Análise do Processo Produtivo dos Tijolos Cerâmicos no

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Análise do Processo Produtivo dos Tijolos Cerâmicos no
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ESTRUTURAL E CONSTRUÇÃO CIVIL
AMANDA VIEIRA E SILVA
ANÁLISE DO PROCESSO PRODUTIVO DOS TIJOLOS CERÂMICOS
NO ESTADO DO CEARÁ – DA EXTRAÇÃO DA
MATÉRIA-PRIMA À FABRICAÇÃO
FORTALEZA
2009
AMANDA VIEIRA
ANÁLISE DO PROCESSO PRODUTIVO DOS TIJOLOS CERÂMICOS
NO ESTADO DO CEARÁ – DA EXTRAÇÃO DA
MATÉRIA-PRIMA À FABRICAÇÃO
Monografia submetida à Coordenação do
Curso de Engenharia Civil da Universidade
Federal do Ceará, como requisito parcial para
obtenção do grau de Engenheiro Civil.
Orientador: Prof. Dr. Alexandre Araújo Bertini
FORTALEZA
2009
AMANDA VIEIRA E SILVA
ANÁLISE DO PROCESSO PRODUTIVO DOS TIJOLOS CERÂMICOS
NO ESTADO DO CEARÁ – DA EXTRAÇÃO DA
MATÉRIA-PRIMA À FABRICAÇÃO
Monografia submetida à Coordenação do Curso de Engenharia Civil, da Universidade Federal
do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.
Aprovada em ____/____/_____
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________
Prof. Dr. Alexandre Araújo Bertini (Orientador)
Universidade Federal do Ceará - UFC
_______________________________________________________
Prof. Aldo de Almeida Oliveira
Universidade Federal do Ceará - UFC
________________________________________________________
Reymard Sávio
Universidade Federal do Ceará - UFC
Dedico este trabalho
sobretudo ao meu Deus
e a meus pais, Ubirajara e Iolanda.
AGRADECIMENTOS
Ao meu Deus, por ser mais que Pai, mais que um Salvador; por me fazer ir além,
quebrando barreiras, desbravando terras, desafiando os medos. Por ser meu melhor Amigo.
Ao professor Alexandre Araújo Bertini, pela orientação, paciência, compreensão e,
acima de tudo, condescendência, na realização deste trabalho e em tantas outras horas em que
foi além da condição de orientador, sendo amigo... Uma parceria e tanto.
Ao meu querido Cristiano Dalvi, por se me ter revelado como a melhor de todas as
surpresas: a imagem especular do meu eu, cópia esculturada do seu dentro de mim. Por ter
primavereado meu trigésimo aniversário, entrando em cena quando eu precisei sair do ar.
Aos meus pais, Ubirajara e Iolanda, que me acolheram com paciência, me dando todo
o apoio necessário. Mesmo em meio a conselhos e broncas diários, repetidos e reiterados...
A minha Irmã Rebeca, por ter sido a irmã única que se tornou grande Amiga. À Amiga
Fran, que se tornou Irmã. E à melhor Amiga dentre todas, que se tornou a melhor Irmã:
Ivana. Um Quarteto Absolutamente Fantástico...
Ao professor Aldo de Almeida Oliveira, pelo carinho, atenção e os muitos conselhos.
Em especial, aqueles para a Vida, que me mostraram meu potencial para os desafios...
Ao professor Rodrigo Amaral de Codes, pelos incentivos sinceros durante nossas longas
conversas, eivadas da dulçura das palavras de seres humanos tão... Especiais. Encontrar
pessoas como você é um privilégio.
À professora Teresa Denyse Araújo, pelo carinho e atenção, além da paciência sem-fim
em responder a meus milhares de e-mails com dezenas de questionamentos e dúvidas.
Ao projeto Finep/MEHIS, na pessoa do meu colega Márcio Monteiro, e ao GERCON,
por todo o material bibliográfico gentilmente cedido para a materialização desta monografia.
Ao colega Reymard Sávio, por ter acolhido tão prontamente meu pedido para que
fizesse parte da Banca, além do apoio acadêmico, em meio a tantos artigos e pontos de vista.
Aos engenheiros Raimundo Calixto e Robson Caetano, chefes que demonstraram toda a
paciência e compreensão, em um momento profissionalmente tão importante pra mim.
E aos demais que, de alguma forma, contribuíram na elaboração desta monografia.
A Argila já me estava presente na vida desde a infância.
Lembro os bonecos e casas e panelas de barro que moldei,
peças nas quais ficaram impressas minhas pequenas e curiosas digitais.
Tudo moldado com muita imaginação e zelo.
Agora, são estas lembranças transformadas em material de trabalho,
num terroso tom de nostalgia, da cor da massa ainda trabalhável,
deixando-se melhorar nas mãos da oleira.
E vive tão imbricada, tão arraigada em mim que,
escondida entre as hemácias, pode-se desconfiar
haver argila em minhas veias...
Amanda Vieira
RESUMO
O setor da construção civil é de suma importância para a economia brasileira. Dentro dele,
assume posição de importância o subsetor da indústria cerâmica, que gera milhares de
empregos diretos e indiretos, informais em sua grande maioria. Concentrando as atenções no
processo produtivo de tijolos cerâmicos, pode-se perceber campo fértil para melhorias e
intervenções positivas, de modo a alavancar o crescimento do setor oleiro-cerâmico nacional.
Este trabalho se propõe a realizar breve descrição do subsetor nacional de tijolos cerâmicos,
restringindo o escopo para o Estado do Ceará. Analisando o estágio de desenvolvimento
tecnológico, as peculiaridades, avanços e entraves ao crescimento, será possível propor novas
diretrizes para o crescimento e desenvolvimento da indústria cerâmica brasileira; tanto no que
tange à mão de obra quanto à infraestrutura das unidades de produção, incluindo-se aí as
qquestões referentes à mineração, meio ambiente e impactos provocados, Qualidade,
realizando, ainda, alguns prognósticos quanto ao futuro do setor.
Palavras-chaves: Processo produtivo, Tijolo cerâmico, Ceará.
ABSTRACT
The Building Industry is one of the most important economic sectors in Brazil. Ceramics
Industry has a prominent position in the Building Industry, due to the generation of thousands
of direct and indirect jobs, most of them hired through informal paths. Focusing on the
ceramic bricks productive process, it is easy to percieve a fertile field to interfere positively,
intending to improve the sector’s growth. The main purpose of this work is to accomplish a
brief survey of the national ceramic brick subsector in Brazil, focussing on the state-of-the-art
in Ceará. Analysing his technological development, particularities, advances and
encumbrances, it may be possible to purpose new guidelines to the Brazilian Ceramic
Industry growth and development; according both to the work force and to the production
units infrastructure, including topics as quality, minelaying, environment and the impacts of
the activity, it is possible to make some prognostics to the Ceramic Sector future.
Keywords: Productive Process, Ceramic Block, Ceará.
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 – Etapa de Secagem pelo processo Natural (Ao ar livre)...............................
Figura 2.2 – Secagem Artificial (Secador).......................................................................
Figura 2.3 – Etapa de Secagem pelo processo Artificial (Secador).................................
Figura 2.4 – Uso de Ventiladores na etapa de Secagem...................................................
Figura 2.5 – Esquema de um Forno Hoffman..................................................................
Figura 2.6 – Forno do Tipo Túnel....................................................................................
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABC – Associação Brasileira de Cerâmica
ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial
ABIMAQ – Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABRAMAT – Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção
ANAMACO – Associação Nacional dos Comerciantes de Materiais de Construção
ANFACER – Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimento
ANICER – Associação Nacional da Indústria Cerâmica
APICER – Associação Portuguesa da Indústria Cerâmica
APL – Arranjos Produtivos Locais
APP – Áreas de Preservação Permanente
ASTERUSSAS – Associação dos Fabricantes de Telhas de Russas
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
BPF – Óleo combustível residual
CEF – Caixa Econômica Federal
CFEM – Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais
COOBAM – Cooperativa de Base Mineral de Russas
CONFINS – Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social
CP – Cadeia Produtiva
ETA – Estações de Tratamento de Esgoto
FIEMG – Sistema Federação das Indústrias de Minas Gerais
FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos
GEE – Gases do Efeito Estufa
GNC – Gás Natural Comprimido
GTP APL – Grupo de Trabalho Permanente para Arranjos Produtivos Locais
ICC – Indústria da Construção Civil
IEL – Instituto Euvaldo Lodi
INT – Instituto Nacional de Tecnologia
ISO – International Organization for Standardization
LGMEPP – Lei Geral da Microempresa e Empresa de Pequeno Porte
MC – Ministério das Cidades
MCT – Ministério de Ciência e Tecnologia
MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
MP – Medida Provisória
MPE – Micro e Pequenas Empresas
OCC – Organismos Certificadores Credenciados
PAC – Programa de Aceleração do Crescimento
PBQP-H – Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade no Habitat
PIB – Produto Interno Bruto
PIS – Programa de Integração Social
PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
PNH – Plano Nacional de Habitação
PSQ – Programa Setorial de Qualidade
RCC – Resíduos de construção civil
RedeAPLmineral – Rede Brasileira de Informação de APLs de Base Mineral
RTM – Regulamento Técnico Metrológico
SM – Salários Mínimos
SOC – Setor Oleiro-Cerâmico
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1.
INTRODUÇÃO
Historicamente, o setor cerâmico vem sendo tomado como peça-chave na
construção civil brasileira e integra uma das áreas consideradas prioritárias pelo Governo
Federal: a Tecnologia Industrial Básica.
Há relatos da atividade de fabricação da cerâmica no Brasil desde antes da
chegada dos colonizadores portugueses, em 1500. Pode-se dizer que o primeiro impulso à
industrialização do setor cerâmico brasileiro ocorreu no final do século XIX, com a instalação
da olaria dos Falchi, que contava com um motor de 40 cavalos de potência, dois amassadores
de argila e equipamento capaz de produzir telhas (BELLINGIERI, 2003). Tempos depois, os
italianos mudaram de ramo, fazendo enorme sucesso entre os paulistas com uma fábrica de
chocolates. Neste período, São Paulo crescia muito rapidamente e começou a haver grande
demanda por tijolos, o que provocou excepcional crescimento da indústria cerâmica, devido
ao franco declínio da técnica de construção em taipa.
Também à mesma época, foi fundada a Sacoman Frères, no bairro do Ipiranga,
em São Paulo. Contando com mão de obra de imigrantes de várias nacionalidades, foram os
Frerès que iniciaram a produção nacional de telhas do tipo Marselha. Anos depois, a olaria
mudou sua razão social para Cerâmica Sacoman S.A.. Logo depois, surgiu outro concorrente
no ramo cerâmico, a Cerâmica Vila Prudente, também cotada entre as cinco maiores
indústrias de cerâmica do Estado no início do século XX.
Os materiais e métodos construtivos utilizados desde então sofreram forte
influência da cultura européia, especialmente nos períodos em que os brasileiros tiveram
contato com profissionais da construção civil formados na Europa, época em que a produção
ainda tinha cunho altamente artesanal, fato que se refletia na indústria de materiais de
construção do período (SILVA, 1993).
Com o passar dos anos, foi ocorrendo crescente especialização nas empresas do
setor, culminando em duas vertentes: as olarias, especializadas em tijolos e telhas, e as
cerâmicas propriamente ditas, focadas na produção de azulejos, louças, potes, tubos e outros
produtos decorativos.
Atualmente, há no mercado forte demanda por produtos de cerâmica vermelha,
com alto valor agregado e destinados a acabamento e revestimento: pisos, soleiras, tijolos,
blocos, placas cerâmicas etc., compondo projetos de visual rústico ou que privilegiem
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elementos naturais. Neste sentido, a indústria cerâmica brasileira vem despontando como uma
das mais criativas e competentes do mundo.
Como produto industrializado, o tijolo cerâmico surge no século XIX, e seu uso se
dissemina rapidamente, devido às suas características de facilidade de execução da alvenaria,
conforto térmico e acústico, facilidade na conformação de geometrias (variadas formas de
boquilhas), boa resistência mecânica etc. Sua evolução e diversificação (dimensões, número e
formato dos furos, por exemplo) também acompanham as exigências do tipo de obra e da
técnica construtiva empregada.
De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para
Revestimento (ANFACER), em 2007, o Brasil está entre os principais produtores mundiais de
cerâmica, atrás da China (com 3,5 bilhões de m2) e da Espanha (com 685 milhões de m2).
Com produção de 637 milhões de m2, ultrapassa as produções da Itália (563 milhões de m2) e
Índia (360 milhões de m2).
A Indústria Cerâmica tem papel de relevância para a economia nacional, sendo
um dos setores da Indústria da Construção Civil (ICC) de expressiva participação no Produto
Interno Bruto (PIB). Segundo o Sistema Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG),
o setor ceramista participa com, em média, 5% do PIB da ICC que, por sua vez, representa
entre 6% e 9% do PIB nacional, a depender do ano considerado (SEBRAE/MG, 2005).
Além da importância econômica, a indústria da construção civil (ICC) tem
relevante papel social, tanto pela capacidade de diminuição do déficit habitacional brasileiro
como por seu potencial de geração de emprego e renda.
Nos dias atuais, apesar de seu papel na economia brasileira, o setor oleirocerâmico (SOC) é extremamente pulverizado, composto eminentemente por empresas de
pequeno porte, do tipo familiares, com forte presença da economia informal. E dado que
existem poucas barreiras à entrada de novos competidores no mercado, por causa do baixo
custo do investimento inicial e da tecnologia bastante acessível, há um grande número de
empresas, formais ou não, disputando o consumidor final. No entanto, a grande maioria deles
não tem nenhum diferencial (valor agregado) que atraia o consumidor e faça-o preferir,
procurar ou mesmo exigir determinada marca, pagando a mais por ela. Em geral, o que se vê é
um comprador insatisfeito com o produto que adquire, de qualidade inferior e que
normalmente não atende às especificações normativas (nos casos em que esta normalização
existe).
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Convivem no setor ceramista empresas com alto grau de tecnologia incorporada à
fabricação do elemento cerâmico, de grande porte e com atuação no mercado internacional, e
aquelas que produzem itens não-conformes, geralmente deixados para o mercado interno. Esta
produção em desconformidade com as normas técnicas tornou-se forma de competição
predatória, impulsionada pela falta de critério do consumidor para a seleção deste ou aquele
produto, finde provocando a saída de alguns fabricantes do mercado.
Considerando os problemas relativos ao setor cerâmico nacional, mais
notadamente do cearense, ficam claras as perdas sofridas, em especial na qualidade do
produto final e nos índices de produtividade. Em última instância, as monetárias, o que
embaraça o tão almejado desenvolvimento do setor ceramista brasileiro. Desse modo, os
conceitos de gestão dos processos produtivos podem e devem ser implementados na solução
dos mais variados problemas que o afetam.
1.1
Objetivos
Dada a relevância da participação dos elementos cerâmicos na construção civil
brasileira, toma vulto a necessidade de melhor compreender o setor, tanto no que diz respeito
ao estado da arte como aos problemas enfrentados por todos os atores envolvidos: desde
aqueles que lidam com a captação dos insumos necessários à produção do elemento cerâmico
até os que trabalham com a produção propriamente dita, em olarias e cerâmicas.
Ressalta-se, ainda, a escassez de produção científica que enfoque o processo
produtivo dos tijolos cerâmicos no Estado do Ceará.
Soares e Nascimento (2007) avaliaram a influência do processo produtivo e das
tecnologias empregadas na qualidade final de peças cerâmicas produzidas no Estado do Piauí,
realizando descrição breve das etapas de fabricação dos elementos contemplados no estudo:
telhas e tijolos. As telhas prensadas foram classificadas como os elementos de melhores
propriedades tecnológicas e estética, pontos decorrentes da seleção das argilas usadas nas
composições da massa, do método de conformação e do rigor no processo produtivo.
Mota et al. (2006) analisaram propriedades estruturais e térmicas de elementos
cerâmicos produzidos na região Norte-Fluminense, comparando seus resultados com dados já
existentes em literatura, reforçando a aplicabilidade das técnicas por eles empregadas
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(Difração de Raios-X, Condutividade, Difusividade etc.) no referido estudo, no
monitoramento da qualidade do produto final.
Silva (2007) se dedicou ao estudo dos impactos ambientais da expansão da
indústria cerâmica vermelha no Estado do Rio Grande do Norte. E, relacionando impactos
ambientais e qualidade, alguns autores se dedicaram ao estudo da adição de resíduos de outros
processos produtivos à massa argilosa. Ripoli Filho (1997) estudou a adição de chamote
(subproduto proveniente de rejeitos de material cerâmico), Oliveira e Holanda (2008), a
adição do lodo residual de estações de tratamento de águas (ETA), Lopes (2005), do rejeito de
pó de fumo, e Xavier et al. (2007), de resíduo de granito, evidenciando aí algumas das várias
opções de aditivos que imprimem melhorias às peças cerâmicas.
Há trabalhos relacionados a fases do processo produtivo, tais como o de Vieira et
al. (2003), que avaliou a etapa de secagem a partir da Curva de Bigot (variação da retração em
função da umidade das peças), e sobre estratégias competitivas, Costa e Toledo (2008)
focaram as atenções em empresas cerâmicas de gerência familiar, mas com produção voltada
para o mercado de revestimentos do pólo de Santa Gertrudes (SP). Não há, no entanto, muitos
trabalhos enfocando o processo produtivo propriamente dito.
Os trabalhos que mais se aproximaram do enfoque desta monografia foram
SEBRAE (2008) e Pessoa (2004). SEBRAE (2008) realizou um Estudo de Mercado que,
através de uma análise setorial, abordou questões relevantes como preços praticados no
varejo, caracterização do consumidor e ações de marketing, realizando, ainda, diagnóstico de
mercado e pontuando suas tendências, propondo algumas estratégias competitivas para o setor
ceramista brasileiro. Já Pessoa se dedicou às tecnologias e técnicas aplicáveis ao
desenvolvimento com sustentabilidade, particularizando suas considerações para o caso do
pólo ceramista do Município de Russas, no Ceará.
1.1.1
Objetivo geral
O objetivo geral deste trabalho é discorrer de modo breve sobre o processo
produtivo dos tijolos cerâmicos no cenário brasileiro atual, abordando questões relevantes,
tais como energia, meio ambiente e qualidade, com posterior afunilamento do foco, reduzindo
a abrangência para a presente situação no Estado do Ceará, sem ter, obviamente, nenhuma
pretensão de esgotar o tema.
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1.1.2
Objetivos específicos
Apresentam-se como objetivos específicos:
• Aprofundar os estudos relacionados ao processo produtivo dos tijolos cerâmicos; e
• Compreender melhor toda a problemática relacionada a Meio Ambiente, Energia e
Qualidade no setor cerâmico; e
• Analisar o estágio de desenvolvimento do SOC brasileiro.
1.2. Metodologia
Para a consecução dos objetivos apresentados, foi realizada pesquisa bibliográfica
de caráter conceitual, consultando literatura relacionada ao tema, constante de artigos,
documentos públicos e textos científicos, obtidos de fontes diversas, em bibliotecas
tradicionais e digitais, sítios eletrônicos de entidades relacionadas ao setor ceramista, mundial,
nacional, regional ou local, além de consultas a centros virtuais de referência para a
construção civil.
Em cada capítulo, os assuntos abordados foram escolhidos a partir de seu grau de
importância para o SOC brasileiro, ensejando concomitantemente o apontamento e uma breve
discussão de tópicos relacionados a cada um deles.
Entre os meses de março e agosto, a pesquisa por material bibliográfico se
confirmou como sendo a principal atividade desenvolvida. Entre setembro e novembro, dando
continuidade ao que havia sido compilado até julho, quando da elaboração do Relatório
Parcial, contendo já boa parte da revisão bibliográfica, partiu-se para a elaboração do texto
final da monografia, tendo-se intensificado os trabalhos nos meses de outubro e novembro, até
a entrega do Relatório Final, no início de dezembro, quando submetido à Banca Examinadora.
1.3. Estrutura do Trabalho
Esta monografia está dividida em 7 capítulos. Este introdutório versa de modo
breve sobre a contextualização do problema, justificativa, metodologia e objetivos.
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O capítulo segundo trata da Revisão Bibliográfica realizada sobre cerâmica
vermelha, abordando, ainda, classificação dos segmentos cerâmicos e informações acerca do
processo de produção das peças. O terceiro trata da caracterização do setor ceramista
brasileiro, contemplando histórico, situação atual e problemas enfrentados pelo setor. O
capítulo quarto enfoca a Qualidade na indústria cerâmica, o quinto, os assuntos relativos a
meio ambiente e, no sexto, as atenções se voltam para o Estado do Ceará.
Ao final, nas conclusões, são feitas considerações acerca dos prognósticos para o
setor e algumas estratégias são sugeridas, no intuito de enriquecer o leque de medidas a ser
implementadas para promover o tão almejado crescimento com sustentabilidade do SOC
brasileiro.
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2.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A argila é utilizada como material de construção desde 4.000 a.C., mas não se
sabe ao certo época e local de origem do primeiro tijolo. O homem teria passado a usar blocos
secos ao sol quando as pedras naturais começaram a ficar escassas. O registro mais antigo de
um tijolo foi encontrado nas escavações arqueológicas na cidade de Jericó, no Oriente Médio,
datado do período Neolítico inicial (ANICER, 2002).
A história da cerâmica caminha junto com a história da humanidade. A argila é
utilizada em todas as sociedades – das mais antigas às modernas. Há achados arqueológicos
datados de 5.000 a.C., na região de Anatólia (Ásia Menor). Na Grécia, eram comuns as
pinturas em cerâmicas retratando cenas de batalhas e conquistas bélicas, e, na China, a
produção de peças estava relacionada à tradição religiosa (ITAÚ, 2006).
A cerâmica pode ser artística, produzindo artefatos de aplicações estéticas, ou uma
atividade industrial, produzindo artefatos utilitários (SEBRAE, 2008b). O termo Cerâmica
(do grego, keramike, derivação de keramos) compreende todos os materiais inorgânicos, nãometálicos, moldados durante sua fase plástica e submetidos à cocção, a temperaturas entre
900°C e 1.000°C. Neste processo, denominado Queima, a argila plástica adquire rigidez e
resistência, mediante a fusão de alguns componentes da massa.
No Brasil, a cerâmica tem sua origem na Ilha de Marajó, que compreendia
técnicas de raspagem, incisão, excisão e pintura altamente elaboradas. Destarte, a tradição
ceramista não chegou ao Brasil com os portugueses, nem veio junto com a bagagem cultural
dos africanos. Os colonizadores, instalando as primeiras olarias, apenas estruturaram e
concentraram mão de obra, modificando o processo nativo, muito rudimentar, com as
tecnologias da época, a exemplo do uso do torno e das “rodadeiras”, conferindo simetria e
acabamento mais refinado às peças (SEBRAE, 2008b).
O setor oleiro-cerâmico (SOC) é bastante diversificado, compreendendo não
apenas a cerâmica vermelha, mas outros segmentos, tais como o de materiais de revestimento,
o de louças sanitária e de mesa, a cerâmica artística (decorativa e utilitária), os materiais
refratários, dentre outros. No Brasil, todos estes segmentos podem ser encontrados, em maior
ou menor grau de desenvolvimento e capacidade de produção. Há, ainda, no país, fabricantes
de matérias-primas sintéticas para cerâmica (alumina calcinada e eletrofundida, p.ex.), de
vidrados e corantes, gesso, equipamentos industriais e produtos auxiliares (ABC, 2002b).
17
Dados divulgados pelo IBGE, em 2008, a Agropecuária foi a atividade com maior
crescimento, 5,8%, enquanto a Indústria cresceu 4,3%. Dentre os subsetores da Indústria, a
maior alta foi na Construção Civil (8,0%). A Extrativa Mineral subiu 4,3%, em decorrência,
principalmente, do crescimento na produção de petróleo e gás. Para 2009, segundo as
estimativas do Sindicato da Construção Civil de Grandes Estruturas no Estado de São Paulo
(Sinduscon-SP), o PIB deve crescer 3,8% e a construção civil, 4,7%.
A abundância de matérias-primas naturais, fontes alternativas de energia e
disponibilidade de tecnologias práticas embutidas nos equipamentos industriais, fizeram com
que as indústrias brasileiras evoluíssem rapidamente e muitos tipos de produtos dos diversos
segmentos cerâmicos atingissem nível de qualidade mundial com apreciável quantidade
exportada (ABC, 2002b).
As regiões Sul e Sudeste, com maior densidade demográfica, atividade industrial e
agropecuária, melhor infraestrutura e distribuição de renda, apresentam a maior concentração
de indústrias de todos os segmentos cerâmicos. Deve-se considerar, ainda, a proximidade de
jazidas e matérias-primas, além da disponibilidade de energia, centros de pesquisa,
universidades e escolas técnicas. No entanto, a região Nordeste tem apresentado crescente
desenvolvimento, em especial nos setores da indústria e turismo. A demanda por edificações e
instalações industriais tem crescido de maneira acentuada, aumentando, conseguintemente, a
demanda por materiais cerâmicos, em especial dos ligados à construção civil.
