem de
produtos e de procedimentos utilizados em sua
disposição após o uso. Na Tabela 1, são destacados os principais produtos pesquisados, sua disposição usual e a estimativa de descarte anual. O
universo total estudado é composto de 19 classes
de produtos e, neste trabalho, é apresentada a
fatia mais importante dos resultados.
Tabela 1 Disposição pós-consumo de produtos de telecomunicações e estimativa de descarte anual no Brasil•
Produtos
Disposição usual*
Descarte anual (base 2004)**
Cabos de fibras ópticas
Reuso, almoxarifado ou descarte em lixo comum
Fios FE
Almoxarifado ou descarte em lixo comum
3.475 toneladas
Orelhões
Reuso, aterros, descarte em lixo comum ou incineração
4.005 toneladas
Baterias
Reciclagem ou descarte em lixo comum
212 toneladas
Baterias de celular
Aterros ou reciclagem
40 toneladas
Conjuntos de emenda metálica (chumbo)
Descarte em lixo comum
102 toneladas
Cabos metálicos
Reuso, descarte em lixo comum ou reciclagem
Bobinas de cabos
Reuso, almoxarifado ou descarte em lixo comum
Miscelâneas metálicas (mistura de todos os tipos
Almoxarifado ou descarte em lixo comum
de produtos metálicos de pequeno porte)
722 toneladas
29.615 toneladas
508 toneladas
1.341 toneladas
Embalagens (madeira, plástico e papel)
Descarte em lixo comum
Postes
Reuso, descarte em lixo comum, concessionária de
energia ou almoxarifado
173 toneladas
2.690 peças
Conjuntos de emenda
Almoxarifado, leilão e reciclagem
15.178 peças
Alguns locais entrevistados recolhem os produtos pós-uso e os disponibilizam para empresas de reciclagem, ou para outros fins, através
de leilões.
**
Os valores totais do descarte anual foram obtidos por meio de extrapolação dos dados regionais obtidos para as respectivas operadoras,
tendo como base o número de acessos fixos instalados, que correspondem a 86% do total de acessos fixos instalados no Brasil.
*
20
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Avaliação de impactos para gestão ambiental
4
Estabelecimento de critérios para
valoração dos aspectos do descarte e
seus impactos ambientais
Foram estabelecidos critérios que permitissem valorar os aspectos ou características dos produtos
e materiais de descarte. Para tanto, atribuíram-se
pesos a cada aspecto em função desses critérios.
Foram definidos dois tipos de pesos: o primeiro
referente à importância do aspecto ou característica e o segundo referente à potencialidade do
provável efeito ou impacto.
Alguns procedimentos gerais propostos foram:
• a análise de cada aspecto deve ser feita separadamente, pois, muitas vezes, eles podem ser antagônicos (WORLD ECONOMIC FORUM, 2001);
• nos casos em que não exista conhecimento
suficiente ou não existam elementos que permitam avaliar um determinado critério estabelecido, ele deverá ser retirado da análise;
• a avaliação de cada critério ou aspecto segue
dois tipos de escala: uma baseada na presença
ou ausência de determinadas condições, que
não podem ser quantificadas, e, por isso, foram
estipulados parâmetros variáveis para a avaliação; e outra, baseada na intensidade com que
se apresentam determinadas condições, por
meio de parâmetros quantificáveis como, por
exemplo, o peso ou o número de peças de
descarte de determinado produto;
• a proposta de atribuir somente quatro valores,
por exemplo, de 0 a 3, permite identificar
situações intermediárias entre as melhores e as
piores condições, sem apresentar um número
excessivo de valores que não expressam maior
precisão na avaliação.
Os conceitos são atribuídos segundo as regras
descritas na Tabela 2.
Tabela 2 Regras para atribuição de conceito
Conceito Atribui-se o conceito nos seguintes casos:
3
Observam-se as piores condições
2
Observam-se condições ruins ou insatisfatórias
1
Observam-se condições aceitáveis,
embora não sejam totalmente adequadas
0
Observam-se condições adequadas
Foram estudados 18 critérios que envolvem os produtos e materiais de descarte, suas características
e os impactos decorrentes. Os conceitos e pesos
atribuídos a eles são exemplificados na Tabela 3.
