A LEVANTAMENTO DA AVIFAUNA DA USINA EÓLICA DA PEDRA
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A LEVANTAMENTO DA AVIFAUNA DA USINA EÓLICA DA PEDRA
ÁREA: CB ( X ) CHSA ( ) ECET ( ) LEVANTAMENTO DA AVIFAUNA DA USINA EÓLICA DA PEDRA DO SAL, PARNAIBA/PIAUÍ Antonio Gildo Soares dos Santos (ICV/UFPI), Anderson Guzzi (Orientador, Depto de Biologia-UFPI) Introdução Uma das principais causas do aquecimento global é a intensificação do efeito estufa, causado pela emissão de certos gases (HUNTLEY, et al. 2006). A produção de energia por combustíveis fósseis tem impacto maior para as aves do que a energia limpa dos ventos litorâneos (SOOVACOOL, 2009). A busca por uma energia renovável levou a criação de parques eólicos visando a redução da emissão desses gases, em contrapartida, algumas espécies de aves migratórias diminuem seu ritmo de reprodução após a instalação e operação de parques eólicos (BIRDLIFE, 2002). Com o surgimento dos aerogeradores a avifauna local ficou suscetível a alterações ambientais. O tamanho e a posição em que estão alinhadas as turbinas, junto com a velocidade do motor, são fatores que podem aumentar o risco de colisões (WINKELMAN, 1992; THELANDER, et al. 2003). Aves de grande porte são mais suscetíveis a acidentes aéreos (NWCC 2000; HUNT et al. 1995;. HUNT, 2002; LANGSTON & PULLAN, 2003; BARRIOS & RODRIGUEZ, 2004). Posto isso, o objetivo deste estudo foi caracterizar quais são as espécies de aves residentes e migratórias presentes na área da Usina Eólica da Pedra do Sal, no Município de Parnaíba/PI, e sua relação com o ambiente na busca por alimento, água, abrigo, sítios de nidificação e de descanso, bem como a presença de possíveis rotas migratórias. Metodologia A Usina Eólica da Pedra do Sal está situada no litoral do Município de Parnaíba, PI (2°49`22,48” S; 41°42`49,43”W), a cerca de 350 km da capital Teresina. O clima da região é do tipo Aw pela classificação de Koeppen, com estação úmida nos meses de janeiro a junho e estação seca de julho a dezembro. Está situado a cerca de 5,54 km do rio Igarassú, um braço do rio Parnaíba e a 7,7 km de sua foz, no litoral do Município de Luis Correia, PI. Dentro da usina existe uma vegetação herbácea arbustiva, que suporta alagamento. Na área da usina foram distribuídos 20 pontos de escuta, localizados o mais próximo possível de cada base das torres dos aerogeradores, e 10 pontos no entorno da usina, totalizando 30 pontos amostrais, procurando cobrir todos os ambientes. Buscou-se, com isso, o total aproveitamento das áreas na procura de espécies de aves ocorrentes no espaço amostral. Foram realizadas 12 amostragens distribuídas regularmente (a cada 30 dias) no período de setembro de 2012 a agosto de 2013, considerando as aves vistas e/ou ouvidas durante o período de amostragem. Para o registro dos contatos visuais foram utilizados binóculos (8X40), enquanto para os auditivos foram utilizado um gravador digital PANASONIC 66, com microfone direcional multiamplificado YOGA; além do manual de campo do Sigrist (2009a ;2009b) utilizado para assegurar a correta identificação das espécies. As observações ocorreram durante as três primeiras e as duas últimas horas do dia, num total de 60 horas de observação. Dos 30 pontos amostrais, 15 eram sorteados aleatoriamente antes do ÁREA: CB ( X ) CHSA ( ) ECET ( ) início das amostragens, e o pesquisador permanecia cerca de 20 minutos em cada ponto, registrando as espécies e o número de indivíduos de cada espécie presente em um raio de 100m do ponto amostral. Procurou-se não registrar os mesmos indivíduos em pontos diferentes, evitando-se assim falsas réplicas. Resultados e Discussão Foram registrados 2032 contatos com aves pertencentes a 61 espécies de aves distribuídas em 25 Famílias e 16 Ordens (Apêndice 1) durante o período amostral (setembro de 2012 a agosto de 2013). As aves consideradas como não-Passeriformes foram as mais abundantes (85,3%) com a Família Scolopacidae (11 espécies) sendo a mais representativa, já as aves Passeriformes com (14,7%) a Família Hirundinidae (três espécies) foi a mais abundante. Até as primeiras 5 horas de levantamento foi possível observar um rápido crescimento exponencial da curva do coletor, que depois iniciou um tênue processo de estabilização, durante as cinco horas seguintes, e posteriormente, com a continuidade do esforço, o número de aves registradas voltou a crescer, e pelo fato do levantamento ainda não ter alcançado a suficiência amostral, é possível notar que se houver o aumento no número de horas de observação também possivelmente haverá o aumento no número de espécies, o que indica a necessidade de continuidade dos estudos. A grande maioria das aves registradas até o momento é de ambiente aquático (26 espécies), seguida pelas aves de ambientes ecotonal