2.1. Classificação Geral do Setor Cerâmico
O setor cerâmico é extremamente heterogêneo e pode ser classificado, segundo a
ABC, em nove segmentos diferentes, função das matérias-primas, propriedades e áreas de
aplicação.
a) Cerâmica Vermelha
Compreende os materiais com coloração avermelhada, empregados na construção
civil, tais como tijolos, blocos, telhas, elementos vazados, lajes, tubos cerâmicos e argilas
expandidas, e utensílios de uso doméstico e decorativos.
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b) Materiais de Revestimento (Placas Cerâmicas)
São aqueles em forma de placas, usados na construção civil para revestimento de
pisos, paredes, bancadas e piscinas, tanto em ambientes internos como em externos: azulejo,
pastilha, lajota, piso, grês porcelanato etc.
c) Cerâmica Branca
Compreende os materiais constituídos por um corpo branco recoberto por camada
vítrea transparente e incolor. Foram assim agrupados por causa da cor branca da massa,
necessária por razões estéticas e/ou técnicas. São as louças sanitárias, as de mesa, os
isoladores elétricos e as cerâmicas artísticas, bem como as de finalidade química, elétrica,
térmica e mecânica.
d) Materiais Refratários
Materiais com a capacidade de suportar ciclos repetidos de aquecimento e
resfriamento, a temperaturas elevadas, o que envolve esforços mecânicos, ataques químicos e
outras solicitações. Para suportá-las, vários tipos diferentes de refratários foram
desenvolvidos, a partir de diversas matérias-primas ou associações entre elas. Dessa forma,
podem ser categorizados quanto à matéria-prima ou ao componente químico principal:
silicosos, aluminosos, silicoaluminosos, cromítico-magnesianos, zircônicos, dentre outros.
e) Isolantes Térmicos
Os isolantes podem ser classificados em: (a) isolantes térmicos não-refratários; e
(b) fibras ou lãs cerâmicas, com características físicas que os permitem suportar temperaturas
de utilização acima de 2000ºC.
f) Fritas e Corantes
Frita é um vidro moído, fabricado a partir da fusão de diferentes matérias-primas.
É aplicado à superfície do corpo cerâmico que, após a queima, adquire aspecto vítreo. Este
acabamento é meramente estético, mas torna a peça impermeável e aumenta a resistência
mecânica. Corantes são óxidos puros ou pigmentos inorgânicos sintéticos, obtidos por
calcinação e moagem, adicionados aos esmaltes (fritas) e aos biscoitos cerâmicos.
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g) Abrasivos
Alguns abrasivos são obtidos a partir de matérias-primas cerâmicas e por
processos semelhantes aos da cerâmica. Podem ser citados o óxido de alumínio eletrofundido
e o carbeto de silício.
h) Vidro, Cimento e Cal
São três importantes segmentos cerâmicos que, por suas peculiaridades, não são,
em geral, enquadrados como tal, e considerados como segmentos autônomos.
i) Cerâmica de Alta Tecnologia
O desenvolvimento da Ciência dos Materiais proporcionou o aprimoramento de
materiais desenvolvidos a partir de matérias-primas sintéticas, de altíssima pureza, por meio
de processos rigorosamente controlados. Podem ser classificados em: eletroeletrônicos,
magnéticos, ópticos, químicos, térmicos, mecânicos, biológicos e nucleares.
2.2. Tijolos cerâmicos
Para a Associação Portuguesa da Indústria Cerâmica (APICER, 2000), os tijolos
cerâmicos podem ser classificados de acordo com suas características e quanto ao tipo de
aplicação.
Quanto às características, destacam-se:
•
Maciço – o volume de argila cozida não é inferior a 85% de seu volume total aparente;
•
Furado – apresenta furos ou canais de formas e dimensões variadas, paralelos às suas
maiores arestas; e
•
Perfurado – com furos perpendiculares ao leito.
Quanto ao tipo de aplicação:
•
Face à vista – destinados a permanecer aparentes no interior ou exterior da edificação;
•
Enchimento – sem função resistente, suportando apenas seu peso próprio; e
•
Estruturais – com função estrutural na construção.
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Outra classificação, proposta pelo INMETRO (2001), divide os blocos cerâmicos
utilizados na construção civil, produzidos no Brasil como sendo de vedação ou estruturais.
Blocos de Vedação são os destinados à execução de paredes, que suportam seu
peso próprio e pequenas cargas de ocupação (armários, pias, prateleiras etc). Mais comumente
utilizados com os furos na horizontal, a despeito de já ser sentida tendência do uso com furos
na vertical.
Blocos estruturais (ou portantes) são os que, além de exercer função de vedação,
também constituem a estrutura resistente da edificação, podendo substituir pilares e vigas de
concreto. Utilizados com furos sempre na vertical, apresentam elevada resistência mecânica e
dimensões padronizadas, fazendo com que a Alvenaria Estrutural concorra diretamente com
um sistema construtivo muito tradicional no Brasil, o concreto armado.
2.3. Processo de confecção do tijolo
A partir da captação da matéria-prima, a argila, é efetuado um processamento,
onde ela é laminada e destorroada, com a finalidade de se diminuir a granulometria e reduzir
futuras quebras. Daí, a pasta é laminada pela segunda vez com água e aditivos que, em geral,
têm a finalidade de fazer correções nas características químicas e mineralógicas da massa,
eliminando componentes prejudiciais e melhorando a trabalhabilidade. Isto garante condições
de plasticidade, para que a massa seja submetida à conformação – a moldagem propriamente
dita –, feita em máquinas extrusoras. Após a extrusão, os tijolos são cortados, segundo as
dimensões desejadas, e postos para secar. Por fim, são cozidos a temperaturas que variam
entre 800 e 1.000°C e, após o resfriamento, alguns tipos de peças cerâmicas são submetidos à
esmaltação e decoração. Em algumas indústrias, são estocados em lotes paletizados e
protegidos por filme plástico.
Nestas várias etapas, podem ocorrer problemas que provoquem a desvirtuação do
produto final, diminuindo sua qualidade. O bom gerenciamento de todas as fases contribui
tanto para evitar os desperdícios e perdas como para garantir a qualidade e a conformidade
com as normas técnicas vigentes. E um produto final de boa qualidade não apenas atrai o
consumidor, mas favorece o desenvolvimento do setor como um todo, no instante em que
acirra a competitividade entre as empresas no ramo.
21
2.3.1
Extração e Preparação da Massa
Grande parte das argilas utilizadas na indústria cerâmica é natural, sendo
encontradas em depósitos dispersos pela crosta terrestre. Após a mineração, as argilas passam
por uma pré-transformação, que consiste na redução granulométrica (desagregação ou
moagem), mistura e homogeneização. O processo de fabricação propriamente dito tem início
após estas operações.
As argilas in natura podem apresentar diferentes teores de umidade, sendo
classificadas em Secas (umidade relativa de até 6%), Semissecas (7% a 10%), Semiúmidas
(11% a 18%) e Úmidas (maior que 18%) (DANTAS NETO, 2007). No entanto, para massas
de composição diferente e mesmo teor de umidade, não se pode esperar comportamentos
semelhantes, sendo indicada a realização de ensaios laboratoriais de caracterização. Ainda
devem ser levadas em consideração as variáveis intrínsecas, tais como área de procedência
(jazida), clima da região e métodos de trabalho aplicados no processo produtivo.
Grãos com grandes dimensões (até 600mm) devem ser pré-triturados, até que
estejam compatíveis com as dimensões das bocas de alimentação dos moinhos primários (até
200mm). Em função da dureza, trabalhabilidade e triturabilidade, as argilas podem ser
categorizadas na escala de Mohs, em Duras (6-7 Mohs), Semiduras (5-6 Mohs) ou Moles
(menor que 4 Mohs) (DANTAS NETO, 2007). A condição ideal para a aplicação da moagem
é que a argila seja cotada como dura ou semidura e apresente umidade não maior que 18%.
De outra forma, pode-se fazer uso das diversas metodologias de preparação disponíveis,
mecanizadas ou não.
Nos meses menos chuvosos, as quantidades necessárias para a produção nos
meses invernosos são extraídas e armazenadas na fábrica em leiras, ao ar livre. No verão, elas
são revolvidas e espalhadas, para perder umidade sob ação do calor solar. Depois deste
‘descanso’ – que é de 1 a 2 dias, para a produção de tijolos, e de até 1 mês, para telhas –, o
teor de umidade da argila permite o processamento a seco. Quando isto não ocorre, a umidade
da argila é reduzida durante a fase de secagem.
Os elementos cerâmicos são, normalmente, fabricados a partir da composição de
dois ou mais tipos diferentes de argilas. Destarte, a dosagem, feita em equipamentos
denominados misturadores, é uma das etapas fundamentais do processo de fabricação de
produtos cerâmicos e deve seguir, com rigor, os percentuais previamente determinados nos
ensaios de caracterização.
22
O gerenciamento das variações das massas advindas das jazidas tem despontado
como um dos cuidados primários com o material. A partir do estudo das propriedades das
argilas, é possível ir ‘otimizando’ a massa gradativamente, a fim de obter melhor
comportamento físico, plasticidade e características mecânicas finais da peça.
O estudo realizado por Chaves e Santos (2006), na região de Monte Carmelo
(MG), demonstrou que o gerenciamento dos diferentes tipos de argilas utilizados e a
preparação da mistura melhoram substancialmente as características das peças após as etapas
de queima e secagem. Ademais, a interpretação do percentual de resíduo empregado
(aditivos) e das faixas granulométricas adotadas foram consideradas importantes, tanto para as
fases de moldagem e extrusão quanto para as de secagem e evaporação da água por
capilaridade. Após a queima, os corpos-de-prova apresentaram melhor desempenho em
relação à retração, índice de absorção de água e tensão de ruptura à flexão, quando
comparados com a massa padrão.
Segundo o professor Amando Alves Oliveira, da Escola Senai Mario Amato (SP),
a etapa de descanso da massa, por um ou dois dias, coberta por lona preta, é mais importante,
por exemplo, do que o uso de boquilhas de excelente qualidade. A regulagem dos
equipamentos na fábrica é apenas a ‘sintonia fina’ da produção, devendo eles ser ajustados
depois que se garantiu a adequada preparação da massa e os ensaios laboratoriais necessários.
Na combinação das argilas, são utilizados aditivos, com o objetivo de efetuar
correções na massa. O chamote (resíduo cerâmico queimado e rejeitado ao fim do processo) é
comumente adicionado à massa e, em pequenas quantidades (5–10%), não causa alterações
negativas. Ao contrário, aumenta a eficiência dos moinhos, facilitando a trituração e a fluidez
de movimento de alguns tipos de argilas. Adicionalmente, ele contribui para a minimização da
geração de resíduos, estabiliza a mistura sem diminuir sua plasticidade, aumenta a resistência
mecânica, melhora a porosidade global da pasta úmida e exerce função de ligante, agregando
os grãos (Manfredini&Schianchi, 2009).
2.3.2
Conformação do produto cerâmico
Existem diversos processos de conformação para peças cerâmicas: colagem,
prensagem, extrusão e torneamento. A seleção de um ou outro depende fundamentalmente da
geometria e características do produto desejado. A massa, ainda úmida (W=22%) e na fase
23
plástica, é colocada numa extrusora a vácuo, também conhecida como maromba, onde é
compactada e forçada, por um pistão (eixo helicoidal), a passar através da boquilha. Obtémse, então, uma coluna extrudada, com seção transversal no formato e dimensões desejados,
que é, em seguida, cortada, obtendo-se, assim, as peças: tijolos furados, blocos, tubos, telhas
etc. No caso das telhas, há ainda a etapa da prensagem, tornando a fase de extrusão
intermediária no processo.
2.3.3
Secagem e Queima
O processamento térmico, que compreende as etapas de secagem e queima, é de
crucial importância para a obtenção de um produto cerâmico, pois dele depende o correto
desenvolvimento de suas propriedades finais.
Após a conformação, as peças ainda contêm água. Para evitar o aparecimento de
tensões e futuros defeitos, faz-se necessário eliminá-la, de forma lenta e gradual, com a
exposição ao calor e a ambientes ventilados, com controle da taxa de aquecimento, ventilação
e umidade relativa do ar. Isto pode ser feito em secadores intermitentes ou contínuos, com
temperaturas variando entre 50ºC e 150ºC.
No caso de secagem natural, há necessidade de cuidados adicionais. O processo é
mais lento e muito empírico. Pode ocorrer, por exemplo, secagem abrupta, provocando o
aparecimento tensões e trincas, que inviabilizam a ida da peça para o forno (queima). A fim
de evitar isto, a distribuição das peças no secador deve permitir fluxo de ar uniforme, mas
resguardadas de ventilação ou calor excessivos (ABC, 2002c).
24
Figura 2.1 – Etapa de Secagem pelo processo Natural (Ao ar livre).
(Fonte: Professor Amando Alves Oliveira, SENAI-SP)
Figura 2.2 – Secagem Artificial (Secador).
(Fonte: Professor Amando Alves Oliveira, SENAI-SP).
Na etapa de secagem, faz-se o monitoramento da Curva de Bigot, que representa a
evolução da retração da peça em função da perda de água de conformação (umidade). Em um
estudo realizado por Vieira et al. (2003), foram preparadas composições de argila e areia, a
5%, 10%, 15% e 20%, em peso. Os resultados indicaram que a adição de areia à massa
25
cerâmica contribui para a redução do volume de água necessário à obtenção da plasticidade e
trabalhabilidade satisfatórias, e adicionalmente, para promover melhor ‘acomodação’ das
partículas, minimizando a retração.
Figura 2.3 – Etapa de Secagem pelo processo Artificial (Secador).
(Fonte: Professor Amando Alves Oliveira, SENAI-SP).
Figura 2.4 – Uso de Ventiladores na etapa de Secagem.
(Fonte: Professor Amando Alves Oliveira, SENAI-SP).
26
A queima ou sinterização é o processo em que o calor provoca transformações
físico-químicas na massa argilosa, modificando as características de cru em propriedades
cerâmicas. O tratamento térmico é realizado entre 800ºC a 1700ºC, em fornos do tipo
contínuos ou intermitentes, que operam em três fases: (a) Aquecimento até a temperatura
desejada; (b) Permanência em um platô, durante certo tempo. à temperatura especificada; e (c)
Resfriamento até temperaturas inferiores a 200ºC (NetCeramics, 2009).
Durante a queima, que pode variar de alguns minutos a vários dias, ocorre uma
série de transformações: perda de massa (por perda de água), desenvolvimento de novas fases
cristalinas e soldagem dos grãos. A resistência mecânica, a contração linear, a absorção e a
porosidade são aspectos adquiridos não só pela boa uniformidade e controle da massa argilosa
e perfeita secagem, mas, também, a partir da boa operação do forno (ANICER, 2008).
Na implantação da indústria, a escolha do forno deve levar em consideração o tipo
de produto a ser fabricado e as características do tipo de argila de que se dispõe. Devem ser
analisados, também, o espaço disponível (leiaute do chão-de-fábrica) – dado que
determinados fornos exigem áreas maiores para funcionar –, o volume de produção – quanto
maior a demanda, maior deve ser a capacidade de resposta do forno – e os combustíveis
disponíveis. Na aquisição do equipamento, o ceramista deve pensar no quesito eficiência
energética, assunto que será abordado em pormenores no capítulo Meio Ambiente.
Atualmente, o forno tipo Túnel é tido como um dos melhores pela maioria dos
ceramistas, por garantir baixo consumo energético aliado à uniformidade de queima, o que
resulta em produtos com a mesma tonalidade e boa qualidade. Mas já existe, no mercado, uma
versão melhorada, dotada de isolamento das porções inferiores do vagão com água, para
minorar ainda mais as perdas de calor (ANICER, 2009a).
Alguns equipamentos, tidos como auxiliares, são excelentes ferramenta para o
ceramista. Controladores de pressão dentro do forno, Indicadores de dureza da massa,
Indicadores de corrente na maromba (para evitar esforço exagerado do motor), Softwares para
monitoramento, registro e controle da curva de queima, dentre outros, certamente promovem
economia de combustível, além de interferirem na qualidade final do produto.
Tipos de Fornos
Os fornos podem ser Intermitentes ou Contínuos. A seguir, apresenta-se a
classificação dos tipos de Fornos, com algumas de suas principais características, proposta
pela Anicer (2009a).
27
Fornos Intermitentes
Os fornos intermitentes são especialmente concebidos para a queima de pequenos
volumes de peças cerâmicas. Citam-se, aqui, os mais comuns no país: paulistinha e abóbada.
Forno Paulistinha
É retangular, com queimadores laterais. Muito utilizado para a queima de telhas,
mas é pouco econômico e difícil de operar. Importa verificar a relação custo/benefício e
monitorar a distribuição do calor, que, se irregular, pode gerar peças com cor e resistência
diferentes, mesmo num mesmo lote. Para melhores resultados, deve-se manter a constância da
velocidade de queima.
Forno Abóbada
Um dos melhores para telhas, mesmo com deficiências de qualidade e
produtividade. É econômico, de fácil operação e se adapta bem a qualquer combustível. Não
oferece calor nas laterais nem controle de registros e a velocidade de aquecimento é muito
alta, havendo risco de requeima do material. É imprescindível garantir a velocidade de
aquecimento, a alimentação das fornalhas e as condições dos componentes mecânicos.
Fornos Contínuos
São econômicos e de operação simples. O carregamento e descarregamento das
peças é continuado, sem interrupções. Destinam-se a grandes capacidades de produção e
exigem bastante conhecimento técnico do operador. São descritos o Hoffmann e o Túnel.
Forno Hoffmann
É o mais comum forno do tipo contínuo na queima de blocos, muito econômico e
de manuseio simples, apresentando boa produtividade e baixo consumo de energia. Usa o ar
quente proveniente das câmaras antecessoras nas seguintes, já que todas são interconectadas.
Os cuidados residem na possibilidade de requeimas na soleira (parte inferior) e queima
insuficiente no teto, falta de oxigenação das porções laterais e ocorrência de peças com trincas
de secagem. Controlar as passagens de ar quente e não manter observação constante durante a
queima são diretrizes importantes na operação deste tipo de forno.
Figura 2.5 – Esquema de um Forno Hoffman (Fonte: Alutal).
28
Forno Túnel
Oferece ótimo rendimento operacional e energético. A movimentação das peças é
feita em carros metálicos (vagonetas), sobre os quais é montada uma base cerâmica, onde são
arrumadas as pilhas de peças. Neste modelo, o ar quente que está saindo da zona de
resfriamento pode retornar à zona de combustão ou auxiliar na secagem das peças. É preciso
manter limpa a saída da chaminé e evitar barreiras que atrapalhem a circulação das vagonetas.
Figura 2.6 – Forno do Tipo Túnel.
(Fonte: Professor Amando Alves Oliveira, SENAI-SP).
2.3.4
Controles de Processo
Após a retirada do forno, as peças são inspecionadas e remetidas ao consumo.
Alguns produtos cerâmicos, tais como louças sanitárias e de mesa, isoladores elétricos e
materiais de revestimento, recebem camada fina e contínua de esmalte que, após a queima,
adquire aspecto vítreo. Esta camada melhora os aspectos estéticos e higiênicos, bem como
propriedades mecânicas e elétricas (NetCeramics, 2009).
29
3.
O SETOR OLEIRO-CERÂMICO
“Ao longo dos anos, percebemos nitidamente a ampliação do foco. Se antes valia a
qualidade, agora os setores buscam uma imagem completa e que reúna conformidade,
respeito ao meio ambiente, saúde do trabalhador e a melhor relação custo-benefício”
Ricardo Kelsch
Diretor da Anicer
Nas últimas décadas, as mudanças ocorridas no mundo tornaram as relações no
campo econômico cada vez mais dinâmicas e instantâneas, obrigando as empresas a encontrar
soluções para enfrentar novos desafios. Distâncias geográficas e barreiras alfandegárias entre
países, já não se configuram mais como problemas, dados os avanços nas áreas da aviação,
logística e a criação de mercados de livre comércio. Isto impulsionou investimentos em
tecnologia, sistemas de informação e capacitação de mão de obra, além de permitir às
empresas diversificação de mercados consumidores.
Além da importância econômica, a ICC tem papel social de relevância, tanto pela
capacidade de diminuição do déficit habitacional brasileiro como por seu potencial de geração
de emprego e renda. Por sua vez, o SOC nacional participa com fatia substancial nas riquezas
geradas pela ICC, empregando milhões de pessoas, direta e indiretamente, com faturamentos
que giram na casa dos bilhões anuais (SEBRAE, 2008b; BUSTAMANTE e BRESSIANI,
2000). Após período de retração e recente retomada do crescimento, os prognósticos são
animadores.
3.1. Histórico do Setor
Dados
estatísticos
e
indicadores
são
ferramentas
imprescindíveis
ao
acompanhamento do desempenho de qualquer atividade econômica. O Setor Cerâmico
Brasileiro, de um modo geral, tem carência de catalogação científica de seus dados,
consequência do imenso número de empresas competindo e da informalidade que o permeia.
Segmentos mais organizados, tais como Refratários, Revestimentos e Isoladores
Elétricos, têm tradicionalmente compilado e divulgado periodicamente informações, através
de suas entidades representativas, sendo, portanto, retratados com maior fidelidade. Para os
demais segmentos da ICC, os dados estatísticos levados a público são apenas estimativas de
30
instituições como o IBGE, Ministério de Minas e Energia, Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior etc.
Entre 1998 e 2003, a economia brasileira viveu período de recessão, alvejando o
setor oleiro-cerâmico em cheio, em especial pelos parcos investimentos realizados na
construção civil. A produção continuou, mas o mercado não foi capaz de absorvê-la e, assim,
muitas empresas quebraram por não suportar a inadimplência e os prejuízos acumulados.
A suave retomada do crescimento, em 2004, não atingiu as pequenas e médias
construtoras nem foi suficiente para conter a onda de falências e de dificuldades financeiras,
principalmente porque as micro e pequenas representavam a imensa maioria das empresas
competindo no setor e empregavam grande massa de trabalhadores formalizados. Até 2005, a
indústria trabalhou com capacidade ociosa em função da estagnação econômica, mas
conseguiu manter níveis razoáveis de exportação e investir no desenvolvimento de novos
produtos, ainda que mais timidamente.
O Governo Federal mudou de atitude em relação à ICC, percebendo que ela
poderia ser uma excelente propulsora da retomada concreta do crescimento econômico e
social do país. Em 2006, houve forte redução na carga tributária, disponibilização de recursos
e financiamentos (com prazos de até trinta anos), redução das taxas de juros e a euforia
provocada pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Reagindo muito bem, a
indústria tornou a crescer, por causa do reaquecimento do mercado da construção, o que foi
excelente para um de seus pilares, a indústria de materiais.
Segundo dados da Anicer, em 2005, houve queda de 2% no faturamento do setor
que começou a dar sinais de recuperação em 2006, com crescimento de 6,3% e, em 2007, de
15,5%. Neste ano, os ceramistas foram às feiras e congressos com o intuito claro e firme de
investir. O momento econômico e as pressões multilaterais pela conformidade dos produtos e
qualidade acabaram forçando investimentos em modernização de equipamentos e capacitação
de mão de obra, levando o faturamento do setor a cerca de 6 bilhões de reais (ANICER,
2007d).
Em 2008, as perspectivas de crescimento chegaram a mais de 10% e o
empresariado continuou a investir em ampliação do parque tecnológico e de sua capacidade
de produção. Com um leque de frentes de trabalho que foi da construção pesada às habitações
em regime de autoconstrução, os índices de crescimento e os investimentos superaram as
previsões. O setor começou a atuar de maneira mais prática em relação a questões
31
consideradas até então como de menor importância, como a embalagem de seus produtos e a
movimentação dos estoques nas revendas e canteiros de obras (adotando a paletização, por
exemplo). Ademais, foram motivo de ricas discussões a necessidade de marketing nas
revendas, a redução dos prazos de entrega e a flexibilização das linhas de produção
(customização de produtos para o consumidor final), além das restrições ao consumo de
energia elétrica, tanto por conta de tarifas mais caras como pela ameaça de um possível
racionamento.
O subsetor de materiais de construção cresceu em 2008 e, segundo a Associação
Nacional dos Comerciantes de Materiais de Construção (ANAMACO, apud ANICER, 2008),
os materiais básicos, dentre eles, os blocos cerâmicos, foram os que tiveram o maior destaque,
registrando 13,5% de crescimento. Para 2009, a estabilidade econômica brasileira – a despeito
da crise iniciada no setor imobiliário americano que abalou o mundo –, a ampliação do
crédito, o PAC e o crescimento da economia nacional vêm justificando a boa fase da ICC, que
deve perdurar ainda por bom período.