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Tabela 3 Conceitos relativos à quantidade do descarte
Descrição do critério:
Considera a quantidade dos produtos e materiais acumulada em
função das disposições pós-consumo, segundo estimativa de descarte anual pelas empresas de telecomunicações selecionadas. A
quantidade foi avaliada em toneladas ou peças.
Conceito
Atribui-se o conceito nos seguintes casos:
3
Quantidade acima de 5.000 toneladas ou acima de
15 mil peças
2
Entre 100,01 e 5.000 toneladas ou de 3.001 a 15 mil
peças
1
Entre 5,01 e 100 toneladas ou de 1.501 a 3.000
peças
0
Entre 0 e 5 toneladas ou de 0 a 1.500 peças
Os critérios analisados foram classificados em três
grandes blocos conforme suas características, aspectos relativos a prováveis impactos oriundos
do descarte e aspectos relativos à minimização
do efeito:
1. Critérios relativos às características do descarte, indutores de efeitos negativos ao meio
ambiente: quantidade, volume, periculosidade
e regularidade de produção do descarte; tipo
de disposição final, probabilidade de contaminação e duração do descarte no meio,
área de influência dos materiais e produtos,
patogenicidade, complexidade do ciclo de
vida do produto e aspectos legais.
2. Critérios relativos a prováveis impactos oriundos do descarte: severidade, ordem ou
origem dos impactos, desencadeamento e
duração do impacto.
3. Critérios relativos à minimização do efeito:
capacidade de manejo e possibilidade de
reciclagem ou reuso do descarte e reversibilidade dos impactos relativos ao produto.
Os valores atribuídos a cada critério foram
ordenados de acordo com sua importância
referencial e são apresentados na Tabela 4.
A totalização das linhas e colunas da tabela
permite uma análise comparativa dos dados
obtidos para cada produto, através da matriz
de conformidade normal.
4.1
Atribuição de pesos aos critérios
Para cada critério, pesos variando de 1 a 5 foram
atribuídos, em função do potencial para causar
maior ou menor impacto no meio, conforme descrito na Tabela 5.
O valor atribuído em cada célula da matriz referese ao potencial e magnitude de um produto sobre
o material de descarte para produzir impacto ao
meio ambiente com relação aos aspectos dos
filtros de significância (critérios).
21
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Avaliação de impactos para gestão ambiental
pesos dos filtros de significância (Pi) constantes
na Tabela 5. Assim:
Os valores na Matriz de Conformidade Normal
(MCN) foram obtidos a partir da soma dos valores das linhas (Vi) para cada produto da Tabela
4. Dessa forma:
Os valores na Matriz de Conformidade Ponderada
(MCP) foram calculados pela soma dos valores
atribuídos aos produtos elevados aos respectivos
pesos dos filtros de significância. Dessa forma:
Os valores na Matriz de Conformidade Linear
(MCL) foram obtidos pela soma dos produtos
entre os valores atribuídos (Vi) pelos respectivos
Tabela 4 Valoração dos critérios relativos ao descarte dos produtos que induzem a impactos ambientais (V)
Cabos de
fibras ópticas
Fios
FE
Orelhões
Baterias
Baterias de
celular
Conjuntos de
emenda metálica
(chumbo)
Quantidade do descarte
1
2
2
1
1
1
Volume do descarte
3
3
3
1
1
1
Periculosidade do descarte (ABNT-T)
1
3
1
3
3
3
Critério
Periculosidade do descarte (ITU-T)
3
2
3
3
3
3
Tipo de disposição final
3
3
3
2
1
3
Área de influência dos materiais e produtos
0
0
2
3
3
3
Duração do descarte no meio
3
3
3
3
3
3
Regularidade de produção do descarte
3
3
3
0
3
3
Patogenicidade
3
3
3
3
3
3
Probabilidade de contaminação do descarte
3
3
3
3
3
3
Complexidade do ciclo de vida do produto
3
2
1
2
3
1
Aspectos legais
0
0
0
3
3
3
Severidade
3
3
3
3
3
3
Ordem ou origem dos impactos