cerrado/caatinga (24 espécies). Logo em seguida estão às aves que tem um habitat próprio da caatinga, com sete espécies. A guilda trófica predominante da avifauna registrada na usina foi a das aves que se alimentam de invertebrados aquáticos (INVAQ) representados por 16 espécies pertencentes a quatro famílias: Charadriidae, Recurvirostridae, Scolopacidae e Threskiornithidae. A segunda guilda predominante foi a das aves insetívoras (INSET) representada por 16 espécies, pertencentes a 10 famílias, sendo as mais representativas as famílias Cuculidae, Ardeidae, Hirundinidae, Tyranninae e Picidae. As aves piscívoras (PIS) aparecem com sete espécies pertencentes as famílias Phalacrocoracidae, Sternidae, Rynchopidae e Alcedinidae. Além das 16 espécies visitantes do norte (membros das Famílias Charadiidae e Scolopacidae), também foram registrados biguás (Phalacrocorax brasilianus) se alimentando nas lagoas residuais presentes na área amostral. Após sua reprodução, essa espécie torna-se localmente migratória, voando em formação triangular aberta em grandes bandos (Sigrist 2009b). No dia 19/04/2013 foram observados 22 indivíduos durante o período de observação (5:00 - 9:00hs da manhã). A andorinha-de-bando (Hirundo rustica), também ocorre na usina, podendo ser observada de setembro a março. Larrazábal et,al (2002) na Salina Diamante Branco (RN) registrou espécies de aves limícolas migratórias como Charadrius semipalmatus, C. collaris, Pluvialis squatarola, Arenaria interpres, Tringa solitaria, T. flavipes, Actitis macularia e Calidris canutus, as mesmas espécies que foram registradas em nosso trabalho, e durante o mesmo período amostral. Desta forma, é possível dizer que além do ÁREA: CB ( X ) CHSA ( ) ECET ( ) litoral do Rio Grande do Norte, essas espécies de aves visitantes do hemisfério norte também utilizam o litoral do Piauí como um ponto de parada ou mesmo de invernada. Conclusão Após o segundo ano de estudo a curva do coletor iniciou o processo de estabilização, o que permite inferir que a suficiência amostral foi alcançada, e durante o desenvolvimento desse estudo não foram registradas colisões entre as aves e os aerogeradores, assim, os dados levantados confirmam a hipótese do baixo impacto da Usina sobre a avifauna local e migratória, mas por conta da flutuação na composição das espécies, faz-se necessária a continuidade dos estudos, tanto para aumentar o número de espécies de aves registradas, quanto para realizar o monitoramento da atividade da avifauna a longo prazo, podendo, dessa forma, mensurar a influência da presença dos aerogeradores em sua dinâmica ecológica. APOIO: PIBIC/ICV e USINA EÓLICA DA PEDRA DO SAL. Referências BARRIOS, L; RODRIGUEZ, A. (2004) Behavioural and environmental correlates of soaring-bird mortality aton-shore wind turbines. J ApplEcol 41:72–81. doi:10.1111/j.1365-2664.2004.00876.x BIRDLIFE. Windfarms and Birds: an analysis of the effects of windfarms on birds and guidance on environmental assessment criteria and site selection issues. Strasbourg, 2003. Disponível em: http://www.birdlife.org acesso em junho de 2012. HUNT, W.G (2002) Golden eagles in a perilous landscape: predicting the effects of mitigation for wind turbineblade-strike mortality. Consultant Report 500–02-043F Sacramento. California Energy Commission,US. HUNT, W.G; JACKMAN, R. E; BROWN, T. L; GILARDI, J. G, DRISCOLL, D. E; CULP, L. 1995. A pilot golden eagle populationstudy in the Altamont Pass wind resource area, California. Report to National Renewable EnergyLaboratory, subcontract XCG. University of California, Santa Cruz, 219 p. HUNTLEY, B; Collingham, Y. C; Green, R, E; Hilton, G, M; Rahbeck, C; Willis, S, G. Potential impacts of climatic change upon geographical distribution of birds. Ibis 148 p. 2006. LANGSTON, R. H. W; PULLAN, J. D. 2003. Windfarms and birds: an analysis of the effects of wind farms on birdsGuidance on Environmental Assessment Criteria and Site Selection Issues. Report by BirdLifeInternational on behalf of the Bern Convention. RSPB, Sandy. LARRAZABAL, M. E de; AZEVEDO-JUNIOR, S. M; P. O. Monitoramento de aves limícolas na Salina Diamante Branco, Galinhos, Rio Grande do Norte, Brasil, Revista Brasileira de Zoologia. 19 (4): 1081 -1089 p, 2002. NWCC (National Wind Coordinating Committee) 2000. National Avian-Power Planning Meeting IV, Carmel, CA, May 2000: Meeting Summary. NWCC c/o RESOLVE Inc. Washington, DC & LGL Ltd. King City, Ontario. http://www.nation-alwind.org/pubs ÁREA: CB ( X ) CHSA ( ) ECET ( ) SIGRIST, T. Guia de Campo: Avifauna Brasileira. I. Pranchas e mapas. Avis Brasilis, 492 p. 2009a. SIGRIST, T. Guia de Campo: Avifauna Brasileira. II. Descrição das espécies. Avis Brasilis, 600 p. 2009b. SOOVACOOL, B. K. 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