Para Maria Salette de Carvalho Weber, coordenadora nacional do Programa
Brasileiro da Qualidade e Produtividade no Habitat (PBQP-H), em entrevista concedida à
Revista da Anicer, em 2008, “Há uma perspectiva extremamente otimista para o setor, pois,
enquanto o PIB nacional cresce a um percentual máximo de 5%, a construção civil está
projetando desenvolvimento na ordem de 10,2% e, em um cenário otimista, poderá chegar a
14% ao ano”.
3.2. Situação Atual
Atravessando período de franco crescimento, o setor ceramista tem andado em
estado de ‘euforia’, com as mudanças introduzidas pelos Programas Setoriais de Qualidade,
publicação de novas Normas Técnicas, implementação do uso de combustíveis alternativos e
comercialização de créditos de carbono.
Para o IBGE, dentre os subsetores da Indústria Brasileira, o maior crescimento em
2008 foi na Construção Civil (8,0%), seguida por Eletricidade e Gás, Água, Esgoto e Limpeza
Urbana (4,5%). A Extrativa Mineral, um dos braços do SOC, subiu 4,3%, em decorrência,
principalmente, do crescimento na produção de petróleo, gás e minério de ferro (IBGE, 2009).
32
Para 2009, segundo estimativas do Sindicato da Construção Civil de Grandes Estruturas no
Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), a construção civil deve crescer acima do PIB.
Segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),
para o quadriênio 2008-2001, os investimentos do Governo Federal chegarão a R$ 1,2 trilhão,
com a construção residencial representando 44% desse total, seguida pela indústria, com 37%,
e a infraestrutura, com 19%. No entanto, a maior parte destas somas infelizmente corresponde
a aumentos de custos na cadeia de suprimentos de bens e serviços. Mas, para a construção, a
grande esperança são os efeitos da expansão do crédito habitacional, que já vem impactando a
cadeia de fornecedores, com demanda por materiais e serviços (BNDES, 2007).
A maior parte das empresas no SOC são familiares, de micro, pequeno e médio
portes, com processos produtivos tecnologicamente defasados. Espalhadas por todo o país, em
geral, elas se concentram em regiões com disponibilidade de matéria-prima e distribuem sua
produção pelo modal rodoviário. Os custos com combustíveis para a etapa da queima são os
mais significativos, disputando com os relativos à mão de obra, em geral, pouco qualificada e
com alto índice de rotatividade (SEBRAE/MG, 2005).
Santos (2003, apud SEBRAE, 2008b) propôs classificação das empresas
cerâmicas, baseada no consumo de argila e volume de produção. Destarte, são consideradas
Microempresas as que consomem até 150m3/mês de argila e produzem até 100 mil peças;
Pequenas empresas, as que consomem entre 150 e 700m3/mês de argila e produz entre 100 e
300 mil peças; Médias, as que consomem entre 700 e 1.000m3/mês de argila e produzem entre
300 e 800 mil peças; e Grandes, as que consomem mais de 1.000m3/mês de argila e produzem
acima de 800 mil peças.
Anicer e ABC divergem quanto ao número de cerâmicas e olarias atuando no
Brasil, contabilizando cerca de 5.500 e 11.000 empresas (dados de 2008), o que pode ser
perfeitamente explicado pelo percentual altíssimo de informalidade no setor.
O Estado de São Paulo é um dos maiores pólos nacionais de fabricação e consumo
de cerâmicas, juntamente com Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná,
Santa Catarina e Bahia. A maior parte das indústrias de todos os segmentos cerâmicos está
concentrada nos pólos mais desenvolvidos, onde existe maior densidade demográfica,
atividade industrial e agropecuária, melhor infraestrutura e distribuição de renda. As regiões
Norte, Nordeste e Centro-Oeste têm apresentado considerável grau de desenvolvimento, e
diversas fábricas se têm ali instalado. A construção de empreendimentos imobiliários,
33
voltados ou não para o turismo, tem aumentado a demanda por materiais cerâmicos nestas
regiões, o que tem atraído novas empresas (pequenas e médias), em especial nos Estados da
Região Nordeste.
Abstraindo para a ICC no cenário internacional, desde 1990, as produções globais
de blocos e telhas cerâmicas têm se expandido consideravelmente, e, nos dias atuais, a
fabricação de blocos tem crescido nos países de língua árabe, no norte da África. As
exportações de produtos brasileiros também se têm intensificado, sendo exigido deles o
atendimento aos requisitos das normas dos países consumidores. A exigência crescente destes
mercados e o aumento da competitividade tornam cada vez mais importante a implantação de
programas de qualidade e produtividade no setor da construção civil.
A Medida Provisória 255, conhecida como MP do Bem (MP 252/05), assim
denominada por reduzir tributos de diversos setores da economia, findou convertida na Lei
11.196/05. Os benefícios fiscais, voltados para exportadores, produtores de alguns setores e
micro e pequenas empresas (MPEs), promoveram elevação do limite de enquadramento no
Simples Nacional. Instituído pelo artigo 89 da Lei Complementar nº 123, de 2006, o Regime
Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas
e Empresas de Pequeno Porte é parte do Estatuto Nacional da Microempresa e Empresa de
Pequeno Porte, também conhecido como Lei Geral da Microempresa e Empresa de Pequeno
Porte (LGMEPP). Pelo Simples Nacional, as microempresas que auferirem receita bruta anual
igual ou inferior a 240 mil reais estão aptas a ingressar no Simples. Já nas de pequeno porte,
os limites de receita bruta anual estão entre 240 mil e 2,4 milhões de reais (BRASIL, 2006).
Ao prever tratamento jurídico diferenciado e favorecido às microempresas, o que
inclui as milhares do setor oleiro-cerâmico nacional, a LGMEPP promove a competitividade e
estimula seu crescimento, abrindo novo cenário para os pequenos negócios, incentivando as
exportações, a capitalização e o associativismo, alem da pesquisa e capacitação tecnológica
(ANICER, 2007e). Os benefícios vão além dos tributários, dado que se tornou menos
complicado obter crédito, ter acesso à tecnologia, exportar, vender para o Estado (nas três
esferas) e formalizar-se (fazer inscrição ou dar baixa nas empresas).
No caso das empresas do SOC, o crescimento era entravado porque o
empresariado não queria extrapolar o faturamento permitido, a fim de não pagar mais tributos.
E além de administrar estes limites tributários, ainda era necessário lidar com os custos de
produção advindos de energia e combustíveis, sempre muito altos. Com a MP 255, as
indústrias cerâmicas que exportam pelo menos 80% de sua produção tiveram isenção do
34
Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para o Financiamento da Seguridade
Social (Cofins). A ICC também foi beneficiada com redução no Imposto de Renda devido
pelo vendedor de imóvel no ‘ganho de capital’, que é a diferença entre os valores de compra e
venda de um imóvel por uma mesma pessoa. Impulsionando o subsetor imobiliário, os demais
subsetores da ICC são automaticamente impactados: os novos donos dos imóveis ou lotes
certamente irão contratar, para a realização de reformas, ampliações e novas construções.
Para garantir resposta a este novo fôlego da construção civil, na ponta da cadeia
produtiva estão as revendas que, segundo a Anamaco, representavam, em 2005, quase 2
milhões de empregos distribuídos em 105 mil lojas, de pequeno e médio porte, realizando o
escoamento de 77% da produção brasileira de produtos para a construção. Já em 2008, os
estabelecimentos formalizados, 52% deles na Região Sudeste e 19%, na Nordeste, faturaram
43,23 bilhões de reais, correspondendo a 72% da fatia do PIB relativa aos Materiais de
Construção (ANAMACO, 2009).
Segundo estudo por amostragem com consumidores brasileiros realizado pela
Anamaco em parceria com a Latin Panel (2009), 77% dos entrevistados declararam necessitar
reformar seus domicílios, 39% que pretendiam reformar e 12%, construir. Destes percentuais,
93% afirmaram adquirir produtos em lojas especializadas ou de bairro (depósitos de
construção) e cerca de 40% foram categorizados nas Classes D e E de consumo – famílias
com renda de até 3 salários mínimos (SM) – onde está o maior déficit habitacional no País, o
que demonstra a extrema capacidade de expansão do subsetor cerâmico brasileiro.
Para a Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat),
em 2009, o setor vem apresentando crescimento contínuo de atividade, apoiado na retomada
do otimismo no pós-crise e nas medidas do Governo Federal para incentivo à construção civil,
tais como a desoneração de IPI de materiais de construção e o Programa de ‘Minha Casa,
Minha Vida’, voltado para Habitações de Interesse Social (NetCeramics, 2009).
35
3.3. Habitação e o SOC brasileiro
“A habitação é uma equação complexa, com variáveis importantes
e que têm pesos diferenciados dependendo da situação”.
Inês da Silva Magalhães
Secretaria Nacional de Habitação
De acordo com pesquisa da Fundação João Pinheiro, elaborada para o Ministério
das Cidades, o déficit habitacional no Brasil é de cerca de 8 milhões de moradias, o que
correspondente a 14,5% dos domicílios do país, estando as maiores carências nas Regiões
Sudeste e Nordeste (BRASIL, 2009). Os últimos dados divulgados oficialmente datam de
2006, tendo como base a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD (IBGE,
2007).
Desde 2006, o Governo Federal vem implementando ações de incentivo à
construção, podendo-se citar, por exemplo, o Programa de Arrendamento Residencial (PAR),
da Caixa Econômica Federal (CEF), para famílias com renda de até 3 SM, e, para segmentos
de renda mais elevados, financiamentos com prazos maiores e juros menores. No intuito de
dinamizar a ICC, o Governo tornou os financiamentos às construtoras menos complicados,
promovendo redução dos procedimentos, prazos e exigências.
Num passado recente, houve grande preocupação com a estagnação da construção
civil no que concerne à habitação e, mais especificamente, a de interesse social. Há, no
entanto, excelentes possibilidades de reverter o quadro e retomar o crescimento de modo
muito mais contundente. O ano de 2006 já rendeu bons resultados aos empresários ligados
direta ou indiretamente à Habitação que, em 2007, recebeu o aporte de 50% dos recursos do
FGTS, destinados a obras novas.
A expectativa é de continuidade do crescimento, demanda e investimentos. Além
do PAC, o desenvolvimento deve ser puxado pela nova Lei para o Saneamento Básico (Lei
11.445/2007) e dos investimentos em habitação para famílias de baixa renda. Não apenas para
mitigar o déficit habitacional brasileiro, mas para atender às novas demandas.
A estabilização e os indicadores macroeconômicos permitem vislumbrar o acesso
de contingente significativo de brasileiros aos financiamentos habitacionais. Na estratégia do
Governo Federal, os desafios são direcionar os recursos públicos para as famílias com renda
de até 3 SM, aumentar o volume de recursos destinados, e reestruturar o setor habitacional, de
36
modo que ele seja capaz de ‘comportar’ a demanda existente. Ao menos, não permitindo que
o déficit aumente.
Apesar de o BNDES e o BIRD investirem no setor de Habitação, a CEF é o banco
que mais investe em habitação no país, tanto no que tange às unidades residenciais quanto às
comerciais e de uso misto. Através de eventos como o ‘Feirão da Casa Própria’, a CEF
divulga programas e produtos, promovendo a convergência de interesses do consumidor, das
imobiliárias, construtoras e dela mesma, ampliando o número de contratações do crédito
(financiamentos) e movimentando toda a cadeia produtiva da construção civil, pelo aumento
na contratação da construção de mais unidades.
O programa “Minha casa, Minha Vida”, lançado pelo Governo Federal em março
de 2009, como parte do Plano Nacional de Habitação (PNH), trouxe nova carga às baterias da
ICC, ainda sob os efeitos da crise mundial iniciada nos Estados Unidos. Por meio do
investimento na ICC, o programa deve estimular a geração de emprego e renda, com a meta
de construção de um milhão de novas unidades para famílias com renda de até 10 SM.
O ‘Minha Casa, Minha Vida’ deve gerar oportunidades para pequenas, médias e
grandes empresas, com os recursos empregados na construção de casas/apartamentos, para o
público com renda familiar da até 3 SM, nos municípios com mais de 100.000 habitantes e
regiões metropolitanas, somados ao montante destinado ao financiamento de imóveis novos
ou em construção/lançamentos, para famílias de renda de até 10 SM.
Os recursos constituem parte de um programa de longo prazo, com incentivos à
cadeia produtiva e liberação de vultuosos volumes através de financiamentos junto ao
BNDES. Para as empresas, o Cartão BNDES poderá ser usado para financiar materiais,
componentes, sistemas construtivos e serviços de certificação, além de, para construtoras e
fornecedoras de materiais/sistemas construtivos engajadas no PBQP-H, avaliações de
conformidade, capacitação técnica e pessoal e implementação de sistemas de gestão da
qualidade (ANICER, 2009d).
A iniciativa objetiva regionalizar os custos das unidades habitacionais,
incentivando a construção de casas pré-fabricadas e o desenvolvimento de produtos prémoldados, para diminuir prazos de entrega e impactos ambientais, sem descuidar, no entanto,
da qualidade. O PNH vem trabalhando tanto com a ideia de déficit como com a de demanda,
por duas vertentes definidas: a quantitativa, relacionada à necessidade de novas moradias, e a
qualitativa, contemplando a qualificação e a melhoria dos espaços habitacionais. Segundo
37
definição da Fundação João Pinheiro (BRASIL, 2009), são considerados inadequados os
domicílios com “carência de infraestrutura, adensamento excessivo de moradores, com
problemas de natureza fundiária, cobertura inadequada (telhado), sem unidade sanitária
domiciliar exclusiva ou em alto grau de depreciação”.
Para promover justiça social, a moradia digna é uma das mais importantes
ferramentas para a construção da cidadania. Nesse sentido, o fomento da construção de
moradias, além de ter papel estratégico para a regularização fundiária urbana e para diminuir
o déficit habitacional, impacta diretamente o setor ceramista, na medida em que a esmagadora
maioria das alternativas construtivas no Brasil adota materiais cerâmicos, seja em alvenaria de
vedação ou na estrutural.
3.4. Problemas Enfrentados pelo Setor Ceramista Brasileiro
A cerâmica é responsável pela quase totalidade das alvenarias e coberturas
executadas no Brasil e, segundo palavras de Fernando Avelino, ex-secretário estadual de
Habitação do Rio de Janeiro, “A habitação é um dos momentos mais importantes do homem.
E sendo o material mais usado nas construções, a cerâmica é o produto mais difundido, mais
fácil de aplicar e mais importante nos trabalhos” (ANICER, 2003b).
Apesar de sua importância, a indústria cerâmica apresenta uma série de
problemas, muito dos quais provenientes de processos produtivos ultrapassados, evidente
defasagem tecnológica e obsolescência de maquinário. A escassez de conhecimento técnico
para a preparação da argila, a ausência de critérios bem definidos para a dosagem de resíduos,
erros durante a fase de extrusão, falta de regulagem das boquilhas ou do sistema de vácuo
seguem caminho no processo produtivo, levando por água abaixo o bom desempenho da
fábrica (ANICER, 2007f). Isto seguramente conduz à baixa produtividade e à perda de
receita, dificultando o almejado deslanche do SOC brasileiro.
Problemas relacionados à matéria-prima, ao processo produtivo propriamente dito
(extrusão, secagem, queima), à conformidade das peças ou ao equipamento (mecânicos ou de
operação), outros de cunho gerencial, são arrolados como os de ocorrência mais comum nas
cerâmicas.
38
Quanto à matéria-prima, a análise laboratorial das argilas é o marco zero de boa
parte dos problemas, dado que, erros nesta fase vão reverberar em todo o restante do processo
produtivo. Há casos em que não faltam bons equipamentos, mas os problemas ainda persistem
por falta de conhecimento da matéria-prima utilizada. Ele vai permitir a criação da
composição mais adequada, o que implicará, mais adiante, na minoração de desperdícios. Não
é preciso dispor das melhores montmorilonitas, mas, sim, de composições argilosas
constantes, no que diz respeito à granulometria e comportamento, o que se faz imprescindível
à produção sem defeitos, quebras ou trincas. Massas que cumpriram o tempo de sazonamento
adequado, com umidade controlada e grãos mais uniformes garantem menor esforço
mecânico nas etapas de produção, diminuindo, em consequência, custos com energia e
garantindo a qualidade do produto acabado.
Quanto ao processo produtivo propriamente dito, falhas na extrusão, secagem e
queima podem vir a ser geradoras de desperdícios, dado que há ampla gama de variáveis
envolvidas, nem sempre bem controladas. Durante a extrusão, processos irregulares de
alimentação e umidade excessiva da massa são os problemas mais comuns.
Já na secagem, qualquer ingerência será fatalmente refletida na queima. Maior ou
menor eficiência advirá: da técnica adotada (natural – velocidade do vento – ou artificial –
modelo do secador utilizado), da disposição e densidade da carga no pátio, da densidade das
peças (quanto mais porosas, mais rápida a secagem) e da quantidade de calor a elas fornecida.
Neste sentido, torna-se fundamental controlar/monitorar a temperatura de secagem e a
temperatura e umidade relativa do ar circundante, buscando sempre a otimização do processo.
As fábricas ainda sofrem com problemas na secagem, durante os períodos de
chuvas e/ou frio em excesso. As indústrias de menor porte são as mais afetadas, pois, em
geral, não possuem secadores artificiais. Em alguns estados do Nordeste, tais como Paraíba e
Ceará, menos de 40% das cerâmicas possuem secadores (ANICER, 2008b). No período de
chuvas, as perdas são consideráveis, mas os ceramistas preferem acreditar que os custos
provenientes da redução da produção são inferiores ao investimento na compra de um secador
artificial (ANICER, 2008b).
Na queima, durante as etapas de aquecimento, sinterização e resfriamento, a
obtenção do calor máximo com menor gasto possível de energia é a medida mais racional,
respeitando-se as características peculiares de cada tipo de argila, a capacidade do
equipamento e o meio ambiente. Sabe-se, entretanto, que má canalização ou falta de
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isolamento no forno provocam perdas de calor e, uma vez detectadas, devem ser corrigidas de
imediato.
A argila adquire sua resistência a trincas acima dos 1000ºC. No entanto, a
coloração avermelhada é obtida a temperaturas bem mais baixas. Em alguns casos, na hora da
venda, aos olhos do consumidor o efeito estético suplanta o quesito resistência, e um
concorrente consegue vender mais barato que o outro. O problema é que o consumidor muitas
vezes não tem consciência de que um tijolo muito vermelho não tem necessariamente a
qualidade desejada.
Os principais problemas relacionados à conformidade são: trincas, fissuras,
empenamentos e variações dimensionais que os tornam desconformes em relação às normas
técnicas. Muito comumente, estas deficiências ocorrem em consequência da falta de controles
de processo e da pouca ou nenhuma qualificação da mão de obra (ANICER, 2007a).
De acordo com o Professor Amando Alves Oliveira, da Escola Senai Mario
Amato (SP) , no chão-de-fábrica, perdas podem ocorrer, ainda, por conta de problemas no
equipamento: boquilhas fora de centro ou não-reguladas, desgaste excessivo dos caracóis ou
desalinhamento do eixo, grelhas gastas, irregularidades nas aberturas, imperfeições no
controle de vácuo, defeitos no corta-barro, motores no fim da vida útil ou mal-dimensionados
etc. Isto, somado à inadequada alimentação do equipamento e à falta de controles apropriados,
constituem os principais motivos de paradas e de retrabalho, sendo, também, os grandes
entraves à obtenção da desejada ‘peça perfeita’.
O retorno da peça fora de padrão ao processo produtivo é um retrabalho. A
despeito de alguns ceramistas não considerarem a volta das peças com defeito à maromba
como desperdício, pelo fato de elas poderem entrar novamente no processo, este
procedimento requer tempo, mão de obra e energia extras, além de provocarem desgaste
precoce dos equipamentos, o que implica em custos adicionais e perda de faturamento. E o
que se perdeu na linha de produção é lucro que se deixou de auferir. Sendo assim, quem busca
‘perda zero’ tem o dever eliminar ou minimizar ao máximo os defeitos e, da mesma forma, o
descarte das peças que após a queima são tidas como desconformes.
O Programa de Produção Mais Limpa, parceria entre Sindicer/CE, Senai e
SEBRAE, tem promovido redução e eliminação de desperdícios nas indústrias cerâmicas
cearenses. Para citar um exemplo, na Cerâmica Torres, localizada no Município de Sobral
(CE), o trabalho se concentrou na redução: do consumo de água e energia (com
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redimensionamento dos motores) e da quebra do material no forno (combatido com
treinamento de pessoal). A empresa criou um ‘Eco Time’, que discute problemas detectados e
sugere mudanças. O resultado mais expressivo foi a redução em 80% do consumo de lenha
nos secadores, através do uso de combustíveis alternativos: coco babaçu, coco de praia e poda
de cajueiro, bem como resíduos de serrarias e da construção civil. A economia com a
eliminação dos desperdícios, atrelada ao aumento do número de peças produzidas, implicou
em ganho financeiro para os funcionários, que ganham adicionais de produtividade (ANICER,
2009b).
Na Cerâmica Olho D’água, no Estado de Pernambuco, as perdas das peças
extruídas por trincamentos chegavam a 45%. A fim de compensar isto, um volume excessivo
de peças era produzido, congestionando a extrusão e exigindo mais área para a secagem.
Detectadas as falhas, a cerâmica passou por uma reformulação, o que englobou mapeamento
das jazidas, análise laboratorial das argilas utilizadas, alteração da composição da massa e do
processo de armazenagem (sazonamento), regulagem do equipamento e motivação dos
trabalhadores. As perdas caíram para 4% das peças, chegando a 0,7% quando consideradas as
perdas pós-forno, e as áreas de secagem diminuíram e a empresa passou a operar em sua
condição ótima.
A nível gerencial, um dos pontos a ser destacados é o individualismo, prática
bastante comum no SOC, trazida da infância que, há muito arraigada, é difícil de ser
‘remodelada’, demandando trabalho lento e perseverante de conscientização. Deve ser
enfrentado com a reunião das empresas em torno das associações e sindicatos, espaços
concebidos para a promoção do desenvolvimento mútuo, tornando-se palco de discussões
conjuntas. Aqueles que, por algum motivo, se esquivam ou se ausentam destes fóruns de
debate perdem a oportunidade de trocar experiências com quem vivencia diariamente
situações semelhantes e de, ouvindo relatos, reclamações e sugestões, chegar ao
conhecimento de idéias e soluções práticas, já implementadas pioneiramente por outros
atores. Esta troca de experiências é, então, sinônimo de vantagem competitiva para todos os
envolvidos.
O SOC fornece à ICC insumos para que esta leve infraestrutura a regiões carentes.
Predominantemente composto por micro e pequenas empresas, emprega muita mão de obra,
apesar de ainda pouco qualificada, e tem como um de seus grandes problemas, a
informalidade. Esta se deve à sua ‘pulverização’, dado que milhares de concorrentes disputam
espaço no mercado, em praticamente todos os municípios brasileiros. Mesmo com a
41
preocupação com a onda da formalização já bastante disseminada, mudança esta fruto da
conscientização do empresariado promovida pelas ações dos Programas Setoriais de
Qualidade (PSQs), infelizmente no setor ceramista a informalidade é por demais insidiosa e
emperra o desenvolvimento almejado.
Outro ponto crucial é a atenta observação do ritmo do mercado. É comum
acontecer de algumas empresas continuarem no mesmo ritmo de produção, ainda que a
procura esteja decaindo. Isso abarrota os pátios de estoque e leva à canibalização do mercado,
onde o lema é ‘Vender por qualquer preço’. Tudo para não ficar com produção parada e ver
alguma receita entrando no caixa. Esta prática leva a perda de competitividade e ‘derruba’ o
preço do produto. Na realidade, a queda na demanda deveria conduzir à diminuição do ritmo
de produção. Seguramente, preços praticados com justeza, ainda que acima dos valores usuais
do mercado, não impedem e nem reduzem as vendas. No mundo de hoje, a fidelização do
consumidor se dá a partir do bom relacionamento vendedor-cliente e da relação custobenefício. Enxergando estes aspectos, o comprador não se incomoda em pagar pouco mais
caro se o produto tem qualidade, valor agregado e atende às suas expectativas, na forma,
tempo e lugar: como, quando e onde ele quer.
O assalariamento ilegal (emprego informal) – outro gargalo a ser superado –,
prejudica o SOC por diferentes caminhos: a sonegação de impostos, o desrespeito à legislação
trabalhista e à ambiental. A sonegação não gera quaisquer riquezas para o País e a contratação
informal faz com que o trabalhador seja expropriado de sua força de trabalho, sem que lhe
sejam oferecidos os direitos e vantagens garantidos pela Constituição. Quanto ao meio
ambiente, este desrespeito é o aviltamento do patrimônio de todos os brasileiros,
comprometendo a sustentabilidade do setor e a utilização dos recursos ambientais ainda
disponíveis, renováveis ou não.