0
1
0
3
3
3
Desencadeamento e duração dos impactos
2
2
3
3
3
2
Sinergia dos impactos
3
3
3
3
3
3
Capacidade de manejo do descarte
1
1
2
2
1
1
Possibilidade de reciclagem ou reuso do descarte
1
1
1
2
1
2
Reversibilidade dos impactos relativos ao produto
3
3
3
3
3
3
Tabela 5 Ponderação e agrupamento dos critérios
Peso do critério
(P)
Critério
Critérios relativos a características do descarte, indutores de efeitos negativos ao meio ambiente
Quantidade do descarte
3
Volume do descarte
2
Periculosidade do descarte
5
Tipo de disposição final
4
Área de influência dos materiais e produtos
4
Duração do descarte no meio
3
Regularidade de produção do descarte
1
Patogenicidade
5
Probabilidade de contaminação do descarte
5
Complexidade do ciclo de vida do produto
2
Aspectos legais
2
Critérios relativos aos prováveis impactos oriundos do descarte
Severidade
5
Ordem ou origem dos impactos
2
Desencadeamento e duração dos impactos
3
Sinergia dos impactos
4
Critérios relativos à minimização do efeito
Capacidade de manejo do descarte
4
Possibilidade de reciclagem ou reuso do descarte
2
22
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Avaliação de impactos para gestão ambiental
A Tabela 7 apresenta a prioridade para tratamento
da disposição de cada produto segundo a avaliação de cada matriz de conformidade.
A Tabela 8 apresenta a compilação dos resultados
obtidos pelas matrizes de conformidade normal,
linear e ponderada, com relação aos filtros de significância estudados. Os resultados mais expressivos para cada tipo de matriz estão destacados.
Os cinco resultados mais significativos no universo total de 19 classes de produtos, em cada
uma das matrizes (conformidade normal, linear
e ponderada), foram separados do conjunto
global, para uma análise mais específica. A Tabela
6 apresenta a compilação dos resultados mais
relevantes de cada matriz.
Tabela 6 Compilação das matrizes de conformidade – produtos
Valor na
matriz normal
Valor na
matriz linear
Valor na matriz ponderada
Cabos de fibras ópticas
39
147
1.347
Fios FE
41
156
1.389
Produto
Orelhões
42
163
1.420
Baterias
46
169
1.248
Baterias de celular
47
164
1.223
Conjuntos de emenda metálica (chumbo)
47
167
1.279
Indica os cinco itens de maior severidade.
Tabela 7 Prioridade para medidas de mitigação entre os três primeiros produtos selecionados pelos diferentes tipos de
matrizes de conformidade
Primeira prioridade
Segunda prioridade
Terceira prioridade
Matriz normal
Baterias de celular
Conjuntos de emenda metálica
Baterias
Matriz linear
Baterias
Conjuntos de emenda metálica
Baterias de celular
Matriz ponderada
Orelhões
Fios FE
Cabos de fibras ópticas
Tabela 8 Tabela de compilação das matrizes de conformidade – filtros de significância
Valor na
matriz normal
Valor na
matriz linear
Quantidade do descarte
24
120
624
Volume do descarte
33
165
1.563
Periculosidade do descarte (ABNT-T)
33
132
493
Filtro de significância
Valor na matriz ponderada
Periculosidade do descarte (ITU-T)
43
172
943
Tipo de disposição final
50
200
1.248
Área de influência dos materiais e produtos
38
152
988
Duração do descarte no meio
50
150
434
Regularidade de produção do descarte
45
45
45
Patogenicidade
43
215
2.803
Probabilidade de contaminação do descarte
40
200
2.740
Complexidade do ciclo de vida do produto
32
64
68
Aspectos legais
14
28
32
Severidade
40
200
2.560
Ordem ou origem dos impactos
22
44
50
Desencadeamento e duração dos impactos
35
105
185
Sinergia dos impactos
34
136
764
Capacidade de manejo do descarte
24
96
186
Possibilidade de reciclagem ou reuso do descarte
20
40
36
Reversibilidade dos impactos relativos ao produto
50
200
1.312
Indica os seis itens de maior severidade.