Em se tratando de saúde e segurança do trabalhador (SST), os problemas mais
frequentemente encontrados no SOC são: a ausência da realização de exames médicos,
periodicidade irregular nos atestados de saúde ocupacional, falta de equipamentos de proteção
individual, ausência de condições de higiene e conforto, além da carência de proteção contra
incêndio. Silva (2007) detectou, em um estudo diagnóstico realizado no Município de
Carnaúba do Dantas (RN), mutilações de mãos e pés, dermatites provocadas por exposição às
altas temperaturas dos fornos, doenças respiratórias (bronquites, pneumonia, asma etc.),
escoliose e mortes decorrentes dos acidentes de trabalho. As mais prevalentes são as do trato
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respiratório – gripe (43%) e pneumonia (29%) –, seguidas de escoliose (14%) e outras
desordens, tais como asma, reumatismo e irritações nos olhos.
A preocupação com a SST pode gerar economias ou gastos extras. Vai depender
da visão e da responsabilidade do empregador. Atualmente, são 31 normas regulamentando as
atividades laborais no Brasil, sendo o trabalhador em extração de argila de Risco Nível 4, na
escala do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho
(SESMT); quem lida com a fabricação de produtos cerâmicos é risco nível 3.
Pesquisa do Sesi/Anicer, realizada em 2006 (apud ANICER, 2006b), revelou que,
das 142 indústrias pesquisadas, mais de 85% adotavam práticas de proteção do trabalhador
(EPI), em 96,5% delas ocorreram acidentes de trabalho nos 2 anos anteriores à pesquisa. Isso
demonstra que a estrutura das fábricas, as condições de segurança no ambiente de trabalho e
no processo produtivo não estão adequadas às atividades realizadas pelos trabalhadores, além
de deixar clara a falta treinamento da mão de obra para operar os equipamentos. Isto influi
diretamente nos gastos anuais com insalubridade, que poderiam ser empregados em melhorias
do ambiente de trabalho, evitando gastos com demandas judiciais e custas médicas (após o
período pago pela Previdência Social), por exemplo, também interferindo positivamente na
saúde dos colaboradores e na criação de uma imagem melhor da empresa, interna e
externamente. Ainda com relação à pesquisa, de posse dos resultados, SEBRAE e Sesi
passaram a disponibilizar um programa gratuito de atendimento em SST às cerâmicas de todo
o país.
Os EPIs mais utilizados são: luvas, botas, protetores auriculares, protetores
respiratórios, óculos de proteção e capacetes, mas isto pode não ser suficiente para evitar
acidentes, dado que a maioria dos equipamentos nas cerâmicas não possui dispositivos para
tal.
A prática da vacinação diminui o número de faltas, enseja aumento da
produtividade, reduz custos com internações hospitalares e gastos com medicação, além de
favorecer a redução dos valores cobrados pelos planos de saúde – já que estes trabalham em
cima de planilhas de custos. No caso da Influenza, além da diminuição das faltas, a vacinação
provoca queda significativa na incidência de episódios de otites, faringites, sinusites e
pneumonias.
Como resultado mais surpreendente, pode-se citar a ‘sensação’ de acolhimento
que tem o funcionário, sentindo-se importante para a indústria: se a empresa cuida bem de sua
43
saúde, ele também deve cuidar bem da empresa. Instala-se, a partir daí, uma rede de
solidariedade, criando condições para outras ações de saúde preventiva, agregando qualidade
de vida ao trabalho (ANICER, 2007f).
Medicina ocupacional e engenharia de segurança do trabalho andam atrelados ao
lazer, à cultura, à alimentação e à educação. Desse modo, a saúde do trabalhador implica
diretamente na qualidade e na produtividade, representando lucros para a empresa. Os
empresários devem estar atentos aos riscos físicos, químicos, ergonômicos e de acidentes, sob
pena sofrerem as sanções punitivas cabíveis.
Além dos problemas em relação à SST, um estudo de mercado realizado por
Sebrae (2008), evidenciou que outros grandes vilões do SOC nacional são: a carência de
planejamento, a precariedade da estrutura organizacional das empresas e a concorrência direta
de produtos alternativos/substitutos com processos tecnológicos mais bem desenvolvidos,
melhor relação custo-benefício a curto prazo (tais como o PVC e o concreto) e credibilidade –
em função de sua certificação –, muitas vezes reforçada por lobbys que pressionam o Estado
a nível institucional. A isto, somem-se a presença da não-conformidade intencional, o baixo
valor agregado dos produtos e a concorrência desleal.
Para SEBRAE (2008), para tijolos, blocos, telhas e tubos cerâmicos, a maior
pressão competitiva não vem de concorrentes diretos, mas de produtos substitutos: feitos a
partir de matérias-primas e processos produtivos diferentes, com “características físicas, de
aplicação e mercadológicas diferenciadas, mas que, de alguma forma, atendem às mesmas
necessidades que os produtos feitos de cerâmica vermelha”. Dentre estes, podem ser citados o
cimento e materiais como o PVC.
44
4.
QUALIDADE NA INDÚSTRIA CERÂMICA
“A onda de qualidade começa no chão-de-fábrica
e termina na satisfação do consumidor”.
Segundo ABIKO (2003), a Qualidade se relaciona a três pontos principais:
‘Pressão dos consumidores’, ‘Possibilidade de sujeição a ações judiciais’ e ‘Competitividade
entre empresas do setor’. E, para o referido autor, controle de qualidade é o “processo
gerencial que busca manter o processo planejado exatamente como foi planejado, atingindo as
metas operacionais propostas”. Enxerga-se, por hora, a necessidade de se pensar métodos de
controle e gestão da qualidade que efetivamente possam ser aplicados ao setor oleirocerâmico brasileiro.
A exigência crescente do mercado e o aumento da competitividade têm tornado
cada vez mais importante a gestão da qualidade e da produtividade no setor da construção
civil. Para não perder o bonde de tais mudanças, faz-se necessário acompanhar de perto todas
as fases do processo produtivo, desde a preparação de massa até o pós-venda. E para alcançar
tal cousa, o ceramista precisa conhecer em detalhes cada etapa da produção, começando pelo
tipo de argila a ser utilizada, realizando mapeamento das jazidas de argila e os ensaios
laboratoriais preliminares, finalizando com os controles de processos (Anicer, 2008). No caso
do tradicional setor ceramista português, atualmente composto por aproximadamente 120
empresas, a maioria delas fabricante de tijolos – os fabricantes de telhas são apenas 19 –, a
qualidade é algo tão sólido que algumas empresas chegam a oferecer de 30 a 50 anos de
garantia ao consumidor, quanto aos quesitos desempenho e estética.
Além das classificações já propostas anteriormente, a indústria cerâmica pode ser,
ainda, caracterizada por duas etapas distintas: a primária, relacionada à exploração da argila, e
a de transformação, destinada à elaboração do produto final. As duas são intimamente ligadas
e influenciam o desempenho de toda a cadeia produtiva.
Detecta-se, no entanto, que, muito embora existam entidades relacionadas ao
SOC, a nível nacional, regional e local, a exemplo da ABC, Anicer, Sindicer’s nos Estados,
Anfacer etc., a comunicação e o relacionamento entre elas está ainda em fase de construção.
Isto pode ser notado pela disparidade das informações divulgadas individualmente por cada
uma delas, acerca do número de empresas e de profissionais envolvidos (empregos gerados),
volume de riquezas produzido pelo SOC etc.
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É fato que a evolução da indústria brasileira não foi acompanhada de corpo
normativo que assegurasse a qualidade e a padronização, de forma a contribuir para a
racionalização do processo de produção integralmente. Preocupações deste tipo têm partido
normalmente de grandes fabricantes, cujos produtos têm alto grau de tecnologia incorporado e
demandam investimentos significativos em desenvolvimento tecnológico. Estes buscam por si
mesmos a produção em conformidade com normas técnicas, porque têm em mente que esse
investimento compensa, o que não acontece com as dezenas de milhares de pequenas
empresas espalhadas pelo país, boa parte delas, como já atestado anteriormente, na
informalidade.
O custo da aplicação dos escassos recursos das MPE’s do SOC em tecnologias e
capacitação de mão de obra que promovam esta ‘conformização’ ainda é tido como supérfluo
e desnecessário. Com exceção do profissional que trabalha na queima e do operador da
extrusora de telha, em geral, os empresários e os próprios colaboradores não enxergam esta
necessidade. Isto revela a cultura do empirismo, predominante no setor. Para alguns
produtores, seus produtos chegam às mãos do consumidor final da mesma forma que os
produzidos pelas grandes indústrias, não compensando, então, fazer tais investimentos.
Ademais, os pequenos consumidores, em geral, não têm essa preocupação. Segundo pesquisa
da Anamaco/Latin Panel (2009), 98% das construções são autogeridas ou estão sob
responsabilidade técnica de pedreiros. Quanto a reformas, a situação não se altera muito: o
percentual vai para 99%. A despeito desta consciência ‘às avessas’ dos pequenos empresários,
é impossível não reportar o grandioso esforço da Anicer e outras entidades relacionadas ao
SOC brasileiro em promover a qualidade.
Ressalta-se como elementos indutores da preocupação com aspectos relativos à
qualidade, as mudanças nas relações capital-trabalho a partir de mudanças constitucionais, do
movimento internacional pela qualidade e produtividade – com o desenvolvimento e difusão
das normas da série ISO (International Organization for Standardization) – e das mudanças
nas relações de consumo (com o surgimento do Código de Defesa do Consumidor, por
exemplo).
Os problemas relacionados à qualidade no setor ceramista não devem ser
superados através de medidas pontuais, mas, sim, de mudanças culturais – de pensamento e
comportamento – de todos os atores envolvidos. De acordo com SILVA (2006), as mudanças
no processo de produção só são viáveis se houver a integração de todos os atores. A ausência
dessa integração leva à demanda por novas bases de conhecimento e metodologias
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pertinentes, de modo que estes atores tenham condições de convergir para objetivos comuns.
Desta ‘modernização’ de pensamento depende a sobrevivência da indústria ceramista
brasileira; em não sendo implementada a contento, as empresas menores, em especial as
familiares, com produção eminentemente manufatureira, estarão correndo sério risco de ir à
falência.
No mercado da construção civil, durante muito tempo o conceito de qualidade
estava diretamente ligado ao padrão de acabamento, o que não condiz com a realidade. De
acordo com SILVA (2006), problemas/patologias nos materiais e componentes estão
essencialmente ligados à ausência de controle de qualidade no processo produtivo e à falta de
adequação a normas técnicas. Preocupações desta natureza advêm, geralmente, de grandes
fabricantes que, por conta do alto grau de desenvolvimento tecnológico e recursos investidos,
procuram se pautar por normas técnicas, na intenção de dar a seus produtos algum diferencial.
A cadeia de consumo dos produtos cerâmicos, em especial a de tijolos, é
composta por consumidores diretos e indiretos, com o maior volume de vendas entre
indústrias produtoras e construtoras, revendas de materiais de construção e proprietários de
obras (SEBRAE, 2008). Estes agentes levam em conta diferentes atributos no processo de
decisão de compra. Construtoras, por exemplo, prezam o atendimento às normas técnicas e
quesitos técnicos (dimensões, resistência, absorção da água etc). Donos de obras, em geral,
seguem as orientações de pedreiros, que são responsáveis por, em média, 68% das reformas e
construções no Brasil (ANAMACO/Latin Panel, 2009) e valorizam mais o fator resistência.
Sendo assim, em tendo o SOC uma compreensão real sobre como o consumidor equaciona os
valores atribuídos aos produtos, o próximo passo será realizar a ‘sintonia fina’ do processo
produtivo com seus desejos.
De acordo com Dotta (2004), desde os anos 80 tem sido observada uma ação
continuada em prol da qualidade e da produtividade na construção civil de um modo geral,
promovida por empresas privadas, entidades de classe, universidades e empresas de
consultoria, culminando com a ‘onda’ de implantação de sistemas de gestão da qualidade. A
participação dos diferentes atores no processo promoveu a disseminação e implementação
efetiva dos conceitos e metodologias da qualidade, já que as relações entre todos os agentes
da cadeia produtiva era absolutamente necessária. E isto não tomou vulto da noite para o dia;
exigiu dedicação de tempo e a realização programas continuados, capazes de suplantar,
principalmente, o conflito de interesses entre eles.
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De acordo com CARDOSO et al. (2003), melhorar o processo de qualidade
significa promover a integração de todo o processo de produção (inclusive com projeto para a
produção do item) e a coordenação de todas as fases, com foco na satisfação do usuário, com
vistas a aumentar a produtividade e evitar a ocorrência de erros. Para o SOC, então, superar as
dificuldades e problemas do cotidiano e a grande competição entre as empresas, vale a pena
voltar o foco para a qualidade, a flexibilização e a prestação de serviços individualizados, de
acordo com a necessidade de cada cliente.
4.1. Cadeia Produtiva no setor cerâmico
Para BALLOU et al. (2000 apud AZAMBUJA, 2003a), a cadeia de suprimentos é
o “conjunto de atividades relacionadas com a transformação e o fluxo de bens e serviços,
incluindo seus fluxos de informações associados, desde as fontes de matérias-primas até o
consumidor final, compreendendo a integração e a coordenação das atividades e processos ao
longo das empresas integrantes da cadeia”.
Para o MDIC (2001, apud JOBIM e JOBIM FILHO, 2006), a Cadeia Produtiva
(CP) é “o conjunto de atividades econômicas que se articulam progressivamente, desde o
início da elaboração de um produto (inclui as matérias primas, máquinas, equipamentos,
produtos intermediários) até o produto final, a distribuição e comercialização”.
De acordo com HANDFIELD e NICHOLS JR. (1999, apud AZAMBUJA et al.,
2003b), qualquer que seja a atividade realizada por uma empresa (fornecendo serviços,
fabricando componentes ou vendendo produtos diretamente para o consumidor final), esta faz
parte de uma ou mais cadeias de suprimentos.
Para materiais de construção, Souza et al. (1993, apud JOBIM e JOBIM FILHO,
2006) separam as cadeias produtivas em 5 grandes grupos:
1. Extração e beneficiamento de minerais não-metálicos (areia, pedra britada,
amianto, calcário, argila, gesso, pedras para revestimento);
2. Insumos metálicos (extração e beneficiamento de ferro, alumínio e cobre, aço
estrutural, esquadrias de ferro fundido e alumínio, tubos de aço e cobre, fios e
cabos elétricos de alumínio e cobre, pregos, parafusos e ferragens para
esquadrias);
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3. Madeira (extração vegetal, beneficiamento, chapas, componentes);
4. Cerâmica e cal (cerâmica vermelha, cerâmica para revestimentos, louças sanitárias, cal, vidro);
5. Cimento (cimento amianto, concreto pré-misturado, argamassas industrializadas, elementos e componentes pré-fabricados, artefatos de cimento); e
6. Insumos químicos (materiais plásticos, tintas e vernizes, aditivos e adesivos,
materiais betuminosos, materiais isolantes).
Dado o grau de dificuldade no uso desta classificação, em função das diferentes
complexidades dos materiais e componentes em uma mesma cadeia – a exemplo da de
cerâmica e cal, que envolve cal hidratada, blocos e telhas cerâmicas, louças sanitárias e vidros
planos –, Jobim e Jobim Filho propõem a alocação das telhas e blocos cerâmicos numa cadeia
produtiva isolada, por eles denominada Cerâmica Vermelha, separados das cadeias de
Cerâmicas Esmaltadas, Materiais para Instalações Hidrossanitárias e Vidros.
AZAMBUJA et al. (2003) cita que a gestão da cadeia de suprimentos compreende
“a integração e coordenação das atividades e processos ao longo das empresas integrantes da
cadeia”. Nesse sentido, um novo foco na gestão das cadeias, mais sistêmico, englobando a
cadeia em questão como um todo, aponta que as ineficiências são muito maiores que quando é
feita observação mais restrita. Para o setor ceramista, infelizmente, o que se vê são esforços
isolados de cada empresa, cada uma buscando seus próprios objetivos, preocupando-se apenas
com seu desempenho individual, ao invés de existir um esforço conjunto, liderado por
entidades correlatas, tais como os sindicatos e associações.
O movimento da qualidade provocou mudanças no modo de agir e nas estratégias
das empresas, apontando a necessidade de aproximar os elementos da cadeia de suprimentos.
E como a gestão da cadeia de suprimentos engloba a CP como um todo, incluindo-se o
relacionamento empresa-fornecedor e cliente-empresa, isto tem, de certo modo, começado a
se delinear no SOC, a partir da mudança de paradigmas que vem impactando o setor desde a
implantação do PBQP-H.
Segundo Marcos Dias, assessor técnico e da qualidade da Anicer, o Controle de
processos e de qualidade envolve “técnicas e atividades operacionais que objetivam tanto o
monitoramento do processo quanto a eliminação das causas de desempenhos insatisfatórios”.
Ele também distingue oito princípios da gestão da qualidade: (a) Organização com foco no
cliente; (b) Liderança; (c) Envolvimento com as pessoas; (d) Abordagem de processo; (e) (d)
Abordagem de sistêmica da gestão; (f) Melhoria contínua; (g) Observação dos fatos para a
49
tomada de decisão; e (h) Relacionamentos mutuamente benéficos com os fornecedores
(ANICER, 2007e).
Para alcançar sua estratégia competitiva, as empresas podem optar por três
Estratégias Genéricas consistentes, isoladas ou de forma combinada, para criar uma posição
de mercado que seja defensável a longo prazo e permita superar seus concorrentes (PORTER,
1986 apud COSTA e TOLEDO, 2008). Para estes autores, as abordagens estratégicas
genéricas podem se basear na Liderança no Custo Total (custos ou preços mais baixos), na
Diferenciação (produto exclusivo ou customizado) ou no Enfoque (priorizando um segmento
em especial do mercado).
Segundo Jobim e Jobim Filho (2006), controlar a incerteza da demanda, o
processo de manufatura e o desempenho dos fornecedores podem ser citados como itens
críticos para o efetivo gerenciamento da cadeia de suprimentos, mas conhecer bem os clientes
e suas necessidades, definindo clientes-chave ou grupos de clientes-alvo para o negócio,
produtos e serviços que agregam valor nos níveis por eles estabelecidos, são apontados como
pontos cruciais na gestão da cadeia de suprimentos. Destarte, as demandas por produtos com
serviços associados, como projeto, entrega planejada e instalação (gerenciamento logístico e
montagem de kits), devem crescer paulatinamente, transformando a construção de unidades
habitacionais em montagem industrializada dos componentes, o que deve começar a acontecer
nas revendas, onde funcionários previamente treinados irão à casa do consumidor realizar a
montagem.
Os mesmos autores propõem, ainda, a análise dos fluxos da CP a partir de
aspectos técnicos, (garantia da qualidade e da certificação), ambientais, sociais e legais
(responsabilidade social e o respeito aos valores éticos, às pessoas e à comunidade) e
mercadológicos (preço, condições de negociação, transporte e logística).
Isto pode ser materializado através, por exemplo, de estudos prospectivos, que
têm por objetivos, de acordo com Abiko et al. (apud BRASIL, 2003) em estudo sobre a
construção civil brasileira para o MDIC, “propor ações na própria cadeia e nos ambientes
institucional e organizacional, visando o aumento da eficiência da cadeia, da competitividade
dos seus segmentos e a melhoria da qualidade dos produtos intermediários e final”. Neste
aspecto, o MDIC implantou um Comitê Gestor do Estudo Prospectivo Setorial aplicado à
Construção Civil, em parceria com diversas instituições, tais como o Ministério das Cidades
(MC), Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), Agência Brasileira de Desenvolvimento
Industrial (ABDI), BNDES, CEF, INMETRO, SEBRAE, SENAI e ABRAMAT, com o
50
objetivo aumentar a competitividade global das empresas brasileiras da ICC, realizando
diagnóstico setorial e roadmaps estratégico e tecnológico, até alcançar o cenário futuro
desejado. Este contempla as seguintes proposições: (a) desenvolver, capacitar e integrar redes
de profissionais; (b) desenvolver redes de formação e certificação de mão de obra; e (c)
desenvolver redes de certificação de materiais.
A realização de Diagnósticos Setoriais também é de extrema valia para a detecção
de problemas e entraves ao crescimento, além de ser ferramenta muito útil para o
planejamento estratégico de médio e longo prazo, tendo por objetivo a revitalização de um
determinado setor.
No Estado da Bahia, o Sindicer local realizou diagnóstico setorial do segmento
cerâmica estrutural. A caracterização demonstrou que as empresas, na maioria, são de gestão
familiar, que contratam basicamente força de trabalho de baixa escolaridade formal.
Evidenciou, ainda alguns dos problemas técnicos mais comuns – desgaste da boquilha, corte
do produto (o que afeta a estética e os requisitos exigidos pela Norma – planeza das faces,
desvio em relação a esquadro etc. – além das perdas monetárias em consequência de
retrabalho), umidade na massa (que afeta a peça esteticamente e interfere nos custos com
combustíveis), etc. – , alem das dificuldades quanto à comercialização: a concorrência desleal,
inadimplência, custos com frete, precariedade das rodovias utilizadas no escoamento,
qualidade dos produtos, prazos de pagamento e os eventuais desaquecimentos do mercado
consumidor .
Os desafios detectados foram o desconhecimento/falta de acesso a informações
relacionadas à modernização e à inovação tecnológica, necessidade de investimentos na
otimização dos processos produtivos, capacitação de mão de obra, adequação da estrutura
física e instalação/credenciamento de laboratórios.
Diagnósticos Setoriais, tais como este, também já foram realizados no Rio de
Janeiro, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Tocantins, Maranhão e Rio Grande do Sul. Sua
execução tem, mais adiante, uma aplicação crucial. No PBQP-H, o Mapa dos Indicadores,
que apresenta os resultados das ações pela Qualidade nos Estados, tem por base os
diagnósticos setoriais apresentados por Sindicados, Associações ou Parceiros, apresentando
dados relacionados ao setor (número de empresas, tipo de produto fabricado, se já estão
conformes ou não etc.). Estas informações vão compor o Indicador de Conformidade,
disponível no sítio eletrônico do Programa, que relaciona o envolvimento das empresas do
Estado no PSQ e a evolução da qualidade de seus produtos.
51
4.2. Arranjos Produtivos Locais
Arranjos produtivos podem ser definidos como aglomerações de empresas
localizadas em um mesmo território, que apresentam especialização produtiva e mantêm
algum vínculo de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros
atores locais tais como governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e
pesquisa (IEL/RN, 2009). Tem por objetivos, ainda, o incremento da competitividade, a
criação de processos de autossustentação, o desenvolvimento e fortalecimento de lideranças
locais, a disseminação da cultura de cooperação na busca de soluções comuns, a realização de
diagnósticos, planejamento estratégico e a inserção de seus produtos no mercado nacional e
internacional, registro de marcas e cerificação da qualidade (ANICER, 2005f).
A produção de materiais que geram insatisfação no consumidor merece atenção
especial e a implementação de ações coordenadas na CP do SOC, envolvendo empresas e
fornecedores, para capacitação produtiva, técnica e gerencial.
Um estudo realizado por FIESP (2004, apud SEBRAE, 2008) identificou, em
APLs de materiais para a construção civil, a grande maioria de MPEs do segmento ceramista,
queixas importantes, dentre elas, a dificuldade de acesso ao crédito e de capacitação técnica e
gerencial, ausência de mão de obra qualificada.
Nos Estados brasileiros, diversos APLs podem ser reconhecidos, ainda que não
sejam oficialmente cognominados de APLs. O MDIC mantém um setor específico para o
desenvolvimento da produção baseado em APLS e afirma ser possível reconhecer sua
existência a partir de “um conjunto de variáveis, presentes em graus diferentes de
intensidade” (MDIC, 2009). Pelo Termo de Referência para Política de Apoio ao
Desenvolvimento dos Arranjos Produtivos Locais, elaborado pelo Grupo de Trabalho
Permanente para Arranjos Produtivos Locais (GTP APL), um APL deve ter: (a) Número
significativo de empreendimentos no território e de indivíduos que atuam em torno de uma
atividade produtiva predominante; e (b) Compartilhar formas percebidas de cooperação e
algum mecanismo de governança (MDIC, 2009).
A lógica dos APLs parte da premissa de que diferentes atores locais (empresários
individuais, sindicatos, associações, entidades de capacitação, de educação, de crédito, de
tecnologia, agências de desenvolvimento, entre outras) podem se mobilizar de forma
organizada e identificar demandas coletivas em um Plano de Desenvolvimento coletivo; por
iniciativa própria ou de entidades relacionadas.
52
O apoio aos APLs é consequência de uma nova visão das políticas públicas de
desenvolvimento, em que a organização local passa a ser a promotora econômica e social na
região considerada para a geração de emprego e renda. É hoje consensual a ideia de que
políticas de fomento a MPEs são mais eficazes se direcionadas a conglomerados de empresas
ao invés de a empresas individualmente. Seus ‘portes’ deixam de ser o foco, porque
interessam mais as vantagens decorrentes da associação entre elas. Muito mais do que os
lucros auferidos por cada uma isoladamente.
Na região do Apodi-Assú (RN), por exemplo, existe um APL de cerâmica
estrutural, que conta com 21 indústrias e gera cerca de 800 empregos diretos (IEL/RN,
2009b). A coordenação do APL tem oferecido cursos de capacitação técnica, realizado
diagnósticos e estudos de mercado, prestado assessoria às cerâmicas-membro (análise e
soluções para problemas no processo produtivo), elaborado planos de manejo florestal e
promovido ações compartilhadas, com agregação de valor aos produtos. Como resultados,
podem ser citados a redução de desperdícios, de acidentes de trabalho e de custos, aumento do
nível de satisfação dos empregados com a gestão, melhoria do controle de qualidade e do
posicionamento no mercado, aumento da produtividade e o alinhamento às exigências
ambientais (IEL/RN, 2009b).
4.3. Normas Técnicas
“As normas vão ajudar a separar o joio do trigo e moralizar o setor”
Edson Sartório
Sindicer/ES
Segundo definição da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a
normalização é a “atividade que estabelece, em relação a problemas existentes ou potenciais,
prescrições destinadas à utilização comum e repetitiva com vistas à obtenção do grau ótimo
de ordem em um dado contexto”. Para o SOC, o “grau ótimo de ordem” pode ser
compreendido como “máxima qualidade”.
Para a ABC (2002d), na prática, a Normalização está “presente na fabricação dos
produtos, na transferência de tecnologia, na melhoria da qualidade de vida através de normas
relativas à saúde, à segurança e à preservação do meio ambiente e é, cada vez mais, utilizada
53
como meio para alcançar a redução de custo da produção e do produto final, mantendo ou
melhorando sua qualidade”, além de facilitar a capacitação de mão de obra, elevando seu
nível técnico, e de ser imprescindível às exportações e importações.
As Normas relacionadas a Blocos cerâmicos, a saber: NBR 6461: Bloco cerâmico
para alvenaria – Verificação da resistência à compressão (1983), NBR 7171: Bloco cerâmico
para alvenaria – Especificação (1992), NBR 8042: Bloco cerâmico para alvenaria – Formas e
dimensões – Padronização (1992) e NBR 8043: Bloco cerâmico portante para alvenaria –
Determinação da área líquida (1983), foram substituídas pela NBR 15.270:1 – Componentes
cerâmicos – Parte 1: Blocos cerâmicos para alvenaria de vedação – Terminologia e requisitos
(2005), NBR 15.270:2 – Componentes cerâmicos – Parte 2: Blocos cerâmicos para alvenaria
estrutural – Terminologia e requisitos (2005) e NBR 15.270:3 – Componentes cerâmicos –
Parte 3: Blocos cerâmicos para alvenaria estrutural e de vedação – Métodos de ensaio (2005).
Para blocos cerâmicos, duas Normas tratam dos requisitos e uma, da metodologia
de ensaio. Já para telhas, a NBR 15.310 – Componentes cerâmicos - Telhas - Terminologia,
requisitos e métodos de ensaio (2005) é um texto normativo único, que abrange requisitos e
métodos de ensaio, substituindo mais de dez Normas anteriormente vigentes.
Na reformulação, foram mantidos alguns conceitos e diretrizes e incluídos novos
requisitos e aspectos formais, não existentes nas normas substituídas. O Índice de Absorção
Inicial, por exemplo, ensaio similar ao da norma americana, foi incluído, com algumas
modificações. Segundo informações colhidas no sítio eletrônico da Anicer (2005a), nos casos
de componentes cujo desempenho é avaliado experimentalmente, foi enfatizado o controle
permanente da produção pelo fabricante, a fim de garantir a qualidade. E já de olho na
exportação dos produtos brasileiros, foram incluídas, em um Anexo Normativo, diretrizes de
Normas estrangeiras, passíveis de ser exigidas na exportação dos produtos brasileiros.
Na determinação das características geométricas, por exemplo, o objetivo é
verificar a homogeneidade da fabricação dos blocos cerâmicos de um determinado
fornecedor, através dos ensaios de Desvio em relação ao esquadro (D), Planeza das faces ou
Flecha (F) e Espessura das paredes externas. Os detalhes técnicos, tais como: definições,
metodologias, ensaios e parâmetros de conformidade, podem ser consultados diretamente nos
textos das Normas. Nas inspeções, também são investigadas as Marcações (inscrições em alto
ou baixo relevo, com as dimensões nominais e o nome do fabricante) (INMETRO, 2001).
54
Os novos textos contemplam em separado os blocos de vedação e os estruturais,
estabelecendo padrões dimensionais e métodos de controle individualizados, em especial no
que tange à resistência. A integração entre tamanhos variados, baseados na Modularização,
deve minimizar desperdícios e quebras, ratificando outro conceito atual na ICC, o da
Construção Enxuta.
Em 2005, o setor ceramista acertou com a ótima fase da ICC nacional, recebendo
o crescimento da economia e os investimentos em habitação. A entrada em vigor das novas
Normas Técnicas, que tiveram como principais indutores os PSQs do PBQP-H, obrigou os
ceramistas a ser mais cuidadosos com o processo produtivo e mais rigorosos quanto à
qualidade, trazendo parâmetros que ofereciam maior clareza e entendimento, facilitando a
aplicação dos materiais, favorecendo tanto o fabricante quanto o consumidor final (ANICER,
2005b). A vantagem prática é que este pode encontrar produtos com as mesmas características
em qualquer parte do país.
A Portaria nº 127/2005 do Inmetro revogou a anterior (152/1998) e aprovou,
tornando compulsório, o Regulamento Técnico Metrológico (RTM). Este estabelece critérios
para a verificação da conformidade dos componentes cerâmicos para alvenaria, considerados
como Produtos pré-medidos. O não-cumprimento da Portaria publicada implica em sanções
punitivas (notificação, advertência, multa, apreensão do produto ou interdição do
estabelecimento) para o fabricante ou comerciante. Se o fabricante não puder ser identificado,
o responsável legal pela revenda no varejo assume os riscos legais da posse/venda do produto
não-conforme (Anicer, 2005e).
Apesar de trabalharem conjuntamente, as Normas Técnicas e a Portaria têm
aplicações disitintas. Segundo a ANICER (2005b), a Norma é “o parâmetro técnico para a
fabricação e estabelece o que o consumidor está comprando. A Portaria estabelece as regras
de metrologia pelas quais as peças serão avaliadas/fiscalizadas pelos Institutos de Pesos e
Medidas ou entidades similares”. Mas, de certo modo, a Portaria já ‘prepara’ o ceramista para
os programas de qualidade e para a certificação. A sinergia entre os dois instrumentos traz
ganhos para ceramistas e consumidores, mas, acima de tudo, para o crescimento e
desenvolvimento do setor, já que a ação conjunta é complementar. Não adiantaria publicar a
norma sem que houvesse meio de exigir seu cumprimento, daí, portanto, a necessidade de
instrumentos coercitivos, pautados no equilíbrio e, não, na imposição pura e simples.
Uma parceria entre SEBRAE e ABNT, com o objetivo de intensificar o uso de
normas técnicas, oferece às MPEs normas técnicas por 1/3 do custo da Norma e incentivo à
55
participação delas na elaboração de normas técnicas. O SEBRAE também estabeleceu
parcerias com a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos – Abimaq,
para máquinas e equipamentos mecânicos de interesse das MPEs, Inmetro, para inserção
sustentável nos programas de avaliação de conformidade, Financiadora de Estudos e Projetos
– Finep, para atividades de inovação tecnológica, destacando-se o projeto “Inovação nos
processos das indústrias do APL de Cerâmica Vermelha no Baixo Jaguaribe-CE”, com ações
de gestão ambiental, padronização de produtos, capacitação gerencial, certificação e saúde e
segurança no trabalho
(SEBRAE, 2009). Com a Anicer, além das atividades já em
andamento, o SEBRAE está em fase de negociação para a realização de um Censo da
Indústria Cerâmica, uma necessidade antiga do SOC brasileiro.
4.4. PBQP-H
Na década de 80, a construção civil, em particular o segmento habitacional,
começou a viver uma de suas maiores crises e a competição entre as empresas se tornou de tal
modo acirrada, que as empresas construtoras, como estratégia para enfrentar a crise, tiveram
de rever seus sistemas de produção, a fim de diminuir custos, reduzir desperdícios e aumentar
a produtividade (DOTTA, 2004). Mas a falta de organização e integração, as falhas de
planejamento, as condições inadequadas de segurança nos canteiros e a pouca capacitação da
mão de obra, ainda muito arraigadas ao modo de produção vigente, acabaram por minar a
tentativa.
O Estado, então, desenvolveu o Programa Habitare, criado pelo MCT, através da
FINEP, e, em 1991, foram instituídos o Programa Nacional de Tecnologia da Habitação
(PRONAT) e o Programa de Difusão de Tecnologia para Construção de Baixo Custo
(PROTECH) (DOTTA, 2004).
Nascido em 1991, o Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade (PBQP) é
um instrumento Estatal brasileiro para o cumprimento dos acordos firmados quando da
assinatura da Carta de Istambul na Conferência do Habitat II, em 1996, ano em que o PBQPH foi reformulado. Em 1998, o Programa foi oficialmente instituído, com a assinatura da
Portaria n°134, do então Ministério do Planejamento e Orçamento. Sua meta é organizar o
setor da construção civil em torno de duas vertentes: a melhoria da qualidade do habitat e a
modernização produtiva (BRASIL-MC, 2009). Partindo destas premissas, propõe ações de
56
avaliação da conformidade (para empresas e materiais), melhoria da qualidade, formação e
requalificação de mão de obra, normalização técnica, capacitação de laboratórios, avaliação
de tecnologias inovadoras, informação ao consumidor e promoção da integração.
A longo prazo, o objetivo é a redução do déficit habitacional no país – com foco
nas habitações de interesse social –, criando ambiente de competição isonômica e justa, com
soluções mais baratas e de melhor qualidade, buscando o aumento da competitividade na ICC,
redução de custos e melhoria da qualidade de produtos e serviços. Quanto ao uso de recursos
públicos, o PBQP-H não busca novas linhas de financiamento, mas incentiva o uso mais
eficiente dos já existentes, oriundos de fontes como o FGTS e a Poupança, por exemplo,
gerenciados por instituições como CAIXA, BNDES, FINEP, SEBRAE, SENAI etc., contando
com considerável aporte de recursos advindos da iniciativa privada.
O PBQP-H exige respeito às normas da ABNT, segundo o Código de Defesa do
Consumidor, mas não obriga à certificação de produtos ou empresas. Classifica as empresas
por status, que devem ser alcançados através de classes (conforme os laboratórios em que
foram realizados os ensaios) e níveis (conforme os requisitos de norma atendidos). Outro
princípio importante do Programa é a descentralização, que poderia der tomada como a
regionalização das ações, de modo a fazer com que estas correspondam à realidade de cada
lugar (incentivo aos APLs, por exemplo).
Em 2009, o Ministério das Cidades criou o Sistema de Qualificação de Materiais
Componentes e Sistemas Construtivos (SiMaC), parte do PBQP-H, com função de avaliar e
monitorar a fabricação de materiais e componentes para a ICC, evitando práticas desleais de
concorrência e abuso de poder econômico, e buscando evolução da qualidade dos materiais e
sistemas construtivos, com vistas à segurança, economia, durabilidade e sustentabilidade
ambiental.
O controle laboratorial representa uma contribuição e excelente incentivo ao
aprimoramento da indústria cerâmica, considerando que o Brasil conquista, cada vez mais,
espaço no mercado externo, devido especialmente à beleza, diversidade e qualidade de seus
produtos. A exigência de padrões de qualidade mais rígidos é uma tendência na ICC, que
coaduna com os métodos modernos de edificação, com minimização custos e desperdícios,
alem de melhor previsibilidade e cumprimento dos prazos acordados. Ensaios laboratoriais
permanentes dão garantias e conquistam a confiança do consumidor, daí a assertiva de que a
parceria entre empresas e laboratórios é necessária.
A inovação tecnológica é tema sempre presente nas discussões da cadeia
produtiva da ICC. A despeito disto, a falta de infraestrutura técnica à altura, para embasar o
57
processo de modo mais firme, dificulta a aplicação prática de soluções tecnológicas
inovadoras no setor. O PBQP-H propõe que sejam pensadas e aplicadas ações, a fim de
ampliar a capacitação laboratorial ligada à construção civil, para a formação de profissionais e
ampliação da qualidade e produtividade da produção habitacional (BRASIL-MC, 2009).
O Programa estabelece, ainda, um ranking dos produtos relacionados à ICC,
segundo seus Índices de Conformidade, disponível no sítio eletrônico do PBQP-H/PSQ.
Dentre os 29 produtos listados, os blocos cerâmicos apresentavam um dos menores índices de
conformidade (1,51%), maior apenas que o das telhas cerâmicas (0,29%), com menos tempo
de vigor da norma específica. Destes 29 itens, 10 estavam classificados como ‘Não apurados
pelo gerente do programa’ até a conclusão deste trabalho.
Segundo o sítio eletrônico do PBQP-H, a tendência do mercado no segmento de
materiais de construção para habitação é de o consumidor se concentrar em marcas comerciais
conhecidas
(situação
mais
comum)
ou
em não-conformidades
sistemáticas,
que
desestabilizam toda a qualidade do segmento. O termo conformidade se refere ao
cumprimento dos requisitos exigidos pelas Normas Técnicas: um produto é conforme quando
apresenta laudos positivos dos Órgãos Certificadores ou atende às Normas correlatas.
Segundo a Arquiteta Maria Salette de Carvalho Weber, coordenadora geral do
PBQP-H, em entrevista à Revista da Anicer, “o objetivo maior seria o de criar PSQs para o
futuro, intersetoriais, que pudessem englobar regras de qualidade para todo um processo de
produção desde a matéria-prima até a casa acabada”. No entanto, enquanto este ideal não se
materializa, o PBQP-H vem promovendo melhorias em obras e projetos públicos, combatendo
desperdício e falhas, capacitando recursos humanos, tecnológicos e financeiros. Como uma de
suas ferramentas mais eficazes, pode-se citar a inserção em editais de licitação pública.
Dispondo de corpo jurídico definido relacionado ao tema, que valida o cumprimento das
prerrogativas do PBQH-H em processos licitatórios, o Estado tem meios de exercer seu poder
de compra em favor do interesse público, na medida em que só podem concorrer às licitações
empresas e produtos que aderiram ao Programa. Enxerga-se, então, ser necessário que os
Governos Estaduais e Federal façam valer seu poder de compra contratando apenas
materiais/empresas que estejam de acordo com as Normas Técnicas. No RJ, o decreto
estadual n° 36.223/2004 determina que, em obras públicas, não podem ser usados produtos
para alvenaria em desacordo com as Normas Técnicas.
58
4.5. Programas Setoriais de Qualidade (PSQs)
“Se você for pequeno, tiver poucos recursos, mas tiver qualidade, ninguém te derruba”
Paula Regina Marchi de Souza
Cerâmica Maristela, Leme (SP)
O SOC apresenta imensa variedade de produtos e processos produtivos, que
ensejam a convivência de diferentes tipos de empresas, com características distintas em
relação aos volumes de produção, qualidade, índices de produtividade e grau de mecanização
e tecnologia empregada.
O PSQ teve inicio em 2002, com a adesão da ANICER ao PBQP-H. Com o
objetivo principal de combater a não conformidade intencional nas revendas e busca mais
efetiva pela conformidade dos produtos e processos, o Programa tem trabalhado para elevar a
imagem do SOC nacional, oferecendo, na ponta da cadeia produtiva, tranquilidade ao
consumidor e segurança de estar adquirindo produtos qualificados. O passo seguinte foi
apresentar o PSQ às empresas, promovendo reflexão sobre qualidade e sobre a forma por que
elas vinham atuando no mercado: não seria mais possível fabricar produtos ‘de qualquer
maneira’, porque o mercado estava exigindo muito mais.
Dando continuidade ao ciclo de qualificação, foram publicadas as novas Normas
Técnicas para blocos e, algum tempo depois, para telhas. Os textos trouxeram demandas
inéditas para a indústria, que constatou a necessidade de aprimorar seus processos e colocar
no mercado produtos com novas características. Logo em seguida, o Inmetro publicou a
Portaria n.° 127, o instrumento legal de fiscalização. Em alguns Estados, ela foi acionada por
denúncias dos próprios consumidores, que tem expectativas diversas e múltiplos estilos, o que
demanda, da parte de quem fabrica, um esforço maior, pra atender à demanda.
Neste novo cenário, a sustentabilidade ganhou força na filosofia de atuação das
empresas, já que ela vai além da conformidade, tendo íntima relação com o meio ambiente,
valorização dos trabalhadores e criação de novas estratégias. O grande número de empresas e
a pulverização peculiar ao SOC amplia a responsabilidade do PBQP-H/PSQ-BC (PSQ para
Blocos Cerâmicos), que deverá atuar de modo único em qualquer fábrica e região do território
nacional.
Pelos preceitos do PBQP-H, certificação não é obrigatória, mas o cumprimento às
normas é compulsório e deve ser prática constante. Ao assinar o Termo de Adesão, a empresa
se compromete com a qualidade, enviando trimestralmente à Anicer ensaios de laboratório
59
dos materiais fabricados em suas instalações. A certificação é uma das formas de avaliar e
garantir a conformidade, mas é preciso estar consciente de que esta ação certamente significa
mudanças na linha de produção. E é preciso que a empresa aspirante esteja disposta a isto.
A normalização foi excelente para a adequação do SOC, mas, para o consumidor
final, o que realmente pesa na escolha é o preço. Por conta deste aspecto mercadológico,
alguns ceramistas não enxergam relação direta entre a adesão ao PSQ e o retorno comercial,
ainda argumentando a respeito dos investimentos necessários para a obtenção desse nível
normativo mínimo de qualidade. Entretanto, é patente que, com as crescentes exigências em
cima da qualidade, especialmente pelos grandes ‘empreendedores’ da habitação no país, tais
como a CEF, quem não estiver adequado às normas, está automaticamente fora da
concorrência.
O esforço das empresas em aderir ao PSQ e se qualificarem é percebido através
dos investimentos em inovação tecnológica, racionalizando, barateando e melhorando seus
produtos, objetivando, como retorno, a rentabilidade. No entanto, a não-continuidade das
ações entrava o processo. O ideal seria que fossem implementados projetos, com
planejamento consistente e duradouro, em prol da qualidade e produtividade.
Quanto aos Níveis de Qualidade do PSQ, têm-se os Obrigatórios e os Voluntários,
brevemente descritos a seguir:
Obrigatórios:
• Nível 1 – Identificação com os dados do fabricante e do produto. Na adesão, a
empresa se compromete a atender o requisito, e, após 3 meses, deve encaminhar laudo
laboratorial positivo (renovado trimestralmente);
• Nível 2 – Cumprimento do nível anterior e das características visuais e
geométricas (dimensionais); e
• Nível 3 – Cumprimento dos níveis anteriores e das características físicas e
químicas de absorção e de resistência à compressão.
Voluntários:
• Nível 4 – Avaliação de Conformidade do Produto no âmbito do Sistema Brasileiro
de Avaliação de Conformidade (SBAC – Inmetro), realizado pelos Organismos
Certificadores Credenciados (OCCs).
60
A Avaliação dos Indicadores considera a Evidência de Melhoria (EM),
Concretização dos Objetivos da Qualidade (CO) e Validação (V). Utilizando como
parâmetros “dados históricos da organização, objetivos da qualidade e técnicas de autoavaliação, obtêm-se diversos indicadores que podem ser usados como ferramenta para
orientação da melhoria contínua rumo à excelência” (ANICER, 2003a). A Associação
Nacional do SOC apresenta, ainda, um Relatório Setorial trimestral, onde constam a Lista das
Empresas em Qualificação e os Indicadores de Conformidade de cada Estado, bem como
dados acerca da sensibilização e mobilização, no que tange à adequação às normas e ao
desenvolvimento técnico e produtivo.
Um dos principais resultados da adesão ao PSQ é a motivação dos empresários,
que assumem uma postura mais participativa, mais pró-ativa, tornando-se motivadores,
incentivando o processo continuado de melhoria a que se propõe o PSQ. Alem disso, antes da
existência dos PSQs, o Índice de Conformidade Setorial Médio (considerando exclusivamente
o SOC) girava em torno de 40% e atualmente, considerando a mesma gama de materiais, ele
se aproxima muito dos 90%, um ganho substancial. No entanto, muito ainda precisa ser feito,
dado que Blocos e Telhas têm os menores Índices de Conformidade do PBQP-H, dentre os
produtos do segmento cerâmico, desconsiderando-se os classificados como ‘Não apurado pelo
gerente do programa’.
61
5.
MEIO AMBIENTE
“Uma empresa sustentável tem produtos dentro das normas técnicas,
extração que respeita o meio ambiente e processos produtivos
que evitam o desperdício de energia e matéria-prima”
Turma do Batente
Personagens da Revista da Anicer
Desde que existe sobre a face da terra, o homem vem atuando sobre o meio
ambiente, de transformando-o; de modo passivo ou intervenientemente, a depender da época.
Foi com a Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX, que o homem passou a ser agente
eminentemente modificador, deixando de apenas desfrutar para alterá-lo.
Após milênios de ação antrópica alterando a dinâmica da natureza, os efeitos
começam a ser sentidos mais fortemente. O homem finalmente percebeu que é parte da frágil
cadeia que sustenta a vida na Terra, e, embora intervindo mais do que usufruindo do meio em
que vive, já tem dado sinais de mobilização para a redução dos impactos provocados.
A necessidade de se repensar o modelo de desenvolvimento vigente é premente e
a sociedade e o poder público, como agentes de pressão sobre o desempenho ambiental das
empresas, desempenham papel fundamental. Ultimamente, também o mercado econômico se
tem engajado nesta luta, tornando-se mais um agente. Isto se deu mais intensamente com a
popularização dos produtos orgânicos, os certificados com Green Seal ou FSC (Forest
Stewardship Council) e os advindos do comércio justo e solidário (Fair Trade), relacionados
com o chamado ‘consumo responsável’: eticamente corretos, cuja elaboração não envolve a
exploração de seres humanos, animais e não provoca danos ao meio ambiente (WIKIPEDIA,
2009).
Impacto ambiental pode ser definido como o “desequilíbrio (...) resultante da
ação do homem sobre o meio ambiente (...) ou resultado de acidentes naturais” (ARAÚJO
JR., 2006). Dentre todos os impactos provocados pelo homem, um dos mais gritantes é a
devastação de biomas. No Brasil, o cerrado, a mata atlântica e a caatinga têm sido os mais
atingidos, isto sem mencionar o caso da Amazônia, que vem sendo progressivamente
carcomida pela extração ilegal de madeira e áreas para atividades agropecuárias.
No que diz respeito ao SOC, a atividade de mineração, não raro feita
clandestinamente, e a retirada de mata nativa para obtenção de lenha (combustível para os
fornos), provocando o processo chamado de desertificação, são os impactos principais.
62
Destaca-se, também, a crise energética por que passa o setor, bem como as ações mitigadoras,
a exemplo do uso de combustíveis alternativos e da comercialização de créditos de carbono.
Os ecossistemas têm enorme capacidade de regeneração quando os impactos são
esporádicos, descontínuos ou localizados, mas a continuidade dificulta sua recuperação, que
deve ser tomada como compulsória, a fim de preservá-los para as gerações vindouras. E esta
recuperação passa por três estágios concomitantes: definir um objetivo exequível,
conscientizar os indivíduos e mudar o modelo de desenvolvimento.
Quanto a isto, o SOC pode contribuir por meio da elaboração de guias de boas
práticas, da elaboração de diagnósticos setoriais com foco ambiental, da recuperação de áreas,
da entrada massiva no mercado de carbono – a exemplo do que já vem acontecendo com
algumas poucas indústrias do setor –, e da participação em fóruns e conselhos ambientais.
5.1. Combustíveis Tradicionais e Alternativos
Os combustíveis utilizados na queima dos elementos cerâmicos são basicamente a
lenha e o óleo combustível residual (óleo BPF). Alguns outros tipos já têm uso bastante
disseminado, como é o gás natural comprimido (GNC).
No caso do Ceará e de outros Estados do Nordeste brasileiro, a fonte mais comum
é a lenha, obtida da mata nativa da região, a caatinga, provocando desequilíbrio ambiental de
grandes proporções, ainda que ela seja considerada como fonte renovável de energia. No
Estado Pernambuco, por exemplo, 95% dos produtores usam lenha como matriz energética,
3% usam coque e apenas 0,5%, bagaço da cana-da-açúcar. Na região Sudeste, o óleo
combustível é amplamente utilizado, especialmente nos lugares onde não há grande
disponibilidade de lenha para queima.