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Avaliação de impactos para gestão ambiental
5
Análise e discussão dos resultados
A partir dos resultados apresentados na Tabela
6, é possível a aplicação de diferentes formas de
análise para a elaboração de conclusões sobre
os produtos de maior potencial de impacto. As
conclusões podem ser utilizadas na criação de
programas ambientais que podem ser inseridos
em um sistema de gestão ambiental de uma empresa de telecomunicações.
Em uma análise global, verifica-se que os quatro
produtos que aparecem entre os mais críticos
(maior pontuação) nos três tipos de matrizes são
os fios FE, os orelhões, as baterias e os conjuntos de emenda metálica. Eles aparecem como
potencialmente poluidores, independentemente
da forma de tratamento, indicando que precisam
ser priorizados na elaboração de um programa
ambiental do setor de telecomunicações.
Avaliando-se somente os resultados da matriz de
soma ponderada, verifica-se que o manejo ambiental dos produtos obedece a seguinte ordem
decrescente: orelhões, fios FE, cabos de fibras
ópticas, conjuntos de emendas metálicas e baterias. O primeiro grupo de materiais e produtos é
o mais problemático sob a perspectiva ambiental,
atribuindo-se a eles a maior prioridade para encaminhamento de soluções, em curto prazo, para a
minimização dos impactos oriundos do descarte
pós-consumo. As baterias de celular aparecem
como o segundo grupo a ser priorizado, pois se
apresentam como críticos em duas matrizes (de
soma normal e linear). No terceiro grupo, com
apontamento crítico em uma matriz, incluem-se
os cabos de fibras ópticas.
Os critérios mais importantes a serem considerados na análise global dos filtros de significância
visualizados na Tabela 8 são: tipo de disposição
final, patogenicidade e reversibilidade. Eles se
apresentam críticos nas três matrizes, sugerindo
ações imediatas para a mitigação do impacto
ambiental. Essas ações podem ser abordadas de
várias maneiras, como, por exemplo, a conscientização da empresa para o descarte adequado, o
desenvolvimento de processos de reciclagem, a
prevenção dos processos patogênicos oriundos
da disposição dos produtos de telecomunicações
no meio ambiente e a aplicação da metodologia
de Análise de Ciclo de Vida (ACV) na integração
dos aspectos ambientais no desenvolvimento de
produtos – o chamado Ecodesign. Dessa forma,
verifica-se a necessidade de planejamento por
parte das empresas do setor de telecomunicações
e a criação de um programa destinado à avaliação
integrada do descarte de produtos, tendo como
objetivo o controle da sobreposição de efeitos e
o monitoramento do sistema por auditoria. Em
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relação à capacidade técnico-financeira das empresas para a minimização dos impactos, destacam-se os altos valores para a reversibilidade, que
é uma questão a ser tratada dentro dos programas
ambientais internos.
É possível identificar também três critérios de ordem secundária que devem ser priorizados pela
empresa: a severidade, a probabilidade de contaminação e a periculosidade. Essas características
são constantes entre os diferentes materiais em
duas matrizes diferentes. Esses materiais devem
ser tratados com atividades técnicas eficientes
e eficazes porque elementos com alto grau de
severidade, probabilidade de contaminação ou
periculosidade podem, com um único evento,
causar conseqüências graves para a saúde humana e para o ambiente.
Análises parciais também podem ser realizadas
para a obtenção de diferentes informações. Por
exemplo, o volume de descarte apresenta-se
entre os seis primeiros itens somente na soma
ponderada, enquanto a periculosidade só se inclui
entre os seis primeiros itens nas somas normal ou
linear, evidenciando a importância das diferentes
formas de tratamento dos dados obtidos, as quais
devem ser realizadas de acordo com o objetivo
desejado.