Como combustíveis alternativos, destacam-se o bagaço de cana (notadamente nas
áreas próximas a pólos sucro-alcooleiros), a serragem de madeira, casca e palha de arroz,
raspas de couro, o coco de babaçu, carvão vegetal, LCC (líquido extraído da castanha do caju)
e o resíduo de coque (APICER, 2000).
Em 2006, o consumo de energia para uso industrial para o SOC foi estimado em
3,5 milhões de tep (toneladas equivalentes de petróleo, o equivalente a 11,63MWh). A lenha,
a mais tradicional das fontes, representou 35,4% em relação ao total de energia consumido
63
por todos os setores e quase 50% de todo o consumo de energia pelo setor cerâmico. O gás
natural correspondeu a 56,5% e o óleo combustível, a 6,6% (SEBRAE, 2008).
Os principais problemas ambientais causados pela queima da lenha são a
produção de cinzas, de óxidos de enxofre, de nitrogênio e de carbono (CO2), agentes
provocadores de chuva ácida e efeito estufa. Ademais, a lenha apresenta baixo rendimento
energético, impactando negativamente na qualidade e padrões técnicos dos produtos,
resultando em até 30% de perda. Mas os embaraços em torno da lenha não param por aí. Em
2008, as cerâmicas do Estado do Amazonas foram fiscalizadas na Operação Fogo Limpo,
promovida pela Polícia Federal e Ibama, resultando na autuação de algumas delas, por
funcionamento sem licença ambiental e uso de madeira ilegal. Em protesto, os empresários
decidiram paralisar as fábricas por tempo indeterminado. A adesão de quase todas as trinta
empresas que compõem o setor no Estado provocou a escassez de produtos e a paralisação de
diversos canteiros de obras. Do diálogo entre ceramistas, Aceram, Anicer e Secretaria
Estadual do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, surgiu o Grupo de Trabalho
Chama Verde, que tem a meta de encontrar soluções temas ambientais de interesse do SOC
amazonense. Entre as soluções pensadas pode-se citar o aproveitamento de resíduos de
madeira do pólo industrial e o uso de gás para abastecer os fornos (ANICER, 2008d).
A fonte de energia térmica é corresponsável pela qualidade na indústria cerâmica.
O SOC deve, então, empregar esforços na implementação do uso de combustíveis alternativos
e no desenvolvimento de tecnologias e equipamentos para tanto, a fim de minimizar os
impactos ambientais e os desperdícios/perdas durante o processo produtivo.
Em relação aos combustíveis tradicionais, o gás natural tem como principal
vantagem a qualidade do produto final, já que o controle da temperatura dos fornos é mais
rigoroso e a chama constante permite a queima uniforme das peças. Além disso, sua utilização
torna o chão-de-fábrica mais limpo, reduz os custos com energia elétrica, exige menos mão de
obra e aumenta a vida útil dos equipamentos e a produtividade, por redução dos tempos de
secagem e queima.
A substituição da lenha como fonte energética no SOC é algo natural e certo, em
função das questões ambientais e legais envolvidas. Problemas como a desertificação,
provocada pela extração de mata nativa, uma das principais causas de desmatamento,
seguramente é um dos problemas de maior relevância, já sendo motivo contundente de
preocupação. Além de preservar o meio ambiente, a utilização do GNC como fonte energética
promove redução do desperdício de matéria-prima em até 50% (em comparação com a lenha).
64
O GNC tornou-se uma vantagem competitiva para o setor cerâmico, já que o custo
do combustível representa cerca de 30% do valor do produto acabado e, em alguns casos, até
mais que isso, devido aos constantes reajustes. As empresas poderão, portanto, oferecer um
produto mais competitivo e melhor acabado, com elevada resistência mecânica, baixa
porosidade e uniformidade.
Mas, apesar da malha brasileira de gasodutos estar relativamente bem instalada,
isto não significa que sua utilização esteja disseminada. O status quo do SOC, altamente
defasado em termos de equipamentos e tecnologias – à exceção de alguns poucos casos –, vai
exigir altas somas em investimentos para a adequação à nova fonte energética. A instalação da
rede de gasodutos e dos fornos próprios para a queima de gás natural só compensariam os
gastos com a implantação se os produtores estivessem unidos, a fim de compartilhar os
custos, podendo, assim, comprar o combustível a um custo baixo e competitivo. Infelizmente,
ainda são poucos os pólos de produção cerâmica com organização suficiente para
implementar toda esta mudança. E isto se deve, em parte, à pulverização e à cultura do
individualismo no SOC brasileiro. No entanto, um APL, quando em estágio avançado de
organização, é excelente alternativa, dado que a entidade, enquanto pessoa jurídica de direito
particular e em nome da coletividade que representa, arca com os custos e, obviamente,
recebe os benefícios supervenientes, compartilhando-os a posteriori. Uma alternativa de
financiamento da compra dos equipamentos necessário são as linhas de crédito do BNDES,
por exemplo, por meio de seus agentes financeiros, mas com carência e prazos mais longos,
dado que os atuais não são compatíveis com a realidade das pequenas empresas que compõem
o setor.
O Instituto Nacional de Tecnologia (INT) foi contratado pela Petrobras para
elaborar relatório técnico, a partir de visitas a cerâmicas que adotam o GNC, a fim de apontar
os prognósticos para o SOC, que vem passando por recorrentes crises energéticas.
Identificando os benefícios com a adoção do gás natural e os principais entraves ao uso em
escala industrial, a Petrobras pretende investir em infraestrutura cerca de 6 bilhões de dólares
até 2010, em parceria com as associações e entidades representativas (ANICER, 2005d).
Dando continuidade a esta iniciativa, com o apoio da RedegásEnergia (Petrobras),
o Projeto Cerâmica Vermelha promoveu a conversão de fornos Túnel e Intermitente ao GNC.
As primeiras cerâmicas a operar eram do Estado de Santa Catarina (Cerâmicas Heinig e
Solar), que queimavam com serragem e óleo BPF, recuperado de navios. As adaptações
realizadas nos fornos, para otimizar o consumo, foram obtidas com o auxílio de programas de
simulação numérica, modelando diferentes cenários do processo de queima, a fim de achar a
65
solução mais viável dentre inicialmente propostas (dados de entrada). No forno tipo Túnel, a
opção mais interessante foi o isolamento, feito com camada de cinzas de casca de arroz,
contida por parede externa de tijolos. O consumo foi reduzido de 582kcal/kg para 477kcal/kg
de material queimado e a produção aumentou em 20%. No forno Intermitente, que queimava
óleo BPF, a adaptação resultou na necessidade de isolamento externo da abóbada, provocando
queda do consumo de 2.000kcal/kg para 1.748kcal/kg. Os ganhos em qualidade do produto
final resultaram em incremento de 13% na arrecadação, apesar de o consumo ter permanecido
elevado, característica bem peculiar deste tipo de forno (ANICER, 2005c).
Destaca-se, também, a importância da indústria de equipamentos, imprescindível
para garantir a evolução contínua das fábricas e dos parâmetros do processo produtivo.
Atualmente, já existem pesquisas para o desenvolvimento de processamentos térmicos
menores, com consumo reduzido de energia. Ao aprimorar-se pela padronização dos produtos
e o aumento da qualidade a fim de se manter competitivo, com a atual escassez da lenha para
fornos, o SOC caminha para a adoção progressiva dos fornos do tipo Túnel e a substituição de
secadores e fornos que utilizem derivados de petróleo por equipamentos que queimem
combustíveis gasosos.
Como se pode perceber, as distribuidoras de gás natural não podem ignorar o
potencial de mercado que tem o segmento da cerâmica vermelha. O fato é que a demanda, a
necessidade por gás natural existe, mas a maioria das empresas ainda não esta preparada nem
possui equipamentos para o uso. Seguramente, dentro da próxima década, já estarão sendo
colhidos os frutos dos esforços empregados pelas entidades ceramistas nacionais em prol da
organização, da qualidade e da inovação tecnológica, de modo que o gás se torne uma
alternativa real ao uso da lenha.
Os projetos de geração de energia a partir do bagaço de cana-de-açúcar
representam um diferencial para o Brasil, pioneiro em biocombustíveis. Bastante tímida
diante do potencial, a bioeletricidade tem participação na matriz energética brasileira de 3%, o
que equivale a aproximadamente 1.400MW, com metas de, para 2020, mais de 14.000MW
(TAVARES, 2009).
Segundo a Associação Paulista de Cogeração de Energia (COGEN-SP), o setor
sucroalcooleiro deve investir 45 bilhões de reais em projetos de cogeração até 2015. E se a
produção de etanol e açúcar aumenta, cresce, na mesma proporção, o potencial de energia
elétrica gerada a partir da queima do bagaço, que, no biênio 2005-2007, cresceu cerca de
20%, abrindo-se para a comercialização de créditos de carbono (TAVARES, 2009).
66
Diante da escassez de lenha para a queima, a Cerâmica Drummond, no Município
de Capinópolis (MG), investiu no plantio de eucalipto e diversificou as fontes através da
reciclagem de bagaço de cana-de-açúcar, para a fabricação de briquetes. Segundo estimativas
da própria indústria, a área plantada tem condições de gerar de 150 mil metros de eucalipto
mensais e a unidade de briquetes será capaz de produzir mais de 100 toneladas por dia
(ANICER, 2007c).
A cana-de-açúcar, no entanto, pouco a pouco perde a liderança em eficiência
energética para outra fonte, o capim-elefante, espécie de potencial muito superior, cuja
biomassa seca pode gerar 25 unidades de energia para cada uma de origem fóssil consumida
em sua produção, enquanto a cana, convertida em etanol, alcança relação de apenas 9:1 (IPS,
2007).
O capim-elefante (Pennisetum purpureum) é uma espécie nativa da África
tropical, mas que se adaptou muito bem às Américas, Ásia e Austrália. É um combustível
renovável e não são exigidas licenças especiais para sua produção. E como contribui para a
remoção de carbono da atmosfera, ainda enseja a venda de créditos no mercado de carbono.
Há diversos genótipos de capim-elefante, com diferentes características físicas,
caloríficas, potenciais de crescimento e cuidados específicos no plantio e manejo. Tem
crescimento rápido, produtividade elevada, menor demanda por áreas de plantio, além de bom
potencial para melhoramento genético. O desempenho de cada genótipo depende do solo e do
clima da região considerada, devendo a escolha ser feita após experimentação prática, em
campo. As etapas para a produção e uso no SOC incluem a identificação do tipo mais
adequado, plantio, colheita e secagem.
Com poder calorífico maior que o de resíduos de madeira, o capim-elefante
apresenta produtividade maior por hectare plantado e com custo bem menor. O custo da
tonelada de massa seca gira em torno de 26 reais (incluindo preparo da terra, plantio, colheita
e secagem), contrastando com o eucalipto, que custa 125. Pode-se chegar a 50 toneladas de
biomassa seca/hectare plantado/ano. Quanto ao tempo de retorno do investimento, o capim
demora cerca de 120 dias para estar pronto, enquanto o eucalipto, no mínimo, 4 anos
(ANICER, 2007b).
Um aspecto importante é a dificuldade na secagem do capim, já que os
equipamentos disponíveis no País (segadeiras de discos ou facas) não são eficientes na
trituração. O alto teor de água exige que a secagem seja realizada artificialmente, e o
transporte e armazenamento demandam compactação, por conta da pouca densidade.
67
Exemplos de boas alternativas energéticas estão em franca expansão nos últimos
anos. No Município de Crato (CE), a Cerâmica CGM investiu na instalação de injetores de
biomassa, para aumentar a eficiência da queima e secagem de seus tijolos e telhas, ao reduzir
a quantidade de biomassa queimada nos fornos. Por via judicial, a empresa tem requerido das
serrarias e prefeituras da região o envio de serragens e restos de poda, obtendo receita com a
venda de créditos de carbono (SOCIALCARBON, 2009).
Já a Cerâmica Livramento (MA) trocou a lenha de remanejo florestal pela casca
de babaçu e outros resíduos. A alteração abriu caminho para o uso de um rejeito
superabundante na região, além de gerar efeitos no emprego e renda locais. Além de
ecologicamente correta, a mudança implicou na regularização da alimentação do forno, antes
manual, e gerou vantagens para a empresa: capacitação de mão de obra e as vantagens da
automação (ANICER, 2006b).
Gerenciar um negócio com atenção ao meio ambiente é, indubitavelmente, um
excelente negócio, agregando valor aos processos decisórios em gestão ambiental, devendo
estar em consonância com a missão e estratégias da empresa.
5.2. Mineração
‘Sustentabilidade não significa que não se possa alterar a natureza,
mas que, havendo modificação, o meio alterado deve ser restabelecido
em condições de seu uso futuro’
Hildebrando Herrmann
O setor cerâmico é grande consumidor de minerais, in natura ou beneficiados.
Com forte relação com o setor primário da economia, denotado basicamente pelo uso de
argila e lenha, para SEBRAE (2008), os fornecedores de minerais para o SOC podem ser
categorizados em: (a) Pequenas e médias empresas de capital nacional, que utilizam técnicas
rudimentares de extração; e (b) Grandes mineradoras, associadas a multinacionais ou ao setor
de revestimentos cerâmicos, melhor organizadas e com produtos de maior valor agregado e
qualidade.
As argilas, por apresentarem baixo valor unitário, não atraem os empreendedores
para o ramo, sendo escassas as indústrias mineradoras de grande porte. Isto faz da mineração
uma atividade, não raro, clandestina, limitada apenas ao suprimento das necessidades
individuais de cada cerâmica ou, no máximo, do mercado local (SEDETEC, 2008).
68
Na produção mineral brasileira, a extração de argilas, em geral, fica aquém apenas
da de agregados para a construção civil (areia e brita) e de ferro. O País tem grandes jazidas
de minerais industriais e pólos de produção nas regiões Sudeste e Sul, com o setor em
expansão no Nordeste, alavancado pela construção de empreendimentos imobiliários voltados
especialmente para o turismo.
Pelo definido na Agenda 21 (BRASIL-MMA, 2003), a "mineração, os minerais e
os metais são importantes para o desenvolvimento econômico e social. (...) São essenciais
para a vida moderna”. Os minerais são usualmente classificados como recursos nãorenováveis, por conta do tempo necessário para sua formação/concentração e dos complexos
processos geológicos envolvidos. Deveriam, no entanto, ser classificados como sustentáveis,
pois que só não se exaurem física, econômica ou ambientalmente se houver manejo racional.
No Brasil, a Rede Brasileira de Informação de Arranjos Produtivos Locais de
Base Mineral (RedeAPLmineral) é a responsável pela “divulgação e disseminação da boa
informação e das melhores práticas na CP do setor mineral, compreendendo a extração,
beneficiamento e transformação mineral, organizado em APL de base mineral”
(RedeAPLmineral, 2009). Arranjos Produtivos Locais de Base Mineral podem ser definidos
como conjuntos significativos de “empreendimentos e indivíduos num mesmo território,
atuando em torno de uma CP que tenha como base a atividade extrativa e de transformação
mineral, desenvolvendo atividades econômicas correlatas e que apresentam vínculos
expressivos de produção, interação, cooperação e aprendizagem”, fomentando a sinergia entre
CPs que aproveitem recursos minerais conhecidos ou potenciais, “garantindo a maximização
do aproveitamento do material geológico movimentado e a agregação de valor”
(RedeAPLmineral, 2009).
A atividade de extração mineral é intrínseca à atividade ceramista e está
relacionada ao desenvolvimento sustentado das indústrias (ANICER, 2007). Mas, apesar de
os conceitos Extração e Cerâmica serem tão interrelacionados, para a grande maioria dos
empresários do SOC, a consciência de que eles também são mineradores ainda não está muito
bem estabelecida. Nem todos os ceramistas se consideram extratores e o inverso também é
verdadeiro. Esta visão segmentada da realidade – cada um conhecendo bem seu próprio
‘negócio’ – é a mais usual, mas a grande verdade é que os ceramistas mais bem-sucedidos são
exatamente os que detêm informações sobre mineração. Ademais, a proximidade física das
instalações de produção cerâmica com os jazimentos de argila reforça a íntima relação do
SOC com o setor mineral.
69
Na avaliação das jazidas, deve-se realizar a investigação geotécnica da subsuperfície, retirada de amostras para a realização dos ensaios preliminares, além do
planejamento da lavra e exploração. A retirada de argila do jazimento tem como pontos
importantes: não-utilização de explosivos, ausência de beneficiamentos que gerem
subprodutos tóxicos e a realização fora de corpos hídricos e a céu aberto, mas exige alguns
cuidados operacionais: eliminação de riscos de desabamento, interdição de áreas com
deslizamentos de massas de terra, criação de acessos seguros e manutenção da estabilidade
dos taludes (ANICER, 2007f).
A extração implica, logicamente, em alterações ambientais, tais como: supressão
da vegetação, reconfiguração de superfícies topográficas, impacto visual, aceleração de
processos erosivos, indução de rompimento do solo (por deslizamento de massas de terra),
modificações de cursos d’água etc. (ANICER, 2007f). Por conta disso, deve ser analisada sob
ótica mais sistêmica, contemplando parâmetros sociais, econômicos e ambientais.
A mineração tem fama de atividade agressora do meio ambiente, incapaz de
contribuir para o desenvolvimento sustentável das regiões onde é realizada, fazendo
aproveitamento destrutivo dos recursos ambientais que degradou e poluiu, ‘em nome do
progresso’ (ANICER, 2007e). Isto tem razão histórica, dado que a indústria mineral, à
semelhança de outros setores industriais, se organizou priorizando apenas a rentabilidade,
sem a menor preocupação com questões ambientais ou sociais, consequências de sua
atividade. Os impactos ambientais provocados pela atividade mineradora, ainda que de
pequena monta, são visuais e rapidamente identificáveis. No entanto, os benefícios estão
incorporados, embutidos nos produtos confeccionados com os materiais extraídos, tornando
pouco mais difícil a valoração da atividade pela grande maioria das pessoas.
A convivência da mineração com outros usos do solo depende do ordenamento
territorial. Nas fases de extração e beneficiamento de minerais, são gerados rejeitos, efluentes,
aerossóis e ruídos, que, em havendo controle adequado, não chegam a se dispersar. Segundo a
ONU, a mineração afeta em torno de 1% da superfície terrestre, muito menos que a pecuária
(35%), a derrubada de florestas (30%) e a agricultura (27%) (UNEP, 2002). Seguramente, a
mineração pode ser menos agressiva ao meio ambiente. Com políticas públicas exequíveis,
condições técnicas para fiscalização/controle e apoio no acesso e uso racional dos bens
minerais, isto é perfeitamente possível.
O CONAMA aprovou, em 2006, a Resolução que estabelece regras para a
intervenção em Áreas de Preservação Permanente (APPs), classificando a mineração como
sendo atividade de utilidade pública ou de interesse social (BRASIL-MMA, 2006). Apesar de
70
não ter proibido integralmente a mineração nas APPs, considerou “as atividades de pesquisa e
extração de areia, argila, saibro e cascalho, outorgadas pela autoridade competente” como
sendo de interesse social, não podendo, portanto, atuar em veredas, manguezais, dunas
vegetadas e nascentes, inviabilizando a produção em empresas de menor porte.
A recuperação é uma exigência feita ao minerador e é tão necessária quanto a
própria atividade e a modificação do ambiente inerente a ela. Passa a recuperação por três
estágios: a) mitigar os impactos produzidos; b) reabilitação da área ao estágio inicial; e c)
compensação, por parte da empresa, dos impactos que não puderem ser eliminados (ANICER,
2007f).
O Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) criou, em 2003, um
grupo para elaborar uma proposta para o Manual de Desativação de Empreendimento
Mineiro, com o fim de aperfeiçoar a atuação, fiscalização e controle da atividade minerária,
além de orientar quanto aos documentos de apresentação obrigatória aos órgãos cabíveis
(DNPM, Ibama, Secretarias de Meio Ambiente etc.). Instituiu, também, a Compensação
Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), paga ao Estado em função do
usufruto econômico dos recursos minerais. Para os mineradores de argila, a compensação é
calculada sobre o valor do faturamento líquido, obtido na venda do produto mineral,
deduzindo-se os tributos e as despesas com frete e seguros.
Empresários das regiões do Vale do Açu e Apodi (RN) realizaram a recuperação
da área extraída, após seu ‘esgotamento’, com resíduos sólidos (ANICER, 2007). Outras
idéias para a recuperação existem, a exemplo do uso de resíduos de construção civil (RCC)
nas áreas exploradas e a construção de tanques para piscicultura.
Os grandes desafios do SOC em relação à mineração são as restrições da
legislação ambiental, a morosidade e excessiva burocratização dos órgãos reguladores, a
pouca informação dos empresários a respeito de seus direitos e obrigações, a informalidade e
a carga fiscal excessiva, licenciamento ambiental demorado e caro, baixa capacitação
tecnológica e o difícil acesso à informação e ao crédito (ANICER, 2006). E segundo o
pesquisador da Unicamp, Hildebrando Herrmann (apud ANICER, 2006), os principais erros
dos empresários voltados à legislação mineral são: operar sem licença ambiental, usar madeira
e carvão sem comprovação de origem, explorar ou danificar floresta nativa e não recuperar a
área, a falsidade em estudo ambiental, a destruição de vegetação de preservação especial não
passível de supressão e a não entrega dos relatórios anuais, além do impedimento da atuação
em veredas, dunas, manguezais, restingas e nascentes; ações que implicam na
responsabilização criminal, administrativa e cível do empresário infrator.
71
De modo mais contundente, deve-se conscientizar os ceramistas acerca da
necessidade de se fazer a manutenção de áreas exploradas, e isto junto aos órgãos de
fiscalização/controle ambiental, já que os mesmos têm as prerrogativas de preservação e
também do lançamento das diretrizes que garantam a utilização adequada e racional da
matéria-prima, garantindo a sustentabilidade do setor. Esta nova consciência ambiental com
relação à mineração se torna premente, pois, do contrário, a argila, fundamental para a
sobrevivência do setor, fatalmente se esgotará.
5.3. Impactos Ambientais
“O aquecimento global tem nome, sobrenome e endereço”
Neilton Fidelis
Secretaria Executiva do Fórum
Brasileiro de Mudanças Climáticas
A produção de qualquer bem implica, necessariamente, na exploração de recursos
naturais e na emissão de rejeitos nos solos, águas e ar, modificando os ecossistemas, e, quanto
maior o nível de atividade econômica, maiores os impactos ambientais provocados. De acordo
com Young e Lustosa (1999, apud JOBIM e JOBIM FILHO, 2006), a indústria brasileira
apresenta perfil potencialmente poluidor, consequência da demora na edição da normatização
ambiental e no controle e fiscalização insuficientes, além da tendência histórica de atuação em
atividades potencialmente poluentes.
De acordo com o artigo 10° da Lei Federal 6.938/81, a construção, instalação,
ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades que demandem utilização de
recursos ambientais, considerados “efetiva ou potencialmente poluidores, bem como os
capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio
licenciamento por órgão estadual competente” e outras licenças exigíveis. Desde então, as
empresas ou atividades em desconformidade estão, obviamente sujeitas às sanções previstas
na legislação, inclusive as constantes do artigo 72 da Lei de Crimes Ambientais (Lei n°
9605/98): advertência, multa, apreensão, destruição, inutilização, suspensão de venda e
fabricação do produto, bem como embargo e demolição da obra, embargo e suspensão de
atividade.
Os RCC têm impactado seriamente a qualidade ambiental das cidades e, com a
aprovação da Resolução 307/2002 do Conama, o País está mudando o modo de lidar com
72
esses sedimentos. Chama a atenção, neste aspecto, a geração de resíduos no processo
produtivo da indústria cerâmica. Peças extruídas com defeitos podem ser imiscuídas à massa
argilosa e passar novamente pela extrusão, mas as que apresentam defeitos após a queima são
as que causam o maior impacto. Não é raro encontrar grandes áreas dos pátios das indústrias
cerâmicas brasileiras ocupadas por montões de peças rejeitadas, sem que a elas seja dada
destinação apropriada.
Há pesquisas sendo desenvolvidas, objetivando a inserção de rejeitos industriais
na forma de resíduo, como alternativa de preservação e economia, minimizando o problema
basicamente por duas vertentes: dando um destino ‘nobre’ aos cacos cerâmicos, evitando que
eles sejam enviados aos aterros sanitários, e, por causa da adição propriamente dita,
diminuindo o volume de argila necessário para produzir cada peça.
A adição de resíduos à massa de argila também resulta em economia de
combustíveis porque, enquanto queimam no interior das peças, em geral, os resíduos ajudam a
acelerar o processo de queima, provocando diminuição da quantidade de combustível gasto.
Seu uso, no entanto, só é economicamente viável quando a fonte de captação se encontra
próxima à olaria/cerâmica. Sendo assim, o ceramista precisa avaliar, antes de tudo, a relação
custo-benefício, respondendo a questões básicas: a peça com aditivos demora mais ou menos
para queimar? A economia gerada pela adição deste novo componente compensa o custo de
aquisição/transporte do resíduo até à fábrica? Só após respondê-las é seguro tomar uma
decisão.
Um estudo desenvolvido por Ripoli Filho (1997), em Santa Maria (RS), avaliou o
desempenho de peças cerâmicas com adição de chamote, com relação ao teor de umidade de
moldagem, proporção das misturas, argila-base e temperatura de queima. As características
físicas e mecânicas estudadas (retração linear de queima, absorção de água, porosidade, massa
específica aparente e sucção inicial), permitiram-no concluir que o uso do chamote
homogeneizado nas peças, em proporção ideal e queimado à temperatura adequada, melhora a
trabalhabilidade, diminui a retração e permite o aproveitamento deste resíduo na fabricação de
produtos de boa qualidade, contribuindo para minimizar o volume de rejeitos na indústria
cerâmica.
O trabalho desenvolvido por Oliveira e Holanda (2008) avaliou a influência da
adição de lodo proveniente de Estações de Tratamento de Esgoto (ETAs), nas propriedades e
estrutura da cerâmica vermelha. O lodo das ETAs é rico em argilominerais, silte e areia, e
apresenta composição semelhante à das argilas comumente usadas na indústria de cerâmica
vermelha.
73
Do ponto de vista ambiental, o lodo de ETA é classificado como Não Inerte
(classe IIA). Em geral, ele é descartado em corpos hídricos ou enviado a aterros sanitários,
gerando, de qualquer das duas formas, impactos ambientais. A adição de até 15% em massa
de resíduo de ETA não provocou variações substanciais nas propriedades tecnológicas ou
microestrutura das peças em relação às confeccionadas com a massa padrão, monitoradas por
microscopia eletrônica de varredura e difração de raios X. A retração linear, a tensão de
ruptura à flexão, a absorção de água e a densificação das peças cerâmicas não apresentaram
alterações significativas após a incorporação do resíduo, o que levou os autores a concluir que
a cerâmica vermelha é destino final seguro para o lodo de ETAs, o que tem duas
consequências importantes: (a) economia de argila, substituída pelo lodo; e (b) o ganho
ambiental, evitando o descarte do lodo em corpos hídricos e/ou aterros sanitários.
O ceramista também deve ficar atento à classificação dos resíduos, constante da
NBR 10.004/2004, e às implicações dessa adição quanto à emissão de gases. Ao analisar as
emissões gasosas provenientes da queima da mistura de argila com diferentes concentrações
de escória de aciaria (0,5% e 10%), Souza et al. (2008) detectaram, via técnica fototérmica,
presença de monóxido e dióxido de carbono. Nos corpos de prova com 10% de escória de
aciaria, um pico pronunciado de CO2 a 800 ºC foi detectado, o que não aparece no perfil usual
da argila pura. Pelo estudo, infere-se que, para os percentuais de adição empregados, a
variável fundamental foi a temperatura de queima, que deve ser de até 550 ºC, no caso da
adição de 10% de escória. Adições como esta findam beneficiando, além do meio ambiente,
as próprias indústrias cerâmica e siderúrgica.
O Ministério do Meio Ambiente propõe uma série de medidas, sob o título
‘Práticas sustentáveis’, com um dos focos sendo o tema ‘Resíduos’. Dentre as ações, está
“introduzir regulamentação sobre utilização, reutilização e reciclagem de materiais de
construção”, além de “Disseminar o conceito 3Rs - Reduzir, Reutilizar e Reciclar” e “Utilizar
tecnologias mais limpas nos processos produtivos” (BRASIL-MMA, 2009).
A indústria cerâmica deverá estar atenta às tecnologias e facilidades que garantam
processos mais fáceis e limpos, sob pena de perder mercado para produtos substitutos, que
caiam na preferência de quem opta por produtos do consumo responsável. Caberá aos
profissionais do SOC fazer chegar à ponta da cadeia produtiva o conceito de alvenaria
racionalizada, incentivando o desenvolvimento de projetos e soluções, para minimizar a
formação de resíduos, cambiando o enfoque tradicional, onde a preocupação recai sobre a
destinação dos resíduos e, não, sobre o momento de sua geração.
74
Dentre as ações para alcançar tal feito, podem ser destacadas, por exemplo: a
produção de peças em conformidade com as Normas Técnicas, de produtos segundo o
conceito de coordenação modular – que não necessitam de corte, minimizando o desperdício,
podem dispensar o uso de juntas verticais e promovem economia na massa de assentamento e
reboco –, transporte em pallets, além de popularizar a racionalização do que a empresa já tem
montado, em funcionamento, e corrigindo erros detectados em um diagnóstico que envolva
desde a direção ao chão-de-fábrica.
Os gastos com energia têm peso considerável na planilha de custos da indústria
cerâmica, sendo a aquisição de lenha e a energia elétrica os itens mais importantes. Além de
enfrentar a concorrência com outros ramos industriais também consumidores de madeira
(como matéria-prima ou fonte de energia), estes conseguem ‘bancar’ preços mais elevados,
porque fabricam produtos com maior valor agregado e em escalas de produção mais vultosas.
A lenha utilizada no Nordeste brasileiro provém da caatinga. No entanto, por
força da extração ilegal e desordenada de mata nativa, já vem se tornando motivo de
preocupação o processo de desertificação de algumas áreas no Nordeste; não apenas pela
extração da vegetação, mas, também, da argila. Na região de Seridó (RN), o processo, já em
estágio bastante avançado, tem despertado as atenções de técnicos. O volume de lenha
consumido mensalmente no Estado equivale a uma área de mata nativa do tamanho da capital,
Natal.
Segundo a Convenção das Nações Unidas de combate à desertificação (2005),
desertificação é a “degradação de terras nas zonas áridas, semiáridas e sub-úmidas secas,
resultantes de vários fatores, incluindo as variações climáticas e as atividades humanas”.
Mas, na realidade, os grandes responsáveis pelo desmatamento no país são a
agricultura intensiva e a pecuária, o que leva a concluir que outros setores produtivos –
incluindo o SOC – não devem, portanto, ser ‘penalizados’ com as sanções e encargos
advindos dos impactos provocados massivamente por estas duas atividades.
A substituição da lenha esbarra, por exemplo, na necessidade de investimentos
para a adaptação ou aquisição dos fornos. A substituição da lenha por GNC ou óleo BMF
demandam investimentos e a maioria das empresas não dispõe de recursos para tal cousa.
Conseguintemente, é muito provável que o SOC continuará altamente dependente da oferta de
lenha, o que deve ser evitado, a partir do incentivo ao reflorestamento. Na Europa, para
diminuir o consumo durante a queima, algumas empresas têm adotado aditivos que atuam
como fundentes e queimadores de alta velocidade (ANICER, 2008e).
75
Outra consideração a ser feita é a respeito da pressão dos órgãos ambientais sobre
o SOC, para que quem utiliza lenha em seu processo produtivo reponha as áreas exploradas, o
que vai além da necessidade de garantir lenha para a queima. Diante das altas nos preços de
outros combustíveis, volta e meia a lenha é novamente empregada. De fato, a reposição é
premente, mas implica em custos com os quais a maioria das empresas não arcar, donde surge
a ‘saída’, conferida pelo legislador: a associação de reposição florestal. A opção terceirizada é
permitida para consumidores que demandem até 4 mil metros cúbicos de carvão/ano ou 12
mil metros cúbicos de lenha/ano.
As empresas do SOC começam a atuar no cenário da eficiência energética, com
redução do consumo e corte nos custos. Para isso, realizam troca de equipamentos defasados,
pagando obviamente pelos custos associados, e readequam seus horários, fugindo dos de pico
(tarifas mais baratas). A possibilidade de um novo apagão existe, mas hoje o Brasil dispõe de
recursos de que não dispunha em 2001. Atualmente, a transferência de energia entre regiões é
viável e há outras opções de geração, o que diminui o risco de racionamento.
A eficiência energética, então, tem como benefícios a segurança no abastecimento
de energia, a eficiência econômica e ainda ajuda a mitigar impactos ambientais.
Complementando-se mutuamente, estes três itens redundam na redução da energia gasta por
unidade produzida, ou seja: um mesmo número de itens pode ser obtido com menor consumo
de energia e recursos naturais, e menores danos ambientais.
5.4. Créditos de Carbono
“Buscamos a sustentabilidade energética. Com isso, queremos a preservação do cerrado, a
diminuição da emissão de gases e o comprometimento dos empresários, mostrando que é
absolutamente possível atrelar a indústria e a natureza”
Roni Abrão
Presidente do Sindicer/TO
No Protocolo de Kyoto, foi proposta a utilização de instrumentos de mercado,
através dos chamados mecanismos de flexibilização, com o objetivo de maleabilizar o
cumprimento das metas de redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE). São eles: o
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), a Implementação Conjunta (IC) e o
Comércio de Emissões (CE), importantíssimos indutores da formação do Mercado Ambiental
de Carbono.
76
Com o Protocolo de Kyoto tendo entrado em vigor, os MDLs, únicos mecanismos
de flexibilização aplicáveis ao Brasil, começaram a atrair os olhos de empresários de diversos
setores da economia mundial, criando uma cultura de responsabilidade para com as ações de
adaptação dos processos produtivos. O objetivo precípuo dos MDLs é “encorajar o
desenvolvimento sustentável através da transferência de tecnologia e do incentivo a um novo
padrão de desenvolvimento, baseado na conciliação de crescimento econômico, inclusão
social e respeito ao meio ambiente” (PricewhiterhouseCoopers, 2006).
Segundo o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE, 2008), as atividades
humanas que geram emissões de GEE são: geração de energia pela queima de combustíveis
fósseis (carvão mineral, petróleo e gás natural), desmatamento e produção de cimento
(emissões de CO2), decomposição anaeróbica de matéria orgânica (emissões de metano), uso
de fertilizantes nitrogenados e processos industriais que produzem emissões de
perfluorocarbonos, hidrofluorocarbonos e hexafluoreto de enxofre.
No Brasil, o desmatamento é a principal fonte de emissão de gases. O desafio é
atrelar os benefícios do reflorestamento com a venda de créditos para outros países. Nos
Estados brasileiros, São Paulo é responsável por 51% das reduções de emissões estimadas
para o primeiro período de obtenção de créditos (com término em 2012) e por 24% dos
projetos de MDL desenvolvidos no país. Minas Gerais vem na segunda posição, com 13,7%
para as duas variáveis, e o Ceará é o 11° em atividades MDL e o 14° em reduções, com 1,28
milhões de toneladas de CO2 equivalentes (CGEE, 2008).
A previsão da Secretaria Executiva do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas
é que, para 2020, 50% da emissão de CO2 será feita pelos países em desenvolvimento. Os
Estados Unidos serão responsáveis por 21% e Ásia e Europa Ocidental jogarão no ambiente
18% dos 35 bilhões de toneladas de CO2 previstas (ANICER, 2008e).
O Brasil tem contribuído para reduzir o efeito estufa, por exemplo, com o álcool
combustível, energia gerada por hidroelétricas e aço reciclado. A experiência do álcool mostra
que o domínio de tecnologias como esta melhora a competitividade da indústria brasileira e
demonstra a preocupação do país com as questões ambientais, além de representar evidente
ganho técnico-científico.
As ações do MDIC, no âmbito dos MDLs, dentre outras, contemplam a criação de
um ambiente de negócios, com a negociação de créditos de carbono na Bolsa de Valores,
Mercadorias e Futuros (BM&F), através do Mercado Brasileiro de Reduções de Emissões
(MBRE), bem como através do estímulo a linhas de crédito (a exemplo do Programa de
Desenvolvimento Limpo do BNDES), para o financiamento de projetos, articulação junto ao
77
“setor privado de projetos de grande impacto, envolvendo o desenvolvimento de novas
metodologias que contemplem as vantagens competitivas brasileiras (biocombustíveis,
florestas, carvão vegetal)” (BRASIL-MDIC, 2009).
Um relatório elaborado por PricewhiterhouseCoopers (2006), para o MDIC, com
o objetivo de coletar subsídios para políticas públicas de MDL no Brasil, inferiu que 79% das
empresas pesquisadas mantêm ou pretender estabelecer projetos de MDL. Para elas, a venda
de créditos de carbono é vista como um fator que torna os investimentos viáveis e potencializa
os lucros. Das empresas pesquisadas, 76% afirmaram reutilizar resíduos, 59%, que
desenvolvem voluntariamente alguma atividade de reflorestamento, 63% que conhecem o
MBRE e, destas, 58% declararam utilizar as receitas advindas da venda de créditos em
investimentos e 25%, em minoração dos riscos dentro da empresa (ampliando as fronteiras de
sua estratégia competitiva, por exemplo). Sobre a geração de fontes do efeito estufa em seus
processos produtivos, 58% declararam ser a queima de combustível sua principal fonte e 18%,
a disposição de resíduos. Há que se frisar, no entanto, que apenas 2% eram do setor da
Construção Civil.
Sendo um dos países mais promissores no que tange ao Mercado Ambiental de
Carbono, no primeiro ano de funcionamento oficial do MDL no Brasil, a redução total de
GEE em projetos validados foi equivalente a 180 milhões de toneladas CO2 equivalentes (em
relação aos níveis de 1990, quando o Protocolo foi assinado). Em setembro de 2007, o
primeiro leilão de créditos de carbono do mundo foi realizado pelo MBRE, negociando
créditos do projeto Bandeirante (captação de metano em aterro sanitário), ao preço de 16,20
euros por tonelada (BRASIL-MDIC, 2009). O MDIC já estuda a regulamentação do mercado
pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), para estabelecer as regras para que as
reduções de emissões esperadas possam ser traduzidas em negociáveis no mercado a futuro.
Algumas indústrias cerâmicas brasileiras estão engajadas neste processo, algumas
delas já comercializando créditos. A Social Carbon Company, empresa de consultoria
ambiental especializada em mudança climática e créditos de carbono, tem assessorado a
maioria das indústrias do SOC. A negociação dos créditos de carbono possibilita às empresas
investir na produção com as receitas auferidas, ao mesmo tempo em que elas reduzem a
emissão de poluentes.
O florestamento/reflorestamento, a utilização de biocombustíveis (em especial, do
biodiesel) e de energias renováveis (energia solar, energia a partir de biomassa, etc.), são
outras atividades que podem ser enquadradas como MDLs. E o SOC tem plena condição de
desenvolver as três, adequando as fábricas, reduzindo a emissão de gases tóxicos e o
78
realizando a comercialização de créditos para empresas estrangeiras, com cota de redução a
cumprir. Em média, as cerâmicas comercializam créditos anual ou semestralmente, a
depender do que foi poupado no período considerado.
O protocolo da comercialização de créditos de carbono consiste em elaborar
projeto de substituição das tecnologias, constando nele os resultados das alterações e os
índices de impacto ambiental, além do montante de redução de emissão de gases que deverá
ser obtido. O projeto deve, então, ser analisado por uma organização certificadora, autorizada
pela Organização das Nações Unidas - ONU. Implementadas as mudanças no chão-de-fábrica,
deve-se monitorar e registrar dados relacionados ao processo produtivo, como, por exemplo,
quanto de biomassa foi utilizado e a tonelagem de gases emitidos (ANICER, 2008a). Após
doze meses, em média, a empresa deve fazer outro relatório, com os registros obtidos no
período e solicitando a venda dos créditos acumulados. O documento segue para auditoria,
que autoriza a comercialização em nível mundial. Pequenas empresas podem se reunir em
conglomerados, somando créditos e comercializando-os conjuntamente, o que é praticamente
impossível se forem consideradas isoladamente.
A Olaria São Sebastião (RJ) trocou o óleo BPF pela madeira de lenha exótica
plantada (eucalipto e pinus) e para resíduos de madeira. A Cerâmica Romana (SP), uma das
pioneiras no uso de biomassa renovável, usa serragem e cavaco de madeira, provenientes de
reflorestamento de serrarias no Mato Grosso do Sul, e bagaço de cana, de usinas do Oeste
Paulista. Já a Cerâmica Gomes de Matos (CE), que queimava com lenha não-renovável de
caatinga e passou a utilizar biomassa (serragem de madeira, poda de cajueiro, casca de coco
de babaçu e lenha oriunda de plano de manejo), realizou a sua primeira comercialização de
crédito em 2009, relativa às reduções de emissões de GEE entre 2007 e 2009, totalizando
114.022 toneladas de CO2 equivalente. As receitas da venda foram destinadas a ações de
responsabilidade social.
Nesse sentido, o desenvolvimento sustentável deixou de ser apenas bandeira de
ambientalistas e passou a ser uma preocupação da ICC no mundo todo, sendo consensual a
ideia de que a pior forma de desperdício é a baixa qualidade de um material. Esta diminui, por
exemplo, seu ciclo de vida útil, encurtando-o e demandando sua substituição, o que exigirá
novos gastos com energia e matérias-primas no processo de fabricação.
O Mercado Ambiental de Carbono é uma realidade, com metas de redução das
emissões de GEE devendo aumentar significativamente nos próximos anos, contribuindo para
a mitigação do efeito estufa. É certo que, isoladamente, não será capaz de resolver a
“estabilização das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera num nível que impeça
79
uma interferência antrópica perigosa” (GEEC, 2008), mas profissionais e empresários ligados
ao SOC têm nas mãos a responsabilidade de implementar práticas que contribuam para a
melhoria continuada do setor.
80
6.
SOC NO ESTADO DO CEARÁ
"A revitalização da indústria cerâmica cearense é de fundamental importância
sócio-econômica, já que é um dos setores que mais contribuem
para manter o homem do campo em suas cidades"
Fernando Ibiapina
Sindicerâmica/CE
A indústria cerâmica constitui uma atividade tradicional e de grande relevância na
economia do Estado do Ceará. Segundo SEDETEC (2008), a capilaridade territorial
(pulverização) do SOC e a concentração das cerâmicas em pólos produtivos propiciam o
desenvolvimento econômico das regiões onde estão instalados, gerando emprego, renda e
incremento na arrecadação fiscal. Já Medeiros e Parahyba (2003) destacam, como fator social
relevante da atividade ceramista, a fixação do trabalhador braçal em seu habitat natural,
evitando o êxodo rural e cooperando para a manutenção das famílias nos distritos e
localidades.
Dentro desse contexto, ressalta-se o pólo do Município de Russas, que responde
por cerca de 70% de toda a atividade ceramista do Baixo/Médio Jaguaribe. Seus jazimentos
estão às margens do Rio Jaguaribe e em locus espalhados pelo Município. Em 2002, um censo
do SOC no Estado, realizado pela FIEC com o apoio do SINDCERÂMICA-CE, detectou que
o maior volume de produção era, à época, de telhas, o que não se alterou desde então. Com
cerca de 30% das empresas ativas localizadas no pólo ceramista de Russas, este Município é
tido como o grande concentrador de mão de obra.
No Ceará, o volume de micro e de pequenas empresas é praticamente igual em
proporções, predominando as de pequeno porte. Pouco menos de 2% das cerâmicas cearenses
são de médio porte, não possuindo o Estado nenhuma empresa cerâmica de grande porte.
(FEITOSA, 2007). A imensa maioria está registrada formalmente, mas, nas relações sindicais,
grande parte delas não está associada. O maior volume de produção é de tijolo oito furos,
telha extrusada e laje volterrana H8 (FIEC, 2002).
O projeto Finep/MEHIS (Habitações Sustentáveis com Melhoria dos Processos
Tradicionais), da universidade Federal do Ceará, tem por objetivo “estudar os sistemas
construtivos tradicionais, buscando seu aperfeiçoamento, para reaplicá-los de modo mais
racional em habitações de interesse social” (FEITOSA, 2007). Realizando visitas a diversas
cerâmicas cearenses, com o intuito de caracterizar a cadeia produtiva dos elementos
81
cerâmicos, foram detectados pontos importantes, desde a captação das argilas até a operação
dos equipamentos. O Projeto Mehis compila os registros de suas visitas técnicas em resenhas,
escritas por algum dos integrantes do grupo.
Em relação às dificuldades, o censo do SOC cearense, realizado pela FIEC (2002),
detectou que a legislação ambiental relacionada à extração de matéria-prima, a forte
concorrência entre as empresas e a distância entre a jazida e a fábrica foram as mais
importantes para os profissionais entrevistados.
No Ceará, um APL muito bem estruturado é o de Cerâmica Vermelha de Russas,
que abrange 13 municípios e compreende cerca de 80 indústrias do ramo ceramista local, gera
cerca de 2200 empregos diretos e é responsável por 18% da produção de telhas no Estado.
Toda a região se encontra sobre a Bacia Sedimentar do Rio Jaguaribe, área naturalmente
propícia ao acúmulo de macrominerais, onde a abundância e a facilidade de seu manuseio da
argila acabou por constituir a principal estratégia de sobrevivência da população (MDIC,
2009).
A produção é, principalmente, de telhas (mais de 90%) e tijolos (pouco mais de
2%), com discreta produção de lajes volterranas e manilhas, voltada para o consumo interno e
é também escoada para outros Estados do Nordeste, correspondendo a pouco mais de 35% de
todas as peças cerâmicas produzidas no Estado.
Os principais canais de comercialização são revendas no varejo, notadamente para
as reformas, mais do que para as construções. Os consumidores têm excelente relacionamento
de fidelidade em relação a seus fornecedores e os produtores dão atenção redobrada à
qualidade e aos preços praticados, um encadeamento absolutamente benéfico para ambos.
Medeiros e Parahyba (2003) relataram que, no pólo de Russas, ocorre com
frequência a interrupção da extração das argilas e surgem dificuldades com a secagem das
peças nos períodos invernosos. Em alguns estados do Nordeste, tais como Paraíba e Ceará,
menos de 40% das cerâmicas possuem secadores (ANICER, 2008b), o que provoca quedas no
volume de produção e perdas de faturamento.
Entre as queixas, custos com a queima (compra da lenha), a concorrência
predatória, advinda tanto de empresas formais quanto por informais, ausência de treinamento
e capacitação de proprietários e empregados, a inexistência, dificuldades e burocracia na
tramitação dos processos de linhas de crédito, foram as mais importantes (MDIC, 2009).
Entre os resultados mais expressivos, podem ser citadas as melhorias nos processos
82
produtivos e na qualidade, além da execução do Plano de Recuperação de Áreas Degradadas
pelas Indústrias de Cerâmica Vermelha do Baixo Jaguaribe, com a promoção de cursos de
educação e preservação ambiental para os ceramistas, alunos de escolas públicas e
particulares, associações comunitárias, sindicatos de trabalhadores rurais e a implementação
de estudos tecnológicos, estes já em andamento. Outro resultado que salta aos olhos foi o
desenvolvimento de um modelo de forno (alcunhado Cedan), com custo de R$ 150 mil, que
reduz a quantidade de lenha em dois terços e melhora a qualidade do produto, praticamente
sem poluir a atmosfera, estando dentro dos padrões ambientais exigidos no Brasil.
A interação entre os diversos APLs pode trazer vantagens de cunho ambiental e
gerencial. Um exemplo é o APL de móveis do Município de Marco (CE), que encontra
dificuldades com os rejeitos da madeira. O estabelecimento de uma parceria entre os APLs de
Russas e Marco, poderia ser de grande valia, já que este rejeito é uma alternativa energética
para o SOC.
Os ceramistas da região do Baixo Jaguaribe estão organizados através da
Associação dos Fabricantes de Telhas de Russas (Asterussas) que, em 2006, aprovou um
projeto no MDIC, iniciando suas atividades em 2007. Atualmente, está em processo de
regulamentação a Cooperativa de Base Mineral de Russas (COOBAM).
Segundo a Anicer, das trinta empresas certificadas pelo PSQ de blocos cerâmicos,
nove se localizam no Estado do Ceará. Quanto aos laboratórios, o Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial do Ceará (SENAI-CE) conta com um dos mais
modernos do país, localizado no Centro de Treinamento e Assistência às
Empresas (Cetae). Especializado em cerâmica vermelha, ele se destina a
atender as empresas que desejam receber certificação do PSQ de blocos,
realizando ensaios técnicos para verificação dos requisitos exigidos nas Normas
relacionadas a elementos cerâmicos.
Em relação a fontes energéticas, nas etapas de conformação e extrusão, a
energia elétrica é a mais usual. Na queima, é mais comum a lenha, advinda, em geral, da poda
de cajueiros, espécie abundante no Estado (FEITOSA, 2007; PESSOA, 2004). Apesar de
culturalmente muito arraigada, a lenha deve ser, em um futuro breve, substituído por outras
fontes de menor impacto ambiental, tais como o GNC e as energias de biomassa.
Os ceramistas cearenses reivindicam, assim como produtores de outros Estados do
Nordeste, a implementação da rede de distribuição de GNC, o que só é viável para regiõespólo, com capacidade produtiva tal que compense o investimento. Devem ser avaliados,
83
também, os custos não apenas da conversão dos fornos, mas os provenientes da aquisição do
próprio combustível. Ressalta-se, no entanto, que, a despeito dos investimentos serem
significativos, os ganhos com a venda de créditos de carbono muito provavelmente irão
viabilizá-los.