5.1
Conclusão
As matrizes de conformidade originadas por este
estudo destacaram, entre os produtos descartados pelo setor de telecomunicações, aqueles
que se apresentam como mais problemáticos, do
ponto de vista ambiental.
A metodologia utilizada gerou uma lista de prioridades para tratamento dos produtos pós-consumo a serem consideradas em um programa
ambiental no setor de telecomunicações. Os
resultados deste trabalho sugerem que tal procedimento deve ser implantado o mais brevemente
possível, pois, embora a maioria das operadoras
e entidades coligadas ao setor se considerem
“empresas limpas”, verifica-se a existência de vários problemas disseminados em todo o território
nacional, os quais podem originar grande impacto
ambiental em médio prazo.
Além da metodologia desenvolvida apresentada
neste trabalho, os seguintes resultados foram
obtidos:
1. Dados para o desenvolvimento de ferramentas
que podem ser utilizadas como instrumentos
de desenvolvimento sustentável para aplicação
corretiva e preventiva no setor de telecomunicações como, por exemplo, a classificação
dos produtos quanto ao risco potencial ao
meio ambiente e à saúde humana; a listagem
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Avaliação de impactos para gestão ambiental
dos componentes potencialmente perigosos,
sob o ponto de vista ambiental; a classificação
quanto à destinação final; a estimativa nacional
da média anual de descarte, a possibilidade de
reciclagem; o apoio ao cumprimento da legislação vigente e recomendações específicas.
2. Contribuição ao Grupo de Estudos da ITU-T
para a implantação de metodologia de levantamento de dados na atualização da norma
L.24 – Classification of Outside Plant Waste,
a ser implantada nos países em desenvolvimento e também naqueles com economia
em transição.
Os itens descritos evidenciam que o Brasil
tem condições de assumir uma posição proativa no setor de telecomunicações com relação aos processos de mitigação de impactos
ambientais originados por suas atividades.
Referências
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TÉCNICAS (ABNT). NBR ISO 14001: Sistemas
de gestão ambiental: requisitos com orientações
para uso. Rio de Janeiro, out. 1996.
BLOCK, M. R. Identifying environmental aspects
and impacts. EUA: ASQ Quality Press, 1999.
ISBN 0-87389-446-4.
BLOCK, M. R.; MARASH, R. Uma visão geral da
ISO 14000. Disponível em: < http://www.hgb.
com.br/.> Acesso em: 16 jun. 2006.
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New Economy: Sustainable transformation
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electronics industries, Part II. Sheffield, UK:
Greenleaf Publishing Limited, 2002. ISBN 1874719-47-0.
SANTOS, R. F. dos. Planejamento ambiental:
teoria e prática. São Paulo: Oficina de Textos,
2004. ISBN 85-86238-32-5.
VENTURA, J. V.; RAMBELLI, A. M. Legislação
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ambiental anotada. 2. ed. Taubaté: Vana Ltda,
1996. ISBN 0-932633-18-8.
WORLD ECONOMIC FORUM. M e r c o s u r
Economic Summit 2001 - Report. Argentina,
May, 2001, 80p.
Abstract
This paper presents findings from the project entitled “Telecommunications and its impacts on health and
environment”. The project was developed by CPqD in collaboration with telecommunication carriers and
service providers in Brazil and with consulting support from Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A
survey on the state-of-the-art disposal of telecom products and waste was carried out among companies in
the telecommunications sector. Telecom products and components were grouped according to Brazilian
and international regulations and significant assessment tools were used. Based on such data, a new
methodology was developed to evaluate the impacts of the disposal of telecommunication products on the
environment. The significance of the impacts was evaluated through environmental tools and the results
indicated that the prioritization of four products must be considered in the elaboration of an environmental
program in the Telecommunications Sector.
Key words: Environment. Waste. Telecommunications network. Outside plant. Environmental impact.
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