Segundo Medeiros e Parahyba (2003), o desconhecimento quase que completo
acerca das jazidas de argilas é refletido na extração, já que esta se processa apenas
horizontalmente, restringindo-se às camadas mais rasas, em amplas áreas de exploração. Ao
se deparar com uma camada de areia ou com matacões, por exemplo, o minerador
simplesmente procura outras áreas, desperdiçando a oportunidade de encontrar argilas de boa
qualidade em camadas mais profundas do solo. Além disso, a cratera resultante da exploração
horizontalizada é visualmente mais impactante e mais danosa ao meio ambiente.
No caso do Ceará, boa parte das empresas estão irregulares ou em processo de
regularização junto ao DNPM (PINHEIRO, 2002 apud PESSOA, 2004). Em geral, os
ceramistas realizam a compra de terceiros, pagando pelos volumes das caçambas de
caminhões, mais conhecidos como ‘carradas’. Não há preocupações com a reabilitação das
áreas exploradas, uma vez que a fiscalização é insuficiente, além do fato de as empresas não
serem legalmente autorizadas para a atividade mineradora.
Como medida de minimização dos impactos ambientais provocados pela atividade
de mineração, Pessoa (2004) sugere a recomposição vegetal e paisagística com o plantio de
carnaubeiras, espécies símbolo do semi-árido brasileiro. A ideia é que, no futuro, seja
realizado o aproveitamento econômico, a partir da cera e da palha.
No Estado do Ceará, 44,8% das empresas possuem programas de replantio e
52,2% delas estão legalizadas junto ao DNPM. Com relação ao uso de argila, 52% utilizam
apenas um tipo e, em média, as reservas atuais têm previsão de duração de 9 anos e 6 meses,
aproximadamente.
Um diagnóstico realizado pelo IEL-CE, em parceria com o Sebrae-CE e o
Sindicerâmica, divulgou que quase 70% das cerâmicas cearenses não dispõe de nenhum
sistema antipoluente e que apenas 25% utilizam filtro de chaminé (FIEC, 2002).
No tocante aos rejeitos, Pessoa (2004) relata a problemática das peças defeituosas,
que, rejeitadas, terminam entulhadas nos pátios das cerâmicas, tornando-se um grande
problema ambiental, pela falta de destinação adequada. No entanto, alguns esforços já vêm
sendo realizados para mitigar este impacto, a exemplo da utilização de peças cerâmicas
trituradas na pavimentação, para a melhoria da trafegabilidade de estradas vicinais.
84
No Ceará, a Bolsa de Resíduos & Negócios, um programa idealizado pela
Federação das Indústrias do Estado do Ceará – FIEC, através do Instituto Euvaldo Lodi
(IEL-CE), é um serviço de informações que identifica mercados potenciais para a
comercialização de resíduos sólidos e de seus subprodutos, contemplados em um sistema de
classificação de materiais gerados durante os processos industriais, estimulando o
aproveitamento econômico e promovendo oportunidades de compra e venda destes rejeitos,
além de máquinas e/ou equipamentos (IEL-CE, 2009). Este serviço tem grande potencial de
utilização pelo setor ceramista no Estado, na medida em que tem condições de colocar os
geradores dos resíduos de interesse ao processo produtivo das indústrias cerâmicas e os
ceramistas em contato.
O Ceará tem bom histórico no que diz respeito a energias alternativas, a julgar
pelos projetos de geração de energias limpas em andamento. Há previsão de incremento de
uma área na parte leste do quebra-mar do Terminal de Múltiplas Utilidades do Pecém
(TMUT), para abrigar uma usina-piloto de produção de energia elétrica a partir da energia das
marés, aproveitando a regularidade dos ventos e frequência das ondas do mar no litoral
cearense. Pioneiro na produção deste tipo de energia, baixo impacto ambiental, o Estado já
caminha para a autossuficiência com a construção e operação de 14 parques eólicos e a
instalação de uma usina solar no Município de Tauá, condição necessária à industrialização.
No que tange á comercialização de créditos de carbono, a Cerâmica Gomes de
Matos, no Município de Crato, foi a primeira empresa nordestina a vender créditos ao Banco
Mundial, em outubro de 2009. A intenção inicial, que era de reduzir custos e aumentar a
rentabilidade da empresa, culminou na não-emissão de 114 mil toneladas de CO2 equivalentes
e rendeu à empresa 1,324 milhão de reais por dois anos de práticas ecologicamente corretas
(O POVO, 2009).
Realmente são poucos os projetos que, como o MEHIS, estão voltados para a
pesquisa no setor cerâmico. É pequeno também o número de entidades que, como o SEBRAE,
apóiam o setor na identificação de suas características e particularidades para, a partir de seu
conhecimento, estabelecer soluções para a melhoria da qualidade e da produtividade em seus
processos (FEITOSA, 2007).
A modernização tecnológica dos empreendimentos de menor monta é um dos
grandes desafios do SOC cearense, dado que o clamor por melhorias na qualidade dos
produtos, impulsionado pelas exigências técnicas das Normas vigentes, exige investimentos
em equipamentos e maquinário. No entanto, as dificuldades de acesso a linhas de crédito
podem se configurar como entraves a este processo.
85
7.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para a estruturação de um setor forte e arrojado, com qualidade para consumidores
e rentabilidade para empresários, deve-se criar, antes de tudo, uma cultura de cooperação. A
criação de redes de colaboração entre empresários de um mesmo ramo, institutos de pesquisa,
fornecedores, entidades e agentes financeiros é uma das alternativas para incrementar o
crescimento da indústria cerâmica.
Ao se decidir pelo individualismo, o ceramista se exclui de uma cadeia de
oportunidades e troca de experiências com quem vivencia situações cotidianas muito
semelhantes. Da vivência de cada ator, em cada empresa, soluções práticas para os problemas
certamente aparecerão. Conclui-se, destarte, que, para um setor numeroso e representativo
como o SOC, o associativismo deve ser tomado como premissa. É imprescindível que as
entidades representativas sejam atuantes, indo além da simples representação formal,
legalista, empregando os melhores esforços na prestação de serviços e consultorias que
agreguem valor aos cerâmicos. Seguramente, este é um dos meios mais interessantes para,
fortalecendo o setor, ter condições de enfrentar a contundente concorrência dos materiais
substitutos, além de inserir novos produtos cerâmicos no mercado da construção civil e
recuperar o espaço perdido por outros. E considerando que as empresas deixaram de ser
“mecanismos autocontidos” para se tornar parte de uma rede de organizações, criar elos de
união entre os atores da cadeia produtiva dos produtos cerâmicos, através dos sindicatos,
associações e demais parceiros, permitirá propor macroobjetivos conjuntos, simultâneos e
integrados, continuadamente negociados entre eles.
Incentivar os APLs, a exemplo do que já existe no pólo ceramista de Russas (CE),
além de promover a competitividade, rentabilidade e a melhoria nas condições de trabalho e
ambientais, desde que bem orientados pelos órgãos competentes (IBAMA, SEMACE,
SEBRAE, Sindicatos etc.), trarão, mais e mais, desenvolvimento e inovação tecnológica.
Os ceramistas devem buscar sistematicamente formas de aprimoramento de seus
produtos e serviços, chamando a atenção do consumidor e conquistando sua fidelização às
marcas. Com expectativas diversas e múltiplos estilos, o consumidor moderno busca
qualidade aliada a baixo custo. Isto implica que o SOC precisa agregar qualidade e bem
equacionar os desejos do consumidor com suas próprias necessidades (como o lucro, por
exemplo), a fim de não perder espaço no mercado.
86
Outra sugestão interessante é a realização de mapeamento das reservas de argilas
no Estado, priorizando a extração dos minerais cerâmicos das jazidas chamadas ‘de sequeiro’,
em vez das advindas das várzeas, a fim de minimizar os impactos ambientais nestas.
Quanto ao PSQ, sugere-se a continuidade dos fóruns de discussão locais e
nacionais, excelente para a manutenção da mudança de comportamento despertada no setor
pelo Programa. São válidos todos os esforços para que não caia em um estado de
conformismo ou acomodação que emperre ou atravanque o desenvolvimento do SOC. Para
tanto, apoiar e trabalhar as questões operacionais do PSQ nas diversas localidades, apontando
as possibilidades locais de crescimento e desenvolvimento, é, certamente, a ferramenta mais
produtiva, dada a pulverização do segmento.
Como idéia sui generis, destaca-se a proposição feita por SEBRAE (2008): a
realização de benchmarking do setor cerâmico em relação à indústria cimenteira, que conta
com uma CP muito melhor estruturada, forte lobby de defesa institucional do produto,
trabalhando junto às esferas governamentais e órgãos normalizadores, pesados incentivos em
pesquisa, junto a institutos públicos e privados. Realizar este benchmarking significa,
sobretudo, analisar e adequar às peculiaridades do SOC as ações implementadas pelo setor
cimenteiro, adaptação essa indispensável, já que são duas realidades muito distintas.
Consciente dos desafios que tem pela frente – superar o déficit habitacional, no
saneamento básico e na infraestrutura do País, recuperar o espaço perdido para os produtos
substitutos, incentivar a união e a cooperação entre os elos da CP, encontrar soluções para a
crise energética, dentre outros –, o SOC pode e deve lançar mão de artifícios para estabelecer
parcerias com entidades cerâmicas internacionais, em países de mais tradição que o Brasil, tal
como Portugal e Espanha, além de explorar sua capacidade de se auto-organizar, focando-se
nas necessidades de pequenas empresas e consórcios com vistas à exportação, que é um
caminho excelente para os produtos cerâmicos brasileiros. É preciso despertar os ceramistas
para que construam uma estrutura de lobby tal que seja possível reagir às pressões políticas,
normativas e de mercado.
A edição das novas Normas Técnicas foi um passo muito importante, mas o
próximo salto é a mobilização política, econômica e setorial, estabelecendo o diálogo com os
agentes Estatais, fazendo valer sua força enquanto setor produtivo da economia.
Percebe-se, ainda, a necessidade de ações de marketing no SOC, já que os
investimentos nesta área são ainda pontuais e mais comuns para empresas de maior porte.
Sabe-se, no entanto, que este é meio excelente para atrair o consumidor, permitindo que ele,
87
conhecendo previamente marcas e produtos, já chegue à revenda sabendo exatamente o que
quer; muito mais do que apenas para escolher, para efetivar a compra.
O SOC tem necessidade de encarar o futuro com uma visão mais prospectiva,
postura que se opõe radicalmente à clássica, mecanicista, de futuro único, que faz previsões
para o futuro e cria perspectivas baseado na observação pura e simples do passado e do
presente.
7.1. Prognósticos para o SOC brasileiro
“Fica-nos a palavra de ordem – competitividade, atrelada
aos compromissos ambientais e construtivos de nosso tempo”
César Gonçalves
Ex-presidente da Anicer.
Aumento da defesa do meio ambiente, do direito do consumidor e da legislação de
uso e ocupação do solo. Estas devem ser os principais temas das discussões no SOC para os
próximos anos. O Brasil já tem dado seus primeiros passos, de forma muito consistente,
apesar de ainda incipiente.
A modularização é outro rumo da ICC e, conseguintemente, do SOC. As obras
começam a ser projetadas já com o conceito de coordenação modular, com medidas
millimétricas e minimização do desperdício, construção enxuta etc.
É provável, também, que o setor de materiais de construção adquira a faceta de
oferecedor de serviços, já podendo ser encontradas revendas que se preocupam em vender
produtos ‘casados’ com a instalação. E isto é bem interessante porque coaduna com o
pensamento do consumidor, que tem em mente, não um milheiro de tijolos, mas uma parede
erguida. Sendo assim, a prestação do serviço de montagem, terceirizada ou não, se abre como
um novo nicho a ser explorado, com enorme possibilidade de deslanche.
A normalização deve promover frente de resistência à importação e à crescente
competição internacional. Em o setor ceramista nacional se padronizando de acordo com as
normas brasileiras, poderá seguramente desbravar os mercados internacionais, já que as
exigências brasileiras estão muito próximas dos requisitos mínimos das normas estrangeiras.
Outra questão a ser combatida é a mão de obra informal, que deve ceder lugar à
montagem industrial de componentes, demandando pessoal melhor capacitado. Para a
educação profissional, antecipar as demandas e adotar novas estratégias de transferência e
88
compartilhamento de tecnologias, atendendo à demanda atual e preparando-se para a futura,
são pontos relevantes, que devem ser bem pensados. Já nas revendas, tendem a assumir papéis
de maior impacto na CP o gerenciamento logístico e a montagem de kits habitacionais, com a
certificação de sistemas de gestão: da qualidade, ambiental e de higiene e segurança do
trabalho.
O crescimento das políticas de desenvolvimento urbano e a oferta de
financiamentos (públicos ou privados – investidores internacionais, empreendimentos
voltados para o turismo, por exemplo), bem como o uso dos recursos do FGTS para habitação
e saneamento, e expandir o empenho do governo e a estrutura oficial de apoio ao setor, são
pontos-chave nesse sentido.
O novo compromisso da indústria é com o meio ambiente, com a qualidade e com
o consumidor. As empresas precisam aprender a valorizar o respeito, a segurança, a qualidade
de vida, além de repensar seus modelos de gerenciamento, priorizando seus recursos
humanos, o que demanda motivação e comprometimento de todos os atores.
Para o futuro, devem continuar em evidência as parcerias institucionais
internacionais, como a do Acordo Multilateral de Cooperação da Cerâmica Vermelha na
América do Sul, sem fins econômicos, desenvolvido pela Anicer e que prevê a aproximação
entre entidades e empresários, possibilitando o intercâmbio de experiências e conhecimentos,
além da realização de atividades conjuntas.
Os grandes anseios do empresariado no SOC são as questões tributárias, a
desoneração da produção industrial e a ampliação das linhas de financiamento, além dos
problemas em relação às questões ambientais (mineração e crise energética, principalmente) e
mercadológicas, peculiares do setor (individualismo, pulverização, informalidade).
Para inovar, não é necessário mudar tudo de lugar ou virar de cabeça para baixo,
mas fazer diferente. Isto não quer dizer, no entanto, exclusividade ou ineditismo. Com ações
de planejamento e um pouco de criatividade e motivação, as inovações podem, de fato, se
tornar realidade nas indústrias cerâmicas brasileiras.
Na busca pela satisfação e fidelização do consumidor, elevar o padrão técnico dos
processos
produtivos,
alcançar
o
nível
minimamente
exigido
pelos
indicadores
mercadológicos da ICC, promover a modernização das indústrias e buscar soluções
energéticas viáveis, saltam como imprescindíveis iniciativas para a inovação no SOC. Esta se
apresenta em várias linhas de atuação: em processos, produtos e modelos organizacionais
(administrativos ou de marketing, por exemplo). Crucial é que a inovação seja algo exequível
e que gere lucro ou outro ganho para a empresa, ainda que não-monetário.
89
O desconhecimento acerca da profundidade ou, mesmo, dos custos associados
algumas vezes afastam os empresários das inovações. No entanto, elas não necessariamente
são físicas; podem ser gerenciais. A mudança de comportamento frente às crises, adotando
postura pró-ativa, ao invés de se acovardar e conter produção ou dispensar mão de obra, por
exemplo, encarando as adversidades, a concorrência acirrada e os problemas operacionais
como oportunidades já é um bom começo. No geral, a indústria cerâmica busca inovações
muito mais motivada por dificuldades e momentos de crise do que propriamente por uma
cultura bem assentada e disseminada acerca deste aspecto no setor.
Nos dias atuais, o fabricante precisa estar atento às inovações e tendências e às
exigências de seu cliente, que busca não apenas estética, mas conforto, bem-estar e qualidade
de vida. Dessa forma, é necessário vender tecnologia e bons sistemas construtivos, a preços
que o cliente se disponha a pagar, em troca do produto com valor agregado que lhe é ofertado.
Um bom exemplo disso foi o desenvolvimento dos Blocos Cerâmicos Estruturais
Leves, adaptação de tecnologia alemã para blocos de alta porosidade, que permitem execução
de paredes até 10% mais leves. Durante o processo de fabricação, a massa é adicionada de
resíduos (papel reciclado, cinzas industriais, isopor, serragem, dentre outros) e seu design,
com orifícios desalinhados, retarda a passagem do ar, melhorando suas propriedades térmicas.
O desenvolvimento de softwares, tais como o Ceramik, desenvolvido pelo Ifet-RJ,
usado para calcular e organizar vários pontos da produção e do gerenciamento na indústria
cerâmica, é um bom exemplo de inovação. Outra delas é o processo de esmaltação
eletrostática dos blocos cerâmicos com tinta de polietileno em pó, técnica usualmente aplicada
em telhas, que confere maior durabilidade, baixa agressividade ao meio ambiente e ao
trabalhador e aumenta o valor agregado das peças.
E as idéias continuam: vigas e colunas cerâmicas com diferentes medidas
modulares, tijolos maciços com acabamentos diversificados, painéis cerâmicos esbeltos para
revestimento, fachadas cerâmicas ventiladas, placas cerâmicas para montagem de painéis de
vedação ou forro, a retificação dos blocos que permite o uso de cola em vez de argamassa
entre eles, pavimento cerâmico como alternativa à pedra portuguesa e granito para o
calçamento de ruas, dentre outras tantas. Neste último caso, a pesquisa do engenheiro Jamil
Duailibi Filho, da área de cerâmicas vermelhas e cerâmicas avançadas do Instituto Nacional
de Tecnologia (INT/MCT), mostra que as cerâmicas oferecem efeito estético igual ou superior
às pedras portuguesas, sendo mais versáteis em relação a formas e variações de cor, o que
representa uma inovação para a ICC e o SOC.
90
A utilização de produtos cerâmicos de alto valor estético é uma tendência mundial
cada vez mais forte. Investir em pisos, pastilhas e acabamentos com valor agregado e retorno
até 40% maior em faturamento, assim como o desenvolvimento de produtos ecologicamente
corretos, que aliem rusticidade, beleza e sofisticação, são excelentes opções para obter lucro e
conquistar o consumidor.
Alguns segmentos da ICC estão exercitando uma forma diferente de atuação,
encarando suas dificuldades a partir de uma visão centrada na idéia de cadeia produtiva e,
não, no individualismo vigente até então. Evidentemente, é imprescindível que ocorram
mudanças radicais na mentalidade do empresariado, para que, só então, possam eles desfrutar
dos ganhos supervenientes. A esperança é, sem dúvida, que estes resultados sejam percebidos
na prática, em um futuro verdadeiramente muito próximo.
Assim sendo, após a realização de uma análise mais aprofundada de todo o setor,
de suas peculiaridades, avanços e entraves, torna-se possível propor novas diretrizes para o
desenvolvimento da indústria cerâmica brasileira; tanto no que tange à mão de obra quanto à
infraestrutura das unidades de produção, incluindo-se aí as questões concernentes à logística
da captação dos insumos e controle dos impactos ambientais provocados, layout dos
equipamentos na olaria e ao gerenciamento da distribuição das peças aos pontos de venda
(varejo).
7.2. Em resumo
“É inegável: a qualidade e os atributos da cerâmica vermelha vêm melhorando dia após
dia, mas quem tem as argilas nas mãos sabe que podemos alcançar muito mais”.
Luiz Cláudio Fornari
Ceramista
Com um déficit de quase oito milhões de moradias, sem contabilizar as
submoradias, o SOC deve passar por uma fase excepcional de crescimento, já que o cenário
do futuro é tão promissor. As metas oficiais são de acabar com o déficit habitacional em
quinze anos. Isso sem contar com a demanda nova, de quem ainda vai ter necessidade de
adquirir casa própria. Eis aí o que espera o SOC brasileiro para as próximas décadas.
Entretanto, há ainda uma série de desafios a ser superados até que seja possível dizer que o
setor corresponde à altura do que lhe é solicitado.
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Um dos grandes desafios do setor oleiro-cerâmico é vencer a dicotomia que o
afeta. De um lado, a política do “caminho das águas”, baseada no fazer mais fácil,
desprezando as Normas, com concorrência desleal, sonegação e lucro fácil. De outro, o
esforço de quem quer fidelizar o consumidor consciente, que opta pela qualidade,
responsabilidade social e crescimento sustentável, e exige isso dos produtos que adquire. Daí,
pode inferir que o tripé Qualidade-Política Industrial-Política Habitacional sustentará o
crescimento consistente do setor cerâmico.
Tratando de crescimento sustentável, percebe-se que a lógica do desenvolvimento
individual já é tomada como ultrapassada. No entanto, ações concretas rumo ao
associativismo dependem de uma conscientização generalizada. Enquanto o SOC não se unir
de fato, o crescimento e a perspectiva de um substancial desenvolvimento ficam no campo da
abstração, da teoria. Destarte, a união e a inclusão da maioria é que, por certo, farão do SOC
brasileiro um dos de destaque na economia mundial.
Pela velocidade das mudanças e o ainda alto custo do desenvolvimento
tecnológico, a organização regional, em pólos, arranjos produtivos e entidades, não só irá
colocar o setor em destaque, mas promover o desenvolvimento da indústria através da
cooperação mútua, o compartilhamento de tecnologias e as ações comerciais em parceria.
Como vai o SOC se comportar diante de todo este imenso potencial que se
apresenta? Com a mesma postura mecanicista do passado? Será que insistirá nos produtos
não-conformes, de pouca qualidade, aviltados por atravessadores, perdendo fatias de mercado
para itens concorrentes ou substitutos? Passará a produzir número menor de peças, mas com
maior valor agregado, estará atento às inovações e investimentos? Terá a necessária coragem
de enfrentar a realidade Estas são questões fundamentais, que só os próprios atores envolvidos
na CP do SOC brasileiro podem responder. Em sendo estabelecido um consenso de que é
preciso recuperar a indústria cerâmica nacional e promover sua expansão, já terá sido dado o
pontapé inicial.
A adesão ao PBPQ-H, a formalização dos PSQs e a revisão/edição de novas
Normas Técnicas e Portarias, fornecendo parâmetros oficiais de produção e comercialização
de cerâmicos, o incentivo à certificação e a formalização de convênios de cooperação mútua
(internacionais, inclusive), a instalação da rede de laboratórios especializados em cerâmica
vermelha, a recente criação do marco regulatório da CFEM, a preocupação com a saúde do
trabalhador e a prevenção de acidentes e moléstias ocupacionais, dentre outras ações, já
apontam para a maneira por que o setor deve responder aos desafios que este horizonte
delineia.
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O objetivo fundamental é incutir no ceramista a ideia de que pode haver
incremento na qualidade e na produtividade sem custos extras e com retorno garantido: um
produto com tamanho, espessura, cor e acabamento na medida certa, de qualidade e a preço
justo, que equacione de maneira justa os anseios de quem compra e de quem vende. Isto
ensejará o tão sonhado fim da desleal disputa de preços, cedendo lugar a um efetivo processo
de crescimento do SOC nacional, o objetivo maior de todo bom ceramista, que ama o que faz.
93
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SUMÁRIO
1.
INTRODUÇÃO................................................................................................................ 10
1.1 Objetivos .................................................................................................................... 12
1.1.1
Objetivo geral......................................................................................................... 13
1.1.2
Objetivos específicos ............................................................................................. 14
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .........................................................................................16
2.1. Classificação Geral do Setor Cerâmico ..................................................................... 17
2.2. Tijolos cerâmicos ....................................................................................................... 19
2.3. Processo de confecção do tijolo.................................................................................20
2.3.1
Extração e Preparação da Massa ...................................................................... 21
2.3.2
Conformação do produto cerâmico .................................................................. 22
2.3.3
Secagem e Queima ........................................................................................... 23
2.3.4
Controles de Processo....................................................................................... 28
3. O SETOR OLEIRO-CERÂMICO ...................................................................................29
3.1. Histórico do Setor ...................................................................................................... 29
3.2. Situação Atual............................................................................................................ 31
3.3. Habitação e o SOC brasileiro..................................................................................... 35
3.4. Problemas Enfrentados pelo Setor Ceramista Brasileiro ...........................................37
4. QUALIDADE NA INDÚSTRIA CERÂMICA ............................................................... 44
4.1. Cadeia Produtiva no setor cerâmico .......................................................................... 47
4.2. Arranjos Produtivos Locais ....................................................................................... 51
4.3. Normas Técnicas........................................................................................................ 52
4.4. PBQP-H ..................................................................................................................... 55
4.5. Programas Setoriais de Qualidade (PSQs).................................................................58
5. MEIO AMBIENTE .......................................................................................................... 61
5.1. Combustíveis Tradicionais e Alternativos ................................................................. 62
5.2. Mineração .................................................................................................................. 67
5.3. Impactos Ambientais .................................................................................................71
5.4. Créditos de Carbono .................................................................................................. 75
6. SOC NO ESTADO DO CEARÁ ..................................................................................... 80
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................85
7.1. Prognósticos para o SOC brasileiro ........................................................................... 87
7.2. Em resumo ................................................................................................................. 90
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 